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2ª GERAÇÃO

MODERNISTA
POESIA (1930-
1945)
2

2ª GERAÇÃO MODERNISTA POESIA (1930-1945)


CONTEXTO HISTÓRICO

A segunda geração do nosso modernismo, que se desenvolve entre


1930 e 1945, é aquela fase que será vista pela crítica como o momento de amadurecimento dessa
estética no país. Se a 1ª geração se mostrou irreverente, sarcástica e iconoclasta, a 2ª geração –
sem abandonar as bandeiras modernistas – apresentará um tom de maior sobriedade e de maior
equilíbrio, tanto formal quanto temático. Há nessa fase também uma preocupação maior com
aspectos sociais do Brasil. Para alguns teóricos, a primeira geração centrou-se em torno de um
projeto prioritariamente estético enquanto a segunda, terá sua visão primordialmente voltada
para um projeto de forte posicionamento e engajamento social. Para isso é importante lembrar
o período turbulento pelo qual passa tanto o Brasil – que vive a chamada Era Vargas – quanto o
mundo – que passa por uma Segunda Guerra Mundial.
Nesse sentido, a 2ª segunda geração apresentará uma divisão de seus autores não só entre
poesia e prosa, como também mostrará os seus poetas em um diálogo mais próximo com as
questões mundiais enquanto os seus prosadores voltarão sua atenção para temas mais regionais,
especialmente aqueles ligados ao nordeste brasileiro

CARACTERÍSTICAS
ͫ Não rompe com a 1ª Geração
ͫ Continuação das conquistas de 22
ͫ – verso livre e branco, língua brasileira
ͫ Maturidade e equilíbrio formal
ͫ – form as livres e soneto
ͫ Universalização temática
ͫ - realidade nacional e mundial
ͫ Contexto: 2a Guerra Mundial
ͫ 2 correntes Poesia espiritual – Vinícius, Cecília
» Poesia social - Drummond
2ª GERAÇÃO MODERNISTA POESIA (1930-1945) 3

PRINCIPAIS POETAS
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Aspecto gauche – “Poema de sete faces”
Ceticismo e pessimismo – “E agora, José?”
- Ironia e humor – “No meio do caminho”
Metalinguagem – “Procura da poesia”
- Infância – Itabira (MG)
Fases:
1ª irônica – “Alguma poesia”
2ª social – “A rosa do povo”
3ª filosófica – “Claro enigma”
4ª memorialista – “Lição das coisas”
5ª erótica – “Corpo”

VINÍCIUS DE MORAES
1a fase – religiosa – mística – católica
– “Caminho para a distância”
2a fase – sensual – erótica – popular
– “Canção do amor demais”
Sonetos:
“da fidelidade”, “da separação”, “do amor total”
Letrista da MPB – Bossa Nova
– “Chega de saudade” (1958) – Tom e João Gilberto

CECÍLIA MEIRELES
Neossimbolismo
ͫ Musicalidade
ͫ Espiritualidade
ͫ Fugacidade do Tempo
ͫ Metáforas da Natureza
Obras:
“Romanceiro da Inconfidência”
“Espectros”
“Viagem”
“Vaga música”
4

“Mar absoluto”

OUTROS POETAS
ͫ Murilo Mendes: que incorre por vezes pelo surrealismo e cubismo. Visão cósmica, mística
e religiosa católica. Obras: “Tempo e eternidade” - com Jorge de Lima (1935), “A poesia
em pânico” (1937), “O Visionário” (1941), “As metamorfoses” (1944), “Contemplação de
Ouro Preto” (1954),
ͫ Jorge de Lima iniciou sua carreira como neoparnasiano, depois passou para uma poesia
social, religiosa e onírica. Escreveu também os Poemas Negros sobre as origens afro-nor-
destinas brasileiras Suas principais obras são XIV Versos Alexandrinos (1914), Poemas
Negros (1947), Tempo e Eternidade (em parceria com Murilo Mendes, 1935), Invenção
de Orfeu (1952).
ͫ Mário Quintana, poeta do Rio Grande do Sul, é conhecido por sua poesia ao mesmo
tempo simples e altamente filosófica. Poeta da brevidade, da ironia e da melancolia.
Suas principais obras são A Rua dos Cataventos (1940), Canções (1946), Sapato Florido
(1948), O aprendiz de Feiticeiro (1950), Espelho Mágico (1951), A Vaca e o Hipogrifo (1977)

TEXTOS DA POESIA DA 2ª GERÇÃO


MÃOS DADAS (Sentimento do mundo)
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre ele, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
(...)
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
LETRAS PARÓDIAS DE LITERATURA 5

— Em que espelho ficou perdida


a minha face?
(Cecília Meireles)

SONETO DE FIDELIDADE
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vive-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e chorar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive,
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(Vinícius de Moraes)

LETRAS PARÓDIAS DE LITERATURA


POESIA DA 2a GERAÇÃO
(ANOTHER BRICK IN THE WALL – PART 2)
A 2ª geração
Da poesia modernista
É modernismo mais maduro
Que da 1ª geração
VINÍCIUS, CECÍLIA
E O GRANDE DRUMMOND
POETAS NO TEMPO
DE UMA CRISE MUNDIAL

EXERCÍCIOS
6

Leia os textos a seguir para responder à(s) questão(ões) a seguir.


CERTAS PALAVRAS
Certas palavras não podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiança,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
lá onde a polícia dos adultos
não adivinha nem alcança.
Entretanto são palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, atos
do viver que só os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentença
dos séculos.
E tudo é proibido. Então, falamos.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Certas palavras.

In: A palavra Mágica – POESIA. 10ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 32.

DIÁLOGO FINAL
- É tudo que tem a me dizer? - perguntou ele.
- É - respondeu ela.
- Você disse tão pouco.
- Disse o que tinha para dizer.
- Sempre se pode dizer mais alguma coisa.
- Que coisa?
- Sei lá. Alguma coisa.
- Você queria que eu repetisse?
- Não. Queria outra coisa.
- Que coisa é outra coisa?
- Não sei. Você que devia saber.
(...)
ANDRADE, Carlos Drummond de. Diálogo Final (trecho).

In: Histórias para o Rei – CONTO. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 42-43.
EXERCÍCIOS 7

1. (IFPE – 2017) Os textos apresentados foram escritos por Carlos Drummond de Andrade,
grande nome do Modernismo brasileiro. Sobre os autores e características das três fases
do movimento modernista do Brasil, assinale a alternativa CORRETA.
a) Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes e Cecília Meireles são os principais
autores da segunda fase do Modernismo brasileiro e representam, através de textos
exclusivamente poéticos, temas urbanos, intimistas e regionalistas.
b) Assim como Drummond, fizeram parte da segunda geração modernista os escritores
Clarice Lispector e Guimarães Rosa, os quais possuíam características bastante seme-
lhantes, devido à tendência lírica da geração de 30.
c) João Cabral de Melo Neto, grande poeta da terceira fase do Modernismo brasileiro,
ficou conhecido como “poeta engenheiro” e, assim como Drummond, tinha a inspi-
ração como principal aliada na elaboração de seus poemas.
d) Enquanto a primeira geração modernista foi caracterizada pela polêmica, pela origi-
nalidade e pelo deboche, a segunda mostrou-se mais amadurecida, lançou nomes
como Carlos Drummond de Andrade e consolidou os ideais difundidos na fase anterior.
e) Além de Drummond, os escritores Oswald e Mário de Andrade também abrilhantaram
a segunda geração do Modernismo. Conhecidos como “Os Andrades”, os autores intro-
duziram em suas obras uma linguagem mais livre, semelhante à linguagem coloquial.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas…
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.
Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto
Quando as ondas te carregaram
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.
Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.
E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
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dentro destas águas sem fim.


Cecília Meireles, “Canção”

2. (MACKENZIE – 2017) Assinale a alternativa correta sobre Cecília Meireles e o Modernismo


brasileiro.
a) No início da sua carreira, Cecília Meireles se filiou ao grupo Festa, vertente mais
espiritualista do modernismo.
b) Sua obra faz parte da fase mais iconoclasta do nosso modernismo, a do romance
nordestino de 1930.
c) “Canção” é um ótimo exemplo da preocupação modernista em aproximar a linguagem
poética da oralidade popular.
d) A representação do mar em “Canção” revela o traço nacionalista do modernismo:
exaltar a geografia brasileira.
e) Assim como o cubismo foi uma influência para o nosso modernismo, podemos en-
contrar esta mesma influência em “Canção”.

3. (IMED – 2016) Leia os poemas a seguir, de Casimiro de Abreu e Carlos Drummond de


Andrade, respectivamente:
MEUS OITO ANOS
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
- Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais! […]
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Que doce a vida não era
Em vez das mágoas de agora.
CONSOLO NA PRAIA
Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
EXERCÍCIOS 9

O segundo amor passou.


O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
Analise as seguintes afirmações a partir dos poemas:
I. Embora Casimiro de Abreu integre o período literário romântico, e Carlos Drummond de
Andrade, o modernismo, ambos os poemas abordam a passagem do tempo e a ideia de
perda de momentos da vida humana: infância e juventude.
II. No primeiro poema, o eu lírico apresenta a infância com certo escapismo, fugindo, assim,
do momento presente, o qual é resgatado no último verso.
III. Identifica-se que, em ambos os poemas, o eu lírico mostra-se pesaroso e inconformado
com a passagem do tempo e da vida.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o texto abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir.
Mãos dadas
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Não serei o poeta de um mundo caduco.


Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas, nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. p. 111.)

4. (IFCE – 2016) O texto acima, de Carlos Drummond de Andrade, se encaixa na segunda fase
do movimento modernista da literatura brasileira e critica estilos literários predecessores.
É correto afirmar-se que em:
a) “não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida” há uma crítica ao romantismo
e em “paisagem vista da janela” há uma crítica ao arcadismo.
b) “também não cantarei o mundo futuro” há uma crítica ao futurismo e em “não serei
o cantor de uma mulher, de uma história” há uma crítica ao arcadismo.
c) “não fugirei para as ilhas, nem serei raptado por serafins” há uma crítica ao dadaís-
mo e em “o presente é tão grande, não nos afastemos” há uma crítica ao futurismo.
d) “não serei o cantor de uma mulher, de uma história” há uma crítica ao trovadorismo
e em “Não serei o poeta de um mundo caduco” há uma crítica ao pós-modernismo.
e) “não fugirei para as ilhas, nem serei raptado por serafins” há uma crítica ao barroco e
em “Estou preso à vida e olho meus companheiros” há uma crítica ao trovadorismo.

5. (UEMA – 2015) A obra Alguma poesia, publicada em 1930, marca a estreia de um dos mais
emblemáticos escritores da literatura brasileira, Carlos Drummond de Andrade. O poema
que segue integra a referida obra e serve como base para a questão proposta.
Também já fui brasileiro
Eu também já fui brasileiro
Moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
E aprendi nas mesas dos bares
Que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
E todas as virtudes se negam.
EXERCÍCIOS 11

Eu também já fui poeta.


Bastava olhar para uma mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
Minha poesia perturbou-se.
Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isto, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
Satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
Não sou irônico mais não,
Não tenho mais ritmo mais não.
Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

A construção poética de “Também já fui brasileiro” reflete o(a):


a) negação dos valores proclamados pela arte moderna no Brasil.
b) violação dos padrões poéticos estabelecidos no Brasil até o Modernismo.
c) distanciamento da poesia brasileira da arte poética dos ritmos e das virtudes.
d) retomada da rítmica clássica no ato de construção proposta pelo Romantismo.
e) rompimento com as ideias nacionalistas, procurando uma arte poética antibrasileira.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao livro Nova antologia poética, de Vinícius de Moraes.

6. (CEFET/MG – 2013) Vinícius de Moraes, ao longo de sua trajetória de poeta, permitiu-se


aderir a diferentes tendências estéticas, sejam anteriores ou contemporâneas à sua obra.
NÃO apresentam os traços da estética indicada os versos transcritos em:
a) “E dentro das estruturas/ Via coisas, objetos/ Produtos, manufaturas./ Via tudo o
que fazia/ O lucro do seu patrão/ E em cada coisa que via/ Misteriosamente havia/
A marca de sua mão.” → PARNASIANISMO
b) “O teu perfume, amada – em tuas cartas/ Renasce azul...– são tuas mãos sentidas!/
Relembro-as brancas, leves, fenecidas/ Pendendo ao longo de corolas fartas.” →
ROMANTISMO
c) Ah, jovens putas das tardes/ O que vos aconteceu/ (...) Em vossas jaulas acesas/ Mos-
trando o rubro das presas/ Falando coisas do amor/ E às vezes cantais uivando/ Como
cadelas à lua/ Que em vossa rua sem nome/ Rola perdida no céu” → NATURALISMO
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d) “– Era uma vez um poeta/ No morro do Cavalão/ Tantas fez que a dor-de-corno/ Bateu
com ele no chão/ Arrastou ele nas pedras/ Espremeu seu coração/ Que pensa usted
que saiu?/ Saiu cachaça e limão” → MODERNISMO
e) “Tensos/ Pela corda luminosa/ Que pende invisível/ E cujos nós são astros/ Quei-
mando nas mãos/ Subamos à tona/ do grande mar de estrelas/ Onde dorme a noite/
Subamos” → SIMBOLISMO

7. (ENEM – 2009) Confidência do Itabirano


Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
[comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e
[sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.

Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro.


Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes
e os dilemas humanos. Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular,
como se percebe claramente na construção do poema Confidência do Itabirano. Tendo em vista os
procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se
que o poema acima:
a) representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização
de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade.
b) apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação ob-
jetiva de fatos e dados históricos.
EXERCÍCIOS 13

c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de
imagens que representam a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a
constituição do indivíduo.
d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia
em comparação com as prendas resgatadas de Itabira.
e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade
da infância e do amor pela terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
MÃOS DADAS
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao amanhecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo (1940)

8. (FATEC – 2007) Considerando o poema “Mãos dadas”, no conjunto da obra a que pertence
(“Sentimento do mundo”), é correto afirmar que Carlos Drummond de Andrade:
a) recusa os princípios formais e temáticos do primeiro Modernismo.
b) tematiza o lugar da poesia num momento histórico caracterizado por graves proble-
mas mundiais.
c) vale-se de temas que valorizam aspectos recalcados da cultura brasileira.
d) alinha-se à poética que critica as técnicas do verso livre.
e) relativiza sua adesão à poesia comprometida com os dilemas históricos, pois a arte
deve priorizar o tema da união entre os homens.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Canção
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos
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para o meu sonho naufragar


Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas

9. (ITA – 2013) Cecília Meireles, poeta da segunda fase do Modernismo Brasileiro, faz parte
da chamada “Poesia de 30”. Sobre esta autora e seu estilo, é CORRETO afirmar que ela:
a) seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro, produzindo uma poesia de consciência
histórica.
b) não seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro, produzindo uma obra de traços
parnasianos.
c) seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro, produzindo uma poesia panfletária e
musical.
d) não seguiu rigidamente nenhuma corrente do Modernismo Brasileiro, produzindo
uma poesia lírica, mística e musical.
e) não seguiu rigidamente nenhuma corrente do Modernismo Brasileiro, produzindo
uma poesia histórica, engajada e musical.

10. (UEPG – 2011) A segunda fase do nosso Modernismo (1930-1945) mostrou o amadure-
cimento de várias linhas temáticas e de processos artísticos. Firmou-se neste período a
poesia de:
01) Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes.
02) José Lins do Rego e Vinicius de Moraes.
04) Augusto dos Anjos e Cruz e Sousa.
08) Cecília Meireles e Jorge de Lima.
16) Emiliano Pemeta e Cassiano Ricardo.
GABARITO 15

GABARITO
1. D
A: Incorreta: apesar dos três autores estarem na 2a fase do modernismo, não são escri-
tores exclusivamente poetas.
B: Incorreta: Clarice Lispector e Guimarães foram da 3a fase do modernismo.
C: Incorreta: João Cabral de Melo Neto foi chamado de “poeta engenheiro” justamente
por não privilegiar a inspiração na elaboração de seus poemas, mas sim a escolha das
palavras e da forma.
E: Incorreta: Mário e Oswald de Andrade foram escritores da primeira geração.

2. A
Em sua juventude, durante a década de 1920, Cecília Meireles uniu-se ao Festa, grupo
cuja proposta era o resgate de valores simbolistas na literatura, como a subjetividade, a
musicalidade e o espiritualismo. Quanto à forma, a poetisa influenciou-se pela tradição
lírica clássica, distanciando-se do estilo coloquial, fazendo uso de métrica regular e rima,
por exemplo.

3. C
I: Correta. Ambos os poemas apresentam eu lírico em estado de nostalgia, percebendo
que a passagem do tempo não foi benéfica: em Casimiro de Abreu, poeta romântico da
2ª geração, lê-se: “Que doce a vida não era / Em vez das mágoas de agora”; em Carlos
Drummond de Andrade, poeta modernista da 2ª geração, lê-se: “Vamos, não chores... /
A infância está perdida. / A mocidade está perdida. / Mas a vida não se perdeu.”
II: Correta. O eu lírico de “Meus Oito Anos” menciona, inicialmente, a nostalgia pela in-
fância (“Oh! que saudades que tenho / Da aurora da minha vida”): para tanto, descreve o
espaço em que estava e emprega verbos conjugados no passado; ao término, no entanto,
retorna ao momento presente, contrapondo-o à doçura anterior.
III: Incorreta. O emprego sistemático da conjunção adversativa “mas” ao término das
estrofes de Drummond indica que há resignação diante da passagem do tempo e da vida.

4. A
O romantismo era caracterizado por um sofrimento amoroso exagerado, que levava,
muitas vezes, a uma atração pela morte e suicídio. O arcadismo, por outro lado, cantava
a vida no campo, privilegiando paisagens e locais calmos. Assim, Drummond faz uma
crítica a esses dois estilos literários, trazendo para foco o estilo modernista.

5. B
Em uma poesia metalinguística, o eu lírico afirma ter empregado expedientes poéticos
temáticos (a nacionalidade e a mulher amada) e formais (ritmo marcado) típicos da lite-
ratura praticada no Brasil até 1922, seguindo padrões importados da Europa – no caso
apontado, o Romantismo. O eu lírico, no entanto, afirma ter mudado, rompendo com
tais padrões, assim como o Modernismo defendeu.
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6. A
O excerto transcrito apresenta versos redondilhos maiores, estrutura que não é típica
do Parnasianismo. A redondilha (medida velha) foi utilizada na poesia de origem ibérica
(Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende) e está ligada à estética das variantes poéticas
populares, como, por exemplo, à literatura de cordel no Brasil.

7. C
Carlos Drummond, no texto, prioriza a temática conflituosa entre o ser em relação com
o mundo que o cerca.

8. B

9. D

10. 09

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