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3ª SÉRIE / CURSO TURMA: DATA: 28 / 05 / 2015

Professor: Adriano Alves


Segunda fase Modernista no Brasil - (1930-1945) Poesia de Drummond apresenta uns momentos de esperança, mas
prevalece a descrença diante do rumo dos acontecimentos.
Estende-se de 1930 a 1945, sendo um período rico na produção Nega formas de fuga da realidade, volta-se para o momento
poética e também na prosa. O universo temático se amplia e os artistas presente.
passam a preocupar-se mais com o destino dos homens, o estar-no-mundo. "Ano serei o poeta de um mundo caduco. / Também ano cantarei o
“A segunda fase colheu os resultados da precedente, substituindo o mundo futuro. / Estou preso `a vida e olho meus companheiros. (...) O
caráter destruidor pela intenção construtiva, “pela recomposição de tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, / a vida
valores e configuração da nova ordem estética”. --Cassiano Ricardo presente." --Mãos Dadas
Durante algum certo tempo, a poesia das gerações de 22 e 30 A partir de Lição das Coisas (1962), há maior preocupação maior com
conviveram. Não se trata, portanto, de uma sucessão brusca. A maioria dos objetos, valorizando mais os aspectos visuais e sonoros - tendência
poetas de 30 absorveria parte da experiência de 22: liberdade temática, concreto-formalista.
gosto da expressão atualizada ou inventiva, verso livre, anti- Carlos Drummond de Andrade propõe a divisão temática de sua obra,
academicismo. numa seleção que faz para sua Antologia Poética:
A poesia prossegue a tarefa de purificação de meios e formas iniciada
antes, ampliando a temática na direção da inquietação filosófica e religiosa, 1. o indivíduo
com Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo 2. a terra natal
Mendes, Carlos Drummond de Andrade, ao tempo em que a prosa alargava 3. a família
a sua área de interesse para incluir preocupações novas de ordem política, 4. os amigos
social e econômica, humana e espiritual. À piada sucedeu a gravidade de 5. o choque social
espírito, a seriedade da alma, propósitos e meios. Uma geração grave, 6. o conhecimento amoroso
preocupada com o destino do homem e com as dores do mundo, pelos 7. a própria poesia
quais se considerava responsável, deu à época uma atividade excepcional. 8. exercícios lúdicos
O humor quase piadístico de Drummond receberia influencias de 9. uma visão, ou tentativa de, da existência
Mário e Oswald de Andrade. Vinícius, Cecília, Jorge de Lima e Murilo
Mendes apresentam certo espiritualismo que vinha do livro de Mário Há Obras:
uma gota de Sangue em cada Poema (1917). Poesia:
A geração de 30 não precisou ser combativa como a de 22. Eles já
encontraram uma linguagem poética modernista estruturada. Passaram  Alguma Poesia (1930)
então a aprimorá-la e extrair dela novas variações, numa maior  Brejo das Almas (1934)
estabilidade.  Sentimento do Mundo (1940)
O Modernismo já estava dinamicamente incorporado `as praticas  Poesias (1942)
literárias brasileiras, sendo assim os modernistas de 30 estão mais voltados  A Rosa do Povo (1945)
ao drama do mundo e ao desconcerto do capitalismo.  Poesia até agora (1948)
 Claro Enigma (1951)
"Este é tempo de partido, / tempo de homens partidos. (...) Os  Viola de Bolso (1952)
homens pedem carne. Fogo. Sapatos. / As leis ano bastam. Os lírios ano  Fazendeiro do Ar e Poesia até Agora (1953)
nascem da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se / na pedra." --Carlos  Viola de Bolso Novamente Encordoada (1955)
Drummond de Andrade, in Nosso Tempo  Poemas (1959)
 A Vida Passada a Limpo (1959)
Características  Lição de Coisas (1962)
 Versiprosa (967)
 Repensar a historia nacional com humor e ironia - " Em outubro  Boitempo (1968)
de 1930 / Nós fizemos — que animação! — / Um pic-nic com  Menino Antigo (1973)
carabinas." (Festa Familiar - Murilo Mendes)  As Impurezas do Branco (1973)
 Verso livre e poesia sintética - " Stop. / A vida parou / ou foi o  Discurso da Primavera e outras Sombras (1978)
automóvel?" (Cota Zero, Carlos Drummond de Andrade)
 Nova postura temática - questionar mais a realidade e a si Prosa:
mesmo enquanto indivíduo  Confissões de Minas (ensaios e crônicas, 1944)
 Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu papel de poeta  Contos de Aprendiz (1951)
 Literatura mais construtiva e mais politizada.  Passeios na Ilha (ensaios e crônicas, 1952)
 Surge uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o  Fala, Amendoeira (1957)
intimismo (Cecília, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vinícius)  a Bolsa e a Vida (crônicas e poemas, 1962)
 Cadeira de Balanço (crônicas e poemas, 1970)
 Aprofundamento das relações do eu com o mundo
 O Poder Ultrajovem e mais 79 Textos em Prosa e Verso (1972)
 Consciência da fragilidade do eu - "Tenho apenas duas mãos / e o
sentimento do mundo" (Carlos Drummond de Andrade -
Sentimento do Mundo) Murilo Mendes (1902-1975)
 Perspectiva única para enfrentar os tempos difíceis é a união, as
soluções coletivas - " O presente é tão grande, ano nos Mineiro, que caminha das sátiras e poemas-piada, ao estilo
afastemos, / Ano nos afastemos muito, vamos de mãos dadas." oswaldiano, para uma poesia religiosa, sem perder o contato com a
(Carlos Drummond de Andrade - Mãos dadas) realidade. Poeta modernista mais influenciado pelo Surrealismo europeu.
Guerra foi tema de diversos poemas seus. Seus textos caracterizam-se por
Autores Principais – Poesia novas formas de expressão, e livre associação de imagens e conceitos.
A partir de Tempo e Eternidade (1935), parte para a poesia mística e
Carlos Drummond de Andrade religiosa. Dilema entre poesia e Igreja, finito e infinito, material e espiritual,
sem abandonar a dimensão social.
Mineiro, trabalha lecionando em Itabira e, em 45, trabalha na
diretoria de um jornal comunista. Maior nome da poesia contemporânea, "Eu amo minha família sobrenatural, / Aquela que ano herdei, /
registrando a realidade cotidiana e os acontecimentos da época. Aquela que ama o Eterno. / São poetas, são musas, são iluminados / Que
Ironia fina, lucidez, e calma, traduzidos numa linguagem flexível, rica, mas vivem mirando os seus fins transcendentes. / Que vivem mirando os seus
rica de dimensões humanas. fins transcendentes. / 'o mundo, minha família sobrenatural ano te possuiu.
Poesias refletem os problemas do mundo e do ser humano diante dos / Minha angústia vive nela e com ela, / E eu formarei poetas no futuro / `A
regimes totalitários, da 2a GM e da guerra fria. sua imagem e semelhança. E todos ajuntando novos membros ao corpo /

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De que Cristo Jesus é a cabeça / Irradiarão as palavras do Eterno." -- --Poesias, 1975
comunicantes Obras:
Também é poeta especulador, que usa a linguagem em busca de  Poesia - XIV Alexandrinos (1914), O Mundo do Menino
novos conceitos. Impossível (1925), Poemas (1927), Novos Poemas (1929),
"O poema é texto? O poeta? / O poema é o texto + o poeta? / O Poemas Escolhidos (1932), Tempo e Eternidade (em colaboração
poema é o poeta - o texto? / O texto é o contexto do poeta / Ou o poeta do com Murilo Mendes, 1935), Quatro Poemas Negros (1937), A
contexto do texto? / O texto visível é o texto total / O ante texto e o anti Túnica lnconsútil (1938), Poemas Negros (1947), Livro de Sonetos
texto / Ou as ruínas do texto? / O texto abole / Cria / Ou restaura?" -- (1949), Obra Poética (incluindo os anteriores e mais Anunciação
Texto de Consulta e Encontro de Mira-Celi), 1950), Invenção de Orfeu (1952)
Essa condição barroca de sua poesia associa-se a um trabalho das imagens  Romance - Salomão e as mulheres (1927), O Anjo (1934), Calunga
visuais. Empolgado com a beleza, afirmava que tudo era belo pois pertencia (1935), A Mulher Obscura (1939), Guerra Dentro do Beco (1950)
`a Criação. Só as ações humanas justificavam o feio.
Consciência do caos, do mundo esfacelado, civilização decadente.
 Teatro - A Filha da Mãe D'Água, As Mãos, Ulisses
Trabalho do poeta é tentar ordenar esse caos.  Cinema - Os Retirantes (argumento de filme)
"(...) A infância vem da eternidade. / Depois só a morte magnífica / —
Destruição da mordaça: / E talvez já' a tivesse entrevisto / Quando Cecília Meireles
brincavas com o pião / Ou quando desmontaste o besouro. Entre duas
eternidades / Balançam-se espantosas / Fome de amor e a música: / Rude Órfã, carioca, foi criada pela avó e fez Magistério e lecionou Literatura
doçura / 'Ultima passagem livre. Só vemos o céu pelo avesso." --Poesia de em várias universidades.
Liberdade Estreia com o livro Espectros (1919), participando da corrente
Para Murilo, a beleza é fundamental. Mulher, para Murilo, é igual a espiritualista, sob a influência dos poetas que formariam o grupo da revista
amor, abordada de forma erótica. Festa (neo-simbolista).
Suas principais características são sensibilidade forte, intimisno,
"Tudo o que te rodeia e te serve introspecção, viagem para dentro de si mesma e consciência da
Aumenta a fascinação, o segredo transitoriedade das coisas (tempo = personagem principal). Para ela as
Teu véu se interpõe entre ti e meu corpo, realidades não são para se filosofar, são inexplicáveis, basta vivê-las.
é a grade do meu cárcere. (...)
Tudo o que faz parte de ti — desde teus sapatos — Retrato
Está unido ao pecado e ao prazer, Eu não tinha este rosto de hoje, / assim calmo, assim triste, assim magro, /
`A teologia, ao sobrenatural." nem estes olhos tão vazios, / nem o lábio amargo.
--Em Pânico, in Antologia Poética Eu não tinha estas mãos sem força, / tão paradas e frias e mortas; / eu não
tinha este coração / que nem se mostra.
Obras : Poemas (1930), História do Brasil (1932), Tempo e Eternidade Eu não dei por esta mudança, / tão simples, tão certa, tão fácil:
(com Jorge de Lima, 1935), A Poesia em Pânico (1938), O Visionário (1941), - Em que espelho ficou perdida
As Metamorfoses (1944), O Discípulo de Emaús (prosa, 1944), Mundo a minha face?
Enigma, (1945), Poesia Liberdade (1947), Janela do Caos (1948), --Flor de Poemas
Contemplação de Ouro Preto (1954), Poesias (1959), Tempo Espanhol
(1959), Poliedro (1962), Idade do Serrote (Memórias, 1968), Convergência Assim sua obra apresenta uma atmosfera de sonho, fantasia, em
(1972), Retratos Relâmpago (1973), Ipotesi (1977) contraste com solidão e padecimento. Linguagem simbólica, com imagens
sugestivas e constantes apelos sensoriais (metáforas, sinestesias,
Jorge de Lima (1898-1953) aliterações e assonâncias).

Alagoano ligado diretamente à política, estreia com a obra XVI Rômulo rema
Alexandrinos fortemente influenciado pelo Parnasianismo, o que lhe deu o Rômulo rema no rio. / A romã dorme no ramo, / a romã rubra. (E o céu.)
título de Príncipe dos Poetas Alagoanos. Sua obra posteriormente chega a O remo abre o rio. / O rio murmura,
uma poesia social, paralela a uma poesia religiosa. A romã rubra dorme / cheia de rubis. (E o céu.)
Na poesia social apresenta-se a cor local, através do resgate da Rômulo rema no rio.
memória do autor de menino branco com infância cheia de imagens de Abre-se a romã. / Abre-se a manhã.
negros escravos e engenhos. Por vezes, amplia a abordagem com denúncia Rolam rubis rubros do céu.
das desigualdades sociais. No rio, / Rômulo rema.
“A filha de Pai João tinha um peito de / Turina para os filhos de Ioiô --Ou isto ou aquilo
mamar: / Quando o peito secou a filha de Pai João / Também secou Obras:
agarrada num / Ferro de engomar. / A pele de Pai João ficou na ponta / Dos  Poesia : Espectros (1919), Nunca mais... e Poema dos Poemas
chicotes. / A força de Pai João fìcou no cabo Da enxada e da foice. / A (1923), Baladas para EI-rei (1925), Viagem (1939), Vaga Música
mulher de Pai João o branco / A roubou para fazer mucamas." --Pai João (1942), Mar Absoluto (1945), Retrato Natural (1949), Ama em
A partir de Tempo e Eternidade, há a preocupação da restauração da Leonoreta (1952), Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta
Poesia em Cristo. Essa temática religiosa também está presente em A (1952) Romanceiro da Inconfidência (1953), Pequeno Oratório de
Túnica Inconsútil e Mira Coeli. Santa Clara (1955) Pistóia, Cemiério Militar Brasileiro (1955)
Tem ainda um poema épico à moda de Camões e Dante, usando 10 Canções (1956), Romance de Santa Cecília (1957), A Rosa (1957),
cantos para mostrar o dilema barroco de um homem indeciso entre o Metal Rosicler (1960), Poemas Escritos na Índia (1962) Antologia
material e o espiritual. Poética (1963) Solombra (1963), Ou isto ou Aquilo (1965),
Crônica Trovada da Cìdade de San Sebastian (1965) Poemas
Mulher Proletária Italianos (1968)
Mulher proletária - única fábrica  Teatro : O Menino Atrasado (1966)
que o operário tem, (fabrica filhos)  Ficção : Olhinhos de Gato (s/d)
tu
 Prosa poética : Giroflê, Giroflá (1956), Evocação Lírica de Lisboa
na tua superprodução de máquina humana
(1948) Eternidade de Israel (1959)
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.  Crônica : Escolha o seu Sonho (1964) Inéditos (1968)

Mulher proletária, Vinícius de Moraes


0 operário, teu proprietário
há de ver, há de ver: Carioca conhecido como Poetinha, participou também da MPB desde
a tua produção, a Bossa-nova até sua morte. Assim como Cecília, inicia sua carreira ligado
a tua superprodução, ao neo-simbolismo da corrente espiritualista e também a renovação
ao contrário das máquinas burguesas católica de 30.
salvar o teu proprietário. Vários de seus poemas apresentam tom bíblico, mas há,
concomitantemente, um sensualismo erótico. Essa dualidade acentua a
contradição entre o prazer da carne e a formação religiosa. Valoriza o
momento com presença de imediatismos (de repente constante). Temática
constante o jogo entre felicidade e infelicidade, onde muitas vezes associa
a inspiração poética com a tristeza, sem abandonar o social.
2
“É melhor ser alegre que ser triste / A alegria é a melhor coisa que Elegia a uma pequena borboleta
existe / É assim como a luz no coração” Como chegavas do casulo, / — inacabada seda viva — / tuas antenas —
--Samba da Bênção fios soltos / da trama de que eras tecida, / e teus olhos, dois grãos da noite
“Para que vieste / Na minha janela / Meter o nariz? / Se foi por um / de onde o teu mistério surgia,
verso / Não sou mais poeta / Ando tão feliz.” como caíste sobre o mundo / inábil, na manhã tão clara, / sem mãe, sem
--A um Passarinho guia, sem conselho, / e rolavas por uma escada / como papel, penugem,
Obras: poeira, / com mais sonho e silêncio que asas,
 Poesia: O Caminho para a Distância (1933), Forma e Exegese minha mão tosca te agarrou / com uma dura, inocente culpa, / e é cinza de
(1935), Ariana, a Mulher (1936), Novos Poemas (1938), Cinco lua teu corpo, / meus dedos, sua sepultura. / Já desfeita e ainda palpitante,
Elegias (1943), Poemas, Sonetos e Baladas (1946), Pátria Minha / expiras sem noção nenhuma.
(1949), Livro de Sonetos (1956), O Mergulhador (1965), A Arca de Ó bordado do véu do dia, / transparente anêmona aérea! /não leves meu
Noé (1970), O Dever e o Haver (inédito) rosto contigo: / leva o pranto que te celebra, / no olho precário em que te
 Teatro: Orfeu da Conceição (Tragédia carioca em três atos, acabas, / meu remorso ajoelhado leva! (...)
escrita em versos, 1954), Cordélia e O Peregrino (em versos, Pudeste a etéreos paraísos / ascender teu leve fantasma, / e meu coração
1965), Pobre Menina Rica (comédia musicada, 1962), Chacina de penitente ser a rosa desabrochada / para servir-te mel e aroma, / por toda
Barros Filho (drama, inédito) a eternidade escrava!
E as lágrimas que por ti choro / fossem o orvalho desses campos, / — os
 Prosa: Reportagens Poéticas (inéditas em livro), O Amor dos espelhos que refletissem / — voo e silêncio — os teus encantos, / com a
Homens (crônicas, 1960), Para viver um Grande Amor (crônicas,
ternura humilde e o remorso / dos meus desacertos humanos!
1962), Para uma menina com uma Flor (crônicas, 1966), Crônicas
(Retrato Natural)
(in J. B. de 15/6/69 a 20/10/69)
--Cecília Meireles
Textos
Segunda fase Modernista no Brasil (1930-1945) – Prosa
Fragmentos de Procura da Poesia, in A Rosa do Povo Romances caracterizados pela denúncia social, verdadeiro
Ano facas versos sobre acontecimentos. documento da realidade brasileira, atingindo elevado grau de tensão nas
Ano ha' criação nem morte perante a poesia. relações do eu com o mundo. Uma das principais características do
Diante dela, a vida é um sol estático, romance brasileiro é o encontro do escritor com seu povo. Há uma busca
ano aquece nem ilumina. (...) do homem brasileiro nas diversas regiões, por isso o regionalismo ganha
Nem me reveles teus sentimentos, importância, com destaque às relações do personagem com o meio natural
que se prevalecem do equívoco e tentam longa viagem. e social.
O que pensas e sentes, isso ainda ano é poesia. (...) Os escritores nordestinos merecem destaque especial, por sua
O canto ano é a natureza denúncia da realidade da região pouco conhecida nos grandes centros. O 1°
nem os homens em sociedade. romance nordestino foi A Bagaceira de José Américo de Almeida. Esses
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança, nada significam. romances retratam o surgimento da realidade capitalista, a exploração das
A poesia (ano tires poesia das coisas) pessoas, movimentos migratórios, miséria, fome, seca etc.
elide sujeito e objeto. (...)
Penetra surdamente no reino das palavras. Autores Principais
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas ano há desespero, Rachel de Queiroz (1910 - )
há calma e frescura na superfície inata
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Cearense, viveu na infância o problema da seca que atingiu uma
propriedade de sua família. Em 1930 (aos 20 anos) publica o romance O
Convive com teus poemas, antes de escreve-los. Quinze, que lhe angaria um prêmio e reconhecimento público.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. Participa ativamente da política, militando no Partido Comunista
Espera que cada um se realize e consume Brasileiro e é presa em 1937, por suas ideias esquerdistas. A partir de 1940
com seu poder de palavra dedica-se à crônica e ao teatro. Quebrou uma velha tradição, ao tornar-se
e seu poder de silencio. (1977) a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras.
Ano forces o poema a desprender-se do limbo. Sua literatura caracteriza-se, a princípio, pelo caráter regionalista e
Ano colhas no chão o poema que se perdeu. sociológico, com enfoque psicológico, que tende a se valorizar e a
Ano adules o poema. Aceita-o aprofundar-se à proporção que sua obra amadurece. Seu estilo é conciso e
como ele aceitara' a sua forma definitiva e concentrada no espaço. descarnado, sua linguagem fluente, seus diálogos vivos e acessíveis, o que
resulta numa narrativa dinâmica e enxuta.
Chega perto e contempla as palavras. O Quinze e João Miguel há coexistência do social e psicológico.
Cada uma Caminho de Pedras é o ponto máximo de sua literatura engajada e de
tem mil faces secretas sob a face neutra esquerda (mais social e político). As Três Marias abandona o aspecto social,
e te pergunta, sem interesse pela resposta, enfatizando a análise psicológica.
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave? (...) Obras:
--Carlos Drummond de Andrade  Romances: O Quinze(1930) e João Miguel (1932) - seca;
coronelismo; impulsos passionais / Caminho de Pedras (1937) e
Canção do Exílio As Três Marias (1939) - literatura engajada, esquerdizante, social
Minha terra tem macieiras da Califórnia e política, trata ainda da emancipação feminina / O Galo de Ouro
Onde cantam gaturamos de Veneza. (folhetim em “O Cruzeiro”) / Memorial de Maria Moura (1992;
Os poetas da minha terra surpreende seu público e é adaptado para a televisão)
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas
 Teatro: Lampião (1953), A Beata Maria do Egito (1958, raízes
os filósofos são polacos vendendo a prestações. folclóricas), A Sereia Voadora.
A gente ano pode dormir  Crônica: A Donzela e a Moura Torta (1948), Cem Crônicas
com os oradores e os pernilongos. Escolhidas (1958), O Brasileiro Perplexo (1963, Histórias e
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. Crônicas), O Caçador de Tatu (1967)
Eu morro sufocado  Literatura Infantil: O Menino Mágico, Andira.
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas José Lins do Rego (1901 - 1957)
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia Paraibano, é considerado um dos melhores representantes da
literatura regionalista do Modernismo. Em Recife, aproxima-se de José
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade Américo de Almeida e Gilberto Freire, intelectuais responsáveis pela
e ouvir um sabiá com certidão de idade! divulgação do modernismo no nordeste e pela preocupação regionalista.
--Murilo Mendes Mais tarde também conhece Graciliano Ramos, e depois para o Rio de
Janeiro, onde participa ativamente da vida literária. Sua infância no
engenho influenciou fortemente sua obra.
3
Suas obras Menino de Engenho, Doidinho, Bangüê, Moleque Ricardo, Na vasta ficção de Jorge Amado convivem lirismo, sensualismo,
Usina e Fogo Morto compõem o que se convencionou chamar de “ciclo da misticismo, folclore, idealismo, engajamento político, exotismo. Este painel,
cana de açúcar”. Nestas obras J. L. Rego narra a gradativa decadência dos sem dúvida, bastante rico, aliado a uma linguagem coloquial, fluida,
engenhos e a transformação pela qual passam a economia e a sociedade espontânea, aparentemente sem elaboração, tem sido responsável pela
nordestina. Sua técnica narrativa se mantém nos moldes tradicionais da grande aceitação popular de sua obra. Além disso, seus heróis são
literatura realista: linearidade, construção do personagem baseado na marginais, pescadores, marinheiros, prostitutas e operários; todos
descrição dos caracteres, linguagem coloquial, registro da vida e dos personagens de origem popular. Suas obras estão ambientadas no quadro
costumes. O tom memorialista é o fio condutor de uma literatura que rural e urbano da Bahia e seu aspecto documental a torna autenticamente
testemunha uma sociedade em desagregação: a sociedade do engenho regionalista.
patriarcalista, escravocrata. As obras mais representativas desta fase são podemos dividir assim a sua produção:
Menino de Engenho e Fogo Morto. A primeira é a história de um menino,  Ciclo do Cacau: Cacau, Suor, Terras do Sem Fim, São Jorge de
órfão de pai e mãe, que é criado no Engenho Santa Rosa, de seu avô José Ilhéus - problemas coletivos, “realismo socialista”.
Paulino, típico representante do latifundiário nordestino. Há momento de  Romances líricos, com um fundo de problemática social: Jubiabá,
grande emoção na obra, como a descrição da enchente, o castigo dos Mar Morto, Capitães de Areia.
escravos, a descoberta da própria sexualidade.
Fogo Morto é considerada sua melhor obra: dividida em três partes
 Romances de costumes provincianos, geralmente sentimentais e
eróticos: Gabriela, Cravo e Canela, Dona Flor e Seus Dois
que se inter-relacionam, compõe um quadro social e humano do Nordeste.
Maridos.
Mestre José Amaro, seleiro, orgulhoso de sua profissão, sofre as pressões
do coronel Lula de Holanda, senhor do Engenho Santa Fé, em decadência Obra bastante vasta, incluindo ainda escritos de pregação partidária
econômica. Antônio Silvino, cangaceiro, é o terror da região e ataca os (Cavaleiro da Esperança, Os Subterrâneos da Liberdade).
engenhos. O capitão Vitorino Carneiro da Cunha, lunático, é uma espécie Obras : A.B.C de Castro Alves; O Cavaleiro da Esperança. A vida de Luis
de místico e profeta do sertão. Carlos Prestes; Agonia da Noite; O Amor de Soldado; Os Ásperos Tempos;
Além destas obras, José Lins escreveu: Pedra Bonita e Cangaceiros, Bahia Amada Amado (Jorge Amado e Maureen Bisilliat); Bahia de Todos os
onde continua a traçar um quadro da vida nordestina, aproveitando agora Santos; A Bola e o Goleiro; Brandão entre o Mar e o Amor; Cacau; O Capeta
elementos do folclore e do cordel. Estes romances pertencem ao “ciclo do Carybe; Capitães de Areia; O Capitão de Longo Curso; Compadre de Ogum;
cangaço, misticismo e seca”. Além destes, escreveu também Água-mãe e A Descoberta da América pelos Turcos; Dona Flor e seus Dois Maridos;
Eurídice, de ambientação urbana. Farda Fardão Camisola de Dormir; Gabriela, Cravo e Canela; O Gato
Malhado e a Andorinha Sinhá; Jubiaba; Tereza Batista Cansada de Guerra;
Obras: O Sumiço da Santa; Suor; Tenda dos Milagres; A Luz no Túnel; Terras do
Sem Fim; Mar Morto; Tieta do Agreste; Tocaia Grande; Os velhos
 Romances: Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê Marinheiros; O Menino Grapuina; O Milagre dos Pássaros; A Morte e a
(1934), O Moleque Ricardo (1935), Usina (1936), Pureza (1937), Morte de Quincas Berro D’gua; Navegação de Cabotagem; O País do
Pedra Bonita (1938), Riacho Doce (1939), Água-mãe (1941), Fogo Carnaval; Os Pastores da Noite; São Jorge dos Ilhéus; Seara Vermelha; O
Morto (1943), Eurídice (1947), Cangaceiros (1953). Capitão de Longo Curso; Os Primeiros Subterrâneos da Liberdade, I; Os
 Literatura infantil, memórias e crônicas: Histórias da Velha Subterrâneos da Liberdade,II; Os Subterrâneos da Liberdade,III; Os
Totônia (1936), Gordos e Magros (1942), Seres e Coisas (1952), Subterrâneos da Liberdade,IV.
Meus Verdes Anos (1956).
Érico Veríssimo (1905-1975)
Graciliano Ramos (1892-1953)
Sua família rica foi à falência e o escritor teve que trabalhar sem
possibilidade de seguir estudos. Em Porto Alegre, entra em contato com a
Alagoano, faz jornalismo e política estreando com Caetés (1933). Em
vida literária e inicia-se no jornalismo. Começa então a publicar contos e
Maceió conheceu alguns escritores do grupo regionalista: José Lins, Jorge
romances, entre os quais, Clarissa, que logo se tornou um sucesso. Viajou
Amado, Raquel de Queirós. Nessa época redige S. Bernardo e Angústia.
para vários países, lecionou Literatura Brasileira nos EUA e trabalhou na
Envolvendo-se em política, é preso e acusado de comunista, essas
OEA. Voltando ao Brasil, dedica-se a escrever e produz uma vasta obra.
experiências pessoais são retratadas em Memórias do Cárcere. Em 1945
Escritor de grandes dimensões, em sua produção se incluem
ingressa no Partido Comunista e empreende uma viagem aos países
romances, crônicas, literatura infantil. Os romances que compõem a trilogia
socialistas, narrada no livro Viagem.
O Tempo e o Vento (O Continente, O Retrato, O Arquipélago) traçam um
Considerado o melhor romancista moderno da literatura brasileira.
painel histórico de várias gerações: desde a época colonial sucedem-se as
Levou ao limite o clima de tensão presente nas relações entre o homem e o
lutas entre portugueses e espanhóis, farrapos e imperiais, maragatos e
meio natural, o homem e o meio social. Mostrou que essas tensões são
pica-paus (nomes dos partidos em guerra política). Duas famílias, os Terra
capazes de moldar personalidades e transformar comportamentos, até
Cambará e os Amaral, são durante dois séculos o fio narrativo que unifica a
mesmo gerar violência.
história. Érico Veríssimo compõe uma verdadeira saga romanesca, com
Luta pela sobrevivência é o ponto de ligação entre seus personagens,
todas as suas características: guerras intermináveis, aventuras, amores,
onde a lei maior é a lei da selva. A morte é uma constante em suas obras
traições, gerações que se sucedem, criando um painel histórico da
como final trágico e irreversível (suicídios em Caetés e São Bernardo,
comunidade rio-grandense e do próprio Brasil. A obra é uma aglutinação de
assassinato em Angústia e as mortes do papagaio e da cadela Baleia em
novelas, onde ressaltam as figuras épicas de Ana Terra e do Capitão
Vidas Secas).
Rodrigo Cambará. O estilo de Érico Veríssimo é coloquial, poético, intimista.
Antonio Candido propõe uma divisão da obra em 3 partes:
Sua técnica de construção é o contraponto: onde várias histórias se
romances em 1ª pess. (Caetés, São Bernardo e Angústia) - pesquisa da
desenvolvem paralelamente, a ação concentrada e o dinamismo. Em suas
alma humana e retrato e análise da sociedade
últimas obras, como O Prisioneiro, O Senhor Embaixador e Incidente em
romances em 3ª pess. (Vidas Secas) - enfoca modos se der e as
Antares, desenvolveu a ficção política, ambientada nos dias atuais.
condições de existência no meio da seca
Obras : Fantoches; Clarissa; Música ao Longe; Caminhos Cruzados;
autobiografias (Infância e Memórias do Cárcere) - coloca-se como caso
Um Lugar ao Sol; Olhai os Lírios do Campo; Saga; O Resto é Silêncio; Noite;
humano, como uma necessidade de depor, denunciar
O Tempo e o Vento: O Continente, O Retrato, O Arquipélago; O Senhor
Seu a personagens são seres oprimidos e moldados pelo meio. Tanto
Embaixador; Incidente em Antares; Aventuras de Tibicuera; Gato Preto em
Paulo Honório (personagem de São Bernardo), quanto Luís da Silva (de
Campo de Neve.
Angústia) são o que se chama de “herói problemático”, em conflito com o
meio e consigo mesmos, em luta constante para adaptar-se e sobreviver, Terceira fase Modernista no Brasil (1945- +/- 1960)
insatisfeitos e irrealizados. Linguagem sintética e concisa.
Obras : Caetés (1933), S. Bernardo (1934), Angústia (1936), Vidas A literatura brasileira, assim como o cenário sócio-político, passa por
Secas (1938), Dois Dedos (1945), Insônia (1947), Infância (1945), Memórias transformações.
do Cárcere (1953), Histórias de Alexandre (1944), Viagem (1953), Linhas A prosa tanto no romance quanto nos contos busca uma literatura
Tortas (1962) etc. intimista, de sondagem psicológica, introspectiva, com destaque para
Clarice Lispector. Ao mesmo tempo, o regionalismo adquire uma nova
Jorge Amado (1912 -) dimensão com Guimarães Rosa e sua recriação dos costumes e da fala
sertaneja, penetrando fundo na psicologia do jagunço do Brasil central. Um
Nasceu na zona cacaueira baiana e depois morou em Salvador, essas traço característico comum a Clarice e Guimarães Rosa é a pesquisa da
referências são fontes de inspiração para suas obras. Estreia com O País do linguagem, por isso são chamados instrumentalistas. Enquanto Guimarães
Carnaval e, levado por Rachel de Queiroz, filia-se ao Partido Comunista Rosa preocupa-se com a manutenção do enredo com o suspense, Clarice
Brasileiro, por onde mais tarde torna-se deputado. Sofre perseguições abandona quase que completamente a noção de trama e detém-se no
políticas, exila-se e mais tarde é preso. registro de incidentes do cotidiano ou no mergulho para dentro dos
personagens.
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Na poesia, surge uma geração de poetas que se opõem às conquistas Características de sua producão literária:
e inovações dos modernistas de 22. A nova proposta foi defendida,  sondagem dos mecanismos mais profundos da mente humana;
inicialmente, pela revista Orfeu (1947). Assim, negando a liberdade formal,  técnica “impressionista” de apreensão dessa realidade interior
as ironias, as sátiras e outras “brincadeiras” modernistas, os poetas de 45 (predominância de impressões, de sensações);
buscam uma poesia mais “equilibrada e séria”. Os modelos voltam a ser os
Parnasianos e Simbolistas. Principais autores (Ledo Ivo, Péricles Eugênio da
 ruptura com a sequência linear da narrativa;
Silva Ramos, Geir de Campos e Darcy Damasceno). No fim dos anos 40,  predomínio do tempo psicológico e, portanto, subversão do
surge um poeta singular, pois não está filiado esteticamente a nenhuma tempo cronológico;
tendência: João Cabral de Melo Neto.  características físicas das personagens diluem-se: muitas nem
nome apresentam;
Referências históricas  as ações passam a ter importância secundária, servindo
principalmente como ilustração de características psicológicas
1945 = fim da 2ª GM, início da Era Atômica (Hiroxima e Nagasaki), das personagens (introspecção psicológica);
ONU, Declaração dos Direitos do Homem, Guerra Fria. No Brasil, fim da  introdução da técnica do fluxo da consciência - quebra os limites
ditadura Vargas, redemocratização brasileira, retomada de perseguições espaço-temporais e o conceito de verossimilhança, fundindo
políticas, ilegalidades e exílios. presente e passado, realidade e desejo na mente dos
personagens, cruzando vários eixos e planos narrativos sem
Autores Principais ordem ou lógica aparente;
 presença da epifania (“revelação”): aparentemente equilibradas
Guimarães Rosa (1908 - 1967)
e bem ajustadas, subitamente as personagens sentem um
estranhamento frente a um fato banal da realidade. Nesse
Mineiro, formou-se em Medicina e clinicou pelo interior, foi ministro
momento, mergulham num fluxo de consciência, do qual
e pela carreira diplomática esteve em Hamburgo, Bogotá e Paris. Foi eleito
emergem sentindo-se diferentes em relação a si mesmas e ao
membro da ABL e faleceu 3 dias depois de sua posse.
mundo que as rodeia; esse desequilíbrio momentâneo por certo
A obra de G. Rosa é extremamente inovadora e original. Seu livro,
mudará sua vida definitivamente;
Sagarana (1946), vem colocar uma espécie de marco divisor na literatura
moderna do Brasil: é uma obra que se pode chamar de renovadora da  suas principais personagens são mulheres, mas não se limitam ao
linguagem literária. Seu experimentalismo estético, aliando narrativas de espaço do ambiente familiar: Clarice visa a atingir valores
cunho regionalista a uma linguagem inovadora e transfigurada, veio essenciais humanos e universais tais como a falsidade das
transformar completamente o panorama da nossa literatura. relações humanas, o jogo das aparências, o esvaziamento do
O livro Grande Sertão: Veredas (1956), romance narrado em primeira mundo familiar, as carências afetivas e as inseguranças delas
pessoa por Riobaldo num monólogo ininterrupto onde o autor e o leitor decorrentes, a alienação, a condição da mulher, a coexistência
parecem ser os ouvintes diretos do personagem, G. Rosa recuperou a dos contrastes, das ambiguidades, das contradições do ser, num
tradição regionalista, renovando-a. Há um clima fantástico na narrativa: processo meio “barroco”;
Riobaldo conta suas aventuras de jagunço que quer vingar a morte de seu  fusão de prosa e poesia, com emprego de figuras de linguagem:
chefe, Joca Ramiro, assassinado pelo bando de Hermógenes. metáforas, antíteses (eu x não-eu, ser x não ser), paradoxos,
Sua narrativa é entremeada por reflexões metafísicas em torno dos símbolos e alegorias, aliterações e sinestesias;
acontecimentos e dois fatos se repropõem constantemente: seu pacto com  uso de metalinguagem - “Algumas pessoas cosem para fora; eu
o Diabo e seu amor por Diadorim (na verdade, Deodorina, filha de Joca coso para dentro”- em associação com os processos intimistas e
Ramiro, disfarçada de jagunço). As dúvidas de Riobaldo têm raízes místicas psicológicos, político-sociais, filosóficos e existenciais (A Hora da
e sua narrativa torna-se então não mais um documento regionalista, mas Estrela, 1977). “Depois que descobri em mim mesma como é que
uma obra de caráter universal, que toca em problemas que inquietam se pensa, nunca mais pude acreditar no pensamento dos
todos os homens: o significado da existência, as dimensões da realidade. outros”.
Mas não é só isto que é novo em G. Rosa: sua linguagem é extremamente
requintada. Obras:
Recuperando as matrizes arcaicas da língua portuguesa e fundindo-as  Romances : Perto do Coração Selvagem (1944); O Lustre (1946);
com a fala sertaneja, G. Rosa chega a criar um linguajar mítico, onde o novo A Cidade Sitiada (1949); A Maçã no Escuro (1961); A Paixão
e o primitivo perdem as dimensões tornando-se um linguajar ao mesmo segundo G. H. (1964); Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres
tempo real e irreal, pessoal e universal. Arcaísmos, neologismos, rupturas, (1969); Água Viva (1973); A Hora da Estrela (1977).
fusões, toda uma técnica elaboradíssima que torna seu discurso literário
 Contos : Alguns Contos (1952); Laços de Família (1960); A Legião
ímpar em toda a nossa literatura.
Estrangeira (1964); Felicidade Clandestina (1971), Imitação da
Grande Sertão: Veredas e as novelas de Corpo de Baile incluem e
Rosa (1973), A Via - Crucis do Corpo (1974); A Bela e a Fera
revitalizam recursos da expressão poética: células rítmicas, aliterações,
(1979).
onomatopéias, ousadias mórficas, elipses, cortes e deslocamentos de
sintaxe, vocabulário insólito, arcaico ou neológico, associações raras,  Entrevista : De Corpo Inteiro
metáforas, anáforas, metonímias, fusão de estilos.  Literatura infantil : Mistério do Coelhinho Pensante (1967); A
Mulher que Matou os Peixes (1969); A Vida Íntima de Laura
“ — Êpa! Nomopadrofilhospiritossantamêin! Avança, cambada de (1974), Quase de Verdade.
filhos-da-mãe, que chegou minha vez!... / E a casa matraqueou que nem
panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com os cabras João Cabral de Melo Neto (1920 - )
saltando e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual um
demônio preso e pulando como des demônios soltos. / — Ô gostosura de Pernambucano, passa a infância em engenhos de açúcar em contato
fim-de-mundo!...” --A Hora e a Vez de Augusto Matraga com a terra e o povo (o que despertou seu interesse pelo folclore
nordestino e pela literatura de cordel), com a palavra escrita (livros e
Obras : Sagarana (1946), Corpo de Baile (depois desdobrado em jornais, desde os dois anos de idade) e a parentela ilustre e culta (primo de
Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá no Pinhém, Noites do Sertão, Manuel Bandeira e Gilberto Freire). É eleito por unanimidade para a ABL
1956), Grande Sertão: Veredas (1956), Primeiras Estórias (1962), Tutaméia - (1969)
Terceiras Estórias (1967): Estas Estórias (1969), Ave, Palavra (1970). Estreou em 1942 com Pedra do Sono de forte influência de Carlos
Drummond de Andrade e Murilo Mendes. Ao publicar O Engenheiro, em
Clarice Lispector (1925 - 1977) 1945, traça os rumos definitivos de sua obra. Em 1956, escreve o poema
dramático Morte e Vida Severina, que, encenado em 1966, com músicas de
Ucraniana, veio com meses para o Brasil - por isso, sentia se Chico Buarque, consagra-o definitivamente.
“brasileira”. Tem por formação Direito. Em 1944 forma-se e publica o livro Só pertenceria à Geração de 45 se levado em conta o critério
que escreveu durante o curso - Perto do Coração Selvagem surpreendendo cronológico; pois esteticamente afasta-se da proposta do grupo.
a crítica e agradando ao público. Características de sua produção literária: no início da carreira,
Casa-se com um diplomata, afastando-se do Brasil durante longos apresenta um tendência à objetividade, convivendo com imagens
períodos, mas sem interromper a produção artística. surrealistas e oníricas (relativas aos sonhos): aos poucos, afasta-se da
Principal nome da poesia intimista da moderna literatura brasileira, influência surrealista e aprofunda a tendência à substantivação, à economia
questionamento do ser, “estar-no-mundo”, a pesquisa do ser humano, da linguagem, submetendo as palavras a um processo crescente de
resultando no romance introspectivo. depuração, com uso de metáforas, personificações, alegorias e metonímias
(a pedra; a faca; o cão); a partir de 1945, influenciado por uma concepção
arquitetônica, procede à geometrização do poema, aproximando a arte do
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Poeta à do Engenheiro; a preocupação com o descarnamento, com a Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome
confecção da poesia dessacralizada, afastada cada vez mais do subjetivismo de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados,
e da introspecção, leva-o à elaboração do poema objeto. Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia. Somos
Nele, o fruir poético atinge-se através da lógica do raciocínio, da muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a
razão, eliminando-se emoções superficiais (ruptura total com o custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas
sentimentalismo); o Poeta questiona o próprio ato de escrever e a função pernas finas, e iguais também porque o sangue que usamos tem pouca
da poesia; na década de 50, surge e amadurece a preocupação política e tinta.
principalmente a denúncia social do Nordeste e sua gente: os “severinos” E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte
retirantes, as tradições e o folclore regional, a herança medieval, a igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice
estrutura agraria canavieira, injusta e desigual... Aparece ainda a paisagem antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia
da Espanha, que apresenta pontos em comum com o cenário nordestino. (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade,
Continua viva e atuante a reflexão sobre a Arte em suas várias e até gente não nascida). Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina:
manifestações, desde a pintura (Miró, Picasso, Vicente do Rego Monteiro), a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima, a'de tentar
a literatura (Paul Valéry, Cesário Verde, Augusto dos Anjos, Graciliano despertar terra sempre mais extinta, a de querer arrancar algum roçado da
Ramos, Drummond), passando pelo futebol e fechando com a sua própria cinza, Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor
maneira de poetar: “Sempre evitei falar de mim, falar-me. Quis falar de possam seguir a história de minha vida, passo a ser o Severino que em
coisas. Mas na seleção dessas coisas não haverá um falar de mim?” (Morte vossa presença emigra.
e Vida Severina - Auto de Natal Pernambucano) --Cabral de Melo Neto
Morte e Vida Severina, obra mais popular de João Cabral, é um auto de
Natal do folclore pernambucano. Sua linha narrativa segue dois O artista ordena o caos (in Grande Sertão: Veredas)
movimentos que aparecem no título: “morte” e “vida”. No primeiro
movimento, há o trajeto de Severino, personagem-protagonista, que segue Olhe: conto ao senhor. Se diz que, no bando de Antônio Dó, tinha um
do sertão para Recife, em face da opressão econômico-social. Severino tem grado jagunço, bem remediado de posses - Davidão era o nome dêle. Vai,
a força coletiva de um personagem típico: representa o retirante um dia, coisas dessas que às vêzes acontecem, êsse Davidão pegou a ter
nordestino. No segundo movimento, o da “vida”, o autor chama a atenção mêdo de morrer. Safado, pensou, propôs êste trato a um outro, pobre dos
para a confiança no homem e em sua capacidade de resolver problemas. mais pobres, chamado Faustino: o Davidão dava a êle dez contos de réis,
mas, em lei de caborje — invisível no sobrenatural — chegasse primeiro o
Obras: destino do Davidão morrer em combate, então era o Faustino quem
 Prosa : Considerações sobre a Poeta Dormindo (1941); Juan Miró morria, em vez dêle. E o Faustino aceitou, recebeu, fechou. Parece que,
(1950) com efeito, no poder de feitiço do contrato êle muito não acreditava.
 Poesia : Pedra do Sono (1942); Engenheiro (1945); Psicologia da Então, pelo seguinte, deram um grande fogo, contra os soldados do Major
Composição (1947); O cão sem Plumas (1950); Rio (1954); Alcides do Amaral, sitiado forte em São Francisco. Combate quando findou,
Poemas reunidos (os livros anteriores mais Os Três Mal-Amados, todos os dois estavam vivos, o Davidão e o Faustino. A de ver ? Para
1954); Duas Águas (os livros anteriores mais Morte e Vida nenhum dêles não tinha chegado a hora-e-dia. Ah, e assim e assim foram,
Severina, Paisagens com figuras e Uma Faca só Lâmina, 1956); durante os meses, escapos, alteração nenhuma não havendo; nem feridos
Quaderna (1960); Dois Parlamentos (1961); Terceira Feira (os êles não saíam...Que tal, o que o senhor acha? Pois, mire e veja: isto
dois livros anteriores mais Serial, 1961); A Educação pela Pedra mesmo narrei a um rapaz de cidade grande, muito inteligente, vindo com
(1966), Poesias Completas (1968); Museu de Tudo (1975); Escola outros num caminhão, para pescarem no Rio. Sabe o que o môço me
das Facas (1987); Auto do Frade (1984); Agrestes (1985); Crime disse? Que era assunto de valor, para se compor uma estória em livro. Mas
na Calle Relator (1987); Sevilha Andando (1987-1993). que precisava de um final sustante!, caprichado. O final que êle daí
imaginou, foi um: que, um dia, o Faustino pegava também a ter mêdo,
Textos queria revogar o ajuste! Devolvia o dinheiro. Mas o Davidão não aceitava,
Fragmento de Perto do Coração Selvagem não queria, por forma nenhuma. Do discutir, ferveram nisso, ferravam
numa luta corporal. A fino, o Faustino se provia na faca, investia, os dois
No momento em que a tia foi pagar a compra, Joana tirou o livro e rolavam no chão, embolados. Mas, no confuso, por sua própria mão dêle, a
meteu cuidadosamente entre os outros, embaixo do braço. A tia faca cravava no coração do Faustino, que falecia...
empalideceu. Na rua a mulher buscou as palavras com cuidado: — Joana... Apreciei demais essa continuação inventada. A quanta coisa limpa
Joana, eu vi... verdadeira uma pessoa de alta instrução não concebe! Aí podem encher
Joana lançou lhe um olhar rápido. Continuou silenciosa: — Mas você êste mundo de outros movimentos, sem os êrros e volteios da vida em sua
não diz nada? — não se conteve a tia, a voz chorosa.— Meu Deus, mas o lerdeza de sarrafaçar. A vida disfarça? Por exemplo. Disse isso ao rapaz
que vai ser de você? — Não sé assuste, tia. pescador, a quem sincero louvei. E êle me indagou qual tinha sido o fim, na
— Mas uma menina ainda... Você sabe o que fez ? — Sei... verdade de realidade, de Davidão e Faustino. O fim? Quem sei. Soube
— Sabe... sabe a palavra...? sòmente só que o Davidão resolveu deixar a jagunçagem - deu baixa do
— Eu roubei o livro, não é isso? bando, e, com certas promessas, de ceder uns alqueires de terra, e outras
— Mas, Deus me valha! Eu já nem sei o que faço, pois ela ainda vantagens de mais pagar, conseguiu do Faustino dar baixa também, e
confessa! viesse morar perto dêle, sempre. Mais dêles, ignoro. No real da vida, as
— A senhora me obrigou a confessar. coisas acabam com menos formato, nem acabam. Melhor assim. Pelejar
— Você acha que se pode... que se pode roubar? — Bem... talvez não. por exato, dá êrro contra a gente. Não se queira. Viver é muito perigoso...
— Por que então...? — Eu posso. --Guimarães Rosa
— Você?! — gritou a tia.
— Sim, roubei porque. quis. Só roubarei quando quiser. Não faz mal
nenhum.
— Deus me ajude quando faz mal Joana?
— Quando a gente rouba e tem medo. Eu não estou contente nem
triste.
--Clarice Lispector

O retirante explica ao leitor quem é e a que vai (in Morte e Vida


Severina)

— O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há muitos


Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de
Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria. fiquei sendo
o da Maria do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco: há muìtos na freguesia, por causa de um
coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta
sesmaria. Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é
o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba.

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