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3ª SÉRIE / CURSO TURMA: DATA: 23 / 09 / 2015

Professor: Adriano Alves


A postura nacionalista apresenta-se em duas vertentes:
Modernismo (1922-1960)
 nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade,
"Todo este sangue de mil raças / corre em minhas veias / sou
identificado politicamente com as esquerdas.
brasileiro / mas do Brasil sem colarinho / do Brasil negro / do Brasil
índio." --Sérgio Milliet
 nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com
as correntes de extrema direita.
Iniciou-se no Brasil com a SAM de 1922. Mas nem todos os
participantes da Semana eram modernistas: o pré-modernista Graça
Manifestos e Revistas
Aranha foi um dos oradores. Apesar de não ter sido dominante no
começo, como atestam as vaias da plateia da época, este estilo, com o
Revista Klaxon — Mensário de Arte Moderna (1922-1923)
tempo, suplantou os anteriores. Era marcado por uma liberdade de
estilo e aproximação da linguagem com a linguagem falada; os de
primeira fase eram especialmente radicais quanto a isto. Recebe este nome, pois klaxon era o termo usado para designar a
Didaticamente, divide-se o Modernismo em três fases: a primeira buzina externa dos automóveis. Primeiro periódico modernista, é
fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de consequência das agitações em torno da SAM. Inovadora em todos os
irreverência e escândalo; uma segunda mais amena, que formou sentidos: gráfico, existência de publicidade, oposição entre o velho e o
grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada Pós- novo.
Modernismo por vários autores, que se opunha de certo modo a “— Klaxon sabe que o progresso existe. Por isso, sem renegar o
primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de passado, caminha para diante, sempre, sempre.”
neoparnasianismo.
Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924-1925)
Referências históricas
Escrito por Oswald e publicado inicialmente no Correio da Manhã.
Em 1925, é publicado como abertura do livro de poesias Pau-Brasil de
 Início do século XX: apogeu da Belle Époque. O burguês
Oswald. Apresenta uma proposta de literatura vinculada à realidade
comportado, tranquilo, contando seu lucro. Capitalismo
brasileira, a partir de uma redescoberta do Brasil.
monetário. Industrialização e Neocolonialismo.
“— A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos
 Reivindicações de massa. Greves e turbulências sociais.
verdes da Favela sob o azul cabralino, são fatos estéticos.”
Socialismo ameaça.
“— A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A
 Progresso científico: eletricidade. Motor a combustão: contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como
automóvel e avião. somos.”
 Concreto armado: “arranha-céu”. Telefone, telégrafo. Mundo
da máquina, da informação, da velocidade. A Revista (1925-1926)
 Primeira Guerra Mundial e Revolução Russa.
 Abolir todas as regras. O passado é responsável. O passado, Responsável pela divulgação dos ideais modernistas em MG. Teve
sem perfil, impessoal. Eliminar o passado. apenas três números e contava com Drummond como um de seus
 Arte Moderna. Inquietação. Nada de modelos a seguir. redatores.
Recomeçar. Rever. Reeducar. Chocar. Buscar o novo:
multiplicidade e velocidade, originalidade e incompreensão, Verde-Amarelismo (1926-1929)
autenticidade e novidade.
É uma resposta ao nacionalismo do Pau-Brasil. Grupo formado
 Vanguarda - estar à frente, repudiar o passado e sua arte.
por Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida e
Abaixo o padrão cultural vigente.
Cassiano Ricardo. Criticavam o “nacionalismo afrancesado” de Oswald.
Sua proposta era de um nacionalismo primitivista, ufanista,
Primeira fase Modernista no Brasil (1922-1930)
identificado com o fascismo, evoluindo para o Integralismo de Plínio
Salgado (década de 30). Idolatria do tupi e a anta é eleita símbolo
Caracteriza-se por ser uma tentativa de definir e marcar posições.
nacional. Em maio de 1929, o grupo verde-amarelista publica o
Período rico em manifestos e revistas de vida efêmera.
manifesto “Nhengaçu Verde-Amarelo — Manifesto do Verde-
Um mês depois da SAM, a política vive dois momentos
Amarelismo ou da Escola da Anta”.
importantes: eleições para Presidência da República e congresso (RJ)
para fundação do Partido Comunista do Brasil. Ainda no campo da
Manifesto Regionalista de 1926
política, surge em 1926 o Partido Democrático que teve entre seus
fundadores Mário de Andrade.
1925 e 1930 é um período marcado pela difusão do Modernismo
É a fase mais radical justamente em consequência da necessidade
pelos estados brasileiros. Nesse sentido, o Centro Regionalista do
de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado.
Nordeste (Recife) busca desenvolver o sentimento de unidade do
Caráter anárquico e forte sentido destruidor.
Nordeste nos novos moldes modernistas. Propõem trabalhar em favor
Principais autores desta fase: Mário de Andrade, Oswald de
dos interesses da região, além de promover conferências, exposições
Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, Menotti
de arte, congressos etc. Para tanto, editaram uma revista. Vale
del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.
ressaltar que o regionalismo nordestino conta com Graciliano Ramos,
José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Jorge
Características
Amado e João Cabral - na 2ª fase modernista.
 busca do moderno, original e polêmico
Revista Antropofagia (1928-1929)
 nacionalismo em suas múltiplas facetas
 volta às origens e valorização do índio verdadeiramente Contou com duas fases (dentições): a primeira com 10 números
brasileiro (1928 e 1929) direção Antônio Alcântara Machado e gerência de Raul
 “língua brasileira” - falada pelo povo nas ruas Bopp; a segunda foi publicada semanalmente em 16 números no jornal
 paródias - tentativa de repensar a história e a literatura Diário de São Paulo (1929) e seu “açougueiro” (secretário) era Geraldo
brasileiras Ferraz. É uma nova etapa do nacionalismo Pau-Brasil e resposta ao
grupo Verde-amarelismo. A origem do nome movimento esta na tela
“Abaporu” de Tarsila do Amaral.

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1ª fase - inicia-se com o polêmico manifesto de Oswald e conta  Mana Maria (romance inacabado e publicado pós-morte
com Alcântara Machado, Mário de Andrade (2º número publicou um 1936)
capítulo de Macunaíma), Carlos Drummons (3º número publicou a  Cavaquinho e Saxofone (coletânea de artigos e estudos,
poesia “No meio do vaminho”); além de desenhos de Tarsila, artigos 1940)
em favor da língua tupi de Plínio Salgado e poesias de Guilherme de
Almeida. Escreveu para Terra Roxa e Outras Terras (um de seus
2ª fase - mais definida ideologicamente, com ruptura de Oswald e fundadores), para a Revista Antropofagia e para a Revista Nova (que
Mário de Andrade. Estão nessa segunda fase Oswald, Bopp, Geraldo dirigiu).
Ferraz, Oswaldo Costa, Tarsila, Patrícia Galvão (Pagu). Os alvos das
críticas (mordidas) são Mário de Andrade, Alcântara Machado, Graça Cassiano Ricardo (1895-1974)
Aranha, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia e Plínio Salgado.
“SÓ A ANTROPOFAGIA nos une, Socialmente. Economicamente. Paulista, Cassiano deixou uma obra marcada pelas tendências de
Filosoficamente. / Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos seu tempo sem, entretanto, deixar um estilo próprio. Iniciou sua
os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. / De carreira com Dentro da Noite (1915) neo-simbolismta, passou por
todos os tratados de paz. / Tupi or not tupi, that is the question.” tendências parnasianas em A Frauta de Pã (1917, para integrar-se ao
(Manifesto Antropófago) Verde-amarelismo com Vamos Caçar Papagaios (1926). Com o
“A nossa independência ainda não fo proclamada. Frase típica de formalismo de 45, torna-se meditativo e melancólico. Em 1960, entra
D. João VI: — Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que para a corrida vanguardista com experimentalismo e franca adesão ao
algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o Concretismo e à Poesia Praxis.
espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.”
(Revista de Antropofagia, nº 1) Obras principais:

Outras Revistas  Poesia:


 Dentro da Noite (1915)
 Revista Verde de Cataguazes (MG - 1927-1928)  A Frauta de Pã (1917)
 revista Estética (RJ - 1924)  Vamos Caçar Papagaios (1926)
 revista Terra Roxa e outras Terras (SP - 1926, colaborador  Martim-Cererê (1928)
Mário de Andrade)  Deixa Estar, Jacaré (1931)
 revista Festa (RJ - 1927, Cecília Meireles como colaboradora)  O Sangue das Horas (1943)
 Um Dia depois do Outro (1947)
Autores  A Face Perdida (1950)
 Poemas Murais (1950)
Alcântara Machado (1901-1935)  Sonetos (1952)
Foi um importante escritor modernista da primeira fase, apesar  João Torto e A Fábula (1956)
de não ter participado da SAM, integrando o grupo somente em 25.  Arranha-Céu de Vidro (1956)
Produziu prosa ficcional, renovando sua estrutura para construir  Poesias Completas (1957)
histórias curtas e do cotidiano. Privilegia o imigrante, principalmente o  Montanha Russa (1960)
italiano, e sua fusão, ampliando o universo cultural de São Paulo.  A Difícil Manhã (1960)
Apesar de não ser tão radical como os outros modernistas
 Jeremias sem Chorar (1964)
contemporâneos seus, usava uma linguagem em seus contos que se
aproximava muito do falado. Seus personagens do livro de contos Brás,
 Prosa:
Bexiga e Barra Funda falavam uma mistura de italiano e português.
 O Brasil no Original (1936)
Retrata uma realidade citadina e realista, num tom divertido,
 O Negro na Bandeira (1938)
enfatizando a vida difícil dos imigrantes e sua ascensão.
 A Academia e a Prosa Moderna (1939)
Nunca chegou a completar seu romance Mana Maria, que foi
publicado um ano depois de sua prematura morte. Pouco antes do fim  Pedro Luís Visto Pelos Modernos (1939)
da vida, rompeu relações com Oswald de Andrade por motivos  Marcha para o Oeste (1943)
ideológicos, ao mesmo tempo em que sua amizade com Mário de  A Academia e a Língua Brasileira (1943)
Andrade se estreitava.  A Poesia na Técnica do Romance (1953)
Brás, Bexiga e Barra Funda - contos com fragmentação de episódios,  O Homem Cordial (1959)
até registro de cenas sem interesse, mapeamento de São Paulo,  22 e a Poesia de Hoje (1962)
exótico nos nomes das personagens, menção a produtos de consumo  Reflexos sobre a Poética de Vanguarda (1966)
da época, gírias esquecidas etc.
“Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De Guilherme de Almeida (1890-1969)
automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro ou casamento. Por
isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um Sempre se ajustou aos padrões e foi disciplinado, com mestria
sonho. (...) Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um sobre a língua e seus dispositivos técnicos. Exímio poeta que pode ter
bonde o pegou. Pegou e matou. / No bonde vinha o pai do Gaetaninho. sua obra dividida em três etapas:
/ A gurizada assustada espalhou a notícia na noite. / — Sabe o Pré-modernista - Nós (só de sonetos, 1917), A Dança das Horas
Gaetaninho? / — Que é que tem? / — Amassou o bonde! / (...) às (1919), Messidor (contendo os dois anteriores mais A Suave Colheita,
dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da Rua do Oriente e 1919), Livro de Horas de Sóror Dolorosa (1920) e Era Uma Vez..., (1922)
Gaetaninho não ia na boléia de nenhum dos carros do - influência parnasiano-simbolista, habilidoso artista do verso
acompanhamento. Ia no da frente dentro de um caixão fechado com  Modernismo - A Frauta que Eu Perdi (subtítulo Canções
flores pobres por cima.” Gregas, 1924) Meu (1925) e Raça (1925) - versos livres,
Laranja da China - luso-brasileiro toma o lugar do italiano, ainda sonoridade e ressurgir de algumas rimas. Raça (rapsódia da
na linha do cotidiano em suas minúcias. Todos os contos apresentam mestiçagem brasileira) pertence ao nacionalismo estético
uma espécie de paródia desde o título: O Revoltado Robespierre (Sr. com nomeação metonímica (português = velho cavaleiro,
Natanael Robespierre dos Anjos). índio reluz em cores e preto = samba), versos grandes, frases
nominais e vocábulos mais raros.
Obras principais:  Pós-Modernismo - Você (1930), Acaso (1938), Poesia Vária
(1947), Camoniana (1956) e Pequeno Cancioneiro (1956) -
 Pathé Baby (1926) retorno ao ponto de origem: versos metrificados, rimas raras,
 Brás, Bexiga e Barra Funda (1927) sonetos e sentimentalismo. Apanágio da técnica, reconstitui
 Laranja da China (1928) a maneira de Camões e dos Cancioneiros.
 Anchieta na Capitania de São Vicente (1928)

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“Há uma encruzilhada de três estradas sob a minha cruz de Mário de Andrade (1893-1945)
estrelas azuis: / três caminhos se cruzam — um branco, um verde e um
preto — três hastes da grande cruz. / E o branco que veio do norte, e o Um dos organizadores do Modernismo e da SAM, foi o que
verde que veio da terra, e o preto que veio do leste. / derivam num apresentou projeto mais consistente de renovação. Começou
novo caminho, completam a cruz unidos num só, fundidos num vértice. escrevendo críticas de arte e poesia (ainda parnasiana) com o
/ Fusão ardente na fornalha tropical de barro vermelho, cozido, pseudônimo de Mário Sobral. Rompeu com o Parnasianismo e o
estalando ao calor modorrento dos sóis imutáveis: (...)”--Minha Cruz!, passado com Paulicéia Desvairada e a Semana, da qual participou
in Raça ativamente.
Injetou em tudo que fez um senso de problemático brasileirismo,
Manuel Bandeira (1886-1968) daí sua investida no folclore. De jeito simples, sua coloquialidade
desarticulou o espírito nacional de uma montanha de preconceitos
É uma das figuras mais importantes da poesia brasileira e um dos arcaicos. Lutou sempre por uma literatura brasileira e com temas
iniciadores do Modernismo. Do penumbrismo pós-simbolista de A brasileiros.
Cinza das Horas às experiências concretas da década de 60 de “O passado é lição para se meditar e não para se reproduzir” -
Composições e Ponteios, a poesia de Bandeira destaca-se pela afirmava assim a necessidade de um presente novo, inventivo.
consciência técnica com que manipulou o verso livre. Participa Acreditava na arte como instrumento de debate e de combate,
indiretamente da SAM, quando Ronald de Carvalho declama seu comportamento evidenciado em Paulicéia Desvairada. Esta obra
poema Sapos. oferece uma panorâmica da cidade e de sua vida, ao criticar a mania
Sempre pensando que morreria cedo (tuberculoso), acabou obsessiva de posse, aqui também satiriza a incompetência dos
vivendo muito e marcando a literatura brasileira. Morte e infância são administradores.
as molas propulsoras de sua obra. Ironizava o desânimo provocado “Oh! Minhas alucinações” / Vi os deputados, chapéus altos / sob
pela doença, mas em Cinza das Horas apresenta melancolia e o pálio vesperal, feito de mangas-rosas, / saírem de mãos dadas do
sofrimento por causa da “dama branca”. Congresso... / Como um possesso num acesso em meus aplausos / aos
Além de ser um poeta fabuloso, também foi ensaísta, cronista e salvadores do meu estado amado! (...) / Mas os deputados, chapéus
tradutor. O próprio autor define sua poesia como a do "gosto humilde altos / Mudavam-se pouco a pouco em cabras! / Crescem-lhes os
da tristeza". cornos, decemlhes as barbichas... (...) / se punham a pastar / rente do
“Febre, hemoptise, dispnéia, e suores noturnos. / A vida inteira palácio do senhor presidente... / Oh! Minhas alucinações!” --O
que podia ter sido e que não foi. / Tosse, tosse, tosse. / Mandou rebanho, in Paulicéia Desvairada
chamar o médico: / — Diga trinta e três. / — Trinta e três... trinta e Sua faceta de teórico de estética literária pode ser avaliado em A
três... trinta e três... / — Respire. (...) / — O senhor tem uma escavação Escrava que não é Isaura, onde expõe pequenos e paliativos remédios
no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. / — Então, doutor, da farmacopéia didático-técnico-poética do Modernismo.
não é possível tentar o pneumotórax? / — Não. A única coisa a fazer e “Eu creio que os modernistas da Semana de Arte Moderna não
tocar um tango argentino.” --Pneumotórax devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição. O
Ritmo Absoluto e Libertinagem são frutos de um processo de homem atravessa uma fase integralmente política da humanidade.
integração com o Rio. Sua poesia contagia-se de uma visão erótico- Nunca jamais ele foi tão ‘momentâneo’ como agora.” --O Movimento
sentimental, resultante da forma de encarar o amor a partir da Modernista - conferência
experiência do corpo. Libertinagem usa lirismo solto, repleto de cenas Clã do Jabuti resulta da viagem de descoberta do Brasil, numa
do cotidiano, com verdadeiras aulas de solidariedade e ternura. aproximação com o folclore como fonte de criação poética. Apoiando-
“Irene preta / Irene boa / Irene sempre de bom humor. / Imagino se nas tradições populares brasileiras, utiliza a toada, o coco, a moda, o
Irene entrando no céu: / — Licença, meu branco! / E São Pedro samba para sustentar seus poemas.
bonachão: / — Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.” -- Seu primeiro romance é Amar, Verbo Intransitivo que penetra na
Irene no Céu, in Libertinagem estrutura familiar da burguesia paulistana, sua moral e seus
Em Estrela da Manhã, atinge a plenitude de seu lirismo libertário, preconceitos. Aborda, ao mesmo tempo, os sonhos e a adaptação dos
mostrando que tudo pode ser matéria poética: um clássico esquecido, imigrantes na agitada Paulicéia.
uma frase de criança, uma notícia de jornal, a casa em que morava e Já em Macunaíma, Herói sem nenhum caráter, cria um anti-herói
até mesmo uma propaganda de três sabonetes (Baladas das três com um perfil indolente, brigão, covarde, sincero, mentiroso,
mulheres do sabonete Araxá). trabalhador, preguiçoso, malandro, otário - multifacetado. Inspirando-
se no folclore indígena da Amazônia, mesclando a lendas e tradições
Obras principais: das mais variadas regiões do Brasil, constrói-se um herói que encarna o
homem latino-americano. Macunaíma é uma figura totalmente fora
 Poesia: dos esquemas tradicionais da prosa de ficção, uma aglutinação de
 A Cinza das Horas (1917) alguns possíveis tipos brasileiros. Sempre na defesa, Macunaíma
 Carnaval (1919) começa comendo terra e acaba sendo comido pela terra.
 O Ritmo Dissoluto (1924) Renate de Males já evidencia certo distanciamento em relação ao
 Libertinagem (1930) desvairismo inicial. Em Contos de Belazarte, manifesta acentuada
 Estrela da Manhã (1936) preocupação com uma análise psicológico-social das relações
 Lira dos Cinquent’Anos (1940) familiares, reveladas através de uma linguagem inovadora (sintático e
 Belo, Belo (1948) lexicalmente).
 Mafuá do Malungo (1948) Na obra Lira Paulistana, Mário faz uma interpretação poética de
 Opus 10 (1952) seu destino e integração com a cidade de São Paulo. O reflexo do eu na
 Estrela da Tarde (1963) transparência do rio Tietê mostra as águas do rio como se fosse um
 Estrela da Vida Inteira (1966) espelho mágico.
Inspiração - “São Paulo! comoção de minha vida ... / Os meus
 Prosa: amores são flores feitas de original... / Arlequinal!... Traje de losangos...
 Crônicas da Província do Brasil (1937) Cinza e ouro... / Luz e bruma... Forno e inverno morno... / Elegâncias
 Guia de Ouro Preto (1938) sutis sem escândalos, sem ciúmes... / Perfumes de Paris... Arys!” --in
Poesias Completas
 Noções de História das Literaturas (1940)
O Banquete é um explosivo depoimento sobre as linhas mestras
 Literatura Hispano-Americana (1949)
do pensamento estético de Mário de Andrade, além de constituir uma
 Gonçalves Dias (1952)
sátira sobre certos comportamentos típicos no tempo da ditadura
 Itinerário de Pasárgada (1954)
estadonovista.
 De Poetas e de Poesia (1954) "Pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são." --
 Flauta de papel (1957) Macunaíma
 Andorinha, Andorinha (seleção de Carlos Drummond de
Andrade, 1966)
 Colóquio Unilateralmente Sentimental (1968)

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Obras Principais “A situação ‘revolucionária’ desta bosta mental sul-americana
apresentava-se assim: o contrário do burguês não era o proletário —
 Poesia era o boêmio! As massas, ignoradas no território e como hoje, sob a
 Há uma Gota de Sangue em casa Poema (1917) completa devassidão econômica dos políticos e dos ricos. Os
 Paulicéia Desvairada (1922) intelectuais brincando de roda.” --prefácio de Serafim Ponte Grande
 Losango Cáqui (1926) Depois de participar da SAM, viaja à Europa e o diário de bordo
 Clã do Jabuti (1927) destas viagens é o romance cubista Memórias Sentimentais de João
 Remate de males (1930) Miramar, que os críticos chamaram de prosa telegráfica. Este romance-
 Poesias (1941) caleidoscópio inaugura, no nível da prosa, a tendência antinormativa
 Lira Paulistana (1946) da literatura contemporânea, rompendo os modelos realistas. Seus 163
 O Carro da Miséria (1946) fragmentos registram a trajetória do brasileiro rico de todos os tempos:
 Poesias Completas (1955) Europa ? casamento ?amante ?desquite ?vida literária ?apertos
financeiros ? ...
 Conto “Beiramávamos em auto pelo espelho de aluguel arborizado das
avenidas marinhas sem sol. / Losango, tênues de ouro bandeira
 Primeiro Andar (1926)
nacionalizavam o verde dos montes interiores. / No outro lado azul da
 Balazarte (1934)
baía a Serra dos Órgãos serrava. / Barcos. E o passado voltava na brisa
 Contos Novos (1946)
de baforadas gostosas. Tolah ia vinha derrapava entrava em túneis. /
Copacabana em um duelo arrepiado na luminosa noite varada pelas
 Romance
frestas da cidade.” --66. Botafogo, in Memórias Sentimentais de
 Amar, Verbo Intransitivo (1927)
João Miramar
 Macunaíma (1928)
Em Paris, deslumbrado, descobriu a própria Terra: tinha
inventado a poesia de exportação — o Pau-Brasil. Poemas-pílilas, onde
 Ensaio
mistura-se a linguagem antiga dos cronistas e jesuítas com o modo de
 A Escrava que não é Isaura (1925)
falar atual. Com essa mistura, tempera seus poemas com sua fina
 O Aleijadinho e Álvares de Azevedo (1935)
ironia.
 O Baile das Quatro Artes (1943)
relicácio - “No baile da Corte / Foi o Conde d’Eu quem disse / Pra
 Aspectos da Literatura Brasileira (1943)
Dona Benvinda / Que farinha de Suruí / Pinga de Parati / Fumo de
 O Empalhador de Passarinhos (1944)
Baependi / É comê bebê pitá e caí” --Pau-Brasil
 O Banquete (1978)
O momento esteticamente mais radical do Modernismo foi a
Antropofagia. Invocando a cultura e os costumes primitivos do Brasil,
 Crônicas
este movimento afirma a necessidade de sermos um povo
 Os Filhos da Candinha (1943)
antropófago, para não nos atrofiarmos culturalmente. Deve-se filtrar as
contribuições estrangeiras para alcançar uma síntese transformadora.
 Musicologia e Folclore
Com a crise econômica de 1929, Oswald passa por difíceis
 Ensaio sobre Música Brasileira (1928)
condições financeiras e se vê obrigado a conjugar o verbo “crakar”
 Compêndio de História da Música (1929)
“Eu empobreço de repente / Tu enriqueces por minha causa / Ele
 Modinhas e Lundus Imperiais (1930)
azula para o sertão / Nós entramos em concordata / Vós protestais por
 Música, Doce Música (1933)
preferência / Eles escafedem a massa / Sê pirata / Sede trouxas /
 Namoros com a Medicina (1939)
Abrindo o pala / Pessoal sarado / Oxalá eu tivesse sabido que esse
 Música do Brasil (1941)
verbo era irrregular.” --Memórias Sentimentais de João Miramar
 Danças Dramáticas do Brasil (1959)
Falido economicamente, Oswald vai se pendurar nos “reis da vela”, os
 Música de Feitiçaria (1963)
agiotas do beco do escarro (zona bancária de SP). Com isso, o autor vai
recolhendo material para sua peça O Rei da Vela.
 História da Arte
Serafim Ponte Grande é o romance que testemunha a fase de
 Padre Jesuíno de Monte Melo (1946)
identidade ideológica com a esquerda. Serafim encarna o mito do herói
 outros folhetos reunidos nas Obras Completas
latino-americano individual que parte como um louco em busca da
libertação e da utopia. . Oswald projeta em Serafim o herói que vai
Oswald de Andrade (1890-1853)
remar sempre contra a corrente do inconformismo, procurando
romper, através da crítica, do sarcasmo e da ironia as rédeas
Foi poeta, romancista, ensaísta e teatrólogo. Figura de muito
sufocantes do ser burguês.
destaque no Modernismo Brasileiro, ele trouxe de sua viagem a Europa
Por ser o sonhe de Serafim individual, acaba frustrando-se e,
o Futurismo. Formado em Direito, Oswald era um playboy
depois de aprender as duras realidades da vida, torna-se um
extravagante: usa luvas xadrez e tinha um Cadillac verde apenas
irrecuperável marginal que cai fora do sistema.
porque este tinha cinzeiro, para citar apenas algumas de suas muitas
“— Tudo é tempo e contra-tempo! E o tempo é eterno. Eu sou
extravagâncias. Amigo de Mário de Andrade, era seu oposto:
uma forma vitoriosa do tempo. Em luta seletiva, antropofágica. Com
milionário, extrovertido, mulherengo (casou-se 5 vezes, as mais
outras formas do tempo: moscas, eletro-éticas, cataclismas, polícias e
célebres sendo as duas primeiras esposas: Tarsila do Amaral e Patrícia
marimbondos! / Ó criadores das elevações ertificiais do destino eu vos
"Pagu" Galvão).
digo! A felicidade do homem é uma felicidade guerreira. Tenho dito.
“Viajei, fiquei pobre, fiquei rico, casei, enviuvei, casei, divorciei,
Viva a rapaziada! O gênio é uma longa besteira!” --Serafim Ponte
viajei, casei... já disse que sou conjugal, gremial e ordeiro. O que não
Grande
me impediu de ter brigado diversas vezes à portuguesa e tomado parte
Morreu sofrendo dificuldades de saúde e financeiras, mas sem
em algumas batalhas campais.”--nota autobiográfica - Diário de
perder o contato com os artistas da época.
Notícias
epitáfio - “Eu sou redondo, redondo / Redondo, redondo eu sei / Eu
Foi um dos principais artistas da Semana de Arte Moderna e
sou uma redond’ilha / Das mulheres que beijei / Vou falecer do oh!
lançou o Movimento Pau-Brasil e a Antropofagia, corrente que
amor / Das mulheres de minh’ilha / Minha caveira rirá ah! ah! ah! /
pretendia devorar a cultura europeia e brasileira da época e criar uma
Pensando na redondilha”
verdadeira cultura brasileira. Fazendeiro de café, perdeu tudo e foi à
falência em 1929 com o crash da Bolsa de Valores. Militante
esquerdista, passou a divulgar o Comunismo junto com Pagu em 1931,
mas desligou-se do Partido em 1945.
Sua obra é marcada por irreverência, coloquialismo,
nacionalismo, exercício de demolição e crítica. Incomodar os
acomodados, estimular o leitor através de palavras de coragem eram
constantes preocupações desse autor.

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Obras principais: Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
 Poesia Tem um processo seguro
 Pau-Brasil (1925) De impedir a concepção
 Primeiro Caderno de Poesia do Aluno Oswald de Andrade Tem telefone automático
(1927) Tem alcalóide à vontade
 Poesias Reunidas (edição póstuma) Tem prostitutas bonitas
para a gente namorar
 Romance
 Os Condenados (I - Alma, II - Estrela do Absinto, III - A escada, E como farei ginástica
1922 a 1934) Andarei de bicicleta
 Memórias Sentimentais de João Miramar (1924) Montarei em burro brabo
 Serafim Ponte Grande (1933) Subirei no pau-de-sebo
 Marco Zero (I - A Revolução Melancólica, II - Chão, 1943 a Tomarei banhos de mar!
1946) E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
 Manifestos, teses e ensaios Mando chamar a mãe-d’água
 Manifesto Pau-Brasil (1925) Pra me contar as histórias
 Manifesto Antropófago (1928) Que no tempo de eu menino
 A Arcádia e a Inconfidência (1945) Rosa vinha me contar
 Ponta de Lança (1945) Vou-me embora pra Pasárgada.
 A Crise da Filosofia Messiânica (1946) Em Pasárgada tem tudo
 A Marcha das Utopias (1966) É outra civilização
Tem um processo seguro
 Teatro De impedir a concepção
 O Homem e o Cavalo (1934) Tem telefone automático
 O Rei da Vela (1937) Tem alcalóide à vontade
 A Morta (1937) Tem prostitutas bonitas
 O Rei Floquinhos (Infantil, 1953) para a gente namorar

 Memórias E quando eu estiver mais triste


 Um Homem sem Profissão (1954) Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
 Crônicas Vontade de me matar
 Telefonemas (edição póstuma) Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Textos Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Evocação do Recife --Manuel Bandeira
Recife
Não a Veneza americana pronominais
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais. Dê-me um cigarro
Não o Recife dos Mascates Diz a gramática
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois — Recife das Do professor e do aluno
revoluções libertárias E do mulato sabido
Mas o Recife sem história nem literatura Mas o bom negro e o bom branco
Recife sem mais nada
Da Nação Brasileira
Recife da minha infância (...)
Dizem todos os dias
--Manuel Bandeira
Deixa disso camarada
Vou-me embora pra Pasárgada Me dá um cigarro
Vou-me embora pra Pasárgada --Fragmentos do livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de
Lá sou amigo do rei Andrade
Lá tenho a mulher que eu quero
na cama que escolherei pronominais
Vou-me embora pra Pasárgada Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Vou-me embora pra Pasárgada Do professor e do aluno
Aqui eu não sou feliz E do mulato sabido
Lá a existência é uma aventura Mas o bom negro e o bom branco
De tal modo inconsequente Da Nação Brasileira
Que Joana a Louca de Espanha Dizem todos os dias
Rainha e falsa demente Deixa disso camarada
Vem a ser contraparente Me dá um cigarro
Da nora que nunca tive
--Fragmentos do livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de
E como farei ginástica
Andrade
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo erro de português
Subirei no pau-de-sebo Quando o português chegou
Tomarei banhos de mar! Debaixo duma bruta chuva
E quando estiver cansado Vestiu o índio
Deito na beira do rio Que pena!
Mando chamar a mãe-d’água Fosse uma manhã de sol
Pra me contar as histórias O índio tinha despido
Que no tempo de eu menino o português.
Rosa vinha me contar --Fragmentos do livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de
Vou-me embora pra Pasárgada. Andrade

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Mário de Andrade Características
Eu insulto o burguês! O burguês níquel,
o burguês-burguês!  Repensar a historia nacional com humor e ironia - "Em
A digestão bem-feita de São Paulo! outubro de 1930 / Nós fizemos — que animação! — /
O homem-curva! o homem-nádegas! Um pic-nic com carabinas." (Festa Familiar - Murilo Mendes)
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,  Verso livre e poesia sintética - " Stop. / A vida parou / ou foi o
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! automóvel?" (Cota Zero, Carlos Drummond de Andrade)
 Nova postura temática - questionar mais a realidade e a si
Eu insulto as aristocracias cautelosas! mesmo enquanto indivíduo
Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
 Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu papel de
que vivem dentro de muros sem pulos,
poeta
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês  Literatura mais construtiva e mais politizada.
e tocam os ‘Printemps’ com as unhas!  Surge uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o
Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma! intimismo (Cecília, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vinícius)
Oh! purée de batatas morais!  Aprofundamento das relações do eu com o mundo
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas! (...)  Consciência da fragilidade do eu - "Tenho apenas duas mãos /
e o sentimento do mundo" (Carlos Drummond de Andrade -
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio! Sentimento do Mundo)
Morte ao burguês de giolhos,  Perspectiva única para enfrentar os tempos difíceis é a união,
cheirando religião e que não crê em Deus! as soluções coletivas - " O presente é tão grande, ano nos
Ódio vermelho! Ódio fecundo1 Ódio cíclico! afastemos, / Ano nos afastemos muito, vamos de mãos
Ódio fundamento, sem perdão! dadas." (Carlos Drummond de Andrade - Mãos dadas)

Fora! Fu! Fora o bom burguês!... Autores Principais – Poesia


--Fragmentos de Ode ao Burguês
Carlos Drummond de Andrade
Segunda fase Modernista no Brasil
Mineiro, trabalha lecionando em Itabira e, em 45, trabalha na
(1930-1945) diretoria de um jornal comunista. Maior nome da poesia
contemporânea, registrando a realidade cotidiana e os acontecimentos
Estende-se de 1930 a 1945, sendo um período rico na produção da época.
poética e também na prosa. O universo temático se amplia e os artistas Ironia fina, lucidez, e calma, traduzidos numa linguagem flexível, rica,
passam a preocupar-se mais com o destino dos homens, o estar-no- mas rica de dimensões humanas.
mundo. Poesias refletem os problemas do mundo e do ser humano diante dos
“A segunda fase colheu os resultados da precedente, substituindo regimes totalitários, da 2a GM e da guerra fria.
o caráter destruidor pela intenção construtiva, “pela recomposição de Poesia de Drummond apresenta uns momentos de esperança,
valores e configuração da nova ordem estética”. --Cassiano Ricardo mas prevalece a descrença diante do rumo dos acontecimentos.
Durante algum certo tempo, a poesia das gerações de 22 e 30 Nega formas de fuga da realidade, volta-se para o momento
conviveram. Não se trata, portanto, de uma sucessão brusca. A maioria presente.
dos poetas de 30 absorveria parte da experiência de 22: liberdade "Ano serei o poeta de um mundo caduco. / Também ano cantarei
temática, gosto da expressão atualizada ou inventiva, verso livre, o mundo futuro. / Estou preso `a vida e olho meus companheiros. (...)
anti-academicismo. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, /
A poesia prossegue a tarefa de purificação de meios e formas a vida presente." --Mãos Dadas
iniciada antes, ampliando a temática na direção da inquietação A partir de Lição das Coisas (1962), há maior preocupação maior
filosófica e religiosa, com Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Augusto com objetos, valorizando mais os aspectos visuais e sonoros -
Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, ao tendência concreto-formalista.
tempo em que a prosa alargava a sua área de interesse para incluir Carlos Drummond de Andrade propõe a divisão temática de sua
preocupações novas de ordem política, social e econômica, humana e obra, numa seleção que faz para sua Antologia Poética:
espiritual. À piada sucedeu a gravidade de espírito, a seriedade da
alma, propósitos e meios. Uma geração grave, preocupada com o 1. o indivíduo
destino do homem e com as dores do mundo, pelos quais se 2. a terra natal
considerava responsável, deu à época uma atividade excepcional. 3. a família
O humor quase piadístico de Drummond receberia influencias de 4. os amigos
Mário e Oswald de Andrade. Vinícius, Cecília, Jorge de Lima e Murilo 5. o choque social
Mendes apresentam certo espiritualismo que vinha do livro de Mário 6. o conhecimento amoroso
Há uma gota de Sangue em cada Poema (1917). 7. a própria poesia
A geração de 30 não precisou ser combativa como a de 22. Eles já 8. exercícios lúdicos
encontraram uma linguagem poética modernista estruturada. 9. uma visão, ou tentativa de, da existência
Passaram então a aprimorá-la e extrair dela novas variações, numa
maior estabilidade. Obras:
O Modernismo já estava dinamicamente incorporado `as praticas Poesia:
literárias brasileiras, sendo assim os modernistas de 30 estão mais
voltados ao drama do mundo e ao desconcerto do capitalismo.  Alguma Poesia (1930)
 Brejo das Almas (1934)
"Este é tempo de partido, / tempo de homens partidos. (...) Os  Sentimento do Mundo (1940)
homens pedem carne. Fogo. Sapatos. / As leis ano bastam. Os lírios  Poesias (1942)
ano nascem da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se / na pedra." --  A Rosa do Povo (1945)
Carlos Drummond de Andrade, in Nosso Tempo  Poesia até agora (1948)
 Claro Enigma (1951)
 Viola de Bolso (1952)
 Fazendeiro do Ar e Poesia até Agora (1953)
 Viola de Bolso Novamente Encordoada (1955)
 Poemas (1959)
 A Vida Passada a Limpo (1959)
 Lição de Coisas (1962)

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 Versiprosa (967) Jorge de Lima (1898-1953)
 Boitempo (1968)
 Menino Antigo (1973) Alagoano ligado diretamente à política, estreia com a obra XVI
 As Impurezas do Branco (1973) Alexandrinos fortemente influenciado pelo Parnasianismo, o que lhe
 Discurso da Primavera e outras Sombras (1978) deu o título de Príncipe dos Poetas Alagoanos. Sua obra
posteriormente chega a uma poesia social, paralela a uma poesia
religiosa.
Prosa: Na poesia social apresenta-se a cor local, através do resgate da
 Confissões de Minas (ensaios e crônicas, 1944) memória do autor de menino branco com infância cheia de imagens de
 Contos de Aprendiz (1951) negros escravos e engenhos. Por vezes, amplia a abordagem com
denúncia das desigualdades sociais.
 Passeios na Ilha (ensaios e crônicas, 1952)
“A filha de Pai João tinha um peito de / Turina para os filhos de
 Fala, Amendoeira (1957)
Ioiô mamar: / Quando o peito secou a filha de Pai João / Também
 a Bolsa e a Vida (crônicas e poemas, 1962)
secou agarrada num / Ferro de engomar. / A pele de Pai João ficou na
 Cadeira de Balanço (crônicas e poemas, 1970)
ponta / Dos chicotes. / A força de Pai João fìcou no cabo Da enxada e
 O Poder Ultrajovem e mais 79 Textos em Prosa e Verso
da foice. / A mulher de Pai João o branco / A roubou para fazer
(1972)
mucamas." --Pai João
A partir de Tempo e Eternidade, há a preocupação da restauração
da Poesia em Cristo. Essa temática religiosa também está presente em
Murilo Mendes (1902-1975)
A Túnica Inconsútil e Mira Coeli.
Tem ainda um poema épico à moda de Camões e Dante, usando
Mineiro, que caminha das sátiras e poemas-piada, ao estilo
10 cantos para mostrar o dilema barroco de um homem indeciso entre
oswaldiano, para uma poesia religiosa, sem perder o contato com a
o material e o espiritual.
realidade. Poeta modernista mais influenciado pelo Surrealismo
europeu.
Mulher Proletária
Guerra foi tema de diversos poemas seus. Seus textos caracterizam-se
Mulher proletária - única fábrica
por novas formas de expressão, e livre associação de imagens e
que o operário tem, (fabrica filhos)
conceitos.
tu
A partir de Tempo e Eternidade (1935), parte para a poesia
na tua superprodução de máquina humana
mística e religiosa. Dilema entre poesia e Igreja, finito e infinito,
forneces anjos para o Senhor Jesus,
material e espiritual, sem abandonar a dimensão social.
forneces braços para o senhor burguês.
"Eu amo minha família sobrenatural, / Aquela que ano herdei, /
Mulher proletária,
Aquela que ama o Eterno. / São poetas, são musas, são iluminados /
0 operário, teu proprietário
Que vivem mirando os seus fins transcendentes. / Que vivem mirando
há de ver, há de ver:
os seus fins transcendentes. / 'o mundo, minha família sobrenatural
a tua produção,
ano te possuiu. / Minha angústia vive nela e com ela, / E eu formarei
a tua superprodução,
poetas no futuro / `A sua imagem e semelhança. E todos ajuntando
ao contrário das máquinas burguesas
novos membros ao corpo / De que Cristo Jesus é a cabeça / Irradiarão
salvar o teu proprietário.
as palavras do Eterno." --comunicantes
Também é poeta especulador, que usa a linguagem em busca de
novos conceitos.
--Poesias, 1975
"O poema é texto? O poeta? / O poema é o texto + o poeta? / O
poema é o poeta - o texto? / O texto é o contexto do poeta / Ou o
Obras:
poeta do contexto do texto? / O texto visível é o texto total / O ante
texto e o anti texto / Ou as ruínas do texto? / O texto abole / Cria / Ou
restaura?" --Texto de Consulta  Poesia - XIV Alexandrinos (1914), O Mundo do Menino
Essa condição barroca de sua poesia associa-se a um trabalho das Impossível (1925), Poemas (1927), Novos Poemas (1929),
imagens visuais. Empolgado com a beleza, afirmava que tudo era belo Poemas Escolhidos (1932), Tempo e Eternidade (em
pois pertencia `a Criação. Só as ações humanas justificavam o feio. colaboração com Murilo Mendes, 1935), Quatro Poemas
Consciência do caos, do mundo esfacelado, civilização decadente. Negros (1937), A Túnica lnconsútil (1938), Poemas Negros
Trabalho do poeta é tentar ordenar esse caos. (1947), Livro de Sonetos (1949), Obra Poética (incluindo os
"(...) A infância vem da eternidade. / Depois só a morte magnífica anteriores e mais Anunciação e Encontro de Mira-Celi),
/ — Destruição da mordaça: / E talvez já' a tivesse entrevisto / Quando 1950), Invenção de Orfeu (1952)
brincavas com o pião / Ou quando desmontaste o besouro. Entre duas  Romance - Salomão e as mulheres (1927), O Anjo (1934),
eternidades / Balançam-se espantosas / Fome de amor e a música: / Calunga (1935), A Mulher Obscura (1939), Guerra Dentro do
Rude doçura / 'Ultima passagem livre. Só vemos o céu pelo avesso." Beco (1950)
--Poesia de Liberdade  Teatro - A Filha da Mãe D'Água, As Mãos, Ulisses
Para Murilo, a beleza é fundamental. Mulher, para Murilo, é igual  Cinema - Os Retirantes (argumento de filme)
a amor, abordada de forma erótica.
Cecília Meireles
"Tudo o que te rodeia e te serve
Aumenta a fascinação, o segredo Órfã, carioca, foi criada pela avó e fez Magistério e lecionou
Teu véu se interpõe entre ti e meu corpo, Literatura em várias universidades.
é a grade do meu cárcere. (...) Estreia com o livro Espectros (1919), participando da corrente
Tudo o que faz parte de ti — desde teus sapatos — espiritualista, sob a influência dos poetas que formariam o grupo da
Está unido ao pecado e ao prazer, revista Festa (neo-simbolista).
`A teologia, ao sobrenatural." Suas principais características são sensibilidade forte, intimisno,
--Em Pânico, in Antologia Poética introspecção, viagem para dentro de si mesma e consciência da
transitoriedade das coisas (tempo = personagem principal). Para ela as
Obras : Poemas (1930), História do Brasil (1932), Tempo e realidades não são para se filosofar, são inexplicáveis, basta vivê-las.
Eternidade (com Jorge de Lima, 1935), A Poesia em Pânico (1938), O
Visionário (1941), As Metamorfoses (1944), O Discípulo de Emaús
(prosa, 1944), Mundo Enigma, (1945), Poesia Liberdade (1947), Janela
do Caos (1948), Contemplação de Ouro Preto (1954), Poesias (1959),
Tempo Espanhol (1959), Poliedro (1962), Idade do Serrote (Memórias,
1968), Convergência (1972), Retratos Relâmpago (1973), Ipotesi (1977)

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Retrato  Prosa: Reportagens Poéticas (inéditas em livro), O Amor dos
Eu não tinha este rosto de hoje, / assim calmo, assim triste, assim Homens (crônicas, 1960), Para viver um Grande Amor
magro, / nem estes olhos tão vazios, / nem o lábio amargo. (crônicas, 1962), Para uma menina com uma Flor (crônicas,
Eu não tinha estas mãos sem força, / tão paradas e frias e mortas; 1966), Crônicas (in J. B. de 15/6/69 a 20/10/69)
/ eu não tinha este coração / que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança, / tão simples, tão certa, tão fácil: Textos
- Em que espelho ficou perdida
a minha face? Fragmentos de Procura da Poesia, in A Rosa do Povo
--Flor de Poemas Ano facas versos sobre acontecimentos.
Ano ha' criação nem morte perante a poesia.
Assim sua obra apresenta uma atmosfera de sonho, fantasia, em Diante dela, a vida é um sol estático,
contraste com solidão e padecimento. Linguagem simbólica, com ano aquece nem ilumina. (...)
imagens sugestivas e constantes apelos sensoriais (metáforas, Nem me reveles teus sentimentos,
sinestesias, aliterações e assonâncias). que se prevalecem do equívoco e tentam longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda ano é poesia. (...)
Rômulo rema O canto ano é a natureza
Rômulo rema no rio. / A romã dorme no ramo, / a romã rubra. (E nem os homens em sociedade.
o céu.) Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança, nada significam.
O remo abre o rio. / O rio murmura, A poesia (ano tires poesia das coisas)
A romã rubra dorme / cheia de rubis. (E o céu.) elide sujeito e objeto. (...)
Rômulo rema no rio. Penetra surdamente no reino das palavras.
Abre-se a romã. / Abre-se a manhã. Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Rolam rubis rubros do céu. Estão paralisados, mas ano há desespero,
No rio, / Rômulo rema. há calma e frescura na superfície inata
--Ou isto ou aquilo Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Obras: Convive com teus poemas, antes de escreve-los.


 Poesia : Espectros (1919), Nunca mais... e Poema dos Poemas Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
(1923), Baladas para EI-rei (1925), Viagem (1939), Vaga Espera que cada um se realize e consume
Música (1942), Mar Absoluto (1945), Retrato Natural (1949), com seu poder de palavra
Ama em Leonoreta (1952), Doze Noturnos de Holanda e o e seu poder de silencio.
Aeronauta (1952) Romanceiro da Inconfidência (1953), Ano forces o poema a desprender-se do limbo.
Pequeno Oratório de Santa Clara (1955) Pistóia, Cemiério Ano colhas no chão o poema que se perdeu.
Militar Brasileiro (1955) Canções (1956), Romance de Santa Ano adules o poema. Aceita-o
Cecília (1957), A Rosa (1957), Metal Rosicler (1960), Poemas como ele aceitara' a sua forma definitiva e concentrada no
Escritos na Índia (1962) Antologia Poética (1963) Solombra espaço.
(1963), Ou isto ou Aquilo (1965), Crônica Trovada da Cìdade
de San Sebastian (1965) Poemas Italianos (1968) Chega perto e contempla as palavras.
 Teatro : O Menino Atrasado (1966) Cada uma
 Ficção : Olhinhos de Gato (s/d) tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
 Prosa poética : Giroflê, Giroflá (1956), Evocação Lírica de
pobre ou terrível, que lhe deres:
Lisboa (1948) Eternidade de Israel (1959)
Trouxeste a chave? (...)
 Crônica : Escolha o seu Sonho (1964) Inéditos (1968) --Carlos Drummond de Andrade
Vinícius de Moraes Canção do Exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
Carioca conhecido como Poetinha, participou também da MPB
Onde cantam gaturamos de Veneza.
desde a Bossa-nova até sua morte. Assim como Cecília, inicia sua
Os poetas da minha terra
carreira ligado ao neo-simbolismo da corrente espiritualista e também
são pretos que vivem em torres de ametista,
a renovação católica de 30.
os sargentos do exército são monistas, cubistas
Vários de seus poemas apresentam tom bíblico, mas há,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
concomitantemente, um sensualismo erótico. Essa dualidade acentua a
A gente ano pode dormir
contradição entre o prazer da carne e a formação religiosa. Valoriza o
com os oradores e os pernilongos.
momento com presença de imediatismos (de repente constante).
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Temática constante o jogo entre felicidade e infelicidade, onde muitas
Eu morro sufocado
vezes associa a inspiração poética com a tristeza, sem abandonar o
em terra estrangeira.
social.
Nossas flores são mais bonitas
“É melhor ser alegre que ser triste / A alegria é a melhor coisa que
nossas frutas mais gostosas
existe / É assim como a luz no coração”
mas custam cem mil réis a dúzia
--Samba da Bênção
“Para que vieste / Na minha janela / Meter o nariz? / Se foi por
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
um verso / Não sou mais poeta / Ando tão feliz.”
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
--A um Passarinho
--Murilo Mendes
Obras:
 Poesia: O Caminho para a Distância (1933), Forma e Exegese
(1935), Ariana, a Mulher (1936), Novos Poemas (1938), Cinco
Elegias (1943), Poemas, Sonetos e Baladas (1946), Pátria
Minha (1949), Livro de Sonetos (1956), O Mergulhador
(1965), A Arca de Noé (1970), O Dever e o Haver (inédito)
 Teatro: Orfeu da Conceição (Tragédia carioca em três atos,
escrita em versos, 1954), Cordélia e O Peregrino (em versos,
1965), Pobre Menina Rica (comédia musicada, 1962), Chacina
de Barros Filho (drama, inédito)

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Elegia a uma pequena borboleta José Lins do Rego (1901 - 1957)
Como chegavas do casulo, / — inacabada seda viva — / tuas antenas
— fios soltos / da trama de que eras tecida, / e teus olhos, dois grãos Paraibano, é considerado um dos melhores representantes da
da noite / de onde o teu mistério surgia, literatura regionalista do Modernismo. Em Recife, aproxima-se de José
como caíste sobre o mundo / inábil, na manhã tão clara, / sem mãe, Américo de Almeida e Gilberto Freire, intelectuais responsáveis pela
sem guia, sem conselho, / e rolavas por uma escada / como papel, divulgação do modernismo no nordeste e pela preocupação
penugem, poeira, / com mais sonho e silêncio que asas, regionalista. Mais tarde também conhece Graciliano Ramos, e depois
minha mão tosca te agarrou / com uma dura, inocente culpa, / e é para o Rio de Janeiro, onde participa ativamente da vida literária. Sua
cinza de lua teu corpo, / meus dedos, sua sepultura. / Já desfeita e infância no engenho influenciou fortemente sua obra.
ainda palpitante, / expiras sem noção nenhuma. Suas obras Menino de Engenho, Doidinho, Bangüê, Moleque
Ó bordado do véu do dia, / transparente anêmona aérea! /não leves Ricardo, Usina e Fogo Morto compõem o que se convencionou chamar
meu rosto contigo: / leva o pranto que te celebra, / no olho precário de “ciclo da cana de açúcar”. Nestas obras J. L. Rego narra a gradativa
em que te acabas, / meu remorso ajoelhado leva! (...) decadência dos engenhos e a transformação pela qual passam a
Pudeste a etéreos paraísos / ascender teu leve fantasma, / e meu economia e a sociedade nordestina. Sua técnica narrativa se mantém
coração penitente ser a rosa desabrochada / para servir-te mel e nos moldes tradicionais da literatura realista: linearidade, construção
aroma, / por toda a eternidade escrava! do personagem baseado na descrição dos caracteres, linguagem
E as lágrimas que por ti choro / fossem o orvalho desses campos, / — coloquial, registro da vida e dos costumes. O tom memorialista é o fio
os espelhos que refletissem / — voo e silêncio — os teus encantos, / condutor de uma literatura que testemunha uma sociedade em
com a ternura humilde e o remorso / dos meus desacertos humanos! desagregação: a sociedade do engenho patriarcalista, escravocrata. As
(Retrato Natural) obras mais representativas desta fase são Menino de Engenho e Fogo
--Cecília Meireles Morto. A primeira é a história de um menino, órfão de pai e mãe, que é
criado no Engenho Santa Rosa, de seu avô José Paulino, típico
representante do latifundiário nordestino. Há momento de grande
Segunda fase Modernista no Brasil emoção na obra, como a descrição da enchente, o castigo dos
(1930-1945) – Prosa escravos, a descoberta da própria sexualidade.
Fogo Morto é considerada sua melhor obra: dividida em três
Romances caracterizados pela denúncia social, verdadeiro partes que se inter-relacionam, compõe um quadro social e humano do
documento da realidade brasileira, atingindo elevado grau de tensão Nordeste. Mestre José Amaro, seleiro, orgulhoso de sua profissão,
nas relações do eu com o mundo. Uma das principais características do sofre as pressões do coronel Lula de Holanda, senhor do Engenho
romance brasileiro é o encontro do escritor com seu povo. Há uma Santa Fé, em decadência econômica. Antônio Silvino, cangaceiro, é o
busca do homem brasileiro nas diversas regiões, por isso o terror da região e ataca os engenhos. O capitão Vitorino Carneiro da
regionalismo ganha importância, com destaque às relações do Cunha, lunático, é uma espécie de místico e profeta do sertão.
personagem com o meio natural e social. Além destas obras, José Lins escreveu: Pedra Bonita e
Os escritores nordestinos merecem destaque especial, por sua Cangaceiros, onde continua a traçar um quadro da vida nordestina,
denúncia da realidade da região pouco conhecida nos grandes centros. aproveitando agora elementos do folclore e do cordel. Estes romances
O 1° romance nordestino foi A Bagaceira de José Américo de Almeida. pertencem ao “ciclo do cangaço, misticismo e seca”. Além destes,
Esses romances retratam o surgimento da realidade capitalista, a escreveu também Água-mãe e Eurídice, de ambientação urbana.
exploração das pessoas, movimentos migratórios, miséria, fome, seca
etc. Obras:

Autores Principais  Romances: Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933),


Bangüê (1934), O Moleque Ricardo (1935), Usina (1936),
Rachel de Queiroz (1910 - ) Pureza (1937), Pedra Bonita (1938), Riacho Doce (1939),
Água-mãe (1941), Fogo Morto (1943), Eurídice (1947),
Cearense, viveu na infância o problema da seca que atingiu uma Cangaceiros (1953).
propriedade de sua família. Em 1930 (aos 20 anos) publica o romance  Literatura infantil, memórias e crônicas: Histórias da Velha
O Quinze, que lhe angaria um prêmio e reconhecimento público. Totônia (1936), Gordos e Magros (1942), Seres e Coisas
Participa ativamente da política, militando no Partido Comunista (1952), Meus Verdes Anos (1956).
Brasileiro e é presa em 1937, por suas ideias esquerdistas. A partir de
1940 dedica-se à crônica e ao teatro. Quebrou uma velha tradição, ao Graciliano Ramos (1892-1953)
tornar-se (1977) a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira
de Letras. Alagoano, faz jornalismo e política estreando com Caetés (1933).
Sua literatura caracteriza-se, a princípio, pelo caráter regionalista Em Maceió conheceu alguns escritores do grupo regionalista: José Lins,
e sociológico, com enfoque psicológico, que tende a se valorizar e a Jorge Amado, Raquel de Queirós. Nessa época redige S. Bernardo e
aprofundar-se à proporção que sua obra amadurece. Seu estilo é Angústia.
conciso e descarnado, sua linguagem fluente, seus diálogos vivos e Envolvendo-se em política, é preso e acusado de comunista, essas
acessíveis, o que resulta numa narrativa dinâmica e enxuta. experiências pessoais são retratadas em Memórias do Cárcere. Em
O Quinze e João Miguel há coexistência do social e psicológico. 1945 ingressa no Partido Comunista e empreende uma viagem aos
Caminho de Pedras é o ponto máximo de sua literatura engajada e de países socialistas, narrada no livro Viagem.
esquerda (mais social e político). As Três Marias abandona o aspecto Considerado o melhor romancista moderno da literatura
social, enfatizando a análise psicológica. brasileira. Levou ao limite o clima de tensão presente nas relações
entre o homem e o meio natural, o homem e o meio social. Mostrou
Obras: que essas tensões são capazes de moldar personalidades e transformar
 Romances: O Quinze(1930) e João Miguel (1932) - seca; comportamentos, até mesmo gerar violência.
coronelismo; impulsos passionais / Caminho de Pedras (1937) Luta pela sobrevivência é o ponto de ligação entre seus
e As Três Marias (1939) - literatura engajada, esquerdizante, personagens, onde a lei maior é a lei da selva. A morte é uma
social e política, trata ainda da emancipação feminina / O constante em suas obras como final trágico e irreversível (suicídios em
Galo de Ouro (folhetim em “O Cruzeiro”) / Memorial de Caetés e São Bernardo, assassinato em Angústia e as mortes do
Maria Moura (1992; surpreende seu público e é adaptado papagaio e da cadela Baleia em Vidas Secas).
para a televisão) Antonio Candido propõe uma divisão da obra em 3 partes:
 Teatro: Lampião (1953), A Beata Maria do Egito (1958, raízes romances em 1ª pess. (Caetés, São Bernardo e Angústia) -
folclóricas), A Sereia Voadora. pesquisa da alma humana e retrato e análise da sociedade
 Crônica: A Donzela e a Moura Torta (1948), Cem Crônicas romances em 3ª pess. (Vidas Secas) - enfoca modos se der e as
Escolhidas (1958), O Brasileiro Perplexo (1963, Histórias e condições de existência no meio da seca
Crônicas), O Caçador de Tatu (1967) autobiografias (Infância e Memórias do Cárcere) - coloca-se como caso
 Literatura Infantil: O Menino Mágico, Andira. humano, como uma necessidade de depor, denunciar

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Seu a personagens são seres oprimidos e moldados pelo meio. O estilo de Érico Veríssimo é coloquial, poético, intimista. Sua
Tanto Paulo Honório (personagem de São Bernardo), quanto Luís da técnica de construção é o contraponto: onde várias histórias se
Silva (de Angústia) são o que se chama de “herói problemático”, em desenvolvem paralelamente, a ação concentrada e o dinamismo. Em
conflito com o meio e consigo mesmos, em luta constante para suas últimas obras, como O Prisioneiro, O Senhor Embaixador e
adaptar-se e sobreviver, insatisfeitos e irrealizados. Linguagem Incidente em Antares, desenvolveu a ficção política, ambientada nos
sintética e concisa. dias atuais.
Obras : Caetés (1933), S. Bernardo (1934), Angústia (1936), Vidas Obras : Fantoches; Clarissa; Música ao Longe; Caminhos Cruzados;
Secas (1938), Dois Dedos (1945), Insônia (1947), Infância (1945), Um Lugar ao Sol; Olhai os Lírios do Campo; Saga; O Resto é Silêncio;
Memórias do Cárcere (1953), Histórias de Alexandre (1944), Viagem Noite; O Tempo e o Vento: O Continente, O Retrato, O Arquipélago; O
(1953), Linhas Tortas (1962) etc. Senhor Embaixador; Incidente em Antares; Aventuras de Tibicuera;
Gato Preto em Campo de Neve.
Jorge Amado (1912 -)

Nasceu na zona cacaueira baiana e depois morou em Salvador,


Terceira fase Modernista no Brasil
essas referências são fontes de inspiração para suas obras. Estreia com (1945- +/- 1960)
O País do Carnaval e, levado por Rachel de Queiroz, filia-se ao Partido
Comunista Brasileiro, por onde mais tarde torna-se deputado. Sofre A literatura brasileira, assim como o cenário sócio-político, passa
perseguições políticas, exila-se e mais tarde é preso. por transformações.
Na vasta ficção de Jorge Amado convivem lirismo, sensualismo, A prosa tanto no romance quanto nos contos busca uma
misticismo, folclore, idealismo, engajamento político, exotismo. Este literatura intimista, de sondagem psicológica, introspectiva, com
painel, sem dúvida, bastante rico, aliado a uma linguagem coloquial, destaque para Clarice Lispector. Ao mesmo tempo, o regionalismo
fluida, espontânea, aparentemente sem elaboração, tem sido adquire uma nova dimensão com Guimarães Rosa e sua recriação dos
responsável pela grande aceitação popular de sua obra. Além disso, costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia do
seus heróis são marginais, pescadores, marinheiros, prostitutas e jagunço do Brasil central. Um traço característico comum a Clarice e
operários; todos personagens de origem popular. Suas obras estão Guimarães Rosa é a pesquisa da linguagem, por isso são chamados
ambientadas no quadro rural e urbano da Bahia e seu aspecto instrumentalistas. Enquanto Guimarães Rosa preocupa-se com a
documental a torna autenticamente regionalista. manutenção do enredo com o suspense, Clarice abandona quase que
podemos dividir assim a sua produção: completamente a noção de trama e detém-se no registro de incidentes
 Ciclo do Cacau: Cacau, Suor, Terras do Sem Fim, São Jorge de do cotidiano ou no mergulho para dentro dos personagens.
Ilhéus - problemas coletivos, “realismo socialista”. Na poesia, surge uma geração de poetas que se opõem às
 Romances líricos, com um fundo de problemática social: conquistas e inovações dos modernistas de 22. A nova proposta foi
Jubiabá, Mar Morto, Capitães de Areia. defendida, inicialmente, pela revista Orfeu (1947). Assim, negando a
 Romances de costumes provincianos, geralmente liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras “brincadeiras”
sentimentais e eróticos: Gabriela, Cravo e Canela, Dona Flor e modernistas, os poetas de 45 buscam uma poesia mais “equilibrada e
Seus Dois Maridos. séria”. Os modelos voltam a ser os Parnasianos e Simbolistas. Principais
autores (Ledo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Geir de Campos e
Obra bastante vasta, incluindo ainda escritos de pregação Darcy Damasceno). No fim dos anos 40, surge um poeta singular, pois
partidária (Cavaleiro da Esperança, Os Subterrâneos da Liberdade). não está filiado esteticamente a nenhuma tendência: João Cabral de
Obras : A.B.C de Castro Alves; O Cavaleiro da Esperança. A vida de Luis Melo Neto.
Carlos Prestes; Agonia da Noite; O Amor de Soldado; Os Ásperos
Tempos; Bahia Amada Amado (Jorge Amado e Maureen Bisilliat); Bahia Referências históricas
de Todos os Santos; A Bola e o Goleiro; Brandão entre o Mar e o Amor;
Cacau; O Capeta Carybe; Capitães de Areia; O Capitão de Longo Curso; 1945 = fim da 2ª GM, início da Era Atômica (Hiroxima e Nagasaki),
Compadre de Ogum; A Descoberta da América pelos Turcos; Dona Flor ONU, Declaração dos Direitos do Homem, Guerra Fria. No Brasil, fim da
e seus Dois Maridos; Farda Fardão Camisola de Dormir; Gabriela, Cravo ditadura Vargas, redemocratização brasileira, retomada de
e Canela; O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá; Jubiaba; Tereza Batista perseguições políticas, ilegalidades e exílios.
Cansada de Guerra; O Sumiço da Santa; Suor; Tenda dos Milagres; A
Luz no Túnel; Terras do Sem Fim; Mar Morto; Tieta do Agreste; Tocaia Autores Principais
Grande; Os velhos Marinheiros; O Menino Grapuina; O Milagre dos
Pássaros; A Morte e a Morte de Quincas Berro D’gua; Navegação de Guimarães Rosa (1908 - 1967)
Cabotagem; O País do Carnaval; Os Pastores da Noite; São Jorge dos
Ilhéus; Seara Vermelha; O Capitão de Longo Curso; Os Primeiros Mineiro, formou-se em Medicina e clinicou pelo interior, foi
Subterrâneos da Liberdade, I; Os Subterrâneos da Liberdade,II; Os ministro e pela carreira diplomática esteve em Hamburgo, Bogotá e
Subterrâneos da Liberdade,III; Os Subterrâneos da Liberdade,IV. Paris. Foi eleito membro da ABL e faleceu 3 dias depois de sua posse.
A obra de G. Rosa é extremamente inovadora e original. Seu livro,
Érico Veríssimo (1905-1975) Sagarana (1946), vem colocar uma espécie de marco divisor na
literatura moderna do Brasil: é uma obra que se pode chamar de
Sua família rica foi à falência e o escritor teve que trabalhar sem renovadora da linguagem literária. Seu experimentalismo estético,
possibilidade de seguir estudos. Em Porto Alegre, entra em contato aliando narrativas de cunho regionalista a uma linguagem inovadora e
com a vida literária e inicia-se no jornalismo. Começa então a publicar transfigurada, veio transformar completamente o panorama da nossa
contos e romances, entre os quais, Clarissa, que logo se tornou um literatura.
sucesso. Viajou para vários países, lecionou Literatura Brasileira nos O livro Grande Sertão: Veredas (1956), romance narrado em
EUA e trabalhou na OEA. Voltando ao Brasil, dedica-se a escrever e primeira pessoa por Riobaldo num monólogo ininterrupto onde o autor
produz uma vasta obra. e o leitor parecem ser os ouvintes diretos do personagem, G. Rosa
Escritor de grandes dimensões, em sua produção se incluem recuperou a tradição regionalista, renovando-a. Há um clima fantástico
romances, crônicas, literatura infantil. Os romances que compõem a na narrativa: Riobaldo conta suas aventuras de jagunço que quer vingar
trilogia O Tempo e o Vento (O Continente, O Retrato, O Arquipélago) a morte de seu chefe, Joca Ramiro, assassinado pelo bando de
traçam um painel histórico de várias gerações: desde a época colonial Hermógenes.
sucedem-se as lutas entre portugueses e espanhóis, farrapos e Sua narrativa é entremeada por reflexões metafísicas em torno
imperiais, maragatos e pica-paus (nomes dos partidos em guerra dos acontecimentos e dois fatos se repropõem constantemente: seu
política). Duas famílias, os Terra Cambará e os Amaral, são durante dois pacto com o Diabo e seu amor por Diadorim (na verdade, Deodorina,
séculos o fio narrativo que unifica a história. Érico Veríssimo compõe filha de Joca Ramiro, disfarçada de jagunço). As dúvidas de Riobaldo
uma verdadeira saga romanesca, com todas as suas características: têm raízes místicas e sua narrativa torna-se então não mais um
guerras intermináveis, aventuras, amores, traições, gerações que se documento regionalista, mas uma obra de caráter universal, que toca
sucedem, criando um painel histórico da comunidade rio-grandense e em problemas que inquietam todos os homens: o significado da
do próprio Brasil. A obra é uma aglutinação de novelas, onde ressaltam existência, as dimensões da realidade. Mas não é só isto que é novo em
as figuras épicas de Ana Terra e do Capitão Rodrigo Cambará. G. Rosa: sua linguagem é extremamente requintada.
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Recuperando as matrizes arcaicas da língua portuguesa e  uso de metalinguagem - “Algumas pessoas cosem para fora;
fundindo-as com a fala sertaneja, G. Rosa chega a criar um linguajar eu coso para dentro”- em associação com os processos
mítico, onde o novo e o primitivo perdem as dimensões tornando-se intimistas e psicológicos, político-sociais, filosóficos e
um linguajar ao mesmo tempo real e irreal, pessoal e universal. existenciais (A Hora da Estrela, 1977). “Depois que descobri
Arcaísmos, neologismos, rupturas, fusões, toda uma técnica em mim mesma como é que se pensa, nunca mais pude
elaboradíssima que torna seu discurso literário ímpar em toda a nossa acreditar no pensamento dos outros”.
literatura.
Grande Sertão: Veredas e as novelas de Corpo de Baile incluem e Obras:
revitalizam recursos da expressão poética: células rítmicas, aliterações,  Romances : Perto do Coração Selvagem (1944); O Lustre
onomatopeias, ousadias mórficas, elipses, cortes e deslocamentos de (1946); A Cidade Sitiada (1949); A Maçã no Escuro (1961); A
sintaxe, vocabulário insólito, arcaico ou neológico, associações raras, Paixão segundo G. H. (1964); Uma Aprendizagem ou Livro dos
metáforas, anáforas, metonímias, fusão de estilos. Prazeres (1969); Água Viva (1973); A Hora da Estrela (1977).
 Contos : Alguns Contos (1952); Laços de Família (1960); A
“ — Êpa! Nomopadrofilhospiritossantamêin! Avança, cambada Legião Estrangeira (1964); Felicidade Clandestina (1971),
de filhos-da-mãe, que chegou minha vez!... / E a casa matraqueou Imitação da Rosa (1973), A Via - Crucis do Corpo (1974); A
que nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com Bela e a Fera (1979).
os cabras saltando e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando
 Entrevista : De Corpo Inteiro
qual um demônio preso e pulando como des demônios soltos. / — Ô
gostosura de fim-de-mundo!...” --A Hora e a Vez de Augusto Matraga  Literatura infantil : Mistério do Coelhinho Pensante (1967); A
Mulher que Matou os Peixes (1969); A Vida Íntima de Laura
Obras : Sagarana (1946), Corpo de Baile (depois desdobrado em (1974), Quase de Verdade.
Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá no Pinhém, Noites do Sertão,
1956), Grande Sertão: Veredas (1956), Primeiras Estórias (1962), João Cabral de Melo Neto (1920 - )
Tutaméia - Terceiras Estórias (1967): Estas Estórias (1969), Ave, Palavra
(1970). Pernambucano, passa a infância em engenhos de açúcar em
contato com a terra e o povo (o que despertou seu interesse pelo
Clarice Lispector (1925 - 1977) folclore nordestino e pela literatura de cordel), com a palavra escrita
(livros e jornais, desde os dois anos de idade) e a parentela ilustre e
Ucraniana, veio com meses para o Brasil - por isso, sentia se culta (primo de Manuel Bandeira e Gilberto Freire). É eleito por
“brasileira”. Tem por formação Direito. Em 1944 forma-se e publica o unanimidade para a ABL (1969)
livro que escreveu durante o curso - Perto do Coração Selvagem Estreou em 1942 com Pedra do Sono de forte influência de Carlos
surpreendendo a crítica e agradando ao público. Drummond de Andrade e Murilo Mendes. Ao publicar O Engenheiro,
Casa-se com um diplomata, afastando-se do Brasil durante longos em 1945, traça os rumos definitivos de sua obra. Em 1956, escreve o
períodos, mas sem interromper a produção artística. poema dramático Morte e Vida Severina, que, encenado em 1966, com
Principal nome da poesia intimista da moderna literatura músicas de Chico Buarque, consagra-o definitivamente.
brasileira, questionamento do ser, “estar-no-mundo”, a pesquisa do ser Só pertenceria à Geração de 45 se levado em conta o critério
humano, resultando no romance introspectivo. cronológico; pois esteticamente afasta-se da proposta do grupo.
Características de sua produção literária: no início da carreira,
apresenta um tendência à objetividade, convivendo com imagens
Características de sua producão literária: surrealistas e oníricas (relativas aos sonhos): aos poucos, afasta-se da
 sondagem dos mecanismos mais profundos da mente influência surrealista e aprofunda a tendência à substantivação, à
humana; economia da linguagem, submetendo as palavras a um processo
crescente de depuração, com uso de metáforas, personificações,
 técnica “impressionista” de apreensão dessa realidade
alegorias e metonímias (a pedra; a faca; o cão); a partir de 1945,
interior (predominância de impressões, de sensações);
influenciado por uma concepção arquitetônica, procede à
 ruptura com a sequência linear da narrativa; geometrização do poema, aproximando a arte do Poeta à do
 predomínio do tempo psicológico e, portanto, subversão do Engenheiro; a preocupação com o descarnamento, com a confecção da
tempo cronológico; poesia dessacralizada, afastada cada vez mais do subjetivismo e da
 características físicas das personagens diluem-se: muitas nem introspecção, leva-o à elaboração do poema objeto.
nome apresentam; Nele, o fruir poético atinge-se através da lógica do raciocínio, da
 as ações passam a ter importância secundária, servindo razão, eliminando-se emoções superficiais (ruptura total com o
principalmente como ilustração de características sentimentalismo); o Poeta questiona o próprio ato de escrever e a
psicológicas das personagens (introspecção psicológica); função da poesia; na década de 50, surge e amadurece a preocupação
 introdução da técnica do fluxo da consciência - quebra os política e principalmente a denúncia social do Nordeste e sua gente: os
limites espaço-temporais e o conceito de verossimilhança, “severinos” retirantes, as tradições e o folclore regional, a herança
fundindo presente e passado, realidade e desejo na mente medieval, a estrutura agraria canavieira, injusta e desigual... Aparece
dos personagens, cruzando vários eixos e planos narrativos ainda a paisagem da Espanha, que apresenta pontos em comum com o
sem ordem ou lógica aparente; cenário nordestino. Continua viva e atuante a reflexão sobre a Arte em
 presença da epifania (“revelação”): aparentemente suas várias manifestações, desde a pintura (Miró, Picasso, Vicente do
equilibradas e bem ajustadas, subitamente as personagens Rego Monteiro), a literatura (Paul Valéry, Cesário Verde, Augusto dos
sentem um estranhamento frente a um fato banal da Anjos, Graciliano Ramos, Drummond), passando pelo futebol e
realidade. Nesse momento, mergulham num fluxo de fechando com a sua própria maneira de poetar: “Sempre evitei falar de
consciência, do qual emergem sentindo-se diferentes em mim, falar-me. Quis falar de coisas. Mas na seleção dessas coisas não
relação a si mesmas e ao mundo que as rodeia; esse haverá um falar de mim?” (Morte e Vida Severina - Auto de Natal
desequilíbrio momentâneo por certo mudará sua vida Pernambucano)
definitivamente; Morte e Vida Severina, obra mais popular de João Cabral, é um auto de
Natal do folclore pernambucano. Sua linha narrativa segue dois
 suas principais personagens são mulheres, mas não se
movimentos que aparecem no título: “morte” e “vida”. No primeiro
limitam ao espaço do ambiente familiar: Clarice visa a atingir
movimento, há o trajeto de Severino, personagem-protagonista, que
valores essenciais humanos e universais tais como a falsidade
segue do sertão para Recife, em face da opressão econômico-social.
das relações humanas, o jogo das aparências, o esvaziamento
Severino tem a força coletiva de um personagem típico: representa o
do mundo familiar, as carências afetivas e as inseguranças
retirante nordestino. No segundo movimento, o da “vida”, o autor
delas decorrentes, a alienação, a condição da mulher, a
chama a atenção para a confiança no homem e em sua capacidade de
coexistência dos contrastes, das ambiguidades, das
resolver problemas.
contradições do ser, num processo meio “barroco”;
 fusão de prosa e poesia, com emprego de figuras de
linguagem: metáforas, antíteses (eu x não-eu, ser x não ser),
paradoxos, símbolos e alegorias, aliterações e sinestesias;
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Obras: O artista ordena o caos (in Grande Sertão: Veredas)
 Prosa : Considerações sobre a Poeta Dormindo (1941); Juan
Miró (1950) Olhe: conto ao senhor. Se diz que, no bando de Antônio Dó, tinha
 Poesia : Pedra do Sono (1942); Engenheiro (1945); Psicologia um grado jagunço, bem remediado de posses - Davidão era o nome
da Composição (1947); O cão sem Plumas (1950); Rio (1954); dêle. Vai, um dia, coisas dessas que às vêzes acontecem, êsse Davidão
Poemas reunidos (os livros anteriores mais Os Três Mal- pegou a ter mêdo de morrer. Safado, pensou, propôs êste trato a um
Amados, 1954); Duas Águas (os livros anteriores mais Morte outro, pobre dos mais pobres, chamado Faustino: o Davidão dava a êle
e Vida Severina, Paisagens com figuras e Uma Faca só dez contos de réis, mas, em lei de caborje — invisível no sobrenatural
Lâmina, 1956); Quaderna (1960); Dois Parlamentos (1961); — chegasse primeiro o destino do Davidão morrer em combate, então
Terceira Feira (os dois livros anteriores mais Serial, 1961); A era o Faustino quem morria, em vez dêle. E o Faustino aceitou,
Educação pela Pedra (1966), Poesias Completas (1968); recebeu, fechou. Parece que, com efeito, no poder de feitiço do
Museu de Tudo (1975); Escola das Facas (1987); Auto do contrato êle muito não acreditava. Então, pelo seguinte, deram um
Frade (1984); Agrestes (1985); Crime na Calle Relator (1987); grande fogo, contra os soldados do Major Alcides do Amaral, sitiado
Sevilha Andando (1987-1993). forte em São Francisco. Combate quando findou, todos os dois
estavam vivos, o Davidão e o Faustino. A de ver ? Para nenhum dêles
Textos não tinha chegado a hora-e-dia. Ah, e assim e assim foram, durante os
Fragmento de Perto do Coração Selvagem meses, escapos, alteração nenhuma não havendo; nem feridos êles
não saíam...Que tal, o que o senhor acha? Pois, mire e veja: isto
No momento em que a tia foi pagar a compra, Joana tirou o livro mesmo narrei a um rapaz de cidade grande, muito inteligente, vindo
e meteu cuidadosamente entre os outros, embaixo do braço. A tia com outros num caminhão, para pescarem no Rio. Sabe o que o môço
empalideceu. Na rua a mulher buscou as palavras com cuidado: — me disse? Que era assunto de valor, para se compor uma estória em
Joana... Joana, eu vi... livro. Mas que precisava de um final sustante!, caprichado. O final que
Joana lançou lhe um olhar rápido. Continuou silenciosa: — Mas êle daí imaginou, foi um: que, um dia, o Faustino pegava também a ter
você não diz nada? — não se conteve a tia, a voz chorosa.— Meu Deus, mêdo, queria revogar o ajuste! Devolvia o dinheiro. Mas o Davidão não
mas o que vai ser de você? — Não sé assuste, tia. aceitava, não queria, por forma nenhuma. Do discutir, ferveram nisso,
— Mas uma menina ainda... Você sabe o que fez ? — Sei... ferravam numa luta corporal. A fino, o Faustino se provia na faca,
— Sabe... sabe a palavra...? investia, os dois rolavam no chão, embolados. Mas, no confuso, por
— Eu roubei o livro, não é isso? sua própria mão dêle, a faca cravava no coração do Faustino, que
— Mas, Deus me valha! Eu já nem sei o que faço, pois ela ainda falecia...
confessa! Apreciei demais essa continuação inventada. A quanta coisa
— A senhora me obrigou a confessar. limpa verdadeira uma pessoa de alta instrução não concebe! Aí podem
— Você acha que se pode... que se pode roubar? — Bem... talvez encher êste mundo de outros movimentos, sem os êrros e volteios da
não. vida em sua lerdeza de sarrafaçar. A vida disfarça? Por exemplo. Disse
— Por que então...? — Eu posso. isso ao rapaz pescador, a quem sincero louvei. E êle me indagou qual
— Você?! — gritou a tia. tinha sido o fim, na verdade de realidade, de Davidão e Faustino. O
— Sim, roubei porque. quis. Só roubarei quando quiser. Não faz fim? Quem sei. Soube sòmente só que o Davidão resolveu deixar a
mal nenhum. jagunçagem - deu baixa do bando, e, com certas promessas, de ceder
— Deus me ajude quando faz mal Joana? uns alqueires de terra, e outras vantagens de mais pagar, conseguiu do
— Quando a gente rouba e tem medo. Eu não estou contente Faustino dar baixa também, e viesse morar perto dêle, sempre. Mais
nem triste. dêles, ignoro. No real da vida, as coisas acabam com menos formato,
--Clarice Lispector nem acabam. Melhor assim. Pelejar por exato, dá êrro contra a gente.
Não se queira. Viver é muito perigoso...
O retirante explica ao leitor quem é e a que vai (in Morte e Vida --Guimarães Rosa
Severina)

— O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há


muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar
Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas
Maria. fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco: há muìtos na freguesia, por causa de
um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor
desta sesmaria. Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com
nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que
eu vivia. Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma
cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre
crescido sobre as mesmas pernas finas, e iguais também porque o
sangue que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte
igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de
velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um
pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca
em qualquer idade, e até gente não nascida). Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras suando-se muito
em cima, a'de tentar despertar terra sempre mais extinta, a de querer
arrancar algum roçado da cinza, Mas, para que me conheçam melhor
Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida,
passo a ser o Severino que em vossa presença emigra.
--Cabral de Melo Neto

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