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LITERATURA

TURMA EXT MANHÃ — TÍTULO: MODERNISMO NO BRASIL – (FASE HEROICA) – 1922 - 1930
NOME DO PROFESSOR: CRIS BASTOS

1. Antecedentes: - Recriação da história da cultura nacional sem copiar modelos


estrangeiros;
- 1917: exposição de Anita Malfatti (quadros com tendências - “Tupi or not Tupi, that is the question”
cubistas e expressionistas, exposição injustamente criticada por
Monteiro Lobato: “Paranoia ou mistificação?”); 6. Primeira geração modernista brasileira – contexto
- Oswald de Andrade e Menotti del Picchia: defesa de Malfatti; histórico:
- Entre 1917 e 1922, os futuros organizadores da Semana de - Fase heroica (1922-1930);
Arte Moderna se constituíram como um grupo jovem e atuante no - Período de implementação de novas ideias que culminaram na
meio literário paulista (Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Semana de 22;
Menotti del Picchia e Cassiano Ricardo) com o apoio de intelectuais - Centenário de independência do Brasil;
cariocas como Manuel Bandeira, Ronald de Carvalho e Villa-Lobos; - Transformações mundiais decorrentes da I Grande Guerra
- Adesão de Graça Aranha: movimento modernista. (1914-1918);
- Aceleração do processo brasileiro de industrialização,
2. Semana de Arte Moderna: especialmente em São Paulo;
- 11 a 18 de fevereiro de 1922, Teatro Municipal de São Paulo: - Breve período de prosperidade que alcançaria o café como
grande exposição; produto de exportação.
- Dia 13: Graça Aranha abre a Semana com discurso intitulado
“A emoção estética na Arte Moderna”, apresentações musicais e 7. Características da primeira geração modernista:
declamatórias, conferência de Ronald de Carvalho; - Ruptura estética;
- Dia 15: Discurso de Menotti del Picchia, balbúrdia no sarau; - Reflexão, consciência crítica e metalinguagem com as revistas
poema “Os sapos” (Manuel Bandeira) foi declamado por Ronald de paulistas Klaxon, Terra Roxa e Outras Terras;
Carvalho nas escadarias no Teatro, sob os assobios e a gritaria do - Movimento complexo e contraditório: “Éramos uns
público; inconscientes” (Mário de Andrade a respeito da própria geração de
- Dia 17: apresentação musical de Villa-Lobos, com um público artistas, num balanço autocrítico que fez em 1942, em conferência
já bastante reduzido. O maestro estreou como “modernista” entre intitulada “O Movimento Modernista”);
vaias e urros de uma plateia. - Marco de uma era de transformações essenciais e abriu a fase
mais fecunda da literatura brasileira “porque [esta] já então havia
3. Poesia Pau-Brasil (1924), Oswald de Andrade: adquirido maturidade suficiente para assimilar com originalidade as
- Publicado no jornal O Correio da Manhã; sugestões dos matizes culturais, produzindo em larga escala uma
- Manifesto (em versão reduzida e modificada) abriria o livro de literatura própria”;
poemas Pau-Brasil, ilustrado por Tarsila do Amaral; - Afirmação da literatura nacional;
- Proposta de redescoberta do Brasil a partir de uma releitura - Movimento social e cultural;
crítica (e satírica) da nossa história; - Antiacademicismo, antitradicionalismo e antinaturalismo;
- “Primeiro esforço organizado para a libertação do verso - Busca pela estabilização da consciência criadora nacional;
brasileiro” (Paulo Prado). - Irreverência iconoclasta;
- “Poemas-piadas”;
4. Verde-Amarelismo – Escola da Anta: - Nacionalismo: primitivismo e releitura crítica de nosso passado
- Resposta ao Pau-Brasil (Plínio Salgado, Menotti del Picchia, histórico;
Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo); - Mais preocupados com a ruptura da tradição do que com o
- Crítica ao “nacionalismo afrancesado” de Oswald de Andrade; engajamento político;
- Proposta de nacionalismo primitivista e ufanista – contraparte - Desarticulação da sintaxe;
do movimento integralista do início da década de 1930, liderado por - Valorização da cultura popular brasileira;
Plínio Salgado; - Verso livre e instantâneo;
- Eleição da Anta como símbolo nacional; - Oralidade;
- Exaltação do Tupi, do primitivismo e da ingenuidade da mãe- - Paródia;
pátria; - Na prosa: influência da linguagem cinematográfica e,
- Maio de 1929: manifesto no jornal Correio Paulistano intitulado especificamente em São Paulo, da cultura italiana, devido à
“Nhengaçu Verde-Amarelo – Manifesto do Verde-Amarelismo ou da imigração pós-guerra;
Escola da Anta”. - 1922: Pauliceia desvairada (Mário de Andrade) e Memórias
sentimentais de João Miramar (Oswald de Andrade).
5. Antropofagia
- “Manifesto Antropófago” (Revista de Antropofagia, maio de
1928);
- Renovação do Pau-Brasil de 1924 e resposta à Escola da Anta;
- Inspirada na pintura Abaporu (em Tupi, “aquele que come”), de
Tarsila do Amaral;
- Proposta de “devoração crítica” na assimilação das influências
estrangeiras, desde a colonização até as vanguardas, e sua
digestão, cujo produto seria algo genuinamente brasileiro;

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Texto I Lá, fugindo ao mundo,
Os sapos, Manuel Bandeira Sem glória, sem fé,
No perau profundo
Enfunando os papos, E solitário, é
Saem da penumbra
Aos pulos, os sapos. Que soluças tu,
A luz os deslumbra. Transido de frio,
Sapo cururu
Em ronco que aterra, Da beira do rio...
Berra o sapo-boi:
Texto II
– “Meu pai foi à guerra!”
– “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”. Ao público chocado diante da nova música tocada na Semana,
como diante dos quadros expostos e dos poemas sem rima [...] sons
O sapo-tanoeiro, sucessivos sem nexo estão fora da arte musical: são ruídos, são
Parnasiano aguado, estrondos, palavras sem nexo estão fora do discurso: são disparates
Diz: – “Meu cancioneiro e tão cabeludos que nesta semana conseguiram desopilar os nervos
É bem martelado. do público paulista, que raramente ri a bandeiras despregadas.
A Gazeta, 22 fev. 1922.
Vede como primo Texto III
Em comer os hiatos! Poética – Manuel Bandeira
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos. Estou farto do lirismo comedido
do lirismo comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
O meu verso é bom
protocolo e manifestações de
Frumento sem joio
apreço ao Sr. diretor
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma: Abaixo os puristas
Reduzi sem danos
A formas a forma. Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Clame a saparia Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Em críticas céticas:
Não há mais poesia Estou farto do lirismo namorador
Mas há artes poéticas..” Político
Raquítico
Urra o sapo-boi: Sifilítico
– “Meu pai foi rei” – “Foi!” De todo o lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si
– “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!” mesmo.

Brada em um assomo De resto não é lirismo


O sapo-tanoeiro: Será contabilidade tabela de co-senos [secretário do amante
– "A grande arte é como exemplar com cem [modelos de cartas e as diferentes maneiras de
Lavor de joalheiro. [agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos


Ou bem de estatuário. O lirismo dos bêbedos
Tudo quanto é belo, O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
Tudo quanto é vário, O lirismo dos clowns de Shakespeare
Canta no martelo.”
– Não quero mais saber do lirismo que não é [libertação.
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe), Texto IV
Falam pelas tripas: O trovador, Mário de Andrade
– “Sei!” – “Não sabe!” – “Sabe!”.
Sentimentos em mim do asperamente
Longe dessa grita, dos homens das primeiras eras...
Lá onde mais densa As primaveras de sarcasmo
A noite infinita intermitentemente no meu coração arlequinal...
Verte a sombra imensa; Intermitentemente...
Outras vezes é um doente, um frio

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na minha alma doente como um longo som redondo Texto VII
Cantabona! Cantabona! As meninas da gare, Oswald de Andrade
Dlorom...
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Sou um tupi tangendo um alaúde! Com cabelos mui pretos pelas espáduas
1
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Tribo lendária de índios brasileiros.
1 Espantar. Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
Texto V
Excerto de Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, de Texto VIII
Mário de Andrade Medo da senhora, Oswald de Andrade

No fundo do mato virgem nasceu Macunaíma, herói de A escrava pegou a filhinha nascida
nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um Nas costas
momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo E se atirou no Paraíba
da Uraricoera, que a índia tapanhumas1 pariu uma criança feia. Essa Para que a criança não fosse judiada
criança é que chamaram de Macunaíma.
Já na meninice fez coisas de sarapantar2. De primeiro passou Texto IX
mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
Senhor feudal, Oswald de Andrade
— Ai! que preguiça!...
e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no
Se Pedro Segundo
jirau de paxiúba3, espiando o trabalho dos outros e principalmente os
dois manos que tinha, Manaape já velhinho e Jiguê na força do Vier aqui
homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia Com história
deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra Eu boto ele na cadeia
ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho
no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando Texto X
mergulho e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos Vício na fala, Oswald de Andrade
guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo si
alguma cunhatã4 se aproxima dele pra fazer festinha, Macunaíma Para dizerem milho dizem mio
punha as mãos nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos
guspia na cara. Porém respeitava os velhos e frequentava com Para melhor dizem mió
aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicoque, todas Para pior pió
essas danças religiosas da tribo. Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
Texto VI E vão fazendo telhados
Canto de regresso à pátria, Oswald de Andrade

Minha terra tem palmares Texto XI


Onde gorjeia o mar Pronominais, Oswald de Andrade
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Minha terra tem mais rosas Do professor e do aluno
E quase que mais amores E do mulato sabido
Minha terra tem mais ouro
Mas o bom negro e o bom branco
Minha terra tem mais terra
Da Nação Brasileira
Ouro terra amor e rosas Dizem todos os dias
Eu quero tudo de lá Deixa disso camarada
Não permita Deus que eu morra Me dá um cigarro
Sem que volte para lá
Texto XII
Não permita Deus que eu morra
Erro de português, Oswald de Andrade
Sem que volte pra São Paulo
Quando o português chegou
Sem que veja a Rua 15
Debaixo de uma bruta chuva
E o progresso de São Paulo
Vestiu o índio
Que pena!
Oswald de Andrade citado por Massaud Moisés. A literatura
Fosse uma manhã de sol
brasileira através dos textos. 21 ed. São Paulo: Cultrix, 1998, p. 403.

O índio tinha despido


2 Moça O português.
3 Esteira de tecido com fibras de palmeira.

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