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TENDÊNCIAS CULTURAIS: ENTRE O NATURALISMO E AS VANGUARDAS

Nas primeiras décadas do século XX, Portugal estava agarrado à corrente naturalista e académica que
reuniam as preferências do público, evidenciando forte resistência à inovação artística que se observava
na Europa - (atraso intelectual português).

Em Portugal: continuavam a explorar cenas da vida popular, que pareciam satisfazer uma burguesia
nostálgica das vivências tradicionais.

Foi depois da implantação da República que novas propostas estéticas e literárias que triunfavam na
Europa começaram a estender-se ao Ocidente Ibérico, com o aparecimento dos primeiros movimentos de
vanguarda (cubismo, futurismo, abstracionismo, expressionismo). – Houve sinais de mudança nos gostos
e padrões;

É o modernismo (movimento de rutura com o marasmo intelectual) que irrompe em Portugal, em


uníssono com a literatura e a arte mais avançadas da Europa, sem prejuízo, todavia, da originalidade
nacional. (*A agitação política fomentou o debate ideológico, o livre exame e as críticas)

Foram lançadas revistas, organizadas exposições e conferências, através das quais as novas opções
culturais eram demonstradas e divulgadas de maneira a agitar a cena cultural nacional com a
originalidade, a ousadia, o cosmopolitismo das propostas estéticas de jovens artistas e escritores. Todavia,
o baixo nível de alfabetização da população portuguesa e o conservadorismo dos meios urbanos, onde as
novidades intelectuais tinham maior presença, não proporcionaram abundância de público interessado nos
novos eventos culturais, mal-grado o esforço em prol do desenvolvimento empreendido, também pelos
governos republicanos, com a promoção do ensino e da informação.

EXISTEM DUAS GERAÇÕES MODERNISTAS: (1911-1920) (1920--)

*características do modernismo: questionamento das convenções literárias tradicionais, como a métrica poética;
valorização da escrita cotidiana e corriqueira, em detrimento da norma culta; pensamento crítico e contestador; escrita
dinâmica, relacionando-se com as transformações tecnológicas da época.

I. PRIMEIRO MODERNISMO: a revista “Orpheu”, lançada em 1915, marcou a introdução


do modernismo em Portugal. *Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e Fernando Pessoa
publicaram os primeiros poemas de intervenção na contestação da velha ordem literária
subordinando-se às novas formas e aos novos temas.
O modernismo português revelou a sua faceta mais inovadora, polémica e emblemática (a
do futurismo); os jovens do Orpheu eram considerados excêntricos e provocadores –
repudiavam o homem contemplativo e exaltavam o homem de ação, propunham-se a um
corte radical com o passado, denunciavam a morbidez saudosista dos portugueses,…
A revista provocou o escândalo e a troça dos críticos, conforme era desejo dos autores. Os
jornais apelidaram-nos de mistificadores da realidade e intelectuais alienados.
Na pintura, havia um vasto conjunto de exposições (livres, independentes e de humoristas)
– Manuel Bentes, Emmérico Nunes, Almada Negreiros, Cristiano Cruz, Stuart Carvalhais,
Jorge Barradas, António Soares, Milly Possoz,…
Muitos desenhos apresentavam caricaturas de sátira política, social e até anticlerical.
Avultavam as cenas elegantes de café e cenas populares de figuras típicas. Praticava-se a
estilização formal dos motivos, esbatia-se a perspetiva, usavam-se cores claras e contrastes.
*Amadeo de Souza-Cardoso, Guilherme Santa-Rita, Eduardo Viana, José Pacheco,…

- as possibilidades de sobrevivência do modernismo futurista mostraram-se pouco


animadoras
II. SEGUNDO MODERNISMO: (encerrou-se o primeiro modernismo com as mortes e
partidas para o estrangeiro (devido a ausência de público em Portugal) de figuras
emblemáticas) O segundo momento do Modernismo em Portugal inicia em 1927 com o
lançamento da Revista Presença. A revista foi fundada por Branquinho da Fonseca, João
Gaspar Simões e José Régio. O objetivo desse grupo era dar continuidade ao trabalho
iniciado com a Revista Orpheu – continuou a luta pela crítica livre contra o academismo
literário.
*Sarah Afonso, Miguel Torga, Adolfo Monteiro, Aquilino Ribeiro, Eça Leal,…
- mais uma vez, os artistas continuaram a deparar-se com a rejeição pelos organismos
oficiais;
- os clubes e os cafés viriam a ser os seus grandes espaços de afirmação – sítio onde se
divulgam ideias, elites culturais, convívio e discussão de ideias;

ANTÓNIO FERRO: destacado jornalista e simpatizante dos modernistas (e de Salazar)


assumiu em 1933, a direção do Secretariado da Propaganda Nacional. A partir de então, a
quase totalidade dos artistas modernos foi utilizada na construção da imagem de “novidade”
que o Estado Novo pretendia criar. Organizou, em 1936, a exposição dos Artistas Modernos
Independentes, onde se homenageou a originalidade dos primeiros modernistas, que se
considerava perdida - tem o papel de modelar as pessoas de acordo com as ideias do Estado
Novo - contacta arquitetos, pintores, escritores para difundir, através da sua arte, essa
mensagem.
*PROPAGANDA: o que um governo quer fazer passar na comunicação social; forma de
convencer cidadãos; difusão de ideias políticas e sociais;
*HOMEM ESTADO-NOVISTA: modelado a seguir medidas de Salazar;

*BOLSISTAS: pessoas que são pagas para irem ao estrangeiro, nomeadamente França, para explorarem e
aprenderem as novas técnicas artísticas que se espalham na Europa, trazendo-as para o seu país de
maneira a modernizá-lo.

Em oposição, António Pedro dinamizou o surrealismo, nos anos 40, contra a “arte oficial”
do Estado Novo.

O IMPACTO DO MODERNISMO NA ESCULTURA E NA ARQUITETURA

ESCULTURA: À semelhança da pintura, também a escultura da primeira década do


século XX ficou marcada pela hegemonia do gosto naturalista. Tal não impediu a
manifestação, se bem que tímida, de características modernistas na década de 20 tais como:
a simplificação geométrica das formas e volumes, busca da essencialidade plástica,
facetação das superfícies;
À semelhança da pintura, a modernidade escultórica acabou condicionada nos anos 30 e 40
pelas encomendas oficiais. Aos valores heroicos e à estética do Estado Novo – patrocinador
das grandes obras – submeteram-se muitos dos escultores.
Por todo o território nacional, incluindo as colónias, surge, em monumentos, estátuas ou
programas decorativos de edifícios públicos, a fixação em pedra ou bronze de
personalidades da história de Portugal, com particular destaque para os heróis do período
dos Descobrimentos, mas também escritores, poetas ou figuras religiosas.
- privilegiam a emotividade e introduzem novos conceitos estéticos ligados à corrente
expressionista;
*Francisco Franco, Diogo de Macedo, Canto da Maia, Leopoldo de Almeida,…

ARQUITETURA: A arquitetura não registou grandes desenvolvimentos no período que


estamos a registar. As dificuldades da Primeira República não propiciaram os
empreendimentos arquitetónicos, normalmente dispendiosos.
Só nos anos 20 e, sobretudo, durante o Estado Novo, é que se notam algumas preocupações
em conjugar algumas formas do modernismo europeu com o nacionalismo salazarista.
-> Uso de betão armado, predomínio da linha reta sobre a curva (baixo custo de construção
e maior simplicidade de traço), despojamento de decoração das paredes, utilização de
grandes superfícies de vidro, nos terraços e cobertura planos.
A arquitetura conciliou também com o tempo do Estado Novo – “Igreja de Nossa Senhora
de Fátima”, de Pardal Monteiro e o pavilhão da “Exposição do Mundo Português” de
Cottinelli Telmo.
*Cristinino da Silva, Carlos Ramos, Pardal Monteiro,…

TENDÊNCIAS CULTURAIS

 PERMANÊNCIA DO GOSTO E DA ESTÉTICA NATURALISTAS:


- aversão ao cosmopolitismo
- realismo popular
- nacionalismo

IRRUPÇÃO DO MODERNISMO:

- mundanismo boémico (sem regras ou grandes preocupações)


- síntese das tendências vanguardistas (cubismo, expressionismo, futurismo,
abstracionismo, surrealismo)

PRIMEIRO MODERNISMO: SEGUNDO MODERNISMO:

- exposições livres / humoristas; - grupo da Presença;


- grupo do Orpheu; - exposições independentes; cafés
e clubes; periódicos;
 Rejeição pelas entidades - grupo surrealista;
oficiais
 Tentativa de oficialização
pelo SPN (Secretariado de
Propaganda Nacional)

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