Você está na página 1de 5

AS OPÇÕES TOTALITÁRIAS

O período que mediou entre as duas guerras foi caracterizado pelo avanço e ascensão ao poder das
forças conservadoras de direita, radicalmente contrárias à democracia parlamentar.

Com o passar dos anos 20, um novo sistema de exercício do poder confrontou o demoliberalismo.
Movimentos ideológicos e políticos subordinaram o indivíduo a um Estado omnipotente, totalitário e
esmagador – é ao Estado que compete tutelar todas as manifestações da vida política e social, que
passam a ser subordinadas a uma única orientação ideológica – a ideologia do partido único.

Na Rússia soviética, o totalitarismo adquiriu uma feição revolucionária: nasceu da aplicação do


marxismo-leninismo e culminou no estalinismo.

Já na Itália e posteriormente na Alemanha, o Estado totalitário foi produto do fascismo e do nazismo e


revestiu um cariz mais conservador.

OS FASCISMOS, TEORIA E PRÁTICAS


Designaram-se por fascistas as novas experiências políticas que tiveram no fascismo italiano e no
nazismo alemão os grandes paradigmas.

*TOTALITARISMO: sistema político ou uma forma de governo que proíbe partidos de oposição, que
restringe a oposição individual ao Estado e às suas alegações e que exerce um elevado grau de controle na
vida pública e privada dos cidadãos.

*FASCISMO: regime autoritário criado na Itália por Mussolini em 1922. Profundamente ditatorial,
totalitário e repressivo, o fascismo suprimiu as liberdades individuais e coletivas, defendeu a supremacia
do Estado, o culto do chefe, o nacionalismo, o corporativismo, o militarismo e o imperialismo. – nega o
socialismo e a democracia; é anti-individualista (contra os indivíduos e os seus desejos);

- No fascismo não há direito à greve, os indivíduos devem sujeitar-se ao interesse do Estado (não existe
interesse individual, apenas interesse da Nação)

- Fascistas defendem voto disciplinado;

- Existe a obediência cega (ninguém se questiona, apenas devem fazer o que lhes é pedido)

NOVA ORDEM ANTILIBERAL, ANTISOCIALISTA, NACIONALISTA E


CORPORATIVISTA
Mussolini: “reacionário (valoriza o passado pois foi de onde partiu a concretização de um projeto vasto de
Império Romano e ele quer restaurar o prestígio da antiga Itália e também sonha em formar um Império
tal como Hitler), antiparlamentar (contra sindicatos, partidos políticos e associações), antidemocrata,
antiliberal, antissocialista”.

ANTILIBERAL: “Acima do indivíduo está o interesse da coletividade, a grandeza da Nação e a


supremacia do Estado. A apologia do primado do Estado sobre o indivíduo leva o fascismo a desvalorizar
a democracia partidária e o parlamentarismo, uma vez que esse sistema governativo assenta no respeito
pelas vontades individuais que se fazem ouvir nas eleições dos parlamentos.

- Fascismo rejeita a teoria liberal da divisão dos poderes e faz depender a força do Estado do reforço do
poder executivo (em vez do poder legislativo democrático). Para além disso, é antiparlamentar pois é no
parlamento que é representado a soberania do povo que fiscaliza o poder executivo:
ANTIPARLAMENTAR
ANTISSOCIALISTA: Segundo o socialismo, o indivíduo é a expressão da classe social em que está
inserido; com ela se identifica e por ela luta. Porém, para o fascismo, a luta de classes é algo de
abominável porque divide a Nação e enfraquece o Estado.

Por isso, o fascismo concebeu, na Itália, um modelo peculiar de organização socioeconómica, o


CORPORATIVISMO, destinado a promover a colaboração entre as classes.
“sindicatos” controlados pelo Estado tentam resolver conflitos entre patrões e operários;
- forma de combater a luta de classe, reorganizar a sociedade e a economia. Se não querem que haja
contestação, proíbem-se os sindicatos, as greves, as manifestações, a contestação, os lock-outs, etc.

- Desaparece o pluripartidarismo, a condição de existência da democracia;


- Nenhuma atividade recorre sem o Estado a reconhecer: falta de liberdade
- Salazar vai dizer que é ele que resolve os problemas entre patrões e operários – deixa de haver greves,
manifestações e contestação pois os opositores seriam mortos ou presos;
- “O fascismo é inimigo do sindicalismo” – os sindicatos propõem melhores condições aos trabalhadores,
melhores salários, melhores progressos de carreira, greves e manifestações o que não é aceite pelo
fascismo; Empresários estão em vantagem e os trabalhadores sujeitam-se a isso sem se poder defender.
- Considera que os trabalhadores que exigem melhores direitos são egoístas e uma ameaça para o Estado
por não contribuírem para o interesse da comunidade em vez do interesse individual.

NACIONALISMO: outro motivo da hostilidade fascista perante o socialismo é que este acreditava que o
socialismo não lutava pela pátria mas sim pelo derrube internacional do capitalismo.
*nacionalismo exacerbado.

A oposição política foi aniquilada, a sociedade era galvanizada por propaganda e era controlada por ela
o que impedia a liberdade de pensamento e de expressão.

ELITES E ENQUADRAMENTO DE MASSAS


Ao contrário do demoliberalismo, que acredita na igualdade entre os homens e defende o respetivo acesso
à governação (elegendo ou sendo eleitos), o fascismo parte do princípio de que os homens não são iguais,
a desigualdade é útil e fecunda e o governo só aos melhores, às elites, deve competir.
(antiparlamentarismo, elites, contra sufrágio universal)

CULTO DO CHEFE: o Duce da Itália e o Führer na Alemanha eram considerados super-heróis que
encarnavam a Nação e a guiava para o destino próspero. Deviam ser seguidos e idolatrados.
Para além, dos chefes faziam parte do culto a raça ariana, as forças militarizadas, os soldados e os filiados
do partido.
- Consideradas inferiores as mulheres dedicavam-se à igreja, à cozinha e às crianças.
- Havia uma profunda e rígida hierarquização;
Já na escola era ensinado o culto do chefe e do Estado e a obediência cega, o amor pelo desporto e pela
guerra, tal como o desprezo aos valores intelectuais (se não se dedicassem a pensar, não iam contra o
regime): ENQUADRAMENTO DAS MASSAS

ARREGIMENTAÇÃO: (em crianças) eram educadas por professores subservientes ao regime, ao qual
prestavam juramento, por manuais escolares impregnados dos princípios totalitários fascistas.
(em adultos) era esperada a total adesão e identificação com o fascismo. Contava-se, para o efeito, com
diversas organizações de enquadramento das massas:
- Partido Único (Nacional-Fascista na Itália e Nacional-Socialista na Alemanha) e as milícias;
- Frente do Trabalho Nacional-Socialista e corporações italianas;
- Dopolavoro na Itália e Kraft Durch na Alemanha, associações destinadas a ocupar os tempos livres dos
trabalhadores com atividades recreativas e culturais que não os afastassem da ideologia fascista;

Governo Fascista investiu muito no controlo das mentes e das vontades através da PROPAGANDA:
existiam até paradas militares para amedrontar as pessoas e o estrangeiro;

O CULTO DA FORÇA E DA VIOLÊNCIA E A NEGAÇÃO DOS DIREITOS


HUMANOS
- Repressão policial e a violência exercida pelas milícias armadas e pela polícia política, tornaram-se
decisivas para garantir o controle da sociedade e a sobrevivência do totalitarismo.
ANTIPACIFISTAS, ambos o fascismo e o nazismo defenderam o CULTO DA FORÇA e da “natureza
selvagem” do Homem, afirmando que só em contexto de guerra, a Humanidade se revela corajosa e
superior.
Milícia Armada “Milícia Voluntária para a Segurança Nacional” do Partido Nacional-Fascista
denunciavam e reprimiam qualquer ato conspiratório contra o governo.
Polícia Política “Organização de Vigilância e Repressão Antifascismo”
Na Alemanha, houve o mesmo aparato repressivo e atentatório aos direitos humanos à liberdade e à
segurança com as “Secções de Assalto“ e “Secções de Segurança” milícias temidas pela brutalidade,
espancamentos e tortura.

A criação dos primeiros campos de concentração, em 1933, completou o dispositivo repressivo do


nazismo.

A VIOLÊNCIA RACISTA
Foi na Alemanha que o culto da violência e a negação dos direitos humanos tiveram maior expressão,
pelo caráter militarista e racista que o regime adotou e pelas suas repercussões na evolução política da
Europa.
O nazismo levou ao extremo o racismo que caracteriza as ideologias fascistas. Os nazis acreditavam que o
povo alemão descendia de uma raça superior, a raça ariana, a quem incumbia a obrigação de dominar o
mundo pela eliminação das raças inferiores.
*nacionalismo exacerbado.

Obcecados com o apuramento físico e mental da raça ariana, os nazis promoveram o EUGENISMO:
o primeiro objetivo do nazismo era a purificação da raça ariana pela seleção dos seus membros mais
genuínos e eliminação dos impuros. Para isso,
desenvolveram profundos estudos para determinar as características da raça ariana e aplicaram as
conclusões da análise dos tipos fisionómicos e mentais na depuração eugénica da raça. Isto é, encontrados
os indivíduos perfeitos, machos e fêmeas eram acasalados e submetidos à aplicação rigorosa das leis da
genética, a fim de obter novos cidadãos dotados com as qualidades raciais superiores.
Ao mesmo tempo, portadores de qualquer deficiência mental ou física ou debilidade, muito
particularmente crianças, eram abandonados em hospícios, esterilizados e muitos deles eliminados.

Aos alemães competiria fatalmente o domínio do mundo, se necessário à custa da submissão e/ou
eliminação dos povos inferiores (judeus, ciganos, mas também os eslavos cujos territórios da Europa
Central e Oriental forneceriam aos alemães o tão necessário espaço vital)
A VIOLÊNCIA RACISTA E ANTISSEMITISMO: o passo seguinte da polícia racista alemã era
preservar a pureza da raça pela eliminação das raças inferiores que a contaminavam. Entre as vítimas,
contavam-se os opositores ideológicos ao regime (comunistas, anarquistas), deficientes mentais e físicos,
ciganos, eslavos e homossexuais. O racismo nazi assumiu contornos mais violentos contra os judeus – o
ANTISSEMISMO. Os judeus, considerados a mais inferior das raças, eram acusados de serem os
causadores de todos os males da sociedade. Por conseguinte, fizeram do seu extermínio um dos grandes
objetivos políticos.
Numa primeira fase, os judeus foram segregados, boicotados, excluídos dos serviços públicos.
Numa segunda fase, surgiram as primeiras investidas contra as suas pessoas e bens, com destruições
programadas dos seus locais de culto e de atividade económica, intensificando-se a sua segregação com o
seu encerramento em guetos e identificação através do uso obrigatório e vexatório da estrela de David.
Numa terceira fase, com o começo da Segunda Guerra Mundial, os judeus foram submetidos às mais
humilhantes condições de trabalho e, finalmente, a um extermínio cientificamente preparado – a solução
final -, que se traduziu no genocídio de milhões de homens, mulheres e crianças nos campos de
concentração – Holocausto.

O MILITARISMO: violentamente nacionalistas, os nazis cresceram a denunciar a humilhação que


resultou do Tratado de Versalhes. De maneira a contrariá-lo, Hitler instituiu o serviço militar obrigatório,
desenvolveu as indústrias bélicas, remilitarizou as zonas fronteiriças da Alemanha e lançou-se numa
violenta agressão às democracias europeias, que conduziu à Segunda Guerra Mundial.
- uso da força e da violência –
EXÉRCITO FORTE: para reprimir ameaças internas/externas e para expandir o território à custa de
outras Nações. IMPERIALISMO: violação à integridade territorial “conquista de espaço vital”.
Se temos um exército forte também temos uma indústria desenvolvida para defesa e ataque bem como,
muito armamento.

A AUTARCIA COMO MODELO ECONÓMICO


A recuperação da economia preocupou os regimes da Itália e da Alemanha, que sofreram de uma forma
contundente a crise do pós-guerra e, depois, os efeitos da Grande Depressão. Em ambos os países se
adotou uma política económica intervencionista e nacionalista que ficou conhecida pelo nome de
AUTARCIA. Propôs-se a autossuficiência económica, apelou-se ao heroísmo e ao empenho do povo
trabalhador, prometeu-se o fim do desemprego e a glória da Nação.

NA ITÁLIA:
Na Itália, que se viu a braços em 1932 com 1,3 milhões de desempregados, o Estado fascista reforçou a
intervenção na economia. O enquadramento de atividades em corporações facilitou a planificação
económica, no que respeita à aquisição de matérias-primas, ao volume de produção, ao tabelamento de
preços e salários.
Houve amplas campanhas de produção que promoviam o trabalho intensivo de forma a conseguir altos
níveis de produtividade: “batalha do trigo” aumentou a produção de cereais e diminuiu as importações,
“batalha da lira” estabilização da moeda, “batalha da bonificação” criação de novas povoações.
Em termos comerciais, o Estado decidiu intervir subindo os direitos alfandegários e controlou o volume
das importações e exportações.
No setor industrial, financiou empresas em dificuldade.
Para além disto, a Itália iniciou uma “aventura colonial” que lhe permitiu a exploração de fontes de
energia e minérios e a criação de produtos de síntese química.
NA ALEMANHA:
Tornar a Alemanha independente dos empréstimos estrangeiros pelo relançamento da economia e, ao
mesmo tempo, resolver o problema dos 6 milhões de desempregados foram a bandeira de propaganda que
levou os nazis ao poder em 1933. Para o conseguir, Hitler levou a cabo uma política de grandes obras
públicas, como a construção de autoestradas e outras vias de comunicação e desenvolvimento dos setores
automóvel, aeronáutico, químico, siderúrgico e da energia elétrica.
Relevante no combate do desemprego e na captação da simpatia dos grandes industriais alemães foi o
relançamento da indústria militar e a reconstituição do exército e da força aérea. – vasto programa de
rearmamento
O Estado reforçou, entre 1936 e 1939, a autarcia e o dirigismo económico: fixou os preços e tornou a
Alemanha autossuficiente através de cereais, açúcar e manteiga.
As realizações económicas do nazismo e a quase eliminação do desemprego renderam-lhe a adesão das
massas e a admiração, até, de países ocidentais.

Você também pode gostar