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AS OPÇÕES TOTALITÁRIAS

O período que mediou entre duas guerras foi caracterizado pelo avanço e ascensão ao
poder das forças conservadoras de direita, radicalmente contrárias à democracia parlamentar,
que acusavam de ser a grande causa da agitação social e do caos económico provocados pela
livre atuação dos partidos socialistas, conforme estudámos na unidade 1 deste Módulo.

Os principais países onde se impuseram regimes totalitários foram a Itália e a


Alemanha, cada um caracterizado por determinados particularismos. No entanto,
praticamente toda a Europa viveu a experiência totalitária e poucas foram as democracias que
conseguiram resistir ao avanço da extrema-direita.

Por regimes totalitários devemos entender os regimes políticos que, reagindo contra
os valores do liberalismo triunfante no século XVIII e contra o carácter universal e
pluripartidário das democracias de inícios do século XX, que resultaram desse liberalismo,
entendem o Estado como um valor absoluto ao qual se devem subordinar todos os interesses
individuais. Neste sentido, é ao Estado que compete tutelar todas as manifestações da vida
política e social, que passam a ser subordinadas a uma única orientação ideológica- a ideologia
do partido único.

OS FASCISMOS: TEORIA E PRÁTICAS


AS REJEIÇÕES DOS REGIMES TOTALITÁRIOS

Os regimes nazi-fascistas rejeitam:

 O individualismo, o respeito pelos direitos do Homem e pela dignidade humana, pois


os direitos do indivíduo tinham de estar submetidos ao interesse do Estado, que deve
comandar os seus pensamentos e comportamentos. Nos regimes totalitários, os
indivíduos não têm existência por si, só existem enquanto enquadrados no Estado,
 O princípio liberal da igualdade dos homens no nascimento. Defendem que
determinadas raças nascem para comandar e outras para obedecer e é dever das raças
superiores imporem-se às raças inferiores;
 O princípio liberal da liberdade, porque liberdade é tolerância que degenera em
permissividade de que resulta divisão e enfraquecimento do grupo;
 O princípio liberal da fraternidade, pois os totalitarismos contêm em si a guerra a que
irão ser conduzidos a Europa e o Mundo;
 A democracia, considerada um regime de fraqueza, incapaz de salvaguardar o
interesse nacional. A escolha dos governantes pelo povo é inútil demagogia;
 O pluripartidarismo que apenas gera divisões e discussões inúteis que põem em causa
a coesão e a força da Nação;
 O sistema parlamentar, manifestação de fraqueza do poder, por não passar de um
jogo estéril, de verbalismo alheio aos interesses da Nação;
 A razão no comando dos comportamentos do Homem. Mais do que as qualidades
intelectuais, os nazi-fascistas pretendem desenvolver as suas qualidades animais;

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 O socialismo e o comunismo, porque assentam na luta de classes que conduz a
divisões e enfraquecimento do corpo social; propõem formas de poder em que a
maioria de indigentes nascidos para obedecer se sobrepõe às elites nascidas para
governar; com a sua política de internacionalização contrariam a coesão e a afirmação
nacional;
 O liberalismo económico por privilegiar os interesses individuais contra os interesses
do Estado.

AS AFIRMAÇÕES DOS REGIMES TOTALITÁRIOS

Em antítese a estas negações, os totalitarismos afirmam:

 O ultranacionalismo, ao considerarem a Nação como um valor sagrado, um bem


supremo. Por esta razão, repudiam a época liberal e procuram os seus modelos no
passado mais glorioso das nações, nos tempos áureos de afirmação das
nacionalidades. Procuram incessantemente definir esses tempos com rigor, de forma a
encontrar as origens míticas das raças;
 O imperialismo, ao defenderem que o nacionalismo deve ser altivo e ambicioso. Deve
impelir a Nação superior para fora das suas fronteiras, seja pela via diplomática, seja
pela conquista militar. As nações superiores devem subordinar as nações inferiores,
 O militarismo, ao defenderem o culto da violência e da força, traduzindo no exercício
físico e no treino militar, nas paradas e desfiles e na intimidação dos opositores. Os
totalitarismos ridicularizam as políticas pacifistas, exaltam a aventura, o conflito, a
guerra;
 O autoritarismo do Estado como primeira condição para a prosperidade da Nação.
Contra os particularismos locais, afirmam a forte centralização do poder; o interesse
coletivo sobre os interesses individuais, dos grupos profissionais ou das classes sociais.
Propõem regimes de ditadura, estados policiais em que a própria justiça é colocada às
suas ordens, na esconjuração das impurezas nacionais;
 O culto do chefe, providencial, guia e salvador da Nação, que se impõem pela sua forte
personalidade e que encarna o Estado. O culto do chefe traduz-se pela difusão
ilimitada da sua imagem em todos os sítios que a isso se proporcionem. É saudado
com o braço erguido, aclamado freneticamente antes de ser escutado religiosamente,
 O partido único, onde se forma a classe dirigente, na intermediação das relações entre
o chefe e o povo;
 O socialismo nacional, na forma corporativista, considerado como a melhor arma para
combater o internacionalismo comunista e a luta de classes. Contrapõem uma forma
de relações socioeconómicos através da qual patrões e operários cooperam no mesmo
objetivo de grandeza nacional, em vez de lutarem por interesses individuais;
 O ideal de autarcia, ao defenderem que o Estado deve ser autossuficiente quer em
produtos agrícolas, que em produtos industriais. É com o desenvolvimento da
produção nacional que o Estado se pode tornar forte e verdadeiramente
independente, além de proporcionar emprego aos seus cidadãos;

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 A formação e o desenvolvimento de um homem novo, viril, apto para o comando,
duro para si próprio e para os seus subordinados. As suas grandes características
deveriam ser a coragem, o espírito crítico, deve ser formado para acreditar, obedecer
e combater. O Homem ideal é o autómato, desprovido de sensibilidade e de qualquer
sentido humanitário, capaz de executar, sem discussão, todas as ordens que recebe.
Na sociedade nazi-fascistas, a mulher é desprezada e considerada cidadã de segunda,
limitada à cozinha, à educação dos filhos e aos assuntos religiosos.

AS PRÁTICAS NAZI-FASCISTAS

Da atuação das milícias armadas à constituição do aparelho repressivo do Estado

Na sua afirmação política, os totalitarismos nazi-fascistas contaram com o apoio de


milícias armadas que intervinham na repressão violenta das greves e outras manifestações
organizadas. Cedo foram objeto de atenção dos grandes industriais e financeiros, que viam na
sua atuação uma forma eficaz de combater todos os fatores de desestabilização da ordem
burguesa. Apoiaram-nas, financiaram-nas, militarizaram-nas, transformando-as numa
poderosa máquina de repressão dos opositores aos seus interesses económicos e políticos.

Com a ascensão dos partidos totalitários ao poder e com a edificação de estados


policiais, estas milícias vieram a constituir as forças de sustentação do Estado, transformando-
se em forças policiais institucionais de repressão dos opositores ao regime.

Na Itália, era a Milícia Voluntária para a Segurança Nacional (MVSN) E A Organização


de Vigilância e Repressão do Antifascismo (OVRA). Na Alemanha, eram as Secções de Assalto
(SA), que foram perdendo poder para as Secções de Segurança do Partido (SS), de carácter
paramilitar, e para uma tenebrosa polícia política, a Gestapo, que exercia uma atenta vigilância
e controlo da população, enviando para os campos de concentração quem manifestasse o
mais pequeno sinal de oposição ou fosse denunciado como tal.

A encenação da força

Outra forma de cativar a simpatia da opinião pública era a organização de imponentes


manifestações de força enquadradas no desenvolvimento de uma intensa ação de
propaganda.

Frequentemente, as forças de repressão militares e paramilitares exibiam toda a sua


capacidade de organização em espetaculares manifestações de ordem, disciplina, força e
autoridade, com recurso à exibição de poderoso material bélico, sob uma floresta de bandeiras
do partido transformadas em símbolo nacional. A estas manifestações assistia um público
fascinado com tamanha grandeza e com os empolgados discursos dos líderes, apelando ao
orgulho nacional e desenvolvendo a veneração do poder e o culto do chefe.

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A propaganda

Ao mesmo tempo, as forças do regime desenvolviam uma intensa propaganda de


enaltecimento da grandeza nacional e de denúncia violenta de todas as causas que impediam
a afirmação dessa grandeza, apoiada em modernas técnicas audiovisuais. Esta propaganda
ganhou foros de irracionalidade, em particular na Alemanha, com a contestação do Tratado de
Versalhes denunciado como um diktat, causa de todos os males do país e da humilhação da
Nação alemã.

Na sua ação de propaganda, os ditadores:

 Propõem um programa nacionalista de resolução da crise económica e de promessas


de emprego,
 Avançam com propostas de reconstituição da grandeza da Nação pela reintegração
dos territórios perdidos e pela expansão imperialista para outros territórios;
 Prometem pôr fim à agitação socialista e combater violentamente o comunismo
internacionalista;
 Com maior violência na Alemanha, apelam à pureza da raça, prometendo eliminar
todos os fatores de degeneração étnica;
 Prometem ordem, disciplina e estabilidade.

A repressão da inteligência

Na Itália, O Ministério da Imprensa e da Propaganda, e, na Alemanha, o Ministério da


Cultura e da Propaganda:

 Controlam as publicações escritas, a rádio, o cinema, mediante uma apertada censura;


 Colocam a produção intelectual ao serviço do Estado totalitário pela imposição de
textos e de programas nacionalistas;
 Proíbem e suprimem toda a produção intelectual contrária à ideologia do regime;
 Perseguem os intelectuais e impõem-lhes a submissão do seu pensamento aos
interesses da Nação.

Em particular na Alemanha, as ruas, os edifícios públicos, as fábricas são apetrechados


com milhares de altifalantes que emitem constantemente programas de carácter
nacionalista.

A mobilização e a argumentação e a arregimentação das massas

A arregimentação submissa da população constituiu um dos principais meios de


afirmação dos totalitarismos nazi-fascistas.

Começava logo nos primeiros anos com a integração das crianças em organizações
onde era ministrada uma educação tendo em vista a formação de fiéis e submissos servidores
do partido e do Estado. Tratava-se de organizações com carácter militarista onde imperava a
ordem e a disciplina. Na Itália, depois de passarem por sucessivos escalões de formação, os
jovens do sexo masculino integravam, a partir dos 18 anos, as Juventudes Fascistas. Na
Alemanha, aos 14 anos, entravam nas Juventudes Hitlerianas. Nesta altura, e depois de uma
forte inculcação de valores nacionalistas e anticomunistas, através de programas de ensino
rigorosamente vigiados e por professores subservientes ao regime, constituíam importantes
instrumentos de divulgação da ideologia totalitária, de vigilância e de repressão da oposição.

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Para ter uma vida livre de suspeitas e de perseguições, a população devia enquadrar-se
nos instrumentos de arregimentação, que passavam pela filiação no partido nacional-fascista,
na Itália, e nacional-socialista, na Alemanha, condição indispensável para o exercício do mais
baixo posto da função pública. Os trabalhadores tinham de se inscrever obrigatoriamente nas
organizações corporativas propostas pelo regime (a Frente de Trabalho Nacional-Socialista, na
Alemanha; as Corporações, na Itália), pois os sindicatos livres foram proibidos.

Nem a ocupação dos tempos livres escapava ao controlo do regime. Para o efeito
foram criadas instituições nacionais que organizavam diversas atividades de carácter cultural e
recreativo, nas quais os trabalhadores tinham o dever patriótico de participar (o Dopolavoro –
Depois do Trabalho -, na Itália; o Kraft durch Freude – Força com Akegria -, Alemanha).

O CORPORATIVISMO ITALIANO

A principal particularidade do fascismo italiano foi o corporativismo. Trata-se de um


modelo de organização do sistema produtivo, através da qual se pretendia ultrapassar as
tensões da sociedade industrial, sem pôr em causa o progresso tecnológico e a separação
capitalista entre os detentores do capital e os detentores da força de trabalho.

Na prática, todas as forças de produção eram organizadas numa economia nacional


através da integração de patrões, empregados e representantes do Estado, teoricamente em
pé de igualdade, em organismos de cooperação em todas as profissões. Eram as corporações e
corporativistas eram os regimes totalitários que assentavam neste tipo de organização do
trabalho.

As corporações permitem ao Estado:

 A direção planificada da produção e a consequente realização da autarcia nacional


através da presença dos seus representantes;
 A intervenção como mediador na resolução de conflitos de trabalho entre os dois
polos do processo produtivo;
 Proibir os sindicatos livres, de inspiração socialista, considerados como causadores de
todo o ambiente de tensão vivido no mundo laboral;
 A consolidação do equilíbrio social e da justiça nas relações laborais, num quadro
legalmente constituído.

Na Itália, este quadro legal era definido pela Lei sobre as Corporações, de 1926, e pela
Carta do Trabalho, de 1927, onde:

 Era reconhecido um único sindicato nacional para patrões e operários;


 Era proibida a greve e o lockout;
 Os conflitos laborais eram submetidos à arbitragem do Estado.

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Na prática, o que resultava desta organização corporativa, e era este o seu objetivo
político, era a subordinação do trabalho ao capital, pois os trabalhadores não eram defendidos
por verdadeiros representantes por eles escolhidos, mas por funcionários do partido nacional,
protegidos e apoiados pelo patronato, com cujos interesses se identificavam.

O carácter corporativista do fascismo italiano manifesta-se na criação de um Ministério


das Corporações, em 1926; de um Conselho Nacional das Corporações, em 1930; e, sobretudo,
na substituição da Câmara dos Deputados fascistas pela Câmara dos Fascios e das
Corporações, em 1939. Tratava-se de uma câmara de representantes fascistas das
corporações, que, em teoria, constituía a verdadeira representação da população italiana, pois
os indivíduos apenas existiam em função do seu grupo profissional. Na prática, porém, era um
órgão onde os grandes industriais e proprietários rurais ocupavam lugar dominante em
detrimento dos representantes dos trabalhadores, que, ainda assim, eram ativos militantes do
partido.

O CULTO DA FORÇA E DA VIOLÊNCIA E A NEGAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Foi na Alemanha que o culto da violência e a negação dos direitos humanos tiveram
maior expressão, pelo carácter militarista e racista que o regime adotou e pelas suas
repercussões na evolução política da Europa.

O nazismo levou ao extremo o racismo que caracteriza as ideologias fascistas. Os nazis


acreditavam que o povo alemão descendia de uma raça superior, a raça ariana, a quem
incumbia a obrigação de dominar o mundo pela eliminação das raças inferiores.

A eugenia nazi

O primeiro objetivo do nazismo deveria ser a purificação da raça ariana pela seleção
dos seus membros mais genuínos e eliminação dos impuros.

Para isso, desenvolveram profundos estudos para determinar as características da raça


ariana e aplicaram as conclusões da análise dos tipos fisionómicos e mentais na depuração
eugénica da raça. Isto é, encontrados os indivíduos perfeitos, machos e fêmeas eram
acasalados e submetidos à aplicação rigorosa das leis da genética, a fim de obter novos
cidadãos dotados com as qualidades raciais superiores.

Ao mesmo tempo, portadores de qualquer deficiência mental ou física ou debilidade,


muito particularmente crianças, eram abandonados em hospícios, esterilizados e muitos eles
eliminados.

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O antissemitismo

O passo seguinte da política racista alemã era preservar a pureza da raça pela
eliminação das raças inferiores que a contaminavam. Entre todas, a mais inferior era
constituída pelos judeus, que acusavam de serem os causadores de todos os males da
sociedade. Por conseguinte, fizeram do seu extermínio um dos grandes objetivos políticos.

Numa primeira fase, os judeus foram segregados, boicotados, excluídos dos serviços
públicos.

Numa segunda fase, surgiram as primeiras investidas contra as suas pessoas e bens,
com destruições programadas dos seus locais de culto e de atividade económica,
intensificando-se a sua segregação com o seu encerramento em guetos e identificação através
do uso obrigatório e vexatório da estrela de David.

Numa terceira fase, com o começa da Segunda Guerra Mundial, os judeus foram
submetidos às mais humilhantes condições de trabalho e, finalmente, a um extermínio
cientificamente preparado, que se traduziu no genocídio de milhões de homens, mulheres e
crianças nos campos de concentração.

O militarismo

Violentamente nacionalistas, os nazis cresceram denunciando a humilhação que


resultou do Tratado de Versalhes. Uma das maiores penalizações para a Nação alemã foi o seu
desmembramento por vários espaços geopolíticos do Centro e Leste europeus, em
consequência da redefinição do mapa político da Europa.

A incorporação de todos os alemães numa só Pátria, num só Povo e num só Chefe (ein
Reich, ein Volk, ein Fϋhrer) constituiu uma das grandes bandeiras da propaganda nazi. O
alargamento do espaço vital alemão, tendo em vista a restauração de uma Grande Alemanha
(Terceiro Reich), passava pela integração de todas as minorias alemãs espalhadas pela Europa
Central e de Leste. Para isso, era necessário empreender uma política de anexação militar dos
territórios perdidos com a derrota na Primeira Guerra, nem que para isso tivessem de rasgar
todos os tratados impostos ou acordados.

Para o efeito, e contrariando também as imposições de Versalhes, Hitler instituiu o


serviço militar obrigatório; desenvolveu as indústrias bélicas; remilitarizou as zonas fronteiriças
da Alemanha e lançou-se numa violenta agressão às democracias europeias, que conduziu à
Segunda Guerra Mundial.

A AUTARCIA COMO MODELO ECONÓMICO

Como já vimos, os totalitarismos cresceram à medida que se agravavam as condições


económicas e financeiras de uma Europa destruída pela guerra e cresciam promessas de
solução de todos os problemas por ideologias fortemente nacionalistas.

Uma vez no poder, os regimes totalitários fizeram da autossuficiência económica e da


resolução do problema do desemprego poderosos veículos de afirmação do nacionalismo
político. Era o ideal de autarcia traduzido na adoção de políticas económicas fortemente
intervencionistas, através das quais as atividades produtivas eram colocadas ao serviço do
Estado.

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Na Itália

Ganhou particular relevância o controlo da economia pelo enquadramento de todas as


atividades laborais nas corporações, conforme vimos.

Paralelamente, Mussolini ficou ligado ao lançamento de amplas campanhas de


produção envolvidas por poderosas e, por vezes, espetaculares manifestações de propaganda
em que os trabalhadores eram exortados a trabalhar intensamente, de forma a conseguir altos
níveis de produtividade. As mais famosas foram a “batalha do trigo”, visando o aumento daq
produção deste cereal, e as campanhas tendo em vista a recuperação de terras para a
agricultura e a construção de grandes obras públicas.

As atividades industriais e comerciais passaram também por um forte controlo do


Estado, já nos anos 30, com o lançamento de programas de industrialização e de controlo do
volume das exportações e importações.

Os resultados dos programas económicos italianos foram positivos, todavia, o


desenvolvimento do país foi conseguido à custa de grandes sacrifícios da população, quer em
trabalho, quer em impostos, quer na sua sujeição a rigorosos racionamentos do consumo. Era
o tempo do “homem novo” criado por Mussolini, preparado para acreditar e obedecer
irracionalmente à ideologia do regime.

Na Alemanha

Hitler não divergiu substancialmente das políticas económicas adotadas por Mussolini.
Tornar a Alemanha independente dos empréstimos estrangeiros pelo relançamento da
economia e, ao mesmo tempo, resolver o problema de 6 milhões de desempregados foram a
bandeira da propaganda que levou os nazis ao poder em 1933. Para o conseguir, Hitler levou a
cabo uma política de grandes obras públicas, como a construção de autoestradas e outras vias
de comunicação e desenvolvimento dos setores automóvel, aeronáutico, químico, siderúrgico
e da energia elétrica.

Relevante no combate ao desemprego e na captação da simpatia dos grandes


industriais alemães foi o relançamento da indústria militar e a reconstituição do exército e da
força aérea, contrariando as imposições de Versalhes. Nos finais da década, a Alemanha estava
plenamente remilitarizada e preparada para se lançar na conquista da Europa.

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O ESTALINISMO
Após a morte de Lenine, em 1924, ganham proeminência, na luta pela sucessão, dois
destacados membros da Direção do Partido Comunista. Trotsky, líder carismático da revolução
bolchevique, tinha conduzido o Exército Vermelho à vitória na guerra civil e desfrutava de
elevado prestígio entre os militares e no meio operário e sindical. Estaline, Comissário do Povo
para as Nacionalidades, fora o grande apaziguador das tensões nacionalistas, o construtor da
União Soviética, e era, desde 1922, o secretário-geral do partido.

Das duas estratégias propostas para os destinos políticos do Estado soviético, venceu a
tese de Estaline, que defendia que era necessário consolidar a revolução primeiro na URSS e só
depois partir para a sua internacionalização. Era a tese da revolução num só país, contra a tese
trotskista da revolução permanente e universal.

Uma vez na chefia do Estado, Estaline inicia um processo de controlo absoluto de


todas as estruturas do poder e da direção do partido, que o tornará, em 1928, chefe
incontestado da URSS.

Até 1953, ano da sua morte, toda a sua ação política é norteada por dois grandes
objetivos: a construção irreversível da sociedade socialista e a transformação da URSS numa
grande potência mundial. A coletivização e planificação da economia e a instauração de um
Estado totalitário são as estratégias adotadas para atingir esses objetivos.

COLETIVIZAÇÃO E PLANIFICAÇÃO DA ECONOMIA

Paralelamente ao reforço do centralismo político iniciado por Lenine na fase do


Comunismo de Guerra, Estaline reforçou o centralismo económico.

Em conformidade, a partir de 1928, interrompeu o processo liberalizador instituído


com a Nep e arrancou irreversivelmente para a nacionalização de todos os setores da
economia, de forma a empreender a grande viragem para o socialismo.

Em 1933, praticamente não havia propriedade privada na URSS. O Estado apropriara-


se da terra, so subsolo, das instalações fabris, das redes de distribuição, do comércio e até de
capitais e de outros rendimentos do trabalho, transformando antigos proprietários em simples
assalariados.

A oposição a este processo por parte dos kulaks e dos nepmen provocou a repressão
em massa da população, de que resultaram milhões de mortos e deportados para campos de
trabalho forçado em mais uma manifestação de força e autoridade do centralismo
democrático estalinista.

Eliminada a propriedade privada dos meios de produção, o Estado soviético, seu único
detentor em representação dos trabalhadores, implanta uma rigorosa planificação da
economia, radicalmente contrária aos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência que
regiam as relações económicas no Ocidente capitalista.

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A economia era integralmente dirigida e subordinada a planos fixados pelo Estado, que
impunham metas de produção a atingir para determinados períodos, bem como os setores
económicos a privilegiar.

A propriedade rural foi organizada segundo dois tipos de propriedades apoiadas por
grandes parques de máquinas do Estado, tendo em vista uma intensa mecanização da
agricultura:

 Os kolkhoses eram grandes propriedades agrícolas coletivas trabalhadas pelos


camponeses, geralmente da mesma região, em regime cooperativo, sob administração
de delegados do partido;
 Os sovkhoses eram também grandes propriedades dirigidas diretamente pelo Estado,
onde os trabalhadores auferiam um salário fixo, normalmente baixo.

O comércio foi organizado, à semelhança da propriedade rural, em cooperativas de


consumo local ou em grandes armazéns estatais.

A indústria foi o setor onde mais se fez sentir o rigor da planificação. Estaline projetou
o desenvolvimento industrial em sucessivos períodos de cinco anos – os planos quinquenais:

 No primeiro plano, entre 1928 e 1932, deu prioridade absoluta à indústria pesada.
Pretendia proceder à criação dos sólidos fundamentos de futuros programas
industriais que garantissem a independência económica do país. Fomentou a
construção de grandes complexos siderúrgicos, hidroelétricos, fabris, de redes de
comunicações, exploração de matérias-primas e produção de alimentos;
 Num segundo plano, de 1933 a 1937, o objetivo foi o desenvolvimento da indústria
ligeira e alimentar, de forma a proporcionar melhor qualidade de vidas às populações;
 O terceiro plano, previsto para os cinco anos seguintes, visava o setor energético e as
indústrias químicas, mas foi interrompido em 1939 com o começo da Segunda Guerra
Mundial.

Os planos foram retomados depois da guerra, mas os objetivos foram a recuperação


económica do país e a investigação científica, no ambiente de Guerra Fria, que estudaremos
no próximo módulo.

A concretização e o sucesso dos planos constituíram outra manifestação da autoridade


central. Com efeito, considerando as dificuldades estruturais em que decorreu, a
industrialização estalinista só foi possível:

 Através de uma forte disciplina que passava pela imposição de trabalhos


forçados;
 Por deportações em massa de trabalhadores para locais onde eram
necessários;
 Pelo apelo ao empenhamento pessoal através da instituição de prémios, que
podiam ir até à glorificação pública;
 Através de amplas campanhas de propaganda nacionalista que instituíram o
culto a Estaline e ao Estado soviético.

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O TOTALITARISMO ESTALINISTA

O velho império czarista era um imenso território que se estendia por vastas áreas
geográficas, onde coabitava uma diversidade muito grande de povos com identidades culturais
próprias e muito diferenciadas.

Ora, num país com estas características, só um poder central dotado de autoridade
ilimitada podia manter a unidade pretendida com a constituição da União das Repúblicas
Socialistas Sovieticas. Foi este o tipo de poder instituído por Estaline, a partir de 1924, do qual
já vimos algumas manifestações, a propósito da forma como foi concretizado o programa de
desenvolvimento económico.

Com efeito, com Estaline, o centralismo democrático evoluiu para a ditadura. Mas não
foi para a ditadura do proletariado, como propunham as teses marxistas, foi para a ditadura do
Partido Comunista, na pessoa do seu dirigente máximo e Presidente da República.

A partir de 1924, Estaline empreendeu uma maquiavélica perseguição a todos os que


revelassem possibilidades de lhe fazer oposição. Levando a cabo sucessivas purgas, através de
processos obscuros, eliminou todos os potenciais concorrentes ao poder, incluindo antigos e
importantes intervenientes no processo revolucionário, como o próprio Trostsky. Em 1939,
praticamente todos os velhos bolcheviques, líderes carismáticos do processo revolucionário,
estavam afastados do partido, muitos deles por condenação à morte, aos campos de
concentração siberianos ou expatriados.

A partir de 1936, com a promulgação da nova Constituição, a URSS confirmava-se


como um Estado totalitário em nada divergente, nas suas práticas, dos totalitarismos de direita
que se afirmavam por todo o Ocidente europeu.

Já vimos como a coletivização e planificação da economia, visando a autarcia como


modelo económico, eliminavam pela raiz a liberdade económica na URSS. Também vimos
como o Partido Comunista se tornou no único partido autorizado e monopolizou o poder, em
prejuízo de outras correntes de ideias que foram proibidas. Vimos ainda como Estaline se
afirmou no poder.

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Acresce agora saber que, também na URSS:

 Afirmou-se uma ampla elite de quadros do partido, seguidores incondicionais de


Estaline. Era a nomenklatura, que, de forma disciplinada, sustentava o poder político,
numa extrema manifestação de burocratização dos poderes do Estado;
 Esta elite partidária, constituía como verdadeira aristocracia política, pelos
incomensuráveis privilégios de que usufruía, punha em causa a igualdade social pela
eliminação das classes preconizada por Marx;
 Praticou-se a arregimentação das massas em organizações do partido, logo na idade
infantil, como forma de controlo ideológico e político;
 Instituiu-se o culto do Estado e do seu Chefe incontestado através de manifestações
culturais condicionadas pela divulgação insistente e exaltada das grandes realizações e
da figura de Estaline;
 Afirmou-se o culto da violência e a negação dos direitos humanos pela ação de uma
feroz polícia política, a NKVD, que, atuando como um Estado dentro do Estado,
perseguia, prendia, julgava e condenava às mais arbitrárias punições, sem qualquer
possibilidade de recurso, sobrepondo-se às mais elementares manifestações de
independência do poder judicial;
 Vivia-se um ambiente de total ausência de liberdade intelectual em consequência da
qual a liberdade de imprensa foi suprimida e a produção intelectual severamente
vigiada, censurada e colocada ao serviço da propaganda do regime pela difusão dos
ideais socialistas soviéticos;
 A própria liberdade de circulação na União era condicionada pela imposição do uso de
passaporte, como forma de controlo da população.

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