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2.

O agudizar das tensões políticas e sociais a partir dos anos 30


2.1. A grande depressão e o seu impacto social
Anos 30, do século XX, o capitalismo sofreu uma grave e trágica crise, que se iniciou
nos EUA em 1929 e se propagou por todos os países que com eles tinham laços
económicos e financeiros.

2.1.1. Nas origens da crise


Em 1928, os norte-americanos acreditavam que o país estava a passar uma fase de
prosperidade sem fim, mas isso não foi assim pois em 1929, dá-se os primeiros sinais da
crise na Bolsa de Nova Iorque em Wall Street e assim rapidamente a era de prosperidade
revelou-se precária.
- havia indústrias que não tinham recuperado da crise de 1920-21;
- continuava a existir um desemprego crónico, que foi chamado de tecnológico, uma
vez que se devia à intensa mecanização;
- a agricultura não era compensadora;
- as produções excedentárias levavam à diminuição dos preços e à queda dos lucros.

O poder de compra americano passava por ser artificial uma vez que foi resultado de
uma política de facilitação de crédito feita pelos bancos. Grande parte das transações
faziam-se com base nos créditos e nos pagamentos em prestações. Era a crédito também
que se adquiriam ações que os americanos tinham em empresas. Acreditando na solidez da
economia, muitos eram os que investiam na bolsa, onde a especulação crescia.

2.1.2. A dimensão financeira, económica e social da crise


Desde 21 de outubro que as ordens de venda das ações se acumulavam na bolsa.
Os grandes acionistas começaram a ficar alarmados uma vez que se fazia sentir a descida
dos preços e dos lucros industriais.
O pânico instalou-se a 24 de outubro, a quinta-feira negra, e a 29 de outubro voltou
a sentir-se uma vez que os títulos foram postos no mercado a preços baixíssimos e não
havia compradores. Esta catástrofe ficou conhecida como crash de Wall Street ou crash da
bolsa. Com isto, inúmeros acionistas ficaram na ruína, pois não havia quem comprasse
ações, transformando-se em meros papéis sem valor.
No decorrer desta catástrofe, uma vez que os títulos tinham sido adquiridos através
de créditos, a ruína dos acionistas significava a ruína dos bancos, que deixaram de ser
reembolsados. Com as falências bancárias, a economia parou, pois terminou o crédito que
era a grande base da economia americana.
- as empresas faliram com a saída dos acionistas que levaram à descapitalização e
às restrições do crédito ;
- o desemprego aumentou;
- a produção industrial diminuiu e os preços baixaram;
- a diminuição do consumo e a crise das indústrias alargaram-se ao campo,
originando a crise da agricultura;
- os preços dos géneros agrícolas diminuíram;
- hipotecavam-se quintas, abatia-se gado e destruía-se produções;
- famílias na miséria;
- saída da população em busca de emprego;
- corte nos salários;
- aparecimento de mais bairros de lata.

O SONHO AMERICANO PARECIA TERMINAR


2.1.3 A mundialização da crise; a persistência da conjuntura deflacionista
A Grande Depressão alargou-se às economias dependentes dos EUA:
- aos países fornecedores de matérias-primas (Austrália, Nova Zelândia, México,
Brasil, Índia);
- aos países que dependiam dos créditos americanos para se reconstruírem (Áustria e
Alemanha).

No mundo capitalista liberal os anos 30 foram de miséria e angústia. A conjuntura


deflacionista caracterizada pela:
- diminuição do investimento e da produção;
- queda da procura e dos preços.

Parecia nunca ter fim, uma vez que funcionava como um ciclo vicioso, pois a
diminuição do consumo levava à queda dos preços e da produção, às falências e ao
desemprego que por sua vez levava à diminuição do consumo.
As autoridades políticas implementaram medidas, que se mostraram desastrosas
uma vez que aumentaram a deflação:
- Na tentativa de proteger a economia aumentaram as taxas sobre importações, o
que criou dificuldades aos outros países que por sua vez deixaram de adquirir a
produção americana, o que ajudou ao declínio do comércio mundial;
- Aumentaram os impostos na tentativa de buscar receitas novas e restringiram ainda
mais o crédito, para que desaparecessem as empresas não rentáveis, com isto
pretendia-se a recuperação financeira, evitando despesas e aumentando receitas,
no entanto isto levou a obstáculos ao investimento e à elevação do poder de compra
da população. Sem a procura desta era impossível relançar a economia.

Instalada a descrença no capitalismo liberal restou aos estados em crise uma maior
intervenção na regulação das atividades económicas.

2.2. As opções totalitárias


No século XX, no mundo ocidental despontou o demoliberalismo:
- direitos individuais (liberdade e igualdade), garantidos por um Estado neutro
- divisão dos poderes
- Homem e o cidadão ganhavam dignidade
- parcelas da população representadas no governo
- a vitória dos aliados na 1ª Guerra Mundial inaugurava uma ordem internacional,
baseada no triunfo das nacionalidades e nos progressos da democracia.

No entanto, um novo sistema de exercício de poder confrontava o demoliberalismo


com o passar dos anos 20. Através de movimentos ideológicos e políticos,os indivíduos
foram sujeitos a um Estado omnipotente, totalitário e esmagador.
- Na Rússia Soviética, o totalitarismo adquiriu uma vertente revolucionária:
nasceu da aplicação dos marxismo-leninismo e terminou no estalinismo.
- Na Itália e depois na Alemanha, o Estado totalitário foi produto do fascismo e
do nazismo e teve um cariz mais conservador.

2.2.1. Os fascismos, teoria e práticas


Nos anos 30, a depressão económica acentuou a crise da democracia liberal.
Facilitando o aparecimento dos autoritarismos e das ditaduras que arruinaram a Europa.
Designava-se então por fascistas, as novas experiências políticas que tinham como
paradigma o fascismo italiano e o nazismo alemão.
Uma nova ordem antiliberal e anti-socialista, nacionalista e corporativista
Estado totalitário fascista - oposição firme ao liberalismo, à democracia parlamentar
e ao socialismo.

Liberalismo e democracia Fascismo


- defensores dos direitos do indivíduo; - acima do indivíduo está o interesse
da coletividade, a grandeza da
Nação e a supremacia do Estado;

- o indivíduo sobre o Estado, valoriza a - o Estado sobre o indivíduo, leva à


democracia partidária e o parlamentarismo desvalorização da democracia
(sistema governativo que assenta no respeito partidária e do parlamentarismo,
pelas vontades individuais, que se fazem ouvir menospreza assim o exercício do
diretamente nas eleições, através dos poder legislativo por assembleias;
representantes no parlamento);

- divisão dos poderes; - rejeita a teoria liberal da divisão de


poderes, logo faz depender a força
do Estado do reforço do poder executivo;

- igualdade entre os homens e acesso à - os homens não são iguais e só as elites


governação. devem ter acesso ao governo.

Socialismo
- o indivíduo é a expressão da classe social - a organização socioeconómica faz-se
em que está inserido, com ela se identifica e através do corporativismo, destinado a
por ela luta; promover a colaboração entre classes,
uma vez que rejeita a luta entre classes,
pois divide a Nação e enfraquece o Estado;
- apelos ao internacionalismo proletário, não
lutava pela pátria, mas sim pelo derrube do - apelo ao nacionalismo, exaltador das glórias
capitalismo mundial. pátrias.

Corporativismo - as corporações eram organismos profissionais que se reuniam por


ramo de trabalho, empregadores e empregados. E entre si solucionavam problemas
laborais, nunca recorrendo à greve ou ao lock-out, pois era proibido. Procurava-se eliminar
as paralisações do trabalho, pois dava prejuízo.

O totalitarismo fascista exerceu-se a vários níveis:


- Político - foi aniquilada a oposição política, considerada um entrave à boa
governação;
- Económico -. passou a haver uma rigorosa regulamentação às atividades
económicas;
- Social e Cultural - o regime controlou a sociedade através da propaganda e
monopolizou a verdade,impedindo a liberdade de expressão e de pensamento.

Elites e enquadramento das massas


O fascismo defende que os homens não são iguais e essa desigualdade é
importante para que só as elites possam aceder ao governo. Pois não confiavam no
sufrágio universal que atribuía o mesmo valor de voto a cada indivíduo.
Os chefes eram visto como heróis:
- simbolizavam o Estado;
- encarnavam a Nação e guiavam os seus destinos;
- deviam ser seguidos sem hesitação;
- deviam ser idolatrados e prestado cultos;
Ex:. Duce na Itália fascistas e Führer na Alemanha nazi.

No entanto, as elites não eram só os chefes, também fazia parte a raça dominante
(para Hitler era a raça ariana), essa era composta pelos:
- homens no geral;
- os soldados;
- as forças militarizadas;
- os filiados no partido.

Consideradas cidadãs inferiores eram as mulheres nazis que se destinavam:


- a vida no lar;
- à subordinação ao marido.

Os seus ideais resumiam-se aos três K:


- Kinder (crianças);
- Küche (cozinha);
- Kirche (igreja).

As elites mereciam um elevado respeito das massas uma vez que se tratavam de
uma sociedade profundamente hierarquizada e rígida. Essa obediência cega das massas,
conduziu à prática fascista, contrária à vontade individual e ao espírito crítico. Por isso, as
ideias fascistas se impunham primeiramente nos jovens. Na Itália:
- aos 4 anos, ingressavam nos “Filhos da Loba” e já usavam uniforme;
- dos 8 aos 14 faziam parte dos “Balilas”
- aos 14 eram vanguardistas;
- aos 18 entravam nas juventudes fascistas.

Na Alemanha, também os jovens eram fanatizados pelas organizações da juventude


aos 10 anos, assim como nas organizações italianas, os jovens aprendiam:
- o culto do Estado e do chefe;
- o amor pelo desporto e pela guerra;
- desprezo pelos valores intelectuais.

A arregimentação de italianos e alemães continuava na idade adulta, esperando-se


deles a total adesão e identificação com o fascismo e para isso existia diversas
organizações de enquadramento das massas:
- Partido único - nacional-fascistas na Itália e nacional-socialista na Alemanha - e as
milícias (era necessário a filiação nestas para desempenhar funções públicas,
militares e cargos de responsabilidade)
- Frente do trabalho Nacional-Socialista e as corporações italianas (forneciam aos
trabalhadores condições favoráveis para obter emprego)
- Dopolavoro na Itália e Kraft durch Freud na Alemanha (associações destinadas a
ocupar os tempos livres dos trabalhadores, com atividades que não os afastasse dos
ideais fascistas)

Através da propaganda, promoveu-se o culto do chefe, publicitava-se as realizações


do regime e submetia a cultura a critérios nacionalistas e racistas, com o objetivo de
controlar as mentes e as vontades.E através de manifestações encenadas pelo Estado,
entusiasmava-se a população.
O culto da força e da violência e a negação dos direitos humanos
Para obter a perfeita adesão das massas, não bastaram ao fascismo e ao nazismo
as organizações de enquadramento e a propaganda, foi necessário recorrer às milícias
armadas e à polícia política para garantir o controlo da sociedade e a sobrevivência do
totalitarismo através da repressão policial e da violência.
Ambas as ideologias defenderam o culto da força defendendo que só em clima de
guerra a Humanidade se revela corajosa e superior. Na Itália, ainda Mussolini não
conquistara o poder e os esquadristas já semeiam o pânico. Em 1923, os esquadristas
foram reconhecidos oficialmente como milícias armadas do Partido Nacional-Fascista,
cabendo-lhes:
- vigiar, denunciar e reprimir qualquer ato conspiratório.
Assim como à polícia política, criada em 1925.
O mesmo carácter repressivo e atentatório contra os direitos humanos (liberdade e
igualdade), teve lugar na Alemanha. Em 1921, foi criado pelo Partido Nacional-Socialista, as
secções de assalto (S.A) e as secções de segurança (S.S) que eram milícias temidas pela
brutalidade das suas ações.
Com a vitória do nazismo em 1933, o Estado policial atingiu o mais elevado rigor. As
milícias e a polícia política (Gestapo) exerceram um controlo apertado sobre a população e
a opinião pública.
Com a criação dos primeiros campos de concentração em 1933, completou-se o
dispositivo repressivo do nazismo, administrados pelas S.S e pela Gestapo, neles se
encerravam os opositores políticos.

A violência racista
O desrespeito do nazismo pelos direitos humanos atingiu o seu ponto mais alto com
a violência do seu racismo.
Para Hitler, os povos superiores eram os arianos, uma autêntica “seleção” de
alemães (altos, robustos, loiros e de olhos azuis). Obcecados com o aperfeiçoamento físico
e mental da raça ariana, os nazis, promoveram o eugenismo, aplicando as leis da genética
na reprodução humana.
Ao mesmo tempo que se fomentava a natalidade entre os arianos, eliminava-se os
alemães “degenerados”, mandados para as câmaras de gás, para serem mortos.
Aos Alemães competia o domínio do mundo, uma vez caracterizados como um povo
de heróis e de qualidades e ideais sobre-humanos, nem que para isso fosse necessário a
submissão e/ou eliminação dos povos inferiores - judeus, ciganos e eslavos. Estes
considerados por Hitler como um povo “destruidor de cultura”, porque igual a um parasita
vivem no meio do povo alemão estragando as suas virtudes rácicas e corrompendo-o,
foram também culpados pela derrota dos alemães na 1ª Guerra Mundial e das crises
económicas que se seguiram, de todos foram os judeus que mais sofreram.
Em 1933, começou a 1ª vaga de perseguições antissemitas:
- boicotaram-se as lojas dos judeus;
- interditaram o funcionalismo público e as profissões liberais aos não
iranianos;
- institui-se o “numerus clausus” nas universidades.

Em 1935, fez-se o 2º movimento antijudaico, com a adoção das Leis de


Nuremberga, para a “proteção do sangue e da honra alemães”
- alemães de origem judaica, privados da nacionalidade;
- proibido o casamento e as relações sexuais entre arianos e judeus.

Em 1938:
- destruição das empresas judaicas e o confisco dos seus bens, (Noite de Cristal -
destruídas sinagogas e lojas dos judeus);
- os judeus deixaram de poder exercer qualquer profissão e de frequentar locais
públicos.
Com a 2ª Guerra Mundial, deu-se a fase mais cruel do antissemitismo, os nazis
puseram em prática o plano de destruição do povo judaico, o genocídio. Em 1942, na
conferência de Wannsee, realizada nos arredores de Berlim, essa destruição alcançou um
patamar de extermínio, a que foi chamado “solução final do problema judaico”.
- trabalhos forçados;
- execuções sumárias
- massacres nas câmaras de gás;
- falta de comida e de higiene;
- doenças.

A autarcia como modelo económico


A recuperação da economia preocupou os regimes de Itália e da Alemanha que
sofreram de forma extrema com a crise do pós-guerra e depois com a Grande Depressão.
Ambos os países adotaram uma política intervencionista e nacionalista, que ficou conhecida
com autarcia.
- Propunha a autossuficiência económica;
- Apelava ao heroísmo e ao empenho do povo trabalhador;
- prometia o fim do desemprego e a glória da Nação.

Na Itália
Viu-se desamparada, devido à grande quantidade de desempregados e por isso o
Estado fascista reforça a sua intervenção na economia, através do enquadramento das
atividades em corporações, que vai facilitar a planificação económica, no que diz respeito:
- à aquisição de matérias-primas
- ao volume da produção;
- ao tabelamento de preços e salários.

Realizaram-se grandes batalhas de produção, enaltecidas pela propaganda:


- “Batalha da lira” - estabilização da moeda;
- “Batalha do trigo” - iniciada em 1925, aumentou a produção de cereais e diminuiu as
elevadas importações que agravavam o défice comercial;
- “Batalha da bonificação” - recuperação de terras e a criação de novas povoações
nas zonas pantanosas a sul de Roma.

Também o comércio foi alvo de enquadramento por parte do estado:


- subiu os direitos alfandegários
- controlou o volume das importações e das exportações.

A criação em 1931 e 1933 do Instituto Imobiliário Itálico e do Instituto para a Reconstrução


Industrial, permitiu ao Estado financiar as empresas em dificuldade e intervir no setor
industrial, de modo a poder competir com os grupos capitalistas.
Em 1934-35, este dirigismo económico do Estado fascista, atingiu o seu ponto mais
alto quando a Itália se lançou na aventura colonial da conquista da Etiópia, o que lhes
permitiu a exploração de fontes de energia e minérios e a criação de síntese química.

Na Alemanha
Hitler chegou ao poder em 1933, com promessas de melhoria de vida. Uma política
de grandes trabalhos, fez diminuir o desemprego.
Entre 1936 e 1939, o Estado reforçou a autarcia e o dirigismo económico.
- Fixaram-se os preços;
- A Alemanha tornou-se autossuficiente em cereais, manteiga e açúcar.
A indústria alemã, elevou-se ao 2º lugar mundial nos setores da siderurgia, química,
eletricidade, mecânica e aeronáutica, devido ao programa de rearmamento iniciado contra a
vontade de Versalhes e sustentado pelo capital alemão. As realizações económicas do
nazismo e a quase eliminação do desemprego levou a adesão das massas e à admiração
dos países ocidentais, no entanto rapidamente o poderio militar seria posto ao serviço da
conquista do “espaço vital” prometido por Hitler.

2.2.2. O Estalinismo
Lenine faleceu em 1924. O problema da sua sucessão originou disputas no seio do
Partido Comunista. Estaline, secretário-geral do partido, acabou por ganhar.
De 1928 a 1953, Estaline foi o chefe incontestado da União Soviética. Sem entraves,
empenhou-se na construção da sociedade socialista e na transformação da Rússia em
potência mundial. E conseguiu-o através:
- coletivização dos campos;
- planificação económica;
- totalitarismo repressivo do Estado.

Coletivização dos campos e planificação económica


A coletivização dos campos avançou a um ritmo acelerado. Este era considerado
necessário para o avanço industrial, pois libertaria mão de obra dos campos para as
fábricas e forneceria alimento aos operários. Este movimento foi realizado com brutalidade
contra os kulaks (pequenos proprietários), que viam agora as suas terras e gado serem
confiscados.
As novas quintas coletivas, ou cooperativas de produção chamavam-se kolkhozes e
eram antigas aldeias, devendo por isso as famílias entregar as suas terras e instrumentos à
coletividade, uma parte da produção ficava para o Estado e a outra era distribuída pelos
camponeses de acordo com o seu trabalho.
Em 1930, o Partido Comunista criou as Estações de Máquinas e Tratores para
assim assegurar o controlo político dos campos.
Apesar da resistência à coletivização, que levou a que muitos camponeses
matassem as cabeças de gado para não as entregarem à coletividade, esta acabou por ter
resultados satisfatórios.
A produção industrial desenvolveu-se devido à planificação, ou seja, devido ao
estabelecimento por parte do Estado de metas para a economia, ao contrário do que
acontece no capitalismo liberal, que se baseia na livre iniciativa e por isso não organiza a
produção de acordo com as necessidades, sofrendo crises de superprodução.
O 1º plano quinquenal (1928-1932) visou:
- incremento da indústria pesada;
- quase desaparecimento do setor privado da indústria soviética;
- promoveu grandes investimentos, devido a uma rigorosa coleta fiscal;
- recorreu a técnicos estrangeiros;
- apostou na formação de especialistas e engenheiros
- conjunto de medidas coercivas que contribuíram para fixar os operários e aumentar
a produção. As medidas:
- caderneta de trabalho obrigatória;
- despedimento sem aviso prévio, devido a ausência injustificada.

2º plano quinquenal (1933-1937) visou:


- setor da indústria ligeira e dos bens de consumo.

3º plano quinquenal (1938-1941 devido à Segunda Guerra Mundial) visou:


- indústrias pesadas, hidroelétrica e química.
Apesar de ter sido interrompido, a URSS, já era a terceira potência mundial, atrás dos EUA
e da Alemanha.
O totalitarismo repressivo do Estado
O Estado estalinista mostrou ser omnipotente e totalitário. Uma vez que:
- todas as regiões foram russificadas e submetidas a Moscovo;
- cidadãos perderam as liberdades fundamentais;
- a sociedade ficou repleta de organizações que a vigiavam;
- só o Partido Comunista controlava o poder político (centralismo democrático e
controlo das eleições);
- o Estado controlava a economia (coletivização e planificação);

A cultura exaltava a grandeza do Estado e promoveu o culto à personalidade do seu


chefe.
Estaline, era responsável pelas nomeações do partido e por isso os velhos
bolcheviques foram substituídos por jovens completamente submetidos a Estaline. Mas não
só o partido se viu depurado dos velhos bolcheviques, como também a Administração e o
Exército Vermelho foram eliminados.
O Partido Comunistatransformou-se num partido burocratizado e disciplinado, o que
facilitou o reforço dos poderes do Estado. O Estado totalitário em conjunto com a ditadura
do Partido Comunista, aguentou-se devido à repressão feita pela NKVD, a nova polícia
política. A partir de 1934 a URSS seguiu pela repressão crónica, ou seja pelas purgas e
repressões políticas.

2.3. A resistência das democracias liberais


2.3.1. O intervencionismo do Estado
Com a depressão dos anos 30, revelou-se os problemas do capitalismo liberal.
Acreditava-se na livre iniciativa, na livre produção e na livre concorrência como capazes de
proporcionar a riqueza social. E via-se as crises cíclicas, como formas naturais de equilibrar
a oferta e a procura e por isso não ser necessário uma regulamentação das atividades
económicas por parte do Estado. No entanto, devido às proporções alcançadas pela crise
de 1929, provou-se o contrário. Keynes duvidou da capacidade autorreguladora da
economia capitalista e defendia um maior intervencionismo por parte do Estado, ou seja,
segundo o keynesianismo, o Estado deveria ter um papel ativo na organização da economia
e na regulação do mercado e não apenas como auxiliar dos homens de negócios.

O New Deal
Em 1932, os EUA elegeram um novo presidente, Roosevelt, que se propôs a retirar
o país da crise, influenciado por Keynes, decidiu-se pela intervenção do Estado federal na
economia, pondo em prática um conjunto de medidas que ficaram conhecidas como New
Deal.
1ª fase (1933-1934), estabeleceu como objetivos o relançamento da economia e a
luta contra o desemprego e a miséria:
- medidas financeiras rigorosas - encerramento temporário de instituições bancárias; o
dólar saiu do padrão-euro, o que fez com que houvesse uma desvalorização e por
isso fez descer o valor das dívidas externas e fez subir os preços, tendo em conta
uma inflação controlada, que levou ao aumento dos lucros das empresas.
- política de grandes trabalhos - construção de infraestruturas e estradas; projeto TVA,
criação de campos de trabalho para os desempregados.
- proteção à agricultura - lei Agricultural Adjustment Act (AAA), que consistia em
empréstimos aos agricultores e de indemnizações para compensar a redução das
áreas cultivadas.
- proteção à indústria e ao trabalho industrial - National Industrial Recovery Act
(NIRA), através da fixação de preços mínimos e máximos de venda e de quotas de
produção, que evitassem a concorrência; garantia de um salário mínimo e da
liberdade sindical.
2ª fase (1935-1938), atua mais a nível social:
- Lei Wagner (1935) - reconhecer a liberdade sindical e o direito de greve;
- Social Security Act (1935) - regularizar a reforma por velhice e invalidez; instituir o
fundo de desemprego e o auxílio aos pobres;
- Fair Labor Standard Act (1938) - estabelecer o salário mínimo; reduzir o horário de
trabalho a 44h.

Foi nesta fase que o Governo federal americano assumiu os ideais por completo do Estado-
Providência, ou seja, do Estado intervencionista que promove a segurança social de modo a
garantir a felicidade, o bem-estar e o aumento do poder de compra dos seus cidadãos,
melhorias que sem as quais era impossível assegurar um crescimento económico.

2.3.3. Os governos de Frente Popular e a mobilização dos cidadãos


O intervencionismo do Estado permitiu às democracias liberais resistirem à crise
económica e recuperarem a credibilidade política.
Em França, a conjuntura recessiva, quase pôs em causa o regime parlamentar.
Apesar da Grande Depressão, não ter atingido na França, patamares tão elevados como na
Alemanha ou nos EUA, a crise francesa eternizou-se, devido à insistência dos governos em
políticas deflacionistas.
O governo desacreditado perante a opinião pública, enfrentava críticas da esquerda,
que pedia soluções inspiradas em Keynes e no New Deal, e a contestação da direita. Ligas
nacionalistas de vertente fascista acusavam a fraqueza dos governos democráticos,
reclamando uma atuação autoritária. Uma manifestação em 1934, provocou a demissão do
Governo radical.
Devido à violência das forças da extrema-direita, iniciou-se uma mobilização dos
cidadãos, que convergiu numa coligação de esquerda denominada Frente Popular. Era
composta por partidários comunistas, socialistas e radicais, e triunfou nas eleições de 1936.
Foi proposto como objetivo prioritário, parar o avanço do fascismo na França, tendo em
conta o que acontecera com Hitler anos antes, que tinha subido ao poder através dos votos
da esquerda que se tinham dispersado pelos vários partidos.
Os Governos da Frente Popular mantiveram-se entre 1936 e 1938, com a ausência
dos comunistas e sob a figura do socialista Léon Blum. Estes forneceram um grande
impulso à legislação social, devido a um movimento grevista com ocupação de fábricas. O
movimento decorreu num ambiente de grande participação e entusiasmo por parte dos
trabalhadores.
Os patrões denunciaram a ameaça bolchevista que pairava sobre o país devido ao
descontentamento com a ocupação das fábricas. O Governo interveio no conflito, dando
origem aos “Acordos de Matignon” a 7 de junho. Nestes estava determinado:
- contratos coletivos de trabalho entre empregados e assalariados, em que se
aceitava a liberdade sindical e se previam aumento de salários;
- limitação do horário de trabalho a 40h;
- direito a 15 dias de férias pagas.

Com estas medidas, a Frente Popular, dignificava a classe trabalhadora e combatia


a crise, através da subida do poder de compra e pela criação de mais emprego devido à
diminuição do horário de trabalho.
Outras medidas da Frente Popular, também tinham como finalidade dignificar os
trabalhadores e combater a crise:
- aumento da escolaridade obrigatória até aos 14 anos;
- criação de albergues da juventude;
- incremento dos desportos de massa, do cinema e do teatro popular;
- incremento do controlo exercido pelo Estado no Bando de França;
- nacionalização das fábricas de armamento;
- Regularização da produção e do preço dos cereais.
Apesar de aclamados pelos operários que era quem mais beneficiava com a legislação da
Frente Popular, esta terminaria em 1938, devido a querelas internas, pela oposição dos
grandes empresários e pelo próprio fracasso da política económica de Blum.

2.5. Portugal: o Estado Novo


2.5.1. O triunfo das forças conservadoras; a progressiva adoção do modelo fascista italiano
nas instituições e no imaginário político

Da ditadura militar ao Estado Novo


A 28 de maio de 1926, um Golpe de Estado feito pelos militares pôs fim à 1ª
República parlamentar portuguesa. Este término não teve uma oposição significativa o que
levou com que subisse ao poder os regimes ditatoriais. A democracia só voltou a Portugal
depois de quase 50 anos.
Instalou-se uma ditadura militar que se manteve até 1933, no entanto esta também
fracassou nos seus objetivos:
- regenerar a pátria
- devolver a estabilidade.
Desentendimentos entre militares provocaram uma sucessiva mudança de chefes do
Executivo. Também a impreparação técnica dos chefes da ditadura teve como resultado o
agravamento do défice orçamental e por isso a adesão entusiástica dos 1ºs tempos
acalmou.
Em 1928, com a entrada de António de Oliveira Salazar no Governo para tomar a
pasta das Finanças, fez com que a ditadura recebesse um novo alento. Este aceitou tomar
a pasta das Finanças com a condição de dirigir e fiscalizar todos os ministérios.
Com Salazar nas Finanças o país apresentou um saldo positivo no Orçamento, pela
1ª vez desde à muito tempo. Este sucesso financeiro, conferiu prestígio ao novo estadista e
explica a sua nomeação para chefe do Governo em julho de 1932, num ministério
predominantemente civil.
Salazar para cumprir com o seu objetivo de instaurar uma nova ordem política, cria
necessárias estruturas institucionais. E assim ficou consagrado o novo sistema governativo
de Salazar que tinha como características o forte autoritarismo e o condicionamento das
liberdades individuais aos interesses da Nação, conhecido por Estado Novo.
Salazar desprezou o liberalismo, a democracia e o parlamentarismo e proclamou o
carácter autoritário, corporativo, conservador e nacionalista do Estado Novo, repetindo os
slogans “Estado forte” e “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”.
Assim, Salazar conseguiu convencer grande parte do país da justiça da sua política
e obteve o apoio de todos os que hostilizaram a 1ª República e desacreditaram na sua
ação:
- Hierarquia religiosa e os devotos católicos;
- Grandes proprietários agrários;
- Alta burguesia ligada ao comércio colonial e externo;
- Média e pequena burguesia que tinham ficado pobres;
- Monárquicos;
- Integralistas e simpatizantes do fascismo;
- Militares.

Apesar de Salazar condenar o carácter violento dos totalitarismos fascistas, o estado


Novo abraçou um projeto totalizante para a sociedade. A concretização do seu objetivo,
teve como bases fórmulas e estruturas político-institucionais decalcadas dos modelos
fascistas, principalmente o italiano.

Conservadorismo e tradição
Salazar foi uma personalidade extremamente conservadora. Esta faceta de Salazar
evidenciou-se no sistema político que liderou. O Estado Novo distinguiu-se dos outros
fascismo devido aos seu caráter conservador e tradicionalista. Assentou em valores e
conceitos morais que ninguém devia questionar:
- Deus;
- Pátria;
- Família;
- Autoridade;
- Paz Social;
- Hierarquia;
- Austeridade.
Respeitou as tradições nacionais e promoveu a defesa de tudo o que fosse português.
Criticou-se a sociedade urbana e industrial, visto como a fonte de todos os vícios e
defendeu-se o mundo rural, refúgio da virtude e da moralidade.
Protegeu-se a religião católica, definida como religião da Nação Portuguesa.
Reduziu-se a mulher a um papel passivo do ponto de vista económico, social,
político e cultural, a mulher-modelo definia-se por uma mulher de grande feminilidade,
esposa carinhosa e submissa e mãe sacrificada e virtuosa.
Verdadeira Família Portuguesa - católica, de moralidade austera, repelia o vício e o
incumprimento das regras de costumes.
As manifestações culturais eram afastadas da influência estrangeira e encaradas
com desconfiança e hostilidade.

Nacionalismo
O Estado Novo adotou um nacionalismo exacerbado, seguindo e defendendo o
slogan “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”. Fez dos Portugueses um povo de heróis,
com qualidades civilizacionais, testemunhas da grandeza da sua história (evangelização, e
integração racial no Império colonial).

A recusa do liberalismo, da democracia e do parlamentarismo


O Estado Novo afirmou-se antiliberal, antidemocrático e antiparlamentar, assim
como o fascismmo italiano, assim como este também recusou a liberdade individual e a
soberania popular.
Na visão de Salazar, a Nação representa um todo orgânico e não um conjunto de
indivíduos isolados. Desta visão surgiram duas consequências:
- o interesse da Nação sobrepunha-se aos direitos individuais;
- os partidos políticos eram vistos como um elemento desagregador da unidade da
Nação e um fator de enfraquecimento do Estado.

Salazar tendo em conta a instabilidade política da 1ª República provocada pelas


divisões partidárias declara-se um forte opositor da democracia parlamentar. Valoriza o
poder Executivo e defende que só assim se garante um Estado forte e autoritário. Desta
forma, a Constituição de 1933 reconheceu a autoridade do Presidente da República como o
1º poder dentro do Estado, independente do Parlamento e atribuiu muitas competências ao
presidente do Conselho, essas consistiam em:
- poder de legislar através de decretos-lei;
- propor a nomeação e a exoneração dos membros de Governo;
- avaliar os atos do Presidente da República, tendo o poder de os anular.
Devido a estas competências atribuídas ao Presidente do Conselho, acreditava-se na
existência de um “presidencialismo bicéfalo”, ou seja, a partilha de poderes entre as
presidências da República e do Conselho.
Em relação à Assembleia Nacional, órgão máximo do poder legislativo, este limita-se
à discussão das propostas de lei que o Governo lhe envia para aprovação.
Subjugado o poder legislativo, o Presidente do Conselho sobressai no poder
Executivo. Salazar era a figura perfeita de chefe providencial, uma vez que defendia e
impulsionava o interesse nacional.
Salazar admirava Mussolini, e tal como em Itália a consolidação e o fortalecimento
do Estado Novo, passaram pelo culto do chefe que fez de Salazar o “salvador da Pátria”. No
entanto, ao contrário de Mussolini, que transmitia uma imagem militarista, agressiva e viril,
Salazar defendia uma imagem de descrição, austeridade e moralidade.

Corporativismo
Assim como o fascismo italiano, o Estado Novo, mostrou-se empenhado na unidade
da Nação e no fortalecimento do Estado. Propôs o corporativismo como modelo de
organização económica, social e política, negando a divisão fomentada pela luta de classes.
Corporativismo- consistia na Nação representada pelas famílias e por organismos
onde os indivíduos se agrupavam pelas funções que desempenhavam e os seus interesses
se harmonizam para o alcance do bem comum.
Esses organismos, chamados de corporações, incluíam corporações morais, culturais e
económicas.
Em conjunto com as famílias, as corporações concorriam para as eleições dos
municípios. Que por sua vez, em conjunto com as corporações enviavam os seus
delegados à Câmara Corporativa, considerada a sede verdadeira da representação
orgânica da Nação. A esta competia funções consultivas que tinham de ser submetidas à
Assembleia Nacional.
Apesar de a Constituição de 1933 programar uma diversidade de corporações, na
prática só funcionaram as de natureza económica. As corporações acabaram por se
transformar, num meio de o Estado Novo controlar a economia e as relações laborais, em
nome da unidade da Nação e da concórdia social.

O enquadramento das massas


A duração do Estado Novo, pode-se explicar pelo conjunto de instituições e
processos que conseguiram enquadrar as massas e obter a sua adesão ao projeto do
regime.
O Secretariado da Propaganda Nacional, criado em 1933, dirigido por António Ferro,
desempenhou um papel ativo na divulgação do ideário do regime e na padronização da
cultura e das artes.
Para juntar os portugueses e apoiar as atividades políticas do Governo, fundou-se,
em 1930, a União Nacional. A União Nacional, é uma organização não partidária, uma vez
que, os partidos políticos representavam um malefício para a Nação.
Assim a união à volta do Estado Novo só foi possível com a extinção dos partidos
políticos e a limitação da liberdade de expressão.
Realizaram-se as 1ªs eleições legislativas dentro do novo quadro político a 1934, em
que todos os deputados pertenciam à União Nacional, verdadeiro partido único.
O dogmatismo e a intolerância do Estado Novo, aumentaram em 1936, com a vitória
da Frente Popular, em França, e a eclosão, em Espanha, da Guerra Civil. Fez-se acreditar
que a ameaça bolchevista pairava sobre o país e por isso apertou-se o controlo sobre a
população.
Obrigou-se o funcionalismo público a fazer um juramento como prova da sua
fidelidade ao regime.
Recorreu-se a organizações milicianas.
- Legião Portuguesa tinha como objetivo:
- defender “o património espiritual da Nação”;
- defender o Estado corporativo;
- conter a ameaça bolchevista.

- Mocidade Portuguesa era de inscrição obrigatória entre os 7 e os 14 anos e tinha


como objetivo:
- ideologizar a juventude, incutindo-lhes os valores nacionalistas e patrióticos do
Estado Novo.
Ambas as organizações tinham uma estrutura que imitava as italianas; os seus membros
usavam uniformes e adotaram a saudação romana.
Controlou-se o ensino, expulsaram-se os professores que se opunham e adotaram-
se “livros únicos” oficiais, que propagavam os valores do Estado Novo. O ensino público
ficou vinculado aos “princípios cristãos”, após a revisão da constituição de 1935.
Espalhou-se a vida familiar com os valores conservadores e nacionalistas do Estado
Novo. Surgiu a Obra das Mães para a Educação Nacional, em 1936, uma organização com
o objetivo de formar “futuras mulheres e mães”.
O Estado Novo fundou em 1935, a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho,
inspirado no Dopolavoro italiano e na Kraft durch Freude alemã.

O aparelho repressivo do Estado


O Estado Novo rodeou-se de um aparelho repressivo que amparava e perpetuava a
sua ação.
- Censura prévia à imprensa, rádio, teatro, cinema e televisão que abrangeu assuntos
políticos, militares, morais e religiosos, assumindo o caráter de uma ditadura
intelectual. Através do “lápis azul” proibia-se a difusão de palavras e imagens
revolucionárias para a ideologia do Estado Novo.
- Polícia Política - Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado (PVDE), que depois de
1945 passou a ser Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), tinha como
função prender, torturar e matar opositores ao regime.

2.5.2. Uma economia submetida aos imperativos políticos


Houve o abandono das políticas económicas liberais, devido à convergência da
conjuntura depressiva dos anos 30 e ao autoritarismo do Estado Novo. Desde os finais dos
anos 20 até aos anos 40, o país seguiu um modelo económico fortemente intervencionista e
autárcico.
Para Salazar a economia devia ser controlada pelo Estado, sujeitando-se todas as
atividades à vontade da Nação. A mesma ação intervencionista destaca-se da organização
da economia através de corporações.

A estabilidade financeira
A estabilidade financeira passou a ser a prioridade para Salazar e para o Estado
Novo. Salazar assumiu o seu cargo a 28 de abril de 1928 e submeteu os diversos
ministérios a um apertado controlo no que respeitava aos gastos públicos.
Salazar conseguiu alcançar o equilíbrio orçamental, através da diminuição das
despesas e do aumento das receitas. Administraram-se melhor os dinheiros públicos:
- criaram-se novos impostos
- aumentaram-se as tarifas alfandegárias sobre as importações, o que levou à
diminuição da dependência externa, ditada pelo regime de autarcia.

O facto de o país ter adotado uma neutralidade na Segunda Guerra Mundial,


mostrou-se favorável à manutenção do equilíbrio financeiro.
- poupou-se nas despesas com armamento e defesa do território
- criaram-se mais receitas com as exportações
As reservas de ouro aumentaram, permitindo a estabilidade monetária.
A estabilidade financeira fez com que o Estado Novo ficasse com uma imagem de
credibilidade e de competência governativa.
No entanto, embora a propaganda se tenha esforçado para engrandecer a
estabilização financeira, mérito de Salazar, não faltaram as críticas devido:
- aos extremos sacrifícios pedidos;
- elevada carga de impostos;
- diminuição das liberdades;
- critério duvidoso de incluir nas receitas extraordinárias os empréstimos contraídos.
Defesa da Ruralidade
Portugal dos anos 30 viveu um exagerado ruralismo, uma vez que os ideais do
Estado Novo rejeitavam a cidade industrial e defendiam o mundo rural.
O respeito pela ruralização, satisfez os interesses dos grandes agrários e conduziu a
um conjunto de medidas que promoviam a “lavoura nacional”:
- Construção de barragens, que levou à melhor irrigação de solos;
- Fixação da população em áreas do interior;
- Política de arborização para converter terrenos áridos em terras verdes;
- Fomentou-se a cultura da vinha, que levou ao crescimento da produção vinícola;
- Alargou-se a produção de arroz, azeite, cortiça e frutas.
Porém foi a Campanha do Trigo a mais importante, uma vez que, procurou alargar a área
de cultura daquele cereal. O Estado protegeu os proprietários, adquiriu as suas produções,
e estabeleceu o protecionismo alfandegário. O mercado do trigo foi estatizado.
No decorrer da crise económica e dos nacionalismos exaltados, o país conseguiu a
autossuficiência da produção cerealífera. E assim, apesar dos anos de guerra trazerem
consigo as importações, a Campanha de Trigo representou um momento alto da
propaganda do Estado Novo, contribuindo para a sua consolidação.

Obras públicas
A política das obras públicas, levada a cabo pelo Estado Novo, para além de
combater o desemprego originado pela depressão, procurou dotar o país de infraestruturas
necessárias ao desenvolvimento económico.
Ações nas infraestruturas:
- caminhos de ferro- renovação do material e melhoria do serviço;
- construção e reparação de estradas
- edificação de pontes
Estas mudanças favoreceram a unificação do mercado nacional e proporcionaram uma
maior acessibilidade aos mercados externos.
- expansão das redes telegráficas e telefónica;
- obras de alargamento e de beneficiação dos portos;
- melhoria dos aeroportos;
- construção de barragens;
- expansão da eletrificação do país;
- construção de hospitais, universidades, bairros operários, estádios, tribunais…
A política das obras públicas tornou-se um dos símbolos de orgulho da administração
salazarista. A este programa ficou ligada a figura do engenheiro Duarte Pacheco, ministro
das obras públicas.

O condicionamento industrial
A indústria não era uma prioridade do Estado, uma vez que este venerava o mundo
rural. Entre 1920 e 1940, o aumento de trabalhadores no setor industrial foi praticamente
nulo, isso deve-se à política de condicionamento industrial feita pelo Estado entre 1931-37.
- o Estado é que definia as iniciativas dos empresários;
- qualquer indústria necessitava da autorização prévia do Estado para fazer qualquer
mudança;
- suspendeu-se a concessão de patentes de novas indústrias ou de novos processos
produtivos.
As pequenas indústrias estavam isentas destas medidas, e estas aplicavam-se às indústrias
que exigissem grandes despesas de produção ou que produzissem bens para exportação.
Inicialmente o condicionamento industrial, que reflete o dirigismo económico, era
apenas de carácter transitório, tratava-se apenas de uma política conjuntural anticrise,
destinada a garantir o desenvolvimento industrial, através do controlo da indústria nacional,
regulação da atividade produtiva e da concorrência, servia para evitar a sobreprodução, a
queda dos preços, o desemprego e a agitação social.
No entanto, o condicionamento industrial acabou por se mostrar permanente,
caracterizando a estrutura da indústria no Estado Novo. E assim criaram-se obstáculos à
modernização.
Apesar dos bloqueios, em setores que estimulavam maiores capitais, o
condicionamento fomentou a expansão de concentrações e monopólios, na medida em que
limitou a concorrência.

A corporativização dos sindicatos


Salazar referiu que as iniciativas empresariais dependiam de um conjunto de
condições fornecidas pelo Estado. Contra a desordem económica e social, provocada pelos
excessos de concorrência liberal e pela luta de classes, o Estado Novo publica o Estatuto
do Trabalho Nacional, inspirado na carta do Trabalho italiana, este diploma estipulava que
nas várias profissões da indústria, do comércio e dos serviços, os trabalhadores se deviam
reunir em sindicatos nacionais e os patrões em grémios.
Grémios e sindicatos nacionais, agrupados, negociaram entre si os contratos
coletivos de trabalho, estabeleceram normas e cotas de produção e fixaram preços e
salários. O Estado tinha como função:
- dirigir as negociações;
- evitar a concorrência desleal e ruinosa;
- assegurar o direito ao trabalho e ao justo salário;
- proibir o lockout e a greve.
Desta forma assegurava-se a riqueza da Nação, uma vida coletiva e harmoniosa e o
poderio do Estado.
No entanto, os sindicatos nacionais enfrentaram algumas resistências, uma vez que,
eram considerados um instrumento da política governamental autoritária e da submissão
dos trabalhadores ao capitalismo. Em 1934, iniciaram-se greves e sabotagens promovidas
pelos anarcossindicalistas e pelo Partido Comunista, uma vez que, os sindicatos livres e as
reivindicações laborais foram proibidas. Estas confrontações atingiram o seu ponto alto no
dia 18 de janeiro, na Marinha Grande, quando operários ocuparam o posto da GNR e outros
edifícios públicos e proclamaram um “soviete” local. No entanto, a pronta repressão do
movimento permitiu ao Estado Novo continuar com a corporativização dos sindicatos, que
ainda assim, nunca contou com a adesão entusiástica dos trabalhadores.

A política colonial
Ato Colonial de 1930, afirmava a missão histórica civilizadora dos Portugueses nos
territórios ultramarinos, considerados possessões imperiais importantíssimas.
Em consequência daquele objetivo, reforçou-se a tutela metropolitana sobre as
colónias, sendo as ações de descentralização administrativa e de abertura ao capital
estrangeiro da 1ª República abandonadas. Em vez disso, insistiu-se:
- na fiscalização da metrópole sobre os governadores coloniais
- no estabelecimento de um regime económico de tipo “pacto colonial”, segundo o
qual as colónias passavam a ser meros fornecedores de matérias-primas para a
indústria metropolitana que obtinha o seu escoamento nos mercados coloniais.

Em relação às populações nativas, eram vistas como inferiores e foram


discriminadas. Embora o Estado tomasse medidas para defender essas populações da
exploração esclavagista, eram poucos os “assimilados” (pela educação escolar, maneira de
vestir e comportamento social). Proclamado com empenho a sua vocação colonial, o Estado
Novo esforçou-se para incutir no povo português uma mística imperial.

2.5.3. O projeto cultural do regime


Desde cedo, o Estado Novo compreendeu a necessidade de uma produção cultural
submetida ao regime e por isso os artistas sentiram a censura nas suas criações, sob
pretexto de evitar a desordem/desobediência.
O Estado Novo concebeu um projeto totalizante que fez de artistas e escritores
instrumentos de manifestação e da propaganda do seu ideário. Esse projeto cultural,
denominado “cultura de espírito”, pretendia elevar a mente dos portugueses e alimentar a
sua alma. Foi implementado pelo Secretariado da propaganda Nacional (1933), dirigido por
António Ferro.
António Ferro, admirador de Mussolini e de Salazar, convenceu o ditador português
da importância das manifestações culturais para o regime se mostrar às massas, as
impregnar e cultivar. Para Ferro, era ao Estado que competia estimular a criação cultural.
Conhecedor do poder da propaganda no regime fascista italiano, Ferro servia-se da “política
de espírito” para mediatizar o regime. António Ferro e Salazar possuíam uma ideia muito
precisa da cultura, que era os ideais do Estado Novo:
- amor da pátria;
- culto dos heróis;
- virtudes familiares;
- confiança no progresso.
Mas essa cultura que se queria portuguesa e nacionalista, teria ao mesmo tempo de
evidenciar uma estética moderna, que Ferro designava de “bom gosto”. Simpatizante dos
modernistas, Ferro chamá-los-ia a colaborarem no regime, criando uma controversa e
problemática união entre conservadorismo e vanguarda.
No domínio literário a ação do Secretariado da Propaganda nacional, revelou-se um
fracasso, focando-se apenas no romantismo.
Nas artes plásticas e decorativas, na arquitetura, no bailado, no cinema e no teatro a
colaboração mostrou-se melhor. O Estado Novo assumiu-se como grande entidade
empregadora, uma vez que a burguesia não criou um mercado cultural.
Através de exposições nacionais e internacionais, patrocinaram-se artistas e
produções para divulgar as tradições nacionais e populares e que divulgassem a tradição
histórica do país e a dimensão civilizadora dos portugueses.
No entanto, com a derrota do fascismo em 1945, todo o investimento do Estado
Novo e empenho de António Ferro sofreu um duro golpe. Devido à dificuldade de enquadrar
as novas gerações de modernos na ideologia do regime e agastado com as críticas à sua
ação na SPN, Ferro abandonou o seu cargo em 1949. E assim ficou abandonado o projeto
de construir um português novo, o português “estado-novista”.

2.4. A dimensão social e política da cultura


2.4.1. A cultura de massas
No princípio do século XX, surge a cultura de massas nos meios urbanos. Trata-se
de uma cultura comum à maioria da população, cujos gostos se uniformizam, orientando-se
para o consumo em massa dos mesmos bens culturais. Os fatores que contribuíram para a
homogeneização cultural foram:
- generalização do ensino;
- desenvolvimento dos meios de comunicação de massas - media - que
transformados numa poderosa indústria caracterizaram a cultura do século XX.

Os media, veículos de evasão e de modelos socioculturais


A imprensa, a rádio e o cinema foram os mais importantes meios de comunicação
da 1ª metade do século XX. Em conjunto possibilitaram a evasão da rotina diária e
transmitiram valores e modos de estar que ligados à ideia de uma vida melhor, se
impuseram como padrões culturais.

A imprensa
- utiliza vocabulário simples e atrativo, feito de frases curtas e diálogos vivos e
informais;
- devido à linguagem acessível desenvolvem-se novos géneros literários;
- inaugura o jornal de grande tiragem;
- proliferam as revistas.
A rádio (aperfeiçoamento da telegrafia sem fios por Marconi em 1896):
- mais popular dos meios de comunicação;
- acessível a todos;
- importante meio de difusão cultural.

O cinema (nascido em França pelos irmãos Lumière):


- rapidamente se universaliza;
- nascimento do cinema sonoro em 1927;
- possibilidade de evasão;
- o que mais contribuiu para a difusão de modelos socioculturais e por isso para a
estandardização de comportamentos.

Os grandes entretenimentos coletivos


A rápida difusão dos mass media transformou o cinema e a música ligeira em
entretenimentos coletivos. Foi também sob o impulso dos media que o desporto se
internacionalizou e se transformou num fenómeno de massas.

2.4.2. As preocupações sociais na literatura e na arte


No início dos anos 20, já se sentia um sentimento de cansaço relativamente às
audácias da arte e da literatura modernas. estas eram acusadas de uma ânsia de
originalidade e por se lançarem em pesquisas excessivamente especializadas, tornando-se
incompreensíveis para grande parte da população, não contribuindo por isso para a vida
coletiva.
Numa Europa ainda marcada pelas dificuldades do pós-guerra e com os olhos
postos na Revolução Soviética, cresceu um sentimento de que a literatura e a arte não
tinham um carácter meramente estético, mas que tinham também uma missão social a
cumprir. A crise económica de 1929, veio aumentar esse sentimento.

A dimensão social da literatura


Entre as duas guerras, a literatura tomou um caráter combativo e socialmente
empenhado.
- critica-se a sociedade
- os protagonistas deixam de ser personagens singulares e tornam-se tipos sociais
- alemão Bertolt Brecht, poeta, teve como objetivo provocar o leitor e forçá-lo a
participar criticamente na obra
- inglês Aldous Huxley, denuncia a civilização industrial, mecanizada, onde se
perderam os valores humanos fundamentais
- francês André Malraux, literatura de contestação social, identificada com ideais
marxistas, deu origem a obras de acentuado cariz sociopolítico

Retorno da literatura a fórmulas neorrealistas, teve grande expressão nos EUA,


devido à miséria da Grande Depressão, que sensibilizou os escritores para as questões
sociais. Retratam o mundo desencantado do capitalismo, que acusam de fomentar a guerra,
a desumanização e as injustiças sociais.

O “regresso à ordem”
As vanguardas artísticas esmoreceram devido ao facto de terem sido interrompidas
pela violência da 1ª Guerra Mundial.
Assiste-se então na Europa a um “regresso à ordem”, ou seja, à arte figurativa,
depois de todas as desconstruções vanguardistas. Este novo realismo revelou-se cedo na
Alemanha, especialmente atingido pela 1ª Guerra Mundial. Foi aí o primeiro testemunho do
expressionismo feito pelos pintores Max Beckmann, Otto Dix e George Grosz, que nas suas
obras deixam um retrato amargo da sociedade do pós-guerra, marcada pelos contrastes
sociais e pela agitação política.
Nos EUA, o expressionismo teve grande expressão, conhecido como American
Scene, teve como artistas Edward Hooper, Grant Wood e Isaac Soyer, que retrataram a
América “da Grande Depressão”.
Houve também o ressurgimento da pintura mural, devido à ideia de que o pintor
deve contribuir para a coletividade. Os pintores interessaram-se pela ornamentação dos
edifícios públicos. Este foi muito utilizado como elemento de propaganda nos regimes
totalitários europeus, mas teve também grande influência nos EUA, devido a Diego Rivera.

A arquitetura, arte da coletividade


A consciência coletivista que marcou a cultura entre as duas grandes guerras
manifestou-se também na arquitetura.

O funcionalismo
O novo estilo arquitetónico tinha como marca a eficiência e o baixo custo.
Le Corbusier, arquiteto francês e Walter Gropius, arquiteto alemão fundador da Bauhaus.
- simplificação dos volumes exteriores;
- linhas retas;
- volumes básicos, sólidos geométricos regulares (cubo, paralelepípedo);
- os telhados são agora coberturas planas;
- sem elementos decorativos;
- janelas grandes para iluminação e entrada de calor;
- nova conceção de espaços, agora são feitos à escala do Homem;
- construção prática, funcional e racional.

O segundo funcionalismo
Conhecido como funcionalismo orgânico.
Alvar Aalto, arquiteto finlandês e Frank Lloyd Wright, arquiteto norte-americano.
- estilo mais humanizado
- a estrutura tem de “casar” com o ambiente.
As preocupações urbanísticas
As preocupações do funcionalismo estenderam-se até à cidade, que deveria
também ser repensada segundo critérios racionais.
Ocorreram debates sobre arquitetura e iniciou-se uma conferência que teve como
conclusões a Carta de Atenas, que consistia em que a cidade devia satisfazer 4 funções
principais:
- habitar;
- trabalhar;
- recrear o corpo e o espírito;
- circular.

2.4.3. A cultura e o desporto ao serviço dos estados


A dimensão social e política que marcou a cultura dos anos 30 do século XX, fez-se
sentir especialmente nos regimes totalitários. As ditaduras compartilharam o mesmo
objetivo de colocar a cultura ao serviço do poder e assim procurar assegurar que a criação
intelectual contribuía para a construção da “ordem nova” que defendiam.

Uma arte propagandística


Esperava-se que os comunistas soviéticos rompessem com as artes, mas no
entanto estes encaram-nas como expressão do individualismo burguês.
À arte, à literatura e ao cinema foi atribuída a missão de exaltar as conquistas do
proletariado e de contribuírem para a educação das massas. Para isso era necessário
utilizar uma linguagem básica e acessível a todos e por isso essa linguagem é o realismo.
O regresso à arte figurativa e ao realismo literário, assume na Rússia de Estaline,
uma vertente essencialmente política, que o regime batizou de realismo socialista. Foram
criadas “uniões de criadores”, que se tratavam de grupos de trabalhadores criativos
soviéticos.
O realismo socialista, tem como objetivo refletir a alegria e o otimismo da nova
sociedade, o seu vigor e a sua dinâmica revolucionária, a excelência dos seus dirigentes,
assim como a pintura histórica, a representação de cenas que evocam o mundo socialista e
o retrato que exalta os líderes do regime.
No regime nazi, também a cultura teve um cariz propagandístico. É criada a Câmara
da Cultura de Reich, que adota uma política fundamentalmente antimodernista. A criação
artística é posta ao serviço do nacional-socialismo e tem como objetivo exaltar o valor da
raça ariana, a força e a felicidade protagonizados pelo novo regime.
O fascismo italiano, limita-se a proteger os artistas que lhe são favoráveis.
Ponto comum entre todos os regimes é o regresso de uma arquitetura de feição
neoclássica e de dimensões grandiosas. O emblema dos estados totalitários é a arquitetura
imponente e compacta, que transmite poderio e estabilidade.

A politização do desporto
Também o desporto serviu de propaganda. O atleta servia de modelo do homem
novo, vigoroso, disciplinado e combativo, que os estados totalitários se esforçaram para
criar.
Mas também nos regimes democráticos houve a politização do desporto. Os eventos
desportivos internacionais faziam nascer sentimentos fortemente nacionalistas.

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