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A Grande Depressão e o seu impacto social

Nos anos 30 do século XX, o capitalismo liberal descobriu uma grave e trágica
crise. Iniciou-se em 1929, nos EUA e espalhou-se por muitos países que tinham
laços económicos e financeiros com eles.

Causas da crise
 Consumo energético, com recurso fácil ao crédito;

 Especulação financeira: preço acima do valor real das ações; recurso ao


crédito para comprar ações; lucros fabulosos, mas frágeis ;

 Crises de superprodução de 1928:


 Causas: mecanização da produção (aplicação do taylorismo e do
fordismo) e quebra das exportações para a Europa.
 Consequências: acumulação de stocks industriais e baixa de preços para
escoar a produção.

 Repercussões financeiras: os bancos aumentam os juros do crédito, o que


provoca uma grande quantidade de ações à venda na Bolsa, levando à baixa
da cotação dos títulos da bolsa e à falta de compradores no mercado.
resultando na ruína dos acionistas e investigadores

Crash de 1929

Nas origens da crise


Em 1928, os americanos acreditavam que o seu país atravessava uma fase de
prosperidade infindável, sendo esta precária. Havia indústrias que não tinham
recuperado os níveis anteriores à crise de 1921; permanecia um desemprego crónico,
devido à mecanização intensa; a agricultura não se mostrava compensadora para os
que se dedicavam a ela; as produções excedentárias levavam a preços baixos e
queda de lucros.
Uma política de facilitação do crédito matinha o poder de compra americano. A
maioria das transações fazia-se através de créditos e de pagamentos em prestações.
Podia-se adquirir as ações a crédito. Havia muitos, que investiam na Bolsa, onde a
especulação fundiária aumentava e foi na Bolsa de Nova Iorque, em Wall Street, que
se manifestou os primeiros sinais da crise de 1929.

A dimensão financeira, económica e social da crise


As ordens de vendas das ações, desde 21 de outubro, acumulavam-se na Bolsa.
A “quinta-feira negra”, em 24 de outubro, foi quando 13 milhões de títulos foram
postos no mercado a preços baixos, sendo que não havia quem comprasse. A 29 de
outubro, aconteceu o mesmo a 16 milhões de ações. Esta catástrofe ficou conhecida
como o crash (craque) de Wall Street.
Nos meses seguintes, os acionistas foram à ruína, uma vez que a maior parte dos
títulos tinha sido adquirida a crédito. Com isto, os bancos foram afetados
negativamente, pois deixaram de ser reembolsados. Com as falências bancárias, a
economia parou, pois, a grande base da prosperidade americana, ou seja, o crédito,
acabou.
As empresas faliram e o desemprego disparou. A procura desacelerou, a produção
industrial contraiu-se e os preços baixaram (deflação).
A diminuição do consumo e as dificuldades da indústria repercutiram-se nos
campos e, assim, os preços agrícolas diminuíram. Por toda a parte hipotecavam-se
quintas, abatia-se o gado e destruíam-se produções. A crise da agricultura deu uma
visão dolorosa da América dos anos 30.
Os salários foram cortados drasticamente e as pessoas, sem segurança, formavam
filas intermináveis nas ruas à espera de refeições oferecidas pelas instituições de
caridade. Foram crescendo os bairros de lata, porque não havia dinheiro para pagar
as rendas da casa. Na continuação disto, a delinquência, a c orrupção e o
“gangsterismo” aumentaram.

A mundialização da crise; a persistência da conjuntura


deflacionista

A Grande Depressão espalhou-se pelas economias dependentes dos Estados Unidos


aos países fornecedores de matérias-primas, como a Austrália, a Nova Zelândia, o
México, o Brasil e a Índia e aos que a reconstrução se baseava nos créditos
americanos, como a Áustria e Alemanha, onde a retirada dos capitais americanos
levou a uma situação económica e social insustentável.
No mundo capitalista liberal, os anos 30 foram um período de miséria e angústia. A
conjuntura deflacionista é a diminuição do investimento e da produção e a queda da
procura dos preços e esta parecia eternizar-se sem solução.
- consumo
falência stock de produtos
despedimentos baixos dos preços
baixa dos lucros

Em 1930, os Estados Unidos, para tentar proteger a sua economia, aumentaram as


taxas sobre as prestações de 26% para 50%. Criaram dificuldades alargadas aos
outros países que ficaram sem condições para adquirir a produção americana.
Verificou-se, então, o declínio de comércio.
Também se aumentaram os impostos e restringiu-se mais o crédito para que as
empresas não rentáveis desaparecessem. Na Alemanha, os salários dos funcionários
públicos foram cortados. Pretendia-se o saneamento financeiro para evitar despesas e o
aumento das receitas e originava-se obstáculos ao investimento e à elevação do poder de
compra da população.
A descrença foi instalada no capitalismo liberal e restou aos estados em crise uma
intervenção maior na regulação das atividades económicas.

As opções totalitárias
No século XX, seguia-se o demoliberalismo. A liberdade e a igualdade eram
garantidas por um Estado, que devia ser neutro e dividido em poderes.
Após 20 anos, houve um novo sistema de exercício do poder que confrontou o
demoliberalismo, onde o Estado era omnipotente, totalitário e esmagador. Na Rússia
Soviética, apareceu o totalitarismo. Na Itália e na Alemanha, o Estado totalitário foi
produto do fascismo e do nazismo, tendo um cariz mais conservador.
 Totalitarismo: sistema político, no qual o poder se concentra numa única
pessoa e no partido único, cabendo ao Estado o controlo da vida social e
individual.
 Fascismo: sistema político instaurado por Mussolini, na Itália. É um regime
ditatorial, totalitário e repressivo. Na Alemanha, existe um regime fascista
criado pelo Partido Nacional-Socialista, chefiado por Hitler. Este regime
defendia vários princípios:
o totalitarismo;
o nacionalismo: a Nação é um valor sagrado (procura modelos no passado
glorioso das nações: procura a origem mítica das raças);
o imperialismo: princípio do expansionismo territorial. As nações
superiores devem subordinar as inferiores;
o militarismo: crença nas virtudes da guerra e do sacrifício individual.
Culto à violência e à força e defende a aventura, o conflito e a guerra;
o autoritarismo: forte centralização do poder. O interesse coletivo é
superior ao individual. Defesa da ditadura e do estado policial;
o culto do chefe: reforço do poder executivo, personificado na figura do
líder inquestionável. O chefe personaliza o Estado; é o guia e salvador da
Nação. A sua imagem tem uma difusão ilimitada;
o autarcia: o Estado deve ser autossuficiente (quer na agricultura, quer na
indústria) para ser independente do exterior;
o socialismo nacional/ corporativismo: afirma-se contra a luta de classes e
o comunismo. Patrões e operários cooperam pela grandeza nacional
(criação de corporações, que são organismos que reúnem patrões e
operários em corpos profissionais).
Este regime, rejeita os seguintes princípios:
o individualismo: rejeitado, porque no fascismo o individuo submete-se
aos interesses do Estado;
o igualdade: rejeitada, porque o fascismo defende a existência de raças que
nascem para comandar e outras para obedecer. Não somos iguais;
o liberdade: rejeitada, porque contribui para a divisão e enfraquecimento
do grupo;
o fraternidade: rejeitada, porque o fascismo defende a guerra e o domínio
dos inferiores;
o democracia: rejeitada, por ser um regime fraco em que a escolha dos
governantes pelo povo constitui um ato de demagogia (submissão
excessiva da atuação política ao agrado das massas populares);
o pluripartidarismo: rejeitado por ser gerador de divisões internas e
discussões inúteis. Para o fascismo, o pluripartidarismo fragiliza a nação;
o parlamentarismo: rejeitado, porque fragiliza o poder e divide a nação;
o socialismo/ comunismo: rejeitado, porque representa a luta de classes
que divide a nação e enfraquece a sociedade. É ainda rejeitado, porque
atribui o poder aos que nascem para obedecer;
o liberalismo económico: rejeitado, porque privilegia, os interesses
nacionais contra os interesses do Estado;
o razão: rejeitada, porque a racionalidade/ intelectualidade enfraquecem o
homem. Em sua oposição, defende o desenvolvimento das qualidades
animais, agressividade e competição.

Elites e enquadramento das massas


Para o fascismo, os homens não são todos iguais e só devo competir ao governo as
elites, ou seja, os melhores. Então, quem se incluía nestas elites, eram os chefes (heróis),
que simbolizavam o Estado totalitário, encarnavam a Nação e guiavam os seus destinos;
a raça dominante (raça ariana); os soldados e as forças militarizadas; os filiados no
partido; os homens, de uma forma geral. As mulheres eram consideradas inferiores,
pertencendo-lhes a vida doméstica e eram subordinadas pelos maridos.
As elites mereciam o respeito das massas. A cega obediência destas obcecou a prática
fascista. Então, os ideais fascistas eram atribuídos, em primeiro, aos jovens, que após os
4 anos, ingressavam nos “Filhos da Loba” e usavam o uniforme; dos 8 aos 14, faziam
parte dos “Balillas”; aos 14 anos eram vanguardas e aos 18 entravam nas Juventudes
Fascistas. Desde cedo, aprendiam o culto do Estado e do chefe, o amor pelo desporto e
pela guerra e o desprezo pelos valores intelectuais.
Na fase adulta, contava-se com várias organizações como: o Partido Único (Nacional-
Fascista na Itália, Nacional-Nacionalista na Alemanha) e as milícias, cuja filiação se
tornava indispensável para o desempenho das funções públicas e militares e de cargos
de responsabilidade; a Frente do Trabalho-Nacional-Socialista e as corporações italiana,
que forneciam aos trabalhadores condições favoráveis na obtenção de emprego;
associações destinadas a ocupar os tempos livres dos trabalhadores, de maneira a que
não os afastassem da ideologia fascista.
O Estado investiu no controlo das mentes e das vontades, então, uma máquina de
propaganda promoveu o culto do chefe, publicitou as realizações do regime e submeteu
a cultura a critérios nacionalista e racistas.
Foram feitas manifestações, onde faziam uma encenação teatral cuidada, que
entusiasmava as multidões.

O culto da força e da violência e a negação dos direitos


humanos
A violência esteve no âmago do fascismo e do nazismo. Ambas as ideologias
negavam o legado racionalista e humanista da cultura ocidental.
Na Itália, Mussolini não conquistou o poder e os esquadristas semeavam o pânico. Em
1923, os esquadristas foram reconhecidos oficial como milícias armadas do Partido
Nacional-Fascista. Tinham a função de vigiar, denunciar e reprimir qualquer ato
conspiratório. Competia à polícia política, idênticas funções.
O mesmo aparato repressivo e atentatório dos elementares direitos humanos à
liberdade e à segurança teve lugar na Alemanha. O Partido Nacional-Socialista criou as
Secções de Assalto (S.A.) e as Secções de Segurança (S.S), milícias temidas pela
brutalidade das suas ações.
Com a vitória do nazismo, as milícias e a polícia política (Gestapo) exerceram um
controlo apertado sobre a população e a opinião pública.
A criação dos primeiros campos de concentração completou o dispositivo repressivo
do nazismo. Foi neles que se encerraram os opositores políticos, administrados pelas
S.S e pela Gestapo.
O nazismo levou ao extremo o racismo que caracteriza as ideologias fascistas. Os nazis
acreditavam que os povos superiores eram os arianos, a quem cabia a obrigação de
dominar o mundo pela eliminação das raças inferiores.
O primeiro objetivo do nazismo era a purificação da raça ariana pela seleção dos seus
membros mais genuínos e eliminação dos impuros. Para isso, desenvolveram vários
estudos e quando encontravam os indivíduos perfeitos, tanto homens como mulheres,
eram acasalados e submetidos à aplicação rigorosa das leis da genética a fim de obter
novos cidadãos dotados com as qualidades raciais superiores. Ao mesmo tempo,
deficientes mentais, doentes, portadores de qualquer deficiência ou debilidade eram
esterilizados ou eliminados. Os povos inferiores eram os judeus, os ciganos e os eslavos.
Pretendiam preservar a pureza da raça pela eliminação das raças inferiores que a
contaminavam. Entre todas, a mais inferior era constituída pelos judeus que acusavam
de serem causadores de todos os males da sociedade. Fizeram do seu extermínio um dos
grandes objetivos políticos. Numa primeira fase, os judeus foram segregados,
boicotados e excluídos. Numa segunda fase, surgiram as primeiras investidas contra as
suas pessoas e bens com destruições programadas dos seus locais de culto e de atividade
económica, intensificando-se a sua segregação com o seu encerramento em guetos.
Numa terceira fase, com o começo da 2ª Guerra Mundial, os judeus foram submetidos
às piores condições de trabalho e a um extermínio cientificamente preparado que se
traduziu no genocídio de milhões de homens, mulheres e crianças nos campos de
concentração.

A autarcia como modelo económico


Adoção de formas de organização que tinham em vista: a recuperação económica; a
promoção da autarcia (autossuficiência) da nação; a proteção da economia nacional face
às crises capitalistas; o controlo ou dirigismo sobre a economia.
Na Itália: promoveu-se a “batalha de trigo” (aumento da produção de cereais); a
“batalha da lira” (estabilização da moeda); a “batalha da bonificação” (recuperação de
terras e criação de novas povoações. Tinham um alvo, que era o comércio, subindo os
direitos alfandegários e controlando o volume das exportações e importações.
Na Alemanha: relançaram-se as indústrias; recorreu-se à concentração industrial;
criou-se um programa de rearmamento; promoveram-se obras públicas; incentivou-se a
produção agrícola para alcançar a autarcia.
As formas de organização tinham em vista a recuperação económica dos países, a
promoção desta autarcia, a proteção economia nacional face às crises capitalistas e o
controlo ou dirigismo sobre a economia.
O estalinismo
Lenine faleceu em 1924 e a sucessão foi um problema no governo da URSS, sendo que
existiam duas opções, Trotsky e Estaline. Trotsky defendia a revolução permanente e
universal e Estaline defendia a consolidação da revolução, primeiramente na URSS
(revolução num só país). Trotsky foi eliminado e Estaline assumiu o poder, tornando-se líder da
URSS.
Tinha como objetivos: a construção irreversível da sociedade socialista e a transformação da
URSS numa grande potência mundial. As suas estratégias eram a coletivização dos campos e
planificação da economia e a instauração de um Estado totalitário.
Estaline terminou com o processo da NEP e deu início ao processo da nacionalização de todos
os setores da economia. O Estado passou a proprietário da terra, do subsolo, das fábricas, das
redes de distribuição, do comércio e até de capitais e rendimentos. Esta era indispensável, pois
libertava mão-de-obra para as fábricas e forneceria alimentos para os operários. Houve uma
oposição dos kulaks e dos nepmen que são severamente reprimidos numa ação de força e
autoridade que provocou milhões de mortes e deportados para campos de trabalho forçado.
O Estado soviético assume-se como único detentor da propriedade dos meios de produção, em
representação dos trabalhadores. Então, a economia passar a ser dirigida e subordinada a planos
criados pelo Estado Planificação da economia.

Agricultura
- Organização da propriedade rural em dois tipos:
 os kolkhozes: grandes propriedades agrícolas coletivas, trabalhadas pelos
camponeses, em regime cooperativo, sob a direção de delegados do partido;
 os sovkhozes: grandes propriedades dirigidas diretamente pelo Estado, com
trabalhadores assalariados.

- Apoio de parques de máquinas estatais para intensificar a mecanização agrícola.


Comércio
- Organizado em cooperativas de consumo local ou em grandes armazéns estatais.
Indústria
- Aplicação de planos quinquenais:
 1º plano (1928/32): desenvolvimento da indústria pesada. Foi criado grandes
complexos siderúrgicos, hidroelétricos, fabris, de redes de comunicação,
exploração de matérias-primas e produção de alimentos.
 2º plano (1932/37): indústria ligeira e alimentar.
 3ºplano (1937/39-interrompido pela 2ºGM): setor da energia e indústria química.
O sucesso da política de industrialização estalinista foi atingido com: uma disciplina que
passava por trabalhos forçados; deportações em massa de trabalhadores para locais onde
eram necessários; o apelo ao interesse pessoal com a atribuição de prémios aos
trabalhadores mais produtivos e até a glorificação pública dos mesmos; campanhas de
propaganda centradas no culto a Estaline e ao Estado soviético.
O Estado estalinista revelou-se omnipotente e totalitário. Instaurou-se definitivamente
a ditadura do Partido Comunista. Foi, então, uma fase marcada por:
o Uma forte perseguição a todos os opositores e possíveis concorrentes do poder;
o Constituição da URSS, em 1936, confirmando a criação do Estado Totalitário;
o A monopolização do poder foi conseguida através:
 Nomenklatura, isto é, elites de quadros do partido que sustentavam o poder
político, que burocratizavam os poderes do Estado e que constituíam uma
elite com elevados privilégios;
 Reunião da população (nos partidos e nas organizações juvenis);
 Culto do Chefe e do Estado;
 Culto da violência e negação dos direitos humanos (criação de uma polícia
política-NKVD):
 Censura: controle da imprensa e da produção intelectual;
 Restrições na circulação interna entre as repúblicas da URSS.

A resistência das democracias liberais

O intervencionismo do Estado
Após a crise de 1929, as fragilidades do capitalismo liberal foram reveladas. Até, então,
acreditava-se na livre iniciativa, na livre produção e na livre concorrência.
O economista John Keynes duvidou da capacidade autorreguladora da economia
capitalista, chamando a atenção para a necessidade de um maior intervencionismo, por
parte do Estado no mercado, para que se pudesse assegurar emprego e uma distribuição
mais justa dos rendimentos, e consequentemente, melhorar a situação social e económica do
país. Para Keynes, devia-se confiar numa inflação controlada, numa política de
investimento, de luta contra o investimento e de ajuda às empresas.
Influenciado por Keynes, Roosevelt (presidentes dos EUA) decidiu tomar medidas
intervencionistas, sendo estas conhecidas como New Deal. Houve duas fases: a 1ª teve
como objetivo o relançamento da economia e a luta contra o desemprego e a miséria, a
partir de: construção de estradas, de vias-férreas, de aeroportos, de habitações e de escolas;
distribuição milhões de dólares aos mais necessitados e criação de campos de trabalho para
os desempregados jovens; criação da lei Agricultural Adjustment Act, que estabeleceu a
proteção à agricultura, através de empréstimos bonificados aos agricultores e de
indeminizações que os compensassem pela redução das áreas cultivadas; criação do
National Industrial Recovery Act e teve como objetivo a proteção à indústria e ao trabalho
industrial. Foi efetuado através da fixação de preços mínimos e máximos de venda e de
quotas de produção, que evitassem a concorrência desleal. A 2ª teve um carácter social.
Reconheceu a liberdade sindical e o direito à greve; o Social Security Act regularizou a
forma por velhice e invalidez, instituiu o fundo de desemprego e o auxílio aos pobres; o Fair
Labor Standard Act estabeleceu o salário mínimo e reduziu o horário de trabalho; fomento
da habitação social.

Os governos da Frente Popular e a mobilização dos cidadãos


Em França, a conjuntura recessiva pôs em causa o regime parlamentar, pois a crise
francesa não acabava, sendo que existia um número elevado de desempregados. O governo
foi criticado pela esquerda, que pedia soluções inspiradas em Keynes, no New Deal e na
contestação da direita. Estas reclamavam uma atuação autoritária. Face ao progressivo
avanço das forças da extrema-direita, iniciou-se uma mobilização dos cidadãos, que
convergiu numa coligação da esquerda, isto é, a Frente Popular, que unia comunistas,
socialistas e radicais. Tinha como objetivo prioritário, impedir o avanço do fascismo na
França, pois, anteriormente, Hitler tinha subido ao poder, pois os votos da esquerda alemã
tinham-se dispersado por vários partidos. Os governantes da Frente Popular tinham como
líder Léon Blum. Viveu-se um movimento grevista com a ocupação de fábricas por parte
dos trabalhadores. Com isto, os patrões denunciaram a ameaça bolchevista, surgindo os
“Acordos de Matignon”, onde se determinou a assinatura de contratos coletivos de trabalho;
a redução dos horários de trabalho; o aumento dos salários; direito a 15 dias de férias pagos.
Estas medidas dignificavam a classe trabalhadora e combatiam a crise, pois aumentavam o
poder de compra e criavam mais emprego em virtude da diminuição do horário de trabalho.
Tomaram outras medidas, como o aumento da escolaridade obrigatória até aos 14 anos, a
criação de albergues da juventude; o incremento do desporto, do cinema e do teatro;
nacionalização das fábricas de armamento; regularização da produção e do preço dos
cereais. Esta acabou em abril de 1938. Em Espanha, também houve uma Frente Popular
apoiada por socialistas, comunistas, anarquistas e sindicatos operários, onde impunham a
separação da Igreja e do Estado; o direito à greve; a ocupação das terras não cultivadas;
aumento dos salários.

O Estado Novo
Em 28 de maio de 1926, houve um golpe militar chefiado pelo general Gomes da Costa,
que pôs fim à 1ª República. Então, instalou-se uma ditadura militar, que permaneceu até
1933. Esta tinha o objetivo de “regenerar a pátria” e de devolver a estabilidade, mas estes
fracassaram. Houve desentendimentos entre os militares, provocando uma mudança
sucessiva de chefes do Executivo. Estes não estavam preparados, o que levou ao
agravamento do défice orçamental.
Em 1928, António Oliveira Salazar assume a pasta das Finanças, com a condição de
conduzir as despesas de todos os ministérios. Com Salazar nas Finanças, o país apresentou
pela 1ª vez um saldo positivo no orçamento, ganhando bastante sucesso financeiro. Em
1932, foi nomeado para a chefia do governo.
Em 1930, criaram-se as Bases Orgânicas da União Nacional e proclamou-se o Ato
Colonial. Em 1933, foi publicado o Estatuto do Trabalho Nacional e a Constituição de
1933. Ficou, assim, consagrado um regime político conhecido por Estado Novo. Este era
corporativo, conservador, nacionalista e autoritário e opunha-se ao liberalismo, à
democracia e ao parlamentarismo.
Podemos descrever o Estado Novo como:
 conservadorismo: a família era a base da Nação; Deus, Pátria, Autoridade eram
valores indiscutíveis; a vida rural era valorizada, sendo que Salazar era conservador
e criticava a sociedade urbana; a hierarquia católica era protegida e a religião é
considerada pilar da Nação; a mulher passa a ter um papel passivo, ficando
responsável pelas tarefas domésticas; as vanguardas eram rejeitadas; as tradições
nacionais eram exaltadas. A família perfeita tinha de ser católica e unida, que
repetia o vicio e a desregração de costumes proporcionados pela modernização da
cidade.
 nacionalismo: a história de Portugal era usada para fazer a apologia da Nação; os
portugueses eram um povo de heróis, sendo a sua grandeza histórica, a ação
evangelizadora e a integração racial em todo o império colonial; ato colonial, ou
seja, utilização das colónias em proveito da metrópole; criou a união nacional,
sendo o único partido permitido por Salazar ao qual deveriam pertencer todos os
portugueses “de boa vontade”.
 antiliberal, antidemocrático e antiparlamentar : o exercício do poder político
tinha como base o principio do partido único, ou então, a recusa dos partidos
políticos, já que o único autorizado não se designava de partido, mas de movimento
unitário, a União Nacional, um movimento que congregava as forças da direita,
antimarxista e conservadora, defensora dos valores tradicionais (Deus, Pátria,
Família, autoridade, austeridade, moralidade), não eram reconhecidos direitos
individuais aos cidadãos (o interesse era o bem da Nação); recusava a soberania
popular, submetendo o poder legislativo ao poder executivo, de forma a garantir um
Estado Forte e autoritário; era feito um culto ao chefe; o presidencialismo era
bicéfalo.
 corporativismo: foi o modelo base da organização económica e social; os
indivíduos eram considerados integrados em organismos (família, corporação,
município); foi criada a Câmara Corporativa com funções consultivas junto da
Assembleia Nacional; as corporações económicas integravam patrões e
trabalhadores (Casas do Povo, Casa dos Pescadores, Grémios, Sindicatos
Nacionais); as corporações morais incluíam as instituições de assistência e de
caridade; as corporações culturais abrangiam as universidades, instituições
científicas, técnicas, literárias, artísticas.
 Colonialista: fundamentou a política ultramarina do Estado Novo na reafirmação da
missão histórica civilizadora de Portugal. Salazar utilizou as colónias em proveito
da metrópole.
 enquadramento de massas: criou organizações para a defesa e a propagação dos
seus ideais como a Mocidade Portuguesa e a Legião Portuguesa; criou a Federação
Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT- ocupação dos tempos livres); criou a
Obras das Mães para a Educação Nacional (valores da família); apareceu o
Secretariado da Propaganda Nacional (divulgação dos ideais do Regime); a União
Nacional foi um meio para o enquadramento de massas.
 repressivo: a censura prévia à imprensa, ao teatro, ao cinema, à rádio e à televisão
envolveu assuntos políticos, militares, morais e religiosos; criou a PVDE (Polícia de
Vigilância e Defesa do Estado, e mais tarde, PIDE- Polícia Internacional e de
Defesa do Estado), para que pudessem prender, tortura e matar os opositores;
proibiu os sindicatos (poderia pôr em causa os ideais e planos de Salazar); criou
prisões políticas para os opositores políticos, como campos de concentração (por
exemplo, Tarrafal).

Características económicas do Estado Novo


Recorreu ao protecionismo e ao intervencionismo, tendo em vista a autossuficiência do
país e consequente afirmação do nacionalismo económico. O modelo económico era
intervencionista e autárcico.
A recuperação financeira era a prioridade nacional. Instaurou uma política rigorosa de
limitação das despesas do Estado; criou um grande conjunto de impostos com o objetivo de
aumentar a receita fiscal; adotou uma neutralidade na 2ª Guerra Mundial, que favoreceu a
manutenção do equilíbrio financeiro; aumentou as taxas alfandegárias sobre as importações.

Defesa da ruralidade
Existiam medidas de fomento das atividades agrícolas:

o infraestruturas agrícolas, como a construção de barragens, que melhorava a


irrigação dos solos;
o política de fixação da população no interior;
o campanha de florestação;
o dinamização da produção da batata, arroz, vinho, azeite e frutas ;
o Campanha do trigo (1929/37 ), que tinha o objetivo de alargar a área de cultura de
cereais. Esta provocou o aumento da área de cultivo; a aquisição de toda a produção
pelo Estado a preço tabelado; a seleção técnica de sementes; o desenvolvimento da
indústria de moagem; o desenvolvimento/ utilização de adubos químicos; o
desenvolvimento/ utilização de máquinas agrícolas; o aumento dos postos de
trabalho.

Obras públicas
A política das obras públicas promovido pelo Estado Novo pretendeu uma modernização
do país, combater o desemprego e desenvolver economicamente o país.
 rede de estradas;
 rede ferroviária;
 desenvolvimento portuário;
 rede telegráfica e telefónica;
 eletrificação;
 complexos desportivos;
 edifícios de serviços públicos;
 pontes e barragens.

Indústria
Devido à política de combate à crise- o condicionamento industrial- a indústria não se
desenvolveu. O Estado limitou o número de empresas e o equipamento utilizado; a
iniciativa privada tinha de ter a autorização do Estado; um pequeno número de empresas
monopolizava os setores-chave; entrave à livre concorrência. Isto levava a um atraso
tecnológico e produtivo.
A corporativização dos sindicatos
Salazar referiu que as iniciativas empresariais dependiam de um conjunto de condições
fornecidas pelo Estado, como a organização dos trabalhadores, que viria a merecer da parte
do Estado Novo um enquadramento corporativo. Foi publicado o Estatuto do Trabalho
Nacional em setembro de 1933, onde se estipulava que, nas profissões da indústria, do
comércio e dos serviços, os trabalhadores deveriam reunir em sindicatos nacionais e os
trabalhadores em grémios. Estes eram agrupados em federações, uniões e depois em
corporações económicas, onde negociavam entre si os contratos coletivos de trabalho e
estabeleciam normas e cotas de produção, e fixavam preços e salários.
Os sindicatos nacionais enfrentaram algumas resistências, sendo que em janeiro de 1934
(os sindicatos livres e as reivindicações laborais ficaram proibidos) houve greves e
sabotagens promovidas pelos anarcossindicalistas e pelo Partido Comunista e a 18 de
janeiro, na Marinha Grande, operários foram para o posto da GNR e outros edifícios e
proclamaram um “soviete público”. Isto permitiu ao Estado Novo a corporativização dos
sindicatos.

Política Colonial
O Ato Colonial afirmava que Portugal tinha a missão histórica de possuir, colonizar e
civilizar os domínios ultramarinos; as colónias dependiam diretamente da metrópole; era
restringida a intervenção de potências estrangeiras. As colónias eram mercadas para o
escoamento de produtos agrícolas e industriais da metrópole e para o abastecimento de
matérias-primas.
As populações nativas eram consideradas inferiores e permaneciam segregadas e apesar do
Estado as tentar defender de uma exploração esclavagista, o nº de assimilados ia
diminuindo. Então, proclamou a vocação colonial, onde o Estado se esforçava para impor
no povo uma mística imperial, sendo que os congressos, conferências e exposições
ajudariam a propagandear (I Exposição Colonial Portuguesa e Exposição do Mundo
Português).

Projeto cultural do regime


O Estado deu origem a uma “politica de espirito” (projeto cultural), que fez de artistas e
escritores instrumento privilegiados da inculcação e da propaganda. Foi implementado pelo
Secretariado da Propaganda Nacional (António Ferro).
As artes e as letras deveriam proporcionar uma “atmosfera saudável”, tendo o povo, o
amor à pátria, o culto dos heróis, as virtudes familiares, a confiança no progresso, ou seja, o
ideário do Estado Novo. A criação literária e artística era fortemente condicionada pelos
interesses do regime para evitar os excessos intelectuais que pusessem em causa a coesão
nacional (padronização da cultura e da arte) e para dinamizar uma produção cultural que
fizesse propaganda à grandeza nacional.
Foram feitas várias realizações culturais como comemorações, salões de pintura, prémios
literários, congressos científicos e inauguração de obras públicas para ostentar o regime;
festas, marchas, concursos e filmes de comédia para entreter o povo; exposição do Mundo
Português em 1940 para o exterior.

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