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DOCENTE:
Prof. Dr. Rui Medeiros
DIREITO
CONSTITUCIONAL – A/B
Sebenta de João Tomás
Prof. Dr. Rui Medeiros Universidade Católica Portuguesa 2019/2020
Índice
ÍNDICE ................................................................................................................................................. 2
Capítulo I: Constitucionalismo
Em 1823 e 1824 decorre a Vila Francada e a Abrilada, retaliação, reação, das forças
conservadoras ABSOLUTISTAS, que tomam Portugal – a mando de D. Miguel, um general
do exército português
Revisão de 1916:
Consequência da participação na I Guerra Mundial
Decreto ditatorial de 1917 (Sidónio Pais)
Instituição de sistema presidencialista + reforma do Senado
Entre outras medidas como o sufrágio universal para cidadãos do sexo masculino
maiores de 21 anos
Revisão de 1919-1921:
Atribuição de subsídios aos membros do congresso
PR passa a poder dissolver as Câmaras “quando assim o exigirem os superiores
interesses da Pátria e da República”
Organização de um Conselho Parlamentar
Bases para a criação de um amplo sistema de administração colonial
A Constituição de 1933
4. Sistema de Governo
o Órgãos de Soberania – Chefe de Estado, Assembleia Nacional,
Governo e Tribunais
o Chefe de Estado ou PR
§ Eleito por sufrágio direto por 7 anos
§ Nomeia e demite o Presidente do Conselho e os Ministros
§ Os seus atos tinham de ser referendados pelo Governo
o Assembleia Nacional
§ 90 Deputados eleitos por sufrágio direito por 4 anos
§ Fiscaliza a ação do Governo
§ Votava leis da iniciativa dos deputados e do governo
§ Aprovava convenções internacionais
§ Tinha muito pouco trabalho (o governo monopolizava a ação
legislativa) à SÓ LEGISLAM SOBRE AS BASES GERASI DOS
REGIMES JURIDICOS
o Governo
§ Formado pelo Presidente do Conselho e pelos Ministros
§ Presidente do Conselho – coordena e dirige a atividade de
todos os ministros
o Tribunais
5. Órgãos auxiliares:
o Conselho de Estado
§ Composto por: Presidente do Conselho, da Assembleia
Nacional, da Câmara Corporativa, do Supremo Tribunal de
Justiça, o Procurador geral da República e 5 membros vitalícios
nomeados pelo PR
§ Funcionava junto do Chefe de Estado
o Câmara Corporativa
§ Composta pelos Presidentes das Autarquias Locais
§ Onde se debatiam ideias, que seriam apresentadas à
Assembleia Nacional, esta mesma aceitando ou não.
§ Forma engenhosa de legitimar as decisões da Assembleia
Nacional;
§ Passa a ser uma República Corporativa à um pouco do poder
legislativo é descentralizado e é atribuído a corporações
A Constituição de 1976:
• PRIMAZIA dos Direitos, liberdades e garantias - aplicabilidade direta;
• Direitos económicos, sociais e culturais (propriedade, direito ao trabalho,
educação, saúde, habitação, etc.)
o A CRP distingue-os claramente dos direitos liberdades e garantias
• Cláusula aberta do artigo 16º CRP
• Liberdade de voto;
• Eleições livres;
• Pluralismo partidário;
• É uma Constituição muito longa e complexa, baseia-se na democracia
representativa e participativa, bem como na liberdade política;
• A fiscalização passou a ser difusa, feita por todos os Tribunais (artigo 204º), para
além de concentrada, feita pelo Tribunal Constitucional;
• O Estado continua a ser unitário, mas passa a ser descentralizado: princípio da
autonomia das autarquias locais e o da descentralização democrática da
administração publica
o Reconhece autonomia político legislativa às regiões autónomas e
autonomia às autarquias locais
Sistema de governo, com 4 órgãos de Soberania:
§ PR: Poderes relativos à CRP e ao funcionamento de outros órgãos
do Estado e das regiões autónomas, poder de promulgar e de
• COMPROMISSÓRIA:
o Representa um compromisso constitucional, um pacto entre forças
políticas e sociais que, num momento de enorme conturbação, chegaram
a um consenso
o Exemplo desses compromissos:
§ Compromisso entre o princípio da unidade do Estado e o princípio
da autonomia regional e local
§ Compromisso entre o princípio liberal e o princípio socialista
1992
o Revisão para tornar possível a ratificações do Tratado de Maastricht
§ Exige moeda única por exemplo: o Banco de Portugal fica proibido
de emitir moeda
o Artigo 7º + 8º CRP
o Reconhecimento da capacidade eleitoral a cidadãos da EU
1997
o Alteração do regime do referendo
o Reforço da democracia representativa – emigrantes passam a poder votar
para o PR
o Aumento dos poderes da AR e do TC
2001
o Motivada pela criação do Tribunal Penal Internacional
o Permite resolver de forma cirúrgica os problemas suscitados pela
ratificação do Tratado que criou esse Tribunal
o Passa a ser permitida excecionalmente a pena de prisão perpétua
2004
o Revisão ordinária
2005
o Motivada pelo processo de integração europeia
o Revisão extraordinária
2. Esta dignidade é, não de uma categoria abstrata de ser humano, mas de toda
e qualquer pessoa humana historicamente/concretamente localizada.
Exemplo: lei de bases da saúde: estrangeiro ou apátrida que resida legalmente
no território tem direito ao SNS em condições de reciprocidade. Será que é
legítimo excluir imigrantes ilegais e os legais que os países não consigam
garantir estas condições de reciprocidade. Se calhar é razoável que um
cidadão dos EAU não beneficie em caso de não reciprocidade, logo pode ser
necessário ter em conta caso a caso. Se calhar ainda é legítimo que o Estado
decida onde quer despender o orçamento da saúde. Mas um estrangeiro
ilegal/sem condições de reciprocidade que tem um ataque cardíaco tem ou
não acesso ao SNS. RM: pode ser atendido, pois fugimos de questões de
orçamentos e políticas. Logo em situações não urgentes até pode caber ao
estado essa decisão, mas em situações de urgência a dignidade da pessoa
humana prevalece. (Nota: acesso à proteção de saúde ≠ acesso gratuito à
proteção de saúde)
1
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de
consciência devem agir uns para os outros em espírito e fraternidade”
O EDD baseia-se todo ele na dignidade da pessoa humana, uma vez que está na base dos
direitos fundamentais da democracia
Proíbem-se 2 coisas:
1) Instrumentalização:
ð Quando o homem é privado de tomar as suas decisões por si (quando vai
casar, quantos filhos vai ter, que livros pode ler) há uma desumanização
do homem. Isto não vale só nas relações com o estado ou com o poder
público, mas também nas relações entre privados. Por exemplo, na
escravatura, não é o estado que escraviza, mas sim outros particulares.
2) Condições de vida degradantes
ð Apesar de todos considerarmos a dignidade da pessoa humana como um
princípio universal, não concordamos todos com o seu significado: é
preciso termos cautela quando invocamos a dignidade da pessoa humana
como parâmetro normativo (pois cada um tem a sua visão)
Até que ponto é que a dor e a ausência de cuidados paliativos é ou não passível
de alterar o quadro de discernimento da pessoa. Ou a solidão/depressão podem
contribuir para uma decisão não esclarecida.
à Corre-se o risco de violar o risco de precaução/cautela.
Estado de direito:
à A limitação do poder decorre da existência de uma constituição. Esta
constituição é assegurada e prevalece sobre os poderes instaurados, através de
mecanismos próprios: os tribunais e o TC. A CRP tem que limitar a lei.
Democracia:
à A legitimação do poder: leis feitas pelos representantes do povo (AR e
governo). Pode tornar-se uma tirania.
À partida o ED prevalece sobre a Democracia, mas não podemos aceitar esta visão
simplista, porque existe tensão e não supremacia. RM: relação entre iguais, mas há
muitos autores que afirmam que à partida existe uma superioridade do ED.
Aborto:
EUA (1973): pode-se abortar nos 3 primeiros meses.
O tribunal diz que o aborto está esclarecido na constituição, logo retirou esta
questão do plano democrático. Quando se escolhe um novo juiz tem que se ter
em conta os ideais pois isto ficou decidido no plano constitucional, e no modo
como a constituição é lida.
Europa: começaram por dizer que o aborto não era admitido pela constituição,
mas depois houve uma reviravolta pois a RFA foi reunificada e como havia tensão
entre duas fações, cabia ao parlamento fazer uma lei.
Caso 5: tensão entre poder constituinte e poder legislativo. Por que razão é que a vontade
do povo que fez a constituição prevalece sobre o povo que faz a lei. Até que ponto
podemos limitar gerações futuras? Quando um povo faz uma constituição faz algo que
possa vigorar durante um período longo, que possa pautar transversalmente cada um e
as gerações futuras.
O Art1º CRP1 menciona que Portugal é uma República Soberana, mas o que
significa sermos um estado soberano? O que é, então, a soberania?
Para Jean Bodin, a soberania é um poder absoluto e perpétuo, uno e indivisível,
próprio e não delegado, independente, supremo, irrevogável. Este conceito de soberania
abre azo ao Antigo Regime, caracterizado pelo absolutismo.
-Há uma diferença entre a soberania do rei e a soberania popular em que
assenta a CRP?
-Como se articula a separação de poderes (artigo 111º) com a afirmação
de uma soberania una e indivisível (artigo 3º)?
1
“Portugal é uma república soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e
empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.”
2ª mutação:
à Jean Bodin: a soberania é um poder absoluto e perpétuo. Então este
poder soberano do povo é ou não absoluto e perpétuo?
- Derivada da revolução norte-americana, surge uma visão oposta à forma
como se vê esta soberania.
- O poder soberano do povo tinha que respeitar alguns limites, como os
direitos naturais inalienáveis do ser humano. O poder constituinte não é,
então, absoluto e perpétuo.
Se o poder constituinte não pode ser arbitrário, qual é a função dele? O poder
constituinte é um poder originário, logo em cada momento o povo pode redesenhar o
seu destino, respeitando limites dos ius cogens e do positivismo estadual.
Durante muito tempo o soberano foi o monarca. Hoje a ideia é de que a soberania
reside no povo/nação. Origem desta ideia:
à Construção do contrato social – antes do poder do rei está o poder do
povo.
àJoão das regras disse que havia vários pretendentes ao trono, mas a
nenhum deles pertence esse lugar. Essa decisão deve caber ao povo,
através das cortes.
à Admitindo-se a destituição do rei, quando este for tirano ou déspota
também é uma forma de explicar que a soberania resida no povo.
quando uma lei diz um absurdo, mas sim quando a própria CRP diz ou
permite isso, não sendo possível invocar outra norma da Constituição. O
problema da relação entre jusnaturalismo e Positivismo só se coloca
quando o conflito é entre a lei positiva superior (CRP) e o direito natural
2. Limites imanentes - dirigem-se especificamente ao poder formal
ð Decorrem da noção e do sentido do poder constituinte formal enquanto
poder situado
ð São os limites ligados à configuração do Estado à luz do poder constituinte
material
ð Compreendem limites que se reportam à soberania do Estado, bem como
limites atinentes à legitimidade política em concreto
3. Limites heterónomos - dirigem-se a ambos os poderes
ð Ius Cogens
ð Provenientes da conjugação com outros ordenamentos jurídicos
ð Referem-se a princípios de Direito Internacional donde resultam
obrigações
ð Ninguém contesta estes limites: se houver uma norma da CRP que viole
os princípios imperativos do Direito Internacional, está é ilegítima
Caso 7a: posso ou não afirmar que há um limite que decorre de normas constitucionais
hierarquicamente superiores?
Não há limites à constituição que decorrem da mesma constituição, ou seja, não
há normas constitucionais que são inconstitucionais, pois provêm do mesmo poder
soberano, têm a mesma posição hierárquica = O povo quis as duas coisas.
Mas será que a conduta não era considerada crime internacionalmente, indo de
encontro ao nº2 29ºCRP, e 18º DUDH? Ou se meramente o artigo 292º é uma norma
excecional do princípio da irretroatividade da lei penal? É duvidoso que seja, pois apesar
da gravidade das condutas, em nada se assemelham às atrocidades dos meados do século
XX.
A rigidez normalmente decorre de uma maioria agravada, como nos EUA, (artigo
V CEUA). Em Portugal isto está patente no artigo 286ºn1CRP.
Mas há outros traços relevantes de rigidez para além da maioria, como o limite
mínimo temporal de 5 anos para revisões ordinárias, que comporta uma exceção,
postulada nº2 do artigo 286ºCRP, mediante uma maioria agravadíssima.
àOs 4/5 são o momento alfa para se iniciar o processo
Algumas características:
1. A iniciativa de revisão provém única e exclusivamente dos deputados,
artigo 285º/1CRP, que é uma exceção ao 167º/1.
2. Só ao parlamento compete a revisão 161º CRP
3. O PR não pode vetar uma lei de revisão constitucional, como resulta do
artigo 286º/3CRP ≠ 136ºCRP:
a. razões políticas (veto e promulgação)
b. 278º/1 razões constitucionais (apreciação preventiva de
constitucionalidade) à isto não excluiu que a lei da revisão seja
fiscalizada à posteriori, sucessivamente (permite que não seja
julgada a quente no processo político)
Mas não é chocante que uma lei de revisão inconstitucional não possa ter
fiscalização preventiva? Não, pois há possibilidade de ser fiscalizada mal entre em vigor.
Exemplo no 281ºCRP em que pode o PR pode enviar para o TC com necessidade de
urgência.
Contudo, há muito que se entende que isto não pode ser tomado à letra. É um
absurdo que uma lei de revisão seja inconstitucional e não provenha do parlamento, mas
tenha que ser publicada. A inconstitucionalidade nestes casos é tão grave que “nada
existe”.
Desvalores jurídicos:
1. Inexistência – tão grave que “nada existe” (1628ºc) CC)
2. Invalidade – o que, em regra, se verifica quando há uma lei
inconstitucional (1602º e 1631ºCC)
a. Existe uma lei de revisão juridicamente existente que é
inconstitucional, e este ato jurídico pode ser destruído.
b. Não é uma inconstitucionalidade tão gravosa ao ponto de
já nada se considerar uma lei de revisão, sendo que o PR
tem que promulgar, e apenas pode pedir fiscalização
sucessiva
3. Irregularidade – menos grave, e que não afeta a lei (1649ºCC)
O PR é sempre obrigado a promulgar, mas nestes casos nem há lei logo não se aplica.
O projeto ser feito por alguém que não um deputado (governo, cidadãos),
pois só tem que ser aprovado por 2/3.
O projeto ser apresentado passado 33 dias.
à não geram inexistência, geram a invalidade (doutrina).
à RM: mera irregularidade, logo não deve haver gravosa consequência.
Prisão perpétua e pena de morte: vem logo um limite material de revisão. Será que
haverá ainda um sexto requisito de qualificação: os limites materiais?
à A generalidade da doutrina considera que não gera inexistência, logo não é
requisito.
ð Esta discussão é relevante porque decide se se aplica o art. 286o/3 CRP
ou não, sendo que há três teses principais:
1) LM são imprescindíveis e insuperáveis
§ Extraem-se do conceito de poder de revisão e do princípio
de identidade da Constituição material
o É um poder constituído, não lhe compete dispor
contra as opções fundamentais do poder
constituinte originário
o Só deve reformar a constituição na medida em que
fique assegurada a identidade e continuidade da
mesma considerada como um todo
2) LM não são legítimos nem têm eficácia jurídica
§ Aduzem a inexistência de diferença de raiz entre poder
constituinte e poder de revisão
o Ambos expressão da soberania do Estado e ambos
exercidos por representantes eleitos
o Não é concebível uma auto-limitação da vontade
nacional (povo tem sempre direito de alterar a
CRP, nenhuma geração pode sujeitar as gerações
futuras às suas leis)
3) LM são admitidos, mas são apenas relativos
§ Afirma-se a validade dos LM’s explícitos
A visão tradicional:
1. O PR recusa sem mais pois o 278ºCRP não inclui a apreciação da
inconstitucionalidade de leis de revisão constitucional.
a. Crítica:
i. Mas esta não é uma lei de revisão, logo não prevê nem devia prever
ii. há uma lacuna, por maioria de razão as leis de revisão nestes casos
também podem
2. Estes vícios são, para além de graves, evidentes, logo não se justifica requerer ao TC
a. Caso 8: Lei de revisão de 1992 que quer aprovar um tratado, mas não quer
interferir com o tempo a decorrer que antes era independente do tipo da
revisão (1989-1994). JM: Então a lei de 92 que estabelece que o tempo entre
revisões apenas vale nas revisões ordinárias só pode valer para o futuro. Mas
houve um processo em 1994, volvidos apenas 2 anos da última lei de revisão.
RM: crê que a intenção da lei era não interferir com o tempo entre revisões,
logo não existia nenhuma violação de um requisito de qualificação.
à os requisitos de qualificação podem não ser assim tão evidentes
Mas valem todos os limites o mesmo? Admite-se uma dupla revisão a tudo?
Quando falamos destes limites está muita coisa em jogo, nos casos em que haja
limites que o próprio poder constituinte esteja submetido, estes não podem ser revistos.
1
Cit. A constituição portuguesa num contexto global, Rui Medeiros, pg. 171
Função legislativa:
A lei tem um papel fundamental na atualização da vontade democrática do povo. Numa
democracia não basta que num tempo longínquo uma decisão tenha sido
democraticamente tomada, pois a democracia significa que cada um de nós hoje quer
governar-se segundo as leis mais adequadas. A lei tem um papel fundamental em relação
à função administrativa e jurisdicional.
Divisão na doutrina, no quadro da CRP atual:
- Aqueles que persistem numa visão substancialista de leis
- Aqueles que sustentam ser a lei um ato normativo aberto, embora por vezes,
não deixem de admitir conexão com alguns elementos materiais (recusa, um
critério constitucional à material caracterizador da função legislativa)
Porque é que a lei formal tem um papel mais importante que os regulamentos?
1. O processo de elaboração de leis formais garante uma solenidade e um
envolvimento democrático particularmente relevantes: primeiro têm de ser
debatidas/aprovadas:
a. DL: conselho de ministros (artigo 200º CRP)
b. Leis: assembleia da república (artigo 161º CRP)
c. DLR: assembleias legislativas regionais (artigo 227º e 228º CRP)
2. Leis e decretos de lei carecem de ser promulgados pelo PR ou representantes
da república (artigo 136º CRP)
3. Os decretos-lei, posteriormente à promulgação, só terminam a sua vigência por
requerimento de 10 deputados (artigo 169º/1 CRP)
2 DIMENSÕES
Positiva à Se há reserva de lei, é a lei que deve estabelecer o regime jurídico dessa
matéria, não podendo declinar a sua competência a favor de outras fontes
Negativa à Proibição da regulação da matéria por algo que não lei
E nos casos de não haver reserva de lei, pode essa matéria ser alvo de restrições quanto
aos órgãos que podem legislar, por ser especial em algum ponto?
Exemplo, caso 12b iii): Pode ou não haver matérias fora deste domínio que
permitem reserva de lei? Estamos ou não perante um domínio de reserva de lei?
Se estivermos um regulamento não pode, se não estivermos o regulamento pode.
Pode haver reserva de lei mesmo em matérias não reservadas? Pela relevância da
matéria, pode discutir-se se isto não podia ser tratado por um ato legislativo. Na
Alemanha diz se que estas questões essenciais à vida em comunidade devem ser
tratadas por leis.
3. Princípio da tipicidade das formas de lei: os atos legislativos estão confinados apenas
a 3 tipos, pelo princípio da centralidade da lei.
o Na vida em geral há liberdade para fazermos o que quisermos: se não
estiver proibido é permitido. No entantoà no direito constitucional o que
não é permitido é porque é proibido
ð A administração pública só pode fazer aquilo que a CRP permitir
o Formas de atos legislativos:
ð 112º/ 1à só há 3 formas de lei ordinárias (Princípio da tipicidade)
o Colmatado no artigo 112º/5 1ª parte
Por isto não se pode criar novas categorias de leis, nem permitir que um ato que
não é lei tenha poderes de atos legislativos.
Em matéria de lei, a nossa tarefa é fácil, pois tudo tem que estar definido na
constituição – Princípio da competência:
i. A competência dos órgãos de soberania está definida na CRP, artigo
110ºCRP.
ii. Artigo 111º/2CRP: mesmo em relação a outros órgãos que não os de
soberania, a possibilidade de os poderes legislativos serem delegados
apenas é permitida nos parâmetros da constituição.
iii. Moral da história: o 112º/5 1ª parte é desnecessário pois a competência
já esta definida e limitada nos artigos 110º e 111º CRP.
2ª parte: de modo a evitar o chico esperto, proíbe que um ato que não
tenha forma de lei atue com os mesmos poderes que esta. Ou seja, não
posso permitir que regulamento se chame lei nem que atue como lei.
Logo, proíbe-se que um ato tenha a mesma força de lei, logo não pode
integrar, suspender, revogar, interpretar ou modificar um ato legislativo.
Temos que compreender melhor esta segunda parte. Atos de outra natureza podem ser
de muitos tipos, mas a partir de agora vamos limitar-nos a regulamentos da
administração. A doutrina batizou este fenómeno proibitivo como “proibição dos
regulamentos delegados”. Separa-se em dois (falamos daquilo que não é permitido):
1. Modificar, suspender ou revogar:
a) Modificar ou Revogar - Caso 12d ii): considera-se que as condições mais
difíceis nas ilhas são fator para a necessidade de haver um incremento
salarial. Este DLR estabelece um valor e permite ao governo regional
atualizar este valor todos os anos, para que as pessoas nos açores continuem
a ter um poder de compra reforçado e não menor. “nenhum DLR pode
conferir a um regulamento do GR o poder de modificar” o regulamento é
legal, mas a lei que este regulamento regula é inconstitucional, o
regulamento é inconstitucional (inconstitucional por consequência)
i. Mas se o DLR estabelece-se que a atualização automática fosse à taxa
de inflação, a decisão no início tinha cabido também à assembleia. O
que o artigo 112º/5 proíbe é dar a outro ato esse poder, porque através
de um regulamento abre-se azo a bastantes possibilidades de
atualização, pois o Governo Regional ficaria com um amplo poder nos
termos em que quiser agir, tem uma decisão discricionária
b) Suspender - Caso 12d iii): DL a permitir que um despacho o suspenda.
Regulamento delegado aparentemente inconstitucional. Mas este despacho
também provém do governo, mas não reveste a mesma solenidade, dada ao
DL pela centralidade da lei.
i. Contudo, se o dinheiro acabar, o sistema de incentivos está suspenso.
Este despacho está apenas a declarar que não há dinheiro e o sistema
está suspenso. Apenas retrata aquilo que já aconteceu, a verba ter
2. Deslegalização
o Tirar da lei matéria que estava legalizada, emagrecer certa lei: deixa de
existir lei a regular certa matéria; deixa de tratar algo que já tratava
o A matéria da lei é degradada a matéria de regulamento, restringe-se,
passando a matéria da lei a regulamento e o órgão legislativo a órgão
regulamentária
o A lei que deslegaliza não fixa por si só o conteúdo, estava fixada por um
ato legislativo que posteriormente é revogado por um da mesma
hierarquia, permitindo a um ato infra legal regular sobre essa matéria que
deixa de estar legalizada
o É permitida, a menos que estejamos no domínio de reserva de lei.
o Caso 12 d i): mercados debilitados, há uma corrida à batata, só quem tem
mais meios é que comprava, por isso o governo fixa esse preço.
ð Contribuir com mais informação para uma melhor decisão (decisões mais
esclarecidas)
ð Confere maior legitimidade procedimental à decisão
Caso 12e i): basicamente pede-se declaração de inconstitucionalidade pois não se
ouviram todos os sindicatos, artigo56º/2ª CRP. Isto é um caso de democracia
participativa, pois quem decide no final é a AR ou o GOV. Em 1975 o PCP bateu-se pela
existência de um único sindicato, mas a CRP garante a todos liberdade sindical, logo este
direito abarca todos os sindicatos e não só o mais representativo.
Qual a diferença entre ES e EE? embora estejam previstos CRP 19º e 138º, a lei
44/86 nos artigos 8º e 9º trata isto:
5. “Flexibilidade”. “Dura 15 dias no fim dos quais pode ser reavaliado com
avaliação do Governo do estado da pandemia”.
Importa salientar que o que está em causa nestas reservas são matérias de
extrema importância, que faz com que apenas possam ser tratadas por LEI. Contudo, a
iniciativa de lei pode caber ao Governo, artigo 167º/1, uma vez que iniciar ≠ aprovar.
Mas, de modo a perceber a reserva absolutíssima, que serva está em causa com o OE,
artigo 161º/g)?
à O artigo 164º diz é “exclusiva competência”
à O artigo 161º diz “compete”
Em matéria de competência legislativa ou está definido na CRP ou não se pode
legislar/agir. No artigo 111º/2 CRP esclarece-se que, para se poder delegar o poder um
poder de um órgão a outro órgão, a CRP teria que permitir, tal como acontece no artigo
165ºCRP (uma concretização do 111/2).
Já que tal delegação não é possível, podemos extrair que a reserva absoluta não
consta unicamente do artigo 164º, também pode constar do artigo 161º, quando esteja
em causa a função legislativa.
Faz-se esta referência, uma vez que a alínea a) do artigo 161º CRP trata da revisão
constitucional, o que não é consensual quanto em que reserva pode caber, mas é claro
que não é uma reserva de função legislativa. Como tal, autores afirmam a existência de
uma reserva constitucional (Canotilho), outros inserem este poder numa outra reserva
doutrinalmente criada, a reserva absolutíssima.
Contudo, JM diz que o que releva não é a aprovação, mas sim a receção do
diploma por parte do PR (≠promulgação):
1. Como na AR o processo é publico nós sabemos o dia em que a lei é
aprovada. No governo não se controla o diploma.
2. Assim o prazo é até ao GOV ficar sem poderes sobre o diploma.
3. Pode-se dizer que se aprova e só sai uns meses depois.
Porém, isto é um argumento probatório, mas se é assim, a prova pode fazer-se
por outras vias. Ou seja, podemos provar publicando o diploma no próprio dia. Então
levanta-se a pergunta: devemos confiar nos órgãos de soberania?
Não devemos tomar como regra que o governo, um órgão de soberania, faz falcatruas.
Em suma: nunca se pode afirmar que o que releva para autorização legislativa é a
publicação, mas pode ser discutida se é mera declaração de aprovação em sede de
conselho de ministros, ou se a aprovação carece de ser provada.
alterar o IRS em 1%, essa autorização deve durar o prazo do orçamento para que se a
possa executar e que se obtenha a receita esperada.
Atentemos no caso 13, que nos ajudará a consolidar melhor toda esta matéria:
a) Bases
iv. Estamos perante uma matéria de reserva absoluta, as bases do ensino,
artigo 164º/i) CRP. O presente DL não versa sobre as bases, nem sobre o
seu desenvolvimento, mas única e exclusivamente sobre um ato
administrativo.
v. A matéria referida cabe no artigo 165º/1 t) CRP, bases gerais do regime
de âmbito da função pública. Como tal, o Governo só pode interferir a
nível de desenvolvimento das opções políticas tomadas na base. Contudo,
extraímos do artigo 198º/1 c) CRP que o Governo só pode legislar nestas
matérias através de DL.
vi. Legislar sobre a criação de uma reserva ecológica nacional, e sobre a
possível construção no território da mesma, é uma opção política
fundamental. Neste caso o DL é inconstitucional, por não resultar de uma
autorização legislativa para poder definir as bases do sistema de proteção
da natureza, artigo 165º/1 g) CRP.
b) Regime geral
A AR, no desenvolvimento do regime geral de punição dos atos ilícitos de mera
ordenação social, artigo 165º/1 d) CRP, estabelece valores máximos e mínimos
para as coimas, bem como as matérias sobre as quais podem incidir. No
entanto, o caso em análise em nada desrespeita tal regime geral, sendo que
apenas podemos discutir se, segundo o artigo 241ºCRP, a câmara goza de tais
poderes, o que é matéria de Direito Administrativo.
c) Reserva de âmbito total
Este caso que cabe na reserva relativa da competência legislativa da AR, artigo
165º/1 alínea c) CRP. Esta alínea é uma reserva relativa com âmbito total, logo
os poderes legislativos apenas pertencem à AR, ou ao GOV com autorização
legislativa, sendo que descriminalizar também se insere nos poderes
reservados.
Resumo do ponto 1:
Reserva absoluta e absolutíssima(?)/constitucional(?) são de exclusiva
competência da AR.
Reserva relativa permite que o GOV legisle, sobre a forma de DL, sendo que a LA
tem que estipular requisitos para o DLA cumprir – objeto e extensão, sentido e duração
(nunca de publicação, resta saber se a aprovação acarreta a necessidade probatória).
As reservas têm um âmbito quanto ao seu alcance, que em regra são totais, ou
seja, cabe à AR, ou ao GOV delegado, o poder de legislar na plenitude sobre aquelas
matérias. Contudo, a CRP admite exceções que são os regimes gerais e as bases. Nas
bases, em matéria de reserva, o DLD está sempre subordinado à LB, e só pode haver um
DLB de uma LA permitir.
Como tal, existe uma aparente prevalência, retirada do elemento literal do artigo
112º/2 CRP, de qualquer Lei de Bases, mesmo em matéria concorrencial, sobre um DLD.
Maiorias:
• Simples – mais votos a favor do que
contra
• Absoluta – 116 deputados (50% +1)
• Qualificada – 2/3
Procedimento legislativo:
1. Iniciativa
a. Diferente de competência à quem tem iniciativa legislativa é quem pode propor
a lei, quem tem competência é quem a pode decretar
i. Sem iniciativa, não pode exercer-se a competência nem se desencadeia
o procedimento legislativa
b. 167º CRP à iniciativa legislativa cabe aos deputados, aos grupos parlamentares,
cabe ao Governo, cabe as Assembleias legislativas regionais no que diga respeito
ás regiões autónomas, e pode ainda caber aos cidadãos eleitores (35 mil mínimo)
c. Numa matéria reservada relativa à pode ser a AR a legislar na sequencia de uma
iniciativa de deputados, pode ser o governo a apresentar uma proposta de lei ou
pode ser o governo a apresentar uma proposta de lei de autorização, e depois
com base nessa autorização faz o DL autorizado.
d. Se a matéria for de reserva absoluta à a AR faz sempre a lei
i. No que diz respeito às regiões autónomas, só têm iniciativa nas matérias
que dizem respeito ás regiões autónomas.
e. Há casos de iniciativa legislativa reservada, como por exemplo o orçamento de
Estado. É sempre o Governo que tem de apresentar uma proposta de lei de
orçamento de Estado. A AR não pode apresentar ela própria um projeto de lei
orçamental (artigo 106º nº2 e 3)
2. Apreciação
a. Interna (genérica) à Parlamento (dá-se em todos os casos, quanto a todos os
projetos e propostas de lei);
b. Externa (específica) à outros órgãos constitucionais ou organizações de
sociedades civis (só tem que se dar quanto a matérias previstas na
Constituição – como nas questões do trabalho em que é preciso ouvirem-se
as comissões e sindicatos).
3. Discussão e votação
a. Existem 3 votações: na generalidade, na especialidade, e uma votação final
global.
b. As votações na generalidade são feitas em plenário.
c. As leis ordinárias comuns descem á comissão para fazer a votação na
especialidade (artigo a artigo) e depois volta-se a subir a plenário para fazer a
votação global final em coerência com as conclusões alcançadas em comissão.
i. Há casos em que a votação na especialidade deve ser feita em
plenário – artigo 168º nº4 – são obrigatoriamente votadas na
especialidade pelo plenário as leis das matérias previstas nas
4. Promulgação e veto
a. O diploma passa ainda por uma comissão de redação para que se façam
alguns acertos formais que possam ser necessários, e o Presidente da
Assembleia assina a lei e envia-a par o Presidente da República, que tem três
opções: promulgação, veto, ou fiscalização preventiva da constitucionalidade.
b. Quando há promulgação, segue-se a referenda e a publicação no Diário da
República. A promulgação tem uma função de subsunção. Se pegarmos nos
atos legislativos do governo e da AR, todos eles são chamados de decretos,
até ao momento da promulgação. E é com a promulgação que os decretos
ganham o seu nome definitivo à leis orgânicas, leis, decretos-lei, etc
a. A falta de promulgação ou da referenda ministerial ou existindo veto
do PR à implica a inexistência jurídica
b. Veto político
1. Tem de ser fundamentado pelo Presidente da República
2. A Assembleia pode:
a. Aceitá-lo
b. Reformular o diploma, passando a existir um novo diploma e
o processo começa desde o início
c. Confirmar o diploma vetado que pressupõe uma maioria
superior daquela que foi necessária para aprovar o diploma
em primeira votação. Se a Assembleia da República
confirmar, o Presidente da República é obrigado a promulgar
– promulgação obrigatória (aqui está a diferença – quando se
trata de um Decreto-lei, o veto é definitivo, quando se trata
de uma lei, o veto é suspensivo
c. Quando há fiscalização preventiva da constitucionalidade:
a. O Tribunal Constitucional ou diz que é constitucional ou diz que é
inconstitucional
Todas as leis em sentido amplo têm a mesma força, exceto as de valor reforçado.
Esta particularidade legal vem esclarecida no artigo 112º/3 CRP, as 4 categorias:
1. Leis orgânicas
2. Leis com maioria de 2/3
3. Leis que, por força da CRP, são um pressuposto normativo necessário de outras
leis
4. Leis que, por força da CRP, devam ser por outras respeitadas
1. Leis orgânicas:
Do Caso 12 a) extraímos que os conceitos não valem por si só, valem por terem
um certo regime. Não é por se chamar a um alei de “lei orgânica” que assume esse
estatuto constitucional.
Crítica a estes dois primeiros tipos: Estes dois primeiros casos são de valor reforçado, pois
têm maiorias agravadas de aprovação. Não são reforçadas em relação a nada pois se não
se cumprisse a maioria pedida a suposta lei era inconstitucional. Logo este valor
reforçado já decorre das exigências de procedimento que exige.
Como tal, neste artigo 112º/3 CRP, a doutrina afirma duas coisas:
- Estão pretensas leis de valor reforçado pelo procedimento, as duas primeiras só podem
ser aprovadas ou alteradas pela maioria exigida. O artigo 112º/3 não acrescenta, pois se
não se respeitar a maioria a lei é inconstitucional pelos artigos 166º e 168º. Ainda, há leis
que têm este agravamento e não vêm aqui referidas, como os estatutos das regiões
autónomas.
3. Leis que, por força da CRP, são um pressuposto normativo necessário de outras leis,
sem a 1ªlei não há o segundo ato legislativo
a. Leis de autorização em matéria de reserva relativa da AR, estão acima dos
DL autorizados, 165º/2.
b. Leis de bases em matéria reservada, o DL de desenvolvimento está
subordinado às bases
4. Leis que, por força da CRP, devam ser por outras respeitadas, se houver a 1ª leio 2º
ato legislativo respeita-a, se não houver há liberdade
a. Para quem diga que a LB em matéria concorrencial prevalece sobre qualquer
DL de desenvolvimento, o GOV tem que a respeitar
Ao estudar a vertente do Estado de Direito, daqui em diante ED, não iremos tratar
dos direitos fundamentais, mas sim dos princípios estruturantes de um ED, que limitam
o poder do mesmo:
à Princípio da Igualdade
à Princípio da Proporcionalidade
à Princípio da proteção da confiança
à Princípio da Socialidade
Como tal, chega-se à conclusão de que a lei não basta ser geral e abstrata para
ser conforme a este princípio, uma vez que o seu conteúdo também tem que ser
conforme o princípio.
3. Como tal, é transversalmente aceite, nos dias de hoje, que tem que se ter em
conta a medida da diferença, ou seja, tem que haver uma justificação material
para o tratamento desigual.
Mas dito isto, importa perceber quando é que posso dizer que a lei não é
conforme ao princípio da igualdade:
1. Todos reconhecem que do princípio da igualdade decorre uma proibição do
arbítrio.
a. A decisão é arbitrária quando não tiver um mínimo de fundamento
razoável.
b. Não estão em causa juízos de valor à decisão, mas sim averiguar se o
critério utilizado tem um fundamento material razoável.
2. Mas por que razão se usa o arbítrio como critério da aferição da violação do
Princípio da Igualdade?
a. Quando o critério que o legislador adota tem um mínimo de
fundamento razoável eu, apesar de não concordar, conformo-me que
o GOV/AR têm legitimidade democrática para decidir nestes termos.
b. Não pode ser invocada legitimidade democrática para cometer
arbítrio, mas a legitimidade pode ser usada para, através de um
critério minimamente razoável, discriminar. Logo, este critério proíbe
o arbítrio do legislador.
c. Contudo, este critério parece abranger pouca coisa, pois cada pessoa
tem os seus valores e afere o arbítrio de uma forma diferente.
3. Exemplo: bolsas de mérito. Pode atribuir aquelas que tenham média maior e
com poucos rendimentos. Estes critérios têm o mínimo de razoabilidade. Mas
se disser que só atribui a bolsa aos rapazes com média superior a “X” já não
há o mínimo de fundamento razoável. O legislador democrático não pode
exercer a sua legitimidade arbitrária, mas sim a sua legitimidade
fundamentada.
Nos Estados Unidos da América, existem certas categorias sujeitas, cuja mínima
distinção é tomada, à partida, como inconstitucional. O Supremo Tribunal controla o
princípio da igualdade com uma ampla liberdade, mas pós segregação racial, a raça é uma
categoria muito mais suspeita.
As categorias suspeitas são aquelas que historicamente foram alvo de graves
discriminações e opressões como o sexo ou a raça, cuja sua violação, nos dias de hoje,
apenas acontece quando o grupo que foi historicamente discriminado continua a sê-lo.
Ou seja, se hoje uma lei impuser segregação racial nos estados unidos, rebaixando os de
raça branca, não viola uma categoria suspeita, logo estamos perante um tratamento
arbitrário.
Nos casos de tratamento arbitrário, uma lei só é contra este princípio, ou seja, só
é inconstitucional, se não existir um mínimo de fundamentação razoável.
Porém, no caso de tratamento discriminatório envolvendo uma categoria
suspeita, presume-se logo que há uma violação do PI, a menos que haja um fundamento
materialmente adequado. Como tal, estas leis são inconstitucionais a menos que se
justifique a sua constitucionalidade. Duas visões:
i. Há quem defenda que há sempre uma presunção de
inconstitucionalidade, ou seja, quase como uma inversão do ónus da
prova, partindo do pressuposto que a lei que trate discriminatoriamente
uma categoria suspeita é inconstitucional.
ii. Há quem diga que não há presunção de inconstitucionalidade pois, se
houvesse, o TC não teria que fundamentar a inconstitucionalidade de tal
lei.
Contudo, em qualquer das visões, essa presunção pode ser ilidida sempre que
haja um critério materialmente adequado para o tratamento discriminatório do presente
ato legislativo, ou regulamento.
uma vez que, tal como acontece com as categorias suspeitas, a sua violação dó pode ser
fundamentada com um critério materialmente razoável.
Há estados que admitem que o critério base é a proibição do arbítrio, e nos casos
em que não há uma categoria suspeita, importa aferir se a discriminação afeta a nossa
condição de seres humanos com dignidade plena que deve ser respeitada.
O presente caso versa sobre uma dimensão absolutamente central que é a relação
pai e filho, como tal este controlo tem que ser particularmente intenso. Por isso, mesmo
à margem das categorias suspeitas, quando estão em causa dimensões que firam a DPH
o critério também tem que ser materialmente adequado.
O artigo 13º CRP: reconduz-nos à ideia de que este PI tem dois sentidos:
1. Negativo: vedação de privilégios (situações de vantagem não fundada) e de
discriminações (situações de desvantagem não fundada).
2. Positivo:
a. Tratamento igual de situações iguais
b. Tratamento desigual de situações desiguais, mas substancialmente e
objetivamente desiguais
c. Tratamento em moldes de proporcionalidade, ou seja, sem arbítrio
d. Tratamento das situações não apenas como existem, mas como devem
existir, ou seja, passar de uma igualdade perante a lei para uma
verdadeira igualdade através da lei
As DISCRIMINAÇÕES POSITIVAS:
Apesar deste princípio vedar discriminações e privilégios que não tenham uma
qualquer razão materialmente atendível, e de até estabelecer categorias suspeitas que,
ao serem diferenciadas, geram logo uma maior desconfiança no sistema, tal princípio
pode impor diferença de tratamento. Ou seja, com o Estado Social, pode fazer sentido
que existam situações de vantagem fundadas, ou de discriminações positivas, uma vez
que prevalece uma ideia de igualdade material.
Dito isto, o PI pode impor um dever de tratar de forma diferente. Mesmo sem
norma constitucional, se o legislador acha que é importante defender os interesses de
dado particular pode fazer, existindo o dever de proteção
Exemplo: Caso 19
a) O caso em análise refere-se a acidentes de trabalho. Se o Homem morrer, a mulher
tem direito a uma pensão direta, por estar viúva. Se a Mulher morrer, o homem só
tem direito a uma pensão caso esteja em incapacidade permanente e total para
trabalhar ou tenha completado 65 anos à data do falecimento da mulher. Não é
uma categoria suspeita, pois historicamente o sexo é visto para não existir
diferenciação entre homens e mulheres quando estas eram inferiorizadas. Não se
pode usar este critério, logo vai-se pelo arbítrio. Importa ver se na sociedade esta
medida ainda faz sentido, ou se já é meramente arbitrária. Podemos considerar que
as mulheres, nos dias de hoje, já trabalham e são na sua maioria, independentes.
Logo não faz sentido tal distinção
Conclusão: Apenas são casos de violação de categorias suspeitas quando estes violem o
fundamento histórico para a sua existência, e não sempre que está em causa uma
diferenciação dentro delas.
No plano da bondade política cada um opina como entender, o que aqui está em
causa é saber se há ou não um fundamento material por esta discriminação. Então
temos que nos colocar no tempo histórico do caso, e saber se as pessoas que se iam
reformar na altura beneficiaram em vida desse percurso/igualdade que hoje existe.
Pode ou não haver um fundamento razoável? Muitas pessoas podem ter trabalhado
durante anos e anos (mais ou menos desde os inícios dos anos 50 até 90/95) em
condições de desigualdades no tratamento das lides domésticas que justifique que
as mulheres se reformem mais cedo. Não há violação do PI, há razão para o arbítrio.
Conclusão: não estando em causa uma categoria suspeita, por não ser sobre a razão
histórica da sua criação que este caso versa, avalia-se se há, ou não arbítrio. No entanto,
nesta análise, temos que atender ao tempo histórico cuja lei tencionava versar e saber
se esse tratamento é justificado pelo que se viveu na altura, e não pelo que se vive agora,
pois este tratamento não faria sentido e seria arbitrário nos dias de hoje, mas na altura
não o era.
c) O artigo 13º, nº2 surge para que a situação económica não seja usada contra os
mais pobres, não estamos neste âmbito, logo não é categoria suspeita, pois
favorece-se os mais pobres em detrimento dos mais ricos. Então, qual é o critério a
ser utilizado? À luz da proibição do arbítrio, há ou não uma justificação razoável?
Nada nos diz que por ter mais ações tenho uma melhor disponibilidade financeira,
logo o critério da quantidade de ações não é, por isso, razoável.
O critério que pode ser utilizado: disponibilidade do estado para pagar, mas mesmo
assim não há o mínimo de razoabilidade, uma vez que segundo a razão da
disponibilidade do estado, ainda que possa ser aceitável, só joga com uma das
dimensões da medida. Até se percebe que demore mais tempo. Mas a mesma
medida difere a taxa.
Qual é a justificação? O estado precisa de tempo para pagar, mas o estado tem de
pagar aquilo que deve. Uma coisa é precisar de mais tempo, outra coisa e pagar a
outra taxa à um entendimento ilegítimo. O estado não tendo dinheiro para pagar
a todos de uma vez só, não tem de pagar mais aos pobres. Não há critério
justificativo da arbitrariedade para pagar mais a uns que a outros. Grande parte da
doutrina, onde está inserido Rui Medeiros, dizem que não há justificação para esta
diferença tão grande, logo a lei é inconstitucional
Para melhor perceber este princípio, torna-se mais fácil analisar cada um dos seus
requisitos individualmente.
Pensemos no caso do atual estado de emergência, a propósito do coronavírus,
cujo fim é evitar a propagação e mortes pela covid-19.
1. Adequação: à partida é o critério menos relevante, pois sempre que uma
medida é tomada costuma ser adequada ao fim que se propõe a atingir. Logo
vamos avaliar se é, ou não, uma medida idónea a alcançar aquele fim. Como
tal, uma medida restritiva só não passa neste crivo se em si não permitir
alcançar o fim proposto.
a. Neste caso, a restrição de circulação, principalmente dos grupos de
risco, é idónea a evitar a propagação da doença e consequente
mortalidade associada.
b. Se avaliássemos só do prisma da propagação, não faria sentido uma
restrição para as pessoas de idade, mas quando percebemos que o
verdadeiro fim é, também, evitar a mortalidade, temos a noção de que
tal medida permite cumprir o fim a que se propõe.
Exemplo: Caso 20
b) PONTO DE PARTIDA - ver o fim desta norma: O interesse público em saber se a
farmácia é ou não bem gerida, e se quem é diretor da mesma não tem interesse
apenas no lucro. O farmacêutico, aconselha como as pessoas se devem
comportar, vende os produtos, etc. Tentar garantir que não existe uma forma
destorcida de utilização da farmácia, pois estas são serviços de grande utilidade
pública, de modo a que não haja uma distorção da função pública que
desempenha. Como tal, um farmacêutico à partida tem mais sensibilidade para a
utilidade pública. Mas será que é preciso que o dono tenha o curso de farmácia,
ou basta o gestor ou diretor, como é o caso atual. Então eu não posso herdar
apesar de ter lá um diretor com o curso de farmácia? Hoje em dia posso, antes
não podia. Esta medida é ou não conforme o PP?
Violação de direitos:
Transmissão da propriedade (Art. 62º CRP) e Liberdade da empresa (Art.
61º CRP)
Para saber se é proporcional temos de fazer os 3 testes:
1) TESTE DA ADEQUAÇÃO:
adequada, na medida em que visa o interesse público.
A questão está em saber, se esta lei reduz ou não o risco de a farmácia se desviar
das preocupações de interesse público.
O diretor Técnico de uma farmácia já é um farmacêutico, não acrescenta nada
que o proprietário seja farmacêutico à rebatido pela subordinação do diretor
técnico ao proprietário;
Ser farmacêutica não acrescenta nada pois podemos ter a pessoa mais altruísta
do mundo como aquela que só quer saber do lucro à rebatido por
tendencialmente um farmacêutico ser alguém que se preocupa com o público
2) TESTE DE NECESSIDADE:
É a menos lesiva de todas as opções possíveis com a mesma eficácia.
É difícil dizermos que existia uma medida menos lesiva com o mesmo grau de
eficácia: por exemplo, o caso de fazer exames deontológicos não tem a mesma
eficácia, logo não pode ser posto em causa.
Numa clínica médica o proprietário não tem necessariamente de ser um médico,
pode ser um gestor ou outra coisa e dentro dessa clínica existem farmácias
hospitalares e estas são geridas por alguém não farmacêutico -> pode ser
argumento para que não haja necessidade
Que risco para a saúde está em causa e o que está a ser afetado (liberdade de
empresa, violação de transmissão), ou seja, é afetado algo substancial inclusive a
parte de sucessão da empresa.
O diretor técnico ter de ser farmacêutico e ter regras deontológicas para tal.
Se esta vantagem de interesse público é superior aos direitos afetados.
Prof. RM diz que o centro está no diretor técnico, o proprietário ser farmacêutico
não acrescenta muito e neste caso há um sacrifício de liberdades e garantias e
pondo ambos na balança acredita-se que a medida é excessiva. (Tribunal não
concordou)
administração pública (artigo 266º/2), está sujeito, ao atuar, a deveres impostos pela
boa-fé.
A proteção da confiança surge quando se confia em alguma coisa e, entretanto,
essa situação em que confiamos muda, ou seja, há um antes no qual eu confiei e um
depois que atinge a confiança que eu tinha
A base do artigo da proteção da confiança está, implicitamente, no artigo 2º CRP,
uma vez que o princípio decorre, na plenitude, do princípio do estado de direito
O que acontece, muitas vezes, é uma tensão entre a confiança e a vontade
democrática atualizada para mudar as regras do jogo.
Houve uma crise orçamental grande, e como o Estado não tinha dinheiro,
teve que aumentar os impostos (imposto extraordinário do rendimento auferido
no ano anterior, de 2,8%). Estamos num caso de lei retroativa, de algo que está
estabelecido no passado (rendimento de 1982). Há uma violação do princípio da
proteção da confiança? Analisando:
Comportamento do estado gerador de expetativa de continuidade,
legítima: O comportamento do estado foi haver um quadro fiscal que pagava o
imposto “X” com percentagem “y”. O quadro fiscal de 1982 já tinha sido aplicado
e não é normal esse imposto alterar no ano seguinte
Houve investimento da confiança porque depois de saberem o que tem de
pagar de imposto, utilizam o rendimento que sobrou para diversas atividades
Apesar disso, há fatores que preponderam no caso concreto: o imposto
2,8% É BAIXO, é extraordinário, é retroativo apenas ao ano anterior, e não de há
10 anos por exemplo, o país não tem meios de pagamento para financiar bens
público essenciais e poderá vir a gerar a banca rota, logo a ponderação do superior
interesse público foi considerada superior à tutela da confiança (decisão do
tribunal constitucional)
Moral de história: Bom exemplo que é importante considerar as várias
medidas enão olhar só para a tutela da confiança numa forma singular
ii. Casos de retrospetividade: Quando o novo regime dispõe para o futuro, mas
abrange efeitos futuros de situações passadas – possibilidade menor de ferir o
princípio da proteção da confiança.
Exemplo, caso 20 b ii):
É aprovada uma alteração nas regras de cálculos nas pensões, que reduz
as pensões aos trabalhadores ativos. Crise de 2008: a segurança social não tinha
capacidade para pagar as pensões como estava prevista na lei, divido ao
crescimento significativo da dívida pública Existe violação do princípio da
confiança?
- É preciso que haja uma afetação das expectativas legitimas não
expectáveis. Para tal, tem de haver um comportamento do Estado que gera uma
situação de confiança, neste caso, seria o facto de existirem regras de cálculo das
pensões que atribuíam às pessoas determinados montantes.
- Essa situação de confiança é legitima, dado que desde sempre existira
este regime.
- E ainda houve um investimento da confiança, ou seja, os trabalhadores
ativos conduzem os seus comportamentos mediante a pensão atribuía. Isto afeta
principalmente os trabalhadores que se encontram no ativo há vários anos,
descontando para a segurança social. Um trabalhador próximo da reforma,
confia e investe numa determinada situação de confiança. É razoável supor que
estas pessoas façam uma ponderação e gastem mais ou menos ponderando o
resultado estimado da sua ponderação. Para estas pessoas há uma situação de
confiança tutelada. Verificados estes pressupostos, existe uma situação de
confiança tutelada. Esta afetação de expectativas legitimas não expectáveis viola
a lei?
Não viola lei, dado que a alteração deste quadro de pensões foi criada
numa altura de crise financeira do Estado português, tendo por este motivo sido
necessário existirem reduções nos salários, aumentos nos impostos, no sentido de
impedir a banca rota e para permitir ao Estado tutelar os interesse dos
desempregados ou em situações de carência financeira. Dai que decide reduzir às
pensões de quem está no ativo. Ou seja, há um interesse público ponderoso que
prevalece.
Para além disso, esta lei só vale para futuros pensionistas e não para os
que já eram pensionistas. Embora haja uma situação de confiança tutelável, há
razões ponderosas de interesse público, para garantir a sustentabilidade da
segurança social – crise 2008.
Por outro lado, Gomes Canotilho descreve o princípio geral da segurança jurídica
lato sensu (abrangendo proteção da confiança) como: “o indivíduo tem do direito poder
confiar em que aos seus atos ou às decisões públicas incidentes sobre os seus direitos,
posições ou relações jurídicas alicerçados em normas jurídicas vigentes e válidas, se ligam
os efeitos jurídicos previstos e prescritos no ordenamento jurídico”. Depois enuncia
algumas refrações da segurança jurídica:
a. Quanto a atos normativos: proibição de normas retroativas restritivas de
direitos juridicamente protegidos.
b. Quanto a atos jurisdicionais: inalterabilidade do caso transitado em julgado.
i. Estabilidade: dado que as decisões dos poderes públicos adotadas
na forma e procedimento legalmente exigido, não devem ser
modificadas, sem razões materialmente preponderantes.
ii. Previsibilidade: certeza e calculabilidade, por parte dos cidadãos,
em relação aos efeitos jurídicos dos atos normativos
c. Quanto a atos da administração: tendencial imutabilidades dos casos
decididos através de atos administrativos:
i. Auto vinculação da administração, na qualidade de autora do ato.
ii. Tendencial irrevogabilidade: para salvaguardar os interesse dos
particulares destinatários do ato.
Quando se diz a vida humana é inviolável, não se está apenas a dizer que o estado
não pode tirar a vida, mas está obrigado a adotar medidas necessárias para proteger a
vida e a integridade física. Não podemos ignorar a dimensão de um estado socialmente
comprometido.
Exemplo 2: Caso 24 a)
O estado pode estar passivo ou tem o dever de acudir aqueles que vivem numa
situação mais miserável, garantindo assim um rendimento social de inserção para aqueles
que vêm os seus rendimentos bastantes condicionados pela sua situação, muitas vezes
não lhes imputável?
Neste âmbito, aquilo que nos interessa estudar é a perspetiva do estado de direito de
querer limitar o poder, sendo que é disto mesmo que trata o artigo 16º DDHC de 1789:
“Qualquer sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos
direitos, nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.”
A função do Estado de direito é exatamente esta, de limitar os poderes.
Montesquieu: “Para que ninguém possa abusar do poder, é preciso que pela disposição
das coisas o poder limite o poder”
2ª Nota
O poder legislativo já não cabe só à AR, cabe também ao Governo.
3ª Nota
Hoje o poder executivo já não existe, pois derivou em duas coisas distintas:
Poder administrativo: poder de toda a administração pública (hospitais, polícia)
aquele poder que lidamos no dia-a-dia, de execução e aplicação das leis
Cabe ao Governo
Poder político: PR quando declara o EM. Tomada de opções políticas
fundamentais e livres de modo a prosseguir o interesse público.
Não cabe só ao PR, cabe também à AR e ao Governo, exemplo do 138ºCRP,
com 161º l).
4ª Nota
Os tribunais deixaram de ser um poder quase nulo, exemplo do tribunal constitucional
ou do tribunal de contas. Os tribunais são, cada vez mais, formas de limitar o poder. Pode
acontecer que o povo escolha uma maioria e até um PR com a mesma cor política, logo
só o TC pode impedir estas manifestações que podem ser inconstitucionais mais segundo
a vontade democrática.
5ª Nota
Lucas Pires: “milagre da multiplicação dos poderes”, além destes poderes que falamos,
hoje há muitos outros poderes que a CRP acolhe: regiões autónomas, câmaras
municipais, os média, os sindicatos...
Função Política
Como já foi dito anteriormente, este poder pertence tanto ao Presidente da
República, como ao Governo e à Assembleia
A decisão política apesar de ser livre, está sujeita à Constituição
o Governo: Artigo 197º CRP
o PR: por exemplo, artigo 133º CRP
Função Administrativa
Compete a:
1. Governo
2. Governo das regiões autónomas
3. Autarquias locais
Características:
i. O Governo é o “órgão superior de Administração Pública”, art.182º e 199º da
CRP
ii. 268º/4 e 5 CRPà atos administrativos estão sujeitos a controlo do tribunal.
Um particular na relação com a administração pode ir a tribunal questionar o
que a administração faz ou não faz e devia ter feito.
a. Artigo 4º/1 ETAF
iii. 266º-- administração atua com uma vinculação grande pois está subordinada
não apenas à CRP, mas também há lei: ATUA NA MEDIDA EM QUE A LEI
PERMITE
Função Legislativa
Compete a – 112º, 1 CRP:
1. Governo
2. AR
3. ALR
Será que se caracteriza pelo conteúdo (normas gerais e abstratas)? Quando uma
lei é individual e concreta, é função legislativa ou já pertence à função administrativa?
Caso 25:
DL serve para derrogar a lei orgânica das ordens honoríficas porque esta
condecoração servia só para chefes de estado. Igual nos casos de Saramago e de Kofi
Annan.
Temos uma lei individual e concreta, que são leis com um rosto (com um destino
determinado). ≠ lei medida, que são leis para acudir a uma situação atual que tem um
período de vigência específico.
Será que isto é verdadeiramente uma lei? E qual a relevância de saber se é uma lei
ou um ato administrativo?
a. A relevância passa pela impugnabilidade da decisão em tribunais, uma vez que
o TC só fiscaliza leis e normas, e não atos administrativos
b. O processo de feitura de uma lei também é mais denso que um ato
administrativo.
c. Se considerar um ato administrativo viola-se o princípio da legalidade, só não
o é se for uma lei.
Não temos grandes dúvidas que o DL saramago derroga a lei orgânica das ordens
honoríficas. O regime das lei em Portugal é formal, ou seja, as leis caracterizam-se pela
forma.
O artigo 112º/1 não exige a generalidade e a abstração, a generalidade da
doutrina menos JM concorda que um ato legislativo apenas o é se revestir uma forma
específica, e não releva o seu conteúdo. Significa que uma lei individual e concreta,
compatibilizada com o princípio da igualdade, pode derrogar o regime geral.
Assim, uma lei formal é sempre considerada um ato legislativo. Mas assim o chico
esperto português arranja uma forma de dar a volta e nunca ver as decisões
administrativas impugnadas em tribunal, revestindo-as como atos legislativos.
Mas há uma exceção no regime português, para evitar que o Governo ou a AR
manipulem a forma do ato, e pratiquem um ato administrativo sobre a forma de lei para
impedir os particulares que impugnem a lei, artigo 268º/4CRP.
Ou seja, independentemente da forma, o ato administrativo (que revista a forma
de lei) pode ser impugnado num tribunal administrativo.
Sendo assim, os atos administrativos (sendo leis formais) que são individuais e
concretos, podemos impugnar. O ato legislativo não deixa de ser lei formal, mas permite-
se que os particulares recorram para os Tribunais administrativos.
Ainda é função legislativa fazer uma lei individual e concreta. É importante porque
se for função legislativa, há um regime próprio que se aplica
i. Hierarquia de leis
ii. Atos que dispõe contra as leis
iii. As leis estão sujeitas a apreciação parlamentar, podem ser fiscalizadas,
tem que se promulgada pelo PR, por exemplo
Função Jurisdicional
Reservada aos Tribunais – artigo 202º CRP, sendo o juiz o intérprete da intenção
jurídico-social da comunidade.
Dimensão no exercício da função jurisdicional de reserva total: sancionar pessoas,
reservado absolutamente aos tribunais – casos de fronteira: os policias (administração)
podem passar coimas (sancionar).
i. Ainda assim, os Tribunais não podem ser completamente afastados das
decisões, a última palavra cabe aos Tribunais, pode haver recurso para estes
nestas matérias, pois não estão vinculados aos juízo feito nestas matérias.
Por que razão é que estudar hoje DC é diferente de estudar direito romano. Hoje
o direito constitucional nada tem que ver com o direito romano, pois efetivamente limita
o poder. Mas por que razão é que isto acontece hoje? Porque é que o DC está desenhado
para limitar o poder?
Hoje o DC serve mesmo para limitar o poder, efetivamente. Antes, a constituição
não era usada no dia-a-dia (século XVIII e XIX), não vinculava os tribunais, era uma mera
folha de papel. Mas por que razão é que isto terá sido assim no pós-revolução francesa?
Por que razão leis prevaleciam sobre a constituição? As leis eram detentoras de uma
maior legitimidade democrática. Quem fazia o juízo de constitucionalidade era o
parlamento, que expressava a vontade geral, até porque os juízes eram figuras que não
geravam grande confiança. Como tal, a lei aprovada pela vontade geral tinha-se como
constitucional, pois é o mesmo parlamento que aprova a constituição. Desconfiança do
juiz da aristocracia. Por isso é que o direito constitucional era como é hoje o direito
romano.
A experiência do totalitarismo, aparentemente instrumento da liberdade, pode
tornar-se muito opressora. Depois desta experiência todos nós sabemos que o
parlamento não pode ser alvo de uma confiança cega, até porque o legislador pode ser
muito arbitrário.
Ao contrário do que se sucede no USA, em Portugal os juízes são de carreira,
exceto os juízes do tribunal constitucional, que gozam de alguma legitimidade
democrática. Mas mesmo os juízes de carreira já não são aristocratas, pois o direito ao
ensino é universal, qualquer um de nós pode concorrer à magistratura, com base no seu
mérito.
Caso 27: Pano de fundo: CRP como força normativa imposta, já não é mera letra morta
Propõem-se uma ação do conservador em tribunal 268º/4CRP. O tribunal entende
que há uma incompletude insatisfatória do ordenamento jurídico. Mas o artigo 18º/1, diz
que como os DLG se aplicam diretamente, não há verdadeira lacuna, mas sim a
necessidade de uma interpretação sistemática. Não há lacuna pois a constituição tem
força normativa, e decorre de dois DLG conjugados, que os transsexuais tenham essa
liberdade de mudança de nome. A CRP tem um conteúdo normativo que pode e deve ser
aplicada pelos tribunais nos casos da vida, devia ter logo sido aplicada pela conservatória
do registo civil. Não está em causa uma lacuna, mas sim a necessidade de uma
interpretação conforme a CRP, pois esta tem força normativa.
Quer isto dizer que as outras normas da constituição não vinculam? O artigo 18º
não é para ser lido à contrário. O sentido do artigo 18º/1 foi dizer que mesmo os direitos
fundamentais vinculam, porque durante muito tempo assim não era. Ao contrário do
passado, os DLG vinculam mesmo sem qualquer lei.
Em suma, posso resolver um caso com aplicação direta da CRP, sendo que a
novidade é que até os DLG vinculam diretamente os particulares.
Professor JM:
A Constituição material deve ser vista como um núcleo de princípios e não de
regras, preceitos ou disposições. Características dos princípios:
a) A maior aproximação da ideia de direito ou dos valores do ordenamento
b) A amplitude ou a maior generalidade frente às normas-regras
c) A irradiação ou projeção para um número vasto de regras em sensível
heterogeneidade
d) A adstrição a fins, e não a meios ou à regulação de comportamentos
e) A versatilidade, a suscetibilidade de conteúdos com densificações variáveis
ao longo dos tempos
f) A abertura, sem pretensão de regulamentação exaustiva, de todos os casos
g) A expansibilidade perante situações ou factos novos
h) A relatividade ou a virtualidade de harmonização, sem revogação ou
invalidação recíproca
i) A virtualidade de oferecer critérios de solução a uma pluralidade de
problemas
As regras são aplicáveis no estilo de tudo ou nada dos factos que preveem. Os
princípios, ao invés, não comportam consequências jurídicas que decorram
automaticamente, sendo mandatos de otimização à normas que ordenam que algo seja
realizado na maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes.
a. Exercem uma ação imediata: enquanto diretamente aplicáveis Art 20ºo, 204º
e 277º --inconstitucionais as normas que infrinjam a Constituição ou os
princípios nela consignados
b. Exercem ação mediata: consiste em funcionarem como critérios de
interpretação e de integração, pois são eles que dão a coerência geral do
sistema. O sentido exato dos preceitos constitucionais tem de ser encontrado
na conjugação com os princípios
Tipos de princípios:
1. Princípios constitucionais substantivos
1. Princípios válidos em si mesmos
2. Princípios que espelham os valores básicos a que adere a Constituição
material
3. Podem ser:
1. Princípios axiológicos fundamentais: correspondem ao limites
transcendentes do poder constituinte. São todos reconduzíveis à
dignidade da pessoa humana: exemplo proibição de
discriminações; inviolabilidade da vida humana; não
retroatividade da lei penal incriminatória; integridade moral e
física das pessoas.
2. Princípios político-constitucionais: correspondem aos limites
imanentes do poder constituinte, aos limites específicos da revisão
constitucional, próprios e impróprios, e aos princípios conexos ou
derivados de uns e de outros. São os princípios do Estado de
Direito e os seus subprincípios: princípio democrático,
representativo, republicano, separação de poderes, maioria,
subordinação do poder económico ao poder político.
Professor GC:
Formas de distinguir normas de princípios:
a. Grau de abstração:
a. Princípios: grau de abstração elevado
b. Regras: grau de abstração reduzido
b. Grau de determinabilidade:
a. Princípios: carecem de mediações concretizadoras, por serem vagos
b. Regras: suscetíveis de aplicação direta
c. Carácter de fundamentalidade:
a. Princípios: papel fundamental no OJ, como o princípio da igualdade,
proporcionalidade...
d. Proximidade da ideia de direito:
a. Princípios: bases radicadas nas exigências de justiça
b. Regras: normas vinculativas que podem ter um conteúdo funcional
e. Natureza normogenética: princípios são fundamentos de regras.
Tipos de princípios:
1. Princípios jurídicos fundamentais: historicamente objetivados e progressivamente
introduzidos na consciência jurídica geral e encontram uma receção expressa ou
implícita no texto constitucional
2. Princípios políticos constitucionalmente conformadores: explicitam as valorações
políticas fundamentais do legislador constituinte. Condensam as opções políticas
fundamentais e refletem a ideologia inspiradora da constituição. São o cerne
político da constituição
Destas últimas duas categorias passo a tratar com especial cuidado. Sendo que
analisarei, primeiro, a matéria das aulas, passando, no fim, a um apanhado teórico.
Caso 28: artigo 58º/1, nos direitos e deveres económicos, sociais e culturais (segundo tipo
de direitos fundamentais). Será que estes são, também, diretamente aplicáveis?
A força normativa da CRP significa que esta é norma aplicada pelos tribunais,
mesmo no campo dos DLG. Mas os direitos sociais geram um problema, pois acabar com
o desemprego é algo difícil de garantir, pois tem que haver iniciativa económica. De que
serve o direito à habitação se não há sítio para colocar as pessoas que vivem em bairros
de lata. Todos temos direito à saúde, mas e se não houver médicos ou hospitais?
Isto é tudo fantástico, mas depende de uma transformação que não se faz por lei,
se não todos os políticos eram um sucesso. Tudo isto tem programas sociais por de trás.
Mas tudo isto são normas programáticas, ou seja, um programa político de ação a ser
aplicado não só no campo legal.
As normas dos direitos sociais eram vistas como normas programáticas, que não
se esgotam no campo legislativo, pois não basta uma lei a dizer que todos têm trabalho,
pois se não houver mais dinâmica o emprego não surge. As outras são normas percetivas,
como o direito à vida, que não depende de programas de ação políticos. A generalidade
das normas da CRP são percetivas.
Visto isto, as normas programáticas vão ganhando força pois muitas deles têm um
conteúdo denso e apontam numa direção, artigo 74º 2e), que tem uma norma
programática (ser tendencialmente gratuito) e outra precetiva (não poder subir).
A lei ordinária que estabelece que as pessoas com mais de 65 anos não podem
ser despejadas. Isto vem a propósito do direito à habitação. Se esta limitação
desaparecer, há um retrocesso social, reduz-se garantias que já tinham sido conferidos.
Há quem diga que, com limites, pode haver travões à possibilidade de retrocesso. Se já o
concretizou, não pode apagar simplesmente o que fez, a menos que haja razões
ponderosas para tais novas posições.
Os direitos sociais são normas programáticas exigem programas de ação, foram
vistas como o patinho feio do constitucionalismo, pois não serviam para nada. Porém, há
argumentos para a sua tendencial aplicação:
1. Inconstitucionalidade por omissão: argumento fraquíssimo
2. Mas estas normas são muitas vezes já densificadas, logo já pode haver alguma
inconstitucionalidade numa lei que vá ao arrepio destas normas. Exemplo de
aumentar o custo do ensino superior.
3. Pode também ser inconstitucional se já houver concretização por lei, e sem
razão nenhuma haja um retrocesso legislativo no âmbito desse direito social
a. Entendimento muito discutível, pois muitas vezes as leis são resultado
de opiniões políticas, que variam consoante a maioria. Matéria de DF,
esta teoria do não retrocesso social é muito questionada.
4. Os direitos sociais são para levar a sério, pois podem ter um conteúdo mínimo
diretamente aplicável.
a. Exemplo: havia muitos bairros de lata, as autoridades tentaram acabar
com eles. Podiam acabar com estes bairros clandestinos ainda que não
fizessem mais nada para garantir a habitação? Se eu contruir uma
moradia ilegal ela pode ser destruída, mas se demolirmos um bairro
social sem que haja segunda habitação, não se pode destruir sem mais.
Logo o direito à habitação tem um conteúdo mínimo aplicável.
Tudo isto para dizer que no campo dos DS, onde abundam normas programáticas,
a ideia de que a CRP não é para ser levada a sério é um entendimento que pertence à
Mais ainda, quanto às normas não exequíveis, também podem ter aplicação
direta quando:
1. São emitidas normas legais contrárias, ou que visem comportamentos que
tendam a impedir a produção dos efeitos por elas impostos.
2. Concretizadas por normas legais, estas não podem ser simplesmente revogadas,
havendo um retrocesso social. Este princípio não é, nem pode ser, de
acolhimento absoluto, pois muita concretização é desfeita mediante a cor
partidária e/ou interesses legítimos de ordem pública.
3. Mas mesmo assim, com aplicabilidade direta, mediata, só por constarem na CRP
devem ser tidas em conta no processo interpretativo (sistematicamente); bem
como podem ser alvo de analogia; e fixam critérios para o legislador.
2. Identidade
A unidade da constituição é a chave da sua identidade
A partir da unidade da constituição chega-se à constituição material de cada
Estado em cada momento, permitindo assim saber o sentido de disposições
particulares
3. Adequação
Inseridas num sistema com princípios que identificam, as normas constitucionais
prosseguem os correspondentes fins
Assim, as formulações linguísticas donde constam devem ser interpretadas à luz
desses fins, procurando-se resultados que sejam com eles os mais consentâneos
Este postulado tem particular importância na área dos direitos fundamentais, em
que cabe definir com rigor os bens jurídicos procurando entender
adequadamente as restrições a que estejam, porventura, sujeitos, traçar
fronteiras e, com ponderação entre esses bens jurídicos, conseguir ultrapassar
conflitos;
4. Efetividade
Decorre da incindibilidade da interpretação e da aplicação
5. Supremacia
Não é a constituição que deve ser interpretada de acordo com a lei; é a lei e todo
o direito infraconstitucional que devem ser interpretados em conformidade com
a Constituição
Artigo 9º CC
As regras podem ser aplicadas à constituição uma vez que traduzem uma vontade
legislativa, não havendo nenhuma lei constitucional que não a contrarie “não há
problema”
Regras sobre estas matérias podem considera-se substancialmente
constitucionais, não repugnando, mesmo vê-las dotadas do valor de costume
constitucional.
Interpretação integrativa:
Da interpretação conforme com a constituição em sentido estrito distingue-se
aquilo a que pode chamar-se interpretação integrativa da lei com a constituição
Traduz-se em interpretar certa lei (que tenha preceitos insuficientes e, nessa
medida, inconstitucionais) completando-a com preceitos da constituição sobre esse
objeto que lhe são aplicáveis e porque diretamente aplicáveis
Diferentes impactos:
Fiscalização concreta à Cabe ao TC fazer a interpretação conforme a constituição
e ela impor-se-á ao tribunal, devendo a mesma ser aplicada
Fiscalização abstrata:
a. Uma decisão do TC no sentido da não inconstitucionalidade não tem, nem
pode ter eficácia jurídica vinculativa;
b. Apenas a pronúncia ou declaração pela inconstitucionalidade tem força
obrigatória geral
c. Se o TC não concluir pela existência de inconstitucionalidade com base em
certa interpretação conforme com a constituição, esta não obrigará
nenhum tribunal ou nenhuma autoridade e, assim, poderá uma
interpretação não querida pelo TC vir a ser adotada na prática
2. Elementos
Partes integrantes do ato, definidoras do seu modo de ser ou da sua estrutura.
Qualquer ato jurídico é uma manifestação de vontade juridicamente
relevante, e não há vontade sem objeto e sem forma, podem assim ser
apontados 4 elementos:
a) Vontade
a. Forçosamente funcional
b. O que tem como consequência a necessidade de, pelo menos,
eventuais vícios na sua formação não poderem desenhar-se em
moldes idênticos aos dos vícios do negócio jurídico
b) Objeto
a. Objeto imediato ou conteúdo
i. Efeito ou conjunto de efeitos a que o ato se dirige
ii. A realidade jurídica sobre a qual o ato incide
iii. A transformação da ordem jurídica objetiva ou a
constituição, modificação ou extinção de relações ou
situações jurídicas que determina
b. Objeto mediato
i. A realidade do facto que lhe subjaz
c) Fim
d) Que o órgão prossegue através do ato
e) Distinga-se a causa ou função típica objetiva e o fim assumido
especificamente em relação a cada ato em concreto
f) Forma
a. Declaração ou exteriorização da vontade, de ordinário traduzido
numa forma típica consoante o tipo de ato de que se trate e que
comporta as formalidades necessárias a prepará-lo ou a
completá-lo;
3. Requisitos
a) São os pressupostos e os elementos tomados não tanto da perspetiva da
estrutura quanto dada sua conformidade com a norma jurídica e da
apreciação que esta faz sobre eles
b) Aparecem no plano dos valores, interesses e finalidades que a ordem
constitucional liga aos pressupostos e aos elementos do ato
c) Reportam-se à garantia do interesse público como à proteção dos direitos e
interesses dos cidadãos que por ele possam vir a ser atingidos
d) Correspondem à apreciação variável de ato para ato, que a ordem
constitucional faz da presença ou ausência desses pressupostos e
elementos, às vezes também em graus variáveis. Deste prisma:
I. Requisitos orgânicos à prendem-se com a competência
II. Requisitos materiais à prendem-se com a vontade e o objeto
III. . Requisitos formais à prendem-se com a forma
Nota:
Orgânicos + formais à têm que ver com a sua formação e a sua
manifestação
Materiais à opõem-se aos de cima e têm que ver com o sentido e o
conteúdo do ato
2) Requisitos de validade
o perfeição do ato ou de plena virtualidade de produção dos
seus efeitos jurídicos típicos
o a sua preterição acarreta invalidade que se desdobra em
nulidade e anulabilidade
3) Requisitos de regularidade
o de adequação do ato às regras constitucionais (formais),
independentemente da produção dos seus efeitos
o A sua preterição conduz a irregularidade do ato
e) Atos tácitos
a. a norma presume uma vontade ou, doutra perspetiva, liga à não
manifestação de vontade certa consequência.
b. a vontade ainda é relevante no ato tácito, mas não o é na preclusão.
c. preclusão à pelo decurso do tempo, se esgota ou deixa de poder ser
exercido
d. certo poder
è Exemplo: veto político ao fim de x dias
O que pode explicar o que se passa na suíça em relação a não haver controlo da
fiscalização da constitucionalidade: nenhuma lei nasce inconstitucional, pois a
inconstitucionalidade deriva das opiniões e interpretações feitas. Logo, saber se a lei viola
a constituição carece de um juízo, que não é evidente.
Uma vez que o legislador faz logo o juízo de que a lei não é inconstitucional. Então
quem é que faz ou deve fazer o juízo que a lei viola a constituição? Temos duas hipóteses:
tribunal (substitui o juízo democrático pelo próprio juízo) ou legislador. Na suíça há um
constante recurso a referendo, que tem modelos de representação direita, logo o povo
é que deve ser o primeiro juiz no que toca aos seus direitos. O juiz não tem nenhuma
autoridade reforçada. Temos um conflito de juízos, sabendo que o primeiro passa o crivo
da opinião pública, logo até pode ser alegado que a lei não é inconstitucional, mas isto
baseia-se numa crença de bondade do legislador democrático, que nem sempre
acontece pois muitas vezes sabe que passa os limites mas legisla à mesma.
no artigo 63º. Foi a primeira constituição na europa a dotar outro sistema para além do
autocontrolo político, mas este modelo não vingou.
Hoje o modelo de fiscalização concentrada num TC já não tem nada que ver com
o modelo original de Kelsen em que a solução ainda protegia o legislador. Pretende-se
que se facilite o acesso a este TC para garantir um sistema eficaz que impeça leis
inconstitucionais. Em Portugal temos duas vias: concreta e abstrata. O TC pode fiscalizar
abstratamente uma lei, ou concretamente uma lei:
a. Abstrata: quando a questão lhe é colocada por um dos órgãos com
competência política, independente de qualquer caso concreto, não quer dizer
que não possa haver um caso concreto que influencie o recurso, contudo o
processo não depende do caso concreto. Esta fiscalização abstrata pode ser de
dois tipos: póstuma à publicação da lei (282º- fiscalização abstrata sucessiva)
ou pode excecionalmente ser preventiva (278º - fiscalização abstrata
preventiva).
b. Concreta: umbilicalmente ligada ao caso concreto, a um feito submetido a
julgamento. Artigos 204º e 280ºCRP. Se se discute uma interpretação de uma
lei, um tribunal pode ter uma interpretação diferente do que outro, por isso é
que à primeira decisão concreta não se declara logo a lei inconstitucional com
força obrigatória geral. Como há formas de os tribunais superiores garantirem
que as interpretações são coerentes, não se pode logo declarar a lei
inconstitucional. Por isso o artigo 280º permite recurso para o TC quer em casos
de não aplicação por ser constitucional, quer por o tribunal ter entendido não
ser inconstitucional, mas a parte ter alegado que era. Esta fiscalização é
concentrada no TC, mas por ser o modelo mais eficaz de controlar as
barbaridades da história e não por ser um amigo do legislador. Há possibilidade
de todo e qualquer tribunal não se sentir vinculado à lei inconstitucional,
colocando a questão ao TC. Isto garante uma tutela muito eficaz da CRP.
Total VS parcial
Total àquando a inconstitucionalidade inquina todo o diploma ou ato jurídico
Parcial àatinge apenas uma as partes ou normas do diploma ou ato
Fiscalização:
Quanto aos órgãos de fiscalização:
Difusa VS Concentrada
Difusa à pluralidade de órgãos dispersos têm competência para
fiscalizar
Todos os tribunais rebem o poder de conhecimento da
inconstitucionalidade
Problema se se aceita ou não que os órgãos não jurisdicionais
poderão ser chamados a fiscalizar
Concentrada à só um órgão tem essa competência
Pode ser um órgão jurisdicional ou político
Críticas:
Não se pode recorrer ao veto por inconstitucionalidade depois de já ter havido um veto
político e superado (artigo 278º/3), porquê?
1. Estávamos a colocar o TC numa posição extremamente sensível e no centro do
drama político
jurídicos, não se apaga a história, e o máximo que se poderia fazer é requerer uma
indemnização.
2ª via: será que se pode recorrer diretamente para o tribunal constitucional? Há
países que admitem recursos de amparo/queixas constitucionais para defesa de DF
diretamente para o tribunal constitucional, como Espanha e Alemanha. Em Portugal isto
não está previsto nos artigos 277º e seguintes, mas o sistema prevê uma resolução a esse
problema, a fiscalização concreta.
A fiscalização concreta começa sempre por ser difusa, só se chega ao TC depois de
se ter passado por outro qualquer tribunal. Temos duas fases: difusa (qualquer tribunal)
e concentrada (TC), artigo 204º e 280º CRP.
Artigo 204º: podem todos os tribunais não aplicar? Ver artigo 209º que especifica
a categoria das leis. Tribunal de contas também pode recusar? Pela letra sim, e pelo
espírito atendendo ao elemento sistemático, ao capítulo e ao artigo 3º como elemento
teleológico também. Corolário: nenhum tribunal deve aplicar uma norma
inconstitucional.
Mas e se o senhor padre celebrar a missa, a polícia entra lá dentro e aplica o artigo
18º do regulamento em causa proibindo a missa, uma vez que a inconstitucionalidade só
pode ser arguida em tribunal.
Será que a administração pública pode fiscalizar a constitucionalidade de uma lei,
sendo que esta inconstitucionalidade podia ser arguida perante as forças de segurança?
Argumentos para só os tribunais poderem recusar e a administração não:
a. 280º e 204º (à contrário), segurança jurídica para não entrarmos numa anarquia,
o juiz tem uma formação académica em direito.
b. Grande parte da doutrina portuguesa defende que o 204º só vale para os
tribunais. Mesmo a doutrina dominante, neste caso podia-se recusar pelo
18º/1CRP por se tratar de um DF, liberdade de culto religioso, em conformidade
com o 21ºCRP. Como há direito de resistência, a administração pública não está
obrigada a atuar em matérias como estas, evitando o exercício do direito de
resistência.
Argumentos para ambos poderem recusar:
a. RM acha que a administração pode recusar a aplicação de normas
inconstitucionais: artigo 266º/2.
Mas o padre não quer resistir ao polícia, então como é que eu defendo a não
aplicação dessa norma num tribunal. Como é que em tribunal coloco a questão de
inconstitucionalidade? Pode submeter a tribunal administrativo uma ação para declarar
a inconstitucionalidade?
NÃO, assemelhar-se-ia a uma fiscalização abstrata sucessiva que é função do
tribunal constitucional. O que se pretende no 204º não é que o particular peça a
inconstitucionalidade como objetivo fundamental, até porque não é a pretensão do
padre, este apenas quer celebrar uma missa.
Um padre corajoso celebra a missa, e provavelmente e a polícia tenta
desmobilizar. O padre resiste, logo desobedece a uma norma da autoridade. No limite, a
polícia vai detém o padre e é submetido a julgamento pelo crime de desobediência em
flagrante delito. O feito submetido a julgamento é apurar se houve um crime de
desobediência, ou seja, a questão principal. O padre coloca, não sendo o objetivo principal
do feito submetido a julgamento, a questão da inconstitucionalidade. O Código Penal diz
que se há crime de desobediência se desobedecer a uma ordem legítima, mas esta norma
era ilegítima por ser inconstitucional. Moral: a constituição concreta começa sempre num
feito submetido a julgamento não sendo, nunca, a questão primária. Contudo, é a questão
prévia que o tribunal se coloca para decidir o feito principal do julgamento. Não havendo
recurso de amparo, existe esta possibilidade.
Então e se o padre for velhote e não puder resistir, o padre pode lançar mão de
uma ação urgente para defesa de DLG num tribunal administrativo que permita a
autorização da celebração da missa. O que dirá Eduardo Cabrita? Ele diz que o artigo 18º
do regulamento não permite, então o padre requere uma suspensão de eficácia ou uma
impugnação da decisão do ministro. Então o tribunal vai se debater sobre se suspende,
ou não, a eficácia da decisão do ministro. Surge, então, à baila, a decisão sobre a
constitucionalidade da resolução de ministros. A questão prejudicial imprópria
(≠principal, logo é um ponto prévio necessário à decisão; imprópria poque a própria cabe
ao TC) é a decisão sobre a constitucionalidade da norma.
Por isso restringe-se o recurso como manobra dilatória, segundo caso, sendo que
a inconstitucionalidade tem que ser suscitada durante o processo, e não posteriormente.
Por outro lado, se um tribunal recusa a aplicação de uma norma emanada dos
órgãos competentes, é importante que o TC aja mais rapidamente, para analisar a
decisão do juiz.
DIFUSA CONCENTRADA
• Este tipo de fiscalização começa sempre num • Só há recurso para o Tribunal Cosntitucional de decisões
momento difuso, quando todo e qualquer tribunal, dos tribunais:
nos feitos submetidos a julgamento, é confrontado • Não apenas de decisões não jurisdicionais, mas também
com uma norma que pode ser inconstitucional as não previstas no 280º, bem como decisões incidentes
• O próprio tribunal faz um juízo do próprio Tribunal Constitucional;
• É admissível que alguém lhe dirija propondo uma • Recurso para o tribunal constitucional quando a decisão
ação tendente à declaração, à realização ou à já está tomada.
reparação de um seu direito ou interesse, cuja • Não pode ser uma questão suspendida e enviada para o
procedência depende de uma decisão positiva de Tribunal Constitucional, tem competência para decidir e
inconstitucionalidade; não para suspender, mesmo com dúvidas tem que
• Só pode e só deve ser conhecida e decidida na decidir nos termos do artigo 8º do Código Civil.
medida em que haja um nexo incidível entre ela e a • É sempre interposto pelas partes, para o fazerem têm
questão principal, objeto do processo, entre ela e o que intentar uma ação que invoque a
feito submetido a julgamento; inconstitucionalidade.
• Questão prejudicial imprópria, sendo própria quando • Quando o tribunal é confrontado com uma questão de
haja recurso para o Tribunal Constitucional; inconstitucionalidade tem duas hipóteses (o artigo
• O juiz conhece da questão em qualquer fase do 280º/1 concede recursão para o TC nos dois casos)
processo, pode não ser uma decisão final, suscitada o Inconstitucional à nº2 a) b) c) ou Ilegal à nº3
na primeira instância ou em recurso; (pode ser direto, pela parte que perdeu ou em
• Os tribunais não podem aplicar leis inconstitucionais. alguns casos pelo Ministério Público, há ainda
• A competência de ofício não implica um pedido, está casos em que é obrigatório para o Ministério
em causa preservar a Constituição (artigo 3º da Público se houver partes normativas importantes).
Constituição), é de interesse público, por isso, não se § Regime mais aberto
deve estar dependente de pedidos. § Deve haver sempre presunção da
• Se for um órgão da administração pública não há constitucionalidade da lei, sendo que se um
dever de ofício – argumento do caos, posição tribunal contrariar esta presunção, o recurso
tradicional; tem primazia
• Surge não como uma questão principal, mas como § Tanto a parte vencida como o Ministério
uma questão prejudicial (que prejudica) num feito Público podem recorrer, sendo que as vezes
submetido a julgamento; é obrigatório ser o MP (artigo 280º/3)
• Função instrumental, logo há interesse no seu § Recurso interposto diretamente ( pode
conhecimento, pois há de influenciar a respetiva passar logo do tribunal para TC
decisão final a proferir. o Aplica a norma por ser legal ou constitucional:
artigo 280º/1 b) e 2
§ Deve haver presunção da
constitucionalidade da lei, sendo que se um
tribunal contraria esta presunção, o recurso
tem primazia
§ Só a parte vencida tem legitimidade para
recorrer
§ Tem de ser suscitada a questão de
inconstitucionalidade
§ Recurso interposto indiretamente, tendo
que haver um esgotamento dos recursos
ordinária (artigo 72º Lei TC)
II. Decisão 2: que apliquem norma cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade haja sido
suscitada durante o processo e em que a norma aplicada seja um dos fundamentos
normativos da decisão;
a. Art280º nº1b) e nº2d) CRP e 70º/1 Lei do TC
b. O direito de os interpor pode ser considerado um direito de natureza
análoga à dos direitos, liberdades e garantias
i. Mas os recursos não se configuram em si mesmos como meios
específicos de defesa de direitos, liberdades e garantias
Regime de recursos:
• Artigo 280º b)
Algumas notas:
a. O recurso para o TC tem uma função meramente instrumental, aferindo-se a sua
utilidade no concreto processo de que emerge
b. O TC apenas pode considerar a norma ou interpretação normativa que tenha sido
utilizada pelo tribunal recorrido como ratio decidendi, sendo inteiramente inútil a
pronúncia que recaia sobre norma ou dimensão normativa que não tenha sido
efetivamente aplicada u sobre questões que não tenham sido decididas na decisão
recorrida
c. Postulado da Supremacia do Tribunal Constitucional à a primeira palavra cabe ao
tribunal e a última ao Tribunal Constitucional (garantia da Constituição);
d. A decisão do Tribunal Constitucional não substitui a decisão recorrida por aquela
que devia ser emitida.
e. O Tribunal Constitucional ordena ao tribunal respeitar: violação de caso julgado,
admite-se a possibilidade de uma reação da parte afetada por este incumprimento.
O desrespeito é de conhecimento oficioso à princípio da prevalência das decisões
do Tribunal Constitucional sobre os demais tribunais.
Exemplo desta última parte, caso 36: Houve uma recolha de sangue contra a vontade do
próprio, A. vem alegar que a prova é inadmissível pelo artigo 32º/8CRP. Estava
inconsciente e retiraram-lhe sangue e concluíram que estava completamente
embriagado. Ele recorre para o TC nos termos da alínea b), 280/1CRP. O que nós sabemos
é que a inconstitucionalidade só foi suscitada por A. depois do recurso, então parece que
é uma mera manobra dilatória. Não pode recorrer, pois não suscitou a questão da
inconstitucionalidade durante o processo, cumprindo os outros dois requisitos.
Sendo assim, o 280/4 surge para dificultar estes processos, em casos que se aplica norma
que a norma contestada é aplicada. Requisitos:
ð Recurso só pode ser interposto pela parte vencida, e não pelo MP.
ð É preciso que a parte tenha suscitado a questão durante o processo.
ð Há regime legal especial que regula este regime, Lei do TC, 70º/2 (só
depois de esgotados os recursos ordinários)
Se, por exemplo, admitirmos que o artigo 27º/3CRP não admite confinamento
obrigatório aos infetados com Covid-19, as medidas do governo são inconstitucionais. Se
o TC só declarar isto para o futuro, na passado prevaleceu a declaração do governo.
Alguns traços notórios deste tipo de fiscalização:
a. Elemento característico do sistema austríaco, que vai variando quanto aos
sujeitos ou entidades titulares do poder de iniciativa.
b. O artigo 281º/1 CRP contempla a apreciação:
i. Inconstitucionalidade de quaisquer normas
ii. Ilegalidade de normas constantes de ato legislativo com fundamento em
violação de lei de valor reforçado
iii. Ilegalidade de quaisquer normas constantes de diploma regional com
fundamento em violação do respetivo estatuto da região
iv. Ilegalidade de normas constantes de diploma emanado de órgãos de
soberania com fundamento em violação dos direitos de uma região,
consagrados no seu estatuto
c. Poder de iniciativa:
i. Entidades que podem requerer a apreciação e declaração da
inconstitucionalidade ou ilegalidade de quaisquer normas, com qualquer
fundamento, artigo 281º/2 a) até f):
a. Presidente da República
b. Primeiro-Ministro
c. Provedor de Justiça
d. Procurador-Geral da República
e. 1/10 dos Deputados à Assembleia da República
ii. Entidades que podem requerer a apreciação e declaração da
inconstitucionalidade ou ilegalidade de certas normas, com certo
fundamento, artigo 281º/2 g):
a. Representantes da República
b. Assembleias Legislativas Regionais
c. Presidentes das Assembleias Legislativas Regionais
d. Presidentes dos Governos Regionais
O ponto 5. era tomado como garantido até ter surgido a decisão do TC no verão
de 2012, durante o período de forte austeridade em Portugal, imposta pelo plano da
troika, que é explicada no caso 39 b): caso do orçamento de 2012 que suspende o
pagamento do 13 e 14 mês da função pública, o TC diz que é inconstitucional, mas
restringe os efeitos da declaração pelo artigo 282º/4. Na prática, seria necessário um
orçamento retificativo em que o Estado pagasse o 13 e 14 mês. Teria que pagar o subsídio
de férias que já tinha passado, fim de junho, e ainda, em dezembro, pagar o subsídio de
natal. A única forma de cumprir a meta do défice da troika era pela via da lei declarada
inconstitucional, sob pena de acabar o programa de ajuda externa e entrarmos em
bancarrota.
Esta situação faz com que se pergunte se a declaração com eficácia apenas a
partir de certo momento no futuro pode ser admitida, pois nestes casos seria pior a
emenda que o soneto. De nada adiantava a eficácia retroativa, se o efeito for a banca
rota ou o incumprimento dos programas de ajuda externa. Se as consequências forem
mais gravosas, é preferível limitar os efeitos. Normalmente a doutrina não aceitava isto,
pois apenas permitia a destruição da eficácia retroativa.
Neste caso o TC destrói a eficácia retroativa, e ainda admite um período futuro em
que a lei vigore até ao final do ano. Mas que razão metodológica levou o tribunal a tomar
esta decisão? O princípio da proporcionalidade, na parte da proporcionalidade em sentido
estrito, pois ponderou o custo da declaração de inconstitucionalidade a partir de 5 de
julho seria pagar o 14º mês em dezembro. Como a meio do ano já não há formas de fazer
novos cortes, e a troika pode ir embora e entramos em banca rota, sendo que isso pode
ser excessivo, logo o equilíbrio está em permitir que vigore até ao fim do ano. (exemplo
do médico que não pode escolher um medicamento eficaz se o paciente for alérgico). É
isto que o artigo 282º/4CRP prevê.
No âmbito desta cadeira iremos estudar a autonomia das regiões autónomas, sendo que
a autonomia das autarquias locais se enquadra na cadeira de organização e
procedimento administrativo
o Autonomia administrativa e autonomia político-administrativa
• Mais que as autarquias locais pois só partilham da função administrativa.
Portugal, sendo um Estado Autonómico, reconhece autonomia das
regiões autónomas
o Não são estados federados
• Não têm constituição própria
• Não há poder constituinte, um poder soberano e originário que pode
escolher o caminho que cada comunidade quer trilhar, que se traduz na
feitura da constituição. à Portugal é um Estado Unitário, as regiões não
são Estados, não têm soberania
Os Estatutos das regiões autónomas são uma lei do Estado (artigo 161º/b) à Lei
fundamental de cada região, mas um poder limitado e com respeito pela CRP.
Nota: O tribunal, apesar de tudo, considera que as matérias reservadas aos órgãos de
soberania compreendem todas as matérias que não sendo reservadas à AR ou ao Gov,
apesar de tudo, pela sua relevância nacional, devem ser reservadas aos órgãos de
soberania no seu conjunto. O tribunal constitucional admite que em matérias
concorrenciais a relevância nacional da questão possa significar que elas estão reservadas
aos órgãos de soberania e não pode a região legislar sobre elas.
O tribunal constitucional diz que podem ser matérias que pela sua importância nacional
só podem ser tratadas pela AR. – está a alargar o âmbito da reserva das leis da república
e a restringir o âmbito regional
Percebemos, então, que o cerne deste caso está em distinguir o que realmente é
caracterizado como âmbito regional, sendo que podem surgir várias visões possíveis.
Matérias de Âmbito Regional, que pode ter 3 aspetos:
I. Territorial
o RA autonomia legisla para dentro da região, a delimitação física do
território é o principal limite
o Impede que haja uma delimitação pessoal
II. Institucional
o ALR não podem emanar legislação cujos efeitos se projetem
noutras pessoas coletivas públicas que se encontrem fora do
âmbito da RA
§ ALR não podem transferir o Estado para a RA ou intervir
unilateralmente nos serviços periféricos do Estado
situados na região
§ Apenas para a região e não o modo como o Estado se
organiza, órgãos ou serviços, instituições do ou que
dependem do Estado;
III. Material
o A doutrina diverge e concorda pouco com este aspeto, sendo que
TC ainda aplica por vezes
o O que justifica a autonomia é a especificidade
o Só há âmbito regional quando ainda decorre de uma
especificidade cultural, histórica, etc.: é descoberto pelo ANTIGO
interesse específico, logo o TC não matou este requisito
o O âmbito regional tem de ser configurado nos fundamentos da
autonomia das RA – 225º CRP
§ Características geográficas, económicas, especiais e culturais e as
históricas aspirações autonomistas das populações insulares (elemento
sistemático)
o PROBLEMAà alarga o limite, aproximando-se daquilo que era no
passado – o muito geral interesse específico (anterior a 2004)
o É DE SE EXCLUIR ESTA ACEÇÃO
Caso 41b): Como se resolve, se tivermos um Estatuto (neste caso o da Madeira) que é
anterior à revisão de 2004? A lei de revisão constitucional 1/2004, tem uma disposição
transitória no seu art. 46º: até à eventual alteração das disposições dos estatutos político-
administrativos das regiões autónomas, prevista na alínea f) do nº 6 do artigo 168º, o
Nota: Então como podemos limitar a lei da madeira sem ser pela reserva, nem pelo
critério que já não existe do respeito pelas leis gerais da república? Também não há uma
violação pelo artigo 64º, por ser uma norma programática muito aberta. Logo com o
quadro constitucional atual é difícil limitar esses poderes legislativos das regiões
autónomas.
No contexto económico-financeiro isto ainda mais acontece, onde temos cada vez
mais “comercio transfronteiriço” e fluxos de capitais, sistemas baseados nas conceções
de Bretton Woods, onde o mercado opera 24 sobre 24 horas, com uma moeda cada vez
mais internacional, o dólar, não convertível em ouro.
Mais ainda, as agências de rating (2 nos USA e 1 no Canadá) que controlam as
classificações das dívidas dos estados. Podemos ter uma empresa destas a classificar uma
dívida como “lixo”, tornando-se insustentável para tal Estado a sobrevivência económica.
Quando isto acontece o Estado não tem qualquer influência nos seus mercados, é a prova
cabal que não é o povo quem mais ordena. Pelo artigo 80º/a) CRP: o povo soberano quis
estabelecer que a economia está dependente da organização política. Só que isto não
consegue ordenar que as agências privadas de rating subam a classificação. Vemos uma
falência de um povo soberano perante um poder privado internacional.
Como se caracteriza esta amizade da nossa constituição, e de muitas das atuais, com o
direito internacional?
O legislador português, em sucessivas revisões constitucionais, assume uma
posição de um “Estado de soberania internacionalizada e europeizada”. Esta premissa é
clara em vários pontos:
a. Artigo 7º CRP:
a. Países de língua portuguesa
b. Europa e União Europeia
c. Aceitação do Tribunal Penal Internacional
d. Nas relações internacionais
b. Abertura no domínio de direitos fundamentais, artigo 16ºCRP, que remete para
normas da DUDH
a. Número 1: estabelece quase um ius commune ao nível transnacional
b. Número 2: estabelece o princípio da interpretação e integração conforme à
DUDH, sendo que alguns destes limites integram também o ius cogens, que
são limites ao próprio poder constituinte.
Com isto chegamos à decisão do TCFA vs. TJUE: no dia 5 de maio houve uma
importantíssima decisão do tribunal constitucional alemão, que “condena” o BCE a
explicar se o programa de compra de dívida nos mercados secundários, de origem nos
tempos de Mario Dragi, se justifica com razões ponderosas, uma vez que o TCFA crê que
viola o Princípio da Proporcionalidade. O Princípio da proporcionalidade também se
aplica à UE, como consagrado no artigo 8º/4CRP. Se fosse à luz da nossa CRP, o BCE havia
violado “respetivas competências”. As competências da UE resultam de uma expressão
de vontades do estados membros. A Alemanha vem dizer que as competências que
delegara na UE estão a ser extravasadas, logo o povo alemão não quer que a UE tenha
competências para tal. A UE ameaça processar a Alemanha por incumprimento dos
Tratados. Consequências da decisão do TCFA:
a. Consequência imediata: o BCE ter 3 meses para justificar estas medidas, ou a
Alemanha sai deste tipo de programas.
b. Consequência próxima: os programas de Covid-19 serem afetados
c. Consequência a longo prazo: um TC nacional afirmar que um primado do DUE
não pode prevalecer em situações como esta, e um TC não estar subjugado a um
TJUE em casos de alargamento de poderes da UE em detrimento dos poderes
dos Estados-membros.
Hoje vivemos numa realidade plural, em que há várias ordens que qualquer delas
reivindica o seu primado, aceitando as outras ordens, mas sempre com limites. O TJUE
diz que a única forma de o DUE se impor é impor-se transversalmente em todos os estado
membros. Do outro lado temos um estado membro que é o mestre dos tratados.
A única forma de resolver é através da paz, e não através de um processo, pois
uma guerra apenas vai destruir e ser prejudicial para todos.
O artigo 8º/4CRP diz exatamente o que o TCFA disse, pois não se abdica do primado do
DC português, uma vez que a prevalência do DUE está dependente:
a. Respeito pelos princípios fundamentais do estado democrático
b. Ação dentro das competências transferidas, sem que o TC abdique de poder fazer
o controlo de cada decisão em prol de um TJUE.
Uma breve nota sobre o constitucionalismo de hoje, que em muito partilha a sua
primazia (ou pertença de primazia) com este novo fenómeno complexo que é a União
Europeia. Algumas perguntas iniciais.
O que é, então, a União Europeia? Não estamos perante uma organização internacional
no seu termo clássico, mas perante um estado federal sui generis. Não tem nem povo,
nem território, nem poder político como um estado, mas tem força política, toma
medidas vinculativas, tem processos de legitimidade a partir dos próprios cidadãos e
consegue cumprir uma atuação em áreas bastante distintas.
O que é, então, do ponto de vista jurídico a União Europeia? A UE é uma entidade jurídico-
pública com caráter constitucional que, embora nascera de métodos clássicos de
organizações internacionais, tem personalidade jurídica, tem características que se
assemelham a estados federais, mas não é aceite nem compreendida como um estado,
apesar da força das suas normas.
O conteúdo das constituições está mais rico, mas, hoje em dia, ter uma
constituição não significa o verdadeiro papel destas no século XVII e XVIII.
Isto, do projeto incabado aberto aos sinais do tempo, é construído através de duas
técnicas muito importantes:
a. Acentuação da abertura da constituição: porque consagra um conjunto de
normas que não querem fechar a discussão pública nem a liberdade do legislador
democrático. Um direito fundamental incompleto e aberto, de forma a não entrar
no detalhe nem no pormenor. Centraliza-se nos grandes marcos da vida em
sociedade, estabelecendo cabeças de cartazes em cada ramo do direito. Tem,
obrigatoriamente que ser concretizado. O DC abre-se ao legislador democrático,
que legitimado nas urnas a cada 4 anos, tem que ter espaço para a partir daquele
quadro geral concretizar as suas medidas mais para a esquerda ou para a direita.
O governo socialista pediu a adesão à CEE que não tolerava as medidas da
constituição portuguesa da altura. Em 1979 ganha Sá Carneiro as eleições com a
aliança democrática. Esta direita altera a constituição, pois mostrou que não se
revia naquela constituição. Sá Carneiro lembrou-se de fazer um golpe de estado,
pois tentou derrubar o PR, para fazer uma nova revisão constitucional aprovada
por referendo. Se a Constituição não se abrir ao legislador democrático, na prática
passamos a ter um problema constitucional. Se a constituição tiver abertura
Então isto significa que a CRP tem que ser lida não apenas por juízes e juristas,
mas por todos, uma vez que todos eles são destinatários do seu conteúdo. Uma
sociedade aberta ao saber constitucional. Passagem de uma aristocracia constitucional
para uma democracia constitucional. Um povo que tem que ser capaz de perceber o que
a constituição significa. Logo, temos aqui uma constituição quadro, ou seja, um
aglomerado de ponderações, que carecem de interpretação.