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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

16/06/2020

Número: 1005709-76.2020.4.01.3801
Classe: INQUÉRITO POLICIAL
Órgão julgador: 3ª Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Juiz de Fora-MG
Última distribuição : 03/06/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0004600-15.2018.4.01.3801
Assuntos: Crimes contra a Segurança Nacional, a Ordem Política e Social
Segredo de justiça? SIM
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
Ministério Público Federal (Procuradoria) (REQUERENTE)
IPL Nº 0503/ 2018 (REQUERIDO)
Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
24869 16/06/2020 16:15 Decisão Decisão
7488
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
Subseção Judiciária de Juiz de Fora-MG
3ª Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Juiz de Fora-MG

PROCESSO: 1005709-76.2020.4.01.3801
CLASSE: INQUÉRITO POLICIAL (279)
REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (PROCURADORIA)
REQUERIDO: IPL Nº 0503/ 2018

DECISÃO

Trata-se de promoção de arquivamento provisório do presente Inquérito


Policial de n. 0503/2018, apresentada pelo Ministério Público Federal, com a
ressalva do art. 18 do Código de Processo Penal, de forma que o desarquivamento
dos autos possa ser posteriormente requerido, caso o Supremo Tribunal Federal
venha a autorizar o prosseguimento da linha de investigação pendente ou surjam
novas provas que ensejem a reabertura das apurações (id 248510893).

O presente inquérito policial foi instaurado para apurar “a possível


participação de terceiros que possam ter emprestado apoio moral ou material para a
prática do crime, incorrendo, em tese, nos delitos previstos no artigo 20,
parágrafo único, da Lei nº 7.170/83, artigo 288 do Código Penal Brasileiro e/ou
artigo 2º da Lei 12.850/13”, nos termos da portaria inaugural de f. 02 (id
247980362).

Este procedimento investigatório decorreu do desdobramento do Inquérito


Policial n. 0475/2018, que concluiu ter Adélio Bispo de Oliveira praticado sozinho
o ato de agressão ao então candidato à Presidência da República, Jair Messias
Bolsonaro, na data de 06/09/2018, nesta cidade de Juiz de Fora, quando a vítima
estava em pleno ato público de campanha eleitoral. Na ação penal de n. 4600-
15.2018.4.01.3801, o réu foi absolvido impropriamente em razão da inimputabilidade
penal ao tempo do fato delituoso, atestada por laudo psiquiátrico oficial
produzido nos autos do incidente de insanidade mental n. 4277-10.2018.4.01.3801.

Ante a necessidade de conclusão daquele Inquérito Policial de n.

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0475/2018 dentro do prazo legal e o imperativo de se prosseguir com as diligências
investigativas, foi instaurado o presente IPL de n. 0503/2018, que foi tombado no
sistema processual sob o n. 4783-83.2018.4.01.3801 e, posteriormente, no PJe, sob
o nº 1005709-76.2020.4.01.3801.

Observa-se que o procedimento investigatório em testilha é composto por


autos principais (volumes I a IX), Apenso I (cópia integral do Inquérito Policial
n. 475/2018, em três volumes) e Apenso II (Notícia de Fato n. MPMG-0145.19.001539-
9, composta de volume único).

No âmbito das investigações, foram requeridas e deferidas as seguintes


quebras de sigilo:

a) processo n. 4272-85.2018.4.01.3801: quebra de sigilo telefônico;

b) processo n. 4273-70.2018.4.01.3801: quebra de sigilo bancário;

c) processo n. 4282-32.2018.4.01.3801: autorização de acesso e análise


ao conteúdo de mídias apreendidas;

d) processo n. 4755-18.2018.4.01.3801: quebra de sigilo telefônico;

e) processo n. 4756-03.2018.4.01.3801: quebra de sigilo telefônico;

f) processo n. 4757-85.2018.4.01.3801: quebra de sigilo telefônico;

g) processo n. 4782-98.2018.4.01.3801: afastamento de sigilo de


registros telefônicos;

h) processo n. 4896-37.2018.4.01.3801: afastamento de sigilo de


registros telefônicos;

i) processo n. 772-74.2019: quebra de sigilo bancário

No Relatório Parcial (f. 1731/1908, id 247990939 - Pág. 96 a id


248077384 - Pág. 18), além das situações fáticas relevantes à compreensão do
evento criminoso, a autoridade policial discriminou todas as diligências
empreendidas na apuração das circunstâncias em torno do crime, em especial
na identificação de possíveis coautores, partícipes, instigadores, incitadores ou
grupos criminosos, que pudessem ter emprestando apoio material ou moral à execução
do atentado, ou concorrido direta ou indiretamente para a empreitada delituosa.
Esclareceu que a continuidade e o aprofundamento das investigações envolveu a
tomada de diversas ações policiais, a quais foram calcadas nos seguintes vetores:

a) conclusão da análise de mídias coletadas nas diligências realizadas


no âmbito do Inquérito Policial n. 475/2018 já finalizado;

b) análise de dados bancários, telefônicos e telemáticos, resultantes


de novos pedidos ou daqueles anteriormente feitos;

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c) oitivas de envolvidos, testemunhas e colaboradores;

d) efetivação de outras ações de identificação e localização;

e) apuração de outras hipóteses divulgadas nos diversos meios de


comunicação.

De acordo com o Delegado de Polícia Federal, a apreensão dos materiais


encontrados em poder de Adélio Bispo de Oliveira resultou na confecção do Auto de
Apreensão n. 194/2018, acostado aos autos do Inquérito Policial n. 475/2018
(Apenso I, f. 11). A apreensão dos objetos localizados no quarto alugado por
Adélio Bispo de Oliveira gerou a elaboração do Auto de Apreensão n. 196/2018,
também acostado no bojo do Inquérito Policial n. 475/2018 (Apenso I, f. 15). Foram
analisados os materiais apreendidos, a saber, lap top, aparelhos telefônicos,
chips e documentos. Dentre esses últimos, chamou à atenção inúmeros cartões e
extratos bancários.

Conforme consignado no relatório parcial, as quebras de sigilo bancário


não trouxeram indicativos de aportes de recursos suspeitos. Revelaram, outrossim,
que o retrato financeiro apresentado era coerente com os ganhos e modos de viver
de Adélio Bispo de Oliveira, em cujas contas bancárias havia créditos relativos a
salários, saques de FGTS, depósito de seguro desemprego e pagamento de indenização
trabalhista, conforme minuciosas análises procedidas pela Polícia Federal e
reportadas nos autos da quebra de sigilo n. 4273-70.2018.4.01.3801.

Ainda dentre os documentos apreendidos, a autoridade policial relatou


ter sido encontrada uma proposta de seguro de vida em favor dos sobrinhos
Jefferson Ramos de Souza e Marlete Ramos. O afastamento do sigilo bancário de
ambos, efetuado por força de decisão proferida no processo n. 772-
74.2019.4.01.3801, não revelou indicativos de enriquecimento sem causa.

Segundo o Delegado de Polícia Federal, foi apreendido também um


certificado de curso de tiro realizado em Florianópolis, sobre o qual, após várias
diligências efetuadas pela Polícia Federal, foi possível concluir que o pagamento
fora custeado pelo próprio Adélio e que ele não esteve acompanhado de terceiros
naquele estabelecimento. Igualmente, foi apreendido um comprovante de desfiliação
ao Partido Social Democrático (PSD), além de panfletos e recortes de cunho
político sem nenhuma utilidade para identificação de outros possíveis envolvidos,
e um cartão de visitas do Pastor Manoel dos Passos, cujo envolvimento, até mesmo
na condição de contratante dos serviços advocatícios prestados a Adélio Bispo de
Oliveira, foi afastado pelos policiais federais.

No tocante aos aparelhos telefônicos e chips apreendidos, a autoridade


policial registrou ter obtido, por meio de decisões judiciais, o afastamento de
sigilo telefônico de 17 (dezessete) números, sendo 12 (doze) diretamente
relacionados ao investigado e outros 5 (cinco) relativos a terceiros apontados
como de considerável interesse à investigação e precisamente nominados nos
requerimentos respectivos. Foram objetos de análise as agendas, anotações e
arquivos encontrados em poder ou associados a Adélio Bispo de Oliveira, os

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extratos telefônicos de terminais e chips relacionados a Adélio Bispo de Oliveira,
os extratos telefônicos de 5 (cinco) pessoas apontadas como de significativa
importância à apuração e os dados cadastrais de 16.200.000 (dezesseis milhões e
duzentos mil) filiados a todos os partidos políticos, disponibilizados em fonte
aberta pelo próprio TSE, em seu sítio eletrônico.

Segundo relatado, dois telefonemas efetuados por Adélio Bispo de


Oliveira, feitos a dois usuários de terminais telefônicos distintos, chamaram à
atenção dos investigadores, porém as suspeitas não se confirmaram com as ações
policiais posteriormente empreendidas, as quais envolveram a localização e
entrevista de ambos, além da busca e apreensão do aparelho celular de um deles. As
diligências acabaram por desvendar a inexistência de qualquer vínculo entre eles,
sendo que também com relação aos interlocutores mais frequentes, as apurações
concluíram que os registros de chamadas ocorreram em período em que o terminal não
se encontrava em nome de Adélio.

Apurou o Delegado de Polícia Federal que, em verdade, as análises


telefônicas revelaram que Adélio Bispo de Oliveira, assim como fazia com seus e-
mails, utilizava os seus terminais celulares para, em regra, comunicar-se com
contratantes para agendar entrevistas de emprego e para efetuar o acesso à rede
social Facebook.

Também a partir dos contatos de agendas telefônicas e dos diversos


apontamentos em papéis e agendas encontrados na posse de Adélio Bispo de Oliveira,
bem como dos locais de trabalho e moradia, e dados obtidos a partir de e-mails e
redes sociais, foram consignadas no relatório parcial as buscas pela identificação
de todas as pessoas que pudessem ter tido interesse direto ou indireto no evento
criminoso ou que tivessem tido, ao menos, conhecimento prévio de suas intenções
criminosas. As diligências empreendidas com essa finalidade resultaram em inúmeras
entrevistas e inquirições, dentre elas com familiares e pessoas residentes em
Montes Claros/MG, pessoas que tiveram contato com Adélio ou que com ele
trabalharam nas cidades de Juiz de Fora/MG, Florianópolis/SC e Uberaba/MG.
Conforme informado no relatório, apenas nas Informações de Polícia Judiciária n.
001/2019 e 002/2019 (f. 964/988 e 989/995 do inquérito policial) constam mais de
70 (setenta) contatos identificados a partir dos terminais telefônicos de Adélio,
que foram localizados e entrevistados. Em nenhuma dessas oitivas, foi possível,
segundo o Delegado de Polícia Federal, identificar qualquer elemento que pudesse
vinculá-los ao atentado criminoso cometido em 06/09/2018.

Notadamente com relação a todas as contas de e-mail de Adélio Bispo de


Oliveira, as quais tiveram o sigilo telemático afastado nos autos da medida
cautelar n. 4755-18.2018.4.01.3801, a autoridade policial informou terem sido
analisadas todas as 40.508 (quarenta mil, quinhentos e oito) mensagens eletrônicas
contidas naquelas contas, a partir de 2016, por entender ser período suficiente à
exposição de ocasionais indícios. Várias delas realçaram o engajamento político de
Adélio e a maioria estiveram relacionadas à busca de emprego, ao agendamento de
entrevistas e ao recebimento automático de mensagens oriundas de postagens na rede
social Facebook e ao site de compartilhamento de vídeos YouTube, sem qualquer
relevância à investigação.

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Igualmente, destacou que foram esmiuçados todos os dados existentes na
conta de Adélio Bispo de Oliveira junto à rede social do Facebook, por força de
decisão proferida na medida cautelar de quebra de sigilo de dados autuada sob o n.
4585-84.2018.4.01.3801. A finalidade era identificar eventuais contatos/amigos e
avaliar postagens que pudessem revelar a existência de grupos ou pessoas que
tivessem prestado eventual suporte logístico, moral, financeiro ou intelectual ao
autor do delito. Dentre as postagens realizadas por Adélio, o Delegado de Polícia
Federal informou que se sobressaíram aquelas relacionadas a maçonaria, partidos
políticos e figuras públicas e, sobretudo, a mensagens acintosas e em tom de
ameaça, endereçadas ao então candidato à Presidência da República Jair Messias
Bolsonaro, a respeito do qual ele disse que merecia um tiro na cabeça.

No tocante ao afastamento dos sigilos telemático, telefônico e de


dados, concluiu que, apesar de todo o esforço investigativo empregado, os
elementos de pesquisa resultantes não foram capazes de identificar a existência de
uma pessoa ou grupo de pessoas que tivesse instigado ou induzido Adélio Bispo de
Oliveira, tampouco que o tivesse contratado para praticar o delito.

De acordo com o Relatório Parcial, também não escaparam das


investigações policiais as análises dos computadores instalados no estabelecimento
comercial do tipo lan-house frequentado por Adélio e identificados como tendo sido
utilizados por ele, conforme apurado pelos policiais federais logo após a sua
prisão em flagrante. Diante das suspeitas quanto à possibilidade de ter havido
diálogos incriminadores com terceiros interessados na prática do crime, decisão
proferida por este juízo nos autos n. 4282-32.2018.4.01.3801 afastou o sigilo de
dados dos seis (06) HD’s apreendidos no bojo do Inquérito Policial n. 475/2018
(Auto de Apreensão n. 199/2018). Entretanto, nada de relevante foi extraído dos
equipamentos apreendidos, a não ser a busca por empregos, conforme constou do
Laudo n. 445/2018 (f. 447/452 do inquérito policial n. 475/2018).

Outra circunstância que mereceu apuração, conforme reportado no


relatório, foi a divulgação de notícia quanto a registros de entrada de Adélio
Bispo de Oliveira na Câmara de Deputados, em Brasília/DF, no mesmo dia do crime,
fato que gerou especulações não apenas quanto à motivação política do delito, mas,
sobretudo, quanto à participação de outros envolvidos, inseridos no meio político,
e a intenção de alguém ter forjado um álibi para exculpar Adélio.

O Delegado de Polícia Federal expôs que foram requisitadas àquela casa


legislativa informações, bem como cópia integral do procedimento interno que
apurou o fato e autorização para que peritos da Polícia Federal acessassem os
sistemas de controle. Conforme sindicância interna da Polícia Legislativa,
encaminhada à Polícia Federal, houve duas inserções indevidas de registros de
entrada com os dados de Adélio (18h00min48s e 18h30min29s), feitas pelo
recepcionista da Câmara de Deputados, a pedido de policiais legislativos, com o
fim de buscar informações quanto a eventual entrada do infrator naquela casa, após
a divulgação do crime pelos meios de comunicação. Não obstante, a Polícia Federal
realizou perícia no Sistema de Identificação de Visitantes da Câmara dos Deputados
(SIVIS) e não verificou qualquer adulteração em seus registros (Laudo Pericial n.
281/2019-INC/DITEC/PF, f. 767/775). O recepcionista, que já havia sido ouvido na

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sindicância interna da Polícia Legislativa, foi ouvido novamente pela autoridade
policial, a pedido dos advogados da vítima, e admitiu que pudesse ter lançado o
segundo registro de entrada (18h30min29s) por curiosidade, depois que tomou
conhecimento do atentado ao então candidato. Conforme concluído no relatório, as
especulações quanto à formação de um álibi se mostraram desarrazoadas, sobretudo
porque, no momento dos lançamentos do seu nome no sistema, o autor do crime já se
encontrava preso na Delegacia de Polícia Federal em Juiz de Fora/MG.

No Relatório Parcial, também foi abordado o amplo estudo de Estações


Rádio Base – ERB’s (antenas de celulares) realizado em locais onde Adélio Bispo de
Oliveira teria vivido e estado nos últimos meses (residência, trabalho e o próprio
local do evento criminoso). A pesquisa foi autorizada por meio de decisão
proferida por este juízo na medida cautelar de quebra de sigilo telefônico e de
dados n. 4757-85.2018.4.01.3801. O objetivo era identificar números de telefone
até então desconhecidos e que pudessem ter sido utilizados por ele, bem como
buscar identificar, por cruzamento de linhas utilizadas nas antenas relacionadas a
estes endereços, eventual cúmplice ou colaborador (terceiro desconhecido), cujos
dados não figurassem em anotações, agendas, extratos telefônicos e redes sociais
(materiais e repositórios de informações disponíveis), mas que porventura pudesse
ter estado com Adélio pessoalmente, em mais de um local nos últimos anos.

Segundo o delegado, os resultados de tais análises foram reunidos na


Informação de Polícia Judiciária IX/2018 (f. 789/792), da qual se extrai que foram
lançados e processados na base de dados do software de análise da Polícia Federal
os seguintes elementos: dados de 61 (sessenta e uma) ERB’s; 384.971 (trezentos e
oitenta e quatro mil, novecentos e setenta e um) telefones e 611.995 (seiscentos e
onze mil, novecentos e noventa e cinco) telefonemas (excluídos os telefonemas 0800
e para operadoras de telefonia).

De acordo com a autoridade policial, após analisar detidamente 951 Mb


de dados e utilizando como base de consulta os registros dos filiados a partidos
políticos disponíveis no site do TSE, consistente em dados cadastrais
de 16.200.000 (dezesseis milhões e duzentos mil) filiados, os cruzamentos não
apresentaram resultado positivo, tendo sido possível concluir também que Adélio
Bispo de Oliveira não havia recebido telefonemas no dia do crime; não havia
recebido telefonemas nos períodos indicados pelos investigadores; não havia
estado com uma pessoa qualquer desconhecida, em mais de uma ocasião, situação que
evidenciaria relevância, e não havia se utilizado de outro terminal ou chip
desconhecido dos investigadores.

Tópico que recebeu importante destaque no Relatório Parcial foi o


relativo à contratação dos advogados de defesa, porquanto, embora o Inquérito
Policial n. 475/2018 tivesse concluído que Adélio Bispo de Oliveira cometera
sozinho o violento atentado contra a vida do atual Presidente da República,
subsistia, segundo a autoridade policial, a hipótese de que ele pudesse ter
contado com posterior suporte logístico, especialmente no tocante ao patrocínio de
sua defesa, posto que ela foi assumida por uma equipe de quatro renomados
advogados criminalistas de Minas Gerais, cujos honorários, de acordo com o senso
comum, corresponderiam a expressivos valores que não poderiam ser arcados pelo

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próprio agressor. Segundo consta no relatório, um dos causídicos se deslocou de
Belo Horizonte/MG a Juiz de Fora/MG, em aeronave própria (monomotor monoposto),
para representar o preso já na audiência de custódia, quando requereu a
instauração do incidente de insanidade mental.

Consoante reportado, os advogados de defesa “optaram por tratar de


forma um tanto obscura fatos relacionados à defesa de Adélio Bispo de Oliveira, em
especial sobre quem estaria a suportá-la financeiramente” e que “o interesse desta
investigação jamais esteve relacionado ao conhecimento das estratégias de defesa.
De modo objetivo, os questionamentos sempre estiveram associados à identificação
de eventual patrocinador da causa e ao conhecimento dos interesses que o teriam
levado a custear a causa, se é que realmente existiu esse patrocinador” (f. 1818).

Assim, na busca da identificação de quem estaria arcando com os custos


da defesa, o Delegado de Polícia Federal informou ter procedido à inquirição dos
advogados. O profissional com quem o patrocinador teria feito contato recusou-se
em revelar a identidade desse último, alegando cláusula de confidencialidade e
necessidade de resguardar o nome do contratante, ante a possibilidade de ameaças e
riscos a sua integridade física.

Consta ainda do Relatório Parcial que a autoridade policial, sem


descartar a hipótese de que os advogados pudessem ter assumido a causa por
iniciativa própria, representou pelo afastamento do sigilo telefônico dos
advogados, pela busca e apreensão nos endereços conhecidos do causídico com quem
teria sido formalizado o contrato de defesa e também pela quebra do seu sigilo
bancário. A primeira representação, autuada sob o número 4782-98.2018.4.01.3801,
foi deferida; a segunda, autuada sob o n. 4285-84.2018.4.01.3801, foi parcialmente
acolhida por este juízo, que determinou o cumprimento da medida nas sedes das
empresas do advogado, excluídas as dependências do escritório de advocacia. A
quebra do sigilo bancário também foi deferida por este juízo nos autos n. 39-
11.2019.4.01.3801.

Segundo relatado, no cumprimento do mandado de busca e apreensão, foram


apreendidos o smartphone que estava na posse do advogado, o DVR com os registros
de imagens do imóvel e um documento relativo ao Livro Caixa do escritório de
advocacia. Entretanto, as diligências de busca e apreensão foram suspensas por
força de decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, nos autos
do Mandado de Segurança n. 1000399-80.2019.4.01.0000, impetrado pela Ordem dos
Advogados do Brasil, ficando sobrestados o acesso e a análise do conteúdo dos
materiais apreendidos, bem como o exame dos extratos bancários obtidos com o
afastamento do sigilo bancário deferido por este juízo.

A autoridade policial também informou ter realizado diligências na


cidade de Montes Claros/MG e Uberlândia/MG, em busca de um suposto “amigo da
igreja” que teria contratado os serviços advocatícios, mas sem êxito. Ressaltou
que, esgotadas todas as diligências empreendidas nesse sentido, a confirmação ou
não de um suposto patrocinador da defesa de Adélio somente será possível com o
acesso aos dados do celular apreendido em poder do advogado e de dados em nuvem,
cujo afastamento do sigilo também foi deferido por este juízo nos autos n. 773-

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59.2019.4.01.3801, além dos dados a serem obtidos com a quebra de sigilo bancário.

Também foram objeto de investigação eventuais vínculos diretos ou


indiretos de Adélio Bispo de Oliveira com facções criminosas em atuação no Brasil
e no exterior. Segundo consta no relatório, essa hipótese investigativa surgiu a
partir da constatação de que a facção criminosa PCC teria motivação para atentar
contra a vida do então candidato Jair Messias Bolsonaro, dada a reação favorável
por parte de agentes criminosos, manifestada quando da entrada de Adélio no
presídio de Juiz de Fora/MG, ocasião em que ele foi recepcionado pelos demais
presos com aplausos, enquanto se deslocava no interior do pavilhão, conforme
relatado pelos diretores da unidade prisional. Além disso, informações
encaminhadas pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado – FICCO,
noticiaram inúmeras falas de integrantes de quadros estratégicos do PCC, com
manifestações de desapreço ao então candidato e preocupação quanto às propostas de
combate à criminalidade expostas em campanha. Todavia, o aprofundamento de
diligências investigativas, que incluíram a tomada de depoimentos de presos que
tiveram contato com Adélio na Penitenciária Federal de Campo Grande/MS e com os
quais ele supostamente teria falado sobre mandantes do crime, não logrou encontrar
quaisquer indícios que apontassem para o envolvimento de facções criminosas no
evento delitivo.

Cuidou, ainda, o Delegado de Polícia Federal, de anotar que, após a


prisão em flagrante de Adélio Bispo de Oliveira, a Polícia Civil de Minas Gerais
diligentemente também instaurou procedimento próprio, uma vez que, até aquele
momento, havia dúvidas quanto à atribuição investigativa, eis que não eram
totalmente conhecidas as intenções do autor do crime. Firmada a competência
desta Justiça Federal para o processamento e julgamento do fato, os autos do
inquérito policial instaurado pela PCMG foram enviados à Polícia Federal, porém os
elementos reunidos, em especial as imagens gravadas em CD referentes ao dia do
atentado, não trouxeram nenhum ângulo de filmagem inédito ou fatos novos que
pudessem ser úteis à investigação.

Outro ponto abordado referiu-se às mortes de Aparecida Maria Costa e


Rogério Inácio Vilas, cujos corpos foram encontrados no interior da pousada em
Juiz de Fora em que se hospedou Adélio, respectivamente nas datas de 21/09/2018 e
17/10/2018. Segundo o delegado, a despeito das coincidências, os eventos foram
integralmente esclarecidos pela Polícia Federal, que concluiu pela inexistência de
vínculo entre as mortes e o atentado ocorrido em 06/09/2018. Conforme apontado
pelo Relatório Circunstanciado n. 529/2018 da UIP/DPF/JFA/MG, Boletim de
Ocorrência de f. 500/505, Laudo Pericial de Exame de Local de f. 506/514 e laudo
cadavérico de f. 1286/1292, tais mortes foram decorrentes de causas naturais.

Também foi registrado, no relatório, as ações policiais executadas para


desvendar as inúmeras informações que aportaram naquele órgão policial, acerca de
locais frequentados pelo autor do crime, relação com outros eventos criminosos e
possível participação de terceiros. Nesse contexto, foram citadas as diligências
empreendidas na cidade de Luminárias/MG, concluindo que Adélio fora confundido com
outra pessoa que lá havia se hospedado entre os meses de março de abril de 2018,
conforme relatado na Informação n. 090/2018-UIP/PFVAG/MG (f. 257/262); foi

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mencionada a investigação acerca da grande apreensão de numerário ocorrida nesta
cidade de Juiz de Fora/MG, na data de 19/10/2018, e que culminou em troca de tiros
entre policiais civis de São Paulo e de Minas Gerais, tendo restado esclarecido
que, embora os advogados de Adélio Bispo de Oliveira tivessem atuado também neste
caso, nada existiu que pudesse vincular os referidos acontecimentos ao atentado
praticado em 06/09/2018, e foi feita referência à cópia de um documento
encaminhado pelo Ministério da Educação, que havia sido inserido no contexto de
denúncias de fraudes recebidas por aquele ministério, cujos fatos ali expostos não
se confirmaram com as investigações empreendidas pela Polícia Federal.

Mencionou a autoridade policial que, mesmo diante de sua manifesta


falsidade, várias informações foram checadas como forma de se afastar teses que
foram amplamente divulgadas nas redes sociais e na internet e que se confirmaram
como fake news. Ressaltou que muitas teorias, calcadas sobretudo em análises de
imagem, foram desconstruídas pelo rigor técnico conferido aos documentos oficiais
produzidos ao longo da investigação, dentre eles, laudos periciais, prontuários
médicos, levantamentos de campo, depoimentos, registros de sinais, enfim, diversas
evidências e diligências outras que são de consecução exclusiva dos integrantes da
polícia judiciária.

Nesse ponto, citou postagens que foram recorrentes no sentido de que o


ataque teria sido forjado, eis que algumas imagens não mostraram manchas de sangue
na roupa da vítima. No entanto, destacou que a aptidão do instrumento do crime foi
comprovada pelos Laudos Periciais n. 1709 e 1718/2018, juntados no Inquérito
Policial n. 0475/2018-DPF/JFA/MG, os quais – enfatizou o Delegado de Polícia
Federal – sempre estiveram disponíveis para consulta. E que a gravidade da lesão
praticada foi atestada não somente pelo Relatório de Atendimento realizado pelo
hospital Albert Einstein, o qual certificou a existência de “traumatismo de
múltiplos órgãos intra-abdominais”, como também pelo depoimento dos médicos
responsáveis pelo atendimento no dia 06/08/2018, na Santa Casa de Misericórdia de
Juiz de Fora/MG, segundo os quais o sangramento não foi visível exteriormente,
tendo se direcionado para a região do peritônio e ficado retido dentro do abdômen,
onde foi constatada uma quantidade muito grande de sangue, conforme revelado pelo
exame de ultrassonografia do abdômem total, também acostado aos autos daquele
procedimento investigatório.

Ainda a esse respeito, discorreu sobre a minuciosa averiguação


realizada em torno das conjecturas e teorias lançadas após o atentado, muitas
delas produzidas a partir de análises superficiais das imagens e dos fatos
supostamente relacionados ao crime. Esclareceu que os canais mais utilizados para
a sua propagação foram as redes sociais Facebook e Twitter e a plataforma de
compartilhamento de vídeos YouTube, e que vários desses arquivos de áudio e vídeo
foram integralmente analisados, totalizando 120 (cento e vinte) horas de
avaliação. O resultado do grande esforço investigativo realizado nessa linha de
trabalho foi, segundo a autoridade policial, a conclusão pela falsidade de todas
as teses, conforme exposto na Informação de Polícia Judiciária de f. 1184/1236.

Segundo o Delegado de Polícia Federal, teorias de participação de


terceiros em meio aos apoiadores também teriam surgido, como aquela segundo a qual

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a faca utilizada no crime teria sido repassada “por uma mulher de óculos escuros”
a um homem, que, por sua vez, a repassou a Adélio Bispo de Oliveira, a fim de que
este desferisse o golpe. A divulgação dessas teorias gerou um “linchamento
virtual” contra essas pessoas que se viram expostas e sob ameaça. Algumas delas
compareceram espontaneamente à Polícia Federal para prestar esclarecimentos e
registrar ocorrência. Todos os envolvidos foram ouvidos e, ao final, foi
confirmada a ausência de vínculo, conexão ou contato entre essas pessoas e o autor
do crime.

Também foi apurada como falsa, de acordo com o relatório, a notícia de


que Adélio Bispo de Oliveira estivesse acompanhado de outras pessoas, na multidão,
e que uma delas teria gritado “calma Adélio”. O vídeo respectivo, contendo a
suposta fala, foi submetido à perícia, tendo o laudo de perícia criminal concluído
que as falas são ininteligíveis (f. 1024/1041). De outra parte, entrevistas
realizadas com militantes, apoiadores e seguranças confirmaram ter havido
interações entre eles e Adélio Bispo de Oliveira, a quem foi solicitado “calma”
várias vezes durante a passeata, por ter ele, o tempo todo, importunado aqueles
profissionais, inclusive fisicamente, com empurrões, para tentar se aproximar da
vítima.

Ainda conforme relatado, as investigações também infirmaram as teorias


de que o perfil de Adélio Bispo de Oliveira na rede social Facebook teria sido
fraudado após sua prisão. Perícia realizada no vídeo postado no YouTube, que
noticiou essa suposta adulteração, concluiu que a gravação apresenta uma página
editada do Facebook com adulteração em seu conteúdo, impedindo que as informações
possam ter a sua autenticidade e veracidade confirmadas, consoante registrado na
Informação de Polícia Judiciária n. 020/2020-NIP/SR/PF/MG e seus anexos (f.
1522/1668). Do mesmo modo, as especulações, contidas em notícias e vídeos
divulgados em redes sociais, que buscaram vincular agentes ou partidos políticos
de esquerda ao atentado praticado em 06/09/2018, não restaram confirmadas, a
despeito de todo o esforço investigativo empreendido a esse fim.

Em tópico próprio do relatório, o Delegado de Polícia Federal descreveu


todas as diligências requeridas pelos advogados da vítima, citou que todas as
petições foram integralmente acatadas e que, apesar do esforço investigativo,
nenhuma delas trouxe elementos que pudessem revelar o envolvimento de terceiros,
sejam eles grupos criminosos, agremiações partidárias, facções criminosas, grupos
terroristas ou mesmo paramilitares, em qualquer das fases (cogitação, preparação e
execução) do ato criminoso praticado por Adélio Bispo de Oliveira.

Ao final de seu Relatório Parcial, a autoridade policial concluiu que


os elementos reunidos na investigação desqualificam teses de apoio material ou
financeiro para a consecução do crime, mormente ao se considerar que a ação foi
perpetrada de forma muito rudimentar, com o uso de uma faca de cozinha. Registrou,
porém, subsistir uma lacuna nas apurações, qual seja, a dúvida quanto ao real
interesse dos advogados de Adélio Bispo de Oliveira ao aceitarem o patrocínio de
sua defesa. Mencionou, mais uma vez que, de acordo com os advogados, a defesa
teria sido financiada por um terceiro, cuja identidade não foi relevada, sob a
alegação de sigilo profissional. Frisou que, para desvendar a identidade do

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financiador, todas as diligências possíveis foram exauridas, à exceção da análise
do conteúdo do celular do advogado de defesa, que acabou sendo sobrestada pelo
Tribunal Regional Federal da 1ª Região, ao deferir a liminar nos autos do Mandado
de Segurança n. 1000399-80.2019.4.01.000, impetrado pela Ordem dos Advogados do
Brasil. Ainda sobre essa questão, informou que o TRF da 1ª Região, ao apreciar
recurso interposto contra a liminar, reconheceu ser incompetente para o julgamento
do writ e determinou a remessa dos autos ao Supremo Tribunal Federal, mantendo,
contudo, os efeitos da decisão liminar proferida.

Na conclusão do Delegado de Polícia Federal, a análise do celular


apreendido na posse do advogado de Adélio Bispo de Oliveira se mostra atualmente
“a única linha investigativa hábil e restante para se alcançar eventual terceiro
que tenha atuado em consonância com o perpetrador da ‘facada’ ou, por outro lado,
para confirmar se realmente procedem as alegações do advogado quanto à existência
desse patrocinador."

O Ministério Público Federal, em sua manifestação, afirmou que a


diretriz transmitida à autoridade policial quanto à necessidade de desdobramento
da investigação em dois inquéritos distintos foi motivada pelo lapso temporal mais
dilatado que demandariam o exaurimento de todas as possíveis linhas investigativas
e o esgotamento de todas as hipóteses cogitadas, de forma a possibilitar uma
exaustiva apuração de eventual autoria mediata, com a extensão e a profundidade
reclamada pela gravidade do evento criminoso.

Registrou que a investigação estabeleceu, com segurança, que Adélio


Bispo de Oliveira executou sozinho o atentado e que todo o planejamento do evento
criminoso desenvolveu-se quando ele já se encontrava instalado nesta cidade de
Juiz de Fora/MG, aonde chegou, em busca de novas oportunidades de emprego, no dia
18/08/2018, data em que o então candidato à Presidência da República, Jair Messias
Bolsonaro, ainda não havia decidido realizar o ato de campanha na cidade,
deliberação que somente veio a ser tomada pela sua comitiva na semana compreendida
entre 26/08/2018 e 01/09/2018.

Destacou ter sido documentado nos autos a vida errante do autor do


crime, bem como a religião e o seu interesse pela política, tanto que, de fato, ao
ser interrogado quando da lavratura do auto de prisão em flagrante, Adélio Bispo
de Oliveira declarou haver “duas motivações” para a sua conduta, “uma de ordem
religiosa e outra de ordem política” (Ap. f. 10). Mencionou que o histórico de
militância do autor do crime não registra, porém, qualquer interação com
organização terrorista, grupo paramilitar ou militantes radicais.

Quanto às diligências investigativas despendidas na busca dos contatos


telefônicos de Adélio Bispo de Oliveira, o Parquet Federal salientou que elas não
destoaram da conclusão que emergiu do exame da vida pregressa e dos círculos de
convivência do então investigado, revelando que ele não esteve em contato com
possíveis interessados na perpetração do atentado, tampouco efetuou ou recebeu
ligação que levantasse a suspeita de se vincular ao delito. Nesse ponto, ressaltou
o trabalho investigativo realizado pela Polícia Federal, que, a partir da obtenção
do afastamento do sigilo de dados relativos às linhas telefônicas que se

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conectaram às Estações Rádio Base (ERB), localizadas em coordenadas geográficas
correspondentes a locais onde Adélio Bispo de Oliveira morou, trabalhou e esteve,
antes do atentado cometido em 06/09/2018, não logrou encontrar interseções
relevantes entre as linhas que estiveram conectadas às diferentes antenas. Segundo
o MPF, o resultado da diligência permite concluir que Adélio Bispo de Oliveira não
utilizou terminal telefônico que tivesse permanecido oculto à investigação.

O exame de todas as comunicações por e-mail e redes socias,


possibilitado por meio do afastamento dos respectivos sigilos, bem como a perícia
dos aparelhos celulares e notebook apreendidos com o agente e dos computadores da
lan house por ele frequentada em Juiz de Fora/MG, também não identificaram,
conforme realçado pelo órgão ministerial, conversações que sustentassem a
participação de terceiros na empreitada criminosa.

Na compreensão do MPF, restou indubitável que o atentado não foi


perpetrado por encomenda, tampouco foi financiado por terceiro, a despeito de
todas as especulações levantadas a partir da quantidade de dispositivos
eletrônicos e cartões bancários apreendidos em poder de Adélio Bispo de Oliveira.
Pontuou que, conforme descortinado pelas diligências investigativas, tratavam-se
de aparelhos antigos, alguns até danificados, telefones celulares em “péssimo
estado de conservação” (dois deles sem bateria e com defeito, f. 901; Ap., f. 389
e 405) e contas bancárias com movimentações financeiras compatíveis com o padrão
de vida do agente, que não apontaram indício de recebimento de valores em função
do crime cometido.

A esse respeito, assinalou que “o autor mantinha contas em cinco


instituições financeiras: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú
Unibanco e Santander, sendo natural que a cada uma correspondesse ao menos um
cartão magnético. A maioria das contas bancárias em apreço, sem embargo, foi
aberta a pedido de empregadores ou, ainda, destinava-se ao recebimento de salários
(Processo nº 4273-70.2018.4.01.3801, fls. 74, 78, 80, 84, 88, 104 e 111). Os
respectivos extratos registram apenas movimentações modestas, coerentes com as
atividades laborativas desempenhadas pelo alvo e com os seus hábitos de consumo
(idem, fls. 45/61)” e que tanto não houve financiador algum que Adélio Bispo de
Oliveira, conforme declarou, desistiu de comprar uma arma de fogo, instrumento bem
mais eficiente e letal que a faca utilizada no crime, “em razão dos custos
envolvidos” (Ap. f. 107).

Sustentou que o diagnóstico de doença mental de Adélio Bispo de


Oliveira “adquire importância para a investigação, sobretudo no que toca ao
esclarecimento da motivação para a prática do crime” , uma vez que a motivação foi
“distorcida pelo delírio da conspiração maçônica e conjugada a veemente desejo de
o agente ver-se reconhecido como herói ou mártir”. Assim, o diagnóstico do autor
do crime e os seus modestos hábitos de vida “reduzem a plausibilidade da tese de
que o atentado poderia ter sido perpetrado por encomenda, mediante pagamento ou
promessa de recompensa, ou de que se inseriria em projeto organizado de conquista
do poder”.

Destacou que, ao se cogitar a hipótese de participação de grupo ou

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facção criminosa, não pode ser desconsiderado também o caráter artesanal do crime,
cujo planejamento e execução não envolveram maior sofisticação, o que, longe de
diminuir a gravidade do fato, evidenciam que não se tratou de trabalho
profissional, levado a efeito com discrição, eficiência e precisão.

Em que pese a investigação ter trabalhado com a possibilidade de Adélio


Bispo de Oliveira pertencer a uma facção criminosa, o Parquet Federal assinalou
que nenhum registro de diálogo acerca do atentado cometido em 06/09/2018 foi
captado por serviços de inteligência no monitoramento de áudios enviados por
lideranças de facção. Reportou que, em tais comunicações, foram observadas
mensagens contendo recomendação para que seus membros não votassem no então
candidato Jair Messias Bolsonaro e que, passadas as eleições, foram captados
diálogos com conteúdo de ameaças ao atual Presidente da República. Entretanto, em
todo o período de investigação, nada foi registrado no sentido de que o infrator
mantivesse laços com alguma facção.

Citou que as narrativas de um estrangeiro preso na Penitenciária


Federal de Campo Grande/MS – para quem supostamente Adélio Bispo de Oliveira teria
dito pertencer a uma facção criminosa e informado o nome do “mandante” do delito,
bem como quantas pessoas teriam ido a Minas Gerais para ajudá-lo a matar o então
candidato, com a promessa de pagamento de R$ 500.000,00 – não se mostraram
compatíveis com o modo de execução do atentado, muito menos com o resultado da
quebra de sigilo bancário do autor do crime ou com as motivações do delito. Ao
escrever “uma carta para o Presidente Jair Bolsonaro dizendo do seu encontro com
Adélio Bispo”, o preso em questão expressamente declarou o seu interesse de “
conseguir o perdão” e a autorização presidencial para “o seu retorno a Israel ou
aos Estados Unidos”. A seu respeito, a Diretoria da penitenciária informou que ele
tem por hábito endereçar correspondências a “autoridades, celebridades ou órgãos
nacionais e internacionais” e os seus companheiros de cárcere declararam que ele
não goza de nenhuma credibilidade.

Aludiu que versões envolvendo a participação de políticos, grupos ou


militantes radicais – como aquela, segundo a qual Adélio Bispo de Oliveira teria
dito a um manifestante político, com quem divulgou uma foto no Facebook, que no
ano de 2013 fora ao gabinete de um ex-parlamentar, conhecido desafeto da vítima,
bem como aquela segundo a qual Adélio Bispo de Oliveira teria dito a quem o
algemou, logo após o cometimento do atentado, que “estaria participando de um
grupo que visava prejudicar o referido candidato” – não se confirmaram com a
oitiva dos interlocutores dessas supostas conversas. Da mesma forma, não se
confirmou a teoria conspiratória de que o conteúdo do perfil mantido por Adélio
Bispo de Oliveira na rede social Facebook teria sido adulterado após o fato, com
vistas à omissão de sua orientação políticar, partidário de agremiações de
esquerda. Nesse ponto, ressaltou o órgão ministerial que, além de serem conhecidas
as preferências políticas do infrator, o próprio Facebook Serviços Online do
Brasil Ltda. esclareceu que o último acesso ao perfil em referência ocorreu antes
do crime, no dia 06 de setembro de 2018, entre 10h08min47s e 10h28min46s, no
horário de Brasília/DF.

Mencionou que o sistema de registro de acessos à Câmara dos Deputados,

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em Brasília, acusou duas supostas entradas de Adélio Bispo de Oliveira àquela casa
legislativa, entretanto, como elas foram registradas em horários posteriores ao
atentado, não se destinaram a dissimular a presença do infrator no local do crime,
de modo que restou infirmada a tese de que algum álibi tivesse sido forjado para
ele. Certificou que esse pormenor foi investigado tanto pelo Departamento de
Polícia Legislativa quanto pelo Departamento de Polícia Federal, os quais apuraram
que o incidente ocorreu pelo fato de o recepcionista ter realizado a consulta, a
pedido de dois policiais legislativos.

Em última análise, o Parquet Federal afirmou que os contornos do crime


não excluem a possibilidade de que terceiros tenham se envolvido na concepção do
atentado, tendo induzido ou manipulado Adélio Bispo de Oliveira à prática da
violência. Nesse contexto, a fim de esclarecer a identidade do contratante da
banca de advogados, citou que foram quebrados sigilos e ordenada busca e apreensão
de bens pertencentes a um dos advogados de defesa, dentre eles o aparelho de
telefonia celular, respeitada, porém, a inviolabilidade de seu escritório de
advocacia. Entretanto, o prosseguimento das diligências deferidas por este juízo
foi sobrestado por liminar concedida em Mandado de Segurança impetrado pela Ordem
dos Advogados do Brasil (processo n. 1000399-80.2019.4.01.0000) e cujos autos
foram remetidos ao Supremo Tribunal Federal, em declínio de competência.

Ressalvou seu entendimento de que o sigilo profissional não deve se


estender a terceiros, “cujos interesses podem não convergir com os dos
constituintes”, e que a identificação da origem dos honorários alegadamente
contratados é necessária à completa elucidação do fato, constituindo-se na “linha
de investigação ainda pendente, em coerência com a orientação de exaurimento de
todas as hipóteses cogitadas”.

Acerca da manifestação apresentada pelos advogados da vítima, após a


apresentação do relatório parcial, requerendo seja requisitada a inquirição do
então Comandante do Batalhão de Polícia Militar de Juiz de Fora, à época do
atentado, para que informe se “recebeu ordem para que a Polícia Militar não
estivesse no evento, no dia do cometimento do crime”, e a origem de possível ordem
nesse sentido, o MPF sustentou não haver base empírica a autorizar a requisição da
diligência, uma vez que, além de as indagações estarem baseadas em mera sugestão
e, não, em uma afirmação de que a Polícia Militar de Minas Gerais estivesse
ausente das ruas quando do fato, a segurança pessoal dos candidatos à Presidência
da República é incumbência da Polícia Federal, e não da Polícia Militar, por força
do art. 2º da Lei nº 7.474/1986 e do art. 10 do Decreto nº 6.381/2008.

Ao final, sustentando que a linha investigativa pendente é a que se


ocupa da identificação do suposto contratante do escritório que assumiu a defesa
do executor do atentado pessoal e que não há novas diligências a serem adotadas
nestes autos, até que o Supremo Tribunal Federal delibere acerca da viabilidade
jurídica das medidas cautelares que foram suspensas por força de liminar proferida
pelo TRF 1ª Região no Mandado de Segurança impetrado pela Ordem dos Advogados do
Brasil, promoveu o arquivamento provisório do presente inquérito policial, com a
ressalva do art. 18 do CPP, de modo que as investigações possam ser reabertas, na
hipótese de a Suprema Corte autorizar o prosseguimento da linha de investigação

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pendente.

Após os autos serem conclusos para decisão, aportou, neste inquérito


policial, manifestação da vítima, representada por seus advogados, relatando que,
ao tomarem ciência do relatório parcial elaborado pela autoridade policial, foi
observado que uma potencial linha investigativa não havia sido adotada e que seria
apta a auxiliar no deslinde dos fatos investigados, a saber, a entrevista com o
Comandante do Batalhão da Polícia Militar de Juiz de Fora, à época do atentado
pessoal, a fim de esclarecer informações relacionadas ao fato. Nesse contexto, os
advogados apresentaram, em 18 de maio do corrente ano, petição requerendo a
requisição, pelo Ministério Público Federal, de providências para sua intimação e
oitiva, com sugestão de alguns quesitos a serem realizados no ato.

Diante da manifestação contrária do Parquet Federal e antes que se


realize a análise sobre a promoção de arquivamento apresentada pelo órgão
ministerial, requereram que este juízo determine a produção da prova requerida.
Pleitearam, também o acesso aos autos de todas as medidas cautelares finalizadas,
conexas ao presente procedimento, e que lhe sejam franqueadas cópias atualizadas
do presente Inquérito Policial, a partir de fls. 1681.

Pois bem.

Em relação ao requerimento de diligências formulado pelos advogados da


vítima, o Excelentíssimo Senhor Presidente da República Jair Messias Bolsonaro,
deve ser ressaltado que o Ministério Público, na condição de titular da ação
penal, é o destinatário imediato do procedimento investigativo que, com ele, forma
a sua opinio delicti para a propositura da ação penal, por meio da denúncia.

Portanto, nessa estrutura processual acusatória, não cabe ao julgador


requisitar a realização de diligência no bojo do inquérito policial, mormente
quando já houve expressa manifestação em contrário pelo órgão de acusação.

De fato, como leciona Eugênio Pacelli (PACELLI, 2004, p. 37/39), uma


vez requerido o arquivamento do inquérito pelo Ministério Público, abrem-se duas
vias possíveis ao juiz: determinar o arquivamento ou, caso discorde, encaminhar à
Câmara de Coordenação e Revisão Criminal do MPF, nos termos do art. 28 do CPP.

Por fim, no que tange ao requerimento formulado pelos advogados da


vítima, como bem destacado pelo Ministério Público Federal, a tese de que o
Governo Estadual, à época dos fatos, tivesse prestado cobertura ao atentado não
encontra lastro nos elementos reunidos no curso da investigação.

Com estas considerações, indefiro o requerimento formulado pelos


advogados da vítima para que seja requisitada à Autoridade Policial a inquirição
do “então I. Comandante do Batalhão da Polícia Militar de Juiz de Fora, à época do
atentado pessoal”, para que informe “se recebeu ordem para que a Polícia Militar
não estivesse no evento, no dia do cometimento do crime”(id 251621377, reinserido
com id 251749849).

No tocante ao requerimento de acesso aos autos de todas as medidas

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cautelares finalizadas, a autorização já fora concedida por este juízo nos autos
da ação penal n. 4600-18.2015.4.01.3801. Quanto às cópias atualizadas do presente
Inquérito Policial, a parte poderá obtê-las por meio digital.

Por todo o exposto, compartilhando do entendimento de que foram


esgotadas todas as diligências investigativas – à exceção da análise do conteúdo
do aparelho de celular do principal advogado de defesa de Adélio Bispo de
Oliveira, cuja diligência restou sobrestada por força de decisão liminar proferida
pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, nos autos do Mandado de Segurança n.
1000399-80.2019.4.01.000 –, acolho a promoção de arquivamento apresentada pelo
Ministério Público Federal, com fundamento nas próprias razões lançadas na petição
ministerial, e determino o arquivamento do presente Inquérito Policial de
n. 0503/2018, nos termos do art. 18 do CPP, de modo que seja possibilitado o seu
desarquivamento na hipótese do surgimento de novos elementos informativos.

Notifique-se o MPF. Comunique-se à Autoridade Policial.

Notifiquem-se os Advogados da vítima para que extraiam cópia dos


documentos requeridos.

Após, encaminhem-se os autos ao arquivo.

Juiz BRUNO SAVINO

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