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A UNIÃO

ESCOLA DE JORNALISMO
Personagens • Dalmo Oliveira • Juvinete de Lourdes
deste livro • Denise Vilar • José Carlos dos Anjos
• Dandara Costa Wallach
• Albiege Fernandes • Domingos Sávio • Luiz Augusto Crispim
• Agnaldo Almeida • Edmilson Lucena • Luis Tôrres
• Antonio Costa • Evandro da Nóbrega • Linaldo Guedes
• Alexandre Nunes • Eduardo Carneiro • Lidiane Gonçalves
• Alexandre Macedo • Eloise Elane • Leonardo Andrade
• Abelardo Oliveira • Edson Matos • Lucas Campos
• Adriana Crisanto • Fernando Moura • Martinho Moreira Franco
• Astier Basílio • Franco Ferreira • Marcos Pereira
• Augusto Magalhães • Fábia Carolino • Marcos Alfredo
• Augusto Pessoa • Frutuoso Chaves • Marcos Russo
• Ana Lustoza • Fernando Patriota • Maria Helena Rangel
• Ademilson José • Felipe Gesteira • Nathanael Alves
• Antonio Moraes • Fernando Maradona • Nelson Coelho
• Anézia Nunes • Gonzaga Rodrigues • Nonato Guedes
• Adrizzia Silva • Gisa Veiga • Nonato Nunes
• Antonio David • Gilvan de Brito • Naná Garcez
• Alberi Pontes • Geraldo Varela • Napeleão Ângelo
• Arnóbio Costa • Guilherme Cabral • Naudimilson Ricarte
• Beth Torres • Giovanni Meireles • Ortilo Antonio
• Carlos Romero • Geovaldo Carvalho • Petrônio Souto
• Cleane Costa • Grygena Targino • Paulo Sérgio Carvalho
• Carlos Vieira • Gledjane Maciel • Paulo de Pádua
• Carmélio Reynaldo • Hélio Zenaide • Ricardo Coutinho
• Cardoso Filho • Heraldo Nóbrega • Rui Leitão
• Costa Filho • Iluska Cavalcante • Rafaella Gambarra
• Cristiano Machado • Josélio Carneiro • Rodrigo Caldas
• Cícero Félix • José Octávio de Arruda • Ricco Farias
• Carlos Pereira Mello • Rogério Almeida
• Clelia Toscano • Josinaldo Malaquias • Raquel Almeida
• Clóvis Roberto • José Nunes • Roberto Carlos Freire
• Clóvis Gaião • José Euflávio • Sérgio de Castro Pinto
• César Nitão • Joanildo Mendes • Silvana Sorrentino
• Janildes Andrade • Satva Costa
• João Evangelista • Thamara Duarte
• Jorge Resende • Tião Lucena
• Jãmarri Nogueira • Tônio
• Joana Belarmino • Virginius da Gama e Melo
• Jacinto Barbosa • Wellington Farias
• Walquíria Maria
• William Costa
• Walter Santos
• Walter Galvão
• Werneck Barreto
FICHA TÉCNICA

Idealização, pesquisa e projeto editorial


Jornalista Josélio Carneiro / JCA Edições

Produção Gráfica
A União - Superintendência de Imprensa e Editora

Revisão
Antônio Moraes

Supervisão Gráfica
Jacinto Júnior

Capa e Diagramação
Naudimilson Ricarte

Tiragem
300 exemplares

Fotografias:
Evandro Pereira, Marcos Russo, Ortilo Antonio, Edson Matos, Antonio David, Walter Rafael, Nyll
Pereira, Felipe Gesteira, Augusto Pessoa, Alexandre Dias, Delmer Rodrigues, Roberto Guedes, João
Lobo, Juliana Santos e Sônia Belizário. Acervo de A União, arquivos pessoais, além de captação na
Internet.

Apoio Cultural:
Governo do Estado/Secom-PB | Francisco Caetano | PBGÁS | PainelEletrônico.net

Catalogação na publicação

U58 A União escola de jornalismo / Josélio Carneiro (Organizador). – João


Pessoa : A União, 2018.
368 p. : il.

ISBN: 978-85-922930-1-7

1. Historiografia. 2. Memórias - Jornalismo. I. Carneiro, Josélio.

CDU 82-94(813.3)
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Josélia Oliveira CRB15/113

Nota do editor: As opiniões/informações expressas nos depoimentos são de responsabilidade de cada


um dos autores.

Todos os direitos reservados para © by Josélio Carneiro


A reprodução de qualquer parte desta obra só é permitida mediante autorização expressa do autor.

João Pessoa - PB, 2018 – Foi feito o depósito legal


FALA GOVERNADOR
A U niã o b u sc a ser o j ornal d e t od os os p araib anos
S
Ricardo Coutinho 0 0 7

P REF Á CIO
Jornalista Luis Tôrres - Secretário de Comunicação
Institucional do Governo da Paraíba 0 0 9 U
AP RESENT AÇ Ã O
Jornalista Albiege Fernandes - Superintendente de

M
A União Superintendência de Imprensa e Editora 0 1 1

INT RODU Ç Ã O
Josélio Carneiro 0 1 5

Á
DEDICAT Ó RIA 0 1 9

Capítulo I - Anos 4 0 0 2 1

Capítulo II - Anos 5 0 0 2 5

R
Capítulo III - Anos 6 0 0 3 3

Capítulo IV - Anos 7 0 0 5 1

Capítulo V - Anos 8 0 1 1 9

I
Capítulo VI - Anos 9 0 2 0 5

Capítulo VII - Anos 2 0 0 0 2 6 3

Capítulo VIII - Anos 2 0 1 1 a 2 0 1 7 3 0 3

Capítulo IX - ICONOG RAF IA 3 5 3

O
FALA GOVERNADOR
Ricardo Coutinho
GOVERNADOR / 2011-2018

A U niã o b u sc a ser o j ornal


d e t od os os p araib anos

N
o dia 30 de outubro de 2017, uma segunda-
feira, o governador Ricardo Coutinho
visitou A União para inaugurar a Sala
de Imprensa Braille, algo pioneiro no país. Em
entrevista à imprensa paraibana Ricardo afirmou:
“o jornal A União melhorou muito. Um diário
com uma qualidade editorial extremamente
diferenciada e é um jornal que, mais do que
provocar a repercussão da notícia, busca o
contexto e a verdade da notícia e ao mesmo
tempo trabalha muito em coisas atemporais.
Ou seja, A União traz muito mais discussões
que nenhum outro jornal traz. Discussões no
caminho da Filosofia, da Sociologia, no caminho
da Psicologia, então o caminho da condição de
vida que as pessoas têm”.
Já no programa semanal de rádio “Fala Governador”,
gerado pela Rádio Tabajara em rede estadual de emissoras,
o governador declarou aos paraibanos: “ Eu estou satisfeito
por mais esse passo que A União dá em busca de ser o
jornal de todos os paraibanos. Quem tem uma história
que é a história da Paraíba como A União, não pode fechar.
Ao contrário, tem que cada vez mais ser referência, ser a
diferença no meio da informação. A União está mudando
e mudando para muito melhor. Não tem o compromisso
com o governo de plantão, mas com a Paraíba. É um
jornal jovem porque consegue colocar um conjunto de
informações de boa qualidade. Eu quero agradecer aqui
a Albiege Fernandes, superintendente, e em nome dela, a
todos que fazem o jornal e editora A União”, destacou.

8 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
PREFÁCIO
Lu is T ô rres (*)

Ontem, hoje e sempre

E m Paris, entre tantos monumentos, assim como


acontece em outras nações europeias, existe um
que representa com maior intensidade o valor
que a França confere aos seus mais destacados gênios.
É o Panthéon. Lá, onde está escrito “Aos grandes
homens, a Pátria é grata”, num só local, de uma só vez,
homenageia-se a trajetória dos grandes vultos franceses,
entre pensadores, filósofos, escritores, artistas, políticos.
Lá, numa só caminhada, é possível reverenciar
a obra e a vida de figuras como Rosseau, Voltaire,
Descartes, Alexandre Dumas, Emile Zola, Louis Braille, e
tantos outros homens e mulheres cuja inteligência e a
transpiração superaram a média dos viventes de outrora
e continuam superando a de hoje, sendo condutores de
massas e possuindo, cada qual na sua proporção, como
disse Bertrand Russel certa vez, o maior de todos os
poderes: o poder sobre o pensamento dos outros.
O jornal A União, com seus 125 anos de existência,
é, por assim dizer, um Panthéon do jornalismo paraibano. E
este livro que o leitor tem nas mãos, diante dos olhos, é ao
mesmo tempo a prova e o guia para a visita memorial desse
patrimônio. Sendo seu idealizador e editor, o jornalista
Josélio Carneiro, certamente um dos mais valorosos
pesquisadores da história da comunicação paraibana, um
habilitado curador.
Pela União, passaram os maiores nomes do jornalismo
paraibano. Do passado e da atualidade. Por este livro, passeia boa parte
deles. Gente que fazia jornalismo num tempo de pouca tecnologia,
mas que para cada lauda escrita tinha, pelo menos, dez livros lidos.
Não imagine, no entanto, que esta é uma obra para discutir
o futuro do jornalismo impresso, o império das novas mídias, a
transformação do jornalismo. O fim disso ou daquilo. Se espera que
verá isso por aqui, feche a obra e mergulhe em outra bibliografia.
Embora não se despreze que são temas importantes, não é este o
propósito deste livro. Ao menos, não diretamente.
Aqui, se pretende passear pelas deliciosas histórias de alguns dos
gênios da profissão de contar histórias e suas relações pessoais com o
centenário matutino. E reverenciá-los. Descobrindo a cada linha escrita,
(ou seriam versos?), a diferença daqueles que exercem e exerceram
o ofício de escrever muito mais por talento do que por sobrevivência,
embora essa última seja a “desculpa” que cada um dos gênios d’A União
apresenta quando justifica porque começou a escrever.
Claro que, com isso, é possível reforçar a importância do jornal A
União na atualidade. E perceber que é preciso mantê-lo rodando,
contando a história dos fatos da Paraíba, valorizando-a, e, cultivando
a memória de seus imortais, preservando a tradição do jornalismo de
respeito, de conteúdo e vocacionado.
Mesmo que um dia seja apenas pela e para formação, o jornal
A União, que já teve um José Lins do Rego como colaborador, deve
continuar cumprindo seu papel. E no papel.
A história dessa gente que por lá passou e que por lá ainda hoje
passeia o protege dos olhares ameaçadores do futuro.
Mergulhemos, portanto, nestas narrativas de amor e vício com
o jornal A União. E descubramos, nas experiências de mestres como
Luiz Augusto Crispim, Hélio Zenaide, Carlos Romero, Frutuoso Chaves,
Gonzaga Rodrigues, Agnaldo Almeida, Nonato Guedes, Martinho
Moreira Franco, Walter Galvão, Tião Lucena, Walter Santos, Wellington
Farias, Naná Garcez, - só pra citar alguns testemunhos aqui presentes
-, porque A União é uma escola onde sobram professores e faltam
alunos.
Eis o que este livro ensina.

________
(*) Secretário de Comunicação Institucional do Governo Ricardo Coutinho – novembro de 2017

10 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
APReSENTAÇÃO
Alb ieg e F ernand es

Superintendente de A União

F oi com muita responsabilidade que aceitei apresentar


este livro - “A UNIÃO Escola de Jornalismo” - do
colega Josélio Carneiro, seu organizador. Minha
vivência em A UNIÃO é recente: apenas sete anos,
quatro dos quais ocupando a Superintendência. Pouco
tempo, portanto, para uma tarefa complexa como falar
sobre “ A ESCOLA DE JORNALISMO”. Mas, já que aceitei,
espero cumprir a missão com a maior objetividade
possível. Inicialmente, peço licença ao leitor(a) para
fazer um resumo da minha experiência pessoal nessa
empresa, antes de tratar sobre o livro.
Ao assumir a diretoria técnica, em 2011, um
mundo novo se abriu à minha frente. Nunca entrara
numa redação (exerci o jornalismo em rádio e assessoria
de imprensa), tampouco num parque gráfico. Decidi,
então, mergulhar de cabeça no desafio. Passava mais
tempo dentro da gráfica do que na sala da diretoria.
Curiosa, fuçava máquinas, pedia pra conhecer o processo
de impressão, passei a viver o mundo dos papéis, tintas,
filmes, chapas, cola e todo o arsenal de equipamentos e
insumos que compõe a indústria gráfica.
Logo entendi que A UNIÃO não era – nem de
longe - apenas uma repartição pública, mas, sim, um
conglomerado de jornal e gráfica, responsável, portanto,
pela informação correta, seja através do jornal, do Diário
Oficial, seja dos livros aqui editados ou impressos. Com 118 anos à
época, o jornal há muito se consolidara como porta-voz do governo
estadual, tendo agora a missão de abrir seu conteúdo para mais
informações a fim de contemplar os interesses de toda a população
leitora. Não poderia ser apenas uma compilação de atos de governo
- processo que se desenvolveu de maneira suave e gradativa, sendo,
ainda hoje, renovado dia a dia.
A requalificação da estrutura física da gráfica começou ainda
em 2011, quando todo o imenso galpão foi compartimentado e
climatizado, proporcionando conforto, fluidez e dignidade ao trabalho
dos funcionários. O ano seguinte foi praticamente dedicado à confecção
de editais para compra de novas máquinas. E em 2014 inauguramos
um moderno sistema elétrico para operacionalizar o maquinário
computadorizado do melhor fabricante de máquinas gráficas, a alemã
Heildelberg.
A partir dessa modernização, voltamos nosso olhar para o
jornal propriamente dito, essa “escola de jornalismo” com prática
diária desde a redação de uma pequena nota até a intercalação dos
cadernos que compõem a edição impressa. Uma sala foi preparada
para abrigar a nova redação: ampla, iluminada, bem aparelhada e,
principalmente, democrática. Jornalistas “do batente” ou de formação
acadêmica ensinam aos novos diplomados e aos estagiários dos cursos
de jornalismo das universidades públicas ou privadas o métier de um
jornal, favorecendo seus estágios curriculares. Essa parte, reconheço
ser a mais prazerosa da minha gestão administrativa: acompanhar
e avaliar os estudantes como se professora fosse. É sentir a mesma
responsabilidade e alegria vividas em sala de aula no Departamento
de Comunicação da UFPB, entre os anos de 2001 e 2003, quando fui
aprovada em seleção simples para professora substituta.
Atualmente, a redação conta com sete estagiários que
aprendem o fazer jornalístico. A cada conclusão do curso, abrem-se
vagas para novos aprendizes. Eles chegam com muita vontade de
escrever. Ainda que adeptos e usuários frequentes das novíssimas
redes sociais, voltam-se para o mundo mágico, palpável e perene
do papel. O exercício coletivo do jornalismo e a convivência física na
redação são fascinantes para o aprendiz. O acompanhamento diário
do editor-geral, as correções, as dicas dos colegas mais experientes
e as instigantes brincadeiras com o humor sarcástico tão inerente
ao jornalista – esse profissional que precisa ser crítico e cético, em
permanente investigação dos fatos – criam o ambiente em que o aluno
de jornalismo aprende o “timing” da profissão.
12 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
“A UNIÃO – Escola de Jornalismo”, chega numa hora significativa,
às vésperas do aniversário de 125 anos de existência do jornal,
preservando o modelo que alguns incautos insistem em achar que está
se exaurindo. Assim como este livro, de papel, o jornal impresso não
vai deixar de existir. A inclusão digital ainda está longe de ser total –
aqui ou em qualquer outro lugar do mundo. Por isso, não há como
os impressos de uma maneira geral acabarem. As populações sempre
terão faixas de juventude e de idosos, estes, invariavelmente, sem
tantas aptidões para o mundo virtual. A luz intermitente da tela de um
computador ou de um smartfone será sempre uma inconveniência para
a pessoa idosa, com problemas de visão. Os teclados cada vez menores,
as telas reduzidas ao tamanho de uma caixa de fósforo dificultam a
leitura virtual, além de ser tudo muito frio, sem cheiro, sem o prazer
de passar as folhas molhando o dedo com a língua, sem o charme de
um marcador de páginas. Josélio Carneiro fez recentemente o mesmo
com a Rádio Tabajara. Deixou em livro a história da emissora através
de depoimentos daqueles (as) que dedicaram a vida profissional aos
microfones, à interação com o ouvinte, fosse pelo entretenimento,
fosse pelo radiojornalismo. Os paraibanos têm, somente este ano, dois
bons volumes históricos para seu deleite.
Deixo-os(as) agora, recostados(as) ao conforto dos seus
travesseiros, ou diante de suas escrivaninhas cheirando a livro, com
as páginas de Josélio nas mãos. Acolham-nas como a um amuleto, um
objeto sagrado, como uma coleção de bons amigos. Afinal, eles estão
todos aqui dentro, com suas belas e saudosas narrativas de tudo o que
viveram e experimentaram entre as paredes desse patrimônio histórico
e cultural da Paraíba, assim oficialmente reconhecido por recente lei
estadual que timbrou com o selo dos Poderes Legislativo e Executivo
o que a sabedoria popular já consagrara como a mais completa escola
de jornalismo da Paraíba.

14 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
INTRODUÇÃO
Josélio Carneiro

A ideia de produzir esse livro surgiu no final de


2016 e o jornalista Guilherme Cabral foi o
primeiro personagem dessa coletânea a me
enviar depoimento. Mas, eu estava empenhado na
edição do livro Rá d io T ab aj ara P at rim ô nio Cu lt u ral d a
P araí b a, obra lançada em junho de 2017 durante sessão
especial na Assembleia Legislativa. Por isso, somente
retomei o projeto A U niã o Esc ola d e Jornalism o em
meados de 2017, quando passei a convidar amigos
e colegas jornalistas para relatarem suas trajetórias
n’A União. Os capítulos da obra estão divididos por
décadas. É a segunda publicação da marca JCA Edições,
nesse caso, em parceria com A União Superintendência
de Imprensa e Editora.
Confesso, essa experiência é a mais rica até hoje
em minha vida profissional. Convidar uma centena
de jornalistas de diversas gerações e receber um sim
de 99% é algo gratificante e isto me comoveu. Creio
que não poderia ser diferente. Quem não tem paixão
e memórias sobre seus dias, suas idas e vindas no
centenário jornal?
A princípio pensei em 60 personagens mas
surgiram muitos profissionais nos relatos que me
chegavam, então convidei mais e mais pessoas. E fiz
com muita satisfação. Alguns nomes foram sugeridos
por colegas. A tarefa consistia também em ficar lembrando a quase
todos sobre prazos para envio dos textos. Uns poucos foram ágeis
no envio dos depoimentos, a maioria não, mas jornalista é assim
mesmo, o tempo é corrido. No entanto, se o convite partiu de mim,
o maior interessado em organizar uma obra envolvendo um número
maior de personagens, então fiz com determinação e dedicação
os inúmeros contatos presenciais, por telefone, e-mail, facebook,
whatsapp. Valeu a pena! Escrevemos todos nós uma coletânea que
soma-se às publicações já existentes sobre A União. O fato ousado
e inédito é reunir em um único livro tantos jornalistas, tantos
profissionais da Universidade paraibana do fazer jornalístico.
O sentimento maior é de gratidão a Deus por me permitir realizar
mais um projeto editorial. Grato a minha esposa Cida e nossas filhas
Cindy e Ana Maria pela colaboração e incentivo. Reconheço e agradeço
o apoio fundamental da superintendente de A União, jornalista Albiege
Fernandes, que tornou possível esse livro. Grato ainda a Albiege
por suas palavras de estímulo em seu texto de apresentação. Grato
sobretudo ao apoio da Secom-PB, fundamental à publicação deste
livro, nas pessoas do secretário Luis Tôrres, que escreveu o prefácio
e do secretário executivo Tião Lucena, personagem e incentivador
desta coletânea. Agradecer também à direção do Bradesco, PBGÁS e a
PainelEletrônico.net pelo apoio cultural que viabilizou o projeto.
Um agradecimento especial a cada um dos 100 personagens
nas pessoas de Gonzaga Rodrigues, Carlos Romero, Martinho Moreira
Franco, Agnaldo Almeida, Frutuoso Chaves, Nonato Guedes, Gilvan
de Brito, José Octávio de Arruda Mello, Petrônio Souto, Wellington
Farias, Walter Galvão, Walter Santos, Guilherme Cabral, Naná Garcez,
Thamara Duarte, Fernando Moura, Napoleão Ângelo, que repassava
os textos que eu enviava, a Moraes (o eterno revisor de A União).
Agradecer ainda a William Costa, Evandro da Nóbrega, Felipe Gesteira,
Gilson Renato, Marcos Russo, Evandro Pereira, João Evangelista e a
José Carlos dos Anjos Wallach, ele que nos ajudou na escolha do título
do livro quando sugeriu ‘A União Minha Escola de Jornalismo’.
A cada leitura dos textos que me chagavam por e-mail
eu viajava no tempo contemplando depoimentos escritos com a
paixão de quem verdadeiramente faz jornalismo. Esse processo de
chegada e leitura dos relatos, encaminhamento a Napoleão Ângelo
na Redação de A União para imprimir e repassar ao revisor Moraes
me consumiu horas e horas diárias entre julho e final de outubro de
2017. A fase seguinte foi editar os capítulos por décadas e corrigir
alguma coisa com as cópias em mãos revisadas pelo amigo Moraes.

16 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Faltava o depoimento do governador Ricardo Coutinho. No dia 30 de
outubro ele inaugurou a Sala de Redação em Braille n’A União. Estive
lá e de sua entrevista extraímos seu relato.
O tempo avançava e era preciso seguir para A União e
entregar os originais a Naudimilson Ricarte para a diagramação. A
capa já estava pronta.
Acredito que fui ousado em idealizar e coordenar o livro A
U niã o Esc ola d e Jornalism o. Memórias escritas por uma centena de
profissionais que juntos criaram páginas de uma história que chega
aos 125 anos. O fato inovador foi convidar profissionais de gerações
diversas, jornalistas que atuaram no jornal em vários governos.
Reunimos nessa coletânea renomados profissionais da imprensa
paraibana mas também anônimos jornalistas e até estagiários de A
União. O propósito foi esse: mostrar que o jornal Patrimônio Cultural
da Paraíba, a melhor e mais tradicional Escola de Jornalismo do Estado
é órgão estatal mas o diário mais democrático de todos os tempos em
nossa Paraíba. Os governos passam, nós passamos, mas A União é uma
marca que existirá por séculos, ou sempre.
Caro leitor, me permita uma amostra do conteúdo deste livro
em frases de alguns dos seus personagens.
Vejam o que diz o ícone da imprensa paraibana Gonzaga
Rodrigues ao confessar seu amor pela A União: Você precisa estar
ao meu lado, caro Josélio, anexar-se ao jornal, para ver como aos
poucos, vagarosamente, dou-me ao prazer (voluptuoso mesmo), de
levantar o lençol da primeira página e sair escorregando com os olhos,
eu e minha vida, por entre esses blocos e colunas que mudam de
assinatura e de técnicas a cada geração sem jamais me dispensarem
de os aguardar a cada manhã.
Martinho Moreira Franco nos conta em ‘uma história que nunca
envelhece’ o seguinte: O baú continua repleto de outras lembranças,
mas não abusarei outra vez da paciência do distinto público. Até mesmo
em homenagem a este monumento histórico e cultural da Paraíba
que não vive só de passado, como os museus, mas que prossegue
brilhando intensamente por caminhos que ainda hoje, como colunista
de variedades, eu percorro na trilha do sol, do tempo, da estrada, do
pé e do chão. E conclui seu depoimento com esta confissão: se a vida
é amiga da arte, essa é a parte que A UNIÃO me ensinou. Frutuoso
Chaves nos conta breves histórias de um celeiro de talentos.
O historiador, escritor e professor José Octávio de Arruda
Mello, que foi repórter no início dos anos 1960, relata em seu artigo
“Meu relacionamento com A União – Os dois planos de uma vivência”
o seguinte: Nela, ainda hoje considero-me em casa, junto à direção,

A UNIÃO 17
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
redação, programação de livros e, principalmente, setor de pesquisas, a
que, como historiador, compareço, regularmente, para levantamentos
destinados às atividades profissionais.
O jornalista Agnaldo Almeida afirma que a Paraíba reconhece
o papel d’A União. E revela: comandei uma Redação de craques: Sílvio
Osias, Luiz Carlos do Nascimento, Tião Lucena, Wellington Farias, Gisa
Veiga, Naná Garcez, Bill Barros, Chico Pinto, Lena Guimarães, Antônio
Hilberto, Tarcísio Neves, Carlos Aranha e muitos outros. Já sabendo
que cometerei o pecado da omissão, prefiro para por aqui. Lembro
agora que até o desembargador Alexandre de Luna Freire, na época
estudante de Direito, fazia parte dessa turma, junto com Werneck
Barreto, Antônio Feitosa, Benedito Maia e José Coelho Lemos Sobrinho.
Gonzaga era o chefe e mentor intelectual de todos nós.
O clima amigável e até familiar no ambiente de A União é um
fato comprovado. Neste livro há relatos de homens e mulheres que,
inclusive se tornaram namorados e constituíram famílias. Podemos
citar os casais Agnaldo Almeida e Naná Garcez; Jacinto Barbosa e Clelia
Toscano; Fernando Moura e Silvana Sorrentino; Wellington Farias
e Eloise Elane; João Evangelista e Grygena Targino. Irmãos também
marcam presença nesses laços de família: Nonato e Linaldo Guedes;
Tião e Edmilson Lucena, Evandro da Nóbrega e Eraldo Nóbrega,
Antônio Barreto Neto e Werneck Barreto. Há ainda o caso de pai e
filha: Alexandre Nunes e sua filha Anézia Nunes, estagiária. E os primos
Josélio Carneiro e Walquiria Maria, Gilson Renato (diretor técnico) e
Felipe Gesteira (Editor Geral). Hélio Zenaide e Goretti Zenaide (tio e
sobrinha); Como dizem, A União é uma grande família.
Convido os leitores a realizarem uma viagem no tempo.
Cada um escreveu com o coração os depoimentos sobre suas
trajetórias no jornal mais antigo e mais importante da Paraíba.

18 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
A minha esposa Aparecida

DEDICATÓRIA
e nossas filhas
Cindy e Ana Maria

Aos meus pais


João Maria de Araújo (in memoriam)
e Marina Carneiro

A Linduarte Noronha, Hélio Zenaide,


Luiz Augusto Crispim, Itamar Cândido,
Goretti Zenaide, Nathanael Alves,
Antonio Barreto Neto (In Memoriam).

A Albiege Fernandes, Luis Tôrres,


Gonzaga Rodrigues, Carlos Romero,
Martinho Moreira Franco,
José Octávio de Arruda Mello, Biu Ramos,
Tião Lucena, Thamara Duarte,
Frutuoso Chaves, William Costa,
Wellington Farias, Walter Galvão, Naná Garcez,
Agnaldo Almeida, Antônio Moraes,
Nonato Guedes, Walter Santos,
Evandro da Nóbrega, Alarico Correia Neto,
Fernando Moura, José Carlos dos Anjos Wallach,
Nonato Bandeira, Guilherme Cabral,
Ana Lustosa, Cleane Costa, João Evangelista,
Rui Leitão, Gisa Veiga, Eduardo Carneiro,
Petrônio Souto, Napoleão Ângelo,
Marcos Russo, Antonio David, Evandro Pereira,
Marcos Alfredo, Edson Matos,
Ortilo Antonio, Jair Santos,
Conceição Coutinho, José Alves, Teresa Duarte,
e ao amigo Francisco Caetano, gerente regional
do Bradesco na Paraíba.

Minha escola de jornalismo,
ou melhor, de escritor, foi
A União. Frequentei suas
páginas em várias épocas,
como colaborador e, quando
era secretário de Estado, como
redator. No Governo eu
mesmo redigia minhas notas.
Devo à Imprensa Oficial uma
contribuição mais eficaz: foi
minha primeira editora. Sem
esse apoio inicial eu não teria


me lançado, ou teria retardado
minha carreira literária

José Américo de Almeida


CAP Í T U LO I

anos
40
Carlos Rom ero
Carlos Rom ero

Esq u ec er t am b ém é b om
Crônica publicada n’A União, terça-feira, 7 de novembro de 2017

E
ste cronista que aqui escreve anda meio esquecido. Dizem que
é normal depois dos setenta. E haja vitamina B. Mas, esquecer
é bom ou é ruim? Depende, dirá você. E eu digo o mesmo. Nem
sempre esquecer é bom.
Afinal, o que devemos ou não esquecer? Comecemos pela
gratidão. Jamais esquecer um gesto de bondade ou um ato de amor,
de gentileza. Portanto, sejamos gratos. A começar pela vida que nos foi
dada. Haverá maior dádiva? Por acaso, somos joguetes do acaso? Será
que o homem, como sentenciou o materialista Sartre, é uma “paixão
inútil”? Afinal, a quem agradecer a vida que temos? Se tudo surgiu por
acaso, então o acaso é inteligente?...
Voltando ao esquecimento, quando é que ele é uma terapia?
Ora, ora, quando nos faz bem. Esquecer o mal que alguém nos fez,
esquecer o passado pelo que ele conte de negativo, esquecer uma
dívida. Sócrates, já perto de ser envenenado pela cicuta, pediu que
não deixassem de pagar uma dívida que ele havia contraído. Por que o
filósofo não esqueceu aquele compromisso? Para ficar em paz com a
sua consciência. A única coisa que levamos desse mundo.
Não devemos esquecer os deveres para com a vida. Do contrário
seremos irresponsáveis. E a pior coisa do mundo é a irresponsabilidade.

A UNIÃO 23
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Quando você cumpre com os seus deveres, fica aliviado, satisfeito,
alegre, de bom humor. Alegre consigo mesmo. Esquecer, lembrar, eis o
que está ocorrendo, constantemente, em nossa existência.
Esquecer as amizades não é correto. Os amigos devem estar
sempre no nosso pensamento, na nossa gratidão. Esquecer os desafetos,
sim. Para que está lembrando o mal que nos fizeram? Lembrar é dar
vida a uma coisa. Portanto, lembrar os males que nos fizeram é vivificá-
los. Daí a estupidez da vingança, da mágoa. Não esquecer o inimigo é
estar sintonizado com ele. A vingança não resolve nada.
Esquecer as coisas negativas e lembrar as positivas, eis a
fórmula do bem-viver. Por que é que as crianças estão sempre
alegres, sempre descobrindo as coisas boas da vida? Porque não
guardam mágoas. Mágoa é uma desgraça. Mágoa é ressentimento,
e ressentimento é uma espécie de azia psíquica. Criança triste é
criança doente.
A má lembrança é um fardo. Livre-se dela. É belo colocar
retratos na parede das pessoas que se foram desta vida. Eis aí uma
lembrança que faz bem ao que se lembra e ao que é lembrado, caso
você acredite na imortalidade do espírito. Caso contrário, pouco valerá
a sua lembrança...
Lembrar, esquecer, eis aí dois verbos constantes em nossa vida.
Mas Deus é tão grande, justo e bom que nos deu esse esquecimentozinho
tardio. Também nos deu o sono, uma boa pausa em que nos tornamos
inconscientes. Haverá melhor terapia do que esta? Pena que muitos
tenham insônia ou pesadelos. Que, muitas vezes, também depende da
vida que se levou durante o dia...
Acontece que está me chegando a fome. Eis aí uma coisa de
que a gente não consegue esquecer. Esquecer de comer. Nem depois
dos setenta...

Não devemos esquecer os deveres


para com a vida. Do contrário seremos
irresponsáveis. A pior coisa do mundo é a
irresponsabilidade.

24 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
CAP Í T U LO II

anos
50
G onz ag a Rod rig u es e
H élio Z enaid e
G onz ag a Rod rig u es (*)

A mesma colher

J osélio Carneiro me pede uma palavra, um escrito breve das minhas


bodas entre ouro e diamante com A UNIÃO. Não seria verdade se
atribuísse ao jornal de toda a nossa vida o encantamento que me
enredou nesse hábito, quanto mais antigo, mais renovável.
Em verdade, aprendi a gostar de ler com as seletas
encomendadas sob o pedagogismo do meu tempo. No mesmo livro
em que abriam a nossa cabeça para as primeiras regras da gramática,
abriam nossa natureza para o bom gosto e o exercício da leitura. Ao
lado da exortação cívica ou moral de um Rui Barbosa (que dizia com
outras palavras ou mais solenemente o que nos recomendavam os
pais), vinham os feixes lúdicos de metáforas musicais, doces de ler, que
nos incutiam como poesia:
“Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá; As aves que
aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá”.
O único atrapalho seria perguntar a dona Querubina se gorjeia
era a mesma coisa de canto, de cantar.
Depois desse banho lustral já não éramos os mesmos, nem
muito menos o sabiá.
Mais para diante, já no ginasial, recebi do professor João Viana
Correia esta sacudidela: “Ler t ransf orm a”. E como passei, cada vez
mais, a sentir na mente e na pele o efeito imediato desse aviso, que

A UNIÃO 27
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
valeu para mim como o “pare, olhe, escute!” das velhas linhas do trem.
Vem, então, a leitura do jornal, sempre outra a cada novo
dia, envolvendo-nos com a vida mais próxima ou mais remota, com o
assalto na esquina ou a bomba no Irã, o confuso próximo ou remoto
passado a limpo num texto a nosso alcance, que por ser impresso,
documental, tem a obrigação de ser verdadeiro.
E o trabalho miúdo, de abelha, como o vi ser feito, letra por
letra, a dança dos dedos nos caixilhos de tipos lembrando o arabesco
veloz e sutil dos dedos de tia Anita no fazimento do croché. E de
repente as palavras em seu trânsito da antiga rama de metal para a
folha impressa. A mão de seu Clóvis encaixando a folha no rolo no
segundo certo, numa antecipação da máquina automática. Era “O
Rebate” do professor Luiz Gil, semanário campinense que tive o prazer
de conhecer, entrando em sua oficina com meu colega de ginásio,
Wallace Figueiredo, filho do professor, feito depois jornalista.
Foi O Rebate, esfumado na distância do tempo, que me deu a
primeira injetada sedutora da coca jornalística.
Lá publiquei o primeiro artigo (imaginem!) motivado pelo
calçamento da rua principal de Alagoa Nova, com louvação ao prefeito
Rogério Martins.
Mesmo assim, meu nome impresso! Meu nome em letra de
forma - a libertação radical do menino cambado, do moleque olhado
de viés pelos bem nascidos da elite analfabeta e posuda dos engenhos
em falência.
Mas a Campina desse tempo, na onda do rádio, não dava
emprego em jornal. O semanário do professor mal apurava para
pagar ao chapista e ao impressor. Então rumei de ônibus, com seis
horas de viagem, para a capital, infestada de jornais: A Imprensa, A
União, O Norte reaparecido na campanha de 1950, ao lado dos jornais
episódicos Folha Trabalhista, o Estado da Paraíba, A Tribuna, o Estado,
não esquecendo A Crítica, cometa dirigido pelo profissionalismo
moderno de Dulcidio Moreira.
Cheguei nessa festa, o Ponto de Cem Réis não cabendo de
jornalistas e leitores em convívio e intimidade com os protagonistas da
política e da cultura. Aqui uma roda em torno de Milanez, ali um cerco
a Messias Leite, propagador e declamador de peito aberto lusitano, e
assim cada assunto com a sua roda. Os cafés com balcões e mesinhas de
mármore embaçados de fumo.

28 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Como chegar ao jornal?
Entrei pela escada em caracol da portaria principal, mais polida
que as dos palácios ao redor, mas não sem antes explicar que trazia
carta do deputado Pereira Diniz para o diretor. Esse Pereira Diniz, meu
conterrâneo, fora um sarraceno entre os que formaram na campanha
de José Américo.
- Vem de onde? – inquiriu um negro vistoso, de colete e gravata,
com arroubo de dono e senhor.
Foi quando entrei na A União para nunca mais sair, esteja
dentro ou fora dos seus quadros.
Abro o jornal de hoje, sessenta e cinco anos depois, já não digo
com a mesma emoção de quem, sozinho, descobre seu caminho e nele
prossegue sem o menor arrependimento. Sem a mais leve inveja dos
que alçaram outros planos.
Você precisa estar ao meu lado, caro Josélio, anexar-se ao
jornal, para ver como aos poucos, vagarosamente, dou-me ao prazer
(voluptuoso mesmo), de levantar o lençol da primeira página e sair
escorregando com os olhos, eu e minha vida, por entre esses blocos
e colunas que mudam de assinatura e de técnicas a cada geração sem
jamais me dispensarem de os aguardar a cada manhã.
Os nomes são outros, o estilo sofre outras concorrências, mas,
como dizia o romancista, comunicador, filósofo e jornalista mordaz
Umberto Eco, “a colher é a mesma”.

(*) Jornalista, cronista e escritor, Lu iz G onz ag a Rod rig u es, autodidata.


Nasceu em Alagoa Nova-PB. Sua carreira jornalística começou em A União,
no ano de 1951 como revisor. Gonzaga Rodrigues foi secretário de Estado
da Comunicação Social, presidente da Associação Paraibana de Imprensa
(API) e da Academia Paraibana de Letras. Em 2006 foi Prêmio AETC-JP de
Jornalismo. O mestre Gonzaga é Doutor Honoris Causa da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB).

A UNIÃO 29
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
H élio Z enaid e
(in memoriam)

Nossa Consc iê nc ia
Crônica publicada n’A União em 4 de novembro de 1998

Não creio na paz sem ação – é apatia. Que paz satisfaz, sem
resultados de alegria e consciência do dever cumprido?
Buscando o íntimo nosso, em cada dia, podemos averiguar
como vai a nossa paz. Podemos ver o nosso estado de ser e sentir a
nossa existência.
É no sentir que tomamos consciência de como vamos indo.
Quem, em sã consciência, vai se admitir em paz, quando o seu íntimo
se recusa a isso? Se a consciência diz que não há paz, como podemos
dizer que estamos em paz?
Vê que a nossa natureza íntima é solidária com Deus e a nossa
consciência traduz esse vínculo, que é permanente em nossas vidas.
Podemos até querer enganarmos, fazer ouvido de mercador,
quando, lá no íntimo, a nossa consciência dispara o alarme. Mas,
querendo ou não, o vínculo existe e sabemos disso. Não adianta
tentarmos nos enganar.
Quando nada escutamos no nosso íntimo, devemos ficar
alertas. A nossa consciência é um dispositivo divino em nosso ser
onde encontramos a disposição que nos destina para Deus, de caráter
evolutivo e de essência divina. Não podemos ignorá-la, se desejamos
a nossa paz. Não podemos evoluir tão somente tocando a vida para a
frente, dia após dia a mesma vida.

A UNIÃO 31
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Compreendamos de uma vez por todas: a evolução é uma lei
universal, irreversível, e, reconhecidamente, a evolução do espírito é
patrimônio para a eternidade.
Os patrimônios materiais são efêmeros e passageiros: ficam,
não vão conosco. Só os patrimônios do espírito são eternos.
Há um impulso evolutivo natural, em todos os seres. Ignorar
em nós mesmos essa tendência natural é descaso às leis divinas, e
sabemos como é a justiça: se a infrigimos, respondemos por isso.
Colhe-se o que se planta! A plantação é livre, mas a colheita é
obrigatória.
Quando tudo nos parecer confuso por demais, busquemos
inicialmente, o silêncio de nossa intimidade. Todos nós precisamos de
momentos de silêncio para ouvir a nossa voz interior.
Pacientemente, busquemos arrumar os ecos que vêm em
nosso auxílio, sabendo escutar, com humildade, em nós mesmos,
a turbulência de nosso espírito, para que possamos, afinal, com
fidelidade, ouvir a consciência a trabalhar em paz. Não é impossível: é
só querer.
A disposição virá em função de nossa consciência, e daí a nossa
ação em favor de nossa paz.
Este é o mecanismo, o roteiro; quem quer começar, é só dar o
primeiro passo e não voltar atrás.
Nos mantermos vigilantes na nossa intimidade é o que evita o
acúmulo de problemas sucessivos em nossa vida e nos resguarda da
intranqüilidade, da ansiedade, dos constrangimentos, de tudo o que
reflete tão somente a nossa sobrevivência em função do mundo dos
encarnados.
Vivemos porque somos espíritos encarnados, mas sobrevivemos
a esta vida porque somos espíritos imortais.
A nossa consciência nos prepara como espíritos encarnados
para compreendermos a nossa essência espiritual. Quando a escutas,
imaginas onde ela está?
Ela está em ti? Fora de ti? Ou na essência divina que és?
Tua consciência.
Eis a Providência divina te erguendo, querendo te ajudar.

32 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
CAP Í T U LO III

anos
60
José Oc t á v io d e Arru d a Mello
Martinho Moreira Franco
V irg í niu s d a G am a e Melo
Frutuoso Chaves
Nelson Coelho
G ilv an d e B rit o
(*) Historiador de ofício, com doutorado
e pós-doutorado pelos USP e IEB.
Professor aposentado dos UFPB, UEPB
e UNIPÊ, Integrante dos IHGB, IHGP,
APL, API e Centro Internacional Celso
Furtado. Autor de, entre outros, H ist ó ria
d a P araí b a - Lu t as e Resist ê nc ia (13ª
Ed., 2014), U m Resu m o d a H ist ó ria d a
P araí b a d as orig ens a 2 0 1 6 (2017) e Na
Saga do Autinho do Amor ou as Peripécias
do Macaco Altino (2017).

José Oc t á v io d e Arru d a Mello (*)

Meu relac ionam ent o c om a A U niã o


Os dois planos de uma vivência

Su m á rio: 1 . 1 Na dimensão de uma ambiguidade. 1 . 2 . Cordialidade e companheirismo


de clube. 1 . 3 . As faces de um jornal. 1 . 4 . Da GCE à Segunda Guerra. 1 . 5 . Da
redemocratização pelo Correio d as Art es. 1 . 6 . Suplemento e Pesquisa Histórica. 1 . 7 .
Um jornal de posições corajosas.

E mbora efetivo, meu relacionamento com o jornal A U niã o é o que


se pode considerar ambíguo. Isso porque, apesar de permanente
colaborador deste, nunca pertenci, oficialmente, a seus quadros.
1 . 1 . Na d im ensã o d e u m a am b ig ü id ad e – Da única vez em que dispus
dessa condição, vi-me objeto de experiência traumática. Em 1963,
era seu credenciado junto à bancada de Imprensa da Assembleia
Legislativa, exercido por curto espaço de tempo, devido a acidente
que me quebrou a perna, na estrada de Rio Tinto.
Mesmo assim, o diretor que desejava o posto para apaniguado,
não hesitou em me afastar, o que me abalou as finanças. O tempo,
porém, encarregou-se de curar essas feridas, de maneira que se existe
lugar onde me sinto à vontade para comparecer a colaborar, mesmo
informalmente, isto é, de forma não remunerada, é a velha confreira,
como a chamamos.
Nela, ainda hoje considero-me em casa, junto à direção,
redação, programação de livros e, principalmente, setor de pesquisas, a

A UNIÃO 35
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
que, como historiador, compareço, regularmente, para levantamentos
destinados às atividades profissionais.
Do repressivo diretor dos anos sessenta, quase nem me lembro
mais porque quase todos os demais – Barreto Neto, Nathanael Alves,
Agnaldo Almeida, Gonzaga Rodrigues, Murilo Sena, Eraldo Nóbrega,
Carlos Vieira, Nonato Guedes, Petrônio Souto, Giovanni Meireles,
Nelson Coelho, Ruy Leitão, Ramalho Leite, e, principalmente, Hélio
Zenaide, que me evitou as complicações de banho de açude, em 1961
– me trataram com elevação, franqueando-me páginas, quer como
jornalista ou pesquisador.

1 . 2 . Cordialidade e companheirismo de clube. A condião de


afeiçoado de A U niã o estende-se até nossos dias. Tanto assim
que, o ano passado, a atual superintendente Albiege Fernandes,
a Bia, convidou-me para a confraternização natalina onde curti
agradáveis momentos, na companhia de, entre outros, redatores
Hilton Gouvêia, José Nunes e Guilherme Cabral, cronistas Walter
Galvão e Martinho Moreira Franco, editores Conceição Coutinho
e Alexandre Macedo, cronistas esportivos Ivo Marques e Geraldo
Varela, assessor editorial Deijacy Araújo e Diretor de Operações
Gilson Renato.
Esses dois últimos merecem especial registro. Se o primeiro,
pertencente ao Grupo José Honório, assegura condição sempre
vantajosa para meus livros, intermediados por Amável Mello, Gilson
Renato conhece, por antecipação, o que me interessa quando o
procuro na sala.
Trata-se do início do f arw est V era Cru z , de Roberto Aldrich,
que ele sempre passa para mim, por havê-lo considerado um dos dez
maiores filmes da vida.
Outrora, antes das modernas tecnologias dos computadores e
internet, os jornais funcionavam como espécie de clubes a que a gente
comparecia para se inteirar da vida. Nos dias atuais, A U niã o ainda
conserva algo desse predicamento.

1 . 3 . As d u as f ases d e u m j ornal - Quando o sempre bem orientado


jornalista Josélio Carneiro solicitou estas colocações acerca de A U niã o,
lembrei-me que esta deve ser considerada em dois planos - o histórico
e o existencial.
Do ponto de vista histórico, A U niã o, desde a criação em 1893,
confunde-se com a trajetória do mundo, Brasil e Paraíba.

36 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Tal poderia parecer um truísmo mas a comprovação sobreveio
quando pesquisava sobre três acontecimentos que então me
sugestionavam – Revolução de 30, Guerra Civil Espanhola (1936-39) e
Segunda Guerra Mundial (1939/45).
No tocante à Revolução de 30 que constituiu, durante certo
tempo, a preocupação básica do Grupo José Honório Rodrigues,
consegui, depois de certo tempo, preparar livro – A Rev olu ç ã o
Estatizada – Um Estudo sobre a Formação do Centralismo em 30
(1983,1992, 2014) – nacionalmente considerado uma das principais
interpretações do tema.
Pois bem. O que proclamo é que sem A U niã o o livro não existiria,
tal a amplitude de seu noticiário 1929/30. Mesmo engajado com a
experiência da presidência João Pessoa, o órgão oficial não deixava
de, a seu modo, abrir espaço para os adversários, o que acabou por
assegurar meu anti/maniqueísmo, na largueza de vistas que buscava.
De mais a mais, A U niã o perfez o que representava novidade
para a época. Enviou para o teatro de operações um correspondente,
o jovem João Lélis de Luna Freire, cujos despachos rivalizaram
com os do Jornal d o Com m erc io, assegurados pela perspicácia de
Joaquim Inojosa.
Anos depois, em 1944, graças a esse empreendimento, Lélis
editou, com luminoso prefácio de Osias Gomes, o ensaio A Campanha
d e P rinc esa que está para a Paraíba, com base em Princesa, como Os
Sert õ es de Euclides da Cunha, para o hinterland nordestino e brasileiro.

1 . 4 . Da G CE à Seg u nd a G u erra – Em 1993, A U niã o completava cem


anos, o que lhe valeu primorosa edição especial organizada pelo diretor
Itamar Cândido.
Para ele preparei o ensaio “Um jornal centenário e a Guerra
Civil Espanhola” onde a finalidade consistia em recapitular esse conflito
através de A U niã o.
Em face da conflagração espanhola, o comportamento do
órgão oficial foi o mesmo da Revolução de 30, porquanto, mesmo
alinhado com o franquismo, para o qual se voltavam as simpatias
da administração Argemiro de Figueiredo, A U niã o não deixava de
ressaltar, com fotografias, gráficos e mapas, a defesa de Madrid, em
julho/agosto de 36, pelas Brigadas Internacionais, os conflitos internos
da Frente Popular, na Barcelona de maio de 37, e o contra-ataque
legalista da frente do Ebro que, desfechado em agosto de 38, prolongou
a Guerra Civil por quase mais um ano.

A UNIÃO 37
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Em matéria de reportagem, o melhor de A U niã o sobreveio
com a Segunda Mundial. Sob o comando da dupla Octacílio Queiroz/
Ascendino Leite, esse diário compôs tão precisa retomada das
operações que o atentado contra Hitler, em quartel general da Prússia
Oriental, a 20 de julho de 1944, foi publicado, no dia seguinte, com
todos os detalhes.
Sobre a Segunda Guerra, não produzi estudo específico mas as
colocações unionistas lastrearam o meu Nos T em p os d e F élix Araú j o
– Estado Novo, Guerra Mundial e Redemocratização. 1937/47 (2003),
mais, aliás, sobre as circunstâncias de Félix que a respeito deste. Uma
delas referiu-se à conflagração universal onde A U niã o publicou cartas
dos pracinhas paraibanos que se encontravam na Itália e percebeu
a supremacia operacional da FAB de Nero Moura sobre a FEB de
Mascarenhas de Morais e Zenóbio Costa.

1 . 5 . Da Redemocratização pelo Correio das Artes – Do ponto de vista


existencial, A U niã o ingressou na minha vida em dois significativos
momentos.
O primeiro ocorreu em 1975 quando, casado de pouco, dela
me vali para reforçar o orçamento doméstico, com os artigos que,
até 1970, publiquei no Correio d as Art es sobre Revolução de 30,
realidade brasileira e política internacional. O editor, como recriador
de suplemento reinaugurado por Sílvio Porto, era Jurandy Moura,
como meu colega da Secretaria de Educação de Tarcísio Burity.
Como percebido por Hildeberto Barbosa Filho, esses estudos
constituíram o núcleo conceitural de Joã o P essoa P erant e a H ist ó ria –
Textos Básicos e Estudos Críticos (1978), como um de meus livros mais
característicos. Em sua esmagadora maioria, eles expressavam época
em que meu pensamento combinava com o nacionalismo de Alberto
Tôrres e o revisionismo de José Honório Rodrigues, ambos em guarda
contra a ditadura militar.
Foi assim, por meio de A U niã o e a Rá d io Arap u an – que
colaborei com a redemocratização, que me custou retardamento na
Universidade, mas me compensou com anistia política, reconhecida
por Comissão do Ministério da Justiça, em 2012.

1.6. Suplemento e pesquisa histórica – Encerrado o consulado


castrense, continuei a colaborar com o Correio d as Art es então sob
o comando de, sucessivamente, Sérgio de Castro Pinto, João Trindade
e Claudio Limeira. Aos três, em conjunto, coube positiva avaliação do

38 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
suplemento, mediante mesa redonda realizada na sede da API. Dela
fui um dos expositores.
Tal me valeu, em 2013, convocação do diretor Fernando Moura
para organizar seminário alusivo aos cento e vinte anos de A U niã o
(2015), como positivo mergulho sobre a História da Paraíba.
Nele, voltando aos arquivos do jornal, assegurado pelos
funcionários José Ramos, Zezito, Luzia, Ana Flor, João e Cida, desenvolvi
o ensaio “Dimensão Social, Repressão e Apatia em Jornal da Década de
Sessenta”.
A abordagem consistiu em recompor a trajetória do órgão
oficial, de 1960 a 70, quando A U niã o flutuou da dimensão social de
Hélio Zenaide, que prestigiava as Ligas Camponesas, para a repressão
de Antônio Brayner, que expurgou as esquerdas, e apatia de José
Souto, recrutado aos Diários Associados. Durante a gestão deste, o
Governador João Agripino praticamente congelou o diário fundado
por Tito Silva, a fim de fortalecer a Secretaria de Divulgação e Turismo
do campinense Noaldo Dantas.

1 . 7 . U m j ornal d e p osiç õ es c oraj osas – Ressaltando o chamado


“gabinete Zenaide”, que se completava com Adalberto Barreto,
na Rádio Tabajara, A U niã o de 1961/62 culminou com o prestígio
infundado ao sacrifício do líder camponês João Pedro Teixeira cujo
holocausto motivou antológico discurso do deputado Raymundo
Asfora, integralmente reconstituído graças aos pendores taquigráficos
de Hélio Zenaide.
Dentro desse quadro, o estudo por mim inserido na coletânea
A União/Instituto Histórico torna-se relevante por exprimir o
comportamento da Imprensa paraibana em dois importantes
momentos da vida nacional, tais o Encontro do Presidente Jânio
Quadros com os governadores nordestinos, na Paraíba de 1961, e o
golpe militar de 64.
À margem da maneira como a informação prevaleceu durante
a visita de Jânio e primeiras semanas do movimento de 64, a fase de
efervescência social 1961/2 serve para demonstrar que, apesar do calo
governista, A U niã o tornou-se muitas vezes o mais heterodoxo dos
jornais paraibanos, como aquele capaz das posições mais corajosas.

A UNIÃO 39
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Martinho Moreira Franco

Uma história que nunca envelhece

F requentador habitual dos cines Plaza e Rex, eu tinha 17 anos


de idade quando estive pela primeira vez n’A UNIÃO, em 1963.
O jornal completava naquela época 70 anos de fundação. Até
já descrevi a cena: era aprendiz de crítico de cinema no borrão
mimeografado do Cine Clube Charles Chaplin, do Liceu, e adentrei o
set da redação temendo queimar o filme de Linduarte Noronha ou o
de Antônio Barreto Neto. A UNIÃO contava então com dois críticos de
renome assinando colunas sobre cinema em suas páginas. Barretinho,
generoso como os heróis do faroeste, tipos da sua predileção, me disse
que eu tinha futuro. Linduarte não largou o cachimbo, mas concedeu a
indulgência de um aceno que interpretei como aprovação. Saí dali com
um gostinho de happy-end.
A cena já revista em outros depoimentos eternizou-se pelo
ambiente em que se passou: a antiga redação de A UNIÃO, no histórico
prédio da Praça João Pessoa. Serei repetitivo, desculpem, mas continuo
resumindo aquele espaço em duas palavras: espaço mágico. Magia
cujo fascínio emanava desde o piso corrido em assoalho de tons sépia
até o forro em madeira pintada de azul, grifando o décor que mais
me impressionou na época: um amplo salão no qual os protagonistas
dos meus sonhos de me tornar jornalista compunham um cenário que
retenho em minha memória como se fosse hoje.
Também sinto uma saudade enorme do tempo em que cheguei
a editor geral do jornal em uma das suas melhores fases (apesar do

40 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
editor). Já me referi inúmeras
vezes a uma foto de reunião de
pauta que guardo vivíssima na
lembrança. Na cabeça da mesa,
apareço ladeado por Marcone
Cabral (chefe de reportagem),
Carmelio Reynaldo, Diógenes
Brayner, Carlos Aranha, Jorge
Medeiros, Kátia de França e
Ipojuca Pontes. E saibam que
o secretário de redação era
simplesmente Antônio Barreto
Neto e o diretor, ninguém menos que Biu Ramos, já legendário na
imprensa paraibana. Era esse o elenco do filme de A UNIÃO da minha
passagem pela editoria. Um elenco de primeira, atuando num filme
que marcou época (início da década de 1970) na história de um jornal
que nunca envelhece. Um destaque especial: Ipojuca Pontes, sob o
pseudônimo Otávio Monjardim, assinava uma coluna de variedades
que nada ficava a dever a um Stanislaw Ponte Preta ou a um Carlinhos
de Oliveira, ícones desse gênero na chamada grande imprensa nacional.
Eu retornaria à redação na fase em que Agnaldo Almeida
assumiu a editoria, nos anos 1980. Outra quadra igualmente marcante,
na qual se tornou célebre a edição que teve como manchete de
oito colunas, na primeira página, o épico título (criação de Gonzaga
Rodrigues) “Botafogo vence o Maracanã”, traduzindo a heróica vitória
do Botafogo da Paraíba sobre o Flamengo (2 x 1, de virada), pelo
Campeonato Brasileiro. Décadas depois, de volta ao jornal, passei
a assinar coluna diária que se mantém por distinção de sucessivos
dirigentes da empresa. Meu vínculo com A UNIÃO é assim um vai-e-
vem que não quer parar.
O baú continua repleto de outras lembranças, mas não
abusarei outra vez da paciência do distinto público. Até mesmo
em homenagem a este monumento histórico e cultural da Paraíba
que não vive só de passado, como os museus, mas que prossegue
brilhando intensamente por caminhos que ainda hoje, como colunista
de variedades, eu percorro na trilha do sol, do tempo, da estrada, do
pé e do chão. Se a vida é amiga da arte, essa é a parte que A UNIÃO
me ensinou.

A UNIÃO 41
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
V irg í niu s d a G am a e Melo
(in memoriam)

Au g u st o d os Anj os

Crônica publicada n’A União, edição de 19 de


novembro de 1960

U ma boa análise literária, esta de Antônio Houaiss sobre


Augusto dos Anjos. O poeta, efetivamente, é dos que melhor
se prestam ao exercício da crítica científica, por meio da
qual podemos explicar diversas de suas maneiras. O artesanato,
no poeta paraibano, é dos mais visíveis. A técnica está evidente
no Estilo Augusto dos Anjos que todos reconhecem hoje como dos
maiores de nossa literatura. O uso constante dos proparoxítonos,
a métrica linear, uma geometria do verso essencialmente gráfica
que atingia, porém, uma sonorização rica, onde o compasso sugere,
algumas vezes, o arquejar vital, tudo isso fez do poeta de Sapé uma
singularidade popular.
Bom que Antônio Houaiss destaque nele o sentido de
visualização, o imaginismo simbólico, a concretude de suas
imaginações. Não foi um sensitivo. Toda emoção nele, se é passível,
é sentida pela cabeça. Jamais atingiu a “catarse” poética, o estado
mesmo de criação na amplitude duma poesia que se pusesse
além das pobres palavras. Mental, puramente mental, buscava no

42 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
grafismo, na visualização e na sonoridade escandida, a obra de arte
inteiramente corporal.
Repelido da vida, Augusto adquire o pudor de revelar
sensibilidade. Infeiz congênito, o poeta reage, normalmente,
buscando na arte uma vitória útil de compensação. Egocêntrico,
tremendamente egocêntrico, capitula as dores do mundo, todas em
si mesmo. Sem a humildade cristã de lamentar-se, ou humildade
simplesmente, lamenta e ouve o canto - chão da “energia
abandonada”. E sobre imagens mentais, facilmente explicáveis, vai
construindo o seu mosaico poético, equilibrando na visualização, na
sonoridade e no grafismo, realizando a obra espantosa, técnica da
literatura portuguesa. Roendo-se, o gigante rói também as cortinas
do mundo e, às vezes, têm previsões admiráveis. Seu filosofismo,
seu cientificismo, não possuem maiores indagações - contentam-se
com as nações vulgarizadas, do século XIX, a cultura “up-to-date”,
o materialismo voltado para endeusamento da energia. Situado
em sua época, Augusto dos Anjos perderá muito de sua angústia
particular para ficar mais como um intelectualizado de seu tempo
do que como ente sofredor. Estudo que sugiro aos interessados.

Capa de um dos exemplares da coleção Nomes do Século

A UNIÃO 43
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Frutuoso Chaves

Breves histórias de um
c eleiro d e t alent os

P us os pés pela primeira vez na sede d’A União, aquela da


Praça João Pessoa, mal ingresso na maioridade. Conduzia na
bagagem a experiência de contínuo do jornalzinho “A Tribuna
do Povo”, situado na Duque de Caxias, e algum aprendizado da
revisão de textos. Conhecera os sinais com um camarada chamado
Marcelo, um pouco mais velho do que eu. Apresentei-me ao gerente
Costeira com a portaria de nomeação para o cargo de contínuo, no
início do Governo de João Agripino, depois do que fui despachado
para o serviço no ambiente do Diário Oficial do Estado, também ali
impresso. Transcorridos 45 dias, ofereci-me para substituir um revisor
acostumado à bebedeira e à falta ao trabalho. Rui Rio Branco, o chefe
da equipe – com as mãos na cabeça diante da pilha de “provas”
destinadas ao reparo ortográfico para posterior encadernação –
passou-me a incumbência. E ficou a me acompanhar à distância.
Aluno da boa escola pública e prestes a ingressar no Liceu
Paraibano (pasme-se: o ensino público já foi bom neste País) não
encontrei a menor dificuldade para apontar e corrigir os erros de
composição de textos produzidos, em chumbo derretido, pelo pessoal
das linotipos. A apreensão, quando me bateu, decorreria de um aviso
de Rui, não menos temeroso, na ocasião, do que eu: “Cuidado com a

44 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
sacanagem dos linotipistas”. A coisa consistia na omissão, por exemplo,
da letra “v” da palavra “Carvalho” (eventualmente inscrita nos atos
de gestão de pessoal do governador e secretários) pela turma da
oficina insatisfeita com salários atrasados. Coitado daquele colunista
social, uma das vítimas do tipo de protesto. A quadrinha que fizera
em homenagem a uma debutante (com festa marcada para o Clube
Cabo Branco) saiu mutilada na edição domingueira. Engoliram o “e”
de “céu” no verso que, se certo estivesse, seria assim: “No seu céu
azul”. Soube que foi um corre-corre danado para recolher o jornal
distribuído às bancas. Acho que protagonizei o primeiro e único caso
de “revisor-contínuo” da história da centenária A União. Por algum
tempo, desempenhei a primeira função com o salário da segunda.
Na verdade, a coisa assim prosseguiu até José Souto, o diretor
que substituiu Antonio Brayner, levar ao governador Ernani Sátyro
uma lista de nomes para os quais pretendia a ascensão funcional.
Virei, então, noticiarista. A tarefa consistia em dar linguagem fluente
para despachos telegráficos oriundos das agências de notícias com
sede no eixo Rio/São Paulo. O mesmo Ernani cuidou de modernizar
o jornal após a penosa derrubada da velha sede e da transferência
da equipe para o atual prédio, no Distrito Industrial. Da equipe. Do
equipamento não, porquanto A União com ele entrava na fase de
impressão a frio e ganhava o que então era um dos melhores parques
gráficos do Nordeste.
Vem o governo de Ivan Bichara quando o jornal volta ao
comando de Zé Souto. Por essa época fui conduzido do posto de editor
do Caderno de Cultura para o de chefe de Reportagem a convite do
diretor que ainda chamou para a Editoria o colega Agnaldo Almeida.
Impossível não lembrar de gente como Marconi Altamirando, Marcos
Tenório, Linduarte Noronha, Barreto Neto, Walter de Souza, Martinho
Moreira Franco, Gonzaga Rodrigues, Carlos Aranha, Gilvan de Brito,
Kátia de França e Alarico Correa Neto. Ou de expressões então mais
novas do jornalismo local, a exemplo de Marconi Formiga, Chico
Pinto, Tião Lucena, Wellington Farias, Paulo Santos, José Carlos dos
Anjos, Sebastião Werneck e José de Sousa. Estes últimos eu os tive
sob comando na Redação instalada em cima do Cartório de Garibaldi,
na Praça 1817, onde funcionava a equipe de repórteres. Gente boa
o suficiente para voos mais altos a outras posições e outros veículos.
Afinal, A União sempre foi um celeiro de talentos.

A UNIÃO 45
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Nelson Coelho

Em entrevista concedida à repórter Teresa Duarte e publicada no jornal


em 27 de janeiro de 2013, nas comemorações dos 120 anos de A União, o
jornalista Nelson Coelho fez um relato de sua vivência no centenário jornal.
Publicamos aqui parte da entrevista que foi reproduzida na íntegra no livro
A União 120 anos – Uma viagem no tempo. A obra foi publicada na gestão
do superintendente Fernando Moura tendo como organizadores Alarico
Correia Neto e Juca Pontes.

A U niã o m arc ou ép oc a
c om ‘ nom es d o séc u lo’

S uperintendente de A União por três vezes, o jornalista Nelson


Coelho ocupou diversos cargos e ingressou no jornal em fevereiro
de 1961. Em sua trajetória, várias publicações foram realizadas
em A União, a exemplo dos projetos “Paraíba e os 500 anos do Brasil”,
Nomes do Século”, “Memória Política” e outros. Em sua última gestão
como superintendente, em 2010, foram produzidos 92 cadernos
especiais sobre os mais variados assuntos e muitas personalidades.
Q u and o f oi su a p rim eira ex p eriê nc ia no j ornal A U niã o?
Eu cheguei à União como repórter e fui credenciado no
gabinete do governador, em fevereiro de 1961. Nunca perdi o contato
com A União, apesar de ter passado quase 10 anos da minha vida
46 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
fora do jornal, em atividade particular. A partir de 1986 me tornei
colunista diário de A União, até 2002. Em 1994, logo depois de sua
eleição, o então governador Antonio Mariz fez insistentes apelos para
que eu assumisse a superintendência do jornal. Eu achei que não era
interessante naquela hora porque eu tinha interesse em ser diretor
técnico para fazer um jornal como esse que está sendo feito agora.
Qual a linha editorial do jornal durante a sua administração?
Nós jornalistas somos intermediários entre o povo que quer
saber o que o governo tem a oferecer, e o governo quando diz para
a sociedade o que pretende fazer ou que está fazendo, então nós
jornalistas devemos em primeiro lugar dar a notícia sem que dela se
aproveite para tirar qualquer tipo de conotação, isso é o que A União
tem feito desde 2009 e vem sendo feito com mais intensidade agora.
Acredito que nós estamos no caminho certo.
Como o senhor analisa o suplemento literário Correio das Artes?
Eu tenho guardado algumas coisas a respeito do Correio das
Artes como uma carta do José Midlim, que foi um dos maiores mecenas
da cultura nacional, fazendo um rasgado elogio ao Correio das Artes,
que já tem 60 anos de existência, e é um patrimônio da cultura e da
intelectualidade do povo da Paraíba.
Extraído do livro A União 120 anos uma viagem no tempo.

A UNIÃO 47
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
G ilv an d e B rit o

A U niã o, o j ornal- esc ola

T rabalhei no jornal A União a partir de 1969, em pelo menos cinco


vezes, alternadamente, onde ocupei os cargos de repórter, redator,
chefe de reportagem e colunista diário. Como periodista assinei a
coluna “Em Primeira Mão”, que foi publicada inicialmente na página 2 e
depois na página 3, a partir de 1973. Na época em que o jornal funcionava
à Rua João da Mata, ao lado do Centro Administrativo, fui o chefe de
reportagem, quando, na oportunidade, reuni uma das maiores e melhores
equipes de profissionais da imprensa, todos jovens: Anco Márcio, Carlos
César, Carmélio Reynaldo, Cátia de França, Marcone Formiga, Adigelson,
Josemar e o fotógrafo Unhandeijara Lisboa. Cobríamos, diariamente,
todos os segmentos da vida da cidade, sem deixar brechas, na época em
que o jornalista Barreto Neto ocupava a diretoria.

A “ B ARRIG A” DE A U NIÃ O

A maior “barriga” (notícia falsa) publicada por um jornal


brasileiro ocorreu em João Pessoa, no dia 17 de junho de 1973, quando
A União (patrimônio do Governo do Estado criado em 1893) informou
em manchete de primeira página a escolha do ministro Orlando Geisel,
do Exército, para ocupar a Presidência da República, em substituição do
presidente Médici. O general Ernesto Geisel fora o verdadeiro indicado.
Isso ocorreu no Governo Ernani Sátyro, um vassalo dos militares que, em
reprimenda, puniu com demissão o secretário de Comunicação, Noaldo

48 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Dantas, o diretor Luiz Augusto Crispim e o editor Marcone Carneiro
Cabral. Para justificar-se com os militares, aos quais devia o cargo de
governador, além das demissões mandou abrir um rigoroso inquérito
policial para apurar se houve intenção criminosa na informação. Na
oportunidade dois jornalistas escaparam da degola, eu e Carlos Aranha,
respectivamente chefe de reportagem e chefe de redação, por não ter
nada a ver com o triste expediente.
Antes da indicação do novo general-presidente da República
disputavam indiretamente o cargo os dois irmãos, generais do Exército.
Prevendo o anúncio em horário inconveniente o editor Marcone Cabral
mandou fazer duas matérias: uma com Ernesto e outra com Orlando,
mas a indicação demorou alguns dias para ser anunciada. O jornal
fechava sua primeira página às 22h30, quando Marcone se recolhia a sua
casa. Antes de sair, porém, deixava as duas matérias prontas para que o
jornalista de plantão publicasse a decisão correta. O que não ocorreu.
No dia seguinte o jornal foi motivo de chacota em todo o país,
comentários foram feitos na grande imprensa e o governador Ernani
Sátyro, que se encontrava em Brasília, acuado pelos telefonemas
que recebia ironizando a notícia, ficou uma fera. Dois dias depois
desembarcou em João Pessoa “fumaçando”, disposto a se desculpar
com os militares através de uma punição exemplar contra os autores do
imperdoável feito.

A P IOR COISA DO G OV ERNO

Certa vez eu estava cobrindo a sessão da Assembleia Legislativa


para o jornal A União quando o chefe de gabinete do governador,
Bartolomeu Fonseca ligou, muito preocupado.
- O que foi que você escreveu hoje a respeito do governador no
jornal dele?
- Não publiquei nada sobre Ernani – disse.
- Pois ele está aqui na ponta dos cascos, já convocou quatro
secretários e mandou localizá-lo com urgência para uma reunião às 10
horas no salão de despachos (primeiro andar do Palácio da Redenção).
Venha imediatamente, ele já subiu com os secretários.
Saí apressado da Assembleia Legislativa que funcionava à Praça
Aristides Lobo, ao lado da Praça Pedro Américo, cheguei em palácio e
subi os degraus de mármore. Lá no fundo da ampla sala havia um grupo
reunido em torno de uma mesa. Ao aproximar-me pude identificar os
secretários Chico Pereira, da Saúde; Evaldo Gonçalves, da Casa Civil e
Otinaldo Lourenço, da Comunicação. Ernani Sátyro ocupava a cabeceira
da mesa e havia um lugar reservado ao seu lado. Aproximei-me e vi o

A UNIÃO 49
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
jornal A União aberto na página três, à sua frente, onde eu escrevia a
coluna “Em Primeira Mão”.
- Aqui, Amigo Velho, sente-se – disse, irado, com a inconfundível
voz de barítono, apontando o lugar a seu lado.
O governador Ernani Sátyro era péssimo fisionomista e, para
disfarçar, chamava todos os auxiliares pelo vulgo de “Amigo Velho”.
Sentei-me e cumprimentei a ele e aos secretários, com quem eu
me relacionava muito bem. E o governador não perdeu tempo, estirou o
jornal à sua frente e começou a descer a mão fechada, repetidamente,
sobre a minha coluna. Os olhos arregalados pareciam saltar às orbitas e
a voz tonitruante ocupava todos os espaços do ambiente.
- Amigo Velho, o senhor foi o responsável pela pior coisa que se
fez até hoje no meu governo: elogiou um inimigo pessoal e político meu,
esse deputado de Patos que eu me recuso a dizer o seu nome. E, por
conta disso, tem a palavra para defender-se.
Afastou o jornal, olhou para mim com a certeza de que eu não
teria nada para apresentar como justificativa.
- Lamento, governador, se eu lhe causei algum transtorno por
conta dessa notícia. Mas eu gostaria de dizer que essa matéria não
tem nenhum agravante contra a sua pessoa nem contra o seu governo.
Permita-me que leia em voz alta para que todos tomem conhecimento e
para que possamos discutir esse texto.
O governador ficou pensativo por alguns instantes, olhou nos
meus olhos e disse.
- Interessante, eu li a sua coluna na manhã de hoje e à primeira
vista não vi nada demais na informação. Ocorreu que logo cedo o Dr.
Chico Pereira me telefonou e disse: “Governador, o senhor, viu o que
Gilvan de Brito disse hoje de Ruy Gouveia no seu jornal? E depois o Dr.
Evaldo Gonçalves chegou ao meu gabinete e indagou-me se havia lido a
coluna do Amigo Velho, e exibiu o jornal.
Pairou um tenebroso silêncio no ar, cortado pelo secretário
Otinaldo Lourenço, segundos após.
- Então, governador, Gilvan de Brito continua com a coluna ou
devo substituí-lo?
- Não vamos fazer isso agora, porque aquele deputado pode
achar que foi por causa dele, e eu não quero lhe dar essa confiança –
disse Ernani Sátyro, com resignação.
Ao fim da reunião olhei para o rosto dos dois secretários que
me denunciaram ao governador, e os vi bastante desconfortados. Até
então eu lhes dera boa cobertura na imprensa e recebera como gratidão
essa tijolada. Ernani, na sua autenticidade, não procurou esconder esse
comportamento dos seus auxiliares diretos.

50 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
CAP Í T U LO IV

anos
70
Lu iz Au g u st o Crisp im G erald o V arela
W ernec k B arret o Ant onio Dav id
Sérg io d e Cast ro P int o José C. dos A. Wallach
Ag nald o Alm eid a T ô nio
T iã o Lu c ena Nau d im ilson Ric art e
Josinald o Malaq u ias Jú lio César
Ed m ilson Lu c ena Carlos Rob ert o
Cardoso Filho Ortilo Antonio
W elling t on F arias Marad ona
P et rô nio Sou t o Ant ô nio Moraes
Carlos V ieira José Ram os
Land Seix as Carm élio Rey nald o
Lu iz Au g u st o Crisp im
(in memoriam)

T am b aú , 1 9 8 3

O p ret o Lu is
O jornal de Gonzaga é a sua vida.
Os amigos paginando velhos sentimentos de fraternidade ao
longo dos anos são coisas que ele mesmo imprimiu com suas mãos e
suas artes, mas, sobretudo, com sua alma tipográfica.
Aqui está impressa a vida do menino Luis.
Agora é preciso muito cuidado com esta matéria morena nascida
de tão leves toques das linotipos de barro dos massapés brejeiros,
onde só se compõem as notícias do mais preciso bem-querer.
Correm as linhas escaldantes carregadas de amizade em nuvens
de antimônio.
É a palavra dos amigos dizendo o que de melhor sabem dizer
em branco e em negrito.
Dito assim é muito pouco.
Feito Luis é muito melhor.
O preto Luis tem algo de Irene,
Irene preta, Irene boa,
Irene do verso do poeta Bandeira.
O preto Luis também não precisa pedir licença para entrar
solene na casa dos cinqüenta anos.
O preto Luis já tem licença de gozar da eternidade que ele
nunca pediu a Deus.

A UNIÃO 53
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Nota do editor - O poema ‘O preto Luis’ foi publicado na
edição de 23 de junho de 1983, de A União, por ocasião dos 50 anos
do jornalista e amigo Gonzaga Rodrigues. O poeta, escritor, jornalista,
professor, advogado, Luiz Augusto da Franca Crispim foi diretor geral
d’A União; presidente da Academia Paraibana de Letras. Além de
secretário de Estado da Comunicação em três ocasiões. Faleceu aos 63
anos de idade na noite do dia 6 de dezembro de 2008, em João Pessoa,
cidade onde nasceu aos 23 de agosto de 1945.

Placa da redação Jornalista Luiz Augusto Crispim

54 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
W ernec k B arret o

A Velha Senhora

E screver sobre A União é, ao mesmo tempo, fácil e difícil. Fácil porque


temos muita coisa para dizer, muitas histórias, muitos fatos. Difícil
porque juntar tudo em pouco espaço chega a ser realmente uma
tarefa hercúlea. Mas procurarei ser o mais informal possível, para não
tornar enfadonha a leitura, e contar minha passagem pelo à época “Jornal
Oficial do Estado”.
Há um time na Itália, de muita torcida (assim mais ou menos
como o Flamengo, aqui no Brasil), chamado Juventus, muito conhecido
também “A Velha Senhora”. Esse codnome pode ser perfeitamente
utilizado para A União, que abraçou, deu chances, ensinou e lapidou
tanta gente, gerando um número infinito de excelentes profissionais
prontos para o mercado de trabalho. Estou entre esses profissionais
(no meu caso específico tira o “excelente”) que foram beneficiados por
começar a carreira na Velha Senhora.
Cheguei em A União em 1971, com 20 anos, levado pelo
meu irmão Antônio Barreto Neto, o Barretim, como era chamado
carinhosamente pelos amigos. À época ainda não havia curso de
Comunicação na Universidade Federal da Paraíba, e eu me preparava
para prestar o Vestibular de Engenharia Civil. Nunca havia entrado numa
Redação de jornal. Era algo novo pra mim, e diferente de tudo que eu já
tinha feito na vida.
Tive sorte, muita sorte, porque A União desta época era uma
verdadeira constelação de estrelas do jornalismo paraibano e nacional
(sim, porque muitos já eram correspondentes de jornais do Sul e Sudeste
do país). Fui apresentado a um time que tinha, além de Barretim, claro,

A UNIÃO 55
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
ninguém menos que Gonzaga Rodrigues, Carlos Roberto de Oliveira,
Martinho Moreira Franco, Luiz Augusto Crispim, Carlos Aranha, Marcone
Altamirando e Marcone Carneiro Cabral, só pra citar algumas “feras” com
quem passaria a conviver.
Faço aqui um parêntese para falar do prédio onde funcionava A
União desta época. Era uma edificação linda, localizada onde hoje funciona
a Assembleia Legislativa. Derrubaram o prédio da Velha Senhora – pra
mim um crime contra o patrimônio paraibano – para em seu lugar instalar
o Legislativo e tornar Praça João Pessoa, dos Três Poderes – já haviam o
Palácio do Governo (Executivo) e o Tribunal de Justiça (Judiciário). O jornal
ainda era feito em composição a quente. A Redação ficava no primeiro
andar, e a Oficina, como era chamado o local onde as linotipos reinavam
ao lado das mesas da tipografia, as impressoras e o laboratório fotográfico,
no piso térreo. De cara gostei de tudo.
Volto à minha chegada ao jornal e primeira tarefa. Martinho
Moreira Franco, o Moringueira, era o chefe de Reportagem e me mandou
fazer a cobertura de um evento que se realizava no quartel do15 RI. Penso
que ele achava que eu já tinha alguma experiência no ramo, porque a
única recomendação que me deu foi “pegue tudo”. Obediente e querendo
me firmar no novo emprego, assim o fiz.
Anotei tudo o que falaram as autoridades presentes. Cheguei na
Redação com umas vinte folhas de papel escritas por inteiro. Convidado a
“fazer a matéria”, sentei-me diante da máquina de datilografia (daquelas
bem antigas, de ferro, ainda) e taquei o pau. Escrevi três laudas e, achando
que estava “abafando”, disse comigo mesmo, caprichei. Entreguei o fruto
do meu trabalho ao meu chefe imediato, Martinho, e ele tranquilamente
me disse “tudo bem, jornalista, por hoje é só”.
No outro dia, ansioso, peguei o jornal para ver a minha matéria
impressa. Foi difícil de achar, porque ela tinha sido reduzida a pouco
mais que cinco linhas, no cantinho de página escondido. Confesso que
me decepcionei. Comigo mesmo. Cheguei a achar que aquela não seria
a minha praia. Mas recebi incentivos, ensinamentos e conselhos, e segui
em frente. Num dia escrevia e no outro olhava como a matéria tinha sido
refeita pelos redatores, função abolida posteriormente pelos jornais, mas
que foram muito importantes para mim. Assim aprendi a escrever.
Fui crescendo. De repórter, passei a redator, editor de página,
secretário de redação e até editor-geral por poucos meses, saindo para
assumir a chefia de Redação da então Secretaria de Comunicação Social.
A partir daí não parei de crescer profissionalmente, chegando a exercer
várias funções até de chefias, na mídia, incluindo aí, jornais, televisão,
rádio e revista.
E devo tudo a ela. Obrigado, Velha Senhora. Nossos laços nunca
serão desfeitos!

56 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Sérg io d e Cast ro P int o (*)

Eu , Ac á c io W ernec k , “ A U niã o” e F ernand o Mou ra

Q uem primeiro divulgou os meus poemas foi João Manuel de


Carvalho. E o fez no jornal “O Norte”, publicando “Lampião visto
por dentro” e “Usina vista de cima”, que mais tarde iriam integrar
o meu livro de estreia, “Gestos lúcidos”, publicado em 1967. Contava
dezenove anos de idade. Muito antes, porém, “A União” acolhera
uma resenha minha, salvo engano sobre “Jeremias Sem-Chorar”, de
Cassiano Ricardo, livro que havia se convertido numa espécie de bíblia
de minha geração, leitura obrigatória de todos quantos se propunham
incorporar o ideário vanguardista.
Já nos anos 70, editei o Caderno 2 do órgão oficial do Governo
do Estado, dando uma ênfase toda especial à literatura, principalmente
à poesia. E como os textos que escrevia eram concebidos no calor
da hora, às vezes toscos, alinhavados, procurei me escudar atrás
de um pseudônimo: Acácio Werneck, inspirado na personagem de
Eça de Queiroz, o Conselheiro Acácio, cujas frases e sentenças eram
perpassadas pelo mais ululante óbvio.
Certa feita, Acácio Werneck publicou um artigo procurando
estabelecer um cotejo entre João Cabral de Melo Neto e Augusto
dos Anjos, mais precisamente a respeito de uma declaração do
poeta pernambucano numa entrevista que fora concedida a mim,
a Luiz Augusto Crispim e a Jomar Souto, na residência do professor
Tarcísio Burity. Na oportunidade, o autor de “A Educação pela
pedra” confessara-se frustrado em razão de o poema “Morte e vida
Severina” ter se restringido às camadas mais cultas, à leitura dos
intelectuais, quando ele o desejara na boca do povo, a exemplo dos
poemas de Augusto dos Anjos.

A UNIÃO 57
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Pois bem. Anos depois de publicado o artigo “Augusto dos Anjos:
o que atuou em duas frentes”, encontro com a poeta Zila Mamede,
paraibana de Nova Palmeira, mas adotada pela terra do grande Luiz da
Câmara Cascudo. Estava às voltas com uma tarefa hercúlea: proceder
um levantamento da bibliografia de João Cabral de Melo Neto. E
qual a razão de Zila deslocar-se a João Pessoa? Foi ela mesma quem
justificou: “Descobrir quem é um tal de Acácio Werneck, pois, por mais
que pergunte, ninguém me dá notícia de quem ele é e muito menos do
seu paradeiro”. Foi quando, sentindo-me o próprio Flaubert, ajuntei:
“Acácio Werneck sou eu!” Rimos da coincidência.
Em 1987, Zila Mamede publica “Civil Geometria – Bibliografia
Crítica, Analítica e Anotada de João Cabral de Melo Neto (1942-1982)”,
pesquisa de fôlego editada, conjuntamente, pela Nobel/Edusp, Instituto
Nacional do Livro e Governo do Rio Grande do Norte. E na página 346,
além da transcrição de fragmentos do texto, o verbete: “Pinto, Sérgio
de Castro. Augusto dos Anjos: o que atuou em duas frentes. A União,
João Pessoa, 21 de abr. 1976. 2. CAD. Il. O autor, na época, editor do
Caderno 2 de A União, usou o pseud. de Acácio Werneck”.
***
Julio Cortázar, em um dos textos de “Histórias de Cronópios e
de Famas”, escreve que o jornal, depois de lido, transforma-se num
monte de “folhas impressas”, podendo converter-se de novo em jornal
caso outro leitor, encontrando-o num banco de praça, novamente o
leia, para, finalmente, transformá-lo outra vez num “monte de folhas
impressas”. Cumprido este périplo, suas “hesitantes metamorfoses”,
o jornal serve, quando muito – ainda segundo Cortázar –, para
“embrulhar um molho de celgas”.
Para escritores e pesquisadores como Fernando Moura, o jornal
é sempre jornal, jamais recolhe as suas páginas, jamais se converte em
um “monte de folhas impressas”. Que o diga este “Jornal de Hontem”,
que é de hoje, de agora, de sempre, na medida em que ele soube
extrair do breve frêmito de vida das páginas dos jornais antigos, e às
vezes do aparente monturo, o inexaurível filão com que se nutriu para
corroborar a máxima de Mallarmé segundo a qual “Tudo acontece
para terminar em livro”. E que livro, o de Fernando Moura!
***
Em tempo: A editoria do suplemento “Correio das Artes” foi
outro vínculo que mantive com “A União”. Mas esta é uma história que
já contei reiteradas vezes.

Extraído do livro Jornal de Hontem, de Fernando Moura


__________
(*) Poeta, escritor e professor de Literatura da Universidade Federal da Paraíba

58 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Ag nald o Alm eid a

A Paraíba reconhece o papel d’A União

A no que vem, logo em janeiro, devo completar 48 anos de


profissão. Entrei no jornalismo no início de 1970, depois de
aprovado em concurso no antigo Diário da Borborema, de
Campina Grande. Tinha saído do seminário Cura D’Ars, lá do Alto
Branco, e precisava de dinheiro. Como não sabia fazer nada – passei
toda a adolescência rezando e estudando – ocorreu-me de ganhar
um dinheirinho escrevendo para jornais.
Fiz o concurso, que se resumia a uma redação de tema livre,
e acabei aprovado. Eu e mais dois colegas. Quando me apresentei
ao secretário de redação do DB, Antônio Levino, não tinha a menor
ideia do que iria fazer. Houve uma batida de carro no centro da
cidade e ele me mandou pra lá, junto com o fotógrafo Eudes Chaves.
Ouvi as pessoas, as autoridades de trânsito e amigos dos mortos.
Voltei, redigi o texto, achei que estava uma merda, mas Levino
aprovou imediatamente.
Umas das minhas maiores glórias, até hoje, foi ver, estampada no
Diário da Borborema no dia seguinte, a manchete que eu havia sugerido.
E com direito a assinatura. Estava lá: “Reportagem de Agnaldo Almeida”.
Meses depois vim pra João Pessoa a chamado de Soares
Madruga, diretor do Correio da Paraíba, e com a concordância de Carlos
Roberto, secretário de redação, o que equivale hoje à editoria geral.
Mal conhecia a cidade, não tinha como ser repórter e deve ter sido por
isso que me mandaram para o copidesque. Pra quem não lembra mais,

A UNIÃO 59
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
copidesque era o sujeito que recebia o material bruto dos repórteres,
jogava fora um monte de vírgulas e impropérios e repassava o texto
final para os editores setoriais.
Permaneci no CP por quatro anos. Em abril de 1975, Gonzaga
Rodrigues me convocou para assumir a editoria geral de A União.
Desafio dos grandes. E grande também foi a experiência que adquiri
neste jornal, coordenando o trabalho de uma equipe que reunia
craques famosos do jornalismo paraibano. Em 75, os leitores hão de
lembrar, o país vivia tempos de ditadura, mas ainda assim A União
conseguiu, por iniciativa minha e de alguns companheiros, criar o
Jornal de Domingo e abrir espaços para o debate cultural, a discussão
de fatos históricos e a apresentação de temas ligados à sociologia, aos
costumes e alguns até de caráter filosófico.
Comandei uma redação de craques. Sílvio Osias, Luiz Carlos do
Nascimento, Tião Lucena, Wellington Farias, Gisa Veiga, Naná Garcez,
Bill Barros, Chico Pinto, Lena Guimarães, Antônio Hilberto, Tarcísio
Neves, Carlos Aranha e muitos outros. Já sabendo que cometerei o
pecado da omissão, prefiro parar por aqui. Lembro agora que até o
desembargador Alexandre Luna Freire, na época estudante de Direito,
fazia parte dessa turma, junto com Werneck Barreto, Antônio Feitosa,
Benedito Maia e José Coelho Lemos Sobrinho. Gonzaga era o chefe e
mentor intelectual de todos nós.
Ao longo de mais de 40 anos de jornalismo, trabalhei em
praticamente todos os veículos de comunicação da Paraíba. Fui do
“Diário da Borborema” no início da carreira, passei um bom tempo na
redação do “Correio”, lá na Barão do Triunfo; assinei coluna no jornal “O
Momento”; integrei a equipe de “A Carta” (uma experiência editorial
fascinante) e durante quatro anos exerci a diretoria de redação de
“O Norte”. Guardo boas lembranças de todos esses lugares por onde
passei. Mas foi em “A União”, desde 1975, que melhor me identifiquei.
Aliás, acho mesmo que a minha história profissional tem quase tudo a
ver com este centenário órgão da imprensa paraibana.
Aproveito o convite de Josélio Carneiro, que me pediu este
depoimento, para dar um testemunho: de 1975 até hoje, apenas
dois governadores me impressionaram pelo respeito e admiração
que dedicaram a “A União”. São eles Ronaldo Cunha Lima e Ricardo
Coutinho. E vejam que neste recorte de tempo estão incluídos Ivan
Bichara, Tarcísio Burity, Wilson Braga, Antônio Mariz, José Maranhão e
Cássio Cunha Lima.
Vou tentar explicar porque faço essa distinção a Ronaldo e
Ricardo em relação aos demais. Voltemos, então, ao ano de 1991.
60 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Eleito em outubro do ano anterior, o governador Ronaldo Cunha Lima
entendeu de me convocar para coordenar a área de comunicação do
seu governo. Naquela época a posse dos governadores se dava no dia
15 de março do ano subsequente ao da eleição. O eleito, portanto,
dispunha de um bom tempo para arregimentar a sua equipe e discutir
com ela os passos administrativos que daria após assumir o comando.
Ronaldo promoveu várias reuniões com os futuros auxiliares
(e alguns pretendentes) no período entre novembro de 1990 e março
de 1991. Num desses encontros, ocorrido na casa do engenheiro
Fernando Catão, hoje conselheiro do Tribunal de Contas, estavam
presentes, entre outros, Ronald Queiroz, Geraldo Medeiros, Waldir
dos Santos Lima, Paulo Soares, Solon Benevides, Gleryston Lucena,
Cícero Lucena, eu e o dono da casa.
A conversa rolou demorada. Ronaldo pedia e ouvia sugestões
sobre o que seria prioritário para o seu governo, segundo a opinião dos
técnicos ali presentes. Todo mundo falou. Problemas existentes nas
áreas de saúde, educação, agricultura, planejamento e por aí vai, foram
abordados. Recordo que a cada intervenção de um desses auxiliares os
problemas nas suas devidas áreas de atuação seriam resolvidos sem
muita demora. Eu era o único jornalista presente e ouvia, com atenção
de repórter, todos aqueles depoimentos. Tinha uma amizade pessoal
com o governador e torcia para que tudo aquilo que estava sendo dito
se transformasse em realidade.
Lá pras tantas, e havia, sim, rodadas de uísque, alguém sugeriu
a Ronaldo que ele, tão logo assumisse, precisaria reduzir despesas.
Cortar gastos e, sendo possível, extinguir órgãos. Foi quando, para
minha suprema surpresa, os secretariáveis começaram a discutir a
conveniência, ou não, de se extinguir A União. Ouvi coisas do tipo: “O
Estado não precisa de jornal”; “Aquilo lá só dá despesa”; “Ninguém
acredita no que sai publicado”; “Que outro Estado brasileiro tem um
jornal?”; “Acho que o seu governo deve inaugurar um novo modelo”.
No meio dessa conversa, Ronaldo interrompeu o papo e me
olhando com ar brincalhão disse:
- Acho melhor a gente ouvir Agnaldo. Afinal, ele é da área e tem
melhores condições de falar sobre o assunto. E aí, Agui? – perguntou
ele, fazendo com que todos os outros me olhassem atentamente.
Eu tinha todos os argumentos possíveis para dizer que aquela ideia
de fechar A União era uma ideia de jerico. Coisa de tecnocrata que
quer mostrar serviço e apresentar alternativas de redução de gastos,
desde que isso não implique mexer no seu próprio salário. Ponderei
comigo mesmo que não era a ocasião de abrir uma dissidência, até
A UNIÃO 61
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
porque tudo ali era uma conversa preliminar, o governo não havia nem
começado.
Então, me saí com o seguinte argumento:
- Ronaldo, pelo que acabo de ouvir, todo mundo aqui tem
solução para os problemas do Estado. Supondo que tudo será
resolvido, sugiro a você que deixe alguma tarefa ao seu sucessor. Ora,
se o novo governo vai solucionar tudo, conforme foi dito aqui, por que
não deixar um probleminha só para quem lhe suceder? Se você fechar
A União vai entrar para a história como o governador que extinguiu um
patrimônio cultural do Estado. Só pra lembrar: José Américo, que você
tanto admira, se refere a A União como “a primeira universidade da
Paraíba”. Por lá passaram escritores como Carlos Dias Fernandes e José
Lins do Rego, além de intelectuais como Osias Gomes, Samuel Duarte e
até Ronald Queiróz, aqui presente, quando ainda estava em formação.
A União, Ronaldo, é um espaço cultural importante pra nossa gente. E
mais do que testemunha é uma personagem da nossa história. Veja o
caso de 30. Você vai acabar com isso?
Tempo passou e, como se vê hoje, Ronaldo não levou aquelas
sugestões a sério. Ao contrário, durante o seu governo jamais deu chance
a que este assunto voltasse ao debate. Escolheu bons nomes para dirigir
a empresa, entre os quais o jornalista Nonato Guedes que, salvo engano,
foi o último dirigente de A União naquele período. Nas minhas conversas
particulares com ele, sobre aquela ideia de fechar o jornal, me dizia com
evidente generosidade:
- Se não fosse tu, Agui, aquele pessoal tinha me criado uma
encrenca danada. E o pior é que eu nunca pensei em fechar o jornal.

O ap oio d e Ric ard o


Egresso da militância política e com atuação notória nos
movimentos culturais, o governador Ricardo Coutinho nunca precisou
ouvir o que vozes tecnocratas e modernosas disseram a Ronaldo sobre
A União. Ao assumir o cargo, depois de toda a sua experiência como
parlamentar e prefeito de João Pessoa, sabia exatamente qual a real
importância desta escola cultural chamada A União.
No seu primeiro mandato indicou para a superintendência
da empresa o tarimbado jornalista, escritor e ex-deputado Ramalho
Leite, que cuidou de formar uma equipe valiosa e deu início a vários
projetos editoriais, além de uma reformulação gráfica no jornal.
Ramalho mantinha entendimento direto com o governador e pôs em
prática um plano de consolidação financeira do centenário órgão,
62 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
sempre com o apoio do Palácio da Redenção. Foi nesse período que
comecei a publicar esta coluna “Deu No Jornal”, que Ramalho não só
acompanhava como também colaborava, lembrando episódios e fatos
pitorescos da imprensa local.
Com a saída do então superintendente, convocado para
outras missões, coube ao jornalista Fernando Moura assumir o
cargo. Moura já vinha fazendo um excelente trabalho de pesquisa
nas velhas páginas do jornal, cuidadosamente preservadas pelo
pessoal do Departamento de Pesquisa, Luzia, entre outros. Aliás,
desse trabalho resultou a publicação do livro “Jornal de Hontem”.
No exercício da superintendência, Fernando reuniu um grupo de
jornalistas e professores para planejar as comemorações dos 120
anos de A União.
Foi um trabalho muito bem feito e mais uma vez o governador
Ricardo Coutinho deu provas de apreço ao jornal, assumindo, ainda
neste período uma coluna semanal em que discorria sobre assuntos
administrativos, culturais e políticos. Ressalte-se ainda que deu
condições a que A União reformulasse, em parte, o seu parque gráfico,
modernizando a sua impressora e adquirindo novos equipamentos.
Esse trabalho de renovação e modernização do parque gráfico da
empresa prosseguiu, (e prossegue) até com mais intensidade neste
período atual em que a jornalista e executiva Albiege Fernandes exerce
a superintendência. Bia, como carinhosamente a chamamos, atua com
reconhecida competência na direção do jornal, juntamente com os
demais colegas de diretoria.
Há uns três ou quatro anos, Ricardo foi pessoalmente conhecer
a Sala de Estudos e Pesquisa Jório Machado, na sede do jornal, de
onde se transmitiu o seu programa semanal “Fala, Governador”. Na
entrevista, uma de suas primeiras declarações não deixou margem a
dúvidas sobre a importância que ele dá ao trabalho feito n’A União.
Descartou logo qualquer hipótese de fechamento do jornal, afirmando:
“A União é um jornal superavitário e deve, sim, continuar existindo.
Mesmo quando não era superavitário – e fazia favores que não
estavam dentro da cultura nem dentro de um leque de intervenções
que cabe ao Estado fazer – ainda assim cabia a todos nós defender a
sua permanência”.
Ricardo Coutinho não só descartou este assunto como previu
novas formas de atuação do órgão: “O jornal deve dar um passo
adiante, ocupando as redes sociais e disputando outro tipo de tempo,
que não seja apenas o da publicação impressa”. Na conversa com os
jornalistas Albiege Fernandes, Walter Galvão, Gonzaga Rodrigues,
A UNIÃO 63
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Sitônio Pinto, Alarico Correia Neto, Martinho Moreira Franco e este
colunista lembrou que na condição de órgão de comunicação mais
antigo do Estado (e um dos mais longevos do Brasil) A União cobriu
jornalisticamente todos os períodos da república, desde 1893.
Este depoimento é de certa forma um agradecimento a dois
governadores, Ronaldo e Ricardo, que na minha avaliação figuram
entre os que melhor souberam compreender, na nossa história recente,
o papel que este jornal historicamente cumpriu como “primeira
universidade do Estado da Paraíba”.

Edição de 1º de julho de 1970

64 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
T iã o Lu c ena

A U niã o f oi m eu p rim eiro am or

E
ntrei para os quadros de A União em 1975, no mês de junho.
Nunca tinha imaginado que um dia me tornaria jornalista.
Chegara do Sertão, matuto, liso e desnorteado, os cobres do meu
velho mal dando para cobrir as despesas, o cursinho pré-vestibular
exigindo sacrifícios para a cobertura das mensalidades e eu a cata de
um emprego, qualquer um, desde que me pagasse o suficiente para a
subsistência.
Foi quando apareceu Werneck Barreto, irmão da minha amiga
Ivete. Ele, já redator do jornal, o irmão Barretinho diretor-técnico, um
vasto conhecimento no meio da imprensa, levando pelas mãos um
brocoió de Princesa que mal sabia pegar o ônibus na Lagoa e descer no
Lactário da Torre.
Estavam precisando de repórter. E foi como candidato a
repórter que Werneck me apresentou a Frutuoso Chaves, o chefe de
reportagem.
Frutuoso me recebeu com muita cortesia, perguntou se eu
tinha alguma experiência no ramo, menti que fora correspondente do
Jornal do Comércio, ele aceitou a mentira e me deu a pauta.
Cumpri a muito custo, redigi com certa facilidade pois
dominava bem a máquina de datilografia e ele me mandou retornar

A UNIÃO 65
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
no dia seguinte. Depois de uma semana cumprindo as pautas
de Frutuoso e aprendendo com ele como se redigia uma notícia,
finalmente fui admitido.
Minha carteira profissional foi assinada por José Souto,
Superintendente de A União e por Murilo Sena, diretor administrativo.
Passei a integrar uma equipe pequena: Eu, Chico Pinto, Renato
e um galego do pé torto cujo nome não lembro.
Nossos sofríveis textos eram levados, ao final da tarde, para
a redação do Distrito Industrial, onde eram copidescados por Rubens
Nóbrega, Assis, Josemar Pontes, Werneck Barreto, Marcone Carneiro
Cabral, Feitosa e pelo próprio editor, Agnaldo Almeida.
Em 78, quando casei, ainda trabalhava na reportagem. Mas,
para ganhar uns extras, também trabalhava na redação. Durante o dia
ganhava o dinheiro da feira. No expediente noturno, o do aluguel.
A União foi minha primeira casa. Nela encontrei régua e
compasso.
Ganhei conhecimento, graças a isso recebi convites para
trabalhar em O Norte e no Correio da Paraíba, alcei voos até na
televisão, mas nada disso teria acontecido se não fosse A União e os
ensinamentos do professor Frutuoso Chaves.
Afirmo, sem qualquer temor, que nenhum jornal da Paraíba
teve quadros qualificados e primou pela qualidade de seu noticiário
como A União. Pelos seus quadros passaram as figuras mais brilhantes
da nossa cultura. A União ensinou muita gente e abrigou aqueles que,
sem ela, não teriam saído do anonimato.
Quando passeio pelas suas salas e oficinas, ainda sinto as
presenças fortes de Freire, de Zé Boró, de Walter Souza, de Mano, de
Ferreti, de Pedro Moreira, de Dona Pequena e de outros que se foram
para as redações celestiais.
E bate aquela saudade no peito, a saudade que denuncia a
passagem do tempo, o adeus da juventude e a chegada dos cabelos
brancos.
Nós envelhecemos, ela não. Parece uma menina, com cheiro
de tinta fresca e jeito de quem nasceu ontem.

66 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Josinald o Malaq u ias

U m j ornal, u m rom anc e

O contexto em que ingressei em A União era o de um jornal


oficial num regime militar. Pairava o fantasma de uma diretoria
deposta por trocar o nome do presidente Ernesto Geisel pelo
do seu irmão Orlando Geisel. No entanto, o ambiente era descontraído
e agradável, e fazia amarmos o Jornalismo.
As limitações eram superadas pelos investimento na cultura
e no esporte. A União contava com os melhores jornalistas, poetas,
escritores e cronistas da Paraíba. Conseguia alimentar a flama do
crepúsculo de um jornalismo romântico que foi esmaecendo sob o
impacto da instalação das emissoras de televisão em João Pessoa e
das tecnologias interativas provindas da internet.
Na época os veteranos eram Gonzaga Rodrigues, Natanael Alves,
José Souto, Martinho Moreira Franco, Carlos Aranha e Antonio Barreto
Neto. O editor era o jovem descontraído Agnaldo Almeida e o chefe
de reportagem o emérito Frutuoso Chaves o eterno mestre dos focas
de então Sebastião Lucena, Paulo Santos, Wellington Farias, Edmilson
Lucena, Lena Guimarães, Hilton Gouveia, Chico Pinto, Carlos Vieira, José
Carlos dos Anjos, Anacleto Reinaldo e do escriba que vos fala.
Por trabalhar simultaneamente como fotógrafo e repórter, passei
a ser chamado “texto e foto” pela verve de Martinho Moreira Franco. Na
parte de imagem dividia as tarefas com o meu irmão de 46 anos de ofício
Antonio David Diniz, o melhor fotógrafo que conheço, e Ortilo Antonio.

A UNIÃO 67
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
A redação era dividida em duas partes. A primeira funcionava
na Praça 1817, em cima do Cartório Decarlinto. A partir das 8h da
matina, Frutuoso distribuía as tarefas. A segunda parte era no Parque
Gráfico, no Distrito Industrial. Ali ficavam os feras. Como era também
fotógrafo, ia revelar as fotos no “distrito”, como chamávamos.
Ali os redatores experientes a exemplo de Carlos Aranha,
Fernando Melo, Sitônio Pinto e Martinho Moreira Franco lapidavam o
texto dos “focas”. O esporte ficava a cargo dos saudosos Martins Neto,
Antonio Hilberto e Marciano Soares.
O frenético barulho das máquinas de escrever, do telex e do
teletipo (eita como estou velho) era cortado por uma frase que se
tornou uma espécie de cacoete: - Boró, traz uma água e um café. E,
com o seu andar lento, sempre sorrindo e solícito, o inesquecível Zé
Boró atendia a todos. Ô tempo bom!

68 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Ed m ilson Lu c ena

A União foi minha escola, régua e compasso

O ano era 1976. Mês de março. Tive uma conversa com o chefe
de Reportagem de A União, Frutuoso Chaves, encaminhado por
Barreto Neto, a pedido do meu irmão Tião Lucena. A primeira
pauta, uma entrevista com o secretário estadual da Educação, Tarcísio
Burity, que, dois anos depois, viria a ser eleito governador do Estado, pela
via indireta. Missão espinhosa para um ‘foca’, recém chegado de São Paulo
e sem nenhum conhecimento de causa quanto às coisas locais. Mas me
saí bem. Burity facilitou meu trabalho, praticamente ditando a matéria.
Frutuoso era um chefe de Reportagem exigente e um grande
e competente profissional. Foi meu primeiro e o melhor professor
que tive. A União, minha escola, meu rumo, régua e compasso. Foi
fundamental para mim que, ao contrário de inúmeros colegas, vivia e
vivo exclusivamente do jornalismo. Inicialmente, na iniciativa privada
e, depois, no serviço público. Mas sempre jornalismo.
O jornal tinha como superintendente, à época, o jornalista José
Morais de Souto. O diretor administrativo era Murilo Sena, o diretor
técnico Antonio Barreto Neto e o editor geral Agnaldo Almeida. Digo
sem medo de errar que A União, à época, contava com os melhores
textos e a melhor equipe do jornalismo paraibano. Pagava os salários
rigorosamente em dia e funcionava como uma máquina bem azeitada.
A equipe de reportagem atuava com garra e produzia ótimas
matérias, sob o comando de Frutuoso Chaves. Eu, Chico Pinto, Tião

A UNIÃO 69
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Lucena, Wellington Farias, Marcone Cabral, Marcone Formiga,
Arlindo Almeida, Renato e tantos outros que me fogem à memória,
contribuíamos para que o jornal competisse em igualdade de condições
com O Norte e Correio da Paraíba. Cobertura de vestibular, era com a
gente. Não tinha para mais ninguém. A União sempre saía na frente.
O Estado, proprietário de A União, quando comecei no jornal,
era governado por Ivan Bichara. As eleições estaduais na Paraíba
ocorreram dois anos antes, em 1974, em duas fases, conforme previa o
Ato Institucional Número Três e assim a eleição indireta do governador
Ivan Bichara e do vice-governador Dorgival Terceiro Neto ocorreu em
3 de outubro.
Posto em função da cultura, como instrumento divulgador,
A União conseguiu realizar, desde aquela época até os dias atuais, o
milagre da máxima distenção pelo mínimo preço. O jornal é o professor,
o jornal é o orador, o jornal é o técnico, graças à variedade da matéria
que fornece ao público e à mobilização imediata de todas as aptidões
práticas chamadas a colaborar na sua feitura, no menor espaço de
tempo. É a literatura, a agricultura, a economia política, a informação
de toda espécie, tudo colocado ao alcance do leitor mediante duas
ou três cédulas de um real. O jornal informa, o jornal educa, o jornal
edifica, se encarado por este aspecto. Sempre foi assim com A União.
Dois anos depois de cumprir a primeira pauta como repórter do
Jornal Escola de todos nós, em 1978, fui convidado por Marcone Goes,
o todo poderoso diretor executivo dos Diários e Emissoras Associados
na Paraíba, para assumir a editoria política do jornal O Norte. Aceitei,
mas A União permaneceu no meu coração como o mais querido, o
mais lembrado e o responsável por todos os êxitos que alcancei em
toda a minha trajetória.
Em 1987, já como superintendente de Comunicação do Estado,
no Governo de Tarcísio Burity II, nossos caminhos novamente se
cruzaram. Colaborei de forma decisiva com o então superintendente
do jornal, o querido e saudoso Jório de Lyra Machado, no início do
processo de modernização do parque gráfico e na melhoria das
condições de trabalho e de salário dos jornalistas, gráficos e pessoal da
área administrativa.
Em 41 anos de jornalismo, 20 foram dedicados à redações.
Tempo demais para continuar acreditando na existência da verdade
absoluta. Mas sou identificado com A União em todos os sentidos.
Minha vinculação com a mais do que centenária é permanente, eterna,
até. Um amor imenso!

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Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Cardoso Filho

Rep ó rt er p olic ial p or ac aso

S
er jornalista é um dom. Iniciei na profissão em 1976, como repórter
policial, com o jornalista Frutuoso Chaves - meu professor - na
Editoria geral do jornal A União. A reportagem policial foi um
acaso. Certo sábado daquele ano cheguei um pouco atrasado e o editor
disse que naquele dia estava dispensado. A Redação funcionava na
Praça 1817. Ao invés de sair, resolvi conversar com amigos no próprio
prédio. Em dado momento, fui chamado por Frutuoso e perguntou
“quer ganhar o dia”. Respondi que sim e, a partir daquele dia passei a
trabalhar nas reportagens policiais.
Acompanhei vários fatos importantes e de repercussão na
Paraíba. Um deles foi o assassinato da poetisa Violeta Formiga praticado
pelo advogado Rosado Maia no apartamento do casal em um edifício
na Rua dos Navegantes, em Tambaú, na capital. O Caso Abiaí, que
envolveu vários policiais civis, entre eles delegados e agentes, também
foi outro fato que acompanhei em todos os detalhes, inclusive com
prisões e condenações dos acusados.
Nos quarenta anos de jornalismo, cerca de trinta anos na área
policial, a reportagem que mais me comoveu foi de três irmãs, da
cidade de Guarabira. Se não falha a memória de 8, 10 e 12 anos, que
haviam sido estupradas pelo próprio pai, quando residiam no Rio de
Janeiro. O “monstro” estava com AIDS, infectou a mãe das crianças, que

A UNIÃO 71
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
morreu na capital fluminense. As irmãs passaram a morar em um sítio
no município de Guarabira com a avó. Infelizmente todas morreram.
Outra importante cobertura foi do crime do Abiaí quando
foram assassinadas seis vítimas, quatro caçadores e dois suspeitos de
envolvimento nos assassinatos que eram funcionários da Fazenda Abiaí,
pertencente a importante empresário. A chacina envolveu policiais
civis e militares, inclusive delegados. O processo judicial transcorreu
na Comarca de Alhandra sob a presidência do juiz Antônio Fernando
Santana Lins e o representante do Ministério Público era o promotor
Antônio Inácio Neto.
Estou no jornal A União pela terceira vez. Como repórter já
produzi diversas matérias especiais que enfatizam o trabalho das
Polícias Militar, Civil, trabalhos realizados pelos peritos oficiais do
Instituto de Polícia Científica, entre tantas outras.
Em um dos períodos fui presidente de uma entidade
representativa dos funcionários – a ASTRAU. Durante dois mandados
realizamos ações em benefício dos servidores da empresa, firmando
diversos convênios.
O jornal A União, como de muitos jornalistas, foi e sempre
será minha escola e onde tive a felicidade de conhecer minha esposa,
Maria Adalgiza. Tive o prazer de trabalhar com saudosos jornalistas
como Jacinto Barbosa, Gorette Zenaide, Machado Bittencourt,
entre tantos outros companheiros que já não se encontram mais
em nosso convívio.
Outra convivência importante é com os estudantes de
Jornalismo que trabalham no jornal A União como estagiários. Vários
já passaram por “nossas mãos” e muitos deles foram contratados por
outras empresas e também passaram a trabalhar como assessores de
órgãos federais, estaduais e municipais e também nas áreas esportivas
e empresariais.
A empresa proporcionou momentos importantes na minha
carreira jornalística.

72 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
W elling t on F arias

Mais que um jornal histórico,


u m a g rand e esc ola

Q uando o assunto é A U niã o, o clichê é inevitável: “Uma


grande escola de Jornalismo”. Ao longo de mais de um
século, o jornal do Governo da Paraíba foi fundamental para
a formação profissional de gerações de jornalistas paraibanos. Da
minha, inclusive.
Ingressei em A União Companhia e Editora dois meses
após ter iniciado a minha carreira na Rá d io T ab aj ara, então P RI-
4 , em 1977. Fui substituir a Paulo Santos, por sugestão dele
próprio ao chefe de Reportagem Frutuoso Chaves. Começava a
minha história no jornalismo impresso. A empresa, de economia
mista, era administrada pelo jornalista José Souto (presidente) e
por Murilo Sena (diretor-administrativo). Se não estou enganado,
o diretor-técnico era o jornalista Antônio Barreto Neto, que
também frequentava a Redação no tempo em que também
era correspondente na Paraíba do jornal O Est ad o d e Sã o P au lo
(Estadão). Era editor-geral de A U niã o o jornalista Agnaldo Brito
de Almeida, campinense radicado em João Pessoa. Saudosismo à
parte, este foi um período marcante do jornal, sobretudo para a
minha geração, pelos projetos editoriais ali realizados.

A UNIÃO 73
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
As Red aç õ es

Em agosto de 1977, quando ali cheguei, o jornal mantinha


duas Redações, além do mais moderno parque gráfico da Paraíba (off-
set), inaugurado cerca de três anos atrás, na gestão do governador
Ernani Satyro: uma na sede (no Distrito Industrial) e outra na Praça
1817, centro de João Pessoa. Esta servia de apoio aos repórteres que,
durante o dia, saiam às ruas de João Pessoa à cata de notícias. Ao final
da tarde, um malote com a produção (textos e fotografias) era enviado
para a Redação do Distrito Industrial por um motorista da empresa.
Naquele tempo, da Redação da 1817 faziam parte: Frutuoso
Chaves (chefe de Reportagem); os repórteres de Política Marcone
Formiga (setorista na Assembleia Legislativa) e Sebastião Lucena
(da Câmara Municipal); o repórter policial Anacleto Reynaldo; os
repórteres de cidade: Wellington Farias, Edmilson Lucena, Francisco
Pinto e José Carlos dos Anjos Wallach; fotógrafos: Antônio David e
Ortilo Antônio. Posteriormente, foi admitido o fotógrafo Josinaldo
Malaquias que, anos depois, se tornaria professor titular do curso de
Comunicação da Universidade Federal da Paraíba. Detalhe: Josinaldo
foi o primeiro repórter da imprensa pessoense a acumular a produção
de texto e a de fotos, de modo que produzia as fotos inerentes às suas
próprias reportagens. Antônio Hilberto era da equipe de esporte, mas
na Redação do Distrito.
Da Redação instalada no Distrito Industrial faziam parte, além
de Agnaldo Almeida, o editor-geral: Rubens Nóbrega, Francisco de
Assis, Sebastião Werneck, Josemar Pontes, Marcone Carneiro Cabral,
José Coelho (Coelhinho), entre outros. A colunista social era Sônia
Yost. O setor de Arquivo e Pesquisa, coordenado por Luzia de Lima
e auxílio de Aparecida Rodrigues, também acompanhou a Redação,
a não ser quando esteve na Praça 1817. Eram diagramadores: Land
Seixas, Wellington Seixas, Bill Barros e Sebastião (Tião).
Em A U niã o tive o privilégio de trabalhar com outros grandes
nomes do jornalismo paraibano: Gonzaga Rodrigues, Nathanael Alves,
Luís Augusto Crispim, Antônio Barreto Neto, Arlindo Almeida, Deodato
Borges Filho, ex-diagramador do jornal e hoje um dos mais conceituados
desenhistas de histórias em quadrinhos do planeta, sob o pseudônimo
de Mike Deodato, que tornou-se mundialmente conhecido.
Repórter trabalhava a pé: a não ser em excepcionais situações,

74 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
não havia carro à disposição da Redação. Os carros da empresa ficavam
a serviço da Administração, embora ostentando a inscrição Rep ort ag em .
Frutuoso Chaves, chefe-de-Reportagem, adotava uma norma: cada
repórter tinha que produzir em média cinco notícias, e no mínimo três.
A Redação central de A U niã o ao longo do tempo “perambulou”
por várias áreas de João Pessoa. Da 1817 a equipe somou-se à
Redação do Distrito Industrial. Impraticável pela distância da área
urbana, tornando difícil o deslocamento dos repórteres às suas fontes.
A Redação mudou-se para a Praça Aristides Lobo, no prédio onde
funcionou o Cine Brasil e posteriormente a Saelpa. Em seguida, foi para
a Rua João Amorim, próximo ao supermercado Bompreço, da Praça
Castro Pinto, depois para a Rua General Osório, no prédio da Biblioteca
Central do Estado, que havia sido transferida dali. Anos após, voltaria
para o Distrito Industrial, onde está atualmente.

Copidesque e texto final

Ainda não havia jornalista diplomado no mercado. O Curso


de Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba estava
surgindo. Aprendia-se o jornalismo empiricamente, na prática e na
marra. Em compensação, havia mais critério e rigor na seleção dos
textos a serem publicados: além de um corpo de revisores, na Redação
do jornal existia uma bancada de copidesque. A palavrinha deriva do
inglês copy desk, que designa o redator que “lapida” textos: corrige e,
dependendo da necessidade, até reescreve o que vai ser publicado, seja
para torná-lo mais claro e objetivo, ou para dar um enfoque segundo
a orientação do editor; sem alterar em nada o sentido da notícia,
naturalmente. Dar texto final era o grande desafio dos repórteres; era
até motivo de vaidade profissional. Da nossa equipe de repórteres de
então, apenas Marcone Formiga, o mais experiente, tinha texto final.
O que era escrito por nós outros - jornalistas em início de carreira -, ia
direto para a bancada de copi para receber o tratamento necessário.
Aí entravam em cena Rubens Nóbrega, Sebastião Werneck, Francisco
de Assis e outros.
A maior parte do tempo em que atuei no jornalismo impresso
foi na área de política. Por A U niã o e outros veículos fui setorista na
Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de João Pessoa. Mas fiz
incursões - algumas demoradas - pelas editorias de cidade, cultura e até

A UNIÃO 75
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
economia. Também fui editor-geral de A União entre 1990 e 1991. Nesse
período transcorreu a chamada Guerra do Golfo, um conflito militar
travado entre o Iraque e forças da coalizão internacional, liderada pelos
Estados Unidos e patrocinada pela Organização das Nações Unidas, com
a aprovação de seu Conselho de Segurança que autorizou o uso da força
militar para a libertação do Kuwait, ocupado e anexado pelas forças
armadas iraquianas sob as ordens de Saddam Hussein.

O Plágio de Zé Ramalho

A reportagem de minha autoria de maior repercussão foi


publicada em A U niã o: o histórico plágio cometido pelo cantor e
compositor paraibano Zé Ramalho. O fato teve repercussão nacional
e ocupou generosos espaços dos maiores jornais do país e na maior
revista semanal brasileira, a V ej a. Da lavra da jornalista Ana Maria
Bahiana, o jornal carioca O Globo publicou quase página inteira na
capa do Caderno 2. Coincidência, ou não, após este fato o artista
paraibano ficou sem gravadora por alguns anos.
Foi assim: Num domingo de julho de 1982, com pompas e
circunstâncias Zé Ramalho lançava no programa Fantástico (Rede
Globo) aquele que seria o seu mais festejado LP - em vinil, porque não
havia o formato em CD. O título do disco e da faixa principal era F orç a
V erd e. Quando Zé começou a cantar na televisão, o colecionador de
gibis e quadrinista paraibano, Emir Ribeiro, de imediato conheceu a
poesia; desconfiou de que aquele texto estaria num dos exemplares
da sua coleção. Na mosca: de autoria do poeta e dramaturgo irlandês
William Butler Yeats, Prêmio Nobel de Literatura em 1923, o texto era
a introdução da estória contada na revista O Inc rí v el H u c k , número 1,
editada pela Abril Cultural.
O fato chegou ao meu conhecimento. Caiu como uma bomba na
Redação. Encaminhei o assunto para a editoria competente (Cultura).
Ninguém se prontificou a fazer a reportagem, tampouco assiná-la. Eu
era chefe de Reportagem e sabia da importância da matéria: era um fato
jornalístico de grande relevância. Empenhei-me pela sua publicação.
Como Zé é um paraibano que estava com a carreira artística
nacional em franca ascensão, e sendo A U niã o um jornal do Governo
do Estado, comprometido com seus valores culturais, foi preciso que o
governador Tarcísio Burity fosse consultado e autorizasse a publicação

76 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
da reportagem. O intermediário da negociação foi o jornalista Gonzaga
Rodrigues. Burity terminou concordando, mas com uma condição: que
a reportagem fosse publicada com assinatura do autor. Como ninguém
da editoria competente se dispôs a fazê-lo, eu mesmo topei a parada.
E assim foi feito: na primeira página da edição do dia seguinte, dentro
de um box saiu a reportagem sob o título O Incrível Zé Ramalho,
num trocadilho com o título da revista O Inc rí v el H u c k . A ilustração
(Zé Ramalho magricelo dentro de uma roupa em farrapos, como o
super-herói Huck) foi da autoria de Domingos Sávio, um dos melhores
ilustradores da imprensa paraibana.
Ao longo da produção da reportagem naturalmente tentei
entrevistar Zé Ramalho para ouvir dele a explicação sobre o fato.
Naquela época não havia internet, whatsapp, messenger, nem
aparelho celular. Só telefone e linhas analógicas de péssima qualidade.
Mesmo assim, consegui localizar o compositor paraibano, que estava
hospedado num hotel de Salvador. Pela boca de um assessor, porém,
ele mandou dizer que estava muito ocupado e, portanto, não poderia
atender. A reportagem foi publicada sem a versão do artista. Na
semana seguinte, porém, A U niã o publicaria – em página inteira – uma
entrevista que fiz com o advogado José Carlos Éboli, que veio a João
Pessoa representando a Emi/Odeon gravadora com a qual Zé Ramalho
tinha contrato.
Outra matéria de grande repercussão que fiz para A U niã o foi
uma entrevista com o então governador de Minas Gerais e pretenso
candidato à Presidência, Tancredo Neves, que rendeu a manchete
de capa: “Viveremos dias de turbulência no Brasil”. Tancredo estava
hospedado no Hotel Tropicana e tinha vindo a João Pessoa para fundar
o Partido Popular (PP).
Outras duas, que geraram burburinho na província: por acaso
descobri que Leovegildo Gama, pai de Júnior – o craque do Flamengo e
da Seleção Brasileira – estava sepultado em cova rasa e como indigente
no cemitério do Cristo, em João Pessoa. Deu o que falar... Pouco tempo
depois, a família retirou o corpo do lugar.
A personalidade internacional mais relevante que entrevistei,
para A U niã o, foi o secretário do Sindicato Solidariedade da Polônia,
entidade comandada pelo líder sindical polonês Lech Wałęsa,
contemporâneo de Luis Inácio Lula da Sila e com trajetórias muito
parecidas: operários que promoveram transformações e chegaram à

A UNIÃO 77
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Presidência dos seus países. Wałęsa, na Polônia, com o apoio da ala
conservadora da Igreja Católica. Luis, no Brasil, com o apoio da ala
progressista da mesma igreja.
A entrevista aconteceu por acaso, em Cabedelo, onde estavam
atracados navios da chamada “cortina de ferro”. Durante a ditadura
militar era esta nomenclatura usada para designar países comunistas.
Convidado pelo jornalista Willys Leal, eu tinha ido fazer
a cobertura de um evento turístico na praça principal da cidade
portuária de Cabedelo, na Grande João Pessoa. Dos navios de bandeira
comunista ninguém podia sair nem entrar, em território nacional. Entre
nós, porém, estava um sujeito chamado Ítalo. Muito hábil e de boa
conversa, a ele se atribuía uma relação muito íntima com os militares...
Verdade, ou não, o fato foi que ele conseguiu que os tripulantes de
um navio polonês saíssem do navio e fossem até a praça principal da
cidade para ver o evento. Dentre eles estava o tal sindicalista, cujo
nome não lembro. Afinal, lá se vão mais de 30 anos.

Elizabeth Teixeira

Também fui o primeiro jornalista a dar notícia sobre o


reaparecimento da viúva de João Pedro Teixeira: a camponesa Elizabeth
Teixeira, natural da cidade de Sapé, que substituiu o marido assassinado
pelas mãos do latifúndio no comando das Ligas Camponesas, havia
sumido na clandestinidade depois que eclodiu o golpe militar de 1964,
adotando o falso nome de Marta Maria Costa.
Como repórter, sempre gostei de fazer entrevistas que dessem
o que falar. Pedia sugestões sobre pessoas dignas de entrevistas de
páginas inteiras. Numa destas, o jornalista João Manoel de Carvalho me
revelou que estava voltando à Paraíba a viúva de João Pedro Teixeira,
que viveu anos no anonimato pras bandas do Rio Grande do Norte,
e me forneceu o endereço onde ela se encontrava, na casa de uma
filha, no bairro pessoense de Cruz das Armas. Para esta empreitada,
convidei o colega Carlos Tavares, colega de Redação de A U niã o e filho
do conceituado médico Arnaldo Tavares, que dividiu comigo a tarefa
de fazer perguntas a Elizabeth.
Vivi momentos muito interessantes e curiosos nas Redações
de A U niã o. Na Redação de A U niã o à época da General Osório,
desfrutei de um momento musical ímpar, ao lado do colega Silvio

78 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Osias: um belíssimo solo de sax do internacionalmente festejado
músico, compositor, arranjador e autor de trilhas de cinema Moacir
Santos. Natural de Flores, em Pernambuco, Moacir mudou-se para
Los Angeles em 1967 quando foi convidado para a estreia mundial do
filme Amor no Pacífico, de cuja trilha sonora era autor. É tido como
um dos maiores mestres da renovação harmônica da música popular
brasileira (MPB). Foi homenageado por Vinicius de Moraes – de quem
foi parceiro – no “Samba da Bênção”, com Baden Powell. Também foi
professor de Baden, Paulo Moura, João Donado, Nara Leão, Roberto
Menescal, Sergio Mendes e outros.
Foi na Redação de A U niã o, da Rua João Amorim, que conheci o
menestrel baiano Elomar Figueira Mello, que peregrinava por redações
brasileiras divulgando o seu trabalho. Se a memória não me falha
era seu primeiro LP intitulado “Na quadrada das águas perdidas”. Ali
também conheci o maestro paraibano, internacionalmente conhecido,
José Siqueira. Natural de Conceição, na Paraíba, ele chegou a reger
a Filarmônica de Moscou, além de grandes orquestras dos Estados
Unidos, Canadá, França, Portugal, Itália, Holanda, Bélgica.

A UNIÃO 79
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
P et rô nio Sou t o

Pouco tempo, muito trabalho

M inha gestão como diretor-presidente de “A União - Companhia


Editora” estendeu-se de 7 de abril de 1981 a 26 de maio de
1982. Nessa presidência, sucedi ao saudoso jornalista Nathanael
Alves - e fui sucedido por Etiênio Campos.
Durante cerca de 14 meses, procurei colocar em prática minhas
ideias sobre como deve funcionar um jornal cuja principal tarefa é ajudar
o Governo do Estado a divulgar corretamente suas políticas públicas,
suas atividades, sua filosofia política. Mas não cuidei apenas da Política,
da Administração como um todo, das atividades do então governador
Tarcísio Burity.
Sem desejar alongar-me em considerações talvez desnecessárias,
irei direto ao assunto, relatando os principais fatos resultantes de minha
breve passagem pelo cargo:

1. “O Correio das Artes”, excelente e tradicional


suplemento literário do jornal “A União”, vence
o Prêmio Nacional da APCA (Associação Paulista
de Críticos de Arte), na categoria de “Melhor
Divulgação Cultural em 1981”.
2. “O Correio das Artes” é incluído na “Modern
Language Association of América”, periódico
dos Estados Unidos responsável pelo registro
das mais importantes publicações culturais do
mundo.

80 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
3. Uma série de ações concretas visando à melhoria da circulação e
da distribuição do jornal oficial “A União”. Uma dessas medidas
foi a contratação de Chico Ferreira (hoje artista plástico), que fazia
excelente trabalho nessa área, no jornal “Correio da Paraíba”. Sua
tarefa era estruturar e dinamizar os mesmos setores em “A União”.
4. Aquisição, na República Federal da Alemanha, de duas impressoras
rotativas “Kord”, num esforço para aumentar a produção da gráfica.
5. Redução da bitola do jornal: deixamos o exemplar de “A União”
alguns milímetros mais estreito, com o único objetivo de
economizar papel.
6. Regularização do patrimônio imobiliário da empresa, com a
escrituração e o registro do terreno, a fim de possibilitar a
averbação do edifício-sede.
7. Com autorização do governador Tarcísio Burity, empreendemos as
indispensáveis ações com vistas a transferir “A União” e a Rádio Tabajara
para o local onde hoje funciona o TRE-PB (Tribunal Regional Eleitoral da
Paraíba), na Avenida Princesa Isabel, centro da capital. O projeto de
arquitetura chegou a ser concluído pelo arquiteto Régis Cavalcanti, mas
a ideia foi abandonada pelos sucessores.
8. Ocorreu em minha modesta gestão, para alegria de jornalistas
e gráficos do matutino, um fato deveras curioso e que marcou
a História do jornal “A União”. Foi em 14 de maio de 1981, o
dia em que “A União” vendeu mais que os jornais “O Norte” e
“Correio da Paraíba”, colocando nas ruas a edição mancheteando
o atentado do turco Ali Agca contra o Papa João Paulo II, na Praça
de São Pedro. O jornal divulgou fotos do Pontífice baleado sendo
conduzido para o hospital.
9. No campo gráfico-editorial, foi reeditada uma obra básica para
conhecer a Paraíba sob o domínio holandês: “Descrição Geral da
Capitania da Paraíba”, de Elias Herckmans.

Com a saída do governador Tarcísio Burity para tentar uma


vaga na Câmara Federal, ainda se fizeram gestões para minha
permanência à frente do cargo em “A União”, na administração do
seu sucessor, Clóvis Bezerra. Mas, entendendo que cada governador
não só pode como deve colocar no cargo pessoas rigorosamente
afinadas com sua orientação, não aceitei que prosperassem essas
tratativas. E com muito gosto vi meu amigo Etiênio Campos ascender
ao cargo que procurei exercer com dedicação, honestidade, equilíbrio
e profissionalismo.

A UNIÃO 81
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Quando fui superintendente de A União estive diante de um
desafio. O governador Tarcísio Burity, no seu primeiro mandato,
queria transformar A União e a Rádio Tabajara, ambas sociedades
de economia mista, em uma única empresa. Queria mais: jornal e
rádio deveriam funcionar no mesmo endereço.
O governador não se conformava com o fato de A União
funcionar no Distrito Industrial, “perto do Abreu e Lima”, mantendo a
Redação na Rua João Amorim, no Centro, em imóvel alugado. Também
queria dar novas e modernas instalações à Rádio Tabajara.
Caí em campo. Primeiro localizei um terreno vazio na esquina da
Rua D. Pedro I com Princesa Isabel (onde hoje funciona o TRE). Depois
me pus a discutir o projeto arquitetônico com Régis Cavalcanti, da
Suplan. O projeto ficou em ponto de maquete. Mas aí Burity resolveu
deixar o governo para se candidatar a deputado federal, nas eleições
de 1982, e eu deixei o cargo junto com o governador que havia me
convidado. Depois, acredito, a Paraíba teve outras prioridades...
Gosto sempre de lembrar das coisas positivas que vivi por onde
passei. N´A União, relembro uma atitude do editor Agnaldo Almeida
que demonstra toda sua criatividade e competência profissional.
Ao assumir A União, na época sociedade de economia
mista, tratei logo de fazer uma leitura técnica do último Balanço
da empresa e me convenci de que teria que me desdobrar para
levar o barco com relativa tranquilidade, já que vivíamos inflação
“galopante” e forte pressão dos sindicatos dos jornalistas e dos
gráficos por reajustes mensais.
Confidenciei minhas preocupações com pessoas da equipe, no
sentido de que elas compreendessem as razões de algumas medidas.
A ideia central, digamos assim, era a famosa contenção de despesa.
Foi aí que Agnaldo veio com uma idéia tão genial quanto
simples: estreitar o jornal.
A União, no modelo tradicional, era um jornal enorme,
um verdadeiro lençol, talvez porque na época não houvesse tanta
preocupação com custo de produção, muito menos com a tal
sustentabilidade, tão badalada hoje em dia. Afinal, papel de jornal vem
da derrubada de árvores...
O que fez Agnaldo? Manteve o modelo standard, mas
estreitando o jornal, reduzindo suas manchas gráficas, tendo o cuidado
de imaginar, em paralelo, modificações sutis e profundas no projeto
gráfico, o que fez de A União um produto novo, pelo menos aos olhos
do pessoal do ramo.
Providência simples, criativa e que resultou em grande
82 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
economia para a empresa, que passou a comprar bobinas de papel
numa bitola menor, bem mais baratas, o que acabou sendo adotado
pelos concorrentes.
***
17 de maio de 1982. Em cerimônia no Teatro Municipal de São
Paulo, o editor Sérgio de Castro Pinto recebe o Prêmio Nacional “MELHOR
DIVULGAÇÃO CULTURAL EM 1981”, outorgado por unanimidade pela
Associação Paulista de Críticos de Arte-APCA ao CORREIO DAS ARTES, “em
reconhecimento a contribuição do Suplemento Literário do jornal A União à
cultura brasileira através de edições bem cuidadas, visando o alto nível das
colaborações assinadas por figuras expressivas da inteligência nacional”.
O prêmio é considerado um dos mais importantes do país,
conforme testemunho do cronista Artur da Távola, na Revista da
Semana do jornal O Globo, edição de 31 de janeiro daquele ano, que
assim se expressa: “Em nossa terra, porém, o prêmio de crítica mais
alto é o da Associação Paulista de Críticos de Arte. A isenção e o alto
nível dos integrantes da APCA deferem aos premiados a certeza de
uma escolha criteriosa, séria e independente”.
Juntamente com o Correio das Artes foram contemplados
intelectuais como Moacyr Félix, Marilena Chauí, Henfil, Fernando
Tôrres, Fernanda Montenegro, Irene Ravache, Tony Ramos, Marina
Lima, Marcos Rey, Miguel Jorge, o editor José Olympio e outros nomes
representativos da cultura nacional.
***
Alguns acham que a famosa ‘barriga’ de A União, que anunciou
o general Orlando Geisel, e não o seu irmão Ernesto, como sucessor de
Médici, se deu exatamente pela precariedade em que o jornal operava,
lá no Distrito Industrial. A mudança foi feita apenas com as instalações
físicas concluídas. Abrigando praticamente o sistema de impressão do
jornal, assim mesmo sem as máquinas e equipamentos modernas que
viriam depois, no começo de 1974, final do governo Ernani Sátyro.
Os contemporâneos dizem também que houve falha na
comunicação. A comunicação por telefone não era feita nos padrões
de hoje. Teria havido falha na comunicação por telefone, é o que sei.
Quem estava fechando a edição, lá no Distrito, não conseguiu checar
nada, tirar a dúvida. Acho que foi isso que aconteceu. O episódio, de
repercussão nacional, resultou na demissão sumária do secretário
Noaldo Dantas, do diretor de A União, Luíz Augusto Crispim, e do
editor Marcone Carneiro Cabral. Em resumo: equipe competente, mas
no momento sem os meios necessários para trabalhar.
A UNIÃO 83
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Anos 1980 - Da esquerda para a direita: Wellington Farias, Agnaldo Almeida, Arlindo
Almeida e Petrônio Souto entrevistando o então secretário de Segurança Pública,
coronel Geraldo Navarro, para o Jornal de Domingo (segundo caderno de A União).

Da esquerda para a direita: Walter Galvão, Agnaldo Almeida (da redação de A União),
Petrônio Souto, na época superintendente, Edvaldo do Ó, proprietário do jornal
Gazeta do Sertão, de Campina Grande, e dois redatores daquele jornal --Tarcízio
Cartaxo e Geovaldo Carvalho. A equipe de A União em visita a Gazeta, em Campina
Grande, para conhecer a experiência com o jornal em formato tablóide. Edvaldo do
Ó era um homem muito inteligente. Era diretor da Bolsa de Mercadorias de Campina
Grande, reitor da FURNe - Fundação Universidade Regional do Nordeste (embrião da
UEPB) e proprietário de jornal. Tarcízio Cartaxo, o quinto da esquerda para a direita,
era o chefe da sucursal de A União em Campina Grande.

84 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
1981 – Abertura de temporada da Orquestra Sinfônica da Paraíba. O maestro José
Siqueira é convidado pelo governador Tarcísio Burity para reger a OSPB no Teatro
Santa Roza. Na época, com 32 anos, Petrônio Souto dirigia o jornal A União. O
governador conversa com a soprano Alice Ribeiro, esposa do maestro José Siqueira.
Petrônio Souto em conversa com o jornalista Severino Ramos e com a primeira-
dama, Dona Glauce Burity.

Pôster assinado pelo artista plástico


e cartunista Antônio Gonçalves de Sá (Tônio),
criado para comemorar o Prêmio Nacional
outorgado pela Associação Paulista de Críticos
de Arte - APCP ao Correio das Artes – Melhor
Divulgação Cultural em 1981. Desde então,
o Correio das Artes foi incluído na Modern
Language Association of América (EUA),
periódico responsável pelo registro das mais
importantes publicações culturais do mundo.

A UNIÃO 85
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
2 de Fevereiro de 1974 - Solenidade de inauguração das novas instalações
de A União - Cia. Editora, no Distrito Industrial de João Pessoa.
O secretário de Comunicação já era Otinaldo Lourenço e a diretoria do
jornal era composta por Carlos Vieira (diretor-presidente); Carlos Alberto (diretor
administrativo-financeiro, funcionário do Banco do Brasil, neto do brigadeiro Firmino
Ayres, secretário de Segurança Pública) e o jornalista Luís Ferreira (diretor técnico).
Na foto, em primeiro plano, da esquerda para direita: Otinaldo Lourenço,
secretário de Comunicação; Milton Vieira (Finanças); governador Ernani Sátyro;
Aluísio Afonso Campos; José Américo de Almeida; Carlos Vieira (diretor-presidente
de A União, discursando); Lourdinha Luna; Otacílio Silveira e José Alves de Oliveira.

Petrônio Souto e Hélio Zenaide empossados na diretoria d’A União em 1981, pelo
secretário Gonzaga Rodrigues

86 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Um papo no DECOM-UFPB sobre o mercado de trabalho. Dalmo Oliveira, Giovanni
Meirelles, (Petrônio Souto, Walter Santos (com o microfone), Fábio Cardoso e os
professores Alarico Correia Neto e Moacir Barbosa

Governador Tarcísio Burity com o secretário de Comunicação Gonzaga Rodrigues,


Petrônio Souto, superintendente e Etiênio Campos, diretor administrativo

A partir da esquerda: Carlos Roberto de Oliveira, Paulo Santos, Gilson Souto Maior,
Biu Ramos, Petrônio Souto, Linduarte Noronha, Antônio Barreto Neto e Manoel
Raposo, ex-diretores da Rádio Tabajara comemorando os 60 anos da emissora

A UNIÃO 87
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
O secretário de Comunicação, Walter Santos, dá posse conjunta n’A União. Petrônio
Souto assumia a Rádio Tabajara e Itamar Cândido, deixava a rádio para assumir a
superintendência de A União

Edição de 1º de outrubro de 1970

88 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Carlos V ieira

A minha eterna escola

A minha passagem pelo jornal A União foi marcada por uma


trajetória vitoriosa, apesar das dificuldades que enfrentei
para alcançar este objetivo. Trabalhei em outros órgãos de
comunicação – O Norte e Momento -, mas aqui plantei raízes e criei a
minha história que ficará registrada definitivamente.
Cheguei ao velho matutino no dia 1º de setembro de 1978 e,
neste ano, já era estudante do Curso de Comunicação Social da UFPB,
onde terminei graduação em 1981. Na época, o superintendente
era José de Morais Souto e tinha como editor Agnaldo Almeida,
profissional da mais alta qualificação que dispensa comentários. A
União funcionava no regime CLT- Consolidação das Leis do Trabalho.
Quando cheguei ao jornal, encontrei profissionais renomados,
como Agnaldo Almeida, editor-geral; Josemar Pontes, secretário de
Redação; Frutuoso Chaves, chefe de Reportagem, Tarcísio Neves,
editor de Esportes; Fernando Melo, editor de Política, além de Antônio
Hilberto, Marcondes Brito, Werneck Barreto, Antônio Barreto Neto,
entre outros.
Inicialmente, fui contratado para trabalhar à noite no teletipo,
uma máquina que recebia matérias jornalísticas do Brasil e do mundo
de agências de notícias. Eu tinha que fazer correção nos textos, que
vinham escritos todos em caixa alta (letras de forma), tendo também
que corrigir datas e fazer outras mudanças nas matérias para poder
liberá-las para a digitação.

A UNIÃO 89
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Este tipo de trabalho me ajudou bastante na elaboração de
uma matéria jornalística, já que os textos vinham prontos das agências
de notícias e me davam uma noção exata como redigir uma matéria.
Procurei evoluir e não demorei muitos anos no teletipo. Aprendi
rápido outras atividades jornalísticas na Redação, como titular e editar
páginas. Daí em diante, passei a trabalhar nas funções de repórter e
redator, pois adquiri experiência e sabia dominar um texto.
Fui repórter de geral, policial, política e esportes. Na área
policial, cheguei a ser editor, onde realizei um bom trabalho. No jornal,
fiz de tudo um pouco: editei páginas de geral, policial, esportes, política
e mundo, além de cadernos especiais. Posteriormente, ocupei os
cargos de secretário de Redação, editor-adjunto e editor-geral, sendo
que este último por alguns meses.
Tive a honra de ocupar o cargo de secretário de Redação no
centenário do 4º jornal mais antigo em circulação da América Latina,
em 93, ao lado do meu amigo de saudosa memória Jacinto Barbosa,
que era o editor-geral. Isso é um orgulho para qualquer profissional.
Apesar de carregar o estigma de jornal oficial, já que pertence
ao Governo do Estado, A União sempre desenvolveu um jornalismo
de primeira linha – com ética e dinamismo - e jamais deixou a dever
nada em relação aos demais órgãos instalados na Paraíba. Não é
à toa que é considerada a maior escola de jornalismo do Estado,
por formar profissionais da mais alta qualificação. Estudantes de
Curso de Comunicação chegam aqui para fazer o seu estágio e saem
altamente preparados para exercer a profissão de jornalista em
qualquer empresa.
Nos anos 80 e 90, A União ganhou notoriedade ao formar
grandes equipes de profissionais renomados da imprensa paraibana
e pagava os melhores salários do mercado. O jornal desenvolveu
trabalhos de destaques em todas as áreas: geral, policial, política,
esportes, cultura. Foi uma época de ouro em que as edições esgotavam
nas bancas de vendas, por conta da qualidade do material jornalístico
que era divulgado com assuntos que despertavam o interesse dos
leitores.
A minha história em A União é de amor e glória, pois jamais a
deixei em troca de outras empresas. Trabalhei paralelamente no jornal
O Momento, na Secretaria de Comunicação do Estado, Instituto de
Terras e Planejamento Agrícola (Interpa) e Secretaria de Cidadania e
Justiça do Estado. Nestes dois últimos órgãos, instalei a Assessoria de
Comunicação e fui assessor. Aqui sempre foi e será a minha segunda
casa, a minha eterna escola de jornalismo.
90 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Nessa longa trajetória, convivi e trabalhei por muitos anos
ao lado de jornalistas renomados como Nathanael Alves, Gonzaga
Rodrigues, Biu Ramos,Martinho Moreira Franco, Agnaldo Almeida,
Frutuoso Chaves, Pedro Moreira, Abmael Morais, Tarcísio Neves,
Itamar Cândido, Jacinto Barbosa, Carlos César, Joanildo Mendes,
Nonato Guedes, Carlos Aranha, Werneck Barreto, Antônio Barreto
Neto, Jório Machado, Fernando Moura, José Euflávio, Geovaldo
Carvalho, Cristiano Machado, Chico Pinto, Wellington Farias, William
Costa, Rui Leitão, Nelson Coelho, entre outros. Sempre tive um bom
relacionamento com todos eles.
Não poderia deixar de registrar que três superintendentes
marcaram época na nossa centenária A União pela sua gestão eficiente
e valorização dos servidores: José de Morais Souto, Deoclécio Moura e
José Itamar da Rocha Cândido. Itamar, de saudosa memória, pode ser
apontado como maior destaque, pois, por duas vezes, assumiu o órgão
em situação crítica financeiramente, cheia de dívidas, sem carro até
para a Reportagem e nenhuma credibilidade no mercado para comprar
papel para rodar o jornal. Ele recuperou a empresa totalmente e deixou
um bom dinheiro em caixa nas duas vezes em que foi superintendente.
A nossa querida A União também viveu momentos de
grande turbulência em sua estrutura e esteve ameaçada de perder
equipamentos de grande valor por não pagar dívidas de contribuição
de servidores com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), já
que funcionava no regime CLT. O governo da época agiu com rapidez,
passou os funcionários para o regime estatutário e negociou o débito
com a Previdência.
A partir dessa mudança de regime, o calvário dos servidores
começou, pois o governo não cumpriu com o compromisso assumido
com a empresa e os salários começaram a atrasar. Todos os meses era
um sofrimento para o pagamento da folha de pessoal, pois dependia
da liberação dos recursos pelo governo.
Em outro governo, o jornal viveu outra crise e acabou numa
greve histórica dos funcionários comandada pela Astrau – Associação
dos Trabalhadores de A União, que durou 19 dias, com paralisação do
jornal, Diário Oficial e parque gráfico.
A paralisação revoltou o governo por não poder publicar
os atos no Diário Oficial e, por conta disso, cogitou a demissão de
líderes da Astrau que comandaram o movimento. No entanto, alguns
secretários aconselharam o governador a não tomar essa decisão
extrema, porque traria repercussão negativa para o governo demitir
profissionais de imprensa por conta de salários atrasados e outras
A UNIÃO 91
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
reivindicações. Ele recuou, determinou a abertura de diálogo, foi
feito acordo e a greve acabou.
Outra crise sacudiu a empresa nos anos 90, trazendo graves
consequências para todos que trabalhavam no órgão oficial. Foi nessa
época que Itamar Cândido assumiu a Superintendência de A União
pela primeira vez, encontrando-a num verdadeiro caos financeiro.
A Reportagem não dispunha de repórteres e nem de carro para
desenvolver as suas atividades. Sugeri ao diretor Técnico da época
convidar alguns jornalistas da Secretaria de Comunicação do Estado
para trabalhar no jornal, pagando uma gratificação. Ele aceitou a
ideia, trouxe vários profissionais e A União foi voltando aos poucos à
normalidade na produção de notícias. Itamar se encarregou de fazer
o resto e recuperou a empresa, deixando-o saneada financeiramente.
Portanto, o jornal já sobreviveu a muitas crises e chegou até ser
ameaçado de fechamento. Serviu também de trampolim político para
muitos. Mas a nossa querida A União sempre foi forte para se sobrepor
a todas essas intempéries e continuará firme na missão de ser a maior
escola de jornalismo e patrimônio cultural da Paraíba, esbanjando
vitalidade apesar de secular.

92 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Land Seix as
Presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba

A nov a t ec nolog ia, o ret orno ao reg im e


j u rí d ic o est at u t á rio e ed it or p or u m d ia

O jornal A União vai completar 125 anos. Por isso é um grande


celeiro da cultura e repercute como grande patrimônio do povo
paraibano, sem sombra de dúvidas. Quem trabalha, há muito
tempo nos veículos de comunicação impressos da Paraíba, sabe muito
bem do que estou falando. A sua trajetória acumulou histórias, que
outros veículos não têm.
Fui contratado para trabalhar no jornal em 1974, quando A União
exercia as suas funções sob o regime celetista. Não fui só. Dezenas de
colegas do jornal O Norte também foram convocados. O Governo do
Estado entrava na disputa investindo em novas tecnologias. E, o jornal
O Norte, que pertencia ao conglomerado dos Associados tinha sido
o primeiro a implantar o sistema de computadores a frio. Não existia
mão de obra qualificada para essa nova tecnologia na Paraíba. Com
exceção dos Diários Associados. Começava, assim, a guerra tecnológica
pela disputa do mercado impresso na Paraíba.
Por isso, lembro como se fosse hoje! Faltou pouco para
que o jornal O Norte não fechasse as suas portas. Pois, quase
cinquenta por cento do seu contingente de trabalhadores foi parar
no Distrito Industrial.

A UNIÃO 93
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Na implantação do velho para o novo sistema, do quente para o
frio, chegamos a usar o antigo, por diversas vezes. Pois, vez por outra,
aconteciam falhas, obrigando a empresa a recorrer às linotipos que
usavam a impressão no chumbo quente. Nós, diagramadores tínhamos
que trabalhar com fontes e tipos de letras totalmente desconhecidas
para suprir o novo modelo tecnológico implantado, através dos novos
computadores. Foi difícil, mas depois o sistema engrenou de vez, e o
jornal passou a só usar a nova metodologia avançada, que facilitava
o trabalho, diminuía o tempo de realização do processo e melhorava
significativamente a impressão do jornal.
A v olt a p ara o reg im e est at al - Em 1974, Carlos Vieira da Silva
era o Diretor Presidente de A União – Companhia Editora. Em 1975
assumiu o comando o jornalista José Morais de Souto, sendo sucedido
por outro jornalista, Nathanael Alves dos Santos, em 1979, que
entregou o cargo a Petrônio Vinício Souto Batista, em 1981. Petrônio
Souto, também jornalista, ficou na direção até o ano de 1982, passando
a direção da Cia Editora para Deoclécio Moura Filho, que permaneceu
no cargo até o ano de 1985. O jornalista Aluísio Moura assumiu em
1985 e, foi o último presidente da empresa no regime celetista. Foi na
sua gestão que a empresa voltou ao regime estatutário como A União
– Superintendência de Imprensa e Editora.
A União voltou a empresa com regime estatal através da Lei
Complementar nº 08, de 29 de julho de 1975, nos termos da Lei noº
4.714, de 20 de junho de 1985, a partir de 01 de agosto de 1985.
Ed it or p or u m d ia - Durante a minha trajetória no jornal estatal,
como diagramador, trabalhei com vários editores. Todos grandes
profissionais. Mas, dois deles me trazem boas recordações: Rubens
Nóbrega, que tenho como um dos melhores profissionais na área de
comunicação, pois conhece tudo sobre veículo impresso, e o saudoso
Pedro Moreira, irreverente e polêmico, embora dominasse esse campo
como ninguém.
Quando fui contratado para trabalhar como programador
visual do jornal, eu tinha sido aprovado no vestibular da Universidade
Federal da Paraíba e, o curso de Odontologia era no expediente da
manhã. Trabalhava à tarde no jornal Correio da Paraíba e à noite no
jornal A União, que ficava localizado na Rua João Amorim, por trás do
Supermercado Bom Preço.
Eu era o diagramador da noite. Por isso, tinha que apelar todos
os dias para que nada pudesse atrasar o fechamento do jornal. Pois,
precisava chegar cedo em casa para estudar, único espaço de tempo
de que poderia dispor, e tentar chegar no dia seguinte, às 7h na UFPB.
94 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
O editor do jornal A União era Pedro Moreira, que comandava
magistralmente toda a Redação. E, foi numa determinada ocasião, que eu
tinha prova no dia seguinte, que a zebra andou solta na Redação. Moreira,
nessa noite, chegou um pouco atrasado na Redação. Eu já o aguardava
ansioso, na sala da editoria.
Pedro entrou, sentou-se, baixou e escorou a cabeça na mesa
e adormeceu. As horas começaram a passar. Os plantonistas da
noite, que dependiam do nosso trabalho, para dar prosseguimento
ao fechamento do jornal, perguntavam de tempo em tempo, pela
primeira página, para finalizar o trabalho de todo mundo.
Nesse momento tomei uma decisão importante, para mim,
para toda a equipe e para o jornal. Fechei a porta à chave e selecionei
o material por ordem de importância: primeira, segunda e demais
matérias. Diagramei a página, coloquei os títulos e as legendas das
fotos.
Depois disso, chamei o chefe das oficinas para entregar o
material que estava pronto para ser absorvido pelos setores que
dariam sequência a sua finalização.
No dia seguinte, depois da prova na faculdade, passei no jornal
para saber se alguma coisa de errado tinha acontecido. Como ninguém
falou nada, peguei um exemplar do jornal, li e conferi toda a primeira
página, e saí feliz como se fosse um verdadeiro editor.
No expediente da noite, o editor-geral sem ainda entender o
que havia acontecido, em particular perguntou quem havia editado a
primeira página do jornal. Contei toda a verdade a Pedro. E, a nossa
amizade que já era duradoura, ficou mais forte ainda.
O d ia em q u e o Est ad o p arou - Podemos dizer que A União
possui o jornal mais nômade do país. Começou na Praça João Pessoa,
melhor sede e de onde nunca deveria ter saído. Depois, por obra da
insensatez de alguns governantes instalou-se no Distrito Industrial,
onde está até hoje. Mas, mesmo depois de se instalar na Br 230, km
03, estrada para Recife, longe de tudo, ainda mudaram a Redação do
jornal para diversos locais da cidade de João Pessoa: no prédio da
antiga Saelpa, que atendia na Rua Guedes Pereira com a general Osório;
na rua Prof. Osvaldo Pessoa, no bairro de Jaguaribe; na Biblioteca do
Estado localizada na rua General Osório, Centro de João Pessoa; e por
trás do Bom Preço, na rua João Amorim.
No início todos os setores de A União funcionavam no Distrito
industrial, a exemplo da Administração, Redação, Gráfica e o Diário
Oficial. Os salários pagos aos funcionários celetistas eram bem
atrativos. Todo mundo queria trabalhar n’A União. Lembro que rejeitei

A UNIÃO 95
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
um convite para a Gráfica da Universidade Federal da Paraíba, por
ganhar muito bem e por ter orgulho de fazer parte daquela empresa
de comunicação.
Mas, tudo muda. Como realmente mudou! Os salários
começaram a despencar e a insatisfação já era generalizada. Por isso,
foi necessário organizar um movimento paredista para combater as
transgressões trabalhistas e o achatamento de salários na empresa.
A Associação dos Trabalhadores do Jornal A União – ASTRAU foi
criada à revelia e sob ameaças do Superintendente Aluísio Moura, com
o objetivo de combater as atrocidades que eram cometidas contra os
trabalhadores daquela empresa.
Quando a Redação foi transferida para a Rua Guedes Pereira, na
antiga Saelpa, Centro da cidade, foi realizada a primeira greve geral na
empresa, pela associação que era presidida por mim, presidente eleito
para a primeira gestão da entidade, que contou com duas chapas.
Naquele tempo existiam sucursais em muitas cidades do interior da
Paraíba. O jornal A União depois de impresso circulava em quase todo
o Estado da Paraíba. Muitos funcionários do interior viajaram para
participar da assembleia naquele dia. E a decisão pela aprovação da
greve foi por unanimidade.
A paralisação foi de cem por cento. Cruzamos os braços em
todos os setores da empresa. Até o editor-geral, Josemar Pontes,
aderiu ao movimento. Só quem não gostou foi o inquilino do Palácio
da Redenção, Dr. Tarcísio de Miranda Burity. Isto porque o jornal A
União e o Diário Oficial eram feitos artesanalmente. E o Estado parou
porque todos os atos do governador não eram publicados e não havia
meios de oficializar os seus atos. Daí, ele não podia governar.
Realizamos passeatas pelas ruas do Centro da cidade, com a
participação massiva das categorias de trabalhadores. Até Oduvaldo
Batista foi para a caminhada.
Mas, como sempre acontece em todos os movimentos
reivindicatórios, o processo passou a ser ameaçado pelo governador
da Paraíba. A promessa era demitir todos os diretores da executiva da
ASTRAU. Mas, não arredamos pé. A greve continuou.
Então, apareceu do nada, o bom samaritano. O salvador
da Pátria. O nome dele era Martinho Moreira Franco, homem da
comunicação do Governo do Estado para intermediar o impasse. Pois
já tinha dias que o governador não administrava o Estado da Paraíba.
De início o jornalista Martinho Moreira Franco nos aconselhou
a voltar ao trabalho, com o apontamento de demissão da executiva da
ASTRAU. Não arredamos pé. Depois, veio a proposta de conciliação.

96 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Estava marcada uma reunião com Tarcísio Burity. Mas, ele resolveu
não tratar diretamente do assunto e, transferi-lo para o secretário
Antonio Carlos Escorel da Administração. Pois, o governador estava
muito chateado com a interrupção da sua gestão.
A reunião com o secretário foi progressiva e conciliadora. E, o
final, muito feliz. Ganhamos uma gratificação de cem por cento em
nossos salários. Houve comemoração em todos os setores da empresa.
Mas, tudo isso foi verdade. Houve realmente esse movimento
que paralisou o estado da Paraíba. Se quiserem provas perguntem aos
trabalhadores de A união.
Essa é a pura verdade. A União tem história que nem todos os
impressos têm!

A UNIÃO 97
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
G erald o V arela

A U niã o f az a f orç a d essa g rand e f am í lia

A minha história na União se confunde com a história da minha


própria vida. Por enquanto início e meio, o fim ainda está
distante. Acredito.
Cheguei em 1979 direto pra Redação e pra ajudar no fechamento
da página Internacional. Meu pai era amigo de Evandro da Nóbrega, e
dessa amizade fui parar no matutino. O material chegava todo em caixa
alta e tinha a missão de sublinhar as caixas altas. Fiquei pouco mais
de ano e fui surpreendido com a demissão em maio do ano seguinte
sem maiores explicações. Não tinha feito nada de errado. Chegaram
a me falar em contenção de despesas. Não me convenceu. Estava de
casamento marcado. E casei desempregado. Acreditem!. Foi sufoco
para as famílias. Mesmo assim a vida seguiu e com muitas dificuldades.
Para minha surpresa, cinco meses depois, o carro do jornal foi me
buscar em casa. O superintendente Petrônio Souto me chamou na
sua sala e pediu desculpas pelo afastamento proporcionado, tecendo
elogios a minha pessoa e pedindo pra seguir. Como atleta - joguei
em vários clubes como Santos, Palmares, Ibis, Cabo Branco, Atlético,
entre tantos- sempre adorei o esporte e para minha sorte conheci o
jornalista Tarcísio Neves que me deu uma oportunidade no caderno de
Esportes, o melhor do Estado. Que desafio!
Tarcísio foi o meu professor e toda a minha experiência
adquirida devo a ele que, ao sair do jornal, me indicou para ser o

98 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
editor. Deu a maior força e até hoje faço com muita responsabilidade,
sempre aprendendo mais e buscando o melhor. A União é uma escola.
Mais que isso, uma universidade. Não é à toa que a maioria dos
conceituados jornalistas passou pela empresa. Trabalhei e trabalho
ainda com excelentes profissionais. Não vou citar nomes para não
cometer injustiças, afinal são quase 40 anos em A UNIÃO.
É a minha segunda família. É a minha vida. Me casei, construí
família, hoje tenho três filhos e quatro netos.

A UNIÃO FAZ A FORÇA DESSA GRANDE FAMÍLIA.

A UNIÃO 99
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Fotógrafo Ant ô nio Dav id Diniz

O talento e a técnica na fotografia de


Ant onio Dav id
P or Josélio Carneiro

O experiente repórter fotográfico Antonio David Diniz, nascido


em Taperoá, Cariri paraibano, ingressou no jornal A União no
ano de 1977. Antes, havia trabalhado no hoje extinto jornal O
Norte, a partir de 1975. “O jornal A União me convidou para eu fazer
parte dos quadros da Redação. Fez uma melhor oferta e eu ingressei
na equipe”, nos revela Antonio David em entrevista na Redação da
Secretaria de Comunicação Institucional, na manhã da segunda-feira,
24 de julho de 2017.
Antonio David declarou que tinha interesse em trabalhar
n’A União porque o jornal divulgava muita informação cultural, com
destaque para o suplemento Correio das Artes. “Era um jornal que
tinha espaço para fotografia porque havia montado naquela época seu
parque gráfico no sistema de offset e eu fui muito bem aproveitado,
principalmente no 2º Caderno, com matérias especiais espelhadas no
Jornal do Brasil”, conta o conceituado fotógrafo.
Dirigia A União nos idos de 1977, José Souto. Agnaldo Almeida
o editor geral e Frutuoso Chaves o chefe de Reportagem. “Foi um
tempo áureo do jornalismo paraibano porque A União tinha uma
grande equipe e nós saíamos em busca de matérias inéditas”, lembra
Antonio David, que acrescenta: “O jornal é referência histórica, fonte
de pesquisa sobretudo para historiadores”.

100 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Reportagens sobre os con-
flitos de terra na Paraíba Antonio
David participou de muitas. Suas
fotos ilustraram inúmeras maté-
rias. Com o experiente jornalista
Hilton Gouvêia o fotojornalista da
“República de Taperoá” percorreu
o Estado descobrindo histórias
ainda não reveladas. David des-
tacou ainda as qualidades do tex-
to jornalístico e poético de outro
grande jornalista e companheiro
em muitas reportagens, Pedro
Moreira. “Eu achava impressio-
nante, quando a gente viajava ele
só anotava o nome dos persona-
gens da matéria, no mais, obser-
vava a pessoa. “No jornal você
via uma matéria espetacular, de
qualidade de texto poético, bem
informativo. Ele sabia expressar através da sua linguagem jornalística
o que pensava o nordestino paraibano”.
Nos revela Antonio David que além da área cultural, A União
também dava show no esporte. O Botafogo paraibano ganhou do
Flamengo dentro do Maracanã “e A União saiu com essa manchete
feita por Gonzaga Rodrigues: “A Paraíba vence o Maracanã”.
A União foi um dos jornais paraibanos pioneiros na publicação
de fotografia colorida. A primeira foto colorida, assinada por Antonio
David, no início dos anos 1980, ilustrou a coluna social de Ivonaldo
Correia. Nessa década a Paraíba sofreu com secas severas e David
fotografou gente fazendo saques em feiras livres.
O talento de Antonio David produziu inúmeras fotografias no
teatro, na música, nos concertos da Orquestra Sinfônica da Paraíba,
nas apresentações da Orquestra Tabajara, nas artes plásticas, enfim,
em todas as áreas do mundo cultural.
Martinho Moreira Franco, Antonio Barreto Neto, Marcone
Cabral, Josinaldo Malaquias, são alguns jornalistas contemporâneos
de Antonio David em A União. “No período que eu ingressei no
jornal quem entrou como foca foram Wellington Farias, Paulo Santos,
Sebastião Lucena, Edmilson Lucena, Marcone Formiga. Uma equipe

A UNIÃO 101
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
que passou pelos ensinamentos de Frutuoso Chaves, que era nosso
chefe de Reportagem”, conclui.
O premiado Antonio David realizou diversas exposições
fotográficas e é autor dos livros 30 ANOS DE FOTOJORNALISMO e O
SER E O MAR.
A obra 30 ANOS DE FOTOJORNALISMO, financiada pela Lei
Estadual de Incentivo à Cultura (FIC) – Lei Augusto dos Anjos, do
Governo do Estado, foi lançada em novembro de 2006 na Biblioteca
Pública do Estado, em João Pessoa. O projeto teve produção da Agência
Ensaio, com curadoria do fotógrafo Ricardo Peixoto.
Em 2015 David lançou o álbum O SER E O MAR. Obra com mais
de 100 fotografias com enfoque no Litoral paraibano. As fotos foram
feitas nas primeiras horas da manhã e ao entardecer, e, em sua maioria,
revelam a faina diária dos trabalhadores do mar. O suplemento cultural
de A União “Correio das Artes” trouxe o livro como matéria de capa.

102 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
José Carlos dos Anjos Wallach

Eu não ia trabalhar, ia à aula

B iu Ramos, Gonzaga Rodrigues, Nathanael Alves, Antônio Barreto


Neto, Carlos Aranha, Nonato Guedes, Agnaldo Almeida, Sebastião
Lucena, Silvio Osias, Wellington Farias. A lista de nomes – muitos
deles considerados por mim como mestres, porque me apontaram
caminhos e me ensinaram – é grande. Era assim a redação e diretoria de
A União, quando passei por lá.
Não uso o termo ‘escola’ como força de expressão. Foi
isso mesmo que o jornal A União foi para mim durante os meus
primeiros cinco anos como jornalista antes de ingressar na
graduação da UFPB.
Considero que ainda vivi um período, de certa forma, romântico
no fazer jornalístico. Não que não houvesse o viés técnico no dia a
dia das Redações daquela época (1978 a 1983). Claro que existia, e
muito. Mas para um garoto de 17 anos, sendo o primeiro emprego
uma Redação de jornal é algo um pouco assustador (para mim e minha
timidez, sim).
Enfim, foi assim que comecei. Sendo levado pelo meu pai,
Fernando Wallach (jornalista dos Diários Associados, tendo passado
pelo Diário da Borborema, TV Borborema e jornal O Norte), a uma
Redação. Na verdade, nem foi a A União a primeira visão que tive
do interior de um jornal, mas sim o Correio da Paraíba, quando a
Redação funcionava no primeiro andar de um velho sobrado da Rua
Barão do Triunfo. Passei por lá pouco tempo, muito assustado, vendo

A UNIÃO 103
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
tudo passar tão rápido, absorvendo informação e o estresse natural
de uma Redação.
Mais ou menos um mês depois, cheguei n’A União, e fui
apresentado a Frutuoso Chaves, chefe de Reportagem. “É o menino
de Wallach?”. Ouvi ali, na Redação da 1817 (outro sobrado antigo na
praça mais central da cidade) o que seria por muito tempo a minha
identificação no meio.

P op as q u e ensinaram
Começou, então, um novo processo na minha vida. O estudante
secundarista entrava ali na universidade prática de jornalismo, ouvindo
muito e lendo também. Tive que correr atrás, preparar a base, me
informar, ampliar os horizontes.
Posso dizer que dei muita sorte em ter um chefe de Reportagem
que também foi o melhor professor que poderia ter escolhido.
Frutuoso, ou Frutuca, foi extremamente rígido com o texto: saber
identificar o fato, contar de forma clara e sem dúvidas eram tópicos
religiosamente cobrados.
Frutuca não tinha papas na língua e passava esse ensinamento
de uma forma, vamos dizer assim, bem ortodoxa. Fácil ouvir um “esse
texto tá uma droga”, seguido de uma ordem muito clara: “Refaz”. Hoje
em dia, atitudes assim seriam confundidas com ‘assédio moral’.
Mas, a voz enérgica de Frutuca nunca vinha desacompanhada de
uma orientação clara. “Você tem que ir por aqui...” ou “Veja como fica
mais claro assim...”. Esse tipo de acompanhamento fez toda a diferença
para mim. Mais tarde percebi o quanto aquilo foi necessário para manter
as antenas ligadas.
Ao mesmo tempo em que me ensinava a manter um texto claro,
enxuto e informativo, Frutuoso passava a única receita que até hoje –
na era digital – pode dar ao jornalista a primazia de ser um técnico da
informação: dominar a narrativa. Por isso, invariavelmente, me lembro
dessas orientações quando escrevo.
Certa vez, imaginava ter escrito um texto irretocável para um
iniciante – não me recordo mais sobre o quê – mais julgava ter feito o
serviço direito. Entreguei a lauda a Frutuoso (naquela época tínhamos
máquinas datilográficas e papel). O fato de ele ter lido o primeiro
parágrafo e não ter parado me garantia a certeza de que estava no
caminho certo. Leu até o fim e disse: “Tá chegando”. Pronto, ganhei a
semana. Em seguida, a observação que me matou de vergonha: “Mas
nessa frase aqui você mostrou como é difícil escrever edifício”. Disse

104 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
isso e riu, amistosamente, como um professor, apontando meu erro
crasso de português. Grafei ‘edifícil’, querendo me reportar a prédio.
Lembro de outras reprimendas que no princípio soavam
pesadas, mas que depois achava engraçadas. Entretanto não eram
esquecidas, viravam regras de atenção ao texto. “Se você for escrever
esse lead sem vírgulas ou pontos, não pode trabalhar no rádio, porque
vai matar o locutor”. Isso só ficou engraçado depois, quando eu já
dominava a técnica, mas naquele momento...

F aro, em oç ã o
Aprender ao lado de gente como Sebastião Lucena, por
exemplo, me deu condições de ver a atuação do legítimo repórter,
capaz de enxergar notícia, vasculhar uma boa história.
Como ele, também Wellington Farias, que ficou conhecido pelo
sugestivo ‘Fodinha’, repórter para qualquer trabalho, autor de excelentes
reportagens e entrevistas; Lena Guimarães, que assumiu a chefia de
Reportagem, e mantinha o ritmo com sua característica energia.
Ver o trabalho do Segundo Caderno feito por Carlos Aranha
e Sílvio Osias (na época da Redação da Rua João Amorim) era uma
delícia. Densidade na cobertura cultural e, vez por outra, entrevistas
na Redação com artistas.
O jornal A União, por ser órgão oficial do Governo, tinha que
se desdobrar em conteúdo para atrair a leitura. E sua equipe, sob o
comando de Agnaldo Almeida em boa parte do tempo que lá estive,
soube fazer muito bem.
Se era limitado em abordagens de orientação política, o
jornal compensava investindo muito nas áreas de cultura, esportes
e, sobretudo, em reportagens especiais. Isso valeu à A União, por
muito tempo, o título de melhor conteúdo nos finais de semana
graças ao suplemento Jornal de Domingo. De terça a sábado, o
‘banho’ era dado pelas equipes de esporte, cultura e cidades.
Grandes entrevistas foram levadas às edições do final de
semana. Uma delas permaneceu na memória, tal o clima que provocou
na Redação. O entrevistado foi Gregório Bezerra, líder da Intentona
Comunista de 1935. Pela história que o cercava, justificava-se a cena:
toda a Redação parou e ocupou a sala da editoria para assistir a conversa
com Gregório. De arrepiar ver aquilo: repórteres, editores, revisores,
diagramadores, sentados em cadeiras ou no chão, acompanhando
perguntas e respostas.
Passar por coisas assim dá formação cultural, técnica e
emocional. É essencial ao jornalista e fundamental para o repórter, o
cara que traz as histórias para a Redação.

A UNIÃO 105
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
P ersp ic á c ia e c orag em
Essa é uma característica inerente à profissão e A União me
fez ver isso. Tinha que ser assim, afinal era um jornal de governo num
regime militar, e a equipe precisava se desdobrar em criatividade para
cobrir e abordar determinados assuntos.
Ainda bem que minha vivência da ditadura como profissional
de imprensa não foi das mais traumáticas. Isso porque eu já estava
vivendo um período de distensão, quando já se desenhava a abertura
democrática. Ainda vi polícia batendo em trabalhador, estudante e
agricultor por causa de greve, de atos públicos ou ocupações, mas já
havia uma resistência social e uma maior divulgação disso.
Minha aula de perspicácia foi numa cobertura de conflito
por terra e o professor foi o fotógrafo que me acompanhou, Antonio
David. Agricultores sem-terra haviam ocupado propriedades de
latifundiários na região de Camucim, município de Pitimbu.
Os donos das terras revidaram, jogando jagunços contra
os trabalhadores: houve extrema violência. Quando chegamos, a
polícia estava no local, mas parecia mais defender os donos de terra
do que os agricultores agredidos. Eram crianças, velhos e adultos.
Nos pusemos a coletar informações: eu entrevistando e
anotando o que via e ouvia, e David, com o ‘dedo nervoso’, registrava
a cena. Muita fumaça, barracas derrubadas, gente ferida, crianças
chorando.
Como se podia esperar daquela polícia, ela veio logo sobre nós
e os soldados exigiram a câmera. Mas David teve muita presença de
espírito e uma ideia genial: correu para um canto enquanto rebobinava
o filme (naquela época não havia película e revelação, em laboratórios
colados nas redações), colocou no tubo preto e o entregou ao arcebispo
Dom José Maria Pires, que imediatamente o guardou sob a batina.
David colocou outro filme na máquina, virgem, e foi esse que foi
entregue ao policial. Pronto, havíamos preservado nossas imagens. Mais
tarde, já na Redação, a pior notícia é que nossa cobertura não ocuparia
mais que um registro em duas colunas, sem detalhes do que ocorrera no
‘campo de guerra’ de Camucim. Um registro frio, o máximo que A União
conseguiria dar sobre o assunto.
Todos sabíamos que havia grande chance dessa cobertura ser
censurada, mas em nenhum instante a Redação se deixou levar por
isso. Determinou e deu estrutura para a cobertura. Para mim, foram
várias lições: o jornal não é do jornalista, muito menos do leitor; o
jornalista está para a censura como a água para o óleo; pauta censurada
é natimorta; é preciso ter perspicácia.

106 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
T iro na c ap a
Outra cena que me marcou ocorreu na primeira grande greve de
motoristas de ônibus de João Pessoa, deflagrada após os empresários
não aceitarem a proposta de reajuste salarial da categoria (também
não recordo data, mas acredito que entre 1979-1980). Várias áreas da
cidade viraram praça de guerra entre policiais e grupos de grevistas
que faziam piquetes parando os ônibus e mandando motoristas e
passageiros descerem. Na frente do Lyceu Paraibano, troncos de
árvores foram postos para travar o tráfego.
O fato mais agudo nessa greve se deu em frente ao Mercado
Central, quando policiais civis prendiam um dos motoristas
grevistas e um grupo de colegas veio em seu socorro, confrontando
os policiais. Um dos agentes acabou nas mãos dos grevistas e, para
se salvar, mesmo caído, conseguiu sacar o revólver e atirou para
cima, atingindo no pescoço um dos motoristas que faziam piquete
e tentavam linchá-lo.
A foto do ano foi feita pelo companheiro Ortilo Antônio e
publicada na capa de A União no dia seguinte: o agente da polícia civil
de arma na mão, ajudado pelo superior a entrar na viatura, que foi
apedrejada e saiu em disparada.

Os companheiros
Nos quase dez anos que fiquei no jornal A União fui sempre
repórter. Parece muito tempo, mas o volume de informação e
aprendizagem é tanto que nem me dei conta. A passagem pela ‘velha
senhora’ findou quando a empresa de economia mista passou para
o regime jurídico estatutário. Optei por ficar no quadro da Secretaria
de Comunicação. A essa altura já trabalhava em jornal privado, O
Momento.
Claro que não vou lembrar alguns – até porque a redação
sempre foi de alta rotatividade e já faz bastante tempo – mas fiz muitos
amigos: Gilberto Lopes, Arlindo Almeida, Josemar Pontes, Guilherme
Cabral, Sebastião Barbosa (Barbosinha), Silvana Sorrentino, Land e
Wellington Seixas, Pedro Moreira, Moraes, Geraldo Varela, Hilton
Gouveia, Aparecida, Luzia, Luiz Carlos, Paulo Santos, Walter Galvão,
Petrônio Souto, Martinho Moreira Franco, Milton Nóbrega, Domingos
Sávio, Domício...

A UNIÃO 107
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
T ô nio (*)

Ingressei na União em 1975, como desenhista


d o Dep art am ent o d e Art es

N asci em Santa Rita, na Zona da Mata paraibana, em 1952.


Em 1970 fiquei em primeiro lugar no concurso de desenho
promovido pela Prefeitura de Santa Rita. Em 1975 ingressei no
jornal A União como desenhista do Departamento de Artes. No ano
seguinte, sob o patrocínio do jornal, publiquei seis álbuns com bicos
de pena.
Em 1984 participei da 1ª Coletiva 84 da Galeria Arte Nossa. Em
1985, das exposições “Todas as Cores”, no Espaço Novo (residência
de Adrião e Creusa Pires, na capital, e “O Rito das Cores”, na Galeria
Shelly, do Rio de Janeiro. No ano de 1989 conquistei o primeiro lugar
no concurso para ilustração da lista telefônica da Listel.
Em 1990 estreei na pintura a óleo e logrei ser selecionado
para a segunda mostra “Arte Atual Paraibana”. Três anos depois, os
meus trabalhos compunham o acervo da exposição “A União nas Artes
Plásticas”. No ano de 1997, uma grande conquista: fui classificado
para o “Salão Municipal de Artes Plásticas (Samap) promovido pela
Prefeitura de João Pessoa.
Além do “Correio das Artes”, suplemento literário de A União,
ilustrei diversos livros, entre eles, “Historinhas de Nina”, de Anco

(*) Antônio Gonçalves de Sá, artista plástico, designer gráfico, cartunista e desenhista
de histórias em quadrinhos.

108 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Márcio; “Histórias de Tempos Idos”, de José Souto; “O Carro de Osíris”,
de Terezinha Fialho, e “O Arco e A Fonte”, de Luiz Augusto Crispim.
Assino também o desenho de capa de um catálogo publicado no
México.
No campo das histórias em quadrinhos sou criador de dois
personagens que já entraram para a história das HQs na Paraíba: O
Conde, com a participação dos saudosos Marcos Tenório e Barreto
Neto; e Angie, com texto de Wilma Wanda. As histórias de O Conde e
de Angie, foram publicadas em A União.
Outra modalidade em que me especializei foi o jogo dos oito
erros (desenhos iguais, apenas com algumas sutis diferenças que cabe
ao leitor encontrar).

Sob re o t alent o d e T ô nio leiam o q u e


afirmaram alguns profissionais:
W illiam Cost a – jornalista e crítico de arte (editor do Correio das Artes)
“É possível afirmar, sem margens de erros, que a pintura de
Antônio Gonçalves de Sá, o Tônio, merece ocupar posição de
maior destaque no cenário contemporâneo das artes visuais
paraibanas. Não pelo experimentalismo; por uma estética,
digamos assim, iconoclasta, de rupturas. Longe disso. A pintura
de Tônio afirma-se pelo esmero técnico”.
Milt on Nó b reg a – designer:
“Dono de um traço personalíssimo, Tônio é também pintor e
escritor de raro talento. E, surpreendentemente, é ainda um
sujeito muito bem-humorado, irônico e gozador por excelência”.
Altimar Pimentel – dramaturgo:
“Tônio é um artista nato que aperfeiçoou o traço e a este uniu
sensibilidade rara. Insere-se entre os melhores desenhistas da
Paraíba, que ainda não lhe fez devida justiça”.
Deod at o B org es – jornalista e desenhista:
“Seus desenhos impressionam logo à primeira vista. Muitas
vezes, nos suplementos do jornal A União ou em livros editados na
Paraíba, surpreendi-me com a beleza dos seus desenhos, todos
eles, sem dúvida, dotados de uma grande força, transmitida a
quem os vê, quase que de imediato”.

A UNIÃO 109
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Profissionais da imagem, artes, diagramação,
m ont ag em , f ot olit os, im p ressã o,
rev isã o e arq u iv o
(dos anos 70 até hoje)

Ortilo Antonio,

N
ascido em João Pessoa, é repórter
fotográfico de A União há 40 anos,
ingressou em 1977 no governo Ivan Bichara
Sobreira. “Quarenta anos dentro do jornal A
União, sem nunca ter saído para nenhuma
outra repartição do Estado. Conheci a
Paraíba toda, viajando em reportagens
ao longo dessas quatro décadas, tanto agenda de governadores
como matérias especiais, com os repórteres Hilton Gouvêia, Carlos
Cavalcante, Cardoso Filho, Wellington Farias, e outros”, revela Ortilo.
Quando chegou ao jornal a diretoria era a seguinte: diretor- presidente José
Morais Souto, diretor-técnico Antonio Barreto Neto, diretor-administrativo
Murilo Sena, diretor de operações Afrânio Bezerra. O editor-geral era
Agnaldo Almeida e o chefe de reportagem Frutuoso Chaves.
Marad ona
O diagramador revela: “apesar de 40 anos a gente está
sempre aprendendo. “Por incrível que pareça é sempre
um aprendizado, a gente sempre está aprendendo
alguma coisa nesses anos todos, tudo se renova, então
você está sempre aprendendo. Eu sempre acho que
A União é a grande escola do jornalismo paraibano”,
revela Maradona, nascido em Guarabira.
Moraes, o rev isor
Antônio Moraes da Silva, 63 anos de idade, nascido
em Mulungu, é revisor n’A União desde junho de
1978. “39 anos n’A União. Nunca saí, mas também
trabalhei na Revista A Carta, de Josélio Gondim; na
Revista Nordeste, de Walter Santos, além de ter

110 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
revisado muitos livros. A figura do revisor já não existe em muitos jornais,
mas A União mantém sua equipe”. Moraes avalia a iniciativa do livro A
União Escola de Jornalismo “Josélio, acho um documento importante
que vai, digamos, nos imortalizar. É uma iniciativa muito válida e acho
louvável. Sobre trabalhar n’A União eu me sinto feliz porque A União é
uma família e acima de tudo uma escola de jornalismo que nos ensina a
cada dia e o ambiente aqui é maravilhoso”.
José Ram os
Há 38 anos zela pelo arquivo de A União - José Ramos
Borges da Silva, é o chefe da equipe do Arquivo do
jornal. “Cheguei aqui em 1979 e estou até hoje na
batalha. Uma vida inteira dedicada ao jornal, como
arquivista. O nosso dia a dia é gratificante, receber
as pessoas nas suas pesquisas, historiadores,
estudantes, jornalistas. Livros e mais livros saíram
através das pesquisas das edições do jornal e isto é gratificante,
estamos cuidando desse acervo para atender as pessoas”, revela.
Nau d im ilson Ric art e d os Sant os

Ingressou n’A União no ano de 1977. É designer


gráfico. Começou nas pranchetas com trabalhos
manuais paginando livros, revistas, jornais e
na montagem de fotolitos para a impressão.
Atualmente usa programas digitais eletrônicos na
sua área para a diagramação de livros, “inclusive
este A União-Escola de Jornalismo”, e artes finais
de outras publicações tipo cartazes, folders, convites, panfletos, capas
de livros, etc. Atua também no setor de pré-impressão recebendo os
arquivos e preparando-os para a impressão.

Jú lio César F alc ã o d e F reit as


Tem 35 anos no jornal A União e sempre trabalhou no
setor de artes da gráfica. “A União faz parte da minha
vida ao longo desses anos, uma vida inteira. Fico feliz
por ser personagem nesse livro porque A União não
se resume só ao jornal, tem a área gráfica, a parte
administrativa, é um conjunto, uma soma de valores”.

A UNIÃO 111
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Carlos Rob ert o F reire
Desenhista e montador no setor de artes de A
União há 30 anos. É um dos ilustradores mais
talentosos da Paraíba.

Ernane G om es
O repórter fotográfico e cinematográfico, Ernane
Gomes, atuou no jornal A União por cerca de 10
anos. Na sua época também trabalhavam no jornal
os repórteres fotográficos Antonio David, Ortilo e
Arnóbio Costa. Final dos anos 70 para inicios dos
anos 80.

Nomes de profissionais que trabalharam e trabalham no


setor de artes da gráfica A União
Nilton Tavares Vieira, Nivaldo Araújo, Antônio Gonçalves de Sá (Tônio)
Naudimilson Ricarte, Luzardo Alves, Martinho Sampaio, Noberto
Tavares Vieira, Marcelo, Felix Tadeu Lira, Carlos William Tenório,
Marcos Tenório, Fred Swendsen, Ubiramar Farias de Araújo, Lúcio
Flávio, Domingos Sávio, Jacinto Júnior, Batista Chaves, Charles, Milton
Nobrega, Jessé Xavier, Luiz Carlos, Gilson Freire, Marcus Vinícius (sapé),
Getúlio, Mourinha, Rosalvo, Zé Paulista, Domício Córdula, Sandro,
Sandoval Fagundes, Chico Ferreira, Osias Gomes, Ernani Machado,
Domiguinhos, Gutemberg (Berg), Lênin Braz e Felipe Sarino Cestagio
(estagiários).

Eles fazem A Gráfica


O Parque Gráfico de A União imprime por mês cerca de 23
toneladas de papel, na produção de livros, cadernos, diários escolares,
similares, o jornal A União e o Diário Oficial. São 30 profissionais
talentosos responsáveis pela qualidade dos produtos editoriais. Em
reportagem de Hilton Gouveia publicada aos 2 de fevereiro de 2017
ele cita que pelo Departamento de Artes d’A União já passaram o
pintor Chico Ferreira, o chargista Luzardo Alves. Os artistas atuais
especialistas nesta área nos quadros de A União são Domingos Sávio,
Tonio, Naudimilson Ricarte e Carlos Roberto. Em 2016 a gráfica
produziu 50 livros de títulos e autores diferentes.
112 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Jac int o Jú nior, gerente da Gráfica, vem
atuando na área gráfica há muitos anos,
foi chefe do setor de artes e também
trabalha na preparação para a impressão,
paginação e artes.

José Carlos P ereira, o


Zé Pimenta, opera a
impressora Kord há anos.
A máquina fabricada na
Alemanha imprime até
em quatro cores.

O encadernador Nap oleã o d o Carm o Silv a atua há 31 anos na


arte de encadernar livros.
Já Lu í s F ernand o d as
Chagas, um veterano
cortador, cuida dos
cortes milimétricos em
papéis em máquina
computadorizada. A
equipe é gerenciada
por Jacinto Júnior.

A UNIÃO 113
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
MARCONE ARAÚ JO - F Á T IMA SANT OS - F Á T IMA IDEÃ O - ROB ERT O DOS SANT OS

Na foto Lúcio Flávio, também trabalham


no Diário Oficial, Dominguinhos, J. Filho,
Maurício e Salismar Fernandes na foto
abaixo

114 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Carm élio Rey nald o (*)

A c ensu ra e a b arrig a d e A U niã o

V ivíamos os anos mais duros da ditadura. Duas vezes por dia,


o responsável pela censura à imprensa visitava a Redação d’A
União com a lista dos assuntos proibidos de ser noticiados. Pela
manhã e à noite. Justamente os turnos em que eu trabalhava lá, como
redator e encarregado do Departamento de Pesquisa.
Foi assim na manhã do dia 18 de junho de 1973. O censor
apresentou a lista de assuntos proibidos, na qual constava algo assim:
“Proibida qualquer especulação sobre sucessão presidencial”. Esta
interdição estava lá há tanto tempo, que até parecia o timbre do papel.
No dia seguinte o jornal publicaria uma manchete anunciando
que o indicado para substituir Garrastazu Médici na Presidência
da República seria Orlando Geisel. Esse erro – ou barriga, como se
denomina falha involuntária no jornalismo – resultou na queda do
Secretário de Comunicação, Noaldo Dantas; do Diretor do jornal, Luiz
Augusto Crispim; e do editor Marcone Carneiro Cabral.
O jornal, inclusive a Redação, se mudara para o Distrito Industrial
há algum tempo. Era então um lugar ermo sem telefone, mal atendido
por linha de transporte coletivo e até serviço postal. No repertório de
piadas dizia-se fazer jus a diária por deslocamento quem lá trabalhava.
Pela manhã eu ia e voltava de carona com Roberto Carlos Alves de
Oliveira. À noite, com Werneck Barreto, que usava o fusquinha da irmã.
Foi assim também naquele 18 de junho de 1973. À noite, a
bordo do fusquinha, o papo corria solto – certamente sobre música,

A UNIÃO 115
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
assunto sobre o qual tínhamos muitas afinidades e divergências
– enquanto o rádio ia ligado na Voz do Brasil. Num lampejo, ouvi
algo sobre a indicação do sucessor de Médici. Chamei a atenção de
Werneck, mas já era o fim da matéria, não conseguimos saber quem
havia sido “o eleito”.
Chegamos na Redação, contamos a Marcone o que ouvimos e
aí ficou aquela angústia. Não havia como checar a informação. Não
tínhamos telefone e o único carro disponível para o jornal era uma
pick-up Jeep cinza que fora usada nas frentes de emergência no ano
anterior. Nessa noite, estava com problema mecânico.
No meio dessa agonia, chega o censor. Marcone percebe que
a proibição do assunto sucessão presidencial havia sido retirada da
lista, puxa conversa com o agente, que confirma o escolhido como
“o ministro Geisel”. Ora, Orlando Geisel era a própria encarnação
dessa criatura que, naquela época, se devia chamar de “o ministro”.
O posto de Ministro do Exército correspondia ao mais poderoso, com
exceção do de Presidente. Nessas circunstâncias, quem iria pensar
em Ernesto Geisel, Diretor da Petrobras, ministro aposentado do
Superior Tribunal Militar? Leve-se em conta também que a interdição
do assunto nos deixava completamente por fora dos nomes cogitados
para suceder a Médici.
Como não tínhamos melhores fontes para elaborar a matéria,
foi feita uma “reportagem de gaveta” – uma única novidade e muita
pesquisa (biografia, foto de arquivo, etc.) e algumas obviedades. Como
responsável pelo Departamento de Pesquisa, dei a minha contribuição,
fornecendo recortes de revistas e jornais e elaborando uma curta
biografia do escolhido.
Muitos exemplares do jornal foram distribuídos antes de
a equipe conseguir evitar o estrago, pois a matéria errada era a
manchete principal daquele dia. Agora, a distância e a falta de telefone
contribuíam para agravar o prejuízo que já tinham causado. Somente
no meio da manhã A União voltou a circular com uma edição trazendo
a matéria sobre a indicação de Ernesto Geisel como manchete.
De Ernani Sátiro veio uma reação aparentemente dura, talvez para
dar satisfação aos militares ou agradar o próprio Geisel, de quem fora
colega no Superior Tribunal Militar. O fato é que Luiz Augusto Crispim e
Marcone Cabral passaram a integrar o time de notáveis da comunicação
que assessorava o governador e Noaldo Dantas mudou-se para Maceió,
onde pouco depois assumiu a pasta estadual da Comunicação.
O que mais me doeu foi a revista Veja tripudiar do jornal. Ocorre
que uma semana antes, Crispim, que era correspondente da revista,
116 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
recebera um repórter da Veja interessado em fazer uma pesquisa nas
coleções do jornal dos anos 1930. Fui chamado à direção do jornal e
encarregado de levá-lo ao arquivo. Perguntei o que pesquisava, mas
ele desconversou. Ficou uns dias mexendo nessas coleções e, presumo,
nem a Crispim disse o que estava procurando.
Na semana seguinte, a Veja veio com uma matéria na qual
reproduzia a manchete errada e, ao lado, o recorte de uma notícia
sobre a nomeação do Tenente Ernesto Geisel, em 1934, para Secretário
das Finanças do Governo da Paraíba, obtida do arquivo do jornal.
Convém ainda registrar a dedicação de Marcone Cabral ao
jornal. Durante todo aquele dia, ele se dividiu entre a Redação e a
maternidade, onde sua mulher estava em trabalho de parto do primeiro
filho. Na Redação correu a história de que, no dia seguinte, já com a
descoberta do erro na manchete, ele chegou para Antônio Hilberto,
Editor de Esportes, e anunciou que era pai. Aí Toinho perguntou: “Vai
ser Ernesto ou Orlando”.

(*) Carmélio Reynaldo Ferreira trabalhou no jornal A União de 1971 a 1973


como repórter, redator e chefe do Departamento de Pesquisa. Nos anos
1976 e 1977, manteve uma coluna especializada em teatro, publicada três
vezes por semana.

A UNIÃO 117
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
118 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
CAP Í T U LO V

anos
80
B iu Ram os Alex and re Nu nes
José Nu nes W illiam Cost a
Naná G arc ez Eloise Elane
Cleane Cost a F ernand o Mou ra
Nap oleã o  ng elo Cristiano Machado
G isa V eig a Sat v a Cost a
Guilherme Cabral W alt er Sant os
Silvana Sorrentino Joanild o Mend es
Ant onio Cost a G iov anni Meireles
Ana Lu st oz a Jac int o B arb osa ( in m em oriam )
Nonat o G u ed es Ju v enit e d e Lou rd es
José Euflávio Maria H elena Rang el
Marc os P ereira Dom ing os Sá v io
Clélia T osc ano Joã o Lob o
Thamara Duarte Nathanael Alves (in memoriam)
Sev erino ( B iu ) Ram os

B iu Ram os d irig iu A U niã o


em d u as oc asiõ es

N a tarde de 16 de novembro de 2017, o jornalista Severino Ramos


nos recebeu em sua residência, no bairro de Jaguaribe, para
uma breve conversa sobre sua passagem no jornal A União.
Em sua trajetória Biu Ramos escreveu e publicou cerca de dez
livros. Ex-superintendente d’A União, ao ser indagado a respeito do
papel do jornal na imprensa paraibana declarou que A União sempre
teve bons quadros, bons jornalistas. “Esse foi um mérito de A União,
poder juntar os melhores jornalistas da Paraíba. Eles foram professores
das novas gerações que surgiram. Todo mundo vestia a camisa, os
jovens e os mais experientes. A contribuição d’A União foi inegável
nesse aspecto”, pontuou.
O jornalista e escritor elogiou os perfis profissionais de dois
amigos também veteranos da imprensa paraibana: Gonzaga Rodrigues
e Martinho Moreira Franco. “São dois jornalistas excepcionais, é
uma pena que eles não estejam em jornais particulares. São dois dos
melhores quadros da imprensa paraibana como Agnaldo Almeida,
William Costa, Frutuoso Chaves e muitos outros. Sempre teve bons
quadros A União”, destacou.
Um outro experiente jornalista destacado por Biu Ramos foi
Hélio Zenaide, que faleceu no dia 18 de setembro de 2017 aos 90
anos de idade. Biu lembrou da capacidade taquigráfica do jovem Hélio
Zenaide nos anos 1960 quando taquigrafou na íntegra o discurso de

A UNIÃO 121
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Raymundo Asfora, no Ponto de Cem Réis, centro de João Pessoa, por
ocasião do assassinato do líder das Ligas Camponesas João Pedro
Teixeira. A União publicou na íntegra o discurso de Asfora. Em um dos
livros da série Crimes que Abalaram a Paraíba, Biu Ramos publicou o
histórico discurso.
O jornalista Biu Ramos foi superintendente d’A União duas
vezes: em 1971, no Governo Ernani Sátiro, por sete meses, e no ano
de 1988 dirigindo o jornal até o final do Governo Burity. Biu Ramos era
secretário de Cultura e com a extinção de 12 secretarias, o jornalista
foi nomeado superintendente d’A União. É o que declara Biu Ramos no
livro A União 120 anos – Uma viagem no tempo, publicado em 2013.
Em entrevista a jornalista Rafaela Gambarra, o jornalista
afirmou que o antigo prédio do jornal A União, após a transferência
para o Distrito Industrial, seria transformado no Museu da Imprensa
da Paraíba. O projeto não incluía a derrubada da sede na Praça João
Pessoa, que ocorreu nos anos 1970 para a construção da Assembleia
Legislativa. “Não, não constava a derrubada do prédio no projeto que
nós fizemos para a transferência d’A União para o Distrito Industrial.
Pelo Contrário, nós pretendíamos fazer ali um Museu da Imprensa da
Paraíba ou aproveitar como outra repartição, um museu do Estado ou
qualquer coisa parecida, mas nunca pensamos em derrubá-lo. Foi um
crime, um crime inominável derrubar aquele prédio, que datava do
século XIX, onde, inclusive, João Pessoa chegou a despachar lá, quando
houve a reforma do Palácio da Redenção. Aquele prédio também havia
recebido a visita de José Lins do Rêgo e de outros nomes da literatura
brasileira que vinham à Paraíba visitar José Américo de Almeida. Não
era pra ser derrubado, mas Ernani usou de toda sua autoridade, não
ouviu ninguém, e derrubou. Primeiro porque ele estava armado do
Ato Institucional número 5, e o AI-5 proibia qualquer crítica a qualquer
autoridade do governo, então ninguém era maluco de fazer uma crítica
contra uma decisão de Ernani Sátiro, que era um homem vigoroso que
não admitia ser contestado muito menos contrariado.
No final da entrevista Biu Ramos responde à pergunta: como
você analisa os 120 anos d’A União? “São 120 anos gloriosos, porque o
simples fato de alcançar essa data e festejá-la já representa um grande
passo, um acontecimento muito importante. Somos um dos três jornais
na América Latina com mais de 100 anos de circulação ininterrupta,
juntamente com O Estado de São Paulo e o Jornal do Commercio do Rio
de Janeiro. Para os paraibanos, é uma glória ter alcançado esse marco.
É muito importante para nós termos uma instituição tão importante e
tão sólida como A União”.

122 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
José Nu nes

A esc ola d e t od os

H avia atuado de forma experimental durante uma temporada


de dois anos como copiador de telegramas no extinto jornal
“O Norte”, eventualmente fazendo a cobertura noturna de
eventos. Um estágio enriquecedor porque tinha acesso a textos
enviados à Redação por agências de notícias nacional e mundial.
Pelas mãos de Nathanael Alves, a quem tinha ligação de amizade
que remontava às nossas cidades Serraria e Arara, fui integrado à
equipe de A U niã o nos primeiros meses de 1980. Naquele tempo
a Redação era comandada por Agnaldo Almeida, sob o olhar de
Gonzaga Rodrigues, diretor técnico. Lembro-me das palavras de
Nathan ao editor, recomendando “tome conta dele”.
Deixei o estágio na Redação onde copiava telegramas no jornal
“O Norte”, para atuar na reportagem de rua na nova casa. Integrando
ao grupo de repórteres, recolhendo ensinamentos, Agnaldo dava os
retoques finais às matérias que entregava ao final do expediente,
como Nathanael havia pedido. Realmente, A U niã o foi minha
universidade, como foi para muitos que se destacaram nas artes e na
literatura em toda sua história.
Sempre mantive carinho especial por este jornal, não apenas pela
consolidação da base de aprendizado de “O Norte”, mas pelos amigos
que aqui construí. A U niã o esteve presente na vida de minha família, a
começar por meu bisavô João Mendes, que durante as cinco primeiras
décadas do século passado recebia em Serraria seu exemplar do jornal,
que chegava pelo trem.

A UNIÃO 123
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Durante mais de doze
décadas A U niã o tem sido escola e
agasalho para muitos escritores e
poetas. Grandes nomes da literatura
e das artes brasileiras acomodaram
seus sonhos nas suas páginas.
Mesmo quando toma partido, faz o
registro da história.
Entre os muitos suplementos
que o jornal criou está o “Jornal da
Terra”, dedicado à agropecuária,
inclusive trazendo a capa e contracapa coloridas, uma inovação.
Talvez pelo jeito de agricultor escolheram-me para ser repórter deste
suplemento, do qual alguns anos depois fui seu editor.
Em meados da década oitenta do século passado, quando
os jornais da Paraíba não abriam espaços para noticiar a vida e o
trabalho dos camponeses, em A U niã o isso era possível.
Modernizava-se e se atualizava para estar em dia com os
avanços tecnológicos da imprensa nacional, já que era a tendência
mundial.
Escola para muitos, foi a pia batismal onde fui aspergido,
juntamente com outros jornalistas.
Meu encontro com este jornal foi numa tarde de sexta-feira,
nos primeiros dias do ano de 1980, quando Nathanael me levou à
Redação que ficava na Rua João Amorim, sendo recebido por Agnaldo
Almeida com afetuoso aperto de mão. Utilizei a semana seguinte
para a adaptação ao novo ambiente que tanto esperava. Aos poucos
estava na rua catando notícias. Agnaldo pacientemente revisava o
texto, o que muito contribuiu para minha aprendizagem.
Algumas vezes saíamos no veículo junto com o fotógrafo, mas
na maioria dos dias íamos a pé, quando a fonte de notícia era no
centro da cidade. Produzíamos pelo menos cinco matérias por dia.
Meu primeiro desafio neste tempo inicial de atividade como
repórter foi na UFPB, onde estava fazendo cobertura de uma greve
de professores. Impedido de acesso ao auditório onde acontecia a
assembleia, Carlos Tavares, que na época trabalhava em “O Norte”,
e sequer o conhecia, foi quem interveio. Ao seu modo peculiar de
assumir as dores dos outros, interveio dizendo que eu não deixaria o
lugar em hipótese alguma e que faria a reportagem para a qual tinha
sido escalado.

124 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Na redação do jornal A União, Biu Diagramador, José Nunes, José Carlos dos
Anjos, Wellington Farias, Wellington Seixas, Antônio Ortilo e Tia Lucena

Com o surgimento do “Jornal de Domingo”, que se tornou


um importante instrumento para publicação de longas entrevistas,
sempre com uma personalidade política ou cultural de destaque
nacional. Uma destas entrevistas que mais chamou a atenção de
todos, não apenas do corpo da Redação, mas de toda a Oficina e a
Revisão do jornal foi assistir conversa com Gregório Bezerra. Na sala
do editor onde o velho comunista respondia as perguntas, estavam
todos sentados ao chão em silêncio. Um momento raro para muitos.
Depois sob o auspício de Gonzaga Rodrigues, integrei o grupo
fundador do suplemento “Jornal da Terra”, a primeira publicação
colorida de A União. A seleção de cores era feita em Recife e a
primeira foto utilizada foi de uma algaroba, planta que começava a
ser cultivada no Semiárido e recebida com emoção por todos. Anos
depois me tornei seu editor.
Meu convívio com esta escola do jornalismo paraibano se
estendeu por muitos anos, com idas e vindas, mas sem nunca perder
o vínculo. Estava sempre presente com uma crônica, um artigo
no “Correio das Artes” ou colaborando com a edição de cadernos
especiais. Como atualmente, publicando uma crônica semanal.
Afinal, foi em A U niã o onde construí a minha vida profissional,
um simples modelo de vida que certamente ajudou minha filha
Angélica Nunes a escolher esta mesma atividade.

A UNIÃO 125
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Naná G arc ez

Eu , A U niã o e o j ornalism o

F oi em 1º de setembro de 1980 que a minha carteira de trabalho foi


assinada por Natanael Alves, conquistando assim o meu primeiro
emprego como repórter. À época ainda estava fazendo o curso de
Jornalismo na Universidade Federal da Paraíba.
Cheguei à Redação depois que Sílvio Osias, então, redator do
jornal e também fazendo o curso, me informou de uma vaga para
repórter. Através dele fui apresentada a Agnaldo Almeida, que era o
editor-geral e depois a Lena Guimarães, que era a chefe de reportagem.
Ali já estavam trabalhando Gisa Veiga, outra colega de faculdade e Luís
Carlos Nascimento. E, como toda iniciante, comecei fazendo matérias
de rua, na geral.
A Redação era movimentada e barulhenta, com as máquinas de
escrever (era muito interessante ver a agilidade de Carlos Aranha quando
estava redigindo), as conversas e as visitas de pessoas que vinham trazer
informação, ou serem entrevistadas, ou ainda sugerir uma pauta.
Foi um tempo de bastante aprendizado. Pela manhã, a
universidade, e de tarde, o trabalho que ia de acidente de trânsito
à entrevista com Dom José Maria Pires, com quem tive a primeira
matéria publicada com destaque e chamada na primeira página. Pouco
tempo depois fiquei cobrindo principalmente o Centro Administrativo
Estadual, percorrendo as secretarias ali instaladas e foi minha uma das
primeiras matérias sobre o projeto do Espaço Cultural.
Os assuntos de economia do setor público foram se tornando
mais próximos: letras do tesouro, operações de antecipação de

126 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
receita orçamentária (ARO), investimentos, orçamento, custo de vida,
pagamento dos salários dos servidores, políticas para o setor agrícola,
turismo, arrecadação de ICMS, combate à sonegação, construção
de conjuntos populares como o Valentina de Figueiredo, atração de
indústrias, a seca e seus impactos atenuados por medidas como as
frentes de trabalho, a distribuição da cesta básica, e experiências como
o Balcão da Economia, um supermercado popular com produtos com
preços mais baratos, Setusa, etc.
Já setorizada tive a oportunidade de ser escalada para
entrevistas e matérias especiais para o Jornal de Domingo, criado por
Agnaldo e que tinha um conteúdo mais aprofundado dos temas da
época. Assim, comecei a ter matérias assinadas, algo desejado por
todos os repórteres.
Quando terminei o curso, fui para Brasília, fiquei pouco tempo,
e fiz matérias de política, algo que não era a minha seara. Acompanhei
a visita do então governador Tarcísio Burity ao Ministério da Justiça,
onde teve reunião com o ministro Ibrahim Abi-Ackel em companhia
do deputado federal Marcondes Gadelha, até então um autêntico do
PMDB, que deixava o partido depois que Antônio Mariz foi escolhido
para ser o candidato a governador da Paraíba, pela legenda. Outro
momento interessante que presenciei na curta permanência na capital
federal foi a incorporação do PP (Partido Popular) ao PMDB, em ato
ocorrido no Congresso Nacional e, naturalmente com a presença de
Tancredo Neves.
Ao retornar à Paraíba, fiquei pouco tempo n’ A União, ingressei
na Secretaria de Comunicação do Estado (Secom-PB). No entanto, tive
novas oportunidades no jornal, como repórter especial, quando Jacinto
Barbosa foi editor, fazendo grandes entrevistas com personalidades de
várias áreas, pois o intuito era ter uma memória histórica de deputados,
desembargadores, empresários, etc.
Em outra fase, fui convidada a fazer uma coluna de Economia,
com artigos e pequenas notas. Foram sete anos nesta atividade que me
rendeu melhor compreensão da economia estadual, de sua fragilidade
e também acompanhei várias mudanças de moeda, de estrutura de
governo e de políticas públicas. Há três anos, em função da coluna, fui
homenageada pelo Sebrae-PB, um momento muito significativo para
mim. Participei, também, como repórter, da Revista Ponto de Cem Réis,
criada por Nonato Guedes, quando foi superintendente do jornal.
Na Redação de A União convive com experientes e excelentes
profissionais, o que me ajudou enormemente para encarar outros
desafios no Jornalismo. Mais recentemente, usando a metodologia de

A UNIÃO 127
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
análise de conteúdo, fiz a minha tese de mestrado a partir do estudo
da primeira página do jornal durante um período de três meses. Hoje,
considero o jornal uma leitura diária obrigatória. Aliás, para os iniciantes
na profissão, é muito interessante a leitura da coluna dominical “Deu
no jornal”, assinada por Agnaldo Almeida. Com seus erros e acertos, A
União ainda é uma boa escola de jornalismo.
Naná Garcez, repórter, 13 de agosto de 2017.

Na edição do dia 1º de agosto de 2017 A União prestou homenagem a


colunista Goretti Zenaide que faleceu no dia anterior

128 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Cleane Cost a

Id as e v ind as

M antenho uma relação de idas e vindas com A União. Não sei se


comigo vale o ditado popular “o bom filho a casa torna”, mas
o certo é que, sempre que saio, tenho a sensação de que um
dia voltarei. E dessa última vez – há pouco mais de dois anos – não foi
diferente. Mas no meu íntimo nunca saí de lá.
A União me recebeu (de braços abertos) quando ainda era
estudante de Comunicação Social (primeira turma da Universidade
Federal da Paraíba). Estava no último período do curso quando
tive minha Carteira Profissional assinada, em setembro de 1980.
Que orgulho! Estava contratada pelo jornal considerado como a
verdadeira escola de jornalismo da Paraíba, inclusive pelos próprios
professores da universidade. Verdadeiro privilégio.
Não foi minha primeira experiência profissional (tive uma
breve passagem pelo jornal O Norte), mas considero A União a minha
primeira casa, onde fui batizada como jornalista e onde aprendi –
e continuei aprendendo nas minhas voltas – tudo o que levaria na
minha bagagem profissional. Me deu a régua e o compasso.
Fui apresentada a uma Redação bem estruturada, com
repórteres ávidos por uma boa pauta e que contava com a figura do
copidesque para melhorar o texto dos menos experientes e das notícias
que chegavam via telex – nacionais e internacionais. As máquinas (hoje
chamadas de pé duro) não paravam de fazer aquele barulho ritmado.
Era uma época em que, mesmo sendo um jornal oficial, A União
era um forte concorrente dos jornais Correio da Paraíba e O Norte,

A UNIÃO 129
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
especialmente nos finais de semana, com o seu caderno Jornal de
Domingo, que trazia reportagens de páginas inteiras em diversas áreas,
inclusive política, e entrevistas com as mais variadas personalidades.
Um verdadeiro banho de jornalismo.
Não me tornei repórter do Jornal de Domingo, até porque,
logo após o meu ingresso na Redação de A União, tornei-me redatora
e, em seguida, editora de página. No entanto, participei de algumas
reuniões de pauta na sala do nosso editor-geral, Agnaldo Almeida, e
ficava ansiosa para ouvir os ensinamentos do então diretor técnico,
mestre Gonzaga Rodrigues, que prendia a atenção de todos com o
seu entusiasmo ao falar sobre a realização de alguma reportagem que
trouxesse um viés diferente. Ficava boquiaberta! E como aprendia
nessas conversas. Eram verdadeiras aulas de como se fazer a apuração
de dados para elaboração de uma boa reportagem!
Lembro bem dessa concorrência que existia principalmente
quando saía o resultado do vestibular. Era uma correria louca para que a
edição extra do jornal, com a relação dos aprovados, chegasse nas ruas
em primeiro lugar. A União sofria um pouco de desvantagem porque,
embora a Redação fosse no centro da cidade – rua João Amorim (por
trás do Bompreço) –, o jornal era rodado no Distrito Industrial, em seu
parque gráfico, onde hoje funciona todos os setores. Mesmo assim,
não fazia feio. Todos ficavam na torcida. Sou suspeita para falar, mas
sempre achei que nossa diagramação saía mais bonita, mais limpa...
Não lembro bem o ano da minha primeira saída – sou
péssima em datas –, acho que foi em 1984. Mas não demorou muito
e estava de volta, acredito que dois anos depois. Voltaria a sair pela
incompatibilidade de horários, já que em março de 1987 assumi a
chefia da Redação da Secom.
Dessa vez o retorno demorou um pouco mais. Porém sempre
com a mesma emoção de uma filha que, após uma longa viagem,
volta para casa. Voltava para uma casa modificada pelo advento das
tecnologias. No lugar das nossas máquinas pé duro, que deixei das
outras vezes, encontrei um ambiente com várias “ilhas” de computador.
Era A União acompanhando a evolução dos tempos sem se importar
com a sua longevidade, como tem feito até agora, sobrevivendo a
várias ameaças de fechamento.
E como aprendi de novo nessa volta! Fazia tempo que não era
repórter de rua e reiniciei com a mesma sede de aprendizado dos anos
80. Afinal de contas era um veículo renovado e eu precisava também
me renovar e me reinventar como profissional. Só A União poderia me
proporcionar isso. Consegui! Porque A União sempre está disposta a
ensinar àqueles que desejam aprender, até mesmo os que já não têm
mais o vigor da juventude.

Um dia eu vou voltar!


130 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Nap oleã o  ng elo

B elos d ias. . .

O
ano era 1982, eu tinha pouca idade, em relação a que tenho
hoje e apenas sonhos de um dia ser também um nome próximo
dos que já faziam sucesso nesta profissão. Sonhar é de todos,
principalmente quando você ainda é novo, tem cabelos pretos ou
castanhos claros ou escuros, quando tudo é quase totalmente possível.
Não que passado o tempo não seja, longe disso. É só querer.
E aí, ainda no curso de Jornalismo da antiga Universidade Regional
do Nordeste - Urne -, nome pomposo, e que não raro, nos congressos e
seminários chamava atenção quando anunciada por algum participante,
fui escolhido para compor aquela turma que faz os preparativos para as
cerimônias da conclusão do curso, que palpita em tudo. Da feitura do
convite impresso aos convidados, previamente “escolhidos”.
Convidados para patrono, padrinhos etc. Por isso fomos eu e
Cláudio Goes Nogueira Filho, os incubidos de uma conversa informal
(entrevista) com o então arcebispo de Guarabira Dom Marcelo
Carvalheira, em Guarabira, para patrono da turma. Bem recebidos, ele
nos deu boas informações, com o zelo do tamanho que merecia para
cada resposta imprudente. A idade tem dessas coisas... Nem lembro
mais se essa nossa entrevista foi parar no jornal laboratório do curso, o
‘Por Exemplo’, pois merecia mesmo era um espaço em A União, mas...
Mas não esqueço quando perguntamos sobre poder, ter (inclusive um
carro, por exemplo, e ele calmamente entre outras palavras na sua
resposta soltou (...)”o carro é uma extensão da sua personalidade”.
Terminado o curso ainda era funcionário da primeira Ciretran

A UNIÃO 131
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
(Detran) em Campina Grande, depois de trabalhar na Companhia Pró-
desenvolvimento de Campina Grande - Comdeca, idos de Enivaldo
Ribeiro, então prefeito da rainha da Borborema.
O desejo mesmo era ir pro batente, para os jornais que
circulavam na Paraíba. O Diário da Borborema já existia e Jacinto
Barbosa já era metido lá, ainda, como eu à época, estudante.
Mas acabei mesmo ficando pela redação da Secom quando Gonzaga
Rodrigues, Luiz Augusto Crispim, Marco Aurélio Cavalcante, (Lélo), Paulo
Santos, (à época casado de Baby Neves), Martinho Moreira Franco,
Agnaldo Almeida, Arlindo Almeida, Naná Garcez, Werneck Barreto,
Carlos Tavares, Anco Márcio, Sílvio Osias, com o seu inseparável guarda-
chuvas, Marcos Tavares, Paulo de Tácio, Tarcísio Neves, Alexandre José
Guerra Torres, Pedro Moreira (então coordenador da Redação, no meu
tempo) e outros. Ah, Josinato Gomes, que não descolava de Gonzaga.
Queria por que queria, e conseguiu, entrar no famoso quadro DPS,
criado no governo TarcÍsio Burity.
O ruim mesmo foi ter que deixar por livre e espontânea pressão
do meu tio Manoel Ângelo, político e ex-deputado, que havia
conseguido este novo emprego na redação da Secom, pra que não
acumulasse dois empregos. Eu era do Detran e fiz a opção para entrar
no quadro DPS criado no governo de Tarcísio Burity, ou melhor, pedi
demissão (pense num plangente arrependimento) do Departamento
Estadual de Trânsito e fui para a Secretaria da Comunicação Social.
Nesse tempo não tinha esse nome de hoje, ‘extraordinária institucional.
Nesse vai e vem andei pela Assembleia Legislativa fazendo assessoria
de imprensa, uma até dividia o $$ com Fábio Cardoso. E ainda soprava
algumas infomações na rádio Independência de Catolé do Rocha,
sobre o, à época deputado Francisco Evangelista, o dono.
E mais que de repente fui parar na TV Tambaú, menina moça,
em pleno vigor, ainda afiliada da Rede Manchete. Entrei na produção/
pauta, passei pelas editorias do Caso de Polícia, Tambaú Debate,
e Tambaú Notícias e terminei como editor-chefe. Foram longos 15
anos na companhia de Joanildo Mendes, Jacinto Barbosa, Agnaldo
Almeida, Denise Vilar, Agenilson Santana (Agê), Rosa Aguiar, Fernanda
Medeiros, Romy Schneider, Giovana Rossine, Ana Ponzzi, Carmen Lísia,
Marcelo Braga, Lissiane Loureira,Nelma Figueiredo, Aldo Shueller,
Jonas Batista, Emmanuel Noronha, Augusto Medeiros, hoje numa
afiliada Globo lá nas Minas Gerais, Jaimacy Andrade, também global,
a exemplo de Augusto com passagem em Rede Nacional, Marcos
Tavares, Naná Garcez, Vall França, Eri Alves, Rachel Sheherazade, tirada
da Cabo Branco por mim a “mando” de Cacá Martins, por um salário

132 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
melhor e direto para uma bancada, claro. Foi a condição. O encontro
dela comigo foi na casa do meu irmão João de Deus Ângelo, casado
com uma tia dela, e, por isso ficou mais fácil. É bom dizer que a TVT
batia de frente com a vênus platinada. Jacinto Barbosa dizia sempre:
“Vamos derrubar a torre da Cabo Branco”. De Polícia à Política a gente
tinha ‘liberdade’ daí o motivo de ficar sempre nos comentários, nas
rodas sociais que Gerardo Rabelo fazia muito bem com Gente Fina é
outra coisa. O jornal A União anunciava suas manchetes na TVT, todas
as noites na voz de Clemilson Sousa, a cara do Caso de Polícia.
Mas em empresa privada você não fica no podium sempre. Uma hora
ela cansa de você, por mais que você se doe, se mate por ela: vai pra
rua. Sem dó nem piedade.
Sai de lá depois de 15 anos e meses depois, no Classic, ali na
Cruz do Peixe, entre a Central de Velórios São João Batista e a Usina
Cultural da Energisa, numa conversa molhada como costuma dizer
Agnaldo, Martinho, sentei-me com Itamar Cândido, e com apoio
de Agnaldo, fui guindado para A União como chefe de Reportagem
quando Carlos Cesar e Cícero Félix (prêmio Esso de Jornalismo pela
capa do Diário da Borborema pela foto do atentado das torres gêmeas
do Word Trade Center.
Tempos depois fui até editor chefe por uma semana, dividindo
o cargo com Emmanuel Noronha, por conta daquele ‘puta que pariu’
que foi creditado numa foto. O editor era João Evangelista.
Nelson Coelho era o superintendente e me ligou logo cedo pra
conversar comigo no Cassino da Lagoa, sobre esse puta que pariu. Lá,
encontrava-se o tesoureiro do PMDB Antonio de Sousa quando fui
informado que deveria assumir a editoria provisoriamente pois João
Evangelista acabara de ser afastado do cargo pelo que havia acontecido.
Passados uns meses Agnaldo Almeida me convida para assumir
a coordenação de TV da Assembleia Legislativa que tinha sob a
presidência o deputado Arthur Cunha Lima.
Tudo era difícil. Agnaldo questionava a falta de estrutura,
reclamava... enfim. Apesar de tudo fizemos boas produções que depois
foram exibidas com outros créditos.
Passado este período na Casa Epitácio Pessoa, depois da saída
de Agnaldo, eu fui junto. É assim: se você não pede pra sair alguém vem
e derruba você, numa boa, tudo “mui amigo”. E aí de novo, felizmente,
vim parar na A União quando convivi com o quinto Beatles Sílvio Osias,
William Costa, Renata Ferreira, Walter Galvão e agora Felipe Gesteira
sob a batuta de Albiege Fernandes que sucedeu Ramalho Leite. Depois
veio Bete Torres com uma tropa nova e aqui estamos até agora:

A UNIÃO 133
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
eu, José Napoleão Ângelo, Carlos Cavalcante, (Carlão) Emmanuel
Noronha, Carlos Vieira e Marcos Pereira na melhor das oportunidades
profissionais pelo tamanho e importância de A União, tentando integrar
a história deste jornal plural que consegue, como nenhum outro, contar
a história política e cultural da Paraíba. Quem trabalhou nesta aqui
terá sempre boas lembranças. Vale até repetir e relembrar aos que o
invejam e a vida inteira pediram pelo seu fim, o que meu professsor
de fundamentos científicos da comunicação Severino Gomes de Sousa
Filho (Biu), fez com que colocasse-mos no nosso convite de formatura
da velha Urne, em 1982. “Aos que tentaram fazer ciência; aos que
não conseguiram; e aos que ainda vão aprender”. Sigam, ela vai longe
ainda. A velha escola ainda funciona, os novos, e não raros estagiários,
nos dias atuais, que digam.

Capa da edição de 1º de outubro de 1980

134 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
G isa V eig a

A p rim eira red aç ã o a g ent e nu nc a esq u ec e

T ive a sorte de ter bons professores de Jornalismo, tanto na


Faculdade de Comunicação Social da UFPB quanto no jornal
A União, onde ingressei como “foca” ainda no primeiro ano
do curso superior, graças à amizade construída com Sílvio Osias e o
editor Agnaldo Almeida. Lá aprendi, na prática, a escrever uma notícia
obedecendo às regras da objetividade jornalística, a entrevistar com
uma certa provocação, buscando sempre arrancar uma declaração
inusitada. Aprendi a exercitar o tal “faro”, fui estimulada a me superar,
a buscar o “furo”, a surpreender o leitor.
Só tinha “fera” no ofício de escrever. E eu lá, nos meus mal
completados 19 anos, no meio daquela gente esquisita, inteligente,
falante e viciada em cafeína. Meu primeiro chefe de Reportagem foi
Arlindo Almeida, na acanhadíssima Redação instalada na Praça 1817.
Era extremamente paciente comigo, com a mineira Marília Serra (que
depois decidiu ser bancária e cantora) e com a paulista América (não
sei que destino tomou). Das três, só eu permaneci trabalhando e
aprendendo.
Bons anos aqueles em que a Redação mudou-se para a rua
João Amorim. Ali concentrava-se o maior número de bons jornalistas e
fumantes inveterados por metro quadrado. Era um tempo em que tudo
era feito de modo mais lento, porém mais denso. Não havia internet,
redigíamos em pesadas máquinas Remington e Olivetti e o trabalho
de apuração de uma reportagem levava tempo e exigia paciência -

A UNIÃO 135
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
nossa e dos chefes. Os gravadores eram enormes e, aos poucos, foram
reduzindo de tamanho. As páginas do jornal ainda eram em preto e
branco. Os fotógrafos também trabalhavam na revelação de suas
próprias fotos em laboratórios improvisados no prédio da Redação.
Nosso “google” atendia pelo nome de Luzia, que chefiava o setor de
pesquisa, instalado numa sala abarrotada de armários que guardavam
recortes de jornais e fotos - um horror para alérgicos como eu.
Vários momentos foram marcantes naquela época. Para
citar um deles, a série de conflitos de terras na região de Alhandra e
Pitimbu, especialmente na Fazenda Camucim, que exigiu de mim um
amadurecimento profissional mais veloz para encarar momentos de
tensão. Fiz várias reportagens. Li tudo o que podia, na época, sobre
conflitos agrários. Foi um grande aprendizado.
Também houve momentos hilários. Na mesma rua situava-se a
sede da organização de direita TFP - Tradição, Família e Propriedade.
De vez em quando um enviado da TFP, com fala mansa, sempre bem
penteado e vestido sobriamente, contrastando com aquela turma
que amava uma algazarra, Ia à Redação entregar um release. Quando
saía, antes mesmo de cruzar o portão, vinha a provocação: “Viva o
comunismo”, gritava algum jornalista, enquanto todos, em coro,
respondiam: “Viva!”, e caíamos todos na risada.
Depois a Redação ganhou novo endereço, no prédio da antiga
Biblioteca Pública, na Rua General Osório. Ali, com Nonato Guedes
no comando, ganhei minha primeira editoria - de Economia. E tomei
gosto. Li tudo o que podia sobre o momento econômico do país e da
Paraíba, tomei verdadeiras “aulas” com minhas fontes de informação,
aprendi a editar uma página e a elaborar pautas. Foram importantes e
deliciosas lições.
O jornal A União foi, para mim, a primeira e principal escola
prática. Lá senti as emoções do primeiro salário, da publicação
das notícias que redigi, da primeira manchete, do primeiro “furo”,
da primeira reportagem especial domingueira, da ligação com os
primeiros colegas de profissão. Também sofri com os primeiros erros,
as primeiras broncas, as primeiras rusgas - isso tudo faz parte.
Ter começado minha vida profissional em A União foi um grande
privilégio. Sem dúvida, foi minha grande escola de jornalismo prático.
Meu primeiro emprego, minha primeira paixão profissional.
A primeira redação de jornal a gente nunca esquece.

136 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Guilherme Cabral

U m p riv ilég io

C oncluído o estágio de alguns meses que realizei na assessoria


de imprensa da Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc),
em João Pessoa, após minha formatura como Bacharel em
Comunicação Social na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o qual
cursei no período de 1980 a 1982, A União foi o primeiro jornal que
confiou, ou apostou, no meu trabalho, pois abriu suas portas para
que eu iniciasse - a princípio em caráter experimental - o exercício da
minha profissão de jornalista. E, de lá para cá, são mais de três décadas
cumprindo a função ora de repórter, ora de editor interino, a exemplo
do que vem ocorrendo nos dias atuais, quando se faz necessário
substituir o editor titular no 2º Caderno.
A princípio, quando ingressei na Redação deste centenário
jornal, um dos integrantes da imprensa oficial do Governo do Estado -
agora, aos 125 anos de existência, considerado um patrimônio cultural
da Paraíba - ainda não tinha noção da sua importância histórica, pois,
naquela época, um jovem recém-formado, queria era atuar, embora
nutrisse certo receio por entender que essa área de Comunicação Social
apresentava, na época, um restrito mercado de trabalho, situação que
evoluiu para melhor e assim permanece até hoje. Por isso, só vim me
aperceber da dimensão, ou seja, da magnitude de A União com o
passar do tempo, quando fui tomando conhecimento das impressões
de grandes nomes que tiveram contato com suas páginas, a exemplo

A UNIÃO 137
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
do ex-ministro e escritor José Américo de Almeida, que considerava o
jornal como sua Universidade. Sentimento esse também reforçado em
mim por profissionais com os quais travei e mantenho comunhão no
dia a dia da produção do diário, onde, ao passar por diversas editorias,
ao longo do tempo, também pude aprender e lapidar meu texto,
baseado na experiência de cobrir vários fatos.
Por tudo isso, me considero um privilegiado por trabalhar em A
União e sentir a honra de, por intermédio da minha labuta cotidiana
como jornalista, ser mais um a contribuir para a grandeza do jornal, ao
assentar outro tijolo na histórica trajetória desse diário, onde me sinto
maravilhado por estar atuando no 2º Caderno. No entanto, não apenas
por isso, mas, também, porque estou ciente da boa repercussão que
as reportagens que assino conseguem obter entre os leitores e minhas
fontes, assim como dos meus superiores.
Os 125 anos de existência de A União, no entanto, não pesam
na produção diária de suas páginas. Pelo contrário, o jornal soube
acompanhar as inovações tecnológicas advindas, com maior afinco,
nas últimas décadas. E, por isso, além da tradicional edição impressa,
também se faz presente na internet e nas redes sociais, à disposição
dos leitores. Esse mesmo clima jovial se vive na Redação, onde a
convivência entre os colegas de batente é mantida de maneira amigável,
espontânea e, não raras vezes, bem humorada, mas, contudo, sem que
se deixe de cumprir, com seriedade, o exercício da profissão, o que
resulta num produto de alta qualidade para a sociedade. É, portanto,
reafirmo, um privilégio integrar a equipe que contribui para que o
jornal continue a testemunhar, contar e, também, fazer história.

138 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Silvana Sorrentino

Com q u ant as red aç õ es


se f az u m j ornalist a?

A
lém do curso de Comunicação, iniciado em 78 no campus 1 da
UFPB, as redações dos jornais locais foram alicerces à minha
escalada profissional. Sem elas, jamais teria adquirido a vivência
necessária para alçar novos voos.
Em 1982, ingressei no serviço público pelas portas de A União,
então regida pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), mas alterada
para o regime estatutário em 1985, no governo de Wilson Braga. Nunca
parei para avaliar se essa mudança regimental teve efeito positivo ou
negativo. Pra mim, isso não importava! O que valia mesmo era poder
continuar nos batentes da Redação da “velhinha”, que muito me ensinou
em sua longeva existência.
Fui a convite do então superintendente, Petrônio Souto, com
salário dobrado em relação ao meu primeiro emprego como repórter
no jornal O Norte. Um êxtase! O convívio com nomes do naipe de Walter
Galvão, Wellington Farias, Gonzaga Rodrigues, Zé Carlos dos Anjos,
Cleane Costa, Tarcísio Neves, Pedro Moreira, Carlos Tavares, Sílvio Osias,
Lena Guimarães, Nonato Guedes, Hilton Gouveia, Biu Ramos, Marcos
Tavares, Thamara Duarte, Antonio David, Carlos Aranha, Duda Teixeira,
Anete Leal, Jacinto Barbosa, Gisa Veiga, Fernando Moura e tantos e
tantos outros ao longo dos anos, ajudaram a moldar minha postura
profissional, com perenes descobertas sobre o jornalismo e a vida.

A UNIÃO 139
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
A União sempre foi assim: envolvente em todos os sentidos! Tanto
que durante minha permanência na casa, fui repórter, redatora e assumi
cargos desafiadores, como a Diretoria Técnica e a Editoria do jornal.
Por isso, o título: Com quantas redações se faz um jornalista?
No meu caso, foram necessárias umas seis, desde a da João Amorim,
onde iniciei, seguindo para a antiga Biblioteca Pública, na General
Osório; antiga Saelpa (esquina da General Osório com a Praça Aristides
Lobo); depois na Osvaldo Pessoa, em Jaguaribe e, finalmente, na BR
101. Sem desmerecer a primeiríssima, no extinto O Norte.
Como uma mãe que acolhe a todos, tive na Redação de A
União minhas melhores experiências, com resgates no tempo de
alguns episódios. Não dá pra esquecer, quando editora, a morte do
bandido “Focinho de Porco”, numa noite de março de 91. Tendo que
dar a manchete e sem ter um motorista na Redação, fui eu mesma
dirigindo um jipe importado que mais parecia um pequeno trator
(de tão duro), com Edilene Muniz, a fotógrafa, para fazer o registro
e fechar o jornal. Chegar ao local do crime, no Grotão, e ao velório
do “ilustre” marginal, no Cemitério de Cruz das Armas, não foi nada
fácil para duas mulheres! Mas todo o sacrifício compensava, para não
deixar a “velhinha” levar um furo...
Coincidência ou não, iniciei n’A União na mesma época em que
me casei. Em seguida, tive meus 3 filhos, gerados entre os anos de 82 e
86. Então, todos participaram desse percurso, seja na barriga da mãe ou
num movimento de reivindicação, quando não podia deixá-los em casa.
Nesses casos, A União sempre foi abrigo para os rebentos também. Não
me deixam mentir Aparecida Rodrigues, Luzia Lima, os irmãos Wellington
e Land Seixas e outros contemporâneos desse processo!
Ainda como um registro fotográfico, que não me sai da
memória, quando ingressei nessa “escola” até o aperto no fusquinha
da Redação era bacana! Portanto, não há como desvincular minha
vida profissional e pessoal desse matutino que faz história há 120
anos e se renova a cada aniversário. Viva A União!

Texto originalmente publicado na edição comemorativa


dos 120 anos do jornal A União, em 02/02/2013

140 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Ant ô nio Cost a

Uma história de amor


com olhar histórico

M
inha história com A União tem o sentimento caloroso do
amor. Relações que geraram riquezas acumuladas por laços
de amizade, pelo jornalismo construtivo e pelo conhecimento
em geral. Trabalhei no jornal em dois períodos.
Em 1983, a convite do jornalista Nonato Guedes, fiquei até
1990, exercendo cargos de chefia, como secretário e editor geral. Um
tempo em que a Redação passou por locais distintos como o bairro
de Jaguaribe, o Centro Histórico de João Pessoa e o Distrito Industrial.
Em 1996, retornei ao jornal a convite do jornalista Eraldo
Nóbrega, para ser o editor geral. Com a Redação estabelecida em
definitivo no Distrito Industrial, junto ao Parque Gráfico, A União
vivenciou alguns momentos de turbulência, em decorrência de crise
financeira por falta de custeio e por mais uma vez ter servido de
moeda política partidária durante campanhas ao Governo do Estado.
Em janeiro de 2002, então editor geral, deixei o jornal, que passou por
renovação administrativa sob o comando do jornalista Itamar Cândido.
Mas foi na construção diária do jornal, nesses 13 anos de
convivência, que alimentei esse amor pela A União. O ambiente
fraternal da Redação fortaleceu esse relacionamento. O melhor
ambiente de redações que conheci. E olhe que dirigi muitas redações:

A UNIÃO 141
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
O Norte, Correio da Paraíba, O Momento, A Tribuna. Constituiu-se n’A
União, inclusive, a Associação dos Servidores, numa situação solidária
e em defesa de direitos.
Vivi muitos momentos de alegria, de confraternização; poucos
de tristeza. Aprendi muito! O jornalismo e os profissionais com quem
convivi, de A União, me deram a confiança de um futuro ascendente.
Foi na Redação de A União, a partir da iniciativa dos jornalistas Linaldo
Guedes e Robson Nóbrega, que cresceu um movimento gerando minha
candidatura e a respectiva eleição para presidente da Associação
Paraibana de Imprensa, em 1997.
Cheguei a organizar, em 2001, um Manual de Redação para o
jornal com o propósito orientador
e normativo para repórteres,
redatores, revisores e editores. Disse,
na apresentação, que as lições do
passado continuam na pauta do
dia. Que permanece a confiança
de um aprendizado contínuo.
Que o aperfeiçoamento é sempre
necessário.
Acredito que o Manual de
Redação, publicado em novembro de
2001 com o incentivo do jornalista
Luiz Augusto Crispim, contribuiu para
o exercício da profissão. Justamente
em um jornal considerado uma
Escola de Jornalismo.
A União tem essa característica única. Um jornal com roupa de
empresa estatal que possibilita aos seus profissionais a prática de um
jornalismo construtivo. Com olhar histórico.

142 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Ana Lu st osa

O rio da minha vida

O jornal A União apresentou-se na minha vida – profissional


e pessoal – como um rio e seus afluentes. Explico: o curso do
rio me indicou o compasso e suas curvas (rio) de como se faz
jornalismo e amigos para sempre. Foi assim um amor vivenciado com
muita paixão e descobertas mil. Era início da década de 80, eu estudante
de Comunicação Social da UFPB, frequentadora da sala preta do DAC
(Departamento de Artes e Comunicação), me apresento ao editor do
jornal A União, que, por sua vez, sem muita conversa, me encaminhou
para o chefe de Reportagem – este já com uma pauta na mão me
entregou e desejou boa sorte. Nunca esqueci a emoção: Ufaaa! Lasquei-
me (pensei), confesso que essa foi minha primeira experiência.
Mas, como o rio tem seus afluentes, cruzei com jornalistas, os
quais logo se tornaram colegas e amigos amados, como Barreto Neto,
Baby Neves, Thamara Duarte, Cleane Costa, Land Seixas, entre outros
que me deram a régua e a cartilha de como se faz reportagem no dia
a dia. Confesso que achei difícil..., mas nunca pensei em desistir. O
que me salvou (risos) foi a conotação política passada pelo camarada
Marcos da Paz Figueiredo, que me fez entender que o jornalismo
poderia ser um instrumento para o enfrentamento da injustiça social.
Vale ressaltar que não pensava em ganhar e juntar dinheiro, queria
mudar as relações.
Bom, A União me deu esteio e oportunidade para praticar
a teoria que me foi passada no curso de Comunicação Social por

A UNIÃO 143
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
bons professores, a exemplo de Paulo Melo, Luiz Augusto Crispim e
Carmélio Reynaldo, entre outros. Então esse conhecimento agregou-
se às lições aprendidas e repetidas, por mais de uma década, por
jornalistas que faço questão de compará-los aos afluentes do rio da
minha vida. Obrigada a cada um de vocês. Aproveito também para
agradecer aos meus familiares, que se orgulhavam da minha coragem,
mesmo sabendo que o jornalismo não é uma profissão valorizada do
ponto de vista salarial.
O curso do meu rio profissional, que tem como nascente A
União, me deu guarida para eu seguir minha experiência em veículos
de comunicação, como O jornal Norte e jornal Correio da Paraíba.
Preciso enfatizar que na caminhada ultrapassei muitas barreiras
para praticar jornalismo. Claro que, como em todo o curso de nosso
profissionalismo, enfrentamos altos e baixos. Nesse sentido, asseguro:
o jornalismo foi uma decisão transformadora e pode embalar a minha
autoestima e sobrevivência material.
Para que eu não deixasse morrer as minhas utopias de que
o jornalismo poderia mudar o mundo, resolvi acreditar que ele
poderia mudar a visão crítica dos problemas estruturais do país e
do seu continente. E assim levei adiante a pauta do dia a dia.
Depois disso (dessa trajetória), ganhei um novo cognome:
passei de Aninha da União para Aninha da Secom e segui encantada
porque permaneci na mesma família – A União, Secom e Tabajara.
Pois, assim, na história do jornalismo paraibano, A União foi, sem
dúvida, a responsável pela formação de muitos bons jornalistas que
por ali passaram e de muitos que atuam lá, uma grande escola de
vida profissional, que se desenvolveu pautada em se fazer jornalismo
com produção de grandes matérias e que ao longo de sua história tem
merecido elogios e críticas pelo seu alcance e pela complexidade de
ser um jornal oficial.
O que me fez identificar as minhas experiências e aprendizados
no jornal A União a um rio é ter observado que, após percorrer um
bom trajeto e curvas, o meu rio passou por assessoria de imprensa de
instituições privadas, públicas e está desaguando no mar de Tambaú,
onde há oito anos pratico o jornalismo na assessoria de imprensa da
PBTur (Empresa Paraibana de Turismo).

144 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Nonat o G u ed es

U m j ornal q u e se t ornou U niv ersid ad e p ara


g eraç õ es na P araí b a

H á um conceito firmado a respeito do jornal A UNIÃO que o


sintetiza de forma marcante - é o conceito do jornal-escola,
espécie de Universidade de formação de profissionais de
Comunicação na Paraíba. Difundido desde os primórdios, na sua
fundação, esse conceito ganhou visibilidade e se consolidou ao
longo dos anos, em diferentes períodos administrativos e editoriais.
As eventuais campanhas articuladas para fechar A UNIÃO nunca
prosperaram na prática, embora tenham encontrado eco em
alguns períodos ou governos. Mas os próprios governantes sempre
consideraram temerário abrir mão de um veículo de transmissão do
saber e de aprendizado do conhecimento.
A parte menos controversa em A UNIÃO é a sua natureza editorial.
O fato de ser um órgão de imprensa do governo, de qualquer governo
que ascenda ao Palácio da Redenção, ao invés de se tornar um estigma,
transformou-se numa qualidade apreciada em A UNIÃO por passar a
ideia de um jornal que não mascara sua identidade. Também é certo
que nas últimas décadas, com as inovações introduzidas no ensino
e na imprensa, o maniqueísmo deixou de ser voz corrente, abrindo
espaço para a pluralidade, para a diversidade política-ideológica.
O papel cultural de A UNIÃO não se exprime apenas nas matérias

A UNIÃO 145
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
publicadas pelo jornal, mas na função de Editora que é inerente
ao organismo, com publicação de um sem número de títulos em
circulação no mercado e em mercados distintos, do Brasil e do exterior.
Por ocasião dos 30 anos do movimento militar de 1964, A UNIÃO
publicou Cadernos Especiais numa Edição Histórica, dando voz a ene
protagonistas - a vencidos e vencedores da conflagração vivenciada
pelo país. Evoluiu-se, naturalmente, para a confecção de um livro,
condensando o supra-sumo do que foram os Cadernos da Edição
Histórica. Nasceu, aí, o livro “O Jogo da Verdade”, cujo alcance até
internacional pode ser mensurado pelo fato de ter um exemplar numa
biblioteca de Washington (EUA) onde brazilianists e historiadores de
diferentes lugares do mundo buscam fontes e inspiração para teses,
livros e produção acadêmica-intelectual.
Tive uma trajetória atípica em A UNIÃO, atuando em três
momentos distintos, equivale dizer, em conjunturas diferenciadas
e em papéis igualmente diferenciados. Na década de 1980, no
governo de Wilson Leite Braga (PDS), que era vinculado ao regime
militar já nos estertores, exerci a função de editor do jornal, com
liberdade para dar cobertura jornalística a eventos polêmicos como
o assassinato da líder camponesa Margarida Maria Alves em Alagoa
Grande, no qual estavam envolvidos, como mandantes, proprietários
rurais ligados a grupos políticos que se alinhavam com o poder de
plantão. Nem por isso o jornal deixou de divulgar livremente os fatos
que a crônica policial registrava, tornando-se fonte de consulta e
referência para correspondentes de jornais e revistas do exterior
e para pesquisadores em geral. No governo Ronaldo Cunha Lima,
na década de 90, fui alçado à superintendência do jornal e Editora
e procurei dinamizar a produção literária, com parcerias junto a
instituições acadêmicas e intelectuais que vitalizaram o segmento
no período referenciado. Enfrentei um dilema crucial - o de noticiar
o episódio em que o então governador Ronaldo Cunha Lima havia
disparado tiros de revólver contra o antecessor e adversário político
Tarcísio de Miranda Burity, num restaurante da orla marítima de
João Pessoa. O episódio foi noticiado, junto com um editorial em
que procurava expender interpretações psicológicas do gesto do
então governador, e dentro das limitações que poderiam suceder a
tanto. O fato concreto, indesmentível, é que A UNIÃO não se omitiu
num momento gravíssimo da sua própria História. Por último, atuei
como colunista político do jornal, na gestão de José Maranhão,
entre fins da década de 90, começo dos anos 2000. A postura foi

146 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
de aparentemente engajamento ou alinhamento com a filosofia do
governo reinante, baseada na solidariedade com os mais pobres,
mas preservando-se o espaço para informações de interesse de
correntes políticas opostas à do governo.
A atuação em fases distintas e em governos diferenciados
serviu para plasmar melhor a minha personalidade como agente
da informação e, também, como comentarista de fatos. Todo
o aprendizado colhido nas três oportunidades em que passei
pela Redação ou pela direção de A UNIÃO equivaleu ao Curso de
Jornalismo que achei por bem não empreender na Universidade
Federal da Paraíba, até em virtude de uma precoce e rica trajetória
profissional na delicada ou complexa área da Comunicação e da
informação de interesse público. A UNIÃO tem, para mim, esse
simbolismo de escola, de máter da educação e do ensinamento
sobre as ferramentas inerentes ao jornalismo. Isto, decididamente,
contribuiu para enriquecer a minha formação intelectual.

A UNIÃO 147
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
José Euflávio

A U niã o em t rê s t em p os. . .

J ovem, muito jovem, tive a chance dada por Benedito Maia para
trabalhar no jornal O Nordeste, de propriedade de Seu Hermógenes
Bonfim, na Rua da Areia, em João Pessoa. O tempo andou e
terminei na Redação do jornal A União, na Rua João Amorim, no centro
da cidade, ali bem próximo onde é o Supermercado Bompreço, na João
Machado.
Fui trabalhar com gente que conhecia muito pouco. Alguns
repórteres eu conhecia: Chico Pinto, Wellington Farias, Tião Lucena,
Baby Neves e muitos outros. A União para mim se transformou numa
verdadeira escola e depois voltei ao jornal por mais duas vezes.
Duas coberturas me chamaram a atenção e me encheram de
vaidade: fui escalado por Sebastião Barbosa, o chefe de Reportagem,
e Nonato Guedes, o editor, para fazer a cobertura do assassinato de
Margarida Maria Alves, tudo por uma simples coincidência.
Era um sábado e eu estava na casa de Vânia Rodrigues, em
Campina Grande. Simão Almeida ligou para Vânia anunciando que
haviam assassinado a líder sindical. No carro de Vânia fomos bater
em Alagoa Grande. Colhi informações e mandei, por telefone, uma
matéria para a Redação.
No domingo o jornal A União divulgou o assassinato de
Margarida Maria Alves. Na segunda-feira fui escalado para acompanhar

148 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
o caso, tanto em João Pessoa, como em Alagoa Grande. Durante meses
visitei, quase todos os dias a cidade onde Margarida morava.
O secretário de Segurança Pública era o deputado Fernando
Milanez que, por ordem do então governador Wilson Braga, nomeou
um delegado especial para acompanhar o caso. O escalado para o caso
foi delegado Gilberto Indruziak da Rosa.
Homem experiente, delegado de carreira, fino no trato com as
pessoas e outras qualidades, Rosa tinha o perfil perfeito, porque o caso
adquiriu repercussão nacional e até mundial, e jornalistas do Brasil
todo e de outros países mandaram seus correspondentes à Paraíba.
Para mostrar serviço, o delegado prendeu dois ciganos em Nova
Cruz, no Rio Grande do Norte, e apresentou à imprensa como sendo
os matadores de Margarida. Era uma farsa para desviar a atenção dos
verdadeiros assassinos e mandantes do crime. A União denunciou
a farsa, o advogado Wanderley Caixe recorreu à Justiça e os ciganos
foram liberados.
Por pressão externa, acabei sendo demitido do jornal e depois
o tempo mostrou que eu estava certo: a morte de Margarida foi
tramada pelo Grupo da Várzea, os pistoleiros fizeram o serviço em
Alagoa Grande e foram levados na calada da noite para o interior de
Alagoas, onde moravam amigos do Grupo da Várzea.
Em 2007 estava eu de volta ao jornal. Fui escalado pelo
superintendente Itamar Cândido e pelo editor Carlos César para
produzir uma matéria sobre a transposição de águas do São Francisco
para o Nordeste Setentrional. Porque todos falavam sobre a obra, mas
ninguém sabia nada sobre ela.
Assim, juntamente com o fotojornalista Augusto Pessoa e o
motorista Claudionor Brito percorremos 4.800 quilômetros entre os
estados da Paraíba, Pernambuco, Bahia, Alagoas, Ceará e Rio Grande
do Norte. O resultado foi a produção de uma primorosa revista de 48
páginas contando o drama dos nordestinos em meio ao turbilhão da
seca e a esperança na chegada das águas da transposição.
A matéria foi inscrita no prêmio AETC de Jornalismo e pela
primeira vez em sua história A União ganhou o primeiro lugar em
Jornalismo Impresso.

A UNIÃO 149
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Marc os P ereira

A p rim eira rep ort ag em a g ent e


nã o esq u ec e

S e a Velha Senhora, como A União é chamada carinhosamente no


meio jornalístico, completou 124 anos de existência em 2017,
o meu relacionamento com essa Velha Senhora, que tem muita
história para contar, já chega há 34 anos. Claro que durante todo
esse tempo aconteceram idas e vindas, mas no final falou mais alto
o sentimento de agradecimento pela formação prática que aprendi
ao entrar no jornal, coisa que agente só adquire no dia a dia de uma
Redação. E lá se vão 11 anos contínuos de convivência diária com meus
colegas de trabalho.
Recém formado no curso de Comunicação Social, habilitação
Jornalismo, na antiga Universidade Regional do Nordeste (URNE),
em Campina Grande, hoje Universidade Estadual da Paraíba (UEPB),
comecei a praticar o que tinha aprendido nos bancos da universidade
justamente nesse jornal que é conhecido também como uma grande
escola de Jornalismo na Paraíba, onde as oportunidades de aprendizado
são imensas já que você convive ou já conviveu com os grandes nomes
da imprensa paraibana, que de uma forma ou de outra passaram por
A União. Vale ressaltar que muitos ainda estão na ativa e contribuindo
para o engrandecimento do jornal.
A primeira reportagem a gente não esquece. Tendo começado
a trabalhar na sucursal de A União, em Campina Grande, em 1983,
lembro muito bem quando fui pautado para cobrir a abertura do
Festival de Inverno da cidade. Matéria pronta e de página inteira, foi

150 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
gratificante ver o nome assinado no início da página. Lógico que até
hoje tenho guardado esse jornal, além de outros com matérias que fiz
e que guardo como uma forma de relembrar do tempo que passei na
sucursal do jornal na Rainha da Borborema, onde fiz muitas amizades
e tive grande aprendizado.
Confesso, que ao chegar em João Pessoa, onde vim morar, fiquei
um tempo na Secretaria de Comunicação do Estado (Secom) antes de
retornar para A União, já na capital do Estado. A vontade de voltar a
trabalhar em A União era grande e no primeiro convite não pensei duas
vezes e aceitei o desafio de vir novamente defender as cores deste
centenário jornal. É bem verdade que não participei das mudanças de
locais da Redação do jornal, como muitos colegas vivenciaram essa
fase e relembram de muitas histórias. Não conheci quando funcionou
na Av. General Osório, no Centro, nem no bairro de Jaguaribe. Quando
vim para A União, o jornal já estava localizado no Distrito Industrial
da capital, no atual endereço. Aqui pude compartilhar de outras
mudanças, tanto no espaço físico quanto na linha editorial. Mudanças
que aconteceram para melhor. Hoje, o jornal está mais plural, mais
informativo e mais engajado na defesa das causas sociais e na melhoria
do bem-estar dos paraibanos. Vida longa para essa Velha Senhora.

A UNIÃO 151
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Thamara Duarte

Uma história para não esquecer...

N unca esqueci aquele final de tarde/começo de noite...


Subi aquelas escadas com tranquilidade, contemplando cada
detalhe das paredes centenárias. O coração, no entanto, estava
aos pulos: uma emoção indescritível por visitar a sede de A U niã o.
Naquela época, o jornal do governo estava instalado no prédio da
Biblioteca Pública do Estado. Era o início de 1985 e mal tinha acabado
de receber o diploma de Bacharel em Comunicação Social/Habilitação
Jornalismo, pela Universidade Federal da Paraíba.
Conduzida por Silvio Osias, meu primeiro grande referencial de
ética e profissionalismo, adentrei na Redação e tentei guardar cada
segundo daquele momento. Fui apresentada a Carlos Aranha, então
editor de Cultura, que me instigou a publicar um texto que havia
produzido ainda na época do curso. O material descrevia os bastidores
de Aruanda. O premiadíssimo curta-metragem de Linduarte Noronha
fazia 25 anos e havia utilizado a linguagem da estética da fome,
inaugurando, segundo Glauber Rocha, o revolucionário movimento do
Cinema Novo.
Naquele mesmo instante, o jornalista foi mais além e me pediu,
de supetão, para entrevistar, ali na Redação, os garotos da Limousine
58. A banda fazia umas baladas legais, misturando o pop com o
rock, e estava prestes a lançar um “bolachão”. Era a minha primeira
vez como jornalista profissional. Era a primeira vez que se produzia
um LP na Paraíba. Alguns dias depois, a matéria foi publicada, com

152 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
destaque, na capa do Segundo Caderno. A estreia nas páginas de A
U niã o foi assim: especialíssima!
Hoje, passados mais de 30 anos, devo confessar que, desde
aquele dia, me tornei apaixonada! Nos anos que se seguiram, cultivei
este amor à primeira vista... Ao fazê-lo eterno, olho para trás e digo
sem medo de errar: A U niã o é a maior das experiências da minha
caminhada jornalística. Jamais esqueci de nenhum daqueles mais de
10 anos, nos quais vivenciei a arte de ser aprendiz, absorvendo, o
máximo que pude, dos seus centenários ensinamentos.
Oficialmente, comecei em A U niã o em maio de 1985. Poucos
dias antes de completar 21 anos, fui convidada (seria melhor dizer
“convocada”) pelo mestre Agnaldo Almeida. Com ele, aprendi a lição
de como conquistar o leitor! Para isto, é preciso lapidar os textos; é não
ter pena de cortar os próprios escritos. É saber que menos palavras são
muito mais atrativas que redundâncias e exageros linguísticos.
Nos primeiros anos, atuei na reportagem do Jornal de
Domingo, um suplemento semanal de oito páginas, onde fazia
matérias investigativas e entrevistas ping-pong. O editor era Barreto
Neto, um ser iluminado. Ele me encantou profundamente! Guiada por
sua extrema bondade e luz imensurável, me deixei levar, de maneira
irreversível, pelos caminhos do jornalismo...
Pacientemente, foi Barretinho o grande responsável por meu
alumbramento diante dos textos, diagramações e pesquisas. Na nossa
rotina diária, ele não era um “chefe” no sentido literal da palavra. Sempre
me deixava livre, para sugerir as pautas, e incentivava a participação
em todos os processos de um jornal. Eu, muito jovem, extremamente
curiosa e perfeccionista ao extremo, não me contentava em apenas
ouvir os entrevistados e a redigir o material. Gostava de aprender com
todos os profissionais – os melhores da Imprensa paraibana –, que
compunham o quadro da escola A U niã o.
No início não foi fácil! Utilizava apenas dois dedos para teclar a
velha máquina de datilografia. “Catava milho”. A cena causava muito
riso entre os colegas... Assim passava horas, até conseguir terminar o
texto. E ainda protagonizava mais uma presepada: para evitar ter que
bater tudo de novo, fazia uma edição caseira, emendando as partes
das páginas com durex. Só então entregava a versão, quase final, a
Barreto. Não satisfeita, ainda “exigia” que ele fizesse as correções na

A UNIÃO 153
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
redação, pois adorava vê-lo passar o “lápis vermelho” no texto. Atenta
aos mínimos detalhes, eu ia aprendendo as regras do português
(muitas eram as vírgulas fora do lugar), a enxugar as informações e a
fazer títulos que eram impregnados de humanidade e poesia.
No tocante à parte estrutural, foi um pouco mais complicado de
administrar. Como repórter especial, era responsável por entrevistar
as personalidades paraibanas e de outros estados: fossem eles
artistas, filósofos, historiadores, lideranças sindicais ou, até mesmo,
pesquisadores e astrônomos. Não havia ainda a setorização dos dias de
hoje, mas somente as editoriais de Cultura, Geral e Política. A Redação
tinha um ou dois gravadores para atender à demanda. E, muitas vezes,
utilizei um gravador enorme, que havia recebido de presente de papai,
para fazer as matérias. Também não dispunha do carro e do fotógrafo
toda hora, já que a prioridade era que eles atendessem às coberturas
do cotidiano da cidade (inclusive as notícias de acidentes e crimes).
No entanto, nenhum dos contratempos me desanimava! Com
a determinação própria da juventude e motivada pelo amor ao que
fazia, o importante era dar certo. A maior das recompensas era ver
a manchete, logo cedo, na manhã do dia seguinte. Era sentir uma
indisfarçável alegria, após ter dado “um furo” no jornal concorrente!
Quando não estava na rua, permanecia na Redação quase o dia
inteiro: chegava cedo e saía no começo da noite. Poucos meses depois e
já havia aprendido a fazer a “boneca”, utilizando os recursos estilísticos
(fotos, ilustrações, chapados, retículas, pontilhados e coordenadas,
que davam um “up” à edição). Naquela época, o trabalho dos editores,
diagramadores, digitadores, revisores e paginadores era totalmente
manual, pois não havia a ajuda da atual tecnologia dos computadores.
No entanto, o resultado “enchia os olhos”! Bem de perto, acompanhei
a feitura de páginas memoráveis, tão ou mais bonitas do que aquelas
que eram estampadas pela Imprensa nacional.
Ao pensar nisto, fico nostálgica e tenho o impulso de correr para
biblioteca mais próxima, para folhear aquelas maravilhosas páginas
de antigamente. Aliás, já naqueles dias, a pesquisa jornalística me
fascinava. Toda folga que tinha aproveitava para mexer nos arquivos
das fotos (tão cuidadosamente organizadas por Luzia, Cida e Denise)
e adorava espanar a poeira e penetrar no universo mágico das antigas
coleções, encadernadas ou não, dos exemplares históricos de A U niã o.
Vivia com alergia e conjuntivite, mas nem me importava...

154 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Ao me transportar no tempo, através das velhas páginas
do matutino governamental, conhecia/vivenciava as histórias da
Paraíba e do mundo. Foi neste ambiente de arquivo que tive acesso
à repercussão da Revolução de 1930 e dos fatos que advieram com a
morte de João Pessoa. Fiquei deslumbrada, ao perceber a presença de
capas com fotos em página inteira. Um feito e tanto, se lembrarmos
que esse recurso não era tão comum, no jornalismo das primeiras
décadas do século XX.
Ao folhear os antigos jornais que cobriram a luta das Ligas
Camponesas, tive acesso a um outro fato inusitado: descobri que
meu colega de Redação, Hélio Zenaide, havia sido o único jornalista
paraibano a publicar, na íntegra, o discurso do deputado Raimundo
Asfora. Com sua experiência de taquígrafo, ele conseguiu reproduzir,
palavra por palavra, tudo o que parlamentar disse no ato político que
foi realizado no Ponto de Cem Réis, em abril de 1962, logo após o
assassinato do camponês João Pedro Teixeira.
Cercada por tantos e imensuráveis talentos, nunca senti
qualquer discriminação: nem mesmo quando era apenas uma “foca”!
Obviamente, ocorreram inúmeras situações de stress, mas que vejo
como comuns à correria do dia a dia de um jornal. Daquela Redação,
trago somente maravilhosas lembranças. Foi em A U niã o que
conheci: generosidade, cumplicidade e muito, muito carinho. Alguns
colegas já não estão nesta Terra. Mas, de todos, preservo as lições e
os aprendizados. Os nomes são incontáveis. Prefiro, então, não citar
ninguém, para não ter o risco de ser traída pelo esquecimento.
Os dias em A U niã o estão preservados no mais profundo do
meu ser. Os colegas de profissão são personagens importantes da
minha memória afetiva. As saudades são tão presentes, tão fortes,
que me parecem: foi ontem que a gente trabalhou/brigou/riu e,
principalmente, se tornou amigo. Tudo junto; tudo misturado. Daquilo
que foi vivenciado naqueles tempos de juventude, eu reservo tão
somente as boas lembranças. Como ensina a canção de Gilberto Gil,
trago tudo dentro do coração...
Durante 11 anos, entre 1985 e 1996, fui repórter, redatora e
editora. Trabalhei essencialmente em Cultura, mas tive passagens por
outras Editorias. Conheci e procurei incentivar o talento de jovens
que, assim como eu, amavam A U niã o e o exercício do jornalismo.

A UNIÃO 155
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Aprendemos juntos a colocar nas bancas o melhor que poderia se
extrair numa cobertura escrita para a Editoria de Serviço (uma página
pioneira, que indicava quais os atrativos turísticos da cidade, revelando
o cotidiano da velha Philipéia), Geral e, até mesmo, de Política.
Durante uma temporada em que permaneci seis meses em
São Paulo, atuei como enviada especial. Tive a sorte de realizar a
primeira entrevista, do jornalismo brasileiro, com a paraibana Luiza
Erundina. Ela nos recebeu em seu apartamento, poucas horas após
ter sido eleita prefeita da maior cidade do Brasil. Naquele final de
tarde chuvoso em Sampa, falou dos futuros planos administrativos
e lembrou suas reminiscências mais profundas: a cidade natal
(Uiraúna), o trabalho como assistente social e a atuação ao lado de
Dom José Maria Pires na Arquidiocese da Paraíba.
Da longa passagem por A U niã o preservo outra experiência
inesquecível. O ano de 1987 marcava a passagem dos 25 anos da
morte do “cabra marcado para morrer”, o líder camponês João
Pedro Teixeira. Fui entrevistar a viúva, dona Elizabeth, em sua casa,
e pedi que, prioritariamente, ela recordasse a história de amor e as
dificuldades para que pudessem se manter unidos.
Naqueles tempos, a situação política no Brasil ainda era difícil:
muito embora o país já começasse a (re)construir a democracia,
após um longo período militar e de violação aos direitos humanos.
Durante a conversa, a forte e guerreira dona Elizabeth Teixeira
não levantou a voz nenhuma vez. Mas, falou firme e sem titubear!
Comentou sobre a necessidade da reforma agrária, do marido e
do Brasil dos anos de exceção. Com os olhos marejados, me olhou
profundamente por várias vezes e questionou: “Ele era tão bom...
Porque mataram ele?”
Diante daquela mulher, me vi invertendo os papéis: de
entrevistadora passei à condição de entrevistada. Sem palavras
fiquei. Muda me mantive diante da grandeza e do inabalável amor
daquela mulher excepcional. Marcada pela dor da separação,
provocada pela morte brutal, ela nunca perde a esperança. Sim,
ainda hoje, com quase 100 anos, dona Elizabeth permanece assim:
apaixonada... e apaixonante!
Tantos anos depois, como esquecer tamanha emoção?
Vivenciada nos primeiros anos da minha profissão de repórter, a

156 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
experiência junto à dona Elizabeth Teixeira fortaleceu minha vida:
enquanto cidadã e como defensora da dignidade humana.
Outro acontecimento ímpar, que guardo com muito carinho,
ocorreu em 1994. Um pouco antes de deixar os quadros de A U niã o,
fui convidada pelos editores - Nonato Guedes, Evandro da Nóbrega
e José Octávio de Arruda Mello - para participar da coletânea Jogo
da Verdade. As reportagens foram encartadas num caderno especial
e depois publicadas em livro. Eram textos de dezenas de jornalistas,
de várias gerações, que lembravam os 30 anos do Golpe de 1964.
Fiquei responsável por dois trabalhos. O primeiro foi uma entrevista
com Vladimir Carvalho, que lembrou como a equipe do cineasta
Eduardo Coutinho havia abandonado o material de filmagem de
“Cabra Marcado para Morrer” e fugiu para Recife. Também redigi uma
reportagem, resultado de uma pesquisa nos antigos jornais A U niã o
(janeiro a março de 1964), onde revelei como tinha sido “O cotidiano
da cidade às vésperas do Golpe”.
Por tudo isso, e muito mais, não é exagero quando digo: “A
U niã o tudo me ensinou”! O jornal foi a minha grande escola! Em sua
Redação, tornei realidade o sonho de menina. Nele é que vivenciei
o melhor do meu jornalismo e conheci um amor que jamais será
esquecido.
Instigada a trazer à tona estas antigas memórias, meu coração
fica contente. Para você, velha A U niã o, a gratidão e as lembranças
serão sempre eternas.
Parafraseando o poeta Paulinho da Viola, A U niã o foi um rio
que passou em minha vida. E meu coração se deixou levar... Eu não
vivo no passado. O passado de A U niã o é que vive em mim!

A UNIÃO 157
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Alex and re Nu nes

Eu e A U niã o

M inha história com o jornal A União começa quando descobri


o suplemento literário Correio da Artes e passei a ser um
pequeno colecionador das edições, sonhando um dia publicar
alguma coisa, um poema talvez. Um certo dia, por incentivo de amigos,
comecei a me aventurar no universo da apreciação crítica das artes
plásticas paraibanas. No início escrevia para apresentar os artistas nos
folders das vernissagens, que os amigos encaminhavam aos jornais,
que publicavam nos cadernos culturais, inclusive em A União.
Em abril de 1985, fiz a minha primeira visita à Redação do
jornal, para participar de uma reunião entre a direção do jornal e
representantes do movimento comunitário da Paraíba. Na reunião que
tivemos com o editor Antônio Barreto Neto, e o chefe de Reportagem
Wellington Farias, ficou combinado a publicação de uma coluna assinada
pelo jornalista Sebastião Barbosa, intitulada Painel Comunitário. Ainda
em 1985, passei a frequentar a Redação e a escrever diretamente para
o jornal, principalmente para alimentar a coluna, sob a supervisão de
Sebastião Barbosa. Lembro o primeiro dia, eu ainda estudante, muito
tímido, sentado em frente daquela máquina datilográfica, utilizando
apenas dois dedos de cada mão para teclar, com muitas ideias e pouca
concatenação na escrita, tendo ao meu lado, feras do jornalismo como
Oduvaldo Batista, Barreto Neto e tantos outros.
Em 1987, vivi uma experiência bastante significativa para o
aprimoramento da minha forma de escrever, ao trabalhar e conviver
mais de perto com dois grandes jornalistas, santarritenses como eu:

158 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Alarico Correia Neto e Biu Ramos. Alarico me presenteou com uma
bela gramática e algumas dicas inesquecíveis, o que me levou a ajustar
o texto e me encaminhou de vez para o jornalismo. Dez anos depois,
já na Secom, acompanhando as comitivas governamentais na Paraíba
e fora do Estado, continuei contribuindo com material jornalístico para
a velha A União. Foram muitas idas e vindas como, por exemplo, em
2009, quando passei a cuidar da página de A União na internet. Na
época, o editor geral era João Evangelista e o superintendente era o
jornalista Nelson Coelho.
Depois, em 2011, passei a atuar como repórter, numa
convivência diária, na Redação, com antigos colegas de faculdade,
como Conceição Coutinho e Ademilson José. Atualmente, ainda
continuo minha relação de amor e trabalho com o centenário jornal
paraibano. Em minha trajetória profissional em A União, são muitas
emoções vividas em reportagens emocionantes, a exemplo do caderno
que escrevi sobre a saga dos ciganos na Paraíba, o caderno sobre os
30 anos do assassinato de Margarida Maria Alves, e principalmente as
publicações de minhas reportagens no Correio das Artes, a realização
de um sonho antigo, valendo ressaltar aqui as matérias especiais que
fiz e que foram capas desse suplemento literário. Tudo isso, graças à
oportunidade a mim proporcionada pelo então editor William Costa.
Uma dessas reportagens do Correio das Artes foi em
homenagem ao grande mestre do jornalismo paraibano, Gonzaga
Rodrigues, o que me deu a oportunidade de viajar com ele, o repórter
fotográfico Antonio David e o jornalista José Nunes até a cidade de
Alagoa Nova, onde vivenciei as emoções de Gonzaga ao rever e entrar
nas ruínas da antiga casa dos seus pais, perdida no meio do mato, e
recordar os tempos de criança, com os olhos a lacrimejar.
Outra matéria especial para o Correio das Artes foi a que
escrevi sobre a trajetória do escritor Carlos Romero. Também escrevi
outra sobre Félix Araújo e uma sobre as artes plásticas da Paraíba,
todas capas do Correio das Artes. Também tive o prazer de escrever
um caderno especial para as pessoas com deficiências visuais, o
primeiro publicado totalmente em braille pelo jornal A União, em
parceria com a Funad.
O jornal A União tem me proporcionado, no transcorrer
do tempo, a construção de muitas amizades edificantes, todas
importantes, a exemplo de Tônio, Zélio Marques, Rui César Leitão,
Fred Menezes, Cleane Costa, Teresa Duarte, José Alves, Cardoso Filho,
Napoleão Ângelo, Ulisses Demétrio, Paulo Sérgio Azevedo, Salismar
Fernandes, Walter Galvão, Gilson Renato, Albiege Fernandes, Marcos
A UNIÃO 159
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Pereira, Denise Vilar, Sebastião Barbosa, Linaldo Guedes, Ricardo
Farias, Beth Torres, Renata Ferreira, Carlos Vieira, Felipe Gesteira,
Klécio Bezerra, Geraldo Varela, Fernando Maradona, Antônio Moraes,
Marcos Russo, Evando Pereira, Ortilo Antônio, Edson Matos, Fernando
Moura, Ramalho Leite, Josélio Carneiro, Wellington Sérgio, Guilherme
Cabral, entre outras figuras importantes que fazem a história do jornal
mais antigo da Paraíba.
E, para coroar minha trajetória de amor e trabalho com o jornal,
tive a alegria de ver publicada em A União a primeira matéria assinada
por minha filha caçula Anézia Nunes, que começa a dar os primeiros
passos no jornalismo, na maior escola jornalística de todos os tempos
e de muitas gerações.

160 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
W illiam Cost a
Editor do Correio das Artes

Breve relato de minha trajetória n’A União

É muito difícil, para mim, resumir os mais de vinte anos de trabalho


n’A U niã o. Conheci pessoas maravilhosas. Fiz uma legião de amigos
entre as centenas de companheiros e companheiras de jornada.
Foram tantos momentos bons, que os ruins já nem lembro mais. N’A
U niã o aperfeiçoei minha técnica jornalística, tanto na produção de
texto como na editoração. Foi lá que assinei a primeira coluna e pude
experimentar quase todas as possibilidades da crônica. O breve relato
que segue tem muitos lapsos, que me perdoem as omissões.
Tenho uma tonelada de papel impresso com reportagens,
entrevistas, artigos, crônicas, resenhas e editoriais escritos por mim
e publicados nas páginas de A U niã o. Esse material, junto com os
cadernos e revistas que editei, isto sem falar no próprio jornal, dizem
mais do que minhas palavras. Para mim, um jornal é importante não
apenas como uma instância de geração de conhecimento, mas também
pelas extraordinárias experiências que proporciona, no campo das
relações humanas. Nele, os erros e acertos são os meus oráculos.
Depois de vinte anos de jornal, a gente se sente tripulante de
um barco que já deu em belas praias e enfrentou muitas tempestades.
Sentimos falta de muitos companheiros que tornaram menos árdua a
jornada. Passamos pela alegria das contratações, por exemplo, como
também pela tristeza das demissões. Neste momento difícil que o
jornalismo impresso atravessa, gratifica saber que a velha nau continua
singrando os mares, e que os dias sucedendo as noites, e vice-versa,
indicam a possibilidade de novos horizontes, sempre.

A UNIÃO 161
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Só quem trabalha - ou já trabalhou - n’A U niã o sabe o encanto
que é trabalhar no bom e velho jornal da Imprensa Oficial da Paraíba.
Meus dois primeiros e rápidos contatos com este jornal foi durante os
anos iniciais de militância no jornalismo, na segunda metade dos anos
80. Na sede da Guedes Pereira com General Osório, Alarico Correia
Neto encomendou-me uma reportagem sobre macrobiótica. Mais
tarde, na sede de Jaguaribe, convidado por Jacinto Barbosa, cobri a
Assembleia Legislativa do Estado, como repórter de política.
Em meados da década seguinte – creio que em 1995 -, convidado
pelo jornalista Nonato Bandeira - que acabara de assumir a editoria-
geral, após deixar a editoria de Cultura do jornal O Norte -, cheguei
à sede do Distrito Industrial para assumir o caderno de Cultura. A
partir daquele ano desempenhei - e continuo desempenhando - várias
funções, a exemplo de editor-geral (duas vezes), editor-geral adjunto,
secretário de Redação, editor de cadernos especiais, editor do Correio
das Artes (duas vezes), colunista e editorialista.
Ao assumir a editoria-geral de A U niã o, após eleição inédita
realizada pela Redação, o jornalista Eduardo Carneiro convidou-me
para ser o seu adjunto, e me deu total liberdade para ampliarmos a
cobertura do jornal, na área de Cultura. Além da fantástica experiência
que foi a edição vespertina, criamos cadernos que entraram para a
história do jornal (Estante, Ideia, Você etc.), isto sem falar que já
vínhamos de outras empresas bem-sucedidas, como a série histórica
500 Anos do Brasil e a coleção de biografias Nomes do Século.
Tive a sorte de trabalhar com excelentes editores. Depois de
Nonato Bandeira, Antônio Costa e Eduardo Carneiro, entre outros,
reassumi as editorias de Cultura e do Correio das Artes, convidado
pela editora-geral Beth Torres. Criamos o caderno Palco – hoje
Segundo Caderno -, e mantivemos a linha editorial histórica do Correio
das Artes. Voltei à editoria-geral em 2012, convidado pelo, à época,
superintendente, Fernando Moura, e com os editores-gerais Walter
Galvão e Felipe Gesteira permaneci no Correio das Artes.
No momento em que escrevemos um memorial, por mais breve
que seja, a mente é tomada pelas recordações. O encontro com a filha
de Che Guevara. A primeira entrevista com Ariano Suassuna. Enfim.
Há uma lista enorme de pessoas que foram e continuam sendo muito
importantes, para mim, nesta jornada n’A U niã o, cujos nomes gostaria
de citar aqui, mas prefiro calar para não cometer o terrível pecado da
omissão. Não fiz nada sozinho. A minha modesta contribuição sempre
teve o amparo de muitas mentes e corações.

162 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Eloise Elane

A U niã o – A Esc ola


q u e m e f orm ou rep ó rt er

E ra 1986. No Brasil, tínhamos o Governo Sarney e o seu Plano Cruzado


tentando, in glória, acabar com a inflação. Na Paraíba, governava
Wilson Braga, com o seu Projeto Canaã, que levava água aos confins
do Estado, para aplacar a seca. Viria, depois, renunciar ao cargo, junto
com o vice José Carlos da Silva Júnior, para concorrer ao Senado Federal.
Em substituição, era eleito bionicamente pela Assembleia Legislativa,
Milton Bezerra Cabral.
Foi nesse cenário, que eu, então estudante do quarto período
do Curso de Comunicação Social – com Habilitação em Jornalismo, da
Universidade Federal da Paraíba, sedenta de uma experiência em um
dos jornais diários do Estado, recebi um telefonema do amigo-irmão
José Leite Guerra. Poeta e escritor, Guerra escrevia uma coluna em A
U niã o e soube que o jornal estava precisando de repórter.
Ao atender o telefone travamos essa conversa que viria mudar
a minha vida:
- Eloise, é Guerra. Você está bem?
- Oi Guerra, que surpresa. Estou sim. Diga aí!
- Eu soube que o jornal A U niã o está precisando de repórter e
eu me lembrei de você. Se eu indicar o seu nome, você aceita?
O meu coração explodiu de alegria e, sem pestanejar, respondi:
- Guerra, eu sou estudante e talvez não possa ser aceita como

A UNIÃO 163
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
repórter. Mas se você conseguir, pelo menos, um estágio no jornal, vou
ficar muito feliz.
- Então me aguarde, que daqui a pouco ligo de novo para você.
Cinco minutos depois, José Leite Guerra me retornava a ligação
para dizer que eu fosse na sede de A U niã o – Su p erint end ê nc ia d e
Im p rensa e Ed it ora, localizada no Distrito Industrial, para falar com o
então diretor técnico da empresa, o jornalista Arlindo Almeida. Disse-
me que já tinha conversado com ele sobre mim. Não tinha conseguido
um emprego, mas um estágio. Não sabia o meu amigo Guerra que ele
tinha aberto as portas para a minha vida profissional e que, aquele
estágio, era na verdade o meu primeiro emprego em um jornal. Ou
melhor, numa das melhores escolas de jornalismo que a Paraíba já
teve.
A demora foi trocar de roupa, pegar o ônibus a caminho do
Distrito Industrial e ser recebida por aquele (falo com lágrimas de
gratidão e saudades) que foi o meu primeiro professor no jornal A
U niã o, Arlindo Almeida. Ele fez uma rápida entrevista comigo. Escreveu
um bilhete em punho ao chefe de Reportagem, Walter Galvão,
recomendando que eu fosse integrada à equipe.
No dia seguinte, à tarde, dirigi-me à Redação do jornal que
funcionava na Rua General Osório, no antigo prédio da Biblioteca
Pública. Apresentei-me a Galvão, que me pautou para fazer uma
reportagem sobre o trânsito de João Pessoa. Mandou-me ir no Detran
conversar com o superintendente, entrevistar motoristas na rua. E
uma tímida Eloise Elane sai para fazer sua primeira matéria.
Ao voltar à Redação, com as anotações, vamos às lambanças de
uma “foca”, termo usado para designar o repórter sem experiência,fui
até Galvão e contei o que tinha apurado. Ele me mandou escolher
uma máquina datilográfica e começar a redigir, com uma cópia, em
papel carbono. Quando sentei-me em frente à máquina e ouvi muitas
máquinas sendo batidas ao mesmo tempo, espantei-me com o barulho
e sai escondidinha. O repórter José Carlos dos Anjos percebeu e me
abordou. Tentou me ajudar, mas, com medo, eu fugi da Redação e só
voltei no outro dia, com o texto pronto.
O chefe de Reportagem leu a minha matéria e me orientou
a aprofundar o assunto. Deu novas dicas de abordagem. Pediu que
eu escrevesse três laudas, pois queria uma matéria especial para o
domingo. Assim eu fiz. Eu entrei no jornal A U niã o na última semana
do mês de julho de 1986 e, no dia 3 de agosto, saía a minha primeira
matéria assinada. Foi uma emoção.

164 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
P rof essores d e g ab arit o
A minha experiência como “foca” foi invejável. Quando cheguei
em A U niã o, encontrei como superintendente Raimundo Nonato Batista.
Como já foi dito, Arlindo Almeida, diretor técnico; Walter Galvão, chefe
de Reportagem; Carlos Aranha, editor, Josemar Pontes, editor adjunto;
Oduvaldo Batista, chefe de Redação; repórteres experientes a exemplo
de Sebastião Barbosa e Wellington Farias (Política); Sílvio Osias e Thamara
Duarte (Cultura); Geraldo Varela e Marconi Ferreira (Esporte); José Carlos
dos Anjos Wallach, Gilberto Lopes, Antônio Costa, Silvana Sorrentino,
Clélia Toscano, Jacinto Barbosa (Geral e Cidades). Os fotógrafos eram
Germana Bronzeado, Ernane Gomes, Ortilo Antônio, Edilson Bezerra e
Arnóbio de Sousa Costa. Land Seixas (diagramador).
Trabalhei e convivi também com outros grandes nomes do
jornalismo paraibano: Zé Souto, Biu Ramos, Raimundo Nonato Batista,
Jório de Lira Machado, cuja reportagem de posse foi da minha autoria.
Naquela época foram pra lá: Walter Santos, Luis Eduardo Teixeira de
Carvalho, Anete Leal, Baby Neves, Marcos Tavares, Deodato Borges
Filho (Mike Deodato). Depois vieram Ana Ponzzi, Maria Helena Rangel,
Fernando Maradona (diagramador), Dona Irene, Pequena, Lourdes,
Glória (de serviços gerais), Castor (Diagramador); Edgar, Aleilton,
Ademar e Djair (motoristas).
Era um tempo de efervescência política. Ano de eleição para
o governador do Estado, e estavam na disputa dois intelectuais,
Marcondes Gadelha e Tarcísio de Miranda Burity. Os “shows-mícios”
lotavam praças, logradouros. Grandes personalidades do mundo
artístico vinham para animar os comícios. Eu já estava há pouco
mais de dois meses no jornal. Comigo mais duas estagiárias, Sátva
Nélia Costa e Ana Emília Barbosa. Nós dávamos conta da reportagem
de Geral e Cidades no turno da tarde e, apesar de termos direito a
receber uma gratificação como estagiárias, a então chefe do Setor de
Pessoal, se recusava a pagar.
Nesse clima de festa política e insatisfação por falta da
gratificação, fui pautada para entrevistar ninguém menos que José
Abelardo Barbosa de Medeiros, Chacrinha,animador do mais popular
programa de auditório do país e que, se vivo estivesse, neste mês
de outubro de 2017 teria completado 100 anos de idade. Chacrinha
estava em João Pessoa para animar o comício de Marcondes Gadelha,
que era o candidato da situação. Ao entrevistá-lo, Chacrinha fez
questão de dizer que estava na cidade por motivos profissionais e
que não conhecia nenhum dos candidatos. Pediu que eu fizesse essa
ressalva na matéria.

A UNIÃO 165
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
No outro dia, cheguei cedo ao jornal para redigir. Mas, antes,
liguei para o Setor de Pessoal para saber se os cheques meu, de Sátva
e de Ana Emília estavam prontos. Se iriam deixá-los na Redação. Fui
informada que não e que não receberíamos pagamento nenhum.
Para desespero do editor, do chefe de Reportagem e do repórter Zé
Carlos dos Anjos, decidi fazer greve e só redigir a matéria depois que
pagassem os nossos direitos.
Carlos Aranha gritava a plenos pulmões na Redação: Eu quero a
matéria do Chacrinha! Eu quero a matéria do Chacriiiiiinha! Eu quero
a matéria do Chaaaacccriiiiiiiinha!
Walter Galvão tentava carinhosamente me convencer: Princesa,
eu prometo que amanhã vou no Distrito Industrial só pegar esses
cheques de vocês. Faça a matéria.
Já Zé Carlos dos Anjos dizia: Minha bichinha, você está doida.
Vão te colocar na rua. Passe-me os dados que eu redijo para você.
E eu? Eu dizia que não. Sem pagamento não tinha acordo.
Resultado: O superintendente do jornal, Raimundo Nonato Batista,
chegou na Redação e encontrou toda a confusão. Quis saber detalhes.
Ligou para a chefe do Setor de Pessoal e determinou que ela preparasse
três cheques, no valor do Salário Mínimo da época, para pagar as três
estagiárias. Quando os cheques chegaram era princípio de noite.
Passei as informações para Zé Carlos, que redigiu a matéria. Disse
para ele sobre as observações feitas por Chacrinha. No dia seguinte, a
manchete do jornal era: ‘Chacrinha afirma que Marcondes Gadelha é o
melhor nome”.
Foram seis anos de trabalho na “vestuta”, como era carinhosamente
chamado o jornal do Governo da Paraíba, que já tinha 93 anos de existência
quando ali cheguei para fazer estágio.Nesse período, tive a oportunidade
de acompanhar, com o olhar jornalístico, acontecimentos que marcaram
a história da Paraíba, do Brasil e do mundo.
Durante o tempo em que estive no jornal, foram três grandes greves
gerais no Brasil, em que o país ficou totalmente parado: 1986/87/89. Um
tempo em que o jornalismo era feito para informar. Havia um pacto entre
nós repórteres: trabalhávamos para cobrir exclusivamente os movimentos
paredistas para dar-lhes mais projeção.
Na Paraíba, nós repórteres tínhamos muito que fazer: as
greves pipocavam a todo instante; professores, profissionais de saúde,
servidores públicos, motoristas de ônibus paravam a cidade. O curioso
é que A U niã o, apesar de ser um jornal oficial, fazia toda a cobertura
e, como manda o figurino, éramos orientados a ouvir todos os lados
envolvidos nos fatos. Em se tratando de um veículo oficial, a estratégia
era a seguinte: a manchete era extraída da fala da autoridade
governamental inerente ao setor em questão. Trabalhei em A U niã o

166 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
de 1986 a 1992, indo depois para o jornal O Nort e, Correio d a P araí b a
e T V Cab o B ranc o.

P isand o na b ola
Por conta da situação econômica e das medidas tomadas pelo
Governo Federal para conter a inflação, o congelamento de salários e
de preços, começou a faltar produtos essenciais no Brasil, dentre eles
a carne. O então presidente Sarney resolveu importar um lote de carne
da Ucrânia, então pertencente à União Soviética, e onde aconteceu o
maior acidente nuclear da história, na Usina de Chernobyl. A Europa
recusava-se a consumir o produto, por questão de saúde pública. Por A
U niã o, fiz uma reportagem a respeito de um lote dessa carne que veio
para a Paraíba, num frigorífico da Cian que ficava no Conjunto Ernesto
Geisel. E lá constatei que o público se dividia: uns comemoravam o fato
de ter carne, outros protestavam contra o consumo de um produto
suspeito de estar contaminado.
No dia em que fui pautada para fazer esta reportagem, cometi
uma irresponsabilidade da qual nunca me perdoei. Nos sábados, depois
de apurados os fatos, eu e outros repórteres saíamos para tomar uma
cerveja. Eu, José Carlos dos Anjos, Ortilo Antônio, o motorista Edgar,
saímos para tomar uma, depois de apuradas as informações sobre a
carne vinda de Chernobyl. Só que eu exagerei na tal cervejinha. De volta
à Redação, no terceiro parágrafo (escrito à máquina de datilografia),
simplesmente parei, abandonei tudo e fui pra casa. Houve um corre-
corre em busca da tal matéria. José Carlos por acaso viu o papel na
máquina com apenas três parágrafos, completou a matéria.

P reserv and o a m em ó ria


Não se pode falar do jornal A U niã o sem mencionar o seu
rico arquivo de fotografias e documentos. Este depoimento ficaria
extremamente defasado se não registrasse o empenho e o zelo com que
era tratado este setor. Nossa geração - e outras que nos antecederam e
sucederam – são unânimes em destacar a importância do trabalho de
Luzia e Aparecida, duas dedicadíssimas servidoras do jornal, que não
mediam esforços para manter aquele acervo, um dos mais completos
da imprensa paraibana.
O arquivo era fundamental para nossas eventuais pesquisas
para complementar as reportagens, seja com informações, seja com
fotografias. Com toda certeza, aquele arquivo, nem de longe, seria o
que é não fosse a dedicação destas duas servidoras a quem A U niã o
deve muito.

A UNIÃO 167
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
F ernand o Mou ra

Rec ort es d e p ap el
( ou “ Jornal d e Sem p re” )

H
oje é quando? É agora ou já foi ontem? Dia desses ou tempos
atrás? Amanhã é daqui a pouco ou demora muito mais? Quem
desfaz os nós que o tempo dá? Nós.
Einstein, primeiro, e o resto do mundo, depois dele. O tempo
é relativo. Alternativo. Cada um faz o seu, de forma intransferível e
exclusiva. Modelado, dia a dia.
Filósofo de cyber café, um amigo antenado conseguiu ajustar e
resumir, pragmaticamente, os três níveis de tempo durante um dia de
vida de cada um. Como se fosse:
“Todo dia, cada pessoa recebe um cartão eletrônico com 24
horas de crédito, em forma de minutos, com direito a gastar do jeito
que lhe convier, ilimitado durante aquele período. Quando bate meia-
noite, o cartão zera, as ações do dia são arquivadas e você recebe outro
cartão, começando tudo de novo”.
Batata! É meio assim, né não? Ontem vira lembrança e o amanhã
é impalpável. Sobra hoje para preencher, adornar, sonhar... Untar os
instantes em que se vive, incluindo o amanhã que virá e o ontem que se
foi. Agrupá-los em forma de vivência – a ciência de cada abelha.
O tempo é o combustível que move a história. Pra frente
e pra trás. A extensão do distanciamento é o que dá a dimensão
do fato. Quanto mais próximo, mais impactante, mais jornalismo.
Quando jornais são recolhidos das bancas e noticiários saem do ar, a
informação vira fonte, se transformando em tempero para o caldeirão
168 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
das inquietações humanas. Quando hoje vira ontem (ou “hontem”),
a responsabilidade dos feitos sociais se transferem para a filosofia,
arqueologia, economia, antropologia, sociologia e outras ciências que
nos ajudam na busca pela compreensão das horas findas e advindas.
Vira história. Unir as duas pontas é tarefa para o “jornalismo histórico”,
ramo intrínseco à comunicação social em qualquer era.
Utilizar o robusto e precioso acervo do jornal A U niã o como base
histórica para ampliação de entendimentos variados, seria a principal
motivação para o surgimento do “Jornal de Hontem”, hoje. Ontem,
aliás (olha a relatividade do tempo aí, gente!). De março a dezembro de
2011, ocupando a última página das edições dominicais do centenário
e renovado matutino (que também já foi vespertino), tive o privilégio
de assinar coluna abordando aspectos do próprio jornal, moldados
em outras épocas, revirando e repaginando assuntos, fatos e pessoas
que tiveram alguma influência na formação da Paraíba e do Brasil.
Pinçando, com olho pessoal, angulações perdidas entre as milhares
de folhas adormecidas nos arquivos do resistente periódico. Fuçando,
garimpando, escavacando as entranhas de um dos jornais mais antigos
do país em circulação, devendo chegar ao topo em algum tempo a frente.
Uma mistura meio antropofágica, metalinguística e narcisista. Espelho
de belezas e mazelas de uma sociedade em permanente transformação,
como a própria “jovem senhora”. Lente de aumento, por assim dizer.
Nada de novo, porém. Muitos outros, bem antes, já haviam
identificado esse viés histórico incrustado em meio às palavras
impressas, liquidificando temáticas anteriores às suas épocas,
contribuindo no movimento dos ciclos, com destaque para Walfredo
Rodriguez e Ivan Apremont de Lucena, os dois profissionais mais
regulares na função de “redatores históricos” da “Velhinha”.
O segundo era meu tio. Talvez venha da convivência próxima
esse traço de traça, que corrói horas intermináveis de leituras, poeira
e prazeres. Está no sangue. Venho de uma “linhagem” de homens de
imprensa, cujo avô, pai e tios trilharam antes, em funções diversas, os
degraus do jornalismo paraibano.
Mas é do bisavô, Alfredo Moura, fazendeiro e “coronel” em
Alagoinha, o lastro material – e lúdico – que resultaria na feição do
“Jornal de Hontem”, dentro do formato proposto. Letrado, abastado,
influente e correligionário do então presidente João Pessoa, teve o
cuidado de assinar A U niã o, guardar e encadernar todas as edições de
1930, compondo um tesouro de valor inestimável, único legado que
chegaria às futuras gerações do seu vasto e esfacelado patrimônio. Sob
minha guarda há mais de três décadas, a coleção seria fonte de leitura
A UNIÃO 169
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
constante e serviria de estímulo para dividir seu conteúdo com outros
interessados em fatos históricos, que um dia foram jornalísticos.
Fiz isso algumas vezes, antes do “JH”. Variados artigos, crônicas
e contos foram engendrados tendo a coleção privada de 1930 como
fonte permanente de consulta. Entre 1992/93, por exemplo, ao lado
de Marcos Tavares, Carlos César, Juca Pontes, Jacinto Barbosa, Itamar
Cândido e outros redatores convidados, tanto as edições de 1930, como
outras coleções guardadas nos arquivos pessoal e do jornal, foram
utilizadas para a elaboração do caderno especial do centenário “órgão
oficial”. A experiência deixaria um gostinho de “quero mais” e, dez anos
depois, faria a primeira tentativa em publicar material com tal enfoque.
Jacinto Barbosa era o editor. De novo. Profissional sensível,
também amante da história, regente da sinfonia dos 100 anos,
enxergaria em “Jacintão” o parceiro certo para endossar o projeto
mirabolante. Arriscaria. Redigi e editei uma página, com ilustrações e
tudo, no tamanho “standart”, imprimi, dobrei, coloquei em um envelope
médio e segui para a Redação do jornal para vender a ideia ao velho
companheiro de jornadas. Ele não estava. Resolvo deixar o envelope em
cima de sua mesa, com um bilhete dentro, explicando alguns detalhes
e pedindo que ligasse quando lesse. Na frente do invólucro, com letras
garrafais, apenas uma referência: “Jornal de Hontem”.
Demorou dias. Pelo jeito, o intento não vingara. Toca o
telefone. Na outra ponta, Jacinto. Às gargalhadas. Só agora havia visto
o conteúdo do envelope e estava retornando, como sugerido. Mas só
agora? É. Só abrira naquele momento. Antes, não. Quase jogara no
lixo, depois de ler a estranha frase do envelope e concluir, irritado:
“Quem foi o analfabeto que escreveu ontem com ´h´?”. Havia sido eu.
A saída do editor, mantendo a tradicional rotatividade do cargo,
retardaria por mais alguns anos o projeto, que seria absorvido com a
mesma cumplicidade e entusiasmo por Ramalho Leite e Beth Torres,
superintendente e editora de A União, respectivamente. São uma
espécie de tios do rebento parido, exatamente dezoito anos depois
de concebido. Nasceria jovem, cheio de vigor e curiosidade. Com a tal
fome de traça.
O espaço não seria, porém, destinado a contar exclusivamente a
história d´A U niã o, mas de revolver histórias narradas ou proporcionadas
por gerações de profissionais que passearam por suas sedes sazonais,
até a chegada definitiva no complexo do Distrito Industrial. Ao folhear
as páginas que se seguem, sem obrigatoriedade cronológica, o leitor
encontrará fragmentos desses instantes, recheados por múltiplas
temáticas, ganhando nova roupagem para o que foi publicado em ocasiões
170 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
dispersas e “deletadas” da lembrança coletiva. Uma salada mista, cujos
ingredientes e temperos seriam untados e consumidos por vez, a cada
semana, “começando” e se “esgotando” a cada degustação periódica.
Quem tiver paciência, vai encontrar nas colunas (ou capítulos)
alguma informação reprocessada que poderá servir de base para o
aprofundamento do enfoque que aprouver a cada um. Quem, no
entanto, precisar de uma “linha de tempo” do jornal de forma mais
organizada, terá que recorrer aos trabalhos de Eduardo Martins, Fátima
Araújo, José Leal, Carlos Dias Fernandes, Gonzaga Rodrigues, Benedito
Maia, Wellington Aguiar, Severino Ramos, José Octávio de Arruda Melo,
Nathanael Alves e outros expoentes do jornalismo paraibano, com
passagens marcantes pelo matutino, detentores de olhos e mãos que
ajudaram a compor a historiografia da imprensa paraibana e da própria
A U niã o. O “Jornal de Hontem”, em forma de livro, chega para ajudá-los
nessa tarefa de erguer catedrais de letras. Ainda que cheio de lacunas.
Seria este o ponto onde deveria aproveitar e apresentar as
tradicionais desculpas esfarrapadas. Faltou isso, faltou aquilo, foi assim e não
foi assado. Besteira. Isso é conversa de quem ainda não absorveu que falhas,
brechas, hiatos e omissões fazem parte da natureza técnica e humana de
qualquer pesquisador, por mais atento e cuidadoso que seja. Ainda bem
que é assim, pois do contrário não haveria espaços a conquistar.
Sem desculpas, mas com explicações. Entender um pouco a
metodologia adotada no trabalho pode ajudar na compreensão do
conjunto. O que saiu publicado em jornal e agora reunido em livro,
embora redigido semanalmente, levou dias, semanas e até meses
para poder ganhar a densidade informativa necessária à feição do
texto. Um tema era imaginado ou sugerido pelos leitores e começava
a “prospecção” junto ao Departamento de Pesquisa e sua imensa –
embora incompleta – hemeroteca. Luzia Lima, José Ramos e João Pereira
de Souza, os atuais guardiões dos tesouros escondidos em espaçosas
estantes, são acionados para localizar as coleções do ano em questão.
Começa a leitura e termina o sossego. Antes de localizar
matérias, artigos, editoriais, fotografias e ilustrações relativas ao assunto
intencionado, as surpresas e possibilidades de outras abordagens vão
se sucedendo numa velocidade estonteante. O primeiro momento,
porém, é apenas de rápida leitura, para identificação dos espaços
impressos: quando, em qual página, qual formato e autoria do assunto.
As áreas “físicas” são fotografadas, separadas por temas e datas.
Concluída a pesquisa daquele ano, tem início a leitura das “fotos-
matérias” na tela do computador, selecionadas as que são relevantes
e que podem lastrear a próxima coluna. Nem sempre a pauta original
A UNIÃO 171
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
ganha contornos definitivos naquele momento, por variadas razões,
que podem ir do reduzido tempo disponível do redator para engendrar
com clareza informativa e estética os documentos localizados, até o
grau de complexidade ou escassez de dados, jogando para uma outra
ocasião a possibilidade de reproduzir o assunto. Algo mais curioso,
impactante ou “fácil” de montar se impõe com força à percepção do
instante e o que era pra ser antes, fica pra depois.
Um exemplo, para arremate da sistemática: duas prisões,
na década de 1940, noticiadas com estardalhaço pelo jornal, com
direito a raros clichês, chamaria atenção pelo inusitado dos crimes.
Dois cidadãos pessoenses, um deles funcionário público estadual, de
ilibada conduta, foram flagrados, após anos e intensas investigações,
por ameaçar e chantagear autoridades e figuras da sociedade local,
através de cartas anônimas, escritas de próprio punho, sob as mais
esdrúxulas ilações, em linguagem chula e repleta de calúnias, injúrias e
difamações. Apenas “pelo prazer de fazer o mal”, conforme registraria
A U niã o, em variados dias. O funcionário desmascarado, de sobrenome
famoso, é afastado das funções, processado, achincalhado e... Não sei
o desfecho. Os desdobramentos do caso devem estar lá, espremidos
entre as coleções, mas ainda não foram “descobertos”. Aliás, nesse
caso específico, gostaria de pular o muro do jornal e localizar os
inquéritos, policial e administrativo, buscando dados que possam ir
além do divulgado, pois há uma forte possibilidade de ter sido mais uma
armação da ditadura Vargas para expurgo de desafetos. Dá para sentir,
nas entrelinhas, que há algo por trás dos presumíveis desequilibrados
mentais. Em respeito à história e ao leitor do “JH”, o tema só virá à tona
quando obtiver elementos suficientes para revisitá-lo, sem o risco de
cometer uma injustiça histórica e (re)colocar os personagens e suas
famílias em situação de desconforto, caso as suspeitas de retaliação se
configurem. Na dúvida, o recomendável é não ultrapassar.
As “omissões” surgem dessas e outras dificuldades. Sempre
haverá mais assuntos do que espaço para relembrá-los de forma
inteligível e livre de perigosos anacronismos. Cada contexto deve,
pelo menos superficialmente, ser avaliado e incorporado ao novo
olhar, buscando frestas ou saliências que ressaltem o assunto ou
personagens. São milhares, milhões de possibilidades, que levaria – ou
levará – muitos anos para descortinar seguramente. Haja espirro.
Profissionais, por exemplo. Embora pretenda, ainda não
foi possível localizar ou citar todos os nomes que ajudaram a
prolongar a existência do jornal, sejam como repórteres, editores,
superintendentes ou outra das dezenas de funções necessárias para
172 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
colocar o produto em circulação. Dia desses, ao relembrar a faceta
inteligente e sarcástica do “Jornal do Otávio Monjardim”, pseudônimo
de Ipojuca Pontes, cuja coluna foi publicada entre o início e meados
de 1971, um leitor de Campina Grande escreve entusiasmado e-mail,
pedindo mais “Monjardim” e cobrando a presença de outros nomes que
circularam “com graça” pelos espaços renováveis do matutino, como
Abmael Moraes (“Perfis de corpo inteiro”), Anco Márcio (“Romance da
Cidade”), Marcos Tavares (“Pão & Circo”), Suzana Goreth d´Almeida,
Gilton Lira, Tônio, Deodato Borges (pai e filho), Domingos Sávio, Joana
Belarmino, Unhandeijara Lisboa e outros refinados cronistas das letras
e das artes. Algumas pinceladas sobre parte desses passageiros dos
tempos poderão ser encontradas nas próximas páginas. De muitos, o
material ainda está no estaleiro. Um dia singrarão os mares revoltos da
história futura. Por enquanto, hibernam entre as gélidas paredes do
esquecimento involuntário. Mas o forno está esquentando.
Para que o trabalho, porém, venha se tornar menos disperso,
além das fases distantes, ainda há muito chão a percorrer para dar conta
de períodos completos, envolvendo as editorias, pelo menos, de minha
geração, a partir de 1980, sob o comando de Agnaldo Almeida (1975-
1982, 1986), Walter Galvão (1982), Pedro Moreira (1982), Werneck
Barreto (1983), Nonato Guedes (1984), Antonio Costa (1984, 1996-2000,
2002), Arlindo Almeida (1985, 1996), Barreto Neto (1985), Silvio Osias
(1986, 2010), Fernando Melo (1986), Carlos Aranha (1986), Josemar
Pontes (1986), Walter Santos (1987), Eduardo Carvalho (1987), Jacinto
Barbosa (1988, 1992, 1994, 2003), Anette Leal (1988), Oduvaldo Batista
(1988), Rogério Vidal (1988), Silvana Sorrentino (1991), Ademilson José
(1992), Carlos Vieira (1992), Baby Neves (1992), Fernando Moura (1993),
Luiz Carlos Nascimento (1994), Joanildo Mendes (1995), Carlos César
(1996, 2005-2009), Nonato Bandeira (1996), Eduardo Carneiro (2000),
William Costa (2002), Patrícia Teotônio (2003), Cícero Félix (2005), João
Evangelista (2009), entre outros de passagem relâmpago, como a de
Jorge Rezende, editor por 48 horas em 2003, o imbatível recordista
(em pitoresco episódio que ainda será narrado, por ele ou pelo “JH”),
e de chefes de redação anteriores ao off-set, como Gonzaga Rodrigues,
Marcone Cabral, Martinho Moreira Franco e alguns “ancestrais” que
a memória esfacela e a pesquisa carece. E as grandes reportagens, os
textos rebuscados, o faro para a notícia de um Pedro Moreira, Gilvan de
Brito, Diógenes Brayner, Wellington Farias, Hilton Gouveia ou Antonio
Hilberto? E os repórteres fotográficos? De Machado Bitencourt a Marcos
Russo, passando por Antonio David, Ortilo, Bezerra, Arnóbio, Ernane,
Ovídio, Gustavo, Olenildo, Helder, Edmundo, Edilene e tantos outros
A UNIÃO 173
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
congeladores de rotinas e retinas? Como contemplar essas variadas
facetas? Como descortinar fazeres, saberes e olhares, com a crucial
reunião e absorção de dados, se não for com o necessário rigor científico
e paciência religiosa? Desconheço outra trilha que não seja a insistência,
com a necessária dose de loucura, instigadoras de voláteis prazeres,
nos doces segundos que escorrem entre as partes da ampulheta. Elos
indivisíveis e nem sempre identificáveis das pontas das horas. “Tempo,
tempo, tempo, tempo...”.
A rigor, não se trata apenas da reprodução de cenários sociais
chancelados em papel, chumbo e tinta, mas do registro de emoções
despejadas nos diagramas em branco. Em depoimento a Eduardo
Martins, para o livro “A União – Jornal e História da Paraíba”, de
1977, Antonio Barreto Neto resume um pouco as agruras e paixões
que sempre moveriam os “fazedores” do jornal, fosse um porteiro,
como Antonio Menino (“...amando o humilde cargo como quem está
´gamado´por uma mulher bonita; sempre de colete, gravata, todo de
branco...”, segundo relembra Antonio Brayner, no mesmo livro), ou
um diretor do porte de Barretinho, que começou na “Velhinha” ainda
como revisor, concluindo sua trajetória terrestre como um dos ícones
eternos do jornalismo paraibano:

“(...) Durante mais de ano e meio mantive aos domingos um caderno


especial onde se podia ler sobre literatura, cinema, histórias em
quadrinhos, televisão, artes plásticas etc. Caderno do qual eu mesmo
era colaborador, editor, planejador, diagramador e ainda ia para
as oficinas paginar. Nas oficinas... quantas vezes varei madrugadas
lutando contra a má vontade de uns, o desânimo de outros e
a insatisfação da maioria, para superar imprevistos não pouco
frequentes, como uma peça quebrada da impressora ou dos linotipos.
Na minha gestão, aliás, estive mais nas oficinas do jornal do que no
meu gabinete de diretor. (…) Mas, a despeito da amarga experiência
do último cargo, não guardo mágoas da velhinha. Afinal, ela foi minha
escola de jornalismo e de vida”.

Dessa forma, senhores e senhoras, leitores e leitoras,


contumazes ou eventuais, sugando e soprando vida pelos corredores
da eterna escola de jornalismo paraibano, que o “Jornal de Hontem”
se veste de “Jornal de Agora” e “Jornal de Sempre”, transferindo para
o suporte perene episódios marcantes e casos banais, oriundos das
variadas visões dos incontáveis segmentos e contingências sociais
de cada época registradas pel´A U niã o. Sem, necessariamente,
buscar agradar ou desagradar, atacar ou defender ninguém nem algo
174 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
específico, mas trazer, sem amarras ou censuras de qualquer ordem,
elementos informativos que possam ajudar, nos dias que seguem, a
estudantes, professores, pesquisadores, jornalistas, historiadores e o
público em geral a reunir “pistas” de tudo que possa ser aprofundado e
esclarecido, em tantos quantos recortes possam originar tais enfoques
neojornalísticos, com as necessárias pinceladas históricas.
Menos pelo que fez e mais pelo que recebeu, A U niã o devolve
à Paraíba, em forma de presente atemporal, nesta passagem por
seus 119 anos de existência – quase – ininterrupta, uma migalha do
carinho e respeito amealhados por tantas gerações, entre acertos e
deslizes, afagos e açoites, mas invariavelmente compromissada com a
formação cultural do povo que decidiu emoldurá-la como patrimônio
inquebrantável. Hontem, hoje e pelo tempo que for.
Parabéns, leitores! Esta história é de vocês. E ponto parágrafo.
NOTA: Texto extraído do livro ‘Jornal de Hontem – A União e as curvas
do tempo’, de Fernando Moura, publicado em 2012

A UNIÃO 175
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Cristiano Machado

N’A União: três etapas distintas

O
jornalista Josélio Carneiro presta um valioso trabalho à história
e memória da cultura paraibana ao compilar depoimentos de
profissionais de imprensa com passagem no mais charmoso
órgão de comunicação do Estado, o jornal A União. Idêntico trabalho
ele fez recentemente envolvendo a Rádio Tabajara, merecendo os
aplausos pela louvável iniciativa.
Por sua insistência, abreviamos nossa passagem por aquele
órgão oficial, uma verdadeira escola em todos os aspectos. Minha
vida em A União foi curta, mas prazerosa. Ocupei cargos distintos em
períodos alternados. Fui repórter, ainda muito verde, praticamente
no início da carreira, embora já atuasse na mesma função no jornal
Correio da Paraíba. Era segunda metade da década de 80 e a Redação
da empresa funcionava na antiga sede da Saelpa, no centro da capital.
Foi uma passagem rápida, obedecendo a linha editorial do
‘feijão com arroz’ na cobertura política da Assembleia Legislativa, ou
seja, prestigiando os parlamentares da bancada governista - os aliados
do governador de plantão – e sacudindo brasa no terreiro adversário.
Hoje é diferente, claro. Os espaços contemplam todas as correntes de
pensamento, mesmo sendo um jornal mantido pelo poder público.
Não demoramos muito e retornamos quase dez anos depois,
agora na condição de colunista político.

176 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Assinamos uma coluna diária que rendeu processos, ameaças,
inveja, mas não em proporção maior que os elogios e reconhecimento
no âmbito do Legislativo Federal, Estadual e Municipal, premiações
de entidades e, evidentemente, ao contributo contra a teoria dos
propagadores da inverdade de que “A União ninguém lê”.
Nossa etapa derradeira no jornal A União foi como diretor
administrativo, nomeado pelo governador José Maranhão, em
2009. Lisonjeado pela escolha, fizemos por onde honrar a confiança
depositada pelo chefe do Executivo, um dos homens públicos mais
sérios e respeitados dessa Paraíba.
Nada nos faltou enquanto exercemos a direção do órgão.
Realizamos um investimento amplo no âmbito da empresa, tanto
na sua estrutura física quanto na valorização pessoal dos servidores,
oferecendo condições dignas de trabalho e restaurando um parque
gráfico até então obsoleto. Adquirimos equipamentos novos de
computação, construímos um Auditório, um Centro Administrativo;
uma ala de enfermaria para primeiro socorros; reformamos o
restaurante; ampliamos a Redação; renovamos toda a rede elétrica
e hidráulica, à época comprometida; compramos fardamento para
todos os funcionários; enfim, muitas ações positivas, em pouco mais
de um ano de governo, que resgataram a vida da empresa e fez aflorar
o orgulho dos que nela trabalhavam.
Foi um trabalho em conjunto, que tinha Nelson Coelho como
Superintendente e Milton Nóbrega e Welinton Aguiar (depois João
Pinto) nas duas outras diretorias.
Pois bem, no momento em que Josélio não deixa passar em
branco os 125 anos de existência do terceiro jornal mais antigo do
Brasil, movido pela emoção e certo saudosismo, me associo às todas
comemorações, porque guardo com momentos marcantes em todas
essas etapas vividas, especialmente pela construção de amizades até
hoje consolidadas e pela certeza de que, ao longo dessas décadas,
contribuímos de qualquer forma, embora que minimamente, para
solidificar essa estrutura invejável que é hoje A UNIÃO.

A UNIÃO 177
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Sat w a Cost a

A União, minha escola na prática

O ano era 1986. Dois anos antes, eu havia ingressado no Curso


de Comunicação Social da UFPB. A redação do Jornal A União
funcionava na General Osório, no Centro, e eu ouvira falar que
o jornal estava “pegando” estudante de Jornalismo para estágio não
remunerado. Não remunerado? Pensei. Mas eu tinha ouvido falar que
A União era a escola e lá se aprendia Jornalismo na prática. Era o que
eu precisava.
E numa tarde qualquer, envergonhada, entrei naquele ambiente
desconhecido cujo silêncio era quebrado pelo barulho das máquinas
Olivetti. Não sabia com quem falar nem quem procurar. Cida e Luzia,
arquivistas, me socorreram (elas contam melhor essa passagem da
minha vida).
Me perguntaram o que eu queria e fui logo dizendo: quero
trabalhar. Me mandaram falar com Walter Galvão, que era o chefe de
Reportagem. A conversa com ele não foi longa, e a partir dali, estava
estagiária da melhor escola de Jornalismo da Paraíba. E comigo duas
outras estudantes Eloise Elane e Ana Emília Barbosa.
Foi um tempo de grande aprendizado e muitos desafios
vencidos. Conheci muita gente boa como pessoa e como profissional.
Rogério Vidal, Land Seixas, Tião (diagramador), Luiz Eduardo Teixeira
de Carvalho, Josélio Carneiro, Thamara Duarte e tantos outros que faz
anos que não os vejo, mas, sei, estão bem. Na minha memória, guardo
com cuidado Jacinto Barbosa, Biu Galinha, Castor e Wellington Seixas.
Que época boa!

178 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
P or W alt er Sant os

A UNIÃO: história do Jornalismo paraibano,


ou t ras m arg ens e p ossib ilid ad es

D
os jornais impressos da Paraíba, A UNIÃO poderia sempre ser
considerado o veículo oficial de Governo com melhor definição
editorial, como faz a Rádio Tabajara no campo radiofônico. Ao
compreender bem esta postura política, fica fácil identificar a linha
distinta do jornal diante de outros meios tão alinhados quanto, embora
tipificados de independentes.
Ao assumir a Editoria do Jornal no Governo Burity em 1987,
creio que por indicação de Martinho Moreira Franco, querido amigo,
grande pensador e o melhor dos ombudsmans mesmo quando em
alinhamento oficial, pude entender melhor as outras possibilidades
de A UNIÃO, sobretudo na cultura, nos esportes e outras editorias
longe da política em si.
Não é à toa que o Correio das Artes sempre esteve como
referência nacional de alto nível atraindo os melhores ensaios dos
Intelectuais da Paraíba e de fora dela, logo este modelo de abrigar
as vertentes longe da política faz de A UNIÃO a sabedoria viva do
Estado.
Este é o legado que me fez enxergar melhor a vida profissional
com sentimento pleno da realidade na qual a liberdade de imprensa

A UNIÃO 179
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
tão decantada nos bancos escolares e universitários não passa de
um anseio imortal e longe de realismo factual porque, como diria
Cláudio Abramo, “não existe liberdade de imprensa, e sim liberdade
de empresa”.
Foi este conjunto de valores alinhados aos tantos conceitos
de imprensa convivendo com pautas oficiais diárias que melhor me
senti na condição de editor geral com uma equipe de profissionais
de alto nível porque nunca convivi com traumas conceituais.
Em sendo assim, forte mesmo foi aprender com tantos ícones
da imprensa de todos os tempos sempre buscando a qualidade
no trato da edição das matérias ao final fazendo de A UNIÃO uma
grande referência de meio impresso de comunicação.
No novo tempo Digital, é importante atestar o esforço
especial da nova safra e geração gestora na pessoa de Albiege
Fernandes para inserir o Jornal no mesmo patamar de plataforma
eletrônica, embora nada diferencie A UNIÃO que não seja pelo papel
editorial de veículo governista bem definido sempre investindo em
cultura e educação sem igual.

180 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Joanild o Mend es

O d ia em q u e Mariz d et onou o T SE
e A União fez história

“O TSE, retrato e imagem das elites brasileiras, pusilânime,


torpe, rendeu-se ao fascínio dos holofotes da televisão,
armados em plena sessão do tribunal, como se aquilo fosse
um circo e não a mais alta Corte de Justiça do país. O TSE rendeu-
se à pressão dos interesses escusos, dos separatistas que pregam
a divisão, a fragmentação do Brasil, para expulsar-nos como párias
da nacionalidade – nacionalidade que é mais nossa que deles. O TSE
rendeu-se à cruel barbaridade desses interesses, cassou o registro de
Humberto. Um único juiz, o ministro Diniz de Andrade, teve a altivez, a
hombridade, a coragem moral de ir contra tudo e contra todos, sustentar
a lei e proclamar a inocência de Humberto. Esse homem honra a Justiça
brasileira e resgata a credibilidade do Poder Judiciário em nosso país”.
“Convoco a Paraíba a manifestar-se publicamente contra essa
decisão imoral do TSE. Não foi Humberto a vítima dessa violência.
Agredida e insultada foi a Paraíba. As elites brasileiras querem
fazer do Nordeste a senzala de escravos para a mão de obra de
suas indústrias. Querem que o Nordeste seja a África antiga onde
se pilhavam escravos. O crime de Humberto é ser paraibano, é ser
nordestino, é ter ousado presidir o Senado da República. Uma justiça
que só mete na cadeia os negros, os pobres e os nordestinos não
merecem o respeito das pessoas decentes”

A UNIÃO 181
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Nonato Guedes, Governador Mariz, Joanildo Mendes e Nelson Coelho.

Esses são alguns trechos do discurso antológico intitulado


“Agredida e insultada foi a Paraíba”, feito pelo então senador e
candidato ao governo da Paraíba, Antônio Mariz, em defesa do
senador paraibano Humberto Lucena na sessão do dia 14 de setembro
de 1994 da tribuna do Senado Federal, protestando contra a rejeição
do registro da candidatura de Lucena à reeleição e acusando ainda
o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de encobrir “corruptos e punir os
homens de bem”.
Nesta época eu estava na editoria geral do jornal A União, sob
o comando do jornalista Nonato Guedes, como superintendente, no
governo de Cícero Lucena que havia assumido o poder com a saída do
governador Ronaldo Cunha Lima para disputar uma vaga no Senado.
Esse discurso foi motivo de apreensão nos meios jurídicos,
políticos e de comunicação da Paraíba. Uns defendiam que A União
publicasse na íntegra o discurso do senador e outros eram totalmente
contrários à sua publicação, uma vez que atingia o alto escalão da
Justiça Eleitoral brasileira.
O coordenador de comunicação do Estado da época me ligava
pedindo para não publicar o discurso, enquanto que o assessor do
senador Mariz solicitava que fosse publicada a íntegra da insatisfação

182 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
do senador paraibano de toda
maneira.
Entre a cruz e a espada, pedi
ao diagramador Fernando Maradona,
que “descia” a primeira página
do jornal comigo, para colocar o
discurso em duas páginas, ao mesmo
tempo em que solicitava aos editores
setoriais que fizessem outras duas
páginas de matérias nacionais, uma
vez que o tempo passava e não podia
ficar com o jornal aberto.
Entre ligações de um e de
outro, eis que, para minha surpresa,
quem me liga é o próprio senador Antônio Mariz pedindo para que
fosse publicado o discurso dele. Já com a voz meio embargada, devido
ao fumo e à doença que já o acometia, Mariz disse do outro lado da
linha: “Joanildo, Humberto não merece o que estão fazendo com ele.
A Paraíba não pode se dobrar e A União precisa ser essa voz que ecoa
em nome dos paraibanos”.
Não precisava dizer mais nada. Ou precisava? Liguei para o
coordenador de comunicação e comuniquei que o discurso seria
publicado na íntegra a pedido do próprio Mariz. A resposta que recebi
foi a seguinte: “Se Mariz quem pediu, quem sou eu para contestar?”.
E foi assim que foi escrita uma das páginas, aliás, duas das
páginas mais delicadas e históricas do jornal A União.
Por duas vezes assumi a editoria geral do jornal, em 1993 e
em 2016, nos governos Cícero Lucena e Ricardo Coutinho. Existem
outros fatos marcantes e muitas outras histórias para contar que
dariam um livro, mas o espaço aqui é do jornalista Josélio Carneiro
que mantém viva a história da comunicação paraibana.

A UNIÃO 183
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
G iov anni Meireles

Jornal “A UNIÃO” minha porta de


ent rad a na im p rensa p araib ana

N o dia 30 de setembro de 1987, o então superintendente de


“A União” – Imprensa e Editora, Jório de Lira Machado (já
falecido), me designou para exercer as funções de redator-
correspondente no município de Sapé, minha terra natal. Fiquei
nessa situação funcional até o dia 22 de fevereiro de 1988, quando
todos os colegas da época foram incluídos por decisão do governador
Tarcísio de Miranda Burity no Quadro Especial da Secom (Secretaria
Extraordinária de Comunicação Social do Estado), passando a condição
de Servidores Estatutários Permanentes do Estado da Paraíba.
Deve-se este benefício ao presidente do Sindicato dos
Jornalistas, Land Seixas, que após muita luta e reivindicação,
conseguiu que fôssemos incluídos no Grupo Ocupacional Divulgação
e Promoção (DPS), no cargo de Repórter, Classe A, em 08 de maio de
1990. A atriz Cryselide Barros, chefe do Núcleo de Posse e Informações
Cadastrais foi quem assinou esta anotação em nossas fichas de serviço.
O superintendente Severino (Biu) Ramos foi quem declarou nosso
exercício funcional junto à comissão de enquadramento da Secretaria
de Administração do Estado, permitindo ganharmos matrícula e
lotação no Departamento de Pessoal e consequentemente espaço
garantido na Folha de Pagamento do Tesouro Estadual, desde 28 de
março de 1990.

184 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
1988 - A partir da esquerda: Carlos Vieira, Giovanni Meireles, Dinalva Ferreira, Costa
Filho e Carlos Cavalcanti

Já na gestão do superintendente José Souto (falecido) tive


a honra de substituir meu companheiro de profissão Luiz Carlos do
Nascimento Souza, por duas vezes, temporariamente durante suas
férias regulamentares, como Chefe de Reportagem, em novembro e
dezembro de 1990 e depois entre fevereiro e março de 1991.
Em 15 de março deste mesmo ano, tomou posse substituindo
Tarcísio Burity, o governador eleito Ronaldo Cunha Lima (lembre-
se que a posse naquela época era no dia 15 de março e a data
da eleição era 15 de novembro do ano anterior). Em 10 de abril
de 1991 fui designado pelo superintendente de saudosa memória
José Itamar Rocha Cândido para ocupar efetivamente o cargo em
comissão de chefe de Reportagem. O diretor-técnico era Geovaldo
Carvalho (depois substituído por Jacinto Barbosa e Anco Márcio
de Miranda Tavares, estes últimos, ambos já desaparecidos da
face da Terra).
Quando cheguei para ser repórter de cidades e notícias
gerais, meu chefe e pauteiro era Wellington Farias (#Fodinha),
às vezes substituído interinamente por Emmanoel Nazareno de
Noronha. Meus parceiros num carrinho Gurgel que mal cabia
nossa equipe completa, dirigido por Seu Aleilton (#Madeira),
naqueles tempos primordiais quando aprendi a andar pelos
mais escondidos buracos recônditos, recantos e reentrâncias da
A UNIÃO 185
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
periferia da cidade de João Pessoa, perdendo minha inocência de
correspondente no interior do Estado, eram Eloise Elane, José
Eugênio, Lílian Moraes, Sandra Vieira, Ernane Gomes (#Bola),
Antônio David e Ortilo Antônio (#Serra Pelada), entre outros
repórteres e fotógrafos.
Quando eu mesmo assumi a chefia de Reportagem, tive o
orgulho de contar com a colaboração dos recém-formados jornalistas
pela UFPB e alguns antigos colegas de batente, como Maria Helena
Rangel, Anna Ponzzi (que então tinha sobrenome Ponce), Jaquilane
Medeiros, Walter Rafael, João Evangelista. Turma muito boa e cheia
de alegria ao exercer as suas respectivas atividades profissionais.
Era tempo de sonhar com melhores dias.
Fiquei por lá até o dia 15 de dezembro de 1995, quando fui
nomeado pelo governador José Targino Maranhão para assumir a
Coordenadoria de Comunicação do Gabinete Civil do Palácio da
Redenção, com status de Secretário de Estado, tendo como adjunta
Baby Neves. Ficamos nesses cargos até o Dia da Mentira (1º de
abril de 1999), quando essa estrutura administrativa foi extinta,
sendo substituída pela atual Secom – Secretaria de Comunicação
Institucional.
Não posso terminar essas minhas lembranças sem falar
em companheiros de trabalho que marcaram época junto comigo
nas manhãs, tardes e noites da Redação do jornal “A União” na
Rua Prefeito Oswaldo Pessoa, localizada no bairro de Jaguaribe,
onde anteriormente havia funcionado a churrascaria Marambaia,
nos anos 1970 e depois funcionaria a FAC (Fundação de Ação
Comunitária) nos anos 1990/2000.
De cabeça, rebuscando a memória, me lembro de Mike
Deodato Borges (hoje desenhista do Incrível Huk, Batman, Mulher
Maravilha, etc, nas editoras norte-americanas DC Comics e Marvel,
por exemplo), Thamara Duarte, Silvana Sorrentino, Ademilson
José, Rogério Vidal, Hilton Gouveia, Antônio Costa, Ricardo Anísio
e os imortais Oduvaldo Batista, Maviael de Oliveira, etc, com quem
dividi a editoria de conteúdo do Caderno C e Jornal de Domingo,
durante minha passagem pela “A União”.

186 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Jac int o B arb osa
(In memórian)

Uma Rádio chamada Esperança


Reportagem publicada em A União no ano de 1987

V
inte e cinco anos após a sua emancipação política, a cidade
de Esperança, com um pouco mais de 10 mil habitantes, já se
ouvia pelas ondas do rádio. Não era uma Tabajara, Caturité ou a
Cariri de antigamente, mas chegava aonde queria. Atingia os ouvidos
de quem de fato pretendia. E até que incomodou o regime político
da época, ao dar informações do Partido Comunista. “A gente recebia
jornais tidos como subversivos e lia os artigos e todas as matérias “,
lembra Ernani Santos, o pioneiro da radiodifusão esperancense.
Mas essa ousadia lhe custou caro. Uma vez, o Exército de
Campina Grande recolheu todos os equipamentos da Rádio Cultura de
Esperança, sob a acusação de ser um veículo comunista. Ernani jura
que as Forças Armadas estavam enganadas e garante que houve um
certo exagero. “A gente fazia uma rádio independente. Eu lia notícias
da UDN, do PSB e também do Partido Comunista. Mas o que não
agradava aos homens, teria que ser descartado”, recorda. Essa foi uma
página negra da radiodifusão de Esperança, mas que não conseguiu
matar a sede de comunicação do proprietário.
É tanto que hoje, depois de anos e mais anos fora do ar,
Ernani sonha em voltar a usar o microfone e informar e prestar
serviço à comunidade. Agora, em outros ares, em outra cidade. Um

A UNIÃO 187
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
pouco distante daquela que, pela primeira vez, instalou o Serviço
de Alto Falante Voz Livre de Esperança. E que de lá viu seus sonhos
sendo carregados nos braços dos homens vestidos de verde-oliva.
O silêncio só não foi maior porque, pouco tempo depois, teve seus
equipamentos de volta. A rádio renascia, não mais como porta-voz das
minorias políticas, mas como um veículo a serviço do povo e ao bem
da coletividade.
Areial, um ex-distrito, detém hoje em dia o passe do mestre da
radiodifusão esperancense. Não por opção, mas por necessidade. “Eu
optei por Areial, porque enveredei pelo ramo do comércio”, lembra.
Isso, desde 1982, quando a rádio, de fato e de direito, emudeceu.
“Era o fim de um trabalho de mais de trinta anos”, assegurou Ernani.
Nesse período, a cidade se deixou embalar pelo melhor da Música
Popular Brasileira. Por lá, Dalva de Oliveira fez a festa ao interpretar,
quase todos os dias, “Bandeira Branca, Francisco Alves, Orlando Silva,
Elizete Cardoso e tantos outros, que detinham cadeiras cativas. Parecia
a Rádio Nacional”, exagera. Só que essas estrelas surgiam da cera,
rodando sem parar, e em até 78 rotações.

AS V OZ ES DA RADIOF ONIA

A cidade, em 1952, também tinha poucas ruas. A principal – que


até hoje não perdeu a majestade – é a Manoel Rodrigues. Em toda sua
extensão, projetores de som foram espalhados a cada 500 metros para
levar o melhor da programação de Ernani Santos para a comunidade
esperancense. Nos pontos estratégicos da cidade, difusoras potentes,
na época, davam as boas-vindas à comunidade. E a voz, inconfundível,
era do locutor Pedro Barbosa – o Pedoca, para seus fãs.
Ele sempre foi o faz de tudo na comunicação da cidade. É
verdade! Foi o primeiro a integrar o elenco do Serviço de Alto Falante
Voz Livre e, também, foi a sensação da ACY 7 a adentrar em todas as casas
da cidade, com sua voz grave, ora oferecendo música, ora informando.
Até nas publicidades, a voz era dele. Nos velórios, também. E ainda
hoje Pedro continua sendo ouvido pelos quatro cantos da cidade.
Discreto e já não tão jovem como antigamente, Pedoca parece que
está com a vida que pediu a Deus. Mora quase na zona rural de Esperança,
acorda cedo e vai para o trabalho, a pé. Não tem pressa para chegar; muito
menos para sair. Mas sai! Agora, ele tem o seu próprio negócio.

188 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
E assim como Ernani, seu ex-patrão, Pedro Barbosa está
começando de novo na radiodifusão. E como não poderia ser diferente,
mantém hoje um serviço de alto falante no Mercado Público. A clientela
ainda é pequena, mas já é o suficiente para se manter e levar a vida
como sempre quis: se comunicando.
Uma outra cria de Ernani Santos, hoje está completamente
afastada do meio. É Cláudia Ana, famosa também pela voz e pela
dedicação ao trabalho. Ela e Pedro sustentavam a Rádio. Desde os 14
anos que Ana se integrou à comunicação. No seu tempo, por exemplo,
Benito de Paula explodia de tanto sucesso. Evaldo Braga era o ídolo
negro. E Ana parecia a porta-voz deles todos os dias. O seu jeito fácil
de fazer rádio lhe rendeu outros empregos. Campina Grande foi seu
último porto-seguro. Hoje, está casada e o rádio é coisa do passado.
Programas de auditório, talentos revelados e uma saudade que
resta. A ousadia ou paixão pelo rádio praticamente consumiu a vida
de Ernani Santos. Era só no que ele pensava. Um dia, partiu para o
grande desafio como empresário da comunicação: criar um auditório e
reunir os artistas da terra. E não deu outra. O local escolhido foi a Rua
Epitácio Pessoa, ou Rua do Boi, esquina com a Manoel Cabral. Logo no
início, os prêmios eram pequenos brinquedos que mais funcionavam
como incentivo.
Em poucos dias, a casa estava cheia. Por lá passaram muita
gente que fez da música a razão de suas vidas. Euclides Rodrigues, um
violonista nascido em Esperança, é um exemplo dessa época. Pepê e Zé
Cabugá, que cantavam músicas românticas, encantavam os ouvintes.
Às sextas-feiras, na ACY – 7, amanheciam em festa.
Difícil imaginar, mas em Esperança era assim. Em 1959, a rádio
surgia. O governo era o de Pedro Gondim. A rádio estava chegando ao
sexto ano quando foi retirada do ar. Um novo tempo e tudo voltava
ao normal. Não mais como uma rádio, mas como um serviço de Alto-
Falante. Nascia aí a Voz Independente de Esperança, criada a imagem
e semelhança da Voz Livre, tudo como antigamente.
Ernani Santos, aos poucos, recuperava o seu maior patrimônio
e dava adeus ao regime que, segundo ele, tanto perseguia o
comunicador. E como Voz Independente, Esperança foi ouvida até
1982. Daí pra frente, o silêncio tomou conta das ruas. Os quase dois
mil e quinhentos discos, muitos deles de cera, foram doados e devem

A UNIÃO 189
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
estar fazendo a alegria de outras comunidades. “O tempo hoje é
outro”, assegura Ernani.
É! Mais de uma coisa todos podem ter certeza: esse novo tempo
começa a surgir com todo o vigor na pequenina Areial, através de uma
rádio comunitária que já está no ar. Mas para Ernani isso não é tudo,
ele quer mais! Quer uma FM. “Quando eu atingir esse objetivo, acho
que estarei realizado”, afirma. Enquanto esse sonho não vira realidade,
Ernani vai tocando a vida em seu mini-mercado, na rua principal da
cidade. Mas a lembrança de Esperança, do auge da radiofonia, não lhe
sai da cabeça. “As vezes eu até consigo escutar tudo o que a gente fazia,
lá naquela cidade, há cinquenta anos, como se fosse hoje”, recorda.
- Assim, eu vou matando a saudade!

190 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Clélia T osc ano

A União: novinha em folha

N essa escola de jornalismo chamada “A União” chequei nos idos


de 1984, pelas mãos do jornalista Jacinto Barbosa, deixando
para trás a Secretaria de Estado da Comunicação (SECOM), meu
primeiro local de trabalho e emprego. Nascia, a partir daí, uma grande
história de amor e respeito àquela que me acolheu e me ensinou um
pouco de tudo e do que seria imprescindível saber dos meandres da
atividade de jornalismo.
Tenho saudades desse tempo e orgulho de ter participado,
mesmo por um período não muito longo, de uma história de vida de
um veículo de comunicação com mais de cem anos e que continuará
sendo a escola de muitos que ainda virão. O meu vínculo com o jornal
“A União” vem da época de estagiária do Curso Comunicação Social da
Universidade Federal da Paraíba. O local era a Rua João Amorim, por
trás do Supermercado Bompreço, em Jaguaribe.
Da João Amorim, o jornal passou para a Rua General Osório,
na antiga Biblioteca Estadual, onde funcionou por uns tempos. Nessa
época, já grávida, de pouco mais de três meses, o pai da criança e
meu chefe de Reportagem, Jacinto Barbosa, dava-me a primeira pauta
do dia: cobrir uma rebelião na Penitenciária Modelo Desembargador
“Flósculo da Nóbrega”, (Presídio do Roger). Escola é escola, professor
é professor e aluno nenhum deve tirar-lhe a autoridade.
A presença de uma jornalista grávida em um ambiente hostil de
dezenas de rebelados, assustou os policiais de plantão que tentaram,

A UNIÃO 191
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
a todo custo, impedir minha aproximação. De nada adiantou. No dia
seguinte estava lá a notícia, manchete principal de capa do jornal, ‘A
União’ competindo como sempre fez e de igual para igual com os demais
matutinos da época. Hoje muitos de seus concorrentes já nem existem
mais, a exemplo de O Norte, O Momento e do Jornal da Paraíba.
O jornal A União passava por mais uma mudança. Ao ser
transferido, desta vez para a rua Guedes Pereira(Centro), em um dos
pontos centrais da cidade, perto de tudo, dos fatos e da notícia. O
prédio era aquele que acomodou por vários anos, a extinta Sociedade
Anônima de Eletrificação da Paraíba (SAELPA), hoje Energisa, de lá
saindo para a Rua Professor Oswaldo Pessoa, em Jaguaribe. Mais uma
vez, estávamos na mesma localidade, no mesmo bairro.
Não demorou muito e mais um voo era alçado pela mais que
centenária A União, na conquista de sua sede própria e última morada:
o Distrito Industrial, no Bairro das Indústrias. Os seus alunos, esses,
com certeza, vão passar mas, a velha professora de muitos, essa será
eternizada, como diria o cantor Belchior, “na parede da memória”
daqueles que ainda estiverem por aqui folheando, matinalmente, suas
páginas, fazendo e lendo sua história.
Neste mês de fevereiro de 2018, seu aniversário, a mais
respeitada das professorinhas que se tem notícia por essas bandas,
completa 125 anos.
A caminhada foi e continuará longa, porém, trilhada e
acompanhada por aqueles que verdadeiramente lhes admiram não
só pela sua história mas, também, mas pelo propósito que norteou
ao longo de décadas: contribuir para a formação de profissionais da
comunicação de forma séria competente e responsável.
E foi com essas virtudes que ela se expandiu, se modernizou,
acompanhou as mudanças tecnológicas entrou na era da informática.
Voou alto, coloriu suas páginas como forma de mostrar à Paraíba e ao
mundo, a nitidez do azul do céu e o verde do mar das águas das praias
do Litoral Sul e Norte do Estado e aonde o sol nasce primeiro. Mudou
de visual, ganhou ainda mais o respeito e a admiração de todos. Correu
estradas para levar ‘notícias’ aos leitores por meio de suas páginas
de Esportes, Lazer, Economia, Cultura, Social, Política e, também, as
‘Notícias Militares´, trazidas pelo então colunista Maviael de Oliveira,
na sua coluna diária.
Nesta data de festa, leitores de todos os recantos da Paraíba
têm, hoje, todos os motivos para aplaudi-la de pé e orgulhosos, como
eu, de ainda estar por aqui e poder apagar as ‘velinhas’ e cantar com
192 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
vaidade: Parabéns pra você, nesta data querida. A professorinha mais que
centenária é merecedora de congratulações e felicitações pelo seu dia.
Na verdade, as nossas histórias se entrelaçam por fatos
marcados de bons e maus momentos. Era 19 de maio de 1984, quando
tive que amargar a tristeza de ver publicado em uma de suas páginas,
a de Política, de ‘A União’, a seguinte notícia: Coração mata no Santa
Isabel vereador Toscano Gomes, meu pai.
Os corredores da Redação, esses, também, testemunharam
sussurros de conversas felizes: momentos bons de adaptação,
aprendizado, novos amigos e realização profissional, que ficaram
enraizados. Ouviram risos, compartilhamentos meus e de Silvana
Sorrentino com a expectativa da chegada de nossos bebês Vinícius
e Tiago, prestes a nascerem. Meses depois, para minha tristeza e de
Jacinto, veio o nascimento seguido da morte de Vinícius.
Aceitamos resignados a vontade de Deus, não perguntamos o
porquê? Com o tempo, fomos recompensados com a chegada de Ana
Carolina que veio alegrar as nossas vidas.
E outro fato que também fez parte, à época, do contexto dessa
história contada em uma página de A União foi a publicação de um
texto do jornalista Jorge Oscar Fuchs, intitulado: O casamento de
Jacinto, que passo a transcrever um pequeno trecho para que ele fique
sempre guardado na memória das centenas de amigos.
“E o Jacinto vai casar. Não perco por esperar vê-lo entrando
na Igreja, ele na porta e o pé no altar, aquele pezinho número 45.
Certamente ele estará usando um terno feito por encomenda” e por aí
vai. Essa publicação me deu uma certeza que passo a revelar: Jacinto
casou-se com ele mesmo pois, pelo menos no texto, não há referência
ao nome da preterida.
Voltando a aniversariante mais cortejada do mês de fevereiro,
tenho a enaltecer que “assim como alguns matutinos que já não
circulam mais, fecharam portas e encerraram páginas, muitos
jornalistas que passaram pela ‘A União’, também partiram, deixando
só saudades. Mas, a professorinha de décadas de existência e a nossa
aniversariante, essa, sim, se encontra firme e forte em seu papel de
continuar construindo histórias e a ensinar a muitos que ainda virão. E
o que é melhor: “Novinha em Folha”.

A UNIÃO 193
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Ju v inet e d e Lou rd es

A U niã o Escola de Talentos e de Amigos

E
stava na UFPB dando continuidade aos estudos onde entrei
graduada. Vinda da Furne (antiga Fundação Universidade
Regional do Nordeste em Campina Grande-PB) entrara agora no
Curso de Comunicação Social Jornalismo em João Pessoa. Entre os
colegas de turma estava Maria Helena, conversávamos e cogitávamos
a possibilidade de estagiarmos no jornal A União. Era início de 1988.
Em poucos dias estava lá estagiando na Redação eu, depois entraram
Eloise Elane, Jacklane e Maria Helena que logo migrou para TV.
Quando estudava na Faculdade de Comunicação em Campina
Grande havia passado pelo Jornal da Paraíba que me iniciou
precocemente em redação, o Diário da Borborema, a TV, depois a
Rádio Caturité. Em Recife havia tido pequenos espaços de estágio
no jornal o Globo. Mas em João Pessoa era mesmo principiante. Era
como tivesse zerado tudo e apenas começando agora. Meu quase
conterrâneo e amigo da família estava superintendente e preconizou a
minha entrada em A União, Itamar Cândido. Ademilson José era chefe
de Redação.
Entrei como repórter e as experiências eram entusiastas,
apaixonantes...
Verdinha... Verdinha na arte de fazer reportagem... De escre-
ver... Entrevistar...
Tinha fama de tagarela, de entrona, mas só em casa. Fora de
casa era mesmo muito tímida.
194 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Andava de saltos e os meninos da Redação escondiam meus
sapatos na lixeira porque tinha mania de ficar descalça...
Os dias de chuva nos alagados e barreiras me deixavam
atordoada para noticiar; os acidentes, os fatos corriqueiros que se
faziam notícias, por vezes me deixavam esfuziantes por novidades
quentes.
Cada um que estava na Redação ou mesmo em A União
naquela época fazia comigo uma união de esforços para que o melhor
despontasse no outro dia com uma manchete que fervesse nas bancas.
Eu, nada sabia sem todos aqueles ao meu lado. Os colegas
mais próximos eram o Land Seixas, Ricardo Anísio, Thamara Duarte,
Giovanni Meireles, Marcos Lima, Cardoso, Linaldo Guedes, Varella
e tantos outros que faziam aquela Redação ferver de trabalho e de
alegria. Corria-se para sair com as pautas e corria-se quando chegava
para montar os textos, a matéria. O leque de profissionais era grande
e a leva de alunos como eu, que iniciava cheia de ansiedade e vontade
de alcançar o êxito de se profissionalizar. Todos em uníssona alegria de
se ajudar mutuamente.
Despontava no Caderno Especial do Domingo com matérias
em diversos campos, mas quando entrei nas especialidades médicas
deu o que falar... Foram matéria de páginas inteiras sobre vários
assuntos que despertou a curiosidade de uma área pouco visível. Uma
matéria que muito lembro foi sobre otorrinolaringologia e outra foi
sobre medicina alternativa Homeopatia entre outras. Sobre o trânsito,
agricultura, cobertura política, a posse do governador Cassio Cunha
Lima foram alguns destaques que tivemos a oportunidade de fazer o
registro quando estivemos em A União.
O jornal A União era assim uma escola, uma casa de aprendizado,
de convivência entre mestres e perseverantes daquela permanente
margem de esperança onde vivíamos com um desejo puro de fazer
acontecer a notícia, a matéria que gerava a maior alegria quando saía
no jornal no outro dia o apurado do que fizemos, A União é o resultado
do corpo, mente e coração. Quando o nosso nome estava ali, ainda a
alegria flutuava em nosso ser, que silenciosamente agradecíamos com
a sensação do dever cumprido.
A União é aquela casa que acolhe, abraça, mas, confia e deposita
confiança dos iniciantes aos mais maduros, sem concorrência, com um
companheirismo inabalável.
É o que recito nesses versos trôpegos sobre a casa da felicidade
chamada A União. Nos sentimos tão agraciados ao passar por ela
que ainda parece nossa, ainda nos sentimos esses filhos e filhas que,

A UNIÃO 195
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
gerados nessa mãe não esquecemos nunca de retornar, não somente
para recordar com um saudosismo distante, mas para afirmar que
aprofundamos nossos aprendizados práticos e a nossa vivência
jornalística com vontade de sempre voltar à casa materna. Penso
sempre que de A União nunca se volta porque nunca se sai. Ela está
em nós e permanecemos nela. É ... A União! Pronto.
O que desejamos é a eternização de A União, a perpetuação
dessa obra das letras e das artes, da cultura, da religião, do esporte, da
escrita, da notícia, do próprio aprendiz como eu e como tu que por aí
andou e navegou nessas páginas.
Que permaneça sempre essa u niã o de alunos e professores,
mestres e amigos que edificam pessoas e história.
A mãe que amamenta é aquela que deixa a suculência da
maternidade. A União é a mãe de filhos que não se findam. Obrigada
por permitir ser fruto desta Casa da Felicidade.

196 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Maria H elena Rang el

Meu t em p o em A U niã o

E
u estava no terceiro período da faculdade, quando, através de
Antonio David e Virgínia Gondim, consegui um estágio no jornal
A União. Era 1989. Entrei encantada com aquele mundo e lembro
da primeira matéria, no DNER, sobre placas indicativas. Era uma tarde
chuvosa e lembro de voltar ensopada para a Redação, que funcionava
em Jaguaribe. Mas aquela chuva, como sempre é na minha vida, era o
sinal de um tempo novo e feliz, o começo da minha carreira profissional,
onde aprendi o passo a passo do mundo fascinante da notícia.
Foram tempos fascinantes, mas também difíceis. Era estudante,
morava longe e as dificuldades eram muitas. Mas cada tarde me fazia
gostar mais dessa profissão. A pauta, que norteava meus passos, o
processo investigativo, a descoberta dos fatos, o aprender sobre coisas
diferentes a cada momento e a construção do texto, eram ingredientes
perfeitos e nem os dissabores me faziam perder a vontade de seguir
esse ofício.
Ouvia sempre falar que A União era a grande escola dos
jornalistas paraibanos e de fato, foi a minha. Lá aprendi sobre os
grandes nomes, sobre como buscar a notícia e levá-la ao leitor. Sobre
ser um elo entre o povo e os governos, as instituições, as autoridades
e quem produzia as mudanças na sociedade. E principalmente: ser
imparcial, me colocando como produtor da notícia e não parte dela.

A UNIÃO 197
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
E não tenho como falar em aprendizado e início de carreira,
sem citar nomes como de Eloíse Elane, que com uma paciência de Jó,
revisava meus textos, corrigia erros e me conduzia diariamente por
esse caminho. Gente como Giovanni Meireles, Ricardo Anísio, Luiz
Carlos Nascimento, Wellington Farias, Cardoso e tantos outros que
me deram as mãos e o coração solidário. Assim cresci e me fortaleci e
fiz daquele tempo, um degrau importante para minha trajetória, que
tenho orgulho de ter iniciado na escola A União. De lá saí em 1990,
quando ingressei no jornal O Norte.

198 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Dom ing os Sá v io

As c arav anas p assam ,


m as os p ost es nã o lad ram

S
ou Domingos Sávio Alves Vieira. Nasci em 1960 na cidade de
Caiçara, Brejo paraibano. Vim morar na capital aos oito anos de
idade. Fui alfabetizado no grupo escolar Tomaz Mindelo. Aos
10 anos de idade participei de um concurso de desenho promovido
pela Capitania dos Portos, intitulado Operação Juventude, ficando
em terceiro lugar. Aos 17 passei a colaborar com tirinhas e capas para
o caderno infanto-juvenil O Pirralho, do jornal A União, tendo como
editora a minha grande amiga Wilma Wanda a quem sou grato pro
resto da vida pelo incentivo. Nessa época passei a receber como
serviços prestados.
Aos 20 anos após prestar o serviço militar, ingressei nos
quadros de A União como desenhista do setor de artes da Gráfica,
mais não fiquei muito tempo não pois sob influência de um amigo, o
artista plástico Fred Swendsen, passei a ilustrar o suplemento Correio
das Artes, saindo assim da Gráfica no Distrito Industrial para a Redação
no centro da cidade, tendo como editor o poeta Sérgio de Castro Pinto.
Logo passei também a ilustrar matérias no jornal diário inclusive
na área de publicidade onde aprendi muito com meu diretor Aroldo
Reis. Depois tiveram dois períodos em que eu pude me dar o luxo de

A UNIÃO 199
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
pedir quatro anos de licença sem
vencimentos por não comungar com
meus comandantes, e hoje, 40 anos
depois entra governo sai governo, e
eu sigo ilustrando o Correio e fazendo
minhas charges.
O que A União representa
pra mim... A minha escola pra vida.
Tem um painel na gráfica com
desenhos de vários artistas do setor
de artes que nos foi proposto pelo
jornalista Itamar Cândido quando
de sua passagem como nosso
superintendente, e o meu desenho
mostra bem o que A União representa
pra mim... o pessoal da velha guarda
que chegou a trabalhar no antigo
prédio que ilustra a capa desse livro
dizia o seguinte: “Os bondes passam
mas os postes ficam”.

200 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Joã o Lob o

A U niã o

T odos dizem que A União é uma escola, uma universidade. Eu digo


mais: O jornal A União é um laboratório. Um imenso lapidador
de quilates que engrandeceram e engrandecem à Paraíba. É a
história em movimento. É o passado, é o presente. Funde no chumbo
quente dos seus linotipos ou na velocidade das suas rotativas, épocas,
fatos e gente. É um monumento bem maior do que o material que
encerra às suas páginas. É um guardião da memória viva de um povo.
É o baluarte que singra os tempos a registrar referências históricas que
embasam qualquer estudo ou pesquisa.
Recordo o meu pai dizer que o jornal A União era o melhor
jornal do Estado da Paraíba. Justificava: “politicamente nós sabemos o
conteúdo. Nos outros expedientes é preciso, fiel e abrangente”. Tinha
razão. O valor cultural que publica diariamente em seus impressos,
sobrepõe todos os gestos administrativos, políticos ou governamental.
Eu estive nesta escola por três vezes. No primeiro momento, o
início do meu trabalho com fotografia (1986), fui direcionado para a
área cultural. Foi justamente aí que consegui desenvolver o aprendizado
e apurar a técnica. Depois, levado por outros projetos, segui novos
caminhos. Neste período, em pleno processo de criação, amadureci
e concretizei o livro “Apesar de sertão” (1996). Voltei à A União em
seguida. Desta vez conduzido pelo mestre Machado Bitencourt,
comecei a realizar os projetos especiais da empresa. Nesta altura, já
A UNIÃO 201
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
escolado e com o conhecimento técnico aprimorado, publiquei o meu
segundo livro “Corpo e Alma ” (2000) rodado, numa associação com a
Editora Universitária, pelas prensas de A União.
Retorno ao corpo funcional da empresa em 2008. A convite,
fiquei encarregado das capas do suplemento cultural “Correio das
Artes”, onde tive a oportunidade de fazer um inventário artístico-
fotográfico do que se produzia em termos de artes no Estado da
Paraíba. Valoroso material que se encontra nos arquivos do jornal.
A importância do jornal A União para a minha carreira, é
representada pela verticalização do trabalho que executo como
fotógrafo, artista ou criador. Nas oficinas do jornal eu me criei, na
Redação disseminei o aprendizado e fiz a plataforma para o que hoje
realizo. Sou um exemplo vivo, como muitos, da escola que formou e
continua capacitando profissionais para o livre exercício da criação:
jornal A União.

202 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Nathanael Alves
(In memorian)

Esc ola d e j ornalism o

É
possível que se a União não tivesse publicado as cartas de João
Dantas, João Pessoa não fosse assassinado. É possível que se
não houvesse o assassinato ele fosse deposto. Seus amigos, ao
que tudo indica, teriam caído nas guerrilhas, pois armas e fardas
já tinham para isso. As coisas, no entanto, aconteceram de outra
maneira e a morte do presidente acabou empurrando a história
noutra direção.
Precipitadamente ou não, A União fez jornalismo próprio
dessa época, um jornalismo sem medo e sem medida, de tal sorte
desassombrado que findou dando no que deu. Desde sua fundação,
outros fatos devem ter sido lançados dessa rampa, levando de
cambulhada culpados e inocentes, vivos e mortos que este, afinal de
contas, é o destino mais ou menos inevitável de quem noticia ou é
notícia.
Com 84 anos(*), A União tem muito o que contar. Nos seus
textos muitas vezes carregados de enfeites, arabescos e volutas, coisas
feias e bonitas foram descritas por circunspectos redatores que já não
fazem notícia nem são noticiados e por outros que, resistindo ao tempo,
conhecem velhos segredos ainda convenientemente encaixotados.
Carlos Dias Fernandes, Celso Mariz, Osias Gomes, Nelson Lustosa,
nomes pomposos de antigas noitadas jornalísticas, esses falam pouco
do que sabem, talvez por saberem demais.
A UNIÃO 203
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Quase um século de
história da Paraíba desfila nas
encadernações desse provecto
jornal oficial. Uma história na certa
renitentemente palaciana, pois
outra não haveria de se esperar de
um jornal com as suas atribuições.
De qualquer maneira, há as
entrelinhas, já que as paredes dos
palácios também têm ouvidos...
Dessa rampa também foram
lançados muitos nomes, sem contar
nos Augusto dos Anjos e nos José
Américo cujas primeiras edições,
de impressão bisonha e papel ruim,
encheram o país de uma estranha
opinião ainda vigorante e cada vez
mais atual. Castro Pinto, pregador tonitroante de tantos púlpitos, dizia
que A União era a Universidade Popular da Paraíba, talvez por ter sido
um dos seus catedráticos.
Entrevisto Osias Gomes e ele me conta coisas dos anos 30 que
jamais encontrei em qualquer compêndio de história e que são, talvez,
mais decisivos que os narrados acanhadamente por outras pessoas.
Mas Osias fala em segredo, baixo, olhando para os lados, não por
medo de dizer o que sabe e sim por considerar bom o que já foi dito. As
feridas estão mais ou menos cicatrizadas e ele não as pretende abertas
há menos de cinquenta anos dos acontecimentos.
De tudo o que se sabe, sabe-se principalmente que A União
esteve no centro de tudo, como o melhor jornal de várias épocas e como
porta-voz de várias gentes. Continua aí nesse mesmo papel, ao lado de
quem estiver de cima pela obvia razão de os de cima serem seus donos.
Nem por isso, entretanto, os de baixo lhe passam despercebidos. Com
essa politica, com esse comportamento, vai a caminho de um século,
vidão ilustrada que poucos jornais brasileiros alcançam.

(*) Este texto foi publicado em 2/2/1977.

204 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
CAP Í T U LO V I

anos
90
Ad em ilson José F ernand o P at riot a
Joã o Ev ang elist a Ev and ro d a Nó b reg a
Costa Filho H erald o Nó b reg a
Geovaldo Carvalho Nonat o Nu nes
Linald o G u ed es Rog ério Alm eid a
Dalm o Oliv eira Ru i Leit ã o
Ab elard o Oliv eira F ranc o F erreira
Janild es And rad e P au lo d e P á d u a
Augusto Magalhães Paulo Sérgio Carvalho
206 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Ad em ilson José

Esc ola d e V id a

A pesar de, entre 2011 e 2014, eu ter tido nova chance para um
período mais ameno, período que, aliás, procurei aproveitar bem
em termos de aprendizagem, confesso a vocês que não são muito
boas todas as minhas lembranças relacionadas ao jornal A União.
Ainda hoje sou agradecido aos jornalistas Agnaldo Almeida e
Marcos Tavares que me indicaram para a Editoria-Geral, mas, desses
35 anos trabalhando em comunicação (vem desde 1982), os piores
dias de minha vida foram mesmo os que vivi de fevereiro a agosto de
1991, primeiro período de trabalho naquele jornal.
É, porque, independentemente de jornalismo, aquele foi
também exatamente o período de doença e morte da minha mãe.
Revezando com minha irmã, sempre varava noites no Hospital Napoleão
Laureano, por isso mesmo, só chegava à Redação mal dormido e sem
espírito nenhum de trabalho.
A exceção da “Desunião Soviética” que se deu naquele período,
lembro quase nada de jornalismo não. Nem mesmo das coisas
relacionadas ao Governo Ronaldo Cunha Lima que vivia o seu primeiro
ano. Era estresse pessoal e existencial demais.
As poucas válvulas de escape que eu tinha, eram as
companhias e os bate-papos mais descontraídos com Luzia (na
Pesquisa), com Pequena (no cafezinho) e, na Redação, com Wilma
Wanda e Deodato Borges Filho, o diagramador que, comigo, fechava
a primeira página do jornal.

A UNIÃO 207
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
E o mais drástico é que, enquanto minha mãe foi morrendo
(13.08.1991), de A União, triste, eu também fui saindo ou sendo tirado
sorrateiramente. Já marcado nos outros diários, andei tonto por um
bom tempo, até me acordar espantado em Brasília, bem no florescer
do Governo Mariz, cuja marca também é de morte.
Que período ruim! Nem sei como a gente ainda é provocado a
falar disso. Mas dizem que é bom, né, desabafa, relaxa e conspira dias
melhores. Aliás, dias melhores até que vieram mesmo, e justamente
na mesma A União. Não como Editor-Geral, claro, mas como repórter
e editor de Política.
Aí sim, graças a um convite do colega William Costa, entre 2011
e 2014 tive sim um período de aprendizagem tranquila, de trabalho
sereno e, como noutros tempos de outros jornais, de Redação com
calor humano e boas amizades.
Sempre escuto falar d`A União como Escola de Jornalismo e
concordo. Tudo bem. O problema é que, em face da carga humana do
primeiro e da leveza política do segundo período, sempre tive A União
foi como uma Escola de Vida mesmo.
E por um motivo que já vi e ouvi o colega Linaldo Guedes falar.
É que, pensando bem, A União sempre foi o melhor jornal do mundo
pra se trabalhar. É, porque, principalmente em termos de política que
é o nó, lá, a gente sabe claramente onde está, onde pisar, o que fazer
e o que deixar de fazer. É mais ou menos como a rádio e a TV Câmara
por onde vivo hoje.
O mesmo, no entanto, nós não podemos dizer em relação aos
veículos privados de comunicação. Estes têm dias de independência
até exagerada e dias mais submissos do que o próprio jornal oficial.
Dependem da notícia mais quente chegada ao setor financeiro e não
na Redação.
Mas não digo isso pra polemizar mais não. Chega, né não. É só
pra lembrar que isso faz parte daquelas coisas que a gente só entende
melhor com a vida. Especialmente quando, na vida, a gente tem uma
escola como A União pra passar por lá.

208 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Joã o Ev ang elist a (*)

O leit e, o p ã o e o j ornal A U niã o

A U niã o entrou em minha vida por meio dos belos e românticos


sons do bairro da Torre do início dos anos 1970, para onde
me mudei com minha Família em 1971, ainda bem pequeno,
aos sete anos de idade, para fixar moradia na casa de número 253
da Avenida Aragão e Melo. Na nova casa, poucos meses depois,
passamos a dividir espaço com a nossa bela e gigante“ABC – A Voz
de Ouro”, janela mágica para o mundo de “Vila Sésamo”, do “Zorro”,
dos “Três Patetas”, da “Viagem ao Fundo do Mar”, do “Daniel
Boone”, do “Jerônimo, o herói do Sertão”, e de tantas outras atrações
televisivas (em preto e branco) que atraiam para as casas onde
havia um aparelho de TV verdadeiras multidões de vizinhos que se
amontoavam nas janelas, cadeiras e sofás (“da sala”), indiferentes ao
direito de privacidade dos “donos da casa”. Muitas amizades “para o
resto da vida” foram construídas assim.
Tão atraentes quanto a programação da TV, e também do rádio,
eram os sons da Torre.
Da frequência AM vinham os belos sons de Gilberto Gil,
Caetano Veloso, Chico Buarque, Novos Baianos, Luiz Gonzaga, Roberto
e Erasmo Carlos, Benito de Paula, Martinho da Vila, José Ribeiro, Odair
José, Altemar Dutra, Raul Seixas, Waldick Soriano, Evaldo Braga e de
tantos outros excelentes nomes da música brasileira. Da TV vinham as
novelas, os filmes, os desenhos, os jornais, os programas especiais e a
afirmação de que “Todo dia é dia e toda hora é hora de saber que este
mundo é seu”.

A UNIÃO 209
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Mas a mágica maior estava nos sons da rua; do homem que
comprava “garrafa, jornal, revista e todo material de ferro velho, além
de litro e meio litro”, do outro que vendia “manga espada madurinha
e abacaxi”, do que vendia macaxeira (ou simplesmente “Xêra!”),
da bêbada Maria, que, com sua voz trêmula e envelhecida,cantava
repetidamente “A beleza da Rosa”, dos vendedores de pão, de leite,
de “Cuscuz Bondade” e de “Cavaco Chinês” (este último, inspirador da
ideia de Luiz Gonzaga de colocar o triângulo no forró, como parceiro da
sanfona e do zabumba), e do rapaz que vendia jornais, sujeito este que,
ao som de “Olha aêôôô, jornal Diário, Correio, Norte e A União”, sempre
deixava gravado na minha mente o nome de A U niã o. Sabe como é… A
última palavra é a que fica marcada na memória. No meu caso, A U niã o
se fixou na memória e, posteriormente, marcou a minha vida.
No início dos anos 1980 A U niã o deixou o plano dos sons e
veio se fixar na minha vida de forma presencial/material. Vizinho do
bom flamenguista e amigo José Amaro Pinheiro, do Departamento
Comercial de A U niã o, fui visitar a Redação do jornal, então sediada
à Rua João Amorim, no Centro de João Pessoa/PB, e de imediato
comecei a ampliar meu ciclo de amizades, começando por Valter de
Sousa (do Diário Oficial), Vando, Zezinho “Carrapicho” e José Boró
(com seu inseparável cigarro de fumo).
Certo dia presenteei “Zé Boró” com um charuto cubano trazido
da Ilha de Fidel Castro pelo amigo e então deputado estadual Simão
Almeida (PCdoB). Mas isso foi na década de 1990, quando eu já tinha o
prazer e o orgulho de compor os quadros jornalísticos da empresa estatal
de Comunicação, por cessão da Secretaria de Estado da Comunicação
(Secom), onde passei a integrar o Grupo Divulgação e Promoção Social
(DPS-1604) após concluir o Curso de Comunicação Social (Habilitação
em Jornalismo) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Trabalhando como repórter na Secom/PB, sob a coordenação
jornalística da amiga de sempre Cleane Costa, fui convidado pelo
então editor geral de A U niã o, jornalista e amigo Ademilson José,
para “me mudar” para o jornal. Incentivado por Cleane, que viu no
convite de Ademilson uma ótima oportunidade (para mim) de novos
conhecimentos e crescimento profissional, cheguei à Redação de A
U niã o nos primeiros meses de 1991, começo do governo Ronaldo
Cunha Lima. À época, a Redação estava sediada à Rua Prefeito
Osvaldo Pessoa, no Bairro de Jaguaribe. Nas imediações havia o Bar
do Marinaldo, o Bar do Ferreti (companheiro de A U niã o), as barracas
próximas ao Centro Administrativo e outros bons lugares para as muitas
reuniões etílicas regadas a muitas discussões jornalísticas (jornalista
não consegue se divertir sem falar em jornal), políticas e esportivas
de onde saiam excelentes ideias e pautas para o registro histórico

210 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
impresso nas páginas da já bem íntima “Jovem Senhora”, então com
98 anos de idade.
Minha primeira semana em A U niã o foi marcada por matérias
e reportagens da Editoria Geral, que tinha a seu serviço um pequeno
Gurgel branco normalmente utilizado por um motorista (ora Aleilton
Emiliano, ora Edgar Barbosa), um repórter fotográfico (Ortilo Antônio)
e três repórteres. Às vezes cabia um quarto repórter, dependendo da
necessidade. E quando o Gurgel quebrava, a opção de transporte para
a reportagem era a carroceria coberta de uma velha caminhonete.
Puro romantismo (Agora! À época era sofrimento mesmo).
Nesta mesma semana, eu e Cleane Costa entrevistamos, o ator
“Global” José Wilker. Minha participação na entrevista foi solicitada
pela então Editora de Cultura de A U niã o, Thamara Duarte. Cleane, por
sua vez, representava o jornal Correio da Paraíba. Foi uma entrevista/
diálogo agradável e muito proveitosa, tanto pela capacidade
profissional dos entrevistadores quanto pela excelente qualidade
intelectual e pessoal do entrevistado. A conversa aconteceu no Espaço
Cultural José Lins do Rêgo, e versou especialmente sobre assuntos de
cultura e de política.
Uma semana de trabalho na Geral e um convite, novamente de
Ademilson José:
– Editoria de Política. Aceita?
– Será que eu dou conta? Pouco tempo de trabalho…Respondi.
– Você tem experiência política do Movimento Estudantil,
do Sindicato… Dá conta sim. Já falei com Geovaldo e Itamar. Eles
concordaram.
Geovaldo Carvalho era o diretor técnico. Itamar Cândido era o
superintendente. Ademilson José o editor geral e eu (João Evangelista)
o editor de política.
– E o repórter de Política? Perguntei a Ademilson.
– Temos Sebastião Barbosa (Barbosinha) na Assembleia Legislativa.
O resto é com você, pelo menos por enquanto. Respondeu o editor.
Resposta dada, resposta recebida. E lá foi o editor de Política
fazer a cobertura diária das sessões da Câmara Municipal de João
Pessoa, da Assembleia Legislativa (junto com Barbosinha), do Tribunal
Regional Eleitoral (TRE), dos eventos políticos do Palácio da Redenção,
da Granja Santana e de tantos outros lugares diretamente relacionados
à minha área de cobertura jornalística. Depois da cobertura, a redação
das matérias. Na sequência, a edição das páginas “AB” e “AC”, ou páginas
02 e 03 do Primeiro Caderno, inicialmente com os diagramadores Tião
Leite e/ou Deodato Borges Filho (hoje Mike Deodato – quadrinista da
Marvel, nos EUA), depois com Castor (in memórian), Júnior Damaceno,
Fernando Maradona, Aurenice, Carlinhos Cardoso, Geraldo Flor,
Maurício, Rita, Paulo Maia, Damásio e Luiz Carlos Duarte.

A UNIÃO 211
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Logo nos primeiros meses como editor de Política, tive alguns
problemas com a direção do jornal em face da insistência/coragem
de abrir espaço nas páginas de A U niã o para políticos então não
alinhados com o Palácio da Redenção, tendo em vista suas posições
políticas e pessoais em defesa dos interesses da coletividade, dentre
estes os vereadores Derly Pereira, Renô Macaúbas e Francisco Barreto
e os deputados estaduais Simão Almeida, Chico Lopes e Vital do Rêgo
Filho. Matérias publicadas e a ordem da direção para que a Editoria
de Política mudasse de mãos. Depois o convite para voltar. Três vezes
nesta “conversa”, e o tempo transcorreu normalmente durante dez anos
seguidos, dentro dos quais oito anos de acúmulo da Editoria de Política
com a função de colunista político (ou “de Política”, como queira).
Nesse período, acompanhei, comentei (como colunista político)
e ajudei a registrar nas páginas de A U niã o (como editor de Política)
muitos e importantes episódios da vida política local, estadual e
nacional, dentre os quais destaco o impeachment do então presidente
da República, Fernando Collor de Melo, fato ocorrido em 29 de dezembro
de 1992, e a imediata posse do então vice-presidente Itamar Franco no
comando do Poder Executivo nacional; o desaparecimento do então
deputado federal Ulisses Guimarães (PMDB-SP); os tiros dados pelo
então governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, no seu antecessor
Tarcísio de Miranda Burity, quando este almoçava no restaurante
Gulliver, em João Pessoa/PB, no dia 05 de novembro de 1993 (ano do
Centenário de A U niã o); a eleição de Antônio Mariz para o Governo da
Paraíba, em 1994, tendo como vice-governador José Targino Maranhão;
a eleição de Fernando Henrique Cardoso, no mesmo ano de 1994, para a
Presidência da República; a morte de Antônio Mariz, em 16 de setembro
de 1995; a posse de José Maranhão como governador do Estado, em
1995, em face da morte de Mariz; a reeleição de José Maranhão, em
1998, para o Governo do Estado, com mais de 80% dos votos válidos;
a morte do então senador Humberto Lucena, em 13 de abril de 1998; a
reeleição de FHC, em 1998, e a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em
2002, para a Presidência da República, após três tentativas sem sucesso
nas eleições de 1990, 1994 e 1998.
Em 1994, um trabalho em especial veio enriquecer a minha
história, e de tantos outros amigos, com A U niã o. Sob a superintendência
do jornalista Nonato Guedes, foi produzido e publicado por A U niã o o
livro “O Jogo da Verdade: Revolução de 64, trinta anos depois”, composto
de reportagens, entrevistas, análises jornalísticas, compilações de
matérias de época, artigos de historiadores etc. Uma obra tão histórica
quanto o seu próprio objeto (o golpe de 64).
Em “O Jogo da Verdade” coube a mim contar como se
comportou a Assembleia Legislativa à época do golpe, com destaque

212 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
para o apoio dado pela maioria dos parlamentares paraibanos aos
militares e para as cassações dos mandatos daqueles que se colocaram
ao lado da democracia e, por conseguinte, na oposição ao governo
militar: os emedebistas José Targino Maranhão, Mário Silveira e Ronald
de Queiroz Fernandes (suplente),e os arenistas Francisco Souto Neto,
Robson Duarte Espínola e Silvio Pélico Porto (suplente), fato ocorrido
em janeiro de 1969.
Ressalte-se que, na mesma ocasião, o poder opressor da
ditadura também cassou os mandatos dos deputados federais
paraibanos Pedro Moreno Gondim e Antônio Vital do Rêgo e do
suplente Osmar de Araújo Aquino. Além da cassação, todos políticos
cassados (federais, estaduais e também os municipais) tiveram seus
direitos políticos violentamente suspensos por dez anos.
Durante os dez anos como editor de Política de A U niã o, tive
o prazer de contar com o trabalho (na minha equipe) de excelentes
profissionais e amigos como Sebastião Barbosa (Barbosinha), Linaldo
Guedes, Abelardo Oliveira, Nonato Nunes, Walter Nogueira, Raquel
Medeiros, Djane Barros, Maria Cristina Dias, Jonas Batista, Eduardo
Carneiro, Ângela Costa, Jorge Rezende e Paulo de Pádua.
Também contei com a importante colaboração de amigos de
outras Editorias como Janildes Andrade e Josélio Carneiro, e tive o
prazer de conviver com excelentes pessoas/profissionais como Valcemir
Maria, Fátima Guedes, Cida Rodrigues, Luzia, Luiz Soares, Fernando
Moura, Joanildo Mendes, Ortilo Antônio, Cristiano Machado, Ernane
Gomes, Jacinto Barbosa (in memorian), Baby Neves, Gilsélia (Gil)
Figueiredo, Nonato Guedes, Zélio Marques, Carlos Pereira, Lourdinha
Aragão, Humberto de Almeida, Hélio Zenaide, Martinho Moreira
Franco, Sérgio Botelho, Hélia Botelho, Ricardo Castro, Guilherme
Cabral, Fábia Carolino, Gisa Veiga, Jorge Neves, Marcos Lima, Cristina
Guedes, Marconi, Sandro, Elosman Nunes, Land Seixas, José Nunes,
Conceição Coutinho, Carlos Cavalcanti, Carlos Vieira, Carlos César,
Cardoso Filho, Costa Filho, Ângelo Medeiros, Clóvis Gaião, Clóvis
Roberto, Michelle Sousa, Socorro Costa, Dinalva Araújo, Deusarina
Vidal, Emanoel Noronha, Lúcia Rolim,José Alves, Tereza Duarte, Pedro
Jorge, Lucimar, Heraldo Nóbrega, Milton Nóbrega, Geovaldo Carvalho,
Nathielle Ferreira, William Costa, Jamarrí Nogueira, Tônio, Domingos
Sávio, Antônio Morais e tantos outros nomes igualmente importantes
cuja citação demandaria muito mais espaço do que disponho para esta
matéria.
À época, diziam na Redação de A U niã o que foi durante reunião
etílica com Morais, no Rio de Janeiro/RJ, que o cantor e compositor
Roberto Carlos criou a célebre frase “É uma brasa, Mora!”.
Em 2003 voltei para a Secom/PB, e de lá segui para a
Superintendência de Obras do Plano de Desenvolvimento do Estado

A UNIÃO 213
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
(Suplan), onde permaneci na Assessoria de Comunicação até fevereiro
de 2009, ou melhor, até José Maranhão assumir o Governo da Paraíba
após a cassação do mandato do então governador Cássio Cunha Lima.
Escolhido para o cargo de secretário executivo de Comunicação,
o amigo jornalista Genésio de Sousa me ligou, no final de uma tarde
daquele movimentado mês da política paraibana e me falou:
– Vai cuidar de A U niã o, “caba”!
Fui, agora como editor geral, e as edições feitas sob o meu
comando estão bem guardadas nos arquivos de A U niã o para
mostrarem, para mim mesmo, que consegui desenvolver um bom
trabalho, além de brigar por boas condições salariais e de trabalho
para os meus companheiros de profissão e lutas diárias.
Da minha passagem pela editoria geral de A U niã o, ressalto
com orgulho a reedição, proposta pela Superintendência, da coluna
diária de Literatura “Cantinho de Cultura”, assinada pela pedagoga
e bacharel em Direito pela UFPB, Grygena Targino; a edição
comemorativa pelos 60 anos do Correio das Artes, intitulada “60 anos
de resistência e renovação”, editada pelo amigo Antônio Mariano
e publicada em maio de 2009; a edição do Correio das Artes que
mostrou “Os experimentos altos e rasantes de Fernando Teixeira”
(teatrólogo), e vários suplementos especiais semanais contando a
história de personalidades políticas, artístico-culturais e jornalísticas
(com destaque para João Pessoa, Jackson do Pandeiro, Jório Machado
e a dramaturga Lourdes Ramalho), informando sobre as pedras
preciosas e o artesanato paraibano, contando a história do “Maior São
João do Mundo” (então com 26 anos de existência), homenageando
as Mães (“O melhor sinônimo de Amor”) e destacando a história e a
programação da quarta edição do Cineport – Festival de Cinema dos
Países de Língua Portuguesa, realizado em João Pessoa/PB no período
de 1º a 10 de maio de 2009.
Em 16 de setembro de 2009 assinei a maior parte das
reportagens do caderno especial em homenagem ao ex-governador
Antônio Mariz – “um exemplo de político”. Também produzi um
caderno especial contando a história do ex-governador Pedro Moreno
Gondim, mas este não chegou a ser publicado, permanecendo ainda
hoje os originais em meus arquivos.

____________
(* ) João Evangelista da Silva Filho é formado em Comunicação Social (Habilitação em
Jornalismo) e em Direito pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e especialista
em Psicopedagogia pelo Centro Universitário de João Pessoa (Unipê). Em A U niã o,
exerceu os cargos de editor de Política, colunista Político e editor geral.

214 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Costa Filho

At é p arec e q u e f oi ont em

F az sete anos que produzi minha última matéria para o jornal A


U niã o, mas, às vezes, tenho a impressão que continuo em plena
atividade na redação instalada naquele prédio às margens da BR-
101. Sem mais delongas, devo à Velha Senhora grande parte da minha
formação profissional. Os professores foram muitos, certamente
algumas dezenas. Editores, repórteres, revisores, diagramadores,
paginadores e, claro, diretores.
Meu pontapé inicial no periódico oficial do governo paraibano
se deu quando o Brasil ainda amargava a eliminação da Copa da Itália
com aquele gol de Claudio Caniggia... Era julho de 1990. Adentrei a
redação de A U niã o na rua Pref. Osvaldo Pessoa, em Jaguaribe. Não
dispunha de carta de recomendação. Outro detalhe: eu não conhecia
nenhum daqueles que viriam a ser meus colegas de trabalho.
Eu concluíra a graduação em Jornalismo pela UFPB havia
pouco mais de um ano, embora já atuasse profissionalmente na Rádio
Tabajara (com carteira assinada!). Tudo o que eu queria naquela tarde
era falar com o editor-geral e dizer que o meu sonho era trabalhar com
jornalismo impresso. Enquanto eu esperava, fiquei sabendo o nome
daquele que brevemente seria meu chefe: Ademílson José.
Comecei a labuta no jornal A U niã o imediatamente após a
conversa com Ademílson, que, logo descobri, conhece como poucos
a essencialidade da música popular brasileira. Minha primeira tarefa
foi “acompanhar” (compreender e aprender) o trabalho do secretário
A UNIÃO 215
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
de Redação. Quem ocupava o cargo era Carlos Vieira, com o qual fiz
uma grande amizade que perdura até hoje. Pouco tempo depois, eu
assumiria a responsabilidade de preparar as chamadas da primeira
página.
Naqueles primeiros dias de trabalho novo, quando estava
com tempo livre, ainda na Redação, eu ficava abestalhado assistindo
àquelas verdadeiras aulas do pessoal da diagramação. Land Seixas, por
exemplo, fazia piruetas com o farto material de diagramação (papel,
caneta, régua, esquadro, borracha). Aquele traçado feito de modo
firme e rápido pelo então presidente do Sindicato dos Jornalistas não
sai da minha mente, ou melhor, da minha memória afetiva.
Foram quinze anos de aprendizado, divididos em dois tempos:
1990–2003 e 2008–2010. Trabalhei em quase todas as editorias,
inclusive como editor-adjunto do suplemento cultural Correio das
Artes. No entanto, a maior parte do meu tempo dentro de A U niã o foi
dedicada à elaboração daquelas chamadas de primeira página. Ufa,
haja responsabilidade! E esse dever era redobrado quando as matérias
chegavam carregadas de conteúdo político-administrativo.
Nessa lida, eu tratava diretamente com o editor-geral. E foram
vários. Aliás, com alguns editores trabalhei mais de uma vez. Com
Joanildo Mendes, por exemplo, em três ocasiões. Mas o recordista é o
conterrâneo Carlos César (quatro vezes!). O último dos editores com
os quais trabalhei foi o armazém cultural chamado Sílvio Osias (amigo
e fã de Roberto Carlos).
Por falar no rei, matam-me de saudade as lembranças daqueles
velhos tempos. Dias de Antônio Moraes, Fátima Guedes, Damásio
Roberto... As intermináveis sextas-feiras! Infindáveis dentro e fora do
âmbito organizacional. “Velhos tempos, belos dias...”
Vale ressaltar que o sentimento aqui exposto não foi obra
apenas do encantamento dos primeiros dias. Absolutamente. Agora
mesmo, no exato instante em que escrevo estas linhas, imagino que
algum estudante egresso da UFPB talvez esteja vivenciando semelhante
deslumbramento profissional. Hoje, ao folhear as páginas de A U niã o,
continuo aprimorando o fazer jornalístico e realimentando a minha
gratidão para com essa generosa e centenária senhora.

Costa Filho é repórter da Agência de Notícias da UFPB.

216 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Geovaldo Carvalho

P assei p ela A U niã o e ela nã o saiu d e m im

Q
uando comecei a militar como jornalista na Paraíba, de cara,
chamou-me à atenção o formato de A União, um “designer
redondinho” para época, mas que, nem por isso, deixava de
emanar a essência da poeira histórica de sua luta e sua importância
para a Imprensa e a sociedade paraibana. Muitos anos depois, quis o
destino, o Centenário da “Velha Senhoria”, uma data significativa para
a história, encontrar-me-ia como seu diretor técnico, em 1993.
Ao longo de mais de um século A União vem mantendo seu
papel na formação integral do indivíduo e aliado extremo da educação,
notadamente, na cultura. Pelo suplemento literário Correio das Artes
desfilaram e desfilam o que há de melhor nas artes no Estado e na
região - só para citar uma entre tantas contribuições à formação do
cidadão paraibano.
Para os profissionais que integram o jornal, assim como forma de
preservar a história de renomados nomes do passado que evito citá-los
para não incorrer no pecado de omissão, é de suma importância para
coevos e pósteros, terem consciência do que ele representa para a história
da Paraíba e primar por esse legado.
Minha história com A União começou em 1991, quando
chamado pelo poeta Ronaldo Cunha Lima para assumir a Diretória
Técnica do jornal. A princípio, relutei. Havia ignorado um outro
convite em 1986. Era muito apegado ao Diário da Borborema, do qual

A UNIÃO 217
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
era superintendente. Mas a convocação era em forma de desafio e
acabei aceitando.
Devo dizer que, à época, não foi fácil. A situação era das mais
difíceis; excesso de pessoas, escassez de recursos e necessidades de
apresentar uma reposta imediata à situação. E ela veio paulatinamente,
sendo uma das épocas em que o jornal competiu, acho que
equivocadamente, com as demais publicações do gênero no estado,
com um mix de informação dos mais variados.
À época, lembro-me bem, o jornal que tinha como
superintendente o falecido jornalista Itamar da Rocha Cândido;
prestigiávamos os nomes da terra, cumpríamos a função de divulgar
as ações do governo e pontificavam em A União com suas respectivas
colunas, nomes como Zózimo Barroso Amaral e Carlos Castelo Branco, o
maior colunista político que este país já teve.
Entreguei o cargo em 1994, retornando ao mesmo em 2003,
permanecendo até 2009, somando, nove anos no cargo de diretor técnico,
acho que um dos mais longevos na função de um jornal que é tido como
Academia do Jornalismo Paraibano, o que é um honra acima de tudo.
Desnecessário dizer que nesse período aprendi muito com
os mais antigos; ajudei a formar novos valores que estão hoje na
militância, ou seja, concorri para manter a tradição de fazer jornalismo
e formar jornalistas.
Nesse particular, algumas situações que não esqueço. Quando
concorríamos com os outros jornais pela primazia da notícia, dei um
rádio ao meu chefe de Reportagem e recomendei: “acompanha a
emissora mais noticiosa para a gente saber o que está acontecendo na
cidade e cobrir”.
Homem afeito às letras, estranhou a ordem “daquele diretor
amarelo que veio de Campina”. Passam os anos e o então jovem, hoje
meu amigo, passa a ser um dos mais atuantes homens de rádio em
João Pessoa, convivendo em perfeita harmonia com o veículo e gosta
de relembrar o episódio.
Por mais que fique longe de A União, ao abri-la ou acessá-
la, lembro-me que ficou alguma coisa do nosso trabalho. O título da
coluna UN-Informe foi sugestão nossa durante uma reunião no início
dos anos 90. Buscava-se um título para uma coluna de notas que abriria
a página de Opinião. Lembrei-me da junção de União e Informação e
joguei a deixa: UNinforme.
Fez-se um silêncio, mas como Gonzaga Rodrigues, o decano
presente à mesa, disse “ótimo!”, não se falou mais no assunto e o título
está ativo até hoje.

218 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Igualmente, lamento que outra iniciativa não tenha
continuado. Não pelo fato de ser ideia nossa, mas que acho de
suma importância para melhorar a qualidade e o incentivo de
nossas artes.
Ainda em 2003, sugeri ao editor, o talentoso amigo Linaldo
Guedes, a criação do Troféu Correio das Artes, que visava a reconhecer
valores literários da Paraíba. Lembro que na primeira edição foram
premiados Políbio Alves, Sergio Castro Pinto, Marília Carneiro Arnaud,
Hildeberto Barbosa, Waldir Porfirio, dentre outros nomes das artes
paraibanas por suas obras, previamente escolhidas por uma comissão
técnica. Não sei por que acabou. Não devia.
Mas por fim, valeu ter participado da história desse patrimônio
histórico da Paraíba, ao ponto de dizer algo sobre essa passagem. Uma
análise mais profunda sobre esse e outros temas no jornalismo está
em gestação em rascunhos sobre a carreira desse operário de Redação.
Passei pela A União e ela não saiu de mim. Deixou-me amizades,
experiência e saudade. Valeu a pena!

Edição de 6 e 7 de dezembro de 2008

A UNIÃO 219
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Linald o G u ed es (*)

U m m enino q u e sem p re v olt a


p ara os b raç os d a m ã e

M eu primeiro contato com o jornal A União aconteceu muito


antes de frequentar sua Redação. Era menino, ainda, e me
deleitava com o desfile de talentos por suas páginas, de
pessoas como Carlos Aranha e Antônio Barreto Neto (os textos que
mais me fascinavam). Meu irmão (Nonato) era editor de A União e
recebia o jornal todos os dias. Também encantava, àquele moleque
que corria pelas ruas de Jaguaribe jogando futebol, o tradicional
Correio das Artes, a mostrar que a Paraíba tinha poetas e muita poesia.
Entrei na Redação de A União pelas mãos de João Evangelista,
então editor de Política. O ano, se a memória não me castiga, era 1992 e
Baby Neves era editora do jornal. Comecei lá como repórter de Política,
trabalhando com nomes como Thamara Duarte, Land Seixas, Giovani
Meireles, Jacinto Barbosa, Antônio David, Ortilo Antônio, Guilherme
Cabral, entre outros. Neste período, fiz a primeira matéria de fôlego
da minha trajetória como jornalista. Já editor geral do jornal, Jacinto
Barbosa me enviou em viagem ao interior do Estado com o fotógrafo
Antônio David. Objetivo: registrar o quadro de seca nas principais
regiões do Estado e também a irrigação em São Gonçalo, próximo a
Sousa. A matéria sairia, depois, em um caderno encartado no jornal,
com fotos belíssimas de David.
Um ano depois sairia de A União para trabalhar no jornal O
Norte, mas logo voltaria, agora sob à editoria de Fernando Moura.

220 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Virei chefe de Reportagem e montamos uma equipe com profissionais
qualificados, como Jonas Batista, Edson Verber, Dalmo Oliveira e
outros. Neste cargo, tive o privilégio de trabalhar com boa parte de
profissionais da chamada nova geração da imprensa paraibana, alguns
deles começando com a gente. Cito de memória nomes como Anne
Shirley, Raquel Medeiros, Célia Chaves, Michele Sousa, Suetoni Souto
Maior, Andréa Alves, Petrônio Torres, Fábio Bernardo, Margarete
Almeida, Silvana Cibele, Domingos Sávio... Também trabalharia com
o talento de Robson Nóbrega, Conceição Coutinho, Eduardo Carneiro,
Alexandre Macedo e William Costa.
Saí e voltei da União outras vezes. Diversas vezes. E sempre
voltava em funções diferentes. Repórter de Cultura, editor de Política,
editor Adjunto, chefe de Reportagem (novamente) e editor do Correio
das Artes. Trabalhei com editores que muito me ensinaram do ofício:
Carlos Tavares, Joanildo Mendes, Luís Carlos, Arlindo Almeida, Antônio
Costa, Carlos César e agora Felipe Gesteira. Essa rotatividade de
editores no jornal sempre foi, aliás, algo que me impressionava muito.
Dizem as más línguas que o que determinava essa rotatividade era a
oficina. Quando o editor não agradava aos profissionais da oficina, eles
davam um jeito de alterar um título ou uma manchete para provocar
a demissão do editor. Nunca acreditei nesta fofoca e se ela aconteceu
foi em outros tempos bem antes dessa época onde tudo se resolve no
clique do computador.
Devo reservar umas linhas aqui para falar sobre minha experiência
com o Correio das Artes. Sempre estou, de uma forma ou outra, ligado
ao nosso suplemento literário. Quando era chefe de Reportagem na
primeira vez, o editor do Correio das Artes era Sérgio de Castro Pinto
e eu, com a autonomia que o cargo que ocupava me conferia, agilizava
a edição do suplemento dentro da Redação. Encaminhava os textos
levados por Sérgio para digitação, depois diagramação (com a “boneca”
feita por Sérgio), paginação, revisão, fotolito, etc. Em 1995, saí d’A União
para trabalhar na TV Tambaú. Um dia, estava na Redação da TV quando
Sérgio de Castro Pinto chegou lá. Veio me pedir para diagramar o Correio.
Depois que sai, me contou, os diagramadores começaram a exigir
gratificação salarial para diagramar o Correio das Artes e os editores
faziam ouvidos de mercador. Disse que topava, desde que o jornal me
pagasse pelo menos um salário, já que não era mais funcionário d’A
União. Sérgio falou com a diretoria de então e deu tudo certo. Fazia
tudo em casa, no meu computador. Digitava, diagramava e revisava e
já levava tudo pronto para o jornal, em disquete, deixando em aberto
apenas o espaço para fotos e ilustrações.
A UNIÃO 221
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Não demoraria e acabaria voltando para A União, agora como
repórter de Cultura, depois chefe de Reportagem, até virar editor
adjunto. Saí do jornal para trabalhar na Secretaria de Comunicação,
atendendo convite de Luiz Augusto Crispim. Voltei para A União
em 2003, justamente como editor do Correio das Artes e editor do
caderno de Cultura. Como editor do Correio das Artes, empreendemos
uma revolução no suplemento. Ao lado de Cícero Félix, responsável
pela programação visual do jornal, transformamos o suplemento, que
até então saía em formato stand, em revista mensal, com a qualidade
gráfica das melhores revistas literárias do país. Também demos um
caráter mais jornalístico ao Correio das Artes, com capas para autores
contemporâneos. Divulgamos via internet, através de e-mails, blogues
e comunidades no orkut e participamos de feiras e bienais de livros em
todo o país, atendendo convites para divulgar o suplemento em tais
eventos. Onde chegávamos e levávamos o Correio das Artes, a reação
era sempre a mesma: de encantamento, “como um suplemento tão
antigo resistia com aquela qualidade gráfica e editorial?”, perguntavam.
Não posso esquecer de citar Astier Basílio, meu parceiro em alguns
embates no Correio das Artes neste período.
Em 2009, saí da editoria do Correio das Artes para assumir a
Diretoria de Jornalismo da Secretaria de Comunicação do Estado.
Depois, rodei por outros órgãos, como jornal O Norte, assessoria
do Partido dos Trabalhadores, Coordenação de Radiojornalismo do
Sistema Correio de Comunicação, Procon e Secom da prefeitura,
até retornar ao jornal A União, justamente para o Correio das Artes,
atendendo convite de Albiege Fernandes.
Nestas idas e vindas d’A União, passando por diversas funções e
cargos, mais importante que os desafios profissionais enfrentados, foi
participar dessa imensa família que existe na empresa, desde o jornal
até sua gráfica. Pessoas que são amigas-irmãs até hoje, como Walcemi
Maria, Fátima Guedes, José Ramos, Zezito, Alailton, Gil, Luzia, Cida,
Rosa, Neide, Nevinha, Denise, Alexandre, Carlinhos, Varela, Cardoso,
Teresa Duarte, Marcos Lima, Ivo Marques, Pedro Jorge e o saudoso
Edgar Barbosa, motorista que só me chamava de “o menino”. Talvez
eu vá sempre ser esse “menino”, que se encanta ao subir a rampa do
jornal rumo à Redação, ao mundo de A União.
__________
(*) Linaldo Guedes é jornalista e poeta. Como poeta, lançou quatro livros e prepara
para 2018 o lançamento de “Cabo Branco e outros lugares que não estão no mapa”.
Graduado em Letras, é mestre em Ciências da Religião pela Universidade Federal da
Paraíba.

222 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Dalmo Oliveira

Meu j ornalism o em A U niã o


30 anos de comunicação social

E m fevereiro deste 2017 eu inteirei 31 anos de Comunicação Social.


Lembro da chegada acabrunhada para as primeiras aulas, num
fevereiro quente de 1986, no antigo Departamento de Artes e
Comunicação (DAC), no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
(CCHLA) ali no campus 1 da UFPB, encrustado no Castelo Branco.
Na verdade, eu já praticava Comunicação profissionalmente, há,
pelo menos, três anos antes disso, quando assumi a mesa de controle de
som da Rádio Constelação FM, ainda em Guarabira, conquistando meu
primeiro contrato de trabalho e inaugurando minha CTPS quando ainda
era “de menor”.
Foi o veterano jornalista Sérgio Botelho que me ofereceu o
primeiro “bico” jornalístico, num periódico impresso que ele editava
com foco na comunidade universitária da UFPB, suas pesquisas e seu
cotidiano. Um jornal chamado Dois P ont os, diagramado pelo já falecido
arte-finalista Rosemberg Silva.
A experiência no jornal universitário foi suficiente para me dar a
cancha curricular e migrar para a imprensa “de mermo”, conquistando
uma vaga no time de repórteres do extinto jornal O Nort e. Ali da Redação
da Pedro II pude colocar em prática boa parte do que vi teoricamente no
Curso de Jornalismo, mas aprendi muito, muito mais!
Primeiro pelas companhias fabulosas de caras como Walter
Galvão, Nara Waluska, Mana Sousa, Gilberto Lopes, Wallack pai, Agnaldo
Almeida, Augusto Magalhães, Célia Leal, Ovídio Carvalho, Fátima Farias,

A UNIÃO 223
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Evanice Gomes e outros tantos. Depois, pelos desafios cotidianos de um
jornalismo precário, provincianista, rudimentar, tendencioso, mas feito
com espírito desafiador, corajoso e inovador.
Foram apenas pouco mais de quatro anos “no batente”, entremeados
com uma atuação radicalizada à frente do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais do Estado da Paraíba. Conduzi greves, operações-tartaruga,
negociações de classe, num cenário absolutamente desfavorável, tendo
que equilibrar fatores sociais complexos, como o fato de que cerca de 60%
dos companheiros e companheiras da Redação não possuírem formação
acadêmica na área. Ou estarmos submetidos a editores despreparados, ou
(ainda pior) a interventores importados de outras praças que vinham a João
Pessoa achando que teriam que coordenar um bando de jornalistas rábulas.
Assim era O Nort e da minha época!
Antes de me tornar funcionário público, ainda tive a oportunidade
de atuar na Redação de um dos jornais mais charmosos do Norte-Nordeste:
A U NIÃ O, onde assumi o desafio de produzir para uma página temática
sobre Educação. É sobre esse rápido quase-estágio que rememoro aqui,
nessa coletânea de artigos organizada pelo colega Josélio Carneiro, com
quem dividi parte desse período da minha iniciação na profissão.
As primeiras matérias escrevi em meados de 1992. Infelizmente,
poucas delas foram assinadas, mas, folheando as edições daquele
período, facilmente reconheço os textos. A Redação do jornal ainda
funcionava em Jaguaribe, na Rua Prefeito Osvaldo Pessoa, ali perto da
Associação dos Servidores Municipais e da Praça Dr. Aquiles Leal. Ficava
a uns cinco ou seis quarteirões de distância da Redação d’O Norte, que,
geralmente, eu percorria a pé.
Não lembro ao certo quem me fez o convite para trabalhar
n’A U niã o, mas certamente foi alguém do nosso círculo de jornalistas
sindicalistas, como Carlos Vieira, Edson Veber ou Carlos Cavalcanti.
Minha experiência com Botelho ajudou no perfil para setorialista de
assuntos da Educação. Estávamos em plena vigência do governo de
Ronaldo Cunha Lima e o secretário da Pasta era Sebastião Vieira.
A missão era relativamente simples: interagir com os assessores
de imprensa da Secretaria de Educação e coletar sugestões de pautas,
relises e informações que rendessem, ao menos, uma matéria por dia.
Moleza! A cobertura especial fora determinada pela cúpula do Governo,
que, desde o início da gestão do Poeta, vinha tentando implantar um
programa diferenciado para a rede escolar estadual. Havia resistência
e bombardeio dos opositores na Assembleia Legislativa e A U niã o se
ocupava de produzir um discurso público, oficial, para ressaltar as
vantagens desse programa, com ênfase no aporte orçamentário, nas
parcerias com o MEC etc.

224 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Eu estava empolgado, mesmo sabendo que faria um trabalho
“chapa branca”. Mas como se tratava de produzir um noticiário sobre
uma área tão nobre da Governança Estatal, eu encarei a proposta como
uma missão mais nobre, que fazia daquele jornalismo uma ferramenta
para a cidadania e o crescimento social do povo paraibano.
Pena que durou pouco! Em 1994 eu já estava do outro lado do balcão,
assessorando o Sindicato dos Professores (SINTEP). A passagem pela A
U niã o, entretanto, foi interessante e bastante produtiva para meu currículo,
profissionalmente falando. Pude obter uma fonte de renda extra, num
momento em que começava consolidar a primeira geração de filhas. Mas
os ganhos maiores ocorreram na perspectiva de me inserir definitivamente
na categoria, conhecendo novos colegas jornalistas, repórteres-fotográficos
e outros companheiros e companheiras de Redação.
Era um período em que os jornalistas formavam uma espécie
de “irmandade”, mesmo com aqueles e aquelas que não queriam
saber da luta sindical. A Jaguaribe daquela época era um bairro, quase
boêmio, o que nos animava ainda mais para a curtição de happy-hours
consecutivos, tomando umas com tira-gostos de língua de boi, rabada e/
ou as deliciosas favadas servidas nos botecos localizados no trecho entre
a feira e as Trincheiras.
Eu estava na Redação d’A U niã o quando chegou a notícia de
que o governador havia disparado contra seu antecessor, Tarcísio de
Miranda Burity. O atentado do Gulliver, como o caso ficou conhecido,
ocorreu no início da tarde do dia 5 de novembro de 1993. Os disparos
atingiram o maxilar e o tórax de Burity, que, milagrosamente, sobreviveu
ao atentado. O clima de alvoroço se instalou imediatamente na Redação.
A cobertura do fato pelo jornal oficial se tornou um desafio difícil para
os editores e repórteres de plantão. O resultado disso pode ser lido nas
edições dos dias posteriores.
Mais de 20 anos depois de usar as velhas Remington na Redação
de Jaguaribe, eu voltei a colaborar com o jornal A U niã o, desta vez como
colunista dominical. No início de 2013 o jornal começou a publicar um
espaço de duas laudas que batizei de “Elejó”. O termo iorubá significa
aquele que conta histórias, ou ainda “o falador”. A ideia é dar vozes aos
temas do combate ao racismo, depois que comecei a atuar no Conselho
Estadual de Promoção da Igualdade Racial (CEPIR).
Para escrever esse capítulo do livro organizado por Josélio eu
precisei fazer uma rápida imersão na história recente deste periódico,
que é um dos mais antigos jornais estatais do país. Saí com a sensação
nostálgica de como o jornalismo é essencial para uma sociedade feita a
nossa. Lendo o cotidiano daquela época, percebemos como uma narrativa

A UNIÃO 225
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
de comunidade se constrói ao longo dos anos. Seus personagens, sua
cultura, as mudanças conceituais na própria práxis jornalística.
Confesso que depois dessas quase três décadas, ainda sou um
aprendiz de Comunicação Social. Mesmo com a fantástica experiência
em jornalismo científico que adquiri na Embrapa. Até depois do
Mestrado em Comunicação na UFPE e a especialização em Gestão
da Informação, pela Universidade de Juiz de Fora. Tendo acumulado,
mais recentemente, mais experiência na comunicação popular, com a
militância nas rádios comunitárias e webradios. E ainda com as ações na
blogosfera, não consigo me sentir pleno no fazer comunicacional.
Como se a comunicação fosse, cada vez mais, uma impossibilidade
humana, uma utopia inatingível. Ao contrário daquilo que pensava
que ela fosse, quando comecei a estudá-la, a Comunicação Social (e
toda sua parafernália) funciona, muito mais, como um instrumento
desagregador. Uma arma que pode ser muito perigosa na mão de gente
mal intencionada. Algo que precisa ser controlado, vigiado de perto. Na
prática, a comunicação não passa de uma tentativa.
Hoje procuro usar minha competência comunicacional para
tentar promover, na minha comunidade, a promoção da igualdade racial.
Para fomentar equilíbrios das diversidades. Jornalismo e comunicação
como processos facilitadores na emancipação humana e social, portanto,
coletiva. É difícil, mas eu tento. Mesmo com os vícios do jornalismo
secular, baseado na falácia de uma certa “imparcialidade”.

1993 – Carlos Cavalcanti, João Evangelista, Tião, Cardoso Filho e Carlos Vieira

226 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Ab elard o Oliv eira

Sau d ad es et ernas d os t em p os d e A U niã o

O que esperar, profissionalmente, de trabalhar num veículo de


comunicação oficial do Governo do Estado? Nada. Era essa a ideia
que eu tinha quando recebi, em janeiro de 1993, uma proposta
do meu compadre Sebastião Barbosa - vulgarmente conhecido no
submundo da imprensa paraibana como “Good Life” – para trabalhar
no Jornal “A UNIÃO”. Naquela época, Barbosinha era mais influente
aqui no Estado que âncora da TV Globo em nível nacional, guardadas
as devidas proporções.
Não me senti nem um pouco tentado, mas em consideração
a Barbosinha prometi dar a resposta em 48 horas. Pesei os prós e os
contras e falou mais alto o desejo compulsivo de ganhar mais um pouco
e poder ‘pegar’ mais gente me fez aceitar o desafio de ser repórter
de política do “Jornal Oficial do Estado”, que era produzido numa
modesta Redação em Jaguaribe e rodado em suntuosas e nababescas
instalações gráficas do Distrito Industrial de João Pessoa.
O governador de então era o “poeta” Ronaldo Cunha Lima,
que por sugestão de sua assessoria, determinaria em alguns meses
a transferência da Redação para o Distrito Industrial. E lá fomos nós,
com raiva, mas com a promessa de melhores condições de trabalho –
alguns ‘babões’ até especulavam melhores salários.
Não entro no mérito das melhorias estruturais e funcionais,
mas atesto que ficou muito mais prazeroso trabalhar em “A União” a
partir de então. Ampliei o meu leque de amigos na empresa, conheci
melhor o processo de impressão do jornal e, principalmente, me

A UNIÃO 227
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
tornei cliente assíduo da “Gauchinha”, nas inesquecíveis tardes e
noites de sexta-feira.
Durante o período em que trabalhei em “A UNIÃO”, tive o
privilégio de conviver com colegas da estirpe de Sebastião Barbosa,
João Evangelista (meu editor de Política), Ivanedna Veloso, William
Costa, Aguinaldo Almeida, Nonato Guedes, Biu Ramos, Conceição
Coutinho, Beto Melo, Marcos Lima, Marcos Tadeu, Barroso Pontes,
Hélia Botelho, Costa Filho e Cardoso Filho, entre outros igualmente
importantes que me escapam à memória neste momento.
Posso afirmar que aquele grupo era uma segunda família.
Trabalhávamos com prazer, fazíamos muita bagunça nos breves
intervalos e ajudávamos uns aos outros sem as ‘trairagens’ que
caracterizam as redações e comitês de imprensa nos tempos atuais.
Era muito bom trabalhar naquele ambiente, cercado de profissionais
de alto gabarito e, sobretudo de pessoas do bem.
Entre os acontecimentos que marcaram a minha curta passagem
pelo jornal, destaco o “incidente” do final daquele ano. Exatamente no
dia 5 de novembro de 1993 o então governador Ronaldo Cunha Lima (à
época no PMDB) atirou duas vezes à queima-roupa no seu antecessor
Tarcísio Burity (que estava no extinto PFL, hoje DEM) nas dependências
do Restaurante Gulliver, localizado na orla marítima de João Pessoa.
Foi a maior frustração que tive na minha vida profissional
porque fui ‘convidado’ – junto com os demais repórteres de Política – a
ir para casa. Mas como assim, indaguei ao meu editor João Evangelista.
E ele, seca e diretamente, respondeu: “Velho, ordem não se questiona
se obedece”. Peguei minha trouxa e fui tomar todas na “Gauchinha”,
ávido de notícias sobre o acontecimento.
Mas, para quebrar o gelo, eu não poderia esquecer de relatar
um episódio que quase abalou a minha amizade com o Barbosinha e,
por pouco não custou o meu ganha-pão em “A UNIÃO”. Em plena tarde
de sexta-feira, por volta das 16 horas, eu estava terminando a última
de minha cota diária de quatro matérias quando “Good Life” entrou
na Redação, a 100 km por hora, com o bom e velho gravador National
Panasonic na mão, dizendo ter um ‘furo’ de reportagem.
Entregou o material para o João Evangelista e recomendou (filho
de uma égua) que a matéria fosse redigida por mim. Antes, porém, ele
revelou que era uma ‘rápida’ entrevista com o desembargador Simeão
Cananéia, que acabava de assumir a presidência da Associação dos
Magistrados da Paraíba (AMPB).
Com um sorriso sádico e falsamente constrangido, Evangelista
me entregou o gravador. Fazer o quê? Coloquei o gravador na minha
228 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
mesa, liguei e escutei a primeira e quilométrica pergunta do Barbosinha
que, em resumo, tratava das primeiras ações do magistrado à frente da
entidade. Observem a resposta:
- Meu nobre e dileto amigo jornalista Barbosinha. Era uma
manhã de fevereiro de 1924, no alpendre da casa do pai...”
De imediato, desliguei o gravador, me dirigi ao meu editor (que
àquela altura exibia um sorriso mais enigmático que o da Monalisa)
e disse-lhe: “Joãozinho, você é meu chefe e meu amigo, mas tô fora.
Daqui que o Cananéia chegue em 1993 já será segunda-feira. Pode
me demitir se quiser!”
Não fui demitido, mas a matéria saiu e até hoje não sei
quem foi a vítima que degravou aquela maldita fita cassete. Mas
ficou a lembrança dos tempos em que fui aluno da maior escola do
jornalismo paraibano.

A UNIÃO 229
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Janild es And rad e

Jornal A União – Da escola de profissionais à


ex t ensã o d a f am í lia

E ste é o sentimento que tenho ao falar do período de 8 anos


em que trabalhei no Jornal A União – Superintendência de
Imprensa e Editora. O sentimento de ter passado por uma
escola na companhia de profissionais, que se transformaram em
amigos, numa empresa onde a relação de família era tão forte, que
superava eventuais divergências, quando o profissionalismo e o
companheirismo caminhavam juntos, deixando saudades.
Foi o meu primeiro emprego formal, em março de 1995. Ao ser
avisada pelo colega Carlos Cavalcante, de que tinha uma vaga na Redação
fui falar com a então chefe de Reportagem Djane Barros. Minha primeira
pauta: uma paralisação dos funcionários do Porto de Cabedelo. Ainda
no tempo da máquina de escrever, comecei num estágio de três meses
junto com mais dois colegas disputando duas vagas. Fui selecionada
pra ficar na empresa, de onde só saí em fevereiro de 2003, por uma
determinação de governo que demitiu 149 servidores.
Lá tive a oportunidade de trabalhar com colegas, como é o
caso do meu primeiro editor Carlos César Muniz, de Joanildo Mendes,
Nonato Bandeira, Antonio Costa, Eduardo Carneiro, Linaldo Guedes,
Robson Nóbrega, Conceição Coutinho, Cardoso Filho, Carlos Vieira,
Clóvis Gaião, Clóvis Roberto, João Evangelista, Paulo de Pádua, Raquel
Medeiros, Ângela Costa, entre outros, além dos fotógrafos: Olenildo
Nascimento, Ortilo Antonio, João Lobo e Gustavo Maia.

230 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
À época os motoristas dos carros de Reportagem eram Aleilton
(conhecido com o codnome de “O jovem”, que apelidava a todos, desde o
superintendente ao repórter) e Edgar, que se considerava um privilegiado
por dirigir para “intelectuais”, como denominava os jornalistas.
Em A União, eu era repórter do caderno de Cidades, mas escrevi
também para as páginas de Política, Economia, Cultura e participava
dos suplementos e cadernos especiais de Turismo e de registros de
datas comemorativas, além de fatos de relevância política como posses
de governadores e falecimentos de autoridades, coberturas estas que
o jornal fazia tão bem.
Nos oito anos em que participei do quadro de servidores da
empresa destaco algumas coberturas jornalísticas de tantas não menos
importantes, que tive a oportunidade de fazer. Entre elas está uma
matéria de invasões de terras pelo Movimento dos Sem Terra (MST),
que foi publicada no Jornal do Estado de São Paulo (O Estadão), a
cobertura da filmagem do “Auto da Compadecida”, em Cabaceiras, dos
velórios: do ex-governador Antonio Mariz e do ex-senador Humberto
Lucena e da posse do ex-governador e atual senador José Maranhão.
Além destas, tive a oportunidade de escrever sobre vários
outros momentos da história da Paraíba, que se transformaram em
notícia, desde as ruas da capital, ao antigo lixão do Roger, aos mercados
públicos, praias, movimentos de ruas, cemitérios, hospitais, escolas,
festas tradicionais, sessões e solenidades no Tribunal de Justiça e
Assembleia Legislativa e eventos no Palácio da Redenção, sede do
Governo Estadual.
Durante o período em que trabalhei como repórter, acompanhei
os acontecimentos e muitos deles tive a oportunidade de transformá-los
em notícia, por meio da profissão pela qual até hoje sou apaixonada: o
jornalismo. O jornal A União foi para mim uma escola ao mesmo tempo
em que fez parte de uma faze importante da minha vida. Foi na convivência
diária com os colegas que encontrei amigos com os quais tenho contato
até hoje. Foi naquela época também que tive meu casal de filhos e fiz do
trabalho uma extensão da família, pela acolhida dos colegas.
O jornal A União, que completou 125 anos de fundação no dia
2 de fevereiro será sempre uma jovem senhora, formadora de opinião
e uma escola para os novos profissionais, assim como uma casa
aconchegante para os mais experientes na profissão. Será sempre um
meio de comunicação de grande importância no Estado da Paraíba,
por se tratar do mais antigo sendo o mais atual, acompanhando os
novos tempos.

A UNIÃO 231
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Por Augusto Magalhães

A U niã o: j ornalism o, c u lt u ra e os
b isc oit os d a f á b ric a ao lad o

F alar - ou escrever - sobre A União é remexer na memória afetiva.


É trazer lembranças que mesclam a ansiedade de esperar uma
resposta na“boca” do fax com o desejo de que tudo se resolvesse
ser mais rápido, ao alcance de um touchscreen, como nos dias de hoje.
Fui editor de Cultura deste importante diário paraibano no início
dos anos 1990. Estávamos trilhando o caminho para a velocidade
da internet, mas ainda ficávamos maravilhados com o “Tijolão” da
Motorola que dava os primeiros sinais da telefonia móvel na Paraíba.
Era necessário prender uma pochete à cintura para acondicionar a
novidade tecnológica, hoje ao alcance de todos, cabendo na palma da
mão e com funções que, sequer, poderíamos imaginar naquela época.
Falar de “A União” é também abrir a gaveta da memória para a
gastronomia e a cultura. Quem passou por lá jamais vai poder negar
que ficava inebriado com o cheiro dos biscoitos e massas produzidos
diariamente na fábrica ao lado, já que o parque gráfico está localizado
no Distrito Industrial de João Pessoa. Aliás, um Parque Gráfico digno
de qualquer grande empresa de comunicação, com um dos melhores
e mais bem cuidados arquivos que já conheci.
Ah! Mas eu ia falar mesmo do Caderno de Cultura! Em minhas
gratas recordações do pouco período em que passei à frente do
Caderno 2, entre 1994 e 1995, o que me deixava mais entusiasmado
era o espaço que o jornal dedicava à cultura.

232 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Por ser o único veículo de comunicação impresso pelo Estado não havia
a necessidade prioritária de vender anúncios como nos outros jornais, o
que deixava o Caderno 2 com páginas limpas para a realização de grandes
reportagens e a possibilidade de um trabalho primoroso de diagramação.
Nesse contexto - e na era da nova diagramação digital - nos
foi permitido fazer páginas memoráveis com “fios” e “tracejados”
modernos para a época. Lembro que os diagramadores adotavam
muito os pontilhados de uma foto para outra e as setas para indicar
a legenda relacionada a tal fotografia. Como era bom ver também
as sombras em tom sobre tom para destacar a coordenada de uma
matéria. Como eu admirava ver no dia seguinte o jornal impresso com
esses destaques bem arrumados, qual página de revista.
Na verdade, o Caderno 2 para mim sempre foi uma revista. Uma
revista de variedades, onde o espaço estava disponível para o produtor
do espetáculo teatral da Paraíba ou para o show que chegaria a João
Pessoa vindo de uma grande turnê nacional. Em “A União” não havia
distinção entre as produções ou tipo de espetáculo, bem como se o
espetáculo era comercial ou não. Tínhamos espaço suficiente para
divulgar a cultura - não só da Paraíba -, mas do mundo.
Se em uma edição publicávamos uma página inteira com
fotógrafos paraibanos sobre o Dia Internacional da Fotografia, em
outra poderíamos trazer o show de Madonna ou de Paul McCartney
no Rio de Janeiro, por exemplo. Se “Vau da Sarapalha”, de Luiz Carlos
Vasconcelos, estava em cartaz no Teatro Piollin, o espaço do Caderno
2 de “A União” era o mesmo dedicado à peça infantil que estivesse em
cartaz no Teatro Ednaldo do Egypto.
A possibilidade de tentar equilibrar o espaço midiático
independente do comercial nos dava uma sensação de igualdade tão
grande que nos fazia sentir um verdadeiro Caderno de Cultura. Esse
era o diferencial do Caderno 2 de A União, pelo menos no início dos
anos 90, quando eu cuidava da edição e tinha o auxílio da amiga e
competente jornalista Thamara Duarte, que editava exclusivamente a
Agenda Cultural.
Se para muitas gerações A União foi uma verdadeira escola de
Jornalismo, para mim foi a sensação de que é possível sentar no banco
dessa escola e fazer do jornalismo cultural uma arte... E ainda sair
caminhando pelas ruas do Distrito Industrial sentindo o cheirinho dos
biscoitos da fábrica ao lado!

A UNIÃO 233
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
F ernand o P at riot a

Alm oç a no p resí d io e j ant a no p alá c io

O secular jornal A União, fundado em 1893 e um dos jornais


impressos mais antigos em circulação na América Latina,
registrou os principais fatos da história do Brasil e da Paraíba.
A União representa, na minha carreira profissional e de muitos outros
jornalistas, uma fase de grande experiência prática e teórica. Durante
meus 13 anos de A União, como repórter especial, tive a oportunidade
de viajar todo o Estado, várias vezes. Conheci de perto os avanços e
limitações de um povo forte, sofrido e esperançoso. Durante essas
viagens, produzi matérias especiais para o final de semana, com o
foco voltado na iniciativa intelectual de artistas ou pessoas comuns
espalhadas pelos municípios de todas as regiões. Era gratificante ver o
resultado desse trabalho no rosto dos personagens, afinal essa foi uma
lição que aperfeiçoei em A União: respeito ao leitor e aos fatos.
Sou formado em Jornalismo pela Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), tendo passado pelos jornais O Norte, Correio da Paraíba,
Contraponto, e sites, como PBAgora e WScom, onde também aprendi
muito com o ritmo das notícias. Na rádio, trabalhei na Tabajara, como
apresentador, editor e repórter, do Programa “Justiça Cidadã”, mas foi
em A União que minha relação com o texto jornalístico foi ganhando
mais corpo e fôlego, com pautas mais investigativas, do ponto de vista
social, político e cultural. Uma dessas matérias, onde comparei o Natal
de crianças ricas e pobres, me rendeu o reconhecimento materializado,
com o Prêmio Aetc-JP de Jornalismo – Categoria Texto (2002). Não
234 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
que me importe com prêmios, mas acho significativo a exposição dos
problemas sociais para o máximo de pessoas que se possa alcançar.
É gostoso lembrar das viagens com a equipe e das histórias,
quando estávamos cruzando os sertões paraibanos. Certa vez, na
Serra de Santa Luzia/PB, falava sobre a vida e a morte. Dentro do
carro estavam Aleilton, na direção, o fotógrafo Ortilo e eu, como
repórter. Quando “filosofávamos” sobre a nossa existência, fiz a
seguinte observação: “Vamos todos morrer e essa serra maravilhosa
vai continuar no mesmo canto. Em relação à natureza, como somos
pequenos”. De imediato, veio um silêncio de cemitério e depois uma
gargalhada quilométrica. O clima das viagens quase sempre era assim
e quanto mais distante fosse, eu gostava ainda mais.
Algumas pautas que caíram no meu colo foram hilariantes. Uma
delas, foi a cobertura de um encontro internacional de naturismo, na Praia
de Tambaba, município de Conde/PB. Como estava a trabalho, consegui
entrar na área reservada aos naturistas apenas de bermuda. Durante a
entrevista com um dos participantes do evento, fui abordado por um
grupo que exigia que eu tirasse a bermuda. Não adiantou muito minhas
argumentações. Para a satisfação da coletividade – brincadeira - o fiz.
Foi, também, em A União que participei de entrevistas coletivas
memoráveis. Uma delas, no Palácio da Redenção. O então governador
Cássio Cunha Lima tinha acabado de ser cassado em primeira instância
e uma coletiva foi convocada. Eu fui representando o jornal e tinha
uma grande responsabilidade na produção das perguntas e da matéria,
já que seria a capa do dia seguinte. Uma das minhas perguntas foi:
“E agora, governador, o senhor pensa em se candidatar ao Senado,
nas próximas eleições”. Ele sorriu e respondeu: “Calma, Patriota, o
processo ainda está tramitando”. O desenrolar da história mostra que
minha pergunta tinha todo o sentido.
Gosto de lembrar das matérias que fiz para o jornal A União
como registro de vida. A dependência química sempre foi um tema
palpitante. Sempre haverá “gancho” para esse assunto. Certa vez,
estava no Mercado Central, antes da reforma, e percebi uma quantidade
significativa de pessoas bêbadas e já passava das 19h, ou seja, aquelas
pessoas já estavam bebendo desde o início do dia. Fiquei curioso em
saber qual o destino daquele grupo, onde iria dormir, como fazia suas
necessidades básicas e qual era a relação que existia ali?
No dia seguinte, cheguei no jornal com essa sugestão de pauta,
que foi acatada pela editoria. Mas, disse que a matéria teria que ser
feita à noite, como realmente foi. Chegamos no Mercado Central
por volta das 22h, em local conhecido, na época, como “CTI”. Era
A UNIÃO 235
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
nojento e o mal cheiro de urina e vômito estava por todo o canto. Fui
olhando o rosto das pessoas e logo percebi que 90% eram homens,
acabei por escolher um deles, que estava sentado no fim da fila de
um sinistro “corredor polonês”, formado por alcoólatras, em estado
quase terminal. Me aproximei dele e me identifiquei como repórter
do jornal A União. Perguntei se podia entrevistá-lo e ele disse que sim.
Era um homem de estatura mediana, barba negra, magro, inteligente
e natural de Belo Horizonte/MG. No desenrolar da entrevista, esse
homem revelou ser engenheiro civil e que tinha perdido tudo devido
ao álcool, principalmente, a família formada por sua ex-esposa e duas
filhas. Comovido com a situação daquele homem, indaguei: “Não tem
como reverter esse quadro?”. E ele respondeu dura e secamente:
“Não. Elas não me querem mais”.
Também tive a honra e o prazer de contribuir com o Correio
das Artes, que considero uma das mais importantes publicações
culturais do País. Outra experiência que passei em A União, foi a fase
da circulação vespertina do jornal. Sim, existiu um período em que
o jornal chegava às ruas por volta das 17h. Foi bem interessante, o
ritmo era alucinante e eu gostava daquilo. Hoje, sou servidor do
Tribunal de Justiça da Paraíba, colaboro com sites, rádios, jornais e TVs.
Paralelamente, trabalho como produtor cultural, com foco na Cultura
Popular Brasileira, onde fui premiado pelo Ministério da Cultura,
na Edição Patativa do Assaré – 2010 e faço consultoria na área de
assessoria de imprensa.
O Jornalismo nos ensina diariamente. Não trabalhe apenas
com pautas, seja criador delas, sugira, investigue, queira saber, não
desanime, busque outras formas, outras fontes. Nós, jornalistas,
temos um papel fundamental na pirâmide da sociedade, somos o elo
entre as classes. O repórter pode almoçar no presídio e jantar com o
presidente da República, no mesmo dia, e ainda ir cobrir o melhor show
da cidade. Precisamos saber extrair essas informações e transformá-
las em notícias que se esteja mais próximo da verdade.

236 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
por Evandro da Nóbrega, escritor, jornalista,
editor, historiador e membro do IHGP

U m q u ase sesq u ic ent ená rio c eleiro d e


g rand es nom es d a im p rensa, d o j ornalism o,
d a c om u nic aç ã o
Embora nunca tenha assumido o cargo de superintendente de “A União”
(apesar dos honrosos convites que lhe foram feitos), Evandro sempre
colaborou direta ou indiretamente com diversos e importantes projetos de
vulto desenvolvidos pelo jornal “A União”

N ão poderíamos deixar de atender à convocação do jornalista,


escritor e pesquisador Josélio Carneiro, que coordena a
publicação deste livro, “A União, Escola de Jornalismo”, com
importantes relatos de mais de 100 profissionais da Imprensa cuja
trajetória de uma forma ou de outra teve algo a ver com a História
desse matutino oficial do Governo do Estado da Paraíba. Esta própria
coletânea capitaneada por Josélio, aliás, já passa a integrar, de direito
e de fato, a História do jornal “A União”.
No presente livro, como já sabe o leitor, mais de 100
profissionais da Comunicação falam sobre suas experiências no mais
que centenário jornal sediado na capital paraibana, que há décadas
tem por razão social “A União Superintendência de Imprensa e
Editora” e que vai comemorar seus 125 anos de existência em 2 de
fevereiro de 2018.

A UNIÃO 237
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
U M CONV IT E MU I P REST IG IOSO
Em nosso caso pessoal, não chegamos a assumir o cargo de
superintendente de “A União” - mas apenas porque, embora convidado,
não pudemos aceitar a missão, tendo em vista a pletora de atividades
que à época desenvolvíamos.
Aconteceu assim. Pouco depois de haver assumido o Estado,
o governador José Targino Maranhão quis-nos colocar à frente desse
bastião estatal da Imprensa, fundado ainda em 2 de fevereiro de 1893,
pelo então presidente da Província do Parahyba do Norte, Dr. Álvaro
Machado.

V IA DR. MÁ RIO SILV EIRA


De início, o governador José Maranhão enviou seu honroso
convite por intermédio do então (super)secretário do Planejamento,
Dr. Mário Silveira, tão amigo nosso quanto o chefe do Executivo
paraibano e quanto o próprio ex-governador Antônio Marques da Silva
Mariz, que falecera há pouco.
Explicamos ao Dr. Mário que nos sentíamos altamente lisonjeados
com a lembrança, mas, infelizmente (infelizmente mesmo!), não
podíamos aceitar a invitação: estávamos às voltas com vários projetos
editoriais, jornalísticos e historiográficos nas três frentes em que então
atuávamos (jornal O NORTE, UFPB e Poder Judiciário), de modo que,
para ser bem sincero e honesto, não poderia dispensar ao Governo
estadual toda a imprescindível atenção exigida pela natureza do cargo.

O G OV ERNADOR COMP REENDEU


Mostrou-se o Dr. Mário até mesmo chocado com nossa recusa.
E assim é que o próprio governador Zé Maranhão nos visitou, no
apartamento de Manaíra, procurando nos convencer pessoalmente.
Mas terminou compreendendo as razões por nós alegadas para recusar
o gentil oferecimento.
Demonstramos por A mais B, ao governador, que lhe seríamos
mais úteis como assessor pessoal (o que já vinha ocorrendo de há
muito) do que como secretário de Comunicação, como superintendente
da sempre jovem “A União” ou como algo semelhante. Sem os
penduricalhos oficiais de tais cargos, poderíamos melhor ajudar o
Estado, o Governo e o governador, pois que estaríamos livres do assédio
permanente & massacrante dos “aliados” que se julgam merecedores
de todo o espaço propagandístico do mundo...

238 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
U MA LIST A Q U Í NT U P LA
Para nossa segunda grande surpresa, o governador Maranhão nos
pediu o seguinte: apresentássemos a ele uma lista de cinco pessoas que,
em nosso entender, deveriam assumir a superintendência de “A União”.
No dia seguinte, lhe levamos em Palácio um rol que se iniciava
com o nome do jornalista Nonato Guedes (que, inclusive, já exercera esse
cargo, com superior êxito) e terminava com o do também jornalista Eraldo
Nóbrega (meu oitavo irmão). Nonato foi consultado, mas também não
aceitou, por motivos bem parecidos com os nossos, vez que empenhado
em complexos projetos profissionais e pessoais. Com o que, então, Eraldo
viu-se nomeado para a tarefa.

H U MOR INV OLU NT Á RIO NA P OSSE


Fato risível, até noticiado então pela Imprensa, aconteceu durante
a posse de Eraldo Nóbrega, no Palácio da Redenção. O governador José
Maranhão cometeu perdoável deslize ao afirmar, em seu discurso, que
estava dando posse “ao competente jornalista Evandro da Nóbrega”.
Eraldo riu, algo contrafeito, e quebrou o protocolo: puxou o paletó do
governador e lembrou-lhe que “o Sr. não está dando posse a Evandro, não;
ele é meu irmão; eu sou Eraldo Dantas da Nóbrega”...
O ex-ministro Abelardo Jurema, sentado a uma cadeira próxima,
indagou: “Ora, e estão dando posse a toda a família?!”... O médico,
deputado e auxiliar direto do Governo, Manoel Alceu Gaudêncio fez
blague, na hora, alto e bom som: “Evandro, você já pode começar a contar
tempo para a aposentadoria!”... Como seria de esperar, dada a maciça
presença de jornalistas à posse de Eraldo, esse microincidente foi tratado
com bom humor nas páginas dos jornais do dia seguinte.

U M EST IG MA DE NASCENÇ A
De sua gestão, que se estendeu entre fins de 1995 e meados de
1997, melhor dirá, claro, no presente livro, o próprio Eraldo Nóbrega
(Heraldo Nóbrega na Internet, consoante seu blog “Herald Tribuna”, a
primeira coluna eletrônica a surgir na Paraíba). Mas, aqui, registre-se que
ele manteve democrático relacionamento com os funcionários, zelou pela
saúde financeira da empresa e chegou até a aprovar um plano de salários
para os servidores discutido com os próprios interessados.
A administração do mano Eraldo à frente daquele que é o quarto
mais antigo órgão de Imprensa na América Latina durou cerca de ano e
meio: ele não pôde resistir ao “fogo amigo” de parlamentares, secretários
de Governo, próceres da Oposição e outros interessados em ganhar mais
e mais espaços no órgão oficial do Estado... Desde que surgiu, em fins do

A UNIÃO 239
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
século XIX, “A União” traz esse estigma de ser um jornal obrigatoriamente
alinhado com o Governo que esteja no Poder...
Aquela velha história de ser mais governista (ou chapa-branca)
“que o chumbo de ‘A União’”, explicando-se, para os mais novos, que a
antiga composição das colunas do jornal era feita à base desse elemento
químico de símbolo Pb, desse metal tóxico, pesado, macio e maleável,
desse material derretido que vem sendo trabalhado pelo Homem há mais
de 7 mil anos...

ALG U NS NOMES DE DEST AQ U E


Mas a excelência dos profissionais que por lá passaram - e não
apenas como superintendentes, mas também como diretores, editores-
gerais, editores setoriais, secretários de Redação, pauteiros, redatores,
noticiaristas etc etc etc - supera em muito esse que poderia ser um incurável
defeito de nascença. Tem sido, de fato, uma Escola de Jornalismo, uma
Universidade da Imprensa paraibana, uma Graduação/Especialização/
Pós-Graduação em Comunicação Social de qualidade.
Esta tradição de nomes de grandes homens e mulheres que
fizeram e fazem a excelência de tão especializada Escola Comunicacional
iniciou-se mesmo com o primeiro diretor do órgão, o jornalista e industrial
Tito Silva. E continuou com a lista de personalidades que a seguir vamos
enumerar, aleatoriamente, sem ordem cronológica, à medida que forem
surgindo na memória:
* Carlos Dias Fernandes, * Celso Mariz, * Nélson Lustosa Cabral, *
Octacílio Nóbrega de Queiroz, * Rafael Correia de Oliveira, * Osias Nacre
Gomes, * Sílvio Pélico Porto, * João Bernardo de Albuquerque, * Jório
Machado, * Hilton Marinho, * Antônio Brayner, * Antônio Barreto Neto,
* José Morais de Souto, * Carlos Pereira de Carvalho e Silva, * Gonzaga
Rodrigues, * Agnaldo Almeida, * Biu Ramos (Severino Ramos), * Murilo
Sena, * Carlos Vieira, * Luís Ferreira (também grande e saudoso cronista,
com fino senso de humor!), * Natanael Alves (meu colega em O NORTE e no
TRE-PB!), * Petrônio Souto (de 7 de abril de 1981 a 26 de maio de 1982), *
Etiênio Campos (de diretor-administrativo para diretor-superintendente),
* Nonato Guedes (notável analista político brasileiro!), * Eraldo Nóbrega
(com o “defeito” de ser meu irmão de pai & mãe), * Giovanni Meirelles, *
Rui Leitão, * Ramalho Leite, * Nélson Coelho, * Albiege Fernandes * e, “last,
not least”, o saudoso parente, amigo e extraordinário jornalista, escritor
e historiador que foi Hélio Nóbrega Zenaide, recentemente falecido e a
quem dedicamos este humilde depoimento.
E, à parte os superintendentes, haveria que citar uma extensa
relação de jornalistas (a exemplo de Cleane Costa, Tião Lucena, Cristiano

240 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Machado, Juca Pontes, Walter Santos, José Euflávio, Guilherme Cabral,
Silvana Sorrentino, Alexandre Macedo, Dalmo Oliveira, Beth Torres,
Geovaldo Carvalho, Alexandre Nunes, Marcos Alfredo, José Carlos dos
Anjos & Naná Garcez), editores (como a figura paradigmática de Napoleão
Ângelo), redatores (sem esquecer Frutuoso Chaves), repórteres (à frente
Hilton Gouvêia, Thamara Duarte & Denise Vilar), colunistas (à frente Otávio
Sitônio Pinto, Carlos Pereira de Carvalho e Silva, Joana Belarmino, Walter
Galvão, Fernando Moura, Fernando Vasconcelos, Gilvan de Brito e José
Nunes, também historiador), repórteres-fotográficos, reescrevedores,
diagramadores, críticos de cinema (como o próprio Barreto Neto, João
Batista de Brito e Martinho Moreira Franco, também cronista), críticos
literários (como Hildeberto Barbosa Filho, Sérgio de Castro Pinto, Astier
Basílio, Linaldo Guedes e William Costa, entre outros), gráficos, arquivistas,
estagiários “et alii”. Citando apenas estes nomes, estamos incorrendo em
centenas de omissões imperdoáveis!...

EDSON RÉ G IS E O “ CORREIO DAS ART ES”


À vista do que acima ficou minimamente exposto, torna-se de todo
impossível não reconhecer a contribuição que historicamente vem sendo
dada pelo jornal “A União” a todos os aspectos da vida paraibana, em
especial no campo da Cultura visto em sua acepção mais lata possível. Um
exemplo disto é o suplemento literário da própria “A União”, o “Correio das
Artes”. Também esporadicamente (esporadicamente, sim, por absoluta
falta de tempo), colaboramos com esse excelente suplemento literário de
“A União”, o “Correio das Artes”, que, no entanto, era constante tema de
conversas mantidas com nosso grande e saudoso amigo Odilon Ribeiro
Coutinho.
Esse falecido intelectual, empresário, escritor e político
paraibano, Odilon Ribeiro Coutinho, era amigo-irmão do grande jornalista
pernambucano Edson Régis de Carvalho e os dois tiveram participação
fundamental no surgimento e nos primórdios do “Correio das Artes”. Como
referido pelo também jornalista e escritor Luiz do Nascimento, no volume
10 da “História da Imprensa de Pernambuco (1821-1924): Periódicos do
Recife (1941-1954)”, Odilon Ribeiro Coutinho (que serviu na Intendência
do CPOR em 1947) e Edson Régis de Carvalho (que servira no ano anterior)
lutaram bravamente contra a ditadura do Estado-Novo, que tinha como
principal representante, em Pernambuco, por escolha pessoal do ditador
Getúlio Vargas, o Sr. Agamenon Magalhães, alcunhado “o Malaio”.
Casado e pai de cinco filhos, Edson Régis terminou morrendo
barbaramente, com um enorme buraco no ventre, quando do insano
atentado de 25 de julho de 1966, no saguão do Aeroporto dos

A UNIÃO 241
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Guararapes, em Recife (PE), como uma das duas vítimas fatais da bomba
preparada por elementos comunistas, isto é, por membros terroristas da
Esquerda radical, mais exatamente da “soi-disante” AP (Ação Popular) -
a bomba que também matou (esfacelando-lhe o crânio) o vice-almirante
pernambucano Nélson Gomes Fernandes, da reserva, que deixou viúva e
dois filhos menores. A bomba ainda deixou gravemente feridas 13 pessoas.
Nunca é demais recordar que, nesse infame atentado, ficaram
permanentemente aleijados o então coronel do Exército Sylvio Ferreira
da Silva (que, além de fraturas expostas, teve amputados quatro dedos
da mão esquerda); e o guarda civil Sebastião Tomaz de Aquino, mais
conhecido como “Paraíba” e ex-jogador de futebol no time do Santa Cruz
recifense, que teve a perna direita amputada.

O P AP EL DE “ A U NIÃ O EDIT ORA”


De início, as publicações saídas das oficinas gráficas deste jornal
eram catalogadas nas bibliografias como “Imprensa Official da Parahyba”
ou algo bem semelhante. Muito tempo depois, a citação passou a ser “A
União Editora”. Em verdade, a alusão, nas últimas décadas, deveria ser “A
União - Superintendência de Imprensa e Editora”.
Com este pequeno nariz-de-cera, chegou a hora de dizer: se
não assumimos diretamente a Superintendência de “A União”, sempre
tivemos o privilégio de colaborar com vários de seus superintendentes,
como ocorreu com as administrações de Jório Machado, Hilton Marinho,
Antônio Brayner, Antônio Barreto Neto, José Morais de Souto (que me
iniciara como redator no jornal O NORTE, em 3 de março de 1963), Hélio
Zenaide, Gonzaga Rodrigues, Agnaldo Almeida, Biu Ramos (Severino
Ramos), Luís Ferreira (com quem promovíamos autênticas tertúlias
literárias!), Natanael Alves, Petrônio Souto (já na década de 1980), Nonato
Guedes, Eraldo Nóbrega, Nélson Coelho e tantos outros.

NONAT O G U EDES & ERALDO NÓ B REG A


O maior nível de participação, no entanto, deu-se ao tempo do
superintendente Nonato Guedes (que, diga-se “en passant”, não voltou a
ser Superintendente de “A União” porque não quis). Juntos, participamos
de VÁRIOS projetos não apenas jornalísticos, mas também gráfico-
editoriais, a exemplo do exitoso lançamento do livro “Revolução de 1964,
30 anos depois”, cuja segunda edição somente não foi tirada, já agora, em
2016, em virtude do falecimento do jornalista e editor Carlos Roberto de
Oliveira. Foi por iniciativa de Nonato Guedes que publicamos DIVERSOS
livros, como responsável pela edição do texto e pela editoração eletrônica,
a exemplo de “A glândula pineal do urubu”, romance-novela que terminou

242 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
no programa do Jô Soares e inspirou um filme longa-metragem, “O homem
mais sabido do mundo”, por alunos da UFPE e jornalistas do “Diário de
Pernambuco”...
Na administração do superintendente Nélson Coelho, tivemos a
oportunidade de lançar diversas obras, especialmente a coleção de mais
de 30 volumes semanais intitulada “História da Paraíba em Fascículos”, que
se esgotava instantaneamente nas bancas e que de há muito está a pedir
reedição. Também muitos outros projetos foram executados ao tempo da
gestão do mano jornalista Eraldo Nóbrega, sendo de citar as volumosas
edições especiais do “Correio das Artes” dedicadas ao economista e
acadêmico Celso Furtado e ao editor Ênio Silveira.
Também sobremaneira nos orgulhamos de haver editado, para que
fossem impressos na gráfica de “A União”, alguns volumes da magnífica
“Coleção Paraibana” (inspirada na “Brasiliana”), do Conselho Estadual
de Cultura, que republicou obras já tornadas clássicas e essenciais para o
conhecimento da realidade de nosso Estado. De outra parte, como Editor-
Geral de O NORTE, sempre tivemos o jornal “A União” como um parceiro
igual ao “Diário da Borborema” e o “Diário de Pernambuco” - e não como
um concorrente, situação bem diversa, pois, do que acontecia “vis-à-vis”
com o “Correio da Paraíba” e o “Jornal da Paraíba”. De forma que, em
“A União”, sempre fomos aluno, mas, também, professor de uns poucos.
Com muita honra, humildade e espírito de cooperação!

1993 - Carlos César, Thamara Duarte, Linaldo Guedes (em pé), Jaquilane Medeiros,
entre outros

A UNIÃO 243
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
H erald o Nó b reg a

H erald o Nó b reg a d est ac a na su a g est ã o em


A União o relacionamento democrático com
os funcionários, o zelo com a saúde financeira da
Em p resa e a ap rov aç ã o d e u m P lano d e Salá rios

E
xerci o honroso cargo de Superintendente de A União do
finalzinho de 1995 até meados de 1997, portanto durante um
ano e meio.
Destaco, sem falsa modéstia, na minha gestão, o relacionamento
democrático com os funcionários, o zelo com a saúde financeira
da Empresa e a aprovação do Plano de Salários apresentado pelos
servidores.
Antes de presidir A União, exerci as funções de Editor-geral do
jornal associado O NORTE — à época líder em circulação —; editorialista
do Correio da Paraíba, quando este matutino já liderava a venda de
exemplares; e assessor de imprensa do Ministério Público da Paraíba.
Após minha saída de A União, retornei ao Ministério Público,
assessorei o senador Ney Suassuna, lancei a primeira coluna eletrônica
da Paraíba (a www.heraldtribuna.com.br) e iniciei carreira televisiva:
apresento e participo de programas da TVMaster há nove anos.
Apenas dois dos muitos episódios ocorridos na minha
administração: A União divulgou pela primeira vez o resultado do

244 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
vestibular da UFPB antes de O Norte e do Correio da Paraíba e lançou
o livro A História dos judeus na Paraíba.
Não cito nomes de pessoas de expressão da minha época no
órgão de comunicação oficial para não cometer a deselegância de
olvidar algumas.
A União não pode ser privatizada nem extinta porque é um
patrimônio cívico e cultural do Estado.
E essa coletânea do colega e amigo Josélio Carneiro é um
contributo superlativo para mantê-la viva e pujante.

A UNIÃO 245
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Nonato Nunes

Minha passagem por A União

N
ão foi muito longa, mas a minha passagem por A União foi
bastante profícua. Isso aconteceu lá pela metade da década de
90, quando fui para a Editoria de Política do jornal e fiz o que
tinha de fazer num espaço de tempo bastante reduzido, acho lá fiquei
por uns dois ou três meses apenas. Não deixava de ser uma satisfação
para mim, integrar uma equipe de profissionais de primeira linha do
mais antigo jornal da Paraíba, e um dos mais antigos do Brasil. Tenho
certeza de que se constitui numa honra para qualquer profissional
de Imprensa escrever para o jornal fundado em 1893, pelo então
presidente do Estado, Álvaro Machado.
Durante esse breve período eu fiz algumas reportagens de
política as quais, acredito eu, contribuíram para, à época, fortalecer
a posição do jornal como uma publicação que, mesmo sendo oficial,
estava apto a fazer boas reportagens. Uma dessas reportagens foi
uma entrevista que fiz com o general Antônio Bandeira, o homem
que comandava o Quarto Exército, com sede em Recife, à época
do movimento militar de 1964. Não deixou de ser uma entrevista
antecedida de um certo receio, tanto de minha parte, quanto da parte
da própria equipe, composta de três profissionais: o motorista, eu e o
fotógrafo. Combinamos a entrevista com familiares do general e após
isso feito, viajamos até o município de Mulungu, onde o ex-militar
tinha uma fazenda. O receio tinha uma razão de ser: o general Antônio

246 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Bandeira era conhecido pelo seu temperamento arisco e, de certa
forma, pouco simpático a jornalistas. Mesmo assim, aceitou conversar
conosco. Durante a conversa percebi que algumas das minhas perguntas
o deixavam um tanto incomodado, mas mesmo assim ele fazia questão
de respondê-las. O general falou sobre diversos assuntos, e um deles
dizia respeito à ação do exército contra a guerrilha do Araguaia, para
aonde grupos guerrilheiros se deslocaram para realizarem treinamento
e convencerem moradores e camponeses da área. Lembro-me de que
o general Bandeira revelava uma maneira bem peculiar de responder
às perguntas, pois, apesar de demonstrar tranquilidade, era possível
perceber certa tendência à rispidez. Isso não me era estranho, uma vez
que o ex-militar integrava o grupo que, no jargão militar, se conhece
por “linha dura”. No mais publicamos a entrevista e, tal como ocorreu
com a do general Victor Fortuna, feita alguns anos antes para o extinto
jornal O Momento, o general Bandeira também me enviou, dias depois,
um cartão com uma dedicatória de próprio punho. Lembro-me, porém,
que ele fizera uma observação sobre o texto da reportagem. Mas nada
que tivesse maculado o conteúdo da reportagem.
Ao longo do tempo o jornal A União se configurou numa
espécie de escola de Jornalismo não apenas para jovens recém-saídos
das faculdades, mas também para aqueles que já se encontravam no
“batente” (jargão usado no jornalismo para o profissional que não
passara pelos bancos universitários). Nesse último caso, a busca era
pelo aprimoramento da profissão que exerciam, diuturnamente, nas
Redações. E para isso não havia melhor escola que um ambiente onde
o som contínuo e ritmado das velhas máquinas Remington ou Olivetti
era o dominante. Não seria demais afirmar que os melhores jornalistas
do estado da Paraíba tiveram passagem pela Redação de A União em
algum momento de suas vidas.
Desta forma, a centenária A União permanece viva não apenas
como jornal, mas também como escola.

A UNIÃO 247
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Rog ério Alm eid a

2 0 anos d e j ornalism o
d e t u rism o na U NIÃ O

N o dia 16 de julho de 1997, este jornalista estreava como


jornalista de turismo do jornal A UNIÃO. E lá se vão 20 anos...
Minha trajetória escrevendo no turismo começou pelas mãos
da saudosa jornalista Goretti Zenaide, que me convidou para escrever
uma coluna sobre turismo para a recém criada Revista em Dia, em
julho de 1990.
Depois fui para o jornal Correio da Paraíba, com uma coluna
de turismo de 1995 a 1997 e de lá cheguei ao Jornal A UNIÃO, como
colaborador de turismo e onde permaneço até hoje.
O jornal A UNIÃO como é conhecido é como um encontro
de amigos. Nestes 20 anos tivemos página de turismo, coluna e até
participei com a coluna “Na Bagagem” do suplemento de Turismo,
editado por Augusto Pessoa e que chegou a ganhar o Troféu Waldemar
Duarte, de destaque do ano no turismo pela Associação Brasileira de
Jornalistas de Turismo- seccional Paraíba, Abrajet PB, da qual tive a
honra de ser eleito presidente para dois mandatos.
Nestes 20 anos A UNIÃO também realizou cadernos e páginas
especiais sobre turismo para congressos nacionais como o da ABAV,
Associação Brasileira de Agentes de Viagem, o do Festuris em Gramado
(RS) e até em inglês para o Congresso da BNTM (Brazil National Tourism
Mart), que foi realizado uma única vez em João Pessoa.
E foi como colaborador de turismo de A UNIÃO que tive a honra

248 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
de ser agraciado com a Placa de Prata como incentivador da indústria
turística pela Associação Brasileira de Agentes de Viagens - ABAV Seção
Paraíba, em 1991.
No Recife fui agraciado com a Placa de Prata entregue pelo
presidente José Otávio Meira Lins, em abril e 1993, por apoio à
Associação Brasileira da Indústria de Hotéis- ABIH Nacional.
Em Fortaleza recebi o Troféu O POVO Turismo do jornal O POVO,
pelo jornalista de Turismo José Mário Pinto, em 1996.
Em 2004, em Belo Horizonte, o Prêmio MG Turismo de Jornalista
do Ano pelo Jornal MG Turismo. E no ano seguinte, a Placa de Prata
de Reconhecimento pelo trabalho no desenvolvimento turístico da
Paraíba pelo Parahyba Convention & Visitors Bureau
Na área internacional fui agraciado com a Medalha de Prata pelo
Ministério do Turismo da França em abril de 2005, além de concorrer
com mais de 200 reportagens de jornalistas de mais de 40 países tivemos
a honra de ser vencedor do Travel Writer Award, o maior prêmio de
reportagem dos Estados Unidos, entregue em solenidade no centro
de convenções de Orlando, (EUA) no dia 1 de junho de 2015, além de
diploma, cerca de 1 mil dólares, passando a ser o segundo jornalista
brasileiro a receber tal honraria, o primeiro havia sido o Silvio Cioffi da
Folha de São Paulo.
Em 2015 tive o privilégio de ser também o vencedor do
Concurso de Jornalismo da Europa, com direito a Placa de Prata e o
Prêmio de uma Viagem à Europa.
E ano passado a honra de receber a Medalha e Diploma de
Grand Ambassadeur da Divine Academie Française em Paris.
Durante estes 20 anos como colaborador de A UNIÃO lembro
do privilégio de ter conhecido diversos superintendentes como Nonato
Guedes, Joanildo Mendes, Rui Leitão, Itamar Cândido, Ramalho Leite,
Fernando Moura, Albiege Fernandes, editores como William Costa
e Walter Galvão e colegas para quem sempre enviava a coluna para
publicação como José Napoleão Ângelo, Conceição, e atualmente
Alexandre Macedo.
Não precisa dizer que o jornal A UNIÃO é uma escola, mas
acima de tudo uma família, onde se pode contar sempre com o apoio
e dedicação de todos.
São boas lembranças em vinte anos de colaboração neste
terceiro jornal mais antigo em circulação do Brasil e que apesar de
toda a ameaça contra a comunicação impressa ainda resiste com a
certeza de que muitos anos virão para esta que é a mais antiga e uma
verdadeira Escola de Jornalismo da Paraíba.

A UNIÃO 249
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Ru i Leit ã o

Minha passagem pela


su p erint end ê nc ia d e “ A U niã o”

N a minha história como administrador público destaco com


orgulho a passagem pela superintendência de duas instituições
consideradas patrimônio cultural de nosso Estado: a RÁDIO
TABAJARA e o jornal A UNIÃO. Esses dois veículos de comunicação
não representam importância apenas pela contribuição oferecida
à formação cultural de nossa gente, mas também por terem sido,
respectivamente, a primeira emissora e o primeiro jornal impresso da
Paraíba. Por eles passaram os mais conceituados nomes da imprensa
paraibana. Podemos dizer que ambos funcionaram como escolas do
nosso jornalismo.
O governador José Maranhão foi o responsável por me
conceder essa honrosa responsabilidade. Cheguei na Superintendência
de A UNIÃO às vésperas da virada do milênio. A primeira providência
prática foi chamar todos os que compunham a equipe da Redação do
jornal para que indicassem o novo editor chefe do jornal. Entendia
que os profissionais que atuavam ali saberiam, democraticamente,
eleger quem deveria comandar a editoria do mais antigo periódico da
Paraíba. E fui feliz nessa delegação de competência. Por unanimidade
me ofereceram o nome do colega Eduardo Carneiro para a função de
liderança do trabalho editorial.
A recomendação do governador era no sentido de que A
UNIÃO exercesse com imparcialidade e competência a sua função de
bem informar e de escrever a história do nosso Estado, do Brasil e do
250 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
mundo, mas continuasse atribuindo ênfase ao seu projeto editorial
voltado para a cultura.
Um mês após tomar posse, fui convocado pelo governador para
prestar-lhe o primeiro relatório a respeito da situação da empresa, que
compreende o jornal noticioso impresso, o Diário Oficial, a gráfica e a
editora. Relatei que tínhamos tudo funcionando a contento, apenas me
preocupava o fato de que, em sendo um jornal oficial, encontrávamos
dificuldade em disputar a concorrência com os da iniciativa privada.
Precisávamos fazer o jornal chegar a todos os paraibanos e não apenas
nas repartições públicas. Ele me perguntou o que sugeria. Respondi:
“Transformá-lo em vespertino. Sairemos à tarde com notícias quentes
e poderemos, inclusive, a partir de então, pautar toda a imprensa
paraibana”. Temi que ele reagisse à ideia, em razão do entendimento
de muitos de que um jornal que sempre funcionou como matutino,
por mais de um século, não poderia, de uma hora para outra, passar
a circular como vespertino. Qual não foi minha surpresa quando me
respondeu: “Acho uma grande sacada. Está autorizado a promover a
mudança que propõe”.
E assim procedemos. Na primeira semana, o jornal, encontrado
nas bancas de revistas da cidade e vendido por gazeteiros na rua,
vendeu mais que todo o ano anterior. Posso afirmar que foi um sucesso.
Naquele ano realizava-se na Alemanha a Copa do Mundo de Futebol
e os jogos eram todos realizados no período da manhã. Editamos
um caderno exclusivo sobre o evento e A UNIÃO era o único jornal
do Estado, ou talvez do Nordeste, que trazia todas as informações
do certame no dia em que as partidas eram realizadas. Os demais só
noticiariam na manhã seguinte.
Quando do anúncio da renúncia do senador baiano Antônio
Carlos Magalhães, proclamado à tarde no Senado, o jornal circulou
poucas horas depois do acontecimento com a íntegra daquele
histórico discurso.
Por ocasião do atentado terrorista das Torres Gêmeas, na
manhã do dia 11 de setembro de 2001, em Nova Yorque, nosso jornal
pode ter sido um dos poucos no mundo que documentaram o fato no
mesmo dia do fatídico evento. Esses registros me deram a convicção de
que estávamos certos quando decidimos transformá-lo em vespertino.
Contei com a colaboração eficiente dos que, comigo,
integravam a diretoria daquele órgão de imprensa, cada um
exercendo a função que lhes competia. Sob a coordenação do
jornalista e historiador Nelson Coelho podemos realizar dois grandes
projetos culturais: a série histórica NOMES DO SÉCULO, no ano 2000,

A UNIÃO 251
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
com a biografia de quarenta e cinco personalidades paraibanas que
se destacaram no século XX, e MEMÓRIA POLÍTICA, onde eram
entrevistados por uma mesa redonda integrada por jornalistas
convidados, personagens que nos ofereceram como documentos
históricos depoimentos que registravam suas participações na
vida político-administrativa e cultural da Paraíba. A parte técnica
da produção gráfica ficava a cargo do diretor Francisco Pontes e a
condução dos aspectos administrativo-financeiros da empresa com
o diretor Raimundo Gadelha.
Como se não bastasse a honra de ter administrado o mais
antigo jornal da Paraíba, outro fato me deixava bastante feliz, dar
continuidade a ações ali desenvolvidas por meu pai, Deusdedit Leitão,
quando ali exerceu o cargo de diretor técnico.
Portanto, tenho razões de ordem profissional e afetiva para
me sentir gratificado em ter meu nome inscrito na história de A
UNIÃO. Meu currículo, com certeza, foi bastante enriquecido com
essa experiência.

252 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
F ranc o F erreira

Com p u t ad ores e 1 1 d e set em b ro

D
ois destaques marcaram minha passagem pelo jornal A União:
a implantação da informática, com as chegadas dos primeiros
computadores e o atentado terrorista registrado nos Estados
Unidos. Foram dez anos de 1995 a 2005, fazendo parte da equipe
esportiva, mas também colaborando com matérias de cidades, cultura
e política.
Quando os computadores chegaram o jornalista Martins
Neto ficou desesperado, foi um choque para os mais antigos
jornalistas acostumados com a máquina de datilografia. Não foi
fácil a adaptação. E os computadores, que para a época eram
modernos, hoje estão na sucata, pois ficaram atrasados para os
dias de hoje.
Os ataques ou atentados terroristas de 11 de setembro de
2001 foram uma série de ataques suicidas contra os Estados Unidos
coordenados pela organização fundamentalista islâmica al-Qaeda.
Na manhã daquele dia, a Redação do jornal A União parou.
A gente assistia os aviões colidirem contra as Torres Gêmeas do
complexo empresarial World Trade Center, na cidade de Nova Iorque.
As notícias chegavam a todos os momentos informando as mortes
todos a bordo e muitas das pessoas que trabalhavam nos edifícios.
Trabalhei ao lado de competentes jornalistas como Geraldo
Varela, Martins Neto (in memoriam), Carlos Vieira, Cardoso Filho,

A UNIÃO 253
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Antonio Hilberto, Guilherme Cabral, Agnaldo Almeida, Arlindo Almeida
(in memoriam), Fernando Moura, Wiliam Costa, Maradona, Luzia,
Almeida, Andrea Alves, Conceição, João Evangelista, Roberto Dinamite,
e tantos outros.
Foi mais uma época de aprendizagem na minha vida, tanto
como profissional, pois eu vinha do rádio, mesmo tendo passado pelo
jornal o Momento, e o jornal o Norte, ainda estava dando os primeiros
passos nas redações jornalísticas. Mas, passar pelo jornal A União
serviu, principalmente, para me qualificar ainda mais como cidadão.

Jornalistas Itamar Cândido e Walter Santos se cumprimentam

254 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
P au lo d e P á d u a (*)

No Jornal A U niã o f oi ond e eu


comecei a praticar o jornalismo

T udo começou na prática na Redação do jornal A União em 1996.


Realmente foi minha primeira escola como profissional da área. Me
lembro como se fosse hoje quando meu pai, Antônio de Pádua Melo
(in memoriam), pediu ao superintendente da época, jornalista Eraldo
Nóbrega, que me colocasse no jornal como estagiário. Eu ainda estava na
Universidade cursando o quinto ou sexto período do curso de Comunicação.
Fui contratado e entregue nas mãos da chefe de Reportagem,
Conceição Coutinho, que foi a responsável pela minha primeira pauta
jornalística, cujo assunto, até hoje cravado na minha memória, era a
administração de condomínios na capital. Fiquei tenso e, ao mesmo
tempo, maravilhado por, pela primeira vez, estar numa Redação de um
dos veículos mais antigos e histórico do Estado.
Depois de certo tempo, cobrindo e redigindo matérias para o
Caderno de Cidades, tive a alegria e a honra de trabalhar ao lado de
um grande companheiro e amigo, que me deu uma grande força no
início de carreira: o jornalista Cardoso Filho, que naquela época era
o editor do Caderno Policial. Com Cardoso, aprendi um outro lado do
jornalismo mais polêmico e investigativo. Isso refletiu muito na minha
trajetória, pois adquiri um aprendizado muito mais sólido.
O editor naquela época era o jornalista Nonato Bandeira. Na
Redação, cujo trabalho era intenso, conheci outros colegas que me
ajudaram no ofício, como os jornalistas Fábio Bernardo, William Costa,

A UNIÃO 255
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Geraldo Varella, Emanuel Noronha, Eduardo Carneiro, Fátima Guedes,
entre outros.
Passei um bom tempo cobrindo reportagens sobre os mais
variados crimes e julgamentos. Depois fui convidado pelo também amigo
e jornalista João Evangelista, editor do Caderno de Política, a atuar na área,
ao lado de companheiras como as jornalistas Ângela Costa e Glaudenice
Nunes. Nesse tempo, o editor da Redação já era Antônio Costa.
Ainda na A União, eu acompanhei o jornalista Eraldo Nóbrega
como superintendente entre 1995 e 1997. Dois anos depois, tivemos
a honra de trabalhar com o superintendente Rui Leitão, que, com sua
visão empreendedora, adotou medidas de modernização do veículo e
expandiu a distribuição do jornal em todo o Estado.
Foi na gestão de Rui que eu tive a satisfação de fazer parte de
um projeto pioneiro, audacioso e inovador no jornalismo paraibano
que foi a implantação do jornal vespertino. Fechado por volta das 10h
da manhã, o jornal era distribuído nas bancas e circulava no período da
tarde na capital e em outras cidades paraibanas. Apesar de ter sido um
projeto com excelente aceitação, durou pouco tempo.
Mais foi como repórter do Caderno de Política que tive uma
grande experiência de fazer entrevistas exclusivas com políticos,
autoridades jurídicas importantes, além de cobrir corriqueiramente
o dia a dia da Assembleia Legislativa e Câmara Municipal de João
Pessoa. Cheguei a atuar também como repórter e editor do Caderno
de Últimas. Deixei o jornal A União em novembro de 2002.
O jornal A União é uma empresa admirada e respeitada pela
sociedade paraibana. Foi e sempre será uma escola importante de
jornalismo que já preparou inúmeros profissionais para o mercado de
trabalho. Muita gente boa (intelectuais, escritores, políticos), já passou
por este veículo que é um dos mais importantes patrimônios culturais
e históricos da Paraíba.

(*) Jornalista Paulo de Pádua Vasconcelos, formado no curso de


Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB);
exerceu a função de repórter nos jornais A União e O Norte; foi editor
e repórter também dos Portais ParlamentoPb e WSCOM; fez várias
assessorias de imprensa parlamentar, foi assessor de imprensa da vice-
governadoria; trabalhou no setor de Jornalismo de várias campanhas
políticas; exerceu o cargo de coordenador de Comunicação e do portal
da Câmara Municipal de João Pessoa e, atualmente atua como assessor
de divulgação da Casa de Napoleão Laureano.

256 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Paulo Sérgio Carvalho
Supervisor Gráfico

A evolução gráfica

O ano era 1995. O governo era o de Antônio Mariz. O superintendente era


Itamar Cândido, que estava na segunda de suas três gestões de A U niã o.
Naquele momento, o equipamento usado para confeccionar o
jornal A U niã o e trabalhos gerais para a gráfica estava entrando em colapso,
pouco a pouco o outrora poderoso sistema de fotocomposição Photon, com
sua incrível capacidade de ler 25 linhas por minuto, estava inviabilizando a
circulação do jornal. Não que a capacidade de leitura dessas máquinas fosse o
problema. No caso o que estava inviabilizando a rotina diária do jornal eram as
constantes paralisações do equipamento por absoluta fadiga dos componentes
eletromecânicos que compunham essas máquinas. Este equipamento, já fora
de linha, não tinha no mercado peças sobressalentes que pudessem substituir
as que se desgastavam com o uso contínuo e praticamente ininterrupto.
As redações dos jornais O Norte e Correio da Paraíba já haviam
migrado do sistema de fotocomposição para a editoração eletrônica,
usando, para isso, os “modernos” computadores da geração 386 da Intel.
Logo que assumiu a Superintendência de A U niã o, pela segunda vez,
Itamar Cândido percebeu a necessidade de uma mudança radical no sistema de
composição do jornal, como também a necessidade de modernizar a Redação,
substituindo, por computadores, as velhas máquinas Remington e Olivetti que
eram as ferramentas de trabalho dos repórteres e redatores naquela ocasião.
Reunido com os assessores e colaboradores, recebeu de Walcemi
Maria, então supervisora gráfica, a indicação da possível solução: a contratação,
através de aluguel, dos equipamentos necessários, para assim se iniciar a

A UNIÃO 257
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
transição da fotocomposição para a confecção digital do jornal, usando-se,
para isso, softwares de editoração eletrônica.
Walcemi, com “carta branca” de Itamar, apresentou um esboço do
projeto que poderia servir de solução, escalando, então, dois colegas já afeitos
aos traquejos dos novos horizontes que se descortinavam com o advento dos
computadores e seus softwares maravilhosos, pois já traziam na bagagem
as experiências vividas com a transição do sistema em O Norte e no Correio
da Paraíba. Numa rápida reunião na sala da Superintendência, Paulo Sérgio
e Eduardo Félix acertaram as bases do trabalho a ser iniciado. De imediato
seriam instalados cinco computadores 386 (esses computadores já estavam
ficando obsoletos e já iam sendo substituídos no ávido e emergente mercado da
informática pelos poderosos 486, muito caros naquela época), um scaner e duas
impressoras a laser. Todo o equipamento era de propriedade dos dois sócios.
O compromisso de Paulo Sérgio e Eduardo Félix era entregar o caderno
de Cultura pronto, para fotolitografia, até as 14 horas. Os dois profissionais
estariam integrados ao expediente diário, com a função de editorar as
páginas, acompanhar o desenvolvimento do trabalho e passar o know-how
dos softwares, PageMaker, Corel Draw e Photoshop aos membros efetivos
do quadro de funcionários. Gradativamente, a empresa iria se equipando,
adquirindo equipamentos até poder romper o contrato de equipamentos e
serviços prestados por Paulo Sérgio e Eduardo Félix. Nessa transição, foram
habilitados como paginadores eletrônicos os funcionários Geraldo Flor, Roberto
dos Santos, Júnior Damasceno, Neide Maria, Castor, Joaquim Ideão e outros.
A carência de A U niã o por novas tecnologias era total. Na Redação,
repórteres e fotógrafos saíam para cumprir as pautas e já deixavam, na
antiga Casa dos Fotógrafos, o filme para revelação e impressão em papel das
fotografias. Isso demandava um tempo e um gasto extraordinário. Procurou-
se, como solução, a implantação de um laboratório fotográfico próprio, com
capacidade de baratear o processo e agilizar o trabalho. Desse embrião surgiram
dois nomes: Alexandre de Figueiredo e Sandro Alves. Oriundos da fotomecânica,
os dois profissionais tinham experiência com os laboratórios totalmente escuros
e acertaram com isso as pretensões da empresa. Alexandre hoje demonstra
sua competência no escaneamento, digitalização e tratamento de imagens no
jornal. É um dos poucos remanescentes da intensa revolução por que passou o
jornal em apenas poucos meses.
A lamentar-se, porém, a extinção de postos de trabalho como
fotolitógrafos, retocadores, emendadores e paginadores. São os reveses da
tecnologia da automação que consome todo aquele que não se habilita ou que
não se atualiza, seja nos jornais, nas oficinas gráficas ou em qualquer setor que
está sendo avidamente engolido pela tecnologia da informática.

258 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Foi assim, dessa forma claudicante, que gradativamente A U niã o
foi se atualizando, se modernizando e, com certeza tem hoje um complexo
sistema de composição, editoração e criação, usando, para isso, softwares de
ponta e que não deixam nada a desejar a outras empresas de comunicação.
Alcançamos o futuro.

H ist ó ria
Como fato a se contar, não como “causo”, mas, como conquista de
uma equipe engajada e coesa que pautava os seus objetivos junto às metas
da empresa, posso citar um fato ocorrido no ano de 1997, quando os jornais
e rádios promoviam uma verdadeira “guerra santa”, para alcançarem respaldo
junto à opinião pública. Naquela época, tinha-se como questão de honra chegar
em primeira mão com a edição especial trazendo a listagem dos aprovados no
vestibular. A massa estudantil se aglomerava diante das oficinas gráficas dos
jornais à espera desta edição especial que não tinha dia nem hora para ser
publicada. Por isso, na eminência da notícia, equipes de jornalistas e gráficos
ficavam em regime de plantão à espera da liberação da lista pela Coperve.
A U niã o, deslocada do foco da questão, pois suas instalações gráficas estão
muito distantes do centro da cidade, contentava-se em somente trazer no dia
seguinte um caderno extra contendo a tal listagem.
Já na gestão do então superintendente Eraldo Nóbrega, uma parceria
realizada entre A U niã o e o Integral Colégio e Curso aguçou o instinto de
competição da equipe, e então foi elaborado um ousado e mirabolante plano,
para se conseguir satisfazer o ego de dirigentes e membros da equipe (se
posso, de forma errada, separar dirigentes e funcionários).
Seguimos os mesmos passos na organização tradicional: um motoqueiro
estaria plantado na frente da sede da Coperve, que na época estava localizada
na Av. Epitácio Pessoa, e lá receberia o disquete com a listagem dos aprovados
e tentaria vencer os obstáculos de sinais e trânsito engarrafado. Nessa corrida
maluca tentaria chegar à sede de A U niã o no mais breve espaço de tempo
possível.
Em paralelo, Paulo Sérgio, Eduardo Félix e o professor Dantas, do
Curso Integral, bolaram um plano de malucos. Seríamos os precursores de
uma ideia arrojada para os padrões de então. Este é o fato relevante no caso.
A ideia pioneira de plantar na frente da Coperve em uma casa comercial um
computador conectado a outro computador na sede de A U niã o. Isso, modem a
modem, via linha telefônica, já que naquele tempo não tínhamos as vantagens
da Internet que conecta você a qualquer parte do mundo em segundos.
Feito isso, duas equipes estavam de prontidão esperando a listagem para ser
montada, gravada em chapa e depois impressa no papel. A equipe tradicional
estava sob os cuidados de Walcemi Maria e a dos “loucos sonhadores” estava

A UNIÃO 259
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
com Paulo Sérgio. Era evidente o nervosismo, quando percebemos que o
arquivo começava a chegar (perceba que eu não estou dizendo “baixar” o
arquivo). Este arquivo estava sendo copiado do disquete lá na Epitácio Pessoa
e gravado no HD do computador instalado na sede de A U niã o. Terminada
a gravação, começamos a paginar a listagem e a cada página pronta uma
impressão em papel vegetal já ia sendo encaminhada para a montagem. Com
o processo já quase concluído, chegou o motoqueiro. Foi evidente o desânimo
do rapaz quando foi informado de que toda aquela correria tinha sido em vão.
A listagem já estava nas últimas gravações e a rotativa já pronta para começar a
rodar. Havíamos vencido e posto em prática um sonho. A tecnologia finalmente
se firmara e agora tudo estaria nas mãos competentes de Gilvan, impressor
chefe, e de Ademir, encarregado da circulação – ambos já falecidos.
Fechando com chave de ouro todo este empreendimento, o professor
Dantas e a gerente comercial de A U niã o, Lúcia Rolim, haviam fretado, no
aeroclube, uma aeronave, que levou exemplares do jornal a Campina Grande,
Patos e Cajazeiras.
Hoje, o vestibulando acessa em qualquer parte do mundo a listagem
pela Internet de forma quase que instantânea, com a liberação da Coperve.

260 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
W alq u iria Maria

Minha história com A União

A
inda estava no último período do curso de Comunicação
quando cheguei n’A União, em 1993. Trabalhava de dia numa
agência de Comunicação de Fernando Moura e Alarico Correia
(meu professor na faculdade) e à noite numa escola da rede estadual
de ensino. Até que um dia Fernando me perguntou por que sendo
funcionária do Estado eu ainda trabalhava na educação em vez de
estar no Jornal A União ou na Rádio Tabajara? Eu não tinha resposta.
Não sabia que poderia ficar à disposição de outra secretaria, não sabia
tanta coisa, acho mesmo que não sabia era nada. Só sabia que queria
ser jornalista.
E foi assim, pelas mãos de Fernando Moura que fui procurar
o então editor de A União, o saudoso e querido Jacinto Barbosa, que
me acolheu e solicitou à Secretaria da Educação, através do Gabinete
Civil (não havia Secretaria de Comunicação na época) que eu ficasse
à disposição do jornal. Diferente de todos que começavam fazendo
matérias de esporte ou policial, comecei como redatora das chamadas
de capa, depois fui pra reportagem e numa segunda passagem pelo
jornal fazia matérias especiais e editava entregando as páginas prontas.
Ou seja, foi lá que aprendi tudo.
Aprendi com a ajuda de colegas maravilhosos como Carlos
Vieira, Jaquilane Medeiros, Linaldo Guedes, meu amigo/irmão Joanildo

A UNIÃO 261
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Mendes, que também foi editor enquanto estive lá. E tantos outros,
que cometerei o pecado de omitir, mas já peço perdão. Não posso
deixar de registrar que foi lá que conheci Nonato Guedes, que muito
me ensinou não só sobre jornalismo, mas também o gosto pela leitura
e os bastidores da política.
Deixei A União em 1995, quando fui pro jornal O Norte,
porque o então editor não aceitava que os jornalistas trabalhassem
em mais de um jornal. Funcionária efetiva do Estado há dez anos pedi
demissão. Pouco tempo depois o tal editor foi demitido e eu voltei para
A União, só que desta vez como prestadora de serviços. Essa é a minha
história com A União. Um lugar onde só tive alegrias e aprendizado. A
verdadeira escola de jornalismo.

262 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
CAP Í T U LO V II

anos
2000
Ad riana Crisant o Astier Basílio
G ry g enaT arg ino Marc os Alf red o
Cló v is G aiã o Cí c ero F élix
Jorg e Resend e Au g u st o P essoa
Ed u ard o Carneiro Jam arri Nog u eira
Cló v is Rob ert o Josélio Carneiro
F á b ia Carolino Marc os Ru sso
G led j ane Mac iel Ev and ro P ereira
Ad riana Crisant o Mont eiro

T rê s c u lt u ras na v irad a d o m ilê nio

M inha experiência no jornal A União aconteceu no ano de 2000


a 2002. O século mudava e eu entrava de cabeça nesta onda
gigante do mundo da cultura que naquele momento passava
a ser escrita. Conhecia o jornal A União das pesquisas que realizava
no curso de Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Considerava o maior e melhor jornal, mas nunca imaginei que um
dia pudesse escrever para um jornal diário, pois os “homens da alta
escrita” me diziam que por lá só entrava mesmo quem gostasse e
soubesse escrever.
Achava impossível porque minha base escolar não havia sido
das melhores, mas a UFPB acabou me dando “régua e compasso” para
que a “burrinha” que me achava pudesse fortalecer, ganhar asas e voar.
O ano de 2000 era de total incerteza, inclusive para o jornalismo, que
começava a trocar suas máquinas de datilografar por computadores
386 e depois 486 da Microsoft.
Sempre frequentei os guetos culturais da cidade de João
Pessoa, convivi com artistas, com cantores e músicos locais. Conhecia
a metade dos jornalistas paraibanos por causa da minha irmã, Mônica
Valéria Crisanto Nóbrega, hoje também jornalista formada, e boa parte
deles trabalhavam ou escreviam no jornal A União. Até que um dia,
faltando pouco mais de um mês para terminar o curso de Jornalismo
fui instigada pelo jornalista Wagner Lima, também repórter de A
União, a deixar meu currículo com Eduardo Carneiro, que na época era
A UNIÃO 265
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
o editor-geral do periódico e o subeditor era o jornalista William Costa,
supervisionados pela superintendência de Rui Leitão.
Quando cheguei existia apenas o caderno “Dois”, que tinha
oito páginas destinadas essencialmente à cultura local. Mas, não fui
direto para editoria de Cultura, antes recebi o tratamento primoroso
de Conceição Coutinho, secretária de Redação e chefe de Reportagem,
que acreditava eu não ter muita paciência com que escrevia na Geral
ou em “cidades”. Até que Célia Leal, jornalista de grande experiência
na área, havia saído para trabalhar em outro jornal local, e foi quando
passei a escrever para o caderno “Dois”, que na época tinha como
editor o jornalista Juneldo Moraes. Era o caderno que mais tinha
repórter de cultura: Eu, Renato Félix, Clóvis Gaião, Patrícia Braz e ainda
tinha estagiários que chegavam a todo momento no caderno como:
Isabele Galdino, Ana Carolina Abihay e Eduardo Cury, este último vindo
de São Paulo para estagiar no caderno voluntariamente.
Tínhamos primorosas reuniões de planejamento de pauta.
As pautas eram discutidas, rediscutidas, analisadas uma a uma para
verificar se rendia de fato uma boa reportagem ou matéria cultural. Os
anos de 2000 a 2002 foi o período em que mais se produziu e falou-se
de cultura paraibana. Percebendo essa efervescência cultural local os
editores Eduardo Carneiro e William Costa criaram o caderno “Ideias”, um
caderno de quatro páginas, em formato “stand” que dava espaço para os
intelectuais e professores da academia, além de conter resenhas críticas
e algumas entrevistas com personalidades da cultura regional e nacional.
No caderno Ideias conheci profundamente o universo dos
poetas e suas gerações, mergulhei no mundo das letras como nunca
havia mergulhado. Entrevistei grandes personalidades, a exemplo de
Jormard Morais Souto, Ariano Suassuna (que era primo da minha mãe
e foi entrevistando n’A União que descobri nosso parentesco), Sérgio
de Castro Pinto, Sivuca, Severino Vilô, Jessier Quirino, Ney Matogrosso,
Andreas Kisser, Jorge Vercilo, Djvan, Lya Luft, Hilda Hilst, Maria Bethânia,
Fernanda Takai, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Massaude
Móises e tantos outros nomes da música, literatura e artes em geral.
Foram anos também em que a cultura local começava a despontar no
cenário nacional, como espetáculo “Vau da Sarapalha”, do grupo de
teatro Piollin, o cinema paraibano também ganhava prêmios nacionais
e internacionais nos festivais de cinema, evidenciava cada vez mais a
Paraíba para o resto do mundo.

266 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
A música também despontava com nomes como Chico César
e Renata Arruda que se destacavam no cenário nacional. Na cultura
alternativa tinham produções do coletivo cultural “Las Lusineides”, a
banda A Cabruêra saía do gueto para conquistar a Europa. A cultura
popular descobria Isabel da Loca, a tocadora de pífano que morava
numa gruta. Nas artes plásticas Sérgio Lucena, Dyogenes Chaves,
Clóvis Júnior, Tito Lobo, Fabiano Gonper, Flávio Tavares e tantos outros
ganhavam registro nas páginas dos caderno culturais do jornal A União
deste período.
Éramos quase que condicionados a ler os livros que chegavam
aos montes na Redação para fazer resenhas, entrevistar e comentá-
los nos textos que produzíamos. Paralelo ao “Ideias” tinha também o
menino dos olhos d’A União, o “Correio das Artes”, que também vinha
carregado de poesia e poemas ilustrados como em aquarela de opções.
Também neste período 2000 a 2002 me debruçava na
especialização de jornalismo cultural. O desejo de me aperfeiçoar
crescia a cada texto escrito, a cada matéria, a cada entrevista realizada.
Neste tempo escrever sobre a cultura da minha terra e do meu povo já
fazia parte do corpo, da cabeça e da mente.
Até que um dia o sonho de fazer um jornalismo de cultura
pulsante e visceral era interrompido pela entrada do novo governo
Cassio Cunha Lima, que reduziu três cadernos de Cultura em
agendão cultural em formato “tabloide” de apenas uma página.
Em junho de 2002 me desligava do jornal A União e começava uma
outra etapa da minha carreira profissional no caderno Show do
jornal O Norte, grupo do Diários Associados da Paraíba.
A União fica sempre no coração de quem busca o jornalismo
pela arte de escrever, o jornalismo pelo jornalismo, o jornalismo valor-
notícia, o jornalismo romântico, talvez, mas o jornalismo escrito com
ética. A União é e sempre será a eterna escola do ser e do fazer pessoas
mais humanas.

A UNIÃO 267
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
G ry g ena T arg ino (*)

Cantinho de Cultura:
u m a j anela lit erá ria em A U niã o

C onheço e admiro A U niã o desde que era criança. Entretanto,


a minha relação direta com este importante jornal começou
exatamente no ano 2000, quando comecei a namorar o meu
atual esposo João Evangelista, bacharel em Comunicação Social e em
Direito pela UFPB, que à época exercia as funções de editor de Política
e de colunista Político na “Centenária e bela Velhinha”, como ele
carinhosamente tratava o seu local de trabalho e de grandes amizades.
A partir daquele ano, eu e minha mãe, assistente social Lúcia
Targino, passamos a ler diariamente e a comentar as matérias das
várias editorias do jornal, com destaque e atenção especial para os
bons e bem escritos textos assinados por João Evangelista. Lembro-
me bem que sempre comentávamos sobre como ele, além de cuidar
da produção e edição de duas páginas de Política, “arranjava” tanto
assunto para sua bem escrita e bem fundamentada coluna. Não sabia
eu que um dia iria viver a mesma experiência de ver todos os dias
uma coluna por mim produzida e assinada diariamente ser publicada
depois de “muito frio na barriga” e de muito pensamento sobre o que
deveria trazer de novo e atraente para os nossos leitores.
Pois bem, essa oportunidade“caiu em minhas mãos” numa
tarde tranquila de fins de março de 2009, quando João Evangelista,
então no cargo de editor geral de A U niã o, me ligou e me “intimou” a
assinar uma coluna diária de Literatura que havia sido proposta pela

268 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Superintendência da empresa estatal e que traria para a atualidade
da época (2009) um trabalho homônimo publicado em A U niã o
durante vários meses do ano de 1964, sob o patrocínio do Programa
de Extensão Cultural do Governo Pedro Gondim.
Referi-me à tarde do convite formulado por João Evangelista
como “tranquila”, mas confesso que a minha tranquilidade, naquele
dia, deu lugar ao já mencionado “friozinho na barriga” no momento
em que disse “sim” à proposta do meu amor e, de imediato, comecei a
me apaixonar pelo trabalho que me permitiria abrir em A U niã o uma
janela para a vida literária do meu país. A partir de então, me dei conta
de que poderia oferecer aos leitores a oportunidade de conhecer e
entender importantes produções das várias escolas da Literatura
Brasileira, desde a época de Literatura de Informação, em que a
Carta de Pero Vaz de Caminha (Carta do Descobrimento) se destaca
como primeira obra literária produzida no Brasil, até a terceira fase
do movimento modernista, contemporânea da coluna “Cantinho de
Cultura”.
Abracei o novo desafio como uma oportunidade de estimular
as pessoas a buscarem o conhecimento literário a partir do acesso às
principais obras de autores das diversas fases do Brasil quinhentista
ao Brasil contemporâneo, passando também por obras de renomados
autores estrangeiros e ainda por produçõesjornalísticas e musicais
com interesse literário.
Criamos, então, um espaço de leitura obrigatória composto
de sinopses das principais obras produzidas durante os períodos da
Literatura de Informação e Literatura Jesuítica(época que marcou o
descobrimento do Brasil), do Barroco, do Arcadismo (Neoclassicismo),
do Romantismo (na poesia e na prosa), do Realismo/ Naturalismo, do
Parnasianismo, do Simbolismo, do Pré-Modernismo e finalmente do
Modernismo em suas três fases, até as tendências da prosa brasileira
contemporânea.
Em cada edição, os resumos estavam acompanhados de
comentários sobre a obra em destaque, seu autor e o momento
histórico-literário em que ela estava inserida, e ainda sobre como se
relacionava o movimento literário brasileiro com o momento histórico-
literário vivido na Europa, considerando que a nossa literatura sofreu
forte influência europeia, notadamente na fase do Romantismo do
século XIX. No espaço que denominamos “Café pequeno”, publicamos
textos breves, especialmente dos estilos poesia e prosa.
A coluna “Cantinho de Cultura” ocupou a página 15 de A
U niã o (então no formato tabloide) durante o período de 4 de abril de
A UNIÃO 269
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
2009 (com a edição de apresentação) a 4 de janeiro de 2011, quando
publicamos e comentamos sinopse de “A Moratória”, peça teatral
encenada pela primeira vez em 1955 que figura entre as principais
obras do jornalista, prosador e dramaturgo paulista Aluízio Jorge
Andrade Franco, integrante da terceira fase do Modernismo brasileiro
(iniciada em 1945) que dividiu espaço, em nível de importância, com
nomes como Guimarães Rosa (autor de Grande Sertão: Veredas”),
Clarice Lispector (autora de “Perto do Coração Selvagem”) e João
Cabral de Melo Neto (autor de “Morte e Vida Severina”).
Durante exatos um ano e nove meses,garantimos aos leitores de
A U niã o o acesso, dentre muitas outras excelentes obras, a produções
literárias de nomes da linhagem de João Guimarães Rosa, Gregório
de Matos, Augusto dos Anjos, Orígenes Lessa, Mário de Andrade,
Oswald de Andrade, Lêdo Ivo, Bento Teixeira, Padre Antônio Vieira,
Tomás Antônio Gonzaga, Rubem Braga, Cláudio Manoel da Costa,
Paulo Mendes Campos, Gonçalves Dias, Luís Fernando Veríssimo,
Cassimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Castro Alves,
Antônio de Alcântara Machado, José de Alencar, Fernando Sabino,
Manoel Antônio de Almeida, Carlos Drummond de Andrade, João
Ubaldo Ribeiro, Bernardo Guimarães, Joaquim Manoel de Macedo,
Franklin Távora, José Américo de Almeida, Machado de Assis, Aluísio
de Azevedo, Domingos Olímpio, Manuel de Oliveira Paiva, Clarice
Lispector, Adolfo Caminha, Raul Pompéia, Rudyard Kipling, Alphonsus
de Guimaraens, Edgar Allan Poe, Volteire, Franz Kafka, Dalton Trevisan
e Cecília Meireles.
E ainda:Olavo Bilac, Marina Colasanti, Alberto Oliveira,
Raimundo Correia, Eça de Queirós, Lygia Fagundes Telles, Cora Coralina,
Vinícius de Moraes, Rachel de Queiroz, Cruz e Sousa, Paulo Setúbal,
Artur Azevedo, Zé da Luz, João Cabral de Melo Neto, Artur da Távola,
Mário Prata, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Monteiro Lobato, Graça
Aranha, Platão, João Simões Lopes Neto, Armando Nogueira, Federico
Garcia Lorca, Gilberto Freire, Manuel Bandeira, Ronald de Carvalho,
Guilherme de Almeida, Cassiano Ricardo, Menotti Del Picchia, Raul
Bopp, Plínio Salgado, Cassimiro de Abreu, Juó de Bananére, Tasso da
Silveira, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Mário Quintana, José Lins
do Rêgo, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Cornélio
Penna, Cyro dos Anjos, Patrícia Galvão (Pagú), Herberto Sales, Otávio
de Faria, Ribeiro Couto, Álvaro Lins, José Geraldo Vieira, Ariano

270 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Suassuna, Ferreira Gullar, Elisa Lispector, Nelson Rodrigues, Mauro
Mota, Domingos Carvalho, Geraldo de Camargo Vidigal, Geir Campos
e Aluísio Jorge Andrade Franco.
Também disponibilizamos e comentamos belas produções de
autores locais como Antonio Mariano, Yanko Cyrillo, Ricardo Anísio
e João Evangelista, e de ilustres personalidades da música brasileira
como Luiz Gonzaga, Roberto e Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Renato
Russo, Raul Seixas, Rita Lee/Paulo Coelho e Cazuza, e garantimos aos
leitores de A U niã o a oportunidade de sugestão de leitura, das quais
destacamos duas em especial: “O Pássaro Pintado”, de JerzyKosinski,
sugerido pelo jornalista João Evangelista, e “O Guardião de Memórias”,
de Kim Edwards, sugerido pelo jornalista José Napoleão Ângelo.
T ex t os p ara serem c olec ionad os – Com a coluna “Cantinho de
Cultura”, tivemos a honra e o prazer de oferecer aos leitores de A U niã o
um conjunto de obras comentadas capaz de inseri-los de corpo e alma
no apaixonante mundo da literatura – espaço que, mesmo colocado
por muitas pessoas apenas no plano do sonho e da impessoalidade,
está diretamente ligado à vida de todos nós, seja para alimentar as
conversas, os sonhos, as relações sociais, familiares ou românticas,
seja para abrir portas nos mais variados campos da intelectualidade
humana.
Correio d as Art es – Também tive a honra de participar, com
dois textos (“Machado de Assis e a Academia Brasileira de Letras” e
“João Ribeiro: os clássicos e a língua”) da Edição Especial do Correio
das Artes, publicada em outubro de 2009, que homenageou o criador
e primeiro presidente da ABL, Joaquim Maria Machado de Assis, ou
simplesmente Machado de Assis.

(*) G ry g ena T arg ino Moreira Rod rig u es é formada em Pedagogia


(Licenciatura) e em Direito (Bacharelado) pela Universidade Federal
da Paraíba (UFPB); é especialista em Psicopedagogia, pelo Centro
Universitário de João Pessoa (Unipê), e em Orientação e Supervisão
Escolar, pelo Centro Integrado de Tecnologia e Pesquisa (Cintep), e
graduanda do Curso de Licenciatura em Letras. Produziu e assinou
a coluna diária de Literatura “Cantinho de Cultura”, em A U niã o, no
período de 4 de abril de 2009 a 4 de janeiro de 2011.

A UNIÃO 271
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Cló v is G aiã o

O p rim eiro am or a g ent e


nu nc a esq u ec e. . .

M
inha chegada ao jornal A União se deu no ano de 2001,
ainda muito jovem, como estagiário e cursando Jornalismo
na UEPB, em Campina Grande. Aproveitei umas férias em
João Pessoa e o convite do então editor-geral Eduardo Carneiro,
que considero fundamental na minha carreira, para aprender,
trabalhar na profissão que escolhi. Após o final das férias coloquei
minha disposição a Eduardo de continuar mesmo tendo que ir e
vir diariamente de Campina Grande para João Pessoa, meu esforço
foi recompensado e fui contratado como repórter de Cultura do
já centenário jornal dirigido à época por Rui Leitão. Mesmo tendo
uma inclinação pelo jornalismo político fui rapidamente seduzido
pela área cultural onde escrevia no Caderno Dois ao lado de mestres
como William Costa, Juneldo Morais, Linaldo Guedes, Renato Felix,
Adriana Crisanto, Patrícia Braz e, posteriormente, com Astier Basílio
meu contemporâneo de curso e de vivência na Praça da Bandeira e
no antigo Parayba Café.
O jornal A União não era apenas uma escola, mas uma
universidade tendo na época grandes profissionais do jornalismo,
que prefiro não citar para não pecar pelo esquecimento. Foram
quase três anos no jornal que considero um dos melhores momentos

272 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
na minha carreira profissional e que
dei os primeiros passos no jornalismo
me especializando na área musical,
artes plásticas e das reportagens
especiais com as rendeiras do Cariri e
das ceramistas de Serra Branca, que me
renderam na época votos de aplausos
na Assembleia Legislativa da Paraíba.
Era um tempo de transição
nos meios de comunicação em que a
internet ainda era embrionária, e que
fazíamos jornalismo de verdade apurando a notícia e buscando
sempre o furo ou a exclusividade da informação. Lá, podíamos
acompanhar de perto desde o nascimento da notícia, até o final do
processo com a impressão dos jornais na gráfica pelas madrugadas.
O momento mais marcante na minha passagem pela A União
foi o meu primeiro reconhecimento público com a premiação como
Jornalista Revelação em jornal impresso no ano de 2002, espécie
de Oscar do jornalismo paraibano, realizado pelo Sindicato dos
Jornalistas da Paraíba. Escolha feita pelos próprios jornalistas da
época, o que muito me orgulha e demonstra uma acolhida generosa
dos companheiros de profissão.
Meses depois vivenciei também com a primeira decepção
que foi o meu afastamento e de dezenas de bons profissionais do
jornal A União devido a mudança no governo estadual. Mas algo
que de certa forma me possibilitou buscar outros horizontes e
respirar novos ares como produtor de jornalismo na TV Tambaú
a convite do saudoso Jacinto Barbosa e outras funções essenciais
para minha formação profissional e humana. Nestes meus quase
15 anos de jornalismo impresso, TV e assessoria de comunicação
vivenciei muitas histórias, fiz amigos, chorei, sorri, mas o tempo no
jornal A União ficará guardado nas minhas melhores lembranças
com muita ternura, assim como o meu primeiro beijo, como aquele
primeiro amor que a gente nunca esquece. Mas entre chegadas e
partidas A União se mantém viva, conectada com o novo contexto
da comunicação como uma jovem senhora, disposta a continuar
escrevendo a história do Brasil e da Paraíba.

A UNIÃO 273
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Jorg e Resend e (*)

U m ap rend iz ad o em t rê s at os

M
inha experiência em A União pode ser dividida em três
atos. Momentos separados e distintos no tempo e em
circunstâncias totalmente adversas umas das outras. Na
maior parte, momentos agradáveis e satisfatórios. Todavia, nem
tudo foram flores, mas os espinhos fazem parte da história e
acrescentaram – e acrescentam – pontos importantes para a minha
trajetória profissional no campo da comunicação social na Paraíba.
A minha primeira passagem pela A União ocorreu no início dos
anos de 2000, quando o superintendente da autarquia era Rui Leitão,
no governo de José Maranhão (PMDB). Aceitei o convite duplo feito
pelo colega Eduardo Carneiro, então editor-geral, e pelo diretor Nélson
Coelho. Assumi a Editoria Adjunta de Política, que tinha à frente o
jornalista João Evangelista, e fiquei responsável pelas entrevistas para
o projeto ‘Memória Política’.
Foi um grande aprendizado. Um jeito novo de fazer jornalismo
em meio a uma equipe espetacular. Depois do Curso de Comunicação
na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), fui “formado” nas redações
do jornal Correio da Paraíba; e chegava à A União vindo da Redação e
“escola” do jornal O Norte. Já contando com quase uma década de
experiência, me sentia decepcionado com o jornalismo paraibano.
Planejava mudar de ramo. E foi justamente nessa passagem pela A
União que fez renascer o meu prazer pela profissão.

274 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Até a minha saída, em meados de março ou abril de 2001 para
assumir a Editoria Adjunta de Política do Jornal da Paraíba, posso
garantir que o período em que atuei na Redação de A União (numa
primeira experiência) foi um dos melhores da minha vida. Pela manhã
cobria a Assembleia Legislativa e a Câmara Municipal de João Pessoa;
à tarde redigia o material; ajudava o editor de Política a descer as
páginas; e fazia as entrevistas do projeto ‘Memória Política’.
O ‘Memória Política’, idealizado por Nélson Coelho e iniciado
comigo, trazia semanalmente, em tamanho tabloide e encartado na
edição de domingo de A União, as histórias de personagens importantes
da política paraibana contadas por eles mesmos. O interessante era
que, cada uma das entrevistas feitas por mim, era acompanhada por
um âncora. Por exemplo: na entrevista com Joacil de Brito Pereira, o
âncora foi Dorgival Terceiro Neto.
A minha segunda passagem pela A União não foi nada agradável.
Costumo dizer que fui o editor-geral mais rápido da história desse
jornal. Fui um editor Roque Santeiro... “Fui sem nunca ter sido”. Foram
dois dias que marcaram a minha vida e história na imprensa paraibana.
Era início do ano de 2003. O então governador Cássio Cunha Lima
(PSDB) assumia o governo do Estado. Eu havia acabado de sair da assessoria
de imprensa do então deputado estadual Ricardo Coutinho, ainda no PT.
Foi quando, indicado pelo jornalista Agnaldo Almeida (um dos meus eternos
mestres), aceitei o convite para assumir a editoria-geral de A União.
De imediato, deixei algumas outras assessorias que fazia no
momento e a editoria-geral da revista A Semana, de Neno Rabello.
Apresentei-me no jornal e fiquei dois dias praticamente internado na
sala do então superintendente da autarquia, Itamar Cândido. Recebi
orientações para que estudasse, analisasse e formasse uma “nova”
equipe para todas as editorias do jornal.
O esboço (para a reforma editorial e gráfica) estava em
andamento. Em dois dias, praticamente a equipe de profissionais já
estava esquadrinhada (eu traria poucas pessoas de fora; todos da
Redação permaneceriam na equipe, com algumas mudanças de funções).
Foi quando, no raiar do terceiro dia, Itamar Cândido, extremamente
constrangido (ele não teve culpa alguma), me informava que os “planos
haviam mudado”. Eu não seria o editor-geral do jornal. Outra pessoa
seria indicada, mas que eu “não ia ter nenhum prejuízo”: iria receber o
mesmo salário de editor-geral, “atuando como repórter especial”.

A UNIÃO 275
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Ou seja: eu não sabia os motivos e os porquês, mas estava sendo
“cassado” politicamente e iam “me dar um dinheiro (sem trabalhar,
porque repórter especial nesse caso era sinônimo de fazer nada)”. Na
verdade, era um “cala-boca”, um “toco oficial” para eu não espernear.
Havia largado meus empregos e fiquei na “rua-da-amargura”,
sem lenço, sem documento, sem trabalho e sem nenhum ganho...
Mesmo assim, não aceitei o “cala-boca” e, ao contrário, coloquei a “boca-
no-trombone”. Demorei um pouco para me levantar psicologicamente,
financeiramente e profissionalmente... Mas tudo passou.
Há males que vêm para o bem. Apesar do drama, ainda bem
que não continuei naquele projeto, pois o que veio a seguir, caso
estivesse na editoria, eu não iria aceitar e sairia de qualquer maneira
do jornal. O novo governo protagonizou uma das maiores demissões
em massa na autarquia e “transformou” a centenária A União em um
tabloide que quase leva o diário à extinção.
Anos mais tarde, me foi revelada a verdade sobre o que ocorreu
na minha “cassação”. Momentos antes do governador Cássio assinar
minha nomeação para editor-geral, o então prefeito de João Pessoa,
Cícero Lucena (PSDB), teria “pedido a minha cabeça”, alegando que
o governador iria colocar na editoria um “espião do então deputado
Ricardo Coutinho”.
Por fim, a minha terceira experiência em A União está começando
agora, em setembro de 2017. Aceitei o convite da superintendente Albiege
Fernandes e assumo a responsabilidade pelo site de A União. Novos
tempos, novas aprendizagens nesta eterna escola do jornalismo paraibano.

(*) Jorg e Rez end e – Mineiro da cidade de Três Corações, nascido a 19


de agosto de 1966, militando na imprensa paraibana desde agosto de
1989. Com passagens pelos jornais O Combate, Correio da Paraíba, O
Norte e A União, editou a revista A Semana e atuou na Rádio Sanhauá.
Foi secretário de Comunicação de João Pessoa (Secom-JP), secretário
de Comunicação da Câmara Municipal da capital (CMJP), coordenou
a Assessoria de Imprensa do Ministério Público da Paraíba (MPPB) e
com passagem pela equipe de Assessoria de Imprensa da Assembleia
Legislativa da Paraíba (ALPB).

276 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Ed u ard o Carneiro

Desafios de um vespertino
que fez história

F oi na redação do jornal A União que assisti o mundo mudar. Nada


seria como antes depois daquela manhã fria de 11 de setembro
de 2011, quando terroristas colidiram intencionalmente com dois
aviões contra as Torres Gêmeas do complexo empresarial do World
Trade Center, na cidade de Nova Iorque, matando todos a bordo e
muitas das pessoas que trabalhavam nos edifícios. Acompanhei tudo
de uma TV da sala da editoria ao lado de Robson Nóbrega, Conceição
Coutinho, William Costa e Linaldo Guedes. Todos de olhar esbugalhado e
sem acreditar no que estava acontecendo. Nosso desafio era um pouco
maior do que os nossos concorrentes, já que tínhamos pouco mais de 4
horas para colocarmos uma edição nas ruas: sim, o jornal A União nessa
época era vespertino.
O desafio ou missão, seja lá como quiserem chamar, nos foi
confiada pelo então superintendente da época, Rui Leitão. Ao assumir
o comando do centenário jornal paraibano, ele decidiu inovar: fez uma
espécie de eleição indireta na Redação, que me apontou como editor-geral,
e logo em seguida anunciou que a intenção dele era mudar radicalmente
as feições gráficas do centenário jornal matutino e transformá-lo em
vespertino, sendo às 13h o horário programado para distribuição. “Vamos
conquistar um mercado até então pouco explorado, além de furar os
jornais tradicionais da Paraíba”, argumentou. Ele tinha razão! Conseguimos
aumentar a circulação e a procura. A União voltava a fazer parte das rodas
de conversa e, em alguns casos, a pautar os concorrentes.

A UNIÃO 277
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Mudar um jornal tradicionalmente matutino para vespertino não
seria tão fácil. Sem investimentos, era necessário nos adaptar a uma nova
realidade. Utilizando equipamentos obsoletos, tínhamos que reduzir o
tempo de produção e mudar a linguagem. A primeira decisão veio rápida,
investir em gente nova, sem vícios de linguagem, gente recém-saída
da universidade e com muita garra para trabalhar em algo novo. Assim
contratamos os “focas” Helen Almeida, Suetoni Souto Maior, Andrea
Alves, Wagner Lima, Petrônio Torres e Clovis Gaião. Eles se juntaram a
uma equipe experiente e ficaram sob a tutela da nossa chefe de Redação,
Conceição Coutinho.
Mudamos também a forma de fazer jornal. O caderno de Cultura,
que tradicionalmente era preparado pela manhã passou a ser executado à
tarde. Precisávamos atrair novos leitores e para isso novas secções foram
criadas, Estante – tratava exclusivamente de literatura e Você – Cidadania e
Saúde. Ampliamos o caderno de Esporte, reduzimos o tamanho dos textos
e tratamos de dar mais leveza a cada um deles. A ideia era pensar que o
nosso leitor, o nosso público-alvo, iria pegar o jornal na hora do almoço ou
na hora do descanso e precisa completar ou renovar as informações que o
matutino trazia mais cedo. A regra principal era “não repetir o que já tinha
sido publicado, mas repercutir as notícias mais lidas ou fazer manchete os
assuntos que ganharam destaque durante a madrugada ou pela manhã
logo cedo”.
E no dia 11 de setembro de 2001 o desafio era ainda maior.
Sabíamos que estávamos vivendo um momento histórico e o exemplar
deste dia tinha que ser especial. Logo após assistir as torres desaparecerem,
decidimos explorar o impacto daquele momento no Brasil. Escalamos
repórteres para ir às ruas entrevistar pessoas, historiadores e políticos. A
partir daí nos concentramos na Capa. Decidimos a manchete “O IMPÉRIO
EM CHAMAS”! Com o título principal aprovado, tudo ficava mais tranquilo.
Paulo Sérgio, nosso diagramador, e o Negão Moraes, nosso revisor, a
postos, fechamos a edição.
Mas talvez o maior desafio do vespertino A União nem tenha sido
esse. As Torres Gêmeas caíram no início da manhã, mas como colocar na
capa de um jornal que vai às ruas às 13h um fato que só iria acontecer
às 12h30. Essa foi a principal pergunta que fizemos no dia 30 de maio de
2001, quando o então senador Antônio Carlos Magalhães, mergulhado em
escândalos de corrupção, anunciou o discurso de despedida do Senado
para o final da manhã.
Depois de muito esquentar a cabeça veio a solução. Decidimos
preparar o jornal e rodá-lo na prensa por completo deixando apenas a
capa e a página de Últimas em aberto. O jornal rodava em policromia, ou

278 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
seja, quatro cores, quatro chapas, que eram montadas de forma quase
artesanal uma sobre a outra para no final se obter as cores. Qualquer
deslize, qualquer milímetro fora do lugar poderia colocar tudo a perder,
dando a sensação de tremido e impedindo a leitura.
Nesse dia, iríamos cobrar e exigir um pouco mais de habilidade
da oficina de máquinas e da montagem. Rodamos o jornal em três cores,
excluindo o branco. Colocamos a foto de ACM em um fundo preto que
dominou a mancha completa da Primeira Capa. Era lá que entraria o
discurso de renúncia e a matéria principal do jornal. Assim dito, assim foi
feito. Meia hora depois do discurso de despedida de ACM do Senado, o
jornal já rodava pelas principais ruas de João Pessoa.
Trabalhar no jornal A União sempre me rendeu muito orgulho.
Hoje me rende saudades. Saudades de um tempo em que Redação de
jornal era construída de amizade, cumplicidade e amor pela profissão. O
jornal escola, me ensinou muito mais do que exercer o jornalismo. Foi lá,
muito mais do que em qualquer outra Redação, que entendi o verdadeiro
significado da amizade e da cooperação. Na velha A União, todos os
desafios, todas as barreiras, todos os problemas, se tornam pequenos e
são vencidos com troca de experiências e muitas gargalhas.

A UNIÃO 279
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Cló v is Rob ert o

A U niã o em t rê s at os

E m três momentos, três instantes, três cenários, o jornal A União cruzou


com o meu caminho jornalístico. Foram duas passagens pela Redação
do periódico e, antes disso, a pesquisa para o trabalho de conclusão do
curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade
Federal da Paraíba (UFPB) feito no arquivo da “Velhinha”. E os jornais para
mim são como um ser vivo, possuem entendimento próprio. Cada um tem
sua alma, seu jeito, sua forma, seus perfumes e vozes.
Quando fui apresentado ao jornal A União eu era um estudante
de Jornalismo. O jornal foi meu campo de pesquisa do projeto final
do curso. Uma análise sobre as notícias da participação brasileira na II
Guerra Mundial. Era meados dos anos 90 e eu mergulhei no arquivo
e nos históricos exemplares em busca das notícias sobre os pracinhas
da FEB no front italiano. Foi fascinante viajar pelas páginas de A União
impressas ainda na primeira metade da década de 40. Uma máquina do
tempo feita de papel. Ao final da pesquisa me despedi de A União, sem
saber que seria um até breve.
O reencontro? Já era o século XXI quando retornei à sede do jornal
no Distrito Industrial. Eduardo Carneiro, que tinha assumido a editoria
do jornal, fez o convite para trabalhar como repórter. Em A União pude
conhecer e aprender mais no jornal que sempre foi uma escola. Vi uma
nova geração de jovens surgir sob a batuta de Conceição Coutinho na
chefia de Reportagem. E tive os primeiros contatos com o mestre William
Costa. Pude me deliciar fazendo matérias especiais para o antigo caderno
dominical “Você”, onde a maioria das reportagens era feita a quatro mãos,

280 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
o que possibilitou em uma ocasião dividir a pauta e assinar com a minha
irmã Hellen Almeida, que iniciava ali, a sua carreira em jornalística. E ainda
teve a experiência de atuar num jornal que se tornou vespertino. Até que
chegou a hora de me despedir mais uma vez de A União.
E ali não percebi que aquilo era mais um até breve. O Norte havia
fechado no dia 1 de fevereiro de 2012. Eu buscava uma recolocação,
cobria férias de colegas no hoje também extinto Jornal da Paraíba,
quando recebi um telefonema. Era Beth Torres que editava A União me
perguntando se eu topava assumir a editoria de Cidades. Mal sabia eu
que o convívio em Redação com Beth Torres no jornal seria, infelizmente,
brevíssimo, apenas uma semana. Era um sábado quando anunciou a
saída do jornal. Incertezas à parte, na segunda-feira o telefone tocou e
William Costa pediu que eu comparecesse à Redação. A surpresa: ele era
o novo editor de A União e, como não poderia contar com Nara Valuska
para a editoria adjunta porque ela iria ocupar uma diretoria do jornal,
convidava para eu ser o segundo no comando da Redação. Ao invés de
ser demitido, era promovido.
Foram mais dois anos em A União. Novo aprendizado, novas
experiências. De brinde, o prazer de dividir ótimas conversas com William
Costa, ganhar uma colega de trabalho e amiga, Renata Ferreira. E pude
reencontrar velhos colegas de A União, assim como conhecer e aprender
com mais uma nova geração talentosa de jornalistas. Até que a vida me
levou a mudar de endereço novamente. Mas fica o agradecimento ao
jornal A União e um sentimento, não de adeus, mas de até breve. Quem
sabe, agente se encontra logo ali na frente.

Alguns profissionais na Redação Jornalista Luiz Augusto Crispim

A UNIÃO 281
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
F á b ia Carolino (*)

A f ó rm u la m á g ic a d e A U niã o

A maior qualidade de um repórter é sempre a inquietude. É uma


lembrança efetiva que carrego desde os tempos dos bancos
da academia. Quando estudante de Jornalismo, ficava me
questionando como seria trabalhar com uma equipe com uma grande
bagagem de conhecimento e estilo? Naquela época, me parecia um
sonho profissional inalcançável.
Ainda estudante secundarista, em Cajazeiras, me vinha lampejos
de como seria trabalhar no jornal A União. Depois, já cursando Jornalismo
em Campina Grande, comecei a utilizar o diário como material de
consulta e análise de textos. Revirava, frequentemente, as páginas de
cultura, artigos, colunas políticas e reportagens especiais, por procura
seletiva de temas que sempre me interessavam.
Ler Nonato Guedes, Agnaldo Almeida, Martinho Moreira Franco,
Gonzaga Rodrigues, Marcos Tavares, Carlos Aranha (e tantos outros) era
um privilégio.
Como muitos profissionais do jornalismo, fui galgando os batentes
do mercado e, em março de 2002, com cinco meses de gravidez, recebi
um convite da então primeira-dama Fátima Paulino, para assumir uma
diretoria do jornal oficial, referenciado como um patrimônio do próprio
Estado. Assumi a Diretoria Técnica de A União, em substituição a Nelson
Coelho, que ascendeu à Superintendência.
Lembro que ainda resisti, por estar grávida. Mas, logo, lembrei
do sonho que me acalentava desde a adolescência lá na terra de Padre

282 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Rolim. E ele, o sonho, estava ali, ao meu alcance. O jornal que eu mais
admirava, por toda história que se mistura com a própria história da
Paraíba, me receberia de braços abertos.
De pronto, aceitei o honroso convite. Cumpri a missão até 2003.
Trabalhar no jornal A União foi algo muito especial. Ainda mais num
ano marcado por grandes alegrias, quando fui abençoada pela segunda
maternidade, pois Beatriz estava chegando para fazer companhia ao
primogênito João Luiz. Assumir a diretoria era encarar mais um desafio,
com uma marca registrada: seria a primeira mulher a assumir a diretoria
técnica de A União.
A União projetou [e continua a projetar] grandes profissionais.
Minha admiração pelo jornal continua. Vi de perto a garra e o talento
dos seus profissionais, a pujança de sua Redação e um irrequieto parque
gráfico que teima a se reinventar, mesmo vivendo a brutal concorrência
tecnológica, onde uma tela de cinco polegadas desafia um jornal
impresso. É fato.
O bom jornalismo segue como prática de uma relação
democrática em todas as instâncias da sociedade. Continuará sendo,
sempre, instrumento de transformação. É inevitável a adaptação nos
moldes e na velocidade que veículos digitais impõem ao mercado. A
missão do jornalismo, porém, seguirá preservada. Ninguém ainda
inventou uma fórmula para ter um veículo qualificado sem jornalistas
qualificados. A fórmula de A União é mágica, por misturar todos esses
ingredientes, de forma muito atual.

(*) Fábia Carolino - Formada em Comunicação Social com habilitação em


Jornalismo pela Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande.
Tem graduação em Marketing Estratégico e Marketing Digital (MBA), pela
Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Jornalista, com atuação em diversos
veículos de comunicação, como Rádio Difusora de Cajazeiras, Rádio Tabajara,
Jornal O Norte e assessorias de imprensa em Instituições públicas (Secretaria
de Estado da Comunicação Institucional do Governo do Estado e Ministério
Público Estadual). Atualmente coordena a Assessoria de Comunicação do
Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, onde trabalha desde 2012.

A UNIÃO 283
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
G led j ane Mac iel

U m lu g ar p ara ap rend er a c ont ar


boas histórias

M uito aprendizado e boas lembranças! É assim que recordo


as duas passagens pela Redação do jornal A União. Ela foi a
primeira casa que acolheu minhas tímidas palavras.
Em 2002, ao chegar na Redação tive a sorte de ter como
chefe de reportagem Conceição Coutinho. Uma profissional que com
paciência e maestria conseguiu mostrar o lado bom do jornalismo
ensinando a arte de contar boas histórias. Entre erros e acertos fui
construindo minhas matérias no Caderno de Cidades, aprendendo a
amar a profissão que abracei anos antes e por questões particulares
ainda não tinha conseguido exercer.
No início de 2003, eu e vários outros profissionais da Redação, na
época, comandada pelo editor geral Antônio Costa, fomos exonerados.
Em 2012, voltei para o jornal e trabalhei no Caderno de
Política com a editora Nara e tendo como editor geral William Costa.
Reencontrar alguns colegas de trabalho foi muito bom e mais uma vez
gratificante contribuir e aprender.
Aprender, diariamente, faz parte da nossa profissão e o jornal
A União foi, e continua sendo uma empresa que contribui muito para
a formação de jovens profissionais.
Ser jornalista é antes de mais nada ser um grande contador de
boas histórias.
284 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Astier Basílio

Esc ola: d e v id a e d e j ornalism o

R ua Tavares Cavalcante. A rua que cortava com a Floriano Peixoto e a


Feira Central. Era lá. Numa casa, com batentes, que ficava a primeira
Redação do jornal A União. Minha primeira Redação. Era 2003,
mas ainda havia uma máquina de datilografia, usada, não pela Redação,
composta apenas do colega Xico Nóbrega, instalado no único computador
disponível. Quem chefiava a sucursal era Deusarina. Com porte de mama
italiana, voz grave, olho sombreado a lápis, e o indefectível cigarro entre
os dedos. “Meu filho...” - era como sempre me chamava.
Como sói ocorrer em seccionais do interior, reclama-se da
capital, que muito exigia, embora pouco provesse em recursos para se
realizar as tarefas. Não tínhamos carro e era uma complicação conseguir
um fotógrafo. Eu ia lá para conversar com Deusarina. Fazia meus textos
de casa. Mas não me demorei muito. Recebi um telefonema de Linaldo
Guedes, à época, editor do caderno de Cultura. Perguntou o que era
preciso para eu vir.
Não era a primeira vez que se tratava de minha ida a João Pessoa.
Desde 2000, eu, ainda sendo estudante, de Letras na então UFPB, de
Campina, e de Comunicação Social da UEPB, colaborava com críticas
literárias para o jornal. Dividia meus escritos com a elite do jornalismo e da
academia paraibana. Mesmo muito novo, antes de ser repórter, fui crítico.
Foi o primeiro estágio dessa escola. Estava ao lado de Hildeberto Barbosa
Filho, João Batista de Brito, Andrea Chiacci, entre tantos outros. Escrevia
para o caderno Ideias, editado por William Costa, com quem tratei da
possibilidade de ir trabalhar como repórter, mas que não foi possível.

A UNIÃO 285
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
O vai-e-vem dos governos a cada quatro anos causa abalos
sísmicos nas estruturas de todas as autarquias públicas e com A União
não foi diferente. Tão logo Linaldo assume o posto de editor, me liga.
Ao escutá-lo, confesso, que não acreditei que seria possível minha ida.
Porém, meses depois, quando já estou integrado à equipe, em Campina,
e Linaldo novamente me liga, a oferta me pareceu plausível. Devo ter ido
no dia seguinte. Havia pressa. A editora geral, Sony Lacerda, queria um
bom caderno de Cultura e Linaldo fez o seu pedido: queria que eu fosse
transferido. Foi em sua casa, um apartamento em Água Fria, que passei
meus primeiros dias em João Pessoa, já como repórter de A União, até
me mudar para um caixote quixotesco em Jaguaribe.
Em A União se aprende. É um lema. E tive a alegria de cursar
aquela pós-graduação. Escrever sob os limites de um patrão chamado
governo, com chefes distribuídos em todo o imenso arsenal hierárquico
do Estado não era - e não é - tarefa fácil. Mas Linaldo foi o meu orientador
nestes e em tantos outros melindres. Na Redação de A União fiquei ao
lado do amigo Cícero Félix, de Arara, que conhecia dos tempos do curso
e das minhas idas ao Diário da Borborema, onde também colaborava
com crítica literária.
Foi lá, na Redação localizada num complexo construído no
distrito Antártica, a qual ia em um ônibus quase mítico, que quase
nunca passava, que comemorei meus grandes acertos. Uma parceria da
qual me orgulho, não só no caderno de Cultura, onde desempenhei as
funções de colunista e crítico de cinema - Linaldo já o era de literatura -
como também fizemos, Linaldo na condição de editor, eu de repórter, o
Correio das Artes se atinar com as novas tecnologias e ficar sincronizado
com o debate nacional.
Mas nada era fácil. Questionamentos havia. Interferências, nem
sempre bem-vindas de quem não conhecia de cultura, mas conhecia de poder
- redação, e em A União não se foge à regra - é uma estrutura hierárquica: há
quem mande e deve haver quem obedeça, mas nessa dialética havia muito
o argumentar, o negociar. O dizer não. O ter de dizer sim.
Foi em A União que cometi também meus primeiros erros. Não
só os motivados pela pressa, de se fazer várias matérias no mesmo dia,
de se fechar páginas - foi onde me iniciei na marra como editor - mas
erros de entender como funcionar questões como vaidade, orgulho,
disciplina e de como lidar com o poder e suas sofisticadas instâncias.
Fui censurado. Não como repórter, mas como poeta. Um poema
meu que seria publicado na edição que calhava de sair no dia do
aniversário de João Pessoa. Era um poema, podemos dizer, marginal.
Vanguardista. Eu falava da decadência do centro. E mencionava o nome

286 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
de João Pessoa. Da cidade, não o personagem - que à época, eu ainda
não aprendera a admirar - Talvez eu mencionasse a estátua na praça
de mesmo nome. Não lembro. E o preview com as anotações a lápis do
secretário de Redação com as letras de forma “CUIDADO” está em uma
pasta como um dos meus troféus até hoje.
Para valer-me do clichê, não foram só flores. Quando quis me
transferir para o Jornal da Paraíba, em 2005, cometi uma série de
erros. Não entendi que havia uma norma tácita e não escrita de como
negociar a possibilidade de estar no jornal estatal e em outro - como
tantos colegas meus faziam à época. Jovem, não me importei com as
questões da hierarquia. E onde há hierarquia há vaidade. E a vaidade
de quem tem poder é exercida, sem peias nem bridas, contra quem
pode pouco. Lembro que a superintendência à época tentou me punir
e encontrou a melhor das formas para isso. Não me demitiu. Mas
reduziu meu salário. Eu fiquei um bom tempo recebendo menos que
qualquer repórter. Menos que o piso. Embora além de repórter, era
responsável por editar duas páginas. Fiquei lá por orgulho. Para não
dar o braço a torcer. Coisas da juventude.
Saí e voltei. Embora houvesse me prometido que não retornaria.
Mais uma vez no vai-e-vém dos governos. Em 2009. Novo governador
havia por força da justiça. E novas mudanças na Redação. Recebo o
convite do amigo e mestre Sílvio Osias para editar o Correio das Artes. Era
a realização de um sonho. Sonho esse que durou apenas poucos meses.
2010. Ano novo. Governo novo. E velhos sentimentos. Expectativa de
se manter no cargo. Incerteza. Insegurança. Amigos que decepcionam.
Expurgos. Em 2010 corri o risco. Me recusei a participar de atos de
campanha do então governo, embora fosse convocado para tal. Mais de
uma vez. Ainda assim, me mantive neutro. E doeu ouvir de uma amiga que
“eu havia feito escolhas e teria de arcar com elas”. E fiquei a pensar que
caso houvesse reeleição, eu também seria dispensado de minhas funções.
Por minhas escolhas - estas, sim, reais e não as da que fui acusado. Medo
e sentimento comuns em quem trabalha para órgãos do governo, em
funções comissionadas, com contrato precário. Falar em A União e não
tocar nesse ponto é não enfrentar a história de que ela é feita.
A conversa que tive com a amiga, que ascendera, foi uma das
tantas conversas que existem, de 4 em 4 anos, em mudanças de todo e
qualquer governo. Mudam-se os personagens. Mudam-se as posições
nas cadeiras de quem está tendo esse tipo de conversa, mas a história
de A União ficaria incompleta se eu não mencionasse isso. É uma escola,
sim. Mas não só de jornalismo. De vida também.

A UNIÃO 287
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Marc os Alf red o

Um breve encontro com a velha senhora

M eu encontro profissional com o jornal A União foi relativamente


breve - mais breve do que projetei e desejei. No início de
2004, fui convidado pelo então superintendente Itamar da
Rocha Cândido para integrar a equipe do veículo centenário, com um
desafio inédito: ajudar a consolidar um projeto ousado, polêmico e
sobretudo corajoso diante do reconhecido perfil conservador de um
jornal peculiarmente tradicional.
Minha missão em A União durou apenas quatro meses,
lamentavelmente. Fui convidado para assumir a Coordenadoria de
Jornalismo da Secom (posteriormente transformada em Diretoria de
Jornalismo), para substituir o colega Levy Soares, que deixava o cargo
por conta de convite para um desafio profissional em São Paulo.
Em termos práticos, a ideia básica de Itamar Cândido foi
impactar o mercado e a própria história de A União com uma
revolucionária proposta gráfico-visual que alterava não apenas o
formato stand de sempre para o tabloide, mas também o conceito
e conteúdo do veículo, com uma abordagem mais moderna e
jovem, nunca perdendo a perspectiva de que, como toda e qualquer
mudança, tempestades de polêmicas estavam reservadas pela frente.
Foi, romanticamente, uma tentativa de reenergizar um veículo
oficial sempre visto de soslaio pelo seu meio, embora nunca tenha
perdido o respeito e as merecidas homenagens. Nunca engolimos,
por exemplo, o conceito que alguns segmentos descontentes da mídia
tabajara tentaram emplacar de que a transformação do formato de

288 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
stand para tabloide evidenciava uma “diminuição” da importância de
“A União”.
Por quatro meses, me dediquei à tarefa de elaborar o projeto
e recebi o sinal verde para formar uma equipe básica que daria
suporte ao novo projeto. A confecção do projeto gráfico-editorial,
que ousou migrar A União para o formato tabloide, ficou sob a
responsabilidade do designer Cícero Félix, competente profissional
que foi simplesmente o único no Brasil a ganhar um Esso de
Jornalismo pela produção de uma capa histórica: a que registrou
o ataque às torres do World Trade Center, nos Estados Unidos, no
fatídico atentado de Osama Bin Laden, em 11 de setembro de 2001.
Um outro profissional estratégico contratado foi o fotógrafo
Augusto Pessoa, que passou a responder pela editoria do novo
caderno de Turismo. Um dos fotógrafos mais premiados da Paraíba,
Augusto tem colaborações importantes no Correio da Paraíba (1997-
1999), Meio Norte do Piauí (2000-2002), Jornal do Cariri, no Ceará
(2002-2004). Atualmente trabalha como repórter e fotógrafo free-
lance para as Revistas NationalGeographic, Vida Simples, Continente,
Nordeste, na Poltrona, Fotografe Melhor, Caminhos da Terra,
Horizonte Geográfico, entre outras.
Tive a alegria de contar, também, com o entusiasmo e as ideias
do colega Linaldo Guedes, um veterano do caderno de Cultura que
ajudou na composição de um suplemento imprescindível na criação
da identidade de um dos mais antigos jornais do Brasil.
Com o núcleo básico formado, passamos a organizar o novo
projeto, mas, tal como o bíblico Moisés, não tive o direito de pisar na
“terra que emana leite e mel”, a nossa “Canaã” profissional daquela
fase ousada de A União. Como citei acima, houve o fator “Levy
Soares”, que me levou diretamente para o Centro Administrativo do
Governo do Estado, acabando de vez com aquela rotina excitante de
pegar a BR-101, rumo ao Distrito Industrial e a um insucesso incerto.
O “Josué” em nossa breve história foi um colega que,
profissionalmente, não deixava dúvidas sobre a própria capacidade
de tocar o projeto com competência e zelo: Jacinto Barbosa, que
posteriormente foi substituído por Cícero Félix na chefia de Redação.
O projeto do novo A União foi mantido até o fim prematuro
do segundo Governo Cássio Cunha Lima (fevereiro de 2009). Foi
uma experiência e tanto, um sonho tornado possível pela força de
um executivo ousado, uma equipe enlevada pelo desafio do novo e
expectativa de fazermos história. E valeu muito a pena!

A UNIÃO 289
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Cí c ero F élix

O m u nd o d ’ A U niã o

E ra maio de 2003. Estava a menos de três meses na sucursal do


Jornal da Paraíba, depois de uma temporada de três anos no Diário
da Borborema – ambos em Campina Grande. Sob a supervisão
de Bastos Farias, chefe da sucursal, eu iniciava uma atividade nova na
Redação, pautando e editando conteúdo quando Marcos Alfredo me
ligou. O jornal A União ia passar por uma reforma gráfica-editorial. Ele
fora convidado para assumir o cargo de editor geral e estava formando
sua equipe. O desafio era modernizar, de forma criativa e ousada, o
centenário e tradicional jornal do Governo do Estado, que ficava em João
Pessoa. Titubeei, confesso. Não estava preparado para tanta mudança.
Mas era uma oportunidade sem igual. Eu, finalmente voltaria para a
área do design gráfico do jornal, da notícia e com toda liberdade para
ousar dentro das condições técnicas da gráfica.
Não esqueço da alegria na mesa na primeira reunião na sala
do superintendente Itamar Cândido. Ali conheci Juca Pontes, Marcos
Tavares, José Euflávio, revi Agnaldo Almeida, Geovaldo de Carvalho e
outros que agora me fogem à lembrança. Daquele encontro surgiram
as primeiras diretrizes do novo projeto, uma delas foi mudar o tamanho
do jornal de standard para berliner, acompanhando a tendência dos
jornais impressos no mundo.
À equipe, foi integrada Sony Lacerda – competente chefe de
Reportagem –, Roberto Matos, artista gráfico de mão cheia importado
do Crato (CE) e Augusto Pessoa, grande irmão, grande fotógrafo!
Contemporâneo da Faculdade de Comunicação da UEPB em meados
290 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
dos anos 1990. Profissionalizou-se no jornalismo antes de completar
dois anos de curso. Nos juntamos ao pessoal que já trabalhava no
jornal: Linaldo Guedes, Robson Nóbrega, Moraes, Russo, Noronha,
Zé Alves, Tia Guedes, Varela, Josélio, Guilherme, Tereza, Paulo Sérgio,
Sávio, Hilton e outros que não lembro mas igualmente fundamentais,
compunham o quadro de pessoal que resultava no jornal impresso
no dia seguinte.
No entanto, dias antes do lançamento do novo projeto gráfico,
Marcos Alfredo informou que havia sido chamado para a Secretaria
de Comunicação do Governo do Estado e que, infelizmente, iria deixar
o jornal. O jornalista Jacinto Barbosa assume seu lugar. No dia 9 de
setembro de 2003, com 110 anos, o novo jornal A União é lançado
com a manchete “Quintais produzem milhões”, sinalizando a proposta
editorial que tinha por objetivo colocar em evidência o fazer do povo
paraibano, sua criatividade, música, alegria, empreendedorismo; tudo
isso, é claro, além de divulgar a agenda política do governo.
A partir daquela edição, até o início de fevereiro de 2009,
quando o governador do Estado Cássio Cunha Lima foi cassado pelo
TSE, eu vivi uma das experiências mais ricas na minha vida profissional.
Estávamos imbuídos de fazer um jornalismo dinâmico, graficamente
atraente, com gráficos e infografia, valorizando a informação na
imagem, buscando a melhor estética e estrutura que pudesse oferecer
ao leitor a notícia mais clara, a informação mais didática.
Foram quase seis anos atravessando a BR-230 com destino ao
parque gráfico do jornal A União, no Km 3 da BR-101. Minha primeira
escola depois da faculdade foi o Diário da Borborema, onde ganhei,
com menos de dois anos de formado, o Prêmio Esso de Jornalismo.
Lá, trabalhei com colegas inestimáveis. No entanto, minha maior
escola no jornalismo foi n’A União. Apesar das limitações técnicas e
editoriais, conseguíamos frequentemente surpreender o leitor. E isso
era fundamental.
Lembro que Sony Lacerda saiu pouco tempo depois. Patrícia
Teotônio entrou em seu lugar, depois ela saiu e veio Conceição. Sávio,
Robson e Jacinto saíram mais tarde. Galdino, Astier Basílio e Bastos
Farias chegaram. Itamar, que tinha um temperamento intempestivo,
propôs que eu assumisse o cargo de editor-geral e por lá fiquei quase
dois anos, até Carlos César chegar. Essa rotatividade não era boa,
mesmo assim conseguíamos manter a dinâmica do novo projeto. E,

A UNIÃO 291
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
pessoalmente, encontrei em Carlos César um grande amigo. Entre os
produtos especiais que acompanhavam o jornal nos fins de semana,
tínhamos a revista sobre o turismo, editada por Augusto Pessoa, e o
Correio das Artes, editada pelo jornalista e poeta Linaldo Guedes.
Duas publicações especiais também marcaram minha
passagem pela A União. Uma foi um caderno com dicas sobre as novas
regras ortográficas, em parceria com a gráfica oficial do governo de
Pernambuco; outra, foi uma revista sobre a transposição do Rio São
Francisco, que levou o Prêmio AETC de Jornalismo na época.
Quanto essa experiência n’A União me foi rica. Em 2009, com a
cassação do governador, fui sacado do jornal. Em seguida, recebi um
convite para dar aula de jornalismo em uma faculdade em Barreiras,
no Oeste da Bahia. Aceitei. Um ano e meio depois lancei uma revista
de variedades na região, Revista A.
Em 2015, ingressei no magistério público superior, na
Universidade Federal do Oeste da Bahia, e fui morar em Santa Maria da
Vitória, onde está instalado o campus de comunicação e artes. Dirijo o
centro e dou aulas no curso de Publicidade e Propaganda. Infelizmente,
a publicação da Revista A foi suspensa, mas o jornalismo não saiu de
minha veia. Vivi, n’A União, momentos de alegria e aprendizado que
carrego para toda minha vida, quer sejam profissionais ou pessoais.

1º edição
no formato
tablóide
em 9 de
setembro
de 2003

292 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Au g u st o P essoa, fotojornalista freelancer

Da beira-mar à Caatinga...
. . . ind o e v olt and o!

C orria - e isso não é apenas força de expressão - o já longinquo ano


de 2003, quando fui convidado para editar o Caderno de Turismo
do Jornal A UNIÃO, o mais antigo da Paraíba, Estado onde nasci e
que há cinco anos frequentava apenas como visitante. O convite veio do
amigo Marcos Alfredo, professor em matéria prática de jornalismo, cujo
cargo vitalício de “meu primeiro chefe” havia sido adquirido quando -
corajosamente - me contratou para integrar a equipe de fotojornalistas
da sucursal do Correio da Paraíba, em Campina Grande, quando ainda
cursava Jornalismo, em 1997. De repórter fotográfico, limitado à Rainha
da Borborema e arredores, agora adquiria o cobiçado passaporte para
viajar até os confins do território paraibano. Do litoral ao Sertão, do Brejo
ao Agreste, do Cariri ao Curimataú, o limite seria apenas a quantidade
disponível de rolos de filme fuji vélvia, uma película em cor cuja
capacidade de saturação ainda hoje não vi sensor capaz de reproduzir.
Moraria, dali em diante, na estrada!
Posso dizer, sem medo de errar, que embora tenha tido
uma experiência valiosa nos anos que integrei a equipe do Correio,
transcendendo em muito aquilo que recebia em sala de aula, foi no
comando do Caderno de Turismo de A UNIÃO que eu verdadeiramente
conquistei o meu “diploma”. Quando escrevo “no comando”, vou muito
além da vaidade inerente a todo jornalista que se preza. Naquele pequeno
território em formato A4, quem ditava as regras, de fato, era eu! Claro

A UNIÃO 293
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
que Marcos Alfredo, na sua capacidade
supervisionária, acompanhava todo o
processo e era quem, no final das contas
pautava e - principalmente - despautava
os meus delírios jornalísticos. Mas no que
se refere à construção propriamente dita
do caderno, recebi uma liberdade quase
que surreal em se tratando de um veículo
governamental. Me disponibilizaram um
carro devidamente adesivado, diárias
solicitadas e recebidas e nada menos
que 30 páginas em branco para que
eu explorasse de acordo com a minha
criatividade. Dirigia, apurava, fotografava,
escrevia e diagramava. Aprendi, ali, que
liberdade é, também, responsabilidade.
Além de acompanhar de perto o processo de feitura editorial do
caderno, já que era eu mesmo quem cozinhava, aprendi muito também
sobre a tinta e o papel, os temperos fundamentais e que faziam toda
a diferença para um fotógrafo disfarçado de jornalista. Na gráfica de
A UNIÃO, o forno de toda aquela diversidade de receitas, desconstruí
para mim mesmo o significado da expressão “a primeira impressão é a
que fica”. Se não me falha a memória, a primeira impressão jamais foi a
que ficou. Creio que até hoje os impressores de A UNIÃO, artistas que
aprendi a admirar, lembram da minha extrema capacidade em não me
satisfazer até que as fotografias atingissem o nível mínimo de qualidade.
Um pouco desse zelo se dava ao fato de eu ter concebido a capa de cada
edição como uma espécie de obra de arte fotográfica, influência direta
da grande admiração que ainda hoje tenho pelas capas das edições da
centenária National Geographic. Guardadas as devidas e gigantescas
proporções, aquele caderno era mesmo a minha national particular.
Nos anos que produzi essa revista e pude conviver com uma talentosa
equipe de jornalistas, revisores, editores, fotógrafos e impressores, fiz
mestrado e doutorado em matéria de fotojornalismo. Conheci lugares
e pessoas que talvez não tivesse o merecimento de nem ao menos
tomar conhecimento da existência. Pessoas anônimas que encontrei
em pautas pelos interiores do interior e que hoje vejo que auxiliaram a
forjar a minha veia profissional. Em resumo, ainda hoje faço exatamente
aquilo que aprendi a fazer quando estive em A UNIÃO.

294 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Josélio Carneiro

Eu , rep ó rt er e p au t eiro n’ A U niã o

E
u atuei na Redação de A União no período de julho de 2008 a
fevereiro de 2014 (exceto no intervalo de janeiro a abril de
2011). Retornei ao jornal no mês de maio daquele ano. Nesse
período em A União eu também era repórter da Secretaria de Estado
da Comunicação Institucional onde atuei de 1995 a junho de 2017 à
disposição em cargo comissionado, cedido pela Rádio Tabajara onde
era repórter desde 1989. Talvez eu tenha sido o único jornalista a ter
atuado simultaneamente nos três órgãos da imprensa oficial, porém,
tudo dentro da legalidade.
Na Secom-PB, onde trabalhei por 22 anos, tive a confiança dos
governadores Antonio Mariz, José Maranhão, Roberto Paulino, Cássio
Cunha Lima, e Ricardo Coutinho. Sem qualquer indicação política,
esses gestores tanto me nomearam como também me exoneraram
uma meia dúzia de vezes. Dos repórteres comissionados fui quem mais
tempo permaneceu e saí porque pedi exoneração. Graças a Deus fui
nomeado servidor efetivo via concurso público para a Secretaria de
Administração Penitenciária. Em junho de 2017 pedi exoneração da
Secom, demissão da Tabajara e da Assembleia Legislativa. Fui repórter
do Poder Legislativo dois anos e meio (2015 a junho de 2017).
Na Secom cobria agenda dos governadores e as demais pautas
eram demandas das secretarias e órgãos da administração indireta. Ao
chegar n’A União fiquei cobrindo pautas de governo já que era um dos

A UNIÃO 295
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
repórteres mais ligados às coberturas das ações da gestão estadual e
permanecia na Comunicação no outro expediente. No entanto, também
recebia algumas pautas de cidades e cheguei a sugerir algumas que
acabaram rendendo boas Reportagens.
Nos 22 anos de Secom tive a oportunidade de conhecer
todos os 223 municípios paraibanos nas coberturas das agendas dos
governos Mariz/Maranhão, José Maranhão/Roberto Paulino; Cássio
Cunha Lima/Lauremília Lucena; Cássio Cunha Lima/José Lacerda Neto;
José Maranhão/Luciano Cartaxo; Ricardo Coutinho/Rômulo Gouveia;
Ricardo Coutinho/Ligia Feliciano. Nessas duas décadas também fiz
coberturas de agendas dos presidentes Fernando Henrique Cardoso
(Sudene, João Pessoa e Sertão paraibano); Luiz Inácio Lula da Silva
(inauguração do terceiro trecho da duplicação da BR-230 – Campina/
João Pessoa, ao lado do governador Maranhão; visita às obras da
Transposição de Àguas do São Francisco em Pernambuco); Dilma
Rousseff (entrega de moradias em João Pessoa e ato público no Espaço
Cultural contra o golpe – nesse último caso como repórter da ALPB.
Pela Secom também cobri agenda do presidente Michel Temer, em
Monteiro, quando inaugurou as obras da Transposição de Àguas do
São Francisco. Dias depois, também em Monteiro, pela Secom, cobri
o ato público de inauguração popular da mesma obra, desta vez com
os ex-presidentes Lula e Dilma, na companhia do governador Ricardo
Coutinho. Esse foi um dia histórico na Paraíba.
Bom, a ideia da coletânea A U niã o Esc ola d e Jornalism o surgiu
após o lançamento do livro Rádio Tabajara - Patrimônio Cultural
da Paraíba, obra que organizei e lançei durante sessão especial do
deputado Hervázio Bezerra na Assembleia Legislativa. Naquele 12 de
junho de 2017 o parlamentar e a ALPB homenageavam os 124 anos
de A União e os 80 anos da Tabajara. Antes, em 17 de novembro de
2016, lancei no salão rosa do Palácio da Redenção o livro P araí b a
G ov ernos em Cena. Uma homenagem aos fotógrafos do Governo do
Estado, autores de milhares de fotografias dos anos 1930 a 2016. O
livro com apresentação do secretário de Comunicação Luis Tôrres,
prefácio do professor Damião Ramos Cavalcanti, além de texto do
historiador, escritor e professor José Octávio de Arruda Mello, e cinco
crônicas de Carlos Pereira de Carvalho, reúne mais de 100 fotografias
de governadores. A iniciativa de alguma forma resgata 85 anos da
história político-administrativa de nosso Estado.

296 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Em três ocasiões fui notícia n’A União. No lançamento desses
dois livros e no ano de 2002 quando o Governo do Estado lançou a
coletânea que organizei T ab aj ara - A Rá d io d a P araí b a. Ainda fui notícia
quando a reportagem de A União destacou o livro que eu organizava
sobre alunos do Liceu Paraibano que se destacaram na vida pública.
Ainda sobre o Liceu escrevi e o jornal publicou matéria especial nos
seus 173 anos. A plaquete sobre o Liceu ainda não foi concluída.
A convivência na Redação de A União foi uma experiência
especial porque, apesar de jornalista, ainda não havia trabalhado
em jornal impresso. Além das matérias comuns lembro de alguns
projetos especiais a exemplo da revista sobre os 75 anos da Rádio
Tabajara publicada em 2011; que organizei com Neide Nonato um
caderno especial sobre o Hospital Edson Ramalho; um outro sobre o
Liceu Paraibano; matéria especial destacando as mulheres na Polícia
Militar e no Corpo de Bombeiros; um caderno especial sobre os 10
anos da Rádio Tabajara FM. Nesse período desses cadernos o jornal
era impresso no formato tabloide, uma iniciativa ocorrida no governo
Cássio Cunha Lima. Na gestão do superintendente Rui Leitão, na 3ª
gestão do governo Maranhão, ocorreu algo também inovador, o jornal
passou a circular à tarde. Noticiava hoje o que os demais trariam
amanhã. Vendeu bem nessa fase como único jornal vespertino.
Redigi algumas matérias na área de turismo a exemplo do
destaque para os 59 municípios turísticos paraibanos, publicada em 12
de outubro de 2009. Uma outra, pauta inclusive sugerida por mim, traçou
a rota turística da BR-230, de Cabedelo a Cajazeiras, 500 quilômetros
de extensão. Na reportagem mostrei o comércio de algumas cidades
cortadas pela rodovia, com destaque para Soledade, parada tradicional
dos viajantes para refeições.
Outra pauta que sugeri e rendeu matéria especial, capa do 2º
Caderno, edição de 15 de julho de 2012, foi Patrimônios Musicais. No
texto enfatizei a importância do maestro Severino Araújo e a Orquestra
Tabajara. Mostrei que a Paraíba e o Brasil tinham uma dívida enorme
com o pernambucano genial.
Na edição do dia 26 de julho de 2012 a capa do 2º Caderno,
assinada por mim, lembrava os 92 anos de nascimento do grande
paraibano, Celso Furtado, cidadão do mundo. Outro texto que assinei
foi A Trajetória de um historiador, pauta que criei destacando a vida

A UNIÃO 297
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
e obra do professor, escritor, historiador, acadêmico José Octávio de
Arruda Mello, um grande amigo que admiro há anos, e parceiro em
meus livros.
A ONG Uma Nota Musical que Salva me despertou interesse
pela importância do trabalho de um casal humilde do bairro Mandacaru
que literalmente livrou e até hoje livra das drogas muitas crianças e
adolescentes atraindo-os para a música. Essa foi uma reportagem que
me emocionou, pela proposta social.
Nas minhas andanças pelo interior da Paraíba, em viagens
da Secom cobrindo agenda do governador Ricardo Coutinho,
encontramos, eu e o fotógrafo Roberto Guedes, uma família que
cultivava uma centena de espécies de cactos e sucolentas. Isto em
2013. No Sítio de Pedra, em Pombal, seis irmãos faturavam à época,
seis mil reais por mês com a venda de plantas ornamentais. Eles
decidiram trocar a plantação de culturas de subsistência por mudas
originárias do México, Estados Unidos e Argentina. Por fim, produzi
mais recentemente, já como colaborador do jornal, entrevista com
a arquiteta e engenheira mineira Isabel Caminha, a autora do projeto
arquitetônico e paisagístico do Centro de Convenções Poeta Ronaldo
Cunha Lima, em João Pessoa.
Para mim foi um aprendizado e tanto ter integrado por cinco
anos a equipe de repórteres de A União, a escola de jornalismo que
chega aos seus 125 anos de existência escrevendo a história da Paraíba
e sendo uma grande janela, uma vitrine para a cultura. Pouco se fala
sobre seu parque gráfico. Alguém precisa escrever um livro sobre o
papel da Gráfica A União que em mais de um século imprimiu centenas,
talvez milhares de títulos. A União é, historicamente, uma usina cultural,
também produtora de livros de conteúdos diversos: política, economia,
educação, saúde, poesia, literatura, cinema, história, geografia, enfim,
a gráfica e o jornal são universidades do conhecimento.
Por fim, dizer aqui da satisfação de idealizar e materializar esse
livro que reúne uma centena de nomes da imprensa de nosso Estado,
gerações e gerações de profissionais apaixonados pelo jornalismo e por
essa escola de todos.

298 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Jã m arrí Nog u eira

Quer trabalhar no jornal A União?

E
scutei essa pergunta após atender a um telefonema do amigo
jornalista Linaldo Guedes. Em poucos segundos passou por minha
cabeça que eu poderia vivenciar a experiência dos meus grandes
mestres do jornalismo (maior parte deles passou pela A União).
E sempre imaginei que minha carreira necessitava de uma
passagem pelo jornal mais antigo da Paraíba (o quarto mais antigo do
Brasil). Necessitava mesmo! Quando estudante cansei de ouvir que A
União não era um jornal... era uma escola.
Eu já tinha mais de 15 anos de batente quando do telefonema
de Linaldo Guedes sobre a possibilidade de trabalhar naquela Redação.
E ter a oportunidade de lá estar era como respirar ações quânticas
de Martinho Moreira Franco, Gonzaga Rodrigues, Barretinho e tantos
outros que por lá passaram...
Voltando ao telefonema de Linaldo Guedes, claro que dei
a resposta com a velocidade de quem – no deserto – encontra um
oásis... E parti para assumir a Editoria de Cultura em um jornal onde eu
sonhava trabalhar.
O ano era 2010. Primeiramente com João Evangelista como
editor-geral e depois com Silvio Osias nessa função, pude aprender
mais sobre jornalismo e realizar um sonho dos tempos de faculdade.
Orgulho gigante de pertencer a essa história.

A UNIÃO 299
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Editar o caderno seja – quiçá – o ‘menor prazer’. O aprendizado
através das conversas intermináveis com Silvio Osias pagavam o dia.
Ainda tive a honra de assistir ao ‘show da bandinha de Moraes’...
A convivência com Júnior Damasceno, Cleane Costa, Teresa
Duarte, Russo e tantos outros que compunham a equipe da época foi
profundamente gratificante. A União foi para mim aquilo que já fora
para os grandes do jornalismo: uma escola.

300 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Marc os Ru sso

O repórter fotográfico Marcos Russo, é servidor


do Estado há 35 anos e do jornal A União há
15 anos. Sobre sua trajetória no centenário diário
Russo declarou: “é uma experiência ímpar, mais
um aprendizado. Comecei no jornal O Norte,
passei quinze anos fora de jornal e em 2003
tive a oportunidade e estou muito satisfeito em
fotografar para A União, onde inclusive ganhei o
Prêmio AETC de Fotojornalismo”. Marcos Russo
revela que em pautas do jornal percorreu a
maioria dos municípios paraibanos. Ele destaca o
gosto por fotografias na área cultural.

Ev and ro P ereira

O repórter fotográfico Evandro Pereira,


natural de Santa Rita, é funcionário do
Governo da Paraíba há 33 anos. No jornal atua
há 7 anos. “É um trabalho gratificante por ser
bastante dinâmico com resultados positivos
que nos põe praticamente todos os dias em
evidência nas manchetes do jornal. Por isso
então é gratificante trabalhar no jornal A
União”.

Ed son Mat os

E dson Vieira Matos, natural de João Pessoa,


fotógrafo desde os dez anos de idade como
amador, e profissional desde maio de 1983,
nascido em 16-04-1959, e contratado pelo
jornal A União desde 01-06-2014. Pra mim,
defino o jornal A União como uma escola de alto
nível com seus conhecimentos aprimorados na
função de fotojornalismo, onde aprendi mais
um estilo na fotografia.--

A UNIÃO 301
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Alb eri P ont es

O repórter fotográfico Alberi Pontes


atuou n’A União de 2000 a 2002.
Participou da montagem do sistema
de imagens digitais. É fotógrafo na Se-
cretaria de Comunicação Institucional
do Governo há vários anos e integra a
Assessoria de Imprensa do deputado
João Bosco Carneiro Júnior, na Assem-
bleia Legislativa da Paraíba.

Arnó b io Cost a

N atural de Guarabira-PB, o fotógrafo Arnóbio Sousa Costa, foi notícia


no Jornal A União, edição do domingo 10 de abril de 2016, capa do
caderno Almanaque, em reportagem de Josélio Carneiro. Arnóbio aprendeu
a fotografar no Rio de Janeiro, cidade onde trabalhou 17 anos na antiga TV
Tupi fundada pelo paraibano Assis Chateaubriand. Desde 1992 ele atua na
Assembleia Assembleia Legislativa e já trabalhou alguns anos no jornal A
União. Hoje, aos 75 anos de idade continua no exercício da profissão. Chegou
no Rio em 1963 aos 19 anos. Na Tupi integrou a equipe do Repórter Esso.
Aqui em João Pessoa seu primeiro emprego como fotógrafo foi no ano de
1979 no jornal Correio da Paraíba. “Quando saí do Correio da Paraíba passei
um período de dois anos no jornal A União como operador de rádio foto, no
Rio eu havia feito esse curso, no Jornal do Brasil e em seguida me contrataram
como fotógrafo”, conta Arnóbio. Também trabalhou um curto período no
jornal O Momento.

302 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
CAP Í T U LO V III

anos
2011/2017
W alt er G alv ã o Rod rig o Cald as
Beth Torres Dand ara Sou z a Cost a
Lid iane G onç alv es
César Nit ã o Estagiários
Raf aela G am b arra Dani Fechine
Alex and re Mac ed o Ilu sk a Cav alc ant e
F elip e G est eira Ad riz z ia Silv a
Ric c o F arias Anéz ia Nu nes
Denise V ilar Leonard o And rad e
Joana B elarm ino Raq u el Alm eid a
Carlos P ereira Lu c as Cam p os
W alt er G alv ã o

O p asso d ig it al

O lugar e o tempo de onde escrevo mais um capítulo deste


livro sobre A União e as implicações históricas, psicossociais,
econômicas e culturais da trajetória do jornal na vida paraibana
constituem um campo conflagrado.
Refiro-me ao espaço-tempo do jornalismo impresso enquanto
fonte de informações e notícias, enquanto caldo de cultura para a formação
da consciência crítica, enquanto meio de acesso ao entretenimento e à
cotidianidade que faz a história enquanto a história acontece.
Nele se encontram as tensões resultantes das transformações
tecnológicas que impulsionam o jornalismo e suas práticas na
perspectiva das novas formas de consumo características à geração
dos millennials, e também a crescente pressão na conjuntura atual da
obsolescência de práticas culturais e meios materiais para a realização
da comunicação de massa e do jornalismo que se fizeram centralidade
na definição do que seria a opinião pública no século XX das grandes
transformações culturais, científicas e tecnológicas.
As tensões por mudanças originárias dos ciclos mercadológicos
ativados por renovações e inovações técnicas do capitalismo com
suas imposições para fundar, expandir e fidelizar mercados atingiram
frontalmente o jornalismo paraibano.
Elas transformaram em escombros, não mais que meras referências
simbólicas para uma geração nostálgica, nada menos que três das mais
importantes publicações jornalísticas nordestinas impressas diárias.

A UNIÃO 305
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Publicações que em seus contextos específicos referenciaram e
legitimaram a presença de A União e sua especificidade identitária de
publicação oficial: os jornais O Norte, Diário da Borborema e Jornal da
Paraíba, este último mantido em versão online.
O mercado em agonia para o jornalismo impresso viu morrer
nos últimos 10 anos outras publicações no país, a exemplo de A Gazeta
Mercantil (SP), Jornal do Brasil (RJ), O Estado do Paraná, Jornal da Tarde
(SP), Diário do Povo (Campinas, SP), Diário do Comércio (SP), O Sul
(RS), Brasil Econômico (SP), Diário de Natal (RN), Jornal do Commércio
(RJ), Gazeta do Oeste (Mossoró, RN), A Região (Itabuna, BA), Correio
de Uberlândia (MG), entre outros jornais, alguns com mais de 100
anos de existência. Os mais novos circulavam no mínimo há 20 anos.
A explicação para o fenômeno do fechamento dos jornais é
simples e óbvia: mudança de hábitos da comunidade leitora provocada
pela massificação da Internet.
As implicações relativas às novas tecnologias, ao contrário,
são de grande complexidade, estão relacionadas à reengenharia
dos padrões de tempo e do seu uso pelas pessoas conectadas, à
disponibilidade de novas tecnologias, a diversidade dos dispositivos, a
telefonia móvel, ao perfil demográfico e níveis de renda da população,
têm também a ver com o dinamismo dos deslocamentos de capital,
mas principalmente com a superação na produção de um noticiário
que realmente desperte interesse, que seja capaz de se converter em
mercadoria, das etapas industriais da produção dos meios impressos.
As publicações que resistem no mundo inteiro, com capacidade
de investimento em tecnologia e logística específica para o meio físico,
mas em detrimento dos quadros técnicos especializados, a exemplo
de diários como Folha de S. Paulo e The New York Times, tiveram as
receitas fortalecidas pelas vendas também de serviços online.
A receita das assinaturas digitais do New York Times, US$ 83
milhões, no segundo trimestre de 2017, superou pela primeira vez a
receita publicitária do jornal impresso, de US$ 77 milhões.
Uma lógica, essa da sustentabilidade dos jornais impressos,
que obrigatoriamente indagaria sobre o porquê da continuidade da
edição física de A União.
Da discussão sobre se o Governo do Estado deveria ou não
manter a operação da edição física de A União, que de terça-feira aos

306 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
domingos imprime o jornal e distribui em bancas e aos assinantes,
participei mais diretamente quando do meu regresso ao seu quadro
de jornalistas em 2014, novamente na função de editor-geral, cargo
que eu havia exercido, entre outras funções, nos anos 1980, e no cargo
de diretor técnico a partir do ano seguinte.
O Governo, no entanto, manteve, até o segundo semestre de
2017, o posicionamento mais acertado aos interesses da população
através de uma política pública de comunicação social, o de preservar
a versão física do jornal que abriga em seu acervo um manancial de
histórias que são um monumento à memória nacional.
E fez mais através da direção de A União Superintendência
de Imprensa e Editora: criou as condições a que fossem implantados
um portal para acolher a empresa e o conjunto dos seus principais
produtos e serviços, o jornal, o Diário Oficial, a gráfica e a editora. A
mim me coube planejar e coordenar o projeto que resultou no portal
já em atividade. Foi o primeiro passo para uma vivência dinâmica
interativa do tradicional jornal no universo virtual.
Os defensores do fim do impresso, e migração definitiva para o
universo virtual, argumentam sobre o caráter econômico-financeiro
deficitário do jornal, que não consegue conquistar através de venda avulsa,
assinantes e anúncios uma receita capaz de assegurar seu funcionamento.
Nas oportunidades que tive, sempre argumentei em defesa da
permanência do impresso por razões que passo a explanar.
O jornal não é deficitário. Hoje, ele é um dos produtos da
superavitária A União Superintendência de Imprensa e Editora, órgão
da administração indireta do Estado, com faturamento mensal capaz
de absorver os gastos com a operação do jornal impresso e do Diário
Oficial sem gerar prejuízo ao erário.
A permanência do impresso tem objetivo cultural preservacionista
quanto à natureza referencial de uma atividade, a leitura em papel, ainda
expressiva na definição da mentalidade contemporânea.
Na perspectiva de uma política pública de comunicação social,
ao Estado cumpre expandir e não comprimir as opções de leitura
disponíveis aos cidadãos e cidadãs.
O jornal impresso permanece com seu potencial de laboratório
para as práticas técnicas, seja através de convênios com instituições
de ensino para jornadas de EduComunicação, ou no acolhimento de

A UNIÃO 307
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
projetos comunitários para a formação de comunicadores populares.
No trânsito dos padrões múltiplos de temporalidades que
se entrecruzam na atual conjuntura da globalização pós-industrial,
a manutenção do jornal impresso realiza e atende uma demanda
legítima cognitiva da população com seus recortes de geração adeptos
desse tipo de suporte para leitura.
Há ainda a perspectiva da preservação de documentação
museológica. A manutenção da edição impressa garantirá ao jornal a
organicidade do seu acervo material, em fase de digitalização, edições
histórias já se encontram disponíveis ao público no portal eletrônico,
acrescentando-se a isso a preservação também de todo o ciclo tecnológico.
Foi nessa mesma perspectiva que participei da implantação,
como coordenador e primeiro editor, no ano de 2016, da edição de A
União em Braille, um projeto experimental em parceria com a Funad
- Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência,
uma publicação que enfrenta os mesmos desafios, principalmente a
possibilidade de extinção das publicações táteis devido às soluções
informatizadas para a comunicação das pessoas cegas, dos enfrentados
pelo jornal impresso A União.
Manter ou não a edição física de A União será sempre uma
decisão política. Mas o Estado merece manter preservado, nas formas
eletrônica e física, o jornal que simboliza a modernidade e a evolução
na pós-modernidade da comunicação social de massa e do jornalismo
como patrimônio social a serviço da transparência pública e do controle
social inteligente e democrático.

308 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Beth Torres

O f asc í nio p ela A U niã o

O Jornal A União sempre me despertou muito fascínio. Ainda


na faculdade era encantada pelo periódico centenário, cuja
história se confunde com a da Paraíba. Colecionava os seus
suplementos, inclusive, ainda tenho alguns comigo até hoje. Também
foi fonte de pesquisas, entre elas de um projeto do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica (Pibic) que
participei e que avaliou como a imprensa paraibana estava tratando
a questão da seca nordestina.
Apaixonada por impresso, lia e relia, textos e artigos, pois na A
União estavam ou passaram todos aqueles jornalistas que admirava e
que queria seguir os passos. Sempre pensava comigo: quando ‘crescer’
quero escrever assim. Me encantava com cada texto, com a forma de
começar as matérias e com os temas que nem sempre estão presentes
nos jornais comerciais. Gosto de histórias bem contadas e elas sempre
estavam presentes nas páginas do jornal.
Em 2011, no primeiro Governo de Ricardo Coutinho, recebi o
convite do então secretário de Comunicação Nonato Bandeira de me
juntar a Ramalho Leite, Bia Fernandes e Arthur Teixeira nesse novo
projeto de A União. Bateu um frio na barriga de editar um jornal ao
lado de pessoas que admirava e de tocar o impresso quando todos
falavam do seu fim.
Aceitei o desafio. Tivemos exatos 15 dias para criar o novo
projeto gráfico e montar uma equipe. Foi uma fusão da velha guarda
com a nova geração, que resultou em um jornal de muita qualidade

A UNIÃO 309
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
e que apesar de governamental dava espaço para todos, até para os
adversários. Isso causou estranhamento e críticas, mas o que mais me
animava era que as pessoas estavam lendo e falando do jornal.
Era cansativo, desgastante, mas acordava todos os dias
muito animada para ir trabalhar, para colocar o jornal na rua e levar
à população um bem precioso que é a informação. Foram noites e
noites, movidas a muito café, boas conversas e muitas risadas, para
que o centenário chegasse à casa das pessoas.
Só levei alegria e aprendizado da minha passagem pela A
União. Fiz amigos, convivi com meus ídolos dentro do jornalismo, tive
a oportunidade de conhecer de perto todo o processo para confecção
de um jornal, desde a pauta, diagramação, passando pela impressão e
a logística de distribuição.
A ‘Velha Senhora’ encanta a todos que por lá passam. É
realmente um jornal escola, não só para os que estão se formando,
mas para todos os jornalistas que tiveram a oportunidade de fazer
parte dos seus quadros. A União marcou minha trajetória, me
transformou e me tornou uma profissional mais sensível para ouvir e
entender o outro. Compreendi que não somos perfeitos, que erramos
todos os dias tentando fazer o melhor e que um jornal é feito pela
união de pessoas.
Me sinto honrada em fazer parte da história de A União
e de contar a todo mundo como foi a dura e doce tarefa de editar
esse jornal centenário. Fascinação é a palavra que resume o meu
sentimento pela ‘Velha Senhora’ que vem se reinventando ano após
ano e que continua viva!

310 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Lid iane G onç alv es

Fazendo parte da história


d o j ornalism o p araib ano

E
ra 9 de abril de 2013. Eu já estava em A União há mais de
dois anos. Já havia me formado há quase 10 anos e há 12 já
trabalhava na imprensa. Mas, até hoje aquele 9 de abril me
marca profundamente. Fui pautada por Conceição Coutinho para
fazer a matéria sobre o encontro do corpo de Fernanda Ellen. Há
três meses, desde que haviam surgido os apelos nas redes sociais, eu
fazia matérias sobre o seu desaparecimento.
Acompanhada do fotógrafo Evandro Pereira cheguei ao local. Até
hoje sinto aquele cheiro de morte, até hoje lembro o desespero e a tristeza
da família, vizinhos e amigos daquela menina de 11 anos que foi morta
por um vizinho, para ter o celular trocado por quatro pedras de crack.
Indiscutivelmente A União proporcionou a matéria mais
emocionante da minha vida. Tive a liberdade de escrever o que
quisesse, como quisesse, do tamanho que fosse necessário. Tive
que ter a maturidade para balancear a técnica da jornalista e a
emoção do ser humano. E na edição do dia seguinte aquela tragédia
estava estampada na capa e em outras duas páginas do jornal.
Foi esta mesma A União que publicou a matéria “Acidentes
de trabalho ameaçam saúde de crianças e adolescentes”, que ficou
em terceiro lugar no II Prêmio Criança.PB, em 2012. A matéria
pontuava as péssimas condições de um trabalho que nem deveria
existir: o trabalho infantil.

A UNIÃO 311
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Todo estudante de jornalismo (pelo menos era assim no meu
tempo) sonhava em um dia ter a oportunidade de trabalhar em A
União. O jornal sempre foi considerado uma escola, uma grande
faculdade. Eu já havia trabalhado por quatro anos em um grande
jornal e há dois chefiava a equipe de comunicação de uma secretaria
municipal. Em janeiro de 2011 recebi o convite de Beth Torres,
diretora técnica e Editora do jornal, para fazer parte da equipe.
Dois dias depois eu estava lá, conversando com Neide Donato,
sobre como seria esse trabalho. E por quase um mês trabalhamos
para que o jornal retomasse de cara nova, voltando ao formato
standard, com um novo projeto gráfico. A União completaria 118
anos, mas voltaria renovada.
No dia que de fato comecei a trabalhar em A União foi uma
alegria enorme pela oportunidade e também veio um turbilhão de
boas lembranças. Quando meu pai – Mildo Nascimento - era chefe de
Gabinete de Giovanni Meireles, me levou para conhecer a Redação.
Eu era uma adolescente. E foi nessa oportunidade que conheci
Teresa Duarte, com quem mais tarde dividiria a Redação e passaria a
ser amiga. Reencontrei também Cleane Costa, a primeira pessoa que
entrevistei na vida. Incrivelmente aquelas pessoas cujos textos eu
admirava, que eram amigas do meu pai, se tornaram minhas amigas.
A Redação “Jornalista Luiz Augusto Crispim”, local onde fiz
inúmeros textos durante os três anos de trabalho é uma homenagem
a um homem que sempre admirei a inteligência e por isso, para mim, o
fato de estar ali, exercendo a profissão que escolhi, era motivo de honra.
No dia 2 de fevereiro de 2011 oficialmente A União estava
de volta. E eu estava ali, presente nesse momento histórico, fazendo
uma das matérias sobre o acontecimento.

As p au t as
Sempre gostei de sugerir pautas. E Conceição Coutinho
sempre gostou de aceitá-las e repassá-las para mim. Às vezes minhas
ideias davam um trabalho enorme. E uma dessas pautas foi sobre a fé.
Conversei com religiosos, ateus e agnósticos. Passei a compreender
mais sobre a fé em Deus e sobre o porquê que algumas pessoas não
sentem necessidade dessa referência. Passei a respeitar mais quem
pensa diferente de mim neste aspecto. E a oportunidade de aprender
todos os dias é um dos motivos pelos quais eu amo o jornalismo.

312 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
As minhas melhores pautas sempre foram acompanhadas
pelo fotógrafo Evandro Pereira. Somos de gerações bem diferentes,
pensamos diferente, mas sempre houve sintonia e respeito pelo
trabalho e pela história de vida do outro. A parceria era para que a
foto sempre casasse com o texto, da pauta mais importante àquela
corriqueira.

Nov as ex p eriê nc ias


A União realmente foi uma segunda faculdade. Foi lá que
tive a oportunidade de escrever sobre política. Que desafio foi
para mim! Acostumada a escrever sobre o cotidiano, sobre moda,
sobre comportamento, recebi a missão de tirar férias do repórter de
política. Desistir diante do desafio? Nunca pensei, mas o incentivo
dado por Beth Torres e por Renata Ferreira só me fortalecia diante
da novidade.
Mas o maior desafio mesmo era quando tinha que substituir
Conceição Coutinho na pauta. Era por um ou dois dias no máximo,
mas como substituir a jornalista mais dinâmica e mais querida de
todas as Redações do Estado? Todas as vezes que recebia esse desafio
eu me enchia de coragem e ia dar o melhor de mim.

Redação democrática
Fiquei em A União de janeiro de 2011 a dezembro de 2013. E
durante todo esse tempo, a Redação foi muito democrática. Homens
e mulheres de várias gerações trabalham lá. Eram cabeças diferentes
e opiniões divergentes, mas todos sempre se comportavam como
uma grande família. Aprendi muito sobre jornalismo nesse período,
mas também aprendi muito sobre a vida e fiz muitos amigos.
Convivi com Hilton Gouveia, cujos textos recontando a
história do Estado sempre foram leitura certa para mim. Mas também
convivi com André Maia, o estagiário que se tornaria meu amigo e
um grande jornalista. Juneldo Moraes, Evandro Pereira, José Alves,
Teresa Duarte, Cleane Costa, William Costa, Neide Donato, Conceição
Coutinho, Renata Ferreira, Beth Torres, Geraldo Varela são alguns dos
profissionais com quem convivi.

A UNIÃO 313
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
César Nit ã o

P roj et o Sert ã o: U m d if erenc ial d e su c esso no


sert ã o p araib ano

E m meados de junho de 2011, após sair do jornal “Correio da


Paraíba”, onde trabalhei na página “Vale do Piancó”, fui convidado
por Ramalho Leite, superintendente do jornal “A UNIÃO”, para
fazer parte de um projeto que visava a expansão da circulação do
jornal no interior do Estado da Paraíba.
Diante da ideia, marcamos uma reunião com a editora chefe
da época, Beth Torres, e, logo após essa conversa, ficou decidida a
criação da página de coluna social “SERTÃO”, que teve o projeto de
designer gráfico desenvolvido por Fernando Maradona. Ficou decidido
que a página iria circular nas quartas-feiras e noticiaria os fatos e os
acontecimentos que ocorreriam no sertão paraibano.
Com o projeto em execução, pudemos contar com o apoio
decisivo de grandes nomes do Estado, tal como Nonato Bandeira, até
então secretário de Comunicação da Paraíba.
Dado o pontapé inicial, traçamos diversas metas a fim de
atender todos os interesses e as necessidades do cenário jornalístico
paraibano. Assim, com muita dedicação, conseguimos atingir todas as
metas estabelecidas, fazendo com que nos tornássemos a diferença na
imprensa estadual.
Diferentemente dos outros jornais circulantes, quebramos
vários tabus que, até então, não eram explorados. Foi a primeira vez

314 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
que uma página de jornal, bancada pelo governo, passou a exibir
anúncios comerciais em sua estrutura, por exemplo. Foram feitos como
esse que fizeram com que estivéssemos de igual pra igual na guerra
pela preferência dos leitores. Guerra essa que contava com grandes
e tradicionais meios de comunicação como o “Jornal da Paraíba” e o
“Correio da Paraíba”.
Em consequência do trabalho competente e honesto, logo
chegaram os bons frutos desse esforço árduo. Com a alta aceitação
na sociedade e com o sucesso de vendas, chegamos a realizar
uma tiragem de 1.400 exemplares, os quais contavam com 200
assinaturas apenas no Sertão, além das vendas avulsas realizadas.
O projeto esteve em execução, com sucesso, durante um ano e
meio. Com o término, fui convidado por Gutemberg Cardoso para
trabalhar no “Jornal da Paraíba” com a página “ITAPORANGA”,
inspirada, inicialmente, nos moldes da página “SERTÃO”.
Diversos foram os desafios que passamos nessa jornada.
Tivemos que criar páginas especiais para o aniversário de diversas
cidades, cobrir eventos de importantes empreendimentos e, além
disso, fizemos a cobertura de acontecimentos históricos no estado,
os quais exigiram total zelo e compromisso de nossos esforços.
Fruto de um trabalho realizado com muita dedicação e união,
a página, com certeza, deixou um grande legado no cenário jornalístico
paraibano. Com ele, nossa equipe teve a oportunidade de ver o nome
“A UNIÃO” disseminado de João Pessoa a Cajazeiras, abrangendo
todas as partes do estado, e, acima de tudo, de ver nossas notícias, de
cunho político e social, alcançando os leitores de forma expressiva.
Por fim, posso concluir dizendo que foi muito gratificante
trabalhar nesse projeto da “A UNIÃO”. Nele tive a oportunidade de
me desenvolver profissionalmente, adquirindo conhecimentos e
contatos que foram extremamente importantes na minha vida pessoal
e profissional. Sou eternamente agradecido por todas as pessoas que
convivi, em especial Ramalho Leite, Beth Torres e Nonato Bandeira.
Tenho orgulho de dizer que trabalhei com profissionais extremamente
competentes que compõem essa grande escola chamada “A UNIÃO”.

A UNIÃO 315
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Raf aela G am b arra

Os p rim eiros p assos na g rand e esc ola

M inha experiência n’A União começou, curiosamente, no dia 15


de outubro de 2012 - quando é celebrado o dia do professor.
Acredito que clichês, por mais pavorosos que pareçam,
existem por alguma razão, e a razão d’A União ser sempre lembrada
como a escola do Jornalismo paraibano é porque ela, de fato, faz jus
a esse título. Para mim, que estava começando minha caminhada no
jornalismo, foi um verdadeiro presente ter a oportunidade de trabalhar
com profissionais tão éticos e que tinham tanto a me oferecer.
Meu primeiro contato com um profissional da Redação se deu
na semana anterior ao meu início. Cheguei à Redação pela manhã, a
convite de William Costa, então editor do jornal. À época, eu estava
concluindo o curso de Jornalismo e louca para ter a experiência de
trabalhar em uma Redação. Durante o curso, havia estagiado em alguns
locais, mas nunca em uma Redação - essencialmente, em assessorias.
O contato com William foi revelador. Nele, encontrei um chefe que
era, sobretudo, humano. Conversamos sobre o futuro do jornalismo,
a importância de A União, os anseios - e medos - de um repórter que
estava iniciando seu percurso naquele mundo em que a crise, já ali,
permeava todos os lados da profissão. Lembro-me que saí da Redação
após a conversa com William com a sensação de estar no lugar certo,
na hora certa, com os profissionais certos: seria ali que eu iria me jogar,
de corpo e alma, à prática da profissão.

316 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Durante os primeiros dias da minha jornada, pude contar,
sobretudo, com o apoio da então chefe de Reportagem do jornal:
Conceição Coutinho, a quem devo os meus primeiros passos. Tal qual
William, ela também se mostrou uma profissional extremamente
humana, consciente da importância da ética e do papel do jornalismo
mas, também, do jornalista e do personagem como ser humano.
A “Ceiça”, sempre vou ter gratidão. Ela que me guiou nas primeiras
matérias e, em pouco tempo depois, passou a confiar a mim a produção
de especiais, sempre dando a motivação e entusiasmos necessários,
sem jamais deixar de fazer críticas construtivas quando pertinentes.
Foi n’A União também que passei pelas primeiras experiências
inusitadas na profissão. Como o dia em que entrevistava um senhor,
na comunidade do Timbó, após um longo período de chuvas, e
fui surpreendida pela picada de uma abelha ao passar uma mão
na cabeça, estando a outra segurando o gravador, exatamente no
momento da entrevista. Com um “ai” caloroso, recebi um saco de
gelo do entrevistado, coloquei no lugar da picada e dei continuidade
à entrevista, como se nada tivesse acontecido, até chegar à Redação
e ver meu dedo cada vez mais inchado. Mas produzi a matéria. Ou
como no dia em que estava produzindo uma reportagem especial
sobre as quadrilhas juninas de João Pessoa e, tendo passado mal o dia
inteiro, acabei desmaiando no momento em que o fotógrafo começou
a disparar flashes para realizar as fotos que iriam ilustrar a matéria.
Eu estava doente - e sabia, mas era um compromisso que eu tinha de
produzir aquela reportagem. Hoje, vejo o exagero da entrega. Na época,
era apenas uma jovem repórter contagiada pelo amor à reportagem e,
também, por uma equipe fantástica que integrava o jornal à época.
Tive a oportunidade de conhecer e contar histórias incríveis
enquanto estava no jornal. Das matérias do dia a dia, de quem estava
enfrentando o trânsito ou os problemas cotidianos, às histórias de
partir o coração, como as de crianças que haviam sido violentadas
pelos próprios pais. N’A União, aprendi mais que ser jornalista, aprendi
a ser mais humana. Saí do quadro d’A União no dia 31 de dezembro de
2013. Recebi a notícia no primeiro dia de 2014, quando os profissionais
comissionados não tiveram seus contratos renovados. Mais uma vez,
uma conversa com o sempre sensível editor William Costa me deram a
confiança de que, para o mundo lá fora, embora ele fosse assustador,
eu estava bem mais preparada após aquele período no jornal. A União
foi, para mim, afinal, minha mãe no jornalismo. E carinho de mãe a
gente nunca esquece.

A UNIÃO 317
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Alex and re Mac ed o - Editor de Cultura

Agregando conhecimento, checando fatos e


d issem inand o inf orm aç õ es

O centenário jornal A União é, acima de tudo, o registro da história


viva, narrada cotidianamente e eternizada nas tintas de um dos
diários mais antigos do Brasil ainda em funcionamento. Fazer
parte da equipe de um equipamento desta natureza, por si só, já se
constitui como um grande marco na carreira de qualquer jornalista,
entretanto, o dia a dia da Redação, a inquietude das pautas urgentes,
a dinâmica da vida moderna e a instantaneidade das novas mídias
apimentam ainda mais a rotina do jornalista.
Não exito em comparar a minha experiência no jornal A União com a
própria graduação em Jornalismo, concluída na UFPB, por serem instituições
que me proporcionaram uma visão mais aguçada dos fatos, uma amplitude
na concepção das idéias, a construção de novas opiniões e a mudança de
algumas posturas que foram sendo reavaliadas ao longo dos anos.
Foi na Redação do jornal A União que tive a oportunidade de
conviver com grandes profissionais da imprensa paraibana e que tanto
me ensinaram sobre a arte de narrar os acontecimentos marcantes dos
nossos dias de forma ética e coerente com a realidade, e no meu caso,
em especial, realizar o registro das manifestações culturais e a trajetória
dos nossos artistas, numa missão difícil e ao mesmo tempo desafiadora,
que é editar o conceituado caderno de Cultura, objeto de desejo diário
dos amantes das artes que é acompanhado pelo olhar atento e clínico

318 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
dos intelectuais do nosso Estado e apreciado pelos leitores do periódico
que recentemente se transformou em Patrimônio Cultural da Paraíba.
Após o encantamento inicial com a grandeza e magnitude
daquele espaço de trabalho e principalmente, com o conteúdo produzido
naquela fábrica de conhecimento instalada no Bairro das Indústrias, fui
adentrando as artérias do complexo de comunicação e descobrindo a
magia e a riqueza material e imaterial de um organismo composto por
tantas mentes pensantes, corações pulsantes e pautas excitantes.
A memória dessa engrenagem continua viva e bem cuidada pelas
mãos de Ana Flôr e Luzia Lima, pessoas sensíveis e comprometidas com
a nossa história e que cuidam do arquivo da entidade com tanto esmero
e que merecem registro neste livro. Foi naquele ambiente saudosista
do arquivo onde absorvi muito sobre o cotidiano da Paraíba no século
XX, embrenhado naquele cheiro de jornal antigo e com uma grande
satisfação por estar diante talvez de um dos espaços que melhor guarda
a nossa identidade e os fatos que marcaram a vida e a política da Paraíba.
Durante a minha passagem em A União, fui testemunha de uma
gestão bem-sucedida da jornalista Albiege Fernandes, a primeira mulher
a chegar ao cargo de superintendente da instituição, num momento
crucial para a afirmação das mulheres como protagonistas no mercado
de trabalho, assim como em outras funções da vida moderna.
Também participei desta nova fase do jornalismo com o advento
das novas mídias, quando se exige uma apuração mais eficaz dos fatos
nesta avalanche de informações para o desempenho do bom jornalismo,
mas ao mesmo tempo, pude apreciar as velhas máquinas de linotipo
que embelezam os jardins de A União, conhecer alguns personagens
que manusearam aquelas máquinas que outrora produziam o nosso
periódico e com o passar dos anos, se transformaram em obras de arte
no olhar das pessoas mais sensíveis. O ilustrador Tônio e o chargista
Domingos Sávio também fazem parte deste patrimônio imaterial, assim
como tantos outros.
Portanto, o jornal A União foi a maior escola de Jornalismo que
frequentei, onde pude aprender muito com os mais antigos da casa e
compartilhar um pouco deste aprendizado aos mais novos que estavam
chegando e que pude acolher e tentar ajudá-los durante os primeiros
passos de uma longa e gratificante jornada. Finalizo com uma citação
de Gabriel Garcia Marques, que procuro implementar no meu trabalho
e na minha vida todos os dias. “A ética deve acompanhar sempre o
jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro”.

A UNIÃO 319
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
F elip e G est eira - Editor Geral

A U niã o: p ó s- g rad u aç ã o em c u rso

E ntrei em A União pela porta do concurso público. Foi logo de


cara a realização de um sonho, pois ser aproveitado no jornal
era o cenário ideal para mim como servidor do Estado recém-
empossado. Vinha de quatro anos em que fui feliz no saudoso Jornal
da Paraíba, e ainda com mais algumas experiências fora do impresso,
em comunicação para gestão pública e coordenação de Jornalismo em
campanha política. Neste diário encontrei laços, descobri afetos, vivi e
vivo um novo momento em minha carreira de jornalista.
Logo no primeiro dia de trabalho fui recebido por Gilson Renato,
um dos diretores da Superintendência de Imprensa e Editora. Figura
ímpar na comunicação do Estado. Meu primeiro contato com ele havia
sido na Prefeitura de João Pessoa. Era o mestre de cerimônias com as
sacadas mais geniais que a gestão da capital já teve, até hoje. Pessoa
que reverbera sua alma de artista, tem visão de comunicador e é dono
de um texto literário primoroso. Curiosamente, um ano depois da minha
chegada em A União, descobri, durante uma edição do Festival de Artes
de Areia, que somos primos. Mas a história é longa, fica para outra pauta.
Gilson me levou para conhecer a chefe de Reportagem,
Conceição Coutinho. Um amor de pessoa, minha primeira professora
em A União, sempre atenta às fragilidades de cada um e disposta a
apontar caminhos por onde poderíamos melhorar como profissionais.
Me dispus a servir como fosse necessário, fotografando ou escrevendo.
Queria na verdade fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Ceiça, como

320 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
a chamamos carinhosamente, me disse naquele encontro que a
necessidade maior era para o texto.
A rotina como repórter está entre as melhores coisas no
Jornalismo. Contar histórias é fascinante. Conhecer pessoas, revelar
seus dramas, e ajudar um pouco, da forma que a profissão nos permite.
Aprimorar minha experiência na reportagem em texto foi um desafio
que me motivava a cada pauta, e percebia como eu aprendia um pouco
mais com todos aqueles professores com quem convivia, dia após dia.
Cresci um pouco como profissional a cada saída. Aprendi com
meus entrevistados. Para alguns eu disfarçava minha condição de fã,
como o sociólogo José de Souza Martins, o cineasta Vladimir Carvalho,
o repórter fotográfico Evandro Teixeira e ainda, por mais que conviva
com ele não deixo de ser fã, meu orientador na academia, Claudio
Cardoso de Paiva.
Em outras entrevistas, a condição era diferente. Imparcialidade
por dentro e por fora. Somente em uma titubeei, com Cristovam
Buarque. Até aquele momento o admirava como político que levantava
a Educação como prioridade. Mesmo assim fui crítico, e questionei o
porquê de o governo federal ter investido tanto pagando mensalidades
nas instituições de ensino superior privadas, e esse boom ter
acontecido justamente em sua gestão como ministro. Ele respondeu,
mas não convenceu. Ao final da entrevista, me perguntaram se não
queria tirar uma foto com ele. Pensei que sim, e em um centésimo de
segundo me veio a possibilidade de um dia me arrepender por aquela
foto. Na dúvida, respondi que não. Anos depois o senador se revelou
um golpista, e eu mantenho minha consciência tranquila por não tietar
políticos.
Outras entrevistas foram muito interessantes. Com Bernardo
Cabral, consegui engatar três perguntas sobre sua vida pessoal,
englobando o apelido “Boto de Tucuxi” e seu caso com Zélia Cardoso
de Mello. A pauta fora sugerida pelo então editor-geral William Costa,
e Clóvis Roberto, adjunto à época, me deu a ideia de cutucar a história
com Zélia. Alto risco, pois a entrevista poderia morrer ali. Por pouco
não foi assim. Das dez perguntas que fiz, abri as questões pessoais na
sexta, e quando vi que a antipatia do meu entrevistado beirava o limite,
retomei as questões sobre sua participação como ministro de Collor.
A parte mais pitoresca, no entanto, aconteceu antes. A
entrevista havia sido marcada no prédio do Ministério Público da
Paraíba. Cheguei lá na hora prevista, e Bernardo Cabral já estava com
uma comitiva de políticos na sala do procurador-geral de Justiça.
Fiquei na antessala, tomando um chá de cadeira, até que o historiador

A UNIÃO 321
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
e professor José Octávio de Arruda Mello sai da sala, até hoje não sei o
motivo, e me pergunta por que eu não havia entrado ainda. Respondi
que fora impedido. Ele me pega pelo braço, olha para a secretária
e diz: “Minha filha, ele é de A União”, e assim entramos. Ainda de
braços dados com José Octávio, me deparo com a sala cheia. Estavam
lá o anfitrião, alguns deputados estaduais, pelo menos dois federais,
outros políticos, e meu entrevistado, Bernardo Cabral. Sem dar tempo
para que ninguém entendesse a situação, José Octávio usou seu outro
braço para puxar Cabral, e disse a todos, em voz alta: “Senhores, com
licença, mas ele precisa conceder uma entrevista para A União”, e nos
conduziu, um em cada lado, até uma mesa, dentro da sala, mas afastada
dos sofás, onde estava a comitiva. Eu até achei graça da situação, mas
não me atrevi a rir. A partir daquele dia percebi a dimensão de fazer
parte do jornal A União.

O rep ó rt er a ser seg u id o


Um ponto que muito me preocupava no meu início de carreira
como servidor público efetivo era o cuidado em não me acomodar.
Logo nos primeiros dias encontrei uma figura para me espelhar. Eu
trabalhava no período da manhã, chegava às 7h45 e ele já estava lá.
Sozinho, com sua pauta. Certa vez cheguei antes dele e encontrei uma
Redação estranhamente vazia. Apesar de ser muito introspectivo, sua
presença preenche aquele espaço com uma vivacidade incomum. Me
senti perdido na sala escura e abafada após uma noite trancada. Às
7h30 ele chega, como quem cumpre um ritual. Carregava algumas
edições do jornal do dia debaixo do braço, distribuiu nas mesas dos
editores, ligou o ar-condicionado - me salvando do calor - e sentou-se
para o início de mais uma jornada. Há mais de 30 anos no mercado,
Guilherme Cabral detém larga produção no jornalismo cultural e
trabalha com a mesma vibração de um repórter recém-formado.

A orig em c om o c olu nist a


Na antiga Redação, por um determinado período eu me sentava
de costas para a porta da editoria-geral, onde ficavam, nessa época,
William Costa e Clóvis Roberto. A porta estava sempre aberta, como
permaneceu nos tempos de Walter Galvão, e permanece até hoje.
Certo dia, atolado com duas pautas especiais, a um dia do deadline
para a entrega de ambas, William começa a conversar com outras duas
pessoas, ainda na sua sala, e saem de lá, os três, dando continuidade à
conversa. O assunto era sobre o desligamento de um dos colunistas de
Cultura, que escrevia sobre mídias. Havia a necessidade de preencher

322 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
o espaço. William tocou meu ombro e perguntou: “Você não quer?”.
Na hora fiquei nervoso, não sabia o que dizer. Negar poderia fechar
uma porta. A resposta óbvia era sim, claro! Afinal, quem não gostaria
de entrar para o time dos imortais de A União, que abriga colunistas
como Hildeberto Barbosa Filho e Gonzaga Rodrigues? Eu respondi
que não era colunista, não sabia se estava preparado. Ele, como um
pai, mais que professor, me disse: “Se eu pedir que cada pessoa nesta
sala escreva sobre um mesmo tema, nenhum dos textos será igual.
Você vai escrever seu ponto de vista sobre algum fato, e será só seu”. A
partir dali virei colunista. Cheguei a produzir três colunas por semana,
em Cultura, Esportes e Política. Hoje escrevo somente em Política, e
agradeço a William pelo pontapé inicial.

P rog ressã o na c arreira e nos est u d os


No início fui repórter de Cidades. Sofria um pouco com a falta
de experiência, é uma área bem específica, apesar de sua amplitude,
e por muitos considerada como ‘geral’. Ceiça estava sempre lá, com
a mão estendida para me ajudar. Depois fui passando por outras
editorias, sempre atendendo à demanda do jornal. Fiquei um tempo
com as pautas, de fim de semana, onde me sentia mais à vontade,
e ainda passei pelas entrevistas pingue-pongue, período de muito
aprendizado.
Até que fui chamado para a última editoria por onde passei como
repórter: Política. No meio jornalístico é uma editoria erroneamente
vista com certo status, talvez porque seus repórteres circulam no
epicentro do poder. Encarei com o mesmo compromisso que teria em
qualquer outra editoria, sem a preocupação de me contaminar.
Na primeira semana cobrindo uma sessão na Assembleia
Legislativa da Paraíba, um fato particularmente curioso chamou minha
atenção. O deputado Raniery Paulino me abordou perguntando se eu
ainda estava no Jornal da Paraíba. Respondi que estava em A União, e
de pronto ele rebateu: “Foi promovido!”.
Em A União cresci como profissional de comunicação e como
pesquisador. Tive espaço para cursar uma especialização em Fotografia,
sem atrapalhar a rotina no jornal, e ainda publicar alguns textos referentes
aos meus estudos. Também durante a minha estada em A União ingressei
no mestrado em Computação, Comunicação e Artes, na UFPB. Mas tão
instigantes quanto as aulas no ambiente acadêmico eram as lições que eu
recebia na Redação.
Dos professores que A União me presenteou, alguns já
citados, passando por colegas repórteres, editores, Renata Ferreira,

A UNIÃO 323
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
em especial, editora-geral adjunta sempre tão paciente e atenciosa,
teve um que mais perturbei, e ele por sua vez, sempre dedicava parte
do seu tempo para me ensinar um pouco. O período em que Walter
Galvão foi editor-geral foi extremamente proveitoso para mim.
Todos os dias eu entrava em sua sala. Na maioria das vezes era
para atender um chamado dele, e estando lá eu aproveitava a ida para
tirar dúvidas e conversar a respeito do nosso fazer jornalístico. Eram
aulas diárias, que só não se estendiam aos ambientes fora da Redação.
No refeitório ou na cantina, com Dona Neves, os assuntos eram mais
triviais. Mas na volta ao nosso recanto sagrado eu puxava de volta, e
ele reassumia o posto de professor. Com Galvão virei editor e segui
meus estudos na maior escola de jornalismo da Paraíba. Certa vez ele
me disse, diante de outras pessoas, lá mesmo, que eu um dia seria
editor-geral do jornal. Pouco tempo depois que assumi o cargo, ele me
ligou e disse: “Viu que profetizei?”, e respondi: “Você fez mais que isso,
amigo, me ensinou o que eu precisava aprender e me preparou para
quando chegasse a hora”.
Em A União fui feliz como repórter. Aprendi nos dois anos
como editor de Política que é possível sim trabalhar com ética, sem
tentar fazer parte do poder, sem encontros escondidos com políticos
nem verba complementar em blog pessoal. Não existe almoço grátis.
Sou grato ao jornal A União pelo espaço que tive e tenho para crescer
como profissional e pesquisador, pela liberdade que temos para fazer
o melhor jornalismo possível e pela oportunidade de acompanhar o
nascedouro da plataforma digital. Apesar de ser um veículo ligado ao
Governo do Estado, temos um gestor que nunca interferiu na pauta,
nem questiona nosso trabalho. É gratificante trabalhar com Ricardo
Coutinho. Muito.
Prossigo aprendendo com todos na Redação, e com a querida
Albiege Fernandes, nossa superintendente que também é jornalista
e faz com que cada encontro seja uma doce e engrandecedora aula
sobre comunicação e gestão. Se entrei em A União com diploma de
jornalista e, todos os dias, entre o registro biométrico da entrada e da
saída aprendo mais, digo que esta escola, nossa escola de jornalismo,
é minha maior pós-graduação.

324 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Ric c o F arias
Editor do UNInforme

Entrei em A União pela ‘porta’ da história

M inha ‘história’ no jornal A União, quando nele ingressei, em


2013, tem uma relação direta com a ‘história’ desse que é o
mais antigo diário em circulação da Paraíba. Assumi, àquele
ano, a editoria do caderno especial comemorativo dos 120 anos. Um
desafio magnífico – assustador até, face à importância da efeméride,
que fechava um ciclo de doze décadas.
Numa manhã ensolarada, me pus a caminho da sede de A
União, no Distrito Industrial, para a primeira reunião com os diretores
do jornal, profissionais com os quais havia trabalhado em outros
jornais ou convivido nos espaços de existência/experiência coletiva
– Fernando Moura, Albiege Fernandes e Gilson Renato. Dirigindo na
BR 230, nesse percurso, me perguntava se o projeto editorial que
havia concluído na noite anterior estava à altura da demanda que
motivara a minha convocação. Ao tempo em que me convencia que
tal questionamento merecia um ‘sim’, refletia sobre o que um ‘não’ do
qualificado corpo diretor poderia causar à minha enraizada convicção
de que tinha acertado na escolha comunicativa. Ao final da reunião –
ufa! –, deram-me a aprovação para seguir em frente.
A União é uma espécie de ‘cápsula do tempo’. Como condensar
120 anos de história em apenas 10 cadernos especiais, sem negligenciar
o foco em fatos marcantes da nossa história, sem olvidar detalhes
e perspectivas que moldaram a própria trajetória do jornalismo da
Paraíba, da qual A União é protagonista? Obviamente, pela exiguidade
de espaço – eram cadernos de oito páginas –, seria impossível cobrir

A UNIÃO 325
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
essa extensão de tempo sem deixar de fora fatos intrínsecos à
formação de nossa identidade cultural, em níveis mundial, nacional
e regional. E, sendo assim, precisei construir pautas que pudessem,
dentro dessa limitação, oferecer um panorama essencial de décadas
de cobertura jornalística, enfatizando não somente a notícia enquanto
fato histórico impresso com todas as tintas no secular diário, mas
também personagens notáveis que estiveram – ou ainda estavam –
atrelados às rotativas de A União.
O que havia se passado no mundo e, especificamente, na
Paraíba, de 1893, quando o governador Álvaro Machado fundou A
União, até aquele ano de 2013? Conflitos armados pelo poder, aqui e
alhures, inclusive duas guerras mundiais; assunção e queda de Getúlio
Vargas; a corrida espacial, protagonizada por EUA e União Soviética;
assassinato do presidente norte-americano John Kennedy e dos líderes
camponeses paraibanos, João Pedro Teixeira e Margarida Maria Alves;
assassinato do governador da Paraíba, João Pessoa, que deflagrou
a Revolução de 1930, e os fatos subsequentes que terminaram por
contribuir para a morte de João Dantas e de sua namorada, a poeta
Anayde Beiriz, e também para o assassinato do governador João
Suassuna, pai do escritor Ariano Suassuna; o golpe Militar de 1964, que
afugentou vários líderes da resistência ao novo regime para o exílio; a
passagem da Coluna Prestes pelo Nordeste; a trajetória de Lampião,
Maria Bonita e outros cangaceiros célebres pela espinhosa flora
nordestina. E como não referir ao intelectual, poeta e escritor Carlos
Dias Fernandes que, até a década de 1920, trouxe a modernidade,
estética e de conteúdo, ao jornal A União? Como não se reportar a
fatos marcantes protagonizados por governadores da Paraíba como
José Américo de Almeida, Argemiro de Figueiredo, Ernani Sátyro, Ivan
Bichara, Pedro Gondim, João Agripino, Ronaldo Cunha Lima, Antônio
Mariz, Ricardo Coutinho e tantos outros? E o Correio das Artes, criado
em 1949, suplemento que tem incisiva, porque decisiva, participação
na vida cultural da Paraíba? Augusto dos Anjos, o mais singular poeta
brasileiro de todos os tempos, quase unanimidade pela fortuna crítica
nessa classificação adjetiva, qual espaço deveria ter na publicação?
Para compensar a falta de espaço, que era empecilho ao registro
de todos os fatos relevantes que passaram pelo ‘olhar’ de A União,
vislumbrei uma solução. Criei uma ‘linha do tempo’, sob o nome ‘O
Tempo e o Evento’, na qual inúmeros acontecimentos eram sintetizados
em poucas linhas, com o reforço iconográfico pertinente ao assunto –
uma espécie de rodapé que permeava, de modo temporal, todos os
cadernos. Na parte superior das páginas, a edição privilegiava fatos

326 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
emblemáticos que mereciam matérias mais contextualizadas. Entre
tantos, um deles que estava relacionado ao fazer jornalístico. O jornal,
em 17 de julho de 1973, deu uma ‘barriga’ – no jargão jornalístico, um
grave erro de informação. Em manchete principal, disse que Orlando
Geisel seria o novo presidente do Brasil. Como sabemos, foi outro
general o escolhido, Ernesto, irmão daquele que o jornal havia alçado a
tal condição. Resultado: devido ao equívoco, o então governador Ernani
Sátyro demitiu todo o staff de comunicação do governo, inclusive os
diretores de A União.
Com todo respeito aos profissionais que atuaram em edições
comemorativas anteriores àquela dos 120 anos, observei que
precisávamos ter melhor resultado no que diz respeito à opção
estética. Assim, tentei fazer uma edição ‘arejada’, evitando a poluição
visual sem comprometer a necessária abrangência de conteúdo.
Associado a isso, reproduzi nas capas dos cadernos, em página
integral, pinturas e esculturas de artistas plásticos e/ou visuais da
nossa contemporaneidade, o que reforçou o aspecto estético da
edição. E também informativo, pois havia texto interno com sucinta
biografia dos artistas.
A edição saiu em 2 de fevereiro de 2013, um sábado. Não
precisa dizer que fui dormir, no dia anterior, satisfeito com o trabalho
realizado, mas apreensivo quanto à repercussão que ele iria ter. Logo
cedo, recebi vários telefonemas de ‘personas’ do jornalismo – e do
meio cultural, segmento tão caro à existência do jornal – dizendo, em
linhas gerais: “Parabéns, você fez a melhor edição comemorativa de A
União de todas que já li”. Redundante talvez seja aqui afirmar o quanto
isso me deixou exultante. Não tenho dúvida: foi um dos melhores
sábados da minha vida. Senti que, entre erros e acertos, estes últimos
tinham sido mais protagonistas do que os outros.
José Américo de Almeida, que foi redator-chefe de A União, disse
num artigo de 1973, quando o jornal completava 80 anos, que “Minha
escola de jornalismo, ou melhor, de escritor, foi A União”. Após aquele
‘périplo’ que fiz em 2013 por inúmeras edições do jornal, absorvendo
a poeira e a poesia do seu tempo, entendi melhor a assertiva do autor
de ‘A Bagaceira’.
Nesse agora de 2017, assino a coluna diária UNIforme de A
União. E, assim, continuo na escola, lendo mestres como Gonzaga
Rodrigues. E acreditando que essa pedagogia vai deixar muitas
impressões nas atuais e nas futuras gerações de leitores, seja pelas
edições físicas seja pelas publicações on-line.
Ag ost o d e 2 0 1 7

A UNIÃO 327
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Denise V ilar

Esc ola sec u lar

E u não esperava mais entrar na principal escola de jornalismo


da Paraíba após os 30 anos de profissão. Não pensava que teria
em mãos o meu trabalho impresso nas páginas do jornal que
mais admirava quando dei meus primeiros passos no jornalismo. Os
melhores profissionais e os melhores textos estavam em A União no
início da década de 80 e a nossa admiração pelos autores de textos
factuais ou literários só crescia.
E não é que um dia, no recente 2014, eu também vi meu
nome no expediente do jornal que já era chamado de escola por
José Américo de Almeida? A palavra que veio em minha mente foi
honra! Eu estava trabalhando, não na, mas para “a velha senhora”.
Voltar a conviver com velhos amigos de Redação de TV, a
exemplo de Emmanuel Noronha e José Napoleão Ângelo, foi uma
alegria à parte. Walter Galvão, que já era uma fera d’A União quando
eu iniciei na profissão e um dos que eu já admirava na época, foi
outro feliz reencontro. Ele era o editor-geral e Renata Ferreira, que já
conhecia do mundo das assessorias, a adjunta, cargo que ainda ocupa
em A União. Conceição Coutinho na chefia de Reportagem completa o
quadro de chefes respeitáveis.
Me juntei ao naipe dos editores, ficando responsável pelo
caderno Paraíba. Para mim, preparar cada página, a cada dia,
é como lapidar um diamante, com um toque mais refinado nas

328 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
especiais, me deliciando com as histórias contadas pelos repórteres
nas edições de domingo.
De cara, percebi um diferencial na Redação de A União: o
companheirismo. Colegas que respeitam o espaço e colaboram com
o trabalho do outro, sem competição ou briga de ego. O título de
escola é referendado também com a presença dos estagiários. Jovens
estudantes que admiram os mais velhos e que, mesmo estando ali pra
aprender, nos ensinam a cada dia. Afinal, o jornalismo se reinventa e
nós, antigos, temos ainda muito aprendizado pela frente.
Um momento especial pra mim foi, incentivado pelo editor
Felipe Gesteira, escrever a minha primeira crônica depois de tantos
anos no jornalismo. Um prazer!! Prazer multiplicado por mil, por ter
meu texto publicado no Correio das Artes, espaço literário histórico,
desejado por dez entre dez escritores e/ou pretensos escritores
paraibanos. Meu troféu! Lá estavam meus escritos em meio aos papas
da escrita paraibana. Eu, que sempre trabalhei com o factual, seja em
tv, rádio ou jornal, tive meu momento foca aos 31 anos de jornalismo.
Essa abriu caminho e me animei a escrever outras, publicadas em
outro espaço nobre, a página de opinião.
Me sinto ainda nos bancos escolares. Essa taça, a União
nunca vai perder. Pelo contrário. Cada vez mais a “velha senhora”
abraça novos e antigos jornalistas e os coloca sob as suas asas
seculares. Tim Tim! Que venham mais 125 anos. Vida longa a nossa
mais respeitada escola.

A UNIÃO 329
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Joana B elarm ino (*)

Jornalism o, op iniã o e v erd ad e:


U m enc ont ro nec essá rio

O jornalismo vive uma crise profunda, não apenas no seu clássico


modelo de venda de notícias, mas sobretudo na forma como
produz e distribui a informação. O jornal em papel tem escasseado,
e, poucos são os jornais que mantêm sua periodicidade diária. A União
é um raro exemplo de resistência, financiado pelo Governo do Estado da
Paraíba, faz jornalismo que transita entre os moldes do modelo comercial
clássico, mas, aplica-se no exercício de uma espécie de jornalismo
público, preocupado com a pluralidade das vozes, com a divulgação da
opinião, do jornalismo informativo, cultural e de serviços.
Escrever no jornal, como colunista de opinião, já há quase dois
anos, tem sido ao mesmo tempo um exercício prazeroso e reflexivo.
Uma pergunta que sempre se me impõe, quando me sento diante
do computador, é: O que dizer na era atual, quando quase toda
a sociedade agora pode dizer, narrar, falar sobre tudo e qualquer
coisa? E, tão importante quanto essa primeira pergunta, é pensar
sobre o como dizer, numa sociedade em que ruíram completamente
as fronteiras entre o público e o privado, o particular e o universal,
quando as narrativas, em sua maioria, são acima de tudo fruídas como
espetáculo e entretenimento.
Minha formação universitária me ensinou a colocar o
jornalismo no centro do mundo atual, mediando conflitos, narrador

330 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
primeiro dos acontecimentos, formador de uma opinião pública
competente e inteligente. Um narrador preocupado ao mesmo tempo
com ética e objetividade, com zelo pelas fontes, mas sobretudo um
fiel depositário dos anseios e interesses do leitor. Aprendemos com
autores como Lippmann, Park, Genro Filho e Grot, que o jornalismo
é forma de conhecimento do presente, lâmpada nervosa e curiosa a
tentar iluminar os fatos mais importantes. O jornalismo como um vigia
dos cidadãos, da democracia, da cidadania.
Pergunto-me se esse ideário clássico terá sido esquecido, por
entre as cadeias de produção, alimentando correias transmissivas
de sensacionalismo, tragédia, sangue, dor alheia servida em páginas
e páginas de jornal. Um jornalismo divorciado da conquista de
audiências competentes, um jornalismo empenhado em vender espaço
publicitário e informação para o entretenimento e o espetáculo.
Todas as vezes em que me sento diante do computador, penso
nesses dilemas, ainda que de maneira telegráfica, mas todas as vezes,
experimento emoção por pesar as palavras, escolher esta ou aquela
e recusar outras. Sinto que o ato de escrever é talvez uma das tarefas
mais fundamentais da cultura humana. O ato de escrever é ao mesmo
tempo escrita, leitura, interpretação, opinião.
Os dilemas do jornalismo estão intrinsecamente ligados à sua prática,
mas, ao mesmo tempo, é ainda o jornalismo que nos permite compor a sua
crítica, que nos permite perseguir esse ideário clássico, todos os dias.
E o tema da verdade, tão caro ao jornalismo, na sua era clássica
e na era atual, quando a pós-verdade parece estar vencendo como
um padrão dramático, cuja fórmula subverte completamente os
ingredientes da apuração, da checagem e da investigação?
Penso sobre isso também, enquanto escrevo cada uma das
minhas colunas, certa de que não há como alcançar uma verdade final,
mas ela deve ser perseguida, na sua provisoriedade, na sua limitude,
na sua ínfima parcela, na têia dos acontecimentos do presente. A
verdade deve ser tão cara ao jornalista, quanto à qualidade do texto
que escreve, que assina, que publica.
E os leitores, onde eles estão? Creio mesmo que o jornalismo,
ao longo da sua trajetória, tem se preocupado pouco com seus leitores.
Esse é talvez um dos grandes equívocos do jornalismo. Pensar somente
num tipo de leitor, apressado, louco por fruir sensações epidérmicas
enquanto desdobra o jornal e contempla suas imagens prontas para

A UNIÃO 331
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
um consumo mercantil, esse é um grande equívoco que precisa ser
reparado. Há leitores para todas as narrativas. O jornal, por sua vez,
é um grande campo de formação de leitores. Leitores do mundo, das
suas agonias, dos seus mistérios, da sua vida cultural e política.
Penso em tudo isso quando me sento para escrever e sei que
as vezes consigo fisgar meus leitores, outras vezes falo comigo própria,
mas sei que quando meus textos deixam de ser opinião fugaz e viram
história, quando são contemplados no seu conjunto, meus textos falam
desse padrão de defesa de um jornalismo ético, comprometido com a
busca da verdade. Eu às vezes entrego aos meus leitores um naco de
literatura, porque é por dentro da literatura que o jornalismo pode
respirar e ousar.

(*) Prof.ª Associada dos cursos de Jornalismo da UFPB


Pesquisadora líder do grupo de pesquisas
em jornalismo, mídia, acessibilidade e cidadania – GJAC

332 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Carlos P ereira

Cento e vinte e quatro anos de história

A bem da verdade, ninguém completa cem anos de vida à toa


– seja gente, bicho ou instituição. Cento e vinte, então, nem
pensar.
Gente, para chegar perto dos cem, já é quase milagre. É
preciso, além de boa dose de sorte, ter conduzido a vida com aprumo,
com vigilância no que come e no que bebe e, principalmente, no
cuidado para não ser vítima dos males que o mundo causa – estresse,
obesidade, diabetes, complicações cardiovasculares e vai por aí...
Dos bichos, sabe-se que a tartaruga – que não se esforça nem
pra botar o pescoço pra fora – chega fácil aos 120 anos, mas é uma rara
exceção na fauna que ainda resiste às tentativas de extinção por parte
do homem...
E as instituições? Bem, essas, nas mais das vezes morrem
sem completar dez anos, outras sequer comemoram o primeiro
lustro.
Não é o caso deste jornal que ultrapassa o seu primeiro
centenário e já vai a mais 24 anos e que, pode-se dizer, começou
acertando na escolha do nome. Quem se der ao trabalho de consultar
o dicionário, há de ver que União, além do ato de unir(-se), também
é pacto, aliança. E aí é que entra e bem desempenhado, o papel do
periódico que, no dia 2 de fevereiro de 2017 com honra e glória,
completou 124 anos.
Sempre com rumo bem definido, funcionando como atributo
de direção para milhares de leitores, polêmico às vezes, noutras

A UNIÃO 333
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
bastante questionado por defender o governo, A UNIÃO tem, ao
longo de todo esse tempo, preenchido o lugar que o destino e as
mãos e a inteligência dos seus fundadores lhe impuseram.
Para lembrar alguns dos nomes mais importantes da história do
jornal, me remeto a Antônio Barreto Neto, nos tempos mais remotos e
Luiz Gonzaga Rodrigues mais recentemente.
Enquanto o primeiro foi secretário do jornal por um bom
tempo exercitando a função com equilíbrio e descortino, sendo
uma referência no jornalismo nordestino - também porque foi um
dos melhores críticos de cinema da região -, o segundo nos brindou
com suas crônicas que eram assunto obrigatório dos comentários da
cidade. Dos dois, guardo lembranças que o tempo não apagou e, com
eles, toda a Paraíba se fez credora do prestígio que ambos granjearam
para a nossa imprensa, mercê das lições que ensinaram no dia a dia
da profissão que prazerosamente abraçaram. Sobretudo o grande
Barretinho que - sem ser professor - ensinou muita gente a fazer jornal
e muitos dos seus alunos depois se transformaram em outros grandes
mestres no ofício.
Ao longo dos últimos cinco anos escrevo uma crônica semanal
que é publicada aos sábados e que me faz mais importante do que
alguns cargos públicos de certo destaque que exerci. Ocupo parte
do espaço livre em que tento transmitir aos leitores alguma coisa do
passado já meio distante vivido principalmente no bairro de Jaguaribe,
cuja lembrança me acompanha ao longo de toda a vida.
E ao escrevinhar estas linhas, o faço com justificado orgulho,
por integrar a equipe que hoje faz A UNIÃO. Um jornal que, ao
completar os seus 124 anos, se destaca não somente como um dos
mais antigos do país, mas principalmente porque se mantém na linha
de coragem, de altivez e de resistência às várias tentativas que, no
passado e até em tempos mais recentes, foram feitas para apagar
suas letras para sempre.
Por isso tudo e pelos seus cento e vinte e quatro anos de
verdade, A UNIÃO permanece, também, até hoje como relíquia
histórica da Paraíba e como marco e referência de jornal para os seus
leitores, paraibanos ou não, que diariamente folheiam suas páginas e
que nele acreditam.

334 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Rod rig o Cald as - colunista

A esc rit a d a leit u ra ou q u and o


o leit or t om a a p alav ra

A minha experiência com A União começou na Academia, quando


um colega de mestrado me convidou a colaborar com o jornal.
Até então nunca tinha escrito nada veiculado em mídia alguma,
fora postagens que ninguém lê, nas redes sociais. A dúvida, naquele
momento, era se daria conta de um artigo novo a cada semana, sem
me repetir. A oportunidade de escrever para A União promoveu, no
meu caso, um encontro: o do leitor com a escrita. Escrever e toda
semana publicar um artigo, promoveu o encontro entre o leitor que
sempre fui, com a escrita como desafio de criação. Minha experiência,
assim, constitui-se de um diálogo entre o leitor que sou e o escritor
que tento ser. Do encontro de ambos, tento construir um diálogo com
um terceiro: o leitor ideal para quem escrevo.
Ao escrever, tomo a palavra que até então era um signo
sedutor que decodificava, libertando significados, construindo cadeias
interpretativas mas sem o sentido criativo de quem, como escritor,
ativamente modela e constrói signos e significados. Assim, minha
experiência com a União tem sido a de um leitor privilegiado, que
pode tomar a palavra e falar o que pensa e sente. A leitura é o ato que
precede a escrita. É não apenas o seu inverso, mas seu pressuposto.
Assim, entre esse diálogo da leitura com a escrita, entre o leitor que
sou e o escritor que tento ser, escrevo para um terceiro, um leitor
imaginário. Ao elaborar um artigo, penso e tento me colocar na
A UNIÃO 335
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
situação do leitor. Parto de uma premissa ética, antes de tudo. O leitor
para quem escrevo, embora não possa vê-lo, saber quem é, se muitos
ou poucos, deve ser tratado com respeito. Presumo sua inteligência,
daí o cuidado com o que transmito. Se meu leitor imaginário- uma
construção ideal como o tipo ideal de Max Weber na sociologia- não é
um ente individualizado e concreto, ele me permite, partindo de uma
premissa ética, encontrar o fundamento estético do texto. Ao escrever
cada artigo para o jornal, tendo como referencial um leitor ideal, sinto-
me desafiado a encontrar a forma, o estilo de composição que seduza
esse leitor ideal à experiência da leitura. Minha ideia, desde o dia em
que comecei a colaborar com A União, foi: vou tentar escrever algo
que eu, como leitor, gostaria de encontrar em um jornal.
Tento, em cada artigo, trazer para a linguagem jornalística
a literatura e a filosofia, apesar de ser advogado e de ter formação
jurídica, sempre fui literato e filósofo por paixão, e é com essa paixão
que tento trazer para a linguagem do jornalismo duas grandes tradições,
dentro das minhas limitações: a estética do verbo e a dialética da ideia
filosófica. Imaginação e ideia, forma e conteúdo são as matérias-primas
com as quais tento, como um leitor privilegiado, compor os artigos que
A União veicula em suas páginas, semanalmente.
A União me ensinou que jornalismo é historiografia do
cotidiano. Ao ler as matérias e artigos publicados, vejo também a
arqueologia da escrita de um jornal que há mais de cem anos registra
a história do povo paraibano. E o jornalismo faz a historiografia que
a História não faz, a historiografia da microfísica do cotidiano, dos
pequenos fatos, das coisas miúdas que pululam no dia a dia, de que a
linguagem jornalística promove um recorte, registro e interpretação.
Embora não seja jornalista de formação, sendo apenas um leitor
privilegiado que toma a palavra e escreve, penso o discurso jornalístico
como o encontro dessa historiografia do cotidiano com a experiência
do leitor que deseja encontrar um texto literariamente sedutor e, se
possível, filosoficamente fundamentado.
Não creio que o jornal escrito morrerá com a revolução das
novas mídias. Ainda que o suporte físico sofra suas metamorfoses,
o prazer da leitura do jornal, o desvendar dessa historiografia do
cotidiano, na medida em que promova sua renovação e diálogo
com outras tradições e discursos como a literatura e a filosofia, têm
o potencial de render muitas e boas histórias.

336 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Dand ara Sou z a Cost a

Pelas boas-vindas, gratidão

S ou nova na Redação. Cheguei em agosto de 2017, bem de repente.


Entrei substituindo alguém deveras querida, que deixou muita
saudade e que agora se encontra em um lugar melhor. Comecei
sabendo que seria um grande desafio assinar uma coluna em substituição a
uma jornalista tão séria e renomada como Goretti Zenaide, no entanto esta
nova empreitada se tornou fácil e prazerosa graças à equipe maravilhosa
com quem estou tendo a sorte de dividir minhas tardes, manhãs e, por
vezes, noites. Sem dúvida alguma, afirmo que o trabalho que vem sendo
feito há mais de um século no jornal A União é fruto do esforço, tanto
intelectual como braçal, de um grupo de pessoas cujo propósito é mostrar,
todo os dias, nada além de fatos aos paraibanos. Pessoas que diariamente
se dedicam ao máximo, de modo tal que, ainda este ano, fizeram A União
se tornar, por lei, Patrimônio Cultural da Paraíba.
Queria aproveitar esta oportunidade para agradecer aos meus
colegas de ofício, que me receberam tão bem e que não se importam
em me ajudar nesta etapa ainda nova para mim, tendo em vista que é a
primeira vez que trabalho com colunismo social. De verdade, obrigada a
todos pela paciência; por me incluírem nos intervalos para café – e boa
conversa -; pelos lanches; pelas companhias nos almoços; sobretudo por
me inspirarem a crescer como jornalista.
Ainda na minha primeira semana integrando a Redação da União,
fui incumbida de entrevistar Erasmo Carlos. Não sabia eu que a surpresa
ainda estava por vir. Tônio, a mente criativa por trás da belíssima arte que
ilustrou minha matéria, presenteou-me com o desenho original do cantor.

A UNIÃO 337
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Também quero destacar os nomes de Albiege Fernandes e Felipe Gesteira,
os quais tomei como mentores. Foram eles que acompanharam e guiaram
os primeiros passos da Coluna do Meio. Moraes, dono da personalidade
mais alegre que já conheci na vida, não me deixa passar vergonha e
sempre que encontra alguma grafia errada ao revisar meus textos, chama
de “erro de digitação”. Ana Raquel Almeida e Louise Tonet, obrigada pela
fofura. Klécio Bezerra, aquele que aperreio todos os dias e com quem,
em apenas uma aula, aprendi a diagramar mais que no próprio curso de
Jornalismo. Sei que deveria agradecer individualmente a um número bem
maior de pessoas, a exemplo do próprio Josélio Carneiro, pelo convite a
mim feito de participar deste livro e pela boa vontade em cobrar minha
lauda, mesmo eu tendo perdido o primeiro deadline; pelo acolhimento,
pelos sorrisos, pelos votos de confiança, mas me faltou espaço.

1ª edição da Coluna do Meio, assinada por Dandara Costa

338 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Dani Fechine

A esc ola q u e m e f orm ou

E
ntrei no curso de Jornalismo querendo realizar um sonho. A paixão
pela leitura e pela escrita eram os meus grandes incentivadores
para estar ali dentro. No primeiro dia de aula, lembro que me
perguntaram quem era o meu maior ídolo. Machado de Assis. Na lata.
Era tudo que eu tinha para dizer sobre uma menina que desde criança
nutria a necessidade de escrever para não implodir.
Por certo, entrei querendo ganhar o mundo. Ou melhor,
querendo ganhar o jornal impresso. As discussões sobre o seu fim
já estavam afloradas, mas dizem que a gente cega um pouco diante
do sonho, não é? Quem já havia passado pelo jornal A União me
dizia o que hoje repito: é uma escola. E era lá que eu queria estudar.
Gilson Renato foi peça fundamental nesse tabuleiro. Ajudou-
me a chegar na seleção, pois na época era difícil ficar sabendo
dessas vagas. Passei com mais três colegas e comecei a brilhar
os olhos diariamente ao ver meu nome impresso nas páginas do
jornal. Sentia-me em outro tempo. E era exatamente isso que o
veículo proporcionava a cada um que ali colocasse os pés.
Aprendi de tudo um pouco. Entrei para o caderno de Cidades,
mas invadi as páginas de Cultura, Diversidade, Opinião... Só me faltou
o de Esportes, porque o de Política me foi vendido como sendo um
caderno com horizontes abertos. E foi. Com a ajuda de Felipe Gesteira,

A UNIÃO 339
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
na época editor do caderno, escrevi as minhas melhores reportagens.
E conheci em mim veias abertas que jamais avistei.
Foi um ano de aprendizado diário. A distância entre a
universidade e o jornal era recompensada pelas pautas de Ceiça,
que me permitiam viajar em mundos diferentes e contar histórias do
jeitinho que eu gostava. Saí de lá com uma carga enorme nas costas,
querendo que todos pudessem ter a honra de aprender com A União.
Walter Galvão me ensinou a ser crítica com as resenhas de filmes
e livros, Ceiça me mostrou que o caderno de Cidades é um mundo a
se desbravar, Denise me apresentou os erros e, com eles, os acertos,
Napoleão abriu as portas dos textos de Opinião para que eu escrevesse
algumas besteiras, Alexandre Macedo me fez conhecer pedaços lindos
da cultura de João Pessoa... Aprendi com tanta gente e com tanta gente
me formei. Levo comigo, no coração e na memória, o talento de Russo,
Edson, Ortilo e Evandro. E, como esquecer? A cachaça de Carlão, que
animou - e anima - muitas tardes dos meus sábados. Afinal, dizem que
o jornalismo é isso, não é mesmo? Uma cachaça.

Est ag iá ria ent re 2 0 1 5 e 2 0 1 6

340 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Ilu sk a Cav alc ant e (*)

Uma escola chamada “A União”

A
ntes mesmo de começar o curso de Jornalismo tinha o desejo
de trabalhar escrevendo. Escolhi essa profissão e esse sonho
foi ganhando forma e se tornando uma grande vontade de
trabalhar em um jornal impresso. Quando comecei em A União nunca
pensei que seria capaz de escrever matérias como as que escrevi,
e nem de vê-las publicadas com o meu nome assinado, mas vi isso
acontecer inúmeras vezes.
Fui agraciada em trabalhar com pessoas incríveis, que
confiaram em mim e me presentearam com pautas humanizadas e que
me trouxeram experiências que não sei se seria capaz de colocá-las em
palavras. Cada semana era um novo desafio.
Uma das experiências mais marcantes foi uma matéria que
fiz sobre mulheres que sofreram violência doméstica. Lembro de
ter ficado a noite sem conseguir dormir após ouvir os seus relatos.
Nenhuma foi identificada na matéria, mas todas abriram o seu
coração e, impulsionadas pelo desejo de ajudar outras mulheres com
os seus relatos, contaram os abusos, estupros e espancamentos que,
por anos, sofreram de seus companheiros. Mesmo apenas como uma
estagiária, tive a responsabilidade de receber a dor dessas mulheres
e de tentar transmiti-la em palavras.

A UNIÃO 341
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Ainda tenho muito que aprender, mas em um ano e sete meses
como estagiária de A União posso dizer que sei como é ser uma boa
repórter. A família que foi construída nesse período, entre outros
estagiários, editores, chefes de reportagem e diagramadores, fazia com
que a ida ao trabalho não fosse um fardo, mas uma alegria. Impossível
não me sentir grata por todo o apoio e ensinamentos que recebi.
Entrei com medos e receios, mas também com muita
vontade de aprender. Errei inúmeras vezes, e recebi feedbacks que
me ensinaram. E, nas vezes que acertei, recebi incentivos que me
motivaram a continuar tentando. Em poucos lugares se vê estagiários
tendo a oportunidade de “colocar a mão na massa” como se vê nesse
jornal.
Foi a minha primeira experiência com a profissão de jornalista.
Em dois anos de faculdade, a teoria não havia me mostrado nem metade
do que é ser um repórter. Como estagiária, poderia me decepcionar
com o jornalismo e nunca mais querer voltar em uma Redação, como
também poderia querer ficar e nunca mais me ver em outro lugar. O
ambiente e os profissionais que trabalharam comigo contribuíram em
boa parte para que a segunda opção se tornasse verdade na minha
vida. Acredito que em outros relatos isso já deve ter sido dito, mas
acredite, A União é uma escola de jornalismo.

(*) Iluska Cavalcante – 23 anos. Estagiou em A União de novembro de 2015


à junho de 2017. Estudante do oitavo período de Jornalismo na Faculdade
Maurício de Nassau. Estagiária na assessoria de comunicação do Tribunal
Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB)

342 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Ad riz z ia Silv a

“ Ex p eriê nc ia e p rep araç ã o p ara o


mercado de trabalho”

E u já iniciava o sexto período do curso de Jornalismo, quando o


“desespero” por estagiar “bateu na minha porta”. Não é novidade
que a oportunidade de estágio proporciona experiência e prepara o
estudante para o mercado de trabalho. Eu sabia que precisava passar por
isso o quanto antes. Na época, eu não imaginava que essa conciliação de
teoria e prática principiaria pelo jornal impresso, e isso aconteceu por
essas ironias que a vida nos prega.
Muitos já decretaram a morte do jornal impresso. Há décadas
alegaram que o rádio o substituiria; depois, a televisão. Hoje, o seu
suposto carrasco é a internet. O jornal A União, porém, continua
saudável, acorda cedo todos os dias e é responsável por pautar muitos
dos telejornais que assistimos, pela maioria das notícias do rádio que
ouvimos e também pelas que lemos nos online, em toda a Paraíba.
A União é um referencial histórico que, ao longo dos seus 124
anos, ficou conhecido como “a escola do jornalismo paraibano” e
preconiza esse “então clichê” cotidianamente. Ele não apenas transmite
informações, mas também se preocupa com a qualidade profissional
dos estudantes, responsáveis por várias páginas do que é veiculado. A
credibilidade é, sem dúvida, o maior patrimônio desse jornal.
Sua Redação nos proporciona um ambiente profissional,
cujo trabalho é sério e as cobranças também não faltam, o que nos
possibilita, como estagiários, crescimento pessoal eprofissional. Além
da oportunidade de conviver com jornalistas experientes, renomados

A UNIÃO 343
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
e generosos, e sugerir ideias que contribuem com a disseminação dos
nossos próprios conhecimentos e dos leitores.
Estagiar no jornal em que nomes importantes escreveram em suas
páginas é um privilégio e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade.
Esta, atenuada pelo ambiente humanizado descontraído e desprovido
de competições, algo que não é muito comum em outros veículos. Com
isso, a nossa verdadeira obrigação é sempre encontrada indo em direção
dos nossos mais dignos desejos, respaldados pela ética e pela dinâmica
do aprender, fazer e transformar.
Como estagiária aprendo a cada dia que, no fazer jornalístico,
sempre existem desencontros, choques de informação e o descaso da
fonte com o jornalista. Mas que apesar disso, tenho a oportunidade
de contar histórias, de fazer a diferença na vida das pessoas e prestar
serviço para quem realmente precisa. Estou há um ano e meio n’A União
e, passar pelas editorias de Esporte, e principalmente Cidade, contribui
para minha formação como uma futura profissional mais versátil.
O meu crescimento pessoal e profissional na A União decorre de
aprendizados e experiências nem sempre bem-sucedidos, portanto, de
erros e acertos, lapidados por uma equipe altruísta, bondosa e voluntária.
Todos estão sempre dispostos a colaborar com o exercício do próximo,
o que nos motiva e desafia a buscarmos sermos sempre melhores. Não
é à toa que A União é lembrada com muito carinho e prestígio pelos ex-
estagiários, cuja convivência diária faz jus ao nome. Pela oportunidade
única, à minha gratidão eterna e o desejo de fazer parte de sua história.

344 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Anéz ia Nu nes

A U niã o: u m a esc ola ond e se ap rend e


a f az er j ornalism o

O jornal A União é uma grande escola de conhecimentos


e aprendizado, principalmente para nós iniciantes nessa
carreira. Cada dia que se passa aumentamos a nossa bagagem
de conhecimento e experiência, na convivência com colegas mais
experientes, do restaurante à Redação.
Quando me perguntavam em qual área eu gostaria de atuar no
jornalismo, a última coisa que vinha em minha cabeça era a Redação.
Achava uma área de muito esforço e que eu não teria a capacidade de
fazer parte. Mas hoje, colocando em prática e tendo essa experiência em A
União, sinto que é algo possível e totalmente diferente do que imaginava.
Lembro bem do dia em que vi a minha primeira matéria
publicada no jornal A União, senti um misto de ar de riso, com a certeza
de dever cumprido. Não tem sensação melhor do que ver a matéria
publicada com nossa assinatura. Quem pensa que vida de jornalista
é fácil, precisa saber que não é não, e o nosso incentivo é o público,
principalmente quando nos elogiam e reconhecem o nosso trabalho.
É isso que nos dá estímulo para continuar, melhorar e aperfeiçoar, a
cada dia, nossa atuação nessa área. A união nos dá o privilégio de nos
aprofundar no Jornalismo, tirar nossas dúvidas e sermos o melhor
possível que podemos, é realmente uma grande escola.
Não poderia deixar de falar de um grande jornalista que eu
admiro e que pretendo ter a mesma desenvoltura ou até mesmo

A UNIÃO 345
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
ser melhor; um jornalista que também faz parte da família A União:
Alexandre Nunes, meu pai. Tenho certeza que ele está passando por
uma felicidade tremenda por saber que sua filha, no começo de sua
carreira, está se desenvolvendo nessa área e aprendendo com a grande
escola na qual ele também faz parte. Agradeço a ele por toda paciência
e aprendizado que tem comigo, agradeço a todos os que formam a
família A União, pois cada um, de sua forma, me estimula, me ajuda e
quer o meu crescimento.
Quero agradecer a Felipe Gesteira por cada conselho e
orientação para o meu bem; Conceição Coutinho pelos puxões de orelha
e orientação de mãe; Cardoso Filho que me socorre quando preciso
e está sempre presente; Denise Vilar que é como uma segunda mãe
que me orienta e me dá dicas sempre muito útil ao meu aprendizado;
aos amigos estagiários que trocam conhecimentos e dicas entre si e
comigo, sem contar com a alegria permanente de Moraes animando
a Redação, junto com outros veteranos de batente. Destaco ainda o
cuidado fraterno e paternal de João do Arquivo, um grande amigo e
companhia protetora das longas viagens de ônibus, quando retorno do
trabalho para Santa Rita, onde moro.
O jornal A União continua e vai continuar sempre sua missão
de formar jornalistas, sempre se renovando e continuando atual, por
acreditar na juventude e também oportunizar espaço para os mais
experientes, numa mistura que tem dado certo em mais de um século
de existência do matutino. É gratificante fazer parte dessa história.

346 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Leonard o And rad e

A Im p ort â nc ia d o Jornal A U niã o

F
azer parte de um dos principais jornais do estado da Paraíba é
gratificante. Poder está tendo a oportunidade de aprender com os
colegas jornalistas a contribuir na transmissão de informações para
com os leitores. Ser inserido neste período de 1 ano como estagiário
no caderno de cultura, me faz transbordar o sentimento imensurável
de fazer parte da família A União. Onde o nome do jornal traduz o que
de fato é verdade, unidos com alegria e o prazer de contar histórias,
vivenciar e abordar temas diversos, trazendo as principais notícias de
tudo o que acontece em nossa região, seja Cultura, Esporte, Política ou
Cidades. Editorias onde os profissionais vêm cumprindo esta tarefa em
seus 125 anos de responsabilidade e compromisso.
Uma frase é utilizada pelos jornalistas que já atuam no mercado
de trabalho, que em sua maioria falam. “O jornal A União é uma
escola, passando por lá, conseguirá trabalhar em qualquer veículo
de comunicação”. Tudo isso é bem verdade, com a prática diária em
produzir matérias, você se capacita, produzindo textos e reportagens,
seja para TV, Rádio, Online ou Impresso. Cabendo ao estagiário, buscar
o interesse em crescer e se dedicar ao máximo obtendo êxito em seus
desafios.
Com esta obtenção de crescimento profissional na área que
almejo trabalhar desde a infância, o momento aqui no jornal está
sendo único. Dia a dia vou me aperfeiçoando, e detalhes vão sendo

A UNIÃO 347
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
corrigidos e melhorados. A academia utilizando suas atividades
práticas e teóricas, vão te dando um embasamento, mas o estágio
te faz decolar mais rápido, melhorando sua agilidade e cuidado com
todas as informações reproduzidas.
A alegria em ver seu nome sendo divulgado em matérias
publicadas nas páginas dos jornais é satisfatório, porém aumenta a
responsabilidade e a cobrança em sempre fazer melhor. No meu caso
falando sobre histórias de artistas regionais, eventos e tudo o que
envolve a cultura.
As matérias veículadas me inspiram por sua qualidade ética e
compromisso com o que está sendo reportado. Por isso a importância
do jornal A União, que transforma a vida de todos nós estagiários.
Não tem como um aprendiz sair deste local sem um crescimento
ou amadurecimento, essa experiência que levarei por toda minha
caminhada, atribuirá em tudo que for produzido em outros trabalhos.
O fazer jornalismo é buscar informações, correr atrás do que é inédito,
é apurar os fatos, sendo ponte para repassar o que é verdade. A busca
pelo conhecimento continua, e os passos à frente que estarei dando
dentro deste jornal vão me ensinando e me incentivando a pôr em
prática esta rica experiência, que modifica qualquer facilitador da
comunicação.
Quero aqui expressar minha gratidão, pela oportunidade
concedida em fazer parte da família A União a todos, em especial ao
meu editor-chefe Alexandre Macedo.

348 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Raq u el Alm eid a (*)

Ex p eriê nc ia além d as p alav ras

R ealizar o sonho de ingressar na vida acadêmica foi, sem dúvida,


muito gratificante, principalmente pelo fato de iniciar o curso de
Jornalismo pouco tempo depois de terminar o ensino médio, com
apenas 17 anos. Mas, ter a oportunidade de trabalhar como estagiária
no jornal A União foi uma experiência que ficará marcada para sempre
em minha vida. Apesar de me identificar muito com a leitura e a escrita
não me imaginava trabalhando em um jornal impresso, no entanto,
quando tive o primeiro contato com a Redação do jornal A União foi
como me descobrir na profissão e entender o motivo de estar no curso.
“Quebrar paradigmas”. Com certeza essa frase define o jornal A
União. Um deles foi os rumores sobre as Redações, de que toda Redação
de jornal era um lugar com muita pressão, com clima pesado em que
ninguém se suportava. Na verdade, ao chegar na Redação de A União
eu vi pais e mães postiças que não mediam esforços para aconselhar,
orientar e ajudar. Prepotência e desdém são palavras que não existem
no dicionário desse jornal que mais se preocupa em formar jornalistas
competentes do que nos deixar inseguros com o mercado de trabalho.
Ver meu nome nas páginas em preto e branco de um jornal que
tem 125 anos de história e que é considerado por muitos profissionais
da área como uma escola de jornalismo séria e responsável foi um
privilégio que não tenho palavras para descrever. Do diagramador ao
chefe de Reportagem era possível aprender um pouco mais sobre o
dia a dia e desafios da profissão, e apesar das exigências e algumas
vezes “puxões de orelha carinhosos” o carinho, o cuidado e o desejo

A UNIÃO 349
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
de ver nosso desenvolvimento sempre estavam presentes em cada
conselho e repreensão.
Da pauta do dia à matéria especial fui aprendendo com o tempo
a ter um olhar diferenciado a cada história que era entregue a mim.
Quando chegava no jornal A União e recebia da chefe de Reportagem a
pauta com as explicações da matéria que iria fazer comecei a entender
a responsabilidade que estava em minhas mãos. Entendi que ser
jornalista ia muito além de apenas descrever um fato. Na verdade, em
cada externa que fazia pude perceber que jornalista é um ouvinte e
contador de histórias que são muitas vezes invisíveis para a sociedade.
E no jornal A União era perceptível observar que os espaços de cada
caderno eram preenchidos com essas histórias, e que elas não deviam
se limitar a dados e estatísticas. Sobre os editores, posso dizer que
mais do que colegas de trabalho eles se tornaram amigos de alma.
Foi no jornal A União onde trabalhei pela primeira vez como
jornalista, e não poderia ter sido diferente. Mesmo com muita
inexperiência e erros sempre tive todo apoio de todos da Redação, e
em cada matéria que fazia eles me motivavam a superar meus limites
a cada dia. Cada personagem e história me marcaram de uma forma
diferente. Os desafios de escrever matérias com assuntos difíceis ou
pautas com cunho de uma manchete de jornal me fizeram crescer
como profissional, e perceber que com dedicação e força de vontade
para aprender podemos ir muito longe.

(*) Rachel Almeida – 21 anos. Estagiou no jornal A União de abril de 2016 até
dezembro de 2017. Estudante do oitavo período de Jornalismo na Faculdade
Maurício de Nassau

350 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Lucas Campos

A U niã o é m ais d o q u e em p resa, é lar

É difícil falar de A União. Não porque faltam palavras para descrever o


jornal, mas porque há uma profusão delas – algo que é perfeitamente
natural quando o apreço por algo está envolvido no discurso. Pode
soar clichê, mas realmente acredito que não há uma outra forma que eu
consiga imaginar para começar esse texto. Assim, a principal palavra que
elenco é a gratidão.
Quando comecei meu estágio em A União, era só um estudante
cheio de inseguranças e com timidez de sobra. Todos os dias eram
um desafio, porque eu precisava lidar com essas questões da minha
personalidade ao mesmo tempo em que tentava cumprir minhas
pautas. Entretanto, nunca encarei minhas atividades de uma forma
negativa. Isso porque sempre houve uma equipe muito compromissada
a me ensinar os melhores caminhos para produzir uma boa matéria,
que realmente não eram abusivos quando eu errava e que, de
forma muito nítida, desempenharam um papel fundamental no meu
amadurecimento como profissional e como pessoa também.
Elencar tudo que aprendi com estas pessoas também é difícil,
porque foram realmente muitas as lições. Porém, cito aquela que
julgo a mais importante: a de realizar um jornalismo humanizado,
que deixa os números e especialistas um pouco de lado – mas sem
esquecê-los, porque são fundamentais - para dar voz ao cidadão e
contar suas histórias de vida. Ao apurar algumas matérias e realizar

A UNIÃO 351
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
certas entrevistas, percebi o quanto é necessário ouvir e dar voz a
essas pessoas que normalmente não são vistas.
Há algumas matérias que são impossíveis de esquecer, por
exemplo: a visita ao Porto do Capim, cuja reforma proposta pela
prefeitura ameaçava retirar os habitantes da comunidade desta
parte da cidade; e uma conversa com mães apenadas sobre passar
o dia das mães longe de seus filhos. Ouvir essas pessoas foi difícil,
porque era doloroso saber que passavam por situações tão difíceis.
Por outro lado, foram experiências extremamente enriquecedoras.
Mais do que companheiros de trabalho diário, encontrei
amizades que espero levar por toda a vida. Muitas vezes, o dia a dia
é maçante e difícil, especialmente quando você está intercalando
estudo, estágio e as responsabilidades de casa; mas era só chegar
no estágio que tudo isso parecia desaparecer. Claro, eu não podia
deixar meus problemas influenciarem no trabalho, mas para além
do prazer que eu sentia em atuar como repórter, eram as pessoas
que faziam da rotina algo realmente agradável.
Essa equipe, desde as pessoas que estavam na Redação, até o
pessoal da limpeza, do Diário Oficial, da Gráfica e da Administração;
é especial. Em minhas poucas experiências de trabalho, não havia
me deparado com uma atmosfera tão harmônica, positiva e coesa
no que diz respeito às pessoas. Penso que cada uma delas tem uma
importância ímpar e, por estarem tão empenhadas, fica fácil entender
porque A União é uma empresa que, ao longo dos anos, conquistou
tanto respeito e admiração – vindo a tornar-se patrimônio cultural.
Pretendo guardar tudo que vivi e todos que conheci em A
União para sempre na memória. Quando cheguei, disseram-me que o
jornal era como uma escola do jornalismo e acabei confirmando isso.
Para mim, entretanto, tornou-se uma espécie de lar, onde encontrei
segurança, bem-estar, apoio e espaço para crescer. Aliás, lar é um lugar
que costumamos amar e afirmo, é impossível não amar A União e as
pessoas que lá trabalham.

352 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
CAP Í T U LO IX

ICONOGRAFIA
Capa da 1ª edição do jornal – quinta-feira 2 de fevereiro de 1893
Extinto prédio-sede de A União que era situado na Praça João Pessoa, entre a Praça 1817 e a Rua Duque de Caxias

A União, em 1942
Antigo prédio de A União, em 1933. Ao fundo, a Lagoa

Antiga sede de A União. Prédio da Biblioteca Pública


do Estado, na Av. Gal. Osório (1982)

Antes da sede definitiva, uma rápida


passagem pela João da Mata, 100

Nova sede de A União, na Av. Gal. Osório - antiga


Biblioteca Pública. Em 1984
Nova sede de A União em jaguaribe na
Osvaldo Pessoa, em 1988
Sede definitiva de A União,
em 1994.

Construção da Sede
Tito Silva, primeiro presi- definitiva, no Distrito
dente de A União Industrial (1972).

Antonio Ferreira, ex-funcionário, linotipista de A Setor de artes da gráfica, tônio, Naudimilson


União, e na época, Alai, Pinto, Nelson e Brandão e Jessé, nos anos 80

Governador Wilson Braga em evento n’A


União, presenças de Luiz Augusto Crispim,
Deoclécio Moura, Hilton Gouveia, Lúcia
Braga, deputado Soares Madruga

Biu Ramos - Ex-superintendente Abmael Moraes Sebastião Barbosa (Barbosinha)


Líder comunista Gregório Jornalista Hilton Gouveia Antônio Barreto Neto
Bezerra

Jornalistas Linduarte Noranha, Petrônio Souto, Biu Ramos e Antonio Barreto Neto

Osias Gomes, ex- Walfredo Rodriguez Eduardo Martins


superintendente

A UNIÃO 357
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Máquinas Off-set, servidores Anselmo, José
A União à venda nos jornaleiros Pimenta, Chico Mamede e Ivaldo

Ano 2000 – Funcionários na campanha Basta, eu quero paz!

Deijaci Araújo, diretor Capas dos livros de Eduardo Martins, a obra mais
comercial e diretor de completa sobre A União
operações, no período
de 1983 a 1987
Colunista Social
Goretti Zenaide. A
jornalista faleceu
na madrugada
de 31 de julho de
2017 aos 67 anos.
Goretti conquistou
uma legião de
amigos e amigas
sobretudo no
meio jornalístico Capa do Correio das Milton Nóbrega, ex-
Artes, ilustração de Tônio diretor de A União
Nonato Bandeira Nonato Guedes Oduvaldo Batista

Lourival Ferreira Carlos Aranha

Ramalho Leite,
j ornalist a, e
esc rit or, ex -
su p erint end ent e
d e A U niã o, e
ex - d ep u t ad o
est ad u al

Fotógrafo Arnóbio Costa é homenageado na


ALPB pelo deputado Branco Mendes

Fachada da sede de
A União inaugurada
aos 2 de fevereiro
de 1974
Jornalista, escritor e pesquisador, Fernando Moura, ex- Juca Pontes
superintendente de A União

Biu Ramos, Nonato Guedes e Fernando Moura, os três Itamar Cândido, ex-superin-
dirigiram o jornal tendente de A União

Governador Ricardo Coutinho inaugurou em 30 de


ou t u b ro d e 2 0 1 7 a Sala d e Im p rensa B raille n’ A U niã o
Marcos Russo, Evandro Pereira, Alberi Pontes Josélio Carneiro ao lado de uma antiga
e Antonio David, com outros fotógrafos do impressora Linotipo, nos jardins de A União
Governo na Praça João Pessoa

Redação Jornalista Luiz Augusto Crispim Parte da equipe da Redação

José Carlos Cardoso, tratador de imagens

De mãos dadas, jornalistas simbolizam Geraldo Varela, Tônio e Guilherme Cabral


A U niã o

A UNIÃO 361
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Antonio Menino, de
acordo com Eduardo
Martins no livro
A União Jornal e
História da Paraíba
sua evolução gráfica
e editorial, foi em
1936 que ele chegou
às oficinas de A
UNIÃO, de onde
somente sairia 18
anos mais tarde, em
1954
Antiga Linotipo, peça de museu
exposta no jardim de A União

Alexandre, Josélio e a Linotipo

Logo dos 100 anos do jornal. Arte de Milton Nóbrega

Lançamento do livro Jornal Fátima Guedes e Antônio Moraes, Gil Figueiredo e Gilson Renato na Mul-
de hontem, de Fernando revisores tfeira Brasil Mostra Brasil - 2017
Moura

Palestra de Gonzaga Rodrigues nos 90 anos Domingos Sávio, Marcus Vinícius, Nilton Tavares Vieira,
d`A União, 2 de fevereiro de 1983 Naudimilson Ricarte, Milton Nóbrega e Jessé Xavier
Su p erint end ent e, Diret ores e Ed it or - 2 0 1 8

Alb ieg e Lea F ernand es Murillo Padilha Câmara Neto


Superintendente Diretor Administrativo

G ilson Renat o d e Oliv eira F elip e G est eira


Diretor de Operações Editor-Geral
PUBLICAÇÕES DE A UNIÃO

364 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Livros de
Josélio Carneiro

2002

2016

2017

2018
A UNIÃO 365
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Dirig ent es d e A U niã o d e 1 8 9 3 ( T it o Silv a) a 2 0 1 8 ( Alb ieg e F ernand es)

No livro “A União Jornal e História da Paraíba Sua Evolução Gráfica e Editorial”,


obra de Eduardo Martins publicada na década de 1970, consta a relação dos
dirigentes de A União a partir de Tito Silva em 1893 até José Moraes de Souto em
1975. Eis a lista acrescida dos demais superintendentes até 2018 com a jornalista
Albiege Fernandes que entra para a história do jornal por ser a primeira mulher a
assumir o cargo e se destaca como excelente gestora. Alguns assumiram a direção do
jornal por mais de uma vez. Algumas datas foram repassadas pela equipe do arquivo
de A União.

A União
Tito Silva – 2.2.1893 - 20.10.1904 / 20.10.1904 - 22.01.1912

Imprensa Oficial
Tito Silva – 22.11.1894 – 20.10.1900
João Casado – 21.10.1900 – 3.11.1900
Souza Rangel – 3.11.1900 – 5.11.1900
Francisco Coutinho – 5.11.1900 – 22.1.1902
Anastácio Peregrino – 22.1.1902 – 10.2.1903
Matheus de Oliveira – 10.2.1903 – 3.11.1905
Tito Silva – 3.11.1905 – 22.11.1912
Bernabé Gondim – 21.10.1912 – 13.2.1913

A União e Imprensa Oficial


Carlos Dias Fernandes – 13.2.1913 – 4.3.1925
Nelson Lustoza – 5.3.1925 – 22.10.1928
Celso Mariz – 23.10.1928 – 3.6.1929
Nelson Lustoza – 11.6.1929 – 27.2.1930
Osias Gomes – 128.2.1930 – 7.10.1930
Raphael Corrêa de Oliveira – 8.10.1930 – 24.10.1930
Antonio Galdino Guedes – 25.10.1930 – 1.3.1931
Samuel Duarte – 20.3.1931 – 27.12.1934
José Leal – 27.12.1934 – 28.3.1935
Orris Barbosa – 28.3.1935 – 30.7.1940
Abelardo Jurema – 31.7.1940 – 2.8.1940
José Leal – 18.8.1940 – 12.8.1941
Ascendino Leite – 15.8.1941 – 20.2.1943
Octacílio Nóbrega de Queiroz – 23.2.1943 – 27.4.1944
Severino Alves Ayres – 28.4.1944 – 24.3.1945
João Lelis – 25.3.1945 – 4.11.1945
Sabiniano Maia – 9.2.1945 – 13.2.1946
José de Cerqueira Rocha – 20.2.1946 – 20.10.1946
F. de A. Vidal Filho – 21.10.1946 – 28.2.1947
Wilson Madruga – 1.3.1947 – 10.3.1947

366 A UNIÃO
Josélio Carneiro ESCOLA DE JORNALISMO
Synésio Guimarães – 10.3.1947 – 13.2.1949
Sílvio Porto – 13.2.1949 – 14.7.1950
Hilton Marinho – 14.7.1950 – 9.12.1950
Dulcídio Moreira – 9.12.1950 – 30.1.1951
Juarez da Gama Batista – 1.2.1951 – 1.21956
Sabiniano Maia – 2.2.1956 – 21.8.1957
José Barbosa de Souza Lima – 27.8.1957 – 14.1.1958
Octacílio Nóbrega de Queiroz – 15.1.1958 – 30.7.1958
Hilton Marinho – 31.7.1958 – 20.7.1959
Hercílio Farias Brito – 21.7.1959 – 1.8.1959
José Barbosa de Souza Lima – 2.8.1959 – 18.3.1960
João Bernardo de Albuquerque – 9.4.1960 – 20.1.1961
Antonio Feitosa – 25.1.1961 – 31.1.1961
Hélio Zenaide – 6.2.1961 – 30.7.1962
Antonio Brayner – 2.8.1962 – 31.1.1966
José Moraes de Souto – 2.3.1966 – 21.3.1971
Severino Ramos – 23.3.1971 – 19.9.1971
Antonio Barreto Neto – 21.9.1971 – 26.1.1973
Luiz Augusto Crispim – 27.1.1973 – 21.6.1973
Luiz Ferreira da Silva – 23.6.1973 – 9.11.1973

10.11.1973 / 3.4.1975

Carlos Vieira da Silva – 10.11.1973 – 3.4.1975


José Moraes de Souto – 14.9.1990 – 18.3.1991
Nathanael Alves – 4.1979 – 7.4.1981
Petrônio Souto – 7.4.1981 – 26.5.1982
Etiênio Campos – 1982 - 1984
Aluísio Moura – 1984 - 1985
Deoclécio Moura – 12.1984 – 7.1986
Raimundo Nonato Batista – 1985 – 1986
Renato Mesquista – 3.7.1986 – 19.8.1986
Jório Machado – 1987 – 1º.7.1988
Biu Ramos – 23.3 / 19.3.1971 e 1988 - 1990
Nonato Guedes – 04.11.1993 – 14.11.1995
Itamar Cândido – 1991/1993 e 2003/ a março 2009
Eraldo Nóbrega – 15.11.1995 a meados de 1997
Zélio Marques – 4.4.1997 – 5.4.2000
Rui César Leitão – 6.4.2000 – 4.4.2002
Nelson Coelho – 5.4.2002 – 31.12.2002 e 2009 a 2010
Ramalho Leite – 2.1.2011 – 4.4.2012
Fernando Moura – 5.4.2012 – 4.12.2013

Albiege Fernandes, a primeira mulher a assumir o cargo, tomou posse em 5.1.2015, a


superintendente do jornal e editora A União na data de publicação dessa primeira edição.

A UNIÃO 367
ESCOLA DE JORNALISMO Josélio Carneiro
Sobre o livro

Projeto Gráfico Josélio Carneiro (JCA Edições)


Editoração/Capa Naudimilson Ricarte (Design Gráfico)
Imagem da capa Acervo da A União

Formato 15,5 x 22,5


Mancha gráfica 12,0 x 19,0
Tipologia utilizada Calibri
Papel do miolo Offset 75 g/m2
Papel da capa Duo Design 250 g/m2 - Plastificação Fosca

Produzido nas oficinas gráficas


A UNIÃO — Superintendência de Imprensa e Editora
Br 101 — KM 03 — Distrito Industrial — 58.082-010
João Pessoa — Paraíba — Brasil

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