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05/03/2020 Inteiro Teor (6346210)

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0001852-21.2015.4.03.6109/SP D.E.


2015.61.09.001852-0/SP
Publicado em 08/11/2017
RELATOR : Desembargador Federal MAURICIO KATO
APELANTE : FABIO JULIO DA SILVA
SP142440 EDILSON TOMAZ DE JESUS e
ADVOGADO :
outro(a)
APELADO(A) : Justica Publica
No. ORIG. : 00018522120154036109 2 Vr PIRACICABA/SP

EMENTA

PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO QUALIFICADO. 155, §


4º, II, CP. ATOS PREPARATÓRIOS. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. ABSOLVIÇÃO. ART.
386, VII, CPP. RECURSO PROVIDO.
1. Atos preparatórios constituem fase impunível do iter criminis.
2. A insuficiência de provas sobre a materialidade delitiva exige a absolvição do réu, com fundamento
no art. 386, VII, do Código de Processo Penal.
3. Apelação de defesa provida.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Quinta Turma do
Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, dar provimento ao recurso de apelação de
Fábio Júlio da Silva, para absolvê-lo da imputação da prática do crime tipificado no art. 155, § 4º, II,
do Código Penal, com fulcro no art. 386, VII, do Código de Processo Penal., nos termos do relatório e
voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

São Paulo, 25 de outubro de 2017.


MAURICIO KATO
Desembargador Federal

Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que instituiu a


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APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0001852-21.2015.4.03.6109/SP


2015.61.09.001852-0/SP

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05/03/2020 Inteiro Teor (6346210)

RELATOR : Desembargador Federal MAURICIO KATO


APELANTE : FABIO JULIO DA SILVA
SP142440 EDILSON TOMAZ DE JESUS e
ADVOGADO :
outro(a)
APELADO(A) : Justica Publica
No. ORIG. : 00018522120154036109 2 Vr PIRACICABA/SP

RELATÓRIO

Trata-se de apelação criminal interposta por Fábio Júlio da Silva em face da r. sentença das fls.
170/173, que julgou procedente a denúncia, por incursão do apelante na figura tipificada no art. 155, §
4º, II, do Código Penal, e o condenou a 8 (oito) meses de reclusão, em regime inicial semiaberto
(ressalvada a progressão permitida pelo art. 387, parágrafo 2º, do Código de Processo Penal), e 10
(dez) dias-multa, cada qual fixado em 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente ao tempo do
fato.

Nas razões recursais das fls. 222/226, aduz a defesa, em suma, que o fato imputado pela acusação é
atípico, pois o réu se arrependeu e desistiu de iniciar a ação delitiva, sendo surpreendido tão somente
na fase de atos preparatórios para crime de furto (posse dos apetrechos que seriam utilizados).

Contrarrazões apresentadas às fls. 230/234.

Certificou-se o trânsito em julgado da r. sentença para o Ministério Público Federal (fl. 205).

A Procuradoria Regional da República opinou pelo não provimento do recurso (fls. 236/237).

É o relatório.

À revisão.

MAURICIO KATO
Desembargador Federal

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APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0001852-21.2015.4.03.6109/SP


2015.61.09.001852-0/SP
RELATOR : Desembargador Federal MAURICIO KATO
APELANTE : FABIO JULIO DA SILVA
SP142440 EDILSON TOMAZ DE JESUS e
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outro(a)
APELADO(A) : Justica Publica
No. ORIG. : 00018522120154036109 2 Vr PIRACICABA/SP

VOTO

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Fábio Júlio da Silva foi denunciado por incursão no crime tipificado no art. 155, § 4º, II, c. c. o art.
14, II, do Código Penal, pelos fatos a seguir expostos.

Consta da denúncia que, em 21/02/2015, por volta das 09h05, no interior da agência da Caixa
Econômica Federal (CEF) localizada na Avenida Dona Jane Conceição, 1660, Bairro Paulista, em
Piracicaba/SP, o acusado, de forma livre e consciente, tentou subtrair, para si e para outrem, coisa
alheia móvel, consistente em valores existentes em contas bancárias de clientes da CEF. Para tanto, o
réu teria se valido de fraude, consistente na instalação de equipamento em um dos caixas eletrônicos
localizados na sala de autoatendimento da agência, para a captação de senhas de acesso das contas e
dados existentes nos respectivos cartões, assim como retenção do próprio cartão magnético, para
posteriormente realizar saques, transferências e/ou pagamentos indevidos.

Segundo a acusação, o crime não teria se consumado por circunstância alheia à vontade do agente:
abordagem realizada pelos policiais que o prenderam em flagrante.

Narra o Ministério Público Federal que, na manhã do dia dos fatos, o acusado ingressou na agência da
CEF mencionada e instalou em um dos caixas o equipamento que trazia consigo. A finalidade deste
equipamento, instalado na entrada para cartão magnético e que não era percebido pelo usuário do
caixa, seria reter o cartão introduzido e limitar o espaço para os dedos, impedindo que o cliente da
instituição financeira o retomasse.

Acionada, a Polícia Federal compareceu à agência e lá se deparou com o acusado tentando fugir.

Na posse do réu foram encontradas diversas anotações manuscritas - letras e números -, que
supostamente seriam senhas de clientes, bem como o equipamento de plástico utilizado para acoplar
no caixa eletrônico.

O prejuízo visado pelo réu seria o da própria CEF, já que esta mantém a posse dos valores depositados
e os deve ressarcir, caso sejam furtados.

Após regular processamento do feito, sobreveio sentença, publicada em 10/07/2015, que julgou
procedente a denúncia, por incursão do réu na figura tipificada no art. 155, § 4º, II, do Código Penal, e
o condenou a 8 (oito) meses de reclusão, em regime inicial semiaberto (ressalvada a progressão
permitida pelo art. 387, parágrafo 2º, do Código de Processo Penal), e 10 (dez) dias-multa, cada qual
fixado em 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente ao tempo do fato.

Passo à matéria devolvida.

O recurso deve ser provido.

De início, observa-se que o corpo probatório é composto por: a) depoimentos testemunhais dos
policiais militares Diego Alfredo Zancani (fls. 03/04 e 125) e Samuel Gomes de Oliveira (fls. 06/07);
b) auto de exibição e apreensão (fls. 13/14); c) informações prestadas pela Caixa Econômica Federal e
respectivas imagens de vídeo (fls. 51/53); d) interrogatório judicial do acusado (fl. 126).

De acordo com o auto de exibição e apreensão de fls. 13/14, foram encontrados na posse do réu
diversos papéis com anotações e um petrecho de plástico.

Em juízo, Diego Alfredo Zancani, policial militar, afirmou ter recebido pela "rede rádio" notícia de que
a equipe de vigilância contratada pela CEF visualizara um indivíduo que aparentemente procurava
fraudar caixas da agência do banco público (localizada na Av. Dona Jane Conceição, nº 1.660, em
Piracicaba/SP). Segundo as informações recebidas, o indivíduo vestia calça jeans e uma camiseta
listrada. A equipe policial da testemunha, acompanhada da equipe do Comando de Grupo Patrulha e
outras viaturas, se deslocaram até a agência bancária e abordaram o indivíduo com as características
informadas. Em um primeiro momento, o indivíduo negou a prática de crime, mas em revista pessoal
foi encontrado um petrecho, possivelmente utilizado por ele para fraudar o caixa. Alguns minutos
depois da abordagem, uma equipe de vigilância do banco chegou ao local. A empresa de vigilância
conseguiu identificar, por imagens de vídeo, a pessoa abordada como aquela que havia cometido
outras fraudes em agências de outras cidades da região. Relatou que uma primeira viatura policial
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passou pela agência, com o intuito de verificar-se se o indivíduo já havia saído da agência, mas, na
passagem da segunda viatura, viu-se que estava saindo do banco, momento em que foi abordado. Na
carteira do suspeito havia anotações manuscritas, numéricas e alfanuméricas, que aparentavam ser
senhas bancárias. A testemunha visualizou as imagens fornecidas pela empresa de vigilância, enviadas
para o seu aparelho de celular e de um colega de farda. Afirmou que, embora fossem pequenas,
conseguiu identificar o indivíduo retratado nas imagens como sendo o mesmo que foi abordado na
agência bancária, pelas roupas e pela aparência, corte de cabelo e feição. Nas imagens, o indivíduo se
aproximava do caixa, verificava onde se encontravam as câmeras de vigilância, com a intenção de
esconder o que fazia, e posteriormente, segundo a empresa de vigilância, ocorria a fraude quando uma
pessoa utilizava aquele caixa alterado. Segundo o policial, a função do petrecho era reter o cartão,
limitando o espaço existente para retirar o cartão com os dedos, de maneira que, quando inserido o
cartão, o cliente não tinha como tirá-lo de volta. Não sabe como, mas por meio do serviço de
atendimento ao cliente oferecido pelo banco ou por algum código que inseria na máquina, ele
conseguia a senha do titular do cartão e o utilizava até que fosse descoberta a fraude e bloqueado o
cartão. Afirmou a testemunha que o acusado, após ser encontrado o petrecho utilizado para a fraude,
explicou o modus operandi empregado e revelou finalidade do delito, fazer compras com o cartão da
vítima. Indagado se utilizava o mesmo petrecho em outras agências bancárias, o réu afirmou que não o
usava em todas, pois algumas possuem o sistema biométrico de identificação ou a entrada do caixa
eletrônico para cartões era diferente e não permitia o acoplamento do petrecho. Assim, utilizava o
objeto mais em agências da CEF, devido ao seu formato ser compatível com as máquinas do banco
público. A testemunha asseverou que não conhecia o acusado antes dos fatos e que ele seria
proveniente de Osasco/SP ou Guarulhos/SP. De acordo com o policial, o réu lhe disse que se dirigira a
Piracicaba/SP para participar da festa de um amigo e então decidiu realizar o furto. Relatou a
testemunha que o réu aparentemente não conseguiu fixar aparelho no caixa devido ao fluxo de pessoas
na agência, pois necessitaria que não houvesse ninguém na agência para fixá-lo, e acredita que, quando
o réu viu a primeira viatura policial, desistiu de realizar a tentativa de furto e saiu do estabelecimento.
O aparelho não era capaz de armazenar dados de cartões magnéticos.

Em seu interrogatório judicial, o acusado afirmou que se dirigiu à cidade de Piracicaba/SP somente
para cometer o crime de furto, em razão de necessidades financeiras. Chegando próximo à agência
bancária, recebeu uma ligação telefônica de sua mulher, o que o demoveu de praticar o crime.
Adentrou a agência e permaneceu ali entre três e cinco minutos, em frente aos caixas eletrônicos, mas
não manuseou os equipamentos. Ao sair da agência, foi preso por policiais militares. Explicou que o
petrecho é feito de plástico, não eletrônico, e fora adquirido em São Paulo no dia anterior. O
funcionamento do petrecho consistia em, uma vez instalado no caixa eletrônico, obstruir a retirada do
cartão magnético inserido pelo cliente, momento em que ofereceria ajuda à vítima e lhe solicitaria a
senha do cartão para resolver o falso problema. A conduta criminosa só seria exitosa se o acusado
lograsse receber a senha do cliente ludibriado. Afirmou que desistiu de executar o crime por livre e
espontânea vontade, pensando em sua filha menor, no que sua esposa lhe dissera e no que poderia
ocorrer com ele se fosse preso ou acontecesse algo pior.

De fato, as provas trazidas aos autos demonstram que Fábio Júlio da Silva ingressou na agência
bancária com o intento de furtar cartões magnéticos de clientes da CEF, para posteriormente cometer
crimes de estelionato, utilizando-os para compras. A volição do acusado está comprovada pelo seu
próprio depoimento, o qual se encontra em consonância com os objetos encontrados em seu poder e
com o testemunho do policial militar.

Entretanto, as provas apresentadas não demonstram que o acusado efetivamente praticou atos de
execução do crime de furto.

Observa-se que a testemunha Diego Alfredo Zancani visualizou o acusado somente quando este já
estava do lado de fora da agência bancária, prestes a fugir. Não viu, portanto, o que o acusado fizera
naquele estabelecimento.

Fábio Júlio da Silva, por sua vez, negou que tenha instalado o petrecho confeccionado para subtração
num caixa eletrônico.

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A dúvida sobre se o acusado instalou ou não o petrecho - o que configuraria o início da execução do
crime - poderia ser solucionada pelas imagens gravadas pelas câmeras de segurança da agência.

Diego Alfredo Zancani afirmou em juízo que recebera essas imagens da empresa de vigilância em seu
celular e que estas teriam sido extraídas e armazenadas em um cartão de memória digital, à disposição
da Polícia Civil.

O referido cartão foi encaminhado ao Juízo de primeiro grau (fl. 72) e acautelado em depósito judicial
(fl. 74).

Ocorre que, requisitadas as imagens ao Juízo a quo (fl. 239), sucedeu a informação de que o cartão de
memória em que estão armazenadas está ilegível (fl. 244).

Assim, os elementos probatórios não demonstram a existência de materialidade delitiva, pois não
permitem aferir se o réu iniciou atos executórios de furto ou se realizou apenas atos preparatórios para
o delito e, como se sabe, a mera preparação é fase impunível do iter criminis.

Ante o exposto, dou provimento ao recurso de apelação de Fábio Júlio da Silva, para absolvê-lo da
imputação da prática do crime tipificado no art. 155, § 4º, II, do Código Penal, com fulcro no art. 386,
VII, do Código de Processo Penal.

É como voto.

MAURICIO KATO
Desembargador Federal

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Data e Hora: 16/10/2017 11:32:57

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