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JUSTIÇA FEDERAL

1ª VARA FEDERAL DE GUARULHOS


Av. Salgado Filho, nº 2050, 2º andar, 07115-000, Guarulhos/SP
Tel. (11) 2475-8221, Fax (11) 2475-8211
guaru_vara01_sec@jfsp.jus.br

Autos nº 0007042-32.2015.403.6119
Sentença Tipo D - Provimento COGE nº 73/2007

VISTOS, em sentença.
Trata-se de ação penal pública ajuizada pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL em face de LESZEK ZBIGNIEW
WÓJTOWICZ, polonês, qualificado nos autos, pela afirmada
prática do crime previsto nos arts. 33 c/c art. 40, inciso
I, da Lei 11.343/06 (tráfico internacional de drogas).
Segundo a denúncia, o acusado foi preso em
flagrante delito aos 20/07/2015, nas dependências do
Aeroporto Internacional de Guarulhos/SP quando estava
prestes a embarcar para Bruxelas (vôo EK262, EMIRATES), por
ter a Polícia Federal encontrado com ele 1,648kg (um quilo,
seiscentos e quarenta e oito gramas – massa líquida) de
cocaína, sem autorização legal ou regulamentar.
Conforme laudo preliminar de constatação (fls.
09/11) e laudo definitivo (fls. 78/81), os testes da
substância encontrada com o denunciado resultaram POSITIVOS
para cocaína.
O denunciado foi notificado quanto ao crime de
tráfico no dia 21/09/2015 (fl. 72), tendo apresentado sua
defesa prévia, por meio de Defensor Público Federal, em
07/10/2015 (fls. 99/103).
A denúncia foi recebida em 20/10/2015 (fls. 114).

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Laudo complementar do laudo toxicológico


informando a pureza da substância entorpecente às fls.
143/145.
Realizada audiência de instrução no dia de hoje
(02/02/2016), gravada e filmada em mídia eletrônica, nos
moldes do art. 405 do Código de Processo Penal, foram
ouvidas duas testemunhas e o acusado foi interrogado.
O Ministério Público Federal apresentou alegações
finais orais e a Defensoria Pública da União ofereceu
memoriais escritos.
As informações acerca dos antecedentes criminais
do réu foram juntadas às fls. 135 (INI/NID/DPF/SP), 83
(JF/3ª Região), 137 (SSP/SP), 94 (INTERPOL) e 136 (IRGD)
sem apontamentos.
Certidão de movimentos migratórios às fls. 91/92.
É o relatório necessário. DECIDO.

De início, registro que o feito encontra-se


formalmente em ordem, inexistindo vícios ou nulidades a
sanar, tampouco matéria preliminar a ser apreciada.
Sendo assim, passo à análise do mérito desta
ação penal. E, ao fazê-lo, reconheço a inteira procedência
da acusação formulada pelo Ministério Público Federal,
devendo o réu ser condenado pelos fatos descritos na
denúncia.

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1. Da materialidade

A materialidade do crime imputado ao réu está


cabalmente comprovada nos autos.
Com efeito, o réu LESZEK ZBIGNIEW WÓJTOWICZ foi
preso em flagrante trazendo consigo, sem autorização legal
ou regulamentar, 1,648Kg (um quilo, seiscentos e quarenta e
oito gramas – massa líquida) de substância que, assim o
laudo preliminar de constatação como o laudo definitivo
(fls. 78/81) foram categóricos em reconhecer como sendo o
entorpecente denominado cocaína, causador de dependência
física ou psíquica.
Não havendo dúvida de que a substância apreendida
com o réu é cocaína, a quantidade e o modo de
acondicionamento da droga permitem concluir que se trata de
tráfico, e não de mero porte para uso pessoal, restando
plenamente configurado o enquadramento dos fatos no delito
previsto no art. 33 da Lei 11.343/06.
Por fim, a natureza da substância apreendida com
o réu e as circunstâncias do caso revelam, sem sombra de
dúvida, a transnacionalidade do tráfico na espécie, sendo
inegável que a conduta foi praticada com o intuito de
transportar o entorpecente para o exterior.
Todos os elementos de prova constantes dos autos
convergem nesse sentido. O comprovante de passagem aérea
para o exterior, o passaporte do réu, o local e as
circunstâncias da prisão em flagrante (na iminência de
embarque para o exterior), bem como o depoimento das
testemunhas, e ainda o interrogatório do réu, que confirmou

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que se dirigia ao exterior. Tudo demonstra a


internacionalidade do tráfico no caso concreto
(transferência da droga de um país a outro).
Cumpre assinalar, por oportuno, que o fato de o
réu não ter deixado o território nacional é absolutamente
irrelevante para a configuração da transnacionalidade do
tráfico de drogas.
Como reiteradamente afirmado pelo E. Tribunal
Regional Federal desta 3ª Região, “A orientação
jurisprudencial vem entendendo ser desnecessário, para a
configuração do tráfico internacional, que a substância
entorpecente deixe o solo pátrio, bastando que se destine a
esse fim” (TRF3, ACr 20076181015291-1/SP, Quinta Turma,
Rel. Des. Federal ANDRÉ NEKATSCHALOW, DJe 30/09/2010).
Sendo assim, é indisputável a transnacionalidade
do tráfico na espécie.
Presente este cenário, tenho por comprovada a
materialidade do crime.

2. Da autoria

A autoria do crime imputado ao réu igualmente


está comprovada nos autos.
Demais do Auto de Prisão em Flagrante e do
reconhecimento pelas testemunhas em audiência, o réu, em
seu interrogatório judicial, admitiu ser o autor dos fatos
a ele imputados na denúncia.
Diante desse quadro probatório, não havendo
controvérsia alguma nos autos, tenho por comprovado ser o

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réu LESZEK ZBIGNIEW WÓJTOWICZ, o autor dos fatos descritos


na denúncia.

3. Do dolo

Comprovadas a materialidade e a autoria


delitivas, cumpre agora examinar o elemento subjetivo do
réu quando da prática delituosa.
O réu, polonês, disse morar na Espanha há alguns
anos e ter vindo ao Brasil para “conhecer o País e quem
sabe voltar para as Olimpíadas”. Disse ter pago sua própria
passagem (afirmando que a contradição com o quanto afirmado
em sede policial se deve a problemas de tradução) e que,
uma vez aqui, recebeu um telefonema de um conhecido na
Espanha (“Ian Gravolsky”), que lhe pediu que levasse
“presentes” em seu retorno, consistentes em roupas e bolsas
femininas. Afirmou ter se hospedado parte do tempo em
apartamento de um desconhecido e recebido as bolsas
contendo a droga no meio da rua. Nesse momento, disse,
sentiu forte cheiro de cola e passou a suspeitar que havia
algo errado. Em seguida, dirigiu-se ao Aeroporto
Internacional de Guarulhos, onde foi preso em flagrante.
A versão do réu não convence este Juízo.
Com efeito, o contexto em que se deu a vinda do
réu ao Brasil é de todo suspeito (tendo o próprio acusado
reconhecido tal circunstância durante o interrogatório, ao
compreender a linha de inquirição do Juízo).
Veja-se, em primeiro lugar, que a justificativa
dada para a vinda ao Brasil em nenhum momento se confirma:

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o réu diz ter vindo para conhecer o País e quem sabe voltar
para os Jogos Olímpicos, mas nada visitou. Não citou nenhum
dos possíveis pontos de interesse na cidade de São Paulo e
deixou irrespondida a indagação de por que não teria ido ao
mais tradicional destino de estrangeiros no Brasil, a
cidade do Rio de Janeiro (ainda mais considerando o
afirmado interesse na Olímpiadas, que terão sede naquela
cidade).
Mais do que isso, o réu dá a entender que, ao
receber uma ligação de um mero conhecido da Espanha,
pedindo para que levasse “presentes” em seu retorno à
Europa, simplesmente abandonou sua viagem para “conhecer o
País” e se trancou por dias em um apartamento de um
desconhecido, à espera da viagem de volta, afirmadamente
sem nenhuma promessa de pagamento.
Demais disso, o tortuoso itinerário aéreo – ao
invés da viagem direta Espanha-Brasil – também restou sem
explicação plausível. Em realidade, não se concebe
justificativa razoável para que alguém, pretendendo vir de
férias da Espanha ao Brasil (rota servida por diversas
companhias aéreas e em várias cidades), opte por retornar
em longuíssimo (e caro) vôo para Dubai e Bruxelas, para
somente depois regressar a Barcelona. Lembrando que o réu
disse ter pouco tempo no Brasil porque “suas férias
estariam acabando”.
E em meio a esse cenário já suspeito, surge o
suposto telefonema para que o réu recebesse bolas femininas
para levar para Bruxelas. Ligação de um “conhecido”.
Recebimento das bolsas de um completo desconhecido no

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Brasil, “no meio da rua”. E entrega pretendida em Bruxelas,


para outro completo desconhecido.
Nesse contexto, tomado de circunstâncias
suspeitas e mal explicadas, simplesmente não há como se
reconhecer como verdadeira a versão apresentada pelo réu,
notadamente no que diz respeito aos motivos de sua vinda ao
Brasil, ao custeio de sua viagem e ao pleno conhecimento,
desde o início, de que sua vinda ao País se destinava ao
tráfico internacional de drogas.
Noutras palavras, as circunstâncias do caso
concreto desvestem de verossimilhança a versão apresentada
em interrogatório pelo réu, evidenciando, ao contrário, o
dolo deduzido do transporte deliberado de entorpecente na
bagagem.
Postas estas considerações, tenho que, diante das
circunstâncias da prisão do réu e da versão pouco
verossímil e desamparada de provas por ele apresentada em
seu interrogatório judicial, pode-se afirmar, para além de
qualquer dúvida razoável, que o acusado veio ao Brasil com
o propósito deliberado de participar do crime de tráfico
internacional de drogas, agindo com consciência e vontade
livre na espécie.
Reconheço, assim, o dolo do réu LESZEK ZBIGNIEW
WÓJTOWICZ na prática dos fatos descritos na denúncia.

3. Conclusão quanto à existência dos crimes

Postas as razões que se vem de referir, vê-se com


nitidez que o réu realizou objetiva e subjetivamente as

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elementares do tipo penal do tráfico internacional de


drogas, incorrendo em conduta típica; não lhe socorrendo
nenhuma causa de justificação, é também antijurídica sua
conduta; imputável, agindo com potencial consciência da
ilicitude e sendo-lhe exigível, nas circunstâncias, conduta
diversa, é culpável, passível, pois, de imposição de pena.

4. Passo, assim à DOSIMETRIA DA PENA.

1ª Fase
Tratando-se do crime de tráfico internacional de
drogas, devem ser consideradas, com preponderância sobre as
circunstâncias previstas no art. 59 do Código Penal
(culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade
do agente, motivos, circunstâncias e conseqüências do crime
e comportamento da vítima), a natureza e a quantidade do
entorpecente e a personalidade e a conduta social do agente
(cfr. Lei 11.343/06, art. 42).
Na linha defendida por parcela considerável da
doutrina, entendo que a culpabilidade de que trata o art.
59 do Código Penal, enquanto juízo de reprovação social que
o crime e o seu autor merecem, equivale ao conjunto de
todas as demais circunstâncias judiciais postas no art. 59
(vide, por todos, GUILHERME DE SOUZA NUCCI, Código Penal
comentado, versão compacta, Editora RT, 2009, p. 302),
razão pela qual deixo de analisá-la em separado.
O réu não registra antecedentes conhecidos.
Não há nos autos elementos a respeito da conduta
social (papel do agente na comunidade, no contexto da

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família, do trabalho, etc.) e da personalidade do réu


(conjunto de atributos psicológicos da pessoa, que
determinam seus padrões de pensar, sentir e agir,
conferindo-lhe individualidade) que recomendem majoração da
pena mínima nesse particular.
No que toca aos motivos do crime, o réu afirmou
em seu interrogatório estar fazendo um favor a um amigo,
não havendo como se valorar positiva ou negativamente esta
circunstância.
Por fim, as circunstâncias e conseqüências do
crime ligam-se intimamente com a natureza e a quantidade da
droga apreendida com o réu, dizendo respeito, basicamente,
às condições de tempo, modo e lugar em que praticado o
delito e ao mal dele decorrente.
Neste particular, vê-se que o réu foi preso
transportando para o exterior 1,648kg de cocaína,
psicotrópico de elevado efeito nocivo ao organismo dos
usuários e às suas relações sociais e familiares.
Cumpre registrar que o grau de pureza da droga é
absolutamente irrelevante para fins tanto de comprovação da
materialidade quanto de dosimetria da pena.
E isso porque, seja de 10% ou 90% a pureza da
cocaína transportada, ela será sempre isso mesmo: cocaína,
substância entorpecente de uso proscrito e de inegáveis
efeitos nocivos à saúde dos usuários, seja qual for seu
grau de pureza.
De resto, considerando que a cocaína é droga cujo
uso mais comum se dá em porções de poucos gramas, é

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inegável que a quantidade apreendida com o réu apresentava


considerável potencial destrutivo.
É manifestamente desfavorável ao réu, destarte,
esta circunstância judicial (que, repise-se, o art. 42 da
Lei 11.343/06 manda que seja considerada com preponderância
sobre as demais).
Assentadas as considerações acima, tenho que,
nesta primeira fase de fixação da pena, a pena-base deve
ficar acima do mínimo legal.
A fim de estabelecer um critério objetivo dotado
de razoabilidade para o aumento de pena decorrente da
natureza e da quantidade de droga transportada, tenho que,
diante de uma escala de aumentos possíveis que vai de 1/6 a
2/3 (1/6, 1/5, 1/4, 1/3, 1/2 e 2/3, desprezadas frações
intermediárias muito próximas), quantidades acima de 500g e
até 2kg devem merecer o menor aumento, de 1/6; acima de 2kg
e até 4kg, 1/5; de 4kg até 7kg, 1/4; de 7kg a 10kg, 1/3; de
10kg a 15kg, 1/2; e acima de 15kg, 2/3.
Nesse passo, sendo as circunstâncias judiciais
desfavoráveis ao réu (uma das quais preponderante, relativa
aos 1,648kg de droga transportada), aumento a pena mínima
do réu em 1/6, fixando a pena-base em 5 (cinco) anos e 10
(dez) meses reclusão e 580 dias-multa.

2ª Fase
Não foram invocadas agravantes pela acusação.
No que diz respeito a atenuantes, a despeito do
elogiável esforço da defesa técnica do réu ao cabo do
interrogatório, entendo assistir razão ao Ministério

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Público Federal no ponto, não sendo possível reconhecer a


atenuante da confissão na espécie.
E isso porque, à primeira pergunta do Juízo sobre
se o réu sabia que transportava drogas em sua bagagem, ele
hesitou e disse que não, mas que suspeitava que “havia algo
errado”. E tal atitude ambígua do acusado seguiu por todo o
interrogatório, no curso de sua versão pouco verossímil.
Indagado, ainda pelo Juízo, o que acreditava que
havia de errado com as bolsas femininas recebidas, disse
ter estranhado o cheiro, mas que acreditava que não estava
violando nenhuma lei brasileira.
Como destacado pelo Ministério Público Federal,
apenas ao fim, quando perguntado expressamente pelo
Defensor Público Federal se “confessava” o crime, o acusado
disse que sim, e ainda assim agregou hesitações em sua
resposta.
Nesse passo, entendo que não que se falar em
confissão espontânea na espécie, sequer tendo sido usada a
insegura admissão do acusado para comprovação do dolo.
Mantenho, assim, a pena do réu em 5 (cinco) anos
e 10 (dez) meses reclusão e 580 dias-multa.

3ª Fase
Incide no caso, a causa de aumento de pena
prevista no art. 40, inciso I da Lei 11.343/06, decorrente
da transnacionalidade do tráfico de drogas, nos termos
precedentemente expostos.
Considerando que o art. 40 da Lei 11.343/06 prevê
sete causas de aumento, admitindo majoração da pena em

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patamares que vão de 1/6 a 2/3 (intervalo que compreende


aumentos progressivos possíveis de 1/6, 1/5, 1/4, 1/3, 1/2,
e 2/3 – desprezadas frações intermediárias muito próximas),
entendo que, verificada no caso concreto a presença de
apenas uma das majorantes, o aumento deve ser de apenas
1/6, reservando-se os patamares maiores (1/5, 1/4, 1/3, 1/2
e 2/3) para casos em que se constate a incidência de mais
de uma das causas de aumento do art. 40, ou a especial
gravidade de qualquer delas.
Nesse passo, aumento a pena do réu em 1/6,
resultando em 6 (seis) anos, 9 (nove) meses e 20 (vinte)
dias de reclusão e 670 dias-multa.
Não havendo outras causas de aumento de pena,
quer da parte geral do Código Penal, quer da lei especial
de drogas, passo ao exame das possíveis causas de
diminuição.
Incide na espécie a causa de diminuição de pena
prevista no art. 33, §4º da Lei 11.343/06, que estabelece
que “Nos delitos definidos no caput e no §1º deste artigo,
as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços,
vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde
que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se
dedique às atividades criminosas nem integre organização
criminosa” (grifamos).
Na hipótese dos autos, é induvidoso que o réu é
primário e não ostenta maus antecedentes.
Além disso, não há prova de que se dedique a
atividades criminosas.

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Dúvida poderia haver, em realidade, apenas quanto


do réu integrar ou não “organização criminosa”.
E, neste ponto, entendo que as considerações do
Ministério Público Federal em alegações finais, embora
indiquem a possibilidade de o réu efetivamente integrar a
organização criminosa por trás da operação de tráfico
internacional de drogas obstada pela Polícia Federal, não
comprova o efetivo appartenere do acusado a grupo criminoso
organizado, com a suficiência necessária para afastar a
benesse penal.
Em primeiro lugar, a nítida desenvoltura e
articulação do réu em seu depoimento, se poderiam
evidenciar um “traquejo” do acusado com o universo
criminoso, bem poderiam ser explicadas por razões mais
prosaicas, como a conhecida diferença de temperamento entre
os nacionais do leste europeu e os da costa africana
ocidental, sendo estes, via de regra, mais calados e menos
desenvoltos em audiência (id quod plerumque accidit, na
realidade judiciária de Guarulhos).
Seja como for, vê-se que as impressões da
Acusação são, no caso concreto – em que inexistem outras
provas – apenas isso, impressões, conjecturas. Apontam para
algo possível, mas carente de efetiva comprovação fática,
não se podendo afirmar, categoricamente, que o réu, ao
invés de mera “mula” do tráfico internacional de drogas, de
fato integra a organização criminosa.
Sendo assim, entendo que a percepção do
Ministério Público Federal, ainda que segura e convicta,
não tem o condão, por si só, de levantar presunção contra o

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réu que o impeça de gozar de benefício penal previsto em


lei.
Dessa forma, tenho que o acervo probatório
produzido nos autos permite a qualificação do acusado –
como anotado – como “mula” do tráfico.
Nas palavras do eminente Desembargador Federal
NELTON DOS SANTOS, “As ‘mulas’ funcionam, no contexto do
tráfico internacional de entorpecentes, como agentes
ocasionais de transporte das drogas. Não se subordinam de
modo permanente às organizações criminosas, não integram
seus quadros, mas servem para assegurar a insuspeição da
prática criminosa” (TRF3, Apelação Criminal,
200961190043184, Segunda Turma, Rel. Des. Federal NELTON
DOS SANTOS, DJF3 05/05/2011).
Assim, “Conquanto não integre, em caráter estável
e permanente, a organização criminosa, a assim denominada
‘mula’ tem plena consciência de que está a serviço de um
grupo dessa natureza. Desse modo, a redução de pena ditada
pelo §4º do artigo 33 da Lei n.º 11.343/2006 não deve ser
superior a 1/6 (um sexto)” (Apelação Criminal,
200961190023057, Segunda Turma, Rel. Des. Federal NELTON
DOS SANTOS, DJF3 04/11/2010).
Acompanho integralmente a orientação
jurisprudencial acima exposta.
Entendo, de um lado – e seja-me permitido dizê-lo
com máximo respeito aos que entendem diversamente – que não
se pode afirmar que a “mula” do tráfico integra a
organização criminosa, uma vez que, para tanto, seria
indispensável que houvesse um vínculo minimamente estável e

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permanente entre a “mula” e os demais membros da


organização, o que via de regra não ocorre.
Demais disso, não se pode perder de perspectiva
que, desde o advento da Lei 12.850/13 (que conceituou o que
se deve entender por organização criminosa [art. 1º, §1º:
“considera-se organização criminosa a associação de 4
(quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a
prática de infrações penais cujas penas máximas sejam
superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional”] e previu especificamente o delito autônomo
de “integrar organização criminosa”, com pena de 3 a 8 anos
[art. 2º]), afirmar que a mula integra organização
criminosa significa imputar-lhe a prática de um outro crime
específico, impondo ao Ministério Público Federal,
necessariamente, a demonstração das elementares do tipo,
ainda que com vistas exclusivamente ao afastamento do
benefício de redução de pena do crime de tráfico previsto
no art. 33, §4º da Lei 11.343/06.
Vale dizer, após a Lei 12.850/13, ou a mula
integra a organização criminosa - e, além de não fazer jus
ao benefício penal previsto no art. 33, §4º da Lei
11.343/06, deve necessariamente ser denunciada também pelo
crime previsto no art. 2º da Lei 12.850/13 – ou não integra
a organização e, destarte, tem direito à causa de redução
de pena prevista na Lei de Drogas.

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Assim, me parece que não se pode afastar das


“mulas”, pura e simplesmente – i.é., sem que se demonstre o
efetivo appartenere da mula ao grupo criminoso organizado,
com as conseqüências da Lei 12.850/13 - a aplicação da
causa de diminuição de pena prevista no art. 33, §4º da Lei
de Drogas, uma vez que, não integrando organização
criminosa, preenchem o último requisito legal para o
benefício penal.
De outro lado, contudo, é inegável que, no caso
concreto, embora não integrando efetivamente a organização
criminosa, o réu, dispondo-se a transportar drogas de um
país a outro - recebendo e entregando o entorpecente a
pessoas distintas em cenário claramente preparado e
organizado - tinha plena consciência de que, com sua
participação no transporte da droga, colaborava
decisivamente para o sucesso de um grupo criminoso
internacional (ainda que sem integrá-lo).
Sendo assim, entendo que, mesmo fazendo jus à
causa de diminuição de pena prevista no art. 33, §4º da Lei
11.343/06, o réu deve ser beneficiado pelo menor patamar da
redução (1/6), reservando-se os patamares maiores aos que,
não integrando organizações criminosas, com elas sequer se
relacionem (ou ignorem por completo com elas se
relacionar).
Postas estas razões, reduzo a pena fixada até
aqui em 1/6, e TORNO DEFINITIVA a pena privativa de
liberdade de 5 (cinco) anos, 8 (oito) meses e 1 (um) dia de
reclusão e multa de 550 dias-multa, relativamente ao crime
de tráfico internacional de drogas.

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Diante da ausência de elementos seguros sobre as


condições financeiras do réu, atribuo a cada dia-multa, na
conformidade do art. 43 da Lei 11.343/06, o valor de 1/30
(um trinta avos) do salário mínimo nacional vigente na data
do fato (20/07/2015).

5. Do regime inicial de cumprimento da pena

A pena concretamente aplicada ao réu enseja, em


princípio, o início de cumprimento em regime semi-aberto,
nos termos do art. 33, §2º, ‘b’ do Código Penal e do art.
387, §2º do Código de Processo Penal (“detração” do tempo
de prisão processual do acusado = 6 meses e 12 dias).
Muito embora “os critérios previstos no art. 59”
(CP, art. 33, §3º) tenham sido utilizados, na primeira fase
de fixação da pena, para agravamento da pena mínima do
tráfico – circunstância que poderia recomendar, por
coerência, também o agravamento do regime inicial de
cumprimento da pena -, impõe-se assinalar que os critérios
utilizados na dosimetria da pena foram exclusivamente os
objetivos (dizendo respeito à quantidade e à natureza da
droga transportada), nada havendo de negativo no tocante às
circunstâncias judiciais subjetivas (antecedentes, conduta
social, personalidade e motivos da agente).
Não se pode perder de perspectiva, neste ponto,
por relevante, que a fixação do regime inicial de
cumprimento da pena, dizendo respeito diretamente à
necessidade ou não de segregação do condenado do meio

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social, há de levar em conta as condições pessoais do


apenado.
Vale dizer, importam, aqui, precisamente as
circunstâncias judiciais subjetivas, únicas capazes de
revelar a aptidão do condenado para cumprir sua pena em
regime diverso do fechado.
Cumpre registrar, neste ponto, por relevante, que
a personalidade desenvolta e articulada do réu demonstrada
em audiência não pode ser invocada como característica
pessoal negativa, na linha do já exposto acima.
Nesse contexto, inexistindo circunstâncias
judiciais subjetivas desfavoráveis ao réu, é de rigor a
fixação do regime inicial apenas com base na pena aplicada,
ainda que – como sempre salientado por este Juízo – o
delito em questão, objetivamente considerado, revista-se de
especial gravidade, sendo mesmo equiparado a crime
hediondo.
Postas estas considerações, a pena deverá ser
cumprida inicialmente no regime semi-aberto.

6. Da substituição da pena privativa de liberdade

Na hipótese dos autos, não tem direito o réu à


substituição da pena privativa de liberdade por pena
restritiva de direitos, uma vez que o art. 44, inciso I do
Código Penal somente admite a substituição quando, entre
outros requisitos, for aplicada pena privativa de liberdade
não superior a 4 (quatro) anos.

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Sendo a pena concretamente aplicada ao réu


excedente ao limite legal, não há direito à substituição.

7. Do direito de apelar em liberdade

Nos termos do art. 387, parágrafo único do Código


Penal, na redação conferida pela Lei 11.719/08, “O juiz
decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for
o caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida
cautelar, sem prejuízo do conhecimento da apelação que vier
a ser interposta”.
Como afirmado pelo C. Supremo Tribunal Federal, a
prisão cautelar do condenado revela-se legítima quando
“encontra suporte idôneo em elementos concretos e reais que
- além de se ajustarem aos fundamentos abstratos definidos
em sede legal - demonstram que a permanência em liberdade
do suposto autor do delito comprometerá a garantia da ordem
pública e frustrará a aplicação da lei penal” (STF, RHC
83070, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, DJ
27/03/2009).
Na hipótese dos autos - em que o réu respondeu ao
processo preso, desde sua prisão em flagrante - não houve
mudança da base fática que recomende revisão dos
fundamentos que subsidiaram o decreto de custódia cautelar
do acusado. Significa dizer, continuam presentes os
pressupostos e requisitos da prisão preventiva.
Com efeito, foram comprovadas, após regular
processamento desta ação penal, a materialidade e a autoria
delitivas.

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De outra parte, a despeito dos esforços da defesa


técnica do réu, as circunstâncias do caso concreto revelam
que o acusado, estrangeiro, não tem vínculo algum com o
distrito da culpa, não sendo exagerado supor que ele –
condenado a pena privativa de liberdade superior a 4 anos
de reclusão – se posto imediatamente em liberdade, poderá
ocultar-se ou fugir, furtando-se à aplicação da lei penal,
sobretudo diante da situação de completo abandono material
em que se veria fora da prisão.
Demais disso, as particulares circunstâncias do
caso (tráfico internacional de considerável quantidade de
droga, com prisão em flagrante na iminência do embarque
internacional) revelam também a necessidade da manutenção
da prisão preventiva como garantia da ordem pública.
E isso porque, como já decidiu o C. Supremo
Tribunal Federal, “’A garantia da ordem pública se revela,
ainda, na necessidade de se assegurar a credibilidade das
instituições públicas quanto à visibilidade e transparência
de políticas públicas de persecução criminal’ (HC 98.143,
de minha relatoria, DJ 27-06-2008)” (STF, HC 96579, Rel.
Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, DJe-113 18/06/2009).
Mais do que isso, externou a C. Suprema Corte
grave advertência no sentido de que, em certos casos – como
o presente - “a não decretação da prisão pode representar
indesejável sensação de impunidade, que incentiva o
cometimento de crimes e abala a credibilidade do Poder
Judiciário” (STF, HC 83868, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Rel.
p/ Acórdão Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, DJe-071
16/04/2009).

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Postas estas razões, tenho que a manutenção da


custódia cautelar do réu é medida que se impõe, não lhe
sendo permitido apelar em liberdade.

8. Do perdimento de bens

O art. 243 da Constituição Federal determina que


“Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em
decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins será confiscado e reverterá em benefício de
instituições e pessoal especializados no tratamento e
recuperação de viciados e no aparelhamento e custeio de
atividades de fiscalização, controle, prevenção e repressão
do crime de tráfico dessas substâncias”.
À luz do mandamento constitucional, e nos termos
do art. 63 da Lei 11.343/06, é de rigor o perdimento, em
favor da União, dos bens utilizados pelos réus para a
prática do delito, conforme termos de apreensão constantes
do inquérito policial, inclusive do valor atinente ao
eventual reembolso de passagens aéreas não utilizadas pelos
acusados.
No tocante à passagem aérea, contudo, impõe-se
registrar, por relevante, que o perdimento atinge os
condenados (e não as companhias aéreas), apenas sub-rogando
a União nos eventuais direitos dos réus em face das
empresas aéreas. Tais direitos, à toda evidência, deverão
ser buscados pela União em sede própria, assegurado o
contraditório e a ampla defesa à companhia aérea, em
obséquio aos imperativos do devido processo legal (cfr.

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TRF3, MS 0087959-77.206.403.000, Rel. Des. Federal VESNA


KOLMAR).

– DISPOSITIVO

Diante do exposto, julgo procedente o pedido


deduzido na denúncia e CONDENO O RÉU LESZEK ZBIGNIEW
WÓJTOWICZ, qualificado nos autos, pela prática do crime de
tráfico internacional de drogas (Lei 11.343/06, art. 33 c/c
art. 40, inciso I) à pena privativa de liberdade de 5
(cinco) anos, 8 (oito) meses e 1 (um) dia de reclusão, a
ser cumprida inicialmente em regime prisional semi-aberto,
bem como à pena de multa, no montante de 550 (quinhentos)
dias-multa, ao valor unitário de 1/30 (um trinta avos) do
salário mínimo nacional vigente na data dos fatos
(20/07/2015).
Incabível a substituição da pena privativa de
liberdade por quaisquer das penas restritivas de direito,
nos termos da fundamentação.
Presentes os pressupostos e requisitos para a
prisão preventiva do réu, MANTENHO SUA CUSTÓDIA CAUTELAR,
nos termos do art. 387, par. ún., do Código de Processo
Penal, razão pela qual não poderá apelar em liberdade.
Expeça-se guia de recolhimento provisória,
recomendando-se o réu na prisão em que se encontra,
salientando-se que o regime inicial para cumprimento da
pena é o semi-aberto.
DECRETO O PERDIMENTO, em favor da União, dos bens
utilizados pelo réu para a prática do delito, conforme

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termo de apreensão à fl. 15, nos termos da fundamentação


supra.
Tendo sido defendido pela Defensoria Pública da
União, face à carência de recursos próprios para contratar
advogado, deixo de condenar o réu ao pagamento das custas
processuais (CPP, art. 804).
Após o trânsito em julgado, lance-se o nome do
réu no rol dos culpados e oficie-se aos órgãos responsáveis
pelas estatísticas criminais.
Publicada esta sentença em audiência, saem
intimados o Ministério Público Federal, o réu e a
Defensoria Pública da União, que deverão manifestar
interesse em recorrer na Ata da Audiência.
Registre-se e cumpra-se.
Guarulhos, 02 de fevereiro de 2016

PAULO MARCOS RODRIGUES DE ALMEIDA


JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO, no exercício da Titularidade

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