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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

Tribunal do Júri de Brasília

Tribunal do Júri de Brasília

Número do processo: 0724337-42.2020.8.07.0001·

Classe judicial: AÇÃO PENAL DE COMPETÊNCIA DO JÚRI (282)·

AUTOR: MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITORIOS·

REU: THIAGO MENEZES ABREU·

DECISÃO

O MPDFT ofereceu denúncia contra THIAGO MENEZES ABREU, pelos seguintes fatos:

Na madrugada de 13/09/2019 (sexta-feira), por volta de 3h10, na Estrada Parque Indústria e


Abastecimento – EPIA, em frente à NOVACAP, sentido Norte/Sul, Guará, Brasília/DF, o denunciado
THIAGO MENEZES ABREU, na condução do veículo VW Golf GTI, placas PBR-3103/DF, assumindo
o risco de provocar o resultado morte, colidiu contra o veículo VW Gol, placas JHC-1719/DF conduzido
por ALFREDO PASSOS BARBOSA e que tinha como passageira ROSILDEN GONÇALVES DE
SOUZA, matando-os, conforme Laudos de Exame de Corpo de Delito (cadavéricos) nº 36.792/19 (fls.
22-34) e nº 36.793/19 (fls. 38-41v).

Momentos antes dos fatos, após ingerir bebida alcoólica, o denunciado assumiu a direção de seu veículo e
empreendeu deslocamento pelas vias públicas, imprimindo exorbitante velocidade ao veículo, da ordem
de 180 km/h no momento da colisão, conforme Laudo de Perícia Criminal (fls. 55v).

No local dos fatos, onde a velocidade máxima da via é de 80 km/h, o veículo do denunciado que trafegava
a 180 km/h colidiu com a parte traseira do veículo onde estavam as vítimas e que trafegava na faixa
central com velocidade média de 60 km/h. Com a força do impacto este derrapou e, após colidir com
meio-fio, iniciou processo de capotamento e arrastamento que se estendeu por 27,4 m.

As vítimas Alfredo Passos Barbosa e Rosilden Gonçalves de Souza morreram no local em decorrência de
politraumatismos causados por instrumentos contundentes.

Número do documento: 22072717073606500000122638551


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O denunciado também fez uso de RECURSO QUE IMPOSSIBILITOU A DEFESA DAS VÍTIMAS, eis
que estas foram atingidas por trás, quando transitavam em seu veículo pela velocidade da via.

O(s) fato(s) foi(foram) capitulado(s) como aquele(s) descrito(s) no art. 121, § 2º, IV, do Decreto-Lei n.º
2848/40 - Código Penal/CP, por duas vezes.

Acompanham o processo os seguintes documentos:

- Oferecimento da denúncia aos 05/08/2020 – ID 69276062 – Aditamento pg. 211 (incidência);

- Data do fato – 13/09/2019;

- Cota ministerial – ID 69276063;

- Auto de apresentação e apreensão (mídia) – ID 69276064 - Pág. 2;

- Laudo de Exame de Local – pg. 58/88

- Laudo de Exame de Corpo de Delito Lesões Corporais (cadavérico Rosilden) – 69276064 - Pág. 26;

- Laudo de Exame de Corpo de Delito Lesões Corporais (cadavérico Alfredo) – ID 69276065 - Pág. 14;

- Laudo de Perícia Necropapiloscópica (Rosilden) – 69276064 - Pág. 10;

- Laudo de Perícia Necropapiloscópica (Alfredo) – ID 69276064 - Pág. 14;

- FAC do acusado – ID 69276066 - Pág. 31 e 69910657;

- FAP do acusado – ID 69433263;

- Recebimento da denúncia aos 07/08/2020 – pg. 127/128 – Recebimento do aditamento – ID 69508516;

- Citação pessoal do acusado aos 12/11/2020 – ID 76969143 – Citação do aditamento ID 84601054;

- Resposta à acusação – pg. 80123756 e ID 85369277;

- Saneador aos 18/12/2020 – ID 80170364;

- Procuração do acusado – ID 81159933;

- Defesa apresentou rol com + 2 testemunhas ID 82766527;

- Juntada de gravação (‘acidente da vítima’) – ID 82769374;

- Relatório Psicológico do réu – ID 85369279.

Número do documento: 22072717073606500000122638551


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A denúncia foi recebida em 07/08/2020.

O acusado foi citado e apresentou resposta à acusação.

O MP aditou a denúncia para incluir a qualificadora do art. 121, § 2º, IV, CP.

O aditamento foi recebido.

Foi realizada a audiência de instrução e julgamento.

O MP pediu a pronúncia nos termos da denúncia e a decretação da prisão preventiva do réu (ID
102545201) e a defesa a impronúncia ou, subsidiariamente, o afastamento da qualificadora e o
indeferimento do pedido de decretação da prisão preventiva (ID 103509469).

No dia 28 de setembro de 2021 (ID 104267057), o acusado foi pronunciado como incurso na conduta
descrita no art. 121, caput, do Código Penal.

O Ministério Público interpôs recurso de Apelação (ID 104800315), bem como recurso de Embargos de
Declaração (ID 104800528). A defesa apresentou contrarrazões ao recurso do Ministério Público no ID
129794357.

O recurso de Embargos de Declaração foram conhecidos e dado provimento, no seguintes termos (ID
104802922):

“Trata-se de embargos de declaração opostos pelo MP para correção de erro material constante do
dispositivo da decisão que pronunciou o réu.

De fato, consta erro material no primeiro parágrafo da parte do Dispositivo da decisão.

Deste modo, onde se lê: "Diante de todo o exposto, PRONUNCIO THIAGO MENEZES ABREU, pela
prática do fato descrito art. 121, CAPUT, do Decreto-Lei n.º 2848/40 - Código Penal/CP." deverá ser lido
como: "Diante de todo o exposto, PRONUNCIO THIAGO MENEZES ABREU, pela prática do fato
descrito art. 121, CAPUT, do Decreto-Lei n.º 2848/40 - Código Penal/CP (por duas vezes)."

Intimem-se as partes e o réu.

FREDERICO ERNESTO CARDOSO MACIEL

Juiz de Direito Substituto do DF ”

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O acusado foi intimado por edital da pronúncia (ID 105083678).

A defesa do réu interpôs recurso em sentido estrito (ID 105053317 e 105711590). O MP apresentou
contrarrazões no ID 106851945.

O réu foi preso no dia 21/12/2021 (ID 129794375).

No julgamento do recurso (ID 129795214), a 1ª Turma Criminal do E. Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e Territórios acordou em negar provimento aos recursos de forma unânime.

Inconformada, a defesa técnica do acusado interpôs Recurso Especial junto ao Superior Tribunal de
Justiça (ID 129795225). O Ministério Público juntou contrarrazões (ID 129795232).

A Presidência do e. TJDFT inadmitiu o processamento do recurso defensivo (ID 129795235).

A defesa, então, interpôs recurso de Agravo (ID 129795239). O MP apresentou contrarrazões (ID
129795297).

Em razão da ausência de efeito suspensivo dos recursos constitucionais, as partes foram intimadas e se
manifestaram nos termos do art. 422, do CPP. O Ministério Público se manifestou no ID 130287248 e a
Defesa no ID 131888398.

A Defesa requereu a revogação da prisão preventiva do réu (ID 131209220). O Ministério Público se
manifestou pela manutenção da prisão cautelar no ID 132189895.

É o que tinha a ser relatado.

Defiro a intimação das testemunhas arroladas pelo Ministério Público e pela Defesa, bem como a juntada
das folhas de antecedentes criminais do acusado, devidamente atualizadas e esclarecidas, com consulta
aos dados no INI, INFOSEG e TJDFT e Sistema PROCED da PCDF, bem como a exibição em plenário
dos documentos e mídias tempestivamente juntados aos autos, devendo as partes fornecerem os meios
para a sua exibição..

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Ressalto que a indicação imprecisa dos dados de qualificação das testemunhas, tem ocasionado o
adiamento de diversos julgamentos por este Tribunal do Júri, o que importa em manifesto prejuízo
à atividade jurisdicional.

As partes devem indicar, no prazo de 05 (cinco) dias o endereço atualizado de eventuais


testemunhas arroladas que não foram localizadas na primeira fase do procedimento do Júri, sob
pena de preclusão.

Assim, as partes devem atentar para o disposto no art. 461, §2º, do Código de Processo Penal,
segundo o qual, o não comparecimento de testemunha, que não for intimada por não ter sido
encontrada no endereço fornecido pela parte, não importará no adiamento da solenidade, mesmo
que seu depoimento seja considerado imprescindível pela parte.

Conforme o artigo 156, CPP, o ônus da prova cabe às partes. Desse modo, devem as partes levar ao
plenário os meios/suportes para apresentação das mídias áudio/visuais. Ficam cientes de que podem
utilizar os equipamentos existentes no plenário, mas caso esses apresentem problemas de qualquer
natureza, assumem o ônus do julgamento prosseguir sem a apresentação das mídias.

Designo o dia 24/08/2022, às 09h00, para a realização da sessão plenária.

Promovam-se as expedições, intimações, requisições e demais diligências necessárias à realização do ato.

Eventuais cartas precatórias deverão ser expedidas com o prazo de 15 (quinze) dias.

Passo à análise do pedido de revogação da prisão preventiva.

Trata-se de pedido de revogação da prisão preventiva formulado pela defesa do réu, alegando, em síntese,
não subsistirem os motivos que ensejaram a prisão preventiva e requerendo, subsidiariamente, a aplicação
de medidas cautelares diversas da prisão.

O Ministério Público oficiou pela manutenção da prisão.

A aplicação da medida excepcional da prisão preventiva somente pode ocorrer quando a materialidade
delitiva for confirmada e quando os indícios de autoria forem suficientes, assim como deve ser adequado,
necessário e proporcional para garantir a ordem pública e econômica, pela conveniência da instrução
criminal ou para a assegurar a aplicação da lei penal.

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Além disso, o objeto do processo a que responde o réu deverá tratar que a imputação seja referente a
crimes doloso punido com pena privativa de liberdade máxima em abstrato superior a quatro anos, ou que
o investigado seja reincidente em crime doloso, ou, ainda, nos casos de crime envolvendo violência
doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência.

Primeiramente, a prisão preventiva não caracteriza a antecipação do julgamento do mérito do fato e não
prejudica a ampla defesa e o contraditório. Para a aplicação da prisão cautelar deve-se analisar se nos
autos existem comprovação da materialidade e se existem indícios suficientes de autoria. Destaca-se que
os indícios de autoria para a decretação de uma prisão cautelar não precisam ter a mesma força que os
indícios de autoria necessários para a convicção em caso de uma condenação criminal.

Diferentemente do alegado pela defesa, até o momento, não há fatos novos que afastam os fundamentos
da decisão que decretou a prisão preventiva, restando intocados a comprovação da materialidade do fato e
dos indícios suficientes de autoria.

Como bem explicitada na decisão que decretou a prisão cautelar (ID 130326713 – autos nº
0724368-91.2022.8.07.0001), a materialidade está comprovada e há indícios suficientes de autoria para a
decretação da medida excepcional.

Os fatos objeto da presente Ação Penal é tipificado como crime doloso contra a vida que tem pena in
abstrato superior a quatro anos.

Ademais, a contemporaneidade estava presente no momento da decretação da prisão preventiva do


denunciado.

O processo corre normalmente, não havendo demoras injustificadas por parte do Poder Judiciário,
havendo inclusive data designada para a realização da sessão plenária.

Como a medida cautelar imposta restringe o direito fundamental da liberdade, deve-se verificar
observância do princípio da proporcionalidade , ou seja, analisar se a medida é adequada , necessária e
proporcional em sentido estrito.

A prisão preventiva, no presente caso, tem por objetivo a preservação da ordem pública e por
conveniência da instrução criminal. O afastamento cautelar do réu da sociedade se mostra apto para
alcançar tais objetivos, visto que a gravidade em concreto do fato praticado, demonstrado pelo modus
operandi na prática do delito demonstra que a liberdade do acusado expõe risco à garantia da ordem
pública, assim como existem informações nos autos de que o réu teria continuado a praticar atos
semelhantes àqueles que ensejaram o presente processo, tendo sido preso em flagrante delito conduzindo

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veículo em alta velocidade e portando arma de fogo com numeração raspada e grande quantidade de
munição .40, bem como há informações de que a testemunha sigilosa teria informado que o réu a teria
ameaçado. Destaca-se, ainda, que o réu, quando estava em liberdade, deixou de se apresentar à justiça,
somente sendo encontrado após a sua prisão. Dessa forma, a medida se mostra adequada.

A medida restritiva de liberdade também se mostra necessária, uma vez a aplicação de medidas
cautelares diversas da prisão são insuficientes para alcançar os objetivos da medida imposta, fornecendo
proteção deficiente para os valores sociais e coletivos fundamentais salvaguardados .

A ponderação dos valores em conflito no caso concreto indica, ao meu sentir, a possibilidade de restrição
da liberdade individual frente ao dever/poder do Estado de reprimir e impedir a prática de crimes – mais
graves violações à ordem jurídica –, visto que no caso concreto há indicativos de que a liberdade do réu
efetivamente põe em risco os valores sociais e coletivos protegidos, como fundamentado na decisão que
aplicou a medida, não podendo ser utilizado o manto protetor do direito constitucional para expor a riscos
outros direitos fundamentais constitucionalmente previstos. Assim, tenho que a medida atende ao
subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito.

Convém destacar que não houve nenhuma modificação fática nos fundamentos da decretação da prisão
preventiva do réu.

Ademais, a jurisprudência do e. TJDFT segue no sentido de que o fato de o réu ser primário de bons
antecedentes, ter domicílio fixo e labor lícito não é suficiente para a liberdade provisória (Precedentes:
TJDFT, acórdãos nº 1249517, 42002, 796054, 1248240, 669668 e 235632).

Por fim, não vislumbro condições para a substituição do encarceramento cautelar por outras medidas
cautelares diversas da prisão previstas no art. 319, do CPP, uma vez que se revelam inadequadas e
insuficientes, nos termos do art. 282, § 6º e art. 312, caput, ambos do CPP.

Diante do exposto, mantenho a prisão preventiva imposta, nos termos do art. 319, do CPP, pelos
próprios fundamentos da decisão que a decretou.

MARIA CECÍLIA BATISTA CAMPOS

Juíza de Direito Substituta

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