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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

01/12/2023

Número: 1034902-10.2022.4.01.3400
Classe: TUTELA ANTECIPADA ANTECEDENTE
Órgão julgador: 16ª Vara Federal Cível da SJDF
Última distribuição : 04/06/2022
Valor da causa: R$ 100.000,00
Assuntos: Assistência à Saúde
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
SINDIFISCO NACIONAL - SIND. NAC. DOS AUD. FISCAIS FERNANDO PEREIRA ABREU (ADVOGADO)
DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL (REQUERENTE) DANIEL GONCALVES DE OLIVEIRA (ADVOGADO)
TALITA FERREIRA BASTOS (ADVOGADO)
UNIÃO FEDERAL (REQUERIDO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
18764 20/11/2023 15:05 Sentença Tipo A Sentença Tipo A
40646
PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Distrito Federal
16ª Vara Federal Cível da SJDF

SENTENÇA TIPO "A"


PROCESSO: 1034902-10.2022.4.01.3400
CLASSE: TUTELA ANTECIPADA ANTECEDENTE (12135)
POLO ATIVO: SINDIFISCO NACIONAL - SIND. NAC. DOS AUD. FISCAIS DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL
REPRESENTANTES POLO ATIVO: TALITA FERREIRA BASTOS - DF30358, FERNANDO PEREIRA ABREU -
DF24945 e DANIEL GONCALVES DE OLIVEIRA - GO45617
POLO PASSIVO:UNIÃO FEDERAL

SENTENÇA

RELATÓRIO

Trata-se de ação sob o procedimento comum, com pedido de tutela provisória


de urgência de natureza antecipatória em caráter antecedente, promovida pelo Sindicato
dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (SINDIFISCO NACIONAL) em
face da União, objetivando:

"d. No mérito, confirmando-se a tutela provisória, sejam julgados


procedentes os pedidos para:

I – AFASTAR DEFINITIVAMENTE os efeitos da Instrução Normativa


SGP/SEDGG/ME nº 36/2022, como forma de proteção à saúde dos substituídos, direito
este reconhecido como cláusula pétrea (ART. 196, cf/88), sendo dever do Estado saúde
garantir a saúde por meio de políticas sociais que visem a redução de riscos;

II – garantir a manutenção do trabalho remoto para os servidores


autodeclarados em grupo de risco, assim como aqueles que convivem com idosos e
integrantes do grupo de risco para a COVID-19, incluindo, ainda, os pais ou responsáveis
que possuem filhos em idade escolar cujas aulas e ou serviços de creche se encontravam
suspensos – nesta parte, em que pese as aulas e creches tenham retornado suas
atividades, a imunização das crianças ainda é uma etapa pendente e em fase de
desenvolvimento;".

Esclarece o sindicato autor que a Instrução Normativa SGP/SEDGG/ME nº


90, de 28 de setembro de 2021, em seu artigo 2º, define quem são os servidores elegíveis
ao retorno às atividades presenciais e lista as exceções no art. 4º.

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Número do documento: null
Afirma que a referida norma previu o retorno gradual e seguro das atividades
presenciais de todos os servidores públicos federais, isso porque ao tempo de sua
edição, se constatava uma melhora contingente no quadro pandêmico no Brasil. Todavia,
as circunstâncias atuais demonstram uma piora no quadro de contaminação e
internações, justificando, portanto, a manutenção do trabalho remoto para esse grupo
específico.

Argumenta que longe de ser uma mera liberalidade, o pedido de tutela de


urgência em caráter excepcional merece deferimento até que haja o controle da doença e
minimização dos riscos, por isso, o que se propõe é um adiamento do retorno às
atividades presenciais tão somente para o grupo de risco declarado no ato em referência.

Sustenta que a repercussão da medida, implica em risco não só para o grupo


como também para a comunidade, o que justifica a medida de suspensão dos efeitos da
norma contida na IN SGP/SEDGG/ME n. 36/2022, vigente a partir de 6 de junho, até o
90/2021 pela IN SGP/SEDGG/ME n. 36/2022, neste momento, é precoce devido ao
aumento recente de casos de contaminação e mortes, cabendo à Secretaria de Gestão e
Desempenho de Pessoal, no âmbito de suas competências6 (Decreto nº 9.745/2019)
reavaliar a pertinência do retorno do grupo de risco, e se de fato a manutenção do
trabalho presencial representaria prejuízos à Administração, óbice que não se vislumbra
neste momento.

Aduz que quanto aos riscos que envolvem a saúde dos substituídos
amparados, cabe destacar que a Portaria nº 1.565, de 18 de junho de 2020, do Ministério
da Saúde, que estabelece as orientações gerais a serem seguidas visando à prevenção,
o controle e à mitigação da transmissão da Covid-19, expressamente define no item 3.9
de seu anexo, a adoção do trabalho remoto, especialmente para o grupo de risco ou a
quem conviva com pessoas nessa condição.

Finaliza que deve ser garantido aos substituídos, Auditores-Fiscais da


Receita Federal do Brasil que apresentam condições ou fatores de risco para Covid-19,
listados no artigo 4º, incisos I e II, da Instrução Normativa SGP/SEDGG/ME nº 90, de 28
de setembro de 2021, a manutenção em trabalho remoto, até ulterior controle do quadro
pandêmico.

Com a inicial, vieram procuração (Id. 1123854282) e documentos.

Custas pagas sob Id. 1123854284.

Decisão proferida em plantão judicial deferiu o pedido de tutela de urgência


(Id.1124013756).

Informação de prevenção negativa sob Id. 1126560263.

A União informou a interposição de agravo de instrumento (Id. 1147155750).

Aditamento à petição inicial sob Id. 1197351273, com documentos.

Contestação sob Id. 1253014285, alegando, preliminarmente, a limitação dos


efeitos territoriais da decisão, e, no mérito, pugnando pela improcedência dos pedidos

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iniciais.

Réplica sob Id. 1294236780.

As partes não requereram outras provas.

Manifestação do autor sob Id. 1319502251 alegando o descumprimento da


medida liminar.

Decisão proferida sob Id. 1391769756.

Manifestação da união sob Id. 1631222351, com documentos.

Vieram os autos conclusos para sentença.

É o relatório. Decido.

FUNDAMENTAÇÃO

Limitação territorial dos efeitos da decisão

Quanto à limitação territorial dos efeitos da sentença, prevista no art. 2ºA da


Lei 9.494/97, com redação da MP 2.180-35/01, não se aplica às causas coletivas
propostas no Distrito Federal contra a União e/ou autarquias federais, quando o
jurisdicionado ali não seja domiciliado, pois se trata de ressalva prevista no art. 109, §2º,
da própria Constituição da República.

Nesse sentido, confiram-se: TRF-1 - AC: 00029866020124013000, Relator:


DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO LUIZ DE SOUSA, SEGUNDA TURMA, Data de
Publicação: 28/11/2018; AC 0026119-32.2011.4.01.3400; Rel. DESEMBARGADORA
FEDERAL MARIA DO CARMO CARDOSO; OITAVA TURMA; e-Dje de 26/01/2018.

Logo, o provimento jurisdicional aqui obtido implica a extensão dos seus


efeitos à totalidade dos substituídos, independentemente do local de seu domicílio no
território nacional, por força do art. 109, § 2º, da CF/88.

Rejeito.

Mérito

Inicialmente, importante registrar que a imposição de trabalho não presencial


aos servidores integrantes do grupo de risco determinada pela IN SGP/SEDGG/ME nº
90/21 configurou medida excepcional, diante do cenário de pandemia decorrente da
Covid-19, que não mais subsiste.

De fato, cabe destacar o fim da emergência de Saúde Pública de Importância


Internacional decretada pela Organização Mundial de Saúde em razão da pandemia da

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Covid-19, a teor da Portaria GM/MS nº 913, de 22 de abril de 2022.

Por seu turno, a Instrução Normativa SGP/SEDGG/ME nº 36/22 da Secretaria


de Gestão e Desempenho de Pessoal revogou a imposição do trabalho não presencial,
conferindo aos órgãos e entidades da administração pública federal a análise sobre a
continuidade do regime não presencial com a implementação de Programa de Gestão
específico.

Felizmente, não se tem mais notícia de um número relevante de casos


graves, especialmente em decorrência da ampla utilização das vacinas, que, se não vem
impedindo que novos casos surjam, parecem estar tornando suas consequências, em
regra, leves.

Em tal contexto, em regra, parece-me suficiente que cada servidor, mesmo


aquele pertencente aos grupos de risco, adote os cuidados com a própria saúde que
julgar adequados, como a continuidade do uso de máscara, mesmo sem obrigatoriedade,
e utilização constante de medidas de higiene (além, obviamente, da vacinação), sem
prejuízo de, em casos excepcionais, apresentar requerimento fundamentado à
Administração requerendo o deferimento de trabalho remoto.

Por outro lado, não cabe ao Poder Judiciário substituir-se à Administração e


pretender exercer a gestão de seus recursos humanos em seu lugar.

É certo que enorme parcela das atividades administrativas pode ser exercida
remotamente, tanto que o teletrabalho já existia antes da pandemia da Covid-19 e as
medidas de emergência implementadas durante o auge da mesma mostraram que se
pode trabalhar bastante bem remotamente, em um enorme número de atividades.

Todavia, em regra, a decisão de permitir ou não o teletrabalho deve ficar na


esfera do juízo de conveniência e oportunidade a ser exercido pelo administrador, não
podendo ser esse ordinariamente substituído pelo Poder Judiciário, que não detém o
conjunto de informações necessário para aquilatar sobre o que mais atende o interesse
público em cada caso concreto.

Noutros termos, cabe ao poder executivo, em seu âmbito de atuação e por


força do poder discricionário, analisar os riscos, em especial, à saúde e à segurança do
trabalho, para disciplinar a organização e o funcionamento da administração federal,
afigurando-se legítimo, portanto, o instrumento normativo ora impugnado que disciplinou o
regime de trabalho dos servidores públicos da administração federal.

Notadamente, na hipótese, quando noticiado nos autos o seguinte: "(...) os


servidores que pertencem aos grupos de risco e que permanecem afastados de suas
atividades laborais (...) encontram-se em condições materiais que impedem o exercício do
cargo seja por meio do teletrabalho (com metas instituídas) ou por meio do trabalho
remoto (sem metas instituídas), em virtude da característica da atividade laboral por eles
desempenhada, que, em sendo assim, exige a sua presença física nas unidades da RFB.
Há ainda aqueles servidores que por limitação própria, mesmo exercendo atividades que
poderiam ser executadas à distância, possuem dificuldades em relação ao domínio dos
meios digitais de trabalho.".

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Ademais, a entidade sindical autora não logrou êxito em demonstrar a
alegada piora no quadro pandêmico no Brasil ou situação de alerta, especialmente aos
mais vulneráveis, que seria, em tese, capaz de contestar a revogação da imposição do
trabalho não presencial obrigatório pela IN GP/SEDGG/ME nº 36/22.

Assim, considerando o cenário existente neste momento, a intervenção


judicial eventualmente caberia apenas em casos excepcionais, onde fosse concretamente
demonstrado que a parte apresenta problemas graves de saúde, devidamente
identificados e comprovados por documentação médica recente, que aponte risco
relevante para a própria saúde decorrente do trabalho presencial, o que não é o caso.

Logo, não há falar em direito adquirido aos servidores continuarem no


teletrabalho pelo fundamento da Instrução Normativa SGP/SEDGG/ME nº 90, de 28 de
setembro de 2021, tendo em vista que a situação fática de emergência outrora existente,
modificou-se, sendo noticiado nos autos, inclusive, os prejuízos ocasionados ao órgão
decorrente do teletrabalho irrestrito.

Outrossim, não há que se falar em direito adquirido dos servidores públicos a


regime jurídico, conforme a jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal, não
configurando ato normativo ilegal, abusivo ou que causa lesão a direitos de servidores
públicos.

Diante de tais considerações, entendo que não merece prosperar a pretensão


autoral.

DISPOSITIVO

Do exposto, revogo a decisão de tutela de urgência outrora deferida e, com


base no artigo 487, I, do CPC, julgo improcedentes os pedidos iniciais, nos termos da
fundamentação supra.

Custas ex lege. Condeno a parte autora sucumbente ao pagamento dos


honorários advocatícios no percentual mínimo dos incisos do §3º do art. 85 do CPC sobre
o valor atualizado da causa, respeitadas as faixas neles indicadas, nos termos do inc. III
do §4º e §5º, ambos do art. 85 do CPC.

Intimem-se as partes.

BRASÍLIA/DF, datado e assinado eletronicamente.

LEONARDO TOCCHETTO PAUPERIO

Juiz Federal da 16ª Vara/DF

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