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ESTRATÉGIA OAB

Reta Final

Sumário

1. Considerações Iniciais .................................................................................................................................... 3

2. Ética ................................................................................................................................................................ 4

2.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina............................................................................................................... 4

Da Incompatibilidade e Do Impedimento.................................................................................................. 4

1 - Incompatibilidade ................................................................................................................................. 6

2 - Impedimento ........................................................................................................................................ 9

Das Infrações e Sanções Disciplinares ..................................................................................................... 19

1 - Das Infrações Disciplinares ................................................................................................................. 19

2 - Das Sanções Disciplinares ................................................................................................................... 21

2.1 - Da Aplicação da Sanção Censura ..................................................................................................... 22

2.2 - Da Aplicação de Sanção Suspensão ................................................................................................. 23

2.3 - Da Aplicação da Sanção Exclusão .................................................................................................... 24

2.4 - Da Aplicação da Sanção Multa......................................................................................................... 25

2.5 - Das Circunstâncias Atenuantes........................................................................................................ 25

2.6 - Da Prescrição ................................................................................................................................... 26

3. Direito Empresarial ...................................................................................................................................... 26

3.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina............................................................................................................. 26

Sociedades Limitadas ............................................................................................................................... 27

1 - Disposições preliminares .................................................................................................................... 27

1.1 - Personalidade jurídica de pessoa jurídica ....................................................................................... 27

1.2 - Responsabilidade limitada às quotas sociais ................................................................................... 28

1.3 - Sociedade limitada unipessoal e pluripessoal ................................................................................. 32

1.4 - Regência subsidiária e supletiva das sociedades limitadas ............................................................. 34

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2 - Administração ..................................................................................................................................... 35

3 - Conselho Fiscal .................................................................................................................................... 37

4 - A vontade da sociedade ...................................................................................................................... 39

5 - Deliberações ....................................................................................................................................... 43

6 - Aumento e Redução de Capital .......................................................................................................... 45

7 - Exclusão de sócio minoritário ............................................................................................................. 46

4. Filosofia do Direito ....................................................................................................................................... 47

4.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina............................................................................................................. 47

Hermenêutica .......................................................................................................................................... 47

2 - Interpretação .......................................................................................................................................... 53

2.1 - Escolas .............................................................................................................................................. 55

2.2 - Espécies de interpretação................................................................................................................ 57

5. Considerações Finais .................................................................................................................................... 71

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Reta Final

RETA FINAL EM PDF PARA O XXXV EXAME DE


ORDEM
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Sejam muito bem-vindas e bem-vindos, futuras advogadas e futuros advogados!!

Eu sou a Professora Isabella Pires, aprovada no concurso da Magistratura Estadual (TJBA),


na Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe (ALESE) e em outras fases de concursos de
Juiz Federal e Defensor Público. Sou graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN, especialista em Direitos Humanos e em Direito Penal e Processo
Penal.

Aqui no Estratégia OAB, bem como no Estratégia Carreiras Jurídicas, sou idealizadora e
coordenadora dos nossos cursos Reta Final em PDF. Assim, desde já, coloco-me à
disposição para sanar eventuais dúvidas quanto ao curso, bem como para receber
sugestões de vocês, nossas alunas e nossos alunos!

Vocês podem entrar em contato pelo fórum do curso ou ainda:

E-mail: isabella.almeida@estrategiaconcursos.com.br

Instagram: @profaisabellapires

Com o nosso primeiro PDF de apresentação vocês puderam conhecer a estrutura do nosso curso, as
estratégias das quais lançaremos mão para tornar sua preparação mais completa e direcionada à tão
almejada aprovação! Hoje, daremos início ao estudo efetivo das matérias constantes do nosso cronograma!

No PDF de hoje veremos os seguintes temas:

MATÉRIA ASSUNTO MOTIVAÇÃO ESTUDADO OBSERVAÇÕES

Ética Incompatibilidades e
Impedimentos;
-Incidência Alta.

-Incidência
Infrações Disciplinares; Altíssima.

Direito
Empresarial
Sociedades Limitadas.
(Conceito, Quotas e
Incidência altíssima.

Deliberações).

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Filosofia do
Direito
Hermenêutica e
Interpretação.
-Incidência altíssima.

É o tema campeão
de incidência!

2. ÉTICA
Nosso estudo se concentrará nos seguintes temas:

- Incompatibilidades e Impedimentos;

-Infrações Disciplinares;

Profa. Isabella: Os temas escolhidos para dar início ao nosso estudo em Ética levaram em
conta a alta incidência dos temas nas últimas provas, estando entre os pontos mais
cobrados na matéria!
Assim, mãos à obra e vamos avançar rumo à aprovação!

Nosso ponto abrangerá:

>Pílulas Estratégicas de Doutrina;

>Questões Comentadas.

Vamos dar início?

2.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina

Profa. Isabella Pires: As explanações a seguir tomam por base as aulas 03 e 04 do Curso
Regular de Ética Profissional ministrada pela Professora Priscila Ferreira e pelo Professor
Rosenvald, para a qual vocês deverão se encaminhar, caso sintam a necessidade de
complementação do estudo com os demais temas relacionados.

Da Incompatibilidade e Do Impedimento

EAOAB

Art. 27 - 30

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Os termos INCOMPATIBILIDADE e IMPEDIMENTO são utilizados em diversos ramos do direito, mas, para
fins da ética profissional, possui conotação e consequência legal diversa daquela encontrada nos demais
ramos.

Nesta toada, ao se deparar com o termo “incompatibilidade” ou “impedimento”, deverá se ater às


seguintes peculiaridades:

• INCOMPATIBILIDADE: Refere-se à proibição total do exercício da advocacia, de forma que,


se o fator for de cunho temporário, o advogado deverá licenciar-se de suas atividades;
agora, caso seja em caráter definitivo a sua incompatibilidade frente ao exercício da
advocacia, ao advogado caberá solicitar o cancelamento de sua inscrição na OAB.
Neste ponto, ressaltamos que a incompatibilidade permanece ainda que o ocupante de
cargo/função, por exemplo, esteja afastado de suas atividades, como ocorre em uma licença
remunerada.
• IMPEDIMENTO: Refere-se à proibição parcial para advogar, ou seja, o advogado poderá
continuar atuando no exercício da advocatícia, mas de forma limitada.

Acerca do tema, observe:

Art. 27do EAOAB - A incompatibilidade determina a proibição total, e o impedimento, a


proibição parcial do exercício da advocacia.

INCOMPATIBILIDADE IMPEDIMENTO

TOTAL PARCIAL

Evita privilégio de acesso,


INCOMPATIBILIDADE NÃO ADVOGA influências indevidas e
concorrência desleal.

IMPEDIMENTO ADVOGA com restrição

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1 - Incompatibilidade

A incompatibilidade, como regra, está diretamente ligada à figura do advogado, logo, ainda que atue em
causa própria, o advogado não poderá advogar em determinadas hipóteses, conforme disposto no art. 28
do EAOAB:

Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as seguintes atividades:
I - chefe do Poder Executivo e membros da Mesa do Poder Legislativo e seus substitutos
legais;

Logo, não poderá exercer a advocacia os chefes do Poder Executivo, como Prefeitos, Governadores,
Presidente da República e os seus correspondentes substitutos legais.

No mesmo sentido, são incompatíveis com tal atividade os membros da mesa do poder legislativo, este que
deve ser analisado sob a seguinte ótica:

Legislativo

Câmara dos Câmara


Senado Federal Câmara Distrital
Deputados Municipais

Dentro de cada uma destas casas legislativas, teremos uma mesa que a representa, a qual se denomina
como mesa diretora, e é composta, como regra, por Presidente, Vice-Presidente e Secretários. Caso tais
figuras exerçam cumulativamente funções advocatícias, caberá a eles o pleito de licença dos quadros da
OAB, ante a incompatibilidade temporária.

Atenção: Quanto aos demais membros do Poder Legislativo (diferentes níveis), estes se tornarão impedidos
de advogar, contra ou a favor das pessoas jurídicas de direito público, empresas públicas, sociedades de
economia mista, fundações públicas, entidades paraestatais ou empresas concessionárias ou
permissionárias de serviço público (artigo 30, II do EAOAB).
CUIDADO: Membros não se referem aos servidores, estes também são
incompatíveis, mas nos termos do inciso IV do art. 28 do EAOAB.

II - membros de órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos tribunais e


conselhos de contas, dos juizados especiais, da justiça de paz, juízes classistas, bem como
de todos os que exerçam função de julgamento em órgãos de deliberação coletiva da
administração pública direta e indireta; (Vide ADIN 1127-8).

Inicialmente, tome nota que os membros do Poder Judiciário enquadram-se como juízes, desembargadores
e ministros dos tribunais; já os membros do MP são os promotores de justiça, os procuradores da justiça,
procuradores da República e os procuradores regionais da República.

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Lembre-se, ainda, que atualmente não mais existe a figura do juiz classista, apesar de mencionado na norma
em análise.

Por fim, note que o STF decidiu (ADI 1127-8) acerca da não inclusão, dentro desta incompatibilidade, dos
juízes eleitorais e os correspondentes suplentes.

III - ocupantes de cargos ou funções de direção em Órgãos da Administração Pública direta


ou indireta, em suas fundações e em suas empresas controladas ou concessionárias de
serviço público;

Há incompatibilidade, portanto, daqueles que ocupam cargo ou função em órgão da Administração Pública
direta ou indireta em suas fundações e em suas empresas controladas ou concessionárias de serviço
público.

No entanto, não se incluem, nesta incompatibilidade, aqueles que não detenham poder de decisão
relevante sobre interesses de terceiro, a juízo do conselho competente da OAB, bem como a administração
acadêmica diretamente relacionada ao magistério jurídico (coordenação acadêmica) – Art. 28, §2º,
EAOAB.

A OAB verificará na situação prática se existe ou não o poder de decisão relevante e, assim, definirá se há
ou não incompatibilidade.

IV - ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a qualquer órgão


do Poder Judiciário e os que exercem serviços notariais e de registro;

Neste inciso, verifica-se a incompatibilidade dos servidores e dos outros ocupantes de cargos ou funções
vinculados de forma direta ou indireta ao Poder Judiciário.

Logo, enquadram-se, nestes casos, os técnicos em atividade judiciária, analistas judiciários, contadores
judiciais, assessores dos desembargadores e aqueles que estiverem ligados indiretamente a este poder,
como os psicólogos, seguranças e demais cargos auxiliares, ligados ao Poder Judiciário.

V - ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a atividade policial


de qualquer natureza;

Aqueles que exercem, como servidor, direta ou indiretamente, atividade policial tornar-se-ão incompatíveis.

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A título de exemplo, observamos os agentes, escrivães, delegados, investigadores, comissários, perito


criminal etc.

Neste sentido, enquadram-se, ainda, como incompatíveis, os integrantes do corpo de bombeiro e as guardas
municipais.

VI - militares de qualquer natureza, na ativa;

Os militares na ativa são aqueles integrantes das Forças Armadas, como: Exército, Marinha e Aeronáutica.
Assim, em sendo militar, e estando na ativa, estes serão tidos como incompatíveis para o exercício da
advocacia; já quando encontrarem-se na reserva tornar-se-ão aptos para tal mister.

VII - ocupantes de cargos ou funções que tenham competência de lançamento,


arrecadação ou fiscalização de tributos e contribuições parafiscais;

Enquadram-se, neste caso, os fiscais ou qualquer outro servidor que tenha competência para o
lançamento, arrecadação e fiscalização de tributos e contribuições parafiscais.

A título de exemplo, podemos mencionar: Auditores Fiscais, Agentes Tributários etc.

VIII - ocupantes de funções de direção e gerência em instituições financeiras, inclusive


privadas.

A última hipótese de incompatibilidade refere-se aos cargos de direção e gerência de instituições


financeiras públicas ou privadas, e tal situação mereceu proteção legislativa, em razão do alto grau de
captação que a função proporciona.

Assim, destacamos algumas ponderações acerca da incompatibilidade, tome nota:

• A incompatibilidade tem relação com o cargo e não propriamente com a atividade


desempenhada;
• A incompatibilidade não mais existirá quando o advogado deixar o cargo definitivamente,
como em situação de morte, renúncia, aposentadoria, ou até mesmo exoneração do cargo;
• A incompatibilidade permanece mesmo que o ocupante do cargo ou função deixe de exercê-
lo temporariamente, ainda, que por uma licença remunerada ou não;

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• O exercício pelo advogado de atividade incompatível implica em aplicação de penalidade


disciplinar, censura, além da nulidade de todos os atos praticados;
• A incompatibilidade, a depender do caráter definitivo ou temporário do cargo / função,
poderá ter duas consequências:

Temporária O advogado ficará LICENCIADO


INCOMPATIBILIDADE
Haverá o CANCELAMENTO da
Definitiva
inscrição

2 - Impedimento

O impedimento implica em o advogado estar proibido parcialmente de exercer as funções advocatícias.


Logo, a figura do advogado estará apto a exercer o seu mister frente a determinas figuras, e impedido
perante a outras, evitando-se, assim, qualquer tipo de conflito de interesses.

Desta forma, são impedidos de exercer a advocacia:

I - os servidores da administração direta, indireta e fundacional, contra a Fazenda Pública


que os remunere ou à qual seja vinculada a entidade empregadora;

Neste caso, os servidores podem advogar, desde que não seja contra a Fazenda Pública que os remunere,
ou ainda, perante àquela que esteja vinculada a entidade empregadora.

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Nos termos do Art. 30, parágrafo único do EAOAB, não se incluem nesta hipótese os docentes dos cursos
jurídicos. Observe que o fundamento legal é um pouco vago, quanto à exceção trazida, e por tal razão,
devemos nos ater as peculiaridades e consequências legais:

• A exceção legislativa refere-se ao professor de cursos jurídicos públicos, o qual poderá


advogar livremente, ainda que contra a Fazenda que o remunere, apesar de ser tido como
servidor público.

Tal liberdade deriva do fato de que, assim como os juízes e promotores poderão lecionar, sem limitações de
suas funções, o mesmo tratamento deve ser observado aos advogados que exerçam o magistério, como
servidores.

II - os membros do Poder Legislativo, em seus diferentes níveis, contra ou a favor das


pessoas jurídicas de direito público, empresas públicas, sociedades de economia mista,
fundações públicas, entidades paraestatais ou empresas concessionárias ou
permissionárias de serviço público.

Nesta hipótese, a limitação é um pouco maior, de forma que o impedimento se estende a todos aqueles
(servidores) que queiram demandar, como advogado, contra qualquer Órgão da Administração Pública
Direta ou Indireta, e não só àquele que o remunere.

Logo, o senador, deputado federal / estadual / distrital e o vereador poderão advogar, mas jamais contra
ou a favor da Administração Pública, em seus mais diversos desmembramentos.

Por fim, devemos destacar um aspecto peculiar, quanto ao impedimento, qual seja:

Nos termos do Artigo 29 do EAOAB, os Procuradores Gerais, Advogados Gerais,


Defensores Gerais e dirigentes de órgãos jurídicos da Administração Pública direta,

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indireta e fundacional são exclusivamente legitimados para o exercício da advocacia


vinculada à função que exerçam, durante o período da investidura.

Em suma, apesar de nesses cargos existir a necessidade de que o advogado esteja


devidamente inscrito na OAB, já que exerce a atividade advocatícia, ainda assim, se
observará certa limitação em mister, uma vez que o exercício advocatício ficará
limitado ao exercício do seu cargo.

ATIVIDADE EXCLUSIVA

(FGV/XXII Exame de Ordem Unificado) Carolina, Júlia, Bianca e Maria são advogadas. Carolina é servidora
estadual não enquadrada em hipótese de incompatibilidade; Júlia está cumprindo suspensão por infração
disciplinar; Bianca está licenciada por requerimento próprio justificado; e Maria é servidora federal não
enquadrada em hipótese de incompatibilidade. As quatro peticionam, como advogadas, isoladamente e
em atos distintos, em ação judicial proposta em face da União.
Diante da situação narrada, de acordo com o Estatuto da OAB, são válidos os atos praticados
A) por Carolina, apenas.
B) por Carolina e Bianca, apenas.
C) por Carolina, Bianca e Maria, apenas.
D) por Carolina, Julia, Bianca e Maria.
Comentário
Gabarito: ‘’A’’
De acordo com o art. 4º, do Estatuto, são nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não
inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas.
São também nulos os atos praticados por advogado impedido - no âmbito do impedimento - suspenso,
licenciado ou que passar a exercer atividade incompatível com a advocacia.
Já de acordo com o art. 30, temos que são impedidos de exercer a advocacia: I - os servidores da
administração direta, indireta e fundacional, contra a Fazenda Pública que os remunere ou à qual seja
vinculada a entidade empregadora.
(FGV/XVII Exame de Ordem Unificado) Deise é uma próspera advogada e passou a buscar novos desafios,
sendo eleita Deputada Estadual. Por força de suas raras habilidades políticas, foi eleita integrante da Mesa
Diretora da Assembleia Legislativa do Estado Z. Ao ocupar esse honroso cargo procurou conciliar sua
atividade parlamentar com o exercício da advocacia, sendo seu escritório agora administrado pela filha.
Nos termos do Estatuto da Advocacia, assinale a afirmativa correta.

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A) A atividade parlamentar de Deise é incompatível com o exercício da advocacia.


B) A participação de Deise na Mesa Diretora a torna incompatível com o exercício da advocacia.
C) A função de Deise como integrante da Mesa Diretora do Parlamento Estadual é conciliável com o exercício
da advocacia.
D) A atividade parlamentar de Deise na Mesa Diretora pode ser conciliada com o exercício da advocacia em
prol dos necessitados.
Comentário
Gabarito: ‘’B’’
Quando Deise passou a integrar a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Estado, enquadra-se nos
termos do art. 28, I, do EAOAB, que assim aduz: Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa
própria, com as seguintes atividades: I- chefe do Poder Executivo e membro da MESA do Poder Legislativo e
seus substitutos legais.
(FGV/XIV Exame de Ordem Unificado) Cláudia, advogada, inicialmente transitou pelo direito privado, com
assunção de causas individuais e coletivas. Ao ser contratada por uma associação civil, deparou com
questões mais pertinentes ao direito público e, por força disso, realizou novos estudos e contatou colegas
mais experientes na matéria. Ao aprofundar suas relações jurídicas, também iniciou participação política
na defesa de temas essenciais à cidadania. Por força disso, Cláudia foi eleita prefeita do município X em
eleição bastante disputada, tendo vencido seu oponente, o também advogado Pradel, por apenas cem
votos. Eleita e empossada, motivada pelo sentido conciliatório, convidou seu antigo oponente para ocupar
cargo em comissão na Secretaria Municipal de Fazenda.
A partir da hipótese apresentada, observadas as regras do Estatuto da OAB, assinale a opção correta.
A) A prefeita exerce função incompatível com a advocacia.
B) O secretário municipal pode atuar em ações contra o município.
C) A prefeita deve pedir autorização para exercer a advocacia.
D) O secretário municipal pode atuar em pleitos contra o Estado federado.
Comentário
Gabarito: ‘’A’’
O art. 28 do Estatuto da OAB traz que: “A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as
seguintes atividades: I - chefe do Poder Executivo e membros da Mesa do Poder Legislativo e seus substitutos
legais” e o prefeito é o chefe do poder executivo municipal.
(FGV/XIII Exame de Ordem Unificado) Juarez da Silva, advogado, professor adjunto de Direito
Administrativo em determinada Universidade Federal, foi procurado, na qualidade de advogado, por um
grupo de funcionários públicos federais que desejavam ajuizar determinada ação contra a União.
Pode Juarez aceitar a causa, advogando contra a União?
A) Não. Juarez não pode aceitar a causa, pois está impedido de exercer a advocacia contra a Fazenda Pública
que o remunera.
B) Sim. Juarez poderá aceitar a causa, pois o impedimento de exercício da advocacia contra a Fazenda Pública
que remunera os advogados que são servidores públicos não inclui a hipótese de docentes de cursos
jurídicos.

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C) Sim. Juarez poderá aceitar a causa, pois não há nenhum tipo de impedimento para o exercício da
advocacia por servidores públicos.
D) Não. Juarez não poderá aceitar a causa, pois exerce o cargo de professor universitário, que é incompatível
com o exercício da advocacia.
Comentário
Gabarito: ‘’B’’
De acordo com o art. 30, do Estatuto são impedidos de exercer a advocacia: I - os servidores da administração
direta, indireta e fundacional, contra a Fazenda Pública que os remunere ou à qual seja vinculada a entidade
empregadora; II - os membros do Poder Legislativo, em seus diferentes níveis, contra ou a favor das pessoas
jurídicas de direito público, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas,
entidades paraestatais ou empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público.
(FGV/XV Exame de Ordem Unificado) Abelardo é magistrado vinculado ao Tribunal de Justiça do Estado K
e requer licença para tratamento de questões particulares, pelo prazo de três anos, o que foi deferido.
Como, antes de assumir o referido cargo, era advogado regularmente inscrito nos quadros da OAB, requer
o seu reingresso, comprovando o afastamento das funções judicantes.
Nos termos do Estatuto da Advocacia, assinale a afirmativa correta.
A) A incompatibilidade com a advocacia persiste mesmo após aposentadoria do cargo efetivo.
B) O afastamento temporário do cargo que gera a incompatibilidade permite inscrição provisória.
C) A incompatibilidade permanece mesmo que ocorra o afastamento temporário do cargo.
D) O afastamento do cargo incompatível permite a inscrição após um período de três anos.
Comentário
Gabarito: ‘’C’’
Mesmo que o advogado, dentro do cargo incompatível, licencie-se, ainda assim, diante do EAOAB, ele
continua com o status de incompatibilidade que perdurará durante todo o afastamento. Isso ocorre porque
geralmente os afastamentos são temporários, e logo o advogado voltará a exercer sua função. A
incompatibilidade só cessa com o afastamento definitivo do cargo que tornou o advogado incompatível!
(FGV/XII Exame de Ordem Unificado) Joel é Conselheiro do Tribunal de Contas do Município J, sendo
proprietário de diversos imóveis. Em um deles, por força de contrato de locação residencial, verifica a falta
de pagamentos dos alugueres devidos. O Conselheiro é Bacharel em Direito, tendo exercido a advocacia
por vários anos na área imobiliária.
Nesse caso, nos termos do Estatuto da Advocacia, o Conselheiro
A) poderia atuar como advogado em causa própria.
B) deverá contratar advogado para a causa diante da situação de incompatibilidade.
C) poderia advogar; recomenda-se, contudo, a contratação de advogado.
D) está com a sua inscrição como advogado suspensa.
Comentário
Gabarito: ‘’B’’

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De acordo com o art. 28, do Estatuto, a advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as seguintes
atividades: II - membros de órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos tribunais e conselhos de
contas, dos juizados especiais, da justiça de paz, juízes classistas, bem como de todos os que exerçam função
de julgamento em órgãos de deliberação coletiva da administração pública direta e indireta.
(FGV/X Exame de Ordem Unificado) O advogado Mário pertence aos quadros da sociedade de economia
mista controlada pelo Estado W, na qual chefia o Departamento Jurídico. Não existe óbice para a
prestação de serviços de advocacia privada, o que ocorre no escritório que possui no centro da capital do
Estado, em horário diverso do expediente na empresa. Um dos seus clientes realiza contrato para que
Mário aponha o seu visto em ato constitutivo de pessoa jurídica, em Junta Comercial cuja sede está
localizada na capital do Estado W.
Observado tal relato, consoante as normas do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB,
assinale a afirmativa correta.
A) As circunstâncias indicam que não existe óbice para a aposição do visto nos referidos atos.
B) O fato de chefiar Departamento Jurídico de empresa, seja de que natureza for, constitui elemento
impeditivo da aposição do visto.
C) O exercício da advocacia no local da sede da Junta Comercial é impeditivo para a aposição do visto.
D) A atuação em sociedade de economia mista estadual impede a aposição do visto contratado.
Comentário
Gabarito: ‘’D’’
De acordo com o art. 30, do Estatuto, são impedidos de exercer a advocacia: I - os servidores da
administração direta, indireta e fundacional, contra a Fazenda Pública que os remunere ou à qual seja
vinculada a entidade empregadora.
(FGV/VIII Exame de Ordem Unificado) João, advogado inscrito há muitos anos na OAB, decide candidatar‐
se, pelo quinto constitucional, ao cargo de Juiz do Tribunal Regional Federal. Em razão dessa iniciativa, é
submetido a exame curricular e sabatina perante o Conselho Federal da OAB. Após longo processo
avaliatório, vem a ser escolhido para integrar a lista sêxtupla a ser remetida ao Tribunal Regional Federal.
Diante dessa narrativa, à luz da legislação aplicável aos advogados, assinale a afirmativa correta.
A) O advogado, ao ser incluído em lista sêxtupla para integrar os quadros de tribunal, deve requerer licença
para tratamento de questões particulares.
B) O advogado que integra lista sêxtupla ou tríplice para ingresso pelo quinto constitucional pode continuar
exercendo livremente suas atividades.
C) O advogado que integra lista sêxtupla ou tríplice passa a ser considerado incompatibilizado para o
exercício da advocacia.
D) O advogado que pretende ingressar na magistratura pelo quinto constitucional passa a ser considerado
impedido ao compor lista sêxtupla.
Comentário
Gabarito: ‘’B’’
O detalhe aqui é que João ainda não foi escolhido. Se ele ainda não foi escolhido, não há impedimento. Dessa
forma, enquanto estiver na lista, poderá advogar.

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(FGV/VIII Exame de Ordem Unificado) José, general de brigada, entusiasmado com a opção do seu filho
pelo curso de Direito, resolve acompanhá‐lo nos estudos. Presta exame vestibular e matricula‐se em outra
instituição de ensino, também no curso de Direito. Ambos alcançam o período letivo em que há
necessidade de realizar o estágio forense.
José, desejando acompanhar seu filho nas atividades forenses nas horas de folga, vez que continua na
ativa, agora como General de Divisão, requer o seu ingresso no quadro de estagiários da OAB.
A partir do caso apresentado, assinale a afirmativa correta.
A) Militar não pode, enquanto permanecer na ativa, inscrever‐se no quadro de advogados, mas se permite
a ele a inscrição no quadro de estagiários.
B) Militar não pode, enquanto na ativa, obter inscrição no quadro de advogados nem no quadro de
estagiários.
C) Militar da ativa pode atuar na Justiça Militar especializada, porque se inscreve no quadro especial de
estagiários.
D) Militar de alta patente pode obter inscrição tanto no quadro de estagiários como no de advogados,
mediante permissão especial do Presidente da OAB.
Comentário
A advocacia é atividade incompatível com a atividade de militar, não só de militares, mas dos ocupantes de
Gabarito: ‘’B’’
atividade policial de qualquer natureza.
(FGV/VIII Exame de Ordem Unificado) Osvaldo é vereador do município “K” e ocupa cargo vinculado à
Mesa da Câmara de Vereadores. Necessitando propor ação cominatória em face do seu vizinho Marcos, e
sendo advogado, apresenta‐se em Juízo postulando em causa própria.
Nos termos das normas estatutárias, assinale a afirmativa correta.
A) A função de membro do Poder Legislativo impede o advogado de atuar, mesmo em causa própria.
B) A eleição para a Mesa Diretora do Poder Legislativo impede o advogado de atuar, gerando uma
incompatibilidade.
C) O mandato de vereador não se inclui dentre as situações de incompatibilidade, ocupe ou não cargo na
Mesa Diretora.
D) As incompatibilidades dos membros do Poder Legislativo estão circunscritas aos integrantes do Senado e
da Câmara dos Deputados Federal.
Comentário
Gabarito: ‘’B’’
De acordo com o art. 28, do Estatuto, a advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as seguintes
atividades: I - chefe do Poder Executivo e membros da Mesa do Poder Legislativo e seus substitutos legais.
(FGV/VIII Exame de Ordem Unificado) Além de advogado, João é professor da Universidade pública “M”,
com natureza de autarquia, onde exerce as funções de coordenador acadêmico da graduação do Curso de
Direito. Diante do prestígio acumulado, o seu escritório de advocacia vem a ter renome, atuando em
diversas causas nas comarcas de influência da universidade.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Essas circunstâncias indicam que o cargo ocupado pelo advogado seria um caso
A) abrangido pelas normas que criam regras de incompatibilidade para administradores públicos.
B) não previsto, vez que a atuação como dirigente de entidade pública é irrelevante para o sistema de
incompatibilidades.
C) excepcionado diante da característica que o vincularia ao magistério jurídico.
D) incluído no rol de incompatibilidades por não permitir que o advogado exerça cargo administrativo nas
universidades públicas.
Comentário
Gabarito: ‘’C’’
O professor de cursos jurídicos públicos, apesar de ser servidor público, tem a liberdade de advogar
livremente, ainda que contra a fazenda que o remunere ou a ela vinculada. É uma exceção.
(FGV/IX Exame de Ordem Unificado) Paulo, advogado inscrito na seccional de seu Estado há 10 anos, toma
posse no cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil.
Considerando a hipótese de Paulo continuar a exercer a função de advogado, assinale a afirmativa correta.
A) Paulo não poderá continuar a exercer a função de advogado, tendo em vista que passou a exercer função
incompatível com a advocacia.
B) Paulo poderá continuar a exercer a advocacia, desde que não advogue contra a União, que o remunera.
C) Paulo poderá continuar a exercer a advocacia, desde que não atue em causas envolvendo matéria
tributária.
D) Paulo poderá continuar a exercer a advocacia, não havendo qualquer tipo de impedimento.
Comentário
Gabarito: ‘’A’’
De acordo com o art. 28, a advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as seguintes atividades:
VII – ocupantes de cargos ou funções que tenham competência de lançamento, arrecadação ou fiscalização
de tributos e contribuições parafiscais. Assim, Paulo não poderá continuar a exercer a função de advogado,
tendo em vista que passou a exercer função incompatível com a advocacia.
(FGV/IV Exame de Ordem Unificado) Caio é eleito Senador da República e escolhido para compor a mesa
do referido órgão legislativo. Como advogado regularmente inscrito nos quadros da OAB, pretende atuar
em causa própria e realiza consulta nesse sentido à OAB. Quanto ao tema em foco, de acordo com as
regras estatutárias, é correto afirmar que a atuação de Caio
A) é possível, pois a função exercida caracteriza mero impedimento.
B) não é possível, sendo o caso de incompatibilidade mesmo em causa própria.
C) em causa própria constitui uma exceção aplicável ao caso.
D) poderá ocorrer, nessa situação, mediante autorização especial.
Comentário
Gabarito: ‘’B’’

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

O art. 28 de EAOAB lista uma série de incompatibilidades ao exercício da advocacia, e, entre eles, a de
Senador. De acordo com o art. 28, temos que “advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as
seguintes atividades:
I – chefe do Poder Executivo e membros da Mesa do Poder Legislativo e seus substitutos legais;”
(FGV/IV Exame de Ordem Unificado) Caio, professor vinculado à Universidade Federal, ministrando aulas
no curso de Direito, resolve atuar, em causa própria, pleiteando benefícios tributários em face da União
Federal. Nos termos do Estatuto, é correto afirmar que
A) é situação peculiar que permite o exercício da advocacia mesmo contra entidade vinculada.
B) a situação caracteriza impedimento, uma vez que há vínculo da Universidade com a União Federal.
C) o docente em cursos de Direito não pode exercer a advocacia, sendo circunstância de incompatibilidade.
D) enquanto durar o exercício do magistério, a inscrição na OAB permanecerá suspensa.
Comentário
Gabarito: ‘’A’’
Embora os servidores públicos sejam impedidos de exercer a advocacia contra a Fazenda Pública que os
remunere ou a qual seja vinculada a entidade empregadora, aos docentes de cursos jurídicos não é imposta
tal vedação.
(FGV/III Exame de Ordem Unificado) Xisto, advogado, é convidado a ocupar o prestigiado cargo de
Procurador-Geral de um município, cargo de confiança do Prefeito Municipal passível de exoneração ad
nutum. O cargo é privativo de advogado. No entanto, ao assumir o referido cargo, ocorrerá o (a)
A) cancelamento da sua inscrição.
B) exercício limitado da advocacia.
C) suspensão do exercício da atividade advocatícia.
D) anotação de impedimento.
Comentário
Gabarito: ‘’B’’
De acordo com o art. 29, do Estatuto, os Procuradores Gerais, Advogados Gerais, Defensores Gerais e
dirigentes de órgãos jurídicos da Administração Pública direta, indireta e fundacional são exclusivamente
legitimados para o exercício da advocacia vinculada à função que exerçam durante o período da investidura.
(FGV/II Exame de Ordem Unificado) Fábio, advogado com mais de dez anos de efetiva atividade, obtém a
indicação da OAB para concorrer pelo quinto constitucional à vaga reservada no âmbito de Tribunal de
Justiça.
No curso do processo também obtém a indicação do Tribunal e vem a ser nomeado pelo Governador do
Estado, ingressando nos quadros do Poder Judiciário. Diante disso, à luz das normas estatutárias ocorrerá:
A) o cancelamento da inscrição como advogado.
B) a suspensão até que cesse a incompatibilidade.
C) o licenciamento do profissional.
D) a passagem para a reserva do quadro de advogados.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Comentário
Gabarito: ‘’A’’
Tendo em vista que a atividade que Fábio passará a exercer é de caráter definitivo e incompatível com a
advocacia, a OAB de Fábio será cancelada.
(FGV/XXX Exame de Ordem Unificado) João Pedro, advogado conhecido no Município Alfa, foi eleito para
mandato na Câmara Municipal, na legislatura de 2012 a 2015. Após a posse e o exercício do cargo de
vereador em 2012 e 2013, João Pedro licenciou-se do mandato em 2014 e 2015 a convite do Prefeito, para
exercer o cargo de Procurador-Geral do Município Alfa.
Diante desses fatos, João Pedro,
A) em 2012 e 2013, poderia exercer a advocacia a favor de entidades paraestatais.
B) em 2012 e 2013, não poderia exercer a advocacia contra empresa concessionária de serviço público
estadual.
C) em 2014 e 2015, poderia exercer a advocacia privada, desde que não atuasse contra o Município Alfa ou
entidade que lhe seja vinculada.
D) em 2014 e 2015, não poderia exercer a advocacia a favor de autarquia vinculada ao Município Alfa.
Comentários
Gabarito: ‘’B’’
Na situação retratada, João Pedro em 2012 e 2013, não poderia exercer a advocacia contra empresa
concessionária de serviço público estadual (art. 30, II, do EAOAB).
(FGV/XXIII Exame de Ordem Unificado) Juliana é integrante da equipe de recursos humanos de certa
sociedade anônima, de grande porte, cujo objeto social é o comércio de produtos eletrônicos.
Encontrando-se vago um cargo de gerência jurídica, Juliana organizou processo seletivo, tendo recebido
os currículos de três candidatas.
A primeira delas, Mariana, é advogada regularmente inscrita na OAB, tendo se especializado em Direito
Penal. A segunda, Patrícia, não é graduada em Direito, porém é economista e concluiu o doutorado em
direito societário e mercado de capitais. A terceira, Luana, graduada em Direito, foi aprovada no exame
da OAB e concluiu mestrado e doutorado. É conselheira de certo tribunal de contas estadual, mas
encontra-se afastada, a pedido, sem vencimentos.
Considerando a situação narrada, assinale a afirmativa correta.
A) Qualquer das candidatas poderá exercer a função de gerência jurídica, mas apenas Mariana poderá
subscrever os atos privativos da advocacia.
B) Qualquer das candidatas poderá exercer a função de gerência jurídica, mas apenas Mariana e Luana
poderão subscrever os atos privativos da advocacia.
C) Apenas Mariana poderá exercer a função de gerência jurídica.
D) Apenas Mariana e Luana poderão exercer a função de gerência jurídica.
Comentários
Gabarito: ‘’C’’

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Conforme o caso retratado, Mariana poderá exercer a função de gerência jurídica, esta privativa de
advogado, não podendo ser exercida por quem não se encontre inscrito regularmente na OAB.
Ainda, conforme art. 28 do EAOAB, observa-se que: “A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria,
com as seguintes atividades: [...] II – membros de órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos
tribunais e conselhos de contas, dos juizados especiais, da justiça de paz, juízes classistas, bem como de
todos os que exerçam função de julgamento em órgãos de deliberação coletiva da administração pública
direta ou indireta".
(FGV/XX Exame de Ordem Unificado) Renata, devidamente inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil,
exerce, há muitos anos, atividades privativas da advocacia. Ocorre que Renata concorre a deputada
estadual, encontrando-se em curso diversos processos em que ela atua como advogada.
Caso Renata seja eleita, é correto afirmar que
A) ela ficará impedida de exercer a advocacia apenas contra ou a favor de pessoas jurídicas de direito público,
empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas, entidades paraestatais ou empresas
concessionárias ou permissionárias de serviço público.
B) ela ficará sujeita à proibição total ao exercício da advocacia, pois este é incompatível, mesmo em causa
própria, com as atividades dos membros do Poder Legislativo.
C) ela ficará impedida de exercer a advocacia apenas contra ou a favor de pessoas jurídicas de direito público.
D) ela ficará sujeita à proibição total ao exercício da advocacia, pois este é incompatível, mesmo em causa
própria, com as atividades dos membros do Poder Legislativo, mas poderá atuar, excepcionalmente, nos
feitos que já estavam em curso antes do exercício de seu mandato parlamentar.
Comentários
Gabarito: ‘’A’’
Se Renata for eleita, nesta situação, ela ficará impedida de exercer a advocacia apenas contra ou a favor de
pessoas jurídicas de direito público, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas,
entidades paraestatais ou empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público, conforme art.
30, II, do EAOAB.
Por fim, ressalta-se que, como regra, a advocacia não é incompatível com as atividades dos membros do
Poder Legislativo, mas tão somente com a de membros da Mesa do Poder Legislativo e seus substitutos
legais, nos termos do art. 28, I, do EAOAB.

Das Infrações e Sanções Disciplinares

1 - Das Infrações Disciplinares

Constitui infração disciplinar, art. 34, EAOAB:


• exercer a profissão, quando impedido de fazê-lo, ou facilitar, por qualquer meio, o seu
exercício aos não inscritos, proibidos ou impedidos;
• manter sociedade profissional fora das normas e preceitos estabelecidos nesta lei;
• valer-se de agenciador de causas, mediante participação nos honorários a receber;
• angariar ou captar causas, com ou sem a intervenção de terceiros;

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

• assinar qualquer escrito destinado a processo judicial ou para fim extrajudicial que não
tenha feito, ou em que não tenha colaborado;
• advogar contra literal disposição de lei, presumindo-se a boa-fé quando fundamentado na
inconstitucionalidade, na injustiça da lei ou em pronunciamento judicial anterior;
• violar, sem justa causa, sigilo profissional;
• estabelecer entendimento com a parte adversa sem autorização do cliente ou ciência do
advogado contrário;
• prejudicar, por culpa grave, interesse confiado ao seu patrocínio;
• acarretar, conscientemente, por ato próprio, a anulação ou a nulidade do processo em que
funcione;
• abandonar a causa sem justo motivo ou antes de decorridos dez dias da comunicação da
renúncia;
• recusar-se a prestar, sem justo motivo, assistência jurídica, quando nomeado em virtude
de impossibilidade da Defensoria Pública;
• fazer publicar na imprensa, desnecessária e habitualmente, alegações forenses ou relativas
a causas pendentes;
• deturpar o teor de dispositivo de lei, de citação doutrinária ou de julgado, bem como de
depoimentos, documentos e alegações da parte contrária, para confundir o adversário ou
iludir o juiz da causa;
• fazer, em nome do constituinte, sem autorização escrita deste, imputação a terceiro de
fato definido como crime;
• deixar de cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do órgão ou de
autoridade da Ordem, em matéria da competência desta, depois de regularmente
notificado;
• prestar concurso a clientes ou a terceiros para realização de ato contrário à lei ou destinado
a fraudá-la;
• solicitar ou receber de constituinte qualquer importância para aplicação ilícita ou
desonesta;
• receber valores, da parte contrária ou de terceiro, relacionados com o objeto do mandato,
sem expressa autorização do constituinte;
• locupletar-se, por qualquer forma, à custa do cliente ou da parte adversa, por si ou
interposta pessoa;
• recusar-se, injustificadamente, a prestar contas ao cliente de quantias recebidas dele ou
de terceiros por conta dele;
• reter, abusivamente, ou extraviar autos recebidos com vista ou em confiança;
• deixar de pagar as contribuições, multas e preços de serviços devidos à OAB, depois de
regularmente notificado a fazê-lo;
• incidir em erros reiterados que evidenciem inépcia profissional;
• manter conduta incompatível com a advocacia;
• fazer falsa prova de qualquer dos requisitos para inscrição na OAB;
• tornar-se moralmente inidôneo para o exercício da advocacia;
• praticar crime infamante; ou

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72
ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

• praticar, o estagiário, ato excedente de sua habilitação.

Também se inclui na conduta incompatível:

• Prática reiterada de jogo de azar, não autorizado por lei;


• Incontinência pública e escandalosa; ou
• Embriaguez ou toxicomania habituais.

2 - Das Sanções Disciplinares

Segundo o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (EOAB), as sanções disciplinares consistem em:

• Censura;
• Suspensão;
• Exclusão; ou
• Multa.

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72
ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

2.1 - Da Aplicação da Sanção Censura

A censura é aplicável nos casos de:

➢ Infrações compreendidas como:


✓ exercer a profissão, quando impedido de fazê-lo, ou facilitar, por qualquer meio, o seu
exercício aos não inscritos, proibidos ou impedidos;
✓ manter sociedade profissional fora das normas e preceitos estabelecidos nesta lei;
✓ valer-se de agenciador de causas, mediante participação nos honorários a receber;
✓ angariar ou captar causas, com ou sem a intervenção de terceiros;
✓ assinar qualquer escrito destinado a processo judicial ou para fim extrajudicial que não
tenha feito, ou em que não tenha colaborado;
✓ advogar contra literal disposição de lei, presumindo-se a boa-fé quando fundamentado
na inconstitucionalidade, na injustiça da lei ou em pronunciamento judicial anterior;
✓ violar, sem justa causa, sigilo profissional;
✓ estabelecer entendimento com a parte adversa sem autorização do cliente ou ciência do
advogado contrário;
✓ prejudicar, por culpa grave, interesse confiado ao seu patrocínio;
✓ acarretar, conscientemente, por ato próprio, a anulação ou a nulidade do processo em
que funcione;
✓ abandonar a causa sem justo motivo ou antes de decorridos dez dias da comunicação da
renúncia;
✓ recusar-se a prestar, sem justo motivo, assistência jurídica, quando nomeado em virtude
de impossibilidade da Defensoria Pública;
✓ fazer publicar na imprensa, desnecessária e habitualmente, alegações forenses ou
relativas a causas pendentes;
✓ deturpar o teor de dispositivo de lei, de citação doutrinária ou de julgado, bem como de
depoimentos, documentos e alegações da parte contrária, para confundir o adversário
ou iludir o juiz da causa;

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

✓ fazer, em nome do constituinte, sem autorização escrita deste, imputação a terceiro de


fato definido como crime;
✓ deixar de cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do órgão ou de
autoridade da Ordem, em matéria da competência desta, depois de regularmente
notificado; e
✓ praticar, o estagiário, ato excedente de sua habilitação.
➢ Violação a preceito do Código de Ética e Disciplina; ou
➢ Violação a preceito desta lei, quando para a infração não se tenha estabelecido sanção mais
grave.

A censura pode ser convertida em advertência, em ofício reservado, sem registro nos
assentamentos do inscrito, quando presente circunstância atenuante.

2.2 - Da Aplicação de Sanção Suspensão

A suspensão é aplicável nos casos de:

➢ Infrações compreendidas como:


✓ prestar concurso a clientes ou a terceiros para realização de ato contrário à lei ou
destinado a fraudá-la;
✓ solicitar ou receber de constituinte qualquer importância para aplicação ilícita ou
desonesta;
✓ receber valores, da parte contrária ou de terceiros, relacionados com o objeto do
mandato, sem expressa autorização do constituinte;
✓ locupletar-se, por qualquer forma, à custa do cliente ou da parte adversa, por si ou
interposta pessoa;
✓ recusar-se, injustificadamente, a prestar contas ao cliente de quantias recebidas dele ou
de terceiros por conta dele;
✓ reter, abusivamente, ou extraviar autos recebidos com vista ou em confiança;
✓ deixar de pagar as contribuições, multas e preços de serviços devidos à OAB, depois de
regularmente notificado a fazê-lo; e
✓ incidir em erros reiterados que evidenciem inépcia profissional.
➢ Reincidência em infração disciplinar.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A suspensão acarreta ao infrator a interdição do exercício profissional, em todo o


território nacional, pelo prazo de trinta dias a doze meses, de acordo com os critérios de
individualização.

Acrescenta-se que, nas hipóteses de recusa, injustificadamente, a prestar contas ao cliente de quantias
recebidas dele ou de terceiros por conta dele ou deixar de pagar as contribuições, multas e preços de serviços
devidos à OAB, depois de regularmente notificado a fazê-lo, a suspensão perdura até que satisfaça
integralmente a dívida, inclusive com correção monetária.

Por outro lado, na hipótese de incidir em erros reiterados que evidenciem inépcia profissional, a suspensão
perdura até que preste novas provas de habilitação.

2.3 - Da Aplicação da Sanção Exclusão

A exclusão é aplicável nos casos de:

➢ Aplicação, por três vezes, de suspensão; ou


➢ Infrações compreendidas como:
✓ fazer falsa prova de qualquer dos requisitos para inscrição na OAB;
✓ tornar-se moralmente inidôneo para o exercício da advocacia; e
✓ praticar crime infamante.

Para a aplicação da sanção disciplinar de exclusão, é necessária a manifestação favorável


de 2/3 dos membros do Conselho Seccional competente.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

2.4 - Da Aplicação da Sanção Multa

A multa, variável entre o mínimo correspondente ao valor de uma anuidade e o máximo de seu décuplo, é
aplicável cumulativamente com a censura ou suspensão, em havendo circunstâncias agravantes.

2.5 - Das Circunstâncias Atenuantes

Na aplicação das sanções disciplinares, são consideradas, para fins de atenuação, as seguintes circunstâncias,
entre outras:

• Falta cometida na defesa de prerrogativa profissional;


• Ausência de punição disciplinar anterior;
• Exercício assíduo e proficiente de mandato ou cargo em qualquer órgão da OAB;
• Prestação de relevantes serviços à advocacia ou à causa pública.

Destaca-se que os antecedentes profissionais do inscrito, as atenuantes, o grau de culpa por ele revelada, as
circunstâncias e as consequências da infração são consideradas para o fim de decidir:

• Sobre a conveniência da aplicação cumulativa da multa e de outra sanção disciplinar; ou


• Sobre o tempo de suspensão e o valor da multa aplicáveis.

Cabe destacar que é permitido ao que tenha sofrido qualquer sanção disciplinar requerer, um ano após seu
cumprimento, a reabilitação, em face de provas efetivas de bom comportamento.

ATENÇÃO! Quando a sanção disciplinar resultar da prática de crime, o pedido de reabilitação depende
também da correspondente reabilitação criminal.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Fica impedido de exercer o mandato o profissional a quem forem aplicadas as sanções


disciplinares de suspensão ou exclusão.

2.6 - Da Prescrição

Muito importante destacar que a pretensão à punibilidade das infrações disciplinares prescreve em cinco
anos, contados da data da constatação oficial do fato.

É importante frisar que se aplica a prescrição (intercorrente) a todo processo disciplinar paralisado por
mais de três anos, pendente de despacho ou julgamento, devendo ser arquivado de ofício, ou a
requerimento da parte interessada, sem prejuízo de serem apuradas as responsabilidades pela paralisação.

Porém, a prescrição será interrompida nos seguintes casos:

• Pela instauração de processo disciplinar ou pela notificação válida feita diretamente ao


representado; ou
• Pela decisão condenatória recorrível de qualquer órgão julgador da OAB.

3. DIREITO EMPRESARIAL
Nosso estudo se concentrará nos seguintes temas:

- Sociedades Limitadas. (Conceito, Quotas e Deliberações).

Os referidos temas são de incidência altíssima no Exame de Ordem, ocupando o ranking de temas mais
cobrados na matéria, razão pela qual trouxe para compor nosso estudo na aula de hoje!

Outro ponto importante a se destacar, é que das últimas vezes em que cobrado, a banca utilizou abordagem
legalista, explorando os dispositivos legais pertinentes, razão pela qual no nosso estudo contaremos com:

>Pílulas Estratégicas de Doutrina;

>Questões comentadas ao longo do PDF;

Vamos começar?

3.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina

Profa. Isabella Pires: ressalto para vocês que as considerações a seguir foram extraídas da
Aula 03 do Curso Regular de Direito Empresarial ministrado pelo Professor Alessandro
Sanchez.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Sociedades Limitadas

1 - Disposições preliminares

1.1 - Personalidade jurídica de pessoa jurídica

A sociedade limitada é uma modalidade de sociedade empresária. A ideia por trás dessa modalidade é a de
permitir que sócio(s) possam contribuir com bens passíveis de avaliação em dinheiro, para dar origem a uma
pessoa jurídica autônoma. Desse modo, com o registro, a sociedade limitada torna-se uma Pessoa Juridica
autônoma com patrimônio próprio e separado de seus sócios.

No sentido de exemplificar o que está acima, podemos imaginar que o Professor Ricardo Vale e o Professor
Héber Carvalho, ambos, obviamente, pessoas naturais, resolvem criar uma sociedade empresária
denominada ESTRATÉGIA CONCURSOS LTDA (caso hipotético). Nesse caso, após o registro no órgão
competente, a sociedade ESTRATÉGIA LTDA torna-se uma Pessoa Jurídica com patrimônio próprio e
separado das pessoas naturais de seus sócios.

Nos parágrafos acima, o esforço foi no sentido de demonstrar que os sócios continuam titularizando os seus
bens pessoais, como o seu imóvel residencial, veículo pessoal ou uma casa na praia como patrimônios
autônomos.

A Pessoa Jurídica recebe a contribuição de seus sócios. Imagine que Ricardo Vale contribui com R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais) e Héber Carvalho contribua com um veículo avaliado também no valor de R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais). Após a devida contribuição, o que se denomina “integralização”, esses patrimônios
são considerados como da própria Pessoa Jurídica, autônomamente.

• Ricardo Vale • Héber Carvalho

• 1 casa Coruja Ltda (PJ) • 1 apartamento

• CONTRIBUIÇÃO • CONTRIBUIÇÃO
• Capital Social = R$
100.000,00

C/C = R$ 50.000,00 Doblô = R$ 50.000,00

Os valores em dinheiro, acima demonstrados, não integram mais o patrimônio dos sócios. Vale ressaltar,
que se os sócios apenas assumem o compromisso de contribuir, estaremos diante do que se denomina
“subscrição”, porém, a partir do momento que os sócios realizam o pagamento para a sociedade, temos a
“integralização do capital”, para que a sociedade tenha o seu próprio patrimônio, separado do patrimônio
de seus sócios.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

1.2 - Responsabilidade limitada às quotas sociais

Assim, os sócios terão a responsabilidade restrita ao valor de suas quotas. As quotas representam a
participação de cada sócio para a sociedade, separadas em pequenas frações. Vamos continuar com os
exemplos? Claro que sim, mas vamos aproveitar também os exemplos já utilizados!

Em continuação, o Professor Ricardo Vale resolveu contribuir com R$ 50.000,00 (Cinquenta mil reais), em
dinheiro, já sabemos. Agora, deverá determinar as frações de divisão de sua contribuição, proporcionando
facilidade com negócios futuros. Vamos imaginar que a sua escolha tenha sido por dar o valor de R$ 1.000,00
por cada uma de suas quotas. Nesse caso, ele terá 50 (cinquenta) quotas, já que contribuiu com R$
50.000,00. A pergunta agora é: Que diferença isso faz? Vamos para a análise!

Opção pelo valor de 1 quota =


R$ 1.000,00
Ricardo Vale
Contribuição em dinheiro
R$ 50.000,00
Resultado = R$ 50.000,00 = R$
1.000,00 cada = 50 quotas

Em conexão com o texto acima, a divisão em quotas pode ser muito interessante. Imagine, uma vez mais,
que eu Alessandro Sanchez queira adquirir uma parte de suas quotas. O valor que tenho para isso é de R$
500,00 (quinhentos reais). A problemática está instaurada, vamos para a solução!

No exemplo acima, não poderei, nem sequer, adquirir 1 quota do Professor Ricardo Vale, já que cada uma
de suas quotas tem o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), e, além disso, as quotas são indivisíveis. Você quer
saber o que significa quotas indivisíveis? Vamos lá! A partir do momento que o sócio determina o valor de
sua quota, não é mais possível traçar divisões, ou seja, não existe como adquirir meia quota, aliás, não
existe meia quota.

Ainda a título de exemplo, caso Ricardo Vale tivesse dividido as suas quotas em 1,00 (um real) cada, isso
não prejudicaria o negócio, já que com o mesmo valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) eu poderia fazer a
aquisição de 500 quotas.

Opção pelo valor de 1 quota = R$


1,00
Ricardo Vale
Contribuição em dinheiro
R$ 50.000,00
Resultado = R$ 50.000,00 = R$
1,00 cada = 50.000 quotas

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Com a compreensão do que vem a ser as quotas sociais, a matéria fica palatável, inclusive para estudar o
mais importante para a sua prova, seja a responsabilidade dos sócios. Vamos ao primeiro dispositivo de lei
sobre o assunto:

“Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de


suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.”

Como é possível perceber pelo texto de lei acima, agora em parte transcrito: “na sociedade limitada, a
responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas.” O texto quer significar que cada sócio é
responsável pelo valor de suas quotas, de acordo com as obrigações que assumirem, mas todos respondem
solidariamente pela integralização do capital. Vamos para a compreensão dessa solidariedade agora.

Por seu turno, já que os exemplos tem prevalecido, continuemos por essa rota. Cada sócio tem compromisso
por R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) cada, de acordo com o valor de suas quotas conforme subscreveram
em cláusula constante do contrato social.

• Ricardo Vale • Héber Carvalho

• 1 casa Coruja Ltda (PJ) • 1 apartamento

• CONTRIBUIÇÃO • Capital Social = R$ • CONTRIBUIÇÃO


100.000,00

C/C = R$ 50.000,00 Doblô = R$ 50.000,00

Ocorre que, o artigo 1.052 do Código Civil tem complemento, como segue em destaque, a segunda parte de
seu “caput”:

“Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de


suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.”

Tratando-se da responsabilidade dos sócios pela integralização do capital, vejamos como funcionam as
regras para a determinação do limite da responsabilidade dos sócios.

Até o presente momento, fica claro que a responsabilidade limitada é um benefício a disposição dos sócios,
mas para, de fato, se beneficiar da responsabilidade limitada, a mesma que separa o patrimônio dos sócios,
do patrimônio da pessoa jurídica, é necessário integralizar o capital.

Assim, como já estudado, os sócios, inicialmente, se comprometem a pagar determinado valor para a
sociedade, o que se denomina subscrição, e, a partir do momento que, de fato, pagam o valor a que se

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

comprometeram temos a integralização do capital. A responsabilidade limitada está atrelada diretamente


à integralização.

Agora vem a pergunta de 1 milhão de reais, mas isso também é hipotético (rs). Como fica a responsabilidade,
enquanto um ou todos os sócios ainda não pagaram a sua parte? Aliás, o sócio que não paga a sua parte é
chamado “Sócio Remisso”. Vamos para a resposta!

“Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de


suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.”

O Artigo 1.052 do Código Civil, acima transcrito, responde objetivamente. Enquanto um ou alguns dos sócios
não integralizam o capital, é possível avançar em seus bens pessoais, até o limite do valor subscrito. Chega
o momento em que você pede uma exemplificação, e eu mesmo como professor, preciso disso para
estabelecer a minha didática. Vamos lá!

• Sérgio Mendes • Rosenval Jr.


Estratégia Ltda (PJ)
• CONTRIBUIÇÃO • CONTRIBUIÇÃO

- NÃO PAGOU -
PAGOU! R$ 50.000,00 • Capital R$ 100.000,00
R$ 50.000,00

O exemplo acima vai me ajudar a resolver essa questão! Vamos imaginar uma sociedade em que no dia do
vencimento, um dos sócios deixa de pagar a sua parte, o sócio remisso será o Rosenval Junior. Note, que é
possível a integralização a prazo. No exemplo, vamos considerar que a data de vencimento não foi respeitada
pelo sócio remisso. Seria possível avançar no patrimônio pessoal dos sócios, solidariamente? É exatamente
isso!

Vamos aprofundar o exemplo. Imagine que a sociedade compre exatamente o valor de R$ 100.00,00 (cem
mil reais) de uma empresa atacadista, que ajuiza uma ação para cobrar o valor mencionado e encontra
apenas R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) no patrimônio da sociedade, justamente o valor integralizado pelo
sócio Sérgio Mendes, e naturalmente, não encontra a parte que deveria ter sido integralizada pelo sócio
Rosenval Jr. Vamos para a resposta!

A resposta é que até o limite do valor subscrito é possível avançar no patrimônio pessoal de qualquer um
dos sócios, pois a ideia de solidariedade é exatamente essa. A afirmação que fica agora é: “Ainda que o
sócio Sérgio já tenho integralizado a sua parte, não parece justo, que ele também tenha de pagar pela
parte de Rosenval!” A ideia parece-me um tanto quanto justa. Vamos concluir esse assunto no próximo
parágrafo.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A regra em que o sócio Sergio Mendes é obrigado a arcar com o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), ainda
que o seu compromisso fosse de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), existe para garantir o terceiro atacadista
que contrata pela sociedade.

O Sócio que teve de arcar com o seu compromisso, e também, com o compromisso não assumido pelo sócio
remisso, passa a ter direitos de exclusão em relação ao remisso, entre outros direitos mais, como o art. 1.058
do Código Civil:

Art. 1.058. Não integralizada a quota de sócio remisso, os outros sócios podem, sem
prejuízo do disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá-la para si ou transferi-la a
terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os
juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas.

Assim, não integralizada a quota do remisso, o sócio Sergio Mendes, poderá tomá-la para si, excluindo o
primitivo (Rosenval), entre outras hipóteses elencadas no artigo 1.004 do Código Civil. Em suma, as
possibilidades estão a seguir:

O Sócio (Sergio Mendes), poderá:

Cobrar valor não integralizado +


Excluir o sócio Rosenval; Liquidar a sociedade;
juros + correção monetária.

Em vista da exclusão do sócio, abrimos algumas possibilidades:

1) Poderá excluir o sócio remisso, após notificá-lo, e reconstituir a sociedade com outro
sócio de sua confiança;

2) Poderá excluir o sócio remisso, transformando a sociedade para praticar a empresa


como Empresário Individual;

3) Poderá excluir o sócio remisso, transformando a sociedade para praticar a empresa


como EIRELI;

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

4) Poderá excluir o sócio remisso, continuando a sociedade de forma unipessoal, por


simples alteração contratual, em vista do ;

5) Se o sócio remisso, integralizar, ao menos parte, basta diminuir o capital do remisso e


assumir o restante.

6) Poderá liquidar a sociedade;

1.3 - Sociedade limitada unipessoal e pluripessoal

Enfim, a Medida Provisória 881/19 da Liberdade Econômica, já transformada em lei, traz a inclusão do §1º,
Art. 1.052 para o Código Civil, permitindo a constituição de uma sociedade limitada unipessoal, a seguir:

“§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas.“

Trata-se da ampliação das possibilidades para um sujeito que queira praticar a empresa individualmente,
como explica o quadro abaixo.

Prática individual da atividade empresarial

Empresário Individual; EIRELI; Sociedade Unipessoal limitada.

Além disso, o §2º, Art. 1.052 para o Código Civil, traz como obrigatoriedade a aplicação dos itens compatíveis
ao sujeito individual hoje obrigatórios para a sociedade pluripessoal, a seguir:

§2.º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que


couber, as disposições sobre o contrato social.

O dispositivo acima, apenas exige para a sociedade unipessoal, o mesmo e antes já exigido para a sociedade
pluripessoal no art. 1.054 do Código Civil, a seguir:

“Art. 1.054. O contrato mencionará, no que couber, as indicações do art. 997, e, se for o
caso, a firma social.”

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A sociedade unipessoal e pluripessoal, devem constituir-se, segundo um contrato social que detenha as
cláusulas essenciais previstas no art. 997 do Código Civil:

O contrato social tem a condição de demonstrar todos os detalhes mais básicos da vida societária no que
tange a capital, sede, forma, responsabilidade, etc. O registro é exigido para dar publicidade acerca da
sociedade, assegurando o conhecimento de elementos essenciais de sua vida quotidiana para que terceiros
saibam com quem e em quais condições estão negociando.

Os sócios podem optar pelas cláusulas conforme as suas vontades, desde que não sejam ilícitas ou
proibidas, como no exemplo de uma cláusula em que os sócios devem exercer as suas atividades
exclusivamente na sociedade de que façam parte, mas existem as denominadas cláusulas essenciais.

As cláusulas essenciais são obrigatórias, e devem ser constituídas mediante contrato escrito, particular,
confeccionado pelas próprias partes, ou público, com auxílio de uma tabelionato, sob pena de a sociedade
ser considerada irregular. O artigo 997 do Código Civil as elenca:

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que,
além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais,
e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer
espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
(V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços); As
Sociedades Limitadas não aceitam sócios de serviços, conforme §2.º do artigo 1.055, CC).
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e
atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

O contrato social arquivado no órgão de registro faz com que ninguém possa alegar que desconhecia as
básicas informações da sociedade, lembrando que, a título de exemplo, se um determinado sócio não tem
poderes para contratar pela sociedade, essa limitação deve constar no contrato.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Entre as cláusulas essenciais obrigatórias, acredito que as hipóteses presentes nos incisos I, II, III, IV e VI,
aplicam-se às sociedades limitadas unipessoais, já que o sócio deverá aplicar um nome para a sociedade e
fazer constar a sua qualificação, sede, objeto, prazo, capital investido, divisão em quotas e administração da
sociedade, que pode ser realizada por ele próprio, ou por terceiro por ele nomeado.

O inciso V do artigo 997 do Código Civil não se aplicada às sociedades limitadas, sejam unipessoais ou
pluripessoais, conforme veda o §2.º do artigo 1.055 do Código Civil.

O inciso VII também não se aplica, já que é óbvio que a sua responsabilidade será proporcional à sua
participação, tendo em vista que a sociedade é composta por um único sócio.

O inciso VIII também não tem aplicação para as sociedades limitada, pois a sua regra de responsabilidade
é definida pelo artigo 1.052 do Código Civil, já estudado.

1.4 - Regência subsidiária e supletiva das sociedades limitadas

O Código Civil de 2002 regula as sociedades limitadas em seus artigos 1.052-1.087. É natural que tais
dispositivos não dão conta de solucionar todos os problemas das limitadas, logo, o legislador se antecipou
e ofereceu regulação ao tema.

O artigo 1.053 do Código Civil assegura aos sócios a liberdade de adotar, em caso de omissão na legislação,
as regras das sociedades simples ou das sociedades anônimas.

“Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da
sociedade simples.”

O “caput” é para regular os casos em que as partes não definem nada no contrato social. Nesse caso, as
sociedades limitadas adotam, subsidiariamente, as regras das sociedades simples, e a escolha pelas
sociedades por ações para sanar as omissões sobre suas regras é solução supletiva, em vista do disposto
no art. 1.052 do Código Civil.

Finalmente, o parágrafo único do artigo 1.053 do Código Civil, oferece às partes a possibilidade de escolher
a regência supletiva das regras presentes na lei das sociedades anônimas, seja a lei 6.404/76.

Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade limitada
pelas normas da sociedade anônima.

Nesse caso, a sociedade limitada ganhará um arcabouço de regras muito maior, talvez, sendo uma boa saída
para quem deseja trabalhar com maior vulto de capital, já que é uma legislação que não oferece tanta
liberdade contratual, possuindo 299 artigos. Fique tranquilo, o seu edital prevê apenas a caracterização das
sociedades anônimas, um tema ainda mais curto do que o solicitado para as limitadas.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Regra: sociedades simples

Regência

Supletiva: sociedades anônimas

2 - Administração

A sociedade poderá ser administrada por sócios, ou ainda, por quem não seja sócio, se o contrato social
permitir. Trata-se de inovação trazida pelo Código Civil. Existindo permissão no contrato social de
administrador não sócio, este será escolhido por deliberação dos sócios.

Art. 1.060. A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no
contrato social ou em ato separado.

Em regra, a sociedade é administrada por uma ou mais pessoas designadas no próprio contrato de
sociedade, mas poderá ser nomeada em vista de sua escolha em reunião ou assembleia de sócios, situação
em que a ata da respectiva reunião ou assembleia são suficientes para a sua legítima nomeação e
consequente averbação no órgão registral.

O artigo 1.062 e §§ do Código Civil, traz ainda a necessidade de assinatura no termo de posse no prazo de
até 30 dias, assim como a averbação no prazo de 10 dias da assinatura.

“Art. 1.062. O administrador designado em ato separado investir-se-á no cargo mediante


termo de posse no livro de atas da administração.
§ 1o Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes à designação, esta se tornará
sem efeito.
§ 2o Nos dez dias seguintes ao da investidura, deve o administrador requerer seja averbada
sua nomeação no registro competente, mencionando o seu nome, nacionalidade, estado
civil, residência, com exibição de documento de identidade, o ato e a data da nomeação e
o prazo de gestão.”

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

O parágrafo único do artigo 1.060 do Código Civil é apenas para afirmar que o sócio que adentrar ao quadro
societário posteriormente, não recebe os poderes de administração automaticamente, situação em que,
para que adquira essa qualidade, haverá de fazer constar alteração contratual ou decisão em reunião ou
assembleia, para posterior averbação registral.

“Parágrafo único. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende


de pleno direito aos que posteriormente adquiram essa qualidade.”

O Código Civil de 2002 admite a figura do administrador estranho ao quadro social, quando exista permissão
contratual. Caso o capital não esteja integralizado para a permissão de administrador não sócio, é
necessária a aprovação por, no mínimo, 2/3 dos sócios, segundo o art. 1.061 do mesmo Código.

“Art. 1.061. A designação de administradores não sócios dependerá de aprovação da


unanimidade dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, e de 2/3 (dois
terços), no mínimo, após a integralização.”

A administração cessa pelo término do contrato, se ele não for reconduzido ao cargo. Também cessa a
administração pela destituição do administrador, que pode ocorrer a qualquer tempo por deliberação dos
sócios.

“Art. 1.063. O exercício do cargo de administrador cessa pela destituição, em qualquer


tempo, do titular, ou pelo término do prazo se, fixado no contrato ou em ato separado,
não houver recondução.
§ 2o A cessação do exercício do cargo de administrador deve ser averbada no registro
competente, mediante requerimento apresentado nos dez dias seguintes ao da
ocorrência.
§ 3o A renúncia de administrador torna-se eficaz, em relação à sociedade, desde o
momento em que esta toma conhecimento da comunicação escrita do renunciante; e, em
relação a terceiros, após a averbação e publicação.”

A expressão “uso da firma” significa a tomada de atos em nome da sociedade, assinando pela própria pesso
jurídico e como se fosse a própria. Também cessa a administração pela destituição do administrador, que
pode ocorrer a qualquer tempo por deliberação dos sócios.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

“Art. 1.064. O uso da firma ou denominação social é privativo dos administradores que
tenham os necessários poderes.”

Finalmente, é dever dos administradores, ao final do exercício social, a elaboração de inventário e balanço
patrimonial e também do balanço de resultado econômico. Uma sociedade com boa escrituração, é uma
sociedade com uma bússola implacável na orientação dos negócios.

“Art. 1.065. Ao término de cada exercício social, proceder-se-á à elaboração do inventário,


do balanço patrimonial e do balanço de resultado econômico.”

3 - Conselho Fiscal

É um órgão de assessoramento técnico. É obrigatório, mas de funcionamento facultativo. A composição do


Conselho Fiscal será de, no mínimo, três e, no máximo, cinco membros, acionistas ou não. No entanto, só
podem ser eleitos como conselheiros fiscais aqueles que possuem curso superior ou tenham sido
administradores de qualquer sociedade por, no mínimo, três anos.

“Art. 1.066. Sem prejuízo dos poderes da assembléia dos sócios, pode o contrato instituir
conselho fiscal composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não,
residentes no País, eleitos na assembléia anual prevista no art. 1.078.”

Conselho Fiscal

Órgão técnico obrigatório, mas de funcionamento facultativo

Composto por no mínimo três e no máximo cinco membros, acionistas ou


não, com curso superior ou que tenham sido administradores em
qualquer sociedade por no mínimo três anos.

O Código Civil buscou estabelecer que o administrador, além de conhecimento e capacidade de gestão,
deve ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem probo empregaria na
administração de seus próprios negócios. O membro do conselho fiscal segue os mesmos preceitos,
conforme artigo 1.011, a seguir.:

Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o


cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração
de seus próprios negócios.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

O administrador haverá de comprovar, qualificação para o exercício das atividades e não incorrer em
qualquer dos impedimentos legais, conforme dispositivo a seguir comentado.

“Art. 1.066. [...]


“§1.o Não podem fazer parte do conselho fiscal, além dos inelegíveis enumerados no §
1o do art. 1.011, os membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por ela
controlada, os empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, o
cônjuge ou parente destes até o terceiro grau.”

Os impedimentos legais para a administração, estão dispostos no § 1.º do art. 1.011 do Código Civil, que
enumera aqueles que estão legalmente impedidos de exercer a administração:

§ 1.o Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os
condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou
por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a
economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da
concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto
perdurarem os efeitos da condenação.

A tabela abaixo, organiza o dispositivo acima!

a) pessoas impedidas por leis especiais, a exemplo de funcionários públicos, governadores e juízes;
b) os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos;
c) os condenados por crimes falimentares; de prevaricação; peita ou suborno; concussão e peculato,
enquanto perdurarem os efeitos da condenação;
d) os condenados por crimes contra a economia popular; contra o sistema financeiro nacional; contra as
normas de defesa da concorrência; contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade,
enquanto perdurarem os efeitos da condenação.

O membro do conselho fiscal, deve, tanto quanto o próprio administrador, assinar o termo de posse no livro
de atas próprio do conselho com a sua respectiva qualificação pessoal, nos 30 dias seguintes ao de sua
eleição, consoante o artigo 1.067 e seu parágrafo único, CC, a seguir:

“Art. 1.067. O membro ou suplente eleito, assinando termo de posse lavrado no livro de
atas e pareceres do conselho fiscal, em que se mencione o seu nome, nacionalidade,
estado civil, residência e a data da escolha, ficará investido nas suas funções, que exercerá,
salvo cessação anterior, até a subseqüente assembléia anual.”
“Parágrafo único. Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes ao da eleição, esta
se tornará sem efeito.”

A sua remuneração é fixada em assembleia de sócios, se houver, conforme artigo 1.068 do Código Civil:

“Art. 1.068. A remuneração dos membros do conselho fiscal será fixada, anualmente, pela
assembléia dos sócios que os eleger.”

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

O artigo 1.069 do Código Civil é para organizar as suas atribuições:

“Art. 1.069. Além de outras atribuições determinadas na lei ou no contrato social, aos
membros do conselho fiscal incumbem, individual ou conjuntamente, os deveres
seguintes”:

A tabela abaixo, organiza o dispositivo acima!

I - examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira,
devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhes as informações solicitadas;
II - lavrar no livro de atas e pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I deste
artigo;
III - exarar no mesmo livro e apresentar à assembléia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as
operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e o de
resultado econômico;
IV - denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade;
V - convocar a assembléia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação anual,
ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes;
VI - praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere este artigo, tendo em
vista as disposições especiais reguladoras da liquidação.

Tais poderes são privativos do conselho fiscal, como a seguir:

“Art. 1.070. As atribuições e poderes conferidos pela lei ao conselho fiscal não podem ser
outorgados a outro órgão da sociedade, e a responsabilidade de seus membros obedece à
regra que define a dos administradores.”
“Parágrafo único. O conselho fiscal poderá escolher para assisti-lo no exame dos livros, dos
balanços e das contas, contabilista legalmente habilitado, mediante remuneração
aprovada pela assembléia dos sócios.”

4 - A vontade da sociedade

A sociedade limitada é uma pessoa jurídica e, como tal, é dotada de vontade própria, expressa pelos sócios
em reunião ou assembleia.

Art. 1.072. As deliberações dos sócios, obedecido o disposto no art. 1.010 , serão tomadas
em reunião ou em assembléia, conforme previsto no contrato social, devendo ser
convocadas pelos administradores nos casos previstos em lei ou no contrato.

Nas sociedades compostas por menos de dez sócios, as deliberações podem ser tomadas em reunião,
desde que prevista no contrato social, inclusive o contrato preverá a forma como a reunião deve se dar, seja
a convocação, instalação e assim por diante.

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72
ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

§ 1º A deliberação em assembléia será obrigatória se o número dos sócios for superior a


dez.

No caso de a sociedade for constituída funcionar com mais de dez sócios, as deliberações deverão ser
tomadas por assembleia, observados todos os seus requisitos e formalidades.

A obrigatoriedade da assembleia começa nos primeiros quatro meses após o final do exercício social; tem
por finalidade apreciar as contas dos administradores, deliberar sobre o balanço, designar
administradores e quaisquer outras matérias, segundo deliberação dos sócios.

Havendo pronunciamento por escrito de todos os sócios, dispensa-se uma e outra.

§ 3º A reunião ou a assembléia tornam-se dispensáveis quando todos os sócios decidirem,


por escrito, sobre a matéria que seria objeto delas.

Tais assembleias devem ser convocadas pelos administradores, ainda que subsidiariamente possam ser
convocadas pelos sócios ou pelo Conselho Fiscal.

• Sociedades com até 10 sócios


Reunião • Representação: procurador sócio ou advogado, ou outra
pessoa prevista no contrato social

• Sociedades com mais de 10 sócios


Assembleia • Representação: procurador sócio ou advogado

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72
ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Finalidades

• Finalidade • obrigatoriedade
• Convocação da assembleia
• apreciar as contas dos administradores começa nos
• deliberar sobre o balaço primeiros quatro
• designar administradores meses após o
final do exercício
• deliberar sobre quaisquer outras matérias
social
Assembleia
Convocação

A convocação dar-se-á pela imprensa, procedimento que pode ser dispensado, desde que compareçam
todos os sócios ou que todos deem ciência de sua realização por escrito, o que nos parece uma ótima
solução, tendo em vista o alto custo desse método.

Caso o procedimento dos editais tenha seguimento, a publicação deverá ser feita por três vezes na imprensa
oficial, além da divulgação em jornal de grande circulação.

Administradores: por excelência


Sócios com mais de 20%
Convocação

do capital social: caso


Sócios: caso administradores retardem a convocação por mais não atendido em oito
de 60 dias dias o pedido de
convocação
fundamentado
Conselho fiscal: mediante retardamento da convocação anual
por mais de 30 dias ou por motivos graves e urgentes

Da data da primeira publicação até a realização da assembleia, deve-se observar o prazo de oito dias.
Tomados todos esses procedimentos de convocação, a assembleia pode ser instalada, exigindo-se, em
primeira convocação, a presença de titulares de três quartos do capital social.

A segunda convocação, caso o quórum não tenha sido atingido, ocorrerá do mesmo modo, porém com
antecedência mínima de cinco dias entre a convocação e a realização da assembleia.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Essa assembleia realizar-se-á sem a necessidade de um quórum mínimo de sócios. É presidida e secretariada
por sócios escolhidos entre os presentes.

Imprensa dispensada Imprensa

1ª convocação:
presença de titulares
comparecimento de Publicação do edital de 3/4 do capital
todos os sócios por 3 vezes na i. o. e social
jornal de grande
circulação
2ª convocação:
ocorrerá de
qualquer modo,
ciência, por escrito, observação do prazo observado o prazo
de todos os sócios de 8 dias da 1ª
publicação até a mínimo de 5 dias
realização entre a convocação
e a realização

Os votos serão contados de acordo com a participação no capital social. o direito de voto
poderá ser exercido pessoalmente ou por procurador que seja sócio ou advogado.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

5 - Deliberações

A maneira como a sua prova vincula o tema, infelizmente, exige o tal “Decoreba”. A organização de alguns
quadros em ordem legal, e depois, em ordem decrescente, acredito, possa ajudá-los a economizar tempo,
além do que, pode ser interessante estudar essa matéria mais próximo da prova, já que exige muito da
memorização.

Olhos atentos nos artigos 1.071 e 1.076 do Código Civil que relata as matérias que dependem da
deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato:

Art. 1.071. A assembléia dos sócios deve realizar-se ao menos uma vez por ano, nos quatro
meses seguintes à ao término do exercício social, com o objetivo de:
I - a aprovação das contas da administração;
II - a designação dos administradores, quando feita em ato separado;
III - a destituição dos administradores;
IV - o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;
V - a modificação do contrato social;
VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de
liquidação;
VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;
VIII - o pedido de concordata.
Art. 1.076. Ressalvado o disposto no art. 1.061 do Código Civil, as deliberações dos sócios
serão tomadas
I - pelos votos correspondentes, no mínimo, a três quartos do capital social, nos casos
previstos nos incisos V e VI do art. 1.071;

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

II - pelos votos correspondentes a mais de metade do capital social, nos casos previstos
nos incisos II, III, IV e VIII do art. 1.071;
III - pela maioria de votos dos presentes, nos demais casos previstos na lei ou no contrato,
se este não exigir maioria mais elevada.

Quorum assemblear com tabela decrescente:


→ Unanimidade para a designação de administrador não sócio enquanto o capital não estiver
integralizado.
→ Três quartos do Capital Social para a modificação do contrato social, fusão, incorporação,
dissolução ou cessação do estado de liquidação, exige-se a aprovação de três quartos do
capital social.
→ Dois terços do Capital Social, e para a nomeação de administrador não sócio, quando o
capital já estiver integralizado.
→ Metade do Capital Social no que tange à nomeação, destituição ou fixação de remuneração
dos administradores e para a destituição de administrador sócio, nomeado pelo contrato
social além de pedido de recuperação judicial, exige-se mais da metade do capital social.
Maioria dos presentes para as demais deliberações, salvo outra previsão contratual.

Deliberações

Quórum

1/2 do capital
social:
Unanimidade: 3/4 do capital » Nomeação,
» designação de social: 2/3 do capital destituição ou Maioria dos
administrador social: fixação de
» Modificação do presentes:
não sócio, contrato social » Nomeação de remuneração dos
enquanto o administradores, » demais
administrador
capital não » Fusão, assim como deliberações,
não sócio,
estiver incorporação, destituição de salvo exigência
quando o capital
integralizado dissolução sócio nomeado prevista no
estiver
» Cessação do pelo contrato contrato social
integralizado
estado de » Pedido de
recuperação
judicial

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72
ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Quando houver modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação de outra, ou dela por outra, terá
o sócio que dissentiu o direito de retirar-se da sociedade, nos trinta dias subsequentes à reunião, aplicando-
se, no silêncio do contrato social antes vigente, o disposto no art. 1.031.

Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua
quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição
contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da
resolução, verificada em balanço especialmente levantado.

6 - Aumento e Redução de Capital

Art. 1.081, CC. Ressalvado o disposto em lei especial, integralizadas as quotas, pode ser o
capital aumentado, com a correspondente modificação do contrato.

Até trinta dias após a deliberação, terão os sócios preferência para participar do aumento, na proporção
das quotas de que sejam titulares.

A preferência pode ser transferido para outro sócio, mas se transferida para estranhos aplica-se,
subsidiariamente o disposto no caput do art. 1.057 do Código Civil acerca da cessão de quotas.

Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente,
a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não
houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social.

Decorrido o prazo da preferência, e assumida pelos sócios, ou por terceiros, a totalidade do aumento, haverá
reunião ou assembléia dos sócios, para que seja aprovada a modificação do contrato.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Pode a sociedade reduzir o capital, mediante a correspondente modificação do contrato:

Art. 1.082. [...]


II - se excessivo em relação ao objeto da sociedade.

❖ depois de integralizado, se houver perdas irreparáveis;


❖ se excessivo em relação ao objeto da sociedade.

No caso de haver danos irreparáveis, a redução do capital será realizada com a diminuição proporcional do
valor nominal das quotas, tornando-se efetiva a partir da averbação, no Registro Público de Empresas
Mercantis, da ata da assembléia que a tenha aprovado.

No caso de ser excessivo em relação ao objeto da sociedade, a redução do capital será feita restituindo-se
parte do valor das quotas aos sócios, ou dispensando-se as prestações ainda devidas, com diminuição
proporcional.

No prazo de noventa dias, contado da data da publicação da ata da assembléia que aprovar a redução, o
credor quirografário, por título líquido anterior a essa data, poderá opor-se ao deliberado.

A redução somente se tornará eficaz se, no prazo estabelecido, não for impugnada, ou se provado o
pagamento da dívida ou o depósito judicial do respectivo valor.

Satisfeitas as condições estabelecidas, proceder-se-á à averbação, no Registro Público de Empresas

Mercantis, da ata que tenha aprovado a redução.

7 - Exclusão de sócio minoritário

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria dos sócios,
representativa de mais da metade do capital social, entender que um ou mais sócios estão
pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade,
poderá excluí-los da sociedade, mediante alteração do contrato social, desde que prevista
neste a exclusão por justa causa.

O parágrafo único foi alterado para ressalvar o caso em que havendo apenas dois sócios na sociedade,
situação em que será desnecessária reunião ou assembleia para este fim.

Nos demais casos, a exclusão de um sócio somente poderá ser determinada em reunião ou assembleia
especialmente convocada para esse fim, ciente o acusado em tempo hábil para permitir seu
comparecimento e o exercício do direito de defesa.

4. FILOSOFIA DO DIREITO
Nosso estudo se concentrará nos seguintes temas:

-Hermenêutica e Interpretação.

Por dizer respeito a tema predominantemente doutrinário, nosso ponto abrangerá:

>Pílulas Estratégicas de Doutrina;

>Questões Comentadas.

Vamos dar início?

4.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina

Profa. Isabella Pires: As explanações a seguir tomam por base a aula 01 do Curso Regular
de Filosofia do Direito ministrado pelo Professor Jean Vilbert, para a qual vocês deverão se
encaminhar, caso sintam a necessidade de complementação do estudo com os demais
temas relacionados.

Hermenêutica

O direito opera por meio da linguagem. E a linguagem não opera com signos exatos. A resultante é que,
naturalmente, surgirão obstáculos à completa compreensão do sentido e do alcance das normas – essas
imprecisões de sentido não são anomalias, mas integram a própria característica do direito, composto por
normas gerais e abstratas (expressas pela linguagem), a serem aplicadas a uma multiplicidade de situações
concretas.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Mas o direito, por evidente, não pode esbarrar para sempre nesses entraves; se for definitivamente contido
pelas imprecisões de seus mandamentos, deixará de ser instrumento útil à regulamentação social. Assim,
deposita-se nas mãos do intérprete a função de vencer esses obstáculos, de esclarecer o conteúdo da norma,
de possibilitar sua aplicação concreta (vivificação e humanização do direito). E isso é feito com base na
hermenêutica jurídica. É o nosso assunto de hoje (afeto e intrínseco à norma jurídica).

Boa aula a todos!

1 - Norma jurídica

Norma jurídica é a regra de conduta bilateral (por um lado estabelece direitos e garantias e, por outro, impõe
obrigações), coercitiva (tem o poder de se fazer cumprir à força) e que objetiva, em tese e em última
instância, a realização da justiça. A estrutura da norma jurídica pode ser representada graficamente:

se o FATO é a CONSEQUÊNCIA deve ser

Se a consequência NÃO é a SANÇÃO deve ser

Não escorregue em casa de banana: norma é gênero, do qual são espécies as regras e os princípios.

“Sério, Jean?” Opa! Você está no grupo que achava que norma era igual a regra? Negativo! É cediço que nos
primórdios os princípios eram relegados a um campo extrajurídico (situados na esfera metafísica) e
representavam meros conselhos ao legislador, desprovidos de imperatividade (dimensão ético-valorativa do
direito). Mas já com o positivismo, eles passam a ter função subsidiária (foram promovidos), sendo
manejados nas lacunas da lei (não possuíam normatividade). Com o pós-positivismo, então, os princípios
passam a ser espécie do gênero norma.

Como diferenciar regras de princípios? Existem duas formas de realizar tal diferenciação.

A primeira é QUANTITATIVA (tese fraca) e considera os seguintes elementos: (a) indeterminação: os


princípios são mais vagos e ambíguos; (b) generalidade: os princípios são gerais e abstratos; (c) papel do
intérprete: a atividade do intérprete é criativa, mais ativa nos princípios, pois as regras não admitem
valoração subjetiva; (d) importância na ordem jurídica: individualmente considerados, os princípios são mais

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

importantes; (e) função na ordem jurídica: os princípios exercem função argumentativa mais importante,
pois servem de guia para a aplicação e interpretação das demais normas; (f) conteúdo moral: os princípios
possuem uma dimensão moral maior, incorporando e normatizando valores fundamentais.

A segunda é QUALITATIVA (tese forte) e considera o seguinte: (a) modo de aplicação: as regras são aplicadas
por subsunção1 em sistema de “tudo ou nada” (ou a regra é válida e aplicável ou inválida e inaplicável), já os
princípios se aplicam por ponderação, uma vez que possuem uma “dimensão de peso” em relação a outros
princípios (aplicação conforme a ponderação dos interesses em jogo); (b) tipo de comando: as regras devem
ser satisfeitas ou não (se uma regra é válida e não comporta qualquer exceção, então se deve fazer
exatamente o que ela ordena), enquanto os princípios são mandamentos de otimização (normas que exigem
que algo seja cumprido na maior medida possível, de acordo com as possibilidades fáticas); (c)
comportamento prescrito: as regras são descritivas (estabelecem obrigações, permissões e proibições), ao
passo que princípios são normas finalísticas (estabelecem um estado de coisas a ser atingido); (d) natureza
das razões: as regras fornecem razões definitivas para as decisões (razões consideradas decisivas,
determinantes para a solução do caso); os princípios fornecem razões contributivas para a decisão (prima
facie, isto é, aquelas que podem ser afastadas por outras razões de peso maior – argumentos favoráveis e
contrários); (e) dimensão: as regras possuem dimensão da validade (havendo conflito entre regras, ou uma
delas é inválida ou deve-lhe ser introduzida uma exceção); os princípios possuem dimensão de importância,
peso e valor (em caso de colisão, o afastamento de um princípio para aplicação de outro não significa que
ele seja inválido ou que não possa prevalecer em caso no qual as circunstâncias sejam diversas).

- PRINCÍPIOS REGRAS
Quanto ao COMANDO: + de otimização + definitivos
Quanto às RAZÕES: + prima facie + definitivas
Quanto à APLICAÇÃO: + por ponderação + por subsunção
Quanto à DIMENSÃO: + importância, peso e valor + validade

(OAB XXVI 2018) Em seu livro Levando os Direitos a Sério, Ronald Dworkin cita o caso “Riggs contra
Palmer” em que um jovem matou o próprio avô para ficar com a herança. O Tribunal de Nova Iorque (em

1
Subsunção é o raciocínio pelo qual se verifica se o fato concreto se amolda à situação abstrata descrita na lei. Ex: o sujeito dopa
a vítima com “boa noite Cinderela” e, então, subtrai seus bens. Qual é o crime cometido? Furto mediante fraude? Não! Roubo:
“subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por
qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência” (CP, art. 157).

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

1889), ao julgar o caso, deparou-se com o fato de que a legislação local de então não previa o homicídio
como causa de exclusão da sucessão. Para solucionar o caso, o Tribunal aplicou o princípio do direito, não
legislado, que diz que ninguém pode se beneficiar de sua própria iniquidade ou ilicitude. Assim, o assassino
não recebeu sua herança.
Com base na obra citada, assinale a opção que melhor expressa uma das pretensões fundamentais da
jusfilosofia de Ronald Dworkin.
a) Revelar que a responsabilidade sobre o maior ou menor grau de justiça de um ordenamento jurídico é
exclusiva do legislador, que deve sempre se esforçar por produzir leis justas.
b) Mostrar como as Cortes podem ser ativistas quando decidem com base em princípios, não com base na
lei, e que decidir assim fere o estado de Direito.
c) Defender que regras e princípios são normas jurídicas que possuem as mesmas características, de forma
que se equivalem; por isso, ambos podem ser aplicados livremente pelos Tribunais.
d) Argumentar que regras e princípios são normas com características distintas, mas igualmente vinculantes
e, em certos casos, os princípios poderão justificar, de forma mais razoável, a decisão judicial.
Comentários
Em seu livro “Levando os direitos a sério” (1977), Ronald Dworkin critica Hart (o qual defende que nos casos
difíceis, não solucionados pela lei, o juiz decidiria com discricionariedade). Como alternativa para a criação
de uma lei para o caso concreto pelo juiz, Dworkin propõe que nos hard cases (não solucionáveis pela mera
aplicação do raciocínio lógico - subsunção legal) sejam aplicados os princípios, chegando-se a uma decisão
justa e com base em direito preexistente. Dito isso, é certo que Dworling NÃO defende: a responsabilidade
exclusiva do legislador pela justeza do ordenamento (A); que a decisão com base em princípios fere o estado
de Direito (B); a equiparação dos princípios às regras, com sua aplicação indistinta (C). Até mesmo por
exclusão, fica fácil responder que “regras e princípios são normas com características distintas, mas
igualmente vinculantes” e que muitas vezes a melhor solução (mais justa e razoável) do caso residirá na
aplicação dos princípios.
A alternativa correta é a D.

Prosseguindo, é claro que há divergência (como quase tudo nas ciências humanas), mas ao menos para a
teoria normativa, só se pode falar em direito onde há um ordenamento jurídico, isto é, um conjunto
ordenado de normas. Mas o que isso significa na prática? Significa que a norma é a responsável por dar
juridicidade às relações – não há relação que seja jurídica por si só, naturalmente jurídica (há relações morais,
éticas, sociais, econômicas): é a norma que impõe juridicidade e, portanto, imperatividade. A norma
qualifica a relação como jurídica.

A conduta contrária à norma é ilícita; a conduta em conformidade é um dever jurídico.

Vamos a alguns exemplos práticos para facilitar a compreensão. A relação de cuidado dos pais em relação
aos filhos é moral, o que a torna jurídica é a norma: “compete a ambos os pais [...], quanto aos filhos: I -
dirigir-lhes a criação e a educação” (CC, art. 1.634); a relação de fidelidade entre marido e mulher é ética, o
que a torna jurídica é a norma: “são deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca” (CC, art. 1.566);
a boa relação entre condôminos é social, o que a torna jurídica é a norma: “o condômino ou possuidor que,
por seu reiterado comportamento antissocial, gerar incompatibilidade de convivência com os demais
condôminos ou possuidores, poderá ser constrangido a pagar multa correspondente ao décuplo do valor

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

atribuído à contribuição para as despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembleia” (CC, art.
1.337, parágrafo único); a relação obrigacional entre comprador e vendedor é econômica, o que a torna
jurídica é a norma: “pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio
de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro” (CC, art. 481). Agora ficou fácil, não é?

E qual a diferença provocada por essa “qualificação” como norma jurídica? Respondo: a possibilidade de
coercibilidade mediante sanção institucional.

Toda norma está sujeita à ineficácia social por seu descumprimento (os cidadãos fazerem pouco caso da lei).
Para evitar esse fenômeno e conformar o comportamento ilícito o sistema normativo impõe sanções (para
salvar a norma da erosão por ações contrárias) – é por isso que a ineficácia social só será eventualmente
admitida após a lei ser descumprida reiteradamente e, somado a isso, não houver qualquer sanção prática
diante de tal quadro (descumprimento + ausência de punição efetiva). É mais ou menos o que está
acontecendo com a legislação penal brasileira kkkk (crença geral de impunidade).

Em um sistema normativo efetivo, os fatos não podem dominar as normas; as normas


devem dominam os fatos.

Atenção aqui para o realismo jurídico, corrente segundo a qual a validade e a eficácia da norma se
confundem – o direito real é aquele aplicado pelo Judiciário (o direito positivo só é relevante, eficaz e,
portanto, válido se efetivamente aplicado pelos juízes).

(a) VALIDADE: a norma é válida se respeitar formal e materialmente o processo (legislativo)


de sua integração ao ordenamento; (b) EFICÁCIA: a norma é eficaz se normalmente
observada pelas pessoas a que se destina (produção concreta de efeitos sociais) e é
imposta sanção em caso de seu descumprimento; (c) JUSTEZA: a norma é justa quando
apta a realizar os fins que inspiram o ordenamento (notadamente a realização da justiça).

Ihering refere que as normas, na verdade, NÃO são dirigidas àqueles que lhe devem obediência, mas sim
aos órgãos jurisdicionais – encarregados de aplicar sanção em caso de descumprimento. O que daria
juridicidade à proposição normativa seria a disposição dos juízes em fazê-las cumprir. Como exemplo cita a
legislação penal, a qual não traz em seu texto comandos proibitivos (não faça isso ou aquilo), mas descreve
uma conduta (fato típico) que impõe ao Judiciário o dever de punir quem o pratica: “matar alguém. Pena –
reclusão, 6 a 20 anos” (CP, art. 121).

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Aproveitando o gancho, para fecharmos o tópico, falemos um pouco sobre sanção, aqui entendida como o
resultado ou consequência em razão da atitude do sujeito perante a norma. Pode ser boa (sanção premial)
ou ruim (sanção pena), a depender da conduta do sujeito:

a) normal Cumprimento regular e voluntário da norma.


b) anormal Descumprimento da norma, incidindo uma pena.
c) sobrenormal Cumprimento a maior, ensejando uma recompensa.

Alguns pensadores negam o caráter constitutivo da sanção, apresentando como argumentos: (a) adesão
espontânea: o direito conta, antes de tudo, com a concordância das pessoas, que o respeitam, em sua
generalidade, não por temor à sanção, mas por entenderem como necessário à convivência social (a norma
tem como fonte antecedente os costumes); (b) violação como exceção: a grande maioria da população
respeita as normas, sendo o descumprimento a exceção.

O ponto é que a sanção é fator de eficácia da norma. Sem sanção, a norma fica sem imperatividade
(capacidade de se impor com obrigatoriedade). Costuma-se dizer que a sanção NÃO é da essência do direito,
pois o direito é valor (utiliza a sanção como instrumento garantidor). Porém, a sanção é de sua natureza,
uma vez que a norma é um dever-ser (comando obrigatório na busca de um fim) e precisa de um instrumento
efetivo de imposição.

Há também quem diga que as normas interpretativas (determinam o sentido de outras normas) e
organizacionais (estabelecem órgãos e competências) NÃO possuem sanção. Kelsen replica que não se pode
confundir normas autônomas (coercitivas) com normas dependentes (prescritivas), mas que,
sistemicamente, todas possuem sanção.

Quer ver como isso funciona? “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito” (CF, art. 1º). Trata-se de
norma puramente descritiva, mas experimente modificar o caráter republicano (instituir uma autocracia) ou
federativo (extinguir os Estados) para ver se não há sanção – “constitui crime inafiançável e imprescritível a
ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático” (CF, art.
5º, XLIV).

Destarte, fique atento ao fato de que nem sempre a sanção está inserida na própria norma, sendo muita
vez extraída de forma sistêmica. Por exemplo, ”são deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca”.
Esse é o artigo 1.566 do Código Civil. Não há uma sanção específica prevista na própria norma para o caso
de infidelidade. Agora, veja o que estabelece o artigo 1.694: “podem os parentes, os cônjuges ou
companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a
sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação”. Temos aqui os alimentos
côngruos (para manutenção do padrão social). Ocorre que o parágrafo 2º do mesmo artigo prescreve que
“os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de
culpa de quem os pleiteia”. Daí extraímos que o cônjuge infiel poderá pedir do outro somente os alimentos
necessários (à subsistência). É por isso que, apesar da choradeira de parte da doutrina, a discussão acerca
da culpa remanesce na separação judicial (modalidade ainda existente mesmo após a Emenda Constitucional
nº 66/2010) – não se pode substituir a ditadura do casamento pela ditadura do divórcio.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

E para você não entendeu muito bem como funciona esse negócio de sanção premial (pensou que sanção
era sempre punitiva), encerro o tópico oportunamente falando um pouco sobre o FUNCIONALISMO, que é
uma explicação teleológica da sociedade – a ação social é meio para certos fins. O direito (instrumento de
gestão e controle social) contribui para isso, na visão de Norberto Bobbio, não apenas com a imposição de
sanções repressivas (reforço negativo), mas também com incentivos às condutas desejadas (reforço
positivo), tais como subsídios e isenções. Nessa visão promocional do direito, o operador jurídico não é
apenas um sistematizador e intérprete das leis, mas também um “teórico do aconselhamento” 2.

O funcionalismo concebe o direito em termos de controle persuasivo, com ênfase no incentivo (reforço
positivo) de condutas desejadas – esboça-se um projeto estatal para o futuro da sociedade (geralmente por
meio de normas programáticas), o que é próprio dos Estados sociais. Em contraposição, o estruturalismo dá
ênfase ao controle repressivo de condutas indesejadas (contrárias às normas), deixando os fins sociais à
liberdade das pessoas, modelo próprio dos Estados liberais.

FUNCIONALISMO ESTRUTURALISMO
+ controle persuasivo + controle repressivo
+ reforço positivo (sanção premial) + reforço negativo (sanção pena)
+ projeto estatal para o futuro + fins sociais livres às pessoas
+ Estados sociais + Estados liberais

2 - Interpretação

O direito opera por meio da linguagem. E a linguagem não opera com signos exatos. A resultante é que,
naturalmente, surgirão obstáculos à completa compreensão do sentido e do alcance das normas – essas
imprecisões de sentido não são anomalias, mas integram a própria característica do direito, composto por
normas gerais e abstratas (expressas pela linguagem), a serem aplicadas a uma multiplicidade de situações
concretas.

2
Ferraz Jr. refere a atual função do direito como diretiva e prospectiva, voltada não só à resolução de conflitos, mas também à
prevenção e à escolha de comportamentos adequados.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Mas o direito, por evidente, não pode esbarrar para sempre nesses entraves; se for definitivamente contido
pelas imprecisões de seus mandamentos, deixará de ser instrumento útil à regulamentação social. Assim,
deposita-se nas mãos do intérprete a função de vencer esses obstáculos, de esclarecer o conteúdo da norma,
de possibilitar sua aplicação concreta (vivificação e humanização do direito). E isso é feito com base na
hermenêutica jurídica.

A expressão hermenêutica remonta ao verbo grego hermeneuein (= interpretar) e ao substantivo hermeneia


(= interpretação). Em suma, trata-se do processo de tornar compreensível. A hermenêutica jurídica busca
descobrir o sentido e o alcance das normas jurídicas (muitas vezes o texto legal parece mais uma charada do
que um preceito que pretende ser claro); visa esclarecer o conteúdo normativo das fontes formais do direito.

HERMENÊUTICA é a ciência da interpretação da linguagem jurídica, de modo a: (a)


viabilizar a aplicabilidade das normas; (b) constatar a existência de lacunas no sistema e
apresentar soluções para sua integração; e (c) solucionar antinomias jurídicas.

Há quem aponte a origem do termo ao deus Grego Hermes (filho de Zeus com Maia). Segundo a mitologia,
Hermes era o mensageiro dos deuses, ao qual cabia traduzir as mensagens do mundo divino para que os
homens pudessem compreendê-las. Sua importância é tamanha que a ele é atribuída a descoberta da
linguagem e da escrita. A hermenêutica moderna traduz a linguagem dos “deuses” (legisladores) aos reles
mortais (cidadãos).

A importância do tema é evidente: como se poderia aplicar de modo satisfatório algo que sequer se conhece
o real sentido? Seria como tentar falar um idioma desconhecido... A hermenêutica garante racionalidade ao
direito – tradução das normas a uma linguagem compreensível e palatável à realidade.

(OAB XVIII 2015) Segundo o jusfilósofo alemão Karl Larenz, os textos jurídicos são problematizáveis porque
estão redigidos em linguagem corrente ou em linguagem especializada, mas que, de todo modo, contêm
expressões que apresentam uma margem de variabilidade de significação. Nesse sentido, assinale a opção
que exprime o pensamento desse autor acerca da ideia de interpretação da lei.
a) Deve-se aceitar que os textos jurídicos apenas carecem de interpretação quando surgem particularmente
como obscuros, pouco claros ou contraditórios.
b) Interpretar um texto significa alcançar o único sentido possível de uma norma conforme a intenção que
a ela foi dada pelo legislador.
c) Os textos jurídicos, em princípio, são suscetíveis e carecem de interpretação porque toda linguagem é
passível de adequação a cada situação.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

d) A interpretação dada por uma autoridade judicial a uma lei é uma conclusão logicamente vinculante que,
por isso mesmo, deve ser repetida sempre que a mesma lei for aplicada.
Comentários
Assertiva A = o trecho “os textos jurídicos apenas carecem de interpretação quando surgem particularmente
como obscuros” só poderia ser dado como correto se admitíssemos a máxima interpretativo cessat in claris,
o que não fizemos: TODO texto precisa de interpretação.
Assertiva B = não há como se falar em “única solução possível”, pois sempre há uma multiplicidade de
significados e interpretações possíveis, ainda mais com “a intenção que a ela foi dada pelo legislador”, pois
estaríamos privilegiando a vontade do legislador (teoria subjetiva), quando o que prevalece é a vontade da
lei (teoria objetiva).
Assertiva D = como regra, a interpretação jurisprudencial NÃO é vinculante, com as exceções das súmulas
vinculantes e mais recentemente do complexo de precedentes vinculantes estabelecido pelo Código de
Processo Civil.
Assertiva C = exato! A passagem do tempo altera sensivelmente os institutos e, por conseguinte, a
interpretação que se deve dar a eles (técnicas histórico-evolutiva e sociológica).
Em vista disso, a alternativa C é a correta e gabarito da questão.

2.1 - Escolas

Já vimos que norma e texto NÃO se confundem. A norma não é o texto e o texto (claro) não é a norma. Nas
palavras de Eros Grau (ex-ministro do STF), “o conjunto de textos é apenas um ordenamento em potência,
um conjunto de possibilidades de interpretação, um conjunto de normas potenciais”. Então, o que (diabos)
é a norma?

Norma é o resultado da INTERPRETAÇÃO do texto.

Quando você olha para os artigos 14, inciso II e parágrafo único (tentativa), 25 (legítima defesa) e 121
(homicídio simples) do Código Penal você está vendo, basicamente, uma norma: se você tentar matar
alguém (não conseguir consumar, tirar a vida, por circunstâncias alheias à sua vontade) e você não estiver
repelindo agressão injusta, usando moderadamente os meios necessários, deverá ser penalizado com
reclusão de 6 a 20 anos, com a pena reduzida de 1/3 a 2/3 a depender de quão perto chegou de consumar o
delito. Ou seja, da interpretação conjugada dos textos, você extrai uma norma de comportamento.

O que estou querendo dizer é que, ao cabo, o conteúdo da norma (que é o que vale, afinal) é o que o
intérprete diz que é. O texto é apenas o suporte; o que aplicamos (a norma) é a INTERPRETAÇÃO.

Quer um exemplo fácil? Artigo 21 do Código Penal: “O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a
ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço”. A
intepretação tranquila desse dispositivo na jurisprudência é que onde se vê pode, deve-se ler deve. E é assim
que as coisas funcionam. A interpretação é que, ao cabo, tira o direito do plano abstrato e o coloca no mundo
real (e ela que manda!).

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

E, justamente por isso, os modelos interpretativos são foco de intensos debates – a interpretação deixa de
ser mera técnica da atividade jurídica para ser objeto de aprofundada reflexão. Há pelo menos três escolas
que buscam compreender e definir o fenômeno da interpretação jurídica: dogmática, histórico-evolutiva e
de livre pesquisa. Vamos a elas.

a) dogmática: também chamada de escola exegética ou jurídico-tradicional, está ligada à filosofia iluminista
e ao Código Napoleônico de 1804. Segundo seus postulados, o ordenamento jurídico é um sistema completo,
sem que haja lacunas, senão as meramente aparentes. A missão do intérprete restringe-se a conhecer a lei
e declarar sua literalidade (interpretação exclusivamente gramatical) – o legislador deve ser considerado
uma autoridade infalível e inquestionável.

(OAB XV 2014) Ao explicar as características fundamentais da Escola da Exegese, o jusfilósofo italiano


Norberto Bobbio afirma que tal Escola foi marcada por uma concepção rigidamente estatal de direito.
Como consequência disso, temos o princípio da onipotência do legislador.
Segundo Bobbio, a Escola da Exegese nos leva a concluir que
a) a lei não deve ser interpretada segundo a razão e os critérios valorativos daquele que deve aplicá-la, mas,
ao contrário, este deve submeter-se completamente à razão expressa na própria lei.
b) o legislador é onipotente porque é representante democraticamente eleito pela população, e esse
processo representativo deve basear-se sempre no direito consuetudinário, porque este expressa o
verdadeiro espírito do povo.
c) uma vez promulgada a lei pelo legislador, o estado-juiz é competente para interpretá-la buscando
aproximar a letra da lei dos valores sociais e das demandas populares legítimas.
d) a única força jurídica legitimamente superior ao legislador é o direito natural; portanto, o legislador é
soberano para tomar suas decisões, desde que não violem os princípios do direito natural.
Comentários
A assertiva A é precisa: pela escola exegética, a lei deve ser interpretada conforme os valores do legislador,
não do intérprete (onipotência do legislador). As demais estão incorretas: o processo NÃO deve basear-se
no direito consuetudinário, mas no direito estatal (B); o intérprete deve visar à mens legislatoris – a busca
da aproximação dos valores sociais é própria da escola histórica (C); NÃO há força legitimamente superior
ao legislador – a assertiva se alinha ao jusnaturalismo.
A alternativa correta é a A.

b) histórico-evolutiva: a norma jurídica é um produto social, e não uma livre criação do legislador. Após a
edição da lei, por sinal, esta ganha vida própria, descolando-se da vontade de quem a elaborou. O intérprete

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

deve realizar interpretação gramatical e histórica, atento ao fato de que a norma muda ao longo do tempo,
conforme mudam os fatores objetivos (a realidade social).

c) de livre pesquisa (François Gény): admitindo-se que é impossível evitar a existência de lacunas no
ordenamento, é papel do intérprete suprir as suas omissões (integração), o que pode fazer com ampla
liberdade de escolha entre as fontes formais (os costumes têm grande importância) – a autoridade se
desloca do legislador para o julgador. A atividade do intérprete se realiza em um duplo campo de ação: (1)
dado (fontes materiais): realidade (fatos econômicos, históricos, políticos, culturais); (2) construído (fontes
formais): operação técnica que, considerando o dado, subordina os fatos a determinados fins sociais. Como
pano de fundo das normas há uma realidade anterior que as próprias normas não podem desprezar – é do
dado que cada norma retira seu sentido e condição de aplicabilidade.

2.2 - Espécies de interpretação

“Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial” (CC, art. 18). Ok! Mas o que
é, exatamente, propaganda? Como delimitar o conceito de comercial? E se for uma entidade sem fins
lucrativos? O artigo quer dizer que não é possível usar o nome Joãozinho em um comercial televisivo? Essas
questões nada mais são do que problemas de interpretação.

Interpretar é desvendar o sentido e o alcance das normas. É um trabalho árduo de


tradução dos sentidos, justamente no momento crucial de transformar o texto em
realidade, isto é, de aplicá-lo a homens de carne e osso e suas relações (vivificação e
humanização da norma).

Como você pode imaginar, esse processo está longe de ser simples. Além dos naturais entraves que
envolvem a definição de significados aos significantes linguísticos em meio às ideologias e aos jogos de poder
que envolvem o direito, temos de lidar com o legislador e sua habilidade sem paralelo na utilização de termos
vagos (campo de referência indefinido), imprecisos (não técnicos), ambíguos (campo referencial múltiplo).

Não é sem motivo que surge uma série de modelos de interpretação da lei, os quais são levados a cabo por
diferentes agentes e com resultados diversos. Simbora ver cada uma delas

2.2.1 - Quanto ao agente

A intepretação das normas pode ser realizada por sujeitos vinculados ao estado (pública) ou mesmo por
particulares (privada).

A primeira modalidade de interpretação pública é a autêntica, que é aquela revelada pelo próprio legislador.
Temos como exemplo o artigo 93 do Código Civil: “são pertenças os bens que, não constituindo partes
integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro”. Alguém

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tem alguma dúvida (teórica) sobre o que é pertença? Não né, pois a própria lei esclareceu seu sentido
(interpretou)3.

Se você está pensando: a intepretação autêntica é definitiva, né? Resolve tudo! Afinal, é o próprio legislador
dizendo qualé que é... Pois pode tirar o seu cavalinho da chuva. Claro que o modelo é válido – ao fazer isso,
o legislador ajuda bastante (desde que seja feliz na escolha das palavras); mas lembre-se: a linguagem se
mostra por símbolos... e símbolos precisam ser decodificados – nunca há certeza de que a mensagem
transmitida será recebida com o exato sentido pretendido em sua elaboração. Por isso, mesmo a norma de
intepretação autêntica passará por interpretação kkkk

Outra subespécie de interpretação pública é a judicial – evidentemente aquela provida pelos juízes e
tribunais, formando o que vulgarmente se costuma chamar de jurisprudência (lembre-se que, do ponto de
vista técnico, a jurisprudência só se forma por decisões judiciais reiteradas, constantes e pacíficas no mesmo
sentido, em casos semelhantes). Todo magistrado é um intérprete necessário e permanente da lei.

Há ainda a interpretação pública administrativa, promovida pelos integrantes do Poder Executivo


(administração pública), a qual pode ser subdividida em regulamentar, via fonte do direito (resoluções,
decretos, portarias); e casuística, caso a caso, resolvendo certa pendência administrativa.

Por fim, temos a interpretação privada, que é a realizada pelos jurisperitos, pela doutrina (direito científico),
constando dos tratados, comentários, pareceres, palestras e prelações dos cultores do direito.

A interpretação privada (doutrinária) NÃO tem a mesma força da pública (ad) d autêntica e a administrativa
regulamentar são comandos obrigatórios e a jurisprudencial possui a autoridade da coisa julgada),
depositando sua força na persuasão.

2.2.2 - Quanto à natureza ou elementos

Como referido alhures (que palavra bonita, eihn?), interpretar (encontrar o significado) das normas está
longe de ser tarefa “mel na chupeta” (às vezes, está mais para achar agulha no palheiro). Veja o que Norberto
Bobbio fala sobre a interpretação jurídica:

“Baseia-se na relação entre dois termos, o signo e o significado do próprio signo, e assim,
assume sombreamentos diversos, segundo os quais tende a gravitar para um ou para outro
desses dois polos: a interpretação pode ser ligada principalmente ao signo enquanto tal e

3
Claro que, na prática, não é tão simples assim kkkk... é muito difícil, por exemplo, diferenciar pertença de benfeitoria.

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tender a fazê-lo prevalecer sobre a coisa significada; ou ainda pode ser mais sensível à coisa
significada e tender a fazê-la prevalecer sobre o signo puro”4.

Parece complicado, não? E é! Mas para auxiliar o intérprete, há técnicas ou processos interpretativos, meios
de se chegar ao significado do significante (falei bonito!), quais sejam: gramatical, lógico, sistemático,
histórico, sociológico, teleológico, axiológico (pelo menos, sem exclusão de outros que possam ser
encontrados por aí).

Os métodos interpretativos podem ser organizados conforme as três DIMENSÕES DA LINGUAGEM: (a)
sintática (relação dos símbolos entre si): gramatical, lógico e sistemático; (b) semântica (relação dos
símbolos com os objetos a que se referem): histórico e sociológico; (c) pragmática (relação dos símbolos
com os usuários): teleológico e axiológico.

E diferentemente do que possa parecer, a norma não é um determinante unívoco, muito pelo contrário:
cada norma é um campo delimitado de possibilidades (verdades, interpretações) e cabe à interpretação
“escolher”, dentre o espectro das verdades possíveis, aquela que prevalecerá.

As técnicas de intepretação, destarte, mostram-se necessárias porque o intérprete não pode simplesmente
sair inventando que a norma diz A, B ou C – quer dizer, até pode (ao menos tentar), mas sobre si recai o ônus
argumentativo. Os métodos de interpretação oferecem instrumentos técnicos de investigação do sentido e
alcance da norma, bem como servem de mecanismo de convencimento dos destinatários (de que a
intepretação apresentada é a correta).

Precisamos, agora, estudar com atenção redobrada cada uma dessas técnicas.

A primeira delas é a GRAMATICAL, também conhecida por literal, semântica ou filológica. Ela é o ponto de
partida do processo interpretativo, sob a ótica (autoevidente) de que as palavras utilizadas para descrever a
norma são importantes para que se obtenha seu significado correto.

Como as palavras, normalmente, não possuem significado unívoco (único), o intérprete se vale da
onomasiologia, em busca do aspecto semasiológico. What??? Como diria o Chapolin Colorado: “Não priemos
cânico!” A onomasiologia é um ramo da lexicologia (estudo das palavras) que busca os significados a partir
de um conceito existente na realidade (sentido comum). Já a semasiologia faz o caminho inverso: estuda os

4
BOBBIO, Norberto. O Positivismo Jurídico: Lições de filosofia do Direito. Coleção elementos de Direito. Ed. Cone, 1996, p. 213.

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significados para deles abstrair os significantes (significado técnico, no caso do direito, normativo)5. Deu para
entender? Temos aqui um sistema de vai e volta (pêndulo) entre o significado e o significante, de modo a
compreender a relação existente entre eles e extrair os conceitos comum e técnico-normativo.

Na intepretação gramatical, uma atenção especial do intérprete deve recair sobre as regras de pontuação e
de conexão sintática. Lembro de uma Promotora de Justiça que, em um júri, passou a afirmar que para que
se reconhecesse o privilégio legal do homicídio privilegiado por relevante valor moral (o réu matou o crápula
que havia matado seu filho), o agente teria de ter agido logo após a injusta provocação. Veja o dispositivo
legal pertinente: “se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a
pena de um sexto a um terço” (CP, art. 121, § 1º). Perceba que marquei a vírgula de vermelho: o “logo em
seguida a injusta provocação da vítima” refere-se apenas ao “domínio de violenta emoção”, não ao relevante
valor moral e social. Erro básico de interpretação gramatical cometido pela iminente (ou nem tanto)
acusadora.

Você já se deparou com a máxima interpretatio cessat in claris (algo como: a norma clara
não precisa de interpretação)? Pois bem. Isso não existe! Primeiro porque "clareza" é
uma noção relativa (subjetiva: depende de quem lê) e segundo porque o tempo altera
sensivelmente os institutos e, por conseguinte, sua interpretação. A clareza é um valor
que está sempre no passado (já foi!).

Há algumas regras que servem à boa interpretação do sentido das palavras:

a) unidade: as palavras nunca devem ser interpretadas isoladamente, mas sempre em conjunto (como
integrantes de um texto), sob pena de descontextualização (se quiser entender como isso funciona, pergunte
a um jornalista... eles conhecem bem essa tal de manipulação).

b) prevalência da técnica: o direito possui sua própria linguagem, de sorte que se a palavra tiver um
significado técnico e outro comum, prevalece o primeiro. Tenho um exemplo bacana: ganhou repercussão
nacional o caso do ejaculador de ônibus que foi solto em audiência de custódia em São Paulo. O juiz
entendeu que não havia “constrangimento”, interpretando o artigo 213 do Código Penal: “constranger
alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele

5
Para quem tiver interesse, tudo isso está nas obras do famoso linguista suíço Ferdinand de Saussure. Graças a Deus que cursei
letras e estudei linguística – não há conhecimento inútil (inútil é quem não tem conhecimento rsrsrsrsrs).

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se pratique outro ato libidinoso”. A imprensa e os doutores de rede social passaram a massacrar o juiz (sem
aqui ingressar no mérito da decisão, se foi boa ou ruim), perguntando: “quer dizer que ejacular em outrem,
em público, não causa constrangimento?” Perceba que os “entendidos” manejaram o conceito comum
(vulgar) da palavra, que dentro do texto jurídico possui um sentido técnico bem mais estrito. E assim caminha
o mundo dos especialistas (em tudo) da internet...

Caso o legislador empregue uma linguagem comum (vulgar) e não técnica, a prevalência recai sobre o
sentido comum do texto, de modo que a interpretação esteja de acordo com a mens legis (ou legislatoris)
e adequada à realidade social. Imaginemos que o legislador edite a seguinte lei penal: “deixar de apoiar o
companheiro em momentos difíceis. Pena: de 25 a 30 anos de reclusão”. Sabemos que para o direito
“companheiro” é a figura do consorte (ou com azar, a depender) na união estável. Mas ao estudar melhor a
lei hipotética, verificamos que foi proposta e aprovada especialmente por parlamentares de certo partido
político que costuma chamar os colegas de companheiros... sem ingressar na validade da norma, é certo que
sua interpretação deve se pautar pelo termo comum: camarada, amigo, associado, colega, condiscípulo,
correligionário, parceiro, partidário, desgarrando-se do termo técnico (relação equiparada ao casamento
pela Constituição).

c) prevalência do sentido lógico: entre um sentido lógico e outro puramente gramatical, prevalece o
primeiro. Veja, e isso é importante, que a interpretação gramatical não representa que o sentido extraído
será sempre o estritamente literal. É preciso verificar o contexto, extraindo o sentido dentro de uma lógica
textual.

d) reconstrução: acaso sejam utilizados termos impróprios ou imprecisos, para manter o sentido adequado
à regulamentação da relação jurídica pretendida, o intérprete deve reconstruir o preceito. Na prática, foi o
que o STF fez com o artigo 226, § 3º, da Constituição Federal: “Para efeito da proteção do Estado, é
reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua
conversão em casamento”, de modo a “excluir qualquer significado do artigo 1.723 do Código Civil que
impeça o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar” (ADI 4277 e ADPF
132).

A segunda técnica é a LÓGICA (ou racional), a qual busca extrair o significado da norma dentro de contextos
(pressupõe que a interconexão entre sentidos, partes do todo, é importante para a obtenção do correto
significado), o que se faz mediante três possíveis processos:

1) lógico-analítico: busca o real sentido (a verdade) das proposições por meio de afirmação e negação
(relação de identidade ou não), combinando dois ou mais juízos para criar um silogismo. Para descomplicar,
realiza-se a decomposição do contexto em partes mais simples, que são mais facilmente explicadas ou
solucionadas e, uma vez entendidas, tornam possível o entendimento do todo.

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Tomemos um exemplo, no furto, “a pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso
noturno” (CP, art. 155, § 1º). Vamos decompor as partes em silogismo: (A) se noturno + (B) se repouso = (C)
pena aumentada. Sete horas da noite está escuro? Provavelmente, sim! Ok. Mas em São Paulo, as pessoas
estão em suas casas, em repouso (dormindo, com vigilância reduzida)? A rigor não! E em Caibi
(pequeniníssima cidade no interior de Santa Catarina)? Possivelmente sim! Então, o furto cometido às 7h da
noite em Caibi deve receber aumento de pena, mas em são Paulo, não. Essa é a jurisprudência majoritária.
Interpretação lógico-analítica com base na veracidade (identidade ou afirmação) das premissas.

As decisões judiciais, em geral, são tomadas em juízo deliberativo, por meio de uma operação dedutiva (do
universal para o particular, do todo para a parte), isto é, de um silogismo: premissa maior (norma agendi –
fonte formal), premissa menor (facultas agendi – fatos) e conclusão (concreção ou subsunção). E não se
engane achando que a interpretação se dá somente na premissa maior, pois também ocorre na premissa
menor. Ilustrando: pelo teor da lei, apenas os empresários podem ter sua falência decretada (premissa
maior); José tem um consultório odontológico junto com outros dois amigos dentistas; ele é empresário
(premissa menor)? Como devemos aqui interpretar o conceito de elemento de empresa em relação aos fatos
(CC, art. 966, parágrafo único)? A resposta é fundamental para que possamos solucionar o caso (se gosta de
Direito de Empresa, pesquise sobre o assunto). Bacana, não?

2) lógico-sistemático: confrontação do texto interpretado com outros (inclusão de elemento estranho), de


modo a estabelecer uma relação (sistemática). Perceba que é comum nas decisões judiciais a comparação
das normas aplicadas com outras disposições que tenham afinidade de princípio, mas que por alguma razão
não são aplicáveis.

3) lógico-jurídico: a preocupação aqui é com a ratio legis (razão da norma), a occasio legis (momento
histórico que determinou a criação da norma) e a vis (virtude da norma). Trata-se de uma análise material
(de conteúdo) da norma, em contraste com as análises meramente formais – invade o campo de outras
técnicas, como a teleológica, histórica e sociológica.

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Há autores que abordam o método lógico de maneira bem mais simplificada, tendo por base a conexão
existente entre as expressões dentro de um texto. Para eles, o método serve mais a identificar
inconsistências: quando em um texto há a utilização do mesmo termo com sentidos diversos, temos um
problema lógico (a lógica seria que o mesmo termo apresentasse sempre o mesmo sentido – princípio da
identidade “A = A”). A solução para essas inconsistências pode vir, por exemplo, por considerar uma das
expressões como geral e a outra como exceção.

A terceira técnica é a HISTÓRICA, que se pauta pela verificação dos antecedentes históricos da norma e pelo
sentido que possuía ao tempo de sua elaboração.

A interpretação história se subdivide em: (a) remota: busca reconstituir o significado original da norma ao
tempo de sua criação – analisa os dados sociológicos, filosóficos, éticos, religiosos, políticos imperantes no
momento em que que a norma surgiu para o direito, com objetivo de encontrar a mens legis (o que está na
mente da lei); e (b) próxima: analisa as circunstâncias que precederam à elaboração da lei, como os projetos
de lei e anteprojetos que deram ensejo à norma.

“O direito constitucional positivo brasileiro, ao longo de sua evolução histórica, jamais autorizou – como a
nova Constituição promulgada em 1988 também não o admite – o sistema de controle jurisdicional
preventivo de constitucionalidade, em abstrato. Inexiste, desse modo, em nosso sistema jurídico, a
possibilidade de fiscalização abstrata preventiva da legitimidade constitucional de meras proposições
normativas pelo Supremo Tribunal Federal” (STF, ADI 466, Rel. Min. Celso de Mello, j. 03/04/1991).

Para os autores da escola histórico-evolutiva, a técnica sociológica se alinha à histórica, de modo que devem
ser avaliadas tanto as questões sociais da época da produção da lei (histórica) quanto as atuais (sociológica).
Logo, é técnica evolutiva porque se preocupa com todas as condicionantes advindas da evolução no tempo,
as quais impactam na interpretação da lei. Há outros autores que tratam a interpretação sociológica como
modelo hermenêutico autônomo.

A quarta técnica é a SISTEMÁTICA, que perpassa o ordenamento jurídico como um todo, buscando
posicionar e integrar a norma dentro do sistema jurídico que compõe – analisa o entrelaçamento das normas
no interior da estrutura do sistema jurídico (o sentido de uma norma não está apenas nos seus próprios
termos, mas também na sua relação com outras normas do ordenamento) – o ordenamento não é um
aglomerado de normas amontoadas aleatoriamente, mas um organismo jurídico que deve ser tomado em
sua unidade. O crime de bigamia (“contrair alguém, sendo casado, novo casamento” - CP, art. 235), por
exemplo, só pode ser aplicado após análise do que é um casamento (matéria regulada pela legislação civil).

FIQUE ATENTO porque alguns autores posicionam a técnica sistemática dentro da lógica (abarcada pelo
método lógico-sistemático).

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“Configura constrangimento ilegal a continuidade da persecução penal militar por fato já julgado pelo
Juizado Especial de Pequenas Causas, com decisão penal definitiva. A decisão que declarou extinta a
punibilidade em favor do paciente, ainda que prolatada com suposto vício de incompetência de juízo, é
susceptível de trânsito em julgado e produz efeitos. A adoção do princípio do ne bis in idem pelo
ordenamento jurídico penal, complementa os direitos e as garantias individuais previstos pela Constituição
da República, cuja interpretação sistemática leva à conclusão de que o direito à liberdade, com apoio em
coisa julgada material, prevalece sobre o dever estatal de acusar” (STF, HC 86.606, Rel. Min. Carmen Lúcia,
j. 22/05/2007).

Por fim, a quinta técnica é a TELEOLÓGICA, que concentra suas preocupações no fim a que a norma se dirige.
O direito não é mera técnica (a técnica é suporte: ajuda a melhorar os métodos da ciência jurídica), mas
meio para um fim (justiça). Toda e qualquer lei visa a uma finalidade social, lembrando que “na aplicação da
lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum” (LINDB, art. 5º).

“Registro de candidatura ao Cargo de Prefeito. Eleições de 2004. Art. 14, § 7o da CF. Candidato separado de
fato da filha do então prefeito. Sentença de divórcio proferida no curso do mandato do ex-sogro.
Reconhecimento judicial da separação de fato antes do período vedado. Interpretação teleológica da regra
de inelegibilidade. A regra estabelecida no art. 14, § 7o da CF, iluminada pelos mais basilares princípios
republicanos, visa obstar o monopólio do poder político por grupos hegemônicos ligados por laços familiares.
Precedente. Havendo a sentença e reconhecida a ocorrência da separação de fato em momento anterior ao
início do mandato do ex-sogro do recorrente, não há de se falar em perenização no poder da mesma família”
(STF, RE 446.999, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 28/06/2005).

O fundamento racional da norma (ratio legis) pode sofrer alteração ao longo do tempo. A finalidade da
norma NÃO é perene (eterna e imutável), ou seja, pode evoluir sem modificação do texto, inclusive perdendo
a razão de existir. Vejamos. O artigo 649, inciso X, do CPC/1973, com redação repetida pelo CPC/2015 (artigo
833, X) considera impenhoráveis os valores depositados em caderneta de poupança, até o limite de 40
salários-mínimos (teoria do patrimônio mínimo). Há muitos juízes que questionam a proteção absoluta ainda
dada pela lei ao devedor. Você está se perguntando por quê? Ora, não é só banco que cobra dívidas – às
vezes é o mercadinho da esquina ou mesmo o Seu Zé, que emprestou parte do seu salário para o João, que

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Reta Final

estava em dificuldades à época. E então, após se recuperar, João pode até mesmo poupar (colocar a sobra
na poupança), enquanto Seu Zé fica sem receber? Mas não é só! Aí vem a ironia: essa corrente
jurisprudencial (ainda minoritária) aponta que o principal interessado na manutenção da impenhorabilidade
são justamente os... BANCOS! Eles é que procuram proteger as poupanças (capital de giro para o sistema
financeiro). Incrível, né? O direito nos possibilita essas discussões imprevisíveis...

Há quem entenda que, em conjunto com a intepretação teleológica (ou paralelamente), temos as técnicas
sociológica (cujos olhos recaem sobre as condicionantes sociais que envolvem a lei) e axiológica (que
considera os valores presentes na sociedade e busca neutralizar os valores da lei).

Na verdade, é fácil, mas se não nos atentarmos escorregamos rapidinho na casca de banana: qual a
DISTINÇÃO entre interpretação história e sociológica? Na interpretação histórica o sentido é buscado na
situação social existente à época em que a norma foi editada; na interpretação sociológica o sentido da
norma é esclarecido levando em consideração a situação social ATUAL (ao tempo da interpretação).

“Mas que negócio é esse de neutralização dos valores da lei? Jean, NÃO entendi nada dessa técnica
axiológica!” É elementar, meu caro Watson. As palavras possuem e acumulam alta carga emotiva com o
passar do tempo. Tem gente que ao falar em “dignidade da pessoa humana” (embora eu nunca tenha visto
pessoa cachorro) já enche os olhos de lágrimas. Como se sabe, esse tipo de expressão, altamente vaga e
ambígua, possui forte significado valorativo, permitindo (senão favorecendo) a manipulação arbitrária de
seu alcance e sentido. Uma das facetas da interpretação axiológica é limitar essas valorações, isto é,
neutralizar o significado valorativo.

E como fazer isso? A interpretação axiológica está em conjunto com a teleológica (ou abarcada por ela)
porque só é possível controlar valorações arbitrárias ao encontrar o propósito das normas6. O intérprete
deve partir da ideia de que todas as normas possuem um fim (telos), o qual deve ser descoberto para se
evitar que a valoração importe em desvirtuamento da finalidade normativa.

É claro que seria ingenuidade acreditar que cada norma tenha uma finalidade única, social e de fácil
apreensão. Há fins fora e dentro do texto normativo; fins mais próximos e mais remotos; fins mais e menos
elevados. O conceito de fim também é elástico, vago e ambíguo – valorativo. De toda forma, cabe ao

6
Os autores das teorias críticas defendem que a ideologização do direito não significa arbitrariedade, ao contrário: a ideologia
instala mecanismos que combatem arbitrariedades. Antonio Carlos Wolkmer (emérito professor da UFSC), assenta que “o direito
é uma projeção normativa que instrumentaliza os princípios ideológicos (certeza, segurança, completude) e as formas de controle
do poder de um determinado grupo social” (Ideologia, estado e direito. 4. ed. São Paulo: RT, 2003, p. 154).

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Reta Final

intérprete buscar a equivalência entre os fins da norma e os valores presentes na sociedade, de modo a
permitir a melhor aplicação da norma jurídica.

Há um exemplo interessante de como opera essa relação entre os valores sociais, os valores da lei (a serem
eventualmente neutralizados) e a característica (já citada) de essas variáveis se alterarem no decorrer do
tempo. Refiro-me à legítima defesa, instituto (excludente de ilicitude penal) que há até poucas décadas
englobava e admitia a defesa da honra. Assim, o marido traído podia partir para a violência para defender
(vingar?) sua honra ferida. Hoje a mesma conduta dará ensejo a crime (homicídio ou lesão corporal), com a
mera possibilidade de redução de pena pela violenta emoção (CP, arts. 121, § 1º e 129, § 4º). Não dá mais
nem para fazer duelo com armas de fogo...

LACUNA INTERPRETAÇÃO
Ideológica ou axiológica: falta de norma jurídica Teleológica ou axiológica: busca interpretar a lei por
satisfatória ou justa, isto é, adequada à solução sua finalidade, se for o caso neutralizando os valores da
do caso concreto. lei com base nos valores sociais.

Uma crítica normalmente feita às interpretações teleológica e axiológica é que o intérprete passa a erigir o
próprio sentido da norma – para alguns o aplicador da lei (que esclarece seu sentido) deixa de existir, dando
lugar ao intérprete que constrói o conteúdo normativo. Essa metodologia subverteria as demais técnicas
(gramatical, lógica, sistemática e até mesmo a histórica), dando carta branca (ampla liberdade) ao intérprete
para buscar os “fins sociais” da norma (questão bastante subjetiva). Em que pese a importância desses
métodos (que não pode ser ignorada), a advertência é válida... é preciso ficar atento.

Por derradeiro, qual dos métodos devo usar? Todos? Alguns? Escolho? Há ordem de prevalência? O tema é
polêmico (novidade, né?). Savigny defende que as técnicas sejam aplicadas conjuntamente. Enneccerus
prega a existência de uma ordem, na sequência: gramatical, lógico-sistemática, histórico-evolutiva e, então,
teleológica. Kelsen defende a prevalência da técnica sistemática, ao passo que para Heck prevalece a
teleológica. Avaliando todo esse contexto, Zweigert assenta que o problema da hermenêutica está
justamente na falta de hierarquização segura.

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O certo é que o método de interpretação não é escolhido ao acaso, mas muitas vezes de acordo com a
ideologia do intérprete (resultado que melhor atende à sua visão de mundo) – a interpretação vive no campo
da luta ideológica (cada um busca puxar a brasa para o seu assado)7.

“O direito contém, ao mesmo tempo, as filosofias da obediência e da revolta”8

(2015 OAB XVI) Rudolf Von Ihering, em A Luta pelo Direito, afirma que “O fim do direito é a paz, o meio
de atingi-lo, a luta”. Assinale a afirmativa que melhor expressa o pensamento desse autor
a) O Direito de uma sociedade é a expressão dos conflitos sociais desta sociedade, e ele resulta de uma luta
de pessoas e grupos pelos seus próprios direitos subjetivos. Por isso, o Direito é uma força viva e não uma
ideia.
b) O Direito é o produto do espírito do povo que é passado de geração em geração. Por isso, quando se fala
em Direito, é preciso sempre olhar para a história e as lutas sociais. O Direito Romano é a melhor expressão
desse processo.
c) O Direito é parte da infraestrutura da sociedade e resulta de um processo de luta de classes, em que a o
usa para manter o.
d) O Direito resulta da ação institucional do Estado, e no parlamento são travadas as lutas políticas que
definem os direitos subjetivos de uma sociedade.
Comentários
Assertiva B = Ihering realmente afirma a importância de olhar para a história e as lutas sociais. Porém, isso
não nos remete necessariamente à tradição do Direito Romano.
Assertiva C = quando se fala em “processo de luta de classes”, “classe dominante” e “controle sobre os
dominados” a rigor o foco recai sobre as ideias socialistas e de teoria crítica. Embora influenciado por Marx,
Ihering não “comprou” todo o marxismo.
Assertiva D = ao se referir a lutas, Ihering não está se pautando na ação institucional (lutas travadas no
Parlamento), mas às questões sociais que ocorrem também (ou principalmente) em ambiente não
institucional.

7
Cada intérprete é uma instância ideológica de atribuição de significados heterônomos. “Não é o sentido da norma que se impõe
ao jurista de acordo com sua formação cultura e ideológica, de sorte que é o jurista a única e autêntica fonte do direito” (COELHO,
Luiz Fernando. Lógica jurídica e interpretação das leis. 2. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981, p. 182).

8
FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito. 54. Ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 31.

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Reta Final

Assertiva A = o direito é a expressão dos conflitos sociais na sociedade (no decorrer do tempo); resulta da
luta de pessoas e grupos pelos seus próprios direitos subjetivos (pretensões a serem reconhecidas pela
norma ou pela interpretação desta). Logo, o direito é uma força viva (em constante transformação) e não
uma ideia (fixa)!
A alternativa correta é a A.

2.2.3 - Quanto ao resultado

A interpretação segundo o resultado, que é o mesmo que quanto aos efeitos da norma ou a extensão de seu
preceito (até onde alcança o tipo), pode se dar de maneira extensiva, declaratória ou restritiva, havendo
autores que citam ainda as intepretações modificativa e ab-rogante.

a) extensiva: ocorre quando é necessário um aumento da abrangência (conteúdo) da norma interpretada,


com a aplicação a situação prevista implicitamente, mas não de forma expressa – gramaticalmente, o
legislador disse menos do que gostaria, de modo que o alcance da lei tem de ser maior do que indicam seus
termos. Quer um exemplo? Há o crime de “sequestro ou cárcere privado” (CP, art. 148), mas há apenas
“extorsão mediante sequestro” (CP, art. 158). E se for extorsão mediante cárcere privado? Faça-se
interpretação extensiva!

b) declaratória: na interpretação constatativa ou especificadora, a letra da lei corresponde exatamente ao


que o legislador quis dizer. Há correspondência harmônica entre o que o texto diz expressamente e o alcance
pretendido por seu sentido. Exemplo: “os bens públicos não estão sujeitos a usucapião” (CC, art. 102) – não
precisar dizer mais nada!

c) restritiva: o legislador disse mais do que gostaria. Assim, reduz-se o alcance das palavras para que
corresponda à vontade do texto. O artigo 28, inciso I, do Código Penal preceitua que a emoção e a paixão
não excluem crime. Mas e no caso de a emoção ou paixão ser arrebatadora (biopsicologicamente: doença +
incapacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento)
a ponto de causar inimputabilidade9? É preciso limitar a incidência da norma para evitar que produza efeitos
danosos ou injustos.

9
Há uma psicose chamada Erotomania, também conhecida como síndrome de Clérambault, na qual o doente tem a convicção
delirante de que uma pessoa, geralmente de uma classe social mais elevada ou pessoa pública, está secretamente apaixonada por
ela, o que muitas vezes termina em tragédia. Ficou curioso(a)? Assista ao filme francês “Bem me quer, mal me quer” (2002) – é
chato, mas elucidativo.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

d) modificativa: aqui também ocorre uma extensão do alcance da norma, mas em vista de situações não
conhecidas ou previstas pelo legislador. Há duas subespécies: (1) atualizadora: por vezes haverá a
necessidade de atualizar a norma diante de uma nova realidade que não foi prevista pelo legislador, quando
da edição da norma; (2) corretiva: no caso de antinomias, a fim de evitar a exclusão de uma norma, seu
sentido é alterado, compatibilizando-a no ordenamento jurídico.

A interpretação extensiva supre defeitos lógicos do texto normativo, que se mostra tímido demais (diz
menos do que deveria). Já a interpretação modificativa realiza verdadeira adaptação (alteração) com vistas
a atualizar ou corrigir a norma.

e) ab-rogante: incide quando simplesmente não se consegue entender com clareza mínima as hipóteses que
se pretende regular pela norma e de que maneira (o que a norma quis dizer). Outra possível aplicação é nos
casos em que houver contradição insanável entre disposições normativas, havendo-se de se eliminar uma
das regras e aplicar a outra (ab-rogação simples), ou eliminar as duas e aplicar uma terceira (dupla ab-
rogação).

Nos casos em que for possível a interpretação modificativa, com a manutenção de ambas as normas
mediante conciliação, o intérprete deve se abster de fazer interpretação ab-rogante. Não havendo tal
possibilidade, entre normas de hierarquia distinta deve permanecer a superior (a inferior perecerá no
holocausto interpretativo); a norma principal sobrepuja a acessória; a cogente subjuga a dispositiva; a
posterior prevalece sobre a anterior.

“A chamada ‘interpretação ab-rogante’, (é aquela) pela qual ou o intérprete elimina uma


das normas contraditórias (ab-rogação simples) ou elimina as duas normas contrárias (ab-
rogação dupla). Dessas três soluções, a que deve ser preferida - só sendo afastável quando
de forma alguma possa ser utilizada - é a interpretação corretiva, que conserva ambas as
normas incompatíveis por meio de interpretação que se ajuste ao espírito da lei e que

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

corrija a incompatibilidade, eliminando-a pela introdução de leve ou de parcial modificação


no texto da lei” (STF, HC nº 68.793, Rel. Min. Moreira Alves, j. 10/03/1992).

Em 1990 entrou em vigor o Estatuto da Criança e do Adolescente e fez a proeza de incluir um parágrafo
único no artigo 213 do Código Penal a impor ao estupro de menores de 14 anos pena (4 a 10 anos) inferior
ao estupro de adultos. Inacreditável, não? O artigo ainda está lá (213 do ECA) – selo “legislador brasileiro de
qualidade”! Em 2009, o Congresso Nacional tentou consertar a besteira e acabou por cometer outras
barbaridades que não vêm aqui ao caso. O fato é que, à época, seria o caso de proceder à interpretação
teleológica, axiológica e ab-rogante, não? Em tese, sim. Mas fala isso para os defensores do garantismo
hiperbólico monocular...

Para fecharmos o tema com chave de ouro, saliento a importância de se manter em mente uma classificação
bem delineada (do que foi abordado). Tente memorizar o quadro abaixo.

Quanto ao AGENTE Quanto à NATUREZA Quanto ao RESULTADO


- Gramatical ou Literal
- Ampliativa ou Extensiva
- Autêntica ou Legislativa - Lógica ou Racional
- Declarativa
- Jurisprudencial - Sistemática
- Restritiva ou Limitadora
- Administrativa - Histórica
- Modificativa
- Doutrinária - Teleológica
- Ab-rogante
- Axiológica

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Reta Final

(OAB X 2013) A hermenêutica aplicada ao direito formula diversos modos de interpretação das leis. A
interpretação que leva em consideração principalmente os objetivos para os quais um diploma legal foi
criado é chamada de
a) interpretação restritiva, por levar em conta apenas os objetivos da lei, ignorando sua estrutura gramatical.
b) interpretação extensiva, por aumentar o conteúdo de significado das sentenças com seus objetivos
historicamente determinados.
c) interpretação autêntica, pois apenas as finalidades da lei podem dar autenticidade à interpretação.
d) interpretação teleológica, pois o sentido da lei deve ser considerado à luz de seus objetivos.
Comentários
Assertiva A = interpretação restritiva é aquela na qual os termos expressos da lei englobam casos para além
do que se previu (erro na linguagem), de modo que é necessário limitar o alcance da lei.
Assertiva B = a interpretação extensiva é realizada quando o legislador foi tímido: utilizou termos que
abarcam menos do que se gostaria, de maneira que o alcance normativo é estendido às situações
implicitamente previstas na lei.
Assertiva C = interpretação autêntica é a realizada pelo próprio legislador, por meio de uma norma
interpretativa, isto é, que explicita o sentido e o alcance de outra norma.
Assertiva D = teleológica deriva de telos (finalidade). E como o direito é meio para um fim (justiça), as normas
possuem, todas, finalidade social (buscam regular situações sociais de modo a garantir a justiça). Assim, sem
dúvidas “o sentido da lei deve ser considerado à luz de seus objetivos”.
Em vista disso, a alternativa D é a correta e gabarito da questão.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Profa. Isabella Pires:
Com isso, me despeço de vocês por hoje! Voltaremos amanhã para dar continuidade ao
nosso projeto rumo à aprovação!

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Reta Final

Aproveito para, mais uma vez, deixar meus contatos caso tenham dúvidas, críticas,
sugestões!
Vocês podem entrar em contato pelo fórum do curso ou ainda:
E-mail: isabella.almeida@estrategiaconcursos.com.br

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