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ESTRATÉGIA OAB

Reta Final

Sumário

1. Considerações Iniciais .................................................................................................................................... 2

2.Direito Constitucional ..................................................................................................................................... 4

2.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina............................................................................................................... 4

Aplicabilidade das Normas Constitucionais ....................................................................................................... 5

1 - Normas de eficácia plena.......................................................................................................................... 5

2 - Normas de eficácia contida (ou prospectiva) ........................................................................................... 6

3 - Normas de eficácia limitada ..................................................................................................................... 7

Direitos Individuais e Coletivos ................................................................................................................ 14

3. Direito Penal................................................................................................................................................. 48

3.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina............................................................................................................. 49

4 - TEORIA DO CRIME – Ilicitude - Excludentes - Estado de Necessidade ............................................... 49

5 - TEORIA DO CRIME – Ilicitude - Excludentes - Legítima defesa - Estrito cumprimento de dever legal -
Exercício regular de direito - Consentimento do Ofendido ..................................................................... 54

5.5 - Ilicitude ................................................................................................................................................ 66

4.Direito Processual Penal ............................................................................................................................... 66

4.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina............................................................................................................. 67

Teoria Geral das Provas ........................................................................................................................... 67

5. Considerações Finais .................................................................................................................................... 81

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RETA FINAL EM PDF PARA O XXXV EXAME DE


ORDEM
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Sejam muito bem-vindas e bem-vindos, futuras advogadas e futuros advogados!!

Eu sou a Professora Isabella Pires, aprovada no concurso da Magistratura Estadual (TJBA),


na Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe (ALESE) e em outras fases de concursos de
Juiz Federal e Defensor Público. Sou graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN, especialista em Direitos Humanos e em Direito Penal e Processo
Penal.

Aqui no Estratégia OAB, bem como no Estratégia Carreiras Jurídicas, sou idealizadora e
coordenadora dos nossos cursos Reta Final em PDF. Assim, desde já, coloco-me à
disposição para sanar eventuais dúvidas quanto ao curso, bem como para receber
sugestões de vocês, nossas alunas e nossos alunos!

Vocês podem entrar em contato pelo fórum do curso ou ainda:

E-mail: isabella.almeida@estrategiaconcursos.com.br

Instagram: @profaisabellapires

Com o nosso primeiro PDF de apresentação vocês puderam conhecer a estrutura do nosso curso, as
estratégias das quais lançaremos mão para tornar sua preparação mais completa e direcionada à tão
almejada aprovação! Hoje, daremos início ao estudo efetivo das matérias constantes do nosso cronograma!

No PDF de hoje veremos os seguintes temas:

MATÉRIA ASSUNTO MOTIVAÇÃO ESTUDADO OBSERVAÇÕES

Direito
Constitucional
Aplicação das normas no
tempo;
-Incidência alta;

- Importância
Direitos Individuais e estrutural.
Coletivos. Art. 5º na
CRFB/88; (VME)
Direito Penal - Teoria do Crime: -Incidência altíssima.

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-Ilicitude; -Alta importância


estrutural.
- Excludentes de Ilicitude:
Estado de Necessidade;
Ilicitude Legitima Defesa;
Estrito Cumprimento de
Dever Legal e Exercício
Regular de Direito
Direito
Processual
Teoria geral das provas -Incidência altíssima.

Penal
-Alta importância
estrutural.

Profa. Isabella Pires:

Como vocês já sabem, nosso projeto conjuga os nossos PDF’s com a revisão dos temas em
videoaulas!

Assim, em semanas alternadas, teremos PDF (2 temas) + Aula em Vídeo e, no período


seguinte, apenas PDF (com três temas cada!).

Para facilitar o acesso às aulas e a organização do estudo de vocês, seguem os links das
aulas em vídeo, correspondentes aos temas aqui estudados!!

DIREITO CONSTITUCIONAL :

https://www.youtube.com/watch?v=wyGFkgEcJHo&list=PL_R-
F0SJS6381clIHwcpGIr_65hy1sfgu

DIREITO PENAL:

https://www.youtube.com/watch?v=b1SJ2bk4lWs&list=PL_R-
F0SJS638WmqeKcwCGS0UTb2s0NnyP

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DIREITO PROCESSUAL PENAL:

https://www.youtube.com/watch?v=4IZYRLtCMwU&list=PL_R-
F0SJS639jbE5DJQgfLnxYR_PMRY87

Mãos à obra, minhas queridas e meus queridos!!

Sigam firmes e bons estudos!

2.DIREITO CONSTITUCIONAL
Nosso estudo se concentrará nos seguintes temas:

-Aplicação das normas no tempo;

-Direitos Individuais e Coletivos. Art. 5º na CRFB/88;

Profa. Isabella: Os temas escolhidos para dar início ao nosso estudo em Direito
Constitucional levaram em conta a alta incidência dos temas nas últimas provas, estando
entre os pontos mais cobrados na matéria!
Assim, mãos à obra e vamos avançar rumo à aprovação!

Por dizer respeito a tema predominantemente doutrinário, nosso ponto abrangerá:

>Pílulas Estratégicas de Doutrina;

>Questões Comentadas.

Vamos dar início?

2.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina

Profa. Isabella Pires: As explanações a seguir tomam por base as aulas 00 e 01 do Curso
Regular de Direito Constitucional ministrada pelo Professor Diego Cerqueira, para a qual
vocês deverão se encaminhar, caso sintam a necessidade de complementação do estudo
com os demais temas relacionados.

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APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS


Pessoal, vamos estudar agora um tema levantado pela doutrina que diz respeito à aplicabilidade das normas
Constitucionais. E, aqui, de modo indispensável, precisaremos nos debruçar acerca do entendimento do
professor José Afonso da Silva.

“Mas, Diego, isso cai em prova?” Ôhh...se cai (rs)

O ilustre jurista José Afonso da Silva ensina1 defende que as normas constitucionais como um todo
apresentam certa juridicidade. Mas, há uma diferença entre elas quanto ao grau de eficácia.

Dentro dessa análise, seria possível avaliarmos as normas dispostas em uma Constituição e classificá-las em
três grupos: i) normas de eficácia plena; ii) normas de eficácia contida e; iii) normas de eficácia limitada.

Pois bem. Respirem fundo, pois o tema agora é denso (rs).

1 - Normas de eficácia plena

As normas de eficácia plena seriam aquelas postas no texto de uma Constituição que, com a entrada em
vigor da Carta Magna, produziriam ou teriam a possibilidade de produzir todos os efeitos pretendidos. “Não
entendi Prof...”. Explique melhor. ;)

Pense o seguinte. As normas de eficácia plena são aquelas normas constitucionais que, com o nascimento
da Constituição, não dependem de qualquer norma regulamentadora para produção dos seus efeitos. Quer
ver um exemplo?

Temos art. 2º da CRFB/88, que diz: “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Trata-se de um comando principiológico que abarca o primado da
Separação do Poderes. Precisa de uma lei para regulamentar esse comando? Não.

Tecnicamente, as normas de eficácia plena possuem algumas características essenciais. E, aqui, acredito que
vocês irão compreender melhor o assunto. Primeiro, elas são consideradas autoaplicáveis, pois já possuem
sentido e alcance completos, não sendo necessário a edição de lei para isso ocorrer.

Segundo, são consideradas não-restringíveis, já que, havendo lei versando sobre uma norma constitucional
de eficácia plena, há impedimento para que tal lei venha de alguma forma limitar a aplicação da norma em
questão. Assim, é permitida a existência de norma regulamentadora, mas a sua finalidade é apenas
esclarecer o comando (não terá caráter restritivo).

1
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 35a edição. Ed. Malheiros, São Paulo, 2012.

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Alguns da doutrina chegam a apontar que as normas de eficácia plena possuem uma aplicabilidade direta,
imediata e integral. Na prática, se assemelha ao critério de classificação visto acima.

Quer dizer que elas não dependem da edição de norma regulamentadora para todos os seus efeitos sejam
produzidos; são imediatas, pois estão a partir da promulgação da Carta Constitucional já se encontram aptas
a produzir completamente os seus efeitos; ainda são consideradas integrais, já que não estão sujeitas a
limitações ou restrições.

2 - Normas de eficácia contida (ou prospectiva)

Também são capazes de produzir todos os efeitos pretendidos quando de promulgação da Constituição.
“Mas, professor, então qual a diferença para as normas de eficácia plena?”

Então, meus amigos, é que o Poder Público venha a restringi-las. Entende o professor José Afonso que aqui
haverá discricionariedade do legislador. De tal modo, não há necessidade de edição de norma
regulamentadora para que o comando da Constituição seja satisfeito (em seu sentido e alcance).

Mas, temos um pequeno detalhe. A norma regulamentadora pode ser editada. E, se vier, será restringindo
o conteúdo e alcance pretendido pelo Constituinte. Vamos ver um exemplo para facilitar. ;)

Conforme dispões o art.5º, inciso XIII, da CRFB/88, “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Esse dispositivo garante a chamada
liberdade profissional.

Quando o Constituinte trouxe esse preceito, permitiu como regra geral o livre exercício do trabalho,
emprego ou profissão, mas deixou uma pequena ressalva (rs). “Olha, o trabalho é livre, mas algumas
qualificações profissionais precisam observar o disposto em lei”. Na prática, o que ele fez foi reservar uma
restrição. Ou melhor, permitir uma restrição.

E temos isso em nossa ordem jurídica? Sim, um exemplo clássico é a necessária aprovação no exame da OAB
como condição legalmente estabelecida para que o bacharel em direito possa se tornar advogado, ou seja,
tenha permissão para o exercer a advocacia.

As normas de eficácia contida são consideradas autoaplicáveis. Quer dizer que possuem a capacidade de
produzir plenamente os seus efeitos. Todavia, havendo regulamentação teremos restrições ao exercício do
direito.

Também, são consideradas restringíveis. Assim, as limitações podem ocorrer e de três formas: (i) por meio
de lei (norma infraconstitucional); (ii) por outra norma constitucional; (iii) através de conceitos éticos-
jurídicos indeterminados.

Vejamos alguns exemplos:

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• Direito de greve • O art. 5º, inciso XXV,


(iniciativa privada) é da CF/88 estabelece
norma de eficácia que, no caso de
contida (art. 9º, “iminente perigo
CF/88). No entanto, a Outra norma público”, o Estado
lei pode estabelecer Constitucional poderá requisitar
restrição. Por propriedade
exemplo, quando particular. O que seria
define os “serviços ou iminente perigo? É
atividades essenciais” • O art. 139, da CF/88
um conceito ético-
(§ 1º, art. 9º, CF) traz a possibilidade de
jurídico.
se impor restrições a
direitos e garantias
fundamentais durante
o estado de sítio. Ex:
Direito de reunião.
Conceitos éticos-
Restrição por Lei jurídicos
indeterminados

Com efeito, as normas de eficácia contida possuem aplicabilidade direta, imediata, mas são consideradas
do tipo “possivelmente não-integral”, já que eventualmente podem sofrer limitações ou restrições. Essa é
a grande diferença para as normas de eficácia plena.

3 - Normas de eficácia limitada

Essas normas precisam de uma regulamentação no campo infraconstitucional para que o sentido e o alcance
pretendido pelo Constituinte estejam satisfeitos. Um exemplo clássico de norma de eficácia limitada é o
chamado direito de greve dos servidores público previsto no art. 37, inciso VII, da CRFB/88

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A Constituição nos diz que “o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica”. Então, ficou expresso que o legislador constituinte fez uma reserva. O direito de greve será
exercido nos limites que estarão definidos em uma lei específica.

“Então, precisa de uma lei para o exercício do direito professor?” Isso mesmo. É obrigatória, no caso, a edição
de uma lei ordinária. Até a edição dela, não é permitido o gozo do direito constitucionalmente previsto. Daí,
a doutrina nos dizer que essas normas são classificadas como não-autoaplicáveis. A complementação
legislativa para a plena produção dos seus efeitos é necessária.

Outra classificação vai no sentido de apontar as normas de eficácia limitada como de aplicabilidade indireta,
mediata, e ainda consideradas do tipo reduzida. Isso porque sem a regulamentação o grau de eficácia delas
é restrito.

Analisando obra do José Afonso da Silva, as normas de eficácia limitada são subdivididas
em dois grupos:

 normas constitucionais declaratórias de princípios institutivos ou organizativos: elas


possuem um conteúdo que envolve a estruturação e organização inicial de instituições,
pessoas ou órgãos. Iniciais porque é a regulamentação que de fato concretizará o disposto
na norma constitucional. Quer um exemplo? Temos o art. 88, da CRFB/88. “A lei disporá
sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública”.

 normas constitucionais declaratórias de princípios programáticos: elas instituem


programas, objetivos, metas que serão implementados por meio de regulamentação.
Vamos ao exemplo? Temos o art. 196, CRFB/88. “A saúde é direito de todos e dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação”.

A doutrina esclarece que essas normas declaratórias de princípios programáticos revelam


a chamada Constituição-dirigente. (pois estabelece um norte; uma direção ao legislador
infraconstitucional, estabelecendo metas, diretrizes, objetivos.... pensa no exemplo
acima... a saúde é um direito de todos... e um dever do Estado... que deve garantir o valor
fundamental mediante políticas públicas...

E, para fecharmos esse tópico, uma pequena ressalva. ;)

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Pessoal, as normas de eficácia limitada, mesmo possuindo aplicabilidade reduzida e não produzindo todos
os efeitos (pretendidos pelo Constituinte), a doutrina reconhece que elas possuem alguma eficácia. “Como
assim professor?”

Apesar da eficácia limitada, a norma constitucional existe! Isso indica que tem “eficácia jurídica mínima”.

E quais são os efeitos jurídicos produzidos por esse tipo de norma? Temos dois.

Por meio do seu efeito negativo, qualquer disposição editada anteriormente a elas e com sentido contrário
é revogada. Além disso, o referido efeito impossibilita a edição de leis posteriores opostas ao comando
constitucional. Já o efeito vinculativo, significa que o legislador infraconstitucional está obrigado a editar lei
regulamentadora, para não incorrer em uma omissão inconstitucional.

Comentaremos um pouco mais a frente sobre isso no estudo do Mandado de Injunção e da Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão – ADO. Fiquem tranquilos!!!!

Normas
Constitucionais

Eficácia Plena Eficácia Contida Eficácia Limitada

Autoaplicáveis; não- Autoaplicáveis; restringíveis


Não-autoaplicáveis e com
restringíveis e com e com aplicabilidade direta,
aplicabilidade indireta,
aplicabilidade direta, imediata e possivelmente
mediata e reduzida
imediata e integral não integral.

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14. (FGV/XXIV Exame de Ordem – 2017) Edinaldo, estudante de Direito, realizou intensas reflexões a
respeito da eficácia e da aplicabilidade do Art. 14, § 4º, da Constituição da República, segundo o qual “os
inalistáveis e os analfabetos são inelegíveis”. A respeito da norma obtida a partir desse comando, à luz da
sistemática constitucional, assinale a afirmativa correta.
A) Ela veicula programa a ser implementado pelos cidadãos, sem interferência estatal, visando à realização
de fins sociais e políticos.
B) Ela tem eficácia plena e aplicabilidade direta, imediata e integral, pois, desde que a CRFB/88 entrou em
vigor, já está apta a produzir todos os seus efeitos.
C) Ela apresenta contornos programáticos, dependendo sempre de regulamentação infraconstitucional para
alcançar plenamente sua eficácia.
D) Ela tem aplicabilidade indireta e imediata, não integral, produzindo efeitos restritos e limitados em
normas infraconstitucionais quando da promulgação da Constituição da República.
Comentários:
Olha só. Questão fresquinha do XXIV Exame de Ordem. A questão cobrou basicamente o tema das
inelegibilidades. (art. 14, § 4º ao 8ª, CRFB/88). Trata-se de norma de eficácia plena, que independe de
legislação infraconstitucional. Possui aplicabilidade direta, imediata e integral.
Gabarito letra B.

15. (FGV/ XVI Exame de Ordem Unificado - 2015) O diretor de RH de uma multinacional da área de
telecomunicações, em reunião corporativa, afirmou que o mundo globalizado vem produzindo grandes
inovações, exigindo o reconhecimento de novas profissões desconhecidas até então. Feitas essas
considerações, solicitou que alterasse o quadro de cargos e funções da empresa, incluindo as seguintes
profissões: gestor de marketing digital e desenvolvedor de aplicativos móveis. O presidente da sociedade
empresária, pedido formulado, alegou que o exercício de qualquer atividade laborativa pressupõe a sua
devida regulamentação em lei, o que ainda não havia ocorrido em relação às referidas profissões. Com
base na teoria da eficácia das normas constitucionais é correto afirmar que o presidente da sociedade
empresária:
(A) argumentou em harmonia com a ordem constitucional, pois o dispositivo da Constituição Federal que
afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer, possui eficácia limitada, exigindo regulamentação legal para que possa produzir
efeitos.

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(B) apresentou argumentos contrários à ordem constitucional, pois o dispositivo da Constituição Federal que
afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer, possui eficácia contida, de modo que, inexistindo lei que regulamente o exercício da
atividade profissional, é livre o seu exercício.
(C) apresentou argumentos contrários à ordem constitucional, pois o dispositivo da Constituição Federal que
afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer, possui eficácia plena, já que a liberdade do exercício profissional não pode ser
restringida, mas apenas ampliada.
(D) argumentou em harmonia com a ordem constitucional, pois o dispositivo da Constituição Federal que
afirma ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer, não possui nenhuma eficácia, devendo ser objeto de mandado de injunção para a sua
devida regulamentação.
Comentários:
Meus amigos, para resolver essa questão, precisaríamos conhecer o art. 5º, inciso III, da CF/88, que trata da
liberdade profissional, segundo o qual “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas
as qualificações profissionais que a lei estabelecer. E aqui não tem mistério. Acabamos de ver que se trata
de uma norma de eficácia contida.
Ora, se o art. 5º, III, CF/88, é norma de eficácia contida, significa que o exercício da profissão independe de
regulamentação. A liberdade profissional pode ser livremente exercida, podendo a lei restringir o exercício
desse direito.
Assim, não há necessidade de regulamentação em lei para que sejam incluídas, no quadro de cargos e
funções da empresa, as profissões de gestor de marketing digital e desenvolvedor de aplicativos móveis.
Logo, os argumentos apresentados pelo presidente da sociedade empresária não estão em harmonia com a
ordem constitucional.
Gabarito é a letra B.

16. (ESTRATÉGIA OAB/INÉDITA) De acordo com a classificação das normas constitucionais do professor
José Afonso da Silva, apresente a opção correta que indica se tratar de uma norma de eficácia contida.
(A) É livre o exercício de qualquer profissão, atendidas as qualificações que a lei venha a estabelecer.
(B) O Estado deve garantir o desenvolvimento nacional.
(C) O Presidente da República não está sujeito à prisão antes da sentença penal condenatória.
(D) As atribuições do Conselho de Defesa das Minorias serão definidas em lei.
Comentários:
Letra A: correta. Para que vocês percebam como as questões se repetem (rs) ou seguem uma mesma linha
de raciocínio. Mais uma vez, tem-se aqui uma norma de eficácia contida. A lei poderá restringir o exercício
profissional, estabelecendo qualificações para certas profissões.
Letra B: errada. Essa é uma norma de eficácia limitada, de caráter programático.
Letra C: errada. É uma norma de eficácia plena.

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Letra D: errada. É uma norma de eficácia limitada. Há necessidade de edição de lei para definir as atribuições
do Conselho.

17. (ESTRATÉGIA OAB/INÉDITA) A Constituição Federal de 1988, dispõe que no seio dos direitos individuais
e coletivos que “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei". Nesse sentido, em razão do critério de aplicabilidade e eficácia das normas
constitucionais, é possível afirmar que estamos diante de uma norma:
(A) programática;
(B) de eficácia plena e aplicabilidade imediata;
(C) de eficácia contida e aplicabilidade imediata;
(D) preceptiva.
Comentários:
Letra A: errada. As normas programáticas são aquelas que traçam diretrizes, metas para a ação estatal;
Letra B: errada. A norma de eficácia plena é aquela que para produzir todos os seus efeitos não necessita de
norma regulamentadora posterior. Além disto, ela é não restringível, pois norma infraconstitucional não
pode restringir a aplicabilidade de tal norma constitucional;
Letra C: correta. A norma de eficácia contida é aquela que apesar de produzir todos os seus efeitos pode ser
restringida por lei infraconstitucional posterior. Assim, o LXI do art. 5° da CF/88 determina que “ninguém
será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente”, mas que uma lei pode restringir esta norma nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar.
Letra D: errada. Normas preceptivas são aquelas normas concretas e completas, suscetíveis de aplicação
imediata. Elas determinam uma conduta a ser seguida;
Gabarito Letra C.

18. (INÉDITA / ESTRATÉGIA OAB) Aurélio, cidadão brasileiro e estudante de direito no 1º semestre,
procurou o professor Renato para que lhe explicasse melhor acerca de um direito fundamental previsto
na Constituição Federal de 1988, tendo vista que o aluno se sentiu lesado diante de um caso concreto. O
Professor, analisando prontamente o dispositivo constitucional, identificou que o referido direito, embora
tenha aplicabilidade imediata, pode sofrer restrição por lei, o que aconteceu na prática com a Lei federal
nº. 1234, que foi aplicada no caso de Aurélio. Nesse sentido, Renato conclui não haver qualquer lesão a
direito fundamental. Do ponto de vista da Teoria Geral da Constituição, a narrativa acima faz menção a
existência de uma norma constitucional de eficácia:
a) plena;
b) limitada;
c) contida;

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d) institutiva.
Comentários:
Pessoal, questão simples para que vocês possam revisar o tema da aplicabilidade das normas constitucionais.
A norma de eficácia contida é classificada como uma norma autoexecutável e de aplicabilidade imediata. Ou
seja, o sentido e alcance da norma já foram pretendidos pelo Constituinte. Daí se dizer que elas aptas para
a produção de seus plenos efeitos com a simples promulgação da Constituição. Todavia, essas normas são
classificadas como “possivelmente não integral”. Isso quer dizer que elas podem ser restringidas por
legislação infraconstitucional, por outras normas constitucionais ou até mesmo por conceitos éticos-
jurídicos. Gabarito letra C.

19. (ESTRATÉGIA OAB/INÉDITA) O Supremo Tribunal Federal possui o seguinte posicionamento: o


atendimento em creche e acesso às unidades de pré-escola à criança menor de cinco anos de idade não
podem basear-se em juízo de simples conveniência ou mera oportunidade, pois o sistema de ensino
municipal é regido constitucionalmente por normas de eficácia:
a) contida, possuindo aplicabilidade indireta, mediata e reduzida.
b) plena, possuindo aplicabilidade direta, imediata e integral.
c) limitada, possuindo aplicabilidade indireta, mediata e reduzida e estabelecem apenas diretrizes.
d) contida, possuindo aplicabilidade direta, imediata e integral.
Comentários:
As normas constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade direta, imediata e integral são aquelas normas
da Constituição que, no momento que entra em vigor, estão aptas a produzir todos os seus efeitos,
independente de norma integrativa infraconstitucional. De acordo com a doutrina e a jurisprudência o
sistema de ensino municipal é constitucionalmente regido por normas de eficácia plena e aplicabilidade
imediata.
“Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: “IV – educação infantil,
em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade;
“Art. 211 § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil.”
Na decisão liminar em sede de Ação Cautelar (AC) 2922 foi mais uma vez sinalizado o posicionamento do
STF, pois o Ministro Ayres Britto fez referência a jurisprudência do Supremo, demonstrando que a Corte é
firme em considerar como “norma de eficácia plena o direto à educação previsto no inciso IV do artigo 208
do Magno Texto”.
Gabarito Letra B.

20. (ESTRATÉGIA OAB/INÉDITA) Em uma aula de Direito Constitucional, o Professor Diego Cerqueira
explicou que inúmeros juristas nacionais teorizaram a respeito da efetividade das normas constitucionais,
sua validade, aplicabilidade e vigência. Entre os doutrinadores, José Afonso da Silva possui renomada obra
tratando do assunto. Em sua obra “Aplicabilidade das Normas Constitucionais”, o autor trouxe a

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classificação das normas da constituição conforme sua forma de aplicação e geração de efeitos. De acordo
com o exposto acima, entende-se que as normas constitucionais de eficácia
a) plena possuem aplicabilidade direta, mediata e efeitos integrais.
b) limitada possuem aplicabilidade indireta, efeitos imediatos e possivelmente não integrais.
c) plena possuem aplicabilidade direta, imediata e efeitos possivelmente não integrais.
d) contida possuem aplicabilidade direta, imediata e efeitos possivelmente não integrais.
Comentários:
Segundo José Afonso da Silva, as normas de eficácia plena, contida e limita possuem as seguintes
características:
- Normas Constitucionais de Eficácia Plena: Autoaplicáveis; não-restringíveis e com aplicabilidade direta,
imediata e integral.
- Normas Constitucionais de Eficácia Contida: Autoaplicáveis; restringíveis e com aplicabilidade direta,
imediata e possivelmente não integral.
- Normas Constitucionais de Eficácia Limitada: Não-autoaplicáveis e com aplicabilidade indireta, mediata e
reduzida.
Gabarito Letra D.

Direitos Individuais e Coletivos

Meus amigos, vamos adentrar agora talvez no ponto mais importante da aula. Peço a todos uma atenção
redobrada. ;) O foco será nas disposições do art. 5º da CRFB/88, que contempla os chamados direitos
individuais e coletivos.

De antemão, informo-os que iremos fazer uma abordagem verticalizada, alcançando os pontos essenciais;
aqueles incisos mais cobrados e com entendimento doutrinário e jurisprudencial relevante.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

Pois bem. Se formos nos apegar à literalidade do caput do art. 5º, vocês irão perceber que o texto faz
referência apenas aos “brasileiros e estrangeiros residentes no país”. E, aqui, surge a primeira pergunta? “E
os estrangeiros não residentes?”

A doutrina e a jurisprudência do STF entendem que basta a estar no território nacional para que a pessoa
seja possuidora de direito fundamental. Não importando se é estrangeira ou não, residente ou não.
Logicamente, não se pode falar em direitos fundamentais absolutos (até porque já estudamos, lembra?).
Será necessário o exame do caso concreto. ;)

Em relação à titularidade, guardem essa informação: as pessoas jurídicas e o Estado também possuem
direitos fundamentais.

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I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

Aqui encontramos o princípio da igualdade, cuja doutrina e jurisprudência já firmaram entendimento que
deve abarcar tanto a igualdade formal, quanto a material.

Tal entendimento visa tornar a igualdade visivelmente mais real. E é justamente por isso, que não basta ser
respeitada pelo legislador, cabendo tal obrigação também ao intérprete e ao aplicador do direito.

As leis não podem possuir conteúdo diferenciando as pessoas que se encontrem em situações iguais (a
chamada igualdade na lei ou igualdade material). Porque, o tratamento diferenciado na lei só é permitido
quando houver razoabilidade para tanto. Ex: concurso para agente penitenciário restrito a mulheres
(estabelecimento prisional feminino)2.

Já o intérprete e o aplicador da lei estão impedidos de dispensarem tratamento diferenciado aos sujeitos
quando por lei o tratamento deve ser igualitário (igualdade perante a lei).

Acerca do tema, o Supremo Tribunal já decidiu que as ações afirmativas são instrumentos jurídicos que
conferem efetividade aos direitos e garantias fundamentais (igualdade material). Visam corrigir distorções
decorrentes da simples aplicação formal do princípio da igualdade. Ex: cotas raciais nas universidades
públicas3.

Enfim, a compreensão do princípio da igualdade deve ser resumidamente a seguinte: é preciso tratar de
forma igual os iguais e tratar de forma desigual aqueles que se encontram em condições distintas.

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

Vamos ao estudo do princípio da legalidade. Nas relações particulares, tal princípio determina que é
permitido fazer ou deixar de fazer tudo que não é proibido pela lei. Já no que tange ao Poder Público, a
legalidade possui uma definição um pouco diferente, pois a Administração Pública só pode fazer aquilo que
a lei permitir. (iremos abordar adiante)

Mas professor, existe diferença entre o princípio da legalidade e o da reserva legal?

Sim. A legalidade possui um sentido mais amplo, pois nele está incluso não só o respeito à lei formal, mas
também ao ato com força de lei e aos atos expedidos nos limites das leis (atos infralegais). A legalidade,
então, trata da lei em sentido material.

Por outro lado, a reserva legal é o princípio da legalidade em sentido estrito. Está presente quando o texto
constitucional expressamente exige a edição de uma lei em sentido formal ou de atos que tenham força de
lei para a regulamentação de uma matéria.

2
RE 498.900-AgR, Rel. Min. Carmen Lúcia, j. 23-10-2007, Primeira Turma, DJ de 7-12-2007.

3
RE 597285/RS. Min. Ricardo Lewandowski. Decisão: 09.05.2012

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Um exemplo de ato com força de lei é o decreto autônomo (calma, nos aprofundaremos nos estudos sobre
tal ato normativo, em aulas mais adiante ☺).

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;


IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

De acordo com a leitura acima, a liberdade de expressão está prevista no inciso IV. Em princípio, a todos é
dada a possibilidade de se manifestar, através da fala ou por escrito. Contudo, é vedado por tal inciso a
manifestação de pensamento de forma anônima.

Foi a partir da leitura do trecho final do dispositivo que a Corte Suprema decidiu que as autoridades públicas
não podem iniciar qualquer medida de persecução (penal ou disciplinar), apoiando-se, unicamente, para tal
fim, em peças apócrifas ou em escritos anônimos4.

Dessa forma, denúncias anônimas não podem dar início à atuação punitiva Estatal.

(...)

No tema da liberdade de expressão, o Supremo Tribunal Federal analisou recentemente um caso


interessante: a chamada “marcha da maconha”. Na oportunidade, a Corte entendeu que o movimento tinha
respaldo tanto no direito de livre manifestação do pensamento quanto no direito de reunião. Olha só:

A proposta de legalização das drogas não é considerada apologia ao crime. A interpretação


do Código Penal que implique na criminalização da manifestação de pensamento neste
sentido (legalização das drogas) é inconstitucional, mesmo que isto ocorra em eventos
públicos5.

Mas, professor, então o STF legalizou o uso da maconha? Eu não disse isso (rs).

4
RHC 117988/RS. Min. Celso de Mello. Decisão: 16.12.2014

5
ADPF 187, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 15-6-2011, Plenário.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Tecnicamente, a decisão do Supremo não foi no sentido de legalização das drogas, mas apenas na
preservação do direito fundamental de se manifestar a favor ou contra a legalização. É o respeito ao direito
de liberdade de expressão.

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por


dano material, moral ou à imagem;

Aqui, temos consagrado o direito de resposta e o direito à indenização proporcional ao dano.

Toda a ofensa realizada resulta num direito de resposta do ofendido, orientado pelo critério da
proporcionalidade, seja o ofendido pessoa física ou jurídica.

Mas, o que isto significa? Quer dizer que a resposta deve ser proporcional à ofensa. Assim, a transmissão da
resposta deve se dar através do mesmo veículo de comunicação em que ocorreu a ofensa, respeitando o
destaque e o tempo de publicação.

No que tange à indenização, há previsão da indenização moral, material e por dano à imagem. O destaque
aqui é o seguinte:

1- As indenizações são cumuláveis;


2- As pessoas jurídicas também possuem direito à indenização;
3- A indenização deve ser proporcional ao dano causado.

Atenção!!! O dano não precisa caracterizar uma infração penal e o direito de resposta não precisa ser
exercido para se ter direito a indenização.

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício


dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas
liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa6 nas entidades
civis e militares de internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta
e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

O conjunto dos incisos acima assegura a inviolabilidade da liberdade de consciência e crença, sendo
assegurado aos indivíduos o exercício do culto e sua liturgia.

Em relação ao inciso VII, vale uma atenção especial. Por ser o Brasil um Estado Laico, o Poder Público não
tem a responsabilidade de realizar uma prestação religiosa. Quem realiza esse tipo de assistência é entidade

6
Há nesses incisos a consagração da chamada liberdade religiosa. Cuidado! Não é Poder Público o responsável pela prestação
religiosa, pois o Brasil é um Estado laico.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

de caráter privado. O que o dispositivo constitucional garante é o acesso dos religiosos de todas as confissões
às entidades de internação coletiva.

Especificamente, o inciso VIII trata do direito a “escusa de consciência” como regra. Significa que não
ocorrerá a privação de direitos por descumprimento da obrigação legal imposta a todos, caso o motivo
decorra de suas crenças religiosas ou convicções filosóficas ou políticas. Contudo, tal fato não impede que o
Estado imponha ao indivíduo, que alegou a escusa, o cumprimento de uma prestação alternativa, desde que
esta esteja prevista em lei.

Destaque-se que, na hipótese de haver a recusa no cumprimento dessa prestação alternativa, aí sim, o
indivíduo poderá sofrer restrição de direitos, como a perda de direitos políticos prevista no art. 15 IV, da
Constituição. Para ocorrer tal situação, o sujeito deve cumulativamente: “recusar-se a cumprir obrigação
legal e também a prestação alternativa fixada pela lei”.

Uma pergunta tiro-curto! E se não houver lei prevendo prestação alternativa? Como fica?

Nesse caso, o indivíduo que alegou a escusa de consciência não pode ser privado de seus direitos. Afinal, o
preceito é norma constitucional de eficácia contida, de modo que o direito à liberdade de consciência e
crença somente pode ser restringido pelo legislador quando fixada por lei a prestação alternativa.

Com a pandemia do Covid-19, o surgimento das vacinas contra o vírus e o entendimento da


constitucionalidade da vacinação obrigatória, o STF foi chamado a se posicionar sobre a recusa dos pais a
vacinar os filhos. A Corte, então, determinou que não há legitimidade na recusa dos pais à vacinação
compulsória de filho menor alegando invocando convicção filosófica.

Dessa forma, a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina é constitucional, desde que, seja:

a) registrada em órgão de vigilância sanitária;


b) tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações;
c) ou tenha sua aplicação obrigatória determinada em lei;
d) ou seja objeto de determinação da União, estado, Distrito Federal ou município, com base em consenso
médico-científico.

Seguindo tais critérios, não há violação à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou
responsáveis, muito menos ao poder familiar. Afinal, quando há conflito de direitos é necessário ocorrer a
ponderação e por isso não é permitido alegar a convicção filosófica para colocar em risco a saúde dos filhos
menores.

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Com o objetivo de salvaguardar o espaço íntimo do indivíduo, a Constituição Federal traz expressamente a
proteção à intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. Caso venha a ocorrer violação a
esses bens jurídicos, o preceito constitucional ainda determina que a indenização deve ser tanto moral
quanto material.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

No âmbito da jurisprudência, o entendimento é que as aplicações dessas indenizações podem ser


cumuladas. Lembrando, logicamente, que o Poder Judiciário irá analisar o caso concreto e o grau de
reprovabilidade da conduta.

Para fins de complemento de estudo, apresentamos a seguir alguns entendimentos que já foram firmados
na jurisprudência em relação ao tema:

 Pessoa Jurídica e dano moral:

A jurisprudência e a doutrina majoritária entendem que a pessoa jurídica é titular dos


direitos previstos no art. 5º da CF/88. Entre eles, temos o direito à honra e à imagem.
Assim, entende-se que a pessoa jurídica pode sofrer dano moral7, sendo possível a
obtenção de indenização no âmbito do poder Judiciário.

 Exame de DNA:

De acordo com o STF, não é possível a condução forçada do suposto pai para a realização
de exame de verificação de paternidade, ou seja, o exame de DNA. Isso porque, tal coação
viola os princípios da dignidade pessoa humana, da integridade física e da intangibilidade
do corpo humano.

Todavia, essa recusa gera uma espécie de presunção juris tantum de paternidade. A
matéria, inclusive já foi consolidada pelo STJ: “em ação investigatória, a recusa do suposto
pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade” (Súmula
301 do STJ).

 Disponibilização de dados pessoais para o IBGE:

Em 2020 foi editada a MP 954, determinando que as empresas de telefonia fixa e móvel
deveriam fornecer ao IBGE os dados dos seus clientes, no período de emergência de saúde
decorrente do Covid-19. Dados esses que seriam: a relação dos nomes, números de
telefone e endereços.

Entretanto, como tais informações configuram dados pessoais, elas são protegidas pelas
seguintes cláusulas constitucionais: liberdade individual (art. 5º, caput); a privacidade e o

7
Súmula 227 STJ - A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

livre desenvolvimento da personalidade (art. 5º, X e XII). Assim, o STF8 entendeu que a
disponibilização dessas exorbita os limites impostos pela CRFB/88, pois mesmo sendo
utilizados apenas na produção da estatística oficial, a MP:

a) não demarcou o objeto da estatística a ser produzida;


b) e não trouxe a finalidade específica ou qual seria a sua amplitude;

Além disso, não houve apresentação de mecanismos técnico ou administrativo com o


objetivo de proteger os dados pessoais de acessos não autorizados, vazamentos acidentais
ou utilização indevida. Houve, então, violação também ao devido processo legal em
dimensão substantiva (art. 5º, LIV, da CRFB/88, que trabalharemos mais adiante).

(...)

No tema do direito à privacidade, temos uma novidade jurisprudencial. Lembram da briga do artista Roberto
Carlos para evitar a publicação de sua biografia?

Pois bem. Na ADI 4815, o Supremo Tribunal discutiu a possibilidade de publicação das chamadas “biografias
não autorizadas”. Mas, qual a problemática em si?

Então. Há um confronto entre o direito à intimidade e à liberdade de expressão. Analisando o caso concreto,
o STF entendeu que a liberdade de expressão deveria prevalecer. Olha só:

“inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas


literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária autorização de pessoas retratadas
como coadjuvantes (familiares ou pessoas falecidas...)”. (...) “não se escreve apenas a vida
de uma pessoa, mas o relato de um povo, os caminhos de uma sociedade".

Cumpre esclarecer que eventuais abusos por parte dos escritores poderão ser objeto de ação de reparação
de danos pelo biografado. Por exemplo, a disposição em biografia de fatos inverídicos ou ofensas à honra
ou à imagem do artista.

Por último, vamos comentar um pouquinho acerca do chamado sigilo bancário e fiscal. O sigilo desses dados
visa garantir o direito à privacidade. Mas, é importante termos em mente que não existe direito fundamental
absoluto. Então, é possível que se tenha a quebra desse sigilo e a obtenção desses dados para fins
específicos.

E essa quebra pode ser realizada por quem? Quais são as autoridades permitidas?

No âmbito da jurisprudência do STF e do STJ há entendimento consolidado que podemos ter as seguintes
autoridades atuando nesse processo:

 Pode o Poder Judiciário determinar a quebra do sigilo bancário e fiscal.

8
Plenário. ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390 e ADI 6393 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 6 e 7/5/2020

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

 A quebra do sigilo bancário e fiscal também podem ser realizadas pelas Comissões
Parlamentares de Inquérito (CPIs) federais, estaduais e distritais. (iremos comentar um pouco
mais à frente do tema das CPIs. Por ora leve essa informação).

 As autoridades fiscais possuem permissão para requisitar informações bancárias das


instituições financeiras, com base na Lei Complementar nº 105/2001. Essa lei foi considerada
constitucional pelo STF, permitindo que as autoridades fiscais requisitem por ato próprio
informações bancárias. Mas, aqui vale uma observação. Para que ocorra de maneira lícita a
transferência dessas informações é preciso que:

✓ Exista um processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e;


✓ Os exames de tais informações solicitadas sejam consideradas indispensáveis pela
autoridade administrativa competente.

 O Ministério Público pode determinar a quebra do sigilo bancário em situação excepcional:


na defesa do patrimônio público em sede de procedimento administrativo. 9

9
MS nº 21.729-4/DF, Rel. Min. Francisco Rezek. Julgamento 05.10.1995.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Poder Judiciário

Autoridades Fiscais:
Podem requisitar
informações QUEBRA DO SIGILO CPI Federal ou
protegidas por sigilo BANCÁRIO Estadual
bancário a instituições
financeiras

Ministério Público:
Defesa do patrimônio
em procedimento
administrativo

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem


consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

O objetivo do princípio da inviolabilidade domiciliar é a proteção da intimidade e da vida privada do


indivíduo. O inciso em questão traz também a proteção do sossego e a tranquilidade durante o período
noturno.

E o que o Supremo entende por “casa”? Então. Segundo a Corte, o conceito se reveste de um caráter amplo,
não alcançando apenas a residência do indivíduo, pois compreende: i) qualquer compartimento habitado;

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

ii) qualquer aposento ocupado de habitação coletiva; e iii) qualquer compartimento privado não aberto ao
público, onde alguém exerce profissão ou atividade pessoal.10

Assim, estariam incluídos os escritórios e consultórios profissionais, os quartos de hotel, trailers, barcos.
Todavia, bares e restaurantes, por exemplo, não fazem parte do conceito de casa firmado pelo STF (pois
entende-se que são locais abertos ao público, via de regra).

Em quais circunstâncias é permitido penetrar na casa de um indivíduo?

Com consentimento do Sem consentimento do


morador morador

A qualquer hora em caso


de flagrante delito ou
A qualquer hora
desastre, ou ainda para
prestar socorro

Não precisa de sob ordem judicial, apenas


autorização judicial durante o dia

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e


das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na
forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual
penal;

10
HC 93.050, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 10-6-2008, Segunda Turma, DJE de 1º-8-2008.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

O inciso em questão trata da inviolabilidade das correspondências e das comunicações. Vamos analisar com
calma, pois temos muitos detalhes.

No tema da inviolabilidade das correspondências e das comunicações telegráficas, muito embora a


literalidade do texto constitucional não faça ressalva alguma, a jurisprudência entende que na iminência de
práticas ilícitas a violação pode ocorrer.

Quer um exemplo? O trabalho que é feito pela Receita Federal no combate aos ilícitos tributários e
aduaneiros com o rastreamento de correspondências vindas do exterior ou remetidas ao exterior. Se,
durante um procedimento fiscal regular (com amparo na lei), restar constatada possível prática de ilícito,
haverá violação do volume para conhecimento da carga ou mercadoria.

Segundo o Supremo Tribunal, para os casos em que a norma constitucional estiver sendo utilizada com a
finalidade de acobertar a prática de ilícitos, será permitido que lei ou decisão judicial constituam hipóteses
para tais interceptações.11

Em relação à comunicação de dados, o entendimento firmado é que a inviolabilidade garantida aqui é a


inviolabilidade da transmissão dos dados e não aos dados em si.

No âmbito do STJ, temos uma decisão mais recente acerca inclusive do tema do acesso às mensagens do
whatsapp. A Corte Superior entende que:

“Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio da
extração de dados e de conversas registradas no whatsapp presentes no celular do suposto
autor de fato delituoso, ainda que o aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão
em flagrante” (Inf. 583 e 593)

Recentemente, o STJ trouxe outra situação ligada a busca e apreensão por decisão judicial e firmou o
entendimento de que: “Se o telefone celular foi apreendido em busca e apreensão determinada por decisão
judicial, não há óbice para que a autoridade policial acesse o conteúdo armazenado no aparelho, inclusive
as conversas do WhatsApp”.

Para a análise e a utilização desses dados armazenados no celular não é necessária nova autorização judicial.
A ordem de busca e apreensão determinada já é suficiente para permitir o acesso aos dados dos aparelhos
celulares apreendidos12.

(...)

11
Nas razões do Supremo: “a administração penitenciária, com fundamento em razões de segurança pública, de disciplina prisional
ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41,
parágrafo único, da Lei 7.210/1984, proceder à interceptação da correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula
tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas.” 11

12
STJ. 5ª Turma. RHC 77.232/SC, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 03/10/2017.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Avançando um pouco no tema das Comunicações telefônicas, vale destacar a diferença entre quebra do
sigilo telefônico e a interceptação das comunicações telefônicas.

A quebra do sigilo telefônico (ou quebra de dados telefônicos) consiste em ter acesso ao registro telefônico
por meio do extrato das ligações (por exemplo, data da chamada, horário, número do telefone, duração do
uso, código de área, etc)

Nesse quesito, a jurisprudência e a doutrina firmaram o entendimento de que, não apenas o Poder Judiciário
pode realizar quebra do sigilo telefônico, mas também as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI’s).

Por outro lado, a Interceptação telefônica quer dizer a “quebra do sigilo das comunicações telefônicas”, ou
seja, é a captação da mensagem transmitida (gravação da conversa). Por permitir o acesso ao conteúdo da
conversa, entende-se que a interceptação das comunicações telefônicas deve ocorrer apenas por meio de
uma ordem judicial.

E quais seriam os requisitos para a ocorrência da interceptação das comunicações telefônicas? A partir da
leitura do inciso XII, temos 03 (três) pressupostos:

Existência de investigação Lei que preveja as hipóteses


Ordem Judicial criminal ou instrução e a forma em que esta
processual penal poderá ocorrer

Nessa seara, além da necessidade de haver previsão legal e ordem judicial, a interceptação deve acontecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual. Por ser imprescindível a existência de uma lei
para que haja a interceptação das comunicações telefônicas, conclui-se que o inciso XII possui eficácia
limitada.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Um ponto importante a ser abordado sobre a interceptação é a temática da “prova emprestada”. A prova
emprestada é uma prova produzida em um processo, que é trasladada para outro processo sob a forma de
um documento.13

Não há impedimento para que prova obtida por meio da interceptação da comunicação telefônica (que
ocorre no curso de uma investigação criminal ou instrução processual penal) seja utilizada em outro
processo, mesmo que este seja um processo administrativo disciplinar. Para o Supremo Tribunal:

“dados obtidos em interceptação de comunicações telefônicas e em escutas ambientais,


judicialmente autorizadas para produção de prova em investigação criminal ou em
instrução processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo disciplinar,
contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos, ou contra
outros servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova.”14

Em recente decisão, o Supremo Tribunal inclusive confirmou o entendimento acima:

“É possível compartilhar as provas colhidas em sede de investigação criminal para serem


utilizadas, como prova emprestada, em inquérito civil público e em outras ações
decorrentes do fato investigado. Esse empréstimo é permitido mesmo que as provas
tenham sido obtidas por meio do afastamento ("quebra") judicial dos sigilos financeiro,
fiscal e telefônico.”15
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer;

O comando em referência dispõe acerca da liberdade da atividade profissional. A doutrina entende se


tratar de uma norma constitucional de eficácia contida, ou seja, como regra é garantido a todos o livre
exercício do trabalho, ofício ou profissão, mas a lei pode estabelecer restrições.

Em havendo, a profissão só poderá ser exercida a quem atender as qualificações legais exigidas. Outrossim,
o Supremo Tribunal entende que tal exigência vale apenas quando houver potencial lesivo à atividade.

Nesse prisma, trouxe como exemplo o exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Para a Corte, o exercício
da advocacia demanda um risco coletivo, cabendo ao Estado limitar o acesso à profissão e o seu exercício.
Mas, professor, qual seria o “risco coletivo”?

13
DIDIER JR. Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 2. Salvador: Juspodivm, 2013, p.
52.

14
STF, Inq 2424, Rel. Min. Cesar Peluso, DJ. 24.08.2007.

15
STF, Inq 3305, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ. 23.02.2016.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Então. Entende-se que a atividade em si demanda um conhecimento técnico mínimo para evitar danos à
coletividade, sobretudo por envolver questões sensíveis no direito penal, direito de família,
sucessões....etc.16

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando


necessário ao exercício profissional;

Esse é um preceito fundamental que visa assegurar o acesso à informação e, sobretudo, a proteção da fonte
jornalística, permitindo que a imprensa atue na busca da verdade e na divulgação do fato.

E se houver abuso? Logicamente, o jornalista será responsabilizado pelos conteúdos publicados,


respondendo por dano material, moral e à imagem.

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer


pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente;

Aqui, peço a atenção especial de vocês. O inciso XV contempla o chamado direito à liberdade de locomoção
ou liberdade de ir e vir. Trata-se de um bem jurídico constitucionalmente protegido. E, diante de violação a
esse direito, há a garantia constitucional do Habeas Corpus. (remédio constitucional)

Agora, no caso do inciso XVI a Constituição Federal trouxe o direito de reunião. Também é um dispositivo
“queridinho” da banca examinadora e que merece nossa atenção.

Vamos consolidar as características do direito de reunião:

16
STF, RE 603.583, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 26/10/11, Plenário, Informativo 646, com repercussão geral.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Fins pacíficos e sem armas


Não poderá frustrar outra
reunião convocada
anteriormente para o mesmo
local;
Necessidade apenas de prévio aviso à
autoridade competente;
Protegido por MS e não HC

Direito de Reunião

No RE 806339/SC, o STF estabeleceu que “a exigência constitucional de aviso prévio relativamente ao direito
de reunião é satisfeita com a veiculação de informação que permita ao poder público zelar para que seu
exercício se dê de forma pacífica ou para que não frustre outra reunião no mesmo local.”

Isso significa, que o aviso prévio não é uma condicionante para o exercício do direito de reunião, mas é uma
forma de permitir que o poder público garanta que ela aconteça de forma pacífica e não venha a frustrar
outra no mesmo local. Além disso, devemos deixar claro que, como a CRFB/88 não trouxe qualquer
formalidade, essa não pode ser exigida. Então, basta a existência de uma notificação efetiva, não podendo
as autoridades alegarem falta de notificação, se o anúncio da reunião aconteceu publicamente.

XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de
autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades
suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

Tecnicamente, o instituto da associação decorre de um ato volitivo (ato de vontade) visando agregação a
um determinado fim. Assim, a associação é uma sociedade e se diferencia do ato de reunião, tendo em vista
possuir um caráter de continuidade, ou seja, as pessoas não se unem de forma temporária, transitória.

No plano constitucional, a existência de uma associação depende de três condições:

 Pluralidade de pessoas;

 Surgimento de um ato de vontade dos associados;

 Presença da estabilidade na união.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Nota-se que a existência de uma associação não depende da aquisição de personalidade jurídica. Apesar da
possibilidade de se adquirir a personalidade, o fato de não promover o registro de seus atos, não interfere
na existência da associação (no plano da realidade).

Enfim, a associação possui uma proteção constitucional, sendo apresentada pelo legislador constituinte com
alguns requisitos.

O primeiro deles diz respeito a sua criação. A entidade associativa deve ser criada para fins lícitos. O segundo
é que a associação não depende de autorização estatal para funcionar, assim como também não sofre
interferência do Poder Público.

Meus amigos, a Carta Magna estabeleceu a liberdade de associação ampla e lícita, diferentemente da
cooperativa que, mesmo não dependendo de autorização estatal para ser criada, enquanto não houver lei
regulamentando o tema não há possibilidade de sua criação.

Por tal motivo, em relação à criação de associações, a doutrina entende que se trata de norma de eficácia
plena. Mas, no tema das cooperativas, entende ser de eficácia limitada.

Importante esclarecer que a dissolução compulsória da associação somente ocorre por decisão judicial que
tenha transitado em julgado. Contudo, para ter sua atividade suspensa, basta uma simples decisão judicial
(sem trânsito em jugado).

XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para


representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

O texto acima trata do instituto da representação processual. O representante processual é aquele que
ingressa em juízo, atuando em nome de terceiro e na defesa de interesse do representado. Não é
considerado parte do processo, mas mero sujeito que faz com que a parte tenha capacidade para estar em
juízo. (capacidade postulatória)

A partir da leitura do inciso XXI, se conclui que as entidades associativas dependem de autorização expressa
de seus filiados para os representarem processualmente.

Já na substituição processual, o substituto (ao ingressar em juízo) atua em nome próprio na defesa de
interesse do substituído, salvaguardando direito alheio ao seu, não necessitando de autorização expressa.
Nesse aspecto, o substituto é parte do processo, enquanto o substituído somente sofre os efeitos da
sentença (não se encontra no processo). Tecnicamente, a doutrina do direito processual nos diz que a
decisão faz coisa julgada para ambos (substituto e substituído).

Destaque-se que não é permitido que ocorra a representação processual baseada em uma autorização
genérica prevista no estatuto da entidade.

“a autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar


a sua atuação em juízo na defesa de direitos de seus filiados, sendo indispensável que a
declaração expressa e específica seja manifestada por ato individual do associado ou por
assembleia-geral da entidade”

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Em decorrência de tal entendimento, a jurisprudência se posicionou no sentido de que, em ações propostas


por entidades associativas, o título judicial somente poderá ser executado pelos associados cuja autorização
para sua propositura tenha sido expressa.

Peço, agora, a atenção de vocês para que possamos fechar esse tema. No inciso LXX do art. 5º da CRFB/88
temos uma hipótese peculiar de substituição processual: Mandado de Segurança Coletivo. A doutrina e a
jurisprudência entendem que para o “MS Coletivo” não há previsão da obrigatoriedade de autorização,
conforme a previsão geral do inciso XXI.

Outrossim, o STF entendeu que em relação aos sindicatos, seja em ação individual ou coletiva, eles não
dependem de autorização expressa dos filiados. A própria CF/88, em seu art. 8º, III, deu permissão para ele
atuarem como substitutos processuais.

XXII - é garantido o direito de propriedade;


XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade
pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro,
ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de
propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;

O direito de propriedade é um bem constitucionalmente protegido. Os quatro incisos acima conjuntamente


garantem tal direito, estabelecendo que a propriedade deve cumprir a função social e que esse direito não
é absoluto.

Na visão do ilustre jurista José Afonso da Silva, os incisos XXIV e XXV “oferecem os elementos de suas
limitações, permitindo sua desapropriação por necessidade pública ou utilidade pública ou interesse social,
bem como o seu uso pela autoridade competente no caso de perigo público iminente” 17. Entende-se, nesse
sentido, ser o direito de propriedade uma norma de eficácia contida.

No caso da desapropriação prevista no XXIV do art. 5° da CF/88 é prévia, justa e em dinheiro. Essa é a regra,
mas o mesmo dispositivo constitucional determina que há exceções. E, quais seriam essas hipóteses
professor? Olha só:

17
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3ed. rev. e ampl. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 113.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

• Competência da • Competência do • Competência da


Imóvel urbano não-edificado s/ função

União Município União


• Prévia e justa • A indenização se • Desapropriação

Desapropriação confiscatória
indenização em dará mediante sem indenização
Fins de reforma agrária

títulos da dívida títulos da dívida (art. 243)


agrária; pública de emissão • Plantas
• Resgate em até 20 previamente psicotrópicas ou
social

anos; aprovada pelo exploração de


• Benfeitorias úteis e Senado Federal, trabalho escravo.
necessárias serão com prazo de
indenizadas em resgate de até 10
dinheiro. (O § 1o anos;
art. 184, CF)

Como mencionado acima, o inciso XXV limita o direito previsto no inciso XXII, trazendo o instituto da
requisição administrativa. Trata-se de uma intervenção restritiva, ou seja, não se retira a propriedade do
particular, mas limita o seu exercício, pois através do chamado Poder de Império (em uma situação de
iminente perigo público), o Poder Público utiliza-se de bens ou serviços de particulares.

Vamos consolidar este tópico?

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Em caso de iminente perigo público, o Estado


A requisição é compulsória para o particular,
pode requisitar a propriedade particular. Ex:
devido ao Poder de Império do Estado
enchente ou desastre natural ou humano

Requisição administrativa

A propriedade continua sendo do particular. Há


O perigo público deve ser iminente apenas uma cessão gratuita e provisória ao Poder
Público. Haverá indenização se houver dano

PS: Entende-se que os entes políticos não podem requisitar administrativamente bens, serviços e pessoal
uns dos outros. Afinal, por conta do modelo federativo adotado no Brasil, os entes políticos possuem
o mesmo “status” hierárquico e a utilização deste instituto acabaria por ofender o pacto federativo.

XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela
família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

No tema da propriedade rural, a Constituição de 1988 estabeleceu a garantia de impenhorabilidade para a


pequena propriedade rural trabalhada pela família. A ideia foi a proteção dos pequenos trabalhadores rurais
com sérias dificuldades em relação a sua subsistência, por falta de acesso aos meios de produção.

Todavia, como já estudamos, não há direito fundamental absoluto e a proteção constitucional depende da
cumulação de dois requisitos:

✓ exploração econômica do bem pela família; e


✓ origem na atividade produtiva do débito que causou a penhora.

Lembrando que a CRFB/88 deixou a cargo da legislação infraconstitucional especificar quais serão as
propriedades rurais que poderão ser consideradas pequenas e como será financiado o desenvolvimento
dessas terras.

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena
de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado;

Juntamente com o princípio da publicidade, o direito à informação demonstra a presença de uma cobrança
constitucional de atuação transparente de toda a Administração Pública (direta e indireta), que deverá
manter os seus administrados informados acerca do comportamento dos seus agentes no âmbito interno.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Contudo, da leitura do dispositivo acima, percebe-se que há uma ressalva prevista: o sigilo de informação
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

No campo infraconstitucional, temos a Lei nº 12.527/2011, assim chamada de Lei de Acesso à Informação.
Ela acabou regulamentando o tema. (mas, não precisa se preocupar, pois nosso estudo recai nos aspectos
teóricos da CRFB/88)

Um destaque que deve ser dado aqui é quanto ao remédio (instrumento processual) utilizado quando há
lesão ao direito à informação.

Se estivermos diante de informações próprias, pessoais do impetrante, o remédio cabível será o Habeas
Data (calma que iremos comentar a seguir. Por ora apenas leve este entendimento).

Por outro lado, para a obtenção de informações de interesse particular ou interesse coletivo ou geral, o
remédio cabível será o Mandado de Segurança. Aqui, não é admissível o habeas data, pois este é utilizado
quando se tratar de interesse particular referentes à própria pessoa requerente (a informação que apenas
ele, titular do dado, pode ter acesso ou o banco de dados). É uma ação personalíssima (só o titular da
informação pode utilizar este remédio).

Atenção também a decisão do STF na ADPF 690, pois ficou estabelecido que não é constitucionalmente
permitido que atos do Poder Executivo Federal reduzam a transparência dos dados referentes à pandemia
de COVID-19. Afinal, tais ações violam os seguintes preceitos fundamentais da CRFB/88: o acesso à
informação, os princípios da publicidade e transparência da Administração Pública (XXXIII e LXXII do art. 5º
e caput, do art. 37 da CRFB/88) e o direito à saúde.

XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:


a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal;

O inciso traz a garantia do não pagamento de taxa para dois institutos que são essenciais ao próprio exercício
da cidadania: o direito de petição e o direito à obtenção de certidões.

Petição é o instrumento utilizado pelo administrado para solicitar algo junto à administração, sendo
endereçado a uma autoridade pública (não judicial). Trata-se de pedido, reclamação ou requerimento.
Através dela, qualquer indivíduo pode denunciar, seja pessoa física (brasileiros ou estrangeiros) ou até
mesmo jurídica. Essa denúncia pode se referir a uma lesão concreta, por exemplo, sendo solicitada a
reorientação da situação.

É de natureza não-jurisdicional, tratando-se de um remédio administrativo, ou seja, não há necessidade de


advogado ou qualquer outro formalismo. E, há algum requisito, professor? Sim!!!! Apenas que o pedido seja
escrito. No mais, pode ser realizado em benefício de interesse próprio, coletivo, da sociedade ou até mesmo
de terceiros.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Já a certidão não se trata de um instrumento, mas de um direito de se obter um documento que possa
atestar um ato ou que possa se comprovar um fato. Ao exercer o seu direito, o indivíduo obterá uma cópia
autêntica de um documento escrito presente em um processo ou em um livro, que será produzida por
autoridade com fé pública. Exemplo: certidão de nascimento.

Por ser um remédio administrativo, o direito de petição possui como destinatário qualquer órgão ou
autoridade do Poder Público, estando aqui abarcado qualquer um dos três poderes.

Agora, você sabia que há diferença entre o direito de petição e o direito de postular em juízo?

O exercício do direito de postular em juízo, como regra, ocorre através de um advogado (o habeas corpus é
uma exceção previsto na CRFB/88). Na visão do Supremo, ao ajuizar uma ação, o sujeito está postulando em
juízo, não cabendo falar em direito de petição (que é exercido no campo administrativo).

 Direito de certidão: é protegido pela via do Mandado de Segurança. Por qual


razão? Tecnicamente, quando se requer uma certidão, o que se pretende é que o
Estado disponibilize um documento formal com título de fé pública, comprovando a
veracidade da informação (que você já obteve).

Não caberia um Habeas Data? Então. Este remédio constitucional serve para obter a
informação; acesso à informação pessoal ou para retificá-la.

XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

Pessoal, o preceito constitucional em comento traz o chamado princípio da inafastabilidade de jurisdição.


O que é isso professor?

Vamos lá. ;) A nossa Constituição se inspirou no modelo inglês de jurisdição, que é um sistema de jurisdição
una. De acordo com esse modelo, tecnicamente somente o Poder Judiciário pode fazer coisa julgada
material.18

“Mas, prof....não temos a esfera administrativa? SIM!

18
Existe também o sistema francês, que se relaciona ao contencioso administrativo. Aqui, tanto Administração Pública quanto o
Judiciário podem julgar uma lide em caráter definitivo. O Brasil não adota esse sistema.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Um indivíduo pode fazer o uso do contencioso administrativo para satisfação de direito fundamental. Por
exemplo, se ele entender que há uma cobrança abusiva de um tributo em um determinado auto de infração,
ele pode apresentar sua impugnação como forma de defesa na via administrativa.

Mas, na seara jurídico-processual, isso não é uma condicionante para que ele ingresse no judiciário e
questione o problema. Dito de outra forma, o sujeito não precisa primeiro ingressar na via administrativa
para só depois ir ao judiciário discutir a matéria.

E digo mais, mesmo que ele ganhe na via administrativa, essa decisão poderá estar sujeita a controle judicial.
A doutrina vai nos dizer que qualquer litígio, concluído ou pendente de solução administrativa, pode ser
levado ao Poder Judiciário.

Agora, uma situação interessante é a seguinte. Se houver pendência de decisão final em sede administrativa
e o sujeito ingressa no poder judiciário para discutir a mesma matéria, a questão no âmbito da administração
pública estará prejudicada.

Por qual razão, professor?

É que comentei no início desse tópico. Somente o Poder Judiciário pode fazer coisa julgada material. Neste
caso, a demanda administrativa será arquivada sem decisão de mérito.

Daí a doutrina do Direito Constitucional nos dizer que nosso sistema não aceita como regra a “jurisdição
condicionada” ou “instância administrativa de curso forçado”. O acesso ao Judiciário independe de processo
administrativo prévio referente à matéria.

Como toda regra tem sempre uma exceção para “quebrar nosso estudo” (rs), existem algumas temáticas de
jurisdição condicionada. Vamos analisar?

 Habeas data: nesse remédio constitucional é preciso que haja a negativa ou omissão
por parte da Administração Pública (de acesso às informações pessoais) para que o
indivíduo possa impetrar a ação judicial.

 Controvérsias desportivas: nossa Constituição em seu art. 217, § 1º, estabelece que “o
Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após
esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.”

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Reclamação Constitucional diante do descumprimento de Súmula Vinculante pela


Administração Pública: o instituto da reclamação é um instrumento processual cujo
objetivo é fazer chegar ao Supremo Tribunal Federal decisões administrativas (ou judiciais)
que estão descumprindo Súmula Vinculante (art. 103-A, §3º, CRFB/88)19. Em igual sentido,
tem-se a previsão do art. 7º, § 1º, Lei nº 11.417/2006 - “contra omissão ou ato da
administração pública, o uso da reclamação só será admitido após esgotamento das vias
administrativas”.

Um ponto importante é que a garantia de acesso ao Poder Judiciário (e a sua inafastabilidade) traduz a
efetivação do Estado democrático de direito.

O STF já consolidou o tema inclusive com a súmula vinculante nº 28: “é inconstitucional a exigência de
depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade
de crédito tributário”.

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

O que seria isso professor? São instrumentos de segurança jurídica trazidos pelo Constituinte que visam
impedir leis ou atos normativos de retroagirem para prejudicar situações já estabelecidas ou reconhecidas.
É a garantia da irretroatividade das leis.

Mas, ela é absoluta? Logicamente que não (rs). O Estado (em sentido amplo) não está impedido de criar, por
exemplo, leis que possam retroagir em benefício do indivíduo, trazendo uma juridicamente uma
circunstância mais favorável do que havia quando vigorava lei anterior.

O próprio Supremo Tribunal tem o entendimento nessa linha, ao afirmar que “o princípio insculpido no inciso
XXXVI do art. 5º da Constituição não impede a edição, pelo Estado, de norma retroativa (lei ou decreto), em
benefício do particular”.20

(...)

“Mas, professor, eu quero saber o conceito de cada um desses institutos”. Vamos lá. ;)

 Direito adquirido: é caracterizado após o indivíduo cumprir todos os requisitos legais para
gozo e fruição do direito. Resumidamente, é um direito já incorporado ao patrimônio do
particular. Ex: aposentadoria. Uma vez satisfeito os requisitos, o indivíduo faz jus ao benefício
previdenciário. Em gozo desse benefício, não pode o Estado mudar as regras do jogo e prejudicá-
lo.

19
Tecnicamente, entende-se que a reclamação constitucional é um instrumento processual para se preservar a jurisdição
constitucional. Está situada no campo do direito de petição. Não é uma ação propriamente dita, nem um recurso ou um incidente
processual.

20
STF, 3ª Turma, RExtr, nº 184.099/DF, Rel. Min. Octávio Gallotti, RTJ 165/327.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Agora, cuidado com a chamada “expectativa de direito”, que é quando o indivíduo está próximo
a obter o direito, mas ainda não obteve. Ex: faltam 02 anos para se aposentar, mas ainda não se
aposentou. (não cumpriu a idade mínima ou o tempo de contribuição).

A jurisprudência entende que há certas situações nas quais não há que se falar direito adquirido.
Olha só:

Não há direito
adquirido

Normas Criação ou
Mudança do Mudança de regime
constitucionais aumento de
padrão da moeda estatutário
originárias tributos

 Ato jurídico perfeito: quer dizer que a reunião de todos os elementos que a lei exige para que
o ato seja constituído estão presentes. Ex: um contrato celebrado hoje, na vigência de uma
determinada lei Y.

 Coisa julgada: é a decisão judicial da qual não cabe mais recurso, tecnicamente.

LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,


praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

Vamos analisar o tema com cuidado. O que seria a extradição?

Extradição é um instituto jurídico do direito internacional que visa permitir a cooperação entre Estados
Estrangeiros em matéria de direito penal. No plano fático, o ato de extraditar consiste na entrega de uma
pessoa a outro Estado, onde ocorreu a prática do crime, para que neste Estado o indivíduo possa ser julgado.

Doutrinariamente, a extradição pode ocorrer de duas formas: i) a extradição ativa; e ii) a extradição passiva.
Na extradição ativa, o Brasil faz um requerimento a outro Estado Estrangeiro para que um determinado
indivíduo possa aqui ser julgado. Já na extradição passiva é o Estado estrangeiro quem faz o requerimento
ao Brasil para que lhe seja entregue um certo indivíduo para que possa julgá-lo.

A CRFB/88, em art. 5º incisos LI e LII, trouxe a previsão da chamada extradição passiva e, aqui, temos
algumas limitações para destacar, a saber:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Não. Brasileiro nato não


Qualquer brasileiro pode
pode sofrer extradição E brasileiro naturalizado?
ser extraditado?
passiva

2) Se praticar tráfico ilícito


1) Se praticar crime
Pode. Mas, dependerá de de entorpecentes e drogas
comum, deve ter ocorrido
alguns requisitos: afins, será extraditado. Não
antes da naturalização
há limite temporal

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

Vamos falar um pouco agora acerca de um dos princípios mais basilares que rege nosso sistema jurídico-
processual.

O devido processo legal (due process of law) consiste numa garantia constitucional (também com previsão
no Código de Processo Civil) cujo fim maior é a concretização da justiça. Dentro desse contexto, temos uma
dupla proteção ao indivíduo, seja do ponto de vista formal seja do ponto de vista material. Vamos raciocinar
juntos agora!

 Aspecto formal (processual): o indivíduo pode se valer de todos os instrumentos jurídicos


disponíveis para a proteção de seus interesses. Temos aqui a relação com valores fundamentais,
tais como o corolário do contraditório e da ampla defesa, o acesso à justiça, o direito ao juiz
natural, etc.

 Aspecto material (substantivo): se relaciona com o conteúdo e o respeito aos direitos


fundamentais em sua essência, devendo ser balizado com a aplicação do princípio da
proporcionalidade, razoabilidade ou da proibição de excesso.

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são


assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Como comentamos a pouco, o contraditório e a ampla defesa decorrem do princípio do devido processo
legal.

Juridicamente falando, a ampla defesa permite ao indivíduo apresentar todos os elementos lícitos que tiver
em mão para provar a veracidade, inclusive com o chamado direito a não-autoincriminação. Já o
contraditório permite ao indivíduo contradizer todas as questões arguidas pela outra parte. E, aqui,
podemos pensar inclusive na isonomia das partes no aspecto processual e na equiparação do direito da
acusação com o de defesa.21

No campo jurisprudencial, destacamos a seguir alguns entendimentos importantes do Supremo Tribunal


Federal acerca da matéria. Olha só:

Súmula Vinculante nº 14:

"É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa".

O Supremo Tribunal já decidiu que, também nos processos administrativos disciplinares, a ampla defesa e o
contraditório podem ser exercidos independentemente de advogado. Ou seja, não há necessidade de
assistência advocatícia no curso de um PAD, por exemplo. Nesse sentido, é o teor da Súmula Vinculante nº
05:

“A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende
a Constituição.”

Outra questão interessante, diz respeito à existência de “condicionantes” no âmbito dos recursos
administrativos. Antigamente, existia uma prática comum da administração pública em exigir do
administrado a apresentação de depósito ou arrolamento de bens para que determinado recurso fosse
admitido. Ou seja, o indivíduo precisava oferecer uma garantia para que sua defesa fosse aceita.

21
ALEXANDRINO, Marcelo & PAULO, Vicente. Direito Constitucional Descomplicado, 5ª edição. Ed. Método, 2010. pp. 176.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Ocorre, todavia, que o STF analisando tal prática, entendeu por inconstitucional a medida, editando a Súmula
Vinculante nº 21:

“É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens


para admissibilidade de recurso administrativo.”

Em igual sentido, tem-se a Súmula Vinculante nº. 28: “É inconstitucional a exigência de depósito prévio como
requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário”.

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

Nossa Carta Magna asseverou com preceito basilar a inadmissão do uso de provas obtidas por meios ilícitos.
Essas provas são consideradas ilegais por conter violação ao direito material. Mas, é importante também
fazermos uma observação. Será que as provas ilícitas invalidam todo o processo?

Então. O Supremo Tribunal tem um entendimento de que a presença de provas ilícitas não pode ser
suficiente para “contaminar” todo o processo, caso existam outras provas, lícitas e autônomas que foram
obtidas por meios válidos juridicamente.22

O que se deve fazer é, sendo reconhecida a ilicitude de prova, ocorrer o seu desentranhamento dos autos
do processo. Elas devem ser expurgadas e os demais instrumentos probatórios regularmente coletados
devem ser mantidos.

Por fim, para fecharmos esse ponto, vamos apresentar a chamada Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada
(“Fruits of the Poisonous Tree”). Segundo essa teoria, uma árvore envenenada produziria frutos que estariam
contaminados. Assim, uma prova ilícita contaminaria todas as demais que dela derivassem.

Tecnicamente, a doutrina e a jurisprudência entendem que estaríamos diante de uma ilicitude por derivação.
Isto porque, haveria uma espécie de “comunicabilidade da ilicitude" das provas ilícitas a todas aquelas que
dela derivarem”. 23

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;

Agora vamos ao princípio da presunção de inocência e seu objetivo: resguardar a liberdade do indivíduo em
razão do poder de império do Estatal. Segundo a Constituição, para que alguém seja considerado culpado é
necessário a ocorrência do trânsito em julgado da sentença penal condenatória (somente assim haverá coisa
julgada material).

22
STF, HC 76.231/RJ, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ: 29.09.1995.

23
APR 20050810047450 DF, Rel. Vaz de Mello, j. 07.02.2008.

oab.estrategia.com | 40
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Reta Final

É meus caros alunos e alunas...mais uma alteração ocorreu e, no finalzinho de 2019, o STF voltou a entender
que a simples decisão condenatória em segunda instância NÃO permite a execução provisória da pena.

Isso aconteceu no julgamento das ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), em que se discutiu a
constitucionalidade do art. 283 do CPP e o Supremo chegou a seguinte conclusão:

O art. 283 do CPP, no que condiciona o início do cumprimento da pena ao trânsito em


julgado do título condenatório, tendo em vista o figurino do art. 5º, LVII, da CF, é
constitucional (STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgados em 7/11/2019)

Primeiro, vamos ao texto do dispositivo do CPP:

“Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença
condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em
virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”.

Vamos imaginar o seguinte. Digamos que uma pessoa seja condenada em 1ª instância e, ato contínuo, haja
decisão do Tribunal confirmando a sentença. Nas razões do STF, a confirmação pelo órgão colegiado NÃO
pode permitir a execução do acórdão penal condenatório. Desse modo, o Judiciário precisa aguardar o
julgamento de eventuais recursos ainda existentes.

Na referida decisão, a Corte deixou claro que não há impedimento para que o réu seja preso antes do trânsito
em julgado. Contudo, para isso é necessário que, ao analisar o caso individualmente, fique demonstrada a
presença dos requisitos para a chamada prisão preventiva, que está prevista no art. 312 do CPP.

Então, é possível a prisão preventiva antes do trânsito em julgado, mas não a prisão como execução
provisória da pena.

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel24;

24
O depósito ocorre quando alguém entrega a outrem um bem para guarda. Assume-se, então, a obrigação de conservar o bem
com diligência e de restituí-lo assim que houver a exigência. Quando assim não se procede, ocorre a figura do depositário infiel.

oab.estrategia.com | 41
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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Esse é um dispositivo que, quando cai em provas, a banca adora fazer uma pegadinha. Vamos estudar com
cuidado. ;)

A partir da leitura do preceito constitucional, temos alguns requisitos. O primeiro deles diz respeito ao
instituto da prisão. O que a Constituição trouxe de reserva foi a prisão civil. Não estamos falando de prisão
decorrente de sentença penal condenatória. Fiquem ligados!!!

Outro ponto é que a regra não é a prisão civil por dívidas. Somente de forma excepcional é que ela poderá
ocorrer. E quais seriam as exceções, professor?

Segundo a nossa Constituição, teríamos a pensão alimentícia e a condição do depositário infiel. No caso da
pensão alimentícia, a prisão somente poderá ocorrer se for decorrente de um inadimplemento voluntário
e inescusável. Ou seja, o indivíduo por ato volitivo e sem qualquer justificativa não quer cumprir a obrigação
de pagar alimentos.

Em relação ao instituto do depositário infiel, a partir da literalidade da CRFB/88, há possibilidade de sua


ocorrência. Todavia, o Supremo Tribunal Federal tem o entendimento particular que essa prisão não poderá
ocorrer. Vamos explicar um pouco mais.

A Convenção Americana de Direitos Humanos, o chamado Pacto de San Jose da Costa Rica, foi assinada pelo
Brasil. E em tal Convenção ficou estabelecida a possibilidade de prisão civil apenas em razão do não
pagamento da obrigação alimentícia.

Do ponto de vista jurídico, o Supremo entende que esse tratado internacional versa sobre o tema de direitos
humanos e, embora não tenha sido internalizado com o rito especial das emendas (art. 5º CRFB/88), possui
uma temática importante, devendo ingressar na ordem nacional com “status” de supralegalidade (abaixo
da Constituição e acima de todas as leis).

Então, professor, o Pacto de San Jose da Costa Rica sobrepõe ao texto da nossa Constituição? De modo
algum. O que acontece, meus amigos, é que o texto da CRFB/88 continua válido. Mas, no plano
infraconstitucional, a Convenção Americana suspendeu toda a eficácia das normas que regem a prisão do
depositário infiel.

Com feito, na visão do STF, o Pacto de San José produziu um “efeito paralisante” sobre toda a legislação
infraconstitucional que determinava a prisão do depositário infiel.25 A Corte Suprema, inclusive, consolidou
a matéria editando a Súmula Vinculante nº 25: “É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja
a modalidade de depósito”.

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos;

25
RE 466.343-1/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ 03.12.2008

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81
ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso
além do tempo fixado na sentença;
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;

A CRFB/88 traz expressamente que a certidão de óbito e o registro de nascimento são documentos gratuitos
aos reconhecidamente pobres, na forma da lei. Conforme entendimento firmado pela jurisprudência, o
dispositivo constitucional definiu o mínimo a ser observado pela legislação infraconstitucional.

O Supremo também entendeu que os atos referentes ao nascimento e ao óbito são considerados
fundamento para o exercício da cidadania. Como não haveria impedimento para a extensão desta gratuidade
a outros cidadãos, a conclusão da Corte foi a de ser possível lei determinar a gratuidade dos assentos do
registro civil de nascimento e de óbito e também a primeira certidão respectiva a todos os cidadãos, sendo
esta constitucional.26

Professor, e a certidão de casamento? Também daria direito?

Então. Entende-se que não há que se falar em gratuidade de certidão de casamento, por exemplo. Apenas
é prevista a garantia para o registro de nascimento e à certidão de óbito.

LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na forma da lei, os


atos necessários ao exercício da cidadania.

De acordo com esse inciso, na forma da lei, também são gratuitos os atos necessários ao exercício da
cidadania. Aqui encontramos um caso de reserva legal, pois a delimitação dos atos necessários a cidadania
ocorre apenas por meio de lei formal.

LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração


do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes
do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte.

Vamos analisar com calma os parágrafos do art. 5º. De acordo com o §1º, são de aplicação imediata as
normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais. IsSo significa que as normas constitucionais
possuem os meios e os elementos indispensáveis à sua incidência imediata.

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Informativo 171 do STF

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Agora, cuidado para não confundir aplicação e aplicabilidade. Tecnicamente, tem


diferença. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata.

 O professor José Afonso da Silva entende ter as normas de eficácia plena e


contida “aplicabilidade” direta e imediata, e as de eficácia limitada “aplicabilidade”
mediata ou indireta. Por outro lado, a aplicação imediata significa que as normas
constitucionais são “dotadas de todos os meios e elementos necessários à sua pronta
incidência aos fatos, situações, condutas ou comportamentos que elas regulam.”.

 Portanto, é necessária uma interpretação que busque a maior eficácia possível das
normas em questão, mesmo que ainda não tenham sido regulamentadas aquelas que
necessitam de lei para ter plena eficácia.

O §2° do art. 5º deixa expresso que os direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição trata-se
de rol exemplificativo, ou seja, a enumeração destes na CRFB/88 é aberta (sistema aberto de direitos
fundamentais). Logo, é permitido que decorram também de princípios adotados pela Constituição e de
tratados internacionais.

O que importa é a essência, o conteúdo normativo do direito, para que este seja considerado um direito
fundamental. Ao permitir no ordenamento jurídico a existência de outros direitos fundamentais além dos
previstos no seu texto, a Constituição Federal traz explicitamente a adoção da fundamentalidade material.

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem


aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão.

Até comentamos bem esse ponto quando abordarmos o tema do depositário infiel, mas vamos reforçar.
Determinados tratados e convenções internacionais possuem um “status” diferenciado, estabelecido pela
Constituição Federal. Eles possuem força de emenda constitucional, desde que cumulativamente:

 Versem sobre direitos humanos; e

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

 Sejam aprovados por três quintos dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos de votação (mesmo rito das emendas constitucionais)

E se o tratado versar sobre direitos humanos, mas não for aprovado por esse rito? No entendimento do
Supremo Tribunal, esses tratados possuiriam um status “supralegal”, estando abaixo da Constituição e
acima das demais normas infraconstitucionais.

Ufa...meus amigos! Concluímos o primeiro bloco dos direitos individuais e coletivos. Sugiro uma pausa para
descanso. Em seguida abordaremos o tema dos Remédios Constitucionais.

3. (FGV / XXVIII Exame de Ordem Unificado – 2019) Alisson, cidadão brasileiro, ingressa com requerimento
administrativo, perante a Secretaria Fazendária do Município Y, pleiteando a revisão do valor do Imposto
sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), uma vez que não concorda com os cálculos
empregados pela autoridade fazendária. Alisson, decorridos 90 dias sem qualquer atualização no
andamento do feito, retorna à repartição administrativa indagando o porquê da demora. Ele obtém como
resposta que o trâmite do procedimento é sigiloso, mas que seria possível obter uma certidão com as
informações postuladas mediante o pagamento de determinada quantia, a título de “taxa”. Diante da
situação hipotética apresentada, com base no texto constitucional, assinale a afirmativa correta.
A) A atuação da Secretaria Fazendária revela-se inconstitucional, pois a obtenção de certidões em
repartições publicas, contendo informações de interesse particular ou de interesse coletivo ou geral, é
direito de todos, sem o pagamento de taxa, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado.
B) Para a obtenção de certidão com informações de direito pessoal, como manifestação do direito de petição
aos órgãos e poderes públicos, pode ser exigido o pagamento de taxas caso Alisson não demonstre ser
hipossuficiente econômico.
C) Embora inexista óbice à cobrança de taxas para cobrir as despesas com a emissão de certidões em
repartições públicas, ainda que destinadas à defesa e ao esclarecimento de situações de interesse pessoal,
Alisson poderá́ utilizar o habeas data para obter as informações relativas ao procedimento administrativo
instaurado.
D) Alisson não pode ter acesso ao feito, porque os procedimentos administrativos que versem sobre matéria
tributária são de natureza sigilosa, somente podendo ser acessados, sem autorização judicial, por advogado
regularmente constituído pelo contribuinte, bem como por órgãos da administração pública direta e
indireta.
Comentário:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Pessoal, questão fresquinha saindo do forno XXVIII Exame OAB. E ela trouxe o tema do direito à informação
combinado com a obtenção de certidões. Nossa Constituição assevera em seu XXXIV que “são a todos
assegurados, independentemente do pagamento de taxas: b) a obtenção de certidões em repartições
públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;
É assegurado a Alisson o direito de obter certidão, já que está diante de informações do seu interesse. A
certidão, nesse caso, tem amparo constitucional para a sua não cobrança. Deve ser emitida
independentemente do pagamento de taxas. Portanto, a atuação da autoridade fazendária é
inconstitucional. Gabarito Letra A.
4. (FGV / XXVIII Exame de Ordem Unificado – 2019) Agentes do Ministério do Trabalho, em inspeção
realizada em carvoaria situada na zona rural do Estado K, constataram que os trabalhadores locais
encontravam-se sob exploração de trabalho escravo, sujeitando-se a jornadas de 16 horas consecutivas
de labor, sem carteira assinada ou qualquer outro direito social ou trabalhista, em condições desumanas
e insalubres, percebendo, como contraprestação, valor muito inferior ao salário mínimo nacional. Diante
da situação narrada, com base na ordem constitucional vigente, assinale a afirmativa correta.
A) Diante da vedação ao confisco consagrada na Constituição de 1988, o descumprimento da função social,
agravado pela situação de grave violação aos direitos humanos dos trabalhadores, enseja responsabilização
administrativa, cível e criminal do proprietário, mas não autoriza a expropriação da propriedade rural.
B) O uso de mão de obra escrava autoriza a progressividade das alíquotas do imposto sobre a propriedade
territorial rural e, caso tal medida não se revele suficiente, será́ possível que a União promova a expropriação
e destinação das terras à reforma agraria e a programas de habitação popular, mediante prévia e justa
indenização do proprietário.
C) A hipótese narrada enseja a desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária, uma vez
que o imóvel rural não cumpre a sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida
agrária.
D) A exploração de trabalho escravo na referida propriedade rural autoriza sua expropriação pelo Poder
Público, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei,
admitindo-se, até mesmo, o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido na carvoaria.
Comentário:
Questão sopinha hein (rs)!!! Comentamos na parte teórica. No caso da exploração de trabalho escravo (ou
análoga à condição escrava), acontece o que pessoal? Desapropriação confiscatória. E sem indenização ao
proprietário. É a incidência do art. 243, CRFB/88. Gabarito Letra D.
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais
de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas
à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º.
5. (FGV / XXVI Exame de Ordem Unificado – 2018) Antônio, líder ativista que defende a proibição do uso
de quaisquer drogas, cientifica as autoridades sobre a realização de manifestação contra projeto de lei
sobre a liberação do uso de entorpecentes. Marina, líder ativista do movimento pela liberação do uso de
toda e qualquer droga, ao tomar conhecimento de tal evento, resolve, então, sem solicitar autorização à
autoridade competente, marcar, para o mesmo dia e local, manifestação favorável ao citado projeto de
lei, de forma a impedir a propagação das ideias defendidas por Antônio. Nesse sentido, segundo o sistema
jurídico-constitucional brasileiro, assinale a afirmativa correta.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A) Marina pode dar continuidade à sua iniciativa, pois, com fundamento no princípio do Estado Democrático,
está amplamente livre para expressar suas ideias.
B) Marina não poderia dar continuidade à sua iniciativa, pois o direito de reunião depende de prévia
autorização por parte da autoridade competente.
C) Marina não poderia dar continuidade à sua iniciativa, já que sua reunião frustraria a reunião de Antônio,
anteriormente convocada para o mesmo local.
D) Marina pode dar continuidade à sua iniciativa, pois é livre o direito de reunião quando o país não se
encontra em estado de sítio ou em estado de defesa.
Comentários:
Pessoal, questão fresquinha cobrada no XXVI Exame de Ordem. E mais uma vez a FGV foi se amparar no
estudo dos direitos individuais e coletivos, em especial o direito de reunião previsto no art. 5º XVI “todos
podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de
autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”
No caso prático, Marina embora não precisasse tecnicamente de autorização para convocar uma reunião
(bastando apenas prévio aviso à autoridade competente), ela não poderia frustrar outra reunião já
convocada no mesmo local, o que de fato ocorreu. Gabarito letra C.
6. (FGV / XXI Exame de Ordem – 2016) Maria é aluna do sexto período do curso de Direito. Por convicção
filosófica e política se afirma feminista e é reconhecida como militante de movimentos que denunciam o
machismo e afirmam o feminismo como ideologia de gênero. Após um confronto de ideias com um
professor em sala de aula e de chamá-lo de machista, Maria é colocada pelo professor para fora de sala e,
posteriormente, o mesmo não lhe dá a oportunidade de fazer a vista de sua prova para um eventual
pedido de revisão da correção, o que é um direito previsto no regimento da instituição de ensino. Em
função do exposto, e com base na Constituição da República, assinale a afirmativa correta.
a) Maria foi privada de um direito por motivo de convicção filosófica ou política e, portanto, as autoridades
competentes da instituição de ensino devem assegurar a ela o direito de ter vista de prova e, se for o caso,
de pedir a revisão da correção.
b) Houve um debate livre e legítimo em sala de aula e a postura do professor pode ser considerada “dura”,
mas não implicou nenhum tipo de violação de direito de Maria.
c) Embora tenha havido um debate acerca de uma questão que envolve convicção filosófica ou política, não
houve privação de direito já que a vista de prova e o eventual pedido de revisão da correção está contido
apenas no regimento da instituição de ensino e não na legislação pátria.
d) A solução do impasse instaurado entre a aluna e o professor somente pode acontecer mediante o diálogo
entre as duas partes, em que cada um considere seus eventuais excessos, uma vez que o que houve foi um
mero desentendimento e não uma violação de direito por convicção filosófica ou política.
Comentários:
Questão tranquila, hein? Literalidade do art. 5º, VIII, CRF/88: “ninguém será privado de direitos por motivo
de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”. Gabarito Letra A.
7. (XVIII Exame de Ordem Unificado – 2015) Luiz é proprietário de uma grande fazenda localizada na zona
rural do Estado X. Lá, cultiva café de excelente qualidade – e com grande produtividade – para fins de

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

exportação. Porém, uma fiscalização realizada por agentes do Ministério do Trabalho e do Emprego
constatou a exploração de mão de obra escrava. Independentemente das sanções previstas em lei, caso
tal prática seja devidamente comprovada, de forma definitiva, pelos órgãos jurisdicionais competentes, a
Constituição Federal dispõe
(A) a propriedade deve ser objeto de desapropriação, respeitado o direito à justa e prévia indenização a que
faz jus o proprietário.
(B) a propriedade deve ser objeto de expropriação, sem qualquer indenização, e, no caso em tela, destinada
à reforma agrária.
(C) o direito de propriedade de Luiz deve ser respeitado, tendo em vista serem as terras em comento
produtivas.
(D) o direito da propriedade de Luiz deve ser respeitado, pois a expropriação é instituto cabível somente nos
casos de cultura ilegal de plantas psicotrópicas.
Comentários:
Segundo o art. 243, CRFB/88, “as propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão
expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização
ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei”. O gabarito é a letra B.

3. DIREITO PENAL
Nosso estudo se concentrará nos seguintes temas:

-Teoria do Crime – Ilicitude:

- Excludentes de Ilicitude: Estado de Necessidade; Ilicitude Legitima Defesa; Estrito


Cumprimento de Dever Legal e Exercício Regular de Direito;

Os referidos temas são de incidência altíssima no Exame de Ordem, ocupando o ranking de temas mais
cobrados na matéria, razão pela qual trouxe para compor nosso estudo na aula de hoje!

Outro ponto importante a se destacar, é que das últimas vezes em que cobrado, a banca utilizou abordagem
legalista, explorando os dispositivos legais pertinentes, razão pela qual no nosso estudo contaremos com:

>Pílulas Estratégicas de Doutrina;

>Questões comentadas ao longo do PDF;

Vamos começar?

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

3.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina

Profa. Isabella Pires: ressalto para vocês que as considerações a seguir foram extraídas da
Aula 02 do Curso Regular de Direito Penal ministrado pelo Professor Cristiano Rodrigues.

4 - TEORIA DO CRIME – Ilicitude - Excludentes - Estado de Necessidade

4.1 - Ilicitude ou Antijuridicidade

Galera, agora passamos para o estudo do segundo elemento integrante do conceito de crime, a ilicitude,
que também é chamada de antijuridicidade, e que como sabemos, tem como ponto central de cobrança as
suas famosas causas de exclusão.

Como vocês sabem, temos 4 causas de exclusão da Ilicitude previstas no Art. 23 do Código Penal e, dentre
elas, as 2 mais cobradas nas nossas provas são o Estado de Necessidade e a conhecida Legítima defesa.

Para que a gente possa estudar essas excludentes e ver como elas serão cobradas na nossa prova,
precisamos começar nosso estudo analisando o conceito geral de Ilicitude, como elemento do crime e,
depois sim, passaremos a análise das suas famosas causas de exclusão.

Vamos com tudo, que esse tema, além de super interessante, cai bastante nas nossas provas!!!

CONCEITO DE ILICITUDE

A Ilicitude ou antijuridicidade pode ser conceituada como sendo a relação de contrariedade entre
determinado comportamento que integre um fato típico e o ordenamento jurídico, sendo, portanto, o
segundo elemento integrante do conceito tripartido de crime.

De acordo com a chamada teoria indiciária da ilicitude (ratio cognoscendi), adotada por nosso
ordenamento, a tipicidade é o indício da ilicitude, logo, todo fato típico será também ilícito, salvo se estiver
presente uma causa de justificação, ou seja, uma excludente da ilicitude.

Fiquem atentos pois essa teoria quer acabamos de abordar acima já foi objeto de questão na nossa prova
de 1ª Fase da OAB!!!

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Todos sabemos que o nosso Código Penal, em seu art. 23, prevê 4 causas de exclusão da ilicitude, quais
sejam:

a) o estado de necessidade

b) a legítima defesa

c) o estrito cumprimento do dever legal

d) o exercício regular de direito

Assim...

CAUSAS DE EXCLUSÃO DA
ILICITUDE

o estrito
o estado de o exercício regular
a legítima defesa cumprimento do
necessidade de direito
dever legal

Além disso, não podemos nos esquecer do famoso consentimento do ofendido, que, embora não esteja
previsto em lei, é considerado como causa supralegal de exclusão da ilicitude.

Importante lembrar que, havendo qualquer causa de exclusão da ilicitude, o fato deixará de ser considerado
crime, pois a conduta típica realizada estará autorizada, permitida pelo próprio ordenamento jurídico, razão
pela qual os artigos que preveem essas excludentes (ex.: arts. 24 e 25 do CP) são chamados de tipos penais
permissivos.

Quero lembrar vocês que, em uma questão concreta que envolva uma excludente de ilicitude, o fato
permanece sendo Típico, apenas terá sua ilicitude afastada e por isso deixa de ser considerado crime, mas
não se confundam, pois exclusão de ilicitude não faz com que um fato se torne atípico...ATENÇÃO!

Cada uma das causas de exclusão da ilicitude terá características específicas e necessárias para que sejam
reconhecidas e, preenchidos os elementos integrantes que formam seu conceito, será afastada a ilicitude
da conduta praticada e o fato típico não será considerado CRIME.

Sendo assim, a seguir estudaremos cada uma dessas excludentes de ilicitude separadamente, tema que,
como dissemos, é muito cobrado no exame de ordem bem como em qualquer concurso público!!!

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

4.2 - Excludentes de Ilicitude (Art. 23 do CP)

Preparei esse pequeno esquema para que possamos resumir TODAS as principais características de cada
uma das causas de exclusão da ilicitude adotadas em nosso ordenamento:

1. atual e
inevitável

estado de
2. não criado por
necessidade (art. perigo
vontade do autor
24, CP)
(Excludentes) Art. 3. inexigibilidade
23, CP ---> do sacrifício do
consentimento bem
do ofendido -
causa supralegal 1. atual ou
(não cabe para iminente
vida)
ILICITUDE
2. injusta
legítima defesa agresão
3. bem próprio ou
estrito de terceiro
funcionário
cumprimento do
público
dever legal 4. meio
moderados
exercício regular
ex: ofendículas
de direito

4.3 - Estado de Necessidade (Art. 24 do CP)

Seguindo a ordem do Código Penal, vamos agora estudar a primeira causa de exclusão de ilicitude presente
no Art. 23 do CP, o badalado Estado de Necessidade!!!

Podemos começar lembrando que o Estado de Necessidade decorre de uma situação de perigo em que há
a estrita necessidade de lesionar, sacrificar certo bem jurídico para se preservar outro.

Dessa forma, estará autorizada a lesão de determinado bem jurídico quando esta for a única forma de
garantir a preservação do outro bem, havendo assim um conflito entre bens jurídicos em jogo diante de uma
situação de perigo.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Quanto à natureza jurídica do estado de necessidade, o Código Penal adotou a chamada teoria unitária, pela
qual todo estado de necessidade será sempre causa de exclusão da ilicitude, por isso chamado de estado
de necessidade justificante, independentemente da valoração do bem jurídico a ser preservado e a ser
sacrificado, na situação concreta.

Há ainda a chamada teoria diferenciadora, no que tange a natureza jurídica do estado de necessidade, e
que não foi adotada pelo nosso Código Penal, mas que está prevista no Código Penal militar, pela qual se
diferenciam duas categorias ou espécies de estado de necessidade:

- Estado de necessidade justificante (excludente de ilicitude), assim como no nosso Código Penal.

- Estado de necessidade exculpante (excludente de culpabilidade), de acordo com a natureza dos


bens preservado e sacrificado.

Amigos, vamos agora passar para a análise dos elementos integrantes e necessários para que se reconheça
um estado de necessidade, em um caso concreto apresentado:

a) Elementos integrantes do estado de necessidade:

a.1) Perigo atual e inevitável: para que haja o estado de necessidade, a situação de perigo tem de
estar presente, ocorrendo, embora o dano possa ainda ser iminente, sendo que, a única forma de
preservar o bem em perigo terá de ser a lesão, o sacrifício de um bem alheio, ou seja, para se
autorizar a lesão do bem alheio não pode haver outra alternativa a não ser lesionar o outro bem.

a.2) Não criação do perigo por vontade do agente: aquele que criar dolosamente a situação de
perigo não poderá agir em estado de necessidade para preservar o seu bem diante desse perigo
criado. Entretanto, atenção, pois nada impede que o agente atue em estado de necessidade quando
criar a situação de perigo por culpa, ou seja, por falta de cuidado.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

a.3) Bem próprio ou de terceiros: é possível agir em estado de necessidade quando o próprio bem
está em jogo, em perigo, ou apenas para preservar um bem alheio, mesmo que não haja qualquer
vínculo entre o agente e o terceiro titular do bem em perigo.

a.4) Inexigibilidade de sacrifício do bem: não haverá estado de necessidade quando for exigível
que o agente tolere o sacrifício do bem ameaçado ao invés de lesionar o outro bem. Esta limitação
ocorre fundamentalmente quando há o confronto entre um bem disponível (ex.: patrimônio) a ser
preservado e outro bem indisponível (ex.: vida) a ser sacrificado, não sendo autorizada, nesses
casos, a lesão do bem indisponível.

Contudo, num caso concreto, se mesmo assim o agente, nesse tipo de situação, optar por preservar o bem
disponível, sacrificando o indisponível, responderá pelo crime, não havendo estado de necessidade, porém,
diante da anormalidade da situação concreta em questão (perigo etc.) sua pena deverá ser reduzida de 1/3
a 2/3 (art. 24, § 2º, CP).

ELEMENTOS INTEGRANTES DO ESTADO DE NECESSIDADE

Não criação do perigo


Perigo atual e Bem próprio ou de Inexigibilidade de
por vontade do
inevitável terceiros sacrifício do bem
agente

b) Limitações e classificações do Estado de Necessidade:

Amigos, percebam que de acordo com o art. 24, § 1º, do CP, quem possui o dever legal de enfrentar o perigo
não poderá alegar estado de necessidade; logo, esse dispositivo se refere aos garantidores, especificamente

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

aos que têm por lei o dever de proteção, cuidado e vigilância (Art. 13, § 2º, a CP), e por isso não poderão
alegar estado de necessidade (ex.: bombeiro).

A doutrina classifica ainda o estado de necessidade em defensivo, quando, para preservar o bem ameaçado,
o agente precisa lesionar a própria fonte desse perigo (ex.: matar cachorro feroz), e estado de necessidade
agressivo ou ofensivo, quando, para preservar seu bem do perigo, for preciso lesionar um bem de terceiro
inocente, cabendo nesse caso reparação cível do prejuízo (ex.: violar um domicílio para fugir do ataque de
um cachorro feroz).

5 - TEORIA DO CRIME – Ilicitude - Excludentes - Legítima defesa - Estrito


cumprimento de dever legal - Exercício regular de direito - Consentimento
do Ofendido

5.1 - Legítima defesa (Art. 25 CP)

Galera, agora vamos ao estudo da mais famosa e mais cobrada das excludentes de ilicitude, a badalada
Legítima Defesa, e podemos começar dizendo que ela ocorre quando o agente sofre uma injusta agressão,
que seja atual ou iminente, a um bem jurídico próprio ou mesmo de terceiro, atuando para repelir essa
agressão e garantir a proteção do bem jurídico ameaçado/agredido, desde que atue usando
moderadamente os meios suficientes, disponíveis e necessários para isso.

Muito bem, assim como fizemos com o Estado de Necessidade, vamos agora partir para a análise separada
de cada um dos elementos necessários para que se reconheça, num caso concreto, uma legítima defesa
como excludente da ilicitude.

a) Elementos integrantes da legítima defesa:

a.1) Agressão atual ou iminente: primeiramente precisamos lembrar que agressão é toda conduta
humana voltada a lesionar bem jurídico alheio, e para caracterizar situação de legítima defesa essa
agressão deverá ser atual, ou seja, estar ocorrendo (já começou, mas ainda não terminou) ou
iminente, aquela que está prestes a ocorrer, ou seja, que se dá no último momento antes da
atualidade.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Sendo assim, podemos concluir que não há legítima defesa de agressões passadas, que já ocorreram, nem
de agressões futuras, promessas de agressão.

Agora, muito cuidado pois, quando a agressão ainda for futura (promessa de agressão), mas a única forma
do agente garantir a proteção de seu bem for se antecipar a ela, haverá a chamada legítima defesa
antecipada, que para a maioria da nossa doutrina não se enquadra na legítima defesa como excludente de
ilicitude, mas configura uma causa supralegal (que não está na lei) de exclusão da culpabilidade, por
inexigibilidade de conduta diversa.

Além disso, também é importante lembrar que o ataque de animal não gera agressão, mas tão somente
perigo; logo, não gera legítima defesa, mas poderá dar origem a um estado de necessidade, salvo se o animal
estiver sendo usado como instrumento, arma, por um ser humano para atacar outro, quando então haverá
agressão, e poderá se falar em legítima defesa diante de um caso concreto apresentado na sua prova.

a.2) Injusta agressão: é toda aquela que não esteja autorizada pelo ordenamento jurídico; logo, não
há legítima defesa quando a agressão sofrida for praticada por alguém que esteja atuando autorizado
por qualquer situação excludente de ilicitude.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Sendo assim, não há legítima defesa de uma conduta praticada por quem esteja agindo em estado de
necessidade, em estrito cumprimento de dever legal, em exercício regular de direito; e ainda, não há
legítima defesa de legítima defesa (legítima defesa recíproca).

Galera, é importante lembrar que nada impede a legítima defesa do ataque de um inimputável, já que este
realiza uma agressão injusta (fato típico e ilícito) embora não tenha culpabilidade e não responda pelo crime,
e isto pode gerar uma questão concreta bem perigosa na nossa prova...Atenção!

a.3) Bem próprio ou de terceiros: Esse requisito é bastante simples, pois haverá legítima defesa
quando o próprio indivíduo sofre a agressão, ou quando esta agressão é contra um terceiro, mesmo
sem haver qualquer vínculo entre quem atua defensivamente e esse terceiro.

a.4) Meio moderado: Por fim, precisamos lembrar que o agente deverá atuar utilizando apenas os
meios estritamente necessários e suficientes para afastar, fazer cessar a agressão, e ainda, de
acordo com o que estiver disponível para ele no momento.

ELEMENTOS Agressão atual ou iminente


INTEGRANTES DA
LEGÍTIMA DEFESA
Injusta agressão

Bem proprio ou de terceiros

Meio moderado

Não podemos deixar de lembrar que na falta de moderação, quando o agente vai além do necessário para
afastar a agressão, haverá o excesso, que será punido normalmente a título de dolo ou culpa (art. 23,
parágrafo único, do CP) e com base no resultado causado durante esse excesso.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Percebam que havendo excesso, o agente estará atuando de forma ilícita, permitindo assim que o agressor
originário possa se defender desse excesso passando a agir em legítima defesa.

A legitima defesa que surge do excesso é chamada de legítima defesa sucessiva, pois sucede aquela em que
o agente (agressor originário) se excedeu.

Em certos casos, quando o excesso for produto de extremo abalo psicológico do agente, e em razão da
situação concreta não for possível se exigir a moderação, fala-se em excesso exculpante, considerado causa
supralegal de exclusão da culpabilidade, e o agente não responderá criminalmente por este excesso.

A Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime) acrescentou um parágrafo único no referido artigo 25 do Código
Penal, que prevê a excludente de ilicitude da legítima defesa, com o seguinte texto:

“ Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em
legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida
refém durante a prática de crimes.”

Tecnicamente, esta alteração era absolutamente desnecessária, e nos parece ter razões exclusivamente
políticas, já que as situações previstas neste novo paragrafo único já eram consideradas pela doutrina, e
jurisprudência, como abrangidas pela legítima defesa, pois, nestes casos agora previstos em Lei, há a estrita
necessidade do agente público repelir a injusta agressão, atual ou iminente, praticada contra um terceiro,
vítima ou refém de um crime.

A alteração legislativa talvez se justifique pela errônea interpretação, ainda dada por alguns, ao considerar
que, nestes casos, poderia se falar em estrito cumprimento de dever legal, o que, em tese, impediria a
exclusão da ilicitude do agente que eventualmente tirasse a vida de um meliante numa situação como esta.

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Reta Final

Pessoal, de toda forma isso foi bom, não é? Pois, com a alteração promovida pela nova lei, esta errônea
interpretação fica definitivamente afastada, já que estas condutas passaram formalmente a ser tratadas pela
lei expressamente como hipóteses de legítima defesa, causa de exclusão da ilicitude e do crime.

5.2 - Estrito cumprimento do dever legal

Amigos, vamos passar agora para o estudo do estrito cumprimento do dever legal, causa de exclusão da
ilicitude bastante simples e que não possui artigo específico, apenas a previsão genérica do Art. 23 CP, como
causa de exclusão da ilicitude.

De forma simples, age licitamente o funcionário público que atua cumprindo os deveres legais inerentes a
sua função, desde que o faça de forma estrita, ou seja, dentro dos limites da sua função.

Portanto, dá pra perceber que, mesmo realizando um fato típico, este funcionário não estará atuando de
forma ilícita e não haverá crime.

Ex.: Policial que efetua uma prisão cumprindo um mandado não responde pela privação da liberdade que
caracteriza o fato típico do sequestro (art. 148 do CP).

Como vimos, de acordo com nosso ordenamento, o estrito cumprimento de dever legal é causa de exclusão
da ilicitude, embora, de acordo com a famosa teoria da tipicidade conglobante (Zaffaroni), que não foi
adotada pelo nosso código, ele é reconhecido como causa de exclusão da própria tipicidade penal.

O policial que dispara sua arma contra meliante não atua em estrito cumprimento de dever
legal, e somente poderá fazer isso se estiver atuando em legítima defesa, própria ou de
terceiros, para repelir uma injusta agressão; caso contrário, responderá normalmente
pelas lesões geradas.

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Reta Final

A legítima defesa putativa (virtual) não é excludente de ilicitude, já que na verdade não
há situação de legítima defesa, embora o agente acredite estar atuando em legítima
defesa. Via de regra, trata-se de um erro a respeito da situação de agressão, que na
verdade não existe, chamado erro de tipo permissivo (art. 20, § 1º, do CP), porém, em
certos casos, a legítima defesa putativa ocorre quando o agente erra a respeito da
existência, ou mesmo dos limites, da autorização para a legitima defesa, ocasionando
assim um erro de proibição (art. 21 CP), modalidades de erro que estudaremos no capítulo
referente à teoria do erro.

5.3 - Exercício regular de direito

Agora vamos tratar do exercício regular de direito, mais uma excludente de ilicitude que não possui artigo
específico, e em palavras simples podemos dizer que, de acordo com essa causa de exclusão da ilicitude,
age licitamente todo aquele que exerce de forma regular, e dentro dos limites, um direito que lhe tenha sido
outorgado pela lei.

Nesse caso, mesmo que realize um fato típico, não responderá pelo crime, já que estará afastada a ilicitude
da sua conduta.

Ex.: exercício do poder familiar, lesões desportivas (dentro das regras), intervenções cirúrgicas e as
ofendículas ou ofensáculos (meios de proteção da propriedade previamente colocados como: caco de vidro,
arame farpado, cachorro etc.).

A cerca elétrica, que é uma ofendícula, é vista por alguns doutrinadores como modalidade
de legítima defesa chamada de preordenada (também excludente de ilicitude), pois possui
funcionamento ativo capaz de afastar/repelir o agressor no momento em que este está
atuando, embora haja quem prefira tratá-la, junto com as demais ofendículas, como
hipótese de exercício regular de direito.

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Reta Final

5.4 - Consentimento do ofendido

Por fim, vamos tratar do consentimento do ofendido, que é uma causa supralegal de exclusão da ilicitude,
já que não possui previsão na lei, e ocorre quando o titular de um bem jurídico disponível autoriza
previamente sua lesão, desde que o agente atue dentro dos limites do consentimento, afastando assim a
ilicitude da conduta e consequentemente o crime.

Atenção, o que pode aparecer como pegadinha neste tema, na nossa prova, é o fato de que não cabe
consentimento do ofendido em crimes contra a vida, já que o bem jurídico é indisponível, como por
exemplo, na hipótese de uma eutanásia consentida, em que, mesmo com a autorização do titular da vida, o
agente que atuar responderá pelo homicídio doloso (privilegiado pelo motivo de relaxante valor moral).

Podemos, por fim, elencar algumas hipóteses de consentimento do ofendido, em que a ilicitude será
afastada, como por exemplo, autorizar certas lesões ao patrimônio, fazer uma tatuagem, um piercing,
condutas consentidas de sadomasoquismo, etc.

(FGV/IX Exame de Ordem Unificado) Acerca das causas excludentes de ilicitude e extintivas de punibilidade,
assinale a afirmativa incorreta.

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a) A coação moral irresistível exclui a culpabilidade, enquanto que a coação física irresistível exclui a própria
conduta, de modo que, nesta segunda hipótese, sequer chegamos a analisar a tipicidade, pois não há
conduta penalmente relevante.
b) Em um bar, Caio, por notar que Tício olhava maliciosamente para sua namorada, desfere contra este um
soco no rosto. Aturdido, Tício vai ao chão, levantando-se em seguida, e vai atrás de Caio e o interpela quando
este já estava saindo do bar. Ao voltar-se para trás, atendendo ao chamado, Caio é surpreendido com um
soco no ventre. Tício praticou conduta típica, mas amparada por uma causa excludente de ilicitude.
c) Mévio, atendendo a ordem dada por seu líder religioso e, com o intuito de converter Rufus, permanece
na residência deste à sua revelia, ou seja, sem o seu consentimento. Neste caso, Mévio, mesmo cumprindo
ordem de seu superior e mesmo sendo tal ordem não manifestamente ilegal, pratica crime de violação de
domicílio (art. 150 do Código Penal), não estando amparado pela obediência hierárquica.
d) O consentimento do ofendido não foi previsto pelo nosso ordenamento jurídico-penal como uma causa
de exclusão da ilicitude. Todavia, sua natureza justificante é pacificamente aceita, desde que, entre outros
requisitos, o ofendido seja capaz de consentir e que tal consentimento recaia sobre bem disponível.
Comentários
Resposta: B
A questão se refere à análise das excludentes de ilicitudes e de culpabilidade e suas características, porém o
enunciado pede que seja assinalada a alternativa INCORRETA, logo, teremos três afirmativas corretas e
apenas uma errada.
A alternativa “B” narra uma hipótese concreta em que o sujeito é agredido fisicamente, e, após sofrer a
agressão, quando o agressor já estava se retirando do local, vai em direção a este e o agride, “devolvendo”
o ataque, e afirma que, embora a conduta seja típica, haveria exclusão da ilicitude do fato.
O que pode parecer como uma situação de legítima defesa (art. 25 do CP), na verdade não é, pois, um dos
requisitos fundamentais dessa excludente de ilicitude é que a agressão a ser repelida seja “atual ou
iminente”, e na situação narrada a agressão já havia cessado (agressão passada). Sendo assim, a alternativa
“B” está INCORRETA, pois não há exclusão de ilicitude (legítima defesa) na conduta praticada e ambos os
agentes deverão responder pelos crimes de lesão corporal praticados. As demais alternativas encontram-se
corretas e de acordo com as normas previstas no Código Penal e a doutrina.

(FGV/XI Exame de Ordem Unificado) Débora estava em uma festa com seu namorado Eduardo e algumas
amigas quando percebeu que Camila, colega de faculdade, insinuava-se para Eduardo. Cega de raiva, Débora
esperou que Camila fosse ao banheiro e a seguiu. Chegando lá e percebendo que estavam sozinhas no
recinto, Débora desferiu vários tapas no rosto de Camila, causando-lhe lesões corporais de natureza leve.
Camila, por sua vez, atordoada com o acontecido, somente deu por si quando Débora já estava saindo do
banheiro, vangloriando-se da surra dada. Neste momento, com ódio de sua algoz, Camila levanta-se do chão,
agarra Débora pelos cabelos e a golpeia com uma tesourinha de unha que carregava na bolsa, causando-lhe
lesões de natureza grave. Com relação à conduta de Camila, assinale a afirmativa correta.
a) Agiu em legítima defesa.
b) Agiu em legítima defesa, mas deverá responder pelo excesso doloso.
c) Ficará isenta de pena por inexigibilidade de conduta diversa.
d) Praticou crime de lesão corporal de natureza grave, mas poderá ter a pena diminuída.

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Comentários
Resposta: D
A questão se refere à possibilidade de aplicação do instituto da legítima defesa (art. 25 do CP), excludente
de ilicitude, ao caso concreto narrado.
Na conduta narrada a agressão produzida por Débora em Camila já havia cessado quando esta resolve se
levantar e golpear a desafeta com a tesoura de unha.
Dessa forma, já não havia agressão atual (ou iminente) por parte de Débora, o que impossibilita se falar em
legítima defesa por parte de Camila. Sendo assim, como a agressão já havia cessado quando Camila atacou
Débora, ela deverá responder pelas lesões corporais produzidas. Entretanto, como a conduta praticada por
Camila foi realizada sob violenta emoção e logo após a injusta provocação da vítima (Débora), deve-se aplicar
a causa de diminuição de pena prevista no art. 129, § 4º, do CP.

(FGV/XIII Exame de Ordem Unificado) Jaime, objetivando proteger sua residência, instala uma cerca elétrica
no muro. Certo dia, Cláudio, com o intuito de furtar a casa de Jaime, resolve pular o referido muro,
acreditando que conseguiria escapar da cerca elétrica ali instalada e bem visível para qualquer pessoa.
Cláudio, entretanto, não obtém sucesso e acaba levando um choque, inerente à atuação do mecanismo de
proteção. Ocorre que, por sofrer de doença cardiovascular, o referido ladrão falece quase
instantaneamente. Após a análise pericial, ficou constatado que a descarga elétrica não era sufi ciente para
matar uma pessoa em condições normais de saúde, mas sufi ciente para provocar o óbito de Cláudio, em
virtude de sua cardiopatia. Nessa hipótese é correto afirmar que:
a) Jaime deve responder por homicídio culposo, na modalidade culpa consciente.
b) Jaime deve responder por homicídio doloso, na modalidade dolo eventual.
c) Pode ser aplicado à hipótese o instituto do resultado diverso do pretendido.
d) Pode ser aplicado à hipótese o instituto da legítima defesa preordenada.
Comentários
Resposta: D
O caso narrado aponta para um clássico exemplo das chamadas ofendículas, ou ofensáculos, ou seja,
obstáculos previamente colocados que visam a proteção do patrimônio ou propriedade. Também podem
ser vistos como exemplos de ofendículas, o arame farpado, cacos de vidro, o cachorro etc.
Há divergência quanto à natureza jurídica das ofendículas, sendo que a maioria da doutrina afirma que via
de regra são espécies de exercício regular de direito e, portanto, causas de exclusão da ilicitude (art. 23 do
CP).
Porém, no que tange à cerca elétrica, que possui funcionamento ativo capaz de afastar o invasor (agressor)
no momento em que este atua, boa parte da doutrina entende que seria melhor tratar esta ofendícula como
hipótese de legítima defesa (art.25 do CP), chamada de preordenada, já que repele, afasta o agressor, mas
é previamente colocada, predisposta, pelo titular do bem. Independentemente de se considerar a cerca
elétrica como hipótese de exercício regular de direito ou como espécie de legítima defesa chamada de
preordenada, ela será considerada causa de exclusão da ilicitude e o titular do bem não responderá pelas
lesões produzidas no agressor.

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(FGV/XV Exame de Ordem Unificado) Carlos e seu filho de dez anos caminhavam por uma rua com pouco
movimento e bastante escura, já de madrugada, quando são surpreendidos com a vinda de um cão pitbull
na direção deles. Quando o animal iniciou o ataque contra a criança, Carlos, que estava armado e tinha
autorização para assim se encontrar, efetuou um disparo na direção do cão, que não foi atingido,
ricocheteando a bala em uma pedra e acabando por atingir o dono do animal, Leandro, que chegava
correndo em sua busca, pois notou que ele fugira clandestinamente da casa. A vítima atingida veio a falecer,
ficando constatado que Carlos não teria outro modo de agir para evitar o ataque do cão contra o seu filho,
não sendo sua conduta tachada de descuidada. Diante desse quadro, assinale a opção que apresenta a
situação jurídica de Carlos.
a) Carlos atuou em legítima defesa de seu filho, devendo responder, porém, pela morte de Leandro.
b) Carlos atuou em estado de necessidade defensivo, devendo responder, porém, pela morte de Leandro.
c) Carlos atuou em estado de necessidade e não deve responder pela morte de Leandro.
d) Carlos atuou em estado de necessidade putativo, razão pela qual não deve responder pela morte de
Leandro
Comentários
Resposta: C
Esta questão envolve a análise tanto das excludentes de ilicitude (art. 23 do CP) quanto do erro quanto ao
crime praticado (art. 74 do CP) já que em face do erro acaba se acertando uma pessoa ao invés de atingir o
animal.
O ataque de animal configura situação de perigo, razão pela qual permite ao agente atuar em situação de
estado de necessidade para afastar esse perigo e preservar a integridade física de seu filho.
Não se pode falar em legítima defesa, pois não existe agressão, que pressupõe conduta humana, e no caso
de animal só se caracteriza agressão quando um ser humano utilizar o animal como arma para agredir
outrem.
Desta forma afasta-se a ilicitude da conduta, e Carlos não poderá responder pela morte do animal (Dano –
art. 163 do CP). Entretanto, houve um erro na conduta realizada e uma pessoa acabou sendo atingida pelo
disparo, vindo a morrer.
Quanto à imputação desta morte a Carlos há divergência, sendo que, a banca seguiu a linha de que se
entende a exclusão da ilicitude relativa à morte do animal para impedir a imputação do homicídio culposo
ao agente, embora a situação narrada seja a do art. 74 do CP, ou seja, aberratio criminis e este dispositivo
determine a imputação do resultado causado a título de culpa ao autor (art. 121, § 5º, do CP).

(FGV/XXV Exame da OAB) Laura, nascida em 21 de fevereiro de 2000, é inimiga declarada de Lívia, nascida
em 14 de dezembro de 1999, sendo que o principal motivo da rivalidade está no fato de que Lívia tem
interesse no namorado de Laura. Durante uma festa, em 19 de fevereiro de 2018, Laura vem a saber que
Lívia anunciou para todos que tentaria manter relações sexuais com o referido namorado. Soube, ainda, que
Lívia disse que, na semana seguinte, iria desferir um tapa no rosto de Laura, na frente de seus colegas, como
forma de humilhá-la.

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Diante disso, para evitar que as ameaças de Lívia se concretizassem, Laura, durante a festa, desfere facadas
no peito de Lívia, mas terceiros intervêm e encaminham Lívia diretamente para o hospital. Dois dias depois,
Lívia vem a falecer em virtude dos golpes sofridos. Descobertos os fatos, o Ministério Público ofereceu
denúncia em face de Laura pela prática do crime de homicídio qualificado. Confirmados integralmente os
fatos, a defesa técnica de Laura deverá pleitear o reconhecimento da
A) inimputabilidade da agente.
B) legítima defesa.
C) inexigibilidade de conduta diversa.
D) atenuante da menoridade relativa.
Comentários
Resposta: A
A imputabilidade, que podemos definir como a plena capacidade de entender o mundo e a natureza dos
fatos, e ainda de se autodeterminar de acordo com esse entendimento. Uma das causas de exclusão da
imputabilidade é a menoridade, segundo a qual há presunção absoluta de incapacidade fundada em
aspectos orgânicos, biológicos, logo, os menores de idade não cometem crime nem recebem pena.

(FGV/XVII Exame da OAB) Durante um assalto a uma instituição bancária, Antônio e Francisco, gerentes do
estabelecimento, são feitos reféns. Tendo ciência da condição deles de gerentes e da necessidade de que
suas digitais fossem inseridas em determinado sistema para abertura do cofre, os criminosos colocam, à
força, o dedo de Antônio no local necessário, abrindo, com isso, o cofre e subtraindo determinada quantia
em dinheiro. Além disso, sob a ameaça de morte da esposa de Francisco, exigem que este saia do banco,
levando a sacola de dinheiro juntamente com eles, enquanto apontam uma arma de fogo para os policiais
que tentavam efetuar a prisão dos agentes.
Analisando as condutas de Antônio e Francisco, com base no conceito tripartido de crime, é correto afirmar
que
A) Antônio não responderá pelo crime por ausência de tipicidade, enquanto Francisco não responderá por
ausência de ilicitude em sua conduta.
B) Antônio não responderá pelo crime por ausência de ilicitude, enquanto Francisco não responderá por
ausência de culpabilidade em sua conduta.
C) Antônio não responderá pelo crime por ausência de tipicidade, enquanto Francisco não responderá por
ausência de culpabilidade em sua conduta.
D) Ambos não responderão pelo crime por ausência de culpabilidade em suas condutas.
Comentários
Resposta: C
Segundo o conceito tripartido de crime, este é formado por três elementos, cumulativos e necessários para
que se possa falar em crime: Fato típico, Ilicitude ou antijuridicidade, Culpabilidade (reprovabilidade).
A tipicidade, em seu aspecto formal, é a descrição na lei da conduta humana proibida para qual se estabelece
uma sanção. Já a culpabilidade pode ser conceituada como a reprovabilidade pessoal da conduta típica e

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

ilícita praticada, sendo elemento integrante do conceito de crime, fundamento e pressuposto para a
aplicação da pena.
No caso trazido pelo enunciado, estamos diante de uma coação. Antônio foi coagido fisicamente, o que
afasta a conduta e logo a tipicidade; e Francisco foi coagido moralmente, o que afasta a culpabilidade.

(FGV-OAB XXX Exame Unificado) Enquanto assistia a um jogo de futebol em um bar, Francisco começou a
provocar Raul, dizendo que seu clube, que perdia a partida, seria rebaixado. Inconformado com a indevida
provocação, Raul, que estava acompanhado de um cachorro de grande porte, atiça o animal a atacar
Francisco, o que efetivamente acontece. Na tentativa de se defender, Francisco desfere uma facada no
cachorro de Raul, o qual vem a falecer. O fato foi levado à autoridade policial, que instaurou inquérito para
apuração. Francisco, então, contrata você, na condição de advogado(a), para patrocinar seus interesses.
Considerando os fatos narrados, com relação à conduta praticada por Francisco, você, como advogado(a),
deverá esclarecer que seu cliente:
A) não poderá alegar qualquer excludente de ilicitude, em razão de sua provocação anterior.
B) atuou escorado na excludente de ilicitude da legítima defesa.
C) praticou conduta atípica, pois a vida do animal não é protegida penalmente.
D) atuou escorado na excludente de ilicitude do estado de necessidade
Comentários
Resposta B
Trata-se de questão inerente ao tema exclusão de ilicitude. Via de regra o ataque de um animal gera situação
de perigo, podendo ser afastado então por uma atuação em Estado de Necessidade, nos termos do Art. 24
do CP. Porem, quando o animal for utilizado como instrumento para que um ser humano ataque outro,
conforme ocorreu no caso concreto apresentado na questão, configura-se uma agressão, que poderá ser
afastada através da excludente de ilicitude da Legitima Defesa, nos termos do Art. 25 do CP.
Desta forma, a alternativa correta é a letra B.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

5.5 - Ilicitude
Perigo:

a) atual e inevitável
Estado de
b) não criado por vontade do sujeito
necessidade (art. 24
do CP)
c) bem próprio ou de terceiros

d) inexigibilidade do sacrifício do bem


ameaçado
Excludentes (art.
Agressão:
ILICITUDE 23 do CP)
a) atual ou iminente
Legítima defesa
b) injusta
(art. 25 do CP)
c) bem próprio ou de terceiro

d) meios moderados
Estrito cumprimento do dever legal (funcionário público)
Exercício regular do direito (ex.: ofendículas)
Consentimento do ofendido (causa supralegal de exclusão)

4.DIREITO PROCESSUAL PENAL


Nosso estudo se concentrará nos seguintes temas:

- Teoria geral das provas;

Profa. Isabella: Os temas escolhidos para dar início ao nosso estudo em Direito Processual
Penal levaram em conta a alta incidência dos temas nas últimas provas, estando entre os
pontos mais cobrados na matéria!
Assim, mãos à obra e vamos avançar rumo à aprovação!

Por dizer respeito a tema predominantemente doutrinário, nosso ponto abrangerá:

>Pílulas Estratégicas de Doutrina;

>Questões Comentadas.

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Vamos dar início?

4.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina

Profa. Isabella Pires: As explanações a seguir tomam por base a aula 05 do Curso Regular
de Direito Processual Penal ministrado pelo Professor Ivan Marques, para a qual vocês
deverão se encaminhar, caso sintam a necessidade de complementação do estudo com os
demais temas relacionados.

Teoria Geral das Provas

1 - Conceito de Prova para o Processo Penal

Conceito – são os elementos produzido pelas partes ou mesmo pelo Juiz, visando à formação do
convencimento deste mesmo magistrado sobre determinado fato concreto.

Do latim probatio, é o conjunto de atos praticados pelas partes, pelo juiz (CPP, arts. 156, I e II, 209 e 234) e
por terceiros (p. ex., peritos), destinados a levar ao magistrado a convicção acerca da existência ou
inexistência de um fato, da falsidade ou veracidade de uma afirmação.

Trata-se, portanto, de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de
comprovar a verdade de uma alegação.

O tema referente à prova é o mais importante de toda a ciência processual, já que as provas
constituem o alicerce sobre o qual se ergue toda a dialética processual (acusação versus
defesa). Sem provas idôneas e válidas, de nada adianta desenvolverem-se aprofundados
debates doutrinários e variadas vertentes jurisprudenciais sobre temas jurídicos, pois a
discussão não terá utilidade. Sem provas, não há responsabilidade criminal.

2 - O que pode ser objeto de prova?

Objeto de prova – Objeto da prova é toda circunstância, fato ou alegação referente ao litígio sobre os quais
pesa incerteza, e que precisam ser demonstrados perante o juiz para o deslinde da causa.

São os, portanto, fatos capazes de influir na decisão do processo, na responsabilidade penal e na fixação da
pena ou medida de segurança, necessitando, por essa razão, de adequada comprovação em juízo.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Somente os fatos que revelem dúvida na sua configuração e que tenham alguma relevância para o
julgamento da causa merecem ser alcançados pela atividade probatória, como corolário do princípio da
economia processual.

Professor, quais fatos poderão ser objeto de prova no processo penal?

A melhor resposta para a sua questão é: poderão ser objetos de prova os fatos que precisam ser ratificados
e que possuem aptidão para auxiliar o magistrado a decidir a causa. É muito importante que exista, sobre o
objeto da prova, incerteza, ou não será necessária a sua comprovação.

Regra - só os fatos são objeto de prova.

Exceção – a legislação precisará ser comprovada, em seu conteúdo e vigência, quando for direito municipal,
estadual ou estrangeiro, pois a parte que alega deve provar-lhes o teor e a vigência.

Mas, professor Ivan, e aquela regra de que o “juiz conhece o Direito” – “iuria novit curia”?

Pois é, meus amigos, não é totalmente verdade essa afirmação. Por isso, para leis que não sejam nacionais
e federais, caso invocadas pelas partes, caberá a elas a comprovação da normatividade (conteúdo formal,
material e vigência).

3 - Fatos que independem de comprovação

Fatos que independem de prova:

Evidentes: a evidência nada mais é do que um grau de certeza que se tem do conhecimento sobre algo. A
evidência nada mais é do que um grau de certeza que se tem do conhecimento sobre algo. Nesses casos, se
o fato é evidente, a convicção já está formada; logo, não carece de prova. Por exemplo, no caso de morte
violenta, quando as lesões externas forem de tal monta que tornarem evidente a causa da morte, será
dispensado o exame de corpo de delito interno (CPP, art. 162, parágrafo único). Exemplo: um motociclista é
atropelado por um ônibus e sua cabeça é separada de seu corpo. Dispensa-se o exame cadavérico interno,
pois a causa da morte é evidente, óbvia. Não precisará ser feita uma perícia para demonstrar que a causa
mortis foi a separação da cabeça do restante do corpo do motoqueiro.

Notórios: o notório não necessita de prova). É o caso da verdade sabida.

Por exemplo, não precisamos provar que no dia 25 de dezembro comemora-se o Natal, ou que a água molha
a pele de quem atinge. Fatos notórios são aqueles cujo conhecimento faz parte da cultura de uma sociedade.
A coletividade os identifica com certa obviedade logo, não serão objeto de produção probatória.

Presunções legais: são conclusões decorrentes da própria lei. Podem ser absolutas (juris et de jure) ou
relativas (juris tantum). Por exemplo: o Ministério Público, por mais que tenha interesse em provar que um
menor de 18 anos tinha plena capacidade de entender o caráter criminoso do fato, para poder inclui-lo em
sua denúncia, não poderá fazê-lo, pois a legislação constitucional e penal presumem a sua incapacidade
(inimputabilidade) de modo absoluto (juris et de jure), sem sequer admitir prova em contrário, contrariando
as regras penais de outros países. Outro ótimo exemplo está na teoria da actio libera in causa – um indivíduo
embriaga-se voluntariamente para ficar mais corajoso e praticar crimes; esse estado de embriaguez

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

completa, provocada por ingestão voluntária de álcool ou droga, não poderá ser utilizado para isentar o
agente de pena, pois, nesse caso, a lei presume a sua responsabilidade sem admitir prova em contrário.

Fatos inúteis: são os fatos, verdadeiros ou não, que não influenciam na solução da causa, na apuração da
verdade real. Exemplo: a testemunha afirma que o crime se deu em momento próximo ao do jantar, e o juiz
quer saber quais os pratos que foram servidos durante tal refeição. Ora, meus queridos alunos, que diferença
faz para o magistrado descobrir se o réu comeu arroz ou feijão antes de matar alguém. Isso é INÚTIL.

4 - Requisitos para a produção probatória

Todos os fatos restantes devem ser provados, inclusive o fato admitido ou aceito (também chamado fato
incontroverso, porque admitido pelas partes). Nesse caso, diferentemente do que ocorre no processo civil,
existe a necessidade da produção probatória porque o juiz pode questionar o que lhe pareça duvidoso ou
suspeito, não estando obrigado à aceitação pura e simples do alegado uniformemente pelas partes.

Não nos esqueçamos de que o magistrado trabalha com a livre apreciação da prova, logo, compete a ele
decidir o que deve ser provado ou não, dentro de seu centro de certezas.

Nessa realidade, pessoal, para que uma prova seja corretamente produzida no âmbito do processo penal,
será necessário observarmos algumas características abaixo estudadas.

Para a produção das provas necessita-se que a prova seja:

• admissível: permitida pela legislação ou pela prática forense. É também conhecida como
prova genética, como tal entendida toda a prova admitida pelo direito.
• pertinente ou fundada: aquela que tenha relação com o processo, contrapondo-se à prova
inútil.
• concludente: visa esclarecer uma questão controvertida entre as partes.
• de possível realização: trata-se da possibilidade jurídico-probatória.

5 - Classificação das provas

As provas no processo penal recebem diferentes classificações. É importante que vocês estudem a
classificação por grupos de comparação, separados por espécie probatória. Vamos a elas:

Quanto ao objeto: o objeto da prova nada mais é do que o fato cuja existência ca-rece ser demonstrada.
Assim, a prova pode ser:

Provas diretas – Aquelas que provam o próprio fato, de maneira direta.

Provas indiretas – Aquelas que não provam diretamente o fato, mas por uma dedução lógica, acabam
por prová-lo.

Em razão de seu efeito ou valor, a prova pode ser:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Provas plenas – Aquelas que trazem a possibilidade de um juízo de certeza quanto ao fato que
buscam provar, possibilitando ao Juiz fundamentar sua decisão de mérito em apenas uma delas, se
for o caso.

Prova não plena ou indiciária – trata-se de prova que traz consigo um juízo de mera probabilidade,
vigorando nas fases processuais em que não se exige um juízo de certeza, como na sentença de
pronúncia, em que vigora o princípio do in dubio pro societate. Exemplo: prova para o decreto de
prisão preventiva. Na legislação, aparece como “indícios veementes”, “fundadas razões” etc.

Relativamente ao sujeito ou causa, pode ser:

Provas reais – aquelas que se baseiam em algum objeto, e não derivam de uma pessoa.

Provas pessoais – são aquelas que derivam de uma pessoa.

Quanto à previsão legal:

Prova típica – seu procedimento está previsto na Lei.

Prova atípica – duas correntes:

a.1) É somente aquela que não está prevista na Legislação (este conceito se confunde com o
de prova inominada);

a.2) É tanto aquela que está prevista na Lei, mas seu procedimento não, quanto aquela em
que nem ela nem seu procedimento estão previstos na Legislação.

Prova anômala – é a prova típica, só que utilizada para fim diverso daquele para o qual foi
originalmente prevista.

Quanto à forma ou aparência, a prova é:

Prova testemunhal – resultante do depoimento prestado por sujeito estranho ao processo sobre
fatos de seu conhecimento pertinentes ao litígio;

Prova documental – produzida por meio de documentos;

Prova material – obtida por meio químico, físico ou biológico (ex.: exames, vistorias, corpo de delito
etc.).

Outras classificações e denominações:

Prova irritual – é aquela em que há procedimento previsto na Lei, só que este procedimento não é
respeitado quando da colheita da prova.

Prova “fora da terra” – é aquela realizada perante juízo distinto daquele perante o qual tramita o
processo.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Prova crítica – é utilizada como sinônimo de prova científica ou pericial.

6 - Prova emprestada

Conceito - É aquela que, tendo sido produzida em outro processo, vem a ser apresentada no processo
corrente, de forma a também neste produzir os seus efeitos.

Somente poderá ser utilizada, vinda de outro processo, a prova que respeitar, para a sua inclusão, o princípio
do contraditório, caso contrário não será admitida como prova, em seu conceito mais amplo.

Diante do princípio do contraditório, parte da doutrina sustenta que a prova emprestada não pode gerar
efeito contra quem não tenha figurado como uma das partes no processo originário.

Prova emprestada pode ser utilizada para condenar?

SIM, desde que respeite o princípio do contraditório, ou seja, desde que a defesa tenha a
oportunidade de se manifestar a respeito da prova que se pretende trazer de outro
processo, local original em que for a produzida.

7 - Sistemas de valoração probatória

Regra geral - Sistema do livre convencimento motivado da prova (ou livre convencimento regrado, ou livre
convencimento baseado em provas ou persuasão racional). O Juiz deve valorar a prova produzida da maneira
que entender mais conveniente, de acordo com sua análise dos fatos comprovados nos autos.

A livre apreciação da prova é o sistema em que o Juiz deve valorar a prova produzida da maneira que
entender mais conveniente, de acordo com sua análise dos fatos comprovados nos autos. O magistrado é

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

livre para escolher quanto vale cada uma das provas produzidas até chegar a uma definição: se o réu é
inocente ou culpado.

A lei não diz qual prova vale mais do que a outra, deixando o juiz livre para decidir qual delas tem mais valor
do que a outra.

Por exemplo: entre a confissão do réu e todas as testemunhas dizendo que não foi o réu o autor do crime,
cabe ao juiz escolher qual das provas tem mais valor para decidir.

O juiz deverá, entretanto, seguir algumas regras:

• a decisão judicial precisa utiliza as provas produzidas no processo para decidir;


• as decisões judiciais precisam ser sempre fundamentadas, sob pena de nulidade – art. 93, IX,
CRFB/88;
• para condenar o réu serão necessárias provas, no sentido técnico, ou seja, aquelas produzidas
sob o manto do contraditório e da ampla defesa. Mas, professor, e as evidências produzidas
na fase policial?

IMPORTANTE: as provas exclusivamente produzidas em sede policial (Inquérito Policial)


não podem, por si sós, fundamentar a decisão do Juiz.

Exceções:

Prova tarifada – adotada em alguns casos (ex.: necessidade de que a prova da morte do acusado,
para fins de extinção da punibilidade se dê por meio da certidão de óbito).

Íntima convicção – adotada no caso dos julgamentos pelo Tribunal do Júri.

8 - Princípios que regem a produção das provas

Para que sejam consideradas válidas, as provas, ao serem produzidas, deverão respeitar uma série de
princípios. Vamos estudá-los:

Princípios que regem a produção probatória:

Princípio do contraditório – todas as provas produzidas por uma das partes podem ser contraditadas
(contraprova) pela outra parte.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Princípio da comunhão da prova (ou da aquisição da prova) – a prova é produzida por uma das
partes ou determinada pelo Juiz, mas uma vez integrada aos autos, deixa de pertencer àquele que a
produziu, passando a ser parte integrante do processo, podendo ser utilizada em benefício de
qualquer das partes.

Princípio da oralidade – sempre que for possível, as provas devem ser produzidas oralmente na
presença do Juiz.

Princípio da concentração – sempre que possível as provas devem ser concentradas na audiência.

Princípio da publicidade – os atos processuais não devem ser praticados de maneira secreta, sendo
vedado ao Juiz apresentar obstáculos à publicidade dos atos processuais.

Princípio da imediação – o Juiz, sempre que possível, deve ter contato físico com a prova, no ato de
sua produção, a fim de que melhor possa formar sua convicção.

Princípio da autorresponsabilidade das partes – as partes respondem pelo ônus da produção da


prova acerca do fato que tenham de provar.

Princípio da não autoincriminação (ou Nemo tenetur se detegere) – por este princípio entende-se a
não obrigatoriedade que a parte tem de produzir prova contra si mesma.

9 - Fases da produção da prova

Proposição – a produção da prova é requerida ao Juiz, podendo ocorrer em momento ordinário ou


extraordinário.

Em regra, as provas devem ser propostas com a peça acusatória e com a defesa prevista nos arts. 396-A e
406, § 3º, do CPP. De acordo com a atual redação do art. 422 do CPP, ao receber os autos, o presidente do
Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa,
e do defensor para, no prazo de cinco dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário,
até o máximo de cinco, oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligência. A única
prova passível de ser requerida pelas partes ou determinada de ofício pelo juiz, em qualquer fase do
processo, até mesmo em grau de recurso, diz respeito ao incidente de insanidade mental do acusado.

Admissão – é o ato mediante o qual o Juiz defere ou não a produção de uma prova.

Trata-se de ato processual específico e personalíssimo do juiz, que, ao examinar as provas propostas pelas
partes e seu objeto, defere ou não a sua produção. Toda prova requerida pelas partes deve ser deferida,
salvo quando protelatória ou impertinente. Cumpre consignar que a nova reforma processual penal
introduziu a audiência una no procedimento comum, de forma que, consoante os termos do art. 400, § 1º,
do CPP, as provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes,
impertinentes ou protelatórias

Produção – é o momento em que a prova é trazida para dentro do processo.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

É o conjunto de atos processuais que devem trazer a juízo os diferentes elementos de convicção oferecidos
pelas partes.

Valoração – é o momento no qual o Juiz aprecia cada prova produzida e lhe atribui o valor que julgar
pertinente.

Nada mais é do que o juízo valorativo exercido pelo magistrado em relação às provas produzidas,
emprestando-lhes a importância devida, de acordo com a sua convicção. Esse momento coincide com o
próprio desfecho do processo.

Respeitadas todas as fases de produção probatória, podemos afirmar que estamos diante dos chamados
meios de prova!

Em primeiro lugar, a título de esclarecimento, convém salientar que o meio de prova compreende tudo
quanto possa servir, direta ou indiretamente, à demonstração da verdade que se busca no processo. Assim,
temos: a prova documental, a pericial, a testemunhal etc.

Como é sabido, vigora no direito processual penal o princípio da verdade real, de tal sorte que não há de se
cogitar qualquer espécie de limitação à prova, sob pena de se frustrar o interesse estatal na justa aplicação
da lei. Tanto é verdade essa afirmação que a doutrina e a jurisprudência são unânimes em assentir que os
meios de prova elencados no Código de Processo Penal são meramente exemplificativos, sendo
perfeitamente possível a produção de outras provas, distintas daquelas ali enumeradas. É a chamada
abertura das provas típicas, tema que será estudado com mais profundidade em nossa próxima aula.

Ocorre, no entanto, que o princípio da liberdade probatória não é absoluto, sofre restrições. No Código de
Processo Penal, vislumbram-se, dentre outras, as seguintes limitações ao princípio da liberdade dos meios
de prova: o art. 155, parágrafo único, que manda observar as mesmas exigências e formalidades da lei civil
para a prova quanto ao estado das pessoas (casamento, morte e parentesco são situações que somente se
provam mediante as respectivas certidões); art. 158, que exige o exame de corpo de delito para as infrações
que deixarem vestígios (não transeuntes), não admitindo- seja suprido nem pela confissão do acusado; art.
479, caput, que veda, durante os debates em plenário, a leitura de documento ou a exibição de objeto que
não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de três dias úteis, dando-se ciência à outra
parte; e a inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos (CF, art. 5º, LVI).

De acordo com o art. 155, caput, “o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

O princípio do livre convencimento do juiz, na realidade, era tratado no art. 157 do CPP, de forma bastante
ampla; porém, vinha sofrendo restrições impostas pela jurisprudência, em especial no tocante à vedação da
utilização exclusiva dos elementos colhidos em inquérito policial para embasar sentença condenatória,
exigindo-se a sua confirmação por outras provas produzidas sob o crivo do contraditório. Com a reforma
processual penal, tal entendimento passou a ser expressamente obrigado pelo art. 155, caput, o qual apenas
ressalva que, na hipótese das provas cautelares, não repetíveis e antecipadas, autoriza-se a fundamentação
da sentença com base exclusivamente nelas, por exemplo, arts. 225 e 366 do CPP. Finalmente, dentro desse
mesmo espírito que informou a edição da Lei n. 11.690/2008, o legislador previu expressamente, no art. 157
e parágrafos do CPP, a vedação da utilização de provas ilícitas, tal como preceitua o art. 5º, LVI, da CF, bem
como aquelas derivadas das ilícitas, prevendo, inclusive, a sua destruição.

10 - Ônus da prova

Caros alunos, chegou o momento de fixarmos uma lição importante: chega de afirmar que o ônus da prova
é da acusação. Isso mudou em 2008. Pasmem os senhores.

Hoje, devemos afirmar que o ônus da prova é da parte que inova processualmente com tese de mérito.

Trata-se de um encargo conferido a uma das partes referente à produção probatória relativa ao fato por ela
alegado.

A prova da alegação (onus probandi) incumbe a quem a fizer (CPP, art. 156, caput). Exemplo: cabe ao
Ministério Público provar a existência do fato criminoso, da sua realização pelo acusado e também a prova
dos elementos subjetivos do crime (dolo ou culpa); em contrapartida, cabe ao acusado provar as causas
excludentes da antijuridicidade, da culpabilidade e da punibilidade, bem como circunstâncias atenuantes da
pena ou concessão de benefícios legais. Caso o réu pretenda a absolvição com fulcro no art. 386, I, do Código
de Processo Penal, incumbe-lhe ainda a prova da “inexistência do fato”.

Vamos dar alguns exemplos para ajudar a entender:

Exemplo 1: O Ministério Público afirma, na denúncia, que o denunciado praticou o crime de furto noturno.
Ora, como a alegação foi do promotor de justiça, a ele caberá comprovar o que alegou.

Exemplo 2: A defesa afirma que houve sim a morte, porém foi em legítima defesa. Novamente, se a tese de
excludente de ilicitude foi alegada pela defesa, caberá a ela comprovar a agressão injusta atual ou iminente
e a defesa imediata, proporcional e limitada ao momento do ataque infundado.

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Reta Final

Quem alegar uma tese, deverá prová-la. Inclusive a defesa. Isso não fere o direito à
presunção de inocência.

11 - Das provas produzidas pelo magistrado

Em 2008, a lei processual permitiu que o juiz da causa determinasse a produção de provas no processo penal.
Quando isso será possível:

Na produção antecipada de provas – provas consideradas urgentes e relevantes, observando-se a


necessidade, adequação e proporcionalidade da medida. Não há que se falar em inconstitucionalidade. Essa
é a posição dos Tribunais.

OBS.: É necessário que exista um procedimento investigatório em andamento (inquérito policial,


procedimento de investigação preliminar ou Comissão Parlamentar de Inquérito), e algum requerimento
seja apresentado ao juiz (ainda que não seja o requerimento de prova).

Na produção de provas após iniciada a fase de instrução do processo – para dirimir dúvida sobre ponto
relevante (busca da verdade processual). Não se exige a cautelaridade da medida durante a instrução, pois
se está diante da produção probatória com contraditório e ampla defesa.

12 - Provas ilegais: ilícitas e ilegítimas

Muito bem, pessoal. Chegou o momento da aula de explicarmos a diferença entre as provas ilícitas e
ilegítimas e, para a sua prova, mostrar quais são as consequências de seu reconhecimento e, principalmente,
se cabe algum recurso nesse ponto da legislação.

Ao regulamentar o preceito contido no art. 5º, LVI, da Carta Magna, foi editada a Lei n. 11.690/2008, que
disciplinou, no art. 157 do Código de Processo Penal, a matéria relativa às provas ilícitas.

Em primeiro lugar, a lei, respeitando o comando constitucional, deixou bem clara a inadmissibilidade das
provas ilícitas, não distinguindo as provas produzidas com violação das disposições materiais daquelas
realizadas em contrariedade às disposições processuais. Ressalve-se, no entanto, que essa vedação legal não
será apta a afastar a incidência do princípio constitucional da proporcionalidade, admitindo-se a prova ilícita
sempre que estiverem em jogo interesses de extrema magnitude para o cidadão, como a vida, a liberdade
ou a segurança.

Admite-se o uso de provas obtidas ilicitamente se for a única maneira de absolver um


inocente. Por exemplo: em uma interceptação telefônica ilegal, sem ordem judicial,

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Reta Final

descobre-se a inocência de um agente que já for a condenado por esse crime. Será possível
utilizar essa evidência em ação de revisão criminal para corrigir esse erro judiciário.

O preceito legal dispôs acerca do desentranhamento e, uma vez preclusa essa decisão, da destruição dessa
prova por decisão judicial, facultando às partes acompanhar esse incidente.

Note-se que a jurisprudência já vinha determinando o desentranhamento dessa prova, tendo a 1ª Turma do
Supremo Tribunal Federal admitido a impetração de habeas corpus para impugnar a inserção de provas
ilícitas em procedimento penal e postular o seu desentranhamento: sempre que, da imputação, pudesse
advir condenação à pena privativa de liberdade (STF, 1ª Turma, HC 80.949/RJ, rel. Min. Sepúlveda Pertence,
j. 30-10-2001, DJ, 14 dez. 2001, p. 26). Ou seja, meus amigos, antes mesmo da mudança da lei em 2008, o
Supremo Tribunal Federal utilizava a proibição constitucional para afastar dos autos as provas obtidas em
contrariedade à lei e à Constituição da República.

A autorização para a destruição da prova ilícita, por sua vez, tem suscitado diversos questionamentos, pois
poderá inviabilizar a propositura de uma futura revisão criminal, isto é, a utilização dessa prova a favor do
acusado, a fim de buscar a sua inocência. É importante assinalar que a matéria relativa à prova ilícita tem
cunho nitidamente constitucional e, muito embora a Carta Magna e o art. 157 do CPP vedem a produção
dessa prova, isto não terá o condão de afastar princípios constitucionais como o da proporcionalidade, que
autorizam a utilização da prova ilícita sempre que bens de maior magnitude, como a vida e a liberdade do
indivíduo, estejam em jogo. Desse modo, constitui medida bastante temerária a inutilização dessa prova,
pois ela poderá constituir elemento importante a embasar futura revisão- criminal, constituindo, assim,
prova para a defesa.

Ainda, o art. 157 do CPP albergou a teoria dos frutos da árvore envenenada e trouxe limites a ela, inspirando-
se na legislação norte-americana, de forma a se saber quando uma prova é ou não derivada da ilícita, isto é,
a lei procurou trazer contornos para o estabelecimento do nexo causal entre uma prova e outra.

As provas ilegais dividem-se em ilícitas e ilegítimas. Apesar dessa diferença não mais constar da lei processual
penal, após a sua reforma em 2008, merece atenção pelo impacto constitucional do tema e, portanto, ainda
podem ser objeto de arguição pelos examinadores da FGV.

Provas ilícitas - são consideradas provas ilícitas aquelas produzidas mediante violação de normas de
direito material (normas constitucionais ou legais). Ex.: Prova obtida mediante tortura.

Provas ilícitas por derivação - são aquelas provas que, embora sejam lícitas em sua essência, derivam
de uma prova ilícita, daí o nome “provas ilícitas por derivação”. Ex.: Prova obtida mediante

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Reta Final

depoimento válido. Contudo, só se descobriu a testemunha em razão de uma interceptação


telefônica ilegal.

Provas ilegítimas - são provas obtidas mediante violação a normas de caráter eminentemente
processual, sem que haja nenhum reflexo de violação a normas constitucionais.

OBS.: As provas ilícitas por derivação poderão ser utilizadas em duas situações:

Não havia nexo de causalidade entre a prova ilícita e a prova derivada.

Embora havendo nexo de causalidade, a derivada poderia ter sido obtida por fonte independente ou seria,
inevitavelmente, descoberta pela autoridade.

Pessoal, nesse ponto da matéria, precisamos ter muita calma! É um tema tão difícil que preciso da sua
atenção máxima, ok?

Limitação da fonte independente (independent source limitation) - o § 1º do art. 157 prevê que são
inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, “salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre
umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras”.

Trata-se de teoria que já foi adotada pelo Supremo Tribunal Federal, no qual se entendeu que se deve
preservar a denúncia respaldada em prova autônoma, independente da prova ilícita impugnada por força
da não observância de formalidade na execução de mandado de busca e apreensão (STF, HC-ED 84.679/MS,
rel. Min. Eros Grau, j. 30-8-2005, DJ, 30 set. 2005, p. 23).

Portanto, a prova derivada será considerada fonte autônoma, independente da prova ilícita, quando a
conexão entre umas e outras for tênue, de pouca monta, de modo a não se colocarem as provas primárias
e as secundárias numa relação de estrita causa e efeito.

Professor, não entendi nada. O que isso significa?

Vamos lá.

Se não existe nexo de causalidade entre a nova evidência e a prova anteriormente produzida, isto significa
que uma não derivou da outra. Se a causa geradora da prova for absolutamente independente em relação à
anterior, é porque uma nada tinha a ver com a outra, sendo incabível falar-se em prova ilícita por derivação.
Em outras palavras, se o fruto derivou de outra árvore distinta da envenenada, não há que se falar na teoria
dos frutos da árvore envenenada. A regra da limitação da fonte independente é, portanto, supérflua,

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desnecessária. Basta aplicar a conhecida teoria da conditio sine qua non e o critério da eliminação hipotética:
se ao excluir a prova anterior da cadeia causal a nova prova continuar existindo, é porque não foi causada
por aquela, sendo incabível a alegação de ilicitude da prova por derivação. Se, ao contrário, a prova
produzida estiver arrimada ou justificada na prova ilícita anterior, não se poderá alegar independência de
fonte, ante o critério da eliminação hipotética (excluída a prova ilícita, desaparece a produção da prova dela
derivada, revelando-se o nexo de interdependência entre ambas).

Agora que conseguimos decifrar a tal fonte independente, vamos com tudo para cima da descoberta
inevitável.

Limitação da descoberta inevitável (inevitable discovery limitation) - quando o órgão judicial se convence de
que, fosse como fosse, se chegaria inevitavelmente, nas circunstâncias, a obter a prova por meio legítimo,
afasta-se o argumento de ilicitude probatória. Nesse caso, a prova que deriva da prova ilícita originária seria
inevitavelmente conseguida de qualquer outro modo, como se naturalmente, com as investigações
ordinárias, ela seria descoberta com 100% de certeza. Segundo o § 2º do art. 157, “Considera-se fonte
independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou
instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova”.

Tentando explicar de forma mais simples, no campo da descoberta inevitável, a prova, a despeito de sua
ilicitude original, considera-se válida sob o argumento de que acabaria sendo descoberta de qualquer modo.
Cedo ou tarde, usando os meios normais de investigação, a prova seria descoberta.

Professor, de onde veio essa “viagem” do nosso legislador? Isso não significa um risco para a garantia
constitucional que veda as provas ilícitas?

Sim, pessoal. É um tema muito delicado. Essa tese teve origem em um caso norte-americano. vou contá-lo
para vocês. Momento cultural!

Inspirada em um precedente da Suprema Corte norte-americana, qual seja, o caso Nix × Williams, julgado
em junho de 1984, a regra da inevitable discovery limitation não se presta a um infindável juízo de
probabilidades, mas se baseia em situações bastante concretas e demonstráveis de modo evidente. No caso,
investigava-se o desaparecimento de uma menina de 10 anos ocorrido em Des Moines, Estado do Iowa. O
suspeito fora preso no mesmo Estado, na cidade de Davenport. Seu defensor foi avisado pela polícia de que
ele seria levado para o local do desaparecimento, mas que não seria interrogado no caminho. Entretanto,
durante o trajeto, houve uma conversa informal, na qual se deu a admissão do crime e a indicação do local
em que o corpo tinha sido enterrado. Apesar de a confissão ter sido ilicitamente obtida (por violação da
sexta emenda), a localização do corpo acabou sendo admitida como válida, não sendo considerada prova
ilícita por derivação, já que seu encontro seria inevitável. Na hipótese, porém, não houve um juízo aleatório

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Reta Final

de possibilidades, mas, ao contrário, no local já havia 200 voluntários, além da polícia, com toda a área
cercada, sendo o encontro do corpo do delito mera questão de tempo. Não foi a confissão informal que
determinou o deslocamento de todo aquele contingente ao local. Eles já lá se encontravam e iriam obter a
prova de um jeito ou de outro. A busca sistemática foi feita com a ajuda de 200 voluntários, e iniciou-se
antes dos entrevistadores elaborarem as questões incriminadoras. Assim, a busca em toda a área já tinha se
iniciado de modo efetivo, antes das informações colhidas junto ao incriminado, sendo que estas apenas
aceleraram, mas não determinaram o encontro da prova. Convém notar que aqui também cabe a aplicação
da regra da eliminação hipotética e da conditio sine qua non. Ainda que não houvesse a confissão, como a
busca já tinha se iniciado e se encaminhava para o encontro, a prova seria inevitavelmente produzida. Não
ocorreu, destarte, nexo causal, pois, eliminada a admissão tida como ilícita, ainda assim haveria o encontro
do corpo. Bem diferente seria o caso de a busca ter se iniciado em virtude das informações. Aí, sim, a prova
seria ilícita, pois evidente o nexo causal.

Ficou fácil agora, né pessoal.

Consequências processuais da prova ilícita

Provas ilícitas - Declarada sua ilicitude, elas deverão ser desentranhadas do processo e, após estar
preclusa a decisão que determinou o desentranhamento, serão inutilizadas pelo Juiz.

OBS.: Há forte entendimento no sentido de que a prova, ainda que seja ilícita, deverá ser utilizada no
processo, desde que seja a única prova capaz de conduzir à absolvição do réu ou comprovar fato importante
para sua defesa, em razão do princípio da proporcionalidade.

Prova obtida mediante excludente de ilicitude? Prova válida (Doutrina, STF e STJ).

Recurso cabível contra a decisão referente à ilicitude da prova?

Decisão que RECONHECE A ILICITUDE da prova – Cabe RESE, nos termos do art. 581, XIII do CPP.

Decisão que RECONHECE A ILICITUDE da prova apenas na sentença – Cabe APELAÇÃO.

Decisão que NÃO RECONHECE a ilicitude da prova – Não cabe recurso (seria possível o manejo de HC ou MS).

Consequências processuais da prova ilegítima

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Prova decorrente de violação à norma processual de caráter absoluto (nulidade absoluta) - jamais poderá
ser utilizada no processo, pois as nulidades absolutas, são questões de ordem pública e são insanáveis (STF
e STJ estão relativizando isso, ao fundamento de que não pode ser declarada qualquer nulidade sem
comprovação da ocorrência de prejuízo).

Prova decorrente de violação à norma processual de caráter relativo (nulidade relativa) - poderá ser utilizada,
desde que não haja impugnação à sua ilegalidade ou tenha sido sanada a irregularidade em tempo oportuno.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Profa. Isabella Pires:
Com isso, me despeço de vocês por hoje! Voltaremos amanhã para dar continuidade ao
nosso projeto rumo à aprovação!
Aproveito para, mais uma vez, deixar meus contatos caso tenham dúvidas, críticas,
sugestões!
Vocês podem entrar em contato pelo fórum do curso ou ainda:
E-mail: isabella.almeida@estrategiaconcursos.com.br

Instagram: @profaisabellapires

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