Você está na página 1de 76

Aula 03

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta


Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF

Autor:
Isabella Pires

17 de Março de 2022

Bons estudos -Bons Estudos


Isabella Pires
Aula 03

Sumário
Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 2

Direito Tributário................................................................................................................................................ 2

1 - Pílulas Estratégicas de Doutrina ............................................................................................................... 3

2 - Vade-Mécum Estratégico ........................................................................................................................ 30

3 – Questões Comentadas............................................................................................................................ 47

Direito Civil ....................................................................................................................................................... 50

1 - Pílulas Estratégicas de Doutrina ............................................................................................................. 50

2 - Vade-Mécum Estratégico ........................................................................................................................ 66

3 – Questões Comentadas............................................................................................................................ 70

Considerações Finais ........................................................................................................................................ 73

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF


www.estrategiaconcursos.com.br

Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

AULA 03 - RETA FINAL PGE-AM


APRESENTAÇÃO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Olá, meus caros.

Hoje continuaremos o nosso curso de Reta Final para o PGE-AM.

Na aula de hoje estudaremos:

MATÉRIA ASSUNTO MOTIVAÇÃO

Direito Sistema Tributário Nacional. Limitações do Poder de Tributar. Princípios -Incidência


Tributário do Direito Tributário. alta.

Direito Civil Lei de introdução as normas do direito brasileiro. Vigência, aplicação, - Alta
interpretação e integração das leis. Conflito das leis no tempo. Eficácia Incidência.
da lei no espaço.

DIREITO TRIBUTÁRIO
Nosso foco no estudo de hoje serão os seguintes pontos do edital:

Sistema Tributário Nacional. Limitações do Poder de Tributar. Princípios do Direito Tributário.

Futuros Procuradores do Estado do Amazonas, vamos adentrar, efetivamente, no estudo dos nossos temas
de hoje. O estudo deste tema é doutrinário, com legislação e jurisprudência, podendo ser destacados os
Princípios que regem o Direito Tributário. Muita atenção na leitura dos artigos estudados na nossa aula.

Em razão das características do ponto em comento, o estudo contará com as Pílulas Estratégicas de Doutrina
com pontuais jurisprudências, Excertos do Vade-mécum Estratégico e pontuais Questões, que já dão a base
suficiente para enfrentar as questões da prova objetiva.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 2


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

1 - PÍLULAS ESTRATÉGICAS DE DOUTRINA

As exposições a seguir tomam por base, principalmente, as Aulas 00 e 01 do Curso Regular do Professor
Mateus Pontalti. A utilização de outras fontes será expressamente destacada.

Ressalto, mais uma vez, que o objetivo deste tópico é fornecer as bases teóricas, conceitos, classificações,
de forma pontual e sintética, compatível com o estudo de reta final, para que, com isso, vocês possam ter
melhor compreensão e memorização da parte legislativa!

Chamo a atenção de vocês para o fato de que, eventuais observações ou considerações a serem feitas por
mim, estarão identificadas com a presente formatação sombreada.

1. Princípios do Direito Tributário

1.1 Princípio da Legalidade Tributária

1.1.1 Análise do artigo 150, inciso I, da Constituição Federal

O princípio da legalidade tributária encontra supedâneo no artigo 150, inciso I, da Constituição Federal.

Ao utilizar o verbo exigir, o que a Constituição proíbe não é apenas a cobrança de um tributo, mas a sua
própria instituição por um ato infralegal. A edição de lei é um requisito de validade, e não uma condição de
mera eficácia da regra tributária. Assim, a melhor leitura do artigo 150, inciso I, da Constituição Federal, é a
de que as entidades federativas não podem “Instituir tributo sem lei que o estabeleça”.

Essa interpretação conduz à conclusão de que a lei deve prever todos os elementos que compõem a norma
imponível e que são essenciais para que esta possa incidir. Tais elementos, identificados pelo jurista Paulo
de Barros Carvalho, são os seguintes. No antecedente, os critérios material, espacial e temporal; no
consequente, os critérios pessoal e quantitativo.

O critério material é formado por um verbo e um complemento, que indica um comportamento humano
(matar alguém, auferir renda, importar produtos) ou um determinado estado (ser proprietário de bem
imóvel). Trata-se do núcleo essencial do enunciado normativo, em que se descreve uma conduta humana
condicionada no tempo e no espaço. Por abstração, desconsidera-se nesse momento os condicionantes de
tempo e de espaço. Pensemos em um exemplo do direito tributário, o ITR – Imposto Territorial Rural, cuja
instituição foi operada pela Lei 9.393/96.

O critério material pode ser enunciado da seguinte forma: Ser proprietário, enfiteuta ou possuidor de bem
imóvel.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 3


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

O critério espacial é o local em que a conduta descrita no critério material deve ocorrer. Pode ser veiculada
expressamente ou estar de modo implícito no texto legislativo.

Um caso de definição explícita é o do IPTU, em que a legislação diz que o critério material (ser proprietário
de bem imóvel) deve ocorrer na zona urbana (critério espacial). Já um exemplo de definição implícita é o do
IPI, cujo critério espacial é todo território nacional.

O critério espacial pode ser:


i) pontual, quando o local do fato deve ocorrer em um ponto bastante específico (ex. estacionar
veículo em local proibido, apresentar-se à Delegacia de Polícia localizada em determinada
cidade);
ii) regional, quando o local eleito pela lei, embora específico, é um pouco mais amplo (ex. ser
proprietário de bem imóvel urbano, ou seja, dentro de uma determinada zona geográfica);
iii) territorial, bastante genérico, em que o critério espacial se confunde com o âmbito de vigência
da lei (industrializar produtos em qualquer lugar do território nacional);
iv) universal, quando o critério espacial é mais amplo do que o âmbito territorial da própria
norma. (É o caso do IRPF, em que se tributa, nos casos de residentes no Brasil, a renda auferida
no exterior).

No caso do ITR, o critério espacial é a zona rural, porque é nessa região geográfica que alguém deve ser
proprietário de um imóvel para que haja a incidência da norma jurídica.

O critério temporal é o momento, contido no suposto da regra, que indica o instante em que ocorre o fato
jurídico.

Em alguns casos, como do IPTU, a sua veiculação explícita é imprescindível, porque se está diante de uma
conduta que exprime uma situação duradoura (ser proprietário de bem imóvel urbano). Assim, é preciso
responder de maneira expressa em que momento que essa situação (ser proprietário) se afigura relevante
para fins de incidência. Já em outras circunstâncias, o critério temporal se encontra inserido de maneira

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 4


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

implícita, porque pode ser construído a partir do critério material. Um exemplo de definição explícita ocorre
com o ITR, cujo critério temporal é o dia 1º de janeiro, por definição do artigo 1º da Lei 9.393/96.

O critério pessoal é formado pelo conjunto de informações constantes do consequente da norma, que
permite identificar quem são o sujeito ativo e o sujeito passivo da relação obrigacional. No caso do ITR, via
de regra o sujeito ativo é a União Federal. Os sujeitos passivos são os proprietários, enfiteutas e possuidores
dos imóveis rurais.

O critério quantitativo é aquele que permite a identificação do objeto da prestação. Em direito tributário,
tratando-se de obrigação principal, a prestação é sempre pecuniária, ou seja, de dar uma quantia em
dinheiro. Essa quantia é calculada mediante a multiplicação da base de cálculo pela alíquota.No caso do ITR
a base de cálculo é o valor da Terra Nua Tributável – VTN e as alíquotas variam entre 0,03% a 20%, a depender
do tamanho do imóvel e do grau da sua utilização.

O Gráfico abaixo sintetiza a regra-matriz do ITR:

Pois bem, como se pôde observar, a norma imponível depende de todos os critérios enunciados acima. Não
há como instituir um tributo sem definir qual a conduta tributável (critério material), em que momento essa
conduta deve ocorrer (critério temporal) e em que local (critério espacial). Também não há como prescindir
da definição de quem é o credor ou devedor (critério pessoal), assim como da prestação que deve ser paga
(critério quantitativo).

Logo, todos esses elementos devem ser veiculados por meio de lei para que haja a observância do princípio
da legalidade tributária. Ademais, ao utilizar a expressão aumentar tributos, a Constituição determina que o

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 5


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

princípio da legalidade não se satisfaz com a mera instituição. O incremento do seu valor também depende
de lei.

Assim, a regra geral é a de que qualquer modificação na base de cálculo ou na alíquota da norma imponível
que represente um incremento real no valor da obrigação não pode ser realizada por meio de um ato
infralegal. Frisamos o termo real pelo seguinte motivo: O artigo 97, §2º, do Código Tributário Nacional
determina que não se considera como majoração do tributo “a atualização do valor monetário da respectiva
base de cálculo”. O Supremo Tribunal Federal considera que essa regra é compatível com a Constituição
Federal.

Portanto, é possível que um ato infralegal atualize monetariamente a base de cálculo de um tributo sem que
isso represente ofensa ao princípio da legalidade tributária.

1.1.2 Medidas Provisórias e a instituição de tributos.

Como regra geral, cabe à Lei ordinária instituir ou majorar tributos. Excepcionalmente, nos casos indicados
pela Constituição Federal, há a necessidade da edição de Lei Complementar. Cumpre agora enfrentarmos o
seguinte questionamento: É possível a utilização de Medida Provisória na instituição ou majoração de
tributos?

Durante a redação originária da Constituição Federal, a doutrina majoritária entendia que não, pelas
seguintes razões.

Primeira, porque a expressão “força de lei”, utilizada no caput do artigo 62 da Constituição Federal para
definir as Medidas Provisórias, não conduziria à conclusão de que esse veículo introdutor seria igual à lei.
Estas vigorariam a título definitivo, e aquelas teriam vigor precário, porque dependiam da sua aprovação
pelo Congresso Nacional.

Segunda, porque os pressupostos de relevância e urgência seriam incompatíveis com o Princípio da


Anterioridade.

Terceira, porque, tratando-se de tributos emergenciais ou extrafiscais, utilizados para o atingimento de


outros objetivos que não apenas a arrecadação, a Constituição Federal teria concedido instrumento mais
célere e efetivo do que as Medidas Provisórias, autorizando a elevação da alíquota por mero decreto do
Poder Executivo.

Apesar desses argumentos, o Supremo Tribunal Federal, mesmo na redação originária da Constituição
Federal, entendia pela possibilidade de utilização das Medidas Provisórias para instituir ou majorar tributos.
Em 2001, foi editada a Emenda Constitucional nº 32, que passou a dispor expressamente sobre essa
possibilidade:

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas
provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 6


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos


nos art. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver
sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.

Embora o §2º se refira tão somente aos impostos, o Supremo Tribunal Federal manteve a interpretação de
que a Medida Provisória pode ser utilizada para instituir ou majorar tributos, independentemente de se
tratar de impostos ou de outras espécies tributárias. Por fim, há exceções a essa regra: Aqueles tributos
reservados à lei complementar não podem ser instituídos ou serem majorados por meio de medida
provisória, em razão da vedação expressa do artigo 62, §1º, inciso III, do texto constitucional.

1.1.3 Mitigações constitucionais ao princípio da legalidade

Como vimos, a Constituição exige que todos os elementos necessários ao nascimento da obrigação tributária
estejam previstos em lei, bem como que, segundo o entendimento atualmente predominante, não há
contradição entre essa afirmação e a que possibilita a utilização de conceitos indeterminados e normas
tributárias em branco. A partir de agora, vamos direcionar a atenção para os dispositivos constitucionais que
mitigaram o princípio da legalidade tributária, autorizando que um ato infralegal alterasse a alíquota de um
tributo para majorá-lo.

Como se observa, o artigo 153, §1º, da Constituição Federal, autoriza que o Poder Executivo, atendidas as
condições e os limites estabelecidos em lei, possa alterar as alíquotas do Imposto de Importação (II), Imposto
de Exportação (IE), Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores
mobiliários (IOF) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

O artigo 177, § 4º, da CF, também traz uma mitigação ao princípio da legalidade, aplicável à contribuição de
intervenção no domínio econômico relativa às atividades de importação ou comercialização de petróleo e
seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível. É a chamada CIDE-Combustível, instituída
pela Lei 10.336/2001. Aqui, valem os comentários que fizemos anteriormente. A lei estabelece um limite
máximo às alíquotas, sendo possível ao Poder Executivo reduzi-las ou elevá-las até aquele limite.1

Por fim, nos termos do art. 155, § 4º, inciso IV, da Constituição, também se afigura como mitigação ao
Princípio da Legalidade Tributária o chamado ICMS-Combustível, incidente sobre os combustíveis e
lubrificantes definidos em Lei Complementar. A particularidade aqui é a de que a alíquota deve ser definida
mediante deliberação dos Estados e Distrito Federal, através de convênio.

Portanto, a Constituição mitiga o Princípio da Legalidade com relação aos seguintes tributos:

1
Lei 10.336/2001: Art. 9o O Poder Executivo poderá reduzir as alíquotas específicas de cada produto,
bem assim restabelecê-las até o valor fixado no art. 5o.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 7


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

1.1.4. O que não precisa ser veiculado por lei.

Até aqui, examinamos o que, em razão do princípio da legalidade, deve ser necessariamente veiculado por
meio de lei. Agora faremos o caminho inverso. Vamos tratar daquilo que dispensa lei em sentido estrito para
sua regulamentação. Chamamos a atenção para três circunstâncias bastante cobradas em provas de
concurso.

A primeira delas diz respeito às obrigações acessórias. Observe o que diz o artigo 113 do CTN:

Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. [...]

§ 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações,


positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos.

Obrigações acessórias são aqueles deveres instrumentais exigidos no interesse da arrecadação ou da


fiscalização dos tributos. Podem ser materializadas por um fazer, como entregar a Declaração do Imposto de
Renda; ou por um não fazer, como não opor embaraços à fiscalização.

Como se viu acima, o artigo 113 expressamente consigna que “a obrigação acessória decorre da legislação
tributária”, o que significa afirmar que cabe a ela, à legislação tributária, criar obrigações acessórias. A
expressão legislação tributária não foi empregada por acaso. Trata-se de um conceito técnico, definido pelo
Código Tributário Nacional no artigo 96:

Art. 96. A expressão "legislação tributária" compreende as leis, os tratados e as convenções


internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre
tributos e relações jurídicas a eles pertinentes.

Portanto, abarca-se ao conceito de legislação tributária não apenas as leis, mas também os decretos e as
normas complementares. Ambos, os decretos e as normas complementares – estas últimas conceituadas
pelo artigo 100 do CTN - são instrumentos secundários, ou seja, atos hierarquicamente inferiores à lei. Desta

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 8


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

forma, o Código Tributário Nacional é claro: Tratando-se de obrigação acessória, sua veiculação pode ser
realizada por meio de um ato infralegal, sendo dispensável a edição de lei.

Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e
dos decretos:
I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas;
II - as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua
eficácia normativa;
III - as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas;
IV - os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

A segunda circunstância que dispensa a edição de lei é a alteração na data de vencimento do pagamento.
Como vimos, trata-se de circunstância que não integra nenhum dos elementos da regra-matriz de incidência
tributária. Assim, a alteração na data do vencimento não importa na instituição de um novo tributo ou no
aumento do valor da tributação, não atraindo a incidência do disposto no artigo 150, inciso I, da Constituição
Federal.

A terceira circunstância é a atualização monetária da base de cálculo de um tributo. O artigo 97, § 2º, do
CTN, afirma que “Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a
atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo”.

Portanto, o que dispositivo diz é que pode um ato infralegal proceder a atualização monetária para recompor
a inflação. Assim, dispensa lei em sentido formal a criação de obrigação acessória, a alteração na data de
vencimento do pagamento e a atualização do valor monetário da base de cálculo.

1.2 Princípio da Anterioridade

1.2.1 Origem e Fundamento

Encerrada a análise do Princípio da Legalidade, passamos agora a estudar o princípio da anterioridade,


também conhecido como princípio da não surpresa. Pode-se falar em duas modalidades de anterioridade. A
anterioridade anual e a anterioridade nonagesimal, cujos fundamentos constitucionais repousam nos
dispositivos (arts. 150, III e 195 §6º da CR/88).

O Princípio da anterioridade tem origem no antigo princípio da anualidade, não mais vigente no direito
brasileiro. Pelo princípio da anualidade, a cobrança de um tributo estava condicionada à prévia autorização
orçamentária. Assim, se ocorresse um aumento da carga tributária sem que existisse previamente a sua
previsão na lei orçamentária, a eficácia da lei ficaria postergada para o ano seguinte, quando então o novo
orçamento fosse aprovado.

Ocorre que, a jurisprudência abrandou o rigor do princípio da anualidade, pelo seguinte motivo: a
autorização orçamentária normalmente era aprovada pelo legislativo em julho, mas o início do exercício
financeiro daquele orçamento começava em primeiro de janeiro do ano seguinte. Então, na prática, a

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 9


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

aplicação do princípio da anualidade exigia que a alteração da legislação tributária fosse realizada até julho
para que pudesse vigorar no ano seguinte.

Passou-se a entender, então, que não seria imprescindível a precedência da lei tributária em relação à
autorização orçamentária. Seria suficiente que a aprovação da lei tributária antecedesse o início do exercício
financeiro do orçamento (janeiro do ano seguinte). O Supremo Tribunal Federal editou inclusive Súmula
nesse sentido:

Súmula 66: É legítima a cobrança do tributo que houver sido aumentado após o orçamento, mas
antes do início do respectivo exercício financeiro.

Foi essa jurisprudência que acabou “transformando” o princípio da anualidade no princípio da anterioridade
anual (também chamada de anterioridade de exercício), atualmente previsto no artigo 150, inciso III, alínea
b, da Constituição Federal. Pela redação originária da Constituição Federal, aplicava-se o princípio da
anterioridade anual ou de exercício a todos os tributos, salvo com relação aqueles expressamente
mencionados no § 1º do artigo 150 da Constituição Federal e às Contribuições para Seguridade Social. Estas
últimas se sujeitavam tão somente ao prazo de 90 dias, ou seja, à anterioridade nonagesimal ou noventena.

Essa situação perdurou até o advento da Emenda Constitucional nº 42/2003, que ampliou a anterioridade
nonagesimal, determinando sua incidência não apenas às Contribuições para Seguridade Social, conforme §
6º do artigo 195, mas aos demais tributos existentes, com exceção daqueles ressalvados expressamente pelo
texto. O motivo dessa mudança legislativa foi o de que o princípio da anterioridade anual passou a se tornar
inócuo.

Em dezembro, costumava-se aprovar “pacotes” que alteravam a legislação tributária, já para vigorar em
janeiro do ano seguinte. Chegou-se ao ponto de se editar uma norma no dia 31 de dezembro para vigorar a
partir de 01 de janeiro.. Nesse sentido, a ampliação da anterioridade nonagesimal teve como objetivo
garantir aos contribuintes um prazo razoável de adaptação à legislação tributária.

Portanto, desse breve contexto histórico, podemos perceber o seguinte:


A relativização do princípio da anualidade acabou dando origem ao princípio da anterioridade de
exercício; a pouca efetividade do princípio da anterioridade de exercício fez com que se
ampliasse o princípio da anterioridade nonagesimal.
A segunda observação inicial diz respeito ao porquê da existência do princípio da anterioridade.
A resposta aqui é bastante intuitiva:
O princípio da anterioridade deita raízes em outro princípio – considerado por Paulo de Barros
Carvalho como um sobreprincípio. Trata-se do princípio da segurança jurídica.

Em longo estudo sobre o tema, Humberto Ávila demonstrou que a análise sobre a segurança jurídica ocorre
mediante um alto grau de parcialidade e vagueza. A parcialidade ocorre em razão de o tema ser examinado
sob um aspecto em particular, negligenciando-se as demais manifestações da segurança jurídica. A vagueza
decorre do fato de o estudo ser feito de maneira excessivamente ampla, sem que sejam apontados critérios
para efetivação prática do princípio da segurança jurídica.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 10


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

A fim de superar tais dificuldades, o autor reduziu a indeterminação conceitual do princípio da segurança
jurídica e construiu critérios seguros que lhe garantem a operacionalidade. Com base nessa doutrina,
podemos afirmar que o princípio da segurança jurídica determina a adoção de determinados
comportamentos para realização dos estados que ele determina atingir. Esses estados ideais cuja promoção
é determinada pelo princípio da segurança jurídica são a confiabilidade, a calculabilidade e a
cognoscibilidade.

Nas palavras de Humberto Ávila, tais elementos podem ser descritos da seguinte forma:

o ideal de confiabilidade representa, sob perspectiva retrospectiva, a mudança do passado ao


presente, denotando aquilo que, do passado, deve permanecer no presente; o ideal de
calculabilidade ilustra, sob perspectiva prospectiva, a passagem do presente ao futuro, para
demonstrar aquilo que, do presente, deve ser mantido na transição para o futuro; e a
transparência do controle semântico-argumentativo revela a necessidade de objetividade
discursiva na transição do dispositivo à norma, e da norma à decisão

Para o nosso estudo, assume relevância o estado de calculabilidade, que diz respeito à dimensão futura do
princípio da segurança jurídica. Pode-se defini-la como a capacidade de antecipação das consequências
alternativas atribuíveis pelo Direito a fatos ou a atos, de forma que a consequência efetivamente aplicada
no futuro se situe dentro daquelas alternativas que foram antecipadas no presente.

Como se extrai da definição, o estado de calculabilidade não tem a pretensão de exigir que o cidadão tenha
certeza sobre a norma que será aplicada no futuro, mas apenas determina que a norma que venha a incidir
seja objetivamente previsível, ou seja, situe-se dentro do espectro de alternativas que possam ser
antecipadas no presente.

Dentre as várias manifestações do estado de calculabilidade, destacam-se em importância a anterioridade


de exercício financeiro e a anterioridade nonagesimal. Tais normas proporcionam um conhecimento prévio
da legislação do porvir, garantindo aos contribuintes a possibilidade de exercerem legitimamente um
planejamento estratégico.

Encerradas essas considerações iniciais, passamos a análise dogmática do princípio da anterioridade.

1.2.2 Considerações Gerais

O princípio da anterioridade anual se encontra previsto no artigo 150, inciso III, alínea b, da Constituição
Federal, e o princípio da anterioridade nonagesimal no artigo 150, inciso III, alínea c e parágrafo 6º do artigo
195 da Constituição Federal.

Uma interpretação literal dos verbos cobrar e exigir poderia conduzir à conclusão de que, uma vez publicada
a lei, ela poderia entrar em vigor imediato e desencadear seus efeitos, permitindo inclusive o nascimento da
obrigação tributária. Assim, o período de espera seria necessário apenas para o desencadeamento da
cobrança, o que equipararia o princípio da legalidade a um alargamento do prazo de pagamento.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 11


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

De fato, essa interpretação promoveria de maneira tímida aquele estado de calculabilidade salvaguardado
pelo princípio da segurança jurídica, motivo pelo qual não prevalece na doutrina e na jurisprudência.

A interpretação predominante é aquela que considera a finalidade do dispositivo, vinculando o termo cobrar
e o termo exigir à ideia de eficácia jurídica. Nessa perspectiva, considera-se que a nova lei tributária fica com
a eficácia paralisada, o que impede a sua incidência antes do transcurso do prazo previsto pelo princípio da
anterioridade.

Imaginemos que, em novembro de 2019, um município publicou uma lei majorando o valor de uma taxa.
Como a eficácia da norma fica paralisada até fevereiro de 2020 – em razão da incidência das duas
anterioridades – somente a partir de fevereiro, com o decurso dos 90 dias da anterioridade nonagesimal, é
que a norma retoma eficácia, podendo incidir sobre os fatos que ocorrerem posteriormente. Antes disso, o
contribuinte que realizar o fato gerador estará sujeito ao valor previsto pela lei pretérita.

O princípio da anterioridade anual impede a deflagração da eficácia da norma no mesmo exercício


financeiro em que ela haja sido publicada. Portanto, a interpretação do dispositivo depende da atribuição de
significado à expressão “exercício financeiro”. De maneira simples e direta, podemos afirmar que exercício
financeiro coincide com o ano civil, ou seja, inicia-se em 01/01 e termina em 31/12 do mesmo ano.

O princípio da anterioridade nonagesimal, por sua vez, obsta a cobrança de tributos antes de decorridos
noventa dias da data em que haja sido publicada a lei. Assim, uma lei que institua um novo tributo e que seja
publicada em 15/12/2019 só pode desencadear seus efeitos a partir de 15/03/2020. Ambas as anterioridades
se aplicam tanto à lei que instituir um novo tributo quanto à lei que aumentar o valor de um tributo já
existente.

Quanto ao verbo aumentar, valem as mesmas observações que fizemos quando analisamos o princípio da
legalidade. O entendimento dominante considera que o artigo 97, § 2º, do CTN2, é compatível com a
Constituição Federal. Logo, a mera atualização monetária da base de cálculo não precisa observar as
anterioridades.

Por fim, vale frisar que, como regra geral, aplicam-se tanto o princípio da anterioridade anual quanto o
princípio da anterioridade nonagesimal. Isso porque, ao prever a anterioridade nonagesimal, o dispositivo

2
Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

§ 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização
do valor monetário da respectiva base de cálculo.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 12


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

expressamente consigna que deve também ser “observado o disposto na alínea b”, ou seja, que também
deve ser observada a anterioridade anual.

Portanto, podemos até aqui firmar as seguintes conclusões:

1. Anualidade é diferente de anterioridade. A anualidade diz respeito à necessidade de prévia


autorização orçamentária, e não mais se encontra prevista na Constituição.

2. Há duas modalidades de anterioridade: a) a anterioridade anual ou anterioridade de exercício,


prevista no artigo 150, inciso III, alínea b; b) a anterioridade nonagesimal ou noventena, prevista no
artigo 150, inciso III, alínea c e no § 6º do artigo 195 da Constituição Federal.

3. Como regra, aplicam-se ambas as anterioridades de maneira conjunta.

1.2.3 Exceções às anterioridades anual e nonagesimal.

Iniciamos agora a análise das exceções ao princípio da anterioridade.

Comecemos com a anterioridade anual.

A primeira hipótese de não incidência da anterioridade anual se encontra prevista no artigo 195, § 6º, da
Constituição Federal. A Constituição quis que as contribuições para a seguridade social observassem tão
somente a anterioridade nonagesimal, tendo as excluído da incidência da anterioridade anual. Nesse
sentido, tratando-se de contribuições para a seguridade social, o aumento ou a instituição de um novo
tributo deve observar tão somente o prazo de 90 dias, sendo dispensável aguardar o término do exercício
financeiro.

As outras exceções à anterioridade anual se encontram nos dispositivos (artigos 150 §1º; 155, c; Art. 177 da
CR/88).

Da conjunção desses três dispositivos se percebe que a anterioridade anual não se aplica aos seguintes
tributos: a) Imposto sobre Importação (II) b) Imposto sobre Exportação (IE) c) Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) d) Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou
valores mobiliários (IOF) e) Imposto Extraordinário de Guerra (IEG) e) Empréstimo Compulsório para
Calamidade Pública ou Guerra Externa (EC-Cala/Gue) f) CIDE-Combustível g) ICMS-Combustível.

Como se observa, todos aqueles tributos que aparecem como mitigações ao princípio da legalidade também
são exceções ao princípio da anterioridade anual. Porém, há dois tributos que não aparecem como
mitigações ao princípio da legalidade, mas são exceções ao princípio da anterioridade anual: referimo-nos
ao Imposto Extraordinário de Guerra e ao Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou Guerra
Externa.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 13


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

As hipóteses de não incidência do princípio da anterioridade nonagesimal se encontram inseridas no artigo


150, §1º, da Constituição Federal. Os seguintes tributos aparecem no rol daquele dispositivo: a) Imposto
sobre Importação (II) b) Imposto sobre Exportação (IE) c) Imposto sobre operações de crédito, câmbio e
seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários (IOF) d) Imposto Extraordinário de Guerra (IEG) e)
Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou Guerra Externa (EC-Cala/Gue); f) Imposto sobre renda
e proventos de qualquer natureza; g) fixação da base de cálculo do IPTU; i) fixação da base de cálculo do
IPVA.

Observem que “faltam” três tributos nesse rol: ICMS-Combustível, CIDE-Combustível e IPI.

Todos esses três aparecem como mitigações ao princípio da legalidade e são exceções ao princípio da
anterioridade anual, mas não aparecem como exceções ao princípio da anterioridade nonagesimal. Dessa
maneira, a modificação da norma que importe na majoração do valor desses tributos não precisa observar a
anterioridade anual, mas deve necessariamente observar a anterioridade nonagesimal, ficando a eficácia da
nova lei suspensa até que haja o transcurso do prazo de 90 dias.

Esse raciocínio foi rechaçado à unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal, em medida cautelar apreciada
na ADI 4661.

Por outro lado, o dispositivo apresenta três exceções ao princípio da anterioridade nonagesimal que não
figuram no rol das mitigações ao princípio da legalidade nem no rol das exceções ao princípio da
anterioridade anual. Referimo-nos aos seguintes tributos: a) Imposto sobre renda e proventos de qualquer
natureza; b) fixação da base de cálculo do IPTU; c) fixação da base de cálculo do IPVA.

Quanto ao IPTU e ao IPVA, é importante frisar: O que escapa à incidência da anterioridade nonagesimal é
tão somente a fixação das bases de cálculo. O aumento da tributação através do incremento das alíquotas
desses impostos necessita observá-la.

Com o objetivo de facilitar a fixação da matéria, colacionamos um gráfico que sintetiza as exceções ao
princípio da anterioridade anual e as exceções ao princípio da anterioridade nonagesimal:

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 14


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

O gráfico a seguir, por sua vez, relaciona as exceções aos princípios da anterioridade com as mitigações ao
princípio da legalidade.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 15


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

1.2.4 Princípio da Anterioridade e Medidas Provisórias

Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força
de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.

Assim, abrem-se três possibilidades: a) a medida provisória é aprovada e convertida em lei; b) a medida
provisória é rejeitada pelo Congresso Nacional; c) a medida provisória não é votada no prazo de 60
dias, prorrogável por mais 60 dias, e perde a sua eficácia.

É válido lembrar que estudamos a ligação desse tema com o direito tributário quando tratamos do princípio
da legalidade. Naquela oportunidade, assentamos dois pressupostos: o primeiro, de que é possível a
instituição ou a majoração de tributos por meio de medidas provisórias, sendo esse o entendimento do
Supremo Tribunal Federal desde a promulgação da CF de 1988; e o segundo, de que há exceções a essa
regra, não sendo possível a utilização de medidas provisórias nos casos em que a Constituição Federal exigiu
a edição de Lei Complementar.

Agora vamos avançar no tema, na tentativa de enfrentarmos a questão à luz do Princípio da Anterioridade.

Cabe-nos responder, a partir de agora, como a doutrina e a jurisprudência têm compatibilizado a utilização
de medidas provisórias – cujos pressupostos são a relevância e a urgência – com o princípio da anterioridade,
que exige o transcurso de um determinado prazo para que a norma possa desencadear seus efeitos. Mais
especificamente, cabe-nos responder à seguinte indagação: Qual o termo inicial para contagem dos prazos
trazidos pelas anterioridades? Deve-se utilizar como termo inicial a edição da medida provisória ou a sua
conversão em lei? O Supremo Tribunal Federal, na redação originária da Constituição Federal, firmou
entendimento de que o termo inicial da contagem era a edição da Medida Provisória.

Contudo, posteriormente houve uma mudança na Constituição Federal, operada pela Emenda Constitucional
nº 32/2001, que inseriu o § 2º ao artigo 62 da CF. O dispositivo determinou que, tratando-se de medida
provisória que institua ou aumente impostos – salvo aqueles ressalvados expressamente - a produção de
efeitos no exercício financeiro seguinte fica condicionada à conversão da Medida provisória em lei até o dia
31 de dezembro do exercício em que a medida provisória foi editada. A ressalva feita com relação aos
impostos previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II não tem maior relevância, porque esses impostos são
exceções ao princípio da anterioridade anual.

Portanto, a novidade foi a mudança no termo inicial da contagem do prazo, que, a partir da inserção desse
novo dispositivo, passou a ser a conversão em lei da medida provisória. No entanto, essa regra não resolveu
todos os problemas.

Como se pôde observar, ele trata somente da anterioridade anual, silenciando acerca da anterioridade
nonagesimal. De certa forma, a omissão é explicável: quando da edição da Emenda Constitucional nº 32, só
existia a anterioridade nonagesimal do artigo 195, § 6º, da CF; a anterioridade nonagesimal do artigo 150,
inciso III, alínea c, só foi inserida posteriormente, pela EC 42/2003.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 16


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Entretanto, o fato é que o dispositivo não diz se a anterioridade nonagesimal deve ser contada da data da
edição da medida provisória ou também da sua conversão em lei.

O segundo problema que se apresenta é que o dispositivo se refere a impostos, e não a tributos. Nessa
perspectiva, cabe indagar se, tratando-se de outras espécies tributárias, o termo inicial deve ser o da edição
da medida provisória, como decidia o STF na redação originária da CF, ou se da conversão da medida
provisória em lei, aplicando-se analogicamente às outras espécies tributárias o § 2º do artigo 62.

O Supremo Tribunal Federal tem mantido sua jurisprudência e interpretado de maneira restritiva o § 2º do
artigo 62 da CF, para aplicá-lo tão somente à anterioridade anual, nos casos em que a medida provisória se
refira a impostos.

No entanto, a Corte tem feito uma ressalva: O termo inicial deve ser a da conversão em lei nos casos em que
a instituição ou a majoração do tributo não tenha sido prevista originariamente no texto da Medida
Provisória, mas tenha sido realizada somente no curso do processo legislativo.

Portanto, podemos assentar as seguintes conclusões:

1ª – O termo inicial do prazo da anterioridade anual é a edição da medida provisória, quando o objeto
da MP for a instituição ou a majoração de qualquer outra espécie tributária que não impostos (ex.
taxas, contribuições de melhoria e contribuições especiais).

2ª: O termo inicial do prazo da anterioridade anual é a conversão em lei da medida provisória, quando
esta última instituir ou majorar impostos, salvo aqueles ressalvados pelo §2º do artigo 62 – que sequer
se submetem à anterioridade anual.

3ª: O termo inicial do prazo da anterioridade nonagesimal é a edição da medida provisória.

4ª: Em qualquer caso, o termo inicial é a conversão em lei da medida provisória, nos casos em que a
instituição ou a majoração do tributo só foi realizada no curso do processo legislativo.

1.2.5 Algumas controvérsias sobre a (não) incidência do Princípio da Anterioridade

Antes de encerrarmos, abordaremos algumas controvérsias sobre a incidência ou não do princípio da


anterioridade.

Comecemos pela alteração na data de pagamento do tributo.

O raciocínio que utilizamos aqui é o mesmo de quando enfrentamos esse tema tendo como pano de fundo
o princípio da legalidade: a alteração na data de pagamento do tributo não importa na instituição de um
novo tributo ou na sua majoração. Logo, não há a necessidade de observância do princípio da anterioridade.

O Supremo Tribunal Federal editou inclusive Súmula Vinculante acerca do assunto:

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 17


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Súmula Vinculante 50: Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária
não se sujeita ao princípio da anterioridade.

O segundo tema diz respeito à revogação de isenções concedidas por prazo indeterminado e/ou não
condicionadas.

Do ponto de vista da jurisprudência, o plenário do Supremo Tribunal Federal adotava o entendimento no


sentido da inaplicabilidade do princípio da anterioridade quando da revogação de isenções.

No entanto, essa jurisprudência mudou a partir de 2014, quando a Primeira Turma do Supremo Tribunal
Federal julgou o RE 564.225. Na ocasião, a Corte entendeu que a anterioridade anual e a anterioridade
nonagesimal se aplicavam em caso de revogação de benefício fiscal. Transcrevemos trecho do voto proferido
pelo Ministro Luís Roberto Barroso, em que ele defendeu a modificação da jurisprudência da Corte:

[...] 6. A ocasião é oportuna para revisitar a jurisprudência da Corte, que foi muito bem retratada
pela divergência. A concepção de anterioridade que me parece mais adequada é aquela afeta ao
conteúdo teleológico da garantia. O princípio busca assegurar a previsibilidade da relação fiscal
ao não permitir que o contribuinte seja surpreendido com um aumento súbito do encargo,
confirmando o direito inafastável ao planejamento de suas finanças. O prévio conhecimento da
carga tributária tem como fundamento a segurança jurídica e como conteúdo a garantia da
certeza do direito.

7. Deve ser entendida como majoração do tributo toda alteração ocorrida nos critérios
quantitativos do consequente da regra-matriz de incidência. Sob tal perspectiva, um aumento de
alíquota ou uma redução de benefício relacionada a base econômica apontam para o mesmo
resultado: agravamento do encargo. O que não é a diminuição da redução da base de cálculo
senão seu próprio aumento com relação à situação anterior.

8. A proteção ao contribuinte remonta à origem do próprio constitucionalismo, quando passou


a constar da Carta ao Rei João Sem-Terra que o povo é quem determina a medida do seu esforço.
As garantias contra o poder de tributar evoluem e hoje o povo tem o poder de decidir e o direito
de se preparar. Pedindo vênia à divergência, acompanho o Eminente relator para negar
provimento ao recurso.[...]

Esse novo entendimento foi adotado posteriormente também pela Segunda Turma do Supremo Tribunal
Federal em diversos julgados sobre a matéria. Outra questão já decidida pelo STF diz respeito à redução ou
extinção de desconto para pagamento de tributo em parcela única ou de maneira antecipada, normalmente
autorizada nos casos de IPVA ou IPTU. A Corte decidiu que, nessa hipótese, não há majoração no valor da
carga tributária, razão pela qual não se aplica o princípio da anterioridade.

1.3 Princípio da Irretroatividade

1.3.1 Considerações Gerais

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 18


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

No item anterior, ao relacionarmos o princípio da anterioridade com o sobreprincípio da segurança jurídica,


falamos que este último determina a promoção dos estados de calculabilidade, confiabilidade e
cognoscibilidade. A cognoscibilidade diz respeito a um conhecimento mínimo acerca da existência, validade,
vigência e eficácia das normas jurídicas; a calculabilidade, à possibilidade de antecipar as normas jurídicas
que serão aplicadas no futuro; a confiabilidade, à necessidade de garantia de estabilidade do ordenamento
jurídico.

Assim como o princípio da anterioridade tem como suporte o sobreprincípio da segurança jurídica, ao
promover o estado ideal de calculabilidade, também o princípio da irretroatividade, do qual nos ocuparemos
a partir de agora, tem o princípio da segurança jurídica como seu fundamento.

A irretroatividade jurídica fere os ideais de calculabilidade e confiabilidade, conforme explica Humberto


Ávila:

[...]Como a retroatividade faz com que a norma anterior, em cuja eficácia se confiou, tenha parte
da sua eficácia anulada pela norma posterior, a retroatividade não diz respeito apenas a um
problema relacionado à transição do passado ao presente, mas também do presente ao futuro:
o cidadão, tendo sido frustrada a sua confiança com relação à eficácia da norma anterior pela
modificação introduzida pela norma presente, passa a desconfiar de que também a eficácia da
norma presente pode ser alterada por um norma futura. Em outras palavras, o fenômeno da
retroatividade causa tanto uma frustração da confiança normativa com relação ao passado
quanto o nascimento de uma desconfiança jurídica com relação ao futuro. Retroatividade, enfim,
é um problema toca tanto à exigência de confiabilidade quanto à de calculabilidade do
ordenamento jurídico. Ela atinge, em suma, a segurança jurídica na sua dupla dimensão.

Portanto, por promover a segurança jurídica, a garantia de irretroatividade ocupa papel central em um
Estado de Direito, tendo ganhado na Constituição Federal de 1988 dois dispositivos que lhe servem como
fundamentos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

Passaremos a analisar o artigo 150, inciso III, alínea a, que diz respeito ao princípio da irretroatividade
tributária, objeto da nossa matéria.

1.3.2 Análise Dogmática

1.3.2.1 Significado da expressão fatos geradores ocorridos, empregada pelo artigo 150, inciso III, alínea a,
da CF.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 19


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Logo, no momento em que se passa os olhos sobre a alínea a, do inciso III, do artigo 150, da CF, é possível
intuir que a expressão “fato gerador” ocupa posição central na oração. E, assim, a delimitação do conteúdo
normativo desse dispositivo depende da significação que lhe seja atribuída. De uma maneira geral, é possível
dizer que o termo fato gerador tem sido empregado para aludir a duas realidades bastante distintas.

Numa primeira acepção, fato gerador é a descrição por uma norma geral e abstrata de um determinado
comportamento ou estado, cuja realização concreta faz nascer a relação jurídica de direito tributário. Nessa
perspectiva, fato gerador é o antecedente da regra-matriz de incidência; é, por exemplo, a previsão de que
quem auferir renda deve pagar imposto de renda.

Na segunda acepção, o termo fato gerador é a própria realização concreta daquele comportamento previsto
pela norma tributária. Ocorre, por exemplo, quando alguém, em janeiro de 2018, recebe o seu salário,
auferindo renda. Por tratar-se de palavra ambígua, alguns autores têm abandonado o uso do termo fato
gerador.

O verbo ocorrer evidencia que a Constituição empregou nesse dispositivo a segunda acepção do termo fato
gerador, ou seja, utilizou-o como a realização concreta do comportamento previsto na norma geral e
abstrata. Com outras palavras, o que a Constituição disse é que é vedado cobrar tributos com relação a fatos
jurídicos (conforme terminologia de Paulo de Barros Carvalho) que ocorreram antes da vigência da lei que
os houver instituído ou aumentado.

Assim, se uma pessoa efetivamente realizou a importação em dezembro de 2017, deve pagar o imposto de
importação conforme a lei vigente em dezembro de 2017, e não de acordo com a lei vigente em janeiro de
2018. Portanto, até aqui não há dificuldades. O que a Constituição proíbe é que uma lei posterior retroaja e
incida sobre fatos que ocorreram antes da sua vigência.

O problema surge quando introduzimos a seguinte indagação: Quando que se considera ocorrido o fato
gerador?

Há duas respostas para essa pergunta.

A primeira delas interpreta a expressão “fatos geradores ocorridos” como a consumação de todos os
requisitos necessários e suficientes ao surgimento da obrigação tributária. A segunda interpretação é mais
ampla, porque compreende tal expressão como a realização de cada um dos eventos que, em conjunto com
outros, dão origem ao nascimento da obrigação tributária, independentemente da circunstância de ter
ocorrido a consumação de todos os eventos previstos pela norma.

Embora a segunda interpretação goze de prestígio na doutrina, não é ela que prevalece atualmente.

A jurisprudência tem entendido que a ocorrência do fato gerador pressupõe a realização de todos os
elementos previstos pela hipótese de incidência da regra-matriz, sendo insuficiente que apenas um ou alguns
deles tenham sido concretamente realizados.

1.3.2.2 Consequências dessa interpretação

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 20


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Dois exemplos concretos evidenciam que essa interpretação fragiliza o princípio da irretroatividade.

O primeiro deles diz respeito ao Imposto de Importação:

O Poder Executivo editou o Decreto 1.291/95 com a promessa de reduzir gradativamente a alíquota do
tributo em dois percentuais por ano, passando da alíquota de 32% em 1995 até 20% em 2011. No meio do
caminho, ainda em 1995, o Poder Executivo editou o Decreto 1.427/95, voltando atrás em sua promessa, e
aumentando a alíquota do tributo para 70%.

O Supremo Tribunal Federal viu-se confrontado com a seguinte situação:

Um contribuinte celebrou o contrato de compra e venda na época em que vigia o Decreto 1.291/95,
de alíquota menor. Contudo, o fato gerador do tributo efetivamente ocorreu em 03/04/1995, quatro
dias após vigência do decreto que a majorou. Nesse caso, o Tribunal afastou a alegação de
irretroatividade, justamente em razão de o fato gerador ter ocorrido após a edição do novo decreto.

O segundo exemplo mostra-se ainda mais elucidativo. Diz respeito à Contribuição social sobre o lucro
líquido, cujo fato gerador ocorre no dia 31/12.

Quanto à anterioridade, a CSLL é uma contribuição para a seguridade social. Nesse sentido, aplica-se a ela
tão somente a anterioridade nonagesimal, cuja contagem tem como termo a quo a data de edição da Medida
Provisória, na esteira do que vimos no capítulo anterior.

1.4 Princípio da Isonomia Tributária

1.4.1 Aspecto negativo: O que a lei não pode discriminar

O princípio da isonomia tributária encontra previsão expressa no artigo 150, inciso II, da Constituição
Federal.

O princípio da isonomia proíbe que a lei tribute de maneira distinta pessoas que estejam em situação
equivalente, mas admite, a contrario sensu, que se tribute de maneira diferenciada as pessoas que se
encontram em condição desigual. A igualdade pressupõe sempre uma medida de comparação. Alguém pode
ser igual a outrem em relação a um aspecto – em inteligência, por exemplo – mas diferente em relação à
beleza ou riqueza.

Sob a perspectiva da isonomia tributária, não é toda diferença que pode conduzir a um tratamento distinto.
O fato de alguém ser mais belo do que outrem não justifica que a pessoa mais bela seja tributada de maneira
diferente. Nessa esteira, são duas as situações que, do ponto de vista do Direito Tributário, justificam um
tratamento diferenciado, por afastarem a equivalência pressuposta pelo dispositivo: diferentes capacidades
contributivas ou razões extrafiscais.

A diferença de capacidade contributiva – riqueza – é justificativa que pode ensejar um tratamento


diferenciado, sem que se possa falar em violação ao princípio da isonomia. É o caso do IRPF, cujas alíquotas

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 21


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

variam de acordo com a renda do contribuinte. Quem ganha um salário-mínimo não está em situação
equivalente à de quem aufere renda superior a R$ 4.664,68.

Outros exemplos de tratamentos diferenciados foram aqueles promovidos pela Lei 10.684/2003 e pela Lei
7.787/1989. A primeira delas majorou de maneira diferenciada a alíquota de contribuição previdenciária
incidente sobre a receita das instituições financeiras. A segunda determinou que as instituições financeiras
e assemelhadas deveriam pagar um adicional de 2,5% sobre a folha de salários.

Ao julgar o RE 599.309 e o RE 656.089, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a constitucionalidade


dos dispositivos impugnados. Dentre outros fundamentos, a Corte entendeu que seria proporcional
que contribuintes que exercem atividade econômica de grande capacidade contributiva contribuíssem
mais para o custeio da seguridade social.

Razões extrafiscais também podem justificar um tratamento diferenciado, sem que se possa falar em ofensa
ao princípio da isonomia. Nesse sentido, não há que se falar em inconstitucionalidade na elevação da alíquota
do ITR nos casos de improdutividade de imóvel rural; ou na progressividade do IPTU em razão do não
cumprimento da função social da propriedade; nem mesmo na tributação acentuada de produtos como
cigarros e bebidas.

Em todas essas hipóteses – improdutividade de imóvel rural, não cumprimento da função social da
propriedade e consumo do tabaco – as razões de interesse público justificam que a legislação tributária seja
utilizada como indutora de determinados comportamentos.

1.4.2 Aspecto positivo: O que a lei deve discriminar

Parte da doutrina não se limita a analisar apenas o aspecto negativo do princípio da isonomia – estudando
o que a lei pode e o que a lei não pode discriminar. Defende que o princípio da isonomia também assume
uma feição positiva, determinando o que a lei deve discriminar.

Sob esse viés, o princípio da isonomia impõe que a lei discrimine os desiguais, na medida das suas
desigualdades. Assim, nessa perspectiva, além de proibir tratamento desigual a quem se encontre em
situação equivalente, o princípio da isonomia veda um tratamento igualitário nos casos em que a situação
seja distinta.

1.4.3 Violação à isonomia. O que o Judiciário pode fazer?

Imaginemos que uma lei institua uma isenção tributária em favor do grupo A, mas não contemple o Grupo
B, que se encontra na mesma situação daquele. Nessa hipótese, em que há uma violação ao princípio da
isonomia, a doutrina menciona a existência de três técnicas de decisão que o Poder Judiciário poderia utilizar
para restabelecer a legalidade:

A primeira seria a extensão dos benefícios ao Grupo B. Assim, por meio de uma decisão judicial, o Poder
Judiciário conferiria aos contribuintes desse grupo a mesma regra isentiva que foi concedida ao Grupo A.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 22


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

A segunda possibilidade é a supressão dos benefícios que foram concedidos ao Grupo A. Por esse
mecanismo, a norma isentiva seria declarada inconstitucional, e tanto os contribuintes do Grupo A quanto
do Grupo B passariam a sofrer a incidência da mesma norma tributária.

A terceira possibilidade seria fazer um apelo ao legislador, conclamando-o a editar uma lei que
restabelecesse o princípio da isonomia, sob pena de, no futuro, reconhecer-se a inconstitucionalidade da
norma isentiva.

As três técnicas mencionadas constam do voto do Ministro Celso de Mello no RMS 22.307-7/DF.

Dentre essas três técnicas de decisão, o Supremo Tribunal Federal tem rechaçado a utilização da
primeira, de extensão dos benefícios às categorias que foram deles excluídas.

O argumento é o de que essa postura transformaria o Poder Judiciário em legislador positivo.

Esse foi um dos fundamentos - não o único - utilizado pela Corte para julgar improcedente a ADI 6025,
julgada em julho de 2020. Nessa ação, a Procuradoria Geral da República objetivava ampliar a isenção
conferida pelo artigo 6º, inciso XIV, da Lei de nº 7.713/88 - que isenta os proventos de aposentadoria
de portadores de doenças graves do IRPF - também aos rendimentos do trabalho auferidos pelos
trabalhadores que permanecem na ativa. O argumento é o de que existiria uma violação à isonomia,
pela ausência de fundamento idôneo que justificasse a diferenciação entre aposentados doentes e
trabalhadores doentes. Ao apreciar a demanda, o Supremo Tribunal Federal assentou que "não é
possível que o Poder Judiciário, atuando como legislador positivo, amplie a incidência da concessão
de benefício tributário, de modo a incluir contribuintes não expressamente abrangidos pela legislação
pertinente".

Portanto, o Supremo Tribunal Federal entende que o Poder Judiciário só pode utilizar as duas últimas, não
sendo viável a extensão de um benefício fiscal a um grupo de contribuintes que foi excluído pela legislação.

1.4.4 Pecúnia non olet e Princípio da isonomia.

Por força do princípio do non olet, tributa-se as atividades ilícitas da mesma forma que as atividades lícitas.
Assim, o fato de alguém obter renda por meio de uma atividade ilegal não é motivo que justifique o
afastamento da tributação, devendo recolher IRPF da mesma forma que qualquer outro contribuinte que
exerça uma atividade legal.

Fizemos essa observação porque a ausência da tributação nesses casos equivaleria a dar um tratamento
privilegiado a quem exerce atividades ilegais em detrimento dos contribuintes que empreendem uma
atividade lícita, numa nítida ofensa ao princípio da isonomia tributária.

1.5 Princípio da Capacidade Contributiva

1.5.1 Capacidade contributiva absoluta/objetiva e Capacidade contributiva relativa/subjetiva

A doutrina diferencia a capacidade contributiva absoluta da capacidade contributiva relativa.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 23


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

A capacidade contributiva absoluta (ou objetiva) determina que, ao criar uma norma tributária, a lei deve
levar em consideração circunstâncias que efetivamente denotem a existência de capacidade econômica do
contribuinte. É o que ocorre com o IPTU, cuja hipótese de incidência é ser proprietário de um imóvel urbano;
ou então com o IPVA, cujo fato gerador é ser proprietário de veículo automotor.

Em ambas as hipóteses, a norma descreve situações que autorizam concluir pela existência de capacidade
econômica por parte do contribuinte. Já a capacidade contributiva relativa (ou subjetiva) diz respeito à
medida da tributação. Tem como objetivo estabelecer parâmetros sobre a intensidade do poder de tributar.

Nessa perspectiva, a capacidade contributiva exige que o legislador leve em consideração aspectos
subjetivos do contribuinte, traçando critérios que permitam identificar se ele efetivamente pode suportar a
carga tributária.

Dois critérios assumem relevância nessa modalidade: o mínimo existencial e a proibição do confisco.

O mínimo existencial diz respeito à renda mínima que o contribuinte necessita para subsistir, entendendo-
se como tal a quantia suficiente para custear despesas como alimentação, moradia, saúde etc. Sob essa ótica,
seria inconstitucional, por exemplo, uma norma que revogasse a faixa de isenção do IRPF.

A proibição do confisco, por outro lado, impede a tributação desarrazoada, que transforme o poder de
tributar em uma forma de expropriação da propriedade privada.

Nesse intervalo, entre um marco e outro, é que se revela a capacidade contributiva, que “começa além do
mínimo necessário à existência humana digna e termina aquém do limite destruidor da propriedade".

1.5.2 Aplicabilidade do Princípio da capacidade contributiva a todas as espécies tributárias.

O princípio da capacidade contributiva encontra-se positivado no artigo 145, §1º da Constituição Federal.
Como o dispositivo limita-se a falar de impostos, que é uma das espécies tributárias existentes no
ordenamento jurídico, a doutrina diverge sobre a possibilidade de aplicação do princípio da capacidade
contributiva a outras espécies tributárias.

Um critério para solucionar o impasse é diferenciar capacidade contributiva absoluta/objetiva de


capacidade contributiva relativa/subjetiva, cujos conceitos analisamos no tópico acima.

Quanto à capacidade contributiva absoluta/objetiva, sua aplicabilidade realmente se restringiria aos


tributos não vinculados, como é o caso dos impostos e das contribuições especiais, porque são nessas

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 24


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

espécies tributárias que se encontram hipóteses de incidência que levam em consideração algum
comportamento do contribuinte que revela uma manifestação de riqueza (ex. auferir renda; ser proprietário
de imóvel urbano; ser proprietário de imóvel rural; obter faturamento, obter lucro).

Nos casos dos tributos vinculados, como taxas e contribuições de melhoria, não se tem, na hipótese de
incidência da norma impositiva, a descrição de uma conduta do contribuinte, mas sim a descrição de uma
conduta estatal (ex. coleta de lixo, fiscalização ambiental realizada pelo Ibama).

Assim, sob essa ótica, da capacidade contributiva absoluta, o artigo 145, § 1º, da CF, aplicar-se-ia apenas
aos tributos não vinculados.

Por outro lado, a capacidade contributiva relativa ou subjetiva se aplicaria a todas as espécies tributárias,
uma vez que nessa acepção tem-se como objetivo evitar a tributação confiscatória ou que atinja ao mínimo
vital. Há julgados do Supremo Tribunal Federal em que se reconhece a aplicabilidade do princípio da
capacidade contributiva a todas as espécies tributárias, ainda que com relação aos tributos vinculados, como
é o caso das taxas, as particularidades acima devam ser consideradas.

Para as provas objetivas de concurso público, recomendamos a adoção dessa última posição, que está em
consonância com o entendimento do Supremo Tribunal Federal.

1.6 Princípio da Vedação ao Confisco

1.6.1 Aspectos Gerais

O princípio da vedação ao confisco encontra supedâneo no artigo 150, inciso IV, da Constituição Federal.

Trata-se de um princípio que guarda relação com o princípio da capacidade contributiva, sendo uma
derivação deste último. A essa conclusão se chega quando se tem em mente a ideia de capacidade
contributiva relativa/subjetiva, cuja força normativa é determinar que o quantum da tributação seja fixado
na faixa que se situa entre o mínimo vital e a tributação confiscatória:

O confisco é uma sanção que tem como característica a expropriação de um bem particular pelo Estado, sem
que haja qualquer indenização compensatória. Portanto, da leitura do artigo 150, inciso IV, da CF,
especialmente da expressão efeito de confisco, extrai-se que o que se proíbe é que a tributação seja utilizada
de um modo que conduza a um resultado equiparado a essa sanção. Portanto, proíbe-se que a carga
tributária seja tão elevada ao ponto de se assemelhar à tomada da propriedade do contribuinte pelo Estado.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 25


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Ao se proceder a essa análise, deve-se levar em consideração dois critérios:

O primeiro enuncia que a carga tributária deve ser considerada como um todo, e não apenas com relação a
cada um dos tributos isoladamente. Assim, a análise sobre a confiscatoriedade da tributação incidente sobre
os rendimentos de um empregado ou servidor público, que paga imposto de renda e contribuição para a
seguridade social, deve ser aferida não apenas pela consideração de cada uma das alíquotas isoladamente,
mas pela soma dos valores que, em razão da múltipla incidência, é transferido do patrimônio do contribuinte
para a União Federal. Foi essa a conclusão a que chegou o Supremo Tribunal Federal quando da análise da
Lei nº 9.783/99, que estabeleceu alíquotas progressivas à contribuição para a seguridade especial dos
servidores públicos.

O segundo determina o exame da finalidade da tributação. O fato de um tributo ser utilizado para
consecução de outros objetivos que não apenas a arrecadação pode justificar uma tributação acentuada,
desde que a medida observe o princípio da proporcionalidade. Assim, tratando-se de tributos extrafiscais, o
exame sobre a confiscatoriedade da exação não pode deixar de considerar essa particularidade.

1.6.2 Aplicação do princípio da vedação do confisco às multas.

Como se extrai do artigo 3º do CTN3, tributo é uma prestação pecuniária compulsória que não pode constituir
sanção por ato ilícito.

Dessa forma, há que se diferenciar a norma tributária da norma sancionatória. A norma tributária tem, na
sua hipótese de incidência, a descrição de uma conduta lícita, cuja realização concreta faz nascer uma relação
jurídica que obriga o sujeito passivo a pagar ao sujeito ativo uma determinada quantia a título de tributo. A
norma sancionatória, ao contrário, possui na sua hipótese a descrição de uma conduta ilícita, cuja realização
concreta obriga o sujeito passivo a pagar ao sujeito ativo uma determinada quantia a título de multa.

Fizemos essas observações porque o inciso IV, do artigo 150, da Constituição Federal, proíbe a utilização de
tributo com efeito de confisco. Assim, há quem defenda que, tratando-se de multa, o princípio da vedação
ao confisco não seria aplicável. Contudo, o entendimento amplamente dominante na doutrina e na
jurisprudência é o de que o princípio da vedação ao confisco encontra aplicabilidade também às multas
tributárias.

Por outro lado, há dificuldades no estabelecimento de um limite percentual a partir do qual a multa aplicada
seria considerada confiscatória. Embora exista uma variedade de critérios, a jurisprudência tradicional do
Supremo Tribunal Federal é a de que o confisco existe quando a multa superar o valor da obrigação principal,
ou seja, quando o percentual da multa for superior a 100%.

3
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não
constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 26


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

No entanto, em recentes julgados, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal aprimorou esse critério,
adotando os parâmetros estabelecidos pelo Ministro Luís Roberto Barroso, que diferencia, para efeitos de
análise do caráter confiscatório da sanção, a natureza da multa imposta ao contribuinte.

O trecho do voto do ministro, proferido no AI 727872 AGR/RS, explica didaticamente os três tipos de multas
existentes:

“No direito tributário, existem basicamente três tipos de multas: as moratórias, as punitivas
isoladas e as punitivas acompanhadas do lançamento de ofício. As multas moratórias são devidas
em decorrência da impontualidade injustificada no adimplemento da obrigação tributária. As
multas punitivas visam coibir o descumprimento às previsões da legislação tributária. Se o ilícito
é relativo a um dever instrumental, sem que ocorra repercussão no montante do tributo devido,
diz-se isolada a multa. No caso dos tributos sujeitos a homologação, a constatação de uma
violação geralmente vem acompanhada da supressão de pelo menos uma parcela do tributo
devido. Nesse caso, aplica-se a multa e promove-se o lançamento do valor devido de ofício. Esta
é a multa mais comum, aplicada nos casos de sonegação”.

Com base nessa distinção, a Primeira Turma do STF tem considerado que as multas moratórias são menos
graves do que as multas punitivas. Naquelas, a imposição da sanção se justifica pelo inadimplemento da
obrigação tributária no termo fixado pela legislação. Nestas últimas, a sanção é imposta em razão do
descumprimento de uma obrigação acessória, que normalmente é acompanhada da sonegação de parte ou
da totalidade do valor devido.

Assim, levando em conta essa distinção, tem fixado como limite o percentual de 20% para as multas
moratórias e de 100% para as multas punitivas.

1.7 Princípio da liberdade de tráfego de pessoas e bens

O princípio da liberdade de tráfego de pessoas e bens se encontra previsto no artigo 150, inciso V, da
Constituição Federal. O que o dispositivo proíbe é que sejam criados tributos interestaduais ou
intermunicipais que possam limitar o tráfego de pessoa ou bens. Trata-se de um princípio que tem como
fundamento a ideia de unidade econômica do território nacional.

Atualmente, esse dispositivo perdeu muito da sua força, em razão de o artigo 153, inciso II, da Constituição
Federal, ser expresso ao autorizar a instituição de imposto “sobre exportação, para o exterior, de produtos
nacionais ou nacionalizados”. Diante dessa regra, mostra-se inviável a instituição de um imposto de
exportação sobre produtos destinados a outros estados da federação.

Não há ofensa a esse princípio na cobrança do ICMS, uma vez que existe regra de competência na
constituição Federal – artigo 155, inciso II - que autoriza a sua instituição. O princípio também não é
desrespeitado pela cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo poder público, conforme
se observa da ressalva expressa constante do inciso V do artigo 150. Aliás, a menção expressa ao pedágio
nem seria necessária, uma vez que essa cobrança tem natureza de preço público e não de tributo.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 27


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Foi o que decidiu o Supremo Tribunal Federal à unanimidade no julgamento da ADI 800.

1.8 Princípio da Proibição das Isenções Heterônomas

O princípio da proibição das isenções heterônomas encontra previsão no artigo 150, inciso II, da Constituição
Federal.

O fundamento do dispositivo repousa na autonomia das entidades federativas, que possuem as


prerrogativas do autogoverno e da auto-organização, e no regime de competências estabelecido pela
Constituição Federal. Quando a Constituição estabelece a competência para instituir um tributo, também
estabelece a competência para definir as hipóteses de suspensão, extinção e exclusão do crédito tributário,
observadas as regras gerais previstas em Lei Complementar.

Quanto à interpretação desse dispositivo, duas observações iniciais se fazem necessárias:

Primeira, de que a vedação se aplica a tributos, ou seja, a todas as espécies tributárias, conforme redação
expressa do dispositivo constitucional.

Segunda, de que, embora o dispositivo se refira tão somente à União Federal, pode-se aplicar também aos
Estados, com relação aos tributos municipais. Assim, por exemplo, não pode a Assembleia Legislativa aprovar
uma hipótese de isenção do ISSQN.

A Constituição prevê uma exceção a esse princípio no artigo 156, §3º, inciso II: pode a União Federal, por
meio de Lei Complementar, excluir a incidência do ISSQN sobre as exportações de serviços para o exterior.

Ademais, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal considera constitucional que um tratado


internacional conceda isenções de tributos da competência dos Estados e dos Municípios. O fundamento é
o de que quem atua nas relações internacionais é a República Federativa do Brasil, como representante de
todo o Estado Brasileiro, e não a União Federal. Nessa perspectiva, seria inaplicável o disposto no artigo 151,
inciso III, da Constituição Federal.

1.9 Princípio da Uniformidade Geográfica

O Princípio da Uniformidade Geográfica encontra previsão no artigo 151, inciso I, da Constituição Federal:

Trata-se de uma vedação imposta à União Federal, que não pode dar tratamento tributário preferencial em
relação a contribuintes situados em determinado Estado ou Município da federação em detrimento dos
contribuintes situados nos outros Estados ou municípios. Nessa perspectiva, a tributação da União, como
regra, deve ser uniforme em todo o território nacional.

Contudo, há uma exceção expressamente contemplada pelo dispositivo, que autoriza “a concessão de
incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as
diferentes regiões do País”. Portanto, admite-se que sejam estabelecidos incentivos tributários, com vistas
a promover o desenvolvimento de regiões mais pobres do território nacional.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 28


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

1.10 Princípio da Isonômica Tributação da Renda nos Títulos da Dívida Pública e nos Vencimentos Dos
Funcionários Públicos

O referido princípio se encontra positivado no artigo 151, inciso II, da Constituição Federal. São duas são as
vedações:

A primeira impede que a União tribute a renda decorrente das obrigações da dívida pública dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios em montante superior ao que fixar para as suas próprias obrigações.

A segunda veda que o IRPF dos servidores dos Estados, Distrito Federal e Municípios seja superior ao IRPF
pago pelos servidores da própria União Federal.

1.11 Princípio da Não Discriminação Baseada em Procedência ou Destino

A vedação que proíbe aos Estados e aos Municípios estabelecerem diferenças tributárias em razão da
procedência ou destino de bens e serviços de qualquer natureza encontra previsão expressa no artigo 152
da Constituição Federal. Importante observar que esse dispositivo é diferente do artigo 151, inciso I, da
Constituição Federal, outrora analisado.

Aquele impede que a União Federal institua tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou
que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, salvo no caso
de concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico
entre as diferentes regiões do País.

O dispositivo ora analisado destina-se aos Estados, Distrito Federal e Municípios. O seu objetivo é proibir
que essas entidades federativas estabeleçam discriminações tributárias tão somente em razão da
procedência ou destino das mercadorias, evitando-se a ocorrência de uma guerra fiscal. Diferentemente do
que ocorre com relação ao artigo 151, inciso I, aqui não há qualquer ressalva. Assim, não é permitido que
municípios ou estados, mesmo que sob o fundamento da promoção do desenvolvimento econômico dessas
regiões, instituam uma política tributária diversa para bens produzidos ou destinados a outros estados da
federação.

1.12 Princípio da Capacidade Colaborativa

Alguns doutrinadores defendem a existência do princípio da capacidade colaborativa. De um modo geral, o


conteúdo do princípio da capacidade colaborativa exige que o Estado, ao editar obrigações acessórias,
efetivamente o faça para viabilizar, simplificar ou tornar mais efetiva a fiscalização tributária, sem que com
isso se imponha demasiados ônus ou restrições às liberdades dos contribuintes.

Nesse sentido, é necessário o atendimento de três requisitos:

Primeiro, de que as obrigações acessórias sejam de fato úteis à simplificação tributária e ao exercício da
fiscalização tributária, sendo vedada à instituição de deveres instrumentais que nada auxiliem na consecução
desses objetivos.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 29


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Segundo, de que a colaboração seja exigida de quem tem aptidão para realizar o que se pretende.

Dentro desse requisito é que se encontra inserida a necessidade de relação entre aquele que é obrigado a
prestar uma obrigação acessória – quando não for o próprio contribuinte - e o fato gerador, sendo vedada a
escolha de alguém que não detenha essa ligação.

O terceiro requisito é o de que a obrigação acessória seja proporcional, sendo vedada a exigência de
colaboração que seja demasiadamente onerosa.

Fechando a parte teórica do nosso estudo, vamos agora estudar nosso Vade-mécum Estratégico os artigos
apenas citados acima:

2 - VADE-MÉCUM ESTRATÉGICO
TÍTULO VI

DA TRIBUTAÇÃO E DO ORÇAMENTO

CAPÍTULO I

DO SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL

Seção I

DOS PRINCÍPIOS GERAIS

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:

(PGE-RS 2015)

I - impostos;

II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços
públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;

O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa. (Súmula Vinculante 41)
A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou
destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis não viola o art. 145, II, da CF. (Súmula
Vinculante 19)
É constitucional a taxa de fiscalização dos mercados de títulos e valores mobiliários instiuída pela Lei
7.940/1989. (Súmula 665, STF)

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 30


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são
compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária, em relação à lei
que as instituiu. (Súmula 545, STF)
Os Estados possuem competência para dispor sobre instituição de taxas de polícia cobradas em
função de atividades tais como: fiscalização e vistoria em estabelecimentos comerciais abertos ao
público (casas noturnas, restaurantes, cinemas, shows); expedição de alvarás para o funcionamento
de estabelecimentos de que fabriquem, transportem ou comercializem armas de fogo, munição,
explosivos, inflamáveis ou produtos químicos; expedição de atestados de idoneidade para porte de
arma de fogo, tráfego de explosivos, trânsito de armas em hipóteses determinadas; e atividades
diversas com impacto na ordem social, no intuito de verificar o atendimento de condições de
segurança e emitir as correspondentes autorizações essenciais ao funcionamento de tais
estabelecimentos. (ADI 3.770, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 13-9-2019, P, DJE de 26-9-2019)
É constitucional a destinação do produto da arrecadação da taxa de polícia sobre as atividades
notariais e de registro, ora para tonificar a musculatura econômica deste ou daquele órgão do Poder
Judiciário, ora para aportar recursos financeiros para a jurisdição em si mesma. (ADI 3.643, rel. min.
Ayres Britto, j. 8-11-2006, P, DJ de 16-2-2007)
A segurança pública, presentes a prevenção e o combate a incêndios, faz-se, no campo da atividade
precípua, pela unidade da Federação e, porque serviço essencial, tem como viabilizá-la a arrecadação
de impostos, não cabendo ao Município a criação de taxa para tal fim. (RE 643.247, voto do rel. min.
Marco Aurélio, j. 1º-8-2017, P, DJE de 19-12-2017, Tema 16)
É inconstitucional a instituição e a cobrança de taxas por emissão ou remessa de carnês/guias de
recolhimento de tributos. (RE 789.218 RG, rel. min. Dias Toffoli, j. 17-4-2014, P, DJE de 1º-8-2014,
Tema 721)
As taxas cobradas em razão exclusivamente dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento
ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis são constitucionais, ao passo que é
inconstitucional a cobrança de valores tidos como taxa em razão de serviços de conservação e
limpeza de logradouros e bens públicos. (RE 576.321 QO-RG, voto do rel. min. Ricardo Lewandowski,
j. 4-12-2008, P, DJE de 13-2-2009, Tema 146)

III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.

§ 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade
econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade
a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os
rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

(PGE-RS 2015) (PGE-AC 2017) (PGE-PE 2018) (PGE-MA 2016)


É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da EC 29/2000, alíquotas progressivas
para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana.
(Súmula 668, STF)
É inconstitucional a lei que estabelece alíquotas progressivas para o Imposto de Transmissão Inter
Vivos de Bens Imóveis (ITBI) com base no valor venal do imóvel. (Súmula 656, STF)

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 31


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Todos os impostos estão sujeitos ao princípio da capacidade contributiva, especialmente os diretos,


independentemente de sua classificação como de caráter real ou pessoal. (RE 562.045, rel. p/ o ac.
min. Cármen Lúcia, voto do min. Eros Grau, j. 6-2-2013, P, DJE de 27-11-2013, Tema 21)
A progressividade da alíquota, que resulta do rateio do custo da iluminação pública entre os
consumidores de energia elétrica, não afronta o princípio da capacidade contributiva. (RE 573.675,
rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 25-3-2009, P, DJE de 22-5-2009, Tema 44)

§ 2º As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos.

É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da base de cálculo


própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre uma base e outra.
(Súmula Vinculante 29)

É constitucional a taxa de fiscalização dos mercados de títulos e valores mobiliários instituída pela Lei
7.940/1989. (Súmula 665, STF)
É inconstitucional a taxa municipal de conservação de estradas de rodagem cuja base de cálculo seja
idêntica à do imposto territorial rural. (Súmula 595, STF)

Art. 146. Cabe à lei complementar:

(PGE-SC 2018) (PGE-AC 2017)

I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios;

(PGE-SC 2018) (PGE-AC 2017)

II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;

(PGE-SC 2018) (PGE-AC 2017)

III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:

(PGE-SC 2018) (PGE-AC 2017) (PGE-PE 2018)

a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta
Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes;

(PGE-SC 2018) (PGE-AC 2017)


É inconstitucional lei municipal que estabelece impeditivos à submissão de sociedades profissionais
de advogados ao regime de tributação fixa em bases anuais na forma estabelecida por lei nacional.
(RE 940.769, rel. min. Edson Fachin, j. 24-4-2019, P, DJE de 12-9-2019, Tema 918)
Viola o art. 146, III, a, da Carta Federal norma ordinária segundo a qual hão de ser incluídos, na base
de cálculo do IPI, os valores relativos a descontos incondicionais concedidos quando das operações

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 32


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

de saída de produtos, prevalecendo o disposto na alínea a do inciso II do art. 47 do CTN. (RE 567.935,
rel. min. Marco Aurélio, j. 4-9-2014, P, DJE de 4-11-2014, Tema 84)

b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;

(PGE-SC 2018) (PGE-AC 2017)


São inconstitucionais o parágrafo único do art. 5º do DL 1.569/1977 e os arts. 45 e 46 da Lei 8.212/1991,
que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário. (Súmula Vinculante 8)
A Constituição Federal não reservou à lei complementar o tratamento das modalidades de extinção
e suspensão dos créditos tributários, a exceção da prescrição e decadência, previstos no art. 146,
III, b, da CF. (ADI 2.405, voto do rel. min. Alexandre de Moraes, j. 20-9-2019, P, DJE de 3-10-2019.)

c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas.

(PGE-SC 2018)
Na ausência da lei a que se refere o art. 146, III, c, da Constituição, que estabelece que lei
complementar disporá sobre o adequado tratamento do ato cooperativo, os Estados-Membros
podem exercer sua competência residual de forma plena, inclusive instituindo isenção de tributos
estaduais para operações entre cooperativas. (ADI 2.811, rel. min. Rosa Weber, j. 25-10-2019,
P, DJE de 7-11-2019)
O STF reconheceu a incidência da contribuição ao PIS/Pasep sobre os atos (negócios jurídicos)
praticados pela impetrante com terceiros tomadores de serviço, objeto da impetração. (RE 599.362,
rel. min. Dias Toffoli, j. 6-11-2014, P, DJE de 10-2-2015, Tema 323)

d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de


pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das
contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

(PGE-SC 2018) (PGE-AC 2017)


O STF reconheceu que a lista de tributos prevista no art. 146, III, d, da CF, é exemplificativa. (ADI
4.033, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 15-9-2010, P, DJE de 7-2-2011)

Parágrafo único. A lei complementar de que trata o inciso III, d, também poderá instituir um regime único
de arrecadação dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
observado que: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

(PGE-AC 2017)

I - será opcional para o contribuinte; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

II - poderão ser estabelecidas condições de enquadramento diferenciadas por Estado; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 33


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

(PGE-AC 2017)

III - o recolhimento será unificado e centralizado e a distribuição da parcela de recursos pertencentes aos
respectivos entes federados será imediata, vedada qualquer retenção ou condicionamento; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

IV - a arrecadação, a fiscalização e a cobrança poderão ser compartilhadas pelos entes federados, adotado
cadastro nacional único de contribuintes. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

Art. 146-A. Lei complementar poderá estabelecer critérios especiais de tributação, com o objetivo de
prevenir desequilíbrios da concorrência, sem prejuízo da competência de a União, por lei, estabelecer
normas de igual objetivo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

(PGE-AC 2017)

Art. 147. Competem à União, em Território Federal, os impostos estaduais e, se o Território não for dividido
em Municípios, cumulativamente, os impostos municipais; ao Distrito Federal cabem os impostos
municipais.

Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios:

I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua
iminência;

II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o


disposto no art. 150, III, "b".

Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à
despesa que fundamentou sua instituição.

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio
econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação
nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art.
195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

(PGE-AC 2017)
Afigura-se constitucional a Lei 13.467/2017 ao exigir prévia e expressa de todo e qualquer
trabalhador para o desconto da contribuição sindical. Eis a Carta Magna não contém qualquer
comando impondo a compulsoriedade da contribuição sindical, na medida em que o art. 8º, IV, da
Constituição remete à lei a tarefa de dispor sobre a referida contribuição e o art. 149 da Lei Maior, por
sua vez, limita-se a conferir à União o poder de criar contribuições sociais, o que, evidentemente, inclui
a prerrogativa de extinguir ou modificar a natureza de contribuições existentes. (ADI 5.794, rel. min.
Edson Fachin, j. 29-6-2018, P, DJE de 23-4-2019)

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 34


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Não há reserva de lei complementar para o repasse do PIS e COFINS ao usuário de serviços públicos
concedidos, tais como telefonia e energia elétrica, cobrado nas respectivas faturas. (RE 1.053.574,
voto do rel. min. Gilmar Mendes, j. 25-10-2019, P, DJE de 22-11-2019, Tema 415.)
A contribuição de intervenção no domínio econômico sujeita-se, sim, às normas gerais estabelecidas
pela legislação complementar em matéria tributária, mas não é de se exigir que elas próprias sejam
veiculadas apenas por meio de lei complementar. (RE 635.682, voto do rel. min. Gilmar Mendes, j. 25-
4-2013, P, DJE de 24-5-2013, Tema 227)

§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão contribuição, cobrada de seus servidores,


para o custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de que trata o art. 40, cuja alíquota não será
inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 41, 19.12.2003)

Apenas os servidores públicos titulares de cargos efetivos podem estar compulsoriamente filiados
aos regimes próprios de previdência. (ADI 3.106, rel. min. Eros Grau, j. 14-4-2010, P, DJE de 24-9-
2010.)

§ 1º-A. Quando houver deficit atuarial, a contribuição ordinária dos aposentados e pensionistas poderá
incidir sobre o valor dos proventos de aposentadoria e de pensões que supere o salário-mínimo. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) (Vigência)

§ 1º-B. Demonstrada a insuficiência da medida prevista no § 1º-A para equacionar o deficit atuarial, é
facultada a instituição de contribuição extraordinária, no âmbito da União, dos servidores públicos ativos,
dos aposentados e dos pensionistas. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) (Vigência)

§ 1º-C. A contribuição extraordinária de que trata o § 1º-B deverá ser instituída simultaneamente com outras
medidas para equacionamento do deficit e vigorará por período determinado, contado da data de sua
instituição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) (Vigência)

§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo:
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

(PGE-SC 2018)

I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33,
de 2001)

(PGE-SC 2018)
A norma imunizante contida no inciso I do §2º do art.149 da Constituição da República alcança as
receitas decorrentes de operações indiretas de exportação caracterizadas por haver participação de
sociedade exportadora intermediária. (RE 759.244, rel. min. Edson Fachin, j. 12-2-2020, P, DJE de 25-
3-2020, Tema 674.)

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 35


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

II - incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

(PGE-SC 2018)

III - poderão ter alíquotas: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso de
importação, o valor aduaneiro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de
2001)

§ 3º A pessoa natural destinatária das operações de importação poderá ser equiparada a pessoa jurídica,
na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

§ 4º A lei definirá as hipóteses em que as contribuições incidirão uma única vez. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 33, de 2001)

Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis,
para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 39, de 2002)

(PGE-SC 2018) (PGE-PE 2018)


A progressividade da alíquota, que resulta do rateio do custo da iluminação pública entre os
consumidores de energia elétrica, não afronta o princípio da capacidade contributiva. Tributo de
caráter sui generis, que não se confunde com um imposto, porque sua receita se destina a finalidade
específica, nem com uma taxa, por não exigir a contraprestação individualizada de um serviço ao
contribuinte. (RE 573.675, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 25-3-2009, P, DJE de 22-5-2009, Tema 44)

Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura de consumo de
energia elétrica. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 39, de 2002)

(PGE-PE 2018)

Seção II

DAS LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios:

(PGE-RS 2015) (PGE-SC 2018) (PGE-AC 2017) (PGE-PE 2018) (PGE-SE 2017)
A criação de imunidade tributária é matéria típica do texto constitucional, enquanto a de isenção é
versada na lei ordinária; não há, pois, invasão da área reservada à emenda constitucional quando a

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 36


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

lei ordinária cria isenção. O poder público tem legitimidade para isentar contribuições por ele
instituídas, nos limites das suas atribuições (art. 149 da Constituição). (ADI 2.006 MC, rel. min.
Maurício Corrêa, j. 1º-7-1999, P, DJ de 24-9-1999)

I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

(PGE-RS 2015) (PGE-SC 2018)


Por violação ao princípio da legalidade tributária, é manifesta a inconstitucionalidade da instituição
de nova contribuição compulsória, por meio de acordo ou convenção coletiva, a empregados não
filiados ao sindicado beneficiário da exação. (ARE 1.018.459 RG, voto do rel. min. Gilmar Mendes, j.
23-2-2017, P, DJE de 10-3-2017, Tema 935.)
Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita ao ato normativo
infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor esse
que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho de fiscaliza. (RE 838.284, voto do rel. min.
Dias Toffoli, j. 19-10-2016, P, DJE de 22-9-2017, Tema 829.)
Respeita o princípio da legalidade a lei que disciplina os elementos essenciais determinantes para o
reconhecimento da contribuição de interesse de categoria econômica como tal e deixa um espaço
de complementação para o regulamento. (RE 704.292, rel. min. Dias Toffoli, j. 19-10-2016, P, DJE de
3-8-2017, Tema 540)
É inconstitucional, por ofensa ao princípio da legalidade tributária, lei que delega aos conselhos de
fiscalização de profissões regulamentadas a competência de fixar ou majorar, sem parâmetro legal,
o valor das contribuições de interesse das categorias profissionais e econômicas, usualmente
cobradas sob o título de anuidades, vedada, ademais, a atualização desse valor pelos conselhos em
percentual superior aos índices legalmente previstos. (RE 704.292, voto do rel. min. Dias Toffoli, j. 19-
10-2016, P, DJE de 3-8-2017, Tema 540)

II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida
qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da
denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;

(PGE-AC 2017) (PGE-SE 2017)


A isonomia tributária e a vedação constitucional à discriminação segundo a procedência ou o destino
de bens e serviços (artigos 150, II, e 152 da CRFB/88) tornam inválidas as distinções em razão do local
em que se situa o estabelecimento do contribuinte ou em que produzida a mercadoria, máxime nas
hipóteses nas quais, sem qualquer base axiológica no postulado da razoabilidade, se engendra
tratamento diferenciado. (ADI 3.984, rel. min. Luiz Fux, j. 30-8-2019, P, DJE de 23-9-2019)
Não viola o princípio da isonomia e o livre acesso à jurisdição a restrição de ingresso no parcelamento
de dívida relativa à Cofins, instituída pela Portaria 655/1993, dos contribuintes que questionaram o
tributo em juízo com depósito judicial dos débitos tributários. (RE 640.905, rel. min. Luiz Fux, j. 15-
12-2016, P, DJE de 1º-2-2018, Tema 573)

III - cobrar tributos:

(PGE-RS 2015) (PGE-PR 2015) (PGE-PE 2018) (PGE-SE 2017) (PGE-TO 2018)

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 37


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Decisão que declara indevida a cobrança do imposto em determinado exercício não faz coisa julgada
em relação aos posteriores. (Súmula 239, STF)

a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou
aumentado;

Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício
financeiro em que deve ser apresentada a declaração. (Súmula 584, STF)

b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;

(PGE-RS 2015) (PGE-PR 2015) (PGE-PE 2018) (PGE-TO 2018)

c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou,
observado o disposto na alínea b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

(PGE-RS 2015) (PGE-PE 2018) (PGE-TO 2018)


A postergação do direito do contribuinte do ICMS de usufruir de novas hipóteses de creditamento,
por não representar aumento do tributo, não se sujeita à anterioridade nonagesimal prevista no art.
150, III, c, da Constituição. (RE 603.917, rel. min. Rosa Weber, j. 25-10-2019, P, DJE de 18-11-2019,
Tema 382)
O prazo nonagesimal previsto no art. 150, III, c, da CF somente deve ser utilizado nos casos de criação
ou majoração de tributos, não na hipótese de simples prorrogação de alíquota já aplicada
anteriormente. (RE 584.100, rel. min. Ellen Gracie, j. 25-11-2009, P, DJE de 5-2-2010, Tema 91)

IV - utilizar tributo com efeito de confisco;

(PGE-PE 2018)
O ICMS incidente na aquisição decorrente de operação interestadual e por meio não presencial
(internet, telemarketing, showroom) por consumidor final não contribuinte do tributo não pode ter
regime jurídico fixado por Estados-membros não favorecidos, sob pena de contrariar o arquétipo
constitucional delineado pelos arts. 155, § 2º, VII, b, e 150, IV e V, da CRFB/1988. (ADI 4.628, rel. min.
Luiz Fux, j. 17-9-2014, P, DJE de 24-11-2014.)
O depósito judicial, sendo uma faculdade do contribuinte a ser exercida ou não, dependendo de sua
vontade, não tem característica de empréstimo compulsório, nem índole confiscatória (CF, art. 150,
IV), pois o mesmo valor corrigido monetariamente lhe será restituído se vencedor na ação, rendendo
juros com taxa de melhor aproveitamento do que à época anterior à vigência da norma. (ADI 1.933,
rel. min. Eros Grau, j. 14-4-2010, P, DJE de 3-9-2010)

V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou


intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público;

(PGE-PE 2018)

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 38


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

O ICMS incidente na aquisição decorrente de operação interestadual e por meio não presencial
(internet, telemarketing, showroom) por consumidor final não contribuinte do tributo não pode ter
regime jurídico fixado por Estados-membros não favorecidos, sob pena de contrariar o arquétipo
constitucional delineado pelos arts. 155, § 2º, VII, b, e 150, IV e V, da CRFB/1988. (ADI 4.628, rel. min.
Luiz Fux, j. 17-9-2014, P, DJE de 24-11-2014)
O pedágio cobrado pela efetiva utilização de rodovias conservadas pelo poder público, cuja cobrança
está autorizada pelo inciso V, parte final, do art. 150 da Constituição de 1988, não tem natureza
jurídica de taxa, mas, sim, de preço público, não estando a sua instituição, consequentemente,
sujeita ao princípio da legalidade estrita. (ADI 800, rel. min. Teori Zavascki, j. 11-6-2014, P, DJE de 1º-
7-2014.)

VI - instituir impostos sobre:

(PGE-AM 2016) (PGE-PR 2015) (PGE-SC 2018) (PGE-PE 2018)

a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;

(PGE-PR 2015) (PGE-SE 2017)


O princípio da imunidade tributária recíproca (CF, art. 150, VI, a) – ainda que se discuta a sua
aplicabilidade a outros tributos, que não os impostos – não pode ser invocado na hipótese de
contribuições previdenciárias. (ADI 2.024, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 3-5-2007, P, DJ de 22-6-
2007.)
Os bens e direitos que integram o patrimônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento
Residencial – PAR, criado pela Lei 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no
art. 150, VI, a, da Constituição Federal. (RE 928.902, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 17-10-2018,
P, DJE de 12-9-2019, Tema 884)
Incide o IPTU considerado imóvel de pessoa jurídica de direito público cedido a pessoa jurídica de
direito privado, devedora do tributo. (RE 601.720, voto do rel. p/ o ac. min. Marco Aurélio, j. 19-4-
2017, P, DJE de 5-9-2017, Tema 437)
Incide o IPTU considerado imóvel de pessoa jurídica de direito público arrendado a pessoa jurídica
de direito privado, devedora do tributo. (RE 594.015, voto do rel. min. Marco Aurélio, j. 6-4-2017,
P, DJE de 25-8-2017, Tema 385.)
A imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, a, da Constituição alcança o IPTU que incidiria sobre
os imóveis de propriedade da ECT e por ela utilizados. (RE 773.992, rel. min. Dias Toffoli, j. 15-10-
2014, P, DJE de 19-2-2015, Tema 644.)
A imunidade tributária recíproca não exonera o sucessor das obrigações tributárias relativas aos
fatos jurídicos tributários ocorridos antes da sucessão (aplicação "retroativa" da imunidade
tributária). (RE 599.176, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 5-6-2014, P, DJE de 30-10-2014, Tema 224.)
A Infraero faz jus à imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, a, da CF. (ARE 638.315 RG, voto do
rel. min. Cezar Peluso, j. 9-6-2011, P, DJE de 31-8-2011, Tema 412)
As sociedades de economia mista prestadoras de ações e serviços de saúde, cujo capital social seja
majoritariamente estatal, gozam da imunidade tributária prevista na alínea a do inciso VI do art. 150
da CF. (RE 580.264, rel. p/ o ac. min. Ayres Britto, j. 16-12-2010, P, DJE de 6-10-2011, Tema 115)

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 39


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

b) templos de qualquer culto;

c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais
dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os
requisitos da lei;

(PGE-SC 2018)
Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das
entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da CF, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas
atividades para as quais tais entidades foram constituídas. (Súmula Vinculante 52)
A imunidade tributária conferida a instituições de assistência social sem fins lucrativos pelo art. 150,
VI, c, da Constituição, somente alcança as entidades fechadas de previdência social privada se não
houver contribuição dos beneficiários. (Súmula 730, STF)

Os artigos de lei ordinária que dispõem sobre o modo beneficente (no caso de assistência e
educação) de atuação das entidades acobertadas pela imunidade, especialmente aqueles que
criaram contrapartidas a serem observadas pelas entidades, padecem de vício formal, por invadir
competência reservada a lei complementar. (ADI 1.802, rel. min. Dias Toffoli, j. 12-4-2018, P, DJE de
3-5-2018)
A imunidade tributária subjetiva aplica-se a seus beneficiários na posição de contribuinte de direito,
mas não na de simples contribuinte de fato, sendo irrelevante para a verificação da existência do
beneplácito constitucional a repercussão econômica do tributo envolvido. (RE 608.872, rel. min. Dias
Toffoli, j. 23-2-2017, P, DJE de 27-9-2017, Tema 342)
A imunidade tributária, prevista no art. 150, VI, c, da CF/1988, aplica-se aos bens imóveis,
temporariamente ociosos, de propriedade das instituições de educação e de assistência social sem
fins lucrativos que atendam os requisitos legais. (RE 767.332 RG, rel. min. Gilmar Mendes, j. 31-10-
2013, P, DJE de 22-11-2013, Tema 693.)

d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.

(PGE-SC 2018) (PGE-SE 2017)


A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da CF abrange os filmes e papéis fotográficos necessários à
publicação de jornais e periódicos. (Súmula 657, STF)
A imunidade prevista no art. 150, VI, da CF alcança componentes eletrônicos, quando destinados,
exclusivamente, a integrar a unidade didática com fascículos periódicos impressos. (RE 595.676, rel.
min. Marco Aurélio, j. 8-3-2017, P, DJE de 18-12-2017, Tema 259)
A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/1988 aplica-se ao livro eletrônico (e-book),
inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo. (RE 330.817, rel. min. Dias Toffoli, j. 8-
3-2017, P, DJE de 31-8-2017, Tema 593)
Finsocial. Natureza jurídica de imposto. Incidência sobre o faturamento. Alcance da imunidade
prevista no art. 150, VI, d, da CF sobre livros, jornais, periódicos e papel destinado a sua impressão.
Imunidade objetiva. Incidência sobre o objeto tributado. Na hipótese, cuida-se de tributo de
incidente sobre o faturamento. Natureza pessoal. Não alcançado pela imunidade objetiva prevista

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 40


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

no art. 150, VI, d, da CF. (RE 628.122, rel. min. Gilmar Mendes, j. 19-6-2013, P, DJE de 30-9-2013, Tema
209)

e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais


de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes
materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas
de leitura a laser. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 75, de 15.10.2013)

§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154,
II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II,
nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

(PGE-SC 2018)

§ 2º A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou
às delas decorrentes.

(PGE-SC 2018)
Promitente comprador de imóvel residencial transcrito em nome de autarquia é contribuinte do
IPTU. (Súmula 583, STF)

§ 3º As vedações do inciso VI, "a", e do parágrafo anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e aos
serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a
empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo
usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel.

(PGE-PR 2015)
Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são
compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária, em relação à lei
que as instituiu. (Súmula 545, STF)

§ 4º As vedações expressas no inciso VI, alíneas "b" e "c", compreendem somente o patrimônio, a renda e
os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.

§ 5º A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que
incidam sobre mercadorias e serviços.

§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou
remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica,
federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o
correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 41


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

(PGE-AM 2016)
A multa fiscal moratória constitui pena administrativa, não se incluindo no crédito habilitado em
falência. (Súmula 565, STF)
Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa, não podem ser livremente suprimidas. (Súmula
544, STF)
O poder de isentar submete-se às idênticas balizas do poder de tributar com destaque para o
princípio da legalidade tributária que a partir da EC 03/1993 adquiriu destaque ao prever lei
específica para veiculação de quaisquer desonerações tributárias (art.150 §6º, in fine). Os convênios
CONFAZ têm natureza meramente autorizativa ao que imprescindível a submissão do ato normativo
que veicule quaisquer benefícios e incentivos fiscais à apreciação da Casa Legislativa. A exigência de
submissão do convênio à Câmara Legislativa do Distrito Federal evidencia observância não apenas ao
princípio da legalidade tributária, quando é exigida lei específica, mas também à transparência fiscal
que, por sua vez, é pressuposto para o exercício de controle fiscal-orçamentário dos incentivos fiscais
de ICMS. (ADI 5.929, rel. min. Edson Fachin, j. 14-2-2020, P, DJE de 6-3-2020
É constitucional a isenção fiscal relativa a pagamento de custas judiciais, concedida por Estado
soberano que, mediante política pública formulada pelo respectivo governo, buscou garantir a
realização, em seu território, de eventos da maior expressão, quer nacional, quer internacional. (ADI
4.976, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 7-5-2014, P, DJE de 30-10-2014)

§ 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo
pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a
imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)

É devida a restituição da diferença do ICMS pago a mais no regime de substituição tributária para
frente se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida. (RE 593.849, rel. min. Edson
Fachin, j. 19-10-2016, P, DJE de 5-4-2017, Tema 201)

Art. 151. É vedado à União:

(PGE-AC 2017) (PGE-PE 2018)

I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou
preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a
concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico
entre as diferentes regiões do País;

(PGE-AC 2017) (PGE-PE 2018)

II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem
como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar
para suas obrigações e para seus agentes;

III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 42


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

A multa fiscal moratória constitui pena administrativa, não se incluindo no crédito habilitado em
falência. (Súmula 565, STF)

Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre
bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino.

(PGE-PE 2018)
A isonomia tributária e a vedação constitucional à discriminação segundo a procedência ou o destino
de bens e serviços (artigos 150, II, e 152 da CRFB/88) tornam inválidas as distinções em razão do local
em que se situa o estabelecimento do contribuinte ou em que produzida a mercadoria, máxime nas
hipóteses nas quais, sem qualquer base axiológica no postulado da razoabilidade, se engendra
tratamento diferenciado. (ADI 3.984, rel. min. Luiz Fux, j. 30-8-2019, P, DJE de 23-9-2019)
Ofende a vedação à discriminação tributária de natureza espacial a fixação de reserva de mercado a
prestadores domiciliados em determinado Estado-membro como requisito para a fruição de regime
tributário favorecido e de acesso a investimentos públicos. (ADI 5.472, rel. min. Edson Fachin, j. 1º-8-
2018, P, DJE de 14-8-2018)

Seção III

DOS IMPOSTOS DA UNIÃO

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:

(PGE-PE 2018) (PGE-SE 2017)

I - importação de produtos estrangeiros;

(PGE-RS 2015) (PGE-SE 2017)

II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados;

(PGE-RS 2015) (PGE-SE 2017)

III - renda e proventos de qualquer natureza;

(PGE-RS 2015) (PGE-PE 2018) (PGE-SE 2017)

IV - produtos industrializados;

(PGE-RS 2015) (PGE-SE 2017)

V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários;

(PGE-RS 2015) (PGE-SE 2017)

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 43


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

É inconstitucional o inciso V do art. 1º da Lei 8.033/1990, que instituiu a incidência do imposto nas
operações de crédito, câmbio e seguros (IOF) sobre saques efetuados em caderneta de poupança.
(Súmula 664, STF)

VI - propriedade territorial rural;

(PGE-RS 2015) (PGE-SC 2018) (PGE-SE 2017)


É inconstitucional a taxa municipal de conservação de estradas de rodagem cuja base de cálculo seja
idêntica à do imposto territorial rural. (Súmula 595, STF)

VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar.

(PGE-RS 2015) (PGE-SC 2018) (PGE-SE 2017)

§ 1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as


alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V.

(PGE-RS 2015)
É compatível com a Carta Magna a norma infraconstitucional que atribui a órgão integrante do Poder
Executivo da União a faculdade de estabelecer as alíquotas do Imposto de Exportação. Competência
que não é privativa do presidente da República. (RE 570.680, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 28-10-
2009, P, DJE de 4-12-2009, Tema 53)

(...)

Art. 154. A União poderá instituir:

(PGE-SC 2018) (PGE-AC 2017)

I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos
e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição;

(PGE-SP 2018) (PGE-SC 2018) (PGE-AC 2017)


A Contribuição Sindical Rural, instituída pelo DL 1.661/1971, não configura hipótese de bitributação
e que tal tributo foi recepcionado pela ordem constitucional vigente. (RE 883.542, voto do rel. min.
Gilmar Mendes, j. 2-6-2017, P, DJE de 27-11-2017, Tema 948)

II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua


competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.

(PGE-PR 2015) (PGE-SC 2018) (PGE-AC 2017)

Seção IV

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 44


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

DOS IMPOSTOS DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 3, de 1993)

(PGE-SE 2017)

(...)

§ 4º Na hipótese do inciso XII, h, observar-se-á o seguinte: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de
2001)

(PGE-PR 2015)

(...)

IV - as alíquotas do imposto serão definidas mediante deliberação dos Estados e Distrito Federal, nos termos
do § 2º, XII, g, observando-se o seguinte: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

a) serão uniformes em todo o território nacional, podendo ser diferenciadas por produto; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

b) poderão ser específicas, por unidade de medida adotada, ou ad valorem, incidindo sobre o valor da
operação ou sobre o preço que o produto ou seu similar alcançaria em uma venda em condições de livre
concorrência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

c) poderão ser reduzidas e restabelecidas, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, b. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

Art. 177. Constituem monopólio da União:

(...)

§ 4º A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às atividades de


importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool
combustível deverá atender aos seguintes requisitos: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

(PGE-MA 2016)

I - a alíquota da contribuição poderá ser: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

(PGE-MA 2016)

a) diferenciada por produto ou uso; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 45


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

(PGE-MA 2016)

b) reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não se lhe aplicando o disposto no art. 150,III, b;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

II - os recursos arrecadados serão destinados: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

(PGE-MA 2016)

a) ao pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, gás natural e seus derivados e
derivados de petróleo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

b) ao financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás; (Incluído


pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)

(PGE-MA 2016)

c) ao financiamento de programas de infra-estrutura de transportes. (Incluído pela Emenda Constitucional


nº 33, de 2001)

(PGE-MA 2016)

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos
da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

(PGE-PE 2018) (PGE-SE 2017)


O art. 33 da Lei 8.212/1991 não viola a CF, porque as incumbências de fiscalização e arrecadação
imputadas à Receita Federal não modificam a destinação específica da contribuição em questão.
(ADI 763, rel. min. Edson Fachin, j. 25-11-2015, P, DJE de 4-12-2015.)
Afigura-se constitucional a incidência da contribuição ao PIS/Pasep sobre os atos (negócios jurídicos)
praticados pela impetrante com terceiros tomadores de serviço, objeto da impetração. (RE 599.362,
rel. min. Dias Toffoli, j. 6-11-2014, P, DJE de 10-2-2015, Tema 323)
Apenas o sócio com poderes de gestão ou representação da sociedade é que pode ser
responsabilizado, o que resguarda a pessoalidade entre o ilícito (má gestão ou representação) e a
consequência de ter de responder pelo tributo devido pela sociedade. (RE 562.276, rel. min. Ellen
Gracie, j. 3-11-2010, P, DJE de 10-2-2011, Tema 13)

(...)

§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias
da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no
art. 150, III, "b".

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 46


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da
anterioridade. (Súmula Vinculante 50)
A contribuição ao PIS só pode ser exigida, na forma estabelecida pelo art. 2º da EC 17/1997, após
decorridos noventa dias da data da publicação da referida emenda constitucional. (RE 848.353 RG,
rel. min. Teori Zavascki, j. 12-5-2016, P, DJE de 23-5-2016, Tema 894)

3 – QUESTÕES COMENTADAS

As questões comentadas a seguir expostas também foram extraídas das Aulas 00 e 01 do Professor Mateus
Pontalti.

1. (VUNESP/Procurador Municipal/2017) A hipotética Lei “A”, publicada em 10.01.2017, alterou o


prazo para recolhimento de determinada obrigação tributária, sendo certo que suas determinações
passaram a ser exigidas a partir da data de sua publicação. A Lei “A” é

a) inconstitucional, porque afronta o princípio da anterioridade.


b) constitucional, porque não se sujeita ao princípio da anterioridade.
c) válida, mas somente poderia entrar em vigor após 90 dias de sua publicação.
d) válida, mas somente poderia entrar em vigor após 45 dias de sua publicação.
e) Ilegal, porque contraria disposições do Código Tributário Nacional acerca da vigência das normas
tributárias.

Comentários:

Trata-se de questão que é resolvida pela Súmula Vinculante nº 50 do STF:

Súmula Vinculante nº 50: Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária
não se sujeita ao princípio da anterioridade.

Gabarito (B)

2. (CESPE/Procurador do Município/2017) A respeito das limitações constitucionais ao poder de


tributar, julgue o item que se segue, de acordo com a interpretação do STF.

A alteração de alíquotas do imposto de exportação não se submete à reserva constitucional de lei tributária,
tornando-se admissível a atribuição dessa prerrogativa a órgão integrante do Poder Executivo.

( ) Certo ( ) Errado

Comentários

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 47


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

São mitigações ao princípio da legalidade os seguintes tributos:

Quanto ao imposto de exportação, o fundamento constitucional reside § 1º do artigo 153, que dispõe no
seguinte sentido:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:

§ 1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei,


alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V.

Conforme vimos durante a aula, essa competência não é privativa do Presidente da República, podendo-se
atribuí-la a órgão integrante do Poder Executivo.

No caso do imposto de exportação, isso efetivamente ocorreu. De acordo com a Lei 9.716/98 e com o
Decreto-Lei nº 1.578/77, compete à Câmara do Comércio Exterior (Camex) estabelecer as alíquotas desse
tributo, dentro dos limites estabelecidos por lei.

Gabarito (C)

3. (CESPE/Procurador do Município/2017) A respeito das limitações constitucionais ao poder de


tributar, julgue o item que se segue, de acordo com a interpretação do STF.

O princípio da anterioridade do exercício, cláusula pétrea do sistema constitucional, obsta a eficácia imediata
de norma tributária que institua ou majore tributo existente, o que não impede a eficácia, no mesmo
exercício, de norma que reduza desconto para pagamento de tributo ou que altere o prazo legal de
recolhimento do crédito.
( ) Certo ( ) Errado

Comentários:

O enunciado está correto.

O Supremo Tribunal Federal reconheceu que o princípio da anterioridade de exercício – ou anterioridade


anual- é cláusula pétrea da Constituição Federal.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 48


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Por outro lado, também vimos que não se aplica o princípio da anterioridade nos casos de revogação de
norma que reduza desconto para pagamento de tributo ou que altere o prazo de recolhimento da exação.

Gabarito (C)

4. (FMP /Procurador do Estado/2017) Julgue o item que se segue:

A proibição de confisco é adstrita aos tributos em si, conforme a letra da constituição, e não abarca as multas
sancionatórias.

() Verdadeiro () Falso

Comentários:

O artigo 150, inciso IV, da Constituição Federal, dispõe da seguinte forma:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...)

IV - utilizar tributo com efeito de confisco

A interpretação literal da constituição federal – que se refere ao termo tributo – não tem sido abarcada pela
jurisprudência, que tem entendido que o dispositivo também se aplica às multas sancionatórias. Nesse
sentido, citamos as seguintes ementas:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. PRINCÍPIO DO NÃO


CONFISCO. APLICABILIDADE ÀS MULTAS TRIBUTÁRIAS. INOVAÇÃO DE MATÉRIA EM AGRAVO
REGIMENTAL. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO. I – A vedação à utilização de tributos com
efeito de confisco (art. 150, IV, da Constituição) deve ser observada pelo Estado tanto na
instituição de tributos quanto na imposição das multas tributárias. [...]. (RE 632315 AgR,
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 14/08/2012, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-181 DIVULG 13-09-2012 PUBLIC 14-09-2012)

Portanto, é atualmente pacífico o entendimento acerca da aplicabilidade do artigo 150, inciso IV, da
Constituição Federal, também às sanções pecuniárias.

Gabarito (E)

5. (FMP /Procurador do Estado/2017) Julgue o item que se segue:

O princípio da isonomia tributária não é corolário do princípio da igualdade, sendo aquele, em razão do
caráter tributário, bem mais restrito, exigindo-se duas situações exatamente idênticas para a comparação.
() Verdadeiro () Falso

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 49


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Comentários:

O princípio da isonomia não exige que as situações em comparação sejam exatamente idênticas.

O artigo 150, inciso II, da CF, refere-se apenas a situação equivalente:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...)

II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente,


proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida,
independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;

Ademais, o princípio da isonomia deita raízes no princípio da igualdade.

Gabarito (E)

DIREITO CIVIL
Nosso foco no estudo de hoje serão os seguintes pontos do edital:

1 Lei de introdução as normas do direito brasileiro. 1.1 Vigência, aplicação, interpretação e


integração das leis. 1.2 Conflito das leis no tempo. 1.3 Eficácia da lei no espaço.

Malgrado se trate de um tema pequeno, possui uma incidência razoável em provas de Procuradorias, o que
lhe confere muito custo-benefício. Importante neste particular o estudo da “letra fria” do Decreto-Lei
4.657/42, sem muita necessidade de aprofundar a LC95/88. Além disso, é importante estudar também a
teoria para entender melhor os conceitos iniciais do Direito Civil.

Assim, nosso ponto de hoje abrangerá: Pílulas Estratégicas de Doutrina, Jurisprudência, Vade-mécum
Estratégico e Questões pontuais.

1 - PÍLULAS ESTRATÉGICAS DE DOUTRINA

As exposições a seguir tomam por base, principalmente, a Aula 00 do Curso Regular do Professor Paulo
Sousa. A utilização de outras fontes será expressamente destacada.

Ressalto, mais uma vez, que o objetivo deste tópico é fornecer as bases teóricas, conceitos, classificações,
de forma pontual e sintética, compatível com o estudo de reta final, para que, com isso, vocês possam ter
melhor compreensão e memorização da parte legislativa!

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 50


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

I. A Norma Jurídica

1. Vigência

O Direito brasileiro não adota a perspectiva, em regra, de que é possível alegar desconhecimento da lei para
justificar determinada conduta. A lei é imperativa e deixar de segui-la não é opção. Assim, ignorantia juris
neminem excusat, a ignorância da lei não escusa ninguém de seu cumprimento.

Nesse sentido, o art. 3º da LINDB estabelece com clareza solar que ninguém se escusa de cumprir a lei,
alegando que não a conhece. Há exceção à regra no que tange à aplicação da lei penal, no caso do art. 8º
da Lei das Contravenções Penais (“No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando
escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada”).

Tal regra existe porque a norma tem caráter obrigatório, ou seja, é de imposição incondicional e independe
de adesão do sujeito de direito, sendo plenamente eficaz mesmo contra sua vontade. Sua obrigatoriedade,
seja quanto à validade, seja quanto à eficácia, é apriorística.

O Direito brasileiro distingue validade e vigência, e, em alguma medida, eficácia. A lei pode ser válida, mas
ainda pendente de vigência; bem como pode ser vigente, mas não eficaz.

A lei é válida quando aprovada de acordo com os requisitos estabelecidos pela CF/1988 e pelas normas
infraconstitucionais pertinentes. A validade faz com que a norma entre no mundo jurídico e seja apta a
atribuir efeitos jurídicos. Se inválida, a lei é nula, seguindo a teoria do fato jurídico, que veremos adiante.

A vigência se relaciona com a possibilidade de o aparato coercitivo do Estado poder ser acionado em virtude
da inobservância de uma norma válida, bem como ser exigida nas relações interprivadas. Em outras palavras,
a vigência dá exigibilidade aos comportamentos nela previstos.

Fala-se, aqui, do instituto da vacatio legis ou vacância. A lei, válida, ainda não pode ter sua aplicação exigida,
mas somente depois de passado o período de vacância. Nesse ponto, é possível se distinguir a lei ainda em
processo de elaboração, lato sensu, da lei já elaborada.

A vigência da lei deve ser sempre indicada de forma expressa e de modo a contemplar
prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento. É para isso que serve o
prazo de vigência, para que as pessoas possam se adequar à nova legislação.

É o que prevê a Lei Complementar 95/1998 – LC 95, que dispõe sobre a elaboração, a
redação, a alteração e a consolidação das leis. Essa lei não apenas complementa a LINDB,
como a minudencia. Ela se originou do comando do art. 59, parágrafo único da CF/1988, que determina
edição de Lei Complementar para dispor sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis.

Por exemplo, o Código Civil brasileiro tornou-se válido em 10/01/2002, mas, apesar da validade, não era
vigente no dia seguinte porque o art. 2.044 estabelecia vacatio legis de 1 ano para que ele se tornasse vigente
após a publicação.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 51


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Assim, a vigência da norma respeita a vigência nela mesma estabelecida. De maneira quase tautológica, a
lei vige quando diz que vige. Legislações mais complexas têm vacatio legis maior, como o CPC/2015 ou o
CC/2002 (um ano); se um pouco mais simples, prazo menor, como o Estatuto da Pessoa com Deficiência –
EPD (180 dias).

O art. 8º da LC 95, estabelece que a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" é reservada apenas
para as leis de pequena repercussão, que alteram dispositivos menores, fazem pequenas correções etc.
Nesses casos, não há vacatio legis propriamente dita.

Se a lei entra em vigor na data de sua publicação, não há que se falar em vacatio legis, pelo que a norma
vigora, de fato, imediatamente. Não se fala em “contagem do dia de início” ou “contagem do último dia” ou
“dia subsequente”; é imediatamente.

No entanto, a LINDB traz regra específica para o caso de omissão. Dispõe o art. 1º que, salvo
disposição em contrário, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficialmente
publicada. É a chamada cláusula de vigência!

Quanto aos dias, eles são contados em dias corridos, contando-se dias úteis, sábados,
domingos e feriados. O art. 219 do CPC, porém, estabelece que na contagem de prazo processual em dias
computam-se somente os dias úteis, excluindo sábados, domingos e feriados. Frise-se que essa regra vale
apenas para os prazos processuais, ou seja, na vigência da norma não se fala em dia útil, mas em dias
corridos.

A LC 95/1998, em seu art. 8º, §1º, estabelece que a contagem do prazo para entrada em vigor das leis que
estabeleçam período de vacância será feita com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo,
entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral.

Esse prazo não se interrompe, nem se suspende ou se protrai, de modo que se a data indicada pela lei cair
em feriado, sábado ou domingo, a vigência da norma se dá naquele dia, independentemente de ser útil ou
não, conforme afiança Caio Mario da Silva Pereira.

Assim, voltando ao art. 1º da LINDB, a vigência se inicia em 45 dias corridos após a publicação da norma em
Diário Oficial (DOU, DOE, DOM ou DODF) ou equivalente veículo de informação, no caso dos Municípios que
não contam com Diário Oficial próprio.

Ademais, o mencionado dispositivo estabelece que “a lei começa a vigorar em todo o país” nesse prazo. Isso
significa que não há distinção temporal ou geográfica para a vigência na lei, em regra. Publicada no DOU, a
lei federal tem vigência em 45 dias em todo o território nacional, indistintamente. Trata-se do sistema único
ou sincrônico, no qual a vigência ocorre em sincronia no país.

Não há sincronia na vigência da lei brasileira no território nacional e no exterior. Segundo o art. 1º, §1º,
nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, inicia-se somente três
meses depois de oficialmente publicada.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 52


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Evidentemente, se a lei tiver vacatio legis superior a três meses, observar-se-á o prazo específico. Exemplo
é o próprio CC/2002; não faria sentido compreender que o Código entrara em vigor em território estrangeiro
antes de viger no próprio território nacional. Nesse caso, há sincronia na vigência em território nacional e
estrangeiro.

Possível também que a lei válida, mas ainda não vigente, seja alterada. Especialmente em leis mais
complexas, como os Códigos, isso não é incomum. Nesses casos, se antes de entrar a lei em vigor, ocorrer
nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo do art. 1º da LINDB começará a correr da nova
publicação, prevê o §3º desse dispositivo. Isso porque essas correções de texto legal são consideradas uma
nova norma, que exige vacância própria.

Pois bem. A lei, aprovada conforme os mandamentos legais, é válida. Estabelece-se que a Lei só passará a
==13272f==

viger em 45 dias. Entre sua publicação e esses 45 dias, a Lei é válida, mas ainda não vige, portanto.

Por sua vez, a eficácia da Lei está relacionada à possibilidade de a lei, uma vez válida,
devidamente publicada e vigente, vir a surtir efeitos junto aos seus destinatários. Nesse
sentido, fala-se em eficácia da norma jurídica quando ela está completamente apta a regular
situações e a produzir efeitos práticos junto aos seus destinatários.

Outro fenômeno ainda é o da juridicização. Ocorre um fato, cujo suporte fático está previsto
na norma, verifica-se que esse suporte fático satisfaz o preenchimento mínimo de aplicabilidade da norma
e a norma, então, incide. O fato real se transforma em fato jurídico e aí podemos pensar nos efeitos desse
fato. Até a incidência, porém, nem o fato e nem a norma têm efeito sobre as pessoas. Mas, quais são as
características da incidência? Duas:

• Característica distintiva das normas jurídicas:


1. Incondicionalidade independentemente de qualquer adesão elas são
vinculativas

É daí que nasce a impossibilidade de alegar como excludente de ilicitude a ignorância da lei, porque a
incidência não se condiciona à adesão. Nesse sentido, prevê o art. 18 da LC 95 que mesmo eventual
inexatidão formal de norma elaborada mediante processo legislativo regular não constitui escusa válida para
o seu descumprimento. Exemplo é o art. 1.829, inc. I do CC/2002, que faz menção ao art. 1.640, parágrafo
único, equivocadamente, em vez do art. 1.641 do mesmo diploma.

A incidência, porém, não ocorre obrigatoriamente em todos os casos. Classificam-se as normas:

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 53


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

A. Cogentes ou injuntivas:

• Inafastáveis, aplicadas independentemente da vontade das partes, permitindo ou


proibindo. Essas normas se subdividem em normas imperativas/impositivas (obrigam
uma conduta) e proibitivas (proíbem uma conduta)

B. Não-cogentes ou supletivas

• Afastáveis, sendo aplicadas subsidiariamente. Subdividem-se em normas dispositivas


(no silêncio das partes) e normas interpretativas (para definir o sentido da manifestação
de vontade obscura)

• Geralmente a norma incidirá sempre que o suporte


2. Inesgotabilidade fático vier a se compor, inúmeras vezes

Isso, porém, é raríssimo, já que a norma tem por finalidade fazer o regramento da generalidade das
situações. Enquanto a norma é vigente, é inesgotável sua incidência. No entanto, antes de começar a viger
(vacatio legis) ou depois de não mais viger (revogação), a norma não pode mais incidir.

É possível que uma norma sequer tenha vigência, se revogada antes de sua entrada em vigor, como o art.
374 do CC/2002, cuja revogação se deu pela MP 75 de 24/10/2002, ou o art. 1.029, §2º do CPC, revogado
pela Lei 13.256/2016, que passou a viger no mesmo que dia o NCPC (art. 4º: “Esta Lei entra em vigor no
início da vigência da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015”).

2. Conflitos

Em vigor a lei, necessário é analisar seus efeitos no espaço e no tempo. Não raro, as leis conflitam, já que os
efeitos de uma delas vão de encontro aos efeitos de outra lei. Isso ocorre por conta do princípio da
continuidade da lei.

O princípio da continuidade da lei está estampado no art. 2º da LINDB: Não se destinando à vigência
temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. Ou seja, dura lex, sed lex, até que seja
ela modificada ou revogada. Enquanto isso não ocorrer, a lei é a lei, por mais defeituosa ou anacrônica que
ela seja.

Assim, somente por lei pode a lei perder sua eficácia. Contemporaneamente, entretanto, pode a lei ser
afastada pelo controle de constitucionalidade, ou seja, apesar de vigente, ela pode ser declarada
inconstitucional, ainda que a Corte Constitucional não a julgue nula.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 54


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Excepcionalmente, a lei perde vigência pela expiração de seu prazo de validade, no caso das leis
temporárias, como dispõe o art. 2º da LINDB, supracitado. Essas leis são excepcionais, dada a característica
da inesgotabilidade, que vimos.

Nada impede, também, que uma norma temporária seja inserida no contexto de uma norma perene.
Exemplo típico é o art. 35, §1º da Lei 10.828/2003, o Estatuto do Desarmamento – EDes (“Este dispositivo,
para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em outubro de
2005”).

Essas são situações peculiares, portanto. Em regra, a vigência se apaga apenas com a
revogação da norma. A revogação, no entanto, não precisa ser expressa, pode ser tácita.
A lei posterior revoga a anterior também quando seja com ela incompatível ou quando
regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior, estabelece o art. 2º, §1º da
LINDB.

Surge aí a primeira regra clássica relativa ao conflito de leis no tempo: norma posterior revoga norma
anterior! Cuidado, porém...

A lei posterior não revoga, necessariamente, a lei anterior, quando com ela não conflita ou não seja
incompatível. Isso se torna mais evidente no caso de lei especial, que não regula toda a matéria já regulada
pela lei geral, mas apenas a minudencia, detalha e a específica em relação a algum ponto peculiar, como
ocorre com as normas de Direito do Consumidor em relação às normas de Direito Civil.

Nesse sentido, o art. 2º, §2º, da LINDB prevê que a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais
a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. Assim, a regra do art. 435 do CC/2002
(“Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto”), que por consequência estabelece o foro
de discussão do contrato, não foi revogada pelo art. 101, inc. I do CDC, que prevê como domicílio competente
o do consumidor, para a propositura de ação.

Surge aí a segunda regra clássica relativa ao conflito de leis, agora no espaço: norma especial derroga
norma geral! Cuidado, porém...

A revogação, em sentido amplo, pode ser parcial ou total. Total, chamada de ab-rogação, ocorre quando a
revogação é completa (ou revogação em sentido estrito); derrogação, ao contrário, é a revogação parcial.
O art. 101, inc. I do CDC, portanto, derrogou a norma do art. 435 do CC/2002, mas não a ab-rogou.

Curiosamente, a que não está mais vigente pode ter aplicação mesmo depois de revogada. É o que se
chama de ultratividade legal, ou seja, a aplicação da lei vigente à época do fato, mesmo depois de revogada.
A ultratividade é extremamente relevante no Direito Penal, mas tem também grande impacto no Direito
Privado. Exemplo é o art. 2.041 do CC/2002 (“As disposições deste Código relativas à ordem da
vocação hereditária (arts. 1.829 a 1.844) não se aplicam à sucessão aberta antes de sua vigência,
prevalecendo o disposto na lei anterior”), que ordena a aplicação do CC/1916 caso um
inventário seja manejado para tratar do patrimônio de alguém falecido antes de 2003.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 55


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

No entanto, o que ocorre se uma norma for revogada por outra e, posteriormente, a segunda é também
revogada, mas sem que norma nova seja imposta? O art. 2º, §3º deixa claro que salvo disposição em
contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.

O inverso é chamado de repristinação, ou seja, o fato de a lei revogada ganhar novamente vigência.
Exemplo é o art. 122 da Lei 8.213/1991, revogado expressamente pelo art. 8° da Lei 9.032/1995. O art. 2º da
Lei 9.528/1997, porém, repristinou a lei revogada, dando nova eficácia ao art. 122 revogado, expressamente
(“Ficam restabelecidos o §4º do art. 86 e os arts. 31 e 122 da Lei 8.213/1991”. Salvo expressão em contrário,
não há repristinação da lei no ordenamento brasileiro, porém.

Surge aí a terceira regra clássica relativa ao conflito de leis, de novo no espaço: a revogação da norma
revogadora não repristina a norma revogada! Cuidado, porém...

No controle de constitucionalidade, o STF pode declarar inconstitucional uma norma, sem decretar sua
nulidade. Assim, apesar de inconstitucional, a norma continua válida. Não há repristinação, nesse caso.
Porém, o STF, atuando como verdadeiro legislador negativo, pode dar efeito repristinatório a norma
revogada, não porque está revogando a norma revogante, mas pela declaração de inconstitucionalidade.

De regra, a Lei em vigor terá efeito imediato e geral. Porém, o art. 6º da LINDB estabelece que a modificação
da Lei não pode violar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. A própria LINDB
estabelece, nos §§1º a 3º do referido artigo, o que se considera cada uma dessas situações:

Ato jurídico perfeito

• Ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou, regido pela Lei da
época de sua prática

Direito adquirido

• Situações jurídicas incorporadas ao patrimônio da pessoa

Coisa julgada ou coisa julgada

• A decisão judicial de que já não caiba recurso, imutável

Quanto ao direito adquirido, o §3º da LINDB estabelece que também se consideram direito
adquirido os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles
cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável,
a arbítrio de outrem. Ou seja, é possível se falar em direito adquirido sob condição e sob
termo.

A doutrina distingue a retroatividade da norma jurídica em três graus: máxima, média e mínima.
Retroatividade máxima, ou restitutória, ocorreria quando a norma nova alcança os atos e os efeitos dos atos
anteriores a ela. Já a retroatividade média não atinge os fatos consumados, nem seus efeitos, mas apenas

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 56


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

os efeitos que ainda não se processaram, ou seja, os efeitos pendentes. Por fim, a retroatividade mínima,
temperada ou mitigada, não atinge nem os atos passados, nem os efeitos percebidos, nem os efeitos
pendentes, mas apenas os efeitos futuros do fato pretérito.

A coisa julgada, por sua vez, pode ser afastada em caso de aplicação de alguma das hipóteses processuais de
cabimento da ação rescisória. Discutem-se, no Direito Constitucional, as possibilidades de desconstituição
da coisa julgada ante a inconstitucionalidade da norma jurídica que lhe serviu de base, a chamada coisa
julgada inconstitucional (inclusive, na jurisprudência correlata, ao final da aula, comento um julgado a
respeito do tema).

3. Interpretação

Em regra, pela aplicação do princípio jura novit curia, o juiz conhece a lei. Por isso, é desnecessário
transcrever a norma quando em uma petição, pois o juiz conhece a lei, não é necessário dizer a ele o que a
lei diz. Ele sabe.

Esse princípio é excepcionado nos casos de direito estrangeiro, direito consuetudinário, direito estadual
e direito municipal. Essas leis devem ser provadas pelo interessado; as demais, não. Assim, se quero que
se aplique uma norma de Direito Municipal, tenho eu de fazer prova que esta lei está em vigor.

Mas, como o juiz fará a interpretação? O objetivo da interpretação é buscar a “exposição do verdadeiro
sentido da lei”. Essa é a interpretação em sentido estrito (a interpretação em sentido amplo busca
determinar a regra aplicável, num sentido mais de integração).

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 57


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

A. Restritiva
•A interpretação restritiva busca restringir o alcance da norma, de modo a não extrapolar os
limites geralmente considerados da norma

B. Extensiva
•A interpretação extensiva busca elastecer o sentido da norma a situações não subsumidas a ela
de imediato, automaticamente

C. Sistemática
•A interpretação sistemática busca dar sentido a uma norma dentro do contexto do sistema
normativo

D. Analógica
•A interpretação analógica dá-se pela buca de elemento semelhante contido na norma, numa
racionalidade lógico-decisional por dedução e indução

E. Autêntica
•A interpretação autêntica é aquela na qual o intérprete é o próprio órgão que emanou a norma

F. Histórica
•A interpretação histórica busca analisar a norma no contexto no qual ela fora criada, com suas
idiossincrasias

G. Sociológica
•A interpretação sociológica pretende analisar a norma no contexto contemporâneo, com os
atuais valores sociais

H. Teleológica
•Preocupada com os "fins"da norma, ou seja, o que se deve objetivar quando a implementação
da lei. Presente no art. 5

Atente porque a interpretação analógica é próxima da analogia, mas dela se distingue


porque analogia é método de integração do ordenamento, não de interpretação. Ou seja,
na analogia norma não há, pelo que será ela criada, ao passo que na interpretação
analógica já há norma.

Além disso, diferentemente da interpretação extensiva, na qual o elemento legal


preexistente não dá solução ao caso pretendido (mas a norma existe), na interpretação analógica o elemento
legal já soluciona o caso, mas é necessário interpretar o sentido de seu dispositivo.

A abertura dos textos normativos, nesse sentido, pretende justamente abrir o conteúdo da regra jurídica
ao julgador. Nesses casos, o juiz preenche os sentidos da norma de maneira axiológica, buscando a melhor
solução do caso concreto.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 58


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Surgem, então, normas caracterizadas pela vagueza intencional do legislador. A doutrina distingue as
cláusulas gerais dos conceitos jurídicos indeterminados a partir de dois elementos. As cláusulas gerais
teriam abertura tanto no conteúdo (preceito) quanto nos efeitos (consequente), ao passo que os conceitos
jurídicos indeterminados trariam abertura à colmatação apenas em relação ao conteúdo (preceito), já que
os efeitos (consequente) estariam predeterminados em lei. As cláusulas gerais, dessa forma, absorveriam
os conceitos jurídicos indeterminados (conceito, preceito) e abririam a norma ainda mais (efeito,
consequente) ao arbítrio do julgador.

Boa-fé objetiva (art. 422) Atividade de risco (art. 927, parágrafo único)

O que acontece se
O que acontece se
O que é? Não sei, é O que é? Não sei, é violo? Já sei: a
violo? Não sei, o juiz
aberto aberto responsabilidade
dará a solução
passa a objetiva

Exemplo de conceito
Exemplo de cláusula
jurídico
geral
indeterminado

A interpretação ainda deverá levar em conta as eventuais antinomias do ordenamento. As antinomias


apenas aparentes se resolvem de maneira sistêmica. Por exemplo, a aparente antinomia entre o art. 435 do
CC/2002 (“Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto”) e o art. 101, inc. I do CDC (“A
ação pode ser proposta no domicílio do autor”) é facilmente resolvida pela compreensão de que a norma
especial derroga a norma geral na aplicação.

No entanto, nas antinomias reais, o sujeito não pode agir em acordo com ambas as regras. Sua ação se
torna insustentável do ponto de vista do seguimento da ordem jurídica, porque, se seguir uma norma,
violará, automaticamente, a outra.

Visualiza-se, aqui, uma antinomia jurídica própria, porque se exige um comportamento contraditório, ao se
considerar ambas as normas válidas. Contrariamente, a antinomia é imprópria quando as normas tratam
de ramos jurídicos distintos, que, apesar de dar a uma mesma situação tratamentos diversos, não conflitam
(como acontece com a posse, analisada de maneira distinta no Direito Civil, Penal e Administrativo).

Para se resolver uma antinomia aparente, recorre-se a três critérios, que vimos acima:

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 59


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Critério Cronológico
• A norma posterior tem prevalência sobre a norma anterior

Critério de Especialidade
• A norme especial tem prevalência sobre a norma geral

Critério Hierárquico
• A norma superior tem prevalência sobre a norma inferior

Pode haver um conflito entre duas normas que exija o recurso a mais de um critério de resolução das
antinomias. A partir da necessidade ou não de recurso a apenas uma ou a mais de um critério, podemos
classificar as antinomias aparentes em:

Antinomia de 1º Grau

• Conflito entre normas que exige o recurso a apenas um dos critérios

Antinomia de 2º Grau

• Conflito de normas válidas que envolve pelo menos dois dos critérios

4. Integração

O art. 4º da LINDB estabelece que somente quando a lei for omissa, o juiz pode decidir o caso de acordo
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Ou seja, a integração das normas só ocorre
em caso de lacuna normativa; não havendo lacuna normativa, descabida a integração normativa, falando-
se apenas em aplicação dos métodos de interpretação.

A lacuna representa a incompletude do sistema jurídico, que não consegue prever soluções prévias para
todos os fatos sociais. As lacunas podem ser de três tipos: a) normativas, quando ausente norma sobre
determinado caso; b) axiológicas, quanto ausente norma justa, vale dizer, norma há, mas, se for aplicada,
sua solução será insatisfatória ou injusta; c) ontológicas, quando há norma, mas ela não corresponder aos
fatos sociais.

No caso de interpretação, o magistrado deve atender aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do
bem comum, como exige o art. 5º da LINDB. Por isso, muito cuidado para não confundir e misturar
interpretação e integração, dois fenômenos distintos a respeito da aplicação das normas. Assim, são
métodos de integração trazidos pela LINDB:

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 60


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Analogia

Costumes

Princípios Gerais do Direito

Segundo a doutrina clássica, esses são os únicos três métodos de integração permitidos
pela LINDB; eles estariam previstos em um rol preferencial e taxativo, ou seja, primeiro
deve o magistrado tentar resolver a lacuna normativa com recurso à analogia; não sendo
possível, volta-se aos costumes; sem resolução do caso pela analogia e pelos costumes,
restam-lhe os princípios gerais do direito.

Evidencia-se a preferência na integração pelas fontes estatais, ainda bem ao estilo do


positivismo jurídico mais antiquado. A doutrina contemporânea, porém, adiciona um quarto método de
integração normativa: a equidade. Nesse sentido, inclusive, o art. 140, parágrafo único do CPC:

Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento
jurídico.

Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.

O CPC deixa claro que a equidade é também método de integração, na esteira do pensamento civilístico
contemporâneo. Os autores ainda apontam que esses métodos não obedecem a uma ordem
predeterminada, sendo possível ao juiz recorrer aos princípios gerais do direito sem ter esgotado a busca da
decisão nos costumes.

Ainda assim, se o questionamento for a respeito da LINDB, a equidade não é considerada método de
integração e o rol é preferencial e taxativo!

Dica do Professor Carlos:

Costumes

Conceito: são práticas e usos reiterados com conteúdo lícito e relevância jurídica.

CC, art. 113, caput: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de
sua celebração.”

Classificação

a- Costumes segundo a lei (secundum legem): quando a expressão “costume” consta da lei, havendo, neste
caso, subsunção.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 61


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

CC, art. 187: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”

b-Costumes na falta da lei (praeter legem): aplicado quando a lei for omissa (= costume integrativo).

Ex.: Cheque pós-datado.

Súmula 370, STJ: “Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado”.

c-Costumes contra legem: são aqueles que contrariam a lei, não sendo, em regra, admitidos pelo
ordenamento; salvo se a lei contrariada tiver caído em desuso.

Ex.: A norma que prevê que o “jogo do bicho” é contravenção penal.

II. Direito Internacional Privado

A LINDB traz numerosas regras aplicáveis ao Direito Internacional Privado. Trata-se da regulamentação do
conflito de normas a partir de uma perspectiva de soberania.

O Direito brasileiro adota a doutrina da Territorialidade Moderada. Ou seja, a LINDB aplica, ao mesmo
tempo, o princípio da territorialidade, como nos arts. 8º e 9º, e o princípio da extraterritorialidade, como
nos arts. 7º e 10).

O art. 7º prevê que a lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim
da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.

Em relação ao casamento, caso seja ele realizado no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos (dirimentes) e às formalidades da celebração. Podem os nubentes, se estrangeiros, celebrar
o casamento perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos.

Se os nubentes tiverem domicílio diverso, as invalidades do matrimônio são regidas pela lei do primeiro
domicílio conjugal, independentemente de qual era o domicílio anterior. O regime de bens, por sua vez, seja
legal ou convencional, deve obedecer à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for
diverso, a do primeiro domicílio conjugal.

Quando se naturaliza, o estrangeiro casado pode requerer ao juiz, mediante expressa anuência de seu
cônjuge, no ato de entrega do decreto de naturalização, adotar o regime de comunhão parcial de bens,
respeitados os direitos de terceiros e levada essa adoção ao competente registro.

Quanto ao divórcio, quando realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só


será reconhecido no Brasil se obedecidas às condições estabelecidas para a eficácia das sentenças
estrangeiras no país. O STJ, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do
interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de
brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 62


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Atente, porém, pois o art. 961, §5º, do CPC determina que a sentença estrangeira de divórcio
consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo STJ. Porém, se
houver disposições sobre partilha, alimentos ou guarda de filhos (divórcio consensual
qualificado), porém, mantém-se a competência do STJ para homologar a sentença estrangeira.

Desnecessária medida em território nacional quando o divórcio consensual se realizar mediante


a autoridade consular brasileira, desde que não tenha o casal filhos incapazes. O divórcio perante a
autoridade consular nacional permite que o casal trate de partilha dos bens comuns, de pensão alimentícia
e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome
adotado quando se casou, segundo o art. 18, §1º, da LINDB.

De qualquer forma, é indispensável a assistência de advogado, devidamente constituído, que se dará


mediante a subscrição de petição, juntamente com ambas as partes, ou com apenas uma delas, caso a outra
constitua advogado próprio, não se fazendo necessário que a assinatura do advogado conste da escritura
pública. Referida assistência não se exige no caso de divórcio consensual puro ou simples realizado
diretamente por meio de averbação registral, o que igualmente estabeleceu o STJ em norma própria.

Ou seja, o divórcio realizado no estrangeiro, por cônjuge brasileiro, assim se regula:

A. Regra geral: dependência de homologação pelo STJ, nos seguintes casos:


• Divórcio litigioso, realizado perante autoridade judiciária estrangeira
• Divórcio consensual qualificado (guarda, alimentos e/ou partilha), realizado perante
autoridade judiciária estrangeira

B. Exceção: independe de homologação pelo STJ, nos seguintes casos:


• Divórcio consensual simples ou puro (somente dissolução), realizado perante
autoridade judiciária estrangeira
• Divórcio consensual, realizado perante autoridade consular brasileira, por escritura
pública, desde que sem filhos incapazes e com assistência advocatícia,
independentemente de guarda, alimentos e/ou partilha

Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o
casamento e os demais atos de Registro Civil e de Tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito
dos filhos de brasileiro ou brasileira nascidos no país da sede do Consulado, estabelece o art. 18 da LINDB.

Quanto ao domicílio, prevê o §7º do art. 7º da LINDB que o domicílio do chefe da família se
estende ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos
incapazes sob sua guarda, exceto no caso de abandono. Quando a pessoa não tiver
domicílio, deve-se considerá-la domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que
se encontre.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 63


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Em relação os bens, o art. 8º estabelece que, na sua qualificação e regulação quanto às relações a eles
concernentes, deve-se aplicar a lei do país em que estiverem situados.

No tocante aos bens móveis, aplica-se a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto àqueles
que trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares. O penhor regula-se pela lei do domicílio
que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada. Já quanto aos imóveis, o art. 12, §1º
estabelece que só a autoridade judiciária brasileira tem competência para conhecer das ações relativas a
imóveis situados no Brasil.

Quanto às obrigações, seja para as qualificar ou reger, aplica-se a lei do país em que se constituírem, prevê
expressamente o art. 9º. É a chamada regra do locus regit actum. Porém, destinando-se a obrigação a ser
executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da
lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.

Segundo o art. 9º, §2º, da LINDB, a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que
residir o proponente. Essa previsão é complementada pelo art. 435 do CC/2002 (“Reputar-se-á celebrado
o contrato no lugar em que foi proposto”).

Já relativamente à sucessão por morte ou por ausência, rege o art. 10 da LINDB: deve-se obedecer à lei do
país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.

Se o falecido é estrangeiro, a sucessão de seus bens, situados no Brasil, será regulada pela lei brasileira em
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais
favorável a lei pessoal do de cujus.

Ou seja, aplica-se a lei brasileira, em regra, mas se permite a aplicação da lei estrangeira, desde que mais
favorável aos herdeiros brasileiros. Vale lembrar que, por se tratar de legislação estrangeira, deve a parte
provar nos autos sua aplicabilidade, dado que excepciona aqui o princípio jura novit curia. O art. 14 da LINDB
deixa isso bastante claro, aduzindo que o juiz pode exigir de quem invoca lei estrangeira prova do texto e
da vigência.

Em relação a pessoas jurídicas de direito privado, o art. 11 da LINDB assegura que as organizações
destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em
que se constituírem. Para que possam ter filiais, agências ou estabelecimentos no território nacional,
mister que tenham aprovados pela lei brasileira seus atos constitutivos.

As pessoas jurídicas de direito público (incluindo Estados estrangeiros e quaisquer organizações), ao


contrário, não podem adquirir no Brasil bens imóveis ou suscetíveis de desapropriação. Podem, porém,
adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes
consulares, apenas.

Quanto às normas processuais, a prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele
vigorar, quanto ao ônus e aos meios de se produzir. No entanto, deixa claro o art. 13 da LINDB que não se
admitem nos tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 64


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Processualmente, ainda, o art. 12 da LINDB consigna que há competência da autoridade judiciária brasileira
quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. Pode a autoridade
judiciária brasileira cumprir, concedido o exequatur e segundo a forma estabelecida pela lei brasileira, as
diligências deprecadas por autoridade estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das
diligências.

De qualquer forma, a execução de sentença deve reunir os seguintes requisitos, previstos no art. 15 da
LINDB:

a) haver sido proferida por juiz competente;

b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;

c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no
lugar em que foi proferida;

d) estar traduzida por intérprete autorizado;

e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.

Atente para o último requisito, pois, por força da EC 45/2005, a competência para a execução da decisão
estrangeira passou, segundo o art. 105, inc. I, alínea “i” da CF/1988, para o STJ. A execução, por homologação
ou exequatur de carta rogatória, será feita de acordo com as regras do Regimento Interno do STJ.

Quando se for aplicar lei estrangeira, deve-se ter em vista a disposição desta, sem se considerar qualquer
remissão por ela feita a outra lei (art. 16 da LINDB). Trata-se do princípio da vedação ao reenvio, também
chamado de retorno ou devolução, adotado pelo direito brasileiro.

Isso ocorre quando o Brasil remete a solução do caso ao direito estrangeiro (norma primária) e o direito
estrangeiro, por sua vez, remete a solução a outro ordenamento jurídico (norma secundária). O que a
LINDB prevê é precisamente que isso não pode ocorrer, devendo-se aplicar apenas a norma primária, sem
considerações quanto a normas secundárias. O que se pretende é evitar que o caso fique transitando por
diversos ordenamentos jurídicos, o que atrasaria ainda mais a solução.

De qualquer forma, estabelece o art. 17 que leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer
declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional, a ordem
pública e os bons costumes. Trata-se de medida de proteção do ordenamento jurídico pátrio.

Fechando a parte teórica do nosso estudo, vamos agora estudar nosso Vade-mécum Estratégico:

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 65


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

2 - VADE-MÉCUM ESTRATÉGICO
Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de
oficialmente publicada.

Para que uma lei possa ter aplicação a fatos passados, precisa: (a) conter expressamente a disposição
excepcionadora e (b) respeite o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Quanto à
eficácia retroativa das leis, que envolve a questão da sua força para regular fatos do passado (facta
praeterita), assinale-se que, em regra, não é aceitável, tendo em vista a generalizada idéia de que as
leis dispõem para o futuro, conforme assimilado pelo art. 1° da Lei de Introdução do Código Civil (LICC),
nestes termos: Art. 1° - Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o País 45 (quarenta
e cinco) dias depois de oficialmente publicada. 7. Entretanto, como se observa nesse mesmo art. 1° da
LICC, o sistema jurídico admite que a regra da vigência da lei após 45 dias de sua publicação seja
excepcionada; isso quer dizer que o prazo de 45 dias poderá ser alterado para mais ou para menos,
significando também que poderá ter aplicação retroativa (para regular fatos anteriores à sua edição),
bastando que contenha a tal cláusula excepcionante. 8. Portanto, pode-se afirmar, seguramente, que
a lei que contiver essa cláusula tem aplicação retroativa; a presença dessa ressalva, portanto, permite
a conclusão de que a retroatividade normativa é possível ou é aceitável e admitida pelo ordenamento
jurídico nacional, exigindo-se, como sua condição primária, que a lei emergente contenha a disposição
excepcionante da sua normal aplicação ad futurum. 9. Entretanto, a presença do dispositivo que
preveja a respectiva retroação, embora necessária, não se mostra suficiente à realização desse
excepcional fenômeno jurídico, eis que, mesmo eventualmente contendo a cláusula que autorize a sua
aplicação retroativa, impõe-se que essa retroatividade não infrinja o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada; o respeito a essa tríade é um autêntico dogma do Direito moderno, não se
podendo desconhecer que se trata de preceito que põe a salvo as situações consolidadas, protegendo-
as contra a inovação legislativa. Por conseguinte, duas serão as precondições para que uma lei possa
ter aplicação a fatos passados: (a) que contenha expressamente a disposição excepcionadora inserta
no art. 1o. da LICC e (b) respeite o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, como
vem proclamado no art. 6o., da mesma LICC. 12. Tendo em vista que a norma legal foi expressa quanto
à retroatividade de apenas uma parte, entendo não ser legítimo, por força de interpretação ou de
investigação do fugidio conceito de vontade do legislador, afirmar-se a retroação total da norma,
desprezando-se, a um só tempo, a sua própria dicção, a dicção do art. 1°. da LICC e a tradição do Direito
Escrito, que apregoa a irretroatividade como regra, salvo se a lei contiver cláusula em contrário e, ainda
assim, ressalve a trilogia que resguarda a segurança jurídica. (REsp 963680 RS, rel. min. Napoleão
Nunes Maia Filho, j. 30-10-2008)

§ 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses
depois de oficialmente publicada.

§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo
deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.

§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 66


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

A republicação de uma norma, sem inovação, não se considera lei nova. O parágrafo único, do art.
11, da Lei nº 9.639/98 foi publicado por mero equívoco, porquanto não constante do projeto de lei
devidamente aprovado pelo Poder Legislativo, tanto que foi expurgado daquele diploma, ante a sua
inconstitucionalidade formal, declarada pelo STF. Em razão disso, a republicação da Lei nº 9.639/98
não trouxe nenhuma inovação, deixando de atrair, portanto, a incidência do § 4º, do art. 1º, da LICC,
e, impossibilitando, afinal, a pretendida anistia. (HC 18517/SP, rel. min. Fernando Gonçalves, j. 13-11-
2001, DJ 04-02-2002)

Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.

A isenção da Cofins concedida pelo art. 6º, II, da LC n. 70/1991 às sociedades civis de prestação de
serviços profissionais foi revogada pelo art. 56 da Lei n. 9.430/1996. (Súmula 508, STJ)

§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível
ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem
modifica a lei anterior.

§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a
vigência.

O denominado efeito represtinatório da lei, segundo entendimento majoritário, não foi adotado
como regra geral no direito brasileiro e implica restauração da lei revogada, se extinta a causa
determinante da revogação. A recepção de lei ordinária como lei complementar pela Constituição
posterior a ela só ocorre com relação aos seus dispositivos em vigor quando da promulgação desta,
não havendo que se pretender a ocorrência de efeito repristinatório, porque o nosso sistema jurídico,
salvo disposição em contrário, não admite a repristinação. (AI 235.800 AgR, rel. min. Moreira Alves, j.
25-05-1999, DJ 25.06.1999)
Extinta a causa que determinou a revogação da lei, ocorre a restauração de sua vigência. Neste caso, a
lei anterior revogada por lei posterior declarada inconstitucional tem a vigência restabelecida,
porém, nesta situação, fala-se que houve “efeito represtinatório”, conforme já decidiu o STF. (ADIn
652-5/MA, rel. min. Celso de Mello, j. 02-04-1993)

Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Termo a quo do prazo prescricional da ação de repetição de indébito relativa a tributos sujeitos a
lançamento por homologação e pagos antecipadamente. É inconstitucional o artigo 4º, segunda
parte, da Lei Complementar 118/2005, de modo que, para os tributos sujeitos a homologação, o novo
prazo de 5 anos para a repetição ou compensação de indébito aplica-se tão somente às ações ajuizadas
após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou seja, a partir de 9 de junho de 2005. (RE 566621, rel.
min. Ellen Gracie, j. 04-08-2011, DJE 11-10-2011, repercussão geral)
Quanto à devolução dos valores recebidos pelo litigante beneficiário do Regime Geral da Previdência
Social - RGPS em virtude de decisão judicial precária, que venha a ser posteriormente revogada. A

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 67


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

reforma da decisão que antecipa a tutela obriga o autor da ação a devolver os benefícios
previdenciários indevidamente recebidos. (No voto condutor do acórdão de afetação da matéria ao
rito dos repetitivos, o Ministro relator ressalta a necessidade de ampliação do debate das variações a
respeito da questão. No ponto, lista as seguintes situações que, dentre outras, poderão ser analisadas
pelo Superior Tribunal de Justiça na presente afetação: a) tutela de urgência concedida de ofício e não
recorrida; b) tutela de urgência concedida a pedido e não recorrida; c) tutela de urgência concedida na
sentença e não recorrida, seja por agravo de instrumento, na sistemática processual anterior do
CPC/1973, seja por pedido de suspensão, conforme o CPC/2015; d) tutela de urgência concedida initio
litis e não recorrida; e) tutela de urgência concedida initio litis, cujo recurso não foi provido pela
segunda instância; f) tutela de urgência concedida em agravo de instrumento pela segunda instância;
g) tutela de urgência concedida em primeiro e segundo graus, cuja revogação se dá em razão de
mudança superveniente da jurisprudência então existente; h) tutela de urgência concedida e cassada,
a seguir, seja em juízo de reconsideração pelo próprio juízo de primeiro grau, ou pela segunda instância
em agravo de instrumento ou mediante pedido de suspensão; i) tutela de urgência cassada, mesmo
nas situações retratadas anteriormente, mas com fundamento expresso na decisão de que houve má-
fé da parte ou afronta clara a texto de lei, como no caso das vedações expressas de concessão de
medida liminar ou tutela antecipada. (REsp 1.401.560/MT, rel. min. Og Fernandes, DJE 13-10-2015)

Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito.

(PGE-PE 2018) (PGE-TO 2018)

Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e
a coisa julgada. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957)
Possibilidade de aplicação do prazo de 8 anos de inelegibilidade por abuso de poder previsto na Lei
Complementar 135/2010 às situações anteriores à referida lei em que, por força de decisão
transitada em julgado, o prazo de inelegibilidade de 3 anos aplicado com base na redação original
do art. 1º, I, d, da Lei Complementar 64/1990 houver sido integralmente cumprido. A condenação
por abuso de poder econômico ou político em ação de investigação judicial eleitoral transitada em
julgado, ex vi do artigo 22, XIV, da Lei Complementar n. 64/90, em sua redação primitiva, é apta a atrair
a incidência da inelegibilidade do artigo 1º, inciso I, alínea d, na redação dada pela Lei Complementar
n. 135/2010, aplicando-se a todos os processos de registro de candidatura em trâmite. (RE 929670/DF,
rel. min. Luiz Fux, j. 01-03-2018, DJE 12-04-2019, repercussão geral)
Conversão de aposentadoria proporcional em aposentadoria integral por meio do instituto da
desaposentação. No âmbito do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), somente lei pode criar
benefícios e vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à
'desaposentação', sendo constitucional a regra do artigo 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91. (RE 661256/SC,
rel. min. Roberto Barroso, j. 27-10-2016, DJE 28-09-2017, repercussão geral)
Direito a cálculo de benefício de aposentadoria de acordo com legislação vigente à época do
preenchimento dos requisitos exigidos para sua concessão. Para o cálculo da renda mensal inicial,

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 68


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

cumpre observar o quadro mais favorável ao beneficiário, pouco importando o decesso remuneratório
ocorrido em data posterior ao implemento das condições legais para a aposentadoria, respeitadas a
decadência do direito à revisão e a prescrição quanto às prestações vencidas. (RE 630501/RS, rel. min.
Ellen Gracie, j. 21-02-2013, DJE 26-08-2013, repercussão geral)
Aplicação das regras previstas nos §§ 4º e 5º do art. 40 da Constituição Federal (redação originária)
a servidor celetista aposentado ou falecido antes do advento da Lei 8.112/90. As regras dos
parágrafos 4º e 5º do artigo 40 da Constituição Federal, na redação anterior à EC 20/1998, não se
aplicam ao servidor submetido ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho que se aposentou ou
faleceu antes do advento da Lei nº 8.112/1990. (RE 627294, rel. min. Luiz Fux, DJE 04-10-2012,
repercussão geral)

§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
(Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)

§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como
aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio
de outrem. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)

§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.

O servidor público não tem direito adquirido a regime jurídico. Consoante entendimento pacificado
desta Corte, se aplica ao servidor público, para fins de enquadramento na carreira, a lei vigente à época
da sua nomeação para o cargo público, e não a lei em vigor ao tempo da realização do concurso público.
(RMS 21664 MT, rel. min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 22-06-2010)

Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.

§ 7o Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não
emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda.

(PGE-RS 2015)

Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações,
obedecem à lei do Estado em que se constituírem.

§ 1o Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os atos
constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 69


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

3 – QUESTÕES COMENTADAS

As questões a seguir dispostas também foram extraídas das Aula 00 do Curso Regular do Professor Paulo
Sousa.

1-(CESPE – PGM/Campo Grande – Procurador Municipal - 2019) Diante de omissão legal, o juiz decidirá
de acordo com analogia, os costumes e os princípios gerais de direito, visando atender aos fins sociais
da lei e às exigências do bem comum.

Comentários

O item está correto, conforme gabarito definitivo da banca. Contudo, a questão está, na melhor técnica,
incorreta, porque mistura a integração da norma com a interpretação da norma. O art. 4º (“Quando a lei for
omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”) trata,
de fato, de integração, aplicável aos casos de omissão normativa. Por sua vez, o art. 5º (“Na aplicação da lei,
o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”) trata da interpretação, ou
seja, como o juiz deve agir quando aplica a norma.

Ora, se ele aplica a norma, omissão não há. Veja que ao se valer dos costumes, é impossível que o juiz atenda
“aos fins sociais da lei”, porque lei ele não aplica. De toda sorte, o somatório da interpretação com a
integração foi considerado correto.

Gabarito (C)

2-(CONSULPLAN / Câmara Municipal-Belo Horizonte (MG) – 2018) “A Lei de Introdução às Normas do


Direito Brasileiro estatui expressamente que quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo
com __________________.”

Assinale a alternativa que NÃO completa corretamente a afirmativa anterior.

a) analogia

b) costumes

c) princípios gerais do direito

d) fins sociais a que a lei se dirige

Comentários

De acordo com o art. 4º da LINDB: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito.” As alternativas da questão, observe, estão na ordem do texto
legal.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 70


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Vale lembrar que a doutrina tradicional do Direito Civil clássico propugna que o rol do art. 4º da LINDB é
taxativo e preferencial. Ou seja, deve o julgador primeiramente se valer da analogia, depois dos costumes e
por fim dos princípios gerais do direito. Não há espaço, portanto, para os “fins sociais”, que compõem o
suporte para a interpretação da norma, não de integração.

A alternativa D está incorreta.

Gabarito (D)

3-(CONSULPLAN / Câmara Municipal-Belo Horizonte (MG) – 2018) A Lei de Introdução às Normas do


Direito Brasileiro – LINDB traz regras quanto à vigência e eficácia das leis, conflito de leis no tempo e
no espaço, dentre outras. Quanto às disposições da referida lei, analise as afirmativas a seguir.

I. As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

II. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.

III. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.

IV. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou
quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

Em relação à LINDB estão corretas as afirmativas

a) I, II, III e IV.

b) I, III e IV, apenas.

c) I, II e III, apenas.

d) II, III e IV, apenas.

Comentários

O item I está correto, consoante dispõe o § 4º do art. 1º da LINDB: “As correções a texto de lei já em vigor
consideram-se lei nova”.

O item II está correto, consoante dispõe o § 3º do art. 2º da LINDB: “Salvo disposição em contrário, a lei
revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”.

O item III está correto, consoante dispõe o caput do art. 2º da LINDB: “Não se destinando à vigência
temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”.

O item IV está correto, consoante dispõe o §1º do art. 2º da LINDB: “Salvo disposição em contrário, a lei
revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 71


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Considerando que todas as assertivas estão corretas, a resposta correta é a alternativa A.

Gabarito (A)

4-(CESPE / PGE-SE – 2017) A adaptação de lei, por um intérprete, às exigências atuais e concretas da
sociedade configura interpretação

a) histórica.

b) sistemática.

c) sociológica.

d) analógica.

e) autêntica.

Comentários

Essa é uma questão complexa; poucos doutrinadores tratam do tema adequadamente; me remeto, para um
aprofundamento teórico maior, à obra de Tourinho Filho, que expõe com riqueza de detalhes essas
distinções.

A alternativa A está incorreta, porque a interpretação histórica busca analisar o “momento” no qual a lei foi
produzida, suas idiossincrasias, as condições do meio e a situação na qual ela se produziu.

A alternativa B está incorreta, já que a interpretação sistemática pretende compreender a norma dentro do
sistema normativo, com suas conexões e lógica intrassistemáticas.

A alternativa C está correta, pois a interpretação sociológica é exatamente o inverso da interpretação


histórica, qual seja, desconsiderar o contexto no qual a norma foi produzida para se considerar a significação
que ela tem contemporaneamente, ou seja, coadunar a norma aos valores atuais da sociedade.

A alternativa D está incorreta, porque a interpretação analógica, apesar de próxima à analogia, com ela não
se confunde. Analogia é modo de integração do ordenamento, não de interpretação. Na interpretação
analógica o intérprete analisa elemento semelhante àquela contido na norma (diferentemente da
interpretação extensiva, na qual o elemento legal preexistente não dá solução ao caso pretendido).

A alternativa E está incorreta, sendo que a interpretação autêntica se verifica quando o próprio órgão criador
da norma a interpreta, emanando norma meramente interpretativa.

Gabarito (C)

5-(PGE / PGE-MS – 2005) Ainda analisando a Lei de introdução ao Código Civil, assinale a alternativa
correta:

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 72


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

a) Fritz, alemão, e Maria, italiana casam-se no estrangeiro e assentam, imediatamente após as núpcias,
domicílio no Brasil. Maria, após alguns dias, descobre o passado criminoso de Fritz, mas, não pode evocar a
anulação do casamento, com base no Código Civil brasileiro, porque o casamento não seguiu lei brasileira;

b) John, inglês, celebra em território brasileiro acordo com João, brasileiro, com base na Lei brasileira.
Internacionalmente, a norma locus regit actum assegura a sua validade quanto aos requisitos extrínsecos.

c) João, brasileiro, passa a ter domicilio na Espanha, mas falece ao visitar parentes na Alemanha, então
perante a LICC, a sucessão, em regra, deverá seguir a Lei alemã.

d) Romulo, argentino, e Leticia, paraguaia, ambos com domicilio no Brasil, resolvem aqui casar-se. Então
quanto aos impedimentos dirimentes serão aplicadas as Leis dos países de ambos, e quantos às formalidades
da celebração a Lei brasileira.

e) todas as alternativas estão erradas.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois o art. 7, §3º da LINDB expressamente prevê outra regra: “Tendo os
nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio
conjugal”.

A alternativa B está correta, consoante explicita o art. 9º, § 1º: “Destinando-se a obrigação a ser executada
no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei
estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato”.

A alternativa C está incorreta, na forma do art. 10: “A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do
país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens”.

A alternativa D está incorreta, conforme regra do art. 7º, §1º: “Realizando-se o casamento no Brasil, será
aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração”.

A alternativa E está incorreta, consequentemente.

Gabarito (B)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caros alunos, essas são as principais considerações sobre os temas de hoje.

Encontro-me, no fórum do curso, sempre à disposição para sanar quaisquer dúvidas, bem como inteiramente
aberto a críticas, e a eventuais elogios.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 73


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos
Isabella Pires
Aula 03

Contem comigo e até a próxima aula, quando estudaremos juntos as disciplinas de Direito Processual Civil e
Direito Financeiro e Orçamento.

PGE-AM (Procurador do Estado) Reta Final - 2022 (Pós-Edital) Em PDF 74


www.estrategiaconcursos.com.br 74
Bons estudos
1255215
-Bons Estudos

Você também pode gostar