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ESTRATÉGIA OAB

Reta Final

Sumário

1. Considerações Iniciais .................................................................................................................................... 3

2.Direito Civil. ..................................................................................................................................................... 4

2.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina............................................................................................................... 4

5 - Posse ..................................................................................................................................................... 4

6 - Propriedade plena .............................................................................................................................. 30

7 - Propriedade resolúvel ......................................................................................................................... 58

8 - Propriedade fiduciária ........................................................................................................................ 59

3. Direito Processual Civil................................................................................................................................. 62

3.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina............................................................................................................. 63

6 - Respostas do réu..................................................................................................................................... 63

6.1 - Introdução........................................................................................................................................ 63

6.2 - Contestação ..................................................................................................................................... 63

6.3 - Reconvenção .................................................................................................................................... 73

6.4 - Revelia .............................................................................................................................................. 75

7 - Providências Preliminares e Saneamento .............................................................................................. 77

7.1 - Não Incidência dos Efeitos da Revelia ............................................................................................. 78

7.2 - Fato Impeditivo, Modificativo ou Extintivo do Direito do Autor ..................................................... 78

7.3 - Alegações do Réu ............................................................................................................................. 79

7.4 - Saneamento e da Organização do Processo .................................................................................... 79

8 - Julgamento Antecipado .......................................................................................................................... 82

8.1 - Hipóteses de cabimento .................................................................................................................. 83

4.Direito do Consumidor.................................................................................................................................. 86

4.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina............................................................................................................. 86

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Responsabilidade dos Fornecedores por seus Produtos e Serviços ............................................................ 86

1 - Considerações Iniciais ............................................................................................................................. 86

2 - Responsabilidade pelo fato do produto ................................................................................................. 87

3 - Responsabilidade pelo fato do serviço ................................................................................................... 92

4 - Responsabilidade pelo vício do produto .............................................................................................. 101

5 - Responsabilidade pelo vício do serviço ................................................................................................ 111

6 - Disposições Finais ................................................................................................................................. 113

5. Considerações Finais .................................................................................................................................. 114

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RETA FINAL EM PDF PARA O XXXV EXAME DE


ORDEM
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Sejam muito bem-vindas e bem-vindos, futuras advogadas e futuros advogados!!

Eu sou a Professora Isabella Pires, aprovada no concurso da Magistratura Estadual (TJBA),


na Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe (ALESE) e em outras fases de concursos de
Juiz Federal e Defensor Público. Sou graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN, especialista em Direitos Humanos e em Direito Penal e Processo
Penal.

Aqui no Estratégia OAB, bem como no Estratégia Carreiras Jurídicas, sou idealizadora e
coordenadora dos nossos cursos Reta Final em PDF. Assim, desde já, coloco-me à
disposição para sanar eventuais dúvidas quanto ao curso, bem como para receber
sugestões de vocês, nossas alunas e nossos alunos!

Vocês podem entrar em contato pelo fórum do curso ou ainda:

E-mail: isabella.almeida@estrategiaconcursos.com.br

Instagram: @profaisabellapires

Com o nosso primeiro PDF de apresentação vocês puderam conhecer a estrutura do nosso curso, as
estratégias das quais lançaremos mão para tornar sua preparação mais completa e direcionada à tão
almejada aprovação! Hoje, daremos início ao estudo efetivo das matérias constantes do nosso cronograma!

No PDF de hoje veremos os seguintes temas:

MATÉRIA ASSUNTO MOTIVAÇÃO ESTUDADO OBSERVAÇÕES

Direito Civil Direito das coisas: posse -Incidência altíssima.



Direito das coisas:
propriedade
Direito
Processual
Procedimento Comum –
Parte II (de Respostas do
-Incidência altíssima.

Civil
réu até julgamento
antecipado );

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Direito do
Consumidor
Da responsabilidade do
Fornecedor por seus
Incidência altíssima.

produtos e Serviços.

2.DIREITO CIVIL.
Nosso estudo se concentrará nos seguintes temas:

- Direito das coisas: posse

Direito das coisas: propriedade;

Profa. Isabella: Os temas escolhidos para o nosso estudo em Direito Civil levaram em conta
a alta incidência dos temas nas últimas provas, estando entre os pontos mais cobrados na
matéria!
Assim, mãos à obra e vamos avançar rumo à aprovação!

Nosso estudo abrangerá:

>Pílulas Estratégicas de Doutrina;

>Questões Comentadas.

Vamos dar início?

2.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina

Profa. Isabella Pires: As explanações a seguir tomam por base a aula 07 do Curso Regular
de Direito Civil ministrado pelo Professor Paulo Sousa, para a qual vocês deverão se
encaminhar, caso sintam a necessidade de complementação do estudo com os demais
temas relacionados.

5 - Posse

5.1 - Definição e conceito

Posse é diferente da detenção. A diferença, porém, está na forma como se encara a posse, a depender da
teoria, como mostrarei a você mais adiante. Há ainda quem distinga a detenção da tença, como o faz
Camargo Penteado.

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A detenção, posso dizer desde já, é menos que a posse, ou seja, é uma situação de
aparente posse, mas que não tem elementos necessários para configurá-la. Ela é apenas um fantasma, um
arremedo, fâmulo de posse; parece, mas não é. O CC/2002 estabelece as três situações em que se verifica
a mera detenção, já que ela se origina de:

1) Ordem de outrem em manter uma "posse", mas sem


animus de mantê-la (art. 1.198)

2) Atos de mera tolerância do proprietário (primeira


parte do art. 1.208)

3) Situação de posse violenta ou clandestina (segunda


parte do art. 1.208)

5.2 - Teorias

Os manuais trazem a explicação da teoria subjetivista de Savigny contra a explicação objetivista de Jhering,
pois estes dois foram os responsáveis por construir a noção de posse na Modernidade, tomando por base
não a experiência europeia, mas o discurso de que o Direito Romano encaminharia as soluções mais
adequadas.

Savigny entende que a posse precisa ser preservada pela necessidade da proteção da
paz social. Para tanto, defende que a posse seria formada por dois elementos, quais sejam o objetivo e o
subjetivo.

Para Jhering, o fundamento da proteção possessória não seria a paz social, mas a proteção da própria
propriedade. Justamente porque a posse é a exteriorização da propriedade, a proteção da posse seria a
melhor maneira de proteger a propriedade, tutelando o proprietário nas situações em que o domínio é de
difícil comprovação imediata.

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Claro que Jhering enxerga que se pode proteger um possuidor que não é proprietário, mas numa análise
econômica, mais vale arcar com o ônus de situações de proteção de um possuidor que não é proprietário
para em geral poder proteger os proprietários por intermédio da posse. Por isso, diz ele, o possuidor é o
proprietário presuntivo (por presunção), ou seja, todo proprietário é possuidor, mas nem todo possuidor é
proprietário.

A partir dessa distinção mais clara entre posse e propriedade é possível analisar mais visivelmente a
diferença entre posse direta e posse indireta. Por um contrato ou por um direito real sobre coisa alheia,
seria possível bifurcar a posse, entre a posse direta, daquele que mantém o poder fático sobre a coisa, e a
posse indireta, daquele que detém a propriedade.

Desde o CC/1916 ao atual CC/2002, a literatura e a legislação procuram se adequar à


teoria de Jhering. É flagrante a tentativa do CC/2002 de apagar eventuais resquícios de uma teoria
subjetivista, pelo que adotou, expressamente, a teoria de objetivista Jhering no art. 1.196:

Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum
dos poderes inerentes à propriedade.

Assim, em regra, a posse é encarada como fato, mas eventualmente ela é vista como direito. Pontes de
Miranda soluciona tal problema dizendo que posse é fato, é suporte fático que compõe diversos fatos
jurídicos. Ela, solitariamente, é apenas fato. A posse atrelada ao tempo pode gerar a formação do fato
jurídico da usucapião.

A posse atrelada à violência por terceiros pode gerar pretensão à manutenção da posse. Ou seja, só
existiriam efeitos jurídicos decorrentes de fatos jurídicos e, se há menção sobre o jus possessiones, é porque
ela serviu de suporte fático para a conformação de determinado fato jurídico do qual decorrem direitos,
pretensões, ações, exceções.

5.3 - Função social

O ordenamento jurídico brasileiro não tem tratamento específico legal sequer para a função social da
posse. Tanto a CF/1988 quanto o CC/2002 passaram ao largo da funcionalização da posse, ao contrário do
que ocorreu com a função social da propriedade, esta claramente contida tanto em sede constitucional
quanto no ordenamento infraconstitucional.

A literatura jurídica aponta alguns dispositivos como fundamento à função social da posse. O art. 1.238,
parágrafo único, do CC/2002 estabelece que o prazo estabelecido para a usucapião extraordinária será

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reduzido a 10 anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado
obras ou serviços de caráter produtivo.

Veja-se que aí é possível identificar a funcionalização da posse, e não da


propriedade. A função social da propriedade está bem estabelecida no caput, que permite a aquisição da
propriedade por aquele que lhe dá uso, que a torna funcional. O parágrafo único vai além, estabelecendo
que caso essa posse não seja uma posse qualquer, mas uma posse funcionalizada, pode-se reduzir o prazo
da pretensão aquisitiva.

Assim, se o possuidor, para além de possuir, possui a coisa e nela estabelece sua moradia habitual, está
funcionalizando a posse. Socialmente, possuir para morar é algo que cumpre os objetivos constitucionais.
A posse, aqui, é socialmente funcionalizada em prol da moradia, que é um direito social constitucional
expressamente resguardado pelo art. 6º da CF/1988.

5.4 - Modalidades

A. Composse

Em regra, o objeto da posse tem de ser exclusivo, pela própria natureza da posse. Porém, nada impede
que a apreensão de uma coisa seja comum a mais de uma pessoa.

A composse não se confunde com o desdobramento entre posse direta e indireta (o


proprietário é possuidor indireto da coisa locada, enquanto o locatário detém a posse direta). Ou seja,
possuidores direto e indireto não possuem composse – aqui, o grau de posse é que varia, já que um dos
possuidores fica privado da coisa.

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A composse exige que todos possam utilizar a coisa diretamente, sem excluir os demais, segundo o
disposto no art. 1.199 do CC/2002, pelo que diversos possuidores podem exercer a posse
simultaneamente. Ou seja, ela é semelhante ao condomínio, onde todos são proprietários de uma cota
abstrata da coisa, de modo indivisível ou pro indiviso.

De qualquer forma, cada um e qualquer um dos compossuidores pode praticar os atos possessórios para
defesa da coisa comum. Extinta a relação jurídica originária ou o estado de indivisão da coisa, cessa a
composse, como ocorre, por exemplo, na partilha dos bens dos herdeiros e na dissolução da sociedade
matrimonial.

(VII Exame da OAB) Acerca do instituto da posse é correto afirmar que


A) o Código Civil estabeleceu um rol taxativo de posses paralelas.
B) é admissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.
C) fâmulos da posse são aqueles que exercitam atos de posse em nome próprio.
D) a composse é uma situação que se verifica na comunhão pro indiviso, do qual cada possuidor conta com
uma fração ideal sobre a posse.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois o art. 1.199 do CC/2002 permite a composse de pessoas diversas, sem
estabelecer limite.
A alternativa B está incorreta, já que, como veremos logo mais, a posse de direitos tem funcionamento
diverso, pelo que inaplicável o interdito proibitório a direitos autorais.
A alternativa C está incorreta, pois fâmulo de posse significa arremedo de posse, ou seja, mera detenção,
nada tendo a ver com o exercício indireto da posse.
A alternativa D está correta, porque a posse, à semelhança do condomínio, se dá de modo pro indiviso.
Gabarito: D

B. Espécies de posse

1. QUANTO AO VÍCIO OBJETIVO


• Classificação adotada pelo art. 1.200 do CC/2002, que considera a aquisição da posse de modo lícito
ou ilícito:

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A. Posse justa
• Se for adquirida por meios
legalmente admitidos, a posse é
justa, ou seja, posse conforme o B. Posse injusta
Direito. • Ao contrário, aquela adquirida de modo
• Ela é justa quando não maculada violento, clandestino ou precário.
pela violência, clandestinidade • Posse violenta é aquela adquirida por
ou precariedade. força, mediante a prática de atos
• Tem de ser pública (para que o irresistíveis.
interessado em sua extinção • Posse clandestina é aquela obtida às
tome as medidas possessórias) e escondidas, usando de artifícios para
contínua (exercício de modo enganar o possuidor.
manso e pacífico). • Posse precária, por sua vez, se obtém
por abuso de confiança, sem que fosse
restituída a coisa devida.

2. QUANTO AO VÍCIO SUBJETIVO


• A posse depende de avaliação do estado anímico do possuidor. Em regra, entende-se manter a
posse o mesmo caráter com que foi adquirida, segundo estabelece o art. 1.203 do CC/2002:

A. Posse de boa-fé
• O possuidor ignora o obstáculo
que impede a aquisição da coisa,
nos termos do art. 1.201 do
CC/2002. Ou seja, a boa-fé é
negativa, ignorância, não
positiva, convicção. Pode ser: B. Posse de má-fé
• i. real: apoiada em elementos
• Mesmo conhecendo o vício, possui.
evidentes que não deixam
dúvida; O estado de dúvida não induz,
necessariamente, a má-fé; deve haver
• ii. presumida: quando possui
culpa grave para caracterizá-la (erro
justo título (art. 1.201, parágrafo
inescusável).
único).

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Segundo Venosa, a boa-fé se equipara ao erro, daí sua vinculação com a “ignorância”. No entanto, sempre
se a analisa subjetivamente. Segundo Pontes de Miranda, há má-fé quando o possuidor está convencido
de que sua posse não goza de legitimidade jurídica, mas, ainda assim, mantém-se na posse da coisa. Aqui,
mais uma vez, é necessário apelar para a noção de homem médio.

Não há posse de má-fé quando há justo título. Mas, e o que é justo título? A jurisprudência, especialmente,
alargou a compreensão a respeito do tema paulatinamente. Mais recentemente, documentos particulares
passaram a ser aceitos como suficientes para a demonstração de existência de presunção de boa-fé.

(XXIX Exame da OAB) Em 05/05/2005, Aloísio adquiriu uma casa de 500 m2 registrada em nome de Bruno,
que lhe vendeu o imóvel a preço de mercado. A escritura e o registro foram realizados de maneira usual.
Em 05/09/2005, o imóvel foi alugado, e Aloísio passou a receber mensalmente o valor de R$ 3.000,00 pela
locação, por um período de 6 anos. Em 10/10/2009, Aloísio é citado em uma ação reinvindicatória movida
por Elisabeth, que pleiteia a retomada do imóvel e a devolução de todos os valores recebidos por Aloísio
a título de locação, desde o momento da sua celebração. Uma vez que Elisabeth é judicialmente
reconhecida como a verdadeira proprietária do imóvel em 10/10/2011, pergunta-se: é correta a pretensão
da autora ao recebimento de todos os aluguéis recebidos por Aloísio?
A) Sim. Independentemente da sentença de mérito, a própria contestação automaticamente transforma a
posse de Aloísio em posse de má-fé desde o seu nascedouro, razão pela qual todos os valores recebidos pelo
possuidor devem ser ressarcidos.
B) Não. Sem a ocorrência de nenhum outro fato, somente após uma sentença favorável ao pedido de
Elisabeth, na reivindicatória, é que seus argumentos poderiam ser considerados verdadeiros, o que
caracterizaria a transformação da posse de boa-fé em posse de má-fé. Como o possuidor de má-fé tem
direito aos frutos, Aloísio não é obrigado a devolver os valores que recebeu pela locação.
C) Não. Sem a ocorrência de nenhum outro fato, e uma vez que Elisabeth foi vitoriosa em seu pleito, a posse
de Aloísio passa a ser qualificada como de má-fé desde a sua citação no processo – momento em que Aloísio
tomou conhecimento dos fatos ao final reputados como verdadeiros –, exigindo, em tais condições, a
devolução dos frutos recebidos entre 10/10/2009 e a data de encerramento do contrato de locação.
D) Não. Apesar de Elisabeth ter obtido o provimento judicial que pretendia, Aloísio não lhe deve qualquer
valor, pois, sendo possuidor com justo título, tem, em seu favor, a presunção absoluta de veracidade quanto
a sua boa-fé.
Comentários
A alternativa A está incorreta, dado que somente a partir da citação a posse de Aloísio passou a ser de má-
fé, devendo os valores serem devolvidos a partir desse momento.

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A alternativa B está incorreta, pois desde a citação a posse é considerada de má-fé, não a partir da sentença,
tendo em vista que a citação é o ato pelo qual “as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora
que possui indevidamente”.
A alternativa C está correta, já que a partir da citação a posse se torna de má-fé, nos termos do art. 1.202:
“A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam
presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente”. Assim, os frutos deverão ser devolvidos a
partir da data da citação, de acordo com o art. 1.216: “O possuidor de má-fé responde por todos os frutos
colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que
se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio”.
A alternativa D está incorreta, conforme alternativas anteriores.
Gabarito: C
(XXII Exame da OAB) À vista de todos e sem o emprego de qualquer tipo de violência, o pequeno agricultor
Joventino adentra terreno vazio, constrói ali sua moradia e uma pequena horta para seu sustento, mesmo
sabendo que o terreno é de propriedade de terceiros. Sem ser incomodado, exerce posse mansa e pacífica
por 2 (dois) anos, quando é expulso por um grupo armado comandado por Clodoaldo, proprietário do
terreno, que só tomou conhecimento da presença de Joventino no imóvel no dia anterior à retomada.
Diante do exposto, assinale a afirmativa correta.
A) Como não houve emprego de violência, Joventino não pode ser considerado esbulhador.
B) Clodoaldo tem o direito de retomar a posse do bem mediante o uso da força com base no desforço
imediato, eis que agiu imediatamente após a ciência do ocorrido.
C) Tendo em vista a ocorrência do esbulho, Joventino deve ajuizar uma ação possessória contra Clodoaldo,
no intuito de recuperar a posse que exercia.
D) Na condição de possuidor de boa-fé, Joventino tem direito aos frutos e ao ressarcimento das benfeitorias
realizadas durante o período de exercício da posse.
Comentários
A alternativa A está incorreta, porque a posse de Clodoaldo foi perdida, permitindo a manejo de ação própria
ante o esbulho.
A alternativa B está incorreta, já que ele se utilizou de meio excessivo e a posse de Joventino era pretérita.
A alternativa C está correta, segundo a compreensão jurisprudencial corrente, porque houve perda da posse,
efetivamente, ensejando a ação possessória.
A alternativa D está incorreta, segundo o art. 1.201: “É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o
obstáculo que impede a aquisição da coisa”.
Gabarito: C
(XXVIII Exame da OAB) Eduarda comprou um terreno não edificado, em um loteamento distante do centro,
por R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). Como não tinha a intenção de construir de imediato, ela visitava o
local esporadicamente. Em uma dessas ocasiões, Eduarda verificou que Laura, sem qualquer autorização,
havia construído uma mansão com 10 quartos, sauna, piscina, cozinha gourmet etc., no seu terreno, em
valor estimado em R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais). Laura, ao ser notificada por Eduarda, antes de
qualquer prazo de usucapião, verificou a documentação e percebeu que cometera um erro: construíra sua

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mansão no lote “A” da quadra “B”, quando seu terreno, na verdade, é o lote “B” da quadra “A”. Diante do
exposto, assinale a afirmativa correta.
A) Eduarda tem o direito de exigir judicialmente a demolição da mansão construída por Laura,
independentemente de qualquer indenização.
B) Laura, apesar de ser possuidora de má-fé, tem direito de ser indenizada pelas benfeitorias necessárias
realizadas no imóvel de Eduarda.
C) Laura, como é possuidora de boa-fé, adquire o terreno de Eduarda e a indeniza, uma vez que construiu
uma mansão em imóvel inicialmente não edificado.
D) Eduarda, apesar de ser possuidora de boa-fé, adquire o imóvel construído por Laura, tendo em vista a
incidência do princípio pelo qual a superfície adere ao solo.
Comentários
A alternativa A está incorreta, vez que Laura adquiriu a propriedade do solo, devendo pagar indenização a
Eduarda pelo terreno, nos termos do art. 1.255, parágrafo único.
A alternativa B está incorreta, pois Laura é possuidora de boa-fé, tornando-se proprietária do imóvel,
conforme artigo supracitado.
A alternativa C está correta, nos termos do art. 1.255, parágrafo único: “Se a construção ou a plantação
exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a
propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo”.
A alternativa D está incorreta, porque a regra do caput do art. 1.255 (“Aquele que semeia, planta ou edifica
em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de
boa-fé, terá direito a indenização”) é excepcionada pelo seu parágrafo único, supracitado.
Gabarito: C

3. QUANTO AO TÍTULO
• A partir da noção mais tradicional de título causal, um título que representa a causa do negócio
jurídico, fala-se em “causa representativa de transmissão” da posse. Assim, pode ser ela:

A. Posse com título


• O possuidor adquire a posse com
uma "causa representativa de
transmissão", como ocorre na
posse direta transmitida do B. Posse sem título
locador ao locatário por meio do
contrato de locação. • O possuidor apreende a coisa mesmo
sem um título representativo da causa,
• Também chamada de posse civil como no caso da acessão causada pela
ou jurídica. formação de ilhas.
• Também chamada de posse natural.

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Mas, e a posse de má-fé ou a posse injusta se manterão sempre de má-fé ou


injusta? A rigor, o art. 1.203 estabelece uma presunção relativa a partir do “princípio da continuidade do
caráter da posse”. Presume-se que a posse se manterá com os mesmos caracteres com os quais foi
adquirida. Ou seja, a posse se mantém, presumivelmente, no mesmo estado no qual se iniciou.

No entanto, pode ocorrer que a posse de boa-fé se transmute em posse de má-fé se o possuidor passar a
não mais ignorar o vício, seja judicialmente – através de citação de uma ação de reintegração de posse –,
seja extrajudicialmente – por exemplo, aparece o proprietário com a matrícula do imóvel em mãos –, a teor
do art. 1.202. O inverso, porém, não é possível, já que o possuidor de má-fé, que sabe do obstáculo, não tem
como “deixar de saber” dele.

Como convalidar a posse injusta em posse justa? A construção teórica comum utiliza um parâmetro
objetivo: o prazo de ano e dia. Depois desse lapso temporal, a posse injusta, mesmo que obtida com
violência ou clandestinidade, se transmutaria em posse justa, para todos os fins.

4. QUANTO AO DESDOBRAMENTO DA POSSE


• Consequência da "Teoria objetiva" de Jhering, utilizada pelo Direito brasileiro. Podem existir,
portanto, duas relações de posse sobre a coisa, sem que elas se anulem:

A. Posse direta
• Aquele que detém o poder físico
detém a posse direta. Em geral, o
proprietário é também possuidor
direto. Mas nem sempre. B. Posse indireta
• O possuidor indireto pode
defender autonomamente sua •O proprietário, ainda que
posse, mesmo contra o possuidor limitadamente, detém a posse indireta
direto, se for turbado na posse da coisa, mesmo que não a detenha,
(art. 1.197 do CC/2002). não a tenha consigo ou não a utilize.
É o caso, por exemplo, do locador É o caso do locador, que não detém a
que tenta um “despejo posse direta, mas, por causa do direito
extrajudicial”; o locatário pode de propriedade, detém posse indireta.
exercer uma reintegração de posse
em face do locador, nesse caso.

O possuidor indireto ou mediato confia a coisa a outrem, possuidor direto ou imediato, por certo tempo.
Mas não é apenas o possuidor (em sentido estrito) quem detém a posse direta, mas todo aquele que tem

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alguma forma de posse autônoma (usufrutuário, usuário, locatário, depositário, tutor, inventariante),
consubstanciada em algum direito real sobre coisa alheia ou direito pessoal de uso e/ou gozo.

Trata-se de uma ficção jurídica, mas de importância prática enorme, conforme se vê no art. 1.197. O
dispositivo estabelece que:

A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de
direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o
possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.

5.5 - Aquisição, transmissão e perda

Os modos de aquisição, transmissão e perda da posse que mostrarei se referem às coisas, porque o Direito
das Coisas tradicionalmente está ligado às coisas corpóreas, notadamente as coisas imóveis, em específico
a terra, aos bens de raiz.

Os modos de aquisição, transmissão e perda da posse de direitos tem disciplina distinta, relacionando-se
com o seu exercício. Adquire-se, por exemplo, exercendo, como ao tomar posse no emprego público ou
criar obra literária; transmite-se, repassando o seu exercício, como a faixa presidencial ou pela cessão de
direito autoral; perde-se pela impossibilidade de exercê-lo ou decorrido o tempo para prescrever, como no
caso da não utilização de uma servidão.

A. Modos de aquisição da posse

O CC/1916 enumerava os casos em que havia aquisição da posse (numerus clausus).


Porém, essa orientação contrariava a ratio do Código, que trata da posse como fato. Se é fato, não se pode
descrever o modo como os fatos ocorrerão, desde que o sujeito exercesse algum dos poderes inerentes à
propriedade, havia posse. O CC/2002 corrigiu essa distorção no art. 1.204, aperfeiçoando sua racionalidade,
que assim dispõe (posse como numerus apertus):

Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome


próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.

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A posse se inicia, portanto, desde o momento em que começa seu exercício como decorrência da
propriedade, em nome próprio. Em regra, igualmente, a posse do imóvel presume a posse dos móveis nele
insertos (art. 1.209 do CC/2002).

Os modos de aquisição se subdividem em originários e derivados.

1. ORIGINÁRIOS:
• Adquire-se quando não é necessário consentimento do possuidor precedente
• Não há mais rol taxativo dos modos originários, mas se pode citar a apreensão de coisa
abadonada

2. DERIVADOS:
• Adquire-se quando há consentimento do possuidor precedente
• Dá-se com a tradição, seja efetivamente (entrega de fato da coisa, como na compra de
um celular), seja fictamente (como no caso do constituto possessório)

Pode-se adquirir a posse:

A. PELO PRÓPRIO SUJEITO


• Art. 1.205, inc. I

B. POR REPRESENTANTE OU PROCURADOR


• No caso de incapazes, p.ex.
• Art. 1.205, inc. I

C. POR TERCEIRO SEM PROCURAÇÃO


• Tem de ratificar, obrigatoriamente
• Art. 1.205, inc. II

Além disso, quando possuo determinado bem imóvel presume-se, relativamente, segundo o art. 1.209,
que também possuo as coisas móveis que nele estiverem.

B. Modos de transmissão da posse

Em regra, a posse é adquirida pelo próprio sujeito, sem transmissão. Não obstante, pode haver sucessão das
posses de diferentes possuidores.

São duas as hipóteses de transmissão da posse:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A. SUCESSÃO
• Sucessão universal
• Quando os herdeiros continuam na posse dos bens herdados (art. 1.206 do CC/2002, como no caso
de herança, por exemplo)
B. UNIÃO
• Sucessão singular
• Quando alguém transfere, por uma relação jurídica, a posse a outrem, pelo que suas posses se
unem (art. 1.207, como na compra e venda ou no legado)

No entanto, no caso de sucessão mortis causa, o CC/2002 estabelece uma peculiaridade.


No primeiro caso, de sucessão universal – herança –, a transmissão da posse é obrigatória; no segundo,
de sucessão singular – legado –, a transmissão é facultativa.

A principal utilidade da transmissão das posses é na usucapião, na qual a posse deve ser somada ao tempo
– ambas devem ser contínuas e pacíficas. Por isso, por vezes, é melhor ao possuidor novo não unir sua posse
com a posse do anterior, já que os prazos para a usucapião em não havendo boa-fé ou no caso de posse
injusta, por exemplo, são bem maiores.

C. Modos de perda da posse

Novamente, o CC/1916 enumerava os casos em que havia perda da posse. Porém, essa orientação
contrariava a ratio do Código, que trata da posse como fato – se é fato, não se pode descrever o modo como
os fatos deixarão de ocorrer.

O CC/2002 corrigiu essa distorção no art. 1.223, aperfeiçoando sua racionalidade. A


posse se perde, portanto, desde o momento em que cessa o poder do possuidor sobre a coisa, ainda que
contra sua vontade. Porém, se exige que o possuidor saiba da perda; se não presenciou a perda, só se
considera perdida a posse quando, tendo notícia dela, se abstém o possuidor de retornar a coisa, ou,
tentando recuperá-la, é violentamente repelido, pela dicção do art. 1.224.

Os modos de perda se subdividem em três categorias, a depender da perda do corpus, do animus ou de


ambos, segundo a literatura. Veja-se que, nesse caso, ainda se utiliza da “Teoria subjetiva” de Savigny.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

1) AUSENTES CORPUS E ANIMUS


• O possuidor, portanto, deixa intencionalmente de deter a coisa. Nesses casos, a posse se
perde por:

A. Abandono (derelictio) B. Tradição


• Joga fora a coisa, intencionalmente; • Caso em que há perda da posse e,
não é perder, mas, abandonar simultaneamente, aquisição da posse
para os contratantes

2) AUSENTE CORPUS
• Ocorre quando certos fatos impedem a posse, contra a vontade do possuidor, e somente
quando há impossibilidade de utilização da coisa. Se, ainda que potencialmente o poder
existe, mantém-se a posse. São os casos de:

A. Perda da coisa B. Destruição


• Aqui sim, perda da coisa propriamente dita • Somente nos casos de terceiro, caso
fortuito ou força maior. Se o próprio sujeito
destrói, há perda do corpus e animus
A destruição deve ser total (perecimento
não transitório)

C. Posse de outrem D. Inutilização econômico-jurídica


• Privação da coisa contra a vontade do • Quando a coisa é posta fora do comércio
possuidor (esbulho cuja reintegração não pelo Direito, mesmo que contra a vontade
foi efetivada em ano e dia) do possuidor

3) AUSENTE ANIMUS
• Nesse caso, passa o possuidor a exercer a posse em nome alheio, pelo que a posse se
perde através do constituto possessório.

Exemplo é a situação do sujeito de aliena a casa, para levantar dinheiro para um negócio, e se torna locatário
do novo proprietário. Perde a posse (indireta, e a propriedade), adquirindo posse direta, apenas.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(II Exame da OAB) Sobre o constituto possessório, assinale a alternativa correta.


(A) Trata-se de modo originário de aquisição da propriedade.
(B) Trata-se de modo originário de aquisição da posse.
(C) Representa uma tradição ficta.
(D) É imprescindível para que se opere a transferência da posse aos herdeiros na sucessão universal.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois o constituto é um modo de aquisição derivado de propriedade (deriva-se
do fato de outrem ter a propriedade e a transferir ao adquirente), não originário (sem levar em conta a
propriedade anterior).
A alternativa B está incorreta, dado que a posse no constituto se adquire pela transmissão de posse oriunda
de uma relação de propriedade prévia.
A alternativa C está correta, já que, como dito, a tradição é meramente ficta, não real, transferindo-se a
propriedade e a posse indireta para quem já detinha a posse direta.
A alternativa D está incorreta, porque pelo constituto adquire-se a propriedade, pelo que os herdeiros
podem continuar na posse do bem, mesmo sem o constituto.
Gabarito: C

5.6 - Proteção possessória

A literatura jurídica é unânime em reconhecer efeitos à posse, mas discorda em relação a quais são eles.
Duas correntes majoritárias se dividem.

Segundo a corrente da unicidade, a posse tem um único efeito, que é induzir a


presunção de propriedade. Essa corrente é oriunda daqueles que entendem a posse como exteriorização
da propriedade.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Segundo a corrente da pluralidade, a posse tem vários efeitos. Essa corrente é oriunda tanto de teses que
defendem a posse como fato quanto das que a defendem como direito. De acordo com Orlando Gomes, a
posse tem 7 efeitos principais:

I) DIREITO AOS INTERDITOS


• Presente no art. 1.210 do CC/2002

O possuidor tem direito a proteger sua posse independentemente da qualidade da posse. O CC/2002
disciplina a defesa da posse no art. 1.210, caput e parágrafos. São, segundo Orlando Gomes, as ações de
manutenção de posse, reintegração de posse e o interdito proibitório.

A proteção possessória é geralmente feita por instrumentos chamados interditos. Apenas


excepcionalmente há tutela para a autodefesa da posse, em casos de agressão à posse que exija ação
pronta, enérgica e imediata (desforço possessório).

Em alguns casos, não há verdadeira proteção possessória, mas da propriedade (já que ainda vige a
compreensão de que a posse é mera exteriorização da propriedade, e não direito autônomo). A literatura se
divide quanto ao número de interditos. Orlando Gomes, por exemplo, oferece um rol mais extenso, incluindo
alguns não acolhidos por grande parte dos autores (ação de nunciação de obra nova, ação de dano infecto
e embargos de terceiro senhor e possuidor) e um instituto rechaçado por outros (ação de imissão na posse).

II) DIREITO À PERCEPÇÃO DE FRUTOS


• Presente no art. 1.214 do CC/2002

Os frutos podem ser: pendentes (ainda não separados da coisa principal), percebidos
(colhidos), percipiendos (poderiam já ter sido colhidos, mas não foram) e colhidos por antecipação (não
deveriam ter sido colhidos, mas já o foram).

Analisa-se a disciplina dos frutos à época da cessação da posse. Assim, pertencem os frutos ao possuidor
de boa-fé, desde que a percepção ocorra antes de sua cessação. Por isso, os frutos percipiendos quando da
cessação da boa-fé (em realidade, percebidos – colhidos – depois de cessada a boa-fé) e os frutos colhidos
por antecipação devem ser restituídos, deduzindo-se as despesas de produção e custeio.

Por exemplo, aquele está em um sítio que crê ser seu, ante a existência de justo título, pode colher – e lhe
pertencem – as espigas de milho em época de colheita. Se as colhe ainda verdes, e nesse meio tempo toma
conhecimento do obstáculo à posse, deve restituir as espigas, sendo que o proprietário o indenizará pelas
despesas havidas.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Os produtos devem ser restituídos, sempre. A diferença entre frutos e produtos é que os frutos são bens
acessórios que ao se destacar dos bens principais não diminuem a quantidade deste, não depreciam a coisa,
ao passo que os produtos sim. Por exemplo, relativamente a uma árvore, as frutas são frutos e a madeira,
produto; numa ovelha, a lã é o fruto; a carne, o produto.

III) DIREITO À INDENIZAÇÃO POR BENFEITORIAS


• Presente nos arts. 1.219 e 1.220 do CC/2002

As benfeitorias necessárias devem ser ressarcidas ao possuidor a qualquer título. As


benfeitorias úteis são indenizadas somente ao possuidor de boa-fé. As voluptuárias são indenizáveis ao
possuidor de boa-fé, a critério do credor.

Porém, segundo o art. 1.221, as benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento
se ao tempo da evicção ainda existirem (situação de compensação legal). Ademais, aquele que reivindica a
coisa se obriga a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, mas tem o direito de optar entre o seu
valor atual e o seu custo.

IV) DIREITO DE RETENÇÃO DE VALORES


• Presente no art. 1.219 do CC/2002

O possuidor de boa-fé tem direito de retenção da coisa principal até que lhe seja pago o valor das
benfeitorias necessárias e úteis. Não tem ele, porém, direito de retenção pelas benfeitorias voluptuárias.

V) DIREITO DE LEVANTAMENTO DE BENFEITORIAS


• Presente no art. 1.219 do CC/2002

O possuidor de boa-fé tem direito de levantamento das benfeitorias voluptuárias, no caso de o


proprietário não lhe pagar, mas desde que sua retirada não implique em destruição do bem principal.
Porém, se o proprietário as pagar, não pode o possuidor reter a coisa enquanto o pagamento não é realizado.

VI) DIREITO À USUCAPIÃO


• Presente no art. 1.260 do CC/2002

O mais importante direito oriundo da posse, já que a usucapião é um modo de aquisição originário da
propriedade pela posse continuada durante certo tempo. Essa posse, que permite a aquisição da

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

propriedade, chama-se posse ad usucapionem. É a posse daquele que detém a coisa como se sua fosse –
animus domini.

VII) DIREITO À INDENIZAÇÃO POR PREJUÍZOS


• Presente no art. 884 do CC/2002

O direito à indenização por prejuízos é oriundo da presunção de enriquecimento sem causa do CC/2002,
prevista no art. 884. Por isso, se o possuidor tiver prejuízos, na posse, por causa dela, comprovadamente, o
proprietário deve indenizá-lo. Esse direito vale também para o reivindicante, na exata mesma medida.

De um lado, o possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa


a que não der causa, consoante regra do art. 1.217. A responsabilidade do possuidor de boa-fé é,
consequentemente, subjetiva, dependendo a indenização de comprovação de culpa (lato sensu) sua.

De outro lado, o possuidor de má-fé responde pela perda ou deterioração da coisa, ainda que acidentais,
salvo se provar que mesmo que a coisa estivesse na posse do reivindicante teria ocorrido a perda ou
deterioração (art. 1.218). A responsabilidade do possuidor de má-fé é, consequentemente, objetiva,
independendo a indenização de comprovação de culpa, mesmo que seja o dano oriundo de caso fortuito ou
força maior.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Direito aos interditos

Direito à percepção de frutos

Direito à indenização por benfeitorias

Direito à retenção quanto a valores

Direito à retenção quanto a benfeitorias

Direito à usucapião

Direito à indenização por prejuízos

5.7 - Ações

As ações possessórias são também chamadas de interditos possessórios ou mesmo chamadas de ações
possessórias diretas. Divide-se a literatura jurídica em relação ao cabimento das medidas possessórias aos
bens imóveis e também aos móveis.

Venosa explicitamente defende o cabimento e a aplicabilidade das ações possessórias também aos bens
móveis, mas boa parte da literatura jurídica e da jurisprudência ainda defende que só caberiam elas para os
bens imóveis. Seja qual for sua opção, importa frisar cinco pontos relevantes ligados às ações possessórias:

I) AMPLIAÇÃO DO OBJETO
• Art. 555, incisos, do CPC/2015

As ações possessórias, mesmo que seguindo o rito especial, não têm seu objeto restrito. Também integram
seu objeto a pretensão de condenação por perdas e danos (indenização pelos danos causados e pelos frutos)
e a cominação de pena em caso de reincidência (astreintes para evitar nova turbação ou novo esbulho e
para cumprir a tutela provisória ou final).

Nesse sentido, o autor pode cumular o pedido possessório com o pedido de condenação em perdas e
danos – e mesmo danos morais, se for o caso – e a cominação de pena para caso de nova turbação ou
esbulho.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

II) CARÁTER DÚPLICE


• Art. 556 do CPC/2015

As ações possessórias possuem caráter dúplice, ou seja, intentada uma medida possessória, ela decidirá a
quem a posse é devida, e não apenas se há ou não procedência no pedido, incluindo danos e penas.

Numa ação comum de cobrança, por exemplo, o juiz não pode condenar a contraparte a indenizar você por
danos morais. A lide resolve, unicamente, se é ou não devido o valor pleiteado na inicial.

Porém, nas ações possessórias isso não é necessário, pois o réu pode, na contestação, alegando que foi o
ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da
turbação ou do esbulho cometido pelo autor.

III) ESPÉCIE DO RITO


• Art. 558 do CPC/2015

O rito processual dependerá do prazo em que for intentada a ação, nos casos de
manutenção e reintegração. Se intentada até o prazo de ano e dia, seguirá o rito especial (ação de ano e
dia ou ação de força nova ou ainda ação de força nova espoliativa).

Isso se cumpridos os requisitos do art. 555, incisos, do CPC, quais sejam: a sua posse; a turbação ou o esbulho
praticado pelo réu; a data da turbação ou do esbulho; a continuação da posse, embora turbada, na ação de
manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração. Após, mesmo se tratando de lide possessória,
tramitará pelo rito ordinário (art. 558, parágrafo único do CPC).

IV) FUNGIBILIDADE DAS AÇÕES


• Art. 556 do CPC/2015

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Há fungibilidade de ações nas discussões possessórias. Segundo o art. 554 do CPC/2015, se estiverem
presentes os requisitos de um pedido, o juiz deve acatá-lo, ainda que, na verdade, o pedido seja outro. Ou
seja, se pedir manutenção, mas for o caso de reintegração, ainda assim a liminar será concedida.

V) CONTEÚDO MANDAMENTAL
• Art. 330 do CP/1940

A sentença possessória pode trazer conteúdo mandamental, pois o juiz pode mandar que se pratiquem ou
deixem de se praticar certos atos, com cominação de pena. Nesse caso a violação caracteriza o crime de
desobediência, previsto no art. 330 do CP/1940:

Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:


Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

Passarei a mostrar, agora, as ações possessórias em sentido estrito, cujo núcleo é possessório, e as ações
petitórias, que, a despeito de terem conteúdo possessório, não o são, em essência.

A. Possessórias

1. Manutenção de posse

A ação de manutenção de posse serve ao possuidor no caso de turbação. Mas, o que é turbação? É o ato
que embaraça o livre exercício da posse. Veja com cuidado; é o ato que embaraça, dificulta, atrapalha a
posse. Se houver perda, é esbulho.

Os atos de turbação podem ser negativos, como impedir que eu plante na minha terra
ou entre na minha casa, ou positivos, como cortar as árvores da minha propriedade ou edificar um muro. Os
pressupostos para a manutenção não precisam estar presentes em sua totalidade ou bem definidos, pois
nesses casos há fungibilidade das ações.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado
liminar de manutenção ou de reintegração. Caso contrário, determinará que o autor justifique previamente
o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada. No entanto, contra as pessoas
jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência
dos respectivos representantes judiciais.

Julgada procedente, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração (art. 563 do
CPC/2015). Com ou sem liminar, o autor deve promover, nos 5 dias subsequentes, a citação do réu para
contestar a ação, na dicção do art. 564.

2. Reintegração de posse

Cabível nos casos de esbulho (perda), para o fim de recuperar a coisa privada por violência,
clandestinidade ou precariedade, seja diretamente contra quem praticou o esbulho ou terceiro que a
recebeu, sabendo que era esbulhada. A ação de reintegração de ano e dia se chama ação de força nova
espoliativa, ou de posse nova, a proposta depois desse prazo, ação de posse velha ou força velha.

(V Exame da OAB) Numa ação de reintegração de posse em que o esbulho ocorreu há menos de 1 ano e 1
dia, ao examinar o pedido de liminar constante da petição inicial, o juiz
(A) deve sempre realizar a inspeção judicial no local, sendo tal diligência requisito para a concessão da
liminar.
(B) deve deferir de plano, sem ouvir o réu, se a petição inicial estiver devidamente instruída e sendo a ação
entre particulares.
(C) deve sempre designar audiência prévia ou de justificação, citando o réu, para, então, avaliar o pedido
liminar.
(D) pode deferir a liminar de plano, sem ouvir o réu, desde que haja parecer favorável do Ministério Público.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Comentários
Essa era uma questão baseada no CPC/1973, pelo que há alguns pontos que divergem do CPC/2015. Por
isso, vou fazer algumas adaptações próprias.
A alternativa A está incorreta, já que o CPC não exige inspeção judicial prévia para deferir a liminar sem oitiva
do réu.
A alternativa B está correta, de acordo com o art. 562 do CPC, que exige apenas a presença dos requisitos
autorizadores da liminar, sendo desnecessária a inspeção judicial.
A alternativa C está incorreta, não se exigindo tal medida mesmo quando há grande número de possuidores,
segundo o art. 554, §§, do CPC.
A alternativa D está incorreta, já que o CPC não exige parecer favorável do MP para deferir a liminar sem
oitiva do réu.
Gabarito: B

3. Interdito proibitório

Ação de caráter preventivo (turbação ou esbulho), prevista no art. 567 do CPC/2015. Exige o justo receio
da turbação ou do esbulho, mas não animus turbandi do eventual transgressor.

Nesses casos, segundo esse artigo, há a previsão de cominação pecuniária se o receio se


tornar realidade, ou seja, o juiz estabelece uma multa (astreintes) caso o transgressor potencial
efetivamente transgrida. Isso é muito comum, curiosamente, não no Direito Civil, mas no Direito do
Trabalho, nas situações em que, em face de uma greve, o sindicato patronal intenta um interdito contra o
sindicato dos trabalhadores, para evitar que eles impeçam o ingresso de “fura-greves” na empresa.

Ainda em relação à fungibilidade, se intentada uma manutenção ou reintegração e o juiz entender que há
mero receio, sem turbação ou esbulho, ele não julga improcedente o pedido do autor, mas impõe o
interdito contra o réu. Além disso, o interdito proibitório segue as normas da manutenção e reintegração
de posse, segundo o art. 568 do CPC/2015.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Ação de manutenção na posse

Ação de reintegração na posse

Interdito proibitório

B. Petitórias

1. Imissão de posse

A literatura jurídica se divide quanto ao seu caráter possessório, dado que quando o
possuidor não pode exercer a posse porque terceiro se nega a efetivar a tradição cabe, em verdade, ação de
reintegração de posse.

Porém, aceita-se a imissão de posse na execução, sob a forma de mandado para a entrega de coisa imóvel,
segundo o art. 538 do CPC/2015. A imissão é uma medida semelhante à busca e apreensão, só que de bens
imóveis.

2. Exceção de domínio

A exceptio domini ou exceptio proprietatis é um instituto mais ligado à defesa da propriedade, pois se presta
a discutir o domínio e não a posse. Ela encerra um conteúdo petitório, e não possessório, pelo que se tornou
um instituto incongruente com o sistema de defesa da posse e de discussão de propriedade.

A despeito de o art. 1.210, §2º, do CC/2002 ter deixado claro que não obsta à manutenção ou reintegração
de posse a alegação de propriedade, persiste ainda a exceção de domínio a latere.

De aplicação restrita, defere-se a posse da coisa a quem alega o domínio apenas nos casos em que ela é o
fundamento da controvérsia. Autor e réu disputam a posse da coisa com base em títulos contraditórios e
excludentes, por exemplo. Nesses casos, a jurisprudência permite que a discussão dominial se sobreponha
à discussão possessória.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Por isso, de acordo com a jurisprudência do STJ e do STF, permite-se que a lide
possessória seja resolvida com base no domínio quando com base nele a posse for disputada ou quando
duvidosas ambas as posses.

Porém, em consonância com o Enunciado 78 da I Jornada de Direito Civil, supracitado, em ambos os casos
a ação deveria ser julgada improcedente, descartando-se a alegação de domínio.

3. Nunciação de obra nova e Demolitória

Visa a proteger a posse apenas a latere, havendo outras possibilidades. No CPC/1973 essa ação estava
prevista no art. 934, nas seguintes hipóteses:

I - ao proprietário ou possuidor, a fim de impedir que a edificação de obra nova em imóvel


vizinho lhe prejudique o prédio, suas servidões ou fins a que é destinado;
II - ao condômino, para impedir que o coproprietário execute alguma obra com prejuízo ou
alteração da coisa comum;
III - ao Município, a fim de impedir que o particular construa em contravenção da lei, do
regulamento ou de postura.

O CPC/2015 extinguiu o procedimento especial da “Ação de nunciação de obra nova”,


mas ela não deixou de existir, apenas passou a seguir o procedimento de conhecimento. Assim, a rigor, é
de se definir as hipóteses de cabimento da nunciação a partir da literatura e da jurisprudência.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Trata-se, em verdade, de ação cominatória. Seu objetivo é denunciar que determinada obra, em curso,
viola a posse de outrem, de modo a embargar a construção que invade a área do outro. Se a obra já estiver
pronta, cabe ação demolitória, segundo o art. 1.280 do CC/2002.

4. Dano infecto

Igual à ação de nunciação de obra nova e à ação demolitória, tendo natureza cominatória, não possessória.
Ela é cabível quando o possuidor tem justo receio de sofrer dano oriundo de edifício ou obra vizinha em risco
de ruína, consoante regra do art. 1.277 do CC/2002.

5. Embargos de terceiro senhor e possuidor

Outro caso em que a defesa da propriedade é mais elementar, sendo utilizada, não raro, pelo proprietário,
contra dois sujeitos que disputam a posse. Cabível quando alguém sofre turbação ou esbulho em sua posse
por meio de constrição ou ameaça (apreensão judicial por penhora, arresto, depósito, sequestro ou venda
em hasta pública), não sendo parte na lide:

Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição
sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo,
poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro.

Julgando suficientemente provada a posse, o juiz deferirá liminarmente os embargos e ordenará a expedição
de mandado de manutenção ou de restituição em favor do embargante (art. 678 do CPC/2015). O juiz pode
condicionar a ordem de manutenção ou de reintegração provisória de posse à prestação de caução pelo
requerente (parágrafo único).

Ação de imissão na posse

Exceção de domínio

Nunciação de obra nova

Ação de dano infecto

Embargos de terceiro senhor e possuidor

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

6 - Propriedade plena

6.1 - Características

Quando se adota a propriedade como o mais amplo dos direitos reais, questiona-se a diferença entre
domínio e propriedade. No texto do CC/2002, na perspectiva dogmática, foi flagrante a tentativa do
legislador de trabalhar uma indistinção entre eles, haja vista a retirada do termo domínio do texto legal.

Camargo Penteado entende que a diferença entre domínio e propriedade não se estabelece
sobre a essência, mas sobre a perspectiva adotada pelo observador. Nesse sentido a propriedade trataria
da relação do seu titular com a coisa numa perspectiva mais dinâmica, do exercício dos poderes sobre as
coisas (tanto é assim que se fala em função social da propriedade e não do domínio), enquanto a expressão
domínio trataria do conteúdo desses poderes.

A maioria da literatura jurídica e da jurisprudência, entretanto, não distingue propriedade e domínio, ao


menos não de maneira satisfatória e inequívoca.

A doutrina nomina diversas características do direito de propriedade, que podem ser agrupadas em cinco
núcleos:

A. PERPETUIDADE
• A propriedade tem tendência a ser perpétua, ou seja, a propriedade não é um direito
que se extingue no tempo. Ao contrário, diferentemente do direito das obrigações,
quanto mais se exerce sua propriedade, mais se reforça o direito

B. EXCLUSIVIDADE
• Não podem existir dois proprietários de um mesmo bem. Veja que, mesmo nas situações
em que isso ocorre, o Direito cria uma ficção jurídica para manter a regra da
exclusividade
• Por exemplo, no condomínio, os diferentes proprietários não têm a totalidade da
propriedade; cada proprietário tem a propriedade sobre uma "fração ideal"

C. ELASTICIDADE
• Por mais que o titular do direito de propriedade efetue a disposição de figuras
parcelares, essas figuras tendencionalmente irão se reorganizar sob a titularidade do
proprietário

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

D. ABSTRATALIDADE
• O conteúdo do direito de propriedade é esvaziado, tornando-se a propriedade uma
“forma” dentro do ordenamento, tal qual o contrato, o que permite enxergar as
diferentes "propriedades" como uma única só

E. INDIVIDUALIDADE
• Característica que diferencia a propriedade moderna da propriedade antiga, ou seja,
hoje a propriedade é sempre pensada a partir da propriedade individual

6.2 - Função social

O CC/2002 não trata expressamente da função social da propriedade. O §1° do art. 1.228 é indicado pela
literatura jurídica como aquele que trata da função social da propriedade, sem, contudo, haver uma menção
literal dela. Esse dispositivo é, portanto, de pouca aplicabilidade, haja vista o desenvolvimento em termos
constitucionais e infraconstitucionais a respeito do assunto.

O CC/2002 também traz, no art. 1.228, §2°, o abuso de direito de propriedade. Esse
abuso representa uma limitação interna às situações jurídicas ativas; ainda que permitidos, não se permite
que os atos sejam abusivos. Todo e qualquer direito ou situação jurídica tem uma autolimitação na vedação
no seu exercício abusivo e, em termos gerais, isso é apresentado no art. 187. Isso demonstra que a limitação
é verdadeiramente uma autolimitação, inerente a toda e qualquer situação jurídica.

Em grandes linhas, distingue-se a função social da propriedade a partir de dois grandes eixos: a função social
da propriedade imobiliária urbana (tratada nos arts. 182 e 183 da CF/1988) e a função social da propriedade
imobiliária rural (arts. 184 a 191 da CF/1988).

Na primeira, configura-se a função social da propriedade adotando-se como parâmetro as diferentes


realidades locais existentes no país. Ao invés de unificar uma compreensão sobre os critérios para verificação
da função social da propriedade urbana, o constituinte remete à realidade particular dos municípios essa
averiguação. Assim, nos termos do §2° do art. 182, a propriedade urbana cumpre sua função social quando
atende as exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor. A função social da
propriedade urbana desdobra-se, então, em três diplomas legislativos: a Constituição Federal; o Estatuto da
Cidade – Lei 10.257/2001 –, que desenvolve os mecanismos para tratamento da propriedade tal como
estabelecido constitucionalmente; e o Plano Diretor, que apresenta os critérios de ordenação urbana no
específico município.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A principal sanção pelo descumprimento da função social da propriedade urbana é a


desapropriação para posterior parcelamento, edificação ou utilização, prevista no Estatuto da Cidade (Lei
10.257/2001).

Já a propriedade imobiliária rural apresenta outros critérios relativos à função social da propriedade. Para
que haja cumprimento da função social é necessário o cumprimento simultâneo de quatro deveres
presentes no art. 186 da CF/1988:

B. Utilização adequada D. Exploração com o


C. Observância das
A. Aproveitamento dos recursos e bem-estar de
disposições que
racional e adequado preservação do proprietários e
regulam o trabalho
ambiente trabalhadores

A Lei da Reforma Agrária – Lei 8.629/1993 – estabelece dois critérios objetivos para avaliação do
cumprimento da função social da propriedade. Esses critérios, repito, são bastante objetivos, tão objetivos
que são medidos por dois índices, quais sejam:

A. GUT – Grau de Utilização da Terra (art. 6º, §1º);

B. GEE – Grau de Eficiência na Exploração (art. 6º, §1º, incisos).

Esses critérios dependem de uma série de fatores: geografia, região, estado, meio
ambiente, solo. Por vezes, a função social é atendida quando da não utilização da propriedade, como por
exemplo nos casos de locais de matas nativas de preservação ambiental. Excetuam-se dessa regulamentação
as terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas, conforme dicção do art. 231, §§1º e 2º da
CF/1988, que seguem especificidades em relação a sua ocupação.

A principal sanção pelo descumprimento da função social da propriedade rural é a desapropriação para
fins de reforma agrária, prevista tanto na CF/1988 quanto no Estatuto da Terra (Lei 4.504/1964).

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

6.3 - Extensão e limites

A extensão do direito de propriedade tem relevância nos bens imóveis, já que eles se compõem do solo,
subsolo e espaço aéreo (art. 1.229). Nos bens móveis, irrelevante a discussão, em geral, porque a coisa, em
si, já apresenta os limites da propriedade.

Porém, segundo o art. 1.230, a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos
minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por
leis especiais. No entanto, o proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego
imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto
em lei especial.

Igualmente, por força de aplicação do Estatuto da Cidade, a abrangência do espaço


aéreo se limita ao gabarito construtivo da área, que pode se circunscreve ao zoneamento urbano
específico a cada área e ao cone aeronáutico.

Na verdade, não há uma tripartição entre espaço aéreo, solo e subsolo, mas subsolo e espaço aéreo
constituem extensão lógica da propriedade da superfície, pois não há como edificar ou plantar sem que se
utilize o subsolo e o espaço aéreo, minimamente. Atualmente, se fala que a propriedade incide sobre o
subsolo e o espaço aéreo até o limite de utilidade (além desse limite, há um espaço inapropriável, sobretudo
em relação ao espaço aéreo).

Quando um bem móvel se integra a um imóvel, ele se torna parte integrante deste e, se não puder ser
retirado sem destruição, torna-se parte integrante essencial. Consequência disso é que as partes integrantes
essenciais são parte da propriedade e presume-se que o proprietário do solo é também proprietário de
tudo aquilo que foi incorporado à coisa. Essa presunção, porém, é relativa, conforme arts. 1.258 e 1.259.

As limitações são uma conformação atribuída a uma situação jurídica pelo ordenamento, um confinamento
das possibilidades que materialmente a situação jurídica possibilita ao seu titular, por conta de diversos
fatores.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Uma limitação específica surge com a inalienabilidade de determinados bens em


situações peculiares. Normalmente, a propriedade, por via do contrato, deve ter amplas possibilidades de
circulação dentro do sistema de trocas capitalista. Porém, por lei ou pela vontade, pode o bem ficar fora do
comércio jurídico.

No Direito Civil importa a voluntária, decorrente de aposição de cláusula de inalienabilidade (art. 1.911
do CC/2002). Seus requisitos são: a. expressamente constar no título; b. a transferência deve ser a título
gratuito, seja por ato entre vivos, seja mortis causa – pelo que só cabe em doações ou testamentos.

A inalienabilidade, porém, não pode ser perpétua, mas somente temporária (prazo determinado: sujeita a
termo ou condição) ou vitalícia (durante a vida do proprietário). Apenas em casos específicos pode haver
alienação do bem, desde que por decisão judicial, que controlará a necessidade e conveniência, segundo o
art. 1.911, parágrafo único.

6.4 - Aquisição e transmissão

Essa disciplina trata dos modos de aquisição, de titularização de uma situação jurídica proprietária. Indica,
portanto, os modos de aquisição de situações jurídicas proprietárias que integrarão o patrimônio dos
sujeitos. Igualmente, você verá, em conjunto com a aquisição, a transmissão dessas situações jurídicas
proprietárias.

Classificam-se os modos de aquisição:

I. Quanto ao ingresso patrimonial

A. UNIVERSAL
• Transferência de todo o patrimônio, como o herdeiro que recebe o patrimônio do
falecido, envolvendo situações jurídicas ativas e passivas

B. SINGULAR
• Dá-se sobre elementos singulares cujos direitos integram o patrimônio. Se o falecido
deixou testamento, deixando um legado a uma pessoa (bem específico), temos uma
transferência singular

II. Quanto à origem

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A. ORIGINÁRIOS
• Quando a aquisição não guarda relação com situações jurídicas que lhe antecedem,
como se existisse uma limpeza de tudo o que é anterior em favor de uma nova situação
que se cria. É o caso da usucapião, pois a pessoa adquire originariamente o bem por
força do fato jurídico da usucapião

B. DERIVADOS
• São aqueles que guardam relação com uma situação jurídica anterior, sendo o mais
expressivo dos exemplos a compra e venda. Adquire-se a propriedade pelo comprador
que é entregue pelo devedor, havendo uma derivação de titularidade

(XIII Exame da OAB) Ary celebrou contrato de compra e venda de imóvel com Laurindo e, mesmo sem a
devida declaração negativa de débitos condominiais, conseguiu registrar o bem em seu nome. Ocorre que,
no mês seguinte à sua mudança, Ary foi surpreendido com a cobrança de três meses de cotas condominiais
em atraso. Inconformado com a situação, Ary tentou, sem sucesso, entrar em contato com o vendedor,
para que este arcasse com os mencionados valores. De acordo com as regras concernentes ao direito
obrigacional, assinale a opção correta.
A) Perante o condomínio, Laurindo deverá arcar com o pagamento das cotas em atraso, pois cabe ao
vendedor solver todos os débitos que gravem o imóvel até o momento da tradição, entregando-o livre e
desembargado.
B) Perante o condomínio, Ary deverá arcar com o pagamento das cotas em atraso, pois se trata de obrigação
subsidiária, já que o vendedor não foi encontrado, cabendo ação in rem verso, quando este for localizado.
C) Perante o condomínio, Laurindo deverá arcar com o pagamento das cotas em atraso, pois se trata de
obrigação com eficácia real, uma vez que Ary ainda não possui direito real sobre a coisa.
D) Perante o condomínio, Ary deverá arcar com o pagamento das cotas em atraso, pois se trata de obrigação
propter rem, entendida como aquela que está a cargo daquele que possui o direito real sobre a coisa e,
comprovadamente, imitido na posse do imóvel adquirido.
Comentários
Essa é uma questão que vai te fazer relembrar um pouco do direito das obrigações. Lembra-se daquelas
situações que ficam a meio caminho entre o direito real e o direito obrigacional? São as obrigações reais ou
propter rem, que vinculam o titular. É importante lembrar que nesse tipo de obrigação, mesmo que a origem
seja originária, mantém-se a obrigação.
A alternativa A está incorreta, já que a cota condominial é tratada como obrigação real ou propter rem, que
vincula titular do bem, independentemente do momento no qual essa titularização ocorreu.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A alternativa B está incorreta, pois não é o caso de ação subsidiária, mas de obrigação real. Além disso,
caberá, caso Ary encontre Laurindo, uma ação de regresso.
A alternativa C está incorreta, dado que Ary já registrou o bem e, portanto, possui direito real pleno sobre a
coisa, pelo que é ele quem deve arcar com tais despesas.
A alternativa D está correta, porque Ary é o titular do direito de propriedade e, por isso, atrai as obrigações
decorrentes desse direito a si, como é o caso da obrigação condominial.
Gabarito: D

III. Quanto ao grau

A. SIMPLES
• Quando apenas um fato jurídico conduz à aquisição, como, por exemplo, no caso de
morte

B. COMPLEXOS
• Quando se exige uma união de diferentes fatos jurídicos, como, por exemplo, na
transmissão da propriedade pelo contrato, que necessita do contrato e do registro

IV. Quanto ao objeto

A classificação quanto ao objeto é a mais relevante, por trazer numerosas consequências para o direito de
propriedade. Mostrarei, a partir de agora, detalhadamente, cada uma das formas de aquisição da
propriedade:

A. Propriedade imobiliária

Regula-se pelos arts. 1.238 a 1.259 do CC/2002. O Código desenha três modos de aquisição de propriedade
imobiliária: usucapião, registro e acessão.

1. Usucapião

A usucapião, modo de aquisição originário da propriedade, faz predominar a situação de fato, de uso,
sobre a situação formal. Assim, quem adquire por usucapião, adquire ex novo, apagando as situações
jurídicas anteriores.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(XXIV Exame da OAB) Quincas adentra terreno vazio e, de forma pública, passa a construir ali a sua
moradia. Após o exercício ininterrupto da posse por 17 (dezessete) anos, pleiteia judicialmente o
reconhecimento da propriedade do bem pela usucapião. Durante o processo, constatou-se que o imóvel
estava hipotecado em favor de Jovelino, para o pagamento de numerários devidos por Adib, proprietário
do imóvel.
Com base nos fatos apresentados, assinale a afirmativa correta.
(A) A hipoteca existente em benefício de Jovelino prevalece sobre eventual direito de Quincas, tendo em
vista o princípio da prioridade no registro.
(B) A hipoteca é um impeditivo para o reconhecimento da usucapião, tendo em vista a função social do
crédito garantido.
(C) Como a usucapião é modo originário de aquisição da propriedade, a hipoteca não é capaz de impedir a
sua consumação.
(D) Quincas pode adquirir, pela usucapião, o imóvel em questão, porém ficará com o ônus de quitar o débito
que a hipoteca garantia.
Comentários
A alternativa A está incorreta, como dispõe a jurisprudência do STJ: “AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
ESPECIAL. USUCAPIÃO. MODO ORIGINÁRIO DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE. HIPOTECA. NÃO
SUBSISTÊNCIA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. ALEGAÇÃO GENÉRICA. SÚMULA Nº 284/STF.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULAS Nº 211/STJ E Nº 282/STF. A usucapião é forma de aquisição
originária da propriedade, de modo que não permanecem os ônus que gravavam o imóvel antes da sua
declaração (AgRg no REsp 647.240/DF, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 07/02/2013, DJe 18/02/2013)”.
A alternativa B está incorreta, porque o direito real de garantia trata da excussão e a usucapião da aquisição
da propriedade, sem relação direta, em princípio.
A alternativa C está correta, como referendara o STJ no REsp 620.610 e, posteriormente, no REsp
supramencionado.
A alternativa D está incorreta, já que a usucapião é modo de aquisição originário, não havendo como o ônus
subsistir.
Gabarito: C

No direito brasileiro, como já tratado, a posse de diferentes pessoas pode ser unida para fins de contagem
dos prazos exigidos para a usucapião (art. 1.243). Existem duas formas de ocorrer a transmissão:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

2. Transmissão a título singular: quem recebe


1. Transmissão a título universal:
a posse pode decidir por unir a posse com a
automaticamente o herdeiro recebe a posse
do antecessor, a depender do que lhe será
do antecessor e o sucessor recebe a posse
mais vantajoso. Essa transmissão ocorre em
com todas as vicissitudes com a qual o
todos os casos que não a transmissão a
antecessor mantinha
herdeiros (compra e venda etc.)

Atente para o art. 1.243. Segundo ele, o possuidor pode, para o fim de contar o tempo
exigido pelos arts. 1.238 a 1.242, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (accessio possessionis),
contanto que todas sejam contínuas e pacíficas. Ou seja, não se exige que as posses sejam de boa-fé,
literalmente.

Como o art. 1.208 estabelece que não induzem posse os atos violentos ou clandestinos e o art. 1.243 não
trata da precariedade, pode-se inferir que a posse injusta, derivada da precariedade, pode ser usada para
contar o tempo de usucapião, ainda que a lei expressamente não o diga. Há, porém, intensa divergência na
literatura jurídica.

Por fim, de acordo com previsão do art. 1.244, estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor
acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à
usucapião. Apenas para que não fiquem as causas um tanto esquecidas, transcrevo-as aqui novamente:

Art. 197. Não corre a prescrição:


I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou
curatela.
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3º;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não
correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.
Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os
outros se a obrigação for indivisível.

A exceção fica, obviamente, por conta da usucapião familiar, cuja suspensão da prescrição prevista no art.
197, inc. I (“Não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal”) não é aplicável,
sob pena de virtual inutilidade do instituto. Deve-se, numa interpretação sistemática, compreender a regra
do art. 1.240-A como exceção ao art. 1.244, dado que aquele é norma especial em relação a este.

Em havendo posse ad usucapionem, com animus domini, possível se falar em aquisição da propriedade pela
passagem do tempo. E se o tempo para a aquisição da propriedade não tiver sido preenchido quando da
propositura da demanda? Segundo o Enunciado 497 da V Jornada de Direito Civil, esse prazo pode ser
completado no curso do processo, ressalvadas as hipóteses de má-fé processual do autor.

Veja, agora, as espécies de usucapião:

I. Ordinária

Exige-se 10 anos de posse, considerada de boa-fé, com o chamado "justo título", sendo tratada no art.
1.242, caput do CC/2002.

Por ser comum, exige-se menos tempo, mas com boa-fé (em sentido subjetivo, de aspecto
intencional) e justo título. Num primeiro momento, a jurisprudência entendia por justo título apenas os
documentos que sejam efetivamente hábeis para constituir a propriedade, mas a limitação era gigantesca.
Progressivamente, a jurisprudência foi, de modo paulatino, entendendo que todo e qualquer documento
que possa justificar a situação de fato pode ser considerada justo título, como o contrato de compra e
venda sem forma pública e mesmo recibos de pagamento de transferência.

Dentro dessa modalidade, há uma modalidade especial, qual seja a do possuidor que tem um título
proveniente de uma aquisição onerosa, que foi cancelada posteriormente no registro de imóveis,
conforme art. 1.242, parágrafo único. Nessa situação adquire-se a propriedade em metade do tempo (5
anos), com justo título e boa-fé.

II. Extraordinária

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Chamada assim por ser independente de boa-fé e justo título, sendo tratada no art.
1.238. Justamente por ser independente desses requisitos, o tempo de posse é maior (15 anos).

Se o possuidor houver estabelecido sua moradia na área ou realizado obras ou serviços de caráter
produtivo, o tempo cai para 10 anos (art. 1.238, parágrafo único).

(XXV Exame) Jonas trabalha como caseiro da casa de praia da família Magalhães, exercendo ainda a função
de cuidador da matriarca Lena, já com 95 anos. Dez dias após o falecimento de Lena, Jonas tem seu
contrato de trabalho extinto pelos herdeiros. Contudo, ele permanece morando na casa, apesar de não
manter qualquer outra relação jurídica com os herdeiros, que também já não frequentam mais o
imóvel e permanecem incomunicáveis. Jonas decidiu, por sua própria conta, fazer diversas modificações
na casa: alterou a pintura, cobriu a garagem (que passou a alugar para vizinhos) e ampliou a churrasqueira.
Ele passou a dormir na suíte principal, assumiu as despesas de água, luz, gás e telefone, e apresentou-se,
perante a comunidade, como “o novo proprietário do imóvel”. Doze anos após o falecimento de Lena,
seu filho Adauto decide retomar o imóvel, mas Jonas se recusa a devolvê-lo.
A partir da hipótese narrada, assinale a afirmativa correta.
A) Jonas não pode usucapir o bem, eis que é possuidor de má-fé.
B) Adauto não tem direito à ação possessória, eis que o imóvel estava abandonado.
C) Jonas não pode ser considerado possuidor, eis que é o caseiro do imóvel.
D) Na hipótese indicada, a má-fé de Jonas não é um empecilho à usucapião.
Comentários
A alternativa A está incorreta, porque, de fato, o possuidor possuiu a coisa de má-fé (sabia do impedimento
a respeito da aquisição da propriedade), mas tinha posse justa (sem violência, clandestinidade ou
precariedade), o que lhe permite usucapir o bem, em dadas circunstâncias.
A alternativa B está incorreta, pois não há abandono, nesse caso, propriamente dito. O proprietário
“abandonou” a coisa, mas a coisa não está abandonada, porque se encontra na posse de outrem.
A alternativa C está incorreta, porque o caseiro era detentor apenas enquanto cuidador era; quando a
matriarca Lena faleceu, ele não mais estava sujeito à mera detenção. Veja que o art. 1.198 (“Considera-se

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome
deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas”) determina que o detentor, detentor é, enquanto
cumpre ordens. Quanto a matriarca faleceu, ele deixou de conserva a posse em nome e em cumprimento
de ordens dela.
A alternativa D está correta, pela conjugação do caput do art. 1.238 (“Aquele que, por quinze anos, sem
interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente
de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para
o registro no Cartório de Registro de Imóveis”) com o parágrafo único (“O prazo estabelecido neste artigo
reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele
realizado obras ou serviços de caráter produtivo”). Como ele está no imóvel há 12 anos, pode adquirir por
usucapião.
Gabarito: D

III. Especial

Constitucional

Tem requisitos diferentes, a depender de ser o imóvel urbano ou rural:

A. IMÓVEIS URBANOS
• Art. 183 da CF/1988 e art. 1.240 do CC/2002
• Chamada de usucapião especial
• Se for possuidor de área urbana de até 250 m², por 5 anos ininterruptos, sem oposição,
utilizando-se para moradia sua ou de família, adquire o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel
• O Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) trouxe mais um requisito, qual seja que o
possuidor não pode usucapir deste modo mais de uma vez (art. 9°, § 2° do Estatuto da
Cidade)

B. IMÓVEIS RURAIS (PRO LABORE)


• Art. 191 da CF/1988 e art. 1.239 do CC/2002
• Deve haver posse por 5 anos ininterruptos, sem oposição, de área de terra (em
perímetro rural) de até 50 hectares, tornando-a produtiva e tendo nela sua moradia

IV. Coletiva

Tratada no art. 10 do Estatuto da Cidade, estabelecendo-se necessariamente sobre bens


imóveis urbanos. Para haver a usucapião, o núcleo urbano informal deve estar em área inferior a 250 m²

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

per capita (área total dividida pelo número de possuidores, individualmente) ocupada por 5 anos
ininterruptos e sem oposição. Não se exige, depois da Lei 13.465/2017, que as áreas usucapidas sejam
utilizadas para moradia ou que os possuidores sejam considerados pessoas de baixa renda; o mote do
novo dispositivo é mais a regularização fundiária e menos o caráter “social”.

Essa área será usucapida coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel
urbano ou rural (se um deles é proprietário, não se contaminam os demais). A ação pode ser proposta pelo
possuidor, isoladamente, por litisconsórcio dos possuidores ou por Associação de Moradores
regularmente constituída (registrada), que funcionaria como substituto processual extraordinário, segundo
o art. 12, incisos, do Estatuto.

A sentença de procedência da usucapião coletiva constitui um condomínio entre os


possuidores, sendo que a sentença deve atribuir igual fração ideal de terreno para cada um dos
possuidores (igual, em princípio).

Esse é o caso de um condomínio especial, pois dotado de indivisibilidade, sendo somente divisível se por
decisão favorável de dois terços dos condôminos, desde que na hipótese de uma urbanização posterior à
constituição do condomínio.

V. Familiar

Prevista no art. 1.240-A do CC/2002, vale somente para imóveis urbanos de até
250m², utilizado como única moradia, sem oposição, no caso de ex-cônjuge que abandona o lar conjugal
por mais de 2 anos, pelo que o outro cônjuge adquire o domínio integral.

O fundamento desse artigo é a proteção da mulher abandonada pelo cônjuge/companheiro com filhos,
sobretudo nos casos de violência doméstica e formação familiar subsequente pelo que abandona o lar.
Nesses casos, há falta de recursos para adquirir duas moradias com a divisão patrimonial e dificuldade para
alienar posteriormente pela ausência de outorga uxória.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(XXVIII Exame da OAB) Aline manteve união estável com Marcos durante 5 (cinco) anos, época em que
adquiriram o apartamento de 80 m² onde residiam, único bem imóvel no patrimônio de ambos.
Influenciado por tormentosas discussões, Marcos abandonou o apartamento e a cidade, permanecendo
Aline sozinha no imóvel, sustentando todas as despesas deste. Após 3 (três) anos sem notícias de seu
paradeiro, Marcos retornou à cidade e exigiu sua meação no imóvel. Sobre o caso concreto, assinale a
afirmativa correta.
A) Marcos faz jus à meação do imóvel em eventual dissolução de união estável.
B) Aline poderá residir no imóvel em razão do direito real de habitação.
C) Aline adquiriu o domínio integral, por meio de usucapião, já que Marcos abandonou o imóvel durante 2
(dois) anos.
D) Aline e Marcos são condôminos sobre o bem, o que impede qualquer um deles de adquiri-lo por
usucapião.
Comentários
A alternativa A está incorreta, porque, tendo em vista que Marcos abandou o imóvel há mais de dois anos,
Aline adquiriu a propriedade por meio de usucapião familiar, conforme art. 1.240-A.
A alternativa B está incorreta, dado que Aline tem a propriedade do imóvel, dada a usucapião, não só o
direito real de habitação.
A Alternativa C está correta, dado o art. 1.240-A: “Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente
e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta
metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar,
utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural”.
A alternativa D está incorreta, pois em desacordo com o art. 1.240-A, que prevê expressamente a
possibilidade de usucapião.
Gabarito: C

(XXXII Exame da OAB) Joel e Simone se casaram em regime de comunhão total de bens em 2010. Em 2015,
depois de vários períodos conturbados, Joel abandonou a primeira e única residência de 150 m2, em área
urbana, que o casal havia adquirido mediante pagamento à vista, com recursos próprios de ambos, e não
dá qualquer notícia sobre seu paradeiro ou intenções futuras. Em 2018, após Simone ter iniciado um
relacionamento com Roberto, Joel reaparece subitamente, notificando sua ex-mulher, que não é
proprietária nem possuidora de outro imóvel, de que deseja retomar sua parte no bem, eis que não

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

admitiria que ela passasse a morar com Roberto no apartamento que ele e ela haviam comprado juntos.
Sobre a hipótese narrada, assinale a afirmativa correta.
A) Apesar de ser possuidora de boa-fé, Simone pode se considerar proprietária da totalidade do imóvel,
tendo em vista a efetivação da usucapião extraordinária.
B) Uma vez que a permanência de Simone no imóvel é decorrente de um negócio jurídico realizado entre
ela e Joel, é correto indicar um desdobramento da posse no caso narrado.
C) Como Joel deixou o imóvel há mais de dois anos, Simone pode alegar usucapião da fração do imóvel
originalmente pertencente ao ex-cônjuge.
D) A hipótese de usucapião é impossível, diante do condomínio sobre o imóvel entre Joel e Simone, eis que
ambos são proprietários.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois não se trata de usucapião extraordinária, a qual possui previsão no art.
1.238, CC/2002: “Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel,
adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o
declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.”
A alternativa B está incorreta, vez que a permanência no imóvel é decorrente do fato de Simone ser também
proprietária, não tendo ela firmado qualquer contrato de locação, por exemplo, com Joel.
A alternativa C está correta, em razão da aplicação do art. 1.240-A do CC/2002: "Aquele que exercer, por 2
(dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até
250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-
companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio
integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”.
A alternativa D está incorreta, uma vez que a usucapião não é impossível, tanto que é prevista em lei, como
analisado na alternativa C.
Gabarito: C

USUCAPIÃO
Ordinária Extraordinári Especial Coletiva Familiar
a
Urbana
Requisito Comuns Comuns Comuns Comuns Comuns
s Justo título - - - -
Boa-fé - - - -

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Inferior a 250 m² Inferior a 250 Inferior a 250 m²


individualment
e
Moradia - Moradia
Únicoimóvel Único imóvel Única vez
Núcleo urbano Ex-
informal cônjuge/abandon
o
Prazos 10 anos 15 anos 5 anos 5 anos 2 anos

Rural
Requisito Igual Igual Comuns Não existe Não existe
s 50 ha
Produtividade/moradi
a
Única vez
Prazos 10 anos 15 anos 5 anos

Peculiare Tabular Especial


s
Requisito Cancelament Moradia/
s o do registro produtividad
e
Prazos 5 anos 10 anos

VI. Extrajudicial

A usucapião extrajudicial, também chamada de administrativa, está prevista no art.


216-A da Lei 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos – LRP), pela inserção de regra nova pelo CPC/2015. Foi,
posteriormente, modificada pela Lei 13.465/2017, mas não é propriamente uma modalidade de usucapião,
antes uma forma de se fazer usucapião sem necessidade de intervenção judicial.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Assim, prevê o mencionado dispositivo, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião,


que será processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver
situado o imóvel usucapiendo. Veja que a via extrajudicial é facultativa, não compulsória, pelo que nada
impede que a parte beneficiada prefira o Poder Judiciário.

2. Registro

O registro do título é modo de aquisição derivada da propriedade. Apresenta-nos a regra geral dos modos
de aquisição em decorrência de negócios jurídicos dispositivos. São negócios hábeis a transmitir a
propriedade: compra e venda (regra), permuta, dação em pagamento, transação judicial imobiliária e
doação. O Enunciado 87 da I Jornada de Direito Civil ainda considera título translativo a promessa de compra
e venda devidamente quitada (arts. 1.417 e 1.418 do CC/2002 e §6º do art. 26 da Lei 6.766/1979).

No caso da compra e venda, caso mais comum de transmissão que se leva ao registro, exige-se instrumento
público. Primeiro se vai ao Ofício de Títulos e Documentos e, uma vez celebrada a escritura pública de
compra e venda, vai-se ao Ofício do Registro de Imóveis no qual o imóvel está matriculado.

O registro gera uma presunção da propriedade, como determina o art. 1.245, §2º, do CC/2002. Por isso,
enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel, nos
termos do §1º.

No entanto, não apenas por ato inter vivos se faz a transmissão da propriedade, mas também mortis
causa. A rigor, no caso de direito hereditário, a transmissão da propriedade se dá imediatamente após o
falecimento, por aplicação do princípio da saisine.

3. Acessão

A acessão é modo de aquisição originária da propriedade. Ela, acessão, pode ser entendida como uma
força externa que aumenta a coisa do proprietário, seja construção, seja plantação. As acessões podem ser

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

naturais (formação de ilhas, aluvião, avulsão, álveo abandonado) ou artificiais (construções e plantações).
Passo a analisar cada uma das espécies de acessão de bem imóvel trazida pelo CC/2002:

A. FORMAÇÃO DE ILHAS
• Ocorre quando em um rio forma-se uma ilha, naturalmente (art. 1.249)

Somente será acessão ao proprietário se a ilha surgir em rio que não é de domínio público. Se for de domínio
privado, são duas as hipóteses de acessão pela formação de ilhas (art. 1.249):

I. Ilha no meio do rio: pertence aos


II. Ilha entre o meio e uma margem:
proprietários ribeirinhos igualmente,
pertence ao proprietário mais próximo
segundo a testada das terras

Além disso, se a ilha se forma por um novo braço do rio, não se fala em acessão, ficando o proprietário da
terra anteriormente ocupada apenas pela terra com a ilha. Assim, se no meio de minha propriedade surge
um novo braço de um rio, originário de um rio que divide a minha e a sua propriedade, a ilha surgida nesse
novo braço de rio é inteiramente minha.

B. ALUVIÃO
• Acréscimo paulatino de terras do rio na propriedade ribeirinha (“assoreamento”)
• Esse aumento tem de ser lento, sucessivo, paulatino e imperceptível (art. 1.250)

O acréscimo pertence aos proprietários, no limite das testadas (art. 1.250, parágrafo único).

Há ainda a chamada aluvião imprópria, característica do acréscimo de solo pela retração de águas (rios,
lagos etc.), que secam parcialmente. Nesse caso, também há aquisição da propriedade. A distinção é
meramente didática, já que os efeitos são exatamente os mesmos.

C. AVULSÃO
• Por força violenta da natureza, uma porção de terras desloca-se de uma propriedade para outra,
sem intervenção humana (art. 1.251)

Se em um ano o proprietário que perdeu terras não contatar aquele que teve terras
acrescidas, perde o direito de propriedade sobre a área (prazo decadencial). Do contrário, o proprietário
que perdeu terras é indenizado e o que ganhou as terras adquire sua propriedade. Se não quiser indenizar,
aquele que perder as terras tem direito a reclamá-las de volta (art. 1.251, parágrafo único).

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

D. ÁLVEO ABANDONADO
• Ocorre quando um rio ou lago que dividia duas propriedades para de correr, seca ou é desviado
(art. 1.252)

Não importa se o rio era público ou privado, traça-se uma linha imaginária ao meio do leito do rio e divide-
se a propriedade entre os ribeirinhos. Ao contrário da formação de ilhas, é irrelevante o fato de o curso ser
público ou privado.

(XIII Exame da OAB) Jeremias e Antônio moram cada um em uma margem do rio Tatuapé. Com o passar
do tempo, as chuvas, as estiagens e a erosão do rio alteraram a área da propriedade de cada um. Dessa
forma, Jeremias começou a se questionar sobre o tamanho atual de sua propriedade (se houve
aquisição/diminuição), o que deixou Antônio enfurecido, pois nada havia feito para prejudicar Jeremias.
Ao mesmo tempo, Antônio também começou a notar diferenças em seu terreno na margem do rio. Ambos
questionam se não deveriam receber alguma indenização do outro. Sobre a situação apresentada, assinale
a afirmativa correta.
A) Trata-se de aquisição por aluvião, uma vez que corresponde a acréscimos trazidos pelo rio de forma
sucessiva e imperceptível, não gerando indenização a ninguém.
B) Se for formada uma ilha no meio do rio Tatuapé, pertencerá ao proprietário do terreno de onde aquela
porção de terra se deslocou.
C) Trata-se de aquisição por avulsão e cada proprietário adquirirá a terra trazida pelo rio mediante
indenização do outro ou, se ninguém tiver reclamado, após o período de um ano.
D) Se o rio Tatuapé secar, adquirirá a propriedade da terra aquele que primeiro a tornar produtiva de alguma
maneira, seja como moradia ou como área de trabalho.
Comentários
A alternativa A está correta, pois os acréscimos de terra lentos caracterizam a aluvião, inexistindo direito
indenizatório no caso, pois se trata de fenômeno natural que acresce propriedade, sem causar prejuízo.
A alternativa B está incorreta, pois se a ilha se formar no meio do rio será de propriedade dos ribeirinhos,
segundo a testada das terras; a contrário, se houve deslocamento de terras, não se trata de formação de
ilhas, mas de aluvião ou avulsão, a depender da situação.
A alternativa C está incorreta, já que a avulsão trata de uma situação de deslocamento de terras de maneira
violenta, mas o exercício deixa claro que é “com o passar do tempo”, ou seja, lentamente.
A alternativa D está incorreta, porque no caso de álveo abandonado, traça-se uma linha imaginária na calha
do rio e divide-se a propriedade entre os ribeirinhos, independentemente do uso dado por eles.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Gabarito: A

E. CONSTRUÇÕES E PLANTAÇÕES
• Tudo aquilo que se constrói num imóvel pertence, presumivelmente, ao proprietário, pelo princípio
do superficie solo cedit (art. 1.253)

Nos casos anteriores (formação de ilhas, aluvião, avulsão, álveo abandonado), havia
acessão de um imóvel em outro. No caso de construções e plantações há acessão de um móvel a um
imóvel.

A rigor, até prova em contrário (presunção juris tantum), toda construção e plantação foi feita pelo
proprietário e à sua custa. Mas, o que ocorre se alguém constrói com materiais de terceiros? Ou se constrói
em imóvel alheio com seus materiais? O CC/2002 tratará dessas hipóteses de acessões seguindo duas regras,
que valem tanto para as plantações quanto para as construções:

1. Terreno próprio com material alheio:


2. Material próprio em terreno alheio:
adquire a propriedade do que foi
perde a propriedade sobre o material,
construído, devendo ressarcir o valor dos
pois a acessão ocorrerá em favor do
materiais ao seu dono. Se o proprietário
proprietário, mas terá direito de
agiu de má-fé, deve indenizar também
indenização, se agiu de boa-fé (art. 1.255)
perdas e danos (art. 1.254)

No segundo caso, a exceção ocorre quando a construção ou plantação em terreno


alheio exceder consideravelmente o valor do terreno no qual foi construído (parágrafo único do artigo).
Nessa situação, pela preservação da situação fática e numa ponderação, o que plantou ou edificou adquire
a propriedade mediante indenização ao proprietário, fixada judicialmente, se não houver acordo.

Se ambos estavam de má-fé (má-fé recíproca ou bilateral), adquirirá o proprietário as sementes, plantas
e construções, devendo ressarcir o valor das acessões (art. 1.256). Presume-se – relativamente – a má-fé
do proprietário quando o trabalho de construção ou plantação se fez em sua presença e sem impugnação
sua.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Situação peculiar ocorre quando se constrói invadindo parcela da propriedade alheia (arts. 1.258 e 1.259).
Se a obra ainda estiver em curso, é possível a propositura de ação para impedir a continuidade da obra e/ou
demolir o que já foi construído (ação de nunciação de obra nova e ação demolitória).

Porém, se a obra já está construída, o Código prevê os remédios dos artigos


mencionados, de modo a evitar a demolição, quando há boa-fé, e além de demolir, penalizar, quando há
má-fé.

Assim, se o sujeito age de boa-fé, em área inferior a 1/20 do terreno alheio, adquire-lhe a propriedade, se o
valor da construção exceder o valor da área perdida. De qualquer forma, deve indenizar pela área perdida e
pela desvalorização da remanescente.
AQUISIÇÃO DE
PROPRIEDADE

Usucapião
IMOBILIÁRIA

Formação de ilhas
MODOS DE

Registro Aluvião

Acessão Avulsão

Álveo abandonado

Construções e plantações

B. Propriedade mobiliária

A aquisição da propriedade mobiliária regula-se pelos arts. 1.260 a 1.274 do CC/2002. Existem vários meios,
que podem ser originários e derivados. São modos de aquisição originários da propriedade mobiliária a
ocupação, o achado de tesouro e a usucapião. De outra banda, são modos de aquisição derivados da
propriedade mobiliária a especificação, a confusão, a comissão, a adjunção, a tradição e a sucessão.

1. Usucapião

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

É de rara aplicabilidade a usucapião de bem móvel, já que, no cotidiano, de baixa utilidade. Para o
examinador não é tão interessante trazer questões sobre o assunto porque ele não apresenta muitas
possibilidade de confundir você e fazer típicas pegadinhas desnecessárias.

De antemão, deixou claro o legislador, no art. 1.262, que se aplica à usucapião das coisas móveis o disposto
nos arts. 1.243 e 1.244. Reveja os dois dispositivos:

Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos
antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que
todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.
Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que
obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à
usucapião.
USUCAPIÃO
ORDINÁRIA EXTRAORDINÁRIA
Comuns Comuns
Requisitos Justo Título -
MÓVEL
Boa-fé -
Prazos 3 anos 5 anos

2. Coisas sem dono

I. Ocupação

Modo de aquisição de coisa móvel abandonada. A coisa móvel sem dono pode ser ocupada, se não existir
lei específica que vede esse modo de aquisição, segundo o art. 1.263. É o caso dos veículos, que têm registro
próprio a impedir a ocupação (mas não a usucapião).

II. Achado de tesouro

Pode-se adquirir a propriedade da coisa desde que não seja possível a determinação de sua titularidade,
ou seja, sendo coisa imemorial (art. 1.264). Trata-se da aquisição de peculiar res nullius, a coisa que, perdida
há tanto tempo, já não tem dono, porque esquecida.

Se houver dono, deve a ele o tesouro ser entregue; se não, é dividido entre o dono do terreno e o
descobridor. Evidentemente, se aquele que acha o tesouro é o próprio dono do terreno, adquire a coisa por
inteiro.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Nos casos de tesouros arqueológicos e pré-históricos ou encontrados em águas sob a jurisdição nacional,
aplica-se legislação específica, Lei 3.924/1961.

3. Tradição

Já tratei, em linhas gerais, da tradição, a entrega do bem, anteriormente. É pela tradição que, em regra,
transmite-se a propriedade, na dicção do art. 1.267 do CC/2002. As exceções ficam por conta dos bens
sujeitos a registro, ainda que móveis, como os veículos automotores.

Não necessariamente a tradição precisa ser faticamente feita. Por vezes, há tradição ficta e por vezes há
tradição simbólica. Isso fica claro no parágrafo único do art. 1.267: ”Subentende-se a tradição quando o
transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à
restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da
coisa, por ocasião do negócio jurídico”.

Isso ocorre para facilitar a transmissão e evitar atos inúteis. Por exemplo, imagine que eu vendo a você um
guarda-sol que tinha emprestado para que você usasse nas férias. Seria ridículo obrigar você a me devolver
o guarda-sol e, na sequência, ali mesmo, eu entregá-lo a você novamente.

Por obviedade, não pode o não proprietário que efetuar a tradição transmitir a
propriedade, já que não tem ele como alienar a coisa, nos termos do art. 1.268. A exceção fica por conta da
coisa que, oferecida ao público, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a
qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono. Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir
depois a propriedade, considera-se realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição;
trata-se da venda a non domino.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(XVIII Exame da OAB) Por meio de contrato verbal, João alugou sua bicicleta a José, que se comprometeu
a pagar o aluguel mensal de R$ 100,00 (cem reais), bem como a restituir a coisa alugada ao final do sexto
mês de locação. Antes de esgotado o prazo do contrato de locação, João deseja celebrar contrato de
compra e venda com Otávio, de modo a transmitir imediatamente a propriedade da bicicleta. Não
obstante a coisa permanecer na posse direta de José, entende-se que
A) o adquirente Otávio, caso venda a bicicleta antes de encerrado o prazo da locação, deve obrigatoriamente
depositar o preço em favor do locatário José.
B) João não pode celebrar contrato de compra e venda da bicicleta antes de encerrado o prazo da locação
celebrada com José.
C) é possível transmitir imediatamente a propriedade para Otávio, por meio da estipulação, no contrato de
compra e venda, da cessão do direito à restituição da coisa em favor de Otávio.
D) é possível transmitir imediatamente a propriedade para Otávio, por meio da estipulação, no contrato de
compra e venda, do constituto possessório em favor de Otávio.
Comentários
A alternativa A está incorreta. É uma pegadinha que tentar te induzir em erro ao confundir as coisas.
Primeiro, Otávio comprou a bicicleta, mesmo ela estando alugada a José. OK. Depois de comprar a bicicleta
pode fazer o que bem entender com ela, inclusive retomar para si e vender a quem quiser. Pode? Sim, lembra
da regra geral da locação? Art. 571:“Havendo prazo estipulado à duração do contrato, antes do vencimento
não poderá o locador reaver a coisa alugada, senão ressarcindo ao locatário as perdas e danos resultantes,
nem o locatário devolvê-la ao locador, senão pagando, proporcionalmente, a multa prevista no contrato”.
Porém, Otávio não é o locador, mas o adquirente. Ele tem que respeitar a locação? Art. 576: “Se a coisa for
alienada durante a locação, o adquirente não ficará obrigado a respeitar o contrato, se nele não for
consignada a cláusula da sua vigência no caso de alienação, e não constar de registro”. Como o exercício não
falou nada, subentende-se que não se estabeleceu tal regra. Assim, Otávio pode retomar a bicicleta de José
imediatamente, sem qualquer indenização.
Pois bem, e o que José tem a ver se Otávio também resolver revender a bicicleta durante o prazo de locação,
sem que tivesse retomado a bicicleta dele? Absolutamente nada. Por que Otávio deveria depositar o preço
em favor do locatário José? Ou melhor, depositar que preço, relativo a quê? Otávio não tem nada a pagar a
José, tem de pagar a João.
A alternativa B está incorreta, pois, como eu disse antes, João pode alienar a coisa durante o prazo locatício.
E, segundo o art. 576 (“Se a coisa for alienada durante a locação, o adquirente não ficará obrigado a respeitar
o contrato, se nele não for consignada a cláusula da sua vigência no caso de alienação, e não constar de
registro”.), o adquirente não precisará respeitar o prazo locatício.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A alternativa C está correta, porque, mais uma vez, como dito acima, Otávio não precisa obedecer à locação,
por força do art. 576.
A alternativa D está incorreta. Você lembra o que é o constituto possessório. Vimos na aula anterior que ele
se enquadra nas situações de perda da posse por perda do animus, ou seja, a intenção de possuir. Isso
ocorrerá, com frequência, nos casos do constituto possessório. Nesse caso, passa o possuidor a exercer a
posse em nome alheio. Esse é um modo especial de tradição da coisa, em que o sujeito deixa de possuir a
coisa em nome próprio para o fazer em nome alheio, transferindo-lhe a posse indireta. Ou seja, a
transferência, a tradição, da coisa é meramente ficta. Isso ocorre, por exemplo, nos casos em que o
proprietário vende o bem e o comprador aluga o bem para o próprio vendedor.
O caso do exercício, porém, não se enquadra nessa hipótese, pois Otávio não está na posse do bem e nem
detinha a propriedade.
Gabarito: C

4. Acessão

I. Especificação

ESPECIFICAÇÃO
• Ocorre quando alguém trabalha em matéria-prima alheia, como o artesão que trabalha o mármore
alheio, segundo o art. 1.269 do CC/2002

Se for possível restituir a coisa à forma anterior, essa deve ser a solução (art. 1.270), incluindo-se aí
indenização. Isso porque, nesse caso, não se criou coisa nova. Se não for possível, criando-se coisa nova, o
especificador adquire a propriedade da obra, devendo indenizar o dono da matéria-prima.

Porém, se o especificador agiu de má-fé, adquire a propriedade o proprietário da matéria-prima (§1º). A


exceção fica por conta da situação em que o valor agregado pelo especificador supere em muito o valor da
matéria-prima (§2º). No entanto, o próprio especificador é igualmente indenizado, se agira de boa-fé.

II. União

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

CONFUSÃO, COMISSÃO/COMISTÃO E ADJUNÇÃO


• Essas três figuras trazem em comum a ideia de junção de materiais
• A confusão ocorre quando da mistura de coisas líquidas, como a água e vinho, ou a água e o álcool
• A comissão (comistão) ocorre quando há a mistura de coisas sólidas, como ouro e prata, cimento e
areia
• A adjunção se dá pela justaposição de bens, como o selo no papel, ou um carimbo num documento

Se for possível separar as coisas, separam-se (art. 1.272 do CC/2002). É o caso da


mistura de água e óleo, que permite separação. No entanto, mesmo que seja possível a separação, não se
as separam quando for a separação excessivamente custosa. Por exemplo, possível separar o ouro da prata,
mas como o custo é elevado, não se faz a separação.

Se houver boa-fé de ambas as partes, não sendo possível observar qual das duas coisas era mais valiosa,
estabelece-se um condomínio entre os proprietários, ficando cada um titular de uma fração ideal (§1º). Se
uma das coisas puder ser vista como a principal, o proprietário desta adquire a propriedade como um todo,
indenizando os demais (§2º).

Se houver má-fé, o prejudicado pode escolher entre adquirir a propriedade, ressarcindo o valor do que não
é seu, abatendo-se a indenização que lhe é devida, ou renunciar à propriedade, recebendo o ressarcimento
(art. 1.273). Trata-se de medida salutar para “punir” aquele que mistura coisas culposamente.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Usucapião
AQUISIÇÃO DE
PROPRIEDADE
MOBILIÁRIA
Ocupação
MODOS DE

Achado de tesouro
Especificação
Tradição
Confusão
Acessão
Comissão/Comistão
Adjunção

6.5 - Perda

A perda da propriedade, seja móvel, seja imóvel, pode ocorrer por fato relativo a:

1. PESSOA
• Pela morte natural (real ou presumida)

2. OBJETO
• Perecimento da coisa ou pela acessão (art. 1.275, inc. IV)

3. DIREITO
• Voluntariamente ou contra a vontade do proprietário

Em relação às duas primeiras situações, não há muitas dificuldades, pelo que desnecessário minudenciar.
Releva a terceira situação, relativamente ao Direito.

1. Modos voluntários:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A. ALIENAÇÃO
• Modo de perda e aquisição concomitante de propriedade (art. 1.275, inc. I)
• Se for bem imóvel, deve o alienante efetuar o registro no Registro de Imóveis para que
tenha eficácia (art. 1.275, parágrafo único)

B. RENÚNCIA
• Ato unilateral de declaração explícita de vontade de despojar-se do bem (art. 1.275, inc.
II)
• Se for bem imóvel, deve o renunciante efetuar o registro no Registro de Imóveis para
que tenha eficácia (art. 1.275, parágrafo único)

C. ABANDONO
• O sujeito se desfaz, intencionalmente, da coisa sobre a qual detém domínio, tornando a
coisa res derelicta (art. 1.275, inc. III)
• Segundo o art. 1.276, o imóvel que o proprietário abandonar, com a intenção de não
mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem,
poderá ser arrecadado como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do
Município (se urbano) ou à União (se rural)
Presume-se de modo absoluto a intenção quando, cessados os atos de posse, deixar o
proprietário de satisfazer os ônus fiscais

2. Modos involuntários:

A. DESAPROPRIAÇÃO
• Regulamentada pelo Direito Administrativo (art. 1.275, inc. V)

B. ARREMATAÇÃO
• Perda judicial da propriedade pela alienação em hasta pública

C. ADJUDICAÇÃO
• Perda judicial da propriedade pelo próprio exequente

D. IMPLEMENTO DE CONDIÇÃO RESOLUTIVA


• Como mostrarei melhor na propriedade resolutiva

E. PERDIMENTO
• Bens que servem para ressarcir dano ao Erário

F. REQUISIÇÃO
• Em tempos de guerra para uso do Estado

Como se trata de institutos típicos de Direito Administrativo e de Direito Processual Civil, em regra, não vou
analisá-los. Quanto à desapropriação, trato, ao longo da aula, a respeito da desapropriação prevista no art.
1.228, §4º, a “desapropriação judicial privada por posse-trabalho”. De igual modo, verso sobre o implemento
da condição resolutiva quando trato da propriedade resolúvel.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

São esses os dois modos involuntários de perda da propriedade que interessam estritamente ao Direito
Civil: “desapropriação judicial privada por posse-trabalho” (art. 1.228, §§ 4º e 5º) e resolubilidade da
propriedade imobiliária (arts. 1.359 e ss.). Os demais modos de perda involuntária interessam a ramos
outros, irrelevantes aqui.

7 - Propriedade resolúvel

A propriedade resolúvel é aquela que, pela Lei ou pela vontade, resolve-se, retornando ao bem ao
proprietário anterior (art. 1.359 do CC/2002). A resolubilidade está genericamente prevista nos arts. 127 e
135, como tratei anteriormente, na parte de Teoria Geral, especificamente quanto à condição resolutiva e o
termo final.

Os exemplos típicos de resolubilidade da propriedade são:

RETROVENDA
• Art. 505
PREEMPÇÃO OU PREFERÊNCIA
• Art.513
COMPRA E VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO
• Arts. 521 a 528
COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA
• Decreto-Lei 58/1937
ALIENAÇÃO DE FRAÇÃO IDEAL CONDOMINIAL
• Art. 504
PREFERÊNCIA DO LOCATÁRIO
• Arts. 27 e 34 da Lei 8.245/1991
PREFERÊNCIA DO ARRENDATÁRIO/PARCEIRO RURAL
• Lei 4.504/1964

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Em todos os casos, a propriedade e os direitos reais concedidos extinguem-se,


retornando o direito ao proprietário anterior ou ao detentor da preferência, na forma do direito de
sequela (art. 1.359).

A resolução opera efeitos ex tunc e atinge o direito de terceiros (o terceiro terá apenas direitos obrigacionais
contra o alienante, se de boa-fé), segundo o art. 1.360.

8 - Propriedade fiduciária

Contrariando a boa técnica legislativa, o art. 1.361 conceitua a propriedade fiduciária como “a propriedade
resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor”. O
dispositivo foi reproduzido parcialmente no art. 1º do Decreto-Lei 911/1969 e no art. 22 da Lei 9.514/1997
e é quase perfeito, não fosse o descuido temporal do legislador.

Primeiro, há uma pegadinha bastante comum: confundir as partes. Isso porque


quem é quem não vem automaticamente à cabeça. Lembre: temos um credor e um devedor; temos a pessoa
que fica com o bem (geralmente consumidor) e a pessoa que recebe o bem fiduciariamente (geralmente
uma instituição financeira); a pessoa que fica com a posse direta do bem e a pessoa que fica com a
propriedade (fiduciária) e a posse indireta; temos a pessoa “crente” que se pagar todo o financiamento vai
receber a propriedade de volta e “depositário” dessa confiança:

Devedor Pessoa CrENTE, com fé FiduciANTE

Credor Banco DepositÁRIO da fé FiduciÁRIO

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Assim, sempre que pensar em FIDUCIANTE, pense na pessoa; sempre que pensar em
FIDUCIÁRIO, pense no banco. Como eu disse, muitas questões de provas (de nível alto, inclusive) podem ser
resolvidas só ao não se confundir quem é quem. Lembre também que o FIDUCIANTE não fica com a
propriedade; quem fica com a propriedade fiduciária é o... FIDUCIÁRIO!

Como ocorre a alienação fiduciária para constituição da propriedade fiduciária? Vou dar um exemplo para
ilustrar. Vejo um carro que gostaria de comprar, mas pelo valor do bem e pela minha renda, não tenho
dinheiro para comprar à vista. Quem tem dinheiro? O banco. Com isso, o banco dá o dinheiro ao dono do
carro, que, recebendo, me repassa o carro.

A diferença entre um financiamento comum e a alienação fiduciária em garantia está no “repassa o carro”.
O vendedor, ao me repassar o veículo, não transfere a propriedade para mim, mas apenas a posse. A
propriedade passará a quem o pagou, o banco. O banco, portanto, é o proprietário (e credor-fiduciário) e
tem a posse indireta da coisa, que está na minha posse direta (devedor-fiduciante).

A vantagem desse instituto é que o credor-fiduciário fica com a propriedade do bem e, na hipótese da
resolução por inadimplemento, pode desfazer o contrato e retomá-lo. Não necessariamente a propriedade
fiduciária se liga a um contrato de mútuo ou a uma relação de consumo, mas essa é a situação mais comum,
na prática.

A propriedade fiduciária, nos termos do art. 1.361, §1º, exige que o contrato seja celebrado por instrumento
público ou particular registrado no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor. Em se
tratando de veículos, desnecessário esse registro, pois compete ao DETRAN o licenciamento dos
automóveis, fazendo-se a anotação no certificado de registro (CRLV), conclusão essa do próprio STF
também (ADI 4.227 e ADI 4.333).

O art. 1.362 do CC/2002 traz os requisitos do contrato:

I - o total da dívida, ou sua estimativa;


II - o prazo, ou a época do pagamento;
III - a taxa de juros, se houver;

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

IV - a descrição da coisa objeto da transferência, com os elementos indispensáveis à sua


identificação.

Excepcionando a regra do res perit domino, o art. 1.363 estabelece que o devedor pode
usar a coisa, correndo o risco por ela, devendo entregá-la ao credor-fiduciário, se a dívida não for paga no
vencimento. O devedor é, nesses casos, equiparado ao depositário. Assim, fica o credor-fiduciário
obrigado a vender, judicial ou extrajudicialmente, a coisa a terceiros, e a entregar o saldo, se houver, ao
devedor (art. 1.364).

Na prática, porém, é raro que reste saldo ao devedor inadimplente. Mais comum é que, vendida a coisa, o
produto não basta para o pagamento da dívida, pelo que continua o devedor obrigado pelo restante, na
dicção do art. 1.366 do CC/2002. Nula, porém, a cláusula que autoriza o proprietário fiduciário a ficar com
a coisa alienada em garantia, se a dívida não for paga no vencimento (art. 1.365), o chamado pacto
comissório real.

Diferencia-se a alienação fiduciária da venda com reserva de domínio porque esta se


restringe a bens móveis, enquanto a alienação pode ser aplicada também para a venda de imóveis.
Ademais, na venda com reserva de domínio há uma venda sob condição suspensiva (evento futuro e incerto
do pagamento), embora a posse direta do bem já seja transferida; na alienação há uma venda com condição
resolutiva, ou seja, o pagamento da dívida consolida a propriedade no possuidor direto. O comum entre os
dois institutos é a transferência da posse direta do bem para o sujeito que pretende obter seu domínio.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(XV Exame da OAB) No regime da Alienação Fiduciária que recai sobre bens imóveis, uma vez consolidada
a propriedade em seu nome no Registro de Imóveis, o fiduciário, contados da data do referido registro,
deverá
A) adjudicar o bem.
B) vender diretamente o bem para terceiros.
C) promover leilão público para a alienação do imóvel; não havendo arremate pelo valor de sua avaliação,
realizar um segundo leilão em quinze dias.
D) promover leilão público para a alienação do imóvel; não havendo arremate, o fiduciário adjudicará o bem.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a regra geral do CC/2002 estabelece, no art. 1.365, que é nula a cláusula
que autoriza o credor a adjudicar o bem para si.
A alternativa B está incorreta, já que a venda do bem deve ser feita por leilão público, conforme se infere da
regra geral do art. 1.365 do CC/2002 e, mais especificamente, do art. 27 da Lei 9.514/1997: “Uma vez
consolidada a propriedade em seu nome, o fiduciário, no prazo de trinta dias, contados da data do registro
de que trata o § 7º do artigo anterior, promoverá público leilão para a alienação do imóvel.”
A alternativa C está correta, pelas mesmas razões da alternativa anterior.
A alternativa D está incorreta, novamente, porque a regra geral do CC/2002, em seu art. 1.365, deixa claro
que a adjudicação do bem objeto da alienação fiduciária, pelo credor, é nula.
Gabarito: C

3. DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Nosso estudo se concentrará nos seguintes temas:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

- Procedimento Comum – Parte II (de Respostas do réu até julgamento antecipado);

O PDF na matéria abrangerá:

>Pílulas Estratégicas de Doutrina;

>Questões comentadas ao longo do PDF;

Vamos começar?

3.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina

Profa. Isabella Pires: ressalto para vocês que as considerações a seguir foram extraídas da
Aula 03 do Curso Regular de Direito Processual Civil ministrado pelo Professor Ricardo
Torques.

6 - Respostas do réu
6.1 - Introdução

No padrão do sistema processual brasileiro, a resposta do réu não é ônus, na medida em que ninguém é
obrigado a se defender. Caso a parte não deseje apresentar a defesa, sofrerá as consequências por não fazê-
lo, o que poderá implicar a contumácia e a revelia, se for o caso.

A contumácia é o ato de não comparecer em juízo. A revelia, por sua vez, constitui presunção de veracidade
dos fatos alegados pela parte autora em face da contumácia, quando o réu for cientificado para apresentar
a contestação.

O ônus é imperativo do próprio interesse. Dito de outra forma, ninguém pode obrigar a parte a contestar,
contudo, se ela não o fizer sofrerá as consequências da sua inação.

6.2 - Contestação

Conceito e princípios

É a resposta por excelência, porque é a hipótese na qual o réu efetivamente se defende. Segundo a doutrina,
a contestação está para o réu como a petição está para o autor. É por intermédio desse instrumento que o
réu apresenta a sua defesa.

O instituto é regido por dois princípios basilares:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

princípio da eventualidade
PRINCÍPIOS DA CONTESTAÇÃO
princípio da impugnação especificada dos fatos

O princípio da eventualidade está previsto no art. 336, do NCPC, e disciplina que o réu deve concentrar toda
a matéria de defesa, ainda que eventualmente haja incompatibilidade entre as alegações formuladas.

O réu deve alegar evento por evento, pois, se na eventualidade de não acolhido o primeiro evento, deve-se
passar ao segundo, ao terceiro e assim sucessivamente. Não se confere a prerrogativa de alegar a defesa em
outro momento a não ser na contestação.

Assim, questiona-se:

Não há nenhuma possibilidade de novas alegações pelo réu após a contestação?

Há sim! O art. 342, do NCPC, traz exceções ao princípio da eventualidade. Vamos analisar cada uma delas.

 Se à época da contestação não havia fato ou direito e, no decorrer da ação, esse direito ou fato surgir, o
réu poderá alegá-lo.

 Se envolver matéria cognoscível de ofício, o réu poderá alegar mesmo fora da contestação. É o que ocorre,
por exemplo, com os pressupostos processuais, como interesse e legitimidade.

 Também podem ser alegadas, a qualquer tempo, matérias que são permitidas pela lei. Por exemplo, a
decadência prevista em contrato (convencional). Nesse caso, como se trata de hipótese que não pode ser
conhecida de ofício, mas que implica a extinção do processo com resolução de mérito, a parte poderá alegar
a decadência e o juiz poderá conhecer dela a qualquer tempo a partir do requerimento formulado.

Confira o outro princípio!

O princípio da impugnação específica dos fatos está previsto no art. 341, do NCPC, segundo o qual todos os
fatos alegados pelo autor devem ser atacados pelo réu na contestação, sob pena de serem presumidos como
verdadeiros.

Por exemplo, se a parte alega que o locatário causou danos nas paredes, nas janelas e no telhado, o réu deve
se defender impugnando todos esses danos alegados. Se ele se reportar apenas aos danos causados nas
janelas e no telhado e nada disser a respeito das paredes, presumem-se verdadeiros os fatos alegados em
relação às paredes.

Para que, eventualmente, não haja presunção de veracidade dos fatos alegados na inicial é necessário que
o réu ataque ponto por ponto alegado pelo autor. Quando é atacado o ponto, ele deixa de ser ponto e torna-
se questão controvertida, que irá depender de provas. Pontos não atacados geram presunção de verdade
relativa.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Tal como ocorre em relação ao princípio da eventualidade, no princípio da impugnação específica dos fatos
temos várias exceções. Portanto, mesmo que não alegado pelo réu, não gera a presunção se:

 não for admissível, a seu respeito, a confissão

Se o réu não pode confessar, não é possível presumir verdadeiro por falta de contestação. Por
exemplo, se o suposto pai não contesta a ação de paternidade não é possível presumir verdadeira a
paternidade. Trata-se de fato indisponível, como estipula o art. 213, do CC.

 a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do
ato.

Não há presunção de veracidade quando a inicial não conter prova legal, que é a única prova
considerada como capaz de comprovar determinado fato. Por exemplo, propriedade se prova por
escritura pública. Se não houver apresentação da certidão ou cópia da escritura pública e o réu não
impugnou o fato, ele não poderá ser presumido verdadeiro.

 estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.

Quando a contraposição for extraída do conjunto da defesa, ainda que a parte não tenha impugnado
ponto específico.

 o ônus de impugnação específica dos fatos couber ao defensor público, ao advogado dativo e ao
curador especial.

Nesse caso, admite-se a negativa geral do defensor público, do advogado dativo e do curador
especial, não gerando presunção. Isso acontece porque o defensor, advogado dativo e curador
especial estão no processo para cumprir um dever de caráter técnico (munus público), sem conhecer,
na maior da parte das vezes, o titular do direito material.

Conteúdo

O conteúdo da contestação está disciplinado nos art. 336 e 337, ambos do NCPC.

O art. 336 traz as regras gerais a respeito da contestação, prevendo, inclusive, o princípio da eventualidade.
O art. 337, por sua vez, explicita as denominadas “preliminares de contestação”. O NCPC teve, entre outros
objetivos, a pretensão de acabar com os incidentes processuais. No CPC73, tínhamos incidente contra o valor
da causa, de incompetência, de suspeição, entre outros.

O NCPC foca no princípio da eventualidade, de modo que toda a matéria de defesa está concentrada na
contestação.

Vejamos uma questão que cobra exatamente esse assunto:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(FGV/OAB - 2018) Tancredo ajuizou equivocadamente, em abril de 2017, demanda


reivindicatória em face de Gilberto, caseiro do sítio Campos Verdes, porque Gilberto parecia
ostentar a condição de proprietário.
Diante do narrado, assinale a afirmativa correta.
A) Gilberto deverá realizar a nomeação à autoria no prazo de contestação.
B) Gilberto poderá alegar ilegitimidade ad causam na contestação, indicando aquele que
considera proprietário.
C) Trata-se de vício sanável, podendo o magistrado corrigir o polo passivo de ofício,
substituindo Gilberto da relação processual, ainda que este não tenha indicado alguém.
D) Gilberto poderá promover o chamamento ao processo de seu patrão, a quem está
subordinado.
Comentários
Como Gilberto não é o proprietário do sítio, a ação reinvindicatória não é cabível. Nesse caso,
cabe à Gilberto alegar que é parte ilegítima na ação proposta e indicar aquele que entende ser
o proprietário do sítio. Esse fato deve ser aplicado em preliminar de contestação, conforme o
art. 337, XI, do NCPC – preliminar de contestação:
XI – ausência de legitimidade ou de interesse processual;
Assim, a alternativa B está correta e é o gabarito da questão.
Vejamos os erros das demais alternativas:
A alternativa A está incorreta, porque não há mais que se falar em nomeação à autoria no
NCPC.
A alternativa C está incorreta, porque o magistrado não pode fazer a correção de ofício, ainda
mais sem a indicação de quem seja a parte legítima.
A alternativa D está incorreta, porque o chamamento ao processo é instituto próprio, ligada à
ideia de ação de regresso, o que não cabe nesta situação.

Vejamos, na sequência, as matérias que podem ser alegadas pelo réu:

 incompetência absoluta e relativa

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

O réu deverá alegar a incompetência absoluta ou relativa por intermédio da contestação com a finalidade
de afastar o juízo, não o juiz da causa. Não se trata de arguir o impedimento ou a suspeição que possuem
por finalidade afastar o juiz.

A previsão constante do art. 340, do NCPC, complementa esse inciso:

Art. 340. Havendo alegação de incompetência relativa ou absoluta, a contestação poderá ser protocolada no foro de
domicílio do réu, fato que será imediatamente comunicado ao juiz da causa, preferencialmente por meio eletrônico.
§ 1o A contestação será submetida a livre distribuição ou, se o réu houver sido citado por meio de carta precatória,
juntada aos autos dessa carta, seguindo-se a sua imediata remessa para o juízo da causa.
§ 2o Reconhecida a competência do foro indicado pelo réu, o juízo para o qual for distribuída a contestação ou a carta
precatória será considerado prevento.
§ 3o Alegada a incompetência nos termos do caput, será suspensa a realização da audiência de conciliação ou de mediação,
se tiver sido designada.
§ 4o Definida a competência, o juízo competente designará nova data para a audiência de conciliação ou de mediação.

Esse dispositivo teve por finalidade facilitar a prática de atos processuais do réu que não reside no local onde
a ação foi proposta e quando estivermos diante de processo físico.

É importante registrar que essas regras se aplicam aos processos de natureza física, pois no processo
eletrônico é possível postular diretamente no juízo reputado incompetente.

Se a parte for citada fora da comarca de residência que foi ajuizada em domicílio incorreto, o réu poderá
contestar no próprio domicílio e não onde a ação foi proposta.

Isso poderá ocorrer no caso de citação por carta precatória, quando a parte ré apresenta a contestação nos
próprios autos de carta precatória citatória.

Por outro lado, quando a citação for citada por carta ou pelos Correios, o réu irá até o fórum do seu domicílio,
devendo oferecer uma contestação. O juiz que receber essa contestação remeterá por intermédio de
protocolo integrado.

Sigamos com as demais hipóteses:

 impugnação ao valor da causa.

Deverá ser alegado em preliminar de contestação, não se fala mais em exceção. A impugnação ao valor da
causa é relevante para a fixação do valor de custas e também para determinar o montante da sucumbência
quando do julgamento final da ação.

A impugnação ao valor da causa pode se fundamentar no fato de estar em desconformidade com as regras
do art. 292, do NCPC, que estabelece os parâmetros para fixação do valor da causa.

Importante registrar que da decisão que indefere a impugnação ao valor da causa não cabe recurso, devendo
ser renovada em sede de apelação, se for o caso.

 impugnação à gratuidade judiciária

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Não há mais possibilidade de impugnação via incidente, devendo ser alegada em preliminar de contestação.

Há, entretanto, uma questão específica nesse caso. Caso o juiz julgue a impugnação à gratuidade judiciária
em despacho saneador, caberá agravo de instrumento, ao contrário do que temos em relação à impugnação
ao valor da causa. Isso porque o art. 1.015, V, do NCPC, prevê o cabimento de agravo de instrumento contra
decisão que cassar os benefícios da justiça gratuita.

 arguição de ilegitimidade.

A ilegitimidade passiva poderá ser alegada na preliminar de contestação. Como não existe mais a
possibilidade de nomeação à autoria como espécie de intervenção de terceiros, o NCPC disciplina os arts.
338 e 339 para tratar da arguição de ilegitimidade. Esses dispositivos estabelecem o procedimento quando
o citado pretender nomear outro réu à autoria.

Confira:

Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz
facultará ao autor, EM 15 (QUINZE) DIAS, a alteração da petição inicial para substituição do réu.
Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários ao procurador do réu
excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, §
8o.
Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre
que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes
da falta de indicação.
§ 1o O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no PRAZO DE 15 (QUINZE) DIAS, à alteração da petição inicial para a
substituição do réu, observando-se, ainda, o parágrafo único do art. 338.
§ 2o No PRAZO DE 15 (QUINZE) DIAS, o autor pode optar por alterar a petição inicial para incluir, como litisconsorte passivo,
o sujeito indicado pelo réu.

Desse modo, alegada em sede preliminar a ilegitimidade, o autor poderá:

 anuir com a substituição, hipóteses em que deverá, no prazo de 15 dias, emendar a petição inicial
requerendo a substituição do réu.

Além disso, nesse caso, o autor deve reembolsar as despesas e pagar os honorários do procurador
excluído.

 manter o réu atual e pedir a integração do outro réu indicado. Nesse caso, teremos dois réus em
litisconsórcio passivo. Para tanto, deve aditar a petição inicial, no prazo de 15 dias, postulando pela
integração de outro réu.

Vejamos uma questão que cobra exatamente esse dispositivo:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(FGV/OAB - 2016) Lucas foi citado para apresentar defesa em ação de indenização por danos
materiais, em razão de acidente de veículo. Contudo, o proprietário e condutor do veículo
que causou o acidente era Cláudio, seu primo, com quem Lucas havia pego uma carona.
Lucas, em contestação, deverá
a) requerer a alteração do sujeito passivo, indicando Cláudio como réu.
b) requerer que Cláudio seja admitido na condição de assistente litisconsorcial.
c) denunciar Cláudio à lide.
d) requerer o chamamento de Cláudio ao processo.
Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. De acordo com o art. 339, caput, do
NCPC, aquele que alegar a sua ilegitimidade para figurar como réu na ação, deverá indicar
quem deveria, em seu lugar, ocupar o polo passivo.
Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação
jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas
processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação.

 perempção.

Se o autor der causa, consecutivamente por três vezes, ao abandono do processo, na quarta oportunidade
o juiz extingue o processo sem resolução do mérito. Trata-se de sanção de natureza processual que impede
o processamento da quarta ação.

Veja, na sequência, as demais hipóteses.

 litispendência e coisa julgada.

De acordo com os §§ 1º a 4º, do art. 337, do NCPC, a litispendência ou a coisa julgada ocorre quando há
reprodução de outra demanda já posta, ou seja, com as mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo
pedido.

A diferença entre os institutos é que, na litispendência, o processo idêntico está em curso, ao passo que na
coisa julgada o processo idêntico está transitado em julgado.

De todo modo, em um ou outro caso, o réu deverá alegar tais matérias em preliminar de contestação.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Veja os dispositivos:

§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormente ajuizada.


§ 2o Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
§ 3o Há litispendência quando se repete ação que está em curso.
§ 4o Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado.

Também devem ser arguidas em preliminar de contestação a conexão, a incapacidade da parte, o defeito de
representação ou a falta de autorização.

 conexão.

 incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização.

Apenas para termos os conceitos:

Decorre da semelhança entre duas ou mais ações (comuns o pedido ou a causa de


pedir).
CONEXÃO Nesse caso, se houver conexão (e também a continência) não haverá extinção do
processo sem resolução do mérito, mas reunião de ambas as ações para que sejam
julgadas conjuntamente.
Admissível de ser alegada em sede preliminar de contestação, quando a parte autora
INCAPACIDADE DA
não tiver capacidade para ser parte. É a hipótese, por exemplo, de um menor de 16
PARTE
anos demandar sozinho, sem representante nos autos.
Deve ser alegada em preliminar de contestação a incapacidade postulatória da parte
DEFEITO DE
autora. É o caso, por exemplo, de a parte demandar em juízo sem advogado ou com
REPRESENTAÇÃO
advogado cuja inscrição esteja suspensa pela OAB.
Nesse caso, quando a parte autora não tiver autorização para demandar em juízo, tal
FALTA DE
matéria deve ser alegada em preliminar de contestação. É o caso, por exemplo, de
AUTORIZAÇÃO
envolver ação sobre bem imóvel de propriedade do casal.

 convenção de arbitragem.

Sempre que houver convenção de arbitragem, a parte deverá arguir a existência em sede de preliminar de
contestação.

É importante destacar que a redação do dispositivo abarca tanto a cláusula compromissória como o
compromisso arbitral. No caso de cláusula compromissória, há um negócio jurídico entre as partes que
estipula a submissão de eventual conflito à arbitragem. No caso do compromisso arbitral, a adoção da
arbitragem se dá posteriormente à formação do conflito. Assim, as partes, diante do conflito existente, ao
invés de levarem a demanda para ser julgada perante o Poder Judiciário, entendem pela submissão do caso
à arbitragem.

Fato é que, em um ou outro caso, isso deve ser apontado pelo réu em preliminar de contestação.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Ainda sobre essa hipótese, devemos analisar os §§ 5º e 6º, do art. 337, do NCPC. De acordo com os
dispositivos, fica patente que o juiz não pode conhecer de ofício a convenção de arbitragem. Assim, se a
parte autora ingressa com a ação e a parte ré não alega a existência da convenção de arbitragem na
contestação, significa dizer que ambas desistiram desse instrumento de solução de conflitos.

Por fim, confira as demais hipóteses de alegação do réu, cuja leitura é o suficiente para a prova.

 ausência de legitimidade ou de interesse processual.

 falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar.

 indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.

Sintetizando:

PRELIMINARES DE CONTESTAÇÃO NO NCPC

• inexistência ou nulidade da citação


• incompetência absoluta e relativa
• incorreção do valor da causa
• inépcia da petição inicial
• perempção
• litispendência
• coisa julgada
• conexão
• incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização
• convenção de arbitragem
• ausência de legitimidade ou de interesse processual
• falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar
• indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça

Forma e prazo

Os requisitos da contestação são semelhantes aos da petição inicial. Deve conter, portanto, nome e prenome
das partes, sem necessidade de qualificação, pois já fora feita na inicial. Deve conter, ainda, endereçamento
ao juízo da causa, documentos indispensáveis, requerimento de provas, apresentação dos fatos e
fundamentos jurídicos da defesa.

O prazo para contestar é de 15 dias (úteis), de acordo com o art. 335, do NCPC. Contudo, o mais relevante
desse dispositivo é compreender o termo inicial da contagem do prazo. Esse termo está definido nos incisos,
veja:

Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (QUINZE) DIAS, cujo TERMO INICIAL será a data:
I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer
ou, comparecendo, não houver autocomposição;

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ESTRATÉGIA OAB
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II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando
ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso I;
III - prevista no art. 231, de acordo com o modo como foi feita a citação, nos demais casos.
§ 1º No caso de litisconsórcio passivo, ocorrendo a hipótese do art. 334, § 6º, o termo inicial previsto no inciso II será, para
cada um dos réus, a data de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da audiência.
§ 2º Quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4º, inciso II, havendo litisconsórcio passivo e o autor desistir da ação em
relação a réu ainda não citado, o prazo para resposta correrá da data de intimação da decisão que homologar a desistência.

O termo inicial do prazo é variável. Não há, portanto, um prazo fixo.

Vamos compreender as quatro regras explicitadas:

1ª REGRA: houve audiência de conciliação e mediação.

Nesse caso, o prazo de 15 dias é contado da audiência ou da última sessão de conciliação ou de mediação,
caso haja várias delas.

Nessa primeira regra, não importa se o réu compareceu e a conciliação ou mediação foi inexitosa. Além
disso, se o réu não comparecer – caso em que será multado –, do mesmo modo, conta-se o prazo a partir da
sessão.

2ª REGRA: não houve audiência porque o réu peticionou informando que não deseja participar da sessão de
conciliação e de medição.

Como visto, se o autor houver previamente se manifestado contra a realização da conciliação ou da


mediação e o réu peticionar no mesmo sentido, o magistrado deverá cancelar a audiência previamente
designada.

Nesse caso, o prazo de contestação será contado do protocolo do pedido de cancelamento da audiência.

3ª REGRA: se houver litisconsortes passivos.

Nesse caso temos várias questões a serem consideradas.

Se o autor manifestar que não deseja participar da audiência de conciliação ou de mediação, temos que
verificar o comportamento dos réus.

Se ambos os réus manifestarem que não pretendem conciliar ou mediar, a audiência será cancelada e o
prazo para contestação fluirá de forma individualizada para cada um deles a partir do protocolo da petição
que informa o desinteresse no ato de composição. Esse é o entendimento que se extrai da leitura conjunta
dos arts. 335, §1º, com o art. 224, §6º, ambos do NCPC.

Se apenas um dos réus manifestar que não pretende conciliar, a audiência de conciliação ou de mediação
ocorrerá normalmente. Nesse caso, o prazo contará, para ambos os réus, a partir do ato processual que
buscou a composição do litígio entre as partes.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Seguindo a mesma lógica do parágrafo anterior, caso o autor manifeste o desejo de conciliar ou mediar ou
caso não se manifeste (nesse caso específico, o silêncio indica predisposição à composição), teremos a
audiência sendo marcada independentemente da manifestação dos réus. Por consequência, o prazo da
contestação correrá a partir da audiência para ambos os réus.

4ª REGRA: se não houver audiência de conciliação e de mediação.

Nos casos em que o direito não admitir composição, o réu será citado na forma tradicional, por carta ou por
mandato, situação em que o prazo irá iniciar a partir da juntada aos Autos do mandato de citação.

Observações finais:

 No caso do Ministério Público, da Advocacia Pública, da Defensoria Pública e de litisconsortes com


diferentes procuradores de escritórios distintos, o prazo para contestar será de 30 dias (em dobro).

 Outro aspecto que devemos levar em consideração é que o juiz poderá ampliar o prazo, na forma
do art. 139, VI, do NCPC, e as partes podem ampliar ou reduzir o prazo para contestar na forma do
art. 190, do NCPC.

 Se o réu comparecer ao processo apenas para alegar a nulidade da citação, caso seja acolhida, o
prazo para contestar será contado da intimação da decisão que reconheceu a nulidade, conforme
entende a doutrina1.

6.3 - Reconvenção

A reconvenção é uma ação inversa, em que o demandado propõe contra a parte autora um pedido próprio,
que irá ampliar o objeto da demanda. A reconvenção não é mais uma peça autônoma, devendo constar da
própria contestação, que está disciplinada no art. 343, do NCPC.

Note que, de acordo com o caput, a reconvenção deve ter:

 conexão com a ação principal; ou

 com o fundamento da defesa.

Cuidado com alguns termos:

1
JR. DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, volume 1, 18ª edição, rev., atual. e ampl., Bahia: Editora JusPodvim, 2016,
p. 650.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

RECONVINTE réu-demandante

RECONVINDO autor-demandado

Uma vez apresentada a reconvenção, a parte autora será intimada para apresentar resposta no PRAZO DE
15 DIAS.

Trata-se de peça autônoma, de forma que, se a parte autora desistir da ação inicialmente distribuída, ou no
caso de ser extinta sem julgamento do mérito, a reconvenção terá trâmite regular.

Confira, na sequência, os §§ do art. 343:

§ 1o Proposta a reconvenção, o autor será intimado, na pessoa de seu advogado, para apresentar resposta no PRAZO DE
15 (QUINZE) DIAS.
§ 2o A desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o exame de seu mérito NÃO obsta ao
prosseguimento do processo quanto à reconvenção.
§ 3o A reconvenção pode ser proposta contra o autor e terceiro.
§ 4o A reconvenção pode ser proposta pelo réu em litisconsórcio com terceiro.
§ 5o Se o autor for substituto processual, o reconvinte deverá afirmar ser titular de direito em face do substituído, e a
reconvenção deverá ser proposta em face do autor, também na qualidade de substituto processual.
§ 6o O réu pode propor reconvenção independentemente de oferecer contestação.

Registre-se que a ação inicial e a reconvenção são julgadas na mesma sentença.

Com isso, finalizamos a parte relativa às defesas do réu.

Por fim, veja algumas questões de prova:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

6.4 - Revelia

A revelia também é considerada uma forma de defesa. Trata-se de defesa pela não manifestação do réu que
foi citado. De acordo com a doutrina2, a revelia é um ato-fato processual, consistente na não apresentação
tempestiva da contestação.

O mais importante para fins do processo são os efeitos decorrentes da revelia, que são os seguintes:

 efeito material: presunção de veracidade das alegações feitas pelo demandante. Trata-se de
presunção relativa contra a qual é possível a produção de provas.

 prazos: em decorrência da revelia, os prazos do réu serão informados com a publicação da decisão,
conforme expressamente disciplina o art. 346, do NCPC.

Note que faz-se necessário intimar a parte quando tiver procurador constituído nos autos. Apenas se
a parte não tiver procurador, aí sim o prazo contará da publicação dos atos processuais.

 preclusão: com a não apresentação da defesa, o réu não poderá mais alegar direitos ou fatos,
exceto se supervenientes, se envolver questões que podem ser conhecidas de ofícios ou que haja
expressa autorização legal para que sejam alegadas em outro momento.

 julgamento antecipado: a revelia traz a possibilidade de julgamento antecipado do processo.

Veja como o assunto foi cobrado pela FGV:

(FGV/OAB - 2010) Acerca da revelia, é correto afirmar que:


a) a revelia se dá com a não apresentação de exceção ou de reconvenção no prazo da resposta.
b) ainda que o litígio verse sobre direitos indisponíveis, a revelia produz seus efeitos
normalmente.
c) contra o revel, ainda que tenha patrono constituído nos autos, correrão os prazos
independentemente de intimação.

2
JR. DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, volume 1, 18ª edição, rev., atual. e ampl., Bahia: Editora JusPodvim, 2016,
p. 674.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

d) o revel pode intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se


encontrar.
Comentários
A alternativa A está incorreta. A revelia se configura partir da não apresentação da contestação
no prazo para resposta.
Vejamos o art. 344, do NCPC.
Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras
as alegações de fato formuladas pelo autor.
A alternativa B está incorreta. De acordo com o art. 345, II, da referida Lei, a revelia não produz
efeitos quando o litígio versar sobre direitos indisponíveis.
Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 334 se:
II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
A alternativa C está incorreta. Com base no art. 346, da Lei nº 13.105/15, os prazos contra o
revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão
oficial, independente de intimação. Se tiver patrono tem que ter a intimação.
Art. 346. Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de
publicação do ato decisório no órgão oficial.
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão, pois é o que dispõe o parágrafo único,
do art. 346, do NCPC.
Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado
em que se encontrar.

De todos os efeitos acima, o principal deles é a presunção de veracidade. Esse efeito, de acordo com o art.
345, do NCPC, não se aplica:

 quando houver pluralidade de réu e um deles contestar a ação (a contestação de um aproveita a


todos);

 quando a demanda envolver direitos indisponíveis;

 quando a petição inicial estiver desacompanhada de documento que a lei considere indispensável
para provar os fatos alegados; e

 quando as alegações de fato formuladas pelo autores forem inverossímeis ou estiverem em


contradição com as provas produzidas nos autos.

Com a apresentação da petição inicial, da contestação, da réplica e da reconvenção, se for o caso, estamos
caminhando para o final da fase postulatória. Antes de encerrá-la e partir para a fase saneadora do processo,
o magistrado poderá ser obrigado a adotar algumas providências preliminares.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Vejamos uma questão sobre esse assunto:

(CESPE/OAB - 2010) Fabrício ajuizou ação de interdição contra José, seu pai, alegando, em
síntese, que este sofria de demência senil. José foi, então, citado para comparecer ao
interrogatório, ocasião em que respondeu às perguntas feitas pelo juiz e externou seu
inconformismo com a ação ajuizada pelo filho. Aberto o prazo de cinco dias, após o
interrogatório, para o interditando impugnar o pedido de sua interdição, este se quedou
inerte, em que pese não ser portador de doença mental alguma, além de não haver, nos
autos, prova da suposta demência.
Na situação hipotética acima, em face dos fatos apresentados, o juiz
a) não poderá aplicar os efeitos da revelia, pois a ação versa sobre direito indisponível.
b) deve reconhecer e aplicar os efeitos da revelia, presumindo verdadeiros os fatos alegados
pelo autor.
c) deve ordenar nova citação do requerido, obrigando-o a apresentar resposta.
d) deve designar audiência preliminar para tentar conciliar as partes.
Comentários
O juiz não poderá aplicar os efeitos da revelia, pois a ação versa sobre direito indisponível.
O NCPC, em seu art. 345, II, é expresso em afirmar que, tratando-se de direitos indisponíveis,
não há que se falar em confissão ficta.
Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 334 se:
II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
Desse modo, a alternativa A está correta e é o gabarito da questão.

7 - Providências Preliminares e Saneamento


Essas providências constituem soluções eventualmente necessárias, as quais têm a finalidade de organizar
o processo para que tenhamos o julgamento antecipado ou para que haja a instrução.

São três as providências preliminares que podem ser requeridas:

 alegação de defesa indireta de mérito, disciplinada no art. 350, do NCPC;

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

 alegação de questões preliminares na contestação, disciplinada no art. 351, do NCPC; e

 providências ligadas ao saneamento e à instrução do feito, disciplinados nos arts. 352 a 357, do
NCPC.

É importante destacar que a fase de saneamento e ordenamento do processo se inicia com a apresentação
ou não da resposta do réu, com o escoamento do prazo ou a prática do ato.

7.1 - Não Incidência dos Efeitos da Revelia

Conforme analisado no tópico anterior, a não apresentação da contestação poderá indicar a revelia. A regra
é que se não contestou, o réu será considerado revel e passa-se ao julgamento antecipado da lide. Contudo,
se mesmo revel, estivermos diante de situações que não implicam a revelia propriamente (contestação por
parte dos réus, direitos indisponíveis, falta de documento essencial, alegações inverossímeis ou em
contradição com provas dos autos), não haverá incidência dos efeitos da revelia.

E qual a consequência disso?

O juiz irá determinar o saneamento do processo, intimando as partes para a especificação das provas. É
importante ressalvar que, mesmo revel, o réu poderá especificar provas que pretende produzir, poderá
também se contrapor às provas apresentadas pelo autor. É o que disciplina o art. 349, do NCPC.

Essa regra é relevante, pois esclarece que a revelia gera a presunção, mas não necessariamente confere
vitória à parte autora. Se o magistrado entender que, mesmo diante da revelia, não é caso de julgamento
antecipado, poderá determinar a produção de provas a fim de ratificar as alegações presumidamente
verdadeiras da parte autora. Isso ocorre porque a presunção de veracidade dos fatos é relativa e não
absoluta.

Devido a isso, e como o revel poderá ingressar no processo qualquer que seja o momento do procedimento,
recebendo-o na forma como estiver, poderá participar da fase instrutória.

7.2 - Fato Impeditivo, Modificativo ou Extintivo do Direito do Autor

Quando o réu alega fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, temos a defesa indireta.
Isso porque, em contraposição, a defesa direta ocorre quando o réu se contrapõe diretamente aos pedidos
formulados pela parte autora.

Assim, na defesa indireta, ao invés de a parte efetivamente contestar os pedidos, ela afirma existirem fatos
que impedem a pretensão da parte autora, que modificam a pretensão na forma deduzida ou que extinguem
o pretendido.

Nesses casos, de acordo com o art. 350, do NCPC, o autor deverá ser ouvido no prazo de 15 dias e, em
sequência, o juiz determinará a produção de provas.

Logo, diante da apresentação da defesa indireta, o juiz intimará a parte autora para réplica no prazo de 15
dias.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

7.3 - Alegações do Réu

O réu poderá, eventualmente, alegar questões preliminares na contestação conforme disciplina o art. 337,
do NCPC. De toda forma, se apresentadas alegações, devemos seguir a regra de intimar a parte autora para
que apresente réplica no prazo de 15 dias, que poderá requerer a produção de provas.

Segundo a doutrina3:

Tendo sido apresentada defesa indireta, deve o juiz intimar o autor para apresentar a sua réplica, em quinze dias (arts. 350-
351 do CPC), que consiste na manifestação do demandante sobre os fatos novos deduzidos pelo réu em sua defesa. Se a
defesa for direta não haverá intimação para réplica. Se o autor trouxer documentos na réplica, o réu deverá ser intimado
para manifestar-se sobre eles, conforme a regra extraída do §1º do art. 437 do CPC.

Fora essas duas situações clássicas acima analisadas – defesa indireta e de questões preliminares – existe
uma série de outras alegações que podem ser formuladas e que estão relacionadas ao saneamento e à
instrução do feito.

Se houver alguma irregularidade ou vícios que podem ser sanados, o magistrado fixará prazo de 30 dias para
que sejam solucionados. Se forem sanados os vícios, haverá saneamento do processo e seguimos para a
instrução. Caso não sejam sanadas as irregularidades, o juiz extinguirá o processo sem resolução do mérito.

Se o processo estiver regular é necessário verificar a possibilidade de julgamento conforme o estado do


processo. Esses são os casos nos quais o juiz compreende que não é necessário produzir provas ou foi
registrada a revelia do réu. Nesses casos, estando a causa madura para julgamento, profere-se o julgamento
conforme o estado do processo. Trata-se de medida de economia processual.

7.4 - Saneamento e da Organização do Processo

Como vimos, o Direito Processual Civil compreende várias fases. A primeira delas é a postulatória, no qual
as partes apresentam a petição, a contestação, a reconvenção e a réplica.

Após, ingressamos na fase saneadora do processo, que é a fase destinada à verificação de vícios e à
preparação do processo para a fase subsequente, a instrutória.

Ao contrário do CPC73, não há mais previsão de audiência preliminar, que teria por finalidade sanear o
processo. Agora, na sistemática do NCPC, o saneamento ocorre por escrito, muito embora o magistrado
possa realizar a audiência.

Nesse despacho saneador, o magistrado deverá cumprir cinco objetivos, descritos no art. 357, do NCPC.
Vamos analisar cada um dos pontos passíveis de serem abordados na decisão saneadora.

 resolver as questões processuais pendentes.

3
JR. DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, volume 1, 18ª edição, rev., atual. e ampl., Bahia: Editora JusPodvim, 2016,
p. 696.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Aqui temos situações como preliminares de contestação (art. 337, do NCPC), eventuais arguições de
nulidades absolutas, revogação de benefícios da justiça gratuita, impugnação ao valor da causa, entre outros.
Portanto, o magistrado deverá avaliar irregularidades processuais a fim de que o processo fique imune a tais
vícios em seu curso.

 delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de
prova admitidos.

Diante dos pontos apresentados pelas partes, seja na inicial, na contestação ou na reconvenção, o
magistrado deverá identificar quais são esses pontos que se tornaram questões controvertidas e sobre os
quais será necessária a produção de provas.

A delimitação das questões que serão objeto de prova posteriormente tem por finalidade facilitar a
produção de provas na fase instrutória.

 definir a distribuição do ônus da prova.

Esse dispositivo permite ao magistrado redistribuir o ônus da prova.

Em nosso Direito Processual, prevalece a regra do ônus estático da prova. Vale dizer, o autor deve provar os
fatos constitutivos, ao passo que o réu deve comprovar fatos modificativos, impeditivos e extintivos. Essa é
a regra.

Contudo, é possível que essa regra seja distribuída de forma diversa, em razão da situação fática de cada
parte e da maior facilidade de produção de provas das partes.

 delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito.

Temos uma novidade em relação ao CPC73. Além de delimitar as questões, de fato, controvertidas pelas
partes, o magistrado deve delimitar as questões de direito que são importantes para a resolução do mérito
do processo.

 designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento.

A audiência de instrução e julgamento será designada se for necessária a produção de prova oral, situação
em que devem ser observados os §§ 4º, 6º e 7º, do art. 357, do NCPC.

Ao contrário do que tínhamos no CPC73, o prazo para arrolar testemunhas era regressivo, sendo contado
no prazo de até 10 dias antes da audiência de instrução. Na nova sistemática, o juiz despacha para que as
partes indiquem as testemunhas no prazo de 15 dias, podendo ser indicadas até 10 testemunhas ao total,
sendo 3 por fato. Além disso, permite-se ao magistrado limitar o número de testemunhas tendo em vista a
complexidade da causa e dos fatos individualmente considerados.

Assim...

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

ARROLAMENTO DE
TESTEMUNHAS

despacho para indicar no


10 testemunhas ao total 3 testemunhas por fato
prazo de 15 dias

Para encerrar o tópico referente ao saneamento do processo, façamos algumas observações finais.

• pedido de esclarecimento e ajustes.

Após a decisão saneadora, há possibilidade de a parte requerer uma espécie de embargos de declaração.
Aqui temos a menção a um pedido de esclarecimento e de ajustes, disciplinado no §1º, do art. 357.

Conceituando:

PEDIR Constitui o requerimento formulado ao juiz para que esclareça determinado ponto do
ESCLARECIMENTO despacho saneador.
Constitui requerimento para reanálise de algum ponto do despacho saneador que,
PEDIR AJUSTES
eventualmente, não esteja correto no entender da parte.

Esse pedido deve ser formulado no prazo de cinco dias.

Após o prazo de cinco dias, ou após a decisão do magistrado nesse requerimento de esclarecimento ou de
ajustes, torna-se estável o despacho saneador.

• convenção processual de saneamento e organização.


Permite-se às partes, de comum acordo,

apresentar ao juiz, para homologação, a delimitação consensual das questões de fato e de direito
controvertidas.

• saneamento compartilhado em audiência.

Em causas complexas, cuja compreensão do conflito seja complexa, é possível a designação de


audiência a fim de que sejam fixados parâmetros conjuntamente com as partes e com o magistrado
para debater a causa, verificar os fatos, esclarecer as dúvidas e fixar os pontos controvertidos.

• produção de prova pericial.

Se for designada prova pericial, o magistrado deve estabelecer o calendário de realização dos atos
periciais na medida do possível, com a nomeação do perito.

Veja uma questão sobre o assunto:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(FGV/OAB – 2019) Um advogado, com estudos apurados em torno das regras do CPC, resolve
entrar em contato com o patrono da parte adversa de um processo em que atua. Sua
intenção é tentar um saneamento compartilhado do processo.
Diante disso, acerca das situações que autorizam a prática de negócios jurídicos processuais,
assinale a afirmativa correta.
a) As partes poderão apresentar ao juiz a delimitação consensual das questões de fato e de
direito da demanda litigiosa.
b) As partes não poderão, na fase de saneamento, definir a inversão consensual do ônus
probatório, uma vez que a regra sobre produção de provas é matéria de ordem pública.
c) As partes poderão abrir mão do princípio do contraditório consensualmente de forma
integral, em prol do princípio da duração razoável do processo.
d) As partes poderão afastar a audiência de instrução e julgamento, mesmo se houver provas
orais a serem produzidas no feito e que sejam essenciais à solução da controvérsia.
Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. O art. 357, §2º enuncia que as partes
podem apresentar ao juiz, para homologação, delimitação consensual das questões de fato e
de direito a que se referem os incisos II e IV, a qual, se homologada, vincula as partes e o juiz.
A alternativa B está incorreta. O art. 190 do CPC, que positiva o negócio jurídico processual,
permite que as partes, plenamente capazes, estipulem mudanças no procedimento para
ajustá-lo às especificidades da causa. Ademais, o art. 373, §3º permite a distribuição diversa
do ônus da prova por convenção das partes: “A distribuição diversa do ônus da prova também
pode ocorrer por convenção das partes, salvo quando: I - recair sobre direito indisponível da
parte; II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito (prova diabólica).”
A alternativa C está incorreta. A renúncia ao contraditório não é possível, visto que se trata de
um princípio basilar do processo.
A alternativa D está incorreta. O §4º do art. 357 prevê que, caso tenha sido determinada a
produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum não superior a 15 dias para que as
partes apresentem rol de testemunha. A alternativa enfatiza que as provas orais seriam
essenciais à solução da controvérsia, desse modo, a audiência deve ser realizada para auxiliar
na formação do convencimento do magistrado.

Vejamos, na sequência, o julgamento antecipado do mérito.

8 - Julgamento Antecipado
Também conhecido como julgamento antecipado do mérito, em substituição à terminologia do julgamento
antecipado da lide. A terminologia foi alterada pelo fato de que o juiz não julga a lide, mas o processo, de
forma que a expressão “julgar a lide” é incorreta e atécnica.

O julgamento antecipado é uma forma abreviar o processo.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

O julgamento antecipado é uma decisão de mérito pautada em cognição exauriente, que será proferida em
decorrência da desnecessidade de saneamento do processo. O magistrado reconhece a desnecessidade de
produção de mais provas em audiência, razão pela qual não há se falar em fixação de pontos controvertidos
sobre os quais incidirá a prova, permitindo que haja julgamento direto do feito.

É isso que veremos, portanto, ao longo desse tópico.

8.1 - Hipóteses de cabimento

Total

Vamos iniciar com a análise do julgamento antecipado total, com previsão no art. 355, do NCPC. Vale dizer,
o juiz irá julgar todo o mérito do processo. Todos os pedidos serão objeto de pronunciamento judicial de
mérito.

Um processo corriqueiramente possui várias fases: postulatória, saneadora, instrutória e decisória. Com
base nos elementos disponíveis no corpo dos autos, o juiz decide a causa, sem a produção de provas. Desse
modo, não há necessidade de delimitação de pontos controvertidos muito menos de produção probatória
(por exemplo, oitiva de testemunhas, depoimentos, perícias), pois com os elementos constantes dos autos
o magistrado já tem condições de proferir decisão de mérito.

Portanto, para configuração do julgamento antecipado do processo são dois os requisitos alternativos a
serem observados:

 desnecessidade de outras provas; ou

As provas documentais trazidas pelo autor e pelo réu são suficientes para ele produzir a decisão.

Nesse caso, por questões de lógica, o magistrado não poderá julgar o processo pela ausência de
provas. Portanto, se é possível julgar o processo antecipado por existirem provas suficientes, seria
contraditório, na sentença, o juiz decidir pela ausência de provas.

 contumácia ou revelia.

Ao ser citado, o réu poderá comparecer e se defender ou permanecer ausente. A ausência implica
contumácia, vale dizer, fenômeno de não comparecer no processo. A contumácia sempre vem
acompanhada da revelia.

Contudo, é possível que haja revelia sem contumácia. O réu poderá comparecer no processo, porém
contestar fora do prazo legal ou contestar sem os requisitos formais.

São duas hipóteses nesse ponto:

a) será julgado de forma antecipada o processo quando houver contumácia com os efeitos do
art. 344, do NCPC, que são os efeitos da revelia, cuja consequência é presunção relativa de
veracidade dos fatos.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

b) será julgado de forma antecipada o processo quando houver revelia sem que tenha
requerido a produção de provas, como estabelece o art. 349, do NCPC.

Portanto, em um ou outro caso, é possível ao magistrado decidir o processo de forma antecipada.

Parcial

No CPC73, aplicava-se o princípio da unidecidibilidade dos processos, de modo que o juiz daria uma sentença
que englobaria todo o mérito do processo. Não havia se falar, portanto, em sentenças parciais. Muito
embora isso não fosse admitido, na prática forense ocorria o julgamento parcial, tal como os denominados
acordos parciais.

Por exemplo, em uma discussão de separação, na primeira audiência, as partes compunham acerca da
guarda, do valor dos alimentos e do direito de visitas, sem consenso, contudo, em relação à distribuição dos
bens do casal. Em relação aos três primeiros pedidos temos um acordo que se homologado pelo juiz constitui
uma sentença parcial de mérito.

No NCPC, temos a possibilidade de julgamento antecipado parcial do mérito de forma expressa e para além
da mera homologação de acordo.

Hipóteses:

a) incontrovérsia.

Por incontrovérsia, devemos compreender a confissão, a falta de contestação e a notoriedade do


fato afirmado. É o que disciplina o art. 374, do NCPC.

Por exemplo, ação de rescisão de contrato de compra e venda com financiamento não quitado. Nesse
caso, o autor, além da rescisão do contrato, pugna pela reintegração de posse e perdas e danos em
face de danos causados no bem. Citado, o réu confessa que não pagou o financiamento. Nesse caso,
o magistrado proferirá sentença parcial de mérito para declarar a rescisão do contrato e determinar
a reintegração. Quanto à discussão sobre perdas e danos será necessário seguir com a instrução para
produção de prova pericial a fim de avaliar as avarias no bem.

b) hipóteses do art. 355, do NCPC, abrangendo situações em que é desnecessário produzir outras
provas ou quando houver contumácia ou revelia.

Façamos algumas observações:

 cognição exauriente;

Primeiramente, diferentemente do art. 311, do NCPC, no julgamento antecipado do mérito temos cognição
exauriente. Trata-se de tutela definitiva, sem que a matéria seja reanalisada ao final do processo.

 recurso;

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Muito embora o julgamento antecipado parcial tenha conteúdo de sentença, há opção política para que o
recurso cabível seja agravo de instrumento, na forma do art. 356, §5º, do NCPC.

Opta-se pelo agravo de instrumento, pois o art. 203, §1º, do NCPC, dispõe que uma sentença depende de
dois efeitos:

a) estar no rol dos arts. 485 e 487, ambos do NCPC; e

b) colocar fim ao procedimento de conhecimento em primeiro grau.

Essa sentença parcial não é denominada de sentença, porque ela não tem a capacidade de pôr fim ao
processo.

Além desse argumento, não há como enviar o processo ao tribunal, pois parte dele continua a tramitar.
Portanto, haverá a necessidade de formação de autos em separado.

Outro aspecto relevante diz respeito aos efeitos da decisão. Na sentença, a concessão de efeitos suspensivos
é a regra. No agravo de instrumento, por sua vez, a concessão de efeito suspensivo depende de decisão do
relator do processo no tribunal.

Assim, se a matéria for analisada somente na sentença, seguimos a regra do efeito suspensivo. Contudo, se
houver decisão parcial de mérito não haverá efeito suspensivo do agravo interposto, de forma que, para o
autor, a decisão parcial de mérito é mais benéfica que a própria sentença, pois poderá, desde já, executar o
decidido. Contudo, de acordo com parcela da doutrina, isso contraria a lógica, uma vez que o mais correto é
viabilizar o efeito suspensivo automático nos agravos de instrumento.

 cumprimento provisório da sentença parcial;

Os arts. 356, §§ 1º e 4º, e art. 509, §1º, todos do NCPC, tratam da possibilidade de liquidação do que fora
parcialmente decidido, enquanto tramita o restante dos pedidos controvertidos.

Essa liquidação poderá, inclusive, se dar em autos suplementares.

 cumprimento provisório da sentença parcial;

O cumprimento provisório da sentença parcial decorre do art. 356, §2º e 4º, do NCPC. Esse cumprimento
ocorre sem caução para dar início à execução provisória.

 cumprimento definitivo da sentença parcial;

Ocorre na hipótese de não existir recurso. Se a parte não agravou a sentença, faz coisa julgada.

 prazo para ação rescisória da sentença parcial;

Conta-se o prazo a última decisão proferida no processo para a ação rescisória, conforme se extrai da leitura
do art. 975, do NCPC.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

 cabimento contra o Estado e o reexame necessário.

Cabe na forma do art. 496, do NCPC, observando a questão do reexame necessário.

4.DIREITO DO CONSUMIDOR
Nosso estudo se concentrará nos seguintes temas:

- Da responsabilidade do Fornecedor por seus produtos e Serviços.

Profa. Isabella: Os temas escolhidos para dar início ao nosso estudo em Direito do
Consumidor levaram em conta a alta incidência dos temas nas últimas provas, estando
entre os pontos mais cobrados na matéria!
Assim, mãos à obra e vamos avançar rumo à aprovação!

Nosso ponto abrangerá:

>Pílulas Estratégicas de Doutrina;

>Questões Comentadas.

Vamos dar início?

4.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina

Profa. Isabella Pires: As explanações a seguir tomam por base a aula 01 do Curso Regular
de Direito do Consumidor ministrado pelo Professor Igor Maciel, para a qual vocês deverão
se encaminhar, caso sintam a necessidade de complementação do estudo com os demais
temas relacionados.

Responsabilidade dos Fornecedores por seus Produtos e


Serviços

1 - Considerações Iniciais

O Código de Defesa do Consumidor, ao prever a responsabilidade civil dos fornecedores por seus produtos
e serviços, estabeleceu uma diferença prática entre a responsabilidade pelo fato e a responsabilidade pelo
vício. O Código prevê a responsabilidade:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Pelo fato do produto

Pelo fato do serviço

Pelo vício do produto

Pelo vício do serviço

A responsabilidade pelo fato é decorrência de um acidente de consumo gerado por um defeito no produto
ou serviço.

Já o vício no produto ou serviço não gera um acidente e está ligado à quantidade ou qualidade que torna o
produto impróprio ou inadequado ao consumo a que se destina e lhe diminui o valor.

A título de exemplo, podemos trazer a hipótese em que um consumidor adquire um automóvel com defeito
nos freios. Ao conduzir por uma via, caso ocorra um acidente em razão da ausência de freios no veículo,
haverá um acidente de consumo e serão aplicadas as regras da responsabilidade pelo fato do produto ou
serviço.

Contudo, caso o condutor consiga parar o veículo utilizando uma redução de marchas, por exemplo, e,
exatamente por isso, nenhum acidente seja causado, haverá um vício impróprio no produto que lhe diminui
o valor.

Segundo Tartuce (2016, pg. 164):

(...) pode-se dizer que, quando o dano permanece nos limites do produto ou serviço, está
presente o vício. Se o problema extrapola os seus limites, há fato ou defeito, presente, no
último caso, o acidente de consumo propriamente dito.

2 - Responsabilidade pelo fato do produto

A responsabilidade pelo fato do produto está regulada no CDC pelo artigo 12:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador


respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção,
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se
espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Percebam, meus amigos, que o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador
irão responder pela reparação do acidente de consumo ocorrido com seus produtos independentemente
da existência de culpa.

Mas professor, o que isso quer dizer?

Esta é a diferença entre a Responsabilidade Civil Objetiva e a Responsabilidade Civil Subjetiva.

Na responsabilidade civil objetiva, o Autor, quando propõe uma demanda em juízo, deve demonstrar nos
autos a conduta praticada pelo Réu (comissiva ou omissiva), o dano que sofrera e que merece ser reparado
e o nexo causal entre a conduta e o dano sofrido.

O elemento subjetivo dolo ou culpa do agente que praticou o dano não precisa ser demonstrado pelo Autor.
Eis a regra do Código de Defesa do Consumidor.

Já na Responsabilidade Civil Subjetiva, o Autor da ação deverá demonstrar em juízo, além da conduta do réu,
do dano ocasionado e do nexo causal entre ambos, a existência de dolo ou culpa na ação ou omissão do
agente. Trata-se, assim, de uma forma de responsabilização muito mais trabalhosa para o Autor da ação.

O CDC adota, regra geral, a responsabilidade civil objetiva.

E se uma nova tecnologia surgir no mercado?

O simples fato de uma nova tecnologia de melhor qualidade ter surgido no mercado não transforma o
produto originalmente adquirido em defeituoso. Eis a disposição do §2º, do artigo 12, do CDC:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter
sido colocado no mercado.

Esse exemplo é bastante comum no mercado de telefones celulares: o consumidor adquire um modelo (o
mais caro do mercado naquele momento) e poucos dias depois surge um novo modelo com tecnologia mais
avançada. Nesse caso, não poderá o consumidor alegar defeito no produto tão somente por esta
circunstância.

E como o fornecedor pode não ser responsabilizado?

O próprio código prevê hipóteses de excludente de responsabilidade em que o fabricante, o construtor ou


importador não irão ser responsabilizados quando conseguirem provar nos autos (§3º):

• Que não colocaram o produto no mercado;


• Que, embora tenham colocado o produto no mercado, o defeito não existe;
• Que a culpa pelo defeito fora exclusiva do consumidor ou de terceiro;

Percebam, portanto, que o ônus de provar as excludentes de responsabilidade é todo do fabricante,


construtor ou importador, jamais do consumidor.

(FGV/XV Exame de Ordem) Carmen adquiriu veículo zero quilômetro com dispositivo de segurança
denominado airbag do motorista, apenas para o caso de colisões frontais. Cerca de dois meses após a
aquisição do bem, o veículo de Carmen sofreu colisão traseira, e a motorista teve seu rosto arremessado
contra o volante, causando-lhe escoriações leves. A consumidora ingressou com medida judicial em face
do fabricante, buscando a reparação pelos danos materiais e morais que sofrera, alegando ser o produto
defeituoso, já que o airbag não foi acionado quando da ocorrência da colisão. A perícia constatou colisão
traseira e em velocidade inferior à necessária para o acionamento do dispositivo de segurança. Carmen
invocou a inversão do ônus da prova contra o fabricante, o que foi indeferido pelo juiz.
Analise o caso à luz da Lei nº 8.078/90 e assinale a afirmativa correta.
a) Cabe inversão do ônus da prova em favor da consumidora, por expressa determinação legal, não podendo,
em qualquer hipótese, o julgador negar tal pleito.
b) Falta legitimação, merecendo a extinção do processo sem resolução do mérito, uma vez que o responsável
civil pela reparação é o comerciante, no caso, a concessionária de veículos.
c) A responsabilidade civil do fabricante é objetiva e independe de culpa; por isso, será cabível indenização
à vítima consumidora, mesmo que esta não tenha conseguido comprovar a colisão dianteira.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

d) O produto não poderá ser caracterizado como defeituoso, inexistindo obrigação do fabricante de
indenizar a consumidora, já que, nos autos, há apenas provas de colisão traseira.
Comentários
Gabarito, Letra D.
Vamos analisar cada alternativa.
a) Cabe inversão do ônus da prova em favor da consumidora, por expressa determinação legal, não
podendo, em qualquer hipótese, o julgador negar tal pleito - INCORRETA.
A inversão do ônus da prova no caso concreto não é automática, conforme previsão do artigo 6o, inciso VIII,
do CDC:
Artigo 6º.
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo
as regras ordinárias de experiências;
b) Falta legitimação, merecendo a extinção do processo sem resolução do mérito, uma vez que o
responsável civil pela reparação é o comerciante, no caso, a concessionária de veículos - INCORRETA.
Tratando-se de fato do produto, tem-se que a responsabilidade será solidária entre o fabricante, o produtor,
o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador. O comerciante responde apenas subsidiariamente,
nos termos do art. 13 do CDC.
c) A responsabilidade civil do fabricante é objetiva e independe de culpa; por isso, será cabível indenização
à vítima consumidora, mesmo que esta não tenha conseguido comprovar a colisão dianteira - INCORRETA.
Como não há prova do nexo causal entre o dano e o evento, a consumidora não fará jus à indenização
pleiteada.
d) O produto não poderá ser caracterizado como defeituoso, inexistindo obrigação do fabricante de
indenizar a consumidora, já que, nos autos, há apenas provas de colisão traseira - CORRETA.
De fato. O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera. Como
o airbag foi projetado apenas para colisões frontais, tem-se que não há defeito no caso narrado, uma vez
que a colisão foi traseira.

Mas professor, não seria mais fácil o artigo 12 falar em fornecedor ao invés de
fabricante, produtor, importador e construtor?

Meus amigos, esta é uma hipótese de silêncio eloquente.

Como o caput do artigo 12 não dispõe sobre o fornecedor, mas elenca aquelas pessoas que seriam
responsáveis pelo fato do produto, a doutrina entende que o comerciante não deve ser incluído neste rol.

A responsabilidade civil do comerciante é regulada especificamente pelo artigo 13, do CDC, que assim
estabelece:

Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;


II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor
ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito
de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do
evento danoso.

Ou seja, o comerciante apenas responderá pelo fato do produto nessas hipóteses e de forma subsidiária.

Percebam que a responsabilidade do comerciante tem vez quando não é possível identificar o fabricante,
produtor, importador ou construtor ou quando o comerciante, por sua culpa, não conservar os produtos
perecíveis.

(FGV/III Exame de Ordem) Em sua primeira viagem com seu carro zero quilômetro, Joaquim, fechado por
outro veículo, precisa dar uma freada brusca para evitar um acidente. O freio não funciona, o que leva
Joaquim, transtornado, a jogar o carro para o acostamento e, em seguida, abandonar a estrada.
Felizmente, nenhum dano material ou físico acontece ao carro nem ao motorista, que, muito abalado, mal
consegue acessar seu celular para pedir auxílio. Com a ajuda de moradores locais, se recupera do imenso
susto e entra em contato com seus familiares.
Na qualidade de advogado de Joaquim, qual seria a orientação correta a ser dada em relação às
providências cabíveis?
a) Propositura de ação de responsabilidade civil pelo fato do produto em face do fabricante do veículo.
b) Não há ação a ser proposta porque não houve dano.
c) Propositura de ação de responsabilidade civil pelo fato do produto em face da concessionária que vendeu
o veículo a Joaquim.
d) Propositura de ação de responsabilidade civil pelo vício do produto em face do fabricante e da
concessionária, uma vez que a responsabilidade é solidária.
Comentários
Gabarito, Letra A.
A hipótese versa sobre fato do produto, dada a existência de dano moral (abalo psicológico).
No caso narrado, o mau funcionamento do veículo gerou notórios danos morais ao condutor, concretizando,
assim, a responsabilidade do fornecedor pelo fato do produto.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Com base nos artigos 12 e 13, do CDC, percebemos que o comerciante, em regra, não é responsabilizado
diretamente pelos danos decorrentes do fato do produto (diferentemente do que ocorre com os vícios do
produto). Logo, a princípio, será responsável a fabricante do veículo.
Em conclusão, temos que a orientação correta é que Joaquim proceda com a propositura de ação de
responsabilidade civil pelo fato do produto em face do fabricante do veículo.
Assim, está correta a alternativa de letra A.

(FGV/VIII Exame de Ordem) Determinado consumidor, ao mastigar uma fatia de pão com geleia,
encontrou um elemento rígido, o que lhe causou intenso desconforto e a quebra parcial de um dos dentes.
Em razão do fato, ingressou com medida judicial em face do mercado que vendeu a geleia, a fim de ser
reparado. No curso do processo, a perícia constatou que o elemento encontrado era uma pequena porção
de açúcar cristalizado, não oferecendo risco à saúde do autor.
Diante desta narrativa, assinale a afirmativa correta.
a) O fabricante e o fornecedor do serviço devem ser excluídos de responsabilidade, visto que o material não
ofereceu qualquer risco à integridade física do consumidor, não merecendo reparação.
b) O elemento rígido não característico do produto, ainda que não o tornasse impróprio para o consumo,
violou padrões de segurança, já que houve dano comprovado pelo consumidor.
c) A responsabilidade do fornecedor depende de apuração de culpa e, portanto, não tendo o comerciante
agido de modo a causar voluntariamente o evento, não deve responder pelo resultado.
d) O comerciante não deve ser condenado e sequer caberia qualquer medida contra o fabricante, posto que
não há fato ou vício do produto, motivo pelo qual não deve ser responsabilizado pelo alegado defeito.
Comentários
Gabarito, Letra B.
A responsabilidade do fabricante opera-se de forma objetiva conforme artigo 12, do CDC e o elemento rígido
não característico do produto, ainda que não o tornasse impróprio para o consumo, violou padrões de
segurança, já que houve dano comprovado pelo consumidor.
Segundo consta do art. 4º, V, do CDC, é princípio da Política Nacional das Relações de Consumo o incentivo
à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e
serviços.
Da mesma forma, tem-se que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão
riscos à saúde ou segurança dos consumidores. Logo, uma vez evidenciado o dano e o nexo causal, exigível
será a indenização ao consumidor lesado.
Ressalte-se que a responsabilidade do comerciante é subsidiária e nos termos do artigo 13, do CDC.

3 - Responsabilidade pelo fato do serviço

Quanto à responsabilidade pelo fato dos serviços, o CDC aplicou a regra geral da solidariedade para todos
os fornecedores, não excluindo o comerciante. No artigo 14, o CDC utiliza a palavra fornecedor.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,


pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

Aqui também o CDC estabelece não ser o serviço defeituoso pela simples adoção de novas técnicas.

(FGV/X Exame de Ordem) Elisabeth e Marcos, desejando passar a lua-de-mel em Paris, adquiriram junto
à Operadora de Viagens e Turismo “X” um pacote de viagem, composto de passagens aéreas de ida e volta,
hospedagem por sete noites, e seguro saúde e acidentes pessoais, este último prestado pela seguradora
“Y”. Após chegar à cidade, Elisabeth sofreu os efeitos de uma gastrite severa e Marcos entrou em contato
com a operadora de viagens a fim de que o seguro fosse acionado, sendo informado que não havia médico
credenciado naquela localidade. O casal procurou um hospital, que manteve Elisabeth internada por 24
horas, e retornou ao Brasil no terceiro dia de estada em Paris, tudo às suas expensas.
Partindo da hipótese apresentada, assinale a afirmativa correta.
a) O casal poderá acionar judicialmente a operadora de turismo, mesmo que a falha do serviço tenha sido
da seguradora, em razão da responsabilidade solidária aplicável ao caso.
b) O casal somente poderá acionar judicialmente a seguradora Y, já que a operadora de turismo responderia
por falhas na organização da viagem, e não pelo seguro porque esse foi realizado por outra empresa.
c) O casal terá que acionar judicialmente a operadora de turismo e a seguradora simultaneamente por se
tratar da hipótese de litisconsórcio necessário e unitário, sob pena de insurgir em carência da ação.
d) O casal não poderá acionar judicialmente a operadora de turismo já que havia liberdade de contratar o
seguro saúde viagem com outra seguradora e, portanto, não se tratando de venda casada, não há
responsabilidade solidária na hipótese.
Comentários
De início, cabe observarmos a oferta de um serviço: pacote de viagem (constituído por passagens aéreas,
hospedagem, seguro de saúde e acidentes pessoais). Logo, qualquer falha na prestação de quaisquer destes

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

serviços levará à responsabilização de todos os fornecedores de forma solidária, inclusive, da Operadora de


Viagens e Turismo "X".
Neste sentido:
3. "Esta eg. Corte tem entendimento no sentido de que a agência de turismo que comercializa pacotes de
viagens responde solidariamente, nos termos do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, pelos defeitos
na prestação dos serviços que integram o pacote." (REsp nº 888751/BA, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta
Turma, DJe 27/10/2011) 4. Agravo regimental desprovido.
(STJ - AgRg nos EDcl no REsp: 1300701 RJ 2012/0005925-3, Relator: Ministro MARCO BUZZI, Data de
Julgamento: 04/11/2014, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 14/11/2014)"
Logo, de se concluir que o casal poderá acionar judicialmente a operadora de turismo, mesmo que a falha
do serviço tenha sido da seguradora, em razão da responsabilidade solidária aplicável ao caso.
Assim, está correta a alternativa de letra A.

(FGV/XXIV Exame de Ordem) Os arquitetos Everton e Joana adquiriram pacote de viagens para passar a
lua de mel na Europa, primeira viagem internacional do casal. Ocorre que o trajeto do voo previa conexão
em um país que exigia visto de trânsito, tendo havido impedimento do embarque dos noivos, ainda no
Brasil, por não terem o visto exigido. O casal questionou a agência de turismo por não ter dado qualquer
explicação prévia nesse sentido, e a fornecedora informou que não se responsabilizava pela informação
de necessidade de visto para a realização da viagem.
Diante do caso apresentado, assinale a afirmativa correta.
a) Cabe ação de reparação por danos extrapatrimoniais, em razão da insuficiência de informação clara e
precisa, que deveria ter sido prestada pela agência de turismo, no tocante à necessidade de visto de trânsito
para a conexão internacional prevista no trajeto.
b) Não houve danos materiais a serem ressarcidos, já que os consumidores sequer embarcaram, situação
muito diferente de terem de retornar, às próprias expensas, diretamente do país de conexão,
interrompendo a viagem durante o percurso.
c) Não ocorreram danos extrapatrimoniais por se tratar de pessoas que tinham capacidade de leitura e
compreensão do contrato, sendo culpa exclusiva das próprias vítimas a interrupção da viagem por
desconhecerem a necessidade de visto de trânsito para realizarem a conexão internacional.
d) Houve culpa exclusiva da empresa aérea que emitiu os bilhetes de viagem, não podendo a agência de
viagem ser culpabilizada, por ser o comerciante responsável subsidiariamente e não responder diretamente
pelo fato do serviço.
Comentários
Gabarito, Letra A.
Aplica-se a esta questão os mesmos fundamentos vistos na questão acima.
Ressalte-se que o direito à informação é um direito básico do consumidor previsto no artigo 6o, inciso III, do
CDC:
"Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos
que apresentem;
Segundo Jurisprudência em Teses do STJ, Edição 164, Tese 2: "Configura defeito do serviço, a ausência de
informação adequada e clara pelas empresas aéreas e agências de viagem aos consumidores, quanto à
necessidade de obtenção de visto (consular ou trânsito) ou de compra de passagem aérea de retorno ao país
de origem para a utilização do serviço contratado"
Logo, a afirmativa correta é a Letra A.

E quais seriam as excludentes de responsabilidade?

O §3º estabelece que quando o fornecedor de serviços provar que o defeito inexiste ou a culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro, não terá cabimento sua responsabilização.

§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:


I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

E quanto aos profissionais liberais? Como funciona a responsabilidade por fato dos
serviços?

Profissionais liberais são aqueles prestadores de serviço que, em geral, não possuem uma organização
empresarial. São os médicos, advogados, dentistas, arquitetos e outros profissionais que prestam serviço de
natureza técnica e pessoal.

Segundo o CDC, a responsabilidade destes profissionais deve ocorrer de forma diferenciada, excepcionando
a regra da responsabilidade objetiva e imputando-lhe a regra da responsabilidade subjetiva.

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a


verificação de culpa.

Assim, quando demandar um profissional liberal em juízo, deverá o Autor (consumidor) demonstrar o ato
cometido, o dano causado, o nexo causal entre ambos e, ainda, que o agente praticou o dano com dolo ou
culpa.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Isto porque, ao contratar os serviços destes profissionais, ao consumidor não é oferecido o resultado
esperado, mas tão somente uma garantia de que o serviço será prestado da melhor forma possível.

Explica-se: a obrigação dos profissionais liberais é uma obrigação de meio e não de resultado.

O advogado, ao ser contratado, deve defender a causa com a maior dedicação possível, fazendo o seu melhor
para que o resultado seja atingido. Contudo, não cabe ao profissional garantir que o cliente irá ganhar a
demanda.

Neste sentido, a jurisprudência do STJ é trilhada também aos profissionais médicos:

3. Portanto, como se trata de obrigação de meio, o resultado final insatisfatório


alcançado não configura, por si só, o inadimplemento contratual, pois a finalidade do
contrato é a atividade profissional médica, prestada com prudência, técnica e diligência
necessárias, devendo, para que exsurja obrigação de indenizar, ser demonstrada a
ocorrência de ato, comissivo ou omissivo, caracterizado por erro culpável do médico, assim
como do nexo de causalidade entre o dano experimentado pelo paciente e o ato tido por
causador do dano.
(REsp 992.821/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
14/08/2012, DJe 27/08/2012)

A obrigação do profissional liberal (médico, advogado) é de meio e não de resultado.

(FGV/XI Exame de Ordem) Carla ajuizou ação de indenização por danos materiais, morais e estéticos em
face do dentista Pedro, lastreada em prova pericial que constatou falha, durante um tratamento de canal,
na prestação do serviço odontológico. O referido laudo comprovou a inadequação da terapia dentária
adotada, o que resultou na necessidade de extração de três dentes da paciente, sendo que na execução
da extração ocorreu fratura da mandíbula de Carla, o que gerou redução óssea e sequelas permanentes,
que incluíram assimetria facial.
Com base no caso concreto, à luz do Código de Defesa do Consumidor, assinale a afirmativa correta.
a) O dentista Pedro responderá objetivamente pelos danos causados à paciente Carla, em razão do
comprovado fato do serviço, no prazo prescricional de cinco anos.
b) Haverá responsabilidade de Pedro, independentemente de dolo ou culpa, diante da constatação do vício
do serviço, no prazo decadencial de noventa dias.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

c) A obrigação de indenizar por parte de Pedro é subjetiva e fica condicionada à comprovação de dolo ou
culpa.
d) Inexiste relação de consumo no caso em questão, pois é uma relação privada, que encerra obrigação de
meio pelo profissional liberal, aplicando-se o Código Civil.
Comentários
De início, temos que há típica relação de consumo na situação apresentada. A consumidora Carla adquiriu
um serviço do fornecedor-dentista Pedro e da relação geraram-se danos. A destinação final fática (a
consumidora é a última na cadeia de consumo) e econômica (a consumidora adquire os serviços sem
intenção de lucro) estão presentes, caracterizando a relação consumerista.
A responsabilidade do profissional liberal no caso concreto está encartada no artigo 14, parágrafo 4º, do
CDC:
"Art. 14. § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de
culpa."
Assim, concluímos que está correta a alternativa de letra C.

Mas professor, não há exceções?

No STJ encontramos decisões excepcionando a regra da responsabilidade subjetiva dos profissionais liberais.
São hipóteses em que o Tribunal entendeu que os profissionais devem sim entregar o resultado esperado e,
exatamente por isto, a responsabilidade civil destes profissionais deve ser objetiva.

O melhor e mais comum exemplo é a cirurgia plástica meramente embelezadora. Deve o profissional médico
contratado exclusivamente para realizar uma cirurgia plástica estética entregar o resultado prometido para
a consumidora.

Neste sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO


NCPC. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. RENOVAÇÃO DO PEDIDO NA VIA ESPECIAL.
DESNECESSIDADE. AÇÃO INDENIZATÓRIA. CIRURGIA PLÁSTICA. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. PROFISSIONAL QUE DEVE AFASTAR SUA CULPA
MEDIANTE PROVA DE CAUSAS DE EXCLUDENTE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Nos termos da jurisprudência mais recente desta Corte, não há mais necessidade de
o recorrente renovar o pedido de concessão do benefício da assistência judiciária gratuita
na interposição do recurso especial se ele já vem litigando sob o pálio da justiça gratuita.
2. Possuindo a cirurgia estética a natureza de obrigação de resultado cuja
responsabilidade do médico é presumida, cabe a este demonstrar existir alguma
excludente de sua responsabilização apta a afastar o direito ao ressarcimento do
paciente. 3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1468756/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em
19/05/2016, DJe 24/05/2016)

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(FGV/XXXI Exame de Ordem) O médico de João indicou a necessidade de realizar a cirurgia de gastroplastia
(bariátrica) como tratamento de obesidade mórbida, com a finalidade de reduzir peso. Posteriormente, o
profissional de saúde explicou a necessidade de realizar a cirurgia plástica pós- gastroplastia, visando à
remoção de excesso epitelial que comumente acomete os pacientes nessas condições, impactando a
qualidade de vida daquele que deixou de ser obeso mórbido.
Nesse caso, nos termos do Código de Defesa do Consumidor e do entendimento do STJ, o plano de saúde
de João
a) terá que custear ambas as cirurgias, porque configuram tratamentos, sendo a cirurgia plástica medida
reparadora; portanto, terapêutica.
b) terá que custear apenas a cirurgia de gastroplastia, e não a plástica, considerada estética e excluída da
cobertura dos planos de saúde.
c) não terá que custear as cirurgias, exceto mediante previsão contratual expressa para esses tipos de
procedimentos.
d) não terá que custear qualquer das cirurgias até que passem a integrar o rol de procedimentos da ANS,
competente para a regulação das coberturas contratuais.
Comentários
Gabarito, letra A.
a) terá que custear ambas as cirurgias, porque configuram tratamentos, sendo a cirurgia plástica medida
reparadora; portanto, terapêutica.
Trata-se de importante entendimento do STJ, em destaque:
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PLANO DE SAÚDE. PACIENTE PÓS-CIRURGIA BARIÁTRICA. DOBRAS DE PELE.
CIRURGIAS PLÁSTICAS. NECESSIDADE. CARÁTER FUNCIONAL E REPARADOR. EVENTOS COBERTOS.
FINALIDADE EXCLUSIVAMENTE ESTÉTICA. AFASTAMENTO. RESTABELECIMENTO INTEGRAL DA SAÚDE.
DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. VALOR INDENIZATÓRIO. MANUTENÇÃO.
RAZOABILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. (...)
6. Não basta a operadora do plano de assistência médica se limitar ao custeio da cirurgia bariátrica para
suplantar a obesidade mórbida, mas as resultantes dobras de pele ocasionadas pelo rápido
emagrecimento também devem receber atenção terapêutica, já que podem provocar diversas
complicações de saúde, a exemplo da candidíase de repetição, infecções bacterianas devido às escoriações
pelo atrito, odores e hérnias, não qualificando, na hipótese, a retirada do excesso de tecido epitelial
procedimento unicamente estético, ressaindo sobremaneira o seu caráter funcional e reparador.
Precedentes. (...) 12. Recurso especial não provido. (REsp 1757938/DF, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/02/2019, DJe 12/02/2019)

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Assim, as demais alternativas estão erradas.

E a responsabilidade dos Hospitais? Como funciona?

O STJ diferencia o erro médico cometido por empregado do hospital daquele erro médico cometido por
profissional que apenas está utilizando dos serviços de hotelaria fornecidos pela instituição.

Em síntese, o hospital responde por erro cometido por profissional médico que seja seu empregado e que
tenha ocorrido em suas dependências.

Por outro lado, caso o paciente tenha contratado de forma independente um médico que não seja
empregado do hospital para realizar um procedimento utilizando apenas a sua estrutura, não cabe
responsabilizar o hospital por eventual erro cometido pelo profissional.

CIVIL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. ERRO PRATICADO POR MÉDICO NÃO
CONTRATADO PELO HOSPITAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ATRIBUIÇÃO AFETA
EXCLUSIVAMENTE AO HOSPITAL. AUSÊNCIA DE NEXO CAUSAL ENTRE O DANO MORAL E
A CONDUTA INERENTE AO TRATAMENTO HOSPITALAR. 1. Ação de compensação por dano
moral ajuizada em 04.03.2002. Agravo em Recurso especial concluso ao gabinete em
22.09.2016. 2. Cinge-se a controvérsia a definir se o recorrente possui responsabilidade
civil por erro médico cometido por profissional que não possui vínculo com o hospital,
mas utiliza as dependências do estabelecimento para a realização de internação e
exames. 3. Por ocasião do julgamento do REsp 908.359/SC, a Segunda Seção do STJ
afastou a responsabilidade objetiva dos hospitais pela prestação de serviços defeituosos
realizados por profissionais que nele atuam sem vínculo de emprego ou subordinação.
Precedentes. 4. A responsabilidade do hospital somente tem espaço quando o dano
decorrer de falha de serviços cuja atribuição é afeta única e exclusivamente à instituição
de saúde. 5. Quando a falha técnica é restrita ao profissional médico sem vínculo com
o hospital, não cabe atribuir ao nosocômio a obrigação de indenizar. 6. Recurso especial
conhecido e provido. (REsp 1635560/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 10/11/2016, DJe 14/11/2016)

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(FGV/XIV Exame de Ordem) Um homem foi submetido a cirurgia para remoção de cálculos renais em
hospital privado. A intervenção foi realizada por equipe médica não integrante dos quadros de
funcionários do referido hospital, apesar de ter sido indicada por esse mesmo hospital.
Durante o procedimento, houve perfuração do fígado do paciente, verificada somente três dias após a
cirurgia, motivo pelo qual o homem teve que se submeter a novo procedimento cirúrgico, que lhe deixou
uma grande cicatriz na região abdominal. O paciente ingressou com ação judicial em face do hospital,
visando a indenização por danos morais e estéticos.
Partindo dessa narrativa, assinale a opção correta.
a) O hospital responde objetivamente pelos danos morais e estéticos decorrentes do erro médico, tendo em
vista que ele indicou a equipe médica.
b) O hospital responderá pelos danos, mas de forma alternativa, não se acumulando os danos morais e
estéticos, sob pena de enriquecimento ilícito do autor.
c) O hospital não responderá pelos danos, uma vez que se trata de responsabilidade objetiva da equipe
médica, sendo o hospital parte ilegítima na ação porque apenas prestou serviço de instalações e
hospedagem do paciente.
d) O hospital não responderá pelos danos, tendo em vista que não se aplica a norma consumerista à relação
entre médico e paciente, mas, sim, o Código Civil, embora a responsabilidade civil dos profissionais liberais
seja objetiva.
Comentários
Gabarito, Letra A.
De início, necessário consignarmos que a regra geral insculpida no art. 14, "caput", do Código de Defesa do
Consumidor, é a responsabilidade objetiva dos fornecedores pelos danos causados aos consumidores.
Analisando a temática, o Superior Tribunal de Justiça pacificou a matéria pontuando que há o dever de o
hospital responder objetivamente pelos danos causados pelos profissionais que escolhe para atuar nas
instalações por ele oferecidas.
Logo, a partir deste posicionamento, possível entendermos que, ao indicar a equipe médica para o
procedimento, o hospital acabou por se vincular ao evento danoso, de modo a incidir a regra constante do
art. 14 do CDC.
Desta forma, concluímos que o hospital responde objetivamente pelos danos morais e estéticos decorrentes
do erro médico, tendo em vista que ele indicou a equipe médica.
Assim, a alternativa correta é a de letra A.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

E a responsabilidade do plano de saúde?

Os planos de saúde devem responder por erros médicos de profissionais a ele conveniados ou que sejam
seus empregados, conforme vem decidindo o STJ:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


RESPONSABILIDADE CIVIL. PLANO DE SAÚDE. LEGITIMIDADE PASSIVA. DECISÃO MANTIDA.
1. "Se o contrato é fundado na prestação de serviços médicos e hospitalares próprios e/ou
credenciados, no qual a operadora de plano de saúde mantém hospitais e emprega
médicos ou indica um rol de conveniados, não há como afastar sua responsabilidade
solidária pela má prestação do serviço" (REsp n. 866.371/RS, Relator Ministro RAUL
ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 27/3/2012, DJe 20/8/2012). 2. Agravo regimental a
que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 747.455/RJ, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA,
julgado em 10/11/2015, DJe 16/11/2015)

Sobre o tema a Jurisprudência em Teses do STJ, Edição 160, Tese 7: "A operadora do plano de saúde, na
condição de fornecedora de serviço, responde solidariamente perante o consumidor pelos defeitos em sua
prestação, seja quando os fornece por meio de hospital próprio e médicos contratados ou por meio de
médicos e hospitais credenciados."

4 - Responsabilidade pelo vício do produto

Já os vícios do produto são regulados pelo artigo 18, do CDC.

Percebam que o dispositivo legal fala que todos os fornecedores (inclusive os comerciantes) devem
responder solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que tornem os produtos impróprios para
consumo ou lhe diminuam o valor.

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem


solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de
sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

Assim, se o consumidor adquire um produto com um vício de qualidade (uma televisão que o controle
remoto não funciona, por exemplo) deverá ele dirigir-se até o fornecedor e solicitar que o vício seja sanado,
inclusive com a substituição das partes viciadas.

E se o fornecedor não resolver o problema?

Em primeiro lugar, destaca-se que o fornecedor terá o prazo de 30 (trinta) dias para solucionar o problema.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Contudo, caso o vício não seja sanado, após o prazo de trinta dias poderá o consumidor escolher entre as
alternativas previstas no §1º, do artigo 18:

§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.

Além disso, o consumidor poderá sempre fazer imediato uso destas alternativas quando o vício for tão
extenso que a substituição das partes viciadas possa comprometer a qualidade, as características do
produto ou diminuir-lhe o valor, ou ainda, caso se trate de produto essencial (§3º).

Identificado o vício de qualidade:

Restituição do
Valor

Após 30 dias o
consumidor
escolhe

Abatimento do Substituição do
Preço Produto

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(FGV/XXX Exame de Ordem) Durante período de intenso calor, o Condomínio do Edifício X, por seu
representante, adquiriu, junto à sociedade empresária Equipamentos Aquáticos, peças plásticas
recreativas próprias para uso em piscinas, produzidas com material atóxico. Na primeira semana de uso,
os produtos soltaram gradualmente sua tinta na vestimenta dos usuários, o que gerou apenas problema
estético, na medida em que a pigmentação era atóxica e podia ser removida facilmente das roupas dos
usuários por meio de uso de sabão.
O Condomínio do Edifício X, por seu representante, procurou você, como advogado(a), buscando
orientação para receber de volta o valor pago e ser indenizado pelos danos morais suportados.
Nesse caso, cuida-se de
a) fato do produto, sendo excluída a responsabilidade civil da sociedade empresária, respondendo pelo
evento o fabricante das peças; não cabe indenização por danos extrapatrimoniais, por ser o Condomínio
pessoa jurídica, que não sofre essa modalidade de dano.
b) inaplicabilidade do CDC, haja vista a natureza da relação jurídica estabelecida entre o Condomínio e a
sociedade empresária, cabendo a responsabilização civil com base nas regras gerais de Direito Civil, e
incabível pleitear indenização por danos morais, por ter o Condomínio a qualidade de pessoa jurídica.
c) aplicabilidade do CDC somente por meio de medida de defesa coletiva dos condôminos, cuja legitimidade
será exercida pelo Condomínio, na defesa dos interesses a título coletivo.
d) vício do produto, sendo solidária a responsabilidade da sociedade empresária e do fabricante das peças;
o Condomínio do Edifício X é parte legítima para ingressar individualmente com a medida judicial por ser
consumidor, segundo a teoria finalista mitigada.
Comentários
Gabarito, letra D.
Em primeiro lugar, percebe-se que por inexistir acidente de consumo, estamos diante de uma situação de
vício do produto e não de fato do produto. Desta forma, a letra A está falsa.
Já a letra B está falsa porque o condomínio no caso concreto pode ser equiparado à coletividade de pessoas
apta a incidir o CDC, conforme artigo 2º, parágrafo único do Código.
A letra C está falsa, uma vez que os particulares individualmente considerados também podem ajuizar ações
individuais.
A teoria finalista mitigada atribui a condição de consumidor à pessoa que, sem ser a destinatária final do
produto, apresenta-se de condição de vulnerabilidade ou hipossuficiência perante o fornecedor. A
alternativa correta, portanto, é a letra D.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(FGV/V Exame de Ordem) Ao instalar um novo aparelho de televisão no quarto de seu filho, o consumidor
verifica que a tecla de volume do controle remoto não está funcionando bem. Em contato com a loja onde
adquiriu o produto, é encaminhado à autorizada.
O que esse consumidor pode exigir com base na lei, nesse momento, do comerciante?
a) A imediata substituição do produto por outro novo.
b) O dinheiro de volta.
c) O conserto do produto no prazo máximo de 30 dias.
d) Um produto idêntico emprestado enquanto durar o conserto.
Comentários
Trata-se de típico caso de vício do produto.
Com base no que fora destacado, percebe-se que, a princípio (já que não se trata de um produto essencial -
art. 18, §3º, CDC), o consumidor poderá exigir apenas o conserto do produto no prazo máximo de trinta dias.
Logo, está correta a alternativa de letra C.

(FGV/XI Exame de Ordem) O Mercado A comercializa o produto desinfetante W, fabricado por


“W.Industrial”. O proprietário do Mercado B, que adquiriu tal produto para uso na higienização das partes
comuns das suas instalações, verifica que o volume contido no frasco está em desacordo com as
informações do rótulo do produto. Em razão disso, o Mercado B propõe ação judicial em face do Mercado
A, invocando a Lei n. 8.078/90 (CDC), arguindo vícios decorrentes de tal disparidade. O Mercado A, em
defesa, apontou que se tratava de responsabilidade do fabricante e requereu a extinção do processo.
A respeito do caso sugerido, assinale a alternativa correta.
a) O processo merece ser extinto por ilegitimidade passiva.
b) O caso versa sobre fato do produto, logo a responsabilidade do réu é subsidiária.
c) O processo deve ser extinto, pois o autor não se enquadra na condição de consumidor.
d) Trata-se de vício do produto, logo o réu e o fabricante são solidariamente responsáveis.
Comentários
O Mercado B poderá ser considerado consumidor do produto em análise, conforme inteliugência dos artigos
2o e 3o, do CDC.
O problema apresentado na questão representa um vício do produto e, nos termos do artigo 18, do CDC
tanto o comerciante como o fabricante são solidariamente responsáveis.
Assim, temos que se trata de vício do produto, logo o réu (Mercado A - comerciante) e o fabricante (W.
Industrial) são solidariamente responsáveis.
A alternativa correta, portanto, é a de letra D.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(FGV/XVIII Exame de Ordem) Dulce, cinquenta e oito anos de idade, fumante há três décadas, foi
diagnosticada como portadora de enfisema pulmonar. Trata-se de uma doença pulmonar obstrutiva
crônica caracterizada pela dilatação excessiva dos alvéolos pulmonares, que causa a perda da capacidade
respiratória e uma consequente oxigenação insuficiente. Em razão do avançado estágio da doença, foi
prescrito como essencial o tratamento de suplementação de oxigênio.
Para tanto, Joana, filha de Dulce, adquiriu para sua mãe um aparelho respiratório na loja Saúde e Bem-
Estar. Porém, com uma semana de uso, o produto parou de funcionar. Joana procurou imediatamente a
loja para substituição do aparelho, oportunidade na qual foi informada pela gerente que deveria aguardar
o prazo legal de trinta dias para conserto do produto pelo fabricante.
Com base no caso narrado, em relação ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor, assinale a
afirmativa correta.
a) Está correta a orientação da vendedora. Joana deverá aguardar o prazo legal de trinta dias para conserto
e, caso não seja sanado o vício, exigir a substituição do produto, a devolução do dinheiro corrigido
monetariamente ou o abatimento proporcional do preço.
b) Joana não é consumidora destinatária final do produto, logo tem apenas direito ao conserto do produto
durável no prazo de noventa dias, mas não à devolução da quantia paga.
c) Joana não precisa aguardar o prazo legal de trinta dias para conserto, pois tem direito de exigir a
substituição imediata do produto, em razão de sua essencialidade.
d) Na impossibilidade de substituição do produto por outro da mesma espécie, Joana poderá optar por um
modelo diverso, sem direito à restituição de eventual diferença de preço, e, se este for de valor maior, não
será devida por Joana qualquer complementação.
Comentários
Gabarito, Letra C.
Por se tratar de produto essencial, o CDC traz uma regra específica que permite ao consumidor trocar
imediatamente o produto, conforme artigo 18, §§1º e 3º:
Art. 18. § 3°. O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em
razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou
características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.
Assim, Joana não precisa aguardar o prazo legal de trinta dias para conserto, pois tem direito de exigir a
substituição imediata do produto, em razão de sua essencialidade.

(FGV/XIV Exame de Ordem) Osvaldo adquiriu um veículo zero quilômetro e, ao chegar a casa, verificou
que, no painel do veículo, foi acionada a indicação de problema no nível de óleo. Ao abrir o capô, constatou
sujeira de óleo em toda a área. Osvaldo voltou imediatamente à concessionária, que realizou uma rigorosa
avaliação do veículo e constatou que havia uma rachadura na estrutura do motor, que, por isso, deveria
ser trocado.
Oswaldo solicitou um novo veículo, aduzindo que optou pela aquisição de um zero quilômetro por buscar
um carro que tivesse toda a sua estrutura “de fábrica”. A concessionária se negou a efetuar a troca ou
devolver o dinheiro, alegando que isso não descaracterizaria o veículo como novo e que o custo financeiro

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

de faturamento e outras medidas administrativas eram altas, não justificando, por aquele motivo, o
desfazimento do negócio. No mesmo dia, Osvaldo procura você, como advogado, para orientá-lo. Assinale
a opção que apresenta a orientação dada.
a) Cuida-se de vício do produto, e a concessionária dispõe de até trinta dias para providenciar o reparo, fase
que, ordinariamente, deve preceder o direito do consumidor de pleitear a troca do veículo.
b) Trata-se de fato do produto, e o consumidor sempre pode exigir a imediata restituição da quantia paga,
sem prejuízo de pleitear perdas e danos em juízo.
c) Há evidente vício do produto, sendo subsidiária a responsabilidade da concessionária, devendo o
consumidor ajuizar a ação de indenização por danos materiais em face do fabricante.
d) Trata-se de fato do produto, e o consumidor não tem interesse de agir, pois está no curso do prazo para
o fornecedor sanar o defeito.
Comentários
Gabarito, Letra A.
Diante do vício do produto constatado, a responsabilidade da concessionária é solidária com o fabricante,
podendo o consumidor, após decorridos os trinta dias para se sanar o defeito, ajuizar ação de indenização
por danos materiais em face da concessionária ou do fabricante, nos termos do artigo 18, do CDC.

E se o consumidor optar por substituir o produto e a substituição não for possível?

Imagine a seguinte situação: o consumidor compra a última unidade de um computador no estoque da loja,
mas este apresentou um defeito que o fornecedor não conseguiu solucionar no prazo de 30 (trinta) dias.

Apesar de o consumidor ter optado pela substituição do produto por outro da mesma espécie e em perfeitas
condições de uso, o fornecedor não poderá cumprir tal solicitação, tendo em vista que o equipamento era a
última peça no estoque da loja.

Nesses casos, o CDC estabelece que o consumidor poderá escolher um produto com espécie, modelo ou
marca diversos, mas deverá ou pagar a complementação do preço ou receber a diferença de volta (a
depender se o produto for mais caro ou mais barato que o originalmente escolhido).

§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não


sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie,
marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual
diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo.

Além disso, o CDC estabelece que, no caso de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o
fornecedor imediato, salvo quando o produtor seja claramente identificado (§5º).

Trata-se, assim, de situação um pouco diferente da regra geral para os produtos, caso em que todos os
fornecedores (fabricante, importador, comerciante) respondem de forma solidária pelo vício do produto.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Professor, poderão consumidor e fornecedor alterar o prazo de 30 dias para solucionar


o problema?

De acordo com o §2º, do artigo 18, do CDC, sim. Contudo, este prazo não poderá ser inferior a 07 (sete) e
nem superior a 180 (cento e oitenta) dias.

E, caso se trate de um contrato de adesão, esta cláusula de prazo deve ser convencionada em separado,
sendo necessária a manifestação expressa do consumidor.

A ideia é ter o máximo de segurança de que o consumidor realmente leu e contratou aquela determinada
cláusula.

§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no


parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias.
Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado,
por meio de manifestação expressa do consumidor.

O CDC define o que seriam os produtos impróprios para uso e consumo?

Sim.

Trata-se do disposto no §6º, do artigo 18:

§ 6° São impróprios ao uso e consumo:


I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos,
fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as
normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que
destinam.

E se o vício do produto não for na qualidade, mas na quantidade?

O CDC regula o vício de quantidade do produto especificamente no artigo 19 e estabelece que todos os
fornecedores respondem solidariamente por tais vícios.

E, diferentemente do vício quanto à qualidade, o consumidor não precisa esperar prazo algum para escolher
entre o abatimento proporcional do preço, a complementação do peso ou medida, a substituição do produto
ou a restituição do seu dinheiro.

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do


produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou


de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - o abatimento proporcional do preço;
II - complementação do peso ou medida;
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os
aludidos vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos.

Identificado o vício de quantidade:

Complemento
do Produto

Substituição Consumidor Abatimento


escolhe do Valor

Restituição
do Valor
Pago

Destaque-se que, caso o comerciante esteja com a sua balança com defeito, será ele o responsável pelo vício
no produto, conforme se extrai do §2º do referido artigo:

§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o


instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.

E se o consumidor optar por substituir o produto e a substituição não for possível?

O procedimento adotado deve ser idêntico à situação quanto ao vício na qualidade do produto, dado o
disposto no §1º, do artigo 19, do CDC:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior.

(FGV/XIX Exame de Ordem) Antônio desenvolve há mais de 40 anos atividade de comércio no ramo de
hortifrúti. Seus clientes chegam cedo para adquirir verduras frescas entregues pelos produtores rurais da
região. Antônio também vende no varejo, com pesagem na hora, grãos e cereais adquiridos em sacas de
30 quilos, de uma marca muito conhecida e respeitada no mercado. Determinado dia, a cliente Maria
desconfiou da pesagem e fez a conferência na sua balança caseira, que apontou suposta divergência de
peso. Procedeu com a imediata denúncia junto ao Órgão Oficial de Fiscalização, que confirmou que o
instrumento de medição do comerciante estava com problemas de calibragem e que não estava aferido
segundo padrões oficiais, gerando prejuízo aos consumidores. A cliente denunciante buscou ser ressarcida
pelo vício de quantidade dos produtos.
Com base na hipótese sugerida, assinale a afirmativa correta.
a) Trata-se de responsabilidade civil solidária, podendo Maria acionar tanto o comerciante quanto os
produtores.
b) Trata-se de responsabilidade civil subsidiária, pois o comerciante só responde se os demais fornecedores
não forem identificados.
c) Trata-se de responsabilidade civil exclusiva do comerciante, na qualidade de fornecedor imediato.
d) Trata-se de responsabilidade civil objetiva, motivo pelo qual inexistem excludentes de responsabilidade.
Comentários
Gabarito, Letra C.
De acordo com o artigo 19, do CDC, a responsabilidade pelos vícios de quantidade do produto será, em regra,
solidária:
Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que,
respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações
constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor
exigir, alternativamente e à sua escolha.
Porém, o próprio artigo excepciona esta solidariedade (sendo então caso de responsabilidade exclusiva)
quando o fornecedor fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo
os padrões oficiais:
§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado
não estiver aferido segundo os padrões oficiais.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(FGV/XVI Exame de Ordem) A responsabilidade civil dos fornecedores de serviços e produtos, estabelecida
pelo Código do Consumidor, reconheceu a relação jurídica qualificada pela presença de uma parte
vulnerável, devendo ser observados os princípios da boa-fé, lealdade contratual, dignidade da pessoa
humana e equidade.
A respeito da temática, assinale a afirmativa correta.
a) A responsabilidade civil subjetiva dos fabricantes impõe ao consumidor a comprovação da existência de
nexo de causalidade que o vincule ao fornecedor, mediante comprovação da culpa, invertendo-se o ônus da
prova no que tange ao resultado danoso suportado.
b) A responsabilidade civil do fabricante é subjetiva e subsidiária quando o comerciante é identificado e
encontrado para responder pelo vício ou fato do produto, cabendo ao segundo a responsabilidade civil
objetiva.
c) A responsabilidade civil objetiva do fabricante somente poderá ser imputada se houver demonstração dos
elementos mínimos que comprovem o nexo de causalidade que justifique a ação proposta, ônus esse do
consumidor.
d) A inversão do ônus da prova nas relações de consumo é questão de ordem pública e de imputação
imediata, cabendo ao fabricante a carga probatória frente ao consumidor, em razão da responsabilidade
civil objetiva.
Comentários
Gabarito, Letra C.
Vamos analisar cada item.
a) A responsabilidade civil subjetiva dos fabricantes impõe ao consumidor a comprovação da existência de
nexo de causalidade que o vincule ao fornecedor, mediante comprovação da culpa, invertendo-se o ônus da
prova no que tange ao resultado danoso suportado - INCORRETA.
O Código de Defesa do Consumidor adotou, como regra, a responsabilidade civil do tipo objetiva, de modo
que caberá comprovar, apenas, o fato, o dano e o nexo de causalidade.
b) A responsabilidade civil do fabricante é subjetiva e subsidiária quando o comerciante é identificado e
encontrado para responder pelo vício ou fato do produto, cabendo ao segundo a responsabilidade civil
objetiva - INCORRETA.
No vício do produto, a responsabilidade dos fornecedores (incluindo a do comerciante) é solidária e objetiva.
No fato do produto, a responsabilidade do comerciante é subsidiária, de modo que só será responsabilizado
quando o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; quando o
produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; ou
quando não conservar adequadamente os produtos perecíveis (art. 13, CDC).
c) A responsabilidade civil objetiva do fabricante somente poderá ser imputada se houver demonstração dos
elementos mínimos que comprovem o nexo de causalidade que justifique a ação proposta, ônus esse do
consumidor - CORRETA.
De fato. Como destacado anteriormente, a responsabilidade civil objetiva não exime o consumidor de
comprovar o fato lesivo, o dano e o nexo de causalidade entre ambos.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

d) A inversão do ônus da prova nas relações de consumo é questão de ordem pública e de imputação
imediata, cabendo ao fabricante a carga probatória frente ao consumidor, em razão da responsabilidade
civil objetiva - INCORRETA.
O instituto da inversão do ônus da prova (em perspectiva judicial) é catalogado pelo Código de Defesa do
Consumidor como um dos direitos básicos do consumidor.
Sobre o tema, observa-se passagem codificada:
"Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo
as regras ordinárias de experiências;"
Feita a transcrição pertinente, conclui-se que a inversão do ônus probatório se dará sempre que entender o
juiz ser necessário à defesa dos direitos do consumidor e restar demonstrada a verossimilhanças das
alegações ou a hipossuficiência do lesado. Logo, não se trata de instituto de aplicação imediata e obrigatória.

5 - Responsabilidade pelo vício do serviço

Quanto ao vício na qualidade dos serviços, o CDC estabelece que poderá o consumidor exigir de imediato:

I - a reexecução dos serviços sem qualquer custo para o consumidor e quando esta for
cabível. Poderá ser feita, inclusive por terceiros, desde que devidamente pagos pelo
fornecedor;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.

Trata-se do disposto no artigo 20 do CDC que ainda dispõe quanto à definição do serviço impróprio:

§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que


razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas
regulamentares de prestabilidade.

E a assistência técnica dos produtos, como deve funcionar?

De acordo com o artigo 21, do CDC, quando o serviço for prestado com o intuito de reparar qualquer
produto, considera-se implícita a obrigação de o fornecedor empregar apenas componentes de reposição
originais adequados e novos.

É dizer: o fornecedor precisa utilizar peças originais e novas quando for reparar produtos com defeito.

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Reta Final

Por outro lado, os produtos devem obedecer às especificações técnicas do fabricante. Contudo, poderá o
consumidor autorizar expressamente a substituição de peças por outras usada, desde que esta seja a sua
vontade.

Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer
produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes
de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas
do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor.

(FGV/XXV Exame de Ordem) Eloá procurou o renomado Estúdio Max para tratamento de restauração dos
fios do cabelo, que entendia muito danificados pelo uso de químicas capilares. A proposta do profissional
empregado do estabelecimento foi a aplicação de determinado produto que acabara de chegar ao
mercado, da marca mundialmente conhecida Ops, que promovia uma amostragem inaugural do produto
em questão no próprio Estúdio Max.
Eloá ficou satisfeita com o resultado da aplicação pelo profissional no estabelecimento, mas, nos dias que
se seguiram, observou a queda e a quebra de muitos fios de cabelo, o que foi aumentando
progressivamente. Retornando ao Estúdio, o funcionário que a havia atendido informou-lhe que poderia
ter ocorrido reação química com outro produto utilizado por Eloá anteriormente ao tratamento, levando
aos efeitos descritos pela consumidora, embora o produto da marca Ops não apontasse contraindicações.
Eloá procurou você como advogado(a), narrando essa situação.
Neste caso, assinale a opção que apresenta sua orientação.
a) Há evidente fato do serviço executado pelo profissional, cabendo ao Estúdio Max e ao fabricante do
produto da marca Ops, em responsabilidade solidária, responderem pelos danos suportados pela
consumidora.
b) Há evidente fato do produto; por esse motivo, a ação judicial poderá ser proposta apenas em face da
fabricante do produto da marca Ops, não havendo responsabilidade solidária do comerciante Estúdio Max.
c) Há evidente fato do serviço, o que vincula a responsabilidade civil subjetiva exclusiva do profissional que
sugeriu e aplicou o produto, com base na teoria do risco da atividade, excluindo-se a responsabilidade do
Estúdio Max.
d) Há evidente vício do produto, sendo a responsabilidade objetiva decorrente do acidente de consumo
atribuída ao fabricante do produto da marca Ops e, em caráter subsidiário, ao Estúdio Max e ao profissional,
e não do profissional que aplicou o produto.
Comentários
Gabarito, Letra A.

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Reta Final

Neste caso, a consumidora Eloá sofreu danos decorrentes da má prestação dos serviços pelo profissional do
Estúdio Max, já que o produto não apresentava contraindicações, o que nega a justificativa do profissional
de que poderia ter ocorrido uma reação química com outro produto utilizado por Eloá anteriormente ao
tratamento, não se configurando, assim, fato do produto (Art. 12, caput, do CDC), pois, apesar de ter havido
dano, este não foi ocasionado pelo produto, e nem vício do produto (Art. 18, caput, do CDC), que só se
configuraria se não ocorresse dano mas sim um vício, e no produto, que o tornasse impróprio ou inadequado
ao consumo.
Logo, ficou evidenciado o fato do serviço executado pelo profissional, cabendo, porém, não ao profissional
mas ao fornecedor do serviço (Estúdio Max) e ao fabricante do produto da marca Ops, por ter colocado o
produto no mercado, solidariamente responderem pelos danos suportados pela consumidora, conforme
previsto no Art. 12, caput, c/c Art. 14, caput, e § 1º, I e II, do CDC.
A resposta correta, portanto, é a Letra A.

6 - Disposições Finais

Por fim, cabe-nos destacar os seguintes dispositivos do CDC, comentados um a um.

Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos
produtos e serviços não o exime de responsabilidade.

Ainda que o fornecedor desconheça eventual vício de qualidade em seus produtos ou serviços, deverá ele
ser responsabilizado, eis que é obrigação do fornecedor saber ou dever saber dos vícios em seus produtos.

Além disso, o artigo 25 estabelece a vedação para que o contrato de consumo estabeleça alguma cláusula
que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar do fornecedor para com o consumidor:

Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue
a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.
§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão
solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.
§ 2° Sendo o dano causado por componente ou peça incorporada ao produto ou serviço,
são responsáveis solidários seu fabricante, construtor ou importador e o que realizou a
incorporação.

Já quanto aos serviços públicos, estabelece o CDC:

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou


sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços
adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas
neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos
causados, na forma prevista neste código.

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Reta Final

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Profa. Isabella Pires:
Com isso, me despeço de vocês por hoje! Voltaremos amanhã para dar continuidade ao
nosso projeto rumo à aprovação!
Aproveito para, mais uma vez, deixar meus contatos caso tenham dúvidas, críticas,
sugestões!
Vocês podem entrar em contato pelo fórum do curso ou ainda:
E-mail: isabella.almeida@estrategiaconcursos.com.br

Instagram: @profaisabellapires

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