Você está na página 1de 4

DCO 221 - Fundamentos e Princípios do Direito Empresarial

Professor Doutor Rodrigo O. Broglia Mendes

1º Semestre de 2023

Seminário 2

Antônio Medeiros é um conceituado médico na área de reprodução assistida na cidade de


São Paulo. Ele tem uma clínica famosa, em imóvel próprio, com equipamentos de última
geração para procedimentos como fertilização in vitro e implante embrionário, extração e
congelamento de óvulos, e outros relacionados a tratamento de infertilidade. Na clínica,
Antônio conta com uma equipe médica multidisciplinar para assisti-lo, composta por outros
seis médicos: dois ginecologistas-obstetras, dois urologistas e dois endocrinologistas. Conta,
ainda, com uma equipe de enfermagem, composta por duas enfermeiras e duas auxiliares
de enfermagem; uma recepcionista, uma secretária e um segurança.

Em dada ocasião, um dos médicos que trabalha com Antônio na clínica, em momento de
desatenção, comete um erro durante um procedimento, que acaba resultando na
infertilidade definitiva de uma paciente. Após um processo judicial, Antônio, que liderava a
equipe médica, e o médico assistente são solidariamente condenados ao pagamento de
vultosa indenização à paciente lesada.

Antônio, que recentemente havia assumido dívidas para renovar os equipamentos da clínica
com o que havia de mais moderno em tecnologia reprodutiva, vê-se em dificuldades
financeiras como consequência do pagamento da indenização. Um amigo, advogado, sugere
que ele ajuize um pedido de recuperação judicial, para tentar reduzir o valor das dívidas,
eliminar encargos e alongar prazos de pagamento.

Pergunta-se:

1) Se o Código Comercial de 1850 ainda estivesse em vigor, Antônio estaria a ele sujeito?
Justifique sua resposta.
2) De acordo com o Código Civil de 2002, Antônio pode ser considerado empresário? Justifique
sua resposta.
3) Se Você fosse o juiz, Você admitiria o pedido de recuperação judicial de Antônio?

Lembrem-se: o caso se dirige a trabalhar o tema da aula seguinte do Professor Rodrigo, que
é: “Aula 03 (28.03): A perspectiva brasileira sobre o direito comercial: do ato de comércio à
teoria da empresa. A unificação parcial do direito privado. A experiência brasileira. Os
diversos ramos do direito empresarial.”. Considerem, para constuir suas respostas, os
dispositivos legais abaixo disponibilizados.

1
DCO 221 - Fundamentos e Princípios do Direito Empresarial

Professor Doutor Rodrigo O. Broglia Mendes

1º Semestre de 2023

Anexo - Dispositivos a serem considerados

Código Civil de 2002:


“Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de
natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.”

Código Comercial de 1850 (Lei 556, de 25 de junho de 1850):

Art. 4 - Ninguém é reputado comerciante para efeito de gozar da proteção que este Código
liberaliza em favor do comércio, sem que se tenha matriculado em algum dos Tribunais do
Comércio do Império, e faça da mercancia profissão habitual (artigo nº 9).

Regulamento 737, de 1850:

“CAPITULO III
DA JURISDICÇÃO COMMERClAL EM RAZÃO DAS PESSOAS E DOS ACTOS
Art. 10. Competem á jurisdiccão commercial todas as causas que derivarem de direitos e
obrigacões sujeitas ás disposicões do Codigo Commercial, comtanto que uma das partes
seja commerciante (art. 18 Tit. unico Codigo).
Art. 11. Não basta para determinar a competencia da Jurisdicção commercial que ambas
as partes ou alguma deIlas seja commerciante, mas é essencial que a divida seja tambem
commercial: outrosim não basta que a divida seja commercial, mas é essencial que ambas
ou uma das partes seja commerciante, salvos os casos e excepções do art. 20.
Art. 12. A parte não commerciante é sujeita á jurisdicção commercial ou interviesse no
contrato, ou seja herdeiro, successor, cessionario, subrogado, possuidor de titulos e papeis
da credito commerciaes (arts. 277 e 387 Codigo), possuidor de bens por penhor ou
hypotheca obrigados a dividas commerciaes (arts. 265 e 269 Codigo), possuidor de bens
alienados em fraude de dividas commerciaes (art. 828 Codigo), vendedor no caso de
evicção (art. 215 Codigo).
Art. 13. As questões de bens de raiz com excepção daquellas que occorrerem nas
execuções, ou derivarem de hypothecas eommereiaes (art. 269 Codigo) ou do direito da

2
DCO 221 - Fundamentos e Princípios do Direito Empresarial

Professor Doutor Rodrigo O. Broglia Mendes

1º Semestre de 2023

rescisão, que o art. 828 confere ao credor commerciante, não pertencem ao Juizo Com-
mercial) (arts. 191 Codigo, § 3º Tit. unico Codigo).
Art. 14. Competem tambem á j urisdiccão commereial em razão das pessoas e dos actos:
§ 1º As questões sobre ajustes, soldadas, direitos, obrigações e responsabilidade dos
officiaes da tripolação e gente do mar.
§ 2º As questões de ajuste, salarios. direitos, obrigações, responsabilidade dos agentes
auxiliares do commercio, salva a jurisdicção administrativa do Tribunal do Commercio.
§ 3º Os actos de commercio praticados por estrangeiros residentes no Brazil (art. 30 Codigo).
Art. 15. Os commerciantes ou são matriculados ou não (art. 909 Codigo), mas só aos
matriculados competem as prerogativas e proteccão que o Codigo liberalisa a favor do
commercio (arts. 4º, 21 e seguintes, 310 e 908 Codigo).
Art. 16. Na arrecadação, administração e distribuicão dos bens dos negociantes que não
forem matriculados, nos casos de fallencia, se guardará no Juizo Commereial quanto se
acha determinado pelo Codigo para as quebra.s dos commerciantes, na parte que fôr
applicavel (art. 909 Codigo).
Art. 17. Suscitando-se questão no Juizo Commercial sobre a profissão habitual do
commerciante matriculado (art. 4º Codigo), será a contestação decidida á vista de
attestados do Tribunal do Commercio sob informação da Praça, e contra esse attestado é
inadmisivel qualquer prova ou contestação.
Art. 18. Contestando-se a qualidade do commerciante não matriculado, será a contestação
decidida conforme as regras geraes de prova.
Art. 19. Considera-se mercancia:
§ 1º A compra e venda ou troca de effeitos moveis ou semoventes para os vender por grosso
ou a retalho, na mesma especie ou manufacturados, ou para alugar o seu uso.
§ 2º As operações de cambio, banco e corretagem.
§ 3° As emprezas de fabricas; de com missões ; de depositos ; de expedição, consignação
e transporte de mercadorias; de espectaculos publicos. (Vide Decreto nº 1.102, de 1903)
§ 4.° Os seguros, fretamentos, risco, e quaesquer contratos relativos ao cornmercio
maritimo.
§ 5. ° A armação e expediç1to de navios.
CAPITULO IV
DA JURISDlCÇÃO COMMERCIAL EM RAZÃO SÓMENTE DOS ACTOS
Art. 20. Serão tambem julgados em conformidade das disposições do Codigo, e pela mesma
fórma de processo, ainda que não intervenha pessoa commerciante:

3
DCO 221 - Fundamentos e Princípios do Direito Empresarial

Professor Doutor Rodrigo O. Broglia Mendes

1º Semestre de 2023

§ 1º As questões entre particulares sobre titulos de divida publica e outros quaesquer papeis
de credito do Governo (art. 19 § 1º Tit. unico Codigo).
§ 2.° As questões de companhias e sociedades, qualquer que seja à sua natureza e objecto
(art. 19 § 2º Tit. unico Codigo).
§ 3." As questões que derivarem de contratos de locação comprehendidos na disposição
do Tit. X Parte I do Codigo, com excepção sómente das que forem relativas á locação de
predios rusticos e urbanos (art. 19 § 3° Tit. unico Codigo).
§ 4º As questões relativas a letras de cambio, e de terra, seguros, risco, e fretamentos.”

Lei n. 11.101/2005 (Lei de Recuperação de Empresas e Falência):

“Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência


do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como
devedor.
Art. 2º Esta Lei não se aplica a:
I – empresa pública e sociedade de economia mista;
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de
previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde,
sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente
equiparadas às anteriores.”

Você também pode gostar