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Direito Comercial II- Prof.

Menezes Cordeiro 2022/2023

I – Introdução

§ O Direito das Sociedades regula as sociedades e as questões conexas.


- Sociedades civis: podem assumir forma civil, designadas de sociedades civis
puras ou sociedades civis sob forma civil (artigos 980.º e seguintes CC).
- Sociedades comerciais: são as designadas sociedades civis sob forma
comercial, reguladas pelo CSC.

§ As sociedades civis puras não desfrutam de uma definição legal. Apenas


ocorre, no artigo 980.º CC, uma noção de contrato de sociedade:
“Aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com bens
ou serviços para o exercício em comum de certa atividade económica, que não
seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa
atividade.”
- O artigo 980.º CC integra-se na vertente da cooperação, em que a sociedade
corresponde a uma atuação concertada de várias pessoas.
- Têm um objeto que não é comercial/não praticam atos de comércio.

§ As sociedades civis sob forma comercial são definidas no artigo 1.º/2 CSC
(princípio da tipicidade) como sendo:
“Aquelas que tenham por objeto a prática de atos de comércio e adotem
o tipo de sociedade em nome coletivo, de sociedade por quotas, de sociedade
anónima, de sociedade em comandita simples ou de sociedade em comandita
por ações.”
- Da definição citada, é possível identificar dois elementos:
Elemento material: deriva da prática de atos de comércio;
Elemento formal: emerge da adoção de um dos cinco tipos societários.
- Têm um objeto que é comercial/praticam atos de comércio.

NOTA: a adoção de um dos cinco tipos societários é determinante, visto que a


mesma irá reger-se pelo Direito das sociedades (artigo 1.º/4)

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§ O artigo 1.º/2 CSC enumera 4 tipos de sociedades:


Sociedade em nome coletivo;
Sociedade por quotas: sociedades de pessoas;
Sociedade anónima: sociedades de capitais (elemento patrimonial);
Sociedade em comandita.
Sócios comanditados: respondem pelas dividas;
Sócios comanditários: não respondem pelas dividas.

É necessário proceder à seguinte distinção:

1. Responsabilidade externa dos sócios perante os credores


- Sociedades de responsabilidade limitada: os sócios não respondem por dívidas,
são os bens da sociedade que respondem;
- Sociedades de responsabilidade ilimitada: os sócios respondem pelas dívidas,
a título subsidiário, uma vez que usufruem do benefício da excussão prévia.

2. Responsabilidade da responsabilidade interna dos sócios


- Artigo 20.º CSC: os sócios têm a obrigação de responder pelas perdas.

3. Participações sociais e a sua transmissão

4. Organização
- Órgão de administração: gere e representa a sociedade.
- Assembleia geral: local onde se reúnem os sócios.
- Órgão de fiscalização: ROC (revisão oficial de contas).

5. Número mínimo de sócios

6. Capital social

Como é que os sócios entram na sociedade?


- Aquisição originária: o sócio dá entrada na sociedade para que esta se forme
- Aquisição derivada: alguém que era socio vende a sua parte a outra pessoa.

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Capítulo I: A Evolução Histórica das Sociedades

§ Das Origens às pré-codificações


- As sociedades atuais surgiram no ponto de encontro de 3 poderosos institutos:
Contrato romano de sociedade ou societas;
Personalidade coletiva;
Companhias coloniais dos séculos XVII e XVIII.

§ As codificações oitocentistas
- O Código Napoleão de 1804 veio reger o contrato de sociedade, definindo-o
como “um contrato pelo qual duas ou mais pessoas acordam pôr qualquer coisa
em comum, tendo em vista repartir o benefício que, daí, possa resultar”.
- Código de Comércio francês de 1807 tratou diversos tipos de sociedades.
- Código de Comércio espanhol de 1829 é um diploma extenso.

§ O Século XX e a democratização do capital


- Questionava-se a autonomia do Direito Comercial que regia as sociedades: foi
dada resposta negativa, sendo que a matéria das sociedades comerciais passou
para os Códigos Civis.
- Noutras experiências, o problema resolveu-se com a retirada do Direito das
sociedades dos códigos comerciais, através de leis avulsas.
- A lei alemã de 1937 procurou regulamentar as sociedades anónimas, enquanto
empresas.

Capítulo II: A experiência portuguesa

§ Ordenações e reformas pombalinas


- As Ordenações equiparavam as sociedades às companhias.

§ O Código Ferreira Borges


- A sociedade diz-se anónima por não existir sob um nome social, nem ser
designada pelo nome de algum dos sócios.

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- Lei de 22 de junho de 1867: lei das sociedades anónimas. Verificou-se o


abandono do esquema do reconhecimento administrativo prévio, a favor do
automático.
- Código de Seabra: primeira codificação da sociedade civil sob forma civil.

§ Código Veiga Beirão/Código Comercial


- Elaborou o regime da administração das sociedades anónimas.

§ Os Séculos XX e XXI
- Fiscalização: pretendia-se admitir, no caso de crise, a intervenção do
Governo, através de comissários especiais; incidia sobre a escrita e outros
documentos;
- Codificação: alterações legislativas;
- Mobiliarização: traduz o tratamento das sociedades comerciais, enquanto
entidades emissoras de valores mobiliários;
- Europeização: as sociedades são os grandes operadores económicos, sendo o
interesse da União;
- Anglo-saxonização: espaço ocidental.

Capítulo III: Fontes internas do Direito das Sociedades

§ A preparação do Código das Sociedades Comerciais


- Existiram vários antecedentes até à aprovação do CSC.

§ O Código das Sociedades Comerciais: sistema, fontes e alterações


- O DL n.º 262/86, de 2 de setembro aprovou o CSC.

§ Erros e retificações

§ Diplomas extravagantes e complementares


- As sociedades comerciais são reguladas pelo CSC e por legislação
complementar.

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Capítulo IV – Direito europeu e Direito internacional das sociedades

§ Direito europeu das sociedades


- Artigo 50.º/2: o Conselho e a Comissão devem exercer as funções que lhe são
confiadas.
- Artigo 54.º: as sociedades são equiparadas às pessoas singulares, quando
forem constituídas em conformidade com a legislação de um EM e que tenham
a sua sede social.
- Para executar os objetivos apontados, os órgãos comunitários dispõem de 3
tipos de instrumentos:
Diretrizes que carecem de transposição para serem aplicadas no âmbito
de cada Estado;
Regulamentos de aplicação imediata;
Convénios internacionais, diretamente acordados pelos Estados.

§ Direito internacional das sociedades


- Aplica-se às sociedades comerciais que tenham elementos de conexão com
mais de um ordenamento jurídico.
- Mercado de capitais: fator de internacionalização das sociedades comerciais.

Capítulo V – O Direito das sociedades: hoje

§ A grande reforma de 2006 e as reformas subsequentes


- O DL n.º 76-A/2006, de 29 de março alterou 31 diplomas, entre eles o CSC.
- Reforma de 2007.
- Reformas de 2009 a 2019.

§ As sociedades na enciclopédia jurídica


- O Direito das sociedades constitui uma disciplina autónoma.

§ As sociedades nos nossos dias


- As sociedades exprimem a cobertura jurídica para a criação de riqueza e de
emprego.

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Parte I: Das Sociedades em Geral

Capítulo I – Dogmática básica das sociedades

Secção I: Generalidades, elementos e princípios

§ Sistema de fontes do CSC


- Direito imperativo:
Regras específicas sobre a sociedade anónima em causa;
Regras contidas no título IV do CSC sobre sociedades anónimas;
Regras contidas no título I desse mesmo Código;
Regras do CSC aplicáveis aos casos análogos.

§ Princípios gerais das sociedades


- Princípio da autonomia privada: o intérprete-aplicador deve ter presente
que se movimenta numa área de liberdade e de igualdade.
- Princípio da propriedade privada: está ligada à autonomia privada.
- Princípio da boa fé: exprime os valores fundamentais da ordem jurídica.
- Princípio da tutela da confiança: opera em defesa das representações
legítimas. Apenas a confiança que os particulares tenham na sua consistência e
na funcionalidade das normas que a rodeiam permite a operacionalidade do
sistema.
- Deveres de lealdade: entre sócios e entre estes e os administradores.
- Princípio da igualdade ou do igual tratamento: proibição de pactos leoninos
(artigo 22.º/3); participação nos lucros e perdas de acordo com a participação
no capital (artigo 22.º/1).
- Controlo do Direito sobre a economia: concorrência e tutela das minorias.
- Modo coletivo: autonomia funcional e patrimonial (as sociedades prosseguem
fins próprios e detêm objetos formalmente seus; as sociedades dispõem de um
património próprio); limitação da responsabilidade (os sócios não respondem
direta e imediatamente pelas dívidas sociais, artigos 997.º/2 CC e 175.º/1 CSC).
- Publicidade (concretiza-se através do registo comercial e das publicações
obrigatórias) e transparência (opera no plano da informação e da supervisão).

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- Prevenção de conflitos de interesses: corresponde às situações nas quais as


vantagens dos administradores e outros responsáveis das sociedades sejam
opostos. Medidas adotadas --> proibições de concorrência dos administradores
às sociedades respetivas e regras restritivas referentes aos negócios que eles
celebram com elas.

§ Elementos das sociedades


- Segue-se a noção do artigo 980.º CC, visto que o CSC não apresenta uma
definição de sociedade comercial.
- Seguindo a enumeração tradicional, as pessoas coletivas compreenderiam os
seguintes elementos:
Pessoal: traduz o fator humano subjacente à pessoa considerada;
Patrimonial: reporta-se ao conjunto de bens que a sirvam;
Teleológico: exprime a finalidade do ente coletivo;
Formal: corresponde à concreta configuração ou organização revestida
pela entidade em jogo.
- O artigo 980.º CC prevê a intervenção de “duas ou mais pessoas”. A sociedade
seria, assim, uma pessoa coletiva de base associativa, à qual corresponderia
uma pluralidade de sócios.
Artigo 7.º/2 CSC: exige que o número mínimo de partes de um contrato
de sociedade seja dois;
Artigo 9.º/1/a) CSC: exige-se o nome de todos os sócios fundadores.

Artigo 142.º CSC


- Mercê de eventos naturais ou de fenómenos jurídicos, uma sociedade vai
perdendo os seus sócios, ao ponto de ficar apenas com um (sociedade
unipessoal).
- Nesta situação, a lei concede um prazo para que a situação de pluralidade
fosse reconstituída, de modo a que não ocorra a imediata dissolução da
sociedade.

E sociedade sem sócios?


- Parâmetros subjacentes das sociedades: cooperação e organização.

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- No Direito Português, o problema só se colocaria em face das sociedades por


quotas.
- Paulo Olavo Cunha: esta situação não é viável, uma vez que os sócios devem
conservar, pelo menos, uma quota do valor mínimo exigível (1€).
- Coutinho de Abreu: esta situação é transitoriamente possível; pelo artigo
142.º/1/a), haveria o prazo de um ano para a sociedade recuperar o número
mínimo de sócios exigido por lei.
- Menezes Cordeiro: nas sociedades por quotas não se exige um número mínimo
de sócios. Se, por algum motivo, a sociedade perder todos os seus sócios, não
há qualquer extinção automática. Assim, deve-se aplicar os estatutos.

§ O património
- Os sócios estão obrigados a contribuir com bens ou com serviços para o
exercício em comum de certa atividade que não seja de mera fruição.
- Artigo 6.º/1 CSC: as sociedades têm a capacidade necessária para prosseguir
o seu fim.

§ O objeto
- Segundo o artigo 980.º CC, a sociedade civil pura visa o “exercício comum de
certa atividade económica”. Logo, a sociedade visa obter lucros.
- Artigo 9.º/1/d) CSC: o objeto da sociedade deve constar obrigatoriamente dos
seus estatutos.
- Artigo 1.º/2 CSC: o objeto das sociedades deve traduzir-se na prática de atos
de comércio.

§ Elemento formal e tipicidade


- A sociedade comercial deve assumir uma das formas previstas no CSC.
- A sociedade civil rege-se pelo CC.
- As sociedades comerciais estão vinculadas a uma estrutura interna com órgãos
diferenciais e esquemas de representação.
- Finalidades da tipicidade societária: conhecimento dos entes coletivos
atuantes; proteção dos sócios; tutela dos credores; defesa das relações entre
os intervenientes.

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Secção II: A Doutrina das Pessoas Coletivas

§ A Personalidade Coletiva
- Savigny (teoria da ficção): “pessoa” é todo o sujeito de relações jurídicas que
não corresponda a uma “pessoa natural”, mas que seja tratado como pessoa,
através de uma ficção teórica.
- Von Gierke (teoria orgânica): concluiu pela efetiva existência, na sociedade,
de entidades coletivas que não se podem reduzir à soma dos indivíduos que as
componham. Entendeu também que a pessoa coletiva é uma pessoa efetiva e
completa.
- Realismo jurídico: as pessoas coletivas existem por via jurídica.
- Em Portugal:
Manuel de Andrade + Mota Pinto: a pessoa coletiva era um produto da
ordem jurídica ou uma realidade do mundo jurídico, no qual o elemento
jurídico é o essencial;
José Dias Marques: define a pessoa como mera suscetibilidade de direitos
e obrigações;
Paulo Cunha + Castro Mendes: ficaram próximos de um realismo jurídico
tradicional;
Coutinho de Abreu: tentou superar o “realismo” mais tradicional;
Menezes Cordeiro: em Direito, quando se fala na personalidade coletiva,
pretende-se exprimir um regime jurídico-positivo. A pessoa coletiva é um
determinado regime a aplicar aos seres humanos implicados. Estes podem ser
destinatários diretos ou indiretos de normas.
Quando nos referimos, em Direito, a uma “pessoa”, consideramos sempre a
presença de uma entidade destinatária de normas jurídicas, capaz de ser titular
de direitos subjetivos ou de se encontrar adstrita a obrigações.

§ A Ordenação das Pessoas Coletivas


- As pessoas coletivas obedecem a regras que ditam a sua conformação interna,
o seu modo de atuar e o universo da sua atuação.
- Pessoas coletivas públicas e privadas:

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Teoria do fim ou do interesse prosseguido: as pessoas coletivas públicas


prosseguiriam fins/interesses públicos; as pessoas coletivas privadas
prosseguem interesses privados;
Teoria da titularidade de poderes de autoridade: as pessoas coletivas
públicas teriam ius imperii, podendo praticar atos de autoridade; as pessoas
coletivas privadas movem no âmbito igualitário do Direito Privado;
Teoria da integração: as pessoas coletivas públicas integrar-se-iam na
organização do Estado; as pessoas coletivas privadas não;
Teoria da iniciativa: as pessoas coletivas públicas seriam criadas pelo
Estado; as pessoas coletivas privadas provêm de iniciativa privada;
Teoria do regime: as pessoas coletivas públicas estão subordinadas ao
Direito Público; as pessoas coletivas privadas estão subordinadas ao Direito
Privado;
Teorias negativistas ou agnósticas: não existe uma decisão unânime.
- Pessoas coletivas associativas e fundacionais
Na pessoa coletiva associativa, o substrato é constituído por uma
agremiação de pessoas que juntam os seus esforços por um objetivo comum.
Na pessoa coletiva fundacional, o substrato redunda num valor ou num
acervo de bens que potenciará a atuação da pessoa considerada.
- Pessoas coletivas com e sem fins lucrativos
Sociedade: pessoa coletiva com fins lucrativos.
Fundação: pessoa coletiva sem fins lucrativos.
- Associações, fundações e sociedades
As associações dão corpo a uma manifestação básica do princípio da
liberdade de associação.
As fundações têm o sentido de entregas em vida ou de deixas por morte
do interessado.
As sociedades correspondem ao produto da celebração de contratos de
sociedade, podendo apresentar formas muito multifacetadas.
- Pessoas coletivas comuns e especiais
A pessoa coletiva comum rege-se pelo regime mais genérico.
A pessoa coletiva especial depende de regras diferenciadas.

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§ Figuras Afins das Pessoas Coletivas


- Pessoas rudimentares: a lei recusa a titularidade de direitos civis, admitindo-
lhe direitos processuais.
- Personalidade económica: traduz a aptidão que determinadas entidades
tenham de ser destinatárias de regras de Direito da economia.
- Associações não reconhecidas, comissões, sociedades rudimentares e
sociedades irregulares.
- Pessoas coletivas em formação e em extinção.
- Mão comum (2 ou mais pessoas detêm um direito) e a comunhão simples (2
ou mais pessoas são titulares de direitos sobre o mesmo objeto).

Secção III: As Sociedades Civis Puras

- Exprimem uma relação duradoura obrigacional entre as pessoas que as


componham.
- São reguladas pelo Código Civil.
- O artigo 980.º define contrato de sociedade. Esta definição deixa transparecer
um contrato oneroso, embora as prestações não sejam recíprocas.
- É possível identificar três elementos:
Contribuições das partes;
Exercício em comum;
O fim da repartição dos lucros.
- Contribuições das partes: a lei admite que devem consistir em bens ou
serviços. Ou seja, a contribuição poderá consistir numa qualquer vantagem de
tipo patrimonial.
- “Exercício comum” = exercício por conta de todos.
- O artigo 980.º apresenta a sociedade civil pura como um contrato.
- Forma: não está sujeito a forma especial.
- Função: representam a colaboração entre 2 ou mais pessoas para a
prossecução de um fim económico comum.

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Secção IV: As sociedades como organização

§ Personalidade jurídica das sociedades


- Para Guilherme Moreira, a personalidade só surgiria quando se verificasse uma
total independência patrimonial em relação aos sócios ou associados. Assim, as
sociedades anónimas seriam pessoas coletivas, mas as sociedades em nome
coletivo e as sociedades civis puras não o seriam.
- José Tavares: as sociedades civis puras teriam uma verdadeira personalidade
jurídica.
- Cunha Gonçalves nega a personalidade coletiva das sociedades civis puras.
- Com a publicação do CC de 1966, o legislador não resolveu o problema e
remeteu-o para a doutrina.
Contra a personalidade coletiva das sociedades civis puras: Pires de
Lima, Antunes Varela e Mota Pinto.
A favor da personalidade coletiva das sociedades civis puras: Marcello
Caetano e Pedro Pais de Vasconcelos.
- O Professor Menezes Cordeiro entende que, quando a lei, de modo expresso e
eficaz, reconheça personalidade coletiva a uma entidade está a determinar a
aplicação de certas normas. As pessoas coletivas devem adotar figurinos
normalizados, sujeitando-o a uma certa publicidade.

- O artigo 5.º CSC não suscita dúvidas: as sociedades gozam de personalidade


jurídica a partir da data do registo definitivo do ato constituinte.
- Anteriormente, o artigo 108.º Código Comercial dispunha que:
“As sociedades comerciais representam para com terceiros uma
individualidade jurídica diferente da dos associados”.
- Generalidade da doutrina: por via deste preceito, todas as sociedades
comerciais eram dotadas de personalidade jurídica.
- Guilherme Moreira discorda: a referência a “para com terceiros” era
limitativa, traduzindo apenas a autonomia patrimonial. Acaba por negar a
personalidade jurídica às sociedades em nome coletivo e às sociedades civis
puras.

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A personalização tem um triplo sentido:


- Impedir os credores individuais do sócio de responsabilizar a sua quota nos
bens sociais, prejudicando a sociedade;
- Impedir o sócio de transferir essa mesma quota de bens para terceiros;
- Assegurar aos credores da sociedade uma preferência sobre os bens sociais,
no confronto com os credores individuais dos sócios.

A Doutrina questiona-se se existe a chamada “personalidade jurídica


rudimentar” que corresponde à personalidade jurídica parcelar.
- O Professor Menezes Cordeiro entende que sim, visto que o artigo 36.º CSC
atribui responsabilidade à pré-sociedade: tratam-se de sociedades irregulares,
uma vez que o seu processo de constituição ainda não está completo, mas já se
encontra a funcionar.
- Assim, para o Professor Menezes Cordeiro, o “património social” da pré-
sociedade já responde pelas dívidas sociais.

§ Capacidade de gozo das sociedades


- Relativamente às pessoas coletivas, uma orientação pretende que a
capacidade das mesmas seja limitada pelo princípio da especialidade: apenas
abrange os direitos e obrigações necessários ou convenientes à prossecução dos
seus fins, segundo o artigo 6.º/1 CSC.
- Tendo em conta uma via mais atual, não há nenhum limite estrutural: nas
margens legais, podem os interessados eleger os fins que entenderem, os quais
podem ser prosseguidos por todos os meios lícitos.
- O princípio da especialidade como elemento limitador da capacidade jurídica
das pessoas coletivas tende a ser abandonado.

Restrições à capacidade de gozo dos entes coletivos


- Atos gratuitos: poderiam ser contrários aos fins da pessoa coletiva.
- Prestação de garantias a terceiros: poderia surgir como um “favor” e como
um ato gratuito que iria depauperar o património do garante, à custa dos sócios
e dos credores. O artigo 6.º/3 CSC proíbe as sociedades de prestar garantias.

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- Prestações assistenciais: em regra, a sociedade comum não está apetrechada


nesse domínio. No entanto, o artigo 402.º/1 permite que o contrato de
sociedade anónima possa estabelecer um regime de reforma por velhice ou
invalidez dos administradores.

Limitações específicas à capacidade de gozo das sociedades (artigo 6.º/1)


- Limitações ditadas pela natureza das coisas: situações jurídicas familiares ou
sucessórias; situações de personalidade; situações patrimoniais;
- Limitações legais: a inobservância conduz à nulidade do ato por violação da
lei expressa (artigo 294.º) ou por ilicitude (artigo 280.º/1);
- Limitações estatutárias: são regras de conduta interna;
- Limitações deliberativas: são limitações das deliberações internas.

Exercício de atividades comerciais por não sociedades (associações e


fundações)
- O fundamento está na sua capacidade jurídica tendencialmente plena:
abrange tudo o que for necessário e conveniente para a prossecução dos seus
fins.

§ Os “representantes” das sociedades


- As sociedades comerciais são representadas pelos respetivos administradores
(artigo 996.º/1 CC).
- Estamos perante uma representação orgânica.
- Para se desencadearem os efeitos próprios da representação, basta que o
administrador pratique um ato invocando essa sua qualidade e o estar a agir em
nome e por conta da sociedade.

§ Responsabilidade das pessoas coletivas


- Artigo 166.º CC + Artigo 998.º/1 CC: “as pessoas coletivas respondem
civilmente pelos atos ou omissões dos seus representantes”.
- Artigo 6.º/5 CSC: “a sociedade responde civilmente pelos atos ou omissões de
quem legalmente a represente”.

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- Responsabilidade contratual: a pessoa coletiva podia não cumprir as suas


obrigações.
- Responsabilidade delitual/aquiliana: responsabilidade do comitente, prevista
no artigo 500.º CC.

§ Figuras afins à sociedade


- Associações: assentam em agremiações de pessoas singulares, tendo uma base
coletiva. Têm fins lucrativos.
- Fundações: são pessoas coletivas de base patrimonial, assentando em núcleos
de direitos personalizados.
- Contratos de organização: são contratos comerciais que visam congregar os
esforços de vários interessados, com vista à obtenção de resultados ou à
prossecução de fins comuns.

Secção V: As sociedades e as exigências dogmáticas do sistema

§ Desconsideração da personalidade das sociedades


- O levantamento da personalidade trata-se de um instituto que sistematiza e
explica diversas soluções concretas, estabelecidas para resolver problemas
reais, postos pela personalidade coletiva. No fundo, atribui situações jurídicas
a quem materialmente pertença, ainda que formalmente sejam da titularidade
de outros sujeitos.
- Confusão de esferas jurídicas: verifica-se quando, por inobservância de
certas regras societárias, não fique clara a separação entre o património da
sociedade e o do sócio ou dos sócios. Reportam-se às sociedades unipessoais.
- Subcapitalização: verifica-se sempre que uma sociedade tenha sido
constituída com um capital insuficiente. A insuficiência é aferida em função do
seu próprio objeto ou da sua atuação.
Subcapitalização nominal: a sociedade tem um capital formalmente
insuficiente para o objeto ou para os atos a que se destina;
Subcapitalização material: há uma insuficiência de fundos próprios ou
alheios.

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- Atentado a terceiros: verifica-se sempre que a personalidade coletiva seja


usada, de modo ilícito ou abusivo, para os prejudicar.
- Abuso da personalidade: é uma situação de abuso do direito ou de exercício
inadmissível de posições jurídicas, verificada a propósito da atuação do visado,
através de uma pessoa coletiva.

Teoria subjetiva: a autonomia da pessoa coletiva deveria ser afastada quando


houvesse um abuso da sua forma jurídica, com a vista a fins não permitidos. Na
determinação dos “fins” teríamos que lidar com a situação objetiva e com a
intenção do agente (teria que se verificar um abuso consciente da pessoa
coletiva).
Teoria objetiva: resulta da rejeição de elementos subjetivos para fazer atuar o
levantamento.
Teoria da aplicação das normas: o levantamento traduzia uma questão de
aplicação das diversas normas jurídicas.

§ O princípio da lealdade
- Existe lealdade na atuação de quem aja de acordo com uma bitola correta e
previsível. Assim, perante uma pessoa leal, o interessado dispensa a sua
confiança.
- Daqui resultam os seguintes vetores:
A preferência: confrontado com várias hipóteses, o interessado será
levado a acolher a situação encabeçada por quem se afigure leal;
A entrega: mercê da confiança depositada, o beneficiário irá baixar as
suas defesas naturais e deixará de tomar precauções que, de outro modo,
seriam encaradas;
O investimento: o beneficiário confia à pessoa leal os seus próprios
valores, crente de que eles serão devidamente tratados.
- A relação de lealdade envolve uma relação de confiança.
- A lealdade é composta por dois elementos: a previsibilidade da conduta e a
correção da conduta.
- No direito privado encontramos 4 áreas preferenciais de aplicação da
lealdade:

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Lealdade como dever acessório: acompanha as obrigações (artigo


762.º/2);
Lealdade como especial conformação de prestações de serviços:
modelam a prestação principal;
Lealdade como dever próprio de uma obrigação sem dever principal de
prestar: boa fé (artigo 762.º/2);
Lealdade como configuração das atuações requeridas a quem gira um
negócio alheio: a lealdade tem um conteúdo fiduciário.
- No campo das sociedades, a lealdade toma as seguintes configurações:
Lealdade dos acionistas entre si: da maioria com a minoria e vice-versa;
Lealdade dos acionistas para com a sociedade;
Lealdade dos administradores para com a sociedade;
Lealdade dos administradores para com os acionistas.
- Campos de aplicação:
Lealdade exigível aos sócios, seja nas relações entre si, seja com
referência à própria sociedade: inscreve-se no seu próprio status enquanto
sócios. Este status exprime uma série de direitos e de deveres, ínsitos na ideia
de participação social;
Lealdade da sociedade para com os sócios: implica um alargamento da
competência da assembleia geral e a adoção de certas deliberações por maioria
qualificada;
Lealdade requerida aos próprios órgãos societários: tem manifestação
nos deveres de lealdade dos administradores (artigo 64.º/1/b CSC).
- A base destas manifestações de lealdade radicava na boa fé.

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Capítulo II – O contrato de sociedade

Secção I- Celebração, conteúdo e capital social

§ O contrato de sociedade
- É um contrato nominado e típico.
- Vem regulado na lei civil (artigo 980.º CC) e na lei comercial (artigos 7.º e
seguintes CSC).
- É um negócio jurídico, visto que é marcado pela liberdade de celebração e
pela liberdade de estipulação.
- As partes poderão escolher um tipo societário previsto no artigo 1.º/2 CSC.
- O artigo 7.º/2 determina que o número mínimo de sócios de uma sociedade é
dois.

§ Constituição de uma sociedade entre cônjuges


- Segundo o pensamento tradicional, se os cônjuges constituíssem uma
sociedade para a qual contribuíssem com os seus bens, ficariam em causa:
O regime de bens estipulado para o casamento: as regras próprias desse
regime seriam substituídas pelas do funcionamento da sociedade;
A “chefia” da família, assegurada pelo marido, daria lugar aos esquemas
de formação da vontade social, mais igualitários. Logo, inadmissíveis;
O sistema de responsabilidade dos bens dos cônjuges ou do casal, pelas
dívidas de cada um deles ou de ambos: esse sistema seria substituído pelo
regime do tipo social adotado.
- Com o CC de 1966, entendeu-se que a proibição do artigo 1714.º/2 era
absoluta: ficavam vedadas as sociedades entre cônjuges, independentemente
de se mostrar que elas buliam com o regime de bens.
- Procurando resolver as dúvidas, o artigo 8.º/1 CSC veio dispor:
“É permitida a constituição de sociedades entre cônjuges, bem como a
participação destes em sociedade, desde que só um deles assuma a
responsabilidade ilimitada.”

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§ Os menores
- Podem ser partes em contratos de sociedade: poderão fazê-lo pessoal e
livremente sempre que a sociedade em vista esteja ao seu alcance, perante o
artigo 127.º CC.
- Os menores podem celebrar contratos de sociedade, através dos pais, como
representantes legais.
- Será necessária a autorização do tribunal: artigo 1889.º/1/d).

§ Forma do contrato de sociedade


- Contrato de sociedade (artigo 7.º/1): trata-se de um contrato formal, visto
que requer forma escrita com reconhecimento presencial das assinaturas dos
subscritores.
- Acordos parassociais (artigo 17.º): não contém qualquer exigência de forma.
Em regra, são celebrados por escrito.
- Aquisição de bens a acionistas por sociedades anónimas ou em comandita por
ações (artigo 29.º/4): deve ser reduzido a escrito.
- Alteração do contrato de sociedade (artigo 85.º/3): deve ser reduzido a
escrito.
- Fusão de sociedades (artigo 106.º): segue a forma exigida para a transmissão
dos bens das sociedades incorporadas.
- Dissolução de sociedade (artigo 145.º/1): não depende de forma especial,
quando tenha sido deliberada em assembleia geral.
- Contrato de subordinação (artigo 498.º): exige forma escrita.
- Na transmissão de partes sociais, a lei exige forma escrita:
Em nome coletivo: artigo 182.º/2;
Por quotas: artigo 228.º/1.

§ Natureza
- Diversa doutrina entende que não seria seguro que o “contrato de sociedade”
surgisse como um contrato. Porque: no contrato comum, existem duas
declarações de vontade das partes que são contrárias; no contrato de
sociedade, existem duas declarações de vontade das partes que são idênticas.

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- O Professor Menezes Cordeiro entende que o contrato de sociedade é


dispensável, visto que a sociedade pode constituir-se com um ato unilateral (ter
um único declarante).
- O Professor Menezes Cordeiro acrescenta que o próprio CSC prevê outros
modos de constituição das sociedades:
Constituição por fusão, cisão ou transformação: artigos 7.º/4 + 97.º e ss;
verifica-se que a nova sociedade resulta da transformação de uma sociedade
anterior;
Constituição de sociedade anónima com apelo a subscrição pública:
artigos 279.º e ss; a constituição deriva de contrato celebrado por 2 promotores
e pelos subscritores que entrem com bens diferentes, precedendo uma especial
deliberação da assembleia constitutiva;
Constituição originária de sociedade unipessoal por quotas: artigo 270.º-
A/1; existem claros negócios unilaterais;
Constituição originária de sociedades anónimas: artigo 488.º/1.
- Poderemos encontrar sociedades constituídas por:
DL do Governo, Lei da AR ou Diploma Regional: por exemplo, na
transformação de uma empresa pública em sociedade anónima;
Decisão judicial: por exemplo, pode ocorrer no domínio de planos de
insolvência.

§ Conteúdo
- Traduz a regulação jurídica por ele introduzida, no âmbito delimitado pelas
partes.
- O artigo 9.º/1 elenca quais é que devem ser os elementos do contrato de
sociedade.
- A ausência dos elementos necessários (artigo 9.º/1) conduziria à invalidade
do contrato, nos termos do artigo 42.º/1.

O Professor Menezes Cordeiro entende que o contrato de sociedade nunca


poderia ser considerado um contrato comum, visto que este contrato não é
eficaz inter partes. Através do registo, o contrato passa a produzir efeitos erga

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omens: perante os novos sócios, perante terceiros estranhos e perante credores


da sociedade.

§ A firma
- O artigo 10.º contém diversas regras relativas à firma.
- Artigo 10.º/2 e 3: a firma da sociedade pode ser constituída
Por nomes ou firmas de algum ou alguns sócios: firmas pessoais ou
subjetivas;
Por denominação particular, quando seja composta por designações
materiais, atinentes à atividade social (firmas materiais ou objetivas) ou por
designações de fantasia (firma de fantasia);
Por denominação particular e nome ou firma (ou nomes ou firmas),
simultaneamente (firmas mistas).
- A firma obedece aos seguintes princípios:
Autonomia privada: a escolha da firma compete ao interessado;
Obrigatoriedade e normalização: os comerciantes devem adotar certa
firma a qual dever ter expressão verbal, suscetível de comunicação oral e
escrita;
Verdade e exclusividade: quando tenha significado, deve retratar a
realidade a que se reporta ou não deve induzir em erro;
Estabilidade: a firma não muda com a alteração dos titulares do
estabelecimento;
Novidade: a firma deve ser distinta de outras já registadas ou
notoriamente conhecidas.
- Nas sociedades em nome coletivo, esta deve conter os elementos do artigo
177.º/1.
- Nas sociedades por quotas, esta deve conter os elementos do artigo 200.º/1.
- Nas sociedades anónimas, esta deve conter os elementos do artigo 275.º/1.

§ O objeto
- É constituído pelas atividades a desenvolver pelo ente coletivo.
- MC: o objeto da sociedade tem a ver com o funcionamento da própria
sociedade e com a responsabilidade dos titulares dos seus órgãos.

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- Artigo 11.º/1: deve ser corretamente redigido em língua portuguesa.


- Artigo 11.º/2: devem ser indicadas as atividades que os sócios se proponham
para a sociedade.

§ A sede
- É um dos elementos essenciais do contrato de sociedade (artigo 9.º/1/e).
- Artigo 12.º/1: a sede da sociedade deve ser estabelecida em local
concretamente definido.
- Na falta de indicação da sede, ocorre a nulidade (artigo 42.º/1/b), ainda que
sanável (artigo 42.º/2).
- Artigo 12.º/2: a administração pode deslocar a sede da sociedade dentro do
território nacional, desde que se altere os estatutos.
- Artigo 13.º/1: a sociedade pode criar formas legais de representação.

§ O capital social
- Artigo 9.º/1/f): nas sociedades em nome coletivo, o capital social não é um
elemento essencial do contrato de sociedade.
- O capital social equivale ao conjunto das entradas a que os diversos sócios se
obrigaram ou irão obrigar.
- Capital subscrito (as pessoas interessadas já estão vinculadas às inerentes
entradas). Capital a subscrever (as pessoas interessadas ainda não se
vincularam às inerentes entradas)
- Capital realizado (já foram realizadas as entregas à sociedade dos valores que
ele postule). Capital não realizado (ainda não foram realizadas as entregas à
sociedade dos valores que ele postule).
- O capital exprime uma cifra ideal que representa as entradas estatutárias.

§ A duração
- A sociedade dura por tempo indeterminado (artigo 15.º/1).
- Artigo 15.º/2: as partes devem fixar a duração determinada para a sociedade.

§ Artigo 16.º: vantagens, retribuições e indemnizações

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Secção II – Sociedades em formação e sociedades irregulares

§ O processo de formação de sociedades


- As fases necessárias serão:
Contrato escrito com assinaturas presencialmente reconhecidas;
Registo;
Publicações obrigatórias.
- Os negócios eventuais são:
Acordos de princípios: correspondem à formalização de negociações,
visando estabilizar os patamares de consenso alcançados;
Promessa de sociedade: está sujeita a simples forma escrita;
Negócios instrumentais preparatórios: promessas de subscrição de certa
percentagem de capital ou de todo o remanescente;
Acordo de subscrição pública: o contrato define o papel e as obrigações
de cada um dos intervenientes;
Acordo destinado a fazer funcionar a sociedade antes do registo
definitivo: sociedades irregulares.

§ A boa fé in contrahendo
- Respeitar o artigo 227.º/1 CC.

§ Pré-sociedades
- Estão reguladas nos artigos 36.º a 41.º.
- Os sócios podem, antes de completado o processo de constituição de uma
sociedade, iniciar a atividade visada por esta.
- Estão em funcionamento, antes de estarem completas pelo registo.

§ Sociedade irregular
- O CSC não consagra uma noção legal.
- Por isso, a doutrina e a jurisprudência usam esta expressão para cobrir:
A sociedade organizada e posta a funcionar independentemente de as
partes terem formalizado qualquer contrato de sociedade;
A sociedade formalizada por escritura publica, mas ainda não registada;

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A sociedade já formalizada, mas cujo contrato seja inválido.


- O Professor Menezes Cordeiro entende que a expressão “sociedade irregular”
será utilizada para os casos em que haja incompletude do processo, por falta
da própria escritura ou por ausência de registo.
- Existem duas situações que se reconduzem às sociedades irregulares:
A não conclusão do processo formativo, o qual pressupõe um acordo
solene e o registo definitivo;
A efetiva presença de uma organização societária em funcionamento,
com relações atuantes.

Artigo 36.º/1: prevê uma mera situação de sociedade material, sem a cobertura
de qualquer acordo entre as participantes.
Artigo 36.º/2: prefigura já um acordo tendente à constituição de uma sociedade
comercial, mas sem que se tenha celebrado o contrato escrito.

§ Sociedades materiais
- Situações que, no campo da materialidade, correspondem a contribuições de
bens ou serviços, feitas por duas ou mais pessoas, para o exercício em comum
de certa atividade económica que transcenda a mera fruição, com o fim de
repartição dos lucros daí resultantes.

§ Sociedades aparentes
- Caracteriza-se por não ter, na origem, qualquer contrato ou acordo societário.
- Existe uma mera organização societária.
- Artigo 36.º/1: se dois ou mais indivíduos criarem a falsa aparência de que
existe entre eles um contrato de sociedade, estes responderão solidária e
ilimitadamente pelas obrigações contraídas.
- Artigo 36.º/2: o Professor Menezes Cordeiro critica fortemente este artigo.
Entende que é necessário ter em conta a seguinte distinção:
Existe uma aparência total de sociedade, em que os responsáveis não
têm intenção de celebrar um contrato: haveria uma responsabilidade solidária
entre os participantes;

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Existe uma situação em que tal intenção já existiria: aplicam-se as regras


das sociedades civis.

§ Pré-sociedade antes do contrato


- Está prevista no artigo 36.º/2.
- Acordo = acordo simples e incipiente.
- Não se trata de uma sociedade comercial porque não está prevista no artigo
1.º/2 CSC.

§ Pré-sociedade depois do contrato e antes do registo


- Verifica-se a falta de personalidade jurídica (artigo 5.º).

a. Relações internas
- Artigo 37.º: relações entre os sócios. Neste caso, são aplicáveis:
As regras previstas no próprio contrato e as legais;
A transmissão inter vivos de posições sociais e as modificações do
contrato social requerem sempre o consentimento unânime de todos.
- Artigos 38.º a 40.º: relações com terceiros

b. Relações externas nas sociedades de pessoas


- Sociedade em nome coletivo: respondem solidariamente todos eles (artigo
38.º/1);
- Sociedade em comandita simples (artigo 39.º): pelos negócios celebrados em
nome da sociedade, respondem todos eles pessoal e solidariamente; responde
o sócio comanditário que tenha consentido no início da atividade social, salvo
se provar que o credor tenha conhecia a sua qualidade;

c. Relações externas nas sociedades de capitais


- Sociedades por quotas, anónimas e em comandita por ações (artigo 40.º/1):
pelos negócios celebrados em seu nome respondem ilimitada e solidariamente
todos os que intervenham no negócio em representação da sociedade em causa,
bem como os sócios que o autorizem.

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- Os restantes sócios respondem até às importâncias das entradas a que se


obrigaram, acrescidas das importâncias que tenham recebido a título de lucros
ou de distribuição de reservas.

§ A capacidade
- Os dados legais são os seguintes:
Pode ser iniciada a atividade social antes do contrato, seguindo-se o
regime próprio das sociedades civis: artigo 36.º/2;
Podem ser realizados “negócios” por conta das sociedades em nome
coletivo: artigo 38.º/1;
Podem ser realizados “negócios” em nome das sociedades de capitais,
agindo, certas pessoas, “em representação delas”: artigo 40.º/1;
Estas últimas sociedades podem distribuir lucros e reservas: artigo
40.º/1.
- Em suma, as pré-sociedades dispõem de uma capacidade geral similar à que
compete às próprias sociedades definitivas.

§ A natureza da sociedade irregular


- Teoria da sociedade de facto: poderia verificar-se o surgimento de relações
de tipo contratual, mas sem que houvesse qualquer contrato ou qualquer
contrato válido.
- Teoria dos limites da nulidade: pretendia explicar a essência das sociedades
em contratos inválidos. Diz-nos que, pela natureza das coisas, as regras que
determinem a invalidade são radicais.
- Teoria da organização: contém uma relação interna (puramente obrigacional);
relação externa (de tipo organizatório).
- Posição adotada pelo Professor MC: a sociedade irregular por incompletude é
uma sociedade assente na vontade das partes.

§ Sociedades irregulares por invalidade


- O favor societatis exprime-se em sete vetores:
Na limitação dos fundamentos de nulidade;
Na introdução de prazos para invocação dessa nulidade;

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Na presença de esquemas destinados a sanar as invalidades;


Na delimitação da legitimidade para invocar a nulidade;
Na limitação dos efeitos da anulabilidade, perante as partes;
Numa certa inoponibilidade das invalidades a terceiros;
Na presença de um regime especial, no tocante à execução das
consequências da nulidade.

§ Efeitos da invalidade
- Estão consagrados no artigo 52.º.

Secção III – O Registo e as Publicações

§ O registo comercial
- Equivale a um conjunto de normas e princípios que regulam um sistema de
publicidade racionalizado e organizado pelo Estado, relativo a atos comerciais.
- Com a Reforma de 2006, verificou-se a supressão da competência territorial
das conservatórias, através da criação de uma base de dados que centraliza a
informação relativa a todas as entidades sujeitas a registo.
- Registo por transcrição: o conservador procede à extratação dos elementos
que definem a situação jurídica das entidades sujeitas a registo constantes dos
documentos apresentados.
- Registo por depósito: procede-se ao mero arquivamento de documentos que
titulam factos sujeitos a registo.

§ O processo de registo
- O pedido do registo é formulado verbalmente, quando efetuado em pessoa
por quem tenha legitimidade para o efeito.
- Nos restantes casos, é feito por escrito, em modelo adequado
- Destaca-se o papel da informática.

§ Princípios
- Princípio da instância: o registo efetua-se a pedido dos interessados.
- Princípio da obrigatoriedade: a inscrição de certos factos é imperativa.

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- Princípio da competência: o registo deve efetivar-se na conservatória cuja


circunscrição territorial o facto a inscrever tenha conexão relevante.
- Princípio da legalidade: artigo 47.º CRC.
- Princípio do trato sucessivo: não pode haver inscrições em desconformidade
com registos anteriores.

§ Efeitos do registo
- O registo comercial assenta na atividade de um serviço público expressamente
destinado a publicitar, junto do público interessado, a ocorrência de atos
comerciais.
- Efeito presuntivo: artigo 11.º CRC.
- Efeito de prevalência: artigo 12.º CRC.
- Efeito constitutivo: as leis impõem a ocorrência de um registo para que
determinados atos produzam todos os efeitos que se destinam a produzir.
- Efeito indutor de eficácia: manifesta-se em 2 proposições
Publicidade negativa: o ato sujeito a registo e o ato não registado não
produz os seus efeitos ou todos os seus efeitos;
Publicidade positiva: o ato indevida ou incorretamente registado pode
produzir efeitos, tal como emerja da aparência registal.
- Para o Professor Menezes Cordeiro, o artigo 5.º apresenta o efeito primordial.

§ Eficácia do registo
- Artigo 5.º: atribuição da personalidade jurídica e a existência como
sociedades.
- Determina-se eficazmente os sistemas de responsabilidade limitada.

§ Publicações obrigatórias: artigo 168.º/2

§ Constituição tradicional: através do contrato e registo, regulados pelo CSC e


do CRC
§ Constituição imediata: regulados pelo CSC e do CRC. Pode ocorrer nas
conservatórias do registo comercial ou online.
§ Empresas virtuais: dispensa um substrato organizacional material.

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Capítulo III – A situação jurídica dos sócios

Secção I – Conteúdo geral

§ Objetivos das sociedades


- Servir os interesses dos diversos sócios.
- Exprimir a ordenação jurídica de empresas.

§ Momento de adesão dos sócios à sociedade


- A qualidade de sócio é expressa pela titularidade de inerente posição:
Titularidade original: o sócio aderiu à sociedade no momento da
celebração do contrato constituído;
Titularidade adquirida: o interessado aderiu à sociedade em momento
posterior à celebração do contrato constituído.

§ Direitos e deveres dos sócios


- Encontram-se dispersos no CSC (ver a página 549).
- Os direitos especiais estão consagrados no artigo 24.º: são direitos de
“qualquer sócio”, inseridos no contrato de sociedade e que não podem ser
suprimidos ou coartados sem o consentimento do respetivo titular.
- Relativamente aos direitos especiais, como o CSC não consagra os tipos de
direitos que poderiam estar em causa, o Professor Menezes Cordeiro dá os
seguintes exemplos:
O direito de vincular uma sociedade por quotas, em juízo ou fora dele,
apenas com a assinatura do beneficiário;
O direito de exercer atividade concorrente com a da sociedade;
O direito de vender ou de alienar a sua quota sem autorizações exigidas
aos demais.
- Os direitos especiais não são transmissíveis a terceiros.
- O Professor Menezes Cordeiro entende que não há problemas em que todos os
sócios sejam titulares de direitos de que só possam ser despojados com o seu
próprio assentimento e seguindo-se os outros traços do regime legal.
- De acordo com um critério de concretização/consubstanciação, distinguimos:

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Direitos absolutos: é uma posição favorável, protegida pelo Direito e que,


verificando-se determinadas ocorrências, permitirá ao sócio ver surgir um
direito concreto correspondente;
Direitos concretos: será o produto da concretização de uma prévia
posição favorável, que assiste ao sócio.
- O direito absoluto é um verdadeiro direito subjetivo?
À primeira vista, NÃO: o direito subjetivo pressupõe sempre um bem
concreto (permissão normativa especifica de aproveitamento de um bem).
Menezes Cordeiro, SIM: permitem exprimir uma posição favorável do
sujeito.
- Direitos patrimoniais: direito aos lucros
- Direitos participativos: possibilidade de os sócios ingressarem no modo
coletivo de gestão dos interesses, inserindo-se na organização social e atuando
nos esquemas de cooperação por ela previstos.
- Direitos pessoais: direitos parassociais, direito à lealdade e direito ao respeito
do estado de sócio.
- Deveres dos sócios:
Obrigação de entrada: artigos 25.º e seguintes.
Sujeição às perdas: pretende representar a frustração de contrapartidas
esperadas pelas entradas + traduz o funcionamento das regras de
responsabilidade de sócios.

§ Técnica do “estado”
- O “estado de sócio” consiste num conjunto de posições jurídicas que, por
lei/contrato de sociedade, lhe possam advir.
- O estado das pessoas pode ser entendido numa das três aceções:
Estado-qualidade: corresponde a uma determinada posição da pessoa;
Estado como complexo de situações jurídicas correspondentes a essa
qualidade ou por ela potenciadas ou condicionadas;
Estado enquanto complexo de normas jurídicas reguladoras dessa massa
de situações.

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Secção II – Entradas, lucros e perdas e defesa do capital

§ A obrigação de entrada
- Corresponde a um dever essencial dos sócios.
- Sem a entrada, sucederá o seguinte:
A sociedade não terá meios para poder desempenhar a sua atividade;
Os sócios não terão título de legitimidade para recolher lucros e para
pretender intervir na vida da sociedade.
- A entrada poderá ser:
Entradas em dinheiro
Entradas em espécie
Entradas em indústria
- O tipo de entrada é definido no contrato de sociedade, nos termos do artigo
9.º/g) + h).
- A entrada tem uma dupla apresentação, traduzida em indicações de valor:
Valor nominal: participação social a que ela corresponda. Pode ser uma
parte social, uma quota ou uma ação.
. Artigo 25.º/1 CSC: estabelece que o valor nominal da participação não pode
exceder o valor da entrada/o valor real.
Valor real: corresponde à cifra em que a entrada se traduza.
. Pecuniária: se for em dinheiro. Verifica-se a assunção de uma obrigação
pecuniária.
. Em espécie: valor dos bens que implique. Equivale à entrada de bens
diferentes de dinheiro, artigo 28.º/1. Poderão ser bens materiais ou bens
facilmente realizáveis.
Valor não nominal: artigo 25.º/4. Ocorre um “valor de emissão”.

Entrada em indústria: trata-se de serviços humanos não subordinados

Perante a obrigação de entrada (obrigação comum), existe um:


Credor: sociedade;
Devedor: sócio.

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Quanto ao montante da entrada:


- As entradas não podem ter um valor inferior ao da participação nominal
(parte, quota ou ações) atribuída ao sócio.
- Se for superior, teremos uma entrada acima do par: existe um “prémio de
subscrição” ou de “emissão”, também dito “ágio”.

Quanto ao momento da entrada:


- A entrada deve ser realizada no momento da outorga da escritura, salvo
quando o contrato preveja o diferimento das entradas em dinheiro e a lei o
permita.
- Nas sociedades por quotas: até metade das entradas em dinheiro.
- Nas sociedades anónimas: pode ser diferida a realização de 70‰ do valor
nominal das ações.

Quanto à forma da entrada:


- Sociedades por quotas: artigo 202.º/3;
- Sociedades anónimas: artigo 277.º/3.

Quanto às garantias da entrada (artigo 27.º):


- N.º 1: são nulos os atos da administração e as deliberações dos sócios que
liberem total ou parcialmente os sócios da obrigação de efetuar entradas
estipuladas, salvo.
- N.º 2: a dação em cumprimento exige deliberação como alteração do contrato,
seguindo-se o preceituado quanto a entradas em espécie.
- N.º 3: podem ser estabelecidas, no contrato, penalidades para a falta de
cumprimento da obrigação de entrada + podem ocorrer hipóteses de pagamento
de juros ou de cláusulas penais.
- N.º 4: os lucros correspondentes a entradas em mora não podem ser pagas,
mas podem ser compensadas por elas.
- N.º 5: a obrigação de entrada não pode extinguir-se por compensação.
- N.º 6: a falta de uma prestação de entrada importa o vencimento de todas as
demais prestações em dívida pelo mesmo sócio, ainda que respeitem a outras
partes, quotas ou ações.

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§ Entrada em espécie
- Traduz-se na transferência para a sociedade de direitos patrimoniais
suscetíveis de penhora e que não se traduzam em dinheiro.
- Por exemplo, pode estar em causa o direito ao uso e fruição OU direitos sobre
bens imateriais.
- O artigo 28.º/1 refere “bens diferentes de dinheiro”. O Professor Menezes
Cordeiro entende que se trata de uma fórmula excessivamente empírica para
exprimir a ideia dos referidos direitos patrimoniais.
- Para se avaliar o valor desses bens, o artigo 28.º determina a preparação de
um relatório pelo ROC, devidamente distanciado e que avalie, objetivamente,
os bens, explicando os critérios usados e declarando formalmente se o valor
delas atinge o valor nominal indicado pelos sócios.
- Este relatório deve ter publicidade: artigo 28.º/5 + 6.
- Objetivo do trabalho do ROC: defesa de terceiros.

§ Direitos dos credores


- O artigo 30.º/1 prevê dois direitos dos credores:
Exercer os direitos da sociedade relativos às entradas não realizadas, a
partir do momento em que se tornem exigíveis;
Promover judicialmente essas entradas, mesmo antes de se tornarem
exigíveis, desde que isso seja necessário para a conservação ou satisfação dos
seus direitos.

§ A sociedade está vinculada a repartir com os sócios todo o lucro económico


que obtiver, decorre do artigo 980.º CC.

§ Pactos leoninos
- O artigo 22.º/3 CSC proíbe a cláusula que exclua um sócio de participar nas
perdas da sociedade.
- Artigo 994.º CC: também consagra esta proibição.
- Perante a nulidade do pacto leonino, a doutrina tem reclamado a aplicação
do instituto da redução: a sociedade vigoraria sem a parte viciada, salvo se se

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demonstrasse que, na sua falta, as partes não teriam contratado (artigo 292.º
CC).
- O Professor Menezes Cordeiro discorda: entende que a sociedade leonina é
um negócio uno e distorcido em toda a sua conceção.
Assim, o Professor entende que teremos de recorrer à conversão, desde que
verificados os requisitos do artigo 293.º CC.
Logo, teremos de atender ao fim das partes e à sua vontade hipotética, com
uma diferente distribuição do ónus da prova.

§ Constituição financeira
- O funcionamento de uma sociedade é garantido por fluxos monetários.
- Capitais próprios: abrangem o capital social, as reservas de ágio ou de prémio
de emissão, o montante de outras prestações feitas pelos acionistas, as reservas
livres, reserva legal e outras reservas.
- Capitais alheios: são as obrigações, as opções e os títulos de participação nos
lucros e outros empréstimos.

§ Distribuição de bens aos sócios


- Consequência direta da personalização das sociedades é a separação
patrimonial: os bens da sociedade não se confundem com os dos sócios.
- O artigo 30.º/2 determina que só podem ser distribuídos aos sócios valores
que se devam considerar lucros.
- A distribuição de bens aos sócios deve seguir o artigo 31.º:
A distribuição de bens depende da deliberação dos sócios;
A deliberação não deve ser executada pelos administradores, quando
tenham fundadas razões para crer.
A distribuição não terá lugar após a citação da sociedade.
- O artigo 34.º determina que os bens indevidamente recebidos pelos sócios
devem se restituídos à sociedade.
N.º 1: fica protegida a posição dos sócios de boa fé;
N.º 2: é aplicável aos transmissários dos direitos dos sócios;
N.º 3: os credores podem propor ação para restituição à sociedade das
importâncias em causa, tendo ação contra os administradores;

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N.º 4: regula o ónus de prova;


N.º 5: alarga o dispositivo de restituição.

§ Lucros e reservas não distribuíveis


- O artigo 33.º/1 proíbe a distribuição de lucros do exercício que se mostrem
necessários para cobrir prejuízos transitados ou para formar ou reconstituir
reservas obrigatórias.
O Professor Menezes Cordeiro entende que a lei não define “lucros de
exercício”.
Cabe distribuição de lucros quando os prejuízos transitados possam ser
legalmente cobertos de outra forma.
- O artigo 31.º/3 proíbe a distribuição das chamadas “reservas ocultas”.
Sendo ocultas, as reservas escapam ao conhecimento e ao controlo dos
sócios e de credores; a sua distribuição surgiria como uma pura disposição do
património social;
Não constando da contabilidade, as reservas ocultas põem em crise a
verdade do balanço e da prestação de contas, mais se agravando essa situação
com a sua distribuição.
- O artigo 33.º/4 traduz um afloramento do princípio da verdade e da
transparência: havendo distribuição de reservas, seja em que termos for, a
deliberação deve mencioná-lo, de modo expresso.
- Artigo 33.º/1 + artigo 295.º: regime da reserva legal
Advém de, pelo menos, 1/20 dos lucros anuais;
Até atingir 1/5 do capital social;
Só pode ser usada para fins do artigo 296.º.

§ A perda de metade do capital social


- O artigo 35.º dispõe sobre a eventualidade da perda de metade do capital
social das sociedades comerciais.
As contas de exercício estão previstas no artigo 65.º/1.
As contas intercalares situam-se entre as contas de exercício, podendo
ser requeridas por lei especial ou pelos estatutos ou derivam da mera prática
interna.

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“Fundadas razões” = perdas graves. São aquelas que se imponham ao


gestor normal, colocado na posição do gestor real. Para serem fundadas, terão
de derivar de contas anteriores.
- Artigo 35.º/3: elencam os três pontos para deliberação dos sócios.
- O artigo 35.º opera como fonte de deveres legais, para efeitos de
responsabilidade civil dos administradores para com a sociedade e para com os
credores sociais.

Secção III- A participação na vida societária

Subsecção I- Os acordos parassociais

§ A participação dos sócios na vida societária constitui um dos aspetos básicos


do estado em que se inserem. Aí se concretiza o seu direito ao trabalho e o seu
direito à iniciativa privada: pessoal e económica.

§ A comparticipação dos sócios na vida societária obedece à autonomia privada


e à sua livre iniciativa.
- processa-se no quadro da lei, dos estatutos da sociedade e de determinados
acordos parassociais
- trata-se de convénios celebrados por sócios de uma sociedade, nessa
qualidade: visam regular relações societárias

§ Os acordos parassociais estão regulados no artigo 17.º CSC.


- O n.º 1 apenas confere uma eficácia obrigacional: produzem efeitos entre os
sócios intervenientes e não podem ser impugnados atos da sociedade ou de
sócios para com a sociedade.
- Não é possível a execução específica dos acordos parassociais.

§ Modalidades dos acordos parassociais


- Acordos relativos ao regime das participações sociais: está em causa o
regime da sua transmissão; proibições de alienação; direitos de preferência
mútuos; direitos de opção; obrigações de subscrição de aumentos de capital;

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- Acordos relativos ao exercício do direito de voto: as partes predeterminam,


no próprio contrato, o sentido do voto, em termos concretos; as partes obrigam-
se a uma concertação futura, relativa a determinado tipo de assunto; as partes
obrigam-se a reunir em separado, antes de qualquer assembleia de voto;
- Acordos relativos à organização da sociedade: as partes adotam um plano
para a empresa e comprometem-se a pô-lo em prática; as partes “repartem”
os órgãos societários; as partes obrigam-se a investir; as partes obrigam-se a
enfrentar um concorrente; as partes obrigam-se a prever certas auditorias
internas ou externas.
- Acordos omnilaterais: são acordos subscritos por todos os sócios e que
assumiram um especial relevo, quando incompatíveis com os estatutos.

§ Os acordos parassociais são dotados de garantias poderosas.


- O depósito das ações em contas de garantia;
- Cláusulas de rescisão, com ou sem pré-aviso;
- Cláusulas penais.
- Também poderão ser inseridas convenções de arbitragem: justiça rápida e
eficaz.

§ O artigo 17.º/2 determina que os acordos parassociais não podem respeitar à


conduta de intervenientes ou de outras pessoas no exercício de funções de
administração ou de fiscalização.
- A administração e a fiscalização ficam fora do universo dos acordos
parassociais.
- Se se admitisse, equivaleria a permitir uma organização diferente da do pacto
social.

§ O artigo 17.º/3/c) proíbe os acordos pelos quais alguém se comprometa a


votar em certo sentido, mediante vantagens especiais.
- Trata-se da proibição da chamada “compra” de votos.
- O preceito justifica-se pela necessidade de fazer corresponder o risco à
detenção de capital.

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§ Os acordos parassociais têm as seguintes funções:


- Reprivatizações: dirigem-se a pequenos investidores interessados em mais-
valias esperadas ou a grupos descapitalizados de potenciais gestores;
- Fraqueza económico-financeira de muitos participantes: decorre da
debilidade do mercado imobiliário;
- Recomposição mobiliária: pode requerer novas aquisições, permutas e
alienações programadas.

§ Podem surgir acordos parassociais à margem do artigo 17.º:


- Acordos parassociais que incluem cláusulas que nada têm a ver com a
sociedade em jogo;
- Acordos parassociais em que intervém não sócios, normalmente para
adquirirem opções de compra ou para as mais variadas combinações
relacionadas com a sociedade em jogo;
- Acordos parassociais subscritos pela própria sociais cujos sócios se concertam.

Subsecção II- O direito à informação

§ O artigo 21.º/1/c) inclui o direito de o sócio obter informações sobre a vida


da sociedade, nos termos da lei e do contrato.
- Estes deveres de informação podem resultar:
De regras indeterminadas: ocorrem institutos carecidos de concretização;
De regras estritas: são as prescrições de informação que definem deveres,
à partida, densos.
. Regras estritas comuns: cobrem uma generalidade indeterminada de situações
hipotéticas.
. Regras estritas especiais: impõem-se mercê de normas jurídicas destinadas a
contemplar situações regulativas próprias de setores delimitados.
- O facto jurídico dá azo ao dever de informação.
Facto específico: corresponderá a uma precisa eventualidade que gere o
dever de informar;
Status: é uma qualidade geral do sujeito que o habilita a colher
informações.

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- Relativamente ao conteúdo:
Deveres de informação substanciais: o obrigado está adstrito a veicular a
verdade que conheça, descrevendo-a de modo compreensível e explícito;
Deveres de informação formais: compete-lhe transmitir elementos
prefixados ou informação codificada.
- Autodeterminação: o obrigado, à medida que a situação progrida, fixando os
termos a informar e a matéria que eles respeitem.
- Heterodeterminação: compete ao interessado definir a matéria sobre que
deseja ser informado.
- A informação pode ser tomada em: prestações principais, prestações
secundárias e deveres acessórios.
- A informação pode ser:
Ordinária: tem a ver com a gestão comum da sociedade e com os negócios
que não caiam sob específicas previsões de informar;
Extraordinária: reporta-se a hipóteses específicas (redução ou aumento
de capital).

Existem quatro círculos de matéria informativa societária:


- Informação pública: é disponibilizada a todos os interessados (sócios + não
sócios);
- Informação reservada: assiste aos sócios;
- Informação qualificada: assiste aos sócios que detenham posições mais
consideráveis no capital da sociedade (participações qualificadas);
- Informação secreta: não pode ser disponibilizada aos sócios.

O artigo 288.º determina qual é o direito mínimo à informação

§ Existem duas dimensões da sociedade:


- Colaboração: os sócios só poderão produzir trabalho útil em prol da sociedade
e no seu âmbito, se tiverem conhecimento do que se lhes exige e do que é útil;
- Organização: opera como pressuposto do voto em assembleia geral, como
meio de legitimação dos investimentos e dos mercados e como forma de
fiscalização da administração.

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Os sujeitos da obrigação de informar são os sócios e a sociedade.

O direito à informação é irrenunciável e inderrogável.

O direito à informação é uma posição pessoa que integra o status de sócio.


- Direito abstrato à informação: pedir informações;
- Direito concreto à informação: potestivamente constituído perante situações
que possibilitem a sua efetivação.

O direito à informação é autónomo de quaisquer concretas finalidades.

Abuso de informação: usar informação que se tenha obtido a nível interno e


que não seja conhecida pelas outras pessoas para conseguir vantagens
extraordinárias,

O direito à informação é rodeado de diversas garantias.


- Sanções penais.
- Anulabilidade das deliberações sociais causada pela recusa injustificada de
informações.
- Incumprimento das obrigações com as indemnizações conexas.

O inquérito judicial deve ser pedido quando tenha sido recusada informação
solicitada ao abrigo dos artigos 214.º, 288.º e 291.º OU prestada informação
presumivelmente falsa, incompleta ou não elucidativa.

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Capítulo IV- Deliberações sociais: evolução e regime

§ A deliberação é a decisão de um órgão coletivo sobre uma proposta.


- Nesse órgão, cada participante tem um ou mais votos.
- O voto será a recusa ou a aceitação de uma proposta de deliberação.
- Surge assimilada a uma manifestação de vontade coletiva: a transposição das
vontades humanas para a vontade coletiva é garantida por normas jurídicas.

§ No CSC português, os artigos 53.º a 63.º regulam as deliberações dos sócios.


- Os sócios emitem declarações de vontade, através do voto.
- O artigo 53.º/1 pretende dizer que os órgãos sociais estão sujeitos ao princípio
da tipicidade: os sócios não podem, pois, “deliberar” fora dos figurinos
orgânicos previstos para cada uma delas.
- No tocante à forma, mantém-se uma regra de liberdade: os sócios poderão
deliberar, conforme o ajustado (por deliberação dos sócios OU por decisão do
presidente da mesa assembleia).

§ Para efeitos de deliberação social, o artigo 54.º/1 prevê a possibilidade de


dois grandes tipos de procedimento:
A deliberação em assembleia;
A deliberação por escrito.

§ A deliberação social implica uma coordenação entre as distintas pessoas que


nela possam participar. Assim, terá que existir um processo deliberativo
(conjunto de atos concatenados para a obtenção de um fim, a própria
deliberação).
- Convocatória cabal: deverá ser dirigida a todas as pessoas que tenham o
direito de participar na assembleia, indicando o local, a hora e a ordem de
trabalhos. Deverá ser assinada pela pessoa com competência para a
convocação.
- Reunião da assembleia: terá de estar presente a mesa (presidência +
secretariado); deve ocorrer a verificação das presenças; realização da ata;
- Uma ou mais propostas: cairão na matéria da ordem do dia;

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- Um debate: será o momento indicado para pedidos de informação, mas poderá


ser dispensado;
- Uma votação com escrutínio e proclamação do resultado: normalmente, por
maioria do capital representado
- Elaboração da ata.

§ A deliberação pode ser tomada por escrito.


- O artigo 54.º/1 admite esse tipo de procedimento, desde que haja uma
aprovação por unanimidade.
- Os estatutos poderão prever uma reunião por teleconferência: telefónica, por
vídeo ou pelas Internet: assembleias virtuais.

§ Assembleia universal (artigo 54.º/1)


- Dispensa o esquema das convocatórias.
- É operacional em sociedades com um pequeno número de sócios, marcadas
pela confiança mútua.
- Não tem ordem do dia porque só podem deliberar sobre assuntos que todos os
sócios tenham concordado pôr à apreciação do coletivo societário.
- Funciona por maioria simples.

§ Ata
- Corresponde ao documento de onde conste o relato do decurso da reunião.
- Tratando-se de deliberações dos sócios, a ata reportar-se-á à assembleia.
- O artigo 63.º/2 regula o conteúdo mínimo da ata.
- Em algumas situações, as atas referem as invenções dos diversos sócios,
fazendo delas uma súmula.
- É um documento escrito.
- A mera gravação não vale como ata.
- Deve ser lavrada no “respetivo livro” ou em folhas soltas (artigo 63.º/4 1.ª
parte).
- Deve ser assinada por todos os sócios que tomaram parte na assembleia: artigo
63.º/3 1.ª parte.

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- Se um dos sócios não assinar, a sociedade deve notificá-lo judicialmente para


que, em prazo não inferior a oito dias, assine.

As atas podem ser lavradas por notário, através de instrumento avulso.


- Segundo o artigo 63.º/6, sucederá:
Quando a lei o determine;
Quando, no início da reunião, a assembleia assim o delibere;
Quando, em escrito dirigido à administração e entregue na sede social
com 5 dias úteis de antecedência, algum sócio o requeira, suportando as
despesas notariais.

Atas lavradas pelo secretário da sociedade (artigo 466.º-B/ b)

Aprovação da ata: ocorre na sessão seguinte à da reunião que lhe deu azo. O
artigo 388.º/3 determina que a ata deve ser aprovada, antes de ser assinada:
transparece uma situação de controlo de fidelidade do texto da ata.

A ata tem uma função probatória forte e um meio executivo forte.

Secção II- Invalidade e ineficácia

§ A invalidade das deliberações sociais é um tema de ineficácia de atos


jurídicos.
- Nulidade: pode ser arguida a todo o tempo e por qualquer interessado e pode
declarada ex officcio pelo tribunal; implica um não reconhecimento pelo
Direito do ato viciado, o que escapa à autonomia privada;
- Anulabilidade: só pode ser invocada pela pessoa em cujo interesse seja
estabelecida (direito potestativo), dentro de um ano contado da cessação do
vício; traduz a presença, em determinada esfera, do poder de impugnar um
negócio.

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O vício de uma deliberação pode resultar de:


- Vícios formais: verifica-se que a deliberação, em si, é possível; mas não foi
respeitado o processo previsto para a sua emissão (a assembleia não foi
convocada- artigo 56.º/1/a);
- Vícios substanciais: o procedimento prescrito foi seguido, mas a própria
deliberação defronta a lei ou os estatutos.

Consequências jurídicas do vício:


- Deliberações aparentes: são aquelas que são levadas ao registo comercial e
na base das quais certos terceiros tenham adquirido direitos de boa fé.
- Deliberações nulas e anuláveis (artigos 56.º e 58.º): as primeiras têm um vício
em si que as afeta; as segundas apenas conferem, a certos interessados, o
direito potestativo de as impugnar;
- Deliberações ineficazes stricto sensu: por razões extrínsecas, não produzem
efeitos até certa eventualidade (artigo 55.º).

As ineficácias das deliberações sociais estão reguladas nos artigos 55.º a 62.º.

Secção III- A nulidade

§ Apesar da regra, no domínio das sociedades, ser a anulabilidade, há casos em


que a lei prevê a nulidade.
- O artigo 56.º fixa diversas hipóteses de deliberações nulas.
Alíneas a) + b): vícios de processo ou de procedimento; incluem-se
deliberações surgidas de processos em que não foram observadas formalidades
essenciais.
. Alínea a): explicita a assembleia geral não convocada, salvo se tiverem estado
presentes ou representados todos os sócios.
. Alínea b): o equivalente vício, na hipótese de voto escrito.
Alíneas c) + d): vícios de conteúdo ou de substância.
. Alínea c): deliberações cujo conteúdo não esteja sujeito a deliberações dos
sócios. *
. Alínea d): deliberações cujo conteúdo seja ofensivo aos bons costumes. * 1

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Vícios de procedimento: a sanação opera quando os sócios ausentes e não


representados ou não participantes na deliberação escrita deem, por escrito, o
seu assentimento à deliberação (artigo 56.º/3).
Vícios de substância: a sanação não é possível.

* Que deliberações poderão ter um conteúdo que não esteja, por natureza,
sujeito a deliberações dos sócios?
- Teoria da incompetência: invalida os atos estranhos à competência da
assembleia geral e atos que interferissem com terceiros;
- Teoria da impossibilidade: a mera inobservância de regras inerentes de
competência não poderia ser tão grave que justifique a nulidade.

*1 O Professor Menezes Cordeiro entende que os bons costumes abrangem


regras de conduta familiar e sexual e códigos deontológicos próprios de certos
setores.
Preceitos inderrogáveis: visa as deliberações contrárias a normas legais
imperativas.

O artigo 57.º confere a iniciativa do órgão de fiscalização.

Secção IV- A anulabilidade

§ Artigo 58.º
- Alínea a): havendo violação da lei, as deliberações em falta são anuláveis.
Necessidade de segurança jurídica: restringe a invalidade das deliberações
sociais e ajustiça que permite aos sócios vítimas de ilegalidades perpetradas
pela assembleia geral fazer valer as suas posições.
- Alínea b): anulabilidade por votos abusivos; contém os seguintes elementos
Propósito de um dos sócios
De conseguir através do exercício do direito de voto
Vantagens especiais para si ou para terceiros
Em prejuízo da sociedade ou de outros sócios

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- Alínea c): deliberação que não tenham sido procedidas do fornecimento, ao


sócio, de elementos mínimos de informação.
O artigo 58.º/4 determina quais são os elementos mínimos de informação:
as menções do artigo 377.º/8 + colocação de documentos para exame dos sócios
no local e durante o tempo descritos pela lei ou pelo contrato.

§ Ação de anulação: artigo 59.º


- A legitimidade para requerer a ação de anulação é conferida:
Ao órgão de fiscalização;
A qualquer sócio que não tenha votado no sentido do vencimento nem
tenha aprovado a deliberação expressa ou tacitamente.
- Artigo 59.º/2: o prazo para intentar a ação de anulação é de 30 dias.

Secção V- Disposições comuns à nulidade e à anulabilidade

§ O artigo 60.º/1 determina que a ação de nulidade e a de anulabilidade podem


ser propostas contra a sociedade.

§ O artigo 57.º/2 atribui legitimidade ao órgão de fiscalização ou, na sua falta,


a qualquer gerente para propor ações.

§ As ações de anulação ou de declaração de nulidade de uma deliberação social


podem ser abusivas.

§ O artigo 61.º fixa a eficácia do caso julgado que se forme em ação de


declaração de nulidade ou de anulação de deliberação social.
- N.º 1: eficácia interna.
- N.º 2: eficácia externa; o preceito visa tutelar terceiros.

§ Renovação da deliberação (artigo 62.º)


- Afirmada a presença de certo vício e independentemente de se aceitar tal
asserção, poder-se-ia retomar a deliberação sem o ponto questionado.

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Secção VI- A suspensão judicial de deliberações

- Está regulada nos artigos 380.º a 383.º CPC.


- Requisitos: presença de deliberações contrárias à lei, aos estatutos ou ao
contrato.
- O Professor Menezes Cordeiro entende que estamos perante uma fórmula lata,
visto que abrange as deliberações nulas, as anuláveis e as ineficazes. Todas elas
são contrárias à lei ou ao pacto social.
- A suspensão só é possível quando a própria ação de fundo possa ser encarada.
Por isso, exige-se que estejam preenchidos os pressupostos da legitimidade,
competência e não procedência de exceções.
- A suspensão não tem efeitos modificativos, no sentido de fazer substituir uma
deliberação por outra.

A suspensão pode atingir deliberações já executadas?


- A jurisprudência entendeu que não.

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Capítulo V- A administração das sociedades

Secção I- Aspetos gerais

§ A administração traduz:
- O conjunto das pessoas que têm a seu encargo a função de administrar uma
sociedade: administração subjetiva;
Administrador: cobre as figuras do gerente, dos administradores stricto
sensu e dos administradores executivos.
- O ato ou o efeito de administrar essa sociedade: administração objetiva.

§ O administrador está ao serviço dos sócios ou da sociedade.


- Há interesses próprios da sociedade?
Em sentido subjetivo, o interesse traduz uma relação de apetência entre
o sujeito considerado e as realidades que ele entenda aptas para satisfazer as
suas necessidades ou os seus desejos.
Em sentido objetivo, o interesse traduz a relação entre o sujeito com
necessidades e os bens aptos a satisfazê-las.
Exemplo: para um jogador compulsivo, o interesse subjetivo será o de encontrar
um casino onde passar a noite; o interesse objetivo seria ir para casa descansar,
com vista ao trabalho do dia seguinte.

Se for os interesses da sociedade:


Em sentido subjetivo: esses interesses terão de ser selecionados dentro
dos órgãos sociais, o que caberá descambar na decisão dos sócios;
Em sentido objetivo: tais interesses seriam escalonados pelo tribunal, de
acordo com regras jurídicas que teriam de ser claras, estritas e constitucionais
porque cercavam a livre iniciativa dos sócios.

Se for os interesses dos sócios:


Em sentido subjetivo: a sua definição caber-lhes-iam;
Em sentido objetivo: surgem as tais regras injuntivas que se fundirão com
as que definam o “interesse objetivo” da própria sociedade.

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Assim, o administrador deve respeitar as posições protegidas pelo Direito quer


dos sócios quer da sociedade.

§ Os administradores têm dois poderes: poder de gerir ou de administrar + poder


de representar.

§ O Professor Menezes Cordeiro entende que a administração abrange o


conjunto de atuações materiais e jurídicas imputáveis a uma sociedade que não
estejam, por lei, reservadas a outros órgãos.

§ A administração traduz a permissão normativa que os administradores têm de


decidir e de agir no âmbito dos direitos e dos deveres da sociedade.

Secção II- Os deveres fundamentais dos administradores

§ Artigo 64.º
- Articula, em alíneas separadas, os deveres de cuidado e de lealdade.
- Explicita o conteúdo dos deveres de cuidado e rematar com a diligencia de
um gestor criterioso e ordenado.
- Desenvolve o teor dos deveres de lealdade entre os elementos a atender.

§ O Professor Menezes Cordeiro entende que o artigo 64.º deve ser reconstruído.
Posto isto, aponta 5 deveres fundamentais dos administradores:

1. Diligência de um gestor criterioso


- Equivale ao grau de esforço exigível para determinar e executar a conduta
que integra o cumprimento de um dever.
- Trata-se de uma regra de conduta.
- A violação deste dever dá lugar à ilicitude porque pressupõe dolo.

2. Os interesses da sociedade, dos sócios e dos trabalhadores


- O interesse representa a porção de realidade protegida e que, quando violada,
dá lugar a um dano.

FDUL Mariana Soares 49


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3. Os deveres de lealdade
- Determinação de atuações vedadas: proibição de concorrência e proibição de
divulgar segredos societários;
- Sistematização de atuações vedadas pela lei;
- Procura de atuações impostas ou condutas requeridas.

4. Os deveres de cuidado
- Disponibilidade, competência técnica e conhecimento da atividade da
sociedade.

§ Reconstrução do artigo 64.º


- Alínea a): deveres de cuidado = os administradores devem gerir com cuidado,
o que implica a disponibilidade, competência técnica e conhecimento da
atividade da sociedade.
- Alínea b): deveres de lealdade e interesses a atender = tratam-se de deveres
fiduciários que recordam estar em causa a gestão de bens alheios.
- A bitola de diligência: a diligência é a medida objetiva e normativa do esforço
exigível.

Secção III: O Governo das sociedades

§ Corporate governance = governo societário


- Pode abranger duas realidades distintas:
A organização da sociedade: administração e fiscalização das sociedades;
As regras aplicáveis ao funcionamento da sociedade: direitos e deveres
dos administradores; regras de gestão e de representação; regras de
fiscalização; deveres atinentes às relações públicas.
- Estas duas vertentes não se separam.

Secção IV: A situação jurídica dos administradores

§ A doutrina portuguesa tem procurado, de um modo geral, reconduzir a


situação jurídica de administração a um contrato: contrato de administração.

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- O Professor Menezes Cordeiro não concorda e crítica esta linha de


pensamento.

§ O Professor Menezes Cordeiro entende que a situação jurídica da


administração abrange um conjunto de direitos e de deveres.
- A situação jurídica da administração é absoluta: o administrador tem os
poderes de representar e de gerir que são posições potestativas e absolutas.
- Status/estado: qualidade ou prerrogativa que implica e condiciona a
atribuição de uma massa prévia de elementos juridicamente relevantes,
incluindo deveres, direitos funcionais e obrigações.

§ Direitos dos administradores


- Direito à retribuição: a retribuição faz parte do seu conteúdo natural.

§ Deveres dos administradores: variam de acordo com a fonte


- Legais: provem diretamente de preceitos legais;
- Estatutários: provem do pacto social;
- Contratuais: provem do contrato;
- Deliberativas: provem da deliberação dos sócios ou do conselho de
administração.

Deveres genéricos: resultam da mera existência de direitos alheios ou de


normas de proteção.
Deveres específicos: têm a ver com obrigações legais, estatutárias ou
convencionais.

§ Constituição da situação da administração das sociedades


- O CSC omitiu o tratamento geral da constituição da situação da administração
das sociedades. Assim, é necessário procurar regras dedicadas aos diversos tipos
societários.
- Sociedades em nome coletivo: artigo 191.º; a posição do gerente é uma
decorrência da do sócio. O facto constitutivo especial e predominante é o
contrato de sociedade.

FDUL Mariana Soares 51


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- Sociedades por quotas: artigo 252.º; os gerentes são designados no pacto ou


escolhidos por deliberação dos sócios; a gerência é personalidade, não sendo
transmissível por morte.
- Sociedades anónimas: artigo 391.º/1; podem ser designadas no contrato de
sociedade ou eleitos pela assembleia.

§ O termo da situação da administração das sociedades


- A caducidade sobrevém por morte, interdição, incapacitação, inabilitação ou
reforma do administrador.
- Também há caducidade quando expire o prazo por que foi feita a designação
(artigo 391.º/4).
- Outra hipótese de caducidade é a extinção da sociedade.
- A revogação corresponderia à cessação da situação jurídica de administração
por acordo das partes.

§ Princípio da livre destituibilidade dos administradores


- Com justa causa: serve para decidir se a destituição opera ou não com
indemnização. Os factos relativos à existência de justa causa devem ser
invocados e provados pela sociedade que dela se queira prevalecer.

§ Indemnização
- Decorre da cessação do mandato dos administradores.
- A indemnização traduz os lucros cessantes os quais, na falta de outros
elementos, correspondem ao que o administrador deixou de ganhar.
- O gerente destituído deve provar os danos.
- O montante previsto no artigo 403.º/5 é o máximo.

FDUL Mariana Soares 52


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Capítulo VI- A responsabilidade dos administradores

§ A responsabilidade dos administradores está regulada nos artigos 71.º a 84.º


CSC.
- Compreende três tipos de normas:
Preceitos que correspondem a manifestações comuns de responsabilidade
civil;
Preceitos que exprimem deveres a cargo de gerentes ou administradores,
de sociedades e dos fundadores;
Preceitos que impliquem soluções mais complexas e societárias.
- Artigos 72.º a 74.º: responsabilidade obrigacional.
- Artigos 78.º e 79.º: responsabilidade aquiliana.

§ Artigo 71.º
- N.º 1: o Professor Menezes Cordeiro entende está subjacente uma norma que
obriga os visados a prestar as referidas declarações, com exatidão e sem
deficiência. A sua violação envolve uma linear responsabilidade obrigacional,
com “presunção de culpa”: artigos 798.º + 799.º.
- N.º 2: o preceito pretende excluir de responsabilidade os agentes de boa fé
(“ignorar sem culpa”).
- N.º 3: obrigação de não causar danos.

§ Responsabilidade para com a sociedade


- O artigo 72.º/1 contém uma previsão geral de responsabilidade obrigacional
para com a sociedade. Trata-se da concretização dos artigos 798.º e 799.º CC.
- Estão em causa danos ilícitos, provocados pela inobservância de deveres
específicos, com presunção de culpa.
- Deveres que, quando violados, dão azo a responsabilidade dos administradores
para com a sociedade:
Artigo 6.º/4: violação de cláusulas contratuais ou de deliberações sociais
que fixem à sociedade determinado objeto ou que proíbam a prática de certos
atos.

FDUL Mariana Soares 53


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Artigo 31.º/2: execução de deliberações relativas à distribuição de bens


aos sócios, quando tais deliberações sejam ilícitas ou enformem de vícios.
Artigo 35.º/2: não convocação ou não requerimento da convocação da
assembleia geral, quando se esteja perante a perda de metade do capital
social.
- Qual é a “medida da culpa” /qual a quantidade de esforço exigível aos
administradores no cumprimento dos seus deveres? Remete-se para a
“diligência de gestor criterioso e ordenado” (artigo 64.º/1/a).
- A lei não prevê a hipótese de uma responsabilidade aquiliana dos
administradores para com a sociedade.
- O Professor Menezes Cordeiro entende que os deveres previstos no artigo 64.º
são “deveres incompletos”:
Os deveres de cuidado englobam deveres de disponibilidade, deveres de
competência técnica e deveres de conhecimento da atividade da sociedade.
MC trata os deveres de cuidado como normas parcelares/incompletas: exige-se
uma norma de conduta de onde emerja um qualquer dever, a cargo dos
administradores; apurado esse dever, os subprincípios serão úteis para o
complementar e precisar.
Os deveres de lealdade devem ser encarados como concretizações
societárias do princípio da boa fé e das suas exigências.
- Ações sociais (artigos 75.º a 77.º): permite a efetivação da responsabilidade
dos administradores perante a sociedade.

§ Responsabilidade para com os credores, os sócios e os terceiros


- O artigo 78.º prevê uma previsão aquiliana.
- A responsabilidade é direta quando os danos resultem do facto ilícito, sem
nenhuma intervenção de quaisquer outros eventos.

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Capítulo VII- A fiscalização das sociedades

§ “Fiscalizar” exprime a ideia de constatar o efetivo cumprimento de


determinadas regras.
- A fiscalização pressupõe poderes de autoridade.

§ Fiscalização no Direito Público


- Em sentido estrito: exprime o poder de observar, de constatar e de
acompanhar.
- Em sentido amplo: abrange o poder de direção (permite dar instruções ao
subordinado, conformando as suas condutas) e o de sanção (faculta a aplicação
de medidas destinadas a corrigir o ocorrido, em termos preventivos, repressivos
ou ressarcitórios).

§ Fiscalização no Direito Privado


- Observa, verifica e acompanha o estado de uma determinada atuação.
- Envolve a disponibilidade dos diversos meios instrumentais necessários para
que ela possa ser exercida com utilidade e eficácia.
- Podem estar em causa: o poder de aceder ao local e de fazer as observações
necessárias; poder de fazer perguntas, a responder com verdade; poder de
conferir documentos pertinentes.
- A fiscalização é predominantemente interna: define-se pelo seu conteúdo e
pela sua função/dimensão teleológica.

Fiscalização orgânica: poderes que sejam encabeçados por um órgão


especializado.
Fiscalização inorgânica: o seu exercício cabe aos sócios isolados ou em grupo.

§ Fiscalização nas sociedades comerciais


- Inorgânica: levada a cabo por qualquer dos sócios.
- Orgânica: encabeçada por um órgão especial de fiscalização (conselho fiscal,
o conselho geral e de supervisão ou a comissão de auditoria).

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- Revisores oficias de contas: corpo profissional independente, devidamente


habilitado.
- Ministério Público: artigos 172.º e 173.º.
- Entidades de supervisão: Banco de Portugal, Instituto de Seguros em Portugal
e Comissão de Mercado dos Valores Mobiliários.

Áreas de fiscalização
- Legalidade estrita: observância, pela administração, de regras legais e
estatuárias com a sua aplicação pelos diversos órgãos da sociedade.
- Regularidade contabilista e patrimonial: implica a supervisão de todos os
suportes de contas e similares e a ponderação dos elementos apresentados pela
administração.
- Políticas contabilísticas e valorimétricas.
- Sistemas de gestão de riscos, de controlo interno e de auditoria interna.
- Gestão lato sensu.

Capítulo VIII- A prestação de contas

§ O Direito da prestação de contas corresponde ao conjunto das normas e dos


princípios que regem a contabilidade, a elaboração, a apresentação, a
confirmação e a certificação de contas.

§ Código Comercial
- Artigo 29.º: princípio da obrigatoriedade da escrita comercial.
- Artigo 30.º: liberdade da organização de escrita.
- Artigo 31.º: livro para atas.
- Artigo 38.º: a escrituração mercantil pode ser levada a cabo pelo próprio ou
por outrem a mando.

§ Funções das contas


- Função comercial: papel informador do próprio comerciante, no tocante aos
atos praticados tendo acessoriamente uma função no campo da prova.

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- Função financeira: descreve o valor do património da empresa, através do


balanço e dos balancetes.
- Função técnica e industrial: permite à contabilidade decompor o custo real
dos produtos e introduzir procedimentos de racionalização.
- Função mobiliária: tem a ver com a dimensão do mercado de capitais.
- Função fiscal: traduz a recuperação, pelo Estado, de esquemas de
contabilidade como forma de melhor conhecer os lucros e a riqueza, para os
tributar.
- Função de responsabilidade: resulta da natureza das regras de prestação de
contas como normas de proteção, para efeitos de responsabilidade civil.

O balanço, o relatório de gestação e a prestação de contas assentam na


escrituração comercial.

§ Princípios e direito da prestação de contas


- Fidelidade;
- Inteligibilidade;
- Relevância;
- Fiabilidade;
- Comparabilidade.

§ Processo de prestação de contas


- O artigo 65.º/1 determina duas obrigações fundamentais dos membros da
administração: elaborar as contas + submeter aos órgãos competentes da
sociedade.
- O artigo 65.º/5 fixa dois prazos distintos para a apresentação do relatório de
gestão, das contas e de exercício e demais documentos de prestação de contas
ao órgão competente e para a apreciação por este: três meses a contar da data
de cada exercício anual OU cinco meses a contar da mesma data, quando se
trate de sociedades que devam apresentar contas consolidadas.
- O artigo 67.º/4 determina que pode haver apresentação das contas, mas estas
não serem aprovadas, sem culpa dos administradores.

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- O artigo 69.º prevê o regime de invalidade das deliberações sociais que


aprovem as contas.
- O artigo 70.º prevê que a informação respeitante às contas do exercício e aos
demais elementos de prestação de contas seja sujeita a registo comercial.

Capítulo IX- A modificação das sociedades

- Está regulada nos artigos 85.º a 96.º.


- Pretende-se modificar os estatutos, quando não coloque em crise a identidade
da pessoa coletiva.
- A alteração do contrato de sociedade pode operar por modificação, supressão
ou aditamento de cláusulas.
- Artigo 85.º: a alteração deve ser deliberada pelos sócios.
- Artigo 86.º: ocupa-se da proteção dos sócios. Só por unanimidade é que pode
ser atribuído efeito retroativo à alteração do contrato.
- A deliberação de aumento de capital deve conter os requisitos do artigo 87.º.
As modalidades do aumento de capital abrangem: as novas entradas de sócios
ou de terceiros que se tornam sócios + incorporação de reservas, aproveitando
o valor real do património da sociedade para formalizar capital + transformação
de dívidas em capital, passando os credores a sócios.
- A redução do capital de uma sociedade pode pôr em crise os direitos e as
expectativas de terceiros (artigo 94.º).

§ Fusão de sociedades
- É uma forma jurídica que permite dar corpo ao fenómeno da concentração
económica.
- Situação em que duas ou mais sociedades se juntam para formar uma só.
- O artigo 97.º/4 faz a seguinte distinção:
Fusão por incorporação: uma sociedade preexistente mantém-se,
absorvendo uma outra.
Fusão por concentração: duas ou mais entidades preexistentes
transferem as suas posições jurídicas para uma entidade, criada a esse
propósito.

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§ Processo de fusão de sociedades


- Artigo 98.º: é necessário elaborar um projeto de fusão.
- Artigo 99.º: devidamente fiscalizado.
- Artigo 100.º/1: sujeito a registo.
- Artigo 100.º/2: é convocada uma assembleia geral.

§ A cisão de sociedades
- Corresponde à divisão da sociedade em duas ou mais sociedades, dela
derivadas.
- Regulada nos artigos 118.º a 129.º.
- Cisão-destaque/cisão simples: a sociedade-mãe destaca parte do seu
património e constrói outra sociedade.
- Cisão-dissolução: todo o património da sociedade a cindir é abrangido.
- Cisão-fusão: combina cisões com fusões.

§ Processo da cisão de sociedades


- Artigo 119.º: elaboração de um projeto de cisão.
- Artigo 122.º: a sociedade cindida responde solidariamente pelas dívidas que
tenham sido atribuídas à sociedade incorporante ou à nova sociedade.

§ Transformação de sociedades
- Opera como uma mudança de forma: uma sociedade constituída segundo um
dos tipos legalmente permitidos adota a forma corresponde a um tipo
diferente.
- Está regulada nos artigos 130.º a 140.º.
- O artigo 131.º fixa impedimentos à transformação:
Se o capital não estiver integralmente liberado ou se não estiverem
totalmente realizadas as entradas convencionadas.
Se o balanço mostrar que o património é inferior ao capital e à reserva
legal somados.
Se se apurarem sócios com direitos especiais que não possam ser mantidos
depois da transformação.

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Capítulo X- A dissolução e a liquidação das sociedades

§ A dissolução das sociedades


- Traduz o ato e o efeito da sua cessação.
- Pode tratar-se: do desenrolar de um plano combinado desde o início; de um
acidente de percurso que inviabilize o funcionamento da sociedade; da
superveniência de uma situação de esgotamento das forças patrimoniais; de
uma operação de gestão.
- Está regulada nos artigos 141.º a 145.º.
- Artigo 141.º: casos de dissolução imediata.
- Artigo 142.º: situações que requerem a dissolução administração ou uma
deliberação.
- Artigo 143.º: dissolução oficiosa.

§ A liquidação das sociedades


- Está regulada nos artigos 146.º a 165.º.
- Corresponde ao conjunto de atos que visam pôr termo ao modo coletivo de
funcionamento do Direito, perante uma pessoa coletiva.
- Implica o levantamento de todas as situações jurídicas relativas à sociedade
em liquidação, a resolução de todos os problemas pendentes que a possa
envolver.
- Artigo 146.º/1: a sociedade dissolvida entra imediatamente em liquidação.
- Artigo 146.º/2: a sociedade em liquidação mantém a personalidade jurídica.
- Preveem-se duas fórmulas especiais de liquidação: partilha imediata (pode
ser realizada pelos sócios, quando a sociedade não tenha dívidas (artigo
147.º/1) + liquidação por transmissão global (o contrato de sociedade ou uma
deliberação dos sócios a permite, consiste na transmissão de todo o património
da sociedade para algum ou alguns dos sócios).

§ Processo da liquidação das sociedades


- Previstas no artigo 149.º.

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