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Livro: “Direito das Sociedades Comerciais”

Prof. Paulo Olavo Cunha 1


Capitulo I – Generalidades
1. Tipicidade e autonomia da vontade

1.1. O princípio da tipicidade das sociedades comerciais e o regime


jurídico das sociedades anónimas como paradigma do regime das
sociedades comerciais:

1.1.1. Conteúdo do princípio da tipicidade:


Tipicidade significa que só podem ser criadas como, e enquanto, sociedades comerciais
as organizações que correspondem aos tipos previstos na lei. Mas dentro desses tipos,
e conforme ao principio da autonomia privada, a lei aceita interferências, desde que
não sejam postos em causa os parâmetros essenciais das sociedades previstas no
código. A lei consagra o princípio da tipicidade em matéria de sociedades, dispondo
que estas devem adoptar um dos quatro tipos nela previstos (art.1º nº2 e 3CSC), que
são sociedades em nome colectivo, sociedades por quotas, sociedades anónimas ou
sociedades em comandita, sendo que estas últimas podem ser em comandita simples
ou em comandita por acções.
À liberdade de organizar a respectiva actividade económica empresarial, de natureza
mercantil, sob a forma de sociedade comercial, irá corresponder uma limitação quanto
à criação desta que deverá obedecer a um dos tipos de sociedade predefinidos.

1.1.2. Aparecimento e desenvolvimento dos tipos societários:


São quatro os tipos societários existentes e disponíveis para quem pretenda estruturar
a sua actividade económica mercantil com recurso a uma sociedade comercial.

1.1.2.1. Sociedade em nome colectivo:


A sociedade em nome colectivo, em que dois ou mais sócios, juntando os respectivos
esforços e capacidades financeiras, resolvem empreender conjunta e articuladamente
uma actividade económica e lucrativa, como se fossem uma só pessoa, respondendo,
pessoal e solidariamente sem limite, com os restantes sócios, perante os credores
sociais pelas dívidas da sociedade, como se tratasse de uma actividade individual.

1.1.2.2. Sociedades em comandita:


Trata-se de um tipo social que permite a um ou mais sócios (os comanditários)
permanecer na sombra, limitando a sua responsabilidade ao capital que
disponibilizam. Por sua vez, o sócio que constitui a face visível do negócio (o
comanditado) assume a sua direcção e a responsabilidade ilimitada pelos respectivos
resultados.
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Estas sociedades podem organizar-se em dois subtipos, as sociedades em comandita
simples e as sociedades em comandita por acções. As participações sociais são
dificilmente transmissíveis na sociedade sob a forma simples, sendo as partes dos
sócios comanditários transmitidas de acordo com as regras legais da sociedade por
quotas (cfr. art. 475º) e encontrando-se as demais sujeitas ao consentimento dos
sócios comanditados (cfr. art. 469º), tal como acontece nas sociedades em comandita
por acções.

1.1.2.3. Sociedades anónimas:


As sociedades anónimas podem assumir diversas configurações, consoante a estrutura
do respectivo capital, podendo:
»Apresentar-se relativamente fechadas, com limitações à transmissibilidade das
respectivas participações;
» corresponder ao modelo típico de sociedade anónima, com pequena ou média
dimensão, tal como este tipo societário está consagrado no CSC;
»adoptar uma estrutura orgânica complexa, correspondente à grande sociedade
anónima, criada pela reforma de 2006, ou
» constituir-se como sociedades com o capital aberto ao investimento do público,
designando-se abreviadamente como sociedades abertas, podendo estar, ou não,
cotadas.
As primeiras são sociedades anónimas de cariz vincadamente familiar, em que o
reduzido número de sócios optou por este tipo por razoes alheias às suas
características substantivas. As segundas correspondem à sociedade anónima típica,
isto é, tal como resulta, tradicionalmente, do CSC. As respectivas participações são
livremente transmissíveis e são desprovidas de elementos subjectivos. As terceiras
constituem o subtipo mais relevante criado pela reforma de 2006 - a grande sociedade
anónima – que, sempre que adoptar o modelo de governação clássico, deverá possuir
uma fiscalização complexa. As ultimas são as sociedades anónimas conhecidas como
sociedades de ou com subscrição pública, constituídas com apelo ao público ou
relativamente às quis ocorre uma oferta púbica de valores mobiliários, não são apenas
aquelas cujas participações (acções) ou outros valores mobiliários se encontram
admitidos à negociação em mercado regulamentado, maxime em bolsa de valores.
Para além das sociedades cotadas, que são por definição abertas, existem outras
sociedades anónimas, cujo capital também está aberto ao investimento do público,
embora possam apresentar, relativamente às cotadas, regras estatutárias específicas.
Enquadram-se nesta categoria de sociedades abertas todas as que se constituem ou
emitem valores mobiliários por meio de uma oferta pública.

1.1.2.4. Sociedades por quotas:


As sociedades por quotas correspondem ao último tipo social a surgir com autonomia,
permitindo organizar em estruturas pequenas – e sobretudo com um número de
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sócios reduzido (inicialmente, mínimo de dois) – actividades económicas com limitação
da responsabilidade dos sócios ao capital subscrito.

1.1.2.5 – As sociedades comerciais no séc. XXI; a empresa


plurisocietária:
Tal como o comerciante (individual) da viragem do séc. XIX para o séc. XX cedeu o seu
lugar às sociedades comerciais, estas, no dealbar do novo século, organizam-se em
grupos (jurídicos e económicos), formando estruturas jurídicas plurisocietárias e
plurifuncionais que, gradualmente, irão ocupar no mercado uma posição cada vez mais
relevante e central.

1.1.3 – O tipo social paradigmático:


No quadro do CSC, o regime jurídico da sociedade anónima assume-se como
paradigmático do regime das sociedades comerciais (de responsabilidade limitada).
Com a publicação e a entrada em vigor do CSC, o tipo societário de referência, embora
apresentando uma estrutura e natureza de participações muito diferente dos demais,
passou a ser a sociedade anónima. A sociedade por quotas mantém-se, contudo, como
modelo da sociedade em nome colectivo, dada a vertente subjectiva associada à
respectiva participação (189º nº1CSC).

1.2. Autonomia da vontade e concorrência:


As sociedades comerciais, em regra, movem-se livremente no mercado concorrencial
em que se integram, e em função do qual são constituídas, praticando actos ou
celebrando contratos que não sejam legalmente proibidos. Ao fazê-lo, e na
prossecução dos seus interesses gerais e específicos, actuam no âmbito de um
princípio enformador essencial de toda a actividade mercantil, que é o da autonomia
privada dos respectivos sujeitos.
Autonomia privada ou autonomia da vontade constitui meios que se encontram ao
dispor dos sujeitos de direito para, da forma que se revelar mais adequada e
conveniente aos seus interesses, regerem a sua pessoa e bens, com respeito pelas
regras imperativas e cogentes que delimitam a sua actuação no mercado. No domínio
das sociedades comerciais, a autonomia da vontade permite que os interesses dos
empresários sobrelevem, bem como de todos os que se encontram directamente
envolvidos, de entre os quais se podem referenciar os próprios trabalhadores, bem
como os clientes e os credores (64º CSC).
Quanto ao mercado ele é por natureza concorrencial. A concorrência é formada pela
livre participação dos agentes económicos, cujas faculdades criativas e de execução
são, naturalmente, limitadas pelo direito que todos têm de aceder ao mercado. A
liberdade é, também aqui, sinonimo de permissão genérica de actuação, sendo
admitido tudo aquilo que, em tutela de interesses alheios legítimos, não for, directa ou
indirectamente, proibido.
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1.3. A sociedade anónima europeia:
A sociedade anónima europeia é uma sociedade criada por entidades ligadas a mais de
um estado membro da UE, devendo a respectiva sede estatutária localizar-se num
desses estados e a sociedade encontrar-se nele registada. O respectivo capital
encontra-se dividido em acções, como em qualquer sociedade nacional com idêntica
natureza, e os seus accionistas têm a sua responsabilidade limitada ao capital que
subscrevem. A firma deste tipo societário multinacional deve iniciar-se ou concluir-se
com a sigla “S.E.”.

1.4. Nacionalidade:
As sociedades têm um vínculo a um estado, a que se reportam; têm nacionalidades. O
CSC no art.3º, estabelecendo um critério coincidente com o do art.33ºCC, ao definir a
lei pessoal das sociedades comerciais em função da localização da respectiva direcção
efectiva.

1.5. Personalidade jurídica:


A sociedade comercial adquire personalidade jurídica com o registo (definitivo) do
respectivo contrato o qual tem, assim, efeitos constitutivos no direito português
(art.5º). Com o CSC passámos a ter dois momentos distintos, em matéria de
personificação: o primeiro, a escritura pública de constituição, e o segundo (em regra),
o registo do contrato. Actualmente é suficiente contrato reduzido a escrito, com
assinaturas reduzidas a escrito, com assinaturas reconhecidas presencialmente, mas a
sociedade só adquiria autonomia jurídica definitiva com o registo.

1.6. Capacidade das sociedades comerciais:


A capacidade de exercício das pessoas colectivas e das sociedades comerciais tem que
ver com mecanismos próprios que expliquem a actuação dos respectivos direitos e
vinculações e que essa actuação (exercício) se processa através de um determinado
órgão: a administração ou a gerência.
No plano da capacidade de gozo, ou seja, a medida de direitos e vinculações de que
uma dada sociedade comercial é susceptível de ser titular, de entre todos os direitos e
vinculações possíveis e compatíveis com a personalidade colectiva.
O CSC diz, claramente, que a capacidade da sociedade compreende os direitos e
vinculações necessários ou convenientes à prossecução do seu fim, exceptuados
aqueles que lhe sejam vedados, por lei ou inseparáveis da personalidade singular. Isto
é, o art.6º nº1CSC vem repetir aquilo que já decorria do art.160º do CC, que consagra o
princípio da especialidade do fim das pessoas colectivas.
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2. Principais características dos diversos tipos sociais:

2.1. Considerações gerais:

2.2. Sociedades em nome colectivo:

2.2.1. Enquadramento legal e firma:


As sociedades em nome colectivo encontram-se reguladas no Título II do CSC
(arts.175º a 196º), aplicando-se-lhes, em certas circunstancias, por remissão da lei, o
disposto nas sociedades por quotas (189º nº1). Há dois tipos de sócios nestas
sociedades:
a) Os sócios de capital, que são aqueles que efectivamente realizam uma entrada em
dinheiro ou em espécie; e
b) Os sócios de industria, que são aqueles que vão participar no exercício da actividade,
através do seu trabalho.
Quanto à firma (designação pela qual uma sociedade irá ser conhecida no exercício da
respectiva actividade social), ela deve ser constituída de modo que, pela sua simples
leitura, todos aqueles que giram em volta da sociedade saibam, imediatamente, que
estão perante uma sociedade em nome colectivo. Por isso, se não identificar todos os
sócios, a firma deve, no mínimo, conter o nome (ou a firma) de um deles com o
aditamento, abreviado ou por extenso, que venha a permitir identificar essa realidade
com a ideia de pluralidade, com a ideia de que, efectivamente, existem outros sócios.
Mas a firma pode prefigurar em que um dos sócios é, por sua vez, uma outra
sociedade, designadamente de responsabilidade limitada. E, nesse caso, importa
assegurar que a firma – por exemplo, “António Silva, Lda & outros” – não se confunde
com designação de outro tipo societário. A expressão “& outros” revela pluralidade.

2.2.2. Regime de responsabilidade:


Cada sócio é responsável para com a sociedade pela prestação da sua entrada e
responde, solidariamente com os restantes socos e ilimitadamente perante os
credores da sociedade e peças dividas desta (mesmo anteriores) (175º). Deste modo,
os credores sociais têm como garantia, a responsabilidade solidária dos participantes
na sociedade. No entanto, esta responsabilidade ilimitada é subsidiária, ou seja, só
tem lugar quando o património social não é suficiente para fazer face às dívidas da
sociedade.
Os sócios de indústria são também responsáveis nas relações externas (178º), sendo a
sua responsabilidade subsidiária.

2.2.3. Participações sociais:


As participações denominam-se partes sociais e ao são representados por títulos
(176º).
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2.3. Sociedades por quotas:

2.3.1. Enquadramento legal e firma:


A sociedade por quotas é regulada nos arts.179º a 270 º - G, sendo-lhe directamente
aplicáveis, por remissão expressa, determinadas normas das sociedades anónimas.
No que respeita à firma, ela pode ser formada, com ou sem sigla, e deve ser composta
pelo nome (ou firma) de todos ou alguns dos sócios ou aludir à actividade que a
sociedade se propõe prosseguir, devendo concluir com Lda, com a finalidade de que,
ao olharmos para esta designação social, possamos identificar imediatamente o tipo
social que está em causa.

2.3.2. Regime de responsabilidade:


Cada sócio responde pela sua entrada, mas solidariamente com o restantes sócios até
ao montante do capital social subscrito (art.197º nº1), o que permite responsabilizar
qualquer sócio pela totalidade do capital subscrito.
No entanto, só a sociedade responde pelas suas dívidas perante os credores (197º
nº3), excepto ser os sócios garantirem expressamente que se responsabilizam pelas
mesmas “até determinado montante” (198º nº1).

2.3.3. Participações sociais:


A parte denomina-se quota e não é titulada (197º nº1 e 219º nº7). O seu valor mínimo
é de 1€ (219º nº1 e 3; 250º nº1).

2.4. Sociedades anónimas:

2.4.1. Subtipos:
Podemos distinguir quatro subtipos de sociedades anónimas, a que correspondem
regimes diferentes:
»A sociedade anónima (simplesmente), qualquer que seja a sua dimensão disciplinada
pelas regras do CSC, com excepção daquelas que forem unicamente aplicáveis à
grande sociedade anónima (ou à cotada);
»A grande sociedade anónima, à qual se aplica o CSC em geral, com as especificidades
impostas em razão da respectiva dimensão;
»A sociedade anónima aberta (não cotada), regulada pelas disposições do CSC e sujeita
ao regime mais rigoroso do CVM (arts.13º a 19ºCVM);
»A sociedade anónima (aberta) cotada, à qual se aplicam, para além dos preceitos
normativos comuns a qualquer grande sociedade anónima ou sociedade aberta, regras
próprias e especificas constantes do CSC.
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2.4.2. Enquadramento legal e firma:
As sociedades anónimas são reguladas nos arts.271º a 464º. Por sua vez, o regime
específico das sociedades anónimas abertas extraí-se do CVM (arts.13º a 29º), há
também que recorrer a este diploma quando se trate do regime aplicável às
participações e suas vicissitudes, arts.39º a 107ºCVM.
A firma da sociedade anónima deve concluir pela expressão “S.A.”.

2.4.3. Regime de responsabilidade:


A responsabilidade dos accionistas pelo valor da entrada é individual e exclusiva
(271º). Se o accionista realizar a totalidade da sua participação, ele não terá mais
qualquer responsabilidade pela actividade societária, para além da que possa vir a
assumir especificamente a titulo puramente pessoal.
Só a sociedade é responsável pelas suas dívidas (271º a contrario sensu). Limitando-se
a responsabilidade ao accionista e ao montante que subscreve, a partir de então só a
sociedade responderá pelas dívidas, uma vez que tem autonomia financeira.

2.4.4. Participações sociais:


As participações designam-se acções, correspondendo a fracções de capital com o
mesmo valor nominal (mínimo de 1cêntimo), representadas por títulos (livremente
transmissíveis) ou meramente escriturais (271º, 274º, 276º nº2 e 298º).

2.5. Sociedades em Comandita

2.5.1. Enquadramento legal e firma:


Este tipo societário encontra-se sistematizado nos arts.465º a 480º. Podendo revestir
um de dois modelos distintos – comandita simples e o de comandita por acções – são-
lhe aplicáveis consoante o caso, as regras das sociedades em nome colectivo ou das
sociedades anónimas.
A firma deve resultar do nome ou firma de um dos sócios, acrescentada com a
expressão “em comandita” ou “em comandita por acções”, consoante o caso (467º).

2.5.2. Regime de responsabilidade:


Este regime é composto por duas espécies de sócios, com regimes de responsabilidade
diferentes (465º nº1).
Os sócios comanditados assumem a responsabilidade pelas dívidas da sociedade (nos
mesmos termos das sociedades em nome colectivo); os sócios comanditários não
respondem por quaisquer dívidas da sociedade, para além do capital que
subscreveram.
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2.5.3. Participações sociais:
Podem reconduzir-se apenas a partes sociais ou corresponder também a acções,
consoante o subtipo em causa (465º nº3). Nas sociedades em comandita simples as
participações são todas não tituladas e denominam-se partes sociais. Nas sociedades
em comandita por acções as participações são acções tituladas e regidas pelos
preceitos que caracterizam o regime das sociedades anónimas.

2.6. Confronto das características das sociedades por quotas e anónimas

2.6.2. Diferenças do carácter jurídico-comercial:


Podemos agrupar as diferenças em duas grandes categorias: as que são básicas – e que
resultam da natureza da sociedade ou constituem uma normal projecção da mesma –
e as que se consideram fundamentais, isto é, verdadeiramente responsáveis pela
escolha do tipo societário para a actividade prosseguir, e que são corolário de opções
legais subjacentes à própria delimitação dos tipos em causa.

2.6.2.1. Diferenças básicas que se fundam na identidade


própria do tipo social:
Estão fundamentalmente em causa os aspectos que se prendem com a estrutura e
representação das participações sociais, com o capital mínimo e com o regime da
responsabilidade dos sócios. Um outro factor radica no número mínimo de sócios
necessários para constituir uma sociedade por quotas ou anónima: dois e cinco,
respectivamente, não obstante esta regra ter vindo a sofrer excepções.

2.6.2.2. Diferenças fundamentais:


São, em nosso entender duas, uma relativa à transmissibilidade e circulação do capital
social e a outra respeitante à administração e fiscalização das sociedades por quotas e
anónimas. No entanto, é também possível diferenciar os tipos societários em análise
pela estrutura das suas participações. Referimo-nos à progressiva pessoalização das
sociedades por quotas em face da crescente objectivação das sociedades anónimas,
que se pode sintetizar na ideia de que neste tipo social os direitos e obrigações
existem em função da acção, visto que cada acção fundamenta um direito de
participação social.
Quanto à transmissibilidade e circulação do capital social, na sociedade por quotas a
regra, hoje, é da necessidade de consentimento da sociedade (isto é, dos demais
sócios) para a transmissão a terceiros, sendo possível que estatutariamente se sujeite
também a esse consentimento a própria transmissão para sócios e familiares próximos
(cônjuge e parentes em linha recta) do sócio cedente.
O CSC veio supletivamente limitar a transmissibilidade onerosa de quotas, sujeitando-a
ao consentimento da sociedade (228º nº2).
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Nas sociedades anónimas vigora a princípio da livre transmissibilidade das acções,
admitindo que só muito excepcionalmente possam ser introduzidas limitações (328º).
São sociedades abertas, em que as respectivas participações se transmitem sem
limitações.
Outra grande diferença, tem a ver com a estrutura dos respectivos órgãos sociais. A
sociedade por quotas pode constituir-se com um único órgão institucionalizado, a
gerência. Nenhuma sociedade por quotas está ab initio sujeita a fiscalização, embora
tal possa vir a ocorrer no decurso da sua actividade, tudo dependendo da sua
dimensão. Quanto à assembleia geral só muito raramente aparece institucionalizada, a
regulamentação contratual da respectiva mesa é facultativa.
Nas sociedades anónimas, os sócios deverão optar por uma de três modalidades de
administração e fiscalização que são legalmente pré-estabelecidas, qualquer uma delas
envolvendo a obrigatoriedade de intervenção institucional de, pelo menos, um revisor
oficial de contas (como órgão de fiscalização ou membro deste). Por sua vez, a
assembleia geral é institucionalmente obrigatória, e traduz uma remuneração quando
não seja composta por accionistas (ou não o possa ser).
Permite concluir que os custos inerentes a uma sociedade por quotas são inferiores
aos de uma sociedade anónima.

2.6.3. Perspectiva puramente tributária; breve referência

2.6.3.1. A questão:
O problema em causa é o de saber qual o tipo societário que lhe permite (a ele sócio)
minimizar custos fiscais. No plano societário, o problema coloca-se essencialmente no
domínio dos impostos directos, uma vez que os indirectos, designadamente os
impostos sobre a despesa (IVA e imposto de selo) não distinguem tipos societários.
Numa perspectiva puramente societária, e considerando unicamente o interesse
social, o problema consiste em verificar se a tributação directa que recai sobre uma
sociedade por quotas é idêntica à que incide sobre uma sociedade anónima.

2.6.3.2. Tributação em IRC:


A lei tributária admite que, no que há sociedade por quotas respeita, a gerência da
sociedade possa optar por sujeitar a empresa à tributação pelo lucro presumido
mediante a aplicação do regime simplificado da determinação do lucro tributável. Tal
opção tem especiais vantagens nos casos em que os custos são pouco significativos,
sendo preferível a sociedade optar pela tributação do rendimento presumido, porque
esta acabará por ser inferior à que recairia sobre o rendimento real.
As sociedades anónimas, pelo facto de se encontrarem necessariamente sujeitas à
revisão legal de contas, são sempre enquadráveis no regime geral de determinação do
lucro tributável, sendo tributadas pelos respectivos rendimentos reais declarados.
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2.6.3.3. Reflexos a nível da tributação pessoal do sócio (SPQ) e
do accionista:
Importa começar por distinguir os sócios – pessoas singulares daqueles que são
pessoas colectivas, maxime sociedades comerciais.
Com referência aos sócios pessoas colectivas residentes, não existem diferenças
sensíveis na tributação dos lucros ou dividendos obtidos pelos mesmos, quer se trate
de sociedades anónimas ou de sociedades por quotas, sendo tributados, em termos
finas, à taxa geral de IRC. Quanto à tributação que incidirá sobre as mais-valias
realizadas pelos sócios pessoas colectivas, também não há diferença entre as
sociedades anónimas e as sociedades por quotas, concorrendo essa mais-valia para a
formação do lucro tributável sujeito a IRC. No que toca à tributação de mais-valias
realizadas com a alienação de participações sociais merece destaque o regime
particular aplicável aos sócios pessoas colectivas que sejam holdings (SGPS),
independentemente de as mesmas revestirem a forma jurídica de sociedade por
quotas ou anónima, onde se prevê que as mais-valias realizadas pelas SGPS mediante a
transmissão onerosa de partes de capital de que sejam titulares, desde que detidas por
período não inferior a um ano, e bem assim os encargos financeiros suportados com a
sua aquisição, não concorrerão para a formação do lucro tributável (31º nº2EBF).
Quanto às pessoas singulares, no que se refere à tributação dos rendimentos
periodicamente (ou não) recebidos pelos sócios pessoas singulares das sociedades
comerciais, não há diferenças a assinalar, devendo apenas 50% dos lucros distribuídos
e rendimentos equiparáveis ser englobados e considerados para efeitos e tributação,
no caso de beneficiários residentes, e desde que tais rendimentos sejam devidos por
pessoas colectivas residentes sujeitas a IRC e dele não isentas. Quando se trate de
sócios pessoas singulares não residentes, encontram-se sujeitos a tributação, a uma
taxa liberatória de 20%.
Relativamente à tributação das mais-valias na alienação de quotas ou acções, a regra
geral quanto a sócios pessoas singulares residentes é a de que tais ganhos,
representados grosso modo pela diferença positiva entre o preço da aquisição e o
valor realizado com a respectiva venda, estão sujeitos a uma tributação de 10%, por
aplicação de uma taxa liberatória. Porém, se se tratar de mais-valias provenientes da
alienação de acções detidas pelo seu titular durante mais de 12meses, desde que as
mesmas não se refiram a sociedades cujo activo seja constituído, directamente ou
indirectamente, em mais de 50%, por bens imóveis ou direitos reais sobre imóveis
situados em território português, essas mais-valias ficam excluídas de tributação.
Quando sejam mais-valias e não residentes, quando os mesmos procedam à alienação
onerosa de partes sociais por si detidas em sociedades anónimas ou em sociedades
por quotas, o mesmo será idêntico, beneficiando, regra geral, de isenção de IRS.
Quanto às transmissões mortis causa de participações sociais, de acordo com o Código
de Imposto de Selo, esta prevista isenção subjectiva de Imposto de Selo quando o
mesmo constitua um encargo do cônjuge, descendentes e ascendentes, isto é, dos
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herdeiros legitimários, nas transmissões gratuitas de que os mesmo forem
beneficiários.

2.6.4. Conclusão:
A opção entre o modelo de sociedade por quotas ou o tipo de sociedade anónima
deve, sobretudo, ter em conta a dimensão da actividade que o empresário se propõe
prosseguir e acautelar uma eventual abertura à participação futura de terceiros no
projecto societário.

3. Enquadramento sistemático das sociedades comerciais no século XXI

3.1. Generalidades:
No âmbito do regime jurídico das sociedades, serão objecto de ponderação os
seguintes princípios:
a) Tipicidade;
b) Cogente alterabilidade do contrato de sociedade, condicionada pela inoponibilidade
da criação de novas obrigações, sem o consentimento de todos os sócios;
c)Intangibilidade do capital social;
d) Igualdade de tratamento dos sócios (accionistas) e tutela das minorias (nas
sociedades anónimas);
e) Dissociação entre o risco do capital e a direcção efectiva da sociedade.

3.2. Qualificação da substancia pela forma:


Há entidades que podem assumir essência e forma de sociedade comercial ainda que
na correspondam, de facto, a empresas comerciais.
As sociedades comerciais são comerciantes ou empresas comerciais (13º nº3C.Com); e
são no só pelo simples facto de existirem ou se constituírem como tais, mesmo que
(ainda ou já) não se encontrem a exercer a actividade comercial. Por essa razão,
quando falamos de sociedades comerciais já não discutimos problemas de
qualificação, mas apenas de regime jurídico. O mesmo sucede com sociedades civis
que se organizam sob forma comercial e que, desse modo, passam a estar sujeitas ao
regime das sociedades comerciais (1º nº4CSC).
Apenas no momento constitutivo cabe discutir a comercialidade da sociedade e as
eventuais limitações que o respectivo objecto – por não se poder reconduzir a uma
actividade mercantil – ou dimensão, pela sua exiguidade, pode suscitar. Havendo, ou
podendo existir, risco do capital envolvido, e não correspondendo a actividade a uma
actividade civil, a sociedade poder-se-á constituir como comercial. E todos os seus
actos serão, por definição, actos comerciais, no pressuposto de que cabem e se
enquadram na sua capacidade jurídica.
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3.3. Limitação da responsabilidade pessoal do sócio:
Hoje as sociedades comerciais caracterizam-se sobretudo pela responsabilidade
limitada dos seus associados ao capital que cada um (sociedades anónimas) ou todos,
globalmente (sociedades por quotas), subscrevem.
Presentemente, as sociedades estrangeiras que investem em Portugal, preferem
responder com o seu património a um eventual insucesso da actividade de uma
sociedade participada, o que explica a constituição de sociedades em nome colectivo.
Pelo que evitam ter que prestar garantias pessoais à sociedade devido às
características deste tipo societário.

3.4. Princípios estruturantes do sistema jurídico-societário:

3.4.1. Tipicidade:
A autonomia dos agentes económicos encontra-se limitada à selecção do tipo negocial,
de entre quatro que o art.1º nº2CSC disponibiliza. Escolhido o tipo societário mais
adequado e conveniente à prossecução dos interesses, haverá que respeitar as regras
características do mesmo, nomeadamente o conteúdo mínimo que deverá revestir o
contrato de sociedade e a designação dos respectivos órgãos.
Identificado o tipo societário pretendido, os sócios poderão criar uma série de regras,
no âmbito da liberdade de estipulação de que dispõem, devendo, contudo, respeitar
os princípios e limites imperativos do sistema.
Em suma, este princípio não permite a criação de sociedades de diferentes tipos ou
que congreguem características que sejam inconciliáveis, porque essenciais de tipos
societários diferentes, ou que acolham as regras que descaracterizem o tipo que foi
objecto da opção empresarial.

3.4.2. Cogente alterabilidade do contrato de sociedade e


inoponibilidade da criação de novas obrigações sem consentimento de
todos os sócios:
A sociedade comercial constituída contratualmente pelo acordo daqueles que
participam na sua fundação. Assim, só estes, na sua totalidade, poderiam alterar o
que inicialmente convencionaram. A isso obrigaria o princípio geral da intangibilidade
dos contratos (406º nº1 in fine CC). Mas o contrato de sociedade tem uma dupla
natureza, razão de ser de dois momentos que se distinguem na vida da sociedade:
»O momento constitutivo, em que se cria um centro autónomo de imputação de
direitos e vinculações, mediante o acordo das vontades dos participantes na
celebração do contrato (anteriormente outorga da escritura) (sociedade-contrato); e
»A realidade dinâmica e personalizada que emerge desse acordo (após registo
definitivo do contrato) com autonomia perante terceiros (com quem se relaciona) e
perante os próprios sócios, realidade essa que tem de se adaptar às constantes
mutações do mercado, de que faz parte (sociedade-instituição).
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Fruto da vontade de todos os sócios, inclusivamente quando é aberta ao investimento
do público, a sociedade-instituição autonomiza-se do contrato inicial que a gerou, até
porque a exigência da unanimidade daqueles para proceder a modificações futuras
conduziria, inevitavelmente, à sua paralisação. Daí que a possibilidade de alterar os
estatutos (pela maioria) seja absolutamente necessária ao bom funcionamento da
sociedade. E mesmo que tal faculdade não fosse consequência necessária do carácter
institucional da sociedade e das necessidades de deliberação dos seus órgãos, a
própria lei geral deixa uma porta aberta à alterabilidade do contrato de sociedade
anónima (e por quotas).
A lei societária resolve de forma positiva o imperativo de ordem lógica que temos
vindo a analisar – o da alterabilidade do contrato -, estabelecendo as condições
necessárias para a sua efectivação por deliberação maioritária. E o facto de a lei
admitir que, numa sociedade por quotas, seja possível condicionar as alterações de
contrato à vontade de um único sócio – pela atribuição de um direito especial com
esse conteúdo (265º nº2CSC) -, não põe em causa o princípio em análise.
Existem outros obstáculos legais, a partir dos quais o ordenamento jurídico pretende
conceder certeza e segurança à participação societária, não inviabilizando o natural –
e, frequentemente, desejável e previsível – crescimento da sociedade,
designadamente por aumento da sua capacidade económica, sempre que a maioria
fundamentadamente o decida. O que a lei não permite é que, contra vontade de um
sócio, sejam constituídas novas obrigações que o vinculem e, em certas circunstancias,
possam pôr em causa a sua subsistência na sociedade. Por isso, existe um princípio
fundamental, acolhido no nº2 do art.86ºCSC, segundo o qual a criação de (novas)
obrigações em vida da sociedade só pode vincular os sócios que as aprovarem
expressamente, o que significa que, para serem eficazes perante todos, devem ser por
todos aprovadas.
Não é possível aos accionistas deliberarem restrições ou limitações à
transmissibilidade das participações sociais em vida da sociedade, sem que a alteração
do contrato recolha o “consentimento de todos os accionistas cujas acções sejam por
ela afectadas” (328º nº3), ou, do mesmo modo, não será legítimo à sociedade impor
um tecto estatutário de voto (384º nº2 al.b)), por alteração do contrato, aos
accionistas que não concordarem com essa modificação. Este corolário decorre não
apenas do princípio da boa fé, mas implicitamente do princípio fundamental
estabelecido no nº2 do art.86ºCSC.

3.4.3. Intangibilidade do capital social:


O capital social é a cifra numérica de valor constante, em dinheiro, expressa em euros,
correspondente à soma das entradas dos sócios e ao montante que estes pretendem
afectar ao exercício da actividade económica que prosseguem sob a forma jurídica
societária e que, sobretudo, equivale ao valor que os sócios reputam como adequado
para prosseguirem uma actividade económica empresarial de natureza mercantil.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 1
Coincidindo com o património de constituição da empresa societária, o capital social
constituirá a medida da responsabilidade patrimonial dos sócios que, de um modo
geral, não ficam obrigados a proceder à entrega de bens para além do montante que
subscrevem (pelo menos, nas sociedades por quotas e anónimas) e não podem
receber bens da sociedade à custa desse valor, que deve ficar exclusivamente afecto
ao exercício da actividade societária, não podendo ser utilizado para satisfação de
dívidas pessoais dos sócios, nem ser objecto de distribuição entre estes.
O princípio da intangibilidade do capital social traduz-se na impossibilidade de
distribuição de bens necessários e indispensáveis à cobertura do capital social (32º).
Não significa que a cifra em que se exprime não possa ser tocada. O princípio tem a ver
com o facto de o capital dever ter uma certa correspondência com o património
societário e este dever ser preservado das pretensões directas dos credores pessoais
dos sócios, ficando apenas ao alcance dos credores sociais. Quer dizer, o capital social
está prioritariamente afectado à satisfação das dívidas sociais; portanto os credores
sociais estão graduados antes dos credores pessoais dos sócios. E este é um princípio
absoluto tanto das sociedades anónimas como das por quotas.

3.4.4. Igualdade de tratamento e tutelas das minorias:


Constituiu prática dominante da segunda metade do séc.XX procurar assegurar que os
sócios com menor peso económico e político tivessem direitos sociais
proporcionalmente iguais aos dos sócios maioritários e dominantes.

3.4.4.1. O princípio da igualdade de tratamento dos accionistas:


Princípio fundamental do direito societário actual é o que se traduz na igualdade de
tratamento dos sócios em geral e dos accionistas em particular. A lógica subjacente a
este princípio é a de que, na prossecução da actividade e na realização do interesse
social, a sociedade deve colocar todos os associados em pé de igualdade. Em igualdade
de circunstâncias, e considerando naturalmente a proporção da respectiva
participação no capital da sociedade, os sócios devem ser objecto de tratamento
igualitário.
A igualdade deve ser também suscitada quando os sócios são chamados a assumir
obrigações contratualmente estipuladas e que sejam, entretanto, tornadas exigíveis
por deliberação ou, inclusivamente, quando está em causa a remuneração das
obrigações onerosas assumidas pelos sócios para com a sociedade e que pode traduzir
de facto, e consideradas as condições de mercado, reais vantagens de carácter
pessoal.
É um princípio que não tem uma regulação autónoma e, nesse sentido, não assume
autonomia, apenas é feito um afloramento do mesmo no art.321ºCSC, que faz dele um
princípio fundamental para as sociedades anónimas, mas que tem de ser tido em
conta em todos os actos societários que relacionem a sociedade com os seus sócios ou
que se projectem na esfera jurídica destes.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 1
3.4.4.2. Tutela das minorias (nas sociedades anónimas):
Nas sociedades por quotas, os sócios têm, independentemente do montante da
respectiva participação social, direitos de participação idênticos, definindo-se as
respectivas situações jurídicas activas em função da qualidade de associado e não do
montante da participação social.
Nas sociedades anónimas os direitos são atribuídos às participações sociais e existem,
em regra, em função destas. Não sendo relevante a pessoa do sócio, certos direitos
são de exercício tendencialmente colectivo, por pressuporem a previa agregação de
participações que representem uma determinada percentagem mínima do capital
social. Para protecção dos interesses dos accionistas minoritários, naturalmente
afastados do poder, a lei concede-lhes a possibilidade de, mediante a titularidade de
um determinado montante mínimo do capital social, por vezes agregando as suas
participações às de outros accionistas na mesma situação, exercerem certos direitos
que de outro modo lhe estariam negados.

3.4.5. Dissociação entre o risco do capital e a direcção efectiva da


sociedade:
Significa que quem as gere não é quem sofre o risco do capital investido associado à
respectiva actividade.
A expressão máxima deste princípio verifica-se no âmbito das sociedades anónimas
que requerem maior especialização e competência da respectiva actividade.

3.5. O interesse social:


Não é um princípio estruturante da sociedade comercial, constitui, antes, um fim da
própria sociedade que, constituindo uma organização de factores de produção,
prossegue o objectivo de proporcionar àqueles que a constituem ou venham a integrar
um ganho com o resultado da actividade dessa organização. Na determinação do
interesse da sociedade, devemos atender aos interesses de longo prazo dos sócios e
de todos aqueles cujo contributo é indispensável para o desempenho da actividade
societária, isto é, os trabalhadores, os clientes e os credores. O relevo de todos estes
sujeitos é patente no art.64ºCSC.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 1
Capitulo II
Constituição da Sociedade
Secção I – (Projecto de) Contrato de sociedade e acordos parassociais

4. Menções obrigatórias e facultativas do contrato de sociedade:

4.1. Acto constitutivo, estatutos e contrato:


O CSC não fala em acto constitutivo, nem em estatutos, nem em pacto social, mas
apenas em contrato, acentuado a natureza do acto constitutivo da sociedade.
A unificação dos instrumentos de constituição e regulamentação da sociedade é
consentânea com a sua (dupla) natureza jurídica: começando por ter uma função
primacialmente contratual, corolário do acordo de vontades daqueles que pretendem
criar um centro autónomo de imputação de interesses, o acto passa a ter uma função
predominantemente normativa de regulação das relações entre os sócios e,
indirectamente, pela sua publicidade, de tutela das relações estabelecidas com
terceiros.
Os estatutos constam do contrato de fundação da sociedade, do qual deixaram de se
distinguir formal e substancialmente.
Contrato e estatutos passaram, pois, a ser termos sinónimos, enquanto lei
fundamental da sociedade, sito é, conjunto de regras que asseguram a realização dos
seus objectivos (nomeadamente actividade que se propõe a prosseguir), a sua
existência, os seus aspectos estruturais e funcionais, a concretização da ideia que
esteve subjacente à sua criação. Este significado acentuou-se definitivamente com a
reforma de 2006, porquanto as sociedades deixaram de ter de se constituir
obrigatoriamente por escritura pública, sendo suficiente que o respectivo contrato
constitutivo seja reduzido a escrito, com assinaturas dos participantes reconhecidas
presencialmente (7º nº1).
O contrato de sociedade distingue-se do regulamento, que consiste no conjunto das
normas da colectividade que disciplinam os pormenores da execução e aplicação dos
princípios gerais básicos estabelecidos contratualmente. Regulando aspectos da
organização da empresa em que a sociedade constitui a forma jurídica, surge
fundamentalmente nas sociedades anónimas de grande dimensão. Sendo
característico da vertente empresarial da sociedade, a sua aprovação e alteração não
está sujeita a qualquer formalidade, sendo da competência do órgão executivo, salvo
se diversamente previsto no contrato de sociedade.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 1
4.2. Conteúdo do contrato de sociedade (breve caracterização):
O contrato visa a constituição e a disciplina da actividade da sociedade, estabelecendo
a sua denominação, sede e objecto, o capital social, órgãos, direitos fundamentais dos
sócios e, eventualmente, regras sobre o exercício social e a dissolução.
No que respeita ao conteúdo do contrato de sociedade comercial, há que distinguir
imediatamente dois aspectos: um relativo às respectivas menções obrigatórias, isto é,
que respeita ao que deve constar necessariamente do contrato de sociedade, e outro
referente às matérias que, com observância das normas imperativas, os sócios
pretendem ver consagradas e que se reconduzem a menções facultativas.
A inobservância das menções obrigatórias tem consequências mais gravosas a não
regulamentação adequada das menções facultativas, uma vez que o desrespeito das
menções obrigatórias, pode pôr em causa a subsistência da própria sociedade,
enquanto que a vicissitude de uma menção facultativa reconduzir-se-á, em principio, à
irrelevância desta, que se tem por não escrita, como sucede com todas aquelas que
não forem expressamente acolhidas no contrato social e não resultem de normas
supletivas.

4.3. Menções obrigatórias, principais aspectos

4.3.1. Generalidades:
Nesta matéria são particularmente relevantes os arts.9º; 199º e 272ºCSC e 14ºCVM.

4.3.2. Tipo social e identificação das partes:


A primeira menção a relevar, em termos de requisito imprescindível, é a que decorre
do próprio princípio da tipicidade, isto é, a indicação do tipo social pretendido, de
entre os quatro previstos na lei (1º nº2 e 3).
Evidenciado pelo nome da própria sociedade, isto é, pela firma, no contrato de
sociedade deve promover-se a identificação das partes, isto é, a referência dos nomes
ou firmas e outros dados de identificação de todos os sócios fundadores (9º nº1 al.a) e
b)).
No que respeita à constituição da sociedade, permitem, desde meados de 2006,
equacionar a correspondência do acto constitutivo a um único instrumento escrito e
não já ao desdobramento que, anteriormente, por vezes se fazia, entre escritura
pública e documento complementar.
Nos casos em que a escritura pública continuará a ser necessária (7º nº1 in fine)
poderá haver menções obrigatórias que, em relação ao contrato de sociedade, sejam
nela exaradas, podendo os estatutos, que correspondem ao contrato de sociedade em
sentido estrito, constar de um documento complementar (avulso) à escritura que,
fazendo parte integrante desta, não inclua todas as menções obrigatórias. Nesses
casos, será por referência à escritura de constituição que se poderá determinar quem
é que são os accionistas fundadores da sociedade.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 1
4.3.3. A firma:
A firma é o nome ou denominação que individualiza um comerciante ou um
empresário mercantil no exercício da sua actividade comercial; e é uma designação
que identifica também a empresa colectiva ou a sociedade comercial. A adopção da
firma corresponde a uma obrigação mercantil (18ºCCom), pelo que todos os sujeitos
de Direito Comercial devem adoptar uma firma, pela qual serão conhecidos e
identificados no exercício da respectiva actividade económica. E as sociedades
comerciais não fogem à regra, encontrando-se obrigadas a adoptar uma firma (art.9º
nº1 al.c); 177º; 200º; 270º - B, 275º e 467º).
No caso das sociedades comerciais o registo do contrato é constitutivo, isto é, a
sociedade só se considera constituída e adquire personalidade jurídica própria com o
registo definitivo do contrato (5º).
A firma pode assumir dois significados distintos: em sentido objectivo, ela reconduz-se
ao estabelecimento onde o comerciante desenvolve a sua actividade, que identifica (e,
nesse caso, corresponde ao nome do estabelecimento); em sentido subjectivo (e
aquele que é correntemente utilizado pela lei nacional), a firma consiste no (próprio)
nome que identifica e individualiza o comerciante (sociedade) na respectiva actividade
comercial e em função do qual ele beneficia de uma determinada tutela. Constitui o
sentido amplo de firma.
Fala-se de firma-nome quando corresponde à conjugação de um ou mais nomes dos
sócios com a indicação de que ressalte terem estes organizado a respectiva actividade
de forma colectiva. Exemplo: «Aguiar & Mota, S.A.».
A firma-denominação consiste na individualização da sociedade por referência à
actividade específica que ela se propõe realizar, sendo (total ou parcialmente)
composta pelo objecto que caracteriza a actividade da sociedade que visa identificar.
Exemplo: «Companhia de Seguros Vida “A Venturosa”, S.A.,
A firma tanto pode surgir com o nome das pessoas que a integram, como
corresponder à actividade que o empresário mercantil pretende prosseguir, e pode ser
associada a siglas ou a expressões de fantasia.
A firma pode ser mista, congregando o nome dos que integram a organização que
prossegue uma certa actividade e fazendo menção ao tipo de actividade que essas
pessoas, organizadas colectivamente, possam realizar, eventualmente sob a forma
jurídica societária. Nesse caso, a firma é simultaneamente uma firma-nome e uma
firma denominação. Podemos recorrer a exemplos diferentes em que a associação do
nome à actividade surge integrada, como sucede com a firma “Banco Espírito Santo,
S.A.”.
Hoje, já não há limitações quanto às palavras a serem utilizadas na composição das
firmas, podendo as mesmas serem integradas por quaisquer vocábulos estrangeiros
(cfr. art. 10.º do CSC) e já não estando sujeitas a revelar tanto quanto possível a
actividade da sociedade, sem prejuízo de se revelar adequado existir uma
correspondência mínima entre a denominação social e o objecto social. Surgem, assim,
firmas que, não referenciando o nome de qualquer dos sócios, também não revelam a
actividade que a sociedade se propõe prosseguir. Exemplo: Nanium, S.A..
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 1
Os princípios caracterizadores da firma são o principio da verdade, da exclusividade ou
novidade e da unidade.
O princípio da verdade visa, garantir a conformidade entre a realidade jurídica que se
pretende organizar e a realidade social que é o objecto da concretização dessa
realidade jurídica, para que não haja discrepâncias e erros das pessoas que pretendem
ter na firma uma referência do sujeito de Direito Comercial, em geral, e da sociedade
comercial, em particular (10º nº1 e 3).
O principio da exclusividade ou novidade significa que uma nova firma deve ser
distinta das já existentes, não devendo ser confundível com estas e permitindo assim
diferenciar as empresas entre si (art. 10º, nº 2 do CSC). Visa evitar que venham a ser
criadas no mercado empresas com um nome semelhante ao das já existentes,
introduzindo confusão nos agentes que no mesmo se movimentam.
Por fim, o princípio da unidade corresponde à ideia de que o mesmo sujeito de Direito
Comercial só pode ser conhecido no universo jurídico por único nome, decorre do
princípio da verdade e não tem relevância autónoma no domínio das sociedades
comerciais.

4.3.4. O objecto social:


Do contrato de sociedade tem de constar também o respectivo objecto (9º nº1 al.d) e
11º nº1 e 2). O objecto social consiste na actividade económica específica a
desenvolver pela sociedade (11º), que, em certas circunstâncias, permite determinar a
respectiva comercialidade (1º nº2).

4.3.5. A sede:

4.3.5.1. Conceito:
A sede social ou domicilio da sociedade é também uma menção essencial do contrato
de sociedade (art.9º nº1 al.e) e 12º); devendo corresponder ao centro de vida da
sociedade, ao local onde se tem por contactada sempre que for preciso comunicar
com ela, nomeadamente através de meios oficiais que consistam em comunicações de
natureza judicial ou administrativa.
A lei exige que a sede seja “estabelecida em local concretamente definido” (12º nº1),
no qual seja possível estabelecer uma interacção entre os que pretendem contactar a
sociedade e os representantes desta. A sede tem, assim, uma importância significativa,
uma vez que constitui uma referência geográfica fundamental da sociedade, desde
logo determinando a lei aplicável. Nela deve funcionar a administração e reunir a
assembleia geral, salvo se a sede não reunir condições para o efeito, nomeadamente
por ser exígua, caso em que a assembleia pode ser convocada para reunir noutro local
do território nacional (377º nº6 al.a)).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 2
4.3.5.2. Mudança de local:
A sede pode ser deslocada para qualquer lugar do território nacional por simples
decisão da administração ou da gerência sempre que o contrato de sociedade não o
impedir (12º nº2).

4.3.5.3. Outras instalações sociais:


Para além da sede, a sociedade pode ter outras instalações, nomeadamente sucursais,
agências, delegações ou escritórios, competindo ao órgão da administração, quando
legal ou contratualmente autorizado, decidir sobre a abertura de novas instalações.
Não há que prever a possibilidade de o órgão da administração deliberar sobre a
criação ou o encerramento de filiais, sucursais, agências, delegações ou quaisquer
outras formas locais de representação, quer as mesmas se situem no país ou no
estrangeiro, se tais actos não coincidirem com a “alienação, oneração ou a locação de
estabelecimento de uma sociedade por quotas (246º nº2 al.c)).

4.3.5.4. Formas de representação legalmente reconhecidas:


A nacionalidade (portuguesa)da sociedade determina-se pela localização (em Portugal)
da “sede principal e efectiva da sua administração” (3º nº1 1ªparte).
Logo, ou a sociedade estrangeira, que pretende investir em Portugal, opta por
constituir uma sociedade comercial portuguesa (com personalidade jurídica),
assumindo e beneficiando de todos os efeitos daí decorrentes, nomeadamente se for
sócia única (83º; 84º e 481º nº2 al.c)) – e gozando da limitação genérica da respectiva
responsabilidade patrimonial pela actividade da participada – ou cinge-se a instituir
um estabelecimento estável ou uma sucursal.
Estando em causa o exercício, com carácter de permanência, de actividade económica
em Portugal, e havendo que determinar a forma jurídica mais adequada para o efeito,
as hipóteses de escolha são as seguintes:
-- Sociedade comercial por quotas ou anónima, constituída segundo o direito
português;
-- Sucursal de sociedade estrangeira;
--Sociedade offshore (zona franca da madeira ou da Ilha de Santa Maria); e
eventualmente
--Escritório de representação (caso a actividade seja reduzida).
O direito substantivo português (CSC) apenas exige que seja estabelecida
representação permanente relativamente às sociedades estrangeiras que pretendem
exercer em Portugal a sua actividade por mais de um ano (4º nº1). Essa limitação
temporal, e a obrigação decorrente do decurso do tempo, tem relevância, porquanto a
inobservância da instituição de representação permanente (ou estabelecimento
estável) determina a responsabilidade ilimitada da sociedade estrangeira por todos os
actos que, em seu nome, sejam praticados em Portugal e a responsabilidade solidária
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 2
com ela de todas as pessoas que tenham praticado efectivamente tais actos, bem
como dos respectivos administradores.

4.3.5.5. Sucursal:
Não é genericamente reconhecida com autonomia pela lei das sociedades comerciais
portuguesa, embora seja objecto de regulamentação pela lei tributária e também por
leis especiais.
A sucursal não reveste personalidade jurídica, não constituindo por isso um sujeito
autónomo de direito, apesar de ter personalidade tributária. Não se distinguindo
verdadeiramente da sociedade estrangeira, a que pertence e da qual constitui um
prolongamento, a sucursal depara-se com naturais limitações legais aos negócios
jurídicos que pretenda celebrar com a sociedade estrangeira, não obstante a lei
tributária permitir que ela facture à sucursal os serviços prestados e que sejam
incorporados na facturação final desta, desde que devidamente comprovados. A
sociedade estrangeira assumirá então a responsabilidade total e ilimitada pela
actividade da sucursal.

4.3.6. O capital social:


O capital social é também menção obrigatória do contrato de sociedade (9º nº1 al.f)),
consistindo na “cifra numérica de valor constante, em dinheiro, expressa em euros
(14º), correspondente ao património de constituição da empresa”, isto é, soma de
todas as participações dos sócios.
Nas sociedades anónimas e por quotas (tipos sociais em que não são admitidas
contribuições de indústria – 277º nº1 e 22º nº1) o capital social forma-se
exclusivamente com as entradas dos sócios, sendo representado unicamente por
acções e por quotas (271º e 197º nº1). De inicio tende a ser equivalente ao património
da sociedade, mesmo enquanto os sócios não realizam integralmente as suas entradas
(o capital subscrito), uma vez que o crédito que a sociedade terá sobre eles integra o
património (activo). Mas pode ser superior se sobre eles forem sobreavaliadas as
entras em espécie, ou inferior, quando as acções forem emitas com prémio (acima do
par).
A lei estabelece um capital mínimo obrigatório de 50 000€ (cinquenta mil Euros) para
as sociedades anónimas (276º nº3) e um capital social livre para as sociedades por
quotas, cujo valor de cada quota não pode ser inferior a 1€ (201º e 219º).

4.3.7. Montante da participação e natureza da entrada de cada sócio;


quotas, acções e natureza da entrada e partes sociais (valor nominal,
quantidade, categorias e forma):
Nas sociedades por quotas os sócios são todos iguais, não havendo diferentes
categorias de quotas. A quota não é titulada, constituindo um clássico exemplo de
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 2
bem incorpóreo, e deve revestir o montante mínimo 1€. O sócio tendencialmente só
deverá ser titular de uma (única) quota.
Nas sociedades anónimas a participação social designação por acção, podendo ser
representada documentalmente (em título) ou ser meramente escritural (acção não
titulada). A acção, enquanto participação social, deve corresponder ao montante
mínimo de 1cêntimo (0.01), embora na maior parte dos casos o respectivo valor
nominal seja de 5€ (cinco euros) ou de 1€ (um euro). Um sócio accionista pode ser
titular de tantas acções quantas as que tiver capacidade financeira para subscrever ou
adquirir. As acções, consoante os direitos que as caracterizam, agrupam-se em
categorias.
Nas sociedades em nome colectivo, as partes sociais não são tituladas (176º nº2) e não
têm valor nominal, podendo os sócios de indústria “realizar” a sua participação
exclusivamente em trabalho. A parte social é única para cada sócio, distinguindo-se os
sócios de capital dos sócios de indústria, embora seja possível congregas as duas
qualidades.
As entradas de capital podem ser em dinheiro ou em espécie, devendo neste caso ser
certificadas por ROC.

4.3.8. Data do encerramento anual:


Em princípio o exercício anual coincide com o ano civil, decorrendo de 1de Janeiro a 31
de Dezembro do mesmo ano. Mas, para certas actividades que, tendo actividade
essencialmente sazonal, e para as sociedades nacionais participadas por sociedades
estrangeiras com diferentes exercício sociais e frequentemente cotas em bolsa, é
perfeitamente justificável que o exercício não coincida com o ano civil.
Presentemente, é possível que a sociedade adopte um exercício social diferente do
ano civil, embora deva requerê-lo expressamente às autoridades fiscais, nos termos do
disposto no art.7º do código de IRC, conforme previsto nos arts.9º nº1 al.i) e 65º - A
CSC. E, nesse caso, sendo o exercício social diferente do ano civil, o mesmo deverá
“coincidir com o ultimo dia de um mês de calendário”, isto é, deverá ter,
habitualmente, inicio no dia 1 de um determinado mês e concluir-se no último dia do
decimo segundo mês subsequente, devendo o mesmo constar do contrato de
sociedade (9ºnº1 al.i)).
A lei é omissa quanto à duração do primeiro exercício social, quando este corresponde
ao regime-regra, isto é, coincide com o ano civil. Mas resulta da lei (9º nº1 al.i) a
contrario) que, sendo o exercício social coincidente com o ano civil, o exercício social
se encerra a 31 de Dezembro de cada ano.
De uma disposição legal que regula a duração do mandato dos administradores (391º
nº3 1ªparte), poderemos concluir que o primeiro exercício social termina na data
prevista para o respectivo encerramento, isto é, no dia 31 de Dezembro do ano (civil)
em que teve inicio a actividade da sociedade; mesmo que tenha decorrido apenas
escassos dias desde essa data.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 2
Diversamente, em relação às sociedades cujo exercício social não coincide com o ano
civil, o primeiro exercício terá uma duração não inferior a 6meses, nem superior a
dezoito meses, pelo que, iniciando-se mais de seis meses antes do termo previsto para
o seu encerramento se conclui nessa (correspondente ao seu termo); se a mesma
distar do de actividade menos de seis meses, então o primeiro exercício terá uma
duração superior a um ano, uma vez que só se conclui na data prevista para o seu
encerramento do ano seguinte (65º - A).

4.3.9. Os modelos de organização da administração e fiscalização das


sociedades anónimas e a administração sãs sociedades por quotas:

4.3.9.1. Estrutura de gestão e fiscalização das sociedades


anónimas:
A indicação da estrutura da administração e fiscalização da sociedade anónima é
outras das menções obrigatórias do contrato de sociedade (272º al.g)), uma vez que
neste tipo social é possível adoptar uma de três estruturas admitidas na lei (278º nº1).
Com efeito, a gestão e fiscalização da sociedade anónima pode reconduzir-se, a um de
três modelos:
a) Conselho de administração e conselho fiscal, eventualmente com ROC
externo (modelo clássico);
b) Conselho de administração, compreendendo uma comissão de auditoria, e
ROC (modelo anglo saxónico); ou
c) Conselho de administração executivo, conselho geral e de supervisão e ROC
(modelo germânico).
A opção por uma das estruturas depende, essencialmente, de dois aspectos
diferenciados: a dimensão da sociedade e a existência de controlo mais ou menos
definido do respectivo capital e direitos de voto ou relativa dispersão no mercado das
participações sociais. No que respeita à dimensão, as pequenas sociedades anónimas
tenderão a adoptar o modelo clássico, eventualmente reduzido a administrador e
fiscal únicos, sendo incompatíveis com as sociedades de modelo anglo-saxónico; as
sociedades médias optarão entre o modelo clássico e o modelo germânico e só as
grandes sociedades elegerão o modelo anglo-saxónico, embora possam escolher
qualquer dos outros. No entanto, é de salientar que qualquer dos modelos é adequado
a sociedades de grande dimensão, dependendo a escolha frequentemente da maior ou
menor concentração e dispersão do capital social.

4.3.9.2. Sociedades por quotas:


Neste tipo societário não tem de haver necessariamente fiscalização, podendo a
sociedade constituir-se contratualmente com um único órgão institucionalizado: o
gerente ou a gerência.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 2
No momento da constituição da sociedade a fiscalização nunca é obrigatória, salvo se
o objecto social o impuser (como sucede com as SGPS – 10º nº2), podendo vir a impor-
se ainda que a titulo pontual, quando durante dois exercícios sociais se registarem
determinados parâmetros, previstos e enunciados no art.262º nº2. Só nessas
circunstâncias a sociedade fica obrigatoriamente sujeita a fiscalização por ROC.

4.4. Consequências da falta de menções obrigatórias:


Vêm previstas no art.42º, relativamente às sociedades anónimas e por quotas;
disposição legal que prevê duas soluções diferentes: a nulidade do contrato (nº1) e a
sanação de alguns dos vícios verificados (nº2).

4.5. Menções facultativas do contrato de sociedade:


Para além das menções obrigatórias (cuja falta pode determinar a invalidade do
próprio contrato), há que acautelar a inclusão no contrato de sociedade de faculdades
que a não consagração estatutária faz corresponder à impossibilidade de
aproveitamento (sem prévia alteração do contrato, nalguns casos por unanimidade),
caso os sócios (ou, a sociedade) pretendam vir a prevalecer-se dessas prerrogativas.
As menções facultativas podem ser de três tipos: comuns aos dois tipos sociais que
estudamos ou especificas de cada um deles.

4.5.1. Menções comuns (às sociedades por quotas e anónimas)

4.5.1.1. Participação em outras sociedades de diferente objecto


social e em agrupamentos complementares de empresas:
Se o contrato de sociedade não autorizar a participação da sociedade noutras
sociedades, desde que com objecto social diferente, essa participação não é possível,
ainda que esteja unicamente em causa a simples aquisição de acções (correspondente
a uma pura aplicação financeira). O que se traduz de uma leitura crua do CSC
(nomeadamente art. 11º nº4 a contrario e 5), que veda literalmente a aquisição de
participações sociais mesmo quando constitui mero investimento financeiro, se tal
possibilidade não estiver contratualmente prevista; e ainda que tal investimento seja
insignificante quando comparado com o capital da sociedade em causa. A ordem de
compra de acções em bolsa dada por um gestor de conta da sociedade corresponderia,
assim, nesse contexto, a um acto nulo (294ºCC), com os inconvenientes daí
resultantes.
Atendendo ao disposto no art.11º (conjugação dos nº4 e 5), a generalidade das
sociedades acautela a possibilidade de aquisição e subscrição de participações sociais
em sociedades de diferente objecto, ainda que também de responsabilidade limitada.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 2
4.5.1.2. Autorização para emissão de obrigações:
Caso os sócios pretendam deixar em aberto a possibilidade de a sociedade poder vir a
emitir obrigações, é essencial que eles deixem em aberto essa possibilidade,
autorizando a assembleia geral a deliberar a emissão de um empréstimo obrigacionista
(272º al.f) e 350º nº1 in fine). A faculdade legalmente estabelecida, no CSC, é aplicável
às sociedades por quotas, por efeito do disposto no artigo único do DL nº160/87 de 3
de Abril, que veio corrigir uma omissão do legislador.
Subsiste fundamentalmente o problema que é o de apurar se constitui menção
facultativa do contrato de sociedade admitir que a competência para a deliberação de
uma emissão de obrigações é também do conselho de administração. A resposta
deverá ser afirmativa, inclinando-se a lei para estabelecer em favor do conselho de
administração uma competência alternativa (350º nº1 in fine), sempre que o contrato
de sociedade preveja essa faculdade.
No que respeita à eventual competência da gerência para deliberar (ou decidir) a
eventual emissão de obrigações e à aplicação a este tipo societário do disposto no
art.350º nº1 in fine, de modo que o lançamento do empréstimo obrigacionista possa
ficar organicamente dependente da administração da sociedade, afigura-se ser
suficiente a previsão contratual da autorização para emissão de obrigações e a
competência da gerência para o efeito, ainda que tal conclusão não deixe de causar
uma certa perplexidade.
Em paralelo com a autorização estatutária para emissão de obrigações, não se vê
como inconveniente que o contrato de sociedade inclua igualmente, e a propósito da
emissão de obrigações, uma autorização para a criação de outros instrumentos
financeiros.

4.5.1.3. Cláusulas sobre distribuição de lucros:


A lei não estabelece regras imperativas sobre a distribuição de lucros limitando-se a
propor uma solução supletiva, nos arts.217º nº1 e 294º nº1 que, no entender do
professor, confere aos sócios e accionistas o direito a receber uma certa parte do lucro
distribuível.
Não obstante, é habitual os contratos de sociedade remeterem para a livre
discricionariedade dos sócios a eventual (não) distribuição de lucros periódicos. No
entanto, atendendo às regras supletivas constantes dos arts.217º nº1 e 294º nº1,
fazendo uma leitura restritiva das mesmas pode retirar-se da lei a garantia da
distribuição periódica de uma parte (mínima) dos lucros do exercício.

4.5.1.4. (Cláusulas que estabelecem a exigibilidade de


realização de) prestações acessórias:
Na vertente das obrigações, haverá que prever a possibilidade de o contrato vir a
impor a determinados sócios, ou à totalidade dos mesmos, a obrigação de efectuar
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 2
prestações acessórias, quer nas sociedades por quotas, quer nas sociedades anónimas,
nos termos dos arts.209º e 287º.
Qualquer das disposições tem o cuidado de referir que se tais obrigações se
configuram como um contrato típico, elas seguem o regime desse mesmo contrato.
O contrato mais típico de obrigação de prestações acessórias é o chamado contrato de
suprimento. Neste caso, os ditos suprimentos são empréstimos que os sócios fazem à
sociedade e que passam a ser eventualmente obrigatórios quando exigidos pela
sociedade se previstos no respectivo contrato.
Nas sociedades anónimas, a estipulação de prestações acessórias implica que as
acções sejam nominativas (299º nº2 al.c)).

4.5.1.5. (Cláusulas sobre) alienação do direito de preferência na


subscrição de aumentos de capital por entradas em dinheiro:
Quando está em causa um aumento do capital social, os sócios têm o direito de
preferência de o subscreverem, proporcionalmente às participações que já detêm. Tal
direito permite-lhes manter uma participação social proporcional à que anteriormente
eram titulares.
Acontece que os sócios ou accionistas podem não estar interessados em subscrever,
na totalidade ou em parte, o aumento de capital social, podendo optar por ceder a
terceiros esse direito, mediante uma determinada contrapartida. É possível regular
estatutariamente a alienação do direito de preferência na subscrição de aumentos de
capital (267º e 458º nº3).

4.5.1.6. (Cláusulas sobre) nomeação de gerentes,


administradores, membros do conselho geral ou liquidatários:
Pode aproveitar-se o contrato de sociedade para imediatamente indicar as pessoas
que vão desempenhar determinadas funções e evitar assim realizar uma assembleia
geral com a finalidade de eleger os titulares dos órgãos sociais.
Os arts.252º nº2, 391º nº1 e 435º nº1 são os preceitos legais que, respectivamente,
prevêem a nomeação contratual de gerentes, a designação de administradores ou de
membros do conselho geral, e o art.151º nº1, relativamente à possibilidade de
indicação dos liquidatários, em caso de liquidação da sociedade.

4.5.1.7. Designação do secretário da sociedade, quando a


mesma é facultativa:
Em certos casos, a nomeação de um secretário da sociedade corresponde a uma
exigência legal; noutros, tal designação será meramente facultativa (446º - D) e
permitirá delimitar com algum cuidado as funções do secretário nessa circunstância.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 2
4.5.1.8. Atribuição de vantagens especiais aos sócios:
As vantagens especiais concedidas a sócios (fundadores), em razão da constituição da
sociedade, devem ser exaradas no próprio contrato de sociedade (16º nº1), pelo que
se pretendermos que tal aconteça deveremos inserir a previsão contratual
correspondente.

4.5.1.9. Direitos especiais:


A atribuição de direitos especiais tem de decorrer do próprio contrato social (24º nº1),
correspondendo a preceitos estatutários facultativos e traduzindo-se na criação de
categorias de acções nas sociedades anónimas (302º).

4.5.1.10. Amortização de participações sociais:


Também a amortização de quotas e de acções (com redução do capital social) pode
constituir objecto de cláusulas facultativas que, a não serem acolhidas, impedem a
sociedade de proceder à extinção de participações.

4.5.2. Cláusulas facultativas específicas das sociedades por quotas:


Algumas matérias não são susceptíveis de serem clausuladas em sociedades anónimas,
por não se enquadrarem na caracterização desse tipo societário. Encontram-se nessa
situação:
4.5.2.1. Responsabilidade perante credores sociais:
Nas sociedades por quota, e constituindo excepção à clássica limitação da
responsabilidade dos sócios, pode ainda ser clausulada a obrigatoriedade destes
assumirem perante os credores sociais, até um certo montante, e solidariamente com
a sociedade ou em termos meramente subsidiários “em relação a esta e a efectivar
apenas na fase da liquidação” (198ºnº1, 2 e 3), a satisfação das dívidas sociais.
Trata-se a possibilidade de alargar a responsabilidade dos sócios, elevando o
respectivo limite, dentro de certos parâmetros contratualmente previstos.

4.5.2.2. Obrigações de prestações suplementares:


As obrigações de prestações suplementares de capital, que constituem verdadeiros
reforços em dinheiro, sempre que a sociedade se encontra em situação de
subcapitalização, e consequentemente em dificuldade para cumprir as suas obrigações
são típicas das sociedades por quotas (210º - 213º), obedecendo a uma
regulamentação eminentemente subjectiva. Não obstante, não repugna admitir que
este tipo de obrigações seja clausulado numa sociedade anónima, pese embora a sai
aparente incompatibilidade com a estrutura das participações sociais características
desta. Estas prestações não vencem juros e, sempre que o sócio se recusar a prestá-
las, sendo contratualmente autorizadas e favoravelmente deliberadas, ele incorre no
risco de ser excluído. Por esta razão, o incumprimento de prestações suplementares de
capital pode constituir uma forma de afastar sócios.
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Comerciais” 2
4.5.3. Regras facultativas exclusivas das sociedades anónimas:
Trata-se das menções facultativas que são características e típicas de sociedades
anónimas.

4.5.3.1. Autorização para distribuição antecipada de


dividendos:
É possível clausular contratualmente a autorização para administração da sociedade,
por uma só vez, na segunda metade do exercício e mediante parecer favorável do
órgão de fiscalização, distribuir dividendos, por conta dos lucros a apurar nesse
exercício (297º).
A questão traduz-se no seguinte: se no final do 1ºsemestre e pela percepção dos
resultados até então obtidos, houver a convicção de que a sociedade irá, nesse
exercício, gerar lucros substanciais, porque não procurar atribuir de imediato aos
accionistas uma certa quantia por conta dos lucros finais do exercício. Nessa
distribuição haverá que preservar a intangibilidade de distribuição antecipada de
dividendos, nas sociedades anónimas posteriores a 1 de Novembro de 1986, se ta
faculdade não se encontrar clausulada estatutariamente.
Esta clausula não é necessária nas sociedades anónimas existentes antes da entrada
em vigor do CSC, que previu para essas sociedades um regime específico, caracterizado
pela desnecessidade de autorização contratual (537º).

4.5.3.2. Aumento do capital social deliberado pelo órgão de


administração:
Este tipo de cláusula corresponde a uma das situações de competência cumulativa da
assembleia geral, ou dos accionistas considerados no seu conjunto, e do órgão de
administração (456º e 85º nº1).
É possível, desde a entrada em vigor do CSC, autorizar o conselho de administração a,
durante um certo prazo máximo (de 5anos, se nada for contratualmente estipulado),
decidir operações de aumento do capital social por entradas em dinheiro, desde que
se estabeleça o limite até ao qual dispõe dessa faculdade (456º nº2).
Trata-se da excepção à regra da competência exclusiva dos accionistas para
deliberarem alterações do contrato de sociedade (85º nº1 parte inicial e 373º nº2
parte inicial). Os accionistas não prescindem dos (seus) direitos sociais e podem, em
qualquer momento, e não obstante tal autorização contratual, deliberar um aumento
do capital social que, eventualmente, esgote a própria autorização e elevar o capital
até ao respectivo montante máximo ou ultrapassar mesmo tal limite.

4.5.4. Outras regras estatutárias:


Para além das menções facultativas acima referidas, podem integrar contratos de
sociedade por quotas ou anónima, todas as clausulas que em geral:
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 2
a) Afastem normas legais supletivas (constituem exemplos, entre outros, os de
clausulas sobre cessão de quotas que estabeleçam um regime diferente do legalmente
estabelecido, no art.228º nº2, limitando transmissões entre sócios e, ou, entre
familiares próximos (cônjuges e parentes na linha recta) ou estabelecendo a total
liberdade para a transmissão de participações sociais.
b) Concretizem disposições legais permissivas (nestes casos, o CSC prevê a
possibilidade de o contrato social autorizar determinadas práticas. Se os sócios não
aproveitarem essa faculdade, então entende-se que eles prescindem da mesma.
Exemplos: amortização de acções com redução do capital social – 346º nº1 e 3 - ; a
remição de acções privilegiadas – 345º nº1 e 2 - ; a convocação de assembleias gerais
apenas por carta registada, quando as acções são todas nominativas – 377º nº3 in fine
- ; etc);
c) Correspondam à faculdade de auto-regulamentação de interesses dos sócios
e accionista e que não violem os princípios caracterizadores do sistema jurídico-
societário ou infrinjam as normas imperativas que o integram, ou que simplesmente
esclareçam e pormenorizem aspectos de regime em que a lei é omissa ou obscura (os
sócios e accionistas podem incluir no contrato de sociedade regras que não colidam
com os princípios enformadores do sistema jurídico societário e com as normas
imperativas que o caracterizam, bem como regular contratualmente matérias em que
a lei é omissa, eventualmente de forma intencional, ou em que a respectiva redacção
suscita dúvidas. Constitui exemplo da primeira situação a criação de órgãos sociais
estatutários (facultativos), do género conselho consultivo, a qual deve ser feita sem
prejuízo da designação legal dos órgãos obrigatórios, cujo respeito decorre do
principio da tipicidade. Encontram-se no segundo caso todas as situações societárias
que os sócios pretendam ver reconduzidas ao contrato, com a finalidade de lhes
conferirem eficácia erga omnes).
Noutros casos, a lei não foi omissa, mas o regime que instituiu deixa lugar a algumas
dúvidas, tornando-se adequado torná-lo claro através de regra contratual.
O problema que subsiste é o de saber o que em relação à matéria que, constando de
preceitos legais dispositivos, não foi aproveitada contratualmente. Há uma solução
que salta logo à vista e que se traduz na alteração do contrato de sociedade. Como
regra pressupõe e implica, para além da própria deliberação, um acto com forma
especial (escrita), registo e publicações subsequentes, tudo com custos financeiros. A
solução encontra-se no nº3 do art.9º.

4.5.5. O art.9º nº3 CSC; interpretação adoptada:

4.5.5.1. Significado e importância:


O art.9º diz no seu nº3 que “os preceitos dispositivos desta lei só podem ser
derrogados pelo contrato de sociedade”, mas acrescenta “a não ser que este
expressamente admita a derrogação por deliberação dos sócios”.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 3
Segundo este artigo, e como regra, as deliberações dos sócios (accionistas) não
derrogam os preceitos dispositivos do Código. Logo, ou o contrato de sociedade (e a
própria lei, por maioria de razão) admite expressamente a derrogação dessas regras
por deliberação dos sócios, ou elas assumem um carácter injuntivo. E, neste caso,
necessário será alterar primeiramente o contrato de sociedade, introduzindo-lhe uma
permissão nesse sentido. Mas, na sua parte final, a norma admite que o contrato de
sociedade possa expressamente admitir a derrogação dessas regras por deliberação
dos sócios.

4.5.5.2. Consequências:
As deliberações tomadas com violação do disposto no nº3 do art.9º serão anuláveis
(58º nº1 al.a)), se a situação específica em causa não se adequar a nulidade.

5. Acordos Parassociais

5.1. Noção e natureza:


Os acordos parassociais são contratos ou convenções celebrados por todos ou alguns
sócios (ou futuros sócios), “pelos quais estes, nessa qualidade, se obrigam a uma
conduta que não seja proibida por lei (17º nº1) e, mais concretamente, a exercer em
determinados termos os direitos inerentes às suas participações sociais. Parte desta
noção retira-se do disposto na própria lei das sociedades comerciais (17º nº1), que
trata destes acordos, e a referência à conduta que não seja proibida por lei resulta da
aplicação do disposto no art.280º nº1CC.

5.2. Eficácia, incidência e oportunidade do acordo parassocial:


Sendo celebrados pelos sócios (ou por parte deles) – ou tendo em vista a aquisição
dessa qualidade, por pessoas que se venham a tornar sócios - , mas à margem da
sociedade, os acordos parassociais não vinculam a sociedade, à qual são impuníveis,
não constituindo consequentemente base de impugnação de deliberações sociais.
Não sendo oponíveis à sociedade, tais acordos apenas são geradores de relações
obrigacionais entre os respectivos subscritores, atribuindo-lhes responsabilidade
solidária relativamente à conduta de pessoas que, por força dos mesmos, sejam
designadas para funções de administração (83º nº1).
Como negócios jurídicos de natureza contratual, os acordos parassociais também não
produzem efeitos perante terceiros, não constituindo base para impugnação de actos
sociais.
A verdadeira justificação dos acordos parassociais prende-se com o objectivo de os
sócios regularem matérias que pretendem não ver reveladas e que não querem que o
público, em geral, conheça. Dessa finalidade resultou, em especial relativamente a
determinadas sociedades comerciais especiais (instituições de crédito e financeiras) o
dever de revelar a existência dos acordos e o respectivo conteúdo quando, por efeito
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 3
do mesmo, se pudessem considerar alteradas as regras que traduzem uma
determinada detenção ou controlo de participações no âmbito de uma certa
sociedade. Assim, nos termos da lei de enquadramento bancário (Regime geral das
instituições de credito e das sociedades financeiras – 111º), todos os acordos
parassociais entre accionistas relativos ao exercício do direito de voto devem ser
registados no Banco de Portugal.
No tocante ao seu conteúdo, os acordos – visando ou não esconder dos demais sócios
e terceiros, assuntos mais ou menos relevantes da vida societária – respeitam
geralmente ao exercício do direito de voto (17º nº2) e à designação de membros de
órgãos sociais. Mas não se ficam por aqui, podendo ser relativos a aspectos que se
prendem com a própria organização da sociedade, ou ser meramente prospectivos,
relativamente à eventualidade de abertura da sociedade a novos capitais, ainda que
em termos de mero financiamento. Qualquer que seja o conteúdo, haverá obviamente
que observar as limitações resultantes da eficácia e incidência dos acordos
parassociais, sendo determinante, quanto a este aspecto, o disposto nos arts.17º nº2
in fine e 3; e 83º.
Quando é que se celebra um acordo parassocial, sito é, qual o momento em que
ocorre a respectiva negociação e conclusão? Um acordo parassocial pode surgir antes
da própria constituição da sociedade, com vista à mesma ou mais do que isso, para
regular o relacionamento entre os sócios durante a vida da sociedade (ou parte dela).
Ele forma-se também em vida da própria sociedade, para regular aspectos duradouros
ou pontuais do relacionamento entre os sócios, tão diversos como o direito de
preferência na aquisição de participações sociais, sindicatos de voto, meros acordos de
não concorrência (sobre aspecto especifico da actividade da sociedade), a abertura do
capital social a terceiros e o relacionamento dos novos sócios com os existentes ou
com alguns deles. Pode corresponder a uma contrapartida pela alteração das
expectativas dos sócios originários ou já existentes no momento da admissão de novos
sócios. Com efeito, muitas vezes os novos sócios admitem conceder aos que já o são
direitos que não tem sentido permitir que passem a terceiros se as participações
forem alienadas. Não sendo objecto de regulamentação estatutária e constando
unicamente de acordo parassocial, tais prerrogativas não se transmitem com as
participações e desaparecem com a extinção da ligação do respectivo subscritor à
sociedade.

5.3. Matérias excluídas:


Todas as cláusulas de um acordo parassocial que violarem uma disposição legal
imperativa serão nulas, por aplicação do regime geral da invalidade dos negócios
jurídicos (294ºCC).
No que se refere às limitações especificas em matéria de acordos parassociais, “são
nulos os acordos:
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 3
-- que respeitem à conduta (actuação) dos respectivos intervenientes ou de
outras pessoas no exercício de funções de administração ou de fiscalização (17º nº2 in
fine e 294ºCC); ou
-- pelos quais um sócio se obriga a votar
seguindo sempre as instruções da sociedade o de um dos seus órgãos;
aprovando sempre as propostas feitas por estes;
exercendo o direito de voto ou abstendo-se de o exercer em
contrapartida de vantagens especiais (17º nº3).
Da primeira limitação resulta claramente que as pessoas não podem ser
condicionadas, na sua actuação, em prejuízo da sociedade. As suas funções devem ser
exercidas, com cuidado e lealdade, em termos criteriosos e diligentes (64º). Neste
caso, não está em causa o direito de voto, mas a prática de determinados actos no
desempenho de certas funções.
Diferentemente, no art.17º nº3 estão em causa acordos que impõem o exercício do
voto num sentido que a lei proíbe. Assim, a primeira limitação nesta matéria visa evitar
a hegemonização de uma sociedade por um dos seus órgãos, nomeadamente pelo
órgão de administração; a segunda limitação constitui uma especificação da primeira;
e a terceira pretende impedir que o voto seja “comprado”, isto é, que um sócio, a
troco de uma certa benesse manifeste a sua opinião num determinado sentido
predeterminado.
Assim, se o acordo parassocial puser em causa, ainda que indirectamente, um principio
fundamental do direito societário, como seja o da igualdade de tratamento dos
accionistas, então este principio ir-se-á impor relativamente à cláusula parassocial que
se deverá ter por não escrita.

5.4. Estruturação de acordo parassocial:


Como outros instrumentos de natureza contratual, os acordos parassociais
estruturam-se frequentemente em pressupostos, definições e cláusulas, abrangendo
diversas matérias, consoante os interesses em jogo, e são normalmente aplicáveis a
(futuros) accionistas, sendo raros no âmbito da sociedade por quotas.

Secção II – Formas e actos de constituição

6. Formas de constituição de sociedades comerciais: subscrição particular e apelo ao


público

6.1. Generalidades:
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 3
6.1.1. Constituição particular de sociedades e o aparecimento da
constituição por subscrição pública:
Tradicionalmente, a constituição de uma sociedade comercial correspondia à junção
de pessoas para, agregando os respectivos esforços e bens, prosseguirem, conjunta e
articuladamente, de forma organizada e estável, uma actividade económica de
natureza mercantil, com escopo lucrativo.
Com o aparecimento das grandes sociedades, que exigiam uma concentração de
capitais significativos, tornou-se difícil transpor a intervenção de todos para a
constituição destas novas sociedades, designadas companhias, como é sabido.
Surgiu então uma diferente forma de constituição de sociedades comerciais – restrita,
contudo, às sociedades anónimas - , segundo a qual algumas pessoas promoveriam o
aparecimento de uma sociedade, apresentando ao público os termos em que a mesa
iria ser constituída e funcionar. Aos investidores interessados em participar competiria,
simplesmente, aderir à proposta de sociedade que lhes era apresentada, nos termos
em que a mesa se encontrava estruturada pelos promotores da ideia; nascia, assim, a
sociedade de subscrição pública, cuja constituição passava a estar sujeita a regras
próprias e especificas que visavam assegurar os direitos e interesses dos muitos
participantes que se limitavam a aderir ao projecto.

6.1.2. Regime – regra e outras formas de constituição:


A nossa lei societária permite que as sociedades comerciais se constituam sem que se
recorra a um acto com especial solenidade, sendo suficiente, para a constituição de
qualquer tipo social, contrato reduzido a escrito com assinaturas reconhecidas
presencialmente (7º nº1). Caso as entradas de bens em espécie pressuponham uma
forma especial de transmissão, a constituição da sociedade ter-se-á de fazer nessa
forma (7º nº1 in fine). As sociedades comerciais podem constituir-se hoje, em regra,
mediante a celebração do contrato de sociedade, por escrito, com a participação de
todos os sócios originários (ou fundadores), cujas assinaturas deverão ser reconhecidas
presencialmente, e a subsequente inscrição no registo desse contrato.
A constituição da sociedade nestes termos designa-se por subscrição particular (ou
simultânea) por confronto com a chamada constituição por subscrição pública
(prevista e regulada nos arts.279º e ss CSC e art.109ºCVM).
Só nas sociedades anónimas faz sentido esta distinção que se explica pelo facto de
estarem potencialmente interessados em participar na constituição da sociedade
grande numero de associados e ser conveniente abrir a subscrição do capital ao
público, angariado dessa forma meios financeiros que de outro modo não se
conseguiriam reunir, ou porque não dispondo os promotores do capital suficiente para
estruturar a empresa que pretendem constituir, há que recorrer ao mercado, à
procura de financiamento sob a forma de capital.
Uma outra forma de constituição respeita à das sociedades unipessoais originárias, isto
é, aquelas que se constituem inicialmente com um único sócio, sejam sociedades por
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 3
quotas ou anónimas. É obvio que o acto subjacente à sua criação não tem natureza
contratual, apesar de subsistir a referência ao contrato de sociedade. Trata-se da
instituição de uma pessoa colectiva societária, sem que seja necessário qualquer
acordo de vontades.
Para além das formas de constituição por subscrição particular e pública originárias,
existem tipos especiais de constituição de sociedades, que são aqueles que resultam
da “constituição por fusão, cisão ou transformação de outras sociedades”, que vêm
referidas no art.7º nº4. A cisão corresponde à continuação, sob a forma autónoma, de
parte de uma empresa; a fusão continuação sob forma autónoma de duas ou mais
empresas agregadas numa única e a transformação diz respeito à alteração da
natureza da sociedade envolvida.

6.2. Constituição por subscrição particular:


O regime-regra de constituição da sociedade comercial é o da constituição particular
(ou simultânea), isto é, aquela que se faz num único acto pela celebração do contrato
perante uma entidade com competência para o reconhecimento presencial da
assinatura de todos os fundadores. Nesta forma de constituição, todos os sócios e
accionistas originários participam, ou têm a possibilidade de o fazer, na definição dos
princípios de actuação, estruturação da sociedade e redacção das regras estatutárias
fundamentais e no preenchimento dos cargos sociais iniciais.

6.3. A constituição da sociedade anónima com o capital aberto ao


investimento público (subscrição com apelo ao público):

6.3.1. Caracterização da subscrição e oferta pública:


A subscrição pública ou sucessiva (ou com apelo ao público) é aquela em que não
participam no acto constitutivo (celebração do contrato de sociedade) todos os sócios
originários, embora se considerem representados. Esta forma de constituição designa-
se também por sucessiva, porque se realiza por fases.
A constituição da sociedade com capital aberto ao investimento do público
corresponde, por excelência, à ideia de sociedade anónima. Constitui um tipo
societário que se define, precisamente, por privilegiar a aglutinação de capitais, em
detrimento da individualização e das pretensões das pessoas dos accionistas.
A subscrição pública, porque é dirigida ao mercado em geral, é uma subscrição que
importa ao mercado, e daí que seja também disciplinada no CVM, o qual no seu
art.109º estatui quais as ofertas que são públicas.
Antes de mais são públicas, por definição, as ofertas dirigidas ao público, isto é, a um
número indeterminado de pessoas. Nesse sentido, a procura indiscriminada de capitais
é um exemplo típico de subscrição pública. Esta oferta pode ser dirigida a um número
determinado de pessoas não previamente identificadas.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 3
Por sua vez, ainda que dirigida a destinatários individualmente identificados, por
recurso designadamente a mailing lists, a oferta também é pública desde que as
comunicações sejam padronizadas, isto é, não sejam personalizadas, seguindo um
modelo pré-configurado. A lei considera também pública:
-- qualquer oferta dirigida a, pelo menos, cem pessoas, que sejam investidores
não qualificados e ainda que se encontrem pré-identificadas;
--a oferta dirigida a quaisquer accionistas de sociedade aberta, mesmo que
sejam unicamente titulares de acções nominativas e, consequentemente, pré-
identificáveis;
--a oferta que tenha por base ou recorra a meios de divulgação publicitária,
prospecção ou procura de potenciais interessados ou simples recolha de intenções de
investimento junto de destinatários indeterminados.
É pública a oferta cuja subscrição é feita por qualquer forma de comercialização
pública.
A constituição de sociedades com apelo ao público é, assim, regulada no CSC (279º e
ss) e no CVM (108º e ss, em especial 115º e 168º), não havendo quaisquer restrições
no que respeita ao respectivo objecto social que, à semelhança das demais sociedades
comerciais, deve consistir numa (ou mais) actividades perfeitamente especificadas
(279º nº5).
A oferta pública é, por definição, incompatível com a constituição de certas sociedades
(por exemplo, sociedade anónima unipessoal – 488º).

6.3.2. Os promotores:
Quem pode promover este tipo de constituição de sociedades comerciais?
A constituição de uma sociedade anónima com apelo ao público pode ser
impulsionada e conduzida por uma ou mais pessoas (279º nº1CSC), que se designam
promotores. O CSC admite que uma só pessoa promova a constituição de uma
sociedade anónima com apelo a subscrição do público (279º nº1). Com efeito, o nº1 do
art.279º deixa em aberto a possibilidade de haver um promotor. As demais disposições
pressupõem todas a pluralidade de promotores, inclusivamente a disposição que
consta do art.283º nº1 que refere, a propósito do dever de celebrar o contrato de
sociedade, a intervenção de dois dos promotores. A leitura correcta deve ser dois, caso
eles existam; se só existir um terá de ser esse a subscrever o instrumento de
constituição da sociedade.
O promotor ou promotores das sociedades abertas deverão subscrever e realizar
integralmente acções com um valor nominal global correspondente ao mínimo legal,
elaborar um projecto de contrato de sociedade e requerer o respectivo registo
provisório, bem como promover a oferta de acções ao público.
Os benefícios que os promotores possam extrair do seu projecto são legalmente
limitados, para assegurar, por um lado, a realização do interesse social, evitando que
os interessados (subscritores) no projecto societário sejam indevidamente
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 3
prejudicados, e, por outro lado, para impedir que os fundadores especulem com o
capital que subscrevem no momento de arranque da sociedade.

6.3.3. Subscrição e realização integral de acções com valor nominal


global:
A constituição com apelo ao público tem como pressuposto o facto de os promotores
terem de assegurar a realização de capital social correspondente ao mínimo
legalmente obrigatório para a sociedade a constituir; em regra de 50 000€ (276º nº3).
As acções subscritas por promotores não podem ser alienadas durante os dois anos
subsequentes ao registo definitivo da sociedade (279º nº2 in fine).
A subscrição pode ser directa se a oferta ou emissão de acções é feita directamente
pela entidade emitente, ainda que, para esse efeito, se apoie em intermediários
financeiros existentes ou garanta a colocação de acções, não subscritas, por
intermediários financeiros existentes, ou indirecta, se a emissão é subscrita por um ou
mais intermediários financeiros que assumem a obrigação de a oferecer aos
investidores a que se destina, o que devem fazer nos termos e condições de um
contrato que tenham celebrado com a entidade emitente.

6.3.4. Elaboração do projecto de contrato de sociedade e


requerimento do respectivo registo provisório:
Para além de ter de garantir a subscrição e realização integral de acções cujo valor
nominal global corresponda ao mínimo legal (isto é, a 50 000€), o promotor ou
promotores da sociedade aberta deverão elaborar um projecto de contrato de
sociedade e requerer o respectivo registo provisório, especificando naquele o número
de acções não subscritas destinadas a subscrição particular e aquelas que serão
disponibilizadas para subscrição pública (279º nº3 e 4CSC e 35º nº4CRcom). O registo
provisório do projecto não tem nada que ver com o registo prévio do contrato de
sociedade, forma de constituição que não é aplicável à subscrição pública (18º nº4).

6.3.5. Oferta de acções ao público; requisitos:


Após colocar as acções destinadas a subscrição particular, caso esta ocorra para além
do capital mínimo subscrito e realizado por si, os promotores elaborarão a oferta
pública, a qual deverá conter o projecto de contrato, eventuais vantagens que se
reservem (279º nº6 al.), o relatório técnico, económico e financeiro sobre a
viabilidade da sociedade, prazo para a realização da assembleia constitutiva, os
aspectos referentes à subscrição, nomeadamente prazo, lugar, formalidades, critério
de rateio, se necessário, montante da entrada a efectuar (e forma da sua devolução se
a sociedade não for constituída) (279º), bem como a admissibilidade de subscrição
incompleta (280º).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 3
6.3.6. Subscrição incompleta; consequências:
Se o projecto é desenvolvido para um determinado montante de capital social e se
este não é todo subscrito, quid iuris?
Se a subscrição ficar incompleta, a sociedade só poderá constituir-se desde que o
público tenha subscrito pelo menos 75% das acções que lhe eram destinadas e essa
seja a vontade da assembleia constitutiva; caso em que a deliberação de constituição
da sociedade deverá fixar o montante do capital social e o numero d acções, em
conformidade com as subscrições (280º nº3 e 281º nº10). O art.280º constitui uma
regra especial, aplicável unicamente à subscrição pública de acções, e que não foi
derrogada pela regra geral (161º CVM) aplicável a todas as ofertas públicas.
Se a sociedade não se constitui, então os montantes que foram disponibilizados pelos
subscritores dever-lhes-ão ser devolvidos.

6.3.7. Assembleia constitutiva e outorga do contrato de sociedade:


Concluída a subscrição do capital, e encontrando-se a sociedade em condições de ser
constituída, deve ser convocada a assembleia constitutiva, não qual os votos se
contam por cabeça. Nesta assembleia vão ser escolhidos os titulares dos órgãos
sociais, o projecto de estatutos só pode ser alterado por unanimidade.
Aprovada a constituição da sociedade, o contrato de sociedade deve ser celerado por
dois dos promotores (e pelos subscritores que realizam entradas em espécie), devendo
a qualidade de sociedade aberta ser mencionada, a partir de então, em todos os actos
externos da sociedade (14ºCVM e 281º e 283ºCSC).

6.3.8. Vantagens de fundador:


A lei estabelece limites às vantagens que os fundadores possam reservar e impõe que
as mesmas sejam exaradas no contrato de sociedade. Com essa finalidade, e para além
de determinar que todas as vantagens de fundador devessem encontrar-se
estabelecidas no projecto submetido à oferta pública (279º nº6 al.b)), a lei fixa limites
máximos a essas vantagens, determinando que as mesmas não possam corresponder a
mais de um decimo dos lucros do exercício durante um máximo de cinco anos, ou por
prazo inferior se a sociedade não tiver uma duração superior a quinze anos (279º nº8).
Esta limitação legal deve ser articulada com a que é estabelecida, em termos
genéricos, pelo art.16ºCSC segundo o qual “devem exarar-se no contrato de sociedade
(…) as vantagens concedidas a sócios em conexão com a constituição da sociedade”,
em como os montantes que são devidos aos fundadores pelo seu empenho e trabalho
em prol da sociedade (16º nº1).

6.3.9. Encargos e responsabilidades dos promotores:


A oferta pública de subscrição para constituição de sociedade deve ser objecto de
registo na CMVM, devendo o respectivo pedido ser instruído, entre outros elementos
– e par além dos que são exigíveis para proceder ao registo d qualquer oferta pública -
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 3
, com a identificação dos promotores, documento comprovativo da subscrição do
capital social mínimo, cópia dos estatutos e certidão do registo comercial provisório.
Para além de deverem realizar todos os actos inerentes à constituição da sociedade a
que se encontram obrigados (279º, 281º nº1, 283º nº1, 280º nº1), os promotores
assumem a responsabilidade dos custos da operação pública, caso a sociedade não
venha a ser constituída (280º nº4). São, pois, os promotores que assumem o risco da
constituição.

6.3.10. Conclusão:
Esta forma de sociedades comerciais é aliciante e conhece particular entusiasmo nos
momentos em que os mercados bolsistas sentem agitação e animação, e em que a
procura se encontra disponível para responder positivamente a este apelo. É evidente
que esta forma não é aplicável às sociedades unipessoais, que se podem e devem
constituir imediatamente.

6.4. A constituição da sociedade unipessoal (por quotas):


Ela pode ser constituída originariamente enquanto tal, resultar da transformação de
um EIRL ou, muito simplesmente, resultar da concentração de quotas num único sócio
(270º - A nº1, 5 e 2). Tal como para a generalidade das sociedades comerciais, não é
exigida solenidade quanto ao modo de constituição, a menos que as entradas
impliquem escritura pública para a concretização da sua transmissão (270º - A nº4 e 7º
nº1). Consequentemente e correspondendo as entradas unicamente em dinheiro à
situação mais comum, podemos concluir que a maior parte das sociedades comerciais
não tem de se constituir por escritura pública.

7. Actos de constituição das sociedades comerciais (por quotas e anónimas):

7.1. Considerações sobre a constituição de sociedades comerciais:


As sociedades comerciais podem constituir-se por diversos modos: de forma
tradicional, em que designadamente se procura adaptar os respectivos estatutos às
suas necessidades e fins; invertendo o modo de constituição – isto é, procedendo ao
registo antes da celebração do próprio contrato; ou na hora, isto é, recorrendo a um
centro especifico para o efeito e conseguindo que, no espaço de 24horas, seja criada
uma organização empresarial capaz de prosseguir uma determinada actividade
económica.
Para a constituição de uma qualquer sociedade comercial é suficiente a intervenção de
entidade com competência para efectuar o reconhecimento presencial de assinaturas.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 3
7.2. Regime – regra

7.2.1. Obtenção do certificado de admissibilidade de firma ou


denominação:
Na constituição normal de uma sociedade comercial o primeiro passo consiste em
definir a actividade que se irá prosseguir e escolher uma denominação para a
sociedade a constituir. Para garantir que a sociedade a constituir não se confunda com
outras já existentes, os interessados devem obter previamente uma autorização de
utilização de um nome ou denominação. O certificado emitido é válido pelo prazo
de180dias, devendo ser indicado, pelo menos, um dos futuros sócios.

7.2.2. Contrato de sociedade:

7.2.2.1. Elaboração do projecto:


Simultaneamente com a apresentação do pedido de certificado de admissibilidade de
firma ou denominação, deverão os futuros sócios começar a estruturar o contrato de
sociedade e a ponderar, em concreto, as clausulas a adoptar.
Em regra, os contratos de sociedade anónima são mais desenvolvidos, completos e
complexos que os de sociedades por quotas, estruturando-se frequentemente em
capítulos e, eventualmente, secções e sendo as respectivas clausulas epigrafadas.
Quanto à designação que as mesmas tomam habitualmente, a lei é omissa, embora a
prática opte por designar os preceitos estatutários de “artigos” e, raramente, de
cláusulas. O prof.Olavo Cunha prefere a utilização do termo cláusula.
Na estruturação do contrato de sociedade, e nomeadamente na ordenação das
matérias, não existe preceito a observar, apesar da prática ter vindo a aproximar uns
contratos dos outros.

7.2.2.2. Cláusulas comuns às sociedades por quotas e às


sociedades anónimas:
Entre outras, são comuns aos dois tipos societários cláusulas sobre as seguintes
matérias:
a) Denominação;
b) Sede (e eventual
alteração); c)Objecto;
d) Capital social;
e) Obrigações de prestação acessória;
f) Lucros (distribuição/aplicação de resultados)
g)Derrogação de preceitos supletivos; h)
(exercício do) direito de informação;
i)Exercício social (se não for coincidente com o ano civil);
j)Foro (tribunal judicial ou arbitral);
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 4
l) Regras transitórias
(i) designação dos titulares de órgãos sociais, maxime gerentes e
administradores ou administradores executivos;
(ii) autorização para a prática de diversos actos antes do registo,
designadamente o imediato exercício da actividade e a movimentação do capital
social.

7.2.2.3. Cláusulas características das sociedades por quotas:


Há certas regras contratuais que, mesmo que não sejam exclusivas de sociedades por
quotas, surgem com regularidade apenas neste tipo societário. Entre outras, contam-
se as seguintes:
a) prestações suplementares de capital;
b) cessão de quotas (eventuais limitações, sujeição ao consentimento da
sociedade, e modus faciendi, em geral; direito de preferência da sociedade ou dos
sócios);
c) amortização de quotas;
d)limitações à prestação de garantias;
e) administração e representação da sociedade: gerência (composição,
competência e vinculação da sociedade);
f) Direitos especiais.

7.2.2.4. O contrato de sociedade anónima:


O contrato de sociedade anónima apresenta uma estrutura mais complexa que o de
sociedade por quotas, sistematizando-se habitualmente, mas não necessariamente,
em capítulos e secções e utilizando epigrafes na caracterização das clausulas ou
artigos. Para além das que são comuns às sociedades por quotas são típicas das
sociedades anónimas as clausulas sobre:
a) forma de representação do capital (acções tituladas ou escriturarias) e
categorias de acções;
b) emissão de obrigações (eventual autorização e órgão competente);
c)amortização de acções e restrições à sua livre transmissibilidade;
d)orgânica da sociedade:
(i) deliberações dos accionistas (forma, composição, convocação
competência e funcionamento da assembleia geral);
(ii) conselho de administração ou conselho de administração executivo
(composição, competência, funcionamento e vinculação da sociedade);
(iii) comissão de auditoria (modelo anglo saxónico), conselho geral e de
supervisão (estrutura de inspiração germânica) e conselho fiscal ou fiscal único
(modelo clássico).
(iv) ROC;
(v) secretário;
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 4
(vi) órgãos facultativos (estatutários)

7.2.2.5. A reprodução de preceitos legais supletivos;


justificação:
Relativamente a certas matérias, justifica-se a respectiva inclusão no contrato de
sociedade por duas ordens de razoes. Por um lado, permite aos sócios um
conhecimento mais adequado das regras próprias da sociedade; por outro, garante
que disposições transitórias menos felizes venham a lesar gravemente as expectativas
dos sócios.

7.2.3. Depósito do capital social (realizado por entradas em dinheiro):


Antes da celebração do contrato de sociedade, os (futuros) sócios deverão acordar
sobre o capital a afectar à sociedade a constituir, devendo fazê-lo por referencia ao
património que irá ser necessário para a prossecução da actividade que a sociedade se
propõe realizar.
Para esse efeito, deverão concluir se realizam as suas entras em dinheiro ou em bens
de diferente natureza. Fazendo-o (exclusivamente) em dinheiro, terão ainda de decidir
se realizarão a totalidade d capital desde o inicio ou se ira diferir parte do capital. O
capital representado por dinheiro deve ser depositado em instituição de crédito è
ordem da sociedade antes da celebração do contrato de sociedade, devendo ser feita
declaração solene de que o depósito foi oportunamente efectuado (202º nº3 e 4; 277º
nº3 e 4 e 478º).

7.2.4. Celebração do contrato de sociedade:


Uma vez na posse do certificado de admissibilidade da firma, concluído o projecto de
contrato de sociedade e depositado o capital social, em conta da sociedade, estão
reunidas as condições para ser formalizado o contrato de sociedade, essencial no
processo de personificação (7º nº1).
O recurso a escritura pública corresponde a forma voluntária, excepto se a natureza
das entradas pressupuser essa forma especial para a respectiva transmissão em favor
da sociedade. Nesse caso, o contrato de sociedade poderá fazer parte integrante de
escritura ou constituir documento autónomo complementar à mesmas. Se parte do
capital for realizado em espécie, é necessário juntar o relatório do ROC, como anexo
do próprio contrato, sujeito a depósito no registo comercial (28º nº6 in fine).
Deverão os participantes na sociedade a constituir, e seus futuros sócios, optar por
incluir no contrato determinadas regras transitórias, fazendo-as constar dos próprios
estatutos.
A observância da forma escrita de contrato de sociedade, bem como a outorga de
escritura pública, quando ela for necessária, constituem requisitos formais de validade
de uma sociedade comercial, pelo que a sua falta determina a respectiva nulidade.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 4
7.2.5. Início (imediato) de actividade:
Com a celebração do contrato a sociedade não se encontra constituída, o que só
acontecerá com o registo comercial daquele (5º), mas poderá desde logo iniciar a sua
actividade. Para o efeito, deverão os fundadores ter oportunamente solicitado a
emissão de um cartão provisório de pessoa colectiva.
Após a celebração do contrato, haverá que requerer o registo comercial da
constituição e só com prova desse facto poderá, e devera, nos quinze dias seguintes,
ser apresentada a declaração fiscal de inicio da actividade.

7.2.6. Registo e publicações legais obrigatórias:


Sem registo não há personificação (5º), o registo é, hoje, constitutivo. Celebrado o
contrato de sociedade indispensável à constituição, haverá que requerer o respectivo
registo comercial e, no mesmo acto, solicitar à conservatória que promova, uma vez
efectuado o registo, as publicações legais obrigatórias (5º e 166º e ss CSC; 3º aç.a);
15º; 17º e 70º nº1 al.a) nº2 e 71CRCom). Só após ser requerido o registo devera ser
apresentada a declaração fiscal de inicio da actividade. O registo é requerido no prazo
de 2meses a contar da data da celebração do contrato (3º al.a) e 15ºCRCom). Recebido
o pedido de registo, deverá o conservador ordenar a publicação de um extracto do
contrato de sociedade “em sitio da internet de acesso público”(167º nº1 CSC e 70º nº2
CRCom).
Caso não haja nenhuma clausula que o conservador do registo comercial venha a
considerar ilícita, ele deverá proceder ao registo e comunicar oficiosamente ao registo
nacional de pessoas colectivas esse facto, considerando-se a sociedade para todos os
efeitos constituída e apta a exercer a respectiva actividade.

7.2.7. Declaração fiscal de inicio da actividade:


Tem de ser apresentada, em triplicado, acompanhada de fotocópia autenticada do
contrato de sociedade, no prazo de quinze dias depois de requerido o registo, mas em
princípio antes de iniciado da actividade, se a sociedade construída for sujeito passivo
de IVA.

7.5. A “empresa na hora”:


Permite aos interessados dirigirem-se às conservatórias do registo comercial e aos
respectivos postos de atendimento nos centros de formalidades de empresas (4º nº1 e
2 do DL 111/2005) e manifestarem a intenção de constituírem imediatamente uma
empresa com base numa firma já aprovada e adoptando uns estatutos certificados
pelos serviços de registo e notariado. Caberá aos serviços contactados promover,
subsequentemente, a comunicação às entidades que deverem ser notificadas da
constituição e praticar as formalidades necessárias à plena regularização da nova
entidade. Só é possível proceder à constituição imediata de sociedades anónimas e por
quotas, desde que a totalidade das entradas seja realizada em dinheiro.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 4
7.6. A empresa on line:
Constituição de empresas on-line com base em projecto de contrato de sociedade
elaborado pelos interessados. Está reservada às sociedades anónimas (nacionais) e por
quotas, desde que a respectiva constituição não requeira forma mais solene do que a
escrita (1º e 2º DL 111/2005), a constituição de empresas por via informática, através
da internet, é, em princípio, da competência do RNPC e pode ser requerida por
pessoas singulares ou colectivas (3ºe 4º).

8. Registo prévio do contrato de sociedade

8.1. Circunstâncias em que pode ocorrer:


É a forma que pressupõe o registo prévio do contrato de sociedade, a qual, não sendo
muito usada, em certos casos não pode ser utilizada. Não é possível quando se trate de
constituição com apelo a subscrição pública ou quando sejam convencionadas
entradas em espécie ou a aquisição de bens pela sociedade (18º nº1).

8.2. Procedimentos a adoptar:


As partes requerem na conservatória do registo comercial o registo prévio desse
(projecto de) contrato, devendo, posteriormente, celebrar o próprio contrato de
sociedade em termos absolutamente conformes com o projecto registado. Devendo
no prazo de quinze dias ser requerida a conversão do registo provisório para definitivo
(18º nº1 a 3CSC e 35º nº2 e 3 CRcom).

Secção III

9. Vicissitudes inerentes ao processo de constituição e regime dos actos praticados


antes do registo de sociedade

9.1. A questão:
Entre o momento em que as partes planeiam, decidem ou acordam vir a constituir
uma sociedade comercial e o momento em que eventualmente seja efectuado o
registo do respectivo contrato decorre, por vezes, tanto tempo que é necessário
praticar actos cuja eficácia e validade deve ser devidamente ponderada.
Admitindo que o contrato (a registar) não apresenta qualquer vicissitude, as questões
que se possam suscitar, respeitam unicamente à eventual imputação dos custos desses
actos à sociedade recém constituída.
Os problemas colocam-se fundamentalmente acerca do destino e efeitos dos actos
quando se verifica existir uma vicissitude com o contrato de sociedade. Este pode
ocorrer relevantemente em dois momentos diferenciados: ou por se prender com a
sua não celebração, sequer, formalidade e forma necessária da constituição da
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 4
sociedade comercial; ou por ser relativa a actos que sejam praticados em nome da
sociedade antes do registo definitivo do respectivo contrato, mas após a celebração do
contrato, isto é, situações em que o contrato não seja nulo. Nestes actos, de actos
subsequentes à celebração do contrato, temos que distinguir duas situações: aquelas
que dizem respeito às relações unicamente entre os sócios e as que dizem respeito às
relações da sociedade com terceiros.

9.2. Invalidade do contrato de sociedade anónima e por quotas não


(definitivamente) registado ou de uma das declarações negociais:

9.2.1. Regime regra:


O regime aplicável a uma situação de invalidade do contrato social é o estabelecido no
art.41º, isto é, devemos aplicar à invalidade do contrato ou de qualquer das
declarações negociais dele integrantes as disposições ou o regime aplicável aos
negócios jurídicos em geral, portanto aos negócios nulos ou anuláveis, com as
excepções que constam ou estão expressamente consagradas no art.52º (41º nº1).

9.2.2. Incapacidade:
Primeiro, a invalidade do contrato ou da declaração motivada devido a incapacidade
das partes. Esta invalidade é oponível a terceiros e, naturalmente, também é oponível
aos demais sócios (41º nº2 1ªparte; 45º nº2 e 52º nº5).
A consequência típica da invalidade é a anulabilidade, o que resulta no nº2 do art.41.
Não obstante, temos de ter em conta o disposto no art.52º e designadamente que, por
efeito da participação na constituição da sociedade, o sócio assumiu determinadas
obrigações cuja extinção retroactiva poderia vir a pôr em causa os direitos eventuais
que terceiros tivessem relativamente a essa sociedade, nomeadamente dos credores
de actos que, entretanto tivessem sido praticados. Por isso, extingue-se apenas a sua
participação, exonerando-o de toda e qualquer responsabilidade por efeito da situação
de incapacidade, ou de uma situação que se deva a um outro tipo de invalidade,
designadamente quando essa invalidade resulte de vício da vontade ou de usura.

9.2.3. Vício da vontade e usura:


Nestes casos a invalidade é apenas oponível aos demais sócios, não é oponível a
terceiros (41º nº2 in fine). Quanto às responsabilidades de entrada, quando esteja em
causa o vicio da vontade ou usura os sócios vão ter de realizar ou completar as suas
entradas e vão ter de assumir perante os terceiros a responsabilidade pessoal e
solidária. Esta disposição pode determinar uma justa causa de exoneração nos termos
do disposto no art.45º.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 4
9.3. Nulidade do contrato após o registo definitivo:

9.3.1. Fundamentos:
Os fundamentos são aqueles que constam do art.42º nº1 e há alguns deles que são
sanáveis, isto é, há vicissitudes que, ocorrendo já depois da celebração do contrato, ou
que lhe sejam contemporâneos e não sejam detectadas até ao momento em que o
registo é efectuado, podem vir a ser sanáveis ao abrigo do princípio do
aproveitamento dos negócios jurídicos em geral. São as situações previstas no art.42º
nº2. Depois de efectuado o registo definitivo do contrato, este só pode ser declarado
nulo quando faltar um dos seguintes elementos:
a) Número de sócios fundadores que corresponda ao mínimo legalmente
exigido;
b) Firma;
c)Sede;
d)Objecto;
e)Capital:
f)O valor da entrada de algum sócio ou de prestações realizadas por conta
dessa entrada.

9.3.2. Vícios sanáveis:


Faltando a menção desses elementos, que são considerados essenciais, naturalmente
que também deveria haver lugar à nulidade do contrato. No entanto, são
precisamente as vicissitudes relativas a estes aspectos que, na sua quase totalidade, e
nos termos do art.42º nº2, são sanáveis.
E, para esse efeito, se está em casa a propositura de uma acção de anulação deve
conceder-se um determinado prazo (que é de 90dias), para que possa ocorrer,
eventualmente, a regularização, isto é, a lei prevê a interpelação para a regularização
dessas situações, e isso nos termos do art.444º.
Outras menções cuja falta determina a nulidade do contrato são aquelas que se
traduzem, por exemplo, na inidoneidade do objecto, ou seja, se o objecto for ilícito ou
contrário à ordem pública. Também a falta de liberação do capital social, nos termos
que a lei exige para o cumprimento ou prestação mínima de entrada na sociedade,
determinará a nulidade do contrato, e naturalmente o mesmo sucede com a
inobservância da respectiva forma legal, nos termos da al.e) do nº1 do art.42º.

9.3.3. Acção declarativa de apreciação da nulidade; especificidades:


Verificando-se uma situação de nulidade, pode haver lugar a uma acção declarativa de
apreciação dessa mesma nulidade. Para esse efeito a acção deve ser proposta no prazo
de três anos (44º nº1), excepto quando couber ao MP fazê-lo, situação em que não há
limite temporal para o efeito (44º nº2).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 4
9.4. Efeito da invalidade:
Quanto à pessoa do sócio, o principal efeito é reaver aquilo que prestou (47º), traduz-
se no direito a ser-lhe restituído o que realizou.
Relativamente à sociedade, a declaração de invalidade do contrato acarreta a
respectiva liquidação, nos termos do art.52º, aplicando-se para esse efeito o disposto
no art.165º, em matéria de liquidação (52º nº1). A declaração de invalidade, e
portanto os efeitos desta, não deve afectar a eficácia dos negócios celebrados
anteriormente, em nome da sociedade, nos termos do art.52º nº2 e 3. Por outro lado,
em relação à sociedade, não exime os sócios de realizarem as entradas a que se
obrigam (52º nº4).

9.5. Actos praticados pelos “sócios” antes da celebração do contrato de


sociedade:
O que é que se passa quanto aos actos que sejam praticados pelos sócios antes da
celebração do próprio contrato de sociedade?

9.5.1. A sociedade aparente; responsabilidade solidária e ilimitada


pelas obrigações contraídas:
O problema em causa é o dos actos que o sócio se encarrega de adoptar como sendo
actos já assumidos pela sociedade, e que o contrato (de sociedade) ratifica, acabando,
naturalmente, por se repercutirem no próprio património social.
Os actos praticados pelos sócios antes da celebração do contrato de sociedade têm o
seu regime previsto no art.36º. segundo o regime previsto no art.36º nº1, a prática
desses actos acarreta a responsabilidade solidária e ilimitada dos respectivos autores,
quer dizer, ainda que estes actuem ao abrigo da invocação de uma firma que seja
comum, ou alegando qualquer outro motivo que, no fundo, dê lugar a uma aparência
de sociedade, eles vão ter de assumir responsabilidade pelas obrigações contraídas,
antes da celebração do contrato de sociedade.

9.5.2. Início da actividade social antes da celebração do contrato de


sociedade; excussão prévia do “património social”:
Se a situação não corresponder a uma mera ideia, a uma pura hipótese (ainda) teórica,
se a ideia já tiver germinado, já estiver alicerçada e se efectivamente já estiver
acordada a constituição da sociedade, existindo já um certo consenso nesse sentido,
mas por alguma razão ainda não tiver sido formalizada a celebração do contrato de
sociedade, mas os sócios pretenderem iniciar logo a actividade, no que respeita aos
efeitos dos negócios resultantes ou praticados no âmbito das relações estabelecidas
entre eles e terceiros, devem aplicar-se as disposições que foram criadas para as
sociedades civis, isto é, o art.997º nº1 e 2CC (36º nº2). Se foi com vista ao inicio da
actividade social, aquilo que a lei admite expressamente neste caso é que, se já
existirem bens concentrados ou reunidos para virem a dar satisfação a essa actividade
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 4
social, então os alegados “sócios” irão beneficiar da excussão previa desse mesmo
património, ou seja, de um património que eles já afectaram a uma determinada
finalidade e que, por isso, é autónomo (já é diverso do seu próprio património). E
depois de excutido esse património, naturalmente que vão responder pessoal e
solidariamente pelas dividas remanescentes.

9.6. Actos praticados em nome da sociedade antes do registo definitivo do


contrato de sociedade, mas após a sua celebração:
Vejamos agora o que acontece quando os actos são praticados em nome da sociedade
antes do registo definitivo, mas já após a celebração do contrato de sociedade,
naturalmente sempre em situações em que, ou não há ratificação desses actos, ou não
se segue aquele acto que lógica e legalmente deveria ser o acto subsequente e que,
pela sua prática, ratificaria a dita situação: o registo do contrato.
Há, relativamente aos efeitos destes actos, que distinguir duas situações: uma que
respeita apenas às relações entre os sócios e outra que abrange as relações da
sociedade com terceiros.

9.6.1. Relações entre os sócios:

9.6.1.1. Aplicação das regras legais e das cláusulas do contrato


de sociedade:
Quanto às relações entre os sócios dispõe o art.37º que devemos atender às regras
legais e às próprias cláusulas do contrato (com excepção das que pressupuserem
definitivamente registado). Quer dizer, já foi celerado o contrato de sociedade –
reconhecido presencialmente (37º nº1) - , portanto já existem cláusulas, há aqui uma
ideia de que esse contrato subscrito pelos vários sócios deve vinculá-los internamente.

9.6.1.2. Unanimidade para a transmissão das participações


sociais e alteração do contrato de sociedade:
Caso os sócios pretendam promover a transmissibilidade das respectivas participações
antes do tal registo ou a própria alteração do contrato de sociedade, então para esse
efeito requer-se a unanimidade, isto é, independentemente do tipo social em causa vai
ser necessário que haja acordo de todos para esse efeito (37º nº2). Isto assume
particular relevância quanto à transmissibilidade no âmbito das sociedades anónimas,
cujo regime-regra é, na realidade, completamente diferente.
Quando esteja em causa alteração de clausulas contratuais, vigora um pouco a
aplicação do principio fundamental do direito contratual previsto no art.406º nº1CC,
de que é preciso consenso também para promover a alteração do contrato celebrado.
No domínio das sociedades comerciais, enquanto não estiver registado, o contrato só
se altera com a participação (favorável) de todos os contratantes.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 4
9.6.2. Relações da sociedade com terceiros: A situação vem prevista no
art.40º.

9.6.2.1. Responsabilidade ilimitada e solidária dos sócios


envolvidos:
A primeira ideia que resulta do nº1 do art.40º é a de que haverá uma responsabilidade
ilimitada e solidária de todos os que actuarem em representação da sociedade e dos
sócios que autorizem esses negócios.
A questão coloca-se precisamente no âmbito do art.40º e, designadamente, a
propósito do confronto que se estabelece entre estas disposição e o regime que
resulta do art.36º, e relativamente ao qual se chegou a uma conclusão por aplicação
das regras próprias das sociedades civis (portanto 997ºCC). Disse-se que era aquele
património que tinha sido especialmente afecto ou destinado a um determinado fim
que iria responder prioritariamente pelas dívidas que fossem contraídas em nome do
ente a criar, portanto do ente em desenvolvimento, e que depois os respectivos
responsáveis responderiam solidária e ilimitadamente, mas subsidiariamente. Isto é
muito diferente, já que significa que processualmente há que demandar o dito
património autónomo antes de cair sobre aqueles que irão constituir a vertente
pessoal da sociedade e que terão praticado os actos que gerarão a responsabilidade
em causa.
Nos termos do art.40º aquilo que se discute é se esta responsabilidade ilimitada e
solidária é subsidiaria também, como acontece por aplicação do disposto no art.36º,
ou se essa responsabilidade é concorrente; ou, melhor ainda, se diferentemente
devem os responsáveis pelos actos ser demandados em primeira linha antes do
próprio património autónomo, o que tem especial relevância quando a sociedade não
se chega a registar, e também quando os tais actos não são especialmente
autorizados.

9.6.2.2. Os restantes sócios só respondem pelas suas entradas:


Os sócios que não autorizaram a prática de tais actos não vão ficar obrigados pelos
mesmos; aqueles que não participaram ou que não autorizaram esses actos não vão
ser por eles responsáveis, nem sequer a título subsidiário. No entanto, têm de
responder pelas respectivas entradas no caso das sociedades anónimas, e devem
responder solidariamente pelo capital subscrito no caso das sociedades por quotas,
caso o mesmo ainda não tenha sido totalmente realizado, podendo ser chamados a
integrar esse capital para que, desse modo, as dívidas que eventualmente tenham sido
assumidas sejam solvidas (40º nº1 in fine).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 4
9.7. A sociedade irregular

9.7.1. Conceito:
A sociedade irregular será uma entidade ou uma sociedade que, tendo por objecto
uma actividade comercial, adopte um tipo social mas cujo contrato não está ainda
definitivamente registado, apesar de eventualmente já ter sido celebrado. Estamos
perante uma sociedade irregular, quando:
a)(Já) há um mero acordo de princípio com vista à constituição de uma
sociedade, mas ainda não foi celebrado o contrato de sociedade;
b)O contrato de sociedade já foi celebrado, mas ainda não se encontra
definitivamente registado.
A sociedade irregular não tem personificação, na medida em que está só se adquire
com o respectivo registo (5º), mas constitui um património autónomo diferente do
património dos respectivos titulares que responde prioritariamente pelas dívidas
contraídas em sua atenção. Concedendo aos respectivos titulares o benefício da
excussão previa, primeiro esgota-se o património autónomo e só na sua insuficiência
se recorre ao património dos respectivos titulares.

9.8. Fiscalização pelo Ministério Público:


O órgão do estado que intervém na fiscalização das situações irregulares é o MP, o
qual nos termos do art.173º deve notificar a sociedade ou os sócios para realizarem a
situação.

9.9. Actos praticados por sociedades, cuja constituição ainda não foi
publicada:
Quanto aos actos praticados por sociedades cuja constituição ainda não foi publicada,
vigora a regra de, em tudo o que lhes aproveitar, os terceiros poderem prevalecer-se
de actos cujo registo e publicação ainda não tenham sido efectuados. Por sua vez, se a
publicação é obrigatória e ainda não foi efectuada, mesmo que o acto esteja registado,
esse acto é inoponível a terceiros, excepto se a sociedade demonstrar que o acto está
registado no momento que pretendia que o mesmo fosse relevante.
Outra questão é a da validade de actos praticados imediatamente após a publicação.
Dispõe o art.168º nº3 que se ainda não tiverem decorrido 16dias sobre a data da
publicação os actos objecto da mesma não são oponíveis a terceiros que demonstrem
que estiveram impedidos de conhecer o respectivo teor, nomeadamente o teor
objecto da publicação, nesses 16dias.

9.10. Assunção pela sociedade de negócios jurídicos celebrados antes do


registo:
Há direitos e obrigações resultantes de negócios jurídicos celebrados antes do registo
que são expressamente autorizados pelo art.19º nº1, logo há assunção dos mesmos
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 5
pela sociedade. Mas para além destes há outros direitos e obrigações que podem, não
obstante, ser assumidos pela sociedade mediante decisão da administração, desde que
tal decisão seja comunicada à contraparte no prazo de 90dias subsequentes ao registo
definitivo do contrato de sociedade (19º nº2).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 5
Capítulo III – O sócio e o accionista
Secção I - Generalidades; qualificação da situação jurídica

10.1. O problema da qualificação da situação jurídica do sócio

10.1.1. Tese Contratualista vs Tese Institucionalista


10.1.1.1. A questão
O problema da qualificação da situação jurídica do sócio se resume essencialmente em
tentar determinar se uma pessoa é sócia por ter certos direitos e deveres ou se tem
certos direitos e deveres por ser sócia.
Nas proposições acima enunciadas estão perspectivadas duas teses completamente
distintas: a teste contratualista vs a tese institucionalista.
10.1.1.2. A tese contratualista
Segundo esta dizemos que uma pessoa é sócio por ter certos direitos e deveres.
Estamos a dizer que, pela celebração do contrato de sociedade, emergem direitos e
deveres para as partes (sócios) e é por terem esses direitos e deveres que as partes do
contrato vão ser sócios de uma determinada sociedade.
Quem olha para a sociedade, numa perspectiva essencialmente contratualista, tende a
acentuar os aspectos que são inerentes ao próprio contrato. Naturalmente que a
sociedade é uma consequência do contrato, ainda que se lhe tenha de reconhecer
uma certa relevância.
10.1.1.3. A tese institucionalista
Tendem a sobrevalorizar a situação jurídica que emerge desse contrato, o qual acaba
por ser encarado como um puro requisito da instituição nascente.
O institucionalismo não se caracteriza pela necessária existência de uma qualidade
aprióstica: a qualidade de sócio surge, apenas e exclusivamente, com a conclusão do
contrato. E faz sentido no plano das relações internas, a partir do momento em que
pretendem constituir uma sociedade celebram o respectivo contrato, isto é, antes do
registo deste, e antes da ordem jurídica reconhecer autonomia à pessoa que vai surgir
desse mesmo contrato.
A ideia subjacente é a de que as pessoas celebram o contrato para serem, e porque
querem ser sócias. Têm a perspectiva de exercerem em comum uma actividade; e
nessa convicção reside a chamada affectio societatis.

10.1.2. Fundamento das sociedades comerciais


Na perspectiva institucionalista aflora muito a tese que é ínsita e se retira da noção
legal do contrato de sociedade civil, de exercício em comum de uma actividade.
Esta concepção também se exprime no princípio que para a teoria institucionalista, era
caracterizador das sociedades comerciais, o princípio da affectio societatis (existe
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 5
necessariamente uma enorme ligação da pessoa à actividade da sociedade em termos
de não lhe serem indiferentes as decisões que esta vá tomando e a forma como são
conduzidos os negócios sociais).
Se esta concepção (de sociedade que surge com o contrato e que aqueles que a
integrarem são sócios) é feliz para as sociedades que se caracterizam por uma
crescente “pessoalização” (tal como a sociedade por quotas), o mesmo não se pode
dizer relativamente a um outro tipo social em concreto (tal como nas sociedades
anónimas – aqui a qualidade de associado resulta da detenção ou titularidade da
participação, ou seja, do facto de ser associado e de lhe serem reconhecidos
determinados direitos e vinculações).

10.1.3. Como se qualifica a situação jurídica do sócio?


A lei estabelece os tipos e as menções mínimas obrigatórias, que têm de ser inerentes
a vários tipos (essas, o contrato não as pode desprezar), depois o contrato pode
desenhar direitos e vinculações que, para aquele tipo de sociedade em concreto, vão
caracterizar a situação jurídica dos respectivos associados.

10.2. Razoes justificativas da participação na sociedade comercial


Podem ser fundamentalmente, de duas ordens:

10.2.1. Aquisição de estatuto de sócio


Todas aquelas participações que se constituem à luz da clássica ideia de affectio
societatis, a integração e a participação activa na condução da sociedade são
características das sociedades de pessoas, das sociedades em nome colectivo e
também das sociedades por quotas (sociedades de pessoas em que em regra, os
associados pretendem participar, activamente, na direcção dos negócios da
sociedade). Em Portugal, algumas sociedades por quotas podem ter um número
significativo de sócios, nem todos podendo ter a proximidade com a condução dos
negócios sociais que desejariam.

10.2.2. Investimento financeiro


Razão justificativa, característica e típica, da situação de participação na sociedade
anónima. Quer dizer, obter da participação na sociedade um maior rendimento, uma
mais-valia na eventual ulterior alienação da participação social e até então, obter uma
remuneração da aplicação de capital feita. Numa sociedade anónima a ideia de
investimento financeiro é predominante.

10.3. Limitação a responsabilidade pessoal; remissão


Fundamentalmente, o que se pretende é a chamada limitação da responsabilidade
pessoal, quer dizer, é a finalidade que se persegue com a subscrição ou realização de
partes sociais nas sociedades de responsabilidade limitada.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 5
10.4. Situação complexa perante a sociedade
Cada sócio tem ou assume uma situação ou posição complexa perante a pessoa
jurídica societária. Isto é, a posição de cada sócio, a sua situação jurídica no seio de
uma sociedade comercial, é uma situação ou posição complexa, não se limitando a
uma pluralidade de direitos. Inclui também multiplicidade de deveres, de vinculações e
também outras situações jurídicas, tais como ónus e expectativas jurídicas.
Como se abre e como se fecha uma sociedade?
Recorrendo às regras típicas de transmissibilidade das partes sociais. Por um lado,
flexibilizando-as e, por outro lado, restringindo-as ou limitando-as.
As obrigações e os direitos dos accionistas e dos sócios das sociedades anónimas e por
quotas de que seja sujeito passivo a própria sociedade:
. Sociedades Anónimas: pensa-se nas relações meramente internas. Há que
prevenir que a cada acção corresponde um acto de participação social autónomo. Não
seria errado dizer que uma pessoa é tantas vezes sócio quanto o numero de acções
que possuir. Quer dizer, não fica nem mais nem menos sócio, por ter mais ou menos
acções;
. Sociedades por quotas: a pessoa do sócio é determinante e, por isso, onde a
construção dos direitos e deveres é feita tendo-a por referência, pelo que, quanto à
amplitude da sua intervenção, será praticamente indiferente o montante da
participação que aquele detenha.

No que respeita às demais situações jurídicas (as que não se caracterizam pelas
obrigações e direitos) é possível descobrir ónus a propósito das situações de
contitularidade e usufruto de participações sociais. Isto é, certas situações, em que,
sendo permitida ao sócio a adopção de determinadas condutas, ele sofrerá uma
desvantagem por não as accionar.
Quanto a expectativa jurídica esta tem de ser uma esperança tutelada pelo direito, não
basta uma mera expectativa material.

10.5. Da tutela ao abuso das minorias (nas sociedades anónimas)


Há que procurar o equilíbrio entre a governabilidade da sociedade, entregue
naturalmente à maioria, e a tutela dos interesses dos accionistas minoritários, aos
quais deve ser reconhecido o direito de, em certas circunstancias e verificados
determinados requisitos, poderem intervir activamente na vida societária, e não serem
meros investidores passivos. A lei reflecte a preocupação de proteger as participações
minoritárias.
Em atenção à estrutura destas sociedades, a lei procura garantir a intervenção
daqueles que não participam activamente na direcção da actividade societária,
mantendo-se à margem dos centros de poder, mas com interesses próprios dignos de
protecção. A dispersão de capital justifica que, em alguns casos, ocorra uma autorizada
conjugação de esforços para tornar possível o exercício de certos direitos.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 5
Ocorre o reconhecimento de minoria e assume-se a necessidade da protecção dos
respectivos interesses.
Essa minoria pode ser suficientemente significativa para bloquear decisões
fundamentais da sociedade (ex: variações de capital social). Nessas circunstancias
torna patente a obstrução sistemática de accionistas minoritários que inviabilizam a
formação de deliberações vitais para a sociedade, poder-se-á falar em abuso de
minoria.
Diversamente do que acontece com a sanção que corresponde aos actos abusivos de
maioria (58º nº1 al. b) CSC), o abuso de minoria não vem previsto no CSC.
Cremos que o abuso de minoria é tipicamente um abuso de direito, e como tal,
inadmissível. Mas a projecção dessa inadmissibilidade não pode provocar a invalidade
de uma deliberação que, por efeito dos votos abusivos de bloqueio, não se chega a
formar, não sendo aprovada, como sucede com as deliberações abusivas (58º nº1 al.
b)), porque esse efeito satisfaria plenamente a minoria. O remédio adequado, neste
caso, passa pela desconsideração de tais votos, acto que conduzirá à aprovação da
deliberação se os votos favoráveis forem em número suficiente. Os votos da minoria
abusadora deverão ter-se por não expressos.

10.6. O princípio da igualdade de tratamento dos accionistas.


Art. 321º.
Vamos entendê-lo agora aplicado à sociedade anónima. Nesta é manifesto a aceitação
de que uma pessoa tem direitos e vinculações por ser titular de acções. Este direitos e
vinculações são reconhecidos às participações adquirindo uma relevância autónoma
em sentido jurídico.
A pessoa do accionista esbate-se de tal modo que toda a construção tem a ver,
precisamente, com as participações, uma vez que estas podem atribuir aos seus
titulares direitos e vinculações substancialmente distintos. E, se o fizerem, no fundo é
porque existem categorias de participações (“categorias de acções”).
Art. 321º + in fine: quando se refere “a natureza do caso”, isto é, mesmo na aquisição
de acções próprias pode, consoante a natureza do caso, não ser possível o igual
tratamento dos accionistas.
E quando é que a natureza do caso o impede?
Quando os direitos e vinculações emergentes das acções forem diferentes, ou seja,
quando estivermos perante categorias de acções distintas porque concedem aos
respectivos titulares um acervo diferenciado de direito e, ou, de vinculações. Se assim
for o direito concebe sempre os direitos encabeçados no sujeito.
O que é que isso significa em sede de acções próprias?
Pode tornar-se extremamente vantajoso para o accionista que a sociedade esteja a
pensar adquirir acções próprias (acções para a sua carteira), o que aliás só pode fazer-
se até um determinado montante máximo (316º nº1 e 317º nº2), visto que ao adquiri-
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 5
las está a pagar o respectivo preço e isso pode ser um bom negócio para quem seja o
titular dessas acções, sobretudo se elas não tiverem liquidez.
Se for um bom negocio, também conta o investimento de capital feito na subscrição
ou aquisição prévia dessas acções.
O princípio do igual tratamento visa acautelar é que a sociedade pretender adquirir
acções próprias, então deve-o fazer propondo a aquisição a todos os accionistas por
igual. Isto é, se todos estiverem interessados em vender, terá que proceder a um
rateio e comprar proporcionalmente Às acções que eles detêm, de modo a satisfazer
todos.
Não é indiferente na aquisição de acções próprias (321º in fine) a categoria das acções
envolvidas. Se as acções forem de categorias diferentes não é indiferente a sociedade
adquirir umas ou outras. Nesse caso, não pode estar a adquirir todas as acções que
integram o seu capital social de modo indiferenciado e, portanto, haveria que
estabelecer uma ressalva.
Uma situação em que o princípio da igualdade de tratamento dos accionistas também
deve ser considerado é a da redução do capital social. Se a sociedade tiver que
promover uma situação de redução do seu capital social, para cobertura de prejuízos e
eventualmente porque precisa de interessar terceiros na sua actividade e para que
estes venham a participar na sociedade, vai ter de repor o seu capital social ao nível do
seu activo efectivamente existente; a sociedade vai ter, assim, que sacrificar
participações daqueles que já a integram. Ao faze-lo, executando a redução do capital
social, ela vai ter de afectar por igual as participações dos accionistas, de acordo com
este principio. Isto é, não pode a sociedade deliberar afectar as participações do
accionista X em detrimento das participações do accionista Y, a menos que haja
categorias diferentes de acções e então justifica-se a salvaguarda das categorias
especiais ou privilegiadas, em detrimento da categoria residual, isto é, daquela que é
composta por acções ordinárias.

10.7. Fundamento da qualidade de sócio e da participação social.


Enquanto numa sociedade por quotas os direitos são de titularidade pessoal e
individual, sendo reconhecidos aos sócios independentemente do respectivo capital
social:
. Direito de informação, 214º nº1 e 216º;
. Direito de participação nas deliberações sociais, 248º nº2;
. Direitos especiais, 24º nº3;
Nas sociedades anónimas os direitos são atribuídos às participações e dependem
nalguns casos da detenção de um número mínimo de acções:
. Direito de informação, 288º nº2 e 291º nº 1;
. Direito de participação nas deliberações sociais, 379º nº1 e 2;
. Direitos especiais, 24º nº4 e 6;
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 5
Secção II – Obrigações

11.1. Obrigações dos sócios; generalidades. Classificações

11.1.1. Obrigações sociais


Os sócios têm obrigações perante a sociedade, as quais revestem essencialmente um
carácter patrimonial (de dotar a sociedade de meios financeiros indispensáveis à sua
actividade, de proceder ao reforço desses meios quando tal for necessário, de
eventualmente prestarem serviços à sociedade e de cobrirem até um certo limite as
perdas resultantes da actividade societária).
A admissibilidade e criação de obrigações, bem como a exigibilidade do seu
cumprimento, supõem a previa identificação do sócio, diversamente do que se passa
com os direitos.
Em matéria de obrigações vigora o princípio da Inoponibilidade de novas obrigações
não consentidas, 86º nº2 CSC.

11.1.2. Classificações
A distinção principal é a que distingue: Principais e Acessórias.
As obrigações principais caracterizam o estatuto do sócio (obrigação de entrada e da
obrigação de participação nas perdas).
As obrigações (lato sensu) podem reconduzir-se a diversos tipos, desde obrigações de
prestações suplementares de capital, passando por obrigações de prestações
acessórias e acabando em obrigações específicas.

11.2. Obrigação de entrada

11.2.1. Caracterização
Vem prevista no art. 20º al. a) e está regulada nos arts. 25º a 30º CSC.
Nas sociedades por quotas e anónimas não são permitidas contribuições de industria,
202º nº1 e 277º nº1, (diferente do que acontece nas sociedades em nome colectivo),
pelo que todas as participações são necessariamente realizadas em capital, 202º a
208º e 285º e 286º.
A entrada do sócio corresponde a uma contribuição necessária (geralmente em
dinheiro, mas que também pode ser em espécie, e traduz a medida do risco do capital
suportado pelo sócio).
Caso a sociedade não precise imediatamente de todo o capital que os sócios
subscrevem, é possível diferir uma parte das entradas em dinheiro, desde que o prazo
para o efeito não ultrapasse cinco anos. A sociedade deverá receber dos sócios as
respectivas contribuições à medida que vai delas carecendo.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 5
11.2.2. Composição e montante das entradas

11.2.2.1. Tipos de bens


Não podem constituir objecto de entrada para a sociedade aqueles bens que sejam
considerados impenhoráveis, designadamente aqueles bens que sa utilizáveis ao
serviço da economia familiar ou domestica; portanto, todos os bens que devam estar
sempre salvaguardados e que, se viessem a fazer parte do acervo societário, poderiam
ficar expostos a todas as consequências a que os bens próprios das sociedades estão
sujeitos, designadamente à responsabilidade (ilimitada) pelas dívidas sociais.
Mas a restrição (a penhorabilidade) não deve ser entendida como limite À
consideração de bens.
Essencial é que não se pretendam certificar como bens em espécie contribuições de
indústria ou até despesas de constituição, uma vez que umas e outras têm regimes
próprios. Fundamental é que, qualquer que seja o bem, ele traga um valor económico
acrescido ao património societário.
Quanto às entradas em dinheiro, o que podemos entender por dinheiro, 25º nº1?
As entradas em espécie são aquelas que forem em bens diferentes de dinheiro, 28º.
Dinheiro é moeda circulante e dentro deste conceito devemos admitir as notas,
moedas metálicas e cheques. Estes têm função liberatória plena, constituindo um
meio de pagamento. As entradas em sociedades comerciais tituladas por cheque
devem ser consideradas em dinheiro.
As entradas em espécie, por sua vez, são constituídas por créditos ou outros bens ou
valores também realizáveis em dinheiro. E os valores mobiliários, enquanto
apresentam um valor, serão entradas em espécie.
Em suma, as entradas em espécie, 25º e 28º são integradas por créditos e outros bens
ou valores realizáveis em dinheiro.
O problema que se coloca nas entradas em espécie é o de saber o valor que lhes vai
ser atribuído no momento da realização da respectiva entrada.

11.2.2.2. Valor da entrada


Não pode o seu valor ser inferior ao valor nominal da participação. Deve ser igual ou
superior ao valor comercial da participação, 25º e 27º nº1.
Devem presidir como critérios de certificação do valor da entrada, uma correcta
valorização dessas entradas e um efectiva realização das mesmas, ou seja, que as
entradas sejam efectivamente cumpridas, designadamente quando são feitas em
dinheiro.
No que respeita às entradas em espécie, haverá que determinar como, por quem e
com referencia a que momento, é que deverão ser valorizadas.
Esse valor deve ser certificado por uma entidade que assegure independência, em
relação ao interessado e isenção, relativamente a todos e quaisquer interesses
envolvidos na sociedade, 28º nº1 e nº2. Certificar é diferente de avaliar. A entidade
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 5
que certifica não é, necessariamente, a mesma que avalia. Quem certifica só diz que
está correcta a avaliação efectuada. A entidade que efectua a certificação é um revisor
oficial de contas que deve ser designado por deliberação dos sócios, na qual não
podem participar todos aqueles que têm interesse imediato na sua intervenção, ou
seja, que pretendam realizar as entradas em espécie.
Infelizmente, na prática, isto é letra morta.
Se houver uma subvalorização da entrada em espécie, na posição relativa vai ficar
prejudicado o sócio que realiza essa entrada. Só se se verificar uma sobrevalorização
da entrada em espécie é que o sócio que a realiza vai ser beneficiado e vão ser
prejudicados, por consequência, todos aqueles que realizaram as entradas em dinheiro
e que vão ter, perante a entrada em espécie feita, uma participação relativamente
diminuída com o respectivo valor absoluto.
Caso todos os sócios realizam entradas em bens idênticos (ex: valores mobiliários) não
nos custa admitir que todas elas sejam certificadas pelo mesmo revisor oficial de
contas, designado por acordo de todos. Com efeitos nestas circunstâncias não se
verificará uma desigualdade relativa e não se justifica que tenham de intervir diversos
revisores de contas.
Em termos de valorização das entradas em espécie há que ponderar, ao lado do
respectivo valor patrimonial absoluto, o risco que possa estar associado a um eventual
incumprimento

11. 2.3. Momento da realização das entradas

11.2.3.1. Oportunidade da realização da entrada


Em principio, devem ser realizadas na altura da constituição da sociedade, portanto
devem encontrar-se satisfeitas até ao momento da celebração do contrato de
sociedade, 26º.
As entradas a realizar em dinheiro podem ser parcialmente diferidas, podendo admitir-
se que as entradas subscritas não sejam totalmente liberadas no momento da
constituição, devendo sê-lo num prazo mínimo de 5 anos (26º in fine, 203º nº1 e 285º
nº1). E ou o prazo é contratualmente estabelecido ou se entende, no silencio do
contrato, que elas têm de ser realizadas no prazo de 5 anos após o momento em que
se constitui a sociedade.
Os contratos em causa devem explicitar que só uma parte das entradas é que foi
realizada, encontrando-se por realizar parte das entradas em dinheiro.
As entradas em espécie devem ser todas realizadas no momento da constituição da
sociedade uma vez que, existindo os bens, não se vê que tenha especial interesse
diferir a sua entrega à sociedade.
Nas sociedades por quotas pode ser diferida a efectivação de metade (50%) das
entradas em dinheiro, desde que o capital mínimo esteja satisfeito, 202º nº2. Se o
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 5
capital social dor, ex: € 5.000.00 haverá que realizar o mínimo de € 5.000.00 (capital
social mínimo), só se aplicando a regra dos 50% a partir dos € 10.000.00 (inclusive).
Ao capital a realizar por cada sócio, e observada a regra do mínimo, nada impede que
um sócio realize 100% da sua entrada e outro não realize inicialmente nada,
considerando a solidariedade dos sócios (fundadores) relativamente à totalidade do
capital subscrito. No entanto, esta não é a regra, estabelecendo a lei no 203º nº2, que
o que aqui está em causa é um afloramento do princípio do igual tratamento dos
sócios, segundo o qual, na falta de acordo específico, todos os sócios devem realizar
proporcionalmente à sua entrada o capital social e devem realizar a parte apenas
subscrita também ao mesmo tempo e proporcionalmente.
Nas sociedades anónimas pode ser diferida a realização de 70% da entradas em
dinheiro correspondentes ao valor nominal das acções, independentemente do capital
subscrito, 277º nº2, pelo que haverá que proceder à realização de capital
correspondente a um mínimo de 30% do valor nominal de cada acção. Aqui o principio
do igual tratamento dos accionistas tem uma aplicação imperativa, devendo integrar
uma mesma categoria de acções os valores que se caracterizam por diferir um mesmo
montante do capital por realizar.

11.2.3.2. O depósito (obrigatório) para a constituição da


sociedade, remissão

11.2.3.3. O aumento do capital social por entradas em dinheiro


A prova das entradas continua a fazer-se por simples declaração, 88º nº2, se da
respectiva acta não constar que as entradas já se encontram totalmente realizadas,
88º nº1., não obstante o disposto no 89º nº1.
A declaração vai no sentido de que o capital já deu entrada na caixa social,
constituindo a falta de cobrança das entradas crime, sendo penalmente sancionada
com multa até 60 dias, 509º nº1 CSC.

11.2.3.4. Entradas em espécie


Nunca podem ser diferidas e devem ser objecto de avaliação por revisor oficial de
contas independente, o qual deverá certificar o valor da entrada, em relatório que faz
parte integrante da documentação sujeita às formalidades de publicidade e que
deverá ser objecto de depósito no registo comercial. O revisor deverá atender ao valor
intrínseco dos bens em espécie que integram a entrada, ao prazo de liquidação de que
depende a satisfação dos activos que a constituem e ao risco da sua liquidez, 28º, 26º
e 89º nº1.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 6
11.2.4. Mora

11.2.4.1. Situação
Corresponde ao atraso na realização do capital social subscrito, mas ainda não
liberado.
Relativamente às entradas em dinheiro que tenham sido diferidas, o sócio só entra em
mora apos ser expressamente interpelado para o efeito; ainda que o próprio contrato
social fixe a data até à qual deverá ser realizado o capital.
Estando em causa a liberação de obrigações de entrada, a mora pressupõe, pois, a
previa interpelação do sócio, 203º nº3 e 285º nº2 a 5, e faz incorrer em
responsabilidade solidária com o excluído ou titular das acções perdida sem favor da
sociedade os anteriores titulares da quota ou dessas acções, 206º e 286º.
Não pode ser deliberado aumento de capital social, enquanto não estiverem realizadas
toas as prestações anteriormente subscritas, 87º nº3.

11.2.4.2. Consequência (da mora) para o titular da participação


social
São diversas e todas elas negativas.
A mais grave traduz-se na exclusão (pagamento de juros + parda da participação social)
204º e 285º nº4; não recebimento de lucros, 27º nº4; possibilidade de compensação
de lucros distribuídos com capital por realizar, 27º nº5; paralisação do direito de voto
do sócio relapso, 384º nº4.

11.3. A participação nas perdas; significado e alcance


Outra obrigação essencial dos sócios é a que se traduz quinhoarem nas perdas que se
registem, na medida da respectiva responsabilidade social, com excepção dos sócios
de indústria, 20º al. b) + 22º nº3.
Os sócios de capital estão todos obrigados a participar ou «quinhoar nas perdas», 20º
al. b), devendo, em princípio, fazê-lo na proporção dos valores nominais das suas
participações, 22º nº1.
Considerando a responsabilidade limitada do sócio de uma sociedade por quotas ou
anónima, em que termos participa o sócio obrigatoriamente nas perdas da sociedade?
o sócio de responsabilidade limitada (sem obrigações acrescidas) participa nas perdas
na medida em que, dissolvida e liquidada a sociedade, ele não seja reembolsado da
totalidade do capital que realizou, inicialmente (entrada) ou durante a vida da
sociedade (pela subscrição de aumentos de capital em €).
Assim sendo, a sua participação nas é, nesses tipos sociais, em regra, limitada ao
capital realizado.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 6
11.4. Obrigações acessórias

11.4.1. Universo
Resultam do próprio contrato de sociedade ou são integradas no mesmo, em vida da
sociedade, e por efeito da alteração do contrato – com as limitações do 86º nº2 CSC –
em vida da sociedade.
É no momento constitutivo que importa reflectir adequadamente acerca das
obrigações que podem vir a ser exigidas mais tarde.

11.4.2. Obrigações de prestações suplementares de capital; remissão

11.4.3. Obrigações (de prestações) acessórias; remissão

11.4.4. Obrigações específicas nas SPQ; remissão

Secção III - Direitos

12. Conceito. Direitos gerais

12.1. Direitos sociais


A lei estabelece de forma imperativa os direitos que correspondem à estrutura
essencial da sociedade (Ex: direitos aos lucros), art. 21º nº1 al. a); ou que são
indispensáveis ao seu bom funcionamento (ex: voto), 21º nº1 al. b); e supletivamente
outros direitos, impondo-lhes em certos casos limites imperativos (ex: exoneração).
Os direitos sociais são direitos perante a sociedade, que resultam da posição que os
sócios ocupam na sociedade, na sua qualidade de sócios ou que caracterizam as
participações sociais.
Podem ser pertença de todos os sócios, correspondendo ao interesse comum (gerais)
ou pressuporem um interesse pessoal ou uma situação de vantagem (especiais).

12.2. Direitos gerais

12.2.1. Sistematização com base no respectivo conteúdo

12.2.1.1. Direitos de participação na administração da


sociedade (ou vida social)
São fundamentalmente funcionais, sendo chamados, por alguns autores de “direitos
políticos”. São indispensáveis ao bom funcionamento da sociedade comercial.

- Direito de participação nas deliberações dos sócios: Este direito pressupõe três
vertentes bem distintas: direitos de presença (na formação das deliberações pode
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 6
suceder que os sócios apenas possam estar presentes, não se possam manifestar. Não
poderão contribuir para a formação da deliberação, limitando-se a obter uma
informação in loco e contemporânea ao momento em que a decisão societária é
tomada); de intervenção, 248º nº5 e 37º nº1 e nº3 (pressupõe a presença na reunião,
assegurando o sócio a possibilidade de poder contribuir para formação da vontade
societária, quiçá convencendo alguns dos seus pares com direito de voto); e de voto,
250º e 384º nº1 (permite ao respectivo titular contribuir decisivamente para a
formação da vontade societária), nessas deliberações, maxime nas assembleias-gerais.
- Direito à informação: 21º nº1 al. c), 214º, 288º a 291º CSC;
- Direito de fiscalização da actuação dos gestores da sociedade, 216º, 292º e 450º CSC,
da sociedade, isto é, o direito de controlo de que o respectivo desempenho de funções
é feito dentro dos limites da lei e com respeito pelas regras do próprio contrato.
- Direitos de convocação da assembleia-geral (248º nº2 e 375º nº2 e 6 CSC) e de
inclusão de determinados assuntos na ordem do dia de assembleia já convocada ou a
convocar (248º nº2 e 375º nº3). O reconhecimento desse direito não significa que os
sócios venham efectivamente a conseguir obter uma deliberação favorável num
determinado sentido.
- Direito de impugnar as deliberações dos sócios contrárias a lei ou ao contrato (56º,
58º a 60º e 69º CSC): encontra-se no pólo oposto do direito de participação e que
constitui o seu contrapeso. É uma forma de garantir que essa vontade social possa ser
impugnada pelos sócios.
- Direito de ser designado, quer por eleição, quer por nomeação, para os órgãos
sociais (21º nº1 al. d) CSC): direito que, em nossa opinião, perdeu autonomia, porque
na sociedade por quotas e anónimas este direito não é efectivo, em função da
dissociação entre o risco do capital e a direcção efectiva da sociedade. Este direito
perdeu um certo conteúdo e alcance.
- Direito de requerer a nomeação judicial dos titulares dos órgãos de administração e
fiscalização da sociedade (253º nº3, 394º, 417º, 418º e 439º CSC), bem como a
destituição, também judicial do titular do órgão de administração (257º bº4 e 403º
nº3 CSC).
Em certas situações a lei reconhece aos sócios o direito de requerer ao T que este
designe um administrador (um administrador judicial ou um membro do conselho
fiscal). Os sócios têm também o direito de requerer judicialmente a destituição dos
titulares do órgão de administração.

12.2.1.2. Direitos de participar nos benefícios sociais


Tem natureza económica imediata e susceptível de avaliação pecuniária. São
fundamentalmente dois:
- Direito aos lucros de exercício (artº21º, nº1, al. a) , 217º e 294º), e
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 6
- Direito aos lucros finais de exploração ou direitos a quinhoar nos bens da sociedade,
após terem sido garantidos os pagamentos aos credores e reembolsadas as entradas
realizadas.

Se as entradas não poderem ser totalmente reembolsadas, verifica-se uma perda


efectiva do sócio, apesar de ele já ter realizado há muito a sua entrada.
- A este grupo costuma associar-se o direito de preferência na subscrição de
participações sociais em aumentos de capital por entradas em dinheiro.
Este direito é reconhecido pela própria lei aos sócios e aos accionistas e a maior parte
dos autores tende a reconduzi-lo necessariamente ao direito de participar nos
benefícios sociais.
Este direito decorre precisamente de um sócio deter uma certa participação. E por isso
exerce a preferência de subscrição em aumentos de capital quando estão em causa
entradas em dinheiro, enquadram também nos direitos de conteúdo não
imediatamente patrimonial.

12.2.1.3 Outros direitos


- Direito de exoneração (art. 3º, nº5, 45º, 137º, 161º, nº5, 105º e 120º), o direito de o
sócio ou o accionista se afastar da sociedade, obtendo uma compensação pela
participação detida. Não é sem mais nem menos que qualquer sócio ou accionista bate
com a porta.
- Direitos puramente convencionais; direito que a lei não regula, nem tão pouco faz
referência, e que resultam da autonomia privada dos sócios.
Um dos mais frequentes é o direito à utilização das instalações sociais que não tem
necessariamente um conteúdo patrimonial, embora o possa ter e que não tem no
âmbito das sociedades a mesma relevância que tem no plano das associações, onde
nasceu e se desenvolveu, e de onde foi transposto.

12.2.2 Direitos de Exercício colectivo nas Sociedades Anónimas


O capital social frequentemente pulverizado, repartido por inúmeras pessoas que, por
si, podem não reunir acções em número suficiente para, individualmente, exercer
certos direitos, cuja actuação se encontra dependente da titularidade de uma
determinada percentagem mínima do capital social.
Pela função e relevância desses direitos, a lei reputa necessário que se reúna um
montante mínimo do capital social, mas simultaneamente permite aos accionistas que
se agrupem, para que, pela junção das acções de que são titulares, possam congregar
uma percentagem de capital social que lhes possibilite de exercer esses direitos (art.
379º, nº 5).
A lei – para protecção das minorias – dispensa aos accionistas que reúnam uma
percentagem mínima do capital social, uma protecção especial, concedendo-lhe a
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 6
titularidade de certos direitos que, de outro modo, acabariam por pertencer apenas
aos accionistas minoritários.
A própria sociedade anónima determina que essa protecção se faça com base numa
determinada percentagem do capital social, em vez de ser feita por cabeça, á
semelhança do que acontece na sociedade por quotas. É o que sucede no domínio do
direito de informação.
No âmbito da designação de administradores, a lei concede uma tutela semelhante
quando a sociedade é aberta, admitindo que, noutras espécies de sociedades
anónimas, essa tutela possa ser estatutariamente criada (art.392º, nº1). Na primeira
situação a lei procura garantira uma minoria representativa de pelo menos 10% doa
capital social a possibilidade de eleger um administrador, o mesmo podendo suceder,
agora a título de faculdade contratualmente reconhecida, na segunda situação. Neste
caso, nada impede que o contrato de sociedade admita a possibilidade de a minoria
que votar contra a proposta aprovada eleger mais do que um administrador.

Outros exemplos de direitos de exercício colectivo de accionistas minoritários:


- Direito colectivo à informação (art.291º);
- Direito de convocação da assembleia-geral e direito de inclusão de determinados
assuntos na ordem do dia de uma assembleia já convocada ou a convocar (art.77º, nº1
e 76º, nº1);
- Direito de requerer a nomeação judicial de membros do órgão de fiscalização e a
destituição judicial de membros do órgão de administração e do conselho geral e de
supervisão (art.418º, 403º, nº 3 e 435º, nº3).
Em suma, podemos concluir que no CSC, as minorias são tuteladas pelos
reconhecimento da titularidade de direitos cujo exercício em certas circunstancias
terá, na prática, de ser colectivo, sem prejuízo desses mesmos direitos poderem ser
igualmente actuados por um accionista isolado, desde que por si só reúna a
percentagem mínima de capital social indispensável para o efeito. A finalidade dessa
concessão destes direitos é a de assegurar, com o mínimo de eficácia os direitos
essenciais de pequenos accionistas, preservando-os dos efeitos resultantes do normal
funcionamento das regras da maioria.
O reconhecimento legal de direitos de exercício colectivo de accionistas minoritários
não os constitui numa categoria, uma vez que as suas acções têm os mesmos direitos
que as demais. A tutela dos accionistas minoritários é indiferenciada; ela beneficia que,
independentemente do capital que detêm, se agrupa para poder exercer
determinados direitos. Necessário e suficiente é que se reúna então um certo número
de acções e não de certas acções.

12.2.3. Direitos necessariamente individuais


Há direitos que são necessariamente individuais, direito aos lucros; direito de
impugnar as deliberações sociais inválidas; e o direito de requerer à nomeação judicial
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 6
de membros dos órgãos de administração e de fiscalização, incluindo do conselho geral
e de supervisão.

13. Direitos Especiais

13.1. Direitos especiais e vantagens especiais


Os direitos especiais pressupõem a qualidade de sócio, não devendo ser confundidos
com as vantagens especiais, recompensas que eventualmente tenham sido atribuídas
a fundadores pelo papel desempenhado na constituição da sociedade. Estas são
independentes da sua participação nesta, podendo ser o seu titular (beneficiário)
conservá-las, enquanto os direitos especiais não podem subsistir sem a qualidade de
sócio. E é, precisamente neste aspecto que reside o critério que permitirá distingui-los
das vantagens especiais (ou particulares).

13.2 Direitos Especiais dos sócios das sociedades por quotas

13.2.1 Caracterização e regime –

regra 13.2.1.1.
Os direitos especiais são aqueles que são atribuídos pelo contrato de sociedade a um
ou mais sócios (art.24º, nº1) conferindo-lhes uma vantagem relativamente aos demais.
Só pelo contrato esses direitos podem ser criados.
Daqui decorrem consequências, no plano do regime que lhes é aplicável, no sentido de
que, se eles devem constar do contrato, então se pretendemos alterar os respectivos
conteúdos, fim ou finalidade, temos de primeiramente modificar o contrato.
Isto é, se qualitativamente a sua posição permanece inalterada; quantitativamente, ela
resultará naturalmente enfraquecida. E esta conclusão é especialmente evidente no
plano dos direitos de natureza patrimonial, como é o caso do direito aos lucros do
exercício. No que se refere à criação de direitos de natureza não patrimonial em vida
da sociedade, como por exemplo direito especial de designar um gerente, ela já não
põe em causa, nem sequer quantitativamente, os direitos dos restantes sócios
relativamente à situação anterior.

13.2.1.2.
O critério distingue estes direitos dos direitos gerais, e tal reside no facto de só
poderem ser atribuídos a alguns sócios, estando por isso primordialmente afectos a
interesses próprios do seu titular.
A especificidade destes direitos sociais radica na característica – de satisfação de
interesses pessoais – e na qualidade relativa, de só poderem ser concedidos a alguns
sócios. Os direitos especiais não podem ser atribuídos à totalidade dos sócios, sem
prejuízo da sua essência.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 6
13.2.1.3.
Os direitos especiais que revestirem natureza patrimonial são, regra geral,
«transmissíveis com a quota respectiva, sendo intransmissíveis os restantes direitos»,
24º nº3. Daqui resulta que, regra geral, a cessão de quotas importa a
transmissibilidade do direito especial se este tiver carácter patrimonial, o que não é
muito consentâneo com a respectiva natureza, enquanto atribuição intuitus personae.
Quando se trata de um direito especial não patrimonial, a lei não permite a sua
transmissibilidade.

13.2.1.4.
Regra geral, «os direitos especiais não podem ser suprimidos sem o consentimento do
respectivo titular», 24º nº5.
A lei pretendeu tutelar as legítimas expectativas das partes que celebram o negocio
constitutivo da sociedade, dando um conteúdo útil ao privilegio atribuído a um ou
alguns sócios. No entanto, tanto o contrato como a lei podem dispor diferente solução,
contribuindo para lhe retirar uma certa efectividade.
Sociedades anónimas: embora por razoes que visam viabilizar o seu funcionamento,
considerando-se que os direitos são atribuídos às múltiplas fracções do capital social
(as acções), o consentimento «é dado por deliberação tomada em assembleia especial
dos accionistas titulares de acções da respectiva categoria», 24º nº6, por uma maioria
qualificada de dois terços dos votos, 389º nº2 e 383º nº2 e 386º nº3.

13.2.1.5.
As deliberações que não obtenham o consentimento necessário são ineficazes, art.
55º, isto é, são irrelevantes para o titular do direito especial afectado. Se este pura e
simplesmente ignorar essa deliberação, ela será como que inexistente até ao
momento da sua eventual confirmação.

13.2.2. Exemplificação
Constituem exemplos de direitos especiais nestas sociedades os seguintes:

13.2.2.1. Direito a parte acrescido nos lucros de exercício


Consiste em permitir a um ou mais sócios participar nos lucros de exercício em parte
mais do que proporcional à respectiva participação social.
Pode participar nos lucros da sociedade numa parte mais do que proporcional à
participação que detêm no capital social, é porque outros, só poderão participar numa
parte menos do que proporcional à respectiva participação societária. Isto significa que
o titular do direito especial vai obter mais do que aquilo que resultaria da
proporcionalidade da sua participação social em termos de participação nos lucros.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 6
13.2.2.2. Direito a uma parte favorecida no saldo de liquidação
Prever estatutariamente que, em caso de liquidação da sociedade e partilha do activo
remanescente, um determinado sócio tenha o direito a participar nesse activo de
forma mais do que proporcional à sua participação social. Este direito não é
expressamente reconhecido no nosso Código, embora o mesmo o admita
implicitamente, 21º nº1.

13.2.2.3. Direito de voto duplo


Art. 250º nº2.
Direito, por natureza, relativo que consiste em atribuir a um ou mais sócios o dobro
dos direitos de voto relativamente aos que resultam de participação de igual valor
nominal detido por outros sócios; e não se traduz na duplicação de todos os votos.
Este direito especial encontra-se legalmente limitado à atribuição a um máximo de
20% do capital social.

13.2.2.4. Direito de veto de alterações estatutárias


Sociedades por quotas: pode ser concedida a uma ou mais pessoas o direito especial
de se poderem opor às alterações do contrato de sociedade, inviabilizando-as, 265º
nº2.
Em certos casos o contrato só pode ser total ou parcialmente alterado com o voto
favorável de um determinado sócio, a verdade é que este direito equivale a um direito
de veto.

13.2.2.5. Direito de nomeação à gerência


No plano funcional, pode uma determinada pessoa ter interesse em participar numa
sociedade por quotas e ser desafiada para o efeito, mas não dispor de meios que lhe
permitam subscrever uma participação significativa no capital social que só por si, lhe
assegure uma participação na gestão da sociedade. e não obstante fazer depender a
sua participação societária do facto de ser contratualmente nomeada gerente, de
modo a só com justa causa poder ser removida sem o seu próprio consentimento.
Nesses termos e com essa finalidade, ela deve exigir que lhe seja contratualmente
concedido um direito especial À gerência.
É legalmente reconhecido no art. 257º nº3, pode revestir mais do que uma forma e
quando atribuído a todos os sócios a sua especialidade passa a confundir-se com a sua
iderrogabilidade, isto é, deixa de ser um direito especial, na acepção que temos vindo
a utilizar, de vantagem relativa, para passar a ser especial por não poder ser alterado
sem o consentimento dos respectivos titulares que, nesse caso, serão todos os sócios,
salvo se ocorrer justa causa de destituição.
É o direito que um sócio tem de ser destinado gerente e só poder ser afastado por
justa causa ou no direito que um sócio pode ter, incluindo sócios que sejam pessoas
colectivas, de nomear gerentes para a sociedade.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 6
13.2.2.6. Direito de ser designado liquidatário em caso de
dissolução
Pode ser concedido a um sócio, sob a forma de direito especial, art. 151º, embora
esse direito resulte supletivamente para todos os gerentes em caso de liquidação da
sociedade e na falta de previsão contratual.

13.3. Os direitos especiais nas sociedades anónimas – as acções privilegiadas


Nestas os direitos especiais só podem ser atribuídos a categorias de acções, 24º nº1 e
4, designadamente a acções privilegiadas e nunca a accionistas.

14. Direito aos lucros

14.1. Conteúdo; direito aos lucros do exercício e aos lucros finais


Art. 21º nº1 al. a) CSC.
Corresponde seguramente a um direito essencial da participação dos sócios na
sociedade, ainda que se configure de forma necessariamente abstracta, dependendo
dos resultados da actividade societária. Facto é que corresponde a uma expectativa
subjacente á constituição de qualquer sociedade comercial, se esta não for totalmente
instrumental de outra.
A ideia clássica não faz hoje qualquer sentido, uma vez que as sociedades já não se
constituem para períodos limitados temporalmente. Hoje, as sociedades constituem-
se com uma duração indeterminada, sem prazo. São as vicissitudes da respectiva
actividade que podem vir a por em causa a sua subsistência e continuidade e a
interferir com a sua longevidade. Qualquer que seja a leitura que tenha sido
anteriormente feita, seria excessivo considerarmos que os lucros a que os sócios têm
potencialmente direito, designadamente os previstos em termos genéricos, no art. 21º
CSC, são os lucros finais, a distribuir apenas na liquidação da sociedade.
O código não resolveu de forma imediata a questão de saber a que tipo de lucro se
reporta o direito social consagrado no 21º nº1 al. a). E a dúvida poderia persistir. Mas
indirectamente ao consagrar regras supletivas sobre distribuição de lucros, nos arts.
217º e 294º (disposições que parecem idênticas mas que apresentam uma pequena
diferença).

14.2. Conceito de lucro


O lucro é o benefício da actividade social resultante das contas; é a diferença positiva
entre as receitas geradas num certo exercício e as despesas e custos suportados em
igual período.
A verificação da existência de lucro reporta-se à variação (positiva) registada nas
contas da sociedade com referência a uma determinada data.
A distribuição de lucros tem de ser objecto de deliberação dos sócios, 31º.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 6
14.3. Lucro do exercício e lucro distribuível
Lucro do exercício é o acréscimo patrimonial ou diferença positiva que se verifica entre
o inicio do exercício social e o respectivo encerramento, no que se refere ao balanço
entre as receitas e os custos e despesas registadas.
Nem todos os lucros do exercício são distribuíveis.
Só após afectarmos parte dos lucros do exercício a reserva legais e estatutárias, se
existentes, e à cobertura de prejuízos transitados, estamos em condições de apurar os
lucros distribuíveis. Estes correspondem aos resultados positivos da sociedade que,
não tendo de ser afectos à constituição ou reforço de reserva legal ou estatutária,
podem ser distribuídos aos sócios sem ser à custa do respectivo capital social e
reservas legais constituídas.

14.4. Direito aos lucros do exercício e direito ao dividendo; limitações


convencionais
Todos os sócios têm direito a participar nos lucros, 21º nº1 al. a) e 22º nº1, e o CSC
limita-se a avançar com soluções supletivas, arts. 217º nº1 e 294º nº1.
Sob epigrafe igual prevêem as duas disposições legais que conferem supletivamente
aos sócios o direito de receber, pelo menos, metade do lucro do exercício distribuível,
salvo se «em assembleia-geral para o efeito convocada» for tomada deliberação, por
maioria de ¾ dos votos correspondentes ao capital social que, não obstante existirem
lucros do exercício distribuíveis, consista na redução pontual do quantitativo
percentual mínimo a distribuir ou conclua pela não distribuição.
Prevêem ainda a possibilidade de a regra legal enunciada ser afastada por diferente
cláusula contratual. Considerámos não admitir limitações convencionais, garantindo
aos sócios e accionistas o direito a receber uma certa parte do lucro do exercício
distribuível.
A opinião que perfilhamos alicerça-se no fundamento ou na razão de ser subjacente à
participação na sociedade.
As sociedades constituem-se para distribuir todos os resultados que geram
periodicamente, pressuposto de que os respectivos capitais próprios são adequados e
suficientes à prossecução da actividade que se propõe realizar. É natural que os sócios
tenham uma expectativa a receber periodicamente rendimentos gerados pela
sociedade, de certo modo com base no capital que anteriormente investiram.
A situação societária alicerça-se numa perspectiva de participação directa na
actividade empresarial, nas pequenas sociedades, e de investimento financeiro, nas
grandes sociedades comerciais, não perdendo de vista as mais-valias potenciais e reais,
no momento da liquidação da respectiva participação. Certo é ser comum a ambas as
situações as expectativas de receber periodicamente parte dos resultados gerados
pela sociedade; é precisamente através da distribuição de lucros do exercício que se
concretiza essa expectativa. Daí que não faça sentido admitir a possibilidade de
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 7
restringir este direito social, para além do montante que, razoavelmente, a lei
estabelece como mínimo.
A solução que a lei acolheu, a título supletivo, harmoniza todos os interesses
envolvidos: o interesse dos sócios – em receber periodicamente uma remuneração,
ainda que irregular, do capital que investiram – e o interesse social, de a maioria do
capital poder anualmente reservar para reforço dos capitais próprios da sociedade
metade dos seus resultados e, pontualmente, sempre que tal se justificar, mas
mediante um amplo consenso (3/4 do capital), poder a sociedade não distribuir lucros
do exercício.
O disposto nas regras legais supletivas não pode deixar de corresponder aos mínimo
legalmente admissível, não podendo o contrato da sociedade, através de uma cláusula
aberta, reduzir os lucros distribuíveis, porquanto a distribuição de lucros realiza a
essência da participação social.
O legislador quis admitir a possibilidade de os sócios poderem pretender acautelar a
distribuição integral dos lucros do exercício distribuíveis ou assegurar uma distribuição
mínima de montante superior ao supletivamente estabelecido.
Em resumo, a lei garante aos sócios a participação num mínimo de ½ dos lucros do
exercício distribuíveis. Este direito só pode ser pontualmente restringido se os sócios
deliberarem diversamente por maioria qualificada e desde que tal deliberação não seja
abusiva.
Podem os sócios estabelecer um mínimo superior ao mínimo legal, e simultaneamente
prever que a derrogação possa ser deliberada, mas apenas relativamente a níveis
superiores a ½ dos lucros do exercício distribuíveis, por uma maioria inferior à
legalmente prevista. Consideramos não ser admissível, por violar o interesse social,
agravar contratualmente a maioria qualificada de ¾ dos votos correspondentes ao
capital social, fixando-a em 4/5 ou até á unanimidade, para derrogar pontualmente o
direito aos lucros do exercício. Acresce que não há necessidade em faze-lo, dadas as
limitações decorrentes do regime aplicável às deliberações abusivas.
As limitações convencionais à distribuição de lucros do exercício que consideramos
possíveis não podem agravar o direito que os sócios têm a receber uma parte (mínima)
dos lucros do exercício que sejam distribuíveis, excepto se as mesmas forem
consequência do acolhimento no contrato de sociedade de regras que, indirectamente
e em concreto, possam restringir o direito individual de cada um. Tal poderá
acontecer, com a criação de acções privilegiadas com direitos patrimoniais acrescidos.
A conclusão a que chegamos – de que não são admissíveis limitações convencionais
restritivas, que poderiam ser utilizadas sistematicamente para oprimir os sócios
minoritários, normalmente aqueles que não têm lugar nos órgãos sociais e que
dificilmente verão o seu investimento remunerado pelo desempenho de cargos sociais
ou prestação de serviços à sociedade.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 7
14.5. Execução especifica da deliberação que aprova as contas do exercício
Se a sociedade encerrou o exercício com resultados positivos e com lucros
distribuíveis, mas por maioria (não qualificada) delibera não aprovar qualquer
distribuição, como podem os sócios minoritários reagir?
Cremos que eles poderão requerer, ao tribunal, a execução específica da deliberação
de aprovação de contas e dos resultados do exercício inscritos no relatório de gestão,
devendo o tribunal conceder-lhe 50% dos lucros do exercício distribuíveis, se não
existir um mínimo estatutário superior.
O expediente sugerido para solucionar com eficácia o desaparecimento da
deliberação, que é consequência da sua impugnação bem sucedida, é naturalmente o
da execução específica, por recurso à aplicação dos princípios da lei civil (art.830º CC).
Não vislumbramos alternativa.
Desta possibilidade de execução específica decorre um outro argumento contra a
liberalização da distribuição periódica de lucros, que se traduz em não ser possível
executar especificamente, por falta de parâmetro, uma deliberação abusiva de não
distribuição se o próprio contrato admitisse que os sócios pudessem, por maioria
simples, deliberar a (não) distribuição.

14.6. Proibição de pacto leonino


O art.22º, nº3 do Código das Sociedades Comerciais significa que nenhum dos sócios
pode reservar para si parte do leão, o que equivale a não ser possível clausular a
exclusão de um dos sócios dos lucros da sociedade. Esta regra é imperativa e não é
possível reduzir o direito dais lucros de tal maneira que na pratica tudo se reconduza a
uma situação idêntica. Não é admissível tornar essa participação de tal maneira ínfima
que acabe por na prática, o sócio não ter direito aos lucros ou ter um direito
extremamente reduzido.

14.7. Limite legal da distribuição de bens aos sócios e lucros e reservas não
distribuíveis
O limite legal de distribuição de bens aos sócios: art. 32º CSC (tem em conta e visa
acautelar, não só as reservas legais quer sejam especiais, quer sejam obrigatórias, mas
eventualmente as reservas estatuárias, portanto reservas que o próprio contrato
imponha que sejam criadas e mantidas.
Este artigo é o fundamento legal do principio essencial de que o capital social constitui
a garantia dos credores, no sentido de que só quando existem bens em valor superior
á soma de capital e das reservas legais da sociedade é que poderá haver distribuição
legitima desses bens. Aquilo que os credores sabem é que nunca pode haver
distribuição de bens, designadamente sob a forma de lucros ou de dividendos, se a
situação líquida da sociedade não exceder a soma do capital e das reservas legais,
realidades que nunca podem ser postas em causa com a distribuição de lucros).
Lucros e reservas que não são distribuíveis aos sócios: art. 33º CSC (esquematicamente:
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 7
- Nº1: daqui decorre que os resultados positivos do exercício não são
distribuíveis enquanto existirem prejuízos de exercícios anteriores por cobrir ou
reservas para constituir;
- Nº2: regra especifica que impede a distribuição de lucros enquanto não se
encontrarem amortizadas ou asseguradas as despesas de constituição e de
investigação e de desenvolvimento;
- Nº3: trata das chamadas reservas ocultas, impedindo a sua distribuição;
- Nº4: as reservas que eventualmente forem entregues aos sócios/que lhes
forem distribuídas, devem ser explicitadas;)

O conteúdo normativo dessas regras é de tal maneira importante que o nosso Código,
no art. 514º, sanciona criminalmente a sua infracção, designadamente a situação em
que ocorra uma distribuição ilícita, e portanto contraria à lei, de bens aos sócios.

Quanto às reservas, têm especial importância as disposições que, na sistemática do


Código, se inserem imediatamente após as disposições que forem referidas a
propósito do direito aos lucros; nas sociedades por quotas, art. 218º e nas sociedades
anónimas, art. 295º e 296º (por remissão expressa do 218º CSC).
O 296º dispõe sobre a respectiva disponibilidade, visa salvaguardar a intangibilidade
do capital social.
Em princípio, as reservas legais, quer obrigatórias, as que se formam paulatinamente à
custa dos lucros do exercício (295º nº1), quer especiais, isto é as que se constituem
por determinação legal e que se destinam a assegurar a cobertura de determinadas
aplicações da sociedade ou se constituem através da recolha de prémios de emissão
(295º nº2), são indisponíveis e apenas podem ser destinadas a integrar aumentos do
capital social (296º al. c)), para além da sua normal função, de reforço, que é a de
cobertura de prejuízos, 296º al. a) e b).
Uma vez constituídas as reservas legais obrigatórias, no montante mínimo de 1/5 do
capital social, e assegurada a cobertura de determinadas rubricas em conformidade
com exigência legal, através de reservas especiais, nomeadamente das que se
constituem através do ágio, não nos repugna aceitar que o excesso dessas reservas
seja convertido em reservas livres, por deliberação dos sócios, e posteriormente
distribuído sob a forma de lucros. Não vemos qualquer vantagem, nem interesse, em
promover primeiro um aumento do capital social e subsequentemente, uma redução
para libertação de excesso, desde que a sociedade já tenha formado reservas em
montante correspondente ao mínimo legal (1/5 do capital social) e as mantenha
depois dessa conversão. O novo regime legal da redução do capital social para
libertação de capital excessivo e a desnecessidade de autorização judicial reforçam
este entendimento.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 7
14.8. Regime aplicável à distribuição de lucros fictícios
Art. 34º CSC: resulta fundamentalmente a obrigação de restituição dos lucros fictícios,
havendo má-fé ou falta grave por parte dos sócios que recebam esses lucros,
conhecendo a irregularidade da distribuição ou não a podendo ignorar.

14.9. Pagamento dos lucros e dos dividendos


Na prática é o mais importante, que é receber o dinheiro, o próprio pagamento dos
lucros.

14.9.1. Aplicação de resultado; deliberação de distribuição de lucros


O pagamento é tratado no art. 31º CSC (deliberação e distribuição de bens) + art. 217º
e 264º CSC.
É essencial que apurado o lucro, que apurado com referência às contas aprovadas um
determinado benefício da sociedade, haja uma deliberação que tenha por finalidade
promover a respectiva distribuição tem a maior das importâncias. Se a deliberação
estiver inquinada de qualquer vício ela, em princípio, irá arrastar necessariamente a
deliberação de aplicação de resultados que é tomada na mesma assembleia. Mas se a
deliberação de aprovação das contas for correcta pode, não obstante, haver um vício
relativamente à deliberação de aplicação de resultados; porque pode desrespeitar p.
ex: uma clausula estatuária que imponha um determinado mínimo aos sócios ou
accionistas. E então é esta que irá ser atacada; e esta única e exclusivamente.
A lei no 31º toma os maiores cuidados para esse efeito.

14.9.2. Momento em que se vence o credito do sócio


Art. 217º nº2 e 294º CSC.
A regra é: o crédito vence-se no prazo de 30 dias, portanto um mês depois dessa
mesma deliberação. Nessa data a sociedade tem de por à disposição dos sócios os
bens que resolveu distribuir. Mas pode acontecer que o colectivo dos sócios delibere
prorrogar esse prazo por mais de 60 dias, isto é, decida conceder à sociedade mais 60
dias; ou até pode suceder também que o próprio sócio consinta em que o crédito não
se vença imediatamente, aceitando o seu diferimento.
O art. 294º pressupõe uma referência adicional que é uma referência que existe para
tutela dos destinatários dos lucros. Este art. visa acautelar é que a distribuição dos
lucros seja devidamente publicitada, para os accionistas saberem que, a partir de
determinada data, os lucros a que tem direito estão disponíveis sob a forma de
dividendos.

14.9.3. Pagamento aos membros do órgão de administração com base


na participação nos lucros
Art. 217º nº3 e 294º nº3: pode suceder que se tenha determinado que os gerentes ou
administradores participem nos lucros da sociedade.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 7
Se eles tiverem o pagamento do seu trabalho indexado ao lucro que a sociedade
obtém, e a um certo montante percentual desse lucro, eles tem inegável interesse em
que o lucro seja o maior possível. Quanto maior for o lucro, maiores serão os seus
ganhos. Essa possibilidade resulta do art. 255º nº3 para as sociedades por quotas, e do
art. 399º nº2 para as sociedades anónimas.
De ambos resulta que a participação nos lucros pelos administradores ou gerentes tem
de ser prevista no contrato de sociedade. E nas sociedades anónimas deve ser
determinado percentualmente o montante máximo global a que os administradores
terão direito.
E é preciso ter cuidado para que esse máximo nunca represente um valor percentual
de tal maneira elevado que acabe por se traduzir na denegação do direito aos lucros
pela colectividade dos sócios. O que os arts. 217º nº3 e 294º nº3 prevêem é uma
situação extremamente simples que tem de ser conjugada com as outras duas
disposições e que é a seguinte: só são pagos estes lucros a essas pessoas quando
estiverem assegurados e garantidos os pagamentos aos sócios e accionistas. Não se
pretende que o pagamento esteja efectivamente concretizado, até porque os
accionistas podem não levantar os dividendos a que tem direito, e isso seria também
prejudicial para os administradores, administradores executivos e gerentes; pretende-
se é garantir que os meios estejam ao dispor desses accionistas. Naturalmente que,
com esta regra, tais pessoas serão ainda mais diligentes.

14.9.4. Adiantamentos sobre lucros


Se os negócios sociais estiverem a correr bem não será possível admitir que, com base
nos lucros que muito provavelmente a sociedade irá obter no final do exercício, sejam
logo antecipados parte desses lucros aos sócios e aos accionistas?

14.9.4.1. Regime – regra


Não se trata de lucros já contabilizados mas não distribuídos anteriormente por opção
dos sócios. Esses poderão ser distribuídos em qualquer momento, por deliberação
tomada pela maioria dos sócios.
A situação em questão é diferente.
À distribuição de lucros aplica-se o 31º CSC cujo nº1 é muito restritivo.
Vimos já ser possível clausular a autorização para a distribuição antecipada de
dividendos nas sociedades anónimas e promove-la verificadas determinadas
circunstâncias, 297º.
A distribuição antecipada de dividendos nas sociedades anónimas constituídas antes
da entrada em vigor do CSC (antes de 31/10/1986) não está sujeita a autorização
estatuária, sendo suficiente que se verifiquem os requisitos do 297º. Esta solução
justifica-se visto que as sociedades constituídas anteriormente ao CSC não estavam
sujeitas a autorização estatuária para poderem decidir a distribuição de lucros aos
accionistas durante o próprio exercício em que os mesmos eram gerados.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 7
14.9.4.2. Sociedades por quotas
Cremos que não é possível e tendemos a não aceitar e considerar ilegal a inclusão de
uma cláusula de autorização no respectivo contrato social. Fazemo-lo porque:
. O disposto no 297º corresponde a uma excepção à regra do 31º. A distribuição
de resultados no decurso do próprio exercício a que respeitam, não tem de ser
deliberada pelos sócios, sendo determinada pela administração, uma vez obtido o
consentimento do órgão de fiscalização, 297º nº1 al. a), e nessa medida, constitui uma
excepção em matéria de distribuição de lucros. Só por esta razão, impossibilidade de
analogia de uma norma excepcional, poderíamos concluir negativamente em relação à
questão.
. Se pretendermos clausular tal autorização no contrato de sociedade por
quotas, na omissão da lei, sujeitando a autorização a deliberação dos sócios, com as
adaptações possíveis do disposto no 297º, estaremos a violar o princípio geral
estabelecido no 31º nº1.

Distribuir lucros durante o exercício em que são gerados constitui uma excepção ao
regime - regra da distribuição de lucros das sociedades comerciais, justificando-se que
tal medida só possa ser adoptada verificados e preenchidos determinados requisitos
que não são típicos das sociedades por quotas.
Este mecanismo não é lógico, nem sistematicamente compatível com tipo societário.
Os lucros, por definição, verificam-se no final do exercício; antecipá-los constitui uma
excepção à regra que apenas se justifica em situações relativas a sociedades de grande
dimensão, sujeitas a um controlo efectivo rigoroso.

14.10. Direito a um lucro acrescido e a um dividendo preferencial.


É concebível que se consagre contratualmente que um sócio ou uma categoria de
acções tenham uma vantagem relativamente aos demais sócios e às demais acções
que se traduza em terem o direito a receber lucros em montante superior ao que
resultaria da sua participação proporcional no capital social.
O art. 24º constitui o aproveitamento do disposto no 22º no qual se admite que a
regra da proporcionalidade seja derrogada, contando que não configure um pacto
leonino.

14.11. Direito à quota de liquidação


Art. 21º nº1 al. a) engloba o direito dos sócios a participar nos lucros finais ou de
exploração. E idêntica conclusão resultará do disposto no art. 156º nº4, a propósito da
liquidação da sociedade.
É uma situação normal relativamente às sociedades que se constituem com uma
finalidade determinada e que decorrido um determinado prazo se extinguem. Ex:
sociedade constituída para construir uma ponte e proceder À respectiva exploração
durante um certo período.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 7
15. Direito de voto

15.1. Direito de presença, de discussão e de deliberação em reunião de sócios


O direito de participação nas deliberações do sócios logo após a al. a) do nº1 do art.
21º, e é um direito fundamental e irrenunciável, sem prejuízo das restrições previstas
na lei. A parte final da al. b) tem um determinado conteúdo e um certo alcance e tem
que ver, num tipo de sociedade, com o montante (mínimo) da participação social que
determina a chamada participação directa do sócio e também com a participação nas
deliberações, designadamente quando o sócio não pode, pontual e concretamente,
exercer o seu direito de voto por se considerar numa situação de impedimento.
Retira-se com clareza da parte final da al. b) do nº1, que serão nulas todas as cláusulas
contratuais que ultrapassem os limites estabelecidos imperativamente na lei. E o art.
21º nº1 al. b) não se refere ao direito de participar nas deliberações dos sócios por
acaso, mas porque em rigor nós devemos admitir que o direito de voto supõe, para
que o seu exercício, que se verifiquem dois direitos que logicamente com ele se
encontram articulados e, cronologicamente, o precedem:
- O direito de presença em reuniões de sócio (quem tem o direito de voto tem
de estar presente. Pode a lei assegurar a presença a uma determinada pessoa como
observadora, com a finalidade de tomar conhecimento, directo e imediato, do que a
sociedade pretende e das deliberações que eventualmente irá tomar, à qual não se
reconhece o direito de voto ou à qual se nega o exercício do voto, consoante o
problema se ponha em termos de titularidade ou em termos de exercício);
- O direito de participação na discussão ou de formação da deliberação social (o
sócio pode intervir e manifestar a sua opinião, mas não dispõe do poder de contribuir
decisivamente para a formação da deliberação propriamente dita, o que só acontecerá
pelo exercício do direito de voto. O sócio encontra-se autorizado a exprimir o seu
ponto de vista e a aduzir argumentação, mas é-lhe negada a possibilidade de se
manifestar de forma a contribuir decisivamente para a formação da vontade social).

15.2. Regras gerais


Há que distinguir as sociedades por quotas das sociedades anónimas: umas são
sociedades pessoais, ainda que os participantes tenham responsabilidade limitada,
fazem-no numa perspectiva subjectiva; na outra a participação é determinada pelas
partes em que se fracciona o capital social, logo a participação é objectivada e os
sócios são titulares de tantos direitos e deveres quantas as acções que detêm.

15.2.1. Direito de voto nas sociedades por quotas


Art. 250º nº1: cada voto corresponde a €0,01 do valor nominal da quota, sendo que as
quotas não podem ter um valor nominal inferior a € 100,oo. Isto significa que
forçosamente cada sócio terá de ter direito de voto, sendo a qualidade de sócio
suficiente para conferir esse direito.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 7
15.2.2. Direito de voto nas sociedades anónimas
Art. 384º CSC faz corresponder os votos às acções e a regra legal é a de que uma acção
é igual a um voto, 328º nº1.
Contudo, a lei admite que o contrato de sociedade anónima possa incluir limitações ao
exercício do direito de voto.

15.3. Limitações estatutárias

15.3.1. Sentido e alcance das restrições ao direito de voto


Art. 384º nº2 admite duas limitações estatuárias (que não estão previstas no 250º
referente às sociedades por quotas).
Admite-se que o contrato de sociedade faça corresponder um só voto a um certo
numero de acções, desde que nunca exija que, para se ser titular de um voto, se tenha
de ter acções cujo valor nominal global seja superior a €1,000,00, art. 384º al. b). Nesta
circunstância o que os estatutos requerem é que o accionista seja titular de um
número mínimo de caçoes que justifique a sua participação activa na vida societária.
Noutro caso, a lei permite o chamado tecto estatuário do voto, admite-se a
possibilidade de o contrato de sociedade prever que, em relação a um mesmo
accionista actuando em nome próprio e em representação de outrem, não possam ser
contados votos acima de um determinado limite. Trata-se de uma medida contratual
que é utilizada como forma de blindagem da sociedade anónima, visto que favorece a
dispersão das participações e desencoraja a aquisição de lotes significativos de acções
ao limitar o exercício do voto, em regra, a um máximo de 10% do total do capital
social.

15.3.2. Tecto estatuário do voto


Existe uma clara diferença relativamente à oportunidade da introdução de uma
limitação estatutária com esta natureza restritiva. Uma coisa será consagrá-la ab initio,
recolhendo a adesão de todos os fundadores, outra é discutir a possibilidade de se
introduzir a limitação estatuária em vida da sociedade.
O acolhimento ad initio implica a unanimidade dos participantes, excepto para as
sociedades abertas, nas quais se tem de recolher, pelo menos, a adesão plena a essa
medida. Diversamente, em vida da sociedade poderá implicar prejudicar interesses de
alguns accionistas com uma participação relevante, em qualquer caso superior ao
limite introduzido, para além de poder afectar a liquidez das acções.
Afigura-se existir uma grande semelhança desta situação com a do art. 86º nº2.
Maior dificuldade teremos em admitir limitações estatuárias em relação ao universo
dos accionistas participantes na assembleia-geral.

15.3.3. Participação social mínima para o exercício do voto


Ex: clausula típica de aproveitamento do disposto no art. 384º nº2 al. a):
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 7
“A cada grupo de 200 acções corresponde um voto”.
Sempre que tal acontece, é habitual clausular, nos termos do 21º nº1 al. b) in fine CSC,
restrições estatuárias à participação nas deliberações sociais, 379º nº1.
Como regra, bastaria uma acção para se poder estar presente na assembleia-geral. Se
o contrato de sociedade previr que só é possível fazê-lo com direito de voto e se para
ser titular deste for necessário reunir € 1.000,00 de valor nominal de capital social,
eventualmente correspondente a 200 acções com o valor nominal de € 5,00 cada,
então aqueles que não tiverem esse número mínimo de acções não podem estar
presentes na assembleia-geral, embora se possam agrupar entre si para que um deles
os represente a todos na assembleia, 379º nº5.
Medida de protecção dos accionistas minoritários, frequentemente retomada nas
cláusulas habituais dos contratos de sociedade.

15.3.4. Restrições legais às limitações estatuárias


O recurso ao tecto estatuário de voto, para além de altamente duvidoso tem retirado
liquidez às participações das sociedades que usam e abusam desse expediente, para
desencorajar as ofertas públicas sobre as respectivas participações.
Foi introduzido no Direito dos VM uma regra com a finalidade de prever que as
limitações estatuárias não possam funcionar sempre que um oferente adquira acções
em montante superior a uma determinada percentagem, em regra 75% do capital
social, art. 182º -A CVM.
Esta norma conhecida por, breakthrough rule, se o contrato de sociedade não previr a
suspensão das restrições ao direito de voto sempre que o oferente atinja 75% do
capital social com direito de voto, será sempre possível proceder à eliminação dessa
restrições por uma maioria de 75% dos votos emitidos, isto é, presentes na
assembleia-geral, 182º- A nº2 CVM.
Este limite de 75%, não deixa de constituir uma referência interessante em matéria de
cogente alterabilidade do contrato de sociedade anónima.

15.4. Voto plural

15.4.1. Voto duplo e (proibição do) privilégio de voto


No contrato de sociedades por quotas pode ser atribuído um direito especial de voto
que consistia em o sócio poder ter dois votos por cada 0,01 de valor nominal da quota,
contanto que esses direitos atribuídos contratualmente não ultrapassem 20% do
capital social. É uma situação de direito especial de voto duplo que constitui
naturalmente uma alteração à regra geral da proporcionalidade dos votos à
participação social, (este direito, como se vê no 384º nº5, não é permitido nas
sociedades anónimas, excepto nas que se constituíram antes da entrada em vigor do
CSC).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 7
O voto privilegiado representa uma desproporção do direito de voto em face do capital
social, um accionista com o mesmo capital social que outro tem o dobro ou o triplo de
votos, exercendo uma influencia muito maior de que a dos outros accionistas.
Nas sociedades por quotas, a lei não permite que haja um voto superior ao voto duplo,
e limita esse privilégio a uma parte reduzida do capital social. Este privilégio não
poderia ser de todos senão não era possível a desproporção.
Nas sociedades anónimas, 384º nº5, proíbe o voto plural, impedindo a desproporção
entre as acções e o número de votos que elas conferem. Se uma norma estatuária
prever que a cada acção correspondam 10 votos, essa clausula necessariamente o voto
plural no sentido técnico, porque ela limita-se a multiplicar por 10 o número de votos
de todas as acções. Quando se proíbe o voto plural visa-se eliminar a hipótese de uma
acção atribuir ao seu titular mais direitos de voto do que outras.

15.4.2. Regime legal anterior e transitório


Antes do CSC os privilégios de voto eram possíveis e legítimos.
O CSC resolveu em sede de normas transitórias, estabelecendo um regime especifico
no art. 531º «voto plural».

15.5. O princípio da unidade de voto nas sociedades anónimas


Art. 385º CSC.
Este principio estabelece que um accionista que tenha mais de um voto não possa
exercer o seu direito de voto em sentido diverso ou ainda deixar de participar nas
deliberações com alguma das acções que concedam esse direito, ou seja, esquecer-se
que elas existem, para na pratica votar em sentidos diferentes, um sentido abstinha-se
e noutro votava favoravelmente ou contra. Esta disposição legal, tem em conta a
pessoa do accionista e não as acções, isto é, aqui as acções não são cegas.
Este princípio constitui a excepção que confirma a regra, da objectivação dos direitos
sociais.

15.6. Impedimento em situação de conflito de interesses


Em certas circunstancias mesmo os sócios que se encontrem genericamente aptos a
exercer o voto devem abster-se de o fazer, art. 251º nº1 CSC.
Esta regra é também acolhida no domínio das sociedades anónimas, mas com as
especificidades próprias desse tipo social, 384º nº6.
Não haverá impedimento sempre que, estando em causa uma deliberação que
respeite, directa ou indirectamente, à pessoa do sócio, ela tenha a ver,
essencialmente, com o interesse da sociedade e com as funções por ele
desempenhadas na actividade normal da sociedade. ex: participação dos sócios nas
deliberações que sejam relativas à remuneração da gerência quando esses mesmos
sócios sejam gerentes.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 8
16. Direito de informação

16.1. Enquadramento normativo


Art. 21º nº1 al. c) CSC.
Sociedades por quotas: 214º a 216º CSC;
Sociedades anónimas: art. 288º a 292º CSC;

16.2. Caracterização

16.2.1. Generalidades
Em 1º lugar, este direito consiste na consulta de elementos da sociedade e, no âmbito
desta, na chamada inspecção dos bens sociais e na obtenção de informações por
escrito.
Em 2º lugar, ele traduz-se nas informações inerentes e necessárias para uma adequada
formação das deliberações sociais, previas à assembleia-geral ou a prestar durante a
sua realização.
E quando a informação não é, injustificada e indevidamente, satisfeita pela sociedade,
pode haver lugar a inquérito judicial e a exame de escrituração mediante intervenção
judicial.

16.2.2. Sociedades por quotas


«o direito à informação pode ser regulamentado no contrato de sociedades», 214º
nº2, compreende a obtenção de esclarecimentos por escrito sobre a actividade social,
a consulta da escrituração, livros e documentos, na sede da sociedade, nº1, e a
inspecção dos bens sociais, 214º nº5.

16.2.3. Sociedades anónimas


O âmbito de informação é, paradoxalmente, mais restrito do que nas sociedades por
quotas, desdobrando-se, essencialmente, em:
a) Art. 289º;
b) Art. 288º nº1;
c) Art. 291º;

16.3. Âmbito da informação


Sociedades por quotas: é concedido a todos e cada um dos sócios, sem discriminações;
Sociedades anónimas: titularidade e exercício estão dependentes da detenção ou
agrupamento de uma determinada percentagem mínima do capital social ou do direito
de participação nas deliberações dos accionistas.
Independentemente do tipo societário envolvido, a informação implica diferentes
posturas por parte da sociedade a que se refere, tendo em conta a finalidade, o local
ou a forma como é pretendida e solicitada. No caso das sociedades anónimas há ainda
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 8
que atender ao montante da participação detida ou representada pelo accionista que
a ela pretende aceder à informação.

16.3.1. Conteúdo mínimo de direito de informação


Sociedades por quotas: aplica-se o disposto no art. 214º, onde se prevê que a
informação requerida por um sócio possa, inclusivamente, ter de ser dada por escrito,
se tal for solicitado, nº1 in fine, o que revela mais uma vez o carácter pessoal deste
tipo de sociedades.
Qualquer sócio pode requerer informações sobre a gestão da sociedade e pode
consultar a respectiva escrituração, livros e documentos.
Sociedades anónimas: a consulta de elementos (sem ser especificamente dirigida à
preparação de uma assembleia geral, 289º, ou a efectuar durante a mesma, 290º)
deve ser sustentada pela titularidade ou representação de uma participação mínima
no capital social, 288º. Este art. estabelece o conteúdo mínimo do direito de
informação, impondo que o respectivo exercício seja actuado por accionista detentor
de uma participação que seja correspondente a, pelo menos, 1% do capital social.
Acresce que, para proceder á consulta dos documentos enunciados não 288º, o
accionista deve ainda alegar motivo justificado, sendo, aparentemente, suficiente que
invoque a existência desse motivo (justificado), sem ter de proceder sequer à
respectiva identificação.
Das exigências legais apontadas, capital mínimo e motivação da consulta, resulta a
natural conclusão de que o direito à informação é mais restrito nas sociedades
anónimas do que nas sociedades por quotas.

16.3.2. Informações preparatórias da assembleia geral

16.3.2.1.
Antes da assembleia geral devem ser disponibilizadas aos accionistas as propostas da
administração e diversos elementos de informação que a lei reputa relevantes para a
formação da respectiva vontade, 289º nº1.
A antecedência é, em regra, de 15 dias, embora, em certas circunstancias (alteração de
contrato de sociedade), possa coincidir com a data da publicação ou expedição da
convocatória.

16.3.2.2.
Os prazos de divulgação de proposta para a assembleia-geral previstos no art. 289º
aplicam-se às sociedades por quotas? Sim, não com base na analogia, mas sim por
efeito da aplicação às sociedades por quotas das regras referentes às assembleias-
gerais das sociedades anónimas, 248º nº1, mas quais se enquadram adequadamente
as que respeitam à preparação das próprias assembleias.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 8
16.3.2.3.
Outras propostas que, entretanto, surjam, subscritas por accionistas não têm de ser
previamente disponibilizadas aos demais accionistas, ficando ao critério do presidente
da mesa a sua eventual divulgação antecipada.
Manda o bom senso que as mesmas possam ser conhecidas de todos os que vão
participar na reunião se forem formuladas com antecedência relativamente à mesma.

16.3.3. Informações em assembleia-geral


No decurso da assembleia-geral, o accionista pode requerer que lhe sejam prestadas
informações que lhe permitam formar opinião sobre os assuntos sujeitos a
deliberação, 290º nº1. Esta regra é aplicável às sociedades por quotas, 214º nº7.
As informações, 290º nº2, devem ser verdadeiras, completas e elucidativas, 290º nº1,
e só poderão ser recusadas se a sua prestação dor proibida (por implicar violação de
segredo imposto por lei) ou puder ocasionar grave prejuízo à sociedade ou a sociedade
coligada, 291º nº2 in fine.
Se o sócio ficar impedido de formar adequadamente a sua vontade por facto atribuível
à sociedade, a deliberação enferma de irregularidade e é susceptível de ser anulado,
290º nº3.

16.3.4. Outras informações (por escrito)


Os accionistas que tenham ou congreguem acções representativas de, pelo menos,
10% do capital social têm o direito de solicitar outras informações por escrito, 291º
nº1, devendo ser respondidas no prazo máximo de 15 dias, sob pena de se term por
recusadas, 291º nº5.
Esta regra não se aplica às sociedades por quotas, aqui os sócios podem a qualquer
tempo, e sem limite mínimo de participação no capital social, pedir à gerência
informações por escrito, 214º nº1 in fine.

16.3.5. Inspecção dos bens sociais


A lei concede ao sócio o direito de inspeccionar os bens sociais, 214º nº5, o que ele
poderá fazer in loco, verificando nomeadamente os stocks, ou comprovando as
existências por acesso informático.
Deve ser feita pessoalmente pelo sócio interessado que só pode fazer-se acompanhar
de perito, 214º nº5 in fine e nº4.
Em qualquer circunstância, julgamos que este direito carece de regulamentação
estatutária que discipline o seu exercício, sob pena de poder causar grandes danos á
sociedade.

16.3.6. Inquérito judicial e exame de escrituração


Excepcionalmente, o exercício do direito de informação pode requerer a intervenção
do T. tal acontece quando a administração se recusa injustificadamente a permitir a
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 8
consulta de elementos sociais ou a esclarecer devidamente as questões que
legitimamente sejam formuladas.
Sociedades por quotas: art. 216º CSC;
Sociedades anónimas: art. 292º + 450º CSC;
Art. 216º nº2 CSC aplica-se a ambos os tipos societários.
Ás diligencias de natureza processual, a lei não distingue um tipo societário do outro,
arts. 1479º e ss CPC.

16.4. Elemento essencial: o relatório da gestão e (nas sociedades anónimas) o


seu anexo; documentos de prestação de contas
Trata-se de um elemento de informação obrigatório em todas as sociedades
comerciais, sendo de depósito imperativo nas sociedades por quotas e anónimas, arts.
70º e 70º -A CSC e arts. 3º nº1 al. n) e 42º CRCom.

16.4.1. Conteúdo do relatório de gestão


Documentos de prestação de contas e pretende relatar a situação da sociedade
relativamente a um determinado período da sua actividade, isto é, a um exercício
social.
Deve conter o referido no art. 66º nº1 e 2 CSC + 66º nº3 e 5 al. a), b) e c) CSC.

16.4.2. Publicidade
O relatório de gestão deve ser divulgado aos sócios para que estes possam ajuizar
acerca do modo como a sociedade for gerida, pronunciando-se em consciência
aquando da aprovação das contas.
Após ser aprovado revela-se um instrumento fundamental para dar a conhecer aos
terceiros (ex: instituições de credito) a sua situação económico-financeira e,
eventualmente, as dificuldades que atravessa.
Pode fazer-se de vários modos:
. Exposição na sede da sociedade, 263º nº1 e 289º nº1;
. Envio aos titulares de acções nominativas correspondentes a, pelo menos 1%
do capital social, quando eles o requeiram, 289º nº3;
Após a aprovação pela assembleia-geral, o relatório de gestão deverá ser
disponibilizado na sede social aos interessados e integralmente divulgado no sítio da
sociedade na Internet, art. 70º nº2 CSC.

16.4.3. O anexo ao relatório de gestão


Publicita devidamente as participações dos administradores e dos accionistas mais
relevantes, bem como a respectiva variação positiva ou negativa.
É obrigatória a divulgação, em anexo ao relatório de gestão, das participações sociais
dos membros dos órgãos de administração, de modo a conhecer o empenhamento
que têm na sociedade, art. 447º nº5.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 8
Paralelamente deve divulgar as participações sociais dos accionistas que sejam
titulares de mais de um décimo (10% = € 0,05), um terço (33,4%) ou metade (50%) do
capital social ou que tenham deixado de o ser, art. 448º nº4 CSC.

16.4.4. Falta de apresentação do relatório de gestão ou dos demais


documentos de prestação de contas
O relatório de gestão é normalmente, apresentado nos primeiros três meses de cada
exercício, 65º nº5. Quando o relatório não for apresentado no prazo legal há
possibilidade de se recorrer a inquérito judicial para conhecimento da situação da
sociedade, art. 67º.
A não apresentação atempada do relatório de gestão constitui um ilícito de mera
ordenação social, punido com coima de €50 a €1.500, art. 528º nº1.

16.5. Exercício do direito de informação

16.5.1. Exercício pessoal


Deve ser actuado pessoalmente pelo sócio, que se pode fazer acompanhar de um
perito e obter a reprodução de elementos que repute essenciais ao seu
esclarecimento, 214º nº4 e 288º nº3. Em certas diligências o sócio e o accionista
podem fazer-se acompanhar de um perito ou especialista na matéria que é objecto de
consulta, o qual pode ser, nomeadamente, um revisor oficial de contas ou um jurista.
Nas sociedades anónimas, a regra é a de que pode exercer o direito quem possa, legal
e estatutariamente, representar o accionista nas assembleias-gerais, art. 288º nº3.

16.5.2. Exercício por gerentes e administradores


O direito de informação pode ser actuado por gerentes ou administradores na
qualidade de sócios ou accionistas da Sociedade, equivale a admitir que estes,
enquanto membros do órgão de gestão, não conseguem obter a informação que
normalmente lhes seria devida.
Esse aparente contra-senso e que a não ter solução conduziria à impossibilidade de o
gerente ou administrador ter acesso a informação da sociedade administrada.

16.5.3. Diligencias autorizadas


A informação pode ser solicitada verbalmente ou por escrito ou obtida por consulta e
verificação de elementos sociais, sendo ilícito ao sócio dirigir-se à sede social para o
efeito e requerer a fotocópia dos elementos consultados, bem como solicitar os
esclarecimentos que considerar devidos. Na sua busca e análise o sócio deve ter
acesso aos livros sociais, mas não deve exercer o direito com propósitos que sejam
prejudiciais à própria sociedade ou à sua actividade e que possam acabar por lesá-la.
Livro: “Direito das Sociedades
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16.5.4. Informações a prestar
Devem ser verdadeiras, completas e elucidativas, 214º nº1 e 290º nº1, isto é, devem
corresponder à realidade, retrata-la fielmente e de forma completa e esclarecedora.
Em certas circunstâncias pode haver justificação para a recusa de informações.

16.5.5. Regulamentação (do exercício do direito de informação)


Podem regular o direito de informação e fazem-no não raras vezes, mas com respeito
pelas regras imperativas que, se sobrepõem às cláusulas estatutárias.
Prevista, para as sociedades por quotas, nº2 do art. 214º.
É possível detalhar diversos aspectos do exercício deste direito com a finalidade de
acautelar o abuso do exercício do direito e permitindo, designadamente à sociedade
exercer a respectiva actividade com a mínima perturbação possível.
A pormenorização do direito de informação pode ser objecto de um Regulamento
especifico que discipline o respectivo exercício e disponha sobre aspectos práticos.
Fundamental é que o mesmo não se traduza na negação do direito e que não colida
com o normal exercício do direito ou com princípios fundamentais como o princípio da
igualdade de tratamento dos accionistas.
Certo tipo de regras, como as que se destinam a limitar o exercício do direito de
informação a datas específicas, são possíveis e têm cabimento num ou noutro
instrumento, Regulamento.

16.6. Recusa de informação e prestação de informações falsas, incompletas


ou não elucidativas

16.6.1. Recusa admissível de informação


Se a sociedade considerar que da respectiva satisfação irá, muito provavelmente,
resultar um prejuízo mais grave para a sociedade do que o benefício que o sócio
retiraria desse exercício.
Às sociedades por quotas, o contrato pode, em certos termos restringir o direito de
informação, alargando as situações em que a recusa é legítima, arts. 215º nº1 1ºparte
e 214º nº2).
Nestas a informação, a consulta ou a inspecção só podem ser recusadas quando se
recear que o sócio as utilize para fins estranhos à sociedade e com prejuízo desta ou
quando ocasione a violação de segredo imposto por lei a favor de terceiros, 215º nº1.
Nas sociedades anónimas, a informação só pode ser negada quando o pedido for
abusivo, quando se verifique o art. 291º nº2 in fine e nº4.
Quanto às informações em assembleia-geral não há especificidades para as sociedades
por quotas, remetendo o nº7 do art. 214º para o art. 290º. Rege a matéria do 290ºque
este impõe relativamente Às informações a prestar na assembleia-geral é que tais
informações sejam verdade9iras, completas e elucidativas e que não possam sem justa
causa ser recusadas.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 8
A regra é a de que a informação não pode ser recusada, excepto nos casos e
circunstancias específicos expressamente previstos na lei.

16.6.2. Anulabilidade das deliberações prejudicadas


São anuláveis as deliberações que tenham sido precedidas de recusa injustificada de
informação ou do não fornecimento de elementos mínimos de informação, arts. 290º
nº3, 214º nº7 e 58º nº1 al. c) e 4.

16.6.3. Tutela penal


A falta ou a insuficiência da informação é geradora de responsabilidade penal para
quem recuse a informação ou a preste de forma deficiente, arts. 518º e 519º.

16.7. Utilização indevida de informações


Pelo sócio ou pelo accionista para além de o fazer incorrer em responsabilidade civil,
pode assumir outras consequências, mais gravosas, arts. 214º nº6 e 291º nº6. É o que
acontece nas sociedades por quotas (diversamente do que acontece nas sociedades
anónimas) em que ela pode ser também causa de exclusão, art. 214º nº6.

16.8. Inquérito judicial


Como é que se deve reagir perante a recusa de informação? Como é que se tem acesso
à informação pretendida?
Quando a informação não é espontaneamente prestada é pura e simplesmente
recusada, há que recorrer ao inquérito judicial, que existe para garantira a efectivação
do direito à informação.
O inquérito judicial pode ser actuado se não forem apresentados o relatório de
gestão, as contas do exercício e outros documentos de prestação de contas, ou os
mesmos não forem oportunamente objecto de deliberação, 67º nº1 e 4º, ou quando a
informação pedida for indevidamente recusada ou não tiver sido prestada informação
presumivelmente falsa, incompleta ou não elucidativa, arts. 216º e 292º.
A recusa de informação pode conduzir, em sede de inquérito judicial, à destituição dos
gestores responsáveis pela prestação da mesma, 292º nº2 al. a).

16.9. O abuso de informação


O accionista, tendo acesso a uma informação privilegiada respeitante à vida da
sociedade, tira partido indevido dessa informação, aproveitando-a para a satisfação de
interesses próprios.
A informação é privilegiada se, respeitando a factos a que não tenha sido dada a
publicidade, for obtida em razão das funções desempenhadas no órgão societário. Há
um abuso dessa informação se a mesma se concretizar em acto que evite perda ou
proporcione ganho ao membro do órgão de administração ou de fiscalização, 449º
nº1.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 8
Verificando-se a situação abusiva, há lugar a indemnização dos prejudicados no
montante correspondente ao da vantagem patrimonial realizada, sendo a
indemnização paga À sociedade, caso não seja possível identificar os prejudicados,
449º nº1.
Se os membros dos órgãos de gestão ou de fiscalização tem um especial conhecimento
de informações de que podem tirar vantagens patrimoniais injustificadas, pode haver
lugar à respectiva destituição judicial, 449º nº4.
À mesma situação podemos chegar se o abuso de informação originar um inquérito
judicial, art. 450º nº1.
À responsabilidade civil, 450º nº2, e às sanções especificas previstas no CSC, (450º
nº4), acresce a responsabilidade de natureza criminal, art. 378º CVM, podendo mesmo
haver lugar a aplicação de uma pena de prisão para o aproveitamento ou divulgação
de informações privilegiadas, nº1 e nº2.

17. Outros direitos

17.1. Direito de preferência na subscrição de capital em aumento por


entradas em dinheiro

17.1.1. Caracterização
É um direito inerente à própria participação social, cujo conteúdo consiste na
faculdade que os sócios têm de intervir preferencialmente em relação a terceiros, na
subscrição de novas participações, em caso de aumento do capital social.
Quem for sócio ou accionista de uma sociedade que pretenda aumentar o respectivo
capital social por entradas em dinheiro, tem preferência na subscrição desse aumento
em relação àqueles que pretenderem vir a sê-lo relativamente a quem pretender
entrar para a sociedade; e devem exercer essa preferência proporcionalmente à sua
participação no capital.

17.1.2. Natureza e conteúdo


Este direito corresponde a uma faculdade que a lei imperativamente concede aos
sócios.
Sociedades por quotas: art. 266º CSC;
Sociedades anónimas: art. 458º CSC;

Este direito concede aos sócios e aos accionistas a preferência nos aumentos de capital
a realizar em dinheiro, relativamente à subscrição do aumento, e à subscrição das
acções, em particular, no que respeita às sociedades anónimas.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 8
17.2. Direito de exoneração

17.2.1. Caracterização
A exoneração consiste no abandono unilateral do sócio da sociedade de que fazia
parte, sem se fazer substituir, mediante uma contrapartida.
Esta operação implica a perda da titularidade da quota ou das acções relativamente às
quais se exerceu o direito.
Na sociedades por quotas, a exoneração pode ocorrer nos casos previstos na lei e no
contrato, 240º, mas este nunca pode admitir a exoneração pela vontade arbitrária do
sócio, 240º nº8.
Nas sociedades anónimas a natureza da sociedade e a transmissibilidade das
participações impõem uma solução mais rígida. Para considerar este direito
verdadeiramente excepcional nas sociedades anónimas, concluindo pela
inadmissibilidade de estipulação contratual de clausulas de exoneração, para alem das
situações expressamente previstas na lei (essas são: art. 3º nº5 in fine; 45º nº1; 105º;
120º; 137º e 161º nº5).

17.2.2. Contrapartida; determinação e pagamento


Art. 105º nº2 é aplicável às sociedades anónimas, e por analogia, e ás sociedades por
quotas através de remissão feita pelo 240º nº5 CSC.
Nos termos do 105º nº2, a contrapartida da exoneração, a pagar pela aquisição da
participação social, deve calcular-se nos termos do 1021º CC, com referência ao
momento da deliberação.
Numa sociedade anónima se houver lugar a exoneração e ocorrer a recusa de
aquisição de parte das acções pela sociedade, há inexequibilidade da deliberação a
que os accionistas se opõem, porque a ideia de permitir a exoneração é a de dizer que
quem não está satisfeito que se vá embora e se a sociedade não adquirir também não
deve ser exequível a deliberação a que os accionistas que exerceram o direito de
exoneração se opunham. Em alternativa deve a sociedade ser condenada ao
pagamento da contrapartida.
Nas sociedades por quotas, o pagamento da contrapartida pode ser fraccionado em
duas prestações, a efectuar em 6 meses e 1 ano, após a fixação definitiva da
contrapartida, art. 235º nº1 al. b), 240º nº5 CSC.
O pagamento pressupõe a existência de reservas sociais disponíveis, não podendo ser
utilizadas reservas legais.

17.3. Os chamados direitos “extra-corporativos” ou creditórios


São direitos de terceiros ou de sócios perante a sociedade, mas que não resultem da
sua qualidade de sócios, nem das acções que detêm.
Estes direitos são também chamados de extra-corporativos porque não dependem
nem estão ligados à natureza da participação na sociedade.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 8
Ex: direitos emergentes de negócios jurídicos (c/v) ; direitos emergentes de negócios
jurídicos; direito aos lucros do exercício aprovado por deliberação dos sócios, que já se
autonomizou da posição social.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
Capítulo IV
A participação social
18. Considerações gerais; Conceitos de quota e de acção

18.1. Generalidades
Numa perspectiva “participação social” assume mais do que um sentido: ela designa a
situação jurídica característica do sócio perante a sociedade, os outros sócios e
terceiros, e identifica um bem jurídico, visto que é objecto de direitos e obrigações,
designadamente de direitos reais, como o usufruto e o penhor, art. 23º.
. Participação social que caracteriza a situação jurídica que define a posição do
sócio;
. A participação social como um bem jurídico;

18.2. Parte social e quota

18.2.1. Conceitos
Nas sociedades em nome colectivo, a participação social é apenas designada como
parte social e isso aflora, art. 182º, onde se refere a transmissão entre vivos de parte
social, e dos arts. 183º, 187º e 188º.
Parte social é o nome que se dá às participações nas sociedades em nome colectivo.
Nas sociedades por quotas as participações designam-se simplesmente por quotas, art.
197º nº1, as quais são bens incorpóreos.

18.2.2. Caracterização
As partes sociais e as quotas são bens imateriais, 176º nº2 e 219º nº7, cuja
transmissibilidade está sujeita a forma escrita, 182º nº2 e 228º nº1, e a registo
comercial, art. 3º nº1 als. e) e c) CRCom e arts. 188º A e 242º A a 242º F CSC; e no caso
das sociedades em nome colectivo necessariamente a consentimento unânime dos
demais sócios, 182º nº1.
E estas são as duas principais características das sociedades em nome colectivo (a
forma exigida para a transmissão de participação social e o consentimento unânime
dos demais sócios para que seja possível operar essa transmissibilidade).
Quanto às quotas são bens imateriais, o que juntamente com as demais participações
sociais, as distinguir das participações nas sociedades anónimas, uma vez que estas
eram tradicionalmente tituladas ou documentadas, correspondendo a títulos de
credito.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
A quota não pode, pois, ser documentada. Tem um valor mínimo de € 100,00, art.
219º nº3, sendo naturalmente divisível por cêntimos de euro, correspondendo um
cêntimo a um voto.
Em princípio, a cada sócio deve caber uma única quota, isto é cada sócio terá direito a
uma quota e será essa quota que corresponde à sua entrada na sociedade, nº1 219º.
Pode admitir-se que em caso de divisão de quotas e só nestes casos, previstos no nº2
do 219º, pode haver a atribuição, a um mesmo sócio, de mais de uma quota.
As quotas dos diversos sócios devem ser expressamente mencionadas no contrato de
sociedade, do contrato deve retirar-se com clareza qual é o montante da participação
actual de cada um dos sócios e daqui se extrai uma consequência: a de que a cessão de
quotas, no mínimo provoca uma alteração formal do contrato de sociedade. Trata-se
de uma alteração formal. A cessão de quotas é a designação técnica da transmissão
das quotas inter vivos com carácter oneroso. Ao contrário das sociedades anónimas, a
regra é a de que a transmissibilidade da parte é livre dentro da própria sociedade e é
fortemente restringida, pelo menos em termos dispositivos, relativamente a terceiros.

18.3. As acções

18.3.1. Conceito de acção


Art. 271º CSC.
Nas sociedades anónimas o capital se divide por acções e, por isso, a primeira coisa
que se deverá procurar determinar será o conceito de acção, o qual é pluri-
significativo.

18.3.1.1. Acção como participação social


Como a medida da posição do sócio na sociedade anónima, caracterizando o complexo
jurídico em que se traduz essa participação e, especificamente, uma certa e
determinada situação jurídica. Este é sem dúvida o sentido hoje prevalecente.
A acção como complexo de direitos e deveres que exprimem a condição de sócio é o
único que se nos afigura inteiramente valido e da aplicação irrestrita, conservando
plena actualidade.
As outras duas acepções referidas tradicionalmente pela doutrina, a acção como titulo
(de credito) e a acção como fracção do capital, são, presentemente, objecto de
reservas.

18.3.1.2. Acção como documento (título); critica


A acção corresponde também a título de crédito, ou seja, é entendida como
documento no qual se incorpora uma determinada situação jurídica, um certo
conjunto de direitos e vinculações.
Hoje verifica-se o chamado fenómeno da desmaterialização das acções e não só
destas, mas também de outros valores mobiliários, o que significa que a acção social,
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
característica da participação social numa sociedade anónima, já não tem
necessariamente de constar de um título, podendo reconduzir-se a um simples registo,
resultando de uma mera inscrição em contas abertas em nome do respectivo titular e
por isso, poderá haver apenas um registo informático de que, numa sociedade
anónima, um certo accionista tem um determinado número de acções.

18.3.1.3. Acção como fracção do capital; critica


A acção como equivalente a fracção do capital, no sentido de que pela acção se
determina a posição absoluta e relativa de determinada pessoa numa sociedade
anónima.

18.3.2. Características de acção


São fundamentalmente quatro.

18.3.2.1 Indivisibilidade
A acção é absolutamente indivisível. Esta característica não deve ser confundida com o
facto de os títulos, em que eventualmente se materializam as acções, poderem
incorporar mais de uma acção.
Também não se deve confundir esta característica com a insusceptibilidade de uma
acção pertencer a mais do que um sujeito, o que origina uma situação designada de
contitularidade, ou como limitação a que uma mesma acção seja simultaneamente
objecto de direitos de diferente natureza, sendo da titularidade de um sujeito e
estando constituído o usufruto em beneficio de outro (art.23º, nº1) ou encontrando-se
empenhada em favor de outro (art.23º, nº3).

18.3.2.2. Transmissibilidade; remissão

São livremente transmissíveis, diferentemente do que acontece com as quotas.

18.3.2.3. Valor nominal igual


No art.276º, nº1 e 2, a esta característica acresce a regra de que as acções não podem
ser subscritas por um valor inferior ao respectivo valor nominal, isto é, no memento da
subscrição, não podemos pagar 4,95€ por uma acção cujo valor nominal seja de 5,00€.
No entanto, o inverso já é possível.

18.3.2.4. Susceptibilidade de agrupamento


Pode ser necessário para o exercício de direitos sociais que um dos accionistas junte as
suas acções às de outro ou outros accionistas e um de entre eles os represente na
formação das deliberações sociais (art. 379º, nº5).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
18.3.3. A emissão

18.3.3.1. Emissão e subscrição

A emissão é o acto pelo qual a sociedade cria os respectivos valores mobiliários. Mas a
sociedade também cria acções pelo respectivo registo (art.61º e ss., arts. 61º a 64º do
CVM).
Emissão e subscrição distinguem-se pela respectiva autoria; no primeiro, a sociedade
(eminente), no segundo, o accionista. A emissão corresponde ao acto de decisão, a
subscrição traduz a vontade de aquisição originária de titularidade por parte dos
destinatários da emissão.

18.3.3.2 Enquadramento normativo


A emissão de acções, no art.304 do CSC, e no CVM, art. 39º a 107º.

18.3.3.3. Os títulos provisórios: as chamadas cautelas


Podem ser emitidas cautelas que representem de algum modo essas acções, são os
títulos nominativos provisórios validos por 6 meses (art.304º do CSC e art.96º do
CVM), e que não se devem confundir com o chamado recibo de quitação.
É emitida por cada accionista uma cautela, a qual faz prova da sua subscrição e da sua
posição jurídica.

18.3.3.4.Titulos definitivos
Uma vez disponibilizados os documentos necessários à elaboração dos títulos
definitivos, segue-se a respectiva impressão.
Dos títulos – assinados por um membro do órgão de administração da sociedade
eminente, ainda que por chancela devem constar as seguintes menções (art.97º, nº1
do CVM, DL nº 375-A/2007, e art.328º, nº4 do CSC).

18.3.4. Subscrição e aquisição


A subscrição é a manifestação de vontade, pela qual um accionista exprime o seu
interesse em vir a realizar uma participação correspondente ao montante do capital
que se compromete a realizar (não pode ser feita abaixo do par, por valor inferior ao
valor nominal da participação).
A aquisição é o acto pelo qual uma pessoa faz ingressar na sua esfera jurídica,
participações sociais já existentes (pode e deve ser feita pelo valor de mercado da
participação, sucedendo que o mesmo é frequentemente inferior ao respectivo valor
nominal).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
18.3.5. Forma e espécies de acções

18.3.5.1. Generalidades
Nas Sociedade Anónimas, as participações sociais:
. Quanto ao modo de representação comum: As acções podem ser
tituladas/documentadas em suporte de papel, ou escriturais, correspondendo a meros
registos informáticos.
. Quanto ao modo de circulação: as acções podem ser nominativas ou ao
portador.

18.3.5.2. Acções tituladas e acções escriturais


Art. 272º al. d) CSC refere às espécies de acções, não aludindo às acções tituladas e
escriturais. Hoje devemos ler esta regra de modo diferente, considerando a
necessidade de indicar no contrato a forma de representação das acções, art. 44º nº1
al. b) CVM.
E assim devem os arts. ser conjugados.

18.3.5.3. Acções normativas e acções ao portador; regimes


jurídicos diferenciados
Às acções podem ser nominativas ou ao portador.
A característica da possibilidade de identificação do titular das acções, impõe que
enquanto for necessário, conhecer o titular das acções elas deverão encontrar-se
sujeitas ao regime das acções nominativas, art. 299ç CSC. Mas sempre que a lei
pretender assegurar a imediata identificação do accionista, ela irá impor que todas as
acções sejam nominativas. E essa é a qualificação aplicável na falta de indicação, 52º
nº2.
As acções ao portador caracterizam-se por não ser objecto de limitações à respectiva
transmissibilidade e por não serem objecto de obrigações legais ou contratuais.
Somos da opinião que o que está em causa nesta distinção é o regime aplicável aos
valores mobiliários, pelo que os devemos distinguir de acordo com as respectivas
exigências, mais relevantes quando está em causa introduzir limitações à
transmissibilidade.
Do contrato de sociedade anónima deve constar se as acções são nominativas ou ao
portador, 272º al. d) CSC.
Se o contrato nada especifica e a emissão também não o faz, as acções serão
nominativas, 52º nº2 CVM.
Em relação ao regime a que as acções ficam sujeitas.
O art. 299º nº1 prevê que as acções possam ser nominativas ou ao portador, salvo
disposição diversa da lei ou dos estatutos (ex: as acções das instituições de credito e
das sociedades financeiras sejam nominativas).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
O nº2, a lei tem especial cuidado de impor que, em certas circunstancias, as acções
não possam ser ao portador.

As acções escriturais seguem o regime das acções nominativas, porque permitem


determinar com certeza e segurança quem é o respectivo titular, e em especial a
própria emitente conhece-lo em qualquer momento e independentemente do
montante da respectiva participação.

18.3.6. Registo e depósito de acções


A sociedade emitente deve promover o registo de todas e cada uma das emissões de
acções, 43º nº1 CVM.
Do registo de emissão devem contar uma serie de elementos que se encontram
enunciados no art. 44º nº1 CVM.
Quanto ao regime do registo e depósito das acções, há que distinguir consoante a sua
forma de representação seja escritural ou titulada.
As acções escriturais devem ser objecto de inscrição em registo próprio, em nome do
respectivo titular, ainda que sejam ao portador, mas não são depositáveis, por
consistirem em meros registos informáticos, devendo ser inscritas, art. 62º e 61º e ss
CVM.
O registo da emissão pode ser em suporte de papel ou informático, art. 2º nº1 + art.
4º Portaria nº290/2000.
As acções tituladas são depositadas em sistema centralizado se se encontrarem
admitidas à negociação em mercado regulamentado e nesse sistema ou em
intermediário financeiro, quando toda a emissão seja representada por um só titulo,
99º nº2 CVM, o que só acontecerá nos casos de accionista único.
Podem ser também depositados num intermediário financeiro autorizado, por
iniciativa do seu titular, 99º nº1 al. a) CVM.
O depósito das acções facilitará o exercício dos direitos sociais.

18.3.7. Acções escriturais

18.3.7.1. Conceito
São exclusivamente materializadas pela sua inscrição em contas abertas em nome dos
respectivos titulares, são correspondendo a um mero registo de carácter informático.

18.3.7.2. Razão de ser


Proporcionam aos seus titulares maior comodidade relativamente às acções tituladas.
Alguns inconvenientes desde os erros ou fraudes que podem ser, eventualmente,
cometidos pela sociedade emitente.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
18.3.7.3. Acções e obrigações
A acção é a participação societária, correspondente a uma fracção do capital, que
exprime a medida da posição social de uma determinada pessoa e, consequentemente
e inerentemente, os direitos que a mesma terá no âmbito da sociedade.
As obrigações são valores negociáveis que conferem um determinado direito de
crédito ao seu titular e concedem direitos de crédito iguais para um idêntico valor
nominal, correspondendo a um meio de financiamento da própria sociedade que
exprime uma relação completamente diferente da relação de participação social.
Fundamental é ter em conta que estão em causa direitos bem definidos e que a acção
não se caracteriza por atribuir ao seu titular um direito de crédito, apesar de o mesmo,
nascer em relação aos dividendos depois de os mesmos serem efectivamente objecto
de deliberação de distribuição.

19. Espécies e categorias de acções


Só diz respeito às sociedades anónimas

19.1. Categoria de acções e critérios de diferenciação das espécies de acções

19.1.1. Categoria de acções


Arts. 302º e 272º al. c) CSC onde se mencionam as categorias de acções.
Entendemos que nada obsta a que uma categoria seja composta apenas por uma
acção. Essencial é que as prerrogativas inerentes a uma tal participação social
respeitem os limites imperativos do sistema societário português.

19.1.2. Espécies de acções

19.1.2.1. Significado
As acções podem distinguir-se segundo:
. A sua forma (tituladas e escriturais);
. Regime (nominativos e ao portador);
. Natureza da entrada que representam (acções em numerário e em espécie);
. Ao preço de subscrição (acções com premio e sem premio);
. Nos direitos que conferem;

19.1.2.2. Tipologia das acções com base nos direitos que lhe são
inerentes
Ideia de acção complexo de direitos e deveres que exprime a posição de sócio,
permitindo-nos distinguir as acções em ordinárias, privilegiadas e diminuídas.
No âmbito das sociedades anónimas, a posição de sócio não tem de ser uniforme.
Contudo, eventual variação de direitos ou obrigações deve ser estatutariamente
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
registada, 272º al. c), e as acções que concedam iguais direitos ou imponham idênticas
obrigações devem constituir uma categoria, 302º nº2.

19.2. Acções ordinárias


São as que exprimem a situação típica comum de accionista.
Elas constituem uma categoria.
Como exprimem a situação típica comum do accionista, integram o mesmo acervo de
direitos, e integram também o mesmo acervo de deveres.
A nossa lei não reconhece um relevo especifico, esta categoria tem poder deliberativo
próprio em separado, relativamente às demais acções, art. 389º nº3.
Como é possível caracteriza-las?
Temos de dizer que são aquelas participações sociais que integram direitos e deveres
que a lei atribui, imperativa e supletivamente, quantitativa e qualitativamente, às
acções em geral.
As próprias acções ordinárias quando coexistem com outra espécie de acções formam
uma categoria, mas que não tem relevo em si mesma, na medida em que os seus
titulares não podem reunir em separado das demais categorias existentes, 389º nº3.

19.3. Acções privilegiadas


Conferem aos respectivos titulares vantagens relativamente às demais acções, art. 24º
nº1, 4 e 6; 302º; 341º e ss; 389º e 531º).

19.3.1. Caracterização
São vantagens que a lei reconhece às participações sociais e que, naturalmente,
resultarão em benefício de quem, em determinado e num certo momento, for titular
dessas mesmas participações.
A doutrina reconhece como um princípio geral de direito, ao qual temos de atender,
que é o princípio do igual tratamento dos accionistas, a concepção e a admissibilidade
de acções de mais do que uma espécie, vai no sentido de se considerar que
efectivamente os accionistas podem ser diferentemente tratados. Claro que o
princípio terá de ser lido de forma restritiva, de modo que o igual tratamento tenha a
ver com o tipo de direitos e vinculações, isto é, com a situação jurídica característica à
acção em causa.

19.3.2. Finalidades
Dependendo do momento em que surjam, reflectindo exigências e satisfazendo
objectivos dos fundadores na constituição ou visando tornar atractiva a participação
na sociedade para aqueles que ainda nas são accionistas, no decurso da sua vida, e
podendo variar consoante o tipo de privilégios que se lhes atribuam ou reconheçam.
Em vida da sociedade, regra geral, associado À criação de acções privilegiadas
encontra-se um investimento de carácter financeiro ou uma aplicação financeira.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
19.3.3. Conteúdo
Há que verificar se elas estão sujeitas a uma tipicidade legal ou se no âmbito da
autonomia privada, podem ser criadas categorias de acções privilegiadas que não
estejam expressamente previstas na lei.

19.3.3.1. Acções privilegiadas sem conteúdo imediatamente


patrimonial
A lei aceita expressamente que às acções de uma mesma sociedade possam
corresponder diferentes conteúdos, 302º nº1. Permitindo-nos considerar que podem
existir outras categorias de caçoes privilegiadas, para além das especificamente
previstas ou reguladas na lei.
O art. 302º nº1 refere a direitos que tem um conteúdo (imediatamente) patrimonial. E
falamos em conteúdo não imediatamente patrimonial porque, podemos admitir que
os direitos de natureza administrativa, ou política, no seio da sociedade podem ter um
conteúdo mediatamente patrimonial, pela sua relevância e porque geram controlo;
circunstancias que acabam por se poder traduzir em vantagens de carácter
patrimonial.
Um direito especial, no plano de uma sociedade por quotas, é o direito especial de
nomeação À gerência, art. 257º nº3. No âmbito de uma sociedade anónima, seria
possível criar um direito especial com idêntica natureza, um direito especial de
designação de administrador.
À nomeação de administradores aplica-se o 391º, e na parte final do nº2, afirma não
poder ser atribuída a certas categorias de acções o direito de designação de
administradores.
Da leitura do 391º nº2 e do seu confronto com de direito especial análogo no plano
das sociedades por quotas resulta que afinal talvez não sejam admissíveis nas
sociedades anónimas direitos que não tenham conteúdo imediatamente patrimonial.
Outros direitos existem que não tem conteúdo imediatamente patrimonial, como é o
caso de direito de preferência na transmissão de acções nominativas, art. 328º nº2 al.
b).
Em suma: também relativamente às acções privilegiadas, a autonomia da vontade
contratual, na sua máxima amplitude, permite fundamentar a admissibilidade da
criação de direitos especiais de natureza não patrimonial, os quais podem ser
concedidos a diversos accionistas ou a um só accionista se titular de todas as acções de
uma mesma categoria, mas nunca atribuídos directamente a uma pessoa. A actuação
da liberdade de estipulação do conteúdo das acções, na sua previsão contratual,
depara apenas com os limites decorrentes dos princípios enformadores do sistema
jurídico-societário e da lei, quer sob forma de regras imperativas, ex: 391º nº2 in fine,
quer do regime e natureza dos próprios direitos a criar.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
19.3.3.2. Acções privilegiadas atípicas de conteúdo patrimonial
Em relação às acções de conteúdo patrimonial, não repugna admitir que haja acções
privilegiadas de conteúdo patrimonial, mas que sejam atípicas (que não venham
reguladas no Código).
São acções que, em termos de direitos políticos, são iguais às demais e, em termos de
direitos patrimoniais, são mais do que as acções ordinárias; concedem mais direitos de
que as outras acções. E por isso será perfeitamente concebível esse tipo de acções.

19.3.3.3. Acções preferenciais sem direito de voto


Arts. 341º e ss: caracterizam-se por atribuir aos respectivos titulares uma preferência,
ou um privilégio sobre os dividendos que a sociedade possa distribuir com base nos
lucros de exercício distribuíveis. Têm como contrapartida não serem dotadas do direito
de voto.
A terminologia não parece ser a mais feliz, porque a expressão preferenciais pode
inculcar apenas a existência de uma preferência, ou antecipação, e não de um
privilégio, de um plus.
Da análise do disposto nos arts. 341º a 344º, as acções preferenciais sem (direito de)
voto, caracterizam-se por:
. Representam uma simbiose entre o acréscimo de direitos patrimoniais e a
diminuição de direitos não patrimoniais;
. Conferem direito a um dividendo prioritário não inferior a 5% do respectivo
valor nominal (retirado dos lucros que podem ser distribuídos), para alem da
participação nos dividendos remanescentes, e o direito ao reembolso
prioritário do seu valor nominal na liquidação da sociedade;
. Não podem exceder metade do capital social;
. Tem de ser autorizadas pelo contrato de sociedade;
O dividendo preferencial é cumulativo, devendo ser pago nos três exercícios seguintes
aquele a que dizia respeito, antes dos dividendos relativos a esses exercícios; depois
prescreve, sem prejuízo de o contrato poder dispor diversamente. O não pagamento
durante dois exercícios sociais implica a aquisição do direito de voto.
Direito ao dividendo preferencial tem de ter um conteúdo útil, pelo que não pode
estar dependente de deliberação sobre a aplicação de resultados, sendo esta
susceptível de execução específica.
Se o contrato não permitir a participação dos accionistas sem voto nas deliberações
sociais, eles podem designar um representante comum (de uma mesma emissão).

19.3.4. Traços gerais do regime jurídico das acções privilegiadas

19.3.4.1. Criação
Os direitos especiais têm de ser previstos no contrato, art. 7º nº1 e 24º nº1.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 10
A emissão de acções privilegiadas aquando da constituição da sociedade não é
problemática. Respeitados aos limites imperativos decorrentes da lei. No contrato da
sociedade, a menção da existência de categoria de acções com direitos especiais
corresponde ao consenso dos accionistas ou, pelo menos, ao projecto a que eles
aderiram, 279º.
Admitindo-se a alterabilidade do contrato de sociedade, 86º nº2, coloca-se a questão
de determinar por que maioria pode a sociedade criar direitos especiais ou novos
direitos especiais, sob a forma de categoria de acções.
Consideramos suficiente a maioria necessária para a alteração do contrato de
sociedade, visto que nem para a supressão desses direitos se exige a unanimidade,
389º.
Somos de opinião de que será suficiente, para deliberar a criação de acções
privilegiadas (ou de novas acções privilegiadas), a maioria normalmente necessária
para deliberar alterações estatuárias, arts. 383º nº2 e 386º nº3, 383º nº3 e 386º nº3, 4
e 5).
A própria criação de novas categorias de acções privilegiadas não tem de ser aprovada
pelos titulares de acções privilegiadas já existentes reunidos em assembleia especial.
Não nos parece que o direito especial existente seja coarctado pela criação de novos
direitos. Ele mantêm-se embora possa estar sujeito a uma variação quantitativa.
Também não impede expressamente que essa medida fique dependente da categoria
de acções ordinárias, igualmente afectadas, 389º nº3.
Aceita-se que da criação de novas acções privilegiadas resulte um prejuízo para as já
existentes, pela natural limitação que os seus direitos poderão sofrer, mas dá-se
também o enfraquecimento quantitativo dos direitos das próprias acções ordinárias
que passarão a ser, em face de novas categorias privilegiadas ou do reforço das já
existentes, ainda mais oneradas.
A própria lei:
. Em primeiro lugar concede em termos gerais o direito de preferência aos
actuais accionistas nos aumentos de capital por entradas em dinheiro, 458º, o qual só
pode ser limitado ou suprimido se o interesse social o justificar, 460º em especial nº2.
. Em segundo lugar, estabelece o igual tratamento de todos os accionistas,
321º, segundo o qual sempre que se pretender criar novo direitos no âmbito das
sociedades anónimas, todos os accionistas deverão ter oportunidade de acesso aos
mesmos, na proporção da sua participação na sociedade, 344º nº2.
. Em terceiro lugar, a lei determina a anulabilidade de todas as deliberações
que sejam abusivas, designadamente daquelas que «sejam apropriadas para satisfazer
o propósito de um dos sócios de conseguir prejudicar» os interesses de outros sócios,
58º nº1 al. b).
Deste modo, só as deliberações que recaiam sobre os direitos de uma categoria
existente, impondo a sua supressão ou alteração, devem ser subordinados ao
consentimento dos titulares das acções dessa categoria, 24º nº5 e 6º e 389º.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 10
A criação de acções privilegiadas em vida da sociedade pode ocorrer por conversão de
caçoes ordinárias ou por aumento do capital social.

19.3.4.2. Transmissibilidade
Os direitos especiais transmitem-se comas acções a que são inerentes.

19.3.4.3. Supressão e alteração do privilégio


Regra geral: art. 24º nº5 CSC, por isto são considerados, os direitos especiais,
inderrogáveis.
Nas sociedades anónimas, o consentimento «é dado por deliberação tomada em
assembleia especial dos accionistas titulares de acções da respectiva categoria», 24º
nº6, por uma maioria qualificada de dois terços dos votos, art. 389º nº2; arts. 383º nº2
e 386º nº3. O consentimento não tem de ser prestado individualmente, pois os direito
de cada um dos titulares de acções privilegiadas não se concebem como pessoais, mas
são um privilégio do grupo de acções que, por serem da mesma espécie, formam uma
categoria.
A iderrogabilidade do direito especial é relativa, a modificação do conteúdo está
dependente d consentimento da sua maioria (qualificada).
Esta regra não é absoluta; o contrato ou a lei podem dispor, admitindo que a
supressão ou alteração do direito especial seja apenas deliberada pela generalidade
dos sócios, dispensando-se assim o consentimento específico dos seus titulares, mas
respeitando-se o quórum referente à modificação dos estatutos, porque o direito
especial tem de estar neles estipulado, 24º nº1, ex: 531º nº2.
A supressão ou alteração do direito especial de categoria de acções esteja dependente
do consentimento dos seus titulares reunidos em assembleia especial, mas a ser
deliberado por uma maioria diferente (eventualmente inferior).
Quando a assembleia especial funcionar em termos clássicos, ela deve realizar-se na
sede da sociedade. Para se considerar validamente constituída, tem de reunir em
primeira convocação «accionistas que detenham, pelo menos, acções correspondentes
a um terço do capital social», art. 383º nº2, 389º nº1 e 2. A alteração ou supressão de
acções privilegiadas determina necessariamente uma alteração contratual, essas
acções e os respectivos direitos tem de ser referenciados nos estatutos.
As deliberações têm de ser tomadas por maioria qualificada de 2/3 dos votos
expressos, sem contar as abstenções, arts. 38º nº3. A lei impõe a uma maioria
qualificada.
Se a assembleia reunir em segunda convocação aplica-se o art. 386º nº4. Neste caso o
quórum deliberativo tem de se conjugar com o quórum constitutivo, o qual em regra
não é exigível em segunda convocação. A reunião de uma determinada percentagem
de capital social, em segunda convocação, legitima o consentimento da assembleia
baseado na pluralidade de votos.
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Comerciais” 10
As deliberações que, visando eliminar ou coarctar direitos especiais, não obtenham o
consentimento necessário são ineficazes, art. 55º.

19.3.5. As golden shares = “acções de ouro”


De comum com as acções privilegiadas tem o facto de atribuírem ao respectivo titular,
em regra o Estado, um ou mais privilégios relativamente aos demais accionistas.
São típicas das grandes sociedades anónimas de capital parcial ou mesmo
maioritariamente públicos, permitindo ao Estado conservar prerrogativas especiais
quando desinveste, ex: PT e EDP.
Se esta prerrogativa é abstractamente admissível, porque pode ser criada uma
categoria de acções com um direito especial de veto relativamente a um terço dos
administradores, 391º nº2 in fine), já a possibilidade de oposição a modificações do
contrato social nos parece inaceitável, não cremos ser admissível que se configure tal
prerrogativa como um direito especial de categoria de acções, nem paralelo que
corresponderia a direito que, com idêntica natureza e conteúdo, é expressamente
admissível nas sociedades por quotas, 265º nº2.

19.4. Acções diminuídas

19.4.1. Caracterização
Conferem aos seus titulares menos direitos do que aqueles que resultem das acções
ordinárias e que, relativamente a estas, só apresentam desvantagens. Ex: caso das
acções de fruição, 346º nº4.
A que melhor se contrapõe, com base num mesmo critério, às acções ordinárias e às
acções privilegiadas; e por ser mais ampla que a designação “acções diferidas”. Pode
suceder que a desvantagem relativamente às outras acções consista na restrição total
de um direito e não apenas no diferimento do seu exercício.

19.4.2. As acções de fruição


Elas são partes sociais que se aproximam das acções ordinárias; simplesmente são
acções diminuídas, visto que, tendo sido objecto de amortização, subsistem –
conservando os direitos originários, designadamente de natureza pessoal – dotadas de
um menor valor patrimonial do que as demais acções. São acções cujo capital é
totalmente reembolsado, mantendo a totalidade dos direitos de administração e
sofrendo restrições de natureza patrimonial; formam uma categoria autónoma,
devendo ser representadas por títulos especiais, art. 346º nº5.
Verificar ainda o art. 346º em todos os seus números.
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20. Titularidade de quotas e de acções

20.1 Regras gerais


A titularidade é o nexo de pertença efectiva de um direito a uma determinada pessoa
e a regra geral nessa matéria, em sede de participações sociais, é de que cada acção e
cada quota tenham um único titular. Há diferenças entre uma e outra participação.

20.1.1. Divisibilidade das quotas e indivisibilidade das acções


As acções são indivisíveis, 276º nº4, pressupondo-se que titular e possuidor de uma
acção ao portador sejam uma única e a mesma pessoa.
A quota é divisível, 221º, desde que tenham um valor nominal mínimo de € 100,00,
art. 219º nº3.

20.1.2. A titularidade das pessoas colectivas e das sociedades


comerciais; em especial

20.1.2.1.
Para além das pessoas singulares, podem ser titulares de quotas e acções quaisquer
pessoas colectivas, com respeito pelo principio da especialidade que caracteriza a sua
actividade, 160º CC e 11 nº4 CSC.
A detenção de participações noutras sociedades e a gestão das mesmas podem
integrar o objecto específico de uma determinada sociedade que não será
imediatamente comercial, por não corresponder a uma actividade comercial ou
industrial directa. Tal sociedade constitui-se com a exclusiva finalidade de gerir
participações sociais, apenas prosseguindo actividades de carácter comercial ou
industrial de forma mediata, na medida em que só participará indirectamente no
exercício do objecto das sociedades participantes.
A lei permite, no art. 11º que o contrato de sociedade o possa autorizar,
inclusivamente em qualquer tipo de sociedade.
Se o contrato não permitir essa detenção de participações noutras sociedades, então a
sociedade comercial só poderá participar em sociedades de responsabilidade limitada
que exerçam uma actividade análoga, 11º nº4, mesmo essa possibilidade podendo ser
contratualmente excluída, 11º nº4 in fine, ficando a sociedade impossibilitada de
adquirir participações alheias ou de o fazer sem autorização dos sócios.
Quando se pretende que a sociedade possa participar em sociedades de
responsabilidade ilimitada ou em sociedades com diferente objecto social, então o
contrato deve autorizá-lo expressamente, 11º nº5, indicando, se possível, qual o órgão
competente para tomar decisões nessa matéria eliminado, desse modo, eventuais
dúvidas que possam surgir, 246º nº2 al. a) e 406º nomeadamente al. e).
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20.1.2.2.
Entendemos que as regras de regulação social não podem servir para prejudicar os
interesses da ética do mercado e daqueles que nele intervêm e se movimentam,
sobretudo se não houver razoes para tal.
Não só não h+a prejudicados, como se evita que venham a ser postos em causa
negócios subsequentes.

20.2. Contitularidade de quotas e acções


Arts. 223º e 224º, 303º CSC e art. 57º CVM.
Á contitularidade das acções se aplica o disposto em material de contitularidade de
quotas, 223º e 224º, por remissão do art. 303º.
O principal problema diz respeito ao exercício dos direitos inerentes às participações
sociais. Sendo vários os titulares e pertencendo a participação ou participações
simultaneamente a méis do que uma pessoa, como é que efectivamente os direitos
que lhe são inerentes vão ser exercidos?
Haverá que procurar um representante comum entre os diversos contitulares, um que
a todos represente e cuja nomeação, quando não resulta da lei, tem de ser
comunicada á sociedade e aos demais sócios, art. 223º.
Quanto aos representantes comum dos contitulares, a lei estabelece algumas
limitações. Em regra exige que seja um dos titulares o representante ou o conjugue de
um dos titulares. A lógica é a sociedade permanecer fechada, art. 223º nº2.
Quanto À deliberação dos contribuintes, faz-se nos termos do art. 224º, aplicando-se
aqui as regras da compropriedade (do CC).

20.3. Participações próprias

20.3.1. Caracterização da situação


Só no decurso da sua vida e em certas circunstâncias, pode a sociedade vir a adquirir
uma parcela dos seus próprios activos (ex: necessidade de a sociedade ter bens
disponíveis para o efeito, em quantidade suficiente).
Esta aquisição tem de ser limitada a uma certa parte da sociedade, sob pena de ela
poder desaparecer dentro de si mesma.

20.3.2. Quotas próprias; requisitos para a respectiva aquisição e


regime aplicável
É a participação social que uma sociedade detém em si mesma, no seu próprio capital.
Só pode adquirir quotas próprias em três circunstancias, art. 220º nº2:
- A título gratuito;
- Em acção executiva;
- Onerosamente, dispuser de reservas livres em montante igual ou superior ao
dobro da contrapartida a prestar na aquisição;
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Assim, se a quota custas € 10.000,00, a sociedade para a adquirir deverá dispor de
reservas livres de, pelo menos, € 20.000,00, ficando posteriormente €10.000,00
afectos a uma reserva legal especial, 324º nº1 al. b).
À aquisição no âmbito de processo executivo, pretende a lei viabilizar a oposição à
entrada de estranhos na sociedade.
Só podem ser adquiridas quotas inteiramente liberadas, salvo se a aquisição ocorrer
no âmbito de um processo de perda de quota a favor da sociedade, 204º, o que é
expressa e legalmente autorizado, ainda que a quota não esteja liberada na totalidade,
220º nº1.
À aquisição gratuita (doação ou sucessão) a mesma não suscita dificuldades, não
acarreta qualquer encargo imediato.
A aquisição de uma quota própria sem observância das limitações legais, previstas no
220º é nula, 220º nº3.
Uma questão relevante é a de saber se existem limitações legais à aquisição de quotas
próprias, para além das descritas e enunciadas no art. 220º.
No que respeita ao regime jurídico aplicável às quotas próprias, art. 324º por remissão
do 220º nº4, remetemos a respectiva analise para a matéria das acções próprias,
sendo transposto para as sociedades por quotas com as devidas excepções.

20.3.3. Acções próprias

20.3.3.1. Situações regra; desenvolvimento e corolários


Uma sociedade não pode subscrever acções próprias e só pode «adquirir e deter
acções próprias nos casos e nas condições previstas na lei», tal não garante que uma
sociedade possa, pura e simplesmente, adquirir acções próprias.
Sendo o contrato de sociedade omisso, será permitida a aquisição de acções próprias
até ao limite de 10% do capital da sociedade, 317º nº2 – regra supletiva, sujeita a
limites imperativos.
Não é, naturalmente, possível a sociedade adquirir acções próprias por interposta
pessoa, sendo os seus administradores, pessoal e solidariamente, responsáveis pela
liberação das acções nesses termos e condições, art. 316º nº2 a 6. A sociedade não
pode instruir um terceiro, pessoa singular ou colectiva, para em nome pessoal, mas
por conta dela, adquirir acções no seu capital.
«a sociedade não pode conceder empréstimos ou prestar garantias para que um
terceiro subscreva ou por qualquer outro meio adquira acções representativas do seu
capital, 322º nº1 e 2. A inobservância acarreta a nulidade da operação, 322º nº3.
O desrespeito ou violação do disposto nos arts. 316º (nº2 e 3) e 322º (nº1 e 2) é
penalmente sancionado nos termos do 510º CC.
Assume especial relevância o principio do igual tratamento dos accionistas, 321º, o
que significa que a sociedade não poderá comprar acções a um accionista,
desprezando a vontade que outros, eventualmente possam ter de vender.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 10
20.3.3.2. Casos em que é admissível a titularidade de acções
próprias
Se a sociedade pode proibir a aquisição de acções próprias, também pode estabelecer
um limite máximo inferior a esses 10%, por exemplo 5%, art. 317º nº1.
O nº2 do 317º prevê que haja situações de excepção, prevê casos em que as acções
próprias possam corresponder a um montante superior a 10%. São as situações
previstas no nº3 do 317º, se a aquisição for feita a título gratuito ou se tiver por
finalidade executar uma deliberação de redução.
O prazo mínimo para deter acções próprias nessas circunstâncias é de 3 anos, 323º
nº3. Permite-se que numa situação de emergência, possa ser ultrapassado esse
máximo, mas depois a sociedade dispõe de um prazo limite durante o qual se deve
desfazer dessas participações em excesso.

20.3.3.3. Aquisição de acções próprias; requisitos


As acções próprias só podem ser adquiridas se estiverem inteiramente liberadas, art.
318º nº1 1º parte.
Salvo nos casos especialmente previstos na lei, art. 318º nº1 in fine e art. 317º nº3 al.
b), c), e) e f), a aquisição de participações sociais próprias não inteiramente liberadas é
nula, art. 318º nº2.
O órgão com competência para decidir que devem ser adquiridas acções próprias,
319º CSC, dispõe, como regra, que é assembleia-geral. A deliberação de aquisição deve
competir aos accionistas.
Da deliberação da assembleia-geral devem constar o montante máximo a adquirir, os
accionistas vendedores, as contrapartidas e a duração da autorização, que não pode
ultrapassar 8 meses, 319º nº1.
Excepção: situações em que impondo que a decisão seja tomada com urgência e
rapidez. Nesses casos, 319º nº3), terá de ser a administração a decidir essa aquisição.

20.3.3.4. Regime jurídico


Detenção de acções próprias = aplica-se o disposto no 324º CSC.
Tem sentido a sociedade, no final do exercício, reclamar os lucros que
corresponderiam à sua participação, invocando a qualidade de accionista?
Não tem muito sentido. Por isso, o regime jurídico aplicável estabelece naturais
limitações ao exercício dos direitos sociais, declarando-os todos suspensos, com a
excepção do direito de participar no aumento de capital por incorporação de reservas,
324º nº1 al. a), aumento de capital que determine que as reservas existentes sejam
distribuídas proporcionalmente aos sócios, sob a forma de capital. Se o accionista tem
10% do capital, correspondente a € 100.000,00 de valor nominal, e se a sociedade
aumenta em 50% o seu capital por incorporações de reservas, o mesmo accionista irá
continuar com 10% do capital, só que agora correspondente a um valor nominal de €
150.000,00. Situação excepcional que a própria lei tem o cuidado de salvaguardar.
Livro: “Direito das Sociedades
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Enquanto as acções estiverem na carteira, a sociedade terá de constituir uma reserva
especial, 324º nº1 al. b).
Não é qualquer sociedade anónima que se pode dispor a comprar acções próprias.
Para o fazer, licitamente, a sociedade deverá gozar de boa saúde financeira e dispor de
reservas livres necessárias para o efeito ou de resultados que não distribua.

20.3.3.5. Proibição de assistência financeira para aquisição de


acções próprias
A lei proíbe que a sociedades anónimas concedam empréstimos, forneçam fundos ou
prestem «garantias para que um terceiro (também aqueles que já são accionistas no
momento em que se equaciona a aquisição de acções da sociedade) subscreva ou por
outro meio adquira acções representativas do seu capital», 322º nº1. Todos os
contratos celebrados ou actos praticados pela sociedade com inobservância dessa
limitação legal são nulos, 322º nº3.
A lei admite excepções a esta limitação legal, em execução de planos que impliquem a
concessão de opções sobre acções por si emitidas, como forma de retribuição por
serviços prestados, e desde que tais operações não sejam efectuadas à custa da
respectiva situação líquida, 322º nº2 in fine.
O 322º prescreve uma proibição ao auto financiamento na aquisição de participações
sociais, impedindo que uma sociedade anónima possa, em regra, financiar ou garantir
o financiamento da aquisição das suas participações.
Nas sociedades por quotas, há que ponderar se a proibição de assistência financeira se
estende?
Temos dúvidas, de que falta de remissão legal não se tenha ficado a dever a um lapso,
a que importância pôr cobro, recorrendo à analogia. Não podemos aceitar que à
eventual infracção dessa regra se aplique a sanção de natureza criminal, tipificado no
510º nº1 CSC, uma vez que deveríamos sustentar tal subsunção na analogia, o que nos
parece incompatível com o princípio da legalidade.

20.3.3.6. Operações com acções próprias


Com a finalidade de minimizarem o impacto fiscal na distribuição dos respectivos
resultados. Os efeitos fiscais também têm variado, havendo uma cada vez maior
atenção do legislador e da Administração Fiscal a este tipo de fenómenos.
Em relação aos accionistas singulares, estes optavam por apurar uma mais-valia
tributável À taxa de 10%, enquanto não tivesse decorrido um ano, em vez de
suportarem a fiscalidade que recai sobre a distribuição de resultados.

20.4. Limitações à titularidade de participações sociais


Há certas circunstâncias em que o sócio vê restringidos os seus direitos, por efeito da
constituição de um direito real sobre essas participações, quer o mesmo seja um
direito de gozo (ex: usufruto), quer seja um direito real de garantia (ex: penhor).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 10
Qualquer dessas situações jurídicas reais colide com o regime geral da titularidade,
pela limitação que lhe introduz.

20.4.1. Usufruto de participações sociais (quotas e acções)

20.4.1.1.
Art. 23º nº1 e 2º CSC e 1467º CC: dois sujeitos, o proprietário e o usufrutuário, terem
simultaneamente pretensões em relação a uma mesma participação social, a questão
reside em saber quem tem o direito de exercer os direitos sociais.
Regra aplicável: o usufrutuário tem direito aos lucros e a votar, excepto se está em
causa alteração estatutária ou dissolução, em que o voto dever ser conjunto.
Problemas mais relevantes:
. Quanto ao direito de informação: arts 293º e 214º nº8
A regra é a de que o usufrutuário tem o direito de informação conjunto e simultâneo,
com o titular de raiz, sempre que tiver o direito de voto. Nessa circunstância poderá
exercer o direito de informação.
. Quanto ao direito de participar no aumento de capital: art. 462º
Por entradas em dinheiro, o exercício do direito legal de preferência cabe ao nu-
proprietário, na falta de acordo para ser actuado pelo usufrutuário ou conjuntamente
por ambos, 269º e 462º nº2 e 1. A ideia é a de que o proprietário de raiz deve poder
ter o direito de participar sempre que estiver em causa um acto social que afecte a
subsistência da sua participação (acções). As acções a emitir ficam a pertencer em
propriedade plena a quem exerceu o direito legal de preferência, art. 462º nº4 CSC.

20.4.1.2.
No que respeita à forma de constituição do usufruto das participações sociais em vida
em sociedade, ela corresponde à forma exigida e às limitações estabelecidas para a
respectiva transmissão, art. 23º nº1.
O usufruto constitui-se por documento escrito, forma requerida para a transmissão de
quotas, e tal só pode ocorrer na medida em que o sócio puder dispor da sua quota em
negócios entre vivos. Se a cessão for livre, a constituição do usufruto também é livre,
se a cessão estiver dependente do consentimento da sociedade, p.ex, então eventual
constituição de usufruto sobre uma quota estará dependente de idêntica autorização,
23º nº1 e 228º nº2.
A constituição (ou transmissão) de usufruto de quota está sujeita a registo comercial
obrigatório do qual depende a sua eficácia, arts. 242º - A e 242º - B CSC.
No que se refere à constituição de usufruto sobre acções, há que conjugar o disposto
no CSC, art. 23º, com o CVM.
A forma de constituição dependerá da própria forma de representação da acção e do
regime a que a mesma está sujeita.
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Sendo as acções tituladas, devem ser observados os termos estabelecidos para a
transmissão da respectiva titularidade, art. 23º nº1 CSC e art. 103º CVM.
O usufruto de acções ao portador só é possível mediante depósito das acções em
instituições de crédito ou junto do emitente e registo da situação jurídica em causa,
sendo obvio que não pode ocorrer pela simples transmissão do título, porque a mesma
opera a efectiva transmissão da propriedade.
A constituição de usufruto sobre acções tituladas nominativas é livre se não houver
restrições à transmissibilidade das acções, 328º nº2, efectuando-se por declaração,
inscrita no título, e registo subsequente junto da sociedade emitente ou de
intermediário financeiro que a represente, arts. 23º nº1 CSC e 103º e 102º nº1 CVM.
O usufruto de acções escriturais constitui-se pelo registo na conta do titular dessas
acções, com indicação da quantidade de acções constituídas em usufruto, da duração
deste e da identificação do usufrutuário, podendo ser constituído por registo em conta
do usufrutuário, arts. 81º nº5 e nº1 e 2º e art. 105º CVM.

20.4.2. Penhor de participações sociais

20.4.2.1.
O penhor de quotas, arts. 23º nº3 e 4º e 242º - A a 242º - B CSC e art. 3º nº1 al. f)
CRCom.
O penhor de acções, art. 23º nº3 e 4, CSC e 293º. No plano das sociedades anónimas é
regulada pelo CVM, arts. 41º, 81º e 83º, 101º a 104º.
Para o penhor de participações sociais, em geral:
1º «Só pode ser constituído na forma exigida dentro das limitações
estabelecidas para a transmissão entre vivos das participações» a que
respeitam art. 23º nº3, isto é, nos termos em que tais participações sejam
transmissíveis.
2º O credor pignorático só pode exercer os direitos sociais, incluindo o direito
de lucros, quando tal tiver sido acordado, por escrito, entre as partes, 23º nº4.
3º O credor pignorático tenha o exercício do direito de voto, ele terá também
direito de informação como se fora o titular das acções, art. 293º.

Por efeito do penhor, o sócio vê limitada a disponibilidade da participação social, pelo


que as acções e quotas e tornam dificilmente transmissíveis. Na realidade as acções
empenhadas, habitual e convencionalmente, deixam de estar na disponibilidades do
respectivo titular, pelo que na prática não são transaccionáveis.
No que respeita aos direitos inerentes Às acções (dadas em penhor), os mesmos
continuam, em regra, a ser exercidos pelo titular das acções, incluindo o direito aos
lucros e o direito de voto. Convencionalmente é possível acordar que tal na aconteça.
Assiste ao credor pignorático é o de intervir, autorizando ou consentindo a subscrição
de acções em aumentos de capital social e simultaneamente sujeitando as acções a
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Comerciais” 11
emitir, por efeito desse aumento ou na sequência de aumento por incorporação de
reservas, à garantia já existente.

20.4.2.2.
À constituição desta garantia real, a mesma ocorre na «forma exigida para a
transmissão das participações» que dela são objecto.
Eliminando-se a referência à necessidade de documento escrito, 23º nº3 in fine.
Impõe-se distinguir consoante as participações são tituladas ou meramente escriturais.
O penhor das quotas, continua a constituir-se por documento particular e torna-se
efectivo com o respectivo registo comercial, art. 3º al. f) CRCom. E art. 240º - A CSC,
passando a ser oponível a terceiros.
O penhor de acções escriturais constitui-se pelo registo na conta do titular dessas
acções, com indicação da qualidade de acções dadas em penhor, da obrigação
garantida e da identificação do beneficiário, podendo ser constituído por registo em
conta do credor pignorático, quando este tiver o direito de voto, arts. 81º nº1 e 2 e
105º CVM.
A constituição de penhor sobre acções tituladas nominativas é livre, na medida em que
não existam restrições à transmissibilidade dessas acções. Se existirem restrições, 328º
nº2, a constituição do penhor depende do consentimento exigível para a transmissão
das acções a empenhar.
O penhor das acções nominativas constitui-se por declaração como referida no arts.
23º nº3 CSC e 103º e 102º nº1 CVM.
O penhor das acções ao portador constitui-se pela entrega dos títulos ao credor
pignorático ou ao depositário por ele indicado, art. 101º nº1 CVM, o titular para prova
do seu direito solicite a emissão de um recibo relativo à entrega desses títulos. Caso os
títulos das acções já estejam depositados, o penhor efectua-se por registo na conta do
credor pignorático, com efeitos a partir da data do respectivo requerimento. Não se
encontrando sujeito a registo, o penhor só produz efeitos com a notificação à
sociedade, art. 681º nº2 CC).
A constituição do penhor confere ao credor pignorático o direito de se fazer pagar
preferencialmente pelo valor dos bens empenhados.
Deve informar ou notificar a administração da sociedade de que as acções se
encontrem a caucionar um determinado credito e para que esta tenha possibilidades
de reagir relativamente a eventual vicissitude das mesmas. E desta comunicação
deverá ser dado conhecimento ao accionista.

20.5. Negócios jurídicos com participações sociais


Quais os negócios jurídicos de que as participações sociais podem ser objecto?
A transmissibilidade de participações sociais implica a transmissão da qualidade de
sócio, pelo que a admissibilidade de certos negócios jurídicos dependerá da respectiva
compatibilidade com a disponibilidade do status de sócio.
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20.5.1. Transmissibilidade de participações sociais (quotas e acções);
remissão. Promessa de cessão e de venda

20.5.1.1.
Ela é a forma adequada de transmitir a posição de sócio, eventuais limitações legais ou
convencionais visam impedir ou dificultar a alteração da titularidade da participação.
Admite e lei a possibilidade de os estatutos imporem a amortização da quota em caso
de morte de sócio, 225º nº1 e 2, ou de limitarem a doação de acções, 329º nº2 al. c).
A compra e venda de participações sociais é um contrato comercial, por natureza, 463º
nº5 CCom.

20.5.1.2.
Promessa de cessão de quotas: é em princípio dependente da possibilidade de
celebração do negócio definitivo.
Embora a transmissão de acções não esteja, em regra, sujeita a forma especial, as
partes acordam frequentemente na celebração prévia de promessas com a finalidade
de proceder à avaliação das empresas cuja titularidade projectam alterar, realizando
as due diligences que lhe permitem verificar o teor das declarações constantes do
contrato instrumental.
A promessa de transmissão em bolsa é irrelevante

20.5.2. Deposito e mutuo (ou comodato) de participações sociais

20.5.2.1.
Sendo a participação social um bem incorpóreo, ela não é por definição, depositável.
Só os bens corpóreos (coisas) podem ser objecto de depósito; os bens incorpóreos são
objecto de registo.
Quanto ás acções tituladas elas podem ser objecto de deposito, e junto de um
intermediário financeiro.

20.5.2.2.
Quanto ao empréstimo de participações sócias, não consideramos a posição jurídica de
sócio compatível com a cedência temporária do gozo da participação social. Acresce
que a cedência temporária do gozo do bem, pressupondo que ele é corpóreo, poderia
assumir diferente configuração, consoante esse bem fosse ou não fungível. Por efeito
da fungibilidade imposta legalmente aos valores mobiliários, dir-se-ia que a forma
adequada para o respectivo empréstimo seria o mutuo.
A lei civil configura o mútuo e o comodato como empréstimos de dinheiro ou coisas
fungíveis, art. 1142º CC, ou infungíveis, 1129º CC. Isto é, não tipifica negócios que
recaiam sobre os incorpóreos.
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No que se refere à quota, o sócio não se pode despojar temporariamente da sua
qualidade, cedendo a participação a um terceiro, para que ele se sirva dele. O
empréstimo da quota implicaria a cedência total, mas não definitiva, do status de
sócio, equivalendo a um reporte da participação, que se nos afigure incompatível com
a natureza desta, nas sociedades de pessoas.
Às acções o CVM admite expressamente o empréstimo de valores mediáticos (350º),
não discriminando as acções, mas determinando que os valores mobiliários
emprestados se transfiram para a titularidade do mutuário, excepto se for
convencionado diversamente, 350º nº1.
Concluindo, ainda que não faça muito sentido um accionista poder emprestar parte ou
a totalidade das suas acções para que um terceiro possa exercer os direitos durante
um certo prazo, tal negocio não é incompatível com a objectivação da participação na
sociedade anónima, nem tão pouco com o direito de participação social autónomo em
que se traduz cada acção. Fundamental é que ao admitir-se o negócio não se esteja a
permitir desdobrar a titularidade da participação ou a iludir regras restritivas da sua
transmissibilidade. Por isso, cremos que o empréstimo em termos substanciais deve
corresponder a uma alteração de titularidade, mesmo que não seja essa a intenção das
partes, com todas as consequências daí decorrentes.

20.5.2.3.
O aluguer de participações sociais não se afigura compatível com a qualidade de sócio
a cedência provisória, mediante uma renda, do gozo de uma participação social.

20.5.3. Constituição da participação social em garantia


Desde que sejam respeitados os limites imperativos do sistema, como seja o que
resulta do art. 322º.

21. Vicissitudes da participação social – transmissão e amortização de quotas e


acções

21.1. Transmissão de quotas entre vivos e cessão de quotas

21.1.1. Caracterização

21.1.1.1.
Sociedades por quotas: a transmissão de participações em vida, quando é onerosa,
designa-se por cessão de quotas e esta vem regulada nos arts. 228º CSC.
A regra legal é a de que a transmissibilidade é fortemente condicionada. Só é livre a
transmissibilidade em favor do sócios ou do conjugue ou de parentes na linha recta
(familiares próximos).
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Se os sócios pretenderem que a cessão seja livre têm de o clausular expressamente. Se
nada fizerem a cessão só é livre em favor de outros sócios ou dos herdeiros
legitimários.
Se a proibição tiver uma duração superior a dez anos, a lei concede aos sócios, uma
vez decorrido esse prazo (10 anos), o direito de exoneração, o que corresponde, no
fundo, a admitir que eles têm o direito de livremente se afastar da sociedade. E a
exoneração, pelo menos em termos qualitativos, é em tudo idêntica à cessão, porque
conduz à saída da sociedade.

21.1.1.2.
Art. 228º nº2, a lei pretende claramente opor sócios e familiares próximos do cedente
a terceiros ou estranhos.
No nº3 do art. 229º, a lei admite que os estatutos possam exigir o consentimento da
sociedade para as cessões legalmente autorizadas.
A intenção é isentar unicamente os sócios da necessidade de autorização societária.
Haverá que apreciar cada caso em concreto, só sendo legitimo concluir por uma
limitação contratual acrescida, relativamente à legal, se for inequívoco ser essa a
intenção dos sócios.

21.1.2. Regime geral da cessão de quotas


Se a cessão for livre há que observar a forma legalmente exigível e proceder
subsequentemente ao registo e comunicações, incluindo publicidade, que forem
devidas.
Se a cessão estiver sujeita a consentimento, art. 228º nº2 1º parte, este terá de ser
solicitado nos termos em que se encontra previsto no contrato de sociedade.
A lei admite que o consentimento possa ser dado de forma tácita. Ex: a aceitação da
participação na assembleia-geral de um novo sócio, 230º nº6, sem que a deliberação
seja impugnada com esse fundamento.

21.1.3. Consentimento da sociedade e direito de preferência


(convencional) dos sócios e da sociedade
O consentimento da sociedade dever ser solicitado «por escrito, com indicação o
cessionário e de todas as condições da cessa», 230º nº1, não pode ser condicionado,
230º nº3, e deve ser dado por deliberação dos sócios sempre que for expresso, 230º
nº2.
Direito de preferência deve encontrar-se clausulado no contrato de sociedade e não
em simples acordo parassocial, porque neste caso não é oponível à sociedade, gerando
mera responsabilidade obrigacional entre as partes do acordo.
Quando a cessão está sujeita ao consentimento da sociedade, esta não pode, sem mais
nem menos, recusar esse consentimento.
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A boa técnica contratual aconselharia, em nossa opinião, que, restringindo o contrato
de sociedade a transmissibilidade em vida de participações sociais, consentimento e
direito de preferência fossem objecto de regulamentação estatuária em separado, de
forma a evitar qualquer confusão entre os institutos. Tal só acontece muito raramente,
uma vez que habitualmente os contratos de sociedade dedicam uma única clausula à
cessão, sujeitando-a simultaneamente À preferência dos sócios e ao consentimento da
sociedade.
A preferência convencional deve sobrepor-se ao eventual consentimento da sociedade
para a transmissão, ou recusa dele, uma vez que a intervenção da sociedade deve ser
feita numa lógica de evitar a participação de novos sócios na sociedade e tal só se
equacionará se a preferência não for, entretanto, manifestada e concretizada.
A concessão do direito de preferência à sociedade não parece, a priori, fazer muito
sentido, visto que s sociedade recusando o seu consentimento à transmissão
projectada, poderia sempre propor-se adquirir ou fazer amortizar a quota. Caso haja
um desequilíbrio financeiro manifesto entre os sócios que obste a que um ou mais
exerçam a preferência, reconhece-la à sociedade, em primeiro lugar poderá evitar que
a concretização desse desequilíbrio venha a ocorrer pelo exercício da preferência por
parte de apenas alguns sócios.
O que não parece fazer, de todo sentido é que a preferência da sociedade seja
subsidiária da preferência dos sócios e seja ponderada antes do próprio
consentimento da sociedade, uma vez que, nessa circunstância, se confunde com ele.

21.1.4. Forma da cessão


Efectua-se por documento escrito e assinado pelas partes, sem formalidades adicionais
(228º nº1), deixando de estar sujeita à forma legal máxima possível (escritura publica),
como acontecia até ao presente.
É a natureza jurídica da quota (bem incorpóreo) que continua a justificar que na
respectiva transmissão onerosa inter vivos a exteriorização da vontade se corporize em
documento escrito, art. 220º CC.

21.1.5. Eficácia da cessão


Não chega a forma escrita. É preciso o consentimento da sociedade e que a sociedade
seja notificada de que efectivamente a cessão se realizou, 228º nº2 e 3, tal como é
necessário que seja promovido o respectivo registo, 242º-A.
Enquanto não for registada a cessão, ela não produz efeitos perante a sociedade. uma
vez realizada a inscrição registral solicitada, a cessão tem-se por efectuada, para com a
sociedade, na data do pedido de registo.
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21.2. Transmissão de quotas mortis causa
São raras as cláusulas contratuais que regulam a sucessão mortis causa. Se o contrato
for omisso, entende-se que a sucessão opera em conformidade com as regras legais,
transmitindo-se a quotas para os herdeiros ou legatário do sócio falecido.
Poderá suceder que o contrato de sociedade condicione a transmissão dentro de
determinados parâmetros, 225º, devendo a sociedade adquirir ou fazer adquirir a
quotas ou amortizá-la, 225º nº2.
O contrato de sociedade coloca na dependência da vontade dos sucessores do sócio
falecido a transmissão da quota, admitindo que estes posam exigir a amortização ou
declarar que não aceitam a transmissão, 226º. Neste caso, a transmissão da quota por
morte, ou a sua rejeição, é clausulada, em regra, a propósito da amortização.

21.3. Amortização de quotas

21.3.1. Caracterização
Consiste na extinção, total ou parcial, 233º nº5, de uma quota, eventualmente
acompanhada de redução do capital social em medida correspondente ao valor
nominal dessa quota, 232º a 238º.

21.3.2. Pressupostos
Deverá ser permitida por lei, contratualmente autorizada ou expressamente
consentida pelo sócio.

21.3.3. Forma e formalidades


Em nossa opinião, já não se encontrava sujeita a escritura pública, ocorrendo por
simples deliberação dos sócios e devendo ser comunicada ao sócio afectado, para ser
eficaz (234º).
O registo condiciona a eficácia da amortização perante terceiros, e deve fazer. Se
também com base na acta referente à deliberação social de amortização, não havendo
obrigatoriedade de promover publicações legais, art. 70º nº1 al. c) in fine CRCom.
Ao novo valor nominal das quotas, o mesmo deverá ser fixado por deliberação e
constar da acta.
Em nosso entender, a acta simples, 248º nº6, é o único requisito de validade formal da
deliberação tomada, para além das formalidades necessárias à própria realização da
assembleia, sendo a comunicação dirigida ao sócio afectado, uma condição de eficácia
desse acto, 234º nº1; e só no momento em que o sócio tem conhecimento da
deliberação de amortização cessam os seus direitos e obrigações.
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21.3.4. Modalidades
Pode ser onerosa (se implicar o pagamento de uma contrapartida, a qual pode ser
estipulada no contrato de sociedade) ou gratuita (quando for dispensada tal
contrapartida).
É usual acrescentar uma menção contratual relativa à contrapartida, se a amortização
for onerosa.

21.3.5. Efeitos
Implica a redução do capital social sempre que recais sobre quotas que não estejam
inteiramente liberadas, 232º nº3, e sempre que a situação liquida da sociedade
resultar inferior À soma do capital social e da reserva legal, após o pagamento da
contrapartida.
A amortização provoca o aumento proporcional das quotas sobrantes, excepto se o
contrato de sociedade estabelecer que a quota figure no balanço como amortizada,
art. 237º.

21.4. Transmissão de acções

21.4.1. Regra geral


Nas sociedades anónimas é oposta à regra aplicável no âmbito das sociedades por
quotas, no plano das sociedades por acções, a regra é a de que a transmissão das
participações é livre, 328º nº1.
A propósito da transmissão das acções há dois importantes aspectos a considerar: a
circulação do capital e o modo como a transmissão se opera.

21.4.2. Formas de transmissão

21.4.2.1. Considerações gerais; enquadramento normativo


Desde 1988 passou a fazer-se a distinção entre a transmissão de valores escriturais e a
transmissão de valores titulados.
A distinção entre as formas de representação se aplica a quaisquer valores mobiliários
e não apenas às acções, regulado no CVM (arts. 80º, 101º, 102º e 105º).
As acções admitidas À negociação em mercado regulamentado são obrigatoriamente
integradas em sistema centralizado (105º e 62º CVM). Tal obrigação não interfere na
forma de transmissão, mas apenas no modo de efectuar a transferência entre contas,
71º nº2 CVM.

21.4.2.2. Acções tituladas (ao portador e nominativas)


Na actualidade encontramos variações, consoante as acções (ao portador) a transmitir
se encontrem depositadas em intermediário financeiro, ou não, e consoante as acções
(tituladas) se encontrem integradas, ou não, em sistema centralizado.
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As acções «ao portador transmitem-se por entrega do título ao adquirente ou ao
depositário por ele indicado», 101º nº1 CVM.
«se os títulos já se encontrarem depositados no depositário indicado pelo adquirente,
a transmissão efectua-se por registo na conta deste, tendo-se os respectivos efeitos
por produzidos na data do requerimento do registo, 101º nº2 CVM.
As acções nominativas transmitem-se por endosso com indicação do adquirente,
seguida de registo junto da sociedade emitente, art. 102º nº1 CVM + nº5.
Art. 105º CVM.
Sempre que a transmissão de acções altera a controlo da empresa a que as
participações se reportam podemos falar de uma verdadeira c/v de empresa, que
justifica uma formalização especifica, embora convencional, e da qual a transmissão
das participações constitui elemento instrumental.

21.4.2.3. Acções escriturais


Transmitem-se pelo registo na conta do adquirente, art. 80º nº1 CVM.
A inscrição nas contas de registo é efectuada com base em ordem escrita do alienante,
art. 67º nº1 CVM. A transmissão de acções escriturais depende sempre de uma
formalidade, documento subscrito pelo disponente, pelo que não faz qualquer sentido
falar em acções escriturais ao portador. Entendemos, que a acção, se for escritural,
não tem sentido de ser ao portador, uma vez que se perde a respectiva característica
essencial: a transmissibilidade pela simples entrega, sem rasto, e o anonimato daí
resultante.

21.4.2.4. Efeitos da transmissão


A aquisição ou alienação de acções implica o dever de comunicação dessas
vicissitudes.
Nessa medida há que distinguir entre as sociedades abertas e as demais sociedades
anónimas; e, entre as que não são abertas, há que distinguir os efeitos de transmissão
de acções ao portador dos que resultam da transmissão de acções nominativas.
Nas sociedades abertas, quem adquira acções ou reduza a sua participação, em
montante suficiente para fazer variar a partir ou abaixo de 10%, 20%, um terço, 55%,
dois terços, ou 90% dos direitos de voto correspondentes ao capital social fica
obrigado a comunicar que atingiu esses níveis ou que caiu abaixo deles, 16º nº1 CVM.
Caso as acções representativas do capital da sociedade estejam admitidas à
negociação em mercado regulamentado, as comunicações são obrigatórias para as
variações a partir dos limites de 2%, 5% e 15%, art. 16º nº2 CVM.
O CSC tem uma regra exclusivamente aplicável Às acções ao portador que não sejam
representativas de uma sociedade aberta: art. 448º. Nos termos desta disposição legal,
o accionista cuja participação representada por acções ao portador atingir um décimo,
um terço ou metade do capital ou diminua a sua participação para montantes
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inferiores a esses níveis, deve comunicá-lo, por escrito à administração e à fiscalização
da sociedade, no prazo de 30 dias, 448º nº1 a 3 CSC.

21.4.3. Situações que implicam formas especiais de transmissão de


acções

21.4.3.1. Ofertas públicas de transmissão de acções


A casos em que a transmissão de acções ocorre em massa. Na base destas está o
interesse em adquirir uma determinada posição no capital de uma sociedade anónima,
ou, de alienar a totalidade ou parte de uma participação relevante nessa sociedade.
Essas operações podem ser realizadas voluntária ou obrigatoriamente, consoante as
circunstâncias, e, dado o montante da participações que envolvem, estão sujeitas a
regras específicas do CVM.

21.4.3.2. Ofertas públicas de aquisição


É a operação pela qual uma entidade se propor adquirir a todos os accionistas de uma
sociedade, desde que os respectivos votos não lhe sejam objecto de imputação (20º
nº1 CVM), as respectivas acções, podendo condicionar essa oferta à aceitação por
titulares de certo número mínimo de acções ou limitá-la a um determinado número
máximo de acções.
As OPA estão hoje reguladas no CVM, arts. 108º e ss.

21.4.3.3. Ofertas públicas de venda


Enquadram-se na categoria das ofertas públicas de distribuição, distinguindo-se das
ofertas de subscrição, que ocorrem em mercado primário.
O objecto da transmissão é em tudo semelhante ao objecto das OPA, visto que recai
sobre a mesma realidade: um conjunto significativo das participações sociais.

21.4.4. Limitações à livre transmissibilidade das acções


As acções podem deparar com limites, legais ou convencionais, à respectiva
transmissibilidade, os quais podem nada ter que ver com a participação em si mesma,
mas com a identidade do próprio titular.

21.4.4.1. Legais
Em função da identidade do pretenso adquirente das acções, com a finalidade de
assegurar que este seja entidade idónea, ou da identidade do próprio adquirente, que
é o que acontece em sede de aquisição de acções próprias, 316º nº1 e 317º.
Finalmente, há circunstâncias que, embora não representem uma limitação à
transmissão das acções, dificultam-na na prática, como são os casos já referidos de
oneração de participações (ex: constituídas em penhor ou usufruto), art.23º.
Livro: “Direito das Sociedades
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21.4.4.2. Convencionais:
Variam consoante as mesmas constem do contrato de sociedade (caso em que tem
efeitos erga omnes) ou resultem de acordos particulares subscritos pelos accionistas =
acordos parassociais (circunstancia em que revestem carácter obrigacional).
É nas restrições estatuárias à transmissibilidade de acções, arts. 328º e 329º CSC.
Só as acções nominativas podem ser objecto de limitações estatutárias à respectiva
transmissão e apenas nos casos e nos termos estabelecido no nº2 do art. 328º CSC.

O controlo pode exigir consentimento da sociedade, mesmo para as alienações


gratuitas, estabelecendo a lei o método de cálculo do valor das acções em caso de
recusa de transmissão gratuita e pressupondo que o contrato não prevê nenhum
método específico.

21.5. Conversão de acções


Consiste na alteração da sua forma de representação ou na alteração do tipo da acção,
sendo consequentemente um termo indistintamente utilizado para a alteração da
forma ou tipo da acção.
A matéria da conversão é hoje exclusivamente regulada pelo CVM (arts. 48º a 50º e
53º e 54º), cujo diploma de aprovação revogou igualmente a disposição do CSC que se
referia à conversão (art. 300º).
Uma vez emitidas as acções, as mesmas podem ser objecto de conversão, desde que
esta não se encontre, legal ou estatutariamente proibida, 48º nº1 CVM. A decisão de
conversão cabe à sociedade e aplica-se a todas as acções excepto aquelas que, sendo
objecto de negociação no estrangeiro, não possam alterar a respectiva forma de
representação (48º nº1 e 3 e 46º nº2).
As acções escriturais consideram-se convertidas em tituladas «no momento em que os
títulos ficam disponíveis para entrega», 49º nº1, e as tituladas são convertidas em
escriturais pela inscrição em conta, mediante previa entrega à sociedade «ou
depositados junto da entidade que prestará o serviço de registo após a conversão»,
50º nº1 e 2.
No caso de alteração da modalidade da acção, a mesma depende da vontade do
accionista que, excepto de limitação legal ou estatutária, ode requerer a conversão das
acções ao portador em nominativas e destas em acções ao portador, 53º CVM.
Há limites legais à conversão de acções que são naturais e outros que decorrem da
imposição legal das acções nominativas, para controlo a identidade dos respectivos
titulares, como sucede com as acções representativas da participação em instituições
de crédito, por ex. Estas nunca são convertíveis, salvo se ocorrer alteração legislativa
que o venha a permitir, o que se tem por muito improvável.
O modo como se efectua a conversão depende de as acções serem escriturais ou
tituladas integradas em sistema centralizado, caso em que se processa por anotação
na conta de registo individualizado das acções, ou tituladas e não integradas em
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 12
sistema centralizado, caso em que ocorre por substituição dos títulos ou por alteração
do respectivo texto realizadas pela sociedade, art. 54º CVM.

21.6. Amortização e remição de acções

21.6.1. Significado e alcance da vicissitude nas sociedades anónimas


Reveste dois sentidos:
- Um, próprio, que se retira do art. 347º e corresponde, no plano das
sociedades anónimas à figura, idêntica, prevista para as sociedades por quotas;
- O outro, impróprio, extrai-se no 346º e não determina a extinção da acção,
dando lugar às chamadas acções de fruição.

21.6.2. Amortização – extinção (de acções)

21.6.2.1. Caracterização
Em sentido próprio consiste na extinção da participação social acompanhada
necessariamente da redução do capital da sociedade, 347º nº2.

21.6.2.2. Modalidades
Amortização sem redução do capital social: pode ser deliberada pelos accionistas
independentemente de cláusula estatuária nesse sentido, 346º nº1; Amortização com
redução de capital: deve ser imposta ou autorizada pelo contrato de sociedade, 347º
nº1.
Amortização voluntaria (contratualmente permitida): deliberação de accionistas que
por ela concluir e da qual depende deverá prover aos aspectos que não tiverem sido
previstos no contrato de sociedade, 347º nº5.
Amortização automática (imposta pelos estatutos): irá ocorrer independentemente da
vontade do colectivo dos sócios, devendo processar-se nos exactos termos previstos
no contrato, 347º nº3 e 4.

21.6.3. Amortização de acções sem redução do capital social; as acções


de fruição
A amortização de acções do art. 346º não se traduz na extinção da participação social,
mas apenas numa alteração qualitativamente da mesma; e por isso a considerámos
imprópria.
Esta amortização traduz-se no reembolso de parte ou da totalidade do valor nominal
da acção. Neste caso, dá lugar às chamadas acções de fruição, 346º nº5.
O contrato de sociedade pode prever expressamente a criação de acções de fruição,
embora a própria assembleia-geral tenha legalmente competência para o efeito, art.
346º nº1.
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21.6.4. Remição de acções
A remição, a ocorrer pela verificação de um termo certo ou a ficar na disponibilidade
da sociedade, não configura propriamente um privilégio; é um meio que permite À
sociedade criar acções privilegiadas a prazo, enquanto precisar de captar capitais
necessários à realização da sua actividade. A sociedade admite esses privilégios, e
consequentemente, a prerrogativa dos seus titulares se reunirem em assembleia
separada, arts. 24º nº2 e 389º, mas reserva-se o direito de, apesar disso, por fim à
existência dessas acções, remindo-as, isto é, extinguindo-as.
Na perspectiva dos accionistas estas acções podem ser vantajosas. Imagine-se a
remição, e possivelmente a exoneração está predeterminada. A subscrição dessas
acções equivalerá a um investimento por prazo certo; durante o qual o accionista
beneficiou dos privilégios que caracterizam a sua participação, cuja realização lhe é
garantida em antecipação à própria dissolução da sociedade.
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Capitulo V
O capital social e o património societário

Conceito de capital social


Os meios financeiros que constituem o patrimó nio inicial da empresa e que resultam
da soma de todas as participaçõ es dos só cios correspondem ao capital social que sendo a
cifra numérica de valor constante, em dinheiro, expressa em euros, na fase do arranque da
sociedade tende a ser equivalente ao respectivo patrimó nio, mesmo enquanto os só cios ou
accionistas nã o realizam integralmente as suas entradas – o capital subscrito.
No entanto pode suceder que a sociedade não necessite desde logo da totalidade do
valor estimado, pelo que no momento da constituiçã o é possível realizar um valor inferior
ao do capital subscrito. Mais tarde, com o decurso do tempo, pode ser necessá rio proceder
a um aumento desse valor se o mesmo se revelar insuficiente para a prossecuçã o dos
objectos estabelecidos inicialmente ou redefinidos posteriormente.
Especificação do montante realizado
As participaçõ es sociais podem ser realizadas em dinheiro ou em espécie.
A lei admite que parte das entradas em dinheiro seja diferida. Nesse caso impõ e que no
contrato – bem como nas mençõ es externas da sociedade – conste expressamente o montante
do capital realizado e o montante subscrito – art.199 al.b + art.272 al.e) + art.171 n2.
Nas SPQ o diferimento só é possível acima do capital mínimo – legal – que tem de
estar totalmente liberado, podendo ser diferida a efectivaçã o de metade(50%) das
entradas em dinheiro, desde que o capital mínimo esteja assegurado – art.202 n2.
Nas SA pode haver um diferimento do capital até 70% das entradas em dinheiro
correspondentes ao valor nominal das acçõ es, independentemente do capital subscrito –
art.277 n2.

A obrigação de entrada
A obrigaçã o de entrada é uma das 2as principais obrigaçõ es dos só cios e de uma
sociedade comercial, sendo o respectivo cumprimento essencial para a constituição e entrada
em funcionamento da sociedade comercial.
Prazos de realização do capital apenas subscrito
Em qualquer circunstâ ncia o prazo má ximo para a realizaçã o do capital apenas
subscrito é de 5 anos a contar da celebraçã o do contrato ou da deliberaçã o de aumento de
capital – art.203 n1 e art.285º.

Importância fundacional e funcional; intangibilidade e protecção dos credores


Nota: a noção de capital é uma noção básica da existência da sociedade
O capital social tem importância fundacional porque tem de constar obrigatoriamente do
contrato de sociedade – art.9 n1 al.f) – e importância fundacional, determinando
internamente a posição dos sócios, em razão do montante das suas participações e
representando externamente a garantia dos credores sociais, na medida em que só poderã o ser
distribuídas aos só cios quantias a titulo de lucros ou dividendos, se o patrimó nio liquido
da sociedade exceder o montante do capital social (acrescido das reservas indisponíveis).
Trata-se do chamado principio da intangibilidade do capital social. Os preceitos legais
que o pretendem garantir visam, designadamente, impedir a sociedade de distribuir a
titulo de lucros ou dividendos, importâ ncias que levem o patrimó nio social a descer abaixo
do montante do capital social e das reservas legais.
O capital é o ponto de referencia da situação económica da sociedade funciona como uma
medida em relaçã o à qual se determina se no decurso do funcionamento da sociedade
resultou acréscimo ou diminuiçã o do patrimó nio social.
O capital social deve figurar-se no passivo com base no principio da sua intangibilidade.
Efectivamente, só a inscriçã o no passivo evita que o valor correspondente seja entregue
aos
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 12
só cios, como se de lucros realizados se tratasse, antes de satisfeitos aos credores pela
importâ ncia equivalente.
Deverá haver sempre no activo bens que correspondam a essa cifra e que a garantam.

O património da sociedade; realidade distinta do capital social( Ac.Relaçao de Guimaraes


28 Maio 2003)
O patrimó nio social que está em permanente mutaçã o é em sentido amplo o conjunto de
direitos e vinculaçõ es da sociedade susceptíveis de avaliação pecuniária; o patrimó nio liquido
– aquele que nos interessa – é a diferença aritmética entre os créditos – activo – e as dividas –
passivo – sociais.
O capital social como garantia dos credores
Art.32 CSC.
Quando a sociedade ( SPQ ou SA) se constitui os respectivos só cios contribuem com
bens, em dinheiro ou em espécie, à custa dos quais ela irá desenvolver a sua actividade.
Por isso, a sociedade irá no momento fundacional gastar uma parte desses bens na sua
inserçã o no mercado e entrada em funcionamento, o que significa que se vier a ter
dificuldades a curto prazo os terceiros nã o encontram no seu activo um montante
correspondente ou sequer aproximado ao do capital social.
Nesta acepção, o capital não garante nada aos credores. A sua garantia efectiva encontra-
se no património.
Em que sentido é que o capital social constitui a garantia dos credores?
Os só cios só podem obter bens da sociedade por distribuição de lucros, os credores
satisfazem-se em saber que os sócios não podem retirar licitamente bens da sociedade
enquanto o activo desta não superar a soma do capital social e das reservas legais e
nessa medida o montante do capital social garante-lhes que não pode haver distribuição de
bens que ponha em causa esse valor.
O capital é um importante ponto de referência da capacidade econó mica da sociedade
mas é de facto o patrimó nio que garante os credores por isso, a lei se preocupa tanto em
procurar assegurar uma correspondência mínima entre essas duas realidades, estabelecendo
medidas de correcçã o como a que consta do art. 35º.
E é isso que nos diz o art.32 ao determinar que só poderá haver distribuiçã o legítima
de bens da sociedade quando existirem bens em valor superior à soma do capital social e
das reservas legais, impedindo que possam ser distribuídos aos só cios bens sociais quando
a situaçã o liquida se torne por efeito dessa distribuiçã o inferior à soma do capital e das
reservas que nã o sejam, legal e contratualmente, distribuíveis – art.33º.

As reservas
Reservas existentes
Numa Scomercial é possível constituir reservas de varias espécies:
- umas decorrem de imposiçã o legal – reservas legais obrigatórias ou especiais
- outras de determinação contratual – reservas estatutárias
- outras não se encontram contabilizadas como tais mas resultam de subvalorização dos
bens sociais – reservas ocultas
As reservas sã o reguladas nos artgs 295 e 296ºambos aplicá veis À s SPQ por remissã o
expressa no art. 218º.

Reservas legais
Representam um reforça da intangibilidade do capital social: a sua funçã o é aná loga à
do capital social.
A sociedade deve constitui-las À custa dos respectivos resultados do exercício, afectando
periodicamente uma parte destes – art.295º.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 12
Há uma especialidade nas SPQ porquanto a lei impõ e que elas constituam uma reserva
legal mínima – art.218 n2 – correspondente a metade do capital social mínimo. Isto é,
neste tipo societário a reserva legal só será de 1/5 do capital social, para as sociedades que
tenham um capital superior a $ 12.500,00.
No que respeita ao seu destino no sistema português o montante afecto a reserva legal
pode inclusivamente ser aproveitado para integrar um aumento de capital.
Isto é, constituída a reserva na sua totalidade, todo esse montante pode ser
reconduzido a um aumento de capital, devendo posteriormente ser refeita a reserva com
referencia ao novo montante do capital social.
Quanto à constituiçã o de reservas legais, tenha-se em atençã o o art.295 n2 onde se
prevê a criaçã o de reserva especial para diversos efeitos.
Quando numa sociedade comercial existirem acçõ es pró prias ou quotas pró prias quer
dizer existir uma situaçã o em que parte do capital é detido pela pró pria sociedade – o que
nunca pode acontecer no inicio da respectiva actividade porque a sociedade nã o existe e
tem de se constituir à custa dos bens dos só cios – é necessá rio criar uma reserva especial
que cubra precisamente o montante equivalente ao que é representado por essas
participaçõ es – quotas e acçõ es – pró prias – art. 324 1 al.b) aplicá vel à s quotas pró prias
do remissã o do art.220 n4.
Este principio conhece uma outra aplicaçã o no â mbito do Codigo e no domínio das SA
– art.463 n2 al.b ) ---» é possível deliberar a reduçã o do capital social por extinçã o de
acçõ es pró prias se forem extintas unicamente acçõ es

Reservas livres
São constituídas por todos os lucros disponíveis que não são de facto distribuídos – isto é,
a parte dos lucros do exercício que os só cios nã o distribuem e nã o está afecta a uma
finalidade especifica – e podem resultar tambem de libertação de excesso de reservas
legais.

Noção de capital próprio


Corresponde à sua situaçã o liquida; ao patrimó nio liquido societá rio que é formado
exclusivamente à custa de bens de que a sociedade beneficie com cará cter de estabilidade,
incluindo os que sã o necessá rios para cobrir o capital social acrescido das reservas legais (
obrigató rias e especiais) acumuladas.
Não se integram assim os capitais pró prios os suprimentos, que podem ser reembolsados
à custa da situaçã o liquida, isto é, à custa de bens necessá rios para cobrir o montante do
capital social e das reservas legais entretanto constituídas.
O capital da sociedade é o resultado da actividade social projectada no seu capital
(património) de arranque.
O art35º nã o especifica o que se deve entender por capital pró prio dai que se tenha
arriscado por uma noçã o ainda que seja discutível.
Trata-se de uma referencia que se encontra hoje prevista no art. 349 n2 segundo o
qual para efeitos de emissão de obrigaçõ es se deve entender por capitais pró prios o
somató rio do capital realizado, deduzidas as acçõ es pró prias com as reservas, os resultados
transitados e os ajustamentos de partes de capital em sociedades coligadas.

Situações de subcapitalização e formas adequadas de superação


Considerações gerais
A subcapitalização das sociedades comerciais
Subcapitalização significa insuficiência de capitais ou de meios financeiros para
a prossecução de um determinado objectivo que pode consistir na normal realização
da actividade social.
A este fenó meno contrapõ e-se o da sobrecapitalizaçã o e que se traduz em excesso de
meios, o que acontece porque se sobredimensionou a actividade social, porque esta decorreu
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 12
acima das expectativas ou porque os só cios não pretendem prosseguir a actividade societária
com a dimensã o com que a tinham planeado, resultando um excesso de meios. A
devoluçã o aos só cios passa em regra por uma operação de redução do capital para
liberação do excesso.
Quando ocorre no inicio da actividade explica-se por uma deficiente avaliação dos custos
que o arranque da sociedade implicaria. Justifica-se porque os fundadores consideraram
que o investimento associado à constituiçã o e entrada em funcionamento nã o teria e ser
tao grande como afinal se viria a verificar.
Pode acontecer devido a uma revisã o do plano econó mico. Os só cios resolveram
entretanto ampliar ou redimensionar a actividade societária comprovando que os meios
que haviam pensado afectar eram insuficientes.
O redimensionamento é tambem razã o que explica a subcapitalizaçã o em vida da
sociedade, embora o motivo principal que o justifica se prenda com um desempenho
menos conforme com o que havia sido previsto, quaisquer que sejam os factores que o
tenham influenciado.
Num sentido estrito, a subcapitalização reporta-se ao capital social, significando que este
é insuficiente para a sociedade prosseguir a respectiva actividade econó mica de cará cter
mercantil.

Autofinanciamento e heterofinanciamento; enumeração sumarias das diversas formas de


superação das situações de subcapitalização
Constituem sempre autofinanciamento as obrigaçõ es acessó rias, as prestaçõ es
suplementares de capital e os suprimentos.
O recurso ao crédito é um modo de heterofinanciamento por excelência.
Existem ainda 2 tipicos meios de superação de situaçõ es de subcapitalização – o aumento
de capital e os empréstimos obrigacionistas.

Obrigações acessórias (à obrigação de entrada)


Nem todas as vinculaçõ es societárias se esgotam na obrigação de entrada que uma pessoa
assume quando participa na sociedade.
O Có digo prevê a possibilidade de serem realizadas obrigaçõ es acessó rias. Mas obrigaçõ es
acessó rias de quê? Obrigaçõ es acessó rias à obrigação de entrada – art.209º e art.289º.
Podem revestir diversos tipos:
Traduzem-se na disponibilidade de um só cio vir a prestar um determinada
actividade em beneficio da sociedade
Resultam do comprometimento dos só cios em contribuírem com bens para a
sociedade caso ela venha a necessitar mediante uma contrapartida ou sem
qualquer retribuiçã o
Encontram-se reguladas no art.209 e 289º. Sã o disposiçõ es quase iguais com a ligeira
diferença na parte final do respectivo n3) – estabelece-se expressamente a regra aplicavel
À s SA : as obrigaçõ es de prestaçõ es acessó rias nesse tipo societá rio que sejam onerosas
nã o podem exceder o valor da prestaçã o respectiva. Trata-se de uma ligeira discrepâ ncia
que se atribui a lapso de redacçã o.
Deve ser estabelecida no contrato de sociedade e recai sobre todos ou alguns só cios. O
respectivo conteú do pode ser idêntico e proporcional às diversas participaçõ es ou ser
criado intuitus personae.
A lei pretende evitar, com o disposto no art.287 n3, que estas situaçõ es jurídicas, que
se configuram como passivas, acabem por se traduzir numa vantagem absolutamente
injustificada para alguns dos só cios.
Os estatutos devem fixar os elementos da obrigação de prestaçõ es acessó rias e determinar
a respectiva onerosidade ou gratuitidade.
Se as prestaçõ es forem onerosas, a satisfaçã o da contrapartida nã o está dependente da
existência de lucros do exercício.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 12
A lei configura estas prestaçõ es como um crédito da sociedade sobre os só cios,
eventualmente transmissível, se as prestaçõ es forem onerosas, mas extinguindo-se em
qualquer circunstâ ncia, com a dissoluçã o da sociedade.
O contrato de sociedade pode prever que o incumprimento poe em causa a
participaçã o social, mas se nã o o fizer a situaçã o do só cio nã o pode resultar afectada.
A lei exige que enquanto existam obrigaçõ es acessó rias por realizar, as acçõ es sejam
nominativas.
Esta regra abre uma discussã o que é a de saber se para realizarem prestaçõ es
acessó rias de capital as sociedades estã o sujeitas a que as respectivas acçõ es sejam
nominativas ou se é possível que os respectivos accionistas realizem empréstimos à
sociedade, sob forma de prestaçõ es acessó rias, ainda que as respectivas acçõ es sejam ao
portador e consequentemente o façam de modo totalmente voluntá rio.
Posição do POC:
Tudo reside em saber qual o regime legal e contratual que lhes é aplicável
Se realizadas, nada impede que o respectivo levantamento fique condicionado
à s disponibilidades da sociedade, não podendo eventualmente ser efectuado à
custa dos bens necessá rios para manter a respectiva situaçã o liquida positiva,
ou seja, para cobrir o capital social acrescido das reservas legais entretanto
constituídas

Os suprimentos podem consistir numa espécie do género obrigaçõ es acessó rias, caso
em que deverão encontrar-se contratualmente previstos no art.244 n1 ou podem ser
efectuados voluntariamente – art.244 n2 e 3 – por deliberaçã o dos só cios – vinculando
apenas aqueles que os votaram favoravelmente – ou por disponibilidade do mutuante.

Contrato de suprimento –
Noção breve:consiste no empréstimo efectuado pelo só cio em prol da sociedade com um
carácter de permanência ficando a sociedade obrigada a restituir bens do género e
qualidade dos que lhe foram disponibilizados – art.243 n2.
Nos termos do regime legal:
- o cará cter de permanência constitui característica essencial dos suprimentos,
permitindo deferência-los dos simples empréstimos e dos actos de tesouraria – art.243º.
- quando nã o estiverem contratualmente previstos, os suprimentos só sã o
obrigató rios para os só cios que derem o seu consentimento à respectiva prestaçã o.
Art243 n4 ultima parte: resulta que é ainda pressuposto do contrato a qualidade de
só cio de um dos sujeitos.
O momento constitutivo assume-se como essencial. Desde modo, os financiamentos
que os só cios façam à sociedade, dos quais eventualmente retirem uma remuneraçã o
adequada, se nã o integrarem outras formas de obviar À subcapitalizaçã o, em geral de
regime acentuadamente mais rígido para os pró prios só cios do que os suprimentos se
forem feitos com cará cter de permanência.
Para além da estabilidade, a lei nã o estabeleceu qualquer mecanismo para distinguir a
natureza das situaçõ es creditícias pelo que devera ser através da interpretaçã o que
poderemos procurar distinguir um suprimento de um crédito de terceiro.
A ideia a reter deverá ser a seguinte: não é suprimento qualquer crédito de um só cio.
Não o são os créditos resultantes de normais relaçõ es comerciais entre um só cio e a sociedade.
Mas já o é o diferimento de lucros distribuídos – art.243 n1 desde que revista o cará cter de
permanência que caracteriza o suprimento.
Se um só cio adquirir a um terceiro um crédito sobre a sociedade, o mesmo enquadra-
se no regime do contrato de suprimento se esse crédito tiver um cará cter de permanência
– art.243 n5.
Temos um contrato de suprimento sempre que :
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 12
O só cio tenha conscientemente, por efeito de uma obrigaçã o estatutá ria ou da
sua simples vontade procurado financiar a sociedade através de um
empréstimo de médio ou longo prazo, tenha diferido o reembolso de um
crédito por idêntico termo ou resgatado um crédito de terceiro
A situaçã o creditícia do só cio perante a sociedade tenha resultado da sua
participaçã o societá ria e nã o do facto de ele ser um credor comercial.

Regime jurídico – vide 435 da edição anterior do manual – não faz parte dos sumários
desenvolvidos disponibilizados pelo professor
Aspectos fiscais – remissão (para a edição anterior do manual, vide 438 e ss) – não faz
parte dos sumários
Prestações suplementares de capital
SPQ
As prestaçõ es suplementares são sempre em dinheiro e não vencem juros – art.210 n2 e 5.
Por essa razã o e pelo regime a que estã o sujeitas designam-se habitualmente por quase
capital.
O contrato de sociedade tem de prever a eventualidade de as prestaçõ es virem a ser,
mediante deliberaçã o dos só cios ( art.211 n1 )exigidas e estabelecer o respectivo
montante má ximo – art.210 n1 e 3 al.a) e 4).
A restituiçã o do capital que tiver sido prestado nã o pode ocorrer à custa da situaçã o
liquida da sociedade e deve ser efectuada em termos de absoluta igualdade.
Fundamental é que o contrato de sociedade permita que tais prestaçõ es sejam realizadas
– art.210 n1 e 3 – visto que doutro modo será necessá rio proceder a uma alteraçã o previa
daquele, sendo as modificaçõ es deliberadas no respeitante ao aumento de obrigaçõ es validas
e eficazes unicamente para os só cios que as aprovarem – art.866 n2 CSC.
A recusa de efectuar prestaçõ es suplementares de capital é causa d exclusã o do só cio –
art.212 n1, 204 e 205º.

As prestações suplementares de capital nas SA; acerca da sua admissibilidade


O CSC é totalmente omisso relativamente à possibilidade de numa SA poderem ser
exigidas prestaçõ es suplementares de capital.
É discutível que as disposiçõ es legais constantes do titulo referente à s SPQ possam ser
aplicá veis por analogia à s SA, visto que as participaçõ es sociais se estruturam d forma
muito diferente num e noutro tipo social.
Importa recordar que a exigibilidade de prestaçõ es suplementares de capital, quando
expressamente admitida no contrato de sociedade, sublinhe-se, se explica pela ligação intima
do só cio à sociedade – inexistente no âmbito das SA – e pela necessidade que esta pode ter de
poder vir a beneficiar de um reforço do capital que se revele essencial para a sua subsistência.
Tal pretensã o afigura-se incompatível com o anonimato que caracteriza a participaçã o
na SA e sobretudo com a sançã o correspondente à violaçã o da obrigaçã o de efectuar
prestaçõ es suplementares: a perda da qualidade de só cio, por efeito da exclusão da sociedade,
a qual só se verifica na SA se ocorrer relativamente a todas as participaçõ es.
Contra a admissibilidade das prestaçõ es suplementares nas SA joga o pró prio cará cter
aberto da SA e a autonomia das respectivas participaçõ es sociais, nã o obstante tal
conclusã o ser contraria ao principio da autonomia privada.
POC considera que a admissibilidade de aplicaçã o por analogia, na integra, do regime
legal das prestaçõ es suplementares e capital (nas SPQ) está fora de causa para as SA.
No entanto, nã o sendo insensíveis ao fenó meno da divulgaçã o das prestaçõ es
acessó rias de capital nã o nos faz confusã o que admitindo que todas as participaçõ es sã o
nominativas que os accionistas fiquem obrigados, com referencia a tais participaçõ es, ou
até mesmo individualmente, a realizar prestaçõ es suplementares de capital visto que
tal opçã o é
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 12
compatível com a autonomia privada que deve caracterizar a estruturaçã o das situaçõ es
jurídicas de natureza societá ria.
Assim, sendo contratualmente consagrada a eventual obrigatoriedade de realizaçã o de
prestaçõ es suplementares de capital, aceita-se a aplicação analó gica das regras previstas
nos artg.210 e ss.

Obrigações – conceito
as obrigaçõ es, tal como as acçõ es, são valores mobiliários.
Sã o valores negociais que concedem aos respectivos titulares direitos de crédito iguais
para um idêntico valor nominal, correspondendo a um meio de financiamento da pró pria
sociedade que nada tem que ver com a relaçã o de participaçã o social.

Outros meios; mera referência


Projectfinance
Capital de risco
Garantia mútua

Aumento do capital social


Significado
Ocorre quando elas já não dispõem de capitais próprios suficientes para prosseguir a sua
actividade, em termos adequados, ou se encontram em situação económica difícil para o fazer
com os capitais de que dispõem; e ainda quando a sociedade, dispondo de meios suficientes
para realizar a sua actividade, se propõ e integra-los no seu capital para lhes conferir
estabilidade.
Implica formalmente a substituição da cifra por um numero de montante superior.

Modalidades
Aumento por novas entradas – em dinheiro ou em espécie
Proporciona verdadeiramente novos meios à sociedade, dotando-a de capitais de que ela
não dispunha.
- aumento por entradas em dinheiro
É aquela que mais adequadamente satisfaz o interesse da sociedade, uma vez que esta
poderá , inclusivamente, à custa do capital realizado proceder a aquisiçã o de bens em que
tenha interesse.
Trata-se de operação que, capitalizando a sociedade na medida das entradas subscritas
e realizadas, maior liberdade concede à respectiva gestão para aplicação dos fundos recolhidos,
por um lado, e maior igualdade e condiçõ es proporciona aos respectivos accionistas na
subscriçã o do aumento.
Esta operaçã o pode ser decidida pela pró pria administraçã o sempre que esta estiver
contratualmente autorizada para o efeito.
Por isso, o aumento de capital nã o se resume a uma mera alteraçã o contabilística mas
na variaçã o positiva da cifra do capital na medida dos bens que a sociedade receber. Por
outras palavras, deliberado o aumento de capital, nã o poderá a gestã o considerar que é
suficiente declarar que o mesmo se encontra realizado ( art.88 n2); e depois logo se ve.
Nos termos da lei portuguesa, a falta de cobrança das entradas da origem a
responsabilidade criminal.
Nã o é obrigató rio exibir no acto de constituiçã o, comprovativo de depó sito do capital
social em instituiçã o de crédito - há uma semelhança quase total entre a constituiçã o da
sociedade e o amento do capital por entradas em dinheiro apenas com a diferença de que
na fundaçã o a responsabilidade é dos só cios, enquanto no aumento é dos gerentes ou
administradores.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 12
Ao abrigo da mesma regra, no aumento é tambem possível diferir parte das entradas.
Acresce a diferença de que se a deliberaçã o de aumento de capital nada disser quanto À
realizaçã o dessas entradas em dinheiro, a lei permite que sejam exigíveis a partir do
registo definitivo do aumento de capital – art.89 n2.
Se a declaraçã o escrita de que as entradas se encontram realizadas nã o for emitida no
prazo de um ano subsequente à deliberaçã o do aumento do capital esta caduca – art.89
n3.

- aumento por entradas em espécie


A este aumento tambem se aplica o disposto para a constituiçã o da sociedade – art.89
n1 e art.26 a contrariu- devendo as entradas em espécie ser totalmente efectuadas antes
da deliberaçã o de aumento do capital ou da declaraçã o escrita de que se encontram
realizadas, sendo apenas realizadas por escritura, se a transmissã o dos bens que
constituem a entrada estiver sujeita a forma solene – art. 8 n1 e art.7 n1 e art.26º) . Neste
caso o só cio transmitente deverá também outorgar a escritura.
No que se refere à verificaçã o do valor das entradas, cabe a respectiva avaliaçã o a um
revisor oficial de contas independente, isto é, não escolhido pelo interessado e sem interesses
na sociedade – art.89 n1 e art.28º.
Incorporação de reservas
Art.91 n1.
Esta modalidade de aumento traduz-se na utilizaçã o de meios de que a sociedade já
dispõ e e que pela sua incorporaçã o no capital, adquirem estabilidade, elevando a medida
de responsabilidade da sociedade e tornando mais exigentes os respectivos resultados para
que ela possa proceder à distribuiçã o lícita e legitima de bens.
Pode ser feito à custa de reservas legais e de reservas livres, nã o estabelecendo a lei a
ordem pela qual as mesmas devem ser incorporadas.
Este aumento só pode ser deliberado depois e aprovadas as contas do exercício anterior –
art91 n2 – e de vencidastodas asprestaçõ es de capital, inicial ou aumentado – art.91 n3. E
corresponderá ao aumento da participaçã o de cada só cio, proporcionalmente ao
respectivo valor nominal, salvo se estiver estabelecido outro critério para a distribuiçã o de
lucros e o contrato mandar aplica-lo a esta situaçã o – art.91 n1
O aumento por incorporação de reservas não carece de subscrição para se efectivar,
visto que corresponde a uma distribuiçã o interna de bens aos só cios, embora coloque
alguns problemas prá ticos no â mbito das SA quando o capital a incorporar nã o é mú ltiplo
das acçõ es existentes, circunstância em que os direitos de subscrição podem ser
negociáveis. Por esta razã o, o direito a receber novas acçõ es por efeito da incrporaçao de
reservas é o ú nico direito que as acçõ es pró prias mantem enquanto na titularidade de
sociedade – art.92 n2 + art.324 n1 al.a
Nada impede que a sociedade delibere simultaneamente um aumento por entradas em
dinheiro e por incorporaçã o de reservas.

O direito de preferência na subscrição de novas participações – remissão para o ponto


17.1 de acordo com os sumários do POC – vide pag.450 e ss da versão anterior do manual
Redução do capital social
Conceito e delimitação da operação
Enquadramento
A redução do capital social é a alteração dos estatutos que consiste na substituição
do montante do capital – elemento essencial e obrigatório – que consta da cláusula do
contrato vigente nesse momento, por um montante inferior.
São aplicáveistodas asdisposiçõ es que versem sobre a alteração dos estatutos.

Reintegração do capital
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 13
Não consiste numa alteração do capital social mas sim do patrimó nio; trata-se de uma
operação de realização de bens destinados a compensar perdas patrimoniais sofridas pela
sociedade que tem por finalidade recolocar o património liquido ao nível do montante
do capital social ou pelo menos ao nível mínimo admissível.
A reintegraçã o é uma alternativa à reduçã o do capital só cia motivada por perdas sociais.
Art.35º.
Em caso de perda grave ( metade do capital social) a sociedade deve adoptar as
medidas que considere convenientes, designadamente propondo-se os só cios efectuar
entradas que permitam reconduzir o patrimó nio social – capitais pró prios – a mais de metade
do montante do capital social – reintegraçã o parcial.

Modalidades de redução do capital


Libertação de excesso de capital
O capital excessivo é improdutivo por nã o ser aproveitado pelo que com a finalidade
de o libertar a lei permite a respectiva reduçã o – art.94 n1 al.a).
É uma operaçã o que nã o prejudica os só cios antes pelo contrario viabiliza a
distribuiçã o de bens até entã o indisponíveis.
De acordo com o principio da intangibilidade do capital a sociedade apenas tem de
assegurar um patrimó nio que cubra o capital social acrescido das reservas obrigató rias.
Os credores sociais sofrem um prejuízo potencial, pois tudo o que seja disponível para
os só cios representa uma diminuiçã o da garantia dos seus créditos.
A redução do capital excessivo pode visar:
- a directa atribuiçã o aos só cios das importâ ncias libertadas – sem que elas tenham de
passar por uma fase em que constituam reservas livres – correspondendo ao reembolso
parcial do capital investido
- a extinção de obrigaçõ es e entrada que deve ser conjugada com o principio da igualdade
dos só cios
- a criaçã o de reservas livres que venham a ser necessá rias à actividade da sociedade
Destinando-se a libertar excesso de capital social, a reduçã o é um meio para atingir um
fim: o reembolso do capital investido que de outro modo seria intangível.
A apreciaçã o do excesso de capital é uma prerrogativa dos só cios a quem compete por
norma – art.11 n2 – determinar a actividade que a sociedade exercerá e a dimensão potencial
mais conveniente à realizaçã o do objecto escolhido.
Subjacente À deliberaçã o de reduçã o para libertaçã o do excesso de capital estará a
apreciação feita pelos só cios de uma maioria qualificada de 2/3 dos votos na SA – art.386 n3
– ou de ¾ dos votos correspondentes ao capital social nas SPQ – art.265 n1 da actividade
da sociedade nos seus aspectos qualitativo e dimensional.
A deliberação de redução de capital excessivo encerra um risco: o da possível estagnação
da actividade da sociedade. Mesmo que isto aconteça, a deliberação em si nada tem de ilícito
ainda que se possa enquadrar nas deliberaçõ es abusivas – sendo anulá vel nos termos do
art58 n1 al.b) – se corresponder a um simples capricho da maioria.
Compensação de perdas
Se a sociedade no exercício da sua actividade, sofre perdas, estas sã o absorvidas pelas
reservas.
Quando o montante das perdas supera o das reservas, elas interferem no capital social,
significando que o nú mero no qual se exprime o valor do patrimó nio está abaixo da cifra
que indica o montante do capital.
Verificada a perda pode ser oportuno reduzir a importâ ncia nominal do capital para
restabelecer a correspondência entre este e o valor do patrimó nio efectivamente existente.
A lei nã o diz o que se deve entender por perda. No entanto, considera-se que há perdas
sempre que em razã o da actividade econó mica da sociedade, o montante do patrimó nio
líquido desce abaixo do montante do seu capital.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 13
A reduçã o voluntá ria para cobertura de prejuízos tem de se basear num balanço
actualizado para que a alteraçã o projectada corresponda à realidade dos factos.
Só desse modo será possível justificar a medida de reduçã o proposta e respeitar o
limite má ximo abaixo do qual a reduçã o do capital nesta modalidade nã o tem sentido nem
é logicamente admissível.
Esta exigência apesar de nã o constar da lei parece necessá ria à correcta apreciaçã o da
reduçã o projectada. Contudo a jurisprudência terá uma palavra a dizer sobre a
exigibilidade do balanço como instrumento necessá rio da deliberaçã o e da respectiva
certificaçã o por especialista independente.
Destinando-se à cobertura de prejuízos, a reduçã o do capital social corresponde ao
reconhecimento de uma dada situaçã o de facto, em princípio irreversível a curto ou médio
prazo.
Finalidades da redução do capital social – tão-pouco faz parte do programa. Ainda assim
para esclarecimentos vide p.463 e ss da edição anterior do manual.
25.4Interesses subjacentes à redução do capital social

25.4.1 Enquadramento da questão; o interesse social


A reduçã o do capital social prossegue o interesse publico, que exige a conformidade do
capital nominal à realidade (situaçã o liquida) da sociedade. A reduçã o do capital pode
realizar o pró prio interesse social. Assim, se a sociedade necessita de capital para poder
continuar a expandir a sua actividade, mas entretanto sofreu perdas, dificilmente ela
conseguirá interessar terceiros a subscreverem esse aumento se primeiramente não efectuar
uma reduçã o de capital que faça corresponder ao valor real das acçõ es existentes o valor
nominal.
Os credores, por sua vez, têm interesse em que o capital perdido seja reintegrado e nã o
reduzido.

Reintegraçã o e reduçã o do capital sã o duas operaçõ es de sinal contrario, ainda que o seu
fim imediato possa ser idêntico: o (r)estabelecimento da paridade do capital social e do
patrimó nio liquido
o Pela reintegraçã o os só cios realizam entradas (em dinheiro fresco), elevando o
patrimó nio ate ao nível do capital social
o Pela reduçã o (maxime por perdas) os só cios reduzem o capital social até ao nível
do patrimó nio subsistente

Como o capital social é a garantia dos credores, na medida em que a sociedade só poderá
distribuir os lucros aos só cios ou accionistas se o patrimó nio exceder o capital social,
facilmente se compreenderá que os credores têm especial interesse na primeira operação e em
nada beneficiam com a reduçã o do capital, que diminui o nível de exigência para a
distribuiçã o licita dos bens na sociedade, salvo se a mesma for articulada com uma
operaçã o de aumento, que permita repor os respectivos capitais pró prios.

25.4.2 os interesses dos sócios e accionistas


Os grandes beneficiados com a reduçã o do capital sã o, porém, os só cios (ou os
accionistas), qualquer que seja a finalidade da operaçã o:
o Por um lado, a reduçã o do capital excessivo permitir-lhes-á receber os bens sociais
que forem desafectados da actividade da sociedade
o Por outro lado, a reduçã o destinada a compensar perdas, ao adequar o capital ao
patrimó nio social, facilitará a realizaçã o de lucros de exercício distribuíveis (aos
só cios ou accionistas)

25.4.3 diminuição das garantias de terceiros


Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 13
A diminuiçã o do capital social pode lesar os interesses de 3os uma vez que acarretará uma
diminuiçã o da sua garantia. Até ao inicio de 2007 a protecçã o dos credores exigia que a
deliberaçã o de reduçã o do capital estava, em regra, dependente de autorizaçã o judicial
(art.95º da redacçã o originá ria). Contudo, houve uma alteraçã o ao preceito no sentido de
liberalizar totalmente a execuçã o da reduçã o do capital, deixando assim de estar sujeita a
controlo externo, pondo em causa os interesses dos credores. A esta debilidade acresce a falta
de obrigatoriedade de fiscalizaçã o (interna), que se verifica em certas sociedades.
25.5 limites decorrentes da necessidade (legal) de existência de um capital social mínimo e
âmbito da redução do capital
Uma vez que os arts.276ºnº3 e 201º fixam para as sociedades comerciais um capital mínimo –
de 5.000 euros para as soc. Por quotas e de 50.000 euros para as soc anó nimas – esta
medida tem de ser respeitada não apenas no momento da respectiva constituição, mas tbm
durante a sua pró pria vida, quaisquer que sejam as alteraçõ es que o contrato venha a
sofrer (ATENÇÃ O: isto é no regime antigo – no novo regime já nã o há capital mínimo 
ver nas aulas prá ticas a diferença)

25.5.1 redução expressamente condicionada à efectivação de aumento de capital


O art.95ºnº2 CSC permite a reduçã o do capital a um montante inferior ao mínimo legal,
desde que ela seja expressamente condicionada à efectivaçã o de um aumento de capital
(condiçã o suspensiva da reduçã o), que se deve efectivar nos 60 dias seguintes à
deliberaçã o de reduçã o seguida de aumento, colocando o capital social num momento,
pelo menos, igual ao mínimo legal.

25.5.2 transformação da sociedade como consequência da redução do capital


Se a deliberaçã o de reduçã o do capital implicar que este desça abaixo do limite mínimo
legal, nem por isso ela deixa de ser vá lida se, na mesma ocasiã o, ie n mesma assembleia –
ou ao mesmo tempo, se for a forma de de deliberação dos só cios (accionistas) – se, for
deliberada a transformaçã o da sociedade para um tipo que possa legalmente ter um capital
social (mínimo) de montante inferior (art.96ºnº3). a sociedade anó nima poderá , desse
modo, transformar-se numa sociedade por quotas, cujo capital social mínimo é de 5.000
euros (201º).

25.5.3 redução do capital a zero


Caso a perda atinja a totalidade do capital de uma só vez, podendo mesmo exceder o
montante do capital e traduzir uma situaçã o liquida absolutamente negativa, importa
ponderar se a nossa lei admite a reduçã o do capital social a zero, ainda que condicionada a
um ulterior aumento para o nível mínimo do capital social da sociedade em causa.

A questã o que se deve formular é a seguinte: - se a lei admite a redução do capital ou a sua
reintegração quando a perda é de mais de metade (pode ser inclusivamente 99,9%), porque não
admitir essas operações (sendo a 1ª condicionada a um aumento de capital social ate pelo
menos o nível mínimo de existência da sociedade) quando a perda for total?
o Inicialmente incliná vamo-nos para rejeitar a reduçã o do capital a zero. Era preciso
uma maior reflexã o .
o Essa reflexã o foi feita pelo prof. Galvao Telles: admitia-se a da reduçã o do capital a
zero condicionada ao subsequente aumento do capital para, pelo menos, o nível
mínimo de existência (50.000 nas soc anó nimas), ficando dependente de
deliberação conjunta . Isto na pratica é impossível porque com a reduçã o do capital
a zero extinguem-se as participaçõ es sociais e consequentemente não há só cios
para fazer a deliberaçã o exigida.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 13
o Actualmente aceita-se teoricamente a reduçã o a zero se for condicionada a
subsequente e imediato aumento do capital, o qual se considera deliberado pelos
mesmos só cios que propõ em o reconhecimento da perda total.
o No có digo da insolvência há regras que permitem esta hipó tese

25.5.4 coexistência de acções ordinárias e de acções privilegiadas


Coexistindo na sociedade anó nima acçõ es ordinárias e acçõ es com prioridade de reembolso no
caso de liquidaçã o da sociedade, interessa saber se a reduçã o de capital deve recair apenas
sobre as acçõ es ordiná rias – que poderiam ter de passar a acçõ es de fruiçã o (para se
ressalvarem os direitos dos seus titulares como accionistas) – ou se o peso da reduçã o
deve incidir igualmente sobre as acçõ es privilegiadas.
Este problema só se põ e se o contrato de sociedade ou o titulo constitutivo do privilégio
forem omissos nesta matéria!
A resoluçã o do problema passa por saber se a reduçã o do capital põ e em causa o
privilégio que caracteriza as acçõ es com prioridade de reembolso na liquidaçã o da
sociedade.

- Raul Ventura entendia que a prioridade, quando ao reembolso do capital, é coarctada


pela redução, não no momento em que esta tem lugar, mas “reportando o eventual
prejuízo ao saldo da liquidação, depois da sociedade dissolvida e liquidada”.
- Prof. POC discorda inclinando-se para considerar que a prioridade de reembolso do
capital nã o é posta em causa pela reduçã o deste

25.5.5 redução do capital social posteriormente à dissolução da sociedade


Apó s a dissoluçã o da sociedade, ou contemporaneamente com ela, o capital social nã o
pode ser utilizado, a não ser que essa operação esteja ligada à deliberação de regresso da
sociedade à sua actividade normal. Nesse caso, a deliberação de redução será preparató ria do
regresso à actividade e estar-lhe-á condicionada (art.161ºnº3 c) in fine).
Na realidade, as operaçõ es de reduçã o do capital sã o contrarias ao fim da liquidaçã o, de
apuramento do saldo e partilha dos bens remanescentes. No momento em que cessa a
actividade (e em que os liquidatá rios se aprestam a distribuir os lucros finais existentes,
liquidando a totalidade do patrimó nio societá rio) – nã o é normal a sociedade realizar uma
operaçã o que corresponde a uma medida de continuidade, quer libertando o capital
excessivo, quem cobrindo os prejuízos sociais. No primeiro caso estaria a antecipar a
distribuiçã o do saldo final e no segundo a praticas um acto que é instrumental da pró pria
liquidação.

25.6regime da redução do capital social


Vamos ver como se efectua a redução uma vez deliberada, remetendo para momento ulterior
a apreciaçã o das formalidades desta operaçã o de variaçã o de capital.

25.6.1. Formas de execução da redução


As formas de execuçã o da reduçã o sã o processos técnicos que, paralelamente à reduçã o do
montante do capital social, permitem assegurar a coincidência deste com a soma dos
valores nominais das participaçõ es. A extinção de entradas sociais, a que os só cios estão
obrigados, e a distribuiçã o de bens tbm sã o formas de execuçã o do capital (excessivo), mas
nã o serã o apreciadas agora.

As formas/modalidades de execução da redução são:


1) Diminuiçã o do valor nominal das participaçõ es: tem como limite o valor nominal
minimo legal de 0,01 (art.276ºnº2) – o que pode implicar outra forma de redução (ex.
reagrupamento). Esta forma tem como principio o de que todas as acçõ es têm o
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 13
mesmo valor nominal (276ºnº2) e por isso todas sofrerã o a mesma diminuiçã o,
mantendo-se o equilíbrio interno e igualdade entre accionistas.
2) Reagrupamento de participaçõ es: consiste na entrega, pelos accionistas, á
sociedade dos títulos das suas acçõ es, recebendo, em troca, títulos
correspondentes a um numero menor de acçõ es, com o mesmo valor nominal ou
um numero inferior de antigos títulos carimbados com a indicaçã o de
reagrupamento (ex. por cada 3 acçõ es os accionistas recebem em troca uma nova
acção). (há dificuldades de concretização
– mais desenvolvido nas pags. 525 e 526 do livro actual)
3) Extinçã o das participaçõ es: esta modalidade admitida por lei pode ser conjugada
com o reagrupamento, ie, pode ser necessá rio extinguir algumas participaçõ es e
reagrupar as restantes. A extinçã o de participaçõ es, como forma de reduçã o do
capital, implica a destruiçã o de todos os elementos de participaçã o social.

Este processo tem 2 limites:


a) Apenas podem ser afectadas algumas acçõ es, pois a extinçã o de todas as
participaçõ es sociais implica a extinçã o da pró pria sociedade
b) Têm que subsistir acçõ es cujos valores nominais somados correspondam, pelo
menos, ao capital social mínimo fixado na lei (276ºnº3).
Estão aqui em causa a extinção de acçõ es pró prias e a amortização de acçõ es.

No â mbito da soc anó nima a lei admite a extinção de acções próprias, como processo de
reduçã o do capital social (463ºnº1).
Antes da alteraçã o ao regime de reduçã o do capital era preciso autorizaçã o judicial.
Contudo, ao eliminar-se esta exigência o legislador deveria ter revisto o art.463º CSC que
faz remissã o para o art.95º, nã o fazendo sentido. A eliminaçã o genérica da intervençã o
judicial deixa sem protecçã o os interesses dos credores, uma vez que a operaçã o já nã o
está condicionada, podendo realizar-se à custa de qq bens.

A amortização de acções é o processo de redução do capital social que consiste na


extinção, contratualmente prevista, de acçõ es que sã o da titularidade de accionistas (por
contraposiçã o á extinçã o de acçõ es pró prias). Esta forma de extinçã o da participaçã o
afasta o principio do igual tratamento dos accionistas (347ºnº1), consistindo no reembolso
forçado das entradas que o accionistas efectuou, independentemente da sua vontade, mas
tendo por base “ factos concretamente definidos no contrato de sociedade” (347ºnº3).

25.6.2 eficácia da deliberação de redução e protecção de terceiros


A eficá cia retroactiva da deliberaçã o de reduçã o do capital está posta de lado, pois
determinada sempre uma diminuiçã o da garantia dos credores, já que a reduçã o do valor
(constante) do capital social faz desaparecer do balanço perdas anteriores, permitindo à
sociedade distribuir aos só cios bens que até entã o tinham de cobrir o capital social.
O registo da operação de redução deve ser objecto de publicidade, com a finalidade de a dar
a conhecer aos credores sociais, permitindo que estes, para assegurar os respectivos
créditos, venham a impedir ou dificultar a posterior distribuiçã o de bens pela sociedade
(arts.96º CSC e 1487ºCPC).

25.6.3 intervenção e tutela dos credores


Se a reduçã o se destinou exclusivamente a cobrir prejuízos, nã o é possível á sociedade
fazer distribuição de bens aos só cios (à custa do capital reduzido), porque os mesmos não
existem. Mas, ainda que esteja em causa a libertaçã o do capital social, a sociedade, na
sequencia da reduçã o, só poderá fazer atribuiçõ es aos só cios – à custa de bens
distribuíveis de que disponha – se os credores não tiverem, entretanto, contestado a
redução (art.96ºnº3).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 13
Qualquer que seja a finalidade da reduçã o, a lei impor agora que a reduçã o só possa ser
deliberada se a situaçã o liquida da sociedade ficar a exceder o novo capital em, pelo
menos, 20% (art.95º), o que, a aceitar-se literalmente inviabiliza a maior parte das
reduçõ es por pedas, que se tornariam impossíveis quando a situaçã o da sociedade fosse
negativa. Temos que adoptar uma interpretaçã o restritiva do art.95ºnº1 considerando
inaplicá vel à reduçã o para cobertura de perdas, na qual nã o será possível reduzir o capital
em montante superior ao dos prejuízos verificados (principio constante do 35ºnº2 b)).

25.7perda de metade do capital social; art.35º CSC

25.7.1 razão de ser e evolução histórica do art.35º


Um aspecto estrutural das sociedades comerciais consiste em determinar que actos
empreender quando se encontra perdida uma parte substancial do respectivo capital, caso as
sociedades o queiram, apesar de tudo, continuar a sua actividade.

Na versã o original o art.35ºtem um conteú do programá tico, impondo aos titulares dos
ó rgã os sociais que tomem determinadas medidas, mas nã o estabelecendo quaisquer
consequências para a falta de aprovaçã o dessas medidas. Assim, sempre que os gerentes
ou administradores tiverem conhecimento de que ocorreu a perda de metade do capital
social – através de um balanço ou pelos elementos de que dispõ em – eles deverã o
convocar ou requerer a convocaçã o da assembleia geral, para informar os só cios da
situaçã o e estes poderem tomar as medidas necessá rias. Se o conhecimento da perda
ocorrida se verificar apenas com o fecho (interno) de contas, faz todo que seja a
assembleia geral anual a pronunciar-se sobre a situaçã o.
Em qq caso, do aviso têm de constar as hipó teses de deliberação pelos só cios de dissolução da
sociedade, reduçã o do capital social e realizaçã o de entradas para reforço da cobertura do
capital (art.35ºnº3).

As diversas medidas previstas no art.35ºnº3 são:


o Dissoluçã o da sociedade: nã o há formalidades especiais para além dos respectivos
á validade da deliberaçã o (quó rum)
o Reduçã o do capital: deve ser decidida para montante nã o inferior aos capitais
pró prios, para se evitar reduzir simultaneamente o capital para libertação de excesso
o Realizaçã o das entradas para reforço da cobertura de capital: deverã o ser
susceptíveis de contabilização como capital pró prio, podendo consistir em prestaçõ es
complementares ou prestaçõ es acessó rias de capital, embora devam processar-se
preferencialmente no â mbito de uma operaçã o de aumento de capital em dinheiro.
- quanto ao montante do capital a reintegrar a lei (já ) nã o exige que o capital seja
coberto em, pelo menos, dois terços, sendo suficiente que os capitais pró prios
sejam recolocados acima da metade do capital, para a sociedade deixar de se
enquadrar no 35º

Que postura devem os só cios adoptar na assembleia? A lei nã o diz expressamente. Pela
leitura do 35º pode entender-se que eles nã o sã o obrigados a tomar qq iniciativa, nem
deliberaçã o, podendo decidir-se por maioria simples rejeitar as propostas da
administraçã o ou nã o as aprovar e nada fazer.
Na verdade, nã o há consequências legais para a insuficiência de capitais pró prios, para
além da obrigatoriedade de divulgaçã o dessa situaçã o.
E o que faz hoje a lei? Limita-se a dispor que os só cios (accionistas) deverã o apreciar
especificamente essa situaçã o, quando se aperceberem da mesma, e tomarem as medidas
necessá rias, reunindo-se em AG
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 13
O art. 35º como norma “ quase vazia” : este artigo constitui uma regra – uma empresa deve
ter uma dimensã o pró xima daquela que sugere ao mercado, pelos seus sinais externos
imediatos. Quando ela se encontra subcapitalizada, há que procurar superar essa situaçã o,
promovendo as medidas de saneamento financeiro ou reforço dos capitais que se justificarem
e forem possíveis. A afectação dos meios deve ser feita com carácter duradouro e consistente,
de forma a viabilizar a empresa em dificuldades. Importa realçar que nada impede ao
accionista Estado de realizar prestaçõ es acessó rias de capital contribuindo desse modo
para viabilizar as empresas de que é o ú nico ou principal só cio(Tal medida nã o se
considera anti- concorrencial).
No entanto, o art.35º está hoje reduzido à obrigatoriedade de informação a ser prestada
pelo ó rgã o de gestã o e de convocaçã o de AG para eventual decisã o sobre medidas a
adoptar. Se os accionistas nada fizerem a sociedade continuar a funcionar subcapitalizada
até onde puder. Ora, a lei nã o prevê a obrigatoriedade de adoptar qq medida reparadora
da perda grave, mas impõ e que a AG seja convocada para que os só cios informados
tomem medidas julgadas convenientes (35ºnº1 in fine). Aparentemente decorre do preceito
que os só cios deverão fazer alguma coisa, mas se nã o o fizerem, a sua inércia nã o será
sancionada e tudo continuara como antes da convocató ria da AG.

26. decisão, formalidades especificas e execução das operações de variação do


capital(remissão)
Há duas operaçõ es de variaçã o de capital social: aumento e reduçã o. Ambas provocam
uma alteraçã o do contrato de sociedade, precisamente pela modificaçã p desse elemento
fundamental de referencia da medida da responsabilidade relativamente a terceiros e,
nomeadamente, perante os seus credores.
As variaçõ es do capital ocorrem, naturalmente, em vida da sociedade e constituem
espécies do género alterações do contrato – cuja apreciação se fará, de forma resumida, a
propó sito do funcionamento da sociedade 8art.34º e 35º) – encontrando-se sujeitas a alguns
procedimentos que, sem prejuízo da analise que fazemos no â mbito do funcionamento da
sociedade, tem sentido chamar sucintamente a atençã o, neste local, para as diferenças
pontuais que, existam entre as variaçõ es do capital e as alteraçõ es em geral do contrato de
sociedade.

26.1competência
Nesta matéria há que distinguir o aumento de capital por entradas das demais operaçõ es
sobre o capital, uma vez que, nas sociedades anó nimas, o contrato pode reconhecer à
administraçã o a competência cumulativa para deliberar o aumento de capital por entradas
em dinheiro, o que pode fazer por uma ou + vezes em prazo nã o superior a 5 anos.
Importa salientar que a autorizaçã o é cumulativa, no sentido de que, nã o obstante ser
contratualmente concedida, os accionistas nã o perdem a faculdade de tbm deliberarem o
aumento até esse montante ou para montante superior.
Todas as demais operaçõ es sobre o capital, nelas incluídas todas as formas de redução, são da
exclusiva competência dos só cios ou da AG, correspondendo à competência especifica e
exclusiva deste ó rgão (art.246ºnº1 a) e 373ºnº1 1ª parte).

26.2aprovação do projecto de alteração


A proposta ou projecto de alteraçã o é frequentemente da iniciativa da gestã o (gerência ou
administraçã o) – quando esta verifica ser necessá rio a sociedade reforçar o seu capital ou
cobrir prejuízos, ser adequado incorporar reservas ou reembolsar capital excessivo -,embora
possa resultar de proposta de só cios ou accionistas, a cuja apreciaçã o deverá ser
submetida, em AG convocada para o efeito.

26.2.1 convocação dos sócios


A convocaçã o da AG com vista a deliberar o aumento ou a reduçã o do capital deve conter:
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 13
o Mesmos requisitos da convocaçã o destinada a deliberar qualquer alteraçã o ao
contrato
o Mais os requisitos pró prios da modificação contratual em causa
Assim sendo, os avisos convocató rios devem mencionar:
- a finalidade e a forma da alteraçã o projectada
- clausulas a alterar e textos que se propõ em a substituir
- indicação do local onde pode ser consultado o projecto de alteração
A falta destes requisitos = anulabilidade da deliberação (art.377ºnº8; 94ºnº1; 58ºnº4 a)

26.2.2 reunião e deliberação dos sócios


No que se refere á constituiçã o da AG (quó rum constitutivo), as operaçõ es de variaçã o do
capital nã o têm quaisquer particularismos relativamente á s demais alteraçõ es do contrato.
Do mm modo o CSC nã o contém regra especial sobre a competência e a maioria para a
deliberaçã o de aumento ou reduçã o do capital, sendo por isso aplicá veis:
o as normas respeitantes ás alteraçõ es dos estatutos em geral (art. 85º, 265º, 386ºnº3 e
383ºnº2)
o as normas que regulam o funcionamento da AG da soc anó nima (373º e sgg e
248ºnº1)
o as especificidades criadas para estas variaçõ es do capital social (art.87º e ssg, 266º e
ssg e 46º e ssg)

26.2.3 desnecessidade de autorização judicial e documentos de suporte


A diminuiçã o do capital pode, como vimos, lesar os interesses de terceiros, uma vez que
acarreta uma diminuiçã o da sua garantia. No entanto, a reduçã o do capital (já ) nã o esta
sujeita a autorizaçã o judicial (art.95º).
A lei tbm nã o impõ e que o balanço que serve de base à proposta de reduçã o do capital seja
objecto de parecer de ó rgão de fiscalização da sociedade, se existir, ou de fiscal independente,
o que consideramos justificar-se dado que a decisã o que os só cios irã o tomar nã o é menos
relevante do que a que tomas em sede de AG anual, de aprovaçã o de contas.

Podemos concluir que a supressã o da intervençã o do tribunal para ferir a correcçã o da


operação de redução do capital justificava que, simultaneamente, a lei tivesse expressamente
imposto que a operaçã o passasse a titulo obrigató rio a ser fiscalizada põ e técnicos
independentes (ex.ROC), de modo a evitar-se que os só cios e credores ficassem prejudicados,
com eventuais incorrecçõ es que lhe sejam subjacentes.

26.3forma e publicidade
As deliberaçõ es de aumento ou reduçã o do capital social, tal como qq deliberaçã o dos
só cios, devem constar de acta, mas (já ) nã o estã o sujeitas a forma notarial. E é unicamente
com base nessa acta – se a deliberação, a lei ou o contrato de sociedade não exigirem outro
documento (85ºnº4 in fine) -, forma escrita da deliberaçã o, que deve ser promovida a
inscriçã o da variaçã o do capital na conservató ria do registo comercial.

26.3.2 execução da deliberação


Em matéria de alteraçã o do contrato de sociedade qq gerente ou administrador tem o
dever de executar a modificaçã o deliberada, devendo fazê-lo no mais breve espaço de
tempo possível (85ºnº5) e, no caso do aumento, na prazo (má ximo) de 1 ano subsequente
à aprovação da deliberação sob pena de caducidade (89ºnº3).

26.3.3 publicidade, registo e publicações obrigatórias (remissão)


O aumento e a reduçã o do capital estã o sujeitas a registo obrigató rio e a divulgaçã o no
sitio do ministério da justiça, nos termos aplicáveis ás alteraçõ es do contrato em geral, bem
como
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ás demais publicaçõ es obrigató rias. Voltaremos a esta matéria a propó sito das alteraçõ es do
contrato e da publicidade
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CAPÍTULO VI
Organização e funcionamento das sociedades comerciais

SECÇÃ O 1
Aspectos gerais

27.Estruturação orgânica das sociedades comerciais

As sociedades comerciais actuam através dos respectivos ó rgã os, com


competências distintas. Estes ó rgã os consistem em:

1. Órgão deliberativo: assembleia geral:

Consituidas com uma base associativa. Sã o os seus associados, com influência


dependente do montante da respectiva participaçã o social, consoante o tipo societá rio
envolvido, a construir a respectiva decisã o através de deliberaçõ es em que todos possam
participar e exprimir a sua vontade, formando-se desse modo a decisã o social sobre os
aspectos essenciais da vida societária. Apesar de esta vontade se poder exprimir à margem de
um ó rgã o institucionalizado, é normal que os associados se reunam num ó rgã o, estatutá ria
e legalmente previsto e regulado, a que se chama de assembleia geral.

2. Órgão executivo: administração da sociedade:

Por não ser possível delegar em todos os só cios funçõ es representativas da sociedade,
as sociedades têm os chamados ó rgã os executivos, quetêm como finalidades representar a
sociedade perante terceiros e de as gerirem e administrarem, assegurando assim a
prossecução do respectivo objectivo social. Todas as sociedades têm, portanto, um ó rgão
que as representa externamente, que exprime a vontade colectiva e assume a gestã o:
gerência, conselho de admnistração ou conselho de administração executivo.

3. Órgão de controlo: fiscalização da actividade societária:

É normal que os só cios, que nã o se encontram representados no ó rgã o executivo,


queiram um controlo especializado e eficaz sobre a forma como a sociedade é gerida. Para
o efeito a lei faculta nuns casos e impõ e noutros que a sociedade tenha um ó rgã o de
fiscalização. Estes ó rgãos podem assumir as formas de conselho fiscal, fiscal único, comissão
de auditoria, conselho geral e de supervisão ou revisor oficial de contas.
Só na sociedade anó nima é obrigató ria a fiscalizaçã o que se pode processar por
mais do que uma via. Nas sociedades por quotas o ó rgã o de fiscalizaçã o é, em regra,
facultativo – podendo assumir a configuraçã o de fiscal ú nico ou de conselho fiscal –
tornando-se obrigató rio em certas circunstâ ncias.
Dos poderes, deveres e competência dos membros do conselho fiscal retiramos aquela
que é a essência da fiscalizaçã o interna da sociedade: o controlo da actividade da
administraçã o e a faculdade de conhecer a formaçã o das respectivas decisõ es – arts. 421º
nº 1, a), b) e d); 422º nº 1, a), b) e e); e 420º nº 1, a), b) e g).
A lei impõ e ainda deveres específicos aos revisores oficiais de contas – arts. 420º nº 4
e 420º-A – tendo naturalmente em conta a respectiva especialização, isenção, imparcialidade
e estatuto.
Nã o confundir esta fiscalizaçã o com o controlo externo da sociedade feito pela
Conservató ria do Registo Comercial, relativamente a actos sujeitos a registo, pelo
Ministério Pú blico e pela Autoridade da Concorrência. Este controlo corresponde a uma
actividade de supervisã o em á reas sensíveis da economi nacional.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 14
4. Secretário da sociedade (nas sociedades abertas):

Nas sociedade anó nimas abertas cujas acçõ es se encontram admitidas à negociação
em mercado regulamentado, deve ser instituído o cargo de secretá rio, regulado nos arts.
446º-A a 446º-F CSC. A sua comeptência encontra-se legalmente estabelecida no art. 446º-
B.
De entre os diversos poderes ressalta a referência a funçõ es auxiliares em reuniõ es
dos ó rgãos sociais. Entende o professor que as funçõ es só devem ser exercidas em assembleia
geral na falta do sercretá rion da mesa ou se este se encontrar a dirigir os trabalhos, uma
vez que, hierá rquica e orgâ nicamente, este precede sobre o secretá rio da sociedade – que
nã o é eleito peloa accionistas, mas escolhido pela administraçã o.

5. Órgãos sociais facultativos:

a. Legalmente previstos:

A lei prevê e caracteriza certos ó rgã os que, sendo obrigató rios em determinadas
circunstâncias, se podem configurar como facultativos. Temos em mente o conselho fiscal e
o secretá rio da sociedade.

Em qualquer sociedade por quotas pode ser criado um ó rgã o de fiscalizaçã o com
finalidade de examinar as respectivas contas – art. 262º nº 1. No entanto, optando a
sociedade por institucionalizar um conselho fiscal, o mesmo fica sujeito à s disposiçõ es
aplicá veis à s sociedades anó nimas, obrigatoriamente sujeitas a fiscalização. Isto significa
que um dos seus membros deverá ser revisor oficial de contas – art. 414º nº 2 – e que os
que nã o o forem deverã o prestar cauçã o pelo desempenho das suas funçõ es, se nã o forem
despensados das mesmas – art. 418º-A nº 1.

Nas sociedades anó nimas nã o cotadas e nas sociedades por quotas é possível designar um
secretá rio com as funçõ es supletivamente definidas no art. 446º-B. O secretá rio deve ser
nomeado pelo ó rgã o de administraçã o nas sociedades anó nimas, à semelhança do que
acontece nas sociedades em que é obrigató rio – art. 446º-A -, devendo nas sociedades por
quotas ser designado pelos só cios – art. 446º-D nº 2.

b. Estatutários:

Para além dos ó rgã os sociais tipicos é possível criar outros ó rgã os sociais estatutá rios. É o
que sucede com frequência nas grandes sociedades. Encontramos sociedades onde
existem conselhos superiores ou consultivos com a estrita finalidade de assessorar a
administração na tomada das decisõ es mais relevantes.

As competências atribuídas a estes ó rgã os nã o podem violar normas imperativas


referentes à s competências específicas dos ó rgã os legalmente obrigató rios. É por isso que
estes ó rgã os estatutá rios facultativos sã o configurados como ó rgã os de consulta, através
dos quais os accionistas mais relevantes adquirem informaçã o actualizada sobre a vida da
sociedade e sancionam antecipadamente os principais actos de gestã o da sociedade.
Exemplo de uma clá usula estatutá ria relativa ao conselho consultivo de uma sociedade
anó nima na pá g. 561 do manual.

6. Órgãos sociais dos diversos tipos societário:

a. Sociedade em nome colectivo:


Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 14
As sociedades em nome colectivo são aquelas que se caracterizam por uma intervenção
mais directa e empenhada dos respectivos só cios, que se agrupam em assembleia geral para
tomar decisõ es. Por vezes recorrerm a outras formas legalmente autorizadas de
deliberaçã o, inclusivamente por voto por escrito – arts. 189º nº 1 e 247º.

Salvo se diversa e expressamente prevista na lei ou no contrato as deliberações formam-


se por maioria simples, cabendo um voto a cada só cio, independentemente do montante
da respectiva participaçã o social – arts. 189º nº 2 e 190º. A regra é portanto a de um voto
por cabeça, se nã o forem atribuídos direitos especiais de voto – arts. 190º e 24º nº 1 e nº
2. Uma excepçã o è regra é, por exemplo, o caso de alteraçõ es contratuais que têm de ser
deliberadas por unanimidade ou por maioria nã o inferior a ¾ dos votos de todos os só cios
– art. 194º nº 1.

À s deliberaçõ es dos só cios das sociedades em nome colectivo e à convocação e funcionamento


da respectiva assembleia geral aplicam-se directamente as regras relativas à sociedades
por quotas – art. 189º nº 1.

O ó rgão de gestão é a gerência e, salvo estipulação estatutária em sentido diferente, todos


os só cios que sejam pessoas singulares sã o gerentes, podendo as pessoas colectivas
nomear pessoa singular para exercer o cargo de gerente – art. 191º nº 1 e nº 3. Os só cios só
podem ser distituídos da gerência com justa causa, excepto se o contrato a dispensar – art.
191º nº 5. Se tiverem sido designados ao abrigo de um direito especial, a justa causa
deverá ser judicialmente determinada em acção intentada para o efeito – art. 191º nº 4. A
designação de nã o-só cios para a gerência só pode ocorrer por unanimidade, se nã o houver
previsã o contratual que o permita por maioria simples ou qualificada – art. 191º nº 1.

Nã o estã o sujeitas a fiscalização específica e interna, embora tal impeça a adopçã o


estatutá ria de conselho fiscal. O seu controlo interno, em termos de ó rgã o autó nomo, só
tem sentido se a sociedade for participada por outras sociedades que pretendam garantir
a adequaçã o da gestã o da sociedade. Fora destes casos, a participaçã o de todos os só cios
na gerência e o regime da responsabilidade ilimitada pelos resultados da actividade social
fazem com que nã o tenha sentido a constituiçã o de um conselho fiscal.

b. Sociedade por quotas:

Pode ser constituída e viver só com um ó rgã o institucionalizado: a gerência. Quando se


constituem as sociedades por quotas não estão sujeitas a nenhum tipo de fiscalização
interna obrigató ria, nem têm que regular a composiçã o e funcionamento da respectiva
assembleia geral. Apenas se encontram obrigadas a revelar quem as gere e a forma como
se obrigam. A lei nã o constitui a gerência como um ó rgã o colegial, com decisõ es colectivas
pró prias e específicas. A lei encara a gerência como ó rgão de gestão composto por uma ou
mais pessoas, sendo a sociedade administrada por um ou mais gerentes, mas nã o por um
conselho de gerência.
No decurso da sua vida, mas nunca antes de dois exercícios sobre o ínicio da sua
actividade, a sociedade por quotas pode vir a estar sujeita a fiscalização ad hoc obrigatória,
por revisor oficial de contas designado para o efeito. Noutros casos pode ser a pró pria
actividade social a impor a necessidade de fiscalização, como acontece com as sociedades pro
quotas gestoras de participaçõ es sociais – art. 10º nº 2 DL 495/88.
Em geral as sociedades por quotas sã o desprovidas de fiscalizaçã o devido à sua reduzida
dimensã o e pequeno volume de negó cios.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 14
Nada impede que outros ó rgã os sociais sejam, contratualmente, consagrados, como é o
caso da assembleia geral ou do conselho fiscal. Nã o é, contudo, esta a prá tica corrente.

c. Sociedade anónima – um caso específico:


A assembleia geral é o ó rgã o institucionalizado, devendo ser nomeados os membros que
compõ em a respectiva mesa. Estes conteú dos nã constituem mençõ es obrigató rias do
contrato de sociedade, apesar de ser habitual os estatutos indicarem a composiçã o da
assembleia geral e as regras aplicá veis à sua constituiçã o e funcionamento.

Nas grandes sociedades anó nimas, e em especial nas que forem abertas, é impensá vel que
os accionistas deliberem fora da assembleia geral, devidamente convocada, por ser
impossível assegurar qie a assembleia se constitua com a totalidade dos accionistas, sem
ser objecto de convocação.
Nas pequenas sociedades anó nimas, apesar de os accionistas deliberarem sempre que o
entenderem em assembleia geral, é frequente que esta reú na e funcione sem observância das
formalidade prévias de convocaçã o.

No que se refere à administração e fiscalização da sociedade é possível optar por 3


modelos: estrutura clá ssica: conselho de administraçã o e conselho fiscal;
modelo anglo-saxó nico: conselho de administraçã o, compreendendo uma
comissã o de auditoria, e revisor oficial de contas;
modelo germâ nico: conselho de administraçã o executivo, conselho geral e
de supervisã o, e revisor oficial de contas.
Nas sociedades anó nimas abertas cotadas em bolsa o secretá rio da sociedade é um ó rgã o
obrigató rio – art. 446º -A. Este ó rgã o tem vindo a adquirir em grandes sociedades cotadas
uma relevâ ncia crescente.

d. Sociedade em comandita:
Neste tipo societá rio, praticamente inexistente, nao há especificidades a assimilar,
importando distinguir as sociedades em comandita simples das sociedades em comandita
por acções.
Qualquer que seja o subtipo, o ó rgã o executivo é a gerência e, em princípio, “ só os sócios
comanditados podem ser gerentes” ( artigo 470º, em especial o nº1). Os só cios
comanditá rios podem assumir essas funçõ es quando o contrato de sociedade o permitir
expressamente ou quando tais funçõ es lhe forem autorizadamente (pelo contrato)
delegadas pelos gerentes. Os terceiros (estranhos à sociedade) nã o podem ser gerentes,
mas podem ser delegados (artigo 470º, nºs 1 a 3).
As deliberaçõ es na sociedade em comandita sã o tomadas em assembleia geral ou
“unanimemente, nos termos do artigo 54º” ( art. 472º, nº1), devendo o contrato de
sociedade regular a atribuiçã o de votos aos só cios em funçã o do capital (art.472º, nº2).
No que se refere à fiscalizaçã o, sã o vá lidas as observaçõ es feitas a propó sito das
sociedades em nome colectivo, havendo a assinalar a especificidade de, na sociedade em
comanditapor acções, aos só cios comanditados ser assegurado o direito de informaçã o (e
controlo da actividade social) de que gozam os só cios da sociedade em nome colectivo (arts.
480º e 181º)

Os gestores das modernas sociedades comerciais

Dissociação entre o risco do capital e a direcção efectiva da sociedade


Nas sociedades anónimas e por quotas do século XXI, é já nítida a dissociação efectiva entre
o risco do capital, suportado pelos sócios e adirecção efectiva da sociedade, habitualmente
entregue a profissionais competentes e especializados. Tal dissociaçã o é naturalmente mais
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 14
nítida nas sociedades anónimas e nã o implica que o investidor nã o esteja presente na
administraçã o, embora se abstenha com frequência da direcçã o técnica da empresa.
Assiste-se hoje, aliá s, a um fenó meno oposto ao que se verificava no passado- em que
todos os membros dos ó rgã os sociais tinham necessariamente de ser só cios, incluindo os
administradores ou directores, pelo que, por vezes, a contrataçã o de um estranho para
essas funçõ es implicava torná -lo previamente só cio-, com a aquisiçã o de participaçõ es da
sociedade pelos pró prios administradores, a ponto de a mesma ser objecto de controlo e
publicidade (art.447º)

Nas sociedades em nome colectivo há que acautelar contratualmente a designaçã o de


terceiros para desempenharem funçõ es de administraçã o, se for esse o interesse dos
só cios. Posteriormente, só por unanimidade se conseguirá a dissociação entre a direcção
efectiva e o risco do capital (art. 191º, nº2) e só por unanimidade se conseguirá tornar
só cio quem se pretende seja administrador (art. 182º, nº1). Nã o obstante, diríamos que,
nas poucas sociedades em nome colectivo que ainda se constituem no século XXI- com a
participaçã o de pessoas colectivas, inclusivamente estrangeiras -, se acautela hoje a
possibilidade de a sociedade ser gerida por quem nã o seja só cio.

Os deveres fundamentais dos administradores e dos membros dos órgãos de


fiscalização de uma sociedade anónima e dos gerentes de uma sociedade por quotas
Em geral, a lei das sociedades comerciais contém, desde a sua aprovação, um critério geral
de actuaçã o da administraçã o, o qual corresponde tecnicamente a uma clá usula geral
que consiste na imposição do desempenho funções de administração com a “diligência
de um administrador criterioso e ordenado, no interesse da sociedade”, mas tendo também em
conta os interesses dos sócios e dos trabalhadores ( redacção originária do art. 64º)
O artigo 64º delimita o que designa por interesse social, nã o avançando com uma noçã o ou
um conceito, mas propondo um critério geral, e enquadrado originariamente, embora em
segundo plano, sublinhe-se, os interesses pessoais do só cios – para além dos interesses da
sociedade – e dos pró prios trabalhadores no (bom) funcionamento da(s) unidade(s)
produtiva(s) que corresponde(m) à sociedade
Esta clausula geral – nã o suscitando uma interpretaçã o uniforme – encontrava-se
pró xima da sua maturidade, como é desejá vel com qualquer regra de aná loga natureza,
quando foi objecto de modificaçã o substancial, que consistiu em substituir o dever de
diligência, que constituía referência do interesse social, por dois deveres fundamentais e
alargando o âmbito de aplicaçã o da norma também aos membros do ó rgã o de fiscalizaçã o.
A nova redacçã o do artigo 64º. – reporta a diligência do gestor criterioso e ordenado aos
deveres de cuidado dos membros do ó rgão de administração (nº1, aliena a) ) e cria um (novo)
dever de lealdade a observar pelos gestores e em funçã o do qual se definem os interesses
em jogo. Nestes a lei engloba também, um acréscimo aos só cios e dos trabalhadores, os
interesses de todos aqueles que considera poderem ter interesse legítimo no adequado
funcionamento da sociedade – os stakeholders ou sócios interessados, maxime os clientes, os
fornecedores e os financiadores.
Já no nº2 do artigo 64º, ao desenhar o estatuto do(s) ó rgã o(s) de fiscalizaçã o, a lei parece
subsumir os respectivos deveres de lealdade aos deveres de cuidado, na medida em que
determina que o cumprimento destes pressupõ e elevados padrões de diligência profissional e
deveres de lealdade.
Numa síntese interpretativa, diríamos que o artigo 64º apresenta duas vertentes
distintas. Por um lado, permite caracterizar o interesse social nele englobando, para além
dos interesses dos só cios e dos trabalhadores, os interesses dos clientes e dos credores. Por
outro lado, procura fixar os deveres fundamentais, de cuidado e lealdade, dos gestores e
dos membros dos ó rgã os de fiscalizaçã o das sociedades comerciais, os quais
devem,
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 14
respectivamente, empregar a diligência de um gestor criterioso e ordenado ( art. 64º, nº1, alínea
a) ) e elevados padrões de diligência professional ( art.64º, º2).

A governação da sociedade anónima aberta (corporate governance)


No século XX começaram a surgir em Portugal as primeiras referências ao governo das
sociedades. Fomos, numa primeira fase, de opiniã o de que a autonomia desta figura nã o
se justificaria. Admitimos agora – por influência nã o apenas da Reforma das Sociedades,
mas pelo reconhecimento da aplicação desses princípios e práticas às pró prias empresas
pú blicas
– que os modelos normativos, recentemente ordenados e ampliados, procuraram ir mais
longe do que as regras avulsas preexistentes e que foram sempre objecto de desconsideração
por parte das autoridades de supervisão. Como veremos, o modelo de governação
societária, caracterizando-se por diferentes orgânicas, é hoje atravessado por princípios que
são comuns a qualquer soluçã o e que têm por objectivo assegurar que administraçã o das
grandes sociedades e o respectivo controlo se processam de acordo com prá ticas que
visam, fundamentalmente, assegurar que o interesse social se realize plenamente, tendo em
conta os interesses que gravitam na ó rbita da sociedade.

Importa explicar com mais detalhe o que devemos entender por sistema de governaçã o
das sociedades.
O sistema de governação de sociedades ou corporate governance é o conjunto de regras
e princípios que o ó rgã o de gestã o de uma sociedade anónima aberta deve respeitar no
exercício da respectiva actividade; e que se caracteriza pr incluir regras que visam tornar
transparente a administraçã o da sociedade, definir a responsabilidade dos respectivos
membros e assegurar que na mesma se reflectem as diversas tendências accionistas.
O Direito positivo português continha já , desde 1986, uma série de soluçõ es que,
devidamente aplicadas, correspondiam a princípios elementares da corporate governance.
A governaçã o das grandes sociedades, no século XXI, tornou-se uma preocupaçã o maior
das autoridades de supervisã o do mercado, apostadas em preservar o regular
funcionamento dessas entidades e das empresas a que elas dão forma e, desse modo, em
assegurar os direitos dos investidores, mais do que os pró prios accionistas, cada vez mais
distanciados da gestã o. Esta nova ó ptica- que nã o se resume apenas a uma forma de
encarar a participaçã o societária como um investimento financeiro – corresponde à crescente
publicização de áreas que, classicamente, escpavam à intervençã o do Estado e se formavam
na intersecçã o da procura com a oferta, no pró prio mercado, em época em que o
conhecimento e controlo dos accionistas era seguramente menor. A pró xima regulaçã o
destes fenó menos, possivelmente também a nível do Có digo dos Valores Mobiliá rios –
como sucedeu, com as sociedades abertas e, com os pró prios valores mobiliários – explica a
crescente complexidade do sistema de supervisã o, mas também o afastamento do mercado
dos seus agentes tradicionais, as pessoas singulares, em favor das grandes instituiçõ es.
E a questã o que entã o legitimamente se coloca, a propó sito, é a de saber se, dada a
especializaçã o dos agentes envolvidos, se justifica o controlo existente e crescente sobre a
respectiva actividade.

título de curiosidade ver este ponto na página 526.

Actualizações e flexibilização dos modelos de governo das sociedades anónimas


O diploma que determinou, no plano da admnistraçã o e da fiscalizaçã o da sociedade
anónima, o alargamento das opções quanto a soluções de governação, admitindo-se agora
um novo modelo de organização típico das sociedades anglo-saxónicas, que compreende a
existência obrigatória de uma comissão de auditoria dentro do órgão de administração ( art.
278º, º1, al.b), formada maioritariamente por administradores independentes nas
sociedades cotadas (art. 423º-B, nº5), e mantendo-se as estruturas já existentes,
ainda que com algumas
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 14
modificaçõ es, nomeadamente no que toca à designaçã o dos seus ó rgã os, foi o Decreto-Lei
nº 76-A/2006, de 29 de Março, publicado em sequência de proposta apresentada pela
Comissão d Mercado de Valores Mobiliá rios (CMVM), em colaboraçã o com os Ministérios
das Finanças e da Justiça e ao abrigo de autorizaçã o legislativa.
27.4.4.2 O modelo clássico, pode agora revestir uma de duas configuraçõ es simples ou (mais)
complexa – consoante o revisor oficial de contas seja, ou nã o, membro do conselho fiscal
(arts. 278º, nº1, alínea a) e 413º, nº1).
Entre outras reformulaçõ es introduzidas neste modelo, encontramos a admissibilidade de os
administradores serem em nú mero par (art. 390º, nº1), com voto de qualidade de um
deles (artigo 395º nrsº 3 e 4), do conselho fiscal ser revigorado ( art. 413º), reservando-se
a figura do fiscal ú nico para as pequenas e médias sociedades (art. 413º, nº2) – à
semelhança do que acontecia com a figura do administrador ú nico, para as sociedades de
capital reduzido - o aumento das incompatibilidades dos membros do conselho fiscal
(art. 414º-A) e a limitaçã o da renovaçã o dos respectivos mandatos (art. 414º, nº5, alínea
b)).

O modelo de inspiração germânica, por sua vez; sofreu alteraçõ es, mais significativas que o
da estrutura clá ssica. Entre outras, assinale-se as seguintes:
- Redenominaçã o do ó rgã o executivo (art. 278º, nº1, c) do CSC e art. 40º do DL
76-A/2006, de 29 de Março) e dos seus membros, que passaram a designar-se, conselho de
administração executivo e administradores;
- Eliminaçã o do nú mero má ximo de membros do conselho geral e de supervisã o (art.
434º, nº1) – como é designado pela nova redacçã o do Có digo (art.278º, nº1, c) do CSC e
art. 40º do DL 76-A/2006)- , anteriormente de 15, e do ó rgão executivo (art. 424º, nº1), que
era de cinco.
- Supressã o da proibiçã o de designaçã o de pessoas colectivas como administradoras (art.
425º, nº2, na redacçã o originá ria, entretanto revogada);
- Faculdade de os estatutos reservarem a designaçã o e destituiçã o dos administradores à
assembleia geral (art. 441º, nº1, alínea a)) bem como atribuírem a este ó rgã o competência
para a aprovaçã o de contas (art. 376º, nº1, alíena a), e art. 441º), sendo agora possível que
o conselho geral e de supervisão, com funçõ es significativas de controlo da actividade do
ó rgão de gestão (arts. 441º e 442º), não seja necessariamente composto por accionistas,
embora os seus membros não possam pertencer a sociedades concorrentes (art. 434º, nº5)
- Criaçã o de comissõ es especializadas no â mbito do conselho geral, obrigató rias em certos
casos (art. 444º);
- Alargamento das funçõ es de fiscalizaçã o do conselho geral e de supervisã o, que incluem
a indicaçã o do ROC e o controlo da respectiva actividade (art. 441ºd), e), f), g), h), i), j), l),
m),
n) e o).
A introduçã o do modelo anlgo-saxónico facilita a adaptaçã o das grandes sociedades
nacionais aos quadros jurídicos externos e permite às sociedades estrangeiras que participem
significativamente em sociedades portuguesas replicar nestas as suas estruturas orgânicas.

Neste (novo) modelo a fiscalizaçã o processa-se por auto-controlo, ou seja, é exercida por
pessoas que são membros do pró prio ó rgão de administração (art. 423º-B, nº1). Tais pessoas
sã o administradores não executivos (art. 423º-B, nº3) e nalguns casos independentes
(art.423º-B, nºs 4 e 5)-com um estatuto pró prio em termos de remuneraçã o e destituiçã o
(arts. 423º-D e 423º-E). A comissã o de auditoria supervisiona a gestã o - a exercer pelos
administradores executivos e controla o desempenho de funçõ es do revisor oficial de
contas (art. 423º-F, alíneas a), b), n) e o)). Considerando a composiçã o da comissã o de
auditoria (art. 423º-B, nº2), ó rgã o de administraçã o terá de ter, em qualquer
circunstâ ncia, neste modelo, um mínimo de cinco membros, sendo dois executivos,
pressupondo que a sociedade tenha um capital social superior a €200.000,00 (arts. 390º,
nº2 e 422º-B, nº3.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 14
Finalmente, refira-se que as alteraçõ es de estrutura do ó rgã o de fiscalizaçã o e os critérios
agora criados (art. 413º, nº2, alínea a)) conduziram a um novo (sub)tipo de sociedade
anónima, o da grande sociedade anó nima, claramente diferenciada das demais e da sociedade
anó nima aberta.
Com efeito, terã o necessariamente de ter um ROC, para além do conselho fiscal, as
sociedades que adoptem o modelo de governaçã o clá ssico e que, qualquer que seja o
respectivo balanço, vendas líquidas e outros proveitos ou nú mero de trabalhadores, sejam
eminentes de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado ( art. 413º,
nº2, al.b), ou que, não sendo totalmente dominadas por outra sociedade que adopte o
mesmo modelo, durante dois anos consecutivos ultrapassem dois dos seguintes 3 limites:
- total do balanço de cem milhõ es de euros;
- cento e cinquenta milhõ es de euros de vendas líquidas e outros proveitos; e
- uma média de cento q cinquenta trabalhadores durante o exercício (art. 413º)

O membro independente de órgãos sociais

Um novo conceito de Direito Societário


Com a reforma societá ria de 2006 surge um novo conceito fundamental no Direito das
Sociedades Comerciais português: o de membro independente de ó rgã o social. O CSC exige
agora, que nas grandes sociedades anó nimas (e nas cotadas), determinados cargos sociais
sejam desempenhados por pessoas independentes. É o que acontece com certos membros
do conselho fiscal (art. 414º, nº4 e 5) ou do conselho geral de supervisão (art. 414º, nrs 4 e 5 ex
vi art. 434º, nº3), aos membros da mesa da assembleia geral (arts 374º-A e 414º, nº5).
A lei procura assegurar que, no exercício das respectivas funçõ es, esses membros dos
ó rgãos sociais nã o estejam sujeitos à influência de accionistas de referência ou de
membros de ó rgã os sociais da sociedade, guiando-se, exclusivamente, pelo interesse social
e actuando de forma autó noma, isenta, imparcial e objectiva.
Tal ocorre com os membros da mesa da assembleia geral de sociedades anó nimas art. 374º-A.
Vejamos então o que nos diz este artigo. Precisamente sob a epígrafe “Independência dos
membros da mesa de assembleia geral”, o nú mero 1 do artigo 374º-A exige que os membros da
mesa das sociedades emitentes de valore mobiliá rios admitidos à negociaçã o em mercado
regulamentado cumpram, “com as necessárias adaptações, osrequisitos de independência do
nº5 do artigo 414º”, aplicando-se-lhes também “o regime das incompatibilidades previsto no nº1
do artigo 414º-A”.

Previsão Legal
O que é entã o um membro independente?
A lei estabelece no artigo 414º, nº5 o conceito e critério de membro independente que, tendo
sido criado a propó sito dos membros de fiscalizaçã o, é também aplicá vel, por remissã o,
aos membros independentes da mesa da assembleia geral (art. 374º-A, nº1) e da comissã o
de auditoria (art. 423º-B, nº4).
Segundo o referido nú mero 5, é “independente a pessoa que não esteja associada a
qualquer grupo de interesses específicos na sociedade, nem se encontre em alguma circunstância
susceptível de afectar a sua isenção de análise ou de decisão”. Em seguida, o mesmo preceito
exemplifica, em duas alíneas, situaçõ es em que se entende existir associação a interesses
específicos ou qm que a isençã o do presidente da mesa ( ou qq dos seus membros) pode ser
questionada. Nos termos destas alíneas, não é independente quem for titular de acçõ es
correspondentes a, pelo menos 2% do capital social, ou actuar em nome ou por conta de
accionistas com, pelo menos, essa participaçã o (alíena a)).
Também deixa de reunir condiçõ es de isenção para desempenhar certos cargos sociais
quem exercer funçõ es em três ou mais mandatos, sucessivos ou interpolados (alínea b)),
em qq ó rgã o societá rio. A ideia é, neste caso, a de que a convivência prolongada com os
demais
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 14
membros ds ó rgãos sociais e os accionistas retira isenção em termos de capacidade de análise
e imparcialidade ao membro do ó rgã o social em causa.
Refira-se por fim, que os independentes estã o ainda sujeitos ao apertado regime de
incompatibilidades estabelecido no art. 414º-A, o qual, contudo, nã o constitui um
exclusivo seu. Com efeito, aos membros do conselho fiscal, da comissão de auditoria e do
conselho geral e de supervisão aplica-se o regime das incompatibilidades estabelecido no
artigo 414º-A para os membros do conselho fiscal, mesmo que eles nã o sejam
independentes (ex: o nº6 do art. 414º). Por iss, a independência nã o se pode confundir
com essas incompatibilidades; ela requer requisitos adicionais de a pessoa elegível nã o
estar ligada a interesses específicos (titularidade ou representaçã o, directa ou indirecta, de
participaçã o de 2%) e estar em condiçõ es de desempenhar funçõ es com isenção de análise
ou de decisão.

Sançõ es
Estranhamente, a lei nã o comina sançã o específica para a infracçã o das regras que
requerem a designaçã o de independentes para o exercício de certas funçõ es, pelo que
caberá à s autoridades de supervisão - nomeadamente à CMVM, no que respeita às
sociedades cotadas - apreciar a situaçã o e agir em conformidade. Contudo, afigura-se-nos
que a designaçã o do membro do ó rgã o social, será nula, por ser feita com v iolaçao de
regra imperativa (art. 294º do CC). A nulidade é, aliá s, a sançã o aplicá vel à falta de
legitimidade para a prá tica de actos jurídicos.

Incompatibilidade para o desempenho de cargos sociais

Caracterização
Para além do requisito da independência exigido para o desempenho de alguns cargos socais,
em determinadas sociedades anó nimas em certos ó rgã os das mesmas, a lei estabelece uma
longa lista de incompatibilidades com vista a assegurar que o exercício de funçõ es em
ó rgãos de controlo ou nas assembleias gerais das grandes sociedades anónimas (incluindo as
cotadas) se processa de forma isenta e atendente unicamente ao interesse da sociedade a
que os mesmos respeitam.
O artigo 414º-A estabelece, no seu nú mero 1, uma exaustiva lista de incompatibilidades
aplicá veis directamente aos membros de ó rgã os de fiscalizaçã o ( conselho fiscal, comissã o
d auditoria (ex vi art. 423º-B, nº3) ou conselho geral e de supervisã o (ex vi art. 434º, nº4)-
que serã o também extensíveis ao presidente e demais membros da mesa da assembleia
geral de certas sociedades, por expressa remissã o do artigo 374º-A.
Importa, desde já , salientar que as incompatibilidades legalmente estabelecidas nã o sã o
exclusivas dos mebros independentes dos ó rgão sociais; elas são aplicáveis tb a membros não
independentes.

As incompatibilidades pessoais e internas para o exercício de funçõ es em ó rgãos de controlo e


na mesa da assembleia geral

Conceito, verificação e exemplificação


As incompatibilidades correspondem a impedimentos para os exercício de funçõ es em
determinados ó rgã os societá rios, que fazem parte de uma extensa listagem enunciada no
artigo 414º-A.
Podemos agrupar as incompatibilidades em diversas categorias, consoante elas suscitem em
absoluto ou dependam de uma relaçã o entre o designado e a sociedade ou entre ele e um
terceiro. Constituem exemplos de incompatibilidade absoluta as situaçõ es previstas nas
alíneas h) e j) do nº1 do artigo 414º-A.Entre outros nunca podem ser designados membros do
conselho fiscal- ou de outro ó rgão ao qual se apliquem os impedimentos – os que, não sendo
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 14
revisores oficiais de contas, desempenham funçõ es de administração ou de fiscalização em
5 sociedades, assim como os incapazes e os insolventes.
Nas relaçõ es intersubjectivas enquadramos aquelas em que uma pessoa, em razã o do
relacionamento familiar pró ximo que tem com outra, nã o pode assumir certas funçõ es,
nomeadamente de fiscalizaçã o (art. 414º-A, nº1, g)).
Finalmente, outras situaçõ es - correspondentes ao maior nú mero de impedimento -
respeitam à relaçã o do designado com a sociedade, quer a mesma implique terceiros, por
efeito de funçõ es sociais desempenhadas (art. 414º-A, nº1, c), d), e f)), quer a mesma
envolva apenas a sociedade e o designado (art. 414º-A, nº1, a), b) e e)).
A título exemplificativo, vamos ponderar a incompatibilidade prevista no art. 414º-A, nº1
alíena e). Assim – não podem ser eleitos ou designados membros da mesa da assembleia geral
de uma sociedade cotada e do ó rgã o de fiscalizaçã o de qq sociedade anó nima, as pessoas
que “de modo directo ou indirecto prestem serviços ou estabeleçam relação comercial
significativa com” essa sociedade ou com sociedade que com ela “ se encontre em relação
de domínio ou de grupo”.

Uma primeira questã o consiste em procurar determinar o que é uma relaçã o comercial
significativa e uma segunda interrogaçã o respeita a saber se a prestaçã o de serviços, para
gerar a incompatibilidade, também deve ser significativa ou se é suficiente que ocorra
esporadicamente ou se traduza mesmo num ú nico acto.
Começando por responde à segunda pergunta, julgamos ser de aplicar à prestação de serviços
exigência idêntica à que a lei estabelece para qualquer relaçã o comercial (que em sentido
amplo pode ser de prestaçã o de serviços). Isto significa que a prestaçã o de serviços, para
ser impeditiva do desempenho de funçõ es societá rias, também deve ser relevante.
Em relaçã o à primeira pergunta, o que devemos entender por “prestação de serviços (ou
relaçã o material) significativa(s).

Há que tentar fixar um critério. Nestes termos – haverá, contudo, que concretizar –
diríamos que não pode desempenhar funçõ es de membro da mesa de assembleia geral ou de
ó rgão de fiscalizaçã o de uma sociedade cotada, por exemplo, quem prestar
serviços que, num determinado período (coincidente, eventualmente, a um exercício
social), correspondam a 10% do total dos serviços da mesma natureza prestados
directamente pelo designado ou através de sociedade de que ele faça parte. O que
a lei pretende evitar com esta incompatibilidade, é que o designado se encontre
dependente da sociedade, e nãoo contrário. Importa também sublinhar que, na alíena e) do
artigo 414º-A, diversamente do que acontece no preenchimento do conceito de
independência (artigo 414º, nº5), o que está em causa é um conceito relacional que se traduz
na legitimidade, ou da falta dela, para desempenhar certas funçõ es, atendendo à ocorrência
de certos factores. Trata-se de uma incompatibilidade que nã o se verifica em termos
absolutos, mas que deverá ser apurada caso a caso.
Para terminar este ponto vamos equacionar dois exemplos:
1) Uma relação comercial de fornecimento de material de escritó rio;
2) e a prestação de serviços de advocacia, ambas estabelecidas através de sociedades.

No que respeita à 1), o que importa averiguar é qual o peso específico da relaçã o
existente na economia da sociedade fornecedora. Se tais fornecimentos forem
regulares e corresponderem a 5% ou mais do total da facturação anual da
prestadora ou, sendo pontuais, correspondem habitualmente a 10% do volume de
facturaçã o anual, diríamos que a relaçã o é significativa e que os só cios da
fornecedora estã o impedidos de exercer certas funçõ es na sociedade adquirente.

No que respeita ao 2), haverá que verificar se a mesma se aplica em absoluto,


independentemente de ser facultativa, ou só se enquadra no impedimento legal se for
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 14
significativa. Creio que esta é a leitura adequada, nã o obstante a redacçã o infeliz da
alínea a) em aná lise. Assim, se se tratar de um parecer ou de uma consulta
esporá dica, nomeadamente de especialidade, cujo peso relativo se enquadre nas
percentagens acima sugeridas, nã o cremos que haja impedimento. Os advogados
prestam serviços à s sociedades suas clientes; e nã o está em causa apurar se o
fazem com isençã o, mas quando muito determinar se tais serviços sã o
significativos.

Podemos assim concluir que o regime das incompatibilidades estabelecido na alíena


e) do nº1 do artigo 414º-A é aplicável aos advogados sempre que a prestação dos seus
serviços, efectuada directamente ou através de sociedade que integrem, seja
significativa para a sociedade que dos mesmos é beneficiá ria, impedindo-os de
desempenhar funçõ es nos respectivos ó rgãos sociais, como membros independentes.
Efeitos
Verificando-se uma incompatibilidade no momento da designaçã o, esta é nula (art. 414º-A,
nº3). Se a incompatibilidade surgir supervenientemente, ela provoca a imediata cessaçã o
de funçõ es da pessoa a que respeita (art. 414º-A, nº2).

Estas regras são válidas para todas as situaçõ es em que o impedimento se verifica em
termos absolutos(art. 414º, nº1, h), j), b), c), e ) e f) . No entanto se a incompatibilidade
respeita a uma relaçã o intersubjectiva (art. 414º-A, nº1, alínea g) – para apurarmos que
situaçã o jurídica é que é afectada - haverá no silêncio da lei, que fazer a seguinte distinçã o:

- Ocorrendo simultaneamente, ambas as designaçõ es sã o nulas se nenhum dos


envolvidos prescindir e se a incompatibilidade for comum aos dois; caso contrário ela
só é impeditiva do desempenho de funçõ es do membro do ó rgão social em relação
ao qual ela se verifica.

- Se estiver em cauda a designaçã o de um novo titular de um ó rgã o social, a


incompatibilidade obsta a essa indicaçã o, mantendo-se em funçõ es o membro de
ó rgã o social com referência ao qual ela existia.

Confronto com o requisito da independência


A inexistência de incompatibilidades, embora tenda para os mesmos objectivos que a
independência, procurando garantir que certas funçõ es sensíveis no controlo da actividade
societária são desempenhadas de forma objectiva, pessoalmente desinteressada, e isenta, não
se confunde coma exigência de independência.

Concluindo, independência e inexistência de incompatibilidades não são coincidentes. Apesar


deste segundo requisito acrescer sempre que a lei impõ e ao membro do ó rgão social que
seja independente, o inverso já nã o ocorre. Assim, estã o tabém sujeitos ao regime das
incompatibilidades membros de ó rgã os sociais que nã o forem, nem tiverem de ser,
independentes, como sucede em todas as sociedades anó nimas mas de modelo de governação
clássico ou anglo-saxó nico com qualquer membro dos respectivos ó rgãos de fiscalização, que
nã o desempenhe funçõ es específicas de revisor oficial de contas.

Limitaçõ es ao exercício de actividade concorrente


O consentimento a prestar para o exercício de actividades concorrentes deve ser expresso,
mediante deliberação dos só cios nesse sentido, nas sociedades anó nimas, ou pode ser também
tá cito, presumindo-se, nas sociedades por quotas, sempre que o gerente já exercia
anteriormente a actividade prosseguida pela sociedade para a qual foi designado.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 15
A concorrência deverá ser apreciada em relaçã o ao objecto social e nã o apenas quanto á
actividade que a sociedade prossiga no momento em que se pondera o eventual
consentimento, se a sociedade pode autorizadamente vir a ampliar os negó cios que se propõ e
realizar. Mas a concorrência também nã o é admissível relativamente a actividades que a
sociedade vem desenvolvendo à margem do seu objecto social, uma vez que o
administrador ou gerente nã o as pode ignorar, como nã o pode desconhecer o objecto
contratual da sociedade que administra.

A pedra de toque na determinaçã o deste impedimento está em apurar se as actividades


em causa sã o concorrentes. O critério determinante, para o efeito, consiste, em verificar o
universo da respectiva clientela. Assim, haverá concorrência quando a clientela for idêntica
e as actividades coincidirem totalmente.

Qualificaçã o das incompatibilidades


Analisadas as incompatibilidades, podemos concluir que as mesmas se reconduzem a
situaçõ es de falta de legitimidade do sujeito a que respeitam – para o desempenho de
certos cargos em certas sociedades - e nã o a uma falta de capacidade. Enquanto a
capacidade corresponde a uma característica absoluta do sujeito, embora de medida
variá vel - constituindo a medida de direitos e vinculaçõ es de que ele é susceptível – a
legitimidade é um conceito relativo que consiste na susceptibilidade de um sujeito dispor
vá lida e eficazmente de um certo bem ou, adaptando à situaçã o vertende, a
susceptibilidade de um sujeito poder desempenhar funçõ es em certos ó rgãos sociais em
determinadas sociedades.

Secção II
Deliberações dos sócios e dos accionistas

28.Generalidades; noção e formas possíveis de deliberação

28.1. Deliberação social e deliberaçõ es dos só cios

28.1.1. Razão de ser e noção de deliberação dos sócios


Em todas as pessoas colectivas que sã o constituídas por duas ou mais pessoas jurídicas, o
processo de formação de uma decisão materializa-se numa deliberação, isto é, num acto que
exprime a confluência do maior nú mero de vontades num certo sentido ou de um nú mero
de vontades superior à maioria que corresponda a um mínimo predeterminado.
As sociedades comerciais nã o fogem à regra enunciada - com destaque essencialmente
interno, em termos imediatos (ex: aprovaçã o das contas pelo ó rgã o de gestã o e da
deliberaçã o pelos só cios de certas alteraçõ es estatutá rias e das deliberaçõ es do conselho
fiscal) ou com efeitos imediatamente externos (decisõ es colectivas que se projectam
relativamente a terceiros)- , a ó rgãos sociais ou a categorias de valores mobiliários (acçõ es ou
obrigaçõ es).

Todas as deliberaçõ es mencionadas sã o sociais, isto é, imputá veis à sociedade, aos seus
ó rgãos, ou a categorias dos respectivos valores mobiliários, mas nem todos são imputáveis ao
conjunto dos só cios ou dos accionistas, enquanto tal. Designaremos uma deliberaçã o
destas por “deliberação dos sócios”. Vejamos em que consiste exactamente.

Uma deliberaçã o dos só cios é uma declaraçã o que, sendo juridicamente imputá vel à
sociedade, é formada pela manifestaçã o de vontades do nú cleo de titulares de
participaçõ es sociais, ou seus representantes, detentor do maior nú mero de votos ou de
um nú mero de votos que perfaça um certo montante mínimo (maioria qualificada).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 15
28.1.2. Natureza jurídica e oportunidade e alcance da expressão
Em termos técnicos, trata-se de um negó cio jurídico unilateral plural, de que resulta
efectivamente uma ú nica declaraçã o de vontade com relevâ ncia jurídica. Ainda que haja
vontades sobrepostas – no sentido que ainda que as mesmas sejam divergentes -, do
resultado final nã o irá afirmar-se qq divergência, prevalecendo as declaraçõ es de voto
maioritariamente emitidas no sentido que faz vencimento.

A natureza jurídica nã o é posta em causa nas decisõ es que sã o tomadas nas sociedades
unipessoais e que equivalem às deliberaçõ es de só cios da generalidade das sociedades. Nestas
sociedades as decisõ es competem a uma ú nica pessoa, pelo que se configuram como um
negó cio jurídico unilateral singular.

No que se refere à expressã o a utilizar para caracterizar as intervençõ es e decisõ es do


colectivo dos só cios que exprimem a vontade da sociedade, tradicionalmente fala-se em
deliberaçõ es sociais. É terminologia a evitar, pq há outras deliberaçõ es, outras decisõ es
tomadas colectivamente no seio da sociedade, que sã o sociais, embora imputadas a outros
ó rgã os ou diferentes intervenientes. A pró pria expressã o deliberações dos sócios pode ser
equívoca e, por isso, discutível, considerando que há deliberaçõ es q n deixam de ser dos
só cios – pq só por só cios podem ser tomadas – e nã o reconduzem aquelas que, tendo por
referência a sociedade, sã o necessariamente formadas pelo colectivo de só cios. É a estas
que deveremos, preferentemente, designar por deliberaçõ es dos só cios; aquelas que nã o
os abranjam a todos, por respeitarem apenas a alguns deles ou a categoria de
participaçõ es sociais, deverão ser conhecidas precisamente pelo universo a que se
reportam.

28.3. Formas possíveis de deliberaçõ es dos só cios

28.3.2. Deliberações por escrito

28.3.2.1. Diferentes espécies


Se confrontarmos os tipos sociais mais relevantes (sociedades anó nimas e por quotas),
verificamos que o voto escrito se encontra regulado apenas para as sociedades por quotas
(art. 247º), nã o sendo o respectivo regime juridico aplicá vel, nem sequer por analogia, à s
sociedades anó nimas.

Existem duas formas de deliberaçã o por escrito que rompem com o princípio clá ssico das
deliberaçõ es dos só cios: o princípio da concentração geográfica e temporal inerente à
respectiva formação ( o moderno Direito Societário deixa, de exigir que as decisõ es dos só cios
sejam tomadas num mesmo local e no mesmo momento, admitindo que os só cios possam
contribuir, dos locais onde se encontrem e em momentos temporalmente distintos, mas
nã o muito distanciados, para a formaçã o da vontade societá ria.

28.3.2.2. Deliberações unânimes por escrito


A questã o que se coloca é de saber se é possivel que os só cios formem uma deliberaçã o
conjunta, pronunciando-se em lugares e momentos diversos, desde que todos aprovem
sem reservas. Isto é, todos os só cios ou accionistas têm de estar de acordo com o teor da
deliberação.

Esta forma de deliberaçã o é possível nas sociedades por quotas e anó nimas (arts. 54º, nº1,
247º, nº1 e 373º, nº1), embora o consenso seja mais difícil de obter nestes, dado
envolverem um maior nú mero de vontades.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 15
Finalmente, refira-se que esta modalidade (de deliberação) é a que melhor se adequa aos
casos em que a sociedade é composta por um ú nico só cio, o que hoje acontece com relativa
frequência. Nessa circunstâ ncia – sociedade unipessoal por quotas ou sociedade anó nima
subsidiá ria integral ou com accionista com domínio total - será mais correcto designar a
deliberação por “ Decisão de sócio/ accionista único”, constituindo o respectivo instrumento
a materializaçã o da vontade desse só cio que, sendo ú nico, tem o poder de, no mesmo acto,
propor e aprovar.

28.3.2.3. Deliberações por voto escrito


Nestas deliberaçõ es (art.247º, nº2) todos os só cios se devem manifestar previamente de
acordo em se pronunciar desse modo, sob pena de nulidade da deliberaçã o (art. 56º, nº1.
Al.b)). No entanto, existindo unanimidade sobre a forma, nã o tem de existir sobre o
conteú do da deliberaçã o. Isto é, o só cio tem de aceitar deliberar por escrito, mas depois a
deliberaçã o forma-se em conformidade com o quorum deliberativo estabelecido para a
matéria em causa, eventualmente por maioria. Esta modalidade nã o é facilmente
adoptá vel em sociedades por quotas com nú mero elevado de só cios e é raramente
utilizada.
No que se refere a eventualidade de adoptar esta modalidade de deliberaçã o na sociedade
anó nima, temos que concluir pela sua inadmissibilidade, visto ela não ser acolhida na
parte referente à s SA (sociedades anó nimas), como deveria ser (arts. 53º, nº1 e 373º, nº1).
Nestas sociedades nã o é permitido recorrer à forma de voto escrito, embora seja possível
formar deliberações unânimes por escrito. Com efeito, os termos do art.53º, nº1, “as
deliberações dos sócios só podem ser tomadas por alguma das formas admitidas por lei para
cada tipo de sociedade”.

28.3.3. Deliberaçõ es em assembleia geral não convocada


É precisamente nas sociedades por quotas e nas sociedades anó nimas familiares que o
fenó meno das assembleias gerais universais ou totalitárias conhece maior expressão (art. 54º
do CSC). Falamos das reuniõ es de só cios ou accionistas, que ocorrem sem a observâ ncia de
formalidades prévias de convocaçã o, mas em que todos os só cios estã o de acordo na
respectiva constituiçã o e funcionamento.

Uma questã o interessante consiste em saber se todos os assuntos da competência dos


só cios sã o susceptíveis de discussã o e deliberaçã o em assembleia universal (assembleia
nã o convocada com a antecedência legal e estutariamente devida) ou se, diversamente,
algumas deliberaçõ es dos só cios se têm de formar em assembleia geral devidamente
convocada. A resposta a esta questã o passa por determinar se, relativamente a algumas
matérias, tem de mediar um espaço temporal mínimo entre a convocaçã o e a reuniã o, no
decurso do qual o accionista se possa inteirar conscientemente dos elementos necessá rios
à formaçã o da sua vontade.
Entre os casos de duvidosa admissibilidade contavam-se – até à entrada em vigor do DL
nº 8/2007, de 17 de Janeiro – os da assembleia geral anual (arts. 53º, nº2 in fine, e 376º),
da transformaçã o (arts. 53º, nº2 in fine, e 132º, nº3) e da fusã o e cisã o (arts. 53º, nº2 in
fine, e 100º, nºs2 a 4, 101º e 120º) de sociedades.

É ramos de opinião que, relativamente à assembleia geral anual e à transformação – operação


que, modificando a estrutura societá ria, por alteraçã o do tipo social, nã o prejudica os
interesses dos credores, porque nã o modifica as condiçõ es econó micas da sociedade que
mantêm, salvo se for articulada com outra alteraçã o estatutá ria - , os só cios poderiam
deliberar em assembleia geral totalitá ria ou universal, uma vez que, nã o havendo
interesses que requeressem uma protecção específica, não era necessário proceder
obrigatoriamente à prévia convocató ria da assembleia geral.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 15
No que respeita à s duas restantes operaçõ es estruturais relevantes, a fusã o e cisã o,
considerá vamos entã o que, devendo a convocató ria constituir igualmente um aviso aos
credores (art. 100º, nº4 e 120º) - para que eles pudessem consultar os documentos sociais
(arts. 100º, nº3 e 120º) – ela nã o podia deixar de ser feita. Justificava-a a tutela que os
credores sociais merecem relativamente a essas operaçõ es, que podem pô r em causa as
respectivas garantias. Concluíamos, assim, que a fusã o e a cisã o de sociedades eram, por
natureza e legalmente, incompatíveis com a realizaçã o de assembleias gerais e totalitá rias.

Este regime foi, recentemente aperfeiçoado – para utilizar uma expressã o retirada do
preâ mbulo do DL 8/2007, de 17 de Janeiro – sendo agora expressamente permitido que a
transformaçã o, fusã o e cisã o de sociedades se processe sem que a assembleia geral que
aprecia o projecto de alteraçã o tenha de ser convocada. Com efeito, qq das operaçõ es
enunciadas pode ser aprovada nos termos do disposto no artigo 54º do CSC, incluindo, a
deliberaçã o em assembleia totalitá ria.

29. A assembleia geral

29.2. Competência da assembleia geral


Nã o obstante a sociedade anó nima constituir paradigma em sede de assembleia geral (art.
248, nº1), começaremos por uma matéria em que os dois tipos societá rios referidos se
distinguem claramente. Trata-se da competência da assembleia geral que é diferente nas
sociedades anó nimas e por quotas, nã o sendo irrelevante a subjectivaçã o que a
participaçã o social nestas reveste relativamente à objectivaçã o que caracteriza a
participaçã o accioná ria expressa em idênticas fracçõ es de capital social e na ideia de que
um accionista é tantas vezes só cio quantas as acçõ es de que for detentor num certo
momento.

29.2.1. Sociedades anónimas


Nas sociedades anó nimas a assembleia geral tem uma competência por um lado, específica
e subsidiária (arts. 373º, nº2 e 376º) e , por outro, extraordinária (art.373º, nº3).

29.2.1.1. Competência regra: especificidade e subsidiariedade


Neste tipo societá rio a competência -regra pertence ao ó rgã o executivo (conselho de
administração ou conselho de administração executivo), que tem poderes para praticar todos
os actos que, enquadrando-se na capacidade de gozo da sociedade, nã o sejam exclusivos
de outro ó rgã o social. Tal decorre das disposiçõ es legais que conferem ao ó rgã o executivo
amplos poderes de gestã o no â mbito do objecto social (art. 405º) e, genericamente, em
relaçã o a toda uma série de actos que enumera, primeiro, especificando, e depois,
definindo residualmente, quando determina que “compete ao conselho de administração
deliberar sobre (...) qualquer outro assunto sobre a qual administrador requeira deliberação
de conselho” (art.406º, alínea n)).

A competência da assembleia geral diz-se também subsidiá ria, visto que os accionistas
deliberam sobre as matérias que não estejam compreendidas nas atribuições de outros órgãos da
sociedade (art. 373º, nº2 in fine), quer dizer em pp esta competência determina-se por
integrar poderes deliberativos que nã o caibam, legal ou contratualmente, na atribuiçã o de
outros ó rgã os societá rios.

Mas a assembleia geral tem competências específicas, uma vez que é o ó rgã o com
competência exclusiva para deliberar em matéria de alteraçã o do contrato de sociedade,
excepto nos casos em que tal poder seja contratualmente atribuído ao ó rgã o de
administraçã o, e para anualmente deliberar sobre a aprovaçã o do relató rio de gestã o,
balanço e contas do exercício sobre a aplicaçã o dos resultados (art.376º).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 15
Nas assembleias anuais deverão também os só cios proceder à apreciação do desempenho
de funçõ es pelos titulares dos ó rgãos de administração e fiscalização (nas sociedades por
quotas, qd exista), no decurso do ú ltimo exercício (art. 376º, nº1, c)). O facto de os
desempenho da administraçã o estar em apreciaçã o anualmente implica que os só cios e
accionistas possam, deliberar sobre a destituiçã o de um ou mais titulares do ó rgã o de
gestã o, sem prejuízo de , se tal for o caso, a sociedade ter de vir a indemnizar os
destituídos, por inexistência de justa causa. (ver arts. 508º-A a 508º-E do CSC e DL nº
238º/91, de 2 de junho.

29.2.1.2. Competência extraordinária da assembleia geral


A lei, para evitar dú vidas e dificuldades na delimitaçã o da competência dos vá rios ó rgã os,
determinou que, em matérias de gestão da sociedade os accionistas , e a assembleia geral, não
pudessem deliberar se tal nã o fosse expressamente solicitado pelo ó rgã o de administraçã o
(art. 373º, nº3). Se não concordarem como a sociedade é gerida, terão de se limitar a procurar
destituir a administraçã o, substituindo-a por elementos que considerem mais capazes. Isto
não impede que o ó rgão de gestão informe espontaneamente os accionistas sobre decisõ es de
gestã o que repute relevantes e essenciais para a vida social. Concluindo, poder-se-á
afirmar que, em matéria de gestã o da sociedade anó nima, a competência da assembleia
geral é extraordinária.

29.2.2. Sociedades por quotas


A competência nas sociedades por quotas nã o ser da forma residual como aparece nas
sociedades anó nimas. E a esta conclusã o chegaríamos, pelo confronto da competência dos
pró prios ó rgã os da administraçã o, e que se retira do disposto nos arts. 406º e 259º: uma
competência genérica da gerência na sociedade por quotas, e uma competência do
conselho de administraçã o nã o apenas genérica, mas específica e que se encontra,
concreta e exemplificativamente, enunciada no art. 406º.
A verdade é que o art. 246º enuncia exemplifi/ toda uma série de matérias que dizem respeito
à competência da assembleia geral da SQ (sociedade por quotas), nomeadamente a
aprovaçã o do relató rio de gestã o e das contas, o balanço e a atribuiçã o de lucros, alteraçã o
do contrato de sociedade, mas também admitindo logo no início que o pró prio contrato de
sociedade possa, reservar a este ó rgã o a intervençã o sobre aspectos que possam caber à
gerência (ao ó rgã o da administraçã o),(art. 246º, nº2). Dizemos de forma supletiva pois
admite-se que o contrato de sociedade por quotas reserve à gerência a competência
nessas matérias e ao faze-lo, limita a competência da pró pria assembleia geral.
Enquadram-se nesses actos, a alienaçã o ou oneraçã o de bens imó veis, e por outro lado, a
subscriçã o ou aquisiçã o de participaçõ es noutras sociedades, e a sua eventual alienaçã o ou
oneraçã o (art. 246º, nº2, als. C) e d)).

29.5.Funcionamento da assembleia geral

29.5.1. Local de realização da assembleia geral

29.5.1.1. Sede social


Qd a assembleia especial funcionar nos termos clá ssicos, isto é, pela convocaçã o prévia, ela
deve realizar-se, em regra, na sede da sociedade, podendo contudo o presidente da mesa
escolher outro local, dentro do território nacional, dd que as instalações da sede não permitam a
reunião em condições satisfatórias” ( art. 377º, nº6), pq sã o insuficientes ou pq nã o
salvaguardam a segurança dos participantes.
A assembleia deve ser efectuada na sede da sociedade, limitando a lei a possibilidade de as
reuniõ es de assembleia geral se efectuarem fora da comarca da sede social (art. 377º, nº6
do CSC).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 15
29.5.1.1. Local diferente da sede social
O presidente da mesa pode convocar a assembleia para reunir noutro local, se a sede
social nã o reunir condiçõ es satisfató rias para o efeito, designadamente ela exiguidade do
espaço disponível. Admite-se agora que a assembleia geral ocorra em qq lugar do territó rio
nacional. Temos dú vidas fundadas sobre a bondade da solução legal que, sem qq restriçõ es
ou critério, permite que a assembleia geral se realize em qq local do país, (art. 377º, nº6,
aliena a) in fine).

29.5.1.3. Assembleia gerais telemáticas


Uma outra alteraçã o fundamental que se regista a nível do funcionamento das assembleias
através de meios telemáticos, desde que o contrato não proíba. Neste caso a sociedade
deverá assegurar a autenticidade das declarações e a segurança das comunicações (art. 377º,
nº6, alínea b)). O legislador optou por uma soluçã o legal supletiva de cará cter permissivo,
no sentido de que o silêncio tem valor declarativo permissivo, ou do tipo “quem cala
consente”. Assim, as sociedades que pretendam afastar as novas tecnologias do
funcionamento dos respectivos ó rgãos sociais devem proceder à alteração prévia do contrato
e expressamente clausular essa proibiçã o. Arts. 384º, nº9 e 410º, nº8, ambos na red. Do DL
76-A/2006.

29.5.2. Quorum constitutivo

29.5.2.1. Noção
O quorum constitutivo consiste no nú mero mínimo de votos, correspondente a uma
determinada percentagem do capital social, que devem estar presentes ou representados para
que a assembleia geral possa validamente funcionar e formar as deliberaçõ es referentes
aos assuntos para que havia sido convocada.
Assim, nuns casos pode o contrato exigir que, em primeira convocaçã o, a assembleia geral
só possa realizar-se se estiverem presentes, por exemplo, só cios ou accionistas com
direitos de voto correspondentes a metade do capital social, noutros é a lei que, implícita
ou explicitamente, impõ e a observâ ncia desse quorum mínimo. É o que acontece sempre
que exige uma maioria qualificada, por referência ao capital social, para deliberar sobre
um determinado assunto (ex: art.265º) ou sempre que dispõ e directamente sobre o capital
mínimo que deve estar presente ou representado para que a assembleia geral que vise alterar
o contrato de sociedade anó nima por exemplo possa validamente deliberar em primeira
convocação (art. 383º, nº2).

Importa esclarecer que enquanto para as modificaçõ es estrurais das sociedades anó nimas
é exigido um quorum constitutivo em primeira convocaçã o, nas sociedades por quotas nã o
se distingue, nesta matéria, primeira de segunda convocaçã o, visto que o quorum
constitutivo é implícito, pq a lei exige para a tomada dessas deliberaçõ es um determinado
quorum deliberativo correspondente a uma maioria qualificada aferida por referência ao
capital social. Assim, se a lei diz que as deliberaçõ es só podem ser tomadas por ¾ dos
votos correspondentes ao capital social, então é pq têm de estar presentes, necessariamente,
esses
¾ do capital social, sem o que, nã o conseguiriam obter os votos favorá veis à aprovaçã o da
alteraçã o estatutá ria.

29.5.2.2. Controlo de presenças e verificação do quorum


Antes de se iniciar qq assembleia geral, terá de se proceder à conferência dos presentes e à
apreciaçã o da sua legitimidade.
Nas sociedades anónimas, o controlo de presenças efectua-se através de uma lista –
normalmente preparada com antecedência – daqueles que estao presentes ou representados
no início da reuniã o e da qual consta a identificaçã o dos accionistas e a respectiva rubrica
ou
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Comerciais” 15
assinatura (art.382º) a qual permitirá comprovar a comparência do accionista ou do seu
representante. Por sua vez compete ao presidente da mesa, ou a quem dirige a assembleia,
verificar a capacidade dos presentes e os respectivos direitos de voto, devendo solicitar-
lhes que rubriquem a lista de presenças disponibilizada no início da reuniã o.

Nas sociedades por quotas, o controlo das presenças é feito por modo diferente, uma vez que
todos os só cios presentes têm obrigaçã o de assinar as actas (art. 249º, nº6), nã o é habitual
elaborar a lista de presenças, embora a respectiva obrigatoriedade nã o seja exceptuada
para este tipo societá rio.

Nos casos em que seja requerido quorum constitutivo (art. 383º), haverá que verificar,
uma vez efectuado o controlo de presenças, se os direitos de voto presentes ou
representados são suficientes para a assembleia poder validamente reunir. Só entã o o
presidente da mesa declará estarem reunidas as condiçõ es para a assembleia poder
funcionar e deliberar acerca da respectiva ordem de trabalhos.

29.5.3. Propostas de deliberação e discussão (debate)


Controladas as presenças e verificado o quorum constitutivo, qd necessá rio, iniciam-se os
trabalhos e sã o apresentadas as propostas, ao que se segue a respectiva discussã o, para a
qual nã o existe uma disciplina normativa estabelecida. Vejamos o que se passa:
A assembleia entra na ordem do dia – que deve constar da convocató ria sem prejuízo de
poderem ser objecto de apreciaçã o diversas questõ es independentemente de expressa
previsão, como a destituição de administradores ou gerentes na assembleia geral anual, e que
deverá ser respeitada, salvo se deliberado diversamente – devendo o presidente da mesa,
a propó sito de cada um dos pontos da ordem de trabalhos, recordar as propostas de
deliberaçã o que já se encontravam pré-elaboradas e questionar os só cios ou accionistas se
têm novas propostas a apresentar. Se o proponente tiver retirado a proposta antes da
pró pria assembleia, n tendo, entretanto, sido apresentada outra proposta no â mbito do
mesmo ponto da ordem de trabalhos, o presidente da mesa - que elaborou a convocató ria
da assembleia e a respectiva ordem do dia – poderá eliminar esse ponto, nã o podendo
outro só cio, na pró pria assembleia, subscrever a proposta retirada ou apresentar proposta
diferente. Nesse caso, só um accionista com, pelo menos 5% do capital social – com poder
para incluir determinados assuntos na ordem de trabalhos ou para requerer a convocação
de assembleia geral (arts. 375º, nº2 e 378º, nº1) – ou a maioria dos presentes poderão exigir
que o ponto de ordem de trabalhos permaneça em agenda.

Em qq circunstâ ncia, uma vez que as propostas sejam apresentadas, deve abrir-se um
período de discussã o no qual os só cios obtenham os esclarecimentos que considerem
essenciais à adequada formaçã o da sua vontade e troquem opiniõ es sobre a matéria em
apreciaçã o. Depois passar-se-á à votaçã o.

29.5.4. Votação
Concluído o debate, o presidente da assembleia geral deve colocar à votaçã o a proposta
formulada, distinguindo os documentos que devem ser objecto de apreciação (ex: o
relató tio de gestão e as contas do exercício) daqueles que são ú nicamente informativos ou
opinativos ( ex: parecer do fiscal ú nico ou do conselho fiscal).

29.5.4.1. Regras gerais sobre o direito de voto; remissão

- Direito de voto nas sociedades por quotas (art. 250º, nº1);


- Direito de voto nas sociedades anó nimas (art.384º, nº1);
- Voto duplo e privilégios de voto (arts. 250º, nº2, 384º, nº5 e 531º)
Livro: “Direito das Sociedades
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29.5.5. Quorum deliberativo

29.5.5.1. Noção
O quorum deliberativo é a percentagem mínima do capital social que corresponde à s
participaçõ es de só cios presentes ou representados legalmente exigível para que possa
formar-se uma deliberaçã o vá lida.

29.5.5.2. Regra
As deliberaçõ es formam-se, em regra, pela maioria simples dos votos, n se contando como
emitidos as abstençõ es, ou seja, a lei satisfaz-se como maioria relativa (arts. 386º, nº1 e
250º, nº3), isto é, para dar seguimento à proposta é necessário que os votos em seu favor
sejam em nú mero superior aos votos negativos (contra), sendo que as abstençõ es nã o sã o
contadas. Assim sendo, encontrando-se presentes só cios titulares de cem mil votos, se um
deles se abstiver e for titular de trinta mil votos, uma deliberaçã o é parovada se obtiver,
pelo menos, trinta e cinco mil e um votos.

Esta regra, da maioria simples, que se retira do nº1 do art. 386º é exactamente a mm regra
que vamos encontrar no nº3 do art. 250º, para as sociedades por quotas. Nã o obstante, ela
comporta excepçõ es, como veremos de seguida.

29.5.5.3. Excepções
Com efeito, em certos casos por efeito do contrato de sociedade e noutros decorrendo
directamente da lei (arts. 386º, nº2 a 4º, e 265º, nº1 e 2) é possível chegar a diferente
conclusã o. Nuns casos requer-se uma maioria qualificada e, excepcionalmente, até mm a
unanimidade ou aprovaçã o de determinado só cio; noutros, nem a maioria simples se
forma sequer por referência à totalidade dos votos favorá veis, mas ao maior nú mero de
votos em favor de uma certa proposta. Assim, e nos termos do nº2 do art. 386º - considera
nem sequer ser necessá rio a maioria prevista no nº1 - existindo vá rias propostas em cima
da mesa e obtendo uma delas 23%, contra 22%, 21% e 20% das demais, vencerá a
primeira, por ser aquela que regista maior nú mero de votos.

Outra excepçã o é de sinal oposto, que se traduz na exigência (legal) de um quorum


deliberativo qualificado, isto é, que a proposta em apreciaçã o deva reunir um determinado
nú mero mínimo de votos para ser aprovada (art. 386º, nº3 e art. 265ç, nº1). Nalguns
casos, excepcionais, a deliberaçã o para ser vá lida e eficaz relativamente à totalidade dos
só cios deve ser aprovada por unanimidade (art. 86º, nº2) ou, para além, de recolher o
nú mero de votos necessá rio para o efeito (ex: art. 265º, nº1)m deve obter o
consentimento de um só cio em especial, qd tal estiver expressamente previsto no contrato
de sociedade (art. 265º, nº1).

Sendo a maioria qualificada, as abstençõ es equivalem à rejeiçã o da proposta, nã o


contribuindo para a formaçã o da deliberaçã o. Por isso, tratando-se de sociedade anó nima,
uma deliberaçã o de aumento de capital social carece de ssesnta e seis mil, seiscentos e
sessenta e sete votos favorá veis. Numa sociedade por quotas, o quorum deliberativo toma
por referência o capital social existente e nã o o capital presente ou representado na
assembleia 8art. 265º, nº1).

Finalmente, refira-se que o nº4 do art. 386º consagra uma excepçã o à excepçã o (sobre a
respectiva aplicaçã o, ver ponto 29.5.7.).

29.5.5.4. Formação do quorum por referência ao capital


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Comerciais” 15
Outro aspecto relevante em termos de quorum constitutivo é a maioria qualifica é
determinada sempre em funçã o do capital social disponível (art. 386º, nº5). Esta regra
aplica-se também à s sociedades por quotas – visa fundamentalmente, nã o inviabilizar a
tomada das deliberaçõ es. Assim, imagine-se que estã o presentes na assembleia diversos
accionistas, concretamente impedidos de exercer o voto, nomeadamente por efeito do
disposto no art. 384º, nº6. Se o quorum nã o se reportar ao capital social disponível, mas
ao existente entã o, na prá tica, poder-se-ia assistir à paralizaçã o das decisõ es da sociedade,
por nã o poder participar na deliberaçã o capital suficiente para aprovar. Por isso, em pp –
isto é, salvo soluçã o contratual diversa – nessas circunstâ ncias nã o funcionam as
limitaçõ es decorrentes do disposto no art. 384º, nº2, alíena b) (art. 386º, nº5 in fine).

29.5.5.5. Quorum deliberativo estatutário


Está em causa saber até que limite pode ser, contratualmente, estabelecido um quorum
agravado para serem tomadas certas deliberaçõ es. Por outras palavras, qual o limite que o
contrato pode estabelecer como quorum minimo para deliberaçõ es (relevantes) que, em
conformidade com a lei, só possam ser tomadas por maioria qualificada?
Importa recordar que, salvo nos casos expressamente previsto ou autorizados na lei,
nunca será admissível a unanimidade, que implicaria, na prá tica, a imutabilidade da vida
social, o que seria contrário à competência reconhecida aos só cios e aos pró prios interesses
sociais. Qd se fala em unanimidade fala-se também em abstracto em determinadas
percentagens que na prática se reconduzem a esta unanimidade e o limite dos 4/5 nas
sociedades anó nimas parece constituir um nível ainda aceitá vel; nas sociedades por quotas
admite-se que possa ser superior.

29.5.6. Suspensão da sessão


Em matéria de eventual suspensã o ou interrupçã o dos trabalhos da assembleia geral, apó s
o respectivo início, as sociedades por quotas não apresentam especificidades relativamente
ao regime jurídico instituído para as sociedades anó nimas (art. 387º), que se lhes aplica na
íntegra com as devidas adaptaçõ es. Segundo a lei, podem os accionistas deliberar
suspender os trabalhos da assembleia por um má ximo de duas vezes e devendo, em cada
suspensã o, fixar-se o recomeço dentro de 90 dias subsequentes, isto é, uma assembleia que
seja suspensa deverá sempre concluir-se no prazo má ximo de 180 dias.

Nã o nos restam dú vidas que o presidente da mesa tem poderes para decidir suspensõ es
normais, mas para além destas, a competência para a a deliberaçã o de suspensã o de
trabalhos por períodos que, sendo suficientemente longos, impliquem a natural dispersão
do accionistas presentes é da assembleia, isto é, é dos accionistas (ou só cios), sendo a lei
omissa qt à iniciativa da proposta de suspensã o. Nã o obstante a letra da lei, que parece
confinar o poder de intervençã o do presidente da mesa à decisã o sobre interrupçõ es
circunstanciais – reservando aos accionistas poder mais vasto – afigura-se-nos que o
titular deste ó rgã o fundamental tem tb o poder de decidir suspensõ es por períodos mais ou
menos longos, ainda que nesses casos a decisã o que tomar fique sujeita a eventual
revogaçã o pelos accionistas (por maioria simples de votos). Isto é, as suspensõ es normais
podem ser decididas arbitrariamente, mm contra a vontade dos accionistas; as suspensõ es
dos trabalhos que conduzam ao respectivo recomeço em data posterior devem ser tomadas
pelos accionistas ou pelo presidente da mesa, com acordo tá cito daqueles.

Pode acontecer tb que a mesma assembleia venha, entretanto, a reconhecer em sessã o


realizada em data posterior, que a deliberaçã o que havia sido formada nã o tinha sido
inteiramente correcta, rectificando-a ou inclusivamente revogando-a. Esta possiblidade
confirma que a assembleia apesar de desdobrada em mais de cada uma sessã o, e sendo
cada uma delas objecto de um registo autó nomo, constituir uma unidade.
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Comerciais” 15
Finalmente, importa realçar que, tendo sido deliberada a suspensã o dos trabalhos da
assembleia , deve ser imediatamente fixada a data para o respectivo começo. Isto é, na
pró pria sessão, devem os accionistas ou o presidente da mesa da assembleia geral acordar ou
decidir sobre a data de continuaçã o dos trabalhos, devendo ter o cuidado de verificar a
disponibilidade do presidente da mesa. A lei nã o avança os critérios para determinar a
data do recomeço dos trabalhos. Parece-nos inquestionável dever ser o presidente da mesa
a fixar a data da continuaçã o da assembleia geral – uma vez que tem competência para a
convocar
– devendo sempre que possível ser obtida a anuência da generalidade dos só cios, os quais
sempre podem estabelecer limites, propondo, por ex: aprovar, por exemplo, deliberaçã o
no sentido que a assembleia retome os seus trabalhos entre os 60 e os 90 dias
subsequentes à data em questã o e, desse modo, delimitando o poder do presidente da
mesa da assembleia geral.

Em conclusão, em sessão de continuação ou encerramento dos trabalhos da assembleia


geral que tenham sido suspensa, sem prejuízo de dever ser elaborada lista de presenças
para registo daqueles que, directamente ou por intermédio de representante, participam
na assembleia, n há que verificar o quorum constitutivo.

29.5.7. Deliberação em segunda convocação nas sociedades anónimas


Caso em primeira convocaçã o nã o se verifique o quorum constitutivo necessá rio para a
assembleia poder funcionar, entã o a lei admite, em certos casos que a assembleia reú na,
em segunda convocaçã o, independentemente do nú mero de votos presentes ou
representados (arts. 383º, nº3 e 4 e 386º nº4).
Para evitar repetiçõ es de convocató ria desnecessá rias, é possível proceder de imediato à
segunda convocaçã o (art. 383º, n4), no mm aviso, com a finalidade de assegurar que, nã o
se verificando o quorum necessá rio em 1ª convocaçã o, a assembleia venha reunir em data
determinada com qq nú mero de presentes. E isto pq se entende que com a 2ª convocaçã o
da assembleia ficam asseguradas as presenças suficientes para a tomada de decisõ es dos
assuntos em agenda.

O nº4 do art. 386º constitui uma regra exclusivamente aplicá vel à s assembleias reunidas
em segunda convocaçã o. Nã o exigindo uma maioria qualificada, como o nº3 o faz, para as
alteraçõ es estruturais, esse preceito admite que essas mm modificaçõ es estruturais, sejam
decididas pela maioria absoluta dos votos emitidos, dd q em segunda convocaçã o, esteja
presente ou representada metade do capital social.

Note-se, a concluir, que ao chamarmos a atençã o para o nº4, isso nã o significa que n possa
funcionar a excepção - regra, de que as alteraçõ es devem ser aprovadas por 2/3 dos presentes.
O que o nº4 pretende assegurar é que, em segunda convocação, a maioria absoluta de metade
do capital já será suficiente para o efeito.

30.Vicissitudes das deliberações sociais; suspensão e impugnação


(remissão para o ponto 12.2.4. dos sumários do POC)

30.3. Impugnação de deliberaçõ es dos só cios contrárias à lei ou ao contrato


Vamos analisar o que sucede aos só cios se estes deliberarem em violação da lei ou do contrato
de sociedade e estudar os casos e situaçõ es em que os só cios podem reagir, o modo como
devem fazer e quais os efeitos dessa reacçã o. O CSC regula na sua Parte Geral (Título I) a
matéria das “Deliberações dos Sócios” (arts. 53º a 63º), dedicando a maior parte dos preceitos
às vicissitudes que possam ocorrer com as mesmas (arts. 55 a 62º).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 16
Verificando-se a ineficácia da deliberação dos só cios, poderão estes recorrer aos tribunais
para inutilizarem essa deliberaçã o independentemente do montante da respectiva
participaçã o social, propondo nomeadamente uma acção constitutiva (anulação de deliberação
social) ou de simples apreciaçã o (negativa) (declaraçã o de nulidade). No entando, uma vez
que o tribunal pode levar o seu tempo a julgar – e até à decisão a deliberação produziria os
seus efeitos – a lei faculta aos só cios um procedimento cautelar típico, que vida assegurar-lhes
o contéudo ú til do seu direito: a providência de suspensão de deliberação social.

30.4. Regime regra das vicissitudes das deliberaçõ es dos


só cios. 30.4.1. Enquadramento
Consideramos vicissitude qq desconformidade da deliberação com a lei e os estatutos. Qual
o regime regra de inutilizaçã o do acto? O Direito ou considera que a mm é ineficaz, em
sentido restrito, pq lhe falta um requisito externo, eventualmente o consentimento de um
interessado, para poder produzir os efeitos a que tende – ex: deliberação de supressão de um
direito especial sem o consentimento do respectivo titular.
Mas nesta matéria as deliberaçõ es sociais conhecem um desvio ao regime-regra do direito
português relativo à invalidade dos negó cios jurídicos em geral, o qual – se traduz na nulidade
dos actos contrários às regras imperativas, sempre que a lei não determinar diferente
sanção (anulabilidade), isto é, no Direito Civil, o regime-regra da invalidade dos negó cios
jurídicos é o da nulidade, ou seja, verificando-se uma desconformidade do acto, com regras
imperativas, a consequência é a d respectiva nulidade se outra, diversa, n for
expressamente prevista. (art. 294º CC).
No plano das deliberaçõ es sociais, em geral; e das respectivas invalidades em particular, o
regime- regra é o da anulabilidade da deliberação, contrário ao regime regra do CC que é o
da nulidade.

30.4.2. Anulabilidade das deliberações (inválidas dos sócios; fundamento


A anulabilidade n é apenas uma vicissitude que carece de declaraçã o judicial, uma vez que
se considera que, n sendo tão grave como a nulidade, pode ser recuperável pelo decurso do
tempo ou pela concordâ ncia superveniente de quem ficaria particularmente afectado com
a subsistência desse acto (art. 287º CC). Aliás enquanto que os actos nulos não produzem
efeitos, os que sã o meramente anulá veis produzem efeitos até serem anulados. Ora, a vida
de um sociedade comercial não é compatível com uma solução deste teor, designadamente pq
os actos sociais se encandeiam uns nos outros, pelo que a respectiva validade n pode estar
dependente dsa validade precária dos actos antecedentes. Por esta razão, em matéria de
deliberaçõ es sociais as vicissitudes sã o mencionadas, em regra, com a anulabilidade,
evitando-se assim, tanto qt possível, que a invalidade de um acto (nulidade), possa ser
invocável sem dependência de prazo e desse modo, contaminar os actos que tenham sido
praticados.
A teoria em que se alicerça a opção legal é a teoria dos actos sociais em cadeia, segundo o qual
os actos sociais se encadeiam uns nos outros e , por isso, n pode a respectiva validade ficar
dependente de eventual vicissitude de actos que o antecedem. Se uma desconformidade
provocasse a nulidade da deliberação , poderia acontecer que a respectiva declaração pudesse
vir a ser proferida numa altura em que outras deliebraçõ es nela se encontravam apoiadas
e talvez executadas. A nulidade, uma vez declarada, inquinaria as deliberaçõ es
subsequentes arreigadas na deliberaçã o nula, arrastando-as inapelavelmente. É esta
consequência que a anulabilidade previne e evita, preservando a sociedade de graves
prejuízos.
Por isso no plano das SC, a regra é da anulabilidade das deliberaçõ es invá lidas que violem
dispocisõ es do contrato social ou – qd ao acaso n caiba especificamente a nulidade nos
termos do art. 56º- da lei, encontrando-se o fundamento legal no art. 58º, nº1, alínea a).

30.4.3. Deliberações anuláveis


30.4.3.1. O art. 58º do CSC
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Para além do regime regra q consta da alíena a) do nº1 do art. 58º, sã o tb anulá veis , por
expressa previsã o legal e com fundamento em desconformidades específicas outras
deliberaçõ es(art. 56º)

30.4.3.2. Deliberações que violem disposições da lei ou d contrato (e n sejam nulas)


Segundo o art. 58º, nº1, alínea a), regra geral, todas as deliberaçõ es que infrinjam
preceitos legais ou contratuais sã o anulá veis. E tal só nã o acontece se a lei entender q a
deliberaçã o n pode deixar de ser nula. Não estamos perante um critério residual, mas sim
perante uma regra geral, q é a que melhor satisfaz o interesse social, por evitar q uma
deliberaçã o social viciada perdure indefinidamente até que viesse a ser, um dia, declarada
nula.

30.4.3.3. Deliberações abusivas


São tb anuláveis as deliberaçõ es sociais abusivas (art. 58º ,nº1, alínea b). Estas são deliberaçõ es
pelas quais se vai prosseguir um interesse particular, prejudicando-se o interesse dos só cios, sem
que isso corresponda ao interesse da sociedade. Ex: numa sociedade por quotas os só cios
deliberam trespassar um estabelecimento comercial por um determinado preço. Os
minoritários propuseram-se tomar de trespasse esse estabelecimento por mais do dobro
daquele preço. Não obstante, a maioria insistiu em manter a deliberaçã o formada que
prejudicava claramente a sociedade. O tribunal anulou a deliberação considerando-a
abusiva.
A lei estabelece contudo, uma salvaguarda relativamente ao efeito dos votos abusivos: a de que,
apesar da deliberação ser abusiva, ela poder ter sido formada sem qq votos (abusivos).
Nesse caso ela nã o é anulá vel.

30.4.3.4. Falta de elementos mínimos de informação


Por sua vez, a lei considera anulá veis todas as deliberaçõ es q nã o tenham sido precedidas
do fornecimento ao só cio de elementos mínimos de informação (art. 58º, nº1, alinea c)),
devendo entender-se estes como elementos adequados e necessários para que o só cio
forme uma livre convicçã o qd se vai pronunciar em deliberaçõ es colectivas,
designadamente qd vai apreciar actos sociais. Ora o nº4 do art. 58º estabelece critérios para
definir o que são elementos mínimos de informação, considerando que integram o conceito os
os elementos q devem ser colocados ao dispor dos só cios, com uma determinada
antecedência, referentes aos assuntos que vã o ser objecto de deliberação, dd as propostas
de alteração contratual (al. a) até ao relató rio de gestão e documentos de prestaçã o de
contas (al. b).
Mas a preterição de informação essencial para a formação da vontade do só cio também é causa
de anulabilidade da deliberação se ocorrer no decurso de uma assembleia geral. A negação
de informaçõ es ou a prestação de falsas informaçõ es no decurso de uma reunião magna de
só cios está sujeita a uma sançã o aná loga à prevista na alinea c) do nº 1 do art. 58º (art.
290º, nº3, aplicavel as SQ ex vi art. 214º, nº7).
30.4.3.5. Preterição de normas relativas à elaboração do relatório de gestão e documentos de
prestação de contas e irregularidade nas contas
São tb anuláveis as deliberaçõ es tomadas com violação das regras referentes à elaboração
do relatório de gestão e documentos de prestação de contas e irregularidade nas contas ou que
aprovem contas irregulares q n sejam reformuladas (art. 69º, nº1 e 2). Isto é, a
anulabilidade pode ser sanada se, sendo a irregularidade pouco grave e de fácil correcção, as
contas forem rectificadas em prazo fixado pelo juiz (art. 69º, nº2 in fine).

30.4.4. Anulabilidade de aumento do capital de sociedade aberta; efeitos


O CVM estabelece um regime específico para emissã o de acçõ es, visando evitar que a
invalidação de uma deliberação de aumento do capital prejudique os direitos inerentes a
todas as acçõ es emitidas por essa sociedade.
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Tais acçõ es constituem uma categoria autó noma (art. 25º do CVM). A procedência de acção
de anulaçã o implica a amortizaçã o dsa novas acçõ es se tiverem, sido cotadas (art. 26, nº1
do CVM).

30.6. Direitos processuais; mera referência


Qd as deliberaçõ es padecem de uma vicissitude, os só cios ou o ó rgã o a quem compete a
fiscalização da sociedade podem querer reagir, para repor a legalidade, recorrendo ao
respectivo direito de impugnaçã o.
Como vimos, sempre q a lei n preveja a nulidade de uma deliberaçã o social e ela sofra de
uma vicissitude o respectivo regime jurídico será o da anulabilidade, o que implica q os
só cios disponham de um prazo curto para agir. Se não o fizerem, a deliberação convalescerá e
radicar- se-á definitivamente na ordem juridica.
Aliá s, a deliberaçã o social é executá vel enquanto n for anulada ou declarada nula. Por essa
razã o, para garantir q esta actua sobre a deliberaçã o social q se pretende destruir ou cujos
efeitos se pretende eliminar - a lei criou um meio processual específico que faculta aos
só cios descontentes a possibilidade de requererem a suspensão imediata das deliberaçõ es
sociais nulas ou anulá veis, evitando que as mm sejam, de facto, executadas. Trata-se do
procedimento cautelar de suspensão de deliberaçõ es sociais.

30.6.2. Acção de anulação


O prazo para propor a acção de anulação é relativamente curto, de 30 dias contados a partir
da data em que teá sido encerrada a assembleia geral, se esta foi bem convocada e se o
assunto constava da ordem do dia, caso em q se pressupõ es q o só cio teve, ou poderia ter
tido, conhecimento do teor das deliberaçõ es (art. 59º, nº2).´Os problemas que se colocam a
propó sito da impugnação judicial são problemas de legitimidade activa.
O CSC atribui competência ao ó rgã o de fiscalizaçã o – sempre q exista – para propor a
invalidaçã o de uma deliberaçã o social (art. 57º), o que é perfeitamente ló gico, uma vez q
compete a este ó rgão controlar a legalidade da sociedade, que passa n apenas pelo desempenho
do ó rgão de gestão, mas tb pelo regular funcionamento da pró pria assembleia geral.
Também qq só cio, tem legitimidade para propor a anulação de uma deliberação social, dd
que nã o tenha votado favoravelmente a deliberaçã o social, isto é, n tenha votado no
sentido que acabou por fazer vencimento, nem tenha mais tarde vindo a aprovar, expressa ou
tacitamente, essa mm deliberaçã o (art. 59, nº1).
A legitimidade passiva n suscita dificuldades, uma vez que estas acçõ es são propostas
contra a pró pria sociedade (art. 60, nº1) q assume , assim, o papel de ré nestas
acçõ es.

30.6.3. Acção de declaração de nulidade


Aplica-se o disposto nos arts. 60º e 57º. Nesta matéria, o que é interessante é a especial
intervençã o do ó rgã o de fiscalizaçã o, cuja iniciativa conhece uma grande latitude, mas que
prescindimos de explicar, dada a clareza do disposto no art. 57º do CSC.

Secção III
Modelos de organização da admnistração e fiscalização de sociedades por quotas e anónimas

31.Orgânica das sociedades por quotas

31.1 O gerente como ú nico ó rgão (obrigató rio) da sociedade por quotas; a admnistração da
sociedade por quotas
Nas SQ o ó rgão de administração a quem compete a gestão dos negó cios sociais e a
representação da sociedade perante terceiros designam-se por gerência e os respectivos membros
são os gerentes.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 16
31.2. Competência
A gerência pode e deve praticar os actos necessários e convenientes à realização do objecto social
(art. 259º). Para além deles, tb pode praticar todos os actos que estejam previstos no art. 246º,
nº2, se se encontrar contratualmente autorizada. Ex: a aquisiçã o de bens imó veis qd a
sociedade comercial em causa n term por objecto essa actividade, pq qd a tem esse acto
corresponde, obviamente, ao exercício do objecto soial.

31.3. Composiçã o da gerência


31.3.1. Gerência singular e plural
Podemos falar de gerência singular ou plural, consoante existam apenas um gerente ou existam 2 ou
mais gerentes arts. 252º e 261º). E esta alternativa pode ser criada contratualmente. Fundamental é
que estejam em funçõ es aqueles que sejam em nú mero necessá rio para vincular devidamente a
sociedade.

Em matéria de composição da gerência, há que reter dois aspectos fundamentais:


o Por um lado, os gerentes podem ser estranhos à sociedade, isto é, n têm q ser
só cios. Pode coincidir a sua qualidade de só cios com a de gerentes, mas pode
suceder qu nenhum deles seja só cio; quer dizer, que todos sejam estranhos.
o Por outro lado, aquilo que é necessário é que os gerentes sejam pessoas singulares
com capacidade jurídica plena. Portanto, os gerentes n podem ser pessoas colectivas.

No entanto, esta obrigatoriedade n invalida a possibilidade de os só cios, sendo pessoas colectivas,


reservarem para si, contratualmente, a possibilidade de indicar as pessoas singulares q vã o
desempenhar o cargo ou as funçõ es de gerente. A nível de gerência há q ter presente que, em
caso algum, designadamente a nível registal, pode aparecer uma pessoa colectiva como gerente. E
esta é uma solução divergente da aplicável às sociedades anó nimas.

31.3.2. Designação de gerentes


Há basicamente 4 modos de proceder à indicação dos gerentes q irão desempenhar
funçõ es numa sociedade por quotas:
o nomeação, feita contratualmente, em regra aquando da constituição da sociedade (art.
252º, nº2)
o a designação de gerente substituto, qd contratualmente prevista e autorizada (art.
252º, º2 in fine)
o a eleição pelo colectivo de só cios, na falta de gerentes ou de cessação do mandato
dos anteriores (art. 252º, nº2)
o a designação judicial (art. 253º, nº3 e 4).

31.3.3. Duração do mandato


Em regra, o gerente é designado sem prazo (art. 256º). Se nada for dito em contrário o gerente
é designado para sempre com administrador nas sociedades anó nimas. Mas tb nada impede
que, no pró prio contrato de sociedade, se preveja uma duração limitada para o mandato do
gerente (art. 256º). Pode ainda acontecer que os só cios no pró prio momento em que designam
ou elegem o gerente, estabeleçam uma duração para o respectivo mandato, apesar de o
contrato ser omisso sobre esse aspecto (art. 256º). Nesse caso, a deliberação social em que a
designação do gerente deve estabelecer a duração do respectivo mandato, a qual, constando
de acta, deve ser objecto de registo comercial.

31.4. Funcionamento da gerência


Preocupar-nos-emos essencialmente com a gerência plural pq:
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 16
o Qt à gerência singular, é indubitá vel q o gerente vincula a sociedade, salvo nos
actos cuja prática depende da intervenção do colectivo de só cios. A pessoa
designada como gerente é aquela que tem, no fundo, a capacidade para obrigar a
sociedade.
o Na gerência plural, os poderes são exercidos, em regra, conjuntamente (art. 261º); e
pela maioria dos membros da gerência.

A este propó sito, há que separar dois conceitos distintos:


1) a deliberaçã o propriamente dita, que deve ser tomada por maioria. Por ex: a
deliberaçã o de se adquirir um imó vel
2) a execução da deliberação social que consiste na chamada representação da sociedade
perante 3ºs; e que também se deve fazer por maioria.
Este regime é o que se retira da lei (art. 261, nº1).

31.5. Vinculação da sociedaderemissão(para B)1 – 1ª e 2ª Lições do POC)


Qt à vinculaçã o da sociedade por quotas (art. 260º nº1) os actos dos gerentes obrigam a
sociedade, n obstante eventuais disposiçõ es ou limitaçõ es resultantes do contrato ou actuaçõ es
diversas dos só cios. Para os 3ºs o que interessa é a qualidade do gerente; os 3ºs n têm, de
conhecer a forma pela qual a sociedade se obriga.
Não obstante, isto significa, q n pode haver oponibilidade a 3ºs de limitaçõ es estatutárias q
não resultem do pró prio objecto social ao contrário do que sucede com as que resultam da lei.
O que pode acontecer é q a sociedade pode opor aos 3ºs a limitaçã o de poderes dos
gerentes , caso prove q os 3ºs conheciam ou n deviam ignorar essa mm limitação (art.260º,
nº2)..

35.7 fiscalização das sociedades por quotas; o revisor oficial de contas (ROC)
Em principio a soc por quotas nã o esta sujeita a fiscalizaçã o e essa regra, de nã o
obrigatoriedade, é absoluta no momento da constituiçã o.
A lei admite, porém, que o contrato de sociedade possa, facultativamente, determinar a
existência de um conselho fiscal ou de um conselho ú nico (262ºnº1), orgão estatutário que
ficará sujeito á s normas legais que regulam o orgã o de fiscalizaçã o das sociedades
anó nimas. Em algumas circunstancias a revisã o de contas, pode tornar-se obrigató ria e,
nesse caso, deverá ser designado um ROC, que deverá proceder á fiscalizaçã o das contas
da sociedade enquanto se mantiver a situaçã o que a determinou e durante 2 anos apó s a
sua cessaçã o. A lei nã o impõ e, nessa situaçã o, que seja designado um suplente ao ROC
nomeado ad hoc.

Cabe, por isso, perguntar se será admissível a sociedade acolher como orgao contratual o
ROC na sua “forma pura”, ie sem ser como fiscal único e sem carecer da indicação de
um eventual suplente. Cremos que nada o impede visto que se, mesmo quando a
fiscalizaçã o se torna necessá ria, nã o há obrigatoriedade de designaçã o de um suplente,
exercendo o ROC as suas funçõ es enquanto tal, ie dispensando o enquadramento no ó rgã o
institucionalizado fiscal ú nico, por maioria de razão deverá tal solução ser possível quando
corresponder a uma opçã o dos só cios. Acresce que nã o nã o há obstá culos de cará cter
registal, uma vez que o ROC ad hoc tbm tem de ser inscrito no registo comercial, enquanto
tal.

Uma outra questã o relevante suscita-se em matéria de fiscalizaçã o (facultativa), que é a de


saber se a sociedade por quotas pode acolher, no seu contrato, um “conselho fiscal” que não
integre qq ROC. A resposta é afirmativa com esclarecimento de que tal ó rgã o estatutá rio
nã o estará apto a desempenhar funçõ es típicas de um ó rgã o de fiscalizaçã o, o que significa
que não dispensa a designação de um ROC para proceder à revisão das suas contas, se esta
se tornar obrigató ria por efeito da leo (262ºnº2).
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Fiscalizaçã o obrigató ria: pode acontecer casos de designaçã o obrigató ria de um ROC
(262ºnº2), o que acontece se a sociedade, durante 2 exercícios sociais consecutivos,
ultrapassar 2 dos seguintes parâ metros:
o total do balanço: 1.500.000 euros
o total de vendas liquidas e outros proveitos: 3 milhõ es
o nº de trabalhadores: 50
assim, se 2 dos 3 requisitos não se verificarem durante 2 anos consecutivos, a sociedade pode
deixar de ter ROC, uma vez que deixa de estar sujeita à revisã o legal de contas (262ºnº3)
Da respectiva previsã o legal se pode concluir que o ROC nã o é nas soc por quotas – em que
nã o esteja contratualmente consagrado, sob forma simples, como fiscal ú nico ou membro
do conselho fiscal -, um ó rgã o constante, podendo aparecer e desaparecer periodicamente,
embora sem regularidade.

Registo do ROC: a designaçã o de ROC nas soc por quotas, por imperativo legal, está sujeita
a registo ( art.3º m) do Cod registo comercial). Ver arts. 413ºnº5 e 6 + 414ºnº1.

Prazo: se a designaçã o de ROC por imperativo legal (262ºnº2) e no â mbito das soc por
quotas, tem que ser feita no prazo determinado. Quanto à questã o de duraçã o da
designaçã o do ROC o art.262º nada diz, remetendo para o regime previsto para as
sociedades anó nimas (262ºnº6). Este artigo regula a forma como é designado o ROC (nº4) e
considera aplicáveis ao ROC as incompatibilidades estabelecidas para os membros do
conselho fiscal (nº5).

Duraçã o da designaçã o do ROC ad hoc: as normas referentes á designaçã o do ROC nã o sã o


aqui aplicá veis. Importa ver se esta designaçã o pode ser feita sem prazo ou se a eleiçã o do
ROC deve ser feita para um determinado nº de exercícios e, nesse caso qual o má ximo
admissível. Inclinamo-nos para a primeira soluçã o por ser a que melhor se coaduna com o
espírito do 262º.

Designaçã o sem prazo: caso a sociedade, ao eleger o ROC nos termos do 262ºnº2 nã o
tenha estabelecido prazo de duraçã o das respectivas funçõ es, deve entender-se que a
designaçã o é feita sem prazo até ao momento em que, estando reunidas as condiçõ es
previstas no nº3, delibera revogar a designaçã o ou, antes disso, se pretender proceder à
substituiçã o do ROC anteriormente eleito.

32. os órgãos de administração e de fiscalização das sociedades anónimas

32.2 a gestão da sociedade anó nima:

32.2.1 competência do conselho de administração


O conselho de administraçã o, à semelhança da gerência, tem a seu cargo a gestã o dos
negó cios sociais e a representaçã o da sociedade.

32.2.1.1 gestão da sociedade


O conselho de administração (conselho de administração executivo ou administrador ú nico)
é o ó rgã o competente para gerir os negó cios sociais, tendo a seu cargo a pratica de todos
os actos que se reconduzem á prossecução do objecto social e os actos de gestão da
sociedade
)arts.405ºnº1 e 406º; 431º). Trata-se do ó rgã o de representaçã o da sociedade que actua e
cumpre os respectivos direitos o vinculaçõ es na realizaçã o da actividade social.

A lei enumera, exaustiva e exemplificativamente, todos os actos que considera de gestã o,


neles incluindo, como actos típicos de gestã o a elaboraçã o de relató rios e das contas
anuais
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(406ºd)), a aquisição de imó veis – mesmo quando não corresponda ao objecto social (406ºe))
– e, por maioria de razã o, de qq bens moveis e bens incorpó reos (ex. patentes, quotas) e a
aquisição ou abertura de estabelecimentos, bem como encerramento (406º j)).
406º n) – reconhece ao ó rgão de gestão a competência para deliberar sobre qq outro assunto
sobre o qual algum administrador requeira deliberaçã o do conselho.

Como aceitar e interpretar, tendo conhecimento de q a assembleia geral tem competência


para deliberar sobre matérias que não estão compreendidas na competência de outros ó rgãos
(373ºnº2 in fine) ?
- para alem dos poderes normais de gestã o e representaçã o reconhecidos ao ó rgã o de
administraçã o, para a prossecuçã o do objecto social e realizaçã o da actividade econó mica
que o mesmo enquadra (405º) e dos poderes de gestão que a lei estende especificamente a esse
ó rgã o (406º)  o 406º alínea j) amplia a competência do ó rgã o de gestã o a assuntos nã o
especificados.
- na pratica estes actos de gestão estão sempre limitados pelos poderes resultantes da pró pria
lei e pelo â mbito do objecto da sociedade; se bem que, perante 3os a soluçã o em termos de
vinculaçã o vai ser parecida com a que já foi adiantada para as sociedades por quotas.
Salvo se o contrato proibir, pode o conselho encarregar um administrador de praticar
certos actos que se enquadrem no objecto social e sem que tal encargo limite os poderes
normais dos demais (407ºnº1 e2).

32.2.1.2 comissão executiva e administrador delegado


O contrato pode autorizar que o conselho delegue certos poderes de gestã o – a chamada
“gestão corrente” – num ou mais administradores que se designarã o administradores
delegados, ou numa comissão executiva formada por um mínimo de 2 membros (407ºnº3).
A deliberaçã o de delegaçã o de poderes – tem que estar contratualmente autorizada –
deve fixar os respectivos limites, havendo certas matérias que nã o pode ser objecto de
delegaçã o, casos da aprovaçã o (interna) das contas, prestaçã o de garantias e actos de
competência excepcional deste ó rgã o (ex. mudanças de sede e aumento de capital, qd
autorizadas 407ºnº4).
A competência do conselho é sempre cumulativa com a dos membros em que sã o
delegados poderes, ie nã o é afastada por efeitos da delegaçã o feita relativamente á s
matérias autorizadas (407ºnº8).

o Quando a delegaçã o é efectuada em administradores individualmente


considerados, estes assumem o cargo de administradores delegados
o Se for feita numa comissã o formada para o efeito, esta designa-se por comissão
executiva e funciona como um conselho dentro do pró prio conselho (de
administraçã o), reunindo e decidindo separadamente, fiando assim encarregada
da gestã o da sociedade.

Tendo em conta a competência exclusiva do conselho em matéria de gestão (373ºnº3), não se


nos afigura admissível que seja a AG a designar o administrador delegado e a estabelecer o
quadro da delegaçã o de poderes, nem a interferir com a atribuiçã o dos poderes
executivos. No entanto, se a AG indicar na lista de administradores eleitos que um deles se
propõ e desempenhar funçõ es delegadas e o conselho nada deliberar acerca dessa
designaçã o considera que aceita tacitamente.

32.2.2 composição
32.2.2.1 numero de membros
O nº de administradores já não tem de ser obrigatoriamente impar (390ºnº1 e 424ºnº1),
podendo o ó rgão de gestão ser singular (administrador ou administrador executivo ú nica
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390ºnº2 e 424ºnº2), enquanto o capital social nã o for superior a 200.000.00 euros ou os
accionistas nã o optarem por eleger um conselho de administraçã o.
Nenhum dos ó rgãos executivos (conselho de administração simples ou executivo) se encontra
sujeito a um nº máximo de membros (390ºnº2 e 424ºnº1).
Pode suceder que, tendo um (ou+) administrador(es) cessado as funçõ es, por renuncia ou
impedimento (definitivo), o(s) mesmo(s) não venha(m) a ser oportunamente substituído(s).
nesse caso o conselho continuará a funcionar com os restantes, desde que subsistam em
funçõ es a maioria dos administradores designados. Simplesmente o quó rum continua a
determinar-se pelo nº de designados e não relativamente aos remanescentes, o que não deixa
de ser relevante.

32.2.2.2 natureza jurídica dos membros do ó rgão de gestão


O ó rgã o de administraçã o da sociedade anó nima pode ser composto por accionistas ou
nã o accionistas, nã o estabelecendo, hoje, a lei diferença quanto á natureza jurídica das
entidades que podem ser designadas para desempenhar funçõ es.
o nas sociedades por quotas só podem ser nomeadas gerentes pessoas singulares
com capacidade plena (252ºnº1 in fine)
o nas sociedades anó nimas podem ser designados administradores as pessoas singulares
e as pessoas colectivas, devendo estas indicar para desempenhar funçõ es uma pessoa
singular (390ºnº3 e 4 e 425ºnº8)
nas sociedades anó nimas, qq q seja a sua estrutura, as pessoas singulares indicadas pelas
pessoas colectivas desempenham os respectivos cargos em nome pró prio e sã o
inamovíveis por vontade da designante, a qual é legalmente solidária com a designada
(390ºnº4 aplicável tbm aos membros do conselho de administração executivo 425ºnº8).

32.2.3 designação dos membros do ó rgão de gestão

Há 4(+1) formas de nomeação dos administradores: (391ºnº1 e 425º)


A) nomeaçã o contratual :a nomeaçã o é feita no contrato de sociedade, nomeadamente
nos estatutos, embora possam tbm ser nomeados á margem destes, no pró prio
instrumento de constituiçã o da sociedade, considerado o cará cter necessariamente
transitó rio da respectiva designação (391ºnº1 e 425ºnº1)
B) eleição (pelos accionistas e pelo conselho geral e de supervisão): caso não tenham sido
designados no contrato, os membros do ó rgã o de gestã o devem ser eleitos pelos
accionistas (391ºe 392º) ou pelo conselho geral de supervisão ou pela AG, se for este o
ó rgão competente (425ºnº1). As regras especiais de eleição podem estar previstas nos
estatutos, nas soc anó nimas em geral, ou serem supletivamente aplicá veis á s soc
abertas
C) estado ou entidade publica: a designação de administradores pelo estado ou entidade
publica equiparada deve ocorrer nos termos de legislaçã o especial (aplicá vel a
sectores pú blicos + 392ºnº11) mas já nã o tem especiais consequências a nível da
respectiva destituiçã o, para além das que resultem de a eleiçã o ser efectuada nos
termos do 392º, ie a deliberação de destituição do administrador que tenha sido eleito
ao abrigo das regras especiais previstas nessa disposição legal – incluindo a nomeação
do adm por parte do estado ou de entidade publica equiparada (392ºnº11)- é ineficaz
caso a ela se oponham votando contra, accionistas que representem 20% do
capital social (403ºnº2).
D) nomeaçã o judicial : embora nã o seja uma prá tica habitual, por vezes é necessá rio
requerer ao tribunal que designe um administrador para assegurar a gestã o da
sociedade (394º e 426º). Tal acontecerá sempre que faltem administradores em nº
necessário para deliberar ou vincular a sociedade, sem que os accionistas procedam à
respectiva substituiçã o, ou sempre que tenha decorrido mais de 180 dias sobre a
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cessaçã o de funçõ es dos administradores sem que os mesmos sejam substituídos.
NOTA: o administrador (nomeado judicialmente) passa a gerir a soc sem a
participaçã o das outras pessoas, como administrador ú nico, independentemente
do montante do capital social.
E) Designaçã o do presidente do conselho de administraçã o: o presidente do CA é
escolhido pelo pró prio conselho, se o contrato for omisso sobre a sua designaçã o
ou nã o prever que a mesma deva er feita pela assembleia (accionistas) que eleger
administradores (395ºnº1 e 2). Caso seja designado pelo conselho, pode este ó rgão em
qq momento, no decurso do mandato, proceder à respectiva substituição (395ºnº2 in
fine). O presidente do conselho de administraçã o executivo é indicado no acto de
designaçã o dos membros do conselho e caso tal nã o tenha acontecido é escolhido
pelos seus pares (427ºnº1)

Funcionamento do conselho de administração:


Regulado no art.410º (+433ºnº1) – composto por normas dispositivas de carácter permissivo.
Quer dizer, a pró pria lei tem o cuidado de regular o funcionamento do conselho de
administraçã o, no caso de o contrato ser omisso. Nã o obstante, o contrato pode regular de
modo diferente, aproveitando, portanto, a dispositividade da regra relativa a essa matéria.

Regime-regra: as decisõ es da administraçã o, sempre que tal ó rgã o for colegial, devem ser
tomadas em reunião com a presença dos respectivos membros. Por isso normalmente podem
ser praticados por qq dos administradores na execução de deliberaçõ es já constantes de acta,
ou sempre que tiver sido previamente delegada num ou + administradores a gestão
corrente da sociedade, as decisõ es de gestã o da sociedade devem ser tomadas por
deliberaçã o dos membros do ó rgã o executivo.

Convocaçã o (410º e 411º) as reuniõ es do conselho de administraçã o devem ser


convocadas por escrito, salvo se estiverem agendadas para datas prefixadas (410ºnº3). O
conselho pode reunir em datas prefixadas se o contrato previr essa possibilidade (ex. de
art no contrato de soc “ as convocatórias são dispensadas reunindo o conselho na 1ª quarta-
feira de cada mês ás 18.00h).
No entanto, habitualmente o conselho deve reunir mediante convocató ria efectuada pelo
presidente ou subscrita por 2 administradores, devendo ser agendada a respectiva ordem
de trabalhos (410ºnº1). Se todos os administradores estiverem presentes, o conselho pode
reunir e funcionar normalmente se todos acordarem faze-lo, à semelhança do que acontece
com as assembleias gerais universais (411ºnº1 a).
Pode acontecer que o pró prio contrato preveja formalidades especificas (acrescidas) para
a convocação do conselho sempre que estiver em causa deliberar sobre matérias determinadas
consideradas especialmente relevantes (ex. alteraçã o da sede).

Periodicidade: nos termos do 410ºnº2 o conselho de administraçã o deve reunir pelo


menos, uma vez por mês, salvo se for previsto no contrato outra periodicidade. As
reuniõ es da administraçã o sã o destinadas a tomar decisõ es de gestã o relevantes e a sua
ocorrência depende de diversos factores, desde a complexidade da actividade da
sociedade até ao facto de o conselho ter decidido constituir um administrador delegado ou
ter deliberado delegar numa comissã o executiva.
A lei nã o estabelece, assim, em termos imperativos uma periodicidade mínimo e má xima
possíveis, admitindo que cada sociedade possa optar pelo ritmo que considera adequado.

Na falta de regra estatutá ria, aplica-se a regra legal acima enunciada, devendo o conselho
de administraçã o reunir uma vez por mês. No entanto, quando as sociedades têm especial
dimensã o é preciso reunir + vezes.
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A lei tbm nã o prevê qq sançã o para a falta de reuniõ es.

Quó rum constitutivo: a lei exige um quó rum constitutivo (mínimo) para que o conselho de
administraçã o possa reunir e deliberar validamente, ir para que o conselho possa
funcionar deve estar presente ou representada a maioria dos seus membros que tenha sido
designados para o mandato em curso (410ºnº4), e não dos que se encontram em efectividade
de funçõ es – por impedimento definitivo ou renuncia – sem terem sido substituídos.
Quando houver lugar a representaçã o – o que só acontece se a situaçã o estiver
contratualmente autorizada (410ºnº5) – a substituiçã o do administrador ausente nã o é
assegurada por um terceiro, mas por um dos administradores em exercício, que se ira
pronunciar por si e em nome do representado, porque o conselho nã o abre ao exterior. É
possível que um administrador represente mais do que um ausente, mas pode o contrato
de sociedade limitar o nº má ximo de representaçõ es.

Deliberaçõ es: as deliberaçõ es sã o tomadas por maioria de votos dos presentes, dos que se
manifestem por meios telemáticos – quando tal for viável – e dos que, em conformidade
com autorização estatutária, votem por correspondência (410ºnº7).
A formulaçã o do 410ºnº7 contém uma certa imperatividade – é aceitá vel porquanto em
ó rgãos executivos não são concebíveis situaçõ es de impasse em decisõ es fundamentais para a
vida da sociedade.

Voto de qualidade: a lei exige que o presidente tenha voto de qualidade,


independentemente da atribuiçã o estatutá ria, se o conselho for composto por um nº par
de administradores (395ºnº3 a) ), devendo o acto de designaçã o do conselho indicar que
o administrador terá esse voto (395ºnº4).

32.2.6. Cauçã o por desempenho de funçõ es


32.2.6.1. Dever e dispensa de prestar caução
Os administradores designados [e também os membros do conselho fiscal e do conselho geral
e de supervisã o (arts. 418.º-A e 445.º, n.º 3, respectivamente)] devem prestar cauçã o pelo
desempenho dos respectivos cargos (arts. 396.º, n.ºs 1 e 2 e 433.º, n.º2).
A cauçã o pode ser dispensada por deliberaçã o dos accionistas ou do conselho geral e de
supervisão (consoante o modelo de governação adoptado), independentemente de expressa
previsã o contratual (arts. 396.º, n.º 3, parte final e 433.º, n.º 2).
Caso os administradores sejam accionistas, devem abster-se de participar na aprovaçã o
da proposta que conduza á dispensa da sua cauçã o, por apresentarem um interesse
pró prio conflituante com o interesse social. (art. 384.º, n.º 6) e a proposta deverá ser
colocada à discussã o tantas vezes quanto os accionistas-administradores envolvidos, para
que cada um deles se possa abster de participar na votaçã o que lhe disser respeito.
Excepção: nã o há dispensa de cauçã o nas sociedades abertas (cotadas) nem nas
sociedades que durante dois exercícios consecutivos preencherem os critérios do art. 413.º,
n.º 2, alínea
a) (ou seja, grandes sociedades anó nimas) – arts. 396.º, n.º 3 e 433.º, n.º2 – mas pode ser
substituída por um seguro (art. 396.º, n..º 2).

Cauçã o = garantia patrimonial a prestar por aqueles que forem designados para o
desempenho de determinadas funçõ es (art. 396.º, n.º1). No entanto, hoje os
administradores respondem directamente perante terceiros (nomeadamente, credores
sociais – arts. 78.º e 79.º), o que leva a que a cauçã o deva ser prestada nã o só em benefício
da sociedade mas também em benefício dos titulares de indemnizaçõ es (art. 396.º, n.º 2), que
são todos aqueles que têm interesse no adequado funcionamento e actividade da sociedade –
os “stakeholders”, as partes interessadas na actividade da sociedade).
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A prestaçã o de cauçã o garante a existência de uma quantia destinada a cobrir os
casos de responsabilidade pessoal por danos causados pelos administradores, no exercício das
suas funçõ es, perante todos quantos se relacionarem com a sociedade.

32.2.6.2. Forma e montante da caução


Art. 396.º = os membros do conselho de administraçã o das sociedades cotadas e das
grandes sociedades anó nimas devem prestar uma caução, não dispensável, no montante
mínimo de
250.000 €. Em alternativa podem substituir essa caução por seguro contratado para
idêntica finalidade (art. 396.º, n.s 1 e 2).
Para as restantes sociedades anó nimas em que não ocorra dispensa da prestação de caução, o
montante mínimo a prestar ou a segurar é de 50.000 € (art. 396.º, n.º 1), o que leva
frequentemente à substituiçã o da cauçã o por um seguro que cubra os riscos decorrentes
do exercício das funçõ es de administraçã o.
Caso o montante seguro seja superior ao mínimo legal, a sociedade poderá assumir os
respectivos custos referentes à parte que superar esse mínimo (parte final do art. 396.º, n.º 2).

32.2.6.3. Falta da prestação ou dispensa da caução – Efeitos


Se a caução for obrigató ria, se o contrato de sociedade for omisso e nada for deliberado
sobre a sua dispensa, tem de ser efectuada (ou substituída por um contrato de seguro) nos
trinta dias subsequentes à eleiçã o dos membros dos ó rgã os sociais legalmente obrigados a
prestar cauçã o, sob pena de cessaçã o imediata das respectivas funçõ es.
Nã o é possível apurar se a prestaçã o de cauçã o foi ou nã o feita ou se foi substituída por
seguro, porque nã o é registá vel. Se da sua nã o prestaçã o resultasse a cessaçã o imediata
das funçõ es, ou seja, a caducidade automá tica da designaçã o, os terceiros que se visam
proteger nem teriam conhecimento da ocorrência.

A caducidade da designaçã o prevista nesta disposiçã o legal é juridicamente impeditiva do


desempenho de funçõ es – mas os actos praticados pelo administrador em nome da sociedade
vinculam-na perante terceiros. Se para os terceiros os actos sã o vá lidos e eficazes, têm que
merecer a protecçã o que lhe estava garantida pela cauçã o
“O administrador faltoso tem o dever de deixar de exercer de facto o cargo logo que a
sua eleiçã o caduque, ocorrência que ele tem o dever de conhecer, pois deve reconhecer a
sua obrigaçã o de caucionar a responsabilidade e tem directo conhecimento de que nã o
cumpriu atempadamente esse dever.”
Mostra-se obrigató rio manter a cauçã o para além do termo de funçõ es, no momento em
que já nã o faz sentido aplicar a sançã o legal e fazer cessar as mesmas. Bem visível aqui a
natureza de garantia que a cauçã o reveste. Se a cauçã o (ou o seguro que a substitui), por
qualquer motivo cessar, nem por isso deixam de ser vá lidos e eficazes os actos praticados
no decurso do mandato, já cumprido.

32.2.7. Remuneração dos gestores


32.2.7.1. Fundamento e competência
Os gestores de sociedades anó nimas são, actualmente, profissionais altamente competentes e
especializados, quer na administração de grandes empresas, quer na área em que se centra
a actividade social, desempenhando funçõ es pelos seus vastos conhecimentos técnicos e
enorme experiência.
A remuneração dos membros do ó rgão de gestão é deliberada pelos accionistas, integrando
a respectiva competência (art. 399.º, n.º 1).
A lei pressupõ e que as funçõ es em ó rgã os de administraçã o e representaçã o sejam
remuneradas, visto que sã o asseguradas em geral por quem nã o tem possibilidade de
obter uma retribuição da sua prestação. Não sendo accionista com uma participação
significativa,
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 17
o administrador nã o pode esperar ser remunerado pelos lucros, salvo se o contrato de
sociedade o prever expressamente.

Para fixar o quantitativo da remuneraçã o dos gestores societá rios, os accionistas podem,
em assembleia geral, tomar a respectiva decisão ou constituir uma comissão de remuneraçõ es
ou de vencimentos para o efeito (art. 399.º, n.º1). Delegada a competência na comissã o de
remuneraçõ es, os accionistas mantém a possibilidade de se pronunciar sobre a matéria da
remuneração dos titulares dos ó rgãos sociais, formulando quando for oportuno as
propostas que considerarem adequadas a esse propó sito e devendo o presidente de mesa
submetê-las à apreciação da assembleia geral. A competência dos accionistas é,
eventualmente, cumulativa com a da comissã o de remuneraçõ es que foi constituída. Esta
comissã o nã o subtrai poderes aos accionistas – concorre com eles e, desta forma, pode
também optar por formular propostas que submete à apreciaçã o dos mesmos.

32.2.7.2. Comissão de remuneraçõ es


É habitualmente formada por três membros [embora a lei nã o estabeleça o respectivo
nú mero (podem, assim, ser dois membros ou mais de três)], aos quais cabe estabelecer a
remuneraçã o dos membros dos ó rgã os sociais e fixar os critérios (em conjunto articulado
constitui o que se convencionou ser a política de remuneraçõ es) a que deverá obedecer a
eventual atribuição, a alguns deles, de uma remuneração variável. Constitui-se esta
comissão para evitar apreciar a questã o das remuneraçõ es dos titulares dos ó rgã os sociais
e dos gestores no â mbito da assembleia geral.

A lei nã o indica quais os requisitos a que deve obedecer a participaçã o nesta comissã o. Há ,
no entanto, que evitar fazer coincidir totalmente a sua composiçã o com membros do
conselho de administraçã o, embora se admita uma minoria dos seus membros, em
especial quando forem accionistas. A lei também nã o prevê a duraçã o do mandato dos
membros desta comissã o e o Professor acha que nã o deve exceder o mandato dos demais
titulares dos ó rgã os sociais mas uma vez constituída deve manter-se até ser formalmente
substituída ou extinta.
As vantagens da sua criaçã o sã o: permitir fixar remuneraçõ es fora do ambiente das
assembleias gerais, atendendo a elementos relevantes e a critérios adequadamente formados
e viabilizar a definiçã o de uma política de remuneraçõ es compatível com a capacidade
econó mica da empresa, com base na articulaçã o dos seus membros e num contexto de
autonomia em relaçã o à competência da assembleia geral.
Os membros desta comissão podem ser remunerados por assumirem esse cargo (por decisão
da assembleia geral, que fixa o respectivo montante, que será fixo) mas se o contrato nada
disser, não serão remunerados. A comissão de remuneraçõ es deve funcionar com a
presença da maioria dos seus membros e deve registar em acta, lavrada em livro pró prio,
as suas deliberaçõ es.
A atribuiçã o de remuneraçã o excessiva aos administradores será da responsabilidade dos
membros da comissã o de remuneraçõ es.

32.2.7.3. A politica de remunerações


A política de remuneraçõ es a praticar pela sociedade é desde há vá rios anos objecto de
apreciaçã o, em termos consultivos, por parte dos accionistas de algumas das grandes
sociedades. Essa politica de remuneraçõ es visa adequar a retribuiçã o pelo desempenho de
certos cargos sociais à respectiva complexidade e responsabilidade, tendo em conta as
disponibilidades ou capacidade econó mica da empresa.
Em meados do ano 2009, na sequencia da crise econó mica global, foi aprovada a Lei
n°28/2009, de 19 de Junho, que estabeleceu o regime de aprovaçã o e de divulgaçã o da
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 17
politica de remuneraçã o dos membros dos ó rgã os de administraçã o e de fiscalizaçã o das
entidades de interesse pú bico.

Nos termos deste diploma, tais entidades deverã o (por intermédio da comissã o de
remunerações ou do órgão de administração, na falta daquela) submeter “anualmente,
a aprovação da assembleia-geral uma declaração sobre politica de remuneração dos
membros dos respectivos órgãos de administração e de fiscalização” (art. 2° n°1 da Lei n°
28/2009).
Se a proposta relativa à politica de remuneraçõ es submetida à apreciaçã o dos accionistas
pela comissã o de remuneraçõ es nã o for aprovada, o que sucede? A lei é omissa sobre esta
questão.
A rejeição ou não aprovação dessa proposta pelos accionistas não prejudica as remuneraçõ es
fixas que lhes sejam fixadas por essa comissã o, nem tã o pouco prejudica a decisã o dessa
comissã o sobre a atribuiçã o da componente variá vel do exercício encerrado. No entanto,
enquanto não for aprovado o critério a que há de obedecer o pagamento dessa
remuneração, os administradores ficam sem direito à mesma.

32.2.7.4. Estatuto remunerató rio


Os administradores podem ser, ou não, remunerados, e sendo-o podem auferir, para além
de uma remuneraçã o fixa, uma remuneraçã o variá vel.
A Lei parte do principio de que os administradores sã o remunerados, devendo a
respectiva remuneração ser compatível com as funçõ es desempenhadas e com a capacidade
econó mica da sociedade (art. 399, n°1).
A remuneraçã o pode ter duas componentes, sendo fixa ou variá vel. Nã o devemos
confundir remuneraçã o certa (a que se refere n°2 do art 399) com remuneraçã o fixa.
A remuneraçã o é certa se for estabelecida num mesmo quantitativo perió dico ou se, sendo
variável, for percepcionavel independentemente da obtenção de lucros pela sociedade, sendo
previsível em funçã o dos critérios estabelecidos para a sua atribuiçã o. Por isso, se a
remuneraçã o fixa é sempre certa, também o é a remuneraçã o variá vel que nã o esteja
dependente da obtenção de lucros, mas apenas do cumprimento de determinados objectivos.

32.2.7.5. As tensõ es sobre a remuneração dos gestores


Como é sabido, discute-se presentemente se os gestores das grandes sociedades nã o serã o
demasiadamente bem pagos, em claro desequilíbrio com a retribuiçã o dos demais
funcioná rios e colaboradores.
No excesso de remuneraçõ es encontra-se a confusão entre a direcção efectiva da empresa e o
risco do capital. Quando nã o há coincidência entre um e outro, os gestores nã o devem
pretender ser pagos como se fossem verdadeiros accionistas. Em certa medida, devemos
reconhecer que certas remuneraçõ es sã o excessivas, porque de facto o risco do capital nã o
é dos gestores, mas sim dos accionistas. E este constitui o cerne do problema.
32.2.7.6 Tentativas (exó genas) de limitação de remuneraçõ es
As remuneraçõ es (estabelecidas para um exercício social ou para um mandato) podem ser
alteradas pelos orgaos que as estabelecem (assembleia geral ou comissão de remuneraçõ es) e
que têm o poder de as rever a todo o tempo, se a situaçõ es econó mica da sociedade o
justifica (art 440 n°3 in fine, que aplicamos à retribuiçã o dos administradores por
analogia).
Contudo assiste-se presentemente a uma tentativa de interferência do poder politico na
fixação do montante das remuneraçõ es dos administradores das grandes empresas.
O Estado tem sido particularmente activo na procura da limitaçã o das remuneraçõ es dos
gestores das grandes empresas, em especial dos respectivos prémios, que integram a chamada
remuneraçã o variá vel.
Tal tem sucedido no plano legislativo e também das instruçõ es que o Estado tem
transmitido aos seus representantes em assembleias gerais. Cremos que, a este propó sito,
importa distinguir as sociedades anó nimas participadas maioritariamente pelo Estado,
directa ou
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 17
indirectamente, ou por outras entidades publicas (e que sã o empresas publicas), daquelas
que sã o simplesmente participadas por tais entidades que sã o, para todos os efeitos,
consideradas empresas privadas. Nestas, qualquer tentativa de interferência do governo
que nã o revista a devida forma legal (e que, se salde por uma alteraçã o à s leis vigentes no
mercado concorrencial) será ilegal.

32.2.8. Suspensão de funções de administradores


32.2.8.1. Fundamento e competência
Os administradores podem ser suspensos pelo conselho fiscal, pela comissão de auditoria
ou pelo conselho geral e de supervisão, consoante o modelo de governação em causa,
verificados determinados pressupostos, nomeadamente a falta de disponibilidade para o
exercício do cargo, por razoes de saú de ou o desempenho de funçõ es governativas (arts
400 e 430 n°3).
A suspensã o de funçõ es justifica-se sempre que se preveja uma impossibilidade
temporá ria, mas duradoura e não meramente pontual, para o exercício de funçõ es, e
simultaneamente, se preveja que as mesmas possam vir a ser retomadas dentro dos
mandatos para que os administradores foram designados.
O impedimento para exercer o cargo deve ser de duração superior a 60 dias (art 400 n°1 al b),
podendo a suspensão ser requerida por iniciativa dos pró prios administradores ou declarada
pelo ó rgã o de fiscalizaçã o.
Há situaçõ es de suspensã o que nã o se encontram legalmente previstas. Tal acontece,
designadamente, com a suspensã o por determinaçã o judicial
A regra legal que dispõ e sobre o regime aplicável ao administrador suspenso consta do n°2 do
art 400 CSC.

32.2.8.2. Estatuto jurídico do administrador suspenso


Nos termos do disposto no artigo 400 n°2, o contrato de sociedade pode regular a situação de
suspensão dos administradores, estabelecendo os respectivos direitos e obrigaçõ es. Assim,
o contrato pode prever que o administrador suspenso mantenha alguns direitos, como por
exemplo o de receber a remuneração, ou parte dela, ou o de frequentar as instalaçõ es
sociais, mas nã o pode salvaguardar poderes que sejam incompatíveis com a suspensã o de
funçõ es.
Os estatutos podem também prever a subsistência de alguns deveres, como seja o dever
de colaboraçã o com a sociedade, incluindo neste a prestaçã o de informaçõ es e
esclarecimentos que lhe sejam solicitados e a disponibilizaçã o dos dossiers que
acompanhava.
Se o contrato de sociedade for omisso, a suspensã o do administrador implica a suspensã o
de “todos os seus poderes, direitos e deveres, excepto os deveres sue não pressuponham
o exercício efectivo de funções” (art. 400 n°2), o que significa que, com excepção destes
deveres (de lealdade, confidencialidade, não concorrência com a sociedade) todas as demais
situaçõ es jurídicas activas e passivas que caracterizam a relaçã o do administrador com a
sociedade se suspendem.
Neste quadro podem ocorrer situaçõ es especialmente melindrosas e injustas, como sucede
com o administrador suspenso por doença grave, que deixa de auferir a sua remuneraçã o.
Devemos concluir que a suspensão deverá ser cuidadosamente ponderada antes de requerida
ou decretada.

32.2.8.3. Cessação da suspensão


Desaparecendo o motivo que originou a suspensã o (e nã o tendo ainda cessado o mandato
para que o administrador havia sido designado) deverão as funçõ es ser retomadas em
pleno, sem quaisquer limitaçõ es. Para o efeito, haverá que distinguir duas situaçõ es
diferentes:
a) Se a suspensã o foi determinada pelo ó rgã o de fiscalizaçã o, deverá este declarar a
respectiva cessação, mesmo que a suspensão tenha sido requerida pelo administrador
b) Se a suspensão foi decretada pelo tribunal, deverá ser este ó rgão a pô r-lhe termo, se o
mandato nã o tiver terminado entretanto.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 17
Constatando-se que a situaçã o temporá ria se converte em definitiva ou que,
presumivelmente, durará por tempo superior ao que (ainda) falta até ao termo do
mandato do administrador, poderá o ó rgã o de fiscalizaçã o declarar a cessaçã o definitiva
de funçõ es por incapacidade (art. 401 CSC).

32.2.8 Cessação de funçõ es


Regra: ocorre pelo decurso do mandato para que foram designados, nã o sendo reeleitos.
Os administradores podem cessar as suas funçõ es por renú ncia ou por serem destituídos
das mesmas.
O desempenho de funçõ es de administraçã o encontra-se permanentemente sob o
escrutínio dos accionistas, pelo que podem estes nas assembleias - gerais de aprovaçã o de
contas e apreciação de desempenho da administração proceder à destituição dos
administradores em exercício, ainda que tal facto nã o conste expressamente da ordem de
trabalhos (376º nº1 alínea c CSC).

Destituiçã o de administradores: em regra ocorre sem que tenha de se fundamentar num


motivo, sendo a falta de justa causa na destituiçã o apenas relevante no que se refere a
eventual indemnizaçã o pelos danos sofridos a que o destituído tem direito. Assim, se a
sociedade optar por destituir o administrador sem justificação, ela deverá indemnizá-lo pelos
danos patrimoniais que sofrer (que a lei considera nã o poderem exceder o montante que
ele deveria auferir pelo desempenho das suas funçõ es até à conclusã o do respectivo
mandato), pelos danos patrimoniais resultantes do prejuízo que a sua reputaçã o tenha
sofrido e por danos nã o patrimoniais em face do teor da destituiçã o.

Os administradores, incluindo os que houverem sido designados pelo Estado, podem ser
destituídos em qualquer momento pela assembleia - geral (403º CSC), no entanto a
assembleia-geral só pode destituir os membros da comissã o de auditoria desde que ocorra
justa causa (423 – E nº1 CSC).

Os administradores executivos podem ser destituídos pelo conselho geral e de supervisão


se for este o ó rgã o competente para o efeito (441 alínea a CSC).

Destituiçã o ad nutum: Destituiçã o que ocorre sem que tenha de ser invocado um
motivo/causa para o efeito.

Se a destituiçã o nã o se fundar em justa causa o administrador tem direito a indemnizaçã o


pelos danos sofridos, pelo modo estipulado no contrato com ele celebrado ou nos termos
gerais de direito, sem que a indemnizaçã o possa exceder o montante das remuneraçõ es
que presumivelmente receberia até ao final do período para que foi eleito (403/5 CSC) -
este nú mero é aplicável aos administradores executivos por força do disposto no 430/2.

É importante distinguir se a destituiçã o ocorre pura e simplesmente sem justificaçã o e se a


mesma é indevidamente fundamentada em justa causa sem que ela se verifique.
- Sem justificaçã o: se decorre da vontade da maioria accionista, que decide afastar
um administrador, esta não tem sequer que ser justificada, podendo a sua decisão resultar
de uma perda de confiança nesse administrador ou na escolha de diferente pessoa para
desempenhar o cargo.
- Se a maioria accionista pretende ter havido uma justa causa que de facto nã o se
verificou, mas alegou para o efeito a falta de aptidã o do administrador destituído para o
desempenho do cargo, entã o há que ponderar as consequências que resultam para a
reputação profissional deste a invocação indevida e o prejuízo em termos morais. Na
opinião do professor neste caso já que adicionar aos danos patrimoniais respeitantes aos
salários que
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 17
deixa de auferir os que resultam do prejuízo para a sua reputaçã o e os danos morais
associados à tristeza que essa forma de destituiçã o tenha provocado.

A lei é omissa quanto á eventual indemnizaçã o por danos nã o patrimoniais, devendo


consequentemente aplicar-se os princípios gerais de direito, sendo admissível na opiniã o
do professor que os danos não patrimoniais possam ser compensados e, embora não seja
pacifica a atribuiçã o de indemnizaçã o por danos morais existem já decisõ es na ordem
jurídica portuguesa que a reconhecem como vá lida.

A destituiçã o nã o é impugná vel – justificaçã o: o administrador nem sempre é accionista, o


que acontece é que sempre que ela ocorrer sem causa faz incorrer a sociedade em
responsabilidade, sendo da competência dos tribunais cíveis visto estar em causa os
efeitos por ela provocados.

A clá usula golden parachute


Noçã o: clá usula que tenha por finalidade atribuir uma indemnizaçã o relevante em caso de
destituiçã o sem justa causa. Na opiniã o do professor estas clausulas sã o admissíveis desde
que negociadas (ou assumidas pelos accionistas) como corolá rio da autonomia privada em
que se movem as sociedades.

Destituiçã o condicionada
A destituiçã o encontra-se condicionada à s regras especiais de eleiçã o, quando ocorrer sem
justa causa (403º/2 CSC). Na verdade ela não pode ser feita de forma leviana pela assembleia-
geral se tiver havido administradores designados ou eleitos por recurso a tais regras especiais
de eleiçã o previstas no 392º, designadamente por terem sido eleitos por accionistas
detentores de capital social, assim, a deliberaçã o de destituiçã o sem justa causa do
administrador eleito ao abrigo das regras especiais estabelecidas no artigo 392.º não produz
quaisquer efeitos se contra ela tiverem votado accionistas que representem, pelo menos, 20%
do capital social. Havendo justa causa a assembleia é livre de os destituir, sendo quem, no
plano pessoal, haverá direito a indemnizaçã o se nã o houver justa causa.

Os administradores nã o executivos que integrem a comissã o de auditoria nã o podem ser


afastados sem justa causa (423/E nº2 CSC).

Destituição sem justa causa – efeitos


Um ou mais accionistas titulares de acçõ es correspondentes, pelo menos, a 10% do capital
social podem, enquanto nã o tiver sido convocada a assembleia-geral para deliberar sobre
o assunto, requerer a destituiçã o judicial de um administrador, com fundamento em justa
causa (403/3). A sociedade não terá que indemnizar o destituído como poderá ressarcir-se de
eventuais danos que tenha sofrido pela actuaçã o do mesmo.

Reforma e renú ncia de membros da administração


A reforma ocorre por velhice ou invalidez e pode estar a cargo da pró pria sociedade, com
efeito o contrato de sociedade pode prever em acumulaçã o com o regime geral de
previdência, um regime de reforma a cargo da sociedade (402º + 433/3).

A renú ncia é um acto unilateral pelo qual o administrador põ e termo à s suas funçõ es,
devendo comunicar a sua intençã o ao presidente do ó rgã o que integra ou ao conselho de
fiscal ou comissã o de auditoria aplicando-se os respectivos efeitos a partir do final do mês
seguinte àquele em que ocorre se entretanto o renunciante não for substituído (artigo 404º
e 433/4).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 17
A admissã o para além do mandato
Os administradores são em regra designados para mandatos que coincidem com os anos civis
(391º/3) salvo se o exercício social nã o coincidir com o ano civil, por nesse caso nã o fazer
sentido que a previsã o da lei seja aplicá vel cegamente.

Artigo 376º

Por vezes a assembleia-geral anual subsequente ao termo do mandato nã o elege novos


administradores por razoes que podem ser diversas. Nesse caso, importa apurar se os
administradores, cujo mandato terminou pelo decurso do tempo e que não foram
entretanto reconduzidos, nem substituídos por novos administradores subsistem em
funçõ es (determinaçã o feita por lei – 391º/4 – na medida em que nã o é admissível que a
sociedade fique sem responsá vel). Importâ ncia do artigo 394º nº1,2,3.

32.3. Representação e vinculação da sociedade anó nima


O conselho de administraçã o tem poderes exclusivos de representaçã o da sociedade (405º
nº2/431º/2) que fica vinculada aos negó cios concluídos ou ratificados pela maioria dos
respectivos membros, se os estatutos não estabelecerem um nú mero inferior para esse efeito
(408/1).

Sistema do nosso có digo:


- Administraçã o singular: a sociedade é representada pelo seu administrador
ú nico confundindo-se a sua decisão com o acto de execução material e não sendo necessário
verter em acta o sentido da decisã o tomada.
- Administraçã o plural: devem ser exercidos em conjunto cabendo aos
administradores deliberar previamente em conselho acerca da prática de determinados actos
e depois a sociedade fazer-se representar por quem eles designarem ou pela maioria dos
administradores, se nã o for contratualmente exigida outra mais elevada ou um nú mero de
administradores mais reduzido.

Actos habituais de comércio: podem ser executados sem necessidade de deliberaçã o


prévia vinculando a sociedade aos negó cios concluídos pela maioria.
Importância dos artigos 409º nº4/1 CSC.
Os terceiros que se relacionam com a sociedade estã o obrigados a certificar-se da
qualidade dos seus interlocutores, porque se o quiserem fazer adequadamente devem recorrer
aos meios de publicidade em geral e obter comprovativo da situaçã o da sociedade,
nomeadamente através da consulta da situaçã o registral desta?! Nã o, é de concluir na
opiniã o do professor que o terceiro apenas tem que conhecer a situaçã o legalmente
exigível na relaçã o com a sociedade pelos respectivos indicadores externos, nomeadamente
pela menção do seu capital social.

Entre favorecer os interesses da sociedade que tiver celebrado negó cio invá lido por falta
de poderes de representação, o nosso sistema optou por sacrificar os interesses da sociedade
aos que são tutelados pela aparência e correspondem à confiança nesta, embora admitindo
que a sociedade se pudesse naturalmente ressarcir exigindo responsabilidade aos
respectivos administradores.

3 Notas básicas:
1. Para intervir nos negó cios sociais os administradores devem invocar a sua qualidade
sendo suficiente que aludam à mesma.
2. Os terceiros têm que conhecer a situaçã o – regra da sociedade com que contratam,
mas nã o as suas especificidades (tais como o nú mero exacto de administradores
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 17
daquela sociedade e regras pró prias de vinculaçã o), nã o obstante provando-se que
o 3º tem efectivo conhecimento da situaçã o concreta, a confiança que ele gozava,
com base na aparência deixa de ter razã o de ser, nã o havendo lugar a protecçã o e
sendo a insuficiência de poderes oponível (168/2).
3. Na articulaçã o das regras de representaçã o e vinculaçã o da sociedade, os
interesses dos 3os sobrepõ em-se aos da sociedade que mesmo ocorrendo uma
efectiva falta de poderes de representaçã o, tem de assumir o acto praticado,
ficando vinculada.

Este sistema adequa-se à celeridade característica da vida comercial nã o obrigando os


agentes econó micos a apurarem, em cada momento, a situaçã o jurídica da sociedade, por
consulta da respectiva certidã o do registo comercial.
Importância do artigo 409º 2 e 6º e nº4.

Os poderes de representaçã o devem ser exercidos nos termos da lei, sendo estes do
conhecimento de terceiros, o professor nã o concorda que a sociedade fique devidamente
vinculada num caso em que a administraçã o ultrapasse os limites que legalmente lhe sã o
impostos, ainda que me concreto ela pudesse ter poderes estatutá rios para a prá tica desse
acto, a explicaçã o assenta no facto do terceiro nã o podia ignorar a limitaçã o legal.

32.4. Responsabilidade dos membros da administração


Enquadramento da questã o: 64º CSC – clá usula geral: forma como os membros da
administraçã o devem nortear a sua actuaçã o, pautando-se pela observâ ncia de deveres de
cuidado com a diligência de um gestor criterioso e ordenado, e de legalidade, esta clá usula
depende de concretizaçã o do caso concreto com manifesto impacto em matéria de
responsabilidade civil.

Na sua actuação os administradores não devem executar nem permitir que sejam
executadas deliberaçõ es nulas, qualquer que seja a sua fonte (412º nº4).

Responsabilidade dos administradores: 71º e seguintes CSC.

Presunção de culpa pela actuação e exclusão da responsabilidade


Artigo 72º/1: estabelece uma presunçã o de culpa relativamente à actuaçã o dos
administradores e gerentes, de forma a responsabilizá -los para com a pró pria sociedade,
sendo que ela implica responsabilidade solidária pelos danos a ressarcir (73/1) embora admita
o direito de regresso (73º nº2).

72/2: regra que exclui a responsabilidade dos administradores que provem ter actuado
com conhecimento sem interesse pessoal no acto e norteando-se por critérios de pura
racionalidade empresarial, nã o respondendo estes pelos danos causados à sociedade se
demonstrarem que a sua intervençã o foi ponderada, ocorreu de forma pessoalmente
desinteressada e consistiu na pratica normal e adequada de gestã o.

Reforma societária de 2006 – novidade do artigo 77º/1.

Responsabilidade para com os credores sociais (78º1); responsabilidade para com os só cios e
terceiros (79º1).

Nulidade das clá usulas limitativas da responsabilidade

As regras legais sobre responsabilidade sã o absolutas e impostas por princípios de ordem


pú blica, não podem ser afastadas pelos membros dos ó rgãos de gestão (74º).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 17
Responsabilidade criminal e contra - ordenacional

509º a 528º CSC e 378º e 379º C. Valores Mobiliários.

32.5. Vicissitudes das deliberaçõ es do ó rgão de gestão

Invalidade das deliberaçõ es da administração: regime – regra (anulabilidade), contudo a


estas deliberaçõ es inválidas do conselho de administração executivo aplica-se o 411º CSC por
remissã o do 433º nº1.

Deliberaçõ es nulas: 411º (alíneas a, b,c)

Deliberaçõ es anulá veis: fora dos casos acima enunciados e com base no artigo 411/3, sã o
anuláveis todas as deliberaçõ es que violem disposiçõ es da lei e do contrato de sociedade para
as quais a lei nã o comine especificamente a nulidade.

Competência para a arguição e declaração de invalidade: 412º (conselho de administração ou


a assembleia geral a poder de declarar nulas ou anular as deliberaçõ es (inválidas) do ó rgão de
administraçã o. No plano das sociedades que adoptem a estrutura de administraçã o e
fiscalização germânica a competência é do conselho geral e de supervisão (433º/1).

Na opiniã o do professor as deliberaçõ es podem ser directamente contestadas pelos


accionistas e só cios para salvaguarda dos interesses da sociedade (em especial da que reveste
a forma anó nima) e pela possibilidade que eles terã o de requerer ao tribunal que aprecie
directa e imediatamente a validade de uma decisã o desse ó rgã o, o que nã o prejudica a
hipó tese de entretanto a pró pria assembleia – geral se pronunciar sobre tal invalidade,
declarando-a (neste caso extingue-se naturalmente a instâ ncia). Esta impugnaçã o das
decisõ es de gestã o só pode ser feita quando as mesmas sã o oportunamente conhecidas
(nomeadamente as que se materializam em actos externos).

A aceitar-se a irrecorribilidade da deliberaçã o da assembleia-geral, quando se traduz na


invalidaçã o da decisã o de gestã o, estamos a admitir que os accionistas se imiscuam nos
assuntos de gestão diversamente da limitação que encontramos no 373/2.

32.6. Fiscalização das sociedades anó nimas


Compete ao conselho fiscal, ou fiscal ú nico nas sociedades de estrutura clássica, ao revisor
de contas e, em certa medida ao conselho geral e de supervisão, nas sociedades de
administração e fiscalização de inspiração germânica e à comissão de auditoria e ao revisor
oficial de contas nas sociedades com governaçã o anglo – saxó nica.

32.6.1. Conselho Fiscal


Composição
Artigo 413º/4: é composto pelo nú mero de membros fixado nos estatutos, no
mínimo de três membros efectivos.
415º/1: na falta de indicaçã o do período por que foram eleitos, entende-se que a
nomeaçã o é feita por quatro anos.
413/5: sendo três os membros efectivos do conselho fiscal, deve existir um ou dois
suplentes, havendo sempre dois suplentes quando o nú mero de membros for
superior.
413º Nº1/2/6
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 17
Requisitos de exigibilidade e incompatibilidades em matéria de desempenho de funçõ es
414/1
414º Nº3, 6 e 8
414º A – incompatibilidades: sujeita a que estes em certas circunstâ ncias sejam
independentes criando para o efeito um critério que permite aferir essa
independência. É independente quem nã o tiver associado a qualquer grupo de
interesses específicos na sociedade e seja isento em termos de aná lise ou decisã o
indispensá veis ao exercício das suas funçõ es, considerando-se que nã o tem essa
capacidade quem for titular ou actuar em nome ou por conta de titulares de
participaçã o qualificada igual ou superior a 2% do capital social da sociedade ou
tenha desempenhado mais de dois mandatos, de forma contínua ou intercalada (414º
nº5 alínea a/b).

Competência e funcionamento
Poderes: 420º, 421º
Deveres: 422º, 420 – A, 423

Artigo 64º/2: Os titulares de ó rgã os sociais com funçõ es de fiscalizaçã o devem observar
deveres de cuidado, empregando para o efeito elevados padrõ es de diligência profissional
e deveres de lealdade, no interesse da sociedade.

32.6.3. O fiscal ú nico


Nã o está sujeito à s regras de colegialidade e portanto decide perante aquilo que lhe
é apresentado. Tem que ser necessariamente de ser um revisor de contas devendo
ser designado um revisor oficial de contas suplente (414/1 e 413º/3 e 6).
Artigo 415º e 416º CSC

32.6.4. ROC
É um ó rgã o designado para um mandato má ximo de 4 anos (446º 2), que existe
necessariamente com autonomia nos modelos de governaçã o anglo – saxó nico e
germâ nico ao lado da administraçã o e da comissã o de auditoria, no primeiro caso,
e do conselho de administraçã o executivo e do conselho geral e de supervisã o, no
segundo caso.
Ver 420º alíneas c, d, e, f.

32.7 O conselho geral e de supervisão

Composiçã o: 434º
Competência: 441º
Funcionamento: 445º

32.7.3 A comissão financeira


Comissã o para as matérias financeiras (sujeita a requisitos aplicá veis ao conselho fiscal
das grandes sociedades anó nimas e das cotadas) – 444º 1 e 5.

32.8. A comissão de auditoria

Composição: 423º B (ver também 423º D e 422º A).


Os seus membros, nã o obstante formarem um ó rgã o (ou sub – ó rgã o) autó nomo integram
o conselho de administração sendo administradores (não executivos).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 18
Competência e funcionamento: 423º F (funçõ es de fiscalizaçã o), sã o um verdadeiro ó rgã o
de fiscalizaçã o nã o obstante a designaçã o dos seus membros, com estatuto, funçõ es,
poderes e deveres típicos do conselho fiscal (64/2; 423-D; 423-E; 423º-F, 423º-G).

33. Apreciação anual da situação da sociedade

Concluído um exercício social, os membros do ó rgã o de gestã o têm obrigaçã o de elaborar


as contas da sociedade para as submeter à apreciaçã o dos só cios, recorrendo para o efeito
aos serviços auxiliares da sociedade. Paralelamente deve elaborar um relató rio de gestão com
um conteú do mínimo legal que descreva de forma sintetizada os principais aspectos da
vida societária no decurso do exercício em questão e que mencione os factos relevantes
ocorridos desde o respectivo termo até à data de conclusã o do relató rio. Em anexo ao
relató rio a sociedade deve promover a publicitaçã o de certos factos (variaçã o de posiçõ es
relativas de titularidade de participaçõ es sociais dos seus principais accionistas e dos
membros dos seus ó rgãos de administração e fiscalização, até à divulgação dos negó cios
efectuados ao abrigo de relaçõ es especiais).

Relevância dos artigos 447º e 448º CSC.

Os documentos de prestaçã o de contas e aprovados internamente pelo ó rgã o de gestã o,


deverão ser colocados ao dispor dos só cios devendo ser expostos na sede da sociedade (263/1
e 289/1 e 3), deverã o ser submetidos aos só cios e por estes apreciados no prazo de 3
meses contado do final do exercício (65/5 CSC e 62º C. Comercial).

33.2. Falta de apresentaçã o/ou nã o apresentaçã o oportuna do relató rio de gestã o ou dos
demais documentos da prestação de contas: pode dar lugar a inquérito judicial e faz
incorrer em coima o respectivo responsável (67/1 e 528/1 CSC).

33.3. Apreciaçã o pela assembleia - geral: concluída a elaboraçã o dos documentos de


prestaçã o de contas deverã o os mesmos ser presentes à assembleia-geral anual para
serem objecto de deliberaçã o pelos só cios (376º).

33.4. Depó sito e publicaçã o: registados por depó sito na conservató ria do registo comercial
(artigos 70º e 70 – A do CSC, artigos 3º alínea n e 42º CR comercial), devendo ser
efectuadas publicaçõ es desses documentos (70º nº1 alínea a e 2 e 72 nº3 e 4 do CR
Comercial).

33.4.2. A informação empresarial simplificada


Tradicionalmente o registo da prestaçã o de contas era efectuado por apresentaçã o dos
respectivos suportes físicos em papel na conservató ria do registo comercial. Em 2007
acabou-se com a respectiva a competência territorial, a prestaçã o de contas passou a
poder realizar-se por via electró nica.

A IES agrega num ú nico acto a realizaçã o de quatro diferentes obrigaçõ es legais a que as
empresas se encontravam sujeitas e que deveriam ser cumpridas perante diferentes
organismos da Administraçã o Pú blica.

33.5. Aplicaçã o de resultados


A aplicaçã o dos resultados da actividade social deve ser objecto de proposta do ó rgã o de
gestão a constar do pró prio relató rio devidamente fundamentada (66º nº5 alínea f) e uma vez
submetida à apreciaçã o dos só cios deverá ser objecto de deliberaçã o autó noma (376º nº1
alínea a).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 18
33.6. Apreciação anual da situação das sociedades obrigadas á consolidação de contas
As SC obrigadas à consolidaçã o de contas (508º A a 508º E) ou que apliquem o método de
equivalência patrimonial (como as SGPS) podem deliberar sobre as respectivas contas,
consolidadas e simples, nos cinco meses subsequentes ao encerramento do exercício
social (376º/1).

SECÇÃ O V
Alterações do contrato de sociedade
34. Caracterização
34.1. Razão de ser
34.2. Alterabilidade do contrato
Quando se constitui uma sociedade, celebrando um contrato de sociedade, procura-se
criar um centro de imputaçã o de direitos e vinculaçõ es. A entidade criada pelo contrato
assume preponderâ ncia relativamente ao acto constitutivo. É por isso que se aceita que
em matéria de sociedades comerciais, o contrato pode não ser cumprido nos seus exactos
termos, mesmo que esses desvio não reú na o consentimento de todos os intervenientes. Uma
vez que o contrato apresenta uma natureza plurilateral, o seu regime jurídico pressupõ e a
sua alterabilidade pela maioria das vontades nele participantes. É inadmissível um
renú ncia estatutá ria à respectiva alteraçã o do contrato societá rio.

34.3. Limites à alterabilidade do contrato


Existem limites à alterabilidade do contrato, os quais radicam nã o apenas em
direitos individuais dos só cios que sã o inderrogá veis e irrenunciá veis, e
consequentemente inatingíveis, como é o caso de não verem aumentadas as obrigaçõ es no
seio da sociedade sem a sua concordâ ncia – art. 86º nº 2 – como decorrem de preceitos
legais imperativos que constituem também limites imanentes do contrato de sociedade.
Do exposto resulta que existem matérias, cuja modificaçã o nã o é possível e outras que
estã o sujeitas ao acordo de todos os só cios, para serem plenamente eficazes. Nos demais
aspectos, o contrato é alterável, embora essa alterabilidade possa ser dificultada.

34.4. Objecto da alteração


O objecto da alteraçã o do contrato de sociedade é o pró prio contrato, limitado à s
suas clá usulas, que podem ser restringidas e eliminadas, mas também podem ser tornadas
mais abrangentes.

34.5. Alterações formais e substanciais do contrato de sociedade


Todas as alteraçõ es do contrato correspondem a alterações formais, embora nem
todas estejam sujeitas ao regime jurídico que a lei estabelece para esse efeito, nos arts. 85º
e ss. , por resultarem de actos que substancialmente nã o implicam a alteraçã o do contrato,
como é o caso da amortizaçã o de quotas sem reduçã o do capital social, da cessã o de quotas
ou do simples decurso do tempo.
Constituem alteraçõ es contratuais:
Variaçõ es do capital social;
Modificaçã o do objecto social;
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 18
Prorrogaçã o da duraçã o da sociedade, quando a mesma for constituída por tempo
limitado;
Criação de direitos especiais;
Alteração do nú mero de gestores ou do mínimo necessário para vincular a sociedade;
Modificaçã o da estrutura orgâ nica;
Mudança de sede;
Também constituem meras alteraçõ es formais e não substanciais as que se
traduzem na caducidade de clá usulas temporá rias ou acidentais. Ao regime destas
clá usulas reconduzimos também as clá usulas cujo pressuposto desaparece, nã o obstante
poderem subsistir durante toda a vida da sociedade. É o caso de uma clá usula que
estabeleça em favor de um só cio um direito especial de natureza pessoal. Se o só cio se
exonerar ou ceder a sua quota, a clá usula caduca, sem ocorrer uma específica alteraçã o do
contrato.

34.6. Alterações do contrato em concreto


Nada impede que a alteraçã o seja deliberada para uma específica situaçã o depois
de verificada. Tal é o que sucede se o novo texto de destinar a vigorar enquanto persistir
uma determinada conjuntura, voltando a aplicar-se o texto anterior quando a mesma
cessar.

34.7. Momento da alteração


Poderá deliberar-se que a execuçã o da deliberaçã o de alteraçã o do contrato esteja
subordinada a uma condiçã o ou termo?
 O professor aceita estas sujeiçõ es, contando que tal nã o venha a pô r em causa outros
princípios e regras imperativas. Contudo, a retroactividade dos efeitos só é extensível aos
só cios quando haja unanimidade, nunca podendo afectar terceiros – art. 86º nº 1.
A alteraçã o pode decorrer durante a liquidaçã o da sociedade, desde que seja
compatível com os objectivos específicos da liquidaçã o em curso.

34.8. Revogação da deliberação de alteração do contrato de sociedade


A revogaçã o da deliberaçã o de alteraçã o é admissível desde que a deliberaçã o de
revogaçã o venha a ter lugar até ao momento em que seja executada a deliberaçã o. A partir
desse momento, qualquer revogaçã o consistirá numa nova alteraçã o ao contrato. A
revogaçã o tem de ser determinada por uma maioria equivalente à necessá ria para a
formação da deliberação que se pretende revogar. Mas não se exige que se verifique o mesmo
quórum deliberativo.
O facto de a deliberaçã o que se pretende revogar ter sido judicialmente
impugnada, objecto de procedimento cautelar de suspensã o ou de acçã o de anulaçã o ou
declaraçã o de nulidade, nã o obsta à sua revogaçã o. Dentro do pressuposto de que ainda
nã o foi executada. Com efeito, o objectivo da revogaçã o pode ser impedir que subsista a
ilegalidade que afecta a alteraçã o, provocando a extinçã o da instancia por inutilidade
superveniente da lide.

35. Procedimento de alteração do contrato (modus faciendi)


35.1. Competência
A alteraçã o do contrato de sociedade integra a competência específica do colectivo
dos só cios, em geral, e da assembleia geral, em particular – arts. 85º nº 1, 246º nº 1, h), e 373º
nº 2.
A regra geral nesta matéria é a da competência exclusiva dos sócios, a qual,
excepcionalmente, pode ser partilhada, sendo cumulativa com a de outro ó rgã o social –
arts. 85º nº 1, in fine, 12º nº 2, 406º, l), e 546º. É o que acontece com a alteraçã o da sede
social e com o aumento de capital social em dinheiro deliberado pelo ó rgã o de gestã o. Nos
termos do art. 12º nº 2, a administração poderá deslocar a sede para qualquer local do país se
o contrato não dispuser em contrário. De acordo com o art. 456º, o contrato de sociedade
anó nima pode
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 18
autorizar o ó rgã o de administraçã o a aumentar o capital social por entradas em dinheiro
até um certo limite e durante um determinado período.
Em certos casos a aprovaçã o do projecto de alteraçã o do contrato está também
sujeita a obtençã o de uma autorização ou aprovação externa. É o que sucede, para a
generalidade das sociedade, nos casos de modificaçã o de firma ou do objecto social, sujeita
à concordâ ncia prévia do RNPC. Ou o que sucede para certas sociedades especiais, tais
como instituiçõ es de crédito e financeiras, relativamente à s alteraçõ es do contrato mais
significativas, que se encontram condicionadas a autorizaçã o prévia do Banco de Portugal.

35.2. Aprovação do projecto de alteração: reunião da assembleia geral (ou


deliberação dos sócios)
A assembleia geral é convocada, reú ne e delibera nos termos dos arts. 377º e ss, e
naqueles termos especificados contratualmente.

35.2.1. Convocação e quórum constitutivo


A assembleia geral da sociedade anó nima é convocada pelo presidente da mesa da
assembleia geral – art. 377º nº 1 – devendo a convocatória ser publicada no sítio do
Ministério da Justiça – arts. 377º nº 2 e 167º nº 1 – com um mês de antecedência – art.
377º nº 4.
O contrato de sociedade pode exigir outras formas de comunicaçã o aos accionistas
e, quando sejam nominativas todas as acçõ es, pode substituir as publicaçõ es por cartas
registadas ou expedidas por correio electró nico – art. 377º nº 3. A convocação da
assembleia destinada a deliberar a alteraçã o do contrato de sociedade deve ser feita com
especial cuidado, sob pena de anulabilidade da deliberaçã o, sendo o art. 377º nº 8
bastante explícito quanto aos elementos que devem constar dos avisos convocató rios da
assembleia. Assim, a informaçã o do só cio deve mencionar com clareza o assunto da
deliberaçã o, isto é, o objecto e o fim da alteraçã o, e o texto integral das clá usulas que se
pretende que passem a integrar o contrato. A lei admite a alteraçã o de clá usulas que seja
consequência necessá ria das modificaçõ es propostas – art. 377º nº 8, in fine.
Da convocaçã o têm de constar, para alem dos elementos mínimos de informaçã o –
arts. 171º CSC e 14º CVM – o assunto sobre o qual a deliberaçã o será tomada, a firma, a
sede e o capital social da sociedade, a conservató ria do registo comercial onde se encontra
matriculada (art. 377º nº 5, a)), “o lugar, o dia e a hora da reunião”, a indicação de que
a assembleia é geral, etc. – art. 377º nº 5, b), d), f) e e).
No que respeita ao quórum constitutivo:
Nas sociedades por quotas: este confunde-se com o quórum deliberativo, que é de ¾
dos votos correspondentes ao capital social, o que significa que a assembleia só pode
funcionar com a presença de 75% do capital social – art. 265º nº 1.
Nas sociedades anó nimas: a assembleia geral para se considerar validamente
constituída tem de reunir, na primeira convocação, “accionistas que detenham pelo
menos acções correspondentes a 1/3 do capital social” – art. 383º nº 2. Em segunda
convocação não há exigência de quórum constitutivo, podendo a assembleia deliberar
independentemente do nú mero de accionistas presentes ou representados e do capital
por eles representados.

35.2.2 Deliberação
A deliberaçã o pode ser tomada por qualquer forma admitida por lei. Para a
votaçã o do projecto de alteraçã o, a lei estabelece um quórum deliberativo mínimo
superior ao requerido para as deliberaçõ es em geral, sem prejuízo de os estatutos serem
ainda mais exigentes. No entanto, o Prof. entende que o quó rum deliberativo nã o pode
colidir com a alterabilidade do contrato de sociedade, sem prejuízo do disposto no art.
265º nº 2 e das situaçõ es inerentes à criação de novas obrigaçõ es – art. 86º nº 2. Um limite
máximo aceitável será entre os 4/5 e 9/10 dos votos correspondentes ao capital social.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 18
 Nas sociedades por quotas as deliberaçõ es têm de ser tomadas por ¾ dos votos
correspondentes ao capital social e nas sociedades anó nimas por maioria qualificada de
2/3 dos votos expressos, contando as abstençõ es como votos emitidos – art. 386º nº 3. No
caso das sociedades anónimas, se a assembleia reunir em segunda convocação e
“estiverem presentes ou representados accionistas detentores de, pelo menos, metade do
capital social, a deliberação pode ser tomada pela maioria dos votos emitidos” – art. 386º nº 4.
É a reunião de uma determinada percentagem do capital social que legitima o
consentimento da assembleia baseado na pluralidade de votos.

35.2.3. Forma
A modificaçã o do contrato tem relevâ ncia externa: diz respeito nã o apenas aos
só cios, mas também a terceiros que entrem em contacto com a sociedade. Assumem aqui
relevo a forma e a publicidade da deliberaçã o. Enquanto que a forma é um requisito de
validade da alteraçã o deliberada, cuja inobservâ ncia acarreta a nulidade do acto – art.
220º CC – a publicidade é requisito de eficácia das modificaçõ es estatutá rias, pois,
permite aos terceiros que têm relaçõ es com a sociedade salvaguardar os respectivos
interesses pelo conhecimento que adquirem da situaçã o.
35.2.3.1. Acta de deliberação dos sócios
A reforma legislativa de 2006 simplificou o modo de proceder a alteraçõ es do
contrato de sociedade. Assim, é possível, em regra, proceder ao registo das modificaçõ es
com base na acta que espelha a deliberaçã o dos só cios – art. 85º nº 4. Relativamente a
certas alteraçõ es, como é o caso do aumento do capital social, a acta nã o é suficiente – art.
88º nº 2
– por duas razõ es:
o Na data da deliberaçã o nã o é possível apurar todas as subscriçõ es, sendo
necessá rio juntar documento comprovativo das mesmas;
o O aumento implica a realizaçã o de entradas em espécie que pressupõ em forma
especial para a respectiva transmissão em favor da sociedade – arts. 85º nº 4, in fine e
7º nº 1, in fine.
O agravamento da forma só será possível se for objecto de deliberaçã o do
colectivo de só cios nesse sentido.
35.2.3.2. Execução da deliberação
Todos os membros da administraçã o têm o dever de, com a maior brevidade,
praticar os actos necessá rios à alteraçã o do contrato, sendo, por isso, cada um responsá vel
independentemente de atribuiçã o vinculativa pelos só cios – art. 85º nº 5.
A lei nã o estabelece prazo para a execuçã o da deliberaçã o, utilizando uma fó rmula
vaga e imprecisa ao dispor que os actos necessá rios à alteraçã o do contrato devem ser
praticados com a maior brevidade. Os gestores deverã o actuar diligentemente, tendo
especialmente em conta as circunstâ ncias que tornaram mais ou menos urgente a
alteraçã o. Mas também no cumprimento legal, de cuidado e diligência, a que estã o
adstritos no exercício das suas funçõ es, os membros do ó rgã o de administraçã o devem
observar as instruçõ es emanadas da assembleia geral que sejam relativas à execuçã o das
deliberaçõ es desta – art. 64º nº 1, a).
Com base na acta da assembleia geral, caberá à administraçã o da sociedade
promover o registo da alteraçã o deliberada – arts. 3º, r) e 15º nº 1 CRCom.

35.2.4.Publicidade; registo e publicações obrigatórias


A publicidade, isto é, o acto ou efeito de tornar pú blico a alteraçã o de uma
determinada situaçã o jurídica, é um requisito de eficá cia das alteraçõ es do contrato em
relação a terceiros, e não relativamente aos só cios. A alteração do contrato de sociedade deve
ser obrigatoriamente registada, no prazo má ximo de dois meses a contar da data em que o
facto tiver sido titulado, na Conservató ria do Registo Comercial da sede da sociedade, nos
termos do art. 166º CSC e do art. 15º CRCom. As alteraçõ es devem ser igualmente dadas a
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 18
conhecer pela sua “publicação” no sitio do Ministério da Justiça – arts. 166º e 167º CSC e art.
70º nº 1, a) e nº 2 CRCom.
No que respeita às sociedades abertas, as alteraçõ es estão sujeitas a uma publicidade
mais exigente. Uma vez executada a alteraçã o do respectivo contrato, há que publicitá -la
se ela respeitar ao aumento ou reduçã o do capital social. A publicidade faz-se através da
divulgaçã o no sistema de difusão de informação da CMVM – art. 367º nº 1 CVM. A
publicidade deve ser colocada e mantida no sítio da sociedade na Internet durante um ano.
Enquanto nã o forem publicadas no sitio do Ministério da Justiça, as modificaçõ es
do contrato só serão oponíveis a terceiros pela sociedade se esta “provar que o acto está
registado, mediante a apresentação de uma certidão (art. 75º nº 1 CVM), e que o terceiro
tem conhecimento dele” – art. 168º nº 2 CSC.
Contudo, a sociedade nã o se pode prevalecer do acto de alteraçã o em relaçã o a
qualquer operaçã o efectuada nos 16 dias subsequentes à sua publicaçã o, se terceiros
provarem que durante esse período estiveram impossibilitados de tomar conhecimento dessa
publicaçã o – art. 168º nº 3.

35.3. Aumento de obrigações sociais


De forma absolutamente imperativa, a matéria do aumento das obrigaçõ es sociais
constitui uma excepçã o à cogente alterabilidade do contrato de sociedade. No que se
refere à criaçã o de novas obrigaçõ es a lei exige de forma imperativa que as mesmas nã o
sejam introduzidas no contrato em vida da sociedade, nem tã o pouco possa ser exigido o
seu cumprimento aos só cios, se não estiverem contratualmente previstas. O sistema não
permite sequer que as partes renunciem antecipadamente à faculdade de consentirem na
imposiçã o de novas obrigaçõ es.
Estas consideraçõ es nã o impedem, contudo, que os só cios deliberem a alteraçã o do
contrato pela maioria exigida para o efeito, introduzindo uma clá usula que imponha novas
obrigaçõ es sociais. Simplesmente, tais obrigaçõ es só irã o vincular aqueles que
contribuíram para a aprovaçã o da referida alteraçã o, ficando na disponibilidade dos
demais a realizaçã o dessas obrigaçõ es se vierem a ser efectivamente deliberadas. Tudo se
passa como se a sociedade tivesse apenas imposto as novas obrigaçõ es a alguns só cios.

36.Concentração de sociedades e transformação de sociedades por quotas em anónimas


36.1. Enquadramento do tema
Entre as maiores movimentaçõ es que as sociedades podem sofrer em termos da
respectiva estrutura, encontra-se a alteração de tipo societário e as concentraçõ es de
sociedades através de um fenó meno conhecido por fusão1.
36.2. Fusão de sociedades
36.2.1. Conceito
A fusã o consiste na reuniã o de duas ou mais sociedades numa só – art. 97º nº 1. A
fusã o pode hoje juntar numa ú nica sociedade duas ou mais sociedades que, tendo sido
constituídas de acordo com a legislaçã o de um Estado Membro e tendo sede estatutá ria no
territó rio da comunidade, sejam regidas pelos ordenamentos de, pelo menos, dois Estados
membros – art. 2º, a), da Lei 19/2009. Nesta circunstância em que reú ne sociedades oriundas
de mais de um ordenamento jurídico, a fusão designa-se por “transfronteiriça” – arts. 117º-A
a 117º-L). Esta fusã o transfronteiriça nã o pode, contudo, envolver sociedades em nome
colectivo ou em comandita simples.
36.2.2. A fusão como instrumento de concentração económica

1 Diferente de cisã o. Esta consiste na separaçã o patrimonial realizada no â mbito de uma


sociedade, que origina o aparecimento de duas ou mais sociedades em substituiçã o da sociedade
que realiza a operação.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 18
Sã o diversos os motivos que podem conduzir a uma fusã o, embora ela esteja
normalmente associada a uma operaçã o de concentraçã o econó mica e à inerente
maximizaçã o dos factores produtivos envolvidos.
Com a operaçã o de concentraçã o econó mica, a fusã o pode estar sujeita a
apreciaçã o prévia pela Autoridade da Concorrência. Afinal, nã o é indiferente ao
ordenamento jurídico que as empresas conjuguem esforços, uma vez que podem vir a
lesar interesses econó micos da generalidade, criando situaçõ es de oligopó lio ou mesmo
situaçõ es de monopó lio. Trata-se, portanto, de uma matéria de certo modo condicionada.
36.2.3. Modalidades
36.2.3.1. Fusão simples
A fusã o simples pode resultar na constituiçã o de uma nova sociedade, para a qual
se transferem globalmente os patrimó nios das sociedades fundidas, sendo aos só cios
destas atribuídas partes da nova, caso em que a operaçã o se designa simplesmente por
fusão ou fusão-concentração – art. 97º nº 4 b).
36.2.3.2. Fusão-incorporação
A operaçã o de fusã o pode ocorrer por absorção, isto é, mediante a transferência
global do patrimó nio de uma ou de mais sociedades para outra e a atribuiçã o aos só cios
daquelas de parte desta. Nesta modalidade chamamos à operaçã o de fusão-incorporação
– art. 97º nº 4 a).
O regime das fusõ es transfronteiriças, no que toca à fusã o incorporaçã o, veio a
reconhecer ao lado da incorporaçã o de 100% de uma sociedade – art. 117º-I – a fusã o por
aquisiçã o tendente ao domínio total – art. 117º-J. Admite-se, portanto, que uma sociedade
que detenha 90% de outra possa incorporá -la, mesmo contra a vontade dos titulares do
capital remanescente.
Esta modalidade tem um regime simplificado no Direito interno, sempre que a
sociedade incorporante é detentora de, pelo menos 90% do capital da sociedade incorporada
– art. 116º.
36.2.3.3. Fusão inversa (reverse merger)
Uma modalidade específica de fusã o por incorporaçã o pode consistir na absorçã o
da sociedade dominante pela dominada. Nestes termos fala-se da “reverse merger”.

36.2.4. Processo de realização


36.2.4.1. Projecto de fusão
A fusã o da sociedade é decidida pelo ó rgã o executivo, apesar de nada impedir que
parta da iniciativa dos só cios mediante proposta apresentada à assembleia geral. Existem
uma série de trâ mites a observar e que visam assegurar a estabilidade da sociedade que
resultar da fusã o, os direitos dos só cios das sociedades envolvidas e ainda dos respectivos
credores.
A lei estabelece o conteúdo do projecto de fusã o – art. 98º. A lei requer que seja
tido em conta o último balanço anual ou elaborado um balanço ad hoc e seja evidenciada a
ratio aplicável à troca das participaçõ es – arts. 98º nº 1, d) e e), nº 2; e 99º nº 4. Prevê
igualmente a fiscalização específica do projecto, que deve ser submetido à apreciação de um
revisor oficial de contas independente, excepto se todos os só cios com direito de voto o
dispensarem – art. 99º.
36.2.4.2. Aprovação do projecto de fusão
O projecto de fusã o deve ser aprovado pelos só cios das sociedades envolvidas,
reunidos em assembleia geral – art. 100º nº 2. A deliberaçã o de fusã o e o quórum a
observar na respectiva formaçã o depende do tipo societá rio envolvido, aplicando-se nesta
matéria as regras vá lidas para as alteraçõ es do contrato de sociedade se diferente quórum
nã o for contratualmente exigido – arts. 103º nº 1, 383º nº 2 e 386º nº 3.
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A execuçã o da deliberaçã o de fusã o está sujeita à verificaçã o de determinadas
condiçõ es legais, estabelecidas para tutela de direitos adquiridos, consistam os mesmos no
nã o aumento das obrigaçõ es ou na diminuiçã o de privilégios – art. 103º nº 2.
36.2.4.3. Oposição dos credores
Os credores das sociedades participantes na fusão, que detenham créditos anteriores
à publicitaçã o da operaçã o, dispõ em de um mês a contar da publicaçã o do registo do
projecto para deduzir oposiçã o judicial à fusã o – art. 101º-A. Para o efeito, devem
fundamentar o respectivo pedido no prejuízo que a operaçã o cause aos seus direitos e
demonstrar que haviam solicitado à sociedade, há pelo menos 15 dias, que satisfizesse ou
garantisse adequadamente o seu crédito, sem que ela o tenha feito.
36.2.4.4. Deliberação de fusão e registo
Deliberada a fusã o pelas assembleias gerais sem que tenha havido oposiçã o
judicial, deverá ser promovido respectivo registo. Este só pode requerido depois de decorrido
o prazo para a oposiçã o de credores – arts. 111º CSC e 3º q) CRCom.
36.2.4.5. Efeitos da fusão
Constitui efeito necessá rio da fusã o a transmissã o de patrimó nios – art. 112º – e
efeito eventual o exercício de exoneraçã o pelos só cios que, sendo detentores de 10% ou
menos da sociedade incorporada, não pretendam permanecer na sociedade e votaram contra
a deliberaçã o – art. 116º nº 4 e nº 5 e art. 105º.
O contrato de sociedade pode também atribuir aos só cios que votem contra o
projecto de fusã o, em qualquer modalidade de fusã o, o direito de se exonerarem em caso
de discordâ ncia com a operaçã o – art. 105º nº 1. O direito de exoneraçã o se nã o estiver
estatutariamente consagrado só existe na fusã o tendente ao domínio total.
36.2.4.6. Responsabilidade resultante da fusão
Uma operaçã o de fusã o mal planeada ou deficientemente executada pode causar
danos graves aos só cios das sociedades participantes, aos credores que possam resultar
prejudicados e à s pró prias envolvidas. Por isso, é natural que a lei dê relevâ ncia à clá usula
geral, estabelecida no art. 64º, sobre o interesse social. A lei estabeleça também a
responsabilidade solidá ria dos membros dos ó rgã os de gestã o e de fiscalizaçã o que, na
verificaçã o da situaçã o patrimonial das sociedades e na conclusã o da fusã o, tenham
actuado sem a diligência de um gestor criterioso e ordenado, sempre que resultarem da
sua actuaçã o danos para a sociedade, só cios ou credores – art. 114º.

36.3. Transformação de sociedades por quotas em sociedades anónimas


36.3.1. Sentido próprio e impróprio de transformação
A palavra transformaçã o, em sentido técnico, expressa a alteraçã o de tipo
societá rio de tipo societá rio. Neste sentido a sociedade sofre a maior alteraçã o que pode
ocorrer sem perder a sua identidade – art. 130º. Em regra, a transformaçã o é a operaçã o
que implica a substituiçã o integral do conteú do do contrato, embora se possam manter as
referencias ao objecto e à sede social.
36.3.2. Actos necessários
36.3.2.1. Documentação
A transformaçã o pressupõ e que a sociedade que se pretende transformar prepare
alguns documentos que justifiquem e sustentem a operação a deliberar. Com essa
finalidade, o ó rgã o executiva deve elaborar um relató rio justificativo da transformaçã o,
explicando por que é que a sociedade se deve transformar (art. 132º nº 1) e deve preparar um
balanço ad hoc da sociedade e minutar o projecto do “novo” contrato societário.
Quando os documentos estiverem em condiçõ es de serem submetidos à
apreciaçã o dos só cios, o ó rgã o de gestã o deve convocar ou solicitar a convocaçã o da
assembleia geral com finalidade de os só cios se pronunciarem sobre os documentos em causa
e, em geral, sobre a operaçã o projectada.
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36.3.2.2. Deliberações, em separado de aprovação dos vários
documentos
Na convocató ria da assembleia geral deve ser logo prevista a apreciaçã o autó noma
dos diversos documentos de suporte à transformação – arts. 133º e 134º.
Uma vez que a sociedade muda a sua configuraçã o torna-se necessá rio, em
obediência ao princípio da tipicidade, promover a designaçã o dos novos titulares dos
ó rgã os sociais, de forma que a sociedade, efectuado o registo, possa prosseguir a sua
actividade.
Em certos casos, quando a sociedade s transformar nã o tiver o nú mero de só cios
que corresponda ao mínimo legal do novo tipo, torna-se necessá rio aumentar esse
nú mero, por cessã o de quotas ou subscriçã o de aumento do capital social, antes de
aprovar a deliberaçã o de transformaçã o. Nesse caso, é há bito admitir os novos só cios na
assembleia e permitir que os mesmos dêem o seu acordo à operaçã o de transformaçã o e
aos documentos que a sustentam, uma vez que eles devem estar presentes no acto que
formaliza a transformaçã o.
36.3.2.3. Acta de deliberação dos sócios e registo
Aprovada a transformaçã o, e lavrada a acta, deve ser promovido o respectivo
registo, bem como o depó sito do novo contrato, e o registo dos novos titulares dos ó rgã os
sociais – art. 140º -A e arts. 3º r) e m), e 59º nº 2 CRCom.
36.3.3. Obstáculos à transformação e tutela dos interesses envolvidos
36.3.3.1. Impedimentos à transformação
Existem obstáculos que nem sempre são superáveis como é o caso da insuficiência
de capitais pró prios para a sociedade poder transformar-se em sociedade anó nima. Outros
sã o mesmo incontorná veis, como sucede com a proibiçã o estatutá ria de alteraçã o do tipo
societá rio – art. 130º nº 1.
Para alem desta hipó tese, a lei enumera no artigo 131º as situaçõ es em que uma
sociedade não pode transformar-se, fazendo num caso depender da vontade alguns dos só cios
o êxito da operaçã o (art. 131º nº 1, c), nº 2 e nº 3; e art. 135º nº 3, b)), e acautelando as
situaçõ es de vantagem existentes na sociedade a transformar e que possam ser postas em
causa com a transformaçã o da sociedade.
36.3.3.2. Tutela de terceiros e dos sócios descontentes
A transformaçã o corresponde a uma das raras situaçõ es em que lei admite a
exoneraçã o dos só cios descontentes com a operaçã o e que, portanto, podem encontrar
nela um pretextos, liquidando a respectiva participaçã o – arts. 137º e 140º-A nº 2.
Verifica-se ainda um especial cuidado com os direitos de terceiros, como é o caso
dos credores – art. 138º.

36..3.4. Balanço: confronto da transformação com fusão


TRANSFORMAÇÃ O FUSÃ O

Realidade econó mica permanece inalterada, Só em situaçõ es académicas é que nã o


embora sob diferente forma societá ria; resulta para os só cios e para os credores
Só cios podem passar a ser accionistas, mas uma situaçã o de desiguladade.
o seu patrimó nio nã o sofre alteraçã o;
Credores nã o enfrentam uma diminuiçã o da
garantia patrimonial, uma vez que o
conjunto de bens da sociedade continua a
ser o mesmo.
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SECÇÃ O VI
37.Publicidade dos actos sociais
37.1. Publicidade
Em sentido técnico, a publicidade de um acto ou situaçã o jurídica consiste na
divulgaçã o pú blica do mesmo, pela respectiva inscriçã o num local pró prio, ao qual os
interessados possam ter acesso.
Quanto à publicidade dos actos societários, esta desdobra-se em: registo (art. 166º)
e publicaçõ es obrigató rias (art. 167º).

37.2. Actos sujeitos a registo


O registo é, regra geral, condição de oponibilidade a terceiros dos factos relativos
aos comerciantes – art. 14º CRCom – devendo certos actos ser obrigatoriamente registados
(art. 3º CRCom), no prazo de dois meses a contar da data em que tiverem sido titulados, na
Conservató ria do Registo Comercial – art. 166º e art. 15º nº 2 CRCom.

37.3. Publicações obrigatórias


Existem actos que para alem da sujeiçã o a registo estã o também sujeitos a
publicaçõ es obrigató rias, que se traduzem na respectiva divulgaçã o na Internet e em
publicaçõ es.
 Arts. 166º e 167º CSC; e art. 70º nº 1, a) e nº 2 CRCom: publicaçã o obrigató ria
no sitio do Ministério da Justiça na Internet;
 Relativamente a certas sociedade: nos respectivos sítios da Internet;
 Sociedades abertas: obrigatoriedade de publicaçã o anual dos documentos de
prestaçã o de contas e de divulgaçã o no sitio da Internet e no sitio da CMVM da respectiva
informaçã o financeira trimestral, semestral e anual (arts. 245º, 246º e 246º-A CVM);
 Actos que para conhecimento pú blico estã o sujeitos a publicaçã o obrigató ria
nos meios que a lei considera idó neos e aptos para o efeito, nomeadamente no sitio da
Internet. São exemplos: publicaçõ es das convocató rias das assembleias gerais das sociedades
anó nimas
– arts. 377º nº 2 e 167º nº 1.

37.4. Falta de registo ou de publicação


A regra nesta matéria é a da inoponibilidade a terceiros de actos não registados e
não publicados – art. 168º nº 1, nº 2 e nº 4. No entanto, a falta de publicaçã o nã o é
invocá vel por terceiros se a sociedade demonstrar que os mesmos conheciam a situaçã o
em causa – art. 168º nº 2, in fine.
Mas a sociedade nã o pode fazer-se prevalecer do acto publicado, relativamente a
qualquer operaçã o efectuada nos 16 dias subsequentes à sua publicaçã o, se algum terceiro
demonstrar que, durante esse período, esteve impossibilitado de tomar conhecimento dessa
publicaçã o – art. 168º nº 3. Qualquer interessado pode prevalecer-se contra a sociedade
de um acto nã o registado ou ainda nã o publicado.
A sociedade é responsá vel por prejuízos causados a terceiros pelas discordâ ncias
entre o teor dos actos praticados e dos actos publicitados, quando delas sejam culpados
gerentes, administradores, liquidatários ou representantes – art. 169º nº 1.

37.5. Menções obrigatórias nos actos externos


Em toda a actividade externa das sociedades por quotas e anó nimas torna-se
necessá rio identificar a firma, e com esta o tipo social, a sede, a conservató ria do registo
comercial onde a sociedade está inscrita, os nú meros de matriculo e de identificaçã o de
pessoa colectiva, e indicar o capital social – art. 171º nº 1 e nº 2.
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Caso a sociedade tenha entretanto registado a perda de pelo menos metade do capital
social, entã o, tenha adoptado nenhuma medida para inverter essa queda, entã o, deverá
referenciar também, nas suas mençõ es externas, o montante dos respectivos capitais
pró prios – art. 171º nº 2.
Relativamente à s sociedades anó nimas com o capital aberto ao investimento do
público, as mesmas devem associar à sua firma as expressão abreviada “sociedade aberta”.
Em consequência, será a firma resultante dessa junçã o que deve constar das mençõ es
obrigató rias – art. 14º CVM.

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