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1.4. Nacionalidade:
As sociedades têm um vínculo a um estado, a que se reportam; têm nacionalidades. O
CSC no art.3º, estabelecendo um critério coincidente com o do art.33ºCC, ao definir a
lei pessoal das sociedades comerciais em função da localização da respectiva direcção
efectiva.
2.4.1. Subtipos:
Podemos distinguir quatro subtipos de sociedades anónimas, a que correspondem
regimes diferentes:
»A sociedade anónima (simplesmente), qualquer que seja a sua dimensão disciplinada
pelas regras do CSC, com excepção daquelas que forem unicamente aplicáveis à
grande sociedade anónima (ou à cotada);
»A grande sociedade anónima, à qual se aplica o CSC em geral, com as especificidades
impostas em razão da respectiva dimensão;
»A sociedade anónima aberta (não cotada), regulada pelas disposições do CSC e sujeita
ao regime mais rigoroso do CVM (arts.13º a 19ºCVM);
»A sociedade anónima (aberta) cotada, à qual se aplicam, para além dos preceitos
normativos comuns a qualquer grande sociedade anónima ou sociedade aberta, regras
próprias e especificas constantes do CSC.
Livro: “Direito das Sociedades Comerciais”
Prof. Paulo Olavo Cunha 7
2.4.2. Enquadramento legal e firma:
As sociedades anónimas são reguladas nos arts.271º a 464º. Por sua vez, o regime
específico das sociedades anónimas abertas extraí-se do CVM (arts.13º a 29º), há
também que recorrer a este diploma quando se trate do regime aplicável às
participações e suas vicissitudes, arts.39º a 107ºCVM.
A firma da sociedade anónima deve concluir pela expressão “S.A.”.
2.6.3.1. A questão:
O problema em causa é o de saber qual o tipo societário que lhe permite (a ele sócio)
minimizar custos fiscais. No plano societário, o problema coloca-se essencialmente no
domínio dos impostos directos, uma vez que os indirectos, designadamente os
impostos sobre a despesa (IVA e imposto de selo) não distinguem tipos societários.
Numa perspectiva puramente societária, e considerando unicamente o interesse
social, o problema consiste em verificar se a tributação directa que recai sobre uma
sociedade por quotas é idêntica à que incide sobre uma sociedade anónima.
2.6.4. Conclusão:
A opção entre o modelo de sociedade por quotas ou o tipo de sociedade anónima
deve, sobretudo, ter em conta a dimensão da actividade que o empresário se propõe
prosseguir e acautelar uma eventual abertura à participação futura de terceiros no
projecto societário.
3.1. Generalidades:
No âmbito do regime jurídico das sociedades, serão objecto de ponderação os
seguintes princípios:
a) Tipicidade;
b) Cogente alterabilidade do contrato de sociedade, condicionada pela inoponibilidade
da criação de novas obrigações, sem o consentimento de todos os sócios;
c)Intangibilidade do capital social;
d) Igualdade de tratamento dos sócios (accionistas) e tutela das minorias (nas
sociedades anónimas);
e) Dissociação entre o risco do capital e a direcção efectiva da sociedade.
3.4.1. Tipicidade:
A autonomia dos agentes económicos encontra-se limitada à selecção do tipo negocial,
de entre quatro que o art.1º nº2CSC disponibiliza. Escolhido o tipo societário mais
adequado e conveniente à prossecução dos interesses, haverá que respeitar as regras
características do mesmo, nomeadamente o conteúdo mínimo que deverá revestir o
contrato de sociedade e a designação dos respectivos órgãos.
Identificado o tipo societário pretendido, os sócios poderão criar uma série de regras,
no âmbito da liberdade de estipulação de que dispõem, devendo, contudo, respeitar
os princípios e limites imperativos do sistema.
Em suma, este princípio não permite a criação de sociedades de diferentes tipos ou
que congreguem características que sejam inconciliáveis, porque essenciais de tipos
societários diferentes, ou que acolham as regras que descaracterizem o tipo que foi
objecto da opção empresarial.
4.3.1. Generalidades:
Nesta matéria são particularmente relevantes os arts.9º; 199º e 272ºCSC e 14ºCVM.
4.3.5. A sede:
4.3.5.1. Conceito:
A sede social ou domicilio da sociedade é também uma menção essencial do contrato
de sociedade (art.9º nº1 al.e) e 12º); devendo corresponder ao centro de vida da
sociedade, ao local onde se tem por contactada sempre que for preciso comunicar
com ela, nomeadamente através de meios oficiais que consistam em comunicações de
natureza judicial ou administrativa.
A lei exige que a sede seja “estabelecida em local concretamente definido” (12º nº1),
no qual seja possível estabelecer uma interacção entre os que pretendem contactar a
sociedade e os representantes desta. A sede tem, assim, uma importância significativa,
uma vez que constitui uma referência geográfica fundamental da sociedade, desde
logo determinando a lei aplicável. Nela deve funcionar a administração e reunir a
assembleia geral, salvo se a sede não reunir condições para o efeito, nomeadamente
por ser exígua, caso em que a assembleia pode ser convocada para reunir noutro local
do território nacional (377º nº6 al.a)).
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4.3.5.2. Mudança de local:
A sede pode ser deslocada para qualquer lugar do território nacional por simples
decisão da administração ou da gerência sempre que o contrato de sociedade não o
impedir (12º nº2).
4.3.5.5. Sucursal:
Não é genericamente reconhecida com autonomia pela lei das sociedades comerciais
portuguesa, embora seja objecto de regulamentação pela lei tributária e também por
leis especiais.
A sucursal não reveste personalidade jurídica, não constituindo por isso um sujeito
autónomo de direito, apesar de ter personalidade tributária. Não se distinguindo
verdadeiramente da sociedade estrangeira, a que pertence e da qual constitui um
prolongamento, a sucursal depara-se com naturais limitações legais aos negócios
jurídicos que pretenda celebrar com a sociedade estrangeira, não obstante a lei
tributária permitir que ela facture à sucursal os serviços prestados e que sejam
incorporados na facturação final desta, desde que devidamente comprovados. A
sociedade estrangeira assumirá então a responsabilidade total e ilimitada pela
actividade da sucursal.
4.5.5.2. Consequências:
As deliberações tomadas com violação do disposto no nº3 do art.9º serão anuláveis
(58º nº1 al.a)), se a situação específica em causa não se adequar a nulidade.
5. Acordos Parassociais
6.1. Generalidades:
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6.1.1. Constituição particular de sociedades e o aparecimento da
constituição por subscrição pública:
Tradicionalmente, a constituição de uma sociedade comercial correspondia à junção
de pessoas para, agregando os respectivos esforços e bens, prosseguirem, conjunta e
articuladamente, de forma organizada e estável, uma actividade económica de
natureza mercantil, com escopo lucrativo.
Com o aparecimento das grandes sociedades, que exigiam uma concentração de
capitais significativos, tornou-se difícil transpor a intervenção de todos para a
constituição destas novas sociedades, designadas companhias, como é sabido.
Surgiu então uma diferente forma de constituição de sociedades comerciais – restrita,
contudo, às sociedades anónimas - , segundo a qual algumas pessoas promoveriam o
aparecimento de uma sociedade, apresentando ao público os termos em que a mesa
iria ser constituída e funcionar. Aos investidores interessados em participar competiria,
simplesmente, aderir à proposta de sociedade que lhes era apresentada, nos termos
em que a mesa se encontrava estruturada pelos promotores da ideia; nascia, assim, a
sociedade de subscrição pública, cuja constituição passava a estar sujeita a regras
próprias e especificas que visavam assegurar os direitos e interesses dos muitos
participantes que se limitavam a aderir ao projecto.
6.3.2. Os promotores:
Quem pode promover este tipo de constituição de sociedades comerciais?
A constituição de uma sociedade anónima com apelo ao público pode ser
impulsionada e conduzida por uma ou mais pessoas (279º nº1CSC), que se designam
promotores. O CSC admite que uma só pessoa promova a constituição de uma
sociedade anónima com apelo a subscrição do público (279º nº1). Com efeito, o nº1 do
art.279º deixa em aberto a possibilidade de haver um promotor. As demais disposições
pressupõem todas a pluralidade de promotores, inclusivamente a disposição que
consta do art.283º nº1 que refere, a propósito do dever de celebrar o contrato de
sociedade, a intervenção de dois dos promotores. A leitura correcta deve ser dois, caso
eles existam; se só existir um terá de ser esse a subscrever o instrumento de
constituição da sociedade.
O promotor ou promotores das sociedades abertas deverão subscrever e realizar
integralmente acções com um valor nominal global correspondente ao mínimo legal,
elaborar um projecto de contrato de sociedade e requerer o respectivo registo
provisório, bem como promover a oferta de acções ao público.
Os benefícios que os promotores possam extrair do seu projecto são legalmente
limitados, para assegurar, por um lado, a realização do interesse social, evitando que
os interessados (subscritores) no projecto societário sejam indevidamente
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prejudicados, e, por outro lado, para impedir que os fundadores especulem com o
capital que subscrevem no momento de arranque da sociedade.
6.3.10. Conclusão:
Esta forma de sociedades comerciais é aliciante e conhece particular entusiasmo nos
momentos em que os mercados bolsistas sentem agitação e animação, e em que a
procura se encontra disponível para responder positivamente a este apelo. É evidente
que esta forma não é aplicável às sociedades unipessoais, que se podem e devem
constituir imediatamente.
Secção III
9.1. A questão:
Entre o momento em que as partes planeiam, decidem ou acordam vir a constituir
uma sociedade comercial e o momento em que eventualmente seja efectuado o
registo do respectivo contrato decorre, por vezes, tanto tempo que é necessário
praticar actos cuja eficácia e validade deve ser devidamente ponderada.
Admitindo que o contrato (a registar) não apresenta qualquer vicissitude, as questões
que se possam suscitar, respeitam unicamente à eventual imputação dos custos desses
actos à sociedade recém constituída.
Os problemas colocam-se fundamentalmente acerca do destino e efeitos dos actos
quando se verifica existir uma vicissitude com o contrato de sociedade. Este pode
ocorrer relevantemente em dois momentos diferenciados: ou por se prender com a
sua não celebração, sequer, formalidade e forma necessária da constituição da
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sociedade comercial; ou por ser relativa a actos que sejam praticados em nome da
sociedade antes do registo definitivo do respectivo contrato, mas após a celebração do
contrato, isto é, situações em que o contrato não seja nulo. Nestes actos, de actos
subsequentes à celebração do contrato, temos que distinguir duas situações: aquelas
que dizem respeito às relações unicamente entre os sócios e as que dizem respeito às
relações da sociedade com terceiros.
9.2.2. Incapacidade:
Primeiro, a invalidade do contrato ou da declaração motivada devido a incapacidade
das partes. Esta invalidade é oponível a terceiros e, naturalmente, também é oponível
aos demais sócios (41º nº2 1ªparte; 45º nº2 e 52º nº5).
A consequência típica da invalidade é a anulabilidade, o que resulta no nº2 do art.41.
Não obstante, temos de ter em conta o disposto no art.52º e designadamente que, por
efeito da participação na constituição da sociedade, o sócio assumiu determinadas
obrigações cuja extinção retroactiva poderia vir a pôr em causa os direitos eventuais
que terceiros tivessem relativamente a essa sociedade, nomeadamente dos credores
de actos que, entretanto tivessem sido praticados. Por isso, extingue-se apenas a sua
participação, exonerando-o de toda e qualquer responsabilidade por efeito da situação
de incapacidade, ou de uma situação que se deva a um outro tipo de invalidade,
designadamente quando essa invalidade resulte de vício da vontade ou de usura.
9.3.1. Fundamentos:
Os fundamentos são aqueles que constam do art.42º nº1 e há alguns deles que são
sanáveis, isto é, há vicissitudes que, ocorrendo já depois da celebração do contrato, ou
que lhe sejam contemporâneos e não sejam detectadas até ao momento em que o
registo é efectuado, podem vir a ser sanáveis ao abrigo do princípio do
aproveitamento dos negócios jurídicos em geral. São as situações previstas no art.42º
nº2. Depois de efectuado o registo definitivo do contrato, este só pode ser declarado
nulo quando faltar um dos seguintes elementos:
a) Número de sócios fundadores que corresponda ao mínimo legalmente
exigido;
b) Firma;
c)Sede;
d)Objecto;
e)Capital:
f)O valor da entrada de algum sócio ou de prestações realizadas por conta
dessa entrada.
9.7.1. Conceito:
A sociedade irregular será uma entidade ou uma sociedade que, tendo por objecto
uma actividade comercial, adopte um tipo social mas cujo contrato não está ainda
definitivamente registado, apesar de eventualmente já ter sido celebrado. Estamos
perante uma sociedade irregular, quando:
a)(Já) há um mero acordo de princípio com vista à constituição de uma
sociedade, mas ainda não foi celebrado o contrato de sociedade;
b)O contrato de sociedade já foi celebrado, mas ainda não se encontra
definitivamente registado.
A sociedade irregular não tem personificação, na medida em que está só se adquire
com o respectivo registo (5º), mas constitui um património autónomo diferente do
património dos respectivos titulares que responde prioritariamente pelas dívidas
contraídas em sua atenção. Concedendo aos respectivos titulares o benefício da
excussão previa, primeiro esgota-se o património autónomo e só na sua insuficiência
se recorre ao património dos respectivos titulares.
9.9. Actos praticados por sociedades, cuja constituição ainda não foi
publicada:
Quanto aos actos praticados por sociedades cuja constituição ainda não foi publicada,
vigora a regra de, em tudo o que lhes aproveitar, os terceiros poderem prevalecer-se
de actos cujo registo e publicação ainda não tenham sido efectuados. Por sua vez, se a
publicação é obrigatória e ainda não foi efectuada, mesmo que o acto esteja registado,
esse acto é inoponível a terceiros, excepto se a sociedade demonstrar que o acto está
registado no momento que pretendia que o mesmo fosse relevante.
Outra questão é a da validade de actos praticados imediatamente após a publicação.
Dispõe o art.168º nº3 que se ainda não tiverem decorrido 16dias sobre a data da
publicação os actos objecto da mesma não são oponíveis a terceiros que demonstrem
que estiveram impedidos de conhecer o respectivo teor, nomeadamente o teor
objecto da publicação, nesses 16dias.
No que respeita às demais situações jurídicas (as que não se caracterizam pelas
obrigações e direitos) é possível descobrir ónus a propósito das situações de
contitularidade e usufruto de participações sociais. Isto é, certas situações, em que,
sendo permitida ao sócio a adopção de determinadas condutas, ele sofrerá uma
desvantagem por não as accionar.
Quanto a expectativa jurídica esta tem de ser uma esperança tutelada pelo direito, não
basta uma mera expectativa material.
11.1.2. Classificações
A distinção principal é a que distingue: Principais e Acessórias.
As obrigações principais caracterizam o estatuto do sócio (obrigação de entrada e da
obrigação de participação nas perdas).
As obrigações (lato sensu) podem reconduzir-se a diversos tipos, desde obrigações de
prestações suplementares de capital, passando por obrigações de prestações
acessórias e acabando em obrigações específicas.
11.2.1. Caracterização
Vem prevista no art. 20º al. a) e está regulada nos arts. 25º a 30º CSC.
Nas sociedades por quotas e anónimas não são permitidas contribuições de industria,
202º nº1 e 277º nº1, (diferente do que acontece nas sociedades em nome colectivo),
pelo que todas as participações são necessariamente realizadas em capital, 202º a
208º e 285º e 286º.
A entrada do sócio corresponde a uma contribuição necessária (geralmente em
dinheiro, mas que também pode ser em espécie, e traduz a medida do risco do capital
suportado pelo sócio).
Caso a sociedade não precise imediatamente de todo o capital que os sócios
subscrevem, é possível diferir uma parte das entradas em dinheiro, desde que o prazo
para o efeito não ultrapasse cinco anos. A sociedade deverá receber dos sócios as
respectivas contribuições à medida que vai delas carecendo.
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11.2.2. Composição e montante das entradas
11.2.4.1. Situação
Corresponde ao atraso na realização do capital social subscrito, mas ainda não
liberado.
Relativamente às entradas em dinheiro que tenham sido diferidas, o sócio só entra em
mora apos ser expressamente interpelado para o efeito; ainda que o próprio contrato
social fixe a data até à qual deverá ser realizado o capital.
Estando em causa a liberação de obrigações de entrada, a mora pressupõe, pois, a
previa interpelação do sócio, 203º nº3 e 285º nº2 a 5, e faz incorrer em
responsabilidade solidária com o excluído ou titular das acções perdida sem favor da
sociedade os anteriores titulares da quota ou dessas acções, 206º e 286º.
Não pode ser deliberado aumento de capital social, enquanto não estiverem realizadas
toas as prestações anteriormente subscritas, 87º nº3.
11.4.1. Universo
Resultam do próprio contrato de sociedade ou são integradas no mesmo, em vida da
sociedade, e por efeito da alteração do contrato – com as limitações do 86º nº2 CSC –
em vida da sociedade.
É no momento constitutivo que importa reflectir adequadamente acerca das
obrigações que podem vir a ser exigidas mais tarde.
- Direito de participação nas deliberações dos sócios: Este direito pressupõe três
vertentes bem distintas: direitos de presença (na formação das deliberações pode
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suceder que os sócios apenas possam estar presentes, não se possam manifestar. Não
poderão contribuir para a formação da deliberação, limitando-se a obter uma
informação in loco e contemporânea ao momento em que a decisão societária é
tomada); de intervenção, 248º nº5 e 37º nº1 e nº3 (pressupõe a presença na reunião,
assegurando o sócio a possibilidade de poder contribuir para formação da vontade
societária, quiçá convencendo alguns dos seus pares com direito de voto); e de voto,
250º e 384º nº1 (permite ao respectivo titular contribuir decisivamente para a
formação da vontade societária), nessas deliberações, maxime nas assembleias-gerais.
- Direito à informação: 21º nº1 al. c), 214º, 288º a 291º CSC;
- Direito de fiscalização da actuação dos gestores da sociedade, 216º, 292º e 450º CSC,
da sociedade, isto é, o direito de controlo de que o respectivo desempenho de funções
é feito dentro dos limites da lei e com respeito pelas regras do próprio contrato.
- Direitos de convocação da assembleia-geral (248º nº2 e 375º nº2 e 6 CSC) e de
inclusão de determinados assuntos na ordem do dia de assembleia já convocada ou a
convocar (248º nº2 e 375º nº3). O reconhecimento desse direito não significa que os
sócios venham efectivamente a conseguir obter uma deliberação favorável num
determinado sentido.
- Direito de impugnar as deliberações dos sócios contrárias a lei ou ao contrato (56º,
58º a 60º e 69º CSC): encontra-se no pólo oposto do direito de participação e que
constitui o seu contrapeso. É uma forma de garantir que essa vontade social possa ser
impugnada pelos sócios.
- Direito de ser designado, quer por eleição, quer por nomeação, para os órgãos
sociais (21º nº1 al. d) CSC): direito que, em nossa opinião, perdeu autonomia, porque
na sociedade por quotas e anónimas este direito não é efectivo, em função da
dissociação entre o risco do capital e a direcção efectiva da sociedade. Este direito
perdeu um certo conteúdo e alcance.
- Direito de requerer a nomeação judicial dos titulares dos órgãos de administração e
fiscalização da sociedade (253º nº3, 394º, 417º, 418º e 439º CSC), bem como a
destituição, também judicial do titular do órgão de administração (257º bº4 e 403º
nº3 CSC).
Em certas situações a lei reconhece aos sócios o direito de requerer ao T que este
designe um administrador (um administrador judicial ou um membro do conselho
fiscal). Os sócios têm também o direito de requerer judicialmente a destituição dos
titulares do órgão de administração.
regra 13.2.1.1.
Os direitos especiais são aqueles que são atribuídos pelo contrato de sociedade a um
ou mais sócios (art.24º, nº1) conferindo-lhes uma vantagem relativamente aos demais.
Só pelo contrato esses direitos podem ser criados.
Daqui decorrem consequências, no plano do regime que lhes é aplicável, no sentido de
que, se eles devem constar do contrato, então se pretendemos alterar os respectivos
conteúdos, fim ou finalidade, temos de primeiramente modificar o contrato.
Isto é, se qualitativamente a sua posição permanece inalterada; quantitativamente, ela
resultará naturalmente enfraquecida. E esta conclusão é especialmente evidente no
plano dos direitos de natureza patrimonial, como é o caso do direito aos lucros do
exercício. No que se refere à criação de direitos de natureza não patrimonial em vida
da sociedade, como por exemplo direito especial de designar um gerente, ela já não
põe em causa, nem sequer quantitativamente, os direitos dos restantes sócios
relativamente à situação anterior.
13.2.1.2.
O critério distingue estes direitos dos direitos gerais, e tal reside no facto de só
poderem ser atribuídos a alguns sócios, estando por isso primordialmente afectos a
interesses próprios do seu titular.
A especificidade destes direitos sociais radica na característica – de satisfação de
interesses pessoais – e na qualidade relativa, de só poderem ser concedidos a alguns
sócios. Os direitos especiais não podem ser atribuídos à totalidade dos sócios, sem
prejuízo da sua essência.
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13.2.1.3.
Os direitos especiais que revestirem natureza patrimonial são, regra geral,
«transmissíveis com a quota respectiva, sendo intransmissíveis os restantes direitos»,
24º nº3. Daqui resulta que, regra geral, a cessão de quotas importa a
transmissibilidade do direito especial se este tiver carácter patrimonial, o que não é
muito consentâneo com a respectiva natureza, enquanto atribuição intuitus personae.
Quando se trata de um direito especial não patrimonial, a lei não permite a sua
transmissibilidade.
13.2.1.4.
Regra geral, «os direitos especiais não podem ser suprimidos sem o consentimento do
respectivo titular», 24º nº5.
A lei pretendeu tutelar as legítimas expectativas das partes que celebram o negocio
constitutivo da sociedade, dando um conteúdo útil ao privilegio atribuído a um ou
alguns sócios. No entanto, tanto o contrato como a lei podem dispor diferente solução,
contribuindo para lhe retirar uma certa efectividade.
Sociedades anónimas: embora por razoes que visam viabilizar o seu funcionamento,
considerando-se que os direitos são atribuídos às múltiplas fracções do capital social
(as acções), o consentimento «é dado por deliberação tomada em assembleia especial
dos accionistas titulares de acções da respectiva categoria», 24º nº6, por uma maioria
qualificada de dois terços dos votos, 389º nº2 e 383º nº2 e 386º nº3.
13.2.1.5.
As deliberações que não obtenham o consentimento necessário são ineficazes, art.
55º, isto é, são irrelevantes para o titular do direito especial afectado. Se este pura e
simplesmente ignorar essa deliberação, ela será como que inexistente até ao
momento da sua eventual confirmação.
13.2.2. Exemplificação
Constituem exemplos de direitos especiais nestas sociedades os seguintes:
14.7. Limite legal da distribuição de bens aos sócios e lucros e reservas não
distribuíveis
O limite legal de distribuição de bens aos sócios: art. 32º CSC (tem em conta e visa
acautelar, não só as reservas legais quer sejam especiais, quer sejam obrigatórias, mas
eventualmente as reservas estatuárias, portanto reservas que o próprio contrato
imponha que sejam criadas e mantidas.
Este artigo é o fundamento legal do principio essencial de que o capital social constitui
a garantia dos credores, no sentido de que só quando existem bens em valor superior
á soma de capital e das reservas legais da sociedade é que poderá haver distribuição
legitima desses bens. Aquilo que os credores sabem é que nunca pode haver
distribuição de bens, designadamente sob a forma de lucros ou de dividendos, se a
situação líquida da sociedade não exceder a soma do capital e das reservas legais,
realidades que nunca podem ser postas em causa com a distribuição de lucros).
Lucros e reservas que não são distribuíveis aos sócios: art. 33º CSC (esquematicamente:
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- Nº1: daqui decorre que os resultados positivos do exercício não são
distribuíveis enquanto existirem prejuízos de exercícios anteriores por cobrir ou
reservas para constituir;
- Nº2: regra especifica que impede a distribuição de lucros enquanto não se
encontrarem amortizadas ou asseguradas as despesas de constituição e de
investigação e de desenvolvimento;
- Nº3: trata das chamadas reservas ocultas, impedindo a sua distribuição;
- Nº4: as reservas que eventualmente forem entregues aos sócios/que lhes
forem distribuídas, devem ser explicitadas;)
O conteúdo normativo dessas regras é de tal maneira importante que o nosso Código,
no art. 514º, sanciona criminalmente a sua infracção, designadamente a situação em
que ocorra uma distribuição ilícita, e portanto contraria à lei, de bens aos sócios.
Distribuir lucros durante o exercício em que são gerados constitui uma excepção ao
regime - regra da distribuição de lucros das sociedades comerciais, justificando-se que
tal medida só possa ser adoptada verificados e preenchidos determinados requisitos
que não são típicos das sociedades por quotas.
Este mecanismo não é lógico, nem sistematicamente compatível com tipo societário.
Os lucros, por definição, verificam-se no final do exercício; antecipá-los constitui uma
excepção à regra que apenas se justifica em situações relativas a sociedades de grande
dimensão, sujeitas a um controlo efectivo rigoroso.
16.2. Caracterização
16.2.1. Generalidades
Em 1º lugar, este direito consiste na consulta de elementos da sociedade e, no âmbito
desta, na chamada inspecção dos bens sociais e na obtenção de informações por
escrito.
Em 2º lugar, ele traduz-se nas informações inerentes e necessárias para uma adequada
formação das deliberações sociais, previas à assembleia-geral ou a prestar durante a
sua realização.
E quando a informação não é, injustificada e indevidamente, satisfeita pela sociedade,
pode haver lugar a inquérito judicial e a exame de escrituração mediante intervenção
judicial.
16.3.2.1.
Antes da assembleia geral devem ser disponibilizadas aos accionistas as propostas da
administração e diversos elementos de informação que a lei reputa relevantes para a
formação da respectiva vontade, 289º nº1.
A antecedência é, em regra, de 15 dias, embora, em certas circunstancias (alteração de
contrato de sociedade), possa coincidir com a data da publicação ou expedição da
convocatória.
16.3.2.2.
Os prazos de divulgação de proposta para a assembleia-geral previstos no art. 289º
aplicam-se às sociedades por quotas? Sim, não com base na analogia, mas sim por
efeito da aplicação às sociedades por quotas das regras referentes às assembleias-
gerais das sociedades anónimas, 248º nº1, mas quais se enquadram adequadamente
as que respeitam à preparação das próprias assembleias.
Livro: “Direito das Sociedades
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16.3.2.3.
Outras propostas que, entretanto, surjam, subscritas por accionistas não têm de ser
previamente disponibilizadas aos demais accionistas, ficando ao critério do presidente
da mesa a sua eventual divulgação antecipada.
Manda o bom senso que as mesmas possam ser conhecidas de todos os que vão
participar na reunião se forem formuladas com antecedência relativamente à mesma.
16.4.2. Publicidade
O relatório de gestão deve ser divulgado aos sócios para que estes possam ajuizar
acerca do modo como a sociedade for gerida, pronunciando-se em consciência
aquando da aprovação das contas.
Após ser aprovado revela-se um instrumento fundamental para dar a conhecer aos
terceiros (ex: instituições de credito) a sua situação económico-financeira e,
eventualmente, as dificuldades que atravessa.
Pode fazer-se de vários modos:
. Exposição na sede da sociedade, 263º nº1 e 289º nº1;
. Envio aos titulares de acções nominativas correspondentes a, pelo menos 1%
do capital social, quando eles o requeiram, 289º nº3;
Após a aprovação pela assembleia-geral, o relatório de gestão deverá ser
disponibilizado na sede social aos interessados e integralmente divulgado no sítio da
sociedade na Internet, art. 70º nº2 CSC.
17.1.1. Caracterização
É um direito inerente à própria participação social, cujo conteúdo consiste na
faculdade que os sócios têm de intervir preferencialmente em relação a terceiros, na
subscrição de novas participações, em caso de aumento do capital social.
Quem for sócio ou accionista de uma sociedade que pretenda aumentar o respectivo
capital social por entradas em dinheiro, tem preferência na subscrição desse aumento
em relação àqueles que pretenderem vir a sê-lo relativamente a quem pretender
entrar para a sociedade; e devem exercer essa preferência proporcionalmente à sua
participação no capital.
Este direito concede aos sócios e aos accionistas a preferência nos aumentos de capital
a realizar em dinheiro, relativamente à subscrição do aumento, e à subscrição das
acções, em particular, no que respeita às sociedades anónimas.
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17.2. Direito de exoneração
17.2.1. Caracterização
A exoneração consiste no abandono unilateral do sócio da sociedade de que fazia
parte, sem se fazer substituir, mediante uma contrapartida.
Esta operação implica a perda da titularidade da quota ou das acções relativamente às
quais se exerceu o direito.
Na sociedades por quotas, a exoneração pode ocorrer nos casos previstos na lei e no
contrato, 240º, mas este nunca pode admitir a exoneração pela vontade arbitrária do
sócio, 240º nº8.
Nas sociedades anónimas a natureza da sociedade e a transmissibilidade das
participações impõem uma solução mais rígida. Para considerar este direito
verdadeiramente excepcional nas sociedades anónimas, concluindo pela
inadmissibilidade de estipulação contratual de clausulas de exoneração, para alem das
situações expressamente previstas na lei (essas são: art. 3º nº5 in fine; 45º nº1; 105º;
120º; 137º e 161º nº5).
18.1. Generalidades
Numa perspectiva “participação social” assume mais do que um sentido: ela designa a
situação jurídica característica do sócio perante a sociedade, os outros sócios e
terceiros, e identifica um bem jurídico, visto que é objecto de direitos e obrigações,
designadamente de direitos reais, como o usufruto e o penhor, art. 23º.
. Participação social que caracteriza a situação jurídica que define a posição do
sócio;
. A participação social como um bem jurídico;
18.2.1. Conceitos
Nas sociedades em nome colectivo, a participação social é apenas designada como
parte social e isso aflora, art. 182º, onde se refere a transmissão entre vivos de parte
social, e dos arts. 183º, 187º e 188º.
Parte social é o nome que se dá às participações nas sociedades em nome colectivo.
Nas sociedades por quotas as participações designam-se simplesmente por quotas, art.
197º nº1, as quais são bens incorpóreos.
18.2.2. Caracterização
As partes sociais e as quotas são bens imateriais, 176º nº2 e 219º nº7, cuja
transmissibilidade está sujeita a forma escrita, 182º nº2 e 228º nº1, e a registo
comercial, art. 3º nº1 als. e) e c) CRCom e arts. 188º A e 242º A a 242º F CSC; e no caso
das sociedades em nome colectivo necessariamente a consentimento unânime dos
demais sócios, 182º nº1.
E estas são as duas principais características das sociedades em nome colectivo (a
forma exigida para a transmissão de participação social e o consentimento unânime
dos demais sócios para que seja possível operar essa transmissibilidade).
Quanto às quotas são bens imateriais, o que juntamente com as demais participações
sociais, as distinguir das participações nas sociedades anónimas, uma vez que estas
eram tradicionalmente tituladas ou documentadas, correspondendo a títulos de
credito.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
A quota não pode, pois, ser documentada. Tem um valor mínimo de € 100,00, art.
219º nº3, sendo naturalmente divisível por cêntimos de euro, correspondendo um
cêntimo a um voto.
Em princípio, a cada sócio deve caber uma única quota, isto é cada sócio terá direito a
uma quota e será essa quota que corresponde à sua entrada na sociedade, nº1 219º.
Pode admitir-se que em caso de divisão de quotas e só nestes casos, previstos no nº2
do 219º, pode haver a atribuição, a um mesmo sócio, de mais de uma quota.
As quotas dos diversos sócios devem ser expressamente mencionadas no contrato de
sociedade, do contrato deve retirar-se com clareza qual é o montante da participação
actual de cada um dos sócios e daqui se extrai uma consequência: a de que a cessão de
quotas, no mínimo provoca uma alteração formal do contrato de sociedade. Trata-se
de uma alteração formal. A cessão de quotas é a designação técnica da transmissão
das quotas inter vivos com carácter oneroso. Ao contrário das sociedades anónimas, a
regra é a de que a transmissibilidade da parte é livre dentro da própria sociedade e é
fortemente restringida, pelo menos em termos dispositivos, relativamente a terceiros.
18.3. As acções
18.3.2.1 Indivisibilidade
A acção é absolutamente indivisível. Esta característica não deve ser confundida com o
facto de os títulos, em que eventualmente se materializam as acções, poderem
incorporar mais de uma acção.
Também não se deve confundir esta característica com a insusceptibilidade de uma
acção pertencer a mais do que um sujeito, o que origina uma situação designada de
contitularidade, ou como limitação a que uma mesma acção seja simultaneamente
objecto de direitos de diferente natureza, sendo da titularidade de um sujeito e
estando constituído o usufruto em beneficio de outro (art.23º, nº1) ou encontrando-se
empenhada em favor de outro (art.23º, nº3).
A emissão é o acto pelo qual a sociedade cria os respectivos valores mobiliários. Mas a
sociedade também cria acções pelo respectivo registo (art.61º e ss., arts. 61º a 64º do
CVM).
Emissão e subscrição distinguem-se pela respectiva autoria; no primeiro, a sociedade
(eminente), no segundo, o accionista. A emissão corresponde ao acto de decisão, a
subscrição traduz a vontade de aquisição originária de titularidade por parte dos
destinatários da emissão.
18.3.3.4.Titulos definitivos
Uma vez disponibilizados os documentos necessários à elaboração dos títulos
definitivos, segue-se a respectiva impressão.
Dos títulos – assinados por um membro do órgão de administração da sociedade
eminente, ainda que por chancela devem constar as seguintes menções (art.97º, nº1
do CVM, DL nº 375-A/2007, e art.328º, nº4 do CSC).
18.3.5.1. Generalidades
Nas Sociedade Anónimas, as participações sociais:
. Quanto ao modo de representação comum: As acções podem ser
tituladas/documentadas em suporte de papel, ou escriturais, correspondendo a meros
registos informáticos.
. Quanto ao modo de circulação: as acções podem ser nominativas ou ao
portador.
18.3.7.1. Conceito
São exclusivamente materializadas pela sua inscrição em contas abertas em nome dos
respectivos titulares, são correspondendo a um mero registo de carácter informático.
19.1.2.1. Significado
As acções podem distinguir-se segundo:
. A sua forma (tituladas e escriturais);
. Regime (nominativos e ao portador);
. Natureza da entrada que representam (acções em numerário e em espécie);
. Ao preço de subscrição (acções com premio e sem premio);
. Nos direitos que conferem;
19.1.2.2. Tipologia das acções com base nos direitos que lhe são
inerentes
Ideia de acção complexo de direitos e deveres que exprime a posição de sócio,
permitindo-nos distinguir as acções em ordinárias, privilegiadas e diminuídas.
No âmbito das sociedades anónimas, a posição de sócio não tem de ser uniforme.
Contudo, eventual variação de direitos ou obrigações deve ser estatutariamente
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
registada, 272º al. c), e as acções que concedam iguais direitos ou imponham idênticas
obrigações devem constituir uma categoria, 302º nº2.
19.3.1. Caracterização
São vantagens que a lei reconhece às participações sociais e que, naturalmente,
resultarão em benefício de quem, em determinado e num certo momento, for titular
dessas mesmas participações.
A doutrina reconhece como um princípio geral de direito, ao qual temos de atender,
que é o princípio do igual tratamento dos accionistas, a concepção e a admissibilidade
de acções de mais do que uma espécie, vai no sentido de se considerar que
efectivamente os accionistas podem ser diferentemente tratados. Claro que o
princípio terá de ser lido de forma restritiva, de modo que o igual tratamento tenha a
ver com o tipo de direitos e vinculações, isto é, com a situação jurídica característica à
acção em causa.
19.3.2. Finalidades
Dependendo do momento em que surjam, reflectindo exigências e satisfazendo
objectivos dos fundadores na constituição ou visando tornar atractiva a participação
na sociedade para aqueles que ainda nas são accionistas, no decurso da sua vida, e
podendo variar consoante o tipo de privilégios que se lhes atribuam ou reconheçam.
Em vida da sociedade, regra geral, associado À criação de acções privilegiadas
encontra-se um investimento de carácter financeiro ou uma aplicação financeira.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 9
19.3.3. Conteúdo
Há que verificar se elas estão sujeitas a uma tipicidade legal ou se no âmbito da
autonomia privada, podem ser criadas categorias de acções privilegiadas que não
estejam expressamente previstas na lei.
19.3.4.1. Criação
Os direitos especiais têm de ser previstos no contrato, art. 7º nº1 e 24º nº1.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 10
A emissão de acções privilegiadas aquando da constituição da sociedade não é
problemática. Respeitados aos limites imperativos decorrentes da lei. No contrato da
sociedade, a menção da existência de categoria de acções com direitos especiais
corresponde ao consenso dos accionistas ou, pelo menos, ao projecto a que eles
aderiram, 279º.
Admitindo-se a alterabilidade do contrato de sociedade, 86º nº2, coloca-se a questão
de determinar por que maioria pode a sociedade criar direitos especiais ou novos
direitos especiais, sob a forma de categoria de acções.
Consideramos suficiente a maioria necessária para a alteração do contrato de
sociedade, visto que nem para a supressão desses direitos se exige a unanimidade,
389º.
Somos de opinião de que será suficiente, para deliberar a criação de acções
privilegiadas (ou de novas acções privilegiadas), a maioria normalmente necessária
para deliberar alterações estatuárias, arts. 383º nº2 e 386º nº3, 383º nº3 e 386º nº3, 4
e 5).
A própria criação de novas categorias de acções privilegiadas não tem de ser aprovada
pelos titulares de acções privilegiadas já existentes reunidos em assembleia especial.
Não nos parece que o direito especial existente seja coarctado pela criação de novos
direitos. Ele mantêm-se embora possa estar sujeito a uma variação quantitativa.
Também não impede expressamente que essa medida fique dependente da categoria
de acções ordinárias, igualmente afectadas, 389º nº3.
Aceita-se que da criação de novas acções privilegiadas resulte um prejuízo para as já
existentes, pela natural limitação que os seus direitos poderão sofrer, mas dá-se
também o enfraquecimento quantitativo dos direitos das próprias acções ordinárias
que passarão a ser, em face de novas categorias privilegiadas ou do reforço das já
existentes, ainda mais oneradas.
A própria lei:
. Em primeiro lugar concede em termos gerais o direito de preferência aos
actuais accionistas nos aumentos de capital por entradas em dinheiro, 458º, o qual só
pode ser limitado ou suprimido se o interesse social o justificar, 460º em especial nº2.
. Em segundo lugar, estabelece o igual tratamento de todos os accionistas,
321º, segundo o qual sempre que se pretender criar novo direitos no âmbito das
sociedades anónimas, todos os accionistas deverão ter oportunidade de acesso aos
mesmos, na proporção da sua participação na sociedade, 344º nº2.
. Em terceiro lugar, a lei determina a anulabilidade de todas as deliberações
que sejam abusivas, designadamente daquelas que «sejam apropriadas para satisfazer
o propósito de um dos sócios de conseguir prejudicar» os interesses de outros sócios,
58º nº1 al. b).
Deste modo, só as deliberações que recaiam sobre os direitos de uma categoria
existente, impondo a sua supressão ou alteração, devem ser subordinados ao
consentimento dos titulares das acções dessa categoria, 24º nº5 e 6º e 389º.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 10
A criação de acções privilegiadas em vida da sociedade pode ocorrer por conversão de
caçoes ordinárias ou por aumento do capital social.
19.3.4.2. Transmissibilidade
Os direitos especiais transmitem-se comas acções a que são inerentes.
19.4.1. Caracterização
Conferem aos seus titulares menos direitos do que aqueles que resultem das acções
ordinárias e que, relativamente a estas, só apresentam desvantagens. Ex: caso das
acções de fruição, 346º nº4.
A que melhor se contrapõe, com base num mesmo critério, às acções ordinárias e às
acções privilegiadas; e por ser mais ampla que a designação “acções diferidas”. Pode
suceder que a desvantagem relativamente às outras acções consista na restrição total
de um direito e não apenas no diferimento do seu exercício.
20.1.2.1.
Para além das pessoas singulares, podem ser titulares de quotas e acções quaisquer
pessoas colectivas, com respeito pelo principio da especialidade que caracteriza a sua
actividade, 160º CC e 11 nº4 CSC.
A detenção de participações noutras sociedades e a gestão das mesmas podem
integrar o objecto específico de uma determinada sociedade que não será
imediatamente comercial, por não corresponder a uma actividade comercial ou
industrial directa. Tal sociedade constitui-se com a exclusiva finalidade de gerir
participações sociais, apenas prosseguindo actividades de carácter comercial ou
industrial de forma mediata, na medida em que só participará indirectamente no
exercício do objecto das sociedades participantes.
A lei permite, no art. 11º que o contrato de sociedade o possa autorizar,
inclusivamente em qualquer tipo de sociedade.
Se o contrato não permitir essa detenção de participações noutras sociedades, então a
sociedade comercial só poderá participar em sociedades de responsabilidade limitada
que exerçam uma actividade análoga, 11º nº4, mesmo essa possibilidade podendo ser
contratualmente excluída, 11º nº4 in fine, ficando a sociedade impossibilitada de
adquirir participações alheias ou de o fazer sem autorização dos sócios.
Quando se pretende que a sociedade possa participar em sociedades de
responsabilidade ilimitada ou em sociedades com diferente objecto social, então o
contrato deve autorizá-lo expressamente, 11º nº5, indicando, se possível, qual o órgão
competente para tomar decisões nessa matéria eliminado, desse modo, eventuais
dúvidas que possam surgir, 246º nº2 al. a) e 406º nomeadamente al. e).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 10
20.1.2.2.
Entendemos que as regras de regulação social não podem servir para prejudicar os
interesses da ética do mercado e daqueles que nele intervêm e se movimentam,
sobretudo se não houver razoes para tal.
Não só não h+a prejudicados, como se evita que venham a ser postos em causa
negócios subsequentes.
20.4.1.1.
Art. 23º nº1 e 2º CSC e 1467º CC: dois sujeitos, o proprietário e o usufrutuário, terem
simultaneamente pretensões em relação a uma mesma participação social, a questão
reside em saber quem tem o direito de exercer os direitos sociais.
Regra aplicável: o usufrutuário tem direito aos lucros e a votar, excepto se está em
causa alteração estatutária ou dissolução, em que o voto dever ser conjunto.
Problemas mais relevantes:
. Quanto ao direito de informação: arts 293º e 214º nº8
A regra é a de que o usufrutuário tem o direito de informação conjunto e simultâneo,
com o titular de raiz, sempre que tiver o direito de voto. Nessa circunstância poderá
exercer o direito de informação.
. Quanto ao direito de participar no aumento de capital: art. 462º
Por entradas em dinheiro, o exercício do direito legal de preferência cabe ao nu-
proprietário, na falta de acordo para ser actuado pelo usufrutuário ou conjuntamente
por ambos, 269º e 462º nº2 e 1. A ideia é a de que o proprietário de raiz deve poder
ter o direito de participar sempre que estiver em causa um acto social que afecte a
subsistência da sua participação (acções). As acções a emitir ficam a pertencer em
propriedade plena a quem exerceu o direito legal de preferência, art. 462º nº4 CSC.
20.4.1.2.
No que respeita à forma de constituição do usufruto das participações sociais em vida
em sociedade, ela corresponde à forma exigida e às limitações estabelecidas para a
respectiva transmissão, art. 23º nº1.
O usufruto constitui-se por documento escrito, forma requerida para a transmissão de
quotas, e tal só pode ocorrer na medida em que o sócio puder dispor da sua quota em
negócios entre vivos. Se a cessão for livre, a constituição do usufruto também é livre,
se a cessão estiver dependente do consentimento da sociedade, p.ex, então eventual
constituição de usufruto sobre uma quota estará dependente de idêntica autorização,
23º nº1 e 228º nº2.
A constituição (ou transmissão) de usufruto de quota está sujeita a registo comercial
obrigatório do qual depende a sua eficácia, arts. 242º - A e 242º - B CSC.
No que se refere à constituição de usufruto sobre acções, há que conjugar o disposto
no CSC, art. 23º, com o CVM.
A forma de constituição dependerá da própria forma de representação da acção e do
regime a que a mesma está sujeita.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 10
Sendo as acções tituladas, devem ser observados os termos estabelecidos para a
transmissão da respectiva titularidade, art. 23º nº1 CSC e art. 103º CVM.
O usufruto de acções ao portador só é possível mediante depósito das acções em
instituições de crédito ou junto do emitente e registo da situação jurídica em causa,
sendo obvio que não pode ocorrer pela simples transmissão do título, porque a mesma
opera a efectiva transmissão da propriedade.
A constituição de usufruto sobre acções tituladas nominativas é livre se não houver
restrições à transmissibilidade das acções, 328º nº2, efectuando-se por declaração,
inscrita no título, e registo subsequente junto da sociedade emitente ou de
intermediário financeiro que a represente, arts. 23º nº1 CSC e 103º e 102º nº1 CVM.
O usufruto de acções escriturais constitui-se pelo registo na conta do titular dessas
acções, com indicação da quantidade de acções constituídas em usufruto, da duração
deste e da identificação do usufrutuário, podendo ser constituído por registo em conta
do usufrutuário, arts. 81º nº5 e nº1 e 2º e art. 105º CVM.
20.4.2.1.
O penhor de quotas, arts. 23º nº3 e 4º e 242º - A a 242º - B CSC e art. 3º nº1 al. f)
CRCom.
O penhor de acções, art. 23º nº3 e 4, CSC e 293º. No plano das sociedades anónimas é
regulada pelo CVM, arts. 41º, 81º e 83º, 101º a 104º.
Para o penhor de participações sociais, em geral:
1º «Só pode ser constituído na forma exigida dentro das limitações
estabelecidas para a transmissão entre vivos das participações» a que
respeitam art. 23º nº3, isto é, nos termos em que tais participações sejam
transmissíveis.
2º O credor pignorático só pode exercer os direitos sociais, incluindo o direito
de lucros, quando tal tiver sido acordado, por escrito, entre as partes, 23º nº4.
3º O credor pignorático tenha o exercício do direito de voto, ele terá também
direito de informação como se fora o titular das acções, art. 293º.
20.4.2.2.
À constituição desta garantia real, a mesma ocorre na «forma exigida para a
transmissão das participações» que dela são objecto.
Eliminando-se a referência à necessidade de documento escrito, 23º nº3 in fine.
Impõe-se distinguir consoante as participações são tituladas ou meramente escriturais.
O penhor das quotas, continua a constituir-se por documento particular e torna-se
efectivo com o respectivo registo comercial, art. 3º al. f) CRCom. E art. 240º - A CSC,
passando a ser oponível a terceiros.
O penhor de acções escriturais constitui-se pelo registo na conta do titular dessas
acções, com indicação da qualidade de acções dadas em penhor, da obrigação
garantida e da identificação do beneficiário, podendo ser constituído por registo em
conta do credor pignorático, quando este tiver o direito de voto, arts. 81º nº1 e 2 e
105º CVM.
A constituição de penhor sobre acções tituladas nominativas é livre, na medida em que
não existam restrições à transmissibilidade dessas acções. Se existirem restrições, 328º
nº2, a constituição do penhor depende do consentimento exigível para a transmissão
das acções a empenhar.
O penhor das acções nominativas constitui-se por declaração como referida no arts.
23º nº3 CSC e 103º e 102º nº1 CVM.
O penhor das acções ao portador constitui-se pela entrega dos títulos ao credor
pignorático ou ao depositário por ele indicado, art. 101º nº1 CVM, o titular para prova
do seu direito solicite a emissão de um recibo relativo à entrega desses títulos. Caso os
títulos das acções já estejam depositados, o penhor efectua-se por registo na conta do
credor pignorático, com efeitos a partir da data do respectivo requerimento. Não se
encontrando sujeito a registo, o penhor só produz efeitos com a notificação à
sociedade, art. 681º nº2 CC).
A constituição do penhor confere ao credor pignorático o direito de se fazer pagar
preferencialmente pelo valor dos bens empenhados.
Deve informar ou notificar a administração da sociedade de que as acções se
encontrem a caucionar um determinado credito e para que esta tenha possibilidades
de reagir relativamente a eventual vicissitude das mesmas. E desta comunicação
deverá ser dado conhecimento ao accionista.
20.5.1.1.
Ela é a forma adequada de transmitir a posição de sócio, eventuais limitações legais ou
convencionais visam impedir ou dificultar a alteração da titularidade da participação.
Admite e lei a possibilidade de os estatutos imporem a amortização da quota em caso
de morte de sócio, 225º nº1 e 2, ou de limitarem a doação de acções, 329º nº2 al. c).
A compra e venda de participações sociais é um contrato comercial, por natureza, 463º
nº5 CCom.
20.5.1.2.
Promessa de cessão de quotas: é em princípio dependente da possibilidade de
celebração do negócio definitivo.
Embora a transmissão de acções não esteja, em regra, sujeita a forma especial, as
partes acordam frequentemente na celebração prévia de promessas com a finalidade
de proceder à avaliação das empresas cuja titularidade projectam alterar, realizando
as due diligences que lhe permitem verificar o teor das declarações constantes do
contrato instrumental.
A promessa de transmissão em bolsa é irrelevante
20.5.2.1.
Sendo a participação social um bem incorpóreo, ela não é por definição, depositável.
Só os bens corpóreos (coisas) podem ser objecto de depósito; os bens incorpóreos são
objecto de registo.
Quanto ás acções tituladas elas podem ser objecto de deposito, e junto de um
intermediário financeiro.
20.5.2.2.
Quanto ao empréstimo de participações sócias, não consideramos a posição jurídica de
sócio compatível com a cedência temporária do gozo da participação social. Acresce
que a cedência temporária do gozo do bem, pressupondo que ele é corpóreo, poderia
assumir diferente configuração, consoante esse bem fosse ou não fungível. Por efeito
da fungibilidade imposta legalmente aos valores mobiliários, dir-se-ia que a forma
adequada para o respectivo empréstimo seria o mutuo.
A lei civil configura o mútuo e o comodato como empréstimos de dinheiro ou coisas
fungíveis, art. 1142º CC, ou infungíveis, 1129º CC. Isto é, não tipifica negócios que
recaiam sobre os incorpóreos.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 11
No que se refere à quota, o sócio não se pode despojar temporariamente da sua
qualidade, cedendo a participação a um terceiro, para que ele se sirva dele. O
empréstimo da quota implicaria a cedência total, mas não definitiva, do status de
sócio, equivalendo a um reporte da participação, que se nos afigure incompatível com
a natureza desta, nas sociedades de pessoas.
Às acções o CVM admite expressamente o empréstimo de valores mediáticos (350º),
não discriminando as acções, mas determinando que os valores mobiliários
emprestados se transfiram para a titularidade do mutuário, excepto se for
convencionado diversamente, 350º nº1.
Concluindo, ainda que não faça muito sentido um accionista poder emprestar parte ou
a totalidade das suas acções para que um terceiro possa exercer os direitos durante
um certo prazo, tal negocio não é incompatível com a objectivação da participação na
sociedade anónima, nem tão pouco com o direito de participação social autónomo em
que se traduz cada acção. Fundamental é que ao admitir-se o negócio não se esteja a
permitir desdobrar a titularidade da participação ou a iludir regras restritivas da sua
transmissibilidade. Por isso, cremos que o empréstimo em termos substanciais deve
corresponder a uma alteração de titularidade, mesmo que não seja essa a intenção das
partes, com todas as consequências daí decorrentes.
20.5.2.3.
O aluguer de participações sociais não se afigura compatível com a qualidade de sócio
a cedência provisória, mediante uma renda, do gozo de uma participação social.
21.1.1. Caracterização
21.1.1.1.
Sociedades por quotas: a transmissão de participações em vida, quando é onerosa,
designa-se por cessão de quotas e esta vem regulada nos arts. 228º CSC.
A regra legal é a de que a transmissibilidade é fortemente condicionada. Só é livre a
transmissibilidade em favor do sócios ou do conjugue ou de parentes na linha recta
(familiares próximos).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 11
Se os sócios pretenderem que a cessão seja livre têm de o clausular expressamente. Se
nada fizerem a cessão só é livre em favor de outros sócios ou dos herdeiros
legitimários.
Se a proibição tiver uma duração superior a dez anos, a lei concede aos sócios, uma
vez decorrido esse prazo (10 anos), o direito de exoneração, o que corresponde, no
fundo, a admitir que eles têm o direito de livremente se afastar da sociedade. E a
exoneração, pelo menos em termos qualitativos, é em tudo idêntica à cessão, porque
conduz à saída da sociedade.
21.1.1.2.
Art. 228º nº2, a lei pretende claramente opor sócios e familiares próximos do cedente
a terceiros ou estranhos.
No nº3 do art. 229º, a lei admite que os estatutos possam exigir o consentimento da
sociedade para as cessões legalmente autorizadas.
A intenção é isentar unicamente os sócios da necessidade de autorização societária.
Haverá que apreciar cada caso em concreto, só sendo legitimo concluir por uma
limitação contratual acrescida, relativamente à legal, se for inequívoco ser essa a
intenção dos sócios.
21.3.1. Caracterização
Consiste na extinção, total ou parcial, 233º nº5, de uma quota, eventualmente
acompanhada de redução do capital social em medida correspondente ao valor
nominal dessa quota, 232º a 238º.
21.3.2. Pressupostos
Deverá ser permitida por lei, contratualmente autorizada ou expressamente
consentida pelo sócio.
21.3.5. Efeitos
Implica a redução do capital social sempre que recais sobre quotas que não estejam
inteiramente liberadas, 232º nº3, e sempre que a situação liquida da sociedade
resultar inferior À soma do capital social e da reserva legal, após o pagamento da
contrapartida.
A amortização provoca o aumento proporcional das quotas sobrantes, excepto se o
contrato de sociedade estabelecer que a quota figure no balanço como amortizada,
art. 237º.
21.4.4.1. Legais
Em função da identidade do pretenso adquirente das acções, com a finalidade de
assegurar que este seja entidade idónea, ou da identidade do próprio adquirente, que
é o que acontece em sede de aquisição de acções próprias, 316º nº1 e 317º.
Finalmente, há circunstâncias que, embora não representem uma limitação à
transmissão das acções, dificultam-na na prática, como são os casos já referidos de
oneração de participações (ex: constituídas em penhor ou usufruto), art.23º.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 11
21.4.4.2. Convencionais:
Variam consoante as mesmas constem do contrato de sociedade (caso em que tem
efeitos erga omnes) ou resultem de acordos particulares subscritos pelos accionistas =
acordos parassociais (circunstancia em que revestem carácter obrigacional).
É nas restrições estatuárias à transmissibilidade de acções, arts. 328º e 329º CSC.
Só as acções nominativas podem ser objecto de limitações estatutárias à respectiva
transmissão e apenas nos casos e nos termos estabelecido no nº2 do art. 328º CSC.
21.6.2.1. Caracterização
Em sentido próprio consiste na extinção da participação social acompanhada
necessariamente da redução do capital da sociedade, 347º nº2.
21.6.2.2. Modalidades
Amortização sem redução do capital social: pode ser deliberada pelos accionistas
independentemente de cláusula estatuária nesse sentido, 346º nº1; Amortização com
redução de capital: deve ser imposta ou autorizada pelo contrato de sociedade, 347º
nº1.
Amortização voluntaria (contratualmente permitida): deliberação de accionistas que
por ela concluir e da qual depende deverá prover aos aspectos que não tiverem sido
previstos no contrato de sociedade, 347º nº5.
Amortização automática (imposta pelos estatutos): irá ocorrer independentemente da
vontade do colectivo dos sócios, devendo processar-se nos exactos termos previstos
no contrato, 347º nº3 e 4.
A obrigação de entrada
A obrigaçã o de entrada é uma das 2as principais obrigaçõ es dos só cios e de uma
sociedade comercial, sendo o respectivo cumprimento essencial para a constituição e entrada
em funcionamento da sociedade comercial.
Prazos de realização do capital apenas subscrito
Em qualquer circunstâ ncia o prazo má ximo para a realizaçã o do capital apenas
subscrito é de 5 anos a contar da celebraçã o do contrato ou da deliberaçã o de aumento de
capital – art.203 n1 e art.285º.
As reservas
Reservas existentes
Numa Scomercial é possível constituir reservas de varias espécies:
- umas decorrem de imposiçã o legal – reservas legais obrigatórias ou especiais
- outras de determinação contratual – reservas estatutárias
- outras não se encontram contabilizadas como tais mas resultam de subvalorização dos
bens sociais – reservas ocultas
As reservas sã o reguladas nos artgs 295 e 296ºambos aplicá veis À s SPQ por remissã o
expressa no art. 218º.
Reservas legais
Representam um reforça da intangibilidade do capital social: a sua funçã o é aná loga à
do capital social.
A sociedade deve constitui-las À custa dos respectivos resultados do exercício, afectando
periodicamente uma parte destes – art.295º.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 12
Há uma especialidade nas SPQ porquanto a lei impõ e que elas constituam uma reserva
legal mínima – art.218 n2 – correspondente a metade do capital social mínimo. Isto é,
neste tipo societário a reserva legal só será de 1/5 do capital social, para as sociedades que
tenham um capital superior a $ 12.500,00.
No que respeita ao seu destino no sistema português o montante afecto a reserva legal
pode inclusivamente ser aproveitado para integrar um aumento de capital.
Isto é, constituída a reserva na sua totalidade, todo esse montante pode ser
reconduzido a um aumento de capital, devendo posteriormente ser refeita a reserva com
referencia ao novo montante do capital social.
Quanto à constituiçã o de reservas legais, tenha-se em atençã o o art.295 n2 onde se
prevê a criaçã o de reserva especial para diversos efeitos.
Quando numa sociedade comercial existirem acçõ es pró prias ou quotas pró prias quer
dizer existir uma situaçã o em que parte do capital é detido pela pró pria sociedade – o que
nunca pode acontecer no inicio da respectiva actividade porque a sociedade nã o existe e
tem de se constituir à custa dos bens dos só cios – é necessá rio criar uma reserva especial
que cubra precisamente o montante equivalente ao que é representado por essas
participaçõ es – quotas e acçõ es – pró prias – art. 324 1 al.b) aplicá vel à s quotas pró prias
do remissã o do art.220 n4.
Este principio conhece uma outra aplicaçã o no â mbito do Codigo e no domínio das SA
– art.463 n2 al.b ) ---» é possível deliberar a reduçã o do capital social por extinçã o de
acçõ es pró prias se forem extintas unicamente acçõ es
Reservas livres
São constituídas por todos os lucros disponíveis que não são de facto distribuídos – isto é,
a parte dos lucros do exercício que os só cios nã o distribuem e nã o está afecta a uma
finalidade especifica – e podem resultar tambem de libertação de excesso de reservas
legais.
Os suprimentos podem consistir numa espécie do género obrigaçõ es acessó rias, caso
em que deverão encontrar-se contratualmente previstos no art.244 n1 ou podem ser
efectuados voluntariamente – art.244 n2 e 3 – por deliberaçã o dos só cios – vinculando
apenas aqueles que os votaram favoravelmente – ou por disponibilidade do mutuante.
Contrato de suprimento –
Noção breve:consiste no empréstimo efectuado pelo só cio em prol da sociedade com um
carácter de permanência ficando a sociedade obrigada a restituir bens do género e
qualidade dos que lhe foram disponibilizados – art.243 n2.
Nos termos do regime legal:
- o cará cter de permanência constitui característica essencial dos suprimentos,
permitindo deferência-los dos simples empréstimos e dos actos de tesouraria – art.243º.
- quando nã o estiverem contratualmente previstos, os suprimentos só sã o
obrigató rios para os só cios que derem o seu consentimento à respectiva prestaçã o.
Art243 n4 ultima parte: resulta que é ainda pressuposto do contrato a qualidade de
só cio de um dos sujeitos.
O momento constitutivo assume-se como essencial. Desde modo, os financiamentos
que os só cios façam à sociedade, dos quais eventualmente retirem uma remuneraçã o
adequada, se nã o integrarem outras formas de obviar À subcapitalizaçã o, em geral de
regime acentuadamente mais rígido para os pró prios só cios do que os suprimentos se
forem feitos com cará cter de permanência.
Para além da estabilidade, a lei nã o estabeleceu qualquer mecanismo para distinguir a
natureza das situaçõ es creditícias pelo que devera ser através da interpretaçã o que
poderemos procurar distinguir um suprimento de um crédito de terceiro.
A ideia a reter deverá ser a seguinte: não é suprimento qualquer crédito de um só cio.
Não o são os créditos resultantes de normais relaçõ es comerciais entre um só cio e a sociedade.
Mas já o é o diferimento de lucros distribuídos – art.243 n1 desde que revista o cará cter de
permanência que caracteriza o suprimento.
Se um só cio adquirir a um terceiro um crédito sobre a sociedade, o mesmo enquadra-
se no regime do contrato de suprimento se esse crédito tiver um cará cter de permanência
– art.243 n5.
Temos um contrato de suprimento sempre que :
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 12
O só cio tenha conscientemente, por efeito de uma obrigaçã o estatutá ria ou da
sua simples vontade procurado financiar a sociedade através de um
empréstimo de médio ou longo prazo, tenha diferido o reembolso de um
crédito por idêntico termo ou resgatado um crédito de terceiro
A situaçã o creditícia do só cio perante a sociedade tenha resultado da sua
participaçã o societá ria e nã o do facto de ele ser um credor comercial.
Regime jurídico – vide 435 da edição anterior do manual – não faz parte dos sumários
desenvolvidos disponibilizados pelo professor
Aspectos fiscais – remissão (para a edição anterior do manual, vide 438 e ss) – não faz
parte dos sumários
Prestações suplementares de capital
SPQ
As prestaçõ es suplementares são sempre em dinheiro e não vencem juros – art.210 n2 e 5.
Por essa razã o e pelo regime a que estã o sujeitas designam-se habitualmente por quase
capital.
O contrato de sociedade tem de prever a eventualidade de as prestaçõ es virem a ser,
mediante deliberaçã o dos só cios ( art.211 n1 )exigidas e estabelecer o respectivo
montante má ximo – art.210 n1 e 3 al.a) e 4).
A restituiçã o do capital que tiver sido prestado nã o pode ocorrer à custa da situaçã o
liquida da sociedade e deve ser efectuada em termos de absoluta igualdade.
Fundamental é que o contrato de sociedade permita que tais prestaçõ es sejam realizadas
– art.210 n1 e 3 – visto que doutro modo será necessá rio proceder a uma alteraçã o previa
daquele, sendo as modificaçõ es deliberadas no respeitante ao aumento de obrigaçõ es validas
e eficazes unicamente para os só cios que as aprovarem – art.866 n2 CSC.
A recusa de efectuar prestaçõ es suplementares de capital é causa d exclusã o do só cio –
art.212 n1, 204 e 205º.
Obrigações – conceito
as obrigaçõ es, tal como as acçõ es, são valores mobiliários.
Sã o valores negociais que concedem aos respectivos titulares direitos de crédito iguais
para um idêntico valor nominal, correspondendo a um meio de financiamento da pró pria
sociedade que nada tem que ver com a relaçã o de participaçã o social.
Modalidades
Aumento por novas entradas – em dinheiro ou em espécie
Proporciona verdadeiramente novos meios à sociedade, dotando-a de capitais de que ela
não dispunha.
- aumento por entradas em dinheiro
É aquela que mais adequadamente satisfaz o interesse da sociedade, uma vez que esta
poderá , inclusivamente, à custa do capital realizado proceder a aquisiçã o de bens em que
tenha interesse.
Trata-se de operação que, capitalizando a sociedade na medida das entradas subscritas
e realizadas, maior liberdade concede à respectiva gestão para aplicação dos fundos recolhidos,
por um lado, e maior igualdade e condiçõ es proporciona aos respectivos accionistas na
subscriçã o do aumento.
Esta operaçã o pode ser decidida pela pró pria administraçã o sempre que esta estiver
contratualmente autorizada para o efeito.
Por isso, o aumento de capital nã o se resume a uma mera alteraçã o contabilística mas
na variaçã o positiva da cifra do capital na medida dos bens que a sociedade receber. Por
outras palavras, deliberado o aumento de capital, nã o poderá a gestã o considerar que é
suficiente declarar que o mesmo se encontra realizado ( art.88 n2); e depois logo se ve.
Nos termos da lei portuguesa, a falta de cobrança das entradas da origem a
responsabilidade criminal.
Nã o é obrigató rio exibir no acto de constituiçã o, comprovativo de depó sito do capital
social em instituiçã o de crédito - há uma semelhança quase total entre a constituiçã o da
sociedade e o amento do capital por entradas em dinheiro apenas com a diferença de que
na fundaçã o a responsabilidade é dos só cios, enquanto no aumento é dos gerentes ou
administradores.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 12
Ao abrigo da mesma regra, no aumento é tambem possível diferir parte das entradas.
Acresce a diferença de que se a deliberaçã o de aumento de capital nada disser quanto À
realizaçã o dessas entradas em dinheiro, a lei permite que sejam exigíveis a partir do
registo definitivo do aumento de capital – art.89 n2.
Se a declaraçã o escrita de que as entradas se encontram realizadas nã o for emitida no
prazo de um ano subsequente à deliberaçã o do aumento do capital esta caduca – art.89
n3.
Reintegração do capital
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 13
Não consiste numa alteração do capital social mas sim do patrimó nio; trata-se de uma
operação de realização de bens destinados a compensar perdas patrimoniais sofridas pela
sociedade que tem por finalidade recolocar o património liquido ao nível do montante
do capital social ou pelo menos ao nível mínimo admissível.
A reintegraçã o é uma alternativa à reduçã o do capital só cia motivada por perdas sociais.
Art.35º.
Em caso de perda grave ( metade do capital social) a sociedade deve adoptar as
medidas que considere convenientes, designadamente propondo-se os só cios efectuar
entradas que permitam reconduzir o patrimó nio social – capitais pró prios – a mais de metade
do montante do capital social – reintegraçã o parcial.
Reintegraçã o e reduçã o do capital sã o duas operaçõ es de sinal contrario, ainda que o seu
fim imediato possa ser idêntico: o (r)estabelecimento da paridade do capital social e do
patrimó nio liquido
o Pela reintegraçã o os só cios realizam entradas (em dinheiro fresco), elevando o
patrimó nio ate ao nível do capital social
o Pela reduçã o (maxime por perdas) os só cios reduzem o capital social até ao nível
do patrimó nio subsistente
Como o capital social é a garantia dos credores, na medida em que a sociedade só poderá
distribuir os lucros aos só cios ou accionistas se o patrimó nio exceder o capital social,
facilmente se compreenderá que os credores têm especial interesse na primeira operação e em
nada beneficiam com a reduçã o do capital, que diminui o nível de exigência para a
distribuiçã o licita dos bens na sociedade, salvo se a mesma for articulada com uma
operaçã o de aumento, que permita repor os respectivos capitais pró prios.
A questã o que se deve formular é a seguinte: - se a lei admite a redução do capital ou a sua
reintegração quando a perda é de mais de metade (pode ser inclusivamente 99,9%), porque não
admitir essas operações (sendo a 1ª condicionada a um aumento de capital social ate pelo
menos o nível mínimo de existência da sociedade) quando a perda for total?
o Inicialmente incliná vamo-nos para rejeitar a reduçã o do capital a zero. Era preciso
uma maior reflexã o .
o Essa reflexã o foi feita pelo prof. Galvao Telles: admitia-se a da reduçã o do capital a
zero condicionada ao subsequente aumento do capital para, pelo menos, o nível
mínimo de existência (50.000 nas soc anó nimas), ficando dependente de
deliberação conjunta . Isto na pratica é impossível porque com a reduçã o do capital
a zero extinguem-se as participaçõ es sociais e consequentemente não há só cios
para fazer a deliberaçã o exigida.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 13
o Actualmente aceita-se teoricamente a reduçã o a zero se for condicionada a
subsequente e imediato aumento do capital, o qual se considera deliberado pelos
mesmos só cios que propõ em o reconhecimento da perda total.
o No có digo da insolvência há regras que permitem esta hipó tese
No â mbito da soc anó nima a lei admite a extinção de acções próprias, como processo de
reduçã o do capital social (463ºnº1).
Antes da alteraçã o ao regime de reduçã o do capital era preciso autorizaçã o judicial.
Contudo, ao eliminar-se esta exigência o legislador deveria ter revisto o art.463º CSC que
faz remissã o para o art.95º, nã o fazendo sentido. A eliminaçã o genérica da intervençã o
judicial deixa sem protecçã o os interesses dos credores, uma vez que a operaçã o já nã o
está condicionada, podendo realizar-se à custa de qq bens.
Na versã o original o art.35ºtem um conteú do programá tico, impondo aos titulares dos
ó rgã os sociais que tomem determinadas medidas, mas nã o estabelecendo quaisquer
consequências para a falta de aprovaçã o dessas medidas. Assim, sempre que os gerentes
ou administradores tiverem conhecimento de que ocorreu a perda de metade do capital
social – através de um balanço ou pelos elementos de que dispõ em – eles deverã o
convocar ou requerer a convocaçã o da assembleia geral, para informar os só cios da
situaçã o e estes poderem tomar as medidas necessá rias. Se o conhecimento da perda
ocorrida se verificar apenas com o fecho (interno) de contas, faz todo que seja a
assembleia geral anual a pronunciar-se sobre a situaçã o.
Em qq caso, do aviso têm de constar as hipó teses de deliberação pelos só cios de dissolução da
sociedade, reduçã o do capital social e realizaçã o de entradas para reforço da cobertura do
capital (art.35ºnº3).
Que postura devem os só cios adoptar na assembleia? A lei nã o diz expressamente. Pela
leitura do 35º pode entender-se que eles nã o sã o obrigados a tomar qq iniciativa, nem
deliberaçã o, podendo decidir-se por maioria simples rejeitar as propostas da
administraçã o ou nã o as aprovar e nada fazer.
Na verdade, nã o há consequências legais para a insuficiência de capitais pró prios, para
além da obrigatoriedade de divulgaçã o dessa situaçã o.
E o que faz hoje a lei? Limita-se a dispor que os só cios (accionistas) deverã o apreciar
especificamente essa situaçã o, quando se aperceberem da mesma, e tomarem as medidas
necessá rias, reunindo-se em AG
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 13
O art. 35º como norma “ quase vazia” : este artigo constitui uma regra – uma empresa deve
ter uma dimensã o pró xima daquela que sugere ao mercado, pelos seus sinais externos
imediatos. Quando ela se encontra subcapitalizada, há que procurar superar essa situaçã o,
promovendo as medidas de saneamento financeiro ou reforço dos capitais que se justificarem
e forem possíveis. A afectação dos meios deve ser feita com carácter duradouro e consistente,
de forma a viabilizar a empresa em dificuldades. Importa realçar que nada impede ao
accionista Estado de realizar prestaçõ es acessó rias de capital contribuindo desse modo
para viabilizar as empresas de que é o ú nico ou principal só cio(Tal medida nã o se
considera anti- concorrencial).
No entanto, o art.35º está hoje reduzido à obrigatoriedade de informação a ser prestada
pelo ó rgã o de gestã o e de convocaçã o de AG para eventual decisã o sobre medidas a
adoptar. Se os accionistas nada fizerem a sociedade continuar a funcionar subcapitalizada
até onde puder. Ora, a lei nã o prevê a obrigatoriedade de adoptar qq medida reparadora
da perda grave, mas impõ e que a AG seja convocada para que os só cios informados
tomem medidas julgadas convenientes (35ºnº1 in fine). Aparentemente decorre do preceito
que os só cios deverão fazer alguma coisa, mas se nã o o fizerem, a sua inércia nã o será
sancionada e tudo continuara como antes da convocató ria da AG.
26.1competência
Nesta matéria há que distinguir o aumento de capital por entradas das demais operaçõ es
sobre o capital, uma vez que, nas sociedades anó nimas, o contrato pode reconhecer à
administraçã o a competência cumulativa para deliberar o aumento de capital por entradas
em dinheiro, o que pode fazer por uma ou + vezes em prazo nã o superior a 5 anos.
Importa salientar que a autorizaçã o é cumulativa, no sentido de que, nã o obstante ser
contratualmente concedida, os accionistas nã o perdem a faculdade de tbm deliberarem o
aumento até esse montante ou para montante superior.
Todas as demais operaçõ es sobre o capital, nelas incluídas todas as formas de redução, são da
exclusiva competência dos só cios ou da AG, correspondendo à competência especifica e
exclusiva deste ó rgão (art.246ºnº1 a) e 373ºnº1 1ª parte).
26.3forma e publicidade
As deliberaçõ es de aumento ou reduçã o do capital social, tal como qq deliberaçã o dos
só cios, devem constar de acta, mas (já ) nã o estã o sujeitas a forma notarial. E é unicamente
com base nessa acta – se a deliberação, a lei ou o contrato de sociedade não exigirem outro
documento (85ºnº4 in fine) -, forma escrita da deliberaçã o, que deve ser promovida a
inscriçã o da variaçã o do capital na conservató ria do registo comercial.
SECÇÃ O 1
Aspectos gerais
Por não ser possível delegar em todos os só cios funçõ es representativas da sociedade,
as sociedades têm os chamados ó rgã os executivos, quetêm como finalidades representar a
sociedade perante terceiros e de as gerirem e administrarem, assegurando assim a
prossecução do respectivo objectivo social. Todas as sociedades têm, portanto, um ó rgão
que as representa externamente, que exprime a vontade colectiva e assume a gestã o:
gerência, conselho de admnistração ou conselho de administração executivo.
Nas sociedade anó nimas abertas cujas acçõ es se encontram admitidas à negociação
em mercado regulamentado, deve ser instituído o cargo de secretá rio, regulado nos arts.
446º-A a 446º-F CSC. A sua comeptência encontra-se legalmente estabelecida no art. 446º-
B.
De entre os diversos poderes ressalta a referência a funçõ es auxiliares em reuniõ es
dos ó rgãos sociais. Entende o professor que as funçõ es só devem ser exercidas em assembleia
geral na falta do sercretá rion da mesa ou se este se encontrar a dirigir os trabalhos, uma
vez que, hierá rquica e orgâ nicamente, este precede sobre o secretá rio da sociedade – que
nã o é eleito peloa accionistas, mas escolhido pela administraçã o.
a. Legalmente previstos:
A lei prevê e caracteriza certos ó rgã os que, sendo obrigató rios em determinadas
circunstâncias, se podem configurar como facultativos. Temos em mente o conselho fiscal e
o secretá rio da sociedade.
Em qualquer sociedade por quotas pode ser criado um ó rgã o de fiscalizaçã o com
finalidade de examinar as respectivas contas – art. 262º nº 1. No entanto, optando a
sociedade por institucionalizar um conselho fiscal, o mesmo fica sujeito à s disposiçõ es
aplicá veis à s sociedades anó nimas, obrigatoriamente sujeitas a fiscalização. Isto significa
que um dos seus membros deverá ser revisor oficial de contas – art. 414º nº 2 – e que os
que nã o o forem deverã o prestar cauçã o pelo desempenho das suas funçõ es, se nã o forem
despensados das mesmas – art. 418º-A nº 1.
Nas sociedades anó nimas nã o cotadas e nas sociedades por quotas é possível designar um
secretá rio com as funçõ es supletivamente definidas no art. 446º-B. O secretá rio deve ser
nomeado pelo ó rgã o de administraçã o nas sociedades anó nimas, à semelhança do que
acontece nas sociedades em que é obrigató rio – art. 446º-A -, devendo nas sociedades por
quotas ser designado pelos só cios – art. 446º-D nº 2.
b. Estatutários:
Para além dos ó rgã os sociais tipicos é possível criar outros ó rgã os sociais estatutá rios. É o
que sucede com frequência nas grandes sociedades. Encontramos sociedades onde
existem conselhos superiores ou consultivos com a estrita finalidade de assessorar a
administração na tomada das decisõ es mais relevantes.
Nas grandes sociedades anó nimas, e em especial nas que forem abertas, é impensá vel que
os accionistas deliberem fora da assembleia geral, devidamente convocada, por ser
impossível assegurar qie a assembleia se constitua com a totalidade dos accionistas, sem
ser objecto de convocação.
Nas pequenas sociedades anó nimas, apesar de os accionistas deliberarem sempre que o
entenderem em assembleia geral, é frequente que esta reú na e funcione sem observância das
formalidade prévias de convocaçã o.
d. Sociedade em comandita:
Neste tipo societá rio, praticamente inexistente, nao há especificidades a assimilar,
importando distinguir as sociedades em comandita simples das sociedades em comandita
por acções.
Qualquer que seja o subtipo, o ó rgã o executivo é a gerência e, em princípio, “ só os sócios
comanditados podem ser gerentes” ( artigo 470º, em especial o nº1). Os só cios
comanditá rios podem assumir essas funçõ es quando o contrato de sociedade o permitir
expressamente ou quando tais funçõ es lhe forem autorizadamente (pelo contrato)
delegadas pelos gerentes. Os terceiros (estranhos à sociedade) nã o podem ser gerentes,
mas podem ser delegados (artigo 470º, nºs 1 a 3).
As deliberaçõ es na sociedade em comandita sã o tomadas em assembleia geral ou
“unanimemente, nos termos do artigo 54º” ( art. 472º, nº1), devendo o contrato de
sociedade regular a atribuiçã o de votos aos só cios em funçã o do capital (art.472º, nº2).
No que se refere à fiscalizaçã o, sã o vá lidas as observaçõ es feitas a propó sito das
sociedades em nome colectivo, havendo a assinalar a especificidade de, na sociedade em
comanditapor acções, aos só cios comanditados ser assegurado o direito de informaçã o (e
controlo da actividade social) de que gozam os só cios da sociedade em nome colectivo (arts.
480º e 181º)
Importa explicar com mais detalhe o que devemos entender por sistema de governaçã o
das sociedades.
O sistema de governação de sociedades ou corporate governance é o conjunto de regras
e princípios que o ó rgã o de gestã o de uma sociedade anónima aberta deve respeitar no
exercício da respectiva actividade; e que se caracteriza pr incluir regras que visam tornar
transparente a administraçã o da sociedade, definir a responsabilidade dos respectivos
membros e assegurar que na mesma se reflectem as diversas tendências accionistas.
O Direito positivo português continha já , desde 1986, uma série de soluçõ es que,
devidamente aplicadas, correspondiam a princípios elementares da corporate governance.
A governaçã o das grandes sociedades, no século XXI, tornou-se uma preocupaçã o maior
das autoridades de supervisã o do mercado, apostadas em preservar o regular
funcionamento dessas entidades e das empresas a que elas dão forma e, desse modo, em
assegurar os direitos dos investidores, mais do que os pró prios accionistas, cada vez mais
distanciados da gestã o. Esta nova ó ptica- que nã o se resume apenas a uma forma de
encarar a participaçã o societária como um investimento financeiro – corresponde à crescente
publicização de áreas que, classicamente, escpavam à intervençã o do Estado e se formavam
na intersecçã o da procura com a oferta, no pró prio mercado, em época em que o
conhecimento e controlo dos accionistas era seguramente menor. A pró xima regulaçã o
destes fenó menos, possivelmente também a nível do Có digo dos Valores Mobiliá rios –
como sucedeu, com as sociedades abertas e, com os pró prios valores mobiliários – explica a
crescente complexidade do sistema de supervisã o, mas também o afastamento do mercado
dos seus agentes tradicionais, as pessoas singulares, em favor das grandes instituiçõ es.
E a questã o que entã o legitimamente se coloca, a propó sito, é a de saber se, dada a
especializaçã o dos agentes envolvidos, se justifica o controlo existente e crescente sobre a
respectiva actividade.
O modelo de inspiração germânica, por sua vez; sofreu alteraçõ es, mais significativas que o
da estrutura clá ssica. Entre outras, assinale-se as seguintes:
- Redenominaçã o do ó rgã o executivo (art. 278º, nº1, c) do CSC e art. 40º do DL
76-A/2006, de 29 de Março) e dos seus membros, que passaram a designar-se, conselho de
administração executivo e administradores;
- Eliminaçã o do nú mero má ximo de membros do conselho geral e de supervisã o (art.
434º, nº1) – como é designado pela nova redacçã o do Có digo (art.278º, nº1, c) do CSC e
art. 40º do DL 76-A/2006)- , anteriormente de 15, e do ó rgão executivo (art. 424º, nº1), que
era de cinco.
- Supressã o da proibiçã o de designaçã o de pessoas colectivas como administradoras (art.
425º, nº2, na redacçã o originá ria, entretanto revogada);
- Faculdade de os estatutos reservarem a designaçã o e destituiçã o dos administradores à
assembleia geral (art. 441º, nº1, alínea a)) bem como atribuírem a este ó rgã o competência
para a aprovaçã o de contas (art. 376º, nº1, alíena a), e art. 441º), sendo agora possível que
o conselho geral e de supervisão, com funçõ es significativas de controlo da actividade do
ó rgão de gestão (arts. 441º e 442º), não seja necessariamente composto por accionistas,
embora os seus membros não possam pertencer a sociedades concorrentes (art. 434º, nº5)
- Criaçã o de comissõ es especializadas no â mbito do conselho geral, obrigató rias em certos
casos (art. 444º);
- Alargamento das funçõ es de fiscalizaçã o do conselho geral e de supervisã o, que incluem
a indicaçã o do ROC e o controlo da respectiva actividade (art. 441ºd), e), f), g), h), i), j), l),
m),
n) e o).
A introduçã o do modelo anlgo-saxónico facilita a adaptaçã o das grandes sociedades
nacionais aos quadros jurídicos externos e permite às sociedades estrangeiras que participem
significativamente em sociedades portuguesas replicar nestas as suas estruturas orgânicas.
Neste (novo) modelo a fiscalizaçã o processa-se por auto-controlo, ou seja, é exercida por
pessoas que são membros do pró prio ó rgão de administração (art. 423º-B, nº1). Tais pessoas
sã o administradores não executivos (art. 423º-B, nº3) e nalguns casos independentes
(art.423º-B, nºs 4 e 5)-com um estatuto pró prio em termos de remuneraçã o e destituiçã o
(arts. 423º-D e 423º-E). A comissã o de auditoria supervisiona a gestã o - a exercer pelos
administradores executivos e controla o desempenho de funçõ es do revisor oficial de
contas (art. 423º-F, alíneas a), b), n) e o)). Considerando a composiçã o da comissã o de
auditoria (art. 423º-B, nº2), ó rgã o de administraçã o terá de ter, em qualquer
circunstâ ncia, neste modelo, um mínimo de cinco membros, sendo dois executivos,
pressupondo que a sociedade tenha um capital social superior a €200.000,00 (arts. 390º,
nº2 e 422º-B, nº3.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 14
Finalmente, refira-se que as alteraçõ es de estrutura do ó rgã o de fiscalizaçã o e os critérios
agora criados (art. 413º, nº2, alínea a)) conduziram a um novo (sub)tipo de sociedade
anónima, o da grande sociedade anó nima, claramente diferenciada das demais e da sociedade
anó nima aberta.
Com efeito, terã o necessariamente de ter um ROC, para além do conselho fiscal, as
sociedades que adoptem o modelo de governaçã o clá ssico e que, qualquer que seja o
respectivo balanço, vendas líquidas e outros proveitos ou nú mero de trabalhadores, sejam
eminentes de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado ( art. 413º,
nº2, al.b), ou que, não sendo totalmente dominadas por outra sociedade que adopte o
mesmo modelo, durante dois anos consecutivos ultrapassem dois dos seguintes 3 limites:
- total do balanço de cem milhõ es de euros;
- cento e cinquenta milhõ es de euros de vendas líquidas e outros proveitos; e
- uma média de cento q cinquenta trabalhadores durante o exercício (art. 413º)
Previsão Legal
O que é entã o um membro independente?
A lei estabelece no artigo 414º, nº5 o conceito e critério de membro independente que, tendo
sido criado a propó sito dos membros de fiscalizaçã o, é também aplicá vel, por remissã o,
aos membros independentes da mesa da assembleia geral (art. 374º-A, nº1) e da comissã o
de auditoria (art. 423º-B, nº4).
Segundo o referido nú mero 5, é “independente a pessoa que não esteja associada a
qualquer grupo de interesses específicos na sociedade, nem se encontre em alguma circunstância
susceptível de afectar a sua isenção de análise ou de decisão”. Em seguida, o mesmo preceito
exemplifica, em duas alíneas, situaçõ es em que se entende existir associação a interesses
específicos ou qm que a isençã o do presidente da mesa ( ou qq dos seus membros) pode ser
questionada. Nos termos destas alíneas, não é independente quem for titular de acçõ es
correspondentes a, pelo menos 2% do capital social, ou actuar em nome ou por conta de
accionistas com, pelo menos, essa participaçã o (alíena a)).
Também deixa de reunir condiçõ es de isenção para desempenhar certos cargos sociais
quem exercer funçõ es em três ou mais mandatos, sucessivos ou interpolados (alínea b)),
em qq ó rgã o societá rio. A ideia é, neste caso, a de que a convivência prolongada com os
demais
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 14
membros ds ó rgãos sociais e os accionistas retira isenção em termos de capacidade de análise
e imparcialidade ao membro do ó rgã o social em causa.
Refira-se por fim, que os independentes estã o ainda sujeitos ao apertado regime de
incompatibilidades estabelecido no art. 414º-A, o qual, contudo, nã o constitui um
exclusivo seu. Com efeito, aos membros do conselho fiscal, da comissão de auditoria e do
conselho geral e de supervisão aplica-se o regime das incompatibilidades estabelecido no
artigo 414º-A para os membros do conselho fiscal, mesmo que eles nã o sejam
independentes (ex: o nº6 do art. 414º). Por iss, a independência nã o se pode confundir
com essas incompatibilidades; ela requer requisitos adicionais de a pessoa elegível nã o
estar ligada a interesses específicos (titularidade ou representaçã o, directa ou indirecta, de
participaçã o de 2%) e estar em condiçõ es de desempenhar funçõ es com isenção de análise
ou de decisão.
Sançõ es
Estranhamente, a lei nã o comina sançã o específica para a infracçã o das regras que
requerem a designaçã o de independentes para o exercício de certas funçõ es, pelo que
caberá à s autoridades de supervisão - nomeadamente à CMVM, no que respeita às
sociedades cotadas - apreciar a situaçã o e agir em conformidade. Contudo, afigura-se-nos
que a designaçã o do membro do ó rgã o social, será nula, por ser feita com v iolaçao de
regra imperativa (art. 294º do CC). A nulidade é, aliá s, a sançã o aplicá vel à falta de
legitimidade para a prá tica de actos jurídicos.
Caracterização
Para além do requisito da independência exigido para o desempenho de alguns cargos socais,
em determinadas sociedades anó nimas em certos ó rgã os das mesmas, a lei estabelece uma
longa lista de incompatibilidades com vista a assegurar que o exercício de funçõ es em
ó rgãos de controlo ou nas assembleias gerais das grandes sociedades anónimas (incluindo as
cotadas) se processa de forma isenta e atendente unicamente ao interesse da sociedade a
que os mesmos respeitam.
O artigo 414º-A estabelece, no seu nú mero 1, uma exaustiva lista de incompatibilidades
aplicá veis directamente aos membros de ó rgã os de fiscalizaçã o ( conselho fiscal, comissã o
d auditoria (ex vi art. 423º-B, nº3) ou conselho geral e de supervisã o (ex vi art. 434º, nº4)-
que serã o também extensíveis ao presidente e demais membros da mesa da assembleia
geral de certas sociedades, por expressa remissã o do artigo 374º-A.
Importa, desde já , salientar que as incompatibilidades legalmente estabelecidas nã o sã o
exclusivas dos mebros independentes dos ó rgão sociais; elas são aplicáveis tb a membros não
independentes.
Uma primeira questã o consiste em procurar determinar o que é uma relaçã o comercial
significativa e uma segunda interrogaçã o respeita a saber se a prestaçã o de serviços, para
gerar a incompatibilidade, também deve ser significativa ou se é suficiente que ocorra
esporadicamente ou se traduza mesmo num ú nico acto.
Começando por responde à segunda pergunta, julgamos ser de aplicar à prestação de serviços
exigência idêntica à que a lei estabelece para qualquer relaçã o comercial (que em sentido
amplo pode ser de prestaçã o de serviços). Isto significa que a prestaçã o de serviços, para
ser impeditiva do desempenho de funçõ es societá rias, também deve ser relevante.
Em relaçã o à primeira pergunta, o que devemos entender por “prestação de serviços (ou
relaçã o material) significativa(s).
Há que tentar fixar um critério. Nestes termos – haverá, contudo, que concretizar –
diríamos que não pode desempenhar funçõ es de membro da mesa de assembleia geral ou de
ó rgão de fiscalizaçã o de uma sociedade cotada, por exemplo, quem prestar
serviços que, num determinado período (coincidente, eventualmente, a um exercício
social), correspondam a 10% do total dos serviços da mesma natureza prestados
directamente pelo designado ou através de sociedade de que ele faça parte. O que
a lei pretende evitar com esta incompatibilidade, é que o designado se encontre
dependente da sociedade, e nãoo contrário. Importa também sublinhar que, na alíena e) do
artigo 414º-A, diversamente do que acontece no preenchimento do conceito de
independência (artigo 414º, nº5), o que está em causa é um conceito relacional que se traduz
na legitimidade, ou da falta dela, para desempenhar certas funçõ es, atendendo à ocorrência
de certos factores. Trata-se de uma incompatibilidade que nã o se verifica em termos
absolutos, mas que deverá ser apurada caso a caso.
Para terminar este ponto vamos equacionar dois exemplos:
1) Uma relação comercial de fornecimento de material de escritó rio;
2) e a prestação de serviços de advocacia, ambas estabelecidas através de sociedades.
No que respeita à 1), o que importa averiguar é qual o peso específico da relaçã o
existente na economia da sociedade fornecedora. Se tais fornecimentos forem
regulares e corresponderem a 5% ou mais do total da facturação anual da
prestadora ou, sendo pontuais, correspondem habitualmente a 10% do volume de
facturaçã o anual, diríamos que a relaçã o é significativa e que os só cios da
fornecedora estã o impedidos de exercer certas funçõ es na sociedade adquirente.
Estas regras são válidas para todas as situaçõ es em que o impedimento se verifica em
termos absolutos(art. 414º, nº1, h), j), b), c), e ) e f) . No entanto se a incompatibilidade
respeita a uma relaçã o intersubjectiva (art. 414º-A, nº1, alínea g) – para apurarmos que
situaçã o jurídica é que é afectada - haverá no silêncio da lei, que fazer a seguinte distinçã o:
Secção II
Deliberações dos sócios e dos accionistas
Todas as deliberaçõ es mencionadas sã o sociais, isto é, imputá veis à sociedade, aos seus
ó rgãos, ou a categorias dos respectivos valores mobiliários, mas nem todos são imputáveis ao
conjunto dos só cios ou dos accionistas, enquanto tal. Designaremos uma deliberaçã o
destas por “deliberação dos sócios”. Vejamos em que consiste exactamente.
Uma deliberaçã o dos só cios é uma declaraçã o que, sendo juridicamente imputá vel à
sociedade, é formada pela manifestaçã o de vontades do nú cleo de titulares de
participaçõ es sociais, ou seus representantes, detentor do maior nú mero de votos ou de
um nú mero de votos que perfaça um certo montante mínimo (maioria qualificada).
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Comerciais” 15
28.1.2. Natureza jurídica e oportunidade e alcance da expressão
Em termos técnicos, trata-se de um negó cio jurídico unilateral plural, de que resulta
efectivamente uma ú nica declaraçã o de vontade com relevâ ncia jurídica. Ainda que haja
vontades sobrepostas – no sentido que ainda que as mesmas sejam divergentes -, do
resultado final nã o irá afirmar-se qq divergência, prevalecendo as declaraçõ es de voto
maioritariamente emitidas no sentido que faz vencimento.
A natureza jurídica nã o é posta em causa nas decisõ es que sã o tomadas nas sociedades
unipessoais e que equivalem às deliberaçõ es de só cios da generalidade das sociedades. Nestas
sociedades as decisõ es competem a uma ú nica pessoa, pelo que se configuram como um
negó cio jurídico unilateral singular.
Existem duas formas de deliberaçã o por escrito que rompem com o princípio clá ssico das
deliberaçõ es dos só cios: o princípio da concentração geográfica e temporal inerente à
respectiva formação ( o moderno Direito Societário deixa, de exigir que as decisõ es dos só cios
sejam tomadas num mesmo local e no mesmo momento, admitindo que os só cios possam
contribuir, dos locais onde se encontrem e em momentos temporalmente distintos, mas
nã o muito distanciados, para a formaçã o da vontade societá ria.
Esta forma de deliberaçã o é possível nas sociedades por quotas e anó nimas (arts. 54º, nº1,
247º, nº1 e 373º, nº1), embora o consenso seja mais difícil de obter nestes, dado
envolverem um maior nú mero de vontades.
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Finalmente, refira-se que esta modalidade (de deliberação) é a que melhor se adequa aos
casos em que a sociedade é composta por um ú nico só cio, o que hoje acontece com relativa
frequência. Nessa circunstâ ncia – sociedade unipessoal por quotas ou sociedade anó nima
subsidiá ria integral ou com accionista com domínio total - será mais correcto designar a
deliberação por “ Decisão de sócio/ accionista único”, constituindo o respectivo instrumento
a materializaçã o da vontade desse só cio que, sendo ú nico, tem o poder de, no mesmo acto,
propor e aprovar.
Este regime foi, recentemente aperfeiçoado – para utilizar uma expressã o retirada do
preâ mbulo do DL 8/2007, de 17 de Janeiro – sendo agora expressamente permitido que a
transformaçã o, fusã o e cisã o de sociedades se processe sem que a assembleia geral que
aprecia o projecto de alteraçã o tenha de ser convocada. Com efeito, qq das operaçõ es
enunciadas pode ser aprovada nos termos do disposto no artigo 54º do CSC, incluindo, a
deliberaçã o em assembleia totalitá ria.
A competência da assembleia geral diz-se também subsidiá ria, visto que os accionistas
deliberam sobre as matérias que não estejam compreendidas nas atribuições de outros órgãos da
sociedade (art. 373º, nº2 in fine), quer dizer em pp esta competência determina-se por
integrar poderes deliberativos que nã o caibam, legal ou contratualmente, na atribuiçã o de
outros ó rgã os societá rios.
Mas a assembleia geral tem competências específicas, uma vez que é o ó rgã o com
competência exclusiva para deliberar em matéria de alteraçã o do contrato de sociedade,
excepto nos casos em que tal poder seja contratualmente atribuído ao ó rgã o de
administraçã o, e para anualmente deliberar sobre a aprovaçã o do relató rio de gestã o,
balanço e contas do exercício sobre a aplicaçã o dos resultados (art.376º).
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Nas assembleias anuais deverão também os só cios proceder à apreciação do desempenho
de funçõ es pelos titulares dos ó rgãos de administração e fiscalização (nas sociedades por
quotas, qd exista), no decurso do ú ltimo exercício (art. 376º, nº1, c)). O facto de os
desempenho da administraçã o estar em apreciaçã o anualmente implica que os só cios e
accionistas possam, deliberar sobre a destituiçã o de um ou mais titulares do ó rgã o de
gestã o, sem prejuízo de , se tal for o caso, a sociedade ter de vir a indemnizar os
destituídos, por inexistência de justa causa. (ver arts. 508º-A a 508º-E do CSC e DL nº
238º/91, de 2 de junho.
29.5.2.1. Noção
O quorum constitutivo consiste no nú mero mínimo de votos, correspondente a uma
determinada percentagem do capital social, que devem estar presentes ou representados para
que a assembleia geral possa validamente funcionar e formar as deliberaçõ es referentes
aos assuntos para que havia sido convocada.
Assim, nuns casos pode o contrato exigir que, em primeira convocaçã o, a assembleia geral
só possa realizar-se se estiverem presentes, por exemplo, só cios ou accionistas com
direitos de voto correspondentes a metade do capital social, noutros é a lei que, implícita
ou explicitamente, impõ e a observâ ncia desse quorum mínimo. É o que acontece sempre
que exige uma maioria qualificada, por referência ao capital social, para deliberar sobre
um determinado assunto (ex: art.265º) ou sempre que dispõ e directamente sobre o capital
mínimo que deve estar presente ou representado para que a assembleia geral que vise alterar
o contrato de sociedade anó nima por exemplo possa validamente deliberar em primeira
convocação (art. 383º, nº2).
Importa esclarecer que enquanto para as modificaçõ es estrurais das sociedades anó nimas
é exigido um quorum constitutivo em primeira convocaçã o, nas sociedades por quotas nã o
se distingue, nesta matéria, primeira de segunda convocaçã o, visto que o quorum
constitutivo é implícito, pq a lei exige para a tomada dessas deliberaçõ es um determinado
quorum deliberativo correspondente a uma maioria qualificada aferida por referência ao
capital social. Assim, se a lei diz que as deliberaçõ es só podem ser tomadas por ¾ dos
votos correspondentes ao capital social, então é pq têm de estar presentes, necessariamente,
esses
¾ do capital social, sem o que, nã o conseguiriam obter os votos favorá veis à aprovaçã o da
alteraçã o estatutá ria.
Nas sociedades por quotas, o controlo das presenças é feito por modo diferente, uma vez que
todos os só cios presentes têm obrigaçã o de assinar as actas (art. 249º, nº6), nã o é habitual
elaborar a lista de presenças, embora a respectiva obrigatoriedade nã o seja exceptuada
para este tipo societá rio.
Nos casos em que seja requerido quorum constitutivo (art. 383º), haverá que verificar,
uma vez efectuado o controlo de presenças, se os direitos de voto presentes ou
representados são suficientes para a assembleia poder validamente reunir. Só entã o o
presidente da mesa declará estarem reunidas as condiçõ es para a assembleia poder
funcionar e deliberar acerca da respectiva ordem de trabalhos.
Em qq circunstâ ncia, uma vez que as propostas sejam apresentadas, deve abrir-se um
período de discussã o no qual os só cios obtenham os esclarecimentos que considerem
essenciais à adequada formaçã o da sua vontade e troquem opiniõ es sobre a matéria em
apreciaçã o. Depois passar-se-á à votaçã o.
29.5.4. Votação
Concluído o debate, o presidente da assembleia geral deve colocar à votaçã o a proposta
formulada, distinguindo os documentos que devem ser objecto de apreciação (ex: o
relató tio de gestão e as contas do exercício) daqueles que são ú nicamente informativos ou
opinativos ( ex: parecer do fiscal ú nico ou do conselho fiscal).
29.5.5.1. Noção
O quorum deliberativo é a percentagem mínima do capital social que corresponde à s
participaçõ es de só cios presentes ou representados legalmente exigível para que possa
formar-se uma deliberaçã o vá lida.
29.5.5.2. Regra
As deliberaçõ es formam-se, em regra, pela maioria simples dos votos, n se contando como
emitidos as abstençõ es, ou seja, a lei satisfaz-se como maioria relativa (arts. 386º, nº1 e
250º, nº3), isto é, para dar seguimento à proposta é necessário que os votos em seu favor
sejam em nú mero superior aos votos negativos (contra), sendo que as abstençõ es nã o sã o
contadas. Assim sendo, encontrando-se presentes só cios titulares de cem mil votos, se um
deles se abstiver e for titular de trinta mil votos, uma deliberaçã o é parovada se obtiver,
pelo menos, trinta e cinco mil e um votos.
Esta regra, da maioria simples, que se retira do nº1 do art. 386º é exactamente a mm regra
que vamos encontrar no nº3 do art. 250º, para as sociedades por quotas. Nã o obstante, ela
comporta excepçõ es, como veremos de seguida.
29.5.5.3. Excepções
Com efeito, em certos casos por efeito do contrato de sociedade e noutros decorrendo
directamente da lei (arts. 386º, nº2 a 4º, e 265º, nº1 e 2) é possível chegar a diferente
conclusã o. Nuns casos requer-se uma maioria qualificada e, excepcionalmente, até mm a
unanimidade ou aprovaçã o de determinado só cio; noutros, nem a maioria simples se
forma sequer por referência à totalidade dos votos favorá veis, mas ao maior nú mero de
votos em favor de uma certa proposta. Assim, e nos termos do nº2 do art. 386º - considera
nem sequer ser necessá rio a maioria prevista no nº1 - existindo vá rias propostas em cima
da mesa e obtendo uma delas 23%, contra 22%, 21% e 20% das demais, vencerá a
primeira, por ser aquela que regista maior nú mero de votos.
Finalmente, refira-se que o nº4 do art. 386º consagra uma excepçã o à excepçã o (sobre a
respectiva aplicaçã o, ver ponto 29.5.7.).
Nã o nos restam dú vidas que o presidente da mesa tem poderes para decidir suspensõ es
normais, mas para além destas, a competência para a a deliberaçã o de suspensã o de
trabalhos por períodos que, sendo suficientemente longos, impliquem a natural dispersão
do accionistas presentes é da assembleia, isto é, é dos accionistas (ou só cios), sendo a lei
omissa qt à iniciativa da proposta de suspensã o. Nã o obstante a letra da lei, que parece
confinar o poder de intervençã o do presidente da mesa à decisã o sobre interrupçõ es
circunstanciais – reservando aos accionistas poder mais vasto – afigura-se-nos que o
titular deste ó rgã o fundamental tem tb o poder de decidir suspensõ es por períodos mais ou
menos longos, ainda que nesses casos a decisã o que tomar fique sujeita a eventual
revogaçã o pelos accionistas (por maioria simples de votos). Isto é, as suspensõ es normais
podem ser decididas arbitrariamente, mm contra a vontade dos accionistas; as suspensõ es
dos trabalhos que conduzam ao respectivo recomeço em data posterior devem ser tomadas
pelos accionistas ou pelo presidente da mesa, com acordo tá cito daqueles.
O nº4 do art. 386º constitui uma regra exclusivamente aplicá vel à s assembleias reunidas
em segunda convocaçã o. Nã o exigindo uma maioria qualificada, como o nº3 o faz, para as
alteraçõ es estruturais, esse preceito admite que essas mm modificaçõ es estruturais, sejam
decididas pela maioria absoluta dos votos emitidos, dd q em segunda convocaçã o, esteja
presente ou representada metade do capital social.
Note-se, a concluir, que ao chamarmos a atençã o para o nº4, isso nã o significa que n possa
funcionar a excepção - regra, de que as alteraçõ es devem ser aprovadas por 2/3 dos presentes.
O que o nº4 pretende assegurar é que, em segunda convocação, a maioria absoluta de metade
do capital já será suficiente para o efeito.
Secção III
Modelos de organização da admnistração e fiscalização de sociedades por quotas e anónimas
31.1 O gerente como ú nico ó rgão (obrigató rio) da sociedade por quotas; a admnistração da
sociedade por quotas
Nas SQ o ó rgão de administração a quem compete a gestão dos negó cios sociais e a
representação da sociedade perante terceiros designam-se por gerência e os respectivos membros
são os gerentes.
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Comerciais” 16
31.2. Competência
A gerência pode e deve praticar os actos necessários e convenientes à realização do objecto social
(art. 259º). Para além deles, tb pode praticar todos os actos que estejam previstos no art. 246º,
nº2, se se encontrar contratualmente autorizada. Ex: a aquisiçã o de bens imó veis qd a
sociedade comercial em causa n term por objecto essa actividade, pq qd a tem esse acto
corresponde, obviamente, ao exercício do objecto soial.
35.7 fiscalização das sociedades por quotas; o revisor oficial de contas (ROC)
Em principio a soc por quotas nã o esta sujeita a fiscalizaçã o e essa regra, de nã o
obrigatoriedade, é absoluta no momento da constituiçã o.
A lei admite, porém, que o contrato de sociedade possa, facultativamente, determinar a
existência de um conselho fiscal ou de um conselho ú nico (262ºnº1), orgão estatutário que
ficará sujeito á s normas legais que regulam o orgã o de fiscalizaçã o das sociedades
anó nimas. Em algumas circunstancias a revisã o de contas, pode tornar-se obrigató ria e,
nesse caso, deverá ser designado um ROC, que deverá proceder á fiscalizaçã o das contas
da sociedade enquanto se mantiver a situaçã o que a determinou e durante 2 anos apó s a
sua cessaçã o. A lei nã o impõ e, nessa situaçã o, que seja designado um suplente ao ROC
nomeado ad hoc.
Cabe, por isso, perguntar se será admissível a sociedade acolher como orgao contratual o
ROC na sua “forma pura”, ie sem ser como fiscal único e sem carecer da indicação de
um eventual suplente. Cremos que nada o impede visto que se, mesmo quando a
fiscalizaçã o se torna necessá ria, nã o há obrigatoriedade de designaçã o de um suplente,
exercendo o ROC as suas funçõ es enquanto tal, ie dispensando o enquadramento no ó rgã o
institucionalizado fiscal ú nico, por maioria de razão deverá tal solução ser possível quando
corresponder a uma opçã o dos só cios. Acresce que nã o nã o há obstá culos de cará cter
registal, uma vez que o ROC ad hoc tbm tem de ser inscrito no registo comercial, enquanto
tal.
Registo do ROC: a designaçã o de ROC nas soc por quotas, por imperativo legal, está sujeita
a registo ( art.3º m) do Cod registo comercial). Ver arts. 413ºnº5 e 6 + 414ºnº1.
Prazo: se a designaçã o de ROC por imperativo legal (262ºnº2) e no â mbito das soc por
quotas, tem que ser feita no prazo determinado. Quanto à questã o de duraçã o da
designaçã o do ROC o art.262º nada diz, remetendo para o regime previsto para as
sociedades anó nimas (262ºnº6). Este artigo regula a forma como é designado o ROC (nº4) e
considera aplicáveis ao ROC as incompatibilidades estabelecidas para os membros do
conselho fiscal (nº5).
Designaçã o sem prazo: caso a sociedade, ao eleger o ROC nos termos do 262ºnº2 nã o
tenha estabelecido prazo de duraçã o das respectivas funçõ es, deve entender-se que a
designaçã o é feita sem prazo até ao momento em que, estando reunidas as condiçõ es
previstas no nº3, delibera revogar a designaçã o ou, antes disso, se pretender proceder à
substituiçã o do ROC anteriormente eleito.
32.2.2 composição
32.2.2.1 numero de membros
O nº de administradores já não tem de ser obrigatoriamente impar (390ºnº1 e 424ºnº1),
podendo o ó rgão de gestão ser singular (administrador ou administrador executivo ú nica
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390ºnº2 e 424ºnº2), enquanto o capital social nã o for superior a 200.000.00 euros ou os
accionistas nã o optarem por eleger um conselho de administraçã o.
Nenhum dos ó rgãos executivos (conselho de administração simples ou executivo) se encontra
sujeito a um nº máximo de membros (390ºnº2 e 424ºnº1).
Pode suceder que, tendo um (ou+) administrador(es) cessado as funçõ es, por renuncia ou
impedimento (definitivo), o(s) mesmo(s) não venha(m) a ser oportunamente substituído(s).
nesse caso o conselho continuará a funcionar com os restantes, desde que subsistam em
funçõ es a maioria dos administradores designados. Simplesmente o quó rum continua a
determinar-se pelo nº de designados e não relativamente aos remanescentes, o que não deixa
de ser relevante.
Regime-regra: as decisõ es da administraçã o, sempre que tal ó rgã o for colegial, devem ser
tomadas em reunião com a presença dos respectivos membros. Por isso normalmente podem
ser praticados por qq dos administradores na execução de deliberaçõ es já constantes de acta,
ou sempre que tiver sido previamente delegada num ou + administradores a gestão
corrente da sociedade, as decisõ es de gestã o da sociedade devem ser tomadas por
deliberaçã o dos membros do ó rgã o executivo.
Na falta de regra estatutá ria, aplica-se a regra legal acima enunciada, devendo o conselho
de administraçã o reunir uma vez por mês. No entanto, quando as sociedades têm especial
dimensã o é preciso reunir + vezes.
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A lei tbm nã o prevê qq sançã o para a falta de reuniõ es.
Quó rum constitutivo: a lei exige um quó rum constitutivo (mínimo) para que o conselho de
administraçã o possa reunir e deliberar validamente, ir para que o conselho possa
funcionar deve estar presente ou representada a maioria dos seus membros que tenha sido
designados para o mandato em curso (410ºnº4), e não dos que se encontram em efectividade
de funçõ es – por impedimento definitivo ou renuncia – sem terem sido substituídos.
Quando houver lugar a representaçã o – o que só acontece se a situaçã o estiver
contratualmente autorizada (410ºnº5) – a substituiçã o do administrador ausente nã o é
assegurada por um terceiro, mas por um dos administradores em exercício, que se ira
pronunciar por si e em nome do representado, porque o conselho nã o abre ao exterior. É
possível que um administrador represente mais do que um ausente, mas pode o contrato
de sociedade limitar o nº má ximo de representaçõ es.
Deliberaçõ es: as deliberaçõ es sã o tomadas por maioria de votos dos presentes, dos que se
manifestem por meios telemáticos – quando tal for viável – e dos que, em conformidade
com autorização estatutária, votem por correspondência (410ºnº7).
A formulaçã o do 410ºnº7 contém uma certa imperatividade – é aceitá vel porquanto em
ó rgãos executivos não são concebíveis situaçõ es de impasse em decisõ es fundamentais para a
vida da sociedade.
Cauçã o = garantia patrimonial a prestar por aqueles que forem designados para o
desempenho de determinadas funçõ es (art. 396.º, n.º1). No entanto, hoje os
administradores respondem directamente perante terceiros (nomeadamente, credores
sociais – arts. 78.º e 79.º), o que leva a que a cauçã o deva ser prestada nã o só em benefício
da sociedade mas também em benefício dos titulares de indemnizaçõ es (art. 396.º, n.º 2), que
são todos aqueles que têm interesse no adequado funcionamento e actividade da sociedade –
os “stakeholders”, as partes interessadas na actividade da sociedade).
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A prestaçã o de cauçã o garante a existência de uma quantia destinada a cobrir os
casos de responsabilidade pessoal por danos causados pelos administradores, no exercício das
suas funçõ es, perante todos quantos se relacionarem com a sociedade.
Para fixar o quantitativo da remuneraçã o dos gestores societá rios, os accionistas podem,
em assembleia geral, tomar a respectiva decisão ou constituir uma comissão de remuneraçõ es
ou de vencimentos para o efeito (art. 399.º, n.º1). Delegada a competência na comissã o de
remuneraçõ es, os accionistas mantém a possibilidade de se pronunciar sobre a matéria da
remuneração dos titulares dos ó rgãos sociais, formulando quando for oportuno as
propostas que considerarem adequadas a esse propó sito e devendo o presidente de mesa
submetê-las à apreciação da assembleia geral. A competência dos accionistas é,
eventualmente, cumulativa com a da comissã o de remuneraçõ es que foi constituída. Esta
comissã o nã o subtrai poderes aos accionistas – concorre com eles e, desta forma, pode
também optar por formular propostas que submete à apreciaçã o dos mesmos.
A lei nã o indica quais os requisitos a que deve obedecer a participaçã o nesta comissã o. Há ,
no entanto, que evitar fazer coincidir totalmente a sua composiçã o com membros do
conselho de administraçã o, embora se admita uma minoria dos seus membros, em
especial quando forem accionistas. A lei também nã o prevê a duraçã o do mandato dos
membros desta comissã o e o Professor acha que nã o deve exceder o mandato dos demais
titulares dos ó rgã os sociais mas uma vez constituída deve manter-se até ser formalmente
substituída ou extinta.
As vantagens da sua criaçã o sã o: permitir fixar remuneraçõ es fora do ambiente das
assembleias gerais, atendendo a elementos relevantes e a critérios adequadamente formados
e viabilizar a definiçã o de uma política de remuneraçõ es compatível com a capacidade
econó mica da empresa, com base na articulaçã o dos seus membros e num contexto de
autonomia em relaçã o à competência da assembleia geral.
Os membros desta comissão podem ser remunerados por assumirem esse cargo (por decisão
da assembleia geral, que fixa o respectivo montante, que será fixo) mas se o contrato nada
disser, não serão remunerados. A comissão de remuneraçõ es deve funcionar com a
presença da maioria dos seus membros e deve registar em acta, lavrada em livro pró prio,
as suas deliberaçõ es.
A atribuiçã o de remuneraçã o excessiva aos administradores será da responsabilidade dos
membros da comissã o de remuneraçõ es.
Nos termos deste diploma, tais entidades deverã o (por intermédio da comissã o de
remunerações ou do órgão de administração, na falta daquela) submeter “anualmente,
a aprovação da assembleia-geral uma declaração sobre politica de remuneração dos
membros dos respectivos órgãos de administração e de fiscalização” (art. 2° n°1 da Lei n°
28/2009).
Se a proposta relativa à politica de remuneraçõ es submetida à apreciaçã o dos accionistas
pela comissã o de remuneraçõ es nã o for aprovada, o que sucede? A lei é omissa sobre esta
questão.
A rejeição ou não aprovação dessa proposta pelos accionistas não prejudica as remuneraçõ es
fixas que lhes sejam fixadas por essa comissã o, nem tã o pouco prejudica a decisã o dessa
comissã o sobre a atribuiçã o da componente variá vel do exercício encerrado. No entanto,
enquanto não for aprovado o critério a que há de obedecer o pagamento dessa
remuneração, os administradores ficam sem direito à mesma.
Os administradores, incluindo os que houverem sido designados pelo Estado, podem ser
destituídos em qualquer momento pela assembleia - geral (403º CSC), no entanto a
assembleia-geral só pode destituir os membros da comissã o de auditoria desde que ocorra
justa causa (423 – E nº1 CSC).
Destituiçã o ad nutum: Destituiçã o que ocorre sem que tenha de ser invocado um
motivo/causa para o efeito.
Destituiçã o condicionada
A destituiçã o encontra-se condicionada à s regras especiais de eleiçã o, quando ocorrer sem
justa causa (403º/2 CSC). Na verdade ela não pode ser feita de forma leviana pela assembleia-
geral se tiver havido administradores designados ou eleitos por recurso a tais regras especiais
de eleiçã o previstas no 392º, designadamente por terem sido eleitos por accionistas
detentores de capital social, assim, a deliberaçã o de destituiçã o sem justa causa do
administrador eleito ao abrigo das regras especiais estabelecidas no artigo 392.º não produz
quaisquer efeitos se contra ela tiverem votado accionistas que representem, pelo menos, 20%
do capital social. Havendo justa causa a assembleia é livre de os destituir, sendo quem, no
plano pessoal, haverá direito a indemnizaçã o se nã o houver justa causa.
A renú ncia é um acto unilateral pelo qual o administrador põ e termo à s suas funçõ es,
devendo comunicar a sua intençã o ao presidente do ó rgã o que integra ou ao conselho de
fiscal ou comissã o de auditoria aplicando-se os respectivos efeitos a partir do final do mês
seguinte àquele em que ocorre se entretanto o renunciante não for substituído (artigo 404º
e 433/4).
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 17
A admissã o para além do mandato
Os administradores são em regra designados para mandatos que coincidem com os anos civis
(391º/3) salvo se o exercício social nã o coincidir com o ano civil, por nesse caso nã o fazer
sentido que a previsã o da lei seja aplicá vel cegamente.
Artigo 376º
Entre favorecer os interesses da sociedade que tiver celebrado negó cio invá lido por falta
de poderes de representação, o nosso sistema optou por sacrificar os interesses da sociedade
aos que são tutelados pela aparência e correspondem à confiança nesta, embora admitindo
que a sociedade se pudesse naturalmente ressarcir exigindo responsabilidade aos
respectivos administradores.
3 Notas básicas:
1. Para intervir nos negó cios sociais os administradores devem invocar a sua qualidade
sendo suficiente que aludam à mesma.
2. Os terceiros têm que conhecer a situaçã o – regra da sociedade com que contratam,
mas nã o as suas especificidades (tais como o nú mero exacto de administradores
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 17
daquela sociedade e regras pró prias de vinculaçã o), nã o obstante provando-se que
o 3º tem efectivo conhecimento da situaçã o concreta, a confiança que ele gozava,
com base na aparência deixa de ter razã o de ser, nã o havendo lugar a protecçã o e
sendo a insuficiência de poderes oponível (168/2).
3. Na articulaçã o das regras de representaçã o e vinculaçã o da sociedade, os
interesses dos 3os sobrepõ em-se aos da sociedade que mesmo ocorrendo uma
efectiva falta de poderes de representaçã o, tem de assumir o acto praticado,
ficando vinculada.
Os poderes de representaçã o devem ser exercidos nos termos da lei, sendo estes do
conhecimento de terceiros, o professor nã o concorda que a sociedade fique devidamente
vinculada num caso em que a administraçã o ultrapasse os limites que legalmente lhe sã o
impostos, ainda que me concreto ela pudesse ter poderes estatutá rios para a prá tica desse
acto, a explicaçã o assenta no facto do terceiro nã o podia ignorar a limitaçã o legal.
Na sua actuação os administradores não devem executar nem permitir que sejam
executadas deliberaçõ es nulas, qualquer que seja a sua fonte (412º nº4).
72/2: regra que exclui a responsabilidade dos administradores que provem ter actuado
com conhecimento sem interesse pessoal no acto e norteando-se por critérios de pura
racionalidade empresarial, nã o respondendo estes pelos danos causados à sociedade se
demonstrarem que a sua intervençã o foi ponderada, ocorreu de forma pessoalmente
desinteressada e consistiu na pratica normal e adequada de gestã o.
Responsabilidade para com os credores sociais (78º1); responsabilidade para com os só cios e
terceiros (79º1).
Deliberaçõ es anulá veis: fora dos casos acima enunciados e com base no artigo 411/3, sã o
anuláveis todas as deliberaçõ es que violem disposiçõ es da lei e do contrato de sociedade para
as quais a lei nã o comine especificamente a nulidade.
Competência e funcionamento
Poderes: 420º, 421º
Deveres: 422º, 420 – A, 423
Artigo 64º/2: Os titulares de ó rgã os sociais com funçõ es de fiscalizaçã o devem observar
deveres de cuidado, empregando para o efeito elevados padrõ es de diligência profissional
e deveres de lealdade, no interesse da sociedade.
32.6.4. ROC
É um ó rgã o designado para um mandato má ximo de 4 anos (446º 2), que existe
necessariamente com autonomia nos modelos de governaçã o anglo – saxó nico e
germâ nico ao lado da administraçã o e da comissã o de auditoria, no primeiro caso,
e do conselho de administraçã o executivo e do conselho geral e de supervisã o, no
segundo caso.
Ver 420º alíneas c, d, e, f.
Composiçã o: 434º
Competência: 441º
Funcionamento: 445º
33.2. Falta de apresentaçã o/ou nã o apresentaçã o oportuna do relató rio de gestã o ou dos
demais documentos da prestação de contas: pode dar lugar a inquérito judicial e faz
incorrer em coima o respectivo responsável (67/1 e 528/1 CSC).
33.4. Depó sito e publicaçã o: registados por depó sito na conservató ria do registo comercial
(artigos 70º e 70 – A do CSC, artigos 3º alínea n e 42º CR comercial), devendo ser
efectuadas publicaçõ es desses documentos (70º nº1 alínea a e 2 e 72 nº3 e 4 do CR
Comercial).
A IES agrega num ú nico acto a realizaçã o de quatro diferentes obrigaçõ es legais a que as
empresas se encontravam sujeitas e que deveriam ser cumpridas perante diferentes
organismos da Administraçã o Pú blica.
SECÇÃ O V
Alterações do contrato de sociedade
34. Caracterização
34.1. Razão de ser
34.2. Alterabilidade do contrato
Quando se constitui uma sociedade, celebrando um contrato de sociedade, procura-se
criar um centro de imputaçã o de direitos e vinculaçõ es. A entidade criada pelo contrato
assume preponderâ ncia relativamente ao acto constitutivo. É por isso que se aceita que
em matéria de sociedades comerciais, o contrato pode não ser cumprido nos seus exactos
termos, mesmo que esses desvio não reú na o consentimento de todos os intervenientes. Uma
vez que o contrato apresenta uma natureza plurilateral, o seu regime jurídico pressupõ e a
sua alterabilidade pela maioria das vontades nele participantes. É inadmissível um
renú ncia estatutá ria à respectiva alteraçã o do contrato societá rio.
35.2.2 Deliberação
A deliberaçã o pode ser tomada por qualquer forma admitida por lei. Para a
votaçã o do projecto de alteraçã o, a lei estabelece um quórum deliberativo mínimo
superior ao requerido para as deliberaçõ es em geral, sem prejuízo de os estatutos serem
ainda mais exigentes. No entanto, o Prof. entende que o quó rum deliberativo nã o pode
colidir com a alterabilidade do contrato de sociedade, sem prejuízo do disposto no art.
265º nº 2 e das situaçõ es inerentes à criação de novas obrigaçõ es – art. 86º nº 2. Um limite
máximo aceitável será entre os 4/5 e 9/10 dos votos correspondentes ao capital social.
Livro: “Direito das Sociedades
Comerciais” 18
Nas sociedades por quotas as deliberaçõ es têm de ser tomadas por ¾ dos votos
correspondentes ao capital social e nas sociedades anó nimas por maioria qualificada de
2/3 dos votos expressos, contando as abstençõ es como votos emitidos – art. 386º nº 3. No
caso das sociedades anónimas, se a assembleia reunir em segunda convocação e
“estiverem presentes ou representados accionistas detentores de, pelo menos, metade do
capital social, a deliberação pode ser tomada pela maioria dos votos emitidos” – art. 386º nº 4.
É a reunião de uma determinada percentagem do capital social que legitima o
consentimento da assembleia baseado na pluralidade de votos.
35.2.3. Forma
A modificaçã o do contrato tem relevâ ncia externa: diz respeito nã o apenas aos
só cios, mas também a terceiros que entrem em contacto com a sociedade. Assumem aqui
relevo a forma e a publicidade da deliberaçã o. Enquanto que a forma é um requisito de
validade da alteraçã o deliberada, cuja inobservâ ncia acarreta a nulidade do acto – art.
220º CC – a publicidade é requisito de eficácia das modificaçõ es estatutá rias, pois,
permite aos terceiros que têm relaçõ es com a sociedade salvaguardar os respectivos
interesses pelo conhecimento que adquirem da situaçã o.
35.2.3.1. Acta de deliberação dos sócios
A reforma legislativa de 2006 simplificou o modo de proceder a alteraçõ es do
contrato de sociedade. Assim, é possível, em regra, proceder ao registo das modificaçõ es
com base na acta que espelha a deliberaçã o dos só cios – art. 85º nº 4. Relativamente a
certas alteraçõ es, como é o caso do aumento do capital social, a acta nã o é suficiente – art.
88º nº 2
– por duas razõ es:
o Na data da deliberaçã o nã o é possível apurar todas as subscriçõ es, sendo
necessá rio juntar documento comprovativo das mesmas;
o O aumento implica a realizaçã o de entradas em espécie que pressupõ em forma
especial para a respectiva transmissão em favor da sociedade – arts. 85º nº 4, in fine e
7º nº 1, in fine.
O agravamento da forma só será possível se for objecto de deliberaçã o do
colectivo de só cios nesse sentido.
35.2.3.2. Execução da deliberação
Todos os membros da administraçã o têm o dever de, com a maior brevidade,
praticar os actos necessá rios à alteraçã o do contrato, sendo, por isso, cada um responsá vel
independentemente de atribuiçã o vinculativa pelos só cios – art. 85º nº 5.
A lei nã o estabelece prazo para a execuçã o da deliberaçã o, utilizando uma fó rmula
vaga e imprecisa ao dispor que os actos necessá rios à alteraçã o do contrato devem ser
praticados com a maior brevidade. Os gestores deverã o actuar diligentemente, tendo
especialmente em conta as circunstâ ncias que tornaram mais ou menos urgente a
alteraçã o. Mas também no cumprimento legal, de cuidado e diligência, a que estã o
adstritos no exercício das suas funçõ es, os membros do ó rgã o de administraçã o devem
observar as instruçõ es emanadas da assembleia geral que sejam relativas à execuçã o das
deliberaçõ es desta – art. 64º nº 1, a).
Com base na acta da assembleia geral, caberá à administraçã o da sociedade
promover o registo da alteraçã o deliberada – arts. 3º, r) e 15º nº 1 CRCom.
SECÇÃ O VI
37.Publicidade dos actos sociais
37.1. Publicidade
Em sentido técnico, a publicidade de um acto ou situaçã o jurídica consiste na
divulgaçã o pú blica do mesmo, pela respectiva inscriçã o num local pró prio, ao qual os
interessados possam ter acesso.
Quanto à publicidade dos actos societários, esta desdobra-se em: registo (art. 166º)
e publicaçõ es obrigató rias (art. 167º).