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INTRODUÇÃO

SOCIEDADE
ANÔNIMA

Todos os direitos reservados à Bruna Santana Puga. Proibida a reprodução


total ou parcial desta obra para fins comerciais, sujeitando-se o infrator às
penalidades cíveis e criminais cabíveis.

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


MÓDULO INTRODUTÓRIO: SOCIEDADE ANÔNIMA

O meu objetivo neste módulo e com este e-book é que vocês consigam ter uma visão
ampla sobre o tema e sobre as (i) legislações aplicáveis que estudaremos ao longo
deste e do próximo mês aqui no CNE.

A título de nivelamento da matéria, apresentarei para vocês os (ii) motivos que


impulsionam a transformação de uma sociedade limitada em uma sociedade anônima,
além de apresentar, de forma breve, as características deste tipo societário.

Além disso, por acreditar que o modo comparativo seja o mais didático, apresentarei
as (iii) resumo das características gerais das Sociedade Anônima e, também, (iv)
principais diferenças entre uma sociedade LTDA e uma sociedade anônima, sem,
evidentemente, esgotar o tema:
 Estrutura
 Responsabilidade dos sócios
 Retirada e exclusão dos sócios
 Poder de Controle
 Distribuição de lucros/dividendos
 Investimento/financiamento
 Publicações.

Por fim, abordaremos alguns detalhes sobre a (v) estrutura (espinha dorsal) de uma
Sociedade Anônima e sua constituição.

Bora começar?

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I. Legislação Base:

 Lei nº 4.728/65: Mercado de Capitais


 Lei nº 6.404/76: Sociedade por Ações
 Lei nº 6.385/76 (CVM): Dispõe sobre mercado de valores mobiliários e cria a
CVM
 Lei nº 10.406/02: Código Civil Brasileiro

Mas o que é Mercado de Capitais?

É um dos seguimentos do Sistema Financeiro, assim como o Mercado Monetário, de


Crédito e de Câmbio.

É um mercado criado para a NEGOCIAÇÃO DE ATIVOS FINANCEIROS (ações,


debêntures, fundos) e, consequentemente, para facilitar a capitalização de empresas.

Esse mercado é constituído pelo mercado de bolsa e mercado de balcão. O primeiro,


organizado por instituições com o objetivo de manter local ou sistema adequado para
a realização de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários em
mercado livre e aberto, especialmente organizado e fiscalizado pela CVM. Já no
segundo, é o ambiente (eletrônico) em que ocorrem as operações que não estão
registradas na Bolsa de Valores. O registro das transações, neste caso, é feito por
instituições criadas especificamente para essa finalidade em casas de custódias
(corretoras de valores e bancos de investimento).

Mercado de Bolsa tem uma maior regulação e mais exigências (custo mais elevado) que
o mercado de balcão.

Retomando, o Mercado de Capitais nada mais é do que o espaço onde são realizadas
as operações financeiras envolvendo valores mobiliários emitidos pelas companhias
de capital aberto.

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Complicou, e o que são Valores mobiliários? → Valores mobiliários são títulos
financeiros que podem ser de propriedade (ações) ou de crédito (obrigações). Eles
podem ser emitidos por entidades públicas, como o próprio governo, ou privadas,
como empresas e instituições financeiras. Exemplos de títulos e valores
mobiliários: Ações, debêntures, bônus de subscrição, cotas de investimento, notas
comerciais etc.

E por que eu preciso entender isso? Porque as companhias emitem títulos com o
objetivo de financiar a atividade empresarial, como as ações.

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II. Quais os motivos que impedem ou estimulam a transformação de


uma sociedade Ltda. em uma sociedade anônima?

a) Facilidade de receber Investimento – nas S/A há uma forma própria de


capitalização. É possível, por exemplo, a emissão de debêntures ou partes beneficiárias
(veremos no item sobre Valores Mobiliários).

b) Tributação: O fato de uma sociedade anônima não ser eleita ao enquadramento


do Simples Nacional é um dos motivos para o adiamento da sua transformação.
Contudo, quando a empresa desenquadra, se este for o único fator decisório, não há
mais impedimento para a sua mudança de tipo societário.

c) Governança – A própria Lei (LSA) traz uma estrutura de governança muito


mais robusta nas sociedades anônimas se comparado com as limitadas (assembleia
geral, o conselho de administração, diretoria e conselho fiscal, etc.). *

*Verificar o Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC.

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d) “Anonimato”: A simples leitura do estatuto social da S/A não permite a
identificação dos acionistas, apenas dos Diretores e do Presidente.

e) A transferência de participação societária não depende de registro na junta


comercial.

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III. Resumo das características gerais das Sociedade Anônima (Lei


nº 6.404/76)

As Sociedades Anônimas ou Companhias estão previstas no Código Civil, artigo 1088 e


1089 e são regidas pela Lei n. 6.404/76.

a) São sempre sociedades empresárias, independentemente de seu objeto:


Sociedades empresárias são as organizações econômicas dotadas de personalidade
jurídica e patrimônio próprio, constituídas, ordinariamente, por mais de uma pessoa,
que têm como objetivo a produção ou a troca de bens ou serviços com fins lucrativos -
art. 981 do Código Civil.

b) São sociedades institucionais, pois seu ato constitutivo é um estatuto


social:
Estatuto social: não há necessidade de nome dos acionistas no estatuto (rotatividade
de acionistas). O estatuto objetiva regular o funcionamento da entidade frente a
terceiros. A transferência das ações não exige, ao contrário das quotas emitidas pelas
sociedades de pessoas, a alteração do estatuto social.

c) Exige-se a pluralidade de sócios (art. 80 e 81 da LSA):


Será necessária subscrição de pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas as ações em
que se divide o capital social fixado no estatuto. *
*Exceção – Subsidiária Integral (art. 251 da LSA) – em que a sócia será outra sociedade
sediadas no Brasil. Ela é necessariamente uma S.A. e tem todas as suas ações controladas
por um único sócio, que pode ser outra empresa.

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d) São registradas na Junta Comercial para adquirir personalidade jurídica.
(verificar o Manual do DREI).

e) São sociedades de capitais, não de pessoas:

Bora relembrar?

➔ Sociedade de Pessoas: Estas sociedades focam nos valores pessoais de cada


sócio. Os sócios são escolhidos para formar a sociedade e para que juntos façam o
negócio dar certo. O affectio societatis está presente neste tipo de sociedade
Verifica-se isso, inclusive, na própria legislação e pela existência de cláusulas de
controle específicas, como de exclusão de sócio, retirada, não entrada automática do
herdeiro em caso de morte do sócio, entrada de terceiros (vedação ou não negativa de
¼ do capital social) etc.

➔ Sociedade de Capital: Aqui, a relação pessoal entre os sócios não tem tanta
relevância. O único fator que interessa é alcançar o fim social.*

Exemplo: em regra, no caso de morte do sócio/acionista, não há vedação pela entrada


do herdeiro no quadro societário, não importando a pessoa do acionista (neste caso,
deverá ocorrer a partilha e a averbação no respectivo livro de registro de ações
nominativas) – Art. 31, 2º LSA.

* A presenta do affectio societatis na Sociedade Anônima fechada.


Em regra, a sociedade anônima tem natureza de sociedade de
capital. Contudo, principalmente a sociedade anônima de capital
fechado, em sua essência, pode possuir característica de pessoas.
Essa divergência surgiu, com a interpretação do artigo 599, §2º,
do CPC/2015 — que prevê que a ação de dissolução parcial
também pode ter por objeto sociedade anônima de capital fechado
quando demonstrada a inexequibilidade de seu fim social. REsp
111.294-PR (4ª T., Rel. Min. Barros Monteiro, Rel. O STJ e a
dissolução parcial de sociedade por ações fechadas. 11 Revista do

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Advogado p/ acórdão Min. Cesar Asfor Rocha, j. 19/9/2000, DJ de
28/5/2001).
Base legal:
→ Ninguém é obrigado a se manter em uma sociedade contra a
sua vontade (art. 5º, inciso XX da CF).

f) Adota denominação como espécie de nome empresarial:

A sociedade será designada por denominação, de maneira que poderão ser utilizadas
quaisquer palavras na língua nacional ou estrangeira, acompanhada das expressões
“companhia” ou “sociedade anônima”, expressas por extenso ou abreviadamente (S/A)
– DREI.

A sociedade anônima pode optar por utilizar o número de inscrição no Cadastro


Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) como nome empresarial, seguido da partícula
identificadora "sociedade anônima" ou "S.A.

g) O capital é dividido em ações:


Ações são valores mobiliários emitidos por sociedades anônimas. Representam a
fração mínima do capital da companhia. Ao comprar uma ação, os investidores se
tornam coproprietários da empresa, tendo direito à participação em seu resultado.

h) Os acionistas sempre têm responsabilidade limitada pelo valor de


emissão das suas ações:
A responsabilidade do acionista é limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou
adquiridas. Portanto, em regra, o acionista não responde pelas dívidas sociais, mas tão
somente pela integralização do valor das ações subscritas

Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a


responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações
subscritas ou adquiridas.
→ Ainda que o capital não esteja totalmente integralizado, o acionista apenas
responde pelo valor de sua contribuição social.

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i) Sociedade Anônima de capital aberto e fechado:
As sociedades anônimas podem ser de capital aberto, que são aquelas que possuem
valores mobiliários de sua emissão negociados no Mercado ou de capital fechado (não
possuem valores mobiliários de sua emissão negociados no Mercado de Valores
Mobiliários).

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IV. Quais as principais diferenças entre a Sociedade Limitada e a


Sociedade Anônima?

1. Estrutura

2. Responsabilidade dos sócios/acionistas

Como visto anteriormente, nas sociedades limitadas, a responsabilidade dos sócios é


limitada ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela

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integralização do capital social (art. 1.052 do CC). Isso quer dizer que se um sócio não
integralizar o capital por ele subscrito, os demais sócios poderão ser obrigados a pagar
o valor prometido (subscrito). Com o capital social totalmente integralizado, a
responsabilidade de cada sócio estará limitada ao valor aportado.

Já nas sociedades anônimas, a responsabilidade dos acionistas é limitada ao preço de


emissão das ações subscritas ou adquiridas.

Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido


em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será
limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.

3. Retirada e exclusão dos sócios

O acionista dissidente poderá se retirar em alguns casos específicos previstos na Lei.


Contudo, vamos relembrar alguns pontos antes de falarmos sobre a retirada do
sócio:

Capital social é o valor mínimo para iniciar as atividades


empresariais.

Quota social – Fração ideal do capital social. Representa uma


relação direta entre o quotista e a sociedade. Neste sentido, a
quota possibilita ao sócio quotista o direito da dissolução
parcial. Neste aspecto, nas LTDAS, há possibilidade do sócio
exercer o seu direito de retirada e receber da sociedade o valor
pelas quotas calculada sobre o valor do patrimônio líquido da
sociedade (ativo – passivo) na data da sua retirada.

Ação – Títulos que representam um direito de crédito dos


acionistas contra a Companhia. Esse direito de crédito não
possui exigibilidade plena, diversamente das quotas, os
acionistas não possuem o direito de se retirar imotivadamente

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da companhia e nem de exigir desta a restituição do valor a elas
correspondentes por ocasião da sua retirada do quadro
societário. O acionista receberá o valor correspondente
mediante negociação das ações com terceiros interessados
(regra GERAL).

Nas sociedades limitadas com prazo de duração indeterminado, qualquer sócio pode
se retirar da sociedade a qualquer momento, desde que notifique os demais com 60
dias de antecedência, sem ter que justificar (retirada imotivada – art. 1.029 do CC).

Na sociedade limitada, há várias causas de exclusão de sócio. A título de revisão:

• Exclusão extrajudicial por justa causa do sócio minoritário (art. 1.085 do CC);
• Exclusão do sócio remisso (art. 1.004 do CC);
• Falta grave no cumprimento de suas obrigações (judicial) (art. 1.030 do CC);
• Incapacidade superveniente - sócio se tornar incapaz após a constituição da
sociedade (exclusão judicial) (art. 1.030, “caput” do CC);
• Sócio falido – exclusão automática (art. 1.030, parágrafo único do CC);

Já nas sociedades anônimas, as hipóteses para o acionista exercer o seu direito de


retirada estão previstas taxativamente no art. 137 da LSA.

a) criação ou aumento desproporcional de ações ou de classes de ações


preferenciais se guardar proporção as demais classes, ou alteração nas preferências e
vantagens de ações preferenciais;
b) redução do dividendo obrigatório;
c) mudança do objeto da companhia;
d) participação em grupo de sociedades;
e) fusão da companhia, observadas certas condições;
f) incorporação da companhia em outra (a lei só prevê a possibilidade de recesso
se a companhia for a incorporada, e não se for a incorporadora), observadas certas
condições;

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g) incorporação de ações (como incorporadora ou incorporada), observadas
certas condições;
h) cisão da companhia, observados alguns requisitos;
i) transformação da companhia, se esta possibilidade estiver prevista no estatuto
social.

Nas S/A, via de regra, não é possível a exclusão de um acionista pelos demais. Contudo,
a LSA prevê a responsabilização civil do acionista por atos que possam causar prejuízo
à sociedade, inclusive no caso de acionista remisso (art. 107 da LSA). Se um acionista
causar algum dano à companhia ou a outros acionistas, ele terá o dever de indenizá-
los, contudo não poderá ser simplesmente excluído por deliberação dos acionistas,
como pode ocorrer nas sociedades limitadas.

* Cobrança judicial (execução) - Em caso de eventual omissão do


estatuto ou do boletim de subscrição no que concerne a elemento
essencial da obrigação, caberá à companhia fazer chamada por
meio da publicação de editais na imprensa por pelo menos três
vezes, com prazo mínimo de 30 dias para pagamento (LSA, art.
106, § 1º), hipótese essa em que se poderá falar em
mora ex personae.

Mesmo não havendo a possibilidade de exclusão propriamente dita, nas sociedades


anônimas é possível ocorrer o resgate de ações, que é o pagamento do valor das ações
ao acionista para retirá-las definitivamente de circulação (independe da vontade do
acionista). Como consequência desse resgate (se for integral), o acionista acabará
deixando de ser parte da Companhia.

4. Poder de Controle

O que é controle?

“Controle é o direito de dispor de bens alheios como proprietário.” FÁBIO


KONDER COMPARATO. CALIXTO SALOMÃO FILHO. O PODER DE CONTROLE. ΝΑ.
SOCIEDADE ANÔNIMA. 4ª Edição. EDITORA. FORENSE. Rio de Janeiro.

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Controlador não é o mesmo que Administrador. Uma qualidade não pressupõe
a outra, nem na limitada, tampouco na S/A.

Por mais que possamos incluir mecanismos de governança em uma sociedade limitada
para alocar o controle da empresa (poder de veto, unanimidade etc.), nas sociedades
limitadas, só detém de fato o controle quem for titular de quotas que juntas
correspondam a pelo menos três quartos (75%) do capital social. Neste caso, ocorre
o controle majoritário (sócio ou um grupo possui mais da metade do capital com
direito a voto).

Já nas sociedades anônimas, o conceito de acionista controlador está previsto no artigo


116 e 243, §2º da LSA, que é a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas
vinculadas por acordo de voto (acordo de acionistas) ou sob controle comum que
(requisitos cumulativos):

I – seja titular de direitos de sócio* que lhe assegurem, de modo permanente**, a


maioria dos votos nas deliberações da assembleia geral e o poder de eleger a maioria
dos administradores da companhia; e
* Você não precisa ter a propriedade, pode ser detentor dos
direitos, como um usufrutuário. Exclui-se, aqui, o controle externo.

** Carvalhosa (mais de 50% das ações) / Eirizik (pode sim haver


um controle minoritário, já que precisa haver a responsabilização
do controlador – art. 177 LSA).

II – usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais*** e orientar o


funcionamento dos órgãos da companhia.

***Ex: ações de um acionista controlador falecido, em que os


herdeiros, apesar de detentores, não usam efetivamente o seu
poder controlador.

Para estimular a fiscalização dos atos do controlador e a promoção das ações, o art.
246, § 2º, da LSA determina que “a sociedade controladora, se condenada, além de

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reparar o dano e arcar com as custas, pagará honorários de advogado de 20% e prêmio
de 5% ao autor da ação, calculados sobre o valor da indenização”.

Logo, entende-se pela própria legislação, que o controle não precisa ser totalitário ou
sequer majoritário nas sociedades anônimas. Controle totalitário é aquele exercido
com a totalidade ou quase totalidade dos votos e ocorre na hipótese de sociedade com
único acionista ou com um único grupo. Já o Majoritário é quando o controle é
exercido por aquele que detém a maioria das ações (mais da metade) com direito a
voto.

Logo, nas sociedades anônimas, basta o controle minoritário, que é o exercido por
acionista ou grupo que não precisa deter mais da metade do capital social com direito
a voto (comum nas sociedades com pulverização de capital) *

*Caso não cumpra esses deveres em sua atuação, o acionista


controlador responde por atos praticados com abuso de poder
(art. 117 da LSA).

Pode ser instituído no estatuto espécies e classes de ações sem direito a voto, e com
direito a um ou mais votos, com o limite de até 10 (dez) votos por ação (voto plural -
Art. 110-A da LSA). Assim sendo, é possível que alguém tenha diretamente o poder de
controle (maioria total de votos) com até menos de 5% (cinco por cento) do total de
ações ordinárias.

O que pode ocorrer, também, é o controle compartilhado. Suponhamos que nenhum


acionista, individualmente, possua ações suficientes para assegurar a maioria de votos
(capital muito pulverizados). Neste caso, dois ou mais acionistas podem se unir, por
meio de um acordo de voto, caput art. 116 LSA, (acordo de acionistas) para votarem
em conjunto nas reuniões ou assembleias da sociedade. Isso é o que denominamos de
bloco de controle.

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5. Distribuição de lucros/dividendos:

Nas limitadas, a lei não estabelece uma proporção mínima do lucro da sociedade para
ser distribuída aos sócios. Em regra, todo o lucro pode ser distribuído entre os sócios,
proporcionalmente à participação de cada sócio. Contudo, o contrato social pode
prever de forma diferente (distribuição desproporcional). O que não pode ocorrer
é impedimento de algum sócio de receber lucros.

Já nas sociedades anônimas, a lei prevê um percentual mínimo dos lucros* que deve
ser distribuído aos sócios em cada exercício, o chamado dividendo obrigatório*.

* Lucros - O lucro líquido é obtido, na sociedade, pela dedução, no


resultado do exercício, dos prejuízos acumulados, da provisão
para o Imposto de Renda e das participações estatutárias dos
empregados, administradores e partes beneficiárias (art. 191 da
LSA). Do lucro líquido do exercício, 5% serão aplicados, antes de
qualquer outra destinação, na constituição da reserva legal, que
não excederá 20% do capital social (art. 193 da LSA).

** Dividendo obrigatório (art. 202 da LSA) - Caso o estatuto


social não preveja outra porcentagem, os sócios têm direito a
metade (50%) do lucro líquido (ajustado conforme as disposições
legais) a título de dividendos.

Art. 202 da LSA


[...]

§ 2o Quando o estatuto for omisso e a assembleia-geral


deliberar alterá-lo para introduzir norma sobre a matéria, o
dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25% (vinte e
cinco por cento) do lucro líquido ajustado nos termos do inciso I
deste artigo.
§ 3o A assembleia-geral pode, desde que não haja oposição de
qualquer acionista presente, deliberar a distribuição de

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dividendo inferior ao obrigatório, nos termos deste artigo, ou a
retenção de todo o lucro líquido, nas seguintes sociedades:
I - Companhias abertas exclusivamente para a captação de
recursos por debêntures não conversíveis em ações;
II - Companhias fechadas, exceto nas controladas por
companhias abertas que não se enquadrem na condição prevista
no inciso I.
§ 4º O dividendo previsto neste artigo não será obrigatório no
exercício social em que os órgãos da administração informarem
à assembleia-geral ordinária ser ele incompatível com a situação
financeira da companhia. O conselho fiscal, se em
funcionamento, deverá dar parecer sobre essa informação e, na
companhia aberta, seus administradores encaminharão à
Comissão de Valores Mobiliários, dentro de 5 (cinco) dias da
realização da assembleia-geral, exposição justificativa da
informação transmitida à assembleia.

Dividendo x Lucros
O conceito de Lucro líquido está previsto nos artigos 189 a 192 da LSA, já o dividendo
é o montante de lucros líquidos destinado ao pagamento dos acionistas, em
proporção ao montante por eles detido do capital social (art. 201 da LSA).

Em regra, não há possibilidade de o estatuto estabelecer distribuição dos dividendos


de forma desproporcional à participação no capital social. Contudo, na prática, com a
possibilidade de existência de ações de espécies e classes distintas, é possível que
alguns acionistas recebem dividendos desproporcionais em relação a outros.

Além disso, o Marco Legal das Startups (LC 182/21) alterou a LSA, aplicando a
possibilidade da S/A de capital fechado, que tiver receita bruta anual de até R$
78.000.000,00 (setenta e oito milhões de reais), salvo se for controladora ou filiada de
grupo de sociedades:

• não se aplicarão as regras a respeito do dividendo obrigatório; e


• na hipótese de omissão do estatuto quanto à distribuição de dividendos, estes
serão estabelecidos livremente pela assembleia geral, desde que não seja prejudicado
o direito dos acionistas preferenciais de receber os dividendos fixos ou mínimos a que
tenham prioridade.

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Logo, para distribuir de forma desproporcional será necessário deliberar em AGE - o
Estatuto deverá ser omisso (294, 4º LSA) – desde que não seja prejudicado o direito
dos acionistas preferenciais de receber os dividendos fixos ou mínimos a que tenham
prioridade.

6. Investimento/financiamento:

As sociedades limitadas, como já vimos no módulo Contratos de Investimentos, podem


receber investimentos de diversas formas e, inclusive, podem participar do mercado
de capitais, contudo, apenas enquanto investidoras, não podendo utilizá-lo para captar
recursos.
* Vale lembrar que a compra de ações pela sociedade limitada (ME
e EPP) beneficiária do SIMPLES NACIONAL é causa de
desenquadramento, já que a lei traz a vedação de pessoa
jurídica de cujo capital participe outra pessoa jurídica. (art. 3º,
§ 4º da LC 123/06)

Já as sociedades anônimas, podem investir junto ao mercado de capitais e, desde que


sejam companhia de capital aberto, podem também captar recursos. Além disso, as S/A
podem contrair dívidas por meio da emissão de debentures e/ou emissão de novas
ações (valores mobiliários).

7. Publicações

Bom, a obrigatoriedade de publicações nas S/A é, sem dúvidas, uma das principais
razões para o encarecimento da manutenção deste tipo societário.

Mas, será que as sociedades limitadas também têm essa obrigatoriedade?

As limitadas são obrigadas por lei a publicar no órgão oficial e em jornal de grande
circulação da sede da sociedade os anúncios de convocação das assembleias de sócios,

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exceto se os sócios comparecerem ou declararem, por escrito, cientes do local, data,
hora e ordem do dia.

Como já estudamos, as limitadas também são obrigadas a arquivar na Junta Comercial


e publicar as atas das reuniões ou assembleias de sócios nos casos de aprovação da
redução do capital social (quando considerado excessivo em relação ao objeto da
sociedade), incorporação, cisão, fusão, dissolução e extinção da sociedade*

* Lembrando que ME e EPP estão dispensadas da publicação de


qualquer ato societário, bem como da realização de reuniões ou
assembleias (artigos 70 e 71 da LC nº 123/06).

Bom, e as sociedade anônimas?

Além da obrigatoriedade da publicação das convocações de as assembleias e atos de


aumento e redução de capital, incorporação, fusão, cisão, dissolução ou extinção, a Lei
das Sociedades por Ações também prevê uma série de outros documentos que devem
ser arquivados e publicados no jornal de grande circulação (art. 289 e seguintes da
LSA).

Entre esses, está a publicação das demonstrações financeiras, os documentos


constitutivos da sociedade (estatuto social e outros documentos exigidos pela lei), as
atas de todas as assembleias gerais ordinárias e das assembleias extraordinárias,
convocação, etc.

Logo, as S/A devem, claramente, publicar um número muito maior de atos e


documentos do que as limitadas e, também, devem elaborar um número maior de
demonstrações contábeis, quais sejam:

 balanço patrimonial;
 demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados (ou demonstração das
mutações do patrimônio líquido);
 demonstração do resultado do exercício;

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 demonstração dos fluxos de caixa (opcional para as companhias fechadas com
patrimônio líquido inferior a R$ 2.000.000,00 – dois milhões de reais); e
 demonstração do valor adicionado (obrigatória apenas para as companhias
abertas).

A maior obrigatoriedade de publicação, as sociedades anônimas têm custos maiores de


manutenção e, inclusive, têm uma exposição maior de informações sobre a empresa,
como o valor de seu patrimônio e de seu lucro, permitindo o acesso de qualquer pessoa,
inclusive de empresas concorrentes.

Quanto aos livros contábeis, as limitadas precisam ter um livro diário (registro das
operações relativas à atividade empresarial), livro de atas da administração, livro
de atas e pareceres do conselho fiscal (se houver) e o livro de atas da assembleia.
Há outros livros obrigatórios previstos na legislação tributária, além dos livros
facultativos.

Já as sociedades anônimas devem ter um número maior de livros sociais (art. 100 da
LSA):
 Livro de Atas das Assembleias Gerais;
 Livro de Registro de Ações Nominativas;
 Livro de Transferência de Ações Nominativas;
 Livro de Presença dos Acionistas (nas Assembleias);
 Livro de Atas das Reuniões da Diretoria;
 Livro de Atas das Reuniões do Conselho de Administração
 Livro de Atas e Pareceres do Conselho Fiscal

Novidade legislativa: O Marco Legal das Startups (LC 182/21) trouxe novas exceções.
A companhia fechada que tiver receita bruta anual de até R$ 78.000.000,00 (setenta e
oito milhões de reais), salvo se for controladora ou filiada de grupo de sociedades,
poderá realizar as publicações ordenadas pela lei de forma eletrônica, na Central de
Balanços do Sistema Público de Escrituração Digital – SPED e no site da companhia na
internet, não havendo necessidade de publicação em órgão oficial e em jornal de

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grande circulação. Além disso, poderão substituir os livros societários em formato
físico por formato eletrônico.

Logo, todas essas publicações poderão ser realizadas eletronicamente, o que trará uma
imensa economia de custos relativos ao cumprimento das formalidades legais.

*******

V. Espinha dorsal de uma Sociedade Anônima e sua Constituição

As sociedades anônimas são constituídas por meio de um estatuto social, como já


vimos. O estatuto social deve conter, no mínimo:

 denominação da sociedade;
 objeto social;
 endereço da sede;
 prazo da sociedade;
 capital da sociedade, expresso em moeda corrente, o número, espécies e classes
de ações em que se divide o capital, e se elas terão, ou não, valor nominal;
 o número de diretores, prazo de gestão, modo de substituição, e os poderes e
atribuições da diretoria;
 se o conselho fiscal funcionará de modo permanente ou apenas quando for
deliberado pelos acionistas;
 a data do término do exercício social.

a) Modalidades de constituição e formação do capital social tem duas etapas:


i.Subscrição
ii.Integralização

Subscrição

O ato de subscrição garante ao sujeito o direito de adquirir ações, por meio da


integralização. A subscrição pode ser:

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a) Particular/simultânea (art. 88 da LSA) - Os próprios fundadores já têm o
capital necessário;
b) Pública/sucessiva (art. 82 da LSA) - fundadores não dispõe de todo o capital
desejado, sendo necessário, então, para completá-lo, buscar a captação externa de
investidores. Nesta hipótese, é necessário um prévio registro na CVM (Comissão de
Valores Mobiliários).

→ Depósito prévio $$ (art. 80 da LSA): Pelo menos 10% do capital social já deve ser
disponibilizado no momento da constituição (entrada). No caso das instituições
financeiras, este percentual mínimo é de 50%. O depósito destes valores deve ser feito
junto ao Banco do Brasil ou em outro estabelecimento bancário autorizado pela CVM.

Após a subscrição (seja ela pública ou particular), deverá haver uma assembleia de
constituição da companhia, da qual fazem parte todos os subscritores. Seu objetivo é
deliberar pela constituição da companhia (elaboração do estatuto social) e avaliação
dos bens.

Art. 86. Encerrada a subscrição e havendo sido subscrito todo o


capital social, os fundadores convocarão a assembleia-geral que
deverá:
I - promover a avaliação dos bens, se for o caso (artigo 8º);
II - deliberar sobre a constituição da companhia.
Parágrafo único. Os anúncios de convocação mencionarão hora,
dia e local da reunião e serão inseridos nos jornais em que
houver sido feita a publicidade da oferta de subscrição.

A companhia pode ser constituída por assembleia ou por escritura pública (art. 97 da
LSA). Após a assembleia de constituição é que se promoverá o registro da sociedade na
Junta Comercial.

Subscrição Particular Subscrição Pública


A companhia já tem todo o CS do qual A companhia não tem todo o CS do qual
precisa para desenvolver o negócio. Os precisa para desenvolver o negócio. Há
fundadores são subscritores. captação de investidores

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


Assembleia de constituição Registro na CVM
Registro na Junta Comercial Intermediação de Instituição
Financeira (autorizada pela CVM)
- Assembleia de constituição
- Registro na Junta Comercial

Integralização e avaliação de bens

A segunda etapa de formação do capital social é a integralização das ações subscritas.


A integralização pode ser com dinheiro ou bens suscetíveis de avaliação econômica. Ao
contrário do que ocorre nas sociedades limitadas, nas sociedades anônimas há um
processo de avaliação de bens (art. 8° da LSA).

Manual do DREI:

“5. A ata da assembleia que aprovar a incorporação deverá


identificar o bem com precisão, mas poderá descrevê-lo
sumariamente, desde que seja suplementada por declaração,
assinada pelo subscritor, contendo todos os elementos necessários
para a transcrição no registro público.

No caso de imóvel, ou direitos a ele relativo, a ata deverá conter


sua descrição, identificação, área, dados relativos à sua titulação,
bem como o número de sua matrícula no registro imobiliário.
A integralização do capital social com bens e direitos depende de
apresentação de laudo de avaliação feita por três peritos ou
por empresa especializada, nomeados em assembleia geral dos
subscritores.”

“Na integralização de capital com ações de outras sociedades


juntar as copias das referidas transcrições no livro da companhia,
não havendo necessidade de assembleia geral na sociedade que
deu as referidas ações para a referida integralização para
comprovação da referida alteração uma vez que se trata de uma

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


sociedade de capital, e como tal cabe apenas a companhia o
controle dos seus acionistas.”

Como funciona a avaliação de bens?

1) A assembleia geral de subscritores (assembleia de constituição) nomeará 3


peritos ou empresa especializada e lhe assinalará um prazo para elaboração de laudo
técnico;

2) Uma segunda assembleia deverá ser instalada para conhecer o laudo. Os peritos
deverão estar presentes para sanar quaisquer dúvidas. Exemplo: O subscritor atribuiu
o valor de R$ 100.000,00 ao bem. O laudo pode chegar a 3 conclusões distintas:
A. Constatar que o bem realmente vale R$ 100.000,00;
B. Atribuir valor superior a R$ 100.000,00
C. Atribuir valor inferior a R$ 100.000,00.

➔ No caso da opção A, se a assembleia concordar, o bem será incorporado ao


capital social.
➔ No caso da opção B, o bem não poderá ser incorporado por valor superior ao
que lhe tiver atribuído o subscritor, pois este fica vinculado ao que declarou;
➔ Na opção C, se o subscritor optar por concordar com os peritos, deverá
complementar o valor que faltar.

I. Companhia Aberta e Companhia Fechada (art. 4° da LSA)

Companhia Aberta/Companhia de Capital Aberto:

 As ações e demais valores mobiliários emitidos pela S/A poderão ser distribuídos
no mercado. As companhias abertas geralmente garantem maior liquidez às ações, pois
no mercado, há imensa quantidade de investidores e é mais fácil comprá-las e vendê-
las.

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


 Será necessário realizar o registro na Junta Comercial e na CVM (Comissão de
Valores Mobiliários). Quando abrem seu capital, estas sociedades anônimas passam a
ser fiscalizadas pela CVM.

A Companhia Capital Fechado:

 As suas ações e demais valores mobiliários não são negociados no mercado

II. Valores Mobiliários

São títulos em que o titular pode se tornar acionista (propriedade) ou credor


(obrigação). Os papéis que a companhia pode emitir são chamados de valores
mobiliários e são de 4 espécies de acordo com a LSA:
o Ações
o Debêntures
o Partes Beneficiárias
o Bônus de Subscrição

1) Ações:

Quanto aos direitos e vantagens:

 Ações ordinárias: são básicas e conferem aos seus acionistas os direitos


essenciais do art. 109, LSA e o direito a voto.

 Ações preferenciais: conferem uma vantagem ao seu titular. Essa vantagem


pode ser de ordem financeira. Exemplo: recebimento de dividendos preferenciais, que
podem ser fixos ou mínimos - Vantagens exemplificativas enumeradas no art. 17 da
LSA (vantagens econômicas, restrições políticas – com ou sem direito de voto, limite de
50% do capital com restrição de direitos políticos, podem ser divididas em classes).

 Ações de fruição: são aquelas que receberam antecipadamente valores aos


quais teriam direito em caso de liquidação da sociedade. As ações de fruição mantêm
todos os direitos que tinham antes de serem amortizadas.

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


Quanto a divisão por classes:

As ações podem ainda ser divididas em classes, geralmente representadas por letras
(ex: Preferencial A, Preferencial B etc.).
 As ações ordinárias das companhias abertas não podem ser divididas em
classes, mas as ordinárias das companhias fechadas podem.

Quanto à transmissão:

As ações também podem ser classificadas quanto à forma de circulação:

 Ações nominativas: são registradas no Livro de Registro de Ações


Nominativas. Esse registro é feito nos próprios livros da sociedade e as transferências
só produzem efeitos se averbadas no livro próprio que, inclusive, classifica-se como
livro obrigatório especial. A sua movimentação precisa ser documentada no livro de
registro e no de transferência de ações nominativas – art. 20 e 31 da LSA.

 Ações escriturais: o titular dessas ações recebe um extrato chamado conta de


depósito das ações escriturais. Nas escriturais, as suas movimentações devem ser
mantidas em contas de depósito, em instituição financeira autorizada pela CVM, sem a
emissão de certificados – art. 34 da LSA.

2) Debêntures

O que são debêntures?

São como um “contrato de mútuo” – títulos de dívida emitidos por sociedades


anônimas com vencimento de médio e longo prazo*. O debenturista tem DIREITO ao
recebimento de juros. Esse título de dívida pode ter garantias (real, flutuante,
quirografária, etc,) e, inclusive, podem ser conversíveis em ações.

* Debêntures de curto prazo (equiparadas às notas promissórias)


são chamadas de commercial papers.

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


Como são emitidas as debêntures?
Ocorre por meio de escritura de emissão, a qual contém: prazos; vencimentos;
obrigações; garantias; cláusula de conversibilidade; etc.

Resumindo: as debêntures são títulos de dívidas emitidos pelas Companhias. É uma


forma que a S/A tem de conseguir se capitalizar sem ter que recorrer a empréstimos
tradicionais em instituições financeiras.

→ Qual é a vantagem? Quando a S/A emite debêntures, é ela própria, devedora, que
estabelece as condições de pagamento. A deliberação para emissão de debêntures é de
competência privativa da assembleia geral. As debêntures podem ser convertidas em
ações, conforme previsão na escritura de emissão.

Ações Debêntures
Títulos de participação Títulos de Crédito
O acionista participa do capital social O debenturista não participa do capital
social
O vínculo acionista – companhia é por O vínculo acionista – companhia é por
prazo indeterminado prazo determinado (até que a dívida seja
paga).
O acionista é participante da O debenturista é credor da companhia
companhia
Em regra, para que o acionista receba A percepção do direito de crédito do
dividendos, a companhia tem que ter debenturista independe da existência de
lucro. lucro.

As debêntures podem ser classificadas conforme as garantias que oferecem:


 Debênture com garantia real
 Debênture com garantia flutuante
 Debênture sem preferência
 Debênture subordinada

OBS: A Lei nº 14.195/21 – Lei de Melhoria do Ambiente de


Negócios (art. 45 e seguintes) trouxe uma novidade para as LTDA
parecida com as debêntures da S/A → a possibilidade de emissão

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


de Notas Comerciais “debentures nas Ltdas.”, que é um título
executivo.

3) Partes Beneficiárias:

O que são Partes beneficiárias?


São títulos que concedem vantagens no capital e podem ser vendidas. Também
conhecidas como “ações de presente”, o titular compra resultado possível e futuro da
sociedade. *

Conforme leciona Fábio Ulhôa Coelho, partes beneficiárias são valores mobiliários que
asseguram ao seu titular direito de crédito eventual contra a sociedade anônima
emissora, consistente numa participação nos lucros desta.

*S/A de capital fechado – A cia só pode comprometer até 10% do


seu lucro para pagamento das partes beneficiarias.

 As partes beneficiárias conferem ao seu titular o direito de participar dos lucros


sociais anuais. O titular destes papéis não são acionistas.
 O limite de emissão de partes beneficiárias é de até 10% do seu lucro.
 As partes beneficiárias não participam do capital social, e não podem ser
divididas em classes.
 Podem ser convertidas em ações.
 Podem ser concedidas de forma onerosa ou gratuita (estas, se não forem
destinadas a sociedades ou fundações beneficentes dos empregados da própria
companhia, não poderão ultrapassar 10 anos).
 Companhias abertas não podem emitir partes beneficiárias.

4) Bônus de Subscrição

Este título garante ao seu proprietário o direito de subscrever ações em caso de


aumento de capital.

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


 A deliberação sobre a emissão de bônus de subscrição compete à assembleia
geral, se o estatuto não tiver conferido tal encargo ao conselho de administração.
 Podem ser concedidos de forma gratuita ou onerosa, havendo preferência dos

III. Órgãos Societários

As sociedades anônimas devem ser administradas por um ou mais diretores, os quais


devem ser pessoas físicas, podendo ser acionistas ou não.

O estatuto pode constituir um Conselho de Administração, com no mínimo 3


membros, acionistas ou não. *
*Apenas as companhias abertas, as companhias que possuem
autorização estatutária para aumento de capital (capital
autorizado) e as Sociedades de Economia Mista são obrigadas a
ter Conselho de Administração.
As S/A também devem ter um Conselho Fiscal, composto por 3 a 5 membros e seus
respectivos suplentes, sócios ou não. O funcionamento do Conselho Fiscal é facultativo.

Órgãos S/A Existência Participantes Função


Órgão máximo. Caráter
Assembleia deliberativo. Pode se manifestar
Obrigatória Todos os acionistas
Geral de forma originária ou
extraordinária (AGO e AGE)
Conselho de Mínimo de 3 Órgão administrativo. Caráter
Facultativa
Adm. acionistas ou não deliberativo.
Mínimo de 2 Órgão administrativo. Funções
Diretoria Obrigatória
acionistas ou não executivas e de representação.
De 3 a 5 acionistas Fiscaliza os órgãos de
Conselho Fiscal Obrigatória
ou não administração,

a) Assembleia Geral (AG) – Competência privativa - Art. 122 da Lei das S/A (cunho
administrativo) – Exemplo: autorizar emissão de debêntures, avaliar bens objeto de
contribuição dos acionistas, etc.).

 Assembleia Geral Ordinária (AGO) – art. 132 a 134 (deverá haver 1 assembleia
geral nos quatro primeiros meses seguintes ao término do exercício social) Exemplo:

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


Tomar as contas dos administradores; deliberar sobre a destinação do lucro líquido e
distribuição de dividendos, eleger os administradores e membros do conselho fiscal,
etc.
Deve-se respeitar os trâmites legais (convocação, publicação, quórum – art. 124 e
seguintes).
 Assembleia Geral Extraordinária (AGE): São realizadas fora das datas
previstas para a Assembleia Geral Ordinária (AGO).

b) Conselho de Administração (art. 138 e seguintes) – O Conselho de Administração


é órgão facultativo nas companhias fechadas. Será de existência obrigatória apenas nas
sociedades anônimas abertas. Os membros poderão ser acionistas ou não (art. 146)

Nos termos do art. 142 da LSA, competem ao Conselho de


Administração: I – fixar a orientação geral dos negócios da
companhia; II – eleger e destituir os diretores da companhia e
fixar-lhes as atribuições, observado o que a respeito dispuser o
estatuto; III – fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a
qualquer tempo, os livros e papéis da companhia, solicitar
informações sobre contratos celebrados ou em via de celebração,
e quaisquer outros atos; IV – convocar a assembleia geral quando
julgar conveniente, ou no caso do art. 132; V – manifestar-se sobre
o relatório da administração e as contas da diretoria; VI –
manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o
estatuto assim o exigir; VII – deliberar, quando autorizado pelo
estatuto, sobre a emissão de ações ou de bônus de subscrição; VIII
– autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação
de bens do ativo não circulante, a constituição de ônus reais e a
prestação de garantias a obrigações de terceiros; e IX – escolher e
destituir os auditores independentes, se houver.

c) Diretoria - A diretoria é órgão obrigatório da companhia. Ao contrário do


conselho de administração, a diretoria não é órgão de deliberação colegiada, em regra
(art. 143 e 144 da LSA).

*A Lei Complementar 182/2021 alterou a Lei 6.404/1976, e


passou a prever que a diretoria da sociedade anônima pode ser

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


composta por 1 ou mais diretores, não havendo mais a exigência
de no mínimo 2 diretores.

d) Conselho Fiscal (art. 161 e seguintes da LSA) - As companhias também devem ter
um Conselho Fiscal, composto por 3 a 5 membros e respectivos suplentes, sócios ou
não. Apesar de o seu funcionamento ser facultativo, a sua funcionalidade é de extrema
importância para a companhia.

Qual a competência do Conselho Fiscal?

As competências previstas na lei e que não podem ser excluídas do Estatuto Social são
(art. 163 da LSA):

 fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos administradores e verificar


o cumprimento dos seus deveres legais e estatutários;
 opinar sobre o relatório anual da administração, fazendo constar do seu
parecer as informações complementares que julgar necessárias ou úteis à deliberação
da assembleia geral;
 opinar sobre as propostas dos órgãos da administração, a serem submetidas à
assembleia geral, relativas a modificação do capital social, emissão de debêntures ou
bônus de subscrição, planos de investimento ou orçamentos de capital, distribuição de
dividendos, transformação, incorporação, fusão ou cisão;
 denunciar, por qualquer de seus membros, aos órgãos de administração e, se estes
não tomarem as providências necessárias para a proteção dos interesses da
companhia, à assembleia geral, os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, e sugerir
providências úteis à companhia;
 convocar a assembleia geral ordinária, se os órgãos da administração
retardarem por mais de 1 (um) mês essa convocação, e a extraordinária, sempre que
ocorrerem motivos graves ou urgentes, incluindo na agenda das assembleias as
matérias que considerarem necessárias;
 analisar, ao menos trimestralmente, o balancete e demais demonstrações
financeiras elaboradas periodicamente pela companhia;
 examinar as demonstrações financeiras do exercício social e sobre elas
opinar; e

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


 exercer essas atribuições, durante a liquidação, tendo em vista as disposições
especiais que a regulam.

Instalação do Conselho Fiscal:


Os membros do CF devem ser pessoas naturais, residentes no país e diplomados em
curso de nível superior, ou devem ter exercido, por prazo mínimo de 3 (três) anos,
cargo de administrador de empresa ou de conselheiro fiscal. *
*Nas localidades em que não houver pessoas habilitadas, em
número suficiente, para o exercício da função, caberá ao juiz
dispensar a companhia da satisfação daqueles requisitos (art. 162,
“caput” e §1º da LSA).

Na constituição do conselho fiscal, os titulares de ações preferenciais sem direito a


voto, ou com voto restrito, terão direito de eleger, em votação em separado, 1 (um)
membro e respectivo suplente, sem exigência de número ou porcentagem mínima de
ações. Também terão direito de eleger 1 (um) conselheiro e seu respectivo suplente,
em votação separada, os acionistas minoritários titulares de ações ordinárias, desde
que representem, em conjunto, 10% (dez por cento) ou mais das ações com direito a
voto (art. 161, §4º, a da LSA).

Os acionistas majoritários ou controladores poderão eleger os membros efetivos e


suplentes que, em qualquer caso, serão em número igual ao dos eleitos pelos
preferencialistas e ordinaristas minoritários, mais um (art. 161, §4º, b da LSA –
representação dos acionistas minoritários).

Os membros do conselho fiscal e seus suplentes poderão ser reeleitos e exercerão seus
cargos até a primeira assembleia-geral ordinária após a sua eleição.

IV. DISSOLUÇÃO E EXTINÇÃO (art. 206 e seguintes da LSA)

As sociedades anônimas se dissolverão quando ocorrer:


 término do prazo de duração;
 nos casos previstos no estatuto
 por deliberação da assembleia-geral;

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


 existência de 1 (um) único acionista, verificada em assembleia geral ordinária, se
o mínimo de 2 (dois) não for reconstituído até à do ano seguinte;
 extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar;
 decisão de autoridade administrativa competente, nos casos e na forma previstos
em lei especial;
 decisão judicial que anula sua constituição;
 decisão judicial de dissolução, por não poder mais preencher seu fim (a realização
do objeto social ou a lucratividade se tornou inviável ou impossível);
 decisão judicial que declara a falência;
 ato ou fato expressamente previsto no estatuto social como causa de dissolução.

A dissolução deverá ser registrada na Junta Comercial para, então, a sociedade entrar
no processo de liquidação, com objetivo de realizar os ativos, pagar os passivos, e o
remanescente, se houver, será partilhado entre os acionistas proporcionalmente às
correspondentes participações. Após a liquidação, ocorrerá a extinção, resultando com
o cancelamento de sua inscrição no local do registro.

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Bibliografia recomendada:

▪ BARBOSA, Henrique Cunha. “Tracking Stocks” Ações preferenciais e


dividendos prioritários no direito brasileiro. São Paulo: Quartier Latin, 2019.
▪ BORBA, E. Tavares. Direito Societário. São Paulo: Atlas, 2019.
▪ CARVALHOSA, Modesto. Acordo de acionistas: Homenagem a Celso Barbi
Filho. São Paulo: Editora Saraiva, 2014.
▪ COELHO. Fábio Ulhôa. Lei das Sociedades Anônimas Comentada. São Paulo:
Editora Forense, 2019.
▪ EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada. São Paulo: Quartier Latin, 2021.
▪ MUSSI, Luiz Daniel Haj. Suspensão do Exercício de Direitos ao Acionista. São
Paulo: Quartier Latin, 2019.

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA


▪ ROBERT, Bruno. As Assembleias das S/A: Exercício do direito de voto,
pedidos públicos de procuração e participação a distância. São Paulo: Editora
Singular, 2021.
▪ WEBER, Ana Carolina. Responsabilidade Societária. Danos Causados pelos
Administradores. São Paulo: Quartier Latin, 2019.

INTRODUÇÃO: SOCIEDADE ANÔNIMA

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