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Conceito de sociedade comercial

A sociedade comercial é comerciante, tal resulta do disposto no 13º,1 CCom. A sociedade é um


sujeito de Direito Comercial.
Paulo Olavo Cunha: da leitura atualizada do CCom, conjugada com o disposto no CSC, resulta
que a empresa comercial se define por uma atividade de produção ou mediação de bens e, ou,
serviços para o mercado, assumindo particular relevo o risco do capital investido.
A sociedade será comercial sempre que se proponha à realização de atos de comércio
(celebração de contratos comerciais) ou de uma atividade económica empresarial nos termos do
230ºCCom.
Na definição da sociedade comercial devemos atender à norma qualificadora constante do 230º
do CCom. Exercício de uma atividade comercial, com caráter lucrativo.
A atividade da sociedade tem de ser potencialmente ganhadora, i.e, tem de ser uma atividade
que, em abstrato, possa gerar lucros, ainda que em concreto isso possa nunca acontecer.
Subjacente ao substrato empresarial que a sociedade comercial deve apresentar, está uma ideia
de estabilidade.

✔ Ente jurídico com substrato essencialmente patrimonial, que exerce com caráter de
estabilidade uma atividade económica lucrativa que se traduz na prática de atos de
comércio.
Tipos

1. Sociedades em nome coletivo: são as sociedades comerciais, nas quais os sócios


assumem responsabilidade pessoal, solidária e ilimitada, mas subsidiária. Quanto à
firma, se não se identificar todos os sócios, a firma deve, no mínimo, conter o nome de
um deles com o aditamento, abreviado ou por extenso, que venha a permitir identificar
essa realidade com a ideia de pluralidade. (177º= Paulo Cunha &Companhia ou &Cia).
a. Cada sócio é responsável para com a sociedade pela prestação da sua entrada; e
responde, solidariamente com os restantes sócios e ilimitadamente perante os
credores da sociedade, pela dívidas desta (175º). Credores têm como garantia,
neste tipo social, a responsabilidade solidária dos participantes neste tipo de
sociedades.
b. Esta responsabilidade solidária ilimitada é subsidiária, i.e, só tem lugar quando
o património social não é suficiente para fazer face às dívidas da sociedade.
c. As participações sociais denominam-se partes sociais e são representadas por
títulos (176º).
2. Sociedades por quotas: no que concerne à firma, pode ser formada, com ou sem sigla,
e deve ser composta pelo nome de todos ou de alguns dos sócios ou aludir à atividade
que a sociedade se propõe prosseguir, devendo concluir pela para “limitada” ou “lda”.
a. Cada sócio responde pela sua entrada, mas solidariamente com os restantes
sócios e até ao montante do capital social subscrito (197º,1). Especial garantia
dos credores sociais, uma vez que permite responsabilizar qualquer sócio pela
totalidade do capital subscrito.
b. No entanto, só a sociedade responde pelas suas dívidas perante os credores
(197º,3), exceto se os sócios garantirem expressamente que se responsabilizam
pelas mesmas “até determinado montante” (198º,1).

Benedita Simão Leal


c. A parte denomina-se quota e não é titulada (197º,1 e 219º,7). O seu valor
mínimo é de 1eur (219º1 e 3 e 250º,1).
d. As sociedades por quotas configuram-se como sociedades de pessoas, em que
os sócios têm direitos pela sua qualidade e não em função do montante do
capital investido, apesar de este determinar o número de votos e os lucros a
receber.
3. Sociedades anónimas: a responsabilidade dos acionistas pelo valor da entrada é
individual e exclusiva (271º). Se o acionista realizar a totalidade da sua participação, ele
não terá mais qualquer responsabilidade pela atividade societária, para além da que
possa assumir especificamente a título pessoal.
a. Só a sociedade é responsável pelas suas dívidas (271º, a contrario). Limitando-
se a responsabilidade do acionista ao montante que subscreve, a partir de então
só a sociedade responderá pelas dívidas, já que tem autonomia financeira.
b. As participações sociais designam-se ações, correspondendo a frações de
capital com o mesmo valor nominal (mínimo de 1 cêntimo) ou sem valor
nominal, representadas por títulos (271º, 274º, 276º,2 e 298º).
4. Sociedades em comandita: pode revestir dois modelos. Comandita simples e
comandita por ações, sendo-lhes aplicáveis, as regras das sociedades em nome coletivo
ou das sociedades anónimas, respetivamente.
a. Dois tipos de sócios com regimes de responsabilidade diferentes (465º). Os
sócios comanditados assumem a responsabilidade pelas dívidas da sociedade
(nos mesmos termos dos sócios das sociedades em nome coletivo) e os sócios
comanditários não respondem por quaisquer dívidas da sociedade, para além do
capital que subscrevem.
b. As participações sociais podem correspondem a partes sociais ou ações,
consoante o subtipo em causa (465º,3). Nas sociedades em comandita simples
as participações são todas não tituladas e denominam-se partes sociais. Nas
sociedades em comandita por ações as participações dos comanditados são
partes sociais e dos comanditários são ações tituladas.

Princípios estruturantes

1. Limitação da responsabilidade pessoal do sócio: as SC caracterizam-se, na sua


generalidade, e nos seus dois tipos principais, pela responsabilidade limitada dos seus
associados ao capital que cada um (SA) ou todos, globalmente, (SPQ) subscrevem.
a. A posição do sócio não comporta deveres além daqueles que resultam
expressamente da lei e do contrato de sociedade. Trata-se de um corolário do
princípio estruturante da inoponibilidade de novas obrigações sociais sem o
consentimento do sócio e do princípio da responsabilidade limitada da sua
participação ao capital subscrito, nas SPQ e SA.
2. Tipicidade: a autonomia dos agentes económicos encontra-se limitada à seleção do tipo
negocial, de entre quatro, que o 1º,2 CSC disponibiliza. Escolhido o tipo societário há
que respeitar as regras características do mesmo, havendo que respeitar o conteúdo
mínimo do contrato de sociedade e a designação dos respetivos órgãos sociais.
Identificado o tipo societário pretendido, sócios poderão criar uma série de regras, no
âmbito da liberdade de estipulação de que dispõem, devendo, contudo, respeitar os
princípios e limites imperativos do sistema.
3. Inoponibilidade da criação de novas obrigações sem o consentimento de todos os
sócios: a lei não permite que contra a vontade de um sócio, sejam constituídas novas
obrigações que o vinculem e, em certas circunstâncias, possam pôr em causa a sua

Benedita Simão Leal


subsistência na sociedade. Princípio fundamental acolhido no 86º2CSC, segundo o qual
a criação de novas obrigações em vida da sociedade só pode vincular os sócios que as
aprovarem expressamente. Não é possível constituir o sócio em novas obrigações
(maxime, de prestações acessórias ou suplementares), contra a respetiva vontade.
4. Intangibilidade do capital social: impossibilidade de distribuição de bens necessários
e indispensáveis à cobertura do capital social (32º). Este princípio tem a ver com o facto
de o capital dever ter uma certa correspondência com o património societário e este
dever ser preservado das pretensões diretas dos credores pessoais dos sócios, ficando
apenas ao alcance dos credores sociais. Os credores sociais estão graduados antes dos
credores pessoais dos sócios. Considerando que a exigência de capital social mínimo
passou a ser meramente simbólica, podendo a sociedade posicionar-se no mercado com
um nível de responsabilidade insignificante, pode questionar-se se o capital social deve
continuar a ser intangível.
5. Igualdade de tratamento e tutela das minorias

Personalidade e Capacidade Jurídicas das Sociedades Comerciais


Art.6CSC
O art.6º é composto por dois blocos normativos. O primeiro diz respeito às questões da
capacidade em sentido próprio, sendo composto pelos nºs 1, 2 e 3 e pela 1ªP do nº4. O segundo
bloco diz respeito à responsabilidade órgãos sociais (6º,4,2ªP) e da própria sociedade quanto aos
atos praticados pelos seus representantes (6º,5).
O primeiro bloco gira em torno do princípio da especialidade (6º,1).
O Princípio da especialidade encontra-se condicionado pela possibilidade de determinar um
conceito operacional de fim em razão do qual se limite a capacidade jurídica das sociedades.
Distingue-se frequentemente fim mediato e imediato. A primeira coincide com a noção de fim
legal-tipológico e a segunda com o objeto da pessoa coletiva ou a concreta atividade a que se
propõe.
É possível concluir que o fim a que alude o 160ºCC não coincide com o fim imediato,
estatutário ou fim-objeto.
Tese tradicional: o escopo lucrativo como fim da sociedade. Para esta tese o fim da
sociedade, a que alude o 6º,1, é o escopo lucrativo previsto no 980ºCC. As liberalidades ao
serem consideradas contrárias ao fim da sociedade (6º,2), bem como a prestação de garantias
gratuitas a terceiros (6º,3), surgem como dados normativos que parecem reforçar a identificação
normativa entre lucro e fim social.

Inoperacionalidade:
o Orientação falha pela dificuldade em identificar conceito operacional de
lucro, para efeitos de limitação da capacidade. A sua utilização no CSC
revela aceções semânticas muito distintas:

Benedita Simão Leal


▪ Ferrer Correia: realizar o proveito económico dos sócios por qualquer
modo que seja.
▪ Raúl Ventura: proibição de pacto leonino, fazendo daí derivar a não
qualificação como contrato de sociedade se lhes faltar o elemento
lucrativo.

A identificação do fim da SC com o escopo lucrativo é, para efeitos, do 6º,1 dogmaticamente


inoperante.
Tratando-se a capacidade de um juízo ex ante, qualquer noção de lucro (contabilístico,
exercício, distribuível, etc.) deve ser afastada: não é possível ajuizar acerca da capacidade
jurídica para a prática de um ato à luz de um critério só verificável depois de o ato ser praticado.
Prof. Costa Gonçalves: mesmo entre os sufragantes da tese tradicional, a acentuada
dificuldade em delimitar noção concreta e operacional de lucro levou a uma formulação tão
generosa do princípio da especialidade que, na prática, o esvazia do conteúdo limitativo da
capacidade de gozo. “(…) o escopo lucrativo que fornece a medida da capacidade da sociedade
não tem de encontrar expressão no conteúdo do próprio ato ou negócio (…), bastando, ao invés,
que as atividades se integrem em objetivos genericamente lucrativos, no sentido de que está
presente um interesse económico.(…). Resulta disto que, relativamente a atos onerosos, nunca
se colocam problemas de incapacidade (mesmo tratando-se da prestação de garantias a dívidas
de outras entidades): a conformidade com o fim social (com o escopo lucrativo) está sem mais
assegurada” (Osório de Castro).

Superação pragmática do princípio da especialidade


As SC gozam, formalmente, de uma capacidade jurídica limitada, mas materialmente, de uma
capacidade de gozo tendencialmente plena. Reprodução, neste âmbito, das mesmas
interpretações generosas do art.160ºCC, apelando-se, sobretudo, a um conceito amplo de lucro,
capaz de englobar o mais lato leque de categoria de atos.
Superação pragmática = formalmente doutrina e jurisprudência mantêm referência à limitação
da capacidade em razão do fim da pessoa coletiva. Contudo, quando procuram concretizar essa
limitação, assumem que a exceção consome a regra.
Atos necessários ou convenientes à prossecução do fim da pessoa coletiva podem ser quase
todos.

Vias de superação:

1. Pedro de Albuquerque: Superação mediante deslocação do princípio da especialidade


do núcleo problemático da capacidade jurídica para o âmbito da vinculação das
sociedades. Para o autor, a verificar-se a superação do princípio da especialidade, o
problema subjacente ao 6º,2 e 3 dever-se-ia entender como uma questão de vinculação
das sociedades e não de capacidade.
o Hipóteses clássicas de ultra vires, garantias indevidamente prestadas,
liberalidades indevidas.

Benedita Simão Leal


o Interpretação do 6º,1: deslocação da problemática da capacidade para a
vinculação das sociedades, corresponde a uma formulação positiva do
princípio da especialidade (via de superação). Para o autor, nem o 160º,1CC,
nem o 6º,1 consagram qualquer regra da qual se poderia definir uma
incapacidade de gozo dos entes coletivos. Eles limitam-se a afirmar,
positivamente, a capacidade das coletividades para serem titulares de direitos e
estarem adstritos a obrigações.
2. Carvalho Fernandes e Paulo Olavo Cunha: afirmam que as sociedades são, por
princípio, capazes para a prática de atos gratuitos e doações, indicando a necessidade de
reenquadramento dogmático da questão.
3. Costa Gonçalves: formulação negativa- o fim não tem a ver com a capacidade. O
problema da especialidade não é um problema de capacidade jurídica, mas sim de
desvio do fim.
o Neste caso, de que fim da pessoa coletiva é que falamos e qual a consequência
para a sua violação? Segundo Costa Gonçalves é necessária uma interpretação
integrada dos art.160ºCC e 6ºCSC de modo a que a articulação de ambos os
preceitos permita ao intérprete-aplicador chegar ao mesmo conteúdo normativo
substantivo. Tal obtém-se pela comunicação ao art.160ºCC do sentido
normativo do 6º,4. A consequência não pode ser a nulidade, uma vez que o
160º,1 nada estatui. Antes deve entender-se que está em causa um problema de
vinculação da pessoa coletiva quanto aos atos praticados em desvio do fim. É
necessária uma interpretação integrada: o regime do CSC para a vinculação das
sociedades deve entender-se aplicável à vinculação de todas as pessoas
coletivas.
4. Menezes Cordeiro- superação pura. O denominado princípio da especialidade não
restringe, hoje, a capacidade das pessoas coletivas: tal como emerge do 160º,1, ele diz-
nos, no fundo, que todos os direitos e obrigações são, salvo exceções (…) acessíveis às
pessoas coletivas. O chamado princípio da especialidade não tem, hoje, alcance
dogmático.
o Diferença da via de superação é de natureza histórica-dogmática: os
fundamentos originais do princípio da especialidade encontram-se superados na
atualidade.
o A única e verdadeira limitação à capacidade jurídica das sociedades advém
da sua natureza: elas são incapazes para aqueles direitos e obrigações
inseparáveis da personalidade singular ou que exijam a qualidade humana do
sujeito.
o Os direitos e obrigações “que lhe sejam vedados por lei” não compreendem
verdadeiras hipóteses de incapacidades, mas antes de proibição legal para a
prática de certo ato, conduzindo a sua violação à nulidade, nos termos do 280º,1
ou 294ºCC.
o As cláusulas contratuais e deliberações sociais não limitam a capacidade das
sociedades.
Diferentemente, se se entender que o princípio da especialidade é uma limitação à capacidade
das sociedades em razão do seu fim mediato, Direito societário operaria sistema duplo de
vinculação. Os atos ultra vires vinculariam a sociedade nos termos previstos nos art.260º e 409º,
já os atos praticados fora do escopo lucrativo da sociedade seriam nulos, por incapacidade
jurídica.
6º,3:

Benedita Simão Leal


Professor MTS entende que 6º3 contém uma norma de proteção da sociedade, inclusive perante
a atuação dos seus órgãos. A teleologia da norma é claramente a proteção da sociedade
perante uma atuação que em nada beneficia a sociedade.
Professor MTS entende que o art.6º,3 contém uma presunção de que a prestação de garantias a
dívidas de terceiros é contrária aos fins das sociedades garante. Perante a dúvida de saber se a
prestação de garantias reais ou pessoais a dívidas de outras entidades é compatível ou contrária
aos fins da sociedade, 6º,3 impõe que se considere que essa prestação é contrária a estes fins.
O facto probatório (base da presunção) é a prestação de uma garantia pela sociedade a uma
dívida alheia e a situação inferida ou presumida é a contrariedade dessa garantia com os fins da
sociedade.
A presunção estabelecida é ilidível: 6º,3 responde à forma como se pode ilidir tal presunção-
mediante prova do facto contrário, ou seja, de que a sociedade garante tem interesse na
prestação da garantia ou de que se trata de uma sociedade em relação de domínio ou grupo.
Repartição do ónus da prova:
Sociedade garante goza da presunção de que garantia prestada a uma dívida alheia é contrária
aos seus fins, pelo que nada tem a provar.
A presunção é ilidida através da prova, por qualquer interessado, de que a sociedade garante tem
interesse na prestação da garantia ou de que se trata de uma sociedade em relação de domínio ou
de grupo.

✔ STJ: Impende sobre a sociedade garante que invoca a nulidade da garantia por si
prestada com o objetivo de se fazer valer de tal nulidade para não ter de cumprir a
obrigação garantida, o ónus de alegação e prova da inexistência de interesse próprio, i.e,
o ónus da prova dos requisitos da existência da tal invalidade do ato. A razão principal
para tal reside na circunstância e que ninguém melhor do que a própria sociedade
que presta a garantia, para certificar que a mesma foi prestada no seu próprio
interesse.

Professor MTS entende que a seguir-se este entendimento, 6º,3 imporia, por força da lei, um
venire contra factum proprium. O próprio órgão que praticou o facto teria que provar que o
mesmo é afinal inválido.
Obrigação de entrada
A obrigação de entrada constitui-se, assim como o dever de participação nas perdas, como a
principal obrigação dos sócios.
É o que resulta do 980ºCC e do 20ºCSC, o qual estabelece, de forma imperativa, como
obrigações essenciais dos sócios a obrigação de quinhoar nas perdas.
O contrato de sociedade é imperativamente um contrato oneroso, como tal só pode ser atribuída
uma participação social e, consequentemente a qualidade sócio, a uma pessoa que contribua
efetiva e realmente com bens (ou serviços nas sociedades em que este tipo de entrada seja
admitido) para a sociedade.

Benedita Simão Leal


Definição de entrada
A entrada corresponde à contribuição patrimonial do sócio para a sociedade que se destina ao
pagamento das participações sociais que adquire. A entrada é a contribuição patrimonial que o
sócio se obriga a realizar e a entregar à sociedade como contraprestação das participações
sociais que subscreve.
A entrada abrange não apenas os bens entregues pelo sócio cujo valor corresponde ao valor
nominal das participações sociais que subscreve, mas também ao valor excedente que o sócio
tem de desembolsar para as adquirir, ou seja, a entre compreende e abrange o ágio (295º,3,a).

Entrada e participação social


A participação social tem de corresponder a uma verdadeira e efetiva entrada por parte do sócio.
i.e, só pode ser atribuída uma participação social, e consequentemente a qualidade de sócio, a
uma pessoa que contribua realmente com bens para a sociedade.
A criação de uma participação social que não resulta de uma efetiva entrada do sócio deve ser
considerada nula, por violação de norma legal imperativa (20º,aCSC e 294ºCC).
Tal não significa que o valor da participação social tenha, necessariamente de corresponder ao
valor da entrada.

● O valor nominal da participação social não pode ser superior ao valor real da
contribuição do sócio, i.e, não pode, em caso algum, ser superior à importância em
dinheiro com que cada sócio entra para a sociedade ou ao valor venal dos bens, ditos em
espécie.
● Pelo contrário, é expressamente admitido que o valor da participação social seja inferior
ao valor da entrada.

O valor da entrada constitui o limite máximo do valor nominal da participação social, podendo
este, no entanto, ser inferior ao valor da contribuição do sócio.
Nas SA, em obediência à regra geral estabelecida no 25º, CSC proíbe expressamente a emissão
de ações abaixo do par (298º,1, CSC). Admitindo, a contrario, a prática de emissão de ação
acima do par, i.e, por um valor superior ao seu valor nominal.
A diferença entre o valor nominal da participação social e o valor por ela pago (ágio ou prémio
de emissão), não pode ter o seu pagamento diferido (277º,2).
O valor do ágio fica obrigatoriamente sujeito ao regime da reserva legal (295º,2,a), sendo que a
esta apenas pode ser dado um dos destinos previstos no art.296º CSC. Aparentemente, todo o
ágio só poderia ser usado para os fins do 296ºCSC. MC defende que o prémio de emissão
apenas fica sujeito ao regime do 296º até ao limite do valor da reserva legal (1/5 do capital,
295º,1) e, cumulativamente, apenas quando e na medida em que o mesmo seja necessário
para integrar aquela reserva.
Assim, a sociedade poderá utilizar o ágio para outro fim, distinto dos previstos no 296º, desde
que a reserva legal esteja integralmente constituída ou, quando tal não se verifique, na parte em
que exceda o montante necessário para completar a reserva legal.

Benedita Simão Leal


Valor mínimo da entrada
Para as chamadas sociedades de capitais – SQ e SA- o CSC estabelece um valor mínimo para a
entrada individual de cada sócio, 1eur no caso das SPQ (201º e 119º,3) e 1 cêntimo no caso das
SA (276º,3). No que concerne às últimas o CSC prescreve ainda que o valor das entradas de
todos os sócios deverá ser, pelo menos de 50.000 eur (276º,5).

Tipos de entrada: entradas em indústria e de capital (entradas em bens: apenas bens


suscetíveis de penhora?)

● As entradas em indústria não se contabilizam no capital social; (entradas em serviços).


178º,1,CSC.
● Entradas em bens são imputadas no capital social; podem ser em dinheiro ou em bens
diferentes de dinheiro (espécie).
o A entrada de um sócio só pode consistir em “bens suscetíveis de penhora”, pelo
que, prima facie, as referidas entradas de capital apenas poderiam ser
constituídas por bens idóneos a garantir terceiros. Paulo de Tarso: transposição
menos exata do art.7º da segunda Diretiva sobre sociedades “O capital subscrito
só pode ser constituído por elementos do ativo suscetíveis de avaliação
económica”. Professor entende que a expressão é, deliberadamente, mais
abrangente do que a expressão “valores executáveis ou penhoráveis”.
▪ Das duas uma: ou se entende que o legislador português quis consagrar
uma solução, mais restritiva, da sancionada pela Diretiva, havendo um
conflito entre o direito português e o DUE; ou se entende que não se
tencionou adotar posição diferente da estatuída pela Diretiva, devendo,
assim, admitir-se que a entrada de um sócio possa consistir em qualquer
bem suscetível de avaliação económica.
o As entradas em indústrias apenas podem pelos sócios das SENC e pelos sócios
comanditados das SC (176º e 468º a contrario CSC), não sendo, pois,
admissíveis nas SQ (202º,1) e nas SA (277º,1) e nas SC relativamente aos
sócios comanditários (468º).

As entradas em dinheiro

Diferimento das entradas em dinheiro


As entradas, de acordo com o 26ºCSC, deverão, em princípio, ser realizadas no momento da
celebração do contrato de sociedade. No entanto, a norma acrescenta ser possível o “diferimento
da realização das entradas em dinheiro, nos casos e termos em que a lei o permita”.
Fica, assim, vedada a não realização imediata das entradas em espécie, permitindo-se apenas o
diferimento das entradas em dinheiro.
277º,2 consagra o diferimento das entradas em dinheiro, no montante de 70%.
Nas SPQ, o pagamento das entradas só pode ser diferido para datas certas ou ficar dependente
de factos certos, permitindo-se, em qualquer caso, exigir o seu cumprimento decorridos que
sejam 5 anos sobre a celebração do contrato (203º,1),

Benedita Simão Leal


Nas SA a lei apenas permite o diferimento da realização das entradas em dinheiro por prazo não
superior a 5 anos (285º,1).
As entradas em espécie
28º- entradas em bens diferentes de dinheiro.
Como decorre do regime do 26º e uma vez que a nossa lei não prevê a possibilidade do seu
diferimento, as entradas em espécie deverão ser integralmente realizadas até ao momento da
celebração do contrato de sociedade.
O CSC exige que as entradas em espécie sejam objeto de uma avaliação por parte de um ROC
sem interesses na sociedade (28º,1).
O regime do 28º traduz-se na elaboração de um relatório por um perito independente, que deve
ter o conteúdo mínimo previsto no 28º,3 e ser elaborado com uma antecedência não superior a
90 dias relativamente à data da formalização do contrato, devendo ainda ser dado a conhecer
aos sócios fundadores “pelo menos 15 dias antes da celebração do contrato”, e ficando sujeito às
formalidades de publicidade prescritas na lei (28º, 3-6).
Visa-se assegurar que o valor atribuído à participação social se identifique com o valor venal do
bem que constitui a entrada.
Caso se verifique um erro, posteriormente, naquela avaliação e, consequentemente, o valor
estimado do bem não corresponda ao seu valor real, sendo o valor da participação social
superior ao da entrada, recai sobre o sócio aquilo que se designa de “responsabilidade pela
diferença”: o sócio será responsável pela diferença porventura existente, que deverá repor,
resultante da avaliação correta do bem e o valor nominal da PS (25º,3).

Entradas com créditos


Duas situações:
1. Realização da entrada através de créditos sobre a própria sociedade (por compensação);
a. Em abono da proibição da realização da entrada por compensação, tem sido
defendido que tal solução se justifica, desde logo, porque a lei não rodeia das
mesmas cautelas a realização da entrada e constituição dos créditos dos sócios.
Depois, porque, com a compensação se poderá privilegiar a extinção de
obrigações dos sócios preferencialmente aos credores sociais.
b. Proibição da compensação no ordenamento jurídico português (27º,5): se for
feita a compensação, a realização daquela entrada (por compensação de
créditos) será nula, por violação de norma legal imperativa, tendo o sócio de
realizar em dinheiro o valor da sua entrada. É esta a solução que se retira do
25º,3.
c. Não sendo admissível a extinção da obrigação de entrada por
compensação, nada impede, no entanto, que um sócio realize a sua entrada
(v.g num aumento de capital) com o crédito de que seja titular sobre a
própria sociedade. Essa entrada é, no entanto, uma entrada em espécie,
pelo que ficará sujeita não ao regime da compensação, mas ao regime das

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entradas em espécie, devendo, por isso, tal crédito ser sujeito a uma
avaliação por parte de um ROC.
2. Realização da entrada através de créditos sobre terceiros, v.g, mediante cessão de
créditos; trata-se de uma entrada em espécie. Como tal, terá de ser objeto de uma
avaliação por parte do ROC. O valor do crédito dependerá da solvabilidade do devedor,
do prazo de pagamento, das garantias associadas ao crédito, etc.

As quase entradas ou entradas dissimuladas


Se se permitisse à sociedade, logo após a constituição, adquirir- com dinheiro das entradas e
pelo preço que entendesse- um bem a um sócio, isso equivaleria, para todos os efeitos, à
realização de uma entrada em espécie por parte deste.
A aquisição do bem nestas condições traduzir-se-ia numa entrada em espécie dissimulada.
Para evitar que um sócio, pretendendo fugir ao regime imperativo e rigoroso das entradas em
espécie, realizasse, no momento da constituição, uma entrada em dinheiro e, de seguida,
vendesse à sociedade- pelo preço que poderia discricionariamente estabelecer- o bem com que
efetivamente pretendia entrar para a sociedade, a lei, no 29º, veio expressamente proibir a
aquisição de bens a acionistas quando estejam reunidos certos requisitos.
Se uma sociedade pretender adquirir um bem a um acionista, terão cumulativamente de ser
cumpridos os seguintes requisitos:
1. O contrato de aquisição deverá ser reduzido a escrito, sob pena de nulidade (29º,4);
2. A aquisição terá de ser previamente aprovada pela AG (29º,1), sob pena de ser ineficaz
em relação à sociedade (29º,5);
3. O bem a adquirir deverá ser avaliado por um ROC nos mesmos termos previstos para as
entradas em espécie (29º,3 e 28º).
Cumprimento e incumprimento da obrigação de entrada
1. CSC estabelece que, em caso algum, é permitido à sociedade exonerar o sócio de
efetuar a sua entrada. 27º,1 comina a nulidade das deliberações dos sócios que liberem
total ou parcialmente os sócios da obrigação de efetuar as entradas.
2. Obrigação que perdura, mesmo que o contrato venha a ser invalidado. 52º,4 estatui que
a declaração de nulidade ou anulação do contrato não exonera os sócios do dever de
realizar ou completar as suas entradas.
3. Consequências gravosas resultantes do incumprimento:
a. Impossibilidade de se distribuírem lucros ao sócio em mora (27º,4);
b. Impossibilidade de exercer o direito de vota (384º,4 e 248º,1);
c. Vencimento de todas as prestações do sócio relativas a entradas no caso de
mora no pagamento (27º,6);
d. O não cumprimento da obrigação de entrada por conduzir à perda da
participação social e até à exclusão da sociedade do sócio faltoso. Tais
consequenciais, não são porém automáticas. Ainda que a realização da entrada
em falta tenha prazo certo, o sócio só entra em mora depois de nesse sentido ter
sido interpelado pela sociedade, que lhe deverá conceder, para o efeito, um
prazo entre 30 e 60 dias (203º,3 e 285º,2 e 3). Findo este prazo, não tendo o
sócio cumprido a entrada em falta, a sociedade, mediante carta registada, deverá
conceder-lhe novo prazo de 30/90 dias; com a cominação expressa de que, se
não efetuar o pagamento nesse período, fica sujeito à perda da quota ou das

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ações relativamente às quais se verifique a mora, bem como à perda dos
pagamentos já efetuados por conta das participações (204º,1 e 285º,4).

Acordo de princípio com vista à constituição de SC


Sociedades irregulares
Contrato de sociedade já foi celebrado, mas não foi
registado

1.Sociedade aparente; responsabilidade solidária e ilimitada pelas obrigações contraídas


Os atos praticados pelos sócios antes da celebração do contrato de sociedade têm o seu regime
previsto no 36º, e pretende-se saber, designadamente, o que é que sucede em caso de
incumprimento, i.e, pressupõe-se que já exista a ideia de vir a constituir a sociedade e que,
tendo em conta essa finalidade e em noma dessa ideia, venham a ser realizados negócios
jurídicos, mas que depois, por alguma razão, ou esses atos não sejam assumidos ou a sociedade
acabe por não se constituir.

✔ Segundo o regime estabelecido no 36º,1, a prática desses atos acarreta a


responsabilidade solidária e ilimitada dos respetivos autores, quer dizer, ainda que estes
atuem ao abrigo da invocação de uma firma comum, ou alegando qualquer outro facto,
que dê lugar a uma aparência de sociedade, eles vão ter de assumir responsabilidade
pelas obrigações contraídas, antes da celebração do contrato de sociedade.
2.Início da atividade social antes da celebração do contrato de sociedade; excussão
prévia do “património social”
Se a situação não corresponder a uma mera ideia, uma pura hipótese (ainda teórica), se a
ideia já tiver germinado, já estiver alicerçada e se efetivamente já estiver acordada a
constituição da sociedade, existindo um consenso nesse sentido, mas por alguma razão
ainda não tiver sido formalizada a celebração do contrato de sociedade e os sócios, não
obstante, pretenderem dar logo início a essa mesma atividade, então, no que respeita aos
efeitos dos negócios resultantes ou praticados no âmbito das relações estabelecidas entre
eles e terceiros, devem aplicar-se as disposições criadas para as sociedades civis (997º,1 e 2
ex vi do 36º,2 CSC).

✔ Se já existirem bens concentrados ou reunidos para virem a dar satisfação a essa


atividade comercial, os “alegados sócios” beneficiarão da excussão prévia desse mesmo
património. Ou seja, de um património que eles já tinham afeto a determinada
finalidade e que, por isso, é autónomo. Depois de excutido esse património, os sócios
respondem pessoal e solidariamente pelas dívidas remanescentes.
3.Atos praticados em nome da sociedade antes do registo definitivo do contrato de
sociedade, mas após a sua celebração

Benedita Simão Leal


Estas vicissitudes, que ocorrem em situações em que o contrato social não seja nulo, são
relativas a atos praticados em nome da sociedade antes do registo definitivo do respetivo
contrato, mas (sempre) posteriormente à celebração do mesmo.
Há, relativamente aos efeitos destes atos que distinguir duas situações: uma que respeita apenas
às relações entre os sócios e outra que abrange as relações da sociedade com terceiros.

✔ Relações entre os sócios: 37º dispõe que devemos atender às regras legais e às cláusulas
do contrato.
✔ Relação da sociedade com terceiros: divergência doutrinária no que concerne ao art.40º.
. O que se discute é se esta responsabilidade ilimitada e solidária é subsidiária também,
como acontece por aplicação do disposto no 36º, ou se essa responsabilidade é
concorrente:
o Responsabilidade ilimitada e solidária dos sócios envolvidos: a primeira ideia
que resulta do 40º,1 é a de que haverá uma responsabilidade ilimitada e
solidária de todos os que atuam em representação da sociedade e dos sócios que
autorizam esses negócios.
o AO faz uma interpretação por maioria de razão, considerando que se mesmo
quando não há escritura pública (leia, contrato de sociedade), há uma
responsabilidade subsidiária por parte daqueles que realizaram determinados
atos, por maioria de razão, se já foi realizada uma escritura pública, i.e,
celebrado o contrato de sociedade, se já estamos perto do momento culminante
da constituição da sociedade, que é o registo, então também se justificaria que
fosse o património autónomo, constituído pelas contribuições dos sócios ou
futuros sócios, a responder por esses atos, designadamente perante s credores.

Assunção pela sociedade de negócios jurídicos celebrados antes do registo


Até que ponto é admissível atribuir atos à sociedade. Há que averiguar que providências
deveriam ter sido adotadas para que os atos que foram praticados antes do registo, portanto
antes de existir a figura jurídica societária, sejam assumidos por esta.
A resposta encontra-se no art.16º, segundo o qual todos os custos que a sociedade irá assumir
relativamente a serviços que lhe tenham sido prestados pelos sócios antes do respetivo registo, e
que sejam conexos com a sua constituição, devem ser claramente previstos no contrato, sob
pena de não poderem ser imputados à sociedade.
A segunda disposição especialmente relevante nesta matéria é o art.19º, que enumera uma série
de atos que a sociedade assume, especialmente com o registo do contrato, à cabeça dos quais
surgem todos aqueles que tiverem sido previstos no próprio contrato.
19º,2: outros atos que tenham sido praticados em nome da sociedade, e que não tenham sido
especificamente autorizados, poder ser comunicados e assunção pela sociedade dos mesmos vai
exonerar da eventual responsabilidade aqueles que os praticaram e que por eles mesmos eram
responsáveis nos termos do art.40º.
19º,4: a sociedade não pode assumir obrigações derivadas de negócios jurídicos não
mencionados no contrato social que versem sobre vantagens especiais, despesas de constituição,
entradas em espécie ou aquisição de bens.
A sociedade deve, com o maior cuidado, prever os negócios que pretendendo autorizar.

Benedita Simão Leal


36º e 40º só se aplicam quando o contrato não esteja registado. Se a dívida for exigida
antes desse ato. Se for exigida após o registo aplica-se o 19º. O que releva é o momento em
que a dívida é exigida.

O capital social
Capital social e património societário
Os meios financeiros que constituem o património inicial da empresa e que resultam da soma de
todas as participações sociais correspondem ao capital social.
Cifra numérica de valor constante, em dinheiro, expressa em euros, na fase do arranque tende a
ser equivalente ao respetivo património, mesmo enquanto os sócios não realizem integralmente
as suas entradas (capital subscrito).

✔ Definição de capital social: cifra numérica de valor constante, em dinheiro, expressa em


euros (moeda com curso legal em Portugal- 14º), correspondente ao património de
constituição da empresa, i.e, à soma de todas as participações dos sócios.
O capital social tem importância fundacional, porque tem de constar obrigatoriamente do
contrato de sociedade e importância funcional, determinando internamente a posição dos sócios,
em razão do montante das suas participações e representando externamente a garantia dos
credores sociais, na medida em que só poderão ser distribuídas aos sócios quantias a título de
lucros, se o património líquido da sociedade exceder o montante do capital social (acrescido das
reservas) = intangibilidade do capital social.
Contabilisticamente o capital social figura no passivo, com base no princípio da intangibilidade,
assegurando desse modo, que no ativo existam bens em valor superior, para que possa ocorrer
uma distribuição lícita aos sócios. Só a inscrição no passivo evita que o valor correspondente
seja entregue aos sócios, como se de lucros realizados se tratasse.

Património social
O património social é, em sentido amplo, o conjunto de direitos e vinculações da sociedade
suscetíveis de avaliação pecuniária.

✔ O património líquido é a diferença aritmética entre os créditos (ativo) e as dívidas


(passivo) sociais.
Capital social como garantia dos credores

Benedita Simão Leal


Quando a sociedade se constitui os respetivos sócios contribuem com bens, em dinheiro ou em
espécie, à custa dos quais ela irá desenvolver a sua atividade. E, como tal, a sociedade irá no
momento fundacional gastar uma parte desses bens na sua inserção no mercado e entrada em
funcionamento, o que significa que se vier a ter dificuldades a curto prazo os terceiros não
encontram no seu ativo um montante correspondente ou aproximado ao do capital social.
Nesta aceção o capital não garante em nada os credores sociais, antes os podendo ter
iludido. A garantia dos mesmos encontra-se no património social.
Em que sentido é que o capital social constitui a garantia dos credores? Cientes de que os
sócios só podem obter bens da sociedade por distribuição (ainda que antecipada) de lucros
(distribuíveis), credores satisfazem-se em saber que os sócios não podem retirar ilicitamente
bens da sociedade enquanto o ativo desta não superar a soma do capital social e das reservas
legais (indisponíveis) e, nessa medida, o montante do capital social garante-lhes que não
pode haver distribuição de bens que ponha em causa esse valor.

Aumento do capital social


O aumento de capital é a operação que as sociedades realizam quando já não dispõem de
capitais próprios suficientes para prosseguir a atividade, em termos adequados, ou se encontram
em situação económica difícil para o fazer com capitais de que dispõem.
Pode suceder também que esteja em causa, simplesmente, o aumento da dimensão da sociedade.
POC: trata-se de uma operação normal de uma SC que permite dotá-la de novos meios ou de
uma capacidade económica acrescida, redimensionando-a, de modo estável, e que, pela sua
importância, não deveria estar dependente de um consenso tão elevado que, por vezes,
transfere a sorte de uma sociedade para as mãos de uma minoria de sócios, cujos votos
desfavoráveis são suficientes para impedir a aprovação de um aumento de capital necessário à
viabilização da sociedade.
O aumento do capital implica, formalmente, a substituição da cifra do capital por um número de
montante superior e, substancialmente, uma maior responsabilidade da sociedade perante
terceiros e o acréscimo de meios para prosseguir a sua atividade, reforçando a sua solidez e
conferindo estabilidade aos bens que permite reunir e acrescentar aos capitais próprios da
sociedade.
Modalidades

1. Aumento por novas entradas (em dinheiro ou espécie): é aquela que proporciona
verdadeiramente novos meios à sociedade, dotando-a de capitais de que, até então, não
dispunha.
a. Entradas em dinheiro: se a sociedade deliberar que o aumento seja total e
imediatamente realizado, o dinheiro correspondente terá de ser-lhe entregue na
própria data da deliberação- devendo esse facto ficar a constar de ata- ou nos
prazos e condições estabelecidas (88º). Deliberado o aumento de capital, a
administração da sociedade não poderá declarar- na respetiva execução, no
registo- que o mesmo se encontra realizado (88º,2). Aplica-se o disposto quanto
a entradas da mesma natureza na constituição da sociedade (89º,1). No aumento
é também possível diferir parte das entradas (70%) nas SA (277º,2) e a quase
totalidade nas SPQ (88º,1 e 199º,b).
b. Entradas em espécie: à operação de aumento do capital por entradas em
espécie também se aplica o disposto para a constituição da sociedade (89º,1 e

Benedita Simão Leal


26º,1 e 3 a contrario), pelo que tais entradas devem ser totalmente efetuadas
antes de se encontrar concluída a deliberação de aumento do capital ou de ser
emitida a declaração de que as mesmas se encontram realizadas. No que se
refere à verificação do valor das entradas, cabe a respetiva avaliação a um ROC
independente (89º e 28º).
2. Incorporação de reservas: o aumento de capital pode ocorrer por absorção no capital
de reservas existentes disponíveis para o efeito (91º,1). Esta modalidade de aumento
traduz-se na utilização de meios de que a sociedade já dispõe e que, pela sua
incorporação no capital, adquirem estabilidade, elevando a medida da sua
responsabilidade e tornando mais exigentes os respetivos resultados para que ela possa
proceder à distribuição lícita e legítima de bens.
a. o aumento por incorporação de reservas pode ser feito à custa de reservas legais
(obrigatórias ou especiais), de reservas estatutárias e de reservas livres
existentes, a deliberação deve mencionar quais as reservas a incorporar
(91º,4,c).
b. o aumento por incorporação de reservas não carece de subscrição para se
efetivar, visto que corresponde a uma distribuição interna de bens aos sócios.
Direito de preferência na subscrição de novas participações
Os sócios e os acionistas têm direito de preferência na subscrição dos aumentos do capital por
entradas em dinheiro, relativamente a terceiros, e a exercer proporcionalmente (266º e 458º).
Este direito é limitado aos aumentos do capital social por entradas em dinheiro por não poder
ser aplicável aos aumentos em espécie, nos quais a proporcionalidade é, por definição,
impossível, salvo se os aumentos se efetuarem exclusivamente em bens fungíveis.

Procedimento
SPQ:
1. Só pode haver aumento de capital por aprovação de ¾ (75º%) dos sócios- 265º;
SA:
1. (383º,2 e 386º,3): na primeira convocatória delibera-se aumento do capital;
2. Requer-se um quórum constitutivo (Nr. de sócios ou de % do capital social necessário
para que a AG possa funcionar) = 1/3 do capital social (33%);
3. Requer-se um quórum deliberativo (maioria para que seja aprovado = 2/3 dos sócios
devem deliberar positivamente para que o aumento seja aprovado.
4. Na segunda convocatória (383º,3 e 386º,3), não se requer quórum constitutivo, sendo a
deliberação do aumento aprovada por 2/3 (22%) dos votos.

Direito aos Lucros


Direito aos lucros do exercício e aos lucros finais
O direito aos lucros é o primeiro direito enunciado pela lei (21º,1,a) “todo o sócio tem direito a
quinhoar nos lucros”.
Este direito corresponde a uma expectativa subjacente à constituição da sociedade comercial, se
esta não for totalmente instrumental de outra sociedade.

Benedita Simão Leal


O código não resolveu de forma imediata a questão de saber a que tipos de lucros se reporta o
direito social consagrado no 21º,1,a. Fê-lo, porém, indiretamente, ao consagrar regras supletivas
sobre distribuição de lucros nos artigos 217º e 294º.

✔ 22º,1- se o contrato for omisso cada sócio participará proporcionalmente ao valor da


respetiva participação social.
Conceito de lucro
O lucro é o benefício da atividade social resultante das contas; é a diferença positiva entre as
receitas geradas num certo exercício e as despesas e custos suportados em igual período.
A verificação da existência de lucro reporta-se à variação positiva registada nas contas da
sociedade com referência a uma determinada data.
Lucro de exercício e lucro distribuível

✔ Lucro de exercício: é o acréscimo patrimonial ou diferença positiva que se verifica


entre o início do exercício social e o respetivo encerramento, no que se refere ao
balanço entre as receitas e os custos e despesas registadas.
o Nem todos os lucros de exercício, pressupondo que o resultado do mesmo é
positivo, são distribuíveis.
1. Antes de mais há que cobrir prejuízos transitados caso os mesmos existam.
2. Em paralelo, há que afetar um mínimo de 5% do resultado do exercício à
constituição ou reforço da reserva legal, até que a mesma perfaça, pelo
menos, um 1/5 do capital social.
✔ Lucros distribuíveis: Só depois de afetarmos parte dos lucros do exercício a reservas
legais e estatutárias, se existentes, e à cobertura de prejuízos transitados, estamos em
condições de apurar os lucros distribuíveis. Estes correspondem aos resultados positivos
da sociedade da sociedade que, não tendo sido afetos à constituição ou reforço de
reserva legal ou estatutária, nem à cobertura de prejuízos transitados, podem ser
distribuídos aos sócios sem ser à custa do respetivo capital social e reservas legais
constituídas.
Direitos aos lucros de exercício e direito ao dividendo mínimo, distribuição necessária e
limitações convencionais
Todos os sócios têm direito a participar nos lucros (21º,1,a e 22º,1).
O CSC não estabelece regras imperativas sobre a distribuição de lucros, limitando-se a avançar
soluções supletivos (217º,1 e 294º,1).
Essas disposições legais conferem, supletivamente, aos sócios o direito de receber, pelo menos,
metade do lucro do exercício distribuível, salve se, em AG, convocada para o efeito, for tomada
deliberação, por maioria de ¾ dos votos correspondentes ao capital social, que consista na
redução pontual do quantitativo percentual mínimo a distribuir ou conclua pela não distribuição,
não obstante existirem lucros do exercício distribuíveis.
O 217º,1 e 294º,1 preveem ainda a possibilidade de a regra legal enunciada ser afastada por
diferente cláusula contratual.
POC: não tem sentido equacionar uma participação societária a que não corresponda, com a
regularidade possível, a distribuição de rendimentos entretanto gerados.

Benedita Simão Leal


A solução que o CSC acolheu, a título supletivo, harmoniza todos os interesses envolvidos: o
interesse dos sócios em receber periodicamente uma remuneração, ainda que irregular, do
capital que investiram e o interesse social, de a maioria do capital poder anualmente reservar
para reforço dos capitais próprios da sociedade metade dos resultados e, pontualmente, sempre
que tal se justificar, mas mediante um amplo consenso (3/4), poder a sociedade decidir não
distribuir lucros do exercício.

✔ POC: o disposto nas regras legais supletivas não pode deixar de corresponder ao
mínimo legalmente admissível, não podendo o contrato de sociedade, através de uma
cláusula aberta, reduzir os lucros distribuíveis ou admitir que a atribuição anual deste
fique aquém desse mínimo, porquanto a distribuição de lucros realiza a essência da
participação social.
o A lei garante aos sócios a participação num mínimo de metade dos lucros do
exercício distribuíveis. Esse direito só pode ser pontualmente restringido se os
sócios deliberarem diversamente por maioria qualificada (formada, pelo
menos, por ¾ dos votos correspondentes ao capital social) e desde que tal
deliberação não seja abusiva. V.g: se tiver por finalidade essencialmente
prejudicar os sócios minoritários que aguardavam a prevista distribuição
de lucros, sendo nula (58º,1,b).
o as normas supletivas sobre distribuição de lucros (217º, 1 e 294º,1) são
imperativas no que respeita ao mínimo a distribuir, i.e, apresentam um
conteúdo mínimo imperativo.
o Professor entende não ser admissível, por violar o interesse social, agravar
contratualmente a maioria qualificada de ¾ dos votos correspondentes ao
capital social, fixando-a em 4/5 ou até na unanimidade, para derrogar
pontualmente o direito aos lucros do exercício.

Proibição de pacto leonino


22º,3- não é possível clausular a exclusão de um ou mais dos sócios dos lucros da sociedade.
Esta regra é imperativa e deve ser objeto de uma interpretação extensiva, no sentido de que
também não é possível reduzir o direito aos lucros de tal maneira, que na prática tudo se
reconduza à primeira situação.

Limite legal da distribuição de bens aos sócios e lucros e reservas não disponíveis
Duas disposições fundamentais:
1. 32º- estabelece o limite legal de distribuição de bens aos sócios: o art. 32º tem em conta,
e visa acautelar, não só as reservas legais, mas eventualmente as reservas estatutárias.
Acresce que este artigo é o fundamento legal do princípio de que o capital social
constitui a garantia dos credores, no sentido de que só quando existem bens em valor
superior à soma do capital, das reservas legais é que poderá haver distribuição legítima
desses bens.
2. 33º- refere-se aos bens que não são distribuíveis aos sócios:
a. Segundo o nr.1 não podem ser distribuídos aos sócios lucros do exercício que
sejam necessários para cobrir prejuízos transitados ou para formar ou
reconstituir reservas impostas pela lei ou pelo contrato de sociedade. Os

Benedita Simão Leal


resultados positivos do exercício não são distribuíveis enquanto existirem
prejuízos de exercício anteriores por cobrir ou reservas para constituir.
b. No nr.2 consta uma regra específica que impede a distribuição de lucros
enquanto não se encontrarem amortizados ou asseguradas as despesas de
constituição e de investigação e de desenvolvimento.
c. O nr.3 impede a distribuição das designadas reservas ocultas;
d. O nr.4 determina que as reservas que eventualmente forem entregues aos sócios
devem ser explicitadas.
295º e 296º são aplicáveis às SPQ por remissão expressa do disposto no 218º.

Momento em que se vence o crédito do sócio


Não basta haver uma deliberação para que o sócio/acionista possa exigir que lhe seja satisfeito o
seu crédito; tomada uma deliberação de distribuição, é preciso saber quando é que se vence o
crédito, quando é que o sócio tem direito a exigi-lo.
217º,2 e 294º- o crédito vence-se no prazo de 30 dias sobre a deliberação. O coletivo dos sócios
pode deliberar prorrogar esse prazo por mais 60 dias.

Adiantamentos sobre lucros


Será possível admitir a antecipação aos sócios e aos acionistas de parte dos lucros que muito
provavelmente a sociedade irá obter no final do exercício?
Está em causa concluir sobre a possibilidade de distribuição de lucros do exercício durante o
próprio exercício a que se reportam e, desse modo, antecipadamente em relação à data em que a
sociedade o faz habitualmente, a propósito da aprovação das contas e balanço do exercício a que
os resultados apurados respeitam.
SA: 297º
SPQ: POC não é possível, porque o art. 297º é uma exceção à regra (31º). A distribuição de
resultados no decurso do próprio exercício a que respeitam, não tem de ser deliberada pelos
sócios, sendo determinada pela administração, uma vez obtido o consenso do órgão de
fiscalização.

Benedita Simão Leal

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