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AULA 16/02
Sociedade Comercial VS Consórcio -> o Consórcio é um contrato, não gera nenhuma pessoa
coletiva, nenhuma personalidade jurídica e a partir daí é tudo diferente.
Sociedade Comercial VS Agrupamento Europeu -> O número de membros é igual, mas os
membros têm que ser de estados diferentes. A sociedade visa a obtenção de lucro, já o
agrupamento europeu não. Se resultarem dividas no agrupamento quem responde pelas
dividas são os membros. Nas sociedades comerciais o principio é outro. Tenho os sócios e
tenho a sociedade, quem responde pelas dividas da sociedade primeiramente é o próprio
património da pessoa coletiva. Se não existir património suficiente, vai se subsidiariamente
aos sócios ficando estes responsáveis por essas dividas da sociedade, mas depende do tipo
de sociedade em si, pois a responsabilidade por dividas está sempre em causa. Sendo que
aqui responde se na qualidade de sócio. Em função do tipo os sócios responderam, não
responderam ou só uns é que reponderam e não todos os sócios.
TIPOS DE SOCIEDADES:
Art. 175º enuncia os tipos onde as primeiras a ser apresentadas são em nome coletivo, cada
tipo de sociedade tem regras específicas para compor a sua firma. A firma da sociedade ou
individualiza todos os sócios, ou não.
Numa Sociedade em Nome Coletivo os sócios respondem pelas obrigações sociais, pelas
dividas da sociedade, subsidiariamente. Se a sociedade não tiver património, respondem
solidariamente com os outros sócios, caracteriza-se por um modelo de responsabilidade
ilimitada. São sociedades que envolvem duas ou mais pessoas (exceção 7,Nº2). Neste tipo de
sociedade é permitido a entrada através de industria, isto é, os sócios podem contribuir com
industria (=trabalho) e não com capital – sócios de industria.
A seguir temos a Sociedade por Quotas em que se identifica pela firma, é a mais comum em
Portugal (200º). Sendo por quotas os sócios respondem limitadamente, não respondem pela
divida da sociedade. Os sócios só pagam se quiserem, se a sociedade não tiver património
sequer, o credor fica a "arder".
Não é possível a entrada de sócios por industria. O prof não percebe o porquê porque uma
pessoa pode entrar numa sociedade com o capital de 1€, mas a verdade é que o tipo não
permite mas na prática é quase como se fosse através das prestações acessórias – acessórias
relativamente à prestação principal (entrada com dinheiro ou bens suscetíveis de penhora).
Todos os sócios tem que realizar entradas (7º e ss) - é uma obrigação fundamental. Não há
entradas de industria mas há um mecanismo que supre esta proibição que é através das
prestações acessórias - prestar diversos serviços à sociedade.
202º, Nº1 - não são permitidas contribuições de industria.
E o socio deixar de prestar prestações acessória o que acontece? Isto tem consequências que
estarão estabelecidas no contrato, não mete em causa a sua posição de sócio.,
O modelo seguinte é a Sociedade Anonima (275º). O capital é dividido em ações e casa sócio
é limitado ás ações que subscreveu (271º). Neste tipo de sociedades é impensável haver
industria (277º).
As Sociedades em Comandita têm uma razão de ser pois aqui uns sócios respondem e outros
não, a ideia é reunir dois tipos de sócios diferentes (465º). Uma das funções de um sócio é
necessariamente a do conhecimento e a outra de investimento. Existem sócios comanditários
e sócios comanditados. O sócio comanditário é o que tem o dinheiro, o comanda-to tem o
conhecimento. Quem responde pelas dividas é o sujeito que tinha o conhecimento pois foi o
mesmo que desenvolveu o negócio, sendo que o que investiu já correu o risco previamente e
por isso mesmo não vai responder. Neste modelo temos sócios que respondem e outros que
não. Esta sociedade pode ser constituída por dois tipos de formas, ou por sociedade
comandita simples, ou por ações. O socio comanditado, tem que ter o nome da firma, se for o
comanditário recorremos ao nº 3, 467º e a responsabilidade será dele.
Na Sociedade Unipessoal por Quotas o sócio não responde por quotas. Identifica-se esta
sociedade pela firma terminando sempre em "Unipessoal". Uma pessoa singular só pode ser
socio de uma sociedade por quotas unipessoal.
AULA 23/02
A sociedade só adquire personalidade jurídica com o registo. Isto não significa que a sociedade
não inicie o exercício da sua atividade antes do registo do contrato – 36º.
AULA 27/02
Responsabilidade dos membros dos órgãos (de administração e fiscalização) – para além do
64º (deveres fundamentais) temos o 72º que se refere às situações em que a Sociedade pode
responsabilizar membros da administração e fiscalização. Se temos uma questão de má gestão
da sociedade, quando um membro viola deveres do qual resultam prejuízos ele pode ser
responsabilizado (obrigacional – Nº1, 72º - presunção de culpa). É um caso de
responsabilidade perante a sociedade, a sociedade pode agir através de uma ação de ut
universi que é uma ação da própria sociedade. Existe também a ação ut singuli mas esta ação,
prevista no 77º, é intentada por sócios contra os membros do órgão por danos causados à
sociedade e não a eles próprios.
Coisa diferente é saber se os sócios podem enquanto sócios por danos que estes sofram
responsabilizar os membros dos órgãos pela sua má gestão – 78º e ss – responsabilidade
aquiliana. Aqui já não funciona a presunção de culpa do 72º.
O capital social é apenas uma expressão numérica, representa uma certa realidade. Que
realidade é esta? É número representa a soma das entradas dos sócios.
Património - não tem nada haver com o conceito de capital apesar de às vezes puder coincidir.
Pode ser visto numa tripla perspetiva:
Bruto - esfera patrimonial, conjunto de direitos e deveres de que a sociedade é titular
(património global = ativo + passivo);
Ilíquido - é só o lado ativo, soma apenas os créditos (de todos os direitos de que a sociedade é
titular);
!!!!!! Liquido - valor que é apurado pela subtração do passivo ao ativo.
O que não é possível é dizer que o A tem 50%, o B 0% e o C 50%. Ao dizermos que o B tem 0%
estamos a incumprir um direito geral de qualquer sócio, porque todos os sócios têm que ter
lucro. Logo, é nula qualquer cláusula que exclua um sócio de obter lucro- PACTO LEONINO. O
princípio é de que o direito aos lucros existe (21º), é um direito geral porque é inerente a
qualquer sócio.
A partir do momento em que a s é pessoa jurídica não deixa de ser importante o que consta do
contrato da sociedade. Pelo 198º há a demonstração da importância do contrato, do prisma
obrigacional, mesmo depois da aquisição da personalidade jurídica por parte da sociedade.
Esta responsabilidade é construída, por exemplo, pode ser solidária como subsidiária. Isto
demonstra a relação entre o substrato obrigacional e organizacional.
Fusão de Sociedades – vamos supor que temos duas sociedade a A e B e estas deliberam nos
termos do 197º e ss fundir-se numa só. A sociedade A absorve a B. Pode haver sócios da B que
estejam contra. Isto pode impedir a fusão? Não, a menos que o contrato da sociedade assim o
preveja. O socio da sociedade B que passa a ser da A pode sair da sociedade/ exonerar-se pela
circunstância de ter votado contra? 155º - pode se o contrato o prever.
Direitos e Deveres dos Sócios – 20º - o socio tem que entrar para a sociedade com bens
suscetíveis de penhora ( o prof acha que se deve interpretar como bens que sejam passiveis
de avaliação económica, a entrada pode consistir neste tipo de bens). Estes bens entram para
o património da sociedade (ex: alguém entra com um prédio, o prédio passa a ser da
sociedade). Para os credores o que interessa é o património da sociedade e não o capital
social. O capital social é uma cifra numérica – 35º relação entre património e o capital social.
30º - admite que as entradas dos sócios possam ser feitas mais tarde. No entanto, a regra é a
al.a.
ELEMENTOS
A génese da sociedade é normalmente um contrato que é estabelecido pelos sócios. Ao
olharmos para o 980º CC existe um elemento pessoal "duas ou mais pessoas", um elemento
organizacional "exercício em comum de uma certa atividade".
1º CSC relaciona-se com a noção 980º - temos que considerar esta noção mas não totalmente
porque sabemos que apesar de por regra a sociedade ser constituída por contrato não tem
que ser assim. Além disto este artigo não está diretamente preocupado com a instituição da
sociedade mas sim com o contrato. Quando este artigo diz que os sócios devem exercer uma
atividade económica em comum com o objetivo de dividir o lucro – temos que interpretar o
lucro em sentido amplo.
Elemento Formal – é a tipicidade, isto é, as sociedades tem que adotar um dos tipos do art.1º.
Não é possível recorrer analogia para criar tipos. O que não significa que dentro de cada tipo
não possa haver uma margem de liberdade (principio da autonomia da vontade) em cada tipo
temos que descobrir qual é a margem. O tipo em que a margem é maior é o tipo de Sociedade
em Nome coletivo o topo em que a margem menor é a Sociedade por Quotas. A sociedades
para serem comerciais têm que praticar atos de comércio.
Ao falarmos em firmas temos que ter sempre em conta o Diploma do Registo Nacional das
Pessoas Coletivas.
Elemento pessoal – 7º, nº2 o números de parte das sociedade é de 2, a matriz é plural,
excecionadas as situações em que a sociedade pode ser constituída apenas por uma pessoa
(270º-A).
Nº3, 7º - temos uma quota contitularidade de A e B estes contam apenas como uma só parte.
Até na gestão da sociedades isto é importante para saber quem é que vota nas AG.
Desmatrização da questão das Sociedades Unipessoais – o primeiro autor que defendeu este
tipo de sociedades foi o Ferra Correia.
8º - Regime em que se faz articulação entre o direito das sociedade e o direito da família. É
permitida a criação de sociedades entre cônjuges, bem como a participação destes em
sociedades desde que só um deles assuma a responsabilidade ilimitada.
E se uma sociedade adquire a totalidade das ações de outra sociedade – podemos ter o
fenómeno de ações próprias (220º). Continua-se a ter uma sociedade? É possível ter uma
sociedade sem sócios? Há quem fale em sociedade de ninguém. No entanto, o código não
prevê esta situação.
Paulo Alvo Cunhas – não admite sociedades sem pessoas devendo os sócios conservar
pelo menos uma quota ainda que seja irrisória (1€);
Coutinho de Abreu (opinião do prof) – não é possível, aplica-se o 141º, al.a, isto é, é
preciso refazer a pluralidade sob pena de dissolução.
Em matéria de sociedades temos dentro das normas estruturais o artigo 20º que nos diz que
todo o socio é obrigado a entrar para a sociedade com bens suscetíveis de penhora ou nos
tipos de sociedade em que isso seja permitido com industria. Isto é uma obrigação que o socio
tem, entrar para a sociedade com bens suscetíveis de penhora.
O artigo 30º prevê a substituição dos credores e exigir as entrada dos sócios.
A lei admite o deferimento das entradas mas de forma controlada (26º). No entanto, não é
possível nas entradas em espécie.
AULA 06/03
PJ das Sociedades Civis – 995º, Nº2CC – a cessão de quotas está sujeita à forma de
transmissão de bens da sociedade. Só pode ter bens quem é pessoa. 997ºCC – pelas dividas
sociais responde a sociedade e os sócios. Encontramos no CC elementos que permitem
sustentar a ideia de PJ nas Sociedades Civis. 980º - ideia de contrato de sociedade.
Menezes Cordeiro – acha excessivo converter as referencias destes artigos aos sócios,
ou seja, é excessivo pensar que quando o CC opta por se referir sociedade se está a
referir aos sócios.
Existem casos especiais, como as Sociedades de advogados que têm um regime próprio.
Sociedades Civis sem PJ – podemos enquadrá-las nas pessoas jurídicas rudimentares (têm
personalidade judiciaria sem ter personalidade jurídica). Existe alguma personalidade mas não
plena.
O que acontece quando temos PJ? Temos um sujeito novo, um ente novo em termos plenos
(sujeito de direitos e deveres) o que não acontece antes do registo.
A partir do momento em que temos uma Sociedade Comercial com PJP quem responde pelo
cumprimento das obrigações respetivas é a sociedade. Não responsabilizar nas sociedade de
capitais os sócios permite às pessoas/ empreendedores controlar o risco das suas atividades e
não empenhar todo o seu património numa determinada atividade.
198º - pelas dividas da sociedade só responde a sociedade, mas é possível clausular que os
sócios possam responder.
É neste quadro que se levanta o tema de saber até que ponto é que é legitimo/ licito que os
sujeitos criem Sociedade Responsabilidade Limitada (só a sociedade é que responde) para
desenvolver certa atividade – Desconsideração da personalidade (Oliveira Ascensão) – saber
se com a limitação da responsabilidade do património da sociedade possa haver um
levantamento da personalidade jurídica (Menezes Cordeiro) de forma afetar os sócios. Por
dividas da sociedade, não obstante de a partida os sócios não puderem ser responsabilizados,
saber se em algumas situações especiais os sócios podem responsabilizados.
No C.Com não temos nenhuma norma sobre este tema que permite referir que a
desconsideração seja possível. Mas existem algumas normas que preveem:
84º - se tivermos uma Sociedade que fica reduzida a único socio e essa Sociedade for
considerada como insolvente. Pergunta-se é possível responsabilizar o socio pelas dividas da
sociedade? A partida dizemos que não porque uma coisa é a sociedade (197º) e outro os
sócios. Mas este artigo 84º permite que verificado estes requisitos o sócio único é responsável
pelas obrigações sociais. Mas isto é uma situação especial.
501º - a sociedade diretora é responsável pelas obrações pela sociedade subordinada.
Sociedade A é mãe da sociedade B (tem 100% do capital da B). Pelo 501º a mãe responde
pelas obrigações de B, mas B não tem PJ? Tem. O 501º permite que os credores responsabilize
apenas a mãe.
AULA 09/03
TEORIAS EXPLICATIVAS DA DESCONSIDERAÇÃO - Como se explica que alguém que entra para
uma sociedade por quotas lua bobina e nesse quadro não pode ser responsabilizado pelas
dívidas sociais como se explica que o possa vir a ser?
SUBJECTIVA - diz que a personalidade e autonomia da PC deve ser afastada quando há
um abuso da sua forma com fins não permitidos. Quando alguém utiliza aquela forma
jurídica é aquela figura para um fim não permitido. Tem de existir abuso consciente.
Foi colocada em causa porque apareceu uma teoria objetiva.
OBJETIVA - nascem em reação à teoria subjetiva, aplica se independente da
consciência.
ESCOPO DAS NORMAS- aposta na questão da alocação das normas jurídicas em função do seu
escopo tenham pretensão de aplicação absoluta ou visem atingir a realidade subjacente
aplicar se já a teoria da desconsideração.
A sociedades podem fazer tudo menos o proibido por lei ou incompatível com a sua natureza –
Menezes Cordeiro. Podem praticar todos os direitos e obrigações salvo exceções.
Mas a maioria da doutrina, sem prejuízo de reconhecer que o art.6º tem sido interpretado de
maneira algo suave, sem o absolutismo dom quem já foi interpretado, a doutrina clássica mais
recente e entende que este 6º consagra este princípio mas interpreta em função do fim da
sociedade.
Qual o fim? Volta-se à questão relativamente à qual não demos uma resposta clara. Se nós
deixarmos e entenderia que o conceito da sociedade comercial é o do 980º então visam
necessariamente o lucro.
Mas há situações que são sociedades em que a questão do lucro é colocado em segundo plano
e em primeiro está a atividade económica.
A tendência – o Prof entende que existe um princípio da especialidade deve ser interpretado
agilmente no sentido de interpretar o fim da sociedade os atos que sejam contrários à este as
funções típicas são de fim lucrativo mas admite se que nem todas são assim.
ATOS GRATUITOS (6º Nº2) - Menezes Cordeiro entende que a sociedade pode fazer as
liberalidade que quiserem.
Prof acha que são só aquelas que são compatíveis. Uma sociedade que tem uma vida própria e
uma autonomia, tudo isto justifica a proibição do Nº2 de que se são contrários ao fim - a
sociedade não tem capacidade.
Consequência: esses atos são válidos simplesmente é possível responsabilizar os membros dos
ordens.
Art. 6º - vai mais ao encontro da razão de ser das sociedades que são entes jurídicos novos
mas perseguem determinados objetivos.
GARANTIAS – sócio gerente pede empréstimo para habitação pessoal, pode colocar uma
hipoteca da sede da sociedade como garantia?
Nº3 - se estivermos perante domínio de grupo justifica-se.
Logo a garantia é nula a menos que haja justificado interesse da sociedade e em razão desta –
quem tem o ónus de demonstrar é quem? O credor? O ónus da prova é discutida mas o prof
pensa que seja a própria sociedade que tem que demonstrar perante a alegação que
determinada garantia constituída por ela que aquela não é nula. Faz pleno sentido é
justificável.
EX: sociedade presta garantia em forma de hipoteca da sede da sociedade os outros credores
não vão apreciar este gesto e serão tentados em colocar em causa a validade de tal. Se não for
é nula. Quem tem interesse em provar é a sociedade.
A sociedade é uma pessoa, mas por não ser física e para poder atuar no dia a dia tem de estar
representada pelos seus órgãos, e neste caso por um órgão específico – a sociedade tem
fundamentalmente 2 órgãos: órgão deliberativo (Assembleia Geral) e depois temos a Gerência
ou Administração.
Quem constitui a sociedade? Os seus sócios. Quem decide qual o objeto, o conjunto de
atividade, que a sociedade vai praticar? Os sócios. E decidem onde? No contrato. Então, os
sócios no contrato vão estabelecer qual é o objeto da sociedade. O objeto da sociedade são as
atividades que os sócios propõem que a sociedade pratique.
Agora a questão é, quem gere a sociedade no dia a dia? O órgão administrativo, o gerente,
que é escolhido pelos sócios. Quem pode ser gerente de uma sociedade? Qualquer pessoa
física, não tem de ser necessariamente um sócio. Então, quem decide qual o objeto da
sociedade são os sócios mas quem atua diariamente é o gerente.
A capacidade da sociedade não se encontra delimitada pelo objeto da mesma. Temos que ver
se a sociedade tem ou não capacidade para a prática de certos atos e depois se o gerente tem
ou não legitimidade para vincular a sociedade em certos atos.
A capacidade da sociedade é aferida pelo seu fim único, que é a obtenção de lucro e não pelo
seu objeto.
AULA 13/03
O artigo 501º do CSC, este que redigido em termos de contrato de subordinação, mas que
aplicado na situações de domínio total consagra a responsabilidade da mãe pelas dividas da
filha, a sócia responde pelas dividas da sociedade. Isso é um caso de desconsideração da
personalidade jurídica com base na lei, é a própria lei que desconsidera a personalidade
jurídica da filha e ultrapassa a carapaça da personalidade jurídica responsabilizando a mãe.
Tudo isso impõe que nos suscitemos o tema do levantamento da personalidade jurídica, que
põe à prova os limites da construção da personalidade jurídica
Suponhamos uma Sociedade mãe a Sociedade filha. Que a mãe responda pelas dividas da filha
já sabemos que acontece por força do 501º. Coutinho de Abreu uma interpretação restritiva
do Nº3 e 6 que só se aplica quando a garantia seja da mãe para a filha e não da filha para a
mãe.
A questão do principio da especialidade é uma questão geral das pessoas coletivas e tem no
quadro do direito das sociedades um relevo muito especial. Quando falamos nos problemas de
interpretação desta matéria normalmente situamos no domínio das sociedades comerciais,
basta fazer uma consulta sumária da jurisprudência para constatarmos isto, na esmagadora
maioria dos casos as duvidas que têm sido colocadas não se centram tanto no Nº2 do artigo 6º
na questão das liberalidades, mas no Nº3 na questão das garantias prestadas por sociedades
comerciais, aqui questionando-se a questão da capacidade na sua articulação com o principio
da especialidade e depois no desenvolvimento desse Nº3 as duvidas que têm sido suscitadas
relativamente à própria interpretação do 6º,Nº3, portanto, havendo aqui questões de ónus da
prova.
Também o 6º, Nº5 é importante acentuar a sua importância porque este sugere um
funcionamento muito civilista da relação entre a sociedade e terceiros no que respeita aos
atos praticados pelos órgãos da sociedade, sugere uma remissão para o 500º do CC, quando
diz que a sociedade responde civilmente pelos atos e omissões de quem legalmente a
representa, nos termos em que os comitentes respondem pelos atos e omissões do
comissário. Este preceito é um preceito que causa estranheza, manifestamente quer no que
respeita à interpretação deste preceito, o 6º,Nº5 parece desconsiderar a diferença
fundamental entre representação voluntária e representação orgânica, quando falamos em
representação voluntária temos aquilo que podemos de designar de alteridade (A e B, um que
é representante e o outro que é representado). No caso da representação orgânica as coisas
não são exatamente assim, na medida em que o representante não está fora do representado,
o representante integra um órgão do representado, a realidade factual/ ontológica é
completamente diferente num caso e noutro daí que o 6/5 não faça muito sentido quando
interpretado à letra, o que podemos dizer é que a sociedade responde relativamente aos atos
praticados pelos seus órgãos nos termos gerais, podemos seguramente em termos de
responsabilidade aquiliana, podemos facilmente pensar e aplicar o artigo 483 CC, aquele que
diz dolo e mera culpa, sendo quer a culpa é da sociedade, a sociedade é uma criação, nunca
ninguém deu um abraço a uma sociedade, são criações, esquemas no sentido positivo, são
estruturas que são criadas em termos jurídicos para atender a determinadas necessidades.
A constituição da sociedade, por regra, é feita por contrato, havendo também Sociedades
constituídas por negocio jurídico unilateral.
Havendo duvidas na interpretação do contrato como é que isto se resolve? Estando presente
um contrato a tentação será aplicar o regime do 236º e ss do CC – naturalmente que este
artigo está pensado para a relação entre declarante de declaratário mas nas Sociedades
podemos ter muitos sócios. Para além disso, na sociedade temos duas logicas: obrigacional e
institucional. Tudo isto nos coloca num quadro bem diferente da situação prevista do 236º em
que temos a declaração de A para B. Por outro lado, uma vez que estamos perante uma
realidade que tem estas duas lógicas quando pensamos em instituição temos que pensar em
3ºs (sócios em relação a sociedade) mas sobretudo os credores.
Este regime não se adequa ao contrato plurilateral. Nesta medida propendesse uma
interpretação objetiva à semelhança do critério do art.9º com as necessárias adaptações para
a integração da lei.
Claro que há situações em que o regime do 236º se revela importante mas são soluções para
situações extra corporativas. Ex: acordos para sociais 17º.
Processo de formação da Sociedade – interessa nos o processo comum que passa por fases
necessárias em que os interessados têm que identificar o objeto, a firma, o capital social, etc.
Temos também fases eventuais dependendo da sociedade.
É necessário:
Contrato escrito entre os sócios – 7º
Publicações obrigatórias – acontece numa fase em que já há sociedade e é importante para a
oponibilidade a terceiros – 168º, nº2
Podem optar por registar a sociedade antes de celebrarem o contrato – 18º.
Situações pré societárias podemos ter varias situações em que se gera uma dinâmica já de
negócios já antes do registo definitivo e por isso que o 36º e ss prevê esta matéria. Diferença
entre:
Nº1 – refere-se a situações de aparência de sociedade, aqui não temos sequer um caso
que seja acordado a constituição de uma sociedade existe apenas uma aparência e por
isso iram responder solidariamente;
Nº2 – se for acordada a constituição de uma sociedade comercial antes da celebração
do contrato de sociedade e os sócios iniciarem a sua atividade são aplicáveis às
relações estabelecidas entre eles e com terceiros as disposições sobre sociedades civis
(responsabilidade).
AULA 16/03
PRESTAÇÕES ACESSÓRIAS – Este termo surge por referência há obrigação principal que é a de
entrada, são acessórias relativamente a esta. A sua base legal está nos artigos 209º e ss e 287º
(SA).
A prepósito das entradas dos sócios já vimos que não é possível entradas de industria mas
também já se foi possível ver que é possível instituir obrigações acessórias de serviços.
O contrato pode importar a todos ou alguns sócios o dever de prestar determinadas coisas
desde que contratado dessa forma.
De qualquer forma são sempre suscetíveis de avaliação pecuniária, podem ser gratuitas ou
onerosas neste quadro.
É a obrigação dos sócios fazerem suprimentos à sociedade, no caso específico de uma certa
situação acontecer, os sócios tem o dever de fazer o suprimento à sociedade em determinados
termos – pode ser alterado superveniente? Pode ser sempre alterado. Tem de existir acordo e
maioria, há previsão geral no 85º e ss mas remete-se aqui para o chamamento das maiorias
necessárias.
86º - só por unanimidade por ser atribuído o efeito retroativo, alterar o c. de sociedade
decidirem atribuir efeito retroativo tem eficácia, mas apenas internamente. Se envolver o
amento das prestações – é ineficaz para os sócios.
Ex: alteração na sociedade por quotas, os sócios realizarem suprimentos. Isto é o que passa a
ser estabelecido, mas um deles vota contra isto significa que ele não fica abrangido por essa
obrigação. Uma coisa é estar no contrato (senão não entraria) no caso se for uma alteração
superveniente esta alteração não vai ser eficaz quanto a esse que votou contra.
Já vimos uma situação onde é possível exonerar, nomeadamente não realizando as entradas –
204º - nestes termos é possível a exclusão do socio.
Porém aqui nas obrigações acessórias isso não acontece, não afeta a situação do sócio como
tal.
Se forem em dinheiro podem vencer juros ou não pois podem ser onerosas ou gratuitas. O
198º é coisa diferente. Aqui os sócios estão obrigados perante a sociedade a prestar
suprimento.
Tem que identificar os sócios obrigados, critérios de repartição e afins. Estas prestações não
vencem juros. São sempre gratuitas.
212º - remete-nos para os artigos 204 e 205º - estes artigos é sobre a realização das entradas.
Ou seja, quanto a este regime, o não cumprimento de tal pode por em causa a qualidade de
sócio bem como acontece na obrigação de entrada, mas não nas acessórias.
Este crédito não é transmissível. Credores não podem sub-rogar-se este ponto.
RESTITUIÇÃO DO CAPITAL (213º) – A ideia é que possam ser exigidas pelos sócios à sociedade,
mas isto tem limites. Passam pela saúde financeira da sociedade, deliberação dos sócios e há
exigência em termos de igualdade dos sócios. Este artigo estabelece também no nº1 o seu
limite.
(VER 265º)
Podem haver este tipo de prestações nas S.A? Não temos nada relativamente as
prestações suplementares nas sociedades anónimas. Nas prestações acessórias sim,
mas nestas não.
Paulo Alves Cunha - Atualmente as ações são não binativas (209º). Uma vez que as ações são
não binativas é possível a prestação suplementar nos termos do artigo 210º.
Menezes Cordeiro – entende que não devem ser admitidos. De acordo com o tipo societário o
sócio só responde pelas ações que subescreve. Faz parte da caracterização do tipo ( 271º), logo
para este é impossibilidade.
PROF – acha que o argumento de Menezes cordeiro não convence muito porque nas
Sociedades por Quotas também respondem em principio apenas pela entrada deles e de
forma subsidiária pelos outros (197º). O prof acha mais produtiva a posição de Paula Alves
Cunha quando admite.
Existe 2 modalidades:
Logo, o sócio empresta dinheiro ou coisa fungível à sociedade e esta fica obrigada e restituir,
1142º – podemos ter dois tipos e situações aqui neste quadro:
AULA 20/03
20º, al.a – todo o socio é obrigado a entrar com bens suscetíveis de penhora. Ninguém pode
ter uma participação social sem entradas. Sendo que 25º e ss admite que o tempo das
entradas seja diferido.
295º, Nº3 – Pode haver aquilo que se chama de ágio, isto é a diferença entre o valor nominal e
a quantia que os acionistas tiverem desembolsado. Faz parte das entradas do socio fica sujeito
ao regime das entradas dos sócios.
Porque que as entradas de industria não são contabilizadas para o capital social? Primeiro é
a questão de ser difícil de avaliar, depois o seu carácter futuro e sucessivo, por outro lado a
impossibilidade de execução forçada (ninguém pode obrigar ninguém a trabalhar), por outro
lado a função de garantia do capital social não é garantida pelas entradas de industria.
De acordo com a al.a do 20º a entrada deve ser feita com bens suscetíveis de penhora.
Porquê? Porque os bens que o sócio entra para a sociedade passam a integrar o património da
sociedade e por isso fazem parte da garantia dos credores.
Esta exigência é uma hiperbolização da função de garantia. Esta alínea constitui uma
transposição má do art.7º. o prof intende que a interpretação correta ser bens suscetíveis de
avaliação económica.
20º, al. b – todo o socio é obrigado a quinhoar nas perdas. Isto difere dependendo do tipo de
Sociedades:
Sociedade de Pessoas – os sócios respondem pessoalmente pelas dividas e por outro
lado estamos perante a regra do 994º do CC que é uma das fases da proibição do
pacto leonino (22º).
Sociedade de Capitais – de acordo com as regras do tipo o socio não é responsável
pelas dividas sociais apenas o património responde.
VALOR DAS ENTRADAS – quando estamos a falar de entradas em dinheiro é fácil (14º). Por
razoes de proteção de terceiros, defesa dos sócios e da Sociedade o valor nominal social não
pode ser superior ao valor da entrada. Por exemplo, ninguém pode entrar com 200 e ter uma
quota com 500. Coisa é diferente é entrar com 200 e ficarem diferidos outros 500. Mas há
hipótese de pagar 700 e ficar com quota de 500 isto é o ágil.
Entradas em espécie são possíveis pelo art.25º, Nº1. O Nº3 reporta-se a situações em que
haja um erro na avaliação. Este regime das entradas em espécie não se aplica ao regime das
entradas em industria (28º,Nº1).
Art.202º - as entradas em espécie não podem ser deferidas a menos que o tipo e o estatuto o
permitirem.
Um sócio podem entrar com créditos? Um socio tem um credito sobre terceiro de 1000 euros
pode entrar com este crédito? Se entrar temos uma situação de cessão de créditos. Pode
acontecer que este crédito seja vazio, o devedor pode estar insolvente ou não ter património.
É possível? Sim, nos termos do art.28º - tem que ser avaliado. Sem prejuízo que no caso que se
verificar numa impossibilidade de pagamento do crédito de o socio ser responsabilizado.
E um crédito sobre a sociedade, o socio tem um crédito sobre a própria sociedade. Pode
entrar com credito? Temos uma dificuldade do art.27º, nº5 – insusceptibilidade de se
extinguir por compensação exceto nos casos do Nº4.
Art.29º - evitar entradas dissimuladas ou ocultas. Qual é a razão de ser do art.28? Que a
entrada seja feita pelo justo valor para não prejudicar a sociedade, sócios, credor e não
beneficiar o socio que realiza a entrada. É para isto que serve o regime do art.29º, evitar que
isto acontecça.
AULA 22/03
DELIBERAÇÕES DOS SÓCIOS (53º e ss)
Art.21º, al.b – é direito de todos os sócios participarem nas deliberações de sócios sem
prejuízo das restrições previstas na lei. O direito de participar nas deliberações dos sócios tem
varias manifestações (ex: direito ao voto).
A partir do 53º temos o regime de deliberação dos sócios. Na vida das sociedades pode haver
outras deliberação sem serem de sócios como por exemplo as deliberações sociais e o
Conselho Fiscal.
O modo normal de termos a manifestação dos sócios é através de assembleia. Temos vários
tipos de deliberação, a assembleia não é único modo de deliberação.
Nos diferentes tipos temos várias manifestações. Nos tipos define-se qual é a competência dos
sócios, há uma repartição entre a assembleia e os órgãos de administração.
Nas Sociedades em Nome Coletivo temos que considerar o 189º de acordo com o qual se
estabelece as competências dos sócios.
Nas Sociedades por Quotas o 246º elenca os atos que dependem de deliberações dos sócios.
O Nº1 elenca aqueles que estão imperativamente sujeitos a deliberação de sócios e o Nº2 os
atos que podem estar sujeitos.
Nas Sociedade Anónimas – a competência dos sócios é uma competência residual como refere
o Nº2 do 373º. O 406º tem uma lista de assuntos que compete ao órgão de administração a
titulo exemplificativo e o Nº3 do 373º dispõe que os acionistas só podem deliberar a pedido
dos órgãos de administração. O 72º consagra uma presunção de culpa entre os membros dos
órgãos de administração e a sociedade. Pelo Nº5 a responsabilidade dos gerentes ou
administradores não tem lugar quando o ato ou deliberação assente na vontade dos sócios.
FORMAS DE DELIBERAÇÃO:
Já vimos que o modo normal é a através da assembleia. Importa porem destacar que existem
outras formas de deliberação
53º, Nº1 – podemos ver logo que a lei pode indicar em cada tipo formas de deliberação
aplicada a cada tipo, mas há uma taxitividade – não é possível criar outras formas de
deliberação para além das previstas na lei.
54º - Os sócios podem em qualquer tipo de sociedade tomar deliberações unânimes por
escrito num documento em que todos os sócios declaram concordar. O 54º prevê outra
modalidade de deliberação, a assembleia universal em que os sócios tem que estar todos
presentes e estes têm que manifestar a sua vontade de constituir a assembleia e a vontade de
deliberar como também consentir a votação.
Isto é diferente das deliberações por voto escrito só são possíveis nas Sociedades em Nome
Coletivo e nas Sociedades por Quotas (247º), podendo os estatutos da sociedade proibir esta
modalidade de deliberação. Nas Sociedades por Quotas existe uma tramitação, os gerentes
começam por consultar os sócios para saber se consentem que haja uma deliberação por voto
escrito, admitindo que todos os sócios aceitam o gerente nesse pressuposto envia aos sócios a
proposta concreta de deliberação. O passo seguinte é emissão do voto escrito. Todos os sócios
tem que aceitar que haja este tipo de deliberação mas a aceitação da proposta não tem que
ser unânime. A deliberação considera-se tomada no dia da última resposta dos sócios.
Nulas (56º) – aqui é possível e necessário fazer uma distinção entre duas grandes
categorias, a primeira corresponde a vícios de procedimento que estão nas alíneas A e
B, a segunda categoria corresponde a vícios de substancias, há aqui uma diferença de
fundo, apesar de em ambos os casos estarmos perante uma situação de nulidade com
consequência de se aplicar o regime do artigo 57º, a lei dá um tratamento diferente,
considera de gravidades diferentes estas situações, isso é visível desde logo no artigo
56.
Alínea a) diz que são nulas as deliberações dos sócios em assembleia geral não convocada,
salvo se todos estiverem estados presentes ou representados. Vamos supor uma AG que
tomou uma deliberação, deliberou num determinado sentido, mas a assembleia não foi
convocada e nem todos os sócios estavam representados, isto constitui uma situação de
nulidade por vicio de procedimento, qualquer que seja o conteúdo, no entanto, o 56/3
permite salvar esta deliberação quer na situação da alínea A, quer na B dizendo que a nulidade
não pode ser invocado quando os sócios ausentes ou não representados tiverem futuramente
dado a sua aprovação pro escrito da deliberação. Temos aqui, no fundo, uma espécie de
sanação da debilidade, que é uma categoria desconhecida do direito civil.
Alínea b) quando são tomadas mediante voto escrito sem que todos os sócios com direito de
voto tenham sido convidados a exercer esse direito, a não ser que todos eles tenham dado por
escrito o seu voto. Estamos perante aquela figura que já vimos que é a hipótese de a
deliberação ser tomada por voto escrito, tivemos a oportunidade de remeter para o artigo
247º, em matéria de sociedades por quotas, que afirma que além de deliberações tomadas
nos termos do artigo 54º, os sócios podem tomar deliberações por voto escrito e deliberações
em AG. De qualquer maneira, esta norma está de pernas para o ar, porque o padrão é a
deliberação por assembleia geral e aqui coloca-se o a coisa ao contrário, mas ao contrário para
acentuar o regime das deliberações por voto escrito.
Quanto aos vícios de substancia eles estão presentes nas alíneas c) e d) do 56º, a alínea c
refere-se às deliberações cujo conteúdo não esteja por natureza sujeito as deliberações dos
sócios e a alínea d) as deliberações cujo conteúdo diretamente ou por atos de outros órgãos
que determine ou permita, seja ofensivo dos bons costumes ou de preceitos legais que não
possam ser derrogados, nem sequer por vontade unanime dos sócios.
Temos aqui duas modalidades cuja interpretação tem suscitado duvidas na doutrina e que
vamos enfrentar.
A alínea c) fala de deliberações cujo conteúdo não esteja por natureza sujeito a deliberações
dos sócios, aqui tem havido larga polemica na doutrina sobre o que sito significa.
Um primeiro entendimento que penso que será maioritário é o de que há que identificar os
atos estranha à competência da assembleia geral e ainda atos que interferissem com terceiros,
o grosso dos autores remetem para as regras de competência nesta matéria. No entanto,
Pinto Furtado toma uma posição diferente este tenta fazer uma reconstrução do artigo
56º,Nº1/c articula com a previsão do artigo 280 do CC e considera que as deliberações que
cabem na alínea c são as deliberações que seriam fisicamente impossíveis, as legalmente
impossíveis caberiam na alínea d. Aos olhos do professor, parece ser uma ideia mais forçada,
que tenta encaixar algo a uma categoria civilística num universo onde a ideia de ter uma
deliberação fisicamente impossível parece uma posição excessiva.
Na verdade, aqui a interpretação tem de ser mais societário, podemos trazer para além desta
mais duas posições, a posição clássica que aponta para a competência do órgão, as
deliberações tomadas por um órgão que não tenha competência são nulas e a nulidade pode
ser suscitada nos termos do 57º do código, e uma outra posição que é a posição suscitada por
Menezes Cordeiro que entende que as deliberações que cabem aqui são as deliberações que
pelo seu teor não caibam na capacidade da pessoa coletiva, ou seja, Menezes Cordeiro diz que
desde que se tratem de atos que caibam dentro da capacidade da pessoa coletiva qualquer ato
que ela possa praticar, a deliberação seria válida, não pode ser invocada a nulidade dessa
atuação.
O professor pensa que tomando por referencia o quadro das sociedades sociais que atribui a
bem ou a mal relevo à competência das sociedades e à repartição das competências no
domínio societário, inclinar-se-ia para a posição mais clássica interpretando a alínea c) e
articulando com as competências dos órgãos, o professor destaca o 373º do CSC em matéria
de sociedades anónimas, as competências entre os órgãos nas sociedades sociais
confrontando os dois tipos mais importantes (sociedades por quotas, e sociedades anónimas),
nós já vimos que a importância do órgão assembleia geral é completamente diferente, num e
noutro tipo, a competência do órgão assembleia geral nas sociedades anónimas é residual, a
AG numa sociedades anónima diversamente do que acontece numa sociedade por quotas, na
sociedade anónimas, por exemplo sob matérias de gestão da sociedade, os acionistas só
podem deliberar a pedido do órgão de administração, conforme decorre do 373/3 do CSC. O
professor diria que articulando o cuidado que o legislador tem com a repartição de
competências, mesmo assim pouco laça, esta previsão apontaria para esta formulação.
Alínea d) fala de cujos conteúdo diretamente ou por atos de outros órgãos que determine ou
permita, seja ofensivo dos bons costumes ou de preceitos legais que não possam ser
derrogados, nem sequer por vontade unanime dos sócios. Uma deliberação ofensiva dos bons
costume é o quê? A questão está em saber qual o conceito que temos como adotado no
âmbito do direito civil, de qualquer maneira bons costumes não se confunde com ordem
publica, já sabemos porque no 280 distinguem-se estes.
A alínea d) do 56 prevê que em relação aos bons costumes quer em relação a deliberações
contrárias a preceitos inderrogáveis que isso ocorra em termos indiretos. Portanto, sem
prejuízo de haver uma outra deliberação de outro órgão, mas na raiz temos uma deliberação
da assembleia geral e essa é que temos a consequência da nulidade.
Sendo a deliberação nula temos o 57º que impõe ao órgão de fiscalização em virtude da
função que tem na sociedade (57/1) ele deve dar a conhecer aos sócios em AG da nulidade de
qualquer deliberação anterior, a fim de eles a renovarem, sendo possível, ou de promoverem,
querendo a respetiva declaração judicial. No fundo o órgão de fiscalização faz o seu papel de
sinalizar deliberações que considere que informa os sócios ou coma intenção de salvarem essa
deliberação, renovarem nos termos que o regime da deliberação a que se refere o 62º ou
entanto promoverem a ação no sentido da deliberação judicial de nulidade. Se os sócios não
fizerem uma coisa nem outra, dentro do prazo de 2 meses aqui há um dever que impende
sobre o órgão de fiscalização de promover sem demora declaração judicial da nulidade a
deliberação, o órgão de fiscalização que alertou e os sócios nada fizeram tem o dever de agir
nos termos do 57º/2 propondo ao tribunal a nomeação de um sócio para representar a
sociedade.
O que pode acontecer é que a sociedade não tenha um órgão de fiscalização, por exemplo, nas
sociedades por quotas não é obrigatório ter um órgão de fiscalização, algumas sim, mas não
tendo um órgão de fiscalização, estas disposições valem para qualquer gerente como diz o 57
do CSC.
Vamos supor que há uma deliberação que caiba no 58/1/a e que tenha sido tomada por
unanimidade dos sócios. Pode depois algum sócio pedir a anulabilidade? Um sócio que faça
isso provavelmente é confrontado com o venire contra factum proprium, o que se entende é
que nestas situações em que há deliberações unanimes contra os estatutos que há uma
alteração informal dos estatutos, não pela via estatutária, isto não é informal para todas as
situações, mas sim para aquela situação especifica, não parece ao professor que violação dos
estatutos nessa medida possa ser invocada pelos sócios.
Outra previsão que temos no 58/1/b são as deliberações que sejam apropriadas para
satisfazer o propósito de um dos sócios de conseguir, através do exercício do direito de voto
vantagens especiais para si ou para terceiros, em prejuízo da sociedade ou de outros sócios ou
simplesmente de prejudicar aquela ou estes, a menos que se prove que as deliberações teriam
sido tomadas mesmo sem votos abusivos. No fundo temos uma previsão que costuma ser
resumida por anulabilidade por voto abusivo.
Estamos aqui perante abuso de direito? Temos aqui sobretudo situações disfuncionais, os
sócios aproveitam a deliberação sobretudo para satisfazer um propósito seu ou de terceiro,
isto é uma desfuncionalizaçao completa da sociedade, a sociedade existe para proteger os
interesses das sociedades, claro que a sociedade existe também para proteger os interesses
dos sócios que estão genericamente previstos no 64, mas não é seguramente para conseguir
vantagens especiais. Isto gera a anulabilidade da deliberação sem prejuízo daquilo que se
costuma chamar de prova de resistência que está na parte final da alínea b quando diz a
menos que se prove que as deliberações teriam sido tomadas mesmo sem os votos abusivos.
Esta é a prova de resistência que pode ser difícil, a maior parte da doutrina entende que o que
está em causa é o abuso de direito, mas Menezes Cordeiro entende que não é abuso de
direito, que é falta de direito, trata-se de uma figura que por vezes se integra no abuso de
direito.
São ainda anuláveis, as deliberações que não tenham sido precedidas do fornecimento ao
sócio de elementos mínimos de informação (58/1/C), portanto, o n4 diz que consideram-se
para estes efeitos elementos mínimos de informação: as menções exigidas no 377/8 e a
colocação de documento para exame dos sócios no local e durante os termos prescritos por lei
ou por contrato.
Quanto às consequências da anulabilidade, esta vem prevista no 59, enquanto no que respeita
à nulidade o órgão de fiscalização tem o dever de promover a declaração judicial de nulidade
nos termos do n2, aqui na anulabilidade a situação é menos grave e o órgão de fiscalização na
anulabilidade também tem de informar, mas mostre-se a diferença clara entre as previsões, o
n1 do 59 diz que a anulabilidade pode ser arguida pelo órgão fiscal ou qualquer sócio que não
tenha votado em sentido que fez vencimento nem posteriormente tenha aprovado a
deliberação expressa ou tacitamente. Isto já demonstra a diversidade de gravidade se
quisermos da anulabilidade em relação á nulidade.
Por outro lado, o legislador não quer que estas situações se eternizem, de novo a pax
societária, por isso é que o n2 do 59 estabelece um prazo de 30 dias para arguição da
anulabilidade. No fundo a lei diz fala agora ou cala-te para sempre. Este artigo é muito claro e
define a partir de quando se contam os 30 dias.
Quem é que pode intentar ação de anulação? São os sócios que tenham votado contra a
deliberação. Isso é claro no 59/1. Se estivermos perante uma deliberação por voto secreto diz
o 59/6 que se considera que não votaram no sentido que fez vencimento apenas aquele sócios
que na própria AG ou perante notário nos 5 dias seguintes à assembleia tenham feito
consignar que votaram contra a deliberação.
Disposições comuns em relação à nulidade e anulabilidade temos o artigo 60 que nos diz que
quer em relação á ação de nulidade quer de anulabilidade são propostas contra a sociedade,
havendo várias devem ser apensadas nos termos do CPC, quem suporta os encargos da ação é
a sociedade quando a sociedade tenha órgão de fiscalização ou de qualquer gerente.