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Sociedade Anônima
Tema regido pela Lei 6404/76. Essa lei sofre várias alterações ao longo dos anos. Por se
tratar de uma lei muito importante: daí suas frequentes alterações. Lei de 300 artigos:
conteúdo muito extenso. Portanto, vamos pontuar nas aulas os temas mais recorrentes e
vamos fazer questões de OAB e concursos.
O objeto social, por seu turno, consiste na atividade econômica de produção ou circulação
de bens ou serviços realizada pela companhia, com o propósito de lucro (Lei n. 6.404/76,
art. 2º c/c Código Civil, arts. 966, 981 e 982). O objeto social é, desse modo e como se viu
no item 2.8 acima, o conjunto de atividades econômicas que a sociedade explora ou
pretende desenvolver, nos termos determinados no estatuto. A função primordial do
objeto social é a de definir, portanto, o tipo de empresa ou atividade econômica a que a
companhia irá se dedicar para atingir o seu intuito final, que é, essencialmente, o de gerar
lucros para os acionistas.
Por todo o exposto, configurando-se a relação mais pessoal entre os acionistas, deve-se
admitir esse regime específico para as sociedades anônimas.
O STJ, porém, pacificou o entendimento acerca da possibilidade de ser constituída uma "sociedade
anônima de pessoas". Note-se a curiosidade: a sociedade anônima é "anônima" exatamente porque
não se tem como saber quem compõe o quadro societário pela mera análise do seu estatuto social.
Porém, apesar disto o STJ, por meio da 2ª seção de direito privado, entendeu ser possível a
dissolução parcial de sociedade anônima, por quebra de affectio societatis, desde que presente três
requisitos cumulativos: I – a sociedade anônima deve ser fechada; II – a sociedade deve ser
estritamente familiar; III – as ações não devem ter liquidez.
O art. 4º, da Lei nº 6.404/76, regulamenta a diferença existente entre a sociedade anônima aberta e a
sociedade anônima fechada. A sociedade anônima será considerada aberta quando, em razão de
registro perante a CVM, existir a possibilidade da negociação de suas ações e valores mobiliários
perante a bolsa de valores. A sociedade anônima será considerada fechada quando, por conta da
inexistência de registro perante a CVM, estiver fechada a possibilidade de negociação de suas ações
em bolsa de valores. Para ser "de pessoa", a sociedade anônima deve ser fechada.
Outro ponto a se considerar para se falar na natureza personalista de uma sociedade por ações é o
fato de os acionistas serem todos membros de uma mesma família, de uma mesma entidade
familiar. Por final, faz-se necessário que as ações não tenham liquidez, vale dizer, as ações desta
companhia não podem ter valor de mercado.
Deste modo, diante de uma sociedade anônima de pessoas será possível: a) o acionista exercer o
direito de retirada em hipóteses para além das já previstas no art. 137, da Lei nº 6.404/76 que
apresenta, para a sociedade anônima de pessoas, portanto, rol exemplificativo (regra geral,
considera-se taxativo); e b) o acionista que quebrar a affectio societatis
Assim, vale à pena notar: a sociedade anônima que, regra geral, é sociedade de capital, poderá
excepcionalmente ter natureza personalista e, nestes termos, vir a sofrer procedimento de dissolução
parcial.
preponderância da finalidade de gerar lucros sobre as características pessoais dos seus acionistas. Como se
verá adiante, tal conceito não é inteiramente aplicável à maioria das sociedades anônimas brasileiras: as
sociedades anônimas de capital fechado, que possuem características evidentes e predominantes do intuito
personae, apesar de adotarem a roupagem das sociedades de ações.
Nesse sentido, segundo entendimento do STJ (REsp nº 1.400.264/RS, relatora: ministra Nancy Andrighi, 3ª
Turma, julgado em 24/10/2017), a dissolução parcial de sociedade anônima fechada, desde que
caracterizada o intuito personae, é possível quando há: 1) quebra do affectio societatis; e 2) inexistência de
lucros ou ausência de distribuição de dividendos por um longo período de tempo. Ressaltando-se que para
a concessão da dissolução parcial devem ser observados todos os demais aspectos do caso concreto, e
especialmente em razão da ausência de previsão expressa na Lei das SA, a dissolução parcial de sociedade
anônima deverá ser pleiteada perante o Poder Judiciário e, portanto, determinada por meio de sentença,
não sendo admitido, por exemplo, a possibilidade de exclusão de acionista extrajudicial, como permitido
para as sociedades limitadas.
Essa classificação vai interferir em várias situações: existem valores mobiliários que só
podem existir em companhias abertas ou fechadas; existem órgãos e sua formação que
só podem existir na S/A aberta, por exemplo, e assim vai.
Então, existem dois tipos de sociedades anônimas, as sociedades abertas e as fechadas,
que possuem características bem diferenciadas, justificando também um tratamento
diferenciado.
Destacar que, quando se faz uma prova, seja OAB ou concurso, ninguém sabe tudo,
absolutamente tudo. Por melhor candidato que você seja, ninguém sabe absolutamente
tudo, de todas as matérias. Mas as vezes você não sabe da técnica, mas ai você para um
pouquinho, respira, para pra pensar ao seu redor: se tem uma S/A com ações sendo
vendidas na Bolsa de Valores, para qualquer um nela ingressar. Essa S/A é aberta ou
fechada? Claro que ela é aberta, que vai constituir quase que a totalidade das S/A, que é
aquela cujos valores mobiliários estão postos a quem os quiser adquirir = valores
mobiliários vendidos. Exemplo: Natura, Arezzo, Casas Bahia, Magazini Luíza, etc.
Sociedade anônima aberta é aquela cujos valores mobiliários encontram-se admitidos à
negociação no mercado de valores mobiliários, traduzido pelas bolsas de valores ou
mercado de balcão
à fechada, por sua vez, se alcança por exclusão, isto é, são aquelas companhias cujos
valores mobiliários não são passíveis de oferta pública nesse mercado.
As fechadas = o seu acesso não está franqueado a todos, você precisa de autorização
dos demais sócios, autorização estatutária para nela ingressar. Exemplo: Rede Globo de
Televisão, que é uma companhia fechada.
Lei 6.385/76 - Dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários.
Como a Bolsa de Valores é o termômetro da economia, o governo não pode deixar isso
“solto”. Por isso foi criada a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que é uma autarquia
especial, tem atuações muito específicas com relação ao mercado de valores mobiliários.
O art. 4º, § 3º, da Lei n. 6.404/76, permite que a CVM distinga vários tipos de sociedades
abertas, de acordo com os valores mobiliários por ela negociados no mercado e,
consequentemente, limite o âmbito de aplicação de determinadas normas. As normas a
que se refere o dispositivo são as instruções da CVM, e não a lei, pois a CVM não tem
competência para afastar a aplicação de uma lei.
Diretamente ligada à função fiscalizadora está a função registrária, pois compete à CVM
registrar as sociedades abertas, as entidades distribuidoras de valores mobiliários e os
próprios títulos que serão negociados no mercado, resguardando o investidor em face de
quaisquer irregularidades e evitando a atuação de entidades inidôneas. Há ainda a função
de fomentar a atividade do mercado de capitais, promovendo eventos que permitam ou
auxiliem o desenvolvimento do mercado1432.
Por fim, há a função regulamentar cuja discussão a respeito da sua legitimidade enseja
um estudo mais detalhado.
De outro lado, Carlos Ari Sundfeld reconhece uma competência regulamentar das
agências reguladoras em geral, a qual representaria um aprofundamento da atuação
normativa do Estado, sem a criação de regulamentos autônomos1435. Similar é a opinião
de Floriano Azevedo Marques Neto, para quem “a lei define as metas principais e os
contornos da atividade do órgão regulador, cometendo-lhe (nestes limites e sob controle
do Judiciário e do próprio Legislativo) ampla margem de atuação”1436.
Assim, nestes termos, acreditamos que a CVM tem legitimidade para regulamentar as
Leis n. 6.385/76 e 6.404/76, não podendo, todavia, extrapolar os limites da mera
regulamentação, isto é, a CVM não tem competência para criar direito novo, mas apenas
para regulamentar as leis emanadas do poder legislativo, alcançando sua finalidade
primordial, que é a de tutelar o mercado de capitais.
2 Os valores mobiliários
As sociedades abertas caracterizam-se pela possibilidade de negociação de valores
mobiliários no mercado de valores mobiliários, que está dentro do mercado de capitais,
que, por sua vez, integra o mercado financeiro. Os valores mobiliários não podem ser
conceituados pelos direitos que asseguram, mas apenas pela função econômica a que
estão ligados, que é diversa, sob o ponto de vista da sociedade e dos seus titulares. Para
quem os titulariza, os valores mobiliários são uma alternativa de investimento (emprego
remunerado ao dinheiro) e para a sociedade são um instrumento de captação de
recursos.
Sob o ponto de vista de seus titulares, o valor mobiliário constitui um investimento, isto é,
um emprego do capital com vistas à obtenção de lucros. Para tal forma de investimento o
risco nunca é estranho, pois não há uma garantia de sucesso. Apesar disso, tal
investimento pode ser extremamente rentável, seja pelas vantagens que eventualmente
assegura (participação nos lucros, pagamento de juros), seja pela possibilidade de
negociação no mercado com a valorização destes. Por isso, tais valores são atrativos
para o público.
Sob a ótica da sociedade, o valor mobiliário é uma alternativa de crédito, ampla, rápida e
flexível, indispensável para a competição no mundo moderno. São os valores mobiliários
que tornam a sociedade anônima o grande instrumento do capitalismo, dada a
possibilidade de uma reunião, por meio deles, de uma grande quantidade de capitais,
imprescindível à realização de grandes empreendimentos. Sem o mecanismo
possibilitado pelos valores mobiliários, a obtenção de tais recursos seria muito penosa
(juros elevados, dificuldades de crédito...) ou seria até mesmo inviável.
Para uma sociedade inicialmente aberta se tornar uma sociedade fechada, é realizado um
procedimento que se pode denominar de fechamento do capital social. Este procedimento
se efetiva com o cancelamento do respectivo registro da sociedade e de seus títulos junto
à CVM. Tal cancelamento do registro afeta diretamente os interesses dos acionistas
minoritários e dos titulares de valores mobiliários negociados no mercado, uma vez que
haverá perda de liquidez dos títulos, perda de um referencial de preço e perda do direito
de ser informado sobre diversas situações. Por isso, há que se impor um procedimento
pormenorizado, a fim de evitar prejuízos a tais pessoas.
O parágrafo quarto do art. 4º da Lei das S.A. dispõe que, para o fechamento do capital
social, e o consequente cancelamento no registro de uma sociedade na CVM, deverá ser
feita pelo controlador uma oferta pública para aquisição de todas as ações em circulação
por preço justo. Tal oferta também pode ser feita pela própria companhia, nos casos em
que se admite a aquisição de ações para permanência em tesouraria.
A avaliação do preço justo poderá ser refeita, diante de uma decisão da assembleia geral,
convocada pelos administradores, a pedido de acionistas que representem pelo menos
10% das ações em circulação no mercado, entendidas por ações em circulação o total
das ações emitidas pela sociedade, menos as ações do acionista controlador, dos
administradores e as ações em tesouraria. Tal pedido deve ser formulado no prazo de 15
dias contados da divulgação do valor da oferta pública e deve ser fundamentado. Diante
dessa possibilidade, o procedimento só pode ser implementado após o decurso desse
prazo sem impugnação, ou após a feitura da nova avaliação, se for deliberada.
Há um direito dos acionistas para questionar tal avaliação, mas tal direito é limitado, a fim
de evitar tumultos na vida social, em primeiro lugar pela percentagem necessária para
que se possa fazer o pedido, em segundo lugar pela motivação necessária e em terceiro
pela possibilidade de indenização em caso de pedido descabido. (art. 4ºA e seus
parágrafos).
Não basta o inconformismo dos acionistas, sendo necessário que sejam indicados os
motivos que demonstrem erros na avaliação, trazendo elementos de convicção aptos a
demonstrar a falha ou imprecisão no emprego da metodologia de cálculo ou no critério de
avaliação adotado. Além disso, funcionando como um meio de pressão para evitar
pedidos descabidos, a lei impõe aos acionistas que pedirem a reavaliação, bem como aos
que votarem a favor dela, a obrigação de indenizar a sociedade, caso tal reavaliação
chegue a um valor inferior ou igual ao da oferta pública.
Havendo alteração do valor para mais, o ofertante deverá noticiar se prosseguirá com a
oferta pelo novo valor apurado ou não, independentemente do condicionamento da oferta
(Resolução n. 85/2022 – art. 28, IV). Para Luiz Leonardo Cantidiano, se o ofertante não
condicionasse a oferta ao preço oferecido, ele estaria obrigado a adotar o novo preço
avaliado. A nosso ver, a melhor solução foi a adotada pela CVM, na medida em que uma
oferta só obriga nos seus exatos termos, não se podendo impor a manutenção de uma
oferta em condições mais gravosas do que as inicialmente adotadas. Entretanto, para os
minoritários, tal nova avaliação é vinculante, isto é, é uma proposta nos termos do art. 427
do Código Civil, fato que os obriga a vender as ações pelo preço apurado.
Não concordando o ofertante com o valor a maior de avaliação obtido na revisão, assiste-
lhe o direito de da oferta desistir, uma vez que somente se vincula às condições por ele
propostas. A alteração do valor para maior permite-lhe recolher a oferta original, havendo-
se por prejudicado o fechamento do capital, ante a ausência de um de seus pressupostos.
Concordando, entretanto, prosseguirá o seu curso o processo de cancelamento do
registro da companhia, com a aceitação do “preço justo” pelas partes, não mais se
admitindo a retratação, porquanto para os minoritários a revisão equivale à nova proposta
quando apresentado o novo preço ao ofertante.
Apurando o laudo de avaliação valor igual ou inferior ao valor inicial da OPA, será
retomado o curso normal do processamento, com a marcação de data para o leilão, com
base no preço originalmente ofertado.
Sempre estará garantido aos acionistas minoritários que não consigam atingir o quorum
legal de dez por cento do capital retratado pelas ações em circulação no mercado, vendo
frustrada, assim, a possibilidade de viabilizar a revisão na esfera extrajudicial, o direito de
judicialmente impugnar o valor da oferta, com o escopo de obter, por decisão judicial, o
desejado “preço justo”. Igual direito terão os minoritários que restarem vencidos na
deliberação que rejeitar a revisão (art. 5º, XXXV, da Constituição Federal).
O resgate é um ato não negocial, que independe da vontade do acionista para a retirada
das ações do mercado; em suma, “o resgate representa uma transmissão forçada,
irrecorrível e definitiva da propriedade das ações do acionista para domínio da própria
companhia, que, em seguida, as extinguirá”1451. Nesse mister, protege-se a própria
sociedade, e o interesse da grande maioria dos acionistas que aceitou o fechamento do
capital, de modo que a sociedade passará a ser de fato e de direito fechada, submetendo-
se às especificidades de tal tipo de companhia.
O novo texto da Lei das S.A. praticamente impede o fechamento branco do capital social,
na medida em que impõe práticas que impeçam a subsistência de ações desprovidas de
liquidez no mercado. Quando há uma liquidez muito baixa das ações no mercado, a
negociação delas se torna praticamente inviável, em outros termos, quando existem
pouquíssimas ações em circulação no mercado, reduz-se substancialmente o interesse
dos investidores, não havendo motivo para manutenção das ações no mercado. Neste
caso, estaremos de fato diante de uma sociedade fechada, embora de direito se trate de
uma sociedade aberta, uma vez que ainda registrada na CVM como tal.
A Resolução n. 85/2022 da CVM disciplina tal procedimento em seu art. 30, esclarecendo
os percentuais que representam a redução de liquidez das ações de determinada classe
ou espécie, que impõem a realização de uma oferta pública nos termos daquela realizada
para o fechamento do capital social. Assim, caso o acionista controlador, ou pessoas a ele
vinculadas, adquiram, por outro meio que não uma OPA, ações que representem mais de
1/3 (um terço) do total das ações de cada espécie ou classe em circulação, contado na
data de entrada em vigor da referida instrução, impõe-se a oferta pública em relação a
todas as ações da classe ou espécie prejudicada. Há que se ressaltar que as ações em
circulação são todas as ações de determinada classe ou espécie, menos as do acionista
controlador.
Assim, a fim de evitar o fechamento branco do capital social, se impõe ao controlador que
aumentar sua participação de tal modo a reduzir substancialmente a liquidez das ações
remanescentes à obrigação de fazer uma oferta pública nos mesmos termos da oferta
para o fechamento do capital social. Aqui, protege-se essencialmente o interesse do
acionista que se vê privado da transparência e controle provocados pela abertura efetiva
do capital social. Todavia, permite-se ao controlador a alternativa de se comprometer a
alienar o excesso de participação a pessoas não vinculadas a ele, no prazo de três meses
a contar da ocorrência da aquisição, restabelecendo a liquidez das ações no mercado
(art. 32 da Resolução n. 85/2022). Esse procedimento alternativo, só pode ser usado uma
vez a cada 2 anos.
A indigitada Instrução, nos seus arts. 31 e 32, permite que o acionista controlador solicite
à Comissão de Valores Mobiliários autorização para não realizar a OPA ou dela desistir
na hipótese de revisão do preço, desde que se comprometa a alienar o excesso de
participação em prazo de três meses, contado da ocorrência da aquisição.
Tal subscrição pode ser pública (arts. 82 a 87 da Lei n. 6.404/76) ou particular (art. 88 da
Lei n. 6.404/76).
Além disso, tal forma de subscrição exige prévio registro na CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), devendo ser apresentados a tal entidade o estudo da viabilidade econômica
do empreendimento, o projeto do estatuto (art. 83 da Lei n. 6.404/76) e o prospecto (art.
84 da Lei n. 6.404/76) organizado e assinado pelos fundadores e pela instituição
financeira intermediária.
O Prospecto é o instrumento através do qual os Fundadores devem demonstrar objetivamente as bases da
S/A e os motivos que os levam a creditar no sucesso do empreendimento. Por isso, deverá ser assinado
pelos fundadores e a instituição financeira intermediária.
Ocorre a constituição SUCESSIVA, pois são celebrados vários atos em diversos momentos.
a S/A se constitui de maneira SIMULTÂNEA (os atos são praticados no momento da lavratura da Escritura
Pública ou da realização da Assembleia).
1.1.3 Depósito
Uma vez realizada a integralização inicial, há que se proceder ao depósito de tais em uma
instituição financeira (no atual regime, qualquer banco comercial), pelos fundadores em
nome do subscritor e a favor da sociedade, que ainda não existe (art. 81 da Lei n.
6.404/76). Os fundadores, na condição de mandatários legais dos subscritores, têm a
obrigação de efetuar tal depósito no prazo de cinco dias contados do recebimento das
quantias.
Caso a sociedade seja efetivamente constituída, isto é, adquira personalidade jurídica, ela
terá o direito de levantar os depósitos efetuados em seu favor. Entretanto, se a sociedade
não for constituída no prazo de seis meses contado dos depósitos, os subscritores farão
jus à restituição dos valores depositados, que será efetuada diretamente pela instituição
depositária (art. 81, parágrafo único, da Lei n. 6.404/76).
2ª fase
1.2 Constituição propriamente dita
Atendidas as providências preliminares, pode-se passar à fase da constituição
propriamente dita da sociedade, cuja forma dependerá da modalidade de subscrição
escolhida. Caso a subscrição seja pública, os subscritores devem constituir a sociedade
em uma assembleia geral. Caso a subscrição seja particular, os subscritores podem optar
entre uma assembleia geral e a feitura de uma escritura pública.
3ª fase
1.3 Providências complementares
Após a constituição propriamente dita, ainda são necessárias providências
complementares que consistem no arquivamento (arts. 95 e 96 da Lei n. 6.404/76) e
publicação dos atos constitutivos (art. 98 da Lei n. 6.404/76), além da eventual
transferência da propriedade de bens com os quais se subscreveu o capital social. Tais
providências estão a cargo dos primeiros administradores da sociedade e visam à
aquisição da personalidade jurídica e à publicidade do nascimento da companhia.
Conquanto tal discussão não gere maiores diferenças, a nosso ver, a melhor solução é
aquela que reconhece a existência da sociedade antes do arquivamento dos atos
constitutivos, mas com uma capacidade de agir limitada, isto é, não tendo personalidade,
ela não está habilitada a praticar os atos relativos à realização de seu objeto1479. Milita a
favor dessa interpretação o art. 91 da Lei n. 6.404/76, que exige o acréscimo da
expressão “em organização”, para os atos anteriores ao arquivamento do ato constitutivo,
demonstrando a possibilidade da prática de certos atos antes de tal arquivamento.
O capital social é “o valor das entradas que os acionistas declaram vinculado aos
negócios que constituem o objeto social”. Há que se esclarecer que nem todas as
contribuições dos sócios formam o objeto social, mas apenas aquelas contribuições
ligadas à realização do objeto social. Em outras palavras, nem toda contribuição do sócio
destina-se à formação do capital social. Tal distinção tem uma importância na medida em
que há limitações diferenciadas para a utilização dos valores que representam o capital
social.
Ao subscrever uma ação, o subscritor compromete-se a pagar o preço de emissão da
ação. Tal preço tem como patamar mínimo o valor nominal da ação, isto é, a parte
correspondente no capital social. Apenas as entradas relativas a tal valor nominal formam
o capital social. Outros valores eventualmente integrantes do preço de emissão serão
destinados à formação de uma reserva de capital (art. 14 da Lei n. 6.404/76).
Diante de tais contornos, é intuitivo que o capital social representa uma realidade
completamente distinta do patrimônio, representando apenas uma cifra escolhida pelos
sócios e ligada à realização do objeto social. Daí Cesare Vivante falar que o capital social
é o capital nominal, na medida em que tem uma existência de direito mas não de fato,
sendo o patrimônio o capital efetivo, pois o conjunto de todas as relações jurídicas das
quais ela é titular, relações de propriedade, de fruição e de garantia sobre bens corpóreos
e incorpóreos1482. “O patrimônio de uma sociedade está submetido às mesmas
oscilações do patrimônio da pessoa física, variando dia a dia, ao passo que o capital
mantém uma estabilidade relativa”.
Modesto Carvalhosa nos chama a atenção para o fato de que não podem ser utilizados
quaisquer bens na integralização do capital social. Só podem ser incorporados bens que
tenham uma utilidade efetiva para a realização do objeto social. A utilização de bens
estranhos e inúteis ao objeto social não pode ser admitida, por representar uma forma de
burla aos credores e concorrentes da sociedade, sendo expressamente condenada pelo
art. 117, § 1º, da Lei n. 6.404/761486.
O capital social de uma sociedade deve ser fixado em moeda nacional (art. 5º da Lei n.
6.404/76), podendo ser formado por dinheiro ou quaisquer bens, desde que suscetíveis
de avaliação em dinheiro (art. 7º da Lei n. 6.404/76), exigindo-se apenas os 10% iniciais
em dinheiro (art. 80 da Lei n. 6.404/76).
4 Funções
O capital social exerce basicamente três funções para a sociedade: a função de
produtividade, a função de garantia e a função de determinação da posição do sócio.
Algumas funções primordiais do capital social:
Nós temos a própria razão de ser do capital social, que é o valor entregue à empresa,
dinheiro entregue para constituição da empresa (dinheiro ou bens em si), mas temos
outras funções:
Vincenzo Buonocore revela ainda uma outra função, no sentido da revelação da situação
patrimonial da sociedade, que a nosso ver se liga à função de garantia.
Neste particular, Modesto Carvalhosa afirma que o capital social já não mais exerce a
função de garantia dos credores, pois pode ser menor que o capital efetivamente
ingressado na companhia1490. Conquanto parta de um raciocínio correto, ousamos
discordar de tal conclusão, para reconhecer no capital social um mínimo do ativo em
garantia dos credores, isto é, uma garantia mínima, independentemente da entrada de
valores superiores. Corroborando esta interpretação, o art. 174 da Lei n. 6.404/76 exige a
concordância dos credores para a redução do capital social.
GARANTIA: o capital social tem a função também de servir como garantia. Mas essa
garantia é em relação aos credores em si. Eu tenho um limite, se o capital social é de
100.000,00, o limite de cobrança dos credores é de 100.000,00. E os credores sabem o
limite que eles têm de garantia para cobrança contra a sociedade. Quanto mais ela tiver
de capital social, mais credores interessados em fazer negócios com aquela companhia
irão aparecer.
Por fim, há que se ressaltar que o capital serve de referência para a determinação da
posição dos acionistas, vale dizer, à luz de sua participação no capital social,
determinadas faculdades podem ser ou não ser estendidas a eles. A título exemplificativo,
apenas os acionistas que representem pelo menos 10% das ações em circulação podem
requerer a realização de nova avaliação na oferta pública para cancelamento do registro
(art. 4º-A da Lei n. 6.404/76).
5 Princípios
Pela sua importância para a sociedade, e também para os seus credores, o capital social
tem uma disciplina peculiar, orientada basicamente por três princípios: determinação,
efetividade e estabilidade (variabilidade condicionada).
Pelo princípio da determinação, o capital social da sociedade há de nascer determinado e
único1492, isto é, há que se saber, a qualquer momento, qual é o valor do capital, não se
admitindo um capital social variável.
Outro princípio que pauta a disciplina do capital social é o princípio da efetividade, pelo
qual o capital deve corresponder a valores que efetivamente ingressem no patrimônio da
sociedade, isto é, ele deve corresponder a um patrimônio real da companhia. Tal princípio
é primordial para defender os interesses dos credores da sociedade, que tem a garantia
de que o valor correspondente ao capital social efetivamente ingressou no patrimônio da
sociedade. Em função disso, é que se exige a avaliação dos bens conferidos, para
integralização do capital social.
Roberto Papini destaca também o princípio da intangibilidade, esclarecendo que, por tal
princípio, o capital social não pode ser restituído aos acionistas durante a vida da
sociedade1496. A nosso ver, tal princípio efetivamente existe, mas estaria, em sua ideia,
englobado no princípio da estabilidade e indiretamente também no princípio da
efetividade, por isso não o destacamos separadamente.
Para tal ingresso de novos recursos serão emitidas novas ações por um preço não mais
livremente fixado pela sociedade. Desde a Lei n. 9.457/97 a emissão de novas ações
deve levar em conta cumulativa ou alternadamente o valor de mercado, o valor
patrimonial e o valor econômico da ação, a fim de evitar a diluição injustificada dos
acionistas preexistentes ao aumento.
O capital autorizado seria “o dispositivo estatutário que permite, dentro de certo limite, o
aumento do capital social, com a emissão de novas ações, independentemente da
alteração do estatuto”. Tal regime de permissão estatutária do aumento deve ter critérios
bem definidos (art. 168, § 1º, da Lei n. 6.404/76), esclarecendo o limite do aumento em
valor, ou em número de ações, as espécies e classes das novas ações, as eventuais
condições do aumento, o órgão competente para deliberar o aumento e a sujeição ou não
ao direito de preferência dos acionistas antigos, nos termos do art. 172 da Lei n. 6.404/76.
Tais opções são pré-contratos celebrados com a companhia, não sendo transferíveis a
terceiros, tendo por finalidade premiar administradores, altos executivos, empregados e
terceiros prestadores de serviço para a sociedade1503. Tal prêmio não é a atribuição
gratuita de uma ação, mas a possibilidade de subscrição de ações, mediante pagamento
do preço de emissão predefinido, quando do aumento autorizado pelo estatuto.
Esse regime peculiar do capital autorizado não lhe retira as peculiaridades inerentes ao
aumento de capital social, pela obtenção de novos recursos, isto é, terão que ser emitidas
novas ações, com o preço de emissão seguindo os parâmetros previstos no art. 170 da
Lei n. 6.404/76.
Nesse caso, a sociedade pode emitir novas ações, atribuindo-as aos acionistas já
existentes, na proporção da sua participação no capital social. Ou, ainda, simplesmente
aumentar o valor nominal das ações já existentes.
Quando o acionista exerce o direito de retirada, ele faz jus ao pagamento do reembolso
de suas ações. E, em virtude de quaisquer problemas, pode ocorrer que a companhia não
tenha valores disponíveis para efetuar tal reembolso, devendo fazê-lo às custas do capital
social. Neste caso, a sociedade tem 120 dias, contados da ata da assembleia (art. 45, §
6º, da Lei n. 6.404/76), para substituir os acionistas que se retiraram, reintegrando o valor
do capital social. Não havendo tal substituição, impõe-se a redução do capital social.
No caso do acionista remisso, isto é, aquele que não honrou sua contribuição na época
devida, a sociedade tem, a princípio, duas opções, quais sejam, executar o remisso ou
leiloar extrajudicialmente suas ações. Diante da frustração dessas tentativas, pode a
sociedade excluir o acionista remisso, ficando com as ações deste. Neste caso, ela deve
integralizar as ações com lucros ou reservas, recompondo o capital social, ou, no prazo
de um ano, substituir o acionista remisso. Não sendo possível a recomposição do capital
social, por quaisquer desses meios, impõe-se também a redução do capital social.
Neste último caso e apenas nele, a redução só produzirá efeitos 60 dias após a data do
arquivamento, permitindo-se nesse período que os credores se oponham a tal redução.
174 caput e §1º. A oposição não impedirá a redução se o credor for pago, ou for
depositado judicialmente o valor de seu crédito. §2º No caso de redução até as perdas
ocorridas, não há que se cogitar de oposição dos credores; porquanto o patrimônio
permanece inalterado, trata-se de simples ajuste contábil1510, sem qualquer prejuízo
para os credores.
Portanto, o texto legal deve ser interpretado com cautela, pois só se exige a concordância
dos credores no caso de o capital ser considerado excessivo.