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Ariadna Figueiredo – Disciplina Direito Empresarial: Sociedade Anônima 8º período

Sociedade Anônima
Tema regido pela Lei 6404/76. Essa lei sofre várias alterações ao longo dos anos. Por se
tratar de uma lei muito importante: daí suas frequentes alterações. Lei de 300 artigos:
conteúdo muito extenso. Portanto, vamos pontuar nas aulas os temas mais recorrentes e
vamos fazer questões de OAB e concursos.

 S/A ou Companhia: tratados como sinônimos


 Breve contextualização: a sociedade por ações constitui forma societária gênero a
que integram duas espécies: a sociedade anônima ou companhia e a sociedade
em comandita por ações. Têm em comum o traço de que os direitos dos sócios se
encontram consubstanciados e organizados em conjuntos padronizados
denominados ações e não há identificação dos respectivos titulares. Como
elemento essencial de distinção dos tipos societários, emerge a forma de
responsabilidade dos sócios. A primeira revela-se como sociedade de
responsabilidade limitada, na qual todos os sócios ou acionistas respondem
limitadamente ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. A segunda
classifica-se como sociedade de responsabilidade mista, apresentando dupla
categoria de sócios: os simples acionistas, cuja responsabilidade se limita a
integralizar o preço das ações que adquirirem ou subscreverem, e os acionistas
diretores, que respondem pessoal, subsidiária, solidária e ilimitadamente pelas
obrigações da sociedade.
 A Lei n. 6.404/76, que dispõe sobre as sociedades por ações, concentra suas
regras na disciplina da sociedade anônima, dedicando apenas cinco artigos para a
sociedade em comandita por ações, limitando-se, assim, a traçar-lhe o perfil
distintivo da outra forma societária que integra o seu gênero.
 O Código Civil de 2002 não regulou a sociedade anônima, cingindo-se a confirmar
o seu conceito já traduzido no art. 1º da Lei n. 6.404/76 (art. 1.088) e a reservar-se
como norma supletiva à lei especial (art. 1.089). Quanto à comandita por ações,
apesar de reafirmar o princípio de continuar a ser regida pelas normas da
sociedade anônima, acaba o Código por redesenhar os seus elementos
característicos que a diferenciam daquele outro tipo2 (arts. 1.090 a 1.092). A
disposição residual da comandita por ações reflete o desequilíbrio entre as
espécies de sociedades por ações, resultante da importância econômica e social
da sociedade anônima, notadamente como forma societária que mais se identifica
com os grandes empreendimentos. Com efeito, a sociedade em comandita, seja
ela por ações ou simples, é forma societária em desuso.
 Conceito de sociedade anônima ou companhias: tipo societário reservado às
sociedades empresárias, cujo capital social é dividido em ações, que limita a
responsabilidade dos sócios ou acionistas ao preço de emissão dessas frações do
capital por eles subscritas ou adquiridas.
 Peculiaridades desse modelo societário:
1. Quando se fala da classificação de sociedade, conforme previsão do artigo 982 CC
(sociedades simples ou sociedades empresárias), a S/A é sempre enquadrada
como sociedade empresária, independentemente do que ela faça,
independentemente do objeto social: sempre sociedade empresária. É sociedade
empresária qualquer que seja o seu objeto de exploração econômica ou fim
lucrativo. O Código Civil de 2002, ao incorporar a teoria da empresa, prestigiou, no
parágrafo único do art. 982, o princípio já consagrado pelo § 1º do art. 2º da Lei n.
6.404/76.
Sendo assim, ressalvadas as expressas exceções legais (cf. art. 2º da Lei n.
11.101/2005), pode-se genericamente afirmar que a sociedade anônima encontra-
se sujeita à falência e pode requerer recuperação judicial ou negociar com
credores plano de recuperação extrajudicial, na medida em que os institutos são
reservados aos empresários e às sociedades empresárias (art. 1º da Lei n.
11.101/2005).
2. Suas normas são utilizadas subsidiariamente para as sociedades comanditas por
ações (essas caíram em desuso; na prática, não existem mais);
3. Sempre estatutária: ao contrário do que se pode pensar, não é uma sociedade
formada por contrato social (como a LTDA, por exemplo). Seu capital social é
formado por ações entre os sócios, de modo que ela vai ser formada por Estatuto:
por isso que se diz que ela é estatutária ou institucional; E por que ela é chamada
também de sociedade institucional? Sendo a sociedade anônima uma sociedade
institucional, e não contratual, ela se constitui não por meio de um contrato
social, mas de um ato institucional ou estatutário (estatuto social).
4. É sociedade de capital: se contrapõe às sociedades de pessoas. O que isso
significa? Para você integrar uma S/A você precisa ter grana, capital. Não
interessas as suas qualificações, suas aptidões pessoais, seu currículo. você
precisa ter dinheiro para nela ingressar. Diferente da sociedade de advogados, por
exemplo (se você for fazer uma entrevista para ingressar em uma sociedade de
advogados, você não vai mandar um terceiro para participar da entrevista em seu
lugar, pois ali importam as suas aptidões, as suas qualificações, etc);
 Um dos artigos mais importantes e mais cobrados em prova é o artigo 1º da Lei –
LER
 Capital dividido em ações: em termos de responsabilidade, esta é limitada; existe
proteção ao patrimônio particular dos sócios, cabendo desconsideração da
personalidade jurídica, mas mesmo assim, a responsabilidade é limitada.
 A S/A não pode se constituir sob a forma de pequena empresa. Por isso nós temos
muito mais LTDA do que S/A. Na prática, a gente começa a ter S/A com empresas
que tenham receita bruta anual passando de quatro milhões e oitocentos. Até esse
valor, a empresa pode se inserir na forma de pequena empresa. Então ela vai ser
LTDA para poder ser pequena empresa. Por isso S/A acaba se voltando a grandes
empreendimentos.
 Quadro comparativo:
S/A LTDA
Estatutária Contratual
Constituída por ações Constituída por cotas
Regida por lei específica Regida pelo CC
Responsabilidade limitada Responsabilidade limitada
(limitada ao preço de emissão das ações (existe solidariedade para
Subscritas ou adquiridas: responsabilidade integralizar capital social: pode
individual, ou seja, para cada sócio/acionista) haver solidariedade – artigo
1052 – todos respondem
Solidariamente pela integralização
Do capital social.

O que quer dizer isso? Se eu tenho 2% de ações, eu terei 2% de perdas, 2% de


ganhos, mas cada um por si! Afinal, trata-se de sociedade anônima, que se
caracteriza pelo anonimato de seus sócios ou acionistas. O preço de emissão de
cada ação de sua titularidade é o limite máximo de suas perdas e também o limite
máximo de seus ganhos.
 Número de sócios: Sem, contudo, desprezar a ligação do tipo aos grandes
empreendimentos, a Lei n. 6.404/76 abandonou a exigência de sete acionistas
como número mínimo de sócios para constituir uma companhia, admitindo, como
regra geral, a simples pluralidade, traduzida na suficiência da presença de duas
pessoas a subscrever todas as ações em que se divide o seu capital (art. 80, I).
Opção acertada da lei que legitimou a realidade da existência de um grande
número de companhias que possuíam, efetivamente, menos de sete sócios, mas
satisfaziam ao formalismo legal com a manutenção de umas poucas ações
distribuídas em nome de pessoas confiáveis que nenhuma influência exerciam ou
se comprometiam a exercer para a realização de seu objeto.
 Exceção à constituição da companhia com pluralidade de sócios reside na figura
da subsidiária integral (art. 251). Em reforço à essência institucional da sociedade
anônima, permite a lei se forme a companhia, mediante escritura pública, tendo
como única acionista outra sociedade brasileira. Tem-se, desde então, consagrada
a existência da sociedade unipessoal não permanente ou temporária no Direito
positivo brasileiro.
 Exemplo de sociedade anônima que também pode se formar com um único
acionista: a Sociedade Anônima do Futebol – SAF também pode se formar com um
único acionista (Lei n. 14.193/2021, art. 2º), ostentando, dessarte, a posição de
sociedade unipessoal. Afasta-se, portanto, da regra geral prevista na Lei n.
6.404/76, que exige a participação de duas ou mais pessoas como condição para a
regular constituição da companhia (art. 80, I). O inciso III do art. 2º da Lei n.
14.193/2021 dispensa a pluralidade de acionistas, permitindo que a SAF seja
constituída pela iniciativa de pessoa natural ou jurídica ou fundo de investimento.
Esse comando legal, analogicamente, pode também espraiar-se às demais formas
de sua constituição. A SAF caracteriza-se como subtipo societário, sendo uma
sociedade anônima sujeita a um microssistema normativo particular,
complementado, no mais, pelo macrossistema da Lei n. 6.404/76, do qual, assim,
tem disciplina dependente. Não se trata, portanto, de um tipo societário autônomo,
é bom frisar.
 A unipessoalidade, afora essas figuras legais, será, na esteira da Lei n. 6.404/76,
sempre temporária e de possível verificação após a constituição da sociedade, com
a observância inicial do número mínimo de dois acionistas. Prestigiando os
postulados da preservação da empresa, em abono ao princípio da sua função
social, admite-se, temporariamente, fique a companhia com um só acionista, sem
que o fato implique, em inicial momento, a dissolução de pleno direito da pessoa
jurídica. A existência de único acionista, verificada em assembleia geral ordinária, é
causa de dissolução se a pluralidade não for reconstituída até a assembleia do
exercício seguinte (art. 206, I, d).
 Como se dá a formação do nome empresarial da S/A? Artigo 3º da Lei 6404/76. Só
pode ser constituído por denominação (não pode ser por firma ou razão, pois isso
teria que trazer o nome dos sócios). Na S/A, o nome empresarial só pode ser
composto por denominação, justamente porque é uma sociedade anônima, que
tem que garantir o anonimato dos sócios. Nesse tipo societário, principalmente nas
sociedades anônimas abertas, se você investir na Bolsa de Valores e for
perguntado quantos acionistas a sociedade possui, é impossível de saber. Por isso
que o nome da sociedade tem que ser por denominação.
 LER ARTIGO 3º
 Traduzir de forma mais simples:
 5 maneiras de composição do nome empresarial: S/A no início; S/A no meio; S/A
no final do nome/denominação (quase na totalidade das vezes) OU companhia (no
início) + denominação; companhia (no meio), mas NUNCA companhia no final.
 Exemplos: Hotel do Sol Nascente S/A; Santista Têxtil S/A; Companhia Vale.
 Então, são cinco formas de composição do nome da sociedade anônima. PORÉM,
a regra é essa: S/A é um nome mais inventado, nome depende da criatividade.
 Exceção no caso de S/A: de maneira excepcional, e no caso das companhias, você
pode ter o nome de 1 pessoa no nome empresarial: mesmo assim, ele vai
continuar sendo denominação.
 Ah professora, mas você tinha dito que era a composição do nome como firma que
tinha nome de gente! E na S/A não pode ser por firma. Mas vejam bem, continua
sendo assim: firma = nome de gente. Essa é uma exceção específica da S/A, que
está prevista no §1º do artigo 3º da Lei: LER
 De maneira que, se você quiser homenagear um fundador da empresa ou de
alguém que tenha contribuído para o êxito da empresa, você pode jogar o nome
dessa pessoa na denominação. Por exemplo, Fulano de Tal Sociedade Anônima.
 Pode ser nome de pessoa viva. Não precisa ser alguém morto para homenagear.
 A partir do artigo 1155 CC, tem previsão sobre nome empresarial. Basicamente as
regras que estão no CC são as regras que se repetem na Lei 6404/76. A forma de
composição do nome das S/A está prevista no artigo 1160 CC. LER
 Observem: o CC prevê a faculdade de colocar o objeto social no nome da
sociedade. A Lei da S/A não prevê isso! Porque o artigo 1160 foi modificado pela
Lei 14.382 de junho de 2022 e acrescentou a faculdade de colocar a designação
do objeto social no nome empresarial.
 Todavia, com o advento da Lei n. 14.195/2021 – que, ao atribuir nova redação ao
inciso III do art. 35 da Lei n. 8.934/94, reeditou a parte final do preceito que estava
derrogada pelo Código Civil, segundo a qual a indicação do objeto social no nome
empresarial é facultativa –, foi conferido novo rumo à questão, pela sucessão da lei
no tempo, retornando a regra ao nosso direito positivo e, desse modo, derrogando
a exigência da designação do objeto na composição da denominação social feita
pelo §2º do art. 1.158 e, até então, pelos arts. 1.160 e 1.161 do Código Civil. Estes
últimos preceitos (arts. 1.160 e 1.161) passaram a ter novas redações, conferidas
pela Lei n. 14.382/2022, apenas para adequá-los à nova ordem e, assim, deixar
consignado nos textos normativos respectivos que será facultada a designação do
objeto social, tudo em consonância com a aludida Lei n. 14.195/2021. Com efeito,
poderia o legislador ter aproveitado o ensejo para também atualizar a redação do §
2º do art. 1.158.
 Diante do fato, volta a ganhar força a orientação de não mais se permitir a
utilização da expressão “companhia” ao final, em razão da superveniente perda do
fundamento que, ao menos legislativamente, a autorizava.
 A sociedade anônima, diante do quadro atual, opera sob denominação integrada
pelas expressões “sociedade anônima” ou “companhia”, utilizadas por extenso ou
de forma abreviada, não se admitindo o emprego do vocábulo “companhia” ao final.
Faculta-se, outrossim, seja feita a designação do objeto na composição da
denominação social.
 A denominação pode, portanto, espelhar um nome de fantasia (Cia. Guanabara de
Tecidos, Petróleo Ipiranga S.A. e Companhia Vale do Rio Verde, por exemplo) ou o
nome do fundador, acionista ou pessoa que haja concorrido para o sucesso de sua
formação, sem que se confunda, nesse caso, com razão social ou firma41,
conforme autoriza o parágrafo único do art. 1.160 do Código Civil, na mesma linha
do que já vinha disposto no § 1º do art. 3º da Lei n. 6.404/76 (João Pinto
Engenharia S.A., Gilda Robertson S.A. e Pinto de Carvalho Companhia de Móveis
e Estofados, por exemplo). Será sempre facultativa a indicação do objeto na sua
composição, cumpre reenfatizar.
 OBJETO SOCIAL
 A sociedade anônima visará sempre à obtenção de lucros. O fim lucrativo
encontra-se a ela visceralmente ligado. Ainda que concretamente não se realize,
toda a atividade societária estará articulada em razão dessa perspectiva. Seu
objeto corresponderá, incondicionalmente, a uma atividade com fim lucrativo,
destinando-se os resultados produzidos à distribuição entre os acionistas. A
obtenção de lucro consiste, portanto, no objeto mediato ou final de toda sociedade
anônima, consoante se pode inferir do caput do art. 2º de sua lei de regência.
 Afora esse objeto mediato ou final, cada companhia terá um objeto imediato (objeto
social), o qual irá traduzir a atividade econômica que concretamente irá realizar.
Esse objeto social poderá expressar uma ou mais atividades principais ou diretas,
bem como atividades secundárias, subordinadas ou conexas, revelando, assim, a
sua empresa43. O que se exige é que essa empresa de fim lucrativo não seja
contrária à lei, à ordem pública e aos bons costumes.
 A atividade principal irá exprimir o objeto essencial da sociedade considerada.
Nada impede sejam eleitas pelos sócios, no estatuto social, diversas atividades
principais que constituirão o seu escopo imediato. Subordinadamente à principal ou
às principais, pode haver atividades secundárias. Estas também deverão estar
reveladas no estatuto. Havendo, por exemplo, a fixação do escopo social em
“comércio e indústria de derivados de soja”, bem como a sua “embalagem”, essa
última atividade descrita seria secundária, subordinada ou conexa, só se
justificando em função da principal.
 “quando as actividades principais se tornem impossíveis, as secundárias, não
fariam sentido; a menos que se verificasse uma alteração do objecto social, a
possibilidade de actividades secundárias seria insuficiente para justificar a
manutenção da sociedade”. Pensamos também assim o seja no Direito nacional.
Com efeito, vem erigida como causa ensejadora da dissolução judicial da
companhia a comprovação, realizada no bojo de processo judicial, resultante de
ação proposta por acionistas que representem, ao menos, cinco por cento do
capital social, de que a sociedade não pode preencher o seu fim (art. 206, II, b).
 O objeto social é, desse modo, o conjunto de atividades econômicas que a
sociedade explora ou pretende desenvolver, nos termos definidos no estatuto.
 Mas o objeto social funciona, adicionalmente, como elemento delimitador dos
órgãos sociais. Condiciona a deliberação dos sócios e baliza a atuação dos
administradores. Daí a lei exigir que venha definido de modo preciso e completo no
estatuto social (§ 2º do art. 2º).
 A definição estatutária do objeto deve, como regra46, ser exaustiva, taxativa.
Rejeita-se, pois, uma abordagem enunciativa ou explicativa. Sua interpretação é
sempre restritivamente imposta aos que são responsáveis pela política da
companhia e pelos atos de sua execução. Deve-se fazer a indicação de seu
gênero e espécie. O gênero traduz-se nas ramificações da atividade econômica,
como comércio, indústria, agropecuária, importação, exportação, prestação de
serviços, atividades financeiras, securitárias etc. Definido o gênero ou os gêneros
da atividade, adentra-se na espécie. Assim, por exemplo, sendo definidos como
gêneros “o comércio e a fabricação”, deve-se elucidar a espécie, como “móveis e
utensílios”. Portanto, o objeto será o de comércio e fabricação (gênero) de móveis
e utensílios (espécie).
 Nessa definição, como de regra, não se pode fazer uso de termos inespecíficos.
Contudo, sendo o gênero abrangente, fica dispensada a especificação,
flexibilizando, diante da realidade de mercado, a exigência. Como bem pondera
Tavares Borba47, não havendo óbice a que uma sociedade se dedique a diversos
ramos de comércio, como se verifica nas chamadas lojas de departamento, caberá,
na hipótese, “declarar-se que o seu objeto é o comércio em geral”, ou, almejando
melhor equilibrar a realidade com o mandamento legal, o objeto poderia ser o de
comércio varejista em geral.
 No dia a dia da vida societária comumente se encontram companhias com ampla
definição de seu objeto social sem, contudo, exercer todas as atividades nele
descritas. O fato, é de ressaltar, não constitui irregularidade. O objeto formal pode
ser diverso do real, desde que este esteja efetivamente naquele compreendido, ou
seja, a não operação do objeto formalmente declarado no estatuto de forma
completa, limitando-se a desenvolver a sociedade apenas parte das ramificações
nele dispostas, não revela ilícito. O que não se tolera é que a atuação se dê além
do objeto social declarado.
 Pertinente, afinal, a conclusão de Miranda Valverde48, segundo a qual o objeto
social é o fim para o que a sociedade é constituída, devendo-se entendê-lo como
um limite de sua atividade.
 Nessa real perspectiva é que a lei trata com rigor a mudança do objeto social. Além
de impor um quorum de deliberação qualificado para sua aprovação (art. 136,
VI)49, garante ao acionista dissidente o direito de recesso (art. 137)50
 Qualquer alteração estatutária, tendo em vista o objeto social, necessita, com
efeito, de disciplina mais rígida, já que se trata da base fundamental do próprio
contrato social. Ao admitir-se a adoção do regime majoritário para a modificação da
principal estipulação do estatuto, o que não era admitido pela nossa lei de 1891
(art. 128), impõe-se a maioria qualificada de deliberação
 Tanto a atividade principal, que lhe constitui o objeto ou fim essencial, quanto a
secundária devem estar declaradas no estatuto, como o exige a lei. Contudo,
somente a substituição do objeto essencial, sem o que fica efetivamente
descaracterizado o fim para o qual foi a companhia constituída, é que se mostra
com força para suplantar o quorum ordinário de deliberação e viabilizar o exercício
do direito de retirada. Apenas nesse contexto de exegese é que se estará
realizando a racionalidade e a teleologia das normas que resultam dos textos
normativos dos arts. 136, VI, e 137. A mudança exige, pois, o desvio da sua
atividade ou atividades fundamentais originais, comprometendo a essência do
objeto anteriormente declarado, implicando, assim, a mudança de rumo da
companhia.
 Desse modo, a realização de pequenos ajustes no objeto social não significa
mudança desse objeto. São os casos, por exemplo, da supressão de uma atividade
secundária que não comprometa a principal ou o acréscimo de atividade que venha
a fortalecer e valorizar o objeto essencial, configurando mero desdobramento,
como na hipótese de um fabricante de determinado produto que adicionalmente
passa a oferecer direta e pessoalmente os serviços de assistência técnica. Da
mesma sorte, não caracteriza mudança de objeto a supressão de atividades que
de fato a companhia não exerça, o que representa simples ajuste à realidade da
empresa pela sociedade realizada. É mero ajuste do objeto formal ao objeto real,
sem implicar qualquer prejuízo à minoria social.
 Por derradeiro, permite a lei possa ser objeto da companhia a participação em
outras sociedades ainda que não contemplada no estatuto. Essa participação, sem
expressa previsão estatutária, é facultada como forma de propiciar que a
companhia realize o seu objeto social ou para que ela usufrua de incentivos fiscais
(§ 3º do art. 2º). Faculta-se e estimula-se o agrupamento societário. A participação
em outras sociedades, como forma de realizar o objeto, sem autorização expressa
no estatuto, demanda prudência. Deverá existir efetivo nexo de correspondência
entre os objetos da companhia e daquela de que irá participar. Não havendo
rigorosa conexidade e dependência entre as atividades, a autorização torna-se
obrigatória, sem o que estará configurado o desvio de objeto.
 INTERESSE, FIM E OBJETO SOCIAL
O interesse social (interesse da companhia) é revelado a partir do interesse comum aos
acionistas da companhia para a realização do fim social.

O fim social (fim da companhia), como o de qualquer sociedade a partir do advento do


Código Civil de 2002, é o da obtenção de lucro, mediante a execução do objeto social.

O objeto social, por seu turno, consiste na atividade econômica de produção ou circulação
de bens ou serviços realizada pela companhia, com o propósito de lucro (Lei n. 6.404/76,
art. 2º c/c Código Civil, arts. 966, 981 e 982). O objeto social é, desse modo e como se viu
no item 2.8 acima, o conjunto de atividades econômicas que a sociedade explora ou
pretende desenvolver, nos termos determinados no estatuto. A função primordial do
objeto social é a de definir, portanto, o tipo de empresa ou atividade econômica a que a
companhia irá se dedicar para atingir o seu intuito final, que é, essencialmente, o de gerar
lucros para os acionistas.

Considerado em sua acepção abstrata, o interesse social traduz-se, pois, na orientação


de se alcançar a maximização dos lucros a partir da eficiente exploração do objeto
social58.

 Sociedade anônima de pessoas


Por suas características essenciais, a sociedade anônima se apresenta como uma típica
sociedade de capitais, na qual o que mais importa é a contribuição do acionista e não
suas qualidades pessoais. Ocorre que essa forma societária vem sendo mais usada do
que era no passado, abrangendo também empreendimentos de pequeno e médio porte.
Nestas situações, pode ser formada uma sociedade anônima fechada, com poucos
acionistas muito próximos entre si (parentes ou não). Diante dessa configuração, a
jurisprudência vem reconhecendo que algumas sociedades anônimas são sociedades de
pessoas.

Em algumas companhias, pode-se verificar um caráter mais pessoal na relação entre os


acionistas e, consequentemente, uma affectio societatis (pode ser definida como o
elemento subjetivo consistente na intenção do sócio de constituir e de permanecer em
uma sociedade) mais forte entre eles. Dessa forma, deve-se reconhecer um regime
específico para essas sociedades, levando em conta o caráter intuitu personae (leva em
consideração a pessoa) da sua constituição.
Nesse regime específico, deve-se admitir a dissolução parcial da sociedade, pela simples
quebra da affectio societatis; deve-se admitir a resolução do vínculo de um acionista,
independentemente de alguma das hipóteses legais para o exercício do direito de
retirada.
Caso não se admita esse regime específico, os resultados serão desastrosos. Não
admitindo a dissolução parcial, a quebra da affectio societatis poderia significar a
dissolução total da companhia, prejudicando todos os interesses que a circundam. De
outro lado, o acionista insatisfeito poderia ficar vinculado eternamente à sociedade, pois
não haveria terceiros interessados em ingressar naquela relação extremamente particular.
Tal resultado, além de indesejável, viola a própria garantia constitucional da liberdade de
associação, que impede que alguém seja compelido a permanecer associado.

Por todo o exposto, configurando-se a relação mais pessoal entre os acionistas, deve-se
admitir esse regime específico para as sociedades anônimas.

O empreendimento de menor porte, com menor demanda de aporte de capital,


estruturado pela conjugação de esforços de pessoas que nutrem, em medida adequada,
mútua confiança, capazes de prover, de per si, o fluxo de investimento necessário à
exploração da atividade econômica, identifica-se, na forma anônima, com a companhia
fechada. Sua organização diferenciada por lei vem, em determinado padrão, facilitada. O
art. 294 da Lei do Anonimato volta suas regras para a intitulada pequena sociedade
anônima61. São elas companhias fechadas que tenham receita bruta anual de até setenta
e oito milhões de reais. Essas sociedades podem realizar as publicações societárias de
forma eletrônica, em exceção à regra geral do art. 289, bem como substituir os livros
sociais por registros mecanizados ou eletrônicos62. Não se qualifica, entretanto, como
pequena sociedade anônima, apta a gozar do tratamento diferenciado, a companhia
controladora de grupo de sociedades, ou a ela filiadas.

O STJ, porém, pacificou o entendimento acerca da possibilidade de ser constituída uma "sociedade
anônima de pessoas". Note-se a curiosidade: a sociedade anônima é "anônima" exatamente porque
não se tem como saber quem compõe o quadro societário pela mera análise do seu estatuto social.
Porém, apesar disto o STJ, por meio da 2ª seção de direito privado, entendeu ser possível a
dissolução parcial de sociedade anônima, por quebra de affectio societatis, desde que presente três
requisitos cumulativos: I – a sociedade anônima deve ser fechada; II – a sociedade deve ser
estritamente familiar; III – as ações não devem ter liquidez.
O art. 4º, da Lei nº 6.404/76, regulamenta a diferença existente entre a sociedade anônima aberta e a
sociedade anônima fechada. A sociedade anônima será considerada aberta quando, em razão de
registro perante a CVM, existir a possibilidade da negociação de suas ações e valores mobiliários
perante a bolsa de valores. A sociedade anônima será considerada fechada quando, por conta da
inexistência de registro perante a CVM, estiver fechada a possibilidade de negociação de suas ações
em bolsa de valores. Para ser "de pessoa", a sociedade anônima deve ser fechada.

Outro ponto a se considerar para se falar na natureza personalista de uma sociedade por ações é o
fato de os acionistas serem todos membros de uma mesma família, de uma mesma entidade
familiar. Por final, faz-se necessário que as ações não tenham liquidez, vale dizer, as ações desta
companhia não podem ter valor de mercado.

Deste modo, diante de uma sociedade anônima de pessoas será possível: a) o acionista exercer o
direito de retirada em hipóteses para além das já previstas no art. 137, da Lei nº 6.404/76 que
apresenta, para a sociedade anônima de pessoas, portanto, rol exemplificativo (regra geral,
considera-se taxativo); e b) o acionista que quebrar a affectio societatis

Assim, vale à pena notar: a sociedade anônima que, regra geral, é sociedade de capital, poderá
excepcionalmente ter natureza personalista e, nestes termos, vir a sofrer procedimento de dissolução
parcial.
preponderância da finalidade de gerar lucros sobre as características pessoais dos seus acionistas. Como se
verá adiante, tal conceito não é inteiramente aplicável à maioria das sociedades anônimas brasileiras: as
sociedades anônimas de capital fechado, que possuem características evidentes e predominantes do intuito
personae, apesar de adotarem a roupagem das sociedades de ações.

Nesse sentido, segundo entendimento do STJ (REsp nº 1.400.264/RS, relatora: ministra Nancy Andrighi, 3ª
Turma, julgado em 24/10/2017), a dissolução parcial de sociedade anônima fechada, desde que
caracterizada o intuito personae, é possível quando há: 1) quebra do affectio societatis; e 2) inexistência de
lucros ou ausência de distribuição de dividendos por um longo período de tempo. Ressaltando-se que para
a concessão da dissolução parcial devem ser observados todos os demais aspectos do caso concreto, e
especialmente em razão da ausência de previsão expressa na Lei das SA, a dissolução parcial de sociedade
anônima deverá ser pleiteada perante o Poder Judiciário e, portanto, determinada por meio de sentença,
não sendo admitido, por exemplo, a possibilidade de exclusão de acionista extrajudicial, como permitido
para as sociedades limitadas.

 COMPANHIAS ABERTAS E FECHADAS (tema muito cobrado em provas)

Essa classificação vai interferir em várias situações: existem valores mobiliários que só
podem existir em companhias abertas ou fechadas; existem órgãos e sua formação que
só podem existir na S/A aberta, por exemplo, e assim vai.
Então, existem dois tipos de sociedades anônimas, as sociedades abertas e as fechadas,
que possuem características bem diferenciadas, justificando também um tratamento
diferenciado.

LER artigo 4º, caput, da Lei:

Destacar que, quando se faz uma prova, seja OAB ou concurso, ninguém sabe tudo,
absolutamente tudo. Por melhor candidato que você seja, ninguém sabe absolutamente
tudo, de todas as matérias. Mas as vezes você não sabe da técnica, mas ai você para um
pouquinho, respira, para pra pensar ao seu redor: se tem uma S/A com ações sendo
vendidas na Bolsa de Valores, para qualquer um nela ingressar. Essa S/A é aberta ou
fechada? Claro que ela é aberta, que vai constituir quase que a totalidade das S/A, que é
aquela cujos valores mobiliários estão postos a quem os quiser adquirir = valores
mobiliários vendidos. Exemplo: Natura, Arezzo, Casas Bahia, Magazini Luíza, etc.
Sociedade anônima aberta é aquela cujos valores mobiliários encontram-se admitidos à
negociação no mercado de valores mobiliários, traduzido pelas bolsas de valores ou
mercado de balcão
à fechada, por sua vez, se alcança por exclusão, isto é, são aquelas companhias cujos
valores mobiliários não são passíveis de oferta pública nesse mercado.
As fechadas = o seu acesso não está franqueado a todos, você precisa de autorização
dos demais sócios, autorização estatutária para nela ingressar. Exemplo: Rede Globo de
Televisão, que é uma companhia fechada.

Lei 6.385/76 - Dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários.

Conforme deflui do art. 4º da Lei n. 6.404/76, as sociedades anônimas são classificadas


em companhias de capital aberto e companhias de capital fechado, sem que isso, é bom
ressaltar, ponha em xeque a unidade do tipo societário. Em função das peculiaridades
que as distinguem, a demandar regramentos específicos além do foco comum, é que a lei
estabelece um processo para sua diferenciação.

Quais são os órgãos que realizam atividades junto a tais empresas:


1) Mercado de Valores Mobiliários
1.1 Bolsa de Valores
1.2 Mercado de Balcão
O mercado de valores mobiliários é constituído principalmente por esses dois. E aqui é
importante dizer o seguinte: não estamos em aula de economia, eu não sou economista,
nós temos uma legislação que dá pra ser trabalhada sob diversas frentes, economia,
contabilidade, mas minha função aqui é trazer pra vocês as principais informações
jurídicas para ajuda-los nas provas que farão.

3 Mercado de valores mobiliários


Quando a sociedade anônima necessita de recursos, ela pode lançar mão de duas fontes:
o mercado financeiro e o mercado de valores mobiliários1420. Na primeira fonte, a
sociedade obtém empréstimos junto a instituições financeiras, como os particulares em
geral. Na segunda fonte, a sociedade pode emitir valores mobiliários, para obter os
recursos diretamente junto ao público investidor, sendo mais interessante para a
sociedade na maioria dos casos.

O mercado de valores mobiliários é o conjunto de instituições e de instrumentos que


possibilita realizar a transferência de recursos entre tomadores (companhias) e
aplicadores de recursos (poupadores), buscando compatibilizar seus objetivos. Este
mercado pode ser dividido em mercado primário e secundário; neste a circulação dos
títulos se dá entre investidores, já naquele a relação é estabelecida entre o investidor e a
própria sociedade anônima destinatária do investimento1421.

Este mercado é formado pelas bolsas de valores e pelo mercado de balcão.

3.1 Bolsa de valores


As bolsas de valores são entidades privadas constituídas sob a forma de associações
civis ou sociedades anônimas, que funcionam como provedores de sistemas de
negociação, cumprindo as funções de disseminação de informações de transformação
das ordens em negócios1423. As bolsas de valores, conquanto sejam privadas, atuam
sob a supervisão da CVM, pois atuam na prestação de serviço público, devendo fiscalizar
os seus membros e as operações realizadas por eles1424.

A finalidade primordial a que se destinam as bolsas de valores é manter um local


adequado para a negociação de valores mobiliários, no chamado mercado secundário,
isto é, para a venda de títulos pelos seus titulares e não para a subscrição de novos
títulos emitidos pelas sociedades abertas1425. Em tais locais, é realizado o chamado
pregão, vale dizer, a negociação dos valores mobiliários pelas sociedades corretoras, no
interesse de seus clientes (os investidores), mediante leilão. Hoje em dia, não se realiza
mais um pregão viva voz, mas apenas um pregão eletrônico para as negociações.

A B3 concentra a negociação realmente relevante de valores mobiliários no país, havendo


uma utilização mais restrita das demais entidades. Em outubro de 2007 foi realizada sua
abertura de capital, a qual foi extremamente valorizada, o que demonstra a importância da
atuação dessas entidades.

Nossa principal Bolsa de Valores é IBOVESPA (dentre as principais da América Latina e


do mundo). Não é órgão do governo federal. É instituição de direito privado. É o
termômetro da economia do país.
Qualquer operação feita fora da Bolsa de Valores é realizada no mercado de balcão (não
existe fisicamente, ao contrário da IBOVESPA). Ele lida com mercado primário e
secundário. Bolsa de valores lida apenas com mercado secundário. Mercado primário são
emitidas e criadas as ações. Secundário só venda de ações. Então, Bolsa de Valores:
apenas venda de ações.

Como a Bolsa de Valores é o termômetro da economia, o governo não pode deixar isso
“solto”. Por isso foi criada a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que é uma autarquia
especial, tem atuações muito específicas com relação ao mercado de valores mobiliários.

3.2 Mercado de balcão


O mercado de balcão abrange toda negociação de valores mobiliários feita fora das
bolsas de valores, mas por meio dos outros distribuidores de valores mobiliários arrolados
pelo art. 15 da Lei n. 6.385/76, basicamente as negociações realizadas diretamente pelas
instituições financeiras, sociedades corretoras e agentes autônomos de investimento1426.
Neste mercado, há tanto a revenda de títulos mobiliários como a subscrição destes, vale
dizer, há negociações no mercado primário e no mercado secundário. A principal
diferença em relação às bolsas de valores é a ausência de um sistema centralizado e
compulsório de formação de preços, vale dizer, as operações são fechadas1427.

A Resolução n. 135/2022 da CVM regulamenta as entidades do mercado de balcão


organizado, que se caracterizam pela prestação de serviços similares aos das bolsas de
valores, aos dos investidores e outros agentes do mercado1428. Tais entidades devem
manter um sistema adequado à negociação de valores mobiliários, sendo fiscalizadas
pela CVM.

Todas as negociações realizadas fora das bolsas de valores e do mercado de balcão


organizado são consideradas negociações do mercado de balcão não organizado,
expressão infeliz adotada pelo art. 21, § 3º, da Lei n. 6.385/76. Nessas situações, a
operação se efetiva por meio de simples conversação, sendo fixado livremente o preço
pelas partes, sem uma pressão maior da oferta e procura determinantes das cotações nas
bolsas de valores.
1) O papel da CVM – Artigo 4º, §1º = CVM (comissão de valores mobiliários)

Ela serve para:


1) Regulamentar o nosso mercado de valores mobiliários;
2) Fiscalizar o que está sendo feito no mercado;
3) Aplicar punições da órbita administrativa (advertências, multas, suspensão, etc). Ao
apurar prática de crime = MP tem que ser acionado para promover a respectiva
ação penal.

Indicação de filme para entender o sistema de uma S/A


1) O Logo – Wall Street (filme pesado!);
2) A grande aposta (muito didático); fala sobre crise na Bolsa de Valores, filme
ganhador de Oscar.

O texto original do art. 4º da Lei n. 6.404/76 distingue as sociedades abertas das


fechadas, pela admissão ou não dos seus valores mobiliários à negociação no mercado
de valores mobiliários. O referido dispositivo deixou de falar em bolsa de valores e
mercado de balcão e passou a falar simplesmente em mercado de valores mobiliários,
sem que isso represente uma inovação relevante. Pela possibilidade de negociação no
mercado, a sociedade aberta deve ser registrada e ter seus valores mobiliários
registrados perante a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que possui a função de
resguardar a lisura da negociação no mercado, tornando-o confiável e atrativo aos
investidores. O processo de registro inicial de companhia aberta é disciplinado
basicamente pela Resolução n. 80/2022 da CVM.
Em síntese, a diferença mais importante entre a sociedade aberta e a fechada é que a
primeira possui relações com todo o mercado investidor, devendo obediência a normas
específicas que visam à sua proteção, ao passo que na fechada a relação é restrita aos
próprios membros da sociedade.

O art. 4º, § 3º, da Lei n. 6.404/76, permite que a CVM distinga vários tipos de sociedades
abertas, de acordo com os valores mobiliários por ela negociados no mercado e,
consequentemente, limite o âmbito de aplicação de determinadas normas. As normas a
que se refere o dispositivo são as instruções da CVM, e não a lei, pois a CVM não tem
competência para afastar a aplicação de uma lei.

A Resolução n. 80/2022 da CVM prevê duas categorias de sociedades abertas. A


Categoria A autoriza a negociação de quaisquer valores mobiliários no mercado. A
Categoria B autoriza a negociação de valores mobiliários nos mercados regulamentados,
exceto de: I – ações e certificados de depósito de ações; ou II – valores mobiliários que
confiram ao titular o direito de adquirir os valores mobiliários mencionados no inciso I, em
consequência da sua conversão ou do exercício dos direitos que lhes são inerentes,
desde que emitidos pelo próprio emissor dos valores mobiliários referidos no inciso I ou
por uma sociedade pertencente ao grupo do referido emissor. Depende de
regulamentação da CVM a criação da categoria das S/A de menor porte, entendida como
aquela que tem receita bruta anual de até R$ 500.000.000,00 (quinhentos milhões de
reais). A regulamentação estabelecerá as condições de acesso ao mercado de capitais e
até a dispensa ou flexibilização de certas regras da Lei n. 6.404/76, como quanto à
obrigatoriedade de instalação do conselho fiscal a pedidos de acionistas, quanto à
necessidade de intermediação de instituições financeiras em ofertas públicas.

A Resolução n. 166/2022 da CVM já faculta às companhias abertas de menor porte


realizar as publicações ordenadas na Lei n. 6.404, de 1976, ou previstas na
regulamentação editada pela CVM por meio dos Sistemas Empresas.NET ou Fundos.Net,
conforme o caso.

4 Comissão de Valores Mobiliários (CVM)


Para as sociedades abertas, atuantes no mercado de capitais, exige-se o registro da
sociedade e dos valores mobiliários na CVM, que é uma entidade autárquica em regime
especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, mas sem uma subordinação hierárquica,
isto é, ela é dotada de autoridade administrativa independente (art. 5º da Lei n. 6.385/76).

Ela é composta de um presidente e quatro diretores, escolhidos pelo Presidente da


República, com a necessidade da aprovação da escolha pelo Senado Federal, similar ao
que ocorre com as demais agências reguladoras. O mandato dos seus membros é de
cinco anos, vedada a recondução, devendo a cada ano ser substituído um membro.
Esses dirigentes têm estabilidade no cargo, a qual é essencial ao bom desempenho de
suas funções, pois afasta ingerências políticas, privilegiando o mercado1429.

A princípio, a CVM tem basicamente cinco tipos de funções: consultiva, fiscalizadora,


registrária, de fomento e regulamentar1430.

A CVM emite pareceres de orientação aos participantes do mercado, atendendo a


consultas formuladas por eles nas matérias de sua competência (art. 13 da Lei n.
6.385/76). Ela também fiscaliza a atuação dos participantes do mercado de capitais,
evitando danos aos investidores, ou aplicando penalidades aos causadores de tais danos,
assegurando assim a confiabilidade do mercado1431.

Diretamente ligada à função fiscalizadora está a função registrária, pois compete à CVM
registrar as sociedades abertas, as entidades distribuidoras de valores mobiliários e os
próprios títulos que serão negociados no mercado, resguardando o investidor em face de
quaisquer irregularidades e evitando a atuação de entidades inidôneas. Há ainda a função
de fomentar a atividade do mercado de capitais, promovendo eventos que permitam ou
auxiliem o desenvolvimento do mercado1432.

Por fim, há a função regulamentar cuja discussão a respeito da sua legitimidade enseja
um estudo mais detalhado.

4.1 O poder regulamentar da CVM


Nos termos do art. 8º, I, da Lei n. 6.385/76, compete à CVM regulamentar as matérias
expressamente previstas em tal lei e na Lei n. 6.404/76. Tal função vem sendo exercida
pela CVM, que já editou inúmeras instruções normativas regulamentando vários aspectos
atinentes às sociedades abertas e ao mercado de valores mobiliários. O exercício de tal
competência é extremamente questionado na doutrina.
Luis César Amad Costa reconhece uma inconstitucionalidade no poder normativo
atribuído às autarquias em geral, e especificamente à CVM, afirmando que o poder de
regulamentar as leis em geral é atribuído ao Presidente da República nos termos do art.
84, IV, da Constituição Federal1433. O referido autor afirma que as instruções normativas
devem ser instrumentos usados exclusivamente como instrumento de veiculação para o
particular, sem alterar a ordem jurídica1434.

De outro lado, Carlos Ari Sundfeld reconhece uma competência regulamentar das
agências reguladoras em geral, a qual representaria um aprofundamento da atuação
normativa do Estado, sem a criação de regulamentos autônomos1435. Similar é a opinião
de Floriano Azevedo Marques Neto, para quem “a lei define as metas principais e os
contornos da atividade do órgão regulador, cometendo-lhe (nestes limites e sob controle
do Judiciário e do próprio Legislativo) ampla margem de atuação”1436.

Leila Cuéllar esclarece que a competência regulamentar é primordialmente do Presidente


da República, mas não exclusivamente dele1437. Assim sendo, é possível, mediante
previsão legal, que a regulamentação seja feita por outros entes, como as autarquias em
regime especial. Desse modo, estaria explicado o regime das agências reguladoras,
dentre as quais a CVM, como exercício do poder regulamentar. Afasta-se, pois, a ideia de
delegação legislativa, incompatível com o atual regime constitucional brasileiro (art. 25 do
ADCT). Além disso, a delegação legislativa, se fosse admissível, deveria ser temporária,
específica e precária, o que não se coadunaria com a finalidade das agências
reguladoras, em geral.

Assim, nestes termos, acreditamos que a CVM tem legitimidade para regulamentar as
Leis n. 6.385/76 e 6.404/76, não podendo, todavia, extrapolar os limites da mera
regulamentação, isto é, a CVM não tem competência para criar direito novo, mas apenas
para regulamentar as leis emanadas do poder legislativo, alcançando sua finalidade
primordial, que é a de tutelar o mercado de capitais.

2 Os valores mobiliários
As sociedades abertas caracterizam-se pela possibilidade de negociação de valores
mobiliários no mercado de valores mobiliários, que está dentro do mercado de capitais,
que, por sua vez, integra o mercado financeiro. Os valores mobiliários não podem ser
conceituados pelos direitos que asseguram, mas apenas pela função econômica a que
estão ligados, que é diversa, sob o ponto de vista da sociedade e dos seus titulares. Para
quem os titulariza, os valores mobiliários são uma alternativa de investimento (emprego
remunerado ao dinheiro) e para a sociedade são um instrumento de captação de
recursos.

Sob o ponto de vista de seus titulares, o valor mobiliário constitui um investimento, isto é,
um emprego do capital com vistas à obtenção de lucros. Para tal forma de investimento o
risco nunca é estranho, pois não há uma garantia de sucesso. Apesar disso, tal
investimento pode ser extremamente rentável, seja pelas vantagens que eventualmente
assegura (participação nos lucros, pagamento de juros), seja pela possibilidade de
negociação no mercado com a valorização destes. Por isso, tais valores são atrativos
para o público.

Sob a ótica da sociedade, o valor mobiliário é uma alternativa de crédito, ampla, rápida e
flexível, indispensável para a competição no mundo moderno. São os valores mobiliários
que tornam a sociedade anônima o grande instrumento do capitalismo, dada a
possibilidade de uma reunião, por meio deles, de uma grande quantidade de capitais,
imprescindível à realização de grandes empreendimentos. Sem o mecanismo
possibilitado pelos valores mobiliários, a obtenção de tais recursos seria muito penosa
(juros elevados, dificuldades de crédito...) ou seria até mesmo inviável.

São valores mobiliários no direito brasileiro: as ações, debêntures, bônus de subscrição,


cupons, direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramento decorrentes de
tais títulos, os certificados de depósito de valores mobiliários, cédulas de debêntures,
cotas de fundos de investimento, os “commercial papers”, os contratos de investimento
coletivo e os contratos derivativos (art. 2º da Lei n. 6.385/76). A Lei n. 10.303/2001
extinguiu a competência do Conselho Monetário Nacional a respeito da criação de novos
valores mobiliários, limitando tal conceito às espécies elencadas na Lei n. 6.385/76, com
uma cláusula geral para abrangência de novos títulos.

Também são valores mobiliários quaisquer “títulos ou contratos ofertados publicamente


que gerem direito de participação, parceria ou de remuneração, inclusive resultante de
prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de
terceiros”. Atuando dessa forma, nosso legislador chega a um conceito muito próximo do
conceito de securities do direito norte-americano, que são “um termo geral que inclui não
apenas valores mobiliários tradicionais como ações e debêntures, mas também uma
variedade de participações que envolvem um investimento com um retorno primariamente
ou exclusivamente dependente dos esforços de outra pessoa, que não o investidor”.

Fechamento do capital social


A participação de uma sociedade no mercado de capitais, isto é, a negociação de seus
valores mobiliários no mercado, não precisa ser eterna. Em outras palavras, uma
sociedade aberta pode se tornar uma sociedade fechada. Todavia, tal operação pode
afetar diretamente os interesses dos acionistas e dos titulares de outros valores
mobiliários negociados no mercado.

Para uma sociedade inicialmente aberta se tornar uma sociedade fechada, é realizado um
procedimento que se pode denominar de fechamento do capital social. Este procedimento
se efetiva com o cancelamento do respectivo registro da sociedade e de seus títulos junto
à CVM. Tal cancelamento do registro afeta diretamente os interesses dos acionistas
minoritários e dos titulares de valores mobiliários negociados no mercado, uma vez que
haverá perda de liquidez dos títulos, perda de um referencial de preço e perda do direito
de ser informado sobre diversas situações. Por isso, há que se impor um procedimento
pormenorizado, a fim de evitar prejuízos a tais pessoas.

O parágrafo quarto do art. 4º da Lei das S.A. dispõe que, para o fechamento do capital
social, e o consequente cancelamento no registro de uma sociedade na CVM, deverá ser
feita pelo controlador uma oferta pública para aquisição de todas as ações em circulação
por preço justo. Tal oferta também pode ser feita pela própria companhia, nos casos em
que se admite a aquisição de ações para permanência em tesouraria.

5.1 Preço justo


A oferta pública para o cancelamento do registro da S.A. deve ser feita por um preço
justo. A definição de tal preço foi muito discutida, sendo ampliada por uma emenda na
Câmara dos Deputados1440, exigindo-se que se leve em conta de forma isolada ou
combinada o valor patrimonial contábil ou real das ações, o seu valor de mercado, ou o
valor decorrente da apuração pelo fluxo de caixa descontado (perspectiva de lucros
futuros trazida para o presente) ou de comparação por múltiplos (comparação do valor de
negociação para empresas congêneres), ou ainda outro critério aprovado pela CVM.
A utilização de apenas um dos critérios de modo rígido poderia gerar distorções na busca
do preço justo. A cotação de uma ação, com baixo índice de negociação no mercado, não
representa seu valor real. Do mesmo modo, a comparação com outras empresas do
gênero que nem sempre estão nas mesmas condições. A determinação do valor
patrimonial, seja contábil, seja real, nem sempre permite que se comprove efetivamente o
preço justo, pois é extremamente difícil a valoração dos chamados intangíveis. Por fim, a
utilização do fluxo de caixa descontado (valor econômico), inicialmente único critério
adotado no projeto, além de extremamente subjetivo, pode representar uma distorção, de
acordo com os juros utilizados, ou por motivos conjunturais imprevistos. Tais critérios
apresentam vantagens e desvantagens, sendo extremamente sábia a possibilidade de
adoção de todos eles para se chegar ao valor justo para a oferta.

Para a realização da oferta, o acionista controlador deve apresentar um laudo de


avaliação da companhia, elaborado por uma corretora ou distribuidora de valores
mobiliários, ou por uma instituição financeira com carteira de investimento. Tal laudo
deverá apresentar no mínimo a avaliação das ações por todos os critérios apontados pela
lei (valor patrimonial contábil ou real; valor econômico, valor de mercado apurado nos
últimos 12 meses, ou outro critério adotado), com os respectivos elementos adotados
para tais avaliações. Dentre tais avaliações, há que se indicar qual a que parece mais
adequada para a definição do preço justo (art. 10, VI, do Anexo B da Resolução n.
85/2022 da CVM).

A avaliação do preço justo poderá ser refeita, diante de uma decisão da assembleia geral,
convocada pelos administradores, a pedido de acionistas que representem pelo menos
10% das ações em circulação no mercado, entendidas por ações em circulação o total
das ações emitidas pela sociedade, menos as ações do acionista controlador, dos
administradores e as ações em tesouraria. Tal pedido deve ser formulado no prazo de 15
dias contados da divulgação do valor da oferta pública e deve ser fundamentado. Diante
dessa possibilidade, o procedimento só pode ser implementado após o decurso desse
prazo sem impugnação, ou após a feitura da nova avaliação, se for deliberada.

Há um direito dos acionistas para questionar tal avaliação, mas tal direito é limitado, a fim
de evitar tumultos na vida social, em primeiro lugar pela percentagem necessária para
que se possa fazer o pedido, em segundo lugar pela motivação necessária e em terceiro
pela possibilidade de indenização em caso de pedido descabido. (art. 4ºA e seus
parágrafos).

Não basta o inconformismo dos acionistas, sendo necessário que sejam indicados os
motivos que demonstrem erros na avaliação, trazendo elementos de convicção aptos a
demonstrar a falha ou imprecisão no emprego da metodologia de cálculo ou no critério de
avaliação adotado. Além disso, funcionando como um meio de pressão para evitar
pedidos descabidos, a lei impõe aos acionistas que pedirem a reavaliação, bem como aos
que votarem a favor dela, a obrigação de indenizar a sociedade, caso tal reavaliação
chegue a um valor inferior ou igual ao da oferta pública.

Havendo alteração do valor para mais, o ofertante deverá noticiar se prosseguirá com a
oferta pelo novo valor apurado ou não, independentemente do condicionamento da oferta
(Resolução n. 85/2022 – art. 28, IV). Para Luiz Leonardo Cantidiano, se o ofertante não
condicionasse a oferta ao preço oferecido, ele estaria obrigado a adotar o novo preço
avaliado. A nosso ver, a melhor solução foi a adotada pela CVM, na medida em que uma
oferta só obriga nos seus exatos termos, não se podendo impor a manutenção de uma
oferta em condições mais gravosas do que as inicialmente adotadas. Entretanto, para os
minoritários, tal nova avaliação é vinculante, isto é, é uma proposta nos termos do art. 427
do Código Civil, fato que os obriga a vender as ações pelo preço apurado.

Não concordando o ofertante com o valor a maior de avaliação obtido na revisão, assiste-
lhe o direito de da oferta desistir, uma vez que somente se vincula às condições por ele
propostas. A alteração do valor para maior permite-lhe recolher a oferta original, havendo-
se por prejudicado o fechamento do capital, ante a ausência de um de seus pressupostos.
Concordando, entretanto, prosseguirá o seu curso o processo de cancelamento do
registro da companhia, com a aceitação do “preço justo” pelas partes, não mais se
admitindo a retratação, porquanto para os minoritários a revisão equivale à nova proposta
quando apresentado o novo preço ao ofertante.
Apurando o laudo de avaliação valor igual ou inferior ao valor inicial da OPA, será
retomado o curso normal do processamento, com a marcação de data para o leilão, com
base no preço originalmente ofertado.

Sempre estará garantido aos acionistas minoritários que não consigam atingir o quorum
legal de dez por cento do capital retratado pelas ações em circulação no mercado, vendo
frustrada, assim, a possibilidade de viabilizar a revisão na esfera extrajudicial, o direito de
judicialmente impugnar o valor da oferta, com o escopo de obter, por decisão judicial, o
desejado “preço justo”. Igual direito terão os minoritários que restarem vencidos na
deliberação que rejeitar a revisão (art. 5º, XXXV, da Constituição Federal).

No caso de manutenção do valor da oferta, ou apuração de valor inferior ao da proposta,


o procedimento será retomado, com a publicação de aviso das novas datas para
efetivação da oferta.

5.2 Efetivação do cancelamento


Com ou sem alteração da proposta, só haverá o cancelamento do registro se a oferta for
aceita por acionistas que representem dois terços das ações em circulação (art. 22, II, da
Resolução n. 85/2022 da CVM), ou se o mesmo quórum concordar com o cancelamento,
ou ainda se, somados os que concordam com o cancelamento e os que aceitam a
proposta, atingir-se tal quórum. A aceitação da oferta deverá ocorrer em leilão na bolsa de
valores ou no mercado de balcão, no qual as ações sejam admitidas à negociação. Neste
quórum exigido, só são computadas as ações que se manifestaram favoravelmente ao
cancelamento do registro e aquelas que se habilitaram para a participação no leilão.

5.3 Resgate das ações remanescentes


Na hipótese de uma oferta pública para o fechamento do capital social reduzir
expressivamente a liquidez das ações no mercado, restando em circulação menos de 5%
do total das ações emitidas pela sociedade, poderá a sociedade deliberar pelo resgate
das ações pelo mesmo valor da oferta pública para cancelamento do registro, sem ter que
se preocupar com a concordância ou com as classes das ações. Tal medida se justifica
para atingir aqueles acionistas dispersos no mercado que normalmente nem sabem que
são acionistas. Nesse caso, há que se depositar a importância do resgate em uma
instituição financeira autorizada pela CVM.

O resgate é um ato não negocial, que independe da vontade do acionista para a retirada
das ações do mercado; em suma, “o resgate representa uma transmissão forçada,
irrecorrível e definitiva da propriedade das ações do acionista para domínio da própria
companhia, que, em seguida, as extinguirá”1451. Nesse mister, protege-se a própria
sociedade, e o interesse da grande maioria dos acionistas que aceitou o fechamento do
capital, de modo que a sociedade passará a ser de fato e de direito fechada, submetendo-
se às especificidades de tal tipo de companhia.

Desse modo, o fechamento do capital social agora é previsto em lei e regulamentado de


forma mais complexa pela CVM (Resolução n. 85/2022), protegendo-se os interesses dos
minoritários, mas sem descuidar do bom andamento dos negócios sociais, evitando-se
tumultos.

Fechamento branco do capital social


Antes da reforma da Lei das S.A., havia a possibilidade de um fechamento branco do
capital social, vale dizer, sem efetivamente cancelar o registro da sociedade, é reduzida
de tal maneira a liquidez das ações no mercado que sua negociação se mostra
inviabilizada. Com a lei, tal fechamento branco do capital social passa a ser vedado por
lei, impondo-se mecanismos de proteção aos acionistas minoritários.

O novo texto da Lei das S.A. praticamente impede o fechamento branco do capital social,
na medida em que impõe práticas que impeçam a subsistência de ações desprovidas de
liquidez no mercado. Quando há uma liquidez muito baixa das ações no mercado, a
negociação delas se torna praticamente inviável, em outros termos, quando existem
pouquíssimas ações em circulação no mercado, reduz-se substancialmente o interesse
dos investidores, não havendo motivo para manutenção das ações no mercado. Neste
caso, estaremos de fato diante de uma sociedade fechada, embora de direito se trate de
uma sociedade aberta, uma vez que ainda registrada na CVM como tal.

A Resolução n. 85/2022 da CVM disciplina tal procedimento em seu art. 30, esclarecendo
os percentuais que representam a redução de liquidez das ações de determinada classe
ou espécie, que impõem a realização de uma oferta pública nos termos daquela realizada
para o fechamento do capital social. Assim, caso o acionista controlador, ou pessoas a ele
vinculadas, adquiram, por outro meio que não uma OPA, ações que representem mais de
1/3 (um terço) do total das ações de cada espécie ou classe em circulação, contado na
data de entrada em vigor da referida instrução, impõe-se a oferta pública em relação a
todas as ações da classe ou espécie prejudicada. Há que se ressaltar que as ações em
circulação são todas as ações de determinada classe ou espécie, menos as do acionista
controlador.
Assim, a fim de evitar o fechamento branco do capital social, se impõe ao controlador que
aumentar sua participação de tal modo a reduzir substancialmente a liquidez das ações
remanescentes à obrigação de fazer uma oferta pública nos mesmos termos da oferta
para o fechamento do capital social. Aqui, protege-se essencialmente o interesse do
acionista que se vê privado da transparência e controle provocados pela abertura efetiva
do capital social. Todavia, permite-se ao controlador a alternativa de se comprometer a
alienar o excesso de participação a pessoas não vinculadas a ele, no prazo de três meses
a contar da ocorrência da aquisição, restabelecendo a liquidez das ações no mercado
(art. 32 da Resolução n. 85/2022). Esse procedimento alternativo, só pode ser usado uma
vez a cada 2 anos.

A indigitada Instrução, nos seus arts. 31 e 32, permite que o acionista controlador solicite
à Comissão de Valores Mobiliários autorização para não realizar a OPA ou dela desistir
na hipótese de revisão do preço, desde que se comprometa a alienar o excesso de
participação em prazo de três meses, contado da ocorrência da aquisição.

Constituição da sociedade anônima


A sociedade anônima está sujeita a um procedimento de constituição muito mais
complexo, que se desenrola por um espaço de tempo mais ou menos longo. No Brasil, o
procedimento de constituição como um todo é dividido em três fases: as providências
preliminares, a constituição propriamente dita e as providências complementares.
1ª fase
1.1 Providências preliminares
Para se dar início ao procedimento de constituição da sociedade anônima propriamente
dito, há que se atender a certos requisitos, denominados providências preliminares (art.
80 da Lei n. 6.404/76).

1.1.1 Subscrição de todo o capital social


Em primeiro lugar, todo o capital social fixado tem que ser subscrito por pelo menos duas
pessoas, isto é, pelo menos duas devem se comprometer a pagar todo o capital social.
Não há, nesse momento, a obrigação de se pagar todo o capital social, mas apenas o
compromisso de pagamento de todo o capital social.

Tal ato de subscrição representa, em verdade, uma espécie de contrato de adesão, ou


seja, o subscritor adere à proposta dos fundadores, assumindo a obrigação de contribuir.
Os fundadores são as pessoas físicas ou jurídicas que tomam a iniciativa de constituir a
sociedade.

Tal subscrição pode ser pública (arts. 82 a 87 da Lei n. 6.404/76) ou particular (art. 88 da
Lei n. 6.404/76).

Na primeira, as ações são oferecidas como uma forma de investimento, um apelo à


poupança particular, caracterizando-se pela utilização da imprensa, de intermediários ou
de estabelecimentos abertos ao público (art. 19, § 3º, da Lei n. 6.385/76). Tal
procedimento exige a intervenção de uma instituição financeira como intermediária no
processo de subscrição (underwriting), a qual funciona como agente dos fundadores da
sociedade e também como depositária dos documentos necessários para tal forma de
subscrição. A instituição que atua como “underwriter” pode subscrever os títulos para
depois negociá-los (underwriting firme), ou simplesmente prestar serviços para a
companhia emissora (underwriting de melhor esforço), ou ainda comprometer-se a
subscrever as sobras (underwriting residual).

Além disso, tal forma de subscrição exige prévio registro na CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), devendo ser apresentados a tal entidade o estudo da viabilidade econômica
do empreendimento, o projeto do estatuto (art. 83 da Lei n. 6.404/76) e o prospecto (art.
84 da Lei n. 6.404/76) organizado e assinado pelos fundadores e pela instituição
financeira intermediária.
O Prospecto é o instrumento através do qual os Fundadores devem demonstrar objetivamente as bases da
S/A e os motivos que os levam a creditar no sucesso do empreendimento. Por isso, deverá ser assinado
pelos fundadores e a instituição financeira intermediária.

Tal procedimento de prévio registro na CVM torna a constituição um processo sucessivo,


isto é, um processo que se desenvolve em vários momentos distintos1471, daí falar-se
em constituição sucessiva.

Ocorre a constituição SUCESSIVA, pois são celebrados vários atos em diversos momentos.

Já na subscrição particular não há apelo ao público, não sendo, por conseguinte,


necessária a intermediação de uma instituição financeira, nem o registro prévio na CVM,
na medida em que não haverá maiores riscos para a público investidor. O ato constitutivo
será formado entre presentes, considerando-se todos os subscritores fundadores da
sociedade (art. 88 da Lei n. 6.404/76), por isso, fala-se em constituição simultânea, pois
independe de um procedimento dotado de maiores formalidades.

a S/A se constitui de maneira SIMULTÂNEA (os atos são praticados no momento da lavratura da Escritura
Pública ou da realização da Assembleia).

Em regra, o subscritor deve assinar um documento (boletim de subscrição) com o seu


compromisso de pagamento do capital social. Com a Lei n. 13.874/2019, fica dispensada
a assinatura “na hipótese de oferta pública cuja liquidação ocorra por meio de sistema
administrado por entidade administradora de mercados organizados de valores
mobiliários” (art. 85, § 2º, da Lei n. 6.404/76). Admite-se também que a “a subscrição
poderá ser feita, nas condições previstas no prospecto, por carta à instituição,
acompanhada das declarações a que se refere este artigo e do pagamento da entrada”
(art. 85, § 1º, da Lei n. 6.404/76).

1.1.2 Integralização inicial


Na subscrição, surge o compromisso de pagamento, não sendo necessário o pagamento
imediato do preço de emissão das ações. Todavia, para constituição da sociedade, exige-
se a integralização de pelo menos 10% do preço de emissão das ações em dinheiro. Nas
instituições financeiras, exige-se a integralização inicial de 50% do preço de emissão das
ações (Lei n. 4.595/64, art. 27). Tal integralização inicial é uma forma de corporificar a
sociedade, tentando garantir que ela possa dar início a suas atividades.

1.1.3 Depósito
Uma vez realizada a integralização inicial, há que se proceder ao depósito de tais em uma
instituição financeira (no atual regime, qualquer banco comercial), pelos fundadores em
nome do subscritor e a favor da sociedade, que ainda não existe (art. 81 da Lei n.
6.404/76). Os fundadores, na condição de mandatários legais dos subscritores, têm a
obrigação de efetuar tal depósito no prazo de cinco dias contados do recebimento das
quantias.

Caso a sociedade seja efetivamente constituída, isto é, adquira personalidade jurídica, ela
terá o direito de levantar os depósitos efetuados em seu favor. Entretanto, se a sociedade
não for constituída no prazo de seis meses contado dos depósitos, os subscritores farão
jus à restituição dos valores depositados, que será efetuada diretamente pela instituição
depositária (art. 81, parágrafo único, da Lei n. 6.404/76).

2ª fase
1.2 Constituição propriamente dita
Atendidas as providências preliminares, pode-se passar à fase da constituição
propriamente dita da sociedade, cuja forma dependerá da modalidade de subscrição
escolhida. Caso a subscrição seja pública, os subscritores devem constituir a sociedade
em uma assembleia geral. Caso a subscrição seja particular, os subscritores podem optar
entre uma assembleia geral e a feitura de uma escritura pública.

Com o preenchimento dos requisitos preliminares, os fundadores devem convocar uma


assembleia dos subscritores, para deliberar sobre a constituição da sociedade e,
eventualmente, avaliar bens apresentados como forma de pagamento do capital social.
Tal assembleia exige, em primeira convocação, a presença de subscritores de pelo
menos metade do capital, sendo suficiente qualquer número na segunda convocação.

Na assembleia de constituição, será lido o recibo de depósito e discutido e votado o


estatuto da companhia, que só poderá ser alterado pela unanimidade dos subscritores,
tendo em vista que o subscritor resolveu ingressar numa sociedade com certa
configuração. Não havendo oposição de mais da metade dos subscritores, a sociedade
será declarada constituída pelo presidente da assembleia. Declarada constituída a
sociedade, deve a própria assembleia de constituição eleger os primeiros
administradores, para que a sociedade possa funcionar e, se for o caso, deve eleger os
membros do conselho fiscal.

Além da assembleia geral, é possível a constituição da sociedade pela lavratura de uma


escritura pública na qual constem as qualificações dos subscritores, a íntegra do estatuto
da companhia, a relação das ações e das entradas, a transcrição do recibo, o laudo de
avaliação, se houver, e a nomeação dos administradores e, se for o caso, dos fiscais. Tal
forma de constituição só é admitida se for o caso de uma subscrição particular.

3ª fase
1.3 Providências complementares
Após a constituição propriamente dita, ainda são necessárias providências
complementares que consistem no arquivamento (arts. 95 e 96 da Lei n. 6.404/76) e
publicação dos atos constitutivos (art. 98 da Lei n. 6.404/76), além da eventual
transferência da propriedade de bens com os quais se subscreveu o capital social. Tais
providências estão a cargo dos primeiros administradores da sociedade e visam à
aquisição da personalidade jurídica e à publicidade do nascimento da companhia.

No caso de constituição por meio de assembleia, devem ser arquivados no registro do


comércio (art. 95 da Lei n. 6.404/76): um exemplar do estatuto social, assinado por todos
os subscritores ou, se a subscrição houver sido pública, os originais do estatuto e do
prospecto, assinados pelos fundadores, bem como do jornal em que tiverem sido
publicados; a relação completa, autenticada pelos fundadores ou pelo presidente da
assembleia, dos subscritores do capital social, com a qualificação, número das ações e o
total da entrada de cada subscritor; o recibo do depósito da integralização inicial; duplicata
das atas das assembleias realizadas para a avaliação de bens quando for o caso;
duplicata da ata da assembleia geral dos subscritores que houver deliberado a
constituição da companhia. No caso de constituição por meio de escritura pública é
suficiente o arquivamento da certidão da referida escritura (art. 96 da Lei n. 6.404/76).

Arquivados tais documentos no registro do comércio, compete aos administradores


promover, no prazo de 30 dias, a publicação na imprensa oficial dos documentos relativos
à constituição dessa sociedade, bem como de certidão de arquivamento em órgão oficial
do local da sua sede. Um exemplar da publicação no órgão oficial deverá ser arquivado
no registro da sociedade.

Embora não se negue a necessidade dessas providências complementares, para


Modesto Carvalhosa, a sociedade anônima passa a existir a partir da assembleia de
constituição ou da lavratura da escritura pública de constituição1474. Tal fato não
dispensa, todavia, o arquivamento dos atos constitutivos no registro competente, que
seria uma condição de eficácia do funcionamento regular da sociedade1475 (art. 94 da
Lei n. 6.404/76). A mesma opinião é sufragada por Fran Martins, para quem há que se
distinguir o que diz respeito à constituição da sociedade e à aquisição da personalidade
jurídica1476.
Isaac Halperin manifesta-se contrariamente a tal interpretação, afirmando que o
reconhecimento da sociedade antes do arquivamento dos atos constitutivos geraria
inúmeros problemas de segurança jurídica, pois não se saberia exatamente com quem se
estaria praticando o ato1477. Nessa mesma linha de interpretação, Francesco Galgano
reconhece a existência da sociedade apenas a partir do registro, pois, antes disso, a
responsabilidade por quaisquer atos praticados seria pessoal daqueles que praticaram os
atos1478, não havendo que se falar em direitos ou obrigações da sociedade.

Conquanto tal discussão não gere maiores diferenças, a nosso ver, a melhor solução é
aquela que reconhece a existência da sociedade antes do arquivamento dos atos
constitutivos, mas com uma capacidade de agir limitada, isto é, não tendo personalidade,
ela não está habilitada a praticar os atos relativos à realização de seu objeto1479. Milita a
favor dessa interpretação o art. 91 da Lei n. 6.404/76, que exige o acréscimo da
expressão “em organização”, para os atos anteriores ao arquivamento do ato constitutivo,
demonstrando a possibilidade da prática de certos atos antes de tal arquivamento.

Além disso, a responsabilidade pessoal dos administradores pelos atos anteriores ao


registro dos atos constitutivos pode ser alterada pela assembleia geral (art. 99, parágrafo
único). Outrossim, o art. 986 do Código Civil não trata as sociedades por ações como
sociedades em comum, enquanto não forem arquivados os seus atos constitutivos, isto é,
ela não é tratada como uma sociedade de fato nesse período.

CAPITAL SOCIAL DA S/A


A Sociedade Anônima tem a possibilidade de obter recursos tanto no mercado financeiro,
por meio de empréstimos bancários, como no mercado de capitais, por meio da emissão
de valores mobiliários. Nesta última hipótese, a sociedade pode lançar mão de um
empréstimo público, de modo que os prestadores de capital não adquiram a condição de
sócio, mas simplesmente de credores da sociedade1480, ou pode emitir ações de modo
que os adquirentes desses títulos assumam todos os direitos de acionista. Entretanto,
para o início das atividades sociais, a única forma possível de financiamento é a emissão
de ações, formando o capital social inicial da sociedade.

O capital social é “o valor das entradas que os acionistas declaram vinculado aos
negócios que constituem o objeto social”. Há que se esclarecer que nem todas as
contribuições dos sócios formam o objeto social, mas apenas aquelas contribuições
ligadas à realização do objeto social. Em outras palavras, nem toda contribuição do sócio
destina-se à formação do capital social. Tal distinção tem uma importância na medida em
que há limitações diferenciadas para a utilização dos valores que representam o capital
social.
Ao subscrever uma ação, o subscritor compromete-se a pagar o preço de emissão da
ação. Tal preço tem como patamar mínimo o valor nominal da ação, isto é, a parte
correspondente no capital social. Apenas as entradas relativas a tal valor nominal formam
o capital social. Outros valores eventualmente integrantes do preço de emissão serão
destinados à formação de uma reserva de capital (art. 14 da Lei n. 6.404/76).

Diante de tais contornos, é intuitivo que o capital social representa uma realidade
completamente distinta do patrimônio, representando apenas uma cifra escolhida pelos
sócios e ligada à realização do objeto social. Daí Cesare Vivante falar que o capital social
é o capital nominal, na medida em que tem uma existência de direito mas não de fato,
sendo o patrimônio o capital efetivo, pois o conjunto de todas as relações jurídicas das
quais ela é titular, relações de propriedade, de fruição e de garantia sobre bens corpóreos
e incorpóreos1482. “O patrimônio de uma sociedade está submetido às mesmas
oscilações do patrimônio da pessoa física, variando dia a dia, ao passo que o capital
mantém uma estabilidade relativa”.

3 Formação do capital social

Como será formado o capital social (provas cobram muito)


Todo tipo societário você precisa ter capital social. No caso do estatuto, entre os
elementos obrigatórios do Estatuto está justamente o valor do capital social, a ser
expresso em moeda nacional – artigo 5º da Lei.
Artigo 7º da Lei – nesse sentido, tal qual a LDTA, o capital social ele pode ser formado
com contribuição em dinheiro ....(teor do artigo). Sócio que entra apenas com serviço ou
com no hall (conhecimento). Precisa da integralização do capital social.
O tema de capital social está espalhado por diversos artigos de nossa legislação (vamos
destacar os mais cobrados em provas).
Para o sócio contribuir com dinheiro, é simples, entrada em dinheiro. Mas como é que ele
contribui para a formação do capital social, numa sociedade dessas tão complexa, através
de bens, já que a gente disse que bens devem ser suscetíveis de avaliação de maneira
financeira?
Dessa maneira, a regra é clara no artigo 8º da Lei – observem bem, mais pra frente, nós
vamos falar dos órgãos da S/A. Percebam que, à medida que vamos passando pelos
artigos, aparece muito, como sendo de muita relevância, a Assembleia Geral, que é o
órgão deliberativo máximo da S/A. Então, a avaliação desses bens vai ser realizada por
três peritos ou por empresa especializada, desde que nomeados pela Assembleia Geral.
Tem se entendido que para a formação do capital social por meio de bens, os bens
precisam ter algum tipo de relação com o objeto social que a empresa desenvolva, o que
faz total sentido.

Modesto Carvalhosa nos chama a atenção para o fato de que não podem ser utilizados
quaisquer bens na integralização do capital social. Só podem ser incorporados bens que
tenham uma utilidade efetiva para a realização do objeto social. A utilização de bens
estranhos e inúteis ao objeto social não pode ser admitida, por representar uma forma de
burla aos credores e concorrentes da sociedade, sendo expressamente condenada pelo
art. 117, § 1º, da Lei n. 6.404/761486.

O capital social de uma sociedade deve ser fixado em moeda nacional (art. 5º da Lei n.
6.404/76), podendo ser formado por dinheiro ou quaisquer bens, desde que suscetíveis
de avaliação em dinheiro (art. 7º da Lei n. 6.404/76), exigindo-se apenas os 10% iniciais
em dinheiro (art. 80 da Lei n. 6.404/76).

No caso de integralização em bens, estes podem ser transferidos à sociedade a título de


propriedade, ou a qualquer outro título, presumindo-se a transferência da propriedade, na
ausência de disposição em sentido contrário (art. 9º). Em qualquer caso, a lei, a fim de
resguardar a integridade do capital social, exige que se proceda a uma avaliação dos
mesmos por profissionais competentes. Tal avaliação deve ser feita por três peritos ou por
empresa especializada, escolhidos em assembleia dos acionistas ou subscritores, sem a
participação daquele que pretende a integralização com os referidos bens.

Nomeados os avaliadores, estes devem elaborar um laudo fundamentando a avaliação


dos bens, tendo como patamar máximo o valor apresentado pelo ofertante. Tal laudo
deve ser submetido à assembleia e ao próprio ofertante dos bens. Havendo a aceitação
por ambos, os bens serão incorporados à sociedade, havendo a rejeição, tal incorporação
não se efetiva.
Também é possível a integralização do capital social em créditos, ficando o acionista
responsável subsidiariamente pela satisfação do crédito. O direito brasileiro não admite as
ações de trabalho, isto é, as ações integralizadas em serviços.

Capital subscrito e integralizado


O primeiro é o capital prometido, o segundo é aquele efetivamente pago. Essa é a
diferença entre eles.
O artigo 106 da Lei – nós ainda vamos ver os direitos e deveres básicos dos acionistas.
Porém, como estamos falando de capital social, é importante destacar que, entre os
deveres básicos dos acionistas, é justamente integralizar a sua parte no capital social –
descrito no artigo 106. Isso é o que está descrito nesse artigo, ele precisa fazer essa
prestação, de acordo com essa ação que ele subscreveu, de acordo com a ação que ele
se comprometeu que pagaria.
Questão de prova: o que acontece em caso de não integralização (acionista remisso –
aquele que não cumpre com sua parte na avença sobre a integralização do capital social).
Acionista velhaco, inadimplente rsrs.
A punição ao acionista que não cumpre o prometido está descrita no artigo 106, §2º e
artigo 107:
106, §6º o acionista fica de pleno direito constituído em mora (automaticamente, sem
necessidade de interpelação judicial para isso). A multa não pode se sobrepor a 10% do
valor da prestação, sob pena de se tornar abusiva. Quando ele não faz o pagamento nas
condições que foram previstas e livremente pactuadas, a primeira consequência é essa:
fica de pleno direito constituído em mora e vai se sujeitar ao pagamento dos consectários
legais (juros, assumir a correção monetária e pagamento de multa que o Estatuto
determinar – o que não pode ser superior a 10%).
Importante que cada acionista, em cada tipo societário, faça sua integralização no capital
social, mas ainda mais na S/A, que são grandes empreendimentos. Muito dinheiro
investido, por isso que se exige tanta fiscalização e tanto controle efetivamente, se os
acionistas integralizaram o capital social.
Então vamos lá, a consequência imediata é a mora, prevista no §2º do artigo 106.
Estando verificada a mora, a companhia pode, a sua escolha, as consequências previstas
no artigo 107 da Lei. A companhia tem as seguintes possibilidades:
1) Promover execução, sendo o próprio boletim de subscrição, valendo como título
executivo extrajudicial; OU
2) Mandar vender as ações na Bolsa de Valores, por conta e risco do acionista.
Isso fica muito presente em provas, formação do capital social, a subscrição e
integralização, e principalmente as penalidades decorrentes da não integralização.

4 Funções
O capital social exerce basicamente três funções para a sociedade: a função de
produtividade, a função de garantia e a função de determinação da posição do sócio.
Algumas funções primordiais do capital social:
Nós temos a própria razão de ser do capital social, que é o valor entregue à empresa,
dinheiro entregue para constituição da empresa (dinheiro ou bens em si), mas temos
outras funções:

Vincenzo Buonocore revela ainda uma outra função, no sentido da revelação da situação
patrimonial da sociedade, que a nosso ver se liga à função de garantia.

A função de produtividade significa que o capital é o fator patrimonial inicial que


possibilitará o exercício da atividade empresarial da companhia14. Embora não coincida
com o patrimônio da sociedade, é o capital social que, no início das atividades, permite a
aquisição de instalações, equipamentos, mercadorias, isto é, é ele que torna possível o
funcionamento inicial da sociedade, que com o tempo encontra outros meios de
financiamento.
Produtividade: o capital social servindo como produtividade. Porque, via de regra, quanto
mais capital social a empresa tiver, maior será a sua produtividade. Quanto mais capital
social houver, maior número de negócios, maior estrutura da própria companhia, e isso
garante maior produtividade. Resume essa ideia em: “a água só corre para o mar”, quanto
mais rico, mais facilmente fica mais rico. Quanto mais capital social, mais a companhia
pode produzir. Essa é uma verdade absoluta? Não! Em tese, isso ai facilita e aumenta a
sua produtividade. E faz com que também, a partir disso, ela tenha um maior nível de
potencial de concorrência perante o mercado consumidor, consiga produzir mercadorias
num valor mais interessante e tenha mais concorrência.

Como nas sociedades anônimas a responsabilidade dos acionistas é limitada ao preço de


emissão das ações, os credores não têm garantia no patrimônio pessoal dos acionistas.
Assim sendo, a sua garantia incide exclusivamente sobre o patrimônio social. O capital
social é, a princípio, o mínimo desse patrimônio sendo protegido na sua integridade, pela
obrigação de avaliação dos bens conferidos. Portanto, outra função exercida pelo capital
social é a função de garantia dos credores, isto é, ele representa um mínimo do ativo em
favor dos credores sociais.

Neste particular, Modesto Carvalhosa afirma que o capital social já não mais exerce a
função de garantia dos credores, pois pode ser menor que o capital efetivamente
ingressado na companhia1490. Conquanto parta de um raciocínio correto, ousamos
discordar de tal conclusão, para reconhecer no capital social um mínimo do ativo em
garantia dos credores, isto é, uma garantia mínima, independentemente da entrada de
valores superiores. Corroborando esta interpretação, o art. 174 da Lei n. 6.404/76 exige a
concordância dos credores para a redução do capital social.

GARANTIA: o capital social tem a função também de servir como garantia. Mas essa
garantia é em relação aos credores em si. Eu tenho um limite, se o capital social é de
100.000,00, o limite de cobrança dos credores é de 100.000,00. E os credores sabem o
limite que eles têm de garantia para cobrança contra a sociedade. Quanto mais ela tiver
de capital social, mais credores interessados em fazer negócios com aquela companhia
irão aparecer.

Por fim, há que se ressaltar que o capital serve de referência para a determinação da
posição dos acionistas, vale dizer, à luz de sua participação no capital social,
determinadas faculdades podem ser ou não ser estendidas a eles. A título exemplificativo,
apenas os acionistas que representem pelo menos 10% das ações em circulação podem
requerer a realização de nova avaliação na oferta pública para cancelamento do registro
(art. 4º-A da Lei n. 6.404/76).

DETERMINAÇÃO DA POSIÇÃO DOS SÓCIOS: o capital social serve para determinar a


posição dos sócios, afinal, de acordo com o percentual que o sócio tenha dentro da S/A, é
que você vai determinar a posição do sócio dentro da S/A, se é sócio majoritário, se é
sócio minoritário, qual é a fatia do bolo que ele possui.

5 Princípios
Pela sua importância para a sociedade, e também para os seus credores, o capital social
tem uma disciplina peculiar, orientada basicamente por três princípios: determinação,
efetividade e estabilidade (variabilidade condicionada).
Pelo princípio da determinação, o capital social da sociedade há de nascer determinado e
único1492, isto é, há que se saber, a qualquer momento, qual é o valor do capital, não se
admitindo um capital social variável.

Outro princípio que pauta a disciplina do capital social é o princípio da efetividade, pelo
qual o capital deve corresponder a valores que efetivamente ingressem no patrimônio da
sociedade, isto é, ele deve corresponder a um patrimônio real da companhia. Tal princípio
é primordial para defender os interesses dos credores da sociedade, que tem a garantia
de que o valor correspondente ao capital social efetivamente ingressou no patrimônio da
sociedade. Em função disso, é que se exige a avaliação dos bens conferidos, para
integralização do capital social.

A importância do capital social, sobretudo perante terceiros, faz surgir o princípio da


estabilidade ou variabilidade condicionada do capital social, isto é, o capital social só pode
ser alterado se obedecidas determinadas condições (art. 6º da Lei n. 6.404/76), também
chamado de fixidez1494. “A cifra do capital não pode ser livremente alterada, já que todo
aumento significaria um engano para os credores, caso não venha acompanhado do
correlativo aumento no patrimônio social, e toda diminuição implica a possibilidade de
reduzir na mesma quantia o patrimônio, com a consequente diminuição da garantia dos
credores.”

Roberto Papini destaca também o princípio da intangibilidade, esclarecendo que, por tal
princípio, o capital social não pode ser restituído aos acionistas durante a vida da
sociedade1496. A nosso ver, tal princípio efetivamente existe, mas estaria, em sua ideia,
englobado no princípio da estabilidade e indiretamente também no princípio da
efetividade, por isso não o destacamos separadamente.

Aumento do capital social


No correr da vida da sociedade, pode ser necessário o aumento do capital social, seja
para a expansão das atividades, seja para sanear as obrigações sociais, seja para
adequá-lo à realidade patrimonial da companhia. Todavia, em função do princípio da
estabilidade do capital social, há que se impor requisitos para a efetivação do aumento do
capital social, com o intuito de proteger os credores e a própria sociedade.
6.1 Obtenção de novos recursos
Uma das formas de aumento do capital da sociedade é a emissão de novas ações, a
serem subscritas pelos próprios acionistas já existentes ou por terceiros. Nesse caso, os
acionistas primitivos ou terceiros conferirão novos recursos para a sociedade a título de
capital social. Tal aumento só é possível se pelo menos 75% do capital social da
sociedade estiver integralizado (art. 170 da Lei n. 6.404/76), a fim de evitar um capital
com um valor muito elevado ainda não realizado.

Para tal ingresso de novos recursos serão emitidas novas ações por um preço não mais
livremente fixado pela sociedade. Desde a Lei n. 9.457/97 a emissão de novas ações
deve levar em conta cumulativa ou alternadamente o valor de mercado, o valor
patrimonial e o valor econômico da ação, a fim de evitar a diluição injustificada dos
acionistas preexistentes ao aumento.

A indefinição de um critério rígido é perfeitamente justificável, pois para cada companhia


determinado critério será melhor para evitar a diluição da participação dos antigos
acionistas. Assim, para uma companhia fechada, mais aconselhável é o critério do
patrimônio líquido. Já para uma companhia aberta de participação incipiente no mercado,
melhor será o valor econômico. O valor de mercado só pode se justificar se houver uma
intensa negociação natural das ações da sociedade.

Em qualquer caso, a administração da sociedade deve explicitar quais motivos levaram à


adoção do critério de determinação do preço de emissão (art. 170, § 7º, da Lei n.
6.404/76). Tal justificativa objetiva evidenciar que não haverá a condenada diluição
injustificada da participação dos antigos acionistas. Todavia, nada impede que tal
justificação seja impugnada na assembleia ou até judicialmente.

Esse aumento depende de uma deliberação de uma assembleia geral extraordinária,


após o que serão tomadas as providências para a subscrição das ações que pode ser
pública ou particular, isto é, pode usar ou não do apelo ao público. Qualquer que seja a
forma adotada para a subscrição das ações, a princípio há que se permitir aos acionistas
o exercício do direito de preferência, nos termos do art. 171 da Lei n. 6.404/76.

6.2 Capital autorizado


Conforme mencionado, no caso da obtenção de novos recursos exige-se a realização de
uma assembleia geral, com todas as formalidades que lhe são inerentes. Todavia, permite
a lei que o próprio estatuto social preveja o aumento do capital social, que neste caso
poderá ser providenciado pelos administradores, independentemente de uma assembleia
geral, e sempre independentemente de alteração do estatuto. Nesses casos, costuma-se
dizer que a sociedade tem capital autorizado (art. 168 da Lei n. 6.404/76).

O capital autorizado seria “o dispositivo estatutário que permite, dentro de certo limite, o
aumento do capital social, com a emissão de novas ações, independentemente da
alteração do estatuto”. Tal regime de permissão estatutária do aumento deve ter critérios
bem definidos (art. 168, § 1º, da Lei n. 6.404/76), esclarecendo o limite do aumento em
valor, ou em número de ações, as espécies e classes das novas ações, as eventuais
condições do aumento, o órgão competente para deliberar o aumento e a sujeição ou não
ao direito de preferência dos acionistas antigos, nos termos do art. 172 da Lei n. 6.404/76.

Diante desse regime peculiar, são dispensadas as formalidades da convocação e


realização de uma assembleia geral e da alteração do estatuto, simplificando e agilizando
o procedimento de obtenção de novos capitais. Tal simplificação tem uma contrapartida,
na medida em que se exige que as sociedades de capital autorizado possuam Conselho
de Administração, que pode ser o órgão competente para deliberar e promover o referido
aumento. O estatuto definirá a competência para tal deliberação, atribuindo-a ou ao
Conselho de Administração ou à Assembleia geral extraordinária. Na Espanha tal
competência é sempre dos administradores, como uma espécie de delegação1501.

Ademais, a possibilidade da exclusão do direito de preferência permite a utilização


estratégica do aumento para formação de joint ventures, ou para o ingresso de novos
acionistas interessantes para a companhia. Neste último particular, surgem os bônus de
subscrição e as opções de compra em benefício de administradores, prestadores de
serviço ou empregados da companhia.

As sociedades de capital autorizado podem emitir bônus de subscrição, estudados mais


adiante, e opções de compra em benefício de administradores, prestadores de serviço ou
empregados da companhia, nos termos de um plano aprovado pela assembleia geral,
devidamente autorizada pelo estatuto. A atribuição das opções de compra tem o intuito de
incentivar tais pessoas, que, ao se tornarem também acionistas, desempenham melhor
seu papel na sociedade, beneficiando a todos1502.

Tais opções são pré-contratos celebrados com a companhia, não sendo transferíveis a
terceiros, tendo por finalidade premiar administradores, altos executivos, empregados e
terceiros prestadores de serviço para a sociedade1503. Tal prêmio não é a atribuição
gratuita de uma ação, mas a possibilidade de subscrição de ações, mediante pagamento
do preço de emissão predefinido, quando do aumento autorizado pelo estatuto.

Esse regime peculiar do capital autorizado não lhe retira as peculiaridades inerentes ao
aumento de capital social, pela obtenção de novos recursos, isto é, terão que ser emitidas
novas ações, com o preço de emissão seguindo os parâmetros previstos no art. 170 da
Lei n. 6.404/76.

6.3 Capitalização de lucros ou reservas


O aumento do capital social pode ser gratuito, quando não ingressarão novos recursos no
patrimônio social, isto é, quando se converterá parte do patrimônio da sociedade em
capital social. Trata-se de um mero remanejamento dos valores já constantes do balanço
da sociedade, que estavam sob a rubrica de lucros ou reservas e passam a estar sob a
rubrica de capital social.

A capitalização de lucros ou reservas altera a rubrica de valores que já integravam seu


patrimônio, lhes atribuindo o regime peculiar do capital social1506, com a proteção
inerente a ele. O patrimônio da sociedade continua o mesmo, mas há uma alteração do
regime de parte do seu patrimônio, além de outras implicações internas para a sociedade.

Nesse caso, a sociedade pode emitir novas ações, atribuindo-as aos acionistas já
existentes, na proporção da sua participação no capital social. Ou, ainda, simplesmente
aumentar o valor nominal das ações já existentes.

6.4 Conversão de valores mobiliários em ações


Por fim, o capital social de uma sociedade anônima pode ser aumentado pela conversão
de valores mobiliários em ações.
Explicar o que são partes beneficiárias: artigo 46 da LEI 6.404
As debêntures e as partes beneficiárias alienadas onerosamente podem conter cláusula
que admita sua conversão em ações, com o respectivo aumento do capital social. Nesses
casos, não há o ingresso de novos recursos no patrimônio da sociedade, mas não se
pode falar em aumento gratuito, pois há um aumento do patrimônio líquido em função da
redução do passivo1507.

Nas partes beneficiárias, em vez do resgate em dinheiro, poderá haver a conversão em


ações, mediante a capitalização de uma reserva especial criada com tal finalidade (art.
48, § 2º, da Lei n. 6.404/76). Converte-se, pois, uma reserva que já integra o patrimônio
da sociedade e, em contrapartida, deixa de existir um direito de crédito contra a
sociedade.

No caso das debêntures conversíveis, a sociedade tem duas opções de pagamento: em


dinheiro ou em ações. A utilização das ações representará o fim das obrigações
constantes das debêntures e o surgimento da condição de acionista para os debenturistas
que fizerem tal opção.

7 Redução do capital social


Se o aumento do capital social possui uma disciplina própria, para proteger os credores
da sociedade, com muito mais razão, a redução do capital, que afeta mais diretamente os
interesses dos credores. Na Lei das Sociedades Anônimas, temos dois tipos de redução
do capital social: a compulsória e a facultativa.

7.1 Redução compulsória


Determinadas situações, na vida da sociedade, podem representar um desfalque ao
capital social. Tal desfalque, se perdurar por algum tempo, impõe a redução do capital
social, para que os credores não possuam uma falsa ideia da garantia representada pelo
capital social. Trata-se de uma imposição legal e não de uma decisão da sociedade.

Quando o acionista exerce o direito de retirada, ele faz jus ao pagamento do reembolso
de suas ações. E, em virtude de quaisquer problemas, pode ocorrer que a companhia não
tenha valores disponíveis para efetuar tal reembolso, devendo fazê-lo às custas do capital
social. Neste caso, a sociedade tem 120 dias, contados da ata da assembleia (art. 45, §
6º, da Lei n. 6.404/76), para substituir os acionistas que se retiraram, reintegrando o valor
do capital social. Não havendo tal substituição, impõe-se a redução do capital social.
No caso do acionista remisso, isto é, aquele que não honrou sua contribuição na época
devida, a sociedade tem, a princípio, duas opções, quais sejam, executar o remisso ou
leiloar extrajudicialmente suas ações. Diante da frustração dessas tentativas, pode a
sociedade excluir o acionista remisso, ficando com as ações deste. Neste caso, ela deve
integralizar as ações com lucros ou reservas, recompondo o capital social, ou, no prazo
de um ano, substituir o acionista remisso. Não sendo possível a recomposição do capital
social, por quaisquer desses meios, impõe-se também a redução do capital social.

7.2 Redução facultativa


A par da redução obrigatória, pode haver também redução facultativa, isto é, redução
decidida pela própria sociedade. Trata-se de uma redução cuja conveniência e
oportunidade devem ser analisadas, para que ela se efetive. Os casos de redução
facultativa estão no art. 173 da Lei n. 6.404/76.

O primeiro caso de redução facultativa do capital social é a hipótese das perdas


substanciais, até o montante dos prejuízos acumulados. Nessa hipótese, a redução é
meramente nominal, não representando qualquer alteração na situação patrimonial da
sociedade, na medida em que os valores já saíram do patrimônio social. Há que se
ressaltar que tal redução só é possível se os prejuízos acumulados não puderem ser
suportados pelos lucros e reservas, inclusive a legal.

O outro caso de redução facultativa do capital social ocorre quando o capital é


considerado excessivo para a realização do objeto social. Nesse caso, haverá a
restituição de parte do valor das ações, ou dispensa do pagamento da parte ainda não
integralizada, com a consequente diminuição do valor destas. Nesses casos, há uma
alteração no regime patrimonial da sociedade, havendo em qualquer caso prejuízo dos
credores1509. Em virtude desse possível prejuízo aos credores, a redução depende da
aquiescência dos credores e da aprovação da maioria dos debenturistas em assembleia
especial (art. 174, § 3º, da Lei n. 6.404/76).

Neste último caso e apenas nele, a redução só produzirá efeitos 60 dias após a data do
arquivamento, permitindo-se nesse período que os credores se oponham a tal redução.
174 caput e §1º. A oposição não impedirá a redução se o credor for pago, ou for
depositado judicialmente o valor de seu crédito. §2º No caso de redução até as perdas
ocorridas, não há que se cogitar de oposição dos credores; porquanto o patrimônio
permanece inalterado, trata-se de simples ajuste contábil1510, sem qualquer prejuízo
para os credores.

Portanto, o texto legal deve ser interpretado com cautela, pois só se exige a concordância
dos credores no caso de o capital ser considerado excessivo.

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