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DIREITOS , DEVERES E RESPONSABILIDADES DOS SÓCIOS

SUMÁRIO: 1- Introdução; 2- Pessoas Jurídicas, 2.1- Entes personalizados e


despersonalizados; 3- Sociedade Limitada; 4- Sócios, 4.1- Sócios da Sociedade
Limitada; 5- Deveres dos sócios; 6- Responsabilidade dos sócios, 6.1-
Responsabilidade pelas obrigações sociais, 6.2- Responsabilidade limitada, 6.3-
Responsabilidade ilimitada, 6.4- Responsabilidade por irregularidades, 6.5-
Responsabilidade subsidiária; 7- Direitos do sócio, 7.1- Direito de voto, 7.2- Direito
de retirada, 7.3- Direito de preferência; 8- Considerações finais.

1- Introdução

O Direito Comercial é uma matéria muito dinâmica no ramo do Direito


Privado, o que se deve em muito ao rápido desenvolvimento tecnológico, que gera
mudanças quase que cotidianas na vida das pessoas e, em todas as relações
existentes entre estas. É neste passo que as relações empresariais apresentam um
dinamismo que torna, podemos dizer, impossível uma situação simultânea da
legislação, reguladora dessas mesmas relações.

Mas, se diz ser impossível a evolução simultânea, a legislação, contando com o


brilhantismo dos doutrinadores e da jurisprudência, não se deixa tornar obsoleta e não
permite que toda a dinâmica dessas relações a distancie dos princípios gerais do direito.
Princípios estes que dão sustentação a todo ordenamento jurídico, quais sejam: o da
boa-fé, o da obrigatoriedade dos contratos e da sua reciprocidade e o do não
enriquecimento ilícito.
Cientes disso, e com vista em que a todo direito há uma obrigação
correspondente, busca-se demonstrar no presente estudo os direitos e obrigações dos
sócios na sociedade limitada, principalmente por ser esta, segundo estatísticas do
próprio DNRC – Departamento Nacional de Registro do Comércio, o tipo jurídico de
sociedade mais utilizado no Brasil.

Antes do novo código civil esta matéria era disciplinada pelo Decreto
n.3.708 de 10 de janeiro de 1919, que a intitulava de sociedade por quotas de
responsabilidade limitada. Com as novas determinações do código civil, passou a
ser chamada simplesmente de sociedade limitada.

Sua utilização expressiva historicamente vem se dando em decorrência,


sobretudo do grande atrativo da limitação da responsabilidade dos sócios pelas
obrigações da sociedade. Com esta característica básica, o patrimônio pessoal dos
empreendedores, como regra, não fica exposto a eventuais insucessos do negócio.
Outro ponto que outrora se destacou como fator de estímulo à utilização da
sociedade limitada, era a simplicidade para a sua constituição, gestão e deliberação
entre os sócios, o que foi sensivelmente alterado pelo novo código civil.

2- Pessoas jurídicas

As pessoas jurídicas se dividem em de direito público e de direito privado


(CC/2002, art. 40). Este critério, entretanto, não é de acordo com os recursos
empregados em sua constituição, já que há pessoas jurídicas de direito privado
constituídas exclusivamente por recursos públicos, como as empresas públicas, e
há pessoas jurídicas de direito público constituídas apenas por recursos
particulares, como, por exemplo, a Ordem dos Advogados do Brasil.

O que diferencia as pessoas jurídicas de direito público e privado é o regime


jurídico a que se submetem. As primeiras – União, estados, autarquias etc – são
encontradas no âmbito de disciplina do direito público, e as últimas, no do direito
privado. Os interesses das pessoas jurídicas de direito público são tratados com
maior importância e, por isso, a estas conferem-se prerrogativas não oferecidas às
pessoas jurídicas de direito privado. Estas prerrogativas são relacionadas com os
princípios da supremacia e da indisponibilidade do interesse público. Em se
tratando de pessoa jurídica de direito privado, basta o inadimplemento de
obrigação emergente de contrato bilateral para que o outro contratante possa
invocar a exceção (CC/2002, art. 476); já em se tratando de pessoa jurídica de
direito público a mora deve ser superior a 90 dias, prazo durante cujo decurso
não admite a lei a suspensão das obrigações do contratado (Lei n. 8.666/93, art. 78,
XV).

As pessoas jurídicas de direito privado são divididas em: estatais e


particulares. Esta divisão baseia-se na origem dos recursos empregados em sua
constituição. Quando o Poder Público contribui para o capital, encontram-se as
estatais – sociedades de economia mista, empresas públicas criadas para
exploração de atividade econômica e fundações governamentais. As particulares
são constituídas apenas por recursos particulares, nesta se encontra a sociedade
empresária.

A fundação, a associação e a sociedade são pessoas jurídicas de direito


privado particular. Na fundação, o instituidor destaca de seu patrimônio um ou
mais bens e manifesta a vontade no sentido de que os frutos da administração deles
sejam empregados na concretização de certos fins, normalmente de relevância
cultural ou social. As associações e sociedades, todavia, têm um traço comum, que é
a união de pessoas com o mesmo objetivo buscando a realização de fins comuns. Se
esses fins são econômicos, a pessoa jurídica é uma sociedade, já se não o são,
forma-se uma associação, que pode ter objetivos culturais, sociais, políticos,
filantrópicos etc.

Os sócios de uma sociedade têm objetivos econômicos, visam o lucro. Existe


a sociedade simples e a empresária. A sociedade simples explora atividades
econômicas específicas, sua disciplina é aplicada também às sociedades
empresárias contratuais e às cooperativas. A sociedade que explora empresa é a
sociedade empresária. Esta desenvolve atividade econômica de produção ou
circulação de bens ou serviços.

2.1- Entes personalizados e despersonalizados

A pessoa jurídica deve ser separada dos membros que a compõem. Os


sócios, assim, não são considerados os titulares de direito ou os devedores das
prestações relacionados ao exercício da atividade econômica explorada em
conjunto.

A personalização da sociedade empresária traz conseqüências, como a


titularidade obrigacional, a titularidade processual e a responsabilidade
patrimonial. Em relação à titularidade obrigacional tem-se a aproximação da
pessoa jurídica da sociedade empresária e de terceiros, não participando os sócios
desta relação. Quanto à titularidade processual, define-se a legitimidade da pessoa
jurídica para demandar e ser demandada em juízo. Em relação à responsabilidade
patrimonial, observa-se que através da personalização da sociedade empresária há
a separação dos patrimônios desta e dos seus sócios.

Assim, percebe-se que sócio e sociedade não são a mesma pessoa e que
apenas os bens sociais respondem, em princípio, pelas obrigações da sociedade. O
princípio da autonomia patrimonial vem da personalização das sociedades
empresárias – os sócios não respondem, em regra, pelas obrigações da sociedade.
Por causa deste princípio, investidores e empreendedores são motivados a aplicar
dinheiro em atividades econômicas arriscadas.

A personalidade jurídica da sociedade empresária começa com o registro de


seus atos constitutivos na Junta Comercial e termina com o procedimento
dissolutório, que pode ser judicial ou extrajudicial. A simples inatividade da
sociedade não significa o seu fim, como pessoa jurídica. A dissolução inaugura-se
com um ato praticado pelo sócio ou pelo Judiciário e prossegue com a liquidação,
que busca a solução das pendências negociais da sociedade, e a partilha, que
distribui para os sócios o acervo patrimonial remanescente, caso houver. Não se
considera encerrada a sociedade dissolvida de forma ilegal, respondendo, assim, os
sócios perante os seus credores pelo ato ilícito que praticaram.

3- Sociedade Limitada

A sociedade limitada é o tipo societário que mais se manifesta na economia


brasileira, representando hoje mais de 90% das sociedades empresárias
registradas nas Juntas Comerciais. Seu sucesso se dá devido à limitação da
responsabilidade dos sócios e à contratualidade. Como a responsabilidade do sócio
é limitada, em caso de insucesso da empresa, os sócios podem limitar suas perdas.
E através do contrato as relações entre os sócios podem ser traçadas por suas
vontades, não tendo os rigores próprios do regime legal da sociedade anônima, por
exemplo.

O Código Civil de 2002 disciplina a sociedade limitada em capítulo próprio


– arts. 1.052 a 1.087). Há também outras disposições e diplomas legais que se
aplicam à sociedade limitada, já que somente as normas do Código Civil são
insuficientes para regular todas as questões relacionadas a este tipo de sociedade.

As regras da sociedade simples são aplicadas, em princípio, nas omissões


das normas do Código Civil. A lei das sociedades anônimas pode ser também
aplicada, mas somente se os sócios estipularem expressamente no contrato social.
Quando o Código Civil é lacunoso, poderá o juiz aplicar a lei das sociedades
anônimas, mesmo não sendo este o regime de regência supletiva.

4- Sócios

A denominação de "sócio" é usada para nomear o membro da sociedade


empresarial. De acordo com cada tipo de sociedade, encontramos uma
denominação para o sócio. Assim, na sociedade em nome coletivo, diz-se "sócio
solidário"; na em comandita simples, tem-se o "sócio comanditado" ou "sócio
solidário" e "sócio comanditário"; na sociedade de capital e indústria, "sócio de
indústria" ao que participa com seu trabalho; na sociedade em conta de
participação, "sócio ostensivo ou oculto"; nas sociedades por quotas de
responsabilidade limitada, "sócio quotista", e na sociedade anônima o "sócio
acionista" ou simplesmente "acionista".

Em relação à contribuição do sócio para a formação do capital social,


denomina-se "parte-capital", "contribuição social", "cota capital", recebendo uma
denominação especial apenas nas sociedades anônimas, qual seja "ação".

Para adquirir a qualidade de sócio, dizem os tratadistas ser necessário que


os contratantes da sociedade tenham a vontade de formá-la. Ulpiano denominou
esse elemento intencional de "affectio societatis" que é a "cooperação econômica"
(Ripert) ou a "vontade da colaboração ativa dos sócios" (Thaller), tendo em vista o
fim comum, a realização pelo concurso de seus capitais e da sua atividade.

O sócio pode ingressar na sociedade tanto originariamente, na sua


fundação, assinando o contrato ou ato constitutivo, como posteriormente,
subscrevendo aumento de capital ou substituindo um sócio que se retira, através de
cessão e transferência de sua contribuição social.

Nas sociedades de pessoas, a pessoa do sócio é mais importante que a


contribuição material que este dá para a sociedade. A cessão da participação
societária depende da anuência dos demais sócios. O ingresso do sócio na
sociedade, obviamente, depende da aceitação dos outros sócios, cujos interesses
podem ser afetados.

Nas sociedades de capital o que ocorre é o inverso, a personalidade e o


caráter do sócio são irrelevantes para a empresa explorada pela sociedade. O sócio
pode alienar sua participação societária a quem quer que seja, não dependendo da
aprovação dos demais.

Devido à personalização da sociedade empresária, os sócios têm


responsabilidade subsidiária pelas obrigações sociais. O patrimônio do sócio não
pode ser comprometido para a satisfação de dívida da sociedade, enquanto não
exaurido o patrimônio social (CC/2002, art. 1.024). A única exceção à regra geral
está na sociedade em comum, na qual o sócio que atua como representante legal
responde diretamente.

Waldemar Ferreira afirma que há, assim na posição dos sócios, nada menos
que situação estável, autêntico estado, no sentido próprio da expressão – estado de
sócio, existente em toda sociedade, de qualquer tipo ou natureza. Tanto a civil
quanto a comercial. Origina-se ele no instante em que ela adquire existência legal
como pessoa jurídica.

4.1- Sócios da sociedade limitada


Normalmente os sócios da sociedade limitada participam do dia-a-dia da
empresa, tomando várias deliberações em se tratando do desenvolvimento da
sociedade sem nenhuma formalidade.

Em razão da maior importância para a sociedade e repercussão nos direitos


dos sócios e de terceiros, referente a determinadas matérias, a lei prevê algumas
formalidades quando se trata, por exemplo, da designação e destituição de
administradores e da modificação do contrato social. Os sócios para tratar de
matérias formais devem reunir-se em assembléia e cumprir exigência relativa ao
quorum deliberativo legalmente previsto para validade da decisão que tomarem.

A realização de uma assembléia a cada ano é necessária, para tomar as


contas dos administradores, votar o balanço patrimonial e de resultados e eleger
administradores, caso se tenha exaurido o mandato por prazo determinado. Fala-
se em assembléia quando se trata de sociedade com mais de dez sócios, caso
contrário o que existe é a reunião de sócios.

5- Deveres dos sócios

O sócio, ao assinar o contrato social, contrai primeiramente a obrigação de


investir na sociedade, determinados recursos, geralmente referidos em moeda.
Falando na linguagem do direito societário: cada sócio tem o dever de integralizar
a quota do capital social que subscreveu.

Ao negociar a formação da sociedade, os sócios devem chegar a acordo


sobre o montante de recursos necessários à implantação da empresa. Caso dos
próprios sócios provenham a totalidade destes recursos, esse montante é o capital
subscrito, é a soma de dinheiro, bens ou créditos prometidos pelos sócios à
sociedade. Outro aspecto necessário de contratação dos sócios ao formar uma
sociedade, diz respeito ao momento em que os recursos prometidos devem ser
entregues. O capital subscrito pode ser integralizado à vista ou a prazo. Deve os
sócios também definir a quota com que cada um se compromete na sociedade. A
quota subscrita é a prometida por cada sócio, já a quota integralizada é o
montante entregue à sociedade.

O sócio tem, assim, o dever de integralizar a quota subscrita do capital


social, nos termos do compromisso contratual assumido junto aos demais sócios.
Isto é exemplo do mecanismo dos atos de constituição de pessoa jurídica. O sócio
que não cumpre seu dever de integralizar a quota é chamado de sócio remisso. No
Código Civil de 2002 (art. 1.004) o sócio remisso passa a responder sempre pelo
dano emergente da mora, não dependendo da natureza de sua contribuição.

A sociedade pode cobrar o devido do sócio remisso em juízo, ou expulsá-lo.


No caso da sociedade decidir por expulsá-lo, deve restituir ao remisso as entradas
feitas, deduzidas as quantias correspondentes aos juros de mora, cláusula penal
expressamente prevista no contrato social e despesas.

É possível afirmar, mesmo a lei brasileira não o explicitando, que o sócio


tem um dever de lealdade com a própria sociedade e com os demais, manifestado
através da sua colaboração para o sucesso do empreendimento comum. È dever do
sócio colaborar com o desenvolvimento da sociedade, não podendo concorrer com
a mesma nem praticar atos que possam vir a prejudicar a limitada.

6- Responsabilidade dos sócios

6.1- Responsabilidade pelas obrigações sociais

Como já foi visto anteriormente, a personalização da sociedade limitada


traz a separação patrimonial entre a pessoa jurídica e seus membros, as obrigações
de um não correspondem às obrigações do outro. A regra é, assim, a da
irresponsabilidade dos sócios da sociedade limitada pelas dividas sociais. Esse é o
limite de sua responsabilidade.

Com a limitação da responsabilidade dos sócios, tem-se uma socialização


entre os agentes econômicos, do risco de insucesso. É, no regime capitalista, uma
condição necessária ao desenvolvimento de atividades empresariais.

Os credores com plenas condições de negociar seus créditos, na medida em


que podem, embutir uma taxa de risco ao compor seus preços, não são lesados pela
limitação da responsabilidade dos sócios. Como ocorre com o atacadista, banco etc.
Já com os credores não negociais, a situação não é a mesma, eles não têm meios de
formar seus preços e agregam-lhes qualquer taxa de risco – como no caso do fisco,
INSS, trabalhadores e titulares do direito de indenização. Para eles, a limitação da
responsabilidade dos sócios representa comumente prejuízo.

Há casos excepcionais nos quais o sócio responde pelas dívidas da sociedade.


Um exemplo é o que diz respeito à obrigação pela formação do capital social, mas
os sócios respondem apenas depois de exaurido o patrimônio social.

6.2- Responsabilidade Limitada

A regra que explica o nome da sociedade limitada é a de que os sócios


respondem pelas obrigações sociais dentro de certo limite. Este limite da
responsabilidade dos sócios é o total do capital social subscrito e não integralizado
(CC/2002, art. 1.052).

Há solidariedade pela integralização do capital social entre os sócios da


sociedade limitada, isto quer dizer que os sócios são responsáveis pelo total do
capital social subscrito e não integralizado. Assim, se no contrato social da limitada
consta que o capital social se encontra totalmente integralizado, os sócios não têm
nenhuma responsabilidade pelas obrigações sociais, de natureza negocial.
6.3- Responsabilidade Ilimitada

Existem exceções à regra do direito societário. Nelas, os sócios respondem


com seu patrimônio aos credores da sociedade. A primeira exceção, já vista, é a
relacionada à obrigação dos sócios pela formação do capital social. O segundo
conjunto de exceções se relaciona à tutela dos credores que não têm meios
negociais para preservar seus interesses. São eles o credor fiscal, a seguridade
social, o empregado e o titular de direito extracontratual à indenização.

O direito positivo brasileiro trata, dentre os credores não negociais, apenas


do credor tributário e da Seguridade Social. Somente eles podem ter tratamento
que afaste a regra da limitação da responsabilidade dos sócios. Na tutela dos
direitos dos consumidores, na proteção da
concorrênchttp://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2058ia e na repressão à
práticas lesivas ao meio ambiente, a imputação da responsabilidade aos sócios deve
atender aos pressupostos da teoria da desconsideração da personalidade jurídica.
Os empregados e o restante dos credores não negociais devem ter os seus direitos
creditórios sujeitos à regra da autonomia patrimonial, enquanto não editada regra
que os beneficie expressamente.

6.4- Responsabilidade por Irregularidades

O terceiro conjunto de exceções à regra da irresponsabilidade dos sócios


ocorre quando os sócios incorrem em ilícitos, sendo assim responsabilizáveis por
obrigações sociais. Isto ocorre com o sentido de sancionar as condutas ilícitas dos
sócios e compreende duas possibilidades – a deliberação dos sócios contraria à lei
ou ao contrato social, e a desconsideração da personalidade jurídica.

Em se tratando de deliberação dos sócios contraria à lei ou ao contrato


social, o ilícito é manifesto, não se oculta pela imputação do ato à sociedade
limitada. Para que o sócio seja responsabilizado (art. 1.080 CC/2002) é
indispensável tenha se manifestado por escrito, ao contribuir para a deliberação
que infringiu a lei ou o contrato.

Na desconsideração da personalidade jurídica a ilicitude é acobertada pela


autonomia patrimonial. Apenas depois da desconsideração do ato, enquanto centro
subjetivo de direitos e obrigações é que considera-se ato ilícito e não ao ser
imputado à sociedade.

6.5- Responsabilidade Subsidiária

A responsabilização do sócio na sanção às irregularidades praticadas na


sociedade limitada não depende do prévio exaurimento do patrimônio da
sociedade. É, portanto, uma responsabilidade direta dos sócios. Por outro lado, a
responsabilização do sócio relacionada ao cumprimento do dever de integralizar o
capital social é subsidiária, respondendo o sócio apenas quando não mais existir o
patrimônio social.

O meio processual cabível para tornar efetiva a responsabilização é no caso


de subsidiariedade, matéria do direito falimentar. O direito cabe unicamente à
união dos credores, tendo a decretação da falência da sociedade como pressuposto.

7- Direitos do sócio

O sócio, ao contratar a formação de sociedade limitada, ou ao ingressar


numa já constituída, aliena dinheiro, bem ou crédito de seu patrimônio para o da
sociedade, e agrega-lhe a quota social. Pelo simples fato dos sócios participarem do
capital social da sociedade limitada, adquirem direitos inerentes a esta condição.
São direitos do sócio: participar do resultado social, fiscalizar a gestão da
empresam contribuir para as deliberações sociais e retirar-se da sociedade. Através
do contrato, define-se a distribuição dos lucros, mecanismos especiais de
fiscalização da administração e hipóteses de retirada. Mas é também característica
do ato de constituição de pessoa jurídica a pronta vinculação obrigacional entre
sujeito de direito e os participantes do ato. O sócio, ao celebrar o contrato social,
"concorda" com os termos estabelecidos para o exercício dos seus direitos como
sócio.

A participação nos resultados da empresa representa a principal motivação


para qualquer pessoa se unir a outras, já que os sócios esperam obter retorno do
capital empregado na sociedade.

Caso o contrato social da sociedade limitada estabeleça a lei das sociedades


anônimas como diploma de regência supletiva e não disciplinar a destinação dos
resultados, pelo menos metade do lucro líquido ajustado deve ser distribuída entre
os sócios, no fim do exercício (LSA, art. 202). Mas se não for contemplada cláusula
neste sentido, a sociedade limitada será regida apenas pelo Código Civil de 2002,
no qual não existe nenhuma regra sobre destinação do resultado. Em se tratando
deste último caso, se o contrato social estabelecer que a destinação será decidida
pelos sócios, sem a fixação de nenhum percentual mínimo para os dividendos, a
distribuição dos lucros será decidida pela maioria societária.

7.1- Direito de Voto

Esta matéria submete-se à regência supletiva das normas concernentes à


sociedade simples ou da LSA, expressa no contrato, já que o capítulo do Código
Civil de 2002 referente às limitadas não disciplina o exercício do direito de voto.

A regra geral é a da prevalência da vontade da maioria, computada segundo


a participação de cada sócio no capital social (CC/2002, art. 1.010). São
proporcionais o número de voto e o valor da quota ou quotas do sócio.
Quando o sócio participa de deliberação e tem um interesse contrário ao da
sociedade, a lei prescreve sua responsabilidade por perdas e danos (CC/2002, art.
1.010, § 3°). A anulabilidade da deliberação adotada não existe com a participação
do sócio titular de interesse contrário ao da sociedade, como ocorreria se houvesse
aplicação subsidiária da lei do anonimato, em que esta conseqüência é
expressamente prescrita para o voto conflitante (LSA, art. 115, § 4°).

Nos tópicos restantes da matéria o exercício de voto pelos sócios se sujeita a


regras semelhantes nos dois regimes de regência subsidiária.

7.2- Direito de retirada

O sócio que não tem mais a vontade de continuar na sociedade tem duas
opções em frente. A primeira é a negociação de suas quotas, devendo procurar,
entre os sócios ou junto a terceiros, alguém interessado em adquirir sua
participação societária. Se inexistir oposição de sócio com mais de ¼ do capital
social e se chegar a um acordo relativamente ao preço, formaliza-se no contrato a
substituição do sócio. Entra o cessionário e sai o que cedeu as quotas. Há aí um ato
bilateral, sem a participação da sociedade limitada.

A segunda opção para o sócio não mais integrar a sociedade é a retirada. É


um direito inerente à titularidade de quotas sociais, denominado também recesso
ou dissidência. A retirada é o direito de o sócio se desligar dos vínculos que o unem
aos demais sócios e à sociedade, por ato unilateral de vontade. Não há, assim,
negociação. O sócio impõe a obrigação de reembolsar o valor da participação
societária à pessoa jurídica.

O direito de retirada tem seu exercício dependente da limitada ter sido


contratada por prazo indeterminado ou determinado e de acordo com seu subtipo.
Tratando-se de sociedade limitada de vínculo instável, se contratada por prazo
indeterminado, o sócio pode retirar-se a qualquer momento (CC/2002, art. 1.029).
Já, todavia, se contratada por prazo determinado, o sócio não pode se desligar de
suas obrigações contratadas sem a concordância dos outros sócios, enquanto não
vencido o prazo. Somente se houver causa justa, o juiz pode dar ordem de retirada.
Ou caso tenha sido alterado o contrato contra sua vontade, ou aprovada a
participação da limitada em incorporação ou fusão, o sócio está livre para se
desligar da sociedade.

Nas sociedades limitadas de vínculo estável, entretanto, a retirada é


admitida apenas se for motivada, independente do prazo de duração. O sócio que
se retira tem o direito de reembolso de sua participação societária, calculado com
base no patrimônio liquido da sociedade. Quando a sociedade recebe a
manifestação do exercício do direito de retirada, define-se a referência para o
levantamento do balanço de determinação, com vistas à apuração do valor do
reembolso.

7.3- Direito de preferência

Os sócios, após integralizar todas as quotas subscritas, podem, por maioria


simples, deliberar o aumento do capital social da limitada (art. 1.076,III). Este
aumento poderá ser feito utilizando recursos da própria sociedade – lucros ou
reservas, ou através da subscrição.

Referente ao aumento do capital social mediante subscrição de novas


quotas, é assegurado aos sócios o direito de preferência. Nos 30 dias seguintes à
deliberação do aumento, adotada em assembléia ou reunião dos sócios, os
interessados em manter a mesma participação proporcional na sociedade devem
manifestar à administração o exercício da preferência – o prazo se conta a partir
da deliberação e tem natureza decadencial. Se o prazo vencer sem a manifestação
de um ou mais sócios, as quotas não subscritas serão oferecidas aos que o
exerceram naquele aumento, também à proporção das respectivas quotas – direito
de acrescer. Restando quotas não subscritas por desinteresse dos sócios, elas serão
oferecidas a terceiros não sócios, definidos pela administração ou pela maioria
societária.
8- Considerações finais

Tem-se, a partir do momento em que a sociedade é constituída mediante


contrato escrito e registrado ou arquivado na Junta Comercial do Estado, o início
da existência da pessoa jurídica de direito privado. Esta sociedade, embora
composta de sócios – pessoas naturais ou pessoas jurídicas, passa a ter "vida
própria", não se confundindo com as pessoas que a compõem, assumindo
obrigações, direitos, podendo ainda ser parte em processos administrativos e em
ações judiciais.

A sociedade, nas relações negociais e operacionais na busca da consecução


de seus objetivos, assume as mais variadas obrigações perante terceiros.
Entretanto, o patrimônio pessoal dos sócios não fica totalmente exposto. Neste
sentido determina o artigo 1.052 do código que na sociedade limitada, a
responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos
respondem solidariamente pela integralização do capital social.

Para a verificação da responsabilidade dos sócios observa-se que um ponto


importantíssimo nesta questão é o capital social. A obrigação fundamental e
indispensável de cada sócio é a integralização da sua quota de capital. Quando os
sócios assinam o contrato social para constituição da sociedade, naquele ato,
subscrevem as quotas de capital com as quais passará a participar do negócio. Esta
subscrição é a manifestação formal na qual assumem a obrigação de integralizá-la,
ou seja, entrar com recursos na sociedade.

Pode-se efetivar a integralização do capital social em moeda corrente, em


bens ou com direitos a receber (títulos de crédito, etc). A efetiva responsabilidade
de cada sócio é pela integralização de sua quota, respondendo entretanto de forma
solidária com os demais, na hipótese de algum sócio não cumprir com sua
integralização.
Portanto, os sócios respondem pela integralização de suas quotas de capital
e caso o capital social esteja totalmente integralizado, o patrimônio pessoal dos
sócios não responde por dívidas da sociedade.

Existindo parte do capital social não integralizada os sócios respondem


solidariamente pela quantia que falta para a completa integralização, cabendo
ação de regresso contra o sócio que efetivamente não integralizou sua parte.

Assim, em dívidas da sociedade os credores só podem executar os bens dos


sócios até o limite que falta para a integralização do capital social da empresa. Se a
sociedade falir, por exemplo, e estando o capital social totalmente integralizado, o
prejuízo é dos credores, pois o patrimônio pessoal dos sócios não pode ser
executado.

A série de direitos aos sócios conferidas, pode ser exercida individual ou coletivamente,
a bem de seus interesses particulares, tanto quanto em prol da sociedade. Devendo eles
estar sempre atentos e prontos a fazê-los valer em juízo ou fora dele.

Os direitos e obrigações dos sócios são pressupostos, mas também


conseqüentes da sociedade empresária, sociedade esta formada por pessoas que,
depois de adquirirem a qualidade de sócios, lhes é garantido em verdadeiro
"status", e é a partir deste que os sócios devem orientar a sua vida enquanto tal.

BIBLIOGRAFIA

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FORTES, José Carlos. Direito Empresarial. Fortaleza: Editora Fortes, 2004


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REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 20ª. ed. São Paulo. Saraiva, 1991.

* Trabalho Acadêmico elaborado pela aluna Mariana Figueiredo Franco – 2º ano do


Curso de Direito da UNESP (Franca-SP)

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