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CRIME – INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO

24/02/2005

Já dissemos que o crime é um fato típico, antijurídico e


culpável, isso como conceito formal, já que o Código Penal não
conceitua o que é crime, embora a lei de introdução ao Código
Penal em seu artigo 1º diga que crime é a infração penal que
comine pena de reclusão ou de detenção, sem qualquer alusão
aos elementos que compõem o crime..

O conceito material de crime pode ser entendido como a


violação ou a exposição a perigo de um bem juridicamente
tutelado.

1 – FATO TÍPICO

O fato típico é composto de quatro elementos:

I – RESULTADO – é a conseqüência da ação humana.


Geralmente o delegado toma conhecimento de um fato
(resultado) de várias maneiras, como por exemplo: através da
imprensa, da vítima, de seus agentes etc. Esse acontecimento
deve ser analisado pelo Delegado para saber se existe alguma
relevância jurídica, ou seja, se o evento é previsto em lei como
infração penal, pois conforme o artigo 5º inciso XXXIX da
Constituição Federal e o artigo 1º do Código Penal , não há
1[1] 2[2]

crime sem lei anterior que o defina, é o chamado princípio da


legalidade, de onde a doutrina retirou o primeiro elemento do
fato típico, que por questões didáticas do nosso estudo,
aparece como segundo elemento.

II – TIPICIDADE – é o enquadramento do resultado


praticado pelo agente a um modelo descrito em uma norma
penal, exemplo: chegou ao conhecimento do Delegado que
uma pessoa subtraiu (furtou, roubou, carregou) a carteira de
um turista. A autoridade policial por experiência, sabe que tal
comportamento se enquadra no tipo penal previsto no artigo
155 ou 157 , então ele empreende diligência ou determina
3[3] 4[4]

1[1]
CF – art. 5º, inciso - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal;
2[2]
CP - Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
3[3]
CP - Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

4[4]
CP - Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
que seus agentes investiguem o fato, é a partir daí, que ele vai
descobrir o autor do crime, estabelecendo a relação de
causalidade que é o terceiro elemento do fato típico.

III – RELAÇÃO DE CAUSALIDADE – é o liame (ligação) entre


a ação praticada pela pessoa ao resultado. Exemplo: Quando o
Delegado tomou conhecimento que o turista havia sido
furtado, ele não sabia quem era o autor do fato, após a
investigação foi descoberto que o autor tinha sido Zé Mané,
isso aconteceu devido o nexo causal, ou seja, Zé Mane foi
quem causou o resultado – subtração da carteira do turista.
Sem o estabelecimento do nexo causal (descoberta do autor),
corre-se o risco de ser acusada pessoa inocente.

IV – CONDUTA DOLOSA OU CULPOSA

No mundo jurídico penal somente as condutas dolosas ou


culposas interessam.

O Código Penal Brasileiro diz que a pessoa somente pode


ser punida por crime quando praticar dolosamente ou quando
a lei expressamente admitir a conduta culposa . 5[5]

Conduta é uma ação (fazer) ou omissão (não fazer)


voluntária e humana (embora a lei de crimes ambientais
preveja que a pessoa jurídica pode cometer crime,
consideramos uma aberração jurídica) destinada a um fim.

Conduta dolosa é a vontade livre e consciente de realizar o


resultado típico. Exemplo: Zé Mané pega uma cadeira da
faculdade e arremessa contra a parede, art. 163 do Código
Penal . 6[6]

5[5]
CP - Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;(Incluído


pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime culposo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou


imperícia. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
como crime, senão quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

6[6]
CP - Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.


Diz-se o crime doloso quando a pessoa age com vontade
livre e consciente ou assumindo o risco de produzir o
resultado, ou seja, o acusado quer, deseja o resultado ou com
o seu comportamento assume o risco de produzir o
resultado . 7[7]

Conduta culposa é a pratica de um resultado imprevisto


embora haja o dever de prevê-lo. Exemplo: Zé Mané com seus
150 quilinhos de saúde senta-se em uma cadeira de plástico
apropriada para pessoas de peso normal. PERIGO - o exemplo
é didático, pois não existe dano culposo, por força do artigo
18, parágrafo único c/c o art. 163 do Código Penal.

No crime culposo o acusado não quer e nem deseja o


resultado, mas por seu comportamento imprudente (fez algo
que não deveria ter feito durante a ação, digo algo que um
homem prudente não faria), negligente (deixou de fazer algo
antes da ação que um homem prudente faria) ou imperícia que
é a falta de aptidão para exercer arte ou profissão (o
profissional como médico, engenheiro, eletricista, motorista
etc, precisa de aptidão teórica e prática para exercer a
profissão) . 8[8]

Resumindo, o acusado não observou os cuidados


recomendáveis e necessários que um homem comum deve
obedecer.

2 – ANTIJURIDICIDADE

Antijuridicidade – é o comportamento contrário ao direito,


pois o fato cometido pelo sujeito pode ser típico, mas não ser
contrário ao direito por está presente uma causa de

7[7]
CP - Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;(Incluído


pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

8[8]
CP- Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime culposo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou


imperícia. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
justificação, daí puder ser conceituada negativamente como
sendo todo fato típico desde que não seja justificado pelo
estado de necessidade, legitima defesa, estrito cumprimento
do dever legal ou o exercício regular de um direito . 9[9]

3 – CULPABILIDADE

Culpabilidade de acordo com o finalismo é um juízo


puramente normativo que reprova o autor de um fato típico e
antijurídico quando se verificam concomitantemente a
potencial consciência da ilicitude, a imputabilidade e a
exigibilidade de conduta diversa (Paulo Brandão, Teoria
jurídica do Crime. Editora Forense)

Devo ressaltar que a maioria da doutrina brasileira


considera a culpabilidade como pressuposto do crime com
base na teoria finalista da ação. Como veremos futuramente, o
criador da teoria finalista da ação nunca disse nem pensou em
tal possibilidade, como bem colocou o Francisco de Assis
Toledo citado por Paulo Brandão na obra citada, Welzel
(criador da teoria finalista da ação) não adicionou nenhum
elemento novo à culpabilidade. Ele apenas “rearrumou” seus
elementos, deslocou o dolo para ação, mas sem o seu
elemento normativo, ou seja, a consciência da
antijuridicidade.

Podemos observar que o fato típico e a antijuridicidade


dizem respeito ao fato praticado pelo agente, enquanto a
culpabilidade é um juízo de reprovabilidade que se faz sobre o
autor do fato.

O comentário retro sem aprofundamento dos temas tem


intenção de esclarecer de forma simples os princípios gerais
do crime que passaremos analisar a partir de agora.

9[9]
CP - Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)

I - em estado de necessidade; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - em legítima defesa;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.(Incluído


pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Excesso punível (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo
excesso doloso ou culposo.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Passemos agora analisar o crime.

INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXILIO AO SUICÍDIO

SUICÍDIO – é a deliberada destruição da própria vida.

A legislação brasileira não pune o suicídio por questões


obvias, nem a tentativa de suicídio por questões de política
criminal, pois poderia incentivar a pessoa a novas tentativas
até conseguir o seu intento.

A lei, no entanto, pune aquele que participa do suicídio


induzindo, instigando ou prestando qualquer meio de auxílio.

INDUZIR que dizer incitar, incutir, mover, levar, sugerir a


idéia de suicídio, o agente incute a idéia na cabeça no suicida
que até aquele momento não pensava no suicídio. Exemplo:
um pacato rapaz é traído por sua querida namorada e conta ao
seu colega que incute na sua cabeça que a solução para seu
caso - é o suicídio.

INSTIGAR – significar estimular, reforçar o intento


preexistente. Exemplo: a vítima conta pro seu colega o seu
desejo de suicídio, e ele, ao invés de dissuadi-lo, reforça,
estimula o suicídio.

PRESTAR AUXÍLIO – significa que a pessoa presta ajuda


material que pode ser antes ou durante o suicídio, fornecendo
a arma, a corda, o veneno etc. Caso a pessoa que auxilia
venha a participar ativamente do suicídio o crime passa ser de
homicídio.

CRIME QUALIFICADO

Diz o parágrafo único do Código Penal que a pena é


duplicada se for praticado por motivo egoístico ou se a vítima
for menor ou tenha diminuído, por qualquer causa, a
capacidade de resistência.

MOTIVO EGOÍSTICO é aquele que revela desprezo pela


vítima e age por interesse próprio. Ex.: induz, instiga ou
auxiliar para ficar com a herança, com o seguro, eliminar um
rival etc.

VÍTIMA MENOR – deve ser compreendida, a pessoa


menor de 18 anos e maior de 14 anos. Caso seja menor de 14
anos passa a ser homicídio, interpretação que pode ser feita
do artigo 122, parágrafo único com o art. 224 10[10]
, a, do Código
Penal.

CAPACIDADE DE RESISTÊNCIA DIMINUIDA POR


QUALQUER CAUSA – aqui entra os casos dos doentes mentais
e os de resistência nula (embriaguez por álcool ou efeitos
análogos, doentes ou idosos).

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio

Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou


prestar-lhe auxílio para que o faça:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se


consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de
suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.

Parágrafo único - A pena é duplicada:

Aumento de pena

I - se o crime é praticado por motivo egoístico;

II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer


causa, a capacidade de resistência.

Deus seja louvado

Jesus é Deus

Valfredo Alves Teixeira

http://www.valfredo.alves.nom.br/mattzero/mat24022005.htm

10[10]
CP- Art. 224 - Presume-se a violência, se a vítima: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90

a) não é maior de catorze anos;

b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância;

c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.

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