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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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SUMÁRIO

1) LEI 8072/90 – LEI DOS CRIMES HEDIONDOS...........................................................


........................................................................................................................................... 01
...........................................................................................................................................
...........................................................................................................................................
2) LEI 9613/98 – LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS.........................................................07
3) LEI 9034/95 – LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS...........................................23
4) LEI 9983/00 - CRIMES PREVIDENCIÁRIOS - E LEI 8137/90 – CRIMES CONTRA A
ORDEM TRIBUTÁRIA....................................................................................................... 33
5) LEI 9099/95 – LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS......................................51
6) LEI 9455/97 – LEI DE TORTURA.................................................................................67
7) LEI 11343/06 – LEI DE DROGAS.................................................................................73
8) LEI 9296/96 – LEI DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA............................................87
9) LEI 9605/98 – LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS...........................................................99
10) LEI 7716/89 – LEI DO RACISMO...............................................................................120
11) LEI 7210/84 – LEI DE EXECUÇÃO PENAL...............................................................133
12) LEI 4898/65 – LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE.....................................................151
13) DECRETO-LEI 3688/41 – LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS............................166
14) LEI 9503/97 – CRIMES DE TRÂNSITO......................................................................184
15) CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO...........................................201
16) LEI 5553/68 – LEI DE USO E RETENÇÃO DE DOCUMENTOS................................209
17) LEI 8078/90 – CRIMES CONTRA O CONSUMIDOR.................................................210
18) LEI 11340/06 - LEI DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA/LEI MARIA DA PENHA...............219
19) LEI 10826/03 – ESTATUTO DO DESARMAMENTO..................................................228
20) LEI 8069/90 – CRIMES DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.......237
21) CRIMES ELEITORAIS................................................................................................253
22) LEI 7492/86 – CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL...............
23) LEI 11101/05 – CRIMES FALIMENTARES................................................................
24) DECRETO 678/92 – PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA (CONVENÇÃO
AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS) ................................................................

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31.01.2009 – ROGÉRIO SANCHES

1) LEI 8072/90 – LEI DOS CRIMES HEDIONDOS

1.1) DEFINIÇÃO
A) Sistema legal – compete ao legislador enumerar, num rol taxativo,
quais delitos considerados hediondos.
B) Sistema judicial – é o juiz quem, na apreciação do caso concreto,
diante da gravidade do crime, decide se a infração é ou não hedionda.
C) Sistema misto – o legislador apresenta rol exemplificativo de crimes
hediondos, deixando ao juiz um campo fértil para encontrar outros casos.

O Brasil adotou o sistema legal – art. 5º, XLIII, da CF – o constituinte


outorgou ao legislador ordinário tal tarefa, todavia, aquele já enumerou os
equiparados a hediondos – tráfico de drogas, terrorismo, tortura.
O SLegal é injusto pois só se considera a gravidade em abstrato, não
analisando o caso concreto, ex.: estupro de uma pessoa pode não ser grave,
como a de um namorado que pratica tal crime contra a namorada de 13 anos,
que consentiu tal ato. O SJudicial é injusto pois a análise pelo magistrado é
subjetivo, ferindo até o princípio da legalidade. O SMisto é injusto pois ignora o
caso concreto e também é muito subjetivo, pois há a análise do magistrado.
OBS.:**O STF vem adotando um quarto sistema: o legislador apresenta um rol
taxativo de crimes hediondos, devendo o magistrado confirmar a hediondez na
análise do caso concreto (o juiz não vai complementar; apenas confirmará se
aquele crime tem requintes de hediondez) – GUILHERME DE SOUZA NUCCI
também é filiado deste sistema.

1.2) ROL DOS CRIMES HEDIONDOS


Segundo a redação do art. 1º da lei, são todos tipificados no Código
Penal. Exceção: crime de genocídio (parágrafo único do art. 1º) – não está
previsto no Código Penal. Os TTT são equiparados a hediondos.

1.2.1) Homicídio quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente e o homicídio
qualificado – art. 121 e parág. 2º, do CP
Ele não veio previsto desde a criação da lei. Adveio posteriormente, 4
anos depois. Homicídios praticados antes do dia 6 de setembro de 1994 não
são hediondos – a lei posterior não pode retroagir em prejuízo ao réu.

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O homicídio simples, em regra, não é hediondo, salvo quando


praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido
por um só agente – trata-se de um homicídio condicionado.
Trata-se de circunstâncias muito imprecisas – crítica da doutrina. Por
ex., não se sabe, pela lei, o que é a “atividade típica de grupo de extermínio”. A
doutrina a conceitua como sendo a chacina, matança generalizada.
Grupo, para uma 1ª corrente, não se confunde com par (duas pessoas),
precisando de mais de 2 pessoas, mas também não se confunde com bando
(exige 4); logo, precisaria de 3 pessoas para caracterizar um grupo
(CERNICHIARI). Uma 2ª corrente também diz que não se confunde com par,
mas é igual a bando (4 pessoas, no mínimo) – ALBERTO SILVA FRANCO.
Outra crítica feita é que, esta forma de crime jamais será praticada sobre
a forma simples, sendo caracterizado sempre a qualificadora – PAULO
RANGEL, NUCCI.
OBS.: esta circunstância de ser ou não grupo de extermínio fica sob
análise do juiz, não sendo submetida à análise dos jurados, pois não é
elementar, agravante nem causa de aumento de pena.
Tratando-se do homicídio qualificado, todas as qualificadoras
redundam no crime hediondo (art. 121, parág. 2º, do CP). O homicídio
privilegiado não é hediondo.
OBS.: é possível homicídio qualificado-privilegiado? R: Sim. O parágrafo
1º traz 3 privilegiadoras; o parágrafo 2º traz 5 qualificadoras. Os privilégios são
o motivo social, moral e a emoção (todas de natureza subjetiva) As
qualificadoras são o motivo torpe, fútil (natureza subjetiva, as duas), meio cruel,
a surpresa e o fim especial (esta última também de natureza subjetiva). Só é
possível o homicídio qualificado-privilegiado quando a qualificadora for
de natureza objetiva.
OBS.: homicídio qualificado-privilegiado é hediondo? R: 1ª corrente –é
hediondo, pois a lei não excepciona esta figura. 2ª corrente – Não é hediondo,
pois o privilegiado prepondera sobre a qualificadora – tal corrente faz uma
analogia ao art. 67 do CP - no concurso de agravantes e atenuantes,
prepondera a de natureza subjetiva (onde está escrito agravante, colocar-se-
á “qualificadora”; onde estiver escrito atenuante, colocar-se-á “privilégio”) – a
segunda corrente é a que prevalece no STF e no STJ.

1.2.2) Latrocínio – art. 157, parág. 3º, in fine, do CP


O art. 157 trata do crime de roubo e o parág. 3º traz o roubo qualificado
(se da violência resulta lesão grave ou morte, a pena é qualificada). Só é
hediondo o roubo qualificado pela morte (parte final do parág. 3º). O roubo
qualificado pela lesão grave não é hediondo.
A morte pode ser dolosa ou culposa – o crime permanecerá hediondo.
A morte tem que ser decorrência da violência. Se a morte resultar da
grave ameaça – não é latrocínio - **STF.
A violência deve ser empregada durante o assalto e em razão do assalto
(é imprescindível o fator tempo e o fator nexo), ex.: uma semana depois do
assalto, o bandido mata o gerente do banco que o reconheceu – não é
latrocínio (foi em razão do assalto, mas não foi durante o roubo) – será roubo
c.c. com homicídio. A morte é o meio para alcançar o fim – o roubo.

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Assaltante que mata o outro para ficar com o proveito do crime, não é
latrocínio (trata-se de roubo + homicídio torpe). O assaltante que mata o outro,
por tentar matar a vítima – art. 73 do CP – aberratio ictus – considerará as
qualidades da vítima virtual e não da vítima real, logo, é latrocínio.
Se a intenção inicial do agente era matar e só depois resolveu subtrair,
trata-se de homicídio seguido de furto – não é latrocínio.
Súmula 603 do STF – latrocínio não vai à júri, pois é crime contra o
patrimônio – competência do juiz singular.
Roubo de um carro mas mata 3 pessoas – há uma subtração e uma
pluralidade de mortes – 1ª corrente – há apenas um latrocínio; as várias mortes
serão consideradas pelo juiz na fixação da pena – CÉSAR ROBERTO
BITENCOURT (é a corrente predominante em concursos públicos); 2ª corrente
– há concurso formal impróprio (art. 70, segunda parte, do CP) – trata-se de
pluralidade de latrocínio com soma de penas (tese institucional do MP de São
Paulo); 3ª corrente – há uma continuidade delitiva – minoria jurisprudencial.
Súmula 610 do STF – há crime de latrocínio consumado quando há a
consumação da morte, ainda que a subtração seja tentada - **posição do
STF. Crítica: tal súmula ignora o art. 14, I, do CP – o crime é consumado
quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal – ROGÉRIO
GRECO.
OBS.: é possível aplicar as causas de aumento de pena (parág. 2º do
art. 157) ao latrocínio? R: Jamais! Não se aplica as majorantes do parágrafo
2º ao crime de latrocínio (localizado no parág. 3º do mesmo artigo). As
majorantes do parág. 2º tem exclusiva aplicação aos crimes de roubo próprio e
impróprio, não incidindo ao latrocínio – posição topográfica do parág 2º (só
se aplica aos anteriores).

1.2.3) Extorsão qualificada pela morte – art. 158, parág. 2º, do CP


Tudo que se aplica ao latrocínio se aplica a este crime.

1.2.4) Extorsão mediante seqüestro – art. 159, caput e parágrafos,


do CP
Tal crime sempre é crime hediondo, não importa se na forma simples ou
qualificada.

1.2.5) Estupro e atentado violento ao pudor – art. 213 e 214 do CP


Eles podem ser praticados mediante violência real ou presumida (art.
224 do CP). Quanto ao resultado, eles podem ser simples ou qualificados pela
morte (art. 223 do CP). **STF e STJ – todas essas formas configuram crime
hediondo. STJ - HC 96124 SP (setembro de 2008). OBS.: posse sexual
mediante fraude e o atentado ao pudor mediante fraude não são hediondos

1.2.6) Epidemia com resultado morte – art. 267, parágrafo 1º , do CP


O tipo consiste em causar epidemia, mediante a propagação de germes
patogênicos e se caso tal conduta resultar na morte de alguém, o crime será
considerado hediondo, sendo a pena prevista no caput (reclusão de 10 a 15
anos) aplicada em dobro ao agente.

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1.2.7) Falsificação, adulteração de produtos farmacêuticos e


medicinais – art. 273 do CP
O art. 273, caput, pune o falsificador do produto terapêutico ou
medicinal. A pena é de 10 a 15 anos.
O parágrafo 1º pune aquele que guarda, expõe a venda, vende produto
já falsificado. A pena é a mesma, 10 a 15 anos.
O parágrafo 1º-A abrange como objeto material outros produtos, como
por ex., cosméticos e saneantes. OBS.: quanto aos cosméticos, trata-se
apenas daqueles com finalidade terapêutica ou medicinal (se um batom for de
finalidade terapêutica, incidirá neste parágrafo). Saneante abrange os produtos
de limpeza.
O parágrafo 1º-B pune quem comercializa produto com infração às
regras adminsitrativas. A pena será a mesma, 10 a 15 anos – infringe o
princípio da intervenção mínima (o Direito Administrativo poderia cuidar) –
entendimento jurisprudencial.

1.3) CONSECTÁRIOS DA LEI


Elas são tanto para os crimes hediondos, como para os crimes
equiparados a hediondo (art. 2º da lei).

1.3.1) Insuscetíveis de anistia, graça e indulto


O art. 5º, XLIII, da CF – não diz ser insuscetível de indulto. A lei 8072/90
arrola também a insuscetibilidade do indulto - Constitucional ou não? R: 1ª
corrente – a vedação do indulto é inconstitucional – as vedações
constitucionais seriam máximas, não podendo o legislador ordinário suplantá-
las. Eles questionam que, se não se pode aumentar as prisões civis que estão
na CF, não se poderia também acrescentar mais uma causa de proibição de
aplicação aos crimes hediondos – LFG, ALBERTO SILVA FRANCO. 2ª
corrente – as vedações constitucionais são mínimas (A CF deu o poder ao
legislador ordinário de aumentar tal rol). O indulto é uma graça coletiva; logo
estaria já abrangido – **posição do STF.
O indulto não respeita fatos pretéritos – **posição do STF – RHC
84572/RJ. Neste recurso, o STF entendeu constitucional a vedação do indulto
para crimes hediondos, até mesmo para os crimes praticados anteriormente à
sua vigência (da lei 8072/90) - deve-se analisar a natureza do crime no
momento da execução.
A lei 9455/97 (lei de tortura) não impede o indulto, apenas impede a
anistia e a graça. 1ª corrente – a permissão de indulto para a tortura se estende
aos demais crimes hediondos e equiparados, revogando o inciso I do art. 2º da
lei 8072/90 – trabalha com o princípio da isonomia – LFG e ALBERTO SILVA
FRANCO. 2ª corrente – a permissão de indulto para a tortura não se estende
aos demais delitos hediondos e equiparados – princípio da especialidade –
MIRABETE e o **STF.
Lei 11343 de 2006 – lei de drogas – o crime de tráfico é insuscetível de
anistia, graça e indulto (ela foi fiel à lei dos crimes hediondos).

1.3.2) Proibição de fiança


Antes da lei 11464/2007, o art. 2º, II, vedava fiança e liberdade
provisória. Com o advento desta lei, veda-se apenas a fiança (aboliu a vedação

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da liberdade provisória). Há dúvida ainda quanto à aplicação da liberdade


provisória aos crimes hediondos: 1ª corrente – permite-se a Lprovisória, já que
a vedação foi abolida (STF). 2ª corrente – não se permite a Lprovisória, pois a
vedação permanece implícita na proibição da fiança - **STF (Min. Ellen Gracie
e STJ (Min. Félix Fischer). Em dezembro de 2008, o Min. Celso de Mello
aplicou a 1ª corrente. Está difícil de explicar a posição do STF (os livros
indicam que a posição do STF é a 2ª corrente, mas se deve prestar atenção a
esta nova corrente). Se adotar a 2ª corrente, a súmula 697 continua valendo;
adotando a 1ª corrente, a súmula 697 estaria revogada – se tiver excesso de
prazo da prisão, permite-se o relaxamento da prisão, mesmo sendo vedada a
liberdade provisória.

SÚMULA Nº 697 do STF


 
A PROIBIÇÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA NOS PROCESSOS POR CRIMES
HEDIONDOS NÃO VEDA O RELAXAMENTO DA PRISÃO PROCESSUAL POR EXCESSO DE
PRAZO.

1.3.3) Cumprimento inicial em regime fechado


A lei 11464/2007 modificou a redação do parágrafo 1º e 2º do art. 2º da
lei. Antes o regime deveria ser integral fechado (proibia-se a progressão de
regimes). Agora a lei determina o cumprimento inicial fechado, permitindo a
progressão de regime – cumprimento de 2/5 da pena se primário ou 3/5 se
reincidente, não necessariamente especifico. Todavia, o STF já havia
declarado inconstitucional a vedação de progressão de regimes, antes mesmo
do advento desta lei de 2007, admitindo a progressão de regimes através do
cumprimento de 1/6 da pena – a Lei 11464/2007 só tem aplicação para os
fatos futuros – lei posterior maléfica ao réu, pois exige uma fração maior do
que a que vinha se aceitando.

1.3.4) Direito de apelar em liberdade ou não


**STF – processado preso, recorre preso, salvo se ausentes os
fundamentos da prisão preventiva. Se o réu é processado solto, ele recorrerá
solto, salvo se presentes os fundamentos da prisão preventiva.

1.3.5) Prisão temporária


Lei 7960/89 – para o Delegado representar pela prisão temporária, o
inciso III do art. 1º deve estar sempre presente (que elenca os crimes passíveis
de prisão temporária), desde que esteja combinado com o inciso I ou com o
inciso II (posição majoritária). Se o crime estiver no inciso III da lei 7960, o
prazo da prisão será de 5+5, se estiver também na lei 8072, o prazo será de
30+30. Todavia, há um crime hediondo que não está abrangido pela lei
7960/89 – adulteração e falsificação de remédios (art. 273 do CP) – cabe
prisão temporária! – a lei posterior acrescentou à lei anterior, já que se trata
de leis de mesma hierarquia (lei ordinária) – critério da posterioridade – sendo
o prazo de até 30 dias, prorrogáveis por até mais 30 dias.

1.4) LIVRAMENTO CONDICIONAL

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Art. 83 do CP. É uma liberdade antecipada da execução. Se o agente é


primário (não-reincidente) e com bons antecedentes, deverá cumprir 1/3 da
pena; se ele é reincidente, deverá cumprir 1/2 da pena; se ele for autor de
crime hediondo ou equiparado, deverá cumprir 2/3 da pena, desde que não-
reincidente específico.
Quanto ao primário de maus antecedentes, uma 1ª corrente entende que
se deve aplicar analogia in bonam partem. Uma 2ª corrente entende que deve
ser cumprida 1/2 da pena (como se fosse reincidente). A 1ª corrente é a que
prevalece.
OBS.: o que é reincidente específico? R: 1ª corrente – é aquele que
pratica dois crimes hediondos ou equiparados do mesmo tipo penal (ex.:
condenado por estupro e praticando outro estupro, não terá direito ao
livramento condicional); 2ª corrente – é aquele que pratica crime hediondo ou
equiparado, ofendendo um mesmo bem jurídico (ex.: condenado por estupro e
depois atentado violento a pudor – não terá direito ao livramento condicional);
3ª corrente – aquele que pratica crime hediondo ou equiparado, qualquer que
seja ele (ex.: condenado por latrocínio e praticou estupro, não terá direito ao
livramento condicional) – é a corrente que prevalece.
OBS.: quanto à progressão de regimes, não se exige ser reincidente
específico para não se beneficiar deste instituto, apenas a reincidência normal.

1.5) DELAÇÃO PREMIADA


Acrescentou ao art. 159 do CP o instituto da delação premiada com nova
redação (parág. 4º, do art. 159 do CP e Lei 9269/96) exige: a) o crime cometido
em concurso de pessoas (não exige mais a quadrilha ou bando); b) o
concorrente denunciar (abrange também o partícipe); c) deve facilitar a
libertação. ALBERTO SILVA FRANCO - se foi pago o resgate, deverá
recuperar também o dinheiro – posição minoritária, pois seria analogia
prejudicial ao réu. OBS.: há julgados do **STJ exigindo que, se haver a
delação premiada, deverá ocorrer o desmantelamento do bando – HC 41758
de 2007.

1.6) PENA DIFERENCIADA AO CRIME DE QUADRILHA OU BANDO


A pena do art. 288 do CP passa a ser de 2 a 6 anos se a Q. ou B. visar à
prática de tortura, terrorismo ou tráfico. No advento da lei antiga de drogas,
havia o art. 14, próprio para o tráfico de drogas. O STF entendeu que a lei
8072/90 não revogou tal artigo, pois apenas a pena foi alterada, já que a lei de
drogas tinha uma quadrilha especial (o art. 14 foi apenas derrogado –
parcialmente quanto à pena). Todavia, com o advento da Lei 11343/2006, o art.
35 que traz o crime de “quadrilha” para o tráfico, repristinando a antiga pena (3
a 10 anos). Assim, quanto ao tráfico, não se aplica o art. 8º da Lei 8072/90,
e sim a Lei de Drogas.

1.7) MODIFICAÇÃO DAS PENAS - ART. 9º


Latrocínio, extorsão qualificada pela morte, extorsão mediante
sequestro, estupro e AVP terão a pena aumentada da metade se se enquadrar
nas hipóteses do art. 224 do CP (vítima não maior de 14 anos; vítima alienada
mental; vítima que não puder oferecer resistência).

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No caso do estupro e AVP, se a violência for real, a aplicação do art. 9º


não acarreta bis in idem. No caso de violência presumida, a aplicação do art.
9º gera bis in idem (o art. não pode ser usado duas vezes em prejuízo do réu).
OBS.: **há decisões no STF e STJ não reconhecendo o bis in idem (todavia,
houveram decisões no STJ em novembro e dezembro de 2008, reconhecendo
o bis in idem no caso de violência presumida – HC 111641/RJ e RESP
1020730/SP).
OBS.: extorsão mediante sequestro com resultado morte, pena de 24 a
30 anos. Supondo que a vítima seja uma alienada mental, a pena será
aumentada da metade (no caso, pena de 36 a 45 anos). O máximo de pena a
cumprir é de 30 anos. Para muitos, a aplicação do art. 9º neste caso de
extorsão mediante sequestro com resultado morte fere o princípio da
individualização da pena. Os países que não adotam o princípio da
individualização da pena, aplica-se o sistema da pena fixa (pena igual para
todos que praticarem tal delito, não tendo, o juiz, opção para malear a pena).
CRÌTICA AO ENTENDIMENTO ACIMA EXPOSTO: O rebate a esta teoria é o
seguinte: a matéria do art. 9º da lei 8072/90 é de aplicação da pena. O art.
70 é matéria de execução da pena – é o que predomina.

07.02.2009 – RENATO BRASILEIRO

2) LEI 9613/98 – LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS

2.1) HISTÓRICO DA LEI


A preocupação com a incriminação da lavagem de capitais surge na
Convenção das Nações Unidas contra o tráfico ilícito de substâncias
entorpecentes, que foi concluída em Viena em 20/12/1988. Ela foi ratificada no
Brasil pelo Dec. 154/1991.

2.2) A EXPRESSÃO “LAVAGEM DE DINHEIRO”


Ela tem origem nos EUA, a partir de 1920, com a expressão “money
laundering” – os traficantes usavam lavanderias para ocultar o provento ilícito
obtido através dos crimes.
Há a expressão também chamada “branqueamento de capitais”.

2.3) CONCEITO DE LAVAGEM DE CAPITAIS


Lavagem é o processo por meio do qual, bens, direitos ou valores,
provenientes direta ou indiretamente dos crimes listados no artigo 1º da lei
9613/98, são integrados ao sistema econômico-financeiro, com a aparência de
terem sido obtidos de maneira lícita. OBS.: um mero depósito de cheque já
caracterizaria a lavagem? R: Já é lavagem! Não é necessário um vulto
assustador das quantias envolvidas – posição do STF.

2.4) GERAÇÕES DE LEIS DE LAVAGEM DE CAPITAIS

2.4.1) Legislação de 1ª geração


O único crime antecedente era o de tráfico de drogas.

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2.4.2) Legislação de 2ª geração


Há uma ampliação no rol dos crimes antecedentes. Ex.: Lei brasileira.
Tal legislação é numerus clausus – rol taxativo.

2.4.3) Legislação de 3ª geração


Qualquer crime grave pode figurar como crime antecedente da lavagem
de capitais. Ex.: Legislação espanhola e argentina.

2.5) FASES DA LAVAGEM DE CAPITAIS


A doutrina diz que são 3 fases que se pode visualizar:
1. Placement – consiste na introdução do dinheiro ilícito no sistema
financeiro. É a fase ideal para que o Estado descubra a prática do
delito. Técnicas usadas: smurfing – o termo advém do desenho
Smurf – consiste no fracionamento de uma grande quantidade de
dinheiro em pequenos valores, de modo a escapar do controle
administrativo imposto às instituições financeiras.
2. Dissimulação/Laudering – uma série de negócios ou
movimentações financeiras são realizadas a fim de impedir o
rastreamento dos valores.
3. Integração/Integration – já com a aparência lícita, os bens são
formalmente incorporados ao sistema econômico, seja por meio de
investimentos no mercado mobiliário ou imobiliário, seja até mesmo
no refinanciamento das atividades ilícitas.

Para que o crime de lavagem de capitais esteja consumado, não precisa


passar por essas 3 fases (STF – RHC 80816)

RHC 80816 / SP - SÃO PAULO


RECURSO EM HABEAS CORPUS
Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA PERTENCE
Julgamento:  18/06/2001           Órgão Julgador:  Primeira Turma

Publicação

DJ 18-06-2001 PP-00013 EMENT VOL-02035-02 PP-00249

Parte(s)

RECTE. : MARCO ANTONIO ZEPPINI OU MARCO ANTÔNIO ZEPPINI


ADVDOS. : ANTÔNIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA E OUTRO
RECDO. : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Ementa

EMENTA: Lavagem de dinheiro: L. 9.613/98: caracterização. O depósito de cheques de terceiro


recebidos pelo agente, como produto de concussão, em contas-correntes de pessoas jurídicas, às
quais contava ele ter acesso, basta a caracterizar a figura de "lavagem de capitais" mediante
ocultação da origem, da localização e da propriedade dos valores respectivos (L. 9.613, art. 1º, caput): o
tipo não reclama nem êxito definitivo da ocultação, visado pelo agente, nem o vulto e a complexidade dos
exemplos de requintada "engenharia financeira" transnacional, com os quais se ocupa a literatura.

2.6) BEM JURÍDICO TUTELADO

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Uma 1a corrente diz que a lei de lavagem tutela o mesmo bem jurídico
protegido pelo crime antecedente – não é a que predomina. Uma 2ª corrente
entende que o bem jurídico seria a Administração da Justiça – RODOLFO
TIGRE MAIA. Uma 3ª corrente entende ser a ordem econômico-financeira –
é a que prevalece na doutrina. A 4ª corrente entende ser a ordem econômico-
financeira e o bem jurídico tutelado pelo crime antecedente – ALBERTO SILVA
FRANCO.

2.7) ACESSORIEDADE DA LAVAGEM DE CAPITAIS


O delito de lavagem de capitais é um delito acessório, ou seja, a
palavra “crime” funciona como uma elementar do delito de lavagem de capitais.
OBS.: os dois delitos devem ser processados obrigatoriamente no mesmo
processo? R: Em relação aos processos criminais, deve ser registrado que os
processos são autônomos, ou seja, o agente não precisa responder
obrigatoriamente pela lavagem ou pelo crime antecedente num mesmo
processo. Todavia, é muito interessante que os dois crimes sejam
processados juntos, se isto for possível – conexão probatória.

Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:

II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no


artigo anterior, ainda que praticados em outro país.

        § 1º A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência do crime


antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou
isento de pena o autor daquele crime.

Se o autor do crime antecedente for absolvido, pode o acusado ser


condenado pelo crime de lavagem de capitais? R: Dependerá do fundamento
da absolvição. Para que o delito de lavagem de capitais seja punível, a
conduta antecedente deve ser típica e ilícita (princípio da acessoriedade
limitada). Portanto, caso o autor do crime antecedente seja absolvido com
base na atipicidade de sua conduta ou com base numa excludente da ilicitude,
não será possível a condenação por lavagem (art. 386, I, III e VI, primeira
parte, do CPP). Porém, se o autor do crime antecedente for absolvido com
base em uma excludente da culpabilidade ou em virtude de uma causa
extintiva da punibilidade, nada impede a condenação por lavagem de
capitais. Todavia, há duas causas extintivas de punibilidade que impedem a
condenação por lavagem de dinheiro – nas hipóteses de abolitio criminis e
anistia.

2.8) SUJEITOS DO CRIME


Trata-se de um crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.
OBS1.: o autor do crime antecedente também responde pelo crime de
lavagem? R: Há duas correntes – 1ª corrente – o autor do crime antecedente
não responde por lavagem de capitais, pois, para ele, a ocultação dos valores
configura mero exaurimento do delito (da mesma forma do crime de
favorecimento real) – ROBERTO DELMANTO; 2ª corrente – nada impede que

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
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o autor do crime antecedente seja também condenado pelo delito de


lavagem de capitais – não é possível a aplicação do princípio da consunção,
pois, a ocultação do produto do crime antecedente configura conduta
autônoma, contra bem jurídico distinto – é a tese que predomina.
OBS2.: o autor do delito de lavagem de capitais não necessariamente
precisa ter tido participação no crime antecedente, devendo ter consciência
quanto à origem ilícita dos valores ( STJ – RMS 16813).
OBS3.: Pessoa jurídica pode responder por lavagem de capitais? R: De
acordo com a CF, é possível a responsabilização criminal de PJ em crimes
ambientais e contra a ordem econômico-financeira. Apesar da previsão
constitucional, a lei de lavagem de capitais somente prevê a
responsabilidade penal da pessoa física.
Sujeito passivo do delito é o Estado.

2.9) TIPO OBJETIVO

    Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou


propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime:

Ocultar significa “esconder a origem da coisa”. Dissimular deve ser


interpretado como “ocultação com fraude”.
Ocultar é crime permanente, ou seja, crime cuja consumação se
prolonga no tempo. Portanto, mesmo que o agente tenha dado início à
ocultação em momento anterior à entrada em vigor da lei, responderá
normalmente pelo delito se mantiver os depósitos após a vigência da lei –
Súmula 711 do STF.
O delito de lavagem de capitais é um crime de ação múltipla ou de
conteúdo variado. Portanto, mesmo que o agente pratique mais de uma ação
típica, em um mesmo contexto fático, responderá por um único delito –
princípio da alternatividade (conflito aparente de normas).
Prevalece o entendimento, na doutrina, de que o crime do art. 1º é um
crime formal. No ***STF, RHC 80816, o relator Sepúlveda Pertence entendeu
tratar-se de um crime material.
OBS.: prestar atenção no parágrafo 1º do art. 1º

§ 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou
valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo:

        I - os converte em ativos lícitos;

        II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em


depósito, movimenta ou transfere;

        III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.

Trata-se de um crime formal – o resultado não precisa ocorrer para se


consumar.

2.10) TIPO SUBJETIVO

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É punido a título de dolo. Não é punido a título de culpa. O delito de


capitais também é punido a título de dolo eventual, salvo nas hipóteses do art.
1º, parágrafo 2º, em que somente é possível a punição a título de dolo direto.

2.10.1) Teoria da cegueira deliberada


Tem origem no direito norte-americano (instruções da avestruz ou wilfull
blindness).

  Art. 11. As pessoas referidas no art. 9º:

        I - dispensarão especial atenção às operações que, nos termos de instruções emanadas
das autoridades competentes, possam constituir-se em sérios indícios dos crimes previstos
nesta Lei, ou com eles relacionar-se;

        II - deverão comunicar, abstendo-se de dar aos clientes ciência de tal ato, no prazo de
vinte e quatro horas, às autoridades competentes:

        a) todas as transações constantes do inciso II do art. 10 que ultrapassarem limite fixado,
para esse fim, pela mesma autoridade e na forma e condições por ela estabelecidas, devendo
ser juntada a identificação a que se refere o inciso I do mesmo artigo; (Redação dada pela Lei
nº 10.701, de 9.7.2003)

        b) a proposta ou a realização de transação prevista no inciso I deste artigo.

Se o agente tinha conhecimento da elevada possibilidade de que os


bens, direitos ou valores eram provenientes de crime, e agiu de modo
indiferente a esse conhecimento, responde pelo crime de lavagem de capitais a
título de dolo eventual.

2.11) OBJETO MATERIAL


Produto direto do crime – producta sceleris – é o resultado imediato do
delito, ex.: objeto furtado, dinheiro obtido com o dinheiro da droga.
Produto indireto do crime – fructus sceleris – configura o resultado
mediato do delito, ou seja, é o proveito obtido pelo criminoso como resultado da
utilização econômica do produto direto do delito, ex.: objeto do furto foi vendido
na rua e o dinheiro adquirido com a venda do produto será considerado o
produto indireto do crime.

2.12) CRIMES ANTECEDENTES


Regra 1: ainda que o crime proporcione ao agente a obtenção de bens,
direitos e valores, não se será possível a configuração do crime de lavagem de
capitais se este delito antecedente não estiver listado no art. 1º da lei, ex.:
roubo.
Regra 2: mesmo que este crime antecedente esteja listado no art. 1º,
para que seja possível a lavagem de capitais, dele deverá resultar a obtenção
de bens, direitos e valores, ex.: prevaricação é crime contra a Administração
Pública, porém, dele não resulta a obtenção de bens, direitos ou valores.
No rol do art. 1º não há: contravenções penais (jogo do bicho, por ex.),
crimes contra a ordem tributária, crime de tráfico de animais.

2.12.1) Tráfico de drogas


LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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Utilizando o disposto no art. 44 da Lei 11343/2006, é possível dizer que


os crimes do art. 33, caput e parág. 1º, arts. 34, 36 e 37, são tidos como tráfico
de drogas (associação ao tráfico de drogas não é crime antecedente);

2.12.2) Terrorismo e seu financiamento


Há duas correntes acerca do crime de terrorismo: 1ª corrente –
ANTONIO SCARANTES FERNANDES – o delito de terrorismo está previsto no
art. 20 da Lei 7170/83 – lei de Segurança Nacional. Tal corrente é alvo de
críticas – não prevalece na doutrina brasileira – quando o legislador diz “atos
de terrorismo” é um exemplo de elemento normativo (é um elemento constante
do tipo penal que demanda um juízo de valor para a sua compreensão) - a
utilização indiscriminada de elementos normativos acarreta uma insegurança
jurídica, ferindo o princípio da taxatividade. 2ª corrente – esta expressão é
indeterminada, violando o princípio da taxatividade, não existindo o crime de
terrorismo no Brasil – é o que predomina. OBS.: terrorismo praticado fora do
Brasil e o agente lavar o dinheiro aqui no país, para a doutrina, mesmo que o
crime de terrorismo seja tipificado no exterior, não será punível o delito de
lavagem de capitais praticado no Brasil, pois a conduta deve ser considerada
criminosa também no Brasil – princípio da dupla tipificação.

2.12.3) Contrabando ou tráfico de armas


Está previsto nos arts. 17 e 18 da Lei 10826/2003 e também na Lei de
Segurança Nacional – art. 12 da Lei 7170/1983.

2.12.4) Extorsão mediante seqüestro


Art. 159 do CP.

2.12.5) Crimes contra a Administração Pública


Tais crimes estão previstos entre os arts. 312 e 359-H do CP, bem como
os crimes previstos na Lei de Licitações (Lei 8666/93) e no Dec-Lei 201/67
(responsabilidade de Prefeitos e Vereadores) – entendimento doutrinário –
sendo praticado contra a Administração Pública, não importa se está tipificado
em leis esparsas ou no CP apenas – será crime antecedente ao de lavagem da
capitais.

2.12.6) Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional


Estão previstos na Lei 7492/86 e na Lei 6385.

2.12.7) Crime praticado por organização criminosa


Podem-se inserir outros crimes neste inciso. Não pode confundir
quadrilha com associação criminosa ou com organização criminosa:
 Quadrilha é a associação estável e permanente de mais de 3
pessoas com o fim de praticar uma série indeterminada de crimes
(art. 288 do CP). Delito de quadrilha é um crime autônomo,
consumando-se independentemente da prática dos delitos para
os quais os agentes se associaram. Se os delitos forem
praticados, responderão os agentes pelos respectivos crimes em
concurso material com o delito de quadrilha.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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 Associação criminosa é a união de 2 ou mais pessoas para a


prática de crimes específicos. Ex.: art. 35 da lei de drogas; lei do
genocídio, art. 2º da Lei 2889/56 (aqui muda o conceito dado – o
artigo pede para que se associem mais de 3 pessoas); Lei de
Segurança Nacional – art. 16 e 24 da Lei 7170/83 – não há
número mínimo de integrantes.
 Organização criminosa – há duas correntes: 1ª corrente – é
sustentada na Convenção de Palermo (organizada no ano de
2000) – é o grupo estruturado de 3 ou mais pessoas, existente há
algum tempo e atuando com o fim de cometer infrações graves,
com a intenção de obter benefício econômico ou moral. A
Convenção de Palermo foi incorporada ao ordenamento brasileiro
pelo Dec 231/2003 – FERNANDO CAPEZ. 2ª corrente –
sustentada por LFG – tratados internacionais não podem definir
um crime, sob pena de violação ao princípio da legalidade
(garantia da lex populi – lei penal incriminadora é aquela que
provém do Poder Legislativo) – posição majoritária. Assim, no
Brasil, não há definição legal de organização criminosa.
Tramitam no CN 3 projetos de lei - 118 do Senado e 7223/2002 –
seria organização criminosa aquela que resulta da presença de
pelo menos 3 das seguintes características: 1) hierarquia
estrutural, 2) planejamento empresarial, 3) uso de meios
tecnológicos avançados, 4) recrutamento de pessoas, 5) divisão
funcional das atividades, 6) conexão estrutural ou funcional com o
poder público. 7) oferta de prestações sociais, 8) divisão territorial
das atividades ilícitas, 8) alto poder de intimidação, 9) alta
capacitação para capacidade de fraude, 10) conexão local,
regional, nacional ou internacional com outra organização
criminosa.

2.12.8) Crime praticado por particular contra a Administração


Pública Estrangeira
Estão previstos nos arts. 337-B a 337-D, do CP. Ele foi inserido em
2002.

        § 4º A pena será aumentada de um a dois terços, nos casos previstos nos incisos I a VI do
caput deste artigo, se o crime for cometido de forma habitual ou por intermédio de organização
criminosa.

Não está inserido neste parágrafo o inciso VIII – não incide a causa de
aumento de pena prevista no parágrafo 4º do art. 1º.

2.13) DELAÇÃO PREMIADA


Há autores que distinguem delação premiada de colaboração premiada.
Na delação premiada, aponta-se co-autores e partícipes, antigos comparsas de
infração penal. Na colaboração premiada a pessoa colabora com o Estado,
mas não delata ninguém, ex.: ajuda na localização da vitima, dos bens etc.
Há várias delações premiadas previstas no ordenamento jurídico, cada
uma com conseqüências distintas:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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 Art. 25, parág. 2º, da Lei 7492/86 (crimes contra o SFN );


 Art. 8º, parág. único, da Lei 8072/90;
 Art. 159, parág. 4º, do CP – Extorsão mediante seqüestro;
 Lei 8137/90 – art. 16, parág. único – crimes contra a ordem
tributária;
 Art. 6º da Lei 9034/95 – lei das organizações criminosas;

Em todos esses dispositivos, o benefício da delação será uma


diminuição de pena.

 Art. 1º, parág. 5º, da Lei 9613/98 – da delação poderão resultar 3


benefícios:
 Diminuição da pena e fixação do regime inicial
aberto;
 Substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos;
 Perdão judicial, com a conseqüente extinção da
punibilidade;

        § 5º A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em regime
aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos, se o
autor, co-autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando
esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à
localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

Também temos delação premiada no art. 35-B e 35-C da Lei 8884/94 –


Lei dos cartéis – chamado de acordo de leniência, brandura ou doçura; art.
13 e 14 da Lei 9807/99 – proteção às testemunhas; art. 41 da Lei de Drogas
(11343/06).
A delação premiada, por si só, não é fundamento suficiente para um
decreto condenatório.
Tanto a autoridade policial quanto o MP devem alertar os indiciados e
acusados sobre os benefícios que poderão resultar na hipótese de
colaboração. Caso haja consenso, pode ser lavrado um acordo sigiloso entre
acusação e defesa a ser submetido ao juiz para homologação (STF HC 90688
e RE 213937).

HC 90688 / PR - PARANÁ
HABEAS CORPUS
Relator(a):  Min. RICARDO LEWANDOWSKI
Julgamento:  12/02/2008           Órgão Julgador:  Primeira Turma

Publicação

DJe-074 DIVULG 24-04-2008 PUBLIC 25-04-2008


EMENT VOL-02316-04 PP-00756

Parte(s)

PACTE.(S): ROBERTO BERTHOLDO

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
15

IMPTE.(S): ANDREI ZENKNER SCHMIDT E OUTRO(A/S)


COATOR(A/S)(ES): SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Ementa

EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ACORDO DE COOPERAÇÃO.


DELAÇÃO PREMIADA. DIREITO DE SABER QUAIS AS AUTORIDADES QUE PARTICIPARAM DO
ATO. ADMISSIBILIDADE. PARCIALIDADE DOS MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO. SUSPEITAS
FUNDADAS. ORDEM DEFERIDA NA PARTE CONHECIDA. I - HC parcialmente conhecido por ventilar
matéria não discutida no tribunal ad quem, sob pena de supressão de instância. II - Sigilo do acordo de
delação que, por definição legal, não pode ser quebrado. III - Sendo fundadas as suspeitas de
impedimento das autoridades que propuseram ou homologaram o acordo, razoável a expedição de
certidão dando fé de seus nomes. IV - Writ concedido em parte para esse efeito.

2.14) PROCEDIMENTO
Atenção para a Lei 11719/2008 – alterou os procedimentos do CPP. Os
procedimentos são: a) procedimento comum ordinário (crime com pena
máxima igual ou superior a 4 anos – aplica-se aos crimes de lavagem), b)
procedimento comum sumário (quando o crime tiver pena máxima inferior a 4
anos e superior a 2 anos) e, c) procedimento comum sumaríssimo (todas as
contravenções penais e crimes cuja pena máxima não seja superior a 2 anos,
cumulada ou não com multa, submetido ou não a procedimento especial).
A pena é de 3 a 10 anos de reclusão.

2.15) AUTONOMIA DO PROCESSO

14.02.2009 – RENATO BRASILEIRO

Art. 2º da lei – o processamento do crime de lavagem não depende da


sua junção, apensamento com o processo do crime antecedente, mas nada
impede que eles corram juntos.
Mesmo que o crime antecedente seja praticado em outro país, o crime
de lavagem poderá ser julgado no Brasil.
Mesmo que a lavagem seja praticada no estrangeiro, estará também
sujeita à lei brasileira (extraterritorialidade condicionada da lei brasileira).

2.16) COMPETÊNCIA CRIMINAL


A lei de lavagem tem como objeto jurídico a ordem econômico-
financeira. A competência é da Justiça Estadual. Só será de competência da
Justiça Federal quando a lei assim determinar – art. 109, VI, da CF.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra
o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

A competência será da Justiça Federal quando: a) praticados contra


bens, serviços ou interesses da União, suas autarquias ou empresas
públicas; b) quando o crime antecedente for de competência da Justiça
Federal - STJ HC 11462. Geralmente, hoje, a lavagem relaciona-se com a
remessa de dinheiro ao exterior – crime de evasão de divisas – crime contra o
Sistema Financeiro Nacional.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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2.17) CRIAÇÃO DE VARAS ESPECIALIZADAS


No ano de 2003, o CJF editou a Resolução n. 314, determinando que os
TRF´s criassem varas especializadas em crimes contra o SFN e de lavagem de
capitais. A partir de 2004, diversas resoluções e provimentos foram editados
pelos TRF´s (ex.: TRF 3ª região, provimentos 238 e 275). Esses provimentos,
além de especializarem varas criminais, determinaram que a essas varas
fossem remetidos os processos criminais em andamento em outras varas.
Questiona-se então se teria havido uma violação ao princípio do juiz natural
(art. 5º, XXXVII, LIII, da CF) – dele derivam 3 regras de proteção: só podem
exercer jurisdição, os órgãos instituídos pela CF; b) ninguém pode ser julgado
por órgão instituído após o fato delituoso; c) entre os juízes pré-constituídos,
vigora uma ordem taxativa de competência, que exclui qualquer possibilidade
de discricionariedade.
No julgamento do HC 86660, o STF entendeu que apesar da ilegalidade
da resolução 314 do CJF, as resoluções dos TRF´s seriam válidas na medida
que as especializações de varas seriam autorizadas pelo art. 12 da Lei 5010
(organização judiciária da Justiça Federal – poder de auto-organização dos
tribunais).
A competência, em regra, é determinada no momento da propositura da
ação, ou seja, a ação termina perante o juízo em que teve início, salvo: I-
extinção do órgão judiciário; II- alteração da competência em razão da matéria;
III- alteração da competência hierárquica.
No caso, houve uma alteração da competência em razão da matéria, por
isto que foi considerado totalmente válido (STJ HC 41643).

2.18) REQUISITOS DA DENÚNCIA

Art. 2, § 1º, da lei. A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência do crime
antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de
pena o autor daquele crime.

Justa causa duplicada – além de indícios quanto à lavagem de


capitais, a denúncia deve também trazer um lastro probatório quanto à origem
ilícita dos valores (crime antecedente), sob pena de inépcia da peça acusatória.

2.19) APLICAÇÃO DO ART. 366 DO CPP

        Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado,
ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a
produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva, nos termos do disposto no art. 312.  (Redação dada pela Lei nº 9.271, de s
proce17.4.1996)

Existe revelia no Processo Penal? R: Existe revelia no Processo Penal.


O art. 366 se aplica a quem foi citado ou intimado pessoalmente. Tendo
deixado de comparecer, o juiz decretará a revelia. O único efeito da revelia é a
desnecessidade de intimação do acusado para a prática dos demais atos
processuais, salvo na hipótese de sentença condenatória.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Combina-se a suspensão do processo (matéria processual) com a


suspensão da prescrição (direito material). Deve-se lembrar que a atual
redação foi inserida em 1996. Assim, não se sabe o critério a ser adotado – o
do direito material ou do direito processual.
O art. 366 é norma de natureza híbrida, aplicando a regra do direito
intertemporal, referente à norma de direito material. Portanto, a regra do art.
366 do CPP somente se aplica aos crimes cometidos após a entrada em vigor
da lei 9271/96.

2.19.1) Prazo máximo de suspensão do processo e da prescrição


1ª corrente – admite-se como tempo máximo de suspensão do processo
o máximo de tempo de prescrição previsto no CP (20 anos), quando deverá ser
extinta a punibilidade. 2ª corrente – admite-se como tempo de suspensão do
processo o tempo de prescrição pela pena máxima em abstrato do crime, após
o que a prescrição voltaria a correr normalmente. 3ª corrente – a prescrição e o
processo deverão permanecer suspensos por prazo indeterminado - **STF (RE
460971).

RE 460971 / RS - RIO GRANDE DO SUL


RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA PERTENCE
Julgamento:  13/02/2007           Órgão Julgador:  Primeira Turma

Parte(s)

RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO


SUL
RECDO.(A/S) : VALDEMAR BRITO DA SILVA
ADV.(A/S) : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

Ementa

EMENTA:I. Controle incidente de inconstitucionalidade: reserva de plenário (CF, art. 97).


"Interpretação que restringe a aplicação de uma norma a alguns casos, mantendo-a com
relação a outros, não se identifica com a declaração de inconstitucionalidade da norma que é a
que se refere o art. 97 da Constituição.." (cf. RE 184.093, Moreira Alves, DJ 05.09.97). II.
Citação por edital e revelia: suspensão do processo e do curso do prazo prescricional,
por tempo indeterminado - C.Pr.Penal, art. 366, com a redação da L. 9.271/96. 1. Conforme
assentou o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ext. 1042, 19.12.06, Pertence, a
Constituição Federal não proíbe a suspensão da prescrição, por prazo indeterminado, na
hipótese do art. 366 do C.Pr.Penal. 2. A indeterminação do prazo da suspensão não
constitui, a rigor, hipótese de imprescritibilidade: não impede a retomada do curso da
prescrição, apenas a condiciona a um evento futuro e incerto, situação substancialmente
diversa da imprescritibilidade. 3. Ademais, a Constituição Federal se limita, no art. 5º, XLII e
XLIV, a excluir os crimes que enumera da incidência material das regras da prescrição, sem
proibir, em tese, que a legislação ordinária criasse outras hipóteses. 4. Não cabe, nem mesmo
sujeitar o período de suspensão de que trata o art. 366 do C.Pr.Penal ao tempo da
prescrição em abstrato, pois, "do contrário, o que se teria, nessa hipótese, seria uma
causa de interrupção, e não de suspensão." 5. RE provido, para excluir o limite temporal
imposto à suspensão do curso da prescrição.

O art. 2º, parágrafo 2º da Lei 9613/98 diz que não se aplica o art. 366
do CPP à lavagem de capitais. Todavia, a mesma lei, logo depois, em seu art.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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4º, parágrafo 3º, diz que será aplicado o art. 366 do CPP. Para a doutrina, é
possível a aplicação do art. 366 do CPP (LFG). Para concursos públicos – não
se aplica!!!
OBS.: O art. 366 do CPP não foi revogado pela Lei 11719/2008 – nova
lei do procedimento comum.

2.20) LIBERDADE PROVISÓRIA


É uma medida de contra-cautela que substitui a prisão em flagrante.
Não cabe liberdade provisória (previsão expressa em lei):
 Art. 31 da Lei 7492/86 – Crimes contra o SFN
 Ar. 2º Lei 8072/90 – crimes hediondos
 Art. 7º da Lei 9034/95 – lei de organização criminosa
 Art. 1º, parágrafo 6º, da Lei 9455/97
 Art. 14, parágrafo único, art. 15, parágrafo único e 21 da lei
10826/2003
 Art. 44 da Lei 11343/2006
 Art. 3º da Lei 9613/1998

Poderia o legislador, de forma abstrata, vedar a concessão de liberdade


provisória a determinado delito? R: A prisão em flagrante é uma espécie de
prisão cautelar. Como toda e qualquer prisão cautelar, a prisão provisória só se
justifica se demonstrar necessária ao caso concreto, para não ferir o princípio
da presunção de inocência. Ao vedar a liberdade provisória a determinado
delito, o legislador retira do Poder Judiciário a análise de sua
necessidade no caso concreto, criando-se então verdadeira prisão
automática para aquele que foi preso em flagrante.
OBS.1: ADI 3112 – O STF declarou a inconstitucionalidade dos art. 14,
p. único, 15, p. único e 21 da Lei 10826/2003 – Estatuto do Desarmamento.
OBS.2: Atenção para a lei 8072/90, com redação determinada pela Lei
11464/2007 – em tese, cabe liberdade provisória sem fiança para crimes
hediondos e equiparados – art. 310, parágrafo único, do CPP – o juiz, diante do
caso concreto, verificará se será o caso de concessão de liberdade provisória.
Hoje, então, para crimes hediondos, cabe liberdade provisória sem fiança,
Todavia, para o ***STF, a norma do art. 44 da Lei 11343/2006 é
especial em relação ao art. 2º, II, da Lei 8072/90 (mesmo com o recente
julgado do Ministro Celso de Mello, entendendo que caberia liberdade
provisória) – logo, para o tráfico de drogas, não caberá liberdade provisória
em nenhum caso (com ou sem fiança) – fundamento: o homicídio, por ex., é
um crime que qualquer pessoa poderia cometer, dependendo da situação do
caso concreto (sob violenta emoção, por ex.); já o tráfico de drogas, não teria o
porquê alguém praticar tal crime (se o comete, é porque possui má índole,
tendência ao crime etc.).

3.21) RECURSO EM LIBERDADE

        Art. 3º Os crimes disciplinados nesta Lei são insuscetíveis de fiança e liberdade provisória
e, em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá
apelar em liberdade.

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Quanto ao recurso em liberdade, há duas regras importantes: a) se o


acusado estava em liberdade quando da sentença condenatória, deverá
permanecer solto, salvo se surgir alguma hipótese que autorize sua prisão
preventiva; b) por outro lado, se o acusado estava preso quando da sentença
condenatória recorrível, deverá permanecer preso, salvo se desaparecer a
hipótese que autorizava sua prisão preventiva.

2.22) RECOLHIMENTO À PRISÃO PARA RECORRER


O antigo art. 594 do CPP trazia o recolhimento á prisão como condição
de admissibilidade recursal, caso o acusado não fosse primário ou não tivesse
bons antecedentes.
Súmula 9 do STJ – não há qualquer problema quanto ao recolhimento à
prisão para apelar, não ofendendo o princípio da presunção da inocência.
Todavia, tudo isto começa a cair por terra a partir do HC 88420 do STF –
a Convenção Americana de Direitos Humanos, art. 8, II, “h”, assegura a todo o
acusado o direito ao duplo grau de jurisdição, independentemente do
recolhimento à prisão.

Publicação
DJe-032 DIVULG 06-06-2007 PUBLIC 08-06-2007 DJ 08-06-2007 PP-00037 EMENT VOL-
02279-03 PP-00429 LEXSTF v. 29, n. 345, 2007, p. 466-474

Parte(s)

CRISTÓVAM DIONÍSIO DE BARROS CAVALCANTI JÚNIOR

EDUARDO DE VILHENA TOLEDO E OUTRO(A/S)

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Ementa

HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DE


APELAÇÃO. PROCESSAMENTO. POSSIBILIDADE. DESNECESSIDADE DE
RECOLHIMENTO DO RÉU À PRISÃO. DECRETO DE CUSTÓDIA CAUTELAR NÃO
PREJUDICADO. PRISÃO PREVENTIVA SUBSISTENTE ENQUANTO PERDURAREM OS
MOTIVOS QUE A MOTIVARAM. ORDEM CONCEDIDA

I - Independe do recolhimento à prisão o regular processamento de recurso de apelação


do condenado.

II - O decreto de prisão preventiva, porém, pode subsistir enquanto perdurarem os


motivos que justificaram a sua decretação.

III - A garantia do devido processo legal engloba o direito ao duplo grau de jurisdição,
sobrepondo-se à exigência prevista no art. 594 do CPP.

IV - O acesso à instância recursal superior consubstancia direito que se encontra incorporado


ao sistema pátrio de direitos e garantias fundamentais.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
20

V - Ainda que não se empreste dignidade constitucional ao duplo grau de jurisdição, trata-se
de garantia prevista na Convenção Interamericana de Direitos Humanos, cuja ratificação
pelo Brasil deu-se em 1992, data posterior à promulgação Código de Processo Penal.

VI - A incorporação posterior ao ordenamento brasileiro de regra prevista em tratado


internacional tem o condão de modificar a legislação ordinária que lhe é anterior.

VII - Ordem concedida.

Súmula 347 do STJ – O conhecimento de recurso de apelação do réu


independe de sua prisão.
Art.387, parágrafo único, do CPP:

Parágrafo único.  O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o


caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do
conhecimento da apelação que vier a ser interposta. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Para o STF, o art. 595 do CPP também está revogado, ou seja, a fuga
do réu durante o trâmite do recurso não será mais considerada causa de
extinção anômala do recurso.

2.23) RECUPERAÇÃO DE ATIVOS E MEDIDAS CAUTELARES


Um dos principais objetivos da criminalização da lavagem de capitais é o
ataque ao braço financeiro das organizações criminosas pelos seguintes
motivos: a) o confisco de bens e valores promove a asfixia da organização
criminosa; b) insuficiência e ineficiência das penas privativas de liberdade; c)
capacidade de controle das organizações criminosas do interior dos presídios;
d) rápida substituição dos administradores das organizações criminosas.

2.23.1) Apreensão
Trata-se de medida cautelar com o objetivo de apreender coisas, objetos
e instrumentos de interesse para a instauração do processo.

A) Busca e apreensão em escritório de advocacia – atenção para as


alterações na Lei 8906/94 pela Lei 11767/2008. Mandado de busca e
apreensão deve ser específico e pormenorizado, a ser cumprido na presença
de representante da OAB, sendo vedada a utilização de documentos, mídias e
objetos pertencentes a clientes do advogado averiguado, salvo se tais clientes
também estiverem sendo investigados como partícipes ou co-autores pela
prática do mesmo crime que deu origem ao mandado.
OBS.1: iniciada uma busca durante o dia, nada impede que se
prolongue durante a noite.
OBS.2: autoridades fazendárias dependem de autorização judicial para
ingressarem em domicílio.

2.23.2) Seqüestro
Medida assecuratória fundada no interesse público, antecipativa do
perdimento de bens como efeito da condenação no caso de bens produto de
crimes ou adquiridos pelo agente com a prática do fato criminoso.
OBS.: é distinto de arresto – este é uma medida assecuratória fundada
no interesse privado, que tem por finalidade assegurar a reparação civil do

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
21

dano causado pelo delito, em favor do ofendido ou de seus sucessores.


Recairá sob qualquer bem do patrimônio do agente.
O arresto ganha importância com a nova redação do art. 387, IV, do
CPP:

Art. 387.  O juiz, ao proferir sentença condenatória: (Vide Lei nº 11.719, de 2008)

        IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido; (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

Antigamente, deveria pegar a sentença condenatória e fazer uma


liquidação no juízo cível. Independentemente de pedido expresso (é um efeito
automático da sentença) a sentença condenatória já pode fixar um valor
mínimo a título de reparação pelos danos materiais causados pela infração
penal, sem prejuízo de liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido.

        Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, ou representação da


autoridade policial, ouvido o Ministério Público em vinte e quatro horas, havendo indícios
suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão ou o
seqüestro de bens, direitos ou valores do acusado, ou existentes em seu nome, objeto
dos crimes previstos nesta Lei, procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei
nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.

De acordo com o art. 4º da Lei 9613/98, somente podem ser


disponibilizados bens, direitos ou valores sobre os quais recaiam suspeitas de
vinculação com a lavagem de capitais, sendo inviável que tais medidas recaiam
sobre patrimônio diverso. Não cabe o arresto.
STF INQ 2248:

Inq-QO 2248 / DF - DISTRITO FEDERAL


QUESTÃO DE ORDEM NO INQUÉRITO
Relator(a):  Min. CARLOS BRITTO
Julgamento:  25/05/2006           Órgão Julgador:  Tribunal Pleno

Parte(s)

AUTOR(A/S)(ES) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


INDIC.(A/S) : JOÃO BATISTA RAMOS SILVA OU JOÃO BATISTA
RAMOS DA SILVA
ADV.(A/S) : ADRIANA GUIMARÃES GUERRA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : RENATO RATTI
ADV.(A/S) : JOSÉ PAULO LOPES QUELHO
ADV.(A/S) : ANTÔNIO SÉRGIO ALTIERI DE MORAES PITOMBO E
OUTRO(A/S)

Ementa

EMENTA: INQUÉRITO. QUESTÃO DE ORDEM. APREENSÃO DE NUMERÁRIO,


TRANSPORTADO EM MALAS. COMPROVAÇÃO DE NOTAS SERIADAS E OUTRAS
FALSAS. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PELA SUPOSTA PRÁTICA DO CRIME DE LAVAGEM
DE DINHEIRO. LEI Nº 9.613/98 (LEI ANTILAVAGEM). PEDIDO DE LEVANTAMENTO DO
DINHEIRO BLOQUEADO, MEDIANTE CAUCIONAMENTO DE BENS IMÓVEIS QUE NÃO
GUARDAM NENHUMA RELAÇÃO COM OS EPISÓDIOS EM APURAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE, À FALTA DE PREVISÃO LEGAL. Nos termos do art. 4º da Lei

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
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Antilavagem, somente podem ser indisponibilizados bens, direitos ou valores sob


fundada suspeição de guardarem vinculação com o delito de lavagem de capitais.
Patrimônio diverso, que nem mesmo indiretamente se vincule às infrações referidas na
Lei nº 9.613/98, não se expõe a medidas de constrição cautelar, por ausência de
expressa autorização legal. A precípua finalidade das medidas acautelatórias que se
decretam em procedimentos penais pela suposta prática dos crimes de lavagem de capitais
está em inibir a própria continuidade da conduta delitiva, tendo em vista que o crime de
lavagem de dinheiro consiste em introduzir na economia formal valores, bens ou direitos que
provenham, direta ou indiretamente, de crimes antecedentes (incisos I a VIII do art. 1º da Lei nº
9.613/98). Daí que a apreensão de valores em espécie tenha a serventia de facilitar o
desvendamento da respectiva origem e ainda evitar que esse dinheiro em espécie entre em
efetiva circulação, retroalimentando a suposta ciranda da delitividade. Doutrina. Se o crime de
lavagem de dinheiro é uma conduta que lesiona as ordens econômica e financeira e que
prejudica a administração da justiça; se o numerário objeto do crime em foco somente pode ser
usufruído pela sua inserção no meio circulante; e se a constrição que a Lei Antilavagem
franqueia é de molde a impedir tal inserção retroalimentadora de ilícitos, além de possibilitar
uma mais desembaraçada investigação quanto à procedência das coisas, então é de se
indeferir a pretendida substituição, por imóveis, do numerário apreendido. Não é de se
considerar vencido o prazo a que alude o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.613/98, que é de 120 dias,
pois ainda se encontram inconclusas as diligências requeridas pelo Ministério Público Federal,
em ordem a não se poder iniciar a contagem do lapso temporal. Questão de ordem que se
resolve pelo indeferimento do pedido de substituição de bens.

2.23.3) Inversão do ônus da prova

        Art. 4º, § 2º O juiz determinará a liberação dos bens, direitos e valores apreendidos ou
seqüestrados quando comprovada a licitude de sua origem.

Para a decretação das medidas cautelares, é indispensável a presença


de fumus boni iuris e de periculum in mora. Se por ventura o acusado tiver
interesse na liberação desses bens no curso do processo, cabe a ele
comprovar a origem lícita dos bens. Já no momento da sentença condenatória,
o ônus quanto à demonstração da origem ilícita dos bens, volta a recair sobre o
MP.

2.23.4) Alienação antecipada


Está prevista na Lei de Drogas - art. 61 da Lei 11343/2006. Todavia, não
está prevista na Lei de Lavagem de Capitais. Tramita no Congresso Nacional
um projeto de lei criando a alienação antecipada na Lei 9613/1998.

2.24) AÇÃO CONTROLADA


Art. 4, parágrafo 4º, da Lei

§ 4º A ordem de prisão de pessoas ou da apreensão ou seqüestro de bens, direitos ou valores,


poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução imediata
possa comprometer as investigações

Consiste no retardamento da ordem de prisão preventiva ou de


apreensão ou seqüestro de bens, a fim de que se dê no momento mais
oportuno sob o ponto de vista da colheita de provas e identificação dos demais
envolvidos.
Há ação controlada em outras duas leis:
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 Lei 9034/95 – art. 2º, II – independente de determinação judicial


(“ação controlada descontrolada”);
 Lei 11343/06 – art. 53, II – nestas duas leis é conhecido também
como flagrante prorrogado.

2.25) EFEITOS DA CONDENAÇÃO

Art. 7º São efeitos da condenação, além dos previstos no Código Penal:

        I - a perda, em favor da União, dos bens, direitos e valores objeto de crime previsto nesta
Lei, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;

        II - a interdição do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza e de diretor,


de membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas jurídicas referidas no
art. 9º, pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade aplicada.

Além dos efeitos previstos no CP, a condenação pela prática de lavagem


também importa em perda de bens, direito e valores do delito, bastando o
trânsito em julgado da condenação, já que é efeito genérico.

3) LEI 9034/1995 – LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

3.1) DIREITO PENAL DA EMERGÊNCIA


Caracteriza-se pela quebra de garantias justificada em virtude de uma
situação excepcional. A crítica que recaí sobre esse direito penal da
emergência é a de que haverá um processo contínuo de quebra de garantias,
cirando o que a doutrina chama de situação de perene emergência. SÉRGIO
MOCCIA – trabalha com tal expressão.

3.2) DIREITO PENAL DO INIMIGO


Tal expressão nos leva a JAKOBS. Certos indivíduos são fechados em
relação às normas (indivíduos não-pessoas). Como essas não-pessoas não se
deixam orientar pelas normas, não fazem jus às garantias fundamentais, ex.:
prisão de Guantamano.

3.3) ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA X QUADRILHA X ASSOCIAÇÃO


CRIMINOSA
Já visto na Lei de Lavagem de Capitais:
 Quadrilha é a associação estável e permanente de mais de 3
pessoas com o fim de praticar uma série indeterminada de crimes
(art. 288 do CP). Delito de quadrilha é um crime autônomo,
consumando-se independentemente da prática dos delitos para
os quais os agentes se associaram. Se os delitos forem
praticados, responderão os agentes pelos respectivos crimes em
concurso material com o delito de quadrilha.
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 Associação criminosa é a união de 2 ou mais pessoas para a


prática de crimes específicos. Ex.: art. 35 da lei de drogas; lei do
genocídio, art. 2º da Lei 2889/56 (aqui muda o conceito dado – o
artigo pede para que se associem mais de 3 pessoas); Lei de
Segurança Nacional – art. 16 e 24 da Lei 7170/83 – não há
número mínimo de integrantes.
 Organização criminosa – há duas correntes: 1ª corrente – é
sustentada na Convenção de Palermo (organizada no ano de
2000) – é o grupo estruturado de 3 ou mais pessoas, existente há
algum tempo e atuando com o fim de cometer infrações graves,
com a intenção de obter benefício econômico ou moral. A
Convenção de Palermo foi incorporada ao ordenamento brasileiro
pelo Dec 231/2003 – FERNANDO CAPEZ. 2ª corrente –
sustentada por LFG – tratados internacionais não podem definir
um crime, sob pena de violação ao princípio da legalidade
(garantia da lex populi – lei penal incriminadora é aquela que
provém do Poder Legislativo) – posição majoritária. Assim, no
Brasil, não há definição legal de organização criminosa.
Tramitam no CN 3 projetos de lei - 118 do Senado e 7223/2002 –
seria organização criminosa aquela que resulta da presença de
pelo menos 3 das seguintes características: 1) hierarquia
estrutural, 2) planejamento empresarial, 3) uso de meios
tecnológicos avançados, 4) recrutamento de pessoas, 5) divisão
funcional das atividades, 6) conexão estrutural ou funcional com o
poder público. 7) oferta de prestações sociais, 8) divisão territorial
das atividades ilícitas, 8) alto poder de intimidação, 9) alta
capacitação para capacidade de fraude, 10) conexão local,
regional, nacional ou internacional com outra organização
criminosa.

3.4) CRIME ORGANIZADO POR NATUREZA E CRIME ORGANIZADO


POR EXTENSÃO
Crime organizado por natureza diz respeito à punição pelo delito de
quadrilha, associação ou organização criminosa. Crime organizado por
extensão diz respeito à punição pelos crimes praticados pela quadrilha,
associação ou organização criminosa.

3.5) MEDIDAS INVESTIGATÓRIAS CONTRA O CRIME ORGANIZADO


Art. 2º da Lei

3.5.1) Ação controlada


Já vista na Lei de lavagem. Independe de autorização judicial. É
preciso cautela na utilização da ação controlada, fundando-se na
proporcionalidade e razoabilidade.
A prisão dos agentes continua sendo obrigatória, tendo a autoridade
policial discricionariedade a respeito do melhor momento para efetuá-la.

28.02.2009 – RENATO BRASILEIRO

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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25

3.5.2) Quebra do sigilo de dados bancários, financeiros, fiscais e


eleitorais
Art. 2º, III, da Lei 9034/95.

  Art. 3º Nas hipóteses do inciso III do art. 2º desta lei, ocorrendo possibilidade de
violação de sigilo preservado pela Constituição ou por lei, a diligência será realizada
pessoalmente pelo juiz, adotado o mais rigoroso segredo de justiça. (Vide Adin nº 1.570-2).

De acordo com este artigo, quem realizaria esta diligência (mesmo na


fase policial) seria o juiz. Contra este artigo 3º da lei do crime organizado, foi
ajuizada uma ADIn (1570). O STF disse que, em relação aos dados fiscais e
eleitorais, o art. 3º foi declarado inconstitucional, pois atentava contra o
sistema acusatório na medida em que atribua ao juiz funções de investigador e
inquisitor (juiz inquisitor). No tocante ao sigilo de dados bancários e
financeiros, o STF entendeu que o art. 3º teria sido revogado pela
superveniência da LC 105/2001, que passou a disciplinar a matéria.

ADI 1570 / DF - DISTRITO FEDERAL


AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
Relator(a):  Min. MAURÍCIO CORRÊA
Julgamento:  12/02/2004           Órgão Julgador:  Tribunal Pleno

Parte(s)

REQTE. : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA


REQDO. : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
REQDO. : CONGRESSO NACIONAL

Ementa

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 9034/95. LEI


COMPLEMENTAR 105/01. SUPERVENIENTE. HIERARQUIA SUPERIOR. REVOGAÇÃO
IMPLÍCITA. AÇÃO PREJUDICADA, EM PARTE. "JUIZ DE INSTRUÇÃO". REALIZAÇÃO DE
DILIGÊNCIAS PESSOALMENTE. COMPETÊNCIA PARA INVESTIGAR. INOBSERVÂNCIA
DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. IMPARCIALIDADE DO MAGISTRADO. OFENSA.
FUNÇÕES DE INVESTIGAR E INQUIRIR. MITIGAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO MINISTÉRIO
PÚBLICO E DAS POLÍCIAS FEDERAL E CIVIL. 1. Lei 9034/95. Superveniência da Lei
Complementar 105/01. Revogação da disciplina contida na legislação antecedente em
relação aos sigilos bancário e financeiro na apuração das ações praticadas por
organizações criminosas. Ação prejudicada, quanto aos procedimentos que incidem sobre o
acesso a dados, documentos e informações bancárias e financeiras. 2. Busca e apreensão de
documentos relacionados ao pedido de quebra de sigilo realizadas pessoalmente pelo
magistrado. Comprometimento do princípio da imparcialidade e conseqüente violação ao
devido processo legal. 3. Funções de investigador e inquisidor. Atribuições conferidas ao
Ministério Público e às Polícias Federal e Civil (CF, artigo 129, I e VIII e § 2o; e 144, § 1o, I
e IV, e § 4o). A realização de inquérito é função que a Constituição reserva à polícia.
Precedentes. Ação julgada procedente, em parte.

Sistema inquisitorial Sistema acusatório


 Extrema concentração de poder nas  Separação entre os órgãos de
mãos do órgão julgador, o qual acusação, defesa e julgamento,
recolhe a prova de ofício e determina criando-se um processo dialético;
a sua produção;  Vigência do contraditório, sendo o

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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 É realizado sem as garantias do acusado, sujeito de direitos;


devido processo legal, sendo o  O juiz só deve ser chamado a intervir
acusado considerado mero objeto de quando a sua presença for
investigação; necessária;
 Como não há separação das funções,
esse sistema viola o princípio da
imparcialidade;

A CF de 1988 adotou o sistema acusatório. O art. 3º da Lei 9034/95 foi


declarado inconstitucional.

     Art. 156 do CPP.  A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado
ao juiz de ofício:  (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

        I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e
proporcionalidade da medida; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

Para a doutrina, o art. 156, I, do CPP ressuscita a figura do juiz


inquisitor.

Quem pode, então, quebrar sigilo de dados bancários e/ou financeiros?


R:
 Quanto ao juiz, não há dúvida alguma que pode;
 CPI – art. 4º da LC 105/01 (CPI Estadual também pode – ACO
730 STF).

OBS.: Deve-se, todavia, observar a cláusula de reserva de jurisdição


– determinados direitos e garantias individuais, só poderão ser restringidos
mediante autorização do Poder Judiciário (CPI não pode violar sem autorização
judicial): a) interceptação telefônica (quebra de sigilo de dados telefônico, CPI
pode!); b) violar domicílio; c) prisão, salvo em flagrante; d) **segredo de justiça
– o STF, no MS 27483, disse que o segredo de justiça representa uma
limitação aos poderes das CPI´s.

MS-REF-MC 27483 / DF - DISTRITO FEDERAL


REFERENDO EM MED.CAUT. MANDADO DE SEGURANÇA
Relator(a):  Min. CEZAR PELUSO
Julgamento:  14/08/2008           Órgão Julgador:  Tribunal Pleno

Parte(s)

IMPTE.(S): TIM CELULAR S/A E OUTRO(A/S)


ADV.(A/S): DAVID MARQUES MUNIZ RECHULSKI E OUTRO(A/S)
IMPDO.(A/S): PRESIDENTE DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO DAS
ESCUTAS TELEFÔNICAS CLANDESTINAS

Ementa

EMENTAS: 1. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO. Interceptação telefônica. Sigilo


judicial. Segredo de justiça. Quebra. Impossibilidade jurídica. Requisição de cópias das ordens
judiciais e dos mandados. Liminar concedida. Admissibilidade de submissão da liminar ao

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Plenário, pelo Relator, para referendo. Precedentes (MS nº 24.832-MC, MS nº 26.307-MS e MS


nº 26.900-MC). Voto vencido. Pode o Relator de mandado de segurança submeter ao Plenário,
para efeito de referendo, a liminar que haja deferido. 2. COMISSÃO PARLAMENTAR DE
INQUÉRITO - CPI. Prova. Interceptação telefônica. Decisão judicial. Sigilo judicial. Segredo
de justiça. Quebra. Requisição, às operadoras, de cópias das ordens judiciais e dos
mandados de interceptação. Inadmissibilidade. Poder que não tem caráter instrutório ou
de investigação. Competência exclusiva do juízo que ordenou o sigilo. Aparência de
ofensa a direito líquido e certo. Liminar concedida e referendada. Voto vencido. Inteligência dos
arts. 5º, X e LX, e 58, § 3º, da CF, art. 325 do CP, e art. 10, cc. art. 1º da Lei federal nº
9.296/96. Comissão Parlamentar de Inquérito não tem poder jurídico de, mediante
requisição, a operadoras de telefonia, de cópias de decisão nem de mandado judicial de
interceptação telefônica, quebrar sigilo imposto a processo sujeito a segredo de justiça.
Este é oponível a Comissão Parlamentar de Inquérito, representando expressiva limitação aos
seus poderes constitucionais.

 **Ministério Público também pode quebrar sigilo de dados


bancários e financeiros? – há muitas dúvidas. A 1ª corrente diz
que o MP pode decretar a quebra do sigilo bancário e financeiro
quando envolver verbas públicas – poder de requisição –
fundamento: art. 129, VIII, da CF. 2ª corrente (prevalecido no STJ
e no STF) diz que o MP não pode quebrar tal sigilo
diretamente. Necessita de autorização judicial.
 Autoridades fazendárias – art. 6º da LC 105/01. Autoridades
fazendárias podem quebrar, quando em curso, procedimento
fiscal. Contra este art. 6º, no STF tramitam 7 ADIn´s, pois, o sigilo
bancário deveria ser quebrado por autoridade judiciária e CPI
(fundamento das ações diretas de inconstitucionalidade) – não há
decisão do STF ainda. A doutrina diz que, nessas hipóteses de
acesso de dados bancários e financeiros sem autorização judicial,
não há falar em quebra do sigilo bancário, na medida em que a
situação bancária da pessoa não é exposta ao público, portanto,
não haveria violação ao direito à intimidade (VALTER NUNES DA
SILVA JÚNIOR).

OBS.: Qual o remédio para impugnar uma quebra de sigilo de dados


bancários e financeiros? R: Para o STF, sempre que se tratar de processo
penal ou de inquérito policial do qual possa resultar condenação à pena
privativa de liberdade, será cabível o Habeas Corpus (STF HC 79191)

HC 79191 / SP - SÃO PAULO


HABEAS CORPUS
Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA PERTENCE
Julgamento:  04/05/1999           Órgão Julgador:  Primeira Turma

Publicação

DJ 08-10-1999 PP-00039 EMENT VOL-01966-01 PP-00206

Parte(s)

PACTE. : JOSÉ FRANCISCO DA CUNHA


IMPTES. : RALPH TÓRTIMA STETTINGER E OUTRO
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
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COATOR : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Ementa

EMENTA: I. Habeas corpus: admissibilidade: decisão judicial que, no curso do inquérito


policial, autoriza quebra de sigilo bancário. Se se trata de processo penal ou mesmo de
inquérito policial, a jurisprudência do STF admite o habeas corpus, dado que de um ou
outro possa advir condenação a pena privativa de liberdade, ainda que não iminente, cuja
aplicação poderia vir a ser viciada pela ilegalidade contra o qual se volta a impetração da
ordem. Nessa linha, não é de recusar a idoneidade do habeas corpus, seja contra o
indeferimento de prova de interesse do réu ou indiciado, seja, o deferimento de prova ilícita ou
o deferimento inválido de prova lícita: nessa última hipótese, enquadra-se o pedido de habeas
corpus contra a decisão - alegadamente não fundamentada ou carente de justa causa - que
autoriza a quebra do sigilo bancário do paciente. II. Habeas corpus: decisão equivocada do
relator declaratória da incompetência do Tribunal, não gerando preclusão no processo de
habeas corpus, pode nele ser retificada de ofício .

OBS.2: Pessoa jurídica não é dotada de liberdade de locomoção, não


pode figurar como paciente em habeas corpus – teria que ser impetrado um
mandado de segurança.

3.5.3) Captação e interceptação ambiental


Art. 3º, IV, da Lei 9034/95.

Interceptação – é a captação da conversa entre dois ou mais


interlocutores por um terceiro que esteja no mesmo local ou não no mesmo
local em que se dá a conversa.
Gravação – é a captação feita pelo próprio interlocutor.
Escuta – é a mesma captação feita por um terceiro, porém, com o
consentimento de um dos interlocutores.

OBS.: se a conversa não era reservada e nem se deu em ambiente


privado, nenhum problema haverá se a captação ambiental for feita sem
autorização judicial. Por outro lado, se a conversa era reservada ou se deu
em ambiente privado, a captação ambiental sem autorização judicial
constitui prova ilícita, por ofensa ao direito à intimidade, salvo se o agente
estiver em legítima defesa.
A menção, neste inciso, de autorização judicial circunstanciada refere-se
a uma decisão proferida em termos minuciosos, explicando, com clareza e
riqueza de detalhes, o motivo da quebra do sigilo. Não é suficiente, portanto, a
mera referência ao pedido formulado pelo MP ou à representação da
autoridade policial.

A) Teoria do risco
Advém do direito norte-americano. Procura-se dar validade à prova
obtida mediante violação ao direito à intimidade. A pessoa que
espontaneamente faz revelações a respeito de sua participação em
atividades ilícitas, assume o risco quanto à documentação do fato por um
terceiro. Ex.: quando uma pessoa toma uma atitude frente a câmeras de
segurança, tal filmagem não poderia ser rebatida pelo o agente, embasando-se
na violação ao direito à intimidade.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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3.5.4) Infiltração de agentes policiais


Chamado de Undercover. O agente infiltrado é uma pessoa integrante
da estrutura dos serviços policiais ou de órgão de inteligência (ABIN) que é
introduzida em uma organização criminosa, ocultando a sua verdadeira
identidade, tendo como finalidade a obtenção de informações para que seja
possível a desarticulação da referida organização.
Ele é um meio de obtenção de provas.

Leis que preveem tal instituto:


 Lei das organizações criminosas – art. 2º, V da Lei 9034/95 –
depende de autorização judicial;
 Lei de drogas – Lei 11343/2006, art. 53, I – também depende de
autorização judicial.

Não responde o agente infiltrado por eventual crime de quadrilha ou


associação criminosa. O agente, tendo que praticar algum outro crime em
razão de estar infiltrado, a doutrina entende que ele seria impune por praticar
ato sob inexigibilidade de conduta diversa.
Lei de proteção a vítimas – art. 7º, 8º e 9º - dispositivos de segurança
que poderão ser aplicados.

OBS.: NUCCI – Cômputo do agente para a configuração do crime de


quadrilha ou bando – o delito previsto no art. 288 do CP exige a cooperação
de, pelo menos, quatro pessoas. Imaginemos que uma delas seja um agente
infiltrado. Seria possível punir os outros 3 pelo delito previsto no art. 288 do
CP? NUCCI entende que sim. Da mesma forma que admite-se a formação de
quadrilha ou bando com a inserção de menor de 18 anos, embora não seja
este culpável, é de se considerar válida, para a concretização do tipo penal do
art. 288 do CP, a presença do agente policial infiltrado, embora ele não seja
punido por estar no estrito cumprimento do dever legal. No entanto, o tipo penal
tem condições de se materializar, pois há 4 pessoas associadas, com o fim de
praticar crimes, ainda que o objetivo de um deles (o policial infiltrado) esteja
abrigado em lei.

A autorização judicial deve ser criteriosamente fundamentada, assim


como no caso da interceptação ambiental, tratada anteriormente, bem como
deve ser estritamente sigilosa, devendo envolver – segundo NUCCI – todo e
qualquer funcionário, inclusive os do cartório da Vara, do Ministério Público e
outros policiais da delegacia ou órgão especializado. Somente o magistrado
que autorizou, o membro do MP, que fiscaliza a investigação, e a autoridade
policial condutora do inquérito devem ter acesso à infiltração efetivada.

3.5.5) Identificação criminal

SÚMULA Nº 568
A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL NÃO CONSTITUI CONSTRANGIMENTO ILEGAL, AINDA QUE
O INDICIADO JÁ TENHA SIDO IDENTIFICADO CIVILMENTE.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Esta súmula é anterior à CF/88. Ela deve ter a sua leitura confrontada
com o art. 5º, LVIII, da CF

        Art. 5º, LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo
nas hipóteses previstas em lei;

Agora, a identificação criminal é a exceção. Só cabe em hipóteses


previstas em lei.

Dúvidas – artigos correlacionados:

Art. 109 do ECA. O adolescente civilmente identificado não será submetido a identificação
compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação,
havendo dúvida fundada.

        Art. 5º da Lei 9034/95. A identificação criminal de pessoas envolvidas com a ação
praticada por organizações criminosas será realizada independentemente da identificação civil.

Lei 10054/00 – Lei específica da identificação criminal – elenca os


crimes que podem sofrer a identificação criminal
**Para o STJ, o art. 5º da Lei 9034/95 teria sido revogado pelo o art.
3º da Lei de Identificação Criminal, que não previu a possibilidade de
identificação criminal de pessoas envolvidas com organizações criminosas –
RHC 12965

PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL DOS


CIVILMENTE IDENTIFICADOS. ART. 3º, CAPUT E INCISOS, DA LEI Nº 10.054/2000.
REVOGAÇÃO DO ART. 5º DA LEI Nº 9.034/95.
O art. 3º, caput e incisos, da Lei nº 10.054/2000, enumerou, de forma incisiva, os casos
nos quais o civilmente identificado deve, necessariamente, sujeitar-se à identificação
criminal, não constando, entre eles, a hipótese em que o acusado se envolve com a ação
praticada por organizações criminosas. Com efeito, restou revogado o preceito contido
no art. 5º da Lei nº 9.034/95, o qual exige que a identificação criminal de pessoas envolvidas
com o crime organizado seja realizada independentemente da existência de identificação civil.
Recurso provido – o artigo do ECA continua em vigor!!!

Lei 10054/2000: na íntegra

Art. 1o O preso em flagrante delito, o indiciado em inquérito policial, aquele que pratica
infração penal de menor gravidade (art. 61, caput e parágrafo único do art. 69 da Lei nº 9.099,
de 26 de setembro de 1995), assim como aqueles contra os quais tenha sido expedido
mandado de prisão judicial, desde que não identificados civilmente, serão submetidos à
identificação criminal, inclusive pelo processo datiloscópico e fotográfico.

Parágrafo único. Sendo identificado criminalmente, a autoridade policial providenciará a


juntada dos materiais datiloscópico e fotográfico nos autos da comunicação da prisão em
flagrante ou nos do inquérito policial.

Art. 2o A prova de identificação civil far-se-á mediante apresentação de documento de


identidade reconhecido pela legislação.

Art. 3o O civilmente identificado por documento original não será submetido à identificação
criminal, exceto quando:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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I – estiver indiciado ou acusado pela prática de homicídio doloso, crimes contra o patrimônio
praticados mediante violência ou grave ameaça, crime de receptação qualificada, crimes contra
a liberdade sexual ou crime de falsificação de documento público;

II – houver fundada suspeita de falsificação ou adulteração do documento de identidade;

III – o estado de conservação ou a distância temporal da expedição de documento


apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais;

IV – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;

V – houver registro de extravio do documento de identidade;

VI – o indiciado ou acusado não comprovar, em quarenta e oito horas, sua identificação


civil.

Art. 4o Cópia do documento de identificação civil apresentada deverá ser mantida nos autos
de prisão em flagrante, quando houver, e no inquérito policial, em quantidade de vias
necessárias.

Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

3.5.6) Delação premiada


Aqui, sua natureza é de diminuição de pena – art. 6º da lei. Já foi
tratado na lei de lavagem de capitais.

        Art. 6º Nos crimes praticados em organização criminosa, a pena será reduzida de
um a dois terços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao esclarecimento de
infrações penais e sua autoria.

Delação premiada significa a assunção pessoal da prática de um crime,


buscando narrar às autoridades competentes, a título de colaboração, porém
com a intenção de auferir algum benefício, quem são os comparsas e
colaboradores.

3.5.7) Liberdade provisória

        Art. 7º da Lei 9034/95. Não será concedida liberdade provisória, com ou sem
fiança, aos agentes que tenham tido intensa e efetiva participação na organização criminosa.

Pelo texto da lei, ela é vedada (com ou sem fiança). Foi visto na lei de
lavagem de capitais. Doutrinadores como LFG, EUGÊNIO PACHELLI,
entendem que, no momento que se veda a liberdade provisória, cria-se uma
prisão cautelar obrigatória, violando o princípio da presunção de inocência.

3.5.8) Prazo para o encerramento da instrução criminal – art. 8º da


Lei
81 dias, quando preso; 120 dias, quando solto. Tal prazo acaba sendo
alterado, pois com a reforma do CPP em 2008, os procedimentos processuais
penais foram alterados.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Procedimento penal com réu preso:


 inquérito policial – 10 dias. Se for uma prisão temporária em
crimes hediondos – pode chegar a 60 dias (30+30). OBS.: Tem
doutrinador que diz que o prazo da prisão temporária não deve
ser levado em consideração na hora desse cálculo. Justiça
Federal – pode chegar a 30 dias (15 + 15).
 Oferecimento da denúncia – 5 dias.
 Recebimento da peça acusatória – 5 dias para recebê-la.
 Resposta da acusação – 10 dias. Se não nomear advogado, o
dativo também terá 10 dias.
 Possibilidade de absolvição sumária – 5 dias.
 Designação de audiência una (caso de não absolvição sumária)
– deve ser realizada no prazo de 60 dias.
 Alegações por escrito (memoriais, em caso de não sentença na
audiência) – prazo para sentenciar de 10 dias.

Somando todos estes prazos: o prazo pode variar entre 95 a 175 dias.
Para os tribunais, esse prazo de encerramento da instrução criminal não é
absoluto, podendo ser dilatado em virtude da complexidade da causa e/ou
pluralidade de réus. Portanto, haverá excesso de prazo nas seguintes
hipóteses:
1ª) quando o excesso for causado pela inércia do Poder Judiciário;
2ª) quando o excesso for causado por diligências suscitadas
exclusivamente pela acusação;
3ª) quando restar caracterizado um excesso abusivo, desproporcional à
garantia da razoável duração do processo;
OBS.: o processo continua normalmente, mas o réu será posto em
liberdade.

3.5.9) Recolhimento à prisão para apelar – art. 9º da Lei


O art. 9º cai por terra quando o STF julgou o HC 88420 – todo e
qualquer acusado tem direito ao duplo grau de jurisdição. Trata-se de uma
garantia prevista na CADH – art. 8º, item 2, “h”. Em cima de tal entendimento,
foi editada a súmula 347 do STJ:

Súmula 347. O conhecimento de recurso de apelação do réu independe de


sua prisão.

Art. 9º da Lei 9034/95 foi revogado pelo o art. 387, parágrafo único do
CPP.

Parágrafo único.  O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o


caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do
conhecimento da apelação que vier a ser interposta. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

3.5.10) Início de cumprimento da pena em regime fechado – art. 10

        Art. 10 Os condenados por crime decorrentes de organização criminosa iniciarão o


cumprimento da pena em regime fechado.

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O regime integralmente fechado foi declarado inconstitucional – HC


82959 STF. Lei 11464/2007, posteriormente, alterou a lei dos crimes
hediondos.

3.5.11) Regime disciplinar diferenciado


Foi introduzido na LEP, art. 52, parágrafo 2º.

§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o


condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer
título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando. (Incluído pela Lei nº 10.792, de
1º.12.2003)

4) LEI 9983/00 - CRIMES PREVIDENCIÁRIOS E LEI 8137/90 -


CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

4.1) ENTRADA EM VIGOR DA LEI 9983/00


Esta lei retirou as figuras criminais da lei previdenciária (Lei 8212/91) e
jogou no Código Penal.

4.2) APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA – ART. 168-A DO


CP

        Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos
contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência


social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou
arrecadada do público;  (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas
contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;  (Incluído pela
Lei nº 9.983, de 2000)

        III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem
sido reembolsados à empresa pela previdência social.  (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        § 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o


pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à
previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação
fiscal. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        § 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente
for primário e de bons antecedentes, desde que:  (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

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        I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o
pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou  (Incluído pela Lei nº
9.983, de 2000)

        II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele
estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o
ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

4.3) ESTELIONATO CONTRA O INSS – ART. 171, PARÁGRAFO 3º,


DO CP

       Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

        Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de


entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou
beneficência.

Pratica-se o crime do art. 171 do CP, mas incidindo o parágrafo 3º.

Súmula: 24 do STJ
Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da
previdência social, a qualificadora do § 3º, do art. 171 do código penal.

4.4) FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS DESTINADOS AO INSS –


ART. 297, PARÁGRAFOS 3º E 4º
Foi inserido no CP pela a referida lei

 Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro:

        Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)

        I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer


prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado
obrigatório;(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que


deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria
ter sido escrita; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as


obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que
deveria ter constado. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        § 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3 o, nome
do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de
prestação de serviços.(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

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Sua utilidade é quase que nenhuma, pois tal falsificação, geralmente, é


usada como crime meio para o estelionato ou para a sonegação de
contribuição previdenciária. O agente só responderá (pelo princípio da
consunção) pelo o crime fim (absorve o crime meio).

Súmula: 17 do STJ
Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.

Falsidade material – recai no documento em si, no material (o papel)


Falsidade ideológica – o seu conteúdo é falso.
Deve-se pensar na legitimidade – se o agente tem a legitimidade, o
crime será o de falsidade ideológica. Se o agente não tem legitimidade, a
falsidade é material. Ex.1: confecção de uma certidão na minha casa e
falsifiquei a assinatura de uma oficial de justiça – não tinha legitimidade –
falsidade material. Ex.2: oficial de justiça, meu colega, certifica uma informação
falsa – tem legitimidade – falsidade ideológica. Ex.3: se eu induzo a empregada
doméstica a erro, digo que duvido que ela saiba assinar, e então peço para que
ela assine seu nome num papel; ela assinando e posteriormente eu pegar sua
assinatura e jogar noutro documento com fins de fraude – falsidade material
(não tinha legitimidade para solicitar tal assinatura). Ex.4: Falsificação de
cheque – documento particular – mas alguns documentos particulares acabam
sendo equiparados a públicos.

OBS.: quando estas informações estiverem sujeitas a posterior


verificação, não há que se falar em falsidade ideológica – crime impossível
por ineficácia absoluta do meio.
Tal falsidade dos parágrafos 3º e 4º é uma falsidade ideológica – o
patrão (empregador) tem legitimidade para agir em cima de tais documentos.

4.5) SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – ART.


337-A DO CP

  Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório,


mediante as seguintes condutas: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto


pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou
trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços; (Incluído pela Lei nº
9.983, de 2000)

        II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as


quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de
serviços; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou
creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias: (Incluído pela Lei
nº 9.983, de 2000)

        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)

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§ 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessar (não precisa


pagar) as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência
social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. (Incluído pela
Lei nº 9.983, de 2000)

        § 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente
for primário e de bons antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        I – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele
estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o
ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        § 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não
ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um
terço até a metade ou aplicar apenas a de multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

        § 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas datas e nos
mesmos índices do reajuste dos benefícios da previdência social. (Incluído pela Lei nº 9.983,
de 2000)

4.6) PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE NORMATIVO TÍPICA


Art. 95-D da Lei 8212/91  Art. 168-A do CP = Em 1998, se o agente se
apropriasse de contribuições previdenciárias, ele responderia pelo art. 95-D da
referida lei. A partir do advento da Lei 9983/2000, a conduta de “apropriação
indébita previdenciária” migrou para outro tipo penal – princípio da
continuidade normativo típica – não houve abolitio criminis, mas sim,
migração de um tipo penal para outro.

4. 7) PRISÃO POR DÍVIDA


Prisão civil, de acordo com a CF, seria possível em 2 hipóteses: para o
devedor de alimentos e para o depositário infiel.
No final do ano passado, o STF chegou à conclusão de que a CADH só
trata da prisão civil por dívida de alimentos. Assim, hoje, não cabe mais a
prisão civil por ser depositário infiel – RE 466343 – tese da supralegalidade
dos tratados internacionais de direitos humanos.
Não há falar em inconstitucionalidade em relação aos crimes contra a
ordem tributária por suposta prisão por dívida. Na verdade, o agente está
sendo punido por ter praticado uma conduta prevista em um tipo penal.

4.8) SUJEITOS DO CRIME


OBS.: Pessoa jurídica pode ser autor de crime contra a ordem tributária
ou previdenciária? R: a CF, pelo menos em tese, autorizaria a responsabilidade
penal da pessoa jurídica em 2 dispositivos: art. 225, parágrafo 3º - crimes
ambientais; art. 173, parágrafo 5º - e crimes contra a ordem econômico-
financeira – não existe previsão legal de responsabilidade penal da pessoa
jurídica por crimes contra a ordem econômico-financeira. Logo, a resposta à
pergunta acima feita é: não!

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4.9) SUJEITOS POLÍTICOS (MAIS ESPECIFICAMENTE, OS


PREFEITOS)
Agentes políticos podem ser responsabilizados por crimes tributários ou
contra a previdência social, desde que fique evidenciado o conhecimento
acerca dos fatos.

4.9.1) Anistia concedida aos agentes políticos


Lei 9639/98 – art. 11

Art. 11. São anistiados os agentes políticos que tenham sido responsabilizados, sem que fosse
atribuição legal sua, pela prática dos crimes previstos na alínea "d" do art. 95 da Lei nº 8.212,
de 1991, e no art. 86 da Lei nº 3.807, de 26 de agosto de 1960.

Tal anistia é causa de extinção da punibilidade - competência do


Congresso Nacional.

    Parágrafo único. São igualmente anistiados os demais responsabilizados pela prática dos
crimes previstos na alínea "d" do art. 95 da Lei nº 8.212, de 1991, e no art. 86 da Lei nº 3.807,
de 1960. (Execução  suspensa, com efeito ex tunc, pela RSF nº 3, de 2008)

Este parágrafo único dá anistia a todas as outras pessoas que


praticaram tal crime – está com efeito suspenso. O parágrafo único não foi
aprovado pelo CN, portanto, apesar de ter tido vigência, é dotado de uma
inconstitucionalidade formal – STF HC 82045. A título de isonomia, não é
dado ao Poder Judiciário estender a anistia concedida aos agentes políticos às
demais pessoas físicas.

07.03.2009 – RENATO BRASILEIRO

4.10) RESPONSABILIDADE PESSOAL


Somente pode praticar a pessoa física (diretor, gerente, administrador
etc) que tenha efetivamente participado da administração da empresa,
concorrendo para a prática de qualquer das condutas criminalizadas. No
momento do oferecimento da denúncia, a condição de sócio-gerente, diretor ou
administrador, é um indício da culpabilidade do acusado. Porém, se ao final
da instrução criminal não tiver sido comprovada de atos gerência, o acusado
deve ser absolvido, sob pena de verdadeira responsabilidade penal objetiva.
(STF 84402).

HC 84402 / SP - SÃO PAULO


HABEAS CORPUS
Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO
Julgamento:  03/08/2004           Órgão Julgador:  Primeira Turma

Publicação

DJ 27-08-2004 PP-00071 EMENT VOL-02161-02 PP-00297


RTJ VOL-00194-03 PP-00943

Parte(s)

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PACTE.(S) : ELENI KARAVITI OU ELENI KARAVITIS OU ELENI


KARAVITS OU ELEINI KARAVITIS
IMPTE.(S) : MÁRCIO ROBERTO MENDES
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Ementa

DENÚNCIA - CRIME SOCIETÁRIO - AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DE CONTRIBUIÇÕES


SOCIAIS. Revela-se adequada a denúncia quando dela conste a assertiva de que os dois
sócios da sociedade de responsabilidade limitada contavam, segundo o estatuto da
empresa, poderes de gestão. DENÚNCIA - RECEBIMENTO - NATUREZA DO ATO -
PARÂMETROS. O pronunciamento mediante o qual é recebida a denúncia enquadra-se como
decisão interlocutória, devendo mostrar-se fundamentado. DENÚNCIA - RECEBIMENTO -
FUNDAMENTAÇÃO. Surge suficiente o ato de recebimento da denúncia em que se alude à
prova da existência do fato e de indícios da autoria, fazendo-se remissão a folhas do processo.
CRIME SOCIETÁRIO - ADMINISTRAÇÃO EFETIVA - MOMENTO PRÓPRIO À
DEMONSTRAÇÃO. A demonstração do não-exercício da gerência, ao contrário do que
previsto no contrato social, há de fazer-se no âmbito da instrução criminal, sendo o
habeas corpus meio inadequado a tal desiderato.

4.10.1) Denúncia genérica


Para o STJ, em crimes societários, não se exige a descrição minuciosa
e individualizada de cada acusado, sendo suficiente a narrativa dos fatos
delituosos e sua suposta autoria, permitindo o exercício da ampla defesa. HC
62328 e 47709 (abaixo)
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA
ECONÔMICA E AS RELAÇÕES DE CONSUMO. DENÚNCIA QUE PREENCHE OS
REQUISITOS DO ART. 41 DO ESTATUTO PROCESSUAL. CRIME SOCIETÁRIO.
DESNECESSIDADE DE DESCRIÇÃO MINUCIOSA DA CONDUTA DE CADA DENUNCIADO.
IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
ORDEM DENEGADA.
1. O trancamento da ação penal, pela via do habeas corpus, só se justifica quando verificadas,
de plano, atipicidade da conduta,extinção da punibilidade ou ausência de indícios de autoria e
prova da materialidade.
2. Não há falar em inépcia da inicial quando a denúncia descreve condutas que, ao
menos em tese, configuram ilícitos penais, sendo imperativa a apuração dos fatos
durante o curso regular da instrução criminal, à luz do contraditório e da ampla defesa.
3. Nos ditos crimes societários, não se exige a descrição minuciosa e individualizada da
conduta de cada acusado, sendo suficiente a narrativa dos fatos delituosos e sua
suposta autoria, de maneira a permitir o exercício da ampla defesa.
4. O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento de que o habeas corpus é meio
impróprio para exame de alegações que ensejam a análise de material fático-probatório, não
servindo como instrumento para apreciação completa e antecipada de mérito da causa.
5. O propósito do art. 11 da Lei 8.137/90 é responsabilizarcriminalmente todos aqueles que,
dirigindo ou gerenciando a pessoa jurídica, concorram, de qualquer forma, para a prática dos
delitos nela definidos.
6. Ordem denegada

(*** MODIFICAÇÃO DO ENTENDIMENTO ACIMA - TRECHO


RETIRADO DA MATÉRIA DE AÇÃO PENAL – MATERIAL DE DIREITO
PROCESSUAL PENAL: Denúncia genérica – é comum nos crimes societários
– vale-se do manto protetor da pessoa jurídica. No próprio STF há decisões em
sentidos diversos (último julgado sobre o assunto  HC 92921 – em crimes
societários não há inépcia da peça acusatória pela ausência de indicação

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individualizada da conduta de cada acusado, sendo o suficiente que os


acusados sejam de algum modo responsáveis pela condução da sociedade).
Todavia, no CESPE caiu recentemente que o STF não aceita denúncia
genérica (HC 85327).

EMENTA: 1. Habeas corpus. Crimes contra a Ordem Tributária (Lei no 8.137, de 1990).
Crime societário. 2. Alegação de denúncia genérica e que estaria respaldada exclusivamente
em processo administrativo. Ausência de justa causa para ação penal. Pedido de trancamento.
3. Dispensabilidade do inquérito policial para instauração de ação penal (art. 46, § 1o, CPP). 4.
Mudança de orientação jurisprudencial, que, no caso de crimes societários, entendia ser
apta a denúncia que não individualizasse as condutas de cada indiciado, bastando a
indicação de que os acusados fossem de algum modo responsáveis pela condução da
sociedade comercial sob a qual foram supostamente praticados os delitos. Precedentes:
HC no 86.294-SP, 2a Turma, por maioria, de minha relatoria, DJ de 03.02.2006; HC no 85.579-
MA, 2a Turma, unânime, de minha relatoria, DJ de 24.05.2005; HC no 80.812-PA, 2a Turma,
por maioria, de minha relatoria p/ o acórdão, DJ de 05.03.2004; HC no 73.903-CE, 2a Turma,
unânime, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de 25.04.1997; e HC no 74.791-RJ, 1a Turma,
unânime, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 09.05.1997. 5. Necessidade de individualização das
respectivas condutas dos indiciados. 6. Observância dos princípios do devido processo
legal (CF, art. 5o, LIV), da ampla defesa, contraditório (CF, art. 5o, LV) e da dignidade da
pessoa humana (CF, art. 1o, III). Precedentes: HC no 73.590-SP, 1a Turma, unânime, Rel.
Min. Celso de Mello, DJ de 13.12.1996; e HC no 70.763-DF, 1a Turma, unânime, Rel. Min.
Celso de Mello, DJ de 23.09.1994. 7. No caso concreto, a denúncia é inepta porque não
pormenorizou, de modo adequado e suficiente, a conduta dos pacientes. 8. Habeas
corpus deferido

A) Acusação geral X acusação genérica


Acusação geral ocorre quando o órgão da acusação imputa a todos os
acusados o mesmo fato delituoso, independentemente das funções exercidas
por eles na sociedade. Acusação genérica ocorre quando a acusação, depois
de narrar a existência de vários fatos típicos ou mesmo de várias condutas que
estão abrangidas pelo tipo penal, imputa tais condutas a todos os integrantes
da sociedade. A inépcia da peça acusatória, nesse último caso, só pode ser
argüida até a sentença.

ACUSAÇÃO GERAL ACUSAÇÃO GENÉRICA


Ocorre quando o órgão da acusação imputa a Ocorre quando a acusação imputa vários fatos
todos os acusados o mesmo fato delituoso, típicos, imputando-os genericamente a todos os
independentemente das funções por eles integrantes da sociedade. (Há inépcia da peça
exercidas na empresa. (Não há inépcia da peça acusatória – há vários fatos imputados
acusatória. Existe apenas um fato típico). genericamente).

4.11) NATUREZA JURÍDICA DO CRIME DE APROPRIAÇÃO


INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA
A) Quadro comparativo entre a apropriação indébita e apropriação
indébita previdenciária

Apropriação indébita- art. 168 Apropriação indébita previdenciária- art. 168-


 Crime material A
 Tipo incongruente ou congruente  Crime formal;
assimétrico (tipo congruente – há  Tipo congruente - Não há
uma perfeita adequação entre os necessidade de demonstrar-se que o

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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elementos objetivos e subjetivos do agente tinha a intenção de se


tipo penal, art. 33 da Lei de drogas; apropriar indevidamente dos valores
tipo incongruente ou congruente (STF HC 76978, e STJ entende da
assimétrico – não há uma perfeita mesma forma).
adequação entre os elementos OBS.: No INQ 2537 do STF, este tribunal
objetivos e subjetivos do tipo penal. entendeu que o art. 168-A é um crime
Caracteriza-se pelo o elemento do omissivo material, sendo indispensável
dolo específico, um especial fim de a apropriação dos valores com a
agir, ex.: art. 28 da Lei de drogas, art. inversão da posse respectiva – assim,
159 do CP). o início do procedimento penal ficará
dependente da conclusão do
procedimento administrativo.

Inq-AgR 2537 / GO - GOIÁS
AG.REG.NO INQUÉRITO
Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO
Julgamento:  10/03/2008           Órgão Julgador:  Tribunal Pleno

Ementa

APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA - CRIME - ESPÉCIE. A apropriação indébita


disciplinada no artigo 168-A do Código Penal consubstancia crime omissivo material e não
simplesmente formal. INQUÉRITO - SONEGAÇÃO FISCAL - PROCESSO
ADMINISTRATIVO. Estando em curso processo administrativo mediante o qual
questionada a exigibilidade do tributo, ficam afastadas a persecução criminal e - ante o
princípio da não-contradição, o princípio da razão suficiente - a manutenção de inquérito,
ainda que sobrestado.

No art. 168-A do CP, a fraude não é uma elementar do delito (pode até
usar a fraude, mas ela não está inserido no tipo penal). Nos crimes contra a
ordem tributária (Lei 8137) a fraude funciona como uma elementar do delito.

4.12) TIPICIDADE MATERIAL E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA


Lei 10522/2002, art. 18, parágrafo 1º - para o STJ, ele utiliza o montante
previsto nesta lei para considerar o que seja insignificante (abaixo de R$
100,00 é insignificante, já que a Fazenda cancela todos os débitos abaixo
deste valor).
Art. 20 da Lei 10522/2002:

Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do


Procurador da Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos
como Dívida Ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela
cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). (Redação
dada pela Lei nº 11.033, de 2004)

O STF utiliza como patamar para fins de insignificância o valor do art.


20, caput, da Lei 10522/2002 – tudo que for abaixo de 10.000 reais – HC
92438.
Em âmbito fiscal, o processo será arquivado até que o valor aumente,
para que depois a Procuradoria execute a dívida.

A) Princípio da insignificância em crimes contra a Administração Pública

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Alguns doutrinadores dizem que não se aplica o princípio da


insignificância a estes crimes – o que estaria em jogo é a violação aos
princípios da Administração pública e aos deveres de probidade e honestidade.
No ano de 2007, o STF entendeu que seria aplicado ao crime de
peculato-apropriação – HC 87478 – deve-se entender que esta é a tendência.

B) Princípio da insignificância no crime de porte de drogas nas Forças


Armadas
Há julgamentos favoráveis e desfavoráveis no STF. Tramita um HC
perante o plenário o qual o placar está 5x1 contrário à aplicação deste
princípio.

4.13) DIFICULDADES FINANCEIRAS


Podem servir para absolver alguém pela prática de crime previdenciário
ou crime tributário? R: Não, só em casos extremos poderão ser admitidas.
Funcionará como uma excludente da culpabilidade por inexigibilidade de
conduta diversa. Quando o réu alegar que a sua empresa passava por
dificuldades financeiras, ideal é quebrar o sigilo bancário e fiscal da pessoa
física para analisar as dificuldades financeiras (STJ RESP 327738).

4.14) SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – ART.


337-A DO CP
Trata-se de um crime material – o crime se consuma com a supressão
ou redução de contribuição social previdenciária. A fraude é uma elementar do
delito.
A confissão espontânea antes do início da ação fiscal extingue a
punibilidade, independentemente do pagamento (ao contrário da
apropriação indébita previdenciária).

4.15) AÇÃO PENAL E COMPETÊNCIA


Nos crimes previdenciários e contra a ordem tributária, a ação penal
será pública incondicionada.
Em se tratando de crimes contra a previdência social, a vítima é uma
autarquia federal, logo a competência é da Justiça Federal. Em se tratando
de crimes contra a ordem tributária, dever-se-á atentar à natureza do tributo (IR
– competência da Justiça Federal, ICMS – competência da Justiça Estadual,
etc).

ASPECTOS INDIVIDUAIS DA LEI 8137/90 – CRIMES CONTRA A


ORDEM TRIBUTÁRIA (retirado de material antigo já que o professor não
comentou tais assuntos em aula)

Derrogação da Lei 4729/65 pela Lei 8137/90


“A lei 8137 de 27 de dezembro de 1990, que passou a definir os crimes
contra a ordem tributária, reproduziu, quase que fielmente, as figuras penais
antes previstas na Lei 4729/65, que previa os crimes de sonegação fiscal.
Além de manter as figuras típicas constantes da lei anterior, criou outras,
antes inexistentes, mantendo, por reprodução, as disposições desta última, no
que pertine à aplicação da multa (conversão); à extinção da punibilidade; ao

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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concurso de pessoas às agravantes e atenuantes.” STOCO, Rui e outros. Lei penais


especiais e sua interpretação jurisprudencial. ?, p. 2079.

Direito Penal Tributário


“Os tributos em geral, se bem empregados, promovem justiça social,
garantindo o mínimo de bem-estar a todos os brasileiros. (...)
A finalidade do Direito Tributário é ‘promover o equilíbrio nas relações
entre os que têm e os que não têm poder, ou entre os que têm mais e os que
têm menos poder... o Direito Tributário tem por finalidade limitar o poder de
tributar e proteger o cidadão contra os abusos desse poder’ “. MACHADO, Hugo de
Brito Machado apud Guilherme de Sousa Nucci, ibidem, p. 585.
“A esfera penal, que deve atuar como a ultima ratio (última opção), é
criminalizar condutas graves, que levem à supressão ou diminuição da
arrecadação tributária, colocando em sério risco a atividade estatal de
distribuição (ou redistribuição) de riquezas, buscando a meta de constituir uma
sociedade livre, justa e solidária. A banalização do Direito Penal Tributário,
tornando crime qualquer tipo de infração, que seria meramente tributária, faz
nascer o sentimento de injustiça em quem, por meio de trabalho duro, produz
riqueza, vê-se tributado excessivamente e não consegue visualizar nenhum tipo
de atividade estatal positiva. Ao contrário, somente assiste, passivo, ao
locupletamento da classe política dirigente. O Direito Penal Tributário,
portanto, precisa ser usado com cautela, somente como última hipótese,
em relação a condutas infracionais realmente graves, mas jamais deveria
servir, como hoje ocorre, como instrumento de pressão para a cobrança
de impostos, taxas, contribuições etc.” NUCCI, Guilherme... Ibidem, p. 585.

Objeto jurídico e material


O objeto jurídico são os interesses estatais ligados à arrecadação dos
tributos devidos à Fazenda Pública, visando à boa execução da política
tributária do Estado. Protegem-se, principalmente, a fé pública e a
Administração Pública.
O objeto material imediato é a supressão ou redução de tributo e o
mediato é variável em cada uma das figuras, verbi grata, informação,
documento, livro, fatura,...” STOCO, Rui e outros. Ibidem, p. 2087.
“A diversidade do objeto material impõe o cuidado de identificá-lo
em cada uma das normas, o que é tarefa simples, sabendo-se que,
doutrinariamente, objeto material do crime é aquilo sobre o que incide a
conduta do agente.

Circunstâncias agravantes
Art. 12 da Lei. São circunstâncias que podem agravar de 1/3 (um terço) até a metade as penas
previstas nos arts. 1°, 2° e 4° a 7°: (art. 4 e 7 – crimes contra a ordem econômica e as relações de consumo,
respectivamente)

I - ocasionar grave dano à coletividade;


II - ser o crime cometido por servidor público no exercício de suas funções;
III - ser o crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens
essenciais à vida ou à saúde.

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Tipo subjetivo

“O elemento subjetivo comum é o dolo específico, consignado na


exigência de uma particular intenção, que constitui um elemento subjetivo do
injusto, existente em cada um dos tipos.” STOCO. Rui.... p. 2099.
Não existe modalidade culposa nos crimes tributários.
Para que se configure o crime contra a ordem tributária é indispensável a presença do dolo
(TJDF – Rec. Rel. Pingret de Carvalho – RT 728/595

Evasão fiscal e elisão fiscal


“A doutrina costuma diferenciar a evasão fiscal da elisão fiscal. A
primeira (evasão fiscal) consiste na verdadeira fraude fiscal, em que o agente
se utiliza de manobras fraudulentas (atividades ilícitas) com a finalidade de
suprimir ou reduzir tributo. Há aqui a intenção de lesar o fisco, configurando a
sua ação ou omissão, crime contra a ordem tributária.” CAPEZ, Fernando.
Ibidem, p. 602.
“Na elisão fiscal, pelo contrário, o agente, antes da ocorrência do fato
gerador, realiza atividades lícitas que se destinam ao não-pagamento do
tributo ou à redução de sua carga tributária, por exemplo, quando se evita a
incidência de um tributo dentro de determinado território.” CAPEZ,
Fernando. Ibidem, p. 602.

Crimes em espécie
Quando se fala em crimes tributários, é o conceito de sonegação fiscal.
Todavia, a lei 8137/90 não diz o que se entende por sonegação fiscal.
Nos arts. 1º e 2º da lei, o legislador aponta as hipóteses que
caracterizam os crimes contra a ordem tributária, e em todas essas condutas, a
atividade do agente consiste em suprimir ou reduzir tributos e acessórios.
A nota característica da sonegação fiscal é o emprego de fraude –
qualquer meio de ludibriar, de enganar o fisco, acarretando no pagamento
menor de tributo ou nada o pagando.
Crime contra a ordem tributária não é simplesmente deixar de pagar o
tributo. Deve deixar de pagar o tributo ou pagar menos desde que haja a
intenção de fraude.

Os crimes contra a ordem tributária estão previstos nos art. 1º e 2º, mas
o STF já pacificou que o art. 1º prevê crimes materiais (exige um resultado
naturalístico), e o art. 2º prevê crimes formais (basta o emprego da conduta
fraudulenta).

Crimes praticados por particulares contra a Ordem Tributária

Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou


contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
(Vide Lei nº 9.964, de 10.4.2000)

I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;

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II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo


operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;

III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer
outro documento relativo à operação tributável;

IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva


saber falso ou inexato;

V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento


equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço,
efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação.

Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de


10 (dez) dias, que poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor
complexidade da matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigência,
caracteriza a infração prevista no inciso V.

Art. 2° Constitui crime da mesma natureza: (Vide Lei nº 9.964, de 10.4.2000)

I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou


empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo;

II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social,


descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria
recolher aos cofres públicos;

III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer


percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição
como incentivo fiscal;

IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou


parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento;

V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito


passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por
lei, fornecida à Fazenda Pública.

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa

“Os tipos penais do artigo primeiro são denominados crimes de


sonegação em sentido próprio, pois, como exige o caput, é fundamental a
comprovação de ter ocorrido, mediante uma ou mais condutas prescritas nos
seus incisos, a supressão ou redução de tributo.” KERN, Alexandre. O controle
penal administrativo nos crimes contra a ordem tributária. Editora Livraria do Advogado, 2002,
p. 51.

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Trata-se de crime material, diferentemente do art. 2, que “não se exige


a supressão ou redução do tributo, pois as condutas ali previstas são de
natureza predominantemente formal”. KERN, Alexandre. Ibidem, p. 51.
“Não se admite (no art. 1) qualquer benefício previsto na Lei 9099 de 95
(pena de dois a cinco anos, e multa) (...). Na figura prevista no art. 2º, inciso I, a
declaração falsa ou omissão de dados relativos a rendas, bens ou fatos, tem a
finalidade de não recolher, total ou parcialmente o tributo (não se quer dizer que
tal tributo será sonegado)” NUCCI, Guilherme... Ibidem, p. 596
Quanto ao sujeito ativo do crime do art. 1, “de uma forma geral o sujeito
ativo será, em regra, o contribuinte.
Há, contudo, figuras penais previstas na lei em que o sujeito ativo poderá
ser qualquer pessoa (hipóteses do inciso II e IV, do art. 2 da Lei).
Nas hipóteses em que a lei elege um substituto passivo tributário,
sujeito ativo será o substituto, obrigado a reter e recolher o tributo do
contribuinte de fato.
Art. 11 da Lei. Quem, de qualquer modo, inclusive por meio de pessoa jurídica,
concorre para os crimes definidos nesta lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida de
sua culpabilidade

“Se o crime for praticado visando reduzir ou suprimir tributo em favor de


sociedade comercial, instituições financeiras ou empresa de qualquer natureza
serão pessoalmente responsáveis os diretores, administradores, gerentes ou
funcionários responsáveis.” STOCO, Rui....Ibidem, p, 2085.

Quanto à empresa, deve ser responsabilizado aquele que detinha o


domínio do fato, com poderes para fazer com que a omissão ocorresse ou não.
CAPEZ, Fernando. Ibidem, págs. 605 e 606.

É super minoritário o entendimento de que pessoa jurídica (ela própria e


não os seus diretores) seria sujeito ativo do crime de sonegação fiscal.

GUILHERME DE SOUZA NUCCI entende desta mesma maneira,


dizendo ser sujeito ativo o “contribuinte, na forma da legislação tributária (há o
contribuinte direto e o substituto tributário”. NUCCI. Guilherme...Ibidem, p. 565 .

“Nos cinco incisos do art.1º são destacadas as várias modalidades pelas


quais isso pode ocorrer (supressão ou redução de tributo), de forma que
somente haverá crime contra a ordem tributária se o agente realizar
qualquer das condutas mencionadas. Portanto, não é suficiente para a
configuração do tipo a supressão ou redução do tributo, mas exige-se
também que sejam conseqüência de um comportamento anterior
fraudulento.” PRADO, Luiz Regis. Direito Penal Econômico. Editora RT, 2004, P. 411.

“Suprimir significa omitir, não cumprir a obrigação tributária devida, não


recolher o que deveria ter sido pago. É a evasão total. Reduzir equivale a
diminuir, restringir o quantum de tributo a ser recolhido. É a inadimplência
parcial ou incompleta da obrigação por parte do devedor.” PRADO, Luiz
Regis.Ibidem, p. 411.

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RHC Processual Penal – Tributário – Lei 8137/90 Art. 1 e Art.2, I – Distinção. A Lei
8137/90 – Define crimes contra a ordem tributaria (...) – no art.1, visa a preservar a formação
do crédito tributário; o art.2, I, por sua vez, encerra condutas fraudulentas visando ao não
pagamento do tributo, ou pagamento a menor” RHC 5123. STJ, SEXTA TURMA, Relator
Min. Vicente Cernnhiaro, Data da decisão 17/06/1996, DJU 17/03/1997, p. 7554

“Sujeito ativo é, em geral, o contribuinte ou responsável (delito especial


próprio). Na hipótese do art. 2, III, IV e V, pode ser qualquer pessoa (delito
comum), sendo que no inciso IV deve encontrar-se na situação de beneficiário
de incentivo fiscal, intermediário ou representante de qualquer delas.” PRADO,
Luiz... Ibidem, p. 330.

Dos crimes praticados por funcionários públicos

Art.3. Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no
Dec.Lei 2848 de 1940 – Código Penal (Título XI, Capítulo I):

I- extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda
em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento
indevido ou inexato de tributo ou contribuição social.

II- exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida;
ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição
social, ou cobrá-los parcialmente.

Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

III- patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração


fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário público.
Pena – reclusão, de 1(um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Quanto ao inciso I do art. 3 da Lei, trata-se de figura similar ao art.


314 do CP – extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento.
Todavia, tal figura do art. 3 da lei 8137.90 é especial (princípio da
especialidade quanto ao conflito aparente de normas), pois se refere a qual
processo ou documento relativo a tributo. Qualquer outro documento sonegado
ou extraviado por funcionário público, que não se refira a tributo e não exista
outra tipificação especial, incidirá no art. 314 do CP.
“Obviamente que o funcionário que não relacionou os documentos, por
tê-los esquecido em sua gaveta, não poderá ser responsabilizado por este
crime, uma vez que a ocultação não foi intencional. A negligência, no caso,
poderá apenas caracterizar infração disciplinar.” CAPEZ, Fernando. Ibidem, p. 636.

Tratando-se do inciso II do art. 3 da Lei, encontra-se, através da


análise dos verbos do tipo, o crime de concussão e corrupção passiva, contudo
praticados com a finalidade de deixar de lançar tributo ou cobrar tributo ou
contribuição social, ou cobrá-lo indevidamente – tipo especial (princípio da
especialidade).

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Na corrupção passiva há o “solicitar ou receber” – “não há o emprego


de qualquer ameaça explícita ou implícita. O funcionário (intraneus) solicita a
vantagem, e a vítima (extraneus) cede por deliberada vontade...” CAPEZ,
Fernando. Ibidem, p. 636.
Na concussão – verbo “exigir” – “o agente (...) impõe à vítima
determinada obrigação, e este cede por temer represálias.“ Id, ibidem, p. 637.

OBS.: CONFRONTO COM O EXCESSO DE EXAÇÃO: “exação é a


cobrança pontual de tributos. Quando o funcionário demanda tributo do
contribuinte, sabendo ou devendo saber indevido, bem como quando emprega
na cobrança meio vexatório ou gravoso ilegal, incide nas penas do art. 316, §1
do CP. Se desviar o tributo recebido em proveito próprio ou alheio, deixando de
recolhê-lo aos cofres públicos, cabe a figura do art. 316, §2. Note-se, portanto,
que o servidor está cobrando tributo indevido para o Estado ou, para cobrá-lo
de um modo, humilha o contribuinte. Por outro lado, pode receber exatamente o
tributo devido, mas embolsá-lo. Em suma: exige, recebe, solicita ou aceita
promessa de vantagem indevida qualquer, justamente para não cobrar o
tributo ou cobrá-lo parcialmente (esta situação configura o inciso II do art.
3 desta Lei). NUCCI, Guilherme...Ibidem. p. 613

4.16) PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA


No CPP, art. 310, parágrafo único, há a previsão da liberdade provisória
sem fiança caso o juiz verifique a inocorrência de qualquer das hipóteses que
autoriza a prisão preventiva.
Segundo o texto da lei, a liberdade provisória sem fiança não é cabível
em crimes de sonegação fiscal (crimes contra a ordem tributária). A única
liberdade provisória que cabe neste caso é a com fiança.

4.17) PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO NOS CRIMES MATERIAIS


CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA
Art. 83 da Lei 9430/96.

Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária
definidos nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, será encaminhada ao
Ministério Público após proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência
fiscal do crédito tributário correspondente.

        Parágrafo único. As disposições contidas no caput do art. 34 da Lei nº 9.249, de 26 de


dezembro de 1995, aplicam-se aos processos administrativos e aos inquéritos e processos em
curso, desde que não recebida a denúncia pelo juiz.

Contra este artigo 83 foi ajuizada a ADIn 1571 (à época, os juristas


começaram a dizer que tal decisão final seria uma condição de
procedibilidade). O STF entendeu, na ADIn, que o art. 83 não criou condição
de procedibilidade da ação penal por crime contra a ordem tributária. Esse
dispositivo do art. 83 tem como destinatário as autoridades fazendárias,
prevendo o momento em que devem encaminhar ao MP noticia criminis de
crime contra a ordem tributária. O MP não está impedido de agir se por
outros meios tem conhecimento do lançamento definitivo.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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ADI 1571 / UF - UNIÃO FEDERAL


AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
Relator(a):  Min. GILMAR MENDES

Ementa

EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 83 da Lei no 9.430, de 27.12.1996. 3.


Argüição de violação ao art. 129, I da Constituição. Notitia criminis condicionada "à decisão
final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário". 4. A norma
impugnada tem como destinatários os agentes fiscais, em nada afetando a atuação do
Ministério Público. É obrigatória, para a autoridade fiscal, a remessa da notitia criminis
ao Ministério Público. 5. Decisão que não afeta orientação fixada no HC 81.611. Crime de
resultado. Antes de constituído definitivamente o crédito tributário não há justa causa
para a ação penal. O Ministério Público pode, entretanto, oferecer denúncia
independentemente da comunicação, dita "representação tributária", se, por outros
meios, tem conhecimento do lançamento definitivo. 6. Não configurada qualquer limitação
à atuação do Ministério Público para propositura da ação penal pública pela prática de crimes
contra a ordem tributária. 7. Improcedência da ação

Quanto à natureza jurídica dessa decisão final, há várias correntes: 1ª


corrente – a decisão final do procedimento administrativo não é uma condição
de procedibilidade, de modo que o MP não está obrigado a aguardar o
exaurimento da via administrativa para oferecer denúncia. A natureza jurídica,
para esses doutrinadores, seria de uma questão prejudicial heterogênea –
solução: aplicar-se-á a suspensão do processo e da prescrição enquanto a
decisão definitiva no âmbito administrativo não sair – posição a ser sustentada
em concursos do MP. 2ª corrente – tem prevalecido no âmbito do STF e STJ. A
decisão final do procedimento administrativo de lançamento nos crimes
materiais funciona como condição objetiva de punibilidade. Enquanto não
houver o lançamento, não é possível falar em tributo, não havendo crime
material (RHC 90532 – STF).

Condição de procedibilidade Condição objetiva de punibilidade


 Conceito: é uma condição exigida  Conceito: cuida-se de condição
para o regular exercício do direito exigida pelo Legislador para que o
de ação. Elas podem ser genéricas fato se torne punível e que está
ou específicas. Conseqüência da fora do injusto penal. Chama-se
ausência dessa condição de condição objetiva porque independe
procedibilidade: se percebida no do dolo ou da culpa do agente,
início do processo, o juiz rejeitará a estando localizada entre o preceito
denúncia; se percebida durante o primário e secundário da norma penal
processo, o juiz pode usar o CPC e incriminadora, condicionando a
proceder a extinção do processo sem existência da pretensão punitiva do
julgamento do mérito. Essa decisão Estado. Ex.: sentença declaratória da
só faz coisa julgada formal. falência nos crime falimentares. Está
ligada ao Direito Penal e não ao
Direito Processual Penal.
 Se essa condição objetiva de
punibilidade ainda não foi
implementada, o Estado não pode
exercer a sua pretensão punitiva
(STF HC 81611). Se iniciado o

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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49

processo, pode-se impetrar HC,


solicitando o trancamento da ação
penal.

HC 84925 / SP - SÃO PAULO


HABEAS CORPUS
Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO
Julgamento:  16/12/2004           Órgão
Julgador:  Primeira Turma

Ementa

SONEGAÇÃO FISCAL - PROCESSO


ADMINISTRATIVO PENDENTE - AÇÃO
PENAL. Estando pendente o processo
administrativo fiscal, tem-se a suspensão
da exigibilidade do tributo, não cabendo o
ajuizamento de ação penal. Precedentes:
Habeas Corpus nº 81.611-8/DF, relator
ministro Sepúlveda Pertence, julgado em 10
de dezembro de 2003, Recurso Ordinário em
Habeas Corpus nº 83.717-4/ES, publicado no
Diário da Justiça de 3 de abril de 2004, e
Habeas Corpus nº 84.105-8/SP, publicado no
Diário da Justiça de 13 de agosto de 2004,
por mim relatados

4.18) PAGAMENTO DO DÉBITO TRIBUTÁRIO


Art. 34 da Lei 9249/95.

Art. 34. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de
1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente promover o pagamento do
tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia.

O pagamento até o recebimento da denúncia vai acarretar na


extinção da punibilidade.
Tal artigo, todavia, somente se refere à lei 8137/90 e Lei 4729/65 –
crimes contra a ordem tributária. Nada se fala sobre os crimes contra a
previdência social. Para os tribunais, esta extinção de punibilidade também se
aplica aos crimes previdenciários. STF - HC 73418.
Ao crime de estelionato ou crime patrimonial qualquer, não se aplica o
art. 34 da Lei 9249/95. Para tais crimes patrimoniais, o art. 34 é norma
especial, tendo como benefício o arrependimento posterior (art. 16 do CP).
Art. 9º da Lei 10684/2003 – Lei de revisão de dívidas, recuperação fiscal:

Art. 9o É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts.
1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990 , e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei n o
2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o período em que a pessoa
jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de
parcelamento.

        § 1o A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão


punitiva.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
50

        § 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa
jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de
tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios – não há nenhum limite temporal (antes do
recebimento da denúncia, por ex.).

De acordo com tal art. 9º, o parcelamento do débito tributário acarretará


na suspensão da pretensão punitiva, suspendendo também o curso da
prescrição. Ocorrendo o pagamento integral do débito tributário efetuado a
qualquer momento, será extinta a punibilidade – É o que vale hoje!

HC 85048 / RS - RIO GRANDE DO SUL


HABEAS CORPUS
Relator(a):  Min. CEZAR PELUSO
Julgamento:  30/05/2006           Órgão Julgador:  Primeira Turma

Ementa

EMENTA: AÇÃO PENAL. Crime tributário. Não recolhimento de contribuições previdenciárias


descontadas aos empregados. Condenação por infração ao art. 168-A, cc. art. 71, do CP.
Débito incluído no Programa de Recuperação Fiscal - REFIS. Parcelamento deferido, na esfera
administrativa pela autoridade competente. Fato incontrastável no juízo criminal. Adesão ao
Programa após o recebimento da denúncia. Trânsito em julgado ulterior da sentença
condenatória. Irrelevância. Aplicação retroativa do art. 9º da lei nº 10.684/03. Norma geral e
mais benéfica ao réu. Aplicação do art. 2º, § único, do CP, e art. 5º, XL, da CF. Suspensão da
pretensão punitiva e da prescrição. HC deferido para esse fim. Precedentes. No caso de crime
tributário, basta, para suspensão da pretensão punitiva e da prescrição, tenha o réu
obtido, da autoridade competente, parcelamento administrativo do débito fiscal, ainda
que após o recebimento da denúncia, mas antes do trânsito em julgado da sentença
condenatória

Para o STJ, este pagamento como causa de extintiva de punibilidade


também se aplica ao delito de descaminho – HC 48805

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. DESCAMINHO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.


PAGAMENTO DO TRIBUTO ANTES DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA. APLICAÇÃO DO
ART. 34 DA LEI N.º 9.249/95. UBI EADEM RATIO IBI IDEM IUS.
1. Não há razão lógica para se tratar o crime de descaminho de maneira distinta daquela
dispensada aos crimes tributários em geral.
2. Diante do pagamento do tributo, antes do recebimento da denúncia, de rigor o
reconhecimento da extinção da punibilidade.
3. Ordem concedida.

4.19) ESTELIONATO CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL – ART. 171


DO CP, PARÁGRAFO 3º, DO CP
Há divergências quanto a sua prática reiterada: 1ª corrente – trata-se de
crime único e permanente de estelionato (STJ – RESP 147203 e 502334).
HC 83252 e HC 83967 – STF (entendimento minoritário no STF). A prescrição
começará a correr somente quando cessar a permanência

STJ - RECURSO ESPECIAL. BENEFICIO PREVIDENCIARIO EM PARCELAS SUCESSIVAS.


PERCEPÇÃO INDEVIDA. FRAUDE. CRIME CONTINUADO. - "tratando-se de estelionato de
rendas mensais, que dura no tempo,há permanência na consumação (delito
eventualmente permanente), devendo o termo inicial da prescrição contar-se da
cessação da permanência (art. 111, iii, do cp)." - recurso conhecido e provido.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
51

2ª corrente – tal crime é praticado em continuidade delitiva. Ver súmulas


497 do STF

SÚMULA Nº 497
 
QUANDO SE TRATAR DE CRIME CONTINUADO, A PRESCRIÇÃO REGULA-SE PELA PENA
IMPOSTA NA SENTENÇA, NÃO SE COMPUTANDO O ACRÉSCIMO DECORRENTE DA
CONTINUAÇÃO

3ª corrente – esta conduta de recebimento mensal de benefício


previdenciário configura o concurso formal – mediante uma única ação se
pratica 2 ou mais crimes.
4ª corrente – posição do STF – é delito instantâneo de efeitos
permanentes (HC 80349 E 94148)

HC 94148 / SC - SANTA CATARINA


HABEAS CORPUS
Relator(a):  Min. CARLOS BRITTO
Julgamento:  03/06/2008           Órgão Julgador:  Primeira Turma

Ementa

EMENTA: HABEAS CORPUS. ESTELIONATO COMETIDO CONTRA ENTIDADE DE


DIREITO PÚBLICO. IMPETRANTE QUE ADULTEROU ANOTAÇÕES DA CTPS PARA QUE
CO-RÉU RECEBESSE APOSENTADORIA. CRIME INSTANTÂNEO. TERMO INICIAL DO
PRAZO PRESCRICIONAL. PRESCRIÇÃO RETROATIVA. ORDEM CONCEDIDA. 1. No caso,
a conduta assumida pelo impetrante, a despeito de produzir efeitos permanentes quanto ao
beneficiário da falsificação da CTPS, materializou, instantaneamente, os elementos do tipo.
Descaracterização da permanência delitiva. 2. Nos crimes instantâneos, a prescrição é de
ser computada do dia em que o delito se consumou ou do dia em que cessou a atividade
criminosa (no caso de tentativa). 3. Transcurso de lapso temporal superior ao prazo
prescrional entre a data do fato e o recebimento da denúncia. Reconhecimento da prescrição
retroativa. Ordem concedida para declarar extinta a punibilidade do impetrante.

5) LEI 9099/95 – LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

5.1) PREVISÃO CONSTITUCIONAL

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:

        I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para
a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações
penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo,
permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas
de juízes de primeiro grau;

A partir do momento que os juizados são criados, passa-se a ter a


possibilidade da transação penal sendo utilizada no processo penal.

5.2) JURISDIÇÃO CONSENSUAL X JURISDIÇÃO CONFLITIVA

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
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A jurisdição consensual busca um consenso pelas partes. A jurisdição


conflitiva se caracteriza pelo conflito entre as partes. O acordo só pode
resultar em penas restritivas de direitos. Já na jurisdição conflitiva, a pena será
a privativa de liberdade. Na jurisdição consensual haverá uma mitigação de
princípios (princípio da obrigatoriedade da ação penal pública e princípio da
indisponibilidade da ação penal pública) - a doutrina diz que o princípio aqui
seria o da discricionariedade regrada (exceção ao princípio da
obrigatoriedade, aplicando a transação penal; exceção ao princípio da
indisponibilidade da ação penal pública – aplicação da suspensão
condicional do processo).
Para o STF, a jurisdição consensual no processo penal está autorizada
pela própria CF (art. 98, I, da CF – INQ 1055).

5.3) MEDIDAS DESPENALIZADORAS – ASPECTOS GERAIS


Há quatro:
 Composição civil dos danos – art. 74 da Lei;

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz
mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.

Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública
condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa
ou representação

Em crimes de ação penal privada e de ação penal pública


condicionada à representação, este acordo celebrado trará como
conseqüência a renúncia ao direito de queixa ou representação, como uma
causa extintiva da punibilidade.

 Transação penal – art. 76 da Lei;

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada,
não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de
pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

        § 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a
metade.

        § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

        I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva;

        II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de
pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

        III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

        § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação
do Juiz.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
53

        § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz
aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo
registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.

        § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82


desta Lei.

        § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de
antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos
civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.

Significa o cumprimento imediato de pena restritiva de direitos,


fixadas por meio de propostas. Cumprida, será extinta a punibilidade.

 Representação nos crimes de lesão corporal leve ou culposa –


art. 88 da Lei

        Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.

Se a conduta antecedente não for dolosa (for culposa), mesmo que


acarrete qualquer dos resultados dos parágrafos do art. 129, a ação penal
será pública condicionada à representação.

 Suspensão condicional do processo – art. 89 da Lei


Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas
ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão
do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou
não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a
suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

(...)

A lei diz que a pessoa fica sujeita ao cumprimento de condições (e não


penas). Uma vez cumprida as condições, estará extinta a punibilidade.

OBS.1: A lei 9099/95 é uma norma processual, mas os 4 benefícios


acarretam efeitos no Direito Penal. Assim, aplica-se o princípio da
ultratividade da lei penal mais benéfica – aplica-se a fatos pretéritos.

Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver
iniciada. (Vide ADIN nº 1.719-9)

Todavia, os benefícios são sim aplicados a fatos pretéritos (ver a ADIn).

 A lei também traz uma medida descarcerizadora – art. 69,


parágrafo único – não se imporá prisão em flagrante

   Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão
em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar,

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
54

como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002)

A prisão em flagrante divide-se em: captura, condução coercitiva,


lavratura do APF, condução ao cárcere. Nestes casos da Lei 9099/95, aplica-se
a captura e a condução coercitiva. Posteriormente será lavrado o termo
circunstanciado.
OBS.: Na lei Maria da Penha não se aplica as medidas da Lei 9099/95,
logo, imporá prisão em flagrante.

5.4) INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


Redação original do art. 61 da Lei do JEC:

        Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os
efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial. (Vide Lei
nº 10.259, de 2001)

Infração de menor potencial ofensiva era: todas as contravenções e


todos os crimes com pena máxima não superior a 1 ano, salvo se este delito
estiver sujeito à procedimento especial.
Este panorama dura até o advento da Lei dos JEF – lei 10259/2001.
Art. 2o Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de
competência da Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo.
        Parágrafo único. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos
desta Lei, os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa.

Esta lei não fala em contravenções porque a Justiça Federal não julga
contravenções. Os JEF julgavam infrações penais cuja pena máxima não
passasse de 2 ano, ou apenada com multa.
Quando esta lei surgiu, começaram discussões se este conceito também
seria aplicável à lei 9099/95. Teve doutrinador que sustentou que, como a lei
do JEF dizia “para os efeitos desta”, o novo conceito só teria validade na
Justiça Federal.
No ano de 2006, já sedimentado o entendimento de que IMPO era as
cuja pena máxima não passasse de 2 anos, ou multa, adveio a Lei 11313/2006,
trazendo um novo conceito de IMPO:

Art. 61.  Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta
Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a
2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)

Assim, IMPO são todas as contravenções penais e crime com pena


máxima não superior a 2 anos, pouco importando se a pena é cumulada ou
não com multa. Tanto faz se os crimes estão sujeitos ou não a procedimentos
especiais.

1. Estatuto do idoso – lei 10741/2003

Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não
ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
55

setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do


Código de Processo Penal

O Estatuto do idoso não criou um novo conceito de infração de menor


potencial ofensivo. Na verdade, aos crimes previstos na Lei 10741/03, cuja
pena máxima não ultrapasse 4 anos, será aplicável tão somente o
procedimento sumaríssimo, previsto entre os artigos 77 e 83 da Lei 9099/95

21.03.2009 – RENATO BRASILEIRO

5.5) CONEXÃO E CONTINÊNCIA

Súmula 243 do STJ. O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às


infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva,
quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante,
ultrapassar o limite de um (01) ano.

Ela fala suspensão do processo (não se aplica mais). STF entende:

SÚMULA Nº 723
 Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena
mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.

Uma vez praticada uma infração de menor potencial ofensivo,


isoladamente, a competência será do juizado especial criminal. No entanto, se
esta infração de menor potencial ofensivo houver sido praticada em conexão
com outro crime, que venha a estabelecer a competência do juízo comum ou
do tribunal do júri, afasta-se a competência do juizado, mas isso não impede a
aplicação da transação penal e da composição dos danos civis à infração de
menor potencial ofensivo.

5.6) APLICAÇÃO DA LEI DO JUIZADO NOS CRIMES MILITARES

        Art. 90-A.  As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar.
(Artigo incluído pela Lei nº 9.839, de 27.9.1999) 

Este art. 90-A da lei do juizado foi acrescentado depois (não veio com a
redação original). Trata-se de uma lei mais gravosa (irretroativa). DAMÁSIO
entende que tal vedação é absurda, pois esta vedação seria aplicada apenas
aos crimes militares impróprios – é uma infração penal prevista tanto no CPM
como no CP comum, mas que se torna crime militar por se adequar a uma das
hipóteses do art. 9º do CPM.

5.7) COMPETÊNCIA TERRITORIAL


A competência territorial no CPP é fixada de acordo com o art. 70 do
CPP – lugar da consumação da infração – teoria do resultado:

        Art. 70.  A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
56

No JECRIM, adota-se a teoria da atividade – art. 63 da Lei 9099/95:

        Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a
infração penal.

5.8) CAUSAS MODIFICATIVAS DA COMPETÊNCIA

5.8.1) Impossibilidade de citação pessoal do acusado


Nos juizados não cabe citação por edital. Mesmo sendo encontrado o
acusado no crime comum, não será restabelecida a competência do juizado.

Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por
mandado.

        Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças
existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.

OBS.1: cabe carta precatória, rogatória ou citação por hora certa nos
juizados? R.: Cabe carta precatória! Não cabe carta rogatória (procedimento
muito lento para o rito dos juizados). OBS.2: Não há muito entendimento ainda
sobre o cabimento da citação por hora certa no juizado. O professor entende
que, aplicando subsidiariamente o art. 92 da Lei 9099/95, caberia citação por
hora certa.

        Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de Processo
Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.

Art. 362 do CPP.  Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça
certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts.
227 a 229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.  (Redação
dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

5.8.2) Complexidade da causa


Um crime que demande um exame pericial mais complexo, um crime
com várias pessoas envolvidas etc.

        Art. 77§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da


denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças
existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.

Mandando para o rito comum, será obedecido o procedimento comum


sumário.

        Art. 538.  Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial
criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro
procedimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo. (Redação dada
pela Lei nº 11.719, de 2008).

Eventual recurso será julgado pelo TJ ou TRF.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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5.9) LAVRATURA DO TERMO CIRCUNSTANCIADO

  Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

Nos crimes de menor potencial ofensivo, não há necessidade de


inquérito policial.
Trata-se de um relatório sumário.

5.9.1) Atribuição para a lavratura


Resposta para a prova de Delegado: é atribuição exclusiva da polícia
investigativa (PM não poderia lavrar, mas na prática é o que ocorre).
Para os demais concursos: termo circunstanciado também pode ser
lavrado por Policial Militar. No STF, há a ADI 2862:
Se não existe inquérito policial, não existirá indiciamento.
É possível o trancamento do termo circunstanciado, em hipóteses de
manifesta atipicidade ou ausência de justa causa.

5.10) FASE PRELIMINAR

5.10.1) Composição dos danos civis


Está prevista no art. 74 da Lei 9099/95.

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz
mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.

        Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública
condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa
ou representação.

Somente é possível nas infrações que acarretam prejuízos materiais ou


morais à vítima.
Obtida a conciliação, será homologada em sentença irrecorrível e terá
eficácia de título executivo a ser executado no juízo cível competente. Se o
acordo não passar de 40 salários mínimos, ele será executado no próprio
juizado (cível).
Se for um crime de ação penal privada ou de ação penal pública
condicionada à representação, a composição dos danos civis trará como
conseqüência a renúncia ao direito de queixa ou de representação.
OBS.: Cabe composição civil nas ações penais públicas
incondicionadas? R: Cabe, mas não terá efeitos penais (como a renúncia ao
direito de punir do Estado).

        Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a
oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.

        Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não


implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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5.10.2) Momento adequado para o oferecimento da representação


É considerada válida a representação oferecida na Delegacia de
Polícia? R: Há duas correntes: 1ª corrente – a representação feita na delegacia
de polícia não é suficiente para o início da ação penal  a representação deve
ser feita perante o juizado – corrente majoritária. 2a corrente – a
representação deve ser considerada feita quando a vítima procura a autoridade
policial.
Quando se inicia o prazo para a representação? R: A representação está
sujeita a um prazo decadencial de 6 meses. 1ª corrente - O prazo tem início a
partir do conhecimento da autoria. Porém, caso a audiência preliminar
ocorra após o decurso desse prazo, não há falar em decadência, na medida
em que a culpa não seria da vítima, e sim do Estado – posição majoritária. 2ª
corrente – o prazo se inicia da audiência, pois é a partir desse momento que a
representação pode ser oferecida de forma válida.
Prazo para a representação no caso de desclassificação de tentativa de
homicídio para lesões corporais leves – 1ª corrente – se já ultrapassado o
prazo decadencial de 6 meses a partir do conhecimento da autoria, estará
extinta a punibilidade pela decadência, pois esse prazo não se suspende nem
se interrompe, ex.: 10/02/2006  data do fato (denunciado por tentativa de
homicídio). 20/03/2008  desclassificação para lesão corporal leve (precisa de
representação) – já está extinta a punibilidade, pois, já se passaram 6 meses
da data do fato para a representação – corrente minoritária. 2ª corrente – deve
ser contado o prazo de 6 meses apenas a partir do momento da decisão de
desclassificação – corrente majoritária.

5.10.3) Transação penal


Consiste em um acordo entre o titular da ação e o autor do fato
delituoso, pelo qual o primeiro propõe ao segundo a aplicação imediata de uma
pena não-privativa de liberdade, dispensando-se a instauração do processo.

        Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a
metade.

        § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

        I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva;

        II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de
pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

        III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

        § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação
do Juiz.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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        § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz
aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo
registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.

        § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82


desta Lei.

        § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de
antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos
civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.

A) Pressupostos para a celebração do acordo


1. Formulação da proposta pelo representante do MP
a. Recusa injustificada de oferecimento da proposta pelo MP:
há duas correntes. 1ª corrente – na verdade, trata-se de
um direito público subjetivo do acusado (o juiz pode
conceder de ofício). 2ª corrente – diante da recusa
injustificada do MP, aplica-se o art. 28 do CPP – remessa
do autos ao PGJ – corrente majoritária. Súmula 696 do
STF (não pode o juiz conceder o instituto de ofício).

Súmula nº 696 do STF


reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se
recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao
procurador-geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do código de processo penal .

2. Crime de ação penal pública condicionada à representação ou


incondicionada

a. E em crimes de ação penal privada? R.: 1ª corrente - em


virtude da omissão do legislador, não cabe transação penal e
nem suspensão condicional do processo em crime de ação
penal privada – corrente ultrapassada!!! 2ª corrente – não há
incompatibilidade entre transação penal ou suspensão
condicional do processo em crimes de ação penal privada
– posição majoritária!!! E em caso de recusa injustificada do
querelante? R: a iniciativa só pode ser do querelante. Se ele
não quiser, não terá – STF HC 81720;

3. Não ter sido o agente beneficiado anteriormente no prazo de 5 anos


pela transação penal;
4. Não ter sido o autor da infração condenado por sentença definitiva a
pena privativa de liberdade – está sujeita ao lapso temporal da
reincidência (5 anos após o cumprimento da pena) – art. 64, I, do CP.
Tal condenação deve ser por prática de crime. Se for uma
contravenção penal, não haverá impedimento quanto à transação.
5. Circunstâncias judiciais favoráveis;
6. Não ser caso de arquivamento dos autos;
7. Aceitação da proposta por parte do autor da infração e de seu
advogado;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
60

a. divergência de vontade entre advogado e acusado – na hora


da transação penal e na suspensão condicional do processo,
prevalece a vontade do acusado, e não a do defensor. Na
hora de interpor recurso, prevalece a vontade de quem quer
recorrer (Súmula 705 do STF).

B) Descumprimento da transação penal


1ª corrente – em se tratando de proposta de pena de multa, não é
possível o oferecimento de denúncia, devendo a multa ser executada perante o
juiz. Em se tratando de pena restritiva de direitos, o procedimento deve ser
retomado, a fim de que o titular da ação penal possa propô-la – corrente
majoritária (STF HC 84976). 2ª corrente – deve haver a conversão da pena
restritiva de direitos à pena privativa de liberdade, pois a sentença que
homologa a transação tem natureza condenatória imprópria. ***Para o STF e
para o STJ: é possível que o magistrado condicione a homologação da
proposta a seu cumprimento (STJ RHC 11392; STF HC 79572).

5.11) PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO


Para entrar nessa fase não pode ter havido transação penal, nem
composição por danos civis.

5.11.1) Vista ao MP
A primeira possibilidade do MP é requerer o arquivamento dos autos. A
segunda possibilidade é a devolução dos autos para a realização de
diligências. A terceira possibilidade é o encaminhando do termo
circunstanciado ao juízo comum. A quarta possibilidade é a declinação da
competência. A quinta possibilidade – deve o MP oferecer denúncia oral (será
reduzida a termo).

        Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela
ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o
Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de
diligências imprescindíveis.

1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência
referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do
corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova
equivalente.

5.11.2) análise do procedimento sumaríssimo

A) Oferecimento da peça acusatória – não é necessário exame de corpo


de delito. Um mero boletim médico pode suprir o exame de corpo de delito. Tal
exame não é necessário nem mesmo para uma condenação.

B) Defesa preliminar - diferenças: I- defesa prévia – existia antes da lei


11719/2008 (não existe mais) – era apresentada após o interrogatório (não era
obrigatória); II- defesa preliminar – ela é apresentada entre o oferecimento e o
recebimento da peça acusatória (ser ouvido antes do processo ter início), ex.:
art. 514 do CPP (crimes funcionais afiançáveis); lei de drogas; lei de imprensa

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
61

(Lei 5250); lei dos juizados (art. 81 da Lei); competência originária dos tribunais
(Lei 8038/90); lei de improbidade administrativa (não tem natureza penal); III-
Resposta à acusação – tem doutrinador chamando de resposta inicial (defesa
inicial). É criada com a lei 11719/2008. Deve ser apresentada após o
recebimento da peça acusatória por advogado, e antes da audiência una de
instrução e julgamento.

C) Rejeição da peça acusatória (art. 395 do CPP) ou recebimento da


peça acusatória

Art. 394, parágrafo 4º, do CPP:

        § 4o  As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os
procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código. (Incluído pela
Lei nº 11.719, de 2008).

De acordo com tal dispositivo, não se pode trabalhar com o


procedimento do juizado, pois o art. 394 manda aplicar o art. 395 (rejeição da
peça acusatória), 396 (citação para apresentar resposta da acusação – mas a
peça acusatória já foi recebida!?! ) e 397 (absolvição sumária). Assim, duas
posições foram criadas: a) a lei do juizado traz um procedimento especial, não
se aplicando o art. 394, parágrafo 4º, do CPP; b) todos os procedimentos
deverão seguir o previsto no art. 394, parágrafo 4º, do CPP, mesmo o rito do
juizado  NÃO SE SABE AINDA O QUE FAZER A RESPEITO!!!

D) Instrução do processo
 oitiva da vítima
 oitiva das testemunhas
 interrogatório do acusado
 debates orais
 sentença – aqui no JECRIM, o relatório é dispensado.

5.12) SISTEMA RECURSAL

5.12.1) Aplicação subsidiária das normas do CPP, do CP e da LEP


Determinados recursos, apesar de não estarem previstos na lei 9099/95,
poderão ser usados (apelação RESE, agravo em execução etc.).

5.12.2) Juízo ad quem


Será a turma recursal. É composta por 3 juízes de direito em exercício
no 1º grau de jurisdição. O magistrado que prolatou a decisão está impedido de
fazer parte da turma recursal.

Art. 252 do CPP.  O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:

        III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito,
sobre a questão;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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62

OBS.: Quem exerce a função de MP na turma recursal? R: É o promotor


de justiça de 1ª instância.

5.12.3) Apelação

APELAÇÃO NO JUIZADO APELAÇÃO NO CPP


 10 dias;  05 dias;
 Ela deve ser apresentada de uma vez só  Interpor o recurso – 05 dias – e 08 dias
(interposição + razões); para apresentar as razões recursais;
 Só pode interpor o recurso por petição;  Poder interpor o recurso por termos nos
 A petição não pode ser apresentada autos;
perante a turma recursal;  As razões podem ser apresentadas
 **Cabe no caso de rejeição da peça perante o juízo ad quem;
acusatória;  **Contra a rejeição da peça acusatória,
 Caberá da sentença homologatória da caberá RESE;
transação, da sentença absolutória e  Caberá da sentença absolutória e
condenatória. condenatória.

5.12.4) Embargos de declaração

Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver


obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.

        § 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de


cinco dias, contados da ciência da decisão.

        § 2º Quando opostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo


para o recurso.

        § 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO JUIZADO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO CPP


 Caberá quando houver obscuridade,  Caberá quando houver obscuridade,
contradição, omissão ou dúvida na ambigüidade (não fala em “dúvida”, mas
decisão; é a mesma coisa), contradição e omissão;
 Prazo de 5 dias;  Prazo de 2 dias;
 Sua interposição suspende o prazo do  Sua interposição interrompe o prazo do
outro recurso (quando opostos contra outro recurso.
sentença). Contra acórdão da turma
recursal o prazo será interrompido, já que
não é sentença!!!

5.12.5) Recurso extraordinário e recurso especial


A CF diz que, para que caiba recurso especial, a decisão deve ser
proferida por “tribunal”. Ao dizer sobre o recurso extraordinário, a CF não usa a
palavra “tribunal”, e sim a expressão “decisão proferida em 1ª e última
instância”. Assim, não cabe recurso especial contra decisão de turma
recursal (pois não é tribunal). Mas cabe recurso extraordinário contra decisão
de turma recursal.

5.12.6) Habeas corpus


Cabe no JECRIM. Porém, contra ato do juiz do juizado, quem irá julgar
HC é a turma recursal (quando referir-se a atos do juizado). Se a turma

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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63

recursal for autora do constrangimento, caberá ao Tribunal de Justiça julgá-lo


(súmula 690 do STF – está ultrapassada).

5.12.7) Mandado de segurança


Contra decisão de juiz do juizado  turma recursal.
Contra decisão da turma recursal  é a própria turma recursal** - MS
24615 do STF.

5.12.8) Conflito de competência


Conflito entre juiz do juizado e juiz de vara criminal (juízo comum) – cabe
ao STJ decidir (STF CC 7090 e STJ 79022) e súmula 348 do STJ.

5.12.9) Revisão criminal


Cabe perfeitamente. OBS.: A ação rescisória (área cível) não cabe! STJ
CC 47718 – a própria turma recursal que julgará.

5.13) SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO – ARTIGO 89 DA


LEI

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas
ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão
do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou
não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a
suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a
denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as
seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de freqüentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas
atividades.

§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde
que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por
outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.

§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo,
por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.

§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.

§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.

§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em


seus ulteriores termos.

É aplicada aos crimes cuja pena mínima seja igual ou inferior a um


ano.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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64

5.13.1) Conceito
Trata-se de um instituto despenalizador criado como alternativa à pena
privativa de liberdade, por meio do qual se autoriza a suspensão do processo
por determinado período e mediante certas condições.

5.13.2) Iniciativa
A iniciativa para propor a suspensão condicional do processo é exclusiva
do MP (titular da ação penal pública). Não pode ser concedida de ofício pelo
juiz, pois não se trata de direito subjetivo do acusado. Se o juiz não
concorda com a posição do MP deve aplicar o artigo 28 CPP – súmula 696
STF:

Súmula 696 do STF


Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se
recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao
procurador-geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do código de processo penal.

Em se tratando de atribuição originária do PGR, o juiz é obrigado a


acatar a manifestação do chefe do MP (STF, HC 83458).

Ementa

EMENTA: HABEAS CORPUS. ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO ANTECIPADA.


INADMISSIBILIDADE. ARTIGO 28 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E SÚMULA 696 DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. HIPÓTESE DE ATRIBUIÇÃO ORIGINÁRIA DO
PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA. INEXISTÊNCIA DE DIREITO SUBJETIVO À
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. ORDEM DENEGADA. 1. O Supremo Tribunal
Federal tem rechaçado a aplicação do instituto da prescrição antecipada reconhecida antes
mesmo do oferecimento da denúncia. 2. Na hipótese de o juiz discordar da manifestação do
Ministério Público que deixa de propor a suspensão condicional do processo, aplica-se, por
analogia, o art. 28 do Código de Processo Penal. 3. Todavia, em se tratando de atribuição
originária do Procurador-Geral de Justiça, v.g., quando houver competência originária
dos tribunais, o juiz deve acatar a manifestação do chefe do Ministério Público. 4. Tendo
em vista que a suspensão condicional do processo tem natureza de transação processual, não
existe direito público subjetivo do paciente à aplicação do art. 89 da Lei 9.099/95 . 5.
Ordem denegada.

OBS: Cabe suspensão na ação penal privada? Alguns doutrinadores


entendem que sim, porém nesse caso a iniciativa não seria do MP, mas sim do
acusado.

5.13.3) Requisitos
1. Não estar sendo processado ou não ter sido condenado por outro
crime (não abrange contravenção). Para a jurisprudência essa
condenação estaria sujeita ao lapso temporal de 5 anos (STF, HC
88157);
2. Estarem presentes os requisitos que autorizem a suspensão
condicional da pena – artigo 77 do CP:

Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser
suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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I - o condenado não seja reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os
motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;(Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

5.13.4) Condições
Durante quanto tempo dura o período de prova? Ele varia de 2 a 4 anos.

As condições são:
1. reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
2. proibição de freqüentar determinados lugares;
3. proibição de ausentar-se da comarca onde reside sem
autorização do juiz;
4. comparecimento pessoal e obrigatório em juízo mensalmente.

5.13.5) Revogação
A doutrina subdivide em:

A) Obrigatória
Artigo 89, §3º da lei:

§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado
por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.

B) Facultativa
Artigo 89, §4º da lei:

§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do


prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.

Para os Tribunais a suspensão condicional do processo é


automaticamente revogada se no período probatório o acusado
descumpre as condições impostas pelo juiz. Sendo a decisão meramente
declaratória, não importa que seja proferida somente depois de expirado o
prazo de prova.

5.13.6) Extinção da punibilidade


Decorrido o período de prova sem que tenha ocorrido revogação, estará
extinta a punibilidade.

5.13.7) Prescrição
Não corre prescrição durante o período de suspensão do processo.

5.13.8) Carta Precatória


Caso o acusado more em outra comarca é possível a expedição de carta
precatória, cabendo ao juiz deprecante fixar as condições a serem propostas.

5.13.9) Cálculo da pena mínima

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Súmula 243 STJ.


Súmula: 243 do STJ
O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais
cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena
mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite
de um (01) ano.

5.13.10) Recurso
Qual o recurso cabível contra a decisão que concede a suspensão
condicional do processo? CPP, artigo 581, XVI:

Art. 581.  Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:

(...)

XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial ;

Para a doutrina o rol do artigo 581 do CPP é taxativo. Logo, como este
artigo no inciso XI refere-se a suspensão do processo em virtude de questão
prejudicial; o recurso cabível da decisão que concede a suspensão condicional
do processo seria, assim, o de apelação.
Para a jurisprudência o recurso cabível é o Rese (STJ Resp 601.924,
RMS 23516).

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. DESPACHO QUE DESIGNA AUDIÊNCIA


PARA CONCESSÃO DO SURSIS. PROPOSTA DE SUSPENSÃO DO PROCESSO.
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. RECURSO CONHECIDO.
Na letra do artigo 581, inciso XI, do Código de Processo Penal, cabe recurso em sentido estrito
da decisão que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena, havendo firme
entendimento, não unânime, de que se cuida de enumeração exaustiva, a inibir hipótese
de cabimento outra que não as expressamente elencadas na lei. Tal disposição, contudo,
por força da impugnabilidade recursal da decisão denegatória do sursis, prevista no artigo 197
da Lei de Execuções Penais, deve ter sua compreensão dilargada, de maneira a abranger
também a hipótese de suspensão condicional do processo, admitida a não revogação
parcial da norma inserta no Código de Processo Penal. Desse modo, cabe a aplicação
analógica do inciso XI do artigo 581 do Código de Processo Penal aos casos de
suspensão condicional do processo, viabilizada, aliás, pela subsidiariedade que o artigo
92 da Lei nº 9.099/95 lhe atribui. A recorribilidade das decisões é essencial ao Estado de
Direito, que não exclui a proteção da sociedade. Recurso conhecido e provido.

OBS.: Seria cabível o HC? R.: O HC tutela liberdade de locomoção,


como houve a suspensão condicional do processo, haveria, mesmo
assim, interesse em manejar um HC. A aceitação do beneficio da suspensão
condicional do processo não implica renúncia ao interesse de agir para a
impetração de HC questionando a justa causa da ação penal (STF, RHC
82365).

Ementa

EMENTA: HABEAS CORPUS. Condição da ação. Interesse processual ou de agir.


Caracterização. Alegação de falta de justa causa para ação penal. Admissibilidade. Processo.
Suspensão condicional. Aceitação da proposta do representante do Ministério Público.

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Irrelevância. Renúncia não ocorrente. HC concedido de ofício para que o tribunal local julgue o
mérito do pedido de habeas corpus. Precedentes. A aceitação de proposta de suspensão
condicional do processo não subtrai ao réu o interesse jurídico para ajuizar pedido de
habeas corpus para trancamento da ação penal por falta de justa causa.

5.13.11) Desclassificação
Foi desclassificado do roubo (pena de 4 a 10 anos) para o furto (pena de
1 a 4 anos), ex.:

Súmula: 337 do STJ


É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência
parcial da pretensão punitiva.

A) Tribunal do Júri
Caso o juiz sumariante venha a desclassificar o delito para crime não
doloso contra a vida e inserido no conceito de infração penal de menor
potencial ofensivo, deve remeter os autos ao juizado especial criminal. Todavia,
se a desclassificação se der no plenário do Júri caberá ao juiz presidente
aplicar os benefícios da lei 9.099.95 – artigo 492, §1º do CPP:

Artigo 492, § 1o  Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz
singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se,
quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infração penal de
menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de
setembro de 1995. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

14.03.2009 – ROGÉRIO SANCHES

6) LEI 9455/97 – LEI DE TORTURA

6.1) HISTÓRICO DA FIGURA DA TORTURA


Antes da 2ª guerra não havia preocupação específica sobre a tortura. As
legislações mundiais, em princípio, ignoravam o tema. Após a 2ª guerra
começou um movimento de repúdio à tortura. Inúmeros tratados foram
aprovados, alguns foram ratificados pelo Brasil, garantindo o cidadão contra a
tortura.
Somente com a CF de 1988, no art. 5º, III, é que o Brasil garante
expressamente o cidadão contra a tortura. É uma das únicas garantias
absolutas (nem o direito à vida é absoluto).

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante

Antes, a tortura era punida como lesão corporal, homicídio; não havia
um tipo penal específico punindo a tortura.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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68

Com a Lei 8069/90 - ECA, adveio a figura da punição da tortura à


criança e ao adolescente – art. 233.
Em 1997 adveio a Lei 9455, tratando especificamente do crime de
tortura, revogando o art. 233 do ECA. Agora se pune a tortura punida contra
qualquer pessoa, seja criança, adolescente, maior de idade etc.
Os tratados internacionais, quando falam da tortura, tratam-no como
crime próprio. O Brasil, quando resolveu disciplinar a tortura, disse ser crime
comum. Poderia o legislador infraconstitucional brasileiro dizer ser crime
comum? Quando lei infraconstitucional conflitar com tratado internacional,
deve-se aplicar o princípio do pro homine – prevalece o dispositivo que mais
garanta direitos individuais (direitos humanos). No nosso caso, a nossa lei
de tortura garante mais direitos do que os tratados internacionais ratificados por
nosso país – é o que acontece no caso de prisão do depositário infiel (a CF
permite, mas a CADH veda a sua prisão, então, aplica-se o princípio do pro
homine)
Só temos dois casos de imprescritibilidade: I- racismo e, II- ação de
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático A tortura é prescritível.
Todavia, os tratados internacionais dizem ser crime imprescritível
(deveria aplicar o princípio do pro homine também a este caso). Porém, o
Ministro Gilmar Mendes (STF) diz que tal garantia faz com que surja a
eternização do direito de punir do Estado. Os direitos humanos limitam o direito
de punir do Estado – assim, a CF e a lei ordinária devem prevalecer sobre os
tratados.
***STJ – de acordo com este tribunal, são imprescritíveis as ações de
reparação de dano ajuizadas em decorrência de perseguição, tortura e prisão,
por motivos políticos, durante o regime militar – AG RG no AG 970.753/MG –
dezembro de 2008.

6.2) CRIMES DE TORTURA


A lei 9455/97 não define tortura; ela diz logo o que constitui o crime
de tortura já no art. 1º:

  Art. 1º Constitui crime de tortura:

        I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe


sofrimento físico ou mental:

        a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira


pessoa;

        b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

        c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

        II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de
violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar
castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

        Pena - reclusão, de dois a oito anos.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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69

        § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de
segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto
em lei ou não resultante de medida legal.

SUJEITOS COMPORTAMENTO PROVOCA FINALIDADE NOME DA TORTURA


CRIMINOSO
Art. 1º, Crime Constranger Causa, na a) Buscar a) tortura-prova;
I comum – mediante: violência vítima, informações; b) tortura p/ a prática
pode ser ou grave ameaça sofrimento b) provocar de crime;
praticado físico ou conduta c) tortura
por mental. criminosa; preconceituosa/racist
qualquer c) a
pessoa discriminação
contra
qualquer
pessoa
Art. 1º, Crime Submeter na vítima, A intenso Com a Tortura-castigo
II próprio – com emprego de sofrimento finalidade de
só pratica o violência ou grave físico ou aplicar
crime quem ameaça mental castigo
tem guarda, pessoal ou
poder ou medida de
autoridade caráter
sob a preventivo.
vitima. O
sujeito
passivo,
obviamente,
também é
próprio.
Art. 1º. Sujeito ativo Qualquer ato não Causa NÃO HÁ
parág. – crime previsto em lei ou sofrimento FINALIDADE
1º comum; não resultante de físico ou – tortura sem
Sujeito medida legal. mental. fim especial
passivo – (tortura por
crime torturar).
próprio (só
quem está
preso ou
sujeito à
medida de
segurança).

OBS.1ª linha: 1º - Art. 1º em geral: Consuma-se c/ o sofrimento físico ou


mental da vítima (pouco importa se efetivamente confessou ou foi
discriminada).
2º - No caso da alínea b do inciso I, só haverá tortura
quando se buscar a prática de crime, e não contravenção penal – é o que
predomina.
3º - No caso de tortura para prática de crime, o torturador
responde pelo crime de tortura mais o crime praticado pelo torturado, em
concurso material (torturado – está sob coação irresistível – inexigível conduta
diversa).
4º - Na tortura-racial existe quando a discriminação é racial
ou religiosa (sexual, econômica ou social – não gera o crime de tortura).

Ex. de torturas: a) tortura-prova - preso torturado para confessar


(abrange até o credor que tortura o devedor para confessar a dívida); b) tortura
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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70

para prática de crime – torturar para mentir em juízo; c) tortura-racial: torturar o


judeu pela sua origem (STF entendeu que judeu é raça).

OBS.2ª linha: 1º - O crime se consuma independentemente se o sujeito


ativo conseguiu aplicar o castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
2º- No crime de maus-tratos, o sofrimento não é intenso (é
o que diferencia do crime de tortura) – elementar “intenso”.

Ex.: casos de babás que maltratam os filhos de suas patroas ou


enfermeiras que maltratam, intensamente, idosos no asilo.
Ex.: Policial militar que auxilia polícia civil na contenção de rebelião em
estabelecimento prisional durante a operação, detém, legitimamente, guarda
poder ou autoridade sobre os detentos, podendo, nesta condição, responder
por crime do art. 1º, II, da Lei de tortura – STJ – HC 50.095.
HABEAS CORPUS. TORTURA. INVESTIGAÇÃO REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO,
SEM PARTICIPAÇÃO DA POLÍCIA JUDICIÁRIA. POSSIBILIDADE. TRANCAMENTO DA
AÇÃO PENAL POR ATIPICIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. DELITO
PRATICADO POR POLICIAIS MILITARES PARA CONTENÇÃO DE MOTIM. EXERCÍCIO
TEMPORÁRIO DE FUNÇÃO ATRIBUÍDA À POLÍCIA CIVIL. GUARDA, PODER E
AUTORIDADE SOBRE OS DETENTOS, EM TESE, CONFIGURADA. ORDEM DENEGADA.
1. O Ministério Público, por expressa previsão constitucional e legal (art. 129, VI, da
Constituição Federal e art. 26, I, b, da Lê 8.625/93), possui a prerrogativa de conduzir
diligências investigatórias, podendo requisitar diretamente documentos e informações que
julgar necessários ao exercício de suas atribuições de dominus litis.
2. O policial militar que auxilia a polícia civil na contenção de rebelião em
estabelecimento prisional, durante a operação, detém, legitimamente, guarda, poder e
autoridade sobre os detentos, podendo, nessa condição, ainda que momentânea,
responder, em tese, pelo crime de tortura preconizado no art. 1º, inciso II, da Lei
9.455/97. 3. Ordem denegada

OBS.3ª linha: Quanto à pessoa presa do parágrafo 1º do art. 1º – abrange


qualquer espécie de prisão, definitiva ou provisória, até mesmo a prisão civil.
Abrange também os menores infratores que estão detidos, internados.

Art. 2º, parágrafo 2º, da Lei 9455/1997:

        § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las
ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

É a chamada tortura-omissão. Abrange aquele que omite o dever de


evitar e o que omite o dever de apurar. O que tinha o dever de evitar, gera uma
omissão imprópria. Aquele que tinha o dever de apurar, gera uma omissão
própria.
O omitente impróprio foi lembrado pela CF, art. 5º, XLIII. XLIII –
a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los,
se omitirem

A pena será a metade daquele que pratica a tortura. A CF diz que a


sanção deveria ser a mesma daquele que tortura (torturador). 1ª corrente –

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
71

este parágrafo 2º, primeira parte é inconstitucional – a pena do garante deverá


ser a mesma do torturador; 2ª corrente – este parágrafo, primeira parte, é
constitucional – esta pena disposta é para aquele que se omitiu culposamente,
pois se se omitiu dolosamente, responderá pela mesma pena do torturador; 3ª
corrente – a pena do garante deve ser de 1 a 4 anos, pois outra pena fere o
princípio da legalidade. Não pune a forma culposa, pois não há previsão legal –
corrente majoritária. Para esta última corrente, a omissão imprópria não é
crime hediondo.
A omissão própria (quem tinha o dever de apurar) é uma forma de
condescendência criminosa – este deveria ser equiparado a hediondo.
Ex.: menina de 15 anos que foi colocada num presídio comum
masculino para cumprir ato infracional. As autoridades que colocaram esta
menina neste estabelecimento praticaram a conduta do art. 1º, parágrafo 1º, da
Lei 9455/97. As autoridades que verificaram tal procedimento, mas nada
fizeram, respondem pelo o art. 1º, parágrafo 2º, primeira parte, da mesma lei.
Se isso foi descoberto, mas não fosse apurado, quem teria este dever,
responderia pelo o art. 1º, parágrafo 2º, segunda parte, da Lei.

        § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão


de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

Aqui, há a tortura qualificada pelo o resultado (lesão grave ou


gravíssima ou morte).
1ª corrente – é uma tortura qualificada – crime preterdoloso
(dolo/tortura no antecedente e culpa/morte ou lesão corporal no conseqüente).
É a corrente majoritária. 2ª corrente – pode ser crime doloso ou preterdoloso
– GUILHERME DE SOUZA NUCCI.
OBS.: Tal qualificadora aplica-se também ao omitente? R: 1ª corrente
– só se aplica aos executores (corrente majoritária) – PAULO JURACIC; 2ª
corrente – aplica-se aos executores e omitente impróprio (garantidor).

6.3) CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:

        I - se o crime é cometido por agente público;

       II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência,


adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

        III - se o crime é cometido mediante seqüestro.

Não se trata de qualificadoras (esta está no parágrafo 3º). É causa de


aumento de pena.

A) Crime cometido por agente público


Aplica-se ao omitente impróprio (garantidor)? R: 1ª corrente – A. S.
FRANCO diz que não, pois seria caso de bis in idem; 2ª corrente – não há bis
in idem – NUCCI - o caso do parágrafo 3º não necessariamente precisa

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
72

ser agente público. Pode ser um pai que se omite em razão da tortura do filho
– predomina esta corrente.
Agente público, interpreta-se o art. 327 do CP.
O aumento incide quando o agente atua nesta qualidade ou na
razão dela.

B) Vítima criança, adolescente, gestante, portador de deficiente e


idoso (maior de 60 anos).
Criança – até 12 anos incompletos; portador de deficiência (física ou
mental) – deve ser enquadrado na lei de deficiente físico; adolescente (maior
de 12 até 18 anos incompletos); o maior de 60 anos – Estatuto do Idoso.
Para incidir tal causa, o torturador deve ter conhecimento dessas
circunstâncias, sob pena de responsabilidade penal objetiva.

C) Cometido mediante sequestro


Nada se fala sobre cárcere privado, porém, está abrangido. Usa-se a
expressão “seqüestro” no seu sentido amplo.

OBS.: as causas de aumento incidem mesmo na tortura qualificada.

6.4) EFEITO EXTRAPENAL ESPECÍFICO DA CONDENAÇÃO

        § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público


e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

No art. 92, I, “a” e “b” e parágrafo único, do CP – tal efeito não é


automático – depende de motivação.
Na lei de tortura, tal efeito extrapenal da condenação não há nenhum
alerta quanto a ser automático ou não o efeito. 1ª corrente – não é automático
(aplica o parágrafo único do art. 92 por analogia) – não prevalece; 2ª corrente –
na lei de tortura, o efeito é automático – STJ – considerou ser efeito
automático, decidiu o STJ, no dia 2 de dezembro de 2008.

6.5) FIANÇA, LIBERDADE PROVISÓRIA E ANISTIA

  § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

É dominante a corrente doutrinária que entende que, “inafiançável”


não significa vedação da liberdade provisória. O STF, em 2008, decidiu que,
“inafiançável” abrange, implicitamente, a vedação da liberdade provisória.
O Ministro Celso de Mello, no final de 2008, começo de 2009, decidiu que a
vedação da liberdade provisória imposta pelo legislador é inconstitucional.
Veda-se aqui, também, a graça e anistia. OBS.1: não veda o indulto.
OBS.2: NUCCI entende que o indulto também está vedado, pois graça foi
utilizada num sentindo amplo, abrangendo o indulto.

6.6) INÍCIO DE CUMPRIMENTO EM REGIME FECHADO

        § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o
cumprimento da pena em regime fechado.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
73

Os omitentes jamais iniciarão a pena no regime fechado. Tais penas são


de detenção.

6.7) ART. 2º - EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL

        Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido
em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob
jurisdição brasileira.

Dois princípios da extraterritorialidade da lei penal fundamentam este


artigo: a) princípio da defesa ou real; b) princípio da justiça penal universal ou
cosmopolita.

7) LEI 11343/06 – LEI DE DROGAS

7.1) RETROSPECTIVA
Lei 6368/76 – trazia os crimes e procedimento penal.
Lei 10409/02 – trouxe novos crimes e regulamentou um procedimento.
O Presidente da República vetou os crimes, mas não vetou os artigos
referentes ao procedimento. Assim, uma lei servia para os crimes e a outra
para o procedimento.
Lei 11343/06 – dispõe sobre os crimes e o procedimento – revogou as
duas leis anteriores.

7.2) OBSERVAÇÕES
São crimes contra a saúde pública. Antes da lei 6368/76, estes
crimes estavam no capítulo do Código Penal referente aos crimes contra a
Saúde Pública.
A nova lei não fala mais em “substâncias entorpecentes”; fala agora
em “drogas” – seguiu a recomendação da Organização Mundial de Saúde.
O que vem a ser drogas? R: 1ª corrente - há doutrinador dizendo que, o
conceito droga deve ser analisado pelo juiz no caso concreto – VICENTE
GRECO FILHO – deve seguir a Convenção de Viena (art. 2º, parágrafo 4º) – tal
corrente ofende o princípio da taxatividade. 2ª corrente – “droga” é aquilo que
estiver etiquetado na Portaria 344 de 1998 do Ministério da Saúde –
corrente majoritária. “Drogas” são substâncias previstas e definidas em leis em
geral (leis e atos administrativos).
OBS. Todos os crimes desta lei estão previstos em normas penais em
branco.

OBS.: Estrutura do tipo penal – preceito primário (definição da conduta


criminosa) e preceito secundário (pena cominada ao crime). As normas
penais em branco são normas cujo preceito primário é incompleto, assim
dependendo de complementação. Dividem-se em 2 espécies: a) sentido lato
ou homogêneas – quando o complemento da norma penal em branco for outra
lei “lei complementando outra lei”; b) normas penais em branco em sentido
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
74

estrito ou heterogêneas – quando o complemento da norma penal em branco


for um ato administrativo. *MPF 2008 - Lei penal em branco “ao avesso”* – o
preceito primário é completo, e o preceito secundário é que depende de
complementação. Seu complemento obrigatoriamente será uma lei, pois, só
lei concebe crime e comina a sua pena. Já existiu no Brasil na lei 8212 de 1991
– crimes contra a previdência social – art. 95 trazia crime sem pena e
posteriormente veio outra lei cominando a pena. Tal artigo foi revogado em
2000.
Assim, os crimes previstos na lei de drogas são normas penais em
branco heterogêneas (complemento em portarias da ANVISA – Portaria 344
de 1998). Tal portaria prevê os princípios ativos das drogas, e para a
caracterização do crime, basta a presença deste princípio ativo. Para a
condenação, deve ser provado em exame pericial – exame químico-
toxicológico.

A lei nova trabalha com proporcionalidade. A lei antiga punia o tráfico e


suas figuras equiparadas com pena de 3 a 15 anos. A lei nova pune o tráfico e
determinadas figuras equiparadas com 5 a 15 anos, e outras condutas
equiparadas com penas menos ou mais severas. A lei nova respeita o princípio
da proporcionalidade – dá a pena proporcional à gravidade do fato. Para isso, a
lei trabalha com exceções pluralistas à teoria monista (art. 29 do CP).
A lei incrementou as penas de multa (tornou mais severa a pena de
multa).

SUJEITO ATIVO
Em regra, os crimes da lei de drogas podem ser praticados por qualquer
pessoa – crimes comuns ou gerais.

SUJEITO PASSIVO
É a coletividade. A doutrina chama estes crimes de crimes vagos.

ELEMENTO SUBJETIVO
Em regra, os crimes são dolosos, salvo, no art. 38 da Lei – crime
culposo.

CRIMES DE PERIGO ABSTRATO


Todos são crimes de perigo abstrato, ou presumido – praticada a
conduta, a lei presume que houve uma situação de perigo. Esta presunção de
perigo é absoluta – não há prova em contrário.

AÇÃO PENAL
Em todos os crimes a ação é pública incondicionada.

PRINCIPAIS INOVAÇÕES

Tratamento diferenciado ao usuário de drogas


Não houve descriminalização. Posteriormente se verá.

Tipificação de “cedente eventual”

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
75

A lei regula expressamente o crime do “cedente eventual” – figura do


agente que, esporadicamente, cede pequena quantidade de droga para uso
conjunto com pessoas próximas. Posteriormente se verá.

Agravação da pena do tráfico


A pena foi majorada.

Crime de financiamento do tráfico


Não existia na lei antiga.

Criação de um novo rito processual


A lei instituiu um novo rito processual.

7.3) ART. 28 DA LEI – USUÁRIO DE DROGAS


Hoje há 5 verbos no tipo ( (*) - ter em depósito e transportar foram
inseridos). Tal crime substituiu o antigo art. 16 da Lei 6368/76 – só previa 3
condutas “adquirir, guardar e trazer consigo”.
A lei falava em “uso próprio”. Hoje se fala em “consumo pessoal

Art. 28.  Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar* ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

A lei anterior punia com pena privativa de liberdade e multa. A lei nova
pune com outras penas, mas não há pena de prisão.

7.3.1) Correntes sobre a natureza jurídica do art. 28

1ª corrente 2ª corrente 3ª corrente


É crime Infração penal sui generis Fato atípico

O art. 28 está inserido no É comum a infração não Trabalha com o princípio da


capitulo II, que diz “dos corresponder ao capítulo em intervenção mínima. O não-
crimes e das penas”. que está inserida. Ex.: Dec- cumprimento da pena não
Lei 201/67 – na verdade é gera conseqüência penal (art.
infração político- 28, parágrafo 6º, da lei). A
administrativa, mas a lei diz saúde individual é um bem
tratar sobre crimes praticados disponível.
por prefeitos.
O art. 28, parágrafo 4º, fala Reincidência também existe Posição – ALICE BIANCHINI.
em reincidência. nas infrações administrativas
(o legislador usou a
expressão “reincidência” no
seu sentido vulgar).
O art. 30 fala em prescrição. Prescrição também existe no
ilícito civil ou administrativos

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
76

e atos infracionais (STJ –


atos infracionais
prescrevem).
Tal art. 1º da LICP é A LICP diz que crime está
defasado. Naquele momento sujeito à detenção ou
(em 1941) tal definição era reclusão e contravenção
necessária, pois o CP e a penal está sujeita à prisão
LCP entravam em vigor no simples. O art. 28 não prevê
mesmo tempo. E no mais, tal nenhuma das espécies de
lei não é norma sanção.
constitucional, podendo ser
revogada por outra lei. Assim,
o STF entende que, nada
impede que uma nova lei
apresente uma nova espécie
de crime, com novas penas.
O próprio art. 5º, XLVI, da CF
diz que “a lei regulará a
individualização da pena e
adotará, dentre outras, as
seguintes penas...”. - diz que
pode existir outra pena que
não seja a privativa de
liberdade.
Posição do ***STF – se não Se o usuário é criminoso, ele
for crime, desaparecerá o ato deverá ser levado à
infracional (não é delegacia, mas não é isso
interessante para a que a lei diz que ocorrerá.
sociedade).
Posição de LUIZ FLÁVIO
GOMES.

OBS.: Há um julgado do TJ
de SP, dizendo que o art. 28
é inconstitucional – fere o
princípio da isonomia, da
proporcionalidade e da
intervenção mínima.
Não houve uma
descriminalização. Houve sim
uma despenalização – crime
sem pena (evitar pena de
prisão).

Art. 28, § 1o  Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia,
cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou
produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

§ 2o  Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à


natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
antecedentes do agente.

§ 3o  As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo
máximo de 5 (cinco) meses.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
77

§ 4o  Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo
serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.

§ 5o  A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários,


entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou
privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou
da recuperação de usuários e dependentes de drogas.

§ 6o  Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos
incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo,
sucessivamente a:

I - admoestação verbal;

II - multa.

§ 7o  O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator,


gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento
especializado.

Art. 29.  Na imposição da medida educativa a que se refere o inciso II do § 6 o do art. 28, o
juiz, atendendo à reprovabilidade da conduta, fixará o número de dias-multa, em quantidade
nunca inferior a 40 (quarenta) nem superior a 100 (cem), atribuindo depois a cada um, segundo
a capacidade econômica do agente, o valor de um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do
maior salário mínimo.

Parágrafo único.  Os valores decorrentes da imposição da multa a que se refere o § 6 o do


art. 28 serão creditados à conta do Fundo Nacional Antidrogas.

Art. 30.  Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado,
no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.

7.3.2) Princípio da insignificância


OBRAS DO VICENTE GRECO FILHO - O STF não admite o princípio
da insignificância para a lei de drogas – não corresponde à realidade! – O
STF admite o princípio da insignificância na lei de drogas.

Posições favoráveis à aplicação do princípio da insignificância


EMENTA: AÇÃO PENAL. Crime militar. Posse e uso de substância entorpecente. Art. 290, cc.
art. 59, ambos do CPM. Maconha. Posse de pequena quantidade (8,24 gramas). Princípio da
insignificância. Aplicação aos delitos militares. Absolvição decretada. HC concedido para esse
fim, vencida a Min. ELLEN GRACIE, rel. originária. Precedentes (HC nº 92.961, 87.478, 90.125
e 94.678, Rel. Min. EROS GRAU). Não constitui crime militar a posse de ínfima quantidade
de substância entorpecente por militar, a quem aproveita o princípio da insignificância.

EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL MILITAR. USO DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE.


PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA MILITAR. ART. 1º,
III DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. 1.
Paciente, militar, condenado pela prática do delito tipificado no art. 290 do Código Penal Militar
(portava, no interior da unidade militar, pequena quantidade de maconha). 2. Condenação por
posse e uso de entorpecentes. Não-aplicação do princípio da insignificância, em prol da saúde,
disciplina e hierarquia militares. 3. A mínima ofensividade da conduta, a ausência de
periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a
inexpressividade da lesão jurídica constituem os requisitos de ordem objetiva autorizadores da
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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78

aplicação do princípio da insignificância. 4. A Lei n. 11.343/2006 --- nova Lei de Drogas --- veda
a prisão do usuário. Prevê, contra ele, apenas a lavratura de termo circunstanciado.
Preocupação, do Estado, em alterar a visão que se tem em relação aos usuários de drogas. 5.
Punição severa e exemplar deve ser reservada aos traficantes, não alcançando os
usuários. A estes devem ser oferecidas políticas sociais eficientes para recuperá-los do
vício. 6. O Superior Tribunal Militar não cogitou da aplicação da Lei n. 11.343/2006. Não
obstante, cabe a esta Corte fazê-lo, incumbindo-lhe confrontar o princípio da
especialidade da lei penal militar, óbice à aplicação da nova Lei de Drogas, com o
princípio da dignidade humana, arrolado na Constituição do Brasil de modo destacado,
incisivo, vigoroso, como princípio fundamental (art. 1º, III). 7. Paciente jovem, sem
antecedentes criminais, com futuro comprometido por condenação penal militar quando há lei
que, em lugar de apenar --- Lei n. 11.343/2006 --- possibilita a recuperação do civil que praticou
a mesma conduta. 8. No caso se impõe a aplicação do princípio da insignificância, seja
porque presentes seus requisitos, de natureza objetiva, seja por imposição da dignidade
da pessoa humana. Ordem concedida.

A quantidade da droga é um dos elementos a ser analisado pelo


Delegado, Promotor, Juiz para classificar o crime em porte para consumo
próprio ou para o tráfico – art. 52 da Lei. Há outros elementos que deve a
autoridade se ater.

04.04.2009 – ROGÉRIO SANCHES

7.4) TRÁFICO DE DROGAS – ART. 33, CAPUT


Não se fala mais em substância entorpecente. Fala-se em drogas.
Houve um incremento da pena, indo de 5 a 15 anos de reclusão e multa.

7.4.1) Bem jurídico


Há um bem jurídico primário/imediato – saúde pública (da
coletividade). Bem jurídico secundário/mediato – saúde individual da pessoa
que integra a sociedade.

7.4.2) Sujeitos
Em regra, qualquer pessoa pode praticar qualquer dos verbos do art.
33 (o verbo prescrever é crime próprio – só médico e dentista podem praticar
– aqui, a prescrição é dolosa; a culposa está no art. 38).
Vítima do crime é a coletividade/sociedade.
OBS.: Venda de drogas para criança e adolescente – ECA x lei de
drogas - aplica-se o princípio da especialidade (a droga é uma substância que
causa dependência) – se for droga, aplica-se a lei 11343/2006. Se for outra
substância não rotulada como droga prevista na portaria do Ministério da
Saúde, aplicar-se-á o art. 243 do ECA.

7.4.3) Tipo objetivo


No tipo há 18 núcleos, logo, trata-se de crime de ação múltipla ou de
conteúdo variado. Praticado mais de um núcleo no mesmo contexto fático,
haverá crime único, ex.: pessoa importa, guardou, levou consigo e vendeu no
mesmo contexto fático, o crime é único. Ex.: importar cocaína e guardar
maconha  há 2 crimes.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Art. 33.  Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever* (único crime
próprio), ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500


(mil e quinhentos) dias-multa

OBS.: Cessão gratuita para consumo conjunto (figura nova na lei


11343/2006). Na vigência da antiga lei, havia 3 correntes: a) era tráfico, b)
tráfico não equiparado a hediondo, c) uso pessoal. Com a nova lei, há um tipo
penal para tanto – art. 33, parágrafo 3º, da Lei 11343/2006 – tráfico de menor
potencial ofensivo.

“Sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou


regulamentar” – se existir tal autorização, ou se o sujeito não souber  fato
atípico.

OBS.: Os tribunais não aceitam a alegação de estado de


necessidade no crime de tráfico – seria uma subversão de valores
protegidos.

7.4.4) Tipo subjetivo


O crime é punido a título de dolo direito ou eventual. Erro de tipo
essencial sempre excluirá o dolo, e como não se pune a modalidade culposa, o
sujeito alegando que não sabia que estava traficando droga, o fato é atípico.

7.4.5) Consumação
Em alguns núcleos, a consumação se prolonga no tempo – crime
permanente. Mas há crimes instantâneos – regra.

7.4.6) Tentativa
1ª corrente – majoritária na doutrina – o exagero de núcleos tornou
inviável a tentativa. 2ª corrente – é possível a tentativa de tráfico (“tentar
adquirir”, por ex.) – em concursos está perguntando esta corrente.

7.4.7) Crime de perigo


De perigo abstrato ou concreto? No perigo abstrato, ele é presumido
por lei. Nos crimes de perigo concreto, o perigo deve ser comprovado.
1ª corrente – trata-se de crime de perigo abstrato – ainda é a
majoritária. 2ª corrente – crime de perigo concreto (crítica à corrente anterior:
perigo abstrato ofende o princípio da lesividade – não há lesão concreta a
nenhum bem – e quando não se admite prova em sentido contrário, fere o
princípio da ampla defesa). ***STF – já está aplicando a 2ª corrente para o
crime de porte de drogas para consumo pessoal e no Estatuto do
Desarmamento.

OBS.: Venda de drogas provocada pelo policial infiltrado – crime


impossível. Assim, não se pode denunciar por venda de drogas. Todavia, o

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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80

“trazer consigo” é crime permanente, logo, o traficante é preso por trazer droga
consigo (consumação se protraiu no tempo).

Súmula 145 do STF – Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia
torna impossível a sua consumação

Assim, há o flagrante provocado quando o agente policial induz


terceira pessoa a praticar o crime – trata-se de crime impossível; e o
flagrante esperado – o agente policial espera terceira pessoa praticar o crime
– crime possível.

7.4.8) Concurso de crimes


Tráfico em concurso com outros delitos – é perfeitamente possível,
ex.: tráfico e furto (subtrair drogas de alguém para depois vender).
Outro exemplo: tráfico e receptação – a pessoa vende a droga e
recebe como pagamento um relógio furtado pelo comprador.

OBS.: É possível tráfico em concurso com sonegação fiscal? R.:


Aplicar o princípio do non olet (o tributo não tem cheiro), não podendo o
traficante sonegar tributos advindos da sua renda do tráfico, por ex - não se
aplica para o Direito Penal – significa produzir prova contra si mesmo – não
tem, o traficante, a obrigação de declarar imposto de renda advinda do
tráfico (mesmo que no Direito tributário pode-se tributar tais valores, para o
Direito Penal, não há a obrigatoriedade do ato).

7.4.9) Pena
A pena atual é mais gravosa. Quem estava praticando o crime durante
a lei antiga e a consumação se protraiu no tempo, advindo a nova lei,
responderá o traficante pela nova lei.

Súmula 711 do STF – A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou permanência.

A pena de multa foi incrementada também pela nova lei.

OBS.: pessoa compra droga por vinte e cinco reais; um policial


infiltrado compra dele por cinqüenta reais; aquele volta ao morro e compra mais
droga ainda com o dinheiro recebido – não poderá responder pela venda da
droga (crime impossível). Poderá responder apenas pelo o uso de drogas (a
conduta anterior à venda é punível).

7.5) ART. 33, PARÁGRAFO PRIMEIRO – FIGURAS EQUIPARADAS


AO TRÁFICO
Pune nas mesmas penas do caput. Estava no art. 12, parágrafo 1º da
lei antiga.

7.5.1) Inciso I
O objeto material do caput do art. 33 era a droga. No art. 33, parágrafo
1º, I, o objeto material não é mais a droga e sim a matéria prima (insumos ou

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produtos para a elaboração da droga). A diferença reside no objeto material.


Aqui, o objeto material é, por ex., o éter, a acetona etc.
Deve existir a elementar “em desacordo com a lei ou sem
autorização”. A jurisprudência entende ser imprescindível o exame pericial
para descrever se a substancia tem capacidade ou não de produzir drogas.
Tais substâncias não precisam ter efeitos farmacológicos.
Pune-se tal crime a título de dolo. Entende-se, majoritariamente, que
não se exige a finalidade especial no dolo (há doutrina que entende precisar de
uma finalidade especial).
A expressão “destinada à preparação de drogas” poderia levar o
intérprete a concluir que o tipo exige finalidade especial. A destinação,
contudo, para a maioria da doutrina, não é colocada como fim pelo o agente,
mas a que normalmente pode prestar-se a substância. Assim, alguém que
tenha éter sulfúrico armazenada em casa, sem autorização judicial, será preso
por tráfico, mesmo que ele diga que não usaria para a confecção de qualquer
droga.
Para a consumação, dispensa-se a efetiva preparação das drogas.

Há modalidades em que o crime será permanente.

A doutrina admite a tentativa neste caso.

7.5.2) Inciso II
A lei anterior omitia o elemento normativo indicativo da ilicitude “sem
autorização...”.
Pune-se quem semeia, cultiva ou plante planta que será usada na
droga. A maioria entende que tal planta não precisa ter o princípio ativo da
droga, nem possuir efeitos farmacológicos. Necessita ser usada para a
preparação de droga para enquadrar no inciso II deste parágrafo de artigo,
desde que a cultive sem autorização ou fora das determinações legais.
OBS.: Que crime pratica aquele que planta para consumo pessoal
(não havia previsão expressa na lei 6368/76)? R.: Antes, na vigência da lei
antiga, havia três correntes: 1ª corrente – é crime de tráfico (art. 12, parágrafo
1º, II da lei antiga); 2ª corrente – é o art. 16, porte para uso; 3ª corrente – fato
atípico. Prevalecia a segunda corrente. Hoje, com a lei 11343/2006, o problema
está sanado – art. 28, parágrafo 1º da lei – a polícia terá que apreender a
plantação e a perícia, ao analisar o material, deverá concluir se a quantidade é
capaz de ser usada pelo próprio agente ou se seria destinada para o tráfico.
O crime se consuma com a prática de qualquer dos núcleos. Na
modalidade “cultivar” o crime é permanente.

OBS.: art. 243 da CF – expropriação-sanção, sem qualquer


indenização. Quem usa a propriedade para a plantação de drogas, terá suas
terras expropriadas, sem qualquer direito à indenização. A terra desapropriada
servirá para o assentamento de colonos. Se ele tiver apenas um imóvel e usar
este para o cultivo de plantas usadas para a droga, tem doutrina que entende
que tal bem é bem de família, não podendo o imóvel ser desapropriado. Há
quem entenda que o bem de família não pode prevalecer sobre a função social

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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da propriedade, devendo respeitá-la, sem contar que a impenhorabilidade


comporta exceções.

7.5.3) Inciso III


Pune quem utiliza, empresta local ou bem de qualquer natureza
para o comércio (quem empresta para o uso não está mais neste tipo penal).
É punido a título de dolo, dispensando a finalidade de lucro.
Na primeira modalidade (utilizar), o crime se consuma com o efetivo
proveito do local, sendo perfeitamente possível a tentativa.
Na segunda modalidade (consentir), o crime se consuma com a mera
permissão e só se admite a tentativa quando a permissão for por escrito.

7.6) ART. 33, PARÁGRAFO 2º


Pune quem induz, instiga ou auxilia alguém ao uso indevido de
drogas. A pena não é a mesma do caput. Quem empresta imóvel para alguém
usar drogas, cai neste artigo.
Trata-se de crime comum (sujeito ativo). O sujeito passivo é a
sociedade. A doutrina coloca como sujeito passivo secundário o induzido, o
instigado e o auxiliado.
Induzir é fazer nascer a idéia. Instigar é reforçar ideia já existente.
Auxiliar é prestar assistência material.
Qualquer dessas atitudes deve visar pessoa determinada. Se
visarem pessoas indeterminadas, poderá caracterizar apologia ao crime – art.
287 do CP.
O crime é punido a título de dolo.
Antigamente, dizia-se “induzir a usar” – crime material (o induzido tinha
que usar a droga para que o crime se consumasse). Hoje, a lei diz “induzir ao
uso”, dispensando o efetivo uso pelo o induzido – crime formal. Induzir ao
uso não quer dizer que a pessoa precisa usar a droga. VICENTE GRECO
FILHO continua dizendo que o crime permanece sendo material.
A doutrina admite a tentativa, ainda mais quando o induzimento ou
instigação for por escrito.

7.7) ART. 33, PARÁGRAFO 3º - TRÁFICO DE MENOR POTENCIAL


OFENSIVO
Não é um crime comum. Trata-se de um crime bipróprio (o autor e o
sujeito passivo secundário deverão ser próprios). É a entrega eventual de
droga, sem objetivo de lucro, à pessoa de seu relacionamento para juntos a
consumirem.
Se houver habitualidade na entrega da droga, o agente será
traficante.
Não pode ter objetivo de lucro presente nem futuro. “sem objetivo de
lucro” – é um elemento subjetivo negativo (uma finalidade que não pode
existir).
“Para juntos a consumirem” – elemento subjetivo positivo – tem que
haver esta finalidade especial sob pena do crime desaparecer.
Consuma-se com o oferecimento, dispensando o efetivo uso
(dispensa-se até a aceitação por parte da outra pessoa).

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A pena é de detenção de 6 meses a 1 ano e multa – aplica-se a lei dos


juizados.

7.8) ART. 33, PARÁGRAFO 4º


Não tem nada parecido na lei anterior.
Trata-se de uma causa de diminuição de pena, variando de 1/6 a
2/3. Preenchidos os requisitos, o juiz deverá conceder tal redução – direito
subjetivo do réu.
Requisitos:
 Deve ser primário;
 Portador de bons antecedentes;
 Não pode se dedicar a atividades criminosas;
 Não pode integrar organização criminosa;

São requisitos cumulativos.


Na lei antiga, o primário portador de bons antecedentes receberia uma
pena mínima de 3 anos; hoje, o primário de bons antecedentes terá uma
redução na pena mínima (5 anos) de 1/6 a 2/3 da pena. Pode tal redução
retroagir? R.: 1ª corrente – a redução de pena é irretroativa, vendando-se
combinação de leis. 2ª corrente – a redução é retroativa, mas deve respeitar
um saldo mínimo de 1 ano e 8 meses (é a redução de 2/3 de 5 anos) – tal
corrente nasceu no STJ (HC 87464/RS). 3ª corrente – a redução é retroativa
(sem limites) – tem posição nesse sentido no próprio STJ (a tendência no STJ
é esta hoje, pelo que se vê). 4ª corrente – o réu deve escolher se prefere a
pena 3 anos sem redução, ou 5 anos com redução (posição da Ministra
LAURITA VAZ, do STJ). A 3ª corrente tem agradado mais a doutrina.
Mesmo com a redução, está vedada a conversão em penas
restritivas de direito. Tem doutrina que critica isso (feriria o princípio da
proporcionalidade).
FERNANDO CAPEZ entende que o parágrafo 4º é inconstitucional –
fundamento: art. 5º, XLIII, da CF. Estaria este parágrafo já sendo chamado de
tráfico privilegiado, não podendo existir tal tratamento se a CF nada trouxe
sobre o assunto. Trata-se de posição minoritária. STF e STJ entendem ser
constitucional – trabalham com o princípio da individualização da pena.
O norte, para reduzir de 1/6 a 2/3, é o tipo e quantidade da droga.

7.9) ART. 34 DA LEI – TRÁFICO DE MAQUINÁRIOS


Corresponde ao art. 13 da antiga lei (lei 6368/1976).
O art. 33, caput, fala do objeto material “drogas”; o art. 33, parágrafo
1º, fala do objeto material “matéria prima”; o art. 34 fala do objeto material
“maquinários em geral”. Trata-se de delito subsidiário (se o agente fabricar
a droga, tiver ela em depósito etc., responderá pelo tráfico de drogas
propriamente dito (caput)).
Trata-se de crime comum. A vítima é a sociedade.
Quanto ao objeto material, o aparelho não precisa ter sido criado
para o fabrico da droga; basta servir para tanto. OBS.: lâmina de barbear não
se enquadra neste conceito de maquinário, pois só serve para a separação da
droga, e não para o seu fabrico.

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A doutrina e a jurisprudência, na vigência da outra lei, exigia perícia


dos aparelhos para a constatação da possibilidade de fabrico da droga. Na lei
nova, entendem eles que ainda necessita de perícia.
Pune-se a título de dolo. Algumas modalidades são permanentes.
A tentativa é possível.
Não existe redução de pena para este caso (parágrafo 4º). Há
doutrina aplicando o parágrafo 4º por analogia in bonam partem – para evitar a
lesão ao princípio da isonomia (quem trafica a droga, terá a redução e quem
trafica o maquinário não!?).

7.10) ART. 35 DA LEI – ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO


O parágrafo único do art. 35 da lei não tinha previsão na antiga lei. O
caput tinha previsão.
Pune-se a “quadrilha ou bando” na lei de drogas. Todavia, a quadrilha
exige, no mínimo, 4 pessoas reunidas de forma estável e permanente para a
sua caracterização (art. 288 do CP). Aqui na lei de drogas (art. 35), exige-se 2
pessoas, no mínimo, reunidas de forma estável e permanente. No art. 288 do
CP, a finalidade é praticar crimes; no art. 35 da lei, a finalidade é praticar o art.
33 caput ou seu parágrafo 1º ou o art. 34 - crimes específicos.
OBS.: Pode uma pessoa ser punida pelo o art. 288 e pelo art. 35
simultaneamente? R.: Sim, pois eles não se confundem (crimes distintos),
desde que sejam associações diferentes.
Trata-se, como o art. 288 do CP, de tipo autônomo e independente
(a pessoa já responde pela a associação, mesmo que os crimes-fim – crimes
futuros - não sejam praticados).
Se um deles for inimputável, mesmo assim haverá a associação.
É o indispensável o dolo com animus associativo (a vontade de
reunir-se de forma estável e permanente).
***OBS.: A pena do art. 14 da antiga lei era de 3 a 6 anos e não de
3 a 10 anos como previsto em sua redação, pois foi alterada
IMPLICITAMENTE pela lei 8072 de 1990, pelo o art. 8º. Hoje, a pena é de 3 a
10 anos – disposição expressa do art. 35 da nova lei. Assim, aquele
processado por este crime na vigência da antiga lei, receberá a pena de 3 a 6
anos.(a lei penal atual é maléfica). O STF entendeu, na época, que o art. 8º da
Lei 8072/90 mudou apenas a pena do antigo art. 14, e não seus requisitos
(como a quantidade de pessoas para formar a quadrilha).

7.10.1) Parágrafo único do art. 35 – Reunião para o financiamento


ou sustento do tráfico
No art. 288 do CP há a reunião de 4 pessoas, no mínimo, reunidas de
forma estável e permanente, com finalidade de praticar crimes. No art. 35 da
Lei de drogas há a reunião de 2 pessoas, no mínimo, reunidas de forma estável
e permanente, com finalidade de praticar os crimes do art. 33 e parágrafo 1º e
art. 34. No parágrafo único do art. 35 há a reunião de 2 pessoas, no mínimo,
reunidas de forma estável ou permanente, com finalidade de praticar o art.
36 da lei – financiamento ou sustento do tráfico. A diferença está na
finalidade e todos são crimes autônomos, independentes do crime-fim.

7.11) PROCEDIMENTO

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O artigo 28 – porte de drogas para consumo pessoal - segue o


procedimento da lei 9099/95 – artigo 48, §1º da lei de drogas.

§ 1o  O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver
concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na
forma dos arts. 60 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre
os Juizados Especiais Criminais.

E os demais delitos de menor potencial ofensivo, seguem a lei 9099/95


ou a lei 11343/06? Prevalece que os demais delitos continuam na lei
9099/95. Assim, a lei 11343/06 só se aplica aos delitos de média e severa
ofensividade.

Artigo 28 Delitos de menor potencial ofensivo Demais


Lei 9099/95 Lei 9099/95 Lei 11343/06

Começa com o IP (prazo de encerramento de é de 30 + 30 se preso; 90


+ 90 se solto – artigo 51). Após, há remessa dos autos ao juiz – artigo 54 – se
há remessa para o MP, este possui 10 dias para oferecer denúncia, podendo
arrolar 5 testemunhas.
Aqui há a possibilidade de defesa preliminar – 10 dias – artigo 55 –
esse é o momento da defesa arrolar testemunha, sob pena de preclusão e se
defender do que foi acusado contra a sua pessoa. Após, os autos voltam para
o juiz – artigo 55, §4º, para fins de recebimento ou não da inicial. Recebendo a
inicial, designa audiência una – ocorrerá nos 30 dias seguintes ao do
recebimento da denúncia – artigo 56 – que é composta:

1. interrogatório;
2. testemunhas de acusação;
3. testemunhas de defesa;
4. debates;
5. julgamento.

OBS.: Como fica esse procedimento e a lei 11719/08?

I. Procedimento da lei 11.343/06

1. oferecimento da inicial;
2. defesa preliminar: momento de apresentar rol de testemunhas;
3. recebimento da inicial;
4. citação;
5. audiência concentrada;
5.1 interrogatório;
5.2 testemunha de acusação;
5.3 testemunha de defesa;
5.4 debates
5.5 sentença

II. Procedimento da lei 11.719/08

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1. oferecimento da inicial;
2. recebimento;
3. citação;
4. defesa escrita;
5. possibilidade de absolvição sumária;
6. audiência concentrada:
6.1 vítima;
6.2 testemunha de acusação;
6.3 testemunha de defesa;
6.4 interrogatório;
6.5 diligências;
6.6 debates;
6.7 julgamento.
Art. 394 do CPP.  O procedimento será comum ou especial. 

§ 1o  O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo: 

I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou
superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; 
II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4
(quatro) anos de pena privativa de liberdade; 
III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei. 

§ 2o  Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposições em


contrário deste Código ou de lei especial. 

§ 3o  Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento observará as


disposições estabelecidas nos arts. 406 a 497 deste Código. 

§ 4o  As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os
procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código. 

§ 5o  Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as


disposições do procedimento ordinário.” (NR) 

O artigo 395 traz as hipóteses de rejeição da inicial; o artigo 396 traz


a hipótese de defesa escrita, enquanto que o artigo 397 traz as hipóteses de
possibilidade de absolvição sumária.

O artigo 396 CPP traz hipótese de defesa escrita após o recebimento


da inicial; ocorre que na lei de drogas já há a defesa preliminar antes do
recebimento. Como fica?

“Art. 396.  Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se
não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à
acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. 

Parágrafo único.  No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir
do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído.” (NR) 

1ª corrente: havendo defesa preliminar, também escrita, na lei de


drogas, anterior ao recebimento da inicial, conclui-se ser dispensável,

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inaplicável o artigo 396 CPP (defesa escrita posterior ao recebimento da


inicial).
2ª corrente: o artigo 396 CPP revogou o dispositivo da defesa preliminar
da lei de drogas. Assim, a única defesa escrita na lei de drogas é aquela
posterior ao recebimento da inicial.
3ª corrente: a defesa preliminar e a defesa escrita convivem tendo
cada uma finalidade diversa. Assim, no procedimento especial da lei de
drogas o denunciado tem direito à defesa preliminar (busca convencer o juiz a
não receber a inicial) e à defesa escrita (busca convencer o juiz a absolver
sumariamente).

O artigo 397 trata-se de um julgamento antecipado da lide –


absolvição imprópria.

Art. 397.  Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: 

I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; 


II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade; 
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou 
IV - extinta a punibilidade do agente.” (NR) 

E com relação ao interrogatório, como fica? Pois na lei de drogas o


interrogatório é o primeiro ato da audiência da instrução, enquanto que no CPP
o interrogatório é feito após a oitiva das testemunhas. O TRF da 4ª região já
pacificou o entendimento de que a ordem de audiência fica como está, pois
o CPP mandou aplicar três dispositivos a lei de drogas que são os que
nós falamos acima, os demais o CPP respeita os procedimentos
especiais. Por isso, prevalece que não se aplica a alteração na ordem da
audiência.

28.03.2009 – SÍLVIO MACIEL

8) LEI 9296/96 – LEI DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

HISTÓRICO
Antes dessa lei não podia fazer interceptação telefônica no Brasil.
CAPEZ - Antes da CF de 1988, muita discussão havia acerca da
possibilidade de se efetivar a interceptação telefônica, pois a CF de 1969
dispunha acerca da inviolabilidade do sigilo de correspondência e das
comunicações telefônicas e telegráficas, sem realizar qualquer ressalva,
havendo, portanto, vedação absoluta à quebra do sigilo nesses casos. Sucede
que, ao tempo do referido Texto Constitucional, vigorava o art. 57 do Código
Brasileiro de Telecomunicações (Lei 4117/62), o qual preceituava, em seu
inciso II, alínea e, não constituir violação de telecomunicação o conhecimento
dado ao juiz competente, mediante requisição ou intimação deste. Para alguns
doutrinadores havia nítida incompatibilidade do mencionado dispositivo legal
em face da CF; para outros, no entanto, a CF não veiculava direito absoluto, de
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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forma que era possível a interceptação telefônica. Com o advento da Carta


Magna de 1988, referida questão restou superada, uma vez que passou a
admitir expressamente a violação das comunicações telefônicas. Ficava, no
entanto, a dúvida: o art. 57 do CBTelecomunicações teria sido recepcionado
pela CF? Anteriormente à Lei 9296 de 24 de julho de 1996, a jurisprudência do
STF já havia se orientado no sentido de que, enquanto a matéria não fosse
regulamentada pelo legislador ordinário, deveria ser considerada
inconstitucional toda e qualquer prova obtida por meio de escuta telefônica,
ainda que autorizada pela justiça. É que de acordo com o art. 5º, XII, da CF de
1988, o sigilo das comunicações telefônicas somente pode ser quebrado
quando presentes 3 requisitos: a) ordem judicial autorizadora; b) finalidade de
colheita de evidências para instruir investigação criminal ou processo penal; e
c) existência de lei prevendo as hipóteses em que a quebra será permitida.
Como não existia nenhuma lei antevendo os casos de violação do sigilo, juiz
nenhum poderia autorizá-la. A interpretação de que o art. 57, II, e, da Lei
4117/62 poderia funcionar como a tal lei reclamada pelo Texto Maior não
vingou. Motivo: o art. 57 não previu qualquer hipótese de admissibilidade da
interceptação. Logo, em nenhum caso o juiz poderia autorizar a quebra do
sigilo das comunicações telefônicas. No mesmo sentido, GRINOVER,
SCARANCE e MAGALHÃES e STF.
Com a entrada em vigor da Lei 9296 de 24 de julho de 1996, cessou a
discussão, pois o novo texto disciplinou a interceptação de conversas
telefônicas. Agora, o juiz pode autorizar a quebra do sigilo de ofício (?? – ver
divergência doutrinária) ou a requerimento do membro do MP ou autoridade
policial, mas somente quando presentes os seguintes requisitos: a) indícios
razoáveis de autoria ou participação em infração penal; b) não houver outro
meio de produzir a mesma prova; e c) o fato for punido com pena de reclusão.

OBS.: E quanto às interceptações realizadas após a Lei 9296/96, porém


em relação a delitos perpetrados antes de sua vigência? R.: O STF e a maioria
doutrinária entendem que os crimes cometidos antes da entrada em vigor da
Lei 9296/96, mas que tiveram a decretação da violação do sigilo telefônico
durante a vigência da mesma, estarão sendo apurados em acordo com o
princípio constitucional do devido processo legal, razão pela qual devem ser
consideradas lícitas as provas daí obtidas. Enfim, desimporta, para a
consideração em torno da licitude, a época do crime, exigindo-se apenas que a
autorização para a interceptação tenha ocorrido após a entrada em vigor da
norma regulamentadora.

8.1) REQUISITOS CONSTITUCIONAIS DA INTERCEPTAÇÃO


 Lei regulamentadora;
 Ordem Judicial, nas hipóteses que a lei estabelecer;
 Que seja usada para investigação penal, ou instrução
processual.

Art. 1º da Lei 9296/96. A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza,


para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o
disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob
segredo de justiça.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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OBS.1: O procedimento destinado à violação de sigilo telefônico nos


termos ditados pela lei 9296/96 pode ser determinado antes mesmo da
instauração de inquérito policial (no curso de uma investigação patrocinada
pelo MP), ou ao contrário, exige esta formalização como pressuposto
necessário? R.: A doutrina oscila a respeito, existindo forte entendimento
doutrinário no sentido de que o juiz não poderá autorizá-la sem que haja, no
mínimo, procedimento policial formalmente instaurado. Data vênia, AVENA
diverge desta posição, entendendo que nada impede que sejam
efetivadas interceptações telefônicas stricto sensu ou escutas telefônicas
para fins de investigação criminal previamente ao procedimento formal de
instauração do inquérito. Isso porque, simplesmente, a lei não exige tal
providência como conditio sine qua non para a expedição da ordem judicial,
sendo comum, na prática, iniciarem-se as investigações policiais antes mesmo
da expedição da portaria instauradora do inquérito. Assim já entendeu o STJ:

A interceptação telefônica para fins de investigação criminal só pode se efetivar


antes mesmo da instauração do inquérito policial, pois nada impede que as investigações
precedam esse procedimento. A providência pode ser determinada para a investigação criminal
(até antes, portanto, de formalmente instaurado o inquérito) e para a instrução criminal, depois
de instaurada a ação penal. (HC 43.234/SP – 21/11/2005).

OBS.2: É possível ao juiz autorizar a interceptação ou escuta de


conversas telefônicas no âmbito de procedimento iniciado por denúncia
anônima? R.: Há controvérsias. AVENA entende que não há óbice ao
procedimento nesse caso. A lei veda a interceptação e a escuta na hipótese
de inexistirem indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal,
se a prova puder ser realizada por outros meios disponíveis ou se o fato
investigado constituir infração penal punida, no máximo com pena de detenção.
Ora, desde que não se perfaçam quaisquer destas restrições, afigura-se
plenamente viável o deferimento judicial da violação de sigilo telefônico, ainda
que se esteja diante de inquérito policial desencadeado a partir de uma
denúncia anônima – é a posição também do STJ.

Art. 5º, XII\C

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de


dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso*, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal; - trata-se de norma de eficácia limitada (regulamentada pela lei 9296/96). 

A expressão salvo no último caso, para uma 1ª corrente, diz que se


refere às comunicações de dados e telefones. Uma 2ª corrente diz que está
relacionada apenas às comunicações telefônicas (CAPEZ). Nos demais casos
(sigilo de carta, sigilo telegráfico), aparentemente, o sigilo foi estabelecido de
modo absoluto. Só aparentemente.

Comunicação por carta e telegráfica


Correspondência por carta ou epistolar é a comunicação por meio de
cartas ou qualquer outro instrumento de comunicação escrita. Telegráfica é a

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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comunicação por telegrama. Apesar de a CF não ressalvar hipótese de


restrição ao sigilo desse tipo de transmissão de mensagem, deve-se consignar
que não existe garantia absoluta em nenhum ordenamento constitucional.
CANOTILHO – “Considera-se inexistir uma colisão de direitos fundamentais,
quando o exercício de um direito fundamental por parte do seu titular colide
com o exercício do direito fundamental por parte de outro titular”.

Realmente, nenhuma liberdade individual é absoluta. Comporta exceções para


preservar o ditame da legalidade. Portanto, afigura-se possível, observados os
requisitos constitucionais e legais, a interceptação das correspondências e das
comunicações telegráficas e de dados, sempre que as liberdades públicas
estiverem sendo utilizadas como instrumento de salvaguarda de práticas
ilícitas (como ocorre, por ex., na quebra de sigilo de correspondências dos
presidiários) (STF, 1ª T, HC n. 70.814-5/SP, rel. Celso de Mello, DJU de 24.6.1994,
p. 166650).

Comunicações telefônicas
Comunicação telefônica é a transmissão, emissão, receptação e
decodificação de sinais lingüísticos, caracteres escritos, imagens, sons,
símbolos de qualquer natureza veiculados pelo telefone estático ou móvel
(celular) – BULOS.
Nas comunicações telefônicas incluem-se as transmissões de
informações e dados constantes de computadores e telemáticos, desde
que feitas por meio de cabos telefônicos (e-mail, por exemplo) – LFG
entende que cabe a interceptação por telemática independente do uso de
telefonia. Telemática é a ciência que estuda a comunicação associada à
informática.
Há quem entenda que o parágrafo 1º do art. 1º da lei de interceptação
telefônica seja inconstitucional. DAMÁSIO/LFG – entende ser constitucional –
“a carta magna quando faz tal exceção, não cometeria o descuido de permitir a
interceptação somente no caso de conversação verbal por esse meio, isto é,
quando usados dois aparelhos telefônicos, proibindo-a, quando pretendida com
finalidade de investigação criminal e prova em processo penal, nas hipóteses
mais modernas. A exceção, quando menciona ‘comunicações telefônicas’,
estende-se a qualquer forma de comunicação que empregue a via telefônica
como meio, ainda que haja transferência de ‘dados’. É o caso do uso do
modem. VICENTE GRECO FILHO/ANTÔNIO MAGALHÃES GOMES FILHO –
entende ser inconstitucional – a carta magna somente autorizaria a
interceptação de comunicação telefônica, na qual não se insere a transmissão
de dados. “A garantia constitucional do sigilo é a regra e a interceptação a
exceção de forma que a interpretação deve ser restritiva quanto a esta.

8.2) INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA E INSTITUTOS AFINS

8.2.1) Interceptação telefônica (em sentido estrito)


É a captação de conversa telefônica feita por um terceiro sem o
conhecimento de nenhum dos interlocutores da conversa.

8.2.2) Escuta telefônica

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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É a captação da conversa telefônica, feita por um terceiro, com a ciência


de um dos interlocutores. A polícia costuma fazer escuta telefônica em casos
de seqüestro; a família da vítima geralmente consente nessa prática,
obviamente sem o conhecimento do seqüestrador do outro lado da linha. Para
VICENTE GRECO FILHO “a lei não disciplina a interceptação realizada por
terceiro, mas com o consentimento de um dos interlocutores”.

8.2.3) Gravação telefônica (clandestina)


É a captação da conversa feita por um dos interlocutores. Se a conversa
não era reservada, nem proibida a captação por meio de gravador, por
exemplo, nenhum problema haverá para aquela prova. Em contrapartida, se
a conversação ou palestra era reservada, sua gravação, interceptação ou
escuta constituirá prova ilícita, por ofensa ao direito à intimidade (art. 5º, X, da
CF), devendo ser aceita ou não de acordo com a proporcionalidade dos valores
que se colocarem em questão.

8.2.4) Interceptação ambiental, escuta ambiental e gravação


ambiental
A interceptação ambiental é a captação da conversa ambiente feita por
um terceiro sem o conhecimento de nenhum dos interlocutores da conversa.
A interceptação e gravação ambiental não constituem objeto da Lei
9296/96. Interceptação ambiental é a captação da conversa entre dois ou mais
interlocutores por um terceiro que esteja no mesmo local ou ambiente em que
se desenvolve o colóquio. Escuta ambiental é essa mesma captação feita com
o consentimento de um ou alguns interlocutores. A gravação é feita pelo
próprio interlocutor.
OBS.: No caso de investigação de crime praticado por organizações
criminosas (quadrilha ou bando, associação criminosa e organizações
criminosas de qualquer tipo), desde que haja prévia, fundamentada e detalhada
ordem escrita da autoridade judicial competente, toda e qualquer gravação e
interceptação ambiental que estiver acobertada pela autorização constituirá
prova válida, de acordo com a permissão legal contida no art. 2º, IV, da lei
9296/96.

OBS.1: Só a interceptação e a escuta estão na lei de interceptação e


submetidas ao art. 5º, XII. É assim, pois somente nestes casos tem-se a
figura de terceiro violando a conversa telefônica de dois ou mais interlocutores,
não se podendo considerar como violação a atitude de um dos interlocutores
quando ele próprio grava o diálogo que mantém com o outro.

OBS.2: Escuta ambiental, interceptação ambiental, gravação telefônica e


gravação ambiental não se submetem à lei e ao art. 5º e serão provas
LÍcitas, mesmo sem autorização judicial, salvo se atingir a intimidade do
interlocutor que desconhece a captação. Se atingir a intimidade, serão
ilícitas pelo art. 5º, X, da CF. A conversa íntima é assunto que se refira
exclusivamente a assuntos particulares entre as partes, STF - HC 80949\RJ
STF AÇÃO PENAL 447\PLENO, 18\02\2009.

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É certo que o STF entende que a licitude da gravação de conversa telefônica realizada
por um dos interlocutores sem a ciência do outro deve ser examinada caso a caso. Na
hipótese, a gravação deu-se pela amásia do réu tão-somente para responsabilizá-lo pelo
homicídio perpetrado contra a vítima, com quem ela mantinha envolvimento amoroso. Tal
gravação deveu-se à escuta perpetrada por sugestão da autoridade policial. Dessarte, a prova
aqui é ilícita, colhida que foi com indevida violação de privacidade (art. 5º, X, da
CF/1988), porque não foi colhida como meio de defesa ou em razão de um investida
criminosa (...) – HC 57.961, Rel. Feliz Fischer 21/06/2007.

OBS.3: A gravação não se trata de interceptação telefônica, pois não há


o terceiro interceptador. A captação é feita pelo próprio participante da
conversa. Já a interceptação ambiental, a escuta ambiental e a gravação
ambiental não entram no regime da lei 9296 e do art. 5º, XII porque não são
conversas telefônicas.

OBS.4: Gravação ambiental feita pela polícia para obter confissão:


delegado que fala para o réu conversar só pra ele sem ter que colocar nada no
papel e grava a confissão, tal conduta foi entendida como prova ilícita pelo
STF que considerou que é prova sem as garantias constitucionais, STF -
HC. 80949/RJ. A polícia pode fazer a gravação, desde que com autorização
judicial - art. 2º, IV da lei 9034\45.

OBS.5: Os Tribunais Superiores têm entendido que a conduta de


legítima defesa ou do estado de necessidade é passível de reconhecimento
apenas no caso das escutas, quando se tratar de crimes em plena
consumação ou exaurimento via ligação telefônica, e não nas situações de
interceptações stricto sensu. Ex.: X está sendo extorquido por Y e então
contrata os serviços de um detetive particular, que mediante equipamento
eletrônico, registra (escuta telefônica) sem que haja ordem judicial prévia, o
momento em que o agente, mediante ligação telefônica, exige do ofendido
vultuosa quantia em dinheiro. A jurisprudência tem entendido que a ação de X
ocorreu em legítima defesa (para alguns, estado de necessidade), excluindo-
se, assim, a ilicitude da prova obtida à revelia do citado dispositivo
constitucional.
Idênticas considerações realizadas acerca da legítima defesa frente às
escutas telefônicas desautorizadas têm aplicação em relação às gravações
telefônicas (não amparadas, como já se disse, pelo art. 5º, XII, da CF, mas
eventualmente tuteladas pelo inciso X da mesma Carta). Se realizadas as
gravações, com efeito, em conduta de legítima defesa, vale dizer, diante de
crime que esteja sendo consumado via telefone, jamais poderão ser
consideradas ilícitas. Assim, aliás, a posição do STJ no informativo 300/2006
ao entender que “quanto à gravação utilizada como prova naqueles autos, não
há que a tachar de ilícita, visto que foi realizada por um dos interlocutores –
fato que, conforme a jurisprudência do STJ e do STF, afasta-lhe o defeito.

8.3) INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS DO


ADVOGADO
Interceptação da conversa reservada entre advogado e cliente: é sempre
ilícita (sigilo profissional e direito de não se auto incriminar).

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Conversa entre advogado e cliente captada dentre as conversas dos


criminosos: o ***STJ entendeu que a conversa entre cliente e advogado são
excluídas, aproveitando-se as demais conversas entre os criminosos.
Advogado suspeito do crime: a interceptação é válida. O advogado será
interceptado tão somente em relação ao crime pelo qual é investigado, as
demais conversas com clientes que não tenham relação com o crime que o
advogado está sendo investigado continuam invioláveis.

8.4) QUEBRA DO SIGILO DE DADOS TELEFÔNICO


É o acesso à relação das ligações efetuadas e recebidas (hora, dia),
sem acesso aos conteúdos das conversas. Não se submete à lei 9296/96,
mas exige ordem judicial por envolver direito de intimidade. OBS.: CPI pode
quebrar o sigilo de dados telefônicos independentemente de autorização
judicial.
LFG – “a interceptação de uma comunicação telefônica versa sobre algo
que está ocorrendo, atual; já a quebra do sigilo de dados telefônicos relaciona-
se com chamadas telefônicas pretéritas, já realizadas... não alcança os
registros telefônicos que são ‘dados’ (relacionados com comunicações
telefônicas passadas, pretéritas). Mas negar a incidência da Lei 9296/96 no
que concerne à quebra dos dados telefônicos não significa que eles não
possam ser devassados”.
VICENTE GRECO FILHO – sustenta a incidência da disciplina legal da
lei 9296/96 quanto aos registros existentes nas concessionárias de serviços
públicos, ainda que não se cuide de “interceptação” propriamente dita.

8.5) RELAÇÃO DAS LIGAÇÕES CONSTANTES NA MEMÓRIA DO


CELULAR
A polícia pode ter acesso, sem ordem judicial, à relação das ligações
constantes da memória do celular, pois não se trata de interceptação
telefônica, nem quebra de sigilo telefônico, pois não houve acesso à lista geral
das chamadas efetuadas e recebidas.

OBS.: O juiz pode autorizar interceptação antes de instaurar o inquérito?


R.: A jurisprudência diz que pode, pois tanto o art. 5º, XII\CF como o art. 1º da
lei 9296 utilizam a expressão “investigação criminal” e não “IP”.

8.6) INTERCEPTAÇÃO COMO PROVA EMPRESTADA


A interceptação só pode ser decretada em investigação criminal ou
processo penal, não pode ser decretada em processo civil, administrativo,
tributário. Mas o STF e STJ admite que a interceptação feita no âmbito criminal
seja utilizada como prova emprestada em processo administrativo
disciplinar contra os servidores interceptados na investigação ou no
processo e contra outros servidores descobertos em razão da
interceptação.

Pet-QO 3683 / MG - MINAS GERAIS


QUESTÃO DE ORDEM NA PETIÇÃO
Relator(a):  Min. CEZAR PELUSO
Julgamento:  13/08/2008           Órgão Julgador:  Tribunal Pleno

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Ementa

EMENTA: PROVA EMPRESTADA. Penal. Interceptação telefônica. Documentos. Autorização


judicial e produção para fim de investigação criminal. Suspeita de delitos cometidos por
autoridades e agentes públicos. Dados obtidos em inquérito policial. Uso em procedimento
administrativo disciplinar, contra outros servidores, cujos eventuais ilícitos administrativos
teriam despontado à colheita dessa prova. Admissibilidade. Resposta afirmativa a questão de
ordem. Inteligência do art. 5º, inc. XII, da CF, e do art. 1º da Lei federal nº 9.296/96.
Precedentes. Voto vencido. Dados obtidos em interceptação de comunicações telefônicas,
judicialmente autorizadas para produção de prova em investigação criminal ou em
instrução processual penal, bem como documentos colhidos na mesma investigação,
podem ser usados em procedimento administrativo disciplinar, contra a mesma ou as
mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos, ou contra outros servidores cujos
supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessas provas.

8.7) ORDEM DO JUIZ COMPETENTE PARA AÇÃO PRINCIPAL


A CF exige ordem judicial, mas o art. 1º da lei 9296 exige mais, tal como
“ordem do juiz competente da ação principal”.

8.7.1) Modificação de competência


Quando isso ocorrer, justamente em razão das interceptações, a
interceptação decretada pelo juízo anterior poderá ser utilizada na nova
instância.
Quando decretada na investigação como medida cautelar, a exigência
de que seja feita pelo juiz da ação principal deve ser mitigada, relativizada,
para não causar obstáculo à justiça.

8.8) INTERCEPTAÇÃO DECRETADA PELO JUIZ DA CENTRAL DE


INQUÉRITOS
O juiz da central de inquéritos que só atua e decide sobre questões
relativas à investigação, em razão de regras de competência estadual, e que
não julga a ação principal, é competente para autorizar interceptações
telefônicas.
OBS.1: Quando a infração se estende por várias localidades, pelo
princípio da prevenção, quem decreta a interceptação é o juiz que primeiro
tomar conhecimento da infração. A decretação de interceptação torna
prevento o juízo.
OBS.2: CPI: Não pode fazer interceptação telefônica, pois o art. 5º
exige autorização judicial. Porém pode quebrar o sigilo telefônico sem ordem
judicial.

8.9) ACESSO DOS AUTOS DE INTERCEPTAÇÃO PELO O


ADVOGADO
O advogado não pode ter acesso às interceptações em andamento,
mas pode ter acesso às interceptações já transcritas e juntadas aos autos
da investigação.

SÚMULA VINCULANTE Nº 14

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova
que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

A prática de ilicitude durante a interceptação causa:


 exclusão da interceptação dos autos do processo, art. 5º, LVI,
da CF;
 gera nulidade do processo ou falta de justa causa se for a única
prova dos autos; ou o processo continua se houver outras
provas lícitas e autônomas da interceptação.

MEDIDA INAUDITA ALTERA PARS


Trata-se de medida que o juiz determinará inaudita altera pars, vale
dizer, sem o exercício anterior do contraditório – adota-se o princípio do
contraditório diferido, assegurado após a obtenção do material probatório
necessário à apuração do fato.
O direito de defesa será oportunizado após a apensação dos autos
apartados da interceptação ao processo criminal, o que depende do
procedimento pelo qual estiver tramitando o processo. Ex.: tratando-se do
procedimento comum ordinário ou de ritos que adotem esse procedimento
(crimes contra a honra, rito dos crimes praticados por funcionários públicos e
rito dos crimes contra a propriedade imaterial), tal apensação deverá ocorrer,
segundo entende AVENA, na fase prevista no art. 404 do CPP, que
corresponde ao momento em que o magistrado, de ofício ou a requerimento
das partes, poderá ordenar, previamente à sentença, as diligências que reputar
necessárias.

8.10) SIGILO DE DADOS


1ª corrente - A interceptação de dados autorizada pelo art. 1º, §ú da lei
9296 é constitucional (LFG, ALEXANDRE DE MORAES, STF). 2ª corrente - a
interceptação das comunicações de dados autorizada pelo art. 1º, §ú da lei é
inconstitucional, pois o art. 5º, XII só autorizou a interceptação telefônica.

OBS.: Apreensão de computadores é lícita, pois o que a CF protege é o


sigilo das comunicações de dados e não dos dados em si mesmos
armazenados na base física do computador, são os documentos armazenados
em armários tradicionais.

8.11) CONVERSAS EM SALA DE BATE-PAPO DA INTERNET


O STJ decidiu que tais conversas não estão protegidas pelo sigilo
das comunicações, pois o ambiente é de acesso público e destinado a
conversas informais.

8.12) MONITORAMENTO POR INTERCEPTAÇÃO E PRISÃO EM


FLAGRANTE

Por conta do monitoramento, é possível fazer o flagrante; isso se trata


de flagrante esperado e é válido, não se trata de flagrante provocado.

8.13) REQUISITOS PARA A INTERCEPTAÇÃO


LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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 Indícios razoáveis de autoria e participação na infração penal –


Não se admite começar uma investigação criminal com a
interceptação telefônica. Esta é somente um dos instrumentos
utilizados após a colheita suficiente de outras provas;
 Indispensabilidade da interceptação;
 Quando não houver outro meio de buscar a prova, havendo
perigo de a prova se perder se a interceptação não for
autorizada;
 Crime punido com reclusão (não cabe para punidos com
detenção). É possível para crime punido com detenção, desde
que este seja conexo ao crime punido por reclusão para o qual
foi autorizada a interceptação.

8.13.1) Descoberta fortuita de novos crimes e novos envolvidos -


art. 2º, §único, da lei
Exige-se que no pedido de interceptação seja indicada a infração a ser
investigada e as pessoas que serão investigadas. Se, porém, durante as
interceptações forem descobertos novos crimes ou novos envolvidos a
interceptação poderá ser utilizada como prova, desde que haja relação com o
delito objeto de investigação. Mesmo que o crime novo descoberto não
tenha relação com aquele que foi objeto de interceptação, a interceptação
poderá ser utilizada como prova, como notitia criminis.

OBS.1: Decretação da interceptação pode ser feita pelo juiz de ofício, a


requerimento da autoridade policial na fase da investigação, e do MP na fase
da investigação ou do processo. Quanto à interpretação de ofício pelo juiz, há
duas correntes: 1ª corrente - diz que inconstitucional em qualquer fase,
investigatória ou processual. Viola o devido processo legal, imparcialidade do
juiz e sistema acusatório - LFG; 2ª corrente - diz que é inconstitucional apenas
na fase investigatória, mas é constitucional na fase processual. NORBERTO
AVENA entende que é possível a decretação de interceptação telefônica ex
officio pelo magistrado: a) a interceptação e a escuta telefônica caracterizam-se
como meios de prova; b) o princípio da verdade real, que vigora no processo
penal, justifica o agir ex officio do juiz quando imprescindível ao resguardo da
prova; c) a regra do art. 156, I e II, do CPP (alterado pela Lei 11690/2008),
assegura ao juiz o poder de determinar, antes mesmo de iniciada a ação penal,
a produção antecipada de provas urgentes e relevantes, observando critérios
de necessidade, adequação e proporcionalidade, bem como ordenar, no curso
da instrução ou antes de proferir sentença, a produção de provas para dirimir
dúvida relevante.

OBS.2: Ofendido titular da ação penal privada – pode requerer a


interceptação telefônica ao juiz competente. Assistente de acusação solicitando
tal medida – art. 271 do CPP – pode ele propor meios de provas – como a
interceptação telefônica é meio de prova – pode requerer a medida, desde que
haja processo penal regularmente instaurado e desde que esteja
habilitado a nele intervir por decisão judicial. NUCCI – entende ser possível
o assistente de acusação pleitear diretamente ao juiz a realização desta prova.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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VICENTE GRECO FILHO – sugere que a diligência seja solicitada pelo


assistente de acusação à autoridade policial ou ao promotor de justiça, para
que estes dirijam o pleito ao juiz.

8.14) MEDIDA CABÍVEL CONTRA O INDEFERIMENTO DA


INTERCEPTAÇÃO
O remédio cabível contra o indeferimento de interceptação é o Mandado
de Segurança. Contra a decisão que defere a interceptação cabe habeas
corpus.

OBS.1: Quando o MP estiver investigando ele pode pedir


interceptação, afinal pode pedir até nas investigações da polícia - STJ. RHC -
10974\SP.

OBS.2: Se a ilicitude da prova não foi arguida na instancia inferior ela


não pode ser apreciada pela superior, sob pena de supressão de instância.

OBS.3: O pedido de interceptação pode ser feito excepcionalmente de


forma verbal, mas a concessão da interceptação dependerá de reduzir o termo
pedido verbal a escrito.

O MP, que é o titular da ação penal, requer, como parte interessada, a


realização de interceptação telefônica, porém a autoridade policial, que parte
não é, deve representar pela interceptação, ou seja, expõe ao juiz os fatos e
sugere a providência.
Nada impede que o advogado do réu (ou de um dos co-réus) requeira ao
magistrado a interceptação telefônica. A lei mencionou apenas a autoridade
policial e o representante do MP, focalizando o lado da formação da prova
contra determinado suspeito – tudo em busca da verdade real e asseguração
do contraditório e ampla defesa.

O juiz, no prazo máximo de 24 horas, decidirá sobre o pedido – art. 4º,


parágrafo 2º da lei.

8.15) PRAZO DE DURAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA


Art. 5º - em que pese a interpretação literal dar conta que o máximo é de
30 dias (15 +15), o STF entende que a renovação pode ocorrer quantas
vezes necessárias, desde que fundamentada cada prorrogação.

        Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de
execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual
tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova.

OBS.1: Contra decisão não fundamentada, cabe habeas corpus – todos


os atos que atingem reflexamente o direito de liberdade, são remediados via
habeas corpus.
OBS.2: Houve julgado no STJ que considerou ilegal interceptação
pelo prazo de 2 anos, sob argumento que: 1º) normas restritivas de direitos

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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fundamentais devem ser interpretadas restritivamente; 2º) se o legislador


quisesse permitir várias prorrogações ele teria que usar a expressão
“renováveis por iguais períodos”, no plural; 3º) no caso do estado de defesa o
sigilo das comunicações telefônicas pode durar no máximo 60 dias, art.
136,§1º, c, e §2º\CF; 4º) no caso concreto de dois anos houve violação ao
princípio da razoabilidade. No conflito de normas de inspirações ideológicas
opostas deve prevalecer a que privilegiar a liberdade.

25.04.2009 – SÍLVIO MACIEL

8.16) CONDUÇÃO DAS INTERCEPTAÇÕES – ART. 6º

        Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os procedimentos de


interceptação, dando ciência ao Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização.

Quem conduz/preside é o Delegado de Polícia. O MP será ciente e


poderá acompanhar a sua realização.
Houve um caso concreto que a PRF presidiu a interceptação. O STJ
entendeu que tal prova foi lícita - Dec 1655/95, art. 1º, X, diz que cabe à PRF
auxiliar no combate à criminalidade (atuar na prevenção e repressão ao crime).
Tal decreto foi objeto da ADIn 1413/DF – o STF entendeu que tal decreto é
constitucional. Com base neste decreto e no entendimento do STF de que ele
é constitucional, o STJ aceitou como lícita a interceptação conduzida pela
PRF (HC 46630 RJ).
OBS.: Nos casos em que o próprio MP faz a investigação, (instaura o
procedimento investigatório), poderá presidir as interceptações? R.: Sim. Trata-
se de uma diligência dentro do procedimento investigatório.

       8.17) TRANSCRIÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO – ART. 6º, PARÁG. 1º.

  Art. 6º, § 1° No caso de a diligência possibilitar a gravação da comunicação interceptada, será


determinada a sua transcrição.

Tal matéria foi discutida no HC-MC 91207/RJ (2007). E o STF entendeu


que deve basta ser transcrita apenas os trechos necessários para
embasar a propositura da denúncia.
Ementa

EMENTA: HABEAS CORPUS. MEDIDA CAUTELAR. PROCESSUAL PENAL. PEDIDO DE


LIMINAR PARA GARANTIR À DEFESA DO PACIENTE O ACESSO À TRANSCRIÇÃO
INTEGRAL DAS ESCUTAS TELEFÔNICAS REALIZADAS NO INQUÉRITO. ALEGAÇÃO DE
OFENSA AO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL (ART. 5º, INC. LV, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA): INOCORRÊNCIA: LIMINAR INDEFERIDA. 1. É
desnecessária a juntada do conteúdo integral das degravações das escutas telefônicas
realizadas nos autos do inquérito no qual são investigados os ora Pacientes, pois bastam que
se tenham degravados os excertos necessários ao embasamento da denúncia oferecida,
não configurando, essa restrição, ofensa ao princípio do devido processo legal (art. 5º, inc. LV,
da Constituição da República). 2. Liminar indeferida.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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STJ – defesa confessar que a voz é sua, mas alegar que não houve a
confecção do laudo de degravação da voz e pedindo a nulidade da prova – não
pode – estaria a defesa se beneficiando da própria torpeza (HC 65604/DF).

8.18) AUTO CIRCUNSTANCIADO

        § 2° Cumprida a diligência, a autoridade policial encaminhará o resultado da interceptação


ao juiz, acompanhado de auto circunstanciado, que deverá conter o resumo das operações
realizadas.

Ao final da interceptação, o Delegado deve fazer um auto


circunstanciado com o resumo das operações realizadas. Não se confunde
com o relatório final do inquérito.
Min. MARCO AURÉLIO – o auto circunstanciado é formalidade essencial
à validade da prova, mas a sua falta ou defeito gera apenas nulidade relativa
(depende de comprovação de prejuízo) – HC 87859.

8.19) CRIME DA LEI DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou


telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não
autorizados em lei. – são 2 crimes distintos.

        Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

1ª conduta – realizar interceptação ilegal, pois foi feita de forma ilegal


por falta de autorização judicial ou por objetivos não autorizados em lei – crime
comum (qualquer pessoa pode praticar interceptação ilegal). O crime se
consuma no momento em que a interceptação começa a ocorrer e o agente
toma conhecimento da conversa. A tentativa é possível (quando não consegue
realizar a interceptação por razoes alheias a sua vontade, ex.: indivíduo é
preso em cima do poste).
2ª conduta – quebrar segredo de justiça sem autorização judicial ou com
objetivos não autorizados em lei – crime própro (só pode ser cometido por
quem esteja envolvido no procedimento de investigação e tenha o dever de
segredo. 1ª corrente - não se trata de crime funcional (LFG), ex.: o advogado
pode praticar tal delito, bem como o jornalista. 2ª corrente - VICENTE GRECO
FILHO – entende ser crime funcional (só cometido pelo funcionário público). O
advogado, para ele, praticando, praticaria o crime de violação de segredo
profissional, previsto no CP. O crime se consuma quando o agente revela a
existência (não precisa dizer o conteúdo da interceptação para o crime se
consumar) o de uma interceptação que está sendo feita ou o conteúdo da
interceptação. A tentativa é possível na forma escrita.
Regra: quem julga, em regra, é a Justiça Estadual, salvo se houver
interessa da União, quando será de competência da Justiça Federal – STJ CC
40113/SP.

9) LEI 9605/1998 – LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS

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Ela possui uma parte geral que vai do art. 2º ao art. 28 e uma parte
especial, prevista no art. 29 e seguintes, que define os crimes ambientais em
espécie.

9.1) PARTE GERAL DA LEI

9.1.1) Art. 2º - Participação no crime

        Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei,
incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o
administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou
mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de
impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.

1ª parte – é possível o concurso de pessoas nos crimes ambientais –


teoria unitária ou monista – a mesma do art. 29, caput, do CP. A expressão
“culpabilidade” não quer dizer “3º substrato do crime”, e sim a participação de
maior ou menor importância no crime.
2ª parte – criou o chamado dever jurídico de agir nos crimes
ambientais. Quem possui tal dever jurídico é o diretor, o administrador, o
membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou
mandatário de pessoa jurídica. Significa que, a omissão dessas pessoas é
penalmente relevante, nos termos do art. 13, parágrafo 2º, “a”, do CP.

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o
resultado. O dever de agir incumbe a quem:(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

        a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Incluído pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)

Essas pessoas respondem quando praticam o crime ambiental e quando


também se omitem e não impedem o crime ambiental. Respondem tanto por
ação como por omissão nos crimes ambientais. Mas para responderem por
omissão, a lei exige 2 requisitos: a) pessoa saiba da conduta criminosa e b)
possa evitar o crime – evita-se assim a responsabilidade objetiva
(responsabilidade sem dolo e sem culpa).
O STF e STJ, assim, consideram ineptas as denominadas denúncias
genéricas – denúncias que não estabelecem o mínimo vínculo entre a conduta
do agente e o crime ocorrido - HC 86879 do STF .

Ementa

EMENTA: 1. Habeas Corpus. Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei no 7.492, de
1986). Crime societário. 2. Alegada inépcia da denúncia, por ausência de indicação da conduta
individualizada dos acusados. 3. Mudança de orientação jurisprudencial, que, no caso de
crimes societários, entendia ser apta a denúncia que não individualizasse as condutas
de cada indiciado, bastando a indicação de que os acusados fossem de algum modo
responsáveis pela condução da sociedade comercial sob a qual foram supostamente
praticados os delitos. Precedentes: HC no 86.294-SP, 2a Turma, por maioria, de minha
relatoria, DJ de 03.02.2006; HC no 85.579-MA, 2a Turma, unânime, de minha relatoria, DJ de
24.05.2005; HC no 80.812-PA, 2a Turma, por maioria, de minha relatoria p/ o acórdão, DJ de
05.03.2004; HC no 73.903-CE, 2a Turma, unânime, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de
25.04.1997; e HC no 74.791-RJ, 1a Turma, unânime, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 09.05.1997.
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4. Necessidade de individualização das respectivas condutas dos indiciados. 5.


Observância dos princípios do devido processo legal (CF, art. 5o, LIV), da ampla defesa,
contraditório (CF, art. 5o, LV) e da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1o, III). Precedentes:
HC no 73.590-SP, 1a Turma, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 13.12.1996; e HC no
70.763-DF, 1a Turma, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 23.09.1994. 6. No caso
concreto, a denúncia é inepta porque não pormenorizou, de modo adequado e suficiente,
a conduta do paciente. 7. Habeas corpus deferido

EUGÊNIO PACELLI/ADOTADO PELO STJ – distinção entre denúncia


genérica e denúncia geral: denúncia genérica – não imputa nenhum fato
criminoso à pessoa; inclui a pessoa na ação apenas pela qualidade dela (de
diretor, de gerente, de preposto etc.) – é inepta; denúncia geral – descreve o
fato criminoso com todas as suas circunstâncias e o imputa simultaneamente a
todos os acusados, sem detalhar a conduta de cada um deles – tal forma de
denúncia não é inepta.
Antes o STF aceitava a denúncia genérica (denunciava todo mundo e
durante a instrução apurava a responsabilidade de cada um). Hoje não é mais
permitido.

9.1.2) Responsabilidade penal da pessoa jurídica – art. 3º


A discussão sobre a responsabilidade criminal das pessoas jurídicas
iniciou-se com o art. 225, parágrafo 2º, da CF.

 Art. 225, § 3º, da CF - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente


sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Agravou-se a discussão com o advento da Lei 9605/98

        Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e


penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida
por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no
interesse ou benefício da sua entidade.

Há 3 correntes na doutrina sobre a responsabilidade criminal da pessoa


jurídica:

 1ª corrente: a CF não criou/não prevê a responsabilidade criminal


da pessoa jurídica. 1º argumento – o que a CF disse foi que as
condutas praticadas pelas pessoas físicas geram sanções penais e
condutas praticadas por pessoas jurídicas geram sanções
administrativas e ambas podem ser responsabilizadas civilmente; 2º
argumento – princípio da pessoalidade da pena (princípio da
intransmissibilidade da pena) – art. 5º, XLV, da CF – a pena deve
recair apenas sobre a pessoa física do infrator que praticou o crime
ambiental, não podendo ser comunicada à pessoa jurídica. Assim,
tal corrente chega à conclusão de que a CF/88 não criou a
responsabilidade da pessoa jurídica – LUIZ REGIS PRADO,
CEZAR ROBERTO BITENCOURT, MIGUEL REALE JÚNIOR,

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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PIERANGELLI, RENÊ ARIEL DOTTI, LUIZ VICENTE


CERNICCHIARO. Sob a ótica dessa corrente, o art. 3º da Lei
9605/98 seria inconstitucional, pois estabelece responsabilidade
penal da pessoa jurídica não prevista pela CF/88, ofendendo
materialmente o art. 225, parágrafo 3º e art. 5º, XLV, todos da CF;
 2ª corrente: pessoa jurídica não pode cometer crimes – societas
delinquere non potest – baseia-se na teoria civilista da ficção
jurídica de SAVIGNY e FEUERBACH. As pessoas jurídicas seriam
meras ficções; são entes fictícios desprovidos de vontade,
consciência e finalidade e, portanto, não podem praticar condutas
tipicamente humanas, como, por ex., crimes. 1º fundamento – PJ
não tem capacidade de conduta (não age com vontade, consciência,
finalidade, logo não age com dolo ou com culpa). Assim, punir PJ
seria estabelecer responsabilidade penal objetiva. 2º argumento – as
PJ não agem com culpabilidade – PJ não tem imputabilidade, nem
potencial consciência da ilicitude, não podendo assim sofrer pena. 3º
argumento – as penas são inúteis para as pessoas jurídicas –
TODOS DA 1ª CORRENTE ADOTAM ESTA 2ª CORRENTE
(entendem que ainda que a CF houvesse criado a responsabilidade
criminal da pessoa jurídica, não é possível ela atuar, agir sozinha) +
ZAFFARONNI, ROGÉRIO GRECO, LFG, FRANCISCO DE ASSIS
TOLEDO, MIRABETE, DELMANTO;

 3ª corrente: pessoa jurídica PODE cometer crimes – societas


delinquere potest – baseia-se na teoria da realidade ou da
personalidade real – OTTO GIERKE – teoria que se contrapõe à
teoria de SAVIGNY. Tal teoria sustenta que as PJ são entes reais,
não sendo meras abstrações jurídicas. Possuem capacidade e
vontade distinta das pessoas físicas que as compõe. São realidades
independentes. 1º argumento – a responsabilidade penal da pessoa
jurídica está expressa no art. 225 da CF e no art. 3º da Lei 9605/98;
2º argumento – as pessoas jurídicas têm culpabilidade (não a
culpabilidade individual clássica do finalismo, mas sim uma
culpabilidade social – empresa como centro de emanação de
decisões – ação delituosa institucional – SCHECAIRA – possui
livro publicado pela RT); 3º argumento – a pena criminal tem uma
simbologia muito mais forte do que as sanções administrativas, por
isso cumpre muito melhor a prevenção dos crimes ambientais; 4º
argumento – punir a pessoa física exclusivamente significa usá-la
como escudo de proteção da PJ, que acaba sendo a grande
beneficiária do crime – NUCCI, PAULO AFONSO LEME MACHADO,
ÉDIS MILARÉ, DAMÁSIO, ADA PELEGRINI GRINOVER. ***STJ
entende existir a responsabilidade penal da PJ – ADOTAR
PARA CONCURSOS!

A) Requisitos para a responsabilização criminal da pessoa jurídica


1. A decisão deve ser proveniente de representante legal ou órgão
colegiado da PJ;
2. No interesse ou benefício da entidade.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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Ex.1: funcionário da motosserra, por sua conta e risco, corta árvores em


APP. A PJ não poderá ser responsabilizada. A decisão foi tomada
isoladamente pelo funcionário da motoserra.
Ex.2: vazamento culposo de óleo pela PETROBRÁS - houve prejuízo
pela PETROBRÁS (ela perdeu o óleo, teve a imagem desgastada
publicamente, pagou outra empresa para limpar o mar). Assim, o STJ entendeu
que não cabe responsabilidade penal à PJ neste caso já que ocorreu prejuízo
e não vantagem à PETROBRÁS.

Assim, PJ pode ser punida criminalmente por atos praticados pela


pessoa física – sistema da responsabilidade penal por empréstimo ou por
ricochete – a pessoa jurídica é punida reflexamente por atos praticados pela
pessoa física isolada ou colegiadamente (sistema francês de responsabilidade
penal da pessoa jurídica).

B) Posicionamento atual da jurisprudência sobre o tema


TRF’s – todos admitem a responsabilidade penal da pessoa jurídica;
STJ – admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica desde
que ela seja denunciada juntamente com a pessoa física que executou o
crime – responsabilidade penal por empréstimo. O STJ não admite denúncia
por crime ambiental somente contra PJ – RESP 847476
PENAL. CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA.
POSSIBILIDADE. DELITO DO ART. 60 DA LEI Nº 9.605/1998. PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO PUNITIVA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. RECURSO PREJUDICADO.
1. "Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde
que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome
ou em seu benefício, uma vez que não se pode compreender a responsabilização do ente
moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo
próprio." (REsp nº 889.528/SC, Relator o Ministro Felix Fischer, DJU de 18/6/2007)
2. Sendo de 6 meses de detenção a pena máxima cominada ao crime previsto no art. 60 da Lei
nº 9.605/1998, com relação à empresa Castilho Prestação de Serviços Ltda, constata-se que já
decorreram mais de dois anos desde a data do fato incriminado sem que fosse recebida a
inicial acusatória, e, quanto a Luis Vanderlei de Castilhos, o transcurso de mais de dois anos
desde o recebimento da denúncia, operando-se, em ambos os casos, a prescrição da
pretensão punitiva, nos termos do art. 109, inciso VI, do Código Penal, uma vez que não
ocorreu qualquer causa interruptiva desde então.
3. Recurso especial parcialmente provido.

STF – não possui posicionamento certo ainda. O que existe são


posicionamentos isolados de cada um dos ministros. HC 92921 – 1ª Turma –
decisão obiter dicta (de passagem). Não se pode falar que o STF admite
determinada teoria. Min CÉSAR PELUSO – HC 83301 – entendeu que não
cabe a responsabilidade penal da pessoa jurídica.

C) Remédio cabível para trancar ação penal contra a pessoa jurídica


HC tutela absolutamente a liberdade de locomoção. Assim, não é o
remédio cabível. STJ – o remédio cabível é o mandado de segurança. O STF
entendeu no julgamento acima citado que não cabe HC em favor de pessoa
jurídica.

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D) Responsabilidade penal da PJ de Direito Público


Há duas correntes: 1ª corrente: PJ de direito público pode ser
denunciada por crime ambiental (nem a CF nem a lei 9605/98 faz alguma
ressalva diferenciando PJDPrivado de PJDPúblico) – NUCCI, PAULO
AFONSO LEME MACHADO, SCHECAIRA (admite apenas a responsabilidade
de pessoas jurídicas de direito público de natureza privada), WALTER
CLAUDIUS RHOTEMBURG; 2ª corrente: PJ de direito público não pode ser
denunciada por crime ambiental – ÉDIS MILARÉ (a imposição de pena seria
inócua – o Estado não pode punir a si mesmo; a punição imposta a PJDPúblico
recai sobre a própria sociedade).

E) Sistema da dupla-imputação ou sistema de imputação paralelas – art.


3º, parágrafo único da Lei 9605/98

        Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

É possível punir simultaneamente a PF e a PJ pelo mesmo fato. Pode,


todavia, ser só punido a PF. O sistema que obriga a simultaneidade de punição
é o do empréstimo ou ricochete (não dá para punir apenas a PJ sem punir a
PF).
O que este sistema faz é apenas evitar o bis in idem – este é punir
duplamente pelo mesmo fato a mesma pessoa.
RESP 610114/RN – STJ decidiu que o sistema da dupla imputação não
acarreta em bis in idem.

9.1.3) Desconsideração da pessoa jurídica

        Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do
meio ambiente.

Este instituto permite que a PJ seja desconsiderada para que a sanção


recaia sobre a pessoa física.
A desconsideração da pessoa jurídica não pode ser aplicada no
âmbito penal em razão do princípio da
intransmissibilidade/incomunicabilidade da pena – art. 5º, LXV, da CF. A
pena penal da PJ não pode ser transmitida para a PF.
Assim, a doutrina entende que tal instituto do art. 4º da lei é instituto de
direito civil, mesmo estando na lei dos crimes ambientais.

9.1.4) Aplicação da pena nos crimes ambientais

A) Introdução – aplicável em qualquer caso


O juiz aplica a pena em 3 etapas:
 Calcula a quantidade da pena (critério trifásico do art. 68 do CP:
pena base – circunstâncias judiciais do art. 59 do CP; agravantes
e atenuantes genéricas; sobre o resultado desta aplicação, aplica-
se as causas gerais e especiais de aumento e diminuição de
pena);
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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 Fixação do regime inicial do cumprimento de pena (fechado,


semi-aberto ou aberto);
 Possibilidade de substituição da pena de prisão por restritiva de
direitos ou por multa. Se não for possível, ver se é possível a
concessão do sursis;

Estes é o critério geral de aplicação de pena, independentemente se o


crime é ambiental ou não. Agora se verá como qual o critério aplicado na lei
dos crimes ambientais.

B) Aplicação da pena nos crimes ambientais

Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente


observará:

        I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conseqüências


para a saúde pública e para o meio ambiente;

        II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse


ambiental;

        III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.

1ª etapa - O juiz aplica o art. 59 do CP + art. 6º, I e II da Lei dos crimes


ambientais, para achar a pena base:
I- o juiz leva em consideração as conseqüências para a saúde pública e
para o meio ambiente (e não as conseqüências para a vítima). II- Os
antecedentes do infrator são referentes ao cumprimento da legislação de
interesse ambiental.

Atenuantes de pena:

Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:

        I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente – mas deve ter potencial
consciência da ilicitude. Se o baixo grau de escolaridade tirar este potencial
conhecimento da ilicitude, ocorrerá o erro de proibição;

        II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou


limitação significativa da degradação ambiental causada – DELMANTO entende que
mesmo que a reparação ocorra antes do recebimento da denúncia, não se aplicará o
arrependimento posterior do art. 16 do CP. Aplicar-se-á sempre a atenuante do art. 14, II,
da Lei 9605/98 por ser norma especial;

        III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;

        IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental


– é uma circunstância atenuante de pena ter o agente colaborado com a vigilância de
controle ambiental – DELMANTO chama este instituto de delação premiada ambiental.

Agravantes: dentre elas, a mais importante é a do inciso I

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o
crime:

        I - reincidência nos crimes de natureza ambiental – reincidência específica nos


crimes de natureza ambiental. Ex.: “A”condenado por furto e já cumpriu a pena, depois
pratica crime ambiental – não será considerado reincidente, mas o contrário será
considerado reincidente (primeiro praticar crime ambiental e depois praticar furto;

Causas gerais e especiais de aumento e diminuição de pena: podem


estar no CP ou na Lei 9605/98, ex.: crime continuado, concurso formal,
tentativa e, quando houver, as previstas em cada crime.

Findo a 1ª etapa de fixação da pena, irá fixar o regime de


cumprimento de pena – 2ª etapa (quando for pessoa física).

Findo a 2ª etapa, o juiz deverá analisar se é o caso de possibilidade de


substituição de pena por restritiva de direitos ou multa, e se não for este o
caso, verificar se é o caso de sursis – 3ª etapa (quando for pessoa física) –
ver-se-á em tópico autônomo.

C) Requisitos necessários para a substituição da pena de prisão por


restritivas de direitos – art. 7º da lei

Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de


liberdade quando:

        I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade inferior a
quatro anos;

        II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do


condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a
substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime –
circunstâncias judiciais favoráveis.

        Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo terão a
mesma duração da pena privativa de liberdade substituída.

    Art. 44 do CP. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as


privativas de liberdade, quando: (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)

        I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena
aplicada, se o crime for culposo; (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)

        II – o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 9.714, de
1998)

        III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do


condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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seja suficiente – circunstâncias judiciais favoráveis. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de
1998)

Lei 9605/98 – art. 7º Código Penal – art. 44

I- crime culposo ou, se crime doloso, pena inferior I- crime culposo ou, se crime doloso – pena igual
a 4 anos ou inferior a 4 anos

II- Circunstâncias judiciais favoráveis; II- sem violência ou grave ameaça à pessoa;

Ela permite a substituição mesmo que o agente III- Circunstâncias judiciais favoráveis.
seja reincidente em crime doloso

O CP, em regra, não permite a substituição da


pena quando o agente seja reincidente em crime
doloso.

OBS.: Qual o tempo de duração das penas restritivas de direitos? R.: É o


mesmo tempo da pena que foi substituída. Exceção: art. 10 da Lei – a pena de
interdição temporária de direitos terá duração de 5 anos se for crime doloso ou
3 anos se for crime culposo. DELMANTO diz que tais prazos do art. 10 não se
aplicam, pois estão em contradição lógica com o parágrafo único do art. 7º que
diz que a restritiva deve ter o mesmo prazo da privativa de liberdade e também
porque os prazos do art. 10 ferem o princípio da razoabilidade, já que a pena
restritiva será maior do que a pena privativa substituída.

        Art. 10. As penas de interdição temporária de direito são a proibição de o condenado
contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios,
bem como de participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de crimes dolosos,
e de três anos, no de crimes culposo.

Outra pena restritiva de direitos é a do art. 13 da lei:

        Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina e senso de


responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso
ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias e horários de folga
em residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme
estabelecido na sentença condenatória.

Esta pena domiciliar não existe no CP. É cumprimento em regime de


recolhimento domiciliar, não se confundindo com a pena de limitação de fim de
semana (art. 48 do CP) pela qual o condenado deve recolher-se 5 horas aos
sábados e domingos, em casa do albergado ou estabelecimento similar.

02.05.2009 – SILVIO MACIEL

D) Pena de multa

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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        Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se revelar-se
ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em
vista o valor da vantagem econômica auferida.

Regra: Calcula-se segundo os critérios do CP – art. 49 e parágrafos do


CP: 10 a 360 dias-multa e de 1/30 a 5x o valor do salário mínimo cada dia-
multa.
Se o valor se revelar ineficaz, o juiz poderá aumentar esta pena de multa
em até 3 vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida.

Lei dos crimes ambientais Código Penal – art. 60, parágrafo 1º, do CP
Triplicar a multa, considerando o valor da vantagem econômica obtida com a infração.
O juiz pode triplicar a multa, mas considerará a (boa) situação econômica do infrator.

E) Sursis – suspensão condicional da pena


Regra geral – do CP: O CP prevê o sursis simples (art. 77 do CP); o
sursis especial (art. 77, parágrafo 2º, do CP) – aplicável ao condenado que
reparou o dano e que tenha as circunstâncias judiciais do art. 59 inteiramente
favoráveis; e o sursis etário e humanitário.
O sursis simples e especial são cabíveis a condenações até 2 anos. Já
na Lei dos crimes ambientais, o sursis é aplicável a condenações de até 3
anos, bem como necessita de laudo de reparação do dano ambiental, no
caso de sursis especial as condições que ele ficará submetido na LCA não são
as mesmas do CP – condições relativas ao meio ambiente.

Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condicional da pena pode ser aplicada
nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a três anos.

        Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o § 2º do art. 78 do Código Penal será
feita mediante laudo de reparação do dano ambiental, e as condições a serem impostas pelo
juiz deverão relacionar-se com a proteção ao meio ambiente.

O sursis etário é o aplicado aos maiores de 70 anos quando condenado


a pena não superior a 4 anos. O humanitário é aplicável àquele que precisa
cuidar de doença e a permanência no cárcere não será possível o devido
tratamento.
9.1.5) Aplicação da pena para pessoas jurídicas nos crimes
ambientais – art. 21 a 23 da Lei 9605/98

Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente* às pessoas


jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são:

        I - multa;

        II - restritivas de direitos;

        III - prestação de serviços à comunidade – inútil, pois a prestação de serviços à


comunidade já é uma pena restritiva de direitos.

Esta pena não é substitutiva da pena de prisão; trata-se de pena


principal. Podem elas ser aplicadas isolada ou cumulativamente.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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*OBS.: não existem, no CP nem na LCA, regras para substituir pena de


multa para restritiva de direitos e vice-versa; logo, tal expressão
alternativamente é usada inutilmente.
Calcula-se a multa para a pessoa jurídica de acordo com o art. 18 da Lei
9605/98.
SÉRGIO SCHECAIRA sugere que a pena da PJ deveria ter outro critério
– deveria ser por dias-faturamento.

Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:

        I - suspensão parcial ou total de atividades;

        II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;

        III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações.

        § 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem


obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio
ambiente.

        § 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver


funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com
violação de disposição legal ou regulamentar.

        § 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios,


subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos.

Há a interdição temporária de direitos do art. 10 da LCA, aplicável às PF:


 a pena de proibição de contratar com o poder público,
 de receber quaisquer incentivos,
 a proibição de participar de licitações

(5 anos, se crime doloso; 3 anos, se crime culposo).

No art. 22, III, parágrafo 3º, há a pena restritiva de direitos e é aplicável à


PJ:
 Proibição de contratar com o poder público;
 Receber subsídios;
 Subvenções;
 Doações.

Proibição de até 10 anos.

9.1.6) Perícia ambiental e prova emprestada – art. 19, caput e


parágrafo único da lei

        Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o
montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser
aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório.

No laudo ambiental, o perito constata a materialidade delitiva, bem como


fixa no lado, se possível, o valor do dano ambiental. Tal valor terá 2 finalidades:
a) fixação do valor de fiança; b) cálculo da multa penal (considerará a situação
econômica do infrator (art. 6º, III) + o valor do prejuízo causado pelo crime (art.
19)).

Quanto à prova feita em inquérito civil - deve-se lembrar que no inquérito


civil não há contraditório nem ampla defesa. 1ª corrente: a prova produzida no
inquérito civil pode ser usada como prova emprestada no processo penal,
desde que se abra o contraditório (contraditório posterior/diferido). 2ª corrente:
a perícia produzida no inquérito civil, onde não houve contraditório nem ampla
defesa, só pode ser usada no processo penal quando for uma prova não
repetível (se for uma prova repetível, dever-se-á fazer no processo penal com
contraditório atual, desprezando-se a prova do inquérito civil) – DELMANTO.

A perícia feita na ação civil pode sempre ser emprestada no processo


penal (1ª corrente), mesmo que as partes de ambos os processos sejam
distintas. Logo, abrir-se-á o contraditório diferido. Para uma 2ª corrente, tal
perícia feita no juízo civil só pode ser emprestada para o processo penal se as
partes de ambos os processos forem as mesmas – DELMANTO.

9.1.7) Sentença penal condenatória

Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor
mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos
sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente.

Além de condenar, poderá fixar um valor mínimo de indenização. Poderá


ser liquidada para apuração do restante do valor da indenização.
Isso era uma especificidade da Lei dos Crimes Ambientais. Hoje, com a
reforma do CPP, o juiz pode fixar um valor mínimo para indenização na própria
sentença penal condenatória.

9.1.8) Liquidação forçada da pessoa jurídica

        Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim
de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua
liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal
perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.

A liquidação forçada é aplicável à pessoa jurídica que tenha finalidade


principal e preponderante a prática de crimes ambientais.
Todo o patrimônio da empresa será confiscado, pois considerado
instrumento do crime. REGIS PRADO – a liquidação forçada é equivalente à
pena de morte da pessoa jurídica; por isso, deve-se ser aplicada com a
máxima cautela. Ou seja, tal pena deve ser utilizada em casos extremos.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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1ª corrente: pressupõe a prática de crime, logo, só pode ser aplicada


como efeito da condenação em sentença penal condenatória, com sentença
devidamente fundamentada. 2ª corrente: a extinção da PJ pode ser aplicada
como pena acessória na sentença penal condenatória ou em sentença civil
própria, ajuizada pelo MP.

9.1.9) Confisco de instrumentos do crime

Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos,


lavrando-se os respectivos autos.

        § 1º Os animais serão libertados em seu habitat ou entregues a jardins zoológicos,


fundações ou entidades assemelhadas, desde que fiquem sob a responsabilidade de
técnicos habilitados.

        § 2º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e


doados a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes.

        § 3° Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou


doados a instituições científicas, culturais ou educacionais.

        § 4º Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a


sua descaracterização por meio da reciclagem.

O parágrafo 4º do art. 25 da LCA está permitindo o confisco dos


instrumentos do crime (não diz se precisam ser ilícitos). O art. 91, II, “a”, do CP
permite o confisco dos instrumentos do crime, desde que estes instrumentos
sejam ilícitos. Na LCA podem ser confiscados instrumentos lícitos ou ilícitos.
Ex.: sujeito usa um automóvel para furtar – este bem não será confiscado, pois
o carro não é um bem ilícito; se o sujeito usa um barco para pescar
ilegalmente, este barco poderá ser confiscado, pois tanto faz se o objeto é lícito
ou ilícito – FERNANDO CAPEZ – não é uma posição coerente.
Os instrumentos que podem ser apreendidos são os ilícitos e os lícitos,
desde que utilizados usualmente na prática de crimes, ex.: moto-serra
utilizada diariamente no corte de madeira; barco pesqueiro utilizado
diariamente para a pesca ilegal. Se o instrumento lícito é eventualmente
utilizado para a prática de crime ambiental, ele não deve ser confiscado.
Logo, o parágrafo 4º do art. 25, não é uma regra absoluta – deve ser
aplicada à luz do princípio da razoabilidade.

9.1.10) Aspectos processuais

A) Ação penal nos crimes ambientais

        Art. 26. Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal é pública
incondicionada.

Cabe ação penal privada subsidiária da pública, caso existir uma vítima
determinada – é um direito fundamental previsto no art. 5º da CF.

B) Competência dos crimes ambientais

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
112

STJ e STF – 1ª premissa) a competência para proteção do meio


ambiente é competência comum da União, Estados, DF e Municípios; 2ª
premissa) não há nenhuma norma constitucional ou infraconstitucional
estabelecendo expressamente a competência criminal para julgamento de
infrações ambientais. Conclusão: em regra, é competência da Justiça
Estadual. Só será da Justiça Federal se houver interesse direto e
específico da União ou de suas autarquias, fundações e empresas
públicas. Se for um interesse indireto e genérico, será de competência da
Justiça Estadual.
Ex.1: art. Art. 225, parágrafo 4º da CF – crimes contra o patrimônio
nacional (floresta amazônica brasileira, pantanal mato-grossense, serra do mar
e zona costeira – em regra, é de competência da Justiça Estadual).
Ex.2: crimes praticados em áreas fiscalizadas por órgãos federais, ex.:
IBAMA; a fiscalização por órgão federal, por si só não é motivo para fixar a
competência da Justiça Federal.
Ex.3: crime cometido em área de preservação permanente – não fixa a
competência da Justiça Federal.
Ex.4: crimes cometidos em rio e mar territorial – crime cometido em rio
municipal ou estadual – Justiça Estadual; rio interestadual (banha mais de um
estado) – Justiça Federal.

OBS.1: nos crimes contra a fauna, segundo a súmula 91 do STJ, eram


de competência da Justiça Federal. Ocorre que tal súmula foi cancelada em
2000. Agora, segue-se a regra geral – Justiça Estadual.
OBS.2: As contravenções ambientais (ainda existem) são sempre
julgadas pela Justiça Estadual, mesmo que atinjam um direito direto específico
da União. Exceção: só se o contraventor tiver foro por prerrogativa de função
na Justiça Federal (TRF).

C) Transação Penal nos crimes ambientais

        Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº
9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha
havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo
em caso de comprovada impossibilidade.

Nas infrações de menor potencial ofensivo há: a) a composição civil de


danos (autor fato x vítima) – art. 74 da Lei 9099/95; b) transação penal – art. 76
da Lei 9099/95 (autor do fato x MP) – é a aplicação imediata de pena não
privativa de liberdade. Na lei 9099/95, a composição civil de danos não é
requisito para a transação penal (mesmo que o autor do fato se recuse a fazer
composição, ele terá direito à transação penal).
Na lei 9605/98 só é cabível transação penal se houve prévia
composição civil do dano (se não fez composição civil de danos não haverá
transação). A composicao civil não significa a efetiva reparação de dano, mas
sim o compromisso para tanto.

D) Suspensão condicional do processo nos crimes ambientais


LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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113

Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995,


aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo(???) definidos nesta Lei, com as
seguintes modificações:

        I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo referido no


caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a
impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo artigo;

        II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a


reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo
previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo
da prescrição;

        III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV
do § 1° do artigo mencionado no caput;

        IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de


constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser
novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste
artigo, observado o disposto no inciso III;

        V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de


punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as
providências necessárias à reparação integral do dano.

(???) – o sursis processual não se aplica apenas às infrações de menor


potencial ofensivo e sim nas infrações cuja pena mínima seja não superior a 1
ano. A doutrina majoritária diz que houve erro do legislador; deve-se ler: crimes
definidos nessa lei. Conclusão: segue a regra geral – segue a suspensão
condicional do processo para todas os crimes cuja pena mínima não
ultrapasse 1 ano – MILARÉ, SCARANTES, BITENCOURT, PASSOS DE
FREITAS, DELMANTO ETC.

Caberá suspensão condicional do processo com as seguintes


modificações:
 O juiz só declarará a extinção da punibilidade se houver laudo
comprovando que houve a reparação do dano ou então laudo
comprovando que o infrator adotou todas as providências
necessárias para tentar reparar o dano;
 O juiz suspende o processo de 2 a 4 anos e findo este período,
manda fazer um laudo; encerrado o prazo, dá mais 4 anos mais 1
ano; findo o prazo e o laudo disser que não conseguiu reparar,
dará mais um prazo de 4 anos mais 1 ano (4 + 5 + 5); no fim do
prazo, o juiz verá o laudo e declarará a extinção da punibilidade
caso o laudo constatar que não há possibilidade de reparação –
poderá o processo ficar suspenso por 14 anos.

9.2) PARTE ESPECIAL – ALGUNS CRIMES EM ESPÉCIE


1ª corrente – não é possível a aplicação do princípio da insignificância
nos crimes ambientais – qualquer lesão causada ao meio ambiente é

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significante na medida em que desequilibra o ecossistema – TRF 4ª região, 3ª


região.
2ª corrente – é possível a aplicação do princípio da insignificância nos
crimes ambientais – STJ – HC 72234/2007.

9.2.1) Crimes contra a fauna (animais) – principais artigos


Fauna é o conjunto de animais que vivem numa determinada região ou
ambiente. Havia crimes contra a fauna: Lei 5197/67 – código de caça; Dec-lei
221/67 - código de pesca; Lei 7643/87; Lei 7679/88 e no Dec-lei 3688/41 (Lei
de Contravenções Penais). Com a edição da lei dos crimes ambientais (Lei
9605/98), todas as infrações que estavam nestas leis citadas foram revogadas.
A única lei que continua em vigor e que não foi revogada tacitamente é a lei
7643/87 – molestar ou pescar cetáceos.

A) Art. 29 da lei

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou
em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente, ou em desacordo com a obtida:

        Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.

Sujeitos do crime: sujeito ativo – qualquer pessoa, inclusive o


proprietário do animal.
Tipo objetivo: o art. 29 prevê 5 condutas: matar, perseguir, caçar,
apanhar ou utilizar (utilizar animal em espetáculo de circo, sem autorização da
autoridade competente).
Objeto material: espécime (uma exemplar de uma espécie) da fauna
silvestre, nativos ou em rota migratória. DELMANTO – atingida uma espécime
apenas não é crime (no mínimo dois animais). Fauna silvestre é fauna
selvagem – não estão protegidos neste artigo os animais domésticos ou
domesticados.

        § 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies


nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou
parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas
jurisdicionais brasileiras.

A maioria dos ambientalistas diz que somente os animais nacionais


estão abrangidos pelo o artigo.
Elemento normativo do tipo: “sem a devida permissão, licença ou
autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”.
Elemento subjetivo: apenas o dolo.
Consumação e tentativa: dar-se-á com a prática de qualquer das
condutas previstas no tipo. “Caçar ou perseguir” – crime de consumação
antecipada/crime formal, pois não necessita do abate do animal. É possível a
tentativa em todas as condutas.

        § 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça


profissional.

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115

  § 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.

O tipo penal não protege as espécies aquáticas? Os crimes de pesca


estão definidos nos arts. 34 a 36 da LCA. Este tipo penal protege a fauna
aquática quando a conduta for qualquer uma, menos a pesca, ex.: matar uma
tartaruga marinha.

        § 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada


de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

Se o animal não estiver na lista dos ameaçados em extinção, poderá o


juiz deixar de aplicar a pena, ex.: ter uma arara, um macaco etc. (lembrar que
os animais domésticos ou domesticados não se inserem neste artigo).
Se o animal estiver ameaçado de extinção, é crime, com pena
aumentada da metade e não cabe perdão judicial.

B) Art. 32 da lei

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:

        Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

        § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em
animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos
alternativos.

        § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

São 4 condutas: abuso (coloca uma carga insuportável no longo do


burro), maus-tratos (jogar o gato do 10º andar), ferir ou mutilar.
Aqui, os animais domésticos estão abrangidos pelo o tipo penal, bem
como protege os animais exóticos (estrangeiros) – em suma, o tipo
protegente todos os animais – objeto jurídico.
Sujeitos: inclusive o dono do animal pode ser o sujeito ativo. Sujeito
passivo – o Estado, a coletividade e o eventual dono do animal quando não for
o agente do crime.

OBS.1: Neste tipo não há o verbo matar. No art. 29 há o verbo matar,


mas não inclui o animal doméstico. Que crime é matar um animal doméstico?
Matar animal doméstico constitui o crime do art. 32 – para matar o animal
precisa feri-lo, logo, estaria inserido.

OBS.2: briga de galo (rinhas), farra do boi, rodeios – os dois primeiros


configuram o crime do art. 32 (rinha e farra do boi). Lei Estadual não pode
estipular que a prática desses eventos não é considerada crime – art. 225,
VII, da CF. Rodeios – Lei 10519/2002 – regulamenta os rodeios no Brasil. Faz
uma série de exigências para que o rodeio ocorra (proíbe esporas pontiagudas,
exige veterinários, exige meios de transportes adequados etc.). Se o rodeio for
feito de acordo com as exigências dessa lei, não há crime – trata-se de

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exercício regular do direito. Se o rodeio for feito desobedecendo as


exigências dessa lei, caracteriza o crime de maus tratos a animais – doutrina.
Vários juízes declaram incidentalmente a inconstitucionalidade desta lei
federal (o rodeio, por si só, já faria mal ao animal).
OBS.3: Mutilar – indivíduo que corta o rabo ou orelha do cachorro
responde por este crime? R.: A doutrina majoritária diz que se esta mutilação
for feito para fins estéticos, por veterinário – não há crime.

9.2.2) Crimes contra a flora


Flora: é a totalidade das espécies vegetais que compreendem a
vegetação de uma determinada região, sem qualquer expressão de
importância individual. Compreende também as algas e os fitoplânctons
marinhos flutuantes.

OBS.: Infrações penais contra a flora:

*Antes da L. 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais → as infrações contra


a flora eram todas contravenções penais (art. 26, Código Florestal – L.
4.771/65).
*Com a L. 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais → quase todas
contravenções foram revogadas, restaram 4 contravenções que continuam no
Código Florestal.
*Essas contravenções permanecem: Art. 26, letras E (fazer fogo dentro
da floresta), J, L, M, L. 4.771/65 (Código Florestal).

A) Art. 38 da lei

Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente,


mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:

Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas


cumulativamente.

Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.

Esse artigo revogou tacitamente o art. 26, letra a, Cód. Florestal.

Objeto material: florestas de preservação permanente, mesmo que em


formação.
Floresta: (REsp 783.652, STJ) - elemento central é o fato de ser
constituída por árvores de grande porte dessa forma não abarca a vegetação
média ou rasteira. Área densa de grande extensão coberta por arvores de
grande porte. Floresta de preservação permanente é uma espécie de APP
(área de preservação permanente).
APP: arts. 2º e 3º, Cód. Florestal.
Art. 2º, Cód. Florestal, traz um rol de APP.
Art. 3º, Cód. Florestal → declaradas por ato do poder público.

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117

APP por força de lei (art. 2º e outras leis); e por ato do poder público
(União, Estados Membros, Distrito Federal e Municípios).

Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive o proprietário da área onde está


a floresta.

Sujeito passivo: indeterminado, a coletividade e eventualmente o


proprietário da área atingida.

Tipo penal: destruir (aniquilar) e danificar (causar danos nas florestas


sem destruí-la). Mesmo que não haja finalidade lucrativa persiste o crime.
Conduta sem finalidade lucrativa → há crime.
Proteção: floresta, meio ambiente.

Objeto jurídico: meio ambiente.


Florestas de preservação permanente → destruir ou danificar → art. 38,
L. 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais.

É possível, excepcionalmente, a destruição (total ou parcialmente) de


florestas de preservação permanente sem que configure crime (art. 4º,
§§1º a 7º, Cód. Florestal - Alterado em 2001 por medida provisória. ADI 3.540
(medida constitucional).):
 Prévia autorização do poder executivo;
 Destruição for necessária para a execução de obras,
planos, projetos de utilidade pública ou interesse social.

OBS.: Florestas situadas em áreas indígenas são sempre de


preservação permanente. Art. 3º, §2º, Cód. Florestal.

Floresta → árvores de grande porte.


Exame pericial que definirá se a vegetação é uma floresta em formação.
Florestas artificiais de preservação permanente → reflorestamento ou
florestamento.

Tipo subjetivo: Crime punido na forma dolosa e culposa.

Distinções

Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:

Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um


ano, e multa.

: Se houver incêndio de APP → art. 41, L. 9.605/98 – Lei de Crimes


Ambientais → princípio da especialidade.
Art. 38, L. 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais → destruir ou danificar
abarca todas as condutas, menos incêndio.

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118

Florestas nacionais são unidades de conservação de uso sustentável.


Portanto, o crime praticado nessas florestas caracteriza o crime do art. 40, L.
9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais.

Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de


que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de
sua localização:

§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção Integral as Estações


Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e
os Refúgios de Vida Silvestre. (Redação dada pela Lei nº 9.985, de 18.7.2000)

§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior


das Unidades de Conservação de Proteção Integral será considerada circunstância
agravante para a fixação da pena. (Redação dada pela Lei nº 9.985, de 18.7.2000)

§ 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.

Art. 40-A. (VETADO)  (Artigo inluído pela Lei nº 9.985, de 18.7.2000)

§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas de


Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais,
as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de Desenvolvimento
Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural. (Parágrafo inluído pela Lei
nº 9.985, de 18.7.2000)

B) Art. 39 da lei

Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente,


sem permissão da autoridade competente:

Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas


cumulativamente.

Art. 38: destruir ou danificar floresta de preservação permanente.


Art. 39: cortar árvore de floresta de preservação permanente

C) Art. 41 da lei

Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:

Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um


ano, e multa.

Protege qualquer floresta.


Protege floretas e matas.

Matas: são extensões de terras onde se agrupam árvores nativas ou


plantadas que não sejam de grande porte.

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ART. 41, L. 9.605/98 – LEI DE CRIMES ART. 26, LETRA E, CÓDIGO FLORESTAL
AMBIENTAIS
Provocar incêndio na floresta dolosa ou Fazer fogo em florestas sem as devidas
culposamente precauções.
Crime ambiental Contravenção penal ambiental.

ART. 41, L. 9.605/98 – LEI DE CRIMES ART. 250, §1º, LETRA H, CP


AMBIENTAIS
Provocar incêndio em floresta dolosa ou Causar incêndio.
culposamente. Lavoura, pastagem, mata ou floresta.
Não causar perigo a incolumidade pública. 1ª corrente: Continua sendo aplicável – corrente
CESAR ROBERTO BITENCOURT e CAPEZ. majoritária - (CESAR ROBERTO BITENCOURT e
CAPEZ). Se o incêndio causar perigo a
incolumidade pública → art. 250, CP. Crime de
perigo comum
2ª corrente: NUCCI – tacitamente revogado os
termos mata e floresta.

D) Art. 42 da lei
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar
incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer
tipo de assentamento humano:

Pena - detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente .

Exame pericial → condutas fabricar, vender e transportar.


Balão → incêndio na floresta → art. 41, L. 9.605/98 – (absorve o art. 42
– crime de perigo).

E) Art. 44 da lei
Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação
permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Pertencem ao poder público (florestas de domínio público). APP.


Competência para julgamento: Justiça Federal (prevalece o
entendimento – art. 20, CF – bens minerais são patrimônios da União).

Floresta dentro de APP e for propriedade particular → (corrente


minoritária) há o entendimento que a competência é da justiça estadual.

OBS.: Aplica-se tal artigo no caso de extração em florestas de domínio


público ou APP. Se a extração for fora dessas áreas: art. 55, L. 9.605/98.
Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente
autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

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120

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pesquisada
ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou
determinação do órgão competente.

Condutas (art. 55): executar pesquisa, lavra ou extração dos minerais.


Só pesquisar ou fazer a lavra já é crime.
Pesquisa mineral: é a execução dos trabalhos necessários a definição
da jazida, sua avaliação e a determinação da exeqüibilidade do seu
aproveitamento econômico (ver se tem valor econômico).
Lavra: conjunto de operações coordenadas objetivando o
aproveitamento industrial da jazida, desde a extração até o beneficiamento das
mesmas.
Extração: retirada do mineral.
OBS.: DL. 227/67 (Código de Mineração).

STJ (pacífico): extração ilegal de minerais → concurso formal art. 55,


L. 9.605/98 (protege meio ambiente) com o crime de usurpação de bens da
União (crime contra o patrimônio da União – art. 2º, caput, L. 8.176/98 –
crimes contra a ordem econômica). Os crimes protegem objetos jurídicos
diferentes, logo, não é possível a absorção. O entendimento da doutrina é que
o art. 2º, caput, L. 8.176/98 está tacitamente revogado pelo art. 55, L. 9.605/98
– Lei de Crimes Ambientais.

REsp. 922.588/BA, STJ – 22/out/2007. Não existe conflito aparente de


normas. Competência: STJ inicialmente: extração dentro de área particular a
competência seria da Justiça Estadual. Hoje, o STJ entende, independe onde o
crime tenha ocorrido, a competência é sempre da Justiça Federal (patrimônio
e bens da União).

19.04.2009 – RENATO BRASILEIRO

10) LEI 7716/89 – LEI DO RACISMO

10.1) FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DA PROIBIÇÃO DA


DISCRIMINAÇÃO OU PRECONCEITO

- artigo 1º, III: fundamento da república;

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:

     (...)

        III - a dignidade da pessoa humana;

- artigo 3º, IV: objetivo fundamental da Republica Federativa do Brasil;

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Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

(...)

        IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

- artigo 4º, VIII: princípio das relações internacionais que regem o Brasil;

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios:

        (...)

        VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

- artigo 5º, caput: a proibição da discriminação é um direito fundamental.

        Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

10.2) REGRA CONSTITUCIONAL ESPECÍFICA DO CRIME DE


RACISMO – ARTIGO 5º, XLII CF

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de


reclusão, nos termos da lei;

É criticado por ser um crime inafiançável porque a lei proíbe a fiança,


mas não proíbe a liberdade provisória sem fiança.

Esta norma constitucional impõe três regras:


 O racismo é imprescritível: a doutrina critica a imprescritibilidade do
racismo afirmando que fere o princípio da dignidade da pessoa
humana, o princípio da humanização das penas e o princípio da
razoabilidade e da proporcionalidade (pois até os crimes hediondos
prescrevem). Todavia, não existe norma inconstitucional
originária. O STF decidiu que a imprescritibilidade se justifica
como um alerta para as gerações de hoje e de amanhã, para que
se impeça a reinstauração de velhos e ultrapassados conceitos.
 Inafiançável: NUCCI diz que esta regra é inútil, pois a CF vedou a
liberdade provisória com fiança, mas não vedou a liberdade
provisória sem fiança. O STF e STJ vêm entendendo, desde o ano
passado, que a vedação da liberdade provisória é com fiança e
sem fiança, pois não teria porque vedar com fiança e não vedar
sem fiança (entendimento para crimes hediondos).
 punido com reclusão: qualquer lei que defina crime de racismo não
pode prever prescrição, fiança e a pena tem que ser de reclusão,
caso contrário é inconstitucional no ponto que violar.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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122

Se a lei não estabelecer estas três características para o racismo ela


viola o artigo 5º e será materialmente inconstitucional.

OBS.: Qual é a abrangência da expressão racismo? O STF decidiu que


compreende quaisquer discriminações oriundas de raça, cor, credo,
descendência, origem nacional ou étnica (conceito amplo) – HC 82.424-RS.

10.3) ARTIGO 1º DA LEI 7716/89

Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou


preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº
9.459, de 15/05/97)

A doutrina diz que discriminação e preconceito são conceitos diferentes.


A lei se tornou mais abrangente. Segundo o STF, só entra no conceito de
racismo o disposto no artigo 1º.
Discriminar é traçar diferenças injustificadas com prejuízos materiais,
morais para o descriminado.
Preconceito é um juízo antecipado e apressado a respeito de alguém. O
preconceito como forma de pensamento não é punido, porque a cogitação não
é punida; é necessário que esse preconceito se transforme numa conduta
preconceituosa.
O preconceito ou a discriminação podem ser em razão de:
 Raça: para as ciências não existe mais o conceito de raças. De
acordo com os atuais estudos o conceito atual de raça não tem
base científica. O conceito de raça no direito penal, para fins
penais, deve considerar as classificações usualmente
consagradas e utilizadas na prática. Por exemplo: eu não gosto
da raça negra, amarela.
 Cor: é a pigmentação epidérmica. Para Christiano cor é
definição cromática de objetos e não de pessoas e afirma que os
termos corretos são caucasiano, afro descendente etc.
 Etnia: grupo de pessoas ligadas por laços biológicos e
culturais. Exemplo: indos, quilombos etc. Os grupos étnicos
podem ocupar territórios de diferentes países.
 Religião: é a crença numa força divina, num ser superior. A lei
pune a discriminação pela falta de religião? R.: 1ª corrente: não
configura crime de racismo a discriminação por falta de religião,
pois o ateísmo não é religião; 2ª corrente: configura crime de
racismo, porque é discriminação em razão de religião, ou seja,
discriminar em razão da opção da vítima de não ter religião.
 Procedência nacional: pune os atos de xenofobia, ódio aos
estrangeiros. Nesta expressão está incluído o preconceito em
razão da procedência regional? R.: Prevalece o entendimento de
que sim, que abrange também este preconceito.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
123

O rol do artigo 1º é taxativo. NUCCI entende que é exemplificativo,


podendo incluir preconceito em razão do sexo ou do estado civil da pessoa –
não é o que predomina!
A chamada discriminação positiva não é crime; só é crime a
discriminação negativa que visa impedir o gozo e o exercício de direitos e
liberdades fundamentais. Discriminações positivas são políticas
compensatórias como as ações afirmativas, por exemplos, cotas nas
universidades.

O artigo 1º ponto 1 e ponto 4 da Convenção Internacional sobre


Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial não considera
discriminação racial a chamada discriminação positiva.

A) Elemento subjetivo específico


Todos os crimes desta lei exigem o chamado elemento subjetivo
específico, ou seja, a finalidade de discriminar em razão de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional. Se a discriminação se der por
QUALQUER outro motivo, não há os crimes da lei de racismo.
Todos os crimes desta lei entram na regra constitucional, ou seja, são
inafiançáveis, imprescritíveis e punidos com reclusão.

10.3.1) Distinção de crimes

1. Discriminação contra idoso por motivo de idade  crimes dos artigos


96 e 100, I e II da lei 10741/03 – Estatuto do idoso;
2. Discriminação contra pessoas portadoras de doença física ou mental
 crime do artigo 8º da lei 7853/89;
3. Tortura em razão da descriminação racial ou religiosa  crime do
artigo 1º, I “c” da lei 9455/97;
4. Publicidade discriminatória de qualquer natureza crime contra o
consumidor artigo 67 c/c artigo 37, §2º do CDC;
5. Exigir teste, exame, perícia, laudo, atestado relativo à esterilização ou
gravidez para dar trabalho a alguém  crime do artigo 2º da lei 9029/95;
6. Fazer propaganda de discriminação racial com fins políticos  crime
do artigo 22 da lei 7170/85 – Lei de Segurança Nacional;
7. Praticar discriminação em cerimônia, rito ou contra usos, costumes ou
tradições culturais indígenas  crime do artigo 58 da lei 6001/73 – Estatuto
do Índio;
8. Agir com a intenção de destruir total ou parcialmente grupo nacional,
étnico, racial ou religioso  crime de genocídio – artigo – da lei 2889/65;
9. Matar membros de grupo nacional, étnico, religioso ou pertencente a
determinada raça com o fim de destruir total ou parcialmente o grupo  crime
do decreto lei 1001/69 (CPM).
10. fazer propaganda de preconceito de raça ou de classe por meio da
imprensa  crime de imprensa – artigo 14 da lei 5250/67 – a lei foi julgada
pelo STF incompatível com a CF/88 em abril de 2009;
11. Discriminação por motivo de sexo ou estado civil  contravenção
penal da lei 7437/85 (no que se refere a cor e raça foi tacitamente revogada
pela lei de racismo, mas continua em vigor com relação a sexo e estado civil).

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
124

OBS.: ***Em razão da opção sexual  Não há um crime específico


de discriminação sexual; pode configurar injúria.

10.4) CRIMES EM ESPÉCIE


Observações gerais: Quase todos os crimes previstos nesta lei
envolvem atos de segregação. Os tipos penais desta lei são criticados, por toda
doutrina, tendo em vista que são muitos casuísticos, ou seja, pune situações
muito específicas (são muito limitados na abrangência). Ficam de fora dos tipos
penais outras situações que deveriam ser abrangidas.
Este problema de conter tipos muito casuísticos foi corrigido, em partes,
com o acréscimo do artigo 20 que dispõe:

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.


§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos
ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.
(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de
comunicação social ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
15/05/97)

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a


pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada
pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas.

§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão,


a destruição do material apreendido. (Parágrafo incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

É um tipo penal mais amplo que acaba permitindo a punição de outras


formas de discriminação e preconceito que não se encaixem em outros tipos
penais específicos da lei, por isso funciona como um tipo penal subsidiário.

10.4.1) Artigo 3º da lei 7716/89

Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da


Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

A) Sujeitos do crime
Prevalece o entendimento de que se trata de crime comum, ou seja,
pode ser praticado por qualquer e não apenas por integrantes da
administração pública e das concessionárias. Exemplo: particular presta
informações desabonadoras e falsas sobre um candidato a concurso público.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
125

O sujeito passivo é a pessoa discriminada.

B) Tipo objetivo:
As condutas são:
- impedir;
- obstar.

O acesso a que se refere o tipo penal é o acesso jurídico e não jurídico,


isto é, impedir que a pessoa conquiste o cargo público ou que trabalhe na
concessionária.
Se a pessoa já ocupa o cargo e é forçada a deixar esse cargo por
discriminação, aplica-se o tipo penal do artigo 20 desta lei (tipo subsidiário).
De acordo com a doutrina majoritária, a expressão cargo não esta
empregado no sentido técnico da palavra, mas sim no sentido comum da
palavra. Assim, abrange cargo, emprego ou qualquer função da administração
pública ou nas concessionárias. Isso não seria interpretação extensiva de tipo
penal incriminador? Não, é apenas uma interpretação declarativa da
expressão cargo, ou seja, dar seu real significado (NUCCI, JOSÉ SILVA
JÚNIOR).
Prevalece o entendimento de que não estão incluídos no tipo penal as
permissionárias de serviço público, tendo em vista que o tipo penal foi expresso
ao falar em concessionária de serviço público.
Trata-se de um tipo misto alternativo, isto é, o tipo penal contém mais de
um núcleo verbal típico. Se o infrator obstar e depois impedir a mesma pessoa
de obter o cargo público temos um crime só (o número de condutas será
considerado na dosagem da pena).

C) Tipo subjetivo
É o dolo de discriminar a vítima por qualquer forma de preconceito
disposta na lei. Não há a forma culposa do crime.
O artigo 1º da lei é uma norma de extensão que se agrega a todos os
tipos penais.

E) Consumação e tentativa:
Há duas correntes: 1ª corrente: o crime é formal, ou seja, consuma-se
com a simples conduta de obstar ou impedir o acesso da vítima ao cargo.
Mesmo que ela consiga ter o acesso por outros meios. 2ª corrente: o crime é
material, assim só se consuma se a vítima não conseguir o acesso ao cargo ou
emprego na concessionária.
Todos admitem que é possível a tentativa deste crime.

Distinção de crimes: Obstar o acesso de alguém a cargo público por


motivo de idade constitui crime do artigo 100, I do estatuto do idoso:

Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa:

I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade;

10.4.2) Artigo 4º da lei 7716/89


LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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126

Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

A) Sujeitos do crime:
Trata-se de crime próprio, ou seja, só pode ser praticado pelo
proprietário da empresa privada ou o responsável pela contratação de
pessoal, isso no caso da conduta negar. Na conduta obstar é crime comum.
Sujeito passivo é a pessoa discriminada.

B) Tipo objetivo
As condutas são:
- negar: não dar emprego a pessoa.
- obstar: criar obstáculos (exigir condições diferenciadas).

Quanto a expressão emprego prevalece que esta sendo usada em


sentido amplo (comum), ou seja, abrange qualquer forma de trabalho (eventual,
temporário, estágio, autônomo) – NUCCI.
A conduta deve ocorrer em empresa privada. Se negar ou impedir
alguém de trabalhar em cooperativas, sindicatos, condomínios, fundações
aplica-se o tipo penal do artigo 20.
OBS.: E se a recusa for de contratar uma empregada doméstica por
motivo de preconceito? R.: Neste caso, prevalece o entendimento de que o
empregado doméstico não está protegido por esta norma, pois por motivos
íntimos o dono da casa pode escolher com quem ele vai conviver dentro da
casa.
O professor acha que se o patrão exteriorizar os motivos da não
contratação, discriminando-o, ele pratica o crime do artigo 20 da lei. O direito
de intimidade da pessoa não permite que ela pratique atos de discriminação.

C) Elemento subjetivo
É o dolo de discriminar a vítima por qualquer forma de preconceito
disposta na lei. Não há a forma culposa do crime.

D) Consumação e tentativa
Há duas correntes: 1ª corrente: o crime é formal, ou seja, consuma-se
com a simples conduta de negar ou obstar o acesso da vítima ao cargo.
Mesmo que ela consiga ter o acesso por outros meios. 2ª corrente: o crime é
material, assim só se consuma se a vítima não conseguir o acesso ao
emprego.
Todos admitem que é possível a tentativa deste crime.

Distinção de crimes: Negar a alguém por motivo de idade, emprego ou


trabalho é crime do estatuto do idoso – artigo 100, II:

Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa:

II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho;

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10.4.3) Artigo 5º da lei 7716/89:

Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender


ou receber cliente ou comprador.

Pena: reclusão de um a três anos.

A) Sujeitos do crime:
O sujeito ativo é só o comerciante ou os empregados do
estabelecimento (comerciários), portanto, é crime próprio. O sujeito passivo é
a pessoa discriminada.

B) Tipo objetivo:
As condutas são:
- recusar:
- impedir:

O acesso disposto no artigo é o físico. A expressão estabelecimento


comercial está no sentido amplo da palavra, ou seja, qualquer local de
comercialização de produtos ou serviços.
É um crime de forma vinculada, porque a conduta de recusar ou impedir
tem que ser praticada pelas seguintes formas:
1. negar-se a servir cliente ou comprador;
2. negar-se a receber cliente ou comprador;
3. negar-se a atender cliente ou comprador.

C) Consumação e tentativa
Há divergências: 1ª corrente: o crime é formal e se consuma com a
simples conduta, ainda que o cliente consiga ser recebido, atendido ou servido
de outra forma - NUCCI; 2ª corrente: é crime material; só se consuma se a
vítima não foi atendida, recebida ou servida (exige a ocorrência de resultado
naturalístico).
Com relação a tentativa não há unanimidade. Uma corrente defende que
não há a possibilidade de tentativa; enquanto outra corrente entende que é
possível a tentativa desde que seja uma conduta plurissubsistente – NUCCI.

Distinção de crimes: Praticar discriminação contra consumidor por


outros motivos que não seja o preconceito em razão de raça, religião, etnia,
mas sim, por exemplo, em razão de poder aquisitivo constitui o crime do
artigo 7º, I da lei 8137/90:

Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo:

I - favorecer ou preferir, sem justa causa, comprador ou freguês, ressalvados os sistemas de


entrega ao consumo por intermédio de distribuidores ou revendedores;

No artigo 5º a conduta é negar atendimento em qualquer


estabelecimento comercial. Agora se esta conduta ocorrer em certos
estabelecimentos específicos poderá ocorrer o crime dos artigos 7º, 8º, 9º e 10
(princípio da especialidade):

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128

Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou


qualquer estabelecimento similar.
Pena: reclusão de três a cinco anos.

Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares,


confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos,


casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros,


barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades.
Pena: reclusão de um a três anos.

10.4.4) Artigo 11º da lei 7716/89:

Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores
ou escada de acesso aos mesmos:

Pena: reclusão de um a três anos.

A) Sujeitos do crime
Trata-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa, independentemente de ser morador ou trabalhador do edifício –
entendimento majoritário. NUCCI entende que se trata de crime próprio, isto é,
só pode ser cometido pela pessoa encarregada de autorizar o acesso ao local.
Sujeito passivo é a pessoa discriminada.

B) Tipo objetivo
A conduta é:
- impedir: o acesso físico. Prevalece o entendimento de que há o crime
tanto na conduta de impedir o acesso, como na conduta de proibir a
permanência, ou seja, expulsar a pessoa do local. A lei fala em edifícios
residenciais e os edifícios comerciais? Há dois entendimentos: 1º corrente: não
caracteriza este crime, porque não se trata nem de edifício público e nem de
edifício residencial; aplica-se, no caso, o artigo 2º da lei; 2º corrente: impedir o
acesso a edifícios comerciais constitui o crime do artigo 11, porque a
expressão edifício público significa edifício aberto ao público e não edifício da
administração pública.

C) Tipo subjetivo
É o dolo de discriminar a vítima por qualquer forma de preconceito
disposta na lei. Não há a forma culposa do crime.

D) Consumação e tentativa

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Há duas correntes: 1ª corrente: o crime é formal ou de consumação


antecipada, isto é, consuma-se com a conduta de impedir, mesmo que a vítima
consiga o acesso por outros meios – NUCCI; 2ª corrente: o crime é material,
isto é, só se consuma se a vítima não conseguir ingressar no local em razão do
impedimento sofrido.
Ambas as correntes entendem que é possível a tentativa, porque a
conduta é plurissubsistente.

10.4.5) Artigo 6º da lei 7716/89:

Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de


ensino público ou privado de qualquer grau.

Pena: reclusão de três a cinco anos.

Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada de
1/3 (um terço).

A) Sujeitos do crime
O crime é próprio, ou seja, só pode ser cometido pelo responsável
pela inscrição; agora no que diz respeito a impedir o ingresso é crime
comum, porque prevalece que a palavra ingresso está no sentido comum,
abrangendo o ingresso físico ou jurídico.
Sujeito passivo é o aluno ou candidato a aluno discriminado.
Se a vítima for menor de 18 anos a pena é aumentada de 1/3.

B) Tipo objetivo:
As condutas são três:
- recusar;
- negar;
- impedir.

Inscrição é um pedido formal de matrícula (está incluída a inscrição no


vestibular). O ingresso pode ser o físico ou jurídico que significa impedir a
matrícula ou entrada no local de aluno já matriculado.
E se a discriminação ocorrer contra aluno que já pertence A
estabelecimento de ensino, configura este crime ou não? 1ª corrente: configura
o crime do artigo 20 da lei; 2ª corrente: configura este crime, porque a lei
protege todos os direitos do aluno (inclusive freqüência as aulas e demais
direitos de alunos já matriculados).

OBS.: O crime pode ocorrer em creches, pré-escolas, pós-graduação,


cursos de extensão, cursos profissionalizantes, cursos preparatórios para
concursos, etc.

C) Tipo subjetivo
É o dolo de discriminar a vítima por qualquer forma de preconceito
disposta na lei. Não há a forma culposa do crime.

D) Consumação e tentativa:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Há duas correntes: 1ª corrente: o crime é formal ou de consumação


antecipada, isto é, consuma-se com a conduta de impedir, mesmo que a vítima
consiga o acesso por outros meios – NUCCI; 2ª corrente: o crime é material,
isto é, só se consuma se a vítima não conseguir ingressar no local em razão do
impedimento sofrido.
Ambas as correntes entendem que é possível a tentativa, porque a
conduta é plurissubsistente.

10.4.6) Artigo 12º da lei 7716/89

Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos,
ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido.

Pena: reclusão de um a três anos.

A) Sujeitos do crime
É crime comum. NUCCI entende que é crime próprio e só pode ser
praticado pelo piloto do transporte.
Sujeito passivo é qualquer pessoa.

B) Tipo objetivo
A conduta é:
-impedir o acesso ou uso.

É impedir o acesso físico ao meio de transporte ou uso (despachar


bagagem, malote).

O crime se consuma se houver o impedimento da pessoa entrar


fisicamente ou se ela for impedida de usar.
O impedimento tem que ocorrer em transporte público ou qualquer meio
de transporte concedido. Há uma divergência: impedir a pessoa de usar taxi
entra nesse tipo penal? 1ª corrente: sim, porque se trata de serviço público,
fiscalizado pelo serviço público – JOSÉ SILVA JÚNIOR, NUCCI; 2ª corrente:
não configura o crime porque taxi é transporte particular.
Essa mesma discussão existe com relação ao ônibus escolar e ao
ônibus fretado pela empresa para o transporte de funcionários.

C) Tipo subjetivo:
É o dolo de discriminar a vítima por qualquer forma de preconceito
disposta na lei. Não há a forma culposa do crime.

D) Consumação e tentativa:
Há duas correntes: 1ª corrente: o crime é formal ou de consumação
antecipada, isto é, consuma-se com a conduta de impedir, mesmo que a vítima
consiga o acesso por outros meios – NUCCI; 2ª corrente: o crime é material,
isto é, só se consuma se a vítima não conseguir ingressar no local em razão do
impedimento sofrido.
Ambas as correntes entendem que é possível a tentativa, porque a
conduta é plurissubsistente.

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10.4.7) Artigo 13º da lei 7716/89

Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças
Armadas.

Pena: reclusão de dois a quatro anos.

É tipo penal especial com relação ao crime do artigo 3º (é tipo


específico).

A) Sujeitos do crime:
Prevalece o entendimento de que se trata de crime comum, ou seja,
pode ser praticado por qualquer e não apenas por integrantes da administração
pública e das concessionárias. Exemplo: particular presta informações
desabonadoras e falsas sobre um candidato a concurso público.
O sujeito passivo é a pessoa discriminada.

B) Tipo objetivo:
As condutas são:
- impedir: negar;
- obstar: criar dificuldades.

O acesso aqui é o jurídico, ou seja, impedir a pessoa de fazer parte das


Forças Armadas. O crime ocorre em qualquer ramo das Forças Armados. Inclui
Marinha, Exército, Aeronáutica, Serviço militar obrigatório, serviço militar
temporário em tempo de paz e o serviço alternativo por imperativo de
consciência – artigo 143 CF c/c lei 8239/91:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º - às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em
tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o
decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de
atividades de caráter essencialmente militar.

§ 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo de


paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.

Impedir a pessoa de ingressar no corpo de bombeiros ou na polícia


militar, configura este crime? 1ª corrente: não, porque a polícia militar e o corpo
de bombeiro são órgãos da segurança pública e não das Forças Armadas –
Fabiano Augusto Martins e Cristiano Santos; 2ª corrente: sim, porque são
forças auxiliares do exército – Nucci e José Silva Júnior.

E impedir o acesso a polícia civil ou federal, configura este crime? Não,


mas sim do artigo 3º da lei.

C) Tipo subjetivo:
É o dolo de discriminar a vítima por qualquer forma de preconceito
disposta na lei. Não há a forma culposa do crime.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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D) Consumação e tentativa:
Há duas correntes: 1ª corrente: o crime é formal, ou seja, consuma-se
com a simples conduta de obstar ou impedir o acesso da vítima ao cargo.
Mesmo que ela consiga ter o acesso por outros meios; 2ª corrente: o crime é
material, assim só se consuma se a vítima não conseguir o acesso ao cargo ou
emprego na concessionária.
Todos admitem que é possível a tentativa deste crime.

10.4.8) Artigo 13º da lei 7716/89

Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e
social.

Pena: reclusão de dois a quatro anos.

A) Sujeitos do crime
Convivência familiar inclui união estável, relacionamento entre parentes,
relação de amizade, de namoro etc – crime próprio.

B) Tipo objetivo
Impedir o casamento.

C) Tipo subjetivo
É o dolo de discriminar a vítima por qualquer forma de preconceito
disposta na lei. Não há a forma culposa do crime.

D) Consumação e tentativa:
Prevalece o entendimento de que o crime é formal ou de consumação
antecipada. A tentativa é admitida.

10.4.9) Artigo 20º da lei 7716/89

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos


ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.
(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de
comunicação social ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a


pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada
pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão,


a destruição do material apreendido. (Parágrafo incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Este artigo foi incluído pela lei 8081/90, porém ele só se caracteriza se
fosse praticado por meios de comunicação social. Após, ele foi alterado pela lei
9459/97 que não exige mais que o crime seja praticado por meio de
comunicação, mas sim por qualquer forma.
Se ele for praticado por meio de comunicação, passa a ser qualificado.

A) Sujeitos do crime
O sujeito ativo é qualquer pessoa, tendo em vista que qualquer pessoa
pode praticar um ato de discriminação.
O sujeito passivo é a coletividade e, secundariamente a pessoa que
sofreu o ato discriminatório.

B) Tipo subjetivo
Só haverá o crime se houver a finalidade específica de divulgação do
nazismo, ainda que a divulgação não seja concedida – elemento subjetivo do
tipo.

C) Tipo objetivo
As condutas são:
- praticar: é executar algum ato discriminatório ou preconceituoso.
- induzir: criar a idéia de discriminação ou preconceito em alguém.
- incitar: reforçar uma idéia de preconceito já existente.

Atenção: se a pessoa induzir ou incitar um terceiro a cometer algum dos


crimes do artigo 3º a 14 ele será partícipe destes crimes, não se aplicando o
artigo 20 no caso.

D) Consumação e tentativa:
O crime é formal e se consuma com a simples conduta de praticar,
induzir ou incitar o preconceito ou discriminação.
A tentativa é admitida, por exemplo, na forma escrita.

10.4.10) Artigo 16º da lei 7716/89

Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor
público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior
a três meses.

Se o crime for praticado por servidor público é efeito da condenação a


perda do cargo. E se for praticado em estabelecimento particular é efeito da
condenação a suspensão de funcionamento do estabelecimento por até 3
meses.
Esses efeitos são automáticos ou não? Artigo 18 da lei – não são
automáticos, devem ser declarados na sentença de forma motivada.

Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
134

09.05.2009 – ROGÉRIO SANCHES

11) LEI 7210/84 – LEI DE EXECUÇÃO PENAL

11.1) FINALIDADES DA EXECUÇÃO PENAL


Art. 1º da LEP

        Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou
decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do
condenado e do internado.

1. Proporcionar meios para que a sentença seja integralmente


cumprida;
2. Reintegração do sentenciado ao convívio social;

Finalidades da pena: teoria clássica - tem finalidade tríplice: preventiva,


retributiva e ressocializadora. Teoria moderna – tem finalidade tríplice, mas
divide de acordo com o momento - HOXIN:
a. Pena em abstrato  prevenção geral (atua antes do crime, visa a
sociedade, busca evitar a prática do delito);
b. Pena na sentença  prevenção especial (atua depois do crime, não
visa a sociedade, mas sim o delinqüente, busca evitar a
reincidência);
c. Pena na execução efetivação da prevenção especial +
retribuição e ressocialização;

11.2) PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO PENAL

11.2.1) Princípio da legalidade


Art. 3º da LEP

      Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos
pela sentença ou pela lei.  

A LEP se aplica ao preso definitivo, ao preso provisório, no que


couber, e ao internado, sujeito à medida de segurança de internação.

11.2.2) Princípio da igualdade


Art. 3º, parágrafo único, da LEP
Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou
política.

É perfeitamente possível, todavia, distinções quanto à idade e ao sexo.

11.2.3) Princípio da personalidade ou da personalização da pena


Art. 5º da LEP

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
135

        Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e


personalidade, para orientar a individualização da execução penal.

Amolda-se a execução penal de acordo com as características de


qualquer preso.
OBS.: Quem classifica a pena? R.: Comissão Técnica de
Classificação – alteração com a Lei 10792/2003 – deve-se analisar também
sua redação anterior. Antes de 2003, a CTC acompanhada penas privativas de
liberdade, restritivas de direitos, intervinha em progressões, regressões de
regimes e conversão da pena. Hoje é esta a redação do art. 6º:

        Art. 6o A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o
programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso
provisório. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Hoje, a CTC apenas individualiza e acompanha pena privativa de


liberdade (e mais nada!)

11.2.4) Princípio da jurisdicionalidade


Os incidentes da LEP serão decididos pelo Poder Judiciário. A
autoridade administrativa somente pode decidir pontos secundários da
execução penal, exs.: dias de visita, horário do banho de sol, imposição de
sanções disciplinares expressamente previstas em lei etc. Mesmo nestes
pontos secundários não se impede o socorro à autoridade judiciária.

11.2.5) Princípio do devido processo legal


Extrai-se a ampla defesa, o contraditório, a publicidade, imparcialidade
do juiz etc.

11.2.6) Princípio reeducativo


Busca a ressocialização do preso. Ex.: assistência do art 11 é um
instrumento para a busca da ressocialização.

11.2.7) Princípio da humanidade das penas ou da humanização das


penas
Proíbe-se penas desumanas, cruéis e degradantes.

11.3) COMPETÊNCIA
A competência do juiz da execução inicia-se com o trânsito em julgado
da sentença condenatória e será exercida por um juízo especializado, de
acordo com a lei orgânica judiciária. Em alguns casos, será exercida,
supletivamente, pelo próprio juiz da sentença, nas hipóteses de existência de
vara única.
OBS.1: É possível iniciar a execução antes do trânsito em julgado, ou
seja, é possível no Brasil a execução provisória? R.: Art. 2º, parágrafo único, da
LEP e art. 1º da Resolução 19 do CNJ- sim, é possível!

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
136

        Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao condenado
pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição
ordinária.

SÚMULA Nº 716 DO STF


 ADMITE-SE A PROGRESSÃO DE REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA OU A
APLICAÇÃO IMEDIATA DE REGIME MENOS SEVERO NELA DETERMINADA, ANTES DO
TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA.

Mas esta execução provisória depende do trânsito em julgado para o


MP? R.: O MP defende a tese de que sim, a execução provisória dependerá do
trânsito em julgado para o MP – contrário ao entendimento da resolução do
CNJ, da súmula do STF nem mesmo entendimento da LEP.
` OBS.2: Tal execução provisória não fere o princípio da presunção de
inocência? R.: STF - No caso de condenado provisório preso, admite-se a
execução provisória, configurando antecipação de institutos benéficos da
LEP. No caso de condenado provisório solto, não se admite a execução
provisória, sob pena de ferir o princípio da presunção de não-culpa.
OBS.3: E se estiver pendente recurso extraordinário ou especial (a
condenação foi confirmada em 2º grau)? R.: Para quem estava já preso,
admite-se execução provisória. Se o condenado provisório estiver solto, há
duas correntes: 1ª corrente: admite-se! Tal corrente está fundamentada no art.
637 do CPP

        Art. 637 do CPP.  O recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez
arrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os originais baixarão à primeira instância, para
a execução da sentença.

2ª corrente: Não se admite! O art. 367 do CPP é de 1940; a LEP é de 1984 e


não repetiu tal redação; a CF é de 1988 e prevê o princípio da presunção de
não-culpa. Posição do STF: é a da 2ª corrente (7 votos x 4 votos) – não se
trata de súmula vinculante (O STF não conseguiu transformar em súmula
vinculante pois a votação não deu 8 a 3) .

OBS.: A resolução 19 do CNJ foi alterada em seu art. 1º pela resolução


57: se o recurso do MP tem efeito suspensivo, não haverá execução
provisória (a resolução 19 permitia a execução provisória mesmo sem efeito
suspensivo do recurso do MP).

A competência da LEP não é ditada pelo local onde transitou em julgado


o processo de conhecimento (o juiz da execução não será necessariamente o
do mesmo local da onde a infração foi praticada).
Quanto à pena privativa de liberdade, compete ao juízo da execução
do local onde o condenado está preso – “onde o preso vai, a execução vai
atrás”.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
137

Preso condenado pela Justiça Federal, Eleitoral ou Militar, cumprindo


pena em estabelecimento estadual, a competência da Execução será do Juiz
Estadual (quem manda é o juiz que fiscaliza o estabelecimento).
Súmula: 192 do STJ
COMPETE AO JUIZO DAS EXECUÇÕES PENAIS DO ESTADO A EXECUÇÃO DAS PENAS
IMPOSTAS A SENTENCIADOS PELA JUSTIÇA FEDERAL, MILITAR OU ELEITORAL,
QUANDO RECOLHIDOS A ESTABELECIMENTOS SUJEITOS A ADMINISTRAÇÃO
ESTADUAL.

O preso estadual, cumprindo pena em estabelecimento federal, a


competência da execução será da Justiça Federal – leitura da lei ao contrário.

No caso de penas restritivas de direito ou sursis, a competência caberá


ao juízo da execução do domicílio do reenducando.
No caso de pena de multa, com o advento da Lei 9268/96, ela passou a
ser executada como dívida ativa. 1ª corrente: a pena continua sendo
executada pelo juiz da execução do local da condenação; 2ª corrente: a pena
deve ser executada na vara da Fazenda Pública do local da condenação. STF
e STJ têm adotado a 2ª corrente.
Se o sentenciado for detentor de foro por prerrogativa de função, o
Tribunal respectivo que fiscalizará a pena.

OBS.: Não pode confundir início da competência do juízo da execução


com o início da execução! Inicia-se a competência do juízo da execução com o
trânsito em julgado; inicia-se a execução com a expedição da guia de
recolhimento.

11.4) DIREITOS E DEVERES DO PRESO


Art. 38 a 43 da LEP – é o que a doutrina chama de estatuto jurídico do
preso – compreende os direitos (art. 41) e os deveres (art. 39) do preso. Os
direitos estão num rol exemplificativo; os deveres estão num rol taxativo.

        Art. 3º da LEP. Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não
atingidos pela sentença ou pela lei.

Art. 39 da LEP. Constituem deveres do condenado:

        I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;

        II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;

        III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;

        IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à


ordem ou à disciplina;

        V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas – também está no rol dos
direitos;

        VI - submissão à sanção disciplinar imposta;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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138

        VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores;

        VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua
manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;

        IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;

        X - conservação dos objetos de uso pessoal.

        Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto neste artigo.

Art. 41 - Constituem direitos do preso:

        I - alimentação suficiente e vestuário;

        II - atribuição de trabalho e sua remuneração;

        III - Previdência Social;

        IV - constituição de pecúlio;

        V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a


recreação; (“trabalha um pouquinho, descansa um pouquinho, brinca um pouquinho”);

        VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores,


desde que compatíveis com a execução da pena;

        VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;

        VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

        IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;

        X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;


(“trabalha um poquinho...brinca um pouquinho e visita a família” – abrange até a visita íntima);

        XI - chamamento nominal;

        XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena;

        XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;

        XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;

        XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e
de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.

       XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da
autoridade judiciária competente. (Incluído pela Lei nº 10.713, de 13.8.2003) – evita-se o
hipertrofia da execução (fala-se na quantidade de execução), que é diferente de desvio de
execução (fala-se na qualidade de execução) – RENAN SEVERO TEIXEIRO DA CUNHA

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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139

        Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou
restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento – deve-se decorar estes
incisos, múltiplos de 5 (são os mais importantes para concursos públicos!) O resto dos direitos
são absolutos (salvo os incisos V, X e XV, que são direitos relativos). Enquanto persistirem os
motivos, os direitos estarão suspensos.

11.5) SANÇÕES DISCIPLINARES


As prisões são verdadeiros agrupamentos humanos. Como todo
agrupamento, necessita de disciplina para manter a ordem. Dar-se-á benefícios
para aqueles que merecem e será imposta sanções àqueles que não merecem
benefícios.
As faltas disciplinares se dividem em: leves, médias e graves. A LEP só
trata das faltas graves; as leves e médias ficam a cargo da legislação local.
Arts 50 a 52 – infrações graves.

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:

        I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;

        II - fugir; - doutrina minoritária discorda; seria a fuga uma exteriorização do sentimento
natural do homem: a busca da sua liberdade.

        III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem; -
ainda que o instrumento seja caseiro.

        IV - provocar acidente de trabalho;

        V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;

        VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.

        VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. (Incluído pela Lei nº
11.466, de 2007) – até o advento desta lei, posse de celular em presídio não era falta grave;
não pode retroagir, pois se trata de norma posterior maléfica;

        Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório.

As faltas graves estão sujeitas às sanções. E quais são as sanções


disciplinares possíveis? R.: 53 da LEP

Art. 53. Constituem sanções disciplinares:

        I - advertência verbal;

        II - repreensão;

        III - suspensão ou restrição de direitos (artigo 41, parágrafo único);

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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140

        IV - isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que


possuam alojamento coletivo, observado o disposto no artigo 88 desta Lei.

        V - inclusão no regime disciplinar diferenciado. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Será estudado aqui somente o RDD.

11.5.1) Regime Disciplinar Diferenciado – RDD


O RDD não é uma quarta espécie de regime de cumprimento de pena,
mas sim a mais drástica sanção disciplinar imposta ao preso autor de falta
grave.

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando
ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado,
sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes
características: (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

        I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por
nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; (Incluído pela
Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Característica temporal: ele perdura por até 365 dias (pode ser de 5, 10
ou 100 dias, por ex.). Caso haja repetição de falta grave, poderá aumentar até
1/6 da pena aplicada (a pena dele é de 12 anos; indo para o RDD, ficará até
365 dias; repetindo a falta grave, ficará até 1/6 da pena – o que corresponde a
2 anos). Ocorrendo nova repetição (além da 1ª repetição da falta grave), a lei
não limita, ou seja, o infrator poderá ficar por mais 1/6 da pena aplicada. Tem
doutrina minoritária dizendo que as novas internações somadas não podem
ultrapassar de 1/6

        II - recolhimento em cela individual; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Recolhimento em cela individual: não se falou em cela escura, insalubre.

        III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas
horas; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Visita semanal com duração de 2 horas: visita semanal de duas


pessoas. O legislador ressalva, dizendo “sem contar as crianças”. ROGÉRIO
SANCHES – crianças não podem entrar. Prevalece que criança pode entrar à
vontade.
       
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol. (Incluído
pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Banho de sol: duração de 2 horas.

A) Hipóteses de cabimento

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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141

A.1) Art. 52, caput, da LEP – prática de crime doloso + subversão da


ordem e disciplina interna

        Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou
condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as
seguintes características: (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Não é um simples crime doloso, mas sim um crime doloso, acarrentando


na subversão da ordem ou disciplina interna.
A tentativa deste crime também pode acarretar em RDD, desde que
acarrete tal subversão.
Também está sujeito ao RDD o preso provisório.

A.2) Art. 52, parágrafo 1º, da LEP – alto risco para a ordem e a
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade

        § 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou


condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança
do estabelecimento penal ou da sociedade. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

ROGÉRIO SANCHES – acha que caracteriza o direito penal do autor


(punir a pessoa pelo que ela é), sendo inconstitucional.
Deve, para corrigir o parágrafo, considerar determinado fato por ele
praticado.

A.3) Art. 52, parágrafo 2º, da LEP – fundadas suspeitas de participação


em organizações criminosas ou quadrilha ou bando

        § 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório


ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a
qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando. (Incluído pela Lei nº 10.792,
de 1º.12.2003)

A doutrina corrige: deve haver prova! Não basta apenas os meros


indícios.

B) Procedimento de inclusão no RDD


Ele está tomado pela judicialização.

Art. 54. As sanções dos incisos I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato motivado do diretor do
estabelecimento e a do inciso V (RDD), por prévio e fundamentado despacho do juiz
competente. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

OBS.: Cabe RDD de ofício? R.: Não. Só caberá mediante requerimento,


segundo o parágrafo 1º, do art. 54

        § 1o A autorização para a inclusão do preso em regime disciplinar dependerá de


requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou outra
autoridade administrativa (secretário de segurança, por ex). (Incluído pela Lei nº 10.792, de
1º.12.2003)

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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142

       OBS.:
MP pode requerer a inclusão de um sujeito no RDD? R.: Art. 68, II,
“a”, da LEP

Art. 68. Incumbe, ainda, ao Ministério Público:

   II - requerer:

a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento do processo executivo;

 Art. 54, § 2o A decisão judicial sobre inclusão de preso em regime disciplinar será precedida de
manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no prazo máximo de quinze dias.
(Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Individualização da sanção disciplinar – art. 57 da LEP. Está vedada


a sanção disciplinar coletiva.
  
Art. 57. Na aplicação das sanções disciplinares, levar-se-ão em conta a natureza, os motivos,
as circunstâncias e as conseqüências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de
prisão. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

        Art. 45, § 3º São vedadas as sanções coletivas.

OBS.: É possível RDD preventivo? R.: Art. 60 da LEP. É perfeitamente


possível a inclusão do preso no RDD preventivo

        Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do


faltoso pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, no
interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá de despacho do juiz
competente. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

C) Constitucionalidade ou inconstitucionalidade do RDD

CONSTITUCIONALIDADE INCONSTITUCIONALIDADE
Não representa a submissão a padecimentos Fere a dignidade da pessoa humana – seria pena
físicos e psíquicos – STJ - desumana é a prisão do cruel, desumana e degradante;
resto dos presidiários;
Considerando as hipóteses de cabimento, o RDD é Configura sanção desproporcional aos fins da
proporcional à gravidade da indisciplina; pena;
Não é regime de cumprimento de pena – estes são Ofende a coisa julgada, representando uma quarta
regime fechado, semi-aberto e aberto. Deve-se modalidade de regime de cumprimento de pena.
separar processo de conhecimento e processo de
execução. No processo de conhecimento há uma
relação do juiz – Estado/acusação – pessoa. No
processo de execução há uma nova relação entre
juiz – Estado/acusação – pessoa;
A punição no RDD é uma punição administrativa e O RDD viola o princípio da legalidade e do non bis
não uma punição penal, não caracterizando assim in idem – está sendo punido 2 vezes pelo o mesmo
o bis in idem. fato ao ser posto num lugar mais severo de
cumprimento de pena;

O STF, até hoje, não se manifestou sobre o tema. A constitucionalidade


(a da tabela) é defendida pelo o STJ.
A falta grave culmina em sanção disciplinar (ela está para a sanção
penal assim como a falta grave está para a infração penal). A infração penal é

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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prescritível. Existe prescrição no caso de falta grave? R.: A LEP silencia sobre
o assunto. STF – a prescrição da falta grave é sempre de 2 anos (é o prazo
mínimo de prescrição penal do art. 109 do CP) – HC 92000.
A fuga do preso, enquanto foragido, não corre o curso da prescrição
(como se fosse um crime permanente) – posição do STF.

06.06.2009 – ROGÉRIO SANCHES

11.6) EXECUÇÃO DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE


Há 3 sistemas penitenciários – só cai em concursos para a Polícia

11.6.1) Sistema Filadélfia


O sentenciado cumpre a pena integralmente na cela sem dela nunca
sair. Muitos criticam o RDD por dizer que seria este sistema – crítica – a pena
não é integralmente cumprida em RDD.

11.6.2) Sistema Auburn


O sentenciado durante o dia trabalha com os outros presos, sendo
vedada a comunicação entre eles. No período noturno, recolhe-se para a cela
individual. É também chamado de silent system (foi através desse sistema que
foi criado as mímicas de presos).

11.6.3) Sistema inglês


O sentenciado primeiro cumpre a pena em cela, sem dela nunca sair.
Em um segundo momento este preso passa a trabalhar durante o dia e depois,
recolhe-se à noite. O terceiro momento deste sistema é a liberdade antecipada.
Neste sistema inglês, a pena é cumprida de forma progressiva. Por isto
que este sistema também é chamado de sistema progressivo.

O Brasil adotou o sistema inglês/progressivo – art. 112 da LEP

        Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a
transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver
cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento
carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a
progressão. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

11.6.4) Progressão de regime no Brasil


Fechado, semi-aberto e aberto. O incidente de progressão pode ser
iniciado mediante:
 Requerimento do próprio reeducando;
 Requerimento do advogado;
 Requerimento do MP
 Requerimento do juiz ex oficio? – Pode e deve!

A) Requisitos para progressão do regime fechado par ao semi-aberto

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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1. Condenação transitada em julgado – somente o condenado


definitivo pode progredir de um regime para outro  REQUISITO
ULTRAPASSADO NO CASO DE RÉU PROVISORIAMENTE
PRESO – admite-se execução provisória – Súmula 716 do STF

Súmula 716 do STF. Admite-se a progressão de regime de cumprimento da


pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes
do trânsito em julgado da sentença condenatória.

2. Cumprimento, em regra, de 1/3, no mínimo, da pena – nos


casos de crimes hediondos, deverá cumprir 2/5 da pena se
primário, ou 3/5 da pena se reincidente. A execução da pena,
no Brasil, é limitada a 30 anos. A aplicação da pena na sentença
é ilimitada (Fernandinho Beira-Mar foi condenado a 600 anos).
Para progredir deverá cumprir 1/6 dos 600 anos – Súmula 715 do
STF

Súmula 715 do STF. A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de
cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a
concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais
favorável de execução

3. Bom comportamento carcerário;


4. Oitiva do MP;
5. No caso de crime de violência ou grave ameaça à pessoa,
exige-se o exame criminológico –

EXAME CRIMINOLÓGICO
ANTES DA LEI 10792/2003 DEPOIS DA LEI 10792/2003
Pressuposto previsto no art. 112 da LEP Deixou de ser mencionado no art. 112 da
LEP. A corrente que dizia que o EC não
seria mais requisito da progressão pela falta
de previsão não vingou. O exame
criminológico continua previsto no art. 8º da
LEP (ele não desapareceu no ordenamento
jurídico brasileiro.
É um pressuposto não-obrigatório 
posição do STF: Apesar de haver corrente
(minoritária) em sentido contrário, prevalece
no STF e no STJ que a alteração trazida
pela lei 10792/2003 não aboliu o exame
criminológico, apenas deixando de ser
obrigatório, ficando a critério do juiz, no caso
concreto, fundamentar a sua necessidade.
Assim, se o juiz achar que cabe o exame
criminológico, deverá fundamentar a medida.

6. Se for crime contra a Administração Pública – art. 33,


parágrafo 4º, do CP

   § 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de


regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à
devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais. (Incluído pela Lei nº
10.763, de 12.11.2003)

B) Requisitos para progressão do regime semi-aberto para o aberto


LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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1. Os mesmos do fechado para o semi-aberto + art. 113 e 114 da


LEP

Art. 113. O ingresso do condenado em regime aberto supõe a aceitação de seu programa
e das condições impostas pelo Juiz.

        Art. 114. Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que:

        I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente;

        II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi
submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de
responsabilidade, ao novo regime.

        Parágrafo único. Poderão ser dispensadas do trabalho as pessoas referidas no artigo 117
desta Lei.

O regime aberto é cumprido na casa do albergado. Algumas pessoas


têm direito à prisão domiciliar, ao invés de ficar na casa do albergado (prisão
domiciliar só cabe em regime aberto – pressupõe a condenação, não cabe
prisão domiciliar substitutiva de prisão preventiva. ROGÉRIO SANCHES critica,
chamando tal direito de elitista – anda sendo concedido pelos tribunais
superiores fora dos requisitos legais e concedidos apenas a pessoas da alta
sociedade.

Art. 117 da LEP. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em


residência particular quando se tratar de:

        I - condenado maior de 70 (setenta) anos – para ser idoso no Brasil deve ter 60 anos ou
mais – tal inciso não abrange todos os idosos – não foi revogado pelo o Estatuto do Idoso.
OBS.: Quando a lei disser: a) menor de  abrange até as 24 horas do dia anterior ao
aniversário da pessoa; b) não maior de  abrange até o dia do aniversário; c) maior de 
abrange apenas depois do aniversário (dia depois do aniversário da pessoa);

        II - condenado acometido de doença grave – trata-se de uma doença cuja cura ao
tratamento fica impossibilitado no regime aberto;

        III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental – a lei só beneficia a
mulher. Se for condenado, a jurisprudência abrange o condenado (sexo masculino)desde que
comprove a dependência do filho;

        IV - condenada gestante

OBS.1: Trata-se de rol taxativo ou exemplificativo? R.: Prevalece que o


rol do art. 117 é taxativo. O STF vem admitindo outras hipóteses desde que
comprovada a excepcionalidade. O STJ admite na hipótese de ausência de
casa do albergado.

OBS.2: É possível progressão em saltos? R.: Por ex., o preso pular do


fechado para o aberto diretamente. Segundo CAPEZ, pode sim. Prevalece a
impossibilidade de progressão em saltos – viola a ressocialização. Não

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
146

bastasse, carece de previsão legal. ***O STJ permite a progressão em saltos


se houver culpa do Estado na transferência do preso do regime mais
rigoroso para o menos rigoroso. Admite-se também progressão em saltos
quando não houver vaga não semi-aberto – ele não é obrigado a aguardar a
progressão em regime que não tem mais dever de cumprir.

11.6.5) Regressão de regime – art. 118 da LEP

Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a
transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:

        I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave – basta praticar o fato delituoso
de forma dolosa ou falta grave (não precisa haver condenação por este fato);

        II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em
execução, torne incabível o regime (artigo 111) -

        § 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos
incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa
cumulativamente imposta – revogado.

        § 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido previamente o
condenado – ampla defesa a ser conferida pelo preso.

OBS.: A jurisprudência vem admitindo regressão preventiva quando


necessária para manutenção ou restabelecimento da ordem.
OBS.2: A prática de falta grave pode gerar sanção disciplinar e
regressão de regime. Estar-se-á diante de um bis in idem? R.: O STF
recentemente entendeu de que não há bis in idem. O STJ decidiu inexistir bis
in idem, ou duplo apenamento, pois a regressão de regime decorre da própria
LEP, que estabelece tanto a imposição de sanção disciplinar, quanto a
regressão, sanções que se complementam.

11.6.6) Autorização de saída


É gênero que tem como espécies a permissão de saída e a saída
temporária.

A) Permissão de saída

Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto e os


presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta,
quando ocorrer um dos seguintes fatos:

        I - falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou


irmão;

        II - necessidade de tratamento médico (parágrafo único do artigo 14).

        Parágrafo único. A permissão de saída será concedida pelo diretor do estabelecimento
onde se encontra o preso.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
147

        Art. 121. A permanência do preso fora do estabelecimento terá a duração necessária à
finalidade da saída.

Beneficiário: Preso do regime fechado e regime semi-aberto (não precisa


para o que está no regime aberto. Também cabe a medida para o preso
provisório.
Característica: A permissão de saída ocorre mediante escolta.
Hipóteses de cabimento: são duas as hipóteses: a) falecimento ou
doença grave do cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou
irmão; b) necessidade de tratamento médico do preso (pode abranger o
odontológico). Tais hipóteses são taxativas.
Autoridade competente: Necessita de autorização do diretor do
estabelecimento. Se este não concorda de modo injustificado, pode a parte
pleitear no judiciário.
Período de saída: Perdura pelo tempo necessário.

B) Saída temporária

   Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderão obter
autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes
casos:

        I - visita à família;

        II - freqüência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou


superior, na Comarca do Juízo da Execução;

        III - participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social.

        Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos
o Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes
requisitos:

        I - comportamento adequado;

        II - cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário, e 1/4
(um quarto), se reincidente;

        III - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.

Beneficiário: Aqui não cabe ao preso provisório. Só ao preso


condenado. Deve estar no semi-aberto, devendo ter comportamento
adequado. Deve ter cumprido (no fechado – súmula 40 do STJ) 1/3 se
primário ou 1/4 se reincidente; compatibilidade dos benefícios com os
objetivos da pena.
Súmula: 40 do STJ
PARA OBTENÇÃO DOS BENEFICIOS DE SAIDA TEMPORARIA E TRABALHO EXTERNO,
CONSIDERA-SE O TEMPO DE CUMPRIMENTO DA PENA NO REGIME FECHADO.

Características: sem vigilância direta.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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148

Hipóteses de cabimento; a) visita à família; b) fazer cursos; c) atividades


de ressocialização.
Autoridade competente: juiz da execução – deve ouvir o MP e a
autoridade administrativa.
Período de saída temporária: art. 124 da LEP

        Art. 124. A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias, podendo ser
renovada por mais 4 (quatro) vezes durante o ano.

        Parágrafo único. Quando se tratar de freqüência a curso profissionalizante, de instrução


de 2º grau ou superior, o tempo de saída será o necessário para o cumprimento das atividades
discentes.

Hipóteses de revogação: art. 125 da LEP

   Art. 125. O benefício será automaticamente revogado quando o condenado praticar


fato definido como crime doloso, for punido por falta grave, desatender as condições impostas
na autorização ou revelar baixo grau de aproveitamento do curso.

        Parágrafo único. A recuperação do direito à saída temporária dependerá da absolvição no


processo penal, do cancelamento da punição disciplinar ou da demonstração do merecimento
do condenado.

Pode ser revogada - rebuc sic stantibus – a revogação não é definitiva –


pode ser alterada de acordo com as circunstâncias.

11.6.7) Remição
Há o trabalho como meio para resgate de parte de tempo de execução:
a cada 3 dias trabalhados, resgata-se 1 dia de cumprimento de pena.
O trabalho é um misto de direito e dever. Direito porque permite a
remição; dever porque se não trabalhar configura falta grave.

OBS.1: Só é admita a remição para trabalhador em regime fechado ou


semi-aberto.

OBS.2: Cabe a remição ficta no caso do Estado não ter condições de


fornecer lugar para o trabalho do preso? R<: Não se admite remição ficta
(talvez poderia alegar a tese de que cabe a remição ficta num concurso de
Defensor Público).

OBS.3: Preso trabalhador impossibilitado de trabalhar por acidente de


trabalho – será possível a remição. Se o preso forjou a lesão, além de não
fazer jus à remição, praticará falta grave.

OBS.4: É cabível remição nos casos de freqüência a curso de ensino


formal.
Súmula: 341 do STJ
A freqüência a curso de ensino formal é causa de remição de parte do tempo de execução de
pena sob regime fechado ou semi-aberto.

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149

Todavia a súmula não disse quantos dias de estudos acarretará no


desconto da pena – análise do juiz no caso concreto.

Caso de falta grave:

Art. 129. A autoridade administrativa encaminhará mensalmente ao Juízo da execução


cópia do registro de todos os condenados que estejam trabalhando e dos dias de trabalho de
cada um deles.

        Parágrafo único. Ao condenado dar-se-á relação de seus dias remidos.

A autoridade administrativa, mensalmente, mandará relatório ao juiz


sobre os casos de remição. É o juiz quem homologará.

        Art. 127. O condenado que for punido por falta grave perderá o direito ao tempo remido,
começando o novo período a partir da data da infração disciplinar.

1ª corrente: punido por falta grave, o preso perde somente os dias


remidos ainda não homologados pelo juiz. Os dias remidos já homologados
são considerados direito adquirido. 2ª corrente: punido por falta grave, o preso
perde os dias remidos, mesmo aqueles já homologados pelo juiz. Os dias
remidos homologados são considerados expectativa de direito (STF – súmula
vinculante).

Súmula vinculante n. 9. O disposto no artigo 127 da Lei 7.210/84 foi recebido pela ordem
constitucional vigente e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do artigo 58.

OBS.1: O tempo remido é computado para progressão de regimes? R.:


Art. 128 da LEP

        Art. 128. O tempo remido será computado para a concessão de livramento condicional e
indulto.

Não há porque computar o tempo remido para o livramento condicional e


não computar para progressão de regimes (o STJ abrange a progressão de
regimes). Todos os benefícios que exigem tempo de cumprimento será
aplicado o tempo remido – posição recente do STJ.

OBS.2: É possível remição em execução provisória – Súmula 616 do


STF.

OBS.2: Se o agente público escrever dolosamente no atestado o numero


errado de dias trabalhados e remidos, o agente praticará o crime de falsidade
ideológica.

        Art. 130. Constitui o crime do artigo 299 do Código Penal declarar ou atestar falsamente
prestação de serviço para fim de instruir pedido de remição.

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150

11.6.8) Livramento condicional


É o incidente de execução penal, liberdade antecipada, mediante certas
condições, conferida ao condenado que cumpriu parte da pena privativa de
liberdade que lhe foi posta. Nada tem a ver com sursis!

Sursis O condenado não O período de Concedido na Direito subjetivo


a cumprir pena (a prova varia, em sentença (desafia do agente.
pena tem a sua regra, de 2 a 4 apelação).
execução anos.
suspensa).
Livramento Pressupõe o O período de Concedido na Direito subjetivo
condicional cumprimento de prova é o restante execução (desafia do agente.
parcela da pena. da pena. agravo em
execução).

O livramento condicional é decorrência do sistema progressivo de


pena (sistema inglês).

A) Requisitos
Possui requisitos objetivos e subjetivos.
 Requisitos objetivos – a) a pena imposta deve a privativa de
liberdade (não existe livramento condicional em penas
restritivas de direitos); b) a pena concreta a ser cumprida deve
ser igual ou superior a 2 anos (ex.: condenado reincidente em
crime doloso – não faz jus ao sursis – cuja pena a ser cumprida é
de 1 ano e 11 meses – o que impede o livramento condicional é
esta pena ser inferior a 2 anos. ROGÉRIO GRECO diz que existe
interesse recursal para aumentar a pena em 2 anos, pois o
agente será beneficiado caso a sua pena for maior; c)
cumprimento de parcela da pena – + de 1/3 da pena, se primário
+ bons antecedentes; + de 1/2 da pena, se reincidente; + de 2/3
da pena, se estiver diante de crime hediondo e não for reincidente
específico. OBS.: E se for primário portador de maus
antecedentes? R.: MIRABETE diz que ele deve ser equiparado ao
reincidente; para a maioria, no silêncio da lei, in dúbio pro réu – a
interpretação deve ser em favor do réu (equiparado a primário
com bons antecedentes, devendo cumprir 1/3 da pena apenas);
d) reparação do dano;
 Requisitos subjetivos – a) comportamento carcerário
satisfatório; b) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído;
c) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho
lícito – o estrangeiro estaria impossibilitado em razão deste
requisito; d) no caso de crime doloso violento  exame
criminológico.

Ambos tipos de requisitos (objetivos e subjetivos) são cumulativos.


Faltando um deles, esqueça o benefício.

B) Processamento do pedido

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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151

ANTES DA LEI 10792/2003 DEPOIS DA LEI 10792/2003


O juiz, antes de decidir, ouvia o conselho O juiz, antes de decidir, ouve o MP apenas (não
penitenciário e o MP; ouve mais o Conselho Penitenciário);

C) Período de prova e condições a que ficam sujeitos os beneficiários


Período de prova é o restante da pena a cumprir. O período de prova
tem início com a audiência admonitória (advertência do art. 137 da LEP).

  Art. 137. A cerimônia do livramento condicional será realizada solenemente no dia marcado
pelo Presidente do Conselho Penitenciário, no estabelecimento onde está sendo cumprida a
pena, observando-se o seguinte:

        I - a sentença será lida ao liberando, na presença dos demais condenados, pelo
Presidente do Conselho Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na falta, pelo Juiz;

        II - a autoridade administrativa chamará a atenção do liberando para as condições


impostas na sentença de livramento;

        III - o liberando declarará se aceita as condições.

        § 1º De tudo em livro próprio, será lavrado termo subscrito por quem presidir a cerimônia e
pelo liberando, ou alguém a seu rogo, se não souber ou não puder escrever.

        § 2º Cópia desse termo deverá ser remetida ao Juiz da execução.

Quanto às condições, há as obrigatórias (art. 85 do CP) e as


facultativas.
 Condições obrigatórias – a) obter ocupação lícita dentro de
prazo razoável; b) comunicar periodicamente ao juiz a sua
ocupação; c) não mudar de comarca sem prévia autorização do
juízo – rol taxativo;
 Condições facultativas – a) não mudar de residência sem
autorização do juízo; b) recolher-se à habitação em hora fixada;
c) outras condições judiciais necessárias, considerando o fato e
condições pessoais do liberado, desde que justifique a
necessidade – rol exemplificativo.

D) Revogação do livramento condicional


Pode ser uma revogação obrigatória ou facultativa.
 Revogação obrigatória – a) condenação definitiva por crime
cometido durante o benefício. Aqui, o período de liberdade não
será computado como pena cumprida (se ficar 2 anos em LC,
sendo condenado definitivamente, tal prazo será desconsiderado
e voltará a ser computado como pena a ser cumprida). Não
caberá novo LC para o crime revogado. Não se permite soma das
penas para gerar o beneficio do crime novo; b) condenação
definitiva por crime cometido antes do benefício. Pouco importa
se tais crimes são dolosos ou culposos, o benefício será
revogado. Aqui, o período de liberdade é igual ao tempo de

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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152

pena cumprida. Cabe novo livramento para o crime revogado.


Cabe soma das penas para novo benefício de LC;
 Revogação facultativa – art. 87 do CP – a) crime punido com
restritiva de direito e multa; b) contravenção penal punida com
restritiva de direito e multa; c) contravenção punida com pena
simples? – não gera revogação, nem obrigatória nem
facultativa – não se pode fazer analogia in mallam partem.

E) Prorrogação do livramento
Mera instauração de inquérito policial não prorroga o livramento. A
existência de um processo é que prorroga tal instituto. Não abrange
contravenção. Crime cometido antes do LC, se virar processo, não prorroga (só
crime cometido durante o LC) – art. 89 do CP.
Tal prorrogação é automática, dispensando manifestação judicial.

11.6.9) Agravo em execução – art. 197 da LEP

        Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito
suspensivo.

ANTES DA LEP DEPOIS DA LEP


Recurso em sentido estrito – art. 581 do CPP Agravo em execução – art. 19 da LEP

E o prazo de interposição e o procedimento a ser adotado? Segue o rito


do agravo de instrumento ou do RESE? R.: O STF já entendeu: na falta de
previsão legal, segue o rito do RESE – Súmula 700 do STF.

    Súmula 700 do STF. É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do
juiz da execução penal.

A) Efeitos do agravo em execução


O efeito previsto em qualquer recurso é o devolutivo; regressivo (tem
juízo de retratação, assim como o RESE); a doutrina diz também do efeito
extensivo (o que for decidido para um recorrente é estendido a todos que
estiverem na mesma situação objetiva); em regra, não tem efeito suspensivo.

        Art. 179. Transitada em julgado a sentença, o Juiz expedirá ordem para a desinternação
ou a liberação – neste caso, o agravo em execução tem efeito suspensivo.

12) LEI 4898/65 - CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE

12.1) RESPONSABILIDADES

Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa


civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem
abusos, são regulados pela presente lei.

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Ato de abuso de autoridade enseja tríplice responsabilização:


1. Administrativa
2. Civil
3. Penal

L. 4.898/65 – Lei de Abuso de Autoridade → regulamenta as três


responsabilidades. Assim, ato de abuso de autoridade enseja tríplice
responsabilização.

12.1.1) Responsabilidade administrativa

Art. 6º da Lei. O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa


civil e penal.

§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso


cometido e consistirá em:

a) advertência;

b) repreensão;

c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias,
com perda de vencimentos e vantagens;

d) destituição de função;

e) demissão;

f) demissão, a bem do serviço público.

Art. 7º Recebida a representação em que for solicitada a aplicação de sanção


administrativa, a autoridade civil ou militar competente determinará a instauração de
inquérito para apurar o fato.

§ 1º O inquérito administrativo (inquérito administrativo, leia:se  processo


administrativo) obedecerá às normas estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou
federais, civis ou militares, que estabeleçam o respectivo processo.

Se não houver lei → aplica-se subsidiariamente o Estatuto dos


Funcionários Civis da União (L. 8.112/90). Processo administrativo, pode ser
→ legislação municipal, estadual ou federal.

OBS.: Ministério Público e Juiz têm vitaliciedade → não podem ser


demitidos administrativamente → só decisão judicial transitada em julgado.

12.1.2) Responsabilidade civil


Responsabilidade civil (art. 6º, §2º, L. 4.898/65)

Art. 6º, § 2º A sanção civil, caso não seja possível* fixar o valor do dano,
consistirá no pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros (* -
Sempre é possível fixar o valor da dano civil).

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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12.1.3) Responsabilidade penal


Art. 6º, § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a
56 do Código Penal e consistirá em:
a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;

b) detenção por dez dias a seis meses;

c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função


pública por prazo até três anos.

§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou


cumulativamente.

§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou


militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de
não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no município da
culpa, por prazo de um a cinco anos.

12.2) SUJEITOS DO CRIME

12.2.1) Sujeito ativo


Qualquer agente público no exercício de suas funções ou qualquer pessoa
que exerça uma função pública, seja ou não integrante da administração
pública. Art. 5º, L. 4.898/65 – Lei de Abuso de Autoridade

Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo,
emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e
sem remuneração.

Mesmo conceito de funcionário público para fins penais (art. 327, CP).
Tais crimes são próprios (crimes funcionais). Ou seja, exige uma
condição especial do sujeito ativo.

OBS.1: Crimes de responsabilidade próprios → infrações político


administrativo (L. 1.079/51); Responsabilidade impróprios → crimes funcionais
e abuso de autoridade.

OBS.2: Encontra-se no conceito de autoridade pública também as


pessoas que não integram a administração pública, mas que exerçam uma
função pública, mesmo que transitório e sem remuneração (p. ex.: mesário
eleitoral, jurado).

OBS.3: Não está incluído no conceito de autoridade pessoas que


exercem múnus público (encargo imposto pela lei ou pelo juiz para defesa de
interesse particular ou social – p. ex.: depositário judicial, administrador de
falência, advogado, tutores dativos, curadores dativos).

OBS.4: Particular que não exerça nenhuma função pública ele pode
cometer abuso de autoridade? R.: Sim, desde que pratique em co-autoria ou
participação com autoridade pública (e tenha conhecimento). O particular
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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155

pode responder por abuso de autoridade, desde que cometa o crime em


concurso com uma autoridade pública sabendo que o comparsa ostenta
essa qualidade. Art. 30, CP. Por ex.: policial agredindo uma pessoa auxiliado
pelo pipoqueiro.

12.2.2) Sujeito passivo:


Dupla subjetividade passiva (tem dois sujeitos passivos).
1. Sujeito passivo imediato ou principal: é a pessoa física ou
jurídica que sofre a conduta abusiva.
a. Qualquer pessoa física capaz ou incapaz, nacional ou
estrangeira pode ser sujeito passivo. No caso de vítima
criança ou adolescente pode configurar crime do ECA.
b. Autoridade pública pode ser vítima de abuso de
autoridade (praticado por outra autoridade).
c. Também podem ser sujeitos → pessoas jurídicas de
direito público ou privado. Art. 4º, L. 4.898/65 – Lei de
Abuso de Autoridade.
Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando


praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;

2. Sujeito passivo mediato ou secundário: Estado. Todo ato de


abuso de autoridade prejudica a regular prestação dos
serviços públicos.

12.3) OBJETIVIDADE JURÍDICA


Tem dupla objetividade jurídica.
1. Objetividade jurídica imediata ou principal - Direitos e
garantias individuais e coletivos das pessoas físicas e jurídicas.
2. Objeto jurídico mediato ou secundário – Visa a proteger a
normal e regular prestação dos serviços públicos.

12.4) ELEMENTO SUBJETIVO


Só o dolo. Não se pune a forma culposa do abuso de autoridade.
Autoridade, por culpa, excede os limites de sua atuação (abusa culposamente)
não haverá crime de abuso de autoridade, mas existe o ato de abuso de
autoridade.
Não basta o dolo de praticar a conduta é necessário ainda o elemento
subjetivo do injusto (dolo específico)  vontade deliberada e inequívoca
de abusar. Se o agente na honesta intenção de cumprir seu dever de proteger
interesse público e social acaba se excedendo haverá ilegalidade no ato, mas
não crime de abuso de autoridade, por ausência da finalidade específica de
abusar.

12.5) FORMAS DE CONDUTA


Os crimes de abuso de autoridade podem ser praticados tanto por
ação ou por omissão (podem ser omissivos ou comissivos).
Em regra, o abuso é cometido por uma ação.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Os crimes do art. 4º, L. 4.898/65 – Lei de Abuso de Autoridade, letras


c, d, g, e i, só podem ser cometidos por omissão - crimes omissivos puros
ou próprios (a conduta descrita é uma omissão).

12.6) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA


Arts. 3º e 4º, L. 4.898/65 – Lei de Abuso de Autoridade → crimes em
espécie.

12.6.1) Tentativa

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado...

Toda a doutrina diz que os crimes do artigo 3º não admitem tentativa,


pois a lei já pune o simples “atentado”. Simples atentado já configura crime
consumado. São crimes de atentado.
Também não admitem tentativa: art. 3º e o art. 4º, L. 4.898/65 – Lei de
Abuso de Autoridade, letras c, d, g, e i, (não existe tentativa de crime omissivo
próprio).

12.6.2) Consumação
Ocorre com a simples prática da conduta prevista no tipo.

12.7) ESPÉCIE DE AÇÃO PENAL


Art. 1º, L. 4.898/65 – Lei de Abuso de Autoridade

Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade


administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas funções,
cometerem abusos, são regulados pela presente lei.

Art. 12, L. 4.898/65 – Lei de Abuso de Autoridade

Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito policial ou


justificação por denúncia do Ministério Público, instruída com a representação da vítima
do abuso(?).

(?) Essa representação não está no sentido da condição de


procedibilidade do CP. Significa apenas o direito de petição contra abuso
de poder (art. 5º, XXXIV, a, CF). Assim, os crimes de abuso de autoridade são
de ação penal pública incondicionada.

OBS.: L. 5.249/67 - esta lei diz que os crimes de abuso de autoridade


são de ação penal pública incondicionada.

12.8) COMPETÊNCIA
O crime de abuso de autoridade é comum, em regra, é de competência
da justiça comum estadual. Se o crime atingir bens, interesses ou serviços da
União será da competência da Justiça Federal.
Tratam-se de crimes de menor potencial ofensivo → competência
do JECrim Estadual ou Federal.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Abuso de autoridade cometido em conexão com outro (de não menor


potencial ofensivo) → vai tudo para o juízo comum (art. 60, Parágrafo Único,
L. 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais). L. 11.313/06: alterou o art. 60, L.
9.099/95 - no juízo comum será cabível a transação penal e a composição
civil dos danos em relação ao crime de abuso de autoridade.

OBS.: Abuso de autoridade praticado por militar → julgado pelo


JECrim estadual ou federal. Não é de competência da justiça militar (súm.
172 do STJ). Pois não é crime militar, é crime comum.
Súmula: 172 do STJ. Compete a justiça comum processar e julgar militar por crime
de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.

Vários autores dizem que o crime será da justiça militar se autor e


vítima forem militares (SILVIO MACIEL discorda, pois o crime não é militar).

OBS.: Crime praticado por servidor público federal → julgado pela:


1. NUCCI (entendimento isolado) - Justiça Estadual
2. Justiça federal - prejudica a normalidade e regularidade dos
serviços da União. Vítima também é a União. (CC. 20.779, STJ –
16.dez.98). Vítima funcionária pública federal: competência é da
justiça federal (CC. 89.397, STJ – 28.mar.2008). Funcionário
público federal → vítima ou autor → competência da Justiça
Federal.

12.9) CONCURSO DE CRIMES


STF reconheceu a possibilidade de concurso de crimes entre lesão
corporal e abuso, e entre violação de domicílio e abuso. (HC. 92.912, STF –
20.nov.2007 – reconheceu o concurso de crimes: abuso de autoridade (Justiça
Comum)+ lesão corporal (Justiça Militar) + violação de domicilio (Justiça Militar)
→ separação dos processos, competências diversas). (HC. 81.752, STJ).

Crime contra a honra + abuso de autoridade: possível o concurso


(Resp. 684.532, STJ).

OBS.: Art. 350, CP não está revogado por completo.


Exercício arbitrário ou abuso de poder
Art. 350 - Ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as
formalidades legais ou com abuso de poder:  CAPUT ESTÁ REVOGADO

Pena - detenção, de um mês a um ano.

Parágrafo único - Na mesma pena incorre o funcionário que:

I - ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou a estabelecimento destinado a


execução de pena privativa de liberdade ou de medida de segurança;

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II - prolonga a execução de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir


em tempo oportuno ou de executar imediatamente a ordem de liberdade;
III - submete pessoa que está sob sua guarda ou custódia a vexame ou a
constrangimento não autorizado em lei;

IV - efetua, com abuso de poder, qualquer diligência. → ESTÁ EM VIGOR.

Art. 350, Parágrafo Único, IV, CP → STJ → está em vigor, continua


sendo aplicável, Não foi revogado. (HC. 65.499/SP, STJ – 27.mar.2008; HC.
48.083/MG, STJ – 20.nov.2007). RE. 73.914/SP, STF. HC. 63.612/GO, STF.

12.10) TIPOS PENAIS

12.10.1) Art. 3º da lei

Parte da doutrina → tal artigo viola o princípio da taxatividade (crimes


inconstitucionais). Fundamento: Tipo penal vago, genérico e impreciso. STF e
STJ entendem que é constitucional.

Se a conduta se enquadrar no art. 3º e também no art. 4º (conflito


aparente de normas) → prevalece o art. 4º (que é taxativo).
Crimes do art. 3º é subsidiário. Ele se aplica, desde que a conduta
não configure o art. 4º, L. 4.898/65 – Lei de Abuso de Autoridade.
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. (Incluído pela
Lei nº 6.657,de 05/06/79)

A) Liberdade de locomoção
Só pode ser violada na forma do art. 5º, XV, CF.
Art. 5º. XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

Direito de locomoção inclui o direito de permanecer no lugar.


Os atos decorrentes do poder de polícia estatal como são auto-
executáveis (não dependem de ordem judicial) não configuram abuso de

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
159

autoridade se justificados. (Exercício do poder de polícia legítimo do Estado


– NUCCI).
Ébrios e doentes mentais → eles podem ser retirados de determinados
locais e retidos em órgãos públicos (p. ex.: hospital) ou encaminhados para
suas casas, desde que estejam perturbando a ordem pública ou colocando em
perigo a segurança própria ou alheia.
Prisão para averiguação: sempre é abuso de autoridade. Não significa
detenção momentânea.

PRISÃO PARA AVERIGUAÇÃO PRISÃO MOMENTÂNEA


Prisão para averiguação - coloca na Detenção momentânea é legítima. Por
cela e investiga. ex.: conduzir até a delegacia para verificar a
autenticidade de documentos ou se está sendo
procurado (pessoa fica na delegacia o tempo
necessário para essa conferência).

B) Inviolabilidade do domicílio
Art. 5º, XI, CF
Art.5º, XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

À noite, nem com ordem judicial dá para entrar, só em flagrante delito


ou desastre.

Domicílio: é qualquer local não aberto ao público que seja utilizado


para o trabalho ou para moradia, ainda que momentânea.
Quarto de hotel é domicílio → moradia provisória.
Sala do contador é domicílio. O CTN permite que fiscais da
administração fazendária entrem em qualquer domicílio independentemente de
mandado. Todavia, estes fiscais precisam de mandado judicial (STF e STJ –
Caso Collor). A Falta de mandado gera a ilicitude da prova, podendo ensejar
abuso de autoridade se o ato foi praticado com a finalidade abusiva – Esta
parte do CTN que autoriza a entrada sem mandado não foi recepcionada pela
CF/88.

C) Sigilo da correspondência
Correspondência aberta perde o caráter da sigilosidade.
Art. 151, §1º, I, CP – revogado quando praticado por autoridade.
Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a
outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Sonegação ou destruição de correspondência


§ 1º - Na mesma pena incorre:

I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e,


no todo ou em parte, a sonega ou destrói;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
160

Violação de correspondência (art. 151, §1º, I, CP) praticada por


autoridade → princípio da especialidade → abuso de autoridade (art. 3º, c, L.
4.898/65).

Exceções ao sigilo - princípio da relatividade dos direitos fundamentais


- nenhum direito fundamental é absoluto:
1. Durante o Estado de Defesa e o Estado de Sítio (art. 136, §1º, b, CF;
art. 139, III, CF)
2. Crime organizado. Art. 2º, III, Lei do crime organizado – desde que
tenha ordem judicial para violar pode violar. Em qualquer fase da
persecução penal.
3. Correspondência de preso. Art. 41, XV, LEP (L. 7.210/84). A
violação da correspondência dos presos, se injustificada, caracteriza
abuso de autoridade - HC. 70.814, STF (Rel. CELSO DE MELLO –
ministro garantista).
4. Correspondência de advogado. Art. 7º, II, Estatuto da OAB (L.
8.906/94). correspondência de advogado só pode ser aberta com
ordem judicial e na presença de representante da OAB - ADI
1.105/DF e 1.127/DF → expressão: “na presença de representante
da OAB”. Expressão constitucional com a seguinte leitura: se a OAB
for intimada e não indicar um representante a abertura pode se dar
sem a sua presença, desde que com ordem judicial.
5. Conversas em sala de bate papo. Não estão preservadas pelo
sigilo das comunicações. Pois se trata de ambientes públicos e
destinadas a conversas informais (STJ).

23.05.2009 – SILVIO MACIEL

D) Liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício do culto


religioso
A CF garante a liberdade de crença (ser ateu também está garantido
pela CF. A CF também permite a sua exteriorização, inclusive por meio de
cultos) e o livre exercício do culto religioso.
O abuso de autoridade consistirá em coibir injustificadamente as
manifestações pacíficas e ordeiras sobre a liberdade e consciência de crença.
Logo, não haverá abuso de autoridade se a autoridade tiver justo motivo
para coibir a manifestação. Ex.1: Cultos com excesso de som  pode ser
impedido pela autoridade competente; consiste ainda em contravenção penal.
Ex.2: passeata religiosa onde os manifestantes quebram o patrimônio público –
pode ser coibido.
Assim, desde que a autoridade tenha justo motivo para coibir a
liberdade religiosa, não haverá abuso de autoridade.

OBS.: Art. 2º da lei 11343/2006 (lei de drogas):

Art. 2o  Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a
cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou
produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
161

que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas,
de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso.

A Convenção de Viena permite a utilização de plantas da onde se


pode extrair drogas em rituais religiosos.

E) Liberdade de associação
A CF diz que as associações podem ser criadas livremente, sem
autorização do poder público.
A CF veda apenas dois tipos de associações: com fins ilícitos e as com
caráter paramilitar.

F) Atentado ao exercício do voto

OBS.: Deve-se verificar se este atentado constitui ou não num crime


eleitoral (lei 4737/65 – Código Eleitoral), caracterizando norma especial.

G) Direito de reunião
Este direito está garantido também no art. 5º da CF. Garante-se, desde
que: a reunião seja pacífica, sem armas, seja em locais público desde que não
prejudique uma outra reunião anteriormente marcada para o mesmo local.

OBS.: Não precisa de autorização para fazer a reunião, mas precisa


avisar a autoridade pública (pré-aviso).

Se a reunião foi feita de forma legal, atendendo aos requisitos


constitucionais, a interferência na reunião é abuso de autoridade.
Não pode a reunião estar sendo realizada de forma desordeira ou
violenta, ex.: passeata armada, reunião com agressões etc.
Não pode uma reunião atrapalhar outra reunião já marcada para aquele
local

H) Atentado à incolumidade física do individuo


Pode ser até uma vias de fato, como até uma tentativa de homicídio.

OBS.1: E a incolumidade psíquica? R.: Prevalece o entendimento de


que sim! Incolumidade física é o que atinge o indivíduo em si
(psicologicamente ou fisicamente). Não se trata de analogia in malam partem
ou interpretação extensiva em desfavor do réu.

OBS.2: E se a vítima sofre lesões? R.: Haverá concurso formal de


crimes (lesão corporal (ou homicídio) + abuso de autoridade). Colocando em
perigo a incolumidade física da vítima, o abuso de autoridade já está
caracterizado. Há entendimento minoritário de que o concurso aqui seria o
concurso material (pois os crimes protegem bens jurídicos distintos).
Tal perigo à incolumidade física do indivíduo não é absorvido pelo
homicídio ou lesão corporal. NUCCI entende que a lesão leve fica absorvida
pelo o abuso (minoritário), diferente do entendimento do STJ.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
162

Mas, se o abuso de autoridade caracterizar tortura, prevalece o


entendimento de que ele ficará absorvido pelo o crime de tortura.

I) Atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício


profissional
Trata-se de norma penal em branco – o direito ou garantia
profissional deve estar previsto em outra lei. Ex.: violar os direitos do advogado
(com intuito de abusar) – são garantidos pelo o art. 7º do EOAB.

Súmula Vinculante 14

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos


de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

Deve assim o Delegado deixar o advogar ter acesso aos autos do


inquérito, sob pena de responder por crime de abuso de autoridade, mas tais
elementos de prova devem estar já documentados em procedimento
investigatório (se a interceptação telefônica do investigado ainda não tiver
sido conclusa, sem estar documentada no IP, não poderá o advogado ter
vista).

Juiz que se recusa a falar com o advogado – STJ – RMS 19296/SC 


o juiz pratica ilegalidade, podendo caracterizar abuso de autoridade.

12.10.2) Art. 4º da lei

   Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

Ordenar ou executar medidas privativas de liberdade sem as


formalidades legais ou com abuso de poder
Esta alínea a revogou tacitamente o art. 350, caput, do CP (apenas o
caput; o resto do artigo continua em vigor, como já aqui visto).
Ex.1: sem as formalidades legais – manter alguém preso sem lavrar o
auto de prisão em flagrante. Ex.2: com abuso de poder – cumprir mandado de
prisão algemando desnecessariamente

Súmula vinculante n. 11.


Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à
integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do
agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem
prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

OBS.: Muitas das condutas previstas na Lei de abuso de autoridade,


quando praticadas contra criança e adolescente, caracterizam crime previsto
no ECA. Assim, se a vítima for criança ou adolescente, apreendida ilegalmente,
caracteriza o art. 230 do ECA

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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163

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem
estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária
competente:

        Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das
formalidades legais.

Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a


constrangimento não autorizado em lei
O autor deste crime só pode ser a autoridade que tenha a guarda ou a
custódia da vítima.
Vítima pode ser qualquer pessoa, e não apenas o preso. Fala-se de
guarda e custódia de maneira genérica, ex.: pessoa que esteja cumprindo
medida de segurança, pessoa que foi à Delegacia prestar testemunho e lá está
sob custódia da autoridade policial etc.

Submeter a pessoa a vexame ou constrangimento não autorizado em lei:


exs.: impedir o preso, sem justa causa, de receber visitas; expor o preso na
mídia sem o seu consentimento.

Se o vexame ou o constrangimento for legal, não haverá crime. Ex.:


suspender direito de visita do preso por justo motivo.

OBS.: Se esta conduta for praticada contra criança ou adolescente, o


crime será o do art. 232 do ECA

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a
vexame ou a constrangimento:

        Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão


ou detenção de qualquer pessoa
A CF diz que a prisão precisa ser comunicada aos familiares ou pessoa
de interesse do preso, imediatamente. Art. 5º, LXII, da CF

LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados


imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;

O crime de abuso de autoridade só existe se a prisão não for


comunicada ao juiz. Deixar de comunicar a família do preso ou a pessoa por
ele indicada não é crime de abuso de autoridade.

OBS.: Se o Delegado, de propósito, comunica o juiz incompetente sobre


a prisão  caracteriza crime de abuso de autoridade. A lei e a CF diz que a
comunicação deve ser dada ao juiz competente.

Imediatamente: há muitas cidades onde não há juiz de plantão.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
164

OBS.2: Se a vítima for criança ou adolescente, o crime será o art. 231


do ECA.

Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou adolescente de
fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou
à pessoa por ele indicada:

        Pena - detenção de seis meses a dois anos.

No ECA é crime deixar de comunicar o juiz ou à família do apreendido


ou à pessoa por ele indicada (está mais de acordo com a CF).

Deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal


que lhe seja comunicada
O Delegado comunica o juiz quanto à prisão ilegal e este a mantém,
deixando de relaxá-la  caracteriza o crime em estudo.
A palavra “juiz” entende-se: juiz, desembargador, Ministro de Tribunal
Superior, ou seja, qualquer magistrado.
Se a vítima for criança ou adolescente, o crime será o do art. 234 do
ECA.

Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata liberação de
criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:

        Pena - detenção de seis meses a dois anos

Aqui, o sujeito ativo pode ser a autoridade competente, e não só a


autoridade judiciária.

Prender ou deter quem quer se que proponha a prestar fiança


permitida em lei

Cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem,


       
custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança
não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor

Ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica,


quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência
legal

Deve lesar a honra ou patrimônio de pessoa física ou jurídica de forma


ilegal. Se a lesão à pessoa for de forma legal, não haverá crime (interdição do
estabelecimento comercial pela vigilância sanitária pois não cumpriu as regras
básicas de saúde).

Prolongar a execução de prisão temporária ou de pena ou medida


de segurança
(Lei 7960/89) Prisão temporária  5 + 5 nos crimes comuns; 30 + 30
nos crimes hediondos e equiparados. Decorrido o prazo da prisão, a lei estipula

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
165

que a autoridade policial deve soltar o preso, independentemente de alvará de


soltura.
Tal prolongamento pode decorrer por deixar de expedir ordem de soltura
ou por deixar de cumprir ordem de soltura.

OBS.: E se o Delegado deixar de cumprir alvará de soltura de prisão


preventiva? R.: Comete abuso de autoridade da mesma forma, mas responde
pelo o art. 4º, a, da Lei de Abuso de Autoridade.

Se a vítima for criança ou adolescente  art. 235 do ECA.

Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de adolescente
privado de liberdade:

        Pena - detenção de seis meses a dois anos.

PRAZO DE PRESCRIÇÃO DOS CRIMES DE ABUSO DE


AUTORIDADE
A lei não prevê regras sobre prescrição; logo, aplica-se as regras gerais
do Código Penal.

SANÇÕES PENAIS NOS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE

§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código
Penal e consistirá em:

        a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;

        b) detenção por dez dias a seis meses;

        c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública
por prazo até três anos.

§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou


cumulativamente.

§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer
categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado
exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de um a cinco
anos.

Tais penais podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente (aplica


uma, duas ou as três).
Quanto à ultima pena – perda ou inabilitação par ao exercício de função
pública – não se trata de efeito automático – deve ser aplicada na sentença
de forma motivada, DIFERENTE da lei de tortura onde a perda do cargo é
efeito automático da condenação. Na Lei de abuso de autoridade há a
inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública pelo prazo de
até 3 anos. Na lei de tortura, a inabilitação para o exercício de função pública é

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
166

aplicada pelo dobro do prazo aplicado na pena de prisão (5 anos de reclusão –


10 anos de inabilitação para a função pública).

13) DECRETO-LEI 3688/41 – LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS


No Brasil, há duas espécies de infração penal. Ela é o gênero que
comporta 2 espécies: crime e contravenção. Ontologicamente (na essência),
não existe diferença entre crime e contravenção, pois ambos são infrações
penais/ilícitos penais/ambos representam violação à lei penal. A diferença
é de grau e quantidade – “crimes” são infrações mais graves; “contravenções”
são infrações menos graves.
A doutrina apelidou a contravenção de crime-anão, delito vagabundo,
delito liliputiano.
Há várias diferenças legais entre crimes e contravenções

CONTRAVENÇÃO CRIME
Pena Prisão simples e/ou multa ou Reclusão ou detenção,
só multa. Tal distinção está no cumulada ou não com multa
art. 1º da LICP – distinção (reclusão e multa; reclusão ou
legal entre crime e multa; detenção e multa;
contravenção. detenção ou multa).
Tentativa Não é punida. A tentativa É punida.
existe; ela só não é punida.
Ação penal Todas as ações penais são Ação penal pública
pública incondicionada, incondicionada, condicionada
inclusive a contravenção de ou ação penal privada
vias de fato. OBS.: Cabe ação
privada subsidiária da pública
(trata-se de direito
fundamental – art. 5º da CF).
Extraterritorialidade Não existe extraterritorialidade Existe extraterritorialidade em
em relação às contravenções relação a crimes.
penais. Jamais se aplica a lei
brasileira a uma contravenção
cometida fora do Brasil.
Tempo máximo de Prazo máximo de 5 anos – Prazo máximo de 30 anos –
cumprimento da pena art. 10 da LCP art. 75 do CP
Erro de direito Aplica-se nas contravenções Não se aplica o erro de direito
penais. Pode o juiz deixar de – é o erro sobre a existência
aplicar a pena no caso de da lei.
contravenção penal.

13.1) CONTRAVENÇÕES PENAIS EM OUTRAS LEIS ESPECIAIS


 Contravenções ambientais – art. 26, e, j, l e m do Código
Florestal – Lei 4771/65;
 Contravenções referentes a loterias – Dec.Lei 6259/44 –
revogou os artigos 51 a 58 da Lei das Contravencões Penais
aqui a ser estudada;
 Contravenção de retenção ilegal de documentos – Lei
5053/68;
 Contravenção contra a Economia Popular – Lei 4591/64;
 Contravenção referente à locação – prevista na lei de locação
– art. 43 da Lei 8245/91;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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OBS.1: No Código Eleitoral há algumas infrações que estão no capítulo


dos crimes eleitorais, mas são punidas exclusivamente com multa. Há
entendimento de que tais infrações são consideradas contravenções penais –
TOURINHO FILHO.
OBS.2: A lei 7437/85 previa contravenções de preconceito de raça, cor,
sexo e estado civil. Quanto à raça e cor  foram transformadas em crimes
(Lei 7716/89). Tal lei não prevê preconceito em relação ao sexo e estado civil
 esta lei continua em vigor quanto ao preconceito de sexo (não se lê:
orientação ou opção sexual) e estado civil, sendo contravenções penais.
OBS.3: Prevalece o entendimento de que as contravenções penais
(todas elas), independentemente da pena máxima cominada, são infrações de
menor potencial ofensivo, inclusive as que tenham procedimento especial de
apuração. Logo, a competência para apuração delas é toda do JECRIM, e o
procedimento de apuração e o sumaríssimo.
OBS.4: Justiça Federal não julga contravenções penais. Exceção: Se
o contraventor tiver prerrogativa de foro na Justiça Federal garantido pela
Constituição Federal. Se o foro especial estiver previsto na Constituição
Estadual  competência da Justiça Estadual (norma estadual não pode
prevalecer sobre a norma prevista na Constituição Federal).
OBS.5: Contravenção penal praticada em violência doméstica contra
mulher  há divergência. A doutrina diz que a competência é do JECRIM, pois
o art. 41 da Lei Maria da Penha diz que não se aplica a Lei 9099/95 aos crimes
praticados em violência doméstica contra mulher. Jurisprudência – vem
dizendo que não se aplica a lei 9099/95 nem nas contravenções penais
praticadas em situação de violência doméstica contra a mulher.

13.2) CONTRAVENÇÃO E ATO INFRACIONAL


O art. 103 do ECA diz que ato infracional é o ato que corresponde a
uma crime ou a uma contravenção penal. Assim, adolescente responde a ato
infracional correspondente à contravenção penal.

13.3) CONTRAVENÇÕES E INFRAÇÕES DE PERIGO ABSTRATO


STF e STJ – consideram constitucionais os crimes de perigo
abstrato. RHC 81057 – STF. O tipo penal de perigo abstrato não é abusivo e,
portanto, constitucional quando regras concretas de experiência demonstram
que o comportamento realizado é realmente perigoso. Ex.: transportar cocaína
– as regras concretas de experiência demonstram que cocaína gera perigo à
saúde pública. Todavia, o tipo penal de perigo abstrato será abusivo e,
portanto, inconstitucional, quando ele tipificar o comportamento que é
comprovadamente não perigoso.

13.4) EXTRADIÇÃO DE ESTRANGEIRO POR CONTRAVENÇÃO


PRATICADA NO BRASIL
É pacífico no STF que estrangeiro não pode ser extraditado em
razão de contravenção praticada no Brasil. Art. 77, II, do Estatuto do
Estrangeiro - só permite a extradição pela prática de crime – EXT 1065/ITÁLIA
de 2007.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Ementa

EMENTA: 1. Inadmissibilidade da extradição quanto ao delito de porte de armas que, ao


tempo de sua prática, anterior à edição da L. 9.437, 20.2.97, constituia no Brasil mera
contravenção penal. 2. Concessão de anistia quanto à condenação à pena de 1 ano de
reclusão pelo delito de "Tentativa de evasão de condenado" ocorrida em Antibes (Tratado
incidente, Art. III, 1.A, c). 3. Deficiência da instrução documental do pedido, com relação às
condenações por roubos agravados - na forma tentada e consumada - e por lesões corporais,
que não permite a análise da prescrição. IV. Extradição executória: prescrição: base de cálculo.
Tratando-se de pedido de extradição, para fins de execução já iniciada, a análise da prescrição
deve ser feita, não à luz da pena unificada para fins de execução, mas sim das penas
efetivamente aplicadas ou que restam a cumprir, relativamente a cada um dos delitos.

13.5) CONTRAVENÇÕES TÍPICAS (PRÓPRIAS) E ATÍPICAS


(IMPRÓPRIAS)

        Art. 3º da LCP. Para a existência da contravenção, basta a ação ou omissão


voluntária. Deve-se, todavia, ter em conta o dolo ou a culpa, se a lei faz depender, de um ou de
outra, qualquer efeito jurídico.

Contravenções típicas/próprias – só exigem conduta voluntária


(decorrente de vontade). Tais contravenções não necessitam de dolo ou culpa.
– art. 3º, primeira parte, da LCP.
Contravenções atípicas/impróprias – exigem dolo ou culpa.

Toda a doutrina diz que isso não se aplica mais. Só haveria


contravenção se existir dolo ou culpa, não existindo contravenção somente
com conduta voluntária.

13.6) PENAS PREVISTAS PARA AS CONTRAVENÇÕES

Art. 5º As penas principais são:

         I – prisão simples.

        II – multa.

Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em
estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou
aberto. (Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

§ 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos condenados a


pena de reclusão ou de detenção.

        § 2º O trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não excede a quinze dias.

Regras sobre a prisão simples:


 Só pode ser cumprida em regime aberto ou semi-aberto – jamais
em regime fechado (nem pro regressão);
 A pena deve ser cumprida em estabelecimento especial ou seção
especial de prisão comum – deve existir um estabelecimento

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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169

especial só para contraventores, mas ele não existe; logo, deve a


pena ser cumprida em seção especial de prisão comum (que
deve ser prisão comum de regime aberto);
 O condenado deve ficar separado dos condenados à pena de
reclusão ou detenção;
 Se a pena for de até 15 dias, o trabalho é facultativo

13.7) REINCIDÊNCIA NAS CONTRAVENÇÕES


Deve-se combinar o art. 7º da LCP com o art. 63 do CP.
Casos de reincidência:

 Se o réu tiver condenação definitiva por contravenção praticada


no Brasil e praticar nova contravenção no exterior;
 Condenação definitiva no Brasil ou no estrangeiro por crime e
praticar contravenção no Brasil.

Casos de não-reincidência:
 Condenação no estrangeiro por contravenção e praticar crime ou
contravenção no Brasil;
 Condenação no Brasil por contravenção e cometer crime no
Brasil.

13.8) ERRO DE DIREITO E PERDÃO JUDICIAL

   Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusaveis,


a pena pode deixar de ser aplicada.

Tem-se: ignorância da lei (desconhecer que a lei existe) ou errada


compreensão da lei (erro de proibição).
Pode o juiz aplicar o perdão judicial no caso de erro de direito caso
verificada. A errada compreensão da lei, quando escusável, o juiz aplica o art.
21 do CP, isentando o réu de pena quando configurada a possibilidade de
inescusabilidade.

13.9) MULTA

        Art. 9º A multa converte-se em prisão simples, de acordo com o que dispõe o Código
Penal sobre a conversão de multa em detenção.

        Parágrafo único. Se a multa é a única pena cominada, a conversão em prisão simples se
faz entre os limites de quinze dias e três meses.

Este artigo está tacitamente revogado (o CP não permite mais a


conversão de multa em detenção).

13.10) DURAÇÃO DA PENA

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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170

        Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a
cinco anos, nem a importância das multas ultrapassar cinquenta contos.

A Súmula 715 do STF diz que os benefícios da execução penal são


calculados sobre o total da condenação e não sobre os 30 anos.
SÚMULA Nº 715 DO STF

A PENA UNIFICADA PARA ATENDER AO LIMITE DE TRINTA ANOS DE CUMPRIMENTO,


DETERMINADO PELO ART. 75 DO CÓDIGO PENAL, NÃO É CONSIDERADA PARA A
CONCESSÃO DE OUTROS BENEFÍCIOS, COMO O LIVRAMENTO CONDICIONAL OU
REGIME MAIS FAVORÁVEL DE EXECUÇÃO.

Esta súmula também se aplica às contravenções penais.

13.11) SURSIS E LIVRAMENTO CONDICIONAL EM


CONTRAVENÇÕES PENAIS

        Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode suspender por tempo
não inferior a um ano nem superior a três, a execução da pena de prisão simples, bem como
conceder livramento condicional. (Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

Sursis no CP
Sursis simples e Sursis especial  2 a 4 anos.
sursis etário e humanitário  4 a 6 anos.

Na LCP o prazo é de 1 a 3 anos, em qualquer caso.

Caberá livramento condicional nas contravenções penais quando


presentes os requisitos legais do livramento condicional.

13.12) PENAS ACESSÓRIAS


O art. 12 não é mais aplicado, pois não existe mais penas acessórias no
Direito Penal.
O último efeito do art. 12 da LCP de suspensão dos direitos políticos
continua sendo aplicado em razão do art. 15, III, da CF mesmo na prática de
contravenções penais – ALEXANDRE DE MORAES e TSE

30.05.2009 – SILVIO MACIEL

Art. 15 da CF. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só


se dará nos casos de:
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
 
Condenação por contravenção suspende direito político –
ALEXANDRE DE MORAES. A expressão “transitada em julgado” do artigo 15,
III CF não distingue o tipo de infração cometida, abrangendo não só os crimes
como também as contravenções penais, independentemente da espécie de
pena (TSE, RESPE 13.293/MG).
 
Art. 13. Aplicam-se, por motivo de contravenção, as medidas de segurança estabelecidas no
Código Penal, à exceção do exílio local.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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171

 
A parte final, “à exceção do exílio local” está revogada, porque nem o CP
prevê mais isso. O contraventor inimputável pode sofrer as medidas do CP.
Cabe medida de segurança nas contravenções penais, assim caso
seja uma menor de idade que tenha praticado a contravenção não pode o juiz
aplicar medida de segurança por meio de transação penal; o processo precisa
seguir e o juiz aplicar a medida de segurança na sentença - absolvição
imprópria.

O prazo de internação é de 6 meses, enquanto que no CP é de 1 a 3


anos– artigo 16 da lei. DAMÁSIO diz que este prazo mínimo de internação
previsto no artigo 16 não se aplica mais, pois teria sido revogado pelo CP que
dispõe que o prazo é de 1 a 3 anos. Entretanto, o CP só se aplica se não
houver lei especial em sentido contrário. O juiz pode substitui a medida de
segurança por liberdade vigiada.

Contravenção penal é sempre infração penal de menor potencial


ofensivo, mesmo que a pena máxima aplicada seja maior de 2 anos
(mesmo as infrações de loterias).
Art. 16. O prazo mínimo de duração da internação em manicômio judiciário ou em casa de
custódia e tratamento é de seis meses.
Parágrafo único. O juiz, entretanto, pode, ao invés de decretar a internação, submeter o
indivíduo a liberdade vigiada.

A doutrina diz que esse parágrafo único não se aplica mais, porque a
liberdade vigiada foi extinta com a reforma do CP. Porém, NUCCI entende
que a liberdade vigiada ainda pode ser aplicada (minoritária).

13.13) PRESUNÇÃO DE PERICULOSIDADE NAS CONTRAVENÇÕES


– ARTS. 14 E 15

Art. 14. Presumem-se perigosos, alem dos indivíduos a que se referem os ns. I e II do art. 78
do Código Penal:

        I – o condenado por motivo de contravenção cometido, em estado de embriaguez pelo


álcool ou substância de efeitos análogos, quando habitual a embriaguez;

        II – o condenado por vadiagem ou mendicância;

Art. 15. São internados em colônia agrícola ou em instituto de trabalho, de reeducação ou de


ensino profissional, pelo prazo mínimo de um ano: (Regulamento)

        I – o condenado por vadiagem (art. 59);

        II – o condenado por mendicância (art. 60 e seu parágrafo);

Tais artigos não se aplicam mais – o sistema constitucional e penal


brasileiro proíbe qualquer presunção de periculosidade.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
172

13.14) AÇÃO PENAL PÚBLICA


É publica incondicionada – todas as contravenções. Se houver vítima
determinada, caberá ação penal privada subsidiária da pública.

        Art. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício.

Quando a lei 9099/95 transformou a lesão corporal leve dolosa e a lesão


corporal culposa em ação penal pública condicionada, entendeu-se que a
contravenção penal de vias de fato também seria. STF e STJ – vias de fato
continua sendo ação penal pública incondicionada.

13.15) PRINCIPAIS CONTRAVENÇÕES PENAIS EM ESPÉCIE

 13.15.1) Art. 18 e 19 – armas e munições

Art. 18. Fabricar, importar, exportar, ter em depósito ou vender, sem permissão da
autoridade, arma ou munição:

        Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou multa, de um a cinco contos de réis,
ou ambas cumulativamente, se o fato não constitue crime contra a ordem política ou social.

  Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da
autoridade:

        Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis a três
contos de réis, ou ambas cumulativamente.

        § 1º A pena é aumentada de um terço até metade, se o agente já foi condenado, em


sentença irrecorrivel, por violência contra pessoa.

        § 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de
duzentos mil réis a um conto de réis, quem, possuindo arma ou munição:

        a) deixa de fazer comunicação ou entrega à autoridade, quando a lei o determina;

        b) permite que alienado menor de 18 anos ou pessoa inexperiente no manejo de arma a
tenha consigo;

        c) omite as cautelas necessárias para impedir que dela se apodere facilmente alienado,
menor de 18 anos ou pessoa inexperiente em manejá-la.

Os dois artigos tratam da fabricação ou comércio de arma de fogo e seu


porte. A doutrina diz que quanto às armas de fogo e munição, tais artigos
estão tacitamente revogados – primeiramente pela Lei 9437/97 e
posteriormente pela Lei 10826/2003 (estatuto do desarmamento). Quanto às
armas brancas, a doutrina e jurisprudência entendem que tais artigos
continuam em vigor – RESP 54056/SP – os artigos foram derrogados,
permitindo a incriminação pelo o porte de arma branca.
Trata-se, ainda, de contravenção penal de perigo abstrato.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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173

A jurisprudência entende que só caracteriza tal contravenção se o


indivíduo estiver portando a arma com o objetivo de utilizá-la como arma,
ex.: jardineiro que anda com uma tesoura – não pratica contravenção.

OBS.1: É possível o confisco da arma em contravenção? R.: O CP só


prevê o confisco de instrumentos de crimes, todavia, o entendimento
majoritário é de que cabe sim – aplica-se subsidiariamente o art. 92, II, do CP,
pois a LCP nada dispõe sobre confisco – RESP 83857/RJ (STJ).

OBS.2: O art. 19 não se aplica às armas brancas, pois não se exige


licença para usar arma branca - logo, tal contravenção se aplicava às armas
de fogo.

A) Porte de arma branca e homicídio ou lesões corporais


Se o porte de arma branca ocorreu exclusivamente para a prática de
homicídio, ficará a contravenção absorvida pelo o homicídio. Se o indivíduo
porta uma arma branca e ocasionalmente a utiliza no homicídio, responderá
pelos dois: pela contravenção penal e pelo o homicídio.

13.15.2) Art. 21 – Vias de fato

   Art. 21. Praticar vias de fato contra alguem:

        Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a um conto
de réis, se o fato não constitue crime.

        Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior
de 60 (sessenta) anos. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)

Se for cometido contra vítima maior de sessenta anos, será vias de fato
majorada.
A objetividade jurídica é a incolumidade pessoal. Qualquer pessoa
pode praticar tal contravenção.
Vias de fato são todos os atos de violência física que não caracterizem
lesões corporais, tentativa de homicídio ou injúria real. É um conceito residual
(obtido por exclusão).
Exs. de vias de fato: empurrões, tapas nas costas, rasgar a roupa da
pessoa, puxar cabelo, arremesso de líquido. Vias de fato, assim, não exige
contato físico (pode ter, mas não se exige).

OBS.: A simples dor, sem comprovações de lesões, e o eritema


(vermelhidão na pele) constituem vias de fato.

A) Espécies de ação penal nas vias de fato


1ª corrente: é ação penal pública condicionada à representação, pois, se
a lesão corporal lese depende de representação, as vias de fato também terá
de ser assim – analogia in bonam partem (DAMÁSIO, NUCCI, RONALDO
BATISTA PINTO).
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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174

2ª corrente: é ação penal pública incondicionada, pois o art. 17 da


LCP diz que toda contravenção é de ação penal pública incondicionada – trata-
se de norma especial que prevalece sobre a norma do art. 88 da Lei dos
Juizados Especiais (ADA PELEGRINI, STF).

13.15.3) Art. 24 e 25 – instrumento utilizado em furto

Art. 24. Fabricar, ceder ou vender gazua ou instrumento empregado usualmente na prática de
crime de furto:

        Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos, e multa, de trezentos mil réis a três
contos de réis.

  Art. 25. Ter alguem em seu poder, depois de condenado, por crime de furto ou roubo, ou
enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo, gazuas,
chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na prática de crime de
furto, desde que não prove destinação legítima:

Se a pessoa já tem condenação definitiva por furto ou roubo, a simples


posse já caracteriza a contravenção penal. Estar na posse somente, sem
roubar e sem estar condenado, não pratica nada.
Devem os objetos ser notoriamente instrumentos de furto ou roubo.
“O vadio ou o mendigo...” – a doutrina diz que o dispositivo é
inconstitucional, primeiramente porque cria uma injustificável presunção de
periculosidade; segundo que fere o principio da igualdade.
Se o contraventor efetivamente utilizar este objeto na prática de furto, a
contravenção ficará absorvida.

13.15.4) Art. 28 – disparo de arma de fogo, queimar fogos de


artifício, soltar balão, causar deflagração perigosa

Art. 28. Disparar arma de fogo em lugar habitado ou em suas adjacências, em via
pública ou em direção a ela:

        Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de trezentos mil réis a três contos
de réis.

        Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, quem, em lugar habitado ou em suas
adjacências, em via pública ou em direção a ela, sem licença da autoridade, causa deflagração
perigosa, queima fogo de artifício ou solta balão aceso.

Pune 4 condutas: disparar arma de fogo; causar deflagração perigosa;


soltar balão aceso; queimar fogos de artifício.
Disparar arma de fogo – tacitamente revogado – constitui crime do art.
15 do Estatuto do Desarmamento.
Deflagração perigosa – tacitamente revogado – constitui o art. 251,
parágrafo 1º, do CP e art. 16, parágrafo único, III, do Estatuto do
Desarmamento.
Soltar balão aceso – tacitamente revogado – crime ambiental previsto
no art. 42 da Lei 9605/98.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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Queimar fogos de artifício ilegalmente – continua sendo contravenção.

OBS.: Art. 244 do ECA – pune a conduta de fornecer, vender, ainda que
gratuitamente, ou entregar de qualquer forma à criança ou adolescente, fogos
de estampido ou de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido potencial
sejam incapazes de provocar qualquer dano físico – trata-se de crime.

13.15.5) Art. 31 – Deixar em liberdade animal perigoso

Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou não guardar com a
devida cautela animal perigoso:

        Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou multa, de cem mil réis a um conto de
réis.

        Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:

        a) na via pública, abandona animal de tiro, carga ou corrida, ou o confia à pessoa
inexperiente;

        b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia;

        c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo a segurança alheia.

Pode praticá-lo qualquer pessoa que tenha guarda do animal, seja ou


não proprietário dele. O sujeito passivo é a coletividade. Se o animal
efetivamente atacar alguém, a contravenção desaparece, caracterizando
crime de lesão corporal. Trata-se de uma contravenção de perigo
presumido (não precisa provar que houve perigo real a alguém).
O tipo penal pune 3 condutas: deixar o animal em liberdade; entregar o
animal a pessoa inexperiente (pessoa que não tem habilidade para cuidar
devidamente do animal); não guardar com o devido cuidado.
Dessas 3 condutas, as duas primeiras são dolosas e a última é culposa.
Só existirá a contravenção se o animal for perigoso (animal que possa
atacar e ferir pessoas).

OBS.: Conduzir o animal na via pública sem coleira ou focinheira -


parágrafo único, alínea c, da LCP.

13.15.6) Art. 32 – Direção sem habilitação

Art. 32. Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via pública, ou embarcação a motor em
aguas públicas:

        Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.

SÚMULA Nº 720 do STF


 

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176

O ART. 309 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO, QUE RECLAMA DECORRA DO FATO


PERIGO DE DANO, DERROGOU O ART. 32 DA LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS NO
TOCANTE À DIREÇÃO SEM HABILITAÇÃO EM VIAS TERRESTRES.

De acordo com o STF, se o condutor dirige veículo sem habilitação e


sem gerar perigo de dano, há apenas infração administrativa de trânsito (não
se aplica a contravenção do art. 32). Se houver perigo de dano, caracterizará o
crime do art. 309 do CTB.
De acordo com a súmula 720 do STF, o artigo 32 da LCP só continua
aplicável quanto à direção inabilitada de embarcação a motor em águas
públicas.

13.15.7) Art. 34 – Direção perigosa

Art. 34. Dirigir veículos na via pública, ou embarcações em águas públicas, pondo em perigo a
segurança alheia:

        Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de trezentos mil réis a dois
contos de réis.

Há 3 formas de direção perigosa que eram contravenções penais de


direção perigosa e que foram transformadas em crimes:
 Embriaguês ao volante – art. 306 do CTB;
 Participar de racha – art. 308 do CTB;
 Excesso de velocidade – art. 311 do CTB;

Assim, o art. 34 da LCP teve seu campo de aplicação diminuído, porém


continua tendo aplicação a todas as outras formas de direção perigosa
que não constituam nenhum desses 3 crimes, ex.: dar cavalo de pau,
trafegar na contramão da direção, marcha-ré imprudente, ultrapassagem pela
direita. Não estão abrangidas por nenhum dos crimes acima ditos, previstos no
CTB. Toda doutrina entende desta forma (DAMÁSIO, PAULO JOSÉ DA
COSTA JÚNIOR, ALEXANDRE DE MORAES, STF – HC 86276/MG).
Tais contravenções, todavia, só existem se acontecerem em via pública
(o art. 2º do CTB.
OBS.: DAMÁSIO, CAPEZ, ALEXANDRE DE MORAES –
estacionamento não é via pública.

13.15.8) Art. 39 – Associação secreta

Art. 39. Participar de associação de mais de cinco pessoas, que se reunam periodicamente,
sob compromisso de ocultar à autoridade a existência, objetivo, organização ou administração
da associação:

        Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de trezentos mil réis a três contos
de réis.

        § 1º Na mesma pena incorre o proprietário ou ocupante de prédio que o cede, no todo ou
em parte, para reunião de associação que saiba ser de carater secreto.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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177

        § 2º O juiz pode, tendo em vista as circunstâncias, deixar de aplicar a pena, quando lícito
o objeto da associação.

A doutrina chama tal contravenção de associação secreta. Este artigo


não está recepcionado pela CF/88. A CF, no art. 5º, XVII, diz que é livre a
liberdade de associação no Brasil. No inciso XVIII do art. 5º, a criação de
associações independe de autorização do Estado. Logo, é absolutamente
inconstitucional considerar contravenção penal o fato de as pessoas não
comunicarem à autoridade a existência, objetivos, funcionamento e
administração da entidade.
Só existirá esta contravenção se for uma associação para fins ilícitos ou
de caráter paramilitar.
Só existirá a contravenção se existir 6 pessoas (mais de 5 pessoas).
O que se proíbe é a reunião física (os membros devem se reunir em
algum lugar) e não a associação ideológica simplesmente. Tal associação deve
ter reuniões periódicas.

13.15.9) Art. 42 – Perturbação do trabalho ou do sossego alheios

Art. 42. Perturbar alguem o trabalho ou o sossego alheios:

        I – com gritaria ou algazarra;

        II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais;

        III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;

        IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem a
guarda:

        Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois
contos de réis.

Sujeito passivo é a coletividade.


Só se pune a forma dolosa. “Sossego” não significa repouso noturno.
Assim, tal contravenção pode ocorrer de dia ou de noite.
O STF entendeu que a perturbação de apenas uma pessoa não
configura contravenção penal, pois o tipo traz o termo “alheios” (número
plural de pessoas) – o Supremo entende que precisa ter 6 pessoas para
caracterizar a contravenção.
Quanto ao inciso III, quanto a músicos (para ganhar a vida) e pessoas
que praticam cultos religiosos, há quem entenda que não podem ser punidos,
pois a CF garante o direito ao trabalho e à liberdade religiosa.

OBS.: Art. 54 da Lei 9605/98 – praticar poluição sonora, podendo causar


dano à saúde humana – o agente praticará crime ambiental (STJ – deve-se
analisar o nível do barulho no caso concreto).

13.15.10) Art. 43 – Recusa de moeda pelo seu valor de face

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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178

Art. 43. Recusar-se a receber, pelo seu valor, moeda de curso legal no país:

        Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.

Para alguns autores, a objetividade jurídica é a fé pública. Mas na


verdade a objetividade jurídica é as relações econômicas.
Significa recusar-se a receber a moeda pelo o valor de face dela, ex.:
entrego uma moeda de 20 reais, e o sujeito entende que lá há 10 reais, e assim
não a aceita.
Só o Real é a moeda de curso forçado no país. Moedas estrangeiras
podem ser recusadas.
Se a pessoa se recusa por qualquer outro motivo que não seja o seu
valor de face, não haverá contravenção.

13.15.11) Art. 45 – Fingir-se funcionário público

Art. 45. Fingir-se funcionário público:

        Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a três contos
de réis.

Se além de se fingir funcionário público praticar qualquer ato funcional,


caracterizará crime de usurpação de função publica – art. 328 do CP. Não
pode, assim, passar da esfera de fingimento. Há entendimento minoritário de
que o próprio funcionário público pode ser autor desta contravenção.

13.15.12) Art. 46 – uso público de uniforme ou distintivo de função


pública que não exerce ou uso indevido de sinal, distintivo ou
denominação
 
Art 46. Usar, publicamente, de uniforme, ou distintivo de função pública que não exerce; usar,
indevidamente, de sinal, distintivo ou denominação cujo emprêgo seja regulado por lei.
(Redação dada pelo Decreto-Lei nº 6.916, de 2.10.1944)

São duas condutas punidas:


 Usar publicamente, de uniforme, ou distintivo de função pública
que não exerce – usar diante de um número plural de pessoas. O
mero porte do uniforme (estando na bolsa, por ex.) não configura
a contravenção penal (a lei fala em usar). Se for uniforme ou
distintivo militar, haverá crime militar – art. 171 ou 172 do CPM;
 Usar, indevidamente, de sinal, distintivo ou denominação cujo
emprego seja regulado por lei – quanto ao distintivo, a
contravenção está tacitamente revogada pelo o art. 296,
parágrafo 1º, III, do CP.

Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:

        I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município;
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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        II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal
público de tabelião:

        Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

        § 1º - Incorre nas mesmas penas:

        III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer
outros símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública.
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

13.15.13) Art. 47 – Exercício de profissão ou atividade econômica


em desacordo com a lei

  Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher
as condições a que por lei está subordinado o seu exercício:

        Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a
cinco contos de réis

A CF garante o direito à profissão, conforme o estabelecido em lei.


Aquele que exerce profissão sem atender os requisitos dispostos em lei
praticará a contravenção em estudo.
A vítima desta contravenção é a coletividade e a proteção das classes
profissionais e econômicas.
São duas condutas: basta anunciar que exerce ou exercer a profissão
em desconforme com a lei. Há divergência em saber se a contravenção é
habitual ou não.
Há duas correntes: 1ª corrente: Trata-se de contravenção habitual – só
a reiteração do exercício ilegal da profissão configura a contravenção. 2ª
corrente: Outra corrente entende que se trata de crime instantâneo – um único
ato já a configura. NUCCI – a contravenção é habitual quanto ao verbo
“exercer”, mas é instantâneo quanto ao “anunciar”.
Atividade econômica está querendo dizer “qualquer atividade com fim
lucrativo”.
Só haverá a contravenção se a atividade for praticada em
desconformidade com as condições legais – trata-se de norma penal em
branco. Conclusão: se a profissão não estiver regulada em lei, não há a
contravenção. STF (HC 92183) – atividade de árbitro ou mediador não
configura tal contravenção, por se tratar de atividade ainda não regulada em lei.

OBS.1: Advogado suspenso ou impedido responde por essa


contravenção? R.: STF e STJ entendem que sim! Há contravenção mesmo
que o advogado exerça a atividade em outra unidade da federação.

OBS.2: quando o exercício ilegal de profissão referir-se à medicina,


odontologia ou farmácia, cuida-se de crime (art. 282 do CP), pois em jogo está

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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interesse maior, que é a saúde pública. Para as demais profissões, aplica-se a


contravenção do art. 47.

        Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou
farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites:

        Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

        Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa.

13.15.14) Art. 50 – Jogo de azar

Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessivel ao público,
mediante o pagamento de entrada ou sem ele: (Vide Decreto-Lei nº 4.866, de 23.10.1942)
(Vide Decreto-Lei 9.215, de 30.4.1946)

        Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, de dois a quinze contos de réis,
estendendo-se os efeitos da condenação à perda dos moveis e objetos de decoração do local.

        § 1º A pena é aumentada de um terço, se existe entre os empregados ou participa do jogo


pessoa menor de dezoito anos.

        § 2º Incorre na pena de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, quem é
encontrado a participar do jogo, como ponteiro ou apostador.

        § 3º Consideram-se, jogos de azar:

        c) o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte;

        b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou de local onde sejam
autorizadas;

        c) as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.

        § 4º Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar acessivel ao público:

        a) a casa particular em que se realizam jogos de azar, quando deles habitualmente
participam pessoas que não sejam da família de quem a ocupa;

        b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos hóspedes e moradores se proporciona


jogo de azar;

        c) a sede ou dependência de sociedade ou associação, em que se realiza jogo de azar;

        d) o estabelecimento destinado à exploração de jogo de azar, ainda que se dissimule esse
destino.

As contravenções dos arts. 51 a 58 da LCP foram tacitamente


revogadas pelo Dec-Lei 6259/44 – contravenções referentes às loterias. A

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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181

única contravenção de jogos ilícitos da LCP que está em vigor é a prevista no


art. 50 – jogo de azar.

Sujeito ativo: qualquer pessoa; sujeito passivo: o Estado, pois é ele que
detém o monopólio dos jogos de azar.
O que é jogo de azar? R.: é o que depende exclusivamente ou
principalmente da sorte – parágrafo 3º do art. 50 da LCP. Assim, não entra no
conceito de jogo de azar aqueles que dependem principalmente da habilidade
do jogador, ex. de jogos que dependem da habilidade: truco, caxeta, de bilhar
etc. A jurisprudência considera jogos de azar: jogo de cartas 21, bolão
esportivo, tômbula, jogo de tampinhas.

***OBS.: E as máquinas de caça-níqueis ou vídeo-poquer? R.: o STF e STJ –


780937/RS, entendem que tais máquinas podem configurar:
 Contravenção do art. 50 se houver alguma chance de ganho;
 Contravenção do art. 45 do Dec-Lei 6259/44 se for jogo de
prognósticos/loterias;
 Crime contra a economia popular se a máquina estiver
programada para anular as chances de ganho do apostador – lei
1521/51.

Em todos esses casos, a competência é da Justiça Estadual (STJ CC


45318/SP).

A tese de que a lei Pelé (9615/98) revogou o art. 50 da LCP não vem
sendo aceita pelo STF e STJ. Assim, o bingo configura a contravenção do
art. 50 da LCP – RESP 703156 STJ.
CRIMINAL. RESP. EXPLORAÇÃO DE JOGOS DE BINGO. MANDADO DE BUSCA E
APREENSÃO. MANDADO DE SEGURANÇA. ORDEM CONCEDIDA PARA LIBERAR O
MATERIAL APREENDIDO E AUTORIZAR A CONTINUAÇÃO DA ATIVIDADE. REVOGAÇÃO
DO ART. 50 DA LCP. INOCORRÊNCIA. RECURSO PROVIDO.
I. Hipótese em que foram apreendidos diversos materiais correlacionados à exploração
comercial de jogos de bingos. II. O art. 50 da LCP não restou revogado pela Lei Pelé (Lei
9.651/98), que veio apenas permitir o funcionamento provisório de "bingos", desde que
autorizados por entidades de direito público. III. Com o advento da Lei 9.981/2000 (Lei
Maguito Vilela) foram revogados, a partir de 31/12/2001, os artigos 59 a 81 da Lei 9.651/98 (Lei
Pelé), respeitando as autorizações que estivessem em vigor até a data de sua expiração,
autorização esta, com validade de 12 meses, conforme a legislação específica. IV. A partir de
31/12/2002, ninguém mais poderia explorar o jogo do bingo por violação expressa ao art. 50 da
Lei 3.688/41 (Lei de Contravenções Penais). V. Se o ato impugnado ocorreu em 2003, quando
as referidas empresas já não mais poderiam estar explorando a atividade, tem-se a correção
da medida de busca e apreensão. VI. Recurso provido.

Legislar sobre bingos é matéria exclusiva da União.

SÚMULA VINCULANTE Nº 2

É INCONSTITUCIONAL A LEI OU ATO NORMATIVO ESTADUAL OU DISTRITAL QUE


DISPONHA SOBRE SISTEMAS DE CONSÓRCIOS E SORTEIOS, INCLUSIVE BINGOS E
LOTERIAS.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
182

OBS.1: Bingos beneficentes não configuram infração penal – adequação


social da conduta.

OBS.2: CAPEZ - O brasileiro que joga bingo em navios em mar do


estrangeiro pode ser responsabilizado pela Lei brasileira, em razão do princípio
da nacionalidade ativa do agente, - art. 7º, II, do CP. ***Ocorre que não se
aplica a lei brasileira às contravenções praticadas fora do Brasil. Não
existe extraterritorialidade da lei brasileira em relação às contravenções.

OBS.3: Apostas de corridas de cavalo ocorrida no estrangeiro, mas a


aposta é feita no Brasil – STF entendeu caracterizada a contravenção (HC
80908/RS)

OBS.4: Apostas em disputa envolvendo briga de animais – caracteriza


crime ambiental – art. 32 da Lei 9605/98.

13.15.15) Art. 59 - Vadiagem

Art. 59. Entregar-se alguem habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho,
sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria
subsistência mediante ocupação ilícita:

        Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses.

        Parágrafo único. A aquisição superveniente de renda, que assegure ao condenado meios
bastantes de subsistência, extingue a pena.

Toda a doutrina entende que tal contravenção é inconstitucional.


Fundamentos: Presunção de periculosidade inadmissível; fere o princípio da
isonomia. NUCCI diz que fere a dignidade da pessoa humana, pois viver na
ociosidade pode ser uma opção de vida, uma forma de pensamento.

13.15.16) Art. 61 – Importunação ofensiva ao pudor

Art. 61. Importunar alguem, em lugar público ou acessivel ao público, de modo ofensivo
ao pudor:

        Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.

Sujeito ativo e passivo: qualquer pessoa (não é só mulher). Para


caracterizar o crime a vítima precisa se sentir importunada.
A contravenção não precisa estar ligada a atos de sexualidade/o
pudor não se limita ao pudor sexual.

A) Atentado violento ao pudor e importunação ofensiva ao pudor


Discute-se na doutrina se atos lascivos “mais leves” configura o crime ou
contravenção (beijos lascivos, apalpar ou encostar em partes íntimas da
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
183

vítima). BITENCOURT e LFG sustentam que estes atos configuram


contravenção de importunação ofensiva ao pudor, pois considerá-lo como
crime hediondo (atentado violento ao pudor) fere o princípio da
proporcionalidade ou razoabilidade. STJ – tais atos configuram atentado
violento ao pudor (HC 75245/SP; HC 85437/SP).

13.06.2009 – SILVIO MACIEL

13.15.17) Art. 63 – Servir bebidas alcoólicas a determinadas


pessoas

Art. 63. Servir bebidas alcoólicas:

        I – a menor de dezoito anos;

        II – a quem se acha em estado de embriaguez;

        III – a pessoa que o agente sabe sofrer das faculdades mentais;

        IV – a pessoa que o agente sabe estar judicialmente proibida de frequentar lugares onde
se consome bebida de tal natureza:

        Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, ou multa, de quinhentos mil réis a cinco
contos de réis

Inciso I – Há 2 entendimentos sobre aplicar este inciso ou o art. 243 do


ECA: 1ª corrente: TJ/SP – vender bebida alcoólica a menor caracteriza a
contravenção (STJ) – RESP 942288/RJ - a contravenção é mais específica do
que o crime; ela se refere apenas à bebida alcoólica e o art. 243 do ECA se
refere a “produtos cujos componentes possam causar dependência física ou
psíquica. O crime do ECA ficaria para todas as hipóteses de substâncias que
não se enquadram em bebidas alcoólicas ou em drogas (inserirá na Lei
11343/2006), ex.: vender cola de sapateiro para menor caracteriza o crime do
art. 243 do ECA.

        Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer
forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar
dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida:

        Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais
grave. (Redação dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)

13.15.18) Art. 64 – tratar animal com crueldade ou submetê-lo a


trabalho excessivo

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
184

Art. 64. Tratar animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho excessivo:

        Pena – prisão simples, de dez dias a um mês, ou multa, de cem a quinhentos mil réis.

        § 1º Na mesma pena incorre aquele que, embora para fins didáticos ou científicos, realiza
em lugar público ou exposto ao publico, experiência dolorosa ou cruel em animal vivo.

        § 2º Aplica-se a pena com aumento de metade, se o animal é submetido a trabalho


excessivo ou tratado com crueldade, em exibição ou espetáculo público.

Tal contravenção está tacitamente revogada (no seu inteiro teor) pelo o
art. 32, caput, e parágrafos 1º e 2º, da Lei 9605/98 – agora a conduta é crime.

13.15.19) Art. 65 – Perturbação da tranquilidade

Art. 65. Molestar alguem ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo
reprovavel:

        Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois
contos de réis

Não se pode confundir esta contravenção (perturbação da tranqüilidade)


com a contravenção de perturbação do trabalho ou sossego alheios – art. 42
da LCP. O sujeito ativo é qualquer pessoa e o sujeito passivo é pessoa
determinada (na outra contravenção – do art. 42 da LCP – deve-se perturbar
mais de uma vítima). Aqui, a expressão “alguém” determinada o sujeito
passivo.
Este tipo penal exige uma finalidade específica – deve-se perturbar ou
molestar por acinte (de propósito) ou por motivo reprovável. Assim, a
perturbação culposa não é incriminada.

14) LEI 9503/97 – CRIMES DE TRÂNSITO


O Código de Trânsito Brasileiro foi publicado dia 23.09.97, mas só
entrou em vigor em 22.01.98 – vacatio legis de 120 dias.
O CTB traz nos seus arts. 291 ao 312 os crimes de trânsito.
Do art. 291 ao 301 traz as disposições gerais. Do art. 302 ao 312 são os
crimes em espécie.

14.1) CRIMES DE TRÂNSITO E LEI 9099/95

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste
Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este
Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995,
no que couber.

        § 1o  Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76
e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver: (Renumerado do
parágrafo único pela Lei nº 11.705, de 2008)

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
185

        I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine
dependência; (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)

        II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de


exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela
autoridade competente; (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)

        III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h
(cinqüenta quilômetros por hora). (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)

        § 2o  Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo, deverá ser instaurado inquérito policial
para a investigação da infração penal. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)

Há 11 crimes de trânsito. Os dos arts. 304, 305, 307 ao 312 são


infrações de menor potencial ofensivo; assim, aplicar-se-á inteiramente a
Lei 9099/95. Cabe composição civil de danos (se for o caso), transação penal,
suspensão condicional, termo circunstanciado na investigação criminal. Se não
couber nada disso, o procedimento será o sumaríssimo e a competência será
do JECRIM.
Quanto ao crime de homicídio culposo (art. 302) não cabe nenhum
instituto da Lei 9099/95, pois sua pena é de 2 a 4 anos (não é de menor
potencial ofensivo), diferentemente do homicídio culposo do CP, cuja pena é de
1 a 3 anos.
Quanto ao crime de embriaguez ao volante (art. 306), sua pena é de 6
meses a 3 anos de prisão. Não é infração de menor potencial ofensivo, logo,
não se aplica a Lei 9099/95. Caberá apenas a suspensão condicional do
processo. Até ano passado cabia transação penal (era o único crime que não
é de menor potencial ofensivo, mas que era cabível a transação).

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306 DO CTB)


CTB ANTES DA LEI 11705/2008 CTB DEPOIS DA LEI 11705/2008
Não era infração de menor potencial ofensivo, mas Não é infração de menor potencial ofensivo e não
cabia transação penal. cabe mais a transação penal.

Tal alteração é irretroativa – trata-se de norma posterior que agrava a


situação do réu.

Quanto ao crime de lesão corporal culposa no trânsito (art. 303), a


pena é de 6 meses a 2 anos de detenção – trata-se de crime de menor
potencial ofensivo.
Em regra, caberia composição de danos (com a vítima lesionada),
transação penal (com o MP) e a ação seria pública condicionada à
representação.
Exceção: O art. 291, parágrafo 1º, I a III, diz que nada disso se aplica à
lesão corporal culposa no trânsito se:
 ela foi praticada sob a influência de álcool ou substância
psicoativa;
 Em competição automobilística não autorizada (tipo “racha”);
 Em velocidade superior a 50 km/h da máxima permitida.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
186

Inserindo num desses casos, a ação será pública incondicionada, não


caberá transação penal, nem composição civil.
***Além do mais, o Delegado deverá instaurar inquérito policial (não
poderá instaurar termo circunstanciado, mesmo que a pena máxima do tipo
não ultrapasse 2 anos). Se o réu estiver em situação de flagrante, deverá ser
feito o auto de prisão em flagrante.
OBS.: O próprio CTB está admitindo que existe lesão culposa em
situação de racha ou sob influencia de álcool ou outra substancia psicoativa –
logo, acabou com aquela discussão de que sempre seria dolo eventual
(pois o crime é culposo).

A quarta hipótese de não aplicação daqueles institutos da Lei 9099/95 é


a da prevista no art. 303 com causa de aumento de pena, do CTB (art. 302,
parágrafo único c/c art. 303, parágrafo único, do CTB).

Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:

        Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

        Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer das
hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.\

 Art. 302, Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo


automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:

        I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

        II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

        III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do
acidente;

        IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte


de passageiros.

        V - (Revogado pela Lei nº 11.705, de 2008)

A natureza da ação não muda – continuará dependendo de


representação (que nem na forma simples). Se for praticado nas situações do
parágrafo 1º do art. 291, a lesão corporal culposa será de ação pública
incondicionada!

14.2) SUSPENSÃO E PROIBIÇÃO DO DIREITO DE DIRIGIR (ART. 292


A 296 DO CTB)
A suspensão é aplicada àquele que já tem permissão ou habilitação
para dirigir. A proibição é aplicada àquele que não tem permissão ou não é
habilitado para dirigir (fica impedido de obter a habilitação ou permissão para
dirigir).

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
187

Ela não é pena substitutiva da pena de prisão; trata-se de pena


principal. Ela será aplicada cumulativamente com a pena de prisão ou de
multa, se houver.
Dos 11 crimes, nos arts. 302 (homicídio culposo), 303 (lesão corporal
culposa), 306 (embriaguez ao volante) e 308 (participar de racha), tal pena de
suspensão ou proibição do direito de dirigir já está cominada no tipo
penal. Assim, se o juiz condenar por um desses crimes, ele é obrigado a
aplicar prisão + a suspensão ou proibição do direito de dirigir.

Para os demais crimes – arts. 304, 305, 307, 309 a 312, tal pena não
está cominada no tipo penal, mas deve ser aplicada quando o réu for
reincidente em crime de trânsito.

Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação,


para dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos.

        § 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será intimado a entregar à


autoridade judiciária, em quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de
Habilitação.

        § 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação


para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de condenação
penal, estiver recolhido a estabelecimento prisional.

Seja nos dois casos (pena já cominada ou não) a duração dessa pena
será de 2 meses a 5 anos.

Art. 296.  Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz
aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor,
sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008)

Trata-se de um dever do magistrado (antes do advento da Lei


11705/2008, o juiz poderia aplicar tal pena de suspensão da habilitação no
caso de reincidência na prática de crime de trânsito).

        Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor pode ser imposta como penalidade principal, isolada (?) ou cumulativamente
com outras penalidades.

Apesar do art. 292 dispor que dá para aplicar tal pena de suspensão ou
proibição de permissão ou habilitação de forma isolada, não é possível o juiz
aplicar apenas tal sanção (foi um equívoco do legislador) pois, para os crimes
dos arts. 302, 303, 306 e 308, tal sanção já está cumulada com a pena de
prisão, no próprio tipo penal e para os demais crimes ela será aplicada sem
prejuízo da pena de prisão, ou seja, também cumulativamente.

OBS.: No crime do art. 307, o prazo é o mesmo da suspensão ou


proibição anteriormente imposta

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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188

Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor imposta com fundamento neste Código:

Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico
prazo de suspensão ou de proibição

O juiz, para aplicar tal pena de suspensão ou proibição de habilitação ou


permissão, deve aplicar o sistema trifásico, individualizando a pena da mesma
forma que a prisão – RESP 737306 (STJ).

Tal pena não pode iniciar enquanto estiver preso – art. 293, parágrafo
2º, do CTB.
§ 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito
de condenação penal, estiver recolhido a estabelecimento prisional.

OBS.1: Art. 44, parágrafo 2º, do CP – Pode o juiz substituir a pena de


prisão por 2 restritivas de direito + a pena de suspensão ou perda de
habilitação ou permissão?

        § 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou
por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode
ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. 
(Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)

R.: Pode – STJ – RE 628730/SP


Ementa
CRIMINAL. RESP. DELITO DE TRÂNSITO. HOMICÍDIO CULPOSO. OITIVA DOS PERITOS E
EXAME MÉDICO. INDEFERIMENTO. LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA CORPORAL POR DUAS RESTRITIVAS DE DIREITO ALÉM DA
SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR. POSSIBILIDADE. SUBSTITUIÇÃO DA
LIMITAÇÃO DE FINAIS DE SEMANA POR PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA. IMPOSSIBILIDADE.
MOTORISTA PROFISSIONAL. SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR.
POSSIBILIDADE. PRESCRIÇÃO DA PENA DE SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA
DIRIGIR. INOCORRÊNCIA. RECURSO DESPROVIDO.
IV - Não afronta o art. 44, § 1o, do Código Penal, a aplicação de duas penas restritivas de
direito, substitutivas da pena privativa de liberdade, cumuladas com a pena de
suspensão da habilitação para dirigir veículo automotor

OBS.2: art. 47, III, do CP – prevê a suspensão do direito de dirigir. A


quais crimes pode ser aplicada tal sanção? R.: Combinando tal artigo com o
art. 57 do CP, chega-se à conclusão de que tal pena se aplica aos crimes
culposos de trânsito. Todavia, os únicos crimes culposos do CTB (homicídio e
lesão corporal) já prevêem tal pena como principal em seu tipo. A maioria da
doutrina entende que tal sanção do art. 47, III, do CP foi tacitamente revogada
pelo CTB. Nesse sentido: RESP 737306 e 347829.

PENAL. RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 302 DA LEI N.º 9.503/97. PENA DE SUSPENSÃO
DE HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR. ARTIGO 293, DO CÓDIGO DE
TRÂNSITO BRASILEIRO. QUANTUM FIXADO ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE FIXADA NO MÍNIMO LEGAL.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
189

I - Inexistindo circunstâncias desfavoráveis ao condenado, motivo pelo qual a pena privativa de


liberdade foi fixada em seu mínimo legal, deve a suspensão de habilitação para dirigir veículo
automotor ser fixada, também, no patamar mínimo, nos moldes da pena corporal. (Precedente
do STJ).
II - Dada a duplicidade da incidência da suspensão (ex vi art. 302 da Lei 9.503/97 e art. 47,
inciso III do Código Penal), a pena privativa de liberdade é de ser, in casu, substituída
por uma outra restritiva de direitos diversa da aplicada. Recurso provido. Habeas corpus
concedido de ofício.

OBS.3: É possível aplica tal sanção de suspensão/proibição par ao


motorista profissional que depende da profissão para sustentar a si próprio e à
sua família? R.: TJ’s de MG, RJ, SP, RS, SC, dizem que não há possibilidade
de aplicar tal pena a esta pessoa pois ele depende desta trabalho para se
sustentar – ofende o direito ao trabalho, direito ao sustento e à dignidade da
pessoa humana. STJ – de maneira unânime, entende que pode sim ser
aplicada a tais pessoas – é pena prevista no tipo penal e deve ser aplicada
(RESP 1019673).
"A imposição da pena de suspensão do direito de dirigir é exigência legal, conforme previsto no
art. 302 da Lei 9.503/97. O fato de o paciente ser motorista profissional de caminhão não
conduz à substituição dessa pena restritiva de direito por outra que lhe seja preferível."
(HC 66.559/SP, 5ª Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves. DJU de 07/05/2007). Recurso provido.

14.2.1) Suspensão ou proibição do direito de dirigir como medida


cautelar

Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a
garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento
do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em
decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor,
ou a proibição de sua obtenção.

        Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que
indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito
suspensivo.

   Tal medida cabe na fase de investigação ou do processo (ação penal). É


decretada para garantia da ordem pública (garantia da segurança do
trânsito). Caberá quando houver provas de que o réu ou acusado continua
praticando infrações administrativas ou criminais.
Pode ela ser decretada de ofício pelo juiz, requerimento do MP ou
representação autoridade policial.
Da decisão que deferir a medida cautelar ou que indeferir o pedido do
MP, cabe RESE sem efeito suspensivo.

14.3) MULTA REPARATÓRIA

Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito


judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com base no disposto no
§ 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo material resultante do crime.

        § 1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado no
processo.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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190

        § 2º Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do Código Penal.

        § 3º Na indenização civil do dano, o valor da multa reparatória será descontado.

14.3.1) Natureza jurídica da multa reparatória


É amplamente majoritário de que a multa reparatória é sanção civil
aplicada na sentença penal; é um instituto com nítido caráter indenizatório.
Ela vai para a vítima ou seus sucessores.
O art. 297, parágrafo 1º, diz que o valor da multa reparatória não pode
ser superior ao prejuízo da vítima demonstrado no processo.
O parágrafo 3º do art. 297 diz que o valor da multa reparatória será
descontado em eventual valor de indenização civil.
CAPEZ – diz que a multa reparatória é efeito extrapenal secundário da
sentença penal – minoria.

Estão excluídos da multa reparatória os danos morais.

14.3.2) Cálculo
É calculada com base no art. 49, parágrafo 1º, do CP

        § 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do
maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse
salário. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

E se essa multa reparatória não for paga, quem a executará? R.: Será
executada como a multa penal – A Fazenda Pública executaria tal multa na
vara das Execuções Fiscais (como regra do CP), mas a doutrina entende que a
vítima ou seus sucessores devem executar tal multa (o destinatário da multa
reparatória) – é o que prevalece.

OBS.: É possível o juiz aplicar a pena de prestação pecuniária + multa


reparatória? R.: A pena de prestação pecuniária é uma pena substitutiva da
prisão. A multa civil é uma sanção civil aplicada na sentença penal. O STJ
entende que é possível – RESP 736784

I - Havendo prejuízo material resultante da prática de crime previsto no Código de Trânsito


Brasileiro se mostra cabível a aplicação da multa reparatória prevista no art. 297 da Lei nº
9.503/97.
II - Não há qualquer incompatibilidade na aplicação cumulativa da multa reparatória e da
prestação pecuniária como substitutiva da pena privativa de liberdade. Recurso provido

14.4) PERDÃO JUDICIAL


Só é cabível o perdão judicial naqueles crimes que prevêem tal
possibilidade. O Presidente da República vetou tal artigo que previa o perdão
judicial no CTB, todavia, cabe o perdão judicial no homicídio culposo e
lesão corporal culposa CTB – analogia in bonam partem do CP (art. 121,
parágrafo, 5º e art. 129, parágrafo 8º, do CP).
O motivo do veto presidencial foi de que o CP já previa o perdão judicial,
não necessitando de nova figura no CTB.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
191

14.5) PRISÃO EM FLAGRANTE E FIANÇA NOS CRIMES DE


TRÂNSITO

        Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima,
não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro
àquela.

Só se aplica ao homicídio culposo e à lesão corporal culposa, pois todos


os outros crimes do CTB são crimes de perigo.
O legislador se preocupou com a vítima e não com a impunidade, por
isso que ele se preocupa com o socorro da vítima. Mesmo que tenha sido um
socorro ineficaz, mas desde que realizado, será incabível a prisão em
flagrante do agente, nem cobrada fiança.
O socorro deve ser imediato – a demora injustificada do socorro justifica
a prisão em flagrante.
Deve o socorro ser integral – deve o condutor fazer tudo que estiver a
sua disposição para socorrer.

OBS.1: O prestar socorro também abrange a solicitação da autoridade


competente ao local do acidente – corpo de bombeiros – ex.: vítima com fratura
exposta não pode ser removida do local; assim, o agente ligando para o SIATE,
já estará prestando socorro.

OBS.2: Se o condutor não socorreu porque não tinha condições de


socorrer, diz a doutrina que ele não deverá ser preso em flagrante, ex.:
ameaça de linchamento, também se feriu etc.

OBS.3: Mesmo prestado o socorro pelo condutor, mas a vitima morreu; o


Delegado verificou que foi caso de dolo eventual – o agente deverá ser
autuado em flagrante – não está sendo aplicado o CTB, e sim o CP – no
caso de dolo eventual, mesmo que o condutor preste pronto e integral socorro
à vítima, ele deverá ser autuado em flagrante. Tal socorro servirá como
atenuante genérica de pena – art. 65 do CP.

14.6) PRINCIPAIS CRIMES EM ESPÉCIE

14.6.1) Homicídio culposo – art. 302

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

        Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a


permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Alguns doutrinadores dizem que o tipo é inconstitucional pelo fato do tipo


não descrever a conduta do crime e sim seu nomem iuris (nome jurídico do
crime), violando o princípio da taxatividade.
O STF entende ser constitucional.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
192

Qualquer outra hipótese de crime que não cometido na condução de


veículo automotor será aplicado o CP, inclusive no trânsito. Ex.: sujeito
andando de bicicleta na rodovia e atropela alguém, matando-o.

      ANEXO I DO CTB - VEÍCULO AUTOMOTOR - todo veículo a motor de propulsão que


circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e
coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O
termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos
(ônibus elétrico).

Resumindo, é qualquer veículo que se movimenta pela força do motor e


que transporta pessoas e coisas ou que servem para a tração de veículos que
transportam pessoas e coisas + o ônibus elétrico.
Abrange: automóveis, motocicleta, guincho, ônibus etc.

Estão fora do conceito: os veículos automotores aquáticos e aéreos,


veículos de tração humana (bicicleta), veículos de tração animal (carroça),
ciclomotores

      ANEXO I DO CTB - CICLOMOTOR - veículo de duas ou três rodas, provido de um motor


de combustão interna, cuja cilindrada não exceda a cinqüenta centímetros cúbicos (3,05
polegadas cúbicas) e cuja velocidade máxima de fabricação não exceda a cinqüenta
quilômetros por hora.

OBS.: Indivíduo dirige seu veículo dentro de sua chácara e atropela


alguém o matando – 1ª corrente: aplica-se o CP, pois o CTB só regula o
trânsito nas vias públicas; 2ª corrente: majoritária – aplica-se o CTB porque o
art. 302 não contém a elementar via pública, ao contrário dos arts. 306, 308
e 309, que contém a elementar via pública. Isto significa que o homicídio
culposo pode ocorrer até em vias particulares.

14.6.2) Lesão corporal culposa

Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:

        Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

        Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer das
hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.

      14.6.3) Causas de aumento de pena do homicídio culposo e da


lesão corporal culposa
Art. 302, parágrafo único, I a IV (art. 303, parágrafo único diz que tais
causas também se aplicam à lesão corporal).

Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é


aumentada de um terço à metade, se o agente:

        I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
193

Não pode responder também pelo art. 309 (crime de falta de habilitação)
senão haveria bis in idem
No caso da lesão culposa, mesmo que a vítima não ofereça
representação, o infrator não poderá ser processado pelo crime de falta de
habilitação. Fundamento: quando ocorre a lesão, a falta de habilitação ou
permissão perde a sua autonomia de crime próprio, passando a funcionar
apenas como causa de aumento de pena da lesão – STF HC 80298
Ementa

EMENTA: HABEAS-CORPUS. CRIME DE LESÕES CORPORAIS CULPOSAS NA DIREÇÃO


DE VEÍCULO, QUALIFICADO PELA FALTA DE HABILITAÇÃO, E DE DIRIGIR SEM
HABILITAÇÃO (ARTS. 303, PAR. ÚNICO, E 309 DO CTB): CONSUNÇÃO. 1. O crime mais
grave de lesões corporais culposas, qualificado pela falta de habilitação para dirigir
veículos, absorve o crime menos grave de dirigir sem habilitação (artigos 303, par. único,
e 309 do Código de Trânsito Brasileiro). 2. O crime de lesões corporais culposas é de ação
pública condicionada à representação da vítima por expressa disposição legal (artigos 88 e 91
da Lei nº 9.099/95). 3. Na hipótese em que a vítima não exerce a faculdade de representar,
ocorre a extinção da punibilidade do crime mais grave de lesões corporais culposas,
qualificado pela falta de habilitação, não podendo o paciente ser processado pelo crime
menos grave de dirigir sem habilitação, que restou absorvido. Precedentes de ambas as
Turmas. 4. Habeas-corpus conhecido e deferido para determinar o trancamento da ação penal.

       E
se, por ex., estava conduzindo um automóvel, mas possui só habilitação
de motocicleta? R.: A doutrina entende que deve ser aplicado o art. 298, IV, do
CTB. O STJ entende que se aplica a causa de aumento de pena da mesma
forma – RESP 492912

PENAL. RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO CULPOSO. REEXAME DE PROVAS. FALTA


DE HABILITAÇÃO ESPECÍFICA.
I - Não se conhece de recurso especial, em sede de homicídio culposo (CTB), se para a
verificação da falta de cuidado concretamente exigível se torna necessário o cotejo e o
reexame do material cognitivo (Súmula nº 07 - STJ).
II - A majoração da resposta penal em decorrência do inciso I, do parágrafo único do art.
302 do CTB incide na hipótese de não possuir o agente a habilitação adequada. Recurso
não conhecido.

II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

        III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do
acidente;

É a omissão de socorro do condutor. Só incidirá tal aumento de pena se


tal socorro era possível sem risco pessoal (qualquer outro risco, ex.: patrimonial
– com medo de acabar quebrando mais o carro ainda – ele responderá pelo
crime com aumento de pena).
O sujeito não pode responder pelo homicídio ou lesão agravada pela
omissão + o crime autônomo de omissão de socorro.
O sujeito ativo do crime previsto no art. 304 do CTB é o condutor do
veículo envolvido no acidente. A doutrina entende que quando a vitima não for
socorrida em acidente de trânsito, haverá 3 hipóteses:
 Condutor, culpado, que não socorre  art 302 ou 303 com
aumento de pena do parágrafo único, III do art. 302;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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194

 Condutor, envolvido no acidente que não agiu com nenhuma


culpa, mas se omitiu de socorrer a vítima  art. 304 do CTB;
 Demais condutores não envolvidos no acidente que não socorrem
 art. 135 do CP (omissão de socorro genérica)

        IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte


de passageiros.

Taxista, motorista de ônibus, motorista de van escolar, qualquer um que


exerce como atividade, lícita ou irregular a condução de veículo de transporte
de passageiros (logo, o caminhoneiro não estará aqui enquadrado).
OBS.: E se o veículo que serve para transporte de passageiros estiver
vazio na hora do acidente? R.: Responde com aumento da mesma forma; o
que se está punindo é o maior dever de cautela que os motoristas profissionais
devem ter.

       

V - (Revogado pela Lei nº 11.705, de 2008)

Era a previsão de aumento de pena se o agente estivesse sob influência


de álcool ou substância de efeitos análogos (não estava na redação original do
texto; foi acrescentada em 2006, mas em 2008 já foi excluída).
Foi inserida porque se discutia se o agente respondia pela lesão +
embriaguez ou só a lesão com a embriaguez absorvida. Para acabar com essa
discussão, o legislador criou esta causa de aumento de pena.

Tal causa de aumento foi excluída em 2008. STF e STJ - Se houve


homicídio culposo, o crime de embriaguez fica absorvido (HC 32764 do STJ)
HABEAS CORPUS. PENAL. ABSORÇÃO DO ART. 306 DA LEI 9.503/97 PELO ART. 302.
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. EXASPERAÇÃO DA PENA PELA INCIDÊNCIA MAJORANTE
DA CIRCUNSTÂNCIA DO ART. 59 DO CÓDIGO PENAL. SUBSTITUIÇÃO DA PENA
PRIVATIVA DE LIBERDADE. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL A SER COARCTADO.
Se, num primeiro momento, o delito de embriaguez restou absorvido por meio do
fenômeno da consunção, não há como eleger o conceito da norma encartada no art. 59
do CP para agravar a pena sem se caracterizar flagrante constrangimento ilegal.
A substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, antes de ser um
benefício legal, é um direito subjetivo do apenado, razão pela qual deve o juiz justificar
pormenorizadamente a escolha entre as várias espécies, anotando, inclusive, a
individualização em torno dos fatos do processo e da condição pessoal do réu. Ordem
concedida.

Agora, se houve lesão corporal, o STJ entende que haverá concurso de


crimes (crime de embriaguez ao volante e o delito de lesão culposa). Crime de
lesão culposa é menos grave do que o crime de embriaguez, portanto, não
pode absorver – RHC 19044.

OBS.: O homicídio culposo do CP tem a pena de 1 a 3 anos de


detenção; o homicídio culposo do CTB tem a pena de 2 a 4 anos de detenção;
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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a lesão culposa do CTB tem pena maior do que a lesão dolosa leve do CP.
Esta desproporção de penas nas lesões culposas fere o princípio da
proporcionalidade ou da razoabilidade? R.: Não. STJ e STF entendem que o
princípio da isonomia não impede tratamento diferenciado quando houver
discrímen razoável (quando houver uma situação que justifica o tratamento
desigual: a enorme freqüência de acidentes no trânsito).

20.06.2009 – SILVIO MACIEL

14.6.4) Omissão de socorro – art. 304 da lei

Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à
vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da
autoridade pública:

        Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de
crime mais grave.

        Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que
a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou
com ferimentos leve

A omissão de socorro já funciona como aumento de pena do homicídio


culposo e da lesão corporal culposa no trânsito.
Doutrina – responde por este crime o condutor do veículo não causador
do acidente, mas envolvido nele.

Omissão de socorro em acidente de trânsito - há três situações:


 Condutor envolvido no acidente, culpado, que omitir socorro –
302,302 c.c 302, parágrafo único, III, do CTB;
 Condutor envolvido no acidente, não culpado (culpa exclusiva da
vítima, por exemplo, que omitir socorro – 304 do CTB;
 Condutor não envolvido no acidente de trânsito e omite socorro (o
que vem atrás, por ex.) – 135 do CP (omissão de socorro
genérica).

Sujeito ativo só pode ser o condutor do veículo, envolvido no acidente,


que não agiu com culpa, mas omitiu socorro à vítima.
OBS.: O passageiro instiga o condutor não culpado a não socorrer –
será partícipe do crime.

O tipo objetivo consiste em 2 condutas: deixar de prestar socorro


pessoal ou não podendo fazer por justa causa, deixar de solicitar auxílio à
autoridade. A lei não dá uma opção entre as condutas; ela exige que o socorro
seja pessoalmente. Na hipótese de não poder prestar o socorro, é que o
condutor poderá optar pelo o auxílio da autoridade.

Por ser omissivo próprio, não admite tentativa. Consuma-se com a


omissão, independentemente de a vítima sofrer algum prejuízo físico ou
morrer em razão da omissão.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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196

O parágrafo único diz que existirá o crime do art. 304 mesmo que a
omissão do condutor seja suprida por terceiros – se os terceiros se adiantaram
no socorro ou estavam em melhores condições de socorrer, não haverá o
crime. Ocorrerá o crime mesmo que haja morte instantânea (sem sentido!). A
doutrina diz que neste último caso a lei criou um crime impossível por absoluta
impropriedade do objeto. O crime também ocorrerá mesmo que a vítima tenha
ferimentos leves (o que é ferimento leve? – não é qualquer ferimento leve que
caracterizará tal omissão de socorro).

14.6.5) Conduzir veículo automotor embriagado – art. 306 da lei

  Art. 306.  Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de  álcool
por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer
outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 11.705, de
2008)

        Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter
a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

        Parágrafo único.  O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos
testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. (Incluído
pela Lei nº 11.705, de 2008)

Antes da lei 11705, bastava que o condutor estivesse “sob a influência


de...”. Hoje, com a citada lei, basta que o condutor esteja com 6 decigramas de
álcool por litro de sangue ou sob efeito de substância psicoativa que determine
dependência.
Antes do advento da lei 11705, exigia-se situação de perigo concreto.
Agora, não se exige mais situação de perigo concreto.
Antigamente, a acusação devia comprovar a conduta e o perigo que esta
gerou. Agora, a acusação só precisa provar a existência da conduta, pois a
situação de perigo já está presumida no tipo.

Há 3 formas de provar a embriaguez: a) exame de sangue; b) etilômetro


(“bafômetro” – já está regulamentado por decreto presidencial – mede a
quantidade de álcool no ar dos pulmões e é feita a conversão para descobrir
quanto que há de álcool no sangue). Quanto a este e ao exame de sangue,
tem que se entender que não é obrigado a usá-lo, pois ninguém é obrigado a
se incriminar; c) exame clínico (visual).
Assim, se o infrator se recusa ao exame de sangue e ao exame do
etilômetro, fica impossível provar a tipicidade da conduta (a quantidade de
álcool no sangue é elementar do tipo penal).

E se em razão da embriaguez, o condutor matar ou lesionar alguém? R.:


A influência de álcool ou de substâncias de efeitos análogos não era causa de
aumento de pena no homicídio e na lesão corporal. Um inciso V foi
acrescentado no art. 302 pela lei 11275/2006. Todavia, no ano passado, a lei
11705/2008 revogou tal inciso V. STJ e STF – Se ocorreu homicídio, culposo

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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197

ou doloso, ele absorve o crime de embriaguez ao volante – RESP 629087;


STJ HC 32764. Se ocorrer lesão corporal, ela não absorve o crime de
embriaguez, pois este crime é mais grave que o crime de lesão corporal (pelo
princípio da consunção, o crime menos grave não pode absorver o crime mais
grave) – STJ HC 24136, RHC 19044.

Até a lei 11705/2008, era possível a transação penal para o crime de


embriaguez. A jurisprudência pacífica no STJ e STF era a de que o art. 306
não era infração menor potencial ofensivo, mas cabia transação penal. Hoje, a
lei 11705 alterou o art. 291 do CTB e não mais permite transação ao crime
do art. 306. Tal proibição é irretroativa – continua cabendo transação penal
para quem cometeu o art. 306 antes do da alteração da lei 11705/2008.

14.6.6) Violação de suspensão ou proibição do direito de dirigir –


art. 307 da lei

Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor imposta com fundamento neste Código:

        Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de
idêntico prazo de suspensão ou de proibição.

     
 No art. 302, por ex., uma das penas é a suspensão do direito de dirigir
veículo automotor. Se o condutor dirigir durante este veículo de suspensão,
estará cometendo outro crime de trânsito, que é o previsto no art. 307 do CTB.
A pena pelo o art. 307 será pena de prisão + multa + nova imposição
de suspensão por idêntico prazo à suspensão anterior (que se somará à
suspensão anterior – 1 ano + 1 ano, por ex.).

**OBS.: Suspensão do direito de dirigir aplicada por Delegado de Polícia


como infração administrativa em razão da pessoa ter extrapolado sua
pontuação – também caracteriza o crime do art. 307 do CTB – fundamento:
expressão “...com fundamento neste Código”.

14.6.7) Crime de racha – art. 308 da lei

Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou
competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, desde que resulte
dano potencial à incolumidade pública ou privada:

        Penas - detenção, de seis meses a dois anos, multa e suspensão ou proibição de se obter
a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

A conduta consiste em participar de corrida, disputa ou competição. O


tipo penal não pune só a corrida, mas também qualquer forma de disputa não
autorizada (exs.: tomada de tempo – um sai, faz o percurso, depois o outro faz
o percurso, para ver quem o fez em menos tempo, disputa de andar de duas
rodas etc.). Só haverá crime se tal corrida, disputa ou competição não for
autorizada.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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198

Trata-se de crime plurissubjetivo (“participar”) – exige a existência de


outra pessoa junto dele competindo, correndo etc.

Só ocorre o crime na condução de veículo automotor – sujeito ativo só


poder ser os condutores do veículo. Terceiras pessoas que não os condutores
podem responder por este crime? R.: Podem, desde que por instigação,
induzimento ou por auxílio material aos condutores.

“... desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada”-


crime de perigo concreto – a acusação deve comprovar a conduta do racha
mais a situação de perigo criada. Assim, se o racha não gerar nenhuma
situação de perigo real, o fato é atípico.
E se os condutores gerarem perigo entre eles? R.: Responderão pelo
crime - “... desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou
privada”.

O fato deve ocorrer em via pública – ex.: ruas internas de condomínios.


Estacionamento de supermercado – para a maioria, não é via pública.

14.6.8) Dirigir veículo automotor sem a devida permissão gerando


perigo de dano

Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou
Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:

        Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Dirigir é por o veículo em movimento; logo, apenas manobrar o veículo,


não gera perigo de dano, não configurando o delito do art. 309.
OBS.: Para dirigir ciclomotor exige apenas simples autorização (a falta
de autorização não constitui o crime do art. 309) – não precisa de carteira de
habilitação.

O fato deve ocorrer em via pública. Dirigir sem habilitação em via


particular, é fato atípico.

Deve o agente dirigir em via pública:


 Sem habilitação;
 Sem permissão;
 Com o direito de dirigir cassado – só quem pode cassar é a
autoridade administrativa de trânsito (nem o juiz pode). Diferença
entre a cassação e a suspensão: a suspensão é por tempo
determinado; a cassação é definitiva (tempo indeterminado).
Nunca mais poderá dirigir? R.: Pode. Depois de 2 anos, o
indivíduo pode pleitear a sua reabilitação (mas, em tese, a
cassação é por tempo indeterminado – só voltará a dirigir se o
agente for atrás de querer se reabilitar).

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199

A mera condução inabilitada, antigamente, era contravenção penal art.


32 da LCP). Hoje, com o art. 309 do CTB, exige-se perigo concreto. Entendia-
se que este artigo não tinha revogado o art. 32 da LCP – existiria uma relação
de subsidiariedade – dirigir sem habilitação e sem perigo  art. 32 da LCP;
dirigir sem habilitação com perigo  art. 309 do CTB. Tal entendimento não
prevaleceu no STF  Súmula 720 – derrogação do art. 32 da LCP.

SÚMULA Nº 720 do STF

O ART. 309 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO, QUE RECLAMA DECORRA DO FATO


PERIGO DE DANO, DERROGOU* O ART. 32 DA LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS NO
TOCANTE À DIREÇÃO SEM HABILITAÇÃO EM VIAS TERRESTRES.

*- Derrogação é revogação parcial – o art. 32 da LCP continua aplicável


à condução inabilitada de embarcação a motor em águas públicas.

Hoje:
Dirigir sem habilitação sem perigo de dano  infração administrativa;
Dirigir sem habilitação com perigo de dano  infração penal (art. 309) +
infração administrativa.

OBS.1: Habilitação vencida a mais de 30 dias em razão de exame


médico, não significa falta de habilitação para efeitos criminais. CAPEZ
entende que não (que seria crime).

OBS.2: Dirigindo com habilitação diversa da que poderia usar, gerindo


perigo de dano  não caracteriza o crime do art. 309. “... sem a devida
Permissão para dirigir...” – o conduto deve estar habilitado para o veículo que
está conduzindo.

OBS.3: Indivíduo não estar portando o documento de habilitação – mera


infração administrativa.

OBS.4: O agente, dirigindo, gerando perigo de dano e apresenta


habilitação falsa ao policial – concurso material de crimes – art. 309 + o uso
de documento falso.

Resumo:
1. Dirigir com direito de habilitação suspenso ou proibido  art. 307
(crime de perigo abstrato)

2. Dirigir sem habilitação, sem permissão ou com o direito cassado 


art. 309 (crime de perigo concreto).

OBS.5: Quem entrega veículo à pessoa não habilitada, com o direito


cassado ou com o direito de dirigir suspenso  responde pelo o art. 310 do
CTB

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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200

Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada,
com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu
estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo
com segurança:

        Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Também responde pelo o delito aquele que entrega o veículo à pessoa


embriagada ou sem condições físicas ou mentais de dirigir.
***Assim, este agente não será partícipe do art. 307 ou 309 – exceção à
teoria monista quanto ao concurso de pessoas.

14.6.9) Excesso de velocidade em determinados locais/Tráfego em


velocidade incompatível – art. 311 da lei

Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas,
hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou
onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano:

        Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

      Antes do CTB, esta conduta caracterizava contravenção penal de


direção perigosa (art. 34 da LCP).
A maioria da doutrina diz que precisa ser uma velocidade excessiva. Há
uma minoria diz que o tráfego abaixo da velocidade mínima também
caracteriza o crime se gerar perigo de dano.

***OBS.: Qualquer outra forma de direção perigosa, que não seja


velocidade incompatível continua caracterizando a contravenção penal –
entendimento unânime da doutrina e da jurisprudência, ex.: trafegar na
contramão de direção – é a posição do STF – HC 86538.

Ementa

TIPO PENAL - OBSERVÂNCIA - DENÚNCIA - FATOS. O enquadramento no tipo penal há de


estar em sintonia com os fatos narrados na denúncia, dos quais se defende o acusado. CRIME
DE TRÂNSITO - TRAFEGAR NA CONTRAMÃO. O ato de trafegar na contramão não está
compreendido pela norma do artigo 311 da Lei nº 9.503/97 - Código de Trânsito
Brasileiro.

O tipo prevê elementos espaciais – “... proximidades de escolas,


hospitais, estações de embarque e desembarque...”.

Trata-se de crime de perigo concreto. Não há crime se a pessoa


trafega com velocidade excessiva, sem gerar perigo de dano, em frente de
escola às 4 da manhã – não há crime.

14.6.9) Fraude processual no trânsito – art. 312 da lei

  Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com vítima, na


pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou processo

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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201

penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial, o
perito, ou juiz:

        Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

        Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando da
inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.

Trata-se de forma especial de fraude processual.


OBS.: O parágrafo único entra em conflito com o caput. Neste exige que
o procedimento investigatório tenha se iniciado. Naquele diz que não precisa.

Inovar artificiosamente – significa alterar fraudulentamente o estado de


lugar, pessoa ou de coisa, exs.: remover os veículos de lugar ou trocá-los de
posição, pintar o veículo antes da perícia para esconder os danos.

Tal artigo só se aplica em casos de acidente automobilístico com


vítima. Em qualquer outra situação, aplica-se a fraude processual prevista
no Código Penal – art. 374 do CP, ex.: acidente de trânsito sem vítima.

Elemento subjetivo do tipo – o crime só existe se for praticado com a


finalidade específica de induzir a erro agente policial (está em sentido amplo),
perito, ou o juiz, ainda que eles não sejam induzidos a erro  crime formal.
Se a alteração foi feita com qualquer outra finalidade, não haverá este crime,
ex.: remover os veículos para socorrer os acidentados.

O crime pode ser praticado no primeiro instante após o acidente, mesmo


que ainda não iniciado nenhum procedimento policial preparatório, inquérito ou
processo – art. 312, parágrafo único, do CTB.

15) CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO


Previstos nos arts. 197 a 207 do CP.

15.1) OBJETIVIDADE JURÍDICA


Possuem dupla objetividade jurídica: a) direitos individuais e coletivos
dos trabalhadores; b) própria organização do trabalho (bem comum de
todos).

15.2) COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO


De acordo com o STF e STJ, se o crime atingir direitos coletivos dos
trabalhadores (atingir a categoria profissional como um todo), será competente
a Justiça Federal. Se o crime atingir direito individual do trabalhador, será
competente a Justiça Estadual.

15.3) ART. 197 DO CP -      ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE


TRABALHO

  Art. 197 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
202

        I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não
trabalhar durante certo período ou em determinados dias:

        Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência;

        II - a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou


paralisação de atividade econômica:

        Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à
violência.

 
Sujeito ativo é qualquer pessoa. Sujeito passivo – no inciso I é o
trabalhador; no inciso II é o proprietário do estabelecimento.

O tipo objetivo consiste em constranger mediante violência ou grave


ameaça a vítima a:
 Exercer atividade, ofício ou profissão;
 A trabalhar ou a não trabalhar em determinados dias ou períodos;
 A abrir ou fechar estabelecimento;
 A participar de parede ou paralisação econômica – segundo a
doutrina, foi revogada pela Lei 4330/64, que por sua vez foi
revogada pela Lei 7783/89 – Lei de Greve (CAPEZ e ROGÉRIO
SANCHES)

NELSON HUNGRIA dizia que tal tipo consistia numa modalidade


especial de constrangimento legal, acrescida de uma dessas 3 finalidades
acima.

O elemento subjetivo é o dolo, acrescido de uma das finalidades


específicas acima.

Consumação e tentativa – consuma-se quando a vítima constrangida


pratica uma das condutas acima. É possível a tentativa (quando a vítima não
atende à exigência do constrangedor).

Se houver violência física, haverá concurso material de crimes entre o


art. 197 e o crime correspondente à violência – é o que a doutrina majoritária
chama de concurso material necessário obrigatório (a própria lei traz a
obrigatoriedade do concurso). ROGÉRIO SANCHES diz ser concurso formal.

A competência é do JECRIM estadual ou federal. Observar ser for o


caso acima de concurso material, quando a competência poderá não mais ser
do JECRIM.

15.4) ART. 198 – ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE


CONTRATO DE TRABALHO E BOICOTAGEM VIOLENTA

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
203

  Art. 198 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de
trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima ou produto
industrial ou agrícola:

        Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

 
“Constranger... a celebrar contrato de trabalho”- crime de atentado
contra a liberdade de contrato; “constranger... a não fornecer a outrem ou não
adquirir de outrem matéria-prima”- crime de boicotagem.

Sujeito passivo – trabalhador constrangido a celebrar contrato de


trabalho ou o fornecedor ou adquirente constrangido a entrar no boicote.
Quanto ao crime de boicotagem, a vítima é o boicotado, que é a pessoa
prejudicada economicamente. REGIS PRADO – PJ poderia ser a
vítima/boicotado no crime de boicotagem violenta (que sofre o isolamento
econômico). BITENCOURT diz que não pode ser pessoa jurídica, pois o
constrangimento só pode ser contra alguém, e alguém só poder ser pessoa
física.

O tipo penal consiste em:


1. Constranger a vítima mediante ou grave ameaça a celebrar contrato de
trabalho – o tipo não pune a conduta de constranger a vítima a não
celebrar contrato de trabalho. Logo, acontecendo tal constrangimento da
vítima de não celebrar contrato de trabalho, caracterizará o crime de
constrangimento ilegal;
2. Não fornecer produto, matéria-prima ao boicotado;
3. Não adquirir produto ou matéria-prima do boicotado.

Elemento subjetivo – dolo.

Consumação e tentativa – Quanto ao crime de atentado ao contrato de


trabalho, dar-se-á quando a vítima constrangida celebra o contrato de trabalho,
escrito ou verbal (a doutrina insere também a renovação do contrato). No crime
de boicotagem, o crime se consuma quando a vítima não fornecer ou não
adquire o produto do boicotado. A tentativa é possível apenas quando a vítima
constrangida não atender às exigências do infrator.

Se houver violência contra a pessoa, aplica-se a mesma coisa do artigo


anterior.

15.5) ART. 199 – ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE


ASSOCIAÇÃO

Art. 199 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a participar ou deixar de
participar de determinado sindicato ou associação profissional:

        Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

Tal conduta viola norma constitucional.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
204

Sujeito ativo – qualquer pessoa, inclusive terceira pessoa não


pertencente ao sindicato ou associação. Sujeito passivo – qualquer pessoa.

Tipo objetivo – constranger mediante violência ou grave ameaça a vítima


a participar ou deixar de participar de sindicato ou associação. A doutrina diz
que o objeto jurídico é a liberdade de associação ou sindicalização.

Elemento subjetivo – é o dolo.

Consuma-se quando a vítima atende à exigência do agente. Tentativa –


quando a vítima não atende à exigência do infrator.

Pena – mesma regra dos artigos anteriores.

15.6) ART. 200 - PARALISAÇÃO DE TRABALHO, SEGUIDA DE


VIOLÊNCIA OU PERTURBAÇÃO DA ORDEM

Art. 200 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, praticando violência


contra pessoa ou contra coisa:

        Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

        Parágrafo único - Para que se considere coletivo o abandono de trabalho é indispensável
o concurso de, pelo menos, três     empregados.

 Greve não é crime, mas fazer greve com violência é!

Sujeito ativo pode ser tanto os empregados (greve violenta) ou também


os empregadores (lockout violento) – toda a doutrina diz isso. Sujeito passivo
– pessoa física ou jurídica (“...ou contra a coisa” – dano de bens de PJ, por ex).

Tipo objetivo – participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho


– só há o crime se tal suspensão ou abandono for acompanhado de violência
contra a pessoa e contra a coisa. A simples paralisação ou suspensão, por si
só, não configura crime. A violência pode ser até contra terceiras pessoas
(ex.: contra policiais).

Na suspensão ou abandono coletivo dos trabalhadores a lei exige, no


mínimo, 3 empregados – crime de concurso necessário ou plurissubjetivo
– parágrafo único do art. 200.
Na paralisação dos empregadores a lei não exige número mínimo de
participantes.

OBS.: Empregados que ameaçam os colegas de serviço a não entrarem


na empresa e trabalharem – não praticam o crime, pois a paralisação foi
praticada mediante grave ameaça, não caracterizando o crime (o tipo só fala
em violência). Configura o crime de constrangimento ilegal ou crime do art. 197
do CP.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
205

Consumação – consuma-se no momento em que ocorre a violência ou


dano contra a coisa durante a suspensão ou abandono.

Se houver violência contra a pessoa – aplica-se o que foi dito nos artigos
anteriores. Se houver violência contra a coisa – CAPEZ, REGIS PRADO –
concurso com o crime de dano; MIRABETE – só haverá concurso de crimes se
for violência contra a pessoa.

15.7) ART. 201 – PARALISAÇÃO DE TRABALHO DE INTERESSE


COLETIVO

Art. 201 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, provocando a interrupção


de obra pública ou serviço de interesse coletivo:

        Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

      A CF, art. 9, parágrafo único, permite a greve em serviços essenciais –


previsto também na lei de greve. DELMANTO E REGIS PRADO – entendem
que tal artigo não foi recepcionado pela CF; MIRABETE – entende que tal
artigo foi recepcionado pela CF – diz que caracteriza o crime sempre que a
paralisação afetar a segurança, a sobrevivência ou a saúde da população.

Sujeito ativo – empregados ou empregadores. Significa dizer: greve ou


lockout de serviços ou obras de interesses coletivos. Exs.: paralisar a
construção de um hospital.
Sujeito passivo – A coletividade.

Elemento subjetivo: o dolo.

Consumação e tentativa – é possível a tentativa – quando os


trabalhadores suspendem ou abandonam o trabalho, mas não conseguem
causar a interrupção da obra ou do trabalho.

E se for paralisação de servidor público? R.: STF – concedeu direito de


greve aos servidores públicos em vários mandados de injunção. Assim, não
caracteriza tal crime a greve de servidores públicos.

OBS.: Polícias podem fazer greve – a CF proíbe a greve das FAB.

15.8) ART. 202 - INVASÃO DE ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL,


COMERCIAL OU AGRÍCOLA. SABOTAGEM

  Art. 202 - Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o intuito de
impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, ou com o mesmo fim danificar o
estabelecimento ou as coisas nele existentes ou delas dispor:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
206

        Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Sujeitos do crime – sujeito ativo – qualquer pessoa; sujeito passivo-


pessoa física ou jurídica.

O crime consiste em:


1. invadir ou ocupar estabelecimento ou;
2. Danificar ou dispor de coisas do estabelecimento.

Qualquer uma dessas condutas devem ser praticadas com a finalidade


específica de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho. Não a
encontrando, haverá outros crimes, ex.: sujeito danifica objeto de empresa com
o objeto de danificar, responde pelo crime de dano – art. 163 do CP.

Elemento subjetivo – é o dolo de invadir, ocupar, danificar, acrescido da


finalidade específica de atrapalhar o curso normal do trabalho.

A consumação se dá com a simples conduta, ainda que o infrator não


consiga o objetivo principal de atrapalhar o curso normal dos trabalhos. A
tentativa é possível (quando o agente sequer consegue danificar objetos ou
ocupar o estabelecimento).

27.06.2009 – SILVIO MACIEL

15.9) ART. 203 – FRUSTRAÇÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR


LEI TRABALHISTA

        Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do
trabalho:

        Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à
violência. (Redação dada pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)

        § 1º Na mesma pena incorre quem: (Incluído pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)

        I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento, para


impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida;  (Incluído pela Lei nº 9.777, de
29.12.1998)

        II - impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação ou


por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais. (Incluído pela Lei nº 9.777,
de 29.12.1998)

        § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos,


idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental.  (Incluído pela Lei nº
9.777, de 29.12.1998)

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
207

Sujeito ativo é qualquer pessoa, inclusive o estranho à relação


trabalhista. Tal violência pode ser usada pelo capanga do empregador, por ex.
Não é necessário existir relação de trabalho e a vítima. Sujeito passivo é o
trabalhador titular do direito violado. Tal crime atinge direito individual do
trabalhador.
Tipo objetivo é frustar direito assegurado pela legislação do trabalho.
Trata-se de norma penal em branco complementada pela legislação trabalhista.
Se o direito estiver assegurado na lei civil, não haverá o crime do art.
203. Poderá haver extorsão, estelionato etc.
Frustar mediante fraude ou violência. E se o meio de execução da
frustração do direito for a grave ameaça, não se aplicará tal artigo. Poderá
haver, por ex., constrangimento ilegal, extorsão.
Obrigar o empregado a assinar recibo de valor maior do salário real
recebido.
Consumação e tentativa – trata-se de crime material. A tentativa é
possível.

Aplicar-se-á também a pena correspondente à violência, se houver – art.


203 + art. 129 ou tentativa de homicídio – concurso material obrigatório.

Figuras equiparadas – acrescentada pela lei 9777/98.


I- Tal conduta se confunde com o crime de redução análoga a de
escravo. Esta conduta consiste em obrigar ou coagir o trabalhador
a consumir mercadorias em determinado estabelecimento
específico para contrair dívida e ficar impossibilitado de se
desligar do serviço. Tal estabelecimento pode ser do empregador
ou de terceiros. OBS.: Se o empregador restringir a liberdade do
trabalhador em razão da dívida, haverá o crime de redução à
condição análoga a de escravo – art. 149 do CP – o empregado
tem a sua liberdade de locomoção restringida. Os dois crimes
possuem momentos consumativos diferentes e objetividades
jurídicas diferentes, logo, pode ocorrer o concurso de crimes;
O inciso I se consuma no momento da coação, ainda que o
infrator não consiga impedir o trabalhador se desligue do trabalho
(trata-se de crime formal ou de consumação antecipada). É
possível a tentativa (quando o infrator mal consegue constranger
o empregado a se comportar na forma do inciso I);
II- Impede-se o empregado de se desligar (juridicamente) do serviço.
Tal forma de execução pode ser feito por meio de coação (moral
ou física) ou por retenção de documentos pessoais ou
contratuais. No art. 149, parágrafo 1º, II o crime consiste em
apoderar-se de documentos ou objetos pessoais com o fim de
retê-lo (fisicamente) no local de trabalho. Ocorrendo a retenção
de documentos com finalidade dupla – concurso formal de crimes.
Consuma-se (este inciso II) quando a vítima é impedida de se
desligar juridicamente do trabalho. A tentativa é juridicamente
possível.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
208

(ler ementa da ADPF 130 – julga inconstitucional a lei de imprensa, logo


ela não será mais estudada).

15.10) ART. 204 – FRUSTRAÇÃO DE LEI SOBRE A


NACIONALIZAÇÃO DO TRABALHO

  Art. 204 - Frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação legal relativa à nacionalização do
trabalho:

        Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

    

As CF de 1937 e de 1967 (com a EC de 69) tinham regras que limitavam


o número de trabalhadores estrangeiros no Brasil. O objetivo constitucional era
impedir a chamada nacionalização do trabalho (impedir ter mais trabalhadores
estrangeiros do que nacionais). O trabalhador que frustrasse a nacionalização
do trabalho (que frustrasse a regra da maioria de trabalhadores nacionais)
incidiria neste tipo penal.
A CF 88 garante a igualdade de nacional e estrangeiro. Assim, a atual
Constituição não exige mais um percentual máximo de trabalhadores
estrangeiros. Tem doutrina dizendo que este artigo 204 do CP não foi
recepcionado pela CF de 1988 – MIRABETE e ROGÉRIO SANCHES. A
maioria comente este artigo normalmente.
Sujeito ativo é qualquer pessoa (o empregador, o próprio trabalhador ou
terceira pessoa). Sujeito passivo é o Estado.
A conduta é frustrar a nacionalização do trabalho. O meio de execução é
a fraude ou violência.
Tipo subjetivo é o dolo.
O crime se consuma com a frustração da obrigação legal.

15.11) ART. 205 – EXERCER DE ATIVIDADE COM INFRAÇÃO DE


DECISÃO ADMINISTRATIVA

Art. 205 - Exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa:

        Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

     

Sujeito ativo é o trabalhador impedido de exercer a atividade. Sujeito


passivo é o Estado.
Tipo objetivo – a conduta é exercer atividade durante o impedimento.
O CAPEZ e o ROGÉRIO SANCHES citam como exemplos de decisões
adminsitrativoas as dos conselhos regionais de profissões e da OAB. Neste
sentido, STF – HC 74826/SP.
OBS.: Há várias decisões do STF e do STJ no sentido de que o
advogado que exerce a profissão durante a suspensão imposta pela a OAB
não comete o crime do art. 205 do CP, e sim a contravenção penal do art. 47

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
209

da LCP – exercício ilegal de profissão ( STF RHC 61081 e STJ RHC 7537).
A expressão “decisão administrativa” do art. 205 não inclui a decisão das
entidades fiscalizadoras de profissões liberais (inclui CRM, OAB). Ou seja, a
matéria está divergente até nos tribunais superiores.

E se o sujeito está impedido de exercer determinada profissão por força


de decisão judicial? R.: Haverá o art. 359 do CP.

     Art. 359 - Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou
privado por decisão judicial:

        Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

O crime se consuma com o exercício habitual da atividade durante o


impedimento – trata-se de crime habitual. Não admite tentativa.

15.12) ART. 206 – ALICIAMENTO PARA O FIM DE EMIGRAÇÃO

        Art. 206 - Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de levá-los para território
estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº 8.683, de 1993)

        Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. (Redação dada pela Lei nº 8.683, de
1993)

Sujeito ativo é qualquer pessoa. Sujeito passivo é o Estado e os


trabalhadores enganados. A conduta consiste em recrutar mediante fraude. Na
basta o simples convencimento do aliciar; necessita-se do emprego de fraude.
Tal fraude consiste em falsas promessas.
A doutrina diz que o recrutamento de apenas um trabalhador é fato
atípico, pois o tipo penal diz “trabalhadores”. MIRABETE e MAGALHÃES
NORNHA exigem, no mínimo, 3 trabalhadores recrutados (se a lei quer se
referir a 2 pessoas, ela já o cita). DAMÁSIO e DELMANTO entendem que
precisa apenas de, no mínimo, 2 pessoas.
Elemento subjetivo – é o dolo de recrutar, fraudulentamente, com a
finalidade específica de levar os trabalhadores para o estrangeiro.
Consumação e tentativa- o crime se consuma com o recrutamento
fraudulento. A tentativa é possível quando o infrator sequer consegue recrutar
os trabalhadores.

15.13) ART. 207 - ALICIAMENTO DE TRABALHADORES DE UM


LOCAL PARA OUTRO DO TERRITÓRIO NACIONAl

Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território
nacional:

        Pena - detenção de um a três anos, e multa.  (Redação dada pela Lei nº 9.777, de
29.12.1998)

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
210

        § 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução
do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do
trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem.   (Incluído
pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)

        § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos,


idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental.  (Incluído pela Lei nº
9.777, de 29.12.1998)

Não se exige fraude como no artigo anterior. REGIS PRADO diz que só
caracteriza o crime se o trabalhador for levado a uma localidade distante da
onde ele está. Se for levado para uma localidade próxima, não há ofensa ao
bem jurídico.
Quanto ao número mínimo de trabalhadores, aplica-se as mesmas
regras do artigo anterior. A consumação se dará com o simples aliciamento,
ainda que ele não seja levado a outra região do país. A tentativa é
perfeitamente possível.
Se a conduta for recrutar o trabalhador mediante fraude ou cobrança de
quantia para levá-lo a outro local do país haverá o crime do art. 207, par. 1º.

16) LEI 5553/68- LEI DE USO E RETENÇÃO DE DOCUMENTOS

        Art. 1º A nenhuma pessoa física, bem como a nenhuma pessoa jurídica, de direito
público ou de direito privado, é lícito reter qualquer documento de identificação pessoal, ainda
que apresentado por fotocópia autenticada ou pública-forma, inclusive comprovante de
quitação com o serviço militar, título de eleitor, carteira profissional, certidão de registro de
nascimento, certidão de casamento, comprovante de naturalização e carteira de identidade de
estrangeiro.

Não pode reter o documento original nem a cópia autenticada.


O art. 1º traz o objeto material da contravenção do art. 3º .

        Art. 3º Constitui contravenção penal, punível com pena de prisão simples de 1 (um) a 3
(três) meses ou multa de NCR$ 0,50 (cinqüenta centavos) a NCR$ 3,00 (três cruzeiros novos),
a retenção de qualquer documento a que se refere esta Lei.

A conduta consiste em reter documento sem justa causa. Se o Delegado


retém porque há indícios de falsificação do documento, não há porque incidir
nesta contravenção penal. Quanto à retenção, pode ser qualquer daqueles do
art. 1º, sejam originais, cópias autenticadas ou autênticas (extraídas por
pública-forma). Cópias simples não estão inseridas no objeto material da
contravenção. Assim, reter cópia simples é fato atípico.

        Parágrafo único. Quando a infração for praticada por preposto ou agente de pessoa
jurídica, considerar-se-á responsável quem houver ordenado o ato que ensejou a retenção, a
menos que haja , pelo executante, desobediência ou inobservância de ordens ou instruções
expressas, quando, então, será este o infrator.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
211

Sujeito ativo da contravenção penal – é o autor da ordem de retenção ou


o executor da retenção se ele descumpriu ordens ou instruções expressas.

        Art. 2º Quando, para a realização de determinado ato, for exigida a apresentação de
documento de identificação, a pessoa que fizer a exigência fará extrair, no prazo de até 5
(cinco) dias, os dados que interessarem devolvendo em seguida o documento ao seu exibidor.

Se houver justo motivo para a retenção, o agente deve anotar os dados


e devolver em até 5 dias a quem exibiu o documento (mesmo que este não
seja o titular do documento).

        § 1º - Além do prazo previsto neste artigo, somente por ordem judicial poderá ser retirado
qualquer documento de identificação pessoal. (Renumerado pela Lei nº 9.453, de 20/03/97)

Mesmo que houver justo motivo, a retenção do documento por mais de 5


dias exige ordem judicial.

        § 2º - Quando o documento de identidade for indispensável para a entrada de pessoa em


órgãos públicos ou particulares, serão seus dados anotados no ato e devolvido o documento
imediatamente ao interessado. (Incluído pela Lei nº 9.453, de 20/03/97)

É muito comum em presídios quando o agente penitenciário retém o


documento da esposa do detido enquanto ela o visita. Acontece em casos de
retenção de documentos em motéis.
Os dados devem ser anotados no ato e deve ser devolvido o documento
imediatamente ao interessado.

17) LEI 8078/90 – CRIMES CONTRA O CONSUMIDOR


Serão analisados os arts. 61 e seguintes do CDC.

17.1) ART. 61

        Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consumo previstas neste código,
sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos
seguintes.

Artigo inútil.

17.2) ART. 63

Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos,
nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade:

        Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.

        § 1° Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações
escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado.

        § 2° Se o crime é culposo:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
212

        Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

      Sujeitos
do crime – sujeito ativo é o fabricante ou fornecedor de serviços ou
produtos. Pessoa jurídica não comete crime contra o consumidor. Logo, o
crime só se refere à pessoa física. Sujeito passivo é o consumidor (o conceito
desses sujeitos está no art. 2º e art. 3º do CDC).

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final.

        Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que


indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

        Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.

     A conduta consiste em omitir dizeres ou sinais ostensivos, ex.: desenho


de objeto radioativo, sinal que indica produto venenoso etc. Dizem respeito à
periculosidade ou nocividade do produto (elementos normativos do tipo –
compete ao juiz verificar se o objeto é perigoso ou nocivo). Há doutrina dizendo
ser indispensável o exame pericial, comprovando a periculosidade ou
nocividade do produto.
Tal omissão deve ocorrer em embalagens (parte exterior do produto),
invólucros e recipientes (aspecto interno do produto – o que envolve o produto).
Pode ocorrer tal omissão na publicidade do produto (na divulgação do produto
já deve ter o aviso, ex.: panfletos, propaganda na TV).
Se o sinal de aviso não for ostensivo, se for discreto ou imperceptível,
haverá o crime.
Elemento subjetivo – dolo e culpa (parágrafo 2º).
Consumação e tentativa – dar-se-á com a simples omissão, ainda que
não acarrete nenhum dano ao consumidor. Trata-se de crime de mera
conduta e omissivo puro ou próprio. Logo, não admite tentativa.
O caput se refere a produtos; o parágrafo 1º se refere a serviço a ser
prestado. Assim, o aviso deve ser dado antes de iniciada a prestação do
serviço.

Conflito de normas – o art. 7º, II, da Lei 8137/90 tipifica a conduta de


vender ou expor à venda mercadoria ou embalagem em desacordo com as
prescrições legais. Tem doutrina, portanto, (NUCCI) sustentando que este art.
7º, II, revogou o art. 63 do CDC no que se refere à mercadoria, pois deixar de
constar na embalagem avisos sobre a periculosidade ou nocividade do produto
é o mesmo que agir em desacordo com as prescrições legais. Já PAULO JOSÉ
DA COSTA JÚNIOR entende que tal artigo não está revogado (SILVIO
MACIEL entende que este professor está com a razão).

17.3) ART. 64

Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a nocividade ou


periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
213

        Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.

        Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado,
imediatamente quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou
perigosos, na forma deste artigo.

No art. 63, a periculosidade já era conhecida antes de sua colocação no


mercado. No art. 64, a nocividade ou periculosidade do produto só é
conhecida após a colocação dele no mercado.
Tipo objetivo – a conduta é deixar de comunicar a autoridade
competente (elemento normativo do tipo), exs.: PROCON, MP do consumidor,
vigilância sanitária, e deixar de comunicar os consumidores (incluindo aqueles
que não adquiriram o produto). Tais avisos devem ser por meio de
comunicação.
O tipo penal impõe um duplo dever de comunicação: a) avisar a
autoridade competente; b) avisar os consumidores. A falta de uma ou outra
comunicação já incide no crime.
Parágrafo único - O tipo também prevê a conduta de deixar de retirar do
mercado tais produtos nocivos ou perigosos. Só há o crime quando a retirada
do produto seja determinada pela autoridade competente – recall por
determinação oficial. Não há o crime se o fornecedor deixa de fazer o recall
voluntário (sem determinação da autoridade). A retirada deve ser
imediatamente após a ordem da autoridade. A demora injustificada na retirada
caracteriza o crime.
Elemento subjetivo – só punido na forma dolosa.
Consumação e tentativa – se dá com a simples omissão da
comunicação ou com a não retirada do produto do mercado,
independentemente de dano ao consumidor. Não é possível a tentativa – crime
omissivo próprio.

OBS.: Este artigo só se refere a produto, não se aplicando a serviços.


Não existe interpretação extensiva de tipo penal incriminador.

17.4) ART. 65

Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de


autoridade competente:

        Pena Detenção de seis meses a dois anos e multa.

        Parágrafo único. As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes
à lesão corporal e à morte.
  
Ex.: serviço de implosão de edifícios.
A conduta é executar serviço de alto grau de periculosidade – elemento
normativo do tipo, que segundo alguns, depende de comprovação pericial. Só
existe o crime se o serviço for executado contrariando ordem de autoridade
competente. Assim, executar serviço de alta periculosidade não é crime (deve
executar tal atividade sem a devida determinação).

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
214

Se a execução do serviço provocar a lesão ou a morte de alguém, o


infrator responderá pelo ao art. 65 + lesão corporal ou homicídio culposo
(concurso material obrigatório).
Elemento subjetivo – no caput é o dolo; no parágrafo único é crime
preterdoloso. NUCCI diz que tal parágrafo não é crime preterdoloso (podendo
o agente agir inclusive com dolo em relação à lesão ou à morte).
Consumação e tentativa – a consumação se dá com a simples execução
do serviço perigoso – crime de mera conduta. A tentativa é possível quando o
agente não consegue executar o serviço por circunstâncias alheias a sua
vontade. Para quem entende que o parágrafo único é crime preterdoloso, não
se admite a tentativa (o resultado morte ou lesão é culposo).

17.5) ART. 66

Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza,
característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia
de produtos ou serviços:

        Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.

        § 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.

        § 2º Se o crime é culposo;

        Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

      Sujeito
ativo – além do fornecedor, o patrocinador da oferta também pode
cometer o presente delito.
Tipo objetivo – fazer afirmação falsa ou enganosa, ou seja, que possa
levar o consumidor a erro. Trata-se de uma ação (crime comissivo). A outra
conduta criminosa é omitir informação relevante – se a informação for
irrelevante, não haverá crime (crime omissivo).

Conflito aparente de normas – NUCCI entende que tal artigo está


tacitamente revogado pelo art. 7º, II, da Lei 8137/90. Só se aplicaria apenas a
serviços e não forma culposa do parágrafo 2º.
Consumação e tentativa – se consuma com a simples afirmação falsa ou
com a simples omissão da informação relevante. Na forma comissiva, cabe
tentativa.

17.6) ART. 67

Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva:

        Pena Detenção de três meses a um ano e multa.

        Parágrafo único. (Vetado).

    

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
215

A conduta é fazer (executar a propaganda) ou promovê-la. Embora o


tipo penal não mencione, essa publicidade deve ser sobre produtos ou
serviços.
Elemento subjetivo – esse crime é punido por dolo direto ou dolo
eventual. Não se pune a forma culposa.
O crime se consuma com a mera publicidade enganosa ou abusiva,
ainda que o consumidor não seja enganado ou não se sinta ofendido pela
propaganda. Cabe a tentativa se a propaganda não é veiculada por
circunstancias alheias à vontade do agente.

Conflito aparente de normas – art. 7º, VII, da Lei 8137/90. NUCCI diz
que tal inciso deste artigo revogou o art. 67 do CDC.

17.7) ART. 68

Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança:

        Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa:

        Parágrafo único. (Vetado).

      Quanto ao elemento subjetivo, é o mesmo do artigo anterior (dolo e dolo


eventual).
Deve o consumidor se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua
saúde ou segurança – alteração comportamental do consumidor, ex.:
propagando de cigarro ou de cerveja vinculada a sucesso profissional, saúde.
Consumação e tentativa – trata-se de crime formal (consuma-se com a
mera promoção da publicidade).

17.8) ART. 69

Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à publicidade:

        Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

Trata-se de publicidade irresponsável. Pessoa que publica que tal


produto tem determinados efeitos (emagrecimento, por ex.), mas não fez
nenhum tipo de teste anterior que comprove tal efeito/resultado.
Sujeito ativo – qualquer pessoa envolvida da produção da publicidade.
Elemento subjetivo é só o dolo.
Consumação e tentativa – crime de mera conduta. Não é possível a
tentativa – crime omissivo puro (deixar de organizar).

17.9) ART. 70

Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição usados, sem
autorização do consumidor:

        Pena Detenção de três meses a um ano e multa.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
216

Este crime só existe se essa peça for usada na reparação do produto, e


       
não da produção dele. Se usada na fabricação ou montagem no produto – art.
175 do CP – crime de fraude no comércio.
Trata-se de crime formal – consuma-se independentemente de
qualquer prejuízo ao consumidor. NUCCI entende que é crime material – só se
consuma se houver prejuízo ao consumidor e se usar peça usada e cobrar
como nova (se cobrar como usada, não haverá crime).

17.10) ART. 71
Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou
moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que
exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou
lazer:
        Pena Detenção de três meses a um ano e multa.

É o crime de cobrança vexatória ou violenta ou ameaçadora

Sujeito ativo: comerciante credor ou quem faça a cobrança por ele.


Sujeito passivo: é o consumidor devedor É necessário q haja uma
relação de dívida.

Conduta: cobrança de dívidas (não se aplica em: se o comerciante


emprega violência, ameaça para se discutir cláusulas do contrato) - tem q ser
cobrança de dívida relativa à relação de consumo (se não for relação de
consumo será crime do exercício arbitrário das próprias razões + crime de
violência).
 
O crime se consuma se para efetuar a cobrança o credor:
1. Exerce coação, ameaça ou constrangimento físico ou moral
2. O credor utiliza informações falsas, incorretas ou enganosas
3. Se para a cobrança de dívida o credor utiliza procedimento que
exponha injustificadamente o consumidor a: ridículo ou interfira em seu
trabalho, descanso ou lazer (ligar no domingo na casa da pessoa pode
desde q for um procedimento justificado ou justificável, ex: o devedor
autorizou as ligações no domingo e é o último dia q ele está em casa)
 
Consumação e tentativa
1ª corrente - O crime se consuma com a simples pratica de qualquer uma
das condutas previstas no tipo penal, ainda que o consumidor não se sinta
constrangido, incomodado, ameaçado (é um crime formal) - para NUCCI.
2ª corrente - O crime se consuma quando o consumidor é exposto a
ridículo ou interfira no seu trabalho, descanso ou lazer (crime material)
Tentativa é possível na forma escrita.

17.11) ART. 72
 
Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele
constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros:
        Pena Detenção de seis meses a um ano ou multa.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
217

Impedir = não permitir


Dificultar = criar obstáculos
Para que o consumidor tenha acesso a: dados pessoais (de terceiros não
há o crime) que estarão em cadastros, bancos de dados, fichas ou registros.

Bem jurídico: é o direito a informação do consumidor vítima

Elemento subjetivo: só o dolo

Consumação: com a conduta de impedir ou dificultar o acesso do


consumidor as suas informações pessoais ainda que o consumidor não sofra
nenhum prejuízo com isso.
Haverá o crime mesmo q não houver nenhuma informação negativa contra
o consumidor, ex: consta no BD do Serasa q o consumidor não deve nada
porque o q a lei tutela é o direito a informação seja ela positiva ou negativa.
Tentativa: quando o agente não consegue impedir ou dificultar o acesso
do consumidor as suas informações.

17.12) ART. 73
Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor constante de
cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata:

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

Conduta: deixar de corrigir uma informação errada/inexata a respeito do


consumidor.
Imediatamente = A correção deve ser tão logo o responsável saiba da
informação errada, ou seja, a demora injustificada para a correção justifica o
crime

Objeto jurídico: proteção ao consumidor

Elemento subjetivo: só é punido na forma dolosa


O gerente da loja por negligência deixa de dar baixa na dívida, não ocorre
o crime mas enseja dano moral

Consumação: ocorre com a simples omissão da correção imediata


Não há tentativa porque é crime omissivo puro ou próprio.

17.13) ART. 74
 
Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente
preenchido e com especificação clara de seu conteúdo;
        Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

Sujeito: os mesmos do art. 63.

Conduta: deixar de entregar

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
218

Objeto material: termo de garantia adequadamente preenchido e com


conteúdo claro (é o documento q assegura o direito do consumidor a troca ou o
reparo a mercadoria ou produto com defeito ou inadequado.
*O crime existe mesmo que o consumidor não exige o termo de garantia
(porque o vendedor é obrigado a dar o termo de garantia independentemente
do consumidor pedir).
*O crime existe se for entregue o termo de garantia com especificações
obscuras.
Objeto jurídico: proteção do consumidor.

Elemento subjetivo: é o dolo.


Consumação: se dá com a simples omissão, ou seja, com a não entrega
do termo de garantia.

Não existe tentativa porque é crime omissivo puro ou próprio.

17.14) ART. 75
 
Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste código, incide
as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor,
administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo
aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de produtos ou
a oferta e prestação de serviços nas condições por ele proibidas.

É possível haver concurso de pessoas em crimes contra o consumidor.


O administrador, diretor ou gerente só são punidos desde que tenham
agido com dolo ou culpa em relação ao delito.

17.15) ART. 77
 
Art. 77. A pena pecuniária prevista nesta Seção será fixada em dias-multa,
correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da liberdade
cominada ao crime. Na individualização desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60, §1°
do Código Penal.
O sistema de multas nos crimes de defesa do consumidor é diferente do
CP. No CP a multa é fixada em dias multas, mas o juiz pode fixar entre 10 e
360 dias multas. No CDC a multa também é calculada em dias multas mas
seguem os limites mínimo e máximo da pena privativa de liberdade cominada,
ou seja, os dias multas correspondem aos dias de prisão.
Na aplicação da multa o juiz pode aplicar o art. 60, § 1º CP q diz q a multa
se aplicada no máximo pode ser triplicada tendo em vista a boa situação
econômica do infrator

§ 1º - A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da
situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo.
 
 17.16) ART. 78

Art. 78. Além das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas,
cumulativa ou alternadamente, observado o disposto nos arts. 44 a 47, do Código Penal:
        I - a interdição temporária de direitos;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
219

        II - a publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, às


expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação;
        III - a prestação de serviços à comunidade.

Além da pena de prisão e multa cominadas nos tipos penais ainda pode
ser aplicado ao autor do crime contra o consumidor penas restritivas de direito.

17.17) ART. 79
 
Art. 79. O valor da fiança, nas infrações de que trata este código, será fixado pelo juiz, ou
pela autoridade que presidir o inquérito, entre cem e duzentas mil vezes o valor do Bônus do
Tesouro Nacional (BTN), ou índice equivalente que venha a substituí-lo.
        Parágrafo único. Se assim recomendar a situação econômica do indiciado ou réu, a
fiança poderá ser:
        a) reduzida até a metade do seu valor mínimo;
        b) aumentada pelo juiz até vinte vezes.

A fiança no CDC tem regra própria quanto ao parâmetro de fixação da


fiança (é calculada em bônus do tesouro nacional).
Reduzir pela metade pode o juiz e o delegado, mas só o juiz pode
aumenta - lá em 20x.
 
 17.18) ART. 80

Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste código, bem como a
outros crimes e contravenções que envolvam relações de consumo, poderão intervir, como
assistentes do Ministério Público, os legitimados indicados no art. 82, inciso III e IV, aos quais
também é facultado propor ação penal subsidiária, se a denúncia não for oferecida no prazo
legal.

As instituições dos art. 82, III e IV CDC podem atuar como assistente de
acusação no processo penal e tem legitimidade para propor ação privada
subsidiária da pública.

III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica,      especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre
seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código,
dispensada a autorização assemblear.
 
 

04.07.2009 – ROGÉRIO SANCHES

18) LEI 11340/2006 – LEI DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA/LEI MARIA DA


PENHA
Até 1990, toda violência era tratada num mesmo círculo. A partir da
década de 1990, o Brasil entra na era de especialização da violência, baseada,
por sua vez, por estatísticas. Exs.: lei 8069/90 – ECA; lei 8072/90 – lei dos
crimes hediondos; 8078/90 – CDC; lei 9099/95 – JECRIM; lei 9503/97 – CTB;
lei 9605/98 – lei dos crimes ambientais; lei 10741/2003 – estatuto do idoso; lei

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
220

11340/2006 – lei de violência doméstica (é baseada em estatísticas e tem autor


dizendo que tal lei é inconstitucional).

A lei 11340/2006 dispõe sobre a violência doméstica e familiar contra a


mulher. Esta lei não tem caráter punitivo. Trata-se de lei multidisciplinar.

Art. 1o  Esta Lei cria mecanismos (I) para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar
contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais
ratificados pela República Federativa do Brasil; (II) dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e (III) estabelece medidas de assistência e (IV)
proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

18.1) FINALIDADES DA LEI


 Coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher;
 Criar juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher;
 Estabelece medidas de assistência;
 Proteção da mulher vítima de violência doméstica e familiar.

O Brasil está concretizando mandamento constitucional e duas


convenções internacionais de que ele faz parte – Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher e Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher.

OBS.1: E o transexual? R.: Ele apresenta uma dicotomia físico-psíquica


(psicologicamente, ele acha ser de determinado sexo, mas
fisicamente/anatomicamente seu sexo é outro). Prevalece no direito moderno
que o transexual operado (realizou a cirurgia definitiva), alterando sua
identidade pela legislação civil/registro civil, ele passa a ser considerado
juridicamente uma mulher. ROGÉRIO GRECO, neste caso, diz que tal
pessoa pode até ser vítima de estupro.

OBS.2: E quando o homem é vítima de violência doméstica? R.: A Lei


Maria da Penha reconhece também que o homem pode ser vítima de tal
violência – art. 129, parágrafo 9º, do CP (com redação dada pela lei
11340/2006)

  § 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou


companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente
das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº
11.340, de 2006)

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de
2006)

Para responder tal questão, deve-se diferenciar a violência doméstica e familiar


contra homem e contra a mulher: a) se a vítima for homem  Código Penal; b)
se a vítima for mulher  Código Penal + Lei 11340/2006.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
221

18.2) (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA LEI


Há duas correntes:
 1ª corrente: a lei 11340/2006 é inconstitucional por ferir o art.
226, §§ 5º e 8º, da CF – estaria ela ferindo a isonomia familiar.
Um outro argumento é de que a lei Maria da Penha seria uma lei
retrógrada (está na contramão da história) – o art. 216 do CP,
antigamente, punia quem induzisse mediante fraude, mulher
honesta à prática de ato libidinoso distinto da conjunção carnal.
Outra tese que se alega é por que quando o irmão bate na mulher
a lei é aplicada e o inverso não? E quando o pai bate na filha é
aplicada e quando bate no filho não é? O TJ/MS adota tal
corrente;
 2ª corrente: a lei 11340/2006 é constitucional. Há dois sistemas
de proteção: a) um geral – que não visa destinatário certo; b) um
especial – visa destinatário certo. O CP está no sistema de
proteção geral (por isso que ele não diferenciou o homem da
mulher – se o fizesse, tal código seria inconstitucional). A lei Maria
da Penha está no sistema de proteção especial (que está
justificado pelas as estatísticas – e estas demonstram que a
mulher é igual ao homem em direitos, mas ela, de fato, não
consegue fazer valer sua igualdade prevista em lei). Tal lei
possui natureza de ação afirmativa e quando ela for igual, de fato,
ao homem, esta lei perderá o sentido – posição do STJ – é a
corrente que prevalece.

Nada impede o juiz pelo seu poder geral de cautela, emprestar


mecanismos de proteção à mulher ao homem (não é a mesma coisa de aplicar
a lei em analogia ao homem) – há precedente no TJ do RS.

18.3) CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA


A MULHER
Está no art. 5º

Art. 5o  Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero* que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

(*) Só se aplica a Lei Maria da Penha se a violência for de gênero – é a


violência preconceito – quem agride, agride com preconceito, com
finalidade de diminuir a mulher. Se for ação sem preconceito (agride a
mulher como se fosse agredir um homem) não se deve aplicar tal lei.

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio


permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
222

Entende-se como o ambiente caseiro, independentemente de vínculo


familiar. Assim, até a empregada doméstica está abrangida pela lei
11340/2006.

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que


são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade* ou por vontade
expressa;

(*) A sogra, assim, está abrangida pela Lei Maria da Penha.

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido
com a ofendida, independentemente de coabitação.

ROGÉRIO SANCHES entende que o inciso III extrapolou a própria


finalidade da lei, incluindo namorados, amantes etc.

Parágrafo único.  As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação


sexual*.

(*) Aplica-se a lei Maria da Penha mesmo nas relações homoafetivas,


homossexuais. Tal relação homossexual pode ser masculina? R.: A
magistratura de SP entendeu, num concurso, que sim, desde que a vítima
fosse a mulher da relação (obviamente, tal questão de concurso foi anulada). A
posição do TJ de SP e da Corregedoria Geral de Justiça do mesmo
Estado dizendo, via resolução, de que o parágrafo único não abrange relação
homossexual de homens.

A CF entendeu como entidade familiar a relação homoafetiva? R.: Não -


arts. 226, §1º, §3º, §4º, da CF. O CCB de 2002 repetiu as disposições da CF.
MARIA BERENICE DIAS diz que o art. 5º, parágrafo único, da Lei Maria da
Penha entendeu que a relação homoafetiva é equiparada à entidade familiar.

18.4) FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A


MULHER – ART. 7º DA LEI

Art. 7o  São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou
saúde corporal;

Vai desde as vias de fatos até a lesão corporal.

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos*,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à
saúde psicológica e à autodeterminação;

(*) A Psicologia entende que abrange também o controle excessivo dos


gastos.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
223

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a
manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação
ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção,


subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer
suas necessidades;

Trata-se da figura do homem que sai quebrando tudo em casa.

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação
ou injúria.

Violência doméstica e familiar é gênero. Pode corresponder a uma


contravenção penal (vias de fato) e não só a um crime (ameaça, lesão corporal,
estupro etc.). A violência e familiar contra a mulher pode caracterizar um fato
atípico – adultério – art. 7, II, da Lei 11340/2006. Assim, não se pode falar em
“crime de violência doméstica”, o que não existe.

18.5) MECANISMOS DE PREVENÇÃO


Art. 8º da lei. Os mais importantes são:

III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e
da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência
doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o
e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;

Assim, não se pode por a mulher em papéis esteriotipados nos meios


sociais (Ex.: Mulher Samambaia, mulher dançando a boquinha da garrafa,
mulher apanhando de raquete na novela – neste exemplo, pode mostrar a
cena, desde que seja para solucionar um problema social). Acaba diminuindo o
papel da mulher no meio social.
IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular
nas Delegacias de Atendimento à Mulher;

Todavia, há poucas Delegacias de Mulheres no país.

IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos


relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da
violência doméstica e familiar contra a mulher.

18.6) INSTRUMENTOS DE ASSISTÊNCIA

Art. 9o  A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de
forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da
Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre
outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
224

A mulher tem tríplice assistência: a) assistência social; b) assistência à


saúde; c) assistência à segurança – Polícia Civil (é o porto seguro da mulher
vítima de violência doméstica e familiar). Quanto a esta última:

Art. 11.  No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a


autoridade policial deverá, entre outras providências:

I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério


Público e ao Poder Judiciário;

II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;

III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro,
quando houver risco de vida;

IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do


local da ocorrência ou do domicílio familiar;

V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis.

Voltando ao art. 9º, o mais importante encontra-se no seu §2º:

§ 2o  O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para


preservar sua integridade física e psicológica:

I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração


direta ou indireta;

Trata-se de acesso prioritário, ou seja, pode até passar na frente de


outras pessoas na lista de remoções. Porém, é de raríssima aplicabilidade na
Justiça Federal e Municipal, pois o juiz estadual não poderá mandar que a
servidora federal, por ex., seja removida, intervindo em seara fora de sua
competência. Quanto à servidora municipal, tal instituto não será de boa
importância, já que ela não poderá sair do município (só se for servidora de
uma grande cidade).

E se a mulher não for servidora pública? R.: Inciso II

II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de


trabalho, por até seis meses.

Este afastamento trata-se de uma interrupção ou uma suspensão? R.:


ROGÉRIO SANCHES concluiu que se trata de afastamento-suspensão. Se
entender que se trata de interrupção, com o tempo, a contratação de mulheres
será banalizada. Tem gente dizendo que tal inciso II fere o art. 114 da CF,
ferindo competência absoluta do juiz do trabalho – não poderia um juiz estadual
alterar vínculos trabalhistas. Os advogados têm pedido tal benefício ao juiz do
trabalho, mas estes vêm negando pelo mesmo motivo acima apontado.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
225

18.7) MEDIDAS PROTETIVAS – ART. 22 A 24 DA LEI


OBS.: Ler tais artigos depois.

É perfeitamente possível ao juiz aplicar a medida protetiva ex officio –


art. 22 da lei.

Qual a natureza jurídica dessas medidas protetivas? R.: Tem natureza


cível, dotadas de cautelaridade (medidas protetivas de urgência). Como
toda cautelar, elas pressupõem fumus boni iuris e periculum in mora.
OBS.: Assim, por se tratar de medida cível cautelar, sendo ela aplicada,
deverá a vítima propor a ação principal em 30 dias (como a separação
judicial)? R.: Há 2 correntes: 1ª corrente: a vítima tem o prazo decadencial de
30 dias para propor a ação principal; 2ª corrente: não existe mais este prazo de
30 dias; enquanto a medida se mostrar necessária, ela permanece.

18.7.1) Prisão preventiva na lei Maria da Penha

Art. 20 da lei 11340/2006.  Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal,


caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do
Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial.

        Art. 313 do CPP. Em qualquer das circunstâncias, previstas no artigo anterior, será
admitida a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos: (Redação dada pela Lei nº
6.416, de 24.5.1977)

(...)

        IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei
específica, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência. (Incluído pela Lei nº
11.340, de 2006)

Uma lesão corporal leve nunca permitiu a decretação de uma prisão


preventiva. Mas se a lesão corporal leve for realizada no âmbito de relação
doméstica ou familiar para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência, caberá a prisão preventiva.

**As medidas dos arts. 22 a 24 são as medidas principais; a prisão


preventiva é que é acessória, já que é decretada para assegurar aquelas
medidas dos arts. 22 a 24. Assim, há quem entenda que tal prisão não tem
cabimento já que teria natureza cível (pois o acessório segue o principal e não
existe outra possibilidade de prisão civil senão aquela prevista na CF). Assim,
tem-se entendido (ROGÉRIO SANCHES), para fins de salvar a medida de
prisão preventiva, que ela caberia apenas quando o agente descumpre a
medida protetiva para praticar crime.

OBS.: O STF entende que o descumprimento de medidas extrapenais


com sanções extrapenais não gera desobediência, salvo se houver

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
226

disposição expressa. Ex.: não obedecer a ordem de parar vinda de um policial


– há sanção extrapenal prevista no CTB.

18.8) ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA


Art. 14 da Lei

Art. 14.  Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça
Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito
Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das
causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Parágrafo único.  Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme


dispuserem as normas de organização judiciária.

O juizado da mulher terá competência criminal e cível. Ex: se houver um


homicídio, a primeira fase do procedimento do júri irá para o juizado? R.: Se o
crime é de júri, o processo fica na vara criminal comum, mesmo que diante
de uma violência doméstica e familiar. O STJ entende dessa forma.

OBS.: Tais juizados já existem? R.: Há bem poucos. O art. 33 diz que,
enquanto não estruturado os juizados, o juiz criminal acumulará
competência criminal e cível.

Art. 33.  Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e
julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher,
observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual
pertinente.

Parágrafo único.  Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o
processo e o julgamento das causas referidas no caput.

Então juiz criminal que fará separação e divórcio nesses casos? R.: A
competência cível do juiz criminal é apenas das medidas protetivas de
urgência, não podendo fazer separações ou divórcios – tal posição nasceu
no TJ de São Paulo. O juiz cível (da separação) poderá alterar as medidas
protetivas impostas pelo juiz criminal com atribuição também cível.

18.9) PROCEDIMENTOS POLICIAL E JUDICIAL

Art. 41.  Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Tem-se que diferenciar a prática de uma contravenção da prática de um


crime.

CONTRAV. PENAL CRIME


1) Termo circunstanciado 1) Inquérito
2) Audiência 2) Denúncia – cadê a transação penal? R.: A
 Conciliação; lei veda a aplicação da Lei 9099/95 e de seus
 Transação penal – deve-se institutos despenalizadores na Lei 11340/2006!
observar o art. 17 da lei.
Cabe suspensão condicional do processo nos

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
227

Art. 17.  É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica? R.: TJ/SP entende
casos de violência doméstica e que cabe o art. 89 da Lei 9099 (aplica-se a todos
familiar contra a mulher, de penas de os crimes, e não só às infrações de menor
cesta básica ou outras de prestação
potencial ofensivo). O STJ discorda do TJ/SP –
pecuniária, bem como a substituição
de pena que implique o pagamento não cabe a aplicação do art. 89 da lei 9099/95
isolado de multa. aos casos de violência doméstica.

A transação penal deve ser de 3) Condenação – observar o art. 17 da Lei


natureza pessoal (restrição de 11340/2006.
direitos, prestação de serviços à
comunidade etc.).

3) Denúncia – se inadmitida a transação


penal;
4) Processo – é possível a suspensão
condicional do processo – art. 89 da Lei
9099/95;
5) Condenação

OBS.: E quanto à ação penal no crime de lesão corporal leve do art. 129,
§9º, do CP? R.: Se a vítima for homem, não existe vedação do art. 88 da lei
9099/95, permanecendo pública condicionada à representação. Se a vítima
for mulher neste caso de lesão corporal leve do § 9º do art. 129 do CP, há
divergência:
 1ª corrente: a ação penal é pública incondicionada – interpretação
literal do art. 41 da Lei 11340/2006. Entendem também os
seguidores desta doutrina que a violência contra a mulher é grave
violação aos direitos humanos da mulher;
 2ª corrente: a ação penal é pública condicionada à representação
– vedam-se os dispositivos de medidas despenalizadoras
exteriores à vontade da vítima (como a transação penal, por ex.).
A representação é inerente à vontade da vítima, logo,
permanecendo.

O STJ, já adotou as duas correntes. A última decisão foi no sentido da


2ª corrente (segundo aula do prof. RENATO BRASILEIRO). ROGÉRIO
SANCHES disse que a última decisão foi no sentido da 1ª corrente.

Art. 16.  Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida (abrangeria
também, para quem entende ser condicionada à representação, a lesão corporal leve do §9º do
CP) de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia (leia-se: retratação) à representação
perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento
da denúncia e ouvido o Ministério Público.

OBS.1: O art. 25 do CPP diz que a retratação da representação é


possível até o oferecimento da denúncia; após isso, ela será irretratável. A lei
Maria da Penha diz que a retratação da vítima é possível até o recebimento da
denúncia; após isso é que ela será irretratável.

OBS.2: O artigo não cita a “na presença do defensor”. Tem juízes


determinado a presença do defensor para observar o mandamento do
contraditório. NUCCI também sugere assim.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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228

11.07.2009 – SILVIO MACIEL

19) LEI 10826/2003 - ESTATUTO DO DESARMAMENTO

19.1) CONSIDERAÇÕES GERAIS


Até 1997, as condutas envolvendo armas de fogo eram meras
contravenções penais.
A Lei n. 9.437/97 – Lei de Arma de Fogo – as contravenções tornaram-
se crimes. No art. 10 punia posse, disparo, venda ilegal etc. Todos juntos.
Havia crítica por isso, dizia que havia violação do princípio da
proporcionalidade.
O Estatuto do Desarmamento – Lei n. 10.826/03 de 23.12.03 distinguiu
todos os crimes, tipificando-os cada um em tipo. Com isso observou a
proporcionalidade e a individualização, porque essa acontece em 3 momentos
(na fase legislativa, aplicação da pena e na sua execução). Como estatuto
houve obervancia do princípio da individuliazação no momento da cominação
abstrata do crime.
O Estatuto do Desarmamento manteve o CIMAR – cadastro das armas
que circulam no país. CINAR é entidade da União, portanto, o controle de
armas hoje é da federal. Por isso, no inicio do estatuto que todos os crimes do
estatuto seriam de competência federal, porque inicialmente estaria ofendendo
interesse da União.
A discussão iniciou no RJ.
STJ /STF decidiu que em regra a competência dos crimes do estatuto é
da justiça estadual, salvo se atingir interesse direto da União (funcionário
infrator). Exceção: tráfico internacional de armas é crime genuinamente federal.
Bem jurídico: segurança pública e incolumidade pública (STJ CC 45483-
RJ, 45845-SC). O simples fato de arma estar raspada a competência continua
sendo estadual (HC 59915-RJ).

19.2) CRIMES EM ESPÉCIE

19.2.1) Posse de arma de fogo de uso permitido – art. 12 da lei

        Posse irregular de arma de fogo de uso permitido

        Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição,
de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no
interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho,
desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:

        Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

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A) Objeto jurídico
A incolumidade pública/segurança coletiva.

B) Sujeitos do crime
Sujeito ativo – 1ª corrente: crime comum (tese majoritária) – CAPEZ; 2ª
corrente: crime próprio (exige a qualidade do sujeito ativo como dono da
residência ou proprietário responsável pelo estabelecimento comercial.
Sujeito passivo – é a coletividade, porque é ela que é a titular do bem
jurídico “segurança pública”. Assim, crime de posse de arma de fogo é crime
vago. DELMANTO aponta como sujeito passivo direto o “Estado”, talvez pelo
controle de armas que fica prejudicado – tal entendimento não prevalece, pois
o direito à segurança pública não pertence ao Estado (ele é prestador da
segurança pública) e sim a coletividade.

C) Tipo objetivo
As condutas são: possuir ou manter sob a guarda. A maioria diz que a lei
se repetiu, pois quem mantém sob a guarda já possui.

D) Objeto material
Arma de fogo, acessório ou munição.
Tais objetos devem ser permitidos (o particular pode usar desse calibre
caso tenha a devida permissão de possuir arma de fogo). Se for arma de fogo,
acessório ou munição de uso proibido, a posse configura o crime do art. 16 da
mesma lei.

E) Elemento normativo do tipo


“Em desacordo com determinação, ilegal ou regulamentar”. Só é crime a
posse irregular; a posse regular é fato atípico.

F) Elemento espacial do tipo penal


A posse tem que ocorrer:
 No interior da residência do infrator ou;
 No local de trabalho do qual ele seja o proprietário ou o
responsável legal

G) Posse x Porte
A posse ocorre no interior da residência do infrator ou nas dependências
dela ou no local de trabalho do qual o infrator seja o proprietário ou o
responsável legal. O porte ocorre em qualquer outro local que não seja
residência ou local de trabalho que o dono da arma seja o proprietário.
Assim, por ex., o dono da loja está com arma e o vendedor da loja
também. Aquele responde por posse de arma; o vendedor responde por crime
de porte por não ser o dono do estabelecimento. Nesse sentido, HC 92369 –
STJ – este julgado diferencia posse de porte.

OBS.: E o indivíduo que enterra uma arma no quintal da casa dele? R.: o
STJ entende que neste caso o crime é de porte de arma de fogo, na conduta
de “ocultar” arma de fogo – HC 72035/MS.

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H) Elemento subjetivo
Só o dolo.

I) Consumação e tentativa
Consuma-se no momento que o infrator ingressa ilegalmente na posse
de arma, acessório ou munição. Trata-se de crime de mera conduta, de
perigo abstrato (STJ e STF), crime permanente.
A doutrina não admite a tentativa por se tratar de crime permanente.

OBS.1: Quando o estatuto do desarmamento entrou em vigor ele disse


que os registros de arma de fogo só podem ser expedidos pela Polícia Federal
com autorização do SINARM. O art. 5º do ED, §3º estabeleceu que os registros
de armas estaduais continuam a ter validade por mais 3 anos. Se o ED entrou
em vigor em 23.12.2003, os registros estaduais teriam validade até 23.12.2006.
Ocorre que este art. 5º, §3º foi alterado pela Lei 11706/2008 que prorrogou o
prazo de validade destes registros até 31.12.2008. Agora, uma nova lei
estendeu tal prazo até 31.12.2009 – Lei 11922 de abril de 2009 – a lei trata
sobre capital de juros da Caixa Econômica Federal!!! Assim, registro estadual
de arma valerá até final deste ano de 2009.

***OBS.2: E quem possui arma de uso permitido sem nenhum registro?


R.: Aplica-se o art. 30 do ED – trata do possuidor sem registro nenhum,
estadual ou federal. Este artigo também prorrogado até 31.12.2009. Assim,
até 31.12.2009, possuir arma de uso permitido em casa ou local de
trabalho cujo dono seja o possuidor da arma NÃO É CRIME ATÉ FINAL
DESTE ANO DE 2009. Deve o sujeito obter o registro ou entregar a arma fria.
O STF entende que tal figura constitui em abolitio criminis temporária ou
vacatio legis indireta. A conseqüência disto é que tais normas de prorrogação
não retroagem (ocorre abolitio criminis apenas dentro do período da
prorrogação). Não retroagem como qualquer outra norma abolicionista.
**O prazo para regularização da arma terminou no dia 31.12.2008.
Agora tal prazo foi prorrogado até 31.12.2009, mas tal prorrogação começou a
partir de 13/04.2004. E quem cometeu a posse ilegal neste lapso temporal
entre janeiro e 12 de abril? R.: Cometeu o crime de posse ilegal de arma de
fogo de uso restrito (maior sinal de que a norma que traz a abolitio criminis
indireta não retroage). LFG diz que tais leis que prorrogam o prazo para
registro de armas são retroativas.

OBS.3: Tal período de abolitio criminis temporária não se aplica aos


crime de porte ilegal de arma de fogo.

OBS.4: A abolitio criminis temporária aplica-se tanto ao crime de posse


ilegal de arma de fogo de uso restrito como ao de uso proibido.

OBS.5: Arma de fogo com numeração raspada – há um julgado do STF


dizendo que a abolitio criminis não se aplica ao crime de posse de arma
raspada – HC 94158/MG. STJ, no HC 46322/SP entendeu que a abolitio
criminis aplica-se ao crime de posse de arma raspada.

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19.2.2) Omissão de cautela – art. 13 da lei

        Omissão de cautela

        Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de
18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de
fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade:

        Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.

        Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor


responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de
registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou
outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob
sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.

O caput não tem nada a ver com o parágrafo único.

A) Objetos jurídicos
Objeto jurídico imediato – é a incolumidade pública. O objeto jurídico
mediato é a vida e a integridade física do menor de 18 anos e do doente
mental.

B) Sujeitos do crime
Sujeito ativo só pode ser o proprietário ou possuidor da arma de fogo
– ele que tem o dever de cautela na guarda da arma (trata-se de crime
próprio).
Sujeito passivo primário é a coletividade. Sujeito passivo secundário é o
menor de 18 anos ou deficiente mental.

OBS.1: Não importa se o menor de 18 anos já adquiriu a maioridade


civil.

OBS.2: Deixar a arma ao alcance de pessoa portadora de deficiência


física é fato atípico.

OBS.3: O tipo penal não exige nenhuma relação de parentesco entre o


sujeito passivo e o sujeito ativo. Ex.: um amigo vai à casa do outro amigo e
deixa a arma próximo ao filho de 15 anos do proprietário da casa.

OBS.4: Omitir a cautela em relação a acessório ou munição é fato


atípico, pois o tipo penal só traz o elemento “arma de fogo”.

C) Conduta
É “deixar de observar as cautelas necessárias” – significa: quebra do
dever de cuidado objetivo.

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232

E) Tipo subjetivo
É punido a título de culpa (não pode ele ter a intenção da criança se
apoderar da arma).

F) Objeto material
“Arma de fogo” de uso permitido ou proibido, porque o tipo penal não
especifica a espécie de arma.

G) Consumação e tentativa
Há uma pequena divergência: a consumação se dá com o mero
apoderamento da arma pelo menor ou pelo doente mental. Para uma parte da
doutrina, o crime é material (o apoderamento já seria o resultado naturalístico).
Outra parte da doutrina já entende ser crime formal (o apoderamento não é o
resultado naturalístico – este seria a ofensa à integridade física).
Não admite tentativa por se tratar de crime culposo.

H) Art. 13, parágrafo único, da lei


Este crime é totalmente autônomo ao caput do art. 13.

Sujeito ativo do crime: proprietário ou diretor responsável de empresa de


segurança e transporte de valores.
Sujeito passivo: é a coletividade e também o Estado (pois coloca em
risco o controle de armas de fogo no Brasil).
Conduta: deixar de registrar a ocorrência policial e de comunicar à
Polícia Federal – o tipo penal impõe um duplo dever de comunicação, ou
seja, a falta de uma dessas comunicações caracteriza o crime segundo a
maioria. Uma minoria diz que uma comunicação já basta para não incidir no
crime.
Objeto jurídico: arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido ou
restrito.
Elemento subjetivo: prevalece de forma amplamente majoritário de que o
crime é doloso – deve deixar de comunicar de forma proposital.
Consumação e tentativa: a consumação se dá após 24 horas depois de
ocorrido o fato (deve o agente comunicar neste horário o sumiço da arma) –
trata-se de um crime a prazo. A doutrina faz uma correção ao artigo – deve-se
ler: “24 horas depois da ciência do fato” e não “24 horas depois do fato”,
como está escrito no tipo. A doutrina não admite a tentativa por se tratar de
crime de mera conduta. Na verdade, o crime é omissivo puro ou próprio e
também não admite a forma tentada.

19.2.3) Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido – art. 14 da lei

    Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido

        Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,
empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:

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        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa

A) Sujeitos do crime
Sujeito ativo é qualquer pessoa. Sujeito passivo é a coletividade.

B) Elementos do tipo
Trata-se de crime de conduta múltipla ou de conteúdo variado ou de
tipo misto alternativo – ou seja, se praticada mais de uma conduta no mesmo
contexto fático, trata-se de crime único (princípio da alternatividade). Ex.:
sujeito adquire, transporta e oculta arma de fogo  responderá apenas por um
crime.

C) Objeto material
Arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido.

E) Elemento normativo do tipo


“Sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar”.

**OBS.1: É necessário exame pericial da arma para comprovar se ela


era apta a disparar? R.: Jurisprudência do STJ e STF – o laudo é
desnecessário, por se tratar de crime de perigo abstrato (STF HC 93188/RS
de 03.02.2009; STJ RESP 1103293/RJ de 23.04.2009).

**OBS.2: Arma de fogo desmuniciada configura crime ou não? R.: STJ é


pacífico de que arma de fogo desmuniciada é crime, haja ela ou não pronta
condições de municiamento. STF – HC 93188 – 1ª turma, julgado de
03.02.2009 – entendeu que arma desmuniciada configura crime (votação
unâmime); HC 87819/SP – 2ª turma, julgado de 09.06.2009 – arma de fogo
desmuniciada e sem condições de pronto municiamento não configura crime
(informativa 550) – votação não unânime.

**OBS.3: O porte apenas de munição configura crime? R.: Existe uma


tese de que o porte de munição isolado (desacompanhado de arma) não
possui nenhuma lesividade, portanto, criminalizá-lo fere o princípio
constitucional da ofensividade ou lesividade. STJ – porte de munição
configura crime – trata-se de crime abstrato. No STF está em andamento o
HC 90075/SC, e JOAQUIM BARBOSA e EROS GRAU já votaram, entendendo
que o porte de munição configura crime (lembrar que não se trata de uma
decisão definitiva ainda). O processo está com vista do processo.

F) Tipo subjetivo
Apenas o dolo.

G) Consumação

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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234

Dar-se-á com a mera prática de qualquer das condutas do tipo. A


tentativa em alguns casos é possível, por ex.: no verbo “adquirir”. Não é
possível nas condutas que configuram crime permanente.

H) Parágrafo único do art. 14


Diz ser o crime inafiançável, salvo se a arma estiver registrada no nome
do agente. Tal parágrafo único foi declarado inconstitucional pelo STF – ADIn
3112. Ou seja, cabe fiança em qualquer caso (mesmo que a arma não esteja
registrada em nome do infrator). A fundamentação do STF foi de que a
vedação da fiança fere o princípio da razoabilidade ou proporcionalidade, pois
crimes de igual ou menor gravidade são afiançáveis.

**OBS.1: Porte e homicídio, como que fica? R.: 1ª corrente: haverá


sempre concurso material de crimes, pois protegem bens jurídicos distintos
(homicídio  a vida; porte de arma  segurança pública) – TJ/SP adota tal
corrente. 2ª corrente: se o porte de arma foi cometido com a única finalidade de
executar o homicídio, ficará absorvido, pois ele é meio (crime meio) de
execução do homicídio. Se o indivíduo porta a arma ilegalmente e
eventualmente a utiliza num homicídio, haverá o concurso material de crimes
– STJ – HC 57519/CE. Ex.1: Indivíduo discutiu no bar, vai para a casa dele e
pega uma arma, volta ao bar e mata o sujeito  o porte ficará absorvido pelo
crime de homicídio. Ex.2: o indivíduo vai todo dia no bar armado ilegalmente;
num determinado dia ele discute com alguém e o mata.

OBS.2: O porte de mais de uma arma configura dois crimes? R.:


Corrente majoritária – responde por crime único. A quantidade das armas
influi na dosagem da pena. Se uma das armas for de uso restrito, responderá
por este crime, mesmo que as outras armas sejam de uso permitido.

19.2.4) Disparo de arma de fogo – art. 15 da lei

        Disparo de arma de fogo

        Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado
ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que
essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime:

        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

A) Sujeitos do crime
Sujeito ativo – qualquer pessoa; sujeito passivo – a coletividade.

B) Condutas
“Disparar arma de fogo” ou “acionar munição” (ou seja, mesmo que não
efetuado o disparo).

C) Elemento espacial do tipo

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235

O disparo tem que ocorrer em lugar habitado ou suas adjacências, em


via pública ou em direção a ela.

OBS.1: Indivíduo que efetua disparo de arma de fogo em lugar ermo


(lugar vazio) pratica fato atípico.

OBS.2: Dois ou mais disparos configura crime único – a quantidade de


disparos será levado em conta na dosagem da pena.

D) Consumação e tentativa
Dar-se-á com o mero disparo ou com o acionamento da munição. A
tentativa é possível.

OBS.1: Trata-se de crime de perigo abstrato – para a maioria da


doutrina. Assim, não é necessário que o disparo cause perigo real a alguém.
Não confundir o perigo do crime com o lugar ermo! Ex.: disparo em lugar
habitado, mas não causou perigo real, pois a via pública estava vazia no
momento do disparo  responde pelo crime.

**OBS.2: O crime de disparo não pode ter como finalidade a prática de


outro crime (não se fala em “crime mais grave”). A interpretação literal faz com
que se conclua que este outro crime pode ser mais grave ou menos grave do
que o próprio disparo. A doutrina e a jurisprudência entendem que se houver
disparo e homicídio, só se aplica o homicídio; se houver lesão leve e disparo,
haverá concurso de crimes, porque o crime de lesão leve é menos grave do
que o crime de disparo de arma de fogo (não se pode absorver crime mais
grave).

**OBS.3: E se houver porte ilegal e disparo? R.: Se for porte ilegal de


arma permitida e disparo  como ambos tem a mesma pena e ofendem o
mesmo bem jurídico, haverá um único crime, para uns o disparo; para outros,
o porte ilegal. Se for porte ilegal de arma proibida e disparo  o porte ilegal
prevalece sobre o crime de disparo por ser crime mais grave.

E) Parágrafo único
Foi declarado inconstitucional pelo mesmo fundamento anterior –
ofensa ao princípio da proporcionalidade e razoabilidade. Trata-se de crime
afiançável.

19.2.5) Posse ou porte ilegal de arma de uso proibido ou restrito –


art. 16 da lei

        Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito

        Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,
empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou

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236

munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo


com determinação legal ou regulamentar:

        Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

        Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:

        I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de


identificação de arma de fogo ou artefato;

        II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la


equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de
dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou
juiz;

        III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou


incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar;

        IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo


com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado;

        V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de


fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e

        VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou


adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.

Atentar que o art. 16 pune no mesmo tipo penal a posse e o porte.

Se for arma permitida  posse  art. 12


Se for arma permitida  porte  art. 14
Se for arma proibida ou restrita  posse ou porte  art. 16

Assim, aplica-se tudo que foi dito quanto aos crimes de posse e de porte
dos arts. 12 e 14 desta lei. Há uma única diferença: a arma é de uso proibido
ou restrito.

OBS.: Onde está o conceito de arma de uso proibido ou restrito? R.:


Dec. 3665/2000.

A) Parágrafo único
OBS.: O caput tem como objeto material apenas arma de uso proibido
ou restrito. As condutas do parágrafo único só se referem à arma de uso
proibido? R.: Não! É unânime o entendimento de que o parágrafo único
constitui crime penal autônomo e independente do caput, ou seja, pode ter
como objeto material arma de fogo proibida ou permitida.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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237

Inciso I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de


identificação de arma de fogo ou artefato. Deve-se atentar ao inciso IV –
portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração,
marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimindo ou
adulterado. Um inciso (I) pune quem raspa a arma, o outro inciso (IV) pune
quem porta a arma já adulterada.
Inciso II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-
la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito – maior prova de que
o parágrafo único também se destina à arma de uso permitido – ou para fins de
dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz.
Há duas condutas criminosas: a) modificar as características da arma para
torná-la arma proibida; b) modificar as características da arma para induzir em
erro ou dificultar a ação de autoridade policial, perito ou juiz – esta conduta se
chama de fraude processual do Estatuto do Desarmamento. Esta última
conduta se consuma com a modificação da arma e a simples intenção de
induzir em erro a autoridade, mesmo que a finalidade não seja alcançada.
OBS.: O tipo penal não cita o MP; se a intenção for induzir em erro tal órgão,
será fato atípico.
Inciso III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou
incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar. Envolve granadas, dinamites etc. Se o crime deixar vestígios
necessitará da perícia. O objeto material em relação aos crimes anteriores (não
se fala em arma, munição ou acessório).
Inciso V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma
de fogo, acessório, munição ou explosivo à criança ou adolescente. Este inciso
revogou tacitamente o crime do art. 242 do ECA. É indispensável que o
sujeito saiba que a vítima seja criança ou adolescente. Se ele, por erro
escusável, supõe que se tratava de um adulto, tratar-se-á de erro de tipo.
OBS.: O explosivo também está previsto como objeto material. OBS.: Vender
fogos de artifício à criança ou adolescente  incide no ECA – será visto na
próxima lei.
Inciso VI – Produzir, recarregar, ou reciclar, sem autorização legal, ou
adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo. Precisa da autorização
legal.

19.2.6) Comércio ilegal de arma de fogo – art. 17 da lei

A) Sujeito ativo
Comerciante ou industrial, legal ou clandestino, de arma de fogo,
acessório ou munição (há cláusula de equiparação no parágrafo único).

B) Sujeito passivo
A coletividade.

C) Objeto material
Arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido ou restrito.

D) Tipo subjetivo

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
238

É o dolo.

E) Consumação e tentativa
A consumação se dá com a prática de qualquer uma das condutas do
tipo. A tentativa é perfeitamente possível, exceto nas modalidades que
constituem crimes permanentes.

OBS.1: Este crime é habitual? R.: Não. Ele exige a condição de


comerciante ou industrial de armas, mas uma única comercialização ilegal já
configura o crime. Ex.: comerciante de armas no shopping; vende 30 armas
legalmente e vende uma arma ilegalmente  já responde pelo o crime do art.
17.
OBS.2: O dono do restaurante vende sua arma para o seu cliente? R.:
Não praticou o crime do art. 17, pois ele não é comerciante do ramo de
armas de fogo. Responderá pelo o art. 14 ou 16, a depender se a arma é de
uso permitido ou restrito.

19.2.7) Tráfico internacional de arma de fogo – art. 18 da lei


Antes do ED o tráfico internacional de arma de fogo configurava o crime
de contrabando. Pelo o princípio da especialidade, aplica-se o art. 18 da lei.

A) Sujeito ativo
Qualquer pessoa – crime comum.

B) Sujeito passivo
A coletividade.

C) Condutas
“Importar” ou “exportar” ou “facilitar a entrada ou saída”. Nas duas
primeiras condutas, o crime se consuma com a simples importação ou
exportação – crime material. Na última conduta, o crime se consuma com a
simples facilitação da entrada ou saída, ainda que o favorecido não obtenha
sucesso na entrada ou saída da arma – crime formal. OBS.: não se aplica o
art. 318 do CP, como no caso da não aplicação do art. 334 do CP –
contrabando.

A tentativa é possível.

D) Tipo subjetivo
É o dolo.

E) Competência para julgamento


É da Justiça Federal. O Brasil é signatário de tratados internacionais
comprometendo-se a reprimir o tráfico internacional de drogas.

F) Objeto material
Apenas arma de fogo, de uso permitido ou proibido, acessório e
munição.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
239

OBS.: Indivíduo entrou com 2 munições no bolso no território brasileiro;


a defesa alegou o princípio da insignificância. O STJ não concedeu; ou seja,
não se aplica o princípio da insignificância (HC 45099).

12.3) ART. 21 DA LEI – INSUSCETIBILIDADE DE LIBERDADE


PROVISÓRIA DOS CRIMES DO ART. 16, 17 E 18
Foi declarado inconstitucional pelo STF por violação ao estado de
inocência.

19.4) ARTS. 19 E 20 DA LEI - CAUSAS DE AUMENTO DE PENA


Nos crimes dos arts. 17 e 18 (comércio ilegal e tráfico internacional) se a
arma, acessório ou munição for de uso proibido ou restrito, a pena é
aumentada da metade.
Arts 14 a 18 – a pena será aumentada se praticadas por integrantes de
órgãos previstos no art. 6º do ED.

12.07.2009 – SILVIO MACIEL

20) LEI 8069/90 – CRIMES DO ESTATUTO E DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE
O ECA Trata da C&Ad como autor, praticando ao infracional e depois
como vítima.

20.1) CONCEITO DE C&AD

        Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos (ainda não completou 12 anos), e adolescente aquela entre doze e dezoito anos
de idade.

Criança deixa de ser criança a partir do primeiro segundo do dia em que


faz 12 anos de idade. A partir daí passa a ser adolescente. Deixará de ser
adolescente no primeiro segundo do dia em que completar 18 anos, passando
a ser, juridicamente, adulto e imputável.
O ato infracional pode ser praticado por criança ou por adolescente. Se
criança praticar ato infracional, estará sujeita apenas à medidas de proteção –
art. 98, III c.c. art. 105 c.c. 101, I a VIII, do ECA.

Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que
os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:

        III - em razão de sua conduta.

 Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas
no art. 101.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
240

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente
poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

        I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

        II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

        III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino


fundamental;

        IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao


adolescente;

        V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime


hospitalar ou ambulatorial;

        VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento


a alcoólatras e toxicômanos;

        VII - abrigo em entidade;

        VIII - colocação em família substituta.

       

Tais medidas de proteção à criança podem ser aplicadas isolada ou


cumulativamente – art. 99 do ECA, e podem ser substituídas umas pelas
outras – são fungíveis entre si.
Para aplicar as medidas de proteção, o juiz se utiliza do art. 100.

        Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades


pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares
e comunitários.

O adolescente também pratica ato infracional, mas está sujeito a


medidas sócio-educativas e/ou medidas de proteção – arts. 112 a 122 do
ECA.

        Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá
aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

        I - advertência;

        II - obrigação de reparar o dano;

        III - prestação de serviços à comunidade;

        IV - liberdade assistida;

        V - inserção em regime de semi-liberdade;

        VI - internação em estabelecimento educacional;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
241

        VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI (que são as medidas de proteção).

O adolescente não poderá sofrer as medidas de proteção previstas


no art. 101, VII e VIII, do ECA (colação em abrigo e colocação em lar
substituto).

20.2) APLICAÇÃO EXCEPCIONAL DO ECA AO INFRATOR QUE JÁ


COMPLETOU 18 ANOS – ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO DA LEI

        Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este
Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.

As medidas sócio-educativas podem ser aplicadas ao maior de idade


(entre 18 e 21 anos), desde que tenha cometido o ato infracional quando
era adolescente.

Art. 104, Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do
adolescente à data do fato.

Ex.: o menor com 17 anos e 10 meses pratica um ato infracional no dia


10.07.2009. A vítima é internada e morre no dia 10.11.2009 (o infrator já terá
18 anos e 2 meses). O ECA diz que se considera a data do menor na data do
fato. O art. 4º do CP diz que se considera praticado o crime no momento da
ação ou omissão ainda que outro seja o momento do resultado. Ambos os
artigos adotam a teoria da atividade – a responsabilidade penal é verificada
no momento da conduta. Assim, para evitar a impunidade, nesta hipótese (pois
o adolescente já não me mais adolescente), o ECA será aplicado a pessoa
entre 18 e 21 anos se cometeu o ato infracional quando adolescente. Receberá
então uma medida sócio-educativa, devendo cumpri-la até quando completar
21 anos.

Evita-se, assim, impedir a impunidade daquele que comete ato


infracional um pouco antes de tornar-se adulto.

OBS.1: Quais medidas podem ser aplicadas neste caso? R.: Quaisquer
medidas, e não só a medida de internação como alguns sustentam –
jurisprudência pacífica do STJ.

OBS.2: O parágrafo único do art. 2º não foi revogado pelo CCB de


2002? R.: Não foi revogado pelo CCB de 2002 que reduziu a menoridade civil
para 18 anos. Tal dispositivo continua aplicável mesmo após o advento do
novo CCB – entendimento pacífico do STJ.

20.3) CONCEITO DE ATO INFRACIONAL


É a conduta que corresponde a um crime ou a uma contravenção. Se
a conduta do menor não corresponder a um crime ou a uma contravenção, ela
será atípica e o menor não pode ser punido.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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242

        Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou
contravenção penal.

É irrelevante se o crime ao qual corresponde ao ato infracional se é de


ação penal pública ou privada. Ou seja, não se exige representação ou
queixa para apurar ato infracional. É como se todo ato infracional fosse de
ação penal pública incondicionada (não se pode escrever isso, pois não exige
ação penal contra menor, já que não é crime).

OBS.: É possível aplicar o princípio da insignificância no ato


infracional – STJ.

20.4) APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL


Como os crimes, há a fase de investigação policial e a fase de “ação
penal”, mas aqui se chama de ação sócio-educativa.

20.4.1) Fase policial ou investigativa – art. 172 a 177 do ECA


O adolescente só pode se apreendido em situação de flagrante ou por
ordem judicial.

Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante
de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente.

        Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, desde logo,
encaminhado à autoridade judiciária.

E se ele for apreendido em situação de flagrante? R.: Aplicam-se os arts.


172 a 177 do ECA.

Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo,
encaminhado à autoridade policial competente.

        Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada para atendimento de


adolescente e em se tratando de ato infracional praticado em co-autoria com maior,
prevalecerá a atribuição da repartição especializada, que, após as providências
necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial própria.

Se houver delegacia especializada de atendimento ao menor, é para lá


que o menor deverá ser dirigido. Se o menor praticou o ato junto de um adulto,
primeiro são tomadas as providências em relação ao ato infracional, depois o
menor é levado à Delegacia para ser lavrado o APF.

Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou


grave ameaça a pessoa, a autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106,
parágrafo único, e 107, deverá:

        I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
243

        II - apreender o produto e os instrumentos da infração;

        III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade e


autoria da infração.

        Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto poderá ser
substituída por boletim de ocorrência circunstanciada.

O menor sendo apresentado à autoridade policial, terá esta as seguintes


opções:
 Se for ato infracional com violência ou grave ameaça à pessoa 
deverá lavrar auto de apreensão;
 Se for ato infracional sem violência ou grave ameaça à pessoa 
poderá lavrar auto de apreensão ou opta por boletim de
ocorrência circunstanciada;
 Em qualquer dos casos, lavrando ou não o auto de apreensão,
deverá o delegado apreender os instrumentos e produtos do
ato infracional e requisitar a realização de exames periciais para
apuração da autoria e materialidade.

Encerrada esta fase, ocorre a fase do art. 174

        Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será
prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo de compromisso e
responsabilidade de sua apresentação ao representante do Ministério Público, no
mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela
gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer
sob internação para garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem
pública.

Feito o B.O., a autoridade policial poderá:


 Liberar o adolescente aos pais ou aos responsáveis presentes na
Delegacia, sob termo de compromisso de apresentá-lo ao MP no
mesmo dia ou, se impossível, no próximo dia útil seguinte;
 Não liberar o adolescente quando for ato infracional grave e com
repercussão social que recomende a internação do adolescente
para a garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da
ordem pública (como se fosse os motivos da prisão preventiva). O
Delegado também não liberará quando não presentes os pais ou
representantes legais e não forem localizados.

No caso de não liberação, deverá o Delegado tomar as providências do


art. 175

        Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial encaminhará, desde logo, o
adolescente ao representante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de
apreensão ou boletim de ocorrência.

§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade policial encaminhará o


adolescente à entidade de atendimento, que fará a apresentação ao representante do
Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
244

        § 2º Nas localidades onde não houver entidade de atendimento, a apresentação far-
se-á pela autoridade policial. À falta de repartição policial especializada, o adolescente
aguardará a apresentação em dependência separada da destinada a maiores, não
podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.

O Delegado, então, neste caso de não liberação, encaminhará o menor


ao MP juntamente com cópia do auto de apreensão ou B.O. Sendo
impossível a apresentação imediata ao MP (foi à noite e não tinha Promotor de
plantão, por ex.) encaminhará à entidade de atendimento e esta apresenta
o adolescente ao MP em até 24 horas.
Se for impossível a apresentação imediata ao MP e não houver também
entidade de atendimento para encaminhar o adolescente, o Delegado manterá
o adolescente na Delegacia separado dos maiores (dos presos) e
apresentará o adolescente ao MP em até 24 horas.

OBS.: Se não houver situação de flagrante de ato infracional, como que


a polícia investigará o caso? R.: Adotará a providência do art. 177

        Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de participação de
adolescente na prática de ato infracional, a autoridade policial encaminhará ao
representante do Ministério Público relatório das investigações e     demais documentos.

Fará assim um relatório de investigações de ato infracional – como se fosse


o inquérito.

        Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se subsidiariamente as
normas gerais previstas na legislação processual pertinente.

Na investigação do ato infracional, aplicar-se-á subsidiariamente as


normas do CPP.

Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser
conduzido ou transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental,
sob pena de responsabilidade.

        Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o representante do Ministério


Público notificará os pais ou responsável para apresentação do adolescente, podendo
requisitar o concurso das polícias civil e militar.

20.4.2) Fase de apuração do ato infracional

A) Oitiva informal
Apresentado o adolescente ao MP por uma das pessoas referidas
anteriormente, o adolescente será ouvido informalmente pelo promotor de
justiça.
O STJ entendeu em março de 2009 que o MP pode apresentar a
representação sem a oitiva informal do agente desde que disponha de
elementos suficientes para oferecê-la. Ou seja, tal oitiva não é
absolutamente indispensável.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
245

Se nesta oitiva informal o adolescente não tiver acompanhado de


defensor técnico nem dos pais ou responsável, isto enseja apenas nulidade
relativa.

B) Arquivamento das peças (auto de apreensão ou B.O. ou peças


investigatórias)
Tal fase existirá quando não houver elementos suficientes para propor a
ação sócio-educativa contra o menor. E se o MP o arquivamento e o juiz
discordar, o que acontece? R.: Mesma regra do CPP – remeterá as peças ao
Procurador Geral – art. 181, §1º e 2º, do ECA.

C) Conceder a remissão
É uma forma de exclusão do processo – art. 188 do ECA

        Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo, poderá
ser aplicada em qualquer fase do procedimento, antes da sentença.

Existem dois tipos de remissão:


 Remissão-perdão – aplicável nos casos do art. 126 do ECA.

Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o
representante do Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de
exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e conseqüências do fato, ao
contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor
participação no ato infracional.

        Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade


judiciária importará na suspensão ou extinção do processo.

Ex.: menor praticou furto no mercado – nunca delinqüiu, a família passa fome,
sempre foi um bom aluno na escola etc., o MP concederá o perdão.

 Remissão-transação - Remissão com proposta de aplicação


imediata de medida sócio-educativa não privativa de liberdade.

        Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou


comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo
incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a
colocação em regime de semi-liberdade e a internação.

        Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá ser revista judicialmente,
a qualquer tempo, mediante pedido expresso do adolescente ou de seu representante
legal, ou do Ministério Público.

Em ambos os casos de remissão, dependerá de homologação judicial.


Se o juiz discordar da remissão, remeterá os autos ao Procurador Geral e este
decidirá a questão.

OBS.1: A remissão-transação depende de aceitação do adolescente ou


de seu responsável. Se for aceita, não significa admissão de culpa nem gera
maus antecedentes.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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246

OBS.2: Tal remissão pode ser revista a qualquer tempo a pedido do


adolescente, do seu representante legal ou do MP.

OBS.3: Se a remissão não for concedida pelo MP antes de iniciado o


processo, ela pode depois ser concedida durante o processo até sentença final
– art. 188 do ECA. Se o juiz conceder a remissão durante o processo, poderá
ele cumulá-la com medida sócio-educativa – entendimento do STJ, exceto a
medida de semi-liberdade e a de internação. Argumentos: há previsão
expressa no art. 127 do ECA; a remissão não significa reconhecimento de
responsabilidade pelo ato infracional – RE 248018 – STF – entendeu como
constitucional a segunda parte do art. 127 do ECA – “podendo incluir
eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a
colocação em regime de semi-liberdade e a internação” – não significa violação
ao devido processo legal e à ampla defesa. Só não pode a medida ser restritiva
de liberdade (por isso que não cabe a internação e a semi-liberdade).
  
D) Oferecer a representação
É o equivalente à denúncia no Processo Penal. Se o juiz a recebê-la,
iniciará a ação sócio-educativa contra o adolescente.
Significa a propositura de ação sócio-educativa contra o adolescente.
Pode ser apresentada de forma oral ou escrita.

Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Ministério Público não promover o
arquivamento ou conceder a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária,
propondo a instauração de procedimento para aplicação da medida sócio-educativa que
se afigurar a mais adequada.

        § 1º A representação será oferecida por petição, que conterá o breve resumo dos
fatos e a classificação do ato infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas,
podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária.

O ECA não prevê número máximo de testemunha a ser arrolada.


Entende-se que é o número de 8 testemunhas (aplicação subsidiária do
procedimento comum ordinário do CPP).

E) Recebimento da representação pelo juiz e designa audiência de


apresentação do adolescente
Mandará cientificar o adolescente e seus pais ou responsáveis,
notificando-os a comparecer com advogados. Na falta dos pais ou do
representante legal, o juiz nomeará um curador especial para acompanhar a
audiência. Tal audiência não pode ser realizada sem a presença do
adolescente (em nenhuma hipótese). Se este estiver desaparecido, o juiz
expedirá mandado de busca e apreensão do adolescente e suspende o
processo até que ele seja apresentado em juízo. Se o adolescente estiver
internado provisoriamente, o juiz manda requisitar a sua apresentação – art.
184 do ECA.

OBS.: Se a audiência de apresentação for feita na ausência dos pais


mas na presença de defensor técnico , não há nulidade – o defensor exerce

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
247

as duas funções: de defesa e de curador substituto dos pais ausentes –


entendimento jurisprudencial.

Na audiência de apresentação do adolescente ocorrerá: a oitiva do


adolescente e de seus pais ou responsáveis; solicitação de parecer de equipe
técnica, se for o caso; decisão sobre manter ou revogar a decisão da
internação provisória do adolescente (se estiver); concessão de remissão,
ouvindo-se o MP – art. 186 do ECA.
Súmula: 342 do STJ
No procedimento para aplicação de medida sócio-educativa, é nula a desistência de
outras provas em face da confissão do adolescente.

Assim, se na audiência de apresentação o adolescente confessar o ato


infracional, não poderá haver desistência de outras provas e encerramento
do procedimento com a aplicação da medida sócio-educativa – violação
do devido processo legal, contraditório e ampla defesa.

F) Audiência de apresentação
Poderá conceder a remissão.

G) Audiência de instrução e julgamento


No caso de não concedida a remissão – art. 186, §2º, do ECA

        § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de internação ou


colocação em regime de semi-liberdade, a autoridade judiciária, verificando que o
adolescente não possui advogado constituído, nomeará defensor, designando, desde
logo, audiência em continuação, podendo determinar a realização de diligências e
estudo do caso.

Tal “audiência em continuação” é a audiência de instrução e julgamento.


Se o adolescente não tiver advogado, o juiz só é obrigado a lhe nomear
um se o ato infracional puder resultar numa medida de internação ou semi-
liberdade – não se aplica. Motivos:

        Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda
que ausente ou foragido, será processado sem defensor.

A falta de defesa técnica na ação sócio-educativa enseja nulidade


absoluta.

Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias:

        III - defesa técnica por advogado

H) Defesa prévia
Era. 186, §3º, do ECA

I) Audiência de instrução e julgamento

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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248

Serão ouvidas testemunhas de acusação e defesa nesta ordem


(inversão da ordem – nulidade absoluta)
Debates de 20 minutos cada parte, prorrogáveis por mais 10 minutos, a
critério do juiz.
Por fim, o juiz prolata a sentença – art. 186, §4º, do ECA.

        § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na


representação e na defesa prévia, cumpridas as diligências e juntado o relatório da
equipe interprofissional, será dada a palavra ao representante do Ministério Público e ao
defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por
mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão.

Tal sentença pode ser uma sentença de improcedência da


representação (de caráter absolutório – e não uma sentença absolutória) ou de
procedência (de caráter condenatório – e não uma sentença condenatória).
A sentença de improcedência será proferida de acordo com os casos do
art. 189 do ECA

Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer medida, desde que reconheça na
sentença:

        I - estar provada a inexistência do fato;

        II - não haver prova da existência do fato;

        III - não constituir o fato ato infracional;

        IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional.

        Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o adolescente internado, será
imediatamente colocado em liberdade.

Se for uma sentença de procedência, o juiz poderá aplicar medidas


sócio-educativas e/ou medidas de proteção.

20.5) MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS

20.5.1) Advertência – art. 112, I, c.c. art. 115 do ECA


Trata-se de uma admoestação verbal, reduzia a termo e assinada.
Para aplicação dessa medidas bastam indícios de autoria e materialidade.

20.5.2) Obrigação de reparar o dano – art. 112, II, c.c. art. 116 do
ECA
É aplicada nos casos de atos com reflexos patrimoniais, ex.: furto.
Consiste na restituição da coisa, ressarcimento do dano ou qualquer outra
forma de compensação do prejuízo.

20.5.3) Prestação de serviços à comunidade – art. 112, III, c.c. art.


117 do ECA
Prazo máximo: 6 meses. Consiste em tarefas gratuitas em escolas,
hospitais, entidades assistenciais etc.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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Jornada máxima de 8 horas semanais de forma que não prejudique a


freqüência no trabalho e/ou na escola.

20.5.4) Liberdade assistida – art. 112, IV, c.c. art. 118 e 119 do ECA
É decretada pelo prazo mínimo de 6 meses, podendo ser revogada,
prorrogada ou substituída por outra. O juiz deverá aplicar tal medida quando o
menor necessitar de acompanhamento, auxílio ou orientação.
Nesse caso, o juiz designará um orientador para acompanhar o
cumprimento da medida.

20.5.5) Regime de semi-liberdade – art. 112, V, c.c.art. 120 do ECA


A internação deve ser feita em estabelecimento adequado às condições
do menor. Não pode ser em estabelecimento prisional ainda que separado dos
maiores. Terá atividades externas e freqüência obrigatória à escola.
Ou seja, parte do dia ele permanece internado e na outra parte freqüenta
a escola e pratica atividades externas.
Pode ser aplicada como medida inicial, desde que a decisão seja
fundamentada, ou pode ser aplicada como medida de transição de outra mais
grave, tendo em vista o princípio da excepcionalidade da restrição à
liberdade do menor – STJ.
É decretada por tempo indeterminado. Não poderá durar, todavia,
mais do que 3 anos.

20.5.6) Internação em estabelecimento educacional – art. 112, VI,


c.c. art. 121 a 123 do ECA
Só pode ser aplicada se ocorrer uma das 3 hipóteses taxativas do art.
122 do ECA

        Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:

        I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a


pessoa;

        II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves – Para o STJ,


“reiteração” é, no mínimo, a prática de 3 atos infracionais

        III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

   
Fora dessas 3 hipóteses, não poder aplica internação, por mais grave
que seja o ato infracional. Ex.: O menor foi pego transportando drogas em
grande quantidade para outro país; fez isso apenas uma vez na vida – não
pode ser aplicada a internação – só poderia ser internado se tivesse praticado
tal conduta 3 vezes, no mínimo.
Assim, a gravidade do ato infracional, por si só, não autoriza a
medida de internação.

O prazo máximo de internação é de no máximo 3 anos, exceto na


hipótese do art. 122, III, cujo prazo máximo será de 3 meses.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
250

No caso de concurso de atos infracionais, o prazo máximo de


internação é contado para cada ato infracional isoladamente – STJ – HC
99565/RJ – 07.05.2009. Ex.: 3 atos infracionais cometidos  poderá ficar até 9
anos internado.

A medida expira-se automaticamente quando o infrator praticar 21


anos, ou seja, ocorre a desinternação automática e obrigatória.

20.5.7) Medidas de proteção


Exceto as do art. 101, VII e VIII, do ECA.

OBS.: Quem pode aplicar medida sócio-educativa? R.: Só o juiz pode


aplicar medida sócio-educativa – súmula 108 do STJ
Súmula: 108 do STJ
A APLICAÇÃO DE MEDIDAS SOCIO-EDUCATIVAS AO ADOLESCENTE, PELA PRATICA
DE ATO INFRACIONAL, E DA COMPETENCIA EXCLUSIVA DO JUIZ.

20.6) MEDIDA CAUTELAR DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA


Tal medida está prevista no art. 108 do ECA. Não é internação como
medida sócio-educativa, e sim como medida cautelar.

Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de
quarenta e cinco dias.

        Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios


suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.

Em nenhuma hipótese tal internação pode ultrapassar 45 dias –


jurisprudência pacífica do STJ e STF. Assim, não é como ocorre como a prisão
preventiva ou em flagrante.

20.7) PRESCRIÇÃO DE ATO INFRACIONAL


O ECA não possui regras sobre ato infracional, mas eles prescrevem,
aplicando-se por analogia o Código Penal – súmula 338 do STJ

Súmula: 338 do STJ


A prescrição penal é aplicável nas medidas sócio-educativas.

A prescrição da pretensão punitiva (leia-se: “prescrição para processar a


medida sócio-educativa”) é calculada com base na pena máxima cominada
ao crime ou à contravenção penal ao qual corresponde o ato infracional.
A prescrição da pretensão executória (prazo para executar a medida
sócio-educativa) dependerá da medida aplicada:
 Se a medida for aplicada por prazo indeterminado  prescreve
em 3 anos (prazo máximo da internação);
 Se a medida for aplicada por prazo determinado  prescreve
segundo os prazos do art. 109 do CP, tendo em vista o prazo
aplicado.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
251

Tanto o prazo da PPP como da PPE são reduzidos pela metade, pois
o infrator sempre terá menos de 21 anos na data do fato – art. 115 do CP.

        Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era,
ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70
(setenta) anos.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Toda esta matéria de prescrição arrolada acima é jurisprudência pacífica


do STF e STJ.

20.8) CRIMES CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE


Arts. 225 e seguintes do ECA.

Todos os crimes do ECA são de ação penal pública incondicionada –


art. 227 do ECA.

20.8.1) Art. 230 do ECA

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua


apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da
autoridade judiciária competente:

        Pena - detenção de seis meses a dois anos.

        Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem
observância das formalidades legais.

Trata-se da regra do art. 106 do ECA já visto. Apreender o adolescente


fora dessas hipóteses do art. 106, trata-se de ilegalidade.

Conduta: Privar da liberdade mediante apreensão ilegal (ou seja, sem


flagrante de ato infracional e sem ordem judicial).
Se a finalidade por privar a liberdade da criança por outro motivo, haverá
outros crimes, ex: para exigir resgate – extorsão mediante seqüestro.

Sujeitos do crime: sujeito ativo é qualquer pessoa; sujeito passivo: C&Ad


(sempre será em todos os crimes – por isso que não será mais analisados nos
próximos crimes).

Elemento subjetivo: é o dolo. Não se pune a forma culposa.

Objeto jurídico: é a liberdade de locomoção da C&Ad.

Consumação e tentativa: a consumação se dará com a simples privação


da liberdade da vítima. A tentativa é perfeitamente possível.

20.8.2) Art. 231 da lei

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
252

Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou


adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à
família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:

        Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Aqui a apreensão é legal, mas a autoridade é punida por não avisar ao


juiz ou à família.

Conduta: Deixar de comunicar – crime omisso próprio.


Consuma-se com a simples omissão. Não é permitido a tentativa.

O atraso à comunicação ao juiz ou à família, sem justa causa


caracterizará o crime. Imediata, leia-se: “no primeiro momento possível”.
Deve avisar o juiz (deve ser o competente – da vara da infância e da
juventude); deve avisar a família ou pessoa indicada pelo o ofendido – duplo
dever de comunicação. Assim, a falta de uma dessas comunicações,
caracterizará o crime.

OBS.: Se o Delegado, propositalmente, comunica autoridade


incompetente para retardar o controle judicial da apreensão, estará
cometendo também o crime – ele não está comunicando a autoridade
competente.

Sujeito ativo: a autoridade policial – crime próprio. E se os policiais


procederem a apreensão ilegal do menor, pratica o crime do art. 230.

Tipo subjetivo: apenas o dolo. Se por esquecimento o Delegado se


esquece de fazer tais comunicações não responderá pelo o art. 231.

Bem jurídico: a proteção à liberdade de locomoção da vítima.

20.8.3) Art. 233 da lei

        Art. 233. (Revogado pela Lei nº 9.455, de 7.4.1997:

Punia a tortura contra a C&Ad. Hoje, configura o crime do art. 1º, §4º, II,
da Lei 9455/97 – Lei de tortura – tortura agravada.

20.8.4) Art. 237 da lei

        Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda
em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto:

        Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.

Tipo objetivo: a conduta é subtrair – retirar a criança do responsável sem


a autorização ou conhecimento dele.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
253

Elemento normativo: Só há o crime se o responsável tem a guarda legal


ou judicial da C&Ad. Significa que, se o responsável tem apenas a guarda de
fato da C&Ad, não há este crime.
Elemento subjetivo: dolo. Elemento especial do tipo – com o fim de por
o menor em lar substituto.

Comparação com o crime de subtração de incapazes do art. 249 do CP:

Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua
guarda em virtude de lei ou de ordem judicial:

        Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de
outro crime.

§ 1º - O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito não o exime
de pena, se destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou
guarda.

        § 2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-


tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar pena.

A diferença é somente o dolo. No ECA há a finalidade específica de


por o menor em lar substituto. No CP o dolo do agente é apenas o de
subtrair o menor do responsável que o tem sob guarda legal ou judicial –
o agente não quer por o menor em lar substituto.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive o pai ou mãe destituído do


poder familiar ou o tutor privado da tutela. Sujeito passivo: A C&Ad e o
responsável que teve a criança subtraída da sua guarda – crime de dupla
subjetividade passiva.
Objeto jurídico: é o direito do menor de ficar sob os cuidados de quem
tem a sua guarda legal ou judicial.

Consumação e tentativa: com a subtração da C&Ad com a colocação no


lar substituto – crime material. Cabível a tentativa.

OBS.: No crime de subtração de incapazes do CP é cabível o perdão


judicial se o menor for restituído aos seus responsáveis, desde que não tenha
sofrido maus tratos ou privações. Tal perdão judicial não está prevista no art.
237 do ECA, nem é cabível a aplicação analógica.

20.8.5) Art. 239 da lei

        Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou
adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
obter lucro:

        Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
254

        Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude: (Incluído


pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)

        Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.

       Condutas:
promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de
C&Ad para o exterior. Deve existir a inobservância das formalidades legais
(envio irregular – não se exige finalidade de lucro) ou com a finalidade de
obter lucro (envio mercenário). Ex. da 1ª hipótese: envio da criança para o
estrangeiro para adoção ilegal (é cabível a adoção por estrangeiro desde que
obedecidas as regras previstas no ECA). Ex. da 2ª hipótese: Venda da criança
ao estrangeiro.

Qualificadoras: se a conduta for praticada quando houver o emprego de


violência, fraude ou grave ameaça – parágrafo único. OBS.1: Tal violência,
grave ameaça ou fraude pode ser exercida contra a própria C&Ad ou contra
terceiras pessoas. Ex.: violência contra o fiscal do aeroporto. OBS.2: Foi
acrescentada pela lei 10764 de 2003, assim, tal qualificadora é irretroativa.
OBS.3: No caso de violência, o infrator também responderá pelos crimes
correspondentes à violência – concurso material obrigatório ou necessário
(art. 239, parágrafo único c.c. art. 129 do CP, por ex.).
Elemento subjetivo: é o dolo.
Objeto jurídico: proteção da C&Ad bem como a proteção à sua família.
Consumação e tentativa: a consumação se dá com a mera prática do ato
destinado ao envio da C&Ad ao exterior – crime formal. Ex.: fazer passaporte
para a criança, comprar passagens aéreas, etc. – tudo isso já configura o crime
consumado. A doutrina entende que é cabível a tentativa quando o crime é
plurissubsistente.
Competência: Da Justiça Federal.

OBS.: Este crime revogou o art. 254, §2º, do CP

20.8.6) Art. 240 da lei

Art. 240.  Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer
meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: 
(Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.  (Redação dada pela Lei nº
11.829, de 2008)

§ 1o  Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de
qualquer modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas
referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.  (Redação
dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

§ 2o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime:  (Redação
dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la;  (Redação


dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
255

II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade;


ou  (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

III – prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo ou afim até o


terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou
de quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu
consentimento.  (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)       

ART. 240 ANTES DA REFORMA DE 2008 ART. 240 DEPOIS DA REFORMA DE 2008
Condutas: produzir ou dirigir Condutas: produzir, reproduzir, dirigir, fotografar,
filmar ou registrar por qualquer meio.
Objeto material: representação teatral televisiva, Objeto material: cena de sexo explícito (quando há
cinematográfica, atividade fotográfica ou de contato físico) ou cena pornográfica (quando não
qualquer outro meio visual, utilizando-se de C&Ad há contato físico). Tais conceitos estão no art. 241-
em cena pornográfica, cena de sexo explícito ou E do ECA – norma penal explicativa
cena vexatória.
 Art. 241-E.  Para efeito dos crimes previstos nesta
Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica”
compreende qualquer situação que envolva criança ou
adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou
simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma
criança ou adolescente para fins primordialmente
sexuais. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

A nova redação não menciona mais “cena


vexatória”.
Pena: reclusão de 2 a 6 anos e multa Pena: reclusão de 4 a 8 anos e multa – pena
irretroativa.
Figura equiparada: havia apenas uma: nas Figura equiparada: houve um aumento de
mesmas penas incorre quem contracenar coma condutas puníveis
vitima.
§ 1o  Incorre nas mesmas penas quem agencia,
facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo
intermedeia a participação de criança ou adolescente
nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda
quem com esses contracena.  (Redação dada pela
Lei nº 11.829, de 2008)

Formas qualificadas: se o crime era praticado no Tais qualificadoras viraram causas de aumento de
exercício de cargo ou função ou com a finalidade pena:
de obter vantagem patrimonial.
§ 2o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o
agente comete o crime:  (Redação dada pela Lei nº
11.829, de 2008)

I – no exercício de cargo ou função pública ou a


pretexto de exercê-la;  (Redação dada pela Lei nº
11.829, de 2008)

II – prevalecendo-se de relações domésticas, de


coabitação ou de hospitalidade; ou  (Redação dada
pela Lei nº 11.829, de 2008)

III – prevalecendo-se de relações de parentesco


consangüíneo ou afim até o terceiro grau, ou por
adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da
vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha
autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. 
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)       

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
256

Sujeitos do crime: qualquer pessoa.


Elemento subjetivo: É o dolo. Não se exige nenhuma finalidade de lucro.
Antes da alteração, a finalidade de lucro era qualificadora do crime. Hoje não.
Objeto jurídico: proteção à formação moral da C&Ad. Há quem diga que
seja a formação moral coletiva, pois todos são atingidos por ver tais cenas.
Consumação e tentativa: consuma-se com a prática de qualquer das
condutas do tipo penal – crime formal e de perigo abstrato. A tentativa é
perfeitamente possível.
Concurso de crimes: pode ocorrer o concurso formal com os crimes
sexuais do CP, ex.: estupro.

20.8.7) Art. 241 da lei


(pegar resto do material depois)

17.07.2009 – SILVIO MACIEL

21) CRIMES ELEITORAIS


A maioria dos crimes eleitorais estão previstos no Código Eleitoral, mas
há crimes em legislações esparsas.

21.1) CONCEITO
Crimes eleitorais são todas as violações das normas que disciplinam as
diversas fases e operações eleitorais e que tem por objeto jurídico proteger a
liberdade de exercício do direito de sufrágio bem como a regularidade e lisura
do processo eleitoral e que sejam tipificadas na legislação eleitoral.
Tendo em base este conceito, há 3 características dos crimes eleitorais:
 Finalidade eleitoral;
 Viola um bem jurídico eleitoral;
 Está tipificado na legislação eleitoral.

“Se a ação do agente for manifestamente com o escopo eleitoral,


eleitoral será o crime; caso contrário, o crime será comum” – JOSÉ JOEL
CÂNDIDO.

“Crime eleitoral consiste em todo fato descrito como típico da legislação pertinente,
que atenta contra bens jurídicos dessa natureza” – STJ CC 81711/RS – 16.02.09.

21.1.1) Crimes eleitorais específicos ou puros e crimes eleitorais


acidentais
Esta divisão é de NELSON HUNGRIA, adotada por toda a doutrina
eleitoral.
Crimes eleitorais específicos ou puros são os que só podem ser
praticados na órbita eleitoral, ex.: art. 289 do CE – inscrever-se
fraudulentamente como eleitor. Crimes eleitorais acidentais estão previstos na
legislação eleitoral e também na legislação comum (não eleitoral),
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
257

caracterizando-se como crimes eleitorais quando praticados com propósitos


eleitorais, exs.: art. 324 a 326 do CE – crimes contra a honra eleitoral (calúnia,
difamação e injúria).

21.2) CRIMES DA LEI 9504/97 – LEI DAS ELEIÇÕES


Esta lei estabelece normas para as eleições. Antes dessa lei era feito
uma lei para cada eleição. Esta lei regulamenta todas as eleições, não apenas
uma eleição determinada (como era no passado).
Esta lei possui crimes eleitorais ao longo do seu texto. Ela revogou
expressamente diversos crimes do Código Eleitoral.

21.2.1) Crime de pesquisa fraudulenta – art. 33, §4º


A pesquisa eleitoral foi regulamentada no art. 33, mas o crime se
encontra no seu §4º.

§4º. A divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime punível com detenção de 6


meses a um ano e multa...

Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive quem não tenha
participado ou elaborado da pesquisa, pois o núcleo do tipo é divulgar a
pesquisa fraudulenta. Sujeito passivo é o eleitorado (possui direito a uma
informação eleitoral verdadeira) e o candidato ou partido eventualmente
prejudicado pela falsa pesquisa – crime de dupla subjetividade passiva. No
art. 35 indica como sujeito ativo também o representante legal da empresa ou
entidade que fez a pesquisa e que a veiculou (este só pode ser punido se agiu
com dolo – se tinha noção de que se tratava de uma pesquisa fraudulenta). Se
ele for incluído na denuncia apenas por ser representante da empresa, ter-se-á
a denúncia genérica – inadmissível, no momento, pelo STF, por não
descrever a conduta criminosa do representante legal, impedindo o exercício
da ampla defesa.

Tipo objetivo – a conduta é divulgar (tornar pública). JJCÂNDIDO


entende que só caracteriza o crime se a divulgação for ampla a todo o eleitoral
ou à parte considerada dele. Se for para um número restrito, não afetará o
resultado das eleições. A conduta pode ocorrer por qualquer meio de
comunicação (comício, imprensa, e-mail etc.)
Objeto material do crime é a pesquisa fraudulenta na qual os dados
são adulterados ou manipulados. A fraude pode ser no método ou no resultado
da pesquisa. SUZANA DE CAMARGO GOMES (Desembargadora do TRF 3ª
Região) diz que a pesquisa fraudulenta inclui também a pesquisa inexistente.
Elemento subjetivo é o dolo (vontade de divulgar a pesquisa sabendo-a
fraudulenta). A culpa não é elemento subjetivo – fato atípico.
Consumação e tentativa – a consumação se dá com a mera divulgação,
ainda que a pesquisa não cause resultado na eleição – crime formal ou de
consumação antecipada. A tentativa é possível – não divulgação da
pesquisa por circunstâncias alheias à sua vontade.

OBS.: O art. 34, §1º garante aos partidos políticos fiscalizar como foi
feita a pesquisa. E neste artigo há outro crime visando o não-acesso dos
partidos políticos a tais dados. As condutas puníveis são retardar, impedir ou
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
258

dificultar à ação fiscalizadora dos partidos sobre as pesquisas eleitorais. A


“ação fiscalizadora” dos partidos compreende todos os atos previstos no §1º.

21.2.2) Realização de propaganda eleitoral no dia da eleição e crime


de “boca de urna” – art. 39, §5º, I a III
Foi alterado pela lei 11300/06.

Sujeito ativo é qualquer pessoa. Sujeito passivo é o Estado e os


eleitores.
Objeto jurídico – é a normalidade dos trabalhos eleitorais no dia da
eleição (JJCÂNDIDO chama de ordem pública eleitoral) e a liberdade do
eleitoral de votar livremente, sem influência ou constrangimentos.
Tipo objetivo –
I- Usar alto falantes, amplificadores de som, realizar comícios ou
carreatas. O tipo penal fala em “carreatas”, e a passeata? R.: Se
for realizada com aparelhos sonoros, também configura o
crime. JJCÂNDIDO diz que o horário de proibição não é só o
horário de votação, mas sim durante todo o dia da eleição, pois o
tipo penal resguarda também a tranqüilidade dos eleitores e a
ordem pública eleitoral (e não só a normalidade dos trabalhos
eleitorais). OBS.: O TRE do PR entendeu atípica a conduta de
espalhar panfletos durante a madrugada quando os eleitores
estavam dormindo e as sessões eleitorais fechadas.
II- Arregimentar eleitor ou fazer propaganda de boca de urna –
“arregimentar” é conseguir eleitores no dia da eleição. Tal conduta
pode ser por fraude, coação, violência etc. “Fazer propaganda e
boca de urna” consiste fazer propaganda nas proximidades das
sessões eleitorais. OBS.: O cidadão que vai votar usando
camisetas e broches do candidato pratica crime? R.: Não. As
resoluções do TSE n. 20106/98 e 14708/94 dizem que não
caracteriza o crime do art. 39, §5º, II da lei 9504/97 a
manifestação individual e silenciosa de preferência do cidadão por
partido, coligação ou candidato, incluída a que esteja no próprio
vestuário ou se expresse no porte de bandeira ou utilização de
adesivos em veículos ou objetos de que tenha a posse;
III- Divulgação de qualquer espécie de propaganda de partidos
políticos ou de seus candidatos mediante publicações, cartazes,
camisas, broches – a lei pune a propaganda nos dia das eleições
por meio de publicação, cartazes, bonés, vestuário etc.

Local desses crimes: exceto a boca de urna, os incisos de I e III, o crime


pode ocorrer em qualquer local e não só nas proximidades das sessões
eleitorais porque o tipo penal não contém esta elementar.
Momento do crime: estes crimes só podem ocorrer no dia da eleição.
Antes o crime poderia ocorrer desde a escolha dos candidatos na convenção
partidária ou fora dos horários e períodos previstos na legislação eleitoral –
hoje não mais vigora assim.
Tipo subjetivo – é o dolo (nos 3 incisos).

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
259

Consumação e tentativa- a consumação se dá com a prática de qualquer


das condutas de I a III, ainda que não resulte prejuízo ou favorecimento a
determinado candidato ou partido – crime formal. A tentativa é possível nos 3
incisos.

21.2.3) Utilização de símbolos, frases ou imagens de entes públicos


na propaganda eleitoral ou que lhe sejam assemelhados – art. 40

Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Sujeito passivo é o Estado e o


eleitorado.
O objeto material são frases ou imagens (ex.: slogan de governos,
logotipo de governo) utilizadas por órgãos de governos, empresa pública ou
sociedade de economia mista ou semelhantes às utilizadas pelas entidades
mencionadas acima.
Tipo objetivo - A lei pune a utilização na propaganda eleitoral de tais
símbolos, induzindo os eleitores que ele está associado ao poder
governamental. O uso deve ser feito durante a propaganda eleitoral.
Consumação e tentativa – trata-se de crime formal – a mera utilização
do slogan ou símbolo mesmo que não induza o eleitoral. A tentativa é possível
quando o infrator não consegue fazer o uso da frase ou imagem.

OBS.: JJCÂNDIDO entende que este crime só se caracteriza se houver


uma propaganda de grande escala, maciça, amplamente divulgada. As
condutas individuais são incapazes de induzir o eleitor a associar o candidato
ao poder governamental.

21.3) CRIME DA LEI COMPLEMENTAR 64/90


Está previsto no art. 25 da Lei. O crime se chama: argüição de
inelegibilidade ou impugnação de candidatura temerária ou de má-fé.

Art. 25. Constitui crime eleitoral, a argüição de inelegibilidade ou a impugnação de


registro de candidato feito por interferência do poder econômico, desvio ou abuso do poder de
autoridade, deduzida de forma temerária ou de manifesta má-fé

Pena – detenção de 5 meses a 2 anos e multa.

Sujeito ativo – qualquer pessoa. Sujeito passivo – o pré-candidato. Na


segunda conduta, o pedido de candidatura já foi deferido (a pessoa já foi
registrada nas eleições) e o infrator impugna o registro, argumentando que o
candidato não preenche os requisitos para concorrer às eleições.

Art. 3º da LC. Caberá a qualquer candidato, partido político, coligação ou ao MP, no


prazo de 5 dias, contados da publicação do pedido de registro do candidato, impugná-lo em
petição fundamentada

É um direito das pessoas acima impugnar a candidatura quando


necessário; o que é crime é impugnar por abuso de poder econômico, por
desvio ou abuso de poder de autoridade, de forma temerária ou por manifesta
má-fé. Nestas hipóteses, a intenção do infrator não é impugnar a candidatura
exigindo o cumprimento das normas constitucionais, mas sim impedir
ilegalmente que alguém se torne candidato ou mantenha-se candidato ou
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
vários
260

retarde os trabalhos eleitorais com o incidente eleitoral instaurado sem


fundamento.
Tipo objetivo – impugnar ou argüir o registro, sem elemento fático ou
probatório, a que demonstre a inelegibilidade de candidato ou pré-candidato.
Tipo subjetivo – é o dolo. A doutrina diz que na “forma temerária” o
elemento subjetivo é o dolo eventual, e não a culpa (SUZANA DE CAMARGO
GOMES).

OBS.: Na lei 7492/86 – crimes contra o SFN – há o crime de gestão


temerária. A elementar “temerária” é a mesma prevista acima; logo, quanto ao
crime de gestão temerária, a doutrina e a jurisprudência entendem que o
elemento subjetivo é o dolo eventual. Recentemente, o Ministro MARCO
AURÉLIO do STF entendeu que o crime de gestão temerária admite a forma
culposa.
Consumação e tentativa – A consumação se dá no momento em que a
impugnação é apresentada na Justiça Eleitoral a argüição ou a impugnação. A
tentativa é possível.

21.4) CRIMES PREVISTOS NO CÓDIGO ELEITORAL – LEI 4737/65


O CE tem uma parte geral que está entre os artigos 283 a 288, que trata
de disposições gerais penais, e uma parte que trata dos crimes em espécies
que está entre os artigos 289 e seguintes.

21.4.1) Disposições gerais penais

A) Art. 283 – conceito de funcionário público eleitoral para fins penais


 Os juízes eleitorais (designados pelo TRE como titulares de seção
eleitoral ou qualquer outro juiz que esteja exercendo uma função
eleitoral específica eleitoral por designação do TRE ou até do
TSE);
 Os cidadãos que temporariamente integram órgãos da Justiça
Eleitoral;
 Os cidadãos que hajam sido nomeados para as mesas receptoras
ou juntas apuradoras;
 Considera-se funcionário público para os efeitos penais, além dos
indicados no presente artigo, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração exerce cargo, emprego ou função pública (§1º)
– é o mesmo conceito previsto no art. 327 do CP. É qualquer
pessoa que exerça função pública, pertença ou não à
Administração Pública, ainda que a exerça de forma gratuita;
 Funcionários por equiparação – quem exerce cargo, emprego ou
função em entidade paraestatal ou em sociedade de economia
mista.

B) Art. 284 – Pena mínima do crime eleitoral quando não cominada no


tipo penal
Ex.: art. 349 – falsificar no todo ou em parte, documento particular ou
alterar documento particular verdadeiro para fins eleitorais – pena de reclusão
até 5 anos (e o mínimo?)
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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261

Art. 284. Sempre que este Código não indiciar o grau mínimo, entende-se que será ele
de 15 dias para pena de detenção e de 1 ano para a de reclusão.

Quando o tipo penal não cominar a pena mínima, ela será de 15 dias,
se detenção, ou de 1 ano, se reclusão.
Ou a pena mínima está no próprio tipo incriminador, ou está no art. 284
do CE.

C) Art. 285 - Causas de aumento ou diminuição de pena

As causas de diminuição ou aumento de pena, quando não tiverem seus


patamares no próprio tipo penal, serão fixados entre 1/5 e 1/3 e não podem
passar do dos limites da pena cominado ao crime.

D) Art. 286 – Fixação da pena de multa


Os tipos penais incriminadores já preveem a quantidade de dias-multa
para o crime, ex.: o art. 289 prevê de 15 a 30 dias-multa. Cada dia-multa não
pode ser inferior a um salário mínimo regional, nem superior a um salário
mínimo nacional. Como atualmente não existe mais salário mínimo regional (o
salário mínimo é o mesmo em todo país), conclui-se que o dia-multa equivale a
um salário mínimo. O juiz deve considerar o salário mínimo vigente na data do
crime e não na data da condenação, com atualização monetária desde a data
do crime – posição do STJ. O juiz poderá triplicar a multa máxima cominada no
tipo penal se ela for ineficaz em virtude da situação econômica do condenado,
desde que esse aumento não ultrapasse os 300 dias-multa previstos no caput
do art. 286 do CE.

E) Art. 287 – Aplicação subsidiária do Código Penal ao Código Eleitoral


Leia:se – no que o CE for omisso, aplica-se subsidiariamente as normas
do CP, ex.: normas de prescrição já que o CE não prevê normas sobre
prescrição – nesse sentido STF HC 84152/AM.

F) Art. 288 – Crimes eleitorais praticados por meio de imprensa


Este artigo diz que os crimes eleitorais praticados por meio de imprensa,
rádio ou televisão prevalecem sobre crimes semelhantes em outras leis. Ex.:
crimes de calúnia, difamação e injúria possuíam previsão no CP, CE e Lei de
Imprensa e CPM. Se um candidato praticasse calúnia com fins eleitorais contra
outro candidato no rádio da cidade, respondia pela calúnia prevista no Código
Eleitoral. A Lei de Imprensa foi declarada inteiramente não recepcionada
pelo STF na ADPF 130. Hoje, praticada injúria por meio de imprensa, sem fins
eleitorais e sem fins militares, aplicar-se-á o a injúria do CP.

21.4.2) Crimes eleitorais em espécie do Código Eleitoral

A) Art. 289 – inscrição fraudulenta de eleitor

Art. 289. Inscrever-se fraudulentamente eleitor

Pena. Reclusão até 5 anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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262

Sujeito ativo – qualquer pessoa, inclusive o eleitor já alistado quando


solicita a transferência do título (que já é eleitor). Sujeito passivo – é o Estado.
Objeto jurídico – é a licitude do alistamento eleitoral.
Tipo objetivo – a conduta é inscrever-se (que não é o mesmo que
“alistar-se”). A inscrição é uma fase do alistamento eleitoral. O alistamento
eleitoral está disciplinado nos arts. 42 a 61 do EC e consiste num complexo de
atos que pode ser dividido em duas grandes fases: 1ª) fase da entrega do
requerimento para ser eleitor com a apresentação dos documentos pertinentes;
2ª) fase de análise dos documentos e diligências necessárias com deferimento
ou indeferimento do pedido. Assim, a inscrição ocorre na 1ª fase do
alistamento eleitoral (quando há a entrega do requerimento para ser eleitor e
apresentação de documentos).
Elemento normativo do tipo está na expressão “fraudulentamente”. A
fraude pode ocorrer de diversas maneiras, ex. segundo FÁVILA RIBEIRO:
apresentação de documento falso ou adulterado. O estrangeiro que apresenta
documento falso dizendo ser brasileiro.

OBS.: Os menores de 16 anos não podem votar. O indivíduo de 15 anos


apresentando documento dizendo ter 16 anos praticará ato infracional.

A forma mais comum é apresentar falsa comprovação de domicílio, pois


o alistamento deve ocorrer no domicílio da pessoa.

OBS.: Domicilio para fins eleitorais, compreende não só o local onde a


pessoa reside, mas qualquer local onde ela possua um imóvel para uso
pessoal, ex.: casa de veraneio – pode se inscrever como eleitor lá. Se a
pessoa tiver várias residências em locais diferentes, poderá se inscrever em
qualquer uma. A jurisprudência é pacífica em dizer que o local da residência
deve ser considerado no momento da inscrição.

Quanto ao eleitor, o crime se consuma quando o sujeito solicita a


transferência do titulo eleitoral. Para a pessoa pedir a transferência do domicílio
eleitoral, deverá estar residindo no novo domicílio a pelo menos 3 meses. A
jurisprudência entende que não haverá crime se ele fizer a solicitação de
transferência antes dos 3 meses desde que ele realmente resida efetivamente
no local (continua...)

21) LEI 7492/86 - CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO


NACIONAL
LEI DOS CRIMES DO “COLARINHO BRANCO”: Visa punir o criminoso com poder
econômico.
Conceito extra-penal de SFN: é a política financeira do Estado, ou seja, é política
monetária do governo. Refere-se ao emprego dos recursos econômicos disponíveis pelo Estado. O
SF stricto sensu refere-se às finanças públicas que são “a massa de dinheiro e crédito que o governo

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
263

federal e os órgãos a ele subordinados movimentam em um país”. O SFN estrutura a política


financeira do Estado.
Bem jurídico tutelado: embora a lei somente se refira a SFN (finanças públicas), a
proteção é mais ampla, em sentido lato, abrangendo o mercado financeiro, o mercado de capitais e,
ainda, os seguros, consórcios, atividades de câmbio, de capitalização, poupança, que se situam no
âmbito do direito econômico, e não do direito financeiro.
Em suma, o bem jurídico tutelado é dividido em:
- principal: o sistema financeiro nacional “lato sensu” (SFN), incluindo a organização do
mercado; a regularidade do mercado, a confiança nele exigida e a segurança dos negócios.
- reflexos: ex: patrimônio dos investidores, Administração Pública, a fé pública, a
“saúde” econômica de uma instituição financeira.
ATENÇÃO: Esta lei somente é aplicada se quaisquer dos crimes envolverem instituição
financeira.
Art. 1º: conceito de instituição financeira:

        Art. 1º Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de direito
público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, a
captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros (Vetado) de terceiros, em moeda
nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou
administração de valores mobiliários.

        Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira:

        I - a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou
qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros;

        II - a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste artigo, ainda que de
forma eventual.

a) Pessoas jurídicas de direito público: ex: Conselho Monetário Nacional, BACEN, BB,
BNDES, CEF, CEEs.
b) Pessoas jurídicas de direito privado: ex: sociedades de financiamento e de
investimentos, sociedades de crédito imobiliário, fundos de investimento, cooperativas de crédito,
bolsa de valores.

As pessoas das letras a) e b) que tenham atividade principal ou acessória,


cumulativamente ou não (a atividade financeira não precisa ser nem principal e nem exclusiva) e que
tenham envolvimento com recursos financeiros de terceiros ou que façam emissão, distribuição,
negociação ou intermediação de valores mobiliários (títulos emitidos por S/A: ex: ações, debêntures
etc.) são consideradas instituições financeiras.

Conceito de instituição financeira por equiparação: art. 1º, § único, I e II:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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264

I – seguradoras, casas de câmbio, consórcios, empresas de capitalização e poupança e


qualquer outra instituição que faça a captação ou administração de recursos financeiros de terceiros;
II – pessoa física (natural) que exerça qualquer das atividades prevista no art. 1º, mesmo
que de forma eventual. A lei quis apanhar os denominados “fantasmas”, “laranjas”, “testas de ferro”
que representam os delinqüentes do colarinho branco. Nesse sentido, RE 20784 STJ.
IMPORTANTE: o art. 1º, da LC 105/01 traz o rol de instituições financeiras:

        Art. 1o As instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e
serviços prestados.

        § 1o São consideradas instituições financeiras, para os efeitos desta Lei Complementar:

        I – os bancos de qualquer espécie;

        II – distribuidoras de valores mobiliários;

        III – corretoras de câmbio e de valores mobiliários;

        IV – sociedades de crédito, financiamento e investimentos;

        V – sociedades de crédito imobiliário;

        VI – administradoras de cartões de crédito;

        VII – sociedades de arrendamento mercantil;

        VIII – administradoras de mercado de balcão organizado;

        IX – cooperativas de crédito;

        X – associações de poupança e empréstimo;

        XI – bolsas de valores e de mercadorias e futuros;

        XII – entidades de liquidação e compensação;

        XIII – outras sociedades que, em razão da natureza de suas operações, assim venham a ser
consideradas pelo Conselho Monetário Nacional.

        § 2o As empresas de fomento comercial ou factoring, para os efeitos desta Lei


Complementar, obedecerão às normas aplicáveis às instituições financeiras previstas no § 1o.

        § 3o Não constitui violação do dever de sigilo:

        I – a troca de informações entre instituições financeiras, para fins cadastrais, inclusive por
intermédio de centrais de risco, observadas as normas baixadas pelo Conselho Monetário Nacional e
pelo Banco Central do Brasil;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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265

        II - o fornecimento de informações constantes de cadastro de emitentes de cheques sem


provisão de fundos e de devedores inadimplentes, a entidades de proteção ao crédito, observadas as
normas baixadas pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Banco Central do Brasil;

        III – o fornecimento das informações de que trata o § 2o do art. 11 da Lei no 9.311, de 24 de
outubro de 1996;

        IV – a comunicação, às autoridades competentes, da prática de ilícitos penais ou


administrativos, abrangendo o         fornecimento de informações sobre operações que envolvam
recursos provenientes de qualquer prática criminosa;

        V – a revelação de informações sigilosas com o consentimento expresso dos interessados;

        VI – a prestação de informações nos termos e condições estabelecidos nos artigos 2 o, 3o, 4o, 5o,
6o, 7o e 9 desta Lei Complementar.

        § 4o A quebra de sigilo poderá ser decretada, quando necessária para apuração de ocorrência de
qualquer ilícito, em qualquer fase do inquérito ou do processo judicial, e especialmente nos seguintes
crimes:

        I – de terrorismo;

        II – de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;

        III – de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado a sua produção;

        IV – de extorsão mediante seqüestro;

        V – contra o sistema financeiro nacional;

        VI – contra a Administração Pública;

        VII – contra a ordem tributária e a previdência social;

        VIII – lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores;

        IX – praticado por organização criminosa.

ATENÇÃO: factoring é considerada instituição financeira (art. 1º, § 2º, LC 105/01).


Fundos de pensão ou entidades fechada de previdência são considerados instituições financeiras
pelo STF e STJ. Ex: PREVI.
CUIDADO: Não é instituição financeira: o Estado, quando emite títulos da dívida
pública e os coloca no mercado para arrecadar recursos para o Tesouro, não atua como instituição
financeira (STF);

CONFLITO APARENTE ENTRE O ART. 177, CP E LEI 7492/86:


As IFs devem ser constituídas sob a forma de S/A (art. 24, lei 4595/64).
O art. 177, CP: pune as S/A.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
266

Esse conflito é resolvido da seguinte maneira: se a S/A for, simultaneamente, instituição


financeira, aplica-se a lei 7492/86 (princípio da especialidade). Se a S/A não for instituição
financeira aplicar-se-á o art. 177, CP.
PARA MEMORIZAR: “Toda instituição financeira é uma S/A, mas nem toda S/A é uma
instituição financeira.”

Art. 25, lei 7492/86: a lei quis criar neste tipo penal a responsabilidade objetiva dos
gerentes, diretores de IF, mas foi vetada. Assim sendo, as pessoas enumeradas aqui somente serão
punidas a título de dolo (STJ RE 823056: gerente de banco pode cometer crime contra o sistema
financeiro):

Art. 25. São penalmente responsáveis, nos termos desta lei, o controlador e os administradores de
instituição financeira, assim considerados os diretores, gerentes (Vetado).

        § 1º Equiparam-se aos administradores de instituição financeira (Vetado) o interventor, o


liquidante ou o síndico.

        § 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou bando ou co-autoria (leia-se:
concurso de pessoas), o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à
autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa (delação premiada: neste caso terá que
contar tudo, e não apenas indicar os participantes) terá a sua pena reduzida de um a dois terços.
(Incluído pela Lei nº 9.080, de 19.7.1995)

ATENÇÃO: digitadores e operadores de processamento de dados não podem ser


responsabilizados por crime contra o sistema financeiro, segundo o STJ.
Nos crimes em que os sujeitos ativos devem ser os previsto no art. 25, o tipo penal admite
a participação (concurso) de terceiros estranhos à função de gerente, administrador de instituição
financeira (comunicação das condições pessoais do agente: aplicação do art. 30, CP: STF HC 84238;
STJ REsp 575684).
Responsabilidade penal objetiva e denúncias genéricas: as pessoas do art. 25 não podem
ser denunciadas por crimes contra o SFN pela simples condição de ser diretor ou gerente da IF. Se a
denúncia não indicar, minimamente, qual a relação entre a conduta do gerente ou administrador e o
crime, esta denúncia é genérica, sendo inepta por contrariar o contraditório e ampla defesa. STF HC
83947: Celso de Melo e STJ RHC 19219.

CUIDADO: VAI CAIR EM PROVA: Denúncia geral (NARRA o fato criminoso com
todas as suas circunstâncias e o imputa, simultaneamente, a várias pessoas indicando que essa
conduta descrita foi praticada por todos os denunciados) versus denúncia genérica (IMPUTA,
genericamente, o crime a um acusado apenas em razão da sua condição, como por exemplo, diretor,
administrador, gerente etc., sem indicar o mínimo vínculo entre o acusado e o crime; sem descrever
qual foi o fato criminoso praticado pelo acusado: STF HC 85579).

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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267

Art. 26: corrente minoritária diz que todo e qualquer crime contra o SFN é de
competência da justiça federal independentemente do bem jurídico violado. Para corrente
majoritária, a competência é da justiça federal somente quando atingirem bens, serviços ou
interesses da União em geral. Nesse sentido, STJ HC 26288 e CC 85558:

        Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo Ministério Público
Federal, perante a Justiça Federal.

        Parágrafo único. Sem prejuízo do disposto no art. 268 do Código de Processo Penal, aprovado
pelo Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, será admitida a assistência da Comissão de
Valores Mobiliários - CVM, quando o crime tiver sido praticado no âmbito de atividade sujeita à
disciplina e à fiscalização dessa Autarquia, e do Banco Central do Brasil quando, fora daquela
hipótese, houver sido cometido na órbita de atividade sujeita à sua disciplina e fiscalização.

Exceção: os crimes contra o SFN serão de competência da justiça estadual quando não
causarem lesão a bens, serviços e interesses da União. Nesse sentido: STJ CC 87450 e CC 76333 e
STF RE 502915.
Alguns Estados criaram varas especializadas em crimes contra o SFN e o STF já decidiu
que é constitucional, dizendo, ainda, que têm competência absoluta em razão da matéria, pois os
tribunais podem criar especialização de varas no âmbito de organização judiciária local.
Caso Banestado - PR (contas CC5): em regra, a competência é do local da ocorrência
do delito, mas neste caso, em que era muito o número de investigados que residiam em diversos
locais diferentes, o STF e STJ decidiram, excepcionalmente, que a competência seja determinada
pelo domicílio ou residência do réu (princípio da celeridade processual).

Art. 30: é inconstitucional, pois a magnitude da lesão causada não é fundamento


suficiente para a decretação da prisão preventiva em razão o princípio da presunção de inocência.
Porém, a prisão preventiva poderá ser decretada em razão da magnitude da lesão desde que,
juntamente, exista algum requisito da prisão preventiva (STF HC 95009: caso Daniel Dantas):

        Art. 30. Sem prejuízo do disposto no art. 312 do Código de Processo Penal, aprovado pelo
Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, a prisão preventiva do acusado da prática de crime
previsto nesta lei poderá ser decretada em razão da magnitude da lesão causada (VETADO).

Art. 31: é um art. inútil, segundo a doutrina, pois se há motivos para a prisão preventiva
não existe fiança: ATENÇÃO: tomar cuidado, porque nas provas CESPE o examinador apenas
coloca o enunciado até o grifado em amarelo, tornando o enunciado errado:

Art. 31. Nos crimes previstos nesta lei e punidos com pena de reclusão, o réu não poderá
prestar fiança, nem apelar antes de ser recolhido à prisão, ainda que primário e de bons
antecedentes, se estiver configurada situação que autoriza a prisão preventiva.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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268

CRIMES:
Art. 3º:

Art. 3º Divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição financeira:

        Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa;


Sujeito passivo: o Estado, a IF prejudicada e os investidores;
Tipo objetivo: “divulgar” (propalar para mais de uma pessoa, dar publicidade). O crime
só existe se a informação for falsa ou incompleta. Se for verdadeira e completa não há o crime, ainda
que prejudique a IF. A informação deve ter potencialidade lesiva, ou seja, capacidade de gerar
prejuízos à IF;
Tipo subjetivo: dolo genérico de divulgar, não exigindo finalidade específica.
Consumação e tentativa: é crime formal ou de mera conduta, ou seja, se consuma com a
simples divulgação da informação capaz de gerar prejuízos, ainda que não cause.
A tentativa é possível na forma plurissubsistente (ex: por escrito), e jamais na forma
unissubsistente.
Distinção de crimes:
-se a divulgação tiver por finalidade levar devedor em recuperação judicial à falência ou
se for com objetivo de obter vantagem com a empresa devedora, haverá crime falimentar do art. 170,
lei 11.101/05, desde que não seja IF:

Art. 170. Divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação falsa sobre devedor em recuperação
judicial, com o fim de levá-lo à falência ou de obter vantagem:

        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

-se a informação falsa for sobre S/A que não seja IF, o crime será do art. 177, CP:

Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação
ao público ou à assembléia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando
fraudulentamente fato a ela relativo:

        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia
popular.

Art. 4º, “caput”: É O DELITO MAIS IMPORTANTE DA LEI: trata do delito de gestão
fraudulenta:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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269

        Art. 4º Gerir fraudulentamente instituição financeira:

        Pena - Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.

        Parágrafo único. Se a gestão é temerária:

        Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.

Sujeito ativo: somente o administrador da IF. É crime próprio que exige qualidade
especial do sujeito ativo. Admite concurso de pessoas estranhas à função. ATENÇÃO: conselheiro
estatutário que não tem poderes de gerir a IF não pode cometer este crime sozinho, apenas como
partícipe (STJ Ação Penal nº 481).
Discussão: é crime próprio ou de mão-própria? Resposta: duas correntes:
1ª corrente (majoritária): é crime próprio. Admite co-autoria e participação de quem não
é o administrador da IF (Nucci);
2ª corrente: é crime de mão-própria, ou seja, não admite co-autoria, se sim participação
de pessoa estranhas a administração da IF (Delmanto, LFG).
Sujeito passivo: o Estado, a IF prejudicada e terceiros prejudicados;
Tipo objetivo: “gerir” (administrar, gerenciar, dirigir) fraudulentamente (ex: caixa dois,
simulação de empréstimo em benefício próprio). STF HC 95515.
Tipo subjetivo: dolo genérico.
Consumação e tentativa: é crime formal e se consuma com a simples conduta de gestão
fraudulenta, independentemente da ocorrência de prejuízo (STF e STJ).
Para a doutrina é crime de perigo concreto, ou seja, deve existir a probabilidade de dano
(Delmanto).
Discussão: É crime habitual ou instantâneo? Resposta: duas correntes:
1ª corrente: é crime habitual, ou seja, exige a reiteração de atos fraudulentos. Um único
ato fraudulento, isolado, é fato atípico.
2ª corrente (majoritária): não é crime habitual próprio, mas sim habitual impróprio, ou
seja, um único ato fraudulento que possa causar dano a IF já configura o crime de gestão
fraudulenta. Ex: empréstimo milionário feito a um credor sem qualquer garantia. Nesse sentido, STJ
HC 39908 e Nucci.

ATENÇÃO: se forem utilizados documentos falsos no delito de gestão fraudulenta,


haverá concurso necessário de crimes, por força do disposto no art. 64, da lei 8383/91:

Art. 64. Responderão como co-autores de crime de falsidade o gerente e o administrador de


instituição financeira ou assemelhadas que concorrerem para que seja aberta conta ou movimentados
recursos sob nome:

        I - falso;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
270

        II - de pessoa física ou de pessoa jurídica inexistente;

        III - de pessoa jurídica liquidada de fato ou sem representação regular.

        Parágrafo único. É facultado às instituições financeiras e às assemelhadas, solicitar ao


Departamento da Receita Federal a confirmação do número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas ou no Cadastro Geral de Contribuintes.

CUIDADO: É possível o concurso formal entre crime de gestão fraudulenta e crime


falimentar, segundo o STJ no HC 61870 e REsp 575684.

Gestão temerária: art. 4º, § único:


Sujeitos ativo e passivo: vide art. 4º, “caput”;
Tipo objetivo: a conduta é “gerir” de forma temerária (perigoso, arriscado, imprudente).
Toda a doutrina diz que este tipo penal é inconstitucional, pois é vago e impreciso, ferindo o
princípio da taxatividade (Delmanto). Para o STF e STJ, o dispositivo é constitucional.
Tipo subjetivo: é doloso, mas, para a doutrina, o legislador foi infeliz na redação, pois
“temerária” significa imprudência, caracterizando culpa. É majoritário o entendimento de ser crime
doloso. CUIDADO: o STF, recentemente, admitiu a forma culposa deste delito (STF RHC 7982).
Consumação e tentativa: vide art. 4º, caput.

Art. 5º:

        Art. 5º Apropriar-se, quaisquer das pessoas mencionadas no art. 25 desta lei, de dinheiro, título,
valor ou qualquer outro bem móvel de que tem a posse, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio:

        Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

        Parágrafo único. Incorre na mesma pena qualquer das pessoas mencionadas no art. 25 desta lei,
que negociar direito, título ou qualquer outro bem móvel ou imóvel de que tem a posse, sem
autorização de quem de direito.

Sujeito ativo: somente as pessoas do art. 25 (crime próprio). Se o sujeito ativo for
funcionário público, o delito será o tipificado no CP (peculato);
Sujeito passivo: o Estado, a IF e a pessoa prejudicada pela conduta;
Tipo objetivo: apropriar-se (assenhorar-se com ânimo definitivo) e desviar (dar
destinação errada) a dinheiro, título, valor o qualquer outro bem móvel (prevalece o entendimento
que os bens podem pertencer à terceira pessoa também). Deve existir a posse lícita do bem; caso não
haja, não resta configurado este delito. A mera detenção não é discutida pela doutrina (lacuna). Para
o professor, a mera detenção não configura este crime.
Tipo subjetivo: dolo

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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271

Consumação e tentativa: no momento da inversão da posse (na conduta apropriar-se) ou


com o desvio (na conduta desviar) em proveito próprio ou alheio.
A tentativa é possível na forma plurissubsistente.

Art. 6º:

        Art. 6º Induzir ou manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública competente,
relativamente a operação ou situação financeira, sonegando-lhe informação ou prestando-a
falsamente:

        Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Sujeito ativo: crime comum (qualquer pessoa: majoritário). Há doutrina que entende ser
crime próprio.
Sujeito passivo: o Estado, a IF, sócio, investidor, repartição pública competente ou a
pessoa prejudicada financeiramente.
Tipo objetivo: induzir (levar alguém) ou manter em erro. É crime de forma vinculada:
“sonegando-lhe informação ou prestando-lhe informação falsa” sobre operação financeira ou
situação financeira.
Tipo subjetivo: dolo genérico.
Consumação e tentativa:

Art. 11: caixa-dois: crime importante:

        Art. 11. Manter ou movimentar recurso ou valor paralelamente à contabilidade exigida pela
legislação:

        Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.

Sujeito ativo: administrador, interventor, diretor (é crime próprio);


Sujeito passivo: o Estado e eventualmente, a pessoa prejudicada pela contabilidade
paralela.
Tipo objetivo: manter (conservar) ou movimentar (fazer girar a contabilidade paralela).
Pode haver concurso de delitos. Na conduta “manter” o crime é habitual, na conduta de
“movimentar” o crime não é habitual.
ATENÇÃO: se esta conduta não for praticada em IF, não configura este crime, podendo
ocorrer um delito falimentar.
Tipo subjetivo: dolo genérico.
Consumação e tentativa: é crime formal. Não se exige prejuízos a terceiros. Admite a
tentativa na forma plurissubsistente.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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272

Art. 19:

        Art. 19. Obter, mediante fraude, financiamento em instituição financeira:

        Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

        Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é cometido em detrimento de
instituição financeira oficial ou por ela credenciada para o repasse de financiamento.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.


Sujeito passivo: a IF lesada e o Estado.
Tipo objetivo: obter (conseguir) financiamento (valor a ser pago posteriormente) em IF.
Deve ser cometido mediante fraude.
Tipo subjetivo: dolo.
Consumação e tentativa: é crime material (se consuma com a obtenção do financiamento
fraudulento). A tentativa é, perfeitamente, possível.
*Ver STJ REsp 689900.
ATENÇÃO: A utilização de passaporte para obter empréstimo não configura este delito
(STF HC 92279).
Empréstimo (o valor emprestado não tem destinação específica) não é financiamento (o
valor financiado tem destinação específica) (STJ CC 88615).

Art. 20:

        Art. 20. Aplicar, em finalidade diversa da prevista em lei ou contrato, recursos provenientes de
financiamento concedido por instituição financeira oficial ou por instituição credenciada
(particular) para repassá-lo:

        Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Sujeito ativo:
Sujeito passivo:
Tipo objetivo: o recurso é obtido licitamente, mas depois é utilizado em finalidade diversa
do estabelecido em lei ou contrato (STJ RHC 10549).
Tipo subjetivo:
Consumação e tentativa:

Art. 21:

        Art. 21. Atribuir-se, ou atribuir a terceiro, falsa identidade, para realização de operação de
câmbio:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
273

        Pena - Detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

        Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, para o mesmo fim, sonega informação que
devia prestar ou presta informação falsa.

Art. 22: evasão de divisas: importante:

        Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão de
divisas do País:

        Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

        Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem autorização
legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados à
repartição federal competente.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.


Sujeito passivo: o Estado.
Tipo objetivo: efetuar (realizar) operação de câmbio (conversão de moeda de um país
para outro) não autorizada (clandestina, ilegal) com fim especial de promover a evasão de divisas. A
expressão “não autorizada” é norma penal em branco.
Tipo subjetivo: dolo específico (com o fim de...).
Consumação e tentativa: se consuma com a simples operação ilegal de câmbio, ainda que
não ocorra evasão (basta a finalidade de evasão). A tentativa é possível se o agente não consegue
efetuar operação de câmbio por circunstâncias alheias a sua vontade. É crime formal (STF e STJ).
A competência para julgar o crime do art. 22 é do juiz do local onde ocorreu a operação
ilegal de câmbio (STJ CC 90051).

22) LEI 11101/05 - CRIMES FALIMENTARES


LEI 11.101/05 revogou o DL 7661/45.

I)Abrangência da nova lei de falências: art. 1º:

        Art. 1o Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência
do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor.

Art. 2º:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
274

       Art. 2o Esta Lei não se aplica a:

       I – empresa pública e sociedade de economia mista;

       II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de


previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade
seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às
anteriores.

Princípio da unicidade penal falimentar: para Fábio


Ulhôa Coelho, a característica essencial do crime falimentar é a sua
unidade: se o agente cometer mais de um crime falimentar aplica-se
apenas o delito mais grave. Todos os crimes objetivam um resultado
único, ou seja, o perigo de falência ou objetivo de fraudar o
processo falimentar ou de recuperação.
ATENÇÃO: Para o STJ (HC 56368), este princípio não se
aplica aos crimes conexos não-falimentares. Neste caso, aplica-se a
regra do concurso de crimes.

Elemento subjetivo nos crimes falimentares: são todos


dolosos. Não há nenhum crime falimentar culposo.

Prisão preventiva: art. 99, VII: para a doutrina esta prisão


é inconstitucional, pois na verdade é hipótese “disfarçada” de prisão
civil por dívidas; o juiz civil falimentar não tem competência para
decretar medida cautelar de âmbito processual penal (ofensa ao
devido processo legal) e, ainda, não há fundamento cautelar desta
prisão preventiva, sendo decretada somente com base na prática de
crime falimentar. Para o STF, deve haver, conjuntamente, algum
requisito do art. 312, do CPP para esta prisão ser considerada legal:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
275

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações:

        I – conterá a síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes dos que forem a esse
tempo seus administradores;

        II – fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 (noventa) dias
contados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do 1 o (primeiro) protesto
por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido
cancelados;

        III – ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, relação nominal
dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos
créditos, se esta já não se encontrar nos autos, sob pena de desobediência;

        IV – explicitará o prazo para as habilitações de crédito, observado o disposto no § 1 o do


art. 7o desta Lei;

        V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, ressalvadas


as hipóteses previstas nos §§ 1o e 2o do art. 6o desta Lei;

        VI – proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido,


submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se houver, ressalvados os
bens cuja venda faça parte das atividades normais do devedor se autorizada a continuação
provisória nos termos do inciso XI do caput deste artigo;

        VII – determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das


partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus
administradores quando requerida com fundamento em provas da prática de crime
definido nesta Lei;

        VIII – ordenará ao Registro Público de Empresas que proceda à anotação da falência no
registro do devedor, para que conste a expressão "Falido", a data da decretação da falência e a
inabilitação de que trata o art. 102 desta Lei;

        IX – nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas funções na forma do


inciso III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuízo do disposto na alínea a do inciso II do
caput do art. 35 desta Lei;

        X – determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e outras


entidades para que informem a existência de bens e direitos do falido;

        XI – pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do falido com o


administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos, observado o disposto no art. 109
desta Lei;

        XII – determinará, quando entender conveniente, a convocação da assembléia-geral de


credores para a constituição de Comitê de Credores, podendo ainda autorizar a manutenção do
Comitê eventualmente em funcionamento na recuperação judicial quando da decretação da
falência;

        XIII – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas
Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento,
para que tomem conhecimento da falência.

        Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo a íntegra da decisão que
decreta a falência e a relação de credores.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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276

Art. 179: equipara ao empresário devedor os sócios,


diretores, gerentes, administrador judicial, conselheiros em caso de
crimes falimentares:

Art. 179. Na falência, na recuperação judicial e na recuperação extrajudicial de sociedades, os


seus sócios, diretores, gerentes, administradores e conselheiros, de fato ou de direito, bem
como o administrador judicial, equiparam-se ao devedor ou falido para todos os efeitos penais
decorrentes desta Lei, na medida de sua culpabilidade.

Para Nucci, este art. é inútil, pois o art. 29, CP já faz previsão:

        Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

        § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto
a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

        § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada
a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 180: polêmico: se não houver sentença declaratória de


falência ou sentença concessiva de recuperação judicial ou
extrajudicial. O infrator não poderá ser punido pelo crime
falimentar:

        Art. 180. A sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a
recuperação extrajudicial de que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de
punibilidade (NATUREZA JURÍDICA) das infrações penais descritas nesta Lei.

Não havendo estas sentenças, falta condição objetiva de


punibilidade nos crimes falimentares.
Condição objetiva de punibilidade = é uma condição exterior a
conduta do agente; não abrangida pelo dolo ou culpa da agente;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
277

não integra o tipo penal, mas é requisito para que possa ocorrer a
punição pelo delito. É aplicável a todos os crimes falimentares.
Para Nucci, esta sentença só é condição objetiva de
punibilidade quando o crime for praticado antes dela. Quando crime
for praticado depois da sentença, esta será pressuposto do crime.

Art. 182: prescrição:

        Art. 182. A prescrição dos crimes previstos nesta Lei reger-se-á pelas disposições
do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, começando a correr
do dia da decretação da falência, da concessão da recuperação judicial ou da
homologação do plano de recuperação extrajudicial.

        Parágrafo único. A decretação da falência do devedor interrompe a prescrição cuja


contagem tenha iniciado com a concessão da recuperação judicial ou com a
homologação do plano de recuperação extrajudicial.

-Prazo: o mesmo do CP. Na lei anterior, o prazo era de 2


anos. Portanto, a regra nova não retroage, aplicando-se somente
aos crimes cometidos na vigência da nova lei falências (STJ e STF).
O prazo começa a ser contado da:
.decretação da falência;
.concessão da recuperação judicial ou;
.homologação do plano de recuperação judicial.
*o prazo prescricional não começa a ser computado da data
do crime, mas sim de acordo com as situações acima mencionadas.
Se o crime for praticado depois dessas sentenças, aplica-se o art.
111, CP:

Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

        I - do dia em que o crime se consumou; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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278

        II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;  (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

        III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;  (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

        IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil,


da data em que o fato se tornou conhecido.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Causas interruptivas aplicáveis (art. 117, CP): súmula 592,


STF: porém, há uma causa especial no art. 182, § único, lei
11.101/05:
Súmula 592
NOS CRIMES FALIMENTARES, APLICAM-SE AS CAUSAS INTERRUPTIVAS DA
PRESCRIÇÃO, PREVISTAS NO CÓDIGO PENAL.

.interrupção da prazo com a decretação da falência depois de


concedida a recuperação ou homologação de plano de recuperação.

Competência: art. 183:

        Art. 183. Compete ao juiz criminal da jurisdição onde tenha sido decretada a falência,
concedida a recuperação judicial ou homologado o plano de recuperação extrajudicial,
conhecer da ação penal pelos crimes previstos nesta Lei.

CUIDADO: em SP, a lei estadual nº 3947/83 (art. 15) dispõe


que quem julga crime falimentar é o juiz cível da falência. O STF
decidiu que este dispositivo é constitucional, pois os estados
membros podem estabelecer regras de organização judiciária locais.
Com isso, entende-se que, embora previsão do art. 183 da lei
11.101/05, as leis estaduais que dispõem o contrário são
constitucionais, segundo o STF.

Art. 184:

        Art. 184. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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279

        Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, § 1 o, sem que o
representante do Ministério Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou o
administrador judicial poderá oferecer ação penal privada subsidiária da pública, observado
o prazo decadencial de 6 (seis) meses.

Legitimados para propor ação privada subsidiária da pública:


-credor habilitado (determinado pelo administrador judicial ou
pelo juiz);
-administrador judicial.
A vítima pode propor essa ação subsidiária? Resposta: duas
correntes:
1ª corrente: sim;
2ª corrente: a vítima não pode, pois não há previsão legal.
*Não há posição predominante.
Prazo: art. 187, §1º:

        Art. 187. Intimado da sentença que decreta a falência ou concede a recuperação judicial,
o Ministério Público, verificando a ocorrência de qualquer crime previsto nesta Lei, promoverá
imediatamente a competente ação penal ou, se entender necessário, requisitará a abertura de
inquérito policial.

        § 1o O prazo para oferecimento da denúncia regula-se pelo art. 46 do Decreto-Lei no


3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, salvo se o Ministério Público,
estando o réu solto ou afiançado, decidir aguardar a apresentação da exposição
circunstanciada (relatório do administrador judicial) de que trata o art. 186 desta Lei,
devendo, em seguida, oferecer a denúncia em 15 (quinze) dias.

Procedimento:
Art. 200: revogação dos arts. do CP que previam o
procedimento:

Art. 200. Ressalvado o disposto no art. 192 desta Lei, ficam revogados o Decreto-Lei no 7.661,
de 21 de junho de 1945, e os arts. 503 a 512 do Decreto-Lei n o 3.689, de 3 de outubro de 1941
- Código de Processo Penal.

Art. 192, LF:

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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280

Art. 192. Esta Lei não se aplica aos processos de falência ou de concordata ajuizados
anteriormente ao início de sua vigência, que serão concluídos nos termos do Decreto-Lei no
7.661, de 21 de junho de 1945.

        § 1o Fica vedada a concessão de concordata suspensiva nos processos de falência em


curso, podendo ser promovida a alienação dos bens da massa falida assim que concluída sua
arrecadação, independentemente da formação do quadro-geral de credores e da conclusão do
inquérito judicial.

        § 2o A existência de pedido de concordata anterior à vigência desta Lei não obsta o pedido
de recuperação judicial pelo devedor que não houver descumprido obrigação no âmbito da
concordata, vedado, contudo, o pedido baseado no plano especial de recuperação judicial para
microempresas e empresas de pequeno porte a que se refere a Seção V do Capítulo III desta
Lei.

        § 3o No caso do § 2o deste artigo, se deferido o processamento da recuperação judicial, o


processo de concordata será extinto e os créditos submetidos à concordata serão inscritos por
seu valor original na recuperação judicial, deduzidas as parcelas pagas pelo concordatário.

        § 4o Esta Lei aplica-se às falências decretadas em sua vigência resultantes de convolação
de concordatas ou de pedidos de falência anteriores, às quais se aplica, até a decretação, o
Decreto-Lei no 7.661, de 21 de junho de 1945 , observado, na decisão que decretar a falência, o
disposto no art. 99 desta Lei.

        § 5o O juiz poderá autorizar a locação ou arrendamento de bens imóveis ou móveis a fim
de evitar a sua deterioração, cujos resultados reverterão em favor da massa. (incluído pela Lei
nº 11.127, de 2005)

Com a lei 11.719/08, o art. 394 do CPP alterou a previsão


sobre os procedimentos, porém o § 2º faz uma ressalva importante
sobre a aplicação da lei especial. Assim sendo, deve-se aplicar
sempre o procedimento sumário nos crimes falimentares,
independente da pena cominada. Se o crime falimentar for de
menor potencial ofensivo, será competência do JECrim e
procedimento sumaríssimo:

Art. 394.  O procedimento será comum ou especial. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de
2008).

        § 1o  O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo: (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).

        I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual
ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei nº 11.719,
de 2008).

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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281

        II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja
inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).

        III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da
lei. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

        § 2o  Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposições em


contrário deste Código ou de lei especial. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

        § 3o  Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento observará as


disposições estabelecidas nos arts. 406 a 497 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).

        § 4o  As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os
procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código. (Incluído pela
Lei nº 11.719, de 2008).

        § 5o  Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as


disposições do procedimento ordinário. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Pegar os crimes no material de aula.

24) DECRETO 678/92 - PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA


(CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS)

1. SISTEMA DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

1.1. SISTEMA GLOBAL


- Carta da ONU;
- Declaração de Direitos Humanos;
- Pacto Internacional dos direitos civis e políticos
- Pacto Internacional dos direitos

1.2. SISTEMA REGIONAL


- Carta da OEA;
- Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem ;
- Pacto de São Jose da Costa Rica – tratado dos direitos de 1ª geração
- Protocolo de São Salvador

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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282

2. CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS – HISTÓRIA E DATAS

- NASCE EM 1969;
- NOME TÉCNICO: “CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS”.
- ENTROU EM VIGOR EM 1978;
- FOI RATIFICADO PELO BRASIL EM 1992.

3. ESTRUTURA
É dividido em duas partes:

3.1. PARTE I
- elenca os direitos civis e políticos dos cidadãos do Continente Americano;
- traz a parte de direito material.

3.2. PARTE II
- elenca os meios processuais de se exercer os direitos trazidos na primeira parte
perante uma instância ou corte internacional;
- traz, portanto, a parte de direito processual.

4. GERAÇÃO DE DIREITOS

4.1. 1ª GERAÇÃO
- liberdade;
- direitos civis e políticos;

4.2. 2ª GERAÇÃO
- igualdade;
- direitos econômicos, sociais e culturais.

4.3. 3ª GERAÇÃO
- fraternidade;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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283

- direitos de grupos e/ou coletividades

- NO SISTEMA INTERAMERICANO NÃO SE CHEGOU AINDA A UMA 3ª GERAÇÃO. NÃO


EXISTEM DIREITOS DE CUNHO ECONÔMICO, SOCIAL E DE COLETIVIDADE NO PACTO DE
SAN JOSÉ DA COSTA RICA.

- O PACTO CUIDA DOS DIREITOS DE 1ª GERAÇÃO. SEU PROTOCOLO (Protocolo de São


Salvador) IRÁ CUIDAR DOS DIREITOS DE 3ª GERAÇÃO.

- O QUE SE TEM NO ART. 26 DO PACTO É UMA PREVISÃO GENÉRICA DE QUE OS


DIREITOS DE 2ª GERAÇÃO VIRÃO A SER TUTELADOS.

5. ÓRGÃOS DO PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA – PROCESSAMENTO DO ESTADO


NO SISTEMA INTERAMERICANO

5.1. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (Washington-EUA)


É o órgão responsável pelo recebimento das petições ou comunicações pessoais de
vítimas de violação de direitos humanos perpetrada pelos Estados-partes no Pacto de
San José. Isto porque no Sistema Interamericano não existe a possibilidade de a parte
ingressar com sua queixa diretamente à Corte Interamericana de Direitos Humanos,
devendo, OBRIGATORIAMENTE, submeter-se ao juízo de admissibilidade feito pela
Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
É onde se deve ingressar primeiramente. Não se ingressa diretamente na Corte.
Primeiro se provoca a Comissão, que posteriormente irá acionar a Corte.

5.2. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (San José – Costa Rica)


Se a Comissão se convencer, após o procedimento previsto no próprio Pacto de San
José, de que o caso foi efetivamente de violação da Convenção, ela (Comissão) poderá
submetê-lo à apreciação da Corte Interamericana. A Corte, por sua vez, passada a fase
de instrução, julga o Estado e profere sentença, a qual, nos termos do art. 67 do Pacto
de San José, é definitiva e inapelável.

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
284

NÃO HÁ RECURSO DA SENTENÇA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS


HUMANOS.
Essa sentença pode se constituir em duas ações para o Estado:
A) vobrigação de fazer ao Estado;
B) indenização pecuniária – será uma sentença ilíquida, que deverá ser
liquidada e executada pelo Juiz Federal da comarca de domicílio da vítima.

ANTES DE SE CHEGAR AO JUIZ FEDERAL, ESSA DECISÃO NÃO PRECISARIA PASSAR PELA
HOMOLOGAÇÃO DO STJ, CONFORME PREVISÃO CONSTITUCIONAL (ART. 105, I, “i”,
CF)?
1ª POSIÇÃO (STF): sentença estrangeira é toda aquela que não é nacional. Portanto
2ª POSIÇÃO (DOUTRINA MAJORITÁRIA POSIÇÃO A SER ADOTADA EM CONCURSO):
sentença estrangeira é aquela proferida por um judiciário de outro país. Diferente das
decisões da Corte Interamericana, que é uma sentença internacional. PORTANTO, AS
SENTENÇAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS NÃO PRECISAM
SER HOMOLOGADAS PELO STJ, POIS SE ENQUADRAM COMO SENTENÇA
INTERNACIONAL E NÃO ESTRANGEIRA.

6. DIREITOS TRAZIDOS PELO PACTO

6.1. DIREITO A TER DIREITOS (ART. 1º)


- traz idéias de cunho filosófico.

6.2. DIREITO À VIDA (ART. 4º)

“Artigo 4º - Direito à vida


1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser
protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode
ser privado da vida arbitrariamente.
2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser
imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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285

competentes e em conformidade com a lei que estabeleça tal pena, promulgada


antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a
delitos aos quais não se aplique atualmente. (MEDIDA POLÍTICA, QUE DEIXOU
ALGUNS ESTADOS CONFORTÁVEIS EM RATIFICAR O PRESENTE PACTO. OUTRA
MEDIDA POLÍTICA QUE AGRADOU MUITOS ESTADOS FOI O FATO DE QUE A
CORTE JAMAIS PUNIRIA OS ESTADOS QUE RATIFICASSEM O PACTO,
FUNCIONANDO TÃO SOMENTE COMO ÓRGÃO CONSULTIVO. A competência
contenciosa só será aplicada se o Estado assim se submeter expressamente)
3. NÃO SE PODE RESTABELECER A PENA DE MORTE NOS ESTADOS QUE A
HAJAM ABOLIDO. (PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO RETROCESSO)
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a delitos políticos, nem a
delitos comuns conexos com delitos políticos.
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração
do delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher
em estado de gravidez.
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou
comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os caos. Não se
pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão
ante a autoridade competentes.”

“PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO RETROCESSO”: o Estado nunca pode retroceder no que


tange a concessão de direitos. Ex: Se o Brasil subtrair a pena de morte em caso de
guerra declarada, jamais, vindo a se arrepender futuramente, poderá retornar com
essa medida, que consistiria retrocesso de direitos.

POSIÇÃO DO PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA


- os tratados internacionais de direitos humanos anteriores ao §3º do art. 5º da CF,
serão considerados supralegais.
- dessa forma, as normas legais deverão passar por uma DUPLA COMPATIBILIDADE:
1ª COMPATIBILIDADE: deve haver compatibilidade da norma legal com a norma
constitucional;

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


vários
286

2ª COMPATIBILIDADE: deve haver compatibilidade da norma legal com os


Tratados Internacionais de Direitos Humanos (anteriores ao §3º do art. 5º da
CF), que passaram a ser considerados norma supralegal. Portanto, a norma
legal deve estar compatível com a norma supralegal e com a norma
constitucional.

PORTANTO, O PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA, EM CONFLITO COM A LEI PENAL
OU PROCESSUAL PENAL BRASILEIRA, IRÁ PREVALECER SOBRE ESTAS LEIS.

6.3. DIREITO A INTEGRIDADE PESSOAL – ART. 5ª, PSJCR

“Artigo 5º - Direito à integridade pessoal


1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e
moral.
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis,
desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada
com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.
3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente.
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em
circunstâncias excepcionais, e devem ser submetidos a tratamento adequado à
sua condição de pessoas não condenadas.
5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos
adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para
seu tratamento.
6. As penas privativas de liberdade devem Ter por finalidade essencial a reforma e
a readaptação social dos condenados.”

“Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal


7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandatos de
autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemente de
obrigação alimentar. (SÓ A POSSIBILIDADE DA PRISÃO DO DEVEDOR DE

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


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ALIMENTOS – RE 466343 – impossibilidade atual da prisão civil do depositário


infiel)

“Artigo 8º - GARANTIAS JUDICIAIS


1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de
um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e
imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação
penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de
caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
2. TODA PESSOA ACUSADA DE UM DELITO TEM DIREITO A QUE SE PRESUMA SUA
INOCÊNCIA, ENQUANTO NÃO FOR LEGALMENTE COMPROVADA SUA CULPA.
DURANTE O PROCESSO, TODA PESSOA TEM DIREITO, EM PLENA IGUALDADE, ÀS
SEGUINTES GARANTIAS MÍNIMAS:
h) DIREITO DE RECORRER DA SENTENÇA A JUIZ OU TRIBUNAL SUPERIOR. (é o
duplo grau de jurisdição expressamente previsto).
3. direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou
intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua do juízo ou tribunal;
4. comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;
5. concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à preparação de sua
defesa;
6. direito ao acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um
defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu
defensor;
7. direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo
Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se
defender ele próprio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;
8. direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no Tribunal e de obter o
comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam
lançar luz sobre os fatos;
9. direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se
culpada; e

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10. direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.


11. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza.
12. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser
submetido a novo processo pelos mesmos fatos.
13. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar
os interesses da justiça.”

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