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PARTE ESPECIAL – CRIMES CONTRA A VIDA

ATUALIZADO EM 28/01/2023

CRIMES CONTRA A VIDA

1 INTRODUÇÃO

Em sua maior parte, a Parte Especial contém normas penais incriminadoras, mas também contempla
normas penais não incriminadoras. Há também normas:

 Explicativas: art. 327 – conceito de funcionário público para fins penais


 Excluem a ilicitude do fato: art. 128 – hipóteses em que o aborto é permitido
 Escusas absolutórias: art. 181 – causas de imunidade de crime contra o patrimônio.

Há também normas permissivas (permitem determinados comportamentos, estabelecendo a licitude,


a inculpabilidade ou a impunidade dos comportamentos. Ex: abortamento permitido e não punição da
difamação e da injúria).

A divisão da Parte Especial leva em conta o bem jurídico protegido para elencar os crimes. A Parte
Especial está dividida em 11 títulos. Esses títulos se dividem em capítulos. Alguns capítulos se subdividem em
seções.

O CP de 1940 seguiu uma concepção individualista – os títulos se iniciam com os bens jurídicos
individuais e termina com os difusos e coletivos. PROVA! Essa sistemática que o nosso Código adota foi
idealizada pelo penalista italiano Arturo Rocco, criador do Tecnicismo jurídico-penal.

1.1 FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL

A Teoria Constitucional do Direito Penal diz que a criação de crimes e cominação de penas só são
legítimas quando tutelam valores consagrados na CF.

O fundamento está no caput do art. 5ª. A CF assegura a todas as pessoas o direito à vida. Todavia, não é
absoluto. Os direitos fundamentais são relativos. Robert Alexy fala da possibilidade lógica de restrições a
direitos fundamentais e o direito à vida também suporta essas restrições. Ex. guerra, legítima defesa, aborto
permitido.
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1.2 ESPÉCIES

 Homicídio
 Participação em suicídio
 Infanticídio
 Aborto

1.3 ASPECTOS EM COMUM

Em todos eles a ação é pública incondicionada, pois a vida humana é um bem jurídico indisponível.
Não impede a utilização da ação penal privada da subsidiária da pública. “Dra. cabe ação penal privada no
homicídio?” Sim, no caso de ação penal privada subsidiária.

São de competência do Tribunal do Júri art. 5 XXXVIII CF. Existe algum crime contra a vida que não é de
competência do Tribunal do Júri? Sim, o homicídio culposo. Lembre-se que a competência do Tribunal do Júri é
mínima – o legislador ordinário pode ampliar o rol de crimes de competência do Júri. Os crimes contra a vida
têm competência de sede constitucional.

2 HOMICÍDIO

Homicídio simples
Art 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

2.1 ESTRUTURA DO TIPO PENAL

Doloso:
 Homicídio simples: caput
 Homicídio privilegiado: §1º
 Qualificadoras: § 2º
 Circunstanciado: §4º, segunda parte, e §6º. São causas de aumento da pena.

Culposo
 Simples: §3º
 Circunstanciado: §4ª, primeira parte.
 Perdão judicial: §5º
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2.2 CONCEITO

Homicídio é a eliminação da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa. Se for intrauterina
é o crime de aborto. Pode ser crime de infanticídio se estiverem presentes os elementos especializantes do art.
123, CP.
Homicídio simples x crime hediondo: em regra, o homicídio não é crime hediondo.

Depois da Lei nº 13.964/2019


“Art. 1º Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido
por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII);
II - roubo:
a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V);
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo
de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B);
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º);
III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art.
158, § 3º);
(...)
IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum (art. 155, §
4º-A).
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados:
I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956;
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003;
III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003;
IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº
10.826, de 22 de dezembro de 2003;
V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado.” (NR)

Tortura é crime hediondo? NÃO! O tráfico de drogas, a tortura e o terrorismo não são crimes hediondos.
Esses três delitos (TTT) são equiparados (assemelhados) pela CF/88 a crimes hediondos. Em outras palavras, não
são crimes hediondos, mas devem receber o mesmo tratamento penal e processual penal mais rigoroso.

O homicídio simples só é hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio.


#OBS.: Prática típica do grupo de extermínio é matar sem saber quem está matando, mas mata-se por saber das
raízes da pessoa, do seu grupo social, sexual, preferências religiosas Ex. Chacina, matança em geral (Candelária,
Vigário Geral). Vamos falar um pouco sobre grupo de extermínio?
QUANTAS PESSOAS SÃO NECESSÁRIAS PARA SE FALAR EM UM GRUPO DE EXTERMÍNIO?
FERNANDO CAPEZ ALEXANDRE DE MORAIS ALBERTO SILVA FRANCO
2 PESSOAS TRÊS PESSOAS Como o legislador não deu um conceito para o grupo
GRUPO ≠ PAR de extermínio = grupo = bando = quadrilha.
GRUPO ≠ BANDO Por analogia à quadrilha são 4 também o número de
pessoas MUDOU.
MELHOR DOUTRINA
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#ATENÇÃO: MUDOU O CONCEITO DE QUADRILHA. Agora o crime é de associação criminosa – 3 ou mais
pessoas.

#ATENÇÃO – Masson diz que quando o CP não fala são três pessoas.

Art. 288 - Associarem-se três ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes: (Vide Lei nº 12.850,
de 2.013) (Vigência)
Pena - reclusão, de um a três anos. (Vide Lei 8.072, de 25.7.1990)
Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.

O diferencial do grupo de extermínio é que o crime pode ser praticado por um só dos indivíduos do
grupo. O GRUPO DE EXTERMÍNIO é impessoal em relação à vítima, mas determinado em relação a sua classe
social etnia, raça, cor, opção sexual, etc.. Ex: Skinhead – matar homossexuais.

*#OBS.: QUEM É QUE DECIDE SE O HOMICÍDIO FOI PRATICADO EM GRUPO DE EXTERMINIO? OS JURADOS OU O
JUIZ PRESIDENTE? Segundo Renato Brasileiro, a verificação deste fato cabe aos jurados, por meio da
apresentação de quesito específico.

#OBS.: DIFERENÇA ENTRE O GRUPO DE EXTERMÍNIO ≠ GENOCÍDIO.

GENOCÍDIO Lei 2889/56 - INTENÇÃO DESTRUIR NO TODO OU EM PARTE – EXTERMINAR

Quem com a intenção de destruir no todo ou em parte, grupo nacional, ético, religioso, pratica genocídio.

#ATENÇÃO: No genocídio, não necessita a existência de um grupo. Uma única pessoa pode realizar o crime.

GENOCÍDIO NÃO NECESSARIAMENTE ENVOLVE O HOMICÍDIO, já que pode se praticar o genocídio


evitando que nasçam novas crianças da raça, grupo. Assim, impedindo o nascimento está se exterminando uma
raça. Ex. grupo indígena que tenha dois índios e 50 índias. Mato os dois com a intenção de exterminar o grupo –
é genocídio

Genocídio de índios: competência da JF. Pelo juiz singular, salvo se houver concurso formal impróprio
com o homicídio (aí vai para o júri).

2.3 OBJETIVIDADE JURÍDICA

É o bem jurídico tutelado. É a vida humana extrauterina, independentemente da sua viabilidade


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2.4 NÚCLEO DO TIPO PENAL – VERBO

 “Matar”. É a redação típica mais curta – verbo + elemento objetivo (alguém).


 O homicídio é crime de forma livre ou de ação livre – admite qualquer meio de execução.
 Pode ser praticado por ação ou por omissão.
 Meio de execução pode ser:
 Direito (disparo de arma de fogo) ou indireto (ordenar o ataque de um cão feroz).
 Material (atinge a integridade física da vítima) ou moral (atinge o aspecto psicológico – amedronta tanto
que ela se mata).
OBS1: Qual a diferença entre essa execução moral e o crime de participação de suicídio? Na participação de
suicídio a vítima tem uma capacidade de resistência. No homicídio a vítima não tem resistência. Não tem
capacidade de resistir. Ex. manda uma criança pular do prédio.
OBS2: O meio de execução de um homicídio pode caracterizar uma qualificadora. Ex. III - com emprego de
veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
comum;

A transmissão dolosa do vírus da AIDS pode ser um meio de execução do homicídio?


1. Na doutrina o entendimento dominante sempre foi que SIM - Ela não tem cura e mata.
2. STF no HC 98712/SP (Informativo 603) disse que não era homicídio, mas não disse o que era. Disse
que podia ser perigo de contágio venéreo ou lesão corporal gravíssima.
3. STJ – lesão corporal gravíssima.

2.5 SUJEITO ATIVO

Crime comum ou geral: pode ser praticado por qualquer pessoa. O tipo não exige nenhuma situação
diferenciada quanto ao sujeito ativo. Admite a coautoria e a participação.

2.6 ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo - direto ou eventual, independentemente de qualquer finalidade específica. A doutrina clássica


chamava de dolo genérico. Hoje se fala só dolo. O antigo dolo específico hoje é o elemento subjetivo específico.
Se a finalidade específica existir, ela pode configurar uma qualificadora (motivo torpe) ou um privilégio
(relevante valor moral).

Esse elemento é conhecido como animus necandi ou animus occidendi. Nas provas práticas use
intenção homicida/ânimo homicida. Não usar latim na prova oral.
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É também admissível o dolo eventual quando o agente, com sua conduta, assume o risco de provocar
a morte. É o que ocorre quando alguém faz roleta-russa murando o revólver para outra pessoa e, apesar de
haver uma só cápsula no tambor, acaba havendo o disparo e a morte. Nossa jurisprudência, inclusive dos
Tribunais Superiores, tem admitido a existência de dolo eventual em mortes que decorrem de disputa não
autorizada de veículos em via pública – rachas.

#OBS.: embriaguez ao volante – atropela e mata alguém: se for dolo eventual – art. 121 CP. Se for culpa
consciente - 302 CTB. STF tinha a jurisprudência consolidada que esse era caso de dolo eventual. E agora? O STF
corretamente diz que depende. Tem que se examinar o caso concreto.

2.7 CONSUMAÇÃO

Crime material ou causal – há conduta e resultado materialístico e exige a sua produção para a
consumação. Quando se consuma? Com a morte da vítima.

Em que momento essa morte ocorre? O momento consumativo do homicídio é a morte encefálica.
O crime de homicídio é crime de fato permanente, deixa vestígios. CPP – tem que ter perícia. É o
exame necroscópico – é a perícia que atesta a morte e aponta a sua respectiva causa. Delito de fato
permanente: é aquele que deixa vestígios ou não transeunte.

2.8 TENTATIVA/CONATUS

Possível, por ser crime plurissubsistente, ou seja, a conduta é composta de dois ou mais atos,
admitindo o fracionamento.

Quando há o início da execução? Teoria objetivo formal – praticar o núcleo do tipo.

#EXEMPLOS:
Se o homicida concretizasse a entrega de um bolo envenenado, já estaríamos diante de ato
executório, pois a partir desse instante a vítima poderia consumi-lo, independentemente de novas ações do
homicida. Da mesma forma, constitui mero ato preparatório comprar uma arma com a qual se pretende matar a
vítima, ou mais, ficar aguardando a vítima passar por determinado local para emboscá-la, mas não conseguir
efetuar disparos por ter a vítima alterado seu trajeto nesse dia.

Em suma, existe o início de execução com a prática do primeiro ato idôneo e inequívoco que pode
levar à consumação. Ato idôneo é aquele apto a produzir o resultado consumativo. Ato inequívoco é aquele
indubitavelmente ligado à consumação.

a) Tentativa branca/incruenta: não atinge a vítima.


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b) Tentativa vermelha/cruenta: atinge a vítima. - Se o agente tenta matar a vítima em uma


oportunidade e, cessada a execução deste crime, em outro contexto fático, realiza novo ato
agressivo conseguindo mata-la, responde por dois crimes, um tentado e outro consumado. Ex.: após
alvejar a vítima com disparos de arma de fogo, esta é internada em um hospital. O homicida, ao
saber que ela não morreu, vai até o hospital de madrugada, rende os seguranças do
estabelecimento e mata a vítima com novos disparos.

#OBS.: É POSSÍVEL A TENTATIVA NO CASO DO DOLO EVENTUAL? Existe vontade tanto no dolo direto quando no
dolo eventual. Sendo assim ambos admitem a tentativa (maioria da doutrina e jurisprudência) OBS: GRECO
discorda.

2.8.1 Desistência voluntária

O agente desiste, voluntariamente, de prosseguir na execução do crime, respondendo apenas pelos


atos anteriores, já praticados (e não por tentativa de homicídio). Dessa forma, no exemplo anterior, se o disparo
atingiu a vítima sobrevivente, o sujeito responderá por lesão leve ou grave, dependendo do que o disparo nela
tenha causado, ou por crime de periclitação de vida (art. 132), caso o disparo não a tenha atingido.

2.8.2 Arrependimento eficaz

O agente já praticou todos os atos executórios, que já seriam suficientes para ocasionar a morte da vítima,
porém, se arrepende e pratica novo ato para salvar a vida da vítima. Aquele só responde pelos atos já
praticados. Tem que ser voluntário.

2.9 HOMICÍDIO PRIVILEGIADO

Caso de diminuição de pena


§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.

QO homicídio privilegiado nada mais é que uma causa de diminuição de pena (3ª fase da dosimetria).
O que é privilégio? É o contrário da qualificadora. No privilégio os limites máximo e mínimo da pena são
reduzidos em abstrato. O infanticídio sim é um homicídio privilegiado – muda os limites para de 2 a 6 anos.
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O privilégio é incomunicável, por sua natureza subjetiva. Lembra o art. 30 do CP? As circunstâncias
subjetivas não se comunicam. Ex. pai contrata pistoleiro para matar estuprador da filha. O relevante valor moral
é do pai. O pistoleiro não tem – ainda incide o motivo torpe.

O homicídio privilegiado é crime hediondo? NUNCA! Por falta de previsão legal.

O juiz, na terceira fase, deve ou pode diminuir a pena no caso de homicídio privilegiado? O dispositivo
fala “pode”. Mas,o juiz deve diminuir. O CPP fala que é competência do Conselho de Sentença resolver sobre as
causas de diminuição de pena alegadas pela defesa. No entanto, o juiz decidirá sobre o quantum de diminuição.

O MP não pode colocar o privilégio na denúncia. ATENÇÃO! A denúncia não pode conter nenhuma
causa de diminuição da pena, salvo a tentativa por afetar a tipicidade. CUIDADO NA PROVA PRÁTICA.

2.10 IMEDIATIDADE DA REAÇÃO

Será imediata a reação sem intervalo temporal. Enquanto perdurar o domínio da violenta emoção
qualquer reação será considerada imediata. (O caso concreto é que dirá)

#CASCADEBANANA. O latrocínio figura no crime contra o patrimônio e, por isso, não vai a Júri. Foi uma opção
do CP.

Todas as hipóteses de privilégio têm natureza subjetiva, pois dizem respeito à pessoa do agente. São
hipóteses:

A. Motivo de relevante valor social - diz respeito a um interesse da coletividade (exemplo: um criminoso
que está aterrorizando uma determinada cidade);

B. Motivo de relevante valor moral – diz respeito ao agente, considerando um motivo nobre, que não
causa reprovação (exemplos: agente que mata o estuprador da filha; homicídio eutanásico – Item 39
da Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal – eutanásia é a compaixão diante do
irremediável).

*LFG diferencia eutanásia, ortotanásia e distanásia. Para ele, a eutanásia é entendida como a morte provocada
por sentimento de piedade à pessoa que sofre. Ao invés de deixar a morte acontecer, a eutanásia age sobre a
morte, antecipando-a. Ocorrerá quando for provocada em pessoa com forte sofrimento, doença incurável ou
estado terminal, e movida pela compaixão ou piedade. Se a doença for curável não será eutanásia, mas
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homicídio tipificado no art. 121, pois a busca pela morte sem motivação humanística não se considera
eutanásia.

Não há, em nosso ordenamento jurídico previsão legal para a eutanásia, contudo se a pessoa estiver com forte
sofrimento, doença incurável ou em estado terminal dependendo da conduta, podemos classificá-la como
homicídio privilegiado , no qual se aplica a diminuição de pena do parágrafo 1º do artigo 121 do CP ; como
auxílio ao suicídio , desde que o paciente solicite ajuda para morrer, disposto no art. 122 do mesmo diploma
legal ou ainda a conduta poderá ser atípica .

C. Domínio de violenta emoção.

Aqui o CP se filiou a uma concepção subjetivista. O agente tem o seu aspecto psicológico abalado, e isso
é levado em consideração. O raciocínio normal do agente está afetado pela situação.

Quais os requisitos dessa figura privilegiada? O indivíduo está dominado, não apenas influenciado. E não
é domínio de violenta paixão, é domínio de violenta emoção. Não esquecer da diferença de emoção e paixão: a
emoção é passageira, é transitória, enquanto a paixão é duradoura. Essa é a diferença.

#ATENÇÃO: DOMÍNIO É ABSORVENTE E DURADOURO ≠ mera influência - passageiro e transitório. *Influência é


atenuante do artigo 65, III.

#OBS.: HOMICÍDIO PASSIONAL (crimes praticados com amor, paixão).

 Injusta provocação da vítima: é toda aquela que o agente não é obrigado a suportar. A provocação
pode ser dirigida ao agente do homicídio, mas não apenas a ele. Pode também ser dirigida a um terceiro,
como familiares e amigos, e até mesmo a um animal!

 Reação Imediata: está lá na expressão “logo em seguida”. Algumas perguntas podem aparecer em cima
disso. O CP não definiu esse prazo, esse lapso temporal do “logo em seguida”. Então, decisiva será a análise
do caso concreto. Fala-se que não pode existir uma interrupção (ou um hiato temporal) relevante entre a
provocação e a prática do homicídio. Isso é que é fundamental.

Questão batida em prova sobre violenta emoção: quando é privilégio e quando é atenuante genérica?
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Privilégio: art. 121, § 1º, CP Atenuante Genérica: art. 65, III, c, do CP.
Aplicável a qualquer crime, inclusive ao
homicídio doloso, quando não configurado
o privilégio. É que para o agente é melhor o
Aplicabilidade Exclusivamente ao homicídio doloso
privilégio, mas seus requisitos são mais
rigorosos e, se não for configurado, pode
restar a atenuante genérica em questão.

Basta a influência da violenta emoção. Não


Domínio de violenta emoção há fórmula, é o caso concreto, mas o
Requisito:
domínio é bem mais que mera influência.

Basta um ato injusto da vítima, que não


Requisito:
Injusta provocação da vítima precisa ser uma provocação.

O STF, no HC 98.814, também bem diferencia esses dois institutos.

3 HOMICÍDIO QUALIFICADO

§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; MOTIVO DO CRIME. SUBJETIVA
II - Por motivo fútil; MOTIVO DO CRIME. SUBJETIVA.
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
resultar perigo comum; MEIO DE EXECUÇÃO. OBJETIVA.
IV - À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a
defesa do ofendido; MODO DE EXECUÇÃO. OBJETIVA.
V - Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: CONEXÃO. SUBJETIVA.
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)


VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído
pela Lei nº 13.142, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
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§ 2o- A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei
nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

Como sabemos, a qualificadora altera (aumenta) os limites (mínimo e máximo) da pena em abstrato.

Além disso, devemos lembrar que o homicídio qualificado sempre é crime hediondo (art. 1º da lei
8072/90). O simples só é hediondo se for fato típico de grupo de extermínio.

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STJ: Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de


motivo torpe e de feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de violência
doméstica e familiar. Isso se dá porque o feminicídio é uma qualificadora de ordem OBJETIVA - vai incidir
sempre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e familiar propriamente dita, enquanto que a torpeza
é de cunho subjetivo, ou seja, continuará adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo a praticar o
delito. STJ. 6ª Turma. HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info 625).

3.1 ESPÉCIES QUALIFICADORAS

3.1.1 Inciso I: mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe.

Temos aqui uma interpretação analógica ou intra legem, que não é analogia!

Esse exemplo legal (paga ou promessa) de recompensa é chamado de homicídio mercenário ou por
mandato remunerado. É a chamada cupidez, que é a busca por dinheiro a qualquer custo (não tem nada a ver
com cupido, amor, paixão).

Na “paga recompensa” o recebimento é prévio. Ele recebe a recompensa e, após, comete o crime.
Mesmo que tenha recebido ainda apenas parte da recompensa, a qualificadora já está configurada.

Já na “promessa de recompensa” o pagamento é convencionado a um momento posterior ao crime. Aí a


primeira pergunta que aparece na prova é: e se, depois do crime, o pagamento não for realizado? Não tem
relevância, a qualificadora incide do mesmo modo, pois basta a promessa.
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*QUAL A NATUREZA DA PAGA E PROMESSA RECOMPENSA?
#UMPOUCOSDEDOUTRINA: Alexandre Salim e Marcelo Azevedo (Direito Penal, Parte Especil- Vol1), destacam:
Há duas posições: “1ª) Segundo Hungria, “a paga feita ou recompensa prometida tanto 'pode consistir em
dinheiro, como em qualquer vantagem econômica- (aquisição de direito patrimonial perdão de dívida, promoção
de emprego, etc: )". No mesmo sentido: Fragoso, Bitencourt, Mirabete e Greco;
2ª) A vantagem pode ter natureza econômica ou qualquer outra. Ex.: promessa de casamento, de emprego ou
de favores sexuais etc. Nesse sentido: Damásio.
Nossa posição: a segunda, uma vez que matar alguém para receber vantagem, qualquer que seja a natureza,
configura motivo torpe.

É importante saber também que nesses dois casos (paga e promessa) o homicídio é um crime
plurissubjetivo (plurilateral, de concurso necessário), pois exige pelo menos duas pessoas, o mandante (quem
paga ou promete) e o executor.

Contudo, conforme dito antes, essa qualificadora tem caráter subjetivo, e se aplica apenas ao executor.

A QUALIFICADORA DO MOTIVO TORPE É SOMENTE DO EXECUTOR OU ELA SE APLICA AO MANDANTE TAMBÉM?

*(Atualizado em 09/10/2022) #DEOLHONAJURIS #VIRADADEJURIS - A qualificadora da paga (art. 121, 2º, I, do


CP) não é aplicável aos mandantes do homicídio, porque o pagamento é, para eles, a conduta que os integra
no concurso de pessoas, mas não o motivo do crime. Inicialmente, segundo a jurisprudência desta Quinta
Turma, os motivos do homicídio têm caráter eminentemente subjetivo e, dessa forma, não se comunicam
necessariamente entre os coautores. Especificamente sobre a qualificadora da paga, este colegiado sedimentou
a compreensão de que tal circunstância se aplica somente aos executores diretos do homicídio, porque são eles
que, propriamente, cometem o crime "mediante paga ou promessa de recompensa". Como consequência, o
mandante do delito não incorre na referida qualificadora, já que sua contribuição para o cometimento do
homicídio em concurso de pessoas, na forma de autoria mediata, é a própria contratação e pagamento do
assassinato. Existem precedentes mais antigos desta Turma em sentido contrário, permitindo a aplicação da
qualificadora também ao mandante do homicídio. Nem se ignora que, na Sexta Turma, já se afirmou que "é
possível a aplicação da qualificadora descrita no inciso I do § 2º do artigo 121 do Código Penal ao mandante do
crime de homicídio" (HC n. 447.390/SC, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em 23/4/2019, DJe
de 30/4/2019). No entanto, como destaca a doutrina, os motivos do mandante - pelo menos em tese - podem
até ser nobres ou mesmo se enquadrar no privilégio do § 1º do art. 121, já que o autor intelectual não age
motivado pela recompensa; somente o executor direto é quem, recebendo o pagamento ou a promessa, a tem
como um dos motivos determinantes de sua conduta. Há, assim, uma diferenciação relevante entre as condutas
de mandante e executor: para o primeiro, a paga é a própria conduta que permite seu enquadramento no tipo
penal enquanto coautor, na modalidade de autoria mediata; para o segundo, a paga é, efetivamente, o motivo
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(ou um dos motivos) pelo qual aderiu ao concurso de agentes e executou a ação nuclear típica. E, como se sabe,
a qualificadora prevista no inciso I do art. 121, § 2º, do CP, diz respeito à motivação do agente, tendo a lei
utilizado, ali, a técnica da interpretação analógica. Vale dizer: o homicídio é qualificado sempre que seu motivo
for torpe, o que acontece exemplificativamente nas situações em que o crime é praticado mediante paga ou
promessa de recompensa, ou por motivos assemelhados a estes. Em conclusão, como a paga não é o motivo da
conduta do mandante, mas sim o meio de sua exteriorização, referida qualificadora não se aplica a ele. O direito
penal é regido pelo princípio da legalidade, de modo que considerações sobre justiça e equidade, ponderáveis
que sejam, não autorizam o julgador a suplantar eventuais deficiências do tipo penal. Outrossim, a
jurisprudência mais recente deste colegiado tem se orientado pela inaplicabilidade da qualificadora ao
mandante, forte nas razões de legalidade acima referidas (STJ, REsp 1.973.397-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 06/09/2022, Info. 748).

1a corrente: Não se comunica a qualificadora. Para esta corrente, a paga ou a promessa de recompensa
não é elementar e, por ser de caráter pessoal, não se estende ao mandante, que deve ser responsabilizado de
acordo com os motivos que o levaram a contratar o executor. Nesse sentido, as opiniões de GRAFOSO, CAPEZ,
GRECO.

2a corrente: Comunica-se a qualificadora ao mandante. Os seguidores desta orientação, embora


reconheçam que normalmente qualificadoras são circunstâncias e não elementares, ressaltam que,
excepcionalmente, no caso do homicídio mercenário, não há como deixar de reconhecer que o envolvimento do
mandante no crime é requisito essencial para a sua existência. Argumentam, ainda, sob o prisma da lógica, que
o mandante deve também ser condenado pela forma qualificada, pois é dele a iniciativa de procurar o executor
e lhe propor o crime. Sem essa proposta não haveria homicídio. Podem ser apontados como defensores
MIRABETE, DAMASIO.

É a orientação do STF “... a comissão do fato mediante paga, porque qualifica o homicídio e, portanto,
constitui essentialia do tipo qualificado, não atinge exclusivamente o accipiens, mas também o solvens e
qualquer outro dos coautores do delito: assim, já se decidiram, não faz muito, ambas as turmas do Tribunal”.
(STF. 2a turma. Rel. Min. Sepúlveda Pertence. DJ 28/03/1995).

Ressalte-se, por fim, que ainda que se adote esta corrente, segundo a qual a qualificadora se estende
também ao mandante, poderá acontecer de, na votação em Plenário, os Jurados reconhecerem que ele agiu por
relevante valor social ou moral (privilégio) e, caso isso aconteça, o juiz automaticamente se verá obrigado a
excluir dos quesitos seguintes a qualificadora da paga em relação ao mandante, pois, conforme será estudado
no momento oportuno, o reconhecimento do privilégio inviabiliza as qualificadoras de caráter subjetivo.

Para finalizarmos o inciso I, analisemos a expressão “outro motivo torpe”.


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O que é um motivo torpe? Segundo a doutrina e a jurisprudência, pacificamente, o motivo torpe é um
motivo vil, abjeto, moralmente reprovável. Dica: é aquele que causa “repugnância”, “nojo”. Exemplo: matar
para ficar com a herança (Suzane Vonh Richthofen), matar colega de trabalho para pegar promoção, etc.

A vingança é motivo torpe? STJ, Resp 785.122. Informativo 452. Julgado bem didático. A vingança é
motivo torpe? Depende. Depende do que fundamenta essa vingança. Se você se vinga de algo torpe, a vingança
será torpe. Se você se vinga de algo que não é torpe, a vingança não será torpe. Pode até ser privilegiado, se se
vinga do estuprador da filha, por exemplo.

Por último, mas não menos importante, falemos do ciúme. O ciúme é motivo torpe? A doutrina diz que
não! Diz-se que quem mata por ciúme mata por amor, um motivo nobre, e por isso não pode ser considerado
torpe. O STJ, contudo, tem um julgado que é uma posição importante para quem vai fazer concurso para
promotor: Resp 810.728: dependendo do caso concreto, o ciúme pode ser motivo torpe.

3.1.2 Inciso II: motivo fútil

Motivo fútil é motivo insignificante, desproporcional frente ao resultado produzido. Causa


perplexidade. Matar o cozinheiro porque a comida estava ruim. Briga de transito, futebol, etc.

Ausência de motivo equivale a motivo fútil? STF diz que não. E tem razão. HC 152.548. A ausência de
motivo não é o mesmo que motivo fútil. Até porque, todo crime tem um motivo. Se o MP não descobriu o
motivo, não pode dizer quer foi sem motivo e querer enquadrar como motivo fútil. Mas, num concurso pro MP,
podemos defender a tese da ausência de motivo ser motivo fútil.

HOMICÍDIO SEM MOTIVO É QUALIFICADO?


1A CORRENTE 2A CORRENTE
Motivo fútil pode não ser equiparado a ausência de
motivos, querer abranger a ausência de motivos seria
Se o motivo fútil qualifica, deve qualificar também a uma analogia em malan parten, ferindo o princípio da
ausência de motivos. legalidade. Bittencourt.
PREVALECE NA JURISPRUDÊNCIA.
Há divergência. Sempre conferir.

E o ciúme? STF, HC 90.744. Também não é motivo fútil, pelos mesmos motivos que não é motivo
torpe. Mas esse panorama está mudando, tanto no STF como no STJ. STF: HC 107.090 – Informativo 711. STJ:
Resp 810.728. Informativo 417. Não se pode de antemão dizer se é fútil ou não. A competência é dos jurados
(conselho de sentença), a quem cabe dizer se, naquele caso concreto, o ciúme foi motivo fútil, ou não.
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#ATENÇÃO: NÃO CONFUNDIR MOTIVO FÚTIL COM MOTIVO INJUSTO. A injustiça não qualifica o homicídio,
todos os crimes são injustos.

Se o agente pratica o crime por causa de ciúmes, haverá homicídio qualificado por motivo fútil?
NÃO (posição majoritária).

Um homicídio pode ser fútil (inciso II) e torpe (inciso I) ao mesmo tempo? NÃO. Um homicídio
nunca poderá ser fútil e torpe ao mesmo tempo. Se for fútil (bobo), não pode ser torpe (repugnante).

Q – as qualificadoras do homicídio são compatíveis com o dolo direto ou eventual, à exceção do motivo
torpe, traição e emboscada. – DOUTRINA.

*#MUDANÇADEENTENDIMENTO #STJ
A qualificadora do motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP) é compatível com o homicídio praticado com dolo
eventual? SIM. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte (dolo eventual), não exclui a
possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto,
não se confunde com o motivo que ensejou a conduta. STJ. 5ª Turma. REsp 912.904/SP, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 06/03/2012. STJ. 6ª Turma. REsp 1601276/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
13/06/2017.

#CONCLUSÃO: Prevalece hoje no STJ que é compatível a qualificadora de motivo fútil com o homicídio praticado
com dolo eventual!

É possível que o homicídio seja qualificado por motivo fútil (art. 121, § 2º, II) e, ao mesmo tempo,
privilegiado (art. 121, § 1º)? NÃO. A jurisprudência somente admite que um homicídio seja qualificado e
privilegiado ao mesmo tempo se esta qualificadora for de natureza objetiva (ex: meio cruel, surpresa). Se a
qualificadora for subjetiva, entende-se que ela é incompatível com o privilégio.

3.1.3 Inciso III: com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso
(dissimulado) ou cruel (aumenta inutilmente o sofrimento da vítima), ou de que possa resultar perigo
comum (capaz de atingir número indeterminado de pessoas).

O juiz, na decisão de pronúncia, só pode fazer o decote (retirada) da qualificadora imputada se ela for
manifestamente improcedente, ou seja, se estiver completamente destituída de amparo nos elementos
cognitivos dos autos. Isso porque o verdadeiro julgador dos crimes dolosos contra a vida são os jurados. O juiz
togado somente deve atuar em casos excepcionais em que a pretensão estatal estiver claramente destituída da
base empírica idônea. Ex.: O fato de o agente ter praticado o crime com reiteração de golpes na vítima, ao
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menos em princípio e para fins de pronúncia, é circunstância indiciária do “meio cruel previsto no art. 121, §2º,
III do CP.

Conforme vimos, esse inciso trata dos meios de execução. Além dos exemplos legais, traz três meios:
meio insidioso, meio cruel e meio de que possa resultar perigo comum.

o Meio insidioso: é meio fraudulento, dissimulado(fraude, estratagema, engodo) empregado pelo agente
para matar a vítima sem que ela perceba o ataque. Ex. Tirar o óleo do freio da vítima, por exemplo.
o Meio cruel: é aquele que causa à vítima um intenso e desnecessário sofrimento físico e/ou moral.
o Meio de que possa resultar perigo comum. Perigo comum é a probabilidade de dano a um número
indeterminado de pessoas. Basta a possibilidade de ocorrer o perigo comum. E se efetivamente ocorrer
o perigo comum? Aí o agente vai responder por 2 crimes: pelo homicídio qualificado e pelo crime de
perigo comum em concurso formal.
*(Atualizado em 10/05/2020) #IMPORTANTE #SELIGANAJURIS #STJ A qualificadora do meio cruel é compatível
com o dolo eventual. Não há incompatibilidade entre o dolo eventual e o reconhecimento do meio cruel, na
medida em que o dolo do agente, direto ou indireto, não exclui a possibilidade de a prática delitiva envolver o
emprego de meio mais reprovável, como veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel (art. 121, § 2º, III, do CP). Caso concreto: réu atropelou o pedestre e não parou o veículo, arrastando a
vítima por 500 metros, assumindo, portanto, o risco de produzir o resultado morte; mesmo tendo havido dolo
eventual, deve-se reconhecer também a qualificadora do meio cruel prevista no art. 121, § 2º, III, do CP. STJ. 5ª
Turma. AgRg no REsp 1573829/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/04/2019. STJ. 6ª
Turma. REsp 1.829.601-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 04/02/2020 (Info 665)

Vamos agora às espécies legais:

A) Emprego de veneno.
Para que o homicídio seja qualificado pelo emprego de veneno é indispensável que a vítima
desconheça a circunstância de estar sendo envenenada. CHAMADO DE MEIO INSIDIOSO. Neste caso o agente irá
responder pelo homicídio causado com o uso de MEIO CRUEL, ou seja, o fato de obrigar a vítima a tomar o
veneno o qualifica como meio cruel de execução.

A prova depende de perícia.

Mas o que é veneno? Essas são as perguntas mais complicadas em provas orais. Veneno é a substância
de origem química ou biológica capaz de matar quando introduzida no organismo humano.
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Para a substância ser enquadrada como veneno é preciso analisar o caso concreto. Existem substâncias
normalmente inofensivas, mas que podem matar determinadas pessoas. Ex: anestesia pra quem tem alergia ao
anestésico. Açúcar (glicose) para diabético. Mas o agente tem que saber da incompatibilidade da substância
com o indivíduo.

Via de regra, o veneno é considerado meio insidioso. Colocar veneno na comida ou na bebida, sem que
ela perceba. Porém, excepcionalmente, o veneno pode ser um meio cruel, se for devagarzinho, provocando
sofrimento, etc.

B) Emprego de fogo.
Fogo é o produto da combustão de substâncias inflamáveis, da qual resultam luz e calor.
Via de regra, o fogo é meio de que possa resultar perigo comum. Contudo, obviamente, pode ser meio
cruel.

C) Homicídio qualificado por emprego de explosivo


Explosivo é o produto capaz de destruir objetos mediante detonação e estrondo. Via de regra, é
também um meio de que possa resultar perigo comum. Mas também pode ser meio cruel: colocar explosivos no
próprio corpo da vítima.

D) Asfixia
Asfixia é a supressão da função respiratória. Pode ser mecânica ou tóxica. Mecânica é estrangular,
afogar, soterrar, por exemplo. Tóxica é usar gás asfixiante, ou confinamento, por exemplo, que uma hora o ar
acaba.
Via de regra, é meio cruel. Mas também pode ser insidioso. Ex: usar gás tóxico.

E) Tortura
Indiscutivelmente, é meio cruel. Hoje no Brasil, a tortura tem definição legal: lei 9455/97, art. 1º. A
tortura pode ser física ou mental.

O que vai cair na prova é o art. 1º, § 3º da lei de tortura (lei 9455/97), que prevê a tortura qualificada
pela morte: quais são as diferenças entre a tortura qualificada pela morte e o homicídio qualificado pela
tortura?
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Diferenças Homicídio qualificado pela tortura Tortura qualificada pela morte


Crime hediondo – está na lei. Crime equiparado a hediondo


Competência do Tribunal do Júri Competência singular

(Diferença Crime preterdoloso: o dolo é de
Crime doloso: a intenção é matar
principal: torturar, mas ele se excede e, por
mediante tortura.
elemento culpa, a vítima morre.
subjetivo) É
POSSÍVEL TORTURA SEGUIDA DE HOMICÍDIO? Sim porque você tortura, você pretende uma confissão, depois de
obtida a confissão, elimina-se o réu. Responderá por TORTURA EM CONCURSO MATERIAL, para parte da
doutrina, e FORMAL IMPRÓPRIO COM HOMICÍDIO qualificado para facilitar a ocultação de outro crime, para a
outra parte da doutrina.

3.1.4 Inciso IV: à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido.

Q – STJ: somente quando o agente planeja. Forma preordenada.

Aqui não são mais meios de execução (o que o agente usou), mas modos de execução (como o agente
fez). E temos, novamente, na redação do tipo, a utilização da interpretação analógica.

A) Traição.
É também chamado de homicídio priditorium. O agente se aproveita de uma confiança preexistente
(que a vítima nele depositava) para matar, sem que a vítima tenha chance de defesa (ou dificultando).

A traição pode ser física ou moral. Física: atirar pelas costas, matar vítima dormindo, etc. Moral:
conduzir cego a precipício.

B) Emboscada.
É a “tocaia”. Chamado pelos italianos de agguato. Em França é denominado de guet apens. Em latim,
tem a expressão ex insidiis.

Tanto pode ocorrer em área urbana como em área rural. Emboscada é ficar escondido para matar
asem que ela perceba.
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C) Dissimulação
É a falsa amizade. A falsa confiança. Na dissimulação o sujeito atua de modo disfarçado, hipócrita,
criando uma falsa amizade ou falsa confiança para atingir a vítima sem defesa. Também pode ser material ou
moral. Material: usa uma farda da polícia para abordar a pessoa. Moral: conversa enganosa.

Não confundir traição com dissimulação. Na traição, a confiança preexistente é verdadeira. Na


dissimulação o agente faz surgir uma situação da falsa confiança.

D) Fórmula genérica: outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido.
Ex.: a surpresa, a superioridade de agentes, etc.
Dificultar e impossibilitar.
Em concurso de MP ou polícia, vamos desconsiderar o verbo impossibilitar. Vamos usar sempre o
“dificultar”. Por quê? Tanto dificultar como impossibilitar qualificam o crime da mesma forma. Mas, diante dos
jurados, é mais fácil provar que dificultou a defesa do que impossibilitou a defesa. Por isso, numa denúncia, usar
a palavra difícil.

#OBS.: PREMEDITAÇÃO QUALIFICA O CRIME DE HOMICÍDIO? Não, ela por si só não qualifica.

#OBS.: MATAR UMA PESSOA IDOSA JÁ SERVE PARA QUALIFICAÇÃO DO HOMICÍDIO POR CAUSA DE UM
RECURSO QUE TORNOU IMPOSSÍVEL A DEFESA DO OFENDIDO? NÃO. A idade da vítima, tenra ou avançada, por
si só não qualifica o crime, pois não é recurso procurado ou utilizado pelo agente, mas sim uma característica
inerente à vítima.

3.1.5 Inciso V: para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime.

Trata da conexão. Duas espécies de conexão: teleológica e consequencial:

A) Teleológica: execução.
Basta na conexão teleológica a intenção de praticar o outro crime. Mesmo se o crime não ocorrer
aplica-se a qualificadora. Aliás, ocorrendo crime futuro haverá concurso material de delitos. E não enxergamos
nenhum tipo de bis in idem. Ex. matou o marido para estuprar a mulher – responde pelo estupro conexão com
homicídio qualificado.

B) Consequencial: ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime.


O homicídio é praticado depois. É irrelevante o tempo decorrido entre o outro crime
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Conexão OCASIONAL – o homicídio é praticado em razão da ocasião, da facilidade. Essa conexão não
qualifica o homicídio por falta de previsão legal. Ex. sujeito furta uma casa toda e matou o desafeto que estava
dormindo.
Qual a diferença entre conexão teleológica e o crime de latrocínio? No latrocínio o agente mata para
assegurar o crime de roubo. No latrocínio temos uma manifestação do princípio da especialidade.

É POSSÍVEL O HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO? TECNICAMENTE, É INCORRETO DIZER QUE ELE


É DUPLAMENTE QUALIFICADO, pois ele será qualificado por um dos motivos e as demais circunstâncias serão
consideradas: (2 correntes) Como circunstâncias judiciais ou como agravantes.
O INCISO I SERVIRÁ DE QUALIFICADORA E a pena JÁ IRÁ VARIAR DE 12 A 30 ANOS, JÁ OS DOIS OUTROS
INCISOS DEVEM SERVIR PARA QUE?
1A CORRENTE 2A CORRENTE
Servem de circunstâncias judiciais desfavoráveis para
incidência no patamar de 12 a 30 anos, PENA BASE. Devem figurar como agravantes, pois estão todas
STF: Apesar da disputa doutrinária e jurisprudencial, previstas no art. 61 do CP.
vem adotando essa corrente.

#OBS.1: Homicídio híbrido = privilegiado e qualificado.

STF (HC 98.265) – depende da natureza jurídica da qualificadora:


Privilégio Qualificadoras
Natureza subjetiva – sempre diz respeito à
Subjetiva – I, II, V Objetiva – III, IV
motivação do agente.

Só é possível o homicídio híbrido quando a qualificadora for objetiva.

Ex. pai matou estuprador da filha com meio cruel – privilegiado e qualificado pelo meio cruel.

Esse homicídio híbrido é hediondo? O privilegiado não é e o qualificado é. Como fica?

 O homicídio híbrido não é crime hediondo (Fundamentos: 1.por falta de previsão legal. A lei de
crime hediondos não prevê o privilegiado-qualificado. 2. O privilégio não é compatível com a
hediondez) – STJ. MAJORITÁRIA

#OBS.2: A questão da premeditação. É qualificadora?


A premeditação, por si só, não qualifica o homicídio. Muitas vezes a premeditação pode ser uma
resistência à prática do crime. Essa deliberação do agente.
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#OBS.3: O grau de parentesco entre o homicida e a vítima qualifica o homicídio? NÃO. A relação de parentesco
faz surgir uma agravante genérica. Art. 61, II, e.
o Parricídio – matar o pai
o Matricídio – matar a mãe
o Conjucídio – matar o cônjuge varão (mulher mata marido)
o Uxoricídio – matar o cônjuge virago (marido mata mulher)
o Filicídio – matar o filho
o Fratricídio – matar o irmão – homicídio fraterno

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - a reincidência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) por motivo fútil ou torpe;
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a
defesa do ofendido;
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar
perigo comum;
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou
com violência contra a mulher na forma da lei específica; (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; (Redação dada pela Lei nº 10.741,
de 2003)
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do
ofendido;
l) em estado de embriaguez preordenada.

#OBS.4: Homicídio doloso circunstanciado: há aqui causas de aumento da pena aplicáveis ao homicídio doloso
em todas as suas modalidades (simples, qualificado e privilegiado) e não qualificadoras. Hipóteses:

 Crime é praticado contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos.


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o A idade da vítima é observada no momento da execução (Teoria da atividade) do crime. ex. atirou
em menina de 13 anos e ela morre com 14. Incide o aumento. Ex. conduta com 59 anos e
resultado com 60 não aumenta.
o Essa idade tem que ser do conhecimento do agente. O erro do agente quanto à idade da vítima
exclui a causa de aumento.

 Grupo de extermínio ou milícia privada


o Tanto o grupo de extermínio, como a milícia privada podem ser formados por policiais fora de
serviço ou cidadãos comuns.
o Milícia privada: grupos armados que controlam determinados locais esquecidos pelo Estado.
o Grupo de extermínio: associação de matadores, rotulados como justiceiros.
o O reconhecimento da milícia privada e do grupo de extermínio é de competência dos jurados.

3.1.6 Inciso VI – FEMINICÍDIO

 BASE LEGAL: LEI 13.104/15


o A lei incluiu o inciso VI ao parágrafo 2 o e o parágrafo 7o, do art. 121 do CP, tornando o homicídio contra
mulher em razão do sexo feminino como crime de homicídio qualificado.
o Alterou o art. 1o da Lei de Crimes Hediondos.
o O CP utilizou uma rubrica marginal para incluir o Feminicídio.
o É uma qualificadora do homicídio.
o É uma violência de gênero – matar uma mulher pelo fato de ser uma mulher.
o Art. 121, parágrafo 2o, inciso VI, CP:

Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - Por motivo futil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
resultar perigo comum;
IV - À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a
defesa do ofendido;
V - Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Feminicídio:
VI – contra a mulher por razões da condição do sexo feminino.
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
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*#OUSESABER: Conforme precedente do STJ, a qualificadora do feminicídio tem índole subjetiva. Certo ou
errado? Errado. Trata-se de questão de intenso debate no âmbito doutrinário, podendo-se falar que, na
doutrina, de forma majoritária prevalece que a qualificadora do feminicídio tem índole subjetiva. No entanto,
em 15.03.2018, no HC 430222/MG, O STJ entendeu que a qualificadora do feminicídio tem índole objetiva,
sendo possível a imputação simultânea de ambas as qualificadoras. Trata-se da primeira manifestação dos
Tribunais Superiores sobre o tema. Por isso, é importante ficar bastante atento.

 ORIGEM
o Essa proposta que resultou em um projeto de lei foi uma proposta de um grupo especial do MP de SP –
o chamado GEVID (Grupo Especial Contra Violência Doméstica – contra a mulher).

 DIREITO PENAL SIMBÓLICO


o Crítica: será que essa lei vai trazer algo de concreto? Ou seria apenas mais uma função simbólica do
direito penal?
o Crítica II: quando uma mulher é morta em razão de violência de gênero, o homicídio já era qualificado –
essa qualificadora da lei seria desnecessária.

 CONSTITUCIONALIDADE:
o Essa lei não violaria o princípio da isonomia? NÃO – isonomia é tratar igualmente os iguais e
desigualmente os desiguais na medida das suas desigualdades. E a realidade mostra que existe uma
desigualdade de forças, uma desigualdade cultural entre homens e mulheres.
o Os mesmos argumentos usados pelo STF e STJ para a Lei Maria da Penha se aplicam para essa lei.
o Na cultura do machismo é muito frequente homens matarem mulheres.

 NORMA PENAL EXPLICATIVA INTERPRETATIVA: ART. 121, PARÁGRAFO 2o-A:


o É uma norma penal explicativa interpretativa, para evitar polêmica.
Art. 121. Parágrafo 2o–A. Considera-se que há razões de condições de sexo feminino quando o crime envolve:
I – Violência doméstica e familiar;
II – Menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Só existe o feminicídio no homicídio doloso. No culposo não.


*#NOVIDADELEGISLATIVA #DIZERODIREITO: Comentários à Lei 13.771/2018: altera as majorantes do
feminicídio. Outra importante novidade legislativa deste fim de ano foi a Lei nº 13.771/2018, que alterou três
causas de aumento de pena do feminicídio (art. 121, § 7º do Código Penal).
24
Sujeito ativo
O feminicídio pode ser praticado por qualquer pessoa (trata-se de crime comum).
O sujeito ativo do feminicídio normalmente é um homem, mas também pode ser mulher.

Sujeito passivo
Obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, idosa, desde que do sexo feminino).
• Mulher que mata sua companheira homoafetiva: pode haver feminicídio se o crime foi por razões da condição
de sexo feminino.
• Homem que mata seu companheiro homoafetivo: não haverá feminicídio porque a vítima deve ser do sexo
feminino. Esse fato continua sendo, obviamente, homicídio.

 CAUSAS DE AUMENTO DA PENA *(Atualizado em 28/01/2023):


o O parágrafo 7o do art. 121 prevê causas de aumento da pena de 1/3 até a metade da pena, para casos
de crime de feminicídio:
Art. 121. Parágrafo 7o. A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou com doenças degenerativas que acarretem
condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº 14.344, de 2022)
Vigência
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771,
de 2018)
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da
Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771, de 2018)

à Essas causas de aumento da pena também devem ser submetidas à votação pelos jurados.

A) Inciso I: Um homem que mata uma mulher grávida, o grau de reprovabilidade da conduta é muito
maior. Se o feminicídio é praticado durante a gestação e o feto morre, o agente vai responder por dois
crimes: 1o pelo feminicídio com a causa de aumento de pena; 2 o pelo aborto sem o consentimento da
gestante (art. 125, CP). A regra vai ser o concurso formal impróprio ou imperfeito (uma conduta, dois
crimes).

Só vai incidir a causa de aumento de pena se o agente tinha ciência dessa gravidez – não se admite a
responsabilidade penal objetiva.
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B) Inciso II:
É pela fragilidade da vítima, que torna esse crime ainda mais grave.

C) Inciso III:
O aumento da pena é fundamentado pelo trauma psicológico causado, e pela frieza no crime.

#SAINDODOFORNO #LEI13.771/2018 #AJUDAMARCINHO1

Mudança no inciso II:


Foi acrescentada a seguinte hipótese:
A pena imposta ao feminicídio será aumentada de 1/3 a 1/2 se, no momento do crime, a mulher (vítima) era
portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou
mental. Como exemplo, podemos citar a esclerose lateral amiotrófica.
A vítima, nesse caso, apresenta uma fragilidade (debilidade) maior, de forma que a conduta do agente se
revela com alto grau de covardia.

Mudança no inciso III:


A pena imposta ao feminicídio será aumentada se o delito foi praticado na presença (física ou virtual) de
descendente ou de ascendente da vítima.
Aqui a razão do aumento está no intenso sofrimento que o autor provocou aos descendentes ou ascendentes
da vítima que presenciaram o crime, fato que irá gerar graves transtornos psicológicos.
Semanticamente, quando se fala que foi praticado “na presença de alguém”, isso não significa,
necessariamente, que a pessoa que presenciou estava fisicamente no local.
Assim, particularmente, entendo que, mesmo antes da alteração, já poderia ser aplicada a causa de aumento
mesmo que não houvesse presença física do ascendente ou descendente, ou seja, essa presença poderia ser
“virtual”.
A fim de evitar polêmicas, o legislador resolveu deixar isso expresso.
Desse modo, poderá haver a causa de aumento de pena do inciso III do § 7º do art. 121 do CP mesmo que o
ascendente ou descendente não esteja fisicamente no mesmo ambiente onde ocorre o homicídio. É o caso,
por exemplo, em que o filho da vítima presencia, por meio de webcam, o agente matar sua mãe; ele terá
presenciado o crime, mesmo sem estar fisicamente no local do homicídio.
Apenas para relembrar:
• Ascendente: é o pai, mãe, avô, avó, bisavô, bisavó e assim por diante.
• Descendente: é o filho(a), neto(a), bisneto(a) etc.

Atenção: não haverá a causa de aumento se o crime é praticado na presença de colateral (ex: irmão, tio) ou
1
Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2018/12/comentarios-lei-137712018-altera-as.html.
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na presença do cônjuge da vítima.

Inserção do inciso IV:


Vamos entender melhor esse inciso com um exemplo:
Carla decidiu se separar de Pedro. Este, contudo, continuou a procurá-la insistentemente e a fazer ameaças
caso ela não reatasse o relacionamento.
Diante disso, Carla procurou a Delegacia pedindo que fossem tomadas providências.
A autoridade policial lavrou o boletim de ocorrência e enviou um expediente ao juiz com o pedido de Carla
para que Pedro não se aproximasse mais dela (art. 12, III, da Lei nº 11.340/2006).
O juiz deferiu o pedido da ofendida e determinou, como medidas protetivas de urgência, que Pedro
mantivesse distância mínima de 500 metros de Maria e não tentasse nenhum contato com ela por qualquer
meio de comunicação, conforme autoriza o art. 22, III, “a” e “b”, da Lei nº 11.340/2006:
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz
poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de
urgência, entre outras:
(...)
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre
estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
(...)

Na decisão, o magistrado consignou ainda que, em caso de descumprimento de quaisquer das medidas
impostas, seria aplicada ao requerido multa diária de R$ 100, conforme previsto no § 4º, do art. 22 da Lei
nº 11.340/2006.
Quais as consequências caso o indivíduo descumpra as medidas protetivas de urgência?
• é possível a execução da multa imposta;
• é possível a decretação de sua prisão preventiva (art. 313, III, do CPP);
• o agente responderá pelo crime do art. 24-A da Lei Maria da Penha:
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.

Continuando em nosso exemplo:


Pedro foi regularmente intimado. Apesar disso, uma semana depois procurou Carla em sua casa pedindo para
que ela retomasse o relacionamento. Como ela não aceitou, Pedro a matou com uma faca.
Neste caso, Pedro responderá por feminicídio e incidirá a causa de aumento de pena prevista no art. 121, §
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7º, IV, do CP.

Pergunta: responderá também pelo art. 24-A da Lei nº 11.340/2006?


NÃO. Isso porque o delito do art. 24-A da Lei nº 11.340/2006 é absorvido pela conduta mais grave, qual seja,
a prática do art. 121, § 7º, IV, do CP.
Fazer incidir o art. 24-A da Lei nº 11.340/2006 e também pelo inciso IV do § 7º do art. 121 do CP
representaria punir duas vezes o agente pelo mesmo fato (bis in idem), o que é vedado.

3.1.7 Inciso VII: contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou
em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau,
em razão dessa condição:

Lei 13.142/2015 (altera o Código Penal e a Lei dos Crimes Hediondos):


I. O homicídio cometido contra integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra seus familiares)
passa a ser considerado como homicídio qualificado, se o delito tiver relação com a função exercida

II. A pena de LESÃO CORPORAL será aumentada de 1/3 a 2/3 se essa lesão tiver sido praticada contra
integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra seus familiares), desde que o delito tenha
relação com a função exercida.

III. Foram previstos como crimes hediondos:


 Lesão corporal dolosa gravíssima (art. 129, §2º)
 Lesão corporal seguida de morte (art. 129, §3º)
 Homicídio qualificado

... praticados contra integrantes dos órgãos de segurança pública, se o delito tiver relação com a
função exercida.

3.1.8 Inciso VIII: com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido (acrescido pela Lei 13.964):

(*) Atualizado em 21/04/2021: O referido inciso havia sido vetado pelo Presidente da República por
entender que a medida “viola o princípio da proporcionalidade entre o tipo penal descrito e a pena cominada”.
Não obstante, no dia 19/04/2021, o Congresso Nacional rejeitou o referido veto presidencial.
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3.1.9 Inciso IX: contra menores de 14 (quatorze) anos

*Atualizado em 10/07/2022: NOVA HIPÓTESE DE HOMICÍDIO QUALIFICADO – LEI HENRY DO BOREL

Art. 121. Matar alguém:


(...)
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
(...)
Homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022) Vigência
IX - contra menor de 14 (quatorze) anos: (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022) Vigência
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
(...)
§ 2º-B. A pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos é aumentada de: (Incluído pela Lei nº
14.344, de 2022) Vigência
I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que implique o aumento de
sua vulnerabilidade; (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022) Vigência
II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela. (Incluído
pela Lei nº 14.344, de 2022) Vigência

A novatio legis, dentre outras novidades, inclui como qualificadora do crime do artigo 121 do Código
Penal Brasileiro o homicídio praticado contra menor de 14 anos.
E mais, a pena de reclusão de 12 a 30 anos, referente ao homicídio qualificado, terá como causa de
aumento de pena o delito praticado pelos ascendentes, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor (que orienta na educação da criança), empregador da vítima ou
qualquer outra pessoa que exerça autoridade ou cuide dela.
Ainda, em decorrência da qualificadora, o homicídio contra criança ou adolescente até 14 anos torna-
se crime hediondo.
A consequência prática de rotular determinados crimes como hediondos é que o apenado deixa de ter
direito a alguns benefícios constitucionais e legais, como, por exemplo, a fiança, a graça e a anistia, ou tenha
restrição na obtenção desses benefícios, como a exigência de maior tempo de cumprimento de pena para
progredir de regime.

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