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Resumo de Direito Penal.

Crimes contra a pessoa

Crimes contra a Pessoa

Os crimes contra a pessoa são aqueles que mais imediatamente afetam a pessoa
(ente humano). Os bens físicos ou morais que eles ofendem ou ameaçam estão
intimamente consubstanciados com a personalidade humana. Tais são: a vida,
a intangibilidade corpórea (integridade corporal), a honra e a liberdade do
indivíduo.

Os quatro são requisitos fundamentais para a vida comunitária, logo o bem


jurídico tutelado tem caráter eminentemente público (o Estado os resguarda e
defende).

Crimes contra a Vida

Homicídio

“Hominis Excidium” – matar o homem

1. Conceito

É a eliminação da vida extra-uterina de uma pessoa por outra. Alguns autores


dizem que é a eliminação injusta, ilegal, ilícita, porém estas expressões já estão
implícitas no tipo da primeira definição. A expressão “vida extra-uterina” –
art. 5º da CF garante a vida – é utilizada para diferenciar o homicídio do aborto.
Art. 121 do CP
§ 1º - 3 formas de homicídio privilegiado – homicídio doloso

§ 2º - homicídio qualificado – homicídio doloso


§ 3º - formas de homicídio culposo, exceto o de acidente de trânsito

§ 4º causas de aumento de pena / 1º parte – homicídio culposo / parte final –


homicídio doloso

§ 5º perdão judicial

2. Objetividade jurídica

É a vida extrauterina, previsão art. 5º, caput, da CF. Basta o início da


passagem à luz para caracterizar o homicídio. O parto cessa após a expulsão
secundinas (esvaziado o útero e expulsa a placenta), mesmo que não tenha sido
cortado o cordão umbilical. Terminada a vida intrauterina, matar o recém
nascido é homicídio.
O final da vida é o final da tutela penal. A morte se dá com a cessação
concomitante e irreversível das atividades respiratória, circulatória e cerebral.
A lei 9.434/97 trata da remoção de órgãos e tecidos para fins de transplantes, é
modelo copiado da comunidade européia. A lei diferencia vida biológica de vida
jurídica. A vida biológica termina como fim da atividade cerebral, estado
irreversível, independentemente da continuidade da atividade respiratória e
circulatória. A morte extingue a personalidade jurídica O corpo pode ser doado
ou até vendido para faculdades de medicina, pois houve o término da vida
humana biológica.
Porém, declarada a morte encefálica, permanecendo a atividade circulatória e
respiratória, há tão somente a morte biológica, porque impossível o
reconhecimento da jurídica com a consequente extinção da personalidade. A
Lei 9.437/97 autoriza tão somente o reconhecimento da morte biológica, não
alterando o conceito de morte no direito penal que se refere à morte jurídica e
fim da personalidade.
O médico ao retirar o coração de uma pessoa que teve morte cerebral, acaba por
cessar todas as atividades do corpo, tanto a respiratória e a circular. Esse médico
não cometeu homicídio, por mais que o fato seja típico (matar alguém), pois agir
em conformidade da lei (9.437/97), o fato é licito.
´3. Sujeitos do delito

3.1 Sujeito ativo

Qualquer pessoa pode praticar homicídio. Trata-se de crime comum. O crime é


unissubjetivo, ou seja, basta uma pessoa para o crime seja caracterizado, a
pluralidade de sujeitos não integra o tipo. Permite concurso eventual de agentes
tanto na co-execução (coautoria) quanto na participação.

Ex: Assassinato da irmã Doroty – há um mandante (partícipe) e um executor


(autor realizou atos de execução), ambos respondente pelo crime na medida de
sua culpabilidade.

3.1 Sujeito passivo

Sujeito passivo vem identificado pela elementar “alguém”, que é qualquer


pessoa (ser vivo nascido de mulher).

4. Tipo Objetivo

O núcleo do tipo é indicado pelo verbo “matar”, que significa eliminar, ceifar,
tirar a vida de pessoa humana.

Se há fato típico, antijuridicidade e culpabilidade, há crime.

1. Conduta “disparar” de A em B à

2. resultado morte em B (3 – há nexo causal / 4 – tipicidade) ß Art.


121 CP
Homicídio é crime de dano: ataque ao bem jurídico. Contrapõe-se ao crime de
perigo que é a exposição do bem jurídico a perigo de dano.

É crime de forma livre, ou seja, qualquer meio, ao menos relativamente


idôneo, capaz de produzir o evento morte é homicídio. É crime de forma
vinculada, pois a lei descreve o único caminho que se pode percorrer para obter
o resultado.
O homicídio admite tanto a forma comissiva (ação), quanto a omissiva
imprópria (comissivo por omissão).

É crime, em regra, comissivo – se pratica por uma ação, excepcionalmente


comissivo por omissão (comissivo omissivo ou omissivo impróprio).
A omissão é o instrumento empregado para o resultado morte, exige que o
agente tenha se colocado na posição de garante ou garantidor.
Crime omissivo puro ou próprio – se esgota por não fazer.
Crime instantâneo de efeitos permanentes. É aquele em que o momento
consumativo se destaca da linha do tempo. O agente pratica a conduta e aguarda
o evento sob o qual não tem domínio. Efeito irreversível.
Crime permanente – o evento consumativo se prolonga no tempo a critério
único e exclusivo do agente. O agente tem o domínio do tempo. Ex: extorsão
mediante seqüestro

Crime progressivo – conduta viola diferentes graus de um mesmo bem


jurídico.
O homicídio é crime material de resultado naturalístico, o resultado é
exteriorizado, perceptível aos sentidos. Sempre deixa vestígio. Exige laudo de
exame de corpo de delito (art. 158 do CPP). Esse exame é necroscópico e prova
pericial objetiva. Não precisa encontrar o corpo, precisa da certeza da
ocorrência do crime para que haja julgamento.

Tipo Subjetivo Homicídio doloso

“Animus necandi” ou “animus occidendi” – O homicídio admite todas as formas


de dolo (direto, indireto, eventual e alternativo):

• Dolo indireto individual – assumir risco;

• Dolo indireto alternativo – agente vislumbra mais de um resultado


e assume o risco de produzir qualquer resultado
• Dolo indireto eventual – não quer produzir o evento morto, porém
assume o risco de produzir. Ex: racha.
Elemento volitível é o animus. A tipicidade só pode ser definida quando se sabe
o animus.
• Art. 5º, XXXVIII, d – Tribunal do Juri (competência para julgar os
crimes dolosos contra a vida).

• JECrim – Lei 9099/95 – crimes culposo

Homicídio culposo

Forma culposa é a figura do parágrafo 3º. Exceto o homicídio culposo


decorrente de trânsito (art. 302 da Lei 9.503/97). O homicídio doloso
decorrente de trânsito continua no CP.
Trata-se de tipo penal aberto, exigindo do magistrado o exame e o acolhimento
da prova da imprudência, negligência ou imperícia geradora do resultado letal.
O tipo culposo demanda, pelo órgão de acusação, a prova cabal da culpa, da
conduta reputada imprudente, negligente ou imperita.

Consumação e tentativa – art. 14, I e II

Homicídio se consuma com o evento morte. Tentativa não se obtém o resultado


morte e ocorre na terceira fase do inter criminis (fase mais rica). Sempre que o
resultado não ocorre, pergunta-se o porquê. O animus vai prevalecer. Deve-se
verificar se houve o arrependimento eficaz, desistência voluntária ou a tentativa.
O importante é a versão que se dá aos fatos e não o fato em si (sem alterar
provas, respeitando os limites da ética, pode-se valorar diversamente o fato –
disputa entre versões – elemento anímico).

Homicídio privilegiado

Art. 121
Privilegiado = § 1º - Pena diminuída em 1/6 a 1/3.
• A forma privilegiada do homicídio tem por natureza jurídica causas
de diminuição de pena aplicada na 3ª fase.
• As três formas privilegiadas são subjetivas, ou seja, ligadas à
motivação do crime.
• São excludentes entre si. Não existe homicídio duplamente ou
triplamente privilegiado.
Simples = “caput” – Pena de reclusão de 6 a 20 anos
Qualificado = § 2º - Pena de reclusão de 12 a 30 anos. Temos formas subjetivas
e objetivas ligadas aos motivos e meios de execução.
Privilegiado - § 1º

Formas do crime privilegiado

Relevante valor social - é um valor que reflete o interesse da coletividade,


que revela menor desajuste e diminuta periculosidade do homicida.
Relevante valor moral – refere-se a um interesse de cunho pessoal, que afeta
particularmente o agente e que abriga a chamada moralidade media. São
motivos considerados nobres e altruístas. Ex: pai que mata o estuprador da
filha. Curiosidade: Eutanásia e Ortoeutanásia, na doutrina e na jurisprudência,
recebem o tratamento de homicídio privilegiado pelo relevante valor moral.

Domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima

Elementos

Emoção – é um estado de animo ou de consciência caracterizada por uma viva


excitação do sentimento. É um estado de espírito que altera momentaneamente
a capacidade de querer, entender, se determinar.
Violenta – emoção forte que atrapalha o pensamento.
Atuar sobre o domínio – Domínio ≠ Influência à influência atrapalha o
pensamento, o recurso às faculdades mentais. A mera influencia de violenta
emoção é simples circunstancia atenuante da pena (art. 65 – III, c). Domínio é
subtração, a pessoa perde momentaneamente a capacidade de querer entender
e determinar-se.
Provocação – a vítima inicia a cena, é a provocação capaz de dominar a
emoção do homicida.
Logo em seguida – imediatamente. Se for momentaneamente = domínio de
violente emoção. Se tiver espaço de tempo é influencia.

Forma qualificada

O acusado irá se defender dos fatos, e não da capitulação do crime apontado. O


réu também defende-se da adjetivação dada ao fato, ou seja, da qualificadora. A
vingança é o maior exemplo pratico de motivo torpe (repugnante).

Art. 121 do CP, § 2º - Se o homicídio é cometido:


I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

Qualificadora da torpeza ou do motivo torpe – subjetiva, ligada à motivação


do crime
II - por motivo fútil;

Qualificadora subjetiva, relativa ao motivo do crime. Fútil é o motivo


insignificante, diminuto, ínfimo. Não existe ausência de motivação. Às vezes
não é possível revelar o motivo do crime (sem autoria e materialidade e o réu
continua alegando o fato).
Parte da jurisprudência e da doutrina equipara a ausência de motivação ao
motivo fútil. A ausência de motivo é menos do que o motivo fútil, razão maior
para aplicar a qualificadora.

Outra corrente diz que, se o nada (ausência) é fútil, é o mesmo que dizer que a
ausência de motivo é até mesmo torpe. Assim, o crime é visto como simples, a
fim de não desrespeitar a legalidade. Se não há motivo, não há o que se analisar.

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

Qualificadora objetiva relativa ao meio de execução. Meio cruel é o meio


empregado pelo agente que gera sofrimento, desnecessário para a execução do
crime. Sempre que o agente recorre para praticar o homicídio com um meio
considerado cruel, revela perversidade.
• Veneno: toda substancia mineral, vegetal ou animal, que
introduzida no organismo é capaz de, mediante ação química,
bioquímica ou mecânica, lesar a saúde ou destruir a vida. Ex: açúcar
é veneno para o diabético, veneno de rato.

• Fogo agrava o crime por ser meio cruel.

• Explosivo: qualquer corpo capaz de se transformar rapidamente


em gás à uma temperatura elevada. Ex: ataques do PCC, caso do Rio
Centro na década de 80.
• Asfixia: impedimento da função respiratória. Pode ser conseguida
por: esganadura (constrição do pescoço com as
mãos), enforcamento (constrição do pescoço pelo próprio peso
da vítima), estrangulamento (constrição do pescoço com objetos
segurados pelo
autor), sufocação (travesseiro), soterramento (submersão em
meio sólido) e afogamento (submersão em meio liquido).
• Tortura: é a imposição de mal desnecessário para causar à vítima,
dor, angústia, amargura, sofrimento. Tortura moral é aquela
provocada pelo terror. Obs: tortura seguido de morte admite
progressão de pena. O homicídio qualificado pela tortura (dolo de
matar) não admite progressão de pena.
• Outro meio incidioso: é o clandestino desconhecido da vitima. Ex:
sabotagem do motor do automóvel.

• Outro meio cruel: é o meio bárbaro, aquele que sujeita a vitima à


graves e inúteis vexames. Ex: retalhar a vítima.

• Outro meio de que possa resultar perigo comum. Perigo comum


caracteriza-se quando o agente para a execução do homicídio expõe
a perigo de dano a incolumidade pessoal (vida, integridade
física e saúde) de número indeterminado de pessoas. Ex: ataques
do PCC. É uma qualificadora objetiva ligada ao meio de execução.
• à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
Qualificadora da SURPRESA, objetiva relativa ao modo de execução.
Situação em que jamais poderia esboçar reação, defender-se.
1. Traição: ocorre quando essencialmente há quebra de confiança
depositada pela vitima em relação ao agente, que dela se aproveita
para matar. Pressupões vinculo de confiança pré-existente (pré-
constituído) entre as partes; o agente se vale desta confiança – a
vitima indefesa não esboçará reação Ex: atirar pelas costas, marido
mata mulher durante ato sexual.
2. Tocaia ou emboscada: sujeito ativo aguarda ocultamente a
passagem ou chegada da vitima, que se encontra desprevenida,
para atacar. Há o recurso da premeditação.
3. Dissimulação: disfarce, ocultação, que esconde o propósito
delituoso. Quando o agente ocultando o propósito homicida, se
aproxima da vitima para ganhar sua confiança para então atacá-la
que, desprotegida, não pode esboçar reação. Ex: criminoso age com
falsas mostras de amizade ou de tal modo que a vitima, iludida não
tenha motivo para desconfiar do ataque e é apanhada indefesa. Ex:
maníaco do parque.
4. Recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. Ex:
matar vitima enquanto está dormindo.

5. para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem


de outro crime:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Qualificadora da conexão, subjetiva relativa à motivação do crime. Há a conexão
teleológica (só a primeira figura – assegurar a execução de outro crime). Ex:
mata para executar outro crime. A prática do outro crime não é pressuposto da
qualificadora, é somente a garantia. A prova a ser produzia é quando na
execução do homicídio, o motivo era para executar outro crime.
Na conexão conseqüencial, o homicídio é conseqüência de outro crime. O
homicídio é praticado para assegurar a: ocultação, impunidade (queima
de arquivo) ou vantagem do crime anterior.
Todas as figuras do homicídio qualificado, bem como do homicídio simples,
quando praticado por grupo de extermínio (torpe – torpeza qualifica o
homicídio), conforme a Lei 8.930/94 que alterou a Lei 8.072/90, o tornam
hediondo.
Meio cruel, perigo comum e surpresa à qualificadoras objetivas
(meios e modos de execução)
Torpe, fútil e conexão à qualificadores subjetivas (motivação)

Possibilidade de Cumulação de qualificadoras

Não se cumulam qualificadoras subjetivas. É possível, no entanto, a cumulação


de objetivas ou de uma subjetiva e uma ou mais objetivas.

Qualificadoras
Subjetivas
Objetivas
Motivação
Meios e modos de execução
I – Torpe
III – Meio cruel

II – Fútil
III – Perigo comum

V – conexão
IV – Surpresa

Possibilidade de Homicídio qualificado e, ao mesmo tempo,


privilegiado
Homicídio híbrido

É a possibilidade de cumular uma forma privilegiada (subjetiva-motivação) ou


uma ou mais qualificadoras objetivas (meio ou modo de execução).
Perdem o atributo da hediondez porque na concomitância entre algo de cunho
subjetivo (motivação) e algo de cunho objetivo (meio ou modo de execução),
prevalece sempre aquele (subjetivo). A parte subjetiva não é hediondo.
Ex: pai que mata estuprador da filha – agir por vingança é torpeza (qualificadora
subjetiva). Pode-se dizer, ainda, que o crime é privilegiado pelo relevante valor
moral e social. Porém, o crime não pode ser privilegiado e qualificado ao mesmo
tempo, pois se tratam de elementos subjetivos e não há cumulação neste caso.

Possível resultado: Art. 121, § 2º, I (torpe) e IV (surpresa) – 14 anos e regime


fechado

Possível resultado: Art. 121, § 1º - 4 anos e regime aberto

Quesitos – Tribunal do Júri

1) Autoria

2) Materialidade

3) Privilegiado ou não (relevante valor moral)


4) Torpeza (subjetivo)
5) Surpreza (objetivo)

Primeiro são julgadas os quesitos da defesa, para beneficiar o réu. Se o crime é


julgado como privilegiado (4 votos contra 3), o quesito 4, torpeza, não irá a
julgamento (já definiu o motivo do crime-subjetivo).

Parágrafo 4º do art. 121


Causas de aumento de pena. Na primeira parte, as causas se aplicam somente
para crime culposo. Ex: fugir para escapar da prisão em flagrante. A
jurisprudência e doutrina não consideram essas causas de aumento de pena.

Na segunda parte, aplicam-se ao homicídio doloso. Fundamentos:

1) A idade da vítima integra o dolo do agente como elemento facilitador do


resultado.

2) Criança, adolescente e idoso são pessoas destinatárias de políticas públicas


especiais.

Parágrafo 5º do art. 121 – Perdão judicial

No homicídio, só cabe no parágrafo 3º - só se concede perdão judicial ao


homicídio culposo. É causa extintiva da punibilidade. Arts. 107, IX e 120, CP.
Natureza jurídica da sentença que concede o perdão judicial: é
meramente declaratória, conforme Súmula 18 do STJ. O Estado perdeu o direito
de punir.

Infanticídio

Sujeito ativo

Sujeito ativo, somente a mãe. É crime próprio, unisubjetivo e que admite


concurso de agentes.

O infanticídio, crime próprio, admite concurso de pessoas? Sim, quer na


execução, quer na co-execução.

Se um homem ajudar a mãe a cometer o infanticídio, este terá cometido que


crime? Há uma lacuna na lei, pois infanticídio tem sujeito determinado. Neste
caso, ambos responderam pelo crime de infanticídio.
Há dois fundamentos no conflito de tipificar a conduta:

à Adoção da teoria unitária ou monista: unicidade de crime e pluralidade de


agentes. (art. 129 do CP). Todos os agentes são condenados pelo mesmo crime.
Se um dos acusados recorrer, a decisão alcança os demais acusados.
à A incomunicabilidade das elementares de caráter pessoal (subjetivas) quando
integram a esfera de conhecimento dos agentes (art. 30 do CP).

Sujeito passivo

Sujeito passivo: nascente ou neonato (quem mata durante o parto, mata o


nascente).

Não admite a forma omissiva imprópria. Apenas para familiarizar, ao se falar


em omissivo impróprio, fala-se também em comissivo por omissão e comissivo-
omissivo. A omissão não se esgota em si mesmo, é omissão para produção de
um evento. Há certa confusão entre estado puerperal e depressão pós parto. A
depressão pós parto de amolda ao homicídio.

Estado puerperal: após o parto é o fenômeno biopsicológico, é reação hormonal


que desencadeia uma reação psicológica. Domina o pensamento da mãe e esta
perde parcialmente a capacidade de pensar. A vida pregressa leva a essa reação,
ou seja, o abalo na vida durante a gravidez é fator gerador dessa reação. Pode
ser alegado a qualquer momento. Verifica-se a intensidade do estado puerperal
e não a duração. Alguns países consideram o estado puerperal em até 15 dias
após o parto.

Sobre a gravidez, o direito brasileiro é referencia mundial ao se tratar no


tratamento de crianças precárias. São feitos protocolos após o nascimento a fim
de evitar doenças vindas da mãe, como AIDS e Hepatite C.

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio


Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio

Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para


que o faça:

Este crime não é imutável a quem atenta. É a


eliminação voluntária e direta da própria vida.

Sujeito ativo

Qualquer pessoa pode praticar este crime, há concurso eventual exclusivamente


na modalidade PARTICIPAÇÃO, logo não admite co-execução, só conduta
acessória.

Sujeito passivo

Qualquer pessoa maior de 14 anos e portadora de higidez mental


(posicionamento amplamente dominante na doutrina e jurisprudência).

Homicídio em autoria mediata: vitima menor de 14 anos.

Tipo objetivo

Trata-se de tipo misto alternativo oi de conteúdo variado ou de conteúdo


múltiplo, ou seja, o crime é único– se violado mais de um verbo, o crime é único.
Ex: investigar e/ou auxiliar e/ou instigar.

a. Casos de participação moral

Induzir: fazer nascer a idéia, criar o propósito suicida.

Instigar: estimular, encorajar, ampliar o propósito já concebido.


b. Caso de participação material

Auxiliar: viabilizar os meios e os modos de fornecer material para o suicídio.

É crime exclusivamente de participação. A conduta do agente é acessória. Ao


menor ato de execução a conduta se amolda ao homicídio.

Tipo subjetivo

É o dolo direito ou indireto eventual. O agente deve querer a morte do outro.

Tentativa

Tentar não justifica a ação penal, não se pune a tentativa de instigar, auxiliar ou
induzir o suicídio.

Pena

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou


reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão
corporal de natureza grave.

Lesão grave com resultado morte: pena em abstrato de 1 a 3 anos.

Parágrafo único - A pena é duplicada:

Aumento de pena

I - se o crime é praticado por motivo egoístico;

Se o crime é praticado por motivo egoístico (todo motivo que acarrete


uma vantagem para o agente, não necessariamente econômica), terá a pena
duplicada.
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de
resistência.

Adotado o entendimento do motivo subjetivo, a vítima deve ser menor de 14


anos. Fundamento: art. 121, § 4º, parte final. Se a vitima, por exemplo, está em
crise depressiva, e o agente se aproveitar dessa situação para induzi-lo ao
suicídio, acaba por diminuir a capacidade de resistência da vitima, e terá a pena
aumentada.

Aborto

O termo aborto deriva de “ab ortus” e significa interrompido desde o início.


É a interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção. Não há
necessidade de expulsar o feto do corpo da mãe, basta a interrupção da gravidez.
Há procedimento de mumificação do feto (consolidação) e até absorvição, isso
quando a gravidez é interrompida de pronto.

A conduta é o abortamento e o resultado é o aborto. Alguns doutrinadores dizem


que o crime é o de abortamento. A conduta de interromper a gravidez pode ser
realizada em qualquer fase da gravidez (óvulo fecundado, embrião e feto).

Objetividade jurídica

É a vida intra-uterina. Os arts. 1609, 1611 e 1799 do CC demonstram de forma


clara que a lei protege o nascituro.

Classificação

A regra é a não punição do aborto. Esse crime tipificado é exceção.

Aborto atípico

Quando não há a descrição do fato típico do aborto.


1. Aborto natural ou espontâneo: é o oriundo de causas
patológicas decorrentes de um processo fisiológico espontâneo do
organismo feminino. Ex: choque de PH.
2. Aborto acidental: deriva de causas exteriores e traumáticas. Ex:
queda de escada.
3. Aborto culposo: é o que resulta de culpa stricto sensu, ou seja,
conduta imprudente, negligente ou imperita. O que ganha destaque
é o dolo eventual (há crime) e a culpa consciente (não há crime).
Não se pune aborto culposo.

Aborto típico ou jurídico – art. 128 (excludentes de ilicitude)

Quando o fato é típico e lícito – aborto legal ou permitido. O fato é típico, porém
é lícito/jurídico. Logo não há crime. Além das 4 excludentes de ilicitude, a lei
pode criar excludentes específicas a um artigo específico. A finalidade deste
artigo é excluir o caráter ilícito do artigo, porém a redação leva a
interpretar que a finalidade seria excluir a tipicidade e punibilidade.
1. Aborto terapêutico ou necessário (inciso I): quando não há outro meio
de salvar a vida da gestante. A vida da mãe é uma realidade, a vida da criança é
uma possibilidade. Opta-se a vida da mãe para não perder as duas, logo não há
nada inconstitucional neste aborto.
Há dois estados de necessidade a serem analisados. O que gera a
excludente de ilicitude em geral (um dos 4 casos previstos no CP) e o estado de
necessidade que gera esta excludente, específica do crime de aborto.
Aqui o aborto só pode ser realizado por médico, mais ninguém. O estado de
necessidade geral pode ser qualquer pessoa. No estado de necessidade geral é
requisito o perigo atual. O perigo atual não é necessário nesta excludente de
ilicitude específico do aborto.

2. Aborto humanitário ou sentimental (inciso II): quando o aborto


resulta de estupro, com o consentimento da gestante. A lei faculta à gestante o
aborto nesta situação. Não é necessário permissão judiciária. O caminho normal
é abrir inquérito policial, a modo de garantir a não punibilidade do medito e da
gestante que consente.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento


da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Aborto típico, antijurídico e culpável

É o aborto criminoso. É o aborto realizado pela própria gestante, ou por terceiro,


com ou sem o seu consentimento. O aborto criminoso é o aborto doloso, com
ressalva do art. 128.

1. Aborto eugênico ou eugenésico: realizado quando o feto apresenta


graves e irreversíveis defeitos genéticos. Ex: aborto de feto anencefálico.
2. Aborto econômico ou social: realizado para que não se agrave a situação
de penúria ou miserabilidade da gestante.
3. Aborto “honoris causa”: praticado para ocultar desonra própria.

Exceção pluralística à teoria unitária:

Quando houver concurso de pessoas, no crime do aborto, os crimes cometidos


são diferentes para os intervenientes. Ex: gestante permite aborto e o medito,
com o consentimento, pratica o crime. A gestante responderá pelo crime
tipificado no art. 124 o medito responderá pelo crime do art. 126, ambos do CP.

Auto aborto – art. 124, 1ª parte

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento


Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Praticar aborto em si mesma. A objetividade jurídica é a vida intra-uterina.


Sujeito ativo é a gestante. O crime é próprio e unissubjetivo que admite
concurso de pessoas, exclusivamente na modalidade participação. Só há
concurso de pessoas quando o terceiro é partícipe. A participação pode ser
material/auxilio ou moral/indução/instigação. Não pode ter ato de execução
por parte de terceiro, pois assim a gestante apenas dá o consentimento e não
pratica o crime. O sujeito passivo é o feto.
O tipo objetivo é praticar aborto em si mesma. O verbo é aborto, praticar
manobras abortivas. É necessário que o verbo esteja vivo. Se estiver morto, não
há objetividade jurídica. Ex: deixar de tomar medicamente e provocar aborto
(crime comissivo por omissão).
O tipo subjetivo é o dolo, pode ser direto ou indireto eventual.
Consumação: consuma-se o auto-aborto com a interrupção da gravidez e a
conseqüente morte do produto da concepção.
Admite-se a tentativa de aborto.

Consentimento para abortar – art. 124, 2ª parte

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.

A objetividade jurídica é a vida intra-uterina. O sujeito ativo, neste artigo, é a


gestante, trata-se de crime de mão própria. Não admite concurso de pessoa,
pois o consentimento é ato personalíssimo.
O tipo objetivo: aluir, permitir, concordar. O consentimento trás dois
elementos indispensáveis: consentimento válido (a gestante tem condições
de consentir e sabe o que está fazendo) e passagem da verbalização à
ação (“o consentimento precisa vir vestido”), ou seja, falar e pesquisar sobre o
aborto não leva ao crime, deve haver a materialização das ações, como ir à
clínica para fazer o aborto com data agendada (conduta deixa claro e inequívoco
o consentimento do aborto).
O tipo subjetivo é o dolo, direito ou indireto eventual.
Quanto à tentativa de consentimento de aborto, há dois entendimentos:
• Basta que se passe da verbalização à ação. Para esta parte da
doutrina, basta ter consentido.

• outra parte da doutrina diz que se consuma quando o


consentimento se torna irreversível. Se a gestante se arrepende e
impede a consumação do aborto. Assim, só é considerada a
tentativa quando há interrupção do aborto, e a gestante não pôde
voltar atrás no seu consentimento, estando impedida ou sedada.
Neste crime, não é admitido a tentativa de consentimento/permissão. Ou há
consentimento ou não. A gestante deve concordar e consentir a pratica de aborto
para tipificar, deve ser um consentimento perfeito, se haverá aborto ou não,
deve-se analisar a ação do terceiro. Se não houver aborto, ele comete tentativa
de homicídio; se houve o aborto, ele responderá pelo crime de aborto.

A gestante pode até desistir de permitir o aborto, porém é ato de preparação,


não entra na fase de execução. Não se considera tentativa.

Aborto sem o consentimento da gestante – art. 125

É a forma mais grave de aborto. A objetividade


jurídica fundamental/principal é a vida ultra-interina, é a preocupação
principal. Porém há uma secundária objetividade jurídica que é
a incolumidade pessoal da gestante/da vida da gestante. Logo, há dupla
objetividade.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, exceto a gestante. Logo o crime é comum e
admite todos os concursos de pessoas entre executores e participes.
Sujeito passivo: a primeira vítima é o feto, a segunda vítima é a gestante.
O tipo objetivo é o verbo provocar, realizar manobrar abortivas. É crime de
forma livre, qualquer meio idôneo para realizar o aborto. É material,
plurissubsistente, de dano, instantâneo e progreessivo. A estrututra típica é
semelhante ]á primeira parte do caput.
Consumação: consuma-se com a interrupção da gravidez. Admite tentativa.
Não deve ter o consentimento da gestante.
Aborto provocado por terceiro

Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.

Aborto com consentimento da gestante – art. 126

É o mesmo caso do art. 125. A diferença é que neste caso há o consentimento da


gestante. A partir do consentimento, deve-se analisar se este é válido ou não.

• Válido – art. 126 com a pena do art. 126: se o consentimento for


considerado válido, sai do art. 125 e vai para o art. 126, sendo
aplicada a pena deste.
• Não válido – art. 126 com a pena do art. 125, por força do
parágrafo único do art. 126: se o consentimento for não for
considerado válido, permanece no art. 126, com a pena do
parágrafo único.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Parágrafo único - Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é


maior de 14 (quatorze) anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.

Dissentimento - parágrafo único do art. 126


(Aborto praticado por terceiro, com o CONSENTIMENTO NÃO VÁLIDO da
gestante)

Real

É o consentimento real, admitido pela gestante.

• Fraude: enganar, levar ao erro.


• Grave ameaça: ameaça verossímel, realizável, causa medo a
ponto de levar ao consentimento. A violência não é física, é “vis
relativa”/violência moral. Não se confunde com grave ameaça o
temor reverencial. Neste caso, a gestante responde pela parte final
do art. 124 e quem abortar responde pelo art. 126 (consentimento
válido).
• Violência: é a violência física, a “vis absoluta”.

Ficto

É o consentimento presumido, não válido.

• Menor de 14 anos:
• Alienada: não tem compromisso com a realidade, não se confunde
com o rebaixamento mental.
• Débil mental: expressão antiga (parte especial do código) –
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, pessoa com o
rebaixamento mental

Resumão

Auto aborto X Aborto com ou sem consentimento


A estrutura típica é a mesma. O verbo é o mesmo. O que muda são os agentes.

Causas de aumento de pena


Não é forma qualificada.

A lesão grave está no art. 129, parágrafos 1º e 2º.

Há três coisas a serem analisadas:

1. São preterdolosas: dolo no aborto e culpa no resultado lesão ou


morte. O aborteiro quer ou assume o risco de provocar o aborto,
entretanto, causa lesão grave ou morte da gestante, por imperícia,
negligencia ou imprudência.
2. As causa de aumento de pena são aplicam exclusivamente nos arts.
125 e 126, ou seja, só poderá aumentar a pena no aborto cometido
por terceiro, com ou sem o consentimento da vítima. A gestante é
vítima, logo a objetividade jurídica, mesmo que secundária, é a
incolumidade pessoal

3. Há dois resultados: um resultado pode ocorrer durante o aborto, o


outro resultado pode ocorrer depois de realizado o aborto, mas por
causa dele.
Se o aborteiro quiser lesar ou matar a gestante, ele agirá com dolo e serão
aplicados os arts. 126 + 121. Não aplicar-se-á o art. 127.

Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de
um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para
provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Aborto de feto anencefálico

Não há lei que permita o aborto de feto anencefálico.


Liminar foi cassada: delicadeza do tema (decidido apenas por uma única pessoa
e órgão colegiado) e liminar satisfativa (após o aborto, não há mais interesse –
satisfaz a autora).

O julgamento demora, basta uma lei federal para definir este assunto. Porém, o
legislador tem receio de enfrentar questões polêmicas, deixando para o
Judiciário julgar casos concretos, criando uma jurisprudência sobre o assunto.

Fundamentos utilizados

ü Dignidade da pessoa humana, em especial a dignidade da mulher:


a aplicação desse fundamento significa afronta a dignidade da mulher obrigá-la
a gestar um feto sem perspectiva de vida, no seu mais cristalino extinto, a gestar
uma vida inviável (sacrifício da gestante).
• Excludente de culpabilidade da inexigibilidade de
conduta diversa, o fato é típico, antijurídico, porém não culpável:
não é razoável exigir que mulher leve a termo gestação inviável.
• Aborto de feto anencefálico é crime impossível: se não há
expectativa de vida, não há proteção à vida intra-uterina, logo, não
há aborto.
Ex: TJ SP – Sessão Criminal - MS 990.09.100.286-0 / 2ª vara / Mogi das
Cruzes: interrupção da gravidez no 7º mês de gestação – gêmeos sem
probabilidade de vida após o parto. Decisão: liminar indeferida. O aborto foi
permitido “A vida faz o direito e não o direito faz a vida”.

Lesão corporal

Há 11 resultados que qualificam a lesão corporal.

Art. 129 caput – lesão leve ou simples

§ 1º - doutrinária e jurisprudencialmente lesões graves

§ 2º - doutrinária e jurisprudencialmente lesões gravíssimas


Obs: a lei não distingue a lesão grave da gravíssima nos parágrafos

§ 3º - lesão corporal seguida de morte

§ 4º - lesão corporal privilegiada

§ 5º - substituição de pena

§ 6º - lesões culposas (exceto decorrente de acidente de trânsito)

§ 7º - causas de aumento de pena

§ 8º - perdão judicial

§ 9º - lesão qualificada pela violência doméstica

§ 10º - causas especiais de aumento de pena dos parágrafos 1º a 3º

§ 11 – causas especiais de aumento de pena da lesão qualificada pela violência


doméstica

Conceito de Lesão corporal

É crime de dano, ataque, enfrentamento do bem jurídico.

Doutrina

Lesão corporal é todo e qualquer dano ocasionado à normalidade funcional do


corpo humano, quer do ponto de vista anatômico, quer do ponto de vista
fisiológico ou mental. Não é qualquer coisa que causa a alteração dos tecidos.
Engloba proteção da integridade física e saúde. Causar doença ou moléstia é
lesão corporal.
Objetividade jurídica

Incolumidade física e saúde, física e mental.

Sujeito ativo

Qualquer pessoa pode praticar lesão corporal. É crime comum,


unisubjetivo, admite concurso de pessoa em todas as modalidades.

Sujeito passivo

Qualquer pessoa pode ser vítima (ser humano vivo).

Tipo objetivo

O verbo é o ofender, empregado como lesar, causar mal, macular a integridade


física. Vide tipo objetivo do art. 121 (tudo o que vimos no homicídio cabe
aqui – crime livre, instantâneo, material, etc.).

Tipo subjetivo

Admite forma: doloso, culposa e preterdolosa.

A forma dolosa esta no caput e nos parágrafos: 1º, 2º, 3º e 9º. No dolo, poder
ser direito ou indireto (eventual ou alternativo).
A lesão culposa está no parágrafo 6º, exceto decorrente das leis de trânsito
(CTB)
A lesão preterdolosa está no parágrafo 3º.

“Laedendi animus” ou “Animus nocendi”

Expressões utilizadas para identificar a intenção de lesionar.

Consumação e tentativa
Consuma-se com a ofensa a integridade física, ou seja, impedimento ao normal
funcionamento do corpo. É muito comum encontrar a tentativa de lesão
corporal.

Lesão leve: deve estar qualificada no caput do artigo.

Tentativa de lesão corporal grave

• Se o resultado for culposo ou preterdolo – não admite-se a tentativa


de lesão corporal grave

• Se o resultado for doloso – admite-se a tentativa de lesão corporal


grave

Lesão corporal grave

Esses fatos qualificadores são admitidos nas seguintes formas: não há duvida
que nesses 4 resultados podem ser admitidos por culpa. Admite-se a forma
preterdolosa: dolo na lesão, culpa no resultado. Porém esse resultado pode ser
por conduta imperita, negligente ou imprudente. Nada impede que a pessoa
queira lesionar para conseguir o resultado da qualificadora. Ex: atleta contrata
alguém pra lesionar concorrente por longo período. Assim o resultado é doloso.

Lesão corporal de natureza grave


§ 1º - Se resulta:

I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias;

Resulta em incapacidade, impossibilidade, habitual ou realizar ao menos uma


atividade (rotineira, tem que ter periodicidade). Não cabe a redução da
habilidade ou dificuldade para realizar atividades, deve haver a incapacidade
por mais de 30 dias (contados a partir da lesão e não do laudo
pericial). A pessoa é submetida a novo exame no 31º dia após a lesão para
concluir se há lesão corporal de natureza grave, tipificada no § 1º, I.
Base na conclusão/laudo pericial: Objetiva: constatação da lesão - Subjetiva:
valoração de que a lesão incapacitou a vitima.
O laudo pode ser discutido em juízo somente em sua parte subjetiva (se
efetivamente a lesão incapacitou a pessoa nas suas atividades). Não se discute
a parte objetiva do laudo de corpo de delito. Afastada a qualificadora, a lesão
é leve.
II - perigo de vida;
Perigo de vida é a probabilidade concreta e presente do resultado letal. É um
conceito objetivo-subjetivo porque é um trecho da realidade que demanda
valoração. Parto de um fato concreto, que aconteceu e não de uma coisa
conceitual, esse acontecimento é valorado e coloca em risco de morte a vitima.
Ex: fato causa parada cardíaca na vítima e no laudo consta que a pessoa correu
perigo de vida. No laudo deve apresentar as causas que levaram ao perigo de
vida, o fato e a valoração devem ser descrito, possibilitando a defesa,
contraditório e devido processo legal. A valoração pode ser discutida. A prova
é técnica, não serve a opinião de leigo ou de testemunhas.
• O dolo de dano é o confronto, ataque do bem jurídico (homicídio)

• Dolo de perigo é conduta que apenas expõe bem jurídico a situação


capaz de causar um dano.
1º entendimento: A qualificadora não admite resultado doloso pois
considera-se dolo de perigo.
2º entendimento: é possível o resultado doloso – tentativa de homicídio. É
possível, porém não se aplica. Considera-se dolo de dano.
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
Debilidade significa diminuição, redução, decréscimo. Não se confunde com o
inciso III do § 2º (perda do membro). Irreversível pelo atual estágio da
medicina. Considera-se no dispositivo: braços, mãos, pernas e pés. Os sentidos
são os cinco: paladar, audição, tato, olfato e visão. Função é a destinação
principal de um órgão. Ex: função digestória, respiratória, circulatória.
Caso a pessoa fosse cega de um olho e perca a visão por terem lesionado seu
outro olho. Não se encaixa neste inciso, pois a pessoa perdeu a visão por
completo.
Jamais qualifica por esse inciso a inutilização ou perda. É a
debilidade.
A colocação de prótese não afasta a incidência da qualificadora.
IV - aceleração de parto:
É o parto antecipado, fora de hora. Não se confunde com o abortamento
(interromper gravidez). Neste caso, o feto tem meios de viver fora do
útero (condições de sobrevida fora do útero).
§ 2º - Se resulta:

I - incapacidade permanente para o trabalho;

A vítima perde a capacidade de trabalhar – mitigada sua dignidade (motivo que


agrava a conduta). Trabalho = exclusivamente atividade laborativa remunerada.
Atividade filantrópica não se inclui. A incapacidade deve se atentar ao que
é faticamente impossível – impossibilidade de trabalhar factual/na
prática, não em tese. “Se levar ao pé da letra, sempre há a possibilidade de
vender bilhetes de loteria”. Ex: pianista perde o dedo – não poderá mais
trabalhar profissionalmente – poderá trabalhar ainda, mas não mais como um
pianista virtuoso.
II - enfermidade incurável;
É a doença ou moléstia, grave e incurável. É a transmissão dessa doença. Ex:
transmissão do vírus HIV.

III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;


Da perda à amputação. Exige a perda ou inutilização, ou seja, a eliminação e não
apenas a debilidade ou a redução do membro, sentido ou função.

IV - deformidade permanente;
Atrelada à idéia de dano estético. Conceito objetivo (existência da lesão)
subjetivo (valoração da lesão como de cunho estético – local
visível/perceptível/vexatório). Ex: cicatriz no rosto, queimadura.

V - aborto:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.

Interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção. Para que


seja imputado esse resultado, é indispensável que ele soubesse ou pudesse saber
da gravidez da vítima.

Resumindo o § 1º - agravantes da lesão corporal grave


Inciso I – admite os resultados doloso ou culposo;
Inciso II – admite o resultado culposo e possibilidade de discutir o resultado
doloso (risco de vida – possível tentativa de homicídio);
Inciso III - admite os resultados doloso ou culposo;
Inciso IV - admite os resultados doloso ou culposo.

Resumindo o § 2º - agravantes da lesão corporal gravíssima

Todas as cinco agravantes da lesão corporal gravíssima admitem os resultados


preterdolo e o dolo eventual. Os incisos I a IV também admitem o resultado
doloso. O Aborto é exclusivamente culposo, se for doloso, responderá pelo art.
125, aborto sem o consentimento da gestante.

Inciso I – admite os resultados doloso ou culposo;


Inciso II – admite os resultados doloso ou culposo;
Inciso III- admite os resultados doloso ou culposo;
Inciso IV – admite os resultados doloso ou culposo;
Inciso V – não admite o resultado doloso, apenas culposo.

Conflito entre agravantes

É possível que haja mais de um resultado, tipificando inciso do § 1º e também


do § 2º - aplicar-se-á a agravante mais grave.

É possível haver mais de uma agravante dentro do mesmo parágrafo – aplicar-


se-á a agravante mais importante (mais relevante/principal).
Tentativa de lesão corporal grave e gravíssima

Se o resultado qualificador for doloso, admite-se a tentativa de lesão corporal.


Quando o resultado qualificador for culposo ou preterdoloso, não há
possibilidade de tentativa.

Preterdolo e concurso material

Art. 129, § 2º, IV àLesão corporal dolosa com resultado aborto com qualificador
culposo. Ex: marido se descontrola e empurra esposa grávida. Ele não quis
assumir o risco de causar o aborto, apenas lesão. Age com imprudência, culpa.

Art. 126 c/c art. 127, 1ºª parte (causa de aumento de pena) - Aborto doloso com
resultado de lesão culposa.

Aborto + lesão corporal. Aplica-se as penas dos dois crimes, em concurso


material de crimes. Ex: marido empurra dá um soco no olho da esposa grávida
e chuta sua barriga. Ela perde o bebe e a visão.

Lesão corporal seguida de morte

§ 3º - Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o


resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.

É lesão preterdolosa. Dolo na lesão corporal - culpa no resultado morte.

Diminuição de pena – ver art. 121, § 1º

§ 4º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social


ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Substituição de pena

§ 5º - O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de


detenção pela de multa:

I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;

II - se as lesões são recíprocas.

Lesão corporal culposa - Vide 121, § 3º

§ 6º - Se a lesão é culposa:

Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano.

Foi pro art. 303 do CTB.

Aumento de pena

§ 7º - Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do


art. 121, § 4º.

§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.

Violência doméstica

§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge


ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

Companheiro é relação de fato; se o réu contestar, o MP deverá provar.


Aumento de pena nos casos de lesão corporal grave, gravíssima e seguida de
morte (violência domestica como circunstância)

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as


indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço)

A lesão leve está tipificada no “caput” e no § 9º.

A lesão grave está no § 1º.

A lesão gravíssima está no § 2º.

A lesão seguida de morte está no § 3º.

Caso o resultado da lesão pela violência doméstica e a lesão esteja inserida nos
§§ 1º ao 3º, funciona como aumento de pena de 1/3.

§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o


crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência

Só serve para a lesão leve qualificada pela violência domestica. A deficiência


pode ser mental ou física, pois o legislador não definiu .

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