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Saymer Souza
forte emoção, o que dificultaria seu sofrimentos. Meio bárbaro, brutal, que aumenta
autocontrole. inutilmente o sofrimento da vítima, partida de
Assim, esquematicamente, o crime privilegiado um animo calmo que permite a escolha dos
depende das seguintes circunstâncias: meios capazes de infligir o padecimento
desejado à vítima. A tortura, por exemplo, é
IV- HOMICÍDIO QUALIFICADO (art. 121 § 2º) cruel. Para ser qualificadora, no entanto, não é
preciso que seja insidioso e cruel, mas
-Conceito: foi um meio que o legislador sim ou um ou outro.
encontrou de agravar o crime em determinadas
hipóteses em que os meios ou recursos 4- à traição, de emboscada, ou mediante
empregados pelo agente demonstram uma dissimulação ou outro recurso que dificulte
maior periculosidade e menor possibilidade de ou torne impossível a defesa do ofendido
defesa da vítima, podendo estar presente mais (quanto à execução): São aquelas hipóteses
de uma delas, desde que compatíveis: em que o agente se vale da boa-fé da vítima
1 - mediante paga ou promessa de para maior segurança na prática do seu ato,
recompensa, ou por outro motivo torpe; revelando covardia do autor. Ex.: pais da
(quanto aos motivos, subjetiva): É o Susane Richtofen dormindo não achavam que
chamado homicídio mercenário, quando o ela os mataria, senão não teriam dormido.
agente recebeu pagamento para praticar o Na traição está presente o elemento
crime, ou comete porque teve uma promessa confiança, é um vínculo com pessoas do seu
de ser recompensado por isso. Assim, convívio. É a quebra da confiança que a vítima
responderá por crime qualificado não só quem depositava no agente e que este, desta
recebe o valor, mas também quem pagou o confiança, aproveita-se para matar a vítima.
prometeu. Atinge a vítima descuidada e
O motivo torpe, por sua vez, é aquele confiante. Emboscada ou tocaia também é
demonstrado pela maldade do sujeito na sua uma traição, mas sem vínculo de confiança. É
motivação. É motivo abjeto, repugnante, quando o agente espera a passagem ou
ignóbil, desprezível, profundamente imoral, chegada da vítima, descuidada, para a ferir.
mais baixo na escala de valores éticos e Configura-se dissimulação o uso de
denota maior desaprovação espiritual do um artifício para se aproximar da vítima, que
agente. Ex.: Matar para receber herança, distraia a sua atenção. Ex.: disfarce de policial.
porque descobriu que a namorada não é
virgem, por rivalidade profissional e etc. 5- para assegurar a execução, a ocultação,
a impunidade ou vantagem de outro crime
2- por motivo fútil (quanto aos motivos, (por conexão, subjetivo): Este caso
subjetiva): compreende-se aquele sem configuraria, em rigor, motivo torpe. Desta
importância, frívolo(que é ou tem pouca forma, como conexão teleológica, o agente o
importância; inconsistente, inútil, superficial.,) homicídio é perpetrado para execução de outro
leviano, ninharia, insignificante. Há inteira crime (ex.: mata para pode provar incêndio)
desproporção entre o crime e a motivação. ou consequencial, quando é praticado para
Os tribunais tem reconhecido como fútil ocultar ou assegurar impunidade de outro
discussão entre marido e mulher, rompimento crime (ex.: matar testemunhas).
de namoro, discussão familiar sem
importância, por ter a vítima rido do acusado e 6-Impossível ou difícil defesa: Quando a
etc. vítima não tinha condições de escapar daquela
3 - com emprego de veneno, fogo, situação, sempre muito difícil ou até mesmo
explosivo, asfixia, tortura ou outro meio impossível. Ex.: Sujeito deixa o gás aberto e
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar tranca todas as saídas com a vítima dentro do
perigo comum (quanto ao meio empregado, local. É qualificadora também.
objetiva): qualificadoras, pois denotam a maior Obs:Lembrando-se, porém, que se a norma é
periculosidade do agente e dificuldade em repetida como agravante, ela não poderá ser
defesa da vítima e eventualmente também considerada duas vezes para aumento de
podem causar perigo coletivo. O meio pena, pois não se pode julgar um sujeito duas
insidioso é o uso de fraude ou armadilha, vezes pelo mesmo crime. Assim, se houver
clandestinos da vítima que não permitem que qualificadora + agravante, aplica-se
ela saiba que está sendo atacada. Ex.: agravante, nada impede, no entanto, que
armadilha: sabotar o motor de um presentes duas agravantes apliquem-se as
automóvel. Meio cruel, por sua vez, é sujeitar duas.
a vítima a graves e inúteis vexames ou
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para receber herança ou seguro, por vingança, Elemento subjetivo: vontade de causar a
ódio ou mesmo maldade. morte do filho nascente ou recém-nascido. O
dolo é a vontade de matá-lo. Não há forma
Vítima menor ou tem diminuída, por culposa de infanticídio.
qualquer causa, a capacidade de
resistência: quanto a vítima menor, alguns -Consumação e tentativa: consuma-se com a
entendem que seriam entre 14 e 18 morte do recém-nascido ou nascente e sendo
anos, pois menor de 14 anos qualifica infanticídio crime plurissubsistente, é possível a
capacidade nula de resistir a instigação, tentativa.
induzimento ou auxilio, entretanto, é muito
relativo. Alguns menores de 14 anos VIII- ABORTO (art. 124 a 127)
apresentam maturidade suficiente para -Conceito: o aborto é a eliminação da vida
entender o que ocorre. Quanto a diminuição intra-uterina, diferenciando-se do infanticídio,
na capacidade de resistência, pode ser por pois deve ocorrer durante a gestação. Não
embriaguez ou desenvolvimento mental implicada em caracterização do aborto a
incompleto. necessidade de que o feto seja eliminado,
simplesmente que seja morto. É crime comum,
VII- INFANTICÍDIO (Art. 123) pois pode ser praticado por qualquer pessoa,
-Conceito: o infanticídio é crime próprio, pois não somente pela mãe, de forma livre, e
exige características especiais (mãe e em material. Também é crime de dano, pois atinge
estado puerperal: Estado puerperal é o período bem jurídico tutelado.
que vai do deslocamento e expulsão da placenta à Objeto jurídico: vida humana em formação,
volta do organismo materno às condições vida intra-uterina que existe desde a
anteriores à gravidez.) e material (pois para concepção até o momento do parto. Protege-
existir precisa ser consumado) e de livre se também a integridade corporal e a vida da
execução. É delito autônomo e denominação mulher, no caso de aborto provocado por
jurídica própria, buscando o legislador uma terceiro ou sem seu consentimento.
pena mais amena do que o homicídio Sujeito ativo: art. 124 é a gestante, tratando-
privilegiado, levando em consideração a se neste caso de crime especial, do art. 125
situação fisiopsíquica da mãe. Entretanto, se em diante, poderá ser qualquer pessoa o autor
não houver a presença do estado puerperal, do delito.
será considerado homicídio e punido Sujeito passivo: é o feto. Alguns
conforme art. 121. Ademais, devemos lembrar doutrinadores defendem que por o feto não ser
que ele deve ser praticado durante ou logo titular de direitos, o sujeito passivo é o Estado
após o parto, após este lapso temporal ou a comunidade nacional. Também será
também significaria punição consoante art. 121 sujeito passivo a mulher quando o aborto for
e se for antes do parto é aborto, punido pelos praticado sem seu consentimento.
arts. 124 a 128. Elemento objetivo: objeto material do delito é
Objeto jurídico: vida do recém-nascido ou do o produto da fecundação.
nascente (aquele que está em transição entre Elemento subjetivo: é crime doloso, pois é
a vida endo-uterina e extra-uterina). necessário que o agente queira seu resultado
Sujeito ativo: é a mãe em estado puerperal ou assuma seu risco. Não há no aborto crime
que mata o próprio filho. Há discussão, culposo, por isso mesmo a imprudência da
entretanto, na doutrina se é aplicável como gestante que cause interrupção da gravidez
infanticídio o co-autor do ato. Embasados no não é conduta punível e terceiro que cause o
art. 30, alguns defendem que por ser elementar aborto responde por lesão corporal
do crime e viabilizando a comunicação entre os culposa, se foi sem intenção.
agentes, favorecendo o concurso, é - Consumação e tentativa: consuma-se com a
comunicável. Entretanto, outros defendem que efetiva interrupção da gravidez que leva a
por ser o estado puerperal situação morte do feto, sendo desnecessária sua
personalíssima, é intransmissível, devendo o expulsão. A tentativa ocorre quando, tomadas
co-autor pagar por homicídio. todas as manobras abortivas, não interrompe a
Sujeito passivo: é o filho nascente ou recém- gravidez, podendo, inclusive, levar a uma
nascido, não sendo necessária, assim, a aceleração do parto.
comprovação de sinal de vida extra-uterina.
Elemento objetivo: a conduta típica é matar -Auto-aborto ou aborto consentido: o tipo de
(por ação ou omissão) o próprio filho durante aborto previsto no art. 124 deve ser dividido
ou logo após o parto, aquela mãe que está sob em duas partes: Quando trata-se de provocar
estado puerperal. em si mesma é o auto-aborto, em que a
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mulher pratica crime especial, pois somente ela anemia profunda, cardiopatia, câncer uterino e
poderá praticá-lo. Na segunda parte do artigo é etc.
que se fala em aborto- 2-Aborto no caso de gravidez resultante de
consentido, considerando-se permitir que estupro: Doutrinariamente chamado de “aborto
outrem lho provoque, neste caso, a sentimental”, é aquele que pode ser praticado
estimulação, instigação, indução ou auxilio de quando a gravidez resultou de um estupro.
outra pessoa no evento aborto, o que não Esta norma justifica-se, pois a mulher não é
significa que este terceiro tenha agido abrigada a cuidar de filho que resultou de coito
diretamente, não “colocou a mão na violento e não desejado e também porque,
massa”. Sendo assim, este artigo pune geralmente, o autor do estupro tem problemas
exclusivamente a mãe que, sozinha, que podem ser hereditários. Deve haver, no
praticou o aborto. entanto, o consentimento da gestante, não
sendo necessária autorização judicial ou
-Aborto provocado por terceiro (artigo sentença condenatória do autor do estupro.
125):Neste caso a pena cominada é mais
grave, pois foi feito o aborto sem o IX- LESÕES CORPORAIS (art. 129)
consentimento da gestante, sendo a gestante -Conceito: é ofensa à integridade física ou à
também vítima neste caso. Pode ocorrer por saúde de outrem, ou seja, é dano ocasionado à
violência, ameaça ou fraude (ex.: fingir o normalidade do ponto de vista anatômico,
médico que vai retirar um tumor da gestante e fisiológico ou mental. A lesão corporal existe
tirar o feto). Presume-se não haver o mesmo que a vítima concorde com
consentimento quando a gestante for menos ela, salvo em situações que não gerem
de 14 anos ou se é alienada mental. distúrbio social, ou seja, colocar piercing,
fazer tatuagem ou cirurgia plástica não são
-Provocar aborto com o consentimento da crimes.
gestante (artigo 126):Este artigo ocorre Objeto Jurídico: integridade física ou saúde
quando o aborto é feito com consentimento da Sujeito Ativo: qualquer pessoa pode praticá-
gestante. A gestante responderá pelo art. lo, pois trata-se de crime comum.
124 e o terceiro pelo art. 126, com pena Sujeito Passivo: qualquer homem vivo, depois
mais severa. A aceitação pode ser expressa do parto, que não seja o próprio agente.
ou tácita e deve existir do começo ao fim do Tipo Objetivo: o núcleo é ofender a
evento (ou seja, até a consumação). Se integridade física ou a saúde de alguém.
durante o aborto a gestante revoga seu Quanto à saúde, será qualquer desequilíbrio
consentimento, o terceiro responderá funcional no organismo. Assim, a transmissão
sozinho pelo art. 125. de moléstias ou distúrbios fisiológicos
(inconsciência, insônia, estado de choque) são
-Forma qualificada (artigo 127):Aumenta as lesões corporais, pois ferem a saúde de
penas do art. 125 e 126 se da ação do aborto a outrem.
gestante sofrer lesões corporais graves (o que Obs:Também é considerado como lesão
aumenta em 1/3) ou se ela vier a falecer (o que agravar ou fazer persistir lesão já existente.
dobra a pena). Ela pode ser por ação, quando for praticado de
forma física (golpes, facadas chutes) ou moral
-Não se pune o aborto praticado por médico (assustar, por exemplo). Também pode ser por
(Art 128):São duas as hipóteses omissão quando o agente tinha o dever de
evitar a lesão corporal, mas não o fez, p. Ex.,
1-Aborto necessário: São os casos de aborto deixar de prestar alimentos.
legal que tornam lícita a pratica do aborto e -Consumação e Tentativa: Também pode ser
excluem a criminalidade, culpabilidade ou consumado, quando efetivamente se fere a
punibilidade. O aborto necessário caracteriza o integridade física ou as saúde de alguém, ou
estado de necessidade. Entretanto, para evitar tentado se, se valendo de todos os meios
dificuldades, o legislador indicou que deve ser possíveis, o agente foi parado por ações
praticado por médico (embora a prática por involuntárias, alheias a sua vontade.
profissionais amadores não indique crime -Classificação das lesões:
também, podendo a gestante alegar estado de 1-Lesão Corporal Leve:É assim denominada
necessidade). A gestação deve, para que o por exclusão doutrinária. Será lesão corporal
aborto seja necessário, colocar em risco a vida leve aquela que não seja grave, gravíssima ou
da vítima. Ou seja, ainda que o risco não seja seguida de morte.
atual, prever que manter aquela gestação pode 2-Lesão Corporal Grave (129 § 1º): são dos
tirar a vida da mãe. Ex.: diabete, tuberculose, seguintes tipos
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