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Saymer Souza

CÓDIGO PENAL - 7 Os meios podem


CRIMES CONTRA A VIDA ser físicos (armas), patológicos (transmissão
de moléstia por meio de vírus ou bactéria)
I-DOS CRIMES CONTRA A PESSOA ou psíquicos e morais (provocação de
-Conceito: Os crimes contra a vida estão emoção violenta a um cardíaco).
dispostos do art. 121 à 148 do CP. Exceto os Ele também pode ser praticado por ação ou
crimes contra a vida considerados culposos e por omissão, como já foi dito.
expressamente previstos em lei, todos são Em todos os delitos, é indispensável que
dolosos e estes são levados ao Tribunal do haja nexo causal entre a conduta e o
Júri. resultado.
A conduta de um crime doloso poderá ser -Elementos Subjetivos: o dolo é a vontade de
comissiva (quando há a pratica de uma ação) matar alguém, não exigindo qualquer fim
ou omissiva (quando a ausência de uma ação especial. Está no foro íntimo do autor e é
levou ao crime). caracterizado pelo animus necandi. Esta
Os crimes dolosos previstos no art. 121 são: distinção é importante, pois havendo o
- Simples “caput” elemento subjetivo de animus necandi e não
- Privilegiado § 1º consumado o evento delituoso, este
- Qualificado § 2º configuraria tentativa de homicídio e não
Já os culposos estão dispostos no art. 121, §§ lesão corporal.
3º e 4º e podem ser:
- Simples III- HOMICÍDIO PRIVILEGIADO (art. 121 § 1º)
- Qualificado -Conceito: o crime privilegiado é atenuante de
II- HOMICÍDIO SIMPLES pena e ocorre quando o agente está impelido
-Conceito:O homicídio simples é a eliminação por forte valor social ou moral e age
da vida extra-uterina praticada por outrem, imediatamente após injusta provocação.
atingindo bem-jurídico tutelado pelo Ressalte-se que o crime privilegiado é doloso e
ordenamento jurídico que é a eliminação da deve estar conjugado juntamente com o art.
vida humana extra-uterina. Tal conceito é 121, “caput’, por isso a causa de
importante para diferenciar o homicídio do sua diminuição é estabelecida na pena
aborto (vida endo-uterina) e do suicídio (que deste artigo de 1/6 a 1/3, podendo ser até
não é praticado por outrem). menor do que a pena base. Em outras
Objeto jurídico:Protege-se a vida humana palavras, ele não é delito autônomo e
extra-uterina, que passa a existir depois do sim causa de diminuição de pena.
parto, que é o bem jurídico mais importante,
-Figuras típicas do homicídio privilegiado:
sendo imperativo da ordem constitucional (art.
5º, caput). 1-Relevante Valor Social: significa que o
Sujeito ativo: é crime comum e de forma livre, delito é entendido pela sociedade como
ou seja, pode ser praticado por qualquer justificável. É aquele que diz respeito
pessoa em grupo ou não, empregando ou não aos interesses da vida coletiva. Ex.: patriota
armas. mata traidor da pátria, sujeito mata perigoso
Sujeito passivo: é alguém, qualquer ser bandido da comunidade a fim de segurar a
humano, sem distinções, que seja a partir do tranqüilidade e etc.
início do parto. Alguém que tenha vida humana 2-Relevante Valor Moral: é uma questão
extra-uterina. moral individual, particular do agente, movida
-Consumação e Tentativa: A consumação é por sentimentos de compaixão e piedade. A
dada sempre com a morte da vítima. Sempre eutanásia, por exemplo, não foi excluída a
que age dolosamente o autor quer atingir o culpabilidade pelo direito penal brasileiro,
núcleo, seja esta intenção direta ou indireta. entretanto este agente goza de diminuição de
A tentativa ocorre quando, iniciado o ataque a pena, pois há relevante valor moral, ou seja, o
pratica seja interrompida por circunstâncias agente pretende acabar com o sofrimento de
alheias à vontade do agente, caso contrário, um doente irremediavelmente perdido.
seria desistência voluntária. 3-Sob Violenta Emoção Logo Em Seguida
-Elementos objetivos: A conduta típica De Injusta Provocação Da Vítima: é um
é matar alguém, é o núcleo do tipo. elemento temporal e exige que estejam
O homicídio pode ocorrer por presentes as duas figuras. A caracterização
meios diretos (quando a ação pretende a ressaltada pelo legislador de “logo em seguida”
morte imediata como disparo de amar de fogo) expressa que é imprescindível que o ato
ou indiretos (quando a ação é mediata como tenha ocorrido imediatamente após injusta
açular um cão para atacar alguém). provocação e que o agente já estivesse sob
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forte emoção, o que dificultaria seu sofrimentos. Meio bárbaro, brutal, que aumenta
autocontrole. inutilmente o sofrimento da vítima, partida de
Assim, esquematicamente, o crime privilegiado um animo calmo que permite a escolha dos
depende das seguintes circunstâncias: meios capazes de infligir o padecimento
desejado à vítima. A tortura, por exemplo, é
IV- HOMICÍDIO QUALIFICADO (art. 121 § 2º) cruel. Para ser qualificadora, no entanto, não é
preciso que seja insidioso e cruel, mas
-Conceito: foi um meio que o legislador sim ou um ou outro.
encontrou de agravar o crime em determinadas
hipóteses em que os meios ou recursos 4- à traição, de emboscada, ou mediante
empregados pelo agente demonstram uma dissimulação ou outro recurso que dificulte
maior periculosidade e menor possibilidade de ou torne impossível a defesa do ofendido
defesa da vítima, podendo estar presente mais (quanto à execução): São aquelas hipóteses
de uma delas, desde que compatíveis: em que o agente se vale da boa-fé da vítima
1 - mediante paga ou promessa de para maior segurança na prática do seu ato,
recompensa, ou por outro motivo torpe; revelando covardia do autor. Ex.: pais da
(quanto aos motivos, subjetiva): É o Susane Richtofen dormindo não achavam que
chamado homicídio mercenário, quando o ela os mataria, senão não teriam dormido.
agente recebeu pagamento para praticar o Na traição está presente o elemento
crime, ou comete porque teve uma promessa confiança, é um vínculo com pessoas do seu
de ser recompensado por isso. Assim, convívio. É a quebra da confiança que a vítima
responderá por crime qualificado não só quem depositava no agente e que este, desta
recebe o valor, mas também quem pagou o confiança, aproveita-se para matar a vítima.
prometeu. Atinge a vítima descuidada e
O motivo torpe, por sua vez, é aquele confiante. Emboscada ou tocaia também é
demonstrado pela maldade do sujeito na sua uma traição, mas sem vínculo de confiança. É
motivação. É motivo abjeto, repugnante, quando o agente espera a passagem ou
ignóbil, desprezível, profundamente imoral, chegada da vítima, descuidada, para a ferir.
mais baixo na escala de valores éticos e Configura-se dissimulação o uso de
denota maior desaprovação espiritual do um artifício para se aproximar da vítima, que
agente. Ex.: Matar para receber herança, distraia a sua atenção. Ex.: disfarce de policial.
porque descobriu que a namorada não é
virgem, por rivalidade profissional e etc. 5- para assegurar a execução, a ocultação,
a impunidade ou vantagem de outro crime
2- por motivo fútil (quanto aos motivos, (por conexão, subjetivo): Este caso
subjetiva): compreende-se aquele sem configuraria, em rigor, motivo torpe. Desta
importância, frívolo(que é ou tem pouca forma, como conexão teleológica, o agente o
importância; inconsistente, inútil, superficial.,) homicídio é perpetrado para execução de outro
leviano, ninharia, insignificante. Há inteira crime (ex.: mata para pode provar incêndio)
desproporção entre o crime e a motivação. ou consequencial, quando é praticado para
Os tribunais tem reconhecido como fútil ocultar ou assegurar impunidade de outro
discussão entre marido e mulher, rompimento crime (ex.: matar testemunhas).
de namoro, discussão familiar sem
importância, por ter a vítima rido do acusado e 6-Impossível ou difícil defesa: Quando a
etc. vítima não tinha condições de escapar daquela
3 - com emprego de veneno, fogo, situação, sempre muito difícil ou até mesmo
explosivo, asfixia, tortura ou outro meio impossível. Ex.: Sujeito deixa o gás aberto e
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar tranca todas as saídas com a vítima dentro do
perigo comum (quanto ao meio empregado, local. É qualificadora também.
objetiva): qualificadoras, pois denotam a maior Obs:Lembrando-se, porém, que se a norma é
periculosidade do agente e dificuldade em repetida como agravante, ela não poderá ser
defesa da vítima e eventualmente também considerada duas vezes para aumento de
podem causar perigo coletivo. O meio pena, pois não se pode julgar um sujeito duas
insidioso é o uso de fraude ou armadilha, vezes pelo mesmo crime. Assim, se houver
clandestinos da vítima que não permitem que qualificadora + agravante, aplica-se
ela saiba que está sendo atacada. Ex.: agravante, nada impede, no entanto, que
armadilha: sabotar o motor de um presentes duas agravantes apliquem-se as
automóvel. Meio cruel, por sua vez, é sujeitar duas.
a vítima a graves e inúteis vexames ou
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-Aumento de pena no homicídio doloso suicida, mesmo quanto à sua tentativa. O


(artigo 121 § 4º segunda parte): a pena é suicídio, porém, atinge um bem indisponível e
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é não é o exercício de nenhum direito subjetivo
praticado contra pessoa menor de 14 (não há “direito de morrer”), por isso, é fato
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. ilícito e a lei consta de normas para impedi-lo.
Objeto jurídico: a vida humana
V- HOMICÍDIO CULPOSO (art. 121 § 3º) Sujeito ativo: qualquer pessoa que pratica um
-Conceito: o homicídio culposo é aquele dos atos previsto para colaborar com o
destituído de intencionalidade, com uma pena evento morte.
extremamente baixa. Ele ocorre, segundo Sujeito passivo: homem capaz de ser
Maggiore, por conduta voluntária de ação ou induzido, aquele que tem alguma capacidade
omissão, que produz um resultado jurídico não de resistência à conduta do sujeito ativo.
querido ou previsto, mas que era previsível e Ressalte-se que quando o suicida é
poderia ter sido evitado se tivesse sido tomada inimputável, apresenta capacidade de
a devida atenção. resistência nula sendo mero instrumento do
agente, por isso não se caracterizaria o crime
Aumento de pena no homicídio do art. 122, e sim homicídio típico.
culposo:prevista na primeira parte do § 4º do Elemento objetivo: (núcleo do tipo): Induzir,
artigo 121 Sendo o aumento de 1/3.: instigar ou auxiliar (são os núcleos do tipo)
alguém a suicidar-se é crime.
1-se o crime resulta de inobservância de Induzir: é criar, fazer florescer a idéia de
regra técnica de profissão, arte ou suicídio em outra pessoa. Participação moral.
ofício: ainda que culposo, poderá ser Instigar: ocorre quando a pessoa já tem
agravado se um profissional não adotou uma vontade de se suicidar e é estimulada a
norma técnica que, dado seu ofício deveria concretizar o que quer fazer. Participação
conhecer, o que não pode se confundir, moral
portanto, com conduta convencional. É o Auxiliar: significa ajudar a pessoa com todos
exemplo do médico que não esteriliza seus os meios possíveis para que se retire a vida. É
instrumentos para fazer cirurgia. diferente de interferência, pois quem interfere
atua diretamente no evento morte. Quem
2-se o agente deixa de prestar imediato auxilia, por exemplo, dá a arma para a pessoa,
socorro à vítima, não procura diminuir as a corda para que ela se enforque e etc.
conseqüências do seu ato, ou foge para Elemento subjetivo: o dolo é a vontade de
evitar prisão em flagrante: Sobre omissão de induzir, instigar ou auxiliar alguém à prática do
socorro imediato a vítima, também acarreta no suicídio. Desde que se tenha,
aumento de pena. Se da omissão de socorro comprovadamente, um nexo de causalidade
decorre a morte da vítima, responderá, entre a conduta do agente e o resultado
inclusive, por homicídio doloso. Ademais, a suicídio. Lembrado-se que não há forma
intenção de que haja qualificadora o que omite culposa para este crime.
socorre para fugir e evitar a prisão é para evitar
o sumiço do agente. -Consumação e tentativa:O crime consuma-
-Perdão Judicial (artigo 121 § 5º):onde o se se houver o suicídio ou, não logrando o
magistrado entende que o próprio sofrimento suicida concluí-lo, uma lesão corporal de
do agente pela pratica do ato já é punição natureza grave. A tentativa seria se o agente
suficiente. Ex.: mãe que por descuido deixa a instigou, induziu ou auxiliou, mas o sujeito
caixa d’água aberta e o filhinho se afogou será passivo não se matou. Esta situação, no
acusada por homicídio culposo, mas não terá entanto, não tem punição. O Código
que cumprir a pena, tendo perdão judicial, já Penal brasileiro somente pune o agente se a
que seu sofrimento já é suficientemente forte vítima morrer ou sofrer lesão corporal grave, se
para uma punição corretora, sendo a sanção não sofrer nada, não haverá punição.
desnecessária. Aplica-se o perdão judicial de
maneira análoga nos casos do CBT. -Formas qualificadoras: ele será qualificado
pela pena duplicada se for realizado:
VI- INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU
AUXÍLIO AO SUICÍDIO (art. 122) Motivo Egoístico: é elemento subjetivo do
-Conceito: o suicídio é a eliminação da própria tipo, composto por finalidade que relava
vida. Por razões óbvias, preso a profundo desprezo do autor pela vida alheia,
impossibilidade de punição e que por razões sendo superior a esta seus interesses
políticas e éticas o Estado não pode punir o individuais. Ex.: instigar alguém a se matar
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para receber herança ou seguro, por vingança, Elemento subjetivo: vontade de causar a
ódio ou mesmo maldade. morte do filho nascente ou recém-nascido. O
dolo é a vontade de matá-lo. Não há forma
Vítima menor ou tem diminuída, por culposa de infanticídio.
qualquer causa, a capacidade de
resistência: quanto a vítima menor, alguns -Consumação e tentativa: consuma-se com a
entendem que seriam entre 14 e 18 morte do recém-nascido ou nascente e sendo
anos, pois menor de 14 anos qualifica infanticídio crime plurissubsistente, é possível a
capacidade nula de resistir a instigação, tentativa.
induzimento ou auxilio, entretanto, é muito
relativo. Alguns menores de 14 anos VIII- ABORTO (art. 124 a 127)
apresentam maturidade suficiente para -Conceito: o aborto é a eliminação da vida
entender o que ocorre. Quanto a diminuição intra-uterina, diferenciando-se do infanticídio,
na capacidade de resistência, pode ser por pois deve ocorrer durante a gestação. Não
embriaguez ou desenvolvimento mental implicada em caracterização do aborto a
incompleto. necessidade de que o feto seja eliminado,
simplesmente que seja morto. É crime comum,
VII- INFANTICÍDIO (Art. 123) pois pode ser praticado por qualquer pessoa,
-Conceito: o infanticídio é crime próprio, pois não somente pela mãe, de forma livre, e
exige características especiais (mãe e em material. Também é crime de dano, pois atinge
estado puerperal: Estado puerperal é o período bem jurídico tutelado.
que vai do deslocamento e expulsão da placenta à Objeto jurídico: vida humana em formação,
volta do organismo materno às condições vida intra-uterina que existe desde a
anteriores à gravidez.) e material (pois para concepção até o momento do parto. Protege-
existir precisa ser consumado) e de livre se também a integridade corporal e a vida da
execução. É delito autônomo e denominação mulher, no caso de aborto provocado por
jurídica própria, buscando o legislador uma terceiro ou sem seu consentimento.
pena mais amena do que o homicídio Sujeito ativo: art. 124 é a gestante, tratando-
privilegiado, levando em consideração a se neste caso de crime especial, do art. 125
situação fisiopsíquica da mãe. Entretanto, se em diante, poderá ser qualquer pessoa o autor
não houver a presença do estado puerperal, do delito.
será considerado homicídio e punido Sujeito passivo: é o feto. Alguns
conforme art. 121. Ademais, devemos lembrar doutrinadores defendem que por o feto não ser
que ele deve ser praticado durante ou logo titular de direitos, o sujeito passivo é o Estado
após o parto, após este lapso temporal ou a comunidade nacional. Também será
também significaria punição consoante art. 121 sujeito passivo a mulher quando o aborto for
e se for antes do parto é aborto, punido pelos praticado sem seu consentimento.
arts. 124 a 128. Elemento objetivo: objeto material do delito é
Objeto jurídico: vida do recém-nascido ou do o produto da fecundação.
nascente (aquele que está em transição entre Elemento subjetivo: é crime doloso, pois é
a vida endo-uterina e extra-uterina). necessário que o agente queira seu resultado
Sujeito ativo: é a mãe em estado puerperal ou assuma seu risco. Não há no aborto crime
que mata o próprio filho. Há discussão, culposo, por isso mesmo a imprudência da
entretanto, na doutrina se é aplicável como gestante que cause interrupção da gravidez
infanticídio o co-autor do ato. Embasados no não é conduta punível e terceiro que cause o
art. 30, alguns defendem que por ser elementar aborto responde por lesão corporal
do crime e viabilizando a comunicação entre os culposa, se foi sem intenção.
agentes, favorecendo o concurso, é - Consumação e tentativa: consuma-se com a
comunicável. Entretanto, outros defendem que efetiva interrupção da gravidez que leva a
por ser o estado puerperal situação morte do feto, sendo desnecessária sua
personalíssima, é intransmissível, devendo o expulsão. A tentativa ocorre quando, tomadas
co-autor pagar por homicídio. todas as manobras abortivas, não interrompe a
Sujeito passivo: é o filho nascente ou recém- gravidez, podendo, inclusive, levar a uma
nascido, não sendo necessária, assim, a aceleração do parto.
comprovação de sinal de vida extra-uterina.
Elemento objetivo: a conduta típica é matar -Auto-aborto ou aborto consentido: o tipo de
(por ação ou omissão) o próprio filho durante aborto previsto no art. 124 deve ser dividido
ou logo após o parto, aquela mãe que está sob em duas partes: Quando trata-se de provocar
estado puerperal. em si mesma é o auto-aborto, em que a
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mulher pratica crime especial, pois somente ela anemia profunda, cardiopatia, câncer uterino e
poderá praticá-lo. Na segunda parte do artigo é etc.
que se fala em aborto- 2-Aborto no caso de gravidez resultante de
consentido, considerando-se permitir que estupro: Doutrinariamente chamado de “aborto
outrem lho provoque, neste caso, a sentimental”, é aquele que pode ser praticado
estimulação, instigação, indução ou auxilio de quando a gravidez resultou de um estupro.
outra pessoa no evento aborto, o que não Esta norma justifica-se, pois a mulher não é
significa que este terceiro tenha agido abrigada a cuidar de filho que resultou de coito
diretamente, não “colocou a mão na violento e não desejado e também porque,
massa”. Sendo assim, este artigo pune geralmente, o autor do estupro tem problemas
exclusivamente a mãe que, sozinha, que podem ser hereditários. Deve haver, no
praticou o aborto. entanto, o consentimento da gestante, não
sendo necessária autorização judicial ou
-Aborto provocado por terceiro (artigo sentença condenatória do autor do estupro.
125):Neste caso a pena cominada é mais
grave, pois foi feito o aborto sem o IX- LESÕES CORPORAIS (art. 129)
consentimento da gestante, sendo a gestante -Conceito: é ofensa à integridade física ou à
também vítima neste caso. Pode ocorrer por saúde de outrem, ou seja, é dano ocasionado à
violência, ameaça ou fraude (ex.: fingir o normalidade do ponto de vista anatômico,
médico que vai retirar um tumor da gestante e fisiológico ou mental. A lesão corporal existe
tirar o feto). Presume-se não haver o mesmo que a vítima concorde com
consentimento quando a gestante for menos ela, salvo em situações que não gerem
de 14 anos ou se é alienada mental. distúrbio social, ou seja, colocar piercing,
fazer tatuagem ou cirurgia plástica não são
-Provocar aborto com o consentimento da crimes.
gestante (artigo 126):Este artigo ocorre Objeto Jurídico: integridade física ou saúde
quando o aborto é feito com consentimento da Sujeito Ativo: qualquer pessoa pode praticá-
gestante. A gestante responderá pelo art. lo, pois trata-se de crime comum.
124 e o terceiro pelo art. 126, com pena Sujeito Passivo: qualquer homem vivo, depois
mais severa. A aceitação pode ser expressa do parto, que não seja o próprio agente.
ou tácita e deve existir do começo ao fim do Tipo Objetivo: o núcleo é ofender a
evento (ou seja, até a consumação). Se integridade física ou a saúde de alguém.
durante o aborto a gestante revoga seu Quanto à saúde, será qualquer desequilíbrio
consentimento, o terceiro responderá funcional no organismo. Assim, a transmissão
sozinho pelo art. 125. de moléstias ou distúrbios fisiológicos
(inconsciência, insônia, estado de choque) são
-Forma qualificada (artigo 127):Aumenta as lesões corporais, pois ferem a saúde de
penas do art. 125 e 126 se da ação do aborto a outrem.
gestante sofrer lesões corporais graves (o que Obs:Também é considerado como lesão
aumenta em 1/3) ou se ela vier a falecer (o que agravar ou fazer persistir lesão já existente.
dobra a pena). Ela pode ser por ação, quando for praticado de
forma física (golpes, facadas chutes) ou moral
-Não se pune o aborto praticado por médico (assustar, por exemplo). Também pode ser por
(Art 128):São duas as hipóteses omissão quando o agente tinha o dever de
evitar a lesão corporal, mas não o fez, p. Ex.,
1-Aborto necessário: São os casos de aborto deixar de prestar alimentos.
legal que tornam lícita a pratica do aborto e -Consumação e Tentativa: Também pode ser
excluem a criminalidade, culpabilidade ou consumado, quando efetivamente se fere a
punibilidade. O aborto necessário caracteriza o integridade física ou as saúde de alguém, ou
estado de necessidade. Entretanto, para evitar tentado se, se valendo de todos os meios
dificuldades, o legislador indicou que deve ser possíveis, o agente foi parado por ações
praticado por médico (embora a prática por involuntárias, alheias a sua vontade.
profissionais amadores não indique crime -Classificação das lesões:
também, podendo a gestante alegar estado de 1-Lesão Corporal Leve:É assim denominada
necessidade). A gestação deve, para que o por exclusão doutrinária. Será lesão corporal
aborto seja necessário, colocar em risco a vida leve aquela que não seja grave, gravíssima ou
da vítima. Ou seja, ainda que o risco não seja seguida de morte.
atual, prever que manter aquela gestação pode 2-Lesão Corporal Grave (129 § 1º): são dos
tirar a vida da mãe. Ex.: diabete, tuberculose, seguintes tipos
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a- Incapacidade para as ocupações de morte há a ocorrência de um


habituais, por mais de trinta dias: Aqui, as crime preterdoloso, onde a intenção do
atividades habituais não se referem ao agente era somente realizar a lesão, não
trabalho, labor, mas sim às atividades do dia assumindo o risco de morte dela. Assim, o
adia. Assim sendo, p. Ex., se uma criança fica evento lesão é doloso e o morte é culposo. O
privada de ir à escola por mais de 30 dias será que o diferencia da tentativa de homicídio, é
considerado lesão corporal grave. Ademais, que nessa já o “animus necandi”, enquanto
esta lesão deve ser comprovada por exame naquela o falta. Assim, a intenção, a
complementar médico. subjetividade do agente é importante para a
b- perigo de vida: Ou seja, se houver efetivo distinção de ambos os crimes.
perigo de morrer por conta da lesão causada, Ademais, ressalte-se que para ser
que deve ser constatado por laudo pericial considerada lesão corporal seguida de
fundamentando o perigo. Tem entendido a morte deve haver nexo causal entre o
jurisprudência causas de lesão corporal grave evento lesão e o morte. Tem aceitado a
por perigo de vida, p. Ex., perfuração no jurisprudência exemplo clássico que é o agente
estômago ou em veias arteriais. empurrar a vítima para derrubá-la e esta de
c- debilidade permanente de membro, desequilibra, bate a cabeça no chão e morre.
sentido ou função: Que cause debilidade em -Diminuição de pena (art. 129§ 4º):Igual ao
membros inferiores ou superiores, função ou crime privilegiado. Se foi motivado por
sentido (olfato, tato, paladar), ainda que esta relevante valor moral ou social ou sob domínio
debilitação se enfraquecer com o uso de de forte emoção, logo após injusta provocação
próteses. da própria vítima, está autorizado o juiz a
d- aceleração de parto: Esta aceleração diz diminuir a pena.
respeito a antecipação dos efeitos do parto, -Substituição da pena (art. 129§ 5º):Logo
ou seja, que da lesão gere o acontecimento do entende-se que o juiz pode substituir a pena,
parto antes do termo final da gravidez. Se da desde que não seja a lesão GRAVE e logo
lesão ocorrer o aborto, será considerada lesão também a GRAVÍSSIMA, ou seja, na leve:D ou
gravíssima, como veremos. Se o bebê morrer se a lesão corporal foi recíproca, ou seja, todo
depois do nascimento, ainda continua como mundo se estapeou.
grave.
3-Lesão Corporal Gravíssima (art. 129, §
2º):Também é denominação doutrinária, não
está presente esta nomenclatura no Código
Penal, mas assim se entende devido ao fato de
a pena ser mais grave do que a prevista no
parágrafo 1º. São aquelas que resultam:
a- Incapacidade permanente para o
trabalho: Assim, se da lesão decorrer a
incapacidade permanente da vítima para
qualquer atividade que lhe garanta
subsistência, é considerado lesão gravíssima.
b-enfermidade incurável: Ou seja, moléstia
considerada pela medicina como sem previsão
de cura.
c-perda ou inutilização do membro, sentido
ou função: Gere amputação, mutilação, por
exemplo.
d- deformidade permanente: Ou seja, uma
deformidade significante e visível que fira a
estética da vítima.
e - aborto: Se da lesão decorrer o aborto da
gestante, como já se disse, é considerado
lesão corporal gravíssima, a menos que o
agente não soubesse da gravidez, ocasião em
que o crime será preterdoloso.
4-Lesão Corporal Seguida de Morte (art.
129, § 3º):Aqui é importante diferenciar a
tentativa de homicídio da lesão corporal
seguida de morte. Na lesão corporal seguida

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