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Homicídio qualificado

Tipo penal:

Homicídio qualificado

§ 2° Se o homicídio é cometido:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;


Motivo
II - por motivo fútil;

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
Meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; Circunstâncias
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso qualificadoras
Modo
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem


Fins
de outro crime:

Pena - reclusão, de doze a trinta anos.


- É um tipo derivado qualificado.

Qualificadoras são circunstâncias e não elementares:

- Os elementos que compõem o tipo básico ou fundamental (inserido no caput)


são elementares; aqueles que integram o acréscimo, estruturando o tipo
derivado (qualificado ou privilegiado) são circunstâncias.

- A respeito das circunstâncias:

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal,


salvo quando elementares do crime.

Mediante PAGA ou PROMESSA DE RECOMPENSA


- Há, nesse inciso, a chamada interpretação analógica (que não se confunde
com analogia, afinal, no D. Penal só se permite a analogia em benefício do réu).
- Paga: é o valor ou qualquer outra vantagem, tenha ou não natureza
patrimonial, recebida antecipadamente, para que o agente leve a efeito a
empreitada criminosa.

- Promessa de recompensa: o agente não recebe antecipadamente, mas, sim,


existe uma promessa de pagamento futuro.

- Em ambos os casos, a paga ou recompensa podem não ser de natureza


patrimonial.

- Comunicação? O mandante do crime não responderá por essa qualificadora,


que diz respeito tão somente ao executor, podendo sua conduta, no entanto,
amoldar-se a um motivo torpe, fútil, ou até mesmo, de relevante valor
social/moral.

- E se o pagamento em recompensa ao crime não for efetuado? Não importa,


nesse caso, o que será observado para qualificar a ação do agente é a sua
motivação.

- As penas para o mandante e o executor são as mesmas? Não.

Mandante:
Se o crime foi ordenado em Executor:
virtude de valor social/moral,
Aqui sim atuará a qualificadora.
pode haver diminuição (art. 121,
§ 1º).

- Motivo torpe: é aquele que causa repulsa, é repugnante, nojento, mas não é
insignificante.

- Vingança é motivo torpe? A verificação de se a vingança constitui ou não


motivo torpe deve ser feita com base nas peculiaridades de cada caso
concreto, de modo que não se pode estabelecer um juízo a priori, seja positivo
ou negativo.

- Ciúme é motivo torpe? A jurisprudência tem entendido que não.

- E nos causos de ausência de motivos? Alguns doutrinadores antigos afirmavam


que, nesses casos, não se aplicaria a qualificadora, porque não há previsão legal
da ausência de motivos e o direito penal não admite analogia in malam parte.
Motivo fútil
- É o motivo insignificante, que faz com que o comportamento do agente seja
desproporcional.

- Embriaguez e motivo fútil: em que pese o estado de embriaguez possa, em tese,


reduzir ou eliminar a capacidade do autor de entender o caráter ilícito ou
determinar-se de acordo com esse entendimento, tal circunstância não afasta
o reconhecimento da eventual futilidade de sua conduta.

- Estar sob influência da bebida alcoólica não é suficiente para excluir a


qualificadora da futilidade do motivo, porquanto a embriaguez voluntária ou
culposa não exclui a imputabilidade penal, podendo até ensejar maior punição
no caso da preordenada.

- Ciúme e motivo fútil: via de regra, não é motivo fútil, mas um sentimento
humano, ainda que altamente perigoso, pois impede a ação lúcida e por ele o
paciente pode ter sido levado a uma violenta emoção (...).

Veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou


cruel, ou que resulte perigo comum.
- Nesse inciso está presente, mais uma vez, a interpretação analógica.

- A tortura, qualificadora do homicídio, não se confunde com a prevista na lei


9.455/1997, uma vez que, no homicídio, a tortura é um meio para se alcançar o
resultado morte (pena: 12 a 30 anos), enquanto, na legislação específica, ela é
um fim (8 a 16 anos) em si mesma.

Cruel: é o que causa um


Insidioso: aquele em que
sofrimento excessivo à
a vítima não toma
vítima enquanto viva, pois
conhecimento da
a crueldade praticada
situação. Ex.: "boa noite
após a sua morte não
cinderela".
qualifica o delito.

- Perigo comum: aquele que abrange um número indeterminado de pessoas.

À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro


recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido
- Traição: é a ação do agente que colhe a vítima por trás, desprevenida, sem ter
esta qualquer visualização do ataque.
- Emboscada: o agente se coloca escondido, de tocaia, aguardando a vítima
passar, para que o ataque tenha sucesso.

- Dissimular: tem o significado de ocultar a intenção homicida, fazendo-se passar


por amigo, conselheiro, enfim, dando falsas mostras de amizade, a fim de facilitar
o cometimento do delito.

Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a


vantagem de outro crime
- Toda vez que for aplicada a qualificadora em estudo, o homicídio deverá ter
relação com outro crime, havendo, outrossim, a chamada conexão.

- A conexão pode ser teleológica ou consequencial:

 É teleológica quando se leva em consideração o fim em virtude do qual é


praticado o homicídio. Ex.: matar o vigilante da agência bancária no dia
anterior à prática do crime de roubo.
 É consequencial quando o homicídio é cometido com a finalidade de
assegurar a ocultação ou a vantagem de outro crime. Ex.: o marido que
mata a única testemunha que o viu enterrar o corpo de sua mulher,
também morta por ele. Ex.2: o agente mata seu companheiro de roubo
para que fique sozinho com o produto do crime.

Dolo eventual e qualificadoras:


- São compatíveis, em princípio, o dolo eventual e as qualificadoras do homicídio.
É penalmente aceitável que, por motivo torpe, fútil etc., assuma-se o risco de
produzir o resultado.

- Ex.: um médico, mesmo inabilitado temporariamente para o exercício da


atividade, acabou por exercê-la e, nesta condição, realizou várias cirurgias
plásticas – as quais cominaram na morte de algumas pacientes – sendo
motivado por intuito econômico.

Competência para julgamento do homicídio doloso


- O Tribunal do Júri é o competente para julgar os crimes dolosos contra a vida,
destacando-se entre eles o homicídio, em todas as suas modalidades.

- Obs.: Súmula 603, STF: A competência para o processo e julgamento de


latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri.
Crime contra o patrimônio
Homicídio culposo

Tipo Penal:
Homicídio culposo

§ 3º Se o homicídio é culposo:

Pena - detenção, de um a três anos.


- O agente produz o resultado morte mediante seu comportamento imprudente,
negligente ou imperito.

- Obs.: como a pena mínima é de um ano, permite-se, então, a suspensão


condicional do processo.

- Obs.2: no caso a seguir, o CTB, em decorrência do princípio da especialidade,


prevalece sobre o CP e aplica-se a pena prevista por aquele:
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou


a habilitação para dirigir veículo automotor.

Aumento de pena:
- O § 4º do art. 121, CP, prevê o aumento de 1/3 da pena nas seguintes hipóteses:

 Homicídio culposo:
o Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão,
arte ou ofício;
o Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura
diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar a prisão
em flagrante.
 Homicídio doloso:
o Se o crime é cometido contra pessoa menor de 14 ou maior de 60
anos.

Inobservância de regra técnica:


- O aumento da pena se deve ao fato de que o agente, mesmo tendo os
conhecimentos das técnicas exigidas ao exercício de sua profissão, arte ou ofício,
não os utiliza por leviandade, sendo maior, portanto, o juízo de reprovação que
deve recair sobre o seu comportamento.
O agente deixa de prestar o imediato socorro à vítima, não procura
diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar a prisão
em flagrante
- A negação do socorro demonstra a maior reprovabilidade do comportamento,
que merecerá, consequentemente, maior juízo de reprovação.

- A majorante em questão só será exceptuada nos casos:

 De morte instantânea da vítima;


 Em que terceiros prestam socorro;
 Em que há risco à integridade física.

Perdão judicial:
- Será cabível na hipótese de homicídio culposo, podendo o juiz deixar de aplicar
a pena se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma
tão grave que a sanção penal se torne desnecessárias.

- Causa extintiva da punibilidade.

- Súmula 18, STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da


extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.

- Nas hipóteses de homicídio culposo e lesão culposa na direção de veículo


automotor a jurisprudência brasileira tem aceitado amplamente a aplicação do
perdão judicial.

Homicídio praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação


de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio
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Possibilidade de homicídio qualificado-privilegiado:


- Majoritariamente, a doutrina, por questões de política criminal, posiciona-se
favoravelmente à aplicação das minorantes ao homicídio qualificado, desde
que as qualificadoras sejam de natureza objetiva, a fim de que ocorra
compatibilidade entre elas.

- Assim, poderia ocorrer, por exemplo, um homicídio praticado mediante


emboscada (qualificadora de natureza objetiva), tendo o agente atuado
impelido por um motivo de relevante valor moral (minorante de natureza
subjetiva).

- O que acaba sendo inviável no caso concreto, é a concomitância de uma


qualificadora de natureza subjetiva com o chamado privilégio, visto serem
incompatíveis, a exemplo daquele que mata seu desafeto por um motivo fútil e
ao mesmo tempo de relevante valor moral.

Presença de mais de uma qualificadora:


- Tem-se entendido, de forma majoritária, que o julgador deverá, quando da
fixação da pena-base, levar em consideração tão somente uma qualificadora,
servindo as demais para fins de agravação da pena, no segundo momento do
critério trifásico.

Homicídio praticado por policial militar – competência para


julgamento:
- Se um militar vier a causar a morte de um civil, a competência para o processo
e julgamento será do Tribunal do Júri.

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio

Tipo penal:
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena – reclusão, de 2 a 6 anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 a 3 anos, se da
tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave
Parágrafo único. A pena é duplicada:
Aumento de pena
I – se o crime é praticado por motivo egoístico;
II se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

Introdução:
- A tentativa de suicídio, por si só, é considerada um indiferente penal, em virtude
do princípio da lesividade, que veda a incriminação de uma conduta que não
exceda o âmbito do próprio autor.
- A conduta do suicida é atípica, mas ainda assim ilícita.
Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite,
ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
II - a coação exercida para impedir suicídio.

Classificação doutrinária:
- Crime comum, de forma livre, doloso (não há previsão da modalidade culposa),
comissivo/omissivo impróprio, de dano, material, instantâneo de efeitos
permanentes, não transeunte, monossubjetivo, plurissubsistente*, de conteúdo
variado (crime de ação múltipla, podendo o agente levar a efeito os vários
comportamentos previstos no tipo – induzir, instigar ou auxiliar).

* não admite tentativa de induzir/instigar/auxiliar a suicídio. O que é totalmente


diferente de tentativa de suicídio.

Sujeito ativo e sujeito passivo


- Esse delito pode ser praticado por qualquer um, visto que o tipo penal não
especifica o sujeito ativo.

- O sujeito passivo também poderá ser qualquer pessoa, desde que a vítima
tenha capacidade de discernimento, de autodeterminação, pois, caso
contrário, estaremos diante do delito de homicídio.

- Incapacidade de discernimento: pessoas menores de 14 anos e pessoas com


problema de saúde mental.

Participação moral e participação material


- Participação moral: se dá através do induzimento e da instigação da ideia de
suicídio.

- Induzir x instigar:
Instigar: demonstra que
a ideia de suicídio já
Induzir: fazer nascer,
existia, sneod que o
criar a ideia suícida na
agente, dessa forma,
vítima.
reforça, estimula essa
ideia.

- Participação material: nesse caso, o agente auxilia materialmente a vítima a


conseguir o seu intento, fornecendo, por exemplo, o instrumento que será
utilizado na execução, ou mesmo simplesmente esclarecendo como usá-lo.

Prática de atos de execução


- Se o agente, de qualquer forma, pratica algum ato dirigido a causar a morte
da vítima, deverá ser responsabilizado pelo homicídio, e não participação em
suicídio.

Objeto material e bem juridicamente protegido


- A vida é o bem juridicamente protegido e a pessoa contra a qual é dirigida a
conduta do agente é o objeto material do crime.

Elemento subjetivo:
- É o dolo, seja direto ou mesmo eventual, não havendo previsão legal para a
modalidade CULPOSA.

- Para a caracterização do crime do art. 122, é necessário o dolo específico, ou


seja, a intenção deliberada e manifestada de forma ativa de criar na vítima a
intenção de suicidar-se.

- Jurisprudência (TJRS): comete o crime de induzimento ao suicídio quem, ciente


dos propósitos da vítima em virtude de lhe infligir maus-tratos, continua nesta
ação, aceitando assim, o risco de que a vítima se suicide.

Modalidade comissiva e omissiva:


- Não há auxílio por omissão. Prestar auxílio é sempre uma conduta comissiva.
- No entanto, o delito poderá ser praticado via omissão imprópria, pois o auxílio
pode tomar a forma de ação ou omissão.
- Ex.: o enfermeiro que tem a seu cargo um doente deprimido, que, como ele
conhece, pensa em matar-se, possui a obrigação de evitar que venham ao seu
alcance meios de realizar esse intento.

Consumação e tentativa:

1ª Corrente (Nelson Hungria): O crime consuma-se com a indução, instigação ou


auxílio, ficando a punibilidade condicionada ao implemento do resultado morte
ou lesão grave, que funcionam como condição objetiva de punibilidade.

2ª Corrente (Damásio e Mirabete): Os verbos (induzir, instigar, auxiliar) não


configuram consumação, mas sim execução do delito. Na verdade, a
consumação ocorre com o resultado morte ou lesão grave. Há atipicidade.

Causas de aumento de pena:


Art. 122 – Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: (…)
Parágrafo único – A pena é duplicada:
Aumento de pena
I – se o crime é praticado por motivo egoístico;
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

 Motivo egoístico: é o motivo mesquinho, torpe, que causa certa


repugnância. Ex.: o agente induz o irmão a cometer suicídio para herdar,
sozinho, o patrimônio de seus pais.
 Vítima menor: é considerada menor a vítima que possui menos de 18 anos
e mais de 14. No caso da vítima ser uma criança com menos de 14 anos,
não será configurada a participação em suicídio, mas, na verdade, o
homicídio. Isso porque, nesse caso, haverá uma presunção de
incapacidade de discernimento da vítima.
 Vítima que tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de
resistência: A lei fala em diminuição da capacidade de resistência e não
em eliminação dessa capacidade. Se a vítima tem eliminada a a
capacidade de resistir, o delito será de homicídio; se sua capacidade está
diminuída será o do art. 122. Ex.: a pessoa está embriagada e deprimida.
Pena, ação penal e suspensão condicional do processo:

- Quando há a consumação do suicídio ou da tentativa resulta lesão grave, a


ação penal é de iniciativa pública incondicionada.

- No caso em que o suicídio se consuma, não há a possibilidade da suspensão


condicional do processo. Todavia, no caso da lesão corporal de natureza grave,
que tem pena mínima de 1 ano temos a possibilidade da suspensão condicional
do processo.

Suicídio conjunto (pacto de morte):


- Situação 1:
 A e B combinam o suicídio.
 B liga o gás.
 A morre, mas B não.
 B responderá por homicídio (pois realizou os atos de execução.
- Situação 2:
 A e B combinam o suicídio.
 B liga o gás.
 B morre, mas A não.
 A responde por participação em suicídio (instigou, reforçou a ideia).
- Situação 3:
 A e B combinam suicídio.
 B liga o gás.
 Um ninja salva os dois.
 B responde por tentativa de homicídio e A por participação em suicídio.

Testemunhas de Jeová:
- Na hipótese de ser imprescindível a transfusão de sangue, mesmo sendo a
vítima maior e capaz, em caso de recusa, tal comportamento deverá ser
encarado como tentativa de suicídio, podendo o médico intervir, inclusive sem
o seu consentimento.
- Nesse caso, o médico estará amparado pelo art. 146, § 3º, I, do CP, que afirma
não configurar constrangimento ilegal a intervenção médica ou cirúrgica, sem
o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por
iminente perigo de vida.
Infanticídio

Tipo penal:
Infanticídio
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo
após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

- Elementos especializantes:

a) Delito cometido sob a influência do estado puerperal;


b) Tem como objeto o próprio filho da parturiente;
c) Cometido durante o parto ou logo após.

Classificação doutrinária
- Crime próprio, simples, de forma livre, doloso, comissivo e omissivo impróprio, de
dano, material, plurissubsistente, monossubjetivo, não transeunte, instantâneo de
efeitos permanentes.

Puerpério
- “É o período cronologicamente variável, de âmbito impreciso, durante o qual
se desenrolam todas as manifestações involutivas e de recuperação da genitália
materna havidas após o parto”.

Sob a influência do estado puerperal


- É um critério fisiopsíquico/biopsíquico, no qual se exige a conjugação do estado
puerperal, com a influência por ele exercida na agente. Não havendo essa
influência, o fato deverá ser tratado como homicídio.

Prova pericial:
- O entendimento da jurisprudência majoritária é no sentido da dispensa da
perícia médica para a constatação do estado puerperal, existindo uma
presunção juris tantum, ou seja, até que se prove ao contrário, a mulher após o
parto tem perturbações psicológicas e físicas.
Sujeito ativo e sujeito passivo:
- Somente a mãe, sob influência do estado puerperal, pode ser o sujeito ativo,
tendo como sujeito passivo seu próprio filho.

Limite temporal:
- Admite-se a ocorrência do infanticídio quando o crime é cometido durante o
parto ou logo após o parto.

- A análise do lapso temporal decorrido após o parto deve ser feita com
razoabilidade. Atualmente, a medicina aponta que o tempo normal de duração
do puerpério é de aproximadamente seis a oito semanas.

Elemento subjetivo:
- Não foi prevista a modalidade culposa do infanticídio, assim esse crime só
poderá ser cometido dolosamente.

Consumação e tentativa:
- O crime se consuma com a morte do neonato, daí a necessidade de ser
produzida prova no sentido de se verificar se, durante os atos de execução,
estava vivo o neonato, pois, caso contrário, estaremos diante da hipótese de
crime impossível.

- Admite-se a tentativa, tendo em vista a possibilidade de fracionamento do iter


criminis.

Modalidade comissiva e omissiva:


- Pode ser praticado comissiva e omissivamente.

Objeto material e bem juridicamente protegido:


- O bem juridicamente protegido é a vida do neonato e o objeto material é o
neonato.

Pena e ação penal:


- A pena é de DETENÇÃO de 2 a 6 anos.

- A ação penal é de iniciativa pública incondicionada.


Erro sobre a pessoa:
- Ex.: a parturiente quer matar seu filho e acaba matando o filho de outra pessoa,
por engano.

- Nesse caso, será aplicada a regra do erro sobre a pessoa, devendo a


parturiente ser responsabilizada pelo infanticídio.

Concurso de pessoas:
Circunstâncias incomunicáveis
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando
elementares do crime.

- Por elementares devemos considerar todos aqueles dados indispensáveis à


definição típica, sem os quais o fato se torna atípico ou há, no mínimo,
desclassificação.

- Já as circunstâncias são dados periféricos à definição típica. Não interferem na


figura típica em si, somente tendo a finalidade de fazer com que a pena seja
aumentada ou diminuída.

- Influência do estado puerperal: é elementar. Assim, as elementares do crime se


comunicam entre os que irão participar do mesmo.

- Caso 1: A gestante, sob influência do estado puerperal, e um terceiro cometem


infanticídio. Ambos responderão por infanticídio, visto que as elementares do
crime se comunicam.

Crítica: Hungria argumenta que o delito de infanticídio é personalíssimo, sendo


incomunicável a influência do estado puerperal.

- Caso 2: a parturiente, sozinha, causa a morte do recém-nascido, mas com a


ajuda de terceiro que a auxilia materialmente, fornecendo o instrumento do
crime, ou orientando-a a como utilizá-lo. Ambos responderão por infanticídio.

- Caso 3: somente o terceiro pratica os atos de execução, com o auxílio e a


mando da parturiente. Ambos responderão por infanticídio.

Aborto
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 – Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena – detenção de um a três anos.

Aborto provocado por terceiro


Art. 125 – Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena – reclusão, de três a dez anos.

Art. 126 – Provocar aborto com o consentimento da gestante:


Pena – reclusão, de um a quatro anos.

Forma qualificada
Art. 127 – As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em
consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a
morte.

Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico:


Aborto necessário
I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro


II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou,
quando incapaz, de seu representante legal.

ADPF 54
“ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro quanto às
religiões. Considerações. FETO ANENCÉFALO – INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE
SEXUAL E REPRODUTIVA – SAÚDE –DIGNIDADE – AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS FUNDAMENTAIS
– CRIME – INEXISTÊNCIA. Mostra-se inconstitucional interpretação de a interrupção da gravidez
de feto anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código
Penal.”

Introdução
- O CP não define aborto, ficando tal tarefa a cargo da doutrina.

- Aníbal Bruno: provocar aborto é interromper o processo fisiológico da gestação,


com a consequente morte do feto.

Classificação doutrinária
- Crime de mão própria*, quando realizado pela própria gestante, sendo comum
nas demais hipóteses quanto ao sujeito ativo; considera-se próprio quanto ao
sujeito passivo, pois que somente o feto e a mulher grávida podem figurar nessa
condição; comissivo ou omissivo (impróprio); doloso; de dano; material;
instantâneo de efeitos permanentes; não transeunte; monossubjetivo;
plurissubsistente; de forma livre.

* Crime de mão própria: exige qualidade especial do agente, mas não admite
coautoria, ou seja, a execução não pode ser delegada.
Início e fim da proteção pelo tipo penal de aborto
- A vida, para fins de proteção pelo tipo penal de aborto, tem início a partir da
nidação (fixação do embrião na parede uterina).

- O início do parto faz com que seja encerrada a possibilidade de realização do


aborto, passando a morte do nascente a ser considerada homicídio ou
infanticídio.

Sujeito ativo e sujeito passivo


Art. 124 – Sujeito ativo: gestante. Passivo: produto da concepção.

Art. 125 – Sujeito ativo: terceiro. Passivo: gestante e o concepto (dupla


subjetividade passiva).

Art. 126 – Sujeito ativo: terceiro. Passivo: somente o concepto.

Bem jurídico e objeto material


- Bem juridicamente protegido: vida humana em desenvolvimento.

- Objeto material: concepto.

Elemento subjetivo
- Não há previsão da modalidade culposa para o delito subjetivo.

Consumação e tentativa
- Consumação: efetiva morte do produto da concepção.

- Admite-se a tentativa.

Modalidades comissiva e omissiva


- Geralmente, o aborto é praticado comissivamente.

- A prática do crime de aborto por omissão será possível no caso em que o


agente goze o status de garantidor.
Causas de aumento de pena
- As causas de aumento de pena prevista no art. 127 só incidirão caso o agente
as tenha cometido de forma CULPOSA, tratando-se, na espécie, de crime
preterdoloso.

- O crime preterdoloso caracteriza-se quando o agente pratica uma conduta


dolosa, menos grave, porém obtém um resultado danoso mais grave do que o
pretendido, na forma culposa.

- No caso do art. 127, o agente pretendia provocar apenas o aborto, mas acaba
causando lesão corporal grave na gestante ou até mesmo a morte da mesma.

- Todavia, se o agente planejou causar o aborto e também lesão grave/ morte


da gestante, responderá pelos dois delitos em concurso formal impróprio, visto
que atua com desígnios autônomos, aplicando-se a regra do cúmulo material
de penas.

Prova de vida
- O aborto é um crime que deixa vestígios, razão pela qual, nos termos do art.
158 do CPP, será indispensável o exame de corpo de delito, direito ou indireto,
não podendo supri-lo a confissão do acusado.

- De acordo com o art. 167 do CPP, não sendo possível o exame de corpo de
delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá
suprir-lhe a falta.

Meios de realização do aborto


- É um delito de forma livre, assim, a doutrina traz que os meios para o
cometimento do aborto são vários: químicos, orgânicos, físicos ou psíquicos.

Pena, ação penal e suspensão condicional do processo


- Hipóteses do art. 124: pena de 1 a 3 anos. Se a pena mínima é de um ano, será
permitida a proposta de suspensão condicional do processo.

- O mesmo ocorrerá na hipótese do art. 126. Nesse caso, no entanto, será


necessário que a conduta do agente não tenha causado lesão grave ou morte,
visto que nessa situação serão aplicadas causas de aumento de pena e a pena
mínima de um ano acabará sendo alterada, no caso concreto.
- A suspensão condicional do processo não se aplica à hipótese do art. 125.

Aborto legal
- O art. 128 do CP prevê duas modalidades de aborto legal: o aborto terapêutico
ou profilático (preventivo); e o aborto sentimental, humanitário ou ético.

Art. 128 – I. Aborto necessário: quando não há outro meio de salvar a vida da
gestante. Nesse caso, configura-se o estado de necessidade (que exclui a
ilicitude)

Art. 128 I. Aborto sentimental, humanitário ou ético: em casos de violência sexual.


Nesse caso, configura-se a inexigibilidade de conduta diversa (que exclui a
culpabilidade).

- Em ambos os casos não se exige ordem judicial para a realização do aborto.

- Analogia in bonam partem: e se o parto for realizado por um parteira


experiente? Não haverá problema.

Agressão a mulher sabidamente grávida


- Se o agente almejava o aborto, responderá pelo delito do art. 125.

- Se não tinha essa finalidade, mas o resultado era previsível, deverá ser
responsabilizado pelo art. 129, § 2º, V:
Lesão corporal de natureza grave
§ 2° Se resulta:
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Gestante que tenta suicídio:


- Se o feto sobrevive: punição por tentativa de aborto.

- Se o feto morre: aborto consumado.

Aborto econômico
- Condições econômicas precárias não justificam o aborto.

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