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ANATOMOFISIOLOGIA DO CICLO ESTRAL DE FÊMEAS BOVINAS

O objetivo deste capítulo é revisar os conhecimentos sobre a dinâmica de crescimento


e desenvolvimento dos folículos ovarianos, e relacioná-los com a ultrassonografia. O
que se conhece hoje sobre dinâmica folicular é devido, em grande parte, a essa
técnica. A primeira hipótese de que o ciclo estral ocorresse em um padrão de ondas
foliculares foi levantada por Rajakoski (1960), ao fazer análises histológicas do tecido
ovariano. No entanto, os maiores avanços sobre o conhecimento da fisiologia da
reprodução de fêmeas bovinas foram registrados no final da década de 1980, quando
a ultrassonografia e os exames laboratoriais de maior eficácia começaram a ser
empregados (ADAMS et al., 1992; GINTHER et al., 1989a).
Esses conhecimentos foram fundamentais para o desenvolvimento e o
aperfeiçoamento de biotécnicas da reprodução assistida, como a sincronização do
estro para a realização da inseminação artificial em tempo fixo (IATF) e a transferência
de embriões em tempo fixo (TETF), a superovulação de doadoras de embriões e o
controle do ciclo estral de doadoras de oócitos. Apesar dos grandes avanços obtidos,
algumas questões relacionadas à dinâmica folicular ainda não foram esclarecidas, o
que vem motivando o interesse de diversos pesquisadores (CARVALHO et al., 2008;
CUMMINS et al., 2012; ENDO et al., 2012), interessados em melhorar, cada vez mais,
a eficiência reprodutiva dos rebanhos bovinos.Ultrassonografia na reprodução e
avaliação de carcaças em bovinos1.

Diferenciação sexual

O sexo cromossômico do animal é determinado no momento da fecundação. Cada


oócito carrega um cromossomo sexual X, enquanto o espermatozoide pode carregar
um cromossomo sexual X ou Y. A formação de embriões do sexo feminino se dará
quando o oócito for fecundado por espermatozoide que carrear um cromossomo X
(fêmeas normais são constituídas por dois cromossomos do tipo X: XX), enquanto
embriões do sexo masculino serão formados após a fecundação do oócito por
espermatozoide carreador de cromossomo do tipo Y (XY). No entanto, no início do
desenvolvimento embrionário, todos os embriões são fenotipicamente iguais, ou seja,
ainda não sofreram diferenciação sexual. Depois de completado o estímulo para a
diferenciação sexual, iniciase uma cascata de acontecimentos que promove alterações
na regulação gênica e nas interações moleculares diferenciais de embriões XX ou XY.
Esse estímulo envolve a secreção testicular de dois hormônios principais: o hormônio
antimülleriano (AMH) e a testosterona, os quais inibem o desenvolvimento de
características femininas e promovem a diferenciação das características masculinas
(SWAIN; LOVELL-BADGE, 1999). Em bovinos, o início da migração dos órgãos
sexuais ocorre aproximadamente aos 48 dias de gestação. Nessa fase, são
denominados de “tubérculos genitais”. A partir do 48º dia, tem início a migração do
tubérculo genital em direção ao umbigo, nos machos, e à cauda, nas fêmeas,
originando o pênis e o clitóris, respectivamente (CURRAN et al., 1989; VIGIER et al.,
1976). O tubérculo genital para a identificação do sexo fetal é observado, por
ultrassonografia, em sua posição definitiva aos 56 dias nos machos e aos 53 dias nas
fêmeas (BARROS; VISINTIN, 2001).
Anatomia e fisiologia do aparelho genital feminino

O aparelho genital feminino dos bovinos é formado por ovários, tubas uterinas ou
ovidutos, útero, vagina e vulva (Figura 1). Figura 1. Aparelho genital da vaca em vista
dorsal, em que o corno uterino direito, a vagina e a vulva estão abertos. Fonte: Sisson
e Grossman (1986).Ultrassonografia na reprodução e avaliação de carcaças em
bovinos18 Ovários Os ovários são responsáveis pela secreção de hormônios
esteroides sexuais e de outros hormônios/fatores locais que exercem o controle
endócrino das funções reprodutivas, e também pela gametogênese (produção de
oócitos). São estruturas pares, localizadas na cavidade pélvica (animais jovens) ou
abdominal (fêmeas multíparas). Apresentam forma ovoide, ligeiramente achatada, que
varia conforme a fase do ciclo estral. Em média, cada ovário bovino mede de 3,5 cm x
2,5 cm e seu peso varia de 15 g a 20 g. Os ovários ficam presos à parede dorsal do
abdômen pelo mesovário, uma parte do ligamento largo. Histologicamente, os ovários
possuem duas regiões: a cortical e a medular. A medula ovariana é localizada na
porção mais interna do ovário (com exceção dos equídeos) e consiste do arranjo
irregular de tecido conjuntivo e extenso sistema nervoso e vascular. A região cortical
contém folículos ovarianos, em vários estádios de desenvolvimento, e corpos lúteos. O
hilo ovariano é o local de entrada e saída de vasos sanguíneos. O folículo é a unidade
morfofuncional do ovário, sendo constituído por um oócito circundado por células
somáticas (células da granulosa e tecais). De acordo com o grau de desenvolvimento,
os folículos podem ser divididos em: a) folículos pré-antrais ou não cavitários; e b)
folículos antrais ou cavitários. Os folículos ovarianos pré-antrais armazenam a grande
maioria dos oócitos presentes no ovário. Entretanto, 99% deles não chegam à
ovulação, sendo eliminada por um processo conhecido por “atresia folicular”. Estima-
se a existência de uma população de 143.929 folículos pré-antrais em fetos Bos
indicus e de 285.155 em fetos Bos taurus, os quais são reduzidos para uma população
de 70 mil a 80 mil folículos pré-antrais em fêmeas de aproximadamente 12 meses de
idade (SILVA-SANTOS et al., 2011). Folículos pré-antrais não são visualizados por
ultrassonografia.
Depois da ovulação, ou seja, depois da liberação do oócito pelo folículo, com a
consequente perda do líquido folicular, forma-se uma glândula endócrina transitória,
denominada “corpo lúteo” (CL). Imediatamente antes da ovulação, a membrana basal
desintegra-se entre as células da granulosa e da teca interna, eliminando a barreira
física existente entre elas. Com a ruptura do folículo, rompem-se os vasos sanguíneos
do seu interior e é criado um coágulo sanguíneo na cavidade formada após a
ovulação. Essa estrutura, que recebe o nome de “corpo hemorrágico”, permanece no
ovário até o terceiro dia do ciclo estral. As células da granulosa e da teca interna
sofrem luteinização, que culmina com a formação de células esteroidogênicas grandes
e pequenas, oriundas, respectivamente, das células da granulosa e da teca interna. Se
não houver estabelecimento da prenhez, o corpo lúteo regredirá e formará uma
cicatriz, que recebe o nome de corpus albicans. Ovidutos Os ovidutos – também
denominados de “trompas uterinas”, “trompas de falópio”, “tubas uterinas” e
“salpinges” – são divididos anatomicamente em infundíbulo (mais próximo do ovário),
ampola (intermediário) e istmo (ligação com o útero). Os ovidutos estão situados entre
o útero e os ovários, e são sustentados pela mesossalpinge (porção do ligamento
largo que sustenta o oviduto). Seu diâmetro é muito menor que o dos cornos uterinos.
As células epiteliais podem ser ciliadas (auxiliam na movimentação do oócito e são em
maior número no infundíbulo) e não ciliadas, ou seja, possuem microvilos, mas têm
função secretora, com o objetivo de favorecer a capacitação espermática e a nutrição
dos gametas. Suas principais funções são: a) capturar oócitos liberados pelo ovário
(na região do infundíbulo – Figura 1); b) transportar os espermatozoides e promover
um ambiente adequado à fecundação (na região da ampola) e as primeiras divisões
celulares; e c) transportar os embriões para o útero. Ultrassonografia na reprodução e
avaliação de carcaças em bovinos20 Útero As funções do útero são as seguintes: a)
transportar os espermatozoides até o ponto de fecundação na trompa; b) proporcionar
um ambiente favorável à capacitação espermática; c) fornecer condições nutritivas
para o blastocisto, até que se complete a implantação; d) proporcionar nutrição e
proteção ao feto; e) participar dos processos mecânicos do parto, por meio da
contração do miométrio (camada muscular do útero); e f) produzir hormônios
(prostaglandina). Esse órgão encontra-se quase inteiramente na cavidade abdominal.
Suas margens estão unidas à parede pélvica e abdominal pelo ligamento largo. Ele é
composto de dois cornos: um corpo relativamente longo e uma cérvix, também
chamada de “colo”. Na vaca, os cornos apresentam comprimento médio de 35 cm a 40
cm, e seu diâmetro diminui gradualmente, no sentido do oviduto, permitindo uma união
suave com os cornos. A parede uterina divide-se em três camadas: a mucosa (ou
endométrio), que delimita o interior do útero e é altamente glandular; a muscular ou
miométrio; e a serosa, ou perimétrio. Cada um dos cornos uterinos apresenta
aproximadamente quatro fileiras com quinze carúnculas, podendo alcançar até cem.
As carúnculas são descritas como proeminências ovais. No útero não gravídico,
medem cerca de 15 mm de comprimento. Tornam-se de 80 a 100 vezes maiores
durante a gestação, chegando a medir de 10 cm a 12 cm de comprimento. A face
profunda possui um hilo, no qual penetram os vasos, e o restante da superfície tem
uma aparência esponjosa, por conta das criptas, que recebem as vilosidades
coriônicas. O colo ou cérvix faz a conexão entre a vagina e o corpo uterino. Tem as
seguintes funções: a) produzir muco cristalino durante o estro e tampão mucoso na
gestação; b) proteger o útero contra a penetração de partículas micro- e
macroscópicas; e c) participar da seleção dos espermatozoides.
A estrutura da cérvix assemelha-se à de um esfíncter e apresenta aproximadamente
10 cm de comprimento total. Suas paredes são muito densas, sendo que sua
espessura pode ultrapassar 3 cm. O conduto cervical é irregular, caracterizado pelo
entrelaçamento de projeções superficiais, denominadas “anéis cervicais”. Os anéis
cervicais são em número de três a sete, e o último deles projeta-se na vagina. O canal
cervical normalmente está fechado e é de difícil dilatação, relaxando-se apenas
durante o estro, quando as células caliciformes secretam muco, o qual também sela
esse canal no animal prenhe (DYCE et al., 2004). O colo é sustentado pelos
ligamentos largos e redondos do útero. Vagina A vagina é o órgão copulador do
sistema reprodutor da fêmea e também o canal de passagem do feto no momento do
parto. Possui paredes grossas e mede, no animal não gestante, de 25 cm a 30 cm de
comprimento. Na parede ventral da vagina, entre as túnicas musculares e a mucosa,
encontram-se os condutos de Gartner. Suas paredes consistem de uma superfície
epitelial, com células estratificadas escamosas, de uma camada muscular e de uma
camada serosa. Genitália externa ou vulva A genitália externa ou vulva é a porção
caudal da genitália feminina, que se estende da vagina para o exterior. É formada pelo
clitóris, pelos lábios vulvares e por certas glândulas que se abrem no vestíbulo vaginal
(Figura 2). É bem provida de terminações nervosas sensitivas, que possuem
importante papel na excitação sexual da fêmea. Nesse órgão estão localizados os
lábios maiores, grossos e enrugados, que apresentam duas comissuras agudas,
sendo que a ventral forma um ângulo muito agudo e apresenta pelos grossos. Seu
tegumento é ricamente dotado de glândulas sebáceas e tubulares, com depósitos de
gordura, Ultrassonografia na reprodução e avaliação de carcaças em bovinos22 de
tecido elástico e de uma fina camada de músculo liso. Os lábios menores são
constituídos de tecido esponjoso.
O clitóris, vestígio feminino correspondente ao pênis, apresenta um corpo de 10 mm a
12 mm de comprimento, e é flexível, sendo recoberto pela comissura ventral do
vestíbulo. Essa estrutura é composta de tecido erétil, com terminações nervosas
sensoriais. Endocrinologia da reprodução As alterações morfofisiológicas que ocorrem
no trato reprodutivo da fêmea durante o ciclo estral, incluindo a dinâmica folicular
ovariana, são controladas por hormônios hipotalâmicos e hipofisários, além dos
produzidos nos ovários e no próprio útero. Dois hormônios glicoproteicos produzidos
pelos gonadotrofos, células da adeno-hipófise, afetam as gônadas: hormônio folículo
estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH). O FSH tem a função de estimular o
crescimento dos folículos antrais, enquanto o LH a de estimular a retomada da
maturação meiótica do oócito (passagem da prófase I para a metáfase II) e a de
estimular a ovulação (rompimento do folículo para liberação do oócito) e a formação
do corpo lúteo (luteinização das células da granulosa e da teca do folículo). Assim
como o FSH, o LH exerce ação na gônada feminina (ovário) por meio da ligação em
receptores específicos de membrana citoplasmática, razão pela qual ambos os
hormônios são denominados de “gonadotrofinas”. As gonadotrofinas são secretadas
na corrente sanguínea por meio de pulsos, que variam em frequência e amplitude, e
são reguladas pelo sistema tônico e cíclico do hipotálamo. O sistema tônico produz o
nível basal circulante, sempre constante. O sistema cíclico apresenta função aguda,
sendo ativo somente por 12 a 24 horas em cada um dos ciclos reprodutivos das
fêmeas, mais especificamente durante o estro. O controle hipotalâmico sobre a
atividade dos gonadotrofos se dá pela secreção do hormônio liberador de
gonadotrofinas (GnRH). Esse hormônio polipeptídico produzido no hipotálamo tem a
função de estimular a liberação das gonadotrofinas (FSH e LH) pela hipófise anterior
(adeno-hipófise). Tanto o LH quanto o FSH são essenciais para estimular a secreção
de estradiol pelos folículos ovarianos. A principal função desse esteroide é promover
as alterações comportamentais das fêmeas (deixar-se montar, montar sobre outras
fêmeas, aumentar a emissão de sons, caminhar mais frequentemente) e físicas
(edemaciação da vulva, hiperemia da mucosa vaginal, abertura da cérvix, produção de
muco, micção frequente), que ocorrem durante o estro.Ultrassonografia na reprodução
e avaliação de carcaças em bovinos24 Outro esteroide que influencia os processos
reprodutivos na fêmea é a progesterona (P4), que é produzida pelo corpo lúteo
(localizado no ovário) e pela placenta. Sua principal função fisiológica é manter a
gestação. Durante o ciclo estral, informa, por meio do mecanismo de retroalimentação
negativa (feedback negativo), ao hipotálamo que a produção e a liberação de GnRH
deve ser minimizada, controlando, consequentemente, a liberação das gonadotrofinas.
Outro hormônio hipotalâmico que controla a função reprodutiva é a ocitocina. Apesar
de ser sintetizada nos núcleos hipotalâmicos, é armazenada e liberada pela hipófise
posterior (também chamada de neuro-hipófise). Por ser um hormônio proteico e poder
ser estocada, está envolvida em atividades rápidas, como a ejeção do leite e a
contração muscular uterina necessária para o parto. A ocitocina é transportada
livremente na circulação sanguínea e, portanto, é metabolizada rapidamente. A
disponibilidade desse hormônio é muito rápida; suas concentrações caem rapidamente
por ser transportado livremente na circulação e, portanto, é mais facilmente
metabolizado. Outra função importante desse hormônio é participar do fenômeno da
luteólise. A prostagladina F2α (PGF2α), produzida no endométrio, atua em sinergismo
com a ocitocina. É responsável pela regressão do corpo lúteo e promove contração
uterina durante o parto. Durante sua síntese, a PGF2α é transferida da veia útero-
ovariana para a artéria ovárica, pelo mecanismo de contracorrente, que evita sua
metabolização em PGFM (metabólito da PGF2α) pelos pulmões. O estradiol
sintetizado pelos folículos pré-ovulatórios engatilha a liberação de ocitocina na
hipófise, o que estimula a liberação de pequena quantidade de PGF2α uterina. A
secreção pulsátil de PGF2α implica a liberação adicional de ocitocina luteal e de
PGF2α proveniente do corpo lúteo e do útero. Por esse mecanismo de
retroalimentação positiva entre a ocitocina e a PGF2α, obtém-se a concentração de
PGF2α necessária para a promoção da luteólise.
CICLO ESTRAL

Estro ou cio, comumente referido como dia zero do ciclo estral, é o período da fase
reprodutiva do animal no aual a fêmea apresenta sinais de receptividade sexual,
seguida de ovulação. Em bovinos, a duração média do estro é de, aproximadamente,
12 horas, e a ovulação ocorre de 12 a 16 noras após o término do cio.
A duração do cio e o momento de ovulação apresentam pequenas variações entre
fêmeas da mesma espécie, em função de fatores endógenos e exógenos. Quando não
ocorre a fecundação, o intervalo médio entre os dois cios consecutivos é de 21 dias, e
é denominado ciclo estral. O ciclo estral dos bovinos pode ser dividido em duas fases
distintas.
A primeira, fase folicular, é caracterizada pelo desenvolvimento do folículo, estrutura
no ovário que contém o óvulo, e culmina com a liberação do mesmo (ovulação). A
segunda, denominada de fase luteínica, é caracterizada pelo desenvolvimento do
corpo lúteo. Esta estrutura, formada após a ruptura do folículo, produz progesterona,
que é o hormônio responsáveI pela manutenção da gestação.
Se o óvulo for fertilizado, o corpo lúteo será mantido caso contrário ocorrerá a
regressão do corpo lúteo terá início uma nova fase folicular. Os eventos que ocorrem
durante o cicio estral são regulados basicamente pela interação dos hormônios GnRH
(hormônio liberador das gonadotrofinas), FSH (hormônio folículo estimulante), LH
(hormônio Iuteinizante), estradiol e progesterona (TabeIa I).
0 GnRH é produzido pelo hipotáiamo, órgão localizado na base do cérebro, e regula a
liberação das gonadotroflnas FSH e LH. 0 FSH e o LH, produzidos pela glândula
pituitária (hipófise anterior), são responsáveis pelo desenvolvimento folicular e
ovulação. Os hormônios estradiol e progesterona são produzidos pelas estruturas do
ovário (folículo e corpo lúteo, respectivamente) e estão fígados à manifestação do cio
e manutenção da gestação.
3.1 Fase folicular

O período de desenvolvimento folicular, ou fase folicular, pode ser dividido em proestro


e estro. O período de proestro, com duração de dois a três dias, é caracterizado pelo
declínio nos níveis de progesterona, pelo desenvolvimento folicular e pelo aumento
dos níveis de estradiol no sangue.
Nessa fase, a liberação do GnRH pelo hipotálamo estimula a secreção de FSH e LH
da glândula pituitária. Os elevados níveis de FSH no sangue induzem o
desenvolvimento dos foIículos (Fig. 2) e, em sinergismo com o LH, estimulam a sua
maturação. Á medida que o folículo se desenvolve, aumenta a produção de estradiol
pelos folículos, e após uma determinada concentração, o estradiol estimula a
manifestação do cio e a liberação massiva do LH, dando inicio à segunda fase.
No período de estro, a ocorrência de elevados níveis de estradiol, além de induzirem a
manifestação do cio, são também responsáveis pela dilatação da cérvice, síntese e
secreção do muco vaginal e o transporte dos espermatozóides no trato reprodutivo
feminino.
Durante o período de manifestação do cio, a vaca ou novilha fica inquieta, monta e
deixa-se mmntar por outras vacas, reduz o apetite, diminui a produção de leite e
apresenta corrimento muco vaginai claro e viscoso.
A vulva e a vagina apresentam-se intumescidas e avermelhadas devido à elevada
irrigação sangüinea No entanto, o melhor sinal de manifestação do cio é quando se
deixa montar por outra vaca, touro ou rufião.

3.2 Fase luteínica


Após o término da manifestação do cio, tem início o período de desenvolvímento do
corpo lúteo, ou fase luteínica. A fase luteínica pode ser subdividida em metaestro e
diestro. 0 metaestro, com duração de dois a três dias, tem como característica
principal a ovulação que é a liberação do óvulo pelo folículo.
Em bovinos, a ovulação ocorre geralmente de 12 a 16 horas após o término do cio.
Após a ruptura do folículo, o óvulo é transportado para o iscal de fertilização porção
média do oviduto, e as células da parede interna do folículo se multiplicam dando
origem a uma nova estrutura, denominada corvo lúteo ou corpo amarelo (Fig. 3).
0 corpo lúteo produz progesterona, que é o hormónio responsável pela manutenção da
gestação. 0 período em Que o corpo lúteo passa a ser funcional, representado pela
síntese e Liberação de elevados níveis de progesterona, é denominado de diestro.
Entre as diversas fases do ciclo estral, o diestro é o de maior deração
(aproximadamente !5 dias). Se o óvulo for fecundado, o corpo lúteo será mantido e os
níveis de progesterona permanecerão elevados durante a gestação.
Caso não ocorra a fecundação, o corpo lúteo regridirá (ao redor de 17 dias após o cio)
e os ,níveis ae orogesterona no sangue diminuirão, permitindo assim o
desenvolvimento de um novo ciclo estral. Um dos mecanismos responsáveis pela
destruiçâo ao corpo lúteo (luteólise) é a ação de uma substância produziga pelo útero,
denominaga prostaglandina F2 (PGF2a).
O corpo iúteo é mais sensível à ação luteolítica da orostaglandina à medida que
envelhece (amadurece), ou seja, a partir do 10º dia do ciclo estral (King & Kiracofs
1982, Berardinelli & Adair 1989). Na Fig. 4 estão representadas as variações
observadas nas concentrações dos principais hormônios que regulam o ciclo estral em
bovinos.

O manejo reprodutivo ineficiente pode ocasionar redução na lucratividade da pecuária


de leite, visto que baixos índices reprodutivos levam à diminuição na produção de leite
total, ao longo da vida reprodutiva da fêmea. Considerando que o ideal é uma vaca
parir a cada 12 meses e ser uma boa produtora de leite, em quantidade por dia, ter
persistência de lactação e longevidade produtiva, o conhecimento de aspectos
relacionados à sua fisiologia reprodutiva, como puberdade, ciclo estral, gestação e
parto, têm grande importância na eficiência reprodutiva na propriedade leiteira
A puberdade na fêmea tem início quando a mesma apresenta o primeiro estro com
ovulação, sendo influenciada, dentre outros fatores pelo nível nutricional sob o qual
foram mantidas as bezerras após o desmame. Em termos médios, estima-se seu
aparecimento em fêmeas bovinas de raças européias entre os 9 e 12 meses de idade,
e nas raças zebuínas, mais tardias, a puberdade pode surgir fisiologicamente até os
24 meses. Em fêmeas mestiças, europeu-zebu a puberdade ocorre normalmente entre
12 e 20 meses.
Com fins de utilização de novilhas para a reprodução, deve ser observado não apenas
o primeiro estro, mas também, a maturidade sexual, associando-se o desenvolvimento
corporal da fêmea a possíveis dificuldades de parto e condições de nutrição, de modo
que a novilha mantenha-se crescendo e ganhando peso, e assim chegue ao parto em
boa condição corporal. Em novilhas mantidas em condições intensivas, como
geralmente ocorre em pecuária leiteira, é comum o aparecimento da puberdade muito
antes da maturidade reprodutiva.
Percebe-se então, que a puberdade é apenas o início da vida sexual da fêmea. Uma
vaca cíclica deve a cada 21 dias, em média, manifestar estro. Este período pode variar
fisiologicamente entre 17 e 24 dias, tendo as novilhas intervalo menor que as vacas de
mais idade. Nos bovinos, o ciclo estral compreende quatro fases: proestro, estro,
diestro e metaestro. Estas fases são de grande importância, tendo cada uma delas
particularidades que, se observadas, podem incrementar a eficiência reprodutiva do
rebanho.
O proestro caracteriza-se por manifestações comportamentais que normalmente
passam despercebidas ao homem, sendo, no entanto, perceptíveis ao touro ou rufião.
Neste período, a fêmea monta as companheiras, mas não se deixa, ainda, montar.
Durante a segunda fase do ciclo estral, o estro, também conhecido por cio ou calor, a
vaca ou novilha aceita a monta, que é o sinal característico desta fase.
A duração do estro varia de 10 a 30 horas, dependendo, dentre outros fatores, da
raça, idade (novilhas tendem a ter o estro mais curto), condições sanitárias,
temperatura ambiente e tipo de manejo. Em zebuínos, o cio é bastante curto, em torno
de 3 a 5 horas; já nas raças européias persiste, em média, de 6 a 18 horas. Os
mesmos sinais do proestro (inquietação, cauda erguida, micção e mugidos constantes,
tendência a agrupamento, vulva edemaciada, diminuição do apetite, redução da
produção de leite) estão presentes, só que de forma mais acentuada, o que permite ao
homem identifica-los com maior facilidade. À medida que se aproxima o final do estro,
os sinais vão diminuindo.
A identificação do cio deve ser uma das tarefas prioritárias na propriedade, devendo o
rebanho de fêmeas ser observado no mínimo duas vezes por dia, no início da manhã
e no final da tarde. A grande maioria das fêmeas entra em cio à noite tendo seu estro
detectado na manhã seguinte (em torno de 60 a 70%). Como regra geral, as fêmeas
cujo cio foi observado pela manhã devem ser cobertas à tarde do mesmo dia e as
fêmeas cujo cio foi identificado à tarde, devem ser cobertas na manhã do dia seguinte.
Esta prática decorre do fato de que a ovulação em bovinos ocorre quando a fêmea
não mais aceita a monta, em geral, 6 a 12 horas após o final do estro, ou seja, quando
a fêmea já se encontra em metaestro.
A correta identificação de animais em estro é imprescindível para a obtenção de um
intervalo de partos próximo de 12 meses e, consequentemente, incrementar a
eficiência reprodutiva do rebanho, já que maior número de fêmeas identificadas em
estro ocasiona aumento no número de vacas gestantes e, então, um maior número de
fêmeas em lactação. A falha na identificação do cio é um dos grandes problemas em
fazendas de gado leiteiro que utilizam inseminação artificial ou monta controlada
Após o metaestro a fêmea entra em inatividade sexual ou diestro, que dura
aproximadamente 14 dias. No final desta fase, caso não haja gestação, o ovário
começa a sofrer influência hormonal dando início a novo ciclo estral. Caso tenha
ocorrido fertilização a fêmea torna-se gestante.
Em bovinos, a duração da gestação é de aproximadamente 285 dias (9,5 meses),
podendo variar fisiologicamente em 15 dias para mais ou para menos, dependendo da
raça, idade da vaca, tamanho e sexo do bezerro, dentre outros fatores. O diagnóstico
de gestação deve ser efetuado a partir dos 40 dias da monta ou inseminação. Em uma
propriedade bem manejada é possível a realização do diagnóstico de gestação,
através do toque retal ou ultra-sonografia, em datas estratégicas, não apenas para
constatar a prenhez, mas também para diagnosticar causas de falhas na reprodução
em tempo hábil, podendo-se corrigi-las e evitar prejuízos.
O parto constitui-se no evento reprodutivo de maior importância em uma propriedade
leiteira visto que a lactação é desencadeada pelo mesmo. Duas semanas antes da
época prevista para o parto, a fêmea deve ser colocada em um piquete maternidade
para que possa ser facilmente acompanhada e auxiliada durante a parição. À medida
que o parto se aproxima, a fêmea torna-se inquieta, deixa de se alimentar, afasta-se
dos outros animais do piquete e demonstra um comportamento de "construção de
ninho". O homem só deve interferir no parto em casos extremamente necessários,
sendo preferível que apenas observe o seu transcorrer.
Após o parto, a própria vaca deve "cuidar" de sua cria, novamente o homem tendo
papel apenas de coadjuvante, para que a fêmea não rejeite o seu filhote. O
comportamento normal da vaca logo após o parto compõe-se de corte do cordão
umbilical com os dentes, retirada dos restos de placenta com lambidas vigorosas que
também estimulam a respiração e o funcionamento do trato gastrintestinal para a
liberação do mecônio (primeiras fezes) e estimular a cria a mamar, facilitando o acesso
às tetas. Quando a vaca não dá a devida atenção à cria, o homem deve interferir e
substituí-la nos primeiros cuidados com o bezerro.

Após o parto, o útero necessita de algum tempo para retornar ao seu tamanho normal
e se preparar para novo ciclo reprodutivo. Este período de tempo pode variar em
condições normais de sanidade de 30 a 45 dias. É devido a este período necessário
de repouso do trato genital da vaca que o período de serviço não deve ser inferior a 45
dias.

LUTEÓLISE

No bovino, o ciclo estral dura, em média, 21 dias, e esse ciclo é dividido em duas fases, uma
marcada pela alta concentração de estrógeno (fase estrogênica) e outra pela progesterona
(fase lútea). A fase lútea ocorre entre a ovulação e a luteólise, durando em média 17 dias. O
corpo lúteo (CL) é uma glândula endócrina temporária que tem como principal função a
secreção de progesterona, responsável pela preparação do útero para o início e a manutenção
da gestação (Siqueira et al., 2009). Vários fatores angiogênicos e vasoativos estão presentes no
CL. Entre os fatores angiogênicos, pode-se citar: fator de crescimento endotelial vascular
(VEGF), fator de crescimento fibroblástico (FGF), angiopoetina (ANPT-1 e -2) e fator de
crescimento semelhante à insulina (IGF), responsáveis pela formação de novos vasos
sanguíneos e dispersão de P4; e entre os fatores vasoativos: endotelina-1 (EDN1), angiotensina
II (Ang II) e o óxido nítrico (NO), responsáveis pelo fluxo sanguíneo (Miyamoto et al., 2009). Na
ausência de um embrião viável, a PGF2α naturalmente é secretada pelo endométrio e
desencadeia uma série de alterações irreversíveis no CL, fazendo com que não tenha mais
função. Prostaglandina As prostaglandinas (PGs) são importantes mediadores de várias funções
reprodutivas na fêmea incluindo luteólise, ovulação e reconhecimento materno da gestação. O
endométrio bovino secreta PGEs e PGF2α durante todo o ciclo estral, mas o padrão de
secreção modifica-se ao longo deste. A PGF2α tem sido identificada como luteolítico natural
em várias espécies de mamíferos (Waite et al., 2005). Produzida no endométrio, alcança a
circulação venosa uterina e, por meio de mecanismo contracorrente (que envolve transporte
ativo), passa ao sistema arterial ovariano, onde produz vasoconstrição e, consequentemente,
luteólise (Cunningham, 2004).

Nos bovinos, entre os dias 15 e 17 do ciclo, período crítico de iniciação da luteólise, ocorre
importante aumento da secreção endometrial de PGF2α na ausência de um embrião viável
(Tanikawa et al., 2005). Contudo, quando estabelecida a prenhez, as prostaglandinas E1 e E2
desempenham importante função de manutenção do corpo lúteo, evitando a queda de P4. Em
ovelhas, o PGE1 aumenta os receptores de LH nos tecidos caruncular e luteal, prevenindo a
conversão de PGE2 em PGF2α (Weems et al., 2010) A luteólise é desencadeada pelo aumento
da amplitude dos pulsos de PGF2α. Inicialmente, observam-se picos (2-3) de secreção que
elevam a concentração plasmática de PGFM a valores >100-125 pg/mL. Subsequentemente,
observa-se grande aumento da magnitude do pulso, e a PGFM alcança valores em torno de 550
pg/mL. Nesse momento, o fluxo sanguíneo ovariano e a síntese de P4, que já se encontram em
declínio, apresentam súbita elevação por duas horas e voltam a declinar progressivamente até
a P4 alcançar valores menores que 1 ng/mL. Durante o período de declínio continuam
acontecendo picos de secreção de PGF2α, contudo a amplitude deles diminui
progressivamente. Os pulsos sequenciais acontecem a cada 9-12 horas, duram, em média,
quatro horas, e o processo todo tem duração aproximada de 30 h (Miyamoto et al., 2005;
Ginther et al., 2007, 2010a, b).

As rápidas alterações observadas no padrão de secreção de P4 durante a luteólise não são


acompanhadas de modificações do CL, que tem seu volume reduzido pela metade somente
após 12 horas (Acosta e Miyamoto, 2004). O corpo lúteo dos bovinos possui receptores
específicos para PGF2α, contudo a afinidade desses receptores é maior entre o 13° e o 20°. A
administração de PGF2α em ovelhas e novilhas na fase média do ciclo estral causa, de 4 a 12
horas após sua administração, diminuição significativa no mRNA luteínico da proteína
reguladora aguda esteroidogênica (StAR), responsável pelo transporte de colesterol
citoplasmático para o interior da mitocôndria (Waite et al., 2005). A ligação da PGF2α a seus
receptores na membrana das células luteais esteroidogênicas também estimula a atividade da
proteína quinase C, que interrompe a produção de P4 de diversas maneiras: diminuindo a
captação e o transporte de colesterol para o citoplasma e para a mitocôndria, promovendo
retroalimentação negativa dos receptores de LH e, possivelmente, aumentando a expressão e a
ativação das proteínas envolvidas nos processos de apoptose (revisado por Bertan et al., 2006).
O fator de necrose tumoral (TNFα) tem efeitos estimulatórios na liberação de PGF2α na fase
lútea tardia do ciclo e interfere na produção in vitro de progesterona por células luteínicas
bovinas. A exposição endometrial simultaneamente ao TNFα e OT apresenta efeito
estimulatório sobre a liberação de PGF2α (Miyamoto et al., 2000). Outra citocina a estimular a
produção de PGFα é a interleucina-1β (IL-1β), porém a progesterona em alta concentração
inibe esse efeito (Nothnick e Pate, 1990).
Ocitocina Em vacas, a aplicação de ocitocina (OT) exógena causa a liberação de PGF2α e a
regressão prematura do CL. Contudo, isso só ocorre a partir do dia 15 do ciclo estral, época
esperada da luteólise, devido à expressão dos receptores endometriais de ocitocina (Robinson
et al., 2001). Há relatos de quantidades relativamente grandes de ocitocina no CL de vacas. A
administração de diversos análogos de PGF2α causa elevação de ocitocina plasmática que
atinge pico em 15-20 min. A partir de estudos realizados em ovinos, foi levantada a hipótese de
que a elevação de ocitocina tinha origem na secreção do CL. Estudos posteriores realizados em
ovelhas e vacas mostraram que o gene para ocitocina era totalmente expresso no CL em
desenvolvimento logo após a ovulação, confirmando, desse modo, que a síntese de ocitocina
ocorria no CL de ruminantes (revisado por McCracken, 1999). Assim, a PGF2α estimula a
secreção de ocitocina pelo CL e a ocitocina, por sua vez, estimula a secreção de PGF2α no
útero. Esses dois hormônios compreendem um mecanismo de retroalimentação positiva que
atua entre o útero e o CL para reforçar a regressão luteal. Contudo, existem evidências de que,
no início da fase lútea, a ocitocina pode ser um importante fator luteotrópico (Shirasuna et al.,
2007). O mecanismo responsável pela produção de PGF2α é consequente à ligação da OT com
seus receptores específicos no útero, que ativa a fosfolipase C e a liberação de inositol
fosfatase (IP) e diacilglicerol (DAG), fazendo com que ocorra uma mobilização intracelular de
Ca2 +, acompanhada pelo aumento da secreção de PGF2α (Duras et al., 2005). Entre os dias
17-20 do ciclo, encontra-se pequena quantidade de OT no CL em relação a outros dias do ciclo,
porém, nesse mesmo período, há maior expressão de mRNA para receptor de OT (OTR;
Rekawiecki et al., 2010). As concentrações de OT no CL têm a diminuição acentuada (cerca de
90%) em 30 a 120 minutos após a aplicação de PGF2α, enquanto a expressão mRNA para
receptores OTR tem a diminuição duas horas após (Berisha et al., 2010).

Estradiol A participação do estradiol na luteólise ocorre por duas maneiras: a primeira, por
meio de estímulo hipotalâmico, que irá aumentar a frequência de pulsos de OT; a segunda, por
estímulos endometriais, que irão aumentar a expressão de receptores para OT no estradiol
(McCracken et al., 1999). Um estudo demonstrou que baixas concentrações de estradiol
estimulam o desenvolvimento de receptores para OT, já altas concentrações não apresentam o
mesmo efeito (Lamming e Mann, 1995). Os dois tipos de receptores de estrógenos, ERα e ERβ,
são expressos no CL. Os ERα estão presentes em elevadas concentrações durante toda a fase
lútea, exceto no momento da luteólise, quando seus níveis apresentam-se reduzidos. Os ERβ
apresentam comportamento semelhante, contudo seus níveis de expressão continuam
elevados no momento da luteólise. Essa queda na expressão de ERα no momento da regressão
pode estar envolvida na progressão da luteólise estrutural (Shibaya et al., 2007; Martin et al.,
2010).

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