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Material de Apoio – “Esse material não é autoral, mas sim um compilado

dos assuntos pertinentes, de sites, artigos e blogs.”


Proibida a reprodução.

MÓDULO DE PSICOEMBRIOLOGIA
Docente Jucimária Mendes

1. Fecundação

O óvulo é um gameta, a ovogênese, ou ovulogênese, é o processo


no qual ocorre a formação dos óvulos. Esse processo tem início antes do
nascimento da mulher, ou seja, durante o seu desenvolvimento embrionário,
mais ou menos no terceiro mês de sua vida intrauterina.
No início da fase fetal, as ovogônias, células precursoras dos gametas
femininos, sofrem mitoses, multiplicando-se. Após o nascimento, por volta do
terceiro mês de vida, as ovogônias param de se dividir, crescem, duplicam
seus cromossomos e entram na prófase um da meiose, quando passam a ser
chamadas de ovócitos primários ou ovócitos.
Por volta da 16ª a 20ª semana de gestação, o feto feminino possui o
número máximo de óvulos que terá durante a sua vida.
Enquanto está na barriga da mãe, uma bebê menina tem cerca de 7
milhões de óvulos imaturos. Quando nasce, esse número já caiu para 1 milhão.
Apenas algumas centenas de milhares de óvulos se mantêm até a idade
adulta. Desses, 500 mil chegam à maturidade.
Os ovócitos primários permanecem dessa forma até que a mulher
atinja a puberdade. Ao nascer, a menina já tem seus ovócitos
primários formados no interior de seus ovários, mas mais da metade deles se
degenera ao longo da vida da mulher.
Ao atingir a puberdade, a menina terá a sua primeira menstruação,
chamada de menarca, e passará a apresentar ciclos menstruais que duram
aproximadamente 28 dias. Em cada ciclo menstrual, um dos ovócitos
primários entra no período de maturação, lembrando que esse processo se
repetirá até a chegada da menopausa, que é quando cessam definitivamente
os ciclos menstruais.

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Ao iniciar a puberdade, restam de 300.000 a 500.000 óvulos. Durante
os próximos 30 a 40 anos de vida reprodutiva, aproximadamente 400 a 500
deles serão selecionados para serem ovulados. Nos últimos anos da vida
reprodutiva feminina, antes de entrar na menopausa, acelera-se a perda do
número de óvulos e a qualidade deles também diminui.
Durante a maioria dos ciclos menstruais, um dos seus óvulos
amadurece e é liberado de um ovário (ovulação) em preparação para a
fertilização. No entanto, o declínio no número dos óvulos (também chamado de
"reserva do ovário") continua mais rápido que isso e, desde o momento em que
você começa a menstruar, aproximadamente 1.000 óvulos estão destinados a
morrer a cada mês. Ao longo da vida, os ovários liberarão cerca de 500 óvulos
em sua forma madura. Quando o suprimento de óvulos se esgota, os ovários
deixam de produzir estrogênio e você entra na menopausa. Para a maioria das
mulheres, isso acontece em torno dos 50 anos: a média da idade nos países
desenvolvidos é de 51,4 anos. A partir desse ponto, você não poderá mais
engravidar naturalmente.
Durante a maturação do ovócito primário, ocorre o término da divisão
um da meiose, formando células de tamanhos diferentes, sendo uma delas
grande, chamada de ovócito secundário ou ovócito dois; e a outra pequena,
chamada de corpúsculo polar um ou primeiro glóbulo polar, que se
degenera logos após a sua formação.
O ovócito secundário inicia a segunda fase da meiose, mas para na
metáfase dois, ocorrendo então o que chamamos de ovulação, na qual
o ovócito secundário será liberado no ovário e encaminhado para a tuba
uterina. Esse ovócito secundário que foi liberado é chamado de óvulo, e a
sua meiose se completará somente se houver fecundação
do óvulo pelo espermatozoide.
Quando o ovócito secundário (óvulo) não é fecundado, ele se
degenera 24 horas após ser liberado. Mas quando ocorre fecundação por um
espermatozoide, o ovócito secundário termina a segunda divisão da meiose,
com a liberação do segundo glóbulo polar, também chamado de corpúsculo
polar dois. Assim como o corpúsculo polar I, ocorpúsculo polar II também
se degenera.

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Além de formar gametas, a ovulogênese também está associada a
todas as modificações hormonais que preparam o útero da mulher para uma
possível gravidez, e uma delas é o espessamento da parede uterina para
receber o embrião. Caso o óvulo não seja fecundado por um espermatozoide,
a ovulogênese não se completa, ocorrendo a descamação da parede uterina,
que chamamos de menstruação. Se houver a fecundação do óvulo, não
ocorrerá a menstruação, havendo então uma gravidez.
Os espermatozoides são os gametas masculinos. Os testículos
produzem cerca de 200 milhões de espermatozoides por dia.
A produção de espermatozoides, chamado de espermatogênese,
inicia na puberdade, por volta dos 12, 13 anos, e segue por toda a vida,
diminuindo na velhice.
A produção ocorre nos tubos seminíferos dos testículos. Esses órgãos
ficam fora da cavidade abdominal, na bolsa escrotal, e possuem temperatura
de até 1°C a menos do que a temperatura corporal, o ideal para a formação
dos espermatozoides. Neste sentido, a espermatogênese ocorre em quatro
etapas principais e pode durar de 64 a 74 dias.
O sistema reprodutor masculino é um conjunto de órgãos que
desempenham papel importante na reprodução humana. Neste sentido, ele é
responsável pela produção dos espermatozoides capazes de fecundar o óvulo
e gerar uma nova vida. Além disso, este sistema complexo também produz
a testosterona, hormônio masculino ligado ao crescimento da barba,
engrossamento da voz, aumento da massa muscular além de atuar na
fertilidade masculina.
Essa célula reprodutiva é formada nos túbulos seminíferos em um
processo denominado espermatogênese.
O espermatozoide maduro é composto por três porções: a cabeça, a
peça intermediária e a cauda. Na cabeça está o núcleo, que contém o material
genético, e uma estrutura rica em enzimas que ajuda no processo de
fecundação. A peça intermediária é rica em mitocôndrias, e a cauda ajuda na
movimentação do espermatozoide.
Apresentam uma movimentação ativa, movendo-se em meio líquido
com uma velocidade que varia de 1 a 4 mm/min. Essa movimentação é

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essencial para garantir que o espermatozoide encontre o ovócito (gameta
feminino) no interior do corpo da mulher.
O espermatozoide apresenta três partes básicas: cauda; peça
intermediária; cabeça.
No ser humano, o espermatozoide apresenta uma cabeça oval e
achatada, sendo esse o local de maior volume. Na cabeça, está localizado o
núcleo, que contém o material genético, uma pequena porção de citoplasma,
citoesqueleto e também uma importante região denominada acrossomo. Este é
formado principalmente pelo complexo golgiense e contém enzimas
importantes para garantir que o espermatozoide seja capaz de penetrar as
camadas que envolvem o ovócito e, desse modo, possibilitar a fecundação. As
enzimas presentes no acrossomo são semelhantes às presentes nos
lisossomos.
Conectada à cabeça, temos a peça intermediária, uma região onde se
observa uma grande quantidade de mitocôndrias, as quais garantem a
produção da energia necessária para que ocorra os movimentos flagelares.
Logo após a peça intermediária, está a cauda, ou flagelo, que é essencial para
garantir a movimentação do espermatozoide. Ela é formada por uma
membrana celular fina que recobre um esqueleto central formado por 11
microtúbulos (axonema).
Os espermatozoides são produzidos nos testículos, mais precisamente
nos túbulos seminíferos. Sua produção inicia-se na puberdade e permanece
por praticamente toda a vida, sendo observada uma redução na velhice. O
processo de formação do espermatozoide é chamado de espermatogênese, o
qual se inicia com uma série de divisões mitóticas realizadas por células
chamadas de espermatogônias.
As espermatogônias podem formar outras espermatogônias ou se
diferenciarem em espermatócitos primários. Os espermatócitos primários
iniciam o processo de meiose. Ao final da meiose I, temos os espermatócitos
secundários, os quais entram em meiose II, formando as espermátides. As
espermátides passam pelo processo chamado de espermiogênese, que é a
etapa responsável pelo surgimento da cabeça e da cauda do espermatozoide.

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Após a sua formação, os espermatozoides seguem para o epidídimo,
onde passam por um processo de maturação. Eles permanecem estocados no
epidídimo e canal deferente. Nesse período, permanecem inativados e podem
ficar estocados e viáveis por pelo menos um mês. Após ejaculado, o
espermatozoide pode permanecer vivo por até dois dias no trato genital
feminino.
Um espermatozoide para ser considerado normal deve apresentar,
entre outras características, uma cabeça com contorno regular e oval e uma
região acrossômica que ocupe entre 40% e 70% da cabeça. A peça
intermediária deve apresentar aproximadamente o mesmo tamanho da cabeça,
e a cauda deve ser uniforme. Uma grande quantidade de espermatozoides
anormais pode estar relacionada com a infertilidade. Uma deformidade na
cabeça, por exemplo, pode impossibilitar a fertilização. Enrolamento da cauda,
encurtamento ou mesmo a ausência dela também se relacionam com o
problema.
Quando o homem apresenta grande concentração de espermatozoides
anormais em seu sêmen, dizemos que é um caso de teratozoospermia. Outros
problemas que podem ser identificados no homem é a oligozoospermia, que é
a baixa concentração de espermatozoides no sêmen, e a astenozoospermia,
que é a baixa quantidade de espermatozoides móveis.
A fecundação humana é a união do óvulo (gameta feminino) e do
espermatozoide (gameta masculino), resultando em um óvulo fertilizado
conhecido como zigoto. Desta forma, esta nova célula que já carrega
o DNA com 23 cromossomas da mãe e 23 do pai, corresponde à primeira
etapa da vida,
A fertilização, acontece normalmente na tuba uterina. Nesse sentido, a
fecundação do óvulo por um espermatozoide marca o início de uma possível
gravidez.
A fecundação Humana, que compreende à fertilização do óvulo pelo
espermatozoide, é um processo complexo que acontece de forma rápida e
sucessiva. Nesse sentido, quando se dá de forma natural, ou seja, através de
relação sexual, os espermatozoides são lançados dentro do corpo da
mulher na ejaculação e fazem uma verdadeira corrida até tuba uterina. Neste

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sentido, mais de 200 a 500 milhões de espermatozoides vão em busca do
óvulo; porém, apenas um deles conseguirá fecundá-lo.
Para que a fecundação humana aconteça é necessário que óvulo e o
espermatozoide se unam dando origem ao zigoto. Mas esse encontro dos
gametas só pode acontecer se a mulher estiver no seu período fértil, ou seja,
ovulando. Neste sentido, quando o óvulo é liberado ele vai para a tuba uterina
onde sobrevive até 24 horas, período em que pode ser fecundado.
Além disso, é necessário também que o espermatozoide chegue até o
óvulo. Sabemos que o gameta masculino dura de 3 a 7 dias dentro do corpo da
mulher, sendo mais ativo nas primeiras 48 horas. Assim, com velocidade média
de três milímetros por segundo, os espermatozoides agitam mais de 800 vezes
suas caudas e conseguem chegar às trompas entre 20 e 30 minutos após a
ejaculação. Nesse sentido, este é o tempo necessário para que a fecundação
ocorra.
Algumas mulheres desconfiam que estão grávidas, isto é, que a
fecundação aconteceu, através de alguns sintomas. É bem comum o
surgimento de um pequeno sangramento rosa claro, além de dores
abdominais, sinais de que o embrião se fixou na parede do útero materno. Este
processo de implantação do embrião no endométrio, chamado de nidação,
acontece por volta do décimo dia após a fertilização do óvulo.
Além disso, outros sinais como sonolência, cansaço, dor de cabeça
leve e persistente, bem como seios inchados e doloridos também podem
indicar o início de uma gestação. Assim, sintomas como atraso da
menstruação, além de náuseas pela manhã, também são fortes indícios de que
a mulher realmente esteja grávida, o que pode ser comprovado através do
exame do hormônio HCG.

Fecundação humana por meio de reprodução assistida

Como já vimos, a fecundação humana pode acontecer naturalmente


através da relação sexual, quando os espermatozoides são lançados no corpo
da mulher possibilitando seu encontro com o óvulo. Porém, seja por problemas
de infertilidade masculina ou feminina, ou para casais homoafetivos que

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querem gerar um bebê, esse tipo de fecundação não tem acontecer. Nesse
sentido, é possível recorrer à reprodução assistida para dar início a uma
gestação.

Inseminação artificial (IA)

A técnica da Inseminação Artificial ou intrauterina, é indicada


especialmente para os casos em que os espermatozoides não conseguem
chegar ao óvulo na tuba uterina. Neste sentido, a medicina reprodutiva dá uma
bela ajuda. O sêmen é preparado e inserido diretamente no interior do útero,
facilitando a fertilização.

Etapas do tratamento de Inseminação Artificial:

Indução da ovulação: A mulher passa por uma indução de ovulação


através de hormônios, com objetivo de liberar um óvulo em uma data
determinada;
Coleta de Sêmen: Os espermatozoides são obtidos através de
masturbação ou também podem ser pinçados diretamente dos testículos;
O sêmen é depositado diretamente no útero para facilitar a fecundação.

Fertilização in Vitro (FIV)

A fertilização in vitro (FIV) é considerada uma revolução na medicina.


Ela foi desenvolvida inicialmente para casos de fator tubário. Além disso,
passou a ser indicada também para casos de infertilidade masculina ou
feminina, endometriose, esterilidade sem causa aparente e idade avançada da
mulher.
Nesse sentido, na técnica de fertilização in vitro, os óvulos são
fertilizados fora do corpo da mulher, e os gametas são unidos em laboratório.
Assim, uma vez formado o embrião, ele é transferido diretamente ao útero
onde vai ocorrer a gestação.

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Etapas do tratamento de Fertilização in Vitro

Indução da ovulação: A mulher passa por estimulação ovariana com


uso de hormônios. Os óvulos são captados do ovário por punção
transvaginal e o objetivo é coletar o maior número possível por ciclo;
Coleta de Sêmen: Os espermatozoides são obtidos através de
masturbação ou também podem ser pinçados diretamente dos testículos;
A fertilização ocorre pela injeção de um único espermatozoide no óvulo
através de uma micro agulha (ICSI) com a conseqüente. formação dos
embriões;
Transferência do embrião ao útero: Após 3 a 5 dias de cultivos dos
embriões em meio de cultura e mantidos em estufa, estes são transferidos para
o útero através de um cateter.
Vimos aqui como acontece a mágica da fecundação humana que une
os gametas feminino e masculino para formar um novo ser. Sendo assim,
quando isto não acontece naturalmente, a fertilização pode ser realizada
através de tratamentos da medicina reprodutiva.

Ovodoação

A ovodoação consiste em uma técnica de reprodução assistida na qual


a futura mãe (mulher receptora) realiza um procedimento de fertilização in vitro
(FIV) onde é utilizado o óvulo de uma doadora. A doadora é anônima e que não
pode pertencer à família da receptora. Vários critérios são utilizados para a
escolha da doadora de óvulos, entre eles estão a idade que, obrigatoriamente,
deve ser de 35 anos ou menos a e ausência de doenças infecto-contagiosas.
Após obtidos os óvulos, eles são fertilizados com o sêmen do futuro pai
ou não, visto que havendo problemas com o pai o espermayozóide também
pode advir de doação, e os embriões resultantes são transferidos para o útero
da futura mãe, seguindo as orientações do Conselho Federal de Medicina.
A ovodoação, atualmente, é uma opção que proporciona para a
paciente a possibilidade da gestação quando se esgotam todas as
possibilidades de tratamentos com os próprios óvulos.

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Barriga de Aluguel ou Barriga Solidária (CessãoTemporária do
Útero)

Hoje, há uma crescente procura por métodos voltados para mulheres


que não podem engravidar. A barriga solidária é um tratamento em que o casal
gera o embrião por meio de técnicas de FIV (fertilização in vitro).
Esse embrião é transferido para o útero de outra mulher, que conduz a
gravidez por nove meses e tem o parto. Após o nascimento da criança, ela é
entregue aos pais.
De forma geral, o tratamento é semelhante à FIV tradicional. São
usadas medicações para a estimulação dos ovários da mãe, realizando-se a
captação dos óvulos no momento ideal, e é feita a fertilização deles com
espermatozoides do pai. Contudo, os embriões formados são transferidos para
o útero de substituição, que é preparado previamente com hormônios.
É importante frisar que tanto o casal que está procurando a técnica
quanto a mulher que doa o útero devem passar por uma consulta médica
especializada. Nesse momento, o médico solicita diversos exames, como
sorologias e tipagem sanguínea, para aumentar as chances de uma gravidez
de sucesso.
Recentemente, foi publicada no Brasil a Resolução CFM 2.168/2017,
que determina novas regras para a “cessão temporária de útero”, atual
nomenclatura adotada para o procedimento. Em todo o território brasileiro, o
procedimento não deve ter caráter lucrativo ou comercial.
Para que uma mulher ceda o útero a outra, ela precisa ter parentesco
consanguíneo de até quarto grau: primeiro grau – mãe/filha; segundo grau –
avó/irmã; terceiro grau – tia/sobrinha; quarto grau – prima. Eles também podem
fazer uma FIV em qualquer clínica de reprodução assistida sem necessidade
da autorização do Conselho Federal de Medicina.
É importante destacar que, para a realização do procedimento, é
necessária a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de
todos os envolvidos.

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É interessante observar que a relação entre as pessoas que participam
da barriga solidária é oposta à das que buscam a doação de óvulos
(ovodoação). No primeiro caso, as pessoas precisam ter um vínculo
consanguíneo de até quarto grau. A ovodoação, por sua vez, deve ser
anônima.
Por fim, o processo deve ser feito somente em clínicas especializadas
e que tenham a autorização do Conselho Federal de Medicina. O útero de
substituição — ou barriga solidária — é um tratamento diferente e que
necessita de muita generosidade e solidariedade entre as mulheres envolvidas.

Princípios da embriologia

Embriogênese

Para muitos, o nascimento de um ser vivo é algo fascinante e repleto


de curiosidades. Nas pesquisas biológicas, por exemplo, vários estudiosos
buscam entender o desenvolvimento de uma nova vida. Para isso, existe a
embriogênese humana, que estuda a formação e crescimento de um embrião.
A pesquisa embrionária envolve todo o desenvolvimento do ser a partir
da fertilização. Nesse sentido, a embriogênese abrange as divisões,
multiplicações e diferenciações que a célula geminada sofrerá durante o
crescimento do embrião.

Segmentação ou Clivagem

Uma vez que óvulo e espermatozóide se encontram, forma-se o zigoto


que logo vai começar a se dividir. A isso damos o nome de segmentação ou
clivagem, que nada mais é do que sucessivas mitoses pelas quais o zigoto
passa. De 1 célula, formam-se 2, depois 4, que viram 8, logo serão 16 e em
breve 32 células. As células resultantes da segmentação são chamadas de
blastômeros.
Logo virá a fase de mórula. A mórula nada mais é do que vários
blastômeros que formam uma espécie de uma bola maciça de células.

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Importante notar que o volume da mórula, mesmo após todas as divisões, é
semelhante ao volume do zigoto.
Ao longo dessas três fases principais: a segmentação, gastrulação e
organogênese. A primeira, que é a segmentação se inicia durante as primeiras
24 horas após a fecundação, e é caracterizada pela transformação do zigoto
em mórula e, posteriormente, blástula, através do processo de clivagem, que
consiste em várias divisões celulares através da mitose.
Por volta de aproximadamente três dias após a fecundação, o embrião
apresenta entre 8 a 16 células, e no quarto dia este número varia entre 16 e 32
blastômeros, atingindo enfim o estágio de mórula.

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Estágios do desenvolvimento embrionário. Ilustração: Tefi / Shutterstock.com

A compactação representa um processo chave para a formação da


mórula, no qual as células localizadas na borda do zigoto, parte mais externa,
se unem através de desmossomos, junções celulares, e outras junções
comunicantes, tornando-se quase indistinguíveis. São estas mudanças na
morfologia e adesão celular que conferem o formato de massa sólida
característico desta fase de desenvolvimento. Também é durante o estágio de
mórula que ocorre a diferenciação das células localizadas na região exterior e
interior da célula, dando início à transição celular para a fase de blástula
ou blastocisto (em mamíferos).
Entre as características da mórula, pode-se citar a presença de pelo
menos 16 blastômeros formando uma massa sólida de células totipotentes,
que podem se transformar em células especializadas de qualquer tipo, cuja

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aparência assemelha-se à de uma amora. Neste estágio celular não há
formação de cavidade com fluido dentro da célula-ovo, ao contrário do que é
observado na fase de blástula, que corresponde ao estágio seguinte do
desenvolvimento embrionário e caracteriza-se pela presença de algumas
estruturas especializadas que auxiliam a sobrevivência do embrião.
A mórula chega ao útero após aproximadamente 3 ou 4 dias de
desenvolvimento, e absorve nutrientes e fluidos presentes nessa cavidade,
enquanto é preparada (transformação em blástula), para a implantação na
parede uterina.
O estágio de mórula apresenta relevância para a identificação de
características embrionárias em seres humanos. Durante esta fase é realizado
o primeiro teste pré-natal em procedimentos de reprodução assistida (in vitro),
através da remoção de um único blastômero e a subsequente realização de
testes genéticos utilizando seu DNA.
Conforme a divisão continua, a mórula se transformará na blástula. O
que acontece nessa fase é que todas as células, que estão no meio dessa bola
maciça de células, migram para a periferia, deixando uma cavidade interna,
chamada de blastocele. As células que estão na periferia dessa cavidade
formam a blastoderme.
Note que, até aqui, as células se dividiram, mas não se especializaram,
o que nos leva à segunda etapa da embriologia.
Após a fecundação, ocorrem as primeiras divisões mitóticas – situação
denominada clivagem ou segmentação. Nesse momento, o volume celular não
aumentará, e isso permitirá a distribuição do vitelo dentro da célula.
Durante a segmentação, podem se formar diferentes tipos de ovos. O
ovo humano, por exemplo, é classificado como oligolécito ou alécito, pois
apresenta pouca quantidade de vitelo, o qual se apresenta bem distribuído.
Essa configuração permite que a divisão mitótica seja mais igualitária quanto
ao tamanho e concentração das células.
Em seguida, ocorrem sucessivas mitoses que possibilitam o
aparecimento de blastômeros.
Mórula: um conjunto composto de 12 a 32 blastômeros que surge
aproximadamente 3 dias após a fertilização;

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Blástula ou blastocisto: agregado com cerca de 32 blastômeros que,
por volta de 7 dias após a fecundação, é implantado na parede uterina
(fenômeno designado por nidação).
Esse maciço celular apresenta uma cavidade interna preenchida por
líquidos, a qual é chamada de blastocele.
Nesse momento as células tronco embrionárias, estão à todo vapor.
Células tronco, são células com capacidade de autorrenovação e de
diferenciação em diversas categorias funcionais de células. Ou seja, as células-
tronco têm capacidade de se dividir e se transformar em outros tipos de
células. Elas podem ser programadas para desenvolver funções específicas,
uma vez que se encontram em um estágio em que ainda não estão totalmente
especializadas.
São encontradas no interior do embrião, quando ele está no estágio
conhecido como blastocisto a partir de 4 a 5 dias após a fecundação.

Gastrulação

Após a clivagem, é iniciada a diferenciação celular que define os eixos


corporais do embrião, cria os folhetos germinativos e produz um intestino
primitivo, denominado arquêntero.
Para a formação da Gástrula, ocorre a reorganização da blástula. A
parte interna é nomeada Endoderme. A porção mais externa, por sua vez, é
chamada de Ectoderme. Entre essas camadas, existe um segmento
denominado Mesoderme. Esses três nomes representam os folhetos
germinativos que originarão os tecidos do embrião.
Aqui é importante salientar que parte das células que estavam na
periferia do blastocele expandem-se para a parte interior, formando um orifício
chamado de blastóporo – e dentro do blastóporo existe uma outra estrutura,
chamada de arquêntero.
Nos humanos, os três folhetos embrionários são:
• Ectoderme (externo);
• Mesoderme (meio);
• Endoderme (interno).

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Somos triblásticos.
Na gastrulação, a blastocele é substituída pelo arquêntero, um
precursor do tubo digestório. O arquêntero possui comunicação com o exterior
por meio de uma cavidade denominada blastóporo. Nos humanos, o blastóporo
dará origem ao ânus – o que nos caracteriza uma espécie com deuterostomia.
(Nos deuterostomados, o ânus origina-se do blastóporo, e a boca origina-se
de uma segunda abertura. O processo de desenvolvimento
embrionário é caracterizado por diversas fases.)
Como consequência dos processos ocorridos, a gastrulação é uma
fase em que ocorre aumento do volume celular além da formação de porções
diferenciadas.
Como vimos, a gastrulação é uma etapa importante do
desenvolvimento embrionário, pois é nessa fase que ocorrem o crescimento e
a diferenciação das células para formação dos três folhetos germinativos
(ectoderma, mesoderma e endoderma). Esses folhetos são responsáveis por
originar órgãos e tecidos do embrião.
O folheto germinativo é o tecido embrionário que origina os diversos
tecidos e órgãos. Como triblásticos, temos 3 folhetos: ectoderma, mesoderma e
endoderma.

Eles surgem simultaneamente durante o processo de gastrulação (fase


de gástrula), inicialmente formado por duas camadas de células: externamente
o ectoderma e internamente o mesentoderma. Essa última camada origina em
seguida o mesoderma e o endoderma.
Os destinos finais (organogênese) desses folhetos germinativos, na
formação dos tecidos e órgão humanos, são:
Ectoderma:
- Epiderme e anexos cutâneos (pêlos e glândulas mucosas);
- Todas as estruturas do sistema nervoso (encéfalo, nervos, gânglios
nervosos e medula espinhal);
- epitélio de revestimento das cavidades nasais, bucal e anal.
Mesoderma:
- Forma a camada interna da pele (derme).

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- Músculos lisos e esqueléticos;
- Sistema circulatório (coração, vasos sangüíneos, tecido linfático,
tecido conjuntivo);
- Sistema esquelético (ossos e cartilagem);
- Sistema excretor e reprodutor (órgãos genitais, rins, uretra, bexiga e
gônadas).
Endoderma:
- Epitélio de revestimento e glândulas do trato digestivo, com exceção
da cavidade oral e anal;
- Sistema respiratório (pulmão);
- Fígado e pâncreas.

Organogênese

A organogênese é o ápice da criação dos órgãos e sistemas a partir


dos folhetos germinativos.
Por exemplo, nesse estágio da embriologia, a ectoderme dá origem à
epiderme, ao sistema nervoso, aos anexos epidérmicos, à retina, aos ossos e
cartilagens faciais, à neuro hipófise, entre outros.
Já a endoderme fica responsável pela diferenciação dos epitélios
digestivos, respiratórios e do trato urinário. Além disso, forma algumas
glândulas importantes, como o pâncreas e as salivares.
Por fim, a mesoderme tem sua principal atuação na formação dos
músculos, sistema cardiovascular, ossos e sistema genital.
Devido à grande complexidade do corpo humano, a abrangência da
diferenciação é muito maior que a representada. Assim, é válido lembrar que
todos os órgãos citados neste tópico correspondem aos principais exemplos
originados por cada folheto.
O embrião a partir da ectoderme, a mesoderme e a endoderme, forma:

“O ectoderma se diferencia em sistema nervoso e epiderme. O mesoderma deriva


do ectoderma e origina os sistemas musculoesquelético, urogenital, a pleura e os
revestimentos peritoneais da cavidade corporal. A endoderme formará o
revestimento do trato gastrointestinal e das vias aéreas. O notocórdio também
está presente e ajuda a iniciar o processo de neurulação. Mais tarde no
desenvolvimento, a notocorda se tornará o núcleo pulposo dos discos

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intervertebrais. A placa neural vem do ectoderma. No final da terceira semana de
gestação após a gastrulação, a notocorda induz as bordas laterais do ectoderma a
começar a formar as dobras neurais. A região intermediária deprimida resultante
da formação das dobras neurais é chamada de sulco neural. Todo esse complexo
de dobras neurais e sulco é chamado de placa neural e é o início do estágio de
placa neural. Essa estrutura se divide em duas regiões. As áreas superior e
inferior da placa neural são cranial e caudal, respectivamente.” (Singh, et al.,
2021.)

O processo de neurulação primária se dá na região média da placa


neural e avança cranial e caudalmente em forma do que se parece com um
zíper. Aqui o sulco neural vai se aprofundar e dar origem a um ponto de
articulação dorso-lateral. As dobras neurais se elevarão e se diferenciarão do
ectoderma não neuronal. Logo mais as dobras se encontrarão e se fundirão.
Nesse momento do processo o ectoderma neural e o ectoderma não neuronal
serão remodelados, surgindo então um tubo fechado que será coberto por uma
única camada de ectoderme não neuronal. (Wilde, 2014.)
Chega-se então ao final da quarta semana de gestação, quando a
formação do tubo neural se separará do ectoderma sobreposto e sua estrutura
estará pronta.
O andamento da gestação fará com que as porções cranial e caudal do
tubo neural formem o cérebro e a medula espinhal, respectivamente. Algumas
das células fronteiriças que estão entre a ectoderme neural e não neuronal
migrarão e gerarão camadas denominadas células da crista neural, que se
transformará no sistema nervoso periférico, nervos espinhais e cranianos.
A partir de uma célula formada após a concepção, seguida de um
pequeno aglomerado de células, vê-se em poucos dias, o início do
desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso.
As principais partes cerebrais haverão de tornar-se visíveis em sete
semanas, depois disso o cérebro começará a crescer e a se desenvolver.
É considerado normal o período gestacional em mães humanas de 37
a 42 semanas. Esse período é dividido em duas etapas: a fase embrionária,
que vai da 3ª a 8ª semana, e a fase fetal, que dura da 9ª semana até o parto.
Existem três importantes etapas no desenvolvimento embrionário:
Morfogênese, Gastrulação e Organogênese. ( Avagliano, 2019.)
Na fase chamada Morfogênese, tem se o desenvolvimento da forma
corporal, com a perfeita identificação da cabeça, cauda, lado direito ou

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esquerdo. Ela acontece na 3ª semana do desenvolvimento e é aqui que
aparece a linha primitiva.
Na fase da gastrulação, é possível observar os três folhetos
embrionários: ectoderma, mesoderma e endoderma.
Na fase de Organogênese ou Diferenciação, acontece o processo de
diferenciação celular cuja função é a formação dos tecidos e órgãos. Nesse
momento acontece a neurulação.
O embrião desenvolve estruturas que estão anexas a ele. Esses
anexos não fazem parte do embrião, mas auxiliam no seu desenvolvimento. Os
principais são:
Saco vitelínico: bolsa de armazenamento do vitelo.
O saco vitelino é um anexo embrionário presente em todas as espécies
de
vertebrados e desempenha importantes funções durante o
desenvolvimento, tais como nutrição do embrião, síntese protéica, atividade
fagocitária, transferência de materiais e também a capacidade de originar
células-tronco multipotentes, através de um proceso denominado
hematopoese.
Âmnio: membrana que envolve o corpo em desenvolvimento do
embrião e delimita a cavidade amniótica, que é preenchida pelo líquido
amniótico. Sua função é proteger o embrião contra choque e ressecamento.
Cório: membrana que envolve todo o embrião e seus anexos, participa
das trocas gasosas entre o meio e o embrião. Répteis, aves e mamíferos
apresentam essa estrutura.
Alantóide: é uma bolsa derivada da porção posterior do intestino. Sua
função é remover as excretas do embrião e armazenar aquelas que são ricas
em compostos nitrogenados. Os placentários utilizam a alantóide para eliminar
a ureia, que é tóxica para o embrião.
Placenta: ocorre somente nos mamíferos. Quando o embrião ainda
está na fase de blástula, ele vai se agarrar à parede do útero da mãe, num
processo chamado de nidação. A partir desse momento, o cório e o alantóide
vão se juntar aos tecidos do útero materno para formar a placenta. Importante
destacar que a alantóide também vai formar o cordão umbilical. A função

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dessas estruturas é nutrir o embrião, realizar trocas gasosas e eliminar suas
excretas, tudo isso por difusão.

NEURULAÇÃO

Muitos autores apontam ser esse o momento crucial em que o


fechamento correto permite a continuidade da vida e a perfeita formação do
cérebro humano. O contráario incorre em DTNs e suas possíveis
complicações.

“Os defeitos do tubo neural (DTNs) são as segundas malformações congênitas


mais comuns em humanos que afetam o desenvolvimento do sistema nervoso
central. Embora a patogênese do DTN ainda não tenha sido totalmente elucidada,
muitos fatores de risco, tanto genéticos quanto ambientais, foram amplamente
relatados. Classicamente divididos em dois subgrupos principais (defeitos abertos
e fechados), os DTNs apresentam prognóstico extremamente variável
dependendo principalmente da localização da lesão.” (Avagliano et al., 2019.)

Dos três folhetos embrionários (ectoderma, mesoderma e endoderma),


o que está em contato com o meio externo é o ectoderma, e é dele que surgirá
o sistema nervoso.
O processo de neurulação é um momento decisivo para a o surgimento
ou não de dos DTN, uma vez que esse processo acontece durante a formação
da placa neural e das pregas neurais e no fechamento dessas pregas para
formar o tubo neural.
Por volta do décimo oitavo dia de gestação, início da terceira semana,
o ectoderma sofre um espaçamento por influência indutora da notocorda, aqui
ele se transforma no que chamamos de placa neural. Logo essa placa irá
crescer e se curvar para dentro, formando o sulco neural e, mais tarde,
a goteira neural.
Enquanto acontecem esses processos de dobradura, forma-se numa
aba da ectoderme, a crista neural. Dela se originarão as partes que compõem
o sistema nervoso periférico.
Assim que se forma, a goteira neural se fecha na parte superior e
forma o tubo neural, esse percorre todo o eixo anteroposterior do embrião.
A gota neural costuma se fechar com mais rapidez nas regiões centrais
e mais lentamente nas extremidades. As últimas partes do sistema nervoso a

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se fechar são o neuróporo rostral e o neuróporo caudal, orifícios que compõem
respectivamente a extremidade cranial e caudal do embrião.
O fechamento do neuróporo cranial se dá na quarta semana perto do
24º dia, são os problemas nesse fechamento que trataremos a seguir, sendo
seus desdobramentos enfermidades como a anencefalia. Já os problemas com
o fechamento do neuróporo caudal, que acontece no 26º dia, geram
malformações como mielomeningocele ou espinha bifída e encefalocele.

DEFEITOS DO TUBO NEURAL

Como já dito anteriormente, o fechamento do tubo neural é


fundamental para a formação do cérebro humano e da medula espinhal.
Defeitos do tubo neural (DTNs), as conhecidas malformações
congênitas resultaram em problemas complexos, que muitas vezes precisarão
ser tratados intra-útero a fim de que sua permanência não atrapalhe a
embriogênese.
Um estudo de 2005, mensurou que 0,5–2/1000 gestações são afetadas
por defeitos do tubo neural (DTNs).
Nesse estudo a falha no fechamento do tubo neural, que por sua vez
produz um cérebro e/ou uma medula espinhal nos quais o tecido neural é
exposto ao ambiente extra-embrionário, mostrou gerar também, além da
neurodegeneração no útero e da perda da função neurológica, a mortalidade
fetal em altíssia escala.
O que se apurou após ampla revisão de pesquisas anteriores foi que:

Embora a identificação da relação entre ácido fólico e DTNs deva ser considerada
um dos grandes sucessos da pesquisa epidemiológica, a identificação de fatores
de risco adicionais para DTNs tem se mostrado extremamente
difícil. Curiosamente, a experiência inicial com estudos de associação genética de
DTNs refletiu amplamente a experiência com estudos de associação de fatores de
risco ambientais para DTNs, ou seja, a maioria das associações genéticas
relatadas foram fracas e difíceis de replicar. (Mitchell, 2005)

Ainda sem poder apontar uma causa específica para os DTNs, sendo
que a anencefalia, mostra-se muito letal no período perinatal, e a espinha bífida
aberta, embora possua alto índice de sobrevivência pós-natal, não deixa de
resultar em deficiências graves como: falta de sensibilidade, incapacidade de

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andar e incontinência, outros desdobramentos como hidrocefalia, deformidades
vertebrais e distúrbios geniturinários e gastrointestinais, geram a necessidade
de mais estudos que trabalhem as causas fundantes de tais malformações.
Os DTNs descritos acima podem também ser classificados como
“abertos”, nos quais o tecido neural é exposto, e DTNs “fechados”, com tecido
neural coberto por tecido.
Estudos apontam que a espinha bífida aberta, por exemplo, continua
sendo uma DTN recorrente, mesmo com sua diminuição nos últimos anos em
função da melhora na ingestão de ácido fólico no primeiro trimestre da
gestação, (Sutton et al., 2008).
No Brasil, um estudo longitudinal realizado no estado de São Paulo,
envolvendo 1.069 casos de defeitos do tubo neural entre 1.866.340 nascidos
vivos no período 2001-2003 e 672 casos entre 1.800.571 nascidos vivos no
período 2006-2008, com dados advindos de todos os municípios do Estado de
São Paulo, através do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos
(SINASC), o estudo analisou as prevalências de defeitos do tubo neural,
segundo características maternas, por período (antes e após a fortificação de
farinhas com Ácido Fólico).
O que se apurou foi que:

A prevalência total de defeitos do tubo neural no Estado de São Paulo passou de


0,57 para 0,37 por mil nascidos vivos após a fortificação das farinhas de trigo e
milho com ácido fólico, representando redução significativa de 35%. Espinha bífida
e anencefalia foram menos prevalentes após a fortificação, com reduções de 48%
e 22%, respectivamente, porém não se observou redução significativa na
prevalência de encefalocele. (Fujimori et al., 2013)

Quando não tratada intra-útero seja por meio da ingestão de vitamina B


ou por meio de cirurgia quando identificada após o primeiro trimestre, a
mielomeningocele (MMC) ou espinha bífida, mostra-se um defeito congênito,
cujo progresso é pequeno quando opta-se pela cirurgia pós-natal, pois a essa
altura, seu papel é apenas cobrir a medula espinhal exposta, prevenir
infecções e tratar a hidrocefalia. O reparo intra útero, ainda se mostra uma
opção que resulta na reversão da herniação, (Adzick, 2010).
Um estudo de 2007 apontou que mais de 300.000 bebês nascem com
DTNs a cada ano, resultando em 88.000 mortes e que crianças que

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sobrevivem desenvolvem múltiplas deficiências que vão desde problemas
físicos, sociais, neurocognitivos, emocionais, de autoestima, psicológicos e
econômicos, (Sutton, 20070.
O mesmo relata que:

Estima-se que aproximadamente 400 operações fetais já foram realizadas para


mielomeningocele em todo o mundo. Apesar dessa grande experiência, a técnica
permanece com benefícios não comprovados. Os resultados preliminares
sugerem que a cirurgia fetal resulta na reversão da herniação do cérebro posterior
(a malformação de Chiari II), uma diminuição na hidrocefalia dependente do shunt
e, possivelmente, melhora na função das pernas, mas essas descobertas podem
ser explicadas por viés de seleção e mudanças nas indicações de
manejo. (Sutton, 2007)

Outro dado importante aponta que:

Em 2003, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou o Atlas Mundial de


Defeitos Congênitos, que consolidou dados mundiais. Entre os 41 países com
dados analisados de 1993 a 1998, o Brasil apareceu em quarto lugar entre
aqueles com maior prevalência de anencefalia e espinha bífida, apenas atrás do
México, Chile e Paraguai. É importante destacar que os dados do Brasil referiram-
se àqueles obtidos nas 11 maternidades acompanhadas pelo Estudo Latino-
Americano Colaborativo de Malformações Congênitas, muitos deles são centros
de referência para risco neonatal e, por isto, as prevalências podem estar
superestimadas. (Santos et al., 2007)

A questão é que hoje, mesmo anos depois desses estudos, os


números ainda assustam e apontam para a crescente necessidade de
conscientização da população sobre medidas simples como a ingestão de
ácido fólico de 1 a 3 meses antes da gestação e durante o primeiro trimestre,
quando a formação do
tubo neural e seus desdobramentos acontecem.
Embora continue não sendo possível determinar uma causa específica
das DTNs; e que influencias como fatores de risco genéticos e ambientais
também podem contribuir para essas malformações, gêmeos monozigóticos e
distúrbios de um único gene, por exemplo, têm sido associados em pesquisas
mais recentes dos DTNs, (Wallingford et al., 2013).
Um estudo de base com uma variedade de genes candidatos também
vem sendo feito na busca de respostas para essas malformações, (Imbard et
al., 2013).
Ainda são prevalentes nas centenas de estudos sobre os DTNs, que de
fato, com medidas simples como a suplementação de ácido fólico muitas
malformações podem ser evitadas.

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Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam
que a ingestão diária de 0,4 mg de ácido fólico, de preferência um mês antes e
no primeiro trimestre da gravidez, poderia reduzir de forma significativa a
incidência de DTNs, (Edris et al., 2020).
Os estudos são contundentes, deficiências no metabolismo do ácido
fólico afetam o SNC. Sua falta está ligada ainda aos transtornos do
neurodesenvolvimento, como por exemplo a esquizofrenia. (Krebs et al., 2009;
Ramaekers et al., 2016).
Além do mais estudos vem mostrando que a deficiência de ácido fólico
9 causam também a anemia megaloblástica que por sua vez
ou vitamina B12,
está acompanhada de outras manifestações neurológicas como descreveu
Baumgartner, 2013.
Outro fator preocupante é o pequeno intervalo entre gestações:

Também tem sido descrito que crianças concebidas em um curto intervalo entre as
gestações apresentam níveis diminuídos de AF, o que pode ser explicado pela
depleção da reserva materna de AF, quando o estoque desta vitamina ainda está
sendo recuperado pela mãe (Dogan et al., 2009).

Todos esses estudos apontam para a necessidade de outras pesquisas


na busca de respostas ainda não encontradas.

NEURO-EMBRIOLOGIA

Quando o fechamento do tubo neural se dá de forma correta, o sistema


nervoso, formado pelo espessamento do folheto externo do embrião, o
ectoderma, após o 20° dia de gestação, forma a placa neural.
Das pregas neurais origina-se o sulco neural que será recoberto pelo
ectoderma, que se desdobrará no tubo neural. Mais tarde também no encontro
do ectoderma não diferenciado com o diferenciado haverá a formação da crista
neural. (Moore, et al., 2008.)
O tubo neural e a crista neural, darão origem aos Sistema Nervoso
Central (SNC) formado a partir do tubo neural, e Sistema Nervoso Periférico
(SNP), formado a partir da crista neural.

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A crista neural fragmenta-se e dela surgem os gânglios viscerais do
Sistema Nervoso Autônomo (SNA), medúla da glândula suprarrenal,
melanócitos, células de Schwann, meninges dura-máter e aracnoide-máter.
Das paredes do tubo neural, são originados grupos distintos de
neurônios. Na região cranial acontece a proliferação dos neurônios das
paredes do tubo neural. Daqui saem o encéfalo primitivo, ou arquencéfalo. Que
por sua vez está dividido em três regiões: Prosencéfalo, de onde surge o
telencéfalo e diencéfalo; Mesencéfalo; Rombemcéfalo, que dá origem ao
metencéfalo e mielencéfalo. O metencéfalo origina o cerebelo e a ponte,
enquanto o mielencéfalo dá origem ao bulbo. (Schoenwolf, et al., 2009)
A região distal do tubo originará a medula espinhal.
Do tubo neural surgirão os ventrículos, que são cavidades revestidas
por tecido ependimário, onde ocorre produção e circulação de líquor ou líquido
cerebrospinal.
Ocorrem ainda na diferenciação e organização do tecido as seguintes
etapas: Proliferação e migração neuronal; Diferenciação neuronal;
Sinaptogênese; Morte neuronal programada; Mielinização.
Vale ressaltar que mesmo após o nascimento, a amamentação e
alimentação são essenciais para garantirem matéria prima necessária para a
mielinização do sistema nervoso do bebê.

O CÉREBRO

O cérebro por fim, está dividido, em áreas de forma a nos ajudar a


entender suas funções e estudar melhor este órgão.
O sistema nervoso central (SNC) é formado a partir das estruturas
nervosas que estão dentro do esqueleto axial. São elas o encéfalo e a medula
espinhal. O encéfalo é formado pelo cérebro e tronco encefálico. O cérebro é
composto pelo telencéfalo e pelo diencéfalo.
O telencéfalo consiste-se do córtex cerebral, que por sua vez está
dividido em dois hemisférios corticais e na lâmina terminal. Divididos por
sulcos e giros, o córtex é dividido em 5 lobos: frontal, parietal, temporal,
occipital e insular.

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O diencéfalo fica na porção cerebral mais inferior, e compreende as
seguintes estruturas: Tálamo; Hipotálamo; Epitálamo; Subtálamo.
No encéfalo, temos também o tronco encefálico que se divide em:
mesencéfalo, ponte e bulbo.
O tronco recebe informações sensitivas e tem o controle dos músculos
da cabeça, possui circuitos nervosos que levam informações da medula
espinhal para outras regiões encefálicas e também o contrário.
O Mesencéfalo é responsável pelos estímulos da visão e audição, e
movimentos dos olhos e do corpo.
A Ponte é quem transmite as informações da medula e do bulbo até o
córtex cerebral.
Por fim o Bulbo é que conduz os impulsos nervosos do cérebro para a
medula espinal e vice-versa. Também produz estímulos nervosos que
controlam a circulação, a respiração, a digestão e a excreção.

3. Psiquismo e Vida Intrauterina

Qual a real vivência e experiências psíquicas na vida intrauterina?


Essa pergunta é difícil e levanta questionamentos a séculos se
questões como os sofrimentos ainda no útero, impactam o bebê e o indivíduo
depois de adulto. A personalidade do feto começaria no ventre materno?
Foi através dos movimentos fetais assistidos pelo ultrassom, que os
comportamentos do bebê passaram a ser analisados e observados. De acordo
com Piontelli (1995), estimava-se que a vida só era levada em consideração
após o nascimento, como se a vivência antes do nascer fosse um universo
paralelo as funções da natureza. O feto não é indiferente as experiências que
vive. Sua interação com o mundo ainda no útero é resultado dos sons que
pode captar dentro do corpo de sua mãe. O útero não é um ambiente sempre
coeso, mas uma espécie de cômodo que se modifica com as estimulações que
recebe fora dali. Há alguns anos atrás, a clareza dos estímulos fetais eram
indagadas pelo incentivo aos movimentos do feto e percepções da própria
gestante, que transmitia ao próprio obstetra relatos da progressão de sua
evolução gestacional. Hoje, os estudos sobre o psiquismo fetal se tornaram

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buscas sistemáticas e abraçadas pela ciência, independente de abordagens
teóricas, mas que refletem a curiosidade efetiva sobre a vida antes do
nascimento (QUAYLE, 2011).
Wilheim (2000) classifica não apenas o Psiquismo fetal como também
a Psicoembriologia, para explorar o desenvolvimento psíquico e biológico no
que se refere as percepções humanas nos meses que antecede o nascimento
do indivíduo. Wilheim (2000, p. 147) dá continuidade as afirmações de Piontelli:
“proponho-me a testemunhar mais um pouco sobre a existência de um mundo
mental no feto e no recém-nascido - rico, complexo e variado – cujos efeitos
ressoam no espaço mental pós-natal e se manifestam como ecos de um
passado distante, dando a este uma continuidade no presente, embora por
vezes de difícil decodificação”.
Através de uma visão psicanalítica, a correlação da vivência materna
no desenvolvimento do psiquismo fetal, pode ser amplamente estudada.
Para tanto, será necessário a descrição dos aspectos históricos dos
estudos sobre a vida intrauterina, a análise das consequências da relação
mãe-bebê, identificando a importância do cuidado aos processos psíquicos do
feto desde o início de sua evolução como embrião, além de um entendimento
maior das gestações de crianças não adotadas psiquicamente por essas
mulheres. Isto é, bebês que foram gerados apenas no útero, mas tiveram seu
desenvolvimento não aceitos desde sua concepção.
Os estudos sobre o psiquismo fetal estende-se ao que se trata do
conhecimento das interações fetais com o meio intra e extra uterino, onde são
analisadas as particularidades individuais de cada feto que se encontra em
desenvolvimento, além de intervenções relevantes para a ciência (AZEVEDO,
2014).
O feto é a manifestação de toda a possibilidade do ser. O
desenvolvimento do embrião é o início crucial da origem da vida. A luz que
acende na essência materna é o princípio do berço do mundo. Desse modo, o
bebê a caminho traduz a esperança da reprodução existencial. A expectativa
de continuação da natureza humana, clara e forte, pressentida e agrupada em
narrativas antecessoras. É relevante a compreensão sobre as evidências

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significativas da existência do bebê que sobrevive dentro do útero e ali se
locomove dentro do corpo de sua mãe, se desenvolvendo ao longo dos meses.
Os sentidos dos movimentos fetais podem ser constatados desde a
origem da concepção humana: E orou Isaac por sua mulher, por que ela era
estéril, ao Senhor, o qual ouviu e permitiu que Rebeca concebesse. Porém, as
crianças lutavam no ventre dela que disse: Se assim me havia de acontecer,
que necessidade havia de que eu concebesse? E caminhou a consultar o
Senhor, o qual respondendo disse: Duas gentes estão em teu ventre, e do teu
ventre se dividirão dois povos, e um povo vencerá o outro povo, e o mais velho
servirá ao mais novo (GÊNESIS, cap. 25, vers. 21-23).
Também era compreendido, ou imaginava ser, que vivências externas
poderiam atingir o feto, fazendo com que ele respondesse com alguns
movimentos. Um exemplo disso é a visita de Maria a Isabel, mãe de João
(LUCAS, cap. 1, vers. 41-44), na cidade de Judá, onde Isabel conta que seu
filho “saltitou em seu ventre”, e assim ela se dirige a Maria: “Bendita és Tu entre
as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. (...) Porque assim que chegou a
voz da tua saudação aos meus ouvidos, logo o menino deu saltos de prazer
em meu ventre.” Sendo assim, a vida intrauterina se manifesta através da
vivência no interior do útero materno. Essa “morada” não é responsável apenas
pelo desenvolvimento físico do bebê, mas um ambiente acessível a estímulos
extrauterinos, do mundo externo, onde embora esteja guardado pelos
revestimentos abdominais da mãe, está conectado com as sensações dela
(VERNY, 1989, p. 3).
Sobre o desenvolvimento psicológico do bebê e sua natureza biológica,
é pertinente afirmar que antes do nascimento há um desejo em nascer. Antes
do feto vir ao mundo, de fato.
É através de exames de imagens como ultrassonografias que é
possível acompanhar esse desenvolvimento, a exibição dos movimentos em
tempo real, além de imagens de sucção e estímulos obtidos ao ouvir sons
(RASCOVSKY; FERRER, 1960).
O feto inicia seu processo de evolução quando o espermatozoide
encontra o óvulo, começando a mover-se até o encontro das trompas uterinas,
que transportam os óvulos lançados no ovário até a cavidade do útero.

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Em média quatrocentos milhões de espermatozoides percorrem as
cavidades tentando desviar das consistências ovulares. Após seis ou sete
divisões, as células com sete dias de vida movem-se em direção ao útero e lá,
são implantadas. A fixação é similar à adoção, onde as células sobrevivem
diante da disponibilidade uterina. Quando a cavidade é receptiva, assim como
uma casa, a morada flui de maneira leve. Quando é ao contrário e o solo se
encontra arenoso, não é possível fazer morada. Devido ao desejo materno e a
vontade de gerar um novo ser, o bebê sente, ainda na gestação, o quanto é
fruto do desabrochar desse novo amor que nasce através da maternidade
(BOADELLA, 1992).
O corte prematuro do cordão umbilical trata-se de uma separação bruta
do desligamento materno, onde as raízes dos meses gestacionais são
cortadas.
O umbigo, tido como o tronco e o bebê como fruto, é como uma planta
que agora se separa do solo fértil. A planta que antes se desenvolvia no solo, já
começa a crescer e precisa de cuidados para germinar de maneira saudável.
As partículas do sistema nervoso, células sanguíneas e musculares começam
a se desenvolver e a genética inicia seu processo de amplitude. O líquido
amniótico, bolsa de fluidos que abriga o bebê, vai se tornando a água que irá
regar o jardim que aos poucos irá se aprofundando no útero. Em pouco mais
de três meses, a metamorfose dos órgãos ocorre e durante todos os outros
meses que ainda serão percorridos, haverá a maturação de cada pedacinho
desse novo corpo (BOADELLA, 1992).
Para o bebê é de grande importância que sua afetividade seja
alimentada além de sua individualidade, para que possa construir conexões
com a realidade externa.
É relevante citar que Freud, em muitas de suas constatações afirmava
que as crianças percebem os acontecimentos ao seu redor e isso já possui
grande ligação no que diz respeito a vida no útero. Ele ainda expôs que as
sensações fetais poderiam atingir o bem-estar físico, fazendo manifestar
patologias orgânicas e psíquicas. Na década de 60, com a modernização
obstétrica, tornou-se possível avaliar o bebê em sua vida intrauterina,
transmitindo comprovações e fundamentos fisiológicos de que a criança

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percebe, entende, possui sensibilidade, tem inquietações, medos e habilidades
que jamais poderíamos considerar (RASCOVSKY; FERRER, 1960).

4. Psicoembriologia aplicada a gestação

Com o propósito de diminuir o desconforto das dores do parto tão


temidas pelas gestantes e prevenir traumas psíquicos desde o início da vida
fetal, surge a psicoembriologia, que se apresenta como uma orientação às
mães para o direcionamento de sua fase gestacional a ser conduzida com
liberdade e autonomia, desde os momentos pré-natais que se estendem até o
nascimento.
A Psicoembriologia foi desenvolvida pelo professor Wilson Ribeiro na
década de 1960, com o propósito de evitar as dores do parto, tão difundidas e
temidas pelas futuras mamães, e evitar a formação de traumas psíquicos
desde a vida fetal.
Ela orienta sobre como as mães podem dirigir sua gestação com
autonomia, desde o período pré até o perinatal e possui técnicas e informações
utilizadas pelos psicoembriológos que auxiliam os pais a trazerem ao mundo
bebês saudáveis.
Os traumas que surgem na vivência intrauterina influem de forma
significativa no percurso emocional, familiar, social e profissional da vida adulta,
sendo importante aos pais e profissionais que consigam fazer uma intervenção
objetiva neste primeiro período de vida, para prevenir a formação de bloqueios
e crenças limitadoras.
Penso que nesta altura da leitura devam estar se perguntando “mas
que tipo de trauma um bebê pode ter no ventre de sua mãe?”. Para
entenderem melhor, é preciso que eu explique como os bebês sentem o que
suas mamães estão sentindo. Os bebês recebem nutrientes e oxigênio através
do sangue que trocam com suas mães. Nesta troca eles também recebem
imunoglobulinas, partículas infinitamente pequenas que passam pela placenta
e levam a descarga hormonal da mãe com substâncias como adrenalina,
glicocorticóides, endorfinas e serotoninas, além de outras. Estas substâncias
são responsáveis pela sensação orgânica que as emoções e os sentimentos

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produzem em nós. Amor, alegria, prazer, segurança e confiança, assim como
raiva, medo, tristeza, insegurança e ansiedade produzem estas substâncias.
Então quando o bebê as recebe em seu corpo ele sente o que sua mãe está
sentindo. Sente com uma diferença de grande significado, a mãe sabe os
motivos de suas emoções mas ele não sabe.
A tendência perceptiva do bebê é que ele “leve a culpa” por provocar
em sua mãe “aquelas sensações”, já que ele não sabe que existe um mundo
além daquele dele. Desta forma, se a mãe se submete a intenso estresse ou a
pequenos mas por grande período na gestação, um trauma pode estar se
constituindo naquele pequeno ser que está se formando.
Como evitar que isto aconteça? Afinal dificilmente uma grávida
consegue atravessar este período incólume a estresses de toda ordem, como
raiva, tristeza, dor e etc.
O psicoembriológo recomenda as boas práticas da Psicoembriologia.
Neste caso, é importante encontrar um tempo para conversar com calma com o
bebê e explicar o porque daquelas sensações, processo esse que chamamos
na psicoembriologia de “Contemporização”, garantindo a ele que papai e
mamãe continuam amando-o muito e que ele continuará recebendo tudo o que
precisará para completar seu desenvolvimento de maneira saudável e integral.
Isto porque ele recebe as sensações ruins como uma ameaça.
É necessário que ela seja desfeita, além da culpa por aquilo estar
acontecendo com a mamãe.
Recomendamos que as mães evitem situações de exposição a
emoções negativas, como por exemplo, assistir filmes de terror, de dramas e
suspenses, brigas de família, noticiários policiais, encrencas com vizinhos e
chefes, entre outras. Sabemos que algumas situações são inevitáveis mas
outras podem, com o auxílio da orientação das boas práticas da
Psicoembriologia, serem contornadas para evitar consequências desastrosas
ao feto.
A Psicoembriologia agrega idéias que possibilitarão uma maior
compreensão sobre seu mundo interior e exterior e de como a vida adulta
poderá ser desfrutada com qualidade e bem estar.

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Os impactos emocionais que se manifestam ainda na vida intrauterina,
influenciam de maneira relevante o caminho emocional, social e até profissional
na fase adulta, que pode ser amenizado através de intervenções realizadas da
gestação até o terceiro ano de vida da criança, com o objetivo de prevenção à
bloqueios psíquicos a serem manifestados no futuro (ARAÚJO, 2015).
São inúmeras as perguntas de como se dá a relevância da
psicoembriologia, tendo em vista os questionamentos de que traumas seriam
esses que o feto pode vir a desenvolver no ventre materno. O fato é que a mãe
é responsável pelo oxigênio e pelos nutrientes que alimentam seu filho. Além
disso, é através dela que o feto recebe descargas hormonais, substâncias de
endorfina, serotonina, adrenalina e tantas outras. É através dessas substâncias
que as sensações orgânicas fornecem a produção das nossas emoções.
Portanto, quando o feto reconhece esses fenômenos, sente o que sua mãe
está sentindo, com uma diferença: a mãe possui entendimento sobre o que
está sentindo naquele momento, mas o bebê, não (ARAÚJO, 2015).
É perceptível que ao analisar estudos relacionados à vida intrauterina,
seja apontado que muito mais do que apenas os aspectos orgânicos da
criança, são enfáticos os conceitos psicológicos que formam esse novo ser. A
psicoembriologia, que se trata da gestação assistida e dirigida para um bom
desenvolvimento emocional do feto, se dedica demasiadamente ao
comportamento e evolução do sujeito durante o período que antecede seu
nascimento (WILHEIM, 2000).
Na fase em que o cordão umbilical é formado, o início dos processos
mentais do bebê é marcado de maneira primordial para sua vivência
extrauterina. É através desse entendimento que se torna possível a
compreensão de que o estudo da psicoembriologia é grandioso para
proporcionar ao bebê uma vida leve durante os nove meses de gestação,
influenciando de maneira positiva sua vida após o nascimento (ZENIDARCI,
2010).
A psicanálise é, sem dúvidas, a abordagem que mais explora os
estudos da vida intrauterina. Além de seu grande interesse pelo assunto,
enfatiza a importância dessa temática que possui tanto a ser explorada, pois
através dela é possível perceber a influência da personalidade sobre a conduta

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do comportamento humano, onde o inconsciente é o objeto de excelência.
Logo, os estudos sobre o psiquismo desde a gestação são fundamentais para
o entendimento do sujeito como um todo. Quando se fala em psiquismo, não é
apenas a existência da vida psíquica do bebê, mas as experiências antes do
nascimento, traumáticas ou não, que são fixadas em seus processos mentais
(WILHEIM, 2000).
A ultrassonografia é um exame de imagem realizado através de um
transdutor, que se trata de um aparelho que irá transformar uma informação de
fenômenos físicos para captação de sinais mecânicos e óticos, possíveis de
serem vistos através de imagens, onde ao encostar na pele, capta e revela
ondas sonoras através do contato com o corpo humano. O exame é
fundamental no acompanhamento da gravidez, permitindo identificar,
precocemente, possíveis anormalidades na formação fetal. As avaliações
através da ultrassonografia permitem uma melhor precisão do desenvolvimento
da gestação contribuindo de maneira positiva para a observação do
crescimento fetal, identificação e condições de problemas mais relevantes a
serem enfrentados durante a gestação e permite ainda a mãe um melhor
planejamento sobre o parto e diagnósticos durante esse período (PERALTA,
2011).
Entender a definição de cada idade gestacional é de grande
importância e um exemplo disso é que o exame realizado na 9ª semana de
gravidez não será o mesmo das semanas seguintes.
Para Bruns et al. (2012), a alteração de diagnósticos no início da
gravidez pode ter resultado para bebês com má formação, anomalias de
maneiras diferentes. Em países em que a lei autoriza a interrupção da
gravidez, a gestante pode optar por interromper a gestação.
De maneira alternativa, o diagnóstico na fase pré-natal permite
mudanças ao administrar a escolha da gravidez e do parto, bem como o
momento do nascimento, escolha da via de parto e local, que poderão vir a
modificar o desenvolvimento do processo.
Em alguns casos de diagnóstico, há a opção de intervenções
intrauterinas, podendo reverter a evolução do quadro. Quando se fala em
exame de ultrassom, é possível imaginar os sentimentos da gestante durante

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cada exame. Uma pesquisa realizada no Brasil se propôs a investigar as
sensações dessas mulheres durante a realização do exame de imagem para
avaliar seu bebê. Constatou-se que além de reduzir a ansiedade em relação a
saúde da criança, colaborou para assimilação da gravidez.
Os exames de ultrassonografia possuem papel fundamental na adoção
desse bebê, pois apesar de ainda não ter nascido, precisa ser adotado por
essa mãe para que ela possa nutrir o vínculo afetivo-materno pelo filho
(PICCININI et al., 2012).
Nessa fase, entre a mãe e o bebê é firmada uma relação íntima, onde
apesar do bebê ouvir a voz da mãe, ainda não conhece suas características. E
ela, apesar de sentir seus movimentos, não possui certezas concretas em
relação a ele. Ou seja, são invisíveis um ao outro. O vazio que existe através
desses elementos é martirizante para a gestante, e assim ela vai satisfazendo
suas incertezas projetando um bebê ideal em sua imaginação (CRAMER,
1993; RAPHAEL-LEFF, 2004; CAMARNEIRO, 2011).
É justamente nessa fase que a mãe precisa simbolizar o próprio filho,
para que ao conhecê-lo após seu nascimento, não se veja diante de alguém
totalmente diferente dela, já que o conhece apenas por exame de imagem. A
imaginação que vai aproximando a gestante do bebê é o exercício que os torna
conhecidos e enriquece o vínculo entre eles (BRAZELTON; CRAMER, 2002).
Como já mencionado anteriormente, o atendimento pré-natal foi
bastante assistido através de um programa que direciona assistência à
gestante, inicialmente desempenhado pela enfermagem e pela medicina.
De acordo com Correa e Oliveira (1999), o período pré-natal manifesta
algumas finalidades: identificar ou confirmar enfermidades da gestante, bem
como efetivar seu tratamento; assistir o avanço da gravidez, analisando as
condições da mãe e o amadurecimento fetal. Nos estudos mais recentes, a
ciência comprovou as habilidades e capacidades manifestadas pelo recém-
nascido que são iniciadas antes do nascimento. No fim do século passado, a
psicologia ganhou um novo rumo: viu-se expandida por volta de 1890, pelas
descobertas de Sigmund Freud.
A exploração de outro estado da mente humana, além do que era
conhecido pelos psicólogos e psiquiatras da época, onde apenas o consciente

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era notado. Freud revolucionou os pensamentos sobre comportamento do
indivíduo ao descobrir a presença de um estado inconsciente da mente
humana.
A psicanálise, que se trata do modo terapêutico que analisa as
descobertas psíquicas através do inconsciente, enfatiza a importância do
acompanhamento da gestante durante a gravidez, onde é possível estudar o
comportamento e o desenvolvimento psicoafetivoemocional no período que
antecede o nascimento, onde o objetivo principal são as experiências
inconscientes do bebê. Além disso, vem investigando os fatos que ocorreram
antes do nascimento e as vivências que em sua fase adulta não serão
lembradas de forma consciente, mas que farão parte de sua vida e
personalidade, sendo a psicologia que acompanha o período pré-natal aliada a
psicanálise de extrema importância para os estudos da vivência intrauterina
(WILHEIM, 1997).
No que diz respeito aos cuidados da gestante até os momentos
perinatais, onde ocorre o nascimento do bebê, é estabelecida a construção do
elo afetivo entre mãe e filho ainda na gravidez, por exemplo: diálogos com o
bebê, falando sobre suas vivências do dia a dia, cantarolando canções de
ninar, onde a criança irá guardar em sua memória afetiva e irá se identificar na
vida extrauterina, após o nascimento (WILHEIM, 2006).
A comunicação tranquila que a mãe estabelece com seu filho possui o
objetivo de dar a ele segurança, de maneira que assegure o vínculo entre os
dois. Também é válido salientar que episódios estressantes e de desordem
emocional, tendem a fazer parte dos momentos gestacionais da mãe, refletindo
de maneira negativa no psiquismo do feto. Porém, poderá ser amenizado
através de intervenções sob autorização da mãe, para que a experiência do
feto na gestação não seja traumática (WILHEIM, 2006). Após os 3 primeiros
meses, onde a gestante inicia seu processo de aceitação ao novo ser que
chegará em breve, o segundo trimestre é marcado pela estabilidade do ponto
de vista emocional.
O estágio pré-natal da vida representa uma oportunidade sem para a
prevenção primária de problemas psicológicos, emocionais e físicos que
aparecem no desenrolar da vida. É nessa fase que se pode lançar mão de

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procedimentos preventivos para diminuir a taxa de nascimentos prematuros,
morbidade e mortalidade perinatal, assim como de distúrbios psicológicos.
Sobretudo, ressaltar o valor desse tema para a Psicanálise, Wilheim (1993, p.
32) enfatiza que: [...] se considerarmos que todos os fatos que ocorrem no
período pré-natal recebem registro mnêmico; que esse registro se dá e fica
guardado apenas no nível inconsciente; que todas as vivências pelas quais
passa o ser no período pré-natal irão fazer parte de sua bagagem inconsciente,
exercendo influência tanto sobre a personalidade pós natal como sobre sua
conduta e seu comportamento; e sendo o inconsciente o objeto por excelência
da Psicanálise, conclui-se que o estudo do psiquismo pré-natal é de
importância fundamental para esse campo de conhecimento.
Para Golfeto (1997, p. 35), a personalidade do feto vai se
desenvolvendo através de acontecimentos pré e perinatais, onde estudos
sobre o psiquismo fetal comprovam que a vida de cada ser humano começa a
partir do surgimento das primeiras células, que levam em sua origem registros
de memórias bioquímicas. Comprovou-se ainda que através de intervenções
fetais, o bebê compreende os impulsos internos diante das sensações de sua
mãe, onde se relaciona também com o ambiente. Sobre a evolução fetal, é
concreta a revolução psicológica que ocorre na mãe. Uma vida nasce e se
desenvolve nas cavidades uterinas dessa mulher, onde jamais um ser humano
vai se desenvolver tanto em tão pouco tempo, tendo em vista que o bebê
crescerá cerca de 50 centímetros em nove meses. O estado psicológico
materno se torna instável, buscando um arranjo psíquico singular (STERN;
VERONESE, 1997).
A maternidade é uma conquista psíquica a qual a mãe necessita se
habituar. Nenhuma mulher nasce compreendendo sobre a sabedoria da vida
materna, é um conquista que a coloca em um caminho de aprendizado diário e
contínuo. As modificações que acontecem nessa fase e toda a reorganização
mental se dará com o tempo. Algumas vivências serão realocadas, dando
espaço aos novos acontecimentos, de uma nova vida, de uma nova mulher.
Cada criança que é gerada e chega a esse mundo vem com uma linguagem,
ou seja, uma história no seio gerada pelo início de sua existência. “Como veio?
Qual o contexto da gestação? Foi desejada ou não? Foi uma gravidez

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programada? Fonte de euforia ou angústia?” Seja como for, esse princípio a
marcará, não irá passar ileso e fará parte de sua história (SZEJER et al, 1997).
Diante dos estados de consciência que são presentes no bebê que
acabou de nascer, também são encontrados na fase intrauterina e na vida fetal,
onde todos os sistemas sensoriais já estão em funcionamento. Através de
inúmeros relatos maternos, pesquisas e exames, comprova-se que no último
trimestre o feto responde de maneira regular a estímulos externos, de ordem
visual, auditiva e cinestésica (BRAZELTON, 2002).
Durante a gestação, é comum que nesse período a ansiedade faça
parte da vida da mulher que aos poucos, começa a viver a maternidade. A
insegurança, falta de certezas e aborrecimentos andam lado a lado com o
medo de momentos futuros que, até então, são desconhecidos (BAPTISTA;
BAPTISTA; TORRES, 2006). A gestante é acometida por inúmeras
modificações psicológicas, biológicas e sociais, ou seja, grandes mudanças
que vão além das transformações orgânicas da mulher, mas que interferem de
maneira direta na sua qualidade de vida e tranquilidade, modificando questões
emocionais. A força de toda mudança psicológica é uma junção de aspectos
sociais, culturais e traços de personalidade da mulher (SOIFER, 1984).
Em relação ao papel social, é necessário compreender que durante os
meses de gravidez a gestante irá estabelecer uma nova identidade. Deixará de
ser apenas filha, para tornar-se mãe. Essa transição do momento gestacional é
necessária. A evolução desse processo abriga, de maneira indispensável, a
reorganização para definir esse novo papel (MALDONADO, 2013).
Determinar a gravidez como mudança, não quer dizer que os
momentos difíceis irão terminar após o parto, pois a maioria das transições irão
ocorrer após o nascimento e dessa maneira, o puerpério, também conhecido
como resguardo, deve ser levado em conta ao que diz respeito a esse período
transformador. Dessa maneira, entende-se que é imprescindível que a gestante
possua acompanhamento psicológico, para que seja possível vivenciar de
maneira ponderada, as manifestações e emoções que acontecem no decorrer
do ciclo não apenas pré-natal, mas puerperal.

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A intervenção em grupo poderá ser bastante efetiva, tendo em vista a
troca de experiências e compartilhamento de informações entre essas
mulheres (MALDONADO, 2013).
É importante ressaltar que existem inúmeras possibilidades para o
trabalho com gestantes, embora no Brasil ainda seja pouco explorado. E é
justamente por isso que se torna relevante estender ações desse tipo, que
consigam alavancar meios para fornecer uma assistência mais ampla para
essas mulheres durante sua experiência com a maternidade, pois através dela,
o bebê será atingido positivamente (GOMES; GUEDES, 2004).
O resultado de intervenção com gestantes, em suas trocas de
experiências em grupo, atua como uma espécie de base e sustentação umas
com as outras. Atinge efeitos grandiosos, proporcionando uma estrutura social
que promove conexão entre as participantes. Possibilita a compreensão de que
não estão sós, de que podem compartilhar suas sensações com outras
mulheres que se encontram na mesma situação. Assim, através desse
entendimento, é notável a diminuição do grau de ansiedade, além de um
equilíbrio para que possam viver de maneira mais leve o momento em que se
encontram (ROMANO, 1999).
A assistência na gestação deve se iniciar de maneira precoce, para que
medidas preventivas possam ser expandidas, bem como o acolhimento de
possíveis doenças. Quanto mais cedo a intervenção, melhor o resultado. Será
necessário pesquisar possíveis causas orgânicas, além de distúrbios psíquicos,
para que a preparação psicológica do parto possa fluir de maneira tranquila,
com grande contribuição de resultados de uma gestação sossegada (PRADO;
VALLE; RAMOS, 1999).
Nesse período, as intervenções devem trabalhar a diminuição de
registros de experiências traumáticas para o feto. Esses traumas, expressos no
futuro, confirmam a existência da vivência psíquica fetal em seu período
intrauterino. Pesquisas mostram que o bebê é um ser inventivo, sensível, que
já possui vida e memórias inconscientes, além da afetividade com sua mãe
desde o período pré-natal. O bebê identifica a claridade e o som, registra
sensações e já é capaz de estabelecer uma posição que seja mais confortável
para ele dentro do útero. Em situações de pânico e medo, apresenta reações.

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Quando a mãe se estressa, através do exame de amniocentese que é a
análise do líquido amniótico retirado do abdômen materno, é possível observar
que os batimentos cardíacos do bebê sofrem aceleração, alterando todo seu
funcionamento respiratório. É impossível não enxergar a importância dessa
relação intensa entre mãe-bebê, desde as transformações mentais até
mudanças físicas e ambientais (WILHEIM, 2000).
A intervenção psicológica deve ser pensada não apenas para a mãe,
mas também para benefícios da criança que irá nascer. Intervenções
realizadas precocemente possuem grande sucesso no trabalho direcionado à
assistência do vínculo entre a gestante e o filho, que futuramente irá facilitar a
melhoria e o progresso da saúde materno-infantil (CUNHA; BENEVIDES,
2012).
No que diz respeito a redução do estresse, a proposta é que o domínio
de inquietação da gestante possa ser reduzido através de quatro colunas:
descontração, exercícios físicos, orientação nutricional e direcionamento
emocional.
A gravidez é um momento único e marcante na vida da mulher, pois
através dessa gestação um ser humano está sendo formado. É necessário
lembrar o quanto a gestante deve se cuidar nessa fase, porque é através
dessas mudanças que as alterações hormonais, físicas e emocionais chegam
até o feto através da placenta. Também é possível perceber que o conforto da
mãe possui ligação direta com o bebê e para que isso seja feito de maneira
leve, é importante que as futuras gestantes participem de programas de
intervenção com essa finalidade: benefício de sua saúde que, de maneira
direta, contribuíra para a de seu filho (TORREZAN, 1999).
É interessante compreender também que a intervenção psicológica
pode ser efetiva para toda a família. Através da interferência, há a contenção
de angústias para essas pessoas que vivem esse momento único ao lado da
mãe. O bebê em desenvolvimento possui sensibilidade, percepção e
características individuais que recorrem de situações que intervém de seu
nascimento, podendo influenciar na progressão de seu processo psicoafetivo e
desenvolvimento biológico. Ainda dentro do útero o bebê expressa suas
emoções de alegria, insatisfação, euforia e descontentamento de ações

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através de seus movimentos. Os conhecimentos que as mães passarão aos
filhos são naturais e essas informações podem ser adquiridas, inclusive, por
ações impostas.
A angústia que paira sobre as dores do parto fazem parte de
convicções que afetam a gestante e fazem com que ela sinta insegurança
sobre o momento em que irá segurar seu filho pela primeira vez. Quando
sentem medo e angústia em relação ao parto, passam a seus filhos sensações
negativas e desconfortáveis (RIBEIRO, 1996).
Segundo Souza-Dias (1996), observações realizadas através de
ultrassonografias comprovam que o stress da mãe influencia diretamente a
saúde mental da criança, onde o bebê pode entrar em sofrimento fetal. O
desespero vivido pelo feto, direta ou indiretamente, podem marcar
intensamente o bebê, desde angústias antes do nascimento até a vida
extrauterina. É durante essa vivência que a construção do vínculo mãe-bebê
durante a gestação torna-se essencial para a expansão afetiva da criança que
está se desenvolvendo. O desempenho emocional da mulher e sua relação
com o pai da criança são fundamentais no empenho psíquico do feto para que
ele possa se desenvolver em um ambiente acolhedor. De acordo com Souza-
Dias (1996) “o equilíbrio da relação mãe-feto depende da qualidade do vínculo
que existe entre os pais” (p.107).
Para João (2014), a aliança entre a gestante e seu filho vai além da
união biológica proporcionada pelo cordão umbilical. Através das vivências
maternas, algumas percepções são compreendidas para conduzir os
processos mentais do feto. Estudiosos afirmam que quando a mãe se deita o
bebê sente-se acalentado. A posição tranquiliza e acalma a criança no útero.
Mas quando as mães vivenciam algum susto, o bebê sente a adrenalina que é
liberada por sua genitora e se inquieta dentro da barriga. Obviamente não é
necessária a identificação de medo, mas é possível afirmar que o feto passou
por momentos de espanto no ventre materno.
Segundo Piontelli (1995), o bebê vai recebendo estímulos ainda na
barriga, onde elabora uma individualidade, uma espécie de “personalidade”.
Assim como seus próprios traços que 23 acabam sendo uma espécie de
resposta em relação as mensagens que chegam até ele através de sensações

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intrauterinas e também pelo ambiente externo. É importante frisar o que muitos
pais sempre pensavam: que cada feto, assim como cada recém-nascido é um
ser altamente individualizado. O recém-nascido não é apenas uma ‘natureza’
esperando que o ‘ambiente’ interaja com ele. É válido pensar sobre os
movimentos fetais ainda que no início da gestação, onde é possível enxergar
características individuais que podem ser analisadas mediante os aspectos e
respostas do bebê, que ainda na barriga já se coloca como uma criatura com
propensão e personalidade peculiar (PIONTELLI, 1995).
É comum também que as mães tenham medo de que os bebês fiquem
mimados caso os coloquem no colo todas às vezes que chorem (TULHA, 1979
apud THOMAZ et al, 2005, p. 143).
Para Winnicott, há vida emocional antes do nascer e o feto possui
habilidades inatas que se desenvolvem no útero, pois todo indivíduo dispõe de
capacidades para condensar vivências e memórias corporais, conectar
entendimentos e conflitos, experimentar e associar intervenções em combate
ao sofrimento mental. Desta forma, requer a aceitação da concepção psíquica
do bebê antes mesmo de desejar a gravidez.
O sistema de evolução da criança exige um assentamento de que
realmente o feto habita no corpo de sua mãe. No papel materno, encontra-se a
vivência primordial para o feto. Através do vínculo com a mãe, será construída
a saúde mental da criança, bem como consequências para o desenvolvimento
de sua primeira infância a partir do instante em que a mesma será suficiente
para se dedicar a moldagem ativa de seu filho, visto que antes do bebê chegar
ao mundo, seu desenvolvimento emocional ainda se encontra reprimido, assim
como seu comportamento. E as vivências dessa fase ainda prematura, são
bastante relevantes para o entendimento do ser humano como um todo
(WINNICOTT, 2000).
A aproximação do nascimento de uma criança gera mudanças desde o
início da gravidez. Se engana quem deduz que as transformações acontecem
apenas à luz da fisiologia, pois a metamorfose psíquica de sensações que a
gestante vive é ainda maior. Nessa fase, além do apoio familiar, a sensação de
sentir-se segura se torna extremamente necessária. E caso esse elo não seja
findado, o vínculo entre mãe-bebê pode ser prejudicado inicialmente,

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dificultando o elo que pode ser ampliado até o período pré e pós natal
(ABRUZZI DE FRAGA, 2008).
Para Brazelton e Cramer (2002), a gestação é um período composto
por uma grande complexidade de fatores, onde a gestante passa por diversas
mudanças. A vivência entre mãe e bebê é composta por fortes sensações,
diversas e confusas, como a ansiedade por exemplo, que pode consumir a
capacidade do inconsciente da mãe, pois a relação materna se inicia desde o
momento da descoberta da gravidez e o vínculo que será desenvolvido durante
os nove meses será estabelecido após o nascimento, bem como o crescimento
da criança.
É no período pré natal que a relação começa a ser alimentada, onde o
entendimento das particularidades do novo ser que está a caminho começam a
ser identificadas. A gravidez de uma mulher ecoa todas as suas experiências
precedentes à concepção, a vivência com seus pais, o triângulo edipiano e sua
adaptação para com o bebê. Freud (1926/1996), avalia que o nascimento é o
retrato de cada circunstância de perigo posterior e tem um papel grandioso na
progressão do crescimento emocional. Os rastros de ansiedade que tomam
conta da gestante nesse período se tornam uma ameaça diante da conexão
com o bebê. Dependendo de sua acentuação em que decorre de motivações
externas, poderá atingir esferas intensas do aparelho psíquico do feto,
podendo causar traumas.
Não se pode desmerecer os fatores psicológicos do início da vida, nem
muito menos sua relação com a aprendizagem primária dos processos
cognitivos. E é justamente as vivências da mãe, suas sensações, que tocam e
testam a construção do sistema emocional do feto. É nessa interação que tudo
acontece. Na organização do desenvolvimento fetal essa relação é
fundamental. Principalmente pelo fato do bebê poder sentir essas emoções,
pois é necessário entender de maneira intensa a cavidade desse corpo que o
abriga, de ter zelo em explorá-la, compreendendo a fundo. Decifrando a
profunda experiência de uma mãe que acomoda seu bebê dentro de si,
sentindo que é exatamente para lá que ele desejaria regressar (CARON;
LOPES, 2014).

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Segundo Winnicott e Bogomoletz (2000), a mãe constrói a saúde
mental de seu filho ainda durante a gestação quando estabelece uma
integração atuante e os processos psicológicos do ser humano vão sendo
analisados através de experiências de momentos que ainda são tão
prematuros, onde existe a grandiosidade significante dessa vivência
intrauterina. De maneira surpreendente, o bebê vai respondendo aos estímulos
maternos, onde vai sendo findado uma interação e conhecimento antes de
nascer. O período para a construção do apego intenso varia de relação para
relação e no meio do caminho o vínculo afetivo vai se tornando consistente,
ecoando de maneira relevante para a construção do relacionamento familiar
como um todo. A ligação deve ser vista como um processo para que haja a
compreensão dessa relação entre mãe e bebê, ainda que venham a passar por
dificuldades durante ou após a gestação (BRAZELTON, 1988).
Para Quayle, Bundunki e Zugaib (1997), a cavidade intrauterina é a
origem contínua de estimulação do feto, tornando-se suscetível ao sofrimento
de intervenções da mãe. As paredes uterinas proporcionam ao bebê a
definição das extremidades corpóreas, que proporcionam ao feto enorme
contato dentro da cavidade da mãe. A medida que essas estruturas começam a
se expandir, o sistema nervoso central e o restante dos órgãos instaura o
conhecimento de comunicação com o meio. É então a partir das 24 semanas
que o estímulo no ventre da gestante é bastante precioso, pois o bebê está
atento e respondendo a estimulações sonoras. Barulhos intensos podem
despertar resultados nos olhos da criança, movimentações espantosas,
precipitações no ritmo cardíaco. Sons menores como o diálogo humano levam
a desaceleração do coração, mas cada estímulo provoca respostas diferentes
de acordo com cada gestação, que é singular (LECANUET; GRANIER-
DEFERRE, 1992).
Há observações paralelas que insinuam a manifestação de
construções psíquicas como a sexualidade, que pode desenrolar-se ainda na
gestação. As evidências obtidas ainda são pouco aceitas, uma vez que
diversos profissionais excluem essa possibilidade, preferindo observar a vida
emocional do feto onde muitos só a consideram a partir do nascimento e não

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em sua vivência dentro do útero, através de um desenvolvimento psicológico
dentro da normalidade (BROUSSIN; BRENOT, 1994).
As estruturas mentais do indivíduo se iniciam durante o período da
gravidez, que tem origem na imaginação da mãe, que decorre do investimento
de sua libido, ou seja, energia psíquica. Que por sinal, já existe. E se após o
nascimento da criança o vínculo entre ela e sua mãe for alimentado de maneira
recíproca, torna-se pertinente o entendimento sobre as mudanças que
ocorreram diante das expectativas do desejo e do medo materno, em relação a
si mesma e ao bebê (BARROS, 2004).
A partir da fala materna, se torna possível analisar a partir de que
lógica ela se insere e obviamente, coloca seu bebê. É através disso que
podemos situar à posição do feto em relação ao desejo materno. Diante disso
torna-se pertinente a execução de um trabalho preventivo durante o período
pré-natal para que a gestante possa gozar de um momento de escuta, para
expor suas angústias, expectativas, medos, dúvidas e assim evidenciar através
da fala suas funções de desejo. Tendo a possibilidade de tornar consciente as
representações das mulheres de sua geração, ressignificando sua história de
vida e reordenando suas organizações emocionais, conservando seus conflitos
para o nascimento da criança (BARROS; HERZBERG, 2003; LUKSYS;
KNIEST, 2005; WENDLAND-CARRO, 2001).
Dolto (1999), Herzberg (1986,1993) e Violante (2001) fazem menção a
relevância de que a mulher, antes de tornar-se mãe, possa ter a oportunidade
de reflexão sobre sua época de infância, tomando consciência desse período
para que possa conservar (ou não), o retrato de seu bebê que está sendo
construído durante a gestação. Podendo assim organizar-se mentalmente,
para o fato de seu filho não corresponder às expectativas que ela deseja. No
período gestacional torna-se imprescindível a construção do esclarecimento do
símbolo fetal para a efetivação do psiquismo materno. Já que, para Aulagnier
(1994), existe essa imaginação, ainda que inconsciente, desde que essa mãe
ainda menina, brincava de boneca e ocupava apenas o papel de filha. Essa
relação imaginária é estabelecida desde o início da gravidez,
inconscientemente, visando seu corpo de maneira íntegra. É diante disso que
podemos compreender que a vinda do bebê reposiciona a mãe de maneira

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narcísica, ou seja, denomina uma condição precoce em que a criança coloca
seus desejos em si mesma, além da mãe transmitir ao filho o amor objetal. “(...)
lhe dá um sexo, teme que adoeça, que tenha malformações (...)” (SOLIS-
PONTON, 2004, p. 32).
Os nove meses de gravidez são de extrema importância para que essa
mulher, agora mãe, possa internalizar essa ideia de que dentro de alguns
meses estará ligada para sempre a um desconhecido. Esse entendimento será
o início da demanda psíquica realizada para que o 27 bebê possa se tornar
conhecido dessa família que irá pertencer (ARAGÃO, 2007; BATTIKHA, 2008;
CAVALCANTI, 2006).
Gestantes com um sistema emocional mais estruturado e com uma
imaginação menos definida são mais maleáveis ao conhecimento da realidade,
entendendo de maneira mais clara seu filho, sua personalidade e se adaptando
a elas. Porém, mães que exibem suas fantasias e anseios mais rigorosos são
mulheres com uma menor amplitude para acolher explicações que não
concordam, e acabam se sentindo impotentes de se empenhar como mães
(CARON; FONSECA; KOMPINSKY, 2000).
Segundo Bernardino (2006), fica claro que: Enquanto não encontra seu
próprio sentido, ao bebê resta corresponder ao sentido que lhe dão, ao lugar
que recebe, pois, se não o ocupar, não haverá referência alguma para ele, não
encontrará significado algum para si mesmo, já que não o herda junto com sua
carga genética (p. 25). Entende-se que “o papel da mãe é o desejo da
mãe” (LACAN, 1969/1992, p.105).
Através disso, o desejo materno é visto como motivador pela maneira
em que se dá o papel da mãe. A estrutura do desejo materno é a constituição
do eu do sujeito. O início do desejo em gerar um filho se dá través de fantasias
da própria infância e de todo acalento que foi recebido de sua mãe, que agora
será avó da criança. Como expõe Stern e Veronese (1997), a demonstração do
cuidado com esse novo ser se dá antes de seu nascimento.
Para compreendermos todo o universo fetal, é necessário compreender
o desejo gestacional. Assim, é impossível limitar essa fantasia pela gestação e
o nascimento do bebê, já que a assimilação feita na infância atuam e
influenciam a maneira como cada mulher irá exercer sua maternidade. Gerar

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um bebê transcende a perfeição da reprodução humana, pois existem dois
conceitos: um inconsciente, em tornar-se mãe, que está vinculado a procriação
da linhagem familiar e o segundo, inconsciente, que está ligado à estruturação
da feminilidade, as concepções de ternura, dando espaço ao filho que será
gerado no inconsciente da mulher.
A gestação passa por momentos de grandes significados diante do
desejo de gerar uma criança. Para Bydlowiski (2002), é possível determinar
que o estado de clareza psíquica que é fixado na gestação, estabeleça o
equilíbrio emocional que em algum momento irá se abalar com a chegada
desse novo ser, pois embora esteja presente em seu conceito mental, ainda é
invisível à realidade.
A gravidez é a uma manifestação do desejo (inconsciente). Muitas
mulheres relatam suas vontades (consciente) de que não possuem intenção
em vivenciar a maternidade naquele momento de sua vida. Porém, não
lembram de fazer uso de anticoncepcional, usar camisinha ou utilizar qualquer
método contraceptivo. Pode-se denominar de ato falho, que reflete a linguagem
do inconsciente (SZEJER, et al. 1997).
De modo geral, embora a mulher utilize artifícios de contracepção e
diga que a prevenção se trata de uma vontade em não gerar, acabando assim
com chances de engravidar, é nítido que há no desejo uma ligação entre a
receptividade do prazer que seu parceiro lhe dá, possibilitando a imaginação
de uma possível gestação e do parto (LANGER, 1986).
Para a psicanálise, o desejo em gerar está ligado a toda e qualquer
gestação. As mulheres que engravidam rapidamente após as relações sexuais,
remetem a uma forma inconsciente de se sobressair de relações pouco
estimadas. É bastante normal a constatação de que a família dessa gestante é
grande, numerosa. O que facilmente explica seu desejo através de gravidezes
rotineiras (DEBRAY, 1988).
Ao longo da gestação, o sistema nervoso do bebê resiste a um
amadurecimento grandioso, onde as estruturas neuronais passam por um
processo sensível de evolução e expõe o feto a estímulos de dor durante sua
vida intrauterina. Se o feto for exposto a situações de grande sofrimento e as
alterações vivenciadas na fase neonatal forem expansivas, poderá ocorrer o

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desenvolvimento de processos neuronais imaturos ocasionando um parto
prematuro e consequências fora da normalidade na fase adulta (ANAND,
2000).
Essas consequências irão depender do período gestacional da mulher
e do quanto esse bebê foi exposto a estímulos nocivos. Para que sensações
de stress atinjam o feto, não é necessário que o córtex cerebral tenha se
desenvolvido por completo. Se o seu sistema nervoso já estiver em
desenvolvimento, minimamente que seja, o bebê já apresenta sinais de dor e
sofrimento quando é submetido a momentos de angústia, ansiedade e rejeição.
A ciência denomina que esse tempo ocorre antes dos 3 meses de gestação
(LOWERY, et al. 2007).
É esclarecedor os estudos que comprovam que a exposição do bebê a
estímulos de sofrimento que ocorrem no período neonatal fará com que ele se
torne um adulto com maior propensão a desenvolver crises de ansiedade,
protegendo o próprio ego através de atitudes defensivas (ANAND, et al. 1999).
Os estudos foram realizados em bebês recém-nascidos e prematuros, que
apresentaram modificações a médio ou longo prazo nos resultados das
reações de comportamentos à dor, onde a diminuição de crianças que nascem
sem que suas mães façam uso de analgesia provoca alterações de grande
duração nas reações de dor do bebê, passando por modificações dos
estímulos neuronais podendo a criança desenvolver-se de maneira agressiva
(TADDIO, et al. 1997).
Ainda é possível citar um fator de risco: quando o bebê é exposto a
intervenções cirúrgicas realizadas quando ele ainda está se desenvolvendo
dentro do corpo de sua mãe, a anestesia fetal se torna necessária. Mas
quando aplicada, promove a imobilização total do feto, impedido os estímulos
naturais de seus processos neuronais. Com isso, há a mudança da frequência
cardíaca do bebê e a elevação de todas as atividades hormonais de seu
pequeno corpo (ROSEN, 2001).
Mesmo quando o feto se encontra protegido no útero, seu sistema
nervoso está vulnerável a implicações a longo prazo na formação de seu
neurodesenvolvimento. Embora a anestesia evite que o feto memorize os
momentos de dor, devido ao fato dele estar imobilizado e bloqueando a

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naturalidade de seu sistema neuronal, a agressão ao bebê acontece. Seu
corpo é atingido, agredido e isso é uma contestação inegável (ANAND, 2000).
Quando falamos em dor ou angústia que o bebê pode passar em sua fase
intrauterina, é bastante comum que façamos menção ao que se denomina de
sofrimento fetal. Que é uma condição em que o feto se encontra resultante da
ausência de trocas materno-fetais. Nessa ausência, a composição química do
sangue do bebê é alterada e pode chegar a causar perturbações em seu
sistema nervoso, ocasionando lesões e óbito do feto. Se as alterações
atingirem o coração do bebê, ele vem a falecer. E se conseguir resistir, nasce
deprimido com lesões em seu sistema nervoso central podendo causar danos
irreversíveis. Além disso, quando esse bebê entra em sofrimento, seu controle
intestinal se expande e ele relaxa seu esfíncter, consequentemente eliminando
suas fezes através do líquido amniótico. A essa substância se dá o nome de
mecônio (GOFFI, 1991).
Ainda segundo o autor, para manter a estabilidade em sua vivência no
útero, o feto é totalmente dependente de sua mãe e das trocas que ocorre com
ela através da placenta. Recebe através dela oxigênio, aminoácidos, glicose e
outros hormônios, mas também direciona alguns elementos necessários para
ela: hidrogênio, ácido úrico e CO2 são alguns dos componentes que o bebê
transfere para sua genitora durante os meses em que se desenvolve dentro
dela. A presença de mecônio no líquido amniótico é tratada como fator de risco
para o sofrimento fetal intraparto, pois está de fato associado ao risco de
comprometer o bem-estar do bebê. É necessário que a todo instante o feto
tenha seus batimentos cardíacos monitorados por um médico obstetra. Sabe-
se que a eliminação de mecônio antes da criança vir ao mundo pode ocorrer de
modo fisiológico nas gestações, mas é um fator de alerta indicando risco do
bebê ter entrado em sofrimento fetal, por isso o monitoramento se faz
obrigatório nesses casos.

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5. O Privilégio de Nascer

Para a mulher que deseja um parto natural, caso a criança inicie a fase
de sofrimento, se faz necessário uma cesariana de urgência pois a vida da
criança deve ser assistida e preservada, bem como a de sua mãe (SOUSA;
AMORIM, 2008). Nos últimos 30 anos as cesarianas eram concretizadas por
sofrimento fetal auscultado onde o médico ouvia o coração do bebê através do
abdômen da mãe.
Os tipos de parto são:

1. Parto Normal
É o parto mais convencional, uma vez que a mulher entra em trabalho
de parto espontaneamente. Normalmente, ocorre entre a 37º e a 42º semana
de gravidez. De início, é indicado para todas as grávidas. Ele se inicia com as
contrações, que começam a ficar cada vez mais frequentes e doloridas.
É importante lembrar que podem ser utilizadas anestesias: tanto a
peridural (aplicada sobre a lombar) e a raquidiana (na medula). Porém, por ter
um efeito mais rápido, a raquidiana é mais recomendada para ser realizada
logo antes do nascimento do bebê.

2. Parto Natural
Muitas dúvidas existem a respeito da diferença entre o parto normal e o
natural. O parto natural ocorre com o mínimo de intervenções médicas
possíveis, ou seja, de acordo com os comandos do corpo. Somos responsáveis
e temos participação ativa no momento do nascimento, além de não haver o
uso de anestesias. É possível que aconteça em casa, mas sempre com o
acompanhamento de pessoas especializadas, como obstetras.

3. Parto Cesariano
O parto cesariano é recomendado em casos em que o parto normal
não é possível de acontecer. A OMS (Organização Mundial da Saúde) sugere
que 15% dos partos sejam cesáreas, porém, em alguns serviços privados, os
números podem chegar até 85%.

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Como é um procedimento cirúrgico, é necessário que tenha um jejum,
porém, é possível ficar acordada e presenciar o momento do nascimento do
bebê. Em alguns casos, a cesárea pode ser recomendada. Por exemplo,
quando o bebê se encontra sentado, se você já realizou outra cesária
anteriormente, tem alguma infecção por herpes ou HIV ou quando o cordão
umbilical se enrola no pescoço do bebê.

4. Parto na Água
Esse é um dos tipos de parto que mais tem sido procurado por nós,
mulheres, nos últimos tempos. Isso porque é um dos mais confortáveis que
existem. A água permite uma melhor irrigação sanguínea, um relaxamento
muscular e a dilatação do colo uterino (o que acelera o parto e gera sensação
de bem-estar). Para o bebê é um dos partos menos traumáticos que existem,
pois há menos luz e barulho externo para interferir.
Para realizar esse parto, é necessário optar por uma maternidade que
ofereça esse tipo de atendimento. É importante que aconteça sempre sob
assistência médica.

5. Parto de Cócoras
Nós precisamos adotar a posição de cócoras, ou seja, ficar agachada
na hora do nascimento. Normalmente ocorre mais rápido que os outros. Essa
posição permite que a musculatura da pelve e do abdômen relaxe, e conta
também com a ajuda da gravidade, facilitando a saída do bebê.
Para que ele ocorra, o bebê precisa estar com a cabeça para baixo,
não ser tão grande (até 4 quilos) e nós precisamos estar com 10 centímetros
de dilatação. Também é necessário que se tenha passado por uma gestação
saudável e um bom condicionamento físico. Nesse caso, a anestesia não é
possível de ser aplicada.

6. Parto Leboyer
Foi elaborado por um médico francês na década de 70 e também é
conhecido como “parto sem violência”. Tem como objetivo não estressar o bebê
e tornar seu nascimento menos traumático. Por isso, o parto todo é conduzido

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pela mãe e o cordão umbilical só é cortado quando para de pulsar. É
necessário ocorrer em um ambiente silencioso e com pouca luz.

7. Parto Humanizado
O parto humanizado não pode ser considerado uma nova técnica, mas
sim, um parto em que se tem respeito a nós, mulheres. Podemos escolher
onde queremos ter o bebê, quem irá nos acompanhar, qual a melhor posição
para o processo, se a luz estará acessa ou apagada, se haverá uso da
banheira, etc. Pode ter o uso de anestesia e ainda é possível escolher se quer
comer alguma coisa durante o trabalho de parto. Claro, mesmo assim, é
necessário que o obstetra esteja presente durante todo o processo.

8. Cesárea Humanizada
Como o nome diz, a cesárea ocorre por meio de uma cirurgia. No
entanto, na cesárea humanizada, a tentativa é ser similar ao conceito do parto
normal. Nós somos mais valorizadas neste processo, com o ambiente da sala
de cirurgia mais confortável possível, com acompanhante e até música. O
cordão umbilical não é cortado, apenas após parar de pulsar. Além disso, o
bebê é colocado junto da mãe logo após o nascimento.
Entendendo isso é peciso dizer que a cavidade uterina era pouco
acessível e quando o assunto se tratava da vida do feto, a medicina não
obtinha uso da tecnologia (DAFFOS; FORESTIER, 1988).
Quando o bebê vem a falecer, a dor é insuportável para a mãe. Além
do sofrimento existe a inevitável associação de responsabilidade pela vida que
era gerada por ela. Exemplo disso é quando médicos dão ao bebê, já
desenvolvido, o nome de feto, não dando a essa mulher, agora mãe enlutada,
a chance de sofrer a perda como uma mãe que perdeu um filho nascido teria.
Não é apenas um mero feto. É um filho. Quando o bebê sofre, a mãe sofre por
ele. Há uma crescente exposição de hospitais e maternidades que são
denunciados pela sua falta de humanidade em colocar mães que estão vivendo
o luto na mesma ala de mães que obtiveram sucesso durante o parto. Quando
se é incapaz de reconhecer que, mesmo possuindo uma vida breve aquele
bebê existiu, se torna impossível manifestar a dor da perda (LUPI, et al. 2017).

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Se o bebê nascer com alguma doença, é certo que fará um grande
esforço para continuar lutando pela vida. Caberá a mãe a percepção de que
seu filho está, sim, lutando para viver. Alimentar um diálogo com esse bebê fará
com que ele se sinta acolhido, amparado. Que seus esforços para continuar
vivendo estão sendo percebidos, que ele é amado e importante. Por mais que
essas palavras venham de familiares próximos, nenhuma sílaba terá tanta
força quanto as pronunciadas por sua mãe (MOREIRA; BRAGA; MORSCH,
2003).
A gravidez é um período de transição e isso o senso comum também
explica. Mas a transição que será selada para além do parto, vem se
construindo desde a gestação. O nascimento da criança é uma grande
experiência familiar. A mãe gera a criança, unicamente, dentro de seu corpo.
Mas toda a família acaba se sentindo um pouco “grávida”. Portanto, além do
sentimento de perda e impotência diante da morte de um filho que acabou de
chegar ao mundo ou não se desenvolveu por completo e já partiu, a mãe ainda
se vê diante de um papel que frustra as expectativas de todos que também
aguardavam o nascimento sadio desse bebê
Diferente das mães que deram à luz a seus filhos vivos e saudáveis,
gestantes que não sofreram a perda de seu bebê, vivenciam uma interação
diferente das mulheres que já vivenciaram a dor do aborto espontâneo. A
gravidez passa por uma relação objetal, onde a ansiedade, o medo e a
insegurança atingem brutalmente essa mãe, e o resultado dessas sensações é
a estruturação psíquica que ela precisará passar em relação a esse objeto, ou
seja, o bebê (FREIRE; CHATELARD, 2009).
Mais uma vez é preciso frisar que não é possível se dirigir ao feto como
um objeto alheio, externo à gestante. É necessário que o feto seja entendido
como outro corpo que agora ocupa espaço dentro dessa mulher que o gera. O
bebê não é alheio a mãe, sobrevive porque depende dela para se desenvolver
e é por isso que a ocorrência de um aborto provoca um grande ferida nessa
mulher que o gera. Portanto, a perda gestacional, sendo parte desse corpo e
não alheio a ele, causa uma enorme dor narcísica à gravida. Algumas mulheres
ao dar à luz, não chegaram a olhar nem tocar seus filhos abortados. E como

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descrever uma perda tão concreta, tão explícita, mas tão imaterial? (FREUD,
1916/1997).
Se a gestante não possui apoio quando está frágil narcisicamente, ela
se põe em risco, pois a solidão que sente é vivenciada por sentimentos de
desamparo. Para que o bebê possua o desejo de viver, é necessário que sua
mãe tenha esse desejo primeiro (MATHELIN,1999).
Quando uma mulher engravida, ela projeta no bebê suas expectativas
de realização e eternização, se identificando com o novo ser que está gerando.
A identificação é uma fase que prepara a possibilidade da vinda desse bebê.
Depois de se identificar com o filho, a gestante passa a se envolver de maneira
consciente com o objeto, depositando nele seu desejo. Então, a grávida passa
a amar esse objeto, que não lhe é externo e através disso, surge um amor
narcísico. A mãe começa a construir um elo com o bebê imaginário durante a
gravidez e ao perdê-lo, precisa viver o luto dessa perda objeta e de uma
demasiada dor narcísica (FREUD, 1901/1969).
Uma das causas que leva a grávida a abortar, é o fato dela não se
autorizar a viver a maternidade. A gestação não progride se a gestante não
possui uma boa estrutura psíquica, pois narcisicamente sente-se improdutiva
(MATHELIN, 1999). “Uma mãe é naturalmente boa. Se fracassar como mãe, é
que traz em si uma ferida bem mais antiga que jamais se fechou. Às vezes
trata-se de uma grave ferida materna de sua infância. Nem mesmo se trata
mais para ela “de animalidade”; ela não busca nem devorar nem preencher o
filho, ela não quer ser perfeita. Esse bebê lhe cai literalmente nas mãos, ela
não pode carregá-lo nem física nem moralmente” (p. 16).
A medicina se esforça para que o filho possa manter-se vivo no ventre
de sua mãe, ao mesmo tempo em que a morte quer tragá-lo. Compreender e
reconhecer esse desejo de extinção é complexo, não apenas para os médicos.
Parece incomum a reflexão de que o aborto espontâneo seja, na verdade, um
sintoma, porque um aborto deseja algo para além dele. A pulsão de morte é
executada de maneira silenciosa, no interior do organismo, desejando sua
destruição (FREUD, 1930/2019).
Quando a criança morre antes de nascer, a mulher perde uma parte de
si, a perda de um afeto que foi idealizado, a morte da procriação, da chance de

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eternizar-se e de mostrar à sociedade sua capacidade em dar à vida a outro
ser, para além de si. A recorrência do aborto é uma maneira que a mulher
julgou eficaz para viver a falta do filho que faleceu. Ao engravidar novamente
depois de um aborto, a gestante não se encontra livre para prover um bom
desenvolvimento para o novo bebê. É possível observar nos diálogos que
foram feitos com as gestantes os sentimentos de frustração e incompetência,
além do abandono por ter concentrado sua esperança no filho que não nasceu.
Sentem medo de não poder gerar novamente. Desistem de se relacionar com a
vinda de um possível novo filho, por medo de ser abandonada mais uma vez.
Outro ponto constatado em suas falas, é a vergonha de sentir que estão
causando sofrimento para a família, então acabam se isolando por se sentirem
incompetentes em dar a alegria de uma nova criança para a família (PAPP,
2002). Por medo de vivenciar novamente a perda anterior, essas mulheres não
manifestam afeto com a gestação, com os bebês e com si próprias. Os
mecanismos de defesa são seguidos de melancolia, fantasias em relação ao
filho e falta de amor próprio. Várias mulheres são encontradas em condições
psíquicas que impossibilitam seu envolvimento com o bebê. Não interagem
com ele e se negam a escolher seu nome. É visível a falta de carinho pelo
objeto: o bebê. É preciso, por sobrevivência psíquica, que a mulher utilize
inúmeros mecanismos de defesa: negação, formação reativa e racionalização.
Para que, dentro dessas condições, a gestação possa chegar ao estágio
necessário, onde esse bebê é inscrito numa fala desde o ventre (FREUD,
1917/2014). Porém, se durante a gestação o bebê é frágil ao que sua mãe
vivencia, é porque ele compartilha do inconsciente materno. Logo, é através do
inconsciente da mãe que o feto inicia a construção de seu psiquismo. O aborto
é a demonstração do inconsciente da mãe, onde o bebê abortado possui o
dever em conduzir, em sua presença real, o que sua mãe ainda não simbolizou
(BERNARDINO, 2004).
A mãe enlutada necessita preservar em sua memória as
particularidades que alimentou, em sua imaginação, da criança que não
nasceu, o que corresponde a um desenvolvimento que identifica a continuidade
do relacionamento que existiu entre mãe-bebê. Através do vazio que sente, a
mulher vai definindo a perda do objeto amado. Faz promessas de que jamais

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irá esquecer o filho, numa tentativa de lidar com o vazio que a perda do bebê
traz, tentando proteger a conexão intrapsíquica que possui com seu bebê, até
que, de fato, a perda venha a ser absorvida, seu sentido apreendido e seu
emocional seja restaurado (BORTOLETTI, 1996).
A negação da separação entre os dois corpos incita uma dor profunda,
além de angústia e tristeza. Dentro dessa assimilação que a mulher precisará
fazer, está o desejo profundo pela criança que morreu. É normal que a mãe se
esforce para recordar momentos da gestação, para que possa acomodar
memórias, ainda que dolorosas, da perda. Aos poucos, buscará se adaptar. O
que não significa que está esquecendo que o bebê morreu, mas para que
possa alimentar o desejo de preservar a conexão com a criança que ela
idealizou, mas que infelizmente não chegou 35 a nascer viva. Além de buscar a
ressignificação de seu novo mundo, de forma individual, se faz necessário o
apoio de seu parceiro, caso possua, e de seus familiares (CACCIATORE,
2013).
Diferente do aborto espontâneo que é interrompido de maneira natural
ou acidental, o aborto provocado é ocasionado por uma ação humana precisa,
que de maneira consciente possui o intuito em interromper a vida e o
desenvolvimento do bebê que está evoluindo dentro de sua mãe, embora seja
um corpo alheio ao dela (HOUAISS, 1992).
A discussão sobre a interrupção dessa vida é histórica, pois o aborto é
utilizado como contraceptivo e retido a uma prática privativa. Por mais que a
discussão seja sempre atual e pertinente, o diálogo sobre esse assunto sempre
reverbera sobre questões legais, religiosas e morais que repercute até os dias
atuais (MARQUES; BASTOS, 1998). Porém, acreditava-se que a vida do feto
só se iniciava após um período de 40 dias, o que fazia a população aceitar
mais facilmente que o aborto provocado poderia ocorrer antes desse período,
desde que a mulher estivesse com a saúde debilitada ou necessitasse fazer
uso de algum medicamento que provocasse a expulsão de seu filho. Nesse
período, há muitos anos atrás, a vida da criança não causava preocupação e
essa discussão não era levantada (DEL PRIORE, 1993).
A mulher que aborta um filho vive algo chamado “luto não autorizado”.
Que é quando a ferida que essa perda causa não pode ser apresentada

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publicamente, nem muito menos de maneira social. Trata-se de um nascimento
nada convencional, onde vida e morte são lineares (DOKA, 1989).
Sobre esse luto, sua manifestação pode gerar problemas caso ele não
seja vivido e ignorado, pois a culpa e a raiva podem se manifestar de maneira
abrupta, complicando todo o processo. O apoio social que uma mãe que perde
seu filho sem a escolha de interromper sua vida, não será vivenciado por essa
mulher (PARKES, 1998).
O aborto provocado é a perda não reconhecida que influenciará a vida
dessa mãe, que poderá desenvolver grandes traumas psicológicos e não
conseguir vivenciar uma nova gravidez. Se a dor não for vivida, doenças
psiquiátricas poderão se manifestar, comprometendo a saúde emocional dessa
mulher (BROMBERG, 1999).
Há anos o pensamento de que os fetos não seriam capazes de sentir
dor foi estigmatizado, mas após os estudos realizados sobre a vida intrauterina
e o psiquismo fetal, essa conclusão foi excluída após as intervenções invasivas
dentro do útero. Os estudos ainda mostram a elevação de noradrenalina,
adrenalina e cortisol que aumentaram de maneira significativa durante as
cirurgias de interrupção (SMITH et al, 2000).
O feto sente que será abortado. O terror que ele vive em sua fase
intrauterina faz com que seus movimentos no útero se tornem agressivos.
Pontapés e chutes começam a ser sentidos de uma maneira violenta e
colérica. Quando a gestante sente que o bebê está se movimentando de
maneira mais bruta, ela passa a se identificar com ele através dessa ira. A
criança antes dócil, sente através das sensações maternas que está sendo
ameaçada. A projeção que acontece nesse período diz respeito a relação da
mãe com o próprio filho, através de mecanismos que aludem os movimentos
fetais (SOIFER, 1984).
O bebê sente angústia, pois sofre antecipadamente pela desestrutura
que irá viver. O desenvolvimento de seus processos psíquicos funcionam como
mecanismo de defesa contra o medo que sente, além de buscar proteção
ativando o sistema neurovegetativo. Quando ativado, adrenalina é lançada e
faz com que todo o seu organismo seja contraído, se fechando para o mundo
exterior naquele momento (NAVARRO, 1991).

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Segundo o autor, nesse momento ocorre uma paralisia de seus
movimentos. Sua pulsação é acelerada além de receber uma grande descarga
energética, perdendo a comunicação com o corpo que o hospeda. Estudos
sobre o psiquismo fetal comprovam que entre a viségima oitava semana de
gestação o bebê já possui consciência. O que é vivido no mundo externo
chega até ele através de mensagens pelas emoções e sensações de sua mãe.
O córtex se desenvolve de maneira que ajudará essa consciência a ser
desenvolvida. Portanto, antes do nascimento o bebê guarda as lembranças de
vivências das quais foi submetido em sua vida intrauterina e é completamente
capaz de conservar cada uma delas (VERNY, 1989).

6. Depressão Pós-Parto

A tristeza pós-parto é fisiológica e pode atingir até 80% das mulheres;


ela é chamada Baby-Blues e dura 30 dias.
Após esse período se a melancolia permanecer temos então o que é
considerada a depressão pós-parto, que é bem mais grave, pode incapacitar a
mulher e precisa de tratamento.
É grande o número de mulheres que se queixa de certa tristeza e
irritabilidade depois que dão à luz. A criança nasceu perfeita, com boa saúde, o
pai está feliz, os avós também. Nada aconteceu de errado, elas voltam com o
bebezinho para casa, onde tudo foi preparado para recebê-lo, mas são
invadidas por uma espécie de melancolia que não sabem explicar. Se esse
sentimento for passageiro e desaparecer em alguns dias, não há motivo para
preocupação. Seu organismo passou por verdadeiras revoluções hormonais
nos últimos tempos que podem ter mexido com o sistema nervoso central.
Há mulheres, porém, em que a tristeza aparece algumas semanas
depois do parto, vai ficando cada vez mais intensa a ponto de torná-las
incapazes de exercer as mais simples tarefas do dia a dia, e elas passam a
demonstrar apatia e desinteresse por tudo que as cerca.
Num passado não muito distante, esses sintomas não eram
valorizados; ninguém falava em depressão pós-parto. Os transtornos de humor
eram considerados traços da personalidade feminina. Sem diagnóstico nem

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tratamento adequado, ou a doença se resolvia espontaneamente ou tornava-se
crônica.
O pós-parto é um período de deficiência hormonal. Durante a gestação,
o organismo da mulher esteve submetido a altas doses de hormônios e tanto o
estrógeno quanto a progesterona agem no sistema nervoso central, mexendo
com os neurotransmissores que estabelecem a ligação entre os neurônios. De
repente, em algumas horas depois do parto, o nível desses hormônios cai
vertiginosamente, o que pode ser um fator importante no desencadeamento
dos transtornos pós-parto. Mas esse não é o único fator. Todos os sintomas
associados ao humor e às emoções são multideterminados, ou seja, não têm
uma causa única. Portanto, não é só a deficiência hormonal que está envolvida
tanto na tristeza pós-parto, quanto no quadro mais grave que é a depressão
pós-parto.
Mulheres com história de depressão no passado, seja relacionada ou
não com o parto, ou depressão durante a gravidez (quadro menos frequente,
mas também possível) está mais sujeita a desenvolver transtornos
depressivos. Alguns fatos, por exemplo gravidez não desejada ou não
planejada, causam aumento do estresse ao longo da gestação e podem
contribuir para o aparecimento do problema.
Outro conceito importante para distinguir a tristeza da depressão pós-
parto é determinar se o transtorno é disfuncional, isto é, se interfere na vida do
dia a dia.
A tristeza pós-parto geralmente surge dois ou três dias depois de a
mulher dar à luz, em cinco dias atinge o máximo e some em dez dias. A
depressão instala-se lentamente; só de quatro a seis semanas depois do parto
o quadro depressivo torna-se intenso. É uma doença que exige tratamento
mais agressivo com medicamentos.
Por isso, ao atender uma mulher, semanas depois de ter dado à luz,
com os sinais clássicos de tristeza puerperal, que pode ter sido desencadeada
até por privação do sono – às vezes, o bebê acorda muito à noite – e por
mudanças hormonais, recomendo que espere um pouquinho, pois essa
sensação desagradável poderá desaparecer em alguns dias sem deixar
vestígios. Ao contrário, se os sintomas foram se instalando gradativamente ao

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longo de várias semanas e ficando piores a cada dia, ela pode estar
desenvolvendo um quadro de depressão pós-parto.
Entretanto, se a mãe deu à luz há mais de um mês e a tristeza continua
intensa, é grande a probabilidade de estar com depressão pós-parto. O
diagnóstico, porém, depende dos sintomas que apresenta e de como e quanto
eles estão interferindo no seu dia a dia.
O risco de depressão pós-parto é maior se a mulher desenvolveu um
episódio depressivo anteriormente, mesmo que tenha sido tratada, ou se teve
depressão durante a gravidez.
Segundo revelam as estatísticas americanas, a depressão que surge
várias semanas depois do parto e requer tratamento específico, acomete em
torno de 10% a 15% das mulheres, o que é um número muito alto.
Infelizmente, a maior parte dessas mulheres não fica sabendo que está
deprimida e atribui os sintomas ao estresse, ou não tem suas queixas
valorizadas pelo companheiro, nem pelo pediatra que atende a criança, nem
pelo obstetra que acompanha o pós-natal. Como o início não é abrupto, o
transtorno assume ares de algo fisiológico, sem importância, e elas não
recebem o tratamento adequado. O resultado é que, às vezes, o quadro pode
resolver espontaneamente, mas, em muitas outras, pode tornar-se crônico.
Para a mulher que deu à luz há poucos dias, é quase certo que os
sintomas desaparecerão espontaneamente em duas ou três semanas. No
entanto, aquelas que deram à luz há um mês, um mês e meio, e estão cada
vez mais tristes, precisam prestar atenção em alguns sintomas fundamentais.
O primeiro é que a tristeza não está relacionada só com o nascimento
da criança. Não está restrita ao fato de não se considerar boa mãe nem
suficientemente capaz para cuidar do bebê. A tristeza permeia outros contextos
de sua vida. A mulher deprimida perde o interesse pelo programa de televisão
que gostava de ver, pelas leituras que lhe davam prazer, pela profissão. Às
vezes, a licença-maternidade está chegando ao fim e ela pouco se importa
com a perda do emprego se não reassumir o cargo.
Outros sintomas são a sonolência, a falta de energia durante o dia
inteiro, o desinteresse pelo marido, o desejo sexual que não retorna e as

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alterações do apetite para mais e para menos. Algumas ficam famintas e
comem muito. Outras nem podem chegar perto dos alimentos.
A ansiedade faz parte também do quadro de depressão pós-parto. A
mulher tem ataques de pânico sem ser portadora desse transtorno ou pode
desenvolver comportamentos obsessivos em relação à criança como agasalhá-
la demais ou verificar a cada instante se ela está respirando.
Embora localizada no período pós-parto, a depressão se comporta da
mesma maneira que nas outras fases da vida, e o risco de suicídio existe. No
caso específico da depressão pós-parto, a forte ligação entre mãe e filho acaba
protegendo um pouco a mulher. Mas, se a evolução da doença for muito
negativa e os sintomas se agravarem progressivamente, ela pode chegar à
conclusão de que é realmente incapaz de cuidar da criança e, infelizmente,
cometer suicídio.
Na depressão pós-parto, esse comportamento é exagerado e está
associado a muita tristeza. Acima de tudo, o sofrimento é enorme e a pessoa
está consumida pela sensação de fim de linha e de sua capacidade para sair
daquela situação. De qualquer forma, repito, é sempre preciso considerar o
conjunto dos sintomas para fechar o diagnóstico.
Se houve quadro de depressão no pós-parto de um filho, a
possibilidade de repetir o quadro em outra gestação é de 50%.
A recorrência da depressão é muito alta. Ela é considerada uma
doença episódica recorrente e a tendência é manifestar-se novamente se
repetida a situação em que surgiu pela primeira vez.
Em 50% dos casos, quem teve depressão uma vez vai repetir o quadro
em algum momento da vida. Se ela se manifestou no período pós-parto, cerca
de 30% das mulheres correm o risco de desenvolver a doença fora desse
período.
O risco de depressão pós-parto é maior se a mulher desenvolveu um
episódio depressivo anteriormente, mesmo que tenha sido tratada, ou se teve
depressão durante a gravidez. Anos atrás, considerava-se que as doses
elevadas de hormônios presentes durante a gestação protegiam a mulher. Hoje
se sabe que não é bem assim. Mulher grávida também está sujeita a ter
depressão. Como, muitas vezes, ela interrompe o tratamento temendo que a

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medicação possa prejudicar a criança, o risco de a doença agravar-se depois
do parto aumenta muito.
Há medicamentos seguros. Tanto os mais antigos, os tricíclicos, quanto
os mais modernos, como os inibidores de recaptura da serotonina, são seguros
quer em termos de malformações quer como agentes neurocomportamentais,
ou seja, não provocam malformações na criança nem alterações em seu
comportamento. Acompanhados até a idade pré-escolar, os filhos de mulheres
que engravidaram tomando esse tipo de medicação não mostraram nenhum
transtorno comportamental.
Há alguns anos, o tratamento de escolha para a depressão durante a
gravidez era o eletrochoque. Hoje, ele só é indicado para casos muito graves,
com risco de suicídio e que exigem resposta rápida.
Felizmente, os casos de agressão intencional ao filho são bem pouco
frequentes. O crime de infanticídio, previsto no Código Penal, ocorre em 4%
das psicoses puerperais. A ligação mãe-filho é tão intensa que mesmo a
mulher psicótica, sem contato com a realidade, em raríssimos casos mata a
criança intencionalmente.
Durante a gestação, esses medicamentos não interferem na formação
da criança, porque dentro do útero ela não faz esforço respiratório. Depois que
nasce, porém, seu efeito sedativo pode passar pelo leite e o perigo existe. Por
isso, são indicados alguns antidepressivos específicos que passam menos
para o leite materno e o esquema é discutido com a mulher. Uma das
sugestões é desprezar o leite colhido algumas horas depois de tomada a
medicação, aquele em que os componentes da droga estão mais
concentrados, e oferecer o colhido mais tarde. Isso diminui a exposição da
criança ao antidepressivo e permite utilizá-lo durante o aleitamento.
É sempre fundamental. Embora algumas depressões desapareçam
espontaneamente, uma porcentagem significativa se cronifica. E tem mais: se
não for tratado, o episódio agudo pode deixar um resíduo que se confunde com
a distimia, uma forma de depressão mais leve, crônica, que interfere na
capacidade de raciocínio e no desempenho funcional. Muitas vezes, essa
depressão contínua é considerada um traço da personalidade da mulher e
nenhuma providencia efetiva é posta em prática.

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Como a depressão em geral tem múltiplos fatores determinantes, isto
é, não é provocada só por condições biológicas, mas tem fatores sociais e
familiares envolvidos, a psicoterapia individual ajuda a mulher a lidar melhor
com o problema e a descobrir que tem um potencial que precisa ser
estimulado.
Embora localizada no período pós-parto, a depressão se comporta da
mesma maneira que nas outras fases da vida, e o risco de suicídio existe. No
caso específico da depressão pós-parto, a forte ligação entre mãe e filho acaba
protegendo um pouco a mulher. Mas, se a evolução da doença for muito
negativa e os sintomas se agravarem progressivamente, ela pode chegar à
conclusão de que é realmente incapaz de cuidar da criança e, infelizmente,
cometer suicídio.
Depressão pós-parto e psicose puerperal são quadros muito diferentes.
Felizmente, os casos de psicose são raros. A prevalência é de um caso para
cada cem mil nascimentos.
O início da psicose puerperal é precoce. Durante a primeira semana
depois do parto, a mulher perde o contato com a realidade e começa a
acreditar em coisas que não existem, a ouvir vozes, a ter a sensação de
incorporações com entidades, delírios e crenças irracionais.
Às vezes, imagina possuir superpoderes e pode lesar a criança não
intencionalmente, mas porque acha que pode voar e atira-se pela janela com o
bebê no colo. Essa doença muito grave é bem diferente da depressão que
começa várias semanas depois do parto e evolui gradativamente.
O ato de amamentar é importante para a mãe e para a criança não só
no sentido nutricional ou de transmitir anticorpos, mas também para fortalecer a
ligação mãe-filho. O aleitamento materno deve ser estimulado, porque é bom
para a mulher e para a criança e, eu diria, porque também é um fator de
proteção social.
Agora, ao menos pelo que pôde ser detectado nas pesquisas até
agora, amamentar não traz nenhum acréscimo na proteção contra os quadros
depressivos depois do parto.
Felizmente, os casos de agressão intencional ao filho são bem pouco
frequentes. O crime de infanticídio, previsto no Código Penal, ocorre em 4%

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das psicoses puerperais. A ligação mãe-filho é tão intensa que mesmo a
mulher psicótica, sem contato com a realidade, em raríssimos casos mata a
criança intencionalmente.
Isso não significa que a depressão materna não possa prejudicar a
criança. Mulher deprimida cuida menos de si própria e, por tabela, cuida menos
do bebê, estimula-o emocionalmente menos e tem menos interesse em
amamentá-lo ou em brincar com ele.
Por isso, essas crianças acabam tendo um desenvolvimento
neuropsicomotor mais lento, começam a falar e a andar mais tarde, o que não
quer dizer que esse retardo no crescimento não possa ser compensado depois.
Às vezes, o desinteresse por tudo que a cerca chega a tal ponto, que
ela deixa de dar as vacinas, mas a agressão ativa ocorre mais raramente,
mesmo nos casos de psicose puerperal.
Não há como evitar o primeiro episódio de depressão pós-parto.
Podem desenvolver a doença mesmo mulheres sem antecedentes de
depressão, que queriam engravidar e tiveram uma gestação sem complicações
obstétricas e parto tranquilo.
No entanto, é preciso ficar de olho naquelas que já manifestaram
quadros depressivos anteriormente, no pós-parto, fora dele ou durante a
gravidez, porque a possibilidade de repetir o episódio existe, é grande, e
quanto antes o tratamento for instituído, melhor.
Na prática clínica, já tive a oportunidade de acompanhar a gestação e o
pós-parto de pacientes, mantendo contato primeiro com o obstetra e depois
com o pediatra (às vezes, ele atende mais a mãe do que o bebê), para não
deixar escapar nenhum indício do problema. Na verdade, a melhor forma de
prevenir a doença é a intervenção precoce.

7. A Psicoembriologia Aplicada ao Bebê

Na Psicoembriologia aplicada ao bebê, o olhar freudiano, assim como


os importantes trabalhos de Dolto, Winnicott, Klein e outros renomados
psicanalistas contemporâneos, tal qual o estudioso da psicoembriologia no
brasil Wilson Ribeiro, além de inúmeras pesquisas que atestam as

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competências do bebê, somos levados a pensar numa especificidade ainda
mais peculiar para esta clínica, a qual traz em sua essência uma vocação para
suscitar questões através da observação e escuta analítica dos bebês.
A intervenção precoce requer desdobramentos que operam desde o
primeiro tempo na constituição do psiquismo até o princípio da sintonização
egoíca.
Um bebê exibe competências e uma temporária e providencial
plasticidade neuronal, sabidamente permeável ao significante do desejo do
outro. Jerusalinsky (2010) postula que esse tempo do bebê é caracterizado,
principalmente, para além da plasticidade do sistema neurogenético, pela
plasticidade das representações linguísticas que o caracteriza.
Nesse primeiro tempo, cabe à mãe ou cuidador instituir o campo do
Outro, condição para o advento do sujeito.
Por outro lado, o lugar do psicanalista que, especialmente nesta clínica,
é convocado a ocupar, na transferência, o lugar do Outro do bebê, dar sua
contribuição libidinal enquanto semblante do objeto a visando promover
mudanças na subjetividade dos pais até que se lhes restitua o lugar de
legítimos outros do bebê.
Segundo Vorcaro (2004, p.136) "A operação clínica que supomos
capaz de resgatar a realidade psíquica da criança é orientada pela hipótese de
que as manifestações da criança são atos de escrita do texto que cifra a leitura
de sua relação com a alteridade".
Toda criança, muito antes de nascer, já está inserida em uma ordem
simbólica que pré-existe a ela; entretanto, será pela via de uma colagem
identificatória que ela irá semblantear a realização de um ideal parental; e é por
isso que o menino brinca de carrinho - "agora eu era o papai", e ela brinca de
casinha, brinca de bonecas, enquanto o "papai" estrategicamente sai para
"trabalhar" - "Agora eu era a mamãe". Assim eles ensaiam e sonham um futuro
já há muito tramado, tecido, imaginarizado e, portanto, subjetivamente, o seu
relógio está adiantado.
A direção do tratamento de uma criança deve levar em conta a
"posição temporal do inconsciente, onde o infantil se caracteriza, precisamente,
pelo adiantamento do relógio brando da infância" (Jerusalinsky, 1990, p.14).

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Entretanto, o infans, sujeitinho suposto, embora imerso no universo
simbólico, ainda não acedeu à linguagem, e, portanto, ainda não pode
conjugar-se; esse é o tempo da aposta do outro que, antecipando-o enquanto
sujeito, cuidando e desejando coisas por ele, vai imprimindo em seu psiquismo
as marcas que se inscreverão na memória como letra, "como traços que, a
posteriori, serão tomados numa posição particular por uma injunção
significante".
É bem verdade, diz Jerusalinsky (1991, p.21), "que, a certa altura da
exposição de um pequeno bebê à obra do Outro, em razão de sua intromissão
significante e de seu trabalho arbitrário de significação esse aparece capturado
por esse agir do significante sobre os traços que formam restos mnêmicos...
que são tomados associativamente, numa certa posição de significação
edípica".
Pois bem, os psicanalistas aprenderam com Freud que há um saber
inconsciente que circula entre a mãe e o seu bebê, saber este que o desejo se
incumbe de colocar em movimento. Desde o ponto de vista lógico, a mãe é
engendrada pelo bebê, uma vez que esta só se torna mãe a partir de um filho
e, desde a lógica do inconsciente, a partir do lugar que ela, enquanto filha,
ocupou no desejo de seus pais. A maternidade sofre as vicissitudes de um
tempo lógico em que, para conjugar-se e apropriar-se do "agora eu sou uma
mãe", não basta ter um filho, é preciso que antes tenha havido uma inscrição
marcada pelo desejo do outro. Ocorre-me a sofrida constatação de uma jovem
mãe com o seu filho de três meses nos braços: "eu não me sinto mãe, eu não
sei o que fazer com ele, parece que dependo de autorização para ser mãe".
A maternidade é um momento oportuno para reativar os traços
mnêmicos inconscientes da maternagem recebida e possibilitar o exercício de
sua função (Cabussu, 2003). Uma mãe bem posicionada na estrutura simbólica
irá supor que o seu filho é um sujeitinho bem sabido, capaz inclusive de
ensinar-lhe coisas, daí a razão para as mães conversarem com o seu bebê e
considerarem o que ele tem a dizer, mesmo que para isso tenham que falar em
seu nome. E as mamães logo descobrem a paixão desse bebê por uma fala
meio insólita, embalada por uma voz encantada e exagerada, signo de um
gozo inconfundível. Parece que mãe e filho desconfiam que haja um importante

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desafio a se fazer cumprir: inserir e ser inserido no universo da linguagem. O
trabalho arbitrário de codificação que o outro se incumbe de realizar se observa
na escuta de pais, mais precisamente a mãe, que fala manhês com o seu bebê
- ávido de linguagem e aparatado para se comunicar- e, cuja palavra,
raramente oferecida numa posição a dar lugar a um sentido unívoco. A
complexidade desta interlocução deriva do fato de a mãe antecipar e atribuir ao
seu bebê uma posição subjetiva tal, como se este, de fato, pudesse sustentá-
la.
Essa loucura necessária às mães, como dizia Winnicott (1979), suporta
um excesso de sentido que sustenta precocemente o pequeno sujeito, e o
introduz no universo simbólico, salvando-o de uma identificação ao próprio
corpo. Esse excesso de sentido bem que poderia ser traduzido pelo sem-
sentido do manhês e da lalíngua, como postula Ferreira (2010, p.67): "Se
podemos falar do sem-sentido do manhês, tanto quanto do sem-sentido da
lalíngua, é somente na proporção em que, não sendo possível vislumbrar um
significado em grande parte das alocuções maternas, seja um sentido
acessível (consciente) à mãe, à criança (pela sua condição de infans) ou ao
observador, é justamente porque há gozo".
Enquanto ser de linguagem, o ser humano se inscreve como sujeito
desejante a partir do Outro que dará sentido ao seu apelo, identificando-o
como demanda. Esta é a saída e, paradoxalmente, também a armadilha com a
qual o pequeno terá que haver-se, onde poderemos situar um indicador clínico
de risco, e que poderá ser a razão do sofrimento do bebê: o sentido vem do
Outro e em conformidade com seu desejo e sua lei, e o sentido pode faltar. Isto
ocorrendo, se o saber do Outro vacila, obstáculos se interpõem no devir do
sujeito e a promessa tácita entre mãe e filho pode não se cumprir, seja pelas
dificuldades intrínsecas à história desta mãe, seja por uma dificuldade do bebê
cujo aparato orgânico não esteja em condições de interagir (Kupfer, 2000) e se
deixar marcar pelo desejo do outro, ou pela sensibilidade daquele bebê que
não se deixa enganar pelo que o carinho materno visa ocultar; diante dessas
circunstâncias, podemos nos defrontar com uma mãe impotente, destituída e
desautorizada e um bebê em sofrimento psíquico, que apela pelo viés de um

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sintoma no corpo, do qual ele não poderá fazer cargo. A partir daí, os pais nos
procuram supondo um saber que, em princípio, estaria do lado deles.
Após ouvir da mãe de um lindo bebê de cinco meses que apresentava
transtornos do sono: "eu quase não trazia ele, pensando que não precisava".
Ocorreu à analista dirigir-se ao bebê e dizer: - "que espertinho, você, tão
pequenininho e já trazendo papai e mamãe para conversar comigo!". Esta é
uma particularidade da clínica de bebês, na transferência com os pais, as
intervenções analíticas visam o laço pais-bebê, e para que esta se alavanque e
se possam extrair as consequências disto, o bebê deve ser incluído na série e
antecipado como um sujeito suposto saber do que lhe causa. Daí o analista
também ocupar, na transferência, o lugar do bebê, ora falando por ele,
"semblanteando" o transitivismo materno, ora dirigindose a ele, fazendo deste
um interlocutor - agora desde um lugar terceiro. Será por esse viés que as
intervenções poderão alcançar sua eficácia junto aos pais e promover uma
mudança na posição subjetiva destes; subjetividade que se refletirá na
interação pais-bebê. Tal intervenção, se por um lado visa o bebê,
reconhecendo no seu sofrimento uma forma de dizer que algo não vai bem
entre eles, por outro, visa o Outro do bebê, abrindo uma brecha que possibilite
a modalização da demanda de atendimento - é verdade, diz a mãe, com um
meio-sorriso, "acho que somos nós que estamos precisando". Observamos que
assim os pais têm uma boa oportunidade para começarem a falar de sua
história. Escutar os pais, o que eles demandam; situar o lugar do filho no seu
narcisismo e no seu discurso, como o fazia Dolto (1984), bem como a
representação desse filho no imaginário materno, possibilitará uma leitura que
desvele a função do filho e do sintoma no filho. A escuta da demanda visa sua
elaboração e modalização, possibilitando uma implicação dos pais nas
produções sintomáticas do filho. Logo nas primeiras entrevistas o bebê já havia
recuperado o sono perdido, no entanto, a mãe concordou em ser encaminhada
a outro analista.
Comungamos com a opinião de Jerusalinsky (2002) quando a analista
se refere à necessidade de se diferenciar o "mal estar dos pais" daquilo que
constituiria um impasse à estruturação subjetiva do bebê. Atender um bebê em
tais circunstâncias seria condená-lo a encarnar o sintoma em seu corpo, e

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obstruir a fala parental que, caso fosse escutada, poderia, pelo seu
desdobramento, deslocar o foco de queixa do bebê. Saber olhar o bebê,
segundo Coriat (1997) implica o reconhecimento das marcas do Outro no seu
corpo, ler esta escrita e intervir considerando os protagonistas dessas marcas.
Marcas que Laznik (1999) propõe sejam lidas através dos sinais pulsionais do
bebê.
Contudo, prossegue Jerusalinsky (2002), uma vez observado um
sintoma clínico, este deve ser lido considerando o circuito demanda-desejo no
qual o bebê está implicado, ou seja, devemos observar como a imagem de seu
corpo está se constituindo e as inscrições simbólicas que a fantasia materna
vai imprimindo nele.
A clínica psicanalítica de bebês, na medida em que estes não "falam",
comporta uma singularidade - não se pode escutá-los do mesmo modo como
se escuta uma criança que já encena em seu brincar a apropriação dos
significantes do Outro. Trata-se, pois, de escutar o Outro do bebê e o bebê do
Outro, para que possam ser lidas as letras desse Outro cunhadas no seu
corpo.
Por isso é preciso entender que seu corpo fala, seus gestos falam, seu
choro fala, seu modo de olhar a mãe conta muita coisa ao psicoembriólogo.
Jerusalinsky (1988) estabelece uma correlação entre o brincar da
criança enquanto suporte de um dizer e o sintoma psicossomático do bebê
enquanto suporte de um traço significante do Outro; segundo o autor, "Uma
criança suporta em seu brincar o dizer do que ainda não pode falar. Assim
como o bebê suporta, na psicossomática e em uma implicação corporal, o traço
significante que o captura no dizer do Outro para além de sua insuficiência
verbal" (p. 49).
Um breve exemplo de indicação de atendimento ao bebê e seus pais
no qual pudemos constatar os efeitos decorrentes de um processo de
constituição subjetiva em risco e que se refletiam no desenvolvimento, na
dificuldade de aquisição da fala de um menino de dois anos de idade.
Manuelito é trazido pela mãe que, ao marcar a consulta por telefone, relata o
diagnóstico de autismo dado pela psiquiatra devido às "dificuldades de
linguagem" (ele praticamente não verbalizava, sua tentativa de comunicação

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resultava enigmática, emitia estranhos e incompreensíveis sons guturais,
gritava muito e jogava os objetos da casa pela janela).
Inicialmente eles são recebidos sem a presença do pai que não pode
vir devido ao trabalho. Manuelito tem um olhar incrivelmente brilhante,
perscrutador, e me devolve um sorrisinho matreiro e cativante, um elemento a
mais que encoraja e leva a analista a ignorar o diagnóstico inicial e apostar
num prognóstico mais favorável. Segundo a mãe, o pai é muito calado, e acha
que seu filho se parece com ele, não tem problemas e que é normal, nessa
idade, uma criança fazer birras e ainda não falar muito, no que, em parte, ele
tem razão. Tomo essa posição do pai como algo positivo, já que reserva ao
filho um lugar na filiação e uma possibilidade outra que a repetição de uma
história, porém, há nuances importantes que ultrapassam o fato de ele ainda
não falar, como veremos em seguida.
Recebo mãe e filho durante vários encontros em que esta fala de um
episódio de depressão durante a gravidez e consequente hospitalização após a
morte da mãe; relata sua história de sofrimento e abandono diante das
dificuldades que enfrenta com os dois filhos (o primeiro, de oito anos, também
diagnosticado autista). No imaginário da mãe, a história parece repetir-se, é
mister que se empreenda com ela a separação simbólica entre os dois filhos,
cujo desejo, necessidades, dificuldades e possibilidades são diferentes. O
trabalho analítico começará por essa linha, até que a mãe conceba a
possibilidade de um destino diferente para cada um e possa ofertar a esse filho
outra representação com a qual ele possa vir a se identificar.
A representação de um filho no imaginário materno cultivada durante a
gestação é um assunto que ocupa o interesse da analista há algum tempo
Barbosa (2007). Nesse caso, não constatamos uma ausência de
representação, o que certamente seria mais grave, mas uma representação,
provavelmente potencializada pelo estado depressivo da mãe, e que o
diagnóstico psiquiátrico veio confirmar: "vou ter mais um filho com problemas,
vou prosseguir com a minha via-sacra de médico em médico". É importante
ressaltar que esta mãe cuida bem de seus filhos, estão sempre limpinhos e
bem alimentados. O que defendemos, e esta mãe vem ilustrar às avessas, é
que uma representação que uma mãe tenha do seu bebê concorre para o

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investimento narcísico e o bom andamento do exercício de sua função, a qual
ultrapassa os cuidados e preocupações maternos.
Durante as entrevistas, Manuelito entra tranquilo e sorridente indo
direto aos brinquedos. Espalha-os, porém estes não são utilizados na extensão
de suas possibilidades simbólicas, são manipulados e arremessados com
violência em várias direções, enquanto grita, ininterruptamente, com todas as
suas forças; a mãe não o socorre e parece estar diante de uma cena rotineira e
trivial; esta cena lhe reporta sua dificuldade de brincar com o filho, já que ela
"não brincou quando criança", e a dificuldade de saber o que ele quer, já que
ele verbaliza muito pouco e de forma bastante truncada; diante desses
obstáculos, ela não se autoriza a aventurar-se pelo viés do seu desejo, não
codifica seus gestos e não lhe ocorre perguntar ao filho o que ele quer, embora
saiba que ele quer alguma coisa. É interessante notar que, embora haja uma
suposição de sujeito, não há uma suposição de saber nele, provavelmente
devido à representação que ela tem dele - um outro filho autista - como
também pelo fato de se sentir fracassada enquanto mãe, de não supor em si
um saber sobre o filho. A atitude materna frente à demanda do filho, a falha da
função observada na dificuldade de lançar mão de seu repertório particular
para significar a demanda do filho e de fazer dele seu interlocutor (Barbosa,
2009), a angústia e a falta de recursos para elaborá-la, evidenciados na
pobreza simbólica do seu brincar, denunciam um sintoma clínico; é preciso
intervir, emprestar-se como o Outro do bebê.
Certa vez Manuelito foi atendido na sala de espera: ao chegar a sua
vez, observo certa lentidão nos seus passinhos, algo que contrastava com as
vezes em que ele adentrava correndo, assim que a porta se abria - "o que esse
passinho quer dizer, Manuelito?" Ele sorri e busca os brinquedos da sala de
espera. O efeito desta leitura pode ser observado algumas sessões seguintes:
Manuelito começou a arrastar seu pézinho quando anunciei o final da sessão:
"veja doutora", diz a mãe: "ele não quer ir embora, agora você quer ficar, é? É,
danadinho?" - ele abraça a mãe e diz - "é". Acolher a demanda de Manuelito,
dilatando o tempo da sessão, foi também uma maneira de endossar a
interpretação materna e legitimar-lhe o lugar de Outro do bebê.

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Um pequeno recorte clínico de sessões ocorridas após um ano de
atendimento: Manuelito "batuca" com suas mãozinhas no divã extraindo um
som que o surpreende e convoca o olhar da analista, o que o leva a repetir sua
façanha. O ritmo de sua batida evoca uma conhecida música espanhola e a
analista começa a cantarolar; o curioso é que a analista não sabe a letra, mas
a música, esse novo sentido, o empolga, ele dança, grita e o grito, antes
estranho, agora parece familiar, já que, mesmo sem palavras, passamos a
compartilhar o mesmo código, elemento essencial para o gancho
transferencial. A partir de então, as sessões começarão com o grande concerto
do pequeno percussionista que, por um bom período, não dispensará o olhar e
a voz da cantora improvisada, objetos a da analista que se deixa fisgar, e que
se ofertam como legitimadores de uma produção significante, na qual ele
poderá se fazer representar "agora eu era o a(r)tista". Em seguida, Manuelito
se interessará por uma parte do corpo da analista: com uma panelinha pega
pelo cabo como se fosse a extensão de sua mão, Manuelito a faz deslizar pelo
rosto da analista que lhe diz: humm ...que mãozinha gostosa e carinhosa você
tem! Algumas sessões mais tarde, ele envolverá o rosto da analista com suas
próprias mãozinhas e por um longo tempo empreenderá essa pesquisa que lhe
parece fascinante e lhe devolve um semblante de satisfação quando percebe
que a analista-espelho vai nomeando as expressões de seu rosto.
À medida que ele vai reconstituindo sua imagem, ele vai podendo
retornar, desde outra posição, aos pequenos objetos a próprios da infância e
suportes materiais que lhe possibilitam a expressão da fantasia; os talheres e
as panelinhas cobram seu status de utensílios e ele fará deliciosas comidinhas,
alimentará a analista, alimentará a mãe e se deixará alimentar por ela. Se nos
conduzimos pelos ensinamentos de Lacan (1998, p. 822) quando ele diz que "a
fala só começa com a passagem do fingimento à ordem do significante",
podemos pensar que Manuelito está trilhando o caminho certo, contudo, ainda
incerto, de sua constituição subjetiva. Embora ainda apresente dificuldades na
fala, ele entende os enunciados e já constrói pequenas frases como "me dá
água", ao invés de "agu", " quero não", ou "quero", ao invés da simples menção
com a cabeça; o nome da analista foi incluído na série e a mãe relata que vir
para o consultório é uma atividade prazerosa para ele; os gritos na sessão

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foram substituídos pelo que hoje parece ser sua expressão preferida, o "não",
às vezes seguido de um sorriso zombeteiro, o que denota uma mudança de
posição do sujeito na linguagem, instituída pelo corte, pela separação entre o
sujeito e o outro.
O manejo da transferência com a criança pequena, mesmo que ainda
não verbalize muito, requer do analista uma estratégia que a inclua, de fato, no
discurso. Desde o início, sempre que a analista precisou contatar os pais pelo
telefone, Manuelito era chamado e lhe era explicado o motivo. Assim, ele ficava
sabendo quando a analista poderia atendê-lo ou não, ou quando a analista
constatava sua ausência na sessão anterior. Os pais, do outro lado da linha,
diziam que ele parecia entender tudo, principalmente quando ele esboçava seu
risinho maroto, muito embora dissessem não entender a razão da atitude da
analista; nessa estratégia, o manejo da transferência visa o laço pais-bebê,
outorgar a ele um lugar privilegiado de sujeito visa efeitos na sua subjetividade
e na dos pais.
A demanda e a transferência revelam, nessa extensão, a
especificidade desta clínica em seu aparente paradoxo: o suposto sujeitinho,
nos primórdios de sua constituição, está necessariamente alienado ao outro,
daí ele ainda não poder arcar com simbolização, das letras impressas nele, ao
mesmo tempo em que o constituem; se, por um lado, a intervenção analítica
considera a posição temporal do inconsciente na infância, que é diferente da
do adulto, em se tratando da clínica de bebês, deve-se considerar a
especificidade de um tempo em que o sujeito do inconsciente ainda não se
inscreveu - trata-se do tempo da inscrição da letra. Nesse tempo privilegiado
das primeiras coordenadas da estruturação psíquica, estamos prestes a
testemunhar e intervir num tempo primordial em que as experiências precoces
marcam e fundam o psiquismo o que coloca em relevo uma ética que só se
sustenta, na transferência, pela confluência de desejos díspares - o desejo
inédito do analista, e desejo do outro, posto que sua função é desejar.

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