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CRIMES CONTRA A VIDA

Prof. Diego Pureza


Homicídio simples:
“Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos”.

Bem jurídico tutelado (objeto jurídico): vida humana.


B – Homicídio privilegiado
(§1º - caso de diminuição de pena):
“§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo
de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de
um sexto a um terço”.
C – Homicídio qualificado (§2º):

O §2º do art. 121 descreve qualificadoras, sendo que umas


estão ligadas aos motivos determinantes do crime,
indicativos de depravação espiritual do agente (incisos I, II,
V, VI e VII – circunstâncias subjetivas), e outras com o modo
perverso que acompanham o ato ou fato em prática
(incisos III e IV – circunstâncias objetivas).
I – Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por
outro motivo torpe:
Motivo torpe= ignóbil, vil, repugnante, abjeto.
# - A qualificadora em estudo se comunica ao mandante? É
circunstância simples ou elementar do crime?
1ª C: Não necessariamente se comunica ao mandante. Ex:
pai que manda matar traficante da região que estuprou
sua filha de 15 anos – pai responderá por homicídio
simples, com a diminuição de pena relativa ao motivo de
relevante valor moral; já o executor pela modalidade
qualificada em estudo (Rogério Greco);
2ª C: Entende que é elementar do crime e, portanto, se
comunica ao mandante (Tribunais Superiores).
# - A vingança é motivo torpe?

R: Depende. A constatação de vingança, por si só, não tem


o condão de aplicar a qualificadora em estudo,
necessitando de análise das peculiaridades do caso
concreto (STJ e STF).
II – Por motivo fútil:
III – Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou
outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
perigo comum:
IV – À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação
ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a
defesa do ofendido:
V – Para assegurar a execução, ocultação, a impunidade
ou vantagem de outro crime:
VI – Feminicídio:
A Lei 13.104/15 incluiu o feminicídio como qualificadora
do homicídio, entendido como a morte de mulher em
razão da condição do sexo feminino (violência de gênero).

O §2º-A foi acrescentado para informar quando a morte


da mulher deve ser considerada em razão da condição do
sexo feminino: “I – violência doméstica e familiar; II –
menosprezo ou discriminação à condição de mulher”.
VII – Contra autoridade ou agente de segurança pública
(homicídio funcional):
A Lei nº 13.142/15 acrescentou o inciso VII ao §2º do art.
121 com a seguinte redação:
“VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos”.
(a) Art. 142 da CF/88: abrange as Forças Armadas,
constituídas pela Marinha, Exército e pela Aeronáutica;
(b) Art. 144 da CF/88: disciplina os órgãos de segurança
pública: polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia
ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos
de bombeiros militardes; # - e os guardas municipais?

(c) Integrantes do sistema prisional: abrangidos, além dos


agentes presentes no dia a dia da execução penal (diretor
da penitenciária, agentes penitenciários, guardas, etc.), mas
também aqueles que atuam em certas etapas da execução
penal.
(d) Integrantes da Força Nacional de Segurança Pública: o
Departamento da Força Nacional de Segurança Pública
(FNSP) é, em resumo, um agrupamento de polícia da União,
composta pelos quadros mais destacados das polícias de
cada Estado e da Polícia Federal, que assume o papel de
polícia militar em distúrbios sociais ou em situações
excepcionais nos estados brasileiros, sempre que a ordem
pública é posta em situação concreta de risco.
(e) Contra cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até o 3º grau de algum dos agentes acima
mencionados.

Obs: para estes personagens, é indispensável que o crime


tenha sido praticado em razão da ligação familiar com o
agente de segurança pública (ex: morte de senhora pelo
simples fato de ser mãe de policial militar).
D – Homicídio culposo (§3º):
“§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos”.
E – Causas de aumento de pena:
§4º, primeira parte – homicídio culposo majorado (1/3):

(a) Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou


ofício: nesta hipótese, diferentemente da imperícia
(modalidade de culpa), o agente tem aptidão técnica para
desempenhar o seu trabalho, porém acaba por causar a
morte de alguém em razão do seu descaso,
deliberadamente desatendendo aos conhecimentos
técnicos que possui. Ex: médico especialista em cirurgia
cardíaca que, por descuido, corta um nervo do paciente,
causando-lhe a morte;
(b) Omissão de socorro: se o agente, agindo com culpa,
deixa de prestar socorro à vítima, podendo fazê-lo e não
havendo qualquer risco pessoal a ele, responderá por
homicídio culposo com o presente aumento de pena.
(c) Não procurar diminuir as consequências do
comportamento: trata-se de expressão redundante, na
medida em que não deixa de ser uma forma de omitir
socorro;

(d) Foge para evitar a prisão em flagrante:


§4º, segunda parte – homicídio doloso majorado (1/3):

A pena será aumentada de 1/3 se o homicídio é praticado


contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
(sessenta) anos.
§6º - Milícia privada ou grupo de extermínio:
A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço
de segurança, ou por grupo de extermínio.

Grupo de extermínio: reunião de pessoas, matadores, “justiceiros”


(civis ou não) que atuam na ausência do poder público, cuja finalidade
é a matança generalizada, chacina de pessoas supostamente
etiquetadas como marginais ou perigosas;

Milícia armada: grupo de pessoas armado (civis ou não), tendo como


finalidade anunciada desenvolver a segurança retirada das
comunidades mais carentes, “restaurando a paz”.
§7º Feminicídio:

A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até


a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao
parto.
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de
60 (sessenta) anos ou com deficiência: o conceito de
pessoa portadora de deficiência física é trazida pelo art.
2º da Lei nº 13.146/15;
III - na presença de descendente ou de ascendente da
vítima:

# a “presença” deve ser necessariamente física ou pode


ser virtual?
F – Perdão judicial (§5º):
“§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá
deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
sanção penal se torne desnecessária”.
Art. 122 – INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A
SUICÍDIO.
“Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou
prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se
consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa
de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave”.
B – Majorantes de pena (parágrafo único):
A pena será duplicada:

I – se o crime é praticado por motivo egoístico: quando o


agente procura satisfazer interesses pessoais.

Ex: objetiva herança do suicida; busca ocupar o cargo do


suicida; etc.
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer
causa, a capacidade de resistência: sobre o menor,
prevalece o entendimento de que se trata de todo aquele
com idade inferior a dezoito anos, que não tenha
suprimida, por completo, a sua capacidade de resistência,
pois, do contrário, estaremos diante de homicídio; sobre a
vítima com capacidade de resistência diminuída, poderá
ser o ébrio, o enfermo, o senil, erc., pois, assim como a
hipótese anterior, se a vítima tiver sua capacidade de
resistência totalmente suprimida, estaremos diante de
homicídio.
Art. 123 – INFANTICÍDIO.
“Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o
próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.”.

Sujeitos do crime: sujeito ativo somente pode ser a mãe


parturiente sob influência do estado puerperal (crime
próprio), já o sujeito passivo deve ser o ser humano logo
após o parto, ou seja, o nascente ou recém-nascido (crime
próprio).
A morte pode ser causada de forma livre (ação ou
omissão).

A circunstância de tempo (durante ou logo após) deve ser


compreendida como todo o período em que perdurar o
estado puerperal.

Estado puerperal “é aquele que envolve a parturiente


durante a expulsão da criança do ventre materno. Neste
momento, há intensas alterações psíquicas e físicas, que
chegam a transformar a mãe, deixando-a sem plenas
condições de entender o que está fazendo, razão pela
qual se trata de situação de semi-imputabilidade”.
Obs: não basta a presença do estado puerperal, pois é
preciso que haja relação de causalidade entre tal estado
e o crime, pois nem sempre o estado puerperal produz
perturbações psíquicas na parturiente.
ARTS. 124 A 128 – ABORTO:

Conceito: trata-se da interrupção da gravidez com a


destruição do produto da concepção.

Bem jurídico tutelado (objeto material): a vida


intrauterina.

A doutrina classifica o aborto em (a) natural (interrupção


espontânea da gravidez, geralmente causados por
problemas de saúde – indiferente penal); (b) acidental
(quedas, traumatismos, etc., em regra, é atípico); (c)
criminoso (arts. 124 a 127 do CP); e, (d) legal ou permitido
(art. 128 do CP).
Art. 124 do CP: Aborto provocado pela gestante ou com
seu consentimento:

“Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que


outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos”.
Art. 125 do CP: Aborto provocado por terceiro, sem o
consentimento da gestante:
“Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da
gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos”.
Art. 126 do CP: Aborto provocado por terceiro, com o
consentimento da gestante:
“Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da
gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.”.
Não consentimento presumido: o parágrafo único do art.
126 desconsidera a vontade positiva da gestante quando
menor de 14 anos, “alienada ou débil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou
violência”. Nessa hipótese, o terceiro provocador
responderá pelo crime do art. 125, ficando a gestante
isenta de sanção penal por não ter responsabilidade.
Art. 127 do CP: Aborto majorado pelo resultado:
“Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores
são aumentadas de um terço, se, em consequência do
aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a
gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a
morte”.
Art. 128 do CP: Aborto legal – causas especiais de
exclusão da ilicitude.
“Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido
de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu
representante legal”.
I – Aborto necessário:
Para a presente modalidade, indispensável o
preenchimento de três requisitos:
(a) Aborto praticado por médico:
(b) Perigo de vida da gestante:

(c) Impossibilidade do uso de outro meio para salvar a


gestante:

Prevalece na doutrina que não é necessário o


consentimento da gestante para realizar o aborto
necessário.
II – Aborto sentimental:

Ao contrário da modalidade anterior que protege a


vida da gestante, nesta o motivo consiste na falta de
justificativa em impor à vítima de estupro, ofendida
em sua honra, uma maternidade que talvez lhe fosse
odiosa e sempre lhe trouxesse à memória o triste
acontecimento da violência sexual. Depende de três
requisitos:
(a) Que o aborto seja praticado por médico:

(b) Que a gravidez seja proveniente de estupro:


(c) Prévio consentimento da gestante ou seu
representante legal:

Preferencialmente formal (acompanhado de boletim de


ocorrência), inclusive com testemunhas. Não são
necessárias a sentença condenatória do crime de
estupro ou a autorização judicial.
# - e o aborto do feto anencefálico?
Feto anencefálico: embrião, feto ou recém-nascido que, por
malformação congênita, não possui a parte do sistema nervoso
central, faltando-lhe os hemisférios cerebrais e possui apenas parcela
do tronco encefálico.

STF se manifestou de forma a permitir o aborto e tal caso, seguido por


diretrizes estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina.
Atualmente, no caso de diagnóstico de anencefalia, o laudo terá que
ser assinado, obrigatoriamente, por dois médicos. A gestante será
informada do resultado e poderá optar livremente por fazer o aborto
ou manter a gravidez e, ainda, se gostaria de ouvir a opinião de uma
junta médica ou de outro profissional. O aborto poderá ser realizado
em hospital privado ou público e em clínicas, desde que haja
estrutura adequada.

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