Você está na página 1de 7

Neto Batistetti

Direito
Penal

Parte Especial
Penal - Parte Especial 1
Neto Batistetti

CRIMES CONTRA A VIDA .......................................................................................................................... 3


1. Homicídio ..................................................................................................................................................... 3
1.1. Homicídio Simples ................................................................................................................................................................ 4
1.2. Homicídio Privilegiado ......................................................................................................................................................... 4
1.3. Homicídio Qualificado .......................................................................................................................................................... 5
(CS)
1.3.1. Feminicídio ............................................................................................................................................................. 6

2. Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Suicídio ............................................................................................... 7


3. Infanticídio.................................................................................................................................................... 7

Penal - Parte Especial 2


Neto Batistetti

CRIMES CONTRA A VIDA

Primeiramente, deve-se lembrar que a competência para os crimes dolosos contra a vida é do
Tribunal do Júri (competência constitucional).

1. Homicídio

Código Penal
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguem:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo futil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossivel a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo
até terceiro grau, em razão dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
o
§ 2 -A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
o
§ 4 No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar
prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se
torne desnecessária.
o
§ 6 A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada,
sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
o
§ 7 A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.

A proteção é da vida extrauterina. A vida intrauterina é protegida pelos crimes de aborto.


Menciona-se que o homicídio poderá ser praticado por ação ou por omissão (comissivo por
omissão).
Penal - Parte Especial 3
Neto Batistetti

1.1. Homicídio Simples

Homicídio simples: a doutrina não o conceitua (conceitua apenas homicídio). Assim sendo, o
homicídio simples será aquele não qualificado (§2º). Ainda, há figura do homicídio privilegiado (§1º).
Características:
a) somente será considerado hediondo se for praticado em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que por uma só pessoa.
b) causa de aumento de pena - 1/3 a 1/2 (§6º): milícia privada ou grupo de extermínio. Uma vez
presente a característica do grupo de extermínio, não só atribui a qualidade hedionda do crime, como
também, gera a causa de aumento de pena. Milícia privada acarretará tanto o aumento de pena para o
simples, como para o qualificado.
Obs.: milícia privada não torna o crime hediondo (falta de previsão na respectiva legislação).

Sujeitos: a) ativo: qualquer pessoa; b) passivo: qualquer pessoa; Obs.: mulher quando se tratar
de feminicídio.

Consumação: ocorre com a morte (crime material - exige um resultado naturalístico). Outrossim,
trata-se de crime de dano (lesão a bem jurídico tutelado - vida). Por fim, admite tentativa (art. 14, II,
CP: "Diz-se o crime: II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias
à vontade do agente.").

1.2. Homicídio Privilegiado

Homicídio privilegiado (§1º).


Causa de diminuição de pena (1/6 a 1/3).
Hipóteses:
a) relevante valor moral (valor pessoal, de certa aceitação social);
Obs.: a eutanásia pode ser citada como exemplo de homicídio privilegiado, uma vez que o autor do crime
age para abreviar o sofrimento da vítima. Consta, inclusive, na exposição de motivos do Código Penal.

b) relevante valor social (ex: matar um traidor da pátria);

c) o agente estiver sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima. Obs.: em sendo injusta a agressão, o fato será lícito pela presença de causa excludente de
ilicitude - legítima defesa.
Obs.: em sendo de relevante valor moral, o crime será privilegiado. A contrário sensu, em sendo por
motivação imoral, o crime será qualificado.
Obs.: a injusta provocação exige uma imediaticidade na conduta, devendo-se entender como tal, o
período em que o agente se encontra sob o efeito desta emoção.
O homicídio poderá ser, ao mesmo tempo, privilegiado e qualificado (figura híbrida). Todavia,
somente se faz possível se a qualificadora for de ordem objetiva (meio e modo de execução). Isso
ocorre vez que o privilégio é subjetivo.
O homicídio qualificado-privilegiado não é considerado crime hediondo (posição da doutrina e
da jurisprudência). Argumento jurídico: art. 67, CP 1 - na concorrência entre circunstâncias subjetivas e

1
CP. Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas
circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do
crime, da personalidade do agente e da reincidência.
Penal - Parte Especial 4
Neto Batistetti
objetivas, deve preponderar as determinantes do crime (o que determina o crime são as circunstâncias
subjetivas).

1.3. Homicídio Qualificado

Homicídio qualificado (§2º).


Classificação: a) motivo; b) meio; c) modo; d) conexão;
Ainda, se dividem em ordem objetiva e ordem subjetiva.
I - motivo torpe. Paga ou promessa é motivo torpe. Outros motivos abjetos, repugnantes, vis,
etc. A qualificadora da paga ou promessa de recompensa é reconhecida como de concurso necessário,
vez que haverá a figura de um mandante e de um executor. Em tal hipótese, o executor irá responder
pela qualificadora da paga ou promessa, já o mandante responderá pela qualificadora do motivo
torpe. Ainda, mesmo que não haja o pagamento, subsiste a qualificadora.
Obs.: o STJ entende que o mandante não responde automaticamente pela forma qualificada,
podendo responder por sua motivação. O mandante poderá estar motivado por motivo não torpe. Ex:
mandante que ordena, ao executor, a morte do estuprador de sua filha. Observe que o mandante
responderá por homicídio privilegiado.
Motivo torpe e feminicídio: inexistência de bis in idem. (DD)
Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de
feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e
familiar. Isso se dá porque o feminicídio é uma qualificadora de ordem objetiva - vai incidir sempre
que o crime estiver atrelado à violência doméstica e familiar propriamente dita -, enquanto que a torpeza é
de cunho subjetivo, ou seja, continuará adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo a
praticar o delito (STJ, 6ª Turma, HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info
625)).

II - motivo fútil: motivo desproporcional, insignificante. Ausência de motivo não é motivo,


assim sendo, esta não caracteriza motivo fútil. Menciona-se que o motivo fútil é incompatível com o
motivo torpe.

III - emprego de veneno. Crime de venefício (emprego de veneno para morte da vítima).
Necessário o desconhecimento da vítima quanto ao envenenamento (a vítima é levada a meio
insidioso - oculto). Se a vítima sabe que está sendo envenenada e o agente força a vítima, deixa de ser
qualificado pelo emprego de veneno, podendo caracterizar, meio cruel.
Obs.: se a vítima tiver conhecimento e consentir, afasta-se a qualificadora.

IV - vulnerabilidade da vítima - emprego de recurso que dificulte ou impeça a defesa da vítima.


O agente deve empregar o meio que dificulte ou impeça a reação da vítima. Assim, o fato da vítima ser
cadeirante, por si só, não torna o crime qualificado pela impossibilidade de defesa.

V - qualificadora de conexão - liga um crime a um homicídio. Poderá ocorrer por:


a) conexão teleológica: garantia da execução de outro crime, ou;
b) conexão consequencial: garantia da impunidade (fato), ocultação (identificação do autor) ou
vantagem (proveito) de outro crime.
Obs.: a qualificadora por conexão subsistirá ainda que o outro crime não chegue a ser praticado.
Obs.: em se tratando de contravenção penal não haverá a incidência da qualificadora por conexão,
mas sim a qualificadora por torpeza.

Penal - Parte Especial 5


Neto Batistetti
VI - feminicídio. (tema tratado em tópico autônomo).

VII - contra autoridade (gênero). Autoridade; agentes descritos nos arts. 142 e 144, CF;
integrantes do sistema prisional; força nacional de segurança. Ainda, o cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau. Deve-se mencionar que se faz necessária a vinculação entre
a ação e a particularidade da vítima (ou seja, a morte ocorre em razão de ser autoridade).

Ainda, deve-se mencionar que a premeditação, em que pese, em muitos casos revelar maldade de
espírito, não se trata de qualificadora do homicídio.

1.3.1. Feminicídio (CS)

O feminicídio é qualificadora do homicídio, se traduzindo no homicídio doloso praticado contra a


mulher por "razões do sexo feminino", ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a
dignidade da vítima enquanto mulher.
Diferença de feminicídio e femicídio. Femicídio é o homicídio da mulher. Feminicídio é a
morte da mulher em determinadas circunstâncias, quais sejam: condição de ser do sexo feminino,
no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou ainda, por menosprezo ou discriminação à
condição de mulher.
Obs.: antes da Lei nº 13.104/2015, não havia nenhuma punição especial pelo fato de o homicídio ser
praticado contra a mulher em razão de sua condição de sexo feminino (o autor cometia homicídio
simples - art. 121, caput, CP). A depender do caso concreto, o feminicídio, àquela época (mesmo sem
esta nomenclatura), poderia ser enquadrado como homicídio qualificado por motivo torpe, por motivo
fútil, ou ainda, em virtude de dificuldade para defesa da vítima.

Sujeito Ativo: qualquer pessoa (crime comum). Obs.: normalmente é praticado por um homem,
todavia, nada impede o seu cometimento por uma mulher. Mulher poderá ser autora de feminicídio, p.
ex., quando matar sua companheira e o crime tiver sido praticado por razões da condição do sexo
feminino.
Sujeito Passivo: pessoa do sexo feminino, não importando a idade (criança, adulta, idosa, etc.).
Assim sendo, perceba que o homem que mata seu companheiro (relação homoafetiva) não responderá
por feminicídio, pois o homem não pode ser sujeito passivo de tal delito.

Natureza Jurídica da Qualificadora: a qualificadora do feminicídio é de ordem subjetiva, ou seja,


está relacionada com a esfera interna do agente ("razões de condição do sexo feminino"). Por
conseguinte, em caso de concurso de pessoas, a qualificadora não se comunicara aos demais
coautores ou partícipes, salvo se também estiverem com a mesma motivação.
Outrossim, em se tratando de qualificadora subjetiva não há possibilidade de aplicação do
privilégio (art. 121, §1º, CP).

Hipóteses de Aumento de Pena: o §7º traz causas de aumento de pena (1/3 a 1/2), se a mulher
for: a) gestante ou até 3 meses após o parto; b) menor de 14 anos ou maior de 60 anos; c) na
presença de descendente ou ascendente da vítima. (DM)
Obs.: há divergência quanto à possibilidade de transexual ser vítima de feminicídio. (DM)

Crime Hediondo: a Lei nº 13.104/2015 alterou o art. 1º da Lei nº 8.072/90, passando a prever,
expressamente, que o feminicídio é considerado crime hediondo.

Penal - Parte Especial 6


Neto Batistetti

2. Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Suicídio

Código Penal.
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos,
se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

O fato da própria pessoa, sem qualquer auxílio, por fim a sua vida, não configura crime algum
(conduta atípica). O suicídio é a retirada da própria vida de forma consciente e voluntária.
Participação em suicídio: a vítima coloca fim a própria vida de forma consciente e voluntária e o
agente irá auxiliar a vítima de forma moral ou material. Se houver ausência de consciência ou
voluntariedade, afasta-se a participação em suicídio, passando o agente a responder por homicídio.
Participação em participação em suicídio: possível. Ex: A convence B para que procure C para
que este (C) cometa suicídio. B comete participação em suicídio (autor); A responderá por participação em
participação em suicídio.
Obs.: apesar de ser um crime material, não admite tentativa, pois, a pena condiciona patamares
distintos para resultados distintos. Logo, se consumará com a morte ou com a lesão corporal de
natureza grave. Em inexistindo qualquer deles, não há que se falar em tentativa.

3. Infanticídio

Previsão legal: art. 123, CP: "Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho,
durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos.".
Sujeitos: a) ativo: própria mãe (crime próprio); b) passivo: próprio filho;
Concurso de pessoas em infanticídio: possível (art. 30, CP: "Não se comunicam as
circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.").

Penal - Parte Especial 7

Você também pode gostar