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Direito
Penal
Parte Especial
Penal - Parte Especial 1
Neto Batistetti
Primeiramente, deve-se lembrar que a competência para os crimes dolosos contra a vida é do
Tribunal do Júri (competência constitucional).
1. Homicídio
Código Penal
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguem:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo futil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossivel a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo
até terceiro grau, em razão dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
o
§ 2 -A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
o
§ 4 No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar
prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se
torne desnecessária.
o
§ 6 A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada,
sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
o
§ 7 A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.
Homicídio simples: a doutrina não o conceitua (conceitua apenas homicídio). Assim sendo, o
homicídio simples será aquele não qualificado (§2º). Ainda, há figura do homicídio privilegiado (§1º).
Características:
a) somente será considerado hediondo se for praticado em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que por uma só pessoa.
b) causa de aumento de pena - 1/3 a 1/2 (§6º): milícia privada ou grupo de extermínio. Uma vez
presente a característica do grupo de extermínio, não só atribui a qualidade hedionda do crime, como
também, gera a causa de aumento de pena. Milícia privada acarretará tanto o aumento de pena para o
simples, como para o qualificado.
Obs.: milícia privada não torna o crime hediondo (falta de previsão na respectiva legislação).
Sujeitos: a) ativo: qualquer pessoa; b) passivo: qualquer pessoa; Obs.: mulher quando se tratar
de feminicídio.
Consumação: ocorre com a morte (crime material - exige um resultado naturalístico). Outrossim,
trata-se de crime de dano (lesão a bem jurídico tutelado - vida). Por fim, admite tentativa (art. 14, II,
CP: "Diz-se o crime: II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias
à vontade do agente.").
c) o agente estiver sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima. Obs.: em sendo injusta a agressão, o fato será lícito pela presença de causa excludente de
ilicitude - legítima defesa.
Obs.: em sendo de relevante valor moral, o crime será privilegiado. A contrário sensu, em sendo por
motivação imoral, o crime será qualificado.
Obs.: a injusta provocação exige uma imediaticidade na conduta, devendo-se entender como tal, o
período em que o agente se encontra sob o efeito desta emoção.
O homicídio poderá ser, ao mesmo tempo, privilegiado e qualificado (figura híbrida). Todavia,
somente se faz possível se a qualificadora for de ordem objetiva (meio e modo de execução). Isso
ocorre vez que o privilégio é subjetivo.
O homicídio qualificado-privilegiado não é considerado crime hediondo (posição da doutrina e
da jurisprudência). Argumento jurídico: art. 67, CP 1 - na concorrência entre circunstâncias subjetivas e
1
CP. Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas
circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do
crime, da personalidade do agente e da reincidência.
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objetivas, deve preponderar as determinantes do crime (o que determina o crime são as circunstâncias
subjetivas).
III - emprego de veneno. Crime de venefício (emprego de veneno para morte da vítima).
Necessário o desconhecimento da vítima quanto ao envenenamento (a vítima é levada a meio
insidioso - oculto). Se a vítima sabe que está sendo envenenada e o agente força a vítima, deixa de ser
qualificado pelo emprego de veneno, podendo caracterizar, meio cruel.
Obs.: se a vítima tiver conhecimento e consentir, afasta-se a qualificadora.
VII - contra autoridade (gênero). Autoridade; agentes descritos nos arts. 142 e 144, CF;
integrantes do sistema prisional; força nacional de segurança. Ainda, o cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau. Deve-se mencionar que se faz necessária a vinculação entre
a ação e a particularidade da vítima (ou seja, a morte ocorre em razão de ser autoridade).
Ainda, deve-se mencionar que a premeditação, em que pese, em muitos casos revelar maldade de
espírito, não se trata de qualificadora do homicídio.
Sujeito Ativo: qualquer pessoa (crime comum). Obs.: normalmente é praticado por um homem,
todavia, nada impede o seu cometimento por uma mulher. Mulher poderá ser autora de feminicídio, p.
ex., quando matar sua companheira e o crime tiver sido praticado por razões da condição do sexo
feminino.
Sujeito Passivo: pessoa do sexo feminino, não importando a idade (criança, adulta, idosa, etc.).
Assim sendo, perceba que o homem que mata seu companheiro (relação homoafetiva) não responderá
por feminicídio, pois o homem não pode ser sujeito passivo de tal delito.
Hipóteses de Aumento de Pena: o §7º traz causas de aumento de pena (1/3 a 1/2), se a mulher
for: a) gestante ou até 3 meses após o parto; b) menor de 14 anos ou maior de 60 anos; c) na
presença de descendente ou ascendente da vítima. (DM)
Obs.: há divergência quanto à possibilidade de transexual ser vítima de feminicídio. (DM)
Crime Hediondo: a Lei nº 13.104/2015 alterou o art. 1º da Lei nº 8.072/90, passando a prever,
expressamente, que o feminicídio é considerado crime hediondo.
Código Penal.
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos,
se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
O fato da própria pessoa, sem qualquer auxílio, por fim a sua vida, não configura crime algum
(conduta atípica). O suicídio é a retirada da própria vida de forma consciente e voluntária.
Participação em suicídio: a vítima coloca fim a própria vida de forma consciente e voluntária e o
agente irá auxiliar a vítima de forma moral ou material. Se houver ausência de consciência ou
voluntariedade, afasta-se a participação em suicídio, passando o agente a responder por homicídio.
Participação em participação em suicídio: possível. Ex: A convence B para que procure C para
que este (C) cometa suicídio. B comete participação em suicídio (autor); A responderá por participação em
participação em suicídio.
Obs.: apesar de ser um crime material, não admite tentativa, pois, a pena condiciona patamares
distintos para resultados distintos. Logo, se consumará com a morte ou com a lesão corporal de
natureza grave. Em inexistindo qualquer deles, não há que se falar em tentativa.
3. Infanticídio
Previsão legal: art. 123, CP: "Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho,
durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos.".
Sujeitos: a) ativo: própria mãe (crime próprio); b) passivo: próprio filho;
Concurso de pessoas em infanticídio: possível (art. 30, CP: "Não se comunicam as
circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.").