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CRIMES CONTRA A VIDA

David Medina da Silva

HOMICÍDIO

1. Conceito

Morte de um ser humano por outro.

2. Topografia

I. Art. 121, “caput”: homicídio doloso simples.

II. Art. 121, §1º: homicídio doloso privilegiado.

III. Art. 121, §2º: homicídio doloso qualificado.

IV. Art. 121, §3º: homicídio culposo.

V. Art. 121, §4º: majorantes.

VI. Art. 121, §5º: perdão judicial.

VII. Art. 121, § 6º: majorante em caso de grupo de extermínio.

VIII. Art. 121, § 7º: majorantes do feminicídio.

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3. Objeto material: vida extrauterina (após o nascimento).

A linha divisória da vida intra e extrauterina é representada pelo início


do parto. Para determinar o início do parto há três correntes: 1ª corrente –
completo e total e desprendimento do feto das entranhas maternas (Alfredo
Molinário); 2ª corrente – desde as dores típicas do parto (Soler); 3ª corrente –
com a dilatação do colo do útero (Magalhães Noronha). Não é pacífico, tanto que
apenas um dos doutrinadores citados é da área jurídica.

4. Conduta:

a) Tipo objetivo: “matar” é causar a morte, o que ocorre com a cessação da


atividade encefálica (morte cerebral). O crime é de ação livre, podendo
ser executado tanto na forma de ação quanto de omissão. “Alguém” é
qualquer ser humano após o nascimento.
b) Tipo subjetivo: dolo direto ou eventual; a lei prevê a forma culposa.

5. Sujeitos: crime bicomum: Quando se tratar de Presidente da República, do


Senado, da Câmara dos Deputados e do STF poderá configurar-se crime
contra a segurança nacional, com pena de 15 a 30 anos (art. 29 da Lei
7.170/83). Nas qualificadoras previstas nos incisos VI e VII, exige-se condição
especial da vítima.

6. Consumação e tentativa: crime plurissubsistente admite tentativa.

2. Homicídio em espécie

1. Homicídio Simples

Forma básica de homicídio, com pena de 6 a 20 anos. Poderá ser crime


hediondo, se praticado em atividade típica de grupo de extermínio (art. 1º, I, da
Lei nº 8072/90), incidindo a majorante do § 6º do art. 121. Chama-se “homicídio

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condicionado”, pois depende de uma condição para ser hediondo.

2. Homicídio Privilegiado

Causa especial de diminuição de pena ou minorante, que ocorre nas seguintes


hipóteses:

a. Homicídio cometido por motivo de relevante valor social: motivo altruísta, em


que o agente pratica o crime para atender um interesse coletivo, desde que
relevante. Ex.: matar estuprador que ataca as mulheres da comunidade.

b. Homicídio cometido por motivo de relevante valor moral: crime praticado


para atender um sentimento particular, porém relevante, como a compaixão, a
misericórdia etc. Ex.: eutanásia.

Eutanásia: agente antecipa a morte natural. Tem caráter ativo. Ortotanásia: agente não

retarda a morte natural. Tem caráter omissivo.


A doutrina atual considera crime a eutanásia, apenas, mas a questão não é pacífica.

c. Homicídio cometido sob o domínio de violenta emoção (homicídio


emocional). Exige alguns requisitos:

- Domínio de violenta emoção: o agente deve agir sob descontrole emocional,


ou seja, sob o domínio de violenta emoção. Se não houver domínio, mas mera
influência de violenta emoção, configura-se apenas a atenuante do art. 65, III,
c, do CP.

- Injusta provocação da vítima – a provocação não significa necessariamente


agressão ou mesmo conduta típica. Ex.: flagrante de adultério; pai que mata
estuprador da filha.

- Imediatidade da reação: é o revide imediato, sem intervalo temporal. A


jurisprudência entende como reação imediata enquanto perdurar o domínio da

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violenta emoção.

ATENÇÃO: o privilégio não se comunica, pois ter caráter subjetivo.

3. Homicídio Qualificado

a. Motivo torpe: matador de aluguel, sicário, que mata por


recompensa, ou outra situação assemelhada, tal como o favor
sexual, embora não se trate de recompensa. Vingança e ciúme, por
si sós, não geram torpeza. Comunicabilidade:

a) Aplica-se ao mandante (STJ e STF) – majoritária.

b) Não se aplica ao mandante (Rogério Greco).

b. Fútil: desproporcionalidade entre o delito e sua causa moral,


motivo insignificante. Ausência de motivo equivale ao motivo fútil,
segundo orientação prevalente. Cezar Roberto Bittencourt discorda,
por configurar analogia in malan partem.

c. Meio cruel: matar causando padecimento desnecessário à vítima.


Venefício é o homicídio mediante veneno, que é toda substância, biológica ou
química, animal, mineral ou vegetal, capaz de perturbar ou destruir o
organismo humano. Segundo a doutrina é imprescindível que a
vítima.desconheça estar sendo envenenada. Se alguém que aponta uma arma para a
vítima obrigando-a a ingerir veneno, responderá por homicídio simples ou qualificado?
Responderá por homicídio qualificado mor meio cruel.

Tortura: se o agente quer ou assume o risco de matar mediante tortura, pratica


homicídio qualificado pelo meio cruel. Mas se quer apenas torturar a vítima e,
por excesso, acaba matando, responde pelo crime de tortura qualificada pelo
resultado morte (art. 1º, § 3º da Lei 9.455/97), que é preterdoloso.

d. Recurso que dificulta ou torna impossível a defesa da vítima:

- Traição – é o ataque desleal, repentino e inesperado, seja pela forma do


ataque (ex. atirar pelas costas), seja pela condição do agente (ex.: sócio,

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melhor amigo etc.).

- Emboscada – pressupõe ocultamento do agente, que ataca a vítima com


surpresa.

- Dissimulação – fingimento, disfarçando o agente a sua intenção hostil.

A premeditação por si só não qualifica o homicídio. O fato de o ofendido ser


velho ou criança não qualifica, por si só, o homicídio. Também não qualifica o
homicídio a superioridade de agente ou de armas, por si só. É necessário que
o agente tenha intenção de, com mais agentes ou mais armas, impossibilitar ou
dificultar a defesa.

Segundo o STF, essa qualificadora não é compatível com o dolo eventual.

e. Fim especial: para assegurar a execução, ocultação,


vantagem ou impunidade de outro crime (conexão teleológica,
consequencial e ocasional).

a) Conexão teleológica: para executar crime futuro. Ex.: matar o pai de uma
jovem para estuprá-la.

b) Conexão consequencial: para garantir a impunidade, vantagem ou ocultação


de outro crime. Ex.: matar a vítima do estupro para não ser reconhecido.

Não qualifica o crime a conexão ocasional, em que não há relação entre o


homicídio e o outro crime, desaparecendo a qualificadora. Ex.: durante a
prática de um crime, encontra um desafeto e o mata. Também não qualifica o
crime a conexão com contravenção, podendo, porém, configurar motivo fútil
(Ex.: matar para garantir a vantagem na exploração de jogo do bicho).

f.Feminicídio: Qualificadora inserida pela Lei nº 13.104/2015,


acrescentando o inciso VI ao § 2º do art. 121 do Código Penal., como
forma de conferir maior proteção à mulher contra a violência de
gênero prevista na Lei Maria da Penha,

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a qual prevê medidas protetivas e processuais, mas não prevê crimes.
“Femicídio” é o homicídio de mulher. “Feminicídio” é o homicídio praticado
contra a mulher por razões da condição do sexo feminino, ou seja, o homicídio
praticado por motivação de gênero. Ocorre em duas situações, conforme art.
121, §2º-A:

I - em situação de violência doméstica ou familiar: norma penal em branco,


devendo se recorrer ao conceito de violência doméstica ou familiar previsto na
Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006). Assim, só haverá no caso de
violência doméstica e familiar relacionada a questões de gênero. Assim, se um
irmão mata sua irmã para não dividir a herança o homicídio, isso nada tem a
ver com o gênero, pois ocorreria mesmo que a vítima fosse homem. Nesse
caso, ao invés da qualificadora do feminicídio, tem-se a qualificadora do motivo
torpe.

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher: embora se trate de


questão de gênero, a redação original do projeto, que utilizava a palavra
gênero, foi afastada pela bancada evangélica para impedir que a lei
beneficiassem travestis e transexuais.

O sujeito passivo, portanto, é sempre a mulher. No caso de relações


homoafetivas, só haverá feminicídio se a vítima for do sexo biológico feminino e
o ato ocorrer em situação de violência doméstica ou familiar ou por
menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Não incide a qualificadora
se um companheiro mata o outro do sexo biológico masculino.

Também não há feminicídio em se tratando de vítima travesti, pois se trata de


indivíduo homem.

Não há consenso quando se trata de vítima transexual que realizou cirurgia de


transgenitalização (“neocolpovulvoplastia”), e alterou seu sexo no registro civil.
Uma posição sustenta que é possível, em respeito ao direito à identidade, que
no caso é feminina, enquanto corrente diversa entente que não há feminicídio,
pois isso implicaria analogia in malan partem, já que a lei fala estritamente em
mulher, sem qualquer equiparação.

g. Homicídio contra autoridades, integrantes dos órgãos de

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segurança pública ou contra seus familiares. Qualificadora inserida
pela Lei nº 13.142/2015, acrescentando o inciso VII ao § 2º do art.
121 do Código Penal. A sua incidência depende de dois requisitos:

1º) condição da vítima, que deve ser autoridade ou agente das forças armadas
(art. 142 da CF) ou das polícias civis e militares e corpo de bombeiros (art. 144
da CF) ou seus familiares, isto é, cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até o terceiro grau, sejam ascendentes (pais, avós e bisavós),
descendentes (filhos, netos e bisnetos) e colaterais (irmãos, tios e sobrinhos).
Os integrantes da Guarda Civil estão incluídos (art. 144, § 8º d CF), assim
como agentes de segurança viária (art. 144, § 10 da CF).

2ª) relação com a função exercida como autoridade ou integrante do órgão de


segurança, podendo ocorrer em razão do exercício ou em decorrência da
função.

Trata-se de qualificadora de natureza subjetiva, pois se refere ao motivo do


crime.

CONCURSO DE QUALIFICADORAS E PRIVILÉGIO

a) Concurso de qualificadoras: incompatibilidade de motivo torpe e fútil; no


concurso de qualificadora, apenas uma é considerada para configuração do
tipo qualificado, enquanto que as outras deverão ser tratadas como agravantes,
previstas no art. 61 do Código Penal.

b) Concurso de qualificadora e privilegiadora (homicídio qualificado-


privilegiado): é possível, desde que a qualificadora seja objetiva, mas o crime
deixa de ser hediondo (STJ e STF).

c) Impossibilidade de feminicídio privilegiado: não se admite aplicação do


privilégio ao feminicídio, pois se trata de qualificadora subjetiva – crime
praticado por razões da condição do sexo feminino, isto é, motivo de gênero –
incompatível, portanto, com o § 1º, que também é subjetivo.

4. Homicídio Culposo

É o homicídio praticado em razão da violação do cuidado objetivo


(imprudência, negligência ou imperícia).

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Art. 121, § 3º - 1 a 3 anos – admite suspensão condicional do processo.

Art. 302 do CTB – 2 a 4 anos – não admite suspensão condicional do processo.

Não admite participação, apenas coautoria. Não admite tentativa, salvo em


caso de culpa imprópria.

5. Majorantes

5.1) Homicídio culposo: pena aumenta-se de 1/3 nas seguintes hipóteses:


a) Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício: negligência
profissional, não se confunde com imperícia. Na imperícia o agente
desconhece a técnica, enquanto na negligência profissional conhece e não
emprega.

Majorar a pena do crime culposo por inobservância de regra técnica configura


bis in idem?

1ª Corrente: não, pois essa inobservância de regra técnica não caracteriza


essência do crime culposo, mas sim circunstância indicativa de maior
gravidade do delito (STF, HC 86969/RS e STJ, REsp 191911/SP).

2ª Corrente: sim, pois a negligência é considerada duas vezes em prejuízo do


agente (STF, HC 95078/RJ).

b) omissão de socorro: não incide se a vítima é socorrida por terceiro ou morte


instantânea.

c) não procura diminuir as consequências: redundância.

d) fuga: parte da doutrina entende que é inconstitucional.

5.2) Homicídio doloso: pena aumenta-se de 1/3 se a vítima é menor de 14 ou


maior de 60 anos, devendo o agente conhecer a idade da vítima.

5.3) Homicídio praticado em situação de grupo de extermínio ou milícia privada,


sobre pretexto de prestação de serviço de segurança; aumento de 1/3 até

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½.No caso de Milícia Privada, haverá concurso com o crime do artigo 288 –A,
mas o homicídio só será hediondo no caso de grupo de extermínio, pois o
artigo 1º do inciso I da lei 8072/90 não contemplou a milícia privada;

5.4) A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a metade se ocorre uma


das situações do § 7º do art. 121, isto é:

I – durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto, época em que a


mulher está mais fragilizada e, ademais, é mais necessária à criança, sem
olvidar que, no caso de gestante, ocorre o concurso com o crime de aborto;

II – vítima menor de 14 ou maior de 60 anos ou com deficiência, pois nessas


condições a vítima tem menos chance de defesa, revelando-se maior covardia
do agente;

III – crime praticado na presença de descendente ou ascendente da vítima,


pois nessa situação o agente causa trauma aos familiares que presenciam o
crime.

6. Perdão judicial

6.1) Conceito: instituto pelo qual o juiz deixa de aplicar a pena a um indivíduo
que comete fato típico, ilícito e culpável, quando o fato produz consequências
graves para o próprio agente, surgindo falta de interesse de punir , ou seja, o
fato é relevante, mas a pena mostra-se desnecessária(Princípio da Bagatela
Imprópria).

6.2) Requisitos:

a) Expressa previsão legal: a doutrina admite o perdão judicial no homicídio


culposo no trânsito, art. 302 do CTB, pois o veto ao art. 300 ocorreu em virtude
de haver previsão no Código Penal.

b) Consequências graves para o próprio agente: não há necessidade que a


vítima seja parente, podendo ser qualquer consequência grave. Ex.: em razão
do acidente, o agente resulta tetraplégico.

c) Natureza jurídica:

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1ª corrente: sentença condenatória, interruptiva da prescrição, constituindo
título executivo judicial.

2ª corrente: sentença declaratória de extinção da punibilidade, podendo


acontecer ainda na fase do inquérito, não interrompendo a prescrição e não
servindo como título executivo. É a posição majoritária. Conforme a Súmula 18
do STJ: “A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção
da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.”.

Não se confunde perdão judicial com perdão do ofendido, que é ato bilateral,
pois depende de aceitação, cabível em qualquer crime de ação penal privada,
independentemente de previsão legal específica.

2. PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO

2.1. Conceito:
Ocorre suicídio quando o ser humano elimina a própria vida de forma direta,
voluntária e consciente. Comete o crime em questão quem presta auxílio moral ou
material, se o fato não se configurar homicídio.

Em nosso sistema, não se pune o autor da tentativa de suicídio, por motivos


humanitários. Trata-se em muitos casos de pessoa que está passando por estado
de miserabilidade, desagregação familiar, doenças graves, causas tóxicas,
senilidade ou imaturidade. Merecedora de atenção e atendimento médico.

2. Topografia

art. 122, caput – participação em suicídio.

3. Objeto jurídico: Vida humana

4. Conduta

Induzir é dar ideia a quem não possui, inspirar, incutir - o agente sugere que o
suicida que dê fim à sua vida. Instigar é fomentar uma ideia já existente. Auxiliar é
a forma ativa de agir, é o apoio material ao ato suicida.

Incluiu-se como objeto das condutas induzir, instigar e auxiliar a automutilação


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(cortar-se, ferir a si mesmo). Essa situação foi gerada por “jogos”, a partir da
Internet - Conhecido Baleia Azul, jogo do homem pateta, que pode levar apenas a
ferimentos, mas também pode atingir o suicídio.

A pena para quem comete o crime previsto no art. 122 do CP é de reclusão, de 6


meses a 2 anos (infração de menor potencial ofensivo). Porém, registre-se que
essa sanção se volta a quem induz, instiga ou auxilia, mas não leva a vítima à
lesão grave, gravíssima ou à morte. È tipo penal novo.

No caso de automutilação ou da tentativa de suicídio resultar lesão corporal de


natureza grave ou gravíssima (art. 129, §§ 1.º e 2.º do Código Penal), a pena passa
a ser de reclusão, de 1 a 3 anos. Consumado o suicídio ou da automutilação
resultar morte, a pena será de reclusão, de 2 a 6 anos.

Duplica-se a pena nos casos:


a) o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;

b) b) a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de


resistência.

A pena é aumentada até o dobro quando a conduta doa gente se dá através da


rede mundial de computadores (Internet), rede social ou transmitida em tempo real-
lives, igtv, skipe

Além disso, prevê o aumento da pena em metade se o agente é líder ou


coordenador de grupo ou de rede virtual.

No § 1.º do art. 122 (resultar lesão grave ou gravíssima) quando praticada contra
menor de 14 anos ou contra aquele que “por enfermidade ou deficiência mental,
não tem o necessário discernimento para a prática do ato”, ou, “por qualquer outra
causa, não pode oferecer resistência, deverá o agente responder por lesão corporal
de natureza gravíssima (art. 129, § 2.º, CP). Seria possível, o entendimento no
sentido de uma possível tentativa de homicídio, em face da completa falta de noção
da vítima, mas, em atenção ao princípio da legalidade, deve-se entender pela

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aplicação do § 6.º do art. 122.

O art. 122, o § 7.º, preceitua que, consumado o suicídio ou decorrer da


automutilação o evento morte, no caso do crime for praticado contra menor de 14
anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para o ato, ou, por
qualquer razão, não pode oferecer resistência, o agente deverá responder por
homicídio (art. 121, CP).

5. Sujeitos
Pode ser qualquer pessoa. No caso do sujeito passivo, é preciso ter um mínimo de
discernimento ou resistência, pois, do contrário, trata-se de homicídio. O agente
que, valendo-se da insanidade da vítima, a convence a se matar incide no art. 121,
e não nessa figura do art. 122.

6. Consumação e tentativa
A) 1º corrente: consuma-se com a tentativa de suicídio, mas só é punível se
houver lesão grave ou morte (condição objetiva de punibilidade).
B) 2ª corrente: consuma-se com a lesão grave ou a morte.

Não admite tentativa. Se houver atos de execução sem lesão grave ou morte o fato
é atípico. Se a morte não se verifica, mas ocorre lesão grave, a tentativa está
consumada. ATENÇÃO: O art. 122 é crime condicionado, pois a punibilidade do
agente está condicionada à ocorrência de lesão grave ou morte.

7. Observações
Duelo americano: duas armas e uma descarregada, sendo que o tiro fatal é
realizado pelo próprio suicida contra si - o vencedor responde pelo art. 122; Roleta
russa: uma arma com um projetil apenas – o vencedor responde pelo art.
122, poiso tiro fatal é realizado pelo próprio suicida contra si. Pacto de morte:
aquele que pratica o ato responderá por homicídio consumado ou tentado se
sobreviver; o que participa do pacto responderá pelo art. 122.

Greve de fome por motivação política, religiosa e outras: Somente responde por
crime aquele que induzir, instigar ou auxiliar a privação da alimentação, levando-a
até o final, que seria, então, o suicídio. Se chegar à privação da vida, pode-se punir
o garantidor (agente penitenciário, por exemplo) por homicídio; pode-se punir
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aquele que deu a ideia e incentivou, sem providenciar ajuda, por instigação a
suicídio; pode-se punir os que viram acontecer o processo de degeneração do
sujeito e não buscaram ajuda, por omissão de socorro.

3. INFANTICÍDIO

1. Conceito

É a morte do recém-nascido pela própria mãe, durante o parto ou logo após,


sob influência do estado puerperal.

2. Topografia

Art. 123 do CP.

3. Objeto jurídico: Vida extrauterina.

4. Conduta

4.1) Tipo objetivo

- Matar: execução livre, admitindo ação ou omissão, meios diretos ou indiretos

- Sob influência do estado puerperal: alteração fisiopsíquica decorrente do


parto.

- Durante o parto ou logo após (elementar de tempo): o crime deve ser


praticado durante ou após o trabalho de parto (sobreparto) enquanto houver
influência do estado puerperal, não havendo um período determinado.

4.2) Tipo subjetivo

Dolo. Se houver culpa, em razão do estado puerperal, há duas posições:

1ª) fato atípico

2ª) homicídio culposo (MAJORITÁRIA)

5. Sujeitos

5.1) Sujeito ativo: parturiente em estado puerperal – crime próprio.

Comunicabilidade do estado puerperal:

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1º) É elemento personalíssimo e incomunicável

2º) elemento subjetivo do tipo e comunicável na forma do art. 30 do CP


(MAJORITÁRIA)

Participação ou co-autoria:

1º) médico e parturiente executam o verbo matar: ambos pelo

123 2º) médico auxilia e parturiente executa: ambos pelo art. 123

3º) médico executa e parturiente auxilia: 1ª corrente: médico responde pelo 121
e parturiente pelo 123; 2ª corrente: ambos respondem pelo 123
(MAJORITÁRIA)

5.2)O próprio filho: crime bipróprio. Se matar outro bebê enganada é art. 20, §
3º (erro de pessoa).

6. Consumação e tentativa

Crime material consuma-se com a morte do recém-nascido, admitindo


tentativa.

7. Observações

a) Não basta agir em estado puerperal, exigindo-se relação de causa e


efeito entre o estado puerperal e o homicídio, ou seja, matar sob a
influência do estado puerperal. Assim, não foi adotado puramente
biológico, mas biopsicológico ou fisiopsicológico;
b) A doutrina admite a possibilidade de reconhecimento do estado
puerperal acompanhado da diminuição da pena por semi-imputabilidade
ou exclusão da culpabilidade pela inimputabilidade (CP, art. 26, caput e
parágrafo único). Para Nucci, a semi-imputabilidade faz parte do tipo
penal.
c) O infanticídio não se confunde com o art. 134, §2º (expor ou abandonar
recém-nascido para ocultar desonra própria, qualificado pelo resultado
morte), em que o dolo é de perigo e a morte é culposa.

4. ABORTO

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1. Conceito

Interrupção da gravidez com destruição do produto da concepção, protegendo-


se a vida intrauterina. Abortamento é o nome correto.

ATENÇÃO: a gravidez ocorre com a nidação (fixação do óvulo fecundado ao


útero) e não com a fecundação.

2. Classificação

Aborto natural: decorrente de problemas de saúde da gestante.

Abordo acidental: decorrente de quedas e traumatismos acidentais.

Aborto miserável ou econômico-social:

Aborto honoris causa: interrompe gravidez adulterina;

Aborto eugênico ou eugenésico: interrupção de gravidez por graves anomalias


do feto;

Aborto criminoso: praticado pela gestante ou por terceiro, sem o seu


consentimento, nas condições dos arts. 124, 125 e 126 do CP.

Aborto legal ou permitido: art. 128 do CP.

3. Aborto praticado pela gestante ou com seu consentimento (art. 124)

a) Sujeito ativo: gestante. Duas correntes: 1ª – é crime próprio, admitindo co-


autoria e participação; 2ª corrente: é crime de mão própria, só admitindo
participação, e o co-autor responde pelo art. 126 (MAJORITÁRIA)

b) Sujeito passivo: 1ª corrente: o Estado; 2ª corrente: o feto (MAJORITÁRIA).


Na gravidez de gêmeos, para a 1ª há crime único, e para a 2ª há concurso de
crimes.

c) Tipo objetivo:

- auto-aborto: a gestante pratica as manobras;

- consentimento para terceiro: o terceiro pratica as manobras, de modo que a


gestante responde pelo art. 124 e o terceiro pelo 126 (exceção pluralista).

d) Tipo subjetivo: dolo direto ou eventual, não se admitindo a forma culposa.


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Exemplo de dolo eventual: gestante comete suicídio, não morre, mas perde o
filho. Se as manobras tiverem o fim de antecipar o nascimento não há aborto,
mas lesão corporal qualificada pela aceleração de parto (art. 129, § 1º, IV).

e) Consumação e tentativa: o crime se consuma com a morte do feto, não


importa se dentro ou fora do útero materno, admitindo a tentativa. Se nasce
com vida e depois é morto ocorre homicídio ou infanticídio, caso em que a
tentativa de aborto fica absorvida.

4. Aborto sem o consentimento (art. 125)

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum)

b) Sujeito passivo: feto e gestante

c) Tipo objetivo: interrupção da gravidez sem o consentimento da gestante

- dissenso real: a gestante não consente

- dissenso presumido: a gestante é menor de 14 anos, alienada ou débil mental


ou seu consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência,
desde que o agente saiba destas qualidades.

d) Tipo subjetivo: dolo direto ou eventual.

e) Consumação e tentativa: crime material, consuma-se com a morte do feto,


admitindo tentativa.

OBSERVAÇÕES:

- quem atira em mulher grávida, conhecendo a gravidez, pratica homicídio (art.


121) em concurso formal com aborto (art. 125);

- que desfere chute na barriga de mulher grávida comete aborto do art. 125,
consumado ou tentado, conforme o caso.

5. Aborto com consentimento válido (art. 126)

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum)

b) Sujeito passivo: o feto. A gestante não é vítima, mas autora do art. 124.

c) Tipo objetivo: interrupção da gravidez com o consentimento válido. Se não


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for válido, o crime é do art. 125.

Observação: se a gestante se arrepende e o agente não interrompe as


manobras, pratica o crime do art. 125. A gestante só se beneficia do
arrependimento se este for eficaz.

d) Tipo subjetivo: dolo

e) Consumação e tentativa: crime material consuma-se com a morte do feto,


admitindo tentativa.

Observações: segundo a jurisprudência, se o namorado transporta a namorada


até uma aborteira, é partícipe do art. 124; se convence a namorada ao
abortamento, é partícipe do art. 124; se paga o médico para realizar o aborto, é
partícipe do art. 126 (contrariando a teoria do domínio do fato, pela qual seria
coautor).

6. Forma qualificada (art. 127)

Majorantes:

a) a gestante sofre lesão grave – 1/3

b) a gestante morre – ½

Se a criança sobrevive às manobras? Há duas posições:

1ª - não se admite tentativa em crime preterdoloso, portanto o aborto é


consumado, aplicando-se o mesmo raciocínio da Súmula 610 do STF (Capez).

2ª – ocorre aborto tentado majorado (Greco - MAJORITÁRIA)

Observação: a majorante só se aplica aos artigos 125 e 126, pois no 124


ocorre extinção da punibilidade da gestante, pela morte, ou autolesão, que é
impunível.

7. Aborto legal ou permitido

a) Aborto necessário: praticado em estado de

necessidade Requisitos:

- deve haver perigo de vida, e não apenas risco à saúde;

- deve ser praticado por médico, pois se for outra pessoa, incide o art. 24;

- impossibilidade de salvar a gestante por outro meio – inevitabilidade

Observações: dispensa o consentimento da gestante e autorização

judicial.

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b) Aborto sentimental: gravidez resultante de estupro

Requisitos:

- praticado por médico (outra pessoa responde pelo crime)

- gravidez resultante de estupro (abrange estupro de vulnerável, art. 217-A)

- consentimento da gestante ou seu representante legal

Observação: dispensa autorização judicial; o STF exige BO; o médico pode


exigir declaração em cartório ou o testemunho de outras pessoas.

c) Aborto de feto anencefálico: STF admite (ADPF 54).

JURISPRUDÊNCIA

STF HC 98712 – Transmissão de HIV não é doloso contra a vida (art. 131)

STF HC 107801 – A mera embriaguez no trânsito não indica dolo eventual de


matar.

STJ HC 160982 – Transmissão de HIV não é doloso contra a vida (art. 129,
§2º).

STF, ADPF 54 – Admite-se o aborto de feto anencefálico.

Atenção para o recente julgado referente a legítima defesa da honra!!!

O STF na ADPF 779, considerou inconstitucional o argumento da legítima defesa


da honra nos julgamentos de homicídios perante o Tribunal do Júri, por contrariar
os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF),
da proteção à vida e da igualdade de gênero (art. 5º, caput, da CF). Na mesma
decisão, a corte deu interpretação conforme à Constituição aos arts. 23, inciso II,
e 25, caput e parágrafo único, do Código Penal e ao art. 65 do Código de
Processo Penal, de modo a excluir a legítima defesa da honra do âmbito do
instituto da legítima defesa. Com essa decisão, fica proibido o uso da tese de
legítima defesa da honra em favor de réus acusados de homicídios e, mais
especificamente, feminicídios.

Foi o argumento- legítima defesa da honra- utilizado no julgamento do Caso


Doca Street e Angêla Diniz.

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