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DIREITO PENAL (PARTE ESPECIAL)

Homicídio
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HOMICÍDIO

Homicídio Privilegiado-Qualificado
Homicídio privilegiado (art. 121, § 1º, CP) não é crime hediondo. Ocorre quando há rele-
vante valor moral, relevante valor social ou sob domínio de violenta emoção logo em seguida
à injusta provocação da vítima.
O homicídio híbrido ocorre quando há uma privilegiadora e uma qualificadora (§2º). Homi-
cídio privilegiado-qualificado (híbrido) não é crime hediondo.

Obs.: Todas as hipóteses de homicídio qualificado são crimes hediondos.

Obs.: No Direito Penal Brasileiro, é adotado, em relação ao rol dos crimes hediondos, o
critério legal, ou seja, somente o que está previsto na Lei n. 8072/1990 é crime he-
diondo.

Quanto ao homicídio ser simultaneamente privilegiado e qualificado, há duas correntes:


• 1ª corrente: não é possível o homicídio híbrido, porque o homicídio privilegiado está
no parágrafo 1º, o homicídio qualificado está no parágrafo 2º, logo o homicídio privi-
legiado não poderia se aplicar ao que está abaixo dele, somente ao que está acima
(art. 121, caput) que é o homicídio simples. Tese da posição geográfica/topográfica
dos dispositivos legais.
• 2ª corrente: é possível o homicídio híbrido, desde que a qualificadora seja de natu-
reza objetiva.

Obs.: A 2ª corrente é a que prevalece.

Qualificadoras do homicídio, de natureza objetiva


A natureza objetiva ocorre quando é comunicável no concurso de pessoas.
5m
Exemplo: os indivíduos A e B querem matar C. B se vale de um meio cruel para matar C,
que é o fogo, sendo que A já sabia que esse meio seria usado. B vai ao encontro de C e mata
a vítima usando fogo. A é partícipe do homicídio. A e B respondem pelo homicídio qualificado,
pois quando há concurso de pessoas, a qualificadora se comunica, passa de B e alcança A.
ANOTAÇÕES

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No homicídio qualificado, nas qualificadoras subjetivas, não há a comunicação no con-


curso de pessoas.

Art. 121. (…)


§ 2º (...)
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que possa resultar perigo comum;
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
(...)
Feminicídio
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.

Todas as hipóteses do inciso IV são qualificadoras de natureza objetiva, exceto a traição,


que é uma qualificadora subjetiva.
O inciso III estabelece os meios do homicídio e o inciso IV estabelece os modos do
homicídio.
Anteriormente, o feminicídio era uma qualificadora subjetiva. Atualmente, conforme o jul-
gado do STJ (Min. Felix Fischer, no REsp 1.707.113/MG, julgado em 29/11/2017), o feminicí-
dio é uma qualificadora objetiva.
10m
Exemplo: X quer matar a esposa. Para isso, conta com a ajuda de C, que é sua amante.
A amante não tem relação doméstica ou familiar com a esposa, assim como também não
tem menosprezo à condição de mulher, logo, as hipóteses não se aplicam à amante. Porém,
ela prestou auxílio para que X matasse a esposa. X praticou feminicídio, a amante também
praticou crime de feminicídio, é uma qualificadora objetiva.

Homicídio Qualificado
As qualificadoras de natureza subjetiva estão previstas nos incisos I, II, V, VII, além da
traição, disposta no inciso IV.

Art. 121. (…)


Homicídio qualificado
§ 2º Se o homicídio é cometido:
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
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II – por motivo fútil;


III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que possa resultar perigo comum;
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
Feminicídio (Incluído pela Lei n. 13.104, de 2015)
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei n. 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau,
em razão dessa condição: (Incluído pela Lei n. 13.142, de 2015)
Pena – reclusão, de doze a trinta anos.

As qualificadoras objetivas são os incisos em azul e as subjetivas os incisos em vermelho.


O homicídio privilegiado qualificado é possível, desde que seja com uma qualificadora
objetiva. Isto ocorre porque o homicídio privilegiado é uma qualificadora subjetiva, não se
comunica no concurso de pessoas. Se alguém pratica um homicídio com relevante valor
moral, aquele que ajudou, não necessariamente pratica homicídio com relevante valor moral.
Quem praticou o crime está acobertado pela privilegiadora, quem ajudou não está. O homi-
cídio privilegiado é subjetivo, não se comunica no concurso de pessoas.
Só é possível ter o homicídio privilegiado qualificado devido à conexão de uma condição
subjetiva com uma condição objetiva. Não é possível ter um privilégio, que é subjetivo,e uma
qualificadora, que é subjetiva. Não haveria compatibilidade praticar um homicídio por rele-
vante valor moral, relevante valor social e, ao mesmo tempo, por motivo fútil, motivo torpe.

Art. 121. (…)


Homicídio qualificado
§ 2º Se o homicídio é cometido:
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe.

A pena aplicada é de reclusão de 12 a 30 anos, não tem previsão de pena de multa.


São motivos torpes os estabelecidos no inciso I.
“Mediante paga ou promessa de recompensa” é uma fórmula casuística.
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“Ou por outro motivo torpe” é uma fórmula genérica. O legislador assim fez por ser impos-
sível de prever todas as hipóteses de motivo torpe. A fórmula genérica permite que o aplicador
15m
do direito veja se o homicídio praticado no caso concreto é motivo torpe ou não. Exemplos de
motivo torpe para fins do homicídio qualificado: mediante paga, promessa de recompensa,
receber dinheiro para matar uma pessoa.
Outro exemplo: Suzane Richthofen matou os pais para ficar com a herança deles, não
existe previsão de que é homicídio qualificado matar os pais para ficar com a herança, mas
trata-se de homicídio qualificado por motivo torpe.

Obs.: O motivo torpe é um motivo repugnante, um motivo vil, é algo totalmente escrachado
pela sociedade.

“Mediante paga ou promessa de recompensa” também é chamado de homicídio mer-


cenário. A “paga” é quando ocorre pagamento prévio. A “promessa de recompensa” ocorre
quando o pagamento é posterior. Nos dois casos, não precisa ser dinheiro, não precisa ter
valor econômico, pode ser por ganho moral, prestígio maior, vantagem sexual ou outros. É
uma qualificadora subjetiva. É uma qualificadora de concurso necessário.
No inciso I, as qualificadoras são subjetivas.
Exemplo: a filha de X foi estuprada. X paga para um assassino de aluguel matar o estu-
prador da sua filha. X está acobertado por uma privilegiadora, responde por homicídio privi-
legiado em razão do relevante valor moral. É um crime no qual há concurso de pessoas, o
20m
executor do crime (assassino de aluguel) responde por homicídio qualificado mediante paga
ou promessa de recompensa. A qualificadora que se aplica ao assassino não se comunica
no concurso de pessoas. “Mediante paga ou promessa de recompensa” se aplica somente
ao executor do crime. O mandante do crime (genitor) responde por homicídio privilegiado em
razão do relevante valor moral.
Outro exemplo: X quer matar Y para ficar com a esposa dele, para isso contrata um
assassino de aluguel. O assassino responde em razão da paga ou promessa de recompensa
pelo homicídio qualificado, X responde por homicídio qualificado em razão do motivo torpe.
Logo, o mandante do crime responde de acordo com o caso (depende do caso). O execu-
tor (recebe dinheiro/vantagem para tirar a vida de uma pessoa) sempre responde pela paga
ou promessa de recompensa.
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A vingança pode ou não ser um motivo torpe, depende da motivação da vingança. Exem-
plo: X mata uma pessoa que matou o seu filho, é uma vingança, responde por homicídio,mas
não é motivo torpe.
O ciúme não é considerado motivo torpe. Pode ser considerado, a depender da situação,
motivo fútil (HC 107.090/STJ – Info 711/2013).

Jurisprudência do STJ:

Não obstante a paga ou a promessa de recompensa seja circunstância acidental do delito de ho-
micídio, de caráter pessoal e, portanto, incomunicável automaticamente a coautores do homicídio,
não há óbice a que tal circunstância se comunique entre o mandante e o executor do crime, caso
o motivo que levou o mandante a empreitar o óbito alheio seja torpe, desprezível ou repugnante.
(REsp 1209852/PR, julgado em 15/12/2015, DJe 02/02/2016)

A qualificadora do motivo torpe é uma qualificadora subjetiva, mas nada impede que o
executor do crime responda pela paga ou promessa de recompensa e o mandante responda
por motivo torpe. O mandante não responde por “paga ou promessa de recompensa” porque
isso se aplica ao executor do crime.

Art. 121. (…)


§ 2º Se o homicídio é cometido:
II – por motivo fútil.

O motivo fútil é um motivo bobo, insignificante. Exemplo: B mata C porque perdeu uma
partida de dominó; B mata C porque C não vendeu fiado. O motivo fútil tem que ser um
motivo conhecido, ou seja, o juiz/jurados têm que conhecer qual é o motivo fútil para aplica-
rem a qualificadora. Havia um entendimento que se o motivo não fosse conhecido, seria um
motivo fútil, e isso está errado. Se for um motivo desconhecido, não pode aplicar motivo fútil,
porque não se sabe se é fútil ou não.
25m

Obs.: O entendimento do STJ está nos HCs: HC 152.548/STJ, HC 107.090/STJ – Info


711/2013.
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A futilidade deve ser imediata.


Exemplo 1: João vai até o bar do Arnaldo e toma vários copos de pinga, até seu dinheiro
acabar. Quando seu dinheiro acaba, ele pede para Arnaldo vender um copo de pinga fiado.
Arnaldo não vende fiado. João fica chateado, pega uma faca no balcão e mata Arnaldo, homi-
cídio por motivo fútil e imediato. Exemplo 2: João quer beber pinga fiado e fala com Arnaldo,
mas Arnaldo não aceita fiado. João fica chateado, disfere um soco em Arnaldo, Arnaldo dis-
fere um soco em João, os dois começam a brigar, em determinado momento, João pega uma
faca e mata Arnaldo.
No primeiro exemplo, a futilidade gerou um homicídio de maneira imediata. No segundo
exemplo, a futilidade gerou um homicídio de maneira mediata, porque não foi pelo fato do
Arnaldo ter negado a venda fiado que João o matou. O que ocorreu é que eles acabaram
brigando e, diante dessa briga, João matou Arnaldo. No segundo exemplo, trata-se de uma
futilidade mediata, não se aplica a qualificadora do motivo fútil.

Motivo fútil vs. dolo eventual


Anteriormente, o STJ entendia que, se há dolo eventual em determinado crime, não pode
ter a incidência da qualificadora de motivo fútil.
Atualmente, é possível ter crime de homicídio em dolo eventual e que seja qualificado
pelo motivo fútil.

Não há incompatibilidade na coexistência da qualificadora do motivo fútil com o dolo eventual em


caso de homicídio causado após pequeno desentendimento entre agressor e agredido. Preceden-
tes do STJ e STF. Com efeito, o fato de o recorrido ter, ao agredir violentamente a vítima, assu-
mido o risco de produzir o resultado morte, aspecto caracterizador do dolo eventual, não exclui a
possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto
ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta. (...) (REsp 1601276/RJ, julgado
em 13/06/2017)
30m

A jurisprudência desta Corte Superior entende não ser incompatível a qualificadora do motivo fútil
com o dolo eventual, pois o dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que
ensejou a conduta capaz de colocar em risco a vida da vítima. REsp 1779570 / RS, julgado em
13/08/2019.
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Art. 121. (…)


§ 2º Se o homicídio é cometido:
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que possa resultar perigo comum.

O emprego de veneno, também chamado de venefício, pode ser por substâncias bioló-
gicas, químicas que fazem mal a qualquer ser humano (ex.: chumbinho de rato), e também
uma substância que faça mal especificamente a uma pessoa.
Exemplo: Maria é alérgica a camarão. Sabendo disso e querendo matá-la, João apro-
veita e prepara um peixe regado a molho de camarão e oferece para Maria, informando que
não há camarão. Maria morre. João praticou homicídio qualificado por emprego de veneno.
Caso João não soubesse que Maria é alérgica a camarão, João responderia por, no máximo,
homicídio culposo.
Veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura são formas casuísticas. “Outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum”: forma genérica. Quando há a forma genérica,
é aplicada a interpretação analógica.

Obs.: Interpretação analógica não é analogia, é admitida até mesmo se vier a prejudicar o
réu. Analogia in malam partem não é admitida no direito penal.

Emprego de fogo (atear fogo), exemplo: João incendeia a casa do Marcos para matá-lo.
Emprego de explosivo (deslocamento de matéria), exemplo: colocar uma bomba na pessoa;
detonar uma granada. Explosivo não é meio cruel, é um meio que resulta perigo comum.
O veneno é meio insidioso. O fogo, a asfixia e a tortura são meios cruéis. O explosivo é
o meio que resulta perigo comum. A asfixia pode ser mecânica, que é aquela que ocorre por
35m
esganadura, estrangulamento, enforcamento. São tampadas as vias aéreas da pessoa e ela
não consegue respirar.
A asfixia pode ser tóxica, que ocorre quando a pessoa morre asfixiada por não ter a reno-
vação do ar, o oxigênio se transforma em CO2 e a pessoa morre asfixiada por respirar gás
carbônico. Exemplo: colocar uma pessoa viva dentro do caixão e enterrá-la, a pessoa morre
asfixiada. Nos dois casos (asfixia mecânica e tóxica), é incidida a qualificadora de asfixia.
A tortura ocorre quando o indivíduo gera à vítima uma dor muito superior à necessária
para alcançar o resultado morte.
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Homicídio qualificado pelo emprego de tortura


Exemplo: a intenção de X é matar a vítima Y. Para isto, pega uma faca e começa a cortar
a vítima, porque não quer que ela morra rápido. Homicídio qualificado pela tortura.

Tortura qualificada pela morte


Exemplo: X quer torturar Y, para isso, começa a cortar Y com uma faca. A intenção de X
não é matar Y, mas de tanto X torturar, Y acaba morrendo. A intenção era torturar, mas surgiu
um resultado morte.

Homicídio qualificado pela tortura Tortura qualificada pela morte

Previsão Artigo 121, § 2º, III, CP – Pena 12 a Art. 1º, § 3º Lei n. 9.455/1997 – “Se resulta
legal 30 anos. lesão corporal de natureza grave ou gravís-
sima, a pena é de reclusão de quatro a dez
anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a
dezesseis anos.”
Elemento Dolo direto ou eventual em relação ao Crime preterdoloso – dolo na conduta
subjetivo resultado morte, utilizando-se da tor- antecedente (tortura) e culpa no resultado
tura como meio (cruel) para alcançar (morte).
o resultado.
Competência Tribunal do Júri. Juízo singular.

Art. 121. (…)


§ 2º Se o homicídio é cometido:
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido.

A traição é uma qualificadora subjetiva, não se comunica no concurso de pessoas.


Exemplo: X e Y são grandes amigos. Eles decidem passear, e acabam chegando em um
40m
precipício. Y estava na beira do precipício olhando a paisagem, porque confia em X e sabe
que ele não irá empurrá-lo (é uma qualificadora subjetiva porque o traidor tem a confiança do
traído). Porém, X acaba empurrando Y.
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Outro exemplo: X e Y estão fazendo rapel. X vê que Y está no meio da cachoeira e


corta a corda de Y, que morre em razão da queda. Y confiava em X para fazer a sua segu-
rança no rapel.
Para que se tenha a qualificadora da traição, é necessário que seja depositado uma
especial confiança no autor e que ele (autor) venha a trair essa confiança. A qualificadora da
traição é um crime próprio.

Obs.: Crimes próprios só podem ser praticados por pessoas que tenham uma qualidade
específica.

A emboscada é uma tocaia. Exemplo: João passa todos os dias em determinada estrada.
Maria fica aguardando ele passar, assim que ele passa, Maria atira em sua direção e acaba
matando João.
Mediante dissimulação: João é membro de um site de encontros. Neste site, há a foto
de uma mulher de nome Maria. João se interessa por Maria. João e Maria dão match. Maria
convida João para ir até a sua casa. Quando João chega à casa de Maria, ele não encontra
Maria, ele encontra um desafeto dele, e esse desafeto mata João. É um crime de enganar
para matar uma pessoa, ou seja, o sujeito engana para colocar a pessoa numa situação que
dificulte a sua defesa.
Traição, emboscada, ou dissimulação são fórmulas casuísticas, são recursos que dificul-
tam ou tornam impossível a defesa do ofendido. “Outro recurso que dificulte torne impossível
a defesa do ofendido”: fórmula genérica. Aplica-se a interpretação analógica.
Traição é uma qualificadora subjetiva que não se comunica no concurso de pessoas. A
emboscada e a dissimulação são qualificadoras objetivas.

Art. 121. (…)


§ 2º Se o homicídio é cometido:
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.

Esta qualificadora é chamada de qualificadora de conexão. O indivíduo pratica o homi-


cídio porque há um outro crime que ele quer praticar para assegurar a execução, ocultação,
impunidade ou vantagem de outro crime.
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Conforme a doutrina, o crime “para assegurar a execução” é chamado de conexão teleo-


lógica (finalidade), ou seja, pratica um homicídio para praticar outro crime.
Exemplo: X quer sequestrar a filha de um empresário. Para isso, ele mata o segurança
para sequestrar a filha do empresário. Matou o segurança para assegurar a execução de
outro crime.
Outro exemplo: X mata o segurança do empresário para poder matar o próprio empresá-
rio. Praticou um homicídio em razão da qualificadora de conexão para praticar outro homicí-
dio (pode ser qualificado, privilegiado, simples etc.)
45m
O homicídio teológico é praticado antes da prática de outro crime. Nas outras hipóteses
(a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime), chamadas de conexão sequencial,
o homicídio é praticado após um crime antecedente.

ATENÇÃO
Latrocínio: quando se mata alguém para subtrair os seus pertences, há o latrocínio. Não
ocorrerá a incidência desses crimes devido ao Princípio da Especialidade. O latrocínio está
tipificado no art. 157, § 3º, CP. O latrocínio é uma exceção à aplicação dessa qualificadora.

Ocultação ou a impunidade, por exemplo: crime de importunação sexual (art. 215-A). X


diz que Y abusou dela e que vai denunciá-lo para a polícia. Y não quer ser preso e acaba
matando a X. Y mata X para garantir a ocultação/impunidade do crime.
Vantagem de outro crime, exemplo: X e Y praticam crime de estelionato e obtém
R$100.000,00 com o crime, mas X não quer dividir esse valor com Y, por isso X acaba
matando Y. X praticou crime homicídio qualificado para assegurar a vantagem de outro crime
antecedente.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Érico Palazzo.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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