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HOMICÍDIO

CONCEITO: é a injusta morte de uma pessoa praticada por outrem.

NELSON HUNGRIA: Homicídio é o tipo central dos crimes contra a vida. É o


ponto culminante na orografia dos crimes. É o crime por excelência.

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TOPOGRAFIA DO ART. 121 CP:

caput: homicídio doloso simples


§ 1º: homicídio doloso privilegiado
§ 2º: homicídio doloso qualificado
§ 3º: homicídio culposo
§ 4º: majorantes de pena
§ 5º: perdão judicial
§ 6º: majorante do grupo de extermínio ou milícia armada (Lei nº 12.720/12)
§ 7º: majorante para o feminicídio

E o homicídio preterdoloso?
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Homicídio simples

Art. 121 CP. Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

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SUJEITO ATIVO:

SUJEITO PASSIVO:

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TÍTULO I – CRIMES CONTRA A PESSOA

ATENÇÃO: art. 59 do Estatuto do Índio – causa de aumento de pena


para vítima índio não integrado.

“Art. 59. No caso de crime contra a pessoa, o patrimônio ou os costumes,


em que o ofendido seja índio não integrado ou comunidade indígena, a
pena será agravada de um terço.”

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CONDUTA: matar alguém – tirar a vida de alguém (vida extrauterina)

VIDA
INTRAUTERINA EXTRAUTERINA

Início do parto?

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O crime de homicídio tem como limite mínimo o começo do nascimento,
marcado, de acordo com a maioria, pelo início das contrações expulsivas.

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CUIDADO: Nas hipóteses em que o nascimento não se produz
espontaneamente, pelas contrações uterinas, como ocorre em se
tratando de cesariana, por exemplo, o começo do nascimento é
determinado pelo início da operação, ou seja, pela incisão abdominal. De
semelhante, nas hipóteses em que as contrações expulsivas são
induzidas por alguma técnica médica, o início do nascimento é sinalizado
pela execução efetiva da referida técnica ou pela intervenção cirúrgica
(cesárea).

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VOLUNTARIEDADE: é punido a título de dolo (direto ou eventual).

Obs:

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Embriaguez ao volante com resultado morte?

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“Racha” com resultado morte?

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CONSUMAÇÃO: consuma-se com a morte da vítima (delito material).

Quando se dá a morte?

TENTATIVA:

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Caso de diminuição de pena

Art. 121, § 1º CP: Se o agente comete o crime impelido por motivo de


relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo
em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de
um sexto a um terço.”

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1ª PRIVILEGIADORA: MOTIVO DE RELEVANTE VALOR SOCIAL

Valor social:

Ex.:

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2ª PRIVILEGIADORA: MOTIVO DE RELEVANTE VALOR MORAL

Valor moral:

Ex.:

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Não se pode confundir eutanásia com ortotanásia.

A ortotanásia tem certa relação com eutanásia passiva, mas apresenta


significado distinto desta. O termo ortotanásia indica a morte certa, justa,
em seu momento oportuno. Destarte, corresponde à supressão de
cuidados de reanimação em pacientes em estado de coma profundo e
irreversível, em estado terminal ou vegetativo.

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3ª PRIVILEGIADORA: HOMICÍDIO EMOCIONAL

a) Domínio de violenta emoção

b) Reação imediata

c) Injusta provocação da vítima

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As circunstâncias privilegiadoras se comunicam aos demais
concorrentes do crime?
Privilégio

Circunstância Elementar

Objetiva
Objetiva Subjetiva Subjetiva

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Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo futil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou
torne impossivel a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício
da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até 3o. grau, em razão dessa condição.
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 20
ATENÇÃO: o homicídio qualificado é HEDIONDO, não importa a
qualificadora.

“Art. 1º - Lei nº 8072/90 - São considerados hediondos os seguintes crimes:

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado
(art. 121, § 2o, I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); ”

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I - MEDIANTE PAGA OU PROMESSA DE RECOMPENSA, OU POR
OUTRO MOTIVO TORPE

Motivo torpe: motivo vil, ignóbil, repugnante, abjeto (quase sempre


espelhando ganância).

O inciso trabalha com interpretação analógica (exemplos seguidos de


encerramento genérico).

# Vingança e ciúme são motivos torpes?

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HOMICÍDIO MERCENÁRIO

Crime de concurso necessário ou plurissubjetivo (número plural de


agentes obrigatório).

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HOMICÍDIO MERCENÁRIO

A qualificadora da torpeza se aplica ao mandante, ao executor ou a


ambos?

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“Não obstante a paga ou a promessa de recompensa seja circunstância
acidental do delito de homicídio, de caráter pessoal e, portanto,
incomunicável automaticamente a coautores do homicídio, não há óbice a
que tal circunstância se comunique entre o mandante e o executor do crime,
caso o motivo que levou o mandante a empreitar o óbito alheio seja torpe,
desprezível ou repugnante. 2. Na espécie, o recorrido teria prometido
recompensa ao executor, a fim de, com a morte da vítima, poder usufruir
vantagens no cargo que exercia na Prefeitura Municipal de Fênix. 3. Recurso
especial provido, para reconhecer as apontadas violações dos arts. 30 e 121,
§ 2º, I, ambos do Código Penal, e restaurar a decisão de pronúncia,
restabelecendo a qualificadora do motivo torpe, a fim de que o réu seja
submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri, pela prática do delito previsto
no art. 121, § 2º, I e IV, do Código Penal” (REsp 1209852/PR, Rel. Min.
Rogério Schietti Cruz, DJe 02/02/2016). 25
HOMICÍDIO MERCENÁRIO

Qual a natureza da paga ou promessa de recompensa?

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NATUREZA JURÍDICA DA QUALIFICADORA:

Motivo Torpe

Subjetiva Objetiva

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II - POR MOTIVO FÚTIL

Real desproporção entre o delito e sua causa moral (“pequeneza do


motivo”).

Ex.: Briga de trânsito.

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Ausência de motivos caracteriza a qualificadora?

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Cuidado! Motivo fútil ≠ motivo injusto

Motivo injusto: elemento integrante de qualquer crime.

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NATUREZA JURÍDICA DA QUALIFICADORA:

Motivo Fútil

Subjetiva Objetiva

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III - COM EMPREGO DE VENENO, FOGO, EXPLOSIVO, ASFIXIA,
TORTURA OU OUTRO MEIO INSIDIOSO OU CRUEL, OU DE QUE
POSSA RESULTAR PERIGO COMUM

Trabalha com interpretação analógica (exemplos seguidos de


encerramento genérico).

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Emprego de veneno / venefício

Veneno: substância biológica ou química, animal, mineral ou vegetal capaz


de perturbar ou destruir as funções vitais do organismo humano.

Ex.: açúcar para diabético é veneno.

ATENÇÃO:

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NATUREZA JURÍDICA DA QUALIFICADORA:

Meio
cruel/insidioso

Subjetiva Objetiva

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IV - À TRAIÇÃO, DE EMBOSCADA, OU MEDIANTE DISSIMULAÇÃO OU
OUTRO RECURSO QUE DIFICULTE OU TORNE IMPOSSÍVEL A
DEFESA DO OFENDIDO

Trabalha com interpretação analógica (exemplos seguidos de


encerramento genérico).

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A premeditação qualifica o homicídio?

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A idade da vítima torna o crime qualificado?

37
NATUREZA JURÍDICA DA QUALIFICADORA:

Recurso que
dificulta ou
impossibilita defesa

Subjetiva Objetiva

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V - PARA ASSEGURAR A EXECUÇÃO, A OCULTAÇÃO, A IMPUNIDADE
OU VANTAGEM DE OUTRO CRIME:

1- Conexão teleológica: o agente mata para assegurar a execução de outro


crime (futuro).

Ex.: “A” mata segurança para estuprar a artista “B”.

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V - PARA ASSEGURAR A EXECUÇÃO, A OCULTAÇÃO, A IMPUNIDADE
OU VANTAGEM DE OUTRO CRIME:

2- Conexão consequencial: o agente mata para assegurar a ocultação,


impunidade ou vantagem de outro crime (passado).

Ex.: “A” mata testemunha de crime passado em que figura como suspeito.

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ATENÇÃO 1: A conexão ocasional não qualifica o homicídio

- O homicídio é praticado por ocasião de outro crime, sem vínculo


finalístico.
Ex.: O agente está estuprando uma pessoa, entra seu desafeto no local e
o agente o mata (não há vínculo entre os crimes).

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ATENÇÃO 2: Matar para assegurar a execução, ocultação,
impunidade ou vantagem de contravenção penal – não qualifica o
homicídio pelo inciso V (mas pode caracterizar os demais incisos).

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NATUREZA JURÍDICA DA QUALIFICADORA:

Vínculo
finalístico

Subjetiva Objetiva

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Feminicídio

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:

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§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino
quando o crime envolve:

I - violência doméstica e familiar;


II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

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Sobre esta qualificadora do FEMINICÍDIO podem incidir as majorantes
estabelecidas no § 7º, dispositivo que sofreu alterações pela Lei 13.771/18.

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A pena do feminicídio pode ser aumentada de um terço à metade se o
crime for cometido:

a) durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto: aqui não


houve nenhuma alteração.

Aplica-se a majorante desde o momento em que gerado o feto até três


meses após o nascimento.

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b) contra pessoa menor de catorze anos, maior de sessenta anos, com
deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição
limitante ou de vulnerabilidade física ou mental.

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c) na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima.

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d) em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos
incisos I, II e III do art. 22 da Lei Maria da Penha:

Por meio da Lei 13.771/18, inseriu-se nova majorante para as situações em


que o homicida comete o crime apesar da existência de medidas protetivas
contra si decretadas nos termos da Lei Maria da Penha.

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Pode figurar como vítima do feminicídio pessoa transexual?

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NATUREZA JURÍDICA DA QUALIFICADORA:

Feminicídio

Subjetiva Objetiva

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VII - Homicídio funcional

A Lei 13.142/15 alterou o art. 121, § 2o., do CP, nele acrescentando mais
uma circunstância qualificadora (VII), assim redigida:

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da


Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até 3o. grau, em razão dessa condição.
Vejamos as circunstâncias que justificam a punição mais severa.

O agente deve praticar o crime de homicídio contra:

a) autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição


Federal
O art. 142 da CF/88 abrange as Forças Armadas, constituídas pela
Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e,
por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
Já o art. 144 disciplina os órgãos de segurança pública: polícia federal,
polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias
militares e corpos de bombeiros militares.
Abrange os guardas civis (municipais ou metropolitanos)?
E os agentes de trânsito?
O homicídio praticado contra agentes de polícia do Congresso
Nacional atrai a qualificadora do art. 121, § 2º, inciso VII, do CP?

Não. A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 51, IV e 52, XIII,


estabelece competir privativamente à Câmara dos Deputados e ao Senado
Federal dispor sobre sua polícia. Com base nestas disposições, a Câmara
e o Senado Federal regulamentaram, por meio das resoluções nº 18/2003
e 59/2002, suas respectivas polícias, que não estão portanto disciplinadas
no art. 144 da Constituição. Sua abrangência pela qualificadora constituiria
vedada analogia in malam partem.
b) integrantes do sistema prisional
c) integrantes da Força Nacional de Segurança Pública;

O Departamento da Força Nacional de Segurança Pública ou Força


Nacional de Segurança Pública (FNSP), criado em 2004, com sede em
Brasília/DF, é um programa de cooperação de segurança pública brasileiro,
coordenado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), do
Min. da Justiça.
ATENÇÃO:
d) contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3o.
grau,

Os crimes de homicídio serão punidos mais severamente, de acordo com a


Lei 13.142/15, quando cometidos contra o cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até 3o. grau dos agentes descritos nas alíneas anteriores.
E os filhos adotivos, por exemplo?
NATUREZA JURÍDICA DA QUALIFICADORA:

Homicídio
funcional

Subjetiva Objetiva

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PLURALIDADE DE CIRCUNSTÂNCIAS QUALIFICADORAS

Ex.: Art. 121, § 2º, II (motivo fútil) e III (meio cruel), CP.

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Admite-se homicídio privilegiado/qualificado?

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HOMICÍDIO DOLOSO MAJORADO

1- Art. 121, § 4º, 2ª parte, CP: “a pena aumenta-se de 1/3 se o crime é


praticado contra vítima menor de 14 ou maior de 60 anos”.

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HOMICÍDIO DOLOSO MAJORADO

2- Art. 121, § 6º, CP: Homicídio praticado por milícia privada ou grupo de
extermínio

Causa de aumento de pena incluída pela Lei 12.720/12.

A Lei 12.720/12 também tipificou o crime de formação de milícia ou grupo de


extermínio (art. 288-A CP).

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“Art. 121,§ 6o CP: A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de
serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº
12.720, de 2012)”

“Constituição de milícia privada (Incluído dada pela Lei nº 12.720, de


2012)
Art. 288-A CP: Constituir, organizar, integrar, manter ou custear
organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a
finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código: (Incluído
dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.”

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GRUPO DE EXTERMÍNIO:
reunião de pessoas,
matadores, “justiceiros” (civis
ou não) que atuam na
ausência ou leniência do
Poder Público, tendo como
finalidade a matança
generalizada, chacina de
pessoas supostamente
etiquetadas como marginais
ou perigosas.

Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC-ND


MILÍCIA PRIVADA (ARMADA):
grupo armado de pessoas (civis ou
não) tendo como finalidade
devolver a segurança retirada das
comunidades mais carentes,
restaurando a paz. Para tanto,
mediante coação, os agentes
ocupam determinado espaço
territorial. A proteção oferecida
nesse espaço ignora o monopólio
estatal de controle social, valendo-
se de violência ou grave ameaça.

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Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-SA


Quantas pessoas devem integrar o grupo de extermínio ou a milícia
privada?

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HOMICÍDIO PRATICADO EM ATIVIDADE TÍPICA DE GRUPO DE EXTERMÍNIO
Lei 12.720/12
ANTES DEPOIS
Art. 121 CP ou art. 121 § 2º CP (se Art. 121, § 6º CP ou art. 121 § 2º c/c § 6º.
presente qualificadora).
Grupo de extermínio: não aumentava a Grupo de extermínio: passou a aumentar
pena ou, por si só, qualificava o crime (era a pena.
circunstância judicial desfavorável do
art. 59 CP).
Tornava o delito hediondo quando Torna o crime hediondo quando simples.
simples.
Não era objeto de análise dos jurados (o Esta circunstância deve ser objeto de
juiz analisava). análise dos jurados.

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HOMICÍDIO PRATICADO POR MILÍCIA PRIVADA / ARMADA
Lei 12.720/12
ANTES DEPOIS
Art. 121 CP ou art. 121 § 2º CP Art. 121 § 6º CP ou art. 121 § 2º c/c § 6º.

Milícia privada / armada: não aumentava a Milícia privada / armada: passou a ser
pena ou qualificava o crime (era causa de aumento de pena.
circunstância judicial desfavorável do
art. 59 CP).
Não tornava o homicídio simples Continua não gerando a hediondez do
hediondo. crime quando simples.

Não era objeto de análise dos jurados. Esta circunstância deve ser objeto de
análise dos jurados.
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Quando um grupo de extermínio promove a matança, os agentes
respondem somente por homicídio majorado (art. 121, § 6º, CP) ou em
concurso com o delito de formação de grupo de extermínio?

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