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José Luis Junqueira 1


Direito Penal II
FADAP – 3º ano

HOMICÍDIO (CP, ART. 121)

- Único crime contra a vida que admite modalidade culposa.


- Todas as modalidades são de Ação Pública Incondicionada, pois a vida é bem
jurídico indisponível.
- Competência do tribunal do Júri, com exceção da forma CULPOSA.

Topografia do homicídio:

- caput= simples

- § 1º = privilegiado.

- § 2º = qualificado.

- § 3º= culposo.

- § 4º e § 6º= majorado.

- § 5º = perdão judicial.

Homicídio Simples (Art. 121, “caput”, CP):


- Matar alguém - Reclusão de 6 a 20 anos.
Definição: homicídio é a eliminação da vida humana extrauterina praticada por outra
pessoa.
Homicídio simples e lei dos crimes hediondos:
- Em regra, não é crime hediondo. Só será hediondo quando o homicídio for praticado
em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por um só agente. O grupo de
extermínio não precisa existir, basta ser atividade típica de grupo de extermínio. Ex.:
pessoa que resolve matar moradores de rua.

- Bem Jurídico Tutelado (Objetividade jurídica): vida humana extrauterina,


independentemente de sua viabilidade (ex. bebê que vai viver três dias. Pode matar?
não).
Vida humana extrauterina: tem início com o parto - DILATAÇÃO DO COLO DO
ÚTERO e CONTRAÇÕES. Antes disso é ABORTO!
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- Necessário o nascimento com vida. (Medicina legal: respiração autônoma. Prova


pericial: docimasias respiratória).

VIDA INTRAUTERINA VIDA EXTRAUTERINA

- aborto (CP, art. 124 a 126) - homicídio (CP, art. 121)


- infanticídio (CP, art. 123)

Objeto material: pessoa ou coisa atingida pela conduta. No homicídio é o ser humano
que tem a vida ceifada.
Núcleo do tipo: verbo matar.
Conduta:
- É crime forma livre. Admite-se qualquer meio de execução, por ação ou omissão
imprópria (dever de agir – art. 13, par. 2º, CP).
- Os meios de execução do homicídio podem ser diretos ou indiretos. Direto: facada;
tiro de arma de fogo. Indireto: manipulado pelo agente – ataque de cão feroz.
Atenção Caso Prático: Transmissão intencional de AIDS. Configura homicídio
(tentado, enquanto permaneça vivo)? Relação sexual ou sangue. Jurisprudência
(STF/STJ) entendem que não caracteriza homicídio, mas sim lesão corporal
gravíssima pela enfermidade incurável. Na doutrina a questão é polêmica, há quem
diga ser homicídio (tese MP).

Elemento subjetivo:
- É o dolo (consciência e vontade de praticar o tipo legal – matar alguém). Pode ser
direto (o agente quer) ou eventual (o agente assume o riso).
- Independe de qualquer finalidade específica. A finalidade específica pode
caracterizar um privilégio ou ainda uma qualificadora.
 ATENÇÃO: Com a entrada em vigor da Lei 13.546/17 (alterou CTB), não se fala
mais me DOLO EVENTUAL no crimes de Racha e Embriaguez ao Volante com
RESULTADO morte. No Art. 302, §3º, prevê a forma qualificada a título de culpa.
No Art. 308, §2º, forma qualificada a título de culpa.

Sujeito ativo:
- Trata-se de crime comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa. Não existe
qualidade especial do sujeito ativo.
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- Irmãos Xifópagos: indivíduos duplos. Se os dois queriam a morte de terceiro e um


atirou, é autor e partícipe. Mas se um não queria é caso de ausência de dolo. Se for
possível separar condena apenas um, se não for possível absolve os dois. Inocência
prevalece.

Sujeito passivo:
- Pode ser qualquer pessoa. Dependendo do sujeito passivo recebe nome diverso:
parricídio, matricídio e filicídio, são exemplos.
- Vítima xifópago: se deu um tiro querendo matar os dois, ou se quer matar um e
assume o risco de matar também o outro, morrendo os dois, responde pelos dois
homicídios em concurso formal impróprio.
- Caso os médicos consigam separar e um deles sobrevive, haverá tentativa de
homicídio e homicídio consumado.

Consumação:
- Trata-se de crime material (exige o resultado naturalístico). Consuma-se com a morte
da vítima.
-De acordo com o Art. 3º, da Lei de Transplantes, a morte se verifica com a cessação
da atividade encefálica (parada encefálica).
- Necessário exame de corpo de delito (necroscópico) para comprovar a morte. IML.

Tentativa:
- Por ser crime plurissubsistente (a conduta pode ser fracionada em vário atos), é
perfeitamente possível a tentativa. Ex: vítima alvejada por disparos de arma de fogo,
socorrida por terceiros, acaba sobrevivendo. Ex: autor lança gasolina na vítima e, ao
acender o fósforo, é impedida por terceira pessoa.

Homicídio Privilegiado(§1º):
- Trata-se de uma causa especial de diminuição pena (minorante) de 1/6 a 1/3.
- Não tem natureza hedionda.
Direito subjetivo do réu = se os jurados reconhecem o privilégio, o juiz está
obrigado a reduzir a pena.
Requisitos: Ler §1º
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REL. VALOR SOCIAL REL. VALOR MORAL DOM. VIOLENTA


EMOÇÃO

- interesse notório de toda -interesses individuais, - sob domínio de violenta


coletividade. (ex: matar particulares do agente, dentre emoção, logo após injusta
terrorista, estuprador que eles a compaixão, provocação da vítima (ex:
age na cidade). misericórdia, piedade (ex: marido que pega a mulher com
eutanásia; Pai que mata outro na cama).
estuprador da filha).

- Requisitos do homicídio emocional:

- domínio de violenta emoção = efeito intenso. Não pode ser leve e passageira.

- logo após = imediata ao conhecimento da provocação enquanto perdurar o


domínio da violenta emoção (caso concreto dirá). Não pode haver intervalo de
tempo, deixando passar a violenta emoção, podendo configurar “vingança”. Ex.
agente não reagiu logo após, deixando para o dia seguinte.

-injusta provocação = contra o gente ou contra terceiros, bastando que o agente se


sinta provocado.

- Emoção x paixão: art. 28, CP. Emoção é intensa e transitória; a paixão é algo
duradouro. Ex. o que se tem pelo seu time é PAIXÃO. Aquilo que se sente após um
gol de seu time, é EMOÇÃO.
OBS: As minorantes são de natureza subjetiva, não sendo comunicáveis aos
concorrentes no crime. (Art. 30, CP).

Homicídio Qualificado (CP, art. 121, § 2º):


- Reclusão de 12 a 30 anos.
- Trata-se de crime hediondo, seja consumado ou tentado, em todas as modalidades.
I Mediante paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe:
- Motivo Torpe: motivo vil, abjeto, repugnante. Ex.: matar o colega de trabalho para
conseguir a promoção na empresa. Matar para ficar com a herança dos pais.
- É o denominado homicídio mercenário ou homicídio por mandato remunerado.
OBS: Motivo do crime é busca desesperada por alguma vantagem, pelo lucro.
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- Na paga, o recebimento da vantagem pelo homicida é prévio. Na promessa de


recompensa a vantagem é posterior ao crime.
- Em ambos os casos, a vantagem pode ser de qualquer natureza. Não precisa ser de
índole econômica (há corrente no sentido de que a vantagem deve ser econômica).
Ex: prestação de favores sexuais. Fundamento: o homicídio é crime contra a vida e
não contra o patrimônio.
Trata-se de delito de concurso necessário (crime plurissubjetivo), sendo necessário
no mínimo dois agentes (mandante e executor). Essas qualificadoras são aplicáveis
exclusivamente ao executor. Art. 30, CP.
- Contudo, pode ser que se aplica ao mandante esse inciso em razão do motivo de sua
conduta ser torpe.
A Vingança é motivo torpe? Depende! Deve-se analisar a causa que a originou
no caso concreto. Ex.: perdeu na base da força a “boca de fumo” e depois mata, é
motivo torpe. Outro caso, sujeito mata aquele que estuprou a filha, não é torpe, é
privilégio.

II Motivo fútil:
- É aquele insignificante, desproporcional ao resultado produzido. Ex: matar por
discussão de time de futebol; marido que mata a mulher porque serviu comida fria.
OBS: Não pode ser reconhecido o motivo fútil e o torpe, simultaneamente.
ATENÇÃO: Ausência de motivo equivale ao motivo fútil?
 Embora haja divergência, predomina que a ausência de motivo não pode ser
equiparada ao motivo fútil. Logo, autor que mata outrem “sem motivo”, responde por
Homicídio Simples.

III Meios de execução:


- Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso
(dissimulado) ou cruel (aumenta inutilmente o sofrimento da vítima) ou que possa
gerar perigo comum (pode atingir número indeterminado de pessoas).
- O inciso encerra com uma fórmula genérica, admitindo-se interpretação analógica.
Veneno: Chamado de “venefício”. Trata-se de substância capaz de causar a morte
quando introduzida no organismo humano. Deve ser analisada no caso concreto, pois
até o açúcar pode ser considerado veneno se a vítima for diabética.
OBS: caso a vítima tenha o conhecimento de que está ingerindo veneno, de modo
forçado, será configurada a qualificadora “meio cruel”.
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Fogo ou Explosivo: Trata-se de combustão de substâncias inflamáveis ou que cause


explosão, podendo colocar em risco número indeterminado de pessoas. Ex: jovens
que atearam fogo em um índio; Amarrar bombas ao corpo de uma pessoa.
Asfixia: É a supressão das funções respiratórias. Pode ser Mecânica ou Tóxica.

MECÂNICA TÓXICA

- esganadura = próprias mãos - gás asfixiante.


- estrangulamento = força externa (laço)
- enforcamento = peso do próprio corpo
- soterramento = substituição do ar por sólido
- sufocação indireta (ex: peso sobre tórax)

Emprego de tortura:
- Indiscutivelmente é um meio cruel empregado pelo agente.
Atenção: O dolo deve ser de matar, utilizando-se de atos de tortura. Difere da tortura
qualificada pelo resultado morte. (art. 1º, par. 3º, da Lei de Tortura).
PRETERDOLOSO.

IV Modos de execução:
- Mediante traição, emboscada, dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa da vítima.
Traição: É ataque desleal; inesperado. O agente se aproveita da confiança que a
vítima nele deposita, para matá-la desprevenidamente e com menor vigilância. Ex.
tiro pelas costas ou enquanto a vítima dorme.
Emboscada: Ocultamento do agente para tomar a vítima de surpresa (ex: tocaia).
Denota covardia por parte do agente.
Dissimulação: Trata-se de fingimento, artifício para se aproximar da vítima (farsa,
encenação, disfarce). Ex: convidar para mergulho e partir com o barco, deixando o
mergulhador pra trás. Ex: vestir-se como policial facilitando o ingresso no imóvel e
depois matar a vítima.
Outro recurso que torne difícil ou impossível a defesa da vítima:
- Fórmula genérica e análoga à surpresa (ex: superioridade numérica de autores; colher
pessoa presa, em cela ou algemada;).

V Conexão:
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- Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.


- É a ligação entre dois ou mais crimes, ligados entre si.
- A doutrina subdivide a conexão em:

CONEXÃO TELEOLÓGICA CONEXÃO CONSEQUENCIAL

- Visa assegurar a execução de outro crime - Visa garantir a ocultação, a impunidade e a


futuro (ex.: Mata o marido para estuprar a vantagem de outro crime, passado (ex:
esposa). ocultação de cadáver; assassino que mata
- Não é necessário que o segundo crime venha testemunha do crime; mata o parceiro para
a ocorrer. Basta a intenção. ficar com todo o dinheiro).

VI Feminicídio:
- contra a mulher por razões da condição de sexo feminino
ATENÇÃO: (§ 2º - A): É norma interpretativa:
- violência doméstica e familiar
- menosprezo ou discriminação à condição de mulher
- Antes da inclusão da nova figura já poderia ser considerado qualificado (torpe ou
fútil).
Sujeito passivo: apenas mulher. (Pergunta para estímulo e trabalho – e a pessoa
transexual?)
 §7: (ler em casa).

- Aumento de pena de 1/3 até 1/2 se o crime for praticado:

I- durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto

II - contra menor de 14 anos, maior de 60 anos ou deficiente

III - na presença de descendente ou ascendente da vítima


IV – em descumprimento de MPU.

VII Contra autoridades ou agentes da Segurança Pública:


- sujeito passivo alcança ainda o CADI
- depende do exercício da função ou em razão dela.
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VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.

Homicídio híbrido:
- é o homicídio privilegiado-qualificado ao mesmo tempo.
- É compatível?
- O privilégio sempre é subjetivo, as qualificadoras podem ser subjetivas ou objetivas.
 É possível homicídio híbrido quando a qualificadora tem natureza objetiva (Meios
e modos de execução). Logicamente o privilégio é incompatível com as qualificadoras
subjetivas (torpe; fútil; conexão; feminicídio).
- É crime hediondo? O STJ entende não ser hediondo. (há divergência)

Homicídio Culposo:
- Agente mata a vítima por quebra do dever objetivo de cuidado (imprudência,
negligência ou imperícia)  NÃO quer matar, NEM assume o risco.
(detenção de 1 a 3 anos - CP, art. 121, § 3º).
- Crime de médio potencial ofensivo = cabe suspensão condicional do processo (ler o
art. 89, Lei 9.099/95)
 Admite a figura do perdão judicial (art. 121, par. 5º, do CP).
- Nunca cabe no homicídio doloso.
- Trata-se de causa extintiva da punibilidade – art. 107, inc. IX, do CP.

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