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Profa.

Luá Cristine
Direito Penal III

CRIMES CONTRA A
PESSOA
• Pessoa é todo sujeito de direitos;
• Ao definir os crimes contra a pessoa, no entanto, o Código Penal
considera pessoa todo ser humano, protegendo os direitos da
personalidade, sejam os que se referem à personalidade física,
sejam os que dizem com a personalidade moral.
• Tutela penal da vida, da integridade corporal, da honra e da
liberdade, pressupostos e atributos da personalidade humana.

Crimes contra a pessoa:


• Os crimes contra a pessoa estão divididos em seis capítulos: “Dos
crimes contra a vida”; “Das lesões corporais”; “Da periclitação da
vida e da saúde”; “Da rixa”; “Dos crimes contra a honra; e “Dos
crimes contra a liberdade individual”.

Crimes contra a pessoa


DIREITO À VIDA – Art. 5º CF e 6º do Pacto de São José
da Costa Rica

• Vida é o bem fundamental do ser humano, pois sem a vida, não há


que se falar em outros direitos, nem mesmo os de personalidade.
• Todo o homem tem direito à vida, ou seja, o direito de viver e não
apenas isso, tem o direito de uma vida plena e digna.
• O indivíduo tem o direito perante o Estado de não ser morto por
este, o Estado tem a obrigação de se abster de atentar contra a vida
do indivíduo, e por outro lado, o indivíduo tem o direito à vida
perante os outros indivíduos e estes devem abster-se de praticar
atos que atentem contra a vida de alguém.
• Primeiro (e o mais grave) crime.
• É a eliminação da vida de uma pessoa praticada por outra.

Art. 121 - Homicídio


• OBJETO JURÍDICO: A vida humana.
• OBJETO MATERIAL: o ser humano que suporta a conduta
criminosa.
• SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa (crime comum).
• SUJEITO PASSIVO: Qualquer pessoa, após o nascimento e desde
que esteja viva.
• NÚCLEO DO TIPO: verbo matar (crime de forma livre)

Homicídio doloso
• ELEMENTO SUBJETIVO: dolo. É a vontade livre e consciente de
realizar os elementos do tipo penal, qual seja, matar alguém (animus
necandi)
• CONSUMAÇÃO: no momento da morte da vítima. Cessa a
atividade encefálica. Crime material.
• Tentativa: é possível.
• Prova da materialidade (exame de corpo de delito). É o meio de
prova pelo qual é possível a constatação da materialidade do delito.
Crime não transeunte. Art. 158, 167 do CPP.

Homicídio doloso
• Não é crime hediondo simples – Lei 8.072/90.
• Somente homicídio qualificado.

Homicídio simples (art.


121, caput)
• Causa especial de diminuição de pena. “Privilegiado” é
denominação doutrinária.
• São circunstâncias (caráter subjetivo) que ensejam o
reconhecimento do privilégio:
1) Motivo de relevante valor social ou moral;
2) sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta
provocação da vítima.

Homicídio Privilegiado -
§1º
1) Motivo de relevante valor social ou moral:
- Deve ser relevante (de importância coletiva ou individual).
- Relevante valor social – aquele motivo que atende aos interesses da
coletividade. (ex. morte de um traidor da pátria).
- Relevante valor moral – leva-se em conta os interesse particular do
agente (eutanásia).
(Eutanásia - abreviar a vida por piedade, morte antecipada – ex. desligar os
aparelhos.
Ortotanásia – não prolongar artificialmente a vida de um paciente em estado
terminal – ex. câncer que se alastrou). Resolução nº 1.805/2006.
Distanásia - prolongamento do processo da morte, por meio de tratamento
que apenas prolonga a vida biológica do paciente, sem qualidade de vida
e sem dignidade.

Homicídio Privilegiado - §1º


2) sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta
provocação da vítima:
a) Domínio de violenta emoção - emoção intensa, capaz de
alterar o estado de ânimo do agente a ponto de tirar-lhe a
seriedade e a isenção que possui.
b)injusta provocação da vítima - comportamento apto a
desencadear a violenta emoção e a consequente prática do
crime.
c)Reação imediata: fato seja praticado logo após a injusta
provocação da vítima.

Homicídio Privilegiado -
§1º
• Ocorrendo qualquer destas hipóteses, que são de caráter
subjetivo, a pena é diminuída de um sexto a um terço.
• O homicídio privilegiado determina a diminuição de pena
em função de um menor juízo de censura à conduta do
agente.

Homicídio Privilegiado -
§1º
• Trazem qualificadoras relacionadas aos motivos, modos e
meios de execução do crime.
• É um tipo derivado qualificado, que traz circunstâncias
que influem na pena. No caso, estabelece outras sanções,
mais graves, de 12 a 30 anos.
• São quatro os grupos de circunstâncias qualificadoras:

Homicídio Qualificado -
§2º
1) Motivos (I e II). (índole subjetiva - esfera interna do
agente)
Motivo torpe é o motivo repugnante, moralmente
reprovável, que contrasta com o senso ético comum
(ex. cobiça, egoísmo, ambição de lucro). Ex.:
assassinar alguém para receber herança.
Paga ou mediante promessa de recompensa – a
vantagem não necessariamente é econômica.
Motivo fútil é o insignificante, mesquinho,
desproporcional para a prática da conduta delituosa.
Ex.: briga no trânsito.
Homicídio Qualificado -
§2º
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - HOMICÍDIO -
PRONÚNCIA - EXCLUSÃO DA QUALIFICADORA MOTIVO
FÚTIL - CRIME MOTIVADO PELO CIÚME - QUALIFICADORA
MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE - RECURSO PROVIDO.
"O ciúme, por si só, como sentimento comum à maioria da
coletividade, não se equipara ao motivo torpe. Na verdade, o ciúme
patológico tem a intensidade exagerada de um sentimento natural do
ser humano, que, se não serve para justificar a ação criminosa,
tampouco serve para qualificá-la”.
"O ciúme, por si só, sem outras circunstâncias, não caracteriza o
motivo torpe."(HC 123.918/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 13/08/2009, DJe 05/10/2009)

Ciúme: motivo torpe ou fútil?


• O ciúme, por si só, não pode ser considerado como qualificadora do
crime, pois tal motivo não é banal, e de consequência, não é fútil,
impondo-se a sua exclusão por ser manifestamente improcedente.
Recurso parcialmente provido. RECURSO EM SENTIDO
ESTRITO Nº 176.426-1, DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇÚ -
1ª VARA CRIMINAL.
• "Ciúme não se coaduna com motivo fútil, devendo, pois, a
qualificadora ser extirpada da pronúncia. (TJSP - Rec. -Rel. Onei
Raphael - RT 566/309)." 3. Apelo provido, em parte. (grifei) (RSE
nº 68.621-9, 1ª C.Criminal, rel. Des. Milani de Moura, publ.
26/10/98).
• É torrencial a jurisprudência no sentido de que o sentimento de
ciúme não é motivo fútil (STJ - HC 147533 / MS)

Ciúme: motivo torpe ou fútil?


2) Meios de execução (III) (natureza objetiva
relacionando-se ao fato praticado)
Com emprego de fogo, veneno, explosivo, asfixia,
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou que possa
resultar perigo comum.
Veneno – substância química ou biológica apta a
provocar a morte.
Meio insidioso é o meio traiçoeiro, sem que a vítima
tome conhecimento. Ex.: sabotagem de freio de veículo.

Homicídio Qualificado -
§2º
2) Meios (III) (natureza objetiva relacionando-se ao fato
praticado)
Fogo - meio extremamente cruel. Ex.: jogar combustível e
atear fogo ao corpo da vítima sem que resulte qualquer
perigo comum.

Asfixia - supressão da função respiratória. Ex.:


estrangulamento, enforcamento.

Homicídio Qualificado -
§2º
Perigo comum é o perigo de dano à vítima e um número
indeterminado de pessoas. Ex.: agente joga combustível e ateia fogo
em uma residência para matar seus moradores, uma vez que, por ser
o combustível substância altamente inflamável, acarretará perigo de
incêndio das residências vizinhas, caracterizando, portanto, perigo
comum.
O agente responder em concurso formal pelos crimes de perigo
comum (art. 250 a 259) e de homicídio qualificado.

Homicídio Qualificado -
§2º
2) Meios (III) (natureza objetiva relacionando-se ao fato
praticado)
Tortura: utiliza-se da tortura para provocar a morte da vítima,
causando intenso sofrimento seja físico ou mental.
Ex.:decepar os dedos, as mãos, as orelhas.
Lei n. 9.455/97 – dolo de torturar.

Homicídio Qualificado -
§2º
3) Modos de execução (IV) - natureza objetiva
relaciona-se ao fato praticado
À traição, emboscada, ou mediante dissimulação ou
outro recurso que dificulte ou impossibilite a defesa do
ofendido.

Traição: o agente se vale da confiança que o ofendido


depositava nele para o fim de matá-lo em momento em
que ele se encontrava desprevenido. Pode ser física
(atirar pelas costas) ou moral (atrair a vítima para um
precipício).

Homicídio Qualificado -
§2º
3) Modos de execução (IV) - natureza objetiva relaciona-
se ao fato praticado
À traição, emboscada, ou mediante dissimulação ou outro
recurso que dificulte ou impossibilite a defesa do ofendido.

Emboscada: tocaia. O agente aguarda escondido, em determinado


local, a passagem da vítima para matá-la quando ali passar.

Dissimulação – atuação disfarçada que oculta a real intenção do


agente. O agente se disfarça de encanador e logra êxito em
adentrar na residência da vítima para eliminá-la; pode também
ser moral, quando o agente ilude a vítima, dando-lhe mostras
falsas de amizade, de modo que consiga obter a sua confiança,
propiciando com isso maior facilidade para a concretização de
sua intenção homicida.

Homicídio Qualificado - §2º


3) Modos de execução (IV) - natureza objetiva
relaciona-se ao fato praticado

Outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da


vítima:

São recursos que dificultam ou tornam impossível a


defesa da vítima. Ex.: ataque súbito pela frente,
elemento surpresa no ataque.

Homicídio Qualificado - §2º


4) Conexão (V) É de índole subjetiva (pertence à esfera interna
do agente)
Conexão é ligação entre dois ou mais crimes. Caracterizada por uma
finalidade especial almejada pelo agente.
Esta conexão pode ser:
a) Teleológica: meio para executar outro crime (assegurar
execução).
b) Consequencial: assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem
de outro crime.
• Conexão teleológica: ocorre quando o homicídio é cometido a fim
de “assegurar a execução” de outro crime, por exemplo, matar o
marido para estuprar a mulher. Não é necessária a concretização do
fim visado pelo agente. E se este ocorrer? O agente pratica o
homicídio e o estupro, responderá por ambos os delitos em
concurso material.
Conexão consequencial: dá-se quando o homicídio é praticado com
a finalidade de: a) assegurar a “ocultação do crime” — o agente
procura evitar que se descubra o crime por ele cometido. Ex.:
eliminar a prova testemunhal do fato criminoso; b) assegurar “a
impunidade” do crime — nessa hipótese já se sabe que um crime foi
cometido, porém não se sabe quem o praticou, e o agente, temendo
que alguém o delate ou dele levante suspeitas, acaba por eliminar-lhe
a vida. c) assegurar “a vantagem” de outro crime — procura-se aqui
garantir a fruição de vantagem, econômica ou não, advinda da
prática de outro crime (p. ex., eliminar a vida do coautor do delito de
furto anteriormente praticado, a fim de apoderar-se da vantagem
econômica indevidamente obtida.
É impróprio falar em crime duplamente ou triplamente qualificado. Uma
circunstância é considerada como qualificadora e as demais são
consideradas como circunstâncias judiciais do art. 59 do CP.

Jurisprudência:
Reconhecidas quatro qualificadoras pelo Conselho de Sentença (artigo
121, § 2º, incisos I, III, IV e V, do Código Penal), o Magistrado, na
fixação da reprimenda, utilizou aquela referente à ocultação de outro
delito (inciso III) para qualificar o homicídio, e as restantes, referentes
ao motivo torpe, à emboscada e uso de fogo, como circunstâncias
judiciais negativas para fixar a pena-base acima do mínimo legal […]
ao contrário do que alega o Recorrente, havendo multiplicidade de
qualificadoras no crime de homicídio, não há constrangimento ilegal na
utilização de uma delas para qualificar o delito e as restantes nas
demais etapas do critério trifásico da aplicação a pena. RECURSO
ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS Nº 114.458 - MS
UM HOMICÍDIO PODE AO MESMO TEMPO SER
QUALIFICADO E PRIVILEGIADO?

A doutrina e a jurisprudência dominante admite homicídio


qualificado-privilegiado, desde que a qualificadora seja de
natureza objetiva (incisos III e IV do § 2º do artigo do 121 do CP)
pois o privilégio, sempre subjetivo, é incompatível com as
qualificadoras da mesma natureza (isto é: incisos I, II e V).
Ex.: é possível que o agente tenha agido sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima
(circunstância privilegiadora), e que tenha empregado um meio
que impediu ou impossibilitou a sua defesa (circunstância
qualificadora objetiva). Por exemplo: pai que presencia o
homicídio de sua filha e, sob o domínio de violenta emoção, logo
em seguida a essa injusta provocação, arma uma emboscada para o
homicida.
Art. 30 do Código Penal: Não se comunicam as circunstâncias e as
condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.
“Circunstâncias são dados acessórios (acidentais) que, agregados ao
crime, tem função de aumentas ou diminuir a pena, Não interferem na
qualidade do crime, mas sim afetam a sua gravidade”. Circunstância tem
função de agravar ou abrandar a pena. (DAMÁSIO, 2014)
Podem ser objetivas (meios, modos de execução do crime, tempo do
crime, objeto material, lugar do crime, qualidades da vítima) ou subjetivas
(motivos, condições ou qualidades pessoais do ofensor).
“Elementares são os elementos típicos do crime, dados que integram a
definição da infração penal”. (DAMÁSIO, 2014)
As elementares, sejam objetivas, sejam subjetivas, se comunicam, mas
desde que o co-autor ou participe delas tenha conhecimento.

Comunicabilidade. Concurso de pessoas


Circunstâncias qualificadoras, que são dados acessórios agregados
ao crime para agravar a pena, quando tiverem caráter subjetivo
(motivos determinantes do crime, p. ex., motivo fútil, homicídio
praticado mediante paga ou promessa de recompensa) não se
comunicam jamais ao partícipe. No entanto, se tiverem caráter
objetivo, por exemplo, homicídio cometido mediante emboscada,
haverá a comunicação se for do conhecimento do partícipe a
presença da circunstância material, ou seja, se com relação a ela tiver
agido com dolo ou culpa. Se desconhecia a presença da mesma, não
poderá responder pela figura qualificada do homicídio.

Circunstância qualificadora. Comunicabilidade.


Concurso de pessoas
Questões de concurso
TJ - DF Juiz de Direito Substituto - 2011
Dos crimes contra a vida. Homicídio simples, privilegiado e qualificado (Art. 121,
§§ 1º e 2º) - Matar alguém; Pena - Reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Logo:
a) A causa especial de redução da pena, "sob o domínio de violenta emoção, logo
em seguida à injusta provocação da vítima", prevista no §1º, do artigo 121, do
Código Penal, é aplicável mesmo não estando o agente completamente dominado
pela emoção;
b) Ainda que o homicídio seja praticado friamente dias após a injusta provocação
da vítima, a simples existência da emoção por parte do acusado, é bastante para
que o mesmo possa ser considerado privilegiado;
c) Configura traição que qualifica o homicídio a conduta do agente que de súbito
ataca a vítima pela frente;
d) Configura traição que qualifica o homicídio a conduta do agente que colhe a
vítima por trás, sem que esta tenha qualquer visualização do ataque.
FCC - DPE - RS - Defensor Público de Classe Inicial - 2011
Miro, em mera discussão com Geraldo a respeito de um terreno disputado por
ambos, com a intenção de matá-lo, efetuou três golpes de martelo que atingiram seu
desafeto. Imediatamente após o ocorrido, no entanto, quando encerrados os atos
executórios do delito, Miro, ao ver Geraldo desmaiado e perdendo sangue, com
remorso, passou a socorrer o agredido, levando-o ao hospital, sendo que sua postura
foi fundamental para que a morte do ofendido fosse evitada, pois foi providenciada a
devida transfusão de sangue. Geraldo sofreu lesões graves, uma vez que correu
perigo de vida, segundo auto de exame de corpo de delito. Nesse caso, é correto
afirmar:
a) Miro responderá pelo crime de lesão corporal gravíssima previsto no art. 129, § 2º, do
Código Penal, em vista da sua vontade inicial de matar a vítima e da quantidade de
golpes, circunstâncias que afastam a validade do auto de exame de corpo de delito.
b) Incidirá a figura do arrependimento eficaz e Miro responderá por lesões corporais
graves.
c) Incidirá a figura do arrependimento posterior, com redução de eventual pena aplicada.
d) Incidirá a figura da desistência voluntária e Miro responderá por lesões corporais
graves.
e) Miro responderá por tentativa de homicídio simples, já que o objetivo inicial era a
morte da vítima.
DIFERENÇA ENTRE TENTATIVA (ART. 14, II),
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E
ARREPENDIMENTO EFICAZ (ART. 15)
Considera-se tentado o crime quando, iniciada a sua execução, não se
verifica o resultado naturalístico (morte) por circunstâncias alheias à vontade
do agente (CP, art. 14, II).
Há quatro tipos de tentativa:
Tentativa imperfeita - processo executivo foi interrompido. Tratando-se de
crime material, o homicídio admite tentativa, que ocorrerá quando, iniciada a
execução do homicídio, este não se consumar por circunstâncias alheias à
vontade do agente. Após desferir um tiro no braço da vítima o agente é
surpreendido por terceiro, que retira a arma de suas mãos.
Tentativa perfeita - será considerada quando o agente esgotar o processo de
execução do crime, fazendo tudo o que podia para matar, exaurindo a sua
capacidade de vulneração da vítima. Embora o agente deflagre todas as balas
do revólver contra a vítima, esta sobrevive.
Tentativa cruenta: quando a vítima sofre ferimentos.
Tentativa branca (ou incruenta): é aquela que não resulta qualquer ferimento
na vítima. Desfere vários tiros contra a vítima, mas por erro de pontaria
atinge a parede da casa. Tentativa
Desistência voluntária e arrependimento eficaz (CP, art. 15) são espécies de
tentativa abandonada.
O agente só responderá pelos atos até então praticados como delitos
autônomos. Ambos os institutos são aplicáveis ao crime de homicídio.
Desistência voluntária. Trata-se de voluntária interrupção do iter criminis; o
agente interrompe voluntariamente a execução do crime, impedindo a sua
consumação. Por exemplo: o agente tem um revólver municiado com seis
projéteis. Efetua dois disparos contra a vítima, não a acerta e, podendo
prosseguir atirando, desiste por vontade própria e vai embora.
Arrependimento eficaz. O agente, após encerrar a execução do crime,
impede a produção do resultado naturalístico. Aqui a execução do crime é
realizada inteiramente, e o resultado é que vem a ser impedido, ao contrário
da desistência voluntária. Por exemplo: o agente descarrega sua arma de fogo
na vítima, ferindo-a gravemente, mas, arrependendo-se, presta-lhe imediato e
exitoso socorro, impedindo o evento letal.
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO
EFICAZ
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à
pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da
denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será
reduzida de um a dois terços.
Não se aplica ao homicídio. O arrependimento posterior, só pode
acontecer em crimes praticados sem violência ou grave ameaça,
desde que o agente repare o dano ou restitua a coisa até o
recebimento da denúncia ou da queixa.

Arrependimento posterior
CESPE - MPE - SE - Promotor de Justiça Substituto - 2010
Assinale a opção correta acerca do homicídio privilegiado.
a) A natureza jurídica do instituto é de circunstância atenuante
especial.
b) Estando o agente em uma das situações que ensejem o
reconhecimento do homicídio privilegiado, o juiz é obrigado a
reduzir a pena, mas a lei não determina o patamar de redução.
c) O relevante valor social não enseja o reconhecimento do
homicídio privilegiado.
d) A presença de qualificadoras impede o reconhecimento do
homicídio privilegiado.
e) A violenta emoção, para ensejar o privilégio, deve ser dominante
da conduta do agente e ocorrer logo após injusta provocação da
vítima.
CC - TRT 8ª - Analista Judiciário - Judiciário - 2010
No crime de homicídio,
a) não há incompatibilidade na coexistência de circunstâncias
objetivas que qualificam o crime e as que o tornam privilegiado.
b) há incompatibilidade na coexistência de quaisquer circunstâncias
que qualificam o crime e as que o tornam privilegiado.
c) não há incompatibilidade na coexistência de circunstâncias
subjetivas que qualificam o crime e as que o tornam privilegiado.
d) há incompatibilidade na coexistência de duas ou mais
qualificadoras, ainda que objetivas.
e) não há incompatibilidade na coexistência de duas qualificadoras de
natureza subjetiva.
FCC - MPE - CE - Promotor de Justiça - 2009
O reconhecimento do homicídio privilegiado é incompatível com a
admissão da qualificadora
a) do motivo fútil.
b) do emprego de explosivo.
c) do meio cruel.
d) do emprego de veneno.
e) da utilização de meio que possa resultar em perigo comum
• Homicídio culposo é aquele praticado por negligência (culpa
negativa, deixa de fazer aquilo que a cautela recomenda),
imprudência (culpa positiva, prática de um ato perigoso) ou
imperícia (fata de aptidão para o exercício de arte, profissão ou
oficio) (art. 18, II, do CP).
• Não há vontade de matar, mas culpa, por inobservância de certos
cuidados, dever objetivo de cuidado.
• Por ser exceção à responsabilidade decorrente da vontade, o crime
culposo só ocorre se expressamente previsto (parágrafo único do
art. 18 do CP).

Homicídio Culposo - §3º


A conduta do pai que esquece o filho dentro do carro, gerando
sua morte. Homicídio Culposo por Ação ou Crime Omissivo
Impróprio?
•Se a criança, em razão da negligência do pai, já foi encontrada
morta, a ele deve ser atribuído um homicídio culposo (homicídio
culposo comissivo, ou seja, por ação);
•Se a criança foi encontrada pelo pai em estado de alto risco
(desacordada, quase falecida, desnutrida), mas ainda com vida, e o
pai, diante dessa situação de perigo nada fez (omitiu-se), responde
por homicídio culposo por omissão (crime omissivo impróprio ou
comissivo por omissão, decorrente de comportamento anterior do
próprio agente, que gerou a situação de risco e, depois, podia agir
para evitar o resultado e não agiu).

Homicídio Culposo - §3º


• Causas de Aumento de Pena - §4º:
-Inobservância de regra técnica (diferente de imperícia) de
profissão, arte ou ofício;
a) Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício: a
inobservância de regra técnica ocorre quando o sujeito tem
conhecimento dela pois é um profissional, mas a desconsidera. Não
se confunde inobservância de regra técnica com imperícia. No caso
do aumento de pena, o agente conhece a regra técnica, porém deixa
de observá-la; enquanto na imperícia, que pressupõe inabilidade ou
insuficiência profissional, ele não a conhece, não domina
conhecimentos técnicos.

Causa de aumento de pena no homicídio


culposo
b) Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima:
Abandonar a vítima à própria sorte. O agente, após dar causa ao
evento ilícito de forma culposa, omite-se no socorro necessário a
evitar que a vítima continue a correr perigo de vida ou de saúde. O
operário de uma obra em construção, em lugar ermo, que de forma
culposa deixa cair o andaime sobre o seu único colega que se
encontrava no local, e que se omite em prestar-lhe imediato socorro,
deixando-o à própria sorte, o qual vem a falecer algumas horas depois.
Importa notar que essa omissão de socorro, como causa de aumento de
pena, distingue-se daquela prevista no art. 135 do CP. Para que haja a
causa de aumento, a mesma pessoa que criou a situação é obrigada a
prestar o socorro. Na omissão de socorro (CP, art. 135), a pessoa que
está obrigada a prestar o socorro não se confunde com quem causou a
situação de perigo.
Causa de aumento de pena no homicídio
culposo
Agente que se evade do local por temer represálias.
É predominante a jurisprudência no sentido de não incidir o
agravamento da pena em estudo quando o agente, por fundado receio
de sofrer represálias dos populares que se encontram no local dos
fatos, abandona o local sem prestar socorro à vítima. Tal
entendimento, no entanto, deve ser excepcional, somente podendo ser
invocada se for evidente e indiscutível que o motorista sofreria risco
de vida se permanecesse no local.
O perdão judicial está previsto no art. 121, § 5º, do CP. Trata-se de
causa de extinção da punibilidade (sentença declaratória) aplicável à
modalidade culposa do delito de homicídio. Ocorre nas hipóteses de
homicídio culposo em que as consequências da infração atingiram o
agente de forma tão grave que acaba por tornar-se desnecessária a
aplicação da pena.

Perdão judicial
• Os crimes de trânsito têm tratamento legal previsto pelo
Código de Trânsito Brasileiro, qual seja a Lei 9503/97
• “Art. 302- Praticar homicídio culposo na direção de
veículo automotor:

Homicídio culposo praticado na direção


de veículo automotor – Código de Trânsito
A culpa exclusiva da vítima, contudo, exclui a do agente.
Um indivíduo que trafegava normalmente com seu veículo
automotor, dentro da velocidade permitida, cuja sinalização do
semáforo lhe era favorável, e acaba por atropelar um transeunte que
atravessava correndo a avenida fora da faixa de pedestre.

Um indivíduo na direção de seu automóvel imprime maior


velocidade para chegar mais rápido ao seu trabalho. Verifica-se aqui
que há uma ação dirigida a uma finalidade lícita, qual seja, chegar
mais depressa ao trabalho; contudo, por estar imprimindo velocidade
excessiva em seu automóvel (quebra do dever objetivo de cuidado
através de uma conduta imprudente), não consegue freá-lo a tempo
de impedir o atropelamento de um transeunte.

Homicídio culposo praticado na direção


• Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço)
se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou
maior de 60 (sessenta) anos.
• § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de
prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.

Causa de aumento no homicídio doloso


• Idade da vítima: Menor de 14 anos e Maior de 60 anos. O agente
deve ter conhecimento da idade.
• Milícia privada: agrupamento armado e estruturado de civis,
inclusive com a participação de militares fora de suas funções,
com a finalidade de instaurar a segurança em locais controlados
pela criminalidade em face da inoperância do Estado.
• Grupo de extermínio: associação de matadores, composta de
particulares e muitas das vezes por policiais autointitulados de
“justiceiros” que buscam eliminar pessoas deliberadamente
rotuladas como perigosas, inconvenientes à coletividade.

Causa de aumento no homicídio doloso


Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
feminino:
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo
feminino quando o crime envolve: (
Incluído pela Lei nº 13.104, de 05 DE MARÇO DE 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº
13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de
mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
FEMINICÍDIO
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um
terço) até a metade se o crime for praticado:
(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores
ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de
60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído
pela Lei nº 13.104, de 2015)
III - na presença de descendente ou de ascendente da
vítima.

FEMINICÍDIO
O §7º cria a qualificadora do crime de homicídio chamada de
feminicídio, que seria a violência contra a mulher, caracterizada
pela presença das circunstâncias presentes nos incisos de I a III,
cuja pena prevista é de 12 a 30 anos de reclusão.
Entende-se razões de condição de sexo feminino quando o crime
envolve: violência doméstica e familiar (art. 5º da lei 11.340/06) e
menosprezo ou discriminação à condição de mulher (pelo simples
fato de ser mulher, condição de inferior).

FEMINICÍDIO
Todo homicídio de mulher (femicídio) será feminicídio?
Numa briga originada de um desentendimento no trânsito, temos um
crime de homicídio qualificado por motivo fútil (artigo 121, §
2º., II, CP) e não o Feminicídio, previsto no artigo 121, § 2º., VI, CP.
Ou seja, não é todo homicídio de mulher que configura um
Feminicídio, mas apenas aqueles em que se revele a chamada
“violência de gênero”.

FEMINICÍDIO
Sujeito ativo
Pode ser qualquer pessoa (trata-se de crime comum).
O sujeito ativo do feminicídio normalmente é um homem, mas
também pode ser mulher.

Não se limitando às relações com vínculo matrimonial, mas


estendendo-se aos conviventes, noivos, namorados e parceiros,
além daqueles praticados por um membro da família, como o pai,
padrasto, irmão ou primo; e feminicídio não íntimo, aquele em
que a vítima não tinha qualquer relação de casal ou familiar com
o homicida. Incluem-se nessa categoria a morte provocada por
clientes – em se tratando de trabalhadoras sexuais –, por amigos,
vizinhos.
FEMINICÍDIO
Sujeito passivo
Obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança,
adulta, idosa, desde que do sexo feminino)
E o Transexual, homossexual e travesti?
1.transexualiade é um transtorno de identidade de gênero. A identidade
de gênero é o gênero como a pessoa se enxerga (como homem ou
mulher).
2.homossexualidade (não se fala homossexualismo) está ligada à
orientação afetiva e sexual, ou seja, a pessoa tem atração emocional,
afetiva ou sexual por pessoas do mesmo gênero. O homossexual não
possui nenhuma incongruência de identidade de gênero.
3.o travesti (sempre utiliza-se o artigo no feminino), por sua vez, possui
identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico, mas, diferentemente
dos transexuais, não deseja realizar a cirurgia de redesignação sexual.
FEMINICÍDIO
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela
Lei nº 13.142, 06 DE JULHO de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Homicídio de autoridades, agentes e
integrantes dos órgãos de segurança
pública
Sujeito ativo: qualquer pessoa;
Sujeito passivo: autoridades ou agentes dos arts. 142 e 144 da CF. Forças
Armadas (Marinha, Exército, Aeronáutica);
Autoridades ou agentes que integram ou exercem atividades de segurança
pública: PF, PRF, PFF, Polícia civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros
militares. Membros do sistema prisional que integram a segurança pública.
Força Nacional de Segurança Pública;
Guardas Municipais;
Agentes de segurança viária (via pública): agentes de trânsito, educação,
engenharia e fiscalização de trânsito.

Homicídio de autoridades, agentes e


integrantes dos órgãos de segurança
pública
Familiares das autoridades, agentes e integrantes dos órgãos de
segurança pública
• Estende esta qualificadora do homicídio para o crime praticado
contra cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau
das autoridades, agentes e integrantes dos órgãos de segurança
pública.
• Parentes consanguíneos até 3º grau” abrange: ascendentes (pais, avós,
bisavós); descendentes (filhos, netos, bisnetos); colaterais até o 3º
grau (irmãos, tios e sobrinhos). Todos, portanto, podem ser vítimas
desse homicídio qualificado, desde que o homicídio esteja vinculado
ao exercício da função do agente público ou seja em decorrência dela.
Homicídio de autoridades, agentes e
integrantes dos órgãos de segurança
pública
Bem jurídico: função pública.
EXERCÍCIO DA FUNÇÃO OU EM DECORRÊNCIA DELA

Eventual assassinato de um policial, por exemplo, em seu dia de


folga, em circunstância sem qualquer vínculo com sua função não se
caracterizará esta qualificadora, ainda que o assassino tenha
conhecimento de que se trata de um policial, mas essa circunstância
não foi a causa da morte. Em outros termos, a vítima não se
encontrava em serviço e a morte não tem qualquer ligação com a
função ou cargo que aquela exercia. Poderá incidir, eventualmente,
qualquer outra qualificadora, como, por exemplo, motivo fútil ou
recurso que dificultou a defesa do ofendido etc., mas não esta. (Cezar
Roberto Bitencourt, 2015).
Homicídio de autoridades, agentes e
integrantes dos órgãos de segurança pública

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