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DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

Olá, vamos começar a estudar a parte especial do Código Penal, ou seja, os crimes em
espécies. Começaremos pelo artigo 121, o famoso HOMICÍDIO.
Os crimes contra a pessoa são aqueles que mais imediatamente afetam a pessoa (ente
humano). Os bens físicos ou morais que eles ofendem ou ameaçam estão intimamente
consubstanciados com a personalidade humana. Tais são: a vida, a intangibilidade corpórea
(integridade corporal), a honra e a liberdade do indivíduo.

Os quatro são requisitos fundamentais para a vida comunitária, logo o bem jurídico
tutelado tem caráter eminentemente público (o Estado os resguarda e defende).

CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A VIDA

Estes se dividem em 04 espécies, a saber:


a) Homicídio
b) Infanticídio
c) Instigação e auxílio ao suicídio
d) Aborto

CRIME DE HOMICÍDIO

Homicídio simples

Art. 121. Matar alguem:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Consumação do homicídio
Ocorre a consumação do crime com a morte cerebral da vítima.

Homicídio privilegiado (art. 121, §1º)

Caso de diminuição de pena


§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
reduzir a pena de um sexto a um terço.

A pena será reduzida de 1/3 a1/6.


Hipóteses do homicídio
privilegiado:
I. Se o homicídio é praticado por motivo de relevante valor social. Ex.: matar o traidor da pátria.
II. Se o homicídio for praticado por motivo de relevante valor moral. Ex.: eutanásia.
III. Se o agente mata sob o domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da
vítima. Ex.: quando alguém mata em flagrante adultério.
Obs.: as três hipóteses têm caráter subjetivo.
É possível termos homicídio privilegiado qualificado ou qualificado privilegiado?
SIM! Desde que as qualificadoras sejam objetivas. Ex.: Matar o estuprador da minha filha com fogo.

Homicídio qualificado (art. 121, §2º)


Homicídio qualificado

§ 2° Se o homicídio é cometido:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por

outro motivo torpe; II - por motivo futil;

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que possa resultar perigo comum;

IV- à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossivel a defesa do ofendido;

V- para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou

vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Qualificadoras:
INCISO I
• Mediante paga ou promessa de recompensa: a qualificadora existe ainda que o contratante
não entregue o que prometeu (valores econômicos).

• Motivo torpe: é o motivo imoral, vil, repugnante. Ex.: o filho que mata o pai para ficar com
a herança; morte por preconceito (raça, cor, religião, opção sexual.
INCISO II
• Motivo fútil: é o motivo pequeno para matar alguém. Ex.: matar porque fez uma
barbeiragem no transito; porque a vítima fez uma brincadeira com o seu time.

Obs.: Essas três hipóteses são de qualificadoras subjetivas.

INCISO III

• Emprego de veneno. Ex.: o açúcar para o diabético.


• Fogo.
• Explosivo.
• Asfixia: é o impedimento da função respiratória que pode se dar mecânica ou toxica.
Tortura: quando o meio empregado demora a causar a morte da vítima. Ex.: matar alguém de
fome, sede, insolação, frio, etc.

• Meio cruel: também causa grande sofrimento na vítima antes de sua morte, mas são mais
rápidos. Ex.: atropelamento intencional, espancamento, apedrejamento, pauladas, com
ácido.

• Meio insidioso: é o meio fraudulento, velado para matar a vítima, como ocorre no caso das
armadilhas e sabotagens, como por exemplo no freio do carro, etc.

• Meio de que possa resultar perigo comum: é o meio que além de matar a vítima exponha
a risco um grande número de pessoas. Ex.: matar a vítima no meio de um show, baile funk.

Obs.: As qualificadoras DO INCISO III são objetivas porque são ligadas aos meios de execução do
homicídio.

INCISO IV

• Emboscada: o agente fica de tocaia esperando a vítima.


• Traição: o agente se vale de alguma facilidade decorrente da prévia confiança que a vítima
nele deposita, para matá-la em momento inesperado. Ex.: marido que mata esposa
enquanto ela está dormindo.

• Dissimulação: trata se de uma farsa para se aproximar da vítima e matá-la de forma


inesperada.

• Qualquer outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. Ex.: golpe
de surpresa ou pelas costas.
Obs.: Essas qualificadoras também são objetivas porque são ligadas ao modo de execução do
homicídio.

INCISO V

• Matar para assegurar a execução de outro crime. Ex.: matar o marido para estuprar a
esposa.

• Matar para garantir a ocultação de outro crime: a intenção do agente é evitar que a
ocorrência do crime anterior chegue ao conhecimento público ou das autoridades. Ex.:
matar alguém que estava prestes a descobrir o crime.

• Matar para garantir a impunidade de outro crime: neste caso a ocorrência do crime
anterior já é de conhecimento público ou das autoridades, de modo que a intenção do
homicida é

apenas de evitar a concretização da pena. Ex.: matar uma testemunha que tem
conhecimento dos fatos para que não preste depoimento em juízo.

• Matar para assegurar a vantagem de outro crime. Ex.: matar para evitar que o outro ladrão
fique com todo dinheiro fruto do crime.
Obs.: ESTAS QUALIFICADORAS DO INCISO V são subjetivas.

INCISO VI

Feminicídio: homicídio praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino (violência
doméstica e familiar); menosprezo ou descriminação a condição de mulher.
Este homicídio qualificado foi inserido pela lei 13.104 de 2015, entendido como a morte de
mulher em razão da condição do sexo feminino.
CUIDADO! O Sujeito ativo pode ser tanto um homem quanto uma mulher. O que estamos
analisando é o crime de homicídio ser em razão de gênero feminino.

Art.121, § 2 [...]

Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104,
de 2015)

[...]
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Com essa nova introdução, também foi acrescentado o § 2-A, para esclarecer quando a
morte da mulher deve ser considerada em razão da condição do sexo feminino.

§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

• E a condição do transexual, como fica? Basicamente, há dois entendimentos:

a) não há Feminicídio contra transexual, pois é geneticamente homem (conceito biológico);

b) adota-se o “conceito jurídico”, pois, se a Justiça autorizou a modificação do documento, pode


ser vítima de Feminicídio.

Ainda que pese inúmeras discussões acerca do tema, prevalece o segundo entendimento na
corrente majoritária.
TIVEMOS ALTERAÇÕES PELA LEI 13.771/18, QUE ATUALIZOU ALGUMAS HIPÓTESES DE
AUMENTO DE PENA NO FEMINICÍDIO:

§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado:

(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)


I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº
13.104, de 2015)

II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com


deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018)

- na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (Redação


III
dada pela Lei nº 13.771, de 2018)

IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e


III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771,
de 2018)

Observe que para que tal majorante seja aplicada ao agente é necessário que “todas elas
tenham ingressado na sua esfera de conhecimento, pois, caso contrário, poderá ser alegado o erro
de tipo, afastando-se, consequentemente, o aumento de pena” (GRECO, 2017, p. 502).

Com nova redação dada pela lei nº. 13.771/2018, o inciso II teve um acréscimo no que tange
à pessoa “portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental”. Antes de tal acréscimo a doutrina discutia se as doenças
degenerativas integravam o conceito de deficiência, onde nos termos dos artigos 3º e 4º do
Decreto nº 3.298/1999, que regulamentou a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, a deficiência
pode ser física, auditiva, visual ou mental.
Quanto ao novo Inciso IV deve-se lembrar que as medidas protetivas de urgência previstas
nos incisos I, II e III do art. 22 da Lei nº. 11.340/2006 são as seguintes: “Art. 22. Constatada a prática
de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de
imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de
urgência, entre outras: I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação
ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; II - afastamento
do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de determinadas condutas,
entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite
mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e
testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) freqüentação de determinados lugares a fim
de preservar a integridade física e psicológica da ofendida”.
Observe que ficaram de fora às hipóteses previstas nos incisos IV e V do citado artigo, que
prescrevem as medidas protetivas de urgência de: “IV - restrição ou suspensão de visitas aos
dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V -
prestação de alimentos provisionais ou provisórios”.

Nestes casos, por falta de expressa previsão legal e em respeito ao princípio da reserva legal,
caso o feminicídio seja praticado diante de restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
menores ou diante de prestação de alimentos provisionais ou provisórios não poderá sofrer a
incidência da referida causa de aumento de pena.
Deve ser observado ainda eventual conflito da majorante em análise com o delito do art. 24-
A[3] da Lei nº. 11.340/2006 (crime de descumprimento de medidas protetivas de urgência).
Dissertando sobre o assunto o professor Rogério Sanches afirma que “desde a entrada em vigor
da Lei 13.641, em abril de 2018, o descumprimento de medidas protetivas é crime punido com
detenção de três meses a dois anos, mas, se ocorre no mesmo contexto da prática do homicídio,
incide apenas a causa de aumento, afastando-se a figura criminosa autônoma diante do bis in idem
provocado pela imputação simultânea”.

INCISO VII

Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144, da CF. Ex.: Policial Rodoviário
Federal. Integrante do sistema prisional e da força de segurança pública, no exercício da função ou
em decorrência dela contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau
em razão desta condição. É chamado de homicídio funcional.

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função
ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

Obs.: tanto o feminicídio e o homicídio funcional são qualificadoras subjetivas.

Cuidado: é possível a existência de homicídio qualificado privilegiado desde que as


qualificadoras sejam objetivas até porque as três hipóteses de privilégios são subjetivas. Então
só teremos se tivermos os incisos II, III e IV.
Lembrando que o Homicídio privilegiado qualificado não é considerado crime hediondo.

Homicídio culposo
O homicídio é o único crime contra a vida que possui modalidade culposa.

§ 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA NO HOMICÍDIO


§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para
evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço)
se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

PERDÃO JUDICIAL NO HOMICÍDIO CULPOSO (art. 121, §5º)


§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal
se torne desnecessária.

O juiz pode deixar de aplicar a pena quando verificar que as consequências do crime culposo
atingiram o agente de forma tão grave que sua imposição se mostra desnecessária. Ex.: os exemplos
mais comuns são aqueles em que a vítima é um parente, como por exemplo filho.

AUMENTO DE PENA MILÍCIA PRIVADA

§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio.

INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO E AUXÍLIO AO


SUICÍDIO (art. 122)

Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos,
se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.

Parágrafo único - A pena é duplicada:

Aumento de pena

I - se o crime é praticado por motivo egoístico;

II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

Neste caso, o agente não é partícipe, ele é autor, porque a conduta criminosa é induzir,
instigar e auxiliar, cuja pena será a reclusão de 02 a 06 anos.
É um crime que só existe na modalidade dolosa e só se consuma se a vítima realmente se
suicidar ou, quando a sua tentativa gera lesões graves. Se as lesões forem leves, o agente também
não responderá pelo crime.

A pena para o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio é a reclusão de 02 a 06 anos. Mas, se


não vier acontecer o agente responderá por tentativa. Cuidado, que só será punido se a vítima
sofrer pelo menos lesões graves a pena é a metade, de 01 a 03 anos (Assim fica fácil de lembrar).
A pena será duplicada caso o crime tenha sido praticado por motivo egoístico ou a vítima
seja menor ou estiver em situação de vulnerabilidade, essa pena será duplicada em qualquer um
dos casos, se resulta lesões graves ou se consuma.
Contudo, só haverá crime de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio contra menor
de idade se este menor tiver capacidade de autodeterminação. Portanto, ajudar uma criança de 02
anos a pular da janela, não é caso de auxílio ao suicídio e sim, uma hipótese de homicídio
qualificado. Diferentemente ocorre se esse auxílio for a um menor de 17 anos, neste caso, o menor
possui capacidade de autodeterminação.
Uma questão frequente em prova diz respeito ao pacto de morte. Por exemplo, quando
um casal resolve, juntos, cometer um suicídio, mas um deles desiste ou sobrevive. Outro exemplo
é a prática da chamada “roleta russa”. Os sobreviventes, nesses casos, responderam criminalmente
pelo induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, conforme o caso concreto.
INFANTICÍDIO (art. 123, CP)

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho,

durante o parto ou logo após:

Pena - detenção, de dois a seis anos.

Pratica o infanticídio a mãe que mata o seu filho durante, ou logo após, o parto sob a
influência do estado puerperal, incidindo em pena de detenção de 02 a 06 anos.
É uma hipótese de crime próprio (classificação que toma como parâmetro o sujeito ativo
da conduta). Crime próprio é aquele que exige uma qualidade especial daquele que o pratica, no
caso, a agente deverá ser a mãe.

A doutrina costuma se referir ao infanticídio como um crime bipróprio, por que ele exige
uma qualidade especial do agente e exige uma qualidade especial da vítima. Ou seja, é um crime
em que o sujeito ativo deve ser a mãe e o passivo (a vítima) deve ser o filho.
Para que se configure o infanticídio, o crime deverá ter sido praticado durante ou logo após
o parto. Lembrando que o parto se inicia com a dilatação do colo do útero. Antes do início do parto
não há de se falar em infanticídio e sim em aborto, vez que antes da dilatação do colo do útero a
vida é intrauterina.

Caso a mãe, sob a influência do estado puerperal, mate, por engano, o filho de uma
pessoa achando que era o seu filho, ela será responsabilizada como se tivesse matado o próprio
filho. Seria uma hipótese de erro quanto a pessoa.

ABORTO

Existem mais de uma espécie de aborto, como se pode observar:


1. Aborto praticado pela gestante (auto aborto)
2. Aborto praticado por terceiro:
2.1. Sem o consentimento da gestante
2.2. Com o consentimento da gestante

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento


Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF
54)

Pena - detenção, de um a três anos.

Aborto provocado por terceiro

Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:

Pena - reclusão, de três a dez anos.

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)

Pena - reclusão, de um a quatro anos.

Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze
anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave
ameaça ou violência

Forma qualificada

Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se,
em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a
morte.

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)

Aborto necessário

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

- se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou,


II
quando incapaz, de seu representante legal.

Lembrando que o único crime contra a vida em que se admite a modalidade culposa é o
homicídio. Portanto, só existe aborto em sua modalidade dolosa.
Portanto, se a gestante ingere uma substância abortiva sem ter conhecimento, ela não
será punida pelo crime de aborto já que esse tipo penal não admite a modalidade culposa.
O aborto praticado pela gestante (auto aborto) possui uma pena de 01 a 03 anos.

No crime praticado por terceiro com o consentimento da gestante, esse terceiro


responderá pelo crime de aborto com pena de 01 a 04 anos e a gestante que consentiu responde
como se tivesse praticado o auto aborto, cuja pena é de 01 a 03 anos.

Se o crime é praticado por terceiro sem o consentimento da gestante, ou a gestante não é


maior de 14 anos ou alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude,
grave ameaça ou violência, a pena será mais grave, de 03 a 10 anos.
E se, em virtude do aborto, a gestante sofrer lesões corporais de natureza grave as penas
são aumentadas de um terço (1/3); e se a gestante vier a morrer, será o caso de aborto
qualificado pela morte, previsto no artigo 127, onde a pena será duplicada.

Há casos de aborto que são permitidos pelo nosso Código Penal. Nesses casos, o aborto
deverá ser realizado por médico, conforme dispõe Código Penal. Contudo, se, incidindo em alguma
das hipóteses de aborto permitido no Brasil, este for realizado por outra pessoa que não um
médico (uma parteira, por exemplo), é possível que se faça uma analogia in bonam partem.

Hipóteses de aborto permitidas no Brasil (artigo 128):


Aborto necessário: é aquele realizado por médico quando há risco de vida da gestante.
Aborto Humanitário: ocorre quando a gravidez resulta do estupro.
Não se faz necessário uma autorização judicial para que se realize qualquer dessas duas
espécies de aborto permitidas pela legislação.
Importante lembrar, ainda, que o Supremo Tribunal Federal permitiu a antecipação
terapêutica da gravidez na hipótese de feto com anencefalia.

CAPÍTULO II
DAS LESÕES CORPORAIS

A lesão corporal poderá ser dolosa ou culposa. A dolosa, por sua vez, poderá ser leve,
grave ou gravíssima.
A lesão corporal leve possui pena de 03 meses a 01 ano, contudo, se praticada no âmbito
doméstico ou familiar a pena será elevada para até 03 anos, lembrando, ainda, que essa lesão
praticada em ambiente domiciliar não será apenas contra mulher, como ocorre mais precisamente
na lei Maria da Penha.
A lesão grave é de natureza qualificada e a pena máximo atinge 05 anos. Um exemplo de
lesão grave ocorre quando, em decorrência desta, o sujeito fica inabilitado de exercer as suas
funções por mais de 30 dias, quando dessa lesão resulta aceleração do parto, quando há debilidade
de membro, órgão ou função.
O código fala, ainda, de uma outra modalidade de lesão qualificada cuja pena poderá
chegar a 08 anos. Essa modalidade foi denominada pela doutrina de lesão gravíssima. Ocorre

a lesão gravíssima, por exemplo, quando, em decorrência desta há a perda do membro, sentido
ou função; quando há o aborto, o perigo de vida, a debilidade permanente.
A lesão corporal admite a modalidade culposa.
A lesão leve (se não cometida no âmbito residencial ou domiciliar) e a culposa são
infrações de menor potencial ofensivo.

LESÃO CORPORAL:
1. DOLOSA
1.1. Leve
1.2. Grave (§ 1º)
1.3. Gravíssima (§2º)
2. CULPOSA

CAPÍTULO II

DAS LESÕES CORPORAIS

Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a

saúde de outrem: Pena - detenção, de três

meses a um ano.
Lesão corporal de natureza grave

§ 1º Se resulta:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 2° Se resulta:

I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incuravel;


III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente;
V - aborto:

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Lesão corporal seguida de morte


§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem
assumiu o risco de produzí-lo:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Diminuição de pena

§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
a pena de um sexto a um terço.

Substituição da pena

§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas.

Lesão corporal culposa

§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)


Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Aumento de pena

§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o
do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.(Redação dada pela Lei nº
8.069, de 1990)

Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)

§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou


companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de
2006)

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas
no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)

§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for
cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços.
(Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

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