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INTRODUÇÃO

 Temática: A violência doméstica e familiar contra a mulher e a Lei Maria da Penha (Lei nº
11.340/06).
 Problema de Pesquisa: De acordo com um estudo divulgado em 2015 pela Flacso Brasil, o
Brasil foi apontado como o 5º país no mundo que mais mata mulheres (WAISELFISZ, 2015, p.
27-28). Diante dessa estatística internacional, resta-nos fazer algumas indagações.
 Objetivo Geral: O estudo do contexto fático-social em que se insere a mulher que é vítima
da violência de gênero no âmbito intrafamiliar e uma análise jurídica pormenorizada, e ao
mesmo tempo crítica e reflexiva, acerca dos principais pontos da Lei nº 11.340/06.
 Justificativas: A Lei Federal 11.340 de 2006 está constantemente sofrendo alterações
progressistas e oportunas em seu texto de lei, em razão disso, se faz necessário estudá-la
para que se possa estar sempre atualizado a seu respeito. Ademais, a violência contra a
mulher ainda é um fenômeno aflorado em nossa sociedade brasileira.
 Metodologia: A presente pesquisa acadêmica ateve-se à revisão bibliográfica (doutrina,
jurisprudência e legislação pátria vigente).
1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

1.1 A sociedade patriarcal e a desigualdade de gênero no Brasil e no mundo (As


estatísticas apontam: dados nacionais extraídos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública)

 A violência contra a mulher se mostra como um


fenômeno extremamente complexo que nasce no
❑ Nos Estados Unidos, as mulheres só
seio da sociedade (CASIQUE et al., 2006, p. 950-
conquistaram o direito ao voto em 1920
956). Envolvendo uma gama de fatores
determinantes e inúmeros contextos sociais, ela se
(SANDEL, 2015, p. 250-251).
mantém como um estrutural problema de saúde ❑ Em termos de Brasil, somente em 1879
pública (BERNARDO, 2020). nos fora permitido ingressar no ensino
 Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública
superior, sendo que a plenitude de
2020, a cada 8 minutos, um estupro é cometido no
direitos políticos às mulheres só veio em
Brasil (FBSP, 2020, p.132).
1932 (BRASIL, c2022; NOVAIS, 2021).

 Ao olharmos para a história da humanidade


❑ Já na Arábia Saudita, as mulheres
constatamos que as mulheres, desde sempre, apenas tiveram sua elegibilidade e o
estiveram em desvantagem histórica, sendo que a direito ao voto reconhecido em 2015 e a
maioria dos direitos positivados que foram permissão para obterem carteira de
conferidos à figura feminina se deram na motorista em 2018 (MARINS, 2020).
Contemporaneidade.
Recentemente (15/03/2021), o Plenário da
Suprema Corte brasileira decidiu, por
unanimidade e tardiamente, declarar a
inconstitucionalidade da tese da legítima
defesa da honra na ADPF 779/DF (BRASIL,
2022; PELICIOLI, 2021).

O STF entendeu que “[...] quem pratica


feminicídio ou usa de violência com a
justificativa de reprimir um adultério não
está a se defender, mas a acatar uma
mulher de forma desproporcional,
covarde e criminosa” (BRASIL, 2021), o que
descaracteriza o instituto da legítima
defesa. Em razão das medidas sanitárias adotadas por conta
da pandemia de covid-19, mulheres e crianças se
A esdrúxula tese ganhou notoriedade ao viram obrigadas a conviver mais tempo com seus
ser associada ao escandaloso Caso Doca violentadores ao ficarem confinadas dentro de casa,
Street (1976), e, em razão disso, obter o que gerou uma escalada vertiginosa no número
de casos envolvendo a violência doméstica contra
repercussão midiática (CASTRO, 2020).
a mulher no Brasil (FBSP, 2020).
2 FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL E CONVENCIONAL
(art. 1º da LMP)

2.1 Direitos Humanos 2.2 O supraprincípio da 2.3 Convenção sobre a


Categoria de direitos que fora Dignidade da Pessoa Eliminação de Todas as Formas de
documentada, de maneira integral e pela Discriminação contra a Mulher
primeira vez, através da DUDH de 10 de Humana
dezembro de 1948, por ocasião da Se encontra expressamente Composta por 30 artigos, a Convenção
Assembleia Geral da ONU ocorrida em Paris. CEDAW fora adotada por ocasião da
elencado no art. 1º, III, da
- A violência doméstica e familiar contra a CF/88, é considerado como um Assembleia Geral da ONU, mediante
mulher constitui uma das formas de violação dos fundamentos basilares de elaboração da Resolução nº 34/180, de
dos direitos humanos (art. 6º da LMP). 18 de dezembro de 1979.
nossa República e do Estado
Democrático de Direito.
2.4 Convenção Interamericana 2.5 A Constituição Federal de
para Prevenir, Punir e Erradicar a 1988 e os Direitos Fundamentais
Violência contra a Mulher OBSERVAÇÃO Promulgada em 05 de outubro de 1988,
Formada por 25 dispositivos, a Convenção Além de outros tratados a emblemática Constituição Cidadã
de Belém do Pará fora expedida e aprovada internacionais ratificados pela representa um grande marco na luta
por ocasião da convocação da Assembleia República Federativa do Brasil pela conquista e efetivação dos direitos
Geral da OEA, que ocorrerá em nosso estado sociais do povo brasileiro, além de
que digam respeito à proteção
do Pará, na cidade de Belém, em 09 de ocupar papel de destaque em nosso
junho de 1994. dos direitos das mulheres.
ordenamento jurídico.
 A razão de ser da Lei Maria da Penha se encontra
fundamentada no art. 226, § 8º, da Constituição Federal de
1988, que confere total responsabilidade e legitimidade ao
Estado para agir pragmaticamente e criar mecanismos
assistenciais em prol da família.

Art. 226, § 8º, da CRFB/88. O Estado assegurará a


assistência à família na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a violência
no âmbito de suas relações.

 O STF, em 2012, já declarou a constitucionalidade da Lei nº


11.340/06 por meio da ADI 4.424/DF e da ADC 19/DF
(propiciar uma igualdade material entre os gêneros).
3 O CÍRCULO VICIOSO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

 Chamado também de ciclo da violência ou  Essa mulher que é protagonista no


de ciclo da agressão, ele se faz presente em relacionamento abusivo costuma
todas as relações afetivas abusivas. contrair o que Walker (1979) intitulou
como Síndrome do Desamparo
 A tese fora defendida pela pesquisadora
Aprendido ou Síndrome da Mulher
norte-americana Lenore E. A. Walker em
Espancada (apud MP-MS et al., 2009).
1979.
 Através de sua experiência como psicóloga
e dos 1.500 relatos de suas pacientes  Não há uma duração precisa e comum
catalogados, Lenore tirou suas próprias com relação ao tempo de duração de
conclusões e procurou registrá-las em seu cada ciclo e ao lapso temporal
livro The Battered Woman (A Mulher existente entre uma fase e outra.
Agredida).
3 O CÍRCULO VICIOSO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Ele é caracteristicamente impregnado da ideia de continuidade,


sendo necessariamente composto de três etapas principais:
Fase da Tensão: há o que identificamos como aumento
e acúmulo gradual da tensão, pois, com as frequentes
discussões, a paz deixa de reinar no relacionamento e
os ânimos ficam acirrados. A violência importará em
atos de agressão verbal.

Fase da Explosão: nela a agressão deixa de ser apenas


verbal e psicológica e dá lugar também às agressões
físicas ou sexuais.

Fase da Lua de Mel: o abusador se mostra arrependido,


tenta conquistar o perdão da vítima e ganhar
novamente a sua confiança, dando oportunidade para
que haja a reconciliação amorosa do casal.
4 ORIGEM E DENOMINAÇÃO DA “LEI MARIA DA PENHA”

4.1 Quem é Maria da Penha e qual foi sua real trajetória

❑ 1º júri: maio/1991 – 15 anos de prisão.


❑ Após o término dos estudos e com ❑ 2º júri: mar./1996 – 10 anos e meio de
o nascimento da primeira filha, se prisão.
mudam para Fortaleza (nascem
❑ Recorrendo em liberdade, consegue
duas outras filhas).
reduzir a pena para 8 anos e 6 meses de
Homenagem à biofarmacêutica ❑ 1ª tentativa: 29/05/1983 (vítima prisão (a pena ainda por executar).
cearense Maria da Penha Maia tinha 38 anos à época).
Fernandes, que devido às severas ❑ Maria da Penha propõe denúncia junto a
organização CEJIL e a rede feminista
agressões perpetradas por seu ❑ 2ª tentativa: out./1983 (cárcere
CLADEM à CIDH. Brasil é acusado de
marido, o economista colombiano e privado por 15 dias e eletrocussão). omissão quanto a prevenção e punição
professor universitário Marco Antonio da violência contra a mulher.
Heredia Viveros, fora condenada a ❑ Inicia uma árdua e longa batalha
uma cadeira de rodas. judicial contra seu ex-marido (19 ❑ Após quatro ofícios (1998 a 2001), em abril
anos e seis meses). de 2001, a CIDH/OEA expõe o Relatório nº
❑ Se conheceram na USP em 1974. 54/2001.
❑ Em set./1984, o MP denuncia o
❑ Após dois anos de namoro, agressor por dupla tentativa de ❑ Em outubro de 2002, Heredia é preso e
decidem-se casar em 1976. tem a execução da pena iniciada.
homicídio.
Terminou de cumpri-la em fev. de 2012.
4.2 Como a Lei 11.340/06 surgiu no ordenamento jurídico brasileiro

➢ O advento da Lei Federal nº 11.340/06 (lei extravagante com


conteúdo multidisciplinar) é fruto do compromisso assumido
pelo governo brasileiro frente à CIDH.
➢ Reputada pela ONU como a terceira melhor e mais
avançada legislação mundial no combate a violência
doméstica contra a mulher.
➢ Houve uma intensa articulação entre a sociedade civil e o
Poder Público (audiências públicas), e, em 03/12/2004, o
❑ Em julho de 2008, o estado do Ceará Projeto de Lei nº 4.559/04 foi apresentado à Câmara pelo
reconhece sua conduta negligente Executivo.
frente ao caso e concede uma ➢ Em 30/03/2006, o Projeto de Lei da Câmara nº 37/06 é
indenização de R$ 60.000,00 à vítima. remetido ao Senado.
❑ Em 2009, a ativista brasileira funda o ➢ Em 07/08/2006, a LMP fora aprovada no Congresso Nacional
Instituto Maria da Penha em Fortaleza. (processo legislativo célere).
➢ Composta de 46 dispositivos (sete títulos), a Lei 11.340/06 foi
❑ Em 2017, Maria da Penha é indicada
promulgada pelo ex-presidente Lula.
ao Prêmio Nobel da Paz.
➢ Em vigor desde 22/09/2006 (vacatio legis – 45 dias).
5 FINALIDADES E INTERPRETAÇÃO DA “LEI MARIA DA PENHA”

Podemos identificar a existência expressa de três finalidades distintas da Lei 11.340/06, a saber:

5.2 SEGUNDA FINALIDADE:


5.1 PRIMEIRA FINALIDADE: Criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher (art. 14, caput, da LMP)
Criação de mecanismos de repressão e - São varas especializadas, órgãos da Justiça Ordinária com
prevenção da violência doméstica e familiar competência cível e criminal (art. 14 da LMP).
contra a mulher - Excluem-se da apreciação dos JVDFM, qualquer demanda cuja
pretensão autoral esteja fundada em questão patrimonial (partilha
- Deste modo, com a vigência da Lei Maria da de bens).
Penha alterou-se o Decreto-Lei nº 2.848/1940 - Crimes dolosos contra a vida cometidos em um contexto de
(Código Penal), o Decreto Lei nº 3.689/1941 violência doméstica para com a mulher (STF e STJ): é permitido o
seu processamento pelos JVDFM até a fase de pronúncia.
(Código de Processo Penal) e a Lei nº
7.210/1984 (Lei de Execução Penal). - Na falta deles (JVDFM), as varas criminais são responsáveis por
julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica
 EXEMPLO: Por força do art. 45 da LMP, contra a mulher (art. 33 da LMP).
acrescentou-se o parágrafo único ao art. - Órgãos Revisores: os Tribunais de Justiça correspondentes.
152 da LEP, possibilitando ao magistrado a - Não se confundem com a figura dos Juizados Especiais Cíveis e
opção de se determinar a frequência de Criminais – Lei nº 9.099/95.
eventuais agressores de mulheres a - Os crimes e contravenções penais cometidos contra a mulher
programas de recuperação e reeducação. em um contexto de violência doméstica e/ou familiar deixaram
de ser considerados como infrações de menor potencial ofensivo,
Busca-se evitar a reincidência. melhor dizendo, não podem ser processados pelos JECRIM’s, nem
os agressores de mulheres serem beneficiados com os institutos
despenalizadores (art. 41 da LMP).
5 FINALIDADES E INTERPRETAÇÃO DA “LEI MARIA DA PENHA”

Podemos identificar a existência expressa de três finalidades distintas da Lei 11.340/06, a saber:

5.3 TERCEIRA FINALIDADE


5.4 Interpretação da Lei Maria da Penha:
Estipulação de medidas de proteção e assistência às art. 4º da Lei nº 11.340/06
mulheres vítimas de violência doméstica e familiar
- Nesse caso, a mulher já se encontra sofrendo ❑ Devem ser considerados, segundo o art.
abuso e experimentando algum tipo de violência
por parte de pessoa de seu convívio intrafamiliar. 4º da Lei nº 11.340/06, “[...] os fins sociais
a que ela se destina e, especialmente,
 EXEMPLO 1: A ofendida tem direito a ser
cadastrada nos programas assistenciais mantidos as condições peculiares das mulheres
pelos governos das três esferas (art. 9º, § 1º, da em situação de violência doméstica e
LMP).
familiar”, não podendo ela ser aplicada
 EXEMPLO 2: A ofendida tem direito a ver friamente ao caso concreto.
garantido a manutenção de seu vínculo
trabalhista, quando necessário o afastamento do ❑ “Na realidade, o legislador está a exigir
local de trabalho, por até seis meses (art. 9º, § 2º,
II, da LMP). que o intérprete faça, em qualquer
 EXEMPLO 3: É também seu direito receber hipótese, a interpretação teleológica,
atendimento policial e pericial especializado, que consiste na busca da finalidade da
ininterrupto e prestado por servidores – norma [...].” (HABIB, 2016, p. 823)
preferencialmente do sexo feminino –
previamente capacitados (art. 10-A, caput, da
LMP).
6 PRESSUPOSTOS CUMULATIVOS PARA APLICAÇÃO DA LEI
Não é toda violência dirigida à mulher que deve ser analisada sob o enfoque da Lei 11.340 de 2006.
Assim, podemos elencar ao menos três pressupostos para a aplicação dessa legislação (não são
alternativos):

1º PRESSUPOSTO: A mulher como o sujeito passivo da


violência doméstica e/ou familiar.
 1º PRESSUPOSTO: A mulher como o
sujeito passivo da violência doméstica ❖ Sujeito ativo: o homem (presunção absoluta) ou a
e/ou familiar. mulher (presunção relativa).
❖ Sujeito passivo: a mulher, pois presume-se a sua
 2º PRESSUPOSTO: A prática dessa vulnerabilidade situacional.
violência em um dos contextos de
incidência da violência de gênero ❖ Ainda que seja a ofendida uma pessoa famosa.
(art. 5º e incisos). ❖ Incluem-se os transgêneros (a transexual feminina e o
travesti), independentemente de alteração registral do
 3º PRESSUPOSTO: A caracterização de nome e de cirurgia de redesignação sexual, mas a
qualquer uma das formas de jurisprudência ainda diverge quanto a isso.
manifestação da violência contra a
❖ A divergência persiste com relação aos homossexuais
mulher (art. 7º e incisos). (casais gays e lésbicos), quando um dos parceiros
exerce o papel social da mulher na relação.
6 PRESSUPOSTOS CUMULATIVOS PARA APLICAÇÃO DA LEI

Não é toda violência dirigida à mulher que deve ser analisada sob o enfoque da Lei 11.340 de 2006.
Assim, podemos elencar ao menos três pressupostos para a aplicação dessa legislação:

2º PRESSUPOSTO: A prática dessa violência em um dos contextos


de incidência da violência de gênero (art. 5º e incisos):
❑ Âmbito da unidade doméstica (I): Engloba as empregadas 3º PRESSUPOSTO: A caracterização de qualquer
domésticas. uma das formas de manifestação da violência
contra a mulher (art. 7º e incisos):
❑ Âmbito da família (II): Indivíduos que são ou se consideram
aparentados. ➢ violência física (I), psicológica (II), sexual (III),
patrimonial (IV) e moral (V).
❑ Em qualquer relação íntima de afeto (III): Pressupõe uma
relação afetuosa de caráter sexual. Em se tratando de ➢ A violência deve ser cometida a título de dolo
namoro, o vínculo entre as partes não pode ser eventual, (elemento subjetivo) e em razão do gênero.
nem efêmero.
Portanto, conforme nos aclara Renato Brasileiro de Lima (2019):

[...] estão protegidas pela Lei Maria da Penha não apenas esposas, companheiras,
amantes, namoradas ou ex-namoradas, como também filhas e netas do agressor, sua mãe,
sogra, avó, ou qualquer outra parente do sexo feminino com a qual haja uma relação
doméstica, familiar ou íntima de afeto. (LIMA, 2019, p. 563, grifos nossos)
7 FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA VIOLÊNCIA
CONTRA A MULHER (art. 7º e incisos – rol exemplificativo)

Art. 5º, caput, da LMP. [...] qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: [...].

7.1 Violência Física (I) 7.2 Violência Psicológica (II)


São exemplos desse tipo de violência: São exemplos desse tipo de violência:
tapas, mordidas, esganaduras, socos, ameaças, insultos, humilhação, chantagem,
chutes, pontapés, empurrões, puxões de limitação do direito de ir e vir etc.
cabelo etc. Infrações penais relacionadas: artigos 147-A
Infrações penais relacionadas: o (Perseguição), 147-B (Violência psicológica
Feminicídio (art. 121, § 2º, VI, do CP), a contra a mulher), 216-B (Registro não
lesão corporal (art. 129, § 9º, do CP – autorizado da intimidade sexual) e 218-C
Violência Doméstica), a Vias de fato (art. (Divulgação de cena de estupro ou de
21 da LCP) e o crime de Tortura (art. 1º da cena de estupro de vulnerável, de cena de
Lei dos Crimes de Tortura). sexo ou de pornografia), todos do CPB.
7 FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA VIOLÊNCIA
CONTRA A MULHER (art. 7º e incisos – rol exemplificativo)

7.3 Violência Sexual (III) 7.4 Violência Patrimonial (IV) 7.5 Violência Moral (V)
São exemplos desse tipo de São exemplos desse tipo de São exemplos desse tipo de
violência: obrigá-la a atos sexuais violência: controlar o dinheiro e violência: acusar a mulher de
que lhe causam desconforto ou os gastos da mulher; deixar de traição, expor a intimidade do
repulsa; impedir o uso de métodos pagar pensão alimentícia; casal perante a sociedade, emitir
contraceptivos; forçar matrimônio, causar danos propositais aos críticas destrutivas e juízos de
gravidez ou prostituição por meio objetos pessoais e de apreço da valor sobre o seu caráter e
de coação, chantagem, suborno ou mulher; privá-la de bens, valores atitudes etc.
manipulação; limitar ou anular o
ou recursos econômicos etc. Infrações penais relacionadas:
exercício de seus direitos sexuais e
Calúnia – imputação inverídica
reprodutivos; estupro marital etc. Infrações penais relacionadas:
de fato criminoso (art. 138),
Infrações penais relacionadas:
Furto (art. 155), Roubo (art. 157), Difamação – imputação de fato
Estupro (art. 213), Importunação Dano (art. 163), Apropriação ofensivo à reputação (art. 139) e
sexual (art. 215-A) e Estupro de indébita (art. 168), Abandono Injúria – é o xingamento (art. 140),
vulnerável (art. 217-A) etc., todos do material (art. 244) etc., todos do todos do CPB.
CPB. CPB.
8 DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
(art. 18 ao art. 24-A da LMP)

CONCEITO: São “[...] ordens judiciais concedidas ESPÉCIES:


com a finalidade de proteger um indivíduo que esteja
- Rol exemplificativo – medidas típicas e atípicas.
em situação de risco, perigo ou vulnerabilidade”
(FACHINI, 2021).  Art. 22. Medidas protetivas de urgência que
obrigam o agressor. Ex.: O afastamento do lar
NATUREZA JURÍDICA (dissenso): São como medidas
conjugal (inciso II).
cautelares inominadas, ora de cunho processual
penal, ora de cunho processual civil, requeridas em  Arts. 23. Medidas protetivas de urgência que
caráter satisfativo, excepcional, transitório e primordial visam assegurar a proteção da ofendida e de
de urgência, e de maneira totalmente autônoma, seus dependentes. Ex.: Determinar a matrícula
posto que não dependeriam de inquérito ou processo dos dependentes da ofendida em instituição de
cível ou criminal em curso para serem concedidas
educação básica mais próxima de seu domicílio
(TUBINO, 2017).
(inciso V).
PROCEDIMENTO: Para solicitá-las, a ofendida deve  Art. 24. Medidas protetivas de urgência
se dirigir até uma Delegacia de Polícia e fazer o
destinadas a garantir a proteção dos bens
pedido diretamente à autoridade policial (prazo de 48
particulares da ofendida ou da sociedade
horas). Há outras formas de requerê-las: MP, Defensoria
Pública ou JVDFM. São requeridas através do EAMP conjugal. Ex.: Restituição de bens indevidamente
(procedimento cautelar dotado de celeridade). subtraídos pelo agressor à ofendida (inciso I).
8 DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
(art. 18 ao art. 24-A da LMP)

CARACTERÍSTICAS:

 São impositivas e consistem em obrigações de  Se medida protetiva de caráter penal, é cabível a


fazer ou de não fazer, podendo ser concedidas impetração de habeas corpus (STJ), pois se
até mesmo inaudita altera pars. entende que há limitação do direito de ir, vir e
 Podem ser aplicadas tanto de maneira isolada, permanecer do agressor de mulher.
como cumulada, ou, ainda, serem modificadas
ou substituídas por outras que se mostrarem  Não é necessário que a ofendida esteja
mais eficazes (art. 19, § 2º, da LMP). acompanhada por advogado no momento da
solicitação (art. 27 da LMP).
 Não são ad aeternum, mas devem subsistir
enquanto forem indispensáveis à pessoa da  Após reiterados descumprimentos de medidas
vítima. protetivas é possível ocorrer a decretação da
prisão preventiva do agressor de mulher, sendo
 Via de regra, somente são deferidas pela
autoridade judicial, pois deve haver a que configura o crime de descumprimento de
observância ao princípio da reserva de medidas protetivas de urgência (art. 24-A da LMP),
jurisdição (vide as exceções contidas no art. e não o crime de desobediência (art. 330 do CPB).
12-C da LMP).
 NOVIDADE: A instituição do BNMPU pela Resolução
 Passíveis de recurso à Turma/Câmara Criminal nº 342/2020 do CNJ, já que, a partir da entrada em
ou Cível do Tribunal de Justiça correspondente vigor da Lei 13.827/2019, toda e qualquer medida
(apelação, reclamação criminal, agravo de protetiva de urgência deferida deve ser registrada
instrumento ou RESE). nesse banco de dados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
✓ Concluiu-se que há uma forte tendência de naturalização da violência contra a
mulher no Brasil;
✓ A causa maior está atrelada a fatores de cunho histórico, cultural e religioso, que
acabam fazendo da sociedade brasileira uma sociedade misógina, machista e
preconceituosa;
✓ Fator histórico-cultural: Guarda relação com o período colonial, período que se
instaurou no Brasil de 1530 a 1822 e durante o qual constituiu-se o modelo de família
patriarcal que tende a nos assombrar até os dias atuais;
✓ Fator religioso: Em alguns países conservadores o ato de violência para com a
mulher é considerado como um direito a ser exercido por pais, irmãos e esposos;
✓ Chegou-se, ainda, à conclusão de que o envolvimento desses agressores de
mulheres com o álcool e outras drogas potencializa suas condutas, mas não é o
fator determinante.

“Desde a sua criação, muitos projetos de lei tentaram enfraquecer


a Lei Maria da Penha, mas, devido à ação conjunta de Maria da
Penha com movimentos feministas e instituições governamentais, a
lei nunca sofreu retrocessos” (IMP, c2018).
REFERÊNCIAS
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v iolencia/>. Acesso em: 11 abr. 2021.

AZEVEDO, Solange. “A Maria da Penha me transformou num monstro” - ISTOÉ Independente (Ed. nº 2150). 2011. Disponível em:
<https://istoe.com.br/121068_A+MARIA+DA+PENHA+ME+TRANSFORMOU+NUM+MONSTRO+/>. Acesso em: 02 jan. 2021.

BERNARDO, André. Violência doméstica contra a mulher: um problema de saúde pública | Veja Saúde. 2020. Disponível em:
<https://saude.abril.com.br/blog/saude-e-pop/violencia-domestica-contra-a-mulher-um-problema-de-saude-publica/>. Acesso em: 26 mar. 2021.

BI ANCHI NI, Alice. Lei Maria da Penha: Lei n. 11.340/2006: aspectos assistenciais, protetivos e criminais da violência de gênero. 2. ed. São Paulo:
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BRASI L. Câmara dos Deputados. Decreto n. 7.247, de 19 de abril de 1879 - Portal da Câmara dos Deputados. Brasília, c2022. Disponível em:
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______. Câmara dos Deputados. PL 4559/2004 - Portal da Câmara dos Deputados. Brasília, c2021. Disponível em:
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______. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Planalto. Disponível em: <http://www.planalto.gov .br/ccivil_03/decreto-
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Acesso em: 02 abr. 2021.

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