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VERA RAMOS

VERA RAMOS
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COMO LIDAR VERA RAMOS

COM OS PROBLEMAS
Possui o grau de Mestre em
Psicologia Clínica e da Saúde,
é Membro Efetivo da Ordem dos

DE COMPORTAMENTO
Psicólogos Portugueses (OPP),
Especialista em Psicologia Clínica
s,
e da Saúde e Especialista em

DAS CRIANCAS
Psicologia da Educação reconhecida
ias
mo
li-
, pelo Colégio de Especialidades
da OPP, e Formadora Certificada,
com diversos cursos de formação
. na área de Psicologia.
guia para professores, Autora de vários artigos publicados

educadores e pais
em revistas de Psicologia, dedica-se
ais sobretudo ao acompanhamento
psicológico de crianças
e adolescentes, mas também de
UM
UM GUIA
GUIA REPLETO
REPLETO DE
DE DICAS
DICAS E
E ESTRATÉGIAS
ESTRATÉGIAS PARA
PARA PROFESSORES
PROFESSORES E
E PAIS
PAIS adultos e idosos.

Birras
Práticas e estilos parentais
Indisciplina em contexto escolar
Educação inclusiva
Regras: o que fazer e o que não fazer
Técnicas para modelar comportamentos
Parentalidade positiva

ISBN 978‐989‐693‐104‐9
www.pactor.pt

9 789896 931049
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® Marca registada da FCA – Editora de Informática, Lda.
ISBN edição impressa: 978-989-693-104-9
1.ª edição impressa: junho de 2020

Paginação: Carlos Mendes


Impressão e acabamento: Tipografia Lousanense, Lda. – Lousã
Depósito Legal n.º
Capa: José Manuel Reis
Ilustração: Concebida pela Autora do livro, Vera Ramos.

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para a Gestão da Cópia Privada, através do pagamento das respetivas taxas.
Índice
A Autora.......................................................................................................... IX
Introdução...................................................................................................... XI

1 A Psicologia e o Comportamento Humano......................................... 1


Introdução.................................................................................................. 1
O ambiente e a sua influência no comportamento.................................... 3
Psicólogo vs. psiquiatra............................................................................. 4

2 O Desenvolvimento da Criança............................................................. 7
O desenvolvimento infantil......................................................................... 7
Estádios do raciocínio moral de Kohlberg........................................... 8
Estágios do desenvolvimento psicossocial de Erickson..................... 11
Estágios do desenvolvimento cognitivo de Piaget.............................. 14
Fases do desenvolvimento de Gallahue.............................................. 16
A importância de brincar...................................................................... 17
Adolescência........................................................................................ 20
Fase inicial da adolescência (dos 10 aos 14 anos)....................... 21
Fase final da adolescência (dos 15 aos 19 anos).......................... 22
A adolescência e o consumo de substâncias psicoativas.................. 25

3 A Socialização da Criança e a Importância dos Agentes de


Socialização............................................................................................. 29
A socialização............................................................................................. 29
Os agentes de socialização....................................................................... 31
Família................................................................................................... 31
Os grupos sociais................................................................................. 32
A escola................................................................................................ 33
© PACTOR

O grupo de pares................................................................................. 33
As dimensões comportamentais dos agentes educativos........................ 34

III
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

Como deverão atuar os professores......................................................... 35

4 As Perturbações do Comportamento................................................... 39
Comportamentos disruptivos..................................................................... 39
Comportamento normal vs. comportamento patológico.......................... 40
De que forma a família influencia o nosso comportamento?.................... 41
Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA).............. 42
Características e subtipos.................................................................... 43
Estratégias para professores................................................................ 47
Estratégias para pais............................................................................ 50
Exemplo de caso.................................................................................. 51
Tratamento psicológico........................................................................ 51
Perturbação de Oposição.......................................................................... 53
Características...................................................................................... 54
Estratégias para os pais....................................................................... 55
Exemplo de caso.................................................................................. 57
Tratamento psicológico........................................................................ 58
Perturbação de Conduta............................................................................ 59
Características...................................................................................... 60
Exemplo de caso.................................................................................. 62
Tratamento psicológico........................................................................ 62
A educação inclusiva............................................................................ 63

5 As Birras................................................................................................... 65
O que são as birras.................................................................................... 65
Então, o que desencadeia a birra?............................................................ 66
Como proceder perante a birra?................................................................ 66
Dicas para ajudar os pais e as crianças.................................................... 69
Caso de birra em contexto real.................................................................. 70

6 Os Estilos Parentais................................................................................ 73
As práticas educativas dos pais................................................................ 73
Características da comunicação agressiva............................................... 74
Características da comunicação assertiva................................................ 75
Características da comunicação passiva.................................................. 75
© PACTOR

Características da comunicação manipulativa.......................................... 76


Tipos de estilos parentais........................................................................... 77

IV
Índice

Estilo autoritário.................................................................................... 77
Estilo permissivo................................................................................... 79
Subestilo indulgente........................................................................ 80
Subestilo negligente........................................................................ 80
Estilo participativo................................................................................. 81
Comunicação assertiva: a atitude mais correta!....................................... 82

7 A Indisciplina no Contexto Escolar...................................................... 85


A indisciplina na sala de aula..................................................................... 85
A origem dos comportamentos de indisciplina na sala de aula............... 87
O papel do professor................................................................................. 88
O papel da família...................................................................................... 90
As estratégias dos encarregados de educação........................................ 91
As estratégias da escola............................................................................ 92

8 A Importância das Regras e as Técnicas Comportamentais........... 95


Os limites da educação............................................................................. 95
O que os pais não deverão fazer: atitudes que reforçam os problemas
de comportamento..................................................................................... 96
O que os pais deverão fazer: atitudes que reduzem os problemas de
comportamento.......................................................................................... 98
Estratégias e técnicas comportamentais................................................... 102
Treino das competências sociais e resolução dos
problemas/conflitos.............................................................................. 102
Treino da assertividade......................................................................... 103
Treino do autocontrolo/autorregulação................................................ 104
Relaxamento......................................................................................... 104
Punição................................................................................................. 105
Reforço.................................................................................................. 106
Modelação (imitação)........................................................................... 106
Contratos comportamentais................................................................. 107
Sistema de créditos.............................................................................. 107

9 Parentalidade Positiva............................................................................ 109


A construção de relações positivas........................................................... 109
© PACTOR

Formação aos pais: a educação positiva.................................................. 110


Dicas para os pais...................................................................................... 112

V
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

Sinais não verbais de aprovação......................................................... 112


Sinais verbais de aprovação................................................................ 112

Considerações Finais................................................................................... 115


Bibliografia..................................................................................................... 117
Índice Remissivo........................................................................................... 121

© PACTOR

VI
A Autora

Desde tenra idade sempre gostou de ajudar os outros. Uma eterna apaixo-
nada pelo comportamento humano e pelas emoções, tem uma vasta experiên-
cia profissional no mundo da Psicologia.

Possui o grau de Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, é Membro Efe-


tivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), Especialista em Psicologia
Clínica e da Saúde e Especialista em Psicologia da Educação, reconhecida pelo
Colégio de Especialidades da OPP. Também é formadora certificada, com vários
cursos de formação na área da Psicologia, e autora de diversos artigos publica-
dos em revistas de Psicologia em formato digital e físico. Por diversas vezes, é
convidada por jornais para dar o seu parecer relativamente a algumas temáticas
relacionadas com situações específicas da atualidade.

Ao longo da sua experiência profissional, tem-se dedicado ao acompanha-


mento psicológico de crianças, adolescentes, adultos e idosos. Defende que a
autonomia e independência da criança só serão atingidas se houver disciplina,
autoridade e afeto no ambiente familiar para que, mais tarde, a criança se torne
num adolescente e, posteriormente, num adulto mais responsável, organizado
e bem-sucedido.
© PACTOR

IX
Introdução

A perturbação do comportamento é caracterizada pela ocorrência de um


padrão de comportamento persistente e repetitivo, no qual são violados direitos
básicos de terceiros ou importantes regras e normas sociais próprias para a
idade do sujeito (APA, 2002).

Os problemas de comportamento constituem um dilema que se tem vindo


a desenvolver e a preocupar cada vez mais a sociedade atual. São muitas as
vezes em que os pais se questionam a si mesmos onde falharam na educação
dos seus filhos.

Quando educamos uma criança, geralmente, fazemo-lo através do modelo


adotado pelos nossos pais, isto é, recorremos aos valores transmitidos pelos
nossos pais, ao longo da nossa educação, e também aos valores morais e
sociais que a sociedade nos foi transmitindo, ao longo do nosso crescimento.
A maioria dos pais procura controlar o comportamento dos filhos através de
castigos e recompensas, embora os pais mais pessimistas desconsiderem que
esses fatores possam facilitar a modificação dos comportamentos inadequa-
dos.

Assistimos, muitas vezes, aos professores a reclamarem sobre os seus pro-


blemas em gerir o comportamento dos alunos em contexto da sala de aula e
sobre os obstáculos às crianças para terem limites e respeitarem as ordens,
o que acarreta inúmeros prejuízos no processo de aprendizagem. Por outro
lado, verificamos diariamente, nos meios de comunicação social, relatos sobre
atos de delinquência juvenil, que são associados de imediato à ausência de
limites ao comportamento de crianças e adolescentes, que deveriam ser esta-
belecidos desde cedo pelos agentes de socialização.
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Os estilos educativos adotados pelos pais interferem diretamente no com-


portamento das crianças, sendo a disciplina e a autoridade dois aspetos que

XI
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

devem estar sempre presentes no processo educativo, embora muitos pais


tenham dificuldade em dizer “NÃO”, o que dá ênfase ao estilo parental per-
missivo. Os pais não precisam de recorrer a agressões físicas para educar a
criança, pois essa atitude só irá reforçar ainda mais os problemas de comporta-
mento. Impor limites com atitudes positivas, seguras, consistentes e, ao mesmo
tempo, transmitir afeto e empatia, facilitará o processo de aprendizagem de
regras e normas sociais à criança, de uma forma mais positiva e saudável.
Os limites ajudam as crianças no controlo dos seus impulsos e é importante que
as crianças compreendam que são importantes nas nossas vidas e que, se lhes
dedicamos tempo para o afeto e lhes damos atenção, também necessitamos
de estabelecer regras. A isso chamamos amor.

Esta obra tem como objetivo orientar os professores, educadores, pais e


psicólogos no processo educativo das crianças, permitindo-lhes distinguir o
comportamento normal do patológico, conhecer as características de cada
perturbação do comportamento, identificando as suas sintomatologias e im-
plementar as estratégias de intervenção mais adequadas às necessidades de
cada criança, para que estas cresçam num ambiente harmonioso, equilibrado
e, ao mesmo tempo, com os limites presentes na sua vida. Só assim serão
crianças saudáveis e felizes!

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XII
A Psicologia e o
Comportamento
1
Humano

Introdução

A psicologia é a ciência responsável por estudar e analisar o comportamento


humano e os processos mentais, tendo como objetivo desenvolver estratégias e
técnicas que propiciem o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo, possi-
bilitando que ele se possa autoconhecer e interagir com o ambiente ou com os
demais membros da sociedade de uma forma saudável.

Falando agora um pouco do nosso cérebro, este está dividido em duas par-
tes, através de uma fissura longitudinal no que designamos por hemisférios: o
hemisfério esquerdo e o hemisfério direito. O hemisfério esquerdo diz-se domi-
nante, visto ser o responsável pelo pensamento lógico e pelas competências
de comunicação. Possui então duas áreas importantes: a área da motricidade
da fala (área de Broca) e a área responsável pela compreensão verbal (área
de Wernicke). Este hemisfério está relacionado com a organização, trata uma
coisa de cada vez, lida com tudo o que é racional, com a noção de tempo, fo-
cando-se no pormenor e na persistência. O hemisfério direito é o que lida com
a confusão e a desordem, é o lado mais flexível e consegue mudar facilmente
de plano quando procura resolver determinado problema. Está relacionado com
tudo aquilo que é não verbal, é o lado imaginativo, lida com imagens e símbolos
e é o responsável por se ser sentimental, filosófico, religioso, por se pensar no
hoje, no aqui e no agora.
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1
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

Os dois hemisférios cooperam um com o outro e, se um dos hemisférios não


funcionar, o outro tem muita dificuldade em apoiar-se.

É importante que os pais tenham a noção de como funcionam os hemis-


férios cerebrais, por exemplo, as mães que são muito organizadas, significa
que estão a utilizar o lado esquerdo do cérebro. Mas é essencial que haja um
equilíbrio! Necessitamos de colocar em prática os dois lados do cérebro, logo,
será pertinente que se consiga ajudar as crianças a usar cada um dos hemis-
férios, para que tenham uma maior facilidade de adaptação a novas situações
ou mudanças de vida.

O comportamento está sempre presente no nosso quotidiano e quando nos


comportamos, alteramos os objetos e influenciamos as pessoas, assim como
também somos influenciados pelos comportamentos dos outros. Considera-
mos o comportamento como todas as nossas ações, atitudes, verbalizações,
emoções, sentimentos, pensamentos e crenças, isto é, todas as atividades que
executamos através da interação com o meio. Grande parte das investigações
em psicologia são realizadas através do método da observação, sendo a ob-
servação sistemática, delimitada pelas condições do que se pretende observar,
a mais utilizada. Em alguns casos, a observação é ocasional, isto é, não segue
um plano preestabelecido. Existem comportamentos observáveis e não obser-
váveis publicamente. Os comportamentos observáveis são aqueles que podem
ser diretamente visualizados pelas pessoas que estão ao redor de quem pratica
determinada ação ou comportamento, por exemplo, saltar, chorar, correr, são
comportamentos facilmente observáveis pelos outros.

Relativamente aos comportamentos não observáveis, estes apenas são


diretamente percebidos pela própria pessoa que está a realizar a ação e os
outros só saberão da ação se a pessoa falar sobre o que está a fazer ou se,
efetivamente, a pessoa demonstrar sinais visíveis do seu comportamento. Por
exemplo, se a pessoa estiver ansiosa ou preocupada com alguma situação,
as outras pessoas só saberão disso se o sujeito conversar sobre o assunto.
Muitas vezes, estamos magoados, desiludidos e tristes e não o demonstramos,
embora possamos ir dando dicas acerca do nosso sentimento.

Considerando que os sentimentos são comportamentos não observáveis,


será importante que os pais estejam constantemente atentos aos comporta-
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mentos dos seus filhos, pois as emoções nem sempre são expressadas da
mesma forma. E como é que pode fazer isso? É importante estar atento aos

2
O Desenvolvimento
da Criança
2

O desenvolvimento infantil

O processo de desenvolvimento infantil passa pelas mudanças do corpo, do


pensamento e do próprio comportamento. Ao longo desta mudança, podemos
observar várias condutas disruptivas, entre elas, a mentira. A mentira é uma
atitude que é adquirida através da aprendizagem social e, por vezes, utiliza-se
a mentira de forma a proteger alguém e não no sentido prejudicial, no entanto,
não é uma atitude vista de forma positiva, causando preocupação aos pais das
crianças. Aqui, o mais relevante é o ambiente familiar que deve ser harmonioso,
transmitindo segurança e afeto, incentivando assim a criança a dizer a verdade,
sem provocações nem ameaças. Assim, a relação entre pais e filhos será mais
saudável e a criança não tenderá a voltar a mentir. As divergências culturais
transmitem regras e normas sociais importantes para o desenvolvimento da
criança e a forma como são conduzidas representa outro fator que intervém no
comportamento da criança.

A escola é um elemento muito importante para o desenvolvimento da criança,


uma vez que é um lugar propício ao seu desenvolvimento moral, paralelamente
ao desenvolvimento cognitivo, emocional, motor e social. A escola possibilita a
interação com diferentes valores e perspetivas e a educação pré-escolar consti-
tui um contexto favorável para que a criança vá aprendendo a tomar consciência
de si e do outro (Orientações Curriculares, 1997).

O desenvolvimento moral é um processo de construção que ocorre no inte-


© PACTOR

rior do indivíduo e também através da interiorização de valores e regras sociais


exteriores ao indivíduo.

7
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

A autonomia e a heteronomia da criança expressam a passagem de uma


moral apoiada no respeito unilateral das normas impostas pelos adultos a uma
moral de autonomia e cooperação. Esta distinção por fases pretende esclarecer
que é possível encontrar elementos da autonomia moral numa criança predomi-
nantemente heterónoma e vice-versa. Esta moralidade, sendo vista como uma
fase onde predomina o dever exterior e a obediência aos adultos, de modo a
evitar o castigo, acontece durante os 8 aos 9 anos e caracteriza-se pelo cons-
trangimento, pela obediência e pelo respeito unilateral da criança para com o
adulto, sendo também marcada pelo egocentrismo, uma diferenciação entre o
“eu” e o meio social (Piaget, 1973).

A essência da moralidade reside mais no sentido de justiça do que, propria-


mente, no respeito pelas normas sociais. A moralidade tem mais a ver com con-
siderações de igualdade, de equidade, de contrato social e de reciprocidade
nas relações humanas e menos com o cumprimento ou violação de normas
sociais ou regras.

Estádios do raciocínio moral de Kohlberg

Kohlberg defende que o desenvolvimento moral pode ser subdividido por


estádios, sendo que, na sua conceção, estes estádios estão organizados em
três níveis (Tabela 2.1), nomeadamente, nível pré-convencional, nível convencio-
nal e nível pós-convencional (Kohlberg, 1984).

O nível pré-convencional é considerado o nível mais inferior da morali-


dade, em que o valor moral se estabelece acerca das consequências dos atos.
Num estádio de desenvolvimento moral, orienta-se pela relação de obediência/
/castigo, no outro estádio predomina uma orientação egoísta que inclui a reci-
procidade. No nível convencional, o valor moral corresponde ao cumprimento
de ações e papéis sociais considerados corretos, no sentido de corresponder
às expectativas dos outros. O primeiro estádio é caracterizado pela aprovação e
por ajudar a agradar aos outros e, no segundo estádio, prevalece o dever de si
próprio e as expectativas dos outros. O nível pós-convencional corresponde
© PACTOR

aos direitos e deveres compartidos, cujos estádios são: dever de contrato e


ação moral.

8
A Socialização da
Criança e a
3
Importância
dos Agentes de
Socialização

A socialização

A socialização é um processo de aprendizagem e crescimento em que a


criança, ainda indefesa, vai interiorizando normas e valores sociais com o intuito
de se integrar na sociedade. A socialização é a forma como os pais e outros
cuidadores (e.g.: professores, avós, etc.) transmitem à criança valores como a
aceitação dos outros, o respeito, a cultura, o incentivo à verdade, a amizade,
a igualdade, a humildade, etc.

Ao longo deste processo, a criança vai estabelecendo relações sociais, tor-


nando-se num ser cultural. Através da interação com os outros indivíduos do
grupo a que pertence, o ser humano é capaz de adaptar o seu comportamento
às regras e aos valores implícitos no respetivo contexto social. Assim, à medida
que a criança se vai envolvendo na sociedade, vai desenvolvendo hábitos e
competências que irão torná-la responsável, sendo capaz de se autorregular1
e, ao mesmo tempo, permitir a descoberta de si própria. O ser humano trans-
forma-se num ser social após um longo e gradual processo, articulado com o
próprio desenvolvimento biológico e intelectual. Os juízos e os comportamentos
© PACTOR

1
Capacidade de controlar o seu próprio comportamento, de acordo com as exigências diárias.

29
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

que têm lugar no seio da família não devem criar diferenças significativas, nem
demarcar-se excessivamente, em relação aos parâmetros sociais vigentes. Por
isso, é possível afirmar que o comportamento do ser humano tem pouco de
instintivo, uma vez que resulta de um processo de aprendizagem. Este processo
resulta da interação, da modelagem (aprendizagem por observação e imitação)
e da comunicação com os outros na sociedade, transmitido de geração para
geração.

No processo de modelagem, a criança observa e imita aquilo que vê, ade-


quando o seu comportamento à transigência do adulto, no entanto, quando a
criança imita, por exemplo, um personagem dos desenhos animados agressivo,
em que o personagem agride o pai, por exemplo, os pais não deverão permitir
esse comportamento, devendo antes ajudar a criança a perceber a gravidade
dos seus próprios atos e a considerar os sentimentos dos outros, evitando que
volte a magoá-los.

Berns tentou identificar as finalidades do processo de socialização, de forma


mais específica, através de cinco níveis (Berns, 1997):

1 Autoconceito – Vai-se desenvolvendo, à medida que as atitudes e ex-


pectativas das pessoas que interagem com a criança vão sendo incor-
poradas na sua personalidade, permitindo que ela controle o seu próprio
comportamento, de forma adequada.
2 Autodisciplina – Capacidade que a criança tem para controlar as suas
emoções e o seu comportamento.
3 Ambição ou motivação – Ao longo da socialização, vão sendo defini-
das metas que a criança deve procurar atingir para se tornar adulta, pois
a socialização é um processo que decorre da infância à idade adulta.
4 Papéis sociais – Cada indivíduo desempenha um papel na sociedade,
podendo desempenhar simultaneamente diferentes papéis sociais, em
diferentes situações, por exemplo, ser mãe, irmã, colega de trabalho,
amiga, presidente da associação de pais, etc.
5 Competências desenvolvimentais – A socialização tem também por fi-
nalidade desenvolver as competências sociais, emocionais, e cognitivas
da criança para que ela consiga viver com sucesso em sociedade.
© PACTOR

30
As Perturbações do
Comportamento
4

Comportamentos disruptivos

Os comportamentos disruptivos que os sujeitos com perturbação do com-


portamento apresentam integram-se em quatro grupos principais, designa-
damente, o comportamento agressivo, que ameaça ou causa sofrimento a
pessoas ou a animais; o comportamento não agressivo, que causa prejuízo ou
destruição de propriedade; a falsificação ou o roubo; e a violação grave das nor-
mas. Estes comportamentos disruptivos poderão conduzir à suspensão ou, até
mesmo, à expulsão das crianças e dos adolescentes da escola, a problemas
de adaptação ao trabalho, a conflitos legais, e, no campo pessoal, a contrair
doenças sexualmente transmissíveis, à gravidez não desejada e a danos físicos
por acidentes ou lutas (APA, 2002). Esta perturbação está associada a com-
portamentos de risco, como, por exemplo, o início precoce da atividade sexual,
o consumo de álcool, de tabaco e de substâncias ilícitas. Os fatores como a
negligência parental, o abandono, as práticas educativas demasiadamente rígi-
das, a violência sexual ou física, o historial tabágico materno durante a gravidez,
a associação a grupos de pares delinquentes, a vivência em bairros violentos
ou em instituições acolhedoras e o temperamento difícil da criança, poderão
predispor a criança ao desenvolvimento da perturbação do comportamento,
tornando-se delinquente, uma vez que foi crescendo num ambiente desestru-
turado.

A agressividade é um facto com o qual nos deparamos diariamente, na rua,


na escola, nos transportes públicos, no trabalho, na comunicação social e, até
© PACTOR

mesmo, nos jogos de computador, que traduzem muitas vezes essa realidade,
contendo armas e incentivando à violência física. Geralmente, os sentimentos

39
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

agressivos que as crianças apresentam, entre os 2 e os 3 anos, são uma cha-


mada de atenção para o que estão a sentir, pelo simples facto de que, nessa
idade, as crianças têm dificuldade em expressar verbalmente os seus sentimen-
tos e as suas emoções, pois não sabem expressar por palavras o que desejam.
Aconselha-se que os adultos estejam atentos a estes sinais, quer no contexto
escolar quer no contexto familiar, para que aprendam a lidar com esta situação,
tentando sempre encaminhar a agressividade da(s) criança(s) para algo mais
construtivo.

Comportamento normal vs. comportamento


patológico

Então, o que distingue um comportamento normativo de um comportamento


patológico?

Durante o desenvolvimento das crianças e adolescentes, podem ser ob-


servados vários comportamentos disruptivos, como mentir ou faltar às aulas.
Contudo, para diferenciar um comportamento normativo de um comportamento
patológico, importa verificar se esse comportamento ocorre esporadicamente e
de modo isolado ou se constitui um padrão, representando um desvio à norma
de comportamentos esperados para indivíduos da mesma idade e género
numa determinada cultura.

Na perturbação do comportamento está presente a propensão, de uma


criança ou de um adolescente, para exibir comportamentos perturbadores e in-
comodativos, podendo mesmo haver o seu envolvimento em atividades ilegais
e em gangues, na prática de atos imprudentes e arriscados, em criminalidade e,
até mesmo, em tentativas de suicídio. Quando têm este tipo de comportamen-
tos, as crianças e os adolescentes não aparentam sofrimento psicológico ou
constrangimento pelos seus atos e não estão minimamente preocupados por
poderem magoar os sentimentos das pessoas ou por as desrespeitarem, uma
vez que são seres que possuem pouca empatia, um desinteresse pelos senti-
mentos e pelo conforto dos outros. As crianças e os adolescentes com estes
© PACTOR

comportamentos disruptivos, tendem a ter características como a insensibili-


dade, uma baixa autoestima, a agressividade, um comportamento insultuoso,

40
As Birras
5

O que são as birras

Vamos agora passar ao tema das birras. Afinal, o que são as birras? É ine-
vitável que as crianças tentem, algumas vezes, ultrapassar os limites que lhes
foram previamente estabelecidos. No entanto, muitas crianças, ao serem con-
frontadas com exigências, regras e limites, reagem com o que designamos por
birras, mostrando agressividade ou choro. As birras fazem parte do crescimento
da criança e de uma tentativa de construir a sua identidade pessoal. São rea-
ções ríspidas e inoportunas que as crianças costumam exteriorizar depois de
uma contrariedade e frustração. Estas manifestações apresentam-se de forma
diferente, conforme a idade: uma criança pequena pode chorar, atirar-se ao
chão, gritar, berrar, etc., enquanto uma criança mais velha pode atirar coisas
para o chão, bater com a porta, empurrar, etc. As birras são um fenómeno natu-
ral num determinado estádio evolutivo da criança (com cerca de 2/3 anos) e vão
desaparecendo, à medida que a criança cresce (por volta dos 5/6 anos), a não
ser que a criança tenha aprendido a servir-se das birras para conseguir alcançar
os seus objetivos e isto apenas acontecerá se os pais, ao longo do tempo, tive-
rem cedido às chantagens dos filhos, revelando-se inconsistentes.

As birras surgem sobretudo na faixa etária próxima dos 2 anos e poderão


prolongar-se até aos 5 anos. Nestas idades, ao longo do desenvolvimento da
criança, o seu cérebro desenvolve-se a um ritmo impressionante. Ficamos, mui-
tas vezes, deslumbrados com a aquisição cognitiva das crianças nestas idades,
com o modo como elas se expressam e aplicam as palavras corretamente de
forma inesperada.

Porém, por que razão as crianças não fazem todas as mesmas birras?
© PACTOR

65
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

Nós sabemos que as crianças não são todas iguais, têm personalidades
diferentes, tal como nós, adultos. Há crianças que têm um temperamento com
que é mais fácil lidar, que são naturalmente mais obedientes, mais calmas ou
animadas e há aquelas crianças com temperamento mais difícil, que são mais
reativas, mais impulsivas e mais respondonas. Estas diferenças fazem parte
do ser humano, são características de personalidade, já nascem connosco.
É o que sucede, por exemplo, com o facto de não termos todos a mesma cor
de olhos, a mesma cor de cabelo, a mesma altura e o mesmo peso. Por terem
temperamentos diferentes, algumas crianças também irão fazer birras de dife-
rente intensidade em relação a outras crianças.

Então, o que desencadeia a birra?

Geralmente, a criança inicia uma birra quando quer conseguir algo, quando
procura atenção, está cansada, tem fome ou, até, quando se sente desconfor-
tável ou frustrada. Esta frustração faz parte de um processo de aprendizagem e
descoberta da criança, sobre si própria, sobre os outros e sobre o mundo que
está ao seu redor. A criança necessita de regras claras em relação ao que pode
ou não fazer, ao que é e não é normal fazer. A criança faz birra porque, nessa
fase de desenvolvimento, ainda não possui os mecanismos para lidar com a
frustração.

Como proceder perante a birra?

Muitas vezes, nos momentos de birra, os pais reagem de forma impulsiva,


fazendo exatamente o oposto do que deveriam fazer e fazem-no na tentativa de
aliviar as suas próprias frustrações, o que acaba por ser pouco saudável, visto
essas atitudes influenciarem negativamente a relação de confiança e segurança
entre pais e filhos. Assistimos a pais que deixam a criança gritar e chorar e ou-
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tros que acabam por ceder às suas exigências com o intuito de que a criança
se cale. Este último tipo de reação, por parte dos pais, tem consequências

66
Os Estilos
Parentais
6

As práticas educativas dos pais

O desenvolvimento emocional, afetivo e social de uma criança é fortemente


dependente da educação parental, mas outras variáveis têm influência, como já
abordámos anteriormente (e.g.: o meio escolar, os amigos, a sociedade, etc.).
Desta forma, as práticas educativas adotadas pelos pais determinam a forma
como as crianças se comportam e influenciam significativamente a formação da
sua personalidade e o estabelecimento de futuros padrões relacionais enquanto
adultos. A disciplina é considerada um meio de socialização que inclui a apren-
dizagem de comportamentos, que irão ajudar a criança a crescer em harmonia.
É comum os pais recorrerem à educação que receberam da sua família, durante
a infância, definindo assim o seu estilo parental. Muitas vezes, os conflitos no
seio das famílias surge devido ao estilo de comunicação que utilizam.

Podemos classificar a linguagem como assertiva, agressiva, passiva ou ma-


nipulativa. Vamos agora descrever cada uma delas:

Comunicação agressiva – Este tipo de linguagem pode fazer falhar a


comunicação, impedindo que os problemas possam ser discutidos até
ao fim e se encontre uma solução ou se tomem decisões em conjunto.
A pessoa tem uma grande convicção nas suas ideias, desvalorizando o
seu interlocutor1 e podendo mesmo ser agressiva ao fazê-lo;
© PACTOR

1 Aquele que fala ou participa numa conversa, num diálogo onde há interação realizada através da lingua-
gem.

73
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

Comunicação assertiva – É a forma mais correta de se expressar, onde


se revela um bom controlo das emoções e se é capaz de exprimir as opi-
niões e os sentimentos sem magoar os outros e, ao mesmo tempo, se é
capaz de ouvir e considerar os argumentos dos outros;
Comunicação passiva – A pessoa evita dar as suas opiniões e pode
deixar-se dominar pelas opiniões das outras pessoas;
Comunicação manipulativa – A pessoa tenta argumentar e fazer valer
o seu ponto de vista, mas não o faz de forma direta e nem sempre apre-
senta as verdadeiras razões.

Características da comunicação agressiva

Neste tipo de comunicação, a pessoa:

Domina os outros;
Valoriza-se à custa dos outros;
Ignora e desvaloriza o que os outros fazem ou dizem;
Quando hierarquicamente superior, revela-se autoritária, fria, intolerante e,
quando hierarquicamente inferior, é contestatária e hostil;
Fala alto;
Interrompe com frequência;
Faz barulho para evitar que os membros do grupo se pronunciem;
Comunica de forma descontrolada;
Olha de revés o seu interlocutor;
Usa a ironia e o sorriso sarcástico;
Manifesta, através da mímica, o seu desprezo pelos outros.
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74
A Indisciplina no
7
Contexto Escolar

A indisciplina na sala de aula

A indisciplina na sala de aula é um problema que tem vindo a assumir novas


dimensões nas escolas portuguesas, comprometendo o processo de apren-
dizagem dos alunos, fator este que contribui para o insucesso escolar e, ao
mesmo tempo, fomenta grandes níveis de instabilidade emocional nos docen-
tes, levando-os a sentimentos de impotência, de ansiedade, frustração e exaus-
tão.

Lidar com um aluno indisciplinado torna-se um grande desafio para toda a


comunidade escolar, quer para professores, quer para os assistentes operacio-
nais ou para a direção da escola e os pais.

Note-se que, muitas vezes, as alterações comportamentais dos alunos na


escola são resultado da inexistência de envolvimento dos pais no processo pe-
dagógico dos seus filhos.

Estas condutas perturbadoras poderão incluir a agressão física, a violação


de regras, a desobediência, a intimidação da criança a outros colegas e profes-
sores, os atos impulsivos, as provocações, os gritos, as discussões, etc.

“A indisciplina é um fenómeno intrínseco à sociedade e


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ao seu sistema de ensino e, dada a sua inevitabilidade,


tão antigo como a própria escola.” (Aires, 2010, p. 13)

85
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

Gerir os conflitos no contexto de sala da aula não é tarefa fácil. Os profes-


sores têm de cumprir os conteúdos programáticos e, muitas vezes, acabam
por não conseguir concretizar o objetivo planeado para aquele dia, devido às
interrupções constantes provocadas pelos comportamentos perturbadores que
os alunos criam na sala de aula. Nestas circunstâncias, os docentes veem-se
obrigados a intervir, acabando por desenvolver, muitas vezes, um desgaste fí-
sico e psicológico.

Todos nós temos personalidades diferentes e, por isso, adotamos diferen-


tes formas de agir perante determinada situação. Por exemplo, enquanto para
alguns professores, determinado comportamento poderá ser considerado ina-
dequado e desrespeitoso, para outros, poderá ser apenas uma manifestação
de revolta, por alguma situação isolada ou própria da fase da adolescência.
Nesse sentido, os docentes parecem adotar atitudes divergentes perante os
comportamentos que consideram indisciplinados, o que poderá dificultar aos
alunos a perceção de quais são os comportamentos realmente considerados
desajustados e perturbadores.

Vejamos o seguinte exemplo:

Exemplo 7.1

Numa turma, um professor de uma disciplina pune o seguinte comportamento:


o aluno levantou-se sem autorização para pegar na caneta que caiu ao chão.
Outro professor de outra disciplina, em que o aluno teve o mesmo comporta-
mento, não pune essa ação. Estas posturas divergentes por parte dos professores
fazem com que o aluno fique confuso, não percebendo se realmente aquele com-
portamento foi ou não incorreto.

Torna-se necessário agir de forma cautelosa em relação ao que se consi-


dera comportamentos indisciplinados, uma vez que se abrem precedentes
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na atribuição de rótulos aos alunos, de que são indisciplinados, contribuindo


assim, para a criação de estigmas sociais.

86
A Importância das
Regras e as
8
Técnicas
Comportamentais

Os limites da educação

A educação é, sem sombra de dúvidas, a base para o sucesso futuro das


nossas crianças. Os limites são cruciais para a educação! As exigências da so-
ciedade atual obrigam os pais a trabalhar cada vez mais para garantir o bem-es-
tar dos seus filhos, mas esta esta ausência provoca muitas vezes o sentimento
de culpa em que muitos pais tentam compensar os seus filhos através da per-
missão, cedendo-lhes tudo o que querem. Como resultado disso, há a perda de
autoridade dos pais e a falta de limites dos filhos. Os limites são fundamentais
na vida de uma criança, pois eles funcionam como uma rede de segurança e
proteção. Uma criança que não tem uma disciplina regular em casa, além de
provocar o dessossego e nervosismo nos pais, também terá dificuldades em
cumprir regras noutros contextos, como, por exemplo, no contexto escolar.

Dizer “NÃO” é uma forma de educação fundamental, pois permite que as


crianças aprendam a combater as suas inseguranças e a tolerar as suas frustra-
ções, compreendendo, de forma saudável, que nem sempre se pode ter aquilo
que se deseja. Sabemos que não é de todo fácil dizer “não” a uma criança, mas
é imprescindível, ao longo do processo educativo. No momento em que está a
colocar limites, é essencial construir um diálogo, explicando o motivo pelo qual
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está a dizer “não”, pois é importante que a criança entenda que há uma razão
lógica para essa negação. Mantenha as regras e não ceda, independentemente

95
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

das reações da criança. Lembre-se, só desta forma é que a criança irá criar
limites e lidar com a frustração de forma saudável. Ao aprender a lidar com a
frustração desde cedo, aprende a ultrapassar as dificuldades de forma eficaz,
será capaz de resolver problemas de forma autónoma, com maior capacidade
de resiliência1, tornando-se posteriormente num adulto bem-sucedido.

Sempre que os pais quiserem dar uma ordem aos seus filhos, deverão po-
sicionar-se perto da criança, com voz firme, sem deixarem de ser afetuosos,
usando o verbo na forma imperativa (e.g.: “Anda para a mesa! A comida está
servida!”). Será importante manter o contacto ocular e, se houver resistência,
socorrer-se de uma discreta pressão física (segurar-lhe no braço, por exemplo).
Evite retardar ou desistir de uma ordem quando esta já foi enunciada. O conhe-
cimento de certas estratégias comportamentais poderá ajudar muitos pais a
corrigirem hábitos que, de uma maneira ou de outra, acabam por contribuir para
o aumento do stress familiar. Vamos referir alguns itens que devem ser evitados
porque acabam por estimular ainda mais a desobediência.

O que os pais não deverão fazer: atitudes que


reforçam os problemas de comportamento

Ceder à birra – Os pais não devem ceder à birra e, muitas vezes, caem
nesse erro por vergonha do comportamento do filho, pensando que ao
cederem ele vai parar com aquele comportamento embaraçoso. Se a
birra acontecer em casa, deixe a criança chorar num lugar seguro até
se acalmar. Quando perceber que a criança está mais calma, poderá
perguntar-lhe se a birra já terminou e continuar a atividade que estava a
fazer, sem sermões. Quando a situação o exigir, ou seja, quando a birra
apresentar contornos de agressão, poderá aplicar uma punição. Caso
a birra ocorra num local público, a criança deverá ser retirada do centro
do palco, pois a assistência das outras pessoas é tudo aquilo de que a
birra precisa para ficar mais forte. Recorrer a ameaças e tentar assustar a
criança não ajuda e contribui para aumentar a tensão;
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1
Capacidade que o indivíduo tem de lidar com os problemas, superar obstáculos, adaptando-se
positivamente às adversidades do dia a dia.

96
Parentalidade
Positiva
9

A construção de relações positivas

Podemos designar como parentalidade positiva um conjunto de comporta-


mentos ou competências parentais com o intuito do melhor interesse da criança
que garanta a satisfação das suas principais necessidades e a sua capacitação,
sem violência, proporcionando-lhe o reconhecimento e a orientação necessá-
rios para possibilitar o seu desenvolvimento saudável.

Os pais devem estar cientes de que as atitudes positivas proporcionam am-


bientes e comportamentos positivos e saudáveis, os quais são importantes na
interação com os seus filhos.

Então, como se constrói uma relação positiva? Para que se cultive uma rela-
ção positiva entre os pais e os filhos deve haver:

Respeito mútuo – Respeite o seu filho. Assim como gosta que o seu filho
o respeite, respeite-o também, de igual para igual. As exigências devem
localizar-se ao mesmo nível;
Tempo para a diversão – Gaste parte do seu tempo a envolver-se em
atividades com o seu filho, o que é fundamental. Poderá participar nas
atividades da criança, nos jogos, etc.;
Transmissão de amor – Forneça ao seu filho o amor que ele merece,
através de um sorriso, toque no rosto, um abraço e diga que o ama. Com
esta atitude, irá transmitir segurança ao seu filho e união entre a família;
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Encorajamento – Dê incentivos constantes a comportamentos adequa-


dos, elevando a concretização deste comportamento no futuro, assim

109
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

como promova a autoconfiança no seu filho. O encorajamento aumenta


os sentimentos de confiança e autoestima da criança.

Seguem-se algumas atitudes de encorajamento:

Valorize e aceite o seu filho como ele é e não apenas como ele poderia
ser;
Aponte os aspetos positivos do seu comportamento;
Acredite na criança para que ela também aumente a sua autoconfiança;
Seja positivo e otimista;
Centre-se nos pontos fortes;
Reconheça os esforços e as melhorias, tal como os resultados obtidos.

Formação aos pais: a educação positiva

A educação positiva consiste numa relação de respeito mútuo entre pais e fi-
lhos, sendo uma educação que estabelece segurança, firmeza, mas, ao mesmo
tempo, a empatia, a harmonia e o afeto. Com esta atitude educacional, a criança
será saudável, responsável, autónoma, capaz de resolver os seus conflitos por
si própria e feliz! A educação positiva possibilita que a criança desenvolva uma
inteligência emocional e uma autoestima equilibradas e permitirá ainda que a
criança entenda a importância das regras e dos limites e que os integre na sua
vida.

É de extrema importância que os pais tenham a capacidade de controlar a


sua raiva e esta é uma das competências que os pais devem desenvolver por
si mesmos, tornando-se mais assertivos na forma de lidar com os seus filhos.
Para que consiga obter esse controlo, deverá estar atento às suas emoções
e tensões, sabendo assim quando terá de manter o equilíbrio (autocontrolo).
Por exemplo, se verificar que a discussão já se está a desenvolver demasiada-
mente, afaste-se um pouco, vá ouvir um pouco de música ou mesmo dar um
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passeio até acalmar. Lembre-se que, controlar o seu estado de raiva e zanga,
é um dever dos adultos e que esse seu autocontrolo irá servir de modelo de

110
Considerações
Finais

Sabemos que o desenvolvimento moral se inicia através da interação da


criança com a sociedade que é, de uma forma geral, restringida à família. No
entanto, não podemos esquecer o contexto escolar, que é um meio com grande
relevância onde a criança estabelece novas interações, novas amizades e novas
aprendizagens.

Ao mesmo tempo que se desenvolve o mundo social da criança, o conjunto


de ordens e limites a que deve obedecer também se vai desenvolvendo. É ver-
dade que as primeiras regras são transmitidas de forma direta pelos pais, mas
é igualmente verdade que, mais tarde, as condutas das crianças são também
influenciadas pelas regras da sociedade.

Diversos estudos relacionam a perturbação do comportamento com o de-


senvolvimento e a manutenção de comportamentos socialmente desajusta-
dos, em termos de dificuldades de integração social, legais e de criminalidade.
Assim, torna-se essencial a clarificação das variáveis antecipadoras da pertur-
bação, para o desenvolvimento de estratégias de prevenção eficazes e para a
sensibilização de pais e professores, com vista ao diagnóstico precoce e res-
petivo encaminhamento da criança e da família para programas de intervenção
que possam evitar ou minimizar as consequências nocivas desta perturbação
nas suas vidas.

Será de salientar a importância de uma educação otimista e positiva em que


os pais deverão sempre procurar dar o melhor de si aos seus filhos, respeitando
as suas individualidades e promovendo atividades para que as crianças pos-
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sam desenvolver competências sociais e emocionais, que são essenciais ao


seu crescimento saudável.

115
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS

Toda a comunidade educativa (pais/encarregados de educação, alunos,


pessoal docente e não docente) tem uma grande responsabilidade na salva-
guarda efetiva do direito à educação. Ser professor, ser pai e ser mãe não são
tarefas fáceis! Há que implementar as técnicas e estratégias comportamentais
com persistência e paciência para que as crianças tenham um autocontrolo,
para que se incutam os limites de uma forma positiva.

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