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OS AVANÇOS E OS LIMITES RECONHECIDOS

HISTORICAMENTE NA TRAJETORIA DAS LEIS DE PROTEÇÃO AS


MULHERES VITIMAS DE VIOLENCIA DOMÉSTICA NO BRASIL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE


SERVIÇO SOCIAL II

Micheli Dias dos Santos Coelho – 9918001410

Nome do Professor Tutor à Distância



Solange Gulere Favoreto

São Pedro do Sul/RS

2019
MICHELI DIAS DOS SANTOS COELHO – 9918001410

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE


SERVIÇO SOCIAL II

Nome do professor;
tutor presencial:
Cintia de Camargo Barcellos

São Pedro do Sul/RS

2019
Sumário

Resumo................................................................................................4

Introdução............................................................................................4

Breve contexto histórico...................................................................... 5

-A historia da violência domestica no Brasil......................................5

A legislação e os serviços de atendimento no Brasil a mulher vítima de


violência:............................................................................................12

Considerações finais.......................................................................15

Referências bibliográficas..................................................................17
OS AVANÇOS E OS LIMITES RECONHEIDOS
HISTORICAMENTE NA TRAJETORIA DAS LEIS DE
PROTEÇÃO AS MULHERES VITIMAS DE VIOLENCIA
DOMÉSTICA NO BRASIL

Micheli Dias dos Santos Coelho


RESUMO:O presente artigo busca refletir acerca de uma analise das
configurações dos avanços e limites da proteção e vigilância social nas
políticas de atendimento as mulheres vitimas de violência domestica, e os
contornos do exercício profissional frente a essa questão. Tais reflexões são
pautadas em uma revisão bibliográfica. Objetiva dar destaque a atuação dos
assistentes sociais e suas contribuições como agente de contribuição para
minimizar as sequelas da violência sofrida. Preliminarmente, uma vez que esse
assunto não se esgota aqui, pode-se constatar que se trata de um processo
marcado por muitas lutas e criação de inúmeras medidas de amparo,para que
saião da invisibilidade e com vistas ao patamar de direitos já
constitucionalmente garantidos. Porém, há muito anda para avançar no campo
das políticas publicas de proteção e promoção destinadas ao publico em
questão.

INTRODUÇÃO

O presente Trabalho Final de Graduação II. Ora apresentado ao curso


de Serviço Social, tem como eixo central o tema da violência doméstica,
delimitando como ponto para analise as configurações das políticas publicas,
enquanto órgão de proteção e vigilância social deste segmento. O tema suscita
a partir das observações advindas no decorrer da formação acadêmica em
Serviço Social. Para tanto, objetiva analisar a atuação das políticas publicas
enquanto órgão de proteção às mulheres vitima de violência doméstica no
Brasil, bem como suas contribuições para minimizar as sequelas da questão
social.
Trata-se de um assunto de total relevância social, acadêmica e cientifica,
por focar questões relativas a um publico bastante vulnerável socialmente,
visando colaborar de forma reflexiva e critica sobre a trajetória da construção
da proteção social e integral desse seguimento, da mesma forma que
demonstra como se da a atuação das políticas publicas para a proteção das
mulheres vitimas de violência domestica.
A metodologia adotada pauta-se em um estudo bibliográfico, orientado
pelo método dialético-crítico, de natureza qualitativa, somados a uma pesquisa
em periódicos brasileiros e em documentos oficiais artigos,livros e dissertações
e teses visando fundamentar a construção deste artigo. Deste modo, entende-
se que a fase metodológica de revisão bibliográfica é fundamental primordial
para a aproximação com as abordagens literárias existentes sobre o tema.
Diante disso, o presente artigo está organizado em quatro seções,
partindo desta introdução, seguida de um breve resgate histórico acerca da
história da violência doméstica no Brasil, abordando desde os primeiros casos
de conhecimento de violência domestica, lei Maria da Penha e até os dias de
hoje com surgimento da lei do feminicídio. A terceira seção apresentara as
atribuições e as competências dos assistentes sociais na execução das
políticas de atendimento as mulheres vitimas de violência domestica discutindo
sua função junto aos órgãos de proteção a vigilância social e os contornos do
exercício profissional. Por fim, as considerações finais apresentarão reflexões
sobre o assunto, considerando os avanços e os limites reconhecidos
historicamente na trajetória das leis de proteção a essas mulheres enquanto
órgão de proteção e vigilância social,a partir da analise do Serviço Social.

BREVE CONTEXTO HISTÓRICO: A HISTORIA DA


VIOLENCIA DOMESTICA NO BRASIL
Na antiguidade, nascer mulher era considerado uma desvantagem para
a família, pois a descendência familiar e o culto aos deuses dos antepassados
se davam por meio da linhagem masculina .
Historicamente as mulheres estiveram submetidas à violência,
principalmente aquela perpetrada por seus companheiros íntimos. A violência
contra a mulher pode ser entendida como aquela que fere, ofende, subjuga,
maltrata, humilha e viola os direitos das mulheres; que é empregada não como
forma de resistência, mas como meio de controlar e submeter as mulheres.
Esta violência pode ser física, psicológica ou sexual, e perpassa todas as
camadas sociais, idades, etnias, religiões e nacionalidades.
Na Idade Média, não havia modificação na condição da mulher quando
admitida a trabalhar, pois jamais chegava a uma posição de destaque e, à vida
inteira, era considerada uma aprendiz espoliada, quer na lida, quer pelos
mestres, quer no lar. Todavia, os trabalhos artesanais estabeleceram uma nova
relação entre a mulher e o trabalho, mais produtivo, mais autônoma, embora
sem grande evolução cultural.
É importante destacar que a subordinação da mulher esteve presente
em quase todas as etapas da história da humanidade, corroborando assim uma
cultura que determinou papéis sociais às mulheres e aos homens, e
legitimando a inferioridade da mulher e a violência contra a mulher, por
conseguinte, estando subjugada não podia trazer à tona seus sofrimentos
porque não encontrava adesão.
Segundo RANGEL:
uma manifestação das relações de poder historicamente desiguais
entre mulheres e homens, que causaram a dominação da mulher pelo
homem, a discriminação contra a mulher e a interposição de obstáculos
contra seu pleno desenvolvimento. Trata-se de um dos dispositivos
sociais estratégicos de manutenção da subordinação da mulher em
relação ao homem. (Rangel ,1999, p.30)
Em muitas sociedades, a violência foi quase sempre utilizada como
modo de resolução de conflitos, tendo também função educativa (a violência
como forma de punir para educar). Isto, principalmente na esfera doméstica,
lugar tradicionalmente considerado como âmbito do indivíduo, no qual nada
mais diria respeito à sociedade e nem ao Estado, neste sentido, poderia ser
também o espaço de violências inclusive contra mulher.
A violência contra a mulher, nos diferentes contextos históricos, sociais e
culturais teve pouca visibilidade pública, ficando confinada aos espaços
domésticos, justamente pelas relações de dominação-subordinação entre
homens e mulheres. Porém, principalmente com o surgimento e fortalecimento
dos movimentos de mulheres em defesa de seus direitos e mudança das
situações de subordinação de gênero, a violência contra a mulher começa a
ser discutida e a ganhar visibilidade nos espaços públicos e em organismos
governamentais e não-governamentais.
Em 1979, a ONU organizou a Convenção sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), e trouxe em seu Art. 1º
que a:
discriminação contra a mulher significará toda distinção, exclusão ou
restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado
prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher,
independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do
homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais
nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer
outro campo. (CEDAW,1979,art.1°).
Esta Convenção foi ratificada pelo Brasil apenas em 1984, com
reservas, e promulgada pelo Decreto n.º 89.406, de 20.3.1984.
No Brasil, a maioria da população é formada por mulheres, e muitas
delas estão submetidas as mais variadas formas de violência. a violência
contra a mulher começou ser encarada como uma das interfaces da questão
social como campo de intervenção, debate e reflexão, de várias categorias
inclusive do Serviço Social.
Para Iamamoto:
decifrar as novas mediações através das quais se expressa a questão
social hoje é de fundamental importância para o Serviço Social em
dupla perspectiva: para que se possa tanto apreender as várias
expressões que assumem, na atualidade, as desigualdades sociais –
sua produção e reprodução ampliada – quanto projetar e forjar formas
de resistência e de defesa da vida.(IAMAMOTO, 1997, p. 14).
Segundo a autora, o Serviço Social tem como objeto de intervenção a
questão social e suas interfaces, o profissional de Serviço Social deve estar
atento às transformações da sociedade e às novas expressões das
desigualdades, dentre as quais apontamos a violência contra a mulher.
Em 1985 foi inaugurada em São Paulo a primeira Delegacia
Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM’s).
Um dos marcos no que se refere à proteção dos direitos da Mulher,
ocorre em 1994, com a realização da Convenção de Belém do Pará, ou
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher. Os Estados membros presentes na Convenção afirmaram que a
violência contra a mulher constitui uma violação dos direitos humanos e das
liberdades fundamentais e limita a mulher, total ou parcialmente, ao
reconhecimento, gozo e exercício de tais direitos e liberdades.
O Brasil, ao ter assinado e ratificado esta Convenção se comprometeu a
cumpri-la integralmente buscando criar mecanismos para o combate à violência
contra a mulher, implementando políticas públicas destinadas a prevenir, punir
e erradicar a violência contra a mulher, em consonância com os parâmetros
internacionais e constitucionais, procurando romper com o perverso ciclo de
violência que, banalizado e legitimado, subtrai a vida de parte da população
brasileira. Porém, o Brasil não cumpriu integralmente os preceitos
encaminhados pela Convenção e assim, em 1° de maio de 2001, foi citado, de
forma negativa, no relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) pela omissão,
tolerância e impunidade nos casos de violência contra as mulheres.

O caso que ilustrou a atitude do país em relação aos direitos das


mulheres foi o de Maria da Penha a cearense Maria da Penha Maia Fernandes,
56, que passou os últimos 18 anos lutando, sem sucesso, pela punição de seu
ex-marido, a quem acusa de tentar matá-la com um tiro e de tê-la deixada
paraplégica. No dia 1° de maio de 2001, o Brasil foi condenado pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados
Americanos (OEA) pela omissão, tolerância e impunidade nos casos de
violência contra as mulheres. A partir da condenação, o professor universitário
Marcos António Heredia Viveros, acusado de tentar matar sua mulher em maio
de 1983, foi preso. A OEA recomendou ainda que o governo pagasse uma
indenização à vítima e cumprisse os procedimentos criminais contra Viveros de
forma rápida e eficiente.

A comissão acusa o país de ter descumprido dois tratados internacionais


dos quais é signatário: a Convenção Americana de Direitos Humanos e a
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra
Mulher, conhecida como Convenção de Belém, aprovada em 1993. Os dois
acordos garantem às mulheres vítimas de violência doméstica amplo direito de
defesa.

Neste contexto, os movimentos sociais de proteção à mulher, as


organizações não governamentais brasileiras e estrangeiras, também as
Secretarias em Defesa da Mulher, começaram uma análise da violência
doméstica no Brasil, visando à elaboração de um texto de Lei que buscasse
concretizar as convenções ratificadas.

Em Agosto de 2006 o Presidente da República sancionou a Lei


11.340/2006 – Lei Maria da Penha que foi uma das principais vitórias
alcançadas pelas mulheres no Brasil. A Lei Maria da Penha tem como principal
objetivo garantir direitos fundamentais a todas as mulheres, tem a meta de
prevenir e eliminar todas as formas de violência contra a mulher, com vistas a
punir os agressores e dando proteção e assistência as mulheres em situação
de violência doméstica. Conforme a Lei:

Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação


sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos
direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe
asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência,
preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,
intelectual e social. (Artigo 2º, Lei Maria da Penha nº 11.340/2006)
(Brasil, 2006).

A Lei 11.340/06 foi constituída para ratificar a Convenção sobre a


Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, a
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra
a Mulher e para fazer observar o disposto no § 8.º do artigo 226 da
Constituição Federal que prevê:

O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos


que integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de
suas relações. (BRASIL, Constituição,1988).

Exigiu-se então uma mudança de postura, pois se estabelece a


obrigatoriedade do respeito e da igualdade. A mesma cria mecanismo para
coibir a violência doméstica e familiar que consiste em: violência física,
psicológica, sexual, patrimonial e a moral.

A violência física é caracterizada pelo uso da força física ou uso de


armas, causando danos à integridade física de uma pessoa, tais como: lesões,
hematomas, fraturas, queimaduras, cortes, contusões, deficiências físicas, ou
até mesmo a morte da vítima.
A violência psicológica é aquela que não deixa marcas físicas, é aquela
que humilha, que subjuga outro ser humano, que amedronta, que
aterroriza,.Esta violência se caracteriza por insultos, culpabilizações.

Já a Violência sexual pode ser compreendida como toda forma de


coerção sexual contra o ser humano, com ou sem violência física. Pode ser
praticada contra pessoa adulta, adolescente ou criança; porém as maiores
vítimas são as pessoas do sexo feminino. A relação sexual obrigatória ou o
“estupro conjugal”, como já vem sendo denominado por estudos, está presente
na maioria dos relacionamentos estáveis, onde a mulher mesmo sem desejo ou
outros motivos (indisposição física, problemas de saúde, etc) acaba cedendo
muitas vezes às vontade- a violência patrimonial, entendida como qualquer
conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e
direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades. Ainda mais, é provocada pela dilapidação de bens materiais ou
não de uma pessoa e causa danos, perdas destruição e outros de seus
maridos/companheiros por ser ameaçada ou coagida.

A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure


calúnia, difamação.

Contudo a lei 13.104/2015 promulga o chamado feminicídio que fora


incluído no Código Penal Brasileiro passando a ser qualificadora do crime de
homicídio, além de ser classificado como hediondo. A lei do feminicídio em seu
artigo 1º, § 2º-A no Brasil, considera o assassinato de mulher, como sendo uma
condição especial da vítima, quando presentes “violência doméstica e familiar”
ou “menosprezo ou discriminação à condição de mulher”.

Importante salientar que nem todo assassinato de mulher se caracteriza


com sendo feminicídio. O crime configura-se quando uma mulher se torna
vítima de homicídio apenas por ser do sexo feminino. Neste sentido conceitua
Miranda que:

[...] “femicídio” ou “feminicídio”, é caracterizado na forma extrema de


violência de gênero que resulta na morte da mulher em três situações:
quando há relação intima de afeto ou parentesco entre a vítima e o
agressor; quando há pratica de qualquer violência sexual contra a
vítima e em casos de mutilação ou desfiguração da mulher que seria o
assassinato da mulher em razão do seu gênero feminino.

Em decorrência destas características surgem ainda três tipos possíveis


de feminicídio: íntimo, não íntimo e por conexão. No feminicídio íntimo, o autor
do crime é o atual ou ex-companheiro da mulher com o qual a ela manteve
algum tipo de relacionamento ou convivência conjugal, extraconjugal ou
familiar.

Feminicídio não íntimo: o autor do crime e a vítima mulher não possuíam


qualquer ligação familiar, de convivência ou de relacionamentos.

Já, o feminicídio por conexão, ocorre quando o homem tem por objetivo
assassinar outra mulher, no entanto, a vítima que não era alvo, vem a ser
assassinada por estar na hora errada e no lugar errado pode-se dizer.

As causas de motivação a criação da nova tipificação penal é resultante


dos altos índices de violência contra mulher no Brasil e que na maioria dos
casos registrados são oriundos do ambiente doméstico.

Reconhecendo agora a mulher como um ser em situação de violência


motivada pelo seu gênero, evidenciando assim a dicotomia de gênero.

O Direito aparentemente ignora esta relação de dominação-


subordinação ao omitir-se diante da violência contra a mulher,
culpabilizando as vítimas de violência sexual, abstendo-se de intervir
no ambiente privado, fechando os olhos para a prostituição feminina e
a exploração sexual, permitindo a hipersexualização dos corpos das
mulheres negras, ignorando a desvalorização do trabalho feminino.
Não há que se iludir, o sistema jurídico está, na realidade, a legitimar a
ordem patriarcado-racismo-capitalismo (CUNHA, 2014, p.157).

Esse reconhecimento traz à tona a legitimidade dessa ordem


patriarcal/capitalista que vem sendo estudada ao longo desse trabalho

As políticas sociais básicas, especiais e de assistência social são


debatidas, organizadas e estabelecidas pelo Conselho de Direito que
desempenha o papel de controle e vigilância social. Mas a sociedade civil
também tem o poder e direito de controle através de fóruns,conferencias,
conselhos de direitos.

A LEGISLAÇÃO E OS SERVIÇOS DE ATENDIMENTO NO


BRASIL A MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA:

A Constituição Federal de 1988 representou um marco na conquista de


direitos humanos e de cidadania para as mulheres, sendo consideradas
sujeitos de direito assim como os homens. Isso se dá, pois a mesma institui a
igualdade formal de todos perante o Estado e a lei tanto em direitos como em
obrigações, excluindo qualquer preconceito por raça, gênero, classe ou
qualquer outro tipo de discriminação. No âmbito do trabalho, foi vetada a
diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por
motivos de gênero, idade, raça ou estado civil. Quanto à família, a Carta Magna
afirma que os direitos e os deveres devem ser igualmente exercidos pelo
homem e pela mulher no matrimônio, admitindo-se outras formas de família
que não as constituídas pelo casamento (CUNHA, 2014).

Não se rompe com a ordem patriarcal de gênero e sequer se admite a


complexidade dos sujeitos. Por de trás da abstração, encontra-se um
padrão de sujeito de direito: homem, branco, heterossexual e burguês -
o qual tem 44 seus interesses tutelados pelo sistema jurídico. A
identidade das mulheres com este sujeito jamais será plena, mas será
em maior ou menor grau a depender de sua raça/etnia, sexualidade e
classe social. (CUNHA, 2014, p. 156).

A Secretária de Políticas para Mulheres faz uma separação das redes


que atendem as mulheres em situação de violência. A rede de enfrentamento à
violência está ligada à atuação articulada entre instituições/serviços
governamentais, não governamentais e a comunidade, visando o
desenvolvimento de estratégias efetivas de prevenção; e de políticas que
garantam o empoderamento das mulheres e seus direitos humanos, a
responsabilização dos agressores e a assistência qualificada às mulheres
nessa situação (BRASIL, 2016).

No combate a violência contra a mulher, o primeiro grande marco legal


foi a criação, em 2006, da lei Maria da Penha nº 11.340/2006, que segundo a
legislação brasileira, definiu e criminalizou atos abusivos, brutais e desumanos
praticados contra as mulheres em ambientes domésticos e familiares, com o
intuito de responsabilizar e punir os agressores e intimidar possíveis futuras
violências.

A violência contra a mulher deve ser vista como um ponto central da


agenda política do Estado em todos os níveis, com políticas públicas e
recursos compatíveis para programas de apoio às mulheres em situação de
violência, fazendo valer os Planos Nacionais de Políticas para Mulheres.

A proteção social básica é destinada para as famílias de risco de


vulnerabilidade com o objetivo de fortalecer o vínculo familiar e da comunidade
prestando serviço através do programas sociais. Com base nos serviços e programas
sociais, a Política de Assistência Social:

prevê o desenvolvimento de serviço, programas e projetos locais de


acolhimento, convivência e socialização de família e de indivíduos,
conforme identificação da situação de vulnerabilidade apresentada.

Para estar desenvolvendo a proteção social básica para o usuário, conta-se


com os espaços do Centro de Referência de Assistência Social - CRAS – que

é uma unidade pública da política de assistência social, de base


municipal, integrante do SUAS, localizado em áreas com maiores
índices de vulnerabilidade e risco social, destinado à prestação de
serviços e programas socioassistenciais de proteção social básica às
famílias e indivíduos, e à articulação destes serviços no seu território de
abrangência, e uma atuação intersetorial na perspectiva de
potencializar a proteção social.

Segundo a descrição do Serviço conforme a Tipificação Nacional de


Serviços Socioassistenciais (2014) serve como: Serviço de apoio, orientação e
acompanhamento a famílias com um ou mais de seus membros em situação
de ameaça ou violação de direitos. Compreende atenções e orientações
direcionadas para a promoção de direitos, a preservação e o fortalecimento de
vínculos familiares, comunitários e sociais e para o fortalecimento da função
protetiva das famílias diante do conjunto de condições que as vulnerabilizam ou
as submetem a situações de risco pessoal e social. O atendimento fund amenta-
se no respeito à heterogeneidade, potencialidades, valores, crenças e identidades das
famílias.
A proteção social especial é a modalidade de média complexidade, que
trata de alta vulnerabilidade e risco pessoal e social. Estes, decorrentes do
abandono, privação, perda de vínculos, exploração, violência e etc. Para tanto
o Serviço de Atendimento Especializado à Famílias e Indivíduos realiza um
trabalho de atendimento qualificado através da:

Acolhida; escuta; estudo social; diagnóstico socioeconômico;


monitoramento e avaliação do serviço; orientação e encaminhamentos para a
rede de serviços locais; construção de plano individual e/ou familiar de
atendimento; orientação sociofamiliar; atendimento psicossocial; orientação
jurídico-social; referência e contra-referência; informação, comunicação e
defesa de direitos; apoio à família na sua função protetiva; acesso à
documentação pessoal; mobilização, identificação da família extensa ou
ampliada; articulação da rede de serviços socioassistenciais; articulação com
os serviços de outras políticas públicas setoriais; articulação interinstitucional
com os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos; mobilização para o
exercício da cidadania; trabalho interdisciplinar; elaboração de relatórios e/ou
prontuários; estímulo ao convívio familiar, grupal e social; mobilização e
fortalecimento do convívio e de redes sociais de apoio.

O Assistente Social diante a realidade de suas demandas cumpre suas


ações de acordo com o código de Ética profissional, realiza com competência e
responsabilidade suas ações profissionais em seu cotidiano. Conforme Bonetti,
sobre a questão do respeito do profissional ao usuário, o Código de Ética frisa:

Art.5º, b) garantir a plena informação e discurso sobre as possibilidades


e consequências das situações apresentadas, respeitando
democraticamente as decisões dos usuários, mesmo que sejam
contrarias aos valores e ás crenças individuais dos profissionais,
resguardados os princípios deste Código (BONETTI, 2008. p. 221).

De acordo com o Código de Ética o assistente social tem o compromisso


de respeitar o usuário diante dos seus valores conforme rege as leis
determinada pela Ética do profissional. O Assistente Social tem como
compromisso auxiliar na defesa dos direitos dos usuários, vivenciando novos
conceitos, tomando novas iniciativas e desvinculando do passado, e adotando
nova estratégia metodológica da atualidade como forma de assistência à
sociedade.

O Assistente Social realiza participação na administração municipal,


diante de trabalhos de inclusão social, sendo estes, de desenvolvimento dos
projetos de participação e acessibilidade aos direitos concernentes ao cidadão,
fatos estes decorrentes da valorização do profissional, que busca assentar-se
no âmbito profissional da classe de maneira clara, transparente e objetiva,
demonstrando sempre a sua importância para o equilíbrio das relações usuário
e Governo em prol do bem estar social.

Entre os objetivos e metas do profissional do Serviço Social, encontra-se


a acessibilidade aos meios para atendimento, diante das necessidades locais,
as informações corretas aos diversos benefícios que faz jus ao cidadão,
prioridade para a saúde, vida, educação e lazer, previsão da Constituição
cidadã. O Assistente Social é, além de um mediador, também um vigilante
social, que diante da realidade, apresenta projetos e busca interagir diante do
Estado/Governo, apresentado projetos e propostas que visem atender à
comunidade diante das suas necessidades e prioridades.

A ação de intervenção é a visita domiciliar, atendimento, entrevista, nas


visitas a outras instituições, fazer pesquisas, aplicar questionário; desempenhar
ação de orientação, proteção e acompanhamento socioassistencial
individualizado e sistemático às mulheres e sua família em situações de risco
ou violação de direitos. Contribuir para a promoção, defesa e garantias de
direito de cada cidadão vítima da violação de direitos. Promover a articulação
intersetorial, é deliberar quanto a fatores horizontais e verticais, as ideias de
conexão, os vínculos, as relações entre parceiros, a interdependência de
serviços, o respeito às diversidades e particulares de cada setor, apresentando
a importância da relevância do trabalho individual de cada membro diante do
objetivo e da relevância social da intersetorialidade.

O Serviço Social, como um todo, é voltado para a problemática da


sociedade e os fatores decorrentes das relações sociais, e assim sendo, deve
seguir conforme os costumes, acolhendo a analogia e a aplicação dos
princípios gerais do direito, buscando levar à comunidade os benefícios a ela
concernentes através da mediação dentro do contexto Estado através de seus
operadores e o usuário (MINAYO, 2009, p. 9).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A necessidade de melhorar o diálogo emerge justamente das ações dos


serviços sobre a violência com metas de intervenções limitadas ao seu setor e,
para superar esse obstáculo, recomendam-se ações que melhorem o vínculo, o
conhecimento das metas dos serviços e as culturas institucionais. A ausência
de organização da referência e contra referência na rede de serviços pode
gerar encaminhamentos das mulheres a outros setores sem a preocupação do
acompanhamento e da solução do problema. Mas o sistema pode ser
estruturado a partir da constituição de uma equipe qualificada, do
conhecimento de um referencial de rede e da colaboração dos diversos setores
e das estruturas sociais que acolhem a violência contra a mulher.

Para isso, o apoio e incentivo dos gestores dos setores locais e as


políticas nacionais, estaduais e regionais que orientam e financiam políticas de
enfrentamento à violência contra a mulher, precisam estar disponíveis e ser
acessados. A parceria das universidades e de órgãos governamentais e não
governamentais em projetos que deem suporte à criação de práticas
assistenciais em rede pode reorganizar as práticas com base em um modelo
coletivo, para consolidar serviços mais eficientes e, ao mesmo tempo, contribuir
para formação e qualificação dos profissionais com referenciais de rede.

A ação e intervenção profissional dos Assistentes Sociais em demandas


familiares, inclusive na questão da violência, se apresenta desafiadora,
entretanto, vêm avançando com muita competência, o qual possibilita resgatar
a dignidade humana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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São Paulo: Cortez, 2007.

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MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: Teoria, método e
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MIRANDA M, Carolina. Reflexões acerca da tipificação do femicídio da PUC


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