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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO


CURSO: BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL

TAÍSA FLORIZA DA SILVA

FEMINICÍDIO E SERVIÇO SOCIAL

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CAICÓ - RN
2023
TAÍSA FLORIZA DA SILVA

FEMINICÍDIO E SERVIÇO SOCIAL

Trabalho apresentado ao Curso Serviço Social


– Universidade Norte do Paraná, para a
disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II.

Professor da disciplina: Valquiria Aparecida


Dias Caprioli

CAICÓ/RN
2023
DEDICATÓRIA

Aos meus pais, razão maior da minha existência e pelo apoio irrestrito nos
momentos difíceis e conturbados da minha vida acadêmica, mas sempre
intercedendo junto a Deus pelo meu êxito.

Obrigado por tudo, nunca esquecerei!


RESUMO

O presente estudo tem escopo de desenvolver uma análise sobre a violência e uma
reflexão sobre as múltiplas expressões da violência contra a mulher e o papel do
Serviço Social. Neste estudo abordaremos a violência cometida contra as mulheres;
a violência conjugal, ou violência de gênero. Para a elaboração deste trabalho foi
feito a partir de levantamento bibliográfico. O seu desenvolver se dará em volta da
violência de gênero, que consiste em qualquer ação ou conduta, baseada no
gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher,
tanto no âmbito público como privado. Há de se considerar o tema trabalhando-o na
perspectiva da discriminação e da violência, fenômenos intrinsecamente
relacionados no que se refere às desigualdades de gênero. Desigualdades estas
que se concretiza pela cultura, valores, significações, e hierarquizações numa
sociedade caracterizada como machista e patriarcal. Do ponto de vista
metodológico, trata-se de um estudo bibliográfico, que aponta para uma reflexão
sobre as múltiplas expressões da violência contra a mulher e sua condição de
vulnerabilidade social.

PALAVRAS-CHAVE: VIOLÊNCIA - MULHER - GENÊRO


ABSTRACT

The scope of this study is to develop an analysis of violence and a reflection on the
multiple expressions of violence against women and the role of Social Work. In this
study, we will address violence committed against women; marital violence, or
gender-based violence. For the elaboration of this work, it was made from a
bibliographic survey. Its development will revolve around gender violence, which
consists of any action or conduct, based on gender, that causes death, harm or
physical, sexual or psychological suffering to women, both in the public and private
spheres. It is necessary to consider the theme from the perspective of discrimination
and violence, phenomena intrinsically related to gender inequalities. These
inequalities are materialized by culture, values, meanings, and hierarchies in a
society characterized as sexist and patriarchal. From a methodological point of view,
this is a bibliographic study which points to a reflection on the multiple expressions of
violence against women and their condition of social vulnerability.

WORDS - KEY: VIOLENCE - WOMEN - GENDER


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 7
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................9
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................39
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA...............................................................................41
7

1. INTRODUÇÃO

De várias formas podem se apresentar a violência contra as mulheres e


também em graus de severidade e crueldade diferentes. Normalmente essas formas
de violência fazem parte de uma sequência cronológica de episódios, dentre os
quais o homicídio é o mais extremo. Alguns autores classificam a violência contra a
mulher como: Violência de Gênero, Violência Intrafamiliar, Violência Doméstica,
Violência Física, Violência Sexual, Violência Psicológica, Violência Econômica ou
Financeira e Violência Institucional.
Historicamente, o ato de agredir, estuprar, matar uma mulher são fatos que
vem acontecendo ao longo da história em todos os países denominados civilizados,
porém a intensidade da agressão varia de caso para caso.
Nesse trabalho acadêmico, a abordagem em especifico, se dará em volta da
violência de gênero, que consiste em qualquer ação ou conduta, baseada no
gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher,
tanto no âmbito público como privado. A violência de gênero é uma manifestação de
relações de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres, em que a
subordinação não implica na ausência absoluta de poder. No mesmo sentido o
presente trabalho disserta sobre a violência e crimes contra mulher, que foi por
muito tempo considerado como objeto, um sujeito social com pouco ou nenhum
direito e por isso, muitas vezes sofriam inúmeros tipos de violência, toda essa
trajetória de violência e sofrimento acontecia no seu âmbito familiar.
Estudos mostram que em determinados países onde prevalece uma cultura
masculina é maior a violência contra a mulher é comum e muitas vezes justificada
moral e socialmente, uma vez que a violência doméstica contra as mulheres vem se
alastrando em todas as camadas da nossa sociedade, não afetando apenas
mulheres pobres do terceiro mundo; ela é constante no cotidiano das mulheres,
atravessa ideologias, classes sociais, raças e etnias.
Pesquisar as causas da violência praticadas por homens para com suas
mulheres deveria ser considerado algo de primordial, já que existem contradições de
gênero no que diz respeito á discussão desse tema, publicamente.
Apesar de serem considerados atualmente um dos grandes problemas
sociais a violência contra mulheres, sem dúvida, tem sido considerada por
promotores uma epidemia fatos estes registrados pelo aumento estatísticos
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viabilizados pela mídia eletrônica, imprensa e falada, tornando-se assim notícia e por
sua vez é alvo de comentários por parte da população ouvinte dos programas e
leitores de jornais.
Em face deste quadro social, buscaremos compreender a problemática,
buscando no seio do Serviço social, a melhor maneira de acolher a mulher vitima de
feminicídio e seus condicionantes no município de Caicó-RN.
Na compreensão desta problemática, buscaremos compreender por meio
dos parâmetros do serviço social, as problemáticas sobre os conflitos familiares que
emergem como questão social, a violência doméstica são mais evidenciadas
associadas aos abusos e maus tratos pelos quais sofrem as mulheres. Recorte este
que essa tese pretende focar. Em pesquisar as causas dos homicídios praticados
por homens para contra suas mulheres deveria ser considerado de grande
importância já que existem contradições de gênero no que diz respeito a discussão
desse tema, publicamente.
9

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A QUESTÃO SOCIAL E OS DIREITOS SOCIAS NO BRASIL

No dizer de Marx o trabalho é conjunto entre o homem e a natureza, mas


também é uma interação social da própria sociedade, afetando os seus sujeitos e
sua organização.
A produção capitalista faz com que exista uma grande massa de valores de
um lado, e, do outro uma imensa concentração da pobreza. Isso nos confirma que a
Questão Social nasce do capitalismo, pois cada vez mais a população sofre com a
desigualdade oriunda do capitalismo.
No dizer de Iamamoto (2011), foi afirmado que apreender a Questão Social é
também apreender como os sujeitos a vivenciam. É com ela que se pode perceber a
necessidade de cada sujeito. Diante disso, é possível perceber a importância do
assistente social estar identificando a questão social, conhecendo assim a demanda
de seus usuários, implementando projetos ou ações para a desmistificação da
questão social presente.
A Questão Social é um fenômeno que se apresenta conforme as
modificações sociais, se configurando seja pelo capitalismo, violência, ausência de
direitos e demais problemas relacionados à sociedade.
Para Iamamoto (2007) as múltiplas expressões da questão social são
fragmentadas como se fossem independentes, deixando assim de ser só
compreendida como fruto do conflito entre capital e trabalho. Os seres humanos são
seres essencialmente sociais, ou seja, vivem em uma determinada sociedade. E essa
sociedade é uma totalidade. Nenhuma situação pode ser considerada apenas em sua
singularidade, pois senão corre-se o sério risco de se perder de vista a dimensão social da
vida humana. Portanto, qualquer situação que chega ao Serviço Social deve ser analisada a
partir de duas dimensões: a da singularidade e a da universalidade. Para tal, é necessário
que o assistente social tenha um conhecimento teórico profundo sobre as relações sociais
fundamentais de uma determinada sociedade (universalidade), e como elas se organizam
naquele determinado momento histórico, para que possa superar essas “armadilhas” que o
senso comum do cotidiano prega e que muitas vezes mascaram as reais causas e
determinações dos fenômenos sociais. É na relação entre a universalidade e a singularidade
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que se torna possível apreender as particularidades de uma determinada situação


(IAMAMOTO, 2009).
Com a promulgação da nova Constituição Federal que ficou conhecida como
a Constituição Cidadã, por ter ampliado os direitos sociais. Onde pela primeira vez a
Assistência Social foi reconhecida como política pública, dever do Estado e direito
de cidadania, abrindo assim espaços de atuação para o Assistente Social que até
então era visto apenas como um executor de trabalhos meramente burocráticos.
A profissão Serviço Social:
Como qualquer outra profissão inscrita na divisão social e técnica do trabalho,
sendo o Assistente Social um trabalhador assalariado, dependem da venda de sua
força de trabalho especializada no mercado profissional de trabalho. Para que ele
tenha valor de troca expresso monetariamente no seu preço requer que o
profissional seja capaz de responder critica e criativamente aos desafios postos
pelas profundas transformações incidentes nas esferas de produção e do Estado,
com profundas repercussões na conformação das classes sociais. (IAMAMOTO,
2009, p.172).
Na sociedade contemporânea faz - se necessário que o profissional em
Serviço Social esteja atento às diversas formas das demandas sociais, devido às
inúmeras faces que a questão social apresenta, pois por mais que a sociedade
tenha evoluído tecnológica e cientificamente. Humanamente ainda continua
estagnada, pois em pleno século XXI observa - se que muito pouco se avançou
quando o assunto é o alcoolismo na família e suas consequências para crianças e
adolescentes.
Historicamente, os assistentes sociais dedicaram-se à implementação de
políticas públicas, localizando-se na linha de frente das relações entre população e
instituição (IAMAMOTO, 2007). Embora ainda esse seja o perfil predominante, dada
à ênfase no caráter assistencial da rede de atendimento, não é mais o exclusivo,
sendo abertas outras possibilidades.
Os direitos sociais no país são construídos pela reivindicação dos
movimentos dos trabalhadores, surgindo após a Revolução Industrial.
O Brasil é historicamente dominado pelo capital internacional, desde os
primórdios da colonização e pelos grandes blocos econômicos, pelas multinacionais,
dentre outras instâncias econômicas, o que evidencia o caráter de submissão da
nação brasileira ao capital estrangeiro. O Brasil se constrói através de uma
11

dualidade desconcertante, ficando explicita na má distribuição de renda, ou seja, alto


poderio econômico nas mãos de uma minoria burguesa e baixo nas mãos de uma
maioria desprovida.
Devido a má distribuição de renda, o ser humano sofre junto com a família
criando uma sociedade paternalista e preconceituosa.
Quando se tem a família como referência, mesmo que seja simbólica,
significa privilegiar a ordem moral, exigindo assim os direitos universais de
cidadania, julgando assim o mundo social como ele é. E neste contexto, buscamos
abordar a questão da violência contra mulheres.
Pesquisar as causas da violência praticadas por homens para com suas
mulheres deveria ser considerado algo de primordial, já que existem contradições de
gênero no que diz respeito á discussão desse tema, publicamente.
Apesar de serem considerados atualmente um dos grandes problemas sociais
a violência contra mulheres, sem dúvida, tem sido considerada por promotores uma
epidemia fatos estes registrados pelo aumento estatísticos viabilizados pela mídia
eletrônica, imprensa e falada, tornando-se assim notícia e por sua vez é alvo de
comentários por parte da população ouvinte dos programas e leitores de jornais.
Na maioria das vezes, o agressor é caracterizado nos meios de comunicação
como sendo de classe popular de nível inferior, envolvido com drogas lícitas ou
ilícitas, desempregado e morador de favela. Pesquisas desvendam que não se pode
definir características para agressores de mulheres, por eles se encontrarem em
classes sociais variadas, conforme Azevedo (1985, p. 125):

Não se consegue encontrar características definitivas nos


espancadores de esposas. O crime de agressão e espancamento de
cônjuge não conhece nenhuma barreira social, geográfica,
econômica, etária ou racial.

Diante deste comentário não se pode dizer que o agressor de mulheres tem
sua localização geográfica em bairros vulneráveis, eles podem ser encontrados em
todas as classes sociais. No entanto não existem estatísticas sobre a classe social
dos agressores. A única diferença é que mulheres de classe social mais elevado
acabam por não denunciar seus companheiros, namorados e maridos. A principal
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causa de agressões sofridas pelas mulheres justifica-se pelo fato cultural aonde o
homem tem a percepção de que é dono da mulher e ela por sua vez não fazendo a
determinação do marido, parceiro ou namorado merece ser punida.

REPENSANDO OS IDEAIS HISTÓRICOS DA VIOLÊNCIA

“O respeito mútuo, um respeito sem fingimentos e sem rotinas, um respeito


bem intencionado, que todos os dias se iluminam de argumentos novos e
todos os dias se sente pequeno diante de sua aspiração, poderá servir de
base, dentro da obra educacional, a um movimento de resultados eficientes,
no problema urgentíssimo da salvação do mundo pela garantia unânime da
paz”.

CECÍLIA MEIRELES

A vingança

Muito antes a violência propriamente dita iniciou-se a vingança tendo origem


nos tempos primitivos humanos. O período de vingança prolonga-se até o século
XVIII. Nesses tempos não existia um sistema orgânico de princípios gerais, pois os
grupos sociais dessa época viviam em um ambiente religioso. Onde as pestes, a
seca e erupções vulcânicas eram consideradas castigos divinos.
Já entre o período de 1750 a 1850 que ficou conhecido como Período
Humanitário que teve inicia durante o Humanismo o qual foi marcado pela atuação
de pensadores que não compactuavam com os ideais absolutistas. O povo clamava
por uma reforma nas leis já no fim do século XVIII, estavam saturados de tanto
barbarismo sob pretexto de aplicação da lei.
O alicerce pra o Humanismo parte dos escritos de Montesquieu, Voltarie,
D’Alembert e Rousseau juntamente com o Cristianismo. Predominava neste período
a aversão a qualquer crueldade e se rebelava contra qualquer arcaísmo do tipo:
"Homens, resisti à dor, e sereis salvos". (Basileu Garcia).
Surge então um movimento denominado Escola Clássica buscava a
humanização das penas e reforma das leis penais. Teve como precursor Cesare
Beccaria inspirado nas concepções de o Contrato Social de Rousseau, segundo o
qual o ser humano é um bom selvagem, ou seja, ele nasce bom apenas é
contaminado pelos constrangimentos sociais e em sua obra “Dos delitos e das
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penas” propôs os princípios de justiça penal, princípios esses que se tornaram os


postulados básicos do Direito Penal.
Denomina-se Escola Clássica o conjunto de escritores, pensadores, filósofos
e doutrinadores que adotaram as teses ideológicas básicas do iluminismo, que
foram expostas magistralmente por Beccaria. Três grandes jurisconsultos podem ser
considerados como iniciadores da Escola Clássica: Gian Domenico Romagnosi, na
Itália. Jeremias Bentham, na Inglaterra e Anselmo Von Feuerbach na Alemanha.
Romagnosi concebe o Direito Penal como um direito natural, imutável e
anterior às convenções humanas, que deve ser exercido mediante a punição dos
delitos passados para impedir o perigo dos crimes futuros. Jeremias Bentham
considerava que a pena se justificava por sua utilidade: impedir que o réu cometa
novos crimes, emendá-lo, intimidá-lo, protegendo, assim a coletividade. Anselmo
Von Feuerbach opina que o fim do Estado é a convivência dos homens conforme as
leis jurídicas. A pena, segundo ele, coagiria física e psicologicamente para punir e
evitar o crime.
No que tange à finalidade da pena, havia no âmago da Escola Clássica, três
teorias: Absoluta – que entendia a pena como exigência de justiça. Relativa – que
assinalava a ela um fim prático, de prevenção geral e especial e Mista – que,
resultando da fusão de ambas, mostrava a pena como utilidade e ao mesmo tempo
como exigência de justiça.
Na Escola Clássica, dois grandes períodos se distinguiram: o filósofo ou
teórico e o jurídico ou prático. No primeiro destaca-se a incontestável figura de
Beccaria. Já no segundo, aparece o mestre de Pisa, Francisco Carrara, que se
tornou o maior vulto da Escola Clássica. Carrara defende a concepção do delito
como ente jurídico, constituído por duas forças: a física (movimento corpóreo e dano
causado pelo crime) e a moral (vontade livre e consciente do delinquente).
Define o crime como sendo "a infração da lei do Estado, promulgada para
proteger a segurança dos cidadãos, resultante de um ato externo do homem,
positivo ou negativo, moralmente imputável e politicamente danoso".
Segundo Rousseau (pág. 17)

Renunciar a própria liberdade é o mesmo que renunciar a qualidade


de homem, aos direitos da humanidade, inclusive aos seus deveres.
Não há nenhuma compensação possível para quem quer renunciar a
tudo. Tal renúncia é incompatível com a natureza humana, e é
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arrebatar toda moralidade a suas ações bem como subtrais toda


liberdade à sua vontade.

Para Rousseau não existe nenhuma desculpa para o homem perder a sua
liberdade. Onde a Escola classista definia a ação criminal em termos legais e a
Escola Positivista onde se destacava o determinismo em vez da responsabilidade
individual e ao defender um tratamento cientifico do criminoso, tendo em vista a
proteção da sociedade.
Nesse sentido Mirabete (1999, p.41) fala sobre os princípios da Escola
Positiva:

O crime é fenômeno natural e social, sujeito às influências do meio e


de múltiplos fatores, exigindo o estudo pelo método experimental; a
responsabilidade penal é responsabilidade social, por viver o
criminoso em sociedade, e tem base a sua periculosidade; a pena é
medida de defesa social, visando à recuperação do criminoso ou à
sua neutralização; o criminoso é sempre, psicologicamente, um
anormal, de forma temporária ou permanente.

Percebe-se assim que o estudo da criminologia não trata unicamente do ser


humano, porque esse é o agente do ato antissocial, mas sobre ele existem várias
causas e muitas em sua maioria desconhecidas que inevitavelmente modificaram o
caráter essencialmente humano, considerado por alguns estudiosos no assunto uma
ciência pré - jurídica que defende a evolução do homem como espécie e como
individuo devendo estar centrada no estudo da Sociologia, Filosofia, Ética e
Psicologia. Onde podemos perceber na atualidade um grande aumento da
criminalidade em todos os aspectos.

AMOR E VIOLÊNCIA: A REALIDADE DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Amor é fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
15

É um andar solitário entre a gente;


É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humana amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
Luis de Camões

A palavra amor surge do latim amor e tem muitos significados na língua


portuguesa, podendo ser associada à afeição, misericórdia, atração, paixão entre
outros. O conceito mais utilizado a palavra amor se da forma a compreender um
vínculo de emoções com outra pessoa que tenha a capacidade recíproca podendo
assim estimular e motivar o amor.
O amor é falado de várias maneiras seja ele físico, platônico, materno, amor
de Deus ou pela vida. A palavra amor viaja entre o natural e o imaginário podendo
chegar a ser conceituado de forma natural que é o amor que sentimos por pessoas
que nos dão o feedback1 e estimula o nosso amor e poderá ser conceituado como
patológica que é o amor instável, inseguro.
Para Bauman citando Christopher Clulow (2004. pág. 16) “Quando os
amantes se sentem inseguros, tendem a se portar de modo não construtivo, seja
tentando agradar ou controlar, talvez até agredindo fisicamente – o que
provavelmente afastará o outro ainda mais”. Sendo assim a pessoa insegura em seu
relacionamento fica frágil e acaba por sucumbir à autonomia do parceiro.

A violência

Estima-se que a violência contra a mulher tenha proporções epidêmicas no


mundo inteiro. Na verdade, em 1989 o Worldwatch Institute declarou a violência
contra a mulher como sendo o tipo de crime mais frequente do mundo (BANDEIRA,
1
Feedback é um termo inglês, introduzido nas relações vivenciais para definir um processo muito
importante na vida do grupo. Traduz-se por realimentação ou mecanismo de revisão. FONTE:
<http//significados.com.br/feedback/>, Acesso 11/12/2011 ás 13:25.
16

1998). "Nos Estados Unidos, a violência no lar é a maior causa isolada de ferimentos
em mulheres, responsável por mais internações hospitalares do que estupros,
assaltos e acidentes de trânsitos juntos". (BANDEIRA, 1998).
Atualmente calcula-se que 40 % das mulheres assassinadas no Canadá foram
vítimas de homicídio pelo parceiro. Nos Estados Unidos esta porcentagem salta para
52% sendo que no Brasil, como poderia ser esperada, a incidência de homicídios
femininos pelo parceiro é mais alta ainda chegando o pelo menos 66 % (Machado,
1998).
Corroborando com essa ideia Teles (2006, p. 64), comenta:

A pesquisa da Fundação Perseu Abramo concluiu que, a cada 15


segundos uma mulher é espancada no Brasil devido à violência de
gênero, o que significa 4 mulheres por minuto, 243 por hora, 5.800
por dia, 175 mil por mês e 2,1 milhões por ano, índices suficientes
para declarar estado de guerra, fosse atingido outro seguimento da
população não o feminino.

O índice alto da violência conjugal faz com que a casa da mulher seja o local
em que ela mais corre perigo – "É de senso comum o fato de que os homens
morrem nas ruas e as mulheres morrem em casa" (BANDEIRA, 1998, p.68) A
violência contra mulher é comumente ilustrada pelas pessoas que se aproximam
para narrar episódios sofridos pela família.
Tais acontecimentos de acordo com Bandeira (1998) têm sido peculiares por
três razões:
 Repele mais uma vez o estereótipo de que apenas o homem pobre
e com baixa escolaridade se engaja em tal tipo de violência;
 Força a imprensa a analisar a cobertura que dá a este tipo de
fatalidade, que muitas vezes apenas culpa a vítima e justifica o
comportamento do agressor;
 Alerta para a questão da impunidade e do despreparo de
profissionais para identificarem sinais de perigo.

Segundo o Ministério da Saúde (2003), as agressões constituem a principal


causa de morte de mulheres. Parte dessas agressões é proveniente do ambiente
doméstico, resultado de agressão física à parceira.
17

Portanto a configuração da violência contra a mulher envolve diferentes


aspectos, conforme Teles (2006, p. 69):

Violência significa o uso da força física, psicológica ou intelectual


para obrigar outra pessoa a fazer algo que não está com vontade; é
constranger, é tolher a liberdade, é incomodar e impedir a outra
pessoa de manifestar seu desejo e sua vontade, sob pena de viver
grave frequentemente ameaçada, ou até mesmo ser espancada,
lesionada ou morta.

A vítima de Violência Doméstica, geralmente, tem pouca autoestima e se


encontra atada na relação com o parceiro, seja por dependência emocional ou
material. O círculo da violência possui características recorrentes: o agressor
geralmente acusa a vítima de ser responsável pela agressão, a qual acaba sofrendo
uma grande culpa e vergonha. A vítima também se sente violada e traída, já que o
agressor promete, depois do ato violento, que nunca mais vai repetir este tipo de
comportamento, promessa geralmente não cumprida.
A violência contra a mulher atinge igualmente todos os grupos e estratos
sociais. O que é visível que as classes mais baixas acabam aparecendo mais nas
estatísticas porque recorrem mais às delegacias. Na sua maioria, as mulheres que
dispõem de uma melhor renda e nível de instrução não fazem um boletim de
ocorrência, com receio de perder o status, que possibilita acesso ao massagista,
academia e demais “confortos” materiais, embora emocionalmente seja uma pessoa
carente. Pesquisas confirmam que (BALLONE, 2003, p. 34):

Os crimes cometidos contra as mulheres não são somente físicos.


Socos e pontapés são, com certeza, as formas mais repugnantes.
Mas este mal incorpora, ainda, agressões culturais e morais, e há
preconceito em vários ambientes. O mercado de trabalho é um bom
exemplo de violência moral, pois são comuns às empresas que
barram a ascensão de mulheres a altos cargos. Mesmo quando
podem, são perceptíveis que elas não são tão valorizadas quanto os
homens.

Algumas mulheres sentem-se muito frustradas e culpadas por não


conseguirem sucesso no casamento. Foram educadas para cumprir o papel de
18

mulher bem casada e se sentem incapazes de encarar o fato de terem errado na


escolha, levando a vítima a uma situação de permanência na relação agressora.
Para elas, falhar no casamento é pior que manter uma relação insatisfatória.
Por vergonha e constrangimento, costumam esconder que sofrem agressão física,
simbólica ou psicológica.
Em algumas situações a violência doméstica persiste porque a mulher
apresenta uma atitude de aceitação e incapacidade de se desligar daquele
ambiente, sejam por razões materiais ou emocionais.
Portanto, a vítima, quase sempre tem uma relação de dependência com o
agressor. Mais que a dependência econômica com relação ao homem, é a
dependência emocional que faz a mulher suportar agressões. Há casos de maridos
que vão ao local de trabalho da mulher e a agridem diante de colegas.
As separações de casais de melhor renda, geralmente são acionadas por
instrumentos de defesa, ou seja, seus advogados, com justificativas que não
abordam a violência física.
As estatísticas mostram que as mulheres só procuram as delegacias especiais
quando são ameaçadas com armas de fogo ou quando sofrem um espancamento
que deixa marcas e fraturas. As vítimas não pedem ajuda por vergonha e pelo medo
da reação que o agressor poderá vir a ter. Mesmo com a separação, não significa o
fim da violência. Numerosas vezes, o homem continua a importunar a ex-mulher,
especialmente quando ela vive só ou com os filhos e/ou filhas. É nessas condições
que em sua maioria ocorrem os homicídios. Tal realidade provoca as indagações:
será que o agressor acredita que o corpo da ex-parceira é sua propriedade, embora
o vínculo já tenha sido desfeito? As relações capitalistas influenciam na dominação
masculina sobre o corpo feminino?
Especificamente no Nordeste brasileiro, a violência é muitas vezes
considerada como uma manifestação tipicamente masculina, uma espécie de
instrumento para a resolução de conflitos. Os papéis ensinados desde a infância
pelos seus pais e mães fazem com que meninos e meninas aprendam a lidar com a
emoção de maneira diversa. Os meninos são ensinados a reprimir as manifestações
de algumas formas de emoção, como amor, afeto e amizade, e estimulados a
exprimir outras, como raiva, agressividade e ciúmes. Essas manifestações culturais
nas relações de gênero são tão aceitas que muitas vezes acabam representando
uma licença para atos violentos.
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O homem nordestino padece de uma opressão que o encurrala na posição de


forte, macho, cabra da peste e, portanto ser de domínio no espaço familiar, sobre o
corpo da parceira, de filhos e filhas e demais membros que estejam no espaço físico
do qual ele é provedor. Neste sentido a pesquisadora Santa (2008, p. 46), nos diz:

E, para se firmar no poder, o líder masculino manipula as rivalidades


que se efetivaram entre mulheres, tais como a rivalidade entre noras
e sogras, a esposa e a amante, mulher feia ou idosa e mulher bonita
e jovem etc. Rivalidades essas, geralmente presentes em ditados
populares, que unificam a ideologia do patriarcado e suas realidades
sociais, perpetuando os conflitos nas relações de gênero.

É comum no espaço do lar o uso da violência física simbólica ou verbal por


não utilizar o uso da força, não deixando marcas evidentes. Quando a vítima é
também a criança filha ou filho da mulher vitimada, além da agressão ativa e física,
também é considerado violência os atos de omissão praticados pelos responsáveis.
Na violência doméstica raramente a vítima é o homem, pois que normalmente
a violência física não é praticada diretamente. Tendo em vista a habitual maior força
física dos homens, havendo intenções agressivas, esses atos podem ser cometidos
por terceiros, como por exemplo, parentes da mulher, amantes ou profissionais
contratados para isso (AZEVEDO, 1985). Outra modalidade são as agressões que
tomam o homem de surpresa, como por exemplo, durante o sono. Não é incomum,
atualmente, a violência física doméstica contra homens, porém ela ocorre em menor
escala.
Apesar de nossa sociedade, através dos meios de comunicação, promover
campanhas contra a violência, é bom ressaltar que um bom número de agressões
cometidas por homens se da contra crianças, adolescentes, avós, avôs num
evidente processo de negação do respeito humano.
Tem sido presente a violência simbólica ou agressão emocional, no seio das
famílias seridoenses. Tão prejudicial quanto à física, à violência simbólica é
caracterizada por rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e
punições exageradas. Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais
visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes indeléveis para toda a vida.
(BOURDIEU, 2007)
20

Não havendo uma situação de co-dependência da parceira, a violência pode


perpetuar-se mediante ameaças de "ser pior" se a vítima reclamar às autoridades ou
parentes. Essa questão existe na medida em que as autoridades se omitem ou
tornam complicadas as intervenções corretivas.
Outra forma de violência emocional é fazer o outro se sentir inferior,
dependente, culpado ou omisso é um dos tipos de agressão emocional dissimulada
mais terrível. A mais virulenta atitude com esse objetivo é quando o agressor faz
tudo corretamente, impecavelmente certinho, brigando não com o propósito de
ensinar, mas com potencial dissimulatório de controlar a parceira. O agressor com
esse perfil tem prazer quando a mulher se sente inferiorizada, diminuída e
incompetente. Normalmente é o tipo de agressão dissimulada, quando esses não
estão saindo exatamente do jeito idealizado pelo homem em relação às mulheres.
Quando a mulher é impedida de sair de casa, ficando em prisão domiciliar
também se constitui em violência psicológica, assim como os casos de controle
excessivo dos gastos da casa impedindo atitudes corriqueiras, como, por exemplo:
uso do telefone, controle nos gastos alimentícios, entre outros.
O comportamento de oposição e aversão é mais um tipo de Agressão
Emocional. Os homens que pretendem agredir se comportam contrariamente àquilo
que se espera deles. Demoram no banheiro, quando percebem alguém esperando
que saiam logo, deixam as coisas fora do lugar quando isso é reprovado, etc.
Até as pequenas coisinhas do dia-a-dia podem servir propósitos agressivos,
no ambiente do lar. Como por exemplo, deixar uma torneira pingando, apertar o
creme dental no meio do tubo e coisas semelhantes. Mas isso não serviria de
agressão se não fossem atitudes reprováveis e consideradas intencionais.
Essa atitude de oposição e aversão costuma ser encontrada em maridos que
depreciam a comida da esposa.
Esses agressores estão sempre a justificar as atitudes de oposição como se
fossem totalmente irrelevantes, como se estivessem corretas, fossem inevitáveis ou
não fossem intencionais. "Mas, de fato a comida estava sem sal... Mas, realmente,
fazendo assim fica melhor" e coisas do gênero (CAMARGO, 1991). Entretanto,
sabendo que são perfeitamente conhecidas as preferências e estilos de vida dos
demais, atitudes irrelevantes e aparentemente inofensivas podem estar sendo
propositadamente agressivas.
21

A violência verbal normalmente se dá concomitante à violência simbólica.


Alguns agressores verbais dirigem sua artilharia contra suas parceiras, incluindo
momentos quando estes estão na presença de outras pessoas estranhas ao lar. Em
decorrência de sua menor força física e da expectativa da sociedade em relação à
violência masculina, a mulher tende a reagir com a violência verbal, mas, de fato,
esse tipo de violência não é monopólio das mulheres.
Por razões psicológicas íntimas, normalmente decorrentes de complexos e
conflitos, alguns parceiros, maridos, namorados, companheiros utilizam da violência
verbal para infernizar a vida de mulheres, querendo ouvir, obsessivamente,
confissões de coisas que não fizeram. Atravessam noites nessa tortura verbal sem
fim utilizando-se de afirmações como: "Você tem outro, você olhou para fulano
confesse, você queria ter ficado com ele" e todo tipo de questionamento,
normalmente argumentados sob o rótulo de um relacionamento que deveria se
basear no respeito.
A violência verbal existe até na ausência da palavra, ou seja, até em casais
que permanecem em silêncio. O agressor verbal, vendo que um comentário ou
argumento é esperado para o momento, se cala, emudece e, evidentemente, esse
silêncio machuca mais do que se tivesse falado alguma coisa.
Nesses casos a arte do agressor está, exatamente, em demonstrar que tem
algo a dizer e não diz. Aparenta estar doente, mas não se queixa, mostra estar
contrariado, "fica bicudo", mas não fala, e assim por diante (CAMARGO, 1991).
Ainda agrava a agressão quando atribui a si a qualidade de "estar quietinho em seu
canto", de não se queixar de nada, causando maior sentimento de culpa nos demais.
Outro tipo de violência verbal e simbólica diz respeito às ofensas morais.
Maridos costumam ferir moralmente quando insinuam que a mulher tem amante.
Muitas vezes a intenção dessas acusações é imobilizar emocionalmente. O mesmo
peso de agressividade pode ser dado aos comentários depreciativos sobre o corpo
da mulher. Do tipo: “Você está uma baleia; parece uma baranga; eu prefiro é um
pitelzinho”, xinga de bruaca entre outros que deixam as mulheres inferiorizadas.
Ainda dentro desse tipo de violência estão os casos de depreciação em
relação ao trabalho, quando os parceiros rotulam as mulheres de desocupadas,
vagabundas, desorganizadas, entre outras.
O abuso do álcool é um forte agravante da violência doméstica. A embriaguez
patológica é um estado em que a pessoa que bebe torna-se extremamente
22

agressiva, às vezes esquecendo com detalhes o que tenha feito durante essas
crises de furor e ira. É comum nesses casos o uso de murros e tapas, agressões
com diversos objetos e queimaduras por objetos ou líquidos quentes. Além das
dificuldades práticas de coibir a violência, geralmente por omissão das autoridades,
ou porque o agressor quando não bebe "é excelente pessoa", segundo as próprias
parceiras, ou porque é o esteio da família e se for detido todos passarão
necessidade, a situação vai persistindo.
As ameaças de agressão física ou de morte, bem como as crises de quebra
de utensílios, mobílias e documentos pessoais são considerados violência física
embora não haja agressão física diretamente sobre o corpo.
Portanto, fica evidente que os citados tipos de violência de gênero alimentam
a agressividade masculina promovendo o homicídio, o mais agravante tipo de
violência, objeto de estudo deste projeto.

GÊNERO E VIOLÊNCIA

O termo Gênero teve seu início de discussão na década de 70 através de


teóricos (as) e estudiosos (as) das questões que envolvem mulheres e
consequentemente do feminismo. Para Scott (1995), gênero é um elemento que se
constitui das relações sociais que se fundamenta diante das diferenças percebidas
entre os sexos o qual fornece meios de compreensão entre as várias maneiras de
interação humana. Ou seja, falar de gênero é falar das características de homens e
mulheres que lhes são atribuídas pela sociedade e sua cultura de um modo em
geral. A discussão sobre o conceito de gênero parte da construção social do que é
ser homem ou ser mulher já que o sexo é atributo biológico enquanto que gênero é
uma construção social e histórica. Enfatizar a distinção de conceitos entre o que é
ser biológico e o que é ser cultural se faz importante na conceituação de gênero já
que nem todos os fenômenos são totalmente biológicos já que ocorrem mudanças
na definição do que é ser homem e ou o que é ser mulher ao longo de toda a história
que perpassam as diferentes regiões e culturas. Desse modo as relações homens e
mulheres é um fenômeno de ordem cultural que podem ser ao longo do tempo
transformado.
Para Foucault, (2002, p. 21)
23

[ ] são os discursos eles mesmos que exercem seu próprio controle,


procedimentos que funcionam, sobretudo, a título de princípios de
classificação, de ordenação, de distribuição, como se tratasse desta
vez de submeter outra dimensão do discurso: a do acontecimento e
do acaso”.

Os discursos é que determinam a conceituação de gênero possibilitando


assim a identificação de valores atribuídos a homens e mulheres proporcionando
dessa forma as regras de comportamento que decorrem destes valores
evidenciando a possibilidade de se ter mais clareza nas relações coletivas e
individuais entre homens e mulheres. O conceito de gênero permite também pensar
as diferenças sem transformá-las em desigualdades.
Para se falar em gênero é preciso conhecer bem a cultura em que esta se
insere por isso o processo histórico da identidade dos sujeitos é tomado como ponto
de partida. Para Bourdieu (1999, p.23) essa definição social dos órgãos sexuais é
produto de uma construção efetuada à custa de uma série de escolhas através da
acentuação de certas diferenças, ou do obscurecimento de certas semelhanças, já
que a diferença sexual é comprovada visivelmente, concretizando a definição
estabelecida socialmente entre sexo forte e sexo frágil. Essa relação tem sido
marcada desde os primórdios da existência humana por uma relação de
subordinação feminina onde ainda nas cavernas o Homem busca a sua amada
pelos cabelos como forma de amor. Ainda Bourdieu (1999) a dominação masculina
tem suas origens num comportamento histórico de forças materiais e simbólicas que
atuam tanto na unidade doméstica como também em unidades maiores como o
Estado, a escola, a igreja e outras instituições que orientam a conduta dos
indivíduos na sociedade. O homem quando criança aprende a representar a imagem
de virilidade que é passada tanto pelo pai (dominador) quanto pela mãe (dominada),
possibilitando que ambos reproduzam a relação de dominação.

GÊNERO E VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES

Os estudos de gênero têm contribuído para denunciar e mostrar as injustiças


sociais que as mulheres enfrentam no seu dia a dia. Recentes dados estatísticos
divulgados pela Organização dos Direitos Humanos sobre a violência de gênero
24

mostraram que a cada seis mulheres no mundo uma já sofreu algum tipo de
violência. Estes dados contribuíram para a realização da campanha internacional:
"Está em Suas Mãos: Pare a Violência Contra as Mulheres" organizada pela Anistia
Internacional com o intuito de modificar as atitudes que levam mulheres a se
manterem em relações de violência. Esta fonte de interesse cientifica surge com a
intenção de questionar a imagem que a sociedade construiu ao longo dos anos
sobre a mulher.
As pesquisas indicam que a mulher é alvo de todo tipo de violência, seja
física, simbólica ou sexual que geralmente parte de parentes próximos da vítima.
Quando a mulher agredida internaliza o medo através de um processo educativo
repressor, inibe todo tipo de iniciativa, até mesmo a iniciativa de denunciar o
agressor e buscar alternativas de mudança para a sua própria vida, sendo
aprisionada em seu próprio medo. A ruptura com o agressor leva tempo e um
intenso trabalho de regaste dos valores das mulheres que foram agredidas. A
conquista de independência econômica e psicológica é o passo principal para
autonomia dessas mulheres. As mulheres como vítima da dominação masculina
pressupõe que as que são capazes de desenvolver atitudes adequadas se livram
das práticas de descriminação e encontram caminhos que restauram seus direitos e
práticas libertárias.
Dentro deste contexto a violência contra a mulher surge com uma
experiência política na década de 1980 através da conscientização e sensibilização
as feministas em sua militância atendiam nos chamados de SOS – Mulher2 as
mulheres que sofriam de violência. Os maus tratos sofridos pelas mulheres não
eram considerados questões de gênero ele foi elaborado através de opinião
particular das feministas em cenário internacional acerca da opressão sofrida pelas
mulheres no âmbito do patriarcalismo. Apenas uma década mais tarde foram
inaugurados novos paradigmas acerca da violência exercida pelos homens perante
as mulheres onde os movimentos feministas tornaram publica uma abordagem
sobre conflitos e violência nas relações entre homens e mulheres. Essa abordagem
não estava contemplada na retórica nem tão pouco nas práticas jurídicas e

2
O serviço SOS Mulher, é um serviço de escuta, orientação, denúncia e encaminhamentos. Ele
registra todos os tipos de violência, cometidas contra as mulheres em todo o país e as encaminha aos
órgãos competentes, monitorando as providências adotadas. Ainda escuta, orienta e incentiva as
mulheres a registrarem o Boletim de ocorrências da violência sofrida, e/ou buscarem seus direitos
através dos órgãos e instituições disponíveis na rede social de proteção. FONTE:
<http://codimm.defesasocial.rn.gov.br>, Acesso 19/08/2023 às 10:36.
25

judiciárias com relação ao enfrentamento de crimes. A promulgação da Lei n. 11.340


em 2006 chamada “Maria da Penha”3 contempla determinações sobre as questões
da desigualdade de poder em decorrência do gênero. No entanto nessa lei há
imensas resistências nas práticas e nos saberes que compõem a sua aplicação e
efetividade.
O surgimento da Delegacia de Policias de Defesa dos Direitos da Mulher
surgiu muito antes da Lei n. 11.340 sendo esta criada em 1985 no Governo Franco
Montoro e seu autor do Decreto que as criou o Deputado Michel Temer. A primeira
Delegacia da Mulher foi criada no centro da capital paulista, e até hoje é a única
unidade do gênero que funciona vinte e quatro horas por dia que atendem a mulher
vítima da violência e de outras formas de discriminação. A criação de Delegacias
especializadas logo se espalhou pelo Brasil e também teve repercussão no Exterior.
Com a criação das Delegacias da mulher constitui a maior conquista das
mulheres no século XX, considerando o Brasil um país de terceiro mundo esse
marco pode ser considerado inovador aos olhos de outros países.
Mesmo considerando a criação das delegacias de defesa das mulheres um
marco na história do Brasil temos que compreender que a legislação de sua criação
não fazia menção à violência contra a mulher. Ela estava pautada na cultura jurídica
definindo a sua função da polícia judiciária investigar crimes com base no princípio
da legalidade4, onde a violência contra a mulher não constitui figura jurídica definida
pela lei criminal. Como destaca Santos (1999), as policias restringiam a noção
feminista de violência contra a mulher aos crimes e às infrações ocorridas dentro do
seio familiar executava apenas o estupro ou a violência sexual quando cometidos
por estranhos.
O nome da lei é uma homenagem a Maria da Penha Maia que foi agredida
pelo marido durante seis anos. Em 1983, por duas vezes, ele tentou assassiná-la.
Na primeira com arma de fogo deixando-a paraplégica e na segunda por

3
A Lei 11.340/06, conhecida com Lei Maria da Penha, ganhou este nome em homenagem à Maria da
Penha Maia Fernandes, que por vinte anos lutou para ver seu agressor preso. FONTE:
<http://www.observe.ufba.br>, Acesso 25/08/2023 ás 16:47.
4
O princípio da legalidade é um dos mais importantes do ordenamento jurídico Pátrio, é um dos
sustentáculos do Estado de Direito, e vem consagrado no inciso II do artigo 5º da Constituição
Federal, dispondo que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei, de modo a impedir que toda e qualquer divergência, os conflitos, as lides se resolvam
pelo primado da força, mas, sim, pelo império da lei. FONTE: SITE:
<http://uj.novaprolink.com.br/doutrina/2647/o_principio_da_legalidade_na_constituicao_federal>,
Acesso, 14/09/2023 ás 15:35.
26

eletrocussão e afogamento. O marido de Maria da Penha só foi punido depois de 19


anos de julgamento e ficou apenas dois anos em regime fechado.
A lei Maria da Penha altera o Código Penal brasileiro e possibilita que
agressores sejam presos em flagrante ou tenham sua prisão preventiva decretada,
os agressores também não poderão mais ser punidos com penas alternativas, a
legislação também aumenta o tempo máximo de detenção previsto de um para três
anos, a nova lei ainda prevê medidas que vão desde a saída do agressor do
domicílio e a proibição de sua aproximação da mulher agredida e filhos.

A história de Maria da Penha iniciou em 1983 na capital do Ceará –


Fortaleza onde morava Maria da Penha Maia Fernandes
(biofarmacêutica, com pós-graduação) ela sofreu uma tentativa de
homicídio por parte do seu marido Marco Antonio Herredia Viveiros
(colombiano, professor universitário de economia). Ele atirou em
suas costas, deixando-a paraplégica. Apesar de ter sido condenado
pelos tribunais locais em dois julgamentos (1991 e 1996), ele nunca
havia sido preso e o processo ainda se encontrava em andamento
devido aos sucessivos recursos de apelação contra as decisões do
tribunal do júri.

Em 1988, o CEJIL (Centro para a Justiça e o Direito Internacional) e o


CLADEM (Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da
Mulher), juntamente com Maria da Penha, enviaram o caso para a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (OEA), pela demora injustificada em não se dar
uma decisão definitiva no processo. O Brasil não respondeu ao caso perante a
Comissão.
No ano de 2001, após 18 anos da prática do crime, a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o Estado brasileiro por
negligência e omissão em relação à violência doméstica e recomendou várias
medidas em relação ao caso concreto de Maria da Penha e em relação às políticas
públicas do Estado para enfrentar a violência doméstica contra as mulheres
brasileiras. Apenas em 2002, por força da pressão internacional de audiências de
seguimento do caso na Comissão Interamericana, o processo no âmbito nacional foi
encerrado e em 2003 o ex-marido de Penha foi preso.
Cabe ainda lembrar que este quadro de luta contra a violência vem sofrendo
importantes alterações principalmente nas sociedades ocidentais e o Brasil também
faz parte deste contexto. As manifestações feministas foram mais ativas no século
27

XX aonde surgiram vários movimentos sociais que tentaram transformar a realidade


da violência contra mulheres aonde tinham como premissa a emancipação social e
política da mulher. As mulheres em suas lutas passaram a preocupar-se com
questões de ordem de gênero e sexualidade na tentava da construção da cidadania.
Segundo Campos (2001, p. 13) a cidadania é:

[ ] conjunto e a conjunção de direitos civis, sociais e políticos assegurados


aos membros de uma determinada sociedade. Tais direitos adquirem
efetividade através dos exercícios da liberdade individuais, da participação
política e do acesso a bens de consumo e a proteção social.

Não se pode negar que nas sociedades capitalistas aonde o lucro vem em
primeiro lugar às relações sociais se estruturam de maneira a se afirmar a
supremacia masculina culpando sempre a mulher pela violência contra ela cometida.
Mesmo nas sociedades atuais como diz Kollontay (1978, p. 15) “a ideologia
patriarcal subordina a mulher utilizando-se da disciplina para obtenção de sua
rejeição, o que vem resultar na neutralização do fenômeno violência contra a
mulher”. É de maneira a considerar uma cultura que vem sendo questionada pelos
movimentos feministas que lutam em prol da valorização da mulher, por sua
emancipação e contra as discriminações a ela impostas, ou seja, é a busca pela
cidadania.
Os movimentos das mulheres através de debates e sugestões
desempenharam papel importante na elaboração da Constituição Federal vigentes,
pois em meados da década de 1988 o movimento das mulheres mobilizou-se na
elaboração de uma carta conhecida como Programa de Ação5 que faz parte do
Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM) enviada aos representantes
na constituinte aonde nesta continha os direitos e interesses da mulher. A

5
O Plano de Ação, dentro do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, aqui apresentado, foi construído
com base nos resultados da I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres que indicou “as
diretrizes da política nacional para as mulheres na perspectiva da igualdade de gênero, considerando
a diversidade de raça e etnia”. e expressa o reconhecimento do papel do Estado como promotor e
articulador de ações políticas que garantam um Estado de Direito, e o entendimento de que cabe a
ele, e aos governos que o representam, garantir políticas públicas que alterem as desigualdades
sociais existentes em nosso país. Expressa ainda o reconhecimento de que a construção destas
políticas deve ser feita em permanente diálogo com a sociedade e as organizações que a
representam. (BRASIL, 2004).
28

Constituição pontua direitos sociais e individuais para mulher, no entanto ainda há


muito que se fazer principalmente com relação à mudança cultural.
As políticas sociais são de fundamental importância nas sociedades
contemporâneas, pois atendem solicitações em nome da ampliação da cidadania.
As políticas significam o corpo dos serviços como forma de atender às reproduções
das forças de trabalho que em sua maioria são distribuídas na forma de benefícios.
Faz parte da luta política ir ales da denúncia compreender o que está por trás de
toda violência contra mulheres diante disto se faz necessário criar condições para o
desenvolvimento de um trabalho que crie condições para mudança cultural que
venha a reconhecer e superar as condições sociais, institucionais e políticas que
colocam a mulher em lugar subalterno.
No Brasil as mulheres têm conseguido conquistar pelo ponto de vista legal
muito direito políticos e estes constituem um elemento básico na conformação dos
direitos de cidadãs, no entanto os partidos políticos e suas representações de maior
importância ainda dispõem de sua maior representatividade por parte dos homens.
Na sociedade de hoje como a mulher tem tido espaços cada vez maior na
vida pública é gradativo a mudança na identidade feminina aos olhos da sociedade
de um modo geral. Essa nova identidade feminina tem levado as mulheres ao
engajamento em lutas por programas sociais específicos a mulheres, participação
política e igualdade civil, todas essas lutas dão as mulheres o direito a cidadania.
Carneiro (APUD SAFFIOTI e VARGAS) afirmam que a identidade feminina é um
projeto em construção que depende em sua maioria do rompimento com os velhos
modelos impostos pela sociedade à mulher em prol a construção de uma plena
cidadania garantindo seus direitos fundamentais.
Para que as mulheres possam adquirir igualdade de condições para o
desenvolvimento e possibilidade na sociedade brasileira se faz necessário à
existência de algumas políticas de proteção social, podemos citar a educação formal
como uma política de fundamental importância já que parte dela a capacidade de
compreensão de conhecimentos que possam viabilizar aptidões e capacidades para
ocupar espaços até então vedados a elas mulheres.
A conquista pelo seu espaço fez com que as mulheres iniciassem uma luta pelos
seus direitos que não é uma luta simples em prol dos seus direitos de conquistar um
espaço no mercado de trabalho. É uma luta que esta associada a outras categorias
sociais em defesa e pelo respeito aos direitos humanos. Essa luta que perpassa por
29

todo e qualquer tipo de descriminação e ato violento contra mulheres ocasionou uma
grande manifestação masculina demonstrada em sua maioria através da violência
física. Essa violência vem se constituindo uma das mais graves formas de violação
dos direitos humanos em todo o nosso País.

A Lei 11.340/2006

A criação da Divisão de Crimes Contra a Integridade da Mulher – DCCIM 6 foi


uma conquista social para as mulheres já que se sentiam mais amparadas pelo
poder público, mais seguras para denunciar seus agressores e serem ouvidas e
aconselhadas por pessoas especializadas sobre os problemas vivenciados por elas.
Esta medida de política pública tem grandes significados para a proteção dos
direitos individuais. Registra-se neste particular um avanço na política de justiça e
segurança pública.
No entanto mesmo com convenções, tratados, acordos internacionais e leis
o Brasil demonstra em suas estatísticas o alto índice de violência, discriminação e
violação dos direitos humanos para com as mulheres. Esta realidade é cada vez
mais efetivada devido à forma como o poder jurídico reconhece a relação homem e
mulher. A Lei que leva o nome Maria da Penha surgiu a partir da violência sofrida
por Maria da Penha que em virtude das agressões sofridas pelo seu parceiro fica
impossibilitada de andar. A partir daí ela trava uma luta por justiça que leva seu
nome a Lei 11.340/06.

A Lei 11.340/06 foi sancionada no dia 07 de agosto de 2006, pelo


Presidente da República, Luiz Inácio da Silva e ficou conhecida como
Lei “Maria da Penha”. Hoje há muitas divergências em seu
entendimento entre os operadores de Direito. Alguns acreditam ser
ela um grande passo para a garantia dos direitos da mulher,
enquanto outros destacam a inviabilidade e sua difícil aplicação.
(BRASÌLIA, 2006).

6
O trabalho do assistente social na Divisão de Crimes Contra a Integridade da Mulher – DCCIM, é ser
o agente mediador entre a mulher e a organização na busca de encaminhamentos, e reflexão sobre
essas questões de desigualdades e direitos. (BERTANI (1993:44-45)
30

A importância da Lei vai além da punição do agressor pela violência


doméstica tendo que muitas vezes ela esta relacionada a outros tipos de violência
social. Como é o caso dos filhos que presenciam a violência sofrida por sua mãe e
que esta violência poderá ser evidenciada de várias maneiras fora do lar. As
desigualdades são históricas quando nos remetemos à violência que as mulheres
sofrem sejam dentro ou fora do lar. No entanto é defendido um debate amplo sobre
violência contra mulheres já que esta por sua vez foi criada em um sistema de
submissão psicológica e econômica e que mesmo com aparatos legais elas não
estão preparadas para ir adiante a determinados processos onde é caracterizado
violência contra mulher.

2.5 Aumento da violência após a implementação da Lei nº 11.340/2006

Atualmente, um dos assuntos de grande destaque nas conversas, noticiários


e, de maneira geral, nos comportamentos e relações sociais é, sem dúvida, a
questão da violência que invade todos os quadrantes do mundo moderno e tem nos
grandes centros urbanos seu perfil mais complexo, face às condições sociais de
existência: desemprego, marginalização, caos urbano, falta de perspectiva de vida,
entre outros.
Dizendo de outro modo, estamos vivendo o ápice de uma crise, em que as
mudanças sociais, econômicas e comportamentais vêm emprestar ao tema uma
nova face. Incrustada na dinâmica das relações sociais, a violência é um dado que
assola indistintamente, todas as camadas sociais.
No pensamento moderno, a violência evoca a ideia de que os indivíduos
estão passando por um momento de desordem seja de ordem moral, racional ou
social. Os casos de violência documentados pela mídia ou autoridades no Brasil
vêm crescendo de forma acelerada e sem controle, com cerca de 50 mil brasileiros
assassinados todos os anos. Esse número supera o de mortes em países que
enfrentam guerras, como o Iraque.
Dentro deste contexto, a violência doméstica, sobretudo, entre as mulheres
ganha notoriedade e repercussões sociais passando a concorrer com outros atos de
violência. A violência contra a mulher, não escolhe etnia, idade ou condição social. A
grande diferença é que entre as pessoas de maior poder aquisitivo, as mulheres,
31

acaba se calando, talvez por medo, vergonha ou até mesmo por dependência
financeira.
Discorrer sobre a violência não é pratica novo, nem tampouco nova é a
existência desse fenômeno. Ela está profundamente arraigada nos hábitos,
costumes e comportamentos socioculturais.
Em nossa sociedade muitos ainda acreditam que o melhor jeito de resolver
um problema é através da força. Nas grandes metrópoles, onde as injustiças e os
afrontamentos são muito comuns, os desejos de vingança se materializam sob a
forma de roubos e assaltos ou sob a forma de agressões e homicídios.
Nos lares, a violência contra a mulher pode se manifestar de várias formas e
com diferentes graus de severidade: abuso físico, sexual, psicológico, negligência,
abandono. Estas formas de violência não se produzem isoladamente, mas fazem
parte de uma sequência crescente de episódios, do qual o homicídio é a
manifestação mais extrema.
Os tipos de violência descritos acontecem, na maior parte das vezes, dentro
de casa, e os agressores são pessoas muito próximas das vítimas (marido,
namorado, irmão, ex-marido). Esses casos de violência doméstica, não excluem que
ela também aconteça em outros espaços, como no trabalho, na escola, na rua.
Como a família representa, para boa parte das mulheres, relações de afeto,
de preocupação, de cuidado, isso acaba ocultando os casos de violência, e poucas
pessoas ficam sabendo quando acontece.
Vincular o perfil do agressor como sendo de classe baixa, envolvidos com
drogas, desempregados, moradores de favela, é no mínimo arriscado, pois
pesquisas revelam que não se podem definir características para agressores de
mulheres, pois eles se encontram em todas as classes sociais. Azevedo (1985, p.
125), esclarece que: Não se consegue encontrar características definitivas nos
espancadores de esposas. O crime de agressão e espancamento de cônjuge não
conhece nenhuma barreira social, geográfica, econômica, etária ou racial.
Apesar, na maioria das vezes as mulheres mascarem as agressões com
desculpas, verifica-se que as mulheres da classe mais pobres denunciam mais, por
não ter nada a perder, já às de classe media alta “vão para o maquiador", ou seja,
ocultam os fatos, seja por vergonha, medo ou submissão econômica (GROSSI,
2001).
32

Segundo Teles (2006, p. 37) “Os estudos de gênero mostram o quanto o


poder masculino tem subordinado a população feminina de modo geral e também
indicam como se desenvolvem essas relações sociais”. Para essa autora gênero é
um instrumento que desvela a realidade das relações sociais entre os sexos.
Estima-se que a violência contra a mulher tenha proporções epidêmicas no
mundo todo. Em 1989 o Worldwatch Institute declarou a violência contra a mulher
como sendo o tipo de crime mais frequente do mundo. "Nos Estados Unidos, a
violência no lar é a maior causa isolada de ferimentos em mulheres, responsável por
mais internações hospitalares do que estupros, assaltos e acidentes de trânsitos
juntos". (BANDEIRA, 1998, p. 57).
Atualmente, calcula-se que 40 % das mulheres assassinadas no Canadá
foram vítimas de homicídio pelo parceiro. Nos Estados Unidos esta porcentagem
salta para 52% sendo que no Brasil, a incidência de homicídios femininos pelo
parceiro é mais alta ainda chegando a pelo menos 66 % (MACHADO, 1998).
Teles (2006, p. 64), ratifica esses dados ao destacar,

A pesquisa da Fundação Perseu Abramo concluiu que, a cada 15


segundos uma mulher é espancada no Brasil devido à violência de
gênero, o que significa 4 mulheres por minuto, 243 por hora, 5.800
por dia, 175 mil por mês e 2,1 milhões por ano, índices suficientes
para declarar estado de guerra, fosse atingido outro seguimento da
população não o feminino.

O índice alto da violência conjugal faz com que a casa seja o local em que a
mulher mais corre perigo. "É de senso comum o fato de que os homens morrem nas
ruas e as mulheres morrem em casa" (BANDEIRA, 1998, p. 68) A violência contra
mulher é comumente ilustrada pelas pessoas se aproximam para narrar episódios
sofridos pela família.
Tais acontecimentos de acordo com Bandeira (1998) tem sido peculiar por
três razões:
a) repele mais uma vez o estereótipo de que apenas o homem pobre e com
baixa escolaridade se engaja em tal tipo de violência, b) força a imprensa a analisar
a cobertura que dá a este tipo de fatalidade, que muitas vezes apenas culpa a vítima
e justifica o comportamento do agressor e, finalmente c) alerta para a questão da
33

idade e do despreparo de profissionais para identificarem sinais de perigo, uma vez


que o jornalista culpado já havia agredido a vítima anteriormente, sendo que tal
agressão em nada resultara.
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2003), as agressões constituem a
principal causa de morte de mulheres. Parte dessas agressões é proveniente do
ambiente doméstico. Violência Doméstica, segundo alguns autores, é o resultado de
agressão física ao companheiro ou companheira.
Teles (2006, p. 69) complementa afirmando que a:

Violência significa o uso da força física, psicológica ou intelectual


para obrigar outra pessoa a fazer algo que não está com vontade; é
constranger, é tolher a liberdade, é incomodar e impedir a outra
pessoa de manifestar seu desejo e sua vontade, sob pena de viver
grave frequentemente ameaçada, ou até mesmo ser espancada,
lesionada ou morta.

A vítima de Violência Doméstica, geralmente, tem pouca autoestima e se


encontra atada na relação com quem a agride, seja por dependência emocional ou
material. O agressor geralmente acusa a vítima de ser responsável pela agressão, a
qual acaba sofrendo uma grande culpa e vergonha. A vítima também se sente
violada e traída, já que o agressor promete, depois do ato que nunca mais vai repetir
este tipo de comportamento, para depois repeti-lo.
Em algumas situações a violência doméstica persiste porque um dos
cônjuges apresenta uma atitude de aceitação e incapacidade de se desligar daquele
ambiente, sejam por razões materiais, sejam emocionais. A violência contra a
mulher atinge igualmente todas as etnias e classes sociais. O que muda é que as
classes mais baixas acabam aparecendo mais nas estatísticas porque recorrem
mais às delegacias. As mulheres que dispõem de uma melhor renda e nível de
instrução fazem o boletim de ocorrência e, depois acionam instrumentos de defesa,
ou seja, seus advogados.

Os crimes cometidos contra as mulheres não são somente físicos.


Socos e pontapés são, com certeza, as formas mais repugnantes.
Mas este mal incorpora, ainda, agressões culturais e morais, e há
preconceito em vários ambientes. O mercado de trabalho é um bom
exemplo de violência moral, pois são comuns as empresas que
barram a ascensão de mulheres a altos cargos. Mesmo quando
34

podem, são perceptíveis que elas não são tão valorizadas quanto os
homens (BALLONE; ORTOLANI, 2007, p. 5).

Algumas mulheres sentem-se muito frustradas e culpadas por não


conseguirem que o casamento dê certo. Foram educadas para cumprir o papel de
mulher bem casada e se sentem incapazes de encarar o fato de terem errado na
escolha. Para elas, falhar no casamento é pior que manter uma relação que não da
certo. Por vergonha e constrangimento, costumam esconder de todos que apanham
dos parceiros com esperança de que eles mudem com o passar do tempo.
Portanto, a vítima, quase sempre tem uma relação de dependência com o
agressor. Mais que a dependência econômica com relação ao homem, é a
dependência emocional que faz a mulher suportar as agressões. Há casos de
maridos que vão ao local de trabalho da mulher e a agridem diante de colegas.
As estatísticas mostram que as mulheres só procuram as delegacias
especiais quando são ameaçadas com armas de fogo ou quando sofrem um
espancamento que deixa marcas e fraturas. As vítimas não pedem ajuda por
vergonha e pelo medo da reação que o agressor poderá vir a ter. Mesmo com a
separação não significa o fim da violência. Numerosas vezes, o marido continua a
importunar a ex-mulher, especialmente quando ela vive só ou com os filhos. É
nessas condições que em sua maioria ocorrem os homicídios.
A violência é muitas vezes considerada como uma manifestação tipicamente
masculina, uma espécie de instrumento para a resolução de conflitos. Os papéis
ensinados desde a infância fazem com que meninos e meninas aprendam a lidar
com a emoção de maneira diversa. Os meninos são ensinados a reprimir as
manifestações de algumas formas de emoção, como amor, afeto e amizade, e
estimulados a exprimir outras, como raiva, agressividade e ciúmes. Essas
manifestações são tão aceitas que muitas vezes acabam representando uma licença
para atos violentos. A violência vem denominada de diversas formas dentre elas
estão: A violência Física, Psicológica e Verbal.
A Violência física é o uso da força com o objetivo de ferir, deixando ou não
marcas evidentes. São comuns murros e tapas, agressões com diversos objetos e
queimaduras por objetos ou líquidos quentes. Quando a vítima é criança, além da
agressão ativa e física, também é considerado violência os atos de omissão
praticados pelos pais ou responsáveis.
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Quando as vítimas são homens, normalmente a violência física não é


praticada diretamente. Tendo em vista a habitual maior força física dos homens,
havendo intenções agressivas, esses atos podem ser cometidos por terceiros, como
por exemplo, parentes da mulher ou profissionais contratados para isso (AZEVEDO,
1985). Outra modalidade são as agressões que tomam o homem de surpresa, como
por exemplo, durante o sono.
Apesar de a sociedade parecer obcecada e entorpecida pelos cuidados com
as crianças e adolescentes, é bom ressaltar que um bom número de agressões
domésticas é cometido contra os pais por adolescentes, assim como contra avós
pelos netos ou filhos. Dificilmente encontramos trabalhos nessa área.
Não havendo uma situação de co-dependência do (a) parceiro (a) à situação
conflitante do lar, a violência física pode perpetuar-se mediante ameaças de "ser
pior" se a vítima reclamar às autoridades ou parentes. Essa questão existe na
medida em que as autoridades se omitem ou tornam complicadas as intervenções
corretivas.
O abuso do álcool é um forte agravante da violência doméstica física. A
Embriagues Patológica é um estado onde a pessoa que bebe torna-se
extremamente agressiva, às vezes nem lembrando com detalhes o que tenha feito
durante essas crises de furor e ira. Nesse caso, além das dificuldades práticas de
coibir a violência, geralmente por omissão das autoridades, ou porque o agressor
quando não bebe "é excelente pessoa", segundo as próprias esposas, ou porque é o
esteio da família e se for detido todos passarão necessidade, a situação vai
persistindo.
Mesmo reconhecendo as terríveis dificuldades práticas de algumas situações,
as mulheres vítimas de violência física podem ter alguma parcela de culpa quando o
fato se repete pela 3ª vez. Na primeira ela não sabia que ele era agressivo. A
segunda aconteceu porque ela deu uma chance ao companheiro de corrigir-se, mas,
na terceira, é indesculpável.
A Violência Psicológica ou Agressão Emocional, às vezes tão ou mais
prejudicial que a física, é caracterizada por rejeição, depreciação, discriminação,
humilhação, desrespeito e punições exageradas. Trata-se de uma agressão que não
deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes indeléveis
para toda a vida.
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Um tipo comum de Agressão Emocional é a que se dá sob a autoria


dos comportamentos histéricos, cujo objetivo é mobilizar
emocionalmente o outro para satisfazer a necessidade de atenção,
carinho e de importância. A intenção do (a) agressor (a) histérico (a)
é mobilizar outros membros da família, tendo como chamariz alguma
doença, alguma dor, algum problema de saúde, enfim, algum estado
que exija atenção, cuidado, compreensão e tolerância (CAMARGO,
1991, p. 51).

É muito importante considerar a violência emocional produzida pelas pessoas


de personalidade histérica, pelo fato dela ser predominantemente encontrada em
mulheres, já que, a quase totalidade dos artigos sobre Violência Doméstica diz
respeito aos homens agredindo mulheres e crianças. Esse é um lado da violência
onde o homem sofre mais.
Outra forma de Violência Emocional é fazer o outro se sentir inferior,
dependente, culpado ou omisso é um dos tipos de agressão emocional dissimulada
mais terrível. A mais violenta atitude com esse objetivo é quando o agressor faz tudo
corretamente, impecavelmente certinho, não com o propósito de ensinar, mas para
mostrar ao outro o tamanho de sua incompetência. O agressor com esse perfil tem
prazer quando o outro se sente inferiorizado, diminuído e incompetente.
Normalmente é o tipo de agressão dissimulada pelo pai em relação aos filhos,
quando esses não estão saindo exatamente do jeito idealizado ou do marido em
relação às esposas. O comportamento de oposição e aversão é mais um tipo de
Agressão Emocional. As pessoas que pretendem agredir se comportam
contrariamente àquilo que se espera delas. Demoram no banheiro, quando
percebem alguém esperando que saiam logo, deixam as coisas fora do lugar
quando isso é reprovado, etc.
Até as pequenas coisinhas do dia a dia podem servir aos propósitos
agressivos, como deixar uma torneira pingando, apertar o creme dental no meio do
tubo e coisas assim. Mas isso não serviria de agressão se não fossem atitudes
reprováveis por alguém da casa, se não fossem intencionais.
Essa atitude de oposição e aversão costuma ser encontrada em maridos que
depreciam a comida da esposa e, por parte da esposa, que, normalmente se
aborrecendo com algum sucesso ou admiração ao marido, ridiculariza e coloca
qualquer defeito em tudo que ele faça.
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Esses agressores estão sempre a justificar as atitudes de oposição como se


fossem totalmente irrelevantes, como se estivessem corretas, fossem inevitáveis ou
não fossem intencionais. "Mas, de fato a comida estava sem sal. Mas, realmente,
fazendo assim fica melhor" e coisas do gênero (CAMARGO, 1991). Entretanto,
sabendo que são perfeitamente conhecidos as preferências e estilos de vida dos
demais, atitudes irrelevantes e aparentemente inofensivas podem estar sendo
propositadamente agressivas.
As ameaças de agressão física (ou de morte), bem como as crises de quebra
de utensílios, mobílias e documentos pessoais também são considerados violência
emocional, pois não houve agressão física direta. Quando o (a) cônjuge é impedido
(a) de sair de casa, ficando trancado (a) em casa também se constitui em violência
psicológica, assim como os casos de controle excessivo (e ilógico) dos gastos da
casa impedindo atitudes corriqueiras, como, por exemplo, o uso do telefone.
A violência verbal normalmente se dá concomitante à violência psicológica.
Alguns agressores verbais dirigem sua artilharia contra outros membros da família,
incluindo momentos quando estes estão na presença de outras pessoas estranhas
ao lar. Em decorrência de sua menor força física e da expectativa da sociedade em
relação à violência masculina, a mulher tende a se especializar na violência verbal,
mas, de fato, esse tipo de violência não é monopólio das mulheres.
Por razões psicológicas íntimas, normalmente decorrentes de complexos e
conflitos, algumas pessoas se utilizam da violência verbal infernizando a vida de
outras, querendo ouvir, obsessivamente, confissões de coisas que não fizeram.
Atravessam noites nessa tortura verbal sem fim. "Você tem outra (o) você olhou para
fulana (o) confesse, você queria ter ficado com ela (e)" e todo tido de
questionamento, normalmente argumentados sob o rótulo de um relacionamento
que deveria se basear na verdade, ou coisa assim.
A violência verbal existe até na ausência da palavra, ou seja, até em pessoas
que permanecem em silêncio. O agressor verbal, vendo que um comentário ou
argumento é esperado para o momento, se cala, emudece e, evidentemente, esse
silêncio machuca mais do que se tivesse falado alguma coisa.
Nesses casos a arte do agressor está, exatamente, em demonstrar que tem
algo a dizer e não diz. Aparenta estar doente, mas não se queixa, mostra estar
contrariado, "fica bicudo", mas não fala, e assim por diante (CAMARGO, 1991).
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Ainda agrava a agressão quando atribui a si a qualidade de "estar quietinho em seu


canto", de não se queixar de nada, causando maior sentimento de culpa nos demais.
Ainda dentro desse tipo de violência estão os casos de depreciação da família
e do trabalho do outro. Outro tipo de violência verbal e psicológica diz respeito às
ofensas morais. Maridos e esposas costumam ferir moralmente quando insinuam
que o outro tem amante. Muitas vezes a intenção dessas acusações é mobilizar
emocionalmente o (a) outro (a), fazê-lo (a) sentir diminuído (a). O mesmo peso de
agressividade pode ser dado aos comentários depreciativos sobre o corpo do (a)
cônjuge.
Mesmo sendo considerada dura em relação à punição do agressor, a
efetivação da Lei 11.340/2006 não conseguiu inibir, minimizar a violência cometida
por homens contra as suas companheiras.
O que mudou com a Lei Maria da Penha:
I. O agressor não poderá cumprir sua pena, prestando serviços à
comunidade tampouco doando cestas básicas; a Lei prevê reclusão do
agressor de 3 meses a 3 anos.
II. A pena aumenta em 1/3, caso a vítima tenha algum tipo de deficiência.
III. Entende-se por agressão à mulher, as violências físicas, moral, sexual
e patrimonial. Todas estas sujeitas à mesma pena.
IV. A vítima só poderá retirar a queixa diante do juiz.
V. Caso seja necessário, poderá ser decretada a prisão preventiva do
agressor.
VI. O Estado tem o dever de garantir segurança policial para a vítima,
garantindo assim, que o agressor não se vingue da vítima e de sua
família.
VII. O agressor poderá ser preso em flagrante.

O agressor diante desta nova lei deveria se inibir ou pensar duas vezes antes
de agredir uma mulher, mas não é o que vem sido demonstrado nas estatísticas
nacionais. As quais mostram índices alarmantes de tentativa de homicídios.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje com o advento da Lei Maria da Penha, espera-se que esse quadro tenha
uma considerável melhora. Dentre as medidas protetivas elencadas na
referida Lei, algumas merecem destaque, diante de seus feitos
intimidativos, bem como para a garantia da integridade física e
moral da ofendida.
Além disto, a Lei determina o encaminhamento de mulheres
em situação de violência e seus dependentes à programas e
serviços de proteção, garantindo-lhe os Direitos Humanos que se
achavam positivados na Constituição Federal. À mulher vítima de
violência doméstica e familiar também é garantida assistência
jurídica gratuita, bem como o acompanhamento jurídico em todos os
atos processuais.
Avaliar quais serão os reais resultados destas ações neste
presente momento é impossível, mas é inegável que a Lei apresenta
uma estrutura adequada e específica para atender a complexidade
do fenômeno da violência contra as mulheres ao prever um conjunto
de políticas públicas, mecanismos de prevenção e punição, voltados
para a garantia dos Direitos Humanos e da proteção da mulher
vítima de agressão doméstica e familiar.
É fundamental que as vítimas se sintam encorajadas e
protegidas pela família e pelo Estado. Para que possam denunciar os
agressores sem precisarem viver com medo de represarias ou se
conformar com a violência velada.
É necessário que a sociedade encare a violência doméstica
contra mulher como um mal social grave que precisa ser extinto
através da cidadania. Apenas tornar as leis punitivas mais rígidas,
não mudará todo um histórico de agressões que perdura por
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gerações e é potencializado por uma cultura discriminatória. A


cidadania deve começar, mas nunca pode acabar dentro de casa.
Contudo, analisando com um olhar instigante a violência
contra a mulher e seus condicionantes, chama-nos a atenção o fato
de a mulher internalizar e reproduzir a agressão, contribuindo para
que as estruturas que a transformam em vítima sejam mantidas.
É em casa e em família que se aprende a justiça e o respeito
pelos direitos humanos e os outros valores sociais. Há que se
encarar com seriedade a necessidade de combater esse mal que
assola nossa sociedade, para tanto é necessário a desconstrução
das redes que tecem a violência contra a mulher ainda levará muito
tempo, porém, não seria utópico acreditar em sua finitude, na
medida em que o que se construiu sócio-historicamente pode ter
seu caminho refeito em outra perspectiva. Em curto prazo, faz-se
necessário e urgente um ordenamento jurídico adequado e coerente
com as expectativas e demandas sociais. Além disso, não basta que
haja um ordenamento que tenha vigência jurídica, mas não tenha
vigência social, isto é, que não seja aceito e aplicado pelos
membros da sociedade.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

BOURDIEU, Pierre. A dominação Masculina: Trad. Maria Helena Küthner – 5ª ed.


Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2007.

CAMPOS, Paulo. NOGUEIRA, Adriano. Que fazer: teoria e prática em educação


popular. Petrópolis: Vozes, 2001.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão; trad. de Raquel


Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 33ª ed. 1987.

MINAYO, MCS. Violência e saúde [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2003.

PUGLISI, M.L.; FRANCO, B. Análise de conteúdo. 2. ed. Brasília: Líber Livro, 2005.
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SANTOS, Ligia Pereira. Mulher e Violência: histórias do corpo negado. Campina


Grande, PB. EDUEP, 2008.

SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In; Educação e


realidade. Vol. 20 (20); jul.dez. 1995.

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