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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP

CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM
POLO TUCURUÍ - PA

JAQUELINE DA SILVA SANTOS DE OLIVEIRA

PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO EM
RELAÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Tucuruí-PA
2022-1
JAQUELINE DA SILVA SANTOS DE OLIVEIRA

PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO EM
RELAÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Trabalho de Conclusão de Curso II


apresentado como exigência parcial para
obtenção do grau de Bacharel em
Enfermagem da Instituição Anhanguera –
UNIDERP.
Orientador (a): Aline Chagas

Tucuruí-PA
2022-1
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, segundo ao
meu pai, mãe, filho e meu marido que estiveram ao meu
lado e me acompanharam todo este tempo de graduação.
AGRADECIMENTO
Agradeço por primeiro lugar a Deus por ter me sustentado do começo ao fim
deste curso, por ele sempre me reerguer quando eu precisava e por ainda o fazer.

Ao meus amados pais agradeço pelo tempo em que esteve presente em vida,
que pela sua presença permanente, amor e dedicação me mostrou com exemplos no
dia a dia, e em especial durante os cinco anos do meu curso, seus ensinamentos me
mantiveram forte e me deram forças para continuar.

Aos meus amigos, que me ajudaram e escutaram minhas reclamações,


amenizaram meu choro e me aconselharam nos momentos em que mais precisei.

Agradeço aos meus orientadores pela paciência e pela colaboração em cada


orientação e correção do meu Trabalho de Conclusão de Curso. Que sorte a minha
tê-los na construção deste trabalho, me orientando e impondo desafios com
determinação e confiança no meu potencial.

A todos os meus professores pois sem o conhecimento passado por cada um


de vocês eu jamais saberia ao menos aferir uma pressão ou escutar o relato de
queixas de um paciente ou até mesmo atender com carinho, com destreza e atenção
pela qual aprendi, e nunca vou me esquecer do olhar holístico que um enfermeiro
precisa ter.

Enfim, agradeço a todo incentivo que recebi da parte de cada pessoa que
colaboraram para minha formação, minha gratidão será eterna.
RESUMO

A violência contra a mulher é um estigma social persistente e um grave de saúde


pública que fere os direitos constitucionais da mulher, o fenômeno é recorrente e
subnotificado, as vítimas são constantemente oprimidas e humilhadas o sentimento
de impunidade está atrelado ao fato do agressor possuir laços familiares com a mulher
e em muitos casos ser o provedor financeiro da mesma fazendo com que a violência
seja constante e constrangedora. Nesse sentido, essa pesquisa bibliográfica tem
como objetivo traçar a conduta do enfermeiro na atenção básica, diante da violência
doméstica com base no referencial teórico da políticas públicas e leis que amparam a
mulher na busca de acolhimento e refúgio para esse emblemático problema social.

Palavras-chave: Violência baseada em gênero; Violência contra a mulher; Cuidados


de enfermagem.
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 7
2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 8
3. A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER COMO UM PROBLEMA DE SAÚDE
PÚBLICA ................................................................................................................... 9
4. A UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE .................................................................... 13
5. O CUIDADO DE ENFERMAGEM E A MULHER VITIMA DE VIOLENCIA ....... 16
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 18
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 19
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1. INTRODUÇÃO
A violência contra a mulher, também chamada de violência de gênero é
qualquer atitude que tenha causado sofrimento psicológico, físico ou sexual, ocorre
tanto no espaço privado quanto no espaço público e pode ser cometida por familiares
ou outras pessoas que vivem no mesmo domicílio sendo com relação interpessoal em
que o agressor conviva ou tenha convivido com a mesma, que tenha sofrido entre
outros, maus tratos, violação e abuso sexual (ANDRADE,2008).
Na perspectiva das enfermeiras, a violência contra a mulher foi representada,
majoritariamente, como uma ação de covardia associada à agressão psicológica,
agressão física, tristeza e maus tratos (LEAL, 2009).
A política nacional de atenção básica (PNAB) Caracteriza a APS como um
espaço composto de ações de saúde, com o âmbito individual e coletivo é que
abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico,
o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com a
finalidade de desenvolver uma atenção integral que impacta na situação de saúde e
autonomia das pessoas, bem como nos determinantes e condicionantes de saúde das
coletividades. (BRASIL,2012)
Portanto, o cuidar em enfermagem a mulher na situação de violência doméstica
volta-se para uma ação que exige um domínio da habilidade do profissional, ou seja,
saber-fazer. Entretanto, é nessa relação de ser cuidador e do ser cuidado, que se
incorpora a intersubjetividade, no momento em que é estabelecida uma interação
através da linguagem. Assim, é se cuidar técnico em enfermagem também permite
uma aproximação do ser na sua existência humana (MORAIS, 2010,p.157).
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2. OBJETIVOS

2.1 GERAL

➢ Interpretação geral da conduta assistencial e humanizada do enfermeiro


diante dos casos e suspeitas de violência contra no contexto da atenção
básica (UBS).

2.2 ESPECIFICOS

➢ Compreender o panorama da violência doméstica e suas consequências para


saúde biopsicossocial da mulher.

➢ Destacar as principais políticas públicas de saúde que servem de amparo para


a mulher violentada.

➢ Analisar a rede de acolhimento e encaminhamento da rede SUS para as vítimas


de violência contra a mulher na atenção básica.
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3. A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER COMO UM PROBLEMA DE SAÚDE


PÚBLICA

De acordo com Alexandre et al. (2019) o conceito de VCM pode ser


compreendido como qualquer ato violento baseado no gênero, que resulte, ou tenha
possibilidade de resultar, em dano físico, sexual, psicológico ou sofrimento para a
mulher, como a coerção ou privação arbitrária da liberdade em ambiente público ou
privado. Os autores supracitados apontam ainda que a ameaça de praticar atos
violentos também caracteriza violência.
Para Silva e Oliveira (2015) a violência sofrida pelas mulheres também pode
ser denominada violência doméstica (VD) ou violência de gênero (VG) e consiste em
um fenômeno extremamente complexo, que atinge mulheres em todas as partes do
mundo e tem suas raízes na inter-relação de fatores biológicos, econômicos, culturais,
políticos e sociais. As autoras ainda corroboram que a VCM apenas ganhou maior
notoriedade no Brasil após a criação da Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria
da Penha. Este tipo de violência passou, então, a ser definido como um crime
específico e possível de mudanças na forma de punição aos agressores. Nesta lei, a
VCM pode ser classificada como física, sexual, psicológica, moral ou patrimonial, de
modo exclusivo ou associado, ocorrendo, em muitos casos, a superposição das
violências.
Neste capítulo e ao longo do trabalho o termo violência de gênero (VG) será
utilizado como sinônimo de VCM. Como explica Baragatti (2017) em sua tese de
doutorado, gênero não se refere às características sexuais e/ou biológicas que
diferenciam homens e mulheres, e sim às construções sociais sobre os papéis
próprios de homens e mulheres. Gênero é uma palavra que permite distinguir a prática
social dos papéis atribuídos aos homens e mulheres, sendo uma forma primeira de
significar as relações de poder. Para se falar neste tipo de violência contra as mulheres
é fundamental que discutamos a questão do gênero, pois “Ninguém nasce mulher,
torna-se mulher”.
O fenômeno da VG acontece no mundo inteiro atingindo mulheres em todas as
idades, graus de instrução, classes sociais, raças e etnias. Constata-se que mulheres
são vítimas de atos nocivos à sua integralidade apenas por pertencerem ao sexo
feminino. Ou seja, trata-se da VG que apresenta natureza e padrões diferenciados de
violência interpessoal quanto aos agressores que, na maioria das vezes, são pessoas
10

do próprio convívio familiar, tornando-se a forma mais predominante e endêmica de


violência contra a mulher (BRASIL, 2003).
Como apontado por Guimarães e Pedroza (2015), culturalmente aceita, a VG
se propaga pelo silêncio condizente de toda a sociedade. O que para as autoras exige
um enfrentamento contra violência capaz de desconstruir normas sociais e padrões
culturais de todas as pessoas que confirmam, autorizam, naturalizam e banalizam a
dominação masculina sobre a mulher. Referem ainda que vários fatores associados à
violência doméstica perpetuam a VG, como antecedentes familiares de atos violentos,
o uso de álcool pelo parceiro, o desemprego, a pobreza, o baixo nível socioeconômico
da vítima, o baixo suporte social ofertado à mulher e a dependência emocional em
relação ao agressor.
O desconhecimento das leis que impõe limites à violência, juntamente com o
medo e a vergonha dificultam o aceso das vítimas aos serviços de saúde. Em casos
extremos se sentem obrigadas a procurar esses serviços e tentam mascarar o
problema sem queixas espontâneas durante as consultas. Sendo pouco identificada
e subnotificada a VG não recebe o tratamento diferenciado conforme a gravidade da
situação (SILVA; OLIVEIRA, 2015). No entanto, é notório pelos dados alarmantes
sobre a VG, que não se pode esperar o tempo dos frutos da conscientização para
agir.

É mais adequada a percepção de que a violência contra mulheres se


desenvolve em escalada. Isto sim pode mostrar a premência da formulação
e da implementação de políticas públicas que visem a sua extinção
(SAFFIOTI, 2004, p. 62).

Como exposto por Silva e Oliveira (2015), diante da complexidade da VG, é


preciso planejar ações intersetoriais e transdisciplinares, e este planejamento só se
torna possível mediante a implementação de políticas públicas que envolvam diversos
seguimentos, como: a saúde, a educação, a segurança pública, a assistência social,
o poder judiciário e as organizações não governamentais. Estes serviços que criam e
fortalecem as redes de atenção de forma coletiva, a fim de ofertar maior resolubilidade
ao problema e maior suporte às vítimas são frutos de reivindicações do movimento
feminista brasileiro e internacional, que proporcionaram a conquista de políticas
públicas voltadas para o enfrentamento da VG.

Todas as atividades políticas e organizativas estiveram voltadas para a


conquista de políticas públicas, a ampliação das ações afirmativas, o
11

aprimoramento da legislação de proteção à mulher e a avaliação e


monitoramento da implantação dessas políticas (COSTA, 2005, p. 11).
A conquista de políticas públicas de enfrentamento à VG exigiu mudanças de
paradigmas culturais e estratégias de integração e descentralização entre governo
federal, estadual e municipal.

3.2 Políticas públicas voltadas para as vítimas de violência


O Brasil, apesar de signatário de duas importantes convenções internacionais,
(Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher de 1979 (CEDAW, sigla em inglês), e Convenção para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra as Mulheres, mais conhecida como Convenção de Belém
do Pará, de 1994), não conseguiu desenvolver, na década de 1990, mais do que
programas, projetos e/ou serviços isolados, voltados para as vítimas sem qualquer
consistência (SILVA, 2012). O autor reporta que desde 1985, quando da implantação
da primeira Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), até 2002, não houve ações
articuladas de governo. Nesse período foram abertos poucos Centros de Referência
da Mulher (CRM), algumas Casas-abrigo e outras Delegacias Especiais de
Atendimento à Mulher (DEAM).
Nesse período, a negligência do Estado brasileiro frente à VG ganhou
notoriedade com o caso da bioquímica cearense Maria da Penha Maia Fernandes,
quando esta sofreu duas tentativas de feminicídio por parte do seu ex-marido, em
1983. Passados quinze anos, Maria da Penha não obteve resposta da justiça
brasileira, e com a ajuda de algumas organizações feministas, decidiu denunciar o
Brasil à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados
Americanos (OEA), sendo o Brasil responsabilizado e condenado, em 2001, por
omissão e negligência em relação à violência doméstica contra a mulher (CALAZANS;
CORTES, 2011).

Esse passo foi decisivo para que o Brasil viesse a ser condenado
internacionalmente e obrigado a cumprir as recomendações impostas por
aquela Corte Internacional, o que resultou na conclusão do processo e
prisão do agressor de Maria da Penha. Na sequência, foi criada a Lei
Federal nº 11340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, que coíbe a
violência doméstica e familiar através da prevenção e proteção da mulher
em situação de violência e punição do agressor. A Lei Maria da Penha
determina ainda a desconstrução da cultura machista através da educação
e a criação de políticas públicas que atendam a sua implementação
(BRASIL, 2010b, p.178).
12

Com a criação da Lei Maria da Penha, intensificou-se no Brasil o debate em


torno das questões referentes à violência contra as mulheres. Cavalcante et al. (2020)
relatam que na década de 2000, ocorreu ampla evolução nos debates sobre a VG,
com a elaboração de políticas e diretrizes que discutem suas repercussões e as
resoluções dos agravos.
13

4. A UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE

Os profissionais da saúde inserem-se na questão de violência doméstica em


uma posição estratégica, pois podem detectar sinais e sintomas de uma possível
vítima (BRASIL, 2001). Com base nos diferentes tipos de violência às quais as
mulheres são submetidas, elas chegam ao Sistema Único de Saúde (SUS) com
diferentes queixas e não apontam a causa de tal agravo (SIGNORELLI; AUAD;
PEREIRA, 2013). Por este motivo para Schraiber e outros (2005) o motivo das lesões
nem sempre são associados à violência. Por sua vez, as mulheres são consideradas
pelos profissionais de saúde como poliqueixosas (SIGNORELLI; AUAD; PEREIRA,
2013).
Os profissionais de saúde possuem o dever de atentarem-se a questão de
violência doméstica, ainda que não haja indícios nos primeiros momentos, devem
manter a atenção de maneira integral e uma escuta sensível com cada indivíduo, pois
com o tempo, dada essa abertura e aproximação do profissional com a vítima, ela
pode encorajar-se e lhe confiar tais situações, assim dando oportunidade para que se
possa intervir (BRASIL, 2001).
Pelo fato do profissional de saúde ter maior contato com as mulheres de uma
determinada área, a Estratégia de Saúde da Família (ESF) é responsável por
conhecer as mulheres vítimas de violência doméstica, bem como as mulheres que são
vulneráveis a esse grave problema de saúde pública. Portanto, a ESF deve estar apta
para oferecer suporte necessário à vítima de violência “[...] ajudando-as a
compreenderem, analisarem e tomarem as decisões pertinentes à problemática”
(MACHADO et al., 2014, p. 831).
O reflexo de tal problema pode ser observado diante dos alarmantes dados
encontrados no país e no mundo. Em um relatório sobre violência contra as mulheres
na América Latina e no Caribe, uma análise comparativa dos dados sobre a população
de 12 países, sugere que entre 17% e 53% das mulheres que participaram do estudo
relataram ter sofrido violência física ou sexual de seus parceiros e que entre 10% e
27% das mulheres desses países tem algum relato de violência sexual sofrida em
algum momento de suas vidas geralmente pelo parceiro ou homens que já conheciam
(BOTT, 2013).
No Brasil a cada 15 segundos, uma mulher sofre algum tipo de violência, sendo
o país que mais sofre quando o assunto é violência doméstica, a qual é a principal
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causa de morte e deficiência entre as mulheres, 23% das mulheres do nosso país
estão sujeitas a essa condição que podemos com toda certeza chamar de desumana.
A violência contra a mulher em 40% dos casos resulta em lesões corporais graves
decorrentes de socos, tapas, chutes, encarceramento, queimaduras, espancamentos
e estrangulamentos entre outros, sendo que de mortes e assassinatos os números
são ainda piores 70% das mulheres que foram assassinadas no Brasil foram mortas
por seus maridos ou companheiros (UNIFEMM, s.a).
Durante o período de 2009 a 2012 o Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN) mostrou 256.428 casos de violência registrados, desses 65,94%
são violência contra a mulher tendo como faixa etária com maior número de ocorrência
de 15 a 39 anos e como principal tipo a violência física com 69,13% dos casos,
seguido pela Psicológica/Moral com 25,38% dos casos e a sexual com 15,54%. A
moradia é ainda onde ocorre a maior parte dos casos registrados dessa violência, com
53,80% e os principais agressores são os maridos ou ex-maridos com 35.714 casos.
O atendimento prestado geralmente no serviço de saúde é ambulatorial com 120.961
casos, entretanto 42.120 casos são mais graves e chegam a ser internados e até
mesmo hospitalizados tendo 5.149 que apresentam evolução para óbitos pela
violência (OMS, s.a).
Os dados citados anteriormente confirmam que 17,26% de 10.000 mulheres
brasileiras sofrem algum tipo de violência nos diferentes locais em que convivem tanto
na residência quanto no trabalho (OMS, s.a).
Considerando que a violência doméstica contra a mulher é de fato um grave
problema de Saúde Pública, e que estas mulheres aportam no SUS, faz-se
necessário, conforme Pedrosa e Spink (2011), refletir sobre como estes serviços estão
preparados para atender mulheres nesta situação.
Neste mesmo sentido, Signoreli, Auad e Pereira (2013) sugerem que, por essas
mulheres serem frequentadoras assíduas dos serviços de saúde, por conta dos
agravos associados à violência, reconhecer como os serviços operam no contexto em
relação à mulher, profissional e serviço de saúde, podendo servir como objeto
essencial para a compreensão desde complexo problema, bem como para a
construção de estratégias que visem à minimização das consequências provenientes
da violência.
A atenção disponibilizada à mulher, principalmente na Unidade Básica de
Saúde (UBS) constitui, portanto, elemento essencial para a construção de estratégias
15

frente à violência doméstica. Tais métodos auxiliam também, para redução das
mulheres vulneráveis a este quadro e ainda promove a saúde (PEDROSA; SPINK,
2011).
A UBS como atenção primária à saúde, geralmente é a porta de entrada da
população na Rede de Atenção. Por conta desses fatores e por estar inserida na
comunidade, possibilita um maior vínculo da comunidade com a unidade que por sua
vez este poderá ser o primeiro contato da mulher agredida com um serviço de saúde,
seja pela procura de aconselhamento ou mesmo durante uma consulta onde o
profissional suspeite da violência real ou presumida. Desse modo, todas as categorias
profissionais devem estar alerta e dispor de conhecimento para lidar com situações
que configuram violência doméstica e familiar e exijam tomada de decisão.
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5. O CUIDADO DE ENFERMAGEM E A MULHER VITIMA DE VIOLÊNCIA

O significado do cuidar em enfermagem como uma ação acolhedora se refere


à qualidade e humanização da atenção como um conjunto de medidas, posturas e
atitudes dos profissionais de saúde na sua relação com o cliente. (TAKEMOTO;
SILVA, 2007, p. 23).
No caso da enfermagem, significa compreender o indivíduo em sua plenitude,
ouvi-lo com sensibilidade, criatividade e solidariedade, o que caracteriza a qualidade
do cuidado. Sendo assim, a prática do acolhimento no trabalho de enfermagem é no
sentido de realizar atitudes humanizadoras que se revelam no ato de receber, escutar
e tratar. (SOBRAL; TAVARE; SILVEIRA, 2004, p.65).
Assim, o cuidar em enfermagem como uma ação na dimensão do acolhimento
pode ser vivenciado pelo profissional e pela vítima de violência sexual, desde o
momento da entrada no serviço de atendimento, percorrendo todo o processo
assistencial realizado. Nesse sentido, o cuidado de enfermagem e dos demais
profissionais a essa clientela é assegurado de forma que a vítima e a família sintam-
se protegidas e seguras no atendimento prestado, na garantia do sigilo e dos
encaminhamentos adequados. (BRASIL, 2005).
Por conseguinte, infere-se que o cuidar é indispensável para a existência
humana e que ele é desvelado no processo de viver e de sobreviver. Nessa
perspectiva, a enfermagem ao realizar o cuidado à mulher vítima de violência sexual,
tem a possibilidade de descortinar outros problemas que possam afetar a integridade
física e emocional dessa mulher. Assim, o profissional de enfermagem, ao adotar a
postura de ouvir a mulher que busca o serviço de saúde, com suas queixas variadas,
tem nesse momento, condições de rastrear situações de violência que estejam
contidas no silêncio, no medo e na vergonha. (MORAES; MONTEIRO; ROCHA, 2010,
p. 158)
Portanto, esse cuidar acolhedor pela enfermagem permite um olhar sensível e
humano para a saúde da mulher vítima de violência sexual, com a finalidade de
recuperar sua autoestima, sua saúde mental e sua qualidade de vida. (MORAES;
MONTEIRO; ROCHA, 2010, p. 158).
A enfermagem, como ciência do cuidar, vem, ao longo das últimas décadas,
buscando aprofundar discussões sobre sua prática, reconhecendo que o cuidar é um
17

processo e, dessa forma, em evolução e sujeito às mudanças que ocorrem no sistema


de saúde e no modo de significância para o ser cuidado. (Waldow, 20016).
A mulher, por ser alvo preferencial desse tipo de violência, tem merecido a
atenção por parte de profissionais, principalmente os de enfermagem que, na sua
trajetória prática e em qualquer ambiente de trabalho, podem defrontar-se com essa
situação, exigindo conhecimento específico e habilidade para realizar esse cuidar
como expressão humanizadora da enfermagem, com poder transformador, que deve
ser sentido e vivido por parte de quem cuida e de quem é cuidado. (Waldow, 20016).
Nessa concepção, o primeiro contato da mulher no serviço de saúde deve
acontecer com os profissionais de enfermagem, que farão um acolhimento
humanizado, a realização da anamnese, coleta de material para exames laboratoriais,
agendamento de retorno e administração de medicações. Esses são passos que
garantem a aderência ao seguimento ambulatorial.
Para o atendimento, a equipe de enfermagem recebe capacitação periódica e
participa de oficinas de apoio psicológico (realizado pela equipe responsável pelo
programa) para agir de forma imparcial, sem preconceitos, sem fazer julgamentos,
sem atuar de forma comiserativa e conhecer as implicações legais, somáticas,
psicológicas e sociais da violência sexual e colaborar para que a mulher não tenha
que repetir várias vezes a sua história. (BRASIL, 2005).
A enfermeira acolhe, realiza triagem e faz encaminhamentos de acordo com a
avaliação do tipo de violência: no caso de violência física e/ou psicológica em mulher,
criança e adolescente e/ou violência sexual em menor de 14 anos não púbere, deve-
se encaminhar ao pronto-socorro adulto ou pediátrico. É preciso atentar para os casos
em que a menor de 18 anos confirma o consentimento da relação sexual, porém, se
o responsável legal considerar que a menor não estava apta para consentir o ato,
deve-se realizar atendimento de violência sexual. (BRASIL, 2005).
Portanto, o cuidar em enfermagem à mulher na situação de violência sexual na
dimensão técnica volta-se para uma ação que exige um domínio da habilidade do
profissional, ou seja, no saber-fazer. Entretanto, é nessa relação do ser cuidador e do
ser cuidado, que se incorpora a intersubjetividade, no momento em que é estabelecida
uma interação através da linguagem. Assim, esse cuidar técnico em enfermagem
também permite uma aproximação do ser na sua existência humana (MORAES, 2010,
p. 157).
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A violência contra a mulher não é um ato recente na sociedade, embora
atualmente tenha ganhado grande notoriedade com a criação da lei Maria da Penha
ela ainda persiste em grande escala, porém, é subnotificada e pouco denunciada
devido ao medo e maiores represálias que a vítima sofre, como visto, o enfermeiro
Tem grandes contribuições para o enfrentamento deste problema visto que, um vasto
número de mulheres procura a unidade básica de saúde diariamente. No entanto,
essa rede de atenção à vítima precisa de grandes mudanças principalmente na
comunicação multidisciplinar No que tange o acolhimento e resolutividade da violência
no respaldo jurídico haja vista que o enfermeiro precisa de um treinamento para o
desenvolvimento de Pendências relacionadas ao encaminhamento da vítima que
pode ser facilmente oferecido pela Secretaria de saúde municipal através de
conferências, reuniões, simpósios.
O combate à violência contra a mulher se faz necessário pelo planejamento e
manejo das políticas públicas que sejam mais eficazes e que possam fortalecer o
atendimento em rede no âmbito federal estadual e municipal, dando a mulher
segurança para denunciar para que seja restabelecida a sua Liberdade e direitos
assegurados.
19

REFERÊNCIAS

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