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UNIVERSIDADE ANHANGUERA

CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM

SUZANE VIANA VEIGA

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA; UMA COMPREENSÃO DO AGIR


OBSTÉTRICO INSTITUCIONAL.

Tucuruí – PA
2022
SUZANE VIANA VEIGA

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA; UMA COMPREENSÃO DO AGIR


OBSTÉTRICO INSTITUCIONAL

Artigo apresentado como requisito obrigatório


para a conclusão do curso, orientado pelo tutor à
distância do curso de Bacharelado em
Enfermagem.
Orientador: Aline Chagas

Tucuruí – PA
2022
SUMÁRIO

RESUMO.......................................................................................................................4

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................5

2 OBJETIVOS...............................................................................................................6

2.1 Objetivo geral..........................................................................................................6

2.2 Objetivos específicos..............................................................................................6

5 METODOLOGIA........................................................................................................7

6 RESULTADOS...........................................................................................................8

7 DISCUSSÃO..............................................................................................................9

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................17

9 REFERÊNCIAS........................................................................................................18
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RESUMO

A violência obstétrica/ institucional é um assunto de discussão fundamental tendo em vista


que, o excesso de intervenções no parto contribui para os índices elevados de
morbimortalidade materna e neonatal. Nesse sentido, essa revisão bibliográfica versa sobre
a temática da violência obstétrica e institucional desumanizada na perspectiva da
vulnerabilidade da mulher no centro cirúrgico ao tratar-se de uma conduta corriqueira e
amplamente discutida no âmbito acadêmico e social por se tratar de práticas nocivas para a
saúde da mulher que desencadeiam experiências negativas e traumáticas no seu ciclo
gravídico-puerperal, dentre os quais trataremos dos agravos institucionais, verbalização
violenta dos profissionais de saúde, procedimentos desnecessários e o despreparo
profissional de médicos, enfermeiros, obstetrizes relacionados à assistência. Nesse contexto
buscaremos as prerrogativas dessa violação e a naturalização da violência obstétrica sobre
o prisma da ausência de acolhimento e resolutividade da assistência no parto.

Palavras chaves: Assistência humanizada; Violência obstétrica; Parto.


5

1 INTRODUÇÃO

O conceito de violência obstétrica foi construído através do movimento de


humanização do parto, no qual o termo foi criado pelo presidente da sociedade de
Obstetrícia ginecologia da Venezuela, Dr. Rogério Pérez D' Gregório, em 2010, e
vem paulatinamente ganhando força dentro dos movimentos sociais preocupados
com a violência exercida contra as mulheres, em especial aquelas que lutam pela
humanização assistência materno-infantil (D' Gregório, 2010).
A violência institucional obstétrica está relacionada a negligência praticada
pelas equipes de saúde e consentida por mulheres em trabalho de parto esse fato é
atrelado a diversos fatores como; as parturientes desconhecem o processo
fisiológico e prático da assistência durante o trabalho de parto: e por acreditarem que
o médico e/ou a equipe de saúde sejam detentores dos conhecimentos e habilidades
técnicas naquela situação (Wolf, 2008).
Entende-se por violência obstétrica a apropriação do corpo e dos processos
reprodutivos das mulheres por profissionais de saúde que expressam relações
desumanas que resultam na perda de autonomia e capacidade de decisão da
mulher. Tal violência tornou-se um problema de saúde pública principalmente pela a
sua faceta velada e por não ser compreendida pela grande maioria das parturientes
e puérperas vítimas de práticas abusivas e invasivas a hora do parto. Diante disso a
apropriação do conhecimento obstétrico pelos médicos levou a institucionalização do
parto e promoveu o chamado “pessimismo fisiológico” por meio dessa concepção a
mulher é vista como inferior ao homem e intelectualmente mais frágil, voltada para o
papel social da reprodução.
Diante do exposto, o objetivo primordial do presente estudo é investigar a
produção científica atual acerca do tema violência obstétrica respondendo então à
questão norteadora.
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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Identificar o reflexo das agressões ao psicológico materno causados pelo VO,


e demonstrar a atuação de enfermagem para diminuir e combater as mesmas, no
processo fisiológico do ciclo gravídico-puerperal. Logo buscaremos compreender as
práticas violentas contra a mulher no parto afim de conhece-las e evitar negligência,
imprudências, e imperícias para a parturiente e minimizar com isso traumas e
experiências negativas para a saúde emocional e psíquico social da mulher.

2.2 Objetivos específicos

 Analisar o histórico da violência obstétrica no Brasil por meio de uma


revisão de literatura.
 Apontar os princípios da política nacional de humanização para
minimizar as práticas violentas no centro cirúrgico.
 Esclarecer as condutas desumanas da violência obstétrica, enquanto
hostilização da mulher e de sua vulnerabilidade nos centros
obstétricos.
 Demonstrar a importância da formação acadêmica humanizada na
construção profissional.
7

5 METODOLOGIA

Para responder ao objetivo proposto utilizou-se a seguinte questão norteadora:


quais as evidências científicas acerca da violência obstétrica e institucional praticada
pela equipe de saúde no trabalho de parto.
A busca pelos artigos científicos realizou-se nas bases de dados da literatura
latino-americana e do Caribe em ciência e saúde (LILCAS), banco de dados da
enfermagem (BDENF) e na biblioteca virtual scientific eletronic library online
(SciELO) com a utilização dos descritores de “violência” , “obstétrica”, “instituição”.
Para tanto, estabeleceu-se os seguintes critérios de inclusão: artigos originais,
escritos em língua portuguesa, disponíveis entre os anos de 2008 a 2020 que
estivessem dispostos para leitura online gratuitamente no formato completo. Após a
pré-seleção exclui- se as teses, livros e monografias que não respondiam a questão
norteada, e/ou que tivessem qualidade metodológica insatisfatória, restando 15
artigos para análise detalhada e criteriosa dos textos, verificando a aderência e
pertinência ao estudo em questão.
8

6 RESULTADOS

Após a leitura e análise dos artigos considerados elegíveis foram definidas as


seguintes categorias de respostas que guiam a pesquisa e a interpretação de dados:
procedimentos desnecessários e sem consentimento, assistência desumanizada,
parto intervencionista, maus tratos a parturiente, abuso físico e emocional. Um dos
autores pesquisados detalhou a violência obstétrica descrevendo-a como: cuidado
não consentido, e notoriamente discriminatório a mulher e ao processo de
reprodução sendo assim, definido como uma violência velada e silenciada. Nesse
sentido, observamos que a assistência inadequada durante o trabalho de parto foi
evidenciada por falhas no serviço prestado à população e na formação dos
profissionais de saúde, uma vez que os mesmos ainda realizam abordagens
violentas que demonstram despreparo institucional seguido de autoritarismo e
hierarquização profissional, somada à ausência de reconhecimento da violência
obstétrica pelas gestantes dentro das maternidades e centros cirúrgicos brasileiros.
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7 DISCUSSÃO

VISÕES GERAIS SOBRE A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA


No Brasil, na maioria dos nascimentos ocorre intenso processo de
medicalização do parto, com intervenções desnecessárias e iatrogênicas; separação
da gestante de seus familiares; falta de privacidade; e desrespeito a sua autonomia,
que contribuem para que uma a cada quatro mulheres viva algum tipo de violência
durante a assistência.
A Lei Orgânica sobre os Direitos das Mulheres a uma Vida Livre de Violência
caracteriza a VO como a apropriação do corpo feminino e dos processos
reprodutivos por profissionais de saúde revelado pelo trato desumano, uso abusivo
da medicalização e intervenções desnecessárias sobre processos fisiológicos,
gerando a perda da autonomia e da liberdade de escolha, o que reflete
negativamente na qualidade de vida das mulheres. De forma complementar, a
Defensoria Pública do Estado de São Paulo (2015) considera a VO como o
desrespeito à mulher, seu corpo e seus processos reprodutivos e a transformação
dos processos naturais do parto em doença ou abuso da medicalização, negando às
mulheres a possibilidade de decidir sobre si e seu corpo. ( AGUIAR, 2013)
A VO “é fortemente condicionada por preconceitos de gênero, de raça ou
etnia, de classe socioeconômica, de geração ou de orientação sexual” (p. 139). Em
pesquisa realizada no Brasil, no ano de 2010, pela Fundação Perseu Abramo , foi
revelado que 25% das mulheres afirmam ter sido vítimas de maus-tratos, práticas
muitas vezes naturalizadas pelos profissionais e instituições assistenciais.
Ao refletir sobre a assistência ao parto e pós-parto, percebe-se que as ações
dos profissionais devem seguir critérios pautados em evidências científicas.
Ademais, devem ter um importante papel de colocar seu conhecimento a serviço da
mulher e ao seu filho, sem somar esforços para proporcionar uma assistência
humanizada e digna para essas pacientes. (WOLFFI, 2008)
O trabalho “VO na visão de enfermeiras obstetras” levantou as diferentes
formas de violência, configuradas em verbalizações violentas dos profissionais de
saúde (médico/a, enfermeiro/a obstétrico/a, enfermeiro/a e auxiliar de enfermagem),
execução de procedimentos desnecessários e/ou iatrogênicos realizados e
despreparo institucional para oferecer uma assistência humanizada. Esses e outros
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resultados indicam a necessidade de mudança no modelo de formação desses


profissionais, em especial a categoria da Enfermagem, com o objetivo de melhorar a
qualidade da assistência à mulher durante a gravidez, o parto e o puerpério. (SILVA,
2014)
Considera-se que a humanização, a qualidade da atenção, a adoção de
medidas e os procedimentos benéficos para o acompanhamento do parto e do
nascimento são fundamentais para o bem-estar das mulheres no período
gravídicopuerperal. A OMS (2014) defende que “todas as mulheres têm direito ao
mais alto padrão de saúde atingível, incluindo o direito a uma assistência digna e
respeitosa durante toda a gravidez e parto, assim como o direito de estar livre da
violência e discriminação” (p. 1). Geralmente, a VO ocorre durante o parto e o pós-
parto, quando a mulher está vulnerável, sem condições de se defender ou mesmo
interromper a violência sofrida, sendo que um dos grandes desafios no
enfrentamento da VO em nossa sociedade firma-se na naturalização e banalização
do fenômeno. O fato de as mulheres acreditarem que o parto é um processo
doloroso faz com que elas não percebam quando são submetidas a experiências
ruins, naturalizando e perpetuando essa prática em nosso país.
A violência obstétrica tem implicações sobre a morbimortalidade materna das
seguintes formas:
No risco adicional associado aos eventos adversos do manejo agressivo do
parto vaginal. Existem danos associados ao uso inapropriado e excessivo (muitas
vezes também não informado e não consentido) de intervenções invasivas e
potencialmente danosas no parto vaginal, como o recurso não regulado de ocitocina
para indução ou aceleração do parto, manobra de kristeller, fórceps, episiotomia,
entre outras. Estas intervenções têm ocorrência muito acima da justificável por
indicações clínicas, como amplamente documentado em estudos nacionais; (DINIZ,
2009)
No parto manejado agressivamente como constrangimento à cesárea,
aumentando a sua ocorrência e riscos decorrentes. A violência no parto vaginal
funciona como forma de constrangimento ou coerção à cesárea, quando as opções
disponíveis às mulheres se resumem a esta cirurgia ou a um parto vaginal manejado
agressivamente, não raramente com a negativa de qualquer forma de anestesia.
11

Como dizem os movimentos sociais, “chega de parto violento para vender cesárea”.
Conforme César Victora, 23% das mortes maternas no Brasil podem ser atribuídas
apenas ao aumento nas taxas de cesárea ocorrido desde o ano 2000.
Na negligência em atender mulheres que expressam seu sofrimento (com
choro, gritos, gemidos) ou que pedem ajuda de modo insistente. Existe uma cultura
disseminada nos serviços de que a mulher que chora ou grita recebe pior
assistência, sobretudo aquelas consideradas “descompensadas” ou
malcomportadas, ou ainda aquelas que expressam qualquer desagrado com a
assistência, ou insistem em ser atendidas com urgência. A demora em responder a
estas demandas é associada a riscos aumentados de morbimortalidade materna;
Na hostilidade contra profissionais e mulheres considerados dissidentes do
modelo hegemônico de assistência. Nos casos de transferência de uma casa de
parto ou de um parto domiciliar, os abusos verbais e as demoras no atendimento
tendem a ser maiores. Estes casos são exemplo do que tem sido chamado de
“hostilidade Inter profissional” em estudos realizados em outros países, e constitui
uma ameaça importante à segurança das pacientes; (DINIZ, 2014)
Na hostilidade, negligência e retardo do atendimento às mulheres em situação
de abortamento: quando as equipes identificam ou supõem que o aborto tenha sido
provocado, muitas vezes negam atendimento ou demoram a realizá-lo. A
indisponibilidade de serviços que realizam aborto nas situações em que é previsto
por lei também tem grande impacto na morbimortalidade materna, pois pode levar
muitas mulheres à prática de aborto inseguro; (VENTURE, 2013)
No impedimento à presença de um acompanhante: A maioria das mortes
maternas ocorre durante o parto e no pós-parto (Kassebaum et al. (2014) e,
paradoxalmente, a mulher encontra-se dentro de uma instituição de saúde na quase
totalidade dos casos. A negativa da presença de acompanhantes é uma ameaça à
segurança das mulheres, pois eles poderiam sinalizar de forma enfática aos
profissionais que o estado clínico da paciente se deteriorou. Ainda que possa ser a
diferença entre a vida e a morte e seja assegurado pela lei federal 11.108/2005, esse
direito muitas vezes não é respeitado.
Nos últimos anos, diversos autores propuseram tipificações e classificações
sobre a violência obstétrica, inclusive a OMS, mais recentemente. Entre diversas
tipificações da violência obstétrica, a síntese de Bowser e Hill sobre as formas de
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abuso e desrespeito tem se mostrado bastante explicativa, enumerando as principais


categorias verificáveis nas instituições de saúde. Tesser et al., em 2015, sintetizaram
as categorias de desrespeito associando-as aos direitos correspondentes, com base
em um ponto de vista jurídico e social, e com exemplos concretos da realidade
brasileira, conforme o quadro.
Categorias de desrespeito e abuso
1) Abuso físico
2) Imposição de intervenções não consentidas; intervenções aceitas com base em
informações parciais ou distorcidas.
3) Cuidado não confidencial ou não privativo
4) Cuidado indigno e abuso Verbal
5) Discriminação baseada em certos atributos
6) Abandono, negligência ou recusa de assistência
7) Detenção nos serviços
Direitos correspondentes
1) Direito a estar livre de danos e maus tratos
2) Direito à informação, ao consentimento informado e à recusa; direito a ter escolhas e
preferências respeitadas, incluindo a escolha de acompanhantes durante o atendimento 3)
Direito à confidencialidade e Privacidade
4) Direito à dignidade e ao respeito
5) Direito à igualdade, à não discriminação e à equidade da atenção
6) Direito ao cuidado à saúde em tempo oportuno e ao mais alto nível possível de saúde 7)
Direito à liberdade e à autonomia
Exemplos de situações de violência obstétrica
1) Procedimentos sem justificativa clínica e intervenções “didáticas”, como toques vaginais
dolorosos e repetitivos, cesáreas e episiotomias desnecessárias, imobilização física em
posições dolorosas, prática da episiotomia e outras intervenções sem anestesia, sob a
crença de que a paciente “já está sentindo dor mesmo”
2) Realização da episiotomia em mulheres que verbalmente ou por escrito não autorizaram
essa intervenção; desrespeito ou desconsideração do plano de parto; indução à cesárea
por motivos duvidosos, tais como superestimação dos riscos para o bebê (circular de
cordão, “pós-datismo” na 40ª semana, etc.) ou para a mãe (cesárea para “prevenir danos
sexuais”, etc.); não informação dos danos potenciais de longo prazo para os nascidos por
cesariana (aumento de doenças crônicas, entre outros)
3) Maternidades que mantêm enfermarias de trabalho de parto coletivas, muitas vezes sem
um biombo separando os leitos, e que ainda alegam falta de privacidade e para justificar o
desrespeito ao direito a acompanhante
4) Formas de comunicação desrespeitosas com as mulheres, subestimando e ridicularizando
sua dor, desmoralizando seus pedidos de ajuda; humilhações de caráter sexual, do tipo
“quando você fez você achou bom, agora está aí chorando”
5) Tratamento diferencial com base em atributos considerados positivos (casada, com
gravidez planejada, adulta, branca, mais escolarizada, de classe média, saudável, etc.),
depreciando as que têm atributos considerados negativos (pobre, não escolarizada, mais
jovem, negra) e as que questionam ordens médicas
6) Abandono, negligência ou recusa de assistência às mulheres que são percebidas como
muito queixosas, “descompensadas” ou demandantes, e nos casos de aborto incompleto,
demora proposital no atendimento a essas mulheres, com riscos importantes a sua
segurança física
7) Pacientes podem ficar retidas até que saldem as dívidas com os serviços; no Brasil e em
outros países, surgem relatos de detenções policiais de parturientes
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AÇÕES CONTRA A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA


A implementação de Programas de Residência Multiprofissionais e as
Residências em Área Profissional da Saúde, estabelecidas pela Portaria
Interministerial no 1.077, de 12 de novembro de 2009, são estabelecidas como
instrumento fundamental para o alcance das metas propostas pelo MS para atenção
ao parto e nascimento, sendo a Residência em Enfermagem Obstétrica essencial
para a formação de enfermeiro(a)s que respondam com a qualidade às
necessidades assistenciais da mulher e do recém-nascido no território nacional.
Entendendo que as residências em saúde são um dispositivo de mudança na
formação dos profissionais e na mudança do modelo de atenção e de suas
associações com a VO, a realização desta pesquisa teve como finalidade
proporcionar benefícios tanto aos profissionais quanto aos usuários ao ser
compreendida como estímulo para aprimorar o conhecimento sobre a VO, tendo em
vista os princípios éticos e legais da enfermagem obstétrica.
No Brasil, em 1999 foi instituído o Programa Nacional de Humanização da
Assistência Hospitalar que teve como justificativa: agregar a eficiência técnica e
científica a uma postura ética que respeitasse a singularidade das necessidades do
usuário e do profissional, aceitando os limites de cada um e a convivência com o
desconhecido e o imprevisível.
Em 2003, o Ministério da Saúde implanta a Política Nacional de Humanização
da Atenção e Gestão do Sistema Único de Saúde, que tem como princípios teóricos
metodológicos: a transversalidade, a inseparabilidade entre atenção e gestão e o
protagonismo dos sujeitos e coletivos. Amplia-se, assim, o campo da assistência
hospitalar para todos os serviços de atenção à saúde.
A humanização se configura como uma aposta ética, estética e política. Ética,
pois implica que usuários, gestores e trabalhadores estejam comprometidos com a
melhoria do cuidado, estética porque permite um processo criativo e sensível da
produção da saúde por sujeitos autônomos e protagonistas de um processo coletivo.
Político refere-se à organização social e institucional, onde se espera que haja
solidariedade dos vínculos estabelecidos, dos direitos dos usuários e da participação
coletiva do processo de gestão.
O ensino torna-se um aliado nas mudanças que devem ocorrer em dois
movimentos distintos: o primeiro, com os profissionais de saúde onde a formação
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acontece via educação permanente que tem como ponto de partida o cotidiano do
trabalho. E, no segundo momento, parte da ruptura do ensino de graduação em
saúde pautado em procedimentos técnicos e de evolução dos quadros clínicos para
um território onde a "educação em ato" ocorre através de práticas cuidadoras, com
inovação e centrada no diálogo com o usuário e equipe, buscando criar os nexos
necessários entre saúde, educação e trabalho.
Nesse contexto, a formação do enfermeiro obstetra é um dos meios para a
conquista dessa mudança, exigindo o envolvimento, o empenho e a colaboração de
diferentes atores envolvidos, instituições de ensino, serviços de saúde, entidades de
classes e profissionais. O saber-fazer do profissional deve ser capaz de conhecer e
intervir sobre as diversas situações que permeiam a saúde da mulher, bem como ao
neonato e sua família, com ética, senso de responsabilidade social e compromisso
com a cidadania, de modo culturalmente sensível às diferenças existentes na
população assistida.
Isso torna-se essencial para a mudança do modelo positivista, flexneriano e
tecnocrata de assistência à mulher em predomínio nas práticas em saúde, na
formação de profissionais e no dia a dia das instituições. O cuidado em saúde não
atende às demandas assistenciais fundamentadas na integralidade, na subjetividade
e na individualidade, tampouco contemplam a prática baseada em evidência, tendo
por consequência uma assistência violenta, despersonificada e impessoal.
A humanização e a qualidade da atenção em saúde se tornam importantes
para mudar a realidade atual e fortalecer a capacidade das mulheres frente aos
problemas identificados e de reivindicar seus direitos. Em 1990, o MS investiu na
qualificação e formação do(a)s enfermeiro(a)s obstétrico(a)s, determinando normas
para criação de cursos de Especialização em Enfermagem Obstétrica e a iniciativa
foi fortalecida com a criação de políticas nacionais de atenção à saúde da mulher,
em destaque a Rede Cegonha, instituída pela portaria n o 1.459, implementada em 24
de junho de 2011.

DIREITO DA MULHER A UM PARTO HUMANIZADO


A gravidez e o parto são marcados para sempre na vida de uma mulher,
devendo o profissional da saúde ser coadjuvante desta experiência e intervindo
15

quando necessário nos momentos críticos que possam ocorrer, colocando seus
saberes em serviço e visando o bem estar da mulher e do bebê. (BRASIL, 2001).
Inicialmente, destaca-se o conceito de parto humanizado, que diferente do que
muitos apontam, não se trata de um tipo específico de parto. A humanização do
parto tratase de um processo no qual tem a mulher e o bebê como protagonistas, um
parto livre de qualquer tipo de violência, cercado de amor e afeto, com profissionais
proporcionando conforto e segurança, sempre com muita atenção, respeito e
pautados em evidências científicas para sugerir qualquer intervenção. (ROCHA;
MARINHO, 2019).
Outras formas de parir e nascer são possíveis e deve ser oferecidas a todas
as mulheres. Nesse sentido, as mulheres e usuárias do sistema de saúde brasileiro
reivindicam intervenções urgentes na assistência ao parto e nascimento. Nesta feita,
o parto humanizado elenca sobre si direitos inerentes à reprodução:

O movimento pela humanização do parto e do nascimento propõe, para


além do campo médico, mudanças sociais. Afirmando que é preciso
reconhecer e valorizar a autonomia da mulher, sublinha a formação de um
sujeito ativo no processo de tomada de decisão, subvertendo uma lógica
patriarcalista subjacente ao modelo tecnocrático. Com acesso à informação
clara e de qualidade durante o pré-natal, a mulher pode fazer escolhas
informadas, reafirmando a questão de que saber é poder. Assim sendo,
retoma-se o caráter subjetivo da experiência do parto e as questões
psicossociais e culturais nele envolvidas. É neste sentido que se fala em
empoderamento feminino e na conquista do protagonismo da mulher na
parturição.
(ROCHA; MARINHO, 2019)

O movimento de humanização do parto visa empoderar as mulheres diante do


nascimento de seu filho e retornar o protagonismo do parto à elas, resgatando o
parto como evento fisiológico e natural, baseando-se na condição biológica, em sua
capacidade reprodutiva e seu instinto materno, descaracterizando a ideia de
patologização e medicalização. (ZANARDO et al., 2017).
A discussão sobre humanização do parto tem ocupado um espaço relevante
no cenário atual e tem estimulado os estados a adotarem uma política de atenção às
mulheres:
O Brasil, atualmente, tem passado por esse processo de mudança de
cenário ainda muito tímido na realidade obstétrica do país. A preocupação
com os altos índices de cesárias, e o impacto causado na saúde dos bebês,
haja vista os problemas respiratórios e no sistema imunológico das crianças,
fez com que o Ministério da Saúde agregasse ao sistema de saúde
16

brasileira, um programa de humanização na assistência às parturientes,


conhecido como Humanização no Pré-natal e nascimento.
(ROCHA; MARINHO, 2019).

Neste preceito, o Ministério da Saúde entende que ―o conceito de atenção


humanizada é amplo e envolve um conjunto de conhecimentos, práticas e atitudes
que visam a promoção do parto e do nascimento saudáveis e a prevenção da
morbimortalidade materna e perinatal‖. (BRASIL, 2001, p. 09). Ao abordar direitos
específicos das mulheres na fase da gestação de forma mais abrangente,
percebemos a falta de leis pontuais no que tange a proteção e garantia dos direitos
necessários de uma gestante e afastar a incidência da violência obstétrica,
tornandoas ainda mais vulnerável, o que demonstra a importância do movimento de
humanização do parto.

A LEI FEDERAL Nº 11.108, DE 7 DE ABRIL DE 2005


Evidências apontam a importância da presença de um acompanhante antes,
durante e após o trabalho de parto, demonstrando imensos benefícios para
parturiente e bebê. Contudo, no Brasil, é recorrente que mulheres sejam impedidas
de possuírem acompanhantes, principalmente antes e após o nascimento de seus
filhos. Relatos dão conta de mulheres que afirmam terem se sentido sozinhas,
solitárias e angustiadas, sem informações de seus filhos e desassistidas pela equipe
médica do local no qual estavam. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012).
Quando acompanhadas por pessoas com as quais possuem algum vínculo,
principalmente afetivo e uma relação de confiança, é possível notar em mulheres
com partos normal,
(...) diminuição do tempo de trabalho de parto, (...) controle e comunicação,
menor necessidade de medicação ou analgesia, menor necessidade de
parto operatório ou instrumental, menores taxas de dor, pânico e exaustão,
menos escores de apgar abaixo de 7, aumento nos índices de
amamentação, melhor formação de vínculo mãe-bebê, maior satisfação da
mulher e menos relatos de cansaço durante e após o parto. (REDE PARTO
DO PRINCÍPIO, 2012, p. 64)

Já naquelas que tiveram seus bebês por cesárea, os benefícios mais


comumente citados foram: “diminuição do sentimento de ansiedade, diminuição do
sentimento de solidão, diminuição do sentimento de preocupação com o estado da
saúde do bebê, maior sentimento de prazer, auxílio na primeira mamada e maior
17

duração do aleitamento materno” (p. 64). Contudo, ainda que demonstrados os


efeitos positivos do acompanhante escolhido pela parturiente, muitos profissionais de
saúde e até mesmo hospitais não permitem a presença de pessoas estranhas à
equipe médica. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012; AGUIAR, 2010)
No Brasil, a Lei Federal nº 11.108, de 7 de abril de 2005, que dispõe
exatamente sobre as garantias às parturientes do direito à presença de
acompanhante “durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do
Sistema Único de Saúde - SUS” (BRASIL, 2005, on-line), modifica a lei do SUS para
obrigar a permissão da presença de acompanhante indicado pela parturiente. Porém
a lei não traz qualquer sanção para os serviços de saúde que infringirem o que ela
própria dispõe.
A prática é encarada como violência obstétrica de caráter constitucional, com
viés, principalmente, psicológico, mas também facilitando a ocorrência de outras
violências e caráter físico e sexual e facilitando até a prática de estelionato, uma vez
que mulheres em trabalho de parto são reconhecidamente mais vulneráveis e,
quando sozinhas, se sentem ainda mais frágeis, tendo que confiar apenas na equipe
médica que as acompanha, mesmo que não conheça nenhum dos profissionais de
saúde ali presentes. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012; AGUIAR, 2010).
18

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reformulação do cenário nacional requer investimentos na atualização dos


profissionais de saúde e na formação acadêmica, na perspectiva de assistir ás
mulheres de forma integral humanizada com respeito e dignidade.
Para que as mulheres compreendam a violência obstétrica estas precisam de
educação em saúde de qualidade no pré-natal, sejam durante as consultas
individualizadas ou em grupos de apoio assistências as gestantes. O essencial é que
as mulheres aprendam a respeito do período que estão vivendo e conheçam seus
direitos para adentrarem no centro cirúrgico/ maternidade e sejam protagonistas do
parto.
O estudo possibilitou uma melhor compreensão do processo de parturição
sobre a óptica de rompimento do modelo assistencial inseguro, ineficaz e traumático
para a gestante nesse sentido, constatou-se a necessidade de transformações nos
paradigmas assistenciais obstétricos valorizando o cuidado em prol da saúde da
parturiente por isso, é primordial que os profissionais conheçam e coloque em
prática os objetivos da política nacional de humanização do parto e do nascimento
( PNHPN) para que as mulheres tenham a garantia de um atendimento de qualidade
no parto. Ademais é essencial que os cursos de pós-graduação em obstetrícia
trabalhe demasiadamente a humanização e e o trabalho holístico no parto afim de
minimizar os impactos negativos na prática profissional durante todo o ciclo
gravídico-puerperal da parturiente.
19

9 REFERÊNCIAS

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setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de
acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediado, no âmbito
do Sistema Único de Saúde -SUS, Brasília, abr 2005. Disponivel em: http://www.
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